97
Raphael Jaquier Bossler Pigozzo Espectroscopia de infravermelho-próximo em madeiras neotropicais: aplicação na identificação e predição de propriedades físicas. Near-infrared spectroscopy in neotropical woods: application to identification and prediction of physical properties São Paulo 2011

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Raphael Jaquier Bossler Pigozzo

Espectroscopia de infravermelho-próximo

em madeiras neotropicais: aplicação na

identificação e predição de propriedades

físicas.

Near-infrared spectroscopy in neotropical woods:

application to identification and prediction of

physical properties

São Paulo

2011

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Raphael Jaquier Bossler Pigozzo

Espectroscopia de infravermelho-próximo em

madeiras neotropicais: aplicação na identificação e

predição de propriedades físicas.

Near-infrared spectroscopy in neotropical woods: application to

identification and prediction of physical properties

Dissertação apresentada ao Instituto

de Biociências da Universidade de

São Paulo, para a obtenção de Título

de Mestre em Ciências, na Área de

Botânica.

Orientador(a): Gregório Cardoso

Tápias Ceccantini

São Paulo

2011

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Ficha Catalográfica

Pigozzo, Raphael Jaquier Bossler

Espectroscopia de infravermelho-

próximo em madeiras neotropicais:

aplicação na identificação e predição de

propriedades físicas.

97 páginas

Dissertação (Mestrado) - Instituto de

Biociências da Universidade de São Paulo.

Departamento de Botânica.

1. Espectroscopia de Infravermelho-

próximo 2. Madeira 3. Anatomia. I.

Universidade de São Paulo. Instituto de

Biociências. Departamento de Botânica.

Comissão Julgadora:

________________________ _______________________

Prof(a). Dr(a). Prof(a). Dr(a).

______________________

Prof(a). Dr.(a).

Orientador(a)

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Dedicatória

Dedico à minha família

pela compreensão, paciência e

a especial força nos momentos finais.

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Epígrafe

"Nothing is as simple as we hope it will be."

Jim Horning

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Agradecimentos

Ao Prof. Dr. Gregório Cardoso Tápias Ceccantini pela oportunidade, orientação e

paciência.

Ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S/A - IPT, pela

disponibilidade e recursos cedidos para realização deste trabalho.

Ao Diretor do Centro de Tecnologia de Recursos Florestais do IPT, Geraldo José

Zenid, pelo incentivo para o desenvolvimento do trabalho e sua continuidade

posterior.

À responsável do Laboratório de Madeira e Produtos Florestais do IPT, Maria José

de Andrade C. Miranda, pelo apoio, compreensão, liberação de tempo e da

estrutura do Laboratório para realização deste trabalho.

Aos pesquisadores Dr. Takashi Yojo e Dr. Rubens Dias Humphreys, pela paciência

em explicar respectivamente sobre propriedades físicas e mecânicas da madeira e

metodologias estatísticas, além do empréstimo da valiosa bibliografia, sem a qual

seria impossível analisar os dados deste trabalho.

Ao maestral técnico em microtomia Antonio Carlos Franco Barbosa, por, mesmo

com todas as adversidades, não medir esforços no polimento e preparo dos cortes

histológicos e também por todas as horas de conversas inspiradoras.

Aos técnicos do Laboratório Paulo de Assis e Zinaldo pela ajuda na confecção e

preparo dos corpos-de-prova e na determinação da densidade básica das amostras.

Aos colegas de Laboratório Claudia, Francisco e Richard pelo auxílio nas

identificações e preparo de materiais deste trabalho.

À Profa. Dra. Graciela Inês Bolzon de Muniz por apresentar a espectroscopia de

infravermelho-próximo, plantar a idéia do projeto e por me recepcionar na

Universidade Federal do Paraná em meu primeiro contato com o equipamento.

À banca de qualificação, composta pelos Profs. Drs. Verônica Angyalossy, Márcio

Augusto Rabelo Nahuz e Antonio Salatino, pelas valiosas críticas ainda no começo

do desenvolvimento deste trabalho.

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À Lina Maria Almeida da Silva, pela companhia nos momentos difícieis, por ser o

porto seguro da minha sanidade mental e pelo abrigo.

Aos amigos do IPT por ouvirem minhas reclamações, por darem força e caronas

quando preciso, pelos almoços descontraídos e ouvirem as diversas prévias e

divagações sobre o trabalho. Citando o Antonio Carlos, somos uma grande família.

Aos meus amigos dentro e fora da biologia, que de sua forma, deram o suporte

psicológico e inclusive as distrações necessárias para abrir espaço para novas

idéias.

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Índice

INTRODUÇÃO GERAL ........................................................................................................ 1

Propriedades da madeira ............................................................................................. 1 Identificação de madeiras ............................................................................................ 2

ESPECTROSCOPIA NIR ....................................................................................................... 4 Quimiometria ............................................................................................................... 5 Pré-tratamentos ........................................................................................................... 6 Análise qualitativa ........................................................................................................ 7 Análise quantitativa ...................................................................................................... 7 Espectroscopia NIR na madeira ................................................................................... 8

OBJETIVOS GERAIS ...........................................................................................................11 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................................................11

CAPITULO 1

RELAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS DA MADEIRA COM ESPECTRO DE INFRAVERMELHO-PRÓXIMO. ..........................................................................................12

RESUMO ..........................................................................................................................12 ABSTRACT ........................................................................................................................12 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................13 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................................15

Amostras de Madeira ..................................................................................................15 Espectro de infravermelho-próximo (NIR) ....................................................................16 Pré-tratamento do espectro NIR ..................................................................................17 Análise anatômica .......................................................................................................17 Determinação da densidade de massa básica.............................................................18 Correlação entre características e o espectro NIR .......................................................19

RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................20 Características anatômicas e densidade básica ..........................................................20 Espectros de infravermelho-próximo ...........................................................................22 Correlação entre características e o espectro NIR .......................................................26 Análise dos escores ....................................................................................................30 Análise dos loadings-X ................................................................................................33

CONCLUSÕES ...................................................................................................................37

CAPITULO 2

PREDIÇÃO DA DENSIDADE BÁSICA DE MADEIRAS PELA ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO PRÓXIMO ............................................................................................38

RESUMO ..........................................................................................................................38 ABSTRACT ........................................................................................................................38 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................39 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................................42

Amostras de madeira ..................................................................................................42 Densidade ..................................................................................................................42 Espectros de infravermelho próximo (NIR) ..................................................................43 Pré-tratamento do espectro NIR ..................................................................................43 Calibração ..................................................................................................................44 Validação ....................................................................................................................45

RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................47 Densidade ..................................................................................................................47 Espectro de infravermelho ..........................................................................................50 Modelos de calibração ................................................................................................52 Validação ....................................................................................................................55

CONCLUSÕES ...................................................................................................................59

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CAPITULO 3

DISCRIMINAÇÃO DAS MADEIRAS DE DALBERGIA NIGRA E DALBERGIA SPRUCEANA PELA ESPECTROSCOPIA DO INFRAVERMELHO-PRÓXIMO ..........................................60

RESUMO ..........................................................................................................................60 ABSTRACT ........................................................................................................................60 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................61 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................................64

Amostras de madeira ..................................................................................................64 Espectros de infravermelho próximo (NIR) ..................................................................64 Análise de componentes principais .............................................................................65 Classificação SIMCA...................................................................................................66

RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................68 Análise de componentes principais .............................................................................68 Classificação SIMCA (Soft independent modelling of class analogies) .........................70

CONCLUSÕES ...................................................................................................................73

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................74

CONCLUSÕES GERAIS.....................................................................................................76

RESUMO ............................................................................................................................77

ABSTRACT ........................................................................................................................78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................79

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Índice de Figuras

INTRODUÇÃO GERAL

FIGURA 1 – EXEMPLO DE ESPECTROS SEM PRÉ-TRATAMENTO.. ................................................... 6

CAPÍTULO 1

FIGURA 1 - EXEMPLO DOS TIPOS DE PARÊNQUIMA AXIAL UTILIZADOS PARA FORMAÇÃO DOS GRUPOS

..........................................................................................................................16

FIGURA 2 – MÉDIA DOS ESPECTROS BRUTOS DE TODAS AS 25 AMOSTRAS PARA CADA SUPERFÍCIE...........................................................................................................................23

FIGURA 3 – ESPECTROS NIR DOS 25 CORPOS-DE-PROVA DA SUPERFÍCIE TRANSVERSAL. .............24

FIGURA 4 – ESPECTROS NIR DA CELULOSE (VERDE), LIGNINA (PRETO) E ÁGUA (VERMELHO).. .......26

FIGURA 5 – PORCENTAGEM ACUMULADA DA VARIÂNCIA DOS ESPECTROS DE CADA SUPERFÍCIE

(VARIÂNCIA X) EXPLICADA PELOS FATORES DOS MODELOS. ......................................27

FIGURA 6 – PORCENTAGEM ACUMULADA DA VARIÂNCIA-Y TOTAL E DE CADA UMA DAS VARIÁVEIS-Y

EXPLICADA PELOS DIFERENTES MODELOS.. .............................................................30

FIGURA 7 – DISTRIBUIÇÃO DOS ESCORES DO FATOR 1 E DO FATOR 2, DESTACADOS POR SÍMBOLOS

SEGUNDO O GRUPO DO PARÊNQUIMA AXIAL. ...........................................................32

FIGURA 8 – LOADINGS-X DOS MODELOS PARA CADA FATOR PLS................................................36

CAPÍTULO 2

FIGURA 1 – ESPECTRO NIR DA SUPERFÍCIE RADIAL DE CINCO AMOSTRAS DO GRUPO DE

CALIBRAÇÃO.. .....................................................................................................51

FIGURA 2 – CORRELAÇÃO ENTRE VALORES DE DENSIDADE BÁSICA ESTIMADOS PELO NIR (SNV) E

VALORES DE DENSIDADE BÁSICA MEDIDOS PARA O GRUPO DE CALIBRAÇÃO. ...............54

FIGURA 3 – COMPARAÇÃO ENTRE VALORES MEDIDOS DA DENSIDADE BÁSICA E OS ESTIMADOS PELOS

MODELOS UTILIZANDO A PADRONIZAÇÃO SNV DO ESPECTRO.. .................................57

CAPÍTULO 3

FIGURA 1 – EXEMPLO ESPACIAL HIPOTÉTICO DA CLASSIFICAÇÃO SIMCA. ...................................67

FIGURA 2 – DISTRIBUIÇÃO DOS SCORES DAS AMOSTRAS DO GRUPO DE CALIBRAÇÃO ENTRE OS

PRIMEIRO E SEGUNDO COMPONENTE......................................................................68

FIGURA 3 – CONJUNTO DE ESPECTROS DE DALBERGIA NIGRA (LINHAS VERMELHAS) E D. SPRUCEANA

(LINHAS AZUIS) DO GRUPO DE CALIBRAÇÃO E OS LOADINGS DO PRIMEIRO COMPONENTE

(LINHA VERDE).. ...................................................................................................70

FIGURA 4 – DISTÂNCIA EUCLIDIANA ORTOGONAL DAS AMOSTRAS PARA OS MODELOS (SI). ............71

FIGURA 5 – DISTÂNCIAS DAS AMOSTRAS DO GRUPO DE VALIDAÇÃO PARA O MODELO DABERGIA

NIGRA.. ...............................................................................................................72

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Índice de Tabelas

CAPÍTULO 1

TABELA 1 – RELAÇÃO DAS AMOSTRAS DE MADEIRA UTILIZADAS E OS VALORES DA DENSIDADE BÁSICA

(DB) E DAS CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS DETERMINADAS.. ...................................21

TABELA 2 – COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO DE PEARSON ENTRE TODAS AS CARACTERÍSTICAS

ANATÔMICAS E A DENSIDADE BÁSICA. ....................................................................22

CAPÍTULO 2

TABELA 1: DENSIDADE BÁSICA (DB) DOS CORPOS-DE-PROVA UTILIZADOS, SEPARADOS NOS GRUPOS

DE CALIBRAÇÃO E DE VALIDAÇÃO. ............................................................................48

TABELA 2: PARÂMETROS ESTATÍSTICOS DOS MODELOS DE CALIBRAÇÃO OBTIDOS A PARTIR DO

ESPECTRO BRUTO OU COM APLICAÇÃO DOS PRÉ-TRATAMENTOS.. ...............................52

TABELA 3: PARÂMETROS ESTATÍSTICOS DA VALIDAÇÃO COM 15 CORPOS-DE-PROVA DOS MODELOS

DE DESENVOLVIDOS.. .............................................................................................55

CAPÍTULO 3

TABELA 1 – AMOSTRAS DE D. NIGRA E D. SPRUCEANA UTILIZADAS PARA CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO. .........................................................................................................................64

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1

Introdução Geral

A madeira sempre acompanhou a humanidade ao longo de sua história,

sendo utilizada como combustível, na construção de abrigos e na confecção

de ferramentas e outros objetos (RISBRUDT, 2005). Ainda hoje, mesmo com

o desenvolvimento de outros materiais como plástico, metais e concreto, a

madeira possui espaço amplo no mercado, sendo que no Brasil representa

3,4% do PIB nacional (SBS, 2008).

Dentre as qualidades da madeira, destacam-se a alta resistência

mecância em relação à sua densidade, o baixo custo de processamento e

propriedades que permitem o isolamento térmico e elétrico. Além disso, é um

dos poucos materiais de uso estrutural com possibilidade de ser renovável e

que, quando usado na produção de um bem, possui emissão de gás carbônico

negativa (RISBRUDT, 2005; ZENID, 1997).

Contudo, por ter uma origem biológica, a madeira possui grande

variabilidade em suas propriedades físicas, mecânicas e químicas. Esta

variação pode ocorrer dentro de uma mesma árvore (variação intra-

individual), entre indivíduos de uma mesma população (variação

intraespecífica) e principalmente entre as diferentes espécies (variação

interespecífica).

Propriedades da madeira

Como todo material, é preciso conhecer as características e

propriedades da madeira para permitir o melhor aproveitamento e a utilização

deste recurso natural.

Densidade de massa, teor de umidade e retratibilidade são as

propriedades físicas da madeira que mais se destacam, sendo importantes na

maior parte das aplicações, desde fonte de energia até como material

estrutural (HAYGREEN & BOWYER, 1989). A densidade de massa está

relacionada à quantidade de espaços vazios na madeira. O teor de umidade

trata-se da presença de água dentro da madeira (WINANDY, 1994). Devido à

natureza higroscópica da madeira, a densidade de massa varia com o teor de

umidade da madeira. A retratibilidade representa as mudanças dimensionais

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2

que ocorrem na madeira com a redução do teor de umidade (SIMPSON &

TENWOLDE, 1999).

As propriedades mecânicas da madeira são essenciais no uso

estrutural, pois determinam a resistência aos esforços a que será submetido o

material. No dimensionamento de postes e colunas, por exemplo, é necessário

ter conhecimento da resistência a compressão axial e flexão estática da

madeira empregada. Na escolha de madeiras para caixotaria, é importante

saber a resistência ao choque e ao cisalhamento (IPT, 1985).

Teor de celulose, lignina e extrativos estão entre as propriedades

químicas da madeira fundamentais na determinação do processo de produção

de celulose, e junto com o comprimento da fibra, afetam a qualidade final do

papel. A resistência ao ataque de organismos xilófagos também tem relação

com as propriedades químicas, sendo importante na escolha das madeiras para

aplicação em ambientes propícios a biodeterioração, como torres de

resfriamento, deques e dormentes ferroviários (LOPEZ & MILANO, 1986).

Devido a variabilidade interespecífica, ao longo da história da

utilização da madeira foram desenvolvidos métodos para verificar as

propriedades em madeiras de diferentes espécie. Estes dados tem como

objetivo estabelecer parâmetros para o planejamento adequado na utilização

da madeira. Portanto, para madeiras de diversas espécies são encontradas

informações sobre suas propriedades (MAINIERI & CHIMELO, 1989).

Portanto, para satisfazer com melhor eficiência a aplicação desejada

para madeira, é fundamental saber corretamente a qual espécie ela pertence.

Isso se faz necessário, por exemplo, no dimensionamento de estruturas

(telhados, pontes, embarcações), na produção de papel (espécies com alto teor

de celulose e baixa quantidade de extrativos) e outros usos.

Identificação de madeiras

Para identificação taxonômica das espécies vegetais, são utilizados

ramos com as estruturas reprodutivas maduras. Pela dificuldade de coleta de

flores e frutos de espécies arbóreas nas florestas, na dendrologia é feita a

identificação pelas características vegetativas das árvores. Todavia, quando a

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3

árvore é abatida e processada, ocorre a perda de todas as características

acima, restando somente a madeira.

Analisando a variação dos elementos que compõem o xilema

secundário das espécies arbóreas, nota-se que algumas características

possuem valor taxonômico, às vezes sendo típicas para algumas famílias,

gêneros ou mesmo espécies (METCALFE; CHALK, 1950). Com isso, a

análise da anatomia do lenho permite a identificação das madeiras.

Décadas de estudo de numerosos pesquisadores da anatomia da

madeira geraram uma grande quantidade de publicações descrevendo as

características de diversos grupos. Para madeiras com ocorrência no Brasil,

podem-se citar alguns exemplos como os trabalhos de MAINIERI et al.

(1983) e DÉTIENNE e JACQUET (1983). O arranjo do parênquima axial, o

agrupamento e tamanho dos poros, a demarcação de camadas de crescimento,

a frequência, largura e altura dos raios parenquimáticos, são algumas das

características diagnósticas levantadas nesses trabalhos.

No processo de identificação de madeiras utilizam-se chaves de

identificação ou programas de computador (Ex. Guess, IMAC, Insidewood,

Madeiras Comerciais do Brasil1), iconografias ilustradas (MAINIERI et al.

1983; DÉTIENNE & JACQUET 1983) e, finalmente, a comparação da

anatomia do segmento de madeira desconhecida com amostras de referência

de xilotecas (HOADLEY, 1990). Para identificação de madeiras, a

observação da anatomia pode ser feita através de uma lupa de dez aumentos

(processo macroscópico) ou com a preparação de cortes histológicos

analisados através de microscópio de luz transmitida, em diversos aumentos

(processo microscópico).

Apesar de muito útil, existem algumas dificuldades na identificação de

madeiras pela anatomia do lenho. A primeira está relacionada ao treinamento

e subjetividade do identificador no reconhecimento das características da

madeira. Outro problema é o acesso à superfície transversal do segmento, na

qual se encontra a maior parte dos caracteres para identificação. Por fim, em

geral, a definição da madeira ao nível específico é raramente possível, devido

1 Guess 1.1: WHEELER et al. (1986); InsideWood (2004), IMAC – CHIMELO et al. (1993), Madeiras Comerciais do Brasil: CORADIN et al., (2009)

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4

à semelhança das características anatômicas entre espécies de um mesmo

gênero (METCALFE; CHALK, 1950). Essa limitação se torna relevante para

gêneros nos quais as espécies possuem variação nas propriedades físicas e

mecânicas e para espécies que se encontram ameaçadas de extinção.

O avanço tecnológico possibilitou o aprimoramento e surgimento de

técnicas para identificação e verificação das propriedades das madeiras.

Dentre as novas metodologias está a espectroscopia de infravermelho -

próximo. Esta técnica é considerada bastante atrativa por ser rápida, possuir

equipamentos de relativo baixo custo e exigir pouco ou nenhum preparo da

amostra (SO et al., 2004). Por esse último motivo, é classificada como uma

metodologia não-destrutiva (BRASHAW et al., 2009).

Espectroscopia NIR

A base da espectroscopia de infravermelho-próximo (NIR, near-

infrared) está na interação da luz, na faixa do espectro eletromagnético entre

750 e 2500 nm, com as ligações moleculares do material (PASQUINI, 2003).

Os feixes de luz, ao incidirem sobre um material, são em parte

refletidos, em parte refratados e em parte absorvidos. Na faixa do

infravermelho, os fótons absorvidos são aqueles que possuem energia igual à

necessária para mudança no estado vibracional das ligações de uma molécula.

Esta mudança depende dos átomos e do tipo de ligação presente na molécula

(GROOT, 2004). Nos espectofotômetros NIR, os feixes de luz que retornam

do material são captados por sensores especiais para a faixa do

infravermelho-próximo. O espectro resultante é composto por diferentes

níveis de absorbância entre os comprimentos de onda (as bandas de

absorção), formadas pelos sobretons e combinações das frequências

vibracionais fundamentais das moléculas, o que é característico da

composição do material (SIESLER, 2002).

Sendo assim, a espectroscopia NIR pode ser utilizada para quantificar

compostos no material, pois segundo a lei de Beer-Lambert, a concentração

de um absorsor (substância) é proporcional a absorbância da amostra.

Contudo, o espectro NIR não carrega apenas informações sobre a composição

química da amostra. Em especial, quando adquirido por reflexão difusa, a

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5

superfície e tamanho das partículas na amostra apresentam influência no

espectro (DAHM & DAHM, 2004).

O emprego da espectroscopia NIR para análises é recente, com início

na década de 1950. Isso deve-se provavelmente à natureza complexa do

espectro NIR, o qual contém regiões de absorção amplas e muitas vezes

sobrepostas, em contraposição com outros tipos de espectroscopia como a do

infravermelho-médio (2500 nm à 50 000 nm), na qual o espectro é formado

por picos bem definidos e podem ser utilizados para identificar a composição

do material (HINDLE, 2008). As primeiras aplicações da espectroscopia NIR

foram feitas por Karl Norris e visavam descobrir maneiras de quantificar

rapidamente o teor de óleo, proteína e umidade no trigo (HINDLE, 2008).

Contudo, a aplicação da técnica em larga escala começou há cerca de 20 anos,

como provável resultado do avanço tecnológico dos computadores,

possibilitando o processamento dos dados necessários para interpretação do

espectro (SIESLER, 2002).

Atualmente, a espectroscopia NIR tem sido aplicada a produtos

agrícolas como grãos e sementes (WILLIAMS & SOBERING, 1993), na

indústria alimentícia (INDAHL et al., 1999), farmacêutica (VREDENBREGT

et al., 2008), petrolífera (SOTELO, 2006) e, até mesmo, na medicina

(GILLER et al., 2003).

Quimiometria

Conforme mencionado, o espectro NIR é complexo e marcado pelo

efeito das combinações dos movimentos harmônicos das diferentes moléculas

que compõem um material heterogêneo como a madeira. Sendo assim, de

modo a entender e captar este conjunto de dados que contém uma ou mais

características de interesse, são utilizadas técnicas de quimiometria.

A quimiometria é um ramo da química que se utiliza de metodologias

matemáticas e estatísticas para análise de dados químicos, visando extrair

informações de estrutura, composição e propriedades físico -químicas dos

materiais testados (GROOT, 2004). Em espectroscopia NIR, as técnicas de

quimiometria são utilizadas para transformação dos espectros NIR (pré-

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6

tratamento) e para análise das relações dos espectros com as características de

interesse na madeira.

Pré-tratamentos

Na espectroscopia NIR é possível obter os espectros de um material de

interesse com pouco preparo das amostras. Contudo, em especial ao utilizar a

reflexão difusa para a captação do espectro, variações no tamanho das

partículas ou na rugosidade da superfície das amostras causam o

espalhamento da luz, resultando em interferências no espectro . Estas

interferências dificultam ou mesmo impossibilitam encontrar a relação entre o

espectro e as características de interesse do material.

O efeito do espalhamento é notado principalmente como o

deslocamento vertical dos espectros de um conjunto (Figura 1). Em vista

disso, algumas transformações matemáticas podem ser aplicadas ao espectro

de forma a minimizar tais diferenças. Essas modificações, feitas antes do

estabelecimento da relação do espectro com as características das amostras,

são denominadas de pré-tratamento (BLANCO et al., 1997).

Figura 1 – Exemplo de espectros sem pré-tratamento. As linhas vermelhas no lado

esquerdo mostram o deslocamento vertical entre os espectros. Modificado

de NÆS et al., (2004).

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7

Análise qualitativa

As diferenças nos espectros NIR entre amostras de um conjunt o tornam

possível a separação de grupos. Quando essa discriminação é feita sem que os

grupos sejam definidos previamente fala-se em métodos sem supervisão e

tratam por agrupar as amostras pelas similaridadaes que possuem. Na

espectroscopia NIR isso é considerado uma forma exploratória de analisar as

relações entre as amostras (NÆS et al., 2004).

Por outro lado, também é possível aplicar a espectroscopia NIR na

classificação de novas amostras em um grupo de interesse. Nesse caso,

utilizando o espectro NIR das amostras de grupos pré-definidos, são

construidas regras de alocação a qual serão aplicadas as amostras

desconhecidas (INDAHL et al., 1999). Os procedimentos para criação destas

regras podem utilizar toda a informação do espectro, como no método SIMCA

(Soft independent modelling of class analogies) e a análise discriminante por

mínimos-quadrados parciais (PLS-DA, Partial least-square discriminant

analysis), ou a partir da seleção de alguns comprimentos de onda, como

análise discriminante linear (MARK, 2004; NÆS et al., 2004).

Análise quantitativa

Muitas vezes, o que se procura com a espectroscopia NIR é a

determinação de uma ou mais características de interesse (concentração de

um composto ou valor de uma propriedade) no material testado com

utilizando apenas o espectro. Com isso evita-se o uso de metodologias de

laboratório mais caras e lentas (métodos de referência). Na agricultura, por

exemplo, aplica-se a espectroscopia NIR para determinação da quantidade de

proteína em grãos de trigo, em substituição ao teste de Kjeldahl, feito a partir

de reações químicas e destilação, o qual consome mais tempo e possui alto

custo (MARTENS & NÆS, 2004).

Contudo, para a substituição do método de referência pela

espectroscopia NIR é necessário que se estabeleça a correlação entre o

espectro e a característica de interesse. A esta etapa chama-se calibração e

envolve encontrar a regressão entre o espectro e os valores determinados pelo

método de referência para um grupo de amostras (HRUSCHKA, 2004).

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8

A maior parte dos casos de calibração do espectro NIR para

determinação de alguma propriedade demanda que a regressão seja obtida por

algum método de estatística multivariada. Isso ocorre porque o espectro NIR,

é composto por muitas variáveis, que são os valores de absorbância dos

comprimentos de onda em um intervalo (por exemplo, 1100nm à 2400nm.

Estas variáveis são correlacionadas entre si e apresentam-se, em geral, em

maior número que o de dados, o que leva a multicolinearidade. Devido a

essas características, a regressão é calculada utilizando-se combinações

lineares (componentes ou fatores) das variáveis independentes (espectro)

(NÆS et al., 2004). Dentre os métodos mais aplicados estão a regressão por

componentes principais (PCR, Principal component regression) ou por

mínimos quadrados parciais (PLS, Partial least-square) (MARTENS & NÆS,

2004).

Espectroscopia NIR na madeira

O início da aplicação da espectroscopia NIR em madeiras foi

estimulado em grande parte para solução de problemas na indústria de

celulose e papel, como a estimativa da porcentagem de matér ia seca e

densidade básica em grandes lotes (THYGESEN, 1994), ou na determinação

de parâmetros ligados ao processo de polpação da madeira (MICHELL,

1995). Assim, propostas de calibrações do espectro NIR para avaliação da

composição química de madeiras começaram a ser apresentadas em diversos

trabalhos citados na revisão de TSUCHIKAWA (2007). Dentre eles, vale

ressaltar o trabalho desenvolvido por POKE e RAYMOND (2006) com

Eucalyptus globulus, no qual os espectros NIR de amostras de madeira sólida

de várias árvores foram utilizados para estimar o teor de celulose e o

conteúdo de extrativos e de lignina da madeira.

As propriedades físicas e mecânicas da madeira, como dens idade de

massa, rigidez, módulo de elasticidade e módulo de ruptura, também podem

ser estimadas pela espectroscopia NIR (TSUCHIKAWA, 2007). Modelos

usando o espectro para previsão da densidade de massa da madeira foram

desenvolvidos para diferentes espécies de coníferas (THYGESEN, 1994;

HAUKSSON et al., 2001; SCHIMLECK et al., 2002; ACUNA; MURPHY,

Page 20: Espectroscopia de infravermelho-próximo em … Jaquier Bossler Pigozzo Espectroscopia de infravermelho-próximo em madeiras neotropicais: aplicação na identificação e predição

9

2006), eucalipto (SCHIMLECK et al., 1999 e 2001a; HEIN et al., 2009;

VIANA et al., 2009) e outras espécies de angiospermas (SCHIMLECK et al

2001b e 2003a; DEFO et al., 2007).

O espectro NIR também já foi utilizado para avaliar características

anatômicas de coníferas, como número e largura das camadas de crescimento,

comprimento e diâmetro das traqueídes e espessura da parede celular

(HAUKSSON et al., 2001; SCHIMLECK & EVANS, 2004; JONES et al.,

2005; VIA et al., 2005). Além desses, o ângulo das microfibrilas de celulose

na parede celular das traqueídes foi estimado pela espectroscopia NIR com

erro máximo de cinco graus (SCHIMLECK et al., 2003b e 2005; JONES et

al., 2005).

A multiplicidade de informação contida no espectro NIR, aliada à

rapidez e baixo custo com que é feita a aquisição do espectro, despertou

interesse no uso da espectroscopia NIR como ferramenta em programas de

melhoramento genético de plantações florestais comerciais (SCHIMLECK,

2008). Com esse objetivo, em BAILLÈRES et al., (2002) foram

desenvolvidas calibrações para estimar tanto características químicas (lignina

e extrativos) quando propriedades mecânicas e físicas (tensão de crescimento

e contração) em híbridos de eucalipto de um programa de melhora mento

genético.

A identificação de madeiras foi objetivo de estudo já no início da

aplicação da espectroscopia NIR, com equipamentos capazes de detectar

apenas alguns comprimentos de onda na faixa do infravermelho (NAIR &

LODDER, 1993). Com o acesso a equipamentos mais precisos e cobrindo de

forma mais ampla o espectro NIR, novos trabalhos, focados na discriminação

de madeiras pela espectroscopia e técnicas de classificação multivariada,

foram desenvolvidos (BRUNNER et al., 1996; TSUCHIKAWA et al., 2003;

ADEDIPE et al., 2008).

No Brasil, a aplicação da espectroscopia NIR na madeira tem

acompanhado as pesquisas no exterior, com o desenvolvimento de calibrações

para determinação de características físicas, mecânicas, químicas e

anatômicas de Pinus sp. (NISGOSKI, 2005; (MAGALHÃES et al., 2005)

CARNEIRO, 2008) e eucalipto (HEIN et al., 2009; VIANA et al., 2009),

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10

assim como a discriminação de madeiras brasileiras pelo espectro NIR

(PASTORE et al., 2011).

Embora o uso da espectroscopia NIR em produtos florestais venha

crescendo nos últimos anos, ainda existem lacunas de conhecimento sobre

essa técnica quando aplicada à madeira. A maior parte das calibrações com o

espectro NIR tem focado principalmente as madeiras de coníferas e de

eucalipto. Mesmo em estudos com outras angiospermas, as calibrações são

desenvolvidas utilizando-se madeiras da mesma espécie ou gênero. Portanto o

efeito da variabilidade entre as espécies de madeiras foi pouco abordado na

literatura (SCHIMLECK et al 2001b e 2003a).

A base da identificação de madeiras está principalmente nas variações

de suas características anatômicas. Apesar do uso da espectroscopia NIR na

discriminação de espécies, é pouco conhecida a relação do espectro com tais

características, em especial àquelas importantes para identificação de

madeiras, como a disposição do parênquima axial, diâmetro dos vasos,

largura dos raios e outras.

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11

Objetivos Gerais

Em vista da lacuna de conhecimento sobre o uso da espectroscopia de

infravermelho-próximo em madeiras de angiospermas das florestas tropicais,

o presente estudo teve como objetivo geral, prospectar a relação do espectro

NIR com características anatômicas importantes para identificação de

madeiras e sua aplicação para estimar propriedades físicas e para

identificação, utilizando espécies de angiospermas encontradas no Brasil.

Objetivos específicos

1) Analisar a relação do espectro NIR da madeira com características

anatômicas ligadas aos vasos e ao parênquima axial e radial.

2) Utilizar a espectroscopia NIR para desenvolver modelos de calibração

para estimar a densidade básica da madeira de diferentes espécies.

3) Aplicar a espectroscopia NIR na discriminação de espécies próximas e de

difícil distinção: Dalbergia nigra e D. spruceana.

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Capitulo 1:

Relação das características anatômicas da

madeira com espectro de infravermelho-próximo.

Resumo

A identificação de madeiras pela anatomia do lenho baseia-se principalmente nas

variações do arranjo, de abundância e da frequência dos tipos celulares do xilema secundário. A espectroscopia de infravermelho-próximo (NIR), técnica que vem sendo aplicada para

estimar diferentes propriedades físicas, mecânicas e químicas da madeira, também tem sido

utilizada para discriminação de madeiras de algumas espécies. Assim, o presente trabalho

teve como objetivo estudar a relação do espectro NIR com as características anatômicas e a densidade básica de madeiras. Foram escolhidas seis características anatômicas, consideradas

importantes no processo de identificação do lenho, as quais foram analisadas em 25 amostras

de diferentes espécies. As amostras foram agrupadas segundo a disposição do parênquima axial. A aquisição dos espectros foi feita nas superfícies transversal, longitudinal radial e

longitudinal tangencial de cada corpo-de-prova. Para análise foi utilizado o método de

mínimos-quadrados parciais (PLS), no qual o espectro NIR foi relacionado à frequência e diâmetro dos vasos, frequência, largura e altura dos raios, arranjo do parênquima axial e a

densidade básica. Os resultados mostraram que a densidade básica está mais relacionada ao

espectro NIR que às características anatômicas da madeira. As características anatômicas,

frequência e largura dos raios foram as que apresentaram a maior relação com espectro das superfícies longitudinais. Os resultados sugerem que o espectro NIR está mais relacionado a

caracteres anatômicos ligados a aspectos químicos das madeiras. Logo, a espectroscopia de

infravermelho-próximo pode ser muito útil como ferramenta complementar para identificação de madeiras.

Abstract

Wood identification by anatomical features is based primarily on the variations of arrangement, abundance and frequency of cell types in the secondary xylem between tree

species. The near-infrared spectroscopy, a technique that has been used to predict physical,

mechanical and chemical properties, has been applied to wood discrimination of some

species. The aim of the present work was to study the NIR spectra relation with wood anatomical features and basic density. Six anatomical features important to wood

identification were choose and analyzed in 25 samples of different species. Samples were

grouped according to their axial parenchyma type. NIR spectra were acquired from transversal radial and tangential longitudinal surfaces from each wood block. The analysis

was made using partial least-squares (PLS) method, in which the NIR spectra was related to

vessel frequency and diameter; rays frequency, width and height; axial parenchyma arrangement and basic density. The results showed that basic density is more related to NIR

spectrum than the wood’s anatomical features. Rays frequency and width were the anatomical

features with best relation to NIR spectrum from longitudinal faces. The results suggest that

the NIR spectrum is more related to anatomical features linked to woods’ chemical aspects. Therefore, the near-infrared spectroscopy can be very useful as a complementary tool for

wood identification.

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13

Introdução

A madeira, antes de um recurso natural utilizado pelo homem,

constitui parte do corpo de diversos grupos vegetais. Assim, ela também é

referida como lenho ou xilema secundário, um complexo tecido formado por

diferentes tipos celulares que juntos atuam nas funções de condução da seiva

xilemática, sustentação mecânica e reserva (EVERT, 2006).

No grupo mais diverso de plantas vasculares, as angiospermas, os

principais tipos celulares presentes no xilema secundário são: elementos de

vasos, fibras e parênquima. Em geral, cada tipo está relacionado com uma das

três funções principais do tronco: condução, sustentação e armazenamento de

metabólitos.

Variações de forma, arranjo e abundância dessas células são

encontradas nas diferentes essências florestais. A disposição do parênquima

axial, frequência e diâmetro dos vasos, e frequência, largura e altura de raios

são alguns dos caractéres mais importantes na diagnose de uma espécie pela

anatomia da madeira (METCALFE; CHALK, 1950). Por esse motivo, a

análise dessas características é fundamental na identificação de madeiras pela

anatomia do lenho.

A espectroscopia de infravermelho-próximo (NIR) é uma técnica nova

que vem sendo utilizada para classificação e determinação de propriedades

das madeiras (TSUCHIKAWA, 2007). O uso potencial para identificação de

madeiras já foi estudado com diferentes espécies (NAIR & LODDER, 1993;

BRUNNER et al., 1996; TSUCHIKAWA et al., 2003), assim como a

aplicação para estimar propriedades físicas, mecâncias e químicas das

madeiras (BAILLÈRES et al., 2002; SCHIMLECK et al., 2002; POKE &

RAYMOND, 2006).

A maior parte dos trabalhos que relacionam o espectro NIR com

características anatômicas da madeira utilizou espécies de coníferas, para

estimar o comprimento de traquídes e espessura de sua parede, as quais têm

importante influência na qualidade da polpa de celulose para fabricação de

papel (HAUKSSON et al., 2001; SCHIMLECK & EVANS, 2004; NISGOSKI,

2005; MAGALHÃES et al., 2005; VIA et al., 2005).

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14

A relação do espectro NIR com anatomia ainda é pouco estudada em

madeiras de angiospermas. Também com interesse na me lhoria dos processos

e produtos da indústria de papel e celulose, a espectroscopia tem sido

aplicada em espécies de eucalipto para estimar características das fibras,

como comprimento, largura e diâmentro do lume, e espessura da parede

(HEIN et al., 2009; VIANA et al., 2009).

Além dos estudos com a espectroscopia NIR estão principalmente

relacionados às madeiras de coníferas ou de eucalipto, a relação do espectro

NIR com outros tecidos do xilema secundário ainda não foi abordada pela

literatura trabalhos. Portanto pouco se conhece da influência que a grande

variacão de características anatômicas e propriedades das madeiras tropicais

apresentam sobre o espectro NIR.

Em vista disto, o presente trabalho teve como objetivo verificar a

relação do espectro NIR com características anatômicas de madeiras

brasileiras, dando ênfase às variações do lenho apresentadas por vasos e pelos

parênquimas, axial e radial, as quais são importantes para identificação de

madeira. Comparativamente foi investigada também arelação entre a

densidade básica e o espectro NIR.

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15

Materiais e métodos

Amostras de Madeira

O arranjo do parênquia axial do xilema secundário é uma das

características mais importantes na diagnose de espécies de angiospermas no

processo de identificação pela anatomia da madeira. Na lista de

características microscópicas para identificação de madeiras (IAWA

COMMITTEE, 1989) são elencadas 14 definições para a disposição do

parênquima axial.

Devido a esse grande valor para identificação foi verif icada a

capacidade do espectro NIR em discriminar as madeiras pela disposição do

parênquima axial. Para isso, foram estabelecidos cinco grupos de acordo com

o tipo de parênquima axial (Figura 1): indistinto; difuso em agregados;

linhas, faixas, reticulado e escalariforme; marginal; vasicêntrico ou aliforme

(IAWA COMMITTEE, 1989). Para cada um desses grupos, foram

selecionadas cinco amostras de madeira de espécies diferentes e

representativas do tipo de parênquima axial a ela designado (Tabela 1).

Prezou-se pela escolha de amostras de cerne que não apresentassem defeitos

aparentes, como grã revessa e/ou presença de ataque de fungos. As espécies

utilizadas estão depositadas na Xiloteca Calvino Mainieri (BCTw)

De cada amostra foi retirado um corpo-de-prova de formato cúbico e

de dimensões aproximadas de dois centímetros de aresta. Para a remoção de

irregularidades, as superfícies transversal e longitudinais radial e tangencial

de cada corpo-de-prova foram polidas em micrótomo de deslize com navalha

tipo C.

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16

Figura 1 - Exemplo dos tipos de parênquima axial utilizados para formação dos grupos.

A – Indistinto, Tapirira guianensis (BCTw 12019). B – Difuso e em agregados – Caryocar vilosum (BCTw 691). C – Linhas, faixas ou

reticulado, Cariniana legalis (BCTw 60). D – Marginal, Cedrela odorata

(BCTw 19582). E – Vasicêntrico, Parkia multijuga (BCTw 15255). F –

Aliforme, Tabebuia aurea (BCTw 9456). Escala: 0.5 mm.

Espectro de infravermelho-próximo (NIR)

Os espectros foram obtidos por reflexão difusa por sonda de fibra

óptica do espectofotômetro Ocean Optics NIR 256-2.5, posicionada

perpendicularmente à superfície polida dos corpos-de-prova. A faixa de

comprimento de onda () do infravermelho-próximo utilizada foi de 1100 à

2400 nm, dividida em intervalos de cerca de sete nanômetros. Cada espectro

corresponde à média de duas mil aquisições de um milissegundo, obtidas em

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diferentes posições da superfície dos corpos-de-prova. Os valores de reflexão

(R) foram transformados para absorbância pelo cálculo de log 1/R

(MARTENS & NÆS, 2004).

Pré-tratamento do espectro NIR

Em espectroscopia NIR é comum aplicar transformações matemáticas

aos espectros, visando minimizar o efeito do espalhamento da luz causado por

variações no tamanho das partículas ou na rugosidade da superfície das

amostras (NÆS et al., 2004). Essas transformações são chamadas de pré-

tratamentos. No presente estudo, como pré-tratamento do espectro, foi

aplicada a padronização SNV (Standard normal variate).

Na padronização SNV, primeiro o espectro é centralizado a partir da

subtração do valor de absorbância de cada comprimento de onda pela

absorbância média do espectro. Em seguida, cada valor dos comprimentos de

onda é dividido pelo desvio-padrão das absorbâncias do espectro. Nessa

transformação, os espectros são dimensionados de forma a terem média zero e

variância unitária (DHANOA et al., 1994).

Análise anatômica

Após a obtenção dos espectros dos corpos-de-prova, foram preparados

cortes histológicos das superfícies transversais e longitudinais . Os corpos-de-

prova foram colocados para fervura em solução de glicerina (20%) por

diferentes intervalos de tempo até seu amolecimento. Em seguida, foram

seccionados os cortes histológicos em micrótomo de deslize com espessuras

variando de 15 µm a 30 µm. A superfície utilizada para retirada dos cortes

histológicos foi a mesma da qual se obtiveram os espectros NIR. Parte dos

cortes de cada superfície foi clarificada com hipoclorito de sódio 60% e

lavadas com água corrente. Estes cortes foram então corados com safranina

(1% em solução etanólica 50%). A outra parte dos cortes foi mantida com sua

coloraçao natural. Os cortes foram, por fim, desidratados em série etanólica,

transferidos para acetado de butila e montados em bálsamo do Canadá, entre

lâmina e lamínula de vidro.

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18

As medidas anatômicas das lâminas foram baseadas nas “Normas de

Procedimentos em Estudos de Anatomia de Madeira” (CORADIN & MUÑIZ,

DE, 1992). Foram determinados: frequência de vasos por mm2 (FV),

frequência de raios por mm linear (FR), diâmetro tangencial e radial dos

vasos (DTV e DRV, respectivamente), altura dos raios (AR) e largura dos

raios (LR). Tais siglas são utilizadas ao longo do texto.

Determinação da densidade de massa básica

Para medição da densidade de massa básica (Db), o volume das

amostras foi calculado por deslocamento de água e a massa das amostras

medida em balança analítica. A razão entre massa inicial e volume inicial do

corpo-de-prova possibilitou a obtenção dos valores de densidade aparente

(Dap). Em seguida determinou-se a porcentagem de umidade inicial através da

fórmula:

onde U é a umidade, mi é a massa inicial e ms é a massa final do corpo-de-

prova após secagem em estufa a 103± 2ºC por 48h.

Utilizando os valores de Dap e U, foi calculada a densidade básica (Db)

de cada corpo-de-prova utilizando-se a equação abaixo, a qual está baseada

em (SIAU, 1971):

Após a determinação da densidade de massa básica foi realizado um

teste de correlação linear de Pearson (p = 0,05) entre cada característica

anatômica e a densidade básica das amostras selecionadas (Tabela 2).

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19

Correlação entre características e o espectro NIR

Para correlacionar o espectro com a densidade básica e as

características anatômicas das amostras foi empregado o método de mínimos-

quadrados-parciais (PLS – Partial Least Square). Para os cálculos estatísticos

utilizou-se o programa Unscrambler® v9.7 (Camo Software AS).

Primeiramente, os comprimentos de onda do espectro (variáveis x) são

organizados na matriz X, e a densidade básica e as características anatômicas

(variáveis y) são organizadas na matriz Y. Cada variável y é dividida por seu

desvio-padrão para padronização. Esse procedimento é necessário, pois a

densidade básica e as características anatômicas foram mensuradas em

unidades diferentes e possuem intervalos de valores distintos.

No método PLS, os elementos da matriz X são transformados em

combinações lineares (fatores), que utilizam o máximo da variância de X e

explicam a variância da matriz Y (var-Y). Com o algoritmo PLS2 é possível

utilizar um único modelo para análisar as relações entre o espectro e o grupo

de variáveis y (densidade básica e características anatômicas).

Para o cojunto de espectros de cada superfície foi calculado por PLS

um modelo diferente relacionando os espectros e as características (anatomia

e densidade básica). Portanto foram desenvolvidos três modelos: modelo-

radial, modelo-tangencial e modelo-transversal. O número de fatores

incorporado em cada modelo foi definido pela porcentagem acumulada da

variância dos espectros (var-X) utilizados.

Para cada modelo obteve-se a porcentagem da variância Y total e de

cada característica explicada pelos fatores. Com isso, foi possível avaliar com

quais fatores do modelo cada característica mais se relacionava. Os loadings-

x representam a influência dos comprimentos de onda e indicam qua is regiões

do espectro estão mais relacionas a cada fator. A análise combinada desses

dois resultados permitiu a interpretação da relação entre o espectro NIR e as

características mensuradas.

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20

Resultados e discussão

Características anatômicas e densidade básica

Na Tabela 1 são apresentadas as frequências e medidas lineares das

características anatômicas e as densidades básicas de cada amostra. Os

valores obtidos de cada característica para as espécies encontram-se dentro do

intervalo apresentado na literatura (MAINIERI & CHIMELO, 1989;

DÉTIENNE & JACQUET, 1983; ARAUJO & FILHO, 1973).

O resultado da análise de correlação linear de Pearson entre cada

característica anatômica e a densidade básica das amostras selecionadas é

apresentado na Tabela 2.

Os diâmetros dos vasos (DTV e DRV) apresentaram alta correlação

entre si (r = 0,95) e correlação negativa com FV (para DTV, r de -0,56, e para

DRV, r de -0,55). A relação inversamente proporcional entre diâmetro e

frequência dos vasos é conhecida para o lenho de árvores (WHEELER et al.,

(2007).

Dentre as características dos raios, foi encontrada correlação negativa

significante (p<0,05) entre essas LR e FR (r = – 0,54) e correlação positiva

de LR com AR (r 0,79; p<0,05). Porém, estes valores são significativamente

influenciados pela amostra de Sterculia apeibophylla, a qual apresentou

valores extremos de altura (AR) e largura (LR) dos raios. Com a remoção

destes valores, a correlação entre FR e LR aumenta (r = – 0,71) e entre LR e

AR torna-se não significativa (p>0,05).

Nenhuma das características anatômicas apresentou correlação

significante com a densidade básica. Essa propriedade possui maior relação

com proporção e espessura da parede de fibras (HAYGREEN & BOWYER,

1989; WIEDENHOEFT & MILLER, 2005), cujas características não foram

foco de estudo no presente trabalho.

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21

Tabela 1 – Relação das amostras de madeira utilizadas e os valores da densidade básica (Db)

e das características anatômicas determinadas. FV: frequência de vasos por

mm2; FR; frequência de raios por mm linear; DTV: diâmentro tangencial dos

vasos; DRV: diâmentro radial dos vasos; AR: altura dos raios; e LR: largura dos raios.

BCTw Espécie Db (kg/m3) FV FR

DTV (µm)

DRV (µm)

AR (µm)

LR (µm)

Parênquima ausente e raro

16248 Aspidosperma polyneuron, Apocynaceae

623 54 7 65 90 255 20

19511 Calycophyllum multiflorum, Rubiaceae

601 124 12 45 45 305 20

3422 Ocotea tenuiflora, Lauraceae

546 9 5 130 140 450 35

12019 Tapira guianensis, Anacardiaceae

435 14 8 100 110 305 30

11868 Bicuiba oleifera, Myristicaceae

616 5 9 240 320 455 45

Parênquima difuso e em agregados

18674 Aspidosperma desmanthum, Apocynaceae

636 9 6 155 175 330 35

691 Caryocar villosum, Caryocaraceae

668 2 14 110 130 1015 25

17632 Endopleura uchi, Humiriaceae

771 5 11 135 170 1060 25

12544 Goupia glabra, Goupiaceae

742 5 12 140 180 1215 30

10219 Hieronyma alchorneoides, Phyllanthaceae

603 5 7 160 210 1315 65

Parênquima em linha, faixas e reticulado

60 Cariniana legalis, Lecythidaceae

511 7 7 90 100 325 40

3640 Duguetia lanceolata, Annonaceae

772 15 3 90 90 1085 75

16552 Huberodendron swietenioides, Malvaceae

563 3 4 235 265 775 55

14457 Hymenolobium modestum, Leguminosae

527 2 6 250 325 390 45

12500 Manilkara amazonica, Sapotaceae

846 7 10 110 145 375 30

Parênquima marginal

19582 Cedrela odorata, Meliaceae

573 3 5 155 165 280 55

17637 Copaifera duckei, Leguminosae

779 3 6 150 165 375 30

17042 Cryptocarya moschata, Lauraceae

646 8 8 120 145 360 45

12042 Hymenaea courbaril, Leguminosae

780 2 5 260 250 450 45

18698 Sterculia apeibophylla, Malvaceae

462 3 2 200 225 2425 270

Parênquima vasicentrico e aliforme

17175 Buchenavia grandis, Combretaceae

743 4 10 165 160 255 25

15255 Parkia multijuga, Leguminosae

587 4 11 210 220 180 20

12525 Qualea paraensis, Vochysiaceae

687 3 4 230 240 405 55

19618 Simarouba amara, Simaroubaceae

344 2 5 165 220 440 40

9436 Tabebuia aurea, Bignoniaceae

509 7 9 155 175 250 30

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Tabela 2 – Coeficiente de correlação de Pearson entre todas as características anatômicas e a

densidade básica.

Correlação Db FV FR DTV DRV AR LR

Db 1,00

FV -0,03 1,00

FR 0,27 0,26 1,00

DTV -0,06 -0,56* -0,35 1,00

DRV -0,13 -0,55* -0,27 0,95* 1,00

AR -0,01 -0,18 -0,19 0,09 0,13 1,00

LR -0,26 -0,17 -0,54* 0,25 0,22 0,79* 1,00

* correlação de Pearson significativa para p = 0,05.

Espectros de infravermelho-próximo

A Figura 2 apresenta os espectros NIR médios das 25 amostras de

cada uma das superfícies. Observa-se que o espectro da superfície transversal

possui valores de absorção maiores que os obtidos nos espectros das

superfícies longitudinais. Isso ocorre pela maior penetração do feixe de luz

em decorrência dos espaços vazios deixados pelo lume das células

(TSUCHIKAWA et al., 1991; DAHM & DAHM, 2004; DEFO et al., 2007).

Nota-se também que a absorção do espectro tangencial é um pouco maior que

no espectro radial. DEFO et al., (2007) obtiveram diferença análoga para os

espectros de carvalho e atribuiram este fato à maior penetração dos feixes

pelas células dos raios, que estão orientadas perpendicularmente a essa

superfície.

Na Figura 3 estão representados os espectros da superfície transversal

das 25 amostras de madeira sem e com a padronização SNV. No conjunto de

espectros sem pré-tratamento (espectros brutos) há um deslocamento vertical

de um espectro em relação ao outro (Figura 3A). Essa é uma característica do

efeito de espalhamento da luz que dificulta a obtenção da correlação com as

características de interesse. Com a padronização SNV, os espectros são

aproximados e escalados, reduzindo esse efeito (Figura 3B) e mantendo a

forma geral do espectro, o que auxilia na interpreteção deste (GELADI et al.,

1985).

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23

Figura 2 – Média dos espectros brutos de todas as 25 amostras para cada superfície.

Nota-se que o espectro da superfície tranversal possui valor de absorbância

muito maior em relação as superfícies longitudinais.

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24

Figura 3 – Espectros NIR dos 25 corpos-de-prova da superfície transversal. A –

Espectros sem nenhum pré-tratamento (bruto). B – Espectros após a transformação SNV.

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25

Na literatura há referências que atribuem determinados comprimentos

de onda do espectro NIR aos diversos grupos químicos (MILLER, 2004;

WORKMAN & WEYER, 2007). Na Figura 4 é apresentado o espectro NIR

de três dos principais compostos químicos encontrados na madeira: celulose,

lignina e água.

Comparando os espectros NIR da Figura 4 aos obtidos das madeiras

no presente trabalho (Figura 3), nota-se que o primeiro pico destacado no

espectro das madeiras, ao redor de 1440 nm, coincide com a região de

sobreposição dos picos de celulose, lignina e água. Já o segundo pico do

espectro das madeiras, em aproximadamente 1920 nm, coincide co m a

sobreposição de lignina e água. KELLEY et al., (2004), em estudo para

predição do teor de lignina, extrativos e carboidratos em madeira sólida ,

relatam regiões semelhantes e também atribuem à região de 2020-2250 nm à

celulose e os picos ao redor de 1250 nm, 1635 nm e 1825 nm à lignina.

Com relação aos extrativos, no trabalho de BAILLÈRES et al., (2002)

foi feita a comparação entre o espectro NIR da madeira de eucalipto com e

sem extrativos, obtendo diferenças acentuadas nas regiões 1350–1450 nm,

1848–1968 nm e 2050–2150 nm. A região próxima a 2132 nm foi atribuída

pelos autores aos movimentos vibracionais do anel aromático e da dupla

ligação C=C presentes na lignina e em extrat ivos.

Essas informações são importantes para a interpretação do espectro.

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26

Figura 4 – Espectros NIR da celulose (verde), lignina (preto) e água (vermelho).

Modificado de WILLIAMS e NORRIS (2004).

Correlação entre características e o espectro NIR

A Figura 5 mostra a porcentagem acumulada da variância dos

espectros (var–X) utilizada pelos quatro primeiros fatores do modelo PLS

(Partial Least Square) de cada superfície. Nos modelos PLS com os espectros

das superfícies longitudinais (modelo–radial e modelo–tangencial), 93% da

variação dos espectros foi utilizada pela soma dos quatro fatores. Portanto, a

análise da variância do conjunto de características anatômicas e densidade

básica (var–Y) obtida pelo modelo PLS foi feita com base nesses quatro

fatores. Com relação ao modelo PLS obtido para os espectros da superfície

transversal (modelo-transversal), foram considerados apenas os dois

primeiros fatores, pois com estes representam 93% da variância dos

espectros.

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27

Figura 5 – Porcentagem acumulada da variância dos espectros de cada superfície (variância X) explicada pelos fatores dos modelos.

Tanto o modelo-radial como o modelo-tangencial, quando utilizados

todos os quatro fatores PLS, explicam aproximadamente 35% da variância da

matriz Y (var-Y), formada pela combinação das variáveis densidade básica e

características anatomicas (Figura 6A e B). O modelo-transversal explica

somente 19% da var–Y com os dois fatores (Figura 6C).

A densidade básica é a característica melhor explicada pelos modelos

de qualquer uma das superficíes, sendo que mais da metade da variância desta

variável é explicada quando utilizados todos os fatores de cada modelo

(Figura 6). Na espectroscopia NIR de um material complexo como a madeira,

o espectro relaciona-se com os diferentes componentes químicos e segundo a

lei de Beer-Lambert, a absorção dos comprimentos de onda tem uma relação

com a concentração do absorsor, ou seja, as moléculas do material (DAHM &

DAHM, 2004). Nesse caso, a densidade básica deve representar a expressão

geral da concentração desses diversos componentes que formam a madeira,

sendo, portanto a característica com mais influência no espectro.

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28

No modelo–radial (Figura 6A), a máxima variância de FR e LR

explicada é atingida com a soma dos fatores 1 e 3, sendo que o fator 1 é mais

importante para FR e o fator 3 para LR. Os fatores 3 e 4 são os mais

relacionados com os diâmetros dos vasos (DTV e DRV), com a soma dos dois

explicando aproximadamente 50% da variância dessas características. As

características FV e AR são fracamente relacionadas a este modelo,

apresentando variância explicada de aproximadamente 15% com a soma dos

quatro fatores.

A espectroscopia NIR por reflexão difusa capta a informação de uma

pequena camada da superfície. Mesmo com a preparação e or ientação da

superfície radial das amostras, muito dificilmente é exposta a altura completa

dos raios parênquimáticos. Contudo, quanto maior a frequência de raios

parênquimáticos e maior sua largura, maior é a presença de pelo menos parte

dessa estrutura na superfície radial. Portanto, é possível que a relação destas

características com o espectro NIR esteja ligada a exposição dos raios à sonda

de fibra óptica do equipamento.

No modelo–tangencial (Figura 6B), todas as características ligadas aos

raios atingem o máximo da variância explicada com os três primeiros fatores.

LR e AR estão bem relacionadas com o fator 2, sendo que só ele contribui

respectivamente com 31% e 25% da variância explicada destas

características. Neste modelo, o fator 1 também é o mais relacionado com FR.

O diâmetro dos vasos (DTV e DRV) está principalmente relacionado com o

fator 3. Porém, diferente do modelo–radial, a porcentagem máxima da

variância explicada pelos quatro fatores do modelo–tangencial é de 30%.

O espectro da superfície tangencial possui absorção um pouco maior

do que o espectro da radial (Figura 2), como consequência da maior

penetração dos feixes pelas células dos raios. Logo, largura, altura e

frequência são claramente visualizadas no plano tangencial. Portanto, é

possível que a relação com o espectro NIR decorra da influência que tais

características exercem na penetração da luz.

No modelo-transversal (Figura 6C), somente LR e HR têm suas

variâncias explicadas em mais de 10% pelos dois fatores do modelo. A

relação destas características é maior com o fator 2, que explica

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respectivamente 33% e 20% da var–y de cada uma. No plano transversal,

também é possível observar mais claramente a largura dos raios. Pensando na

estrutura do lenho em três dimensões, a altura dos raios tem ligação com a

frequência de raios observados nessa superfície. Logo, essas duas

características são expostas a sonda de fibra óptica quando o espectro NIR é

captado na superfície transversal. A baixa relação do espectro NIR com a

frequência de raios pode estar ligada à diferença na metodologia utilizada

para a determinação deste caráter na análise anatômica, a qual utilizou o

plano tangencial.

A absorção do espectro da superfície transversal é maior em relação às

outras superfícies (Figura 2), decorrente da maior penetração do feixe de luz

nos espaços vazios deixados pelo lume das células (TSUCHIKAWA et al.,

1991). Em vista disto, era esperada uma relação com características ligadas

aos vasos, cuja variação de frequência e diâmetro do lume definem grande

parte da quantidade destes espaços vazios. No entanto, neste modelo, tais

características (FV, DTV e DRV) obtiveram menos de 10% da sua variância

explicada pelos dois fatores (Figura 6C).

Nos modelos das superfícies longitudinais, os diâmetros dos vasos se

relacionaram com o espectro NIR, porém em menor grau que as

características ligadas aos raios, visto que sua variância foi explicada em

grande parte pelos fatores 3 e 4 desses modelos, os quais representam apenas

cerca de 10% da variação dos espectros. É possível que a maior parte da

influência dessas características no espectro NIR seja na difração do feixe de

luz. Porém, de forma a possibilitar a análise do espectro foi aplicado o pré -

tratamento de padronização SNV, que reduziu o efeito do espalhamento, o

qual a difração da luz é um dos fatores causadores (DAHM & DAHM, 2004).

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30

Figura 6 – Porcentagem acumulada da variância-Y total (var-Y) e de cada uma das variáveis-y (var-y) explicada pelos diferentes modelos. A: Modelo-radial.

B: Modelo-tangencial. C: Modelo-transversal.

Análise dos escores

Por se tratar de uma das características mais importantes na

identificação de madeiras pela anatomia do lenho, a disposição do

parênquima axial foi utilizada como premissa na seleção das amostras para

estudar a relação das características anatômicas com o espectro NIR.

Logo, foi avaliada a aplicação da espectroscopia NIR na discriminação

das madeiras pelo tipo de parênquima axial, de forma a verificar se essa

característica influência a capacidade do espectro NIR em separar espécies de

madeiras (BRUNNER et al., 1996; TSUCHIKAWA et al., 2003).

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Para testar tal hipótese, foi analisada a distribuição dos escores das

amostras entre dois fatores PLS (Partial Least Square) para cada um dos

modelos.

Para nenhum dos modelos desenvolvidos com o espectro das

superfícies transversal e longitudinal radial e tangencial, a distribuição dos

escores resultou na separação dos grupos definidos com base na disposição do

parênquima axial, conforme elencados na Tabela 1. Contudo, na distribuição

dos escores do fator 1 contra fator 2 do modelo-tangencial (Figura 7) é

observado que as amostras do grupo de parênquima difuso ou difuso em

agregados se encontram todas no lado esquerdo do fator 1 (escores negativos)

e quatro das amostras do grupo de parênquima marginal e quatro do grupo de

parênquima linhas/faixas/reticulado/escalariforme encontram-se do lado

direito deste mesmo fator (escores positivos).

O fator 1 desse modelo expressa a densidade básica das amostras

(Figura 7). Em parte, isso explica os escores das amostras presentes no lado

negativo deste fator. Contudo, amostras de densidade básica alta, como

Copaifera duckei e Duguetia lanceolata encontram-se no lado dos escores

positivos.

Apesar dessas observações, os resultados geralmente mostraram que o

espectro NIR não fornece informações suficientes sobre a disposição do

parênquima axial nas amostras. Portanto, é provável que outras características

das madeiras, como as diferenças químicas dos extrat ivos ou a proporção dos

diferentes tipos celulares sejam determinantes para a capacidade da

espectroscopia NIR em discriminar as espécies.

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Figura 7 – Distribuição dos escores do fator 1 e do fator 2, destacados por símbolos segundo o grupo do parênquima axial: ▲ – ausente e raro;

– difuso e em agregados; ■ – linhas, faixas e reticulado; ● – marginal; e – vasicêntrico e aliforme.

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33

Análise dos loadings-X

Com o objetivo de identificar as regiões do espectro NIR relacionadas

à densidade básica e às características anatômicas, foram analisados os

loadings-X de cada modelo (Figura 8).

Os loadings-X representam as regiões do espectro NIR mais

correlacionadas com o fator. Logo, os picos e vales (regiões com maior valor,

em módulo, de loading-X de um fator, correspondem aos comprimentos de

onda relacionados com as características melhores explicadas para esse fator.

Comparando os loadings-X do fator 1 para os três modelos, foi

observado que os comprimentos de onda mais relacionados com esse fator nos

modelos radial e tangencial são praticamente coincidentes (Figura 8A). A

região do começo (1100-1200 nm) e do fim (2300-2400nm) do intervalo do

espectro NIR utilizado, assim como a região de 1600 nm à 1870 nm

apresentaram os maiores valores, em módulo, de loading-X. Destacam-se

também os picos de 1920 nm e 2090 nm, e os vales de 2000 nm e 2185 nm.

Para estes modelos, o fator 1 está relacionado à densidade básica e à

frequência dos raios.

No modelo-transversal, nos loadings-X do fator 1, o qual está

relacionado principalmente a densidade básica, destacam-se a região de 1400

nm à 1550 nm e a região de 2240 nm à 2350 nm, assim como o início do

intervalo do espectro utilizado (aproximadamente 1100-1150 nm). Nota-se

também um pico largo próximo a 2100 nm e um mais conspícuo em 1920 nm.

No fator 2, os loadings–X dos modelos radial e tangencial também são

próximos, considerando o módulo de seus valores. Porém as curvas de

distribuição dos loadings–X possuem sentidos opostos (Figura 8B),

mostrando que a relação da absorção dos comprimentos de onda (variáveis–x)

com este fator no modelo–radial é inversa à existente no modelo–tangencial.

As regiões ao redor de 1420 nm e 1920 nm se destacam nestes modelos, assim

como a região de 2100 a 2200 nm.

Os loadings–X do fator 2 do modelo-transversal apresentam

semelhança com aqueles obtidos no modelo-tangencial para o mesmo fator,

principalmente no pico de 1920 nm. Essa semelhança pode ser o reflexo da

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coincidente relação do fator 2 à altura e largura dos raios nestes dois

modelos. No modelo-radial, a característica mais relacionada ao fator 2 é a

densidade básica.

Os fatores 3 e 4 foram considerados apenas nos modelos radial e

tangencial. No fator 3 é observada diferenças nos loadings-X entre os dois

modelos principalmente na região entre 1850 nm e 2000 nm (Figura 8C). Na

região entre 1100 nm e 1850 nm, os valores de loadings-X entre os dois

modelos são semelhantes. Este fator é relacionado aos diâmetros dos vasos

nos dois modelos e no modelo-radial está ligado também com a largura dos

raios.

Para o fator 4, os loadings-X dos dois modelos foram muito

semelhantes, com destaque para o pico em 1890 nm e o vale em 2100 nm. No

modelo-radial, esse fator é relacionado com os diâmetros dos vasos que no

modelo-tangencial.

A região de 1400 nm à 1550 nm corresponde a combinação dos picos

de celulose e lignina (KELLEY et al., 2004). As regiões de 1655–1715 nm e

2300–2360 nm foram relatadas como importantes em calibrações para

determinação de celulose e lignina (WORKMAN & WEYER, 2007). Já o pico

de 1920 nm é atribuído somente à lignina (WILLIAMS & NORRIS, 2004).

Nos três modelos, o fator 1 é relacionado à densidade básica e as regiões do

espectro importantes neste fator se assemelham às citadas na literatura para

lignina e celulose. Portanto, e possível que as reg iões do espectro ligadas a

estes dois componentes químicos estejam mais relacionadas com a densidade

básica madeira.

Em contrapartida, no caso dos modelos radiais e tangenciais, para as

características ligadas aos raios, como a frequência, o espectro pode estar

relacionado a outras substâncias. Em análise de infravermelho -médio (8300

nm à 12500 nm) cortes histológicos do lenho de coníferas, no espectro das

células dos raios alguns dos picos foram atribuídos às pectinas (HORI &

SUGIYAMA, 2003). Provavelmente as diferenças nas paredes celulares dos

tecidos que compõem o xilema secundário influenciem o espectro NIR.

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35

As características físicas das amostras, como a rugos idade causada

pelos lumes das células também afetam o espectro NIR, mesmo com a

aplicação de pré-tratamento para minimizar o efeito do espalhamento. O grau

de interferência varia em relação aos comprimentos de onda (DAHM &

DAHM, 2004). Com a aplicação do pré-tratamento aos espectros, é possível

que o efeito do espalhamento tenha sido incorporado apenas nos fatores 3 e 4

dos modelos radial e tangencial. Esses fatores utilizam somente cerca de 7%

da variância X, ou seja, representam uma pequena parcela da informação

relevante contida no espectro. Além disso, eles estão relacionados com os

diâmetros dos vasos, uma característica ligada a textura ou rugosidade da

madeira nas superfícies longitudinais. Logo, os loadings-X desses fatores

podem estar relacionados aos efeitos físicos nos comprimentos de onda do

espectro.

Por fim, os resultados obtidos sugerem que a espectroscopia NIR capta

informações primeiramente de características químicas e em menor grau, de

características físicas das madeiras. É possível que as diferenças químicas

entre as espécies sejam mais relevantes para discriminação de madeiras pela

espectroscopia de infravermelho-próximo (BRUNNER et al., 1996;

TSUCHIKAWA et al., 2003).

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Figura 8 – Loadings-X dos modelos para cada fator PLS. Foi colocado como referência o espectro médio de todas as 25 amostras (linha pontilhada),

representando um espectro típico de madeira. A – fator 1, B – fator 2, C – fator 3, D – fator 4.

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Conclusões

No presente estudo foi verificada a relação do espectro de

infravermelho-próximo com características anatômicas e a densidade básica

da madeira de 25 diferentes espécies de angiospermas.

O espectro NIR está mais relacionado à densidade básica que às

características anatômicas da madeiras. Isso indica que é possível a utilização

da espectroscopia NIR para estimar a densidade básica de madeiras de

diferentes espécies, mesmo com a variação de suas características anatômicas.

A absorbância do espectro NIR do plano transversal é maior em

relação aos planos longitudinais. Contudo, os modelos desenvolvidos com o

espectro das superfícies longitudinais relacionam-se mais a características

anatômicas que o modelo obtido com o espectro da superfície transversal.

Dentre estas características, a frequência dos raios apresenta melhor relação

com o espectro NIR, seguida da largura dos raios. Já a relação do espectro

NIR com as características ligadas aos vasos foi menor. Tal fato está ligado,

provavelmente, à maior influência no espectro NIR dos aspectos químicos

relacionados com a anatomia da madeira (composição da parede celular e

presença de extrativos) em comparação aos aspectos físicos (diâmetro do

lume).

Nas espécies escolhidas e nos grupos de parênquima axial estipulados,

com a espectroscopia NIR não foi possível discriminar as madeiras pelo tipo

de distribuição deste parênquima. O arranjo do parênquima axial, uma das

características mais importantes para identificação de madeiras pela anatomia

do lenho, parece não ser relacionado com o espectro NIR. Porém, conforme

mencionado, parte da informação contida no espectro NIR está relacionada

com a composição química da madeira, a qual é variável entre as espécies.

Logo, a espectroscopia de infravermelho-próximo pode ser muito útil como

ferramenta complementar para identificação de madeiras.

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Capitulo 2

Predição da densidade básica de madeiras pela

espectroscopia de infravermelho próximo

Resumo

A densidade de massa básica está entre as propriedades tecnológicas mais importantes da madeira. Sua aplicação na construção civil, na indústria de celulose e papel e

como fonte de combustível são influenciadas pela variação dessa propriedade. É, portanto,

desejável o desenvolvimento de técnicas para determiná-la com rapidez. Vários trabalhos têm demonstrado o uso da espectroscopia de infravermelho-próximo (NIR) para estimar a

densidade básica, utilizando para calibração e validação madeiras da mesma espécie. No

presente trabalho foram desenvolvidas calibrações com o espectro NIR para estimar a densidade básica de madeiras de diferentes espécies nativas ou plantadas no Brasil. O

experimento consistiu na coleta de espectros das superfícies transversal e longitudinais radial

e tangencial de 83 corpos-de-prova. Os pré-tratamentos aplicados ao espectro foram

normalização, padronização SNV (Standard normal variate) e obtenção da segunda-derivada. Os modelos de calibração baseados nos espectros pré-tratados com SNV ou segunda derivada

apresentaram maior coeficiente de determinação (r2 > 0,75). Na validação, o menor erro de

predição (Standard error of prediction - SEP) foi obtido com os espectros da superfície transversal (SEP 62 kg/m

3). Estes resultados apontam para o potencial de utilização da

espectroscopia NIR como ferramenta para classificação das madeiras de diferentes espécies

com base na densidade básica.

Abstract

Basic density is one of the most important wood technological properties. The key

features for wood application in construction, pulp and paper industry and as fuel source are

influenced by variation of this property. Therefore it’s desirable to develop methods to fast determine it. Many papers have used near-infrared spectroscopy (NIR) to predict basic

density, using for calibration and wood validation from the same species. In this work we

developed calibration with NIR spectrum to predict the wood basic density from different

native or planted species in Brazil. Spectra were collected from radial and tangential longitudinal surfaces of 83 samples. The NIR spectral data were pretreated with

normalization, standard normal variate (SNV) and second derivative calculation. Calibration

models based on spectral data pretreated with SNV or second derivative showed the highest coefficient of determination (r

2 > 0,75). The validation showed that the spectra from

transversal face had the lowest standard error of prediction (SEP = 62 kg/m3). The results

indicate the potential use of NIR spectroscopy as a tool for classification of wood form different species based on their basic density.

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Introdução

Na escolha da madeira para uso na construção civil, fabricação de

móveis, como matéria-prima energética ou para indústria de papel e celulose,

a densidade de massa é uma das primeiras característica a ser avaliada. A

densidade de massa explica grande parte das propriedades mecânicas das

madeiras, em especial aquelas relacionadas à resistência e dureza. Outros

aspectos da madeira como rendimento de polpa, poder calorífico, estabilidade

dimensional e durabilidade natural ao ataque de organismos biodeterioradores

também estão relacionadas à densidade (HAYGREEN & BOWYER, 1989).

A densidade de massa na madeira está ligada principalmente à

proporção de espaços vazios do lenho, a qual, por sua vez é relacionada às

características anatômicas do xilema, como a espessura da parede celular e a

proporção dos diferentes tipos celulares: elementos de vasos, fibras e

parênquima (HAYGREEN & BOWYER, 1989; WIEDENHOEFT & MILLER,

2005).

Sendo a madeira um material higroscópico, sua densidade varia

conforme seu teor de umidade (U). A diminuição do teor de umidade da

madeira abaixo de 30% causa alterações em seu volume em decorrência da

perda da água impregnada nas paredes celulares. Tal limite de umidade é

denominado de “ponto de saturação das fibras” e acima deste, é considerado

que a água presente na madeira se encontra dentro ou entre as cavidades das

células (SIAU, 1971). Portanto, dependendo da forma de cálculo a

denominação do tipo de densidade se altera. No presente estudo, foi utilizada

a densidade básica (Db), razão entre a massa (m) da madeira seca (U = 0%) e

seu volume (V) saturado (mu=0%/Vu>30%), por se tratar de uma medida muito

útil para estimar o peso de carregamentos de madeira ou o rendimento de

polpa no processo de produção de celulose (HAYGREEN & BOWYER,

1989).

Além das aplicações acima relacionadas, a densidade básica é uma das

propriedades utilizadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT), na norma NBR 7190: 1997 – “Projeto de estrutura de madeiras”,

para o estabelecimento de classes de resistência de madeiras de coníferas e de

angiospermas, norteando o dimensionamento e a escolha das espécies para a

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construção civil. Nessa norma, o procedimento adotado para determinação da

densidade exige a confecção de corpos-de-prova de peças amostradas em um

lote para ensaio em laboratório segundo o procedimento de medição ou

deslocamento em água.

Portanto, em vista da importância da densidade básica como parâmetro

na escolha e planejamento das diversas aplicações da madeira , é desejável o

desenvolvimento de métodos para sua determinação em grandes lotes sem a

necessidade da retirada de corpos-de-prova das peças para ensaio em

laboratório. A espectroscopia de infravermelho-próximo (NIR) preenche tal

requisito, por ser uma metodologia rápida, já que a aquisição do espectro é

feita em alguns segundos e com pouco preparo do material (BRASHAW et

al., 2009). Contudo, o espectro NIR contém a informação de diferentes

propriedades da madeira e para sua utilização na determinação da densidade é

necessário fazer a calibração entre a espectroscopia NIR e a metodologia de

referência utilizada para se obter a densidade básica (HRUSCHKA, 2004).

O interesse em estimar rapidamente a densidade básica para a

produção de polpa de celulose, estimulou o primeiro trabalho no

desenvolvimento de modelos de calibração utilizando o espectro NIR de

raspas e discos da madeira de Picea abies (THYGESEN, 1994). Logo, as

madeiras de coníferas forma muito utilizadas em calibrações da

espectroscopia NIR para determinação da densidade da madeira na forma de

serragem ACUNA; MURPHY (2006) ou de madeira sólida (SCHIMLECK et

al., 2001b e 2003a; NISGOSKI, 2005; CARNEIRO, 2008), estudando a

influência do local de plantio (JONES et al., 2005) e a variação da densidade

dentro da árvore (VIA et al., 2003).

Entre as angiospermas, os modelos para estimativa da densidade tem

se concentrado na madeira de eucalipto (Eucalyptus spp.), visando avaliar seu

rendimento para produção de celulose e papel (SCHIMLECK et al., 1999;

HEIN et al., 2009; VIANA et al., 2009) e para programas de melhoramento

genético (SCHIMLECK et al., 2001a; BAILLÈRES et al., 2002).

A aplicação da espectroscopia NIR para determinação da densidade

utilizando amostras de diferentes espécies não foi alvo de muitos estudos. No

trabalho de SCHIMLECK et al., (2001b) foi desenvolvida a calibração para

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41

predição da densidade aparente (m/V para mesmo U), utilizando amostras de

madeira sólida de 53 espécies, cobrindo um grande intervalo de variação (97

a 1005 kg/m3). Como teste o modelo foi aplicado na estimativa da densidade

aparente de amostras de Eucalytus delegatensis e Pinus radiata, obtendo-se

um erro de predição de ± 65,4 kg/m3

e ± 34,7 kg/m3 respectivamente.

Contudo, nesse trabalho, havia apenas duas espécies de ocorrência no Brasil.

Em vista da lacuna de estudos aplicando a espectroscopia NIR em

madeiras tropicais, o objetivo do presente trabalho foi desenvolver modelos

de calibração para estimar a densidade básica de madeiras de espécies de

angiospermas, nativas ou plantadas no Brasil, a partir do espectro

infravermelho-próximo (NIR) de amostras de madeira serrada .

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42

Materiais e métodos

Amostras de madeira

Foram selecionadas 83 amostras de madeiras com ocorrência no Brasil,

representando 33 gêneros e 15 famílias (Tabela 1) da coleção de permuta do

Laboratório de Madeira e Produtos Derivados (LMPD) do Instituto de

Pesquisas Tecnológicas (IPT). De cada amostra foi produzido um corpo-de-

prova com secção tranversal de 2 x 2 cm e comprimento longitudinal de 4 cm

utilizado para determinação da densidade de massa básica e obtenção do

espectro. As amostras foram separadas aleatoriamente em dois grupos: um

para calibração, contendo 68 corpos-de-prova, e outro para validação,

contendo 15 corpos-de-prova.

Para remoção das irregularidades e homegeinização, as superfícies de

cada corpo-de-prova foram lixadas com lixa d’água granulação 120.

Densidade

Para determinação da densidade de massa básica (D b) dos corpos-de-

prova foi utilizado o procedimento de ensaio do Laboratório de Madeiras e

Produtos Derivados do IPT, baseado na norma da Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT) NBR 7190:1997 – “Projeto de estrutura de

madeiras”. O volume dos corpos-de-prova foi calculado por deslocamento de

água e a massa foi medida em balança analítica. Em seguida foi obtida a

densidade aparente (Dap) pela razão entre massa inicial e volume inicial do

corpo-de-prova. Foi então determinado o teor de umidade inicial pela

seguinte fórmula:

onde U é a umidade, mi é a massa inicial e ms é a massa final do corpo-de-

prova após secagem em estufa a 103± 2ºC por 48h.

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43

A partir da Dap e U, foram obtidos os valores da densidade básica (D b)

de cada corpo-de-prova segundo equação abaixo (SIAU, 1971):

Espectros de infravermelho próximo (NIR)

Para a aquisição dos espectros, cada superfície (transversal, tangencial

e radial) do corpo de prova foi lixada e posicionada perpendicularmente à

sonda de fibra óptica. O equipamento utilizado foi o espectofotômetro Ocean

Optics NIR 256-2.5, o qual utiliza a faixa de comprimento de onda () que

vai de 1100 a 2400 nm, com intervalos de cerca de sete nanômetros. O

espectro é fruto da média de duas mil aquisições de um milissegundo em cada

superfície, e os valores de reflexão obtidos (R) são transformados em

absorbância a partir do cálculo do log 1/R (MARTENS & NÆS, 2004).

Pré-tratamento do espectro NIR

Transformações matemáticas, utilizadas em espectroscopia NIR e

conhecidas como pré-tratamento foram aplicadas aos espectros. O pré-

tratamento tem como objetivo minimizar o efeito do espalhamento da luz, o

qual pode interferir na estimativa da propriedade de interesse pelo espectro

NIR (NÆS et al., 2004).

No presente estudo foram utilizados três pré-tratamentos do espectro

NIR: normalização, padronização SNV (Standard normal variate) e obtenção

da segunda derivada do espectro.

A normalização do espectro NIR foi obtida pela divisão do valor de

absorbância de cada comprimento de onda de um espectro pela média da

absorbância de todos os comprimentos de onda do espectro, de forma a

aproximar o conjunto de espectros para uma mesma escala em relação ao

valor da absorbância (BLANCO et al., 1997).

A padronização SNV foi obtida com a centralização e

redimensionamento do espectro, a partir da subtração do valor de absorbância

de cada comprimento de onda pela absorbância média do espectro , com

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posterior divisão do valor encontrado pelo desvio padrão da absorbância do

espectro. Com isso os espectros passaram a ter média zero e variância unitária

(DHANOA et al., 1994).

Para o cálculo diferencial do espectro foi utilizado o método de

Savitzky e Golay, no qual, por mínimos-quadrados, é ajustado a intervalos do

espectro uma função polinômial, para em seguida obter -se a derivada dessas

funções (HRUSCHKA, 2004). No presente estudo, foram utilizados sete

pontos adjacentes para definir os intervalos do espectro (comprimentos de

onda) para ajuste do polinômio de segunda ordem. Na segunda derivada do

espectro, os picos estão relacionados com a curvatura do espectro original

(BLANCO et al., 1997) o que anula as diferenças verticais entre os espectros

e separa os picos sobrepostos do espectro (HRUSCHKA, 2004).

Calibração

O processo de calibração na espectroscopia NIR consiste no pré-

tratamento dos dados e estabelecimento de regressões entre as variáveis

independentes (x), que correspondem aos comprimentos de onda do espectro e

a variável dependente (y), que corresponde a propriedade de interesse

determinada pelo método de referência (HRUSCHKA, 2004). No presente

estudo, a variável y é a densidade básica (Db) e as variáveis x foram obtidas

dos espectros aquiridos dos 68 corpos-de-prova do grupo de calibração

No processo de calibração foi utilizado o método de regressão por

mínimos-quadrados-parciais (PLS – Partial Least Square). Por esta

metodologia, os comprimentos de onda do espectro (variáveis x) são

transformados em combinações lineares (fatores), que utilizam o máximo da

variância de X (var-X) para explicar a variância Y (densidade básica). Com

esse cálculo, os fatores iniciais contem a maior parte da informação relevante

para estimar a densidade básica e formam o modelo de calibração.

O ajuste da reta de regressão dos modelos é avaliado pelo desvio -

padrão dos resíduos da calibração (do inglês, Standard error of calibration –

SEC) e pelo coeficiente de determinação (r2), o qual expressa o quanto da

variância da densidade básica é explicada pelo modelo (WILLIAMS, 2004;

NÆS et al., 2004).

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45

No processo de calibração, a escolha do número de fatores utilizados

na regressão é uma importante etapa. A inclusão de fatores resulta em melhor

ajuste da reta de regressão à variável y, reduzindo o SEC e aumentando o r2.

Contudo, a utilização de muitos fatores torna a reta de regressão única , pois é

incorporado ao modelo ruídos do espectro que não são importantes para a

determinação da densidade. Tal fato eleva o erro de estimativa da variável y

pelo modelo (NÆS et al., 2004).

Para a seleção do número de fatores foi aplicado o processo de

validação cruzada à cada modelo. Nesse tipo de validação, do conjuto de

calibração é retirada uma das amostras e recalculada a regressão. Em seguida

é utilizada a regressão recalculda para estimar o valor da densidade básica da

amostra retirada e os resíduos dessa predição são armazenados. O processo se

repete até que todas as amostras tenham sido utilizadas na predição. Todos os

resíduos obtidos são combinados e transformados na variância –Y explicada e

no erro padrão da validação cruzada (do inglês, Standard error of cross

validation – SECV). Para cada modelo, o número de fatores foi definido pelo

menor SECV e pelo valor máximo de variância–Y explicada.

A organização, transformação e obtenção das regressões entre o

espectro e a densidade básica foram executadas no programa Unscrambler®

versão 9.7 (Camo Software AS).

Validação

Os parâmetros de ajuste da calibração expressam a relação entre o

espectro e a densidade básica dos corpos-de-prova deste grupo. Contudo, a

avaliação real da qualidade da calibração é obtida na etapa de validação, na

qual, os espectros de amostras que não foram utilizadas no cálculo da

regressão são aplicados aos modelos para a estimativa da densidade básica. A

diferença entre o valor obtido pelo método de referência e o valor estimado

pelo modelo (Db(ref) - Db(NIR), resíduos da predição), é a base para o cálculo do

erro real da calibração (HRUSCHKA, 2004).

No presente estudo, nessa etapa foram utilizados os espectros dos 15

corpos-de-prova do grupo de validação nos diferentes modelos obtidos para

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as superfícies transversal, longitudinal radial e tangencial com cada um dos

pré-tratamentos do espectro.

No resultado da validação, o modelo é avaliado pelos valores do erro

padrão da predição (do inglês Standard error of prediction – SEP), viés e

relação de desempenho do desvio (do inglês, ratio of performance to

deviation - RPD). O SEP e o viés são respectivamente o desvio-padrão e a

média dos resíduos da predição, representando os erros aleatório e sistemático

do modelo (HRUSCHKA, 2004). O RPD é a razão entre o desvio-padrão do

método de referência (S ref) e o SEP (WILLIAMS, 2004). Esse índice

demonstra a capacidade de estimativa do modelo em relação à variação dos

valores da propriedade de interesse das amostras. No presente estudo, foi

utilizado como Sref o desvio-padrão da densidade básica obtido para o grupo

de validação.

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47

Resultados e discussão

Densidade

A densidade de massa básica (Db) dos corpos-de-prova dos grupos de

calibração e de validação é apresentada na Tabela 1.

Os valores de Db do grupo de calibração apresentaram distribuição

normal e intervalo entre 326 e 856 kg/m3, representando a maioria dos

valores de densidade de massa básica encontrados no co mércio de madeiras e

contemplando as diferentes classes de resistência da norma ABNT/NBR

7190:1997.

Durante o processo de validação, é importante que as amostras

utilizadas tenham a mesma variação encontrada nas amostras utilizadas para

calibração. O grupo de validação apresentou intervalo de 441 a 979 kg/m3,

com três amostras de valores acima do valor máximo encontrado no grupo de

calibração. Contudo os resultados dos testes t-student e de homogeneidade de

variâncias mostraram que as médias e a variâncias entre os dois grupos não

são estatisticamente diferentes (p>0,05).

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Tabela 1: Densidade básica (Db) dos corpos-de-prova utilizados, separados nos grupos de

calibração e de validação.

Nome científico Nome popular Db (kg/m3)

Calibração

Db (kg/m3)

Validação

Anacardium giganteum cajuaçu 371

Anacardium giganteum cajuaçu 371

Anadenanthera colubrina angico-preto 838

Anadenanthera colubrina angico-preto 832

Aspidosperma sp. peroba 710

Aspidosperma sp. peroba 691

Astronium lecointei muiracatiara-rajada 673

Astronium lecointei. muiracatiara-rajada 671

Batesia floribunda acapurana 573

Batesia floribunda acapurana 564

Caraipa sp. tamaquaré 598

Caraipa sp. tamaquaré 614

Cariniana sp. jequitibá 502

Cariniana sp. jequitibá 504

Caryocar glabrum piquiarana 642

Caryocar glabrum piquiarana 644

Cedrelinga sp. cedrorana 578

Cedrelinga sp. cedrorana 574

Chrysophyllum lucentifolium goiabão 672

Chrysophyllum lucentifolium goiabão 677

Dipteryx sp. cumaru 846

Dipteryx sp. cumaru 856

Enterolobium schomburgkii fava-orelha-de-negro 624

Enterolobium schomburgkii fava-orelha-de-negro 625

Erisma uncinatum cedrinho 492

Erisma uncinatum cedrinho 498

Eucalyptus sp. eucalipto 675

Eucalyptus sp. eucalipto 677

Fagara rhoifolia mamica-de-porca 441

Fagara rhoifolia mamica-de-porca 442

Hymenaea sp. jatobá 725

Hymenaea sp. jatobá 721

Mezilaurus itauba itaúba 706

Mezilaurus itauba itaúba 715

Micropholis sp. rosadinho 600

Micropholis sp. rosadinho 600

Myrocarpus sp. cabreúva-parda 680

Myrocarpus sp. cabreúva-parda 688

Nectandra sp. canela 479

Nectandra sp. canela 485

Ocotea sp. canela 562

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Nome científico Nome popular Db (kg/m3)

Calibração

Db (kg/m3)

Validação

Ocotea sp. canela 561

Parahancornia sp. amapá 500

Parahancornia sp. amapá 508

Parkia sp. faveira 509

Parkia sp. faveira 510

Parkia sp. faveira 571

Parkia sp. faveira 551

Platonia sp. bacuri 752

Platonia sp. bacuri 741

Pouteria sp. abiurana 648

Pouteria sp. abiurana 641

Pouteria sp. abiurana 822

Pouteria sp. abiurana 824

Pseudobombax sp. embiruçú 333

Pseudobombax sp. embiruçú 326

Sacoglottis sp. uxirana 671

Sacoglottis sp. uxirana 670

Swartzia sp. coração-de-negro 754

Swartzia sp. coração-de-negro 757

Tachigali sp. taxi 490

Tachigali sp. taxi 489

Terminalia sp. tanibuca 685

Terminalia sp. tanibuca 685

Vochysia sp. quaruba 381

Vochysia sp. quaruba 362

Vochysia sp. quaruba 396

Vochysia sp. quaruba 395

Anadenanthera columbrina angico-preto 859

Astronium lecointei muiracatiara 701

Batesia floribunda acapurana 510

Batesia floribunda acapurana 524

Caryocar villosum piquiá 635

Cedrelinga sp. cedrorana 626

Enterolobium schomburgkii fava-orelha-de-negro 578

Fagara rhoifolia mamica-de-porca 441

Licania sp. caraipé 772

Micropholis sp. curupixá 510

Micropholis sp. rosadinho 533

Myracrodum urundeuva aroeira 969

Parkia sp. faveira 473

Parkia sp. faveira 503

Zollernia sp. pau-santo 979

Média da densidade de Calibração = 602 kg/m3; Desvio-padrão = 134 kg/m3

Média da densidade de Validação = 641 kg/m3; Desvio-padrão = 178 kg/m3

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50

Espectro de infravermelho

Na Figura 1 estão representados os espectros da superfície radial das

amostras de Pouteria sp. (Db 822 kg/m3), Caryocar glabrum (Db 642 kg/m

3),

Pseudobombax sp. (Db 333 kg/m3), Sacoglottis sp. (Db 671 kg/m

3) e Vochysia

sp. (Db 381 kg/m3) do grupo de calibração.

Nos espectros sem pré-tratamento (espectros brutos) é observado o

deslocamento vertical de um espectro em relação ao outro (Figura 1A). Em

parte, essa é uma característica do efeito de espalhamento da luz, resultante

das variações na rugosidade da superfície das amostras (NÆS et al., 2004).

Contudo, é possível notar que as amostras com menor Db apresentam baixa

absorbância em relação as madeiras de maior Db. Pela lei de Beer-Lambert o

valor da absorbância é proporcional ao aumento da concentração do absorsor

(DAHM & DAHM, 2004).

Os pré-tratamentos visam reduzir o efeito do espalhamento da luz,

procurando reter a informação relevante do espectro para determinação da

propriedade nas amostras. A normalização e a padronização SNV dos

espectros mantêm seu formato geral, aproximando-os (Figura 1B e 1C). Já no

espectro expresso no formato de sua segunda derivada, os picos e vales

encontrados (Figura 1D) representam mudanças na curvatura no espectro e

anulam o efeito do deslocamento vertical (BLANCO et al., 1997).

Apesar das regiões do espectro NIR da madeira serem atribuídas a seus

principais compostos químicos, a densidade básica é uma propriedade física

da madeira mais relacionada com a espessura da parede celular do lenho do

que com os tipos de substâncias químicas que a compõem (HAYGREEN &

BOWYER, 1989; WIEDENHOEFT & MILLER, 2005). Portanto, no presente

estudo não foi feita a intepretação química do espectro NIR.

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Figura 1 – Espectro NIR da superfície radial de cinco amostras do grupo de calibraçã o. A – Espectro sem pré-tratamento (bruto). B – Espectro

normalizado. C – Espectro com tratamento da variável normal padronizada (SNV). D – Segunda derivada do espectro.

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52

Modelos de calibração

Para cada combinação entre os espectros de uma superfície com um

dos pré-tratamentos foi gerado um modelo distinto. O número de fatores, a

porcentagem da variância–X utilizada, o coeficiente de determinação (r2) e o

SEC (Standard error of calibration) de cada modelo são apresentados na

Tabela 2.

Tabela 2: Parâmetros estatísticos dos modelos de calibração obtidos a partir do espectro

bruto ou com aplicação dos pré-tratamentos. Var-X – Variância X explicada pelos

fatores do modelo; r2: coeficiente de determinação da regressão PLS; SEC – erro

padrão da calibração.

Superfície Pré-tratamento Fatores Var- X r2 SEC (kg/m

3)

Radial

Bruto 1 99% 0,50 95

Normalização 4 98% 0,59 86

SNV 6 97% 0,81 58

2ª derivada 3 87% 0,79 62

Tangencial

Bruto 1 99% 0,51 94

Normalização 5 98% 0,73 70

SNV 5 95% 0,79 62

2ª derivada 3 86% 0,75 67

Transversal

Bruto 3 100% 0,47 98

Normalização 5 98% 0,72 72

SNV 7 98% 0,82 57

2ª derivada 4 90% 0,80 60

A aplicação do pré-tratamento do espectro resultou em modelos com

maior r2 e menor SEC em relação aos modelos utilizando o espectro bruto.

Com exceção do modelo do espectro normalizado da superfície radial ( r2 =

0,59), mais de 70% da variação da densidade foi explicada pelos modelos

com algum tipo de pré-tratamento (r2>0,7) (Tabela 2).

Nos modelos desenvolvidos a partir do espectro bruto das superfícies

longitudinais, apenas um fator PLS (Partial least squares) foi utilizado, pois

representava 99% da variação do espectro. O fator seguinte representou

menos de 1% da variação do espectro e, portanto não foi incorporado.

No conjunto de espectros brutos (Figura 1), grande parte da variação é

devida ao deslocamento vertical causado pelo efeito de espalhamento da luz e

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não pela informação química da madeira. Contudo, nota-se que essa variação

chega a explicar metade da variação da densidade básica das amostras ( r2 =

0,5). Na análise visual do espectro, foi notado que a absorbância do espectro

aumenta com a elevação da densidade básica da madeira. Essa relação foi

observada na aplicação do NIR para predição da densidade da madeira de

eucalipto (SCHIMLECK et al., 1999) e Pinus spp. (SCHIMLECK et al.,

2002; VIA et al., 2003). Ou seja, parte desse deslocamento vertical pode

decorrer da variação na capacidade de absorção da madeira relacionada à sua

densidade básica.

Com a padronização SNV, obtiveram-se os modelos com melhor ajuste

da regressão para o espectro de cada superfície, com SEC de 57 a 62 kg/m3 e

r2 de 0,79 a 0,82. A Figura 2 mostra a relação entre o valor da densidade

básica e o valor estimado para cada modelo. Em comparação com a literatura,

esses valores foram menores que os encontrados por SCHIMLECK et al.,

(2001b), ao desenvolverem um modelo de calibração com o espectro de

madeiras de diferentes espécies e ampla variação nos valores de densidade de

massa (97 a 1005 kg/m3), no qual foi obtido SEC de 67 kg/m

3. Em

contrapartida, HEIN et al., (2009) utilizando a espectroscopia NIR para

determinação da densidade básica de duas espécies de eucalipto (Eucalyptus

urophylla e Eucalyptus grandis), cujos valores estavam entre 407 e 708

kg/m3, obtiveram valores de SEC entre 21 e 31 kg/m

3. No modelo

desenvolvido por JONES et al., (2005) para determinação da densidade de

massa ao longo das camadas de crescimento de Pinus taeda (337 a 833

kg/m3), o SEC obtido foi de 41 kg/m

3. Portanto, nota-se que o ajuste dos

modelos de calibração dependem do intervalo de variação da densidade. Nos

trabalhos acima, o SEC representa de 7% à 10% do intervalo de valo res da

densidade básica utilizado em cada um. No presente trabalho, o SEC

representou cerca de 11% do intervalo de 326 kg/m3 a 856 kg/m

3, estando

próximo ao relatado na literatura.

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54

Figura 2 – Correlação entre valores de densidade básica estimados pelo NIR (SNV) e valores de densidade básica medidos para o grupo de calibração. Em preto

está a reta de regressão. A linha em vermelho indica a correspondência

entre o valor estimado e o valor medido. A – modelo-radial; B – modelo-trangencial; C – modelo-transversal.

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55

Validação

Os espectros NIR dos 15 corpos-de-prova do grupo de validação foram

aplicados a cada um dos modelos para determinação da densidade básica. Na

Tabela 3 são apresentados as medidas de erro (SEP e viés) e o RPD (Ratio of

performance to deviation) obtido para os modelos.

Tabela 3: Parâmetros estatísticos da validação com 15 corpos-de-prova dos modelos de

desenvolvidos. SEP – erro padrão da calibração. RPD – relação de desempenho do desvio.

Superfície Pré-tratamento SEP (kg/m3) Viés (kg/m

3) RPD

Radial

Bruto 123 -46 1,44

Normalização 143 -59 1,24

SNV 84 -5 2,12

2ª derivada 106 -21 1,68

Tangencial

Bruto 114 -36 1,56

Normalização 91 -4 1,96

SNV 84 2 2,12

2ª derivada 92 -3 1,95

Transversal

Bruto 168 -52 1,06

Normalização 111 -18 1,60

SNV 62 -2 2,87

2ª derivada 81 -16 2,19

Os modelos desenvolvidos a partir da transformação SNV do espectro

apresentaram os menores valores de SEP (62 a 84 kg/m3) e RPD acima de 2,0.

No modelo desenvolvido por SCHIMLECK et al., (2001b), foi utilizado para

previsão da densidade Eucalyptus delegatensis e Pinus radiata, obtendo-se

SEP de 65 e 35 kg/m3 respectivamente. Já no modelo de HEIN et al., (2009)

com as duas espécies de eucalipto, foi obtido SEP de 24 kg/m3 e RPD de 2,7.

No modelo desenvolvido por JONES et al., (2005) para Pinus taeda, em um

grupo de validação com intervalo de densidade entre 378 a 811 kg/m3, foi

obtido SEP de 46 kg/m3 e RPD de 2,28. Ao levar em em conta a variação da

densidade básica encontrada no grupo de validação do presente estudo, o SEP

obtido se encontra próximo aos apresentados na literatura, principalmente

quando levamos em conta o RPD. WILLIAMS (2004) recomenda valores de

RPD acima de cinco para controle de qualidade, enquanto SCHIMLECK et

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56

al., (2003a) citam valores acima de 1,5 como satisfatórios para triagens

iniciais.

Na Figura 3 são apresentados os gráficos relacionando os valores de

densidade básica determinados pelos modelos com os valores obtidos pelo

método de referência. No modelo construído com a padronização SNV do

espectro da superfície transversal, foi obtido o maior valor de RPD (2,87).

Além disso, o SEP resultante desse modelo (62 kg/m3) foi próximo ao SEC

(57 kg/m3), indicando a consistência da regressão.

A espectroscopia NIR por reflexão difusa é uma técnica superficial e,

portanto, o espectro da madeira sólida traz informações apenas da região

localizada a alguns milímetros da superfície do corpo -de-prova. Já pelo

método de referência, obtem-se a densidade básica do corpo-de-prova inteiro.

Contudo, a luz penetra mais profundamente na madeira pela superfície

transversal, razão pela qual o espectro desta apresenta valor maior de

absorção (TSUCHIKAWA et al., 1991; DAHM & DAHM, 2004; DEFO et al.,

2007). Portanto, é possível que o espectro da superfície transversal contenha

informações sobre uma maior região do corpo-de-prova, sendo mais

relacionado à densidade total da madeira que o espectro das outras

superfícies.

O fato acima condiz com os resultados obtidos no modelo

desenvolvido com a segunda derivada do espectro transversal, o qual

apresentou RPD acima de 2,0. No entanto, o modelo do espectro transversal

bruto apresentou o pior valor de RPD (1,06). Esse modelo não foi capaz de

determinar a densidade, visto que o erro de predição (SEP) é quase igual ao

desvio-padrão da densidade básica do grupo de validação. Isso indica que,

apesar da maior informação presente no espectro transversal, há também mais

interferência causada pelo espalhamento da luz (TSUCHIKAWA et al.,

1991), sendo que o pré-tratamento do espectro antes da construção do modelo

eleva a sua capacidade de predição.

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57

Figura 3 – Comparação entre valores medidos da densidade básica e os estimados

pelos modelos utilizando a padronização SNV do espectro. A linha em vermelho indica a correspondência entre o valor estimado e o valor medido

da densidade básica. A – modelo-radial; B – modelo-trangencial; C –

modelo-transversal.

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58

Como ferramenta para o melhoramento genético de plantações, a

espectroscopia NIR tem sido aplicada em baquetas retiradas de árvores para

determinação de diferentes características físicas e químicas da madeira

(SCHIMLECK, 2008). Na predição da densidade básica de coníferas ao longo

das camadas de crescimento, normalmente o espectro NIR é adquirido da

superfície longitudinal radial (JONES et al., 2005; SCHIMLECK et al.,

2007). Pelos resultados do presente trabalho, nas madeiras de angiospermas,

seria possível utilizar a superfície transversal para amostras de trado e assim

avaliar a madeira com a árvore ainda plantada.

Nos modelos SNV das superfícies radial e longitudinal os valores de

SEP e RPD foram iguais (84 kg/m3 e 2,12 respectivamente). DEFO et al.,

2007 encontraram erro de previsão maior para modelos da superfície

tangencial (33,7 kg/m3) em comparação com modelos da superfície

transversal e radial (17,6 e 19,8 kg/m3, respectivamente) ao utilizar o espectro

NIR para determinação da densidade em Quercus spp. Tal fato foi atribuido

pelos autores a grande variação entre a densidade de massa do lenho incial e

do lenho tardio. Nenhuma das espécies utilizadas no presente trabalho

apresentam diferença tão grande entre lenho inicial e lenho tardio como a

encontrada nas madeiras de Quercus sp. Portanto os corpos-de-prova são mais

homogêneos com relação a densidade básica, o que leva a pequena diferença

entre a capacidade de previsão dos modelos desenvolvidos a partir dos

espectros das superfícies longitudinais.

A semelhança dos resultados das previsões dos modelos radial e

tangencial, com valores de RPD acima de 2,0 é interessante, mostrando ser

possível a aplicação da espectroscopia NIR para classificação das madeiras

no comércio e na indústria, situações nas quais, em geral, essas superfícies

são as mais acessíveis.

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59

Conclusões

Os resultados do presente estudo mostraram o desenvolvimento de

modelos para estimar a densidade básica da madeira com o espectro de

infravermelho-próximo de amostras de diferentes espécies

No processo de calibração da espectroscopia NIR para predição da

densidade básica, os pré-tratamentos dos espectros, em especial a

padronização SNV (Standard normal variate), melhoraram o ajuste da reta de

regressão e a estimativa da densidade básica obtida pelo espectro NIR na

etapa de validação em relação ao espectro sem pré-tratamento (bruto).

Contudo, parte das diferenças de absorbância do conjunto de espectros bruto

estão relacionadas a densidade básica da madeira.

Os espectros das superfícies longitudinais, radial e tangencial,

forneceram estimativas semelhantes de densidade básica, portanto a aplicação

da espectroscopia NIR em peças de madeiras processada poderia ser feita em

qualquer uma das superfícies longitudinais disponíveis. Contudo, o menor

erro de predição da densidade básica no processo de validação foi obtida com

o espectro da superfície transversal. Provavelmente a maior penetração dos

feixes de luz pela abertura dos vasos e fibras faz com que o espectro expresse

mais a densidade básica da madeira.

Por fim, os resultados da estimativa da densidade básica no grupo de

validação mostraram que, apesar de modelos de calibração utilizando

madeiras de uma única espécie ou gênero apresentarem maior capacidade de

predição dessa propriedade, é possível utilizar os modelos desenvolvidos com

o espectro de diferentes espécies para classificação inicial de madeiras com

base na densidade básica.

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Capitulo 3

Discriminação das madeiras de Dalbergia nigra e

Dalbergia spruceana pela espectroscopia de

infravermelho-próximo

Resumo

A semelhança entre as madeiras de Dalbergia nigra e D. spruceana torna difícil sua

distinção, mesmo pelas características anatômicas. Apesar disso, a discriminação entre estas espécies é necessária, visto que a comercialização de D. nigra é proibida entre os países

signatários do CITES (Convention on International Trade in Endangered Species). No

presente trabalho, foi verificada a aplicabilidade da espectroscopia de infravermelho-próximo (NIR), combinada ao método de classificação SIMCA (Soft independent modelling of class

analogies) para separação de madeiras dessas duas espécies. O espectro NIR de 10 amostras

de cada espécie foi coletado no intervalo de 1100 nm a 2400 nm. Foram construídos modelos

baseados na análise de componentes principais para cada espécie. Na aplicação dos modelos para classificação de madeiras do grupo de validação apenas uma das amostras de D. nigra

não foi identificada como pertencente à essa espécie pela espectroscopia NIR. Os resultados

mostraram, portanto, que a espectroscopia NIR é uma ferramenta muito útil para separação das madeiras de D. nigra e D. spruceana.

Abstract

The similarity between the wood of Dalbergia nigra and D. spruceana makes it

difficult to distinguish them even with the analysis of their anatomical features. Nevertheless, discrimination of these species is necessary, since D. nigra trade is prohibited among the

signatory countries of CITES (Convention on International Trade in Endangered Species). In

this study, we verified the applicability of near-infrared spectroscopy (NIR), combined with the classification method SIMCA (Soft independent modelling of class analogies) to separate

the wood of these two species. The NIR spectra of 10 samples from each species were

collected in the range of 1100 nm-2400 nm. Models were constructed based on principal

component analysis for each species. In the classification based on these models, only one sample of D. nigra from the validation wood group was not identified as that species by the

NIR spectroscopy. The results show that NIR spectroscopy is a very useful tool to separate

the woods from D. nigra and D. spruceana.

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Introdução

A espécie Dalbergia nigra (Vell.) Allem. ex Benth., conhecida como

jacarandá-da-bahia, é uma das mais valorizadas essências florestais

brasileiras devido ao grande interesse comercial em sua madeira . Esta possui

características excelentes para confecção de mobiliário de luxo, instrumentos

musicais e laminas faqueadas decorativas, como a aparência agradável e

propriedades acústicas (RECORD & HESS, 1943; MAINIERI & CHIMELO,

1989). Devido a exploração intensa, hoje em dia é classificada como uma

espécie ameaçada de extinção (VARTY, 1998) e em 1992 foi listada no

apêndice I da CITES (Convention on International Trade in Endangered

Species), proibindo sua comercialização entre os países signatários da

Convenção (CITES, 1992).

No Brasil, existem outras três espécies de Dalbergia que também

possuem madeira com importância comercial: D. decipularis Rizzini &

A.Mattos, D. cearensis Ducke e D. spruceana Benth (RECORD & HESS,

1943; KRIBS, 1959). Nenhuma dessas espécies é considerada ameaçada ou

está listada nos apêndices do CITES. Portanto, de forma a cumprir a

legislação, é preciso distinguir a madeira de D. nigra das demais espécies

comercializadas e com isso, detectar ações fraldulentas, como declarar

madeiras de D. nigra como D. sprucena, por exemplo.

A identificação botânica pela anatomia do lenho é uma ferramenta

utilizada na fiscalização do comércio de madeiras. Por este processo D.

decipularis é diferencia de D. nigra pela presença de anéis semi-porosos, e D.

cearensis se diferencia por possuir vasos numerosos e com diâmetro menor

que 10 µm (INSIDEWOOD, 2004). Contudo, por esse método é difícil a

distinção entre D.nigra e D. spruceana, visto que ambas possuem madeira de

cor castanho-escuro e características anatômicas semelhantes (MAINIERI et

al., 1983; INSIDEWOOD, 2004). Mesmo com técnicas estatísticas de

classificação aplicadas a dados quantitativos de anatomia, amostras de D.

spruceana foram identificadas incorretamente como D. nigra (GASSON et

al., 2010).

Caso conhecida e declarada corretamente, a informação sobre a

procedência da madeira é de grande auxílio na separação entre as duas

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espécies. Dalbergia nigra é uma espécie de Mata Atlântica, com ocorrência

na costa nos estados do Paraná até a Paraíba e em matas interiores de Minas

Gerais. Dalbergia spruceana é uma espécie restrita à floresta amazônica, com

ocorrência nos estados da região Norte do Brasil (LIMA, 2010).

Em vista das dificuldades para separação entre as duas espécies,

MILLER e WIEMANN (2006) sugerem o uso da densidade e da fluorescência

do extrato aquoso e etanólico para diferenciar as duas espécies.

Recentemente, KITE et al. (2010) identificaram um neoflavonóide nos

extrativos de D. nigra e sugerem seu uso como marcador químico para essa

espécie. As desvantagens destas metodologias residem no fato de não

poderem ser executadas no momento da inspeção em campo ou em uma

grande quantidade de madeiras, visto que são laboriosas e exigem grande

capacitação. Assim, técnicas precisas, porém mais fáceis de aplicar, são

desejáveis.

A espectroscopia de infravermelho-próximo (NIR) é uma técnica de

baixo custo e rápida, que pode ser empregada com pouco preparo da amostra

e no local onde se encontra a madeira (SO et al., 2004; BRASHAW et al.

2009). Já vem sendo aplicada às madeiras para quantificar características

químicas (POKE & RAYMOND; 2006), densidade de massa (THYGESEN,

1994; SCHIMLECK et al., 1999; DEFO et al., 2007), comprimento de

traqueídes (SCHIMLECK & EVANS, 2004) e outras propriedades das

madeiras visando o controle de qualidade (SO et al., 2004).

O potencial da espectroscopia NIR para discriminação de madeiras foi

inicialmente identificado em material de prédios e mobiliário com valor

histórico (NAIR & LODDER, 1993). Neste pioneiro trabalho, os autores

utilizaram apenas 19 comprimentos de onda entre 1445 e 2348 nm.

Posteriormente, BRUNNER et al. (1996) dispondo de um espectrofotômetro

mais moderno, capaz de adquirir 500 pontos no intervalo de 1000 à 2500 nm,

obtiveram a separação de seis espécies de madeiras, utilizando como técnica

estatística a análise de componentes principais (PCA, Principal component

analysis). Mais recentemente, TSUCHIKAWA et al. (2003) utilizaram

distâncias de Mahalanobis como forma mensurar a discriminação pelo

espectro NIR entre nove espécies de madeiras.

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A espectroscopia NIR também foi utilizada como ferramenta para

controlar o comércio ilegal de mogno (Swietenia macrophylla), e modelos de

análise discriminante foram desenvolvidos para separar essa espécie de outras

três madeiras brasileiras semelhantes (PASTORE et al., 2011). ADEDIPE et

al. (2008), com o espectro NIR e o método de classificação SIMCA (Soft

independent modelling of class analogies), conseguiram diferenciar duas

espécies de carvalho (Quercus rubra e Quercus alba).

Para coibir a comercialização ilegal da madeira de D. nigra é

necessário garantir sua correta identificação, diferenciando -a de D.

spruceana. Portanto, é desejável o desenvolvimento de ferramentas que

possibilitem a discriminação das madeiras destas duas espécies de formar

rápida e que possam ser utilizadas durante inspeções. Assim, o objetivo do

presente trabalho foi utilizar a espectroscopia NIR para discriminação e ntre

as madeiras de D. nigra e D. spruceana e o desenvolver um modelo para

identificação de D. nigra.

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Materiais e métodos

Amostras de madeira

Foram utilizadas 28 amostras de madeira da Xiloteca Calvino Mainieri

(BCTw) do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), sendo16 amostras de

Dalbergia nigra e 12 amostras de Dalbergia spruceana. Dez amostras de

cada espécie foram selecionadas para compor o grupo de calibração, enquanto

as outras compuseram o grupo de validação para identificação pelo espectro

NIR (Tabela 1).

Previamente à aquisição do espectro NIR, foi realizado o teste de

fluorescência do extrato aquoso e etanólico, segundo o procedimento descrito

na lista de características da IAWA (IAWA COMMITTEE, 1989) para cada

amostra.

Todas as amostras foram lixadas em uma de suas superfícies

longitudinais com lixa de granulação 120.

Tabela 1 – Amostras de D. nigra e D. spruceana utilizadas para calibração e validação.

Espécie Localidade Calibração Validação

BCTw BCTw

Dalbergia nigra

Bahia 1480, 5055 12176

Espírito

Santo 4590, 6731, 10990 1473, 9377, 18776

Minas

Gerais 1475, 1476, 2773, 12041 1477, 4292

Pernambuco 8360 -

Dalbergia spruceana Pará

7241; 7304*; 10821; 11079;

13116; 13349; 16612 90; 13326

Rondônia 14315 -

*triplicatas

Espectros de infravermelho próximo (NIR)

Os espectros foram obtidos por reflexão difusa por sonda de fibra

óptica posicionada perpendicularmente a superfície longitudinal lixada das

amostras. Foi utilizado o espectofotômetro Ocean Optics NIR 256-2.5,

equipamento robusto e pequeno, com possibilidade de aplicação no campo.

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65

Por se tratarem de exemplares da Xiloteca, as amostras apresentavam

diferentes tamanhos, formas e orientação radial à tangencial da superfície

longitudinal. Logo, não foi possível identificar a superfície utilizada como

estritamente longitudinal radial ou tangencial.

A escolha de utilizar a superfície longitudinal, mesmo que em

diferentes orientações, baseia-se na necessidade de simular a mesma variação

que é encontrada na inspeção de lotes de madeira serrada ou em folhas

faqueadas, visando à aplicação da espectroscopia NIR como ferramenta de

identificação em campo.

A faixa de comprimento de onda do NIR utilizada foi de

aproximadamente 1100 a 2400 nm, dividida em intervalos de cerca de sete

nanômetros. Cada espectro corresponde à média de duas mil aquisições de um

milissegundo, obtidas em diferentes posições da superfície dos corpos-de-

prova. Os valores de reflexão (R) foram transformados para absorbância pelo

cálculo de log 1/R (MARTENS & NÆS, 2004).

De forma a minimizar o efeito do espalhamento da luz causado por

variações no tamanho das partículas ou na rugosidade da superfície das

amostras, aos espectros foi aplicado o pré-tratamento de padronização SNV

(do inglês, Standard normal variate). Neste pré-tratamento, cada espectro é

centralizado a partir da subtração do valor de absorbância de cada

comprimento de onda pela absorbância média do espectro. Em seguida, estes

valores são divididos pelo desvio-padrão das absorbâncias do espectro

individual. Nessa transformação os espectros são dimensionados de forma a

terem média zero e variância unitária (DHANOA et al., 1994).

Análise de componentes principais

A avaliação da discriminação das duas espécies pela espectroscopia

NIR foi feita pela análise de componentes principais (do inglês Principal

component analysis – PCA). Para essa análise, foram utilizados os espectros

das amostras do grupo de calibração.

O objetivo da PCA em espectroscopia NIR é reduzir as variáveis do

espectro (comprimentos de onda) a combinações lineares (componentes) não

correlacionadas que expressão a maior parte da variabilidade dos dados. No

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cálculo das combinações lineares, os primeiros componentes contêm a maior

parte da variância dos espectros (NÆS et al., 2004).

A correlação das variáveis originais com cada componente calculado é

dada pelo valor do loading. Em espectroscopia NIR, o valor dos loadings

representa as regiões do espectro importantes para cada componente.

O escore da amostra representa a sua projeção no componente. Com

isso, é possível analisar visualmente a distribuição das amostras nos

componentes pelo gráfico de dispersão dos escores entre componentes.

Na aplicação da espectroscopia NIR para discriminação de grupos,

espera-se que os espectros das amostras de um mesmo grupo apresentem

menos diferenças que amostras de grupos distintos (MARK, 2004). Nesse

caso, a maior variância será encontrada nos primeiros componentes.

Classificação SIMCA

O método de classificação SIMCA, acrônimo para o termo em inglês

Soft independent modelling of class analogies , tem como base a análise de

componentes principais (MARK, 2004).

Para as amostras de D. nigra do grupo de calibração , foi feita a PCA e

obtiveram-se os componentes principais que explicam a variância dos

espectros NIR dessa espécie, constituindo o modelo D. nigra. O mesmo

procedimento foi executado para construção do modelo D. spruceana.

Com o método SIMCA, a classificação de uma amostra teste ou

desconhecida é baseada na distância euclidiana ortogonal dessa amostra para

os modelos (Si) e na distância da projeção da amostra para o centro do

modelo (Hi). Na Figura 1 estão ilustradas as distâncias utilizadas para

classificação SIMCA de duas amostras em dois modelos hipotéticos. Para

classificação foram utilizados os espectros das amostras do grupo de

validação.

O limite que define inclusão ou não de uma nova amostra ao modelo é

chamado de nível de significância. No presente estudo foi utilizado o limite

significância de 0,05, ou seja, há a chance de 5% de uma amostra que

pertence a um grupo seja classificada fora desse grupo.

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Figura 1 – Exemplo espacial hipotético da classificação SIMCA. A e B são modelos

construídos com amostras de grupos diferentes. Para classificação a um dos

grupos, as amostras x1 e x2 são avaliadas pela distância euclidiana ortogonal até o modelo (S1 e S2) e pela distância da projeção ao centro do

modelo (H1 e H2). Baseado em NÆS et al., (2004).

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Resultados e discussão

Análise de componentes principais

Com a análise de componentes principais (PCA) foi possível observar

a separação, pelo espectro NIR, da amostras de D. nigra e D. spruceana do

grupo de treino, contendo 10 amostras de cada espécie.

Todas as amostras de D. spruceana utilizadas, apresentaram

fluorescência do extrato aquoso e etanólico, característica descrita para

madeira dessa espécie (MILLER & WIEMANN, 2006), enquanto nenhuma

das amostras de D. nigra apresentou tal característica.

Na Figura 2 está representado o gráfico de distribuição dos escores

das amostras para o primeiro e segundo componentes. É possível notar que a

separação entre as duas espécies ocorreu com base no primeiro componente,

que explica 71% da variância dos espectros.

Figura 2 – Distribuição dos escores das amostras do grupo de calibração entre os

primeiro e segundo componente. ■ amostras de Dalbergia nigra. ●

amostras de D. spruceana.

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No gráfico dos loadings do primeiro componente (Figura 3), os picos

e vales encontrados representam as regiões do espectro mais relacionadas a

esse componente. Os maiores valores dos loadings para o primeiro

componente, encontrados nos comprimentos de onda de 1460, 1845, 1925,

2000, 2085 e 2200 nm, coincidem com as regiões do espectro NIR com maior

diferença entre D. nigra e D. spruceana.

O pico de 1460 nm, atribuído à combinação da absorbância da celulose

e lignina, o pico de 1925 nm, atribuído a lignina e água, e a região ao redor

de 2100 nm, atribuída a celulose, são comuns no espectro NIR de madeiras

(KELLEY et al., 2004). A região de 1640-1900 nm é associada aos

movimentos moleculares das ligações dos grupos C-H, C-H2, CO2H, presentes

na celulose e dos grupos C=O e dos anéis aromáticos, encontrados na lignina

e extrativos (BAILLÈRES et al., 2002).

Em estudo dos extrativos das madeiras de Dalbergia, foi identificado

um novo composto fenólico do tipo neoflavonóide, denominado de dalnigrin

apenas em D. nigra (KITE et al., 2010). Na estrutura molecular desse

composto, estão presentes anéis aromáticos e ligações C=O relacionadas às

regiões do espectro NIR que foram importantes para discriminação entre as

duas espécies (WORKMAN & WEYER, 2007). Porém, o espectro NIR das

madeiras é marcado pela presença de regiões de sobreposições e combinações

de absorções dos diferentes compostos que a formam, sendo difícil uma

interpretação mais aprofundada que a visual (SHENK et al., 2008). Para se

obterem mais informações sobre a influência dos extrativos das madeiras de

D. nigra e D. spruceana na diferença de seus espectros NIR, esses devem ser

analisados pela espectroscopia de forma isolada da madeira.

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Figura 3 – Conjunto de espectros de Dalbergia nigra (linhas vermelhas) e D.

spruceana (linhas azuis) do grupo de calibração e os loadings do primeiro

componente (linha verde). Os maiores valores de loadings coincidem com

as regiões de maior diferença entre os espectros das espécies.

Classificação SIMCA (Soft independent modelling of class analogies)

Pelo método SIMCA, foram construídos modelos para cada uma das

espécies, D. nigra e D. spruceana. Para D. nigra, o modelo PCA foi

construído com três componentes. Para D. spruceana, o modelo foi

construído com dois componentes.

Foram classificadas corretamente, as duas amostras de D. spruceana e

cinco das seis amostras de D. nigra. A Figura 4 mostra a distância das

amostras do grupo de calibração para cada um dos modelos e a distribuição

das amostras do grupo de validação dentro dos modelos. A amostra não

identificada como D. nigra (BCTw 18776) encontra-se afastada dos dois

modelos. Apesar disto, a distância euclidiâna dessa amostra para o modelo D.

nigra (d = 0,11) é menor que para o modelo D. spruceana (d = 0,18).

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Figura 4 – Distância euclidiana ortogonal das amostras para os modelos (Si). ■

amostras de Dalbergia nigra. ● amostras de D. spruceana. Os símbolos

cheios são amostras do grupo de calibração e os vazios são as amostras do grupo de validação.

A Figura 5 representa os dois parâmetros utilizados para classificação

das amostras do grupo de validação no modelo D. nigra: a distância

euclidiana ortogonal para o modelo (Si) e a distância da projeção para o

centro do modelo (Hi). No quadrante destacado em cinza, que representa o

limite de significância de 5%, estão as amostras designadas como D. nigra. A

distância das amostras de D. spruceana para o modelo encontra-se dentro do

limite de significância, porém a distância da projeção para o centro do

modelo é muito maior do que o limite.

A amostra BCTw 18776 representa um outlier, estando distante dos

dois modelos. Observando novamente a amostra, notou-se que se trata de um

segmento coletado próximo a medula, existindo a possibilidade de se tratar de

madeira de galho e contendo lenho juvenil. VIA et al., (2003) relataram que

modelos baseados no espectro NIR de lenho adulto são mais imprecisos

quando utilizados para estimar as propriedades do lenho juvenil. Os autores

sugerem utilizar modelos diferentes para cada situação. A construção de um

modelo, incorporando o espectro NIR de mais amostras representativas das

variações radiais do tronco da árvore pode melhorar a capacidade de

classificação de D. nigra. Porém, deve-se considerar que a maior parte das

madeiras de Dalbergia comercializadas são provenientes de lenho adulto.

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Portanto, a espectroscopia NIR possui potencial para separar tais espécies na

fiscalização de lotes de madeiras.

Figura 5 – Distâncias das amostras do grupo de validação para o modelo Dabergia nigra. A área destacada em cinza indica o limite de 5% de significância do

modelo. □ amostras de D. nigra. ○ amostras de D. spruceana. Si - distância

euclidiana ortogonal até o modelo. Hi - distância da projeção ao centro do modelo.

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Conclusões

Os resultados do presente estudo mostraram que com a espectroscopia

de infravermelho-próximo foi possível distinguir as madeiras de Dalbergia

nigra daquelas de D. spruceana. No resultado da análise de componentes

principais, as duas espécies foram separadas pelo primeiro componente. Os

comprimentos de onda mais relacionados a esse componente se localizam nas

regiões do espectro NIR com maior diferença entre as duas espécies (ao redor

de 1460 nm e 1925 nm, e na região de 1650 nm à 1850 nm).

Com a classificação SIMCA, foi possível identificar corretamente

todas as amostras de D. spruceana e cinco em seis amostra de D. nigra. A

amostra de D. nigra não identificada na classificação SIMCA trata-se de um

segmento de lenho juvenil e, possivelmente por isso, apresenta

comportamento distinto das outras amostras.

Por fim, a espectroscopia NIR representa uma ferramenta com grande

potencial para auxiliar na identificação correta das madeiras de D. nigra

comercializadas.

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Considerações finais

No presente estudo verificou-se o potencial da espectroscopia de

infravermelho-próximo (NIR) para predição da densidade básica e para

identificação de madeiras neotropicais.

Considerando as características anatômicas e a densidade básica da

madeira, esta última foi a que apresentou maior influência nas variações do

espectro NIR. Os modelos de calibração para estimá-la mostraram que é

possível utilizar a espectroscopia NIR na classificação de madeiras de

diferentes espécies.

No setor florestal brasileiro, a aplicação dessa técnica para estimar as

propriedades da madeira de árvores nativas no manejo florestal, possibilitaria

a avaliação da qualidade dessas antes de sua derrubada. Contudo, a influência

do teor de umidade da madeira precisa ser mais estudada. Para coníferas, as

calibrações obtidas com o espectro de madeira verde possu íam erro de

predição maior que as obtidas com a madeira seca, mas mesmo assim

serviram para o propósito de classificação (THYGESEN, 1994; SCHIMLECK

et al., 2003a). Estudos semelhantes na madeira de angiospermas são

necessários para determinar o efeito do teor de umidade em modelos para

avaliação de propriedades físcias da madeira de árvores de plantações ou de

programas de manejo florestal.

Já o uso da espectroscopia NIR em lotes de madeira serrada pode ser

útil como forma de avaliar as propriedades como a densidade básica, em cada

peça, sem a necessidade de retirada de amostras. Tal aplicação possibilitaria o

controle de qualidade e melhoria dos processos industriais na linha de

produção de materiais derivados da madeira como painéis de partículas,

chapas de fibras e outros. Apesar da técnica ser superfícial, a rapidez com que

se adquire o espectro torna possível amostrar diferentes regiões de uma peça

de madeira, podendo ser obtida uma representatividade maior do que aquela

obtida com a retirada de amostras para determinação da densidade básica pelo

método de referência, no qual é determinado a massa e o volume de corpos-

de-prova.

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75

Os resultados do presente estudo também mostraram que a maior parte

das características anatômicas importantes para identificação de madeiras

possui baixa relação com o espectro NIR. A espectroscopia NIR é uma

metodologia de análise química e, apesar da influência de aspectos físicos da

amostras como a rugosidade, os pré-tratamentos reduzem o efeito do

espalhamento. A madeira possui uma composição química complexa, mesmo

em suas moléculas mais abundantes como a celulose e a lignina. Além disso,

os extrativo são muito variáveis entre as madeir as, com sua composição

estando relacionada ao espectro NIR. Estudos posteriores como o de HORI e

SUGIYAMA (2003), que utilizem a espectroscopia de infravermelho

acoplada à microscopia poderam fornecer mais informações sobre a

influência das características anatômicas da madeira nas variações do

espectro NIR.

Por outro lado, verificou-se que a espectrocopia NIR pode ser utilizada

como ferramenta complementar no processo de identificação. Com o espectro

NIR foi possível a discriminação da madeira de duas espécies (Dalbergia

nigra e D. spruceana) com características anatomicas muito semelhantes. Por

tal fato, é interessante estudar a aplicação da espectroscopia NIR para

discriminação de espécies de outros grupos cujas madeiras são de difícil

distinção pelas características anatômicas.

Em alguns desses grupos, as madeiras apresentam grande variabilidade

das propriedades de importância tecnológica como a densidade de massa e a

durabilidade natural, como por exemplo as madeiras do gênero Qualea. Em

outros, assim como no caso da madeira de D. nigra, uma ou algumas das

espécies do gênero possuem restrições legais do corte e a correta

identificação em relação às outras espécies do grupo é necessária para uma

eficiente fiscalização.

Desse modo, principalmente quando se trata de sua aplicação em

madeiras de angiospemas neotropicais, a espectroscopia NIR, ainda está no

começo do seu desenvolvimento, mesmo com suas duas décadas de aplicação

em produtos florestais. Mais estudos com estas madeiras são necessários

visando a utilização mais ampla dessa metodologia.

Page 87: Espectroscopia de infravermelho-próximo em … Jaquier Bossler Pigozzo Espectroscopia de infravermelho-próximo em madeiras neotropicais: aplicação na identificação e predição

76

Conclusões gerais

Os resultados do presente estudo permitem concluir que:

1. A maioria das características anatômicas escolhidas, apresentou baixa relação

com o espectro NIR e não foi verificado o agrupamento das amostras

selecionadas que apresentavam arranjo do parênquima axial semelhante.

2. A densidade básica da madeira possui maior relação com o espectro NIR que

as características anatômicas. Logo, a espectroscopia NIR mostrou-se uma

potencial ferramenta para estimar essa propriedade independente da espécie e

das variações das características anatômicas das madeiras.

3. A espectroscopia NIR mostrou grande potencial para discriminação de

Dalbergia nigra e D. spruceana, madeiras com características anatômicas

semelhantes e portanto difícil identificação.

4. Por fim, a espectrocopia NIR apresenta grande potencial como técnica no setor

florestal para identificação e predição de propriedades das madeiras nativas.

Page 88: Espectroscopia de infravermelho-próximo em … Jaquier Bossler Pigozzo Espectroscopia de infravermelho-próximo em madeiras neotropicais: aplicação na identificação e predição

77

Resumo

A madeira é uma excelente matéria-prima renovável, sendo empregada

como fonte de celulose e na construção civil, e sendo usada ainda como

combustível. Contudo, as propriedades da madeira variam muito entre as

espécies. Logo, saber a qual espécie pertence a madeira, assim como algumas

de suas propriedades é essencial para um planejamento adequado de sua

aplicação, evitando desperdícios e melhorando a qualidade dos produtos

derivados do material. No presente estudo, analisou-se a aplicação da

espectroscopia de infravermelho-próximo (NIR) na identificação e predição

de propriedades físicas de madeiras nativas ou plantadas no Brasil, as quais

apresentam grande variação entre suas propriedades e características

anatômicas. Primeiramente, foi verificada a relação do espectro NIR com a

densidade básica e algumas das características anatômicas importantes para

identificação de madeiras, em especial aquelas ligadas aos raios

parênquimáticos. Em seguida, com a espectroscopia NIR, foram

desenvolvidos modelos para predição da densidade básica em madeiras de

várias espécies brasileiras. Por fim, aplicou-se a espectroscopia NIR para

discriminação entre as madeiras de Dalbergia nigra e D. spruceana, as quais

são muito semelhantes em aspecto e características anatômicas. Os resultados

sugerem que a espectroscopia de infravermelho-próximo é uma potencial

ferramenta para classificação das diferentes madeiras brasileiras de acordo

com suas propriedades físicas. Os resultados sugerem ainda uma metodologia

auxiliar no processo de identificação pela anatomia do lenho.

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78

Abstract

Wood is an excellent renewable raw material, used as fuel, pulp and as

building material. However, the properties of wood vary widely among

species. Therefore, knowing the wood’ species as well as some of its

properties is essential for proper planning of its application, avoiding waste

and improving the quality of wood based products. In this study it was

analysed the application of the near infrared spectroscopy (NIR) to

identification and prediction of physical properties of native or planted

timbers from Brazil, which show great variation on their properties and

anatomical features. First, it was verified the relationship between the NIR

spectrum and the basic density as well as some important anatomical features

for wood identification, especially those related to ray parenchyma. Then,

using NIR spectroscopy, models were developed to predict the wood basic

density from various Brazilian species. It was also applied NIR spectroscopy

to separate the woods from Dalbergia nigra and D. spruceana, two woods

that are very similar in appearance and anatomical features. The results

suggest that near-infrared spectroscopy is a potential tool for classification of

various Brazilian woods based on their physical properties, as well as an

auxiliary method in wood anatomy identification.

Page 90: Espectroscopia de infravermelho-próximo em … Jaquier Bossler Pigozzo Espectroscopia de infravermelho-próximo em madeiras neotropicais: aplicação na identificação e predição

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