32
Revista CTS, nº 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pág. 105-136) 105 O Discurso do Sistema Integrado: um estudo de caso The Discourse of Integrated Systems: A case study Rodney F. de Carvalho* Investigamos, a partir de um recorte temporal que vai de 1969 até o início de 2004, a evolução dos conceitos de Sistemas Integrados de Gestão e de Gerência Integrada de Rede na Embratel, então a operadora brasileira de telecomunicações internacionais e de longa distância. Através de entrevistas com pessoas envolvidas nos projetos e influentes na evolução dos discursos da Integração de Sistemas, dos Sistemas Distribuídos e das Arquiteturas Padronizadas, e na produção de artefatos de TI conformes a esta visão que, como veremos, também se transforma ao longo do tempo, na medida em que avanços tecnológicos tornam possível sua realização, procuramos analisar a importância do discurso e de alguns conceitos de CTS na criação de sistemas informatizados e sua relação com a evolução da TI no país. É importante observarmos que a Embratel de que tratamos aqui não guarda relação com a empresa que existe hoje, cujo controle acionário pertence à Telmex. São outras pessoas, outras estruturas organizacionais, outros valores e outras metas. Palavras-chave: Infraestrutura, integração, sistemas, telecomunicações This article investigates, from 1969 until the beginning of 2004, the evolution of the concepts of Integrated Management Systems and Integrated Network Management at Embratel, then Brazil’s long distance and international telephone and data operator and carrier. Through interviews with people involved and influential in the evolution of the discourses of Systems of Integration, Distributed Systems and Standardized Architectures, and in the production of IT artifacts aligned with this vision that, as we will see, is also transformed throughout the period, as the technological advances made feasible its accomplishment, we try to analyze the importance of the discourse and some key CTS concepts in the creation of IT systems and its relation with the evolution of IT in Brazil. It is important to observe that the Embratel object of our study does not keep any relation with the company that exists today, whose shareholding control belongs to Telmex. Now it’s formed by other people, other organizational structures, other values and other goals. Key words: Infrastructure, integration, systems, telecommunications * Analista do Serviço Federal de Processamento de Dados - Serpro; Núcleo de Estudos de Estudos de Ciência & Tecnologia & Sociedade - NECSO; Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected].

O Discurso do Sistema Integrado

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Investigamos, a partir de um recorte temporal que vai de 1969 até o início de 2004, a evolução dos conceitos de Sistemas Integrados de Gestão e de Gerência Integrada de Rede na Embratel, então a operadora brasileira de telecomunicações internacionais e de longa distância. Através de entrevistas com pessoas envolvidas nos projetos e influentes na evolução dos discursos da Integração de Sistemas, dos Sistemas Distribuídos e das Arquiteturas Padronizadas, e na produção de artefatos de TI conformes a esta visão que, como veremos, também se transforma ao longo do tempo, na medida em que avanços tecnológicos tornam possível sua realização, procuramos analisar a importância do discurso e de alguns conceitos de CTS na criação de sistemas informatizados e sua relação com a evolução da TI no país. É importante observarmos que a Embratel de que tratamos aqui não guarda relação com a empresa que existe hoje, cujo controle acionário pertence à Telmex. São outras pessoas, outras estruturas organizacionais, outros valores e outras metas.

Citation preview

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    105

    O Discurso do Sistema Integrado: um estudo de casoThe Discourse of Integrated Systems: A case study

    Rodney F. de Carvalho*

    Investigamos, a partir de um recorte temporal que vai de 1969 at o incio de 2004, aevoluo dos conceitos de Sistemas Integrados de Gesto e de Gerncia Integrada deRede na Embratel, ento a operadora brasileira de telecomunicaes internacionais ede longa distncia. Atravs de entrevistas com pessoas envolvidas nos projetos einfluentes na evoluo dos discursos da Integrao de Sistemas, dos SistemasDistribudos e das Arquiteturas Padronizadas, e na produo de artefatos de TIconformes a esta viso que, como veremos, tambm se transforma ao longo do tempo,na medida em que avanos tecnolgicos tornam possvel sua realizao, procuramosanalisar a importncia do discurso e de alguns conceitos de CTS na criao de sistemasinformatizados e sua relao com a evoluo da TI no pas. importante observarmosque a Embratel de que tratamos aqui no guarda relao com a empresa que existehoje, cujo controle acionrio pertence Telmex. So outras pessoas, outras estruturasorganizacionais, outros valores e outras metas.

    Palavras-chave: Infraestrutura, integrao, sistemas, telecomunicaes

    This article investigates, from 1969 until the beginning of 2004, the evolution of theconcepts of Integrated Management Systems and Integrated Network Management atEmbratel, then Brazils long distance and international telephone and data operator andcarrier. Through interviews with people involved and influential in the evolution of thediscourses of Systems of Integration, Distributed Systems and StandardizedArchitectures, and in the production of IT artifacts aligned with this vision that, as we willsee, is also transformed throughout the period, as the technological advances madefeasible its accomplishment, we try to analyze the importance of the discourse and somekey CTS concepts in the creation of IT systems and its relation with the evolution of IT inBrazil. It is important to observe that the Embratel object of our study does not keep anyrelation with the company that exists today, whose shareholding control belongs toTelmex. Now its formed by other people, other organizational structures, other valuesand other goals.

    Key words: Infrastructure, integration, systems, telecommunications

    * Analista do Servio Federal de Processamento de Dados - Serpro; Ncleo de Estudos de Estudos de Cincia& Tecnologia & Sociedade - NECSO; Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected].

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    106

    1. Sistemas

    A partir da Segunda Guerra e no desenrolar da Guerra Fria, a cincia evoluiu dosconceitos clssicos de sistemas fechados para a noo de sistemas abertos,dinmicos, em equilbrio homeosttico, imersos em um meio ambiente,consubstanciada na Teoria Geral dos Sistemas (TGS) de Ludwig von Bertalanffy, quepublicou centenas de artigos sobre o tema entre as dcadas de 1930 a 1960.

    A Anlise de Sistemas, segundo Paul Edwards (1995), surgiu na Rand Corporation,ao final dos anos 1940, como uma evoluo da Pesquisa Operacional amplamenteutilizada na Segunda Guerra.

    Paralelamente nascem os computadores digitais e analgicos, os primeiros comograndes calculadoras, evoluindo para mquinas de propsito geral, e os ltimos comosimuladores, controladores e servomecanismos, aptos tambm a clculos.

    Ainda, ao mesmo tempo desenvolvem-se, ainda segundo Edwards (op. cit.) odiscurso do Mundo Fechado e a metfora do Ciborgue, influenciando (e sendoinfluenciados por) a poltica, a economia, a psicologia e a sociedade. A estratgiamilitar desenvolve o conceito do processo unificado C3I - Comando, Controle,Comunicaes e Informao, com seus respectivos grandes Centros de Controle,que estamos acostumados a ver no cinema como os da NASA e do NORAD. Oprecursor destes centros, o sistema SAGE, tambm um marco na histria dodesenvolvimento dos computadores e dos sistemas on-line. O livro de Paul Edwards(op. cit.) nos conta esta histria em detalhes, at o incio do Governo Reagan, comum eplogo que atualiza os fatos at 1994. Numa traduo livre:

    Como metforas, tais sistemas constituam um domo tecnolgicode superviso global, um mundo fechado, no qual cada evento interpretado como parte de uma luta titnica entre assuperpotncias. Inaugurado com a Doutrina Truman deconteno, elaborado em teorias de estratgia nuclear pela RandCorporation, teve sua prova de fogo nas florestas do Vietn, eressuscitou no escudo de paz impenetrvel da Strategic DefenseInitiative de Ronald Reagan, o tema-chave do discurso closed-world era a vigilncia e controle global atravs do poder militar dealta tecnologia. Computadores faziam o mundo fechado funcionar,simultaneamente, como tecnologia, como sistema poltico, e comomiragem ideolgica...O discurso Cyborg, construindo tanto as mentes humanas como asinteligncias artificiais como mquinas de informao, contribuiupara a integrao das pessoas em sistemas tecnolgicoscomplexos.

    Todo este aparato sociotcnico, a partir dos anos 1970, com a ubiquao doscomputadores digitais, fez a viagem de volta para o meio industrial e empresarial,levando atual conformao das empresas contemporneas - globais, estruturadasem redes celulares. evidente a dificuldade das cincias como a Economia, daInformtica e da Cincia da Administrao em lidarem com esta transformao, com

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    107

    Rodney F. de Carvalho

    suas abordagens especializadas. Proliferam discursos e metforas como SistemasIntegrados, ERP, BI, CRM, Data Warehouse e metodologias e tcnicas de Anlise eDesenvolvimento de Sistemas de Informao, s vezes dando a impresso desimples modismos, mas sempre apresentadas como panacias.1

    A Teoria Ator-Rede (TAR) e a Anlise Construtivista da Tecnologia (ACT) permitemquestionar a estabilidade e a permeabilidade das membranas com as quais a TGSreveste seus artefatos, permitindo assim trat-los, quando conveniente, como caixas-pretas.2 Sempre provisrio, como Bruno Latour no se cansa de repetir. Haveriauma maneira prtica de lidar com esta imensa complexidade? Etnografar preciso.

    Investigamos, a partir de um recorte temporal que vai de 1969 at o incio de 2004,a evoluo dos conceitos de Sistemas Integrados de Gesto e de Gerncia Integradade Rede na Embratel, uma grande empresa de telecomunicaes brasileira, atravsde entrevistas com pessoas que estiveram envolvidas e que exerceram influncia naevoluo dos discursos da Integrao de Sistemas, dos Sistemas Distribudos e dasArquiteturas Padronizadas, e na conseqente produo de artefatos de TI conformesa esta viso que, como veremos, tambm se transforma ao longo do tempo, namedida em que avanos tecnolgicos tornam possvel sua realizao.

    importante observarmos que a Embratel de que tratamos aqui no guarda relaocom a empresa que existe hoje, cujo controle acionrio foi transferido para a Telmex.So outras pessoas, outras estruturas organizacionais, outros valores e outras metas.

    2. Metodologia

    Paul Edwards (1995) desenvolve em seu livro uma historiografia da construo doscomputadores e dos sistemas militares traando um paralelo com o recurso literriodomundo fechado (op. cit.: 12-13), onde a ao se d num espao de contornos bemdefinidos, como um castelo ou uma cidade murada.3 Para tanto, ele desenvolve osconceitos de discurso (op. cit.: prefcio) e de metfora (op. cit.: cap. 5), os quaisdirecionam e justificam o desenvolvimento tecnolgico, levando construo decomplexos artefatos sociotcnicos - no caso, os sistemas estadunidenses dedefesa.

    Traduzimos a definio de Discurso de Edwards: ... no uma entidade, mas umaconstruo analtica refere-se a um conjunto de elementos heterogneos fracamenteinterligados em torno de suportes materiais, neste caso, o computador. Discursos,

    1. Siglas utilizadas para tipos de sistemas de informao corporativos: ERP - Enterprise Resources Planning(Planejamento de Recursos Empresariais); BI - Business Intelligence (Inteligncia de Negcios); CRM -Customer Relationship Management (Gerenciamento das Relaes com os Clientes).2. Ver, a respeito, John Law (1992), NECSO (2003).3. Paul Edwards adapta o conceito do Mundo Fechado a partir da obra do crtico literrio Sherman Hawkins,que por sua vez o utiliza para definir um dos principais espaos dramticos na obra de Shakespeare. Seuoposto seria o Mundo Verde, aberto, incontrolvel.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    108

    para nosso uso, incluem tcnicas, tecnologias, metforas e experincias, assim comolinguagem.

    Edwards cita o trabalho do conjunto do lingista George Lakoff e do filsofo MarkJohnson, desenvolvendo a viso de que a linguagem e o pensamento soestruturados pelas metforas. Eles mostram que, longe de ser um fenmeno literrioou ocasional, as metforas so ubquas na linguagem humana. Mais ainda, elasformam sistemas coerentes que refletem a coerncia de certos aspectos daexperincia. Ao mesmo tempo, a elaborao de esquemas metafricos coerentes e odesenvolvimento de correspondncias entre esquemas podem estruturar a prpriaexperincia. Ainda, segundo Edwards, uma caracterstica nica da teoria de Lakoff eJohnson que eles no figuram a estrutura conceitual como uma representaoreflexiva da realidade exterior, vendo os conceitos como sendo estruturados pela vidahumana e pela ao, especialmente pelo corpo humano em sua interao com omundo. A profunda imbricao das metforas na estrutura cognitiva individual ecoletiva um interessante indcio do poder do discurso na evoluo dos artefatossociotcnicos, ponto importante da obra de Edwards que pretendemos evidenciar nonosso estudo.

    Procurando articular a viagem de volta destas tecnologias para o ambienteempresarial e para um outro espao - o Brasil da segunda metade do sculo XX e,dentro dele, a Embratel - devemos considerar a amplitude do conceito do discurso,que envolve a formao de polticas nacionais visando uma ao global. No planoempresarial da construo de artefatos tecnolgicos, o discurso j no se apresentato aberto como em sua fase inicial de construo: ele apresenta-se obdurado efortalecido pela construo de artefatos tecnolgicos paradigmticos no primeiromundo, e tendo j recrutado uma legio de aliados dentre os fornecedores queparticiparam da construo daqueles. Ele transforma-se num modelo ideal quedireciona os esforos organizacionais no sentido de construir sistemas, que envolvemprocessos e estruturas empresariais, diviso do trabalho, sistemas de informao,redes de computadores, enfim toda a parafernlia que poderamos chamar,conjuntamente com as pessoas envolvidas, de empresa ou mais genericamente, deempreendimento.

    Em nosso cenrio, o discurso se faz acompanhar do exemplo de sistemasavanados j existentes no primeiro mundo para orientar o desenvolvimento deverses locais - portanto, uma construo que, em princpio, factvel, porm nose sabe se vivel ou mesmo se adequada para as condies locais.

    Outro ponto que o discurso um alvo mvel, na medida em que aponta para osdesenvolvimentos de ponta da tecnologia, em permanente evoluo. Assim sendo, sabidamente, para os atores envolvidos, algo que ser perseguido sem seralcanado.

    No obstante, o discurso encontrar discordantes, no necessariamente porconservadorismo ou por descrena nas metas propostas, mas freqentemente - maisfreqentemente do que se pensa - por ativa oposio s mesmas. Longe de ser um

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    109

    Rodney F. de Carvalho

    feixe harmnico de interesses congruentes, a grande empresa palco de disputaspolticas e lutas pelo poder, em meio s quais a tecnologia tenta avanar, perseguindoseus discursos.

    Cremos que o traar historiogrfico da evoluo dos sistemas de informao daEmbratel ao longo dos ltimos 30 anos trar alguma luz ao entendimento dosprocessos de inovao tecnolgica, de internalizao de novas tecnologias e deengenharia de sistemas.

    O discurso do Sistema Integrado, por ns utilizado neste caso, envolve a idia deum sistema que trata de forma conjunta e uniforme todas as informaes necessrias empresa (ou a uma determinada unidade de negcios). Engloba, portanto todas asmelhores prticas de Anlise de Sistemas de informao, como por exemplo, adoutrina de tratamento de informaes que embasa a construo de bancos dedados, as doutrinas de reutilizao, herana, encapsulamento etc., que embasam aorientao a objetos. Estas metodologias evoluem ao longo do perodo considerado.Paralelamente, temos a evoluo de outro discurso, razoavelmente independente,que o do Sistema Distribudo, que envolve a plataforma computacional da empresa.A partir dos anos 1990 ambos se fundem no atual conceito de sistemas corporativostipo ERP.

    Para traar a historiografia, inicialmente organizamos dois captulos introdutrios: oprimeiro traa a influncia dos militares na poltica desenvolvimentista do Brasil dasegunda metade do sculo XX. O segundo foi elaborado a partir da histria oficialda Embratel, disponvel em sua pgina na Internet, traando um paralelo com algunsfatores polticos relevantes da histria brasileira. Este captulo (4) permite articular osprojetos tecnolgicos internos que compem nossa historiografia com as principaisrealizaes da empresa. Estes captulos so dispensveis para os leitores queconheam essas histrias.

    Em seguida, valemo-nos do fato do autor ter trabalhado por 12 anos na empresa,de modo que conhece os principais acontecimentos e as pessoas-chave envolvidas,sendo que grande a maioria no trabalha mais l. As entrevistas foram conduzidaspor telefone. Inicialmente pedimos para as pessoas narrarem os acontecimentossegundo seus pontos de vista. Em seguida procuramos organiz-los em ordemcronolgica, na forma de vrias histrias referentes a diversos projetos tcnicos quese entrelaam. Pesquisamos tambm diversos detalhes na bibliografia,principalmente no livro de Vera Dantas (1988) e na tese de Rosa Maria Leal (2001),e tambm buscamos na Internet notcias, currculos Lattes e diversos fatos.

    Com a cronologia assim organizada, voltamos a uma nova rodada de entrevistaspor telefone, buscando confirmar e esclarecer detalhes. Muitos dos entrevistadospossuem documentao dos projetos em que participaram em seus arquivospessoais. Finalmente articulamos e comentamos tudo, delineando as concluses.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    110

    3. A influncia militar

    Edwards (1995) mostra a ntima associao entre as necessidades militaresestadunidenses, inicialmente pelo esforo da Segunda Grande Guerra, passandopela Guerra Fria, atravs duma estratgia genrica de adquirir superioridade militaratravs do avano tecnolgico, e o financiamento dos esforos de Pesquisa &Desenvolvimento (P&D) nas grandes universidades e na indstria americana.Embora numa escala financeira muito menor, o Brasil no foge a esta estratgia, mascom um foco bastante diferente quanto implementao, mesmo porque omilitarismo norte-americano, principalmente a partir da Segunda Guerra, serviu deinspirao e treinou nossas foras armadas.

    O pano de fundo de boa parte dos acontecimentos aqui narrados articula-se com ocenrio poltico que levou reserva de mercado para informtica, que uniutemporariamente, sob a bandeira da independncia tecnolgica, jovens cientistas eprofissionais de tecnologia, libertrios e de esquerda, e militares conservadores,ligados ditadura de direita. Este cenrio brilhantemente relatado no livro dajornalista Vera Dantas (1988). Um primeiro ponto que pretendemos mostrar como odiscurso do sistema integrado atuou, no interior de uma grande empresa, de formacomplementar ao plano da poltica nacional, incentivando e desenvolvendo a indstrianacional. Para quem ler o livro de Dantas, cremos que ficar claro que sem esteinstrumento - a empresa estatal - dificilmente estes desenvolvimentos teriam serealizado, dado o imediatismo da empresa nacional e das filiais de empresastransnacionais em adquirir pacotes tecnolgicos prt--porter.

    A estrutura do Estado brasileiro herda, de Portugal, uma tradio europia. Tem umcarter mais estatizante e de interveno direta nos assuntos de interesse do Estadoque difere da cultura estadunidense, privatizante, que remonta ao sculo 17, nostempos dos corsrios: tanto o Parlamento Imperial Ingls (1777) quanto aConstituio dos Estados Unidos da Amrica (Act 1 sec. 8) autorizavam osrespectivos parlamentos, em tempos de guerra, a emitir as Letters of marque andreprisal, autorizando empreendedores privados - Privateers - a armar navios visandosaquear navios inimigos, com a finalidade de lucro.4

    Em todo o mundo a Aeronutica, pelas semelhanas entre a navegao area e amartima, descende da Marinha, e dela herda muitas prticas e tradies.

    No governo brasileiro, a Marinha no apenas cuida da administrao da defesanaval, mas tambm das capitanias dos portos, mesmo fluviais, da Guarda Costeira ede assuntos martimos em geral. A criao da ANTAQ mudou um pouco a situao noque se refere a transportes.5 Nos EUA, a administrao martima - MARAD, assim

    4. Esta prtica foi banida internacionalmente pela Declarao de Paris, de 1856, da qual os EUA no foramsignatrios.5. Lei 10.233 de 05/06/2001 criou a Agncia Nacional dos Transportes Aquavirios, ligada ao Ministrio dosTransportes.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    111

    Rodney F. de Carvalho

    como a aeronutica - FAA, so ligadas Secretaria dos Transportes. Da mesmaforma a Aeronutica, alm da Fora Area Brasileira englobavao DAC -Departamento de Aviao Civil, a INFRAERO - Empresa Brasileira de InfraestruturaAeroporturia, e diversas instituies prprias de ensino e de P&D, dentre as quaisdestaca-se o ITA - Instituto Tecnolgico da Aeronutica.6

    O Curso de Engenharia Aeronutica iniciou-se em 1947 nas instalaes da EscolaTcnica do Exrcito, hoje Instituto Militar de Engenharia - IME, no Rio de Janeiro. Emjaneiro de 1950, o ITA foi instalado no CTA - Centro Tecnolgico da Aeronutica, emSo Jos dos Campos, So Paulo. O ITA implantou os cursos de EngenhariaEletrnica em 1951, de Engenharia Mecnica em 1962 (transformado em EngenhariaMecnica Aeronutica em 1975), de Engenharia de Infra-Estrutura Aeronutica em1975 e de Engenharia de Computao em 1989. Em 1961, foram iniciados os cursosde ps-graduao, que marcaram a implantao, no Brasil, da ps-graduao emEngenharia.

    Assim, embora, no Brasil, seja relativamente pequena a influncia dos objetivosmilitares no direcionamento de projetos de P&D em Cincia & Tecnologia, que nosEUA se d, como mostra Edwards, atravs do direcionamento de verbas de pesquisae encomendas diretas s universidades e empresas privadas, atravs de agnciascomo a DARPA e a NASA, essa influncia manifestou-se atravs das instituiesprprias de P&D das foras armadas e, por um longo perodo, atravs da intervenopoltica direta no governo e em empresas estatais consideradas estratgicas.

    A primeira gerao de tcnicos da Embratel foi quase toda formada porengenheiros sados dos bancos escolares do ITA e do IME, at hoje considerados dasmelhores escolas de engenharia do pas, seguidos por uma gerao em boa partevinda da PUC e da UFF, que foram as pioneiras em implantar, no Rio de Janeiro, ocurso de Engenharia de Telecomunicaes. O Centro de Estudos emTelecomunicaes (CETUC) da PUC-RJ foi criado em 1965, e o Departamento deEngenharia de Telecomunicaes da UFF foi criado em 1974, como umdesdobramento do Departamento de Engenharia Eltrica, para dar suporte aocrescimento do curso de Engenharia de Telecomunicaes, cuja primeira turmaformou-se em 1966.

    4. Alguns marcos da histria da Embratel7

    Embora o Brasil, ainda no tempo do Imprio, tenha sido pioneiro mundial naimplantao de sistemas telefnicos, a situao em 1965 era catica. Centenas de

    6. Em 21/03/2011 foi criada pela presidente Dilma Rousseff, por meio de Medida Provisria, a Secretaria deAviao Civil (SAC), com status de Ministrio, que passou a controlar a Agncia Nacional de Aviao Civil(ANAC) e a Infraero, at ento subordinadas ao Ministrio da Defesa.7. Os dados contidos nesta seo, salvo indicao em contrrio, fazem parte da histria oficial da empresa eforam, em sua maioria, extrados do portal www.embratel.com.br, em agosto de 2004.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    112

    concesses de mbito municipal, com regulamentaes tambm municipais, faziamum interurbano s vezes levar mais de um dia para ser completado. O pas tinhaapenas 1,3 milhes de telefones. Em setembro, um ano e meio aps o golpe militarde 1964, foi fundada a Embratel, assumindo o monoplio das ligaes de longadistncia, interurbanas e internacionais.

    Embora as desapropriaes judiciais da Companhia de Energia EltricaRiograndense, filial da Bond & Share, e da Companhia Telefnica Riograndense, filialda ITT, por iniciativa do ento Governador do Estado do Rio Grande do Sul,Engenheiro Leonel Brizola, no incio dos anos 1960, tenham sido um dos estopins dogolpe de 1964, em 16 de maro de 1966, o governo militar avana na estatizao,com a aquisio, pela Embratel do controle acionrio da CTB (Cia. TelefnicaBrasileira), a maior operadora do pas na poca. A CTB foi mantida operacionalmenteindependente da Embratel at ser transferida para a Telebrs. Esta transao marcouo fim de um incidente diplomtico Brasil-EUA iniciado com as referidasencampaes.8

    Entre a constituio da companhia, assinatura de contratos, etc., o marco de inciodas operaes pode ser situado em 1969, quando a Embratel passa a exercer ocontrole sobre todos os equipamentos e operao das telecomunicaesinterestaduais e internacionais do pas. inaugurada Tangu, a primeira EstaoTerrena de Comunicaes via satlite. A cerimnia de inaugurao contou com atransmisso de uma bno especial do Papa Paulo VI, diretamente de Roma. inaugurado o Tronco Sul; realizada a primeira transmisso comercial de televisovia satlite: o lanamento da nave Apolo IX. Logo depois, outro fato marcante: aimagem de um homem pisando na Lua. iniciada no pas a Discagem Direta aDistncia (DDD).

    Em 1972 criada a Telebrs, que constitui subsidirias estaduais, uma para cadaestado ou territrio, e adquire o controle da maioria das operadoras locais, srestando algumas Companhias Telefnicas independentes atuando no interiorpaulista, no Tringulo Mineiro e regies adjacentes de Mato Grosso do Sul e aempresa municipal de Londrina. Embora atuando em concesses cujas reascorrespondiam aos Estados da Federao, estas estatais, assim como o poderconcedente, eram federais, controladas atravs da holding Telebrs e do Ministriodas Comunicaes, respectivamente. Tratava-se de um marco regulatrio diferentedo norte-americano, onde a poderosa FCC - Federal Communications Commission - subordinada ao Congresso.9

    Em 1975, a Embratel colocou em operao a Rede Nacional de Telex e, em 1978,a Rede Nacional de Estaes Costeiras, com o objetivo de prestar o Servio MvelMartimo.

    8. Este pargrafo no faz parte da histria oficial da Embratel.9. Este pargrafo tambm no faz parte da histria oficial da empresa.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    113

    Rodney F. de Carvalho

    Em maio de 1980, a Embratel introduz no Brasil o primeiro servio exclusivo decomunicao de dados da Amrica do Sul, o Transdata. inaugurado tambm o cabosubmarino Brasil-USA. Em 1984 ativada a Rede Nacional de Comunicao deDados por Comutao de Pacotes (Renpac).

    Em 1985 foi lanado o satlite Brasilsat A1 para prover comunicaes domsticas,em 1986 o A2, e em 1989 Inaugurado o Centro de Telecomunicaes de So Paulo(Morungaba), dobrando a capacidade de processamento do trfego internacional.10

    Em 1992, a Embratel lana a Multi Rede Digital, integrando voz, dados, textos, fac-smile e videoconferncia. Em 1993 entra em operao o primeiro trecho da RedeNacional de Fibras pticas (Rio-So Paulo). Em 1994 inaugurado o Americas I,primeiro sistema internacional de cabos submarinos de fibras pticas entre o Brasil eos EUA, sendo tambm ativado o sistema de cabos submarinos de fibras pticasColumbus II, que, interligado ao Americas I, liga o Brasil Europa e sia, e osistema Unisur de cabos submarinos de fibras.

    Em 1995 inaugurado o segundo grande trecho de fibras pticas (Rio-BeloHorizonte), sendo lanado o satlite Brasilsat B2, com as mesmas caractersticas doB1. A srie B pode atender aos pases do Mercosul.

    4.1. 1996: a Internet

    Foram contratadas dez novas centrais de trnsito digital de telefonia, elevando a taxade digitalizao da rede telefnica de longa distncia para 96% em 1997. Em junhofoi lanado o servio de comunicao digital com tecnologia Frame Relay. Foi iniciadaneste ano a implantao de um novo centro da Multi Rede Digital, bem como de umanova estao terrena para o servio DATASAT Bi, de comunicao de dados viasatlite Brasilsat.

    Foram implantados 2,5 Gbps nas rotas Belo Horizonte-Braslia e Florianpolis-Porto Alegre (OPGW) nos sistemas de fibras pticas e expandidas para 2,5 Gbps asrotas So Paulo-Curitiba-Florianpolis e o anel ptico Rio de Janeiro-So Paulo-BeloHorizonte. Este tambm foi o ano das parcerias acadmicas. Entre elas, PUC-Rio,UFRJ e Unicamp. O objetivo foi realizar experincias no campo de transmisso emfaixa larga, utilizando a tecnologia ATM.11

    10. Os Centros de Controle dos satlites internacionais (Tangu) e nacionais (Morungaba e Guaratiba) tiveramum desenvolvimento tecnolgico independente dos demais sistemas da Embratel e hoje pertencem subsidiria StarOne. Em linhas gerais adotou-se o modelo de encomendar um projeto completo nos EUA eposteriormente fazer customizaes locais. A srie Brasilsat, por exemplo, foi produzida pela Hughes. Odesenvolvimento desta linha tecnolgica no ser comentado neste artigo.11. A histria da Internet no Brasil, at por ser recente, pode ser contada de muitas maneiras. Para uma visodo lado acadmico, sugerimos a leitura do artigo de Michael Stanton (1993). Para uma viso sociotcnica,sugerimos a dissertao de Marcelo Svio de Carvalho (Carvalho, 2006).

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    114

    O Centro RENPAC do Rio de Janeiro tambm teve a sua capacidade aumentadaao longo de 1996 em cerca de 22%, passando de 2885 para 3513 portas de acesso.O sistema rdio digital entre o Rio e Vitria (ES) teve sua capacidade dobrada.

    Em outubro de 1996 foi assinado um acordo entre a Embratel e a empresaargentina Telintar, possibilitando o lanamento do servio Digidial, criado para atransmisso de sinais digitais, em mbito internacional, utilizando circuitos de 64kbps. As duas empresas, ainda em outubro, assinaram um acordo comercial paraprestao de servios via satlite com tecnologia VSat, por meio dos satlitesBrasilsat (Brasil), Nahuel (Argentina) e os do consrcio internacional Intelsat.

    Cobrindo a regio do Mercosul, a Embratel participa do projeto Sintonia, acordomultilateral que conta com a participao da Telintar da Argentina, da Antel do Uruguaie da CTC-Mundo do Chile, destinado a atender clientes que operam na regio e quenecessitam de um tratamento integrado em todos esses pases. O acordo, em 1996,comeou a ser expandido para toda a Amrica do Sul, em funo dos interesses deempresas como Entel (Bolvia), Antelco (Paraguai), Entel (Chile) e Telefnica delPeru.

    Em agosto e em dezembro de 1996 foram desativados, respectivamente, os cabossubmarinos analgicos Brasil-Canrias e BRUS, que interligavam o Brasil Espanhae aos Estados Unidos. Todo o trfego que antes era escoado atravs desses doiscabos foi assumido pelos novos sistemas de cabos submarinos internacionais defibras pticas pertencentes aos consrcios internacionais dos quais a Embratelparticipava.

    Em 16 de dezembro entrou em operao o cabo de fibra ptica interligandoFlorianpolis a Fortaleza, atendendo as principais cidades localizadas perto do litoral,com um total de 5100 quilmetros. Em 1997, o sistema chegou a Porto Alegre. Foramainda ativados os trechos Belo Horizonte-Braslia-Goinia, com um total de 8.500 km.

    4.2. 1997

    Continuou a expanso da telefonia e da rede de fibras para o Norte e Nordeste e foiexpandida a capacidade de atendimento da Multi Rede Digital, com tecnologia E1,com a instalao de 4500 circuitos e a contratao de mais 6000 circuitosequivalentes a 64 kbps. Alm disso, houve o acrscimo de 13.000 Portas de AltoDesempenho na Rede Nacional de Comunicao de Dados por Comutao dePacotes - RENPAC. A implantao do Sistema de Tratamento Integrado (STI),oferecendo 27.000 novas caixas postais, um novo servio de Clearing Center EDIpara 2000 assinantes e a integrao com sistemas proprietrios de e-mail foramoutros destaques.

    A Empresa ampliou seu backbone Internet de quatro para 22 centros deroteamento, atendendo aos clientes com links de at 4 Mbps. A comunicao com oexterior passou de 29 Mbps para 76 Mbps, abrangendo conexes com Argentina,Canad, Estados Unidos e Uruguai, atravs de cabos submarinos de fibras pticas esatlite. A canalizao interna da rede entre centros passou de 16 Mbps para 160

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    115

    Rodney F. de Carvalho

    Mbps, possibilitando atender 7000 circuitos equivalentes a 64 kbps. Em 2003 jatingia 3 Gbps.

    Em janeiro de 1998 foi lanado o satlite Brasilsat A3. A Embratel foi privatizada no29 de julho.

    O anel internacional transatlntico de fibras pticas foi fechado em 1999, com aativao do cabo ptico Atlantis II, que liga a Amrica do Sul (Fortaleza, no Brasil, eLas Toninas, na Argentina) frica (Dakar, no Senegal, e Cabo Verde) e Europa(Sesimbra, em Portugal, e Ilhas Canrias, na Espanha), com uma extenso de 12.000quilmetros e 60.000 circuitos de voz. Um consrcio internacional integrado por noveempresas investiu US$ 300 milhes no projeto.

    Em 2000, a rea de satlites transformou-se numa subsidiria denominadaStarOne, da qual foi vendida uma participao para a Socit Europenne desSatellites SES-Global.

    4.3. Comentrios

    Houve dois grandes esforos de implantao de sistemas de transmisso, integrandoo pas e interconectando-o com o Cone Sul, os EUA e Europa. O primeiro, nos anos1970, com a implantao de troncos de microondas, cabos submarinos e a ligaoaos consrcios internacionais de satlites, e o segundo nos anos 1990, comsubstituio de toda a rede por fibra ptica, digitalizao da comutao de voz eintegrao com o Cone Sul. Ambas foram fruto de uma viso de futuro que se mostrouacertada e de uma grande ousadia empresarial, que deram empresa uma posioslida frente da concorrncia.

    Nos anos 1980 temos a implantao do sistema de satlites nacionais e dossistemas pioneiros de comunicao de dados, pelos quais ela tambm se diferenciadas telefnicas locais, que se limitavam a servios de voz. Por toda a histria vemoso surgimento de centros de controle automatizado dos vrios subsistemas decomunicao-transmisso, voz, satlite, dados etc., todos perseguindo a metforaC3I.

    importante ainda destacar o papel da Embratel na integrao nacional, noapenas no plano das Telecomunicaes, mas tambm no plano cultural, atravs dastransmisses de TV, rdio AM e FM, do servio de Telex, no sistema mvel martimoe tantas outras iniciativas.

    A transmisso subsidiada de sinais de TV de qualidade profissional viabilizou aconcentrao no Rio e em So Paulo de produes de alta qualidade, como asnovelas da TV Globo, alm da divulgao nacional dos eventos esportivos, trazendouma uniformizao at mesmo de costumes e sotaques. Alinhada com o discurso deIntegrao Nacional do governo militar, teve papel significativo na produo de umaidentidade nacional, que se mostrou muito valiosa na virada do milnio, poca em quepases muito menores se balcanizaram. Embora hoje, acertadamente cremos, sevalorize e incentive a diversidade local e as produes regionais, importante no

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    116

    perdermos de vista o valor estratgico da tranqilidade que o Brasil tem hoje quanto unidade nacional.

    5. Engenheiros e sistemas

    Ao mesmo tempo em que integrava o pas, a Embratel teve um papel de ponta nainternalizao das tecnologias digitais e no estmulo formao de uma indstrianacional de software e de hardware, nas reas de computadores, redes locais eservios de comunicao de dados. Por exemplo, o projeto do COMPAC - Comutadorde pacotes X.25 para a RENPAC, cujo nico comprador no pas era a Embratel - foiapresentado pelo CPqD, centro de pesquisas da Telebrs, no 2 SBRC, em 1984, emCampina Grande.12 A empresa implantava sistemas de informao buscando aintegrao entre telecomunicaes e informtica, servindo de laboratrio e deplataforma experimental para as novas tecnologias da informtica na administraode empresas, ao mesmo tempo em que estimulava um mercado para seus serviosde comunicao de dados, dos quais detinha o monoplio. Isto envolveu a adoopioneira de tecnologias tais como o uso de computadores pessoais como estaes detrabalho, redes corporativas de computadores, sistemas distribudos, automao deescritrios e muitas outras.

    Procuramos contar esta histria atravs de duas geraes de engenheiros, aprimeira proveniente do ITA e a segunda principalmente da PUC-RJ e da UFF.

    5.1. Os anos pioneiros

    Srgio de Magalhes Bordeaux Rego formou-se em Engenharia Eletrnica pelo ITAem 1963. Com alguns colegas mudou-se para Campina Grande, onde estruturaramo Ncleo de Eletrnica da UFPB. De volta ao ITA, lecionou Tcnicas Digitais e depoisveio trabalhar no Rio de Janeiro, na Standard Eltrica, onde conduziu dezenas deprojetos. O engenheiro Bordeaux ser um personagem importante em nossa histria,pois ele desde cedo abraou o discurso da integrao de sistemas e do alinhamentoentre sistemas de informao e processos empresariais. Este discurso ir se tornarimportante no final de nossa histria, nos anos 1990, onde, ao lado da globalizao,surgem as questes da Engenharia de Processos (e sua irm bastarda, aReengenharia), e a viso da qualidade como uma questo de processosdocumentados, disseminados, gerenciados e continuamente melhorados - viso estaque permeia normas de Gesto da Qualidade como a ISO 9000 e modelos dequalidade em software como o CMM.13

    12. SBRC - Simpsio Brasileiro de Redes de Computadores, um congresso anual dirigido principalmente paraa comunidade acadmica.13. CMM - Capability-Maturity Models, uma famlia de processos-modelo desenvolvida pelo SoftwareEngineering Institute da Carnegie-Mellon University no escopo de um projeto de excelncia de qualidade emEngenharia de Software patrocinado pelo DoD - U.S. Department of Defense.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    117

    Rodney F. de Carvalho

    Em 1969, o engenheiro Bordeaux foi contratado pela Embratel, trabalhandoinicialmente com sistemas de transmisso - essencialmente troncos de microondas esistemas multiplex analgicos. Em 1971 passou a trabalhar na Engenharia (entochamada de Diretoria de Desenvolvimento - DD), na Diviso de Controle de Projetos,onde teve um primeiro contato com as complexidades da integrao dos projetos deengenharia de rede. Nesta rea iniciou o desenvolvimento de um primeiro sistema decontrole integrado de projetos, o SCI. Este sistema perdurou at o final do sculo. Nocaso, o integrado referia-se viso de uma carteira de projetos de engenhariainterligados e interdependentes, envolvendo encomendas indstria deequipamentos e contratos com empreiteiras e outras empresas prestadoras deservios de engenharia, alm do trabalho interno de desenvolvimento deespecificaes e gerenciamento de projetos.

    importante observar que a Engenharia (ou Desenvolvimento) da Rede, numagrande operadora de telecomunicaes, um processo de especificao, deintegrao de sistemas e de procurement. Est, portanto, profundamente alinhado aodiscurso da integrao. Est tambm profundamente envolvido com os fornecedoresde equipamentos e subsistemas de comutao, transmisso e infra-estruturaassociada (energia, ar condicionado, obras civis, etc.).

    Em 1969 tambm foi contratado o engenheiro Telmo Cardoso Lustosa, que veiotrabalhar na ento Diretoria de Operaes, mais tarde subdividida em OperaesNacionais (DN) e Operaes Internacionais (DI). Engenheiro eletrnico recm-formado pela UFRJ, veio trabalhar no Grupo de Administrao do Trfego Telefnico(GAT), ento um problema novo. A rede nacional de telefonia interurbana estava emimplantao com central trnsito Ericsson ARM, de tecnologia eletromecnicacrossbar. Os tcnicos liam os contadores eletromecnicos de trfego nas centrais (asmaiores com 1000 contadores), passando as informaes para o GAT atravs deformulrios. O GAT ento calculava e montava as tabelas de roteamento dechamadas (roteamento esttico).

    Observamos aqui que a Engenharia de Operaes da Rede tem tambm seusproblemas interessantes e sua necessidade de integrao. Ela engloba tambm area comercial, a montagem de solues para os clientes corporativos e para asoperadoras de telefonia local.

    Em 1974, Srgio Bordeaux transferiu-se para a Diretoria de Operaes Nacionais,na Regional Centro-Leste (CL), onde efetuou um mapeamento de todos os processosoperacionais, que incluam o atendimento aos clientes (provisionamento de circuitospermanentes de voz e de dados) e o COPROG - Centro de Operaes deProgramao, que operava todo o scheduling de transmisses de rdio e TV, atravsda blocagem de canais de microondas e de satlite.

    No mesmo ano, Luiz Srgio Coelho de Sampaio, tambm engenheiro pelo ITA,professor de antropologia e filosofia da cultura na UFRJ, ex-Superintendente Tcnicoda Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, idealizador, fundador e primeiro Diretor Geraldo IBMEC, assume a Diretoria Financeira da Embratel (DF), qual estavasubordinado o ento DPD - Departamento de Processamento de Dados.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    118

    A surgiu a primeira implementao de um sistema integrado, o SPC - Sistema dePlanejamento e Controle. Baseado no mainframe central IBM e programado em APL,o sistema concentrava, num sofisticado modelo matemtico, indicadores financeiros,resumidos em clculos de produtividade, e trazia uma facilidade de anlise deprojetos. Seu ponto alto era uma Sala de Controle, equipada com terminais de vdeo,destinado a suportar as reunies da Diretoria Colegiada da Embratel. Este sistemasobreviveu at fins dos anos 1980, quando a hiperinflao inviabilizou qualquerplanejamento financeiro.

    Outra implementao de Centros de Controle nasceu, na rea de Operaes, dogrupo de controle de trfego, onde atuavam os engenheiros Eduardo de OliveiraRamalho e Telmo Lustosa. Telmo, tambm Diretor do Clube de Engenharia,aposentou-se e hoje Diretor de Desenvolvimento Sustentvel da Secretaria deAssuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica. Foi delineado um sistema parasubstituir a transcrio manual dos contadores e permitir o roteamento do trfegotelefnico em casos de congestionamento ou falhas. O SSCTC - Sistema deSuperviso e Controle de Trfego e Comutao, foi inaugurado em 1978, com umagrande sala de controle equipada com um painel eletromecnico mostrando o statusde todas as rotas da rede, terminais de vdeo e terminais Telex. Originalmente eraequipado com minicomputadores DEC PDP-11/70 e microcomputadores Intel 8080com sistema CP/M. O desenvolvimento inicial foi contratado com uma empresa norte-americana, a ALSTON.14

    Na medida em que a rede telefnica foi evoluindo, foram sendo incorporadascentrais CPA Siemens, Alcatel, Ericsson e NEC, todas adaptadas ao protocoloproprietrio do SSCTC. O sistema central tambm evoluiu, como uma redeLANintegrando micros de arquitetura IBM/PC (no lugar dos CP/M) e minis VAX(substituindo os PDP).15 Assim operou at o ano 2000, quando foi reformado, com osoftware central migrado para plataforma Alpha Server da COMPAQ, o paineleletromecnico substitudo por um videowall e diversas outras melhorias, e continuaem funcionamento.16

    Observe-se que a maioria dos pases desenvolvidos tinha seu prprio fabricante decentrais telefnicas. A Frana e a Espanha com a Alcatel, a Alemanha a Siemens, oJapo a NEC, na Amrica do Norte predominavam os sistemas da AT&T e daNorthern Telecom, de modo que esta implementao multi-fabricante, lidando comdiferentes protocolos e linguagens de comando proprietrias, de fato um feitotecnolgico genuinamente nacional - o sistema original da ALSTON s lidava com ascentrais escandinavas Ericsson. Observe-se ainda que essa multiplicidade defornecedores deixa transparecer a influncia dos mesmos no processo decisrio.Essa implantao de um centralizado, como era chamado, uma primeira

    14. At onde sabemos, esta empresa no mais existe e nada tem a ver com a franco-sua ALSTHON, quefabrica turbinas e sistemas de energia eltrica.15. LAN - Local Area Network - rede local.16. O processador RISC Alpha foi o ltimo projeto estratgico da DEC, antes de ser adquirida pela COMPAQem fins dos anos 1990. Posteriormente a COMPAQ fundiu-se com a HP.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    119

    Rodney F. de Carvalho

    encarnao do conceito C3I, e seu sucesso ser importante para justificar aarquitetura TMN, que veremos adiante.

    Segundo Edwards, o conceito C3I - a integrao dos sistemas de Comando,Controle, Comunicaes e Informao - origina-se na estratgia militar e visa mediarou aumentar os processos sensoriais ou de comunicao dos humanos e realizaralgumas funes de clculo ou decisrias automaticamente, quase sempre com o usode eletrnica e computadores. Ele est por trs do desenvolvimento, entre outros, doCognitivismo, da Inteligncia Artificial e da metfora do Ciborgue.

    O engenheiro Sampaio, alm da paixo pela filosofia, em especial a Ciberntica,tambm era apaixonado pela matemtica e pela Pesquisa Operacional. Seustrabalhos na BVRJ e no IBMEC com indicadores economtricos at hoje servem debase para o mercado de valores mobilirios. Na Diretoria Financeira, desenvolveucomplexos modelos de simulao e modelagem financeira, que serviram de basepara o SPC.

    lvaro Antnio Bastos Freire era programador do Serpro e estudante deEngenharia de Sistemas da PUC-RJ. Foi contratado pelo Departamento deProcessamento de Dados para resolver um problema de Programao Inteira - alocalizao de equipes mveis de manuteno para a rede de Telex. Seuconhecimento de programao de computadores aliado pesquisa operacionallevou-o a ser efetivado como Engenheiro to logo se formou, em 1976, e passou aintegrar a equipe do SPC.

    A Sala de Controle do SPC tinha necessidade de terminais grficos coloridos. Umgrupo de engenheiros da Embratel, entre eles lvaro Freire, trabalhou com a Scopusna adaptao de TVs Phillips com processadores Intel 8085 emulando terminais DECVT-100. O sistema inicialmente utilizava um DEC-10 da Telepar atravs de 3 linhasde 2.4 kbps. Depois passou a rodar num microcomputador Z-80, recebendo dadosdos sistemas em APL do mainframe IBM, capturados atravs de uma interfaceadaptada ao canal das impressoras.

    Em 1978, o engenheiro Lus Sampaio passou a vice-presidente da Embratel, cargono qual promoveu o Projeto Ciranda, no incio dos anos 1980, inicialmente umacomunidade virtual dos empregados da Embratel e seus familiares, utilizando microsnacionais de 8 bits (na maioria Prolgica CP-500, baseado no microprocessador ZilogZ-80) que depois foi transformado no Cirando, o primeiro correio eletrnico pbliconacional. O projeto Ciranda difundiu a ento nascente cultura da microinformticapelos tcnicos da empresa.

    Wilson Vicente Ruggiero, hoje livre-docente da Politcnica da USP, recm-chegadode um Doutorado em arquitetura de computadores na UCLA (1978), ministrou em1979 um curso de Redes Distribudas de Microprocessadores no Mestrado emInformtica da PUC-RJ. Da turma faziam parte os engenheiros de sistemas RobertEugene Lobel, ento na Embratel, e Rodney F. de Carvalho, autor deste artigo, entono Planejamento Financeiro da Eletrobrs. No mesmo curso, lecionava SistemasDistribudos o Professor Daniel Alberto Menasc, tambm recm-chegado do

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    120

    Doutorado da UCLA. Estes cursos incutiram nos alunos a viabilidade tcnica de seatender a uma demanda corporativa de computao atravs de redes de mini e microcomputadores e tambm a possibilidade de se construir supercomputadores atravsde redes confinadas (grids) de microprocessadores. Note-se que at ento, a culturados tcnicos brasileiros era fortemente influenciada pela arquitetura dos mainframes,sendo mesmo os mini e micro computadores usados com uma viso centralizadora.Esta viso trazia uma nova importncia reserva de mercado de informtica, entono incio de sua vigncia.

    Podemos situar no final dos anos 1970, portanto, o surgimento do discurso doSistema Distribudo, articulado com diversas correntes tecnolgicas:minicomputadores nacionais, comunicao de dados, microcomputadores, RedesLocais, e tambm com o Sistema Integrado (herdeiro civil do C3I), atravs da questoda resistncia a falhas, j que um bom Sistema Distribudo no deve depender de umnico ponto central.

    5.2. Os turbulentos anos 1980

    lvaro Freire, aps uma ps-graduao em Informtica na PUC/RJ (1979-1981),onde comeou a trabalhar com Redes Locais, foi trabalhar na Engenharia, no DPE -Departamento de Projetos Especiais. A Embratel atuava junto com os fornecedoresno desenvolvimento dos produtos de que necessitava, fazendo testes em fbrica esugerindo desenvolvimentos e melhorias. Trabalhou com a equipe da Prolgica nodesenvolvimento do micro CP-500 e com a Microtec no desenvolvimento dosprimeiros PCs nacionais.

    Aps algum tempo, lvaro passou a integrar o Grupo de Software, diretamenteligado ao Diretor de Desenvolvimento, Roberto Manfredo Hering. Na poca aEmbratel utilizava minicomputadores Cobra-500 apenas como plataformas deRemote Job Entry (RJE) para o IBM central. O Grupo de Software recebeu paraestudos dois Sisco MB-800, que na verdade eram minis Data General Nova.

    Os estudos do Grupo de Software conduziram na direo de que a soluo de minisligados a terminais e concentrados no mainframe no era a arquitetura ideal.Delineava-se a arquitetura onde as LANs seriam o elemento integrador. Porm, osmicros da poca no tinham capacidade de multiprocessamento para executar osprotocolos da rede local juntamente com as aplicaes do usurio. Visualizou-se apossibilidade de usar os minis no como concentradores de terminais, mas como nsda rede, dando um novo grau de integrao arquitetura corporativa.

    Em 1982 o Professor Ruggiero torna-se diretor da Scopus Tecnologia. Desde 1980ele vinha trabalhando pela FDTE no desenvolvimento de um projeto que viria a ser ocomutador de pacotes X.25 COMPAC.17 O CPqD desenvolveu o projeto do PP -

    17. FDTE - Fundao para o Desenvolvimento Tecnolgico da Engenharia - segundo seu site www.fdte.org.br,atua como uma ponte entre a comunidade tecnolgica, que faz engenharia, e instituies de ensino superior,que ensinam engenharia, notadamente a Escola Politcnica da Universidade de So Paulo, escola de origemdos seus criadores.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    121

    Rodney F. de Carvalho

    Processador Preferencial, uma arquitetura proprietria de microcomputadoresbaseados na linha Intel que viriam a se tornar a base do COMPAC, da centralcomutadora de Telex CETEX e de diversos outros projetos.

    Por essa poca, Srgio Bordeaux, que j apareceu no incio deste relato, iniciou oMestrado na COPPEAD, onde procurou aprofundar a viso de sistemas deinformao alinhados aos processos de negcios que j tinha experimentado comsucesso na rea comercial da regio Centro-Leste (CL). Orientado do ProfessorDonaldo de Souza Dias, comeou a trabalhar com a metodologia BSP - BusinessSystems Planning, da IBM.

    Em 1984, foi admitido, inicialmente como estagirio, o Engenheiro FranciscoNavegantes de Oliveira, formado em Telecomunicaes e Eletrnica pela PUC-RJ.Trabalhando no Distrito Rio (CL-RJ), na rea de servios de comunicao de dados,desenvolveu um sistema de controle de contratos e facilidades, baseado num microCP-500 com uma interface Telex, cujo hardware e software foi por ele desenvolvido.O sistema despachava automaticamente, via telex, ordens para as equipes deinstalao dos circuitos de acesso dos clientes RENPAC e TRANSDATA. Em 1986,este sistema foi portado para um minicomputador Cobra-500.

    Aps algum estudo dos minis disponveis no mercado, o Grupo de Softwaremanteve contato com a Digital Equipment Corporation (DEC) do Brasil. Os PDPs jvinham sendo usados no Grupo Telebrs em aplicaes de Telecomunicaes, comoo SSCTC da Embratel, e eram famosos por constiturem os ns da Arpanet.Interessaram-se pela ento nova linha VAX. Os engenheiros lvaro Freire e RichardJames Hodge, da Embratel, viajaram a Boston para uma visita a alguns fornecedoresde minis e ao desenvolvedor do software MUMPS, plataforma do Projeto Ciranda,todos localizados na rea da Route 128, no entorno de Boston. Devido s limitaesdos minis, estudava-se passar para os ento chamados superminis, dentre os quaisa linha DEC/VAX aparentava ser a melhor soluo, em especial pelas capacidadesde networking. O MUMPS estava sendo portado para a plataforma VAX.

    Em janeiro de 1985 h a eleio indireta para a Presidncia da Repblica, quemarca o final do regime militar, mas a sucesso de fatos e acordos que levaram vitria da Aliana Democrtica no Colgio Eleitoral e a subseqente morte dopresidente eleito Tancredo Neves, levam presidncia da Repblica Jos Sarney,que at 1984 era do PDS, partido do governo, e transferiu-se para o PMDB paracompor, como vice, a chapa de Tancredo. Ento, apesar da troca de regime e doafastamento dos militares, muitas das foras polticas do antigo governo, tendorompido com a candidatura de Paulo Maluf pelo PDS, continuaram influentes na NovaRepblica.

    Em 1985, Olival Mantovaneli Netto, Engenheiro pelo IME, assumiu a Diretoria deOperaes Nacionais (DN). Nessa poca o antigo DPD foi transferido da DiretoriaFinanceira (DF) para a Vice-Presidncia (VP). Visando descentralizar e expandir ainformtica na empresa, o Departamento de Processamento de Dados foi subdivididoem dois departamentos, VPI (Produo) e VPD (Desenvolvimento), que cuidavamdos sistemas baseados no mainframe IBM. Nesta poca j proliferavam por toda a

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    122

    empresa pequenos sistemas independentes, usando a tecnologia de micros de 8 e de16 bits, e havia vrias experincias com redes locais, na poca ainda caras eimprodutivas. Estavam surgindo diversas empresas nacionais na rea de LANs(Carvalho 2010), algumas delas apoiadas tecnicamente - com testes e sugestes - etambm financeiramente (com encomendas) pela Embratel.

    Foram criados Ncleos de Informatizao (NI) nas diversas diretorias e escritriosregionais para acelerar o processo de descentralizao da informtica. Destacavam-se o NIDD, da rea de Desenvolvimento (Engenharia) e o NIDN, da rea deOperaes Nacionais. O NIDD operava essencialmente o SCI, sistema integrado decontrole de projetos mencionado no incio deste captulo, o que continuou fazendo atsua extino aps a privatizao, no final dos anos 1990. Este sistema erainteressante, porquanto internamente era integrado, mas era isolado de todos osdemais sistemas da empresa, rodando numa plataforma separada (minicomputador),com equipes de desenvolvimento e operao prprias. Nele estava embutida toda ainformao sobre os projetos de expanso e modernizao da rede e, portanto, orelacionamento com os principais fornecedores.

    Por essa poca, a Elebra Computadores, aps muitos desentendimentos com afornecedora de tecnologia de seu mini, a alem Nixdorf, aproximou-se da Digital. Areserva de mercado de informtica foi alterada, admitindo-se novo ciclo deimportao de tecnologia - os superminis - que abriu espao para a Elebra comeara fabricar no Brasil os DEC/VAX, com o nome de MX-750.

    Mantovaneli, sabendo do trabalho de Srgio Bordeaux junto COPPEAD convidou-o a assumir o NIDN, onde, com base numa modelagem de processos da rea DNiniciaram o projeto do SPS - Sistema de Prestao de Servios. Foi adotada ametodologia BSP - Business Systems Planning, da IBM, que Bordeaux j vinhautilizando na tese. Dentro da metodologia proposta, houve um grande envolvimentodos usurios, a maioria engenheiros, mas tambm alguns analistas de sistemas, portodo o Brasil, totalizando cerca de 100 pessoas. Mesmo o desenvolvimento dosoftware foi descentralizado, com plos de desenvolvimento com cinco a dez tcnicosem cada: Rio, So Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre.

    A Embratel adquiriu da Elebra um lote inicial de 15 MX-750, que foram distribudosem rede nacional, equipando os NIs. O projeto do SPS foi desenvolvido nestaplataforma, mas usando o banco de dados alemo ADABAS e a sua linguagemNatural, que j eram adotados na plataforma do Mainframe IBM.

    As eleies, ao final de 1986, para os governos estaduais e para a AssembliaNacional Constituinte, provocaram mudanas na composio de foras do governo,com vrias mudanas de cargos na administrao federal, inclusive nas empresasestatais.

    Em 1987, o engenheiro Rodney F. de Carvalho, vindo de uma experincia bemsucedida de implantao de Automao de Escritrios na Dataprev, onde vinhafazendo experincias com redes locais de micros PC-compatveis e participava doGrupo de Especificao de Redes Locais (GERL) da SEI, foi contratado para a

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    123

    Rodney F. de Carvalho

    Diviso de Estudos Prospectivos (DPL-1) do Departamento de Planejamento daento Gerncia de Servios Telemticos e de Comunicao de Dados, que integravaos departamentos da rea de engenharia envolvidos com as redes de dados e osservios de e-mail, etc. A Diviso era chefiada pelo Engenheiro Raul Colcher, formadopelo IME, que dividia o tempo com a presidncia do Comit de Informtica daAssociao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), secundado pelo EngenheiroPlnio Aguiar Jr., formado pela PUC, posteriormente presidente do conselho diretor daAgncia Nacional de Telecomunicaes (Anatel) e membro do Comit Gestor daInternet. O engenheiro Rodney comeou a trabalhar em arquitetura de sistemas,visando uma plataforma integrada de redes de computadores para prestao deservios e tambm para suporte informtica corporativa. Esta pequena equipe,ligando aspectos de planejamento de produto com a presena nas entidades setoriaise normativas, um bom exemplo, como o j citado Grupo de Software, de como aEmbratel articulava a introduo de tecnologias tanto internamente quanto junto aclientes, fornecedores e entidades normativas e reguladoras.

    A migrao do Cirando para a plataforma VAX e sua paulatina adaptao snormas da recomendao X.400 do CCITT, bem como a evoluo das redes locais edos PCs, deram novo impulso ao discurso da integrao, agora aliado do discurso dosistema distribudo e ao Modelo de Referncia para Interconexo de SistemasAbertos - OSI, desenvolvimento conjunto da ISO e do CCITT.18

    A Embratel, que nos governos militares havia sido relativamente preservada dainfluncia dos empresrios, dada sua importncia estratgica, comea a sentir, naNova Repblica, a presso dos interesses empresariais no rico filo dastelecomunicaes. A Associao de Empregados da Embratel (AEBT/RJ), com oapoio dos sindicatos, da CUT e de algumas AEBTs estaduais (nunca houve umaassociao nacional e algumas, como a de So Paulo, tinham outra orientaopoltica), mobilizam-se para incluir, atravs de emenda popular, com 111 milassinaturas, o monoplio das telecomunicaes na nova Constituio Federal (Leal,2001: 63).

    Em fins de 1987 estoura o Caso VICOM - descoberto pela AEBT um contratoprestes a ser assinado entra a Embratel e a VICOM, uma joint-venture entre asOrganizaes Globo e a Victory italiana, cedendo a explorao de servios via satliteatravs do Brasilsat (basicamente comunicao de dados via VSat). Os empregados

    18. A ISO - International Organization for Standardization, o organismo da ONU encarregado dodesenvolvimento de padres internacionais. Conjuntamente com a IEC - International ElectrotechnicalCommission, criaram o JTC-1 (Joint Technical Committee) para normalizao em Informtica. O JTC-1 uniuesforos com o ento CCITT - Comit Consultivo Internacional para Telefonia e Telegrafia, outro rgo daONU, hoje UIT - Unio Internacional das Telecomunicaes, para desenvolvimento em conjunto do modeloOSI. O modelo, com sete camadas, resultado das presses da IBM por uma compatibilidade com suaarquitetura SNA, mostrou-se excessivamente complexo, sendo substitudo pela arquitetura TCP/IP, base daInternet, que adota apenas quatro camadas. Entretanto, os padres para as trs camadas de base soextremamente semelhantes em ambos os modelos, sendo as duas camadas inferiores, que compem a redefsica propriamente dita, praticamente idnticas. As camadas cinco e seis do OSI, abandonadas, praticamenteno apresentavam nenhuma funcionalidade interessante.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    124

    da Embratel fazem uma greve de protesto, a primeira greve na histria da empresa,e a negociao abortada. O engenheiro Bordeaux informalmente acusado deliderar, nos bastidores, o movimento, e destitudo da chefia do NIDN, sendosubstitudo pelo engenheiro Hering, ento no mais na Diretoria.

    Este episdio emblemtico da influncia de fornecedores e interessesempresariais no andamento das decises empresariais, mediante conexes polticas.A Globo, alm de scia, junto com o Bradesco, na VICOM, era majoritria da NEC doBrasil. A permanncia de Rmulo Villar Furtado na secretaria-geral do Ministrio dasComunicaes desde o governo Geisel, no incio dos anos 1970, at meados dosanos 1990 atribuda influncia poltica daquela organizao nos diversosgovernos que se sucederam.19

    O engenheiro Rodney passou a atuar junto a diversas entidades em atividades depadronizao, visando promover a interoperabilidade e o desenvolvimento domercado de comunicao de dados. Alm do GERL, da SEI, a BRISA - SociedadeBrasileira para Interconexo de Sistemas Abertos, as comisses de Redes Locais daABNT, o grupo de estudos conjunto da ABAC (Automao Comercial) e FEBRABAN(Bancos), sobre Intercmbio Eletrnico de Dados (EDI), que levou a criao doSIMPRO/Brasil.20

    A rede corporativa, ancorada nos VAX e viabilizada pela cesso pela DEC dosoftware para PCs DECnet-DOS, passa a ser a plataforma de automao deescritrios da empresa. So implantadas redes locais Ethernet de 10 Mbps em quasetodos os prdios da empresa. Atravs de conexes X.25, so acessados os VAX doCPqD e da FAPESP, atravs do qual se tinha um acesso primitiva Internet, comservios como Gopher, LISTSERV, etc. Atravs de uma rede SNA, acessada atravsde uma ligao VAX-IBM e de emuladores de terminais IBM 3270 nos PCs, tem-seacesso a todos os mainframes das empresas do Sistema Telebrs.

    A capilarizao das redes de computadores, a implantao de ferramentas deprodutividade pessoal e de automao de escritrios, e os sistemas de colaboraointermediada pelo computador - e-mail e groupware em geral - iniciada neste ponto,no final dos anos 1980, e solidificada na segunda metade dos anos 1990, com o

    19. Outro engenheiro do ITA. Curiosamente, Vera Dantas (op. cit., p. 18), ao comentar sobre o ITA nos anos1960, cita: Apesar da ativa atuao de uma clula do Partido Comunista Brasileiro, da qual um dossecretrios polticos foi o aluno Rmulo Villar Furtado, a maioria dos alunos tendia para posiesconservadoras. Curiosamente ainda, Srgio Bordeaux citado no mesmo pargrafo como um dos lderes daala de direita, retomando o controle do CA em 1963, quando derrotou a chapa encabeada pelo alunoRaymundo de Oliveira. Srgio e Raymundo eram companheiros de quarto no alojamento. Srgio repudia ortulo atribudo por Vera. J no episdio da VICOM ele foi chamado de comunista perigoso, rtulo quetambm repudia.20. O SIMPRO/Brasil era uma ONG dedicada Simplificao de Procedimentos Mercantis, que trabalhava emarticulao internacional com a UNCTAD, da ONU, na facilitao do comrcio. Conjuntamente com a EANBrasil, antiga ABAC - Associao Brasileira de Automao Comercial, trabalharam, entre outras iniciativas, empadres para codificao de produtos (cdigo de barras, codificao eletrnica) e EDI - Electronic DataInterchange, vitais para o comrcio eletrnico. Atualmente todas estas funes residem no GS1 Brasil(www.ean.org.br).

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    125

    Rodney F. de Carvalho

    Windows 95, que incorporava facilidades de networking e com a disseminao daInternet, marca uma profunda transformao nos sistemas informticos. Por um lado,o slogan dos fabricantes de minis a rede o sistema comea a tornar-se verdade.Os esforos de padronizao e inter-operacionalidade iniciados no princpio dadcada comeam a surtir efeitos prticos. Os PCs e as workstations crescem tantoem capacidade computacional que os PCs assumem o lugar das mquinas RISCcomo estaes de trabalho pessoal e dos minis como servidores da rede, ao passoque as workstations RISC assumem o lugar dos mainframes comosupercomputadores ou mega-servidores.

    Por outro lado, o usurio, que at ento ficava do lado de fora da parede de vidrodo CPD, passa a fazer parte integrante do sistema. Nas palavras de Mark Burgess(Burgess, 2000), especialista em Administrao de Sistemas do Oslo UniversityCollege, Noruega:

    Captulo 2 - Componentes do Sistema...

    2.1 - O que o sistema?...

    Definio 1 (sistema homem-computador). Uma colaboraoorganizada entre humanos e computadores para resolver umproblema ou prover um servio. Apesar dos computadores seremdeterminsticos, os humanos so no-determinsticos, ento ossistemas homem-computador so no-determinsticos.

    As redes de computadores esto irremediavelmente infestadas de organismosbiolgicos de comportamento imprevisvel. Para maior dificuldade do nossoespecialista nrdico, como qualquer usurio de Windows sabe, nem sequer oscomputadores so assim to determinsticos.

    Em 1989 foi formado um grupo interdepartamental, idealizado por Plnio Aguiar,para desenvolver um Plano Estratgico para a dcada de 1990. O cenrio mostrava,apesar da esperana de uma vitria da esquerda nas eleies presidenciais, e dasvitrias obtidas na Constituinte de 1988, crescentes presses no sentido dadesregulamentao e da privatizao das telecomunicaes. A tese de Rosa MariaLeal (Leal, 2001) mostra um interessante panorama desta nova batalha - a daprivatizao.

    5.3. O final do Sculo XX e o neoliberalismo

    Em 1990, com a posse de Fernando Collor na presidncia, nova reestruturao -Francisco dos Santos Pires Albuquerque, o Chico, assume a DD e o planejamentoda Engenharia unificado num nico departamento. A Diviso DPL-1, chefiada peloengenheiro Bordeaux, assume as reas estratgicas do planejamento da rede eincorpora a antiga DPL-1 da rea de comunicao de dados. Desenvolve vriosprojetos, com destaque para a substituio da tecnologia do Backbone da rede, coma utilizao intensiva de fibras pticas no lugar de microondas, incluindo asubstituio dos cabos submarinos internacionais. avaliada tambm a converso

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    126

    dos troncos de microondas remanescentes para a tecnologia de rdio digital. Nestainiciativa, so entabulados acordos com o Departamento Nacional de Estradas deRodagem, com a Rede Ferroviria Federal e com operadoras de linhas detransmisso de energia eltrica, garantindo direitos de passagem para os cabospticos onde possvel. Os sistemas de cabos pticos so super-dimensionados,visando a futura implantao de servios de banda larga.

    Na poca, com a perspectiva de desregulamentao, as companhias telefsestaduais comeam a desenvolver servios estaduais de comunicao de dados, epassam a dificultar o acesso da Embratel s suas redes de pares de cobre - oproblema do last mile.21 A DPL-1 desenvolve o PEAU - Plano Especial de Acesso aosUsurios, envolvendo tecnologias de Rede de rea Metropolitana (MAN), direitos depassagem de fibra negociados com as companhias do Metr (Rio e So Paulo), comempresas de Energia Eltrica e Iluminao Pblica como a Light e a RioLuz e aindacom pequenos sistemas de rdios digitais de 2 Mbps instalados nos telhados deprdios comerciais. So ocupados pontos estratgicos como a Torre Rio Sul e oEdifcio Rio Branco 1, no Rio, o Edifcio Itlia em So Paulo, a Torre das Mercs emCuritiba.

    estabelecido um grupo interdepartamental para estudar uma arquiteturapadronizada para gerenciamento de redes. Coordenado, pela rea de Engenharia,pelo Engenheiro Rodney, do DPL-1, e na rea de Operaes Nacionais peloEngenheiro Eduardo Ramalho, do SSCTC, o projeto estuda a arquitetura TMN -Telecommunications Management Network, da UIT, consubstanciada na srie derecomendaes M.3000. estabelecido que todos os novos equipamentos de rededevero apresentar compatibilidade com aquele padro.

    Entrementes, o CPqD da Telebrs v-se em dificuldades com o seu PP -Processador Preferencial (ver acima), finalmente pronto para industrializao. Osistema evoluiu para o processador Intel 80386 e continua sendo a base para ocomutador de pacotes COMPAC, o comutador de Telex CETEX e outrosequipamentos, porm por utilizar uma arquitetura diferente do padro de mercadoIBM/PC, sua escala de produo o torna bastante caro. O sistema temcompatibilidade com MS-DOS e Windows 3.11, e tenta-se convencer a Embratel aadot-lo como plataforma padro, inclusive para Automao de Escritrios eWorkstations de Engenharia, nos estertores da Reserva de Mercado. A Embratelrejeita com base no custo, porm implanta comutadores X.25 e Telex com base nessatecnologia, renovando desnecessariamente os comutadores destas redes queestavam em fim de vida til e j amortizados, o X.25 substitudo pelas redes FrameRelay / ATM / Metro e o Telex pelo e-mail. 22

    21. Trata-se de uma questo clssica na engenharia de redes de telecomunicao, a ltima milha antes dechegar ao usurio, onde a capilaridade da rede se multiplica, obrigando a adoo de solues de baixo custounitrio e dificultando servios como, por exemplo, banda larga.22. Para se ter uma idia, j no incio dos anos 1990, os novos COMPAQ operavam no mximo a 64 kbps,velocidade em breve alcanada pelos MODEMs discados para PCs, e a rede Telex padronizada em 50 bps.Os atuais servios corporativos operam a partir (acima) de 1 Mbps.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    127

    Rodney F. de Carvalho

    O SPS tambm passou a enfrentar problemas com a plataforma VAX. Com odeclnio da DEC, as novas verses do ADABAS no evoluam no mesmo ritmo nasplataformas IBM e DEC. A soluo foi migrar o sistema para o Mainframe,abandonando o discurso do sistema distribudo. O sistema j vinha sofrendo grandesatrasos pelo imenso trabalho de unificao das bases de dados sobre equipamentose facilidades, dispersas em inmeros cadastros regionais e com classificaesincompatveis.

    Ao discutir a estratgia de implantao da TMN - um novo discurso de integrao - descartada a alternativa de desenvolvimento in house. A experincia do SPS, queat ento tinha produzido escassos resultados, desaconselhava esta alternativa.Partiu-se para especificar um sistema a ser adquirido no mercado internacional.

    Em paralelo com suas atividades tcnicas, o engenheiro Rodney assume aPresidncia da AEBT/RJ, a combativa Associao de Empregados do Rio.

    Ao final de 1992, com o impeachment de Collor e a posse de Itamar Franco, novasmudanas. Renato Archer assume a presidncia da empresa, trazendo consigoAlusio Teixeira, atual reitor da UFRJ, como Diretor Administrativo, o que facilitabastante o relacionamento da AEBT/RJ com a empresa. Na rea de Engenharia,entretanto, em meados de 1993, o comando do DPL substitudo. O EngenheiroBordeaux leva o grupo envolvido no projeto da rede de fibra para a Assessoria doDiretor e o engenheiro Rodney pede transferncia para a diviso de planejamento doDepartamento de Informtica, ento ligado Diretoria Financeira.

    Aps alguns anos de trabalho, tendo desenvolvido um enorme jogo de cadernos deespecificaes tcnicas, o grupo envolvido com o projeto TMN chega concluso queno existe no mercado sistema capaz de atender s suas especificaes e aspropostas de desenvolvimento, obtidas em consulta internacional, extrapolam emmuito o oramento previsto. O plano B adquirir subsistemas no mercado edesenvolver a integrao internamente. Neste plano pode-se contar tambm com oCPqD, que aps o fracasso da plataforma PP vinha reorientando suas atividades parasoftware, em especial na rea de Gerncia de Redes. criado o DSG - Departamentode Sistemas de Gerncia, chefiado pelo engenheiro Eduardo Ramalho.

    Em 1995, o governo Itamar substitudo com a eleio de Fernando HenriqueCardoso; novas mudanas, nova diretoria. O engenheiro Bordeaux, que pretendiaaposentar-se, chamado pelo Presidente Dlio Srgio Penedo (outro engenheiro daPUC/RJ) a criar o Escritrio de Gesto da Qualidade - EGQ, no mbito daPresidncia. Dlio tem uma viso de que a empresa precisa estar preparada paracompetir aps a privatizao.

    Bordeaux cria uma pequena equipe, integrada por Plnio Aguiar, Slvio BaptistaRibeiro e Hermann Schmall. Utiliza o mesmo processo de mobilizao jexperimentado no SPS, criando coordenadores da qualidade e de desenvolvimento emelhoria de processos em todos os departamentos, diretorias e regionais daempresa. estabelecida uma rede com mais de 400 pessoas em todo o pas,treinada em tcnicas de gesto da qualidade e de Engenharia de Processos. criado

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    128

    o Prmio Embratel de Qualidade, nos moldes do modelo da FPNQ, ao qualconcorrem anualmente os departamentos, diretorias e regionais.23

    A necessidade de mapear os Processos de Negcios torna-se evidente paraqualquer iniciativa de certificao de qualidade, em especial pelas normas ISO. Em1996, visitando uma feira de informtica, Slvio e Hermann conhecem os softwaresARIS, da alem IDS Scheer AG, e SAP, da tambm alem SAP AG. O SAP hojebastante conhecido, trata-se do software lder na rea de ERP - Enterprise ResourcePlanning. A IDS, fundada pelo professor August-Wilhelm Scheer, da Universidade deSaarland, em Saarbrcken, produz o ARIS, um software para apoio ao projeto emelhoria de processos, que trabalha com um repositrio central de objetos denegcios que so utilizados nas cadeias de processos. O EGQ inicia um grandeesforo de mapeamento, desenvolvimento e melhoria de processos baseado noARIS. O repositrio do ARIS trabalha na modalidade cliente-servidor, sendocompartilhado pelas equipes de processos e de qualidade em todo o pas.

    O Professor Scheer fez parte da equipe inicial que desenvolveu o SAP a partir doMRP II da IBM, e a IDS quase um spin-off da SAP.24 Por conta disso, uma dasfacilidades do ARIS era uma base de dados contendo todo o mapa de processos doSAP R/3, que podia ser usada para benchmarking dos processos da Embratel.

    O discurso do sistema integrado alcana finalmente sua viabilidade tecnolgica:com uma TMN na rea de operao da rede de telecomunicaes e um ERP como oSAP nas demais reas, a empresa estaria preparada para ser um competidor declasse mundial, portanto capacitada a enfrentar a privatizao e adesregulamentao. Observe-se que ento a empresa j estava solidamenteequipada com centrais digitais de telefonia, satlites e uma rede de fibras ticascapaz de formar o backbone de todo o cone sul da Amrica. Alm disso, tinha vencidotenazmente a luta pelo acesso aos usurios finais, atendendo diretamente, com fibraptica e rdios digitais, a grandes empresas, shoppings e centros empresariais, cujasredes locais de computadores e PABX digitais eram ligados diretamente rede daEmbratel. Os objetivos da empresa em preservar sua integridade e competitividadeestavam praticamente assegurados.

    Em 1998 vem a privatizao, sendo o controle da Embratel adquirido pela MCI, queno ano seguinte comprada pela Worldcom. A mudana de controle se d semgrandes traumas, visto que a empresa j vinha enxugando o quadro com planos dedemisso voluntria e aposentadoria antecipada, e graas aos esforos demodernizao conduzidos por Dlio Penedo, que continuou na presidncia. Um novoPDV enxuga mais 15,4% do quadro. Um novo desafio se apresenta com aprivatizao, que atender diretamente o usurio domstico de telefonia interurbana.

    23. FPNQ - Fundao para o Prmio Nacional da Qualidade. Ver http://www.fpnq.org.br/. 24. MRP - Manufacturing Resource Planning, sistema integrado para a gesto de manufatura ao nvel do chode fbrica.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    129

    Rodney F. de Carvalho

    Em 1999 o Departamento de Tecnologia da Informao - DTI transformado emDiretoria, na qual assume Luiz Maria Guimares Esmanhoto, outro ex-aluno do ITAdos anos 1960. Os novos controladores pressionam pela implantao de novossistemas corporativos adquiridos nos EUA. Segundo notcia do site da SunMicrosystems, da poca:25

    ... Projeto de Transio para o Mercado de Massa, que estdividido em seis grandes blocos: a criao de um banco de dadosde mercado; criao de uma base de clientes domsticos,integrada com as operadoras locais; montagem do centro deatendimento a clientes residenciais; centro de atendimento aclientes empresariais; faturamento e emisso das contastelefnicas. Todos esses processos so suportados por cincoservidores E10000 (Starfire), dois servidores E6500 e doisservidores E4500.

    O Projeto de Transio para o Mercado de Massa j entrou emproduo. Inicialmente, sero processadas em novembro 100.000contas telefnicas. Em dezembro, sero 2 milhes de contas e, apartir de janeiro, todo o volume de ligaes realizadas pelosclientes residenciais da empresa. As chamadas interurbanas soregistradas pelos bilhetadores e acumuladas em um servidorE10000 e, depois de processadas pelo sistema de faturamentoKenan, so enviadas para o centro de impresso da Xerox emBarueri (SP), que emite as contas e faz a distribuio para ocorreio. Com capacidade de processamento de milhares deregistros de chamadas ou CDRs (do ingls call detail records) porsegundo, um dos maiores sistemas de billing emtelecomunicaes do mundo e o maior em plataforma Sun.

    Outros trs projetos esto sendo (...) Segundo Esmanhoto, acontabilidade um exemplo bem dramtico das necessidades dereformulao dos processos de gesto. A contabilidade fiscal, queatende os requisitos de administrao de uma estatal, insuficientepara uma empresa privada, onde os resultados precisam sersegmentados para permitir que se identifique as atividadeslucrativas e as que precisam melhorar sua performance, explica.

    Os sistemas de gerncia de rede tambm sero modernizados... Osistema de administrao de facilidades entra em funcionamentono final do ano 2000 e tambm rodar em um servidor E10000.

    Os sistemas administrativos internos continuaro rodando naestrutura de informtica existente, baseada em mainframe,linguagem Cobol e bancos de dados Natural e Adabas... osservidores Sun, que, segundo Esmanhoto, so a plataforma derenovao da Embratel.

    25. Case Embratel, disponvel no stio da Sun Microsystems Brasil, acessado em agosto de 2004:http://br.sun.com/ponto-com/cases/embratel.html

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    130

    Segundo o diretor de Vendas para o mercado de telecomunicaesda Sun, Vilson Guelmann, a Embratel hoje o maior site de missocrtica Sun no Brasil. Os equipamentos e sistemas sorespaldados por uma estrutura de suporte tcnico dedicada,integrada por um gerente-tcnico de servios, um gerente deintegrao e projetos, tcnicos-residentes e uma estrutura deanswer center operando 24 horas, sete dias por semana, no Brasil,e 100% integrada ao call center Sun nos Estados Unidos, dedicadoao suporte dos sistemas Sun da MCI/Worldcom - 25 servidoresE10000, apenas nos EUA.

    Infelizmente, ao optar pela conta de interurbano separada da prestadora de serviotelefnico local, a Embratel no levou em conta dois problemas: o de mudana deendereo e o da inadimplncia. No foi considerado ainda que o custo de emisso epostagem de uma fatura detalhada para a maioria dos clientes de varejo ultrapassavao valor da conta de ligaes interurbanas. Ao mudar de endereo, o assinante solicitaa transferncia operadora fixa local, as quais, como vimos, no mantinham umapoltica de cooperao com a Embratel desde o governo Collor. Quando o assinanteno paga a conta, esta mesma operadora corta o servio. As contas separadas, entreoutros problemas, levaram a Embratel a grandes prejuzos, os primeiros na suahistria, e um enorme contas a receber. Em 2003, segundo relatrio encaminhado CVM, eram R$ 3,6 bilhes de contas a receber, sendo 2,8 bilhes referentes aservios de voz, o que, abatendo 1,9 bilho da Proviso para devedores duvidosos,resulta-nos 1,7 bilho registrados no balano.

    Esmanhoto, em funo dessas outras prioridades, resistiu implantao do SAPat ser demitido no final de 2000. Por conta disso, muitos sistemas legados do antigoDPD resistiram virada do milnio, tendo que sofrer inmeras verificaespreventivas dos problemas de data.

    Ainda em 1999, um novo Plano de Cargos e Salrios foi implantado na empresa, emuitos engenheiros participantes do Programa da Qualidade foram re-enquadradoscomo Analistas de Qualidade, cargo com uma faixa salarial bem menor, gerandoalguma insatisfao na equipe.

    As divergncias entre o DTI e o EGQ atingiram um pice em fins de 1999, quandoo diretor de TI demitiu o engenheiro Rodney, Coordenador de Qualidade da Diretoriae responsvel pelo suporte ao servio ARIS, alegando o mesmo estar desmotivado.Slvio Ribeiro, ento chefe do EGQ, entregou o cargo ao Presidente, praticamenteliquidando com o programa de qualidade. Bordeaux ento j estava aposentado,atuando como consultor do EGQ, foi cuidar de sua criao de gado leiteiro orgnico.

    Em 2001, aps a sada de Esmanhoto, o SAP foi implantado nas reas financeira,contbil e de logstica e suprimentos. Graas ao mapeamento de processos no ARIS,a implantao se deu em tempo recorde, cerca de seis meses. Alguns sistemaslegados ainda continuaram utilizando o Mainframe, como os cadastros de facilidadesremanescentes do SPS e os sistemas de RH.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    131

    Rodney F. de Carvalho

    A necessidade de reformulao do sistema contbil estatal mais tarde se reveloupela condenao pela SEC - Securities Exchange Comission - das prticas contbeispouco ortodoxas da controladora MCI/Worldcom, que entrou em concordata em 2002.

    Em 2004, a MCI, que tinha adquirido o controle da Embratel em 1998 por cerca deUS$ 1,3 bilho (correspondentes a 51,7% das aes ordinrias com direito a voto,mas apenas cerca de 15% do capital total), vendeu a mesma para a mexicanaTelmex, por US$ 400 milhes. Note-se que o demais 85% do capital total (e dasperdas correspondentes) continuam em mos dos fundos de penso, BNDES,Petrobrs e outros investidores na BOVESPA.

    6. Sistemas e infraestrutura

    Segundo Edwards (2007), infraestruturas histricas, como {automvel / gasolina /sistema virio}, o grid de eletricidade, a malha ferroviria e as telecomunicaes,tornam-se onipresentes, acessveis, confiveis e transparentes quando amadurecem.A fase inicial de uma infra-estrutura em formao a construo do sistema,caracterizado pelo projeto deliberado e bem sucedido de servios baseados emtecnologia. Em seguida, a transferncia de tecnologia em vrios domnios e locaisresulta em variaes sobre o projeto original, bem como o surgimento de alternativasde sistemas concorrentes. A verdadeira infra-estrutura se forma quando estes vriossistemas se fundem em um processo de consolidao caracterizada por gatewaysque permitem que sistemas diferentes sejam ligados em redes. Nesta fase, apadronizao e tcnicas de comunicao interorganizacionais so fundamentais.Quando mltiplos sistemas fundem-se em redes, e estas em teias ou internetworks,as escolhas iniciais restringem as opes disponveis para se avanar, criando o queos economistas histricos denominam dependncia da trajetria (path dependence).

    Evitar ficar preso nas armadilhas tecnolgicas da path dependence requer visoestratgica e cuidado nas escolhas tecnolgicas. No item 4 acima observamos osdiferentes movimentos que levaram digitalizao da rede nacional brasileira,enquanto monoplio da Embratel, transformando-se de uma rede com complexos eespecializados sistemas analgicos numa malha digital de banda larga de classemundial. Aqui tambm o discurso da integrao foi fundamental.

    Os fundamentos para a ponte entre a rede e os sistemas de gesto empresarial,que forma sendo perseguidos desde o comeo de nossa histria, tambm foramestabelecidos atravs dos padres TMN para o gerenciamento da rede.

    7. Concluses

    Nossa historiografia mostra como alguns discursos tecnolgicos avanam no interiorde uma grande empresa, entre grandes realizaes, muitos fracassos, presses,contrapresses e interesses. Interesses polticos, de fornecedores, lobbies defornecedores com influncia poltica, interesses individuais, planos de carreira, etc. interessante notar os seguintes pontos:

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    132

    A existncia dos jogos de interesses no um privilgio daempresa estatal ou do governo autoritrio. Pelo contrrio, eles semostram presentes o tempo todo, inclusive aps a privatizao.

    Tambm no fcil identificar uma corrente predominante, oufaces ntidas, o que talvez seja uma caracterstica distintiva daslutas tecnolgicas em relao a outros debates polticos ou sociais.Ao contrrio, vemos atores-redes em permanente reconfigurao.Trata-se de uma hiptese que merece mais investigao. SegundoEdwards:26

    Para entender como o poder criado e empregado, como oreconhecimento expresso e interpretado, e os interesses somoldados e preenchidos, ns precisamos primeiro capturar orelacionamento entre desejos individuais subjetivos e os interessespolticos objetivos dos grupos.

    E, mais adiante:

    A teoria cria posies de subjetividade poltica que os indivduoshabitam e que formam as pr-condies para a construo dosatores polticos coletivos. Esta anlise aponta para a importnciacrucial da cultura como outro domnio poltico.

    A cultura consiste no mundo compartilhado, informal, da linguagem,arte, narrativa, jogos, arquitetura, imageria visual, imaginao, etc.,no qual as realidades sociais, epistemolgicas e ticas soconstrudas para os sujeitos humanos. Ela tambm inclui aquelasteorias (de qualquer coisa) que se tornam parte do senso comume os artefatos que incorporam essas construes e teorias. Acultura engloba as manifestaes pblicas da subjetividade e asprticas comunicativas que definem um mundo-da-vidacompartilhado.

    A principal subjetividade estruturante que identificamos aqui o Engenheiro daEmbratel, personagem central da nossa histria, incorpora-se em diversos atores.Ela diversifica-se ainda em diversas sub-espcies: o Engenheiro do ITA, oEngenheiro da PUC; o Engenheiro de Sistemas; o Especialista em Sistemas deTransmisso, que conhece as complexas equaes dos sistemas-rdio e osproblemas analgicos envolvidos. Em certo ponto de nossa histria, no princpio dosanos 90, os especialistas em rdio colocaram-se contra a prioridade aos sistemaspticos, acusada de tentar matar a nascente tecnologia do rdio digital. Foram,entretanto, convencidos da importncia estratgica de ocupar as rotas com sistemasde banda larga, e consolados com a necessidade de pequenos rdios digitais paraacesso aos usurios finais.

    26. Paul Edwards, op. cit., captulo 5. Traduo nossa. Neste trecho, Edwards apoia-se no trabalho de RobertMeister, Political Identity: Thinking Through Marx (Cambridge, MA: Basil Blackwell, 1990).

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    133

    Rodney F. de Carvalho

    Outros grupos colocaram-se temporariamente em posies de antagonismo, emgeral enxergando nas novas tecnologias ameaas aos seus empregos, como porexemplo, especialistas em Telex ou em multiplexadores estatsticos analgicos.

    Os discursos tecnolgicos, verso empresarial, corporativa, do discurso nacionalde Paul Edwards, tm papel importante na justificativa de projetos de TI e naaglutinao das foras necessrias conduo destes projetos. Embora no sejamsuficientes para assegurar a implantao bem-sucedida destes projetos, mesmo apseventuais fracassos os discursos so reformulados e agregam novos avanostecnolgicos, ressurgindo mais adiante. Nesse sentido funcionam como umabandeira, motivando os tcnicos envolvidos e aglutinando interesses de fornecedorese demais atores.

    Bibliografia

    BURGESS, M. (2004): Principles of Network and Systems Administration, Inglaterra,John Wiley & Sons Ltd.

    CARVALHO, M. S. R. M. (2006): A Trajetria da Internet no Brasil: Do Surgimentodas Redes de Computadores Instituio dos Mecanismos de Governana,dissertao de Mestrado, COPPE-UFRJ, setembro, disponvel emhttp://www.nethistory.info/Resources/Internet-BR-Dissertacao-Mestrado-MSavio-v1.2.pdf, consulta em maio de 2011.

    CARVALHO, R. F. (2010): O surgimento das redes locais no Brasil, XXXVIConferncia Latino-americana de Informtica, CLEI / I SHIALC, Simpsio de Histriada Informtica na Amrica Latina e Caribe, outubro, San Lorenzo, Paraguay,Universidad Nacional de Asuncin, Instituto Politcnico (org).

    DANTAS, V. (1988): Guerrilha Tecnolgica, a Verdadeira Histria da Poltica Nacionalde Informtica, Rio de Janeiro, LTC Editora, disponvel em formato PDF emhttp://www.mci.org.br/biblioteca/guerrilha_tecnologica.pdf.

    Diversos artigos e tradues de artigos clssicos sobre a Teoria Ator-Rede e assuntoscorrelatos (2003), disponveis em http://www.necso.ufrj.br/.

    EDWARDS, P. N. (1995): The Closed World: Computers and the Politics of Discoursein Cold War America (Inside Technology), Cambridge, MA, The MIT Press.

    EDWARDS, P. N., JACKSON, S. J., BOWKER , G. C. e KNOBEL, C. P. (2007):Understanding Infrastructure: Dynamics, Tensions and Design - Report of aWorkshop on History & Theory of Infrastructure: Lessons for New ScientificCyberinfrastructures, NSF Office of Cyberinfrastructure, janeiro.

    LAW, J. (1992): Actor Network Resource: An Annotated Bibliography, Lancaster, GrBretanha, Lancaster Univ., Centre for Science Studies, Department of Sociology,disponvel em http://www.lancs.ac.uk/fass/centres/css/ant/antres.htm.

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    Rodney F. de Carvalho

    134

    LEAL, R. M. P. (2001): Atraso e Modernidade no Brasil Globalizado: Uma anlise dodiscurso da mdia na privatizao das telecomunicaes, dissertao de mestrado,Escola de Comunicao, UFRJ, Rio de Janeiro.

    STANTON, M. A. (1993): A Evoluo das Redes Acadmicas no Brasil: parte 1 - at1993, publicado originalmente em ingls como Non-commercial networking in Brazil,San Francisco, Proceedings do Inet93, disponvel em http://www.ic.uff.br/~michael/pubs/evolucao.htm, consulta em maio de 2011.

    Entrevistas

    Foram entrevistados, conforme mencionado no Captulo 2 - Metodologia, osseguintes engenheiros que trabalharam ou trabalham na Embratel:

    lvaro Antnio Bastos FreireFernando Douglas Vitorino FigueiredoFrancisco Jos Simes dos Reis Navegantes de OliveiraPaulo Fbio Bregalda do CarmoSrgio de Magalhes Bordeaux RegoTelmo Cardoso Lustosa

    Nota

    Sem embargo da valiosa contribuio dos entrevistados, a quem muito agradecemos,as opinies e comentrios aqui relatados so de inteira responsabilidade do autor,no necessariamente refletindo idias ou opinies dos entrevistados ou de outraspessoas mencionadas. A historiografia aqui relatada no tem a pretenso de cobrirpor completo toda a riqussima contribuio que os entrevistados e outras pessoasmencionadas deram para o desenvolvimento da Embratel, mencionando apenasfatos pontuais que marcam o desenvolvimento dos discursos enfocados. Finalmente, preciso notar que muitos outros personagens, aqui no mencionados, participaramdesta histria, em especial o valioso quadro de empregados da Embratel.

    Glossrio

    (Por conciso, no inclumos a maioria das abreviaturas e siglas explicadas noprprio texto ou em notas de rodap)

    ATM - Assynchronous Transfer Mode, tecnologia de comunicao de dados de altavelocidade, deenvolvida ao longo dos anos 1990 como padro internacional (UIT)usada para interligar redes locais, metropolitanas e de longa distncia paraaplicaes multimdia.

    BVRJ - Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Ver http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/a-bmfbovespa/sobre-a-bolsa/empresas-do-grupo/bvrj/bvrj.aspx?idioma=pt-br

  • Revista CTS, n 18, vol. 6, Agosto de 2011 (pg. 105-136)

    135

    Rodney F. de Carvalho

    CP/M - Control Program for Microcomputers, antigo sistema operacional usado emmicrocomputadores de 8 bits, substitudo, no incio dos anos 1980, como padro demercado pelo MS/DOS da Microsoft, que por sua vez deu lugar, nos anos 1990, aoMicrosoft Windows, ao Mac OS da Apple e aos vrios dialetos de Linux.

    Cyborg - Acrnimo para Cybernetic Organism, Organismo Ciberntico, um hbrido derob e ser vivo, de eletrnica, mecnica fina e engenharia gentica. Ver DonnaHaraway, A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist-Feminism in theLate Twentieth Century, in Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention ofNatu