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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PARA ALÉM DO APAGAR INCÊNDIOS: AS MÚLTIPLAS ATUAÇÕES DOS ORIENTADORES EDUCACIONAL E
PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO DE LEITORES
Por: Isabel Ottoni Luiz Orientadora: Mary Sue Carvalho Pereira
Rio de Janeiro 2010
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PARA ALÉM DO APAGAR INCÊNDIOS: AS MÚLTIPLAS
ATUAÇÕES DO ORIENTADOR EDUCACIONAL E
PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO DE LEITORES
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como requisito
parcial para obtenção de grau de especialista em
Orientação Educacional e Pedagógica
Por: Isabel Ottoni Luiz
AGRADECIMENTOS
À orientadora Mary Sue, aos professores do curso de
pós-graduação, à minha família e aos meus amigos, os
meus agradecimentos por terem contribuído direta ou
indiretamente na elaboração deste trabalho acadêmico.
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a todos os orientadores
educacionais e pedagógicos que contribuíram e
contribuem para a formação de cidadãos sensíveis e
críticos aos problemas da realidade e ativos na
construção de um mundo melhor.
RESUMO
Atualmente, a leitura literária é trabalhada nas escolas de maneira
reducionista. A literatura, enquanto obra de caráter inacabado, múltiplo e
plurissignificativo, não é valorizada no cotidiano escolar. As atividades de
fixação, após a leitura, são interpretações que possuem perguntas superficiais
cujas respostas são encontradas literalmente no corpo textual. As questões são
necessárias na medida que proporcionam uma memorização mecânica e
paulatina da estória, fundamentais para execução de testes sobre o livro. Os
espaços vazios deixados pelo autor não são preenchidos pelo leitor. Esta falta
de diálogo transforma o texto em algo sem significado e o aluno em um sujeito
passivo, desestimulado e alienado que reproduz mecanicamente a superfície
do texto. Logo, não nos surpreende quando sabemos que o acesso à
informação e aos livros aumentou em proporção desigual ao interesse pela
leitura. Diante desta problemática, este estudo pretende analisar como a
História do Brasil influenciou na formação de uma cultura que não valoriza a
leitura literária. Atualmente, reivindicações docentes, estudos de pesquisadores
da área e acordos internacionais são feitos com o objetivo de criar políticas
públicas de incentivo à leitura que possam sanar os males que a história
brasileira nos deixou. Além disso, esta pesquisa almeja investigar como os
orientadores educacional e pedagógico podem contribuir na formação de um
ambiente onde todos estimulam e são estimulados a ler obras literárias.
Palavras-chave: Leitura literária; orientação pedagógica e educacional; políticas
pública da leitura e do livro.
METODOLOGIA
A realização desta pesquisa exploratória se deu a partir de uma
metodologia qualitativa com uma abordagem crítico-dialética. Os principais
autores utilizados foram Raquel Villardi, Regina Zilberman e Ezequiel Theodoro
da Silva. Este estudo compreendeu as seguintes etapas:
-revisão bibliográfica de livros e artigos sobre o tema investigado;
-levantamento das principais políticas públicas de leitura e livro vigentes;
- averiguação dos itens de leis e programas inseridos nas políticas públicas do
Governo atual;
- investigação da repercussão da valorização da leitura de livros literários na
formação de leitores;
- análise do papel dos orientadores educacional e pedagógico na formação de
leitores proficientes.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8
CAPÍTULO 1 - POLÍTICAS PÚBLICAS DO LIVRO E LEITURA: REMÉDIO PARA SANAR OS MALES DA HISTÓRIA DO BRASIL .................................... 10
CAPÍTULO 2 - A RIQUEZA DA LEITURA LITERÁRIA...................................... 19
CAPÍTULO 3 - O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL E PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO DE LEITORES ...................................................................... 26
CONCLUSÃO ................................................................................................... 36
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 39
ÍNDICE ............................................................................................................. 43
8
INTRODUÇÃO
O Brasil, com 191,6 milhões de habitantes, apresenta, segundo dados
do Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional (INAF-2009), cerca 28% da
população entre 15 e 64 anos composto por analfabetos funcionais, sendo que
7% são analfabetos absolutos. Somente 25% dominam plenamente o uso da
língua portuguesa. Os restantes têm o nível básico de leitura e escrita.
(http://www.ipm.org.br)
Analisando este panorama, nos impressiona que 54% dos brasileiros
entre 15 e 64 anos já frequentaram a escola até a antiga 4 série, porém
conseguiram atingir no máximo o grau rudimentar de alfabetismo, isto é, só
possuem a habilidade de localizar informações explícitas, em textos curtos e
efetuar operações matemáticas simples. Mais grave é quando analisamos que
10% desses alunos são considerados analfabetos absolutos, não conseguindo
decodificar palavras nem tampouco frases, apesar de terem cursado os
primeiros cinco anos de ensino fundamental. (http://www.ipm.org.br)
Segundo pesquisa realizada pela UNESCO, dentre os 52 países
estudados, o Brasil ocupa a 47ª posição no que tange ao hábito de leitura.
Mesmo tendo elevado a média de livros que os brasileiros leem por ano de 1,8
para aproximadamente 4, nos últimos anos, a classificação do nosso país é
preocupante e deve ser alvo de investimentos na educação. Em países
desenvolvidos, uma pessoa lê aproximadamente 10 livros ao ano.
(www.blogs.cultura.gov/pro-leitura/tag/livros)
Percebe-se diante de tais dados que o Brasil encontra-se em uma
situação de enquadramento na posição de Terceiro Mundo, ou seja, de um país
periférico em relação a outros países dominantes. Esta pesquisa pretende
investigar como a história brasileira influenciou na formação de um povo
desinteressado pela leitura. Leitura esta que passa a ser fundamental para
melhorar a situação brasileira no contexto sócio-econômico mundial.
9
Através da leitura, principalmente de livros literários, podemos
desenvolver nossa sensibilidade, criatividade e criticidade, ou seja, ampliar a
nossa visão de mundo. Este tipo de leitura permite ao leitor preencher os
espaços vazios deixados pelo autor, criticar as ideias e vivenciar outras
experiências. Isso só é possível devido à peculiaridade da literatura, enquanto
espaço aberto, inacabado e plurissignificativo. Será que estas riquezas são
valorizadas e trabalhadas pelos os envolvidos do cotidiano escolar?
Uma média de 45% dos jovens entre 14 e 19 anos afirmam ler
regularmente. Porém, este índice diminui gradativamente, conforme aumenta a
idade destes jovens. Apenas 24% leem com uma certa frequência após os 40
anos. (www. 13.unopar.br). Por que este índice diminui no decorrer da idade?
No intuito de responder estas perguntas, tal pesquisa pretende analisar a
prática de leitura nas escolas, bem como o papel dos orientadores educacional
e pedagógico na formação de um ambiente onde a leitura é valorizada na sua
riqueza.
Sendo a educação o reflexo ou, como dizia Bourdieu (1975), a
reprodução das estruturas sociais, é necessário que também analisemos estas
a partir de políticas que regem o seu funcionamento. Para isto, tal estudo visa
analisar as Políticas Públicas do Governo atual, mais especificamente a
Política do Livro e o Plano Nacional do Livro e Leitura.
10
CAPÍTULO 1 - POLÍTICAS PÚBLICAS DO LIVRO E
LEITURA: REMÉDIO PARA SANAR OS MALES DA
HISTÓRIA DO BRASIL
Analisar a história do Brasil não ajuda simplesmente a entender o
passado, mas principalmente compreender e criticar o presente para construir
um futuro melhor. Se não fosse o estudo do passado não teríamos referencial
que pudéssemos comparar para mudar. Por isso, esta pesquisa pretende
investigar brevemente como a história da leitura pôde influenciar os baixos
índices de leitura no Brasil.
A leitura começou a ser realizada com a chegada dos portugueses ao
Brasil, pois até então os índios que aqui moravam não tinham em sua cultura a
leitura e a escrita. As sociedades tribais são essencialmente míticas e de
tradição oral. Os mitos e ritos são transmitidos oralmente, mantendo uma
tradição que mantém a coesão do grupo e a repetição dos comportamentos
considerados desejados. Da mesma forma, a educação é feita através de
conversas com os mais idosos e imitação dos adultos nas atividades diárias e
nas cerimônias rituais.
Percebe-se nesta época que o saber era aberto a todos. Com a chegada
dos portugueses esta cultura foi sendo substituída gradualmente por uma
cultura da exclusão do saber. Este agora passa ser um patrimônio da classe
dominante. Neste contexto, a escola surge como uma necessidade de elitizar o
saber através do acesso de uma minoria ao conhecimento.
Brasil Colônia foi marcado com a educação a cargo da Companhia de
Jesus - a denominada educação jesuítica. Os jesuítas trouxeram não somente
a moral, os costumes e a religiosidade europeia, mas principalmente os
métodos pedagógicos.
11
No primeiro plano educacional nota-se a intenção de catequizar e instruir
os indígenas, como previa os “ Regimentos”, e a necessidade de incluir os
filhos dos colonos na educação jesuítica.
Não existia, na época, uma literatura propriamente brasileira, porque as
obras eram escritas por portugueses, editadas em Portugal e lidas, muitas
vezes, por portugueses que habitavam na colônia ou índios alfabetizados pelos
jesuítas. Porém, a circulação de livros ainda era muito restrita. Algumas obras
eram censuradas, pois eram consideradas uma ameaça contra os preceitos da
Igreja, do Estado e da boa moral.
A educação não era tão valorizada no Brasil. Enquanto nas colônias
espanholas já existiam muitas universidades, a nossa primeira Universidade só
surgiu em 1934, em São Paulo.
Por todo Império, a educação continuava sendo de má qualidade. Os
professores primários eram muito mal pagos e sem preparo. A criação do
ensino normal não mudou a qualidade desses professores. Para agravar ainda
mais o desinteresse desses profissionais, no final do Império, as injunções
políticas afastavam docentes que tinham ideias positivistas.
O ensino secundário era destinado somente aos filhos das famílias
nobres e compreendia poucas escolas, muitas particulares. O conhecido
Colégio Pedro II, criado em 1837, era o único estabelecimento público de
ensino secundário.
A educação feminina, assim como na Colônia, era completamente
relegada a segundo plano. Nas famílias mais abastadas as jovens eram
alfabetizadas e aprendiam certas prendas domésticas.
O ensino superior era fragmentado com uma predominância da
formação em Direito. Existiam poucos estudos das ciências e nenhuma
realização no campo da pesquisa científica.
A orientação religiosa do ensino ainda foi marcante neste período. O
ensino privado, muitas vezes mantido por religiosos, predomina sobre o oficial.
12
A esperança era a Proclamação da República. As ideias positivistas
influenciaram a criação da primeira Constituição Republicana. O Estado ficou
separado da Igreja. Estabeleceu-se assim a laicidade do ensino público. O
ensino primário tornou-se gratuito e obrigatório. Sabe-se, porém, que esta
obrigatoriedade não era aplicada verdadeiramente, já que faltavam escolas
para atender crianças em idade escolar. Mesmo com a criação do ensino
público laico, a orientação católica continuou vigorando com suas concepções
e objetivos. A Igreja continuava expandindo sua rede de escola privada.
Neste período há uma marcante desigualdade entre a minoria composta
pela elite e a maioria composta pelo povo. Somente a elite frequentava os
bancos escolares no início da República, perpetuando assim o “status quo” da
sociedade.
As escolas rurais valorizam a vida urbana em detrimento da vida rural.
Os camponeses se desinteressavam pelo ensino de seus filhos, pois não
entendia os efeitos positivos que poderiam ser aplicados na sua realidade
imediata. Como a realidade do aluno não era aproveitada na escola, muitos
que aprendiam a ler e escrever voltavam a ser analfabetos, devido ao desuso
dessas práticas no seu cotidiano.
Outra forma de exclusão era feita nas escolas secundárias que
geralmente eram particulares e caras. Por isso, ficavam destinadas aos filhos
das classes mais favorecidas economicamente. Este tipo de ensino sempre foi
um meio de atingir o ensino superior que promovesse a ascensão social.
Diante disso, somente uma pequena parcela da população,
representada pela elite, era alfabetizada. A maioria, no entanto, não tinha
acesso ao conhecimento contido nos livros.
Especialmente, nos anos 30, o presidente Getúlio Vargas investiu na
escolarização, em especial, da língua portuguesa para reforçar suas ideias
nacionalistas do Estado Novo. Não era permitido o ensino de línguas
estrangeiras nas escolas. Na verdade, esta proibição afastava os perigos de
uma possível visão crítica a respeito do Estado Novo.
13
Com a Ditadura Militar, em 1964, a leitura era vista como instrumento
que possibilitaria o progresso e o sucesso profissional do indivíduo. A partir de
então, o projeto MOBRAL foi criado para que os adultos fossem alfabetizados e
consequentemente tivessem acesso ao conhecimento. Porém, sabe-se que
este acesso deveria ser manipulado.
A proposta de educação era toda baseada aos interesses políticos
vigentes na época. Por ter de repassar o sentimento de bom comportamento
para o povo e justificar os atos da ditadura, esta instituição estendeu seus
braços a uma boa parte das populações carentes, através de seus diversos
Programas.
O MOBRAL pode ser considerado como uma instituição criada para dar
suporte ao sistema de governo vigente. Como Aparelho Ideológico de Estado,
como nos ensina Althusser, o MOBRAL teve uma atuação perfeita. Esteve
onde deveria estar para conter qualquer ato de rebeldia de uma população
que, mesmo no tempo do milagre econômico, vivia na mais absoluta miséria.
Neste contexto, a alfabetização deveria ser acrítica, reprodutora do discurso
vigente e um meio de apoio ao regime instaurado.
A busca de novos leitores estimula a indústria do livros infanto-juvenis, a
partir de meados dos anos 70. Se antes estes livros eram recomendados,
agora são obrigatórios nas escolas. A própria obrigatoriedade, característica do
período, era uma forma de “violência simbólica”, já que a leitura e as atividades
didáticas posteriores eram exigidas e não propostas. O gosto pela leitura era
substituído pela obrigação de ler livros, preencher formulários de leitura e fazer
avaliações a partir de um trabalho mecânico anterior.
Não restam dúvidas que a situação brasileira melhorou muito quando
comparada com os períodos anteriores. Porém, não podemos negar que
algumas marcas desses períodos turbulentos estão ainda presentes,
principalmente na educação.
Apesar dessas influências passadas serem bastante discutidas pelos
novos intelectuais da educação, elas são verificadas em algumas instituições
escolares, em especial aquelas que empregam o método tradicional.
14
Tais instituições apresentam uma organização hierarquizada, apoiada na
seleção dos conhecimentos que faz predominar a cultura dominante e excluir
os desprivilegiados. Não identificados na narrativa e no seu cotidiano, o aluno
fracassa e consequentemente ele irá evadir do colégio. Isso pode ser visto com
clareza nas escolas públicas onde a desigualdade é bastante acentuada.
Pautada nessa organização, os detentores do poder e do saber
produzem um discurso que estabelece verdades inquestionáveis, raros alvos
de problematização. Nesse sentido, podemos verificar a presença de um
comportamento afirmativo-explicativo que exclui a reflexão crítica. Isso faz
pensarmos que os “poderosos” ao não colocarem em prática uma postura
crítica capaz de promover o questionamento do aprendiz, eles temem que a
sua hegemonia e supremacia sejam abaladas. Segundo Regina Zilberman:
(...) a leitura capacita o ser humano a pensar e agir com
liberdade, combatendo o autoritarismo e outros “ismos”
que sinalizam a reprodução das estruturas injustas da
sociedade. Nesta esfera, a educação e a escola
desempenham um papel de suma importância. (apud
SILVA, 2003,p.49)
No decorrer da História do Brasil percebe-se que o acesso a escola
permaneceu muito tempo restrito a minoria da população. Quando este acesso
foi ampliado para a maioria da população, ele foi manipulado para que não
houvesse questionamento da estrutura vigente. Se na Ditadura, o controle era
nítido, hoje é imperceptível. Os professores já exercem inconscientemente
esse poder. O aluno realiza obrigatoriamente atividades mecânicas,
fragmentadas que exigem a memorização e não a reflexão.
Diante disso, não nos surpreende quando sabemos que o acesso aos
livros aumentou em proporção desigual ao interesse pela leitura. Isto fica nítido
quando analisamos que logo quando o indivíduo conclui os estudos na escola,
ele perde imediatamente o contato com os livros. Se o prazer pela leitura fosse
investido no ambiente escolar, a leitura seria uma atividade frequente e
presente em todas as etapas da vida.
15
A partir dos índices baixos de alfabetização e de leitura, reivindicações
docentes, estudos de pesquisadores da área e acordos internacionais são
feitos com o objetivo de criar políticas públicas de incentivo à leitura. Tais
políticas devem atender a todos satisfatoriamente, de maneira que os índices
de leitura possam melhorar gradativamente.
Dentre os acordos previstos, podemos citar o do Ano Ibero-Americano
da Leitura, celebrado no ano atual de 2005 em 21 países das Américas e da
Europa. A escolha de tal ano foi aprovada em 2003 pela Cúpula dos Chefes de
Estado de países da Europa e das Américas. A organização geral está sendo
feita pela OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos), pelo Cerlalc
(Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e Caribe) e pela
Unesco. Este Acordo tem o propósito de transformar a leitura em um assunto
prioritário nas políticas públicas e no imaginário social dos países em voga
(http://www.vivaleitura.com.br/).
No Brasil, esta mobilização está ocorrendo a partir da implantação do
Plano Nacional do Livro e Leitura, um programa nacional que, junto com a
Política do Livro, embasam as Políticas Públicas do Livro, da Leitura e de
Biblioteca Pública, cuja responsabilidade, no âmbito do Ministério da Cultura, é
atribuída à Fundação Biblioteca Nacional. O Plano contará com a participação
dos governos federal, estadual e municipal, fundações, institutos, empresas
privadas e organizações não-governamentais para que ações e projetos sejam
realizados a partir de quatro eixos (http://www.vivaleitura.com.br/):
1. Democratização do acesso ao livro e a todo tipo de leitura com a
implantação de bibliotecas em escolas, universidades, hospitais, clubes, dentre
outros locais; a proliferação de programas governamentais de distribuição de
livros, de feiras de livros, inclusive em braile, de centros de inclusão digital, de
campanha de doações de livro; a ampliação de ações para conquistar novos
espaços para leitura, como parques, hospitais, penitenciárias etc.
2. Fomento à leitura com o propósito de formar permanentemente
educadores-leitores, bibliotecários e mediadores de leitura , de promover
atividades de leitura em comunidade tradicionalmente excluída como a
16
indígena, de construir projetos de estimulo à leitura, de apoiar à pesquisa
cientifica na área em questão, de premiar e reconhecer as melhores práticas.
3. Valorização do Livro e Comunicação que visa fortalecer o valor
simbólico do livro e da leitura no imaginário coletivo, através de campanhas nos
meios de comunicação em massa e ações para transformar a leitura em
política pública.
4. Desenvolvimento da Economia do Livro através de
financiamentos para gráficas, editoras, distribuidoras e livrarias para que haja
redução de custos e barateamento do preço do livro; do fomento à distribuição,
circulação e consumo de bens de leitura; de apoio à cadeia criativa do livro; de
maior presença no exterior da produção nacional literária cientifica e cultural
editada.
Percebe-se que o Plano abrange vários espaços e clientela, porém na
prática este projeto ainda ocorre pontual e esporadicamente em poucos
espaços elitizados como a Bienal e a feira de livros em Paraty. É preciso
disseminá-lo de modo atraente nos diferentes lugares.
A formação do educador-leitor proposta no plano ainda é reduzida ao
professor de sala de leitura. Este é muitas vezes desviado de sua função para
suprir as necessidades da escola. Quando ocupa a sua função, ele trabalha
poucas horas com uma determinada turma. O professor regente de turma
passa a maior parte do tempo com os seus alunos e por isso precisa ser
estimulado à leitura e estar preparado para incentivar o gosto da leitura para
seus alunos.
Em relação à televisão, o incentivo é mostrado raramente nos horários
nobres, em propagandas de segundos que transmitem rápida e
superficialmente a importância da leitura. Nota-se que as campanhas e projetos
cresceram, mas a divulgação dos mesmos não está sendo feita com a
frequência desejada.
Ao lado do Plano Nacional do Livro e Leitura, encontra-se a Política
Nacional do Livro, instituída na lei nº 10.753, de 30 de outubro de 2003
(http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Leis/ 2003/lei10753.htm).
17
Nove pessoas foram responsáveis pela criação de tal lei. Dentre eles,
advogados, engenheiros; e um médico, economista, administrador e jornalista.
Nota-se que não há profissionais em Letras e Pedagogia, formações estas
indispensáveis para a criação de uma lei de incentivo à leitura, como a Política
do Livro.
Abaixo, pretende-se analisar criticamente alguns itens de tal lei,
seguindo as minhas experiências vividas no cotidiano escolar que observei e
segundo teorias que defendo.
Art. 1º, item V do capítulo I, prevê a seguinte diretriz: “promover e
incentivar o hábito de leitura.” Seguindo a lei, encontraremos no capítulo IV, Art.
13º, item II b), o trecho: “introdução da hora da leitura diária”. Embora alguns
autores não façam distinção entre hábito de leitura e prazer pela leitura,
percebe-se que, ao analisar o cotidiano escolar, esta diferenciação fica nítida.
Concebendo a leitura como tarefa obrigatória, a escola transforma a mesma
em um hábito, enquanto atividade realizada diariamente em um determinado
horário. Porém, não são raros os casos de alunos que, ao abandonarem ou
terminarem a instituição de ensino, não se interessam em ler qualquer texto por
mais curto que ele seja. Desta forma, o ato de ler passa a significar algo que
precisa ser feito somente para cumprir as tarefas exigidas. Assim que a
necessidade acaba, a leitura desaparece. Entretanto, se o colégio privilegia o
gosto pela leitura, como abordado no próximo capítulo, este ato
consequentemente será incorporado para toda a vida, tendo ou não
necessidade de executá-lo.
Consideramos, portanto, que tal perspectiva (hábito de
Leitura) se apresenta como insuficiente, embora
desejável, para que tenhamos um cidadão capaz de
incorporar a leitura às atividades de seu cotidiano. E isto
só ocorre se a leitura for vista não como o cumprimento
de um dever, mas como um espaço privilegiado, a partir
do qual tanto é possível refletir o mundo, quanto afastar-
se dele, buscando na literatura aquilo que a vida nos
18
nega, quer sob a perspectiva da realidade, quer sob a da
fantasia. Para que isso ocorra, o hábito, por si só, não
chega. Há que se desenvolver o gosto pela leitura
(VILLARDI, 1999, p.10).
Apesar da utilização de termos inapropriados, percebe-se que a Política
Nacional do Livro, assim como o Plano Nacional de Livro e Leitura, são
importantes na medida que tentam atender às necessidades educativas e
culturais do país e às demandas econômicas da indústria e do comércio. Em
ambos há uma preocupação em responder aos interesses de grande parte dos
envolvidos na produção e circulação do livro, de modo que favoreçam o acesso
da maioria da população a este recurso e as suas práticas de leitura.
No entanto, a Lei atende um espectro mais amplo da sociedade e possui
diretrizes mais gerais, ao passo que o Programa está sendo construído aos
poucos a partir de diretrizes mais específicas.
Para que haja efeitos frutíferos de tais Políticas, é preciso que alguns
pontos equivocados, como a forma de criar o hábito de leitura, ceda lugar para
uma prática duradoura que leve em consideração a formação do leitor para
vida. Aliado a isto, deve-se propagar uma intensa e profunda divulgação de
suas propostas relevantes, seguida de uma aplicabilidade efetiva e prazerosa,
que atraiam cada vez mais participantes ativos.
19
CAPÍTULO 2 - A RIQUEZA DA LEITURA LITERÁRIA
Como em nossa cultura há uma valorização da cientificidade, a razão se
sobrepõe à emoção, a objetividade à subjetividade, a escrita à oralidade. A
escola, diante deste contexto, incorpora esta cultura fragmentada e bipolar.
Assim sendo, o texto informativo é mais usado do que o texto literário. Este
último, para muitos, nos conduz à fantasia associada ao irreal, e, portanto, sem
valor prático, enquanto o primeiro nos leva ao conhecimento do Mundo,
utilizando uma leitura mais complexa, e por isso mais necessária. Esta
dicotomia equivocada ocasiona efeitos negativos em nossa sociedade.
É preciso dar uma conotação clara a respeito da importância da fantasia
nas nossas vidas. Tudo que nos rodeia é fruto da criação do homem baseado
na imaginação. VYGOTSKY (1987) ressalta que a conduta humana, em toda
sua atividade, possui dois tipos essenciais de impulsos. Um deles, o autor
chama de reprodutor ou reprodutivo, que, segundo ele, está intrinsecamente
ligado a nossa memória. É importante destacar que esse tipo de impulso leva a
repetir experiências passadas. No que tange ao segundo tipo, este pensador
chama-o de atividade criadora e combinadora. Segundo VYGOTSKY (1987),
a realidade assume um papel junto ao mecanismo psicológico da imaginação e
da atividade criadora que com ela se relaciona. Este mecanismo pode ser mais
bem compreendido a partir das diferentes formas de vinculação existentes
entre a fantasia e o real na conduta humana.
E é esta a função da literatura. Sendo ficção e fantasia, ela incentiva a
curiosidade e a descoberta, e desenvolve a criatividade aliada à realidade e
singularidade do leitor. Este, ao ler uma obra, desvenda mistérios e adquire
experiências novas, tornando-o mais crítico. Porém, o texto literário ocasiona
desconforto ao leitor quando o mesmo vivencia situações desagradáveis que
são fundamentais para ajudá-lo a resolver seus próprios conflitos.
A leitura literária é um tipo de leitura que torna-se inesquecível para o
leitor, pois é através dela que imaginamos e vivenciamos a estória e
confrontamos com a nossa realidade. Geralmente não nos recordamos dos
20
relatórios, das receitas, dos manuais de instrução. O texto literário se opõe ao
texto funcional. O texto literário não tem uma função preestabelecida, ou seja,
não é um texto pragmático, enquanto o texto funcional é essencialmente
utilitário. O texto literário não é funcional, já que os leitores ao dialogar com
este tipo de texto atribuirão diferentes funções e finalidades.
Ao valorizar o texto literário em detrimento dos demais, não
pretendemos desmerecê-los. Pelo contrário, o trabalho escolar preocupado em
práticas distintas com textos variados possibilita o contato fundamental dos
alunos com discursos de características e registros de linguagem diversos.
Todavia, a literatura tendo um caráter múltiplo, inacabado e plurissignificativo
assume um papel relevante na formação de leitores proficientes, aqueles que
atribuem diferentes sentidos a um mesmo texto.
Devido à riqueza da leitura de textos literários, esta proporciona também
a internalização do registro padrão da língua e de complexas estruturas
linguísticas, bem como o desenvolvimento de estruturas do pensamento, o que
repercute no aprimoramento do raciocínio lógico.
(...) o desenvolvimento do pensamento é determinado
pela linguagem, isto é, pelos elementos lingüísticos do
pensamento e pela experiência sócio-cultural da criança
(...) O crescimento intelectual da criança depende de seu
domínio dos meios sociais do pensamento, isto é, da
linguagem (VYGOTSKY, 1995, p.44).
O desenvolvimento da linguagem é facilitado pelo domínio das
habilidades de leitura que requer um trabalho contínuo, principalmente na
escola. Este trabalho já começa quando a criança ainda não é alfabetizada. O
aluno ao ouvir as estórias lidas, ele vai construindo seu conhecimento da
linguagem escrita, que não se restringe ao conhecimento das marcas gráficas,
mas abrange gênero, funções, estrutura textual, formas e estruturas lingüísticas
mais elaboradas, típicas da linguagem literária. Assim, o desenvolvimento da
linguagem interfere diretamente nas estruturas de pensamento, proporcionando
assim o crescimento intelectual.
21
Para que haja tal domínio das habilidades da leitura, é necessário que
esta se desenvolva em etapas. Primeiramente, há o reconhecimento dos
significantes. Estes são definidos como um conjunto de sinais que inclui letras,
acentos, hífens, etc, ou seja, é a superfície do texto. Na segunda etapa, atribui-
se significados aos significantes. Já na terceira fase, os significados são
reunidos, de modo que haja uma síntese para dar sentido. Esta atribuição é
feita a partir do levantamento de hipóteses, seguido da escolha de uma delas
que melhor satisfaça o leitor.
Segundo Lacan (1978), o texto literário possui dois níveis de discurso. O
nível manifesto, por ser composto de uma estrutura de significantes, é mais
superficial. Sendo assim, não permite que múltiplas interpretações sejam feitas.
Porém, no interior deste conjunto de significantes existem “brechas”, “fendas”,
que possibilitam ingressar no nível latente, mais profundo devido ao seu
imenso leque de sentidos. Sentidos estes que necessitam de um leitor que os
descubra, completando ao poucos os espaços vazios do texto.
O texto literário não se apresenta ao leitor como obra pronta e acabada,
mas conta com espaços abertos à indeterminação. A abertura do texto
depende não só do seu conteúdo, mas também da sua forma, isto é, da
linguagem utilizada, da maneira como o autor se expressa. A linguagem
literária não somente transmite fatos ou situações. Na verdade ela é criativa,
comunicativa, com potencial estético e carregada de plurissignificados.
O texto literário possui o conteúdo latente e o manifesto, ao passo que
no texto informativo há unicamente a presença do conteúdo manifesto. Esta
peculiaridade da literatura, enquanto espaço aberto e plural, torna-a especial e
rica. Cabe ao leitor não somente se emocionar, se deliciar com a obra, mas
também ser capaz de descobrir a riqueza dos detalhes, a maneira como as
partes da obra se articulam, o motivo da localização de cada palavra, os
sentidos escondidos no texto.
Desta forma, a razão se entrelaça com a emoção, de modo que haja um
prazer maior. Como literatura é arte, pois ambas têm um caráter estético, pode-
se dizer que o prazer do pintor é mais apurado do que o do leigo. Este último
22
se emociona com a beleza, tendo um prazer somente sensório. Já o
especialista vai além, ao admirar também a maneira como foi feita a arte. Assim
também é a literatura. Um leitor proficiente tem um prazer que lhe chega tanto
pelos sentidos quanto pelo intelecto.
Infelizmente, esta riqueza encontrada na literatura está sendo
negligenciada por muitos textos literários infantis. O fato de ser destinada
preferencialmente às crianças, não significa ser facilitada com uma linguagem
pobre que utiliza gírias e expressões, por vezes desatualizadas.
Nestes livros há também a presença de narrativas sem seqüências,
desprovidas de múltiplas leituras e elementos necessários a descobertas e ao
crescimento.
A narrativa tem uma estrutura textual que se organiza em
ciclos seqüências: começa com uma exposição, em que o
acontecimento que será narrado é “emoldurado”, com a
apresentação da situação inicial (tempo e lugar,
personagens, etc); prossegue trazendo um desequilíbrio
que vem perturbar a situação inicial, isto é, uma
complicação; evolui para um clímax, em que o
desequilíbrio chega a seu ponto máximo; finalmente
caminha para o restabelecimento do equilíbrio, pela
resolução da complicação (SOARES, 2003, p.31)
Diante deste contexto, cabe à escola escolher, através de critérios
sólidos, livros infantis diversificados que respeitem as peculiaridades da fase de
cada desenvolvimento infantil, mas que sejam verdadeiramente literários, ou
seja, aqueles que têm uma norma culta com um tema atualizado, que tenham
uma vinculação de texto e imagem, que incentivem a curiosidade e provoquem
descobertas.
Desta forma, a criança ao ingressar pela porta do mundo da fantasia,
terá acesso a uma leitura que lhe permitirá que, a cada passo dado, enigmas
sejam desvendados, brechas sejam preenchidas com sentido atribuído,
fazendo com que a sua compreensão do texto seja construída aos poucos.
23
Uma prática desafiante como esta possibilita que as crianças internalizem a
língua culta sem a preocupação com a memorização das regras gramáticas,
resolvam com mais facilidade conflitos, aumentem seu vocabulário, alarguem
seus horizontes, enriqueçam suas experiências e desenvolvam a criatividade e
o senso-crítico.
Quem lê, enxerga criticamente o mundo; quem lê, sonha mais; quem lê,
escreve melhor;quem lê, tem facilidade na comunicação; quem lê, decide com
mais clareza; quem lê, não se sente sozinho. Somos o que lemos. E somos o
que a nossa leitura literária nos acrescentou.
Estas qualidades da literatura devem ser trabalhadas no ambiente
escolar, não no sentido de ensinar a literatura, mas de fazer o leitor viver
aquela estória. É preciso desafiar os alunos a refletir, argumentar, opinar e
assumir como protagonistas de todo o processo.
A leitura literária enriquece a visão de mundo do leitor e este, por sua
vez, enriquece a obra. Neste diálogo com o texto, atores, personagens
narrativas são negociados para buscar possíveis sentidos. O leitor, a partir da
leitura, já não é mais o mesmo. Ao vivenciar ideias, sentimentos, fantasias e
memórias, o sujeito constitui uma nova subjetividade.
Por isso, dizemos que a leitura não é um ato solitário, já que o indivíduo
ao ler um texto está interagindo com o autor e os personagens. Ou seja, é uma
atividade social que permite ao leitor atribuir diversos sentidos ao texto. Estes
sentidos estão intimamente relacionados ao meio social e histórico que o leitor
está inserido. Desta forma, o indivíduo através das diferentes relações que
estabelece pode transforma-se, aperfeiçoando-se continuamente.
Por isso, deve-se respeitar a leitura de mundo da criança, antes mesmo
de iniciar a leitura da palavra, como já dizia Paulo Freire. A leitura de mundo é
uma produção de sentidos relacionada à experiência e ao momento vivido,
centrada num tempo e espaço específicos. A leitura de mundo ocorre o tempo
todo, antes, durante e depois da leitura da palavra. Cada aluno irá trocar seus
significados repletos de diferenças sociais, culturais e de gênero. A visão de
mundo de uma criança geralmente é organizada em função das condições
24
sociais e culturais onde ela vive, e é reorganizada a partir da qualidade das
interações. A escolha do livro literário precisa considerar esta leitura de mundo
da criança. Precisamos ser educados para ler os livros e a vida. Nós nos
formamos leitores se formos provocados para isso.
Atualmente, a leitura se encontra legitimada na escola. Neste espaço, a
leitura ainda é concebida em fragmentos de estórias vistos nos livros didáticos
que servem para testar a velocidade dos alunos na decodificação de signos
gráficos.
Muitos professores quando trabalham com literatura acabam afastando
seus alunos desse universo rico. A imposição de um único modelo
interpretativo se contrapõe à própria natureza do texto literário que é a de
transgredir as regras para causar efeitos diferenciados no leitor. Trabalhar com
literatura requer que o aluno descubra os mistérios que o texto possibilita com
seus possíveis significados. Significados estes que ganharão sentidos
diversificados de acordo com a realidade de cada leitor.
O professor deve ser visto como mediador e não como detentor do
saber, já que a leitura é um processo pessoal e intransferível. É ele que vai
mediar a leitura através de estímulos, provocações e orientações. Na realidade,
a atuação docente pode ampliar ou anular possibilidades, despertar ou
adormecer sensibilidades, facilitar ou dificultar emoções, estimular ou estagnar
a curiosidade.
Rompendo com a fragmentação prevista na cientificidade da
Modernidade, o educador tem o papel de ensinar a gostar de ler literatura.
Ensinar a gostar de ler é exatamente isso: ensinar a se
emocionar com os sentidos e com a razão (porque, para
gostar apenas com os sentidos, não há necessidade da
interferência da escola); e, para isso, é preciso ensinar a
enxergar o que não está evidente, a achar as pistas e a
retirar do texto os sentidos que se escondem por detrás
daquilo que se diz (VILLARDI, 1999, p. 37).
25
Portanto, o trabalho em sala de aula relacionado à leitura precisa estar
compromissado com o prazer, a sedução, o estímulo a curiosidade, produção
de sentidos. É preciso primar o aspecto lúdico da literatura para que os alunos
tenham um desenvolvimento mais integral.
26
CAPÍTULO 3 - O PAPEL DO ORIENTADOR
EDUCACIONAL E PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO DE
LEITORES
Atualmente, vivemos a transição da Sociedade Industrial para a
Sociedade do Conhecimento. O conhecimento assume importância como
motor de todas as atividades econômicas. E o combustível deste motor é a
aprendizagem contínua.
Conhecimento não se resume a um aglomerado de informações que são
buscadas rapidamente nos diferentes e modernos meios tecnológicos.
Entende-se por conhecimento a informação decodificada, interpretada e
internalizada, ou seja, aprendida verdadeiramente.
Diante deste contexto, torna-se oportuna a discussão sobre a forma de
lidar com os novos tempos nas escolas, onde o saber é difundido. É preciso
detectar fatores que possam atender as atuais exigências educativas baseadas
nas novas configurações da sociedade.
A prática de leitura seria um instrumento imprescindível para formação
integral do aluno, pois possibilita o desenvolvimento da autonomia e da
criticidade, tão fundamental para o exercício da cidadania.
Para isto, a escola necessita de uma equipe coesa que trabalhe
ativamente os potenciais e limites dos seus discentes junto com as famílias.
Neste cenário escolar, os orientadores educacional e pedagógico têm um papel
fundamental na articulação entre os diferentes segmentos da escola como
família, comunidade, professores e equipe pedagógica.
Os orientadores educacional e pedagógico resolvem diariamente
inúmeros problemas que ocorrem na escola como disciplina, aproveitamento
escolar, avaliação, frequência, dentre outros. Porém, estes profissionais
precisam ultrapassar os limites que o cotidiano lhes impõe. Somente apagar
27
incêndios não permitirá que criações, inovações sejam feitas a fim de melhorar
a dinâmica escolar.
É preciso ousar com segurança para melhorar. Trabalhar com projeto de
leitura de livros literários surte efeitos positivos no desenvolvimento integral do
aluno. Para tanto, é necessário entender as características de um projeto para
poder aplicá-las à leitura.
Projeto é um empreendimento temporário que pode ser de curta ou
longa duração com o objetivo de criar um produto ou serviço. É fundamental
traçar os objetivos claros e viáveis que devem estar de acordo com o projeto
político pedagógico. Estes objetivos devem ser planejados pelos integrantes da
equipe para que todos com suas experiências acrescentem e tornem o projeto
mais seguro, sem deixar de prever futuros imprevistos.
Tendo início, meio e fim, o projeto deve possuir um cronograma para
administrar o tempo a ser seguido com flexibilidade. No fim, a divulgação e
análise dos resultados serão feitas. Se o projeto obtiver resultados satisfatórios,
a equipe escolar poderá aplicá-lo novamente, porém com algumas alterações e
inovações.
Um projeto de leitura de livros literários, mediado pelos orientadores
educacional e pedagógico na escola, desenvolve nos alunos o gosto pela
leitura, que é primordial para que haja um bom aproveitamento escolar, já que
a leitura de livros literários possibilita ao leitor criar, interpretar e ampliar sua
visão de mundo e seu vocabulário.
É na escola que formamos leitores proficientes. A literatura é
indispensável na escola como instrumento necessário para que a criança
compreenda o que acontece ao seu redor e para que seja capaz de interpretar
diversas situações e escolher caminhos com os quais se identifica.
Infelizmente, muitos professores desconhecem a importância da leitura de
livros literários.
A prática docente com a literatura nos primeiros anos do ensino
fundamental se resume em fragmentos de textos, geralmente repetitivos,
28
seguidos por cópias, exercícios dirigidos e mecânicos, onde não há espaço
para uma reflexão.
Diante disso, o passo inicial do projeto passa ser um trabalho com o
professor. Como todo projeto, existem etapas que devem ser planejadas e
cumpridas com flexibilidade. O projeto de leitura inicialmente será pensado e
executado pelos orientadores educacional e pedagógico. É necessário que
estes profissionais mostrem a utilidade deste projeto para o principal executor,
o professor.
(...)Tal situação se agravará se ele não der a conhecer,
com clareza, suas atribuições e se começar a interferir,
indevidamente, no trabalho docente, introduzindo
inovações, mudanças radicais e tarefas adicionais para os
professores, sem que estes percebam sua utilidade.
Desse modo, muito provavelmente, eles não só não
aceitarão tal interferência, como também poderão obstruir
o trabalho do orientador educacional, sonegando
informações essenciais, atrasando a entrega de dados,
descumprindo solicitações ou determinações, enfim,
chegando às vezes, até a falta de respeito profissional e
pessoal. (PENTEADO & GIACAGLIA, 2008, p.7)
O primeiro contato do professor com o projeto pode ser feito no início do
ano letivo, durante a fase de planejamento, através de uma palestra com um
(a) especialista na área em questão que fosse dinâmico (a )e convincente em
suas palavras, e que mostrasse exemplos de práticas de leitura na escola bem
sucedidas. No final da palestra deve ter um espaço para perguntas,
comentários e sugestões que acrescentem ao que está sendo explanado.
A partir de então, o projeto conta com a participação de todos os
envolvidos e com a mediação dos orientadores educacional e pedagógico.
Para elaboração das etapas seguintes é relevante pesquisar a realidade dos
alunos e seus interesses gerais. Este diagnóstico é feito não só pelos
professores, mas também pelos orientadores educacional e pedagógico. Estes
29
profissionais precisam conhecer os alunos da escola por meio de visitas em
cada turma, participação e execução de atividades. Assim, haverá uma
integração entre os alunos e orientação, um diagnóstico do comportamento,
rendimento escolar e interesses dos discentes, além de futuras orientações,
encaminhamentos e propostas. Assim sendo, cada professor irá trabalhar com
sua turma de acordo com interesses e abordagens específicos para faixa-etária
em questão.
O ambiente da sala de leitura deverá ser um aliado deste projeto, pois é
neste espaço que os livros podem ser organizados, de modo a favorecer o
trabalho docente. Além da sala de leitura ser um lugar diferente para os alunos,
ele é um espaço onde pode se efetivar a leitura sem cobrança.
Não podemos confundir este ambiente com aquelas bibliotecas
tradicionais onde há a presença de livros empoeirados e antigos e regras
burocráticas. Nestes ambientes, o aluno faz uma pesquisa porque o professor
mandou. Há, porém, salas de leitura onde os livros não devem ser
manuseados para que não sejam estragados.
A verdadeira sala de leitura é aquela que é aberta a todos, aquele lugar
onde as crianças gostam de estar pelo simples prazer de ler em um ambiente
aprazível. Por isso, este espaço precisa ser informal e desatrelado de
obrigações.
Para facilitar o trabalho docente e o acesso dos alunos aos livros, é
necessário que a sala de leitura seja organizada, seguindo alguns critérios e
estratégias importantes.
Primeiramente, os acervos da sala de leitura devem ser constituídos por
livros de literatura separados por faixa-etária e gênero, livros para formação de
professores, gibis, revistas, CDs, DVDs, jornais, enciclopédias, dicionários.
Como a inclusão de portadores de necessidades especiais nas escolas
regulares é prevista na legislação, temos que considerar os materiais
específicos que atendem à necessidade de leitores que precisam de
adaptações curriculares. Alguns desses materiais são livros em braille, lupas
eletrônicas, livros gravados em áudio, dentre outros. Os acervos da escola
30
devem ser compostos de obras que sejam de qualidade e que respeitem às
especificidades e interesses da clientela em questão.
Além disso, alguns detalhes imprescindíveis devem ser considerados
para que ocorra um bom funcionamento da sala de leitura.
Os livros devem ser dispostos em prateleiras que possibilitam o acesso
das crianças aos livros. Assim, as prateleiras mais perto do chão precisam ser
ocupadas por livros para crianças menores.
Quando as crianças acabarem de ler ou manusear os livros, estes
materiais precisam ser colocados em cima da mesa para que sejam arrumados
e facilmente procurados no local correto.
Esta sala de leitura deve ao mesmo tempo ser aconchegante e
funcional. As cores e a iluminação devem ser suaves e calmas. É preciso
também ter almofadas espalhadas pelo chão e uma mesa com cadeiras para
atender as diferentes preferências de leitura. Quando é exigido do aluno
coluna ereta para leitura, possivelmente ele não desejará ler.
É relevante contar com material para desenho, recorte-colagem para
que as atividades complementares sejam feitas sem restrições de material.
Após a confecção dos trabalhos manuais, sejam eles escritos ou artísticos, é
desejável que sejam expostos em murais para que os alunos sintam-se
valorizados.
É possível formar um bom acervo de fantoches, com personagens de
livros; vestuário de diferentes tamanhos e padrões para representações
teatrais; jogos confeccionados pelo professor a partir das estórias dos livros;
filmes em DVDs dos livros disponibilizados na sala de leitura. Essas são
algumas atividades complementares que auxiliarão o trabalho docente de
incentivo à leitura.
O trabalho de leitura deve ir além dos muros das salas de aula e de
leitura. É preciso manter atualizado um mural externo com propagandas de
livros para chamar atenção dos alunos por meio da curiosidade, e um outro
31
mural com informações sobre os livros mais lidos e procurados, divididos por
faixa-etária.
O professor de sala de leitura deve conhecer a maior parte do acervo
que dispõe, para que ele possa atender as peculiaridades de cada aluno. Além
disso, é preciso que este profissional, assim como o professor regente, deem
exemplos de leitura. Não adianta falar a importância da leitura se seus alunos
nunca os veem com um livro na mão. O professor regente e o de sala de leitura
precisam caminhar juntos para que haja efeitos frutíferos. Os trabalhos desses
docentes devem ser complementares.
Inicialmente, no intuito de desenvolver o gosto pela leitura, é necessário
que as atividades sejam dirigidas para que despertem nos alunos a curiosidade
e a ânsia de querer ler um livro sem parar. Estes desejos devem ser iguais os
de um telespectador que ao acompanhar uma novela, fica ansioso para ver o
próximo capitulo.
Segundo Raquel Villardi (1999), as atividades de leitura do livro devem
consistir em três etapas: preparação para a leitura, a leitura e o trabalho com o
texto.
Antes de começar tais atividades, é necessário que o livro a ser
trabalhado seja escolhido de acordo com as peculiaridades dos alunos,
relacionadas as suas vivências, experiências, interesses ,isto é, deve estar
situado num contexto que ele domine para que a leitura tenha sentido para os
mesmos. Além disso, o livro deve ter uma estrutura lingüística adequada e
suporte em ilustração em série, ou seja, a passagem ilustrativa precisa ser
correspondente com o texto escrito para que a estória seja mais dinâmica,
coerente e inteligível.
Nas atividades preliminares, o professor deve preparar o aluno para a
leitura através de informações necessárias às relações que o texto possibilita,
de incentivos pela via da curiosidade e da introdução do caráter lúdico no
trabalho desenvolvido.
A segunda etapa (leitura) é como descreve Villardi (1999:23):
32
O ideal é que, logo que alfabetizada, a criança tenha
chance de entrar em contado com o texto lendo, sozinha e
silenciosamente, mesmo com todas as dificuldades que
possa ter. Nessas situações ela empreenderá a leitura de
acordo com seu nível de desenvolvimento: voltará a
palavra ou frases, quando necessário, terá chance de
decodificar cada palavra, errando e acertando, poderá
deliciar-se e observar mais atentamente as ilustrações,
tudo respeitando seu próprio ritmo. Textos bem escolhidos
permitirão a ela crescer, adquirir um vocabulário novo,
levantar hipóteses. Só num segundo momento a leitura
deve ser feita pelo professor.
A leitura realizada em voz alta na sala de aula por cada aluno não tem
efeitos frutíferos, pois a preocupação dos estudantes é com a entonação de
voz. Por isso, eles não apreendem o lido. Além disso, todos, com suas
singularidades, possuem ritmos de entendimento e leitura variados, que devem
ser respeitados para que a leitura seja compreendida. Um dado livro é lido em
tempos distintos de compreensão por cada leitor. Vale ressaltar a importância
da segunda leitura, que geralmente é mais inteligível e amadurecida.
A terceira etapa (atividade com o texto) deve explorar intensiva e
extensivamente os meandros de texto, ou seja, investigar e investir naquilo que
o aluno pode não ter entendido, utilizando o método indutivo em que o
professor levanta elementos necessários, de modo que o aluno possa tirar
suas próprias conclusões.
Muitos livros possuem as atividades de fixação. Estes, denominados
interpretação de texto, possuem perguntas superficiais cujas respostas são
encontradas literalmente no corpo textual. Ao aluno cabe somente identificá-las
para que possa copiar os fragmentos adequados. Percebe-se que as questões
são necessárias na medida que proporcionam uma memorização mecânica e
paulatina da estória, fundamentais para execução de testes sobre o livro.
33
Utilizando o livro para este fim, a sua riqueza literária passa a não ser
percebida e valorizada. Os espaços vazios deixados pelo autor não são
preenchidos pelo leitor. Esta falta de diálogo transforma o texto em algo
incompleto e sem significado e o aluno em um sujeito passivo, desestimulado e
alienado que reproduz mecanicamente a superfície do texto. Não há um
investimento na curiosidade, nas descobertas das entrelinhas e na criticidade
do texto de acordo com as experiências dos alunos.
A leitura não pode ser confundida com decodificação de
sinais, com reprodução mecânica de informações ou com
respostas convergentes a estímulos escritos pré-
elaborados. Esta confusão nada mais faz do que decretar
a morte do leitor, transformando-o num consumidor
passivo de mensagem não-significativas e irrelevantes
(SILVA, 2000, p.96)
Para aprofundar o trabalho, é preciso desenvolver atividades
complementares ligadas ao livro. Tais atividades podem ser jogos como o da
memória e caça palavras, desenhos e pinturas expostos na sala, teatro, dança,
carta para autor e exercícios interdisciplinares.
Para que as atividades planejadas ocorram em um tempo específico,
comumente os professores utilizam a estratégia da disciplina escolar.
Todavia, nem sempre o controle do comportamento das crianças se dá
pela imposição do espaço disciplinar. Assim, tornam-se necessárias as
ameaças como micropenalidades (FOUCAULT, 2001).
Logo, o livro é imposto e não proposto. Os textos impostos considerados
importantes para o desenvolvimento infantil são para os alunos, algo sem
sentido e desvinculado de suas experiências.
Quando o aluno não atribui valor à leitura, eles utilizam a “cola” como
uma estratégia de resistência da dominação escolar.
Outros professores utilizam o livro literário não para propor atividades
com o texto, mas sim para trabalhar um tema a partir da estória do livro. Estas
34
atividades geralmente são diversificadas dependendo das finalidades de
leitura. Se o objetivo é “passar o tempo”, este momento, após a leitura, é
destinado a desenhar, a dramatizar num período curto. Por último, quando o
propósito é trabalhar com o tema da data comemorativa, a leitura passa a ser
concebida como atividade introdutória para uma série de atividades
relacionadas ao tema de tal data que serão desenvolvidas ao longo do dia.
A prática pedagógica com o livro põe o aluno frente ao
tema, e não frente ao texto, trabalha a partir do livro, e
não o livro. Se o aluno passa a associar o texto a algo que
vem depois, se para ele o livro é apenas um elemento que
detona um outro trabalho, e este, sim, é o importante,
então todo o processo de valorização do livro e da leitura
se perde (VILLARDI, 1999, p.24).
A infância é uma fase rica e única, pois a criança possui muita energia e
curiosidade. No decorrer dos anos, esta curiosidade vai cedendo espaço para o
conformismo ocasionado por práticas escolares homogêneas, desestimulantes
e ameaçadoras. A leitura, inserida neste contexto, passa a ser algo necessário
para um bom desempenho escolar. Assim que esta necessidade acaba, há
uma perda substancial de contato com a leitura. Por isso, o papel da escola é
proporcionar ao aluno, através da leitura literária, um momento de descoberta,
de imaginação e de compreensão da realidade que gera interesse e prazer.
Rubens Alves (1999) faz um confronto entre dieticistas e cozinheiros,
comparando-os com educadores e suas práticas de leitura. Os primeiros são
aqueles que fazem da leitura, algo obrigatório e sem sabor. Enquanto os
últimos são os educadores-leitores que tornam a leitura um prazer saboroso da
vida. “A comida que sai das mãos do dieticista é uma coisa de necessidade. A
comida que sai das mãos do cozinheiro é uma coisa de amor” (ALVES, 1999,
p.51).
A leitura de livros literários é um processo de contínuo prazer, que auxilia
na formação de um sujeito autônomo, crítico, pensante, sensível e criativo que,
35
ao entrar nesse mundo prazeroso, se delicia com estórias e textos diversos,
possibilitando assim a construção do conhecimento e suscitando o imaginário.
O trabalho com livros literários pode contribuir também para o
desenvolvimento pessoal e intelectual e para sua inserção ativa no mundo da
escrita. É através da leitura cotidiana desses livros que podemos enriquecer
nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o raciocínio e interpretação.
O projeto de leitura de livros literários deve ser avaliado constantemente
pelos orientadores educacional e pedagógico para que haja possíveis
mudanças. Além disso, é necessário que ele seja divulgado entre os alunos,
comunidade e famílias para que todos atribuam gradativamente o valor da
leitura de livros literários. Livros, teatros, desenhos e pinturas feitos pelas
crianças baseados na leitura de livros literários são atividades que quando
divulgadas valorizam e estimulam os alunos nas suas criações.
36
CONCLUSÃO
Leitura de livros literários é o momento único em que o leitor entra em
contato com a fantasia por meio da imaginação. Imaginação esta relacionada
com a experiência do leitor. Tal relação favorece a criatividade, já que cabe ao
leitor preencher os espaços vazios do texto, e a criticidade, na medida que,
através da literatura, também pode-se questionar e compreender o lido e as
nossas condutas perante o Mundo. Além disso, a leitura favorece a construção
do conhecimento, a ampliação do vocabulário e o desenvolvimento do
raciocínio, da interpretação e da comunicação.
O espaço da formação de leitores é ainda destinado à escola, onde
geralmente há os primeiros contatos com a leitura. Esta instituição de ensino
tem a responsabilidade de não só introduzir, mas principalmente manter o
aluno inserido no Mundo da Escrita. Todavia, infelizmente a função de
formação de leitores para vida toda não está sendo cumprida pela maioria das
escolas.
Diante desta problemática, acordos internacionais, pesquisas na área e
reivindicações docentes são realizados com o propósito de criar Políticas
Públicas de incentivo à leitura que possam através de suas diretrizes melhorar
o quadro atual de analfabetismo funcional.
No Governo atual, o Plano Nacional do Livro e Leitura e Política
Nacional do Livro (Lei nº 10.753) foram criados com esta finalidade por
representantes sem formação em Educação e Letras. Certamente, tais
mentores consultaram especialistas nestas áreas, porém determinados
aspectos passaram despercebidos na elaboração das diretrizes, quando
somente um profissional-especialista com experiência no cotidiano escolar
poderia ter esta percepção. Assim, alguns equívocos foram cometidos, como
termos e divulgação inapropriados.
37
Como a maioria da população desconhece estas políticas, torna-se
necessário a propagação incessante e profunda dos programas e leis de
incentivo à leitura, bem como a aplicabilidade constante das suas diretrizes.
Todas as dimensões da leitura, em especial a da literatura, não são
valorizadas no cotidiano escolar. Neste contexto, a escola, que não tenta inovar
a partir de exemplos bem sucedidos de programas de leitura, adotam a leitura
obrigatória e desvinculada dos interesses dos educados. As práticas docentes
baseadas nesta concepção simplista de leitura são descontextualizadas,
repetitivas e mecânicas. Já dizia Paulo Freire: “A leitura de mundo precede
sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura
daquele.” (FREIRE, 1982, p.22).
Ao valorizar a leitura de mundo, a criança passa a atribuir sentido ao
lido. E, para que isto seja realizado, é necessário que o espaço da escola seja
aberto a diferentes opiniões, de forma que possibilite o exercício da cidadania
através de um posicionamento crítico dos alunos perante a sociedade em que
estão inseridos. A leitura crítica leva a produção ou construção de um outro
texto: o texto do próprio leitor.
Diante destas práticas docentes, a leitura se torna “leidura” (SILVA,
1993) para os estudantes. Distantes do Universo rico da literatura, os mesmos
perdem a oportunidade de vivenciar experiências novas, de se posicionar
criticamente, de aguçar a criatividade, de crescer intelectualmente, de ter
prazer em desvendar mistérios e de se sensibilizar com estórias apaixonantes
através dos sentidos e da razão.
Os orientadores educacional e pedagógico consciente desta riqueza da
leitura de livros literários devem mostrar aos professores a utilidade de um
projeto de leitura de livros literários para o desenvolvimento integral dos seus
alunos, bem como mediar e avaliar constantemente o projeto em questão. Para
além do apagar incêndios, o orientador deve criar estratégias para auxiliar o
corpo docente, para conhecer seus alunos, para despertar o gosto pela leitura
entre todos os envolvidos no contexto escolar e para aprender constantemente
com seus erros e acertos, com o objetivo não de permanecer como está, mas
38
sim de mudar para melhorar. A ação educativa é por demais complexa para ficar
limitada a um aglomerado de informações sem sentido para o educando que
precisam ser passados no decorrer do ano letivo. Os tempos são outros, os
alunos são outros. Parece no mínimo um paradoxo que as práticas escolares se
mantenham como algo imutável quando a sociedade que nos circunda não para
de se transformar.
39
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tm. Consultado em 14 jan.2010.
43
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO ............................................................................................ 2
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8
CAPÍTULO 1 - POLÍTICAS PÚBLICAS DO LIVRO E LEITURA: REMÉDIO PARA SANAR OS MALES DA HISTÓRIA DO BRASIL .................................... 10
CAPÍTULO 2 - A RIQUEZA DA LEITURA LITERÁRIA...................................... 19
CAPÍTULO 3 - O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL E PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO DE LEITORES ...................................................................... 26
CONCLUSÃO ................................................................................................... 36
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 39
ÍNDICE ............................................................................................................. 43