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7/17/2019 Fiorin - Semiótica Narrativa http://slidepdf.com/reader/full/fiorin-semiotica-narrativa 1/18 Sendas e Veredas da Semiótica Narrativa e Discursiva (Towards a Semiotics Theory)  José Luiz FIORIN (Universidade de São Paulo)   ABSTRACT: This work analyses the development of a recent discourse theory namely !rench Semiotics" #t refers to the principles that form the $asis of that theory its pro%ress re%ardin% the esta$lishment of a meanin% %enerative process the course it has followed towards the comple&ification of the narrative level throu%h a study of the modali'ations of doin% and $ein% ran%in% from the $uildin% up of theory concerned with the pra%matic dimension of the narrative to a theory focused on the co%nitive and pathematic dimensions of the narrative" !urthermore this work e&amines current paths of investi%ation which seek to analyse not only what underlies $ut also what %oes on $eyond discourse" #n the first case $y means of the concepts of aesthesis aspectuali'ation and modulation the recoverin% of the si%nification pre(conditions continuum in discourse is investi%ated) in the second case the pro$lem of the relationship $etween the level of content and level of e&pression is e&amined" R*SU+,: *ste tra$alho analisa o desenvolvimento de uma das teorias recentes do discurso: a Semi-tica francesa" +ostra os princ.pios so$re os /uais se constituiu sua marcha no esta$elecimento do percurso %erativo de sentido os caminhos de comple&ifica0ão do n.vel narrativo com o estudo das modali'a01es do fa'er e do ser  passando da constitui0ão de uma teoria da dimensão pra%m2tica da narrativa para a de suas dimens1es co%nitiva e pat3mica" *m se%uida e&amina os caminhos atuais da investi%a0ão em /ue se $usca estudar um a/u4m e um al4m do percurso" 5a/uele com os conceitos de estesia aspectuali'a0ão e modula0ão investi%a(se a recupera0ão no discurso do cont.nuo das pr4(condi01es de si%nifica0ão) neste e&amina(se o pro$lema da rela0ão entre plano do conte6do e plano da e&pressão" 7*8 9,RS: Semiotics) ;enerative process) Passions) Semi(sym$olism)  Aspectuali'ation) +odali'ation" PA<A=RAS(C>A=*: Semi-tica) Percurso %erativo) Pai&1es) Semi(sim$olismo)  Aspectuali'a0ão) +odali'a0ão"  , caminhante fa' seu caminho ao caminhar" (Antônio achado) A Lin!"#stica criou$ a %artir do sécu&o 'I'$ dierentes o*etos te+ricos, a lan%ue$ a com%et-ncia$ a .aria/0o$ a mudan/a e o uso1 2este 3&timo ocu%am4se as dierentes teorias %ra!m5ticas$ te6tuais e discursi.as1 7ode4se$ com raz0o$ %er!untar se se trata de um o*eto te+rico ou de mais de um$ dado 8ue essas dierentes teorias$ a%arecidas na se!unda metade do sécu&o ''$ in.esti!am esse o*eto com undamentos te+ricos muito di.ersos$ dia&o!am com 8uadros te+ricos muito dierentes (a &+!ica$ a antro%o&o!ia estrutura&$ as ci-ncias co!niti.as$ a %sican5&ise &acaniana$ o mar6ismo$ etc1) e a%resentam !raus distintos de orma&iza/0o1 Todos esses estudos$ %orém$ t-m a&!o em comum, ocu%am o 9.0o entre %ontos est5.eis9$ emara&ham dieren/as em estae&ecidas %e&os estudos &in!"#sticos anteriores (:arros$ ;<<=, ;>?)1 Aandonemos a %ra!m5tica$ %ara nos determos nas teorias do discurso e do te6to1 @inco t-m sido as orienta/es te+ricas mais %raticadas no :rasi&, a An5&ise do 2iscurso de &inha rancesa$ a An5&ise do 2iscurso de e6tra/0o an!&o4sa60$ a An5&ise da @on.ersa/0o$ a Lin!"#stica Te6tua& e a Semi+tica Narrati.a e 2iscursi.a$ tamém de ori!em rancesa1 N0o é o*eti.o deste te6to estae&ecer as dieren/as entre as distintas teorias discursi.as e

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Sendas e Veredas da Semiótica Narrativa e Discursiva

(Towards a Semiotics Theory)

 

José Luiz FIORIN (Universidade de São Paulo)

 

 ABSTRACT: This work analyses the development of a recent discourse theory namely!rench Semiotics" #t refers to the principles that form the $asis of that theory its pro%ressre%ardin% the esta$lishment of a meanin% %enerative process the course it has followedtowards the comple&ification of the narrative level throu%h a study of the modali'ations ofdoin% and $ein% ran%in% from the $uildin% up of theory concerned with the pra%maticdimension of the narrative to a theory focused on the co%nitive and pathematicdimensions of the narrative" !urthermore this work e&amines current paths ofinvesti%ation which seek to analyse not only what underlies $ut also what %oes on $eyonddiscourse" #n the first case $y means of the concepts of aesthesis aspectuali'ation andmodulation the recoverin% of the si%nification pre(conditions continuum in discourse isinvesti%ated) in the second case the pro$lem of the relationship $etween the level of

content and level of e&pression is e&amined"R*SU+,: *ste tra$alho analisa o desenvolvimento de uma das teorias recentes dodiscurso: a Semi-tica francesa" +ostra os princ.pios so$re os /uais se constituiu suamarcha no esta$elecimento do percurso %erativo de sentido os caminhos decomple&ifica0ão do n.vel narrativo com o estudo das modali'a01es do fa'er e do ser passando da constitui0ão de uma teoria da dimensão pra%m2tica da narrativa para a desuas dimens1es co%nitiva e pat3mica" *m se%uida e&amina os caminhos atuais dainvesti%a0ão em /ue se $usca estudar um a/u4m e um al4m do percurso" 5a/uele comos conceitos de estesia aspectuali'a0ão e modula0ão investi%a(se a recupera0ão nodiscurso do cont.nuo das pr4(condi01es de si%nifica0ão) neste e&amina(se o pro$lema darela0ão entre plano do conte6do e plano da e&pressão"

7*8 9,RS: Semiotics) ;enerative process) Passions) Semi(sym$olism) Aspectuali'ation) +odali'ation"

PA<A=RAS(C>A=*: Semi-tica) Percurso %erativo) Pai&1es) Semi(sim$olismo) Aspectuali'a0ão) +odali'a0ão"

 

, caminhante fa' seu caminho ao caminhar"

(Antônio achado)

A Lin!"#stica criou$ a %artir do sécu&o 'I'$ dierentes o*etos te+ricos, a lan%ue$ acom%et-ncia$ a .aria/0o$ a mudan/a e o uso1 2este 3&timo ocu%am4se as dierentesteorias %ra!m5ticas$ te6tuais e discursi.as1 7ode4se$ com raz0o$ %er!untar se se trata deum o*eto te+rico ou de mais de um$ dado 8ue essas dierentes teorias$ a%arecidas nase!unda metade do sécu&o ''$ in.esti!am esse o*eto com undamentos te+ricos muitodi.ersos$ dia&o!am com 8uadros te+ricos muito dierentes (a &+!ica$ a antro%o&o!iaestrutura&$ as ci-ncias co!niti.as$ a %sican5&ise &acaniana$ o mar6ismo$ etc1) e a%resentam!raus distintos de orma&iza/0o1 Todos esses estudos$ %orém$ t-m a&!o em comum,ocu%am o 9.0o entre %ontos est5.eis9$ emara&ham dieren/as em estae&ecidas %e&osestudos &in!"#sticos anteriores (:arros$ ;<<=, ;>?)1

Aandonemos a %ra!m5tica$ %ara nos determos nas teorias do discurso e do te6to1 @incot-m sido as orienta/es te+ricas mais %raticadas no :rasi&, a An5&ise do 2iscurso de &inha

rancesa$ a An5&ise do 2iscurso de e6tra/0o an!&o4sa60$ a An5&ise da @on.ersa/0o$ aLin!"#stica Te6tua& e a Semi+tica Narrati.a e 2iscursi.a$ tamém de ori!em rancesa1 N0oé o*eti.o deste te6to estae&ecer as dieren/as entre as distintas teorias discursi.as e

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te6tuais$ mas uscar estae&ecer$ de maneira cr#tica$ o %ercurso de uma de&as, aSemi+tica Narrati.a e 2iscursi.a1

B %reciso a&ertar 8ue o azer te+rico da semi+tica é as%ectua&izado im%erecti.amente$ o8ue si!niica 8ue n0o constitui e&a uma teoria %ronta e acaada$ mas um %ro*eto$ um%ercurso1 N0o est5 facta$ mas in fieri 1 7or isso$ a todo momento$ est5 re%ensando4se$modiicando4se$ reazendo4se$ corri!indo4se1 B essa tra*et+ria 8ue .amos uscar1

Creimas come/a sua ora undadora$ Sem?ntica estrutural $ mostrando 8ue sendo asi!niica/0o oni%resente e mu&tiorme (;<DE,;)$ a %onto de o mundo humano deinir4se9essencia&mente como um mundo de si!niica/0o9$ de s+ %oder 9ser chamado GhumanoHna medida em 8ue si!niica a&!uma coisa9 (;<DE,;;)$ o denominador comum das ci-nciashumanas é a %es8uisa acerca da si!niica/0o (;<DE,;;)1 2iz e&e 8ue 9se as ci-ncias danatureza se inda!am %ara saer como s0o o homem e o mundo$ as ci-ncias do homem$de maneira mais ou menos e6%&#cita$ se interro!am sore o 8ue si!niicam um e outro9(;<DE,;;)1 Assim$ o %ro&ema da si!niica/0o é centra& %ara as ci-ncias humanas1 A%esardisso$ n0o se tinha$ se!undo e&e$ na é%oca$ uma disci%&ina cient#ica ade8uada %ara tratardessa 8uest0o$ dado 8ue 9a semntica oi sem%re a %arente %ore da &in!"#stica9(;<DE,;)1 A &in!"#stica$ 8ue 9te.e a %ossii&idade de a%arecer como a disci%&ina mais em

situada9 %ara estudar a si!niica/0o (;<DE,;;)$ mostrou4se 9de maneira !era&$ mais 8uereticente$ até mesmo hosti& a toda %es8uisa semntica9 (;<DE,;)1 A semntica$ cu*adenomina/0o s+ se or*ou em ins do sécu&o 'I'$ diz Creimas$ 9oi %recedida$ no 8uadrodo desen.o&.imento da &in!"#stica hist+rica$ inicia&mente %e&a onética$ mais a%rimorada$ ede%ois %e&a !ram5tica1 Kmora denominada e instaurada$ a semntica %rocurou tomarem%restados seus métodos 8uer da ret+rica c&5ssica$ 8uer da %sico&o!ia da intros%ec/0o9(;<DE,;)1 9A &in!"#stica estrutura& se!uiu$ no seu desen.o&.imento$ a mesma ordem de%rioridade1 A Ksco&a de 7ra!a undamentou so&idamente a ono&o!ia a Ksco&a de@o%enha!en$ 8ue a se!uiu imediatamente$ %reocu%ou4se com a e&aora/0o da teoria&in!"#stica$ 8ue %rocura.a a%&icar M reno.a/0o dos estudos !ramaticais1 O es8uecimentoda semntica é %atente e .o&unt5rio9 (;<DE,;4;E)$ %or8ue se discutiam as se!uintes8uestes, se a semntica tem um o*eto homo!-neo$ se a si!niica/0o se dei6a ana&isar

estrutura&mente$ enim$ se se %ode considerar a semntica uma disci%&ina &in!"#stica(;<DE,;E)1

Se!undo Creimas$ s0o tr-s os moti.os 8ue 9e6%&icam as retic-ncias dos &in!"istas emre&a/0o Ms %es8uisas sore a si!niica/0o9, 9o retardamento hist+rico dos estudossemnticos$ as diicu&dades %r+%rias M deini/0o do seu o*eto e a onda de orma&ismo9(;<DE,;E)1 B %reciso &emrar 8ue o orma&ismo contra o 8ua& se co&oca Creimas é oorma&ismo eha.iorista$ 8ue distin!uia orma de conte3do1 @omo se .ai .eriicar$ Creimasaco&her5 e o%eraciona&izar5 a distin/0o orma e sustncia %ro%osta %or *e&ms&e. (;<=>)$em como considerar5 orma&ismo dierente de orma&iza/0o$ sendo esta uma atitudecient#ica 8ue .isa a construir mode&os ormais %ara e6%&icar os dados da e6%eri-ncia e$%rinci%a&mente$ 8ue uti&iza sistemas ormais aseados numa a6iom5tica1 2iz e&e 8ue a

orma&iza/0o é uma necessidade na e&aora/0o de uma teoria cient#ica12iante do ato de 8ue o %ro&ema da si!niica/0o é centra& %ara as ci-ncias humanas e de8ue n0o ha.ia uma disci%&ina cient#ica ade8uada %ara tratar da si!niica/0o$ Creimas%ro%ôs 9re&etir acerca das condi/es %e&as 8uais se*a %oss#.e& um estudo cient#ico dasi!niica/0o9 (;<DE,;?)1 Km outras %a&a.ras$ construir uma semntica1 Kssa semntican0o seria uma semntica &+!ica$ 8ue se ocu%asse do estudo das condi/es de .erdade deuma rase$ tendo em mira o e6ame dos as%ectos .ericondicionais de inter%reta/0o dosenunciados$ ou se*a$ das condi/es re8ueridas %ara 8ue os enunciados se*am .erdadeiros1Ao contr5rio$ seria uma semntica &in!"#stica$ 8ue se ocu%aria da an5&ise da si!niica/0ota& como é ornecida %e&o c+di!o da &#n!ua1 A Semi+tica n0o se interessa %e&a .erdade dosenunciados$ mas %or sua .eridic/0o$ isto é$ %e&os eeitos de sentido de .erdade com os

8uais um discurso se a%resenta como .erdadeiro$ a&so$ mentiroso$ etc1Kssa semntica de.eria ser !erati.a$ sinta!m5tica e !era&1 B uma teoria sinta!m5tica$%or8ue seu esco%o é estudar a %rodu/0o e a inter%reta/0o dos te6tos1 A8ui se %roduz o

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%rimeiro des&ocamento %roduzido %e&a Semi+tica1 Sua tota&idade n0o é o %&ano deconte3do das &#n!uas naturais$ mas o te6to1 Assim$ n0o se interessa em detectar ocon*unto de cate!orias res%ons5.eis %e&a cria/0o dos sentidos das %a&a.ras de uma dada&#n!ua$ como %ostu&a.a *e&ms&e. (;<<;,;;;4;D)$ mas as dieren/as %rodutoras dosentido do te6to1

B !era&$ %or8ue se interessa %or 8ua&8uer ti%o de te6to$ inde%endentemente de sua

maniesta/0o1 7ostu&a 8ue o conte3do %ode ser ana&isado se%aradamente da e6%ress0o$uma .ez 8ue o mesmo conte3do %ode ser .eicu&ado %or dierentes %&anos de e6%ress0o(%or e6em%&o$ uma ne!ati.a %ode ser maniestada %e&a %a&a.ra não ou %or um !esto dacae/a ou do indicador)1 B$ %or conse!uinte$ uma teoria !era& dos te6tos$ 8uer semaniestem .era&mente$ .isua&mente$ %or uma comina/0o de %&anos de e6%ress0o.isua& e .era&$ etc1 Num %rimeiro momento da an5&ise$ az astra/0o da maniesta/0o$%ara e6aminar o %&ano do conte3do$ e s+ de%ois .ai estudar as es%eciicidades dae6%ress0o e sua re&a/0o com o si!niicado1

B uma teoria !erati.a$ %or8ue concee o %rocesso de %rodu/0o do te6to como um%ercurso !erati.o$ 8ue .ai do mais sim%&es e astrato ao mais com%&e6o e concreto$ num%rocesso de enri8uecimento semntico1 Isso si!niica 8ue .- o te6to como um con*unto de

n#.eis de in.arincia crescente$ cada um dos 8uais suscet#.e& de uma re%resenta/0ometa&in!"#stica ade8uada1 O %ercurso !erati.o de sentido n0o tem um estatuto onto&+!ico$ou se*a$ n0o se airma 8ue o a&ante na %rodu/0o do te6to %asse de um %atamar ao outronum %rocesso de com%&e6iica/0o semntica1 @onstitui e&e um simu&acro metodo&+!ico$%ara e6%&icar o %rocesso de entendimento$ em 8ue o &eitor %recisa azer astra/es$ a%artir da su%er#cie do te6to$ %ara %oder entend-4&o1

A no/0o do %ercurso !erati.o de sentido radica4se no traa&ho de 7ro%% sore a narrati.a1Kste usca as in.ariantes narrati.as$ os e&ementos 8ue azem 8ue uma narrati.a se*a umanarrati.a1 Num %rocedimento seme&hante ao do on+&o!o$ 8ue se inda!a.a$ diante daimensa .ariedade da rea&iza/0o dos sons$ como os a&antes com%reendiam sem%re amesma unidade ônica da &#n!ua$ 7ro%% dese*a.a re.e&ar as re!u&aridades su*acentes Mimensa .ariedade das narrati.as %rocura.a a%reender$ em meio M di.ersidade imensa demodos de maniesta/0o da narrati.a (ora&$ escrita$ !estua&$ %ict+rica$ etc1)$ de ti%os denarrati.a (mitos$ contos$ romances$ e%o%éias$ tra!édias$ comédias$ 5u&as$ etc1) e derea&iza/es concretas$ as in.ariantes narrati.as1 Se%ara dessa orma uma lan%ue narrati.ade uma parole narrati.a1 @omo os on+&o!os 8ue distin!uiram os fonemas$ unidades da&#n!ua$ dos sons$ unidades da parole$ dierencia as estruturas astratas e in.ariantes dosseus re.estimentos concretos$ res%ons5.eis %e&a 9sin!u&aridade9 de cada narra/0o tomadaindi.idua&mente (.er :arthes$ ;<D;,;>4;<)1 7ara 7ro%%$ %or e6em%&o$ o doador do o$@etom2%ico é uma unidade dessa lan%uenarrati.a$ en8uanto o pei&e /ue d2 uma escama aoher-i  é uma unidade de sua parole" 7ara Creimas$ a mesma coisa se %assa em re&a/0oM a/uisi0ão do poder fa'er  e ao @untar dinheiro para comprar um apartamento" Kms#ntese$ amos uscam identiicar um n3mero inito de unidades dierenciais e de re!ras

cominat+rias res%ons5.eis %e&o en!endramento das re&a/es internas1 Seu o*eti.o era$%ois$ deinir a estrutura da narrati.a, o con*unto echado de re&a/es internas 8ue seestae&ecem entre um n3mero inito de unidades1 Ksse %rocedimento %rocurou trans%or%ara a&ém dos &imites da rase$ 8ue era até ent0o a unidade 3&tima %ara os &in!"istas$ osmétodos da &in!"#stica estrutura& (:arthes$ ;<D;,;4)1

7or outro &ado$ a idéia do %ercurso !erati.o de sentido %arte da constata/0o de 8ue é%reciso e6%&icar o ato de 8ue o discurso é da ordem da estrutura e do acontecimento1Assim$ é necess5rio detectar in.ariantes$ mas tamém descre.er a .ariai&idade hist+rica8ue re.este essas in.ariantes1 O mode&o n0o é !enético$ mas !erati.o$ ou se*a$ usca ser%rediti.o e e6%&icati.o1

O %ro*eto semi+tico i&ia4se M tradi/0o saussuriana1 2e um &ado$ tem %or o*eto n0o o

si!niicado$ mas a si!niica/0o$ isto é$ um con*unto de re&a/es res%ons5.eis %e&o sentidodo te6to1 7ostu&a 8ue o sentido n0o é a&!o iso&ado$ mas sur!e da re&a/0o1 S+ h5 sentido nae %e&a dieren/a1 Assim$ os eeitos de sentido %erceidos %e&o a&ante %ressu%em um

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sistema estruturado de re&a/es1 7or conse!uinte$ a Semi+tica n0o .isa %ro%riamente aosentido$ mas a sua ar8uitetura$ n0o tem %or o*eti.o estudar o conte3do$ mas a orma doconte3do1 Km termos mais sim%&es$ %oder4se4ia dizer 8ue a Semi+tica dese*a menosestudar o 8ue o te6to diz ou %or 8ue diz o 8ue diz e mais como o te6to diz o 8ue diz1 2eoutro &ado$ %rocura rea&izar o %ro*eto saussuriano$ 8ue %reconiza 8ue a Lin!"#stica seria%arte de uma ci-ncia mais !era&$ a Semio&o!ia$ 8ue$ se!undo o &in!"ista !enerino$estudaria os dierentes sistemas de si!nos e as &eis 8ue os re!em (;<=<, ?)1 A Semi+ticademarca4se da Semio&o!ia e$ %or isso$ assume outro nome$ %or8ue$ ao incor%orar oconceito saussuriano de .a&or$ torna4se uma teoria da si!niica/0o$ 8ue tem %or esco%odescre.er a %rodu/0o e a com%reens0o do sentido$ e n0o uma teoria do si!no1 Kn8uanto aSemio&o!ia usca.a descre.er sistemas de si!no$ como$ %or e6em%&o$ o sistema de si!nosda her5&dica (ounin$ ;<D,;E4;;)$ a Semi+tica .isa a com%reender o sistema dedieren/as res%ons5.eis %e&a %rodu/0o de sentido de um te6to1

Na Sem?ntica estrutural $ esta.a a idéia de 8ue o discurso com%orta n#.eis de in.arincia$mas n0o esta.a ainda constitu#do o %ercurso !erati.o$ ta& como o concee a Semi+ticaho*e1 Ana&isemo4&o ra%idamente1

O %ercurso !erati.o é constitu#do de tr-s %atamares, as estruturas undamentais$ as

estruturas narrati.as e as estruturas discursi.as1 Pa&e re&emrar 8ue estamos no dom#niodo conte3do1 As estruturas discursi.as ser0o maniestadas como te6to$ 8uando se unirema um %&ano de e6%ress0o no n#.e& da maniesta/0o1 @ada um dos n#.eis do %ercurso temuma sinta6e e uma semntica1

Na Cram5tica$ a sinta6e o%e4se M moro&o!ia1 Ksta ocu%a4se da orma/0o das %a&a.ras eda e6%ress0o das cate!orias !ramaticais %or moremas a8ue&a$ da comina/0o de%a&a.ras$ %ara ormar ora/es$ e de ora/es$ %ara constituir %er#odos1 Na Semi+tica$ asinta6e contra%e4se M semntica1 A8ue&a é o con*unto de mecanismos 8ue ordena osconte3dos esta$ os conte3dos in.estidos nos arran*os sint5ticos1 Oser.e4se$ no entanto$8ue n0o se trata de uma sinta6e %uramente orma&$ ou se*a$ n0o se o%em sinta6e esemntica como o 8ue n0o é dotado de si!niicado e o 8ue tem si!niicado1 Qm arran*osint5tico é dotado de sentido1 7or conse!uinte$ a distin/0o entre esses dois com%onentesreside no ato de 8ue a semntica tem uma autonomia maior do 8ue a sinta6e$ o 8uesi!niica 8ue se %odem in.estir dierentes conte3dos semnticos na mesma estruturasint5tica1

Ana&isemos a!ora cada um dos %atamares do %ercurso !erati.o de sentido1 O n#.e&undamenta& com%reende a(s) cate!oria(s) semntica(s) 8ue ordena(m)$ de maneira mais!era&$ os dierentes conte3dos do te6to1 Qma cate!oria semntica é uma o%osi/0o ta&8ue a .s $1 7odem4se in.estir nessa re&a/0o o%osi/escomo vida .s morte$ nature'a .s cultura$ etc1 Ne!ando4se cada um dos termos dao%osi/0o$ teremos não a .s não $1 Os termos a .s $ mant-m entre si uma re&a/0o decontrariedade1 A mesma coisa ocorre com os termos não a .s não $1 Kntre a e nãoa e $ e não $ h5 uma re&a/0o de contraditoriedade1 Ademais$ não a mantém com $$ assim

como não $ com a uma re&a/0o de im%&ica/0o1 Os termos 8ue mant-m entre si umare&a/0o de contrariedade %odem maniestar4se unidos1 Teremos um termo com%&e6o$8uando hou.er uma unidade a  $ e um termo neutro$ 8uando se estae&ecer a uni0ode não a com não $1 Ksse con*unto de re&a/es é muito im%ortante$ %ara ana&isar aes%eciicidade de a&!uns te6tos$ cu*a sinta6e undamenta& se caracteriza %e&a %resen/a determos com%&e6os ou neutros1 B o caso$ %or e6em%&o$ do mito1 ircea K&iade (D, ?)dizia 8ue e&e é a coincidentia oppositorum1 Ora$ se ana&isarmos seus mecanismos deestrutura/0o do sentido$ .eremos 8ue e&e se deine %or o%erar com termos 8ue unemo%ostos$ ou se*a$ com termos 8ue en!&oam e&ementos semnticos contr5rios1 O mito!re!o do andr+!ino$ %or e6em%&o$ conta 8ue esse ser reunia a mascu&inidade e aemini&idade1 No mito da mito&o!ia crist0$ @risto *unta a di.indade e a humanidade os

an*os en!&oam a n0o humanidade e a n0o di.indade a Pir!em aria articu&a amaternidade e a .ir!indade1

Kssa cate!oria semntica do n#.e& undamenta& é$ ent0o$ o e&emento mais sim%&es e

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astrato de ordenamento dos m3&ti%&os conte3dos do te6to1 O discurso eco&o!ista articu&a4se em torno da o%osi/0o semntica ci.i&iza/0o .s natureza1 Kstae&ecer a cate!oriasemntica de ase n0o é$ %orém$ o o*eti.o 3&timo da an5&ise1 B a%enas a%reender aarticu&a/0o mais !era& do te6to1 7ara com%reender$ no entanto$ toda a sua com%&e6idade é%reciso ir remontando aos n#.eis mais concretos e com%&e6os do %ercurso1

Ainda no n#.e& undamenta&$ os e&ementos em o%osi/0o transormam4se em .a&ores1 Isso é

eito soremoda&izando4os com um tra/o de %ositi.idade ou ne!ati.idade$ ou em termosmais %recisos$ com os tra/os euoria e disoria1 2ois te6tos %odem$ %or e6em%&o$traa&har com a mesma cate!oria semntica$ mas a6io&o!iz54&a dierentemente e isso .ai%roduzir discursos com%&etamente distintos1 7oder#amos$ %or e6em%&o$ dizer 8ue odiscurso dos eco&o!istas sore a Amazônia e o dos madeireiros sore a mesma 8uest0oo%eram com a mesma cate!oria semntica ci.i&iza/0o .s natureza1 Kntretanto$en8uanto a8ue&es consideram o %rimeiro termo da o%osi/0o ne!ati.o e o se!undo%ositi.o$ estes azem e6atamente o contr5rio1 O romance A cidade e as serras$ de K/a deueir+s$ constr+i4se sore a cate!oria ci.i&iza/0o .s natureza$ contra%ondo uma Moutra1 Na %rimeira %arte$ a ci.i&iza/0o tem .a&or %ositi.o e a natureza$ .a&or ne!ati.o1 Nase!unda %arte$ a a6io&o!ia se in.erte1

a) Toda a inte&ectua&idade nos cam%os se esteri&iza$ e s+ resta a estia&idade1 Nessesreinos crassos do .e!eta& e do anima& duas 3nicas un/es se mant-m .i.as$ a nutriti.a ea %rocriadora1 Iso&ada$ sem ocu%a/0o$ entre ocinhos e ra#zes 8ue n0o cessam de su!ar ede %astar$ suocando no c5&ido ao da uni.ersa& ecunda/0o$ a sua %ore a&ma toda seen!e&ha.a$ se reduzia a uma mi!a&ha de a&ma$ a uma a!u&hazinha es%iritua& a treme&uzir$como morta$ sore um naco de matéria e nessa matéria dois instintos surdiam$im%eriosos e %un!entes$ o de de.orar e o de !erar1 Ao cao de uma semana rura&$ de todoo seu ser t0o noremente com%osto s+ resta.a um estôma!o e %or ai6o um a&oU A a&maVSumida so a esta1 K necessita.a correr$ reentrar na cidade$ mer!u&har nas 5!uas&ustrais da ci.i&iza/0o$ %ara ne&as &ar!ar a crosta .e!etati.a$ e ressur!ir reumanizado$ deno.o es%iritua& e *ac#nticoU (%1 ED<4E>)

) as eu$ 5.ido %e&a hist+ria da8ue&a ressurrei/0o,

4 Knt0o n0o esti.este em LisoaV111 Ku te&e!raei111

ua& te&é!raoU ua& LisoaU Ksti.e &5 em cima$ ao %é da onte da Lira$ M somra duma!rande 5r.ore$su$ te%mine n0o sei 8u-$ a &er esse ador5.e& Pir!#&io111 K tamém a arran*aro meu %a&5cioU ue te %arece$ Wé FernandesV Km tr-s semanas$ tudo soa&hado$en.idra/ado$ caiado$ encadeiradoU111 (%1 ?D?)

7assemos a!ora ao se!undo %atamar, as estruturas narrati.as1 Qma narrati.a m#nimadeine4se como uma transorma/0o de estado1 Kste or!aniza4se da se!uinte orma, umsu*eito est5 em re&a/0o de con*un/0o ou de dis*un/0o com um o*eto1 Temos$ %ois$ doisti%os de estado, um dis*unto e um con*unto1 uando dizemos Pedro 4 rico$ temos umsu*eito Pedro em re&a/0o de con*un/0o com um o*eto ri/ue'a1 uando airmamos Pedro

não 4 rico$ temos um su*eito Pedro em re&a/0o de dis*un/0o com um o*eto ri/ue'a1 Atransorma/0o é$ %or conse!uinte$ a mudan/a da re&a/0o entre su*eito e o*eto1 Se h5 doisti%os de o*etos$ as transorma/es %oss#.eis ser0o tamém duas, de um estado inicia&con*unto %ara um estado ina& dis*unto e de um estado inicia& dis*unto %ara um estadoina& con*unto1 Assim$ o %e8ueno te6to Um fa&ineiro de São Paulo %anhou um milhão ded-lares na Sena é uma narrati.a$ %or8ue contém uma transorma/0o de um estado inicia&dis*unto$ em 8ue o su*eitofa&ineiro esta.a em dis*un/0o com a ri/ue'a$ %ara um estadoina& em 8ue o mesmo su*eito est5 em con*un/0o com o o*eto1

As transorma/es narrati.as articu&am4se numa se8"-ncia canônica$ assim chamada$%or8ue$ de um &ado$ re.e&a a dimens0o sinta!m5tica da narrati.a e$ de outro$ mostra asases ori!atoriamente %resentes no simu&acro da a/0o do homem no mundo$ 8ue é a

narrati.a1 A %rimeira ase é amanipula0ão" Ne&a$ um su*eito transmite a outro um 8uerereou um de.er1 Kssa ase %ode ser concretizada como um %edido$ uma s3%&ica$ umaordem$ etc1 Temos$ %or e6em%&o$ uma mani%u&a/0o %or %ro.oca/0o$ 8uando o

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mani%u&ador diz ao mani%u&ado 8ue e&e é inca%az de rea&izar uma a/0o$ es%erando 8ue$como rea/0o$ e&e a e6ecute com .istas a %ro.ar 8ue é %ereitamente ca%az de az-4&a1 Ase!unda ase é a da compet3ncia1 Ne&a$ um su*eito atriui a outro um saer e um %oderazer1 uando$ num conto mara.i&hoso$ uma ada d5 a um %r#nci%e um o*eto m5!ico$ 8ue&he %ermitir5 rea&izar uma a/0o e6traordin5ria$ est5 dando4&he um %oder azer$i!urati.izado %e&o reerido o*eto m5!ico1 A terceira ase é a perf-rmance1 Ne&a$ ocorre atransorma/0o %rinci%a& da narrati.a1 Num conto de adas em 8ue a %rincesa oi ra%tada%e&o dra!0o$ a %er+rmance ser5 a &ierta/0o da %rincesa1 A 3&tima ase é a da san0ão1Temos dois ti%os de san/es$ a co!niti.a e a %ra!m5tica1 A8ue&a é o reconhecimento %orum su*eito de 8ue a %er+rmance de ato ocorreu1 Km muitos te6tos$ essa ase é muitoim%ortante$ %or8ue é ne&a 8ue as mentiras s0o desmascaradas$ os se!redos s0odes.e&ados$ etc1 A san/0o %ra!m5tica %ode ou n0o ocorrer1 7ode ser um %r-mio ou umcasti!o1 Na chamada narrati.a conser.adora$ %or8ue tem a ina&idade de reiterar os.a&ores co&ocados na ase da mani%u&a/0o$ os ons s0o %remiados e os maus casti!ados1J5 numa no.e&a como ustine$ de Sade$ cada .ez 8ue a %ersona!em a!e se!undo osditames da mora& crist0$ recee um casti!o1

Kssas ases mant-m entre si uma re&a/0o de im%&ica/0o rec#%roca1 @om eeito$ se sereconhece 8ue a&!o oi rea&izado$ é %or8ue eeti.amente o oi ou$ ao menos$ %arece ter

sido1 7ara 8ue um su*eito %ossa e6ecutar uma a/0o$ é %reciso 8ue e&e saia e %ossa az-4&o$ isto é$ se*a com%etente %ara isso$ e$ ao mesmo tem%o$ 8ueira eou de.a az-4&o1

A se8"-ncia canônica n0o é uma ôrma onde se az caer a narrati.a1 Ao contr5rio$in3meras %ossii&idades de.em ser &e.adas em conta$ %ara %ermitir des.e&ar a ormaes%ec#ica 8ue a narrati.idade assume num te6to %articu&ar1 Km %rimeiro &u!ar$ é %recisonotar 8ue certas ases %odem ser %ressu%ostas1 Se tomarmos o %e8ueno te6tomencionado acima 8ue re&ata 8ue um a6ineiro !anhou um mi&h0o de d+&ares na Sena$.eremos 8ue estamos a%enas narrando a %er+rmance1 No entanto$ h5 uma ase decom%et-ncia %ressu%osta, s+ %ode !anhar 8uem tem um i&hete$ 8ue é$ %or conse!uinte$um %oder !anhar1 Km se!undo &u!ar$ é necess5rio destacar 8ue certos te6tos d0o mais-nase a uma ase 8ue a outras1 7or e6em%&o$ o %ro!rama A/ui e a%ora e uma no.e&a

%o&icia& do ti%o in!&-s narram crimes1 No entanto$ a dieren/a da aorda!em dos doiste6tos reside no ato de 8ue a8ue&e acentua a %er+rmance (como a!iu o assassino$ 8ua&oi seu %rocedimento %ara matar a .#tima$ etc1)$ en8uanto este e.idencia a san/0o (adescoerta da identidade do assassino %e&o deteti.e)1 Km terceiro$ cae &emrar 8ue umanarrati.a com%&e6a é constitu#da de in3meras se8"-ncias 8ue se articu&am %or %arata6eou %or hi%ota6e$ ou se*a$ uma %ode4se co&ocar ao &ado de outra ou estar suordinada aoutra1 5 uma re&a/0o hi%ot5tica entre as se8"-ncias$ %or e6em%&o$ na hist+ria da meninada i&ha de &eite1 5 uma re&a/0o %arat5tica$ %or e6em%&o$ em contos mara.i&hosos em8ue o her+i de.e rea&izar in3meras %ro.as inici5ticas1 2izer 8ue a narrato&o!ia ormu&ada%e&a Semi+tica é uma 9camisa de or/a9 ou 8ue n0o se a%&ica a te6tos mais com%&e6os édesconhecer os %rinc#%ios dessa teoria narrati.a1

N0o é %oss#.e& no es%a/o deste te6to e6%&icar toda a teoria narrato&+!ica 8ue oidesen.o&.ida$ a %artir das ormu&a/es de 7ro%% e de Lé.i4Strauss$ %e&a Semi+ticarancesa1 O 8ue im%orta é 8ue se entendam os dierentes n#.eis de in.arincia do %ercurso!erati.o de sentido1 5$ %orém$ a&!uns e&ementos da semntica narrati.a 8ue de.em serdestacados$ de%ois de termos %ercorrido$ de maneira muito sucinta$ a&!uns as%ectos dasinta6e narrati.a1

5 dois ti%os de o*etos uscados %e&os su*eitos, os o*etos modais (o 8uerer$ o de.er$ o%oder e o saer) e os o*etos de .a&or1 Os %rimeiros s0o os o*etos necess5rios %ara aoten/0o dos se!undos$ 8ue s0o o o*eti.o 3&timo da a/0o narrati.a1 Assim$ s0o o*etosde .a&or a ri/ue'a nas hist+rias do Tio 7atinhas$ a notoriedade nas a/es de L#&ian Ramos;$o pra'er  nos D dias de Sodoma$ de Sade1 B e6atamente nos conte3dos in.estidos nos

o*etos 8ue se d5 a articu&a/0o entre o n#.e& undamenta& e o n#.e& narrati.o1 Osconte3dos do n#.e& undamenta& s0o concretizados nos o*etos do n#.e& narrati.o1 uandose narra a hist+ria da com%ra de um a%artamento$ o dinheiro 8ue se *untou n0o constituium o*eto .a&or$ mas um o*eto moda&$ %or8ue e&e é o %oder com%rar1

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B %reciso res%onder a!ora a uma d3.ida$ 8ue de.e estar %resente na cae/a do &eitordesde o momento em 8ue &eu 8ue o %ercurso !erati.o de sentido com%orta um n#.e&narrati.o1 as ent0o todos os te6tos t-m um n#.e& narrati.oV 7ara a Semi+tica$ sim1 Bc&aro 8ue é %reciso entender a narrati.idade como 8ua&8uer transorma/0o de estado1Im%&#cita ou e6%&icitamente$ todos os te6tos traa&ham com transorma/es1 Tomemos um8ue a teoria tradiciona& dos !-neros n0o %oderia considerar$ de maneira nenhuma$narrati.o, um teorema1 Ksse te6to articu&a4se em tr-s %artes, o enunciado do teorema$ ademonstra/0o e a airma/0o de 8ue a demonstra/0o se ez (/"e"d"$ /uod eratdemonstrandum)1 uando se az a airma/0o ina&$ o 8ue se est5 dizendo é 8ue$ no te6to$se %assou de um estado de não demonstrado %ara um de demonstrado1 Teremos umadescri/0o$ 8uando a transorma/0o narrati.a icar im%&#cita$ ou se*a$ 8uando se traa&hara%enas com o estado inicia& ou o estado ina&1 7or isso$ é 8ue se diz 8ue$ na maioria doscasos$ n0o temos descri/es %uras, em !era&$ e&as ser.em %ara iniciar um te6to$ 8ue$ emse!uida$ ser5 mudado em narra/0o1 Teremos a narra/0o$ 8uando se enocar atransorma/0o %ro%riamente dita1 Assim$ uma descri/0o %assa a narra/0o$ 8uando see6%&icita a transorma/0o 8ue est5 im%&#cita na descri/0o1

7assemos a!ora %ara o terceiro n#.e&$ o discursi.o1 Ksse %atamar é a8ue&e em 8ue sere.estem as estruturas narrati.as astratas1 Su%onhamos 8ue ti.éssemos a se!uinte

estrutura narrati.a Um su@eito A /ue estava em con@un0ão com o o$@eto .ida  entra emdis@un0ão com ele" Kssa estrutura %oderia ser concretizada como assassinato$ se o su*eitoo%erador da dis*un/0o or concretizado como um ser humano dierente de Acomo suic.dio$ se o su*eito o%erador da dis*un/0o e A orem concretizados como a mesma%ersona!em como morte por acidente se o su*eito o%erador or concretizado como umdesastre ou uma cat5stroe natura&$ etc1 Ksse é um %rimeiro n#.e& de concretiza/0o12e%ois$ essa concretiza/0o %rimeira é suscet#.e& de uma no.a concretiza/0o1Oassassinato %ode ser concretizado como um tiro dado por ladr1es durante um rou$o oucomoespancamento reali'ado por policiais numa ele%acia" Temos$ ent0o$ dois n#.eis deconcretiza/0o das estruturas narrati.as, a tematiza/0o e a i!urati.iza/0o1 Se aconcretiza/0o %arar no %rimeiro n#.e&$ teremos te6tos tem5ticos se .ier até o se!undo$teremos te6tos i!urati.os1 Os %rimeiros s0o com%ostos predominantemente de temas$isto é$ de termos astratos os se!undos$ preponderantemente de i!uras$ ou se*a$ determos concretos1 @ada um desses ti%os de te6to tem uma un/0o dierente, os tem5ticose6%&icam o mundo os i!urati.os criam simu&acros do mundo1 7or e6em%&o$ uma tese 8uediscutisse a situa/0o de %en3ria e as %éssimas condi/es de traa&ho dos o%er5riosranceses nas minas de car.0o no sécu&o 'I'$ a 8uest0o da %rodu/0o da mais .a&ia e as&utas %ara me&horar essas condi/es de .ida seria um te6to tem5tico *5 o ;erminal $ deWo&a$ 8ue trata desses mesmos assuntos$ é um te6to i!urati.o$ %ois az umare%resenta/0o de tudo isso1 A disserta/0o é tem5tica$ en8uanto a descri/0o e a narra/0os0o i!urati.as1 @om%reender um te6to i!urati.o é$ antes de mais nada$ entender ocom%onente tem5tico 8ue su*az Ms i!uras1

O %ercurso !erati.o é com%osto de n#.eis de in.arincia crescente$ %or8ue um %atamar%ode ser concretizado %e&o %atamar imediatamente su%erior de dierentes maneiras$ istoé$ o %atamar su%erior é uma .ari5.e& em re&a/0o ao imediatamente inerior$ 8ue é umain.ariante1 A mesma estrutura narrati.a$ Um su@eito /ue entra em dis@un0ão com o o$@etovida$ %ode ser tematizada comoassassinato suic.dio morte por acidente etc1 O mesmotema %ode ser i!urati.izado de dierentes maneiras1 Assim$ o tema da evasão %ode seri!uratizado %e&a ida %ara um mundo ima!in5rio$ como a 7as5r!ada de anue& :andeira$ou %or uma .ia!em %e&os mares do su&1 As otono.e&as e as te&eno.e&as traa&ham 8uasesem%re com a mesma estrutura narrati.a e !era&mente com os mesmos temas (ascens0osocia&$ rea&iza/0o aeti.a$ etc1) i!urati.izados de maneira dierente1

Kntra a8ui a 8uest0o das dierentes &eituras de um te6to1 A Semi+tica denomina isoto%ia arecorr-ncia de tra/os semnticos 8ue determinam um dado %&ano de &eitura1 Qm te6to%ode ter .5rias isoto%ias e$ %or conse!uinte$ .5rios %&anos de &eitura1 Qm te6to como ,ferra%eiro de Carmona$ de J1 @ara&$ %ode ter uma &eitura re&ati.a ao traa&ho com o erroe uma concernente ao traa&ho com a &in!ua!em1 Kssa se!unda &eitura transorma o

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%oema num meta%oema1 Isso si!niica 8ue$ %ara a Semi+tica$ um te6to %ode ter .5rias&eituras$ mas e&as *5 est0o inscritas ne&e1 N0o resu&tam da su*eti.idade do &eitor$ mas deor!aniza/es semnticas 8ue se entrecruzam e se su%er%em no te6to1

A sinta6e do discurso com%reende as %ro*e/es da enuncia/0o no enunciado e os%rocedimentos 8ue o enunciador uti&iza %ara %ersuadir o enunciat5rio a aceitar o seudiscurso1 A8ue&as aarcam a tem%ora&iza/0o$ a es%acia&iza/0o e a actoria&iza/0o1 Sendo a

enuncia/0o$ como mostra.a :en.eniste$ a instncia do e%o(hic(nunc $ o %rocesso dediscursi.iza/0o n0o e6iste sem a instaura/0o de %essoas$ es%a/os e tem%os1 Todas as%essoas$ es%a/os e tem%os insta&ados no enunciado est0o de a&!uma orma re&acionadosao eu(a/ui(a%ora da enuncia/0o1 A&ém disso$ h5 um com%onente as%ectua&$ 8ue %ro*etano discurso %ontos de .ista de um oser.ador sore as cate!orias enunciati.as1E O 8ueim%orta é determinar os eeitos de sentido !erados %e&as dierentes %ro*e/es daenuncia/0o no enunciado1 7or e6em%&o$ é %reciso ana&isar 8ua& é o eeito de sentido criado%e&a aus-ncia do eu no discurso narrati.o$ 8uando$ ent0o$ como acontecia no natura&ismo$os atos %arece narrarem4se %or si mesmos1 7or outro &ado$ ao recusar o %onto de .ista daTeoria da Inorma/0o de 8ue a comunica/0o é uma transmiss0o de 9no.idades9 entre dois%+&os neutros$ a Semi+tica considera 8ue um com%onente determinante do %rocessocomunicaciona& é o azer crer1 7or isso$ o com%onente ar!umentati.o ad8uire um re&e.omuito !rande na teoria1 Ar!umenta/0o é 8ua&8uer mecanismo %e&o 8ua& o enunciadorusca %ersuadir o enunciat5rio a aceitar seu discurso$ a aco&her o simu&acro de si mesmo8ue cria no ato de comunica/0o1

@omo oi dito acima$ desde a ora inau!ura& da Semi+tica rancesa$ esta.a %resente aidéia de 8ue o discurso tem in.ariantes$ 8ue se rea&izam de maneira .ari5.e&1 Assim$ amesma estrutura undamenta& %ode ser narrati.izada de .5rias maneiras as mesmasestruturas narrati.as %odem ser discursi.izadas de modos .ari5.eis o mesmo tema %odeser i!urati.izado dierentemente1 7ortanto$ a idéia do %ercurso !erati.o de sentido *5 seacha.a emrionariamente eso/ada na Sem?ntica estrutural 1 No entanto$ esse arcaou/oho*e conhecido %or %ercurso narrati.o oi se eso/ando ao &on!o do tem%o$ %ara darconta$ como *5 se disse$ do as%ecto .ariante e in.ariante do discurso1 K&e n0o é uma

camisa de or/a$ em 8ue se de.em eniar todos os te6tos$ mas um mode&o de an5&ise e de%re.isii&idade$ 8ue$ ao mesmo tem%o$ e6%e !enera&iza/es s+cio4hist+ricas (in.ariantes)e es%eciicidades de cada te6to (.ariantes)1

antida a conce%/0o do %ercurso !erati.o$ é %reciso dizer 8ue$ %or razes hist+ricas$ on#.e& narrati.o oi o mais em e6%&orado até ho*e$ o 8ue n0o si!niica$ %orém$ 8ue osoutros n#.eis n0o tenham tido desen.o&.imento1 Na %rimeira ase$ a da constitui/0o do%ercurso !erati.o$ a Semi+tica a%&ica4se a estudar os simu&acros da a/0o do homem nomundo %resentes nas narrati.as1 K&aora assim uma teoria da %er+rmance1 Anarrati.idade é entendida como 9uma transorma/0o de estado$ o%erada %e&o azertransormador de um su*eito 8ue a!e sore o mundo em usca de determinados .a&oresin.estidos no o*eto9 (:arros$ ;<<,>)1 Ana&isa os con&itos entre su*eitos 8ue uscam o

mesmo o*eto1 7ara desen.o&.er essa teoria da a/0o$ transormou a no/0o %ro%%iana deun/0o na no/0o de enunciado narrati.o (:arros$ ;<<,>4>)1 O conceito de un/0o em7ro%% diz res%eito a unidades sinta!m5ticas constantes so a mu&tiorme su%er#cie dasnarrati.as1 A sucess0o dessas in.ariantes constitui o re&ato1 Kssa no/0o oi %recisada como conceito de enunciado narrati.o1 7ara a Semi+tica$ como *5 se mostrou$ h5 dois ti%os deenunciados e&ementares$ o de estado e o de azer$ 8ue deri.am da e6ist-ncia de duasre&a/es4un/0o, a *un/0o (con*un/0o e dis*un/0o) entre um su*eito e um o*eto e atransorma/0o$ 8ue é a mudan/a de uma re&a/0o de *un/0o1 2essa no/0o de enunciadonarrati.o decorre o ato de 8ue é %oss#.e& %re.er or!aniza/es hierar8uizadas deenunciados1 Kstes or!anizam4se em %ro!ramas narrati.os (um enunciado de azerre!endo um enunciado de estado)$ em %ercursos narrati.os (encadeamentos &+!icos de%ro!ramas narrati.os em 8ue um %ro!rama %ressu%e outro) e em se8"-ncias narrati.as(em 8ue se or!anizam os %ercursos narrati.os)1 @om isso$ constr+i4se uma sinta6enarrati.a hierar8uicamente or!anizada e n0o uma sim%&es sucess0o de unidadessinta!m5ticas$ como %re.ia o mode&o %ro%%iano1 Nessa sinta6e$ .ai4se do %ro!rama ao

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%ercurso e deste M se8"-ncia$ estae&ecendo um mode&o de %re.isii&idade da narrati.a$8ue %ode dar conta da es%eciicidade de cada re&ato sin!u&ar$ dado 8ue esses n#.eis s0oem%re!ados recursi.amente e 8ue t-m um desdoramento %o&-mico1 2e um &ado$%ro!ramas$ %ercursos e se8"-ncias %odem ser re%etidos indeinidamente$ encai6ando4se$sucedendo4se$ etc1 de outro$ toda narrati.a tem uma dimens0o %o&-mica (c1 :arros$;<<,>E), a um su*eito corres%onde um anti4su*eito a uma a%ro%ria/0o$ umdesa%ossamento1 Isso 8uer dizer 8ue um re&ato %ode ser eito de dois %ontos de .ista, umrouo %ode ser contado do %onto de .ista do &adr0o ou da .#tima a hist+ria da Cata:orra&heira %ode ser re&atada do %onto de .ista da +r0 sumetida a duros traa&hos e damadrasta e suas i&has$ do %r#nci%e 8ue %rocura.a uma es%osa e da mo/a 8ue %erdeu osa%atinho1 Kssa sinta6e .ai do mais sim%&es ao mais com%&e6o1

A%esar do sa&to dado %e&a teoria narrati.a %ro%osta %e&a Semi+tica$ esse mode&oa%resenta uma &imita/0o muito !rande1 Seu mito de a%&ica/0o s0o as narrati.as dachamada %e8uena &iteratura (:arros$ ;<<,>)1 @om eeito$ um mode&o 8ue considera anarrati.a como a usca de .a&ores$ como a/0o do homem no mundo$ s+ %ode a%&icar4seM8ue&es te6tos 8ue a%resentem um com%onente %ra!m5tico muito orte, %or e6em%&o$ asnarrati.as o&c&+ricas1

Ao com%reender a &imita/0o dada %e&o a&cance das a%&ica/es$ a Semi+tica .ai %assar %arauma se!unda ase$ em 8ue .ai interessar4se %e&a com%et-ncia moda& do su*eito 8uerea&iza a transorma/0o1 Nessa ase$ as in.esti!a/es incidem menos sore a a/0o e maissore a mani%u&a/0o (:arros$ ;<<,>4>>)1

7arte4se da constata/0o de 8ue s+ %ode e6ecutar uma a/0o 8uem %ossuir %ré4re8uisitos%ara isso$ ou se*a$ de 8ue o azer e6i!e condi/es %ré.ias1 S+ %ode rea&izar uma a/0o osu*eito 8ue 8uer eou de.e$ sae e %ode azer1 B isso 8ue se chama com%et-ncia moda& dosu*eito1 A moda&iza/0o do azer é a soredetermina/0o de um %redicado do azer %or outro%redicado (8uererde.ersaer%oder)1 Ao reconhecer isso$ a Semi+tica come/a a rea&izaruma ti%o&o!ia muito mais ina dos su*eitos1 7ode ha.er su*eitos coa!idos$ 8ue de.em$ masn0o 8uerem rea&izar uma a/0o su*eitos 8ue arontam o sistema (her+is 8ue a!emsozinhos)$ 8ue 8uerem$ mas n0o de.em su*eitos im%otentes$ 8ue 8uerem eou de.em$mas n0o %odem e assim %or diante1 @om a moda&iza/0o do su*eito$ a Semi+tica %assa aana&isar tamém seu modo de e6ist-ncia, su*eitos .irtuais$ os 8ue 8uerem eou de.emazer$ su*eitos atua&izados$ os 8ue saem e %odem azer su*eitos rea&izados$ os 8ueazem1 Qma !ama muito !rande de te6tos %assa a!ora a ser e6%&icada %e&a teoria,a8ue&es em 8ue h5 %ersona!ens sonhadoras$ mas 8ue s0o inca%azes de %assar M a/0oa8ue&es em 8ue h5 %ersona!ens rea&izadoras$ etc1

Nessa ase$ o estudo das moda&iza/es est5 ainda muito &i!ado M a/0o$ %ois o 8ue sein.esti!a s0o as condi/es necess5rias %ara sua rea&iza/0o1 No entanto$ isso re%resentouum sa&to muito !rande$ %ois$ se se %ensar n0o a%enas no su*eito 8ue tem suacom%et-ncia moda& a&terada$ mas na8ue&e 8ue rea&iza essa a&tera/0o$ %assa4se do estudoda a/0o ao da mani%u&a/0o$ ou se*a$ do azer ao do azer azer1 A!ora$ n0o se %rocura

mais a%enas e6%&icar as re&a/es entre su*eito e o*eto$ mas entre su*eitos$ o 8ue &e.a auma conce%/0o de narrati.a como uma sucess0o de estae&ecimentos e ru%turas decontratos (:arros$ ;<<,>=)1 A8ui come/a todo um e6ame dos %rocedimentos demani%u&a/0o1 Kstudam4se a %ro.oca/0o$ o desaio$ a tenta/0o$ a sedu/0o$ a intimida/0o$etc1 7or outro &ado$ come/a4se a a%roundar o estudo dos mecanismos da san/0o$ se*a e&aco!niti.a ou %ra!m5tica1 O %ercursos da mani%u&a/0o e da san/0o constituem a dimens0oco!niti.a da narrati.a e en8uadram sua dimens0o %ra!m5tica1

@om o estudo da dimens0o co!niti.a$ a Semi+tica mostra 8ue a or!aniza/0o daintersu*eti.idade é articu&ada %or meio de estruturas %o&-micas e contratuais1 7ore6em%&o$ en8uanto a teoria mar6ista .- a ist+ria como uma estrutura %o&-mica(&emremo4nos de 8ue o +anifesto comunista se inicia airmando 8ue a hist+ria da

humanidade é a hist+ria da &uta de c&asses)$ a conce%/0o &iera& enatiza os as%ectoscontratuais da constitui/0o do Kstado1 A&ém do e6ame dessas estruturas$ o estudo damani%u&a/0o are caminho %ara o estudo de su*eitos mani%u&ados %or sistemas de .a&ores

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dierentes1 7or e6em%&o$ na tra!édia c&5ssica$ o her+i tr5!ico sore uma mani%u&a/0o %or.a&ores contradit+rios1 Ant#!ona de.e o%tar entre a &ei di.ina$ 8ue determina.a 8ue osmortos ossem se%u&tados$ e a &ei do Kstado$ 8ue institu#a 8ue 8uem morresse$ &utandocontra a cidade$ de.eria %ermanecer inse%u&to1

A%esar de o cam%o de te6tos aran!ido %or essa teoria narrati.a ter aumentado$ %ossu#ae&a ainda um %ro&ema em re&a/0o ao dom#nio de a%&ica/0o1 A teoria narrati.a e6%&ica.a o

8ue se %oderiam chamar estados de coisas$ mas n0o o 8ue se denominariam estados dea&ma1 Até este %onto de seu desen.o&.imento$ a teoria traa&ha com te6tos em 8ue h5transer-ncia de o*etos tesauriz5.eis ou com te6tos em 8ue h5 estruturas di.ersas demani%u&a/0o e de san/0o1 No entanto$ h5 narrati.as 8ue o%eram com outros ti%os deo*etos1 om Casmurro$ de achado de Assis$ n0o é um romance sore a trai/0o$ massore o estatuto .eridict+rio dos atos$ sore certezas e incertezas$ sore a cria/0o doo*eto e a atriui/0o su*eti.a a e&e de um .a&or de .erdade ;o$seck $ de :a&zac$ trata daa.areza e dos %razeres %ro%orcionados %e&a %osse da ri8ueza ,telo$ de ShaXes%eare$aorda o ci3me e a mani%u&a/0o dos estados de a&ma de outrem #l ;attopardo$ deTommaso di Lam%edusa$ discute a recusa e a aceita/0o da mudan/a o e%is+dio doerimento do %r#nci%e Andrei$ em ;uerra e Pa' $ de To&stoi$ de&ineia o suti& %ro&ema da.er!onha do medo e do medo da .er!onha o i&me SalE os D dias de Sodoma$ de

7aso&ini$ mostra como a e6acera/0o do medo az ru#rem as normas da .er!onha1 7oder4se4ia continuar a citar te6tos em 8ue se trata de estados de a&ma$ em 8ue se discute o.a&or .eridict+rio do o*eto1 @omo o%erar com as 9%ai6es de %a%e&9$ os estados de a&manarradosV

7ara tratar dessa 8uest0o$ a Semi+tica %assa %or mais duas ases1 A %rimeira e6amina asmoda&iza/es do ser (:arros$ ;<<,>>4<;)1 Foi mostrado acima 8ue$ %ara a Semi+tica$e6istem dois ti%os de enunciados e&ementares, o de estado e o de azer1 O e6ame dasmoda&idades do azer &e.ou ao estudo das condi/es modais necess5rias %ara a rea&iza/0oda a/0o1 No entanto$ é %reciso .eriicar 8ue o su*eito de estado (um enunciado de estadoestae&ece uma re&a/0o de con*un/0o ou de dis*un/0o com um o*eto) %ode ser tamémmoda&izado1 N0o se tem$ nesse caso$ moda&iza/es do azer (8uerer azer$ de.er azer$

saer azer$ %oder azer)$ mas moda&iza/es do ser (8uerer ser$ de.er ser$ saer ser e%oder ser)1 O su*eito de estado$ %or e6em%&o$ 8uer entrar em con*un/0o com um dadoo*eto1 Nesse caso$ o o*eto é dese*5.e& %ara o su*eito$ en8uanto e&e é um su*eitodese*ante1 7or isso$ %oder4se4ia airmar$ com mais %ro%riedade$ 8ue a moda&iza/0o doestado incide sore o o*eto$ ou mais %articu&armente$ sore o .a&or ne&e in.estido e 8ueisso re%ercute sore a e6ist-ncia moda& do su*eito1 B o o*eto dese*5.e& 8ue az o su*eitodese*ante é o o*eto im%oss#.e& 8ue az o su*eito im%otente e assim %or diante1

A cate!oria euforiaFdisforia do n#.e& undamenta& con.erte4se em tra/os modais 8uemodiicam as re&a/es entre su*eito e o*eto1 Assim$ um .a&or marcado euoricamente non#.e& undamenta& con.erte4se$ %or e6em%&o$ em o*eto dese*5.e& no n#.e& narrati.o$en8uanto um .a&or dis+rico torna4se$ %or e6em%&o$ um o*eto temido no n#.e& narrati.o1

7or outro &ado$ h5 um outro ti%o de moda&iza/0o do ser$ 8ue se dierencia$ %e&o &u!ar em8ue incide$ da8ue&a até a!ora e6%osta1 Kn8uanto$ no caso acima$ a moda&iza/0o recaisore o o*eto$ neste caso$ 8ue %assamos a e6%or$ a moda&iza/0o incide sore a re&a/0ode con*un/0o ou de dis*un/0o 8ue &i!a su*eito e o*eto1 Trata4se de moda&idades.eridict+rias e e%ist-micas1 As .eridict+rias articu&am4se como estrutura moda&em ser .s parecer  e a%&icam4se M un/0o4*un/0o1 ostra4se 8ue um enunciado4 ou pareceser 1 No entanto$ essa moda&iza/0o n0o diz res%eito a nenhuma re&a/0o reerencia&$ mas aa&!o criado %e&o te6to1 Ser é o estatuto .eridict+rio e6%osto %e&a %r+%ria narrati.a ou$ emoutros termos$ %e&o narrador parecer é o estatuto .eridict+rio atriu#do a um estado %oruma %ersona!em1 Sei6as$ %ersona!em de Senhora$ de A&encar$ é .isto como um homemrico (%arece ser rico)$ mas o narrador mostra ao &eitor 8ue e&e é o i&ho de uma modesta

costureira (ser)1 Temos$ ent0o$ uma mentira, e&e n0o é rico$ mas %arece s-4&o1 Asmoda&idades .eridict+rias %ermitem estae&ecer o estatuto .eridict+rio dos estados,.erdade$ a&sidade$ mentira$ se!redo1 Os enunciados moda&izados .eridictoriamente%odem ser soredeterminados %e&as moda&idades e%ist-micas do crer , um su*eito cr- 8ue

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um estado %arece .erdadeiro ou é .erdadeiro$ etc1 A moda&iza/0o e%ist-mica resu&ta deuma inter%reta/0o$ em 8ue um su*eito atriui um estatuto .eridict+rio a um dadoenunciado1 Ne&a$ o su*eito com%ara o 8ue &he oi a%resentado %e&o mani%u&ador com a8ui&o8ue sae ou a8ui&o em 8ue cr-1 O estatuto .eridict+rio de um enunciado é dado %or um *u&!amento e%ist-mico$ em 8ue o crer %recede o saer$ o 8ue im%&ica reconhecer o car5terideo&+!ico da o%era/0o de inter%reta/0o1 7ara a Semi+tica$ crer e saer %ertencem aomesmo uni.erso co!niti.o e a distin/0o entre a ades0o iduci5ria$ re!ida %e&o crer$ e aades0o &+!ica$ comandada %e&o saer$ é o estae&ecimento de uma se%ara/0o entre doisti%os de raciona&idade$ 8ue$ na inter%reta/0o$ 8uando a%arecem situa/es$ como em omCasmurro$ de achado de Assis$ de .erdade ou a&sidade das certezas$ de d3.ida da.erdade$ etc1$ conundem4se$ misturam4se$ entrecruzam4se (Creimas$ ;<>E,;;4;EE)1

O estudo da moda&iza/0o do ser %ermite estae&ecer ti%o&o!ias de cu&turas (%or e6em%&o$h5 cu&turas 8ue .a&orizam mais o 8uerer do 8ue o de.er e outras 8ue azem o contr5rio)$dar re%resenta/es mais ade8uadas da a%&ica/0o dos c+di!os sociais de car5ter normati.o$como re!ras !ramaticais$ re!ras de %o&idez$ etc1 (ne&as$ cominam4se de.er e saer, oe6cesso de ze&o no c+di!o de %o&idez a%ro6ima4se da hi%ercorre/0o em !ram5tica$ 8uandoa um de.er azer n0o corres%onde um saer azer$ mas um n0o saer azer) (Creimas$;<>E,>>4<)1

Todo esse estudo das moda&iza/es do ser %assa ainda %e&o e6ame das com%atii&idades eincom%atii&idades entre as moda&idades1 7or e6em%&o$ o de.er ser é com%at#.e& com o%oder4ser$ ao %asso 8ue é incom%at#.e& com o n0o %oder ser1 @om eeito$ o 8ue énecess5rio de.e ser com%at#.e& com o 8ue é %oss#.e&$ mas n0o com o im%oss#.e&1 Noentanto$ cae &emrar 8ue as com%atii&idades e as incom%atii&idades nada t-m a .ercom o a%arecimento de certas cominat+rias modais nos te6tos1 Os su*eitos de estado%odem ser moda&izados %or moda&idades com%at#.eis ou incom%at#.eis entre si1 Qmsu*eito %ode 8uerer o 8ue %ode ser$ mas %ode 8uerer o 8ue n0o %ode ser1 A %erce%/0odessas com%atii&idades e incom%atii&idades are caminho %ara o estudo das %ai6es1

@he!a4se$ ent0o$ M 8uarta ase da Semi+tica1 A %ai60o é entendida$ inicia&mente$ %e&aSemi+tica como eeitos de sentido de 8ua&iica/es modais 8ue a&teram o su*eito deestado$ o 8ue si!niica 8ue é .ista como um arran*o das moda&idades do ser$ se*am e&ascom%at#.eis ou incom%at#.eis1 7or e6em%&o$ a ostina/0o deine4se como um 8uerer sera&iado a um n0o %oder ser$ en8uanto a doci&idade re3ne um 8uerer ser a um %oder ser1 Oostinado é a8ue&e 8ue 8uer$ a%esar da im%ossii&idade e.idente$ en8uanto o d+ci& &imita4se a dese*ar o 8ue é %oss#.e&1

A hist+ria moda& do su*eito de estado (transorma/es modais 8ue .ai sorendo) %ermiteestudar outros ti%os de te6tos narrati.os$ a8ue&es undados sore um %rocesso deconstru/0o ou de transorma/0o do ser do su*eito e n0o a%enas do seu azer1 Os eeitos desentido %assionais deri.am de arran*os %ro.is+rios de moda&idades$ de intersec/es ecomina/es entre moda&idades dierentes1 7or e6em%&o$ a .er!onha deine4se %e&acomina/0o do 8uerer ser$ n0o %oder n0o ser e saer n0o ser1 Os arran*os modais 8ue t-m

um eeito de sentido %assiona& s0o determinados %e&a cu&tura1A no/0o de %ai60o como arran*o de moda&idades %ermite estae&ecer uma dieren/a entreo atua&izado (a%reens0o de um %redicado do %onto de .ista das condi/es de rea&iza/0o) eo rea&izado1 A distin/0o entre /uerer morrer e morrer  reside no ato de 8ue$ no %rimeiro$uma série de roteiros é %oss#.e&$ en8uanto no se!undo$ n0o1 A dieren/a entre oatua&izado e o rea&izado %ermite$ %ois$ estae&ecer %otencia&iza/es$ o 8ue %ossii&itaana&isar atos 8ue %arece contrariarem a &+!ica narrati.a (c1 Fontani&&e$ ;<<,;D4;<)1S0o e6em%&os disso o a%e!o 8ue %erdura a%+s a morte do ser amado$ o*eto de inaan5&ise em +emorial de Aires$ de achado de Assis o ci3me$ sentimento indierente aoato de o outro ser ie& ou n0o1

A t#tu&o de e6em%&o das %ossii&idades a 8ue che!ou a Semi+tica com o estudo das%ai6es$ .amos ana&isar$ de maneira ainda %ouco orma&izada$ %ara 8ue o entendimentose*a maior$ a&!uns %ercursos %at-micos do conto 5oite de almirante$ de achado de Assis(;<D<,.1 II,??=4?;)1 O conto é astante com%&e6o do %onto de .ista dos estados de a&ma

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ne&e desen.o&.idos$ %or8ue entre&a/a moda&idades 8ue incidem sore o o*eto commoda&idades .eridict+rias e mostra 8ue os su*eitos t-m e6ist-ncia moda& dierente1

O marinheiro 2eo&indo$ ao .o&tar de uma &on!a .ia!em de instru/0o$ 9&e.a.a um !rande arde e&icidade aos o&hos9$ %or8ue uma !rande 9noite de a&mirante9 o es%era.a em terra1Tr-s meses antes de come/ar a .ia!em$ conhecera Ceno.e.a$ amos a%ai6onaram4se%erdidamente e e&e %artira em .ia!em$ de%ois de um 9*uramento de ide&idade9 rec#%roca1

5 a8ui uma situa/0o de es%era iduci5ria1 2eo&indo 8uer estar em con*un/0o com aide&idade e cr- 8ue Ceno.e.a de.e$ %or or/a do contrato$ rea&izar a con*un/0o dese*ada1A es%era n0o é tensa$ %ois o su*eito n0o a%resenta o eeito %at-mico da a&i/0o1 Aocontr5rio é re&a6ada$ %ois 2eo&indo est5 e&iz1 A e&icidade é um eeito de satisa/0o%roduzido %e&o saer %oder ser (%oss#.e&) a con*un/0o dese*ada1 Ao mesmo tem%o$ essa%ai60o indica 8ue 2eo&indo tinha conian/a (crer ser) em 8ue Ceno.e.a cum%riria ocontrato1

O narrador moda&iza o ato de ce&era/0o do contrato como .erdadeiro1 9N0o ha.ia descrerda sinceridade de amos, e&a chora.a doidamente$ e&e mordia o ei/o %ara dissimu&ar91

uando 2eo&indo$ de%ois de descer a terra$ che!a M casa em 8ue mora.a Ceno.e.a$ 9a.e&ha In5cia9 diz4&he 8ue e&a esta.a com outro$ residindo na 7raia Formosa1 A&tera4se$

ent0o$ a e6ist-ncia moda& de 2eo&indo1 A!ora$ sae 8ue Ceno.e.a n0o cum%riu o contrato$mantendo a ide&idade1 O su*eito crédu&o e coniante %assa a ser um su*eito insatiseito edece%cionado1 A%arece o sentimento de a&ta1 Ad8uire$ ent0o$ uma outra com%et-nciamoda&, 8uerer azer o ma&1 Assim$ come/a o %ercurso da re%ara/0o da a&ta, o da.in!an/a1 9As idéias marinha.am4&he no cérero$ como em hora de tem%ora&$ no meio daconus0o de .entos e a%itos1 Kntre e&as$ ruti&ou a aca de ordo$ ensan!"entada e.in!adora91

uando 2eo&indo che!a M 7raia Formosa$ Ceno.e.a recee4o com maneiras rancas1No.amente$ entram em cena as moda&idades .eridict+rias1 Ceno.e.a n0o tem o 8ueesconder$ est5 no dom#nio da .erdade (ser %arecer)1 2eo&indo .o&ta a ter es%eran/a$reassume a conian/a1 A .e&ha %oderia ter mentido ou ter4se en!anado$ re&atando um

%arecer 8ue n0o corres%onde a um ser$ azendo uma inter%reta/0o n0o .erdadeira dosatos1 A&tera4se sua e6ist-ncia moda&1 @r- %oder rea&izar a con*un/0o dese*5.e&1 asCeno.e.a n0o maniesta 9nenhuma como/0o nem intimidade9$ ou se*a$ mantém4seindierente e distante1

2iante desse estado %assiona&$ a&tera4se no.amente a e6ist-ncia moda& de 2eo&indo1 7assado crer ao n0o crer %oder rea&izar a con*un/0o dese*ada1 @om isso$ ressur!e o 8uerer.in!ar4se1 9Km a&ta de aca$ asta.am4&he as m0os %ara estran!u&ar Ceno.e.a$ 8ue eraum %edacinho de !ente$ e durante os %rimeiros minutos n0o %ensou em outra coisa91@ontém seu dese*o e diz4&he 8ue saia tudo1 K&a n0o mente1 2eo&indo tem um #m%eto$ o8uerer .in!ar4se retorna no.amente e&a 54&o %arar com a a/0o dos o&hos diz4&he 8ue$9se &he arira a %orta$ é %or8ue conta.a 8ue era homem de *u#zo9$ isto é$ 8ue n0o se

dei6a.a &e.ar %or estados %at-micos intensos1 Km se!uida$ conta4&he o amor 8ue sentira%or e&e$ mas diz 8ue seu cora/0o mudara1 udara o o*eto de seu 8uerer1 O narradormoda&iza .eridictoriamente suas %a&a.ras dizendo, 9N0o sorria de esc5rnio1 A e6%ress0odas %a&a.ras é 8ue era uma mesc&a de candura e cinismo$ de inso&-ncia e sim%&icidade$8ue desisto de deinir me&hor1 @reio até 8ue inso&-ncia e cinismo s0o ma& a%&icados1Ceno.e.a n0o se deendia de um erro ou de um %er*3rio n0o se deendia de nadaa&ta.a4&he o %adr0o mora& das a/es19 O 8ue e&a diz é .erdadeiro$ %ois e&a cr- n0o sercu&%ada de nada1 7or isso$ n0o 8uer criar um %arecer 8ue ocu&te o ser1

A 8uest0o da cu&%a distin!ue as duas %ersona!ens1 K&as .-em o contrato irmado entree&as de maneira dierente1 7ara 2eo&indo$ o *uramento é as%ectua&izado durati.amente (9O%ore maru*o cita.a o *uramento de des%edida$ como uma ori!a/0o eterna9)1 Ao rom%-4

&o$ Ceno.e.a ora %er*ura e in!rata$ %ois %assara a 8uerer n0o azer o em a 8uem de.iaori!a/0o1 A !ratid0o é uma %ai60o de ene.o&-ncia 8ue se articu&a numa reci%rocidade17ara Ceno.e.a$ o *uramento é as%ectua&izado com a %ontua&idade1 N0o %oderia ser%er*ura$ %or8ue 98uando *urou era .erdade91 N0o era in!rata$ %ois a !ratid0o im%&ica 8ue

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se este*a ori!ado a a&!uém e e&e$ durante a .ia!em$ n0o de.ia ter4se &emrado de&a (9Ke&e 8ue tanto enchia a oca de ide&idade$ tinha4se &emrado de&a %or onde andouV9)1 K&acr- 8ue e&e %ode n0o ter mantido o contrato$ o 8ue tamém a desori!aria de cum%ri4&o1 Ares%osta de&e oi dar4&he um %acote de %resentes onde esta.am uns rincos1 K&a icouconusa$ %or 9receer um mimo a troco de um es8uecimento91 Kst5$ ent0o$ moda&izada%or um saer 8ue 2eo&indo n0o %ode n0o ter mantido o *uramento e %or saer 8ue e&a n0oo mante.e1 Ao mesmo tem%o$ tem as %ai6es da satisa/0o (contentamento edes&umramento) %or saer 8ue est5 em con*un/0o com a ide&idade de 2eo&indo$i!urati.izada %e&os rincos1

Renasce a es%eran/a em 2eo&indo1 2e no.o$ tranorma4se sua e6ist-ncia moda&1 7assa don0o crer ao crer %oder rea&izar a con*un/0o dese*ada1 As razes %ara esse ressur!ir daes%eran/a est0o no ato de %ensar 8ue o *uramento %ode ser as%ectua&izado com a%ontua&idade e$ nesse caso$ se e&e ora .io&ado 8uando esta.a ausente$ %ode ser rom%ido$estando o outro ausente$ ou com a durati.idade e$ ent0o$ n0o seria ne!ado$ dado 8ueta&.ez e&a n0o ti.esse *urado nada ao outro1

K&a %ede 8ue 2eo&indo &he conte as a.enturas 8ue .i.era em terras &on!#n8uas1 2emonstraum enorme interesse %or e&as1 Kst5 moda&izada %or um 8uerer saer1 uando 2eo&indo

%ercee 8ue o o*eto de sua so&icitude eram seus re&atos e n0o e&e$ %assa no.amente aum estado de crer n0o %oder ser (9A es%eran/a (111) come/a.a a desam%ar54&o9)1

K&a mostra a uma ami!a os rincos 8ue e&e &he dera1 Ksta e&o!ia muito o %resente12eo&indo tem um momento de satisa/0o$ sae ter %odido rea&izar uma con*un/0odese*ada (9durante a&!uns se!undos$ saoreou o %razer e6c&usi.o e su%erino de ha.erdado um om %resente mas oram s+ a&!uns se!undos9)1

Sai caisai6o e &ento$ sem o #m%eto com 8ue che!ara1 Ksta.a tomado %e&o estado%at-mico da ine&icidade$ %or um saer n0o %oder ser1 as 8ue é 8ue e&e n0o %odia serV Ares%osta .ir5 em se!uida1 Ceno.e.a entrou em casa a&e!re e aru&henta$ esta.amoda&izada %or um saer %oder ser1 @onta M ami!a 8ue e&e dissera 8ue iria suicidar4se1 2ecerta orma$ suicidar4se era rea&izar a .in!an/a dese*ada$ %ois in&i!iria a Ceno.e.a a dor

do remorso$ ree8ui&irando$ assim$ a situa/0o %at-mica1 2iante do es%anto da ami!a$Ceno.e.a mostra 8ue sae 8ue e&e n0o %ode azer o 8ue %rometera$ %ois n0o é dotadodas %ai6es ortes e durati.as 8ue &e.am o su*eito a tornar4se com%etente %ara a.in!an/a$ a8ue&as 8ue o moda&izam com o %oder azer1 Ao contr5rio$ é a%enas dotado das%ai6es racas da ma&e.o&-ncia$ 8ue instauram um su*eito o%erador com a moda&idade do8uerer .in!ar4se$ mas n0o o atua&izam com o %oder .in!ar4se (9ua& o 8u-U N0o se mata$n0o1 2eo&indo é assim mesmo$ diz as cousas$ mas n0o az1 Poc- .er5 8ue n0o se mata1@oitado$ s0o ci3mes19)1 No ci3me$ h5 um n0o 8uerer n0o ser$ isto$ n0o 8uerer n0o estarem con*un/0o com um o*eto amado1 2eo&indo é moda&izado %e&o 8uerer$ mas n0o %e&o%oder$ é as%ectua&izado %e&a %ontua&idade (#m%eto)$ mas n0o %e&o durati.idade(%ersist-ncia)$ é modu&ado %e&a ai6a intensidade1

No dia se!uinte$ diante de seus co&e!as$ 2eo&indo maniesta o estado %at-mico dasatisa/0o$ deri.ado do saer estar em con*un/0o com o o*eto dese*ado1 Nota$ noentanto$ o narrador 8ue se trata de uma mentira1 2eo&indo %arece satiseito$ mas n0oest51 7or 8ue mentiuV 7or8ue %arece 8ue ti.era .er!onha da rea&idade1 Per!onha é 9umsentimento %enoso de sua inerioridade$ de sua indi!nidade ou de sua humi&ha/0o diantede outrem$ de seu reai6amento na o%ini0o dos outros91 2eri.a de uma san/0o co!niti.ane!ati.a$ a re%ro.a/0o %r+%ria ou a&heia1 Kssa re%ro.a/0o !era a .er!onha1 A .er!onha é$assim$ um estado de a&ma da ordem do saer, o su*eito sae 8ue n0o %ossui acom%et-ncia %ara um azer e6i!ido %e&o simu&acro de memro de um determinado !ru%osocia& ou 8ue ez a&!o em desacordo com a deonto&o!ia !ru%a&1 7or outro &ado$ é %recisotamém 8ue esse su*eito aceite esse simu&acro ou essa deonto&o!ia como um idea& a serse!uido$ %ois$ se n0o d5 nenhuma im%ortncia a e&es$ n0o ser5 atin!ido %e&o sentimento

de .er!onha1 Assim$ é necess5rio$ %ara 8ue esse estado de a&ma ocorra$ 8ue o de.er azere o de.er ser se tornem tamém um 8uerer azer e um 8uerer ser1 Se o su*eito émoda&izado %or um n0o 8uerer$ a!e dierentemente do simu&acro sem ser atin!ido %e&a

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.er!onha1 A%arecem$ ent0o$ os com%ortamentos atre.idos e inso&entes1 O sinta!ma moda&do eeito %at-mico da .er!onha é de.er serazer 8uerer serazer saer n0o %oderserazer ou saer (outro) saer 8ue a com%et-ncia re8uerida %e&o simu&acro n0o e6isteou 8ue a %er+rmance n0o corres%onde ao de.er1

Po&temos a 2eo&indo1 2iz o narrador, 9A .erdade é 8ue o marinheiro n0o se matou1 No diase!uinte$ a&!uns dos com%anheiros ateram4&he no omro$ cum%rimentando4o %e&a noite

de a&mirante$ e %ediram4&he not#cias de Ceno.e.a$ se esta.a mais onita$ se choraramuito na aus-ncia$ etc1 K&e res%ondia a tudo com um sorriso satiseito e discreto$ umsorriso de %essoa 8ue .i.eu uma !rande noite1 7arece 8ue te.e .er!onha da rea&idade e%reeriu mentir19 A .er!onha de 2eo&indo o%era so o si!no do se!redo1 K&e az umasan/0o ne!ati.a de sua %er+rmance de n0o se .in!ar1 N0o rea&iza a .in!an/a$ %or8ue n0o%ossui a moda&idade atua&izante do %oder4azer$ 8ue seu !ru%o socia& atriui ao homem1 Atrai/0o da mu&her de.e im%&icar necessariamente a .in!an/a rea&izada %e&o homem12eo&indo$ %orém$ é dotado a%enas das %ai6es racas do 8uerer1 7ara n0o %ermitir 8ue sua.er!onha se*a e6%osta$ o%ta %e&a mentira1 No n#.e& do %arecer$ mostra satisa/0o no doser$ insatisa/0o e dece%/0o1 A dece%/0o$ entretanto$ n0o é com Ceno.e.a$ mas consi!omesmo1

A an5&ise de te6tos de dierentes é%ocas e cu&turas 8ue %intam %ai6es de %a%e& (o ci3me$a a.areza$ a c+&era$ a indieren/a$ etc1) mostrou 8ue as %ai6es .ariam de uma cu&tura%ara outra$ de uma é%oca %ara outra1 7or e6em%&o$ a coni!ura/0o da a.areza é distintaem o&iYre e :a&zac1 Kn8uanto no %rimeiro$ o a.aro caracteriza4se %e&o entesouramento$no se!undo$ a%arece a&!o 8ue é %r+%rio da orma/0o socia& ca%ita&ista$ a idéia de 8ue odinheiro %roduz dinheiro1 Isso si!niica 8ue$ emora as %ai6es se caracterizemundamenta&mente %e&o arran*o das moda&idades$ a moda&iza/0o n0o é suiciente %ara%roduzir eeitos %assionais$ %ois as mesmas or!aniza/es modais %odem !erar ou n0osentidos %at-micos1 Ora$ isso ori!a a introduzir no.os e&ementos te+ricos1

7oder#amos dizer 8ue o 8ue caracteriza ho*e a %es8uisa semi+tica s0o duas dire/es, a) aan5&ise do 8ue est5 a&ém do %ercurso !erati.o de sentido em sua ormu&a/0o c&5ssica ) oestudo do 8ue est5 a8uém de&e e$ %or conse!uinte$ %ro%icia sua constitui/0o1 Ksse e6amedo a&ém e do a8uém do %ercurso determina seu ree6ame$ a re.is0o de seus n#.eis1

Fa/amos uma resumo das no.as dire/es$ cu*os %rinc#%ios oram eso/ados h5 mais oumenos tem%o e 8ue t-m a%resentado cada .ez mais resu&tados1

No estudo do a&ém do %ercurso$ ana&isa4se o %ro&ema dos sistemas semi4sim+&icos1 Asemi+tica estae&eceu$ a %artir da distin/0o h*e&ms&e.iana entre semi+ticas mono%&anas ei%&anas$ a dieren/a entre sistemas sim+&icos e sistemas semi+ticos1 7ara entender essadistin/0o$ é %reciso oser.ar uma caracter#stica dos s#mo&os, s0o !randezas isomoras Minter%reta/0o$ isto é$ e&ementos dotados de conte3do$ mas n0o %ass#.eis de uma an5&iseem unidades menores constituti.as de uma orma da e6%ress0o corre&acionada a umaorma do conte3do1 5$ nos sistemas sim+&icos$ uma corres%ond-ncia termo a termo

entre o %&ano da e6%ress0o e o %&ano do conte3do$ o 8ue si!niica 8ue e6iste umaconormidade tota& entre esses dois %&anos1 Assim$ %or e6em%&o$ a cruz !amada é os#mo&o do nazismo1 Kste é seu conte3do1 No entanto$ sua e6%ress0o n0o é constitu#da deunidades menores$ cu*a re&a/0o estae&eceria uma orma da e6%ress0o1 Seu conte3do$ domesmo modo$ n0o se constitui de unidades menores1 2a mesma orma$ a oice o marte&os0o o s#mo&o do comunismo1 Ksse s#mo&o n0o se dei6a ana&isar em unidades menores$mesmo 8ue$ historicamente$ a oice simo&ize o cam%esinato o marte&o$ o %ro&etariado eo cruzamento dos dois$ a uni0o dessas duas c&asses1 Na .erdade$ constitu#do o s#mo&o$ad8uire e&e um .a&or !&oa& e dei6a de ser ana&isado em unidades menores1

J5 nos sistemas semi+ticos n0o h5 uma conormidade entre o %&ano da e6%ress0o e o doconte3do1 @om eeito$ o conte3do dei6a4se ana&isar em semas (%or

e6em%&o$ touro ana&isa4se em o.ino$ macho$ re%rodutor) e a mesma coisa ocorrecom o %&ano da e6%ress0o$ 8ue se decom%e em emas1 N0o h5$ entretanto$corres%ond-ncia entre as unidades menores da e6%ress0o e as do conte3do1

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Os sistemas semi4sim+&icos s0o a8ue&es em 8ue a conormidade entre os %&anos dae6%ress0o e do conte3do n0o se estae&ece a %artir de unidades$ como nos sistemassim+&icos$ mas %e&a corre&a/0o entre cate!orias (o%osi/0o 8ue se undamenta numaidentidade) dos dois %&anos1 Assim$ na !estua&idade$ a cate!oria da e6%ress0o .ertica&idade .s horizonta&idade corre&aciona4se M cate!oria do conte3do airma/0o .s ne!a/0o1 Os sistemas semi4sim+&icos constituem a ase dos te6tos %oéticos1 S0o e&es8ue e6%&icam os eeitos de sentido !erados %e&as a&itera/es$ %e&o ritmo$ %e&as rimas$ etc1Oser.emos um e6em%&o1 Nos .ersos de Tiu&o 8ue se!uem$ nota4se uma o%osi/0o entrea concentra/0o de oc&usi.as no se!undo .erso e sua %e8uena %ro%or/0o no %rimeiro1 Kssao%osi/0o da e6%ress0o est5 corre&acionada a uma contraditoriedade do conte3do, aus-nciado tro%e& dos netos diante dos a.+s .s %resen/a do aru&ho 8ue azem1

ic ueniat Nata&is auis %ro&em8ue ministret$&udat et ante tuos tura noue&&a %edes (II$ $ ;4)

ue .enha o C-nio e aos a.+s conceda netos$e a *o.em tura rin8ue diante de ti1

O estudo dos sistemas semi4sim+&icos estae&ece as re&a/es entre o sens#.e& e ointe&i!#.e&$ %ois$ ao e6aminar as corre&a/es entre cate!orias da e6%ress0o e do conte3do$est5 des.e&ando 9os mecanismos re.e&adores da transi!ura/0o das sensa/es emmaniesta/es s#!nicas9 (Tei6eira$ ;<<>,E)1 O estudo do semi4simo&ismo tem um a&cancete+rico e um$ ana&#tico1 2e um &ado$ %ermite discutir$ com %roundidade$ o %a%e& da%erce%/0o sensoria& na %rodu/0o do sentido de outro$ %ossii&ita o e6ame acurado dasre&a/es entre e6%ress0o e conte3do (Tei6eira$ ;<<>,4=)$ o 8ue %ermite com%reenderme&hor os te6tos %oéticos (n0o s+ das %oéticas .erais$ mas tamém das %oéticas.isuais)$ 8ue se caracterizam %e&a %resen/a do semi4simo&ismo as semi+ticas sincréticas(a8ue&as$ como o cinema$ cu*o %&ano de conte3do é maniestado %or dierentes %&anos dae6%ress0o) o %rocesso tradut+rio$ se*a a tradu/0o intra4semi+tica dos te6tos %oéticos$se*a a tradu/0o intersemi+tica1 Km todos esses casos$ é %reciso n0o %erder de .ista a

im%ortncia das corre&a/es entre conte3do e e6%ress0o1No e6ame do a8uém do %ercurso$ é %reciso e6aminar as %ré4condi/es do a%arecimentodo sentido1 Se a si!niica/0o se a%resenta so a orma de unidades discretas$ é %recisoconsiderar 8ue essa discretiza/0o o%era sore um cont#nuo$ 8ue constitui uma%otencia&idade de sentido1 7ortanto$ é necess5rio introduzir a instai&idade e odes&izamento so a estai&idade do discurso1 A &in!ua!em é uma tens0o %ermanente entreestai&idade e instai&idade$ indierencia/0o e dierencia/0o é uma re&a/0o de e8ui&#rio%rec5rio deri.ado de or/as estai&izadoras e desestai&izadoras1 @omo diz Jac8uesFontani&&e$ em e&e!ante +rmu&a$ de%ois da ono&o!iza/0o da semntica$ che!ou omomento de sua %rosodiza/0o1 A ormu&a/0o te+rica das %ré4condi/es de si!niica/0o%ermite$ de um &ado$ com%reender me&hor a dimens0o estética e$ de outro$ a dimens0o

%at-mica da &in!ua!em1 @omecemos %or discutir ra%idamente a 8uest0o da e6%eri-nciaestética1

Km seu &i.ro e lGimperfection$ Creimas ana&isa a 8uest0o da e6%eri-ncia estética1 Na%rimeira %arte$ intitu&ada <a fracture$ e6amina cinco te6tos$ de dierentes escritores(Tournier$ @a&.ino$ Ri&Xe$ TanizaXi e @ort5zar)$ 8ue re&atam e6%eri-ncias estéticas$ %aramostrar o 8ue é a estesia1 A e6%eri-ncia estética é um e.ento e6traordin5rio en8uadrado%e&a cotidianeidade (;<>D,;<)$ é uma surrea&idade en!&oada %e&a rea&idade (;<>D,E)1Ne&a o tem%o %5ra$ o es%a/o i6a4se (;<>D,;4;=) e ocorre um sincretismo entre su*eito eo*eto (;<>D,E;)$ 8ue est0o dis*untos na tem%ora&idade de todos os dias1 Ras!a4se o%arecer im%ereito e a%arece a 9nosta&!ia da %erei/0o9$ 9ocu&ta %e&a te&a da im%erei/0o9$8ue constitui a rea&idade cotidiana (;<>D,;D)1 A estesia é o .is&umre do cont#nuo$ daus0o anterior M discretiza/0o$ %erdida %e&a constitui/0o da si!niica/0o1

A &eitura dessas cinco an5&ises$ no entanto$ chama a aten/0o %ara o ato de 8ue o o*etoestético n0o tem ne&as o mesmo estatuto1 O %r+%rio Creimas$ ao iniciar a an5&ise do te6tode @ort5zar$Continuidade dos par/ues (;<D$ ;;4;E)$ chama aten/0o %ara isso$ dizendo

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8ue$ com o autor ar!entino$ h5 uma mudan/a de %ro&em5tica$ %ois$ nos outros te6tos$ 9ae6%eri-ncia estética a%arecia como a a%reens0o e a reassun/0o di.ersa de a&!umra!mento do mundo natura&9$ en8uanto o o*eto 8ue se d5 a %erceer$ neste caso$ é um9arteato$ um o*eto &iter5rio constru#do9 4 n0o o te6to de @ort5zar$ mas o te6to no te6to 498ue$ %ro!ressi.amente$ conse!ue ocu%ar o &u!ar da Grea&idadeH conte6tua& descrita9(;<>D,)1 Nas 8uatro %rimeiras an5&ises$ o o*eto estético é 9natura&9$ en8uanto$ na8uinta$ %ertence ao dom#nio dos o*etos cu&turais1 7or e6em%&o$ no de Ita&o @a&.ino$ é oseio nu de uma mo/a deitada na %raia em Ri&Xe$ é o %erume do *asmim 8ue .em do%ar8ue em TanizaXi$ é a cor das somras1 Km @ort5zar$ ao contr5rio$ o o*eto estético é ote6to &iter5rio1

O conto narra 8ue um azendeiro come/ou a &er$ de maneira intermitente$ um &i.ro1 Qmdia$ de%ois de se ocu%ar dos ne!+cios$ %ôs4se a &er os 3&timos ca%#tu&os1 Tomou todos oscuidados %ara tornar sua &eitura o mais conort5.e& %oss#.e&1 Aos %oucos$ come/ou aaastar4se$ 9&inha a &inha$ da8ui&o 8ue o rodea.a9 e 9a antasia no.e&esca asor.eu4o9(;<D$ ;;)$1 Kssa %ersona!em do %&ano da enuncia/0o enunciada %enetra no enunciado$na a/0o romanesca$ %artici%ando como testemunha do encontro das %ersona!ens do &i.ro8ue esta.a &endo1 O homem .ai matar a&!uém1 @he!a a uma casa$ entra e encontra a%ersona!em a ser morta1 9A %orta do sa&0o$ e ent0o o %unha& na m0o$ a &uz dos *ane&es$

o a&to res%a&do de uma %o&trona de .e&udo .erde$ a cae/a do homem na %o&trona &endoum romance9 (;<D$ ;E)$1 A %ersona!em do enunciado %enetra no %&ano da enuncia/0oenunciada e .ai matar o &eitor1 O conto é uma narrati.a da &eitura de um romance$ oumais e6tensamente$ é o re&ato da &eitura da &iteratura$ ou mais am%&amente ainda$ é oraconto da &eitura do o*eto art#stico1 Kssa narrati.a contém um eso/o de uma teoria dae6%eri-ncia estética1 A i&us0o romanesca é uma or/a 8ue se a%odera do su*eito %restes aaco&h-4&a (;<>D,D)1 O su*eito aasta4se da rea&idade enra8uecida e e.anescente e éasor.ido %e&o mundo da i&us0o (;<>D,<)1 5$ %ois$ uma us0o do su*eito com o o*eto1A ic/0o é uma surrea&idade 8ue aco&he em seu interior$ 8uando da a%reens0o estética$ osu*eito (;<>D,=?)1 Ksse ato de matar sus%enso é 9a re%resenta/0o sim+&ica do im%acto%roduzido %e&a ora tr5!ica sore o es%ectador$ isto é$ da catarse aristoté&ica9 (;<>D,=D)1A 9eic5cia su%rema do o*eto &iter5rio 4 ou mais am%&amente$ estético 4 sua con*un/0oassumida %e&o su*eito$ n0o est5 na sua disso&u/0o$ na %assa!em ori!at+ria %e&a morte do&eitor4es%ectador 4 %er!unta Creimas (;<>D,=D)V

Kssa us0o é$ na .erdade$ uma mudan/a de %&ano enunciati.o1 O su*eito %assa do %&anoda enuncia/0o enunciada %ara o do enunciado enunciado1 Km A rosa p6rpura do Cairo$ deZoody A&&en$ a mu&her$ ma&tratada %e&o marido ruta&$ reu!ia4se no cinema %ara es8ueceras a!ruras de sua .ida triste1 Sua us0o com o o*eto #&mico é i!urati.izada %e&a entradana a/0o do i&me$ %ara .i.er uma hist+ria de amor$ uma .ida cheia de a.enturas$ com o!a&0 do cinema1 Nessa outra dimens0o enunciati.a$ o su*eito dei6a a rea&idade dae6ist-ncia$ %ara .i.er$ durante o tem%o da e6%eri-ncia estética$ uma surrea&idade$ umase!unda .ida1 Ksses e6em%&os mostram a ecundidade da 8uest0o te+rica das %ré4condi/es da si!niica/0o$ %ara a com%reens0o de certos ti%os de te6tos1

7or outro &ado$ a dimens0o %assiona& %ermite ana&isar$ %or meio dos %rocedimentos dacon.oca/0o enunciati.a$ a retomada do cont#nuo no discurso1 As coni!ura/es modaisest0o soredeterminadas %or uma modu&a/0o$ 8ue !era eeitos de sentido %at-micos17assa4se$ no estudo do com%onente %at-mico$ da moda&iza/0o M as%ectua&iza/0o e Mintensidade1 O conceito de as%ectua&iza/0o$ entendida n0o a%enas como %rocesso&in!"#stico$ mas como %rocesso discursi.o$ n0o é somente uma soredetermina/0o dotem%o$ mas uma soredetermina/0o de todas as cate!orias de enuncia/0o$ o tem%o$ oes%a/o e a %essoa1 A%arece tamém o conceito de oria$ 8ue$ con*u!ando a intensidade ea e6tens0o$ %roduz$ ao %ro*etar4se no es%a/o e no tem%o$ eeitos de andamento e deritmo discursi.os1 O estudo das %ai6es %assa a con.ocar$ simu&taneamente$ !randezasdiscretas e cate!oriais (moda&iza/es)$ mas tamém !randezas cont#nuas e articu&adas

(as%ectua&iza/0o e intensidade)1A as%ectua&iza/0o caracteriza ti%os %assionais, %or e6em%&o$ temos as %ai6es dadurati.idade$ como o ressentimento %ai6es da %ontua&idade$ como a ira %ai6es da

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%erecti.idade$ como o remorso1 Ao mesmo tem%o$ as %ai6es a%resentam umaintensidade1 A de%ress0o e6ie um andamento &ento$ en8uanto a a!ita/0o tem umandamento ace&erado1 O a.aro é moda&izado %or um 8uerer ser$ mas um 8uerer ser 8ueu&tra%assa o sim%&es 8uerer n0o !astar1 2istin!ue4se do econômico$ %or8ue a economia doa.aro .ai a&ém do necess5rio1 B uma economia e6cessi.a$ desnecess5ria$ incoerente1 Aim%u&si.idade deine4se %or um 8uerer azer$ ao mesmo tem%o 8ue %e&a incoati.idade e%e&a intensidade1

Kstudada dessa maneira$ a %ai60o n0o se o%e M raz0o$ mas constitui uma orma deraciona&idade discursi.a$ %ermitindo ana&isar$ de maneira astante ina$ a as%ectua&iza/0o$a intensiica/0o e a 8uantiica/0o$ consideradas n0o como cate!orias da &#n!ua$ mas como%rocedimentos de discursi.iza/0o1 Na medida em 8ue o cont#nuo e suas modu&a/es%assam a azer %arte da teoria u&tra%assa4se o estrutura&ismo$ undado no discreto e nocate!oria&1

O caminho da Semi+tica come/a %e&a %ro%osi/0o de uma semntica !erati.a$ !era& ediscursi.a %assa %e&a constitui/0o do %ercurso !erati.o de sentido em se!uida$ %e&a suacom%&e6iica/0o$ com o estudo$ no n#.e& narrati.o$ das moda&idades do azer e do ser e oestudo das %ai6es e$ no n#.e& discursi.o$ com a %es8uisa dos %rocedimentos de

i!urati.iza/0o e das %ro*e/es da enuncia/0o no enunciado (tem%ora&iza/0o$es%acia&iza/0o e actoria&iza/0o) che!a ao e6ame do a&ém do %ercurso$ com a an5&ise dossistemas semi4sim+&icos$ e do a8uém do %ercurso$ com a in.esti!a/0o sore as %ré4condi/es de si!niica/0o1 A constata/0o de 8ue$ nessas %ré4condi/es$ est0o %resentes ocont#nuo$ o indierenciado$ ori!a ao estudo das cate!orias discursi.as da as%ectua&iza/0o$da 8uantiica/0o e da intensiica/0o1 B um %ro*eto 8ue usca ana&isar$ %rimacia&mente$ osmecanismos intradiscursi.os de constitui/0o do sentido$ emora n0o desconsidere ainterdiscursi.idade1

O discurso cient#ico n0o atua como o discurso re&i!ioso$ 8ue a%resenta uma e6%&ica/0otota& e deiniti.a %ara o mundo$ mas$ ao contr5rio$ az a%ro6ima/es sucessi.as do o*eto12ierentemente do discurso re&i!ioso$ 8ue n0o %recisa da com%ro.a/0o dos atos$ odiscurso cient#ico %recisa do teste da rea&idade e$ %or isso$ é da sua natureza a%u&icidade dos resu&tados$ o deate$ a cr#tica e a contradi/0o$ %ara 8ue esseconhecimento .5 a%ro6imando4se da .erdade1 7or conrontar4se com os atos da rea&idade(no nosso caso$ da rea&idade discursi.a) é da natureza do discurso cient#ico$ dos %ro*etoste+ricos da ci-ncia$ a mudan/a1 B necess5rio sem%re a&terar os mode&os$ %ara 8ue %ossamaran!er no.os enômenos$ descre.endo4os e e6%&icando4os1 7or isso$ a hist+ria éinerente ao azer cient#ico1 esmo diante de do!matismos 8ue se criam onde n0ode.eriam ser %roduzidos$ %or e6em%&o$ na Qni.ersidade$ é %reciso acreditar$ como Ca&i&eu$8ue eppur si muove" @omo mostra @ames,

udam4se os tem%os$ mudam4se as .ontades1uda4se o ser$ muda4se a conian/aTodo o mundo é com%osto de mudan/a$

Tomando sem%re no.as 8ua&idades1

 

RKFKR[N@IAS :I:LIOCR\FI@AS

:ARROS$ 21 L1 71 de (;<<) Sinta6e narrati.a In, OLIPKIRA$ A1 @1 e LAN2OZS]I$ K1 ointeli%.vel ao sens.vel" *m torno da o$ra de Al%irdas ulien ;reimas" S0o 7au&o$ K2Q@$ >;4<D1 ^ LinXs _

 ````` (;<<=) Re&e6es sore os estudos do te6to e do discurso1 <.n%ua e literatura 22,;>;4;<< ^ LinXs _

@ORT\WAR$ J1 (;<D) !inal do @o%o1 ed1 Rio de Janeiro$ K6%ress0o e @u&tura1^ LinXs _

:ARTKS$ R1 (;<D;) Introdu/0o M an5&ise estrutura& da narrati.a1 In, :ARTKS$ R1 et

Page 18: Fiorin - Semiótica Narrativa

7/17/2019 Fiorin - Semiótica Narrativa

http://slidepdf.com/reader/full/fiorin-semiotica-narrativa 18/18

a&ii1 An2lise estrutural da narrativa1 7etr+%o&is$ Pozes1 ^ LinXs _

KLIA2K$ 1 (;<D) Trait4 dG>istorie des Reli%ions" 7aris, 7ayot1 ^ LinXs _

FONTANILLK$ J1 (;<<) Le tournant moda& en sémioti8ue1 ,r%anon1 Revista do #nstitutode <etras da Universidade !ederal do Rio ;rande do Sul" E ;D4;<1 ^ LinXs _

 ``````` (;<DE) Sem?ntica estrutural" S0o 7au&o$ @u&tri6K2QS71 ^ LinXs _

 ``````` (;<D=) +aupassant" <a s4mioti/ue du te&te: e&ercices prati/ues" 7aris$ Seui&1^ LinXs _

 ``````` (;<>E) u Sens ##" 7aris$ Seui&1 ^ LinXs _

 ``````` (;<>D) e lGimperfection1 7éri!ueu6$ 7ierre Fan&ac1 ^ LinXs _

JKLSLKP$ L1 (;<=>) Prol4%omHnes I une th4orie du lan%a%e1 7aris$ inuit1^ LinXs _

 ``````` (;<<;) *nsaios lin%J.sticos" S0o 7au&o$ 7ers%ecti.a1 ^ LinXs _

A@A2O 2K ASSIS$ J1 1 (;<D<) ,$ra completa1 Rio de Janeiro$ No.a A!ui&ar$ .1 II1^ LinXs _

OQNIN$ C1 (;<D) #ntroduction I la s4miolo%ie1 7aris$ inuit1 ^ LinXs _

QKIRS$ K1 de (;<==)1 ,$ras de *0a de Kueiro' 1 7orto$ Le&&o b Irm0os$ .1 I1^ LinXs _

SAQSSQRK$ F1 (;<=<) Curso de lin%J.stica %eral" S0o 7au&o$ @u&tri6K2QS71 ^ LinXs _

TKI'KIRA$ L1 (;<<>) Um rinoceronte uma cidade: rela01es de produ0ão de sentido entreo ver$al e o não ver$al 1 Niter+i$ c+%ia 6ero61 ^ LinXs _

(Receido em maio de ;<<> Aceito em *u&ho de ;<<>)

 

; Lemramos ainda uma .ez 8ue as narrati.as s0o simu&acros das a/es do homem nomundo1

 A tradi/0o esco&ar ensina 8ue concretoastrato é uma cate!oria c&assiicat+ria 8ue se a%&ica aos sustanti.os1

Na .erdade$ e&a reere4se a todos os &e6emas$ %ois astrato é o termo 8ue n0o remete a a&!o considerado

e6istente no mundo natura&$ mas a uma cate!oria e6%&icati.a dos e6istentes$ en8uanto concreto é o termo 8ue

se reere a e&ementos e6istentes no mundo natura&1 B %reciso entender em o 8ue si!niica mundo natural  neste

conte6to$ n0o é a8ue&e mundo 8ue os sentidos d0o %or natura&$ mas s0o os mundos 8ue o discurso d5 como

e6istentes1 Knt0o$ fadaé concreto$ %or8ue é considerado um ser e6istente no mundo natura& criado %e&o uni.erso

discursi.o do conto mara.i&hoso1 J5 or%ulho é uma cate!oria e6%&icati.a de uma série de atitudes concretas

tomadas %or seres eeti.amente e6istentes em mundos naturais criados %or uni.ersos de discurso1 2a mesmaorma$ $ranco é um ad*eti.o concreto$ en8uanto terno é astrato1

E Oser.e4se 8ue a Semi+tica traa&ha com uma conce%/0o am%&iada de as%ecto1 Tradiciona&mente$ o as%ecto

era considerado um %onto de .ista 8ue soredetermina.a o tem%o$ indicando se o %rocesso 8ue se desenro&a.a

no tem%o era %ontua& ou durati.o em sendo durati.o$ se era cont#nuo ou descont#nuo (iterati.o)$ etc1 Ora$ numa

%ers%ecti.a enunciati.a$ o as%ecto é um %onto de .ista 8ue incide sore cada uma das cate!orias da enuncia/0o$

a saer$ o tem%o$ o es%a/o e a %essoa1