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Trotsky e o Trotskismo Edições Maria da Fonte

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Trotsky e o Trotskismo

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Trotsky e o Trotskismo

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TROTSKY E O TROTSKISMO

OS ENSINAMENTOS DO PROCESSO DE MOSCOVO-1936

O MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO ACTUAL E O TROTSKISMO

TROTSKY E O TROTSKISMO TEXTOS E DOCUMENTOS

V. I. Lenine J. Staline L. Trotsky «Pravda» I. Falcon M. Koltsov

NOTA DA EDIÇÃO FRANCESA *

yls preocupações que nos incitaram a publicar esta recolha de textos e documentos são as mesmas que ditavam a Lenine es Unhas que acabamos de ler no frontispício.

Fomos, por outro lado, encorajados a fazê-lo pelos numerosos e insistentes pedidos que nos chegaram de leitores pertencentes às mais diversas tendências do movimento operário".

Antes de mais precisemos que, se se trata de uma escolha, não há nesta nada de arbitrário. Tomámos simplesmente os problemas essenciais que, desde há mais de trinta anos têm dividido leninismo e trotskismo e demos, a propósito de cada um, os extractos mais característicos. Poderíamos dar o dobro destes, todos tão humilhantes para Trotsky, para a sua doutrina e para a sua acção.

Da leitura abundante das obras de Lenine, Staline, Trotsky, etc., que nos foi necessário voltar a fazer, ressaltou, è medida que avançávamos no nosso trabalho uma conclusão incontestável. No decurso dos quarenta anos da sua vida política, o acordo e a colaboração

* Bureau d'Éditions, Paris, 1937. As Éditions Norman Béthune (76, Boulevard Saint-Michel, Paris 6") publicaram, em 1971, uma «dição fac-similada. desta 1.* edição francesa.

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de Trotsky com Lenine e o Partido Bolchevique foram apenas excepcionais e acidentais, a regra foi, pelo con-trário, a sua oposição ao leninismo. A Revolução de Outubro arrastou no seu turbilhão muitos elementos incertos, a que emprestou um pouco da sua glória e da sua auréola, e que a deixaram quando o seu fluxo passou e as primeiras dificuldades da construção do mundo novo surgiam. Trotsky foi o mais típico destes tcompanheiros de viagem», chegados tarde e apeados cedo.

Quarenta anos de actividade política, dez anos apenas (1917-1927) no Partido Bolchevique, e dois terços desta década ocupados em lutas fraccionistas inces-santes contra a maioria do Comité Central do P. C. da U. R. S. S. Estes números são sugestivos.

Não se pode reprovar a Trotsky uma falta de cons-tância. Na realidade, há nele uma pêrsistência singular no erro, que sempre o afastou do marxismo conse-quente, e depois do movimento operário revolucionário.

Seguir-se-á, lendo estes extractos, o caminho *que ele percorreu e que o conduziu do menchevismo è contra-revolução, à colaboração mais desavergonhada com o fascismo mais declarado. Portanto, as vias de Lenine e de Trotsky não apareciam como paralelas, mas coma incessantemente e cada vez mais divergentes.

Depois de tudo isto, o que é que resta das «preten-sões inacreditáveis», de que já Lenine falava, de Trotsky e dos seus adeptos, pequenas seitas de conspiradores contra-revolucionários sem apoio nas massas operárias? De que valem as etiquetas demagógicas, mentirosas e enganadoras com que se encapotam para passar de contrabando a sua mercadoria putrefacta: mbolchevi-que-leninistah, «partido comunista internacionalista», «partido operário internacionalista?» Queriam cobrir-se com a bandeira de Lenine para trair o leninismo, como outrora outro,s se reclamaram de Marx para rever o marxismo.

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Esperamos que este répido trabalho ajude o escla-recer esta questão das relações do trotskismo com o marxismo-leninismo. Ele constitui apenas uma primeira e modesta tentativa, e continua por escrever uma obra mais completa.

Tal como está, pensamos que vai ter alguma utilidade, pois é necessário que todos os trabalhadores, todos os militantes do comunismo e da Frente Popular tsaibam com quem têm de se haver».

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A DISCUSSÃO DOS ESTATUTOS DO PAR-TIDO NO II CONGRESSO DO P. O. S. D. R„

LONDRES 1903

A actividade politica de L. D. Trotsky remonta aos últimos anos do século passado. Mas foi apenas em 1902 que travou conhecimento pessoal com Lenine, em Londres. Este último tentou utilizar Trotsky, como o fazia com todos os Jovens militantes, no interesse do movimento revolucionário. Foi assim que o fez cola-borar durante algum tempo na Iskra, Órgão Central do Partido, então sob a direcção de um comité de redacção que compreendia, além de Lenine, Plekhanov, Axelrod, Potressov e Vera Zassoulitch.

Quando, no II Congresso do P. O. S. D. R. (Londres, 1903), rebentaram as primeiras divergências profundas entre os sociais-democratas revolucionários (bolchevi-ques) e os oportunistas (mencheviques) sobre a questão dos estatutos do Partido, que deviam no fundo definir a verdadeira natureza do Partido do proleteriado, Trotsky enfileirou no campo dos oportunistas de direita.

Enquanto Lenine propunha um projecto de programa do Partido que punha à frente, facto único na II Inter-nacional, a palavra de ordem da ditadura do proleta-riado, Trotsky pronunciou-se contra Lenine e defendeu uma tese segundo a qual a ditadura do proletariado só era possível no dia em que a classe operária e -o Par-

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tido tse tivessem tornado quase, idênticos», em que o proletariado constituísse a maioria da população e os socialistas pudessem conquistar pacificamente a maio-ria parlamentar.

Os estatutos propostos por Lenine tinham por objec-tivo criar um Partido de um tipo novo, homogéneo e combativo. Para se ser nele admitido, não bastava, de forma alguma, aceitar o seu programa e pagar as quo-tas, mas, e sobretudo, militar na prática numa das orga-nizações da base. Foi contra este último ponto, que fechava a porta do Partido aos elementos hesitantes, pouco firmes, que se levantaram todos os oportunistas, entre os quais, Trotsky. Na passagem a seguir, Lenine refuta certos argumentos de Trotsky, mostra a sua debi-lidade e o seu carácter anti-marxista. Trotsky tinha declarado nomeadamente: «Não sabia que era possível combater o oportunismo por meio de estatutos... Não atribuo aos estatutos uma importância mística!*

OS ESTATUTOS E 0 OPORTUNISMO

Entre estas considerações destinadas a justificar a fórmula de Martov \ ó preciso destacar a frase em que Trotsky declara que o oportunismo tem causas muito mais complexas (ou muito mais profundas) do que este ou aquele ponto dos estatutos, que deriva da dife-rença de desenvolvimento da democracia burguesa « do proletariado... Não se trata de saber se os pontos dos estatutos podem criar o oportunismo, trata-se de forjar, com estes pontos, uma arma mais ou menos

1 Os estatutos de Martov (menchevique), que apenas pediam aos aderentes o reconhecimento do programa do Partido, o seu apoio financeiro, abriam a porta do Partido a todos os elementos instáveis, não proletários, propensos ao oportunismo (nota da edição francesa).

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eficaz contra o oportunismo. Quanto mais profundas forem as causas do oportunismo, tanto mais cortante deve ser esta arma. É por isso que justificar pelas cau sas profundas do oportunismo st fórmula que lhe abre a porta, é simplesmente pôr-se do lado dos «seguidis-tas». Quando Trotsky estava contra LiberJ, compreen-dia que os estatutos são como a «desconfiança orga-nizada» da vanguarda contra a retaguarda; mas quando se viu do lado de Liber, esqueceu as suas declarações e pôs-se a justificar por «razões complexas», pelo nfvel de desenvolvimento do proletariado, o facto desta des-confiança estar entre nós fracamente organizada.

Eis ainda outro argumento de Trotsky:

É muito mais fácil para os jovens intelectuais organizados de uma ou de outra forma inscreve-rem-se nas listas do Partido.

De facto, e é justamente por isso, que esta fórmula, em virtucle da qual elementos mesmo não organizados se declaram membros do Partido, está impregnada de amorfismo intelectualista, contrariamente à minha que recusa a esses elementos o direito de «se inscrever nas listae do Partido».

Trotsky diz que se o C. C. «não reconhece» as orga-nizações dos oportunistas, é apenas devido ao carácter das pessoas, mas que sendo estas pessoas conhecidas como individualidades politicas, deixam de ser peri-gosas e podem ser eliminadas pelo boicote do Partido. Isto não ó verdade senão para os casos em que 6 pre-ciso eliminar do Partido (e ainda neste caso ó apenas meia verdade, porque um partido organizado elimina por um voto e não pelo boicote). Mas isso é comple-tamente falso para os casos muito mais frequentes em que seria estúpido eliminar e ó necessário apenas

' Soclal-democrata menchevlque. (Nota da edição francesa.)

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controlar. Em certas condições, o C. C. pode incluir intencionalmente no Partido uma organização não com-pletamente segura, mas capaz de trabalhar, para expe-rimentá-la, para tentar dlrlgi-la no bom caminho, para paralisar os seus desvios parciais, etc. Uma tal admis-são não é perigosa, desde que não se permita às orga-nizações «inscreverem-se» elas próprias cnas listas do Partido». Muitas vezes, será mesmo útil para o escla-recimento de pontos de vista errados ou de uma táctica falsa.

Mas se as normas jurídicas devem corresponder às relações reais, a fórmula de Lenine deve ser rejeitada,

declara mais à frente Trotsky. Af também, ele fata como oportunista. As relações reais não são imutáveis; vivem e desenvolvem-se. As normas jurídicas podem corres-ponder ao desenvolvimento progressivo destas relações, mas podem também (se forem más) corresponder a uma regressão ou a uma paragem no desenvolvimento. Este último caso é o de Martov.

Maio de 1904.

V. I. LENINE: «Um passo em frente, dois passos atrás». Obras comple-tas, tomo VI, pp. 216-217 (nota), ed. r.3.

Pp. 125-126, ed. port., Nosso Tempo — Textos, 1972, Coimbra.

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SOBRE O CARACTER DA REVOLUÇÃO RUSSA

A TEORIA DA «REVOLUÇÃO PERMANENTE». A ATITUDE FACE AO CAMPESINATO. A VI-TÓRIA DO SOCIALISMO NUM SÓ PAIS

Pouco tempo depois do II Congresso, travou-se uma luta encarniçada entre o bolchevismo e o menchevismo. Na sua brochura Um Passo em Frente, Dois Passos Atrás, Lenine explica que o proletariado deverá exercer a hegemonia na próxima revolução russa. Trotsky, que escreve nesta altura a sua brochura As nossas tarefas políticas, torna-se o porta-voz dos inimigos mais en-carniçados de Lenine no campo menchevique. Imedia-tamente após o congresso em que se efectuou a cisão do P. O. S. D. R. em bolcheviques e mencheviques, os adversários de Lenine, que ficaram em minoria no Congresso, convocaram, em Setembro de 1903, uma conferência para lutar contra as decisões do Congresso. Esta conferência foi Organizada por Trotsky e Martov. Trotsky enfileirava assim entre os mencheviques no momento do próprio nascimento do menchevismo.

No decurso do movimento revolucionário na Rússia, as divergências entre, por um lado, os bolcheviques, por outro, os mencheviques e Trotsky, acentuaram-se. Em 1905, como contrapeso à linha revolucionária de Lenine e à sua teoria da transformação da revolução democrática-burguesa em revolução socialista, Trotsky desenvolveu a sua famosa teoria sobre a «revolução permanente», teoria -que, de resto, tinha tomado do pseudo-marxisté alemão Parvus, que depois se tornou

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chauvinista e agente do imperialismo alemão. Esta teoria aventureirista, que negava o papel dirigente do proletariado face ao campesinato e afirmava que este último era incapaz de se aliar è classe operária para a luta contra a autocracia, ameaçava de morte a revolução russa. Esta teoria semeava a divisão na frente comum das forças motrizes da revolução, afastava da luta revo-lucionária as inumeráveis massas do campesinato russo, condenava a classe operária ao isolamento na luta revo-lucionária e servia assim a causa da reacção.

Eis alguns textos em que Lenine respondeu a Trotsky:

TRÊS ERROS DE TROTSKY *

Trotsky comete um erro fundamental: não vê o carác-ter burguês da revolução e não compreende como se operará a passagem desta revolução à revolução socia-lista. Deste erro fundamental derivam erros parciais, que .Martov repete reproduzindo e aprovando certas passagens de Trotsky.

A fim de esclarecer esta questão complicada por Martov, vamos demonstrar a inexactidão dos raciocínios de Trotsky, que Martov aprova.

A coligação do proletariado e do campesinato

! pressupõe que um dos partidos burgueses exis-tentes anexará o campesinato ou então que o campesinato criará o seu próprio partido, pode-roso e independente.

Isto é falso, tanto do ponto de vista teórico, como do ponto de vista da revolução russa. A coligação das classes não pressupõe, de forma alguma, a existência de um partido em geral. Confunde-se aqui a questão das classes e a questão dos partidos. A coligação das classes acima mencionadas não pressupõe, de maneira nenhuma que um dos partidos burgueses existentes

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anexe o campesinato, nem que o campesinato crie o seu próprio partido poderoso e independente. Do ponto de vista teórico isso é evidente,.primeiro porque re-pugna particularmente ao campesinato a organização em partidos, depois porque a criação de partidos cam-poneses é particularmente longa e 'difícil no decurso da revolução burguesa, de modo que um partido cam-ponês «poderoso e independente» só pode aparecer no fim desta revolução. Por outro lado, a experiência da revolução russa mostra claramente que a coligação do proletariado e do campesinato se realizou dezenas e centenas de vezes sob as formas mais diversas, ainda que não existisse qualquer partido camponês poderoso e independente...

O bloco politico realiza-se em diferentes momentos históricos quer por um acordo para a coligação das forças na insurreição, quer por um entendimento par-lamentar pçra a acção comum contra os reaccionários e os cadetes!*) . No* decurso da revolução, a ideia da ditadura do proletariado e do campesinato encontrou a sua expressão prática sob mil formas, desde a assi-natura do manifesto sobre a recusa dos impostos e a retiracfe dos depósitos (Dezembro de 1905), e da assi-

* Partido constitucional-demoerata (Cadete). Principal partido da burguesia monárquica liberal russa. Os seus membros recruta-vam-se essencialmente entre a burguesia e nos meios intelectuais burgueses; faziam também parte deste partido grandes proprietários de terras liberais. Na tentativa de enganar os trabalhadores e desviá-los de uma luta consequente, impondo-lhes a sua hegemo-nia, estes elementos, que se opunham à autocracia de um modo inconsequente, mas que acima de tudo receavam o desenvolvi-mento do movimento popular revolucionário, alicerçado na aliança operário-camponesa, e a direcção consequente que a este garantia a hegemonia do proletariado, puseram no seu estandarte a insig-nia da luta pela «liberdade do povo», quando etectivamente luta-vam apenas na defesa dos seus estritos interesses de classe. Certos elementos, como Struvé, tentaram mesmo passar, nos seus escritos, por marxistas, sendo, por isso, conhecidos pelo nome

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natura dos apelos à insurreição (Julho de 1906) ató aos votos à segunda e à terceira Duma, em 1907 e 1908.

A segunda afirmação de Trotsky, referida por Mar-tov, é igualmente inexacta. Não ó verdade que

toda a questão consiste em saber quem forne-necerá o conteúdo da politica governamental, quem agrupará uma maioria homogénea.

É particularmente falso quando Martov se serve disto como argumento contra a ditadura do proletariado e do campesinato. O próprio Trotsky admite a «participação dos representantes da população democrática» no «go-verno operário», isto é, admite um governo formado por representantes do proletariado e do campesinato. °Em que condições se pode admitir a participação do pro-letariado no governo da revolução é.uma questão espe-cifica, em relação à qual é muito possível que os bol-cheviques não estejam de acordo não só com Trotsky, mas também com os sociais-democratas polacos. Mas a questão da ditadura das classes revolucionárias não se refere de modo nenhum à questão da maioria neste ou naquele governo revolucionário, à questão da admis-são dos sociais-democratas neste ou naquele governo.

Por fim, a terceira opinião de Trotsky, ainda que pareça justa a Martov, é a mais falsa de todas.

de «marxistas legais». Durante a primeira guerra mundial, os cadetes defenderam activamente a politica externa expansionista do governo tsarista. Durante a Revolução democrática-burguesa de Fevereiro de 1917 fizeram todos os possíveis para salvar a mo-narquia. Fazendo parte do Governo provisório desenvolveram, con-juntamente com os mencheviques e os «socialistas revolucionários», uma política profundamente antipopular e contra-revolucionária. Após a Revolução Socialista de Outubro, inimigos Jurados do Poder dos Sovietes, participaram activamente em todos os empreendi-mentos militares contra-revolucionárlos.

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Que ele [o campesinato] o faça [isto é, que se ligue com o regime da democracia operária], mesmo com tão pouca consciência como quando se 'liga ao regime burguês. •

O proletariado não poderia apoiar-se na inconsciência e nos preconceitos do campesinato,* a exemplo dos burgueses que se apoiam nele, nem admitir a persis-tência da inconsciência e da passividade ordinárias do campesinato num período revolucionário...

Em todo o caso, a conclusão de Martov, que declara que a conferência acabou por concordar com Trotsky na questão das relações entre o proletariado e o cam-pesinato na luta pelo poder, não corresponde de modo nenhum aos factos, porque a conferência não teve a intenção de examinar esta questão e porque efecti-vamente a não examinou.

Março de, 1909.

V. I. LENINE, «O objectivo da luta do proletariado na nossa revolução». Obras completas, tomo XIV, pp. 44--47, ed. r.

«

DUAS VIAS DA REVOLUÇÃO

Determinar as relações das classes na revolução que se aproxima é o principal problema do partido revolu-cionário... Trotsky resolve este problema de forma errada no Naché Slovo. Ele repete a sua teoria de 1905, sem se dar ao trabalho de reflectir sobre as razões por que a vida, durante dez anos, passou ao largo da sua magní-fica teoria.

A teoria original de Trotsky toma dos bolcheviques o apelo à luta revolucionária decisiva e à conquista do poder politico pelo'proletariado, e dos mencheviques a «negação» do 'papel do campesinato. O campesinato,

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ao que parece, está dividido, diferenciado e tornou-se cada vez menos apto a desempenhar um papel revolu-cionário; na Rússia, uma revolução «nacional» é impos-sível, «nós vivemos na época do imperialismo», ora «o imperialismo opõe, não a nação burguesa ao antigo regime, mas o proletariado à nação burguesa».

Eis um exemplo divertido da forma como se pode fazer malabarismos com o termo «imperialismo». Se, na Rússia, o proletariado já se opõe à «nação burguesa», segue-se que a Rússia está nas vésperas da revolução socialista. Então a palavra de ordem «Confiscação das propriedades rurais» (repetida por Trotsky em 1915) é errónea e é necessário falar não só do «operário revo-lucionário», mas do «governo socialista operário». A que grau de confusão chega Trotsky pode-se ver pela {rase na quai diz que o proletariado arrastará igualmente as massas populares não-proletáriaslll Trotsky não pensou que, se o proletariado chegar a levar as massas não pro-letárias dos campos è confiscação das propriedades ru-rais e a derrubar a monarquia, isto será precisamente o remate da «revolução nacional burguesa» na Rússia, a ditadura democrática revolucionária do proletariado e do campesinato.

Os dez anos que se passaram entre 1905 e 1915 demonstraram a existência de duas linhas de classe na revolução russa. A diferenciação do campesinato reforçou a luta de classes nos campos, despertou nume-rosos elementos indiferentes para a vida política, apro-ximou o proletariado rural do proletariado das cidades (os bolcheviques, desde 1906, não cessaram de recla-mar a organização específica do proletariado rural e inseriram esta reivindicação na resolução do congresso menchevique de Estocolmo). Mas o antagonismo do «campesinato» e dos Markov-Romanov-Khvostov foi cres-cendo e revestiu uma forma aguda. Isto é uma verdade 6vidente que Trotsky, mesmo com milhares de frases a dezenas de artigos, não conseguirá refutar. Trotsky

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ajuda da facto os politiqueiros operários liberais da Rús-sia, que, por «negação» do papel do campesinato, com-preendem a recusa de impulsionar os camponeses para a revolução.

Ora este é, agora, o ponto capital. O proletariado luta e lutará estoicamente pela conquista do poder, pela República, pela confiscação das terras, isto é, para preparar o campesinato e utilizar inteiramente a sua força revolucionária, para fazer participar as «massas populares» não proletárias na libertação da Rússia burguesa do imperialismo feudal-militar (isto é, do tsarismo). fc esta libertação da Rússia burguesa do tsarismo, do poder dos proprietários de terras, o pro-letariado irá imediatamente aproveitá-la não para ajudar os camponeses ricos na sua luta contra os trabalhado-res rurais, mas para levar a cabo a revolução social em união com o proletariado da Europa.

20 de Novembro de 1915.

V. I. LENINE: «Duas vias da revolu-ção», Obras completos, tomo XVIII, pp. 317-318, ed. r.

Staline, na passagem que a seguir citamos, caracte-rizou e refutou do modo mais completo as falsas teorias trotskistas sobre a revolução. Este texto mostra toda a distância que separa o trotskismo do leninismo.

A TEORIA DA «REVOLUÇÃO PERMANENTE» E O LENINISMO

Como se apresenta a teoria da «revolução perma-nente» do camarada Trotsky, do ponto de vista desta particularidade da Revolução de Outubro1?

' Trata-se do facto que «a ditadura do proletariado nasceú entre nós como um poder surgido na base da aliança do prole-

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Não nos deteremos na posição do camarada Trotsky em 1905, quando «simplesmente» esqueceu o campe-sinato como força revolucionária, propondo a palavra de ordem «Abaixo o tsar, governo operário», isto é, a palavra de ordem de revolução sem o campesinato. O próprio camarada Radek, esse defensor diplomata da «revolução permanente» é agora obrigado a reconhecer que a «revolução permanente» em 1905 significava um «salto no ar», um desfasamento da realidade. (Pravda, 14 de Dezembro de 1924). Hoje, toda a gente reco-nhece, visivelmente, que não vale a pena ocupar-se com este «salto no ar».

Tão pouco nos deteremos na posição do camarada Trotsky no período de guerra, em 1915, por exemplo, quando, partindo do facto de que «nós vivemos na época do imperialismo», que o imperialismo «opõe não a nação burguesa ao antigo regime,, mas o proletariado à nação burguesa», chega à conclusão, no seu artigo «A luta pelo poder», que o papel revolucionário do cam-pesinato deve decrescer, que a palavra de ordem da confiscação da terra já não tem a importância que tinha outrora (Ver 1905). Sabe-se que Lenine, analisando estq artigo do camarada Trotsky, o acusava, então, de «ne-gar o papel do campesinato» e dizia que

•Trotsky ajuda de facto os politiqueiros operários liberais da Rússia, que, por «negação» do papel do campesinato, compreendem a recusa de impul-sionar os camponeses para a revolução.

Passemos antes aos trabalhos mais recentes do ca-marada Trotsky sobre esta questão, aos trabalhos do

tarlado e das massas trabalhadoras do campesinato, sendo estas últimas dirigidas pelo proletariado». J. STALINE: A Revolução de Outubro e a táctica dot comunistas ru«»o», p. 9, Bureau d'Édi-tions, Paris, 1936. (Nota da edição francesa.)

Existe uma edição actual desta brochura em «Les bases du Léninisme», colecção 10/18, Paris.

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período em que a ditadura do proletariado já tinha tido tempo para se consolidar e em que o camarada Trotsky tinha a possibilidade de verificar pelos factos a sua teo-ria da «revolução permanente» e dte corrigir os seus erros. Tomemos o prefácio escrito pelo camarada Trotsky em 1922, ao livro 1905. Eis o^que o camarada Trotsky escreve neste prefácio sobre a «revolução per-nente».

Foi precisamente no intervalo entre o 9 de Ja-neiro e a greve de Outubro de 1905 que se for-maram r.o autor os conceitos sobre o carácter do desenvolvimento revolucionário da Rússia, que fo-ram designados sob o nome de teoria da «revo-lução permanente». Esta designação abstrusa expri-mia a ideia de que a revolução russa, diante da qual se colocavam imediatamente fins burgueses, não poderia, contudo, ficar por aí. A revolução só poderia resolver os seus objectivos burgueses ime-diatos conduzindo o proletariado ao poder. Ora quando este tivesse tomado o poder nas mãos, não se poderia limitar ao quadro burguôs da revolução. Pelo contrário, e precisamente para assegurar a sua vitória, a vanguarda proletária deveria, desde os primeiros dias da sua dominação, operar incursões profundas nos domínios da propriedade tanto feu-dal como burguesa. Ao fazer isto, entraria em colisões hostis, não só com todos os agrupamentos da burguesia que a teriam sustentado no começo da sua luta revolucionária, mas também com as grandes massas do campesinato cujo concurso a teria levado ao poder. As contradições que domi-nam a situação de um governo num país retarda-tário, em que a maioria esmagadora da população é constituída por camponeses, poderão encontrar a sua solução unicamente no plano internacional, na arena da revolução mundial do proletariado'. (Ver o prefácio, acima mencionado, ao livro de Trotsky, 1905.)

Assim se exprime sobre a sua «revolução perma-nente» o camarada Trotsky.

1 Sublinhado por" mim. (J. SI.)

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Basta confrontar esta citação com as reproduzidas anteriormente, e que extraímos das obras de Lenine sobre a ditadura do proletariado, para compreender que abismo separa a teoria leninista da ditadura do pro-letariado da teoria da «revolução permanente» do cama-rada Trotsky.

Lenine fala da aliança do proletariado e das camadas trabalhadoras do campesinato, como base da ditadura do proletariado. Ora, segundo Trotsky, seriam «colisões hostis» entre a «vanguarda proletária» e «as grandes massas do campesinato».

Lenine fala da direcção pelo proletariado das massas trabalhadoras e exploradas. Ora, segundo Trotsky, são as «contradições que dominam a situação de um go-verno operário num pais retardatário, em que a jnaioria esmagadora da população é composta por campone-ses.»

Segundo Lenine, a revolução tira as suas forças, em primeiro lugar, de entre os operários e os camponeses da própria Rússia. Ora, segundo Trotsky, unicamente se podem tirar as forças indispensáveis «na arena da revolução mundial do proletariado».

Mas como fazer se a revolução mundial se encontra atrasada? Haverá então algum laivo de esperança para a nossa revolução? O camarada Trotsky não nos deixa nenhum raio de esperança, porque «as contradições que dominam a situação de um góverno operário... poderão encontrar a sua solução unicamente... na arena da revolução mundial do proletariado».

Segundo este plano, só resta uma perspectiva para a nossa revolução: vegetar nas suas próprias contradições e apodrecer de pé na expectativa da revolução mundial.

O que é, segundo Lenine, a ditadura do proletariado? A ditadura do proletariado é o poder que se apoia

na aliança do proletariado e das massas trabalhadoras do campesinato para «o derrubamento completo do

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Capital», para «a instauração definitiva e a consolidação do socialismo».

O que é, segundo Trotsky, a ditadura do proletariado? A ditadura do proletariado ó um poder que entra em

«colisões hostis» com «as grandes massas do campe-sinato» e que procura a solução das «contradições» unicamente «na arena da revolução mundial do prole-tariado».

Em que é que esta «teoria da revolução permanente» se distingue da famosa teoria do menchevismo que nega a ideia da ditadura do proletariado?

Em nada, quanto ao fundo. Não há dúvidas possíveis. A «revolução permanente»

não é uma simples subestimação das possibilidades revolucionárias do movimento camponês. A «revolução permanente» é uma subestimação do movimento cam-ponês que conduz à negação da teorja leninista da dita-dura do proletariado.

A «revolução permanente» do camarada Trotsky é uma variedade do menchevismo.

Como se apresenta a «revolução permanente» do camarada Trotsky do ponto de vista da teoria 'leninista da revolução proletária?

Tomemos a brochura do camarada Trotsky: A nossa revolução (1906). O camarada Trotsky escreve:

Sem o apoio de Estado, directo, do proletariado europeu, a classe operária da Rússia não poderá manter-se no poder e transformar a sua dominação temporária numa ditadura socialista durável. Não seria possível duvidar disto um só instantea.

Que diz esta citação? Precisamente que a vitória do socialismo num só país, neste caso a Rússia, é im-possível «sem o apoio de Estado, directo, do proleta-

3 Ver A nossa revolução, p. 278 (ed. r.)

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riado europeu», isto é, antes da conquista do poder pelo proletariado europeu.

Que há de comum entre esta «teoria» e a tese de Lenine sobre a possibilidade da vitória do socialismo «num só país capitalista considerado isoladamente»?

É claro que não há nada de comum. Mas admitamos que esta brochura do camarada

Trotsky, editada em 1906, quando era difícil definir o carácter da nossa revolução, enferma de erros invo-luntários e não corresponde inteiramente às concepções professadas mais tarde pelo camarada Trotsky. Exami-nemos uma outra brochura do camarada Trotsky, o seu Programa de paz, aparecido antes da Revolução de Ou-tubro de 1917 e reeditado agora (em 1924) na sua obra 1917. Nesta brochura, o camarada Trotsky critica * a teoria leninista da revolução proletária sobre a vitória do socialismo num só país, e opõe-lhe „a palavra de ordem dos Estados Unidos da Europa. Afirma que a vitória do socialismo é impossível num só país; que a vitória do socialismo só é possível como vitória dos vários Estados mais importantes da Europa (Inglaterra, Rússia, Alemanha), agrupados nos Estados Unidos da Europa — senão é absolutamente impossível. Diz cla-ramente que:

uma revolução vitoriosa na Rússia ou na Ingla-terra ó inconcebível sem a revolução na Alemanha, e vice-versa

A única objecção histórica um poucochinho con-creta à palavra de ordem dos Estados Unidos — diz o camarada Trotsky— foi formulada no Sotsial-Demokrat suíço [órgão central dos bolche-viques nesta ópoca. J. St.] nestes termos: «A desi-gualdade do desenvolvimento económico e político é a lei absoluta do capitalismo». Donde o Sotsial--Demokrat tirava a conclusão que a vitória do socialismo num só país 6 possível e que, por consequência, era inútil condicionar a ditadura do

4 1917, t. III. 1.- parte (ed. r.).

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proletariado em cada Estado considerado isola-damente, pela formação dos Estados Unidos da Europa. Que o desenvolvimento capitalista dos diferentes países é desigual é urna consideração absolutamente indiscutível. Mas esta desigualdade é ela própria muito desigual. O nível capitalista da Inglaterra, da Áustria, da Alerrtanha ou da França não é o mesmo. Mas, comparados à Africa ou à Ásia, todos estes países representam a «Eu-ropa» capitalista, amadurecida para a revolução social. Que nenhum país tenha de «esperar» pelos outros na sua luta é a ideia elementar que é útil e indispensável repetir para que a ideia da acção internacional paralela não seja substituída pela ideia da inacção internacional expectativa. Sem es-perar pelos outros, nós começamos e continuamos a luta no terreno nacional, com a inteira certeza de que a nossa iniciativa dará um impulso à luta nos outros paises; ora, se isso não tivesse de produ-zir-se, seria inútil pensar — a experiência histórica e as considerações teóricas fazem disso 1é — que a Rússia revolucionária, por exemplo, possa resistir frente à Europa conservadora, ou que a Alemanha socialista possa manter-se isolada no mundo capi-talista

Como vêem, estamos na presença da mesma teoria da vitória siTnultânea do socialismo nos principais países da Europa, teoria que, regra geral, exclui a teoria leni-nista da vitória do socialismo num só país.

É certo que a vitória total do socialismo, que a garantia total contra a restauração da antiga ordem de coisas, tornam necessários os esforços conjugados dos proletários dos vários países. É certo que, sem o apoio do proletariado da Europa à nossa revolução, o prole-tariado da Rússia não teria podido resistir à pressão geral, exactamente do mesmo modo que, sem o apoio da revolução na Rússia ao movimento revolucionário no Ocidente, este movimento não teria podido desen-

' 1917, I. I l l , 1." parte (ed. r.).

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volver-se ao ritmo a que começou a desenvolver-se após a instauração da ditadura do proletariado na Rússia. É certo que temos necessidade de um apoio. Mas em que consiste o apoio do proletariado da Europa oci-dental à nossa revolução? As simpatias dos operários europeus face à nossa revolução, a sua vontade de fazer abortar os planos de intervenção dos imperialistas, constituirão um apoio, uma ajuda séria? Sim, sem dú-vida. Sem um tal apoio, sem uma tal ajuda, não só da parte dos operários europeus, mas também da parte das colónias e dos pafses dependentes, a ditadura do proletariado viveria insegura. Terão sido suficientes até agora esta simpatia e esta ajuda, conjuntamente com a força do nosso Exército Vermelho e a vontade dos operários e camponeses da Rússia de oferecerem os seus peitos para defenderem a pátria socialista', — terá sido suficiente tudo isto para repelir os ataques dos imperialistas e conquistar as coftdições necessárias para um trabalho de edificação sério? — Sim. Esta simpa-tia irá crescendo ou diminuindo? Cresce, incontesta-velmente. Existirão, entre nós, condições favoráveis, não só para fazermos avançar a organização da eco-nomia socialista, mas ainda para apoiarmos tanto* os operários da Europa ocidental como os povos opri-midos do Oriente? Sim, existem. É o que nos mostra eloquentemente a história de sete anos de ditadura do proletariado na Rússia. Pode-se negar que já tenha começado entre nós um poderoso desenvolvimento do trabalho? Não.

Depois de tudo isto, que significado pode ter a decla-ração do camarada Trotsky que a Rússia revolucionária não poderia resistir frente à Europa conservadora?

Só pode ter um significado: é que, em primeiro lu-gar, o camarada Trotsky não sente a força interna da nossa Revolução; em segundo lugar, o camarada Trotsky não compreende a importância inapreciável do apoio moral que os operários do Ocidente e os camponeses

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do Oriente dão à nossa revolução; em terceiro lugar, o camarada Trotsky desconhece o mal interno que actual-mente corrói o imperialismo.

Arrebatado pela sua critica da teoria leninista da revolução proletária, o camarada Trotsky, inadvertida-mente, bateu com toda a força em si mesmo, na sua brochura Programa da paz. apa*recida em 1917 e reedi-tada em 1924.

Mas talvez esta brochura do camarada Trotsky tenha igualmente envelhecido e não corresponda já, por qual-quer razão, às suas actuais concepções? Vejamos as obras mais recentes do camarada Trotsky, escritas após a vitória da revolução proletária num só país, na Rússia. Vejamos, por exemplo, o posfâcio do camarada Trotsky à nova edição da sua brochura Programa da paz, posfâ-cio escrito em 1922. Eis o que ele escreve neste pos-fâcio:

' A afirmação de que a revolução proletária não pode concluir-se vitoriosamente no quadro nacional, afirmação que se encontra várias vezes repetida no Programa da paz, parecerá, talvez, a certos leitores, desmentida pela experiência quase quinquenal da nossa República Soviética. Mas uma tal conclu-são não seria fundamentada. O facto de o Estado operário num só pafs, para mais num país atrasado, ter resistido ao mundo inteiro, testemunha a força colossal do proletariado que nos outros pafses mais avançados, mais civilizados, será capaz de realizar verdadeiros prodígios. Mas se nos manti-vemos política e militarmente enquanto Estado, por outro lado não chegámos à criação de uma socie-dade socialista, nem sequer nos aproximámos dela... Enquanto a burguesia estiver no poder nos outros Estados europeus, seremos obrigados, na luta contra o isolamento económico, a procurar acordos com o mundo capitalista; ao mesmo tempo, pode dizer-se com toda a certeza que estes acordos podem, no melhor dos casos, ajudar-nos a curar estas ou aquelas feridas económicas, a dar este ou aquele passo em frente, mas que o ver-

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dadeiro desenvolvimento da indústria na Rússia só será possível após a vitória" do proletariado nos principais países da Europa '.

Assim se exprime o camarada Trotsky, que peca ma-nifestamente contra a realidade e se esforça obstinada-mente por salvar a «revolução permanente» do naufrágio definitivo.

Assim, os esforços terão sido inúteis, pois não só «não chegámos» à criação de uma sociedade socialista, ' mas nem sequer nos «aproximámos» dela. Alguns, se-gundo parece, punham a sua esperança em «acordos com o mundo capitalista», mas estes acordos não têm, segundo parece, dado nada, pois os nossos esforços terão sido inúteis, o «verdadeiro desenvolvimento da economia socialista» será impossível, enquanto o pro-» letariado não tiver vencido «nos principais países da Europa».

Ora, j&omo ainda não se venceu no Ocidente, já_só resta^ma„«8sçfllha» à Revojuçãp da R_ússiaj_ou„apo-drecer jí.m pé, ou_ degene/ar em _Estadg_butguês.

Não é por acaso que o camarada Trotsky fala, desde há já dois anos, da «degenerescência» do jiossô Partido.

Não é por acaso que o camarada Trotsjcy profetizava, no ano passado, a «ruína» do nosso país.

Como conciliar esta estranha «teoria» com a teoria de Lenine da «vitória do socialismo num só país»?

Como conciliar esta estranha «perspectiva» com a perspectiva de Lenine, segundo a qual a nova política económica nos trará a possibilidade de «construir as bases da economia socialista»?

Como conciliar este desespero «permanente» com, por exemplo, estas palavras de Lenine:

s Sublinhado por mim. (J. St.) ' 1917, t. I l l , 1.' parte, pp. 92 e 93 (ed. r.).

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Desde agora, o socialismo deixou de ser uma questão de futuro longínquo, ou uma espécie de visão abstracta ou uma espécie de (cone. Quanto aos ícones, nós ficámos na nossa velha opinião, muito má. Nós fizemos o socialismo penetrar na vida quotidiana e devemos agora reencontar-nos aí. Eis o que constitui a nossa tarefa actual, eis o que constitui a tarefa da nossa época. Permiti-me ter-minar exprimindo a certeza de que, por difícil que seja esta tarefa, por nova que ela seja em relação às nossas tarefas anteriores, por numerosas que sejam as dificuldades que ela nos causa, — n ó s vamos cumpri-la, todos nós, e custe o que custar, não amanhã, mas ao longo de vários anos, e de tal modo que a Rússia da N. E. P. transformar-se-á na Rússia Socialista 8.

Como conciliar este desespero «permanente», com, por exemplo, estas palavras de Lenine:

Efectivamente, alargando-se o poder de Estado sobre todos os meios importantes de produção, o poder de Estado nas mãos do proletariado, a aliança deste proletariado com os milhões e mi-lhões dos pequenos camponeses e dos camponeses pobres, a direcção do campesinato pelo proleta-riadofcetc., não 6 tudo isso o suficiente para poder, com a cooperação, unicamente com a cooperação (que nós antes considerávamos mercantil, e que agora, sob a N. E. P., temos em certos aspectos o direito de considerar do mesmo modo), não é tudo quanto é necessário para edificar a sociedade socialista integral? Não é ainda a construção da sociedade socialista, mas é tudo o que é necessá-rio e suficiente para esta construção *.

8 Ver Lenine: Obras completas, t. XXVII, «Discurso pronunciado na Assembleia plenária do Soviete de Moscovo, em 20 de Novem-bro de 1922» (3.' ed. r., p. 366).

9 Ver Lenine: «Sobre a cooperação», Sobre a aliança dos operá-rios e camponeses, p. 104, Bureau d'Éditions, Paris, 1936 ou p. 37, ed. port, in Cooperativismo e Socialismo, Nosso Tempo — Temas, 1973, Coimbra.

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É claro que não há, nem pode haver, conciliação possível. A «revolução permanente» do camarada Trotsky é a negação da teoria leninista da revolução proletária e vice-versa — a teoria leninista da revolução prole-tária é a negação da teoria da «revolução permanente».

Ausência de fé nas forças e nas capacidades da nossa Revolução, ausência de fé nas forças e nas capa-cidades do proletariado da Rússia, tal é o reverso da teoria da «revolução permanente».

Até agora, assinalava-se ordinariamente apenas um lado da teoria da «revolução permanente»: a ausência de fé nas potencialidades revolucionárias do movimento camponês. Hoje, para ser justo, é necessário completá-lo com um outro lado: a ausência de fé nas forças e capa-cidades do proletariado da Rússia.

Em que é que a teoria do camarada Trotsky se dis-tingue da teoria vulgar do menchevismo, segundo a qual a vitória do socialismo num só país, para mais num país atrasado, é impossívef sem a vitória prévia da revolução proletária «nos principais países da Eu-ropa Ocidental»?

Em nada, quanto ao fundo. Não é possível haver dúvidas. A teoria da «revolu-

ção permanente» do camarada Trotsky é uma variedade do menchevismo.

Ultimamente multiplicaram-se na nossa imprensa os diplomatas corrompidos que procuram fazer passar a teoria da «revolução permanente» por qualquer coisa comparável ao leninismo. Evidentemente, dizem eles, esta teoria mostrou-se inadequada em 1905. Mas, o erro do camarada Trotsky consiste em que se tinha então adiantado, tentando aplicar à situação de 1905 o que !lhe era inaplicável. Mas depois, dizem eles, por exemplo em Outubro de 1917, quando a revolução atingiu a sua plena maturidade, a teoria do camarada Trotsky mostrou-se, prentendem, plenamente adequada.

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Não é difícil adivinhar que o principal destes diplo-matas é o camarada Radek. Ouçam mais:

A guerra cavou um abismo entre o campesinato, que aspira à conquista da terça e à paz, e os parti-dos pequeno-burgueses; a guerra pôs o campesinato sob a direcção da classe operária e da sua van-guarda, o Partido Bolchevista. .Tornou-se possível, não a ditadura da classe operária e do campesi-nato, mas a ditadura da classe operária apoiando--se no campesinato. O que Rosa Luxemburg e Trotsky defendiam em 1905 contra Lenine [isto ó, a «revolução permanente». J. St.] foi efectivamente reconhecido como a segunda etapa do desenvol-vimento histórico M.

Tantas palavras, quantas as trapaças. É falso que, durante a guerra, «tornou-se possível,

nâo a ditadura da classe operária e do campesinato, mas a ditadura da classe operária apoiando-se no cam-pesinato».

Na realidade, a Revolução de Fevereiro de 1917, realizava a ditadura do proletariado e do campesinato, combinando-a de um modo singular com a ditadura da burguesia.

É falso que a teoria da «revolução permanente», que o camarada Radek passa pudicamente em silêncio, tenha sido formulada em 1905 por Rosa Luxemburg e Trotsky. Na realidade, esta teoria foi formulada por Parvus e Trotsky. Agora, ao fim de dez meses, o cama-rada Radek, voltando atrás, julga necessário censurar Parvus pela sua teoria da «revolução permanente». (Ver o artigo sobre Parvus na Pravda.) Mas a justiça exige do camarada Radek que critique igualmente o companheiro de Parvus, o camarada Trotsky.

É falso que a «revolução permanente», refutada pela revolução de 1905, se tenha revelado justa para a

10 Ver a Pravda, n.° 42, de 21 de Fevereiro de 1924.

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«segunda etapa do desenvolvimento histórico», isto é, durante a Revolução de Outubro. Todo o decurso da Revolução de Outubro, todo o seu desenvolvimento mostrou e demonstrou a carência total da teoria da «revolução permanente», a sua completa incompatibi-lidade com os princípios do leninismo.

Nem os discursos açucarados, nem a diplomacia corrupta, chegarão a mascarar o abismo profundo que separa a teoria da «revolução permanente» do leni-nismo.

17 de Dezembro de 1924.

J. STALINE: A Revolução de Outubro e a táctica dos comunistas russos, pp. 12-16; 19-27, Bureau d'éditions. Paris, 1936.

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trabalhadores e aos povos o fosso profundo que separa os revisionistas do marxismo-leninismo e do verdadeiro socialismo, para tirar ao trotskismo a possibilidade de especular.

Mas a condição determinante para conduzir dom sucesso a luta contra o trotskismo é o desenvolvi-mento do próprio movimento marxista-leninista, a ela-boração em cada país por este movimento de um ver-dadeiro programa de luta revolucionária, a extensão e o aprofundamento dos partidos marxistas-leninistas nas massas, a fim de lhes dar uma orientação clara e de libertar dos elementos trotskistas os elementos re-volucionários sinceros desorientados pelo trotskismo.

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TROTSKY, LIQUIDADOR DO PARTIDO DO PROLETARIADO

A SUA ACTIVIDADE FRACCIONISTA. A SUA LUTA CONTRA LENINE E OS BOLCHEVIQUES

Durante os anos de reacção que se seguiram à der-rota da revolução de 1905. Lenine insistia na necessi-dade de modificar a táctica do Partido de acordo com as transformações da situação. Lenine exigia que se aproveitassem para o trabalho revolucionário todas as possibilidades legais conquistadas pela revolução e que se utilizasse a tribuna da Duma do Império através dos deputados eleitos pela classe operária. Em 1907, Kame-nev levantou-se contra a linha de Lenine. Foi um dos partidários mais insistentes do «boicote», do sectarismo das belas frases que condenavam a classe operária ao isolamento e reduziam o Partido ao papel de uma seita destacada das necessidades quotidianas do proleta-riado e do movimento revolucionário. Numa brochura especial dirigida contra Lenine, Kamenev defendeu o boicote e declarou-se contra a utilização das possibi-lidades legais, dos sindicatos, das organizações cul-turais, etc. Nessa ocasião, Zinoviev marchou durante muito tempo lado a lado com Kamenev.

Trotsky, cuja palavra de ordem era a união sem princípios «de todas as fracções» do P. O. S. D. R-, esforçava-se então por colocar os bolcheviques sob a direcção dos liquidadores mencheviques e por destruir o bolchevismo enquanto partido independente. Lenine lutava sem tréguas contra •Trotsky e sublinhava nestes termos o extremo pèrigo da sua posição:

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Trotsky e os seus pares — o s «trotskistas e os conciliadores» — são mais perigosos do que qual-quer outro liquidador, porque os liquidadores con-victos expõem francamente o seu ponto de vista e os operários distinguem facilmente os seus erros, enquanto que os senhores Trotsky & C.° enganam os operários, dissimulam o mal e agem de modo que se torna impossível descobri-lo e curar-se dele. Todos os que sustentam o grupo de Trotsky sus-tentam uma política de mentiras e de intrujices face aos operários, uma política que dissimula o liquidacionismo. (Tomo XV, p. 218, ed. r.)

Para lutar contra os bolcheviques, Trotsky convocou em 1912 a dita conferência de Agosto durante a qual se constitui um bloco sem princípios composto de dife-rentes tendências e fracções. A conferência convocada por Trotsky teve por palavra de ordem o mais franco liquidacionismo. Renunciou à luta pela República na Rússia, pela jornada de 8 horas, pela confiscação das terras; abandonou todas as outras reivindicações, assim como todos os princípios do programa social-democrata.

Sublinhando a política aventureirista do trotskismo, Lenine falava nestes termos do bloco de Agosto:

É precisamente partindo de «princípios funda-mentais» que devemos reconhecer, na exacta acep-ção do termo, o carácter aventureirista deste bloco. Trotsky não ousa declarar que considera Potressov e os partidários do boicote da Duma como verda-deiros" marxistas, como verdadeiros defensores dos princípios da social-democracia. A posição de um aventureirista tem de particular o facto de o obrigar constantemente a fazer ziguezagues. (Tomo XV, pp. 68-69. ed. r.)

E Lenine prossegue:

Além disso, declaramos, em nome de todo o Partido, que Trotsky conduz uma política hostil ao Partido, que destrói a legalidade do Partido, que se embrenha na via das aventuras e .da cisão. (Idem, p. 65.)

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Tal é a característica autêntica de Trotsky, dada por Lenine.

A seguir, demos uma série de textos; de Lenine rela-tivos a este período.

A CRISE DE UNIFICAÇÃO DO NOSSO PARTIDO

Basta põr a questão para vermos como são ocas as frases da resolução de Trotsky e para nos apercebermos que servem na realidade para defender a posição de Axelrod, Alexinski e consortes '.

As primeiras palavras da resolução de Trotsky reve-lam o pior espirito conciliador. Efectivamente, a sua conciliação é uma conciliação com pessoas, com cape-linhas e não com uma linha de acção, com uma ideo-logia politica determinada. É nisto que consiste a pro-funda diferença entre o «conciliacionismo» de Trotsky e consortes (que, em última análise, serve sobretudo aos liquidadores e aos extremistas, e que é tanto mais perigoso para o Partido quanto mais habilmente se cobre de declamações em favor do Partido e contra as facções) e o verdadeiro espirito de partido, que pro-cura depurar o Partido da tendôncia liquidadora e do otzovismo 2...

No tocante à importância e às condições da reali-zação da unidade do Partido, duas concepções são possíveis...

Uma, põe em primeiro plano «a conciliação de de-terminadas pessoas, de grupos e de instituições», cuja

1 Axelrod e Alexinski pertenciam ao grupo dos mencheviques liquidadores. (Nota da edição francesa.)

2 Tendência d^s que. não cnmoreendendo a necessidade para o Partido de utilizar todas as possibilidades legais de acção, eram partidários da retirada (otzyv) .dos deputados sociais-democratas da Duma do Império. (Nota da edição francesa.)

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unidade de perspectivas sobre o trabalho do Partido e a direcção a dar a este trabalho é considerada como uma coisa secundária. Esforça-se por abafar os desa-cordos em vez de procurar as suas raízes e de deter-minar a sua importância e condições objectivas. «Con-ciliar as pessoas e os grupos», eis o principal. Uma vez que ninguém se entende sobre o estabelecimento de uma linha de acção comum, é preciso interpretar esta linha de forma que ela seja assimilável para todos. Numa palavra, regula-se pelo princípio: Vive e deixa viver os outros I

Esta é a conciliação vulgar, que conduz infalivel-mente à diplomacia de capelinhas. Mascarar as raízes do desacordo, evitar falar delas, afastar a todo o custo os conflitos, neutralizar as tendências hostis, tal é o objectivo deste «conciliacionismo». É evidente que, num período em que o Partido ilegal tem a sua obase de operações no estrangeiro, esta diplomacia de capeli-nhas abre totalmente as portas às «pessoas, grupos e instituições» que desempenham o papel de «interme-diários honestos» em todas as tentativas de concilia-ção e de arbitragem...

Os mencheviques pediam ao órgão central a insti-tuição da arbitragem e propunham como árbitros um membro do Bund e Trotsky que tinham de desempenhar o papel de alcoviteiras e casar «determinados indiví-duos, grupos e instituições» sem exigir de ninguém a renúncia ao «liquidacionismo».

É esta mentalidade de alcoviteira que constitui toda a base ideológica da política conciliadora de Trotsky e de lonov 3. Os seus queixumes e lamúrias sobre a não realização da união são os queixumes e os gemidos da alcoviteira que vê fracassar as suas diligências.

3 lonov era o colaborador de Trotsky na Pravda (órgão trots-kista editado em Viena). (Nota da edição francesa.)

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O abortar das esperanças que Trotsky e lonov ali-mentavam na unificação com determinadas pessoas, grupos e instituições, independentemente da atitude destas face à corrente liquidadora é tão somente um insucesso de intermediários que se colocam num ponto de vista tão falso quão miserável, mas não significa de modo nenhum o fracasso da unificação do Partido...

Nenhuma ideia levantou na 'assembleia plenária uma indignação táo furiosa e por vezes tão cómica como a ideia da «luta sobre as duas frentes*. Toda a alusão a este assunto punha fora de si os mencheviques e os otzovistas. Esta indignação é historicamente explicável, porque os bolcheviques conduziram realmente a luta em duas frentes, do mês de Agosto de 1908 atá Ja-neiro de 1910, contra os liquidadores e os extremistas. Esta indignação não deixava de ser cómica porque os que se irritavam contra os bolcheviques mostravam por essa sua atitude que tinham culpas, que continuavam a ser tocados ao vivo por qualquer censura dirigida à tendência liquidadora e ao otzovismo. Não se pode falar de corda na casa de um enforcado.

A proposta de Trotsky no sentido de substituir as palavras «a luta em duas frentes» por «o triunfo por meio do alargamento e da intensificação* obteve o mais vivo apoio dos mencheviques e do grupo Vpé-riod'... A aoeitação desta proposta teve por único resultado obscurecer e diluir uma passagem da reso-lução.

Eis um exemplo que mostra bem o vazio das palavras de Trotsky e. de lonov. Para esclarecer algumas tenta-tivas de liquidação de Mikhail, de Yuri5 e consortes.

' órgão dos otzovistas. (Nota da edição francesa.) 5 Mikhail e Yuri eram os representantes dos mencheviques no

Comité Central que deveria dirigir o trabalho do Partido na Rús-sia. Recusaram participar neste trabalho. (Nota da ed.ição fran-cesa.)

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o Comité Central perdeu tempo e -forças que teriam sido mais bem empregues se consagradas ao alargamento e à intensificação imediata do verdadeiro trabalho social-democrata. Sem os actos de Mikhail, de Yuri e consortes, sem o «liquidacionismo» daqueles que erradamente continuamos a considerar como nossos camaradas, o alargamento e a intensificação do tra-balho social-democrata ter-se-iam processado muito me-lhor, porque a luta interna não teria absorvido as for-ças do Partido. Se, por alargamento e intensificação do trabalho social-democrata, se entende o desenvol-vimento imediato da agitação, da propaganda, da luta económica num espírito verdadeiramente social-demo-crata, todo o tempo dispendido a ultrapassar os des-vios de certos sociais-democratas é, por assim dizer, tempo roubado à acção positiva e daí resulta que a frase relativa à eliminação dos desvios por meio do alargamento, etc... não tem sentidõ nenhum.

Efectivamente, esta frase exprime um vago desejo, um voto simplório e inofensivo para que houvesse me-nos lutas internas entre os sociais-democratas. Além deste voto anódino, esta frase não quer dizer nada; não-passa de um suspiro dos conciliadoresl ohl se houvesse menos lutas contra a liquidação e o otzovismol...

Compreende-se a apreciação prática que deriva desta «apreciação do momento» feita por Trotsky e por lonov. Não se produziu nada de particular, apenas uma que-rela de fracção. Instalam-se novas alcoviteiras e o golpe está dado. A diplomacia de capelinha explica tudo. Fornece todas as receitas práticas. De um lado, homens que ardem por se bater, do outro, partidários da con-ciliação; então basta aqui suprimir toda a alusão à «base», ali não referir esta ou aquela instituição, acolá fazer uma concessão aos formalismos no tocante aos

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modos de convocação da conferência... É a história velha mas sempre nova das capelinhas no estrangeiro...

É por isso que os esforços de Trotsky e de lonov com vista à reconciliação são agora tão lamentáveis como ridículos. Só uma incompreensão total dos fac-tos pode explicar esses esforços, que são agora ino-fensivos, porque ninguém os apoia, a não ser os diplo-matas de círculos no estrangeiro... Os conciliadores à Trotsky e lonov enganaram-se tomando as condições particulares que permitiram à diplomacia conciliadora instalar-se na assembleia plenária pelas condições ge-rais da vida actual do Partido. Graças à existência de tendências profundas para a reconciliação (para a uni-ficação do Partido) nas duas facções principais, esta diplomacia desempenhou um certo papel na assembleia plenária, mas enganaram-se tomando-a por um fim em si, por um instrumento que lhes permitiria navegar constantemente entre pessoas, grupos e instituições...

Tendo sido impelidos para o primeiro plano na assem-bleia plenária6, tendo obtido a possibilidade de desem-penhar um papel na qualidade de intermediários e de juizes para pôr fim à divisão, para dar satisfação às pretensões dirigidas contra o bureau central, os con-ciliadores à Trotsky e lonov imaginaram que, enquanto existissem as pessoas, os grupos e as instituições em questão, poderiam brincar aos intermediários. Erro ridí-culo. Os intermediários são necessários quando é pre-ciso determinar a medida das concessões necessárias para obter o entendimento...

Agora os intermediários já não são necessários, já

6 Esta assembleia plenária do Comité Central teve lugar em 1910. Foi feita ai uma última tentativa para unificar fracções. A assembleia plenária censurou as tendências liquidadoras en-quanto desvios de direita e o otzovismo enquanto desvio da es-querda e decidiu a supressão das fracções. Mas os liquidadores sabotaram esta resolução. (Nota da edição francesa.)

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não tâm qualquer papel a desempenhar porque já não se trata da medida das concessões, e isso porque todas as concessões (mesmo as mais excessivas) foram fei-tas na assembleia plenária...

Se Trotsky e lonov tivessem agora a ideia de querer reconciliar o Partido com as pessoas, os grupos e as instituições em questão, seriam para nós, bolcheviques e mencheviques partiitsi', apenas traidores ao Partido e nada mais...

Todos os conciliadores sem carácter, como lonov e Trotsky, que defendem ou justificam estas pessoas, perdem-nas na realidade ligando-as ainda mais forte-mente à tendência liquidadora, e esse é o seu maior crime...

Pelo oontrário, tudo se torna perfeitamente com-preensível se não nos recusarmos a ver o que está na base de tudo, que é o agrupamento definitivo de todos os independentes russos e a sua definitiva reconcilia-ção com a «utopia reaccionária» do restabelecimento e da consolidação do Partido Megal...

Os pontos de vista de lonov e de Trotsky, que que.-rem ser considerados como estranhos a qualquer frac-ção são de facto característicos a este respeito (Pravda, n.9 12, e resolução de Viena). Trotsky recusa-se obsti-nadamente a ter em conta os mencheviques partiitsi...

Tentar, apesar de todos os factos em contrário, apre-sentar a luta de Plekhanov contra o grupo de Goioss'

7 Mencheviques de esquerda, que, com Plekhanov, se erguiam então contra os liquidadores e colaboravam com os bolcheviques. (Nota da edição francesa.)

a órgão dos mencheviques liquidadores (Martov, Dan, Martynov. etc.). (Nota da edição francesa.)

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como uma briga literária entre fracções é muito sim-plesmente põr-se do lado do grupo dos independentes partidários da legalidade contra o Partido.

Março-Maio de 1910.

V. I. LENINE: «Ncrtas de um publicista», Obras completas, tomo XIV, pp. 291--338, ed. r.

A POLÍTICA DE AVENTURAS E OE CISÃO DE TROTSKY

A resolução Trotsky convidando as organizações lo-cais a preparar uma «Conferência de todo o Partido» fora do Comitá Central e contra ele apenas exprime o objectivo prosseguido pelo grupo do Goloss: aniquilar as instituições centrais, odiosas a todos os liquidadores e acabar ao mesmo tempo com o Partido enquanto organização. Não basta esclarecer estas manobras diri-gidas contra o Partido pelo grupo do Goloss e por Trotsky, é preciso também combatê-las. Os camaradas que prezam o Partido e desejam a sua restauração devem pronunciar-se categoricamente contra aqueles que, guiados por considerações de fracção e de cape-linha, se esforçam por destruí-lo...

É preciso compreender porque é que é insensato, indigno, ridículo, elaborar resoluções acerca da comu-nidade de acção com pessoas como Potressov e con-sortes Quando o Partido compreender que se encon* tra em face de duas políticas inconciliáveis, que se trata aqui do social-democratismo e do liberalismo, encontrará facilmente uma saída. Então saberemos criar

' Potressov pertencia ao grupo dos liquidadores. (Nota da edi-ção francesa.)

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, um aparelho «legal» que não servirá aos liquidadores para entravar a acção do Partido...

A resolução de Viena (26 de Novembro de 1910) compreende três partes: 1 ° uma declaração de guerra à Gazette Ouvrière 10 (combater este jornal, que é uma «nova empresa fraccionai», segundo a expressão de Trotsky); 2.- uma parte polémica contra a linha do bloco «dos bolcheviques e de Plekhanov»; 3 ° a decla-ração de «que a assembleia do clube de Viena listo é, Trotsky e o seu circulo) decide criar uma base para a preparação e a convocação da conferência do P. O. S. D. R.».

Não nos deteremos na primeira parte. Trotsky tem toda a razão quando diz que a Gazette Ouvrière é uma «empresa privada» e que não está de modo algum «autorizada a falar em nome do Partido».

Infelizmente, Trotsky esquece-se de que ele próprio e a sua Pravda também não têm autoridade para o fazer. Ele declara que a assembleia plenária reconheceu a acção da Pravda como útjl, mas não diz que esta mesma assembleia nomeou um representante do C. C. para a redacção da Pravda. Calar este facto referindo por outro lado as decisões da assembleia plenária em relação ò Pravda é simplesmente enganar os operários, e isto tanto mais fraudulentamente que no mês de Agosto de 1910 Trotsky afastava da Pravda o repre-sentante do C. C. Após este acontecimento, após a ruptura do laço que o ligava ao C. C., o jornal de Trotsky é apenas uma «empresa privada», incapaz, além disso, de cumprir os compromissos assumidos. Até à próxima reunião do C. C., o único juiz da atitude da Pravda face ao C. C. é o representante nomeado pela assembleia plenária, o qual definiu a actuação de Trotsky como contrária aos estatutos.

10 A Gazette Ouvrlire era o órgão dos liquidadores. (Nota da edição francesa.)

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Eis o que resulta da questão levantada tão a pro-pósito por Trotsky sobre os que estão autorizados a falar em nome do Partido.

Enquanto os liquidadores independentes, partidários da legalidade, sabotarem o C. C. russo, enquanto o grupo de Goloss sabotar o C. C. estrangeiro, o órgão central fica sendo a única instituição autorizada a falar em nome do Partido.

É por isso que declaramos, em nome do Partido, que Trotsky conduz uma política nefasta ao Partido, que viola a legalidade do Partido, que se enreda na via das aventuras e da cisão quando, na sua resolução, sem dizer uma única palavra do C. C. (como se esti-vesse combinado com o grupo do Goloss para não reconhecer o C. C.), anuncia, em nome de um grupo estrangeiro, a criação de uma base para a convocação de uma Conferência do P. O. S. D. R. ...

Trotsky escreve na sua resolução que a luta condu-zida por «leninistas e plekhanovi&tas» já não tem pre-sentemente nenhuma base de princípios. (Substituindo por personalidades as correntes do bolchevismo e do menchevismo antiliquidador, Trotsky quer mostrar o seu desdém, mas apenas consegue mostrar a sua in-compreensão)...

É uma mentira descarada dizer que, em todas as correntes do Partido, se chegou à firme convicção de que é necessário restabelecer a acção ilegal. Cada número do Goloss mostra que os golossistas olham o grupo de Potressov e consortes como uma corrente do Partido, e mais, que colaboram sistematicamente com este grupo. Não será ridículo e vergonhoso, um ano depois da assembleia plenária do C. C., jogar às escondidas, enganar-se a si mesmo e enganar os ope-rários recorrendo a disfarces oratórios, quando se trata da aplicação de decisões e não de frases?

Trotsky olha ou não olha Potressov e os seus con-sortes (nitidamente designados rvo órgão central) como

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uma «corrente do Partido?» Esta questão é precisamente a da aplicação das decisões da assembleia plenária, e há já um ano que o órgão central pôs a questão de uma forma clara, nítida, precisa, de forma a tornar impossível qualquer evasiva...

Trotsky guarda silêncio sobre esta verdade incontes-tável, porque ela o incomoda, dado o objectivo real da sua política. Ora, este objectivo torna-se cada vez mais claro, cada vez mais evidente, mesmo para os membros menos clarividentes do Partido. Este objectivo é o bloco de Potressov e dos otzovistas contra o Partido, bloco que é sustentado e organizado por Trotsky. A adopção das resoluções de Trotsky (no género da de Viena) pelo grupo de Goloss, todo o apoie da Pravda aos extremistas, todas as bisbilhotices tendentes a fazer crer que na Rússia apenas os extremistas e os trotskistas actuam, a propaganda da Pravda em favor da escola fraccionista do grupo Vpériod, o apoio dado por Trotsky a esta escola, tudo*isto são factos impos-síveis de esconder por muito tempo.

A política de Trotsky é a «colaboração amigável» da Pravda com as fracções dos Potressov e dos adeptos do grupo Vpériod. Neste bloco os papéis distribuem-se de uma forma muito clara: Potressov e consortes con-tinuam o seu trabalho pela legalidade do Partido e pela destruição da social-democracia; os golossistas formam a sucursal estrangeira desta fracção e Trotsky assume o papel de advogado, assegurando ao público ingénuo que «entre todas as correntes do Partido se estabeleceu uma política social-democrata firme». Os extremistas do grupo Vpériod utilizam também os serviços deste advogado, que defende a liberdade da sua escola fraccionista e encobre a sua política com uma fraseo-logia oficial hipócrita. Este bloco apoia muito natural-mente a «base» Trotsky e a conferência convocada por Trotsky, porque os Potressov e as gentes do Vpériod têm aqui tudo o que necessitam: liberdade para a sua

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fracção, protecção às suas actuações e quem advogue em sue defesa diante dos operários.

É por isso que, colocando-nos do ponto de vista dos «princípios», só podemos considerar este bloco como um bloco de aventureiros no sentido rigoroso do termo...

A razão essencial por que este novo bloco está vo-tado ao fracasso, seja qual for o seu sucesso junto de elementos rotineiros e quaisquer que sejam as bases que Trotsky consiga reunir por intermédio dos extre-mistas e de Potressov, é que ele é absolutamente des-provido de princípios. A teoria do marxismo, os prin-cípios de toda a sua filosofia, da todo o nosso pro-grama e de toda a nossa táctica estão agora no pri-meiro plano na vida do Partido... É preciso expor de novo os princípios do marxismo às massas, é preciso põr de novo na ordem do dia a defesa da teoria mar-xista. Declarando que a aproximação dos mencheviques partiitsi e, dos bolcheviques é efémera e desprovida dü fundamento político, Trotsky mostra a profundidade da sua ignorância e o vazio das suas próprias concep-ções. Foram precisamente os princípios do marxismo que triunfaram na luta dos bolcheviques contra as ideias anti-sociais-democratas, na luta dos menchevi-ques partiitsi contra os Potressov e os golossistas...

Os resultados da colaboração amigável de Potressov com os extremistas e Trotsky não se manifestaram ainda; até aqui apenas se viu diplomacia de cape-linha...

O bloco de Trotsky, de Potressov e dos extremistas é precisamente uma aventura, do ponto de vista dos princípios.

O ano que decorreu desde a assembleia plenária mostrou-nos que o grupo Potressov e a fracção do Vpériod incarnam precisamente esta influência burguesa sobre o proletariado. Passar em silêncio este facto evidente é faz.er o jogo dos aventureiros, porque até

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aqui ainda ninguém ousou dizer abertamente que Po-tressov e os seus consortes não têm nada de «liquida-cionismo», nem que ele está de acordo com a linha do Partido de reconhecer o otzovismo como uma «nuance legai»...

Enfim, em terceiro lugar, Trotsky conduz uma polí-tica aventureirista do ponto de vista de organização, porque, tal como já dissemos, esta política é contrária aos estatutos do Partido, e, organizando uma Confe-rência em nome de um grupo estrangeiro (ou em nome de duas fracções hostis ao Partido: os goiossistas e os extremistas), Trotsky compromete-se directamente na via da cisão.

Janeiro de 1911.

V. I. LENINE: «Sobre a situação no Partido», Obras completas, tomo XV, pp. 60-70, ed. r.

SENTIDO HISTÓRICO DA LUTA NO INTERIOR DO PARTIDO

O assunto indicado neste capítulo é tratado nos artigos que Martov e Trotsky publicaram nos números 50 e 51 da Neue Zeit1I. Martov expõe aí os pontos de vista do menchevismo. Trotsky deixa-se arrastar pelos mencheviques ocultando a sua atitude atrás de frases sonoras. Para Martov, «a experiência russa» reduz-se à «vitória da grosseria blanquista e anarquista sobre a cultura marxista» (isto é, do bolchevismo sobre o menchevismo). «A social-democracia russa quis dema-siado falar à russa» e não se inspirou suficientemente

11 órgão teórico da social-democracia alemã antes da guerra, dirigido por Karl Kautsky. (Nota da edição francesa.)

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na táctica «europeia». Em Trotsky voltamos a encontra' uma «filosofia da história» análoga. Para ele, a causa da luta é «a adaptação dos intelectuais marxistas ao movimento de classe do proletariado». No primeiro plano, Trotsky coloca «o espirito lectário, o individua-lismo dos intelectuais, o fetichismo ideológico». «A luta para influenciar um proletariado aipda pouco amadu-recido politicamente», tal é, segundo ele, o fundo da questão.

I

A teoria que vê na luta do bolchevismo contra o menchevismo uma luta para influenciar um proletariado ainda pouco amadurecido politicamente não é nova. Encontramo-la desde 1905 (ou desde 1903), numa multidão de livros, de brochuras, de artigos da im-prensa liberal.

É verdaple que o proletariado russo é, no tocante a maturidade política, inferior ao proletariado ociden-tal. Mas, de todas as classes da sociedade russa, foi precisamente o proletariado que deu provas da maior maturidade política. A burguesia liberal, que se con-duziu entre nós de forma tão baixa, tão cobarde, tão ridícula e tão traidora como a burguesia alemã em 1848, detesta o proletariado precisamente porque este se mostrou, em 1905, suficientemente maduro do ponto de vista político para lhe arrancar a direcção do movi-mento e desmascarar impiedosamente a duplicidade dos liberais.

É uma ilusão acreditar, declara Trotsky, que o menchevismo e o bolchevismo lançaram raízes pro-fundas nas profundezas do proletariado.

Eis um espécime das frases sonoras e vazias na arte das quais o nosso Trotsky se tornou mestre. Não

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é «nas profundezas do proletariado», mas no conteúdo económico da revolução russa que é necessário pro-curar as raízes do desacordo entre bolcheviques e mencheviques. É por ignorarem este conteúdo que Mar-tov e Trotsky não viram o sentido histórico da luta interna do Partido russo. O essencial não â saber se as fórmulas teóricas das nossas dissensões penetraram profundamente nesta ou naquela camada do proleta-riado; o importante é que as condições económicas da revolução de 1905 conduziram o proletariado a tomar uma atitude hostil à burguesia liberal, não só na questão da melhoria das condições de existência dos operários, mas também na questão agrária e em todas as questões políticas da revolução. Falar das dife-rentes correntes em luta na revolução, limitando-se a colar-lhes as etiquetas de «sectarismo» ou de «gros-seria», e não dizer uma palavra sobre os interesses económicos fundamentais do proletariado, da burguesia liberal e do campesinato democrático é rebaixar-se ao nível dos jornalistas dos boulevards...

A luta do bolchevismo e do menchevismo está estreitamente ligada à história da primeira e da se-gunda Duma. Tratava-se de saber se era necessário sustentar os liberais; ou trabalhar para lhes arrancar a direcção do campesinato. Por isso, explicar as nossas cisões pela influência dos intelectuais, pela imaturidade das massas, é repetir com uma ingenuidade pueril todas as lendas liberais.

Trotsky engana-se radicalmente, pela mesma razão, quando pretende que, na social-democracia internacio-nal, as cisões se produziriam por causa da «adaptação da classe revolucionária às condições estreitas do parlamentarismo» e, na social-democracia russa, pela adaptação dos intelectuais ao proletariado.

Tal como esta adaptação era politicamente limi-tada do ponto de vista do objectivo final, social-

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-democrata, escreve Trotsky, assim também as suas formas eram incoerentes, e grande era a sombra ideológica que projectava.

Esta fraseologia verdadeiramente «incoerente» não passa da «sombra ideológica» dp 'liberalismo. Martov e Trotsky põem no mesmo plano períodos históricos diferentes, opondo a Europa, que há muito havia concluído a sua revolução burguesa, à Rússia, que está em vias de fazer a sua. Na Europa, o trabalho social-democrata consiste essencialmente em preparar o proletariado para lutar pela conquista do poder contra a burguesia, que domina já completamente o Estado. Na Rússia trata-se simplesmente da fundação de um Estado burguês moderno, que será semelhante à monarquia dos junkers (no caso da vitória do tsa-rismo sobre a democracia) ou da República camponesa, burgueso-democrática (no caso da vitória da demo-cracia sobre o tsarismo). Ora, a vitória da democracia na Rússia contemporânea só é possível se as massas rurais marcharem com o proletariado revolucionário e não com os liberais, que desempenham um papel duplo. Esta questão não está ainda historicamente resolvida. As revoluções na Rússia não terminaram ainda e, na luta pela forma- do regime burguês na Rússia, o conteúdo político real do trabalho social--democrata é mais vasto do que nos países em que não há nenhuma luta pela confiscação das grandes propriedades pelos camponeses, em que as revoluções burguesas já terminaram há muito...

II

As considerações de Martov sobre a revolução russa e as de Trotsky sobre a situação actual da social-democracia russa confirmam de forma concreta a falsidade dos seus pontos de vista essenciais.

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Comecemos pelo boicote. Martov chama ao boicote uma abstenção politica, um processo de anarquistas e sindicalistas e, além disso, fala unicamente de 1906. Trotsky diz que

a tendência para o boicote se manifesta através da história do bolchevismo: boicote dos sindicatos, da Duma do Império, das administrações lo-cais, etc....;

... que esta tendência é o «resultado de um medo sectário de se mergulhar nas massas e representa o radicalismo da abstenção intransigente». No que diz respeito ao boicote dos sindicatos e das administra-ções locais, Trotsky afirma coisas absolutamente falsas. É absolutamente falso que o boicote se manifeste através de toda a história do bolchevismo. Este cons-titui-se definitivamente enquanto corrente, na Prima-vera e no Verão de 1905, antes de ter surgido a questão do boicote. 0 bolchevismo declârou em Agosto de 1906, no seu órgão oficial, que as condições históricas que tinham exigido o boicote tinham desaparecido.

Trotsky deforma o bolchevismo, porque nunca pôde assimilar pontos de vista um poucochinho mais pre-cisos sobre o papel do proletariado na revolução bur:

guesa russa... Não tendo compreendido o significado histórico e

económico da separação dos elementos não sociais--democratas do P. O. S. D. R. na época da contra--revolução, Trotsky fala aos seus leitores alemães da «desagregação» das duas fracções, da «d9sagrsgação» e da «decomposição» do Partido.

isto é falso. E este erro põe desde logo à vista a completa incompetência teórica de Trotsky. Este úl-timo não compreendeu absolutamente em nada por que é que o C. C., na sua assembleia plenária, declarou que o liquidacionismo e o otzovismo eram a «mani-festação da influência burguesa sobre o proletariado».

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Efectivamente, o Partido desagrega-se e decompõe-se ou, pelo contrário, consolida-se e saneia-se quando dele se destacam correntes que condenou e que repre-sentam a influência burguesa sobre o proletariado?

Em segundo lugar, este erro exprime na prática a política propagandista da fracção Trotsky. Agora, desde que o representante do C. C. foi afastpdo da redacção da Pravda, toda a gente vê que o trabalho de Trotsky não passa de uma tentativa de criação de uma fracção. Fazendo propaganda para a sua fracção, Trotsky não se importa, de modo nenhum, de contar aos alemães que o Partido se desloca, que as duas fracções se desa-gregam, e que ele, Trotsky, salva tudo. Vimos agora — e a recente resolução dos trotskistas (em nome do Clube de Viena, em 26 de Novembro de 1910) mostra-o com uma evidência particular — que, iso-lados, os liquidadores e os extremistas confiam em Trotsky.

Eis mais um exemplo que demonstrará até onde vai o descaramento de Trotsky, rebaixando o Partido e fazendo-se valer perante os alemães: Trotsky escreve que as massas operárias na Rússia olham «o Partido social-democrata como de fora do seu círculo» e fala dos «sociais-democratas sem social-democracia».

Como é que Potressov e consortes não abraçariam Trotsky por semelhantes discursos?...

Quando Trotsky fala em detalhe aos camaradas ale-mães da inépcia do otzovismo, que descreve como a (cristalização» de uma tendência para o boicote, natural em todo o bolchevismo, e quando, a seguir, em duas palavras, recorda que «o bolchevismo não se deixou aba-ter pelo otzovismo», mas que o combateu resolutamente, ou melhor, com frenesi, o leitor alemão não pode aperceber-se da sábia perfídia de semelhante exposição. A «restrição mental» jesuítica de Trotsky consiste em calar um pequenino, um pequeniníssimo «detalhe». «Esquece-se» de referir que, desde a Primavera de

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1909, a fracção bolchevique, numa assembleia oficial dos seus representantes, rejeitou, excluiu os otzovistas. Mas precisamente este «detalhe» embaraçava Trotsky, que queria a todo o custo falar da «desagregação» da fracção bolchevique (e em seguida do Partido) e nfio da decadência dos elementos não sociais-demo-cratas.

Vemos agora Martov como um dos chefes dos li-quidadores, chefe tanto mais perigoso visto ser habi-Ifssimo a defender os liquidadores com expressões quase marxistas. Mas Martov expõe abertamente con-cepções que influenciaram correntes inteiras do mo-vimento operário de massa de 1903 a 1910, enquanto que Trotsky representa apenas as suas próprias flutua-ções e nada mais, Em 1903, era menchevique; afastou--se do menchevismo em 1904, para aí regressar em, 1905, fazendo alarde de uma fraseologia ultra-revolu-cionária; afastou-se de novo em 1906; em fins de 1906, preconizava acordos eleitorais com os cadetes (Isto ô, estava realmente de novo com os menche-viques) e, na Primavera de 1907, declarava no con-gresso de Londres que se diferenciava de Rosa Lu-xemburg «mais por nuances individuais do que por tendências políticas». Hoje, Trotsky plagia a ideologia de uma fracção, amanhã a de uma outra e, por esta razão, proclama-se acima das fracções. Em teoria, Trotsky não-está de acordo em nada com os liqui-dadores e os otzovistas, mas, na prática, está de acordo em tudo com os golossistas e o grupo Vpériod.

É por isso que, como Trotsky diz aos camaradas alemães que representa a «tendência geral do Partido», eu tenho de declarar que ele apenas representa a sua fracção e apenas goza de uma certa confiança junto dos otzovistas e dos liquidadores. Eis factores que mostram a exactidão da minha afirmação. Em Janeiro de 1910, o nosso Partido tinha estabelecido uma li-gação estreita com o jornal de Trotsky, a Pravda, dele-

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gando um representante do C. C. para o conselho de redacção. Em Setembro de 1910, o órgão oficial central do Partido publica um artigo no qual se diz que o representante do C. C. teve de romper com Trotsky porque este conduzia uma política contrária ao espírito do Partido. Em Copenhague, Plekhanov, na qualidade de representante dos mencheviques partjitsi e de de-legado da redacção do órgão central, o autor destas linhas, na qualidade de representante dos bolcheviques, e um camarada polaco ergueram um protesto cate-górico contra a forma como Trotsky relata, na imprensa alemã, os assuntos do nosso Partido.

Que o leitor julgue agora se Trotsky representa a «tendência geral do Partido» ou se representa uma tendência da social-democracia russa geralmente hostil ao Partido.

Abril de 1911.

V. I. LENINE: «O sentido histórico da luta no interior do Partido na Rús-sia», Obras completas, tomo XV,

pp. 10-23, ed. r.

EXTRACTO DE UMA RESOLUÇÃO DO 2.s GRUPO PARISIENSE DO P. O. S. D. R. (,2)

Pessoas como Trotsky, com as suas frases anfigúricas sobre o P. O. S. D. R., são «a praga do nosso tempo». Querem fazer facilmente a sua carreira pregando o acordo com toda a gente, mesmo com Potressov e os otzovistas, e forçosamente guardam silêncio sobre as condições políticas deste acordo. Na realidade, pregam a capitulação perante os liquidadores, perante os fundadores de um partido operário estolipiniano...

" Esta resolução foi escrita por Lenine. (Nota da edição fran-cesa.)

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A assembleia chama a atenção dos operários sociais--democratas sem distinção de fracção para o facto de que os chefes estrangeiros do grupo Vpétiod e o redactor da Pravda, Trotsky, conduzem uma política de apoio aos liquidadores e de união com eles contra o Partido e as suas decisões.

Julho de 1911.

V. I. LENINE: «Resolução do 2.9 grupo parisiense do P. O. S. D. R. sobre a situação no Partido», Obras com-pletas. tomo XV, pp. 197-200, ed. r.

A TODAS AS ORGANIZAÇÕES, GRUPOS, CÍRCULOS DO PARTIDO SOCIAL-DEMOCRATA

«

Manifesto da Comissão de organização para a convocação de uma conferência pan-russa

Trotsky, naturalmente, obrigou-se a repetir todos os can-cans dos liquidadores estrangeiros sobre a pretensa apropriação do dinheiro do Partido pela Conferância e sobre as «expropriações no interior do Partido» (ver o n.s 21 da Pravda em que Trotsky, «com a morte na alma», reproduz todas estas histórias). Não vamos incidir novamente nesta triste campanha. Trotsky, como todos os outros membros do Partido que lêem o órgão central, sabe muito bem que o C. C., reunido em sessão plenária, submeteu esta questão do dinheiro à decisão de três camaradas estrangeiros, que gozam de uma grande autoridade junto dos operários russos. O Partido publicou a sua decisão sobre este assunto no n.2 11 do órgão central. Ora, agora que estes camaradas se pronunciaram contra os planos cisio-nistas dos golossistas e exprimiram a sua confiança no nosso Comité de organização, Trotsky solta altos

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gritos a propósito das expropriações no interior do Partido.

Um pouco de pudor, senhores! Diremos a Trotsky e aos da sua igualha: não levanteis uma miserável e vergonhosa campanha de mentiras à volta desta questão de dinheiro. Não façais assim a felicidade dos Menchikov e dos Izgoíevl A decisão dos camaradas estrangeiros sobre esta questão de dinheiro é for-malmente obrigatória para todos nós —ass im decidiu o Partido — e moralmente é-o ainda mais. Porque, camaradas, sabeis quem são estes «detentores» estran-geiros que, segundo parece, sancionam e encobrem «expropriações no interior do Partido». SSo Karl Kautsky, Franz Mehring e Clara Zetkin, nossos guias, cujos nomes são queridos a todos os sociais-democratas russos...

Assinalemos ainda uma característica geral das in-tervenções do' grupo de Trotsky sobre as questões de táctica e sobre as questões de principio no Partido. No seu arsenal, Trotsky só encontra armas contra a es-querda do Partido. Diga-se a propósito que uma tal poli-tica apenas serve aos golossistas e aos oportunistas je todas as espécies. Daí a unanimidade palpável que se estabeleceu entre o grupo Trotsky e o Goloss, órgão da liquidação do Partido. Estranha forma de estar fora das fracções]

1 de Agosto de 1911.

«Documentos e materiais». Obras com-pletas de Lenine, tomo XV, p. 593, ed. r.

NOTA DA REDACÇÃO SOBRE A CORRESPONDÊNCIA DE SÂO-PETERSBURGO

Trotsky e todos os conciliadores do seu género são bastante mais perigosos do que os próprios liquida-

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dores. Efectivamente, os liquidadores convictos ex-põem abertamente os seus pontos de vista aos operários e ó fácil mostrar-lhes os seus erros, enquanto que os trotskistas enganam os operários, dissimulam o mal e tornam impossível o diagnóstico e a cura. Sus-tentar o grupo Trotsky é ajudar a enganar os operários, é ocultar o «liquidacionismo». Dar, na Rússia, inteira liberdade de acção a Potressov e consortes e, no es-trangeiro, ocultar os seus actos com frases revolucio-nárias, tal é o fundo da politica trotskista.

1 de Setembro de 1911.

V. I. LENINE: «Do campo do Partido «operário» estolipiniano». Obras com-pletas, tomo XV, p. 218, ed. r.

A NOVA FRACÇÃO DOS CONCILIADORES OU OS VIRTUOSOS

O «conciliacionismo» é um conjunto de tendências, de aspirações, de pontos de vista, estreitamente ligados à própria essência do problema que se punha perante o P. O. S. D. R. na época da contra-revolução (1908--1911). . . O seu porta-voz mais consequente foi Trotsky...

Trotsky e os «trotskistas inconsequentes» asseguram que não formam uma fracção pois... o único objectivo do seu agrupamento (em fracção) é precisamente a destruição de todas as fracções, a propaganda da unificação, etc... Mas todas as afirmações deste gé-nero não passam de gabarolices e de subterfúgios pela simples razão que o facto da existência de uma fracção não poderia ser invalidado pelo objectivo que ela prossegue, seja qual for, aliás, a excelência deste objectivo...

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Trotsky fornece-nos inúmeros projectos de unificação sem nenhum principio na base. Para tomar um exemplo recente, recordemos como ele punha nas nuvens a Vie Ouvrière (") de Paris, dirigida por um comité partidário de «conciliadores» e Se golossistas. Eis, dizia, um exemplo admirável: «nem bolchevique, nem menchevique, mas sócial-democrata (evolucionário*. Só que o nosso palrador esquecia que não há social--democrata revolucionário a não ser o que compreende quanto é nocivo o pseudo-sociaJ-democratismo, o social--democratismo anti-revolucionário, isto é, o liquida-cionismo e o otzovismo na Rússia de 1908-1911, e que sabe lutar contra tais tendências, contrárias ao espirito social-democrata.

18 de Outubro de 1911.

V. I. LENINE: «Sobre a nova fracção dos conciliadores ou virtuosos». Obras completas, tomo XV, p. 228--238, ed. r.

A DIPLOMACIA DE TROTSKY E A PLATAFORMA DOS «PARTIITSI»

Eis um editorial pomposo de titulo sonoro: «Avan-tel» ("):

Operários conscientes, diz-se neste artigo, vós não tendes presentemente palavra de ordem mais importante e mais geral do que a de liberdade de associação, de reunião e de greve.

» órgão mensal «operário social-democrata», publicado em 1911 em Paris, em língua russa, onde colaboraram «bolcheviques conciliadores» e liquidadores. (Nota da edição francesa.)

14 O artigo «Avantel» foi publicado na Pravda de Trotsky como correspondência de São -Petersburgo. (Nota da edição francesa.)

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A social-democracia, lemos mais adiante, con-vida o proletariado à luta pela República... Mas para que esta luta não seja a palavra de ordem oca de alguns eleitos é preciso que vós, operários conscientes, ensineis as massas a compreender a necessidade da liberdade de coligação e de lutar por esta reivindicação.

A frase revolucionária serve aqui para mascarar e justificar a falsidade do liquidacionismo. Porque é que a palavra de ordem da República é uma palavra de ordem oca para alguns, quando a República significa a impossibilidade de dissolver a Duma? Liberdade de coligação e de imprensa? Libertação dos camponeses submetidos às violências e às exacções de Markov, Romanov, Pourichkévitch? Não é evidente que é pre-ciso substituir aqui os termos e que é "a palavra de ordem de coligação que fica «oca» e vazia de sentido se não se liga à palavra de ordem de Repú-blica?

É inútil exigir à monarquia tsarista a «liberdade de associação» se não se explica às massas a incom-patibilidade desta liberdade com o tsarismo e a ne-cessidade da República para uma tal liberdade. A apresentação na Duma de projectos de lei sobre a liberdade de associação, as interpelações e os discursos devem precisamente fornecer-nos, a nós, sociais-demo-cratas, a ocasião e o objecto da nossa propaganda em favor da República.

«Os operários conscientes devem ensinar as massas a compreender, pela experiência, a necessidade da liberdade de associação.» Este é o velho refrão do antigo oportunismo russo, já tão repisado pelos econo-mistas. A experiência verdadeira das massas é a dis-solução dos seus sindicatos pelo ministro, as vio-lências quotidianas dos governantes e dos chefes da polícia. Mas pôr .em primeiro plano a palavra de ordem da liberdade de associação e não a de República, é

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frasear como intelectual oportunista afastado das mas-sas...

Trotsky sabe muito bem que, nas suas publicações legais, os 'liquidadores unem precisamente a palavra de ordem de liberdade de associação às palavras de ordem: Abaixo o partido ilegalI Abaixo a luta pela República I A tarefa de Trotsky consiste em encobrir o «liquidacionismo» lançando poeira aos olhos dos operários.

É impossível discutir com Trotsky sobre o fundo das questões, porque ele não tem nenhuma ideia firme. Pode-se e deve-se discutir com os liquidadores e com os otzovistas convictos, mas não se deve discutir com um homem que se diverte a encobrir os erros de uns e de outros: deve-se desmascará-lo como um diplo-mata de baixo calibre.

8 de Dezembro de 1911.

V. I. LENINE: «Sobre a diplomacia de Trotsky e uma plataforma dos liqui-dadores», Obras completas, tomo XV, pp. 302-304, ed. r.

OS LÍQUIDADORES CONTRA O PARTIDO

O pobre homem mentiu de novo, e de novo se enganou nos seus cálculos (1S).

O bloco preparado com tanto barulho contra a Con-ferência de 1912, sob a alta direcção dos liquidadores.

15 Trata-se aqui duma comunicação da Pravda trotskista segundo a qual os mencheviques partlittl e os liquidadores estariam dispostos a apoiar o trabalho do comité de organização proposto por Trotsky. (Nota da edição francesa.)

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desagrega-se agora por todos os lados porque os liqui-dadores deixaram transparecer demasiado as suas in-tenções. Os camaradas polacos recusaram participar no comitó de organização. Plekhanov, na sequência de uma correspondência trocada com o representante deste comité, chegou a precisar alguns detalhes curio-sos: 1 .s que a conferência projectada deve ser a conferência «constituinte» de um novo partido; 2° que a convocação desta conferência assenta num principio anarquista; 3.9 que esta conferência é convocada pelos liquidadores. Tendo o assunto sido deste modo es-clarecido por Plekhanov, não é de admirar que os «bolcheviques-conciliadores» se tenham armado de cora-gem e resolvido a apanhar em flagrante delito de men-tira Trotsky que os colocou entre os partidários do comité de organização.

Este comité na sua composição actual, com o seu desejo evidente de impôr em todo o Partido a sua atitude organizada, não oferece a menor garantia da convocação de uma verdadeira Con-ferência de todo o Partido.

É isto o que hoje dizem os nossos partiitsi. Onde estão pois agora os nossos extremistas que outrora se tinham apressado a manifestar a sua simpatia ao comité da organização? Não sabemos, o que aliás pouco interessa. O que interessa, é que foi irrefu-tavelmente estabelecido por Plekhanov o carácter li-quidador da conferência convocada pelo comité de organização e os conciliadores tiveram de aceitar este facto. Que resta então? Os conciliadores evidentes e Trotsky...

Neste bloco, os liquidadores continuam a gozar Inteira liberdade de prosseguir a sua linha de acção

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no Jivoié Diélo (") e no Nacha Zaria (") e, no es-trangeiro, Trotsky encarrega-se de os encobrir com a sua fraseologia revolucionária, que nada lhe custa e que em nada compromete os seus aliados.

Esta história comporta uma lição para os que, no estrangeiro, suspiram pela unidade e recentemente publicaram em Paris uma folha ch*amada Pour te Parti. Para construir o Partido, não basta gritar pela unidade, é necessário ter um programa politico, um programa de acção. O bloco dos liquidadores, de Trotsky, dos extremistas, dos polacos, dos bolchevi-ques-partiitsi, dos mencheviques de Paris estava con-denado a desmoronar-se, porque assentava na ausância de princípios, na hipocrisia e na fraseologia oca. Quanto aos suspiradores, fariam bem em começar por saber com quem é que querem a unidade. Se a querem com os liquidadores, porque é que não o dizem sem rodeios? Se são contra a fusão com os liquidadores,,por que unidade é que suspiram?

Só a Conferência de Janeiro e os órgãos eleitos por ela unem presentemente todos os militantes do P. O. S. D. R. Fora desta Conferência não há nada, a não ser as promessas dos bundistas e de Trotsky relativas à convocação de uma conferência «liquida-cionista».

25 de Abril de 1912.

V. I. LENINE: «Os liquidadores contra o Partido», Obras completas, tomo XV, pp. 461-463, ed. r.

i« órgão dos liquidadores. (Nota da edição francesa.) " Órgão da ala direita dos liquidadores, que defendia a criação

de um novo partido operário legal reconhecido pelo tsarismo. (Nota da edição francesa.)*

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A DESAGREGAÇÃO DO BLOCO DE AGOSTO

Todos os que se interessam pelo movimento ope-rário e pelo marxismo na Rússia sabem que em Agoçto de 1912 se constituiu um bloco composto pelos liqui-dadores, por Trotsky, pelos letões, pelos bundistas e pelos caucasianos...

Desde então, passou-se exactamente um ano e meio. Ora, em Fevereiro de 1914, Trotsky, o «verdadeiro» defensor da plataforma de Agosto, funda uma nova revista que, desta vez, «nada tem de fraccionista» e que se propõe como objectivo a «unificação» do Par-tido. ..

Como então dissemos, o bloco de Agosto de 1912 tinha como único fim mascarar os liquidadores. Ei-lo dissolvido. Nem mesmo os seus amigos russos pu-deram permanecer unidos. Os unificadores não conse-guiram unir-se entre si e daí resultaram duas tendências «de Agosto»: os partidários do Loutch (Nacha Zaria e Journal Ouvrier du Nord) e os trotskistas (Borba). Os dois campos brandiam cada um, um farrapo da bandeira do bloco de Agosto e gritavam com toda a força: «Unidade!»

Qual é a tendência da Borba C8)? Os" liquidadores têm uma fisionomia especial: são

liberais e não marxistas. Trotsky não tem fisionomia nenhuma, nem nunca a teve; limita-se a andar de cá para lá, entre os liberais e os marxistas e a lançar palavras de efeito e frases sonoras.

Não se encontra na Borba nenhuma opinião precisa sobre nenhuma das questões litigiosas.

" A Borba era uma revista -não fraccionai» (!) fundada em Março de 1914 em Moscovo e de que Trotsky era o principal colaborador. (Nota da edição francesa.)

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Isto parece inverosímil e contudo é verdadeiro. Nem uma palavra sobre a questão do trabalho clandestino.

Trotsky partilha as ideias de Axelrod, Zassou/itch, Dan, Sedov (19)? Não diz nada sobre isso. É a favor de um partido legal? É impossível fazer com que o diga.

Nem sequer uma palavra sobre os discursos liberais dos Ejov e dos outros loutchistas a propósito das greves. Silêncio total sobre a revogação do programa relativo à questão nacional.

Nem uma palavra sobre as intervenções de L. Sedov e dos outros loutchistas contra as três palavras de ordem adoptadas pelos bolcheviques depois dos acon-tecimentos do Lena.

Trotsky afirma que é pela união das reivindicações parciais e do objectivo final, mas não diz absoluta-mente nada sobre o que pensa relativamente à reali-zação desta união pelos liquidadores.

28 de Maio de 1914.

V. I. LENINE: «A desagregação do bloco de Agosto», Obras completas. tomo XVII, pp. 251-253, ed. r.

A VIOLAÇÃO DA UNIDADE AO GRITO DE «VIVA A UNIDADEI»

Os velhos militantes marxistas russos conhecem bem Trotsky e é inútil falar-lhes dele. Mas a jovem geração operária não o conhece e é necessário falar--Ihe dele, porque ele é uma figura típica dos cinco grupos estrangeiros que flutuam entre os liquidadores e o Partido.

19 Axelrod, Zassoulitch, ' Dan e Sedov pertenciam ao grupo dos liquidadores. (Nota da edição francesa.)

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No tempo da velha Iskra (1901-1903), estes ele-mentos hesitantes que iam continuamente dos econo-mistas para os iskristas e vice-versa, eram denominados «equilibristas».

Nós entendemos por «liquidacionismo» uma corrente ideológica que tem a mesma fonte do menchevismo e do economismo, que se desenvolveu no decurso dos últimos anos e cuja história se ligou intimamente à politica e à ideologia da burguesia liberal.

Os «equilibristas» proclamam-se acima das fracções, pela simples razão de que tomam as suas ideias emprestadas, agora a uma fracção, logo a uma outra. De 1901 a 1903, Trotsky foi um iskrista fogoso e, no congresso de 1903, foi, segundo Riazanov, o «cacete de Lenine». Em fins de 1903, torna-se menchevique encarniçado, isto é, troca os iskristas pelos econo-mistas e declara que existe um abismo entre a antiga e a nova Iskra. Em 1904-1905, afasta-se dos men-cheviques, sem todavia se conseguir fixar, colaborando agora com Martynov (economista), proclamando logo a doutrina ultra-esquerdista da «revolução permanente». Em 1906-1907, reaproxima-se dos bolcheviques e de-clara-se solidário com a posição de Rosa Luxemburg.

No período da emigração, após longas tergiversa-ções, evolui de novo para a direita, e em Agosto de 1912, faz bloco com os liquidadores. Agora, abandona de novo estes últimos, embora no fundo repita as suas ideias.

Tais tipos são característicos, enquanto despojos de grupos e formações históricas do último período, quando a massa operária russa estava ainda em letargia como uma corrente, uma fracção, «numa potência» e cada grupo podia dar-se ao luxo de se apresentar negociando a sua acção com uma outra.

É preciso que a jovem geração russa saiba com quem tem de se haver, quando certas pessoas erguem

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TROTSKY E A GUERRA

A guerra não modificou sensivelmente os agrupa-mentos da sociai-democracia russa. Enquanto que, desde o princípio, os bolcheviques adoptaram uma posição resolutamente hostil à guerra («transformação da guerra imperialista em guerra civil»), os menche-viques, na sua maior parte, enfileiraram do lado da burguesia e tornaram-se sociais-patciotas.

Trotsky ocupou uma posição de «conciliação», (unem vitória nem derrotai), quando toda a conciliação entre estas duas atitudes radicalmente opostas era não só impossível, mas ter-se-ia mesmo revelado funesta à causa do proletariado revolucionário. No fundo, Trotsky (como Kaustsky na Alemanha, Longuet na França) ape-nas entravava a obra de clarificação ideológica dos bolcheviques e prestava assim o seu apoio aos sociais--chauvinistas mais desesperados.

Nos textos que seguem, que não necessitam de quaisquer outros comentários, Lenine precisa com uma clareza admirável a posição de Trotsky e as conse-quências que esta acarreta.

O KAUTSK1SM0

... Este erro fundamental que é o kautskismo toma formas diversas' conforme os países... Na Rússia, Trotsky, embora refutando esta ideia, preconiza a uni-

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dade com o grupo oportunista e chauvinista da Nacha Zaria. Na Roménia, Rakovski declara a guerra ao oportunismo, ao qual imputa a falência da Interna-cional, mas ao mesmo tempo está pronto a reconhecer a ideia da defesa da pátria. Tudo isto é a manifes-tação do mal a que os marxistas holandeses (Horter, Pannekoek) chamaram o «radicalismo passivo» e que conduz, em teoria, a substituir o ecletismo ao marxismo revolucionário e, na prática, a rojar-se diante do oportunismo.

Agosto de 1915.

V. I. LENINE: «O socialismo e a guer-ra», Obras completas, tomo XVIII, p. 203, ed. r.

SOBRE O DERROTISMO DURANTE A GUERRA IMPERIALISTA

Numa guerra reaccionária, a classe revolucionária apenas pode desejar a derrota do seu governo.

Isto é um axioma. Apenas é contestado pelos par-tidários conscientes {') ou pelos servidores impotentes dos. sociais-chauvinistas. Entre os primeiros, pode ci-tar-se Semkovsky, do C. O.; entre os segundos, Trotsky e Boukvoíed, e na Alemanha, Kautsky. Desejar a derrota da Rússia, escreve Trotsky, é

uma concessão injustificada à metodologia poli-tica do social-patriotismo, que substitui por uma orientação arbitrária, no sentido do mal menor, a luta revolucionária contra a guerra -e as causas que a engendraram (número 115 do Naché Slovo).

1 Da Intervenção da guerra.

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Eis uma amostra das frases enredadas por meio das quais Trotsky não cessa de justificar o oportu-nismo. A expressão «luta revolucionária contra a guerra» é absolutamente vazia de sentido se não se entende por ela a acção revolucionária contra o governo do seu pafs durante a guerra...

Esperando sair-se bem com algumas frases, Trotsky enreda-se ainda mais. Parece que desejar a derrota da Rüssia, é desejar a vitória da Alemanha (Boukvoíed e Semkovsky exprimem francamente esta «ideia», que partilham com Trotsky). E é nisto que Trotsky vê a «metodologia tío social-patriotismo». A fim de vir em socorro das pessoas que não sabem pensar, a resolução de Berna explica (número 40 do Sotsial-•Demokrat) que, em todos os países imperialistas, o proletariado deve desejar agora a derrota do seu governo. Boukvoíed e Trotsky preferiram calar-se sobre esta verdade...

A renúncia ao derrotismo faz do «revolucionarismo» uma palavra vazia ou uma hipocrisia...

«O nosso voto de 4 de Agosto significa que não somos pela guerra, mas que somos contra a derrotai, escreve o líder dos oportunistas, E. David, no seu livro. Os membros do C. O., com Boukvoíed e Trotsky, adoptam inteiramente a plataforma de David assu-mindo a defesa da palavra de ordem: «Nem vitória, nem derrota.»

Quem reconhece esta palavra de ordem não passa de um hipócrita quando declara que é pela luta de classe e pela ruptura da «união sagrada». De facto, renuncia a uma polftica proletária independente e subordina o proletariado dos países beligerantes a um objectivo puramente burguês: evitar que o seu go-verno imperialista seja derrotado. Para o proletariado, a única polftica de luta de classe e de ruptura da união sagrada é. a que consiste em explorar as difi-culdades do seu governo e da sua burguesia para

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os derrubar, e não 6 possível aspirar nem atingir este objectivo sem desejar a derrota do seu governo, sem colaborar nesta derrota...

Quem defende a palavra de ordem: «Nem vitória, nem derrotai é um chauvinista consciente ou incons-ciente, quanto muito um pequeno-burguês conciliador,' mas, em qualquer dos casos, um inimigo da política proletária, um partidário dos governos e das classes dirigentes actuais.

26 de Julho de 1915.

V. I. LENINE: «Sobre o derrotismo du-rante a guerra imperialista», Obras completas, p. 169-173, ed. r.

OS OBJECTIVOS DA OPOSIÇÃO EM FRANÇA

A cisão do movimento operário e do socialismo no mundo inteiro é um facto patente. Na questão de guerra, estão em presença duas tácticas e duas políticas' opostas da classe operária. Seria ridículo fechar os olhos a este respeito. Tentar conciliar o inconciliável equivale a condenar-se à impotência...

No mundo inteiro, o quadro é o mesmo. Os diplo-matas impotentes, os homens do «pântano», como Kautsky .na Alemanha, Longuet na França, Martov e Trotsky na Rússia, causam o maior prejuízo ao mo-vimento operário defendendo a ficção da unidade e impedindo assim a união indispensável da oposição de todos os países, a criação da III Internacional.*

10 de Fevereiro de 1916.

V. I. LENINE: «Sobre as tarefas da oposição em França», Obras com-pletas, tomo XIX, pp. 21-22, ed. r.

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í

A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO

Trotsky só aderiu ao Partido bolchevique no VI Congresso do P. O. S. D. R. (bolchevique) que se rea-lizou semi-clandestinamente em Petrogrado de 8 a-16 de Agosto de 1917.

Na véspera das jornadas decisivas de Outubro, quando Zinoviev e Kamenev se conduziam como tfura-greves», revelando à burguesia os planos bolcheviques da in-surreição, Trotsky combateu também Lenine em rela-ção ao plano e à data da insurreição armada; exigia que a tomada do poder fosse objecto de uma decisão do próximo Congresso dos Sovietes, o que tendia a retardar a sublevação e a deixar passar o momento mais favorável, a desmoralizar as massas trabalhadoras e a comprometer todas as possibilidades de sucesso da revolução.

Lenine reagiu com vigor contra este ponto de vista errado, contra este retardamento.

A CRISE ESTA MADURA

Que fazer?... reconhecer que temos no C. C. e nos meios .dirigentes do Partido uma tendência ou uma nuance de opinião que quer esperar pelo Congresso dos Sovietes e se pronuncia' contra a tomada imediata do

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podar, contra a insurreição imediata. Esta tendôncia, ou esta nuance da opinião deve ser vencida (').

Senão, os bolcheviques desonram-se para sempre e desaparecem enquanto partido.

Deixar escapar a ocasião presente e «esperar» pelo Congresso dos Sovietes seria idiotice completa ou traição completa.

Traição completa face aos operários alemães. Porque não vamos do mesmo modo esperar o princípio da sua revolução! Quando ela rebentar, os Liber-Dan (2) serão também da opinião de a «apoiar». Mas ela nSo pode começar enquanto Kerensky, Kishklne & C.® esti-verem no poder.

Traição completa face aos camponeses. Deixar re-primir o movimento camponês quando se tem os Sovietes das duas capitais, é perder e perder mere-cidamente a confiança dos camponeses, é cair 'aos olhos dos camponeses ao nfvel dos Liber-Dan e de outros pulhas.

«Esperar» o Congresso dos Sovietes é uma idiotice completa, porque é perder semanas, e as semanas, e mesmo os dias hoje decidem tudo. É renunciar cobar-demente à tomada do poder, porque ela será impossível a 1 ou 2 de Novembro (por razões politicas e técnicas: eles não deixarão de concentrar cossacos para o dia estupidamente «fixado» da insurreição).

«Esperar» o Congresso dos Sovietes é uma idiotice, porque o Congresso NÂO DARA NADA, ele não pode dar nadai

29 de Setembro de 1917. V. I. LENINE: «A crise está madura».

Obras completas, tomo XXI, p. 296, E. S. I.

1 Trata-se do grupo formado por Zinoviev, Kamenev, Trotsky e seus adeptos. Cf. introdução acima.

2 Sociais-democratas, mencheviques de direita. (Nota da edição francesa.)

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CONTRA O RETARDAMENTO

Emprego todas as minhas forças para convencer os camaradas que agora tudo está preso por um fio, que se põem na ordem do dia questões que não podem ser decididas, nem por meio de conferências, nem por Congressos (mesmo no caso de estes serem Congressos dos Sovietes), que só podem ser decididos pelos povos, pelas massas, pela acção das massas em armas...

É necessário, seja por que preço for, esta tarde, esta noite f ) , prender o governo depois de se ter desarmado os junkers (e de os ter batido, se resis-tirem), etc...

Já não é possível esperarI Seria arriscarmo-nos a perder tudol

A defesa do povo (não de um Congresso, mas do povo, o exército e os camponeses, em primeiro lugar) contra o governo de Kornilov..., eis o 'conteúdo da tomada imediata do poder.

Todos os distritos, todos os regimentos, todas as forças devem ser mobilizadas já e devem enviar ime-diatamente delegações ao Comité Militar Revolucio-nário e ao C. C. bolchevique, exigindo imperiosamente que, até ao dia 25, o Poder não seja deixado, em ne-

3 A (arde de 24 de Outubro do antigo calendário russo corres-ponde ao 6 de Novembro do nosso calendário. Esta insistência de Lenine em não esperar nem sequer mais vinte e quatro horas para desencadear a insurreição demonstra a importância que justa-mente dava a uma acção decidida, imediata, rápida. Vinte e qua-tro horas poderia parecer, à primeira vista, uma bagatela, e a divergência com Trotsky poderia parecer não essencial. Na reali-dade, era uma divergência profunda e do triunfo de um ou de outro ponto de vista dependia a sorte da revolução. Algumas horas de descanso deixadas ao governo provisório de Kerensky ter-lhe-iam permitido concentrar as suas forças. O começo da revolta na tarde de 24, assegurará pelo contrário o sucesso da Revolução de Ou-tubro. (Nota da edição francesa.)

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nhum caso, de maneira nenhuma, a Kerensky & C.'; é absolutamente necessário que esta questão seja deci-dida esta tarde ou esta noite.

A história não perdoaria nenhum retardamento aos revolucionários que hoje podem vencer (e vencerão hoje de certeza), mas que amanhã arriscariam perder muita coisa, arriscariam perder tudo.

Tomando o poder hoje, não o tomamos contra os Sovietes, tomamo-lo para eles.

A tomada do poder será a obra da insurreição; o seu conteúdo político será precisado em seguida.

Seria nefasto ou formalista esperar o voto indeciso de 25 de Outubro. 0 povo tem o direito s o dever de resolver estas questões pela força e não pelo voto; o povo tem o direito e o dever de dirigir, nos momentos críticos da revolução, os seus representantes, mesmo os melhores, em vez de esperar por eles.

A história de todas as revoluções provou-o, e os revolucionários que deixassem * escapar o momento, mesmo sabendo que a salvação da revolução, a pro-posta de paz, a salvação de Petrogrado, o remédio contra a fome, a transmissão da terra dependiam deles, cometeriam o maior de todos os crimes.

O governo hesita. É preciso acabar com ele, custe o que custar.

Retardar a acção, é a morte.

24 de Outubro de 1917.

V. I. LENINE: «Carta aos membros do Comité Central», Obras completas, tomo XXI, pp. 438-439, E. S. I.

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A PAZ DE BREST-LITOVSK

Em 1918, durante as conversações de paz em Brest--Litovsk, os «comunistas de esquerda», dirigidos por Bukharin e Piatakov, ergueram-se com violência contra a justa política de Lenine, preconizando, sob a palavra de ordem de «guerra revolucionária», que a fraqueza militar do jovem poder dos Sovietes tornava impossível, uma táctica, de aventuras que teria conduzido à ruína o governo operário e camponês.

Trotsky, uma vez mais, adoptou uma posição con-ciliadora, que se opunha de facto è posição leninista e servia os «comunistas de esquerdat. A palavra de or-dem trotskista era «nem guerra nem pazu, isto é, cessar a guerra, mas não assinar a paz! O que apenas podia lançar a confusão entre as massas operárias e camponesas e o que foi utilizado pelo imperialismo alemão para continuar as operações militares e con-quistar novos territórios soviéticos.

Durante as conversações com o comando alemão, Trotsky violou conscientemente as instruções de Lenine e do Comité Central, recusando-se ò conclusão imediata da paz, o que acarretou para a República dos Sovietes condições de paz ainda mais desvantajosas. Só a fir-meza de Lenine e da maioria bolchevique assegurou então a salvação do poder dos Sovietes.

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Eis alguns breves extractos em que Lenine mostra a inconsciência da posição trotskista:

A FALSA TÁCTICA DE TROTSKY

A táctica de Trotsky tornou-se falsa quando se de-clarou findo o estado de guerra, sem que a paz fosse assinada. Eu propus categoricamente que se assinasse a paz. Nós não podíamos obter uma paz melhor que a de Brest-Litovsk... Quando o camarada Trotsky formula novas reivindicações: «Assumam o compromisso de não assinar a paz com Vinnichenko»— eu digo que não desejo, de forma nenhuma, assumir esse compromisso... Isso seria, em vez de seguir uma linha clara gue con-siste em manobrar — recuando e, por vezes, quando isto é possível, passando à ofensiva — amarrar nova-mente as mãos, por meio de um* compromisso puramente formal...

O camarada Trotsky diz que a paz seria uma traição no sentido pleno do termo. Eu afirmo que esse é um ponto de vista absolutamente erróneo. Para o mostrar concretamente, tomarei um exemplo. Dois homens pas-seiam. Dez homens atacam-nos. Um defende-se e o outro escapa-se. Isto é uma traição, mas se dois exér-citos de 100 000 homens estiverem frente a cinco exér-citos, e se um deles fôr cercado por 200 000 homens e o outro, que o deveria socorrer, souber que 300 000 homens lhe preparam uma emboscada, poderia, a partir deste momento, ir em socorro do primeiro? Não, não poderia. Isto não é uma traição, nem é cobardia. Uma simples mudança de número modificou todas as noções,'qualquer militar sabe, não se trata aqui de ideias pessoais; poupo o meu exército; que o outro seja feito prisioneiro, seja, eu reconstituirei o meu, tenho aliados, esperarei, eles chegarão. Só se pode raciocinar deste modo, mas quando às considerações de ordem militar

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t r o t s k y e o s s i n d i c a t o s

Durante os anos da guerra civil, o Partido levan-tou-se muitas vezes contra Trotsky.

Todas as-operações decisivas do Exército Vermelho que levaram à derrota de Koltchak, Denikine e outros guardas-brancos, foram conduzidas contra os planos de Trotsky. Só se esmagou Koltchak desde que a proposta de Trotsky de suspender a ofensiva contra Koltchak foi rejeitada e que o C. C., com Lenine á cabeça, tomou a resolução de mobilizar as forças necessárias para atacar os guardas-brancos na frente oriental.

Do mesmo modo, só desde que Lenine confirmou, no Outono de 1919, o plano de operações contra Denikine, proposto par Staline, e que se afastou completamente Trotsky da direcção das operações na frente Sul, é que Denikine foi derrotado.

O mesmo se passou em numerosas outras questões relativas à luta armada do proletariado da República Soviética. A criação de um poderoso Exército Vermelho, as vitórias heróicas deste exército, a derrota dos guardas-brancos, tudo isso se deve à direcção de Lenine e de Staline, à sua luta contra o trotskismo.

Em fins de 1920, na véspera da nova política econó-mica, surgiu no Partido uma discussão sobre o papel dos sindicatos: E, também ai, Trotsky encabeçou a luta contra Lenine. Propôs testatizar os sindicatos», isto ê.

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transformá-los em simples apêndices do aparelho de Estado.

Negando o papel dos sindicatos que Lenine, conside-rava como uma escola do comunismo, Trotsky destruía um dos principais fundamentos da ditadura do prole-tariado. Lenine dizia que a politica de Trotsky tendente a estatizar e a *sacudirt os sindicatos só conduziria a uma cisão entra o Partido Comunista e os sindicetos e desligaria destes as massas trabalhadoras.

É o que Lenine explica nas passagens seguintes:

\

SOBRE OS SINDICATOS, O MOMENTO PRESENTE E O ERRO DO CAMARADA TROTSKY

I

. > Tratando do papel dos sindicatos na produção,

Trotsky comete um erro -fundamental: "fala constante-mente do «princípio geral». Em todas as suas teses, foca a questão sob o ângulo do «principio geral». Esta ó uma forma de proceder radicalmente errónea. O IX Con-gresso do Partido já falou mais do que o necessário sobre o papel dos sindicatos na produção...

O erro capital de Trotsky consiste em puxar para trás o Partido Soviótico, pondo agora a questão de «prin-cípio». Graças a Deus, já passámos dos princípios ao trabalho prático, activo. Em Smolny \ perorámos sobre os princípios, o algo mais dõ que teria sido necessário. Agora, trôs anos depois, temos, relativamente aos ele-mentos constitutivos da questão da produção, decretos que. Infelizmente, assinámos parà logo a seguir nós próprios os esquecermos e não os aplicarmos. E, de-pois, pomo-nos a inventar desacordos de principio. Mais

1 Quartel-general do Sovlete a dos bolcheviques em Petrogrado durante as jornadas de Outubro. (Nota da edição francesa.)

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adianta, referirei um decreto relativo ao papel dos sindicatos na produção, decreto que todos esquecemos, mesmo eu, tenho de confessá-lo.

Os desacordos reais existentes, abstraindo os que enumerei, não tôm absolutamente nada a ver com os princípios gerais. Eu próprio tive de enumerar os meus «desacordos» com Trotsky, pois, neste vasto assunto: papel, tarefas dos sindicatos, acho que Trotsky caiu numa série de erros ligados à própria ess&ncia da ques-tão da ditadura do proletariado. Mas, abstraindo disso, porque é que não temos essa coordenação do trabalho que nos é tão necessária? Devido a um desacordo sobre os métodos a empregar para abordar as massas, para exercer uma influência preponderante sobre as massas, para se ligar com as massas. £ isso é precisamente a particularidade dos sindicatos, enquanto instituição Criada sob o capitalismo, necessária no período de tran-sição do capitalismo ao comunismo e cuja existência, mais tarde, é problemática. Mas «mais tarde», é o futuro longínquo e são os nossos netos que terfio de resolver esta questão. Agora, trata-se de abordarmos a massa, de a conquistarmos; de nos ligarmos a ela, de regular-mos o mecanismo complexo do trabalho para a reali-zação da ditadura do proletariado.

Aqui, Trotsky comete um erro. Da sua teoria, ressalta que a defesa dos interesses materiais e espirituais do operário não incumbe aos sindicatos no Estado operário. Isto é um erro. Trotsky fala do «Estado operário». Se me permitem, isso é uma abstracção. Quando, em 1917, falávamos do Estado operário, era compreensível; mas agora, quando alguém nos diz: «Porquô, contra quem ó que se d e f e n d e i classe operária, pois já não há burguesia, pois o Estado é operário», comete af um erro evidente. O Estado não é absolutamente operário, eis o buSílis. Este é um dos erros fundamentais de Trotsky. Agora, passámos dos princípios gerais à acção

103 •

prática e aos decretos, e há quem tenta fazer-nos andar para trás. É inadmissível...

Vou terminar. Considerando tudo isto, acho que é um grande erro submeter todas estas divergências de perspectivas a uma discussão alargada no Partidçj e apresentá-las no Congresso do P. C. R. Politicamente, isso é um erro. Teríamos podido entregar-nos a um exame prático, unicamente em comissão, a teríamos progredido, enquanto que, agora, andamos para trás e, durante algumas semanas, continuaremos a andar para trás, para teses abstractas, em vez de abordarmos praticamente a questão...

Além disso, as teses de Trotsky e de Bukharin 1

enfermam de toda uma série de erros teóricos' funda-mentais. Politicamepte, esta forma de encarar a ques-tão denota uma falta de tacto extraordinária. As «teses» de Trotsky são politicamente nocivas. A sua política é uma política que consiste em sacudir fortemente os sindicatos de um modo burocrático. E o Congresso do nosso Partido, estou certo, condenará e rejeitará essa política.

30 de Dezembro de 1920.

V. I. LENINE: «Sobre os sindicatos, o momento presente e os erros do x

camarada Trotsky». Obras comple-pletas. tomo XXVI, pp. 65-81, ed. r.

II

Trotsky declara que a sua brochura Papel e tarefas dos sindicatos é «fruto de um trabalho colectivo».

2 Na discussão sindicai, Bukharin ocupava uma posição inter-mediária entre a de Lenine e a de Trotsky. (Nota da edição fran-cesa.)

04

que «numerosos militantes responsáveis nela colabora-ram (particularmente) de entre os membros do bureau do Conselho centrei dos sindicatos, do Comité central dos metais, do Comité central das transportes, etc...)», que se trata de uma «brochura-plataforma». No fim da tese quatro, diz-se que «o próximo Congresso do Partido terá de escolher entre duas tendências no movimento sindical».

Se não se trata aqui da criação por um membro do C. C. de uma fracção, então que Bukharin ou os seus adeptos expliquem ao Partido o sentido da palavra russa «fracção»! Será possível imaginar uma cegueira mais monstruosa que a das pessoas que querem desempenhar o papel de «grupo-tampão» e fecham obstinadamente os olhos a esta tentfência para o «fraccionismo»?

Pensemos um pouco: após duas reuniões plenárias do Comité Central (9 de Novembro e 7 de Dezembro) consagradas a uma longa e ardente discussão do seu primeiro 'projecto de teses e de toda a sua política sindical, Trotsky, isolado entre os dezanove membros do Comité Central, recruta um grupo fora do C. C., erige o «trabalho colectivo» deste grupo em «plataforma» e propõe ao Congresso do Partido «escolher entre duas tendências»! Diga-se de passagem, que o facto da Trotsky, em 25 de Dezembro de 1920, falar apenas de duas tendências, quando, já em 9 de Novembro, Bu-kharin intervinha como «tampão», mostra bem o ver-dadeiro papel do grupo Bukharin, que se faz cúmplice do pior fraccionismo. Mas eu pergunto a todos os membros do Partido: uma tal ofensiva, uma seme-lhante intimação para que se escolha entre duas ten» dências no movimento sindical, não é de ficar estupe-facto? Na verdade, é penoso pensar que, depois de três

* anos de ditadura do proletariado, se tenha podido en-contrar um membro do Partido capaz de desencadear um semelhante ata.que na questão do movimento sin-dical...

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Voltem a ler atentamente estes raciocínios e reflic-tam. As «pérolas» abundam aqui.

Vejam primeiramente o carácter nitidarhente «frac-cionista» deste discurso. Imaginem os clamores que Trotsky teria levantado se Tomsky tivesse publicado uma plataforma e o tivesse acusado, a ele Trotsky, e a outros militantes do exército, de desenvolver o burocratismo, de manter sobrevivências bárbaras, etc.? Como quali-ficar o papel de Bukharin, Préobrazhenski, Serebriakov e outros, que não vêem aqui nenhuma violência, nenhum «fraccionlsmo»?

Em segundo lugar, reflictam nesta forma de tratar a questão. Muitos militantes sindicais «cultivam no seu meio um certo espírito», isto é burocratismo puro. "Para Trotsky, o que importa, não é o grau de desenvolvi-' mento e as condições de yida das massas, é o «espírito» que Tomsky e Losovsky «cultivam no seu meio».

Em terceiro lugar, Trotsky, desta vez, desvendou Involuntariamente o fundo <fò discussão que, até aqui, com a ajuda de Bukharin e consortes, procurada cuida-dosamente iludir, dissimular.

O fundo da discussão, a razão da luta consiste no facto de numerosos militantes sindicais se recusarem a aceitar as novas tarefas e métodos e cultivarem no seu meio uma certa inimizade em relação ao novos mili-tantes?

Ou consiste no facto de a massa dos operários sindi-calizados protestar com razão e ameaçar «correr» com estes novos militantes que não querem pôr fim aos noci-vos excessos do burocratismo?

O fundo da discussão está no facto de existirem pessoas que não querem compreender as «novas tarefas e métodos» ?

Ou está antes no facto de algumas pessoas tentarem, com belas palavras sobre as novas tarefas e métodos, dissimular a sua defesa de certos excessos burocráticos nocivos?

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Que o leitor não esqueça o fundo desta discussão.«

«A democracia operária "não conhece fetiches», es-creve Trotsky nas suas teses, „que são o «fruto de um trabalho colectivo». «Ela apenas conhece a lógica revo-lucionária» (tese 23).

Trotsky ó muito infeliz com "as teses: o que elas contêm de exacto não é novo e volta-se contra ele, e o que contêm de novo ó completamente falso...

Do ponto de vista democrático formal, Trotsky tinha o direito de apresentar uma plataforma de fracção, mesmo contra todo o C. C. Isso é indiscutível. É igual-mente indiscutível que o C. C. tem o direito formal de confirmar a sua decisão de 24 de Dezembro de 1920 sobre a liberdade de discussão. Bukharin reconhece a Trotsky este direito formai mas não o reconhece à orga-nização de Petrogrado, provavelmente porque, em 30 de Dezembro de 1920, chegou a falar da «palavra de ordem sagrada da democracia operária...»

Sob o pretexto de põr no primeiro plano o ponto de vista económico (Trotsky), ou de ultrapassar a estreiteza do ponto de vista político e aliar este último ao ponto de vista económico (Bukharin), chega-se:

1.9 — A esquecer o marxismo, como o demonstra a definição eclética e falsa que se deu da relação entre a política e a economia;

2.® — A defender ou a esconder o erro político que se exprime por intermédio da política do «sacudir pro* fundamente» e de que toda a brochura-plataforma de Trotsky está impregnada. Ora, esse erro, se não for rectificado, conduz ao afundamento da ditadura do proletariado;

3.9 — Ao regredir no domínio das questões pura-mente económicas, referentes aos meios de aumentar a produção. Das teses sensatas de Rudzutak, que põe problemas práticos, concretos, vitais (desenvolvimento da propaganda em favor da produção, repartição racio-

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nal dos prémios em espécie, emprego justificado da força sob a forma de tribunais disciplinares compostos de operários da mesma empresa), chegou-se a teses abstractas, «vazias», teoricamente erróneas, a fórmulas de intelectuais que não têm em nenhuma conta o lado prático da questão...

As divergências de perspectivas que se manifestaram no seio do C. C. obrigaram-nos a dirigir-nos ao Partido. A discussão mostrou claramente o fundo e a extensão dessas divergências. NSo há razão para rumores men-tirosos e para calúnias. O Partido educa-se e tempe-ra-se na luta contra a nova doença do fraccionismo (digo «nova» porque desde a Revolução de Outubro tínhamos esquecido a sua existência). Em suma, é uma f velha doença, cujas recaídas são ainda muito prováveis durante alguns anos, mas de que agora .nos temos de curar com facilidade e rapidez...

No espaço de um mês, Petrogrado, Moscovo e toda uma série de cidades da província mostraram já que o Partido respondeu à discussão e rejeitou por uma , maioria esmagadora a linha errónea de Trotsky.

25 de Janeiro de 1921.

V. I. LENINE: «Uma vez mais sçbre os sindicatos, o momento presente e os erros de Trotsky e Bukharin», Obras completas, t o m o X X V I , pp. 114-115, ed. r.

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Em baixo publicamos duas cartas de Trotsky (a pri-meira, esdrita antes da Revolução de Outiíbro, a outra, alguns anos depois) que caracterizam a atitude de Trotsky face a Lenine e ao leninismo, e a constância desta atitude.

A carta seguinte, dirigida a Tchkeidzé, presidente do facção menchevique da Duma, mostra bem qual era a posição de Trotsky em 1913.

CARTA A TCHKEIDZÉ

Viena, 1 de Abril de 1913

A Nicolas Semionovitch Tchkeidzé, membro da Duma do Império, Palácio de Tauride, São-Petesburgo.

Caro Nicolas Semionovitch,

Permita-me antes de mais que lhe exprima o meu reconhecimento pelo prazer —polí t ico e estético— que me causaram os seus discursos, em particular o último sobre a má administração. Sim, sentimo-nos felizes

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quando lemos os discursos dos nossos deputados, as cartas de operários à redacção do Loutch, ou quando se registam factos sintomáticos do movimento operário. E a miserável divisão que Lenine, mestre nesta arte, explorador profissional da rotina do movimento operário russo, mantém sistematicamente, surge como ,um pesa-delo absurdo. Nenhum socialista europeu de bom senso acreditará que as divergências de perspectivas fabri-cadas por Lenine em Cracóvia sejam de natureza a provocar uma cisão.

Os «sucessos» de Lenine, embora constituam um entrave para nós, não me inspiram nenhuma inquietação. Agora já não estamos em 1903 nem em 1909. p o m o «dinheiro de fonte suspeita» adquirido junto de Kautsky e Zetkin, Lenine montou um órgão, apropriou-se do tftulo de um jornal popular, inscreveu ^«palavra «uni-dade» sobre a sua bandeira e atraiu assirti os leitores operários que naturalmente viram na aparição de um jornal diário operário uma grande vitória. Depois, quando o jornal assumiu influência, Lenine fez dele um instrumento para as suas intrigas de círculo e para as suas tendências cisionistas. Mas a aspiração dos operários à unidade 6 tão forte que Lenine se viu obri-gado a jogar às escondidas com os seus leitores» a falar de unidades por baixo e a cindir por cima, a assimilar a luta de classe a brigas de grupos e de fracções. Numa palavra, todo o leninismo se baseia neste momento na mentira e na falsificação e traz consigo o germe da sua própria decomposição. Não há dúvidas que, se a parte oposta se souber conduzir, não tardará a introdu-zir-se a gangrena entre os leninistas, e isso sucederá precisamente a propósito da questão: unidade ou cisão.

Mas, repito: se a parte oposta se souber conduzir. E se o leninismo em si não me inspira medo nenhum. tenho de reconhecer que não estou nada seguro de que os nossos amigos, os liquidadores, não ajudem Lenine a voltar a montar-se na sela.

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Pode haver duas políticas, no momento presente: destruição ideológica e orgânica das divisões fraccio-nais que ainda subsistem e, a seguir, destruição das próprias bases do leninismo, incompatível com a orga-nização dos operários em fíartido político, mas que pode perfeitamente desenvolver-se sobre o monturo das cisões; ou, pelo contrário, selecção fraccionai doa antileninistas (mencheviques ou* liquidadores) por meio de uma liquidação completa das divergâncias de táctica.

Nesta segunda carta (de 1921), Trotsky mantém, no fundo, as suas apreciações anteriores sobre o carác-da Revolução Russa.

CARTA A M. OLMINSKI1

Caro Mikhail Stepanovitch,

Oesculpe-me pelo meu atraso na resposta, mas du-rante esta semana estive extremamente ocupado. Per-guntou-me se é necessário publicar as minhas cartas a Tchkeidzé. Não penso que isso seja oportuno. Ainda ó muito cedo para fazer trabalho de historiador. Essas cartas foram escritas sob o impulso do momento e evidentemente que o tom se ressente disso. O leitor actual nfio o compreenderá, nSo fará as correcções históricas necessárias e ficará simplesmente deso-rientado. Nós devemos receber do estrangeiro os arqui-vos do Partido e as edições marxistas estrangeiras. Há lá uma grande quantidade de cartas de todos os que participaram na «querela». Será possfvel que V. tenha a intenção de es publicar imediatamente? Isso apenas

< Membro antigo do Partido Bolchevique. (Nota da edição francesa.)

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faria criar dificuldades políticas supérfluas, porque seria difícil encontrar dois antigos emigrados, membros do nosso Partido, que, na sua correspondência de outrora, não tenham trocado palavras fortes, motivados pelo arre-batamento da luta.

Acompanhar as minhas cartas de explicações? Mas isso seria recontar as minhas divergências de então com os bolcheviques. No prefácio da minha brochura Resul-tados e perspectivas, falei brevemente delas. Não vejo a necessidade de voltar a este assunto na ocasião da descoberta de cartas nos arquivos da policia. Aliás esta revisão retrospectiva da luta de fracções poderia ainda hoje dar lugar a polémicas, porque eu confesso) francamente que não considero de modo algum que nos meus desacordos com os bolcheviques estivesse errado em todos os pontosEnganei-me completamente na apreciação da fracção menchevique, da qual sobres-timava as capacidades revolucionárias e da qual acre-ditava ser possível isolar e afnular a direita. Este erro fundamental provinha de que eu apreciava as duas fracções, bolchevique e menchevique, colocando-me do ponto de vista da revolução permanente e da ditadura do proletariado, enquanto bolcheviques e mencheviques adoptaram nesta época o ponto de vista da revolução burguesa e da República democrática. Eu não acredi-tava que as duas fracções estivessem separadas por divergências tão profundas e esperava (como muitas vezes disse em cartas e relatórios) que a própria marcha da revolução as conduziria à plataforma da revolução permanente e da conquista do poder pela classe ope-rária — o que em 1905 se realizou parcialmente. (Pre fácio de Lenine ao artigo de Kautsky sobre as forças motrizes da revolução russa e posição do jorna] Nat-chalo.)

2 As passagens sublinhadas nesta carta, foram-no por nós. (Nota da edição francesa.)

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Julgo que e minha apreciação das forças motrizes da revolução era incontestavelmente justaa, mas as consequências que dela tirava relativamente às duas fracções eram incontestavelmente erróneas. Só o bol-chevismo, graças à rigidez das seus princípios, pôde congregar todos os elementos verdadeiramente revolu-cionários entre os antigos intelectuais e a fracção avan-çada da classe operária. E foi unicamente porque ele conseguiu criar esta organização revolucionária com-pacta que lhe foi possível passar rapidamente da posi-ção democrática revolucionária à posição socialista revolucionária. Na hora actual, poderia ainda dividir os meus artigos de polémica contra os mencheviques e os bolcheviques em duas categorias: os que se consa-graram à análise das forças internas da rèvolução, às suas perspectivas (Neue Zeit, órgão teórico polaco de Rosa Luxemburg) e aqueles em que apreciava as frac-ções da social-democracia russa, a sua 'luta, etc.... Ainda agora, me seria possível publicar sem rectificação alguma os artigos da primeira categoria, porque eles estão inteiramente em concordância com a posição adoptada pelo nosso Partido desde 1917. Quanto aos artigos da segunda categoria, estão nitidamente errados e não vale a pena reimprimi-los. As duas cartas envia-das cabem nesta segunda categoria e ó inútil publicá--las. Que outra pessoa o faça daqui a uma dezena de anos, se nessa altura ainda tiverem algum interesse.

Saudações comunistas. L. Trotsky

6 de Dezembro de 1921.

3 Trata-se da teoria da «revolução permanente», da atitude face ao campesinato, etc. Ver a introdução ao capitulo «Sobre o ca-rácter da revolução russa». (Nota da edição francesa.)

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a o p o s i ç ã c T t r o t s k y - z i n o v i e v

No Outono de 1923, Trotsky empreendeu uma grande Ofensiva contra o Partido na qual foi secun-dado durante vários anos, de 1925 até à sua exclusão do Partido Comunista, por Zinoviev e l&menev.

Em Outubro de 1923, Trotsky escreveu um do-cumento no qual declarou que o C. C. conduzia o país ã ruína. Logo a seguir, o grupo de trotskistas que tinha organizado com J. N. Smirnov, Serebriakov, Preo-brazhenski, Piatakov e outros, elaborou a «plataforma dos 46» dirigida inteiramente contra a linha geral do Partido. Nesta época, quando Lenine estava já grave-mente doente, Trotsky conduzia um ataque contra os velhos quadros do Partido Bolchevique aos quais opu-nha a juventude, afirmando demagogicamente que os jovens eram o «barómetro» do estado de espírito rei-nante no Partido. Mas esta tentativa de Trotsky ter-minou também por um fracasso.

Uma vez jderrotada a oposição trotskista, Trotsky declarou que para o futuro se submeteria a todas as decisões do Partido.

Ora, pouco tempo depois, o Partido foi de novo forçado a empreender uma luta ainda mais encarni-çada contra o bloco Trotsky-Zinoviev. Os trotskistas--zinovievistas -utilizaram todos os meios para vencer a linha do Partido e derrubar o C.C. è frente do qual

se encontrava Staline que tinha reunido à volta de si todos os leninistas verdadeiros, inteiramente devo-tados à causa da edificação da sociedade, socialista.

Desta vez, foram Zinoviev e Kamenev que abriram o fogo. No princípio de 1925, numa reunião do C.C., declararam que, dada a situação técnica e económica atrasada do país soviético, o Partido não poderia ultrapassar as dificuldades internas. Mas chocaram com uma resistência imediata. A questão referente è possi-bilidade de edificar o socialismo num só país adquiriu uma importância política excepcional. A XIV Confe-rência do Partido Comunista (Abril de 1925), consi-derando necessário confirmar mais uma vez nesta al-tura o carácter imutável da teoria de Lenine e armar o Partido para a realização desta teoria, fixou na sua resolução o princípio leninista reconhecendo a •'possi-bilidade de edificar o socialismo no país. A questão das perspectivas da edificação socialista assumiu uma acuidade particular.

Pondo-se em guerra contra esta doutrina de Lenine, a oposição trotskista-zinovievista afastou-se do Partido na questão mais fundamental do programa. Prosse-guindo esta luta, acabou por cair na contra-revolução, no bloco com o fascismo.

No decurso da sua luta contra o Partido, a oposi-ção punha-se cada vez mais do lado dos inimigos mais encarniçados da ditadura do proletariado e do povo soviético. Em 1927, quando o perigo da guerra com o mundo capitalista ameaçou a U. R. S. S., o bloco trotskista-zinovievista fez circular a sua tese sobre Clemenceau. Esta tese do bloco trotskista-zino-vievista dava aos inimigos da revolução o sinal para se prepararem para a luta contra o governo soviético e o Partido, para aproveitarem o ataque dos imperialistas para derrubar o poder dos sovietes.

Desta posição infame, os trotskistas-zinovievistas passaram em seguida logicamente à plataforma derro-

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tista que lançaram na época da sua actividade ter-rorista. Pretendiam uma derrota do poder soviético, derrota que lhes permitiria apoderar-se do poder e rea-lizar o seu programa de restauração do capitalismo.

Para o XV Congresso do P. C. da U. fí. S. S. (1927) a oposição elaborou uma plataforma especial onde se reuniam desordenadamente os pontos de vista anti-leninistas e capitulacionistas dos trotskistas-zinovie-vistas e onde estes pontos de vista se opunham è linha do Partido. Argumentando neste documento sobre a impossibilidade de edificar o socialismo, a oposição escorregava nitidamente para a contra-revolução. Es-corregava igualmente para este abismo no domínio da organização. No fim de 1927, a oposição tinha-se tor-nado, por assim dizer, um partido independente oposto ao Partido Comunista Russo de Lenine. O bloco trots-kista-zinovievista tinha um centro, comités e grupos locais, uma caixa onde os partidários do bioco entre-gavam as• suas quotizações; tinha igualmente a sud própria disciplina de fracção. Nesta época, os trots-kistas e os zinovievistas já tinham passado à luta anti-soviética e contra-revolucionária, combatiam direc-tamente o Partido assim como o regime soviético. In-tervinham nas reuniões dos elementos sem-partido e exortavam-nos à luta contra a política dos locais para reuniões clandestinas. Por outro lado, como se provou nessa altura, aliaram-se aos oficiais brancos que orga-nizaram um iicomplot» para derrubar a ditadura do proletariado (processo Tcherbakov).

Finalmente, em 7 de Novembro de 1927, durante o X aniversário• da Revolução de Outubro, os trots-kistas-zinovievistas organizaram uma manifestação anti-soviética nas ruas de Moscovo. Dirigiram-se aos ele-mentos não proletários do país exortando-os à luta contra o poder soviético, mas os operários de Moscovo desmascararam estes inimigos do socialismo e expul-saram-nos literalmente das fileiras da manifestação

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proletária. O C. C. do P. C. da U. R. S. S. excluiu Trotsky e Zinoviev do Partido. Em Dezembro de 1927, o XV Congresso tomou a mesma medida contra Ka-menev, Bakaev, Evdokimov, Smirnov, Reingold, Vaga-nian, Rumiantsev, Kotolynov e outros.

Após a sua exclusão do Partido', os trotskistas-zino-vievistas passaram a novos métodos de luta. Trotsky revelou-se um encarniçado inimigo; tentou desenvolver uma grande actividade ilegal contra o Partido e os Sovietes, tentou criar as suas próprias organizações contra-revolucionárias. As suas manobras foram des-cobertas e reprimidas. O governo soviético pô-lo fora do pais como anteriormente se tinha feito, por pro-posta de Lenine, aos dirigentes dos partidos contra--revolucionários menchevique e socialista revolucioná-rio.

No estrangeiro sentiu-se como em sua casa. O seu ódio encarniçado à República Soviética deixou de conhecer limites. Pôs a nu tudo o que tinha velado ou escondido quando ainda estava nas fileiras do Par-tido. Passou a atacar declaradamente o leninismo, o bolchevismo, opondo-lhe a sua própria concepção contra--revolucionária em todas as questões da revolução. A partir daí, caíram todos os retalhos da capa com que Trotsky se envolvia quando estava na U. R. S. S. Face ao mundo inteiro, aos olhos da classe operária e das pessoas honestas, apareceu, desprovido de quaisquer escrúpulos, o inimigo encarniçado do povo soviético, da revolução proletária e do Partido Bolchevique.

Trotsky pôs-se a colaborar nos jornais mais reaccio-nários. Tornou-se o fornecedor dos artigos mais imun-dos e mais odiosos contra a União Soviética. Não houve baixeza ou calúnia que Trotsky não utilizasse contra o Estado proletário e os seus dirigentes. Todas as suas manobras provavam para' o futuro que «o trots-kismo se. tinha transformado em vanguarda da contra--revolução.»

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Trotsky procurou juntar à sua volta a escória dos diferentes grupos rejeitados pela Internacional Comu-nista. A única razão da junção dos grupos trotskistas, o seu único fundamento «ideológico», era o ódio ao comunismo, à Internacional Comunista e ao país da ditadura do proletariado.

Toda a actividade de Trotsky e das seus agentes tinha por objectivo organizar uma luta infame contra a U. R. S. S. e semear a divisão no movimento operá-rio internacional. Os objectivos e as tarefas de Trotsky confundiam-se estreitamente com as do inimigo mais feroz do proletariado — o fascismo. De resto, a sua organização num único bando de inimigos mortais do socialismo, da democracia e do povo trabalhador,' cedo se tornou um facto consumado.

A medida que a União Soviética se fortalecia e alcançava vitória sobre vitória no seu grande, trabalho de edificação socialista, à medida que. o trotskismo se revelava impotente para prosseguir a sua luta contra a U. R. S. S., Trotsky desenvolvia uma actividade cada vez mais febril e recorria, para combater o Partido Comunista da U. R. S. S. e os seus dirigentes, a mé-todos cada vez mais cobardes. Terror individual, assas-sinatos de dirigentes do Estado Soviético e do Partido, armadilhas, tal foi o programa preconizado e aplicado por Trotsky.

E tudo isto tinha apenas um objectivo: a restau-ração do capitalismo na U. R. S. S.

Damos a seguir alguns textos de Staline que pre-cisam o conteúdo ideológico das divergências do P. C. da U. R. S. S. e da oposição trotskista-zinovievista, em diversos estádios do desenvolvimento da luta:

*

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AS DIVERGÊNCIAS FUNDAMENTAIS ENTRE O PARTIDO E A OPOSIÇÃO

1.- A possibilidade de edificar vitoriosamente o socialismo no nosso país. Não irei enumerar os do-cumentos e as declarações da oposição sobre esta questão. Eles são conhecidos de"1 todos, é inútil repe-ti-los. É claro para todos que a oposição nega a possi-bilidade de edificar vitoriosamente o socialismo no nosso país. Por af mesmo ela resvala directa e aberta-mente para a posição dos mencheviques. Este ponto d« vista da oposição não é novo nos seus chefes actuais. Foi partindo do mesmo principio que Kamenev e Zinoviev recusaram participar na sublevação de Outu-bro. Declararam então que desencadeando a subleva-ção nos perderíamos, que era preciso esperar pela Assembleia Constituinte, que as condições para 6 socia-lismo não tinham ainda amadurecido, e não amadure-ceriam tão cedo. Trotsky partiu, do mesmo ponto de vista quando se decidiu a tomar parte na sublevação. Porque ele dizia abertamente que, se a revolução proletária vitoriosa no Ocidente não nos trouxesse a sua ajuda num futuro mais ou menos próximo, seria insensato acreditar que a Rússia revolucionária poderia resistir à Europa conservadora.

Efectivamente, como é que Kamenev e Zinoviev, por um lado, e Trotsky, por outro, e depois Lenine e o Partido participaram na insurreição? É uma questão muito interessante de que vale a pena falar. Vós sabeis que Kamenev e Zinoviev só participaram nela para defenderem o seu corpo, forçados por Lenine e sob a ameaça de serem excluídos do Partido (risos, aplau-sos)', viram-se portanto obrigados a participar na sub-levação (risos, aplausos). Trotsky participou nela de sua vontade, mas fazendo reservas que, já neste mo-mento, o aproximavam de Kamenev e Zinoviev. Note-mos que, precisamente antes da Revolução de Outu-

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bro, em Junho de 1917, Trotsky achou conveniente reeditar, em Leningrado, a sua velha brochura O Pro-grama da paz, como para mostrar que participava na sublevação sob a sua própria bandeira. O que é que ele diz nesta brochura? Polemiza af contra Lenine sobra a possibilidade de uma vitória do socialismo num só pais; considera que a concepção de Lenine nesta ques-tão é errónea e afirma que, embora* reconhecendo a necessidade de tomar o poder, se apercebe de que, sem a ajuda vinda a tempo da parte dos operários vitoriosos da Europa ocidental, seria insensato acre-ditar que a Rússia revoluoionâria poderia subsistir em face da Europa conservadora. Acusa de estreiteza na-cional quem não compreender a sua critica. Eis um extracto desta brochura de Trotsky:

Sem esperar os outros, começamos a luta e prosseguimo-la no nosso pais, convencidos de que a nossa iniciativa sacudirá outros pafses. Mas se isto não acontecer, seria insensato acredi-tar — a experiência histórica e as considerações teóricas provam-no — que a Rússia revolucionária, por exemplo, possa resistir à Europa conserva-dora... Considerar as perspectivas da revolução social nos quadros nacionais significaria tornar-se vítima da mesma estreiteza nacional que é a pró-pira essência do social-patriotismo. (TROTSKY: 1917, ed. r., tomo II, 1.« parte, p. 90.-)

Tais foram, camaradas, as reservas feitas por Trot-sky e que nos explicam as raízes e as causas iniciais do seu bloco actual com Kamenev e Zinoviev. Vejamos como Lenine e o Partido participaram na sublevação. Fizeram reservas, também? Não, nenhuma. Eu cito um extracto de um artigo notável de Lenine: «O programa de guerra da revolução proletária», publicado no estran-

geiro, em Setembro de 1917:

O socialismo vencedor num só pais não exclui de modo nenhurp, a possibilidade da guerra em

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geral. Pelo contrário, pressupõe-na. O desenvolvi-mento do capitalismo processa-se de uma forma muito desigual nos diversos países. Não pode ocorrer outra coisa com uma produção mercantil. Daí, a conclusão irrefutável: o socialismo não pode vencer ao mesmo tempo qm todos os paíçes. Vencerá primeiro num ou em vários países, mas os outros permanecerão ainda durante um certo tempo países burgueses ou pré-burgueses. Isso não deixará de provocar não só fricções, como também esforços directos da burguesia dos outros países para esmagar o proletariado vitorioso do Estado Socialista. Uma guerra em tais con-dições seria para nós uma guerra legítima e justa. Seria uma guerra pelo socialismo, pela libertação dos outros povos do jugo da burguesia. (LENINE: «O programa de guerra da revolução proletária». Anais do Instituto Lenine, fase. 2, p. 7.)

Vós constatais, camaradas, que a tese de Lenine é completamente diferente. Trotsky ^participava na suble-vação fazendo reservas que o aproximavam de Kame-nev e Zinoviev, afirmando que um governo proletário não representa, por si mesmo, nada de particular, se a ajuda externa se faz esperar. Lenine, pelo contrá-rio, participava na sublevação sem nenhuma reserva» afirmando que o poder proletário no nosso país deve servir de base para ajudar os proletários dos outros países a libertarem-se do jugo da burguesia.

Foi assim que os bolcheviques participaram na insur-reição de Outubro e foi essa a razão por que Trotsky encontrou, dez anos depois da Revolução de Outubro, uma linguagem comum com Kamenev e Zinoviev.

Pode-se imaginar, nos termos seguintes, o diálogo trocado entre Trotsky, por um lado. Kamenev e Zino-viev, por outro, quando formaram o bloco da oposição.

Kamenev e Zinoviev dirigindo-se a Trotsky: «Veja caro camarada, nós tínhamos toda a razão quando afir-mávamos que não era necessário fazer a insurreição de Outubro, que era necessário esperar pela Assembleia

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Constituinte, etc. Hoje, toda a gente vê que a dege-nerescência atingiu o pais, o poder, que nos vamos perder e que não realizaremos o socialismo. Não era necessário fazer a insurreição. V. participou nela de livre vontade, cometeu um grande erro.»

Trotsky responde: «Não, caros colegas, VV. são in-justos para comigo. Eu participei de boa vontade na insurreição, mas VV. esqueceram-se de dizer como par-ticipei nela: fazendo reservas. (Hilaridade geral). E como é evidente que agora não temos nenhuma ajuda a esperar de fora, é claro que nos perderemos como eu tinha previsto, oportunamente, na minha brochura O Programa da paz.»

Zinoviev e Kamenev: «Isso poderia ser mesmo* ver-dade. Nós tínhamos esquecido essa reserva. Agora, é claro que o nosso bloco tem mesmo uma base ideoló-gica.» (Hilaridade geral. Aplausos.)

Eis como foi encontrada a concepção -da oposição que nega a possibilidade de edificar vitoriosamente o socialismo no nosso país.

0 que é que ela significa? Uma capitulação. Pe-rante quem? É evidente que é uma capitulação perante os elementos capitalistas do nosso país e perante a burguesia mundial. Onde é que se encontram as frases de esquerda, as gestas revolucionárias? Nada disso ficou. Se sacudirdes a nossa oposição, se rejeitardes a sua fraseologia revolucionária, vereis que nada resta dela, a não ser a capitulação. (Aplausos.)

2.s A ditadura do proletariado. Existe ou não existe entre nós a ditadura do proletariado? Questão sin-gular. (Risos.) Contudo, ela é colocada pela oposição, em todas as suas declarações. A oposição pretende que suportamos uma degenerescência termodoriana. 0 que é que isso significa? Isso supõe que não temos ditadura do proletariado, que à nossa política e a nossa economia se afundam e estão em regressão, que cami-nhamos não para o socialismo, mas para o capitalismo.

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Tudo isto tem alguma coisa de estranho e de absurdo, mas a oposição insiste. Eis uma nova divergência, camaradas. É nisto que assenta a -famosa tese clemen-cista de Trotsky. Se o poder degenerou, se degenera, vaie a pena respeitá-lo, defendê-lo? É evidente que não. Se se encontrar um momento favorável para «su-primir» este poder, se, por exemplo, o inimigo chegar a 80 quilómetros de Moscovo, será evidentemente ne-cessário aproveitar-se disso, para acabar com este poder e substituí-lo por outro, por um poder clemencista, isto é, trotskista. É claro que não há nisto nada de leni-nista; ó menchevismo puro. A oposição chegou ao men-chevismo.

3.9 O bloco entre os operários e os camponeses médios. A oposição escondeu sempre a sua atitude negativa sobre a ideia de um tal bloco. A sua plataforma, as suas contra-teses são notáveis, menos por aquilo que lá se diz do que por aquilo que elas se esforçam por esconder à classe operária. Mas apareceu um ho-mem, I. N. Smirnov, igualmente dirigente da oposição, que teve a coragem de dizer a verdade sobre a oposi-ção e de a mostrar tal como ela é. Eis o que disse: «Vamos perder-nos; se nos queremos salvar, é neces-sário romper com os camponeses médios.» Isto não é muito inteligente; é, pelo contrário, absolutamente claro. Toda a gente se apercebe um pouco das verdadeiras intenções mencheviques que aqui transparecem.

4.? 0 carácter da nossa revolução. Se se negar a possibilidade de edificar o socialismo no nosso país, se se negar a existência da ditadura do proletariado e a necessidade do bloco da classe operária com os cam-poneses, é evidente que nada resta da revolução, nem do seu carácter socialista. 0 proletariado chegou ao poder, conoíuiu a revolução burguesa, os camponeses já nada tâm a fazer com a revolução uma vez que rece-beram a terra: por consequência, o proletariado pode retirar-se e ceder o lugar a outras classes. É esta a

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tese da oposição, se penetrarmos a fundo nas suas concepções. Af estão todas as raízes do espírito de capitulação da oposição. Não é por acaso que Abra-movitch' a glorifica.

*

3 de Dezembro de 1927.

J. STALINE: «Relatório político do C. C. ao XV Congresso do P. C. da U. R. S. S.», Questions du leninisme, tomo II, pp. 125-130, E. S. I., 1931.

AS.RAZÕES DA EXCLUSÃO DE TROTSKY DO PAflTIDO

Porque é que o Partido excluiu Trotsky e Zinoviev? Porque eles são os organizadores de todo o -trabalho da oposição...

EXCLAMAÇÕES: É justol ... porque têm por objectivo destruir as leis do Par-

tido; porque, no seu orgulho, acreditaram que ninguém ousaria atingi-los; porque quiseram criar para si uma posição privilegiada no Partido. Iremos tolerar a exis-tência no Partido, por um lado, de grandes senhores gozando de privilégios e, por outro, de camponeses que os não têm? Será que nós, bolcheviques, que extir-pámos a nobreza, assim como as suas causas, vamos agora restabelecê-la no nosso Partido? (Aplausos.) Perguntais: porque é que excluímos Trotsky e Zinoviev do Partido? Porque nós não queremos ter no Partido uma casta aristocrática. Porque, no Partido, as leis são iguais para todos e porque todos os membros do Partido têm os mesmos direitos.

EXCLAMAÇÕES: É justoI — (Aplausos prolongados.) Se a oposição quer continuar no Partido, que se

submeta à vontade do Partido, às suas leis, às suas

1 Abramovltch — Principal redactor do Jornal menchevique ber-línense Sotsiallstltcheskl Vestnlk (O Mensageiro Socialista). (Nota da edição francesa.)

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instruções, sem reservas e sem equívocos. Se não quer, que vá para onde possa estar mais à vontade.

EXCLAMAÇÕES: É justol — (Aplausos.) Nós não queremos leis especiais vantajosas para a

oposição; não as queremos e não as criaremos. (Aplau-sos.)

Pergunta-se quais são as condições. Há apenas uma: a oposição deve desarmar inteira e completamente, tanto no domínio da ideologia como no da organiza-ção.

EXCLAMAÇÕES: É justol — (Aplausos prolongados.) Deve renunciar às suas concepções antibolcheviques,

aberta e honestamente, perante o mundo Inteiro. EXCLAMAÇÕES: É justol — (Aplausos prolongados.) Deve condenar aberta e honestamente, perante o

mundo inteiro, os erros que cometeu, os seus erros que se tornaram um crime contra o Partido. Deve entre-gar-nos todas as suas células para que o Partido possa dissolvê-las todas, sem excepção.

EXCLAMAÇÕES: Ê justol — (Aplausos prolongados.) Que actuem deste modo ou que saiam do Partido.

E se não saírem, nós pô-los-emos fora. EXCLAMAÇÕES: É justol — (Aplausos prolongados.) Camaradas, eis como se põe a questão da oposição.

3 da Dezembro de 1927.

J. STALINE: «Relatório político do C. C. ao XV Congresso do P. C. da 0 . R. S. S.», Questions du leninisme, tomo II, pp. 135-136, E. S. I. 1931.

A ACTIVIDADE CONTRA-REVOLUCIONARIA DA OPOSIÇÃO

A oposição organizou uma fracção e transformou-a num partido no seio do nosso Partido Bolchevique. As tradições bolcheviques autorizam semelhante igno-mínia? Como é que se pode falar das tradições bolche-

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viques s ao mesmo tempo admitir a cisão no Partido, a formação no seu seio de um outro partido antibol-chevique?

Em seguida, a oposição organizou uma imprensa ilegal, aliando-se a intelectuais burgueses que, por sua vez, estavam ligados a reconhecidos guardas-brancos. Como é que se ousa falar das tradições do bolchevismo quando se tolera uma ignomínia que vai até à traição directa do Partido e ao Poder Soviético? Por fim, a oposição organizou uma manifestação dirigida contra o Partido e fazendo um apelo a elementos não prole-tários. Como é que se pode falar de tradições bolche-viques quando se faz apelos para a rua contra o seu Patrido, contra o Poder Soviético? Alguma vez se ouviu dizer $ue as tradições bolcheviques autorizem tais Ignomínias que atingem directamente a contra-revolu-ção? Não é claro que o camarada Kamenev faz valer estas tradições apenas para esconder a sua ruptura com elas em nome dos interesses do seu- grupo antibolche-vique? Este apelo para a rua nada trouxe para a opo-sição, pois apenas atraiu um grupo insignificante. Isto não é um erro da oposição, é a sua desgraça. O que teria acontecido se a oposição fosse mais forte? O apelo para a rua ter-se-ia transformado num motim directo contra o Poder Soviético. Será difícil compreender que na realidade esta tentativa da oposição em nada se dis-tingue da famosa tentativa dos socialistas-revolucioná-rios de esquerda em 1918?

7 de Dezembro de 1927.

J. STALINE: «Discurso de encerra-mento sobre o relatório político do C. C. ao XV Congresso do P. C. da U. R. S. S.), Questions du leninisme, tomo II, pp. 146-147, E. S. I., 1931.

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A ESSÊNCIA DO TROTSKISMO

Em que é que consiste a essência do trotskismo? A essência do trotskismo consiste, antes de mais,

na negação da possibilidade de edificar o socialismo na U. R. S. S. pelas forças da classe operária e do campesinato do nosso pais. O que -é que isso signi-fica? Significa que se, num futuro próximo, o apoio da revolução mundial vitoriosa não chegar, teremos de capitular diante da burguesia e abrir o caminho à Repú-blica democrática burguesa. Portanto, temos aí uma negação burguesa da possibilidade de edificar o socia-lismo no nosso país, negação mascarada por uma frase revolucionária sobre a vitória da revolução mundial. É possível, com semelhantes concepções, provocar nas mais largas massas da classe operária o entusiasmo pelo trabalho, a emulação socialista, um vasto ftraba-Iho de choque, uma ofensiva largamente desenvolvida contra os elementos capitalistas? É claro que não. Seria absurdo acreditar que a nossa clâsse operária, que fez três revoluções, desenvolveria o entusiasmo peto tra-balho e um vasto trabalho de choque, com o único fim de preparar o terreno para o capitalismo. A nossa classe operária desenvolveu o s«u Ímpeto no trabalho, não para o capitalismo, mas para enterrar definitivamente o capitalismo e edificar o socialismo na U. R. S. S. Tirem-lhe a certeza da possibilidade de edificar o socia-lismo, e terão destruído todo o terreno para a emulação, para o ímpeto no trabalho, para o trabalho de choque.

Dal a conclusão: para provocar na classe operária o ímpeto do trabalho e a emulação, e organizar uma ofensiva largamente desenvolvida, seria preciso, antes de mais, enterrar a teoria burguesa do trotskismo sobre a impossibilidade de edificar o socialismo no nosso país.

A essência do trotskismo consiste, em segundo lugar, na negação da possibilidade de fazer participar

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as massas essenciais do campesinato na edificação socialista no campo. O que é que isto significa? Que a classe operária não é capaz de arrastar atrás de si o campesinato a fim de orientar as explorações campo-nesas individuais na via da colectivização, que se, num futuro próximo, a vitória da revolução mundial não chegar em socorro da classe operária, o campesinato restabelecerá a antiga ordem de eoisas burguesa. Por-tanto, estamos ai na presença de uma negação bur-guesa das forças e possibilidades da ditadura do pro-letariado para conduzir o campesinato para o socia-lismo, negação mascarada sob frases «revolucionárias» acerca da vitória da revolução mundial, É possível, com tais concepções, arrastar as massas camponesas no movimento kolkhoziano de massa, organizar a liqui-dação dos kulaks enquanto classe? é claro que não.

Dal a conclusão: para organizar um movimento kolkhoziano de massa de campesinato e liquidar a classe dos kulaks, seria preciso, antes de mais, enterrar a teoria burguesa do trotskismo sobre a impossibili-dade de'associar as massas trabalhadoras do campesi-nato ao socialismo.

A essência do trotskismo consiste finalmente em negar a necessidade de uma disciplina férrea do Par-tido, em reconhecer a liberdade dos grupos de fracção no Partido, em reconhecer a necessidade de formar um partido trotskista. Para o trotskismo, o P. C. da U. R. S. S. não deve ser um partido de combate, único e coerente, mas uma reunião de grupos e fracções com os seus centros, com a sua imprensa, etc. Ora, o que ó que isto significa? Significa proclamar a liberdade das fracções politicas no Partido. Significa que depois da liberdade dos grupos políticos no Partido, deve vir a liberdade dos partidos políticos no país, isto é, a democracia burguesa. Temos aqui, portanto, o reconhe-cimento da liberdade dos grupos fraccionais •no Par-tido, incluindo até a admissão de partidos políticos

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no pais da ditadura do proletariado, reconhecimento mascarado por uma frase sobre a «democracia interna do Partido», sobre a «melhoria do regime» no Partido. Que a liberdade das chicanices fraccionais, dos grupos intelectuais não ó ainda a democracia interna do Par-tido; que a ampla autocrítica realizada pelo Partido e a actividade prodigiosa das massas de aderentes do Partido são uma manifestação da verdadeira e au-têntica democracia do Partido, isso o trotskismo não é capaz de compreender. É possível, com semelhantes concepções sobre o Partido, assegurar a unidade de ferro no Partido, necessária ao sucesso da luta contra os inimigos da classe? £ claro que nfio.

Dal a conclusão: para assegurar a unidade de ferro do Partido e a disciplina proletária no seu seio, seria preciso, antes de mais, enterrar a teoria do trotskismo em matéria de organização.

Capitulação de facto, como conteúdo, frases de «es-querda» e gestas de aventureirismo «revolucionário», como forma que cobre e exalta o espirito de capitu-lação, que é o seu conteúdo, eis a essência do trots-kismo.

Esta dualidade do trotskismo reflecte a situação dupla da pequena burguesia das cidades em vias de se arruinar, que não pode suportar o «regime» da dita-dura do proletariado e se esforça por passar «de um golpe» ao socialismo, para escapar à ruína (de onde o espírito de aventura e a histeria em política), ou então, quando isto é impossível, se esforça por con-sentir em quaisquer concessões ao capitalismo, sejam elas quais forem (de onde o espírito de capitulação, em política).

É esta dualidade do trotskismo que explica o facto de que os seus ataques «desesperados», ditos contra os desviacionistas de direita, sejam habitualmente coroa-

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dos pelo trotskismo por um bloco com efes, assim como com os capitulacionistas sem máscara.

27 de Junho de 1930. »

J. STALINE: «Relatório do C. C. ao XVI Congresso do P. C. da U.R.S.S.

«

O QUE É O TROTSKISMO

Certos bolcheviques pensam que o trotskismo é uma fracção do comunismo, que, é certo, se engana, faz multas asneiras e por vezes é mesmo anti-soviética, mas que é, mesmo assim, uma fracção do comunismo. Dai um certo liberalismo face aos trotskistas' e às pessoas de espírito trotskista. É apenas necessário demonstrar que um tal ponto de vista sobre o trots-kismo é profundamente erróneo e nefasto. Na reali-dade, o trotskismo é um destacamento- de vanguarda da burguesia contra-revolucionária, que conduz à luta contra o comunismo, contra o Poder dos Sovietes, contra a edificação do socialismo na U. R. S. S.

Quem é que deu à burguesia contra-revolucionária uma arma espiritual contra o bolchevismo, sob a forma de tese sobre a impossibilidade de construir o socia-lismo no nosso país, sobre a degenerescência inelutável dos bolcheviques, etc....? Esta arma, deu-lha o trots-kismo. Não se pode considerar como um acaso o facto que todos os grupos anti-soviéticos na U. R. S. S., nas suas tentativas de justificar a inevitabilidade da luta contra o Poder dos Sovietes, tenham invocado a conhecida tese trotskista sobre a impossibilidade de construir o socialismo no nosso país, sobre a degene-rescência inelutável do poder dos Sovietes, sobre o retorno provável ao capitalismo.

Quem é que deu à burguesia contra-revolucionária da U. R. S. S. uma arma táctica sob a forma de acções

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declaradas contra o Poder dos Sovietes? Esta arma, deram-lha os trotskistas, que tentaram organizar ma-nifestações anti-soviéticas em Moscovo e em Lenine-grado a 7 de Novembro de 1927. É um facto que as manifestações anti-soviéticas dos trotskistas tornaram a dar coragem à burguesia e puseram em movimento a sabotagem dos especialistas burgueses.

Quem é que deu à burguesia contra-revolucionária uma arma de organização sob a forma de tentativa de constituir organizações anti-soviéticas clandestinas? Esta arma, deram-lhe os trotskistas, que organizaram o seu próprio grupo ilegal antibolchevique. É um facto que a acção anti-soviética clandestina dos trotskistas facilitou a cristalização orgânica dos agrupamentos anti--soviéticos na U. R. S. S.

O trotskismo é um destacamento de vanguarda da burguesia contra-revolucionária.

Eis porque é que o liberalismo em relação ao trots-kismo, mesmo que aniquilado -e camuflado, é incon-sequência que confina com o crime, com a traição para com a classe operária.

1931.

J. STALINE: «Sobre algumas questões da história do bolchevismo», A Re-volução proletária, n.8 6 (113), 1931. ed. r.

Este artigo da Pravda estabeleceu o balanço do trots-kismo, tal como ele ressalta dos dois recentes pro-cessos de Moscovo (Centro unificado e Centro para-lelo). Ele mostra a que é que conduziu a luta de Trot-sky contra o leninismo no domínio da edificação do socialismo na U. R. S. S.

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O QUE OS TROTSKISTAS PREPARAVAM AOS OPERÁRIOS

O assombro céptico que certos jornais estrangeiros si-mulam perante os crimes inauditos revelados pelo pro-cesso do Centro trotskista anti-soviético, testemunha apenas, quase sempre, falta de esorúpulo dos proprietá-rios ou dos colaboradores destes jornais. Como é que pessoas que se dizem socialistas poderiam ter cometido semelhantes crimes contra a classe operária? —pergun^ tam. ingenuamente estes senhores. Eles «esquecem» as numerosas lições da história.

A burguesia encontrou por mais de uma vez fiéis lacaios entre> os despojos do movimento operário. Foi do campo dos oportunistas que saíram os aduladores servis mais devotados do capitalismo que, muitas vezes, se adornavam com uma roupagem «esquerdista». Basta recordar alguns nomes. Lioyd George na Inglaterra. Na França, Millerand. que, mesmo antes de ter tido tempo de usar os seus sapatos «socialistas», fuzilava já, na qualidade de ministro burguês, a multidão dos grevistas desarmados e famintos. Clemenceau deu meia-volta, passando das frases radicais «de esquerda» ao papel de «tigre» do imperialismo francês. Na Alemanha, Ebert foi o primeiro presidente da República burguesa; com o «cão sangrento» Noske, estabeleceu um regime de terror contra-revolucionário contra a classe operária e foi à sombra deste regime que cresceu o cogumelo venenoso do fascismo. Na Itália, Mussolini começou a sua carreira situando-se na ala oportunista do Partido socialista.

A evolução do trotskismo distingue-se dos exemplos que acabámos de citar pelo facto de se ter operado

<• num país onde, pela primeira vez na história, a classe operária detém firmemente o leme do Estado. O sonho de inúmeras gerações de oprimidos e explorados rea-lizou-se aqui. O socialismo foi conquistado através de

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lutas encarniçadas, ao preço de Inúmeros sacrifícios. Oas classes outrora dominantes, apenas ficaram des-pojos, aos quais se juntaram apóstatas que temem a luz do dia. O trotskismo, tornado o centro organizador destes elementos, na sua raiva impotente escreveu so-bre a sua bandeira: Retorno ao capitalismo. A suã prin-cipal esperança está ligada à intervenção estrangeira. Judas-Trotsky, o pior inimigo da classe operária, tra-zendo na fronte a marca de Caim, activa o seu bando infame: espiai, trai, sabotai ainda maisl Matai mais operários e soldados vermelhosl Agi mais energica-mente pelo terrorl

Todo o passado do trotskismo o predestinava ao seu papel Infame de pior inimigo da classe operária. A sua carreira é uma sucessão continua de traições, dissimuladas durante um certo tempo pelo palavreado «de esquerda».

Foi certamente a pensar nas possíveis recidivas do trotskismo e para pôr o Partido em guarda contra elas que Lenine escreveu, numa curva da revolução prole-tária, no momento do abandono do comunismo de guerra pela nova política económica:

Dez a vinte anos de relações justas com o cam-pesinato, e a vitória está assegurada à escala mun-dial (mesmo havendo um atraso das revoluções proletárias, que crescem), senão vinte a quarenta anos de torturas do terror branco. «Aut-aut. Ter-

" tium non datur.» a

O leninismo assegurou a primeira alternativa. O trots-kismo teria inevitavelmente conduzido à segunda. Para isso tendia toda a demagogia do trotskismo, todas as propostas aventureiras que significavam uma orientação no sentido da divisão entre a classe operária e os cam-poneses, a perda do poder pela classe operária, o re-tomo do país ao jugo da ditadura burguesa.

1 Ou um, ou outro. Não há terceira hipótese.

138

II I

Os trotskistas tentaram, depois dos mencheviques, fazer gaia do «obreirismo». Mas sob as suas frases «de esquerda» escondia-se um conteúdo capitulacio-nista. A classe operária que, ao preço de imensos sacrifícios, tinha conquistado o pocler e o tinha defen-dido contra uma quinzena de Estados intervencionistas, os trotskistas propunham o retorno à antiga dominação da burguesia. Tal era o sentido oculto de toda a luta do trotskismo contra a teoria leninista da edificação do socialismo num só pais. Pela sua tese da impossi-bilidade de edificar o socialismo na União Soviética, os trotskistas* puseram nas mãos da burguesTa contra--revolucionária uma arma envenenada contra a classe operária.

O Partido, sob a direcção de Staline, demoliu o trotskismo.

Nalguns anos, foram realizados na U. R. S. S. as maiores transformações. A possibilidade de edificar o socialismo num só pa(s, teoricamente provada por Le-nine e Staline, é hoje demonstrada na prática pela expe-riência de uma obra construtiva gigantesca.

Se outrora o trotskismo fixava para si a tarefa de impedir a edificação do socialismo, hoje aspira a des-truir tudo aquilo que já se criou.

O trotskismo passou aos métodos de luta mais vis, mais ignóbeis, mais desprezíveis. O seu programa é a restauração do capitalismo. É longe da luz do dia que se juntam as hienas trotskistas, os miseráveis que já nada têm de humano, os cínicos canalhas prontos para todos os crimes. Eles inauguram a série de crimes perante os quais se apagam as mais revoltantes torpezas da história humana. Nada trava já na sua queda os emissários do velho mundo que lutam sem esperanças contra a sociedade nova que se edifica para a felici-dade do povo. Vendem a pátria a grosso e a retalho

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aos piores inimigos desta, fazem espionagem e sabo-tagens combinados com os agentes da espionagem fas-cistas; entregam-se ao terror individua! contra-revolu-cionário; preparam traições inauditas para o caso de uma guerra. Tais são os métodos da «actividade» da matilha trotskista.

O que traz o trotskismo à classe operária? O quadro desenrolado no processo do Centro trotskista anti--soviético permite responder de forma completa a esta questão.

Radek, no seu depoimento no processo, expôs nestes termos o programa económico que Trotsky lhe tinha comunicado na sua carta de Dezembro de 1935:

A concessão não só das empresas industriais mais importantes para os Estados imperialistas, assim como a alienação aos elementos capitalistas dos empreendimentos económicos importantes que eles designarem. Trotsky previa empréstimos por obrigações, isto é, a admissão do capital estran-geiro na exploração das fábricas que, formalmente, ficariam nas mãos do Estado soviético.

É portanto o programa do restabelecimento da escra-vatura capitalista para a classe operária que derrubou o poder da burguesia e que, por um trabalho pleno de abnegação, construiu o socialismo. Os pulhas trots-kistas compreendiam perfeitamente que só o regime do terror fascista mais feroz poderia obrigar as massas çperárias a submeter-se à servidão capitalista.

Nesta mesma carta, Trotsky escrevia cinicamente a Radek:

Não pode haver lugar para nenhuma democracia. A classe operária viveu dezoito anos de revolução, e o seu apetite é formidável; ora será necessário fazer voltar este operário em parte às fábricas privadas, em parte às fábricas de Estado, que terão de sustentar a mais rude concorrência do capital estrangeiro. Isto quer dizer que haverá

um forte agravamento da situação da classe ope-rária. Nos campos, recomeçará a luta do camponês pobre e do camponês médio contra o kulak. Para manter a situação, será necessário um poder forte, quaisquer que sejam as formas que ele revista.

»

No processo, o infame Radek confessou abertamente que, ao ler esta carta, compreendeu perfeitamente que Trotsky traçava nela a perspectiva da instauração do regime fascista.

Ill

Concretamente, que significava para as massas ope-rárias o programa trotskista?

Outrora, * o proletariado era a classe explorada e oprimida pela burguesia. No país dos Sovietes, esta classe pertence apenas a um passado volvido. Uma nova classe operária nasceu.

. 0 proletariado da U. R. S. S. tornou-se uma classe absolutamente nova, a classe operária da U. R. S. S., que destruiu o sistema capitalista da economia, consolidou a propriedade socialista dos instrumentos e meios de produção, e que conduz a sociedade soviética na via do comunismo. (STA-LINE: Relatório sobre o projecto de Constituição da U.R.S.S.)

Esta classe operária, os trotskistas querem recondu-zi-la ao estado de proletariado explorado e oprimido. A classe operária exerce na U. R. S. S. a sua ditadura, o poder de Estado está nas suas mãos, ela conduz a luta de todo o povo trabalhador para o comunismo. A classe operária tem autoridade nas massas populares que a estimam e a honram. Os trotskistas querem reduzi-la

* ao estado de um pária sem direitos, achincalhado pelos ociosos e pelos parasitas. A exemplo da Alemanha fas-cista, lançar centenas de milhares de operários nas mas-

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morras da policia fascista, nos campos de concentração, exterminar a vanguarda mais consciente e mais activa da classe operária: eis o que quer o trotskismo.

As massas operárias da U. R. S. S., libertadas das cadeias da exploração, conhecem a alegria do. trabalho criador e livre. O trabalho tornou-se uma questão de honra, de glória, de coragem e de heroísmo. Onde ó que o movimento stakhanovista poderia, pois, nascer e desenvolver-se? O trotskismo sonha reconduzir os operários às galés sob o jugo do trabalho forçado, reduzi-los a um trabalho extenuante em proveito de um punhado de exploradores, de vampiros.

A lei inabalável da U. R. S. S. é: quem não trabalha, não come. A exploração do homem pelo iiomern foi para sempre abolida. As riquezas imensas criadas pelo tra-balho do povo constituem o seu bem imprescritível. A classe operária está na grande via que conduz a um desenvolvimento material escultural sempre crescentes. Os trotskistas querem restabelecer o velho princípio da exploração: quem trabalha, não come. Trotsky escre-via a Radek que um «forte agravamento da situação da classe operária é inevitável». Evidentemente I Se se restabelecerem os volumosos lucros dos capitalistas, se se abandonar a um punhado de parasitas os bens do povo e o fruto do seu trabalho, para o povo apenas ficará o trabalho extenuante e uma existância famélica. ' É na U. R. S. S. que existe a mais curta jornada de

trabalho, que a protecção ao trabalho é mais perfeita. Os fascistas trotskistas querem restabelecer a antiga prisão de forçados em que se trabalhava do nascer ao pôr-do-sol, em que toda a reivindicação tinha por con-sequência atirar o operário para a porta da fábrica.

Os cidadãos da U. R. S. S. têm o direito ao trabalho, isto é, o direito de receber um emprego garantido, sendo o seu trabalho remunerado se-gundo a sua quantidade e a sua qualidade.

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Estas palavras da Constituição staliniana, da lei fundamental do Estado soviético significam a realização do sonho de inumeráveis gerações de proletários que viviam e morrianf*na deprimente Inquietação pelo fu-turo. A juventude soviética nunca conheceu e nunca conhecerá esta inquietação pelo futuro, este medo de perder o seu trabalho e o seu bocado de pão. Ora, os trotskistas aspiram a trazer de novo um regime sob o qual o desemprego é o hóspede frequente dos lares operários. A economia soviética ignora as crises, mas o capitalismo é inconcebível sem elas. Viver no medo constante de perder o seu bocado de pão, o seu abrigo, de não poder alimentar os seus filhos, correr o risco de morrer de fome, tais são os «benefícios» com que o trotskismo quer encher a classe operária soviética.

0 direito ao descanso é um direito imprescritível de todos os cidadãos da U. R. S. S. Os trotskistas queriam trazer de novo o regime que só deixa o operário descansar na cova, depois de morto, se exceptuarmos o «descanso» forçado durante os meses e anos de desemprego que aniquila todas as forças do' operário e que significa para ele a fome e a morte.

O direito à Instrução é uma das maiores conquistas da classe operária. A via para os cumes da ciência, a via para a imensa herança cultural da humanidade está na U. R. S. S. largamente aberta a todas as pes-soas. E a classe operária marcha firmemente e com segurança nesta via. Quantos notáveis talentos ela já não produziu nos ramos mais variados das ciências e das artesI O regime que os trotskistas sonhavam tra-zer de novo teria fechado hermeticamente diante da «plebe» as portas da ciência e teria escrito sobre elas: Entrada proibida aos pobresl O capitalismo significa o monopólio da ciência pela minoria dos que possuem; quanto à maioria, está condenada a contentar-se, à guiza de alimento intelectual, com migalhas que lhes são atiradas da mesa dos patrões.

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A operária recebe na U. R. S. S. um salário igual ao do homem, por igual trabalho. Todas as formas da ver-gonhosa desigualdade entre os sexos estão abolidas na U. R. S. S. Os trotskistas pensam impor de novo à parte feminina da classe operária um duplo jugo e uma dupla exploração, pôr de novo em vigor as leis ignóbeis e ferozes que em todos os países do Capital inferiorizam a mulher. ,

Biliões de rublos são dispendidos anualmente na U. R. S. S. para as necessidades sociais e culturais da classe operária, para os seguros sociais, para a ajuda aos doentes e aos velhos. A restauração do capitalismo significaria que todos os admiráveis edifícios e sana-tórios, os estabelecimentos médicos, as casas de re-pouso, voltariam de novo a existir apenas para um ínfimo punhado de parasitas saciados.

*

IV

Os trotskistas contavam-não só restabelecer o capi-talismo na U. R. S. S., como também trazer para aí de novo todos os horrores da exploração colonial. A pátria soviética afirmou a sua independência política e eco-nómica. Tornou-se o grande e poderoso país do socia-lismo. O poder da classe operária fez dela o páís mais avançado do mundo, o farol de toda a humanidade de vanguarda; os trotskistas esforçaram-se por fazer da pátria socialista a colónia dos mais agressivos Estados fascistas. Preparavam para os operários da pátria socia-lista a mesma sorte dos «coolies» chineses.

«É preciso abandonar todo o pensamento de traba-lho de massas», sugeria Trotsky a Piatakov durante a sua viagem a Oslo.

Com cinismo e imprudência, Trotsky dizia aos seus sequazes:

Seria absurdo pensar que se pode chegar ao Poder sem assegurar a benevolência dos principais

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governos capitalistas, particularmente dos mais agressivos, tais como os actuais governos da Ale-manha e do Japão. É absolutamente necessário manter desde agora um contacto e um entendi-mento oom estes governos.

Trotsky reconhecia que os* trotskistas nunca chega-riam ao poder ^em uma guerra da Alemanha e do Japão contra a U. R. S. S. e sem a derrota desta nessa

!uerra. Dai, a directiva: apressar, provocar a guerra, azer um trabalho de sapa, ajudar os países fascistas

a demolir o baluarte do socialismo, cometer mons-truosas traições. O trotskismo, pelos seus actos de sabotagem, fez morrer dezenas de operários e soldados do Exército Vermelho. Os trotskistas preparavam-se para sacrificar, desde que explodisse a guerra, cente-nas de milhares e milhões de trabalhadores no altar da restauração capitalista. Os Estados fascistas têm as suas ideias sobre o carácter e os objectivos da guerra: têm os seus planos de guerra. Eis, por exemplo, o que escrevia recentemente Die Deutsche Wehr, órgão ofi-cioso 'do Estado-Maior alemão:

A única recompensa digna do risco e dos sacri-fícios que hoje se ligam à guerra não pode ser senão a evicção completa do vencido da arena, o seu aniquilamento em qualidade de força eco-nómica considerável e independente. O inimigo não deve mais produzir, não deve mais ter a pos-sibilidade de participar na concorrência. Não se pode deixar-lhe, à vista de uma nova guerra, talvez mais feliz, uma indústria capaz de funcionar. O inimigo deve ser arruinado e despojado. É uni-camente nisto que, nas condições modernas, a vitória consiste.

Assim, a indústria devia ser aniquilada. Foi no espi-rito deste programa que o acordo concluído com Hess, o lugar-tenente de Hitler, foi redigido. Abandonar o pais à mercê do fascismo alemão, eis a intenção que aparece em cada ponto deste acordo.

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Trotsky escrevia que, sem o apoio da Alemanha e do Japão, era impossível tanto subir ao poder, como man-ter-se nele. Foi por isto que se estabeleceu todo um programa para vender a pátria socialista. 0 Japão rece-beria a província marítima, a região do Amor, o petró-leo de Sakhalina; A Alemanha obteria a Ucrânia, liber-dade de acção no vale do Danúbio^ nos Balcãs; o pais teria sido economicamente escravizado sob a forma de concessões das empresas e por tratados de comércio concluídos em condições leoninas. Mas os inimigos da humanidade enganaram-se cruelmente nos seus cálculos.

Deu-se um golpe sério nos projectos dos fautores da guerra. Os inimigos da classe operária foram casti-gados como o mereciam e o povo soviético, depois de os ter aniquilado caminhará em frente com maior segu-rança ainda, rumo aos cumes radiosos do comunismo.

14 de Fevereiro de 1937..

Artigo da Pravda.

O TROTSKISMO ACTUAL

Ao conduzir a luta contra os agentes trotskistas, os camaradas do nosso Partido não notaram, não se aperceberam que o trostskismo de hoje já não é o que era há sete ou oito anos; que o trotskismo e os trots-kistas sofreram durante todo este tempo uma séria evolução que mudou radicalmente a sua face; que, por esta razão, a luta contra o trotskismo, os métodos de luta contra ele devem também mudar radicalmente. Os camaradas do nosso Partido não notaram que o trotskismo deixou de ser a corrente política na classe operária que era há sete ou oito anos, que se tornou num bando cínico e sem princípios de sabota-

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dores, de agentes de diversão, de espiões e de assas-sinos que agem segundo as instruções dos órgãos de espionagem dos Estados estrangeiros.

O/que é uma corrente política na classe operária? Uma corrente política na classe operária é um grupo ou um partido quejtem a sua fisionomia determinada, a sua plataforma, o seu programa, que não se esconde nem pode esconder as suas ideias da classe operária, mas (|ue, pelo contrário, se dirige de cabeça levantada à classe operária para a convencer da justeza das suas ideias. No passado, há sete ou oito anos, o trotskismo era uma corrente política na classe operária; uma cor-rente anti-leninista e por conseguinte essencialmente errónea, á verdade, mas mesmo assim üma corrente política.

Poderá dízer-se que o trotskismo de hoje, o trots-kismo de 1936, á uma corrente política na classe operária? Não, não se pode dizêrlo. Porquê? Porque os trotskistas actuais têm medo de mostrar à classe operária a sua verdadeira face, têm medo de lhes mostrar claramente os seus verdadeiros fins e objec-tivos, escondem cuidadosamente da classe operária a sua fisionomia política, receando que, se a classe ope-rária aprender as suas verdadeiras intenções, os amal-diçoe, como pessoas que lhe são estranhas, e os corra para longe de si.

É por isso que se explica o facto de que o principal método da actividade trotskista é agora, não a pro-paganda aberta das suas ideias na classe operária, mas a camuflagem das suas ideias, a exaltação servil e obsequiosa das ideias dos seus adversários, o dene-grir farisaico e mentiroso das suas ideias.

3 de Março de 1937.

J. STALINE: «Discurso à Assembleia Plenária do Comité Central do P. C. da União Soviética».

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O trotskismo tornou-se hoje um fenómeno interna-cional na luta contra a União Soviética e a revolução proletária.

Para o caracterizar de uma maneira completa e exacta, seria preciso dar exemplos da sua actividade nos mais diversos países. Vê-lo-iamos então, erguer-se contra a Frentei Popular em França e nos outros países onde esta formação de luta contra o fascismo está na ordem do dia; vê-lo-íamos tornar-se na China o colaborador dos elementos roais reaccionários, dos inimigos mais encarniçados do movimento de emancipação nacional; vê-lo-íamos beneficiar na Alemanha da indulgência cúm-plice dos carrascos hitlerianos.

Aparece-nos por todo o lado, sob um palavreado de «esquerda». «ultra-revolucionárío», como um factor de divisão e de desmoralização do movimento operário e da união antifascista, dirigindo sempre e por todo o lado os seus principais golpes contra a União Soviética e os Partidos Comunistas, tornando-se assim o auxiliar do fascismo e da reacção mais negra, justificando a todos os títulos a etiqueta aviltante com que Staline o marcou para sempre, de «vanguarda da contra-revolu-ção mundial.»

Uma tal escolha de extractos, se poderia ser inte-ressante, . ultrapassaria contudo singularmente os qua-

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dros desta obra. Limitar-nos-emos por isso a citar dois artigos que apareceram na Correspondência internacio-nal, desmascarando as actuações do trotskismo em Espanha.

Relativamente aos outros países, o leitor poderá documentar-se na imprensa operária internacional. Aí encontrará quase quotidianamente factos que corrobo-ram tudo o que acabámos de dizer.

A ACTIVIDADE DOS TROTSKISTAS EM ESPANHA

O interesse principal do fascismo na Espanha repu-blicana é a destruição da Frente Popular. Desde 16 de Fevereiro de 1936, quando a Frente Popular obteve a maioria esmagadora nas eleições parlamentares, ela tor-nou-se o pior inimigo do fascismo, o mais odiado, pre-cisamente porque é o melhor instrumento para impedir que o fascismo se apodere do poder num país.

Todos os dias, em todas as ocasiões, nos seus dis-cursos e na sua imprensa, os trotskistas atacam violen-tamente a Frente Popular e os seus representantes e encarregam-se de semear a discórdia entre os operários e outras camadas antifascistas da Frente Popular.

A política da Frente Popular —escreve a Ba-talla, órgão trotskista, no seu número de 29' de Maio — conduz, como havíamos previsto, ao en-fraquecimento dos partidos e das organizações operárias que a praticam.

E mais adiante, num artigo intitulado «A Frente Popular conduz-nos ao fascismo»:

Fala-se de fortificar a Frente Popular com a qual se enfraquecem as energias e se paralisam as acções combativas das massas operárias e cam-ponesas. Em lugar de se frear a decomposição dos partidos republicanos, deve-se precipitá-la o

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mais possível. É também necessário precipitar a experiência democrática das massas. Para isso, uma condição indispensável ó a ruptura de toda a ligação orgânica com a burguesia republicana. Em lugar da Frente Popular, Aliança Operária Na-cional.

Agora, durante a guerra civil» tentam ainda por todos os meios romper a Frente Popular, lançando reivindi-cações de aparência radical, e semear a divisão entre as diferentes forças que a compõem. Servem assim os carrascos fascistas dos trabalhadores, os assassinos de mulheres e de crianças indefesas.

Contra o governo da República

A tarefa seguinte do fascismo é enfraquecer por todos os meios possíveis o governo da República assim como o governo da Generalidad da Catalunha. Também neste sentido, os trotskistas lhes prestam serviços ma-ravilhosos. Vejamos alguns exemplos concretos.

Quando se constitui em Madrid o governo Largo Caballero, o partido trotskista em Espanha, «partido operário de unificação marxista» (P. O. U. M.) e o seu órgão, a Batalla, dirigiram furiosos insultos contra o que chamaram «traição dos interesses do proletariado« protestando contra o governo, ao grito de: «Abaixo os ministros burgueses!»

Mais tarde, depois de se haver constituído na Cata-lunha o governo da Generalidad, com a participação de um conselheiro trotskista, o P. O. U. M. e o seu órgão, a Batalla, atacaram duramente o governo, qualificando-o diariamente de contra-revolucionário, Quando as for-ças representadas neste conselho fazem esforços para lhe facilitar a tarefa de unificação de todas as vonta-des do povo catalão, os trotskistas que estão repre-sentados e participaram na redacção da declaração do

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Conselho, atacam na sua imprensa a composição e a declaração do Conselho.

A 12 de Dezembro reuniu-se o Comité Executivo do P. 0 . U. M. e o seu secretário, Nin, apresentou um relatório. Declarou que o governo de Valência, apesar da participação das organizações operárias, defendia mais os interesses da República burguesa do que os interesses da revolução. Comentando a crise do governo da Catalunha provocada pelas manobras criminosas do P. 0 . U. M. e no decurso da qual o ministro trotskista foi afastado do governo, acrescentou, procurando sem-pre separar a C. N. T. (central sindical anarco-sindi-calista) das outras forças representadas no governo:

A crise do governo da Catalunha é motivada pelo fàcto de que o nosso partido e a C. N. T. não querem permitir a perda das conquistas.da revo-lução. Trata-se de duas tendências, a tendência revolucionária representada pela C. N. T. e pelo P. 0 . U. M. e a tendência- contra-revolucionária re-presentada pelo Partido Socialista Unificado e pelos dirigentes da U. G. T. (central sindical so-cialista), assim como pelos republicanos de es-querda.

Nin indicou a bancarrota do Parlamento burguês e declarou que o P. O. U. M.

defenderá a palavra de ordem da substituição do ' Parlamento por uma outra organização composta

de delegados dos comités de operários e de repre-sentantes dos sindicatos e do campesinato.

Por último, os trotskistas conduziram uma campa-nha desenfreada a respeito da questão do abasteci-mento do povo catalão, semeando o pânico entre a população e dirigindo duros ataques contra o Conse-lheiro do Abastecimento, Comorera, secretário do Par-tido Socialista Unificado, acusando-o de especular com a fome do povo.

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Contra a unidade proletária

O fascismo procura por todos os meios, utilizando os seus agentes trotskistas, impedir, em primeiro lu-gar, a unidade, e se isto não resultar, utiliza todas as ocasiões para romper a unidade.

Na altura da fusão das Juventudes Socialistas e Comunistas em Abril de 1936, «os trotskistas condu-ziram uma campanha encarniçada contra esta unifica-ção assim como contra a unificação da U. G. T. e da C. G. T. U. (Sindicatos vermelhos).

No domínio da juventude como no domínio sin-dical, os socialistas absorvem os comunistas ofi-ciais, Um partido que fica sem movimento sindi-cal e "dos jovens é apenas uma caricatura de partido. Os seus dias estão contados.

Utilizando o facto de todas as organizações popu-lares e operárias estarem envolvidas, na luta contra a sublevação fascista, os trotskistas criaram a dita «Juventude Comunista Ibérica». Enquanto os proletários honestos e os antifascistas convictos lutam na frente, os trotskistas fazem um trabalho de desorganização e de cisão contra-revolucionário na retaguarda.

Por ocasião da assinatura de um acordo de unidade de acção entre a U. G. T., a C. N. T., a F. A. I. (Fede-ração Anarquista Ibérica) e o Partido Socialista Uni-ficado da Catalunha, assinatura acolhida com grande entusiasmo por todo o povo catalão, a Batalla ataca violentamente este pacto , de unidade ao mesmo tempo que o esconde aos seus leitores.

Contra a União Soviética

A ajuda que o proletariado internacional dá, do exte-rior, ao povo espanhol e principalmente a solidariedade e o amor dos trabalhadores da União Soviética é um

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factor muito importante para o triunfo da Espanha antifascista. Consequentemente o fascismo espanhol utiliza lacaios, os trotskistas, para atentar contra a vida dos dirigentes do governo e do Partido da União Soviética, para fazer actos de sabotagem, para praticar a espionagem. Na Espanha, o fascismo utiliza os trots-kistas para realizar uma luta feroz contra o pais do socialismo triunfante e contra os que o conduziram ao triunfo.

Vejamos alguns exemplos. Os chefes do P. O. U. M. escreviam que os dirigen-

tes da União Soviética e da internacional Comunista não se interessavam pela luta do povo espanhol. As acções diplomáticas da União Soviética a favor do povo espanhol, toda a campanha de solidariedatta realizada pelos Partidos Comunistas jem todos os países seriam apenas a expressão do desejo de não intervir directa e concretamente ao lado dos antifascistas.

Na ocasião da chegada a Barcelona do navio sovié-tico Sirianine, que provocou um entusiasmo delirante entre a população catalã, os trotskistas escreviam: «Sim, são os cidadãos soviéticos que nos ajudam, mas não o governo soviético.» E, enquanto a solidariedade soviética fazia vibrar de entusiasmo o povo espanhol, estimulando-o para a luta e reanimando a sua fé no triunfo, acrescentavam, continuando deste modo a cam-panha internacional conduzida pelo fascismo:

Se Staline cedeu e dá a sua solidariedade, é porque pensa que desta forma enfraquecerá as posições do fascismo nazi, que Staline considera o seu principal inimigo.

Segundo a Batalla, resulta que Staline ajuda a Es-panha republicana para enfraquecer a Alemanha sua inimiga. Dal se tira a conclusão fascista que os provo-cadores da guerra são os comunistas.

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Os ataques dos trotskistas contra a União Soviética tornaram-se tão agressivos e tão caluniosos que o côn-sul-geral da U. R. S. S. em Barcelona teve que os de-nunciar publicamente. Numa*nota, o consu'lado-geral da U. R. S. S. em Barcelona disse:

a Uma das manobras da imprensa fascista inter-

nacional consiste em caluniar declarando que o representante da União Soviética creditado junto do governo dirige de facto a politica interna e externa da República Espanhola. Os objectivos dos lacaios do fascismo, difundindo uma semelhante insinuação, são bem claros. Em primeiro 'lugar, querem prejudicar o prestígio do governo da Re-publica Espanhola. Em segundo 'lugár, enfraquecer o sentimento de solidariedade fraternal que se torna cada dia mais forte entre o povo de Espanha e o da União Soviética, base moral principal da luta antifascista. Em terceiro lugar, ajudar e reforçar as tendências de diferentes, grupos incontrolados e irresponsáveis para a desorganização da Frente

* Única Republicana. E eis que, entre os órgãos da imprensa catalã, aparece um que empreendeu a tarefa de ajudar esta campanha fascista. No seu número de 27 de Novembro, a Batalla encarrega-se de fornecer material às mencionadas insinuações fascistas.

Contra as Brigadas Internacionais

Na guerra, o - papel dos trotskistas é utilizar os pequenos grupos que organizaram para trair, para se retirarem nos momentos mais decisivos da luta.

Eles dirigem ao mesmo tempo ataques contra a reconstrução do exército operário, exigindo um Exér-cito Vermelho, e não um Exército Popular.

As gloriosas Brigadas Internacionais são também objecto do ataque dos trotskistas. Eles dizem que elas estão ao serviço do Partido Comunista oficial e da U. R. S. S., que estão ao serviço de Staline, que' são um grande perigo para a Espanha antifascista.

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Eis o que escreve ao mesmo tempo o jornal de Franco, Heraldo de Aragon:

Staline propõe-se amplificar e consolidar a sua influância em Madrid e Valência, depois de ter assegurado a sua dominação na Catalunha. Para este efeito, Staline tem diariamente longas confe-rências com Rosenberg, o seu delegado junto do governo Largo Caballero, ao qual dá instruções correspondentes. Esta atitude foi claramente confirmada pelo minis-tro vermelho, Jésus Hernandez, comunista, que disse: «Agora, devemos começar o trabalho defi-nitivo de eliminação do P. O. U. M. que 6 uma organização traidora e anti-soviética. Depois, ani-quilaremos a C. N. T. Se eles oferecerem resis-tência, contamos com o apoio incondicional da Brigada Internacional.»

Para quem é que as Brigadas Internacionais consti-tuem um perigo? Para o fascismo. É por isso que são atacadas pelos trotskistas, seus aliados. As Brigadas Internacionais não são Brigadas Comunistas. Nas filei-ras das, Brigadas Internacionais 'lutam lado a lado socia-listas, anarquistas, comunistas, democratas, intelectuais, homens de todas as correntes antifascistas. As Briga-das Internacionais foram formadas precisamente pela Frente Popular mundial para ajudar o heróico povo da Espanha democrática. Elas são efectivamente um grande perigo para o fascismo. Eis porque é que os trotskis-tas as atacam.

Janeiro de 1937.

IRÈNE FALCON: «A actividade dos trotskistas em Espanha», Corres-pondência Internacional, n.8 5, 1937.

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OS TROTSKISTAS EM ESPANHA

^ forças mais importantes dos trotskistas encon-tram-se em Barcelona e em L4rida (Catalunha).

De início, fundaram aqui, quase sem problemas, a organização trotskista denominada partido operário de unificação marxista, ou, abreviadamente, P. O. U. M., que começou no início da guerra civil a desenvolver uma agitação muito viva, mas de carácter estranho. Ligaram-se a esta organização um pequeno número de aderentes, pessoas de diferentes partidos que, por terem cometido actos de sabotagem, roubos ou viga-rices, haviam sido expulsos das suas organizações. Criaram Igualmente o seu próprio pequeno «exército».

Contudo, os acontecimentos não tardaram a tomar um aspecto muito gfave. Três comandantes das colunas do P. O. U. M. habituaram-se a abandonar a frente da sua secção no momento em que se tratava de come-çar a luta.

O destacamento trotskista abandonou uma impor-tante posição estratégica justamente antes do início das operações na frente de Aragão. O pequeno destaca-mento Thaelmann foi forçado a ocupar o lugar dos desertores para reprimir o ataque inimigo, o que lhe custou metade dos seus combatentes.

Num outro sector da mesma frente, uma ofensiva ' desencadeada pelos republicanos foi impedida por a

formação trotskista ter abandonado as suas posições no momento do ataque.

Do mesmo modo numa outra frente do centro, no sector de. Siguenza, os trotskistas retiraram subita-mente os seus efectivos, apesar dos protestos dos mili-

» cianos. Um batalhão de ferroviários ocupou o seu lugar e cobriu heroicamente a retirada dos legais neste sector.

Na folha Le Combattant fíouge — ignora-se quem é o editor do. jornal — é assegurado que os trotskistas

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lutam nas fileiras da Brigada Internacional pela Repú-blica.

Dirigi-me, a este respeito, aos comandantes das 1.s

e 2." Brigadas Internacionais; disseram-me categorica-mente que entre os seus combatentes não se encontra-vam combatentes deste género. Os destacamentos P. O. U. M. foram dissolvidos e os seus comandantes expulsos da frente.

Neste país em que a Frente Popular se encontra à cabeça da luta armada pela liberdade e pela indepen-dência, num pais cheio de veneração e de amor pela União Soviética, Trotsky tinha dado duas directivas aos seus partidários:

1.« Opôr-se à Frente Popular; 2' Levantar-se contra a União Soviética. Contudo, estas directivas foram acolhidas de má

vontade por membros do „P. 0 . U. M. arrastados pela cólera e roídos pelo espírito de vingança.

Desde este momento, Trotsky sancionou a organi-zação trotskista P. O. U. M., que estava dividida em dois campos. No primeiro figura Nin, antigo secretário de Trotsky, actualmente secretário do P. O. U. M „ e alguns dos seus aderentes, que se apresentam nas reuníçes para vociferar contra a Frente Popular e para, apoiados em calúnias contra o governo da República, se oporem igualmente è transformação das milícias populares num Exército Popular.

Tendo todos os partidos e organizações politicas da Catalunha reclamado a destituição de Nin devido à sua duplicidade, este último foi excluído do novo governo catalão.

A folha do P. 0 . U. M „ Batalla, não conhece senão um único objecto do seu ódio e dos seus ataques quo-tidianos: a União Soviética.

Ela anuncia diariamente que teria rebentado uma rebelião em Moscovo, que a Internacional Comunista teria sido liquidada e que o camarada Dimitrov teria

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sido preso para ser enviado para a Sibéria, que a im-prensa soviética se ergue contra a Frente Popular, que reina a fome em Leninegrado...

Não há um único jornal dos rebeldes fascistas que não tenha reproduzido nas suas colunas extractos da Batalla.

Entretanto, os funcionários subordinados do P.O.U.M., que não compreendiam correr o risco de ser desancados pelos operários devido à sua agitação anti-soviética, pensam primeiro em «renegar» Trotsky, de um modo conforme à duplicidade trotskista, para trabalhar na sombra, quer dizer, para organizar golpes de mão e expedições. As pessoas do P. O. U. M. empregam cada vez mais processos terroristas.

Tendo o jornal Treball desmascarado a agência trots-kista em Espanhá, um grupo de jovens apresentou-se na redacção para dizer que uTreball teria de suportar as mais graves consequências pela sua conduta».

Alguns dias mais tarde foi cometida uma tentativa de assassinato na pessoa de Juan Comorera, secretário do Partido Socialista Unificado da Catalunha, do qual Treball é o órgão central.

Eis o que prova que por todo o lado onde anda a mão criminosa de Trotsky, há apenas mentira, traição e assassinatos.

Janeiro de 1937.

MICHEL KOLTSOV: «Os criminosos trotskistas em Espanha», Corres-pondência internacional, n° 5, 1937..

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PROLETÁRIOS, É A VOSSA CAUSA QUE ESTA EM JOGO!

(Prefácio do Bureau d'Éditions à obra intitulado *Le complot contre la Révolution russe. Les enseignements du Procès de Moscou contre le centre terroriste

trotskiste-zinoviéviste», Paris, 1937.)

A organização de atentados criminosos na União Sovié-tica faz parte da ofensiva fascista mundial que visa a

escravatura dos povos '

São os mesmos criminosos que enviam os assassinos para a Espanha e para a União Soviética. Os bandos trotskistas-zinovie vistas mostram-se os aliados mais íntimos da canalha criminosa fascista de Hitler e de Mussolini. Tanto no processo dos terroristas de Mos-covo como no processo dos terroristas de Novosibirsk provou-se, perante o mundo inteiro, que os bandos ter-roristas trotskistas-zinovievistas trabalhavam de comum acordo com os agentes da Gestapo. Eles revelaram-se como agentes desta. Na Espanha, os trotskistas ten-tam desagregar e esmagar a Frente Popular antifascista, a fim de ajudar os generais fascistas Franco e Mola a conseguir a vitória. É assim que o trotskismo mostra ser o aliado, o auxiliar e o pioneiro da pior reacção e da pior contra-revolução, o cúmplice dos mais mor-tais inimigos da classe operária, do fascismo assBS-sino.

A descoberta do «complot» -trotsquista-zinovievista contra a vida de Staline e dos seus colaboradores mais íntimos suscitou uma indignação indescritível em toda a população da U. R. S. S., assim como entre as massas laboriosas e oprimidas do mundo inteiro. Todos os operários e antifascistas compreenderam que, por meio deites atentados celerados, se queria atingir o coração,

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o que há de melhor, a posição mais forte da pai mun-dial, a democracia, o que há de mais caro e de mais * sagrado ao proletariado revolucionário mundial e a toda a parte avançada e progressiva da humanidade. A estes atentados cobardes e pérfidos dos bandos terroristas trotsquistas, ao assassínio premeditado maquinado pe-los instrumentos do fascismo, só podia ser dada uma resposta, a que foi dada pelo tribunal supremo da U. R. S. S., no cumprimento do seu dever revolucioná-rio: a destruição deste bando de conspiradores pérfidos que tinham mostrado ser os inimigos mortais do prole-tariado revolucionário mundial .

Tanto o processo dos terroristas de Moscovo, como o dos terroristas de Novosibirsk demonstraram a inda a opinião mundial a união absolutamente estreita no ho-micídio entre o fascismo alemão e os bandos terroris-tas trotskistas-zinovíevistas. Se, no processo dos ter-roristas de Moscovo, se descobriu que os atentados dos bandidos ferozes visavam os chefes do primeiro poder operário, em Novosibirsk. provou-se que os assassina-tos em massa visavam os operários de empresas e de minas inteiras da União Soviética. Portanto, não se podia duvidar mais que o fascismo criminoso sedento de sangue se preparava para esmagar o primeiro poder operário e os seus chefes gloriosos, e realizar a cam-panha de destruição que desde há anos pregava. Para o conseguir, recorreu aos únicos meios que lhe resta-vam ainda nas condições actuais das relações de força na U. R. S. S.: os cobardes assassinatos tramados em segredo.

Foi nesta via terrorista que o fascismo hitleriano encontrou os bandidos do bloco Trotsky-Ztnoviev e fez causa comum com estas gentes, rebaixadas ao papel de terroristas assassinos. Tais são os factos averigua-dos, estabelecidos nos documentos judiciais.

Mas, apesar desta aliança desavergonhada dos ban-dos terroristas degenerados de Trotsky e de Zinoviev

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com o fascismo hftlerlano, ainda apareceram advogados e defensores cínicos destes cobardes assassinos e ter-roristas trabalhando contra o primeiro Estado operário. Os chefes mais eminentes da II Internacional e da In-ternacional Sindicade Amesterdão, Fritz Adler, De Brouckère, Citrine, Otto Bauer e outros ainda, queriam conter o gesto de defesa do poder soviético e procura-vam impedir a supressão do bando terrorista contra--revolucionário. Em lugar de vir em ajuda do poder dos Sovietes na sua luta de defesa revolucionária contra o mortal inimigo de todo o proletariado mundial — coisa absolutamente natural para todos os operários e anti-fascistas que amam a Uberdade— os porta-vozes da II Internacional tomam partido por esse pior Inimigo do proletariado mundial e contra a vanguarda revolucioná-ria combatente do proletariado, e contra todos os antifas-cistas. É o segundo facto absolutamente evidente que nós devemos constatar.

A luta contra o principal inimigo do proletariado, do socialismo e da democracia, a luta contra o fascismo, obriga, hoje também, cada operário e cada antifascista, a tomar posição nestas questões. Enquanto se encon-trarem ainda nas suas próprias fileiras traidores à causa da classe operária, aliados do fascismo, agentes do ini-migo de classe, o proletariado não poderá ganhar a luta penosa, plena de sacrifícios, a longa luta que ele tem de conduzir contra o fascismo e a contra-revolução.

A tarefa primordial, a mais importante, a mais ine-lutável do proletariado mundial e de todos os antifascis-tas é consolidar, estender e tornar invencível, à força de firmeza e de coesão interna, a Frente Única do Proletariado e a Frente Popular Antifascista, ganhar 6 mobilizar para a luta comum contra o fascismo todas as camadas ainda hesitantes do povo trabalhador. E isso não' se fará defendendo os inimigos mortais de van-guarda revolucionária como fazem os líderes da II In-ternacional, mas só depurando completamente as fileiras

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do proletariado de todos os inimigos declarados e dis-simulados, de todos os aliados do fascismo conhecidos ou a descobrir.

A palavra de ordem para a classe operária interna-cional nSo é defender o trotskismo contra-revolucio-nário, fazer causa comum com ele. É pelo contrário depurar as fileiras da classe operária dos aliados do fascismo. É isso que constitui hoje a necessidade de hora presente.

COLOCAR SOB A SUA PROTECÇÃO TERRORISTAS MISERÁVEIS, É AJUDAR O FASCISMO

NSo é possível ler, sem experimentar um senti-mento de profunda indignaçãp, o telegrama que os representantes oficiais da Internacional Socialista e da Federação Sindical Internacional, Oe Brouckère, Adler, Citrine e Schevenels dirigiram, a toda a pressa, ao governo soviético, a propósito do Centro terrorista trotskista-zinovievísta.

Estes lideres agiram com o mesmo empenho quando a Internacional Comunista se dirigiu à Internacional Socialista com vista a uma ajuda comum aos mineiros asturianos que lutavam de armas na mão em Outubro de 19347 Apressaram-se eles a responder aos apelos reiterados dos representantes da Internacional Comu-nista convidando-os a agir em comum pela defesa do povo etíope, atacado pelo fascismo italiano? De modo nenhum. Recordamo-nos que, então, eles declararam que se consideravam impotentes para travar conversa-ções sobre esta questão e que era necessário aguardar a convocação do Executivo da Internacional Socialista. Todavia, tratava-se, nessa altura, de uma causa justa e honesta: a defesa dos interesses vitais do proletariado, não só espanhol, como do proletariado internacional, da

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luta contra uma guerra de rapina das mais iníquas, das rnais infames.

Mas, hoje, verifica-se que *eles são plenamente com-petentes para assumir pela sua própria cabeça, sem consultar as suas organizações» a defesa de acusados terroristas que levantaram a sua mão criminosa contra os dirigentes do poder soviético.

Foi sempre assim. Quando o tribunal proletário da U. R. S. S. abateu o seu gládio para castigar os sabo-tadores que misturavam vidro moído aos alimentos dos trabalhadores, envenenavam o gado dos kolkhores, ava-riavam es. máquinas, para castigar os sabotadores-es-piões e os agentes do fascismo que destruíam as vias férreas, preparavam explosões, vemos invariavelmente os líderes reaccionários —Citrine, Adler, etc. — inter-ceder em defesa desta súcia de contra-revolucionários.

Muitas vezes, no passado, quando os organismos da ditadura do proletariado apanharam em -flagrante delito os agentes do fascismo estrangeiro que preparavam atentados contra os chefes do país do socialismo, a simpatia dos líderes reaccionários nâo foi para o lado dos operários e dos kolkhozianos da União Soviética, mas para o lado dos seus cruéis inimigos.

Nenhum líder da Internacional Socialista dirigiu te-legramas de condolências nem ao P. C. da U. R. S, S., nem ao governo soviético quando Kirov, o melhor filho do povo, o combatente tão devotado à causa da liber-tação da classe operária internacional foi traiçoeira-mente morto. Pelo contrário. Também desta vaz, eles se apressaram a tomar a defesa daqueles sobre quem se abatia a cólera do povo. E é tanto mais revoltante ver que, precisamente hoje, quando em torno do povo espanhol que luta heroicamente se forma de facto uma Frente Única internacional de luta contra os generais rebeidas, contra 'o fascismo alemão e italiano, para a defesa da República e da democracia, Citrine e os seus consertas entregam-se a uma manifestação hostil contra

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o país do socialismo, o bastião mais firme e Indes-trutível da liberdade dos povos.

Que podem dizer estes advogados de Trotsky, Zino-vlez, Kamenev, perante factos inegáveis? Não está pro-vado que Trotsky, entronizado no seirtempo pelos líde-res socialistas reaccionários, é o organizador do terror •individual na União Soviética? Está provado. Não está provado que os seus aliados, Kamenev, Zinoviev, etc. prepararem, durante anos, atentados terroristas contra o maior chefe e o organizador das vitórias do socia-lismo, Staline, contra os seus melhores companheiros de lute, os dirigentes do Partido e do poder soviético? Está provado. Não está provado que este bando ter-rorista assassinou Kirov? Está provado. Não está pro-vado que estes vis terroristas agiam em aliança com a Gestapo, quer dizer, com a polícia seoreta do faecismo alemão, o mais cruel Inimigo da classe operária, tor-cionário feroz dos trabalhadores comunistas, socialistas e sem partido? Está provado. Não está provado que os terroristas contra-revolucionários, na sua ilegalidade pestilenta, cultivavam os hábitos dos polícias fascistas que incendiaram o Reichstag, e, mais tarde, extermi-naram os participantes neste ignóbil processo? Está provado. Tudo isso foi provado no tribunal soviético, em sessão pública, na presença de representantes da Imprensa internacional, foi confirmado pelas categóri-cas declarações dos próprios culpados. Encostados à parede pelos factos e pelas provas, eles reconheceram plenamente a justeza das acusações levantadas contra eles e não negaram a sua ligação com o fascismo, tanto no domínio politico como no da organização.

Não é um facto que os acusados, na sua última de-claração, proclamaram um após outro a infâmia dos seus crimes contra a classe operária?

Mas Citrine, Adler, etc., tomaram a sua defesa I Ridículas e lamentáveis são as pretensões destes

líderes que pediam que fossem dadas aos acusados as

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garantias a que eles têm direito. Foram dadas aos acusados todas as possibilidades de se defenderem. Concedeu-se-ihes o direito de escolher os seus defen-sores, de citar testemunhas, de erigir a verificação das provas, etc. Mas eles renunciaram aos defensores, a citar testemunhas, renunciaram a fazer eles próprios a contestação, porque a cadeia dos crimes era demasiado manifesta a estava irrefutavelmente provada. Os seus crimes foram provados perante o mundo inteiro no pro-cesso público, mediante documentos, factos, provas irrefragáveis. Os conspiradores criminosos foram apa-nhados em flayrante delito, de armas na mão, com pas-saportes recebidos dos agentes da Segurança hitleriana, com explosivos.

Os documentos apresentados no tribunal provaram que Trotsky dirigia pessoalmente a actividade dos ter-roristas que ele enviara à U. R. S. S. para assassinar Staline e organizar actos terroristas contra os dirigentes do Estado' Socialista. Neste processo público, a culpa-bilidade dos terroristas trotskistas e zinovievistas foi provada atravás de provas mais que suficientes.

Foi demonstrado com toda a evidência que Trotsky, Zinoviev, Kamenev e todo o seu bando se encontravam do -outro lado da barricada; que se encontravam no mesmo campo dos que lutam contra o povo espanhol, que enviam aeroplanos, espingardas, obuses aos gene-rais rebeldes e efectuam uma intervenção contra-revo-lucionária em Espanha.

Citrine e os seus consortes tentam justificar a sua defesa dos terroristas — dos inimigos do poder sovié-t i c o — invocando a necessidade de manter solidarie-dade ccm s classe operária que luta em Espanha. Eles

«tentam criar a impressão que o processo dos terroristas contra-revolucionários ameaça esta solidariedade pro-letária com o povo espanhol. É uma mentira desca-rada.

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O processo contra os terroristas, agentes do fas-cismo, faz parte integrante da luta antifascista da classe operária internacional. A solidariedade real com o povo espanhol ó incompatível com a defesa dos agentes do fascismo nos outros países. Não seria possível apoiar honestamente o povo espanhol na luta contra o fas-cismo e, ao mesmo tempo, fazer-se o defensor de um bando terrorista na U. R . S . S , de um bando que ajuda o fascismo, Os que, directa ou indirectamente, apoiam os terroristas contra-revolucionários na U. R.S.S. , ser-vem, no fundo, igualmente o fascismo espanhol, con-trariam a luta do povo espanhol e facilitam a sua der-rota.

A intervenção dos líderes da Internacional Socia-lista e da Federação Sindical Internacional conduz a sapar a solidariedade do proletariado internacional com o proletariado da U, R. S. S. Ela dá um golpe no movi-mento de unidade da classe operária mundial. Visa a fazer fracassar a Frente Única dos trabalhadores contra o fascismo em Espanha, na França e nos outros países. A intervenção de Citrina e dos seus consortes é um golpe directo desferido contra a luta heróica do ppvo espanhol, porque se o povo espanhol seguisse os con-selhos ascorosos que os lideres reaccionários se per-mitem dar aos povos da U. R. S. S., a República espa-nhola seria votada à derrota.

Se o povo espanhol tem de suportar tais sacrifícios, é precisamente porque os generais contra-revolucioná-rios Qozaram demasiado tempo de impunidade e porque não foram tomadas a tempo as medidas necessárias contra os fascistas que organizavam secretamente a conspiração contra o povo.

É fora de dúvida que Hitler e Mussolini, os generais Franco e Mola, os fascistas de França e dos outros países, todos os inimigos jurados da unidade da classe operária e da Frente Popular, todos os inimigos da de-mocracia, do socialismo e da União Soviética saudarão

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este acto vergonhoso, porque a intervenção de Citrine--Adler visa aprofundar a cisão nas fileiras do movi-mento operário mundial. Ela faz o jogo da reacção in-ternacional. t

Seria errado tornar responsáveis por esta intervenção todos os partidos e organizações filiadas na internacio-nal Socialista e na Federação Sindical Internacional. é certo que eles não mandataram Citrine e Schevenels, De Brouckère e Adler para assumirem a defesa de Trotsky, Zinoviev, Kamenev que organizavam actos ter-roristas contra os dirigentes do grande país dos Sovie-tes. Eles não os tinham mandatado para defender acusa-dos, aliados ao fascismo alemão e agentes da Gestapo. Não tinham 'encarregado estes líderes de utilizarem o processo do bando terrorista para desencadearem uma nova campanha de calúnias contra a União Soviética e fazerem fracassar a Frente Única contra o fascismo.

Hoje, em conexão com a intervenção vergonhosa de Citrine a dos seus consorte, os milhões de partidários da unidade nas fileiras da Internacional Socialista e da Federação Sindical Internacional são forçados a ripos-tar ainda melhor aos sabotadores da Frente Única. É bem tempo de pôr fim a estas intervenções feitas pretensamente em nome das organizações operárias e que impedem a luta comum contra o inimigo comum.

O exemplo dos condenados degenerados permite a cada um ver como os renegados, pessoas de dupla * face. fazendo malabarismos com frases radicais, no género de Trotsky, desempenham o papel de sabota-dores nas fileiras do movimento operário e executam o trabalha celerado do fascismo. Hoje, mesmo as pes-soas mais míopes são capazes de perceber porque é que Trotsky tem necessidade -de criar uma IV Internacional e a quem é que serve esta súcia ascorosa devindividua-listas pequeno-burgueses. irritados, de arrivistas enfa-tuados, de agentes da Gestapo e de outras polícias.

Saber dar a cada passo provas de uma vigilância

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da classe perspicaz, aprender a distinguir os amigos verdadeiros dos inimigos mascarados, desmascarar os indivíduos de face dupla, agentes do inimigo de classe, expulsá-los a tempo e impiedosamente das fileiras das organizações proletárias, tal é um dos ensinamentos mais importantes que o movimento operário de todos os países deve tirar deste processo.

Nós não duvidamos que todas as organizações da classe operária darão uma merecida resposta às surti-das anti-soviéticas de Citrine e dos seus consortes, reforçarão e desenvolverão o movimento em favor da Frente Única, reunirão milhões de trabalhadores em torno da justa luta do povo espanhol contra os gene-rais rebeldes sustentados pelo fascismo alemão e ita-liano, e agruparão a classe operária contra o fascismo e os seus miseráveis auxiliares, os conspiradores^ trots-kistas.

G. DIMITROV

PORQUE É QUE A II INTERNACIONAL DEFENOE TROTSKY

O socialismo nSo sa arega por ordens vindas do alto. O automatismo burocrático 6 incompatível com a sua essência: o socialismo vivo e criador é obra das pró-prias massas populares', dizia Lenine nos primeiros dias da nossa Revolução Socialista de Outubro.

Em 6 de Maio de 1919, no seu discurso ao 1.® Con-gresso Russo da Instrução Pós-Escolar, Lenine decla-rava:

Se nós nos chamamos Partido dos Comunistas, te-mos de compreender que só agora, que chegámos è vitória sobre os obstáculos de ordem externa e que

• Vladimir I. Lenine. Obra* completas, 1. XXII, p. 45. «d. r.

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destruímos es velhas instituições, é que se põe pela primeira vez, se põe realmente e em toda g $ua ex-tensão a primeira tarefa da verdadeira revolução pro-letária, a saber a organização de dezenas e de centenas de milhões de homensJ. •

Após a morte de Lenine, as massas congregaram-se ainda mais estreitamente em torno do Partido, rLenine morreu, mas a sua obra vive».

Passaram-se anos e nós tivemos possibilidades de ver como, de dia para dia, crescia e se reforçava a organização de dezenas de milhões de trabalhadores, chamados em massas cada vez mais amplas à admi-nistração do país, à edificação do socialismo. O carác-ter social do nosso pais soviético modificou-se intei-ramente; milhares e dezenas de milhares de organiza-dores saíram do seio das massas populares. E como provas eloquentes temos o movimento stakhanovista, as conferências do Inverno passado entre os dirigentes do Partido e do governo e os organizadores do trabalho nos diferentes ramos da produção, kolkhozianos, ope-rários, condutores de ceifeiras-debulhadoras, campo-neses que colhem mais de 500 quintais de beterrabas por hectare, etc. Toda a gente pôde ver como, na base da organização económica, a amizade entre os povos do país dos Sovietes se reforçou e como o nível cultu-ral das massas se elevou. E as inumeráveis massas de trabalhadores vêem como Staline se vota inteiramente e sem reservas à sua causa, à causa de Lenine, à causa da edificação socialista, como ele as conduz para uma vida melhor. Eles vêem-no e têm confiança nele, ro-delam-no da uma confiança e de amor absolutos.

Os trotskistas e os zinovievistas não se preocupa-vam com as massas, não se interessavam por elas; eles

' Vladimir I. Lenins, Obras completa», t. XXIV, pp. 277-278, ed. r,

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pensavam unicamente em se apoderar do poder, mesmo pelo preço de uma aliança com a Gestapo, com os pio-res inimigos da ditadura do proletariado, com os que procuram restabelecer no pais dos Sovietas a ordem burguesa, a exploração capitalista das massas traba-lhadoras.

No fim de 1920, travou-se uma discussão acerca do papel dos sindicatos. E Lenine escrevia sobre a posição de Trotsky:

Ele (Trotsky) caiu nume série de erros ligados à própria essência da questão da ditadura do proletariado, Mas, abstraindo disso, porque é que não temos essa coordenação do trabalho que nos 6 tão necessária? Devido a um desacordo sobre os métodos a adoptar para abordar as massas, para exercer uma influência preponderante sobre as massas, para se ligar com as massas. O essencial está nisso1.

E não foi por acaso qup Trotsky, que nunca com-preendeu o que faz a própria essência da ditadura do proletariado, que nunca compreendeu o papel que de-sempenham as massas na construção socialista e que pensava que o socialismo poderia ser erigido por ordens vindas do alto, se comprometeu na via da organização de atentados terroristas contra Staline, Vorochilov e outro membros do Bureau Político que ajudam as mas-sas a edificar o socialismo. Não foi por acaso que o bloco sem princípios que Zlnoviev e Kamenev tinham formado com Trotsky, os levou, gradualmente, para o abismo profundo da pior das traições à causa de Lenine, à causa das massas trabalhadoras, à causa do so-cialismo. Trotsky, Zinovlev, Kamenev e todo o seu bando de assassinos agiu em colaboração com o fascismo

3 Vladimir I. Lenine, Obra« completa», t. XXVI, p. 66, ed. r. Ver, neste volume, o capitulo «Trotskl e ca Sindicatos».

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alemão, concluiu uma aliança com a Gestapo. Eis a razão porque o pais foi tão unânime a reclamar que estes cães raivosos fossem fuzilados.

Quando leram nos jornais as declarações dos acusa-sados no processo, os operários disseram: «Eles que-riam restaurar a ditadura burguesa; quanto a nós, as massas, tinham-nos esquecido; tê-los-íamos nós deixado chegar alguma vez ao poder?» Efectivamente, eies es-queceram que «socialismo vivo e criador ó obra das próprias massas populares» e colocaram-se nas primei-ras fileiras da burguesia contra-revolucionáría.

Eles queriam lançar a desorganização no seio das massas,, queriam matar o cérebro e o coração da revo-lução, Staline. Não o conseguiram. Este bando miserá-vel, infame, foi fuzilado,

E as massas congregam-se ainda mais estreitamente em redor do C. C., o seu amor por Staline é ainda maior. Elementos sem-partido escrevem-nos dizendo que'se deveria publicar nos jornais de grande tiragem, a título de suplemento, as obras completas de Lenine e de Staline. O grau de consciência, a sede de apren-der aumentam. «Ahl como é magnífica a escola de adultos construída em Puchkino; não nos cansamos de admirá-la I», dizia-me outra dia um velho camarada, dirigente de uma empresa, que, há quarenta anos, fre-quentara os meus cursos de Domingo. Ele também tinha conhecido a prisão. A partir de 1918, organizou na sua aldeia natal um koikhoze de cultura de hortas e recebeu um prémio de «um milhão de rublos» pelo seu trabalho como director de um sovkhoze.

A edificação socialista desenvolve-se, e com ela cres-cem as necessidades culturais das massas. Nós deve-mos satisfazer estas necessidades, reformar as escolas de adultos, alargar a rede destas escolas, a de bibliote-cas, criar casas de cultura, clubes nos kolkhozes, mu-seus. Na etapa actual, devemos sobretudo voltar a nossa atenção para a qualidade do ensino, para a qua-

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Iidade do trabalho das bibliotecas, das salas de leitura, dos clubes e das casas de cultura.

Nós dispomos já de uma rica experiência neste do-mínio. Oepois da Revolução Socialista de Outubro, a iniciativa dos operários manifestou-se grandemente no domínio cultural. E as tentativas que não resultaram porque nem sempre soubemos tomar em atenção as dificuldades e porque tomávamos os nosso «desejos por realidades», mesmo essas tentativas não foram perdi-das, elas deram os seus frutos. Ensinaram-nos a enca-rar melhor o presente, a detestar ainda mais os ves-tígios do passado, tornaram-nos ainda mais conscientes da necessidade de alargar e de aprofundar os nossos conhecimentos e de os saber aplicar à própria vida. Nós vemos que a edificação socialista continpa pro-gredindo sem cessar e que o trabalho prossegue mais intenso, em estreita colaboração.

Não é por um efeito do acaso que a II Internacional vocifera, obstina-se, entroniza o bando de assassinos trotsklstas-zlnovlevistas, procura esmagar a Frente Po-pular. Os Oe Brouckère, os Citrines apoiam todas as vilanias dos inimigos da classe operária da U. R. S. S., do nosso Partido e dos seus chefes. Eles ocupam o pri-meiro lugar entre a matilha dos inimigos do país dos Sovietes que a burguesia congregou.

A .111 Internacional nasceu na luta contra a II Inter-nacional. Com a ajuda do renegado Kautsky e dos seus cúmplices, a II Internacional conduziu uma luta encar-niçada contra a ditadura do proletariado e o poder soviético. A II Internacional quer defender e justificar a ordem capitalista e enganar as massas trabalhadoras. É por Isso que agora ela defende Trotsky, o agenta da Gestapo. Ela não o conseguiu. O nosso país soviético tomou-se um país poderoso que ergue cada ve mais alto o estendeste do comunismo, que avança com um passo firme no caminho traçado por Marx, Engels, Lenine.

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Não será possível calar isto, nem os trotskistas, nem as zinovievistas, nem as pessoas da II Interna-cional conseguirão enganar os trabalhadores.

A atmosfera tensa que reina na frente internacional, o perigo da guerra que se avizinha, tornam os traba-lhadores ainda mais clarividentes. A Frente Popular dos Trabalhadores crescerá e prosperará no mundo inteiro.

N. KRUPSKAIA

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Ill PARTE —O MOVIMENTO REVOLUCIONA RIO ACTUAL E O TROTSKISMO

O Movimento revolucionário actual e ( trotskismo (Rruga e Partisê)

O texto que segue é um resumo publicado pela ATA (Agência Telegréiica Albanesa) em 7 de Agosto de 1972, dum artigo aparecido na revista «Rruga e Par-tíse», órgão teórico do Comité Central do Partido do Trabalho de Albânia.

O desenvolvimento do movimento revolucionário da classe operária na época actual, como foi posto em evidência no VI Congresso' do Partido do Trabalho

•de Albânia, exige uma luta consequente tanto contra o oportunismo de direita dos revisionistas modernos, e isso á o mais importante, como contra as correntes e as predicações «esquerdistas», sobretudo contra a actividade perigosa do trotskismo que se reavivou na âpoca actual, desde os anos 60. No seu relatório ao VI Congresso do-P. T. A,, o camarada Enver Hoxha disse: «Assiste-se actualmente a um recrudescimento sem precedentes de diversas correntes antimarxistas como as dos trotskistas e dos anarquistas, que, infil-trando-se nos diversos movimentos de massa, sobretudo dos jovens e dos intelectuais, tentam pescar em águas turvas, a fim de desviar as massas da justa via e de as comprometer em perigosas aventuras que conduzem a graves derrotas e desilusões.»

Depois de ter referido as causas do reavivamento do trotskismo, a revista faz ressaltar alguns traços característicos essenciais do trotskismo actual.

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Do ponto da vista filosófico-rrretodológico, sublinha a revista, o trotskismo actual, pelo mesmo motivo que o que o precedeu, caracteriza-se pelo subjectivismo vo-luntarista que consiste em não tomar em consideração as condições objectivas que condicionam o desenvolvi-mento do movimento revolucionário à escala nacional e internacional, o carácter e as forças motrizes da revolução nas suas diferentes etapas. As concepções trotskistas são Igualmente o ecletismo e o pragma-tismo, a falta de princípios constantes, o apoio em posições de facto contrárias, a passagem de um extremo ao outro, a fusão com as diversas correntes em nome de benefícios de ocasião, etc., que são outras tantqs características das ideias trotskistas.

Do ponto de vista politico e ideológico, o trotskismo actual caracteriza-se antes de tudo pela hostilidade face ao marxismo-leninismo revolucionário. É um traço geral do antigo e do novo trotskismo. Anteriormente, manifestou-se pela atitude hostil de° Trotsky face a Le-nine e ao leninismo. Mais tarde, encontrou a sua expres-são nas atitudes hostis de Trotsky e dos trotskistas face a Staline, às suas Ideias, à sua obra e à sua direcção. Na época actuai, a hostilidade do trotskismo em rela-ção ao marxismo-leninismo traduz-se pelo facto que os trotskistas se esforçam por desviar a atenção do mo-vimento revolucionário da luta contra o revisionismo moderno • e procuram conduzi-lo para as posições do anti-stalinismo. Os trotskistas apresentam sob uma pers-pectiva falsa a linha revolucionária marxista-leninista de Staline, qualificando-a de oportunismo de direita. E enquanto passam quase em silêncio a luta contra o revisionismo, apontam as suas baterias sobre Staline e o «stalinismo». Atacam igualmente Mao Tsó-tung e as suas ideias, o Partido Comunista da China e a Revo-lução Chinesa. Ao mesmo tempo, os trotskistas con-ciliam-se completamente com os revisionistas modernos nas atitudes principais. Com os revisionistas modernos,

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atacam Staline a o Partido Comunista da China, e dflo o sõu apoio ôs variantes de diversas correntes do revi-sionismo.

A cisão do movimento revolucionário da classe ope-rária constitui um dos objectivos e um dos traços mais características do trotskismo actual, sublinha a revista.

As oscilações sem principio «à escjuerda», e à direita, a união tanto com oportunistas de direita, como com os elementos mais extremistas e os aventureiros «es-querdistas», eis mais um traço característico das con-cepções e das atitudes dos trotskistas.

O principal traço político característico do trots-kismo actual, sublinha o artigo, ó, como no passado, o facto que elã faz a revolução em palavra e que sapa e sabota o movimento revolucionário na prática.

Indicando como os trotskistas sapam o movimento revolucionário da classe operária na época actual, a revista escreve que, pelas suas predicações e peles suas atitudes, os trotskistas desintegram e dividem as forças motrizes do processo revolucionário actual. Nos países coloniais e semicoloníais, onde a classe operária constitui ainda uma classe relativamente limitada e onde por consequência o campesinato representa a maioria da população, a força numericamente maior da revo-lução, eles negam a revolução por etapas, negam de facto as possibilidades revolucionárias do campesinato, e através de «slogans» ultra-esquerdistas, afastam-no da classe operária, assim como doutras camadas inter-médias. Enquanto que, nos pafses capitalistas desen-volvidos, em que a classe operária constitui a força prin-cipal de cada verdadeiro movimento revolucionário, os trotskistas actuais propagam obstinadamente o ponto de vista que nestes países as forças motrizes de revo-

* lução são presentemente os jovens intelectuais, e os es-tudantes. Testemunha claramente o facto que a corrente trotskista se propagou sobretudo entre a juventude estudantil, enquanto que entre os operários a sua in-

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•fluência é absolutamente limitada. Nesta questão, por-tanto, a posição dos trotskistas aproxima-se da dos ideólogos burgueses do tipo Marcuse ou dos revisio-nistas extremistas de direita, de Fischer e de outros. Mas sabe-se muito bem que, por muito desenvolvido que possa ser o movimento estudantil, ele não pode desempenhar um papel positivo efectivo na luta pelo dermbamento do capitalismo, a não ser que se una ao movimento revolucionário da classe operária e se ponha sob a direcção do proletariado e do partido proletário marxlstajleninista.

Mais adiante, o artigo sublinha que a hostilidade dos trotskistas antigos e novos em ralação ao movimento revolucionário da classe operária se mosira claramente pela sua atitude face ao problema do partido do pro-letariado. O ponto de vista trotskista najta questão pode ser resumido desta marreira:

1.®—Segundo os trotskistas, a existência e a di-recção do partido marxista-lèninista do proletariado não ó absolutamente indispensável na luta pelo derruba-mento da burguesia e peio triunfo do socialismo.

é multo claro que nesta questão não há diferenças essenciais entre o ponto de vista trotskista e o que pregam os revisionistas modernos, jugos'!avos, italianos e outros. Sabe-se que tais predicações têm por fim deixar a ciasse operária sem uma verdadeira direcção revolucionária e servem somente para sapar a revolução e deixar a classe operária sob a escravatura capita-lista.

2°—Os trotskistas erguem-se contra a direcção indivisível do partido marxista-lèninista do proletariado após a tomada do poder pela classe operária e, para-lelamente aos ideólogos diversos, burgueses e revisio-nistas de direita, preconizam o sistema de múltiplos partidos no socialismo.

3.?—Pregando a revolução »mundial» e subesti-mando o papel do factor interno, nacional, no desen-

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volvimento do movimento revolucionário, os trotskistas subestimam mesmo o papel do partido do proletariado à escala nacional e falam do carácter Indispensável de um «partido mundial».

4." •— Os trotskistas, ainda que em palavras se pre-tendam os herdeiros consequentes, ou até mesmo os únicos herdeiros de Lenine, erguem-se de facto contra os princípios leninistas da vida interior do partido do proletariado.

A propósito dos pontos de vista dos trotskistas sobre todas as questões anteriormente citadas, o artigo Cita P. FRANK, D. AVENAS, A. BROSSAT, K. MAVRA-KIS, MANOEL, etc... e desmascara e rejeita os seus pontos' de vista '.

Os factos, escreve mais adiante a revista, estão aí para provar que o trotskismo actual é o Inimigo jurado do movimento revolucionário da classe operária e dos povos, e uma perigosa arma nas. mãos da burguesia e do imperialismo a fim de semeai a confusão e a dívisáo neste movimento, e sapá-io. Por conseguinte, a luta com vista a desmascarar e a destruir a corrente trotskista é, nas condições actuais, uma necessidade indispensável para desenvolver corn sucesso o movi-mento revolucionário da classe operária, e uma tarefe actual de todos os marxistas-taninistas.

0 esmagamento da corrente trotskista é indivisível da luta dos partidos marxistas-lenmistas contra o revi-sionismo moderno, o revisionismo soviético em primeiro lugar, a fim de pôr um termo à desintegração e à con- , fusão que ele causou no movimento revolucionário actual, que criou es próprias condições do reaviva-mento do trotskismo, a fim de fazer compreender aos

' D. AVENAS o A. BROSSAT, D* 1'anlHrotiklsiM, Editions MAS-PÉRO. 1971. P. FRANK, La I V Hitern»ttai»le, Editions MASPÉRO, 1969. E. MANOEL, Anthologie du contrôle ouvrier. Editions MAS-PÉRO. 1970. K. MAVRAKIS, Ou i rrUkl tme, Editions MASPÉRO 1971.

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trabalhadores e aos povos o fosso profundo que separa os revisionistas do marxismo-leninismo e do verdadeiro socialismo, para tirar ao trotskismo a possibilidade de especular.

Mas a condição determinante para conduzir com sucesso a luta contra o trotskismo é o desenvolvi-mento do próprio movimento marxista-leninista, a ela-boração em cada pais por este movimento de um ver-dadeiro programa de luta revolucionária, a extensão e o aprofundamento dos partidos marxistas-leninistas nas massas, a fim de lhes dar uma orientação clara e de libertar dos elementos trotskistas os elementos re-volucionários sinceros desorientados pelo trotskismo.

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I N D I C E

/ PARTE — TROTSKY E O TROTSKISMO — — TEXTOS E DOCUMENTOS

NOTA DA EDIÇÃO FRANCESA

SOBRE A CONCEPÇÃO DO PARTIDO DO PRO-LETARIADO-

A discussão dos Estatutos do Partido no II Congresso do P. O. S. D. R., Londres, 1903

«

Os Estatutos e o oportunismo (V. I. Lenine)

SOBRE O CARACTER DA REVOLUÇÃO RUSSA A teoria da «revolução permanente». A ati-

tude face ao campesinato. A vitória do socialismo num só país

Três erros de Trotsky (V. I. Lenine) Duas vias da revolução (V. I. Lenine) A teoria da «revolução permanente» e o

leninismo (J. Staline)

TROTSKY, LIQUIDADOR DO PARTIDO DO PRO-LETARIADO

A sua actividade fraccionista. A sua luta contra 'Lenine e os bolcheviques

A crise da unificação do nosso Partido (V. I. Lenine)

A política de aventuras e de cisões de Trotsky (V. I. Lenine)

Sentido histórico da luta no interior do Partido (V. I. Lenine)

Extracto de uma resolução do 2 ° grupo parisiense do Partido Social-Democrata Russo (V. I. Lenine)

A todas as organizações, grupos, círculos do Partido Social-Democrata (V. I. Lenine)

Nota da redacção sobre a correspondência de São Petersburgo (V. I. Lenine)

A nova fracção dos conciliadores ou os vir-tuosos (V. I. Lenine)

A diplomacia de Trotsky e a plataforma dos partiitsi (V. I. Lenine)

Os liquidadores contra o Partido IV. I. Le-nine)

A desagregação do bloco de Agosto (V. I. Lenine) .*..

A violação da unidade aos gritos de «Viva a unidade» (V. I. Lenine)

TROTSKY E A GUERRA

O kautskismo (V. I. Lenine) Sobre o derrotismo durante a guerra impe-

rialista (V. I. Lenine) Os objectivos da oposição em França

(V. I. Lenine)

A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO A crise está madura (V. I. Lenine)

' Contra o retardamento (V. I. Lenine)

A PAZ DE BREST-LITOVSK

A falsa táctica de Trotsky (V. I. Lenine) ...

TROTSKY E OS SINDICATOS Sobre os sindicatos, o momento presente

e os erros do camarada Trotsky (V. I. Le-nine)

TROTSKY E 0 LENINISMO

Carta a Tchkeidzó (L. Trotsky) Carta a M. Olminski (L. Trotsky)

190

A OPOSIÇÃO TROTSKY-ZINOVIEV

As divergências fundamentais entre o Par-tido e a oposição fJ. Staline)

As razões da exclusão d6 Trotsky do Par-tido (J. Staline)

A actividade contra-revolocionária da opo-sição (J. Staline) ?

A essência do trotskismo (J. Staline) ... O que é o trotskismo fJ. Staline) O que os trotskistas preparam aos operá-

rios (Pravda) O trotskismo actual (J. Staline)

O TROTSKISMO E A ESPANHA

A actividade dos trotskistas em Espanha (I. Falcon)

Os trotskistas em Espanha (M. Koltsov)

II PARTE — OS ENSINAMENTOS DO PRO-CESSO DE MOSCOVO— 1936

Proletários, é a vossa causa que está em jogo!

Colocar sob a sua protecção terroristas mi-seráveis, é ajudar o fascismo (G. Dimi-trov)

Porque é que a II Internacional defende Trotsky (N. Krupskaia)

III PARTE — O MOVIMENTO REVOLUCIONÁ-RIO ACTUAL E O TROTSKISMO

O Movimento revolucionário actual e o trotskismo (Rruga e Partisé)

Este livro acabou de se imprimir

cm Maio de 1975 na

Sociedade Comercial de Papelarias Rabelo da Bei ra D o u r o , L i m i t a d a

para as Edições Maria da Fonte

Lisboa (3 000 ex.,

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