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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
UM NOVO OLHAR SOBRE OS TRANSTORNOS MENTAIS
Por: MARILENE DE JESUS MATOS DE SÁ
ORIENTADORA:
PROFª MARIA POPPE
RIO DE JANEIRO
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
UM NOVO OLHAR SOBRE OS TRANSTORNOS MENTAIS
MARILENE DE JESUS MATOS DE SÁ
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre- Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Terapia de Família.
Por: Marilene de Jesus Matos de Sá
Rio de Janeiro
2010
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela vida e inteligência concedidos para a realização de meus sonhos.
A Marisa amiga de todas as horas, obrigado pela compreensão de sempre.
Ao Luiz Alexandre pelo incentivo na fase inicial desta nova jornada.
A minha família pelo apoio e preces de força.
Ao amigo querido Artênio psicopedagogo, pelas trocas de experiência e links que muito me ajudaram para a construção da minha vida acadêmica.
A todos que junto ao meu coração direta ou indiretamente me encorajaram para que concluísse essa nota etapa.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todas as famílias que tem no seu núcleo familiar um portador de transtorno mental.
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METODOLOGIA
Para elaboração de estudo e resposta ao problema proposto foram utilizadas pesquisas bibliográficas, consultas a internet, artigos de caráter científico, além da consulta a profissionais possuidores de conhecimentos e experiência nesta área de estudo, como o psiquiatra Paulo Velasco citado na bibliografia.
Este estudo foi produzido por meio de consulta em livros de autores já experientes no trabalho com famílias que possuem doentes com transtornos mentais, foco deste estudo como Lou Olivier (2008), Jonas Melman (2006) e Paulo Velasco (2009).
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RESUMO
Esse estudo tem como objetivo mostrar recursos tanto para a cura
quanto para a profilaxia para se evitar qualquer doença dos transtornos
mentais e como o terapeuta familiar pode atuar no apoio à família dos
portadores de transtornos mentais, e provocar uma reflexão da importância dos
vínculos familiares para facilitar o processo de recuperação dos pacientes que
acreditando, cria motivação interna para sua auto-recuperação. Os temas
estabelecem como a família pode orientar e apoiar os doentes com transtornos
mentais que apesar dos medicamentos existe outros fatores que são
solucionados pela psicoterapia. Sob a luz do referencial teórico optei por
autores como Velasco, Melman, Olivier, Foucault e outros e aprofundei os
conhecimentos do histórico da loucura, sua relação com a religião e a
medicina. Em seguida foi abordado algumas síndromes psiquiátricas, suas
características,e os recursos para a cura.Sabemos que a reforma psiquiátrica
muito colaborou para a saúde mental e novos serviços com um novo modelo
de tratamento é criado, novos conceitos vinculados à prática psiquiátrica são
estabelecidos.Mencionei a participação da família no enfrentamento com a
doença mental e como agente de saúde mental.O desafio da família é
promover o bem estar dos portadores de transtornos mentais .
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SUMÁRIO
Capítulo I A história da loucura..........................................................11
1.1 A louca x mal................................................................................12
1.2 A loucura e a religião....................................................................14
1.3 A medicina e a loucura.................................................................15
Capítulo II As Síndromes psiquiátricas...............................................18
2.1 Definindo o que é Síndrome.........................................................19
2.2 Conhecendo algumas síndromes psiquiátricas............................20
2.3 Os recursos para profilaxia e a cura dos transtornos mentais.... 24
Capítulo III A reforma psiquiátrica.......................................................28
3.1 A Reforma psiquiátrica no Brasil...................................................30
3.2 O Hospital Nise da Silveira............................................................32
Capitulo IV Família e doença mental...................................................36
4.1 Quando a família adoece...............................................................37
4.2 A família como agente de saúde mental........................................38
Conclusão............................................................................................42
Bibliografia...........................................................................................43
8
INTRODUÇÃO
Ao analisar a escolha do tema, foi observado o medo que as pessoas
tem de se aproximar de quem sofre de transtornos mentais e em outros casos
o medo de enlouquecer.
Isso porque existe uma preocupação de como o “louco” é tratado e o
preconceito e a rejeição por eles sofridos, num ambiente que mais parece de
prisão.
Os manicômios hoje vem passando por transformações importantes,
fazem acolhimento dos pacientes psiquiátricos.
Acolher , receber,agasalhar, amparar já nos define o dicionário, acolhimento é
a maneira de lidar com a diferença e entende-la sem medo, é olhar o sujeito
que vivencia a loucura como uma pessoa e não um conjunto de sintomas, ou
uma doença.
Quando uma pessoa enlouquece, ela não deixa de ser quem era, ao
longo de nossas vidas não deixamos de ser nós mesmos, apesar de algumas
transformações que sofrermos, a loucura é uma desses momentos.
A loucura não afeta só ao sujeito, ela atinge diretamente toda a sua família.
Cada membro da família compõe a rede familiar e quando um destes se
desequilibra, o grupo se desestabiliza profundamente, provocando uma série
de sentimentos, entre eles a rejeição e a ameaça.
Conviver com o louco é muito difícil, quase insuportável para a maioria
das famílias. A família sofre, por isso, ela também é convidada a se integrar
neste processo, tratar o sujeito e a família.
Esta monografia tem como objetivo mostrar recursos para a cura quanto
para a profilaxia para se evitar qualquer doença dos transtornos mentais.
Conhecer alguns transtornos, suas queixas, métodos e tratamentos.
Os pontos relevantes da pesquisa são: porque com o desenvolvimento
e avanço científico e tecnológico ainda assim se alastram os transtornos
mentais.
9
Investigar como se alastram a doença, a forma de se precaver e até mesmo
curar os sintomas que afligem a população.
Levando me consideração que os transtornos mentais de somatização
atingem o indivíduo desde a primeira infância até a terceira idade, os
transtornos mentais são considerados como obstáculos para a realidade
psicológica da humanidade.
Esses transtornos mentais vem assustando tanto governos, quanto os
responsáveis pela saúde mental, que estudam a viabilização de recursos ,
formas de tratamentos diferenciados, que possam atender o indivíduo na sua
comunidade, sem a quebra do vínculo familiar.
Desse modo espera-se encontrar meios eficazes para a recuperação
dos pacientes, que acreditando criam motivação interna para sua
autorrecuperação. É importante estar preparado para procurar os recursos
certos no momento apropriado, para que assim consiga diminuir a dor e o
sofrimento dos pacientes com transtornos mentais.
Motivada por essas reflexões estará sendo desenvolvida esta pesquisa
que terá como título: Um novo olhar sobre os transtornos mentais.
Pretende-se aprofundar a discussão de que apesar do tratamento com
medicamento atuar satisfatóriamente auxiliando o equilíbrio dos
neurotransmissores existem outros fatores que são solucionados pela
psicoterapia. Em muitos casos, os portadores da doença mental procura auxílio
em terapias alternativas, como apoio emocional.
Apresente pesquisa emprega dados bibliográficos com base histórica.
Destacam-se autores como: Paulo Miguel Velasco,Jonas Melman,Lou
Olivier,Paula Boechat, Michel Foucault. Esses autores tratam da compreensão
na recuperação dos pacientes com transtornos mentais e no olhar para a
família que também sofre e é convidada a se integrar nesse processo.
A monografia será dividida nos seguintes capítulos:
No primeiro capitulo será abordado a história da loucura,através dos
relatos de Michel Foucault,o contexto da luta interna entre o bem e o mal,a
religião como cenário sobre o fenômeno da loucura e a medicina como ramo da
ciência que trata da doença mental.
10
No segundo capítulo a definição de algumas síndromes psiquiátricas e
os recursos para a profilaxia e a cura dos transtornos mentais.
No terceiro capítulo a reforma psiquiátrica e a reforma psiquiátrica no
Brasil. Conhecendo o hospital Nise da Silveira.
No quarto capítulo a família e a doença mental.quando a família adoece
e a família como agente de saúde mental.
11
CAPÍTULO I
A HISTÓRIA DA LOUCURA
A saúde mental no Brasil foi durante muito tempo associada ao hospital
psiquiátrico tradicional, que funcionava com base no modelo asilar. Hospício,
asilo e manicômio são sinônimos para esse modelo antigo que por muito tempo
esteve presente no discurso popular como uma representação tradicional do
lugar da loucura.
Ao final da Idade Média por volta do século XV, o problema da lepra
desaparece e, com isso um vazio aparece no espaço do confinamento, assim
aquele vazio deixado pelos leprosos foi ocupado pelos internos.
Aparece Michel Foucault fazendo uma analise sobre a loucura no livro A
história da loucura.
Foucault(2002) aponta que por volta do século XVIII, o louco passou a
ser excluído e confinado, ocupando lugares que antes eram destinados aos
leprosos, ao mesmo tempo em que o tema da loucura ganhava maior
visibilidade cultural. Não havia nesse momento uma definição precisa do que
seria a loucura e ela ainda não estava associada a uma disfunção médica. A
loucura, na Idade Clássica, se constituiria como uma oposição à razão, isto é,
uma desrazão. Foucault faz deste modo referência a Descartes, pontuando que
em um momento da história houve um gesto, uma conjuração, que separou a
loucura da razão. Foucault aponta que, naquela época, o ato de designar
alguém como louco, e assim conseqüentemente determinar a sua internação,
não dependia de uma ciência médica, mas sim de uma percepção do indivíduo
como ser social.
A reorganização das instituições de exclusão sofreu influência de fatores
políticos, econômicos e sociais, e não de uma necessidade médica, porém
essa reorganização possibilitou a criação de um espaço para a entrada da
medicina.
12
Foucault usa o termo “Grande Enclausuramento’ ao se referir à fase do
surgimento dos hospitais gerais, que representa um dos marcos na separação
entre loucura e razão, tendo como base a ética moral. A reclusão que em um
primeiro momento era destinada aos pobres, doentes sem famílias e
criminosos, passa a restringir-se principalmente aos loucos e aos criminosos.
Foucault aponta que:” a percepção que o homem ocidental tem de seu tempo e
de seu espaço deixa aparecer uma estrutura de recusa, a partir da qual se
denuncia uma fala como não sendo linguagem, um gesto como não sendo
obra, uma figura como não tendo direito a um lugar na história”.
E esta percepção autoriza o recolhimento e a exclusão. Outro marco na
separação entre loucura e razão foi o simbólico desacorrentar dos loucos, em
Bicêtre, por Pinel, que ficou associado ao nascimento da psiquiatria. O modelo
criado pela medicina psiquiátrica para tratar e recuperar os doentes mentais
assume na sociedade, desde a sua constituição, um lugar de exclusão.
È destacado também a importância do papel do asilo e das ciências
médicas no desenvolvimento das estruturas de internamento e dominação,
enfatizando o papel de controle social exercido por este saber médico ao
determinar o que é e o que não é doença, e a maneira de tratá-la.
1.1 Loucura x mal
Dentro do tema da loucura algumas articulações foram feitas, como
loucura e religiosidade na Idade Média. A associação ou identificação da
loucura ligada à possessão diabólica. A alma humana medieval é a luta interna
entre as forças do bem e do mal. A loucura representaria o predomínio do mal:
A irrupção e a aparição tumultuosa dos espíritos malvados são acompanhadas
de batidas, estrépitos e gritos... Logo a alma é tomada por temores e
perturbações, a mente é tumultuada, abatida, sente ódio por quem conduz vida
ascética,sente desconforto, tristeza, saudade dos familiares e medo da morte.
Depois surge o desejo de coisas perversas, o enfraquecimento da virtude, a
instabilidade do comportamento (Arthanasil apud Pesssotti, 1994 pag.86)
13
Nesse contexto entende-se que se a pessoa está louca, está possuída
pelo demônio, portanto a loucura é como a invasão do homem pelo diabo, e
quem enlouquece é um pecador. Algumas doenças como a histeria, a
depressão, a epilepsia são indicadas como possessão demoníaca. Assim para
o diagnóstico e tratamento dos loucos passa a ocupar a mão dos teólogos e
exorcistas que são especializados em demoniologia. A eles sé dada a
autoridade para definir diagnósticos e terapêuticos aplicáveis a ilimitados
distúrbios orgânicos e mentais, entendidos como mera evidência de possessão
demoníaca. ”.Os demônios são capazes de causar impressões nas faculdades
internas transpondo as imagens retidas nas faculdades correspondentes a um
ou mais sentidos”(Malleus apud Pessotti, 1994,pag.102).
Essa imaginação do demônio vem da Idade Média até os dias atuais na cultura
ocidental cristã onde se associam a loucura a possessão demoníaca e
encaminham seu tratamento a instituições religiosas.
Nos séculos XVI e XVII antes da era científica, um movimento passa a
será dotado a loucura, que é o isolamento. A loucura sai do campo do sagrado
e passa a ser entendida como associada ao cenário moral da miséria e
marginalidade.
Segundo Foucault:
A loucura só terá hospitalidade doravante entre os
muros do hospital, ao lado de todos os pobres. É lá que a
encontraremos ainda no final do século XVII. Com
respeito a ela nasceu uma nova sensibilidade: não mais
religiosa, porém moral. A hospitalidade que o acolhe se
tornará, num novo equívoco, a medida de saneamento
que o põe fora do caminho. De fato, ele continua a vagar,
porém não mais no caminho de uma estranha
peregrinação: ele perturba a ordem do espaço social.
Despojada dos direitos da miséria e de sua glória, a
loucura, com a pobreza e a ociosidade, doravante surge,
de modo seco, na dialética imanente dos estados.
(Foucault, 2002, pag.203)
14
Foucault (2002) destaca a loucura sendo um assunto de polícia que
atuam sobre ela medidas de repressão e controle. No inicio das crises o
internamento era adequado, e fora desses períodos ele adquire outro sentido,
que é o da repressão.O louco era tido como um desviante moral e é isolado,
internado, e nesse recolhimento passa a servir a sociedade como mão de obra
barata.
Todo aquele que provocava situações de agitação e revoltas sociais eram
considerados loucos e eram trancados em manicômios. As casas de internação
serviam como depósito social de várias classes sociais, e o diagnóstico da
loucura acobertava essa exclusão.
Ainda hoje a loucura carrega essa associação cultural que se existe um
distúrbio moral, o sujeito necessita de internamento, e isso trouxe muitas
complicações na relação do louco e sua família.
Na modernidade a loucura está sendo dominada pelo pensamento científico e
se torna objeto da ciência médica.
1.2 A loucura e a religião
Cada vez mais pessoas se deparando com seus problemas e
sofrimentos buscam apoio para suas curas na religião.
Muitos pacientes com transtornos mentais juntamente com a sua família
percorrem essa trajetória, diante do sofrimento causado pela doença e buscam
alternativas para o alívio e a possível cura.
A presença da religião na vida do paciente com transtornos mentais tem
sido observada por muitos pesquisadores. Assim tanto é o caso em estudos
com contornos mais qualitativos e etnográficos, como com os mais bem
quantitativos e epidemiológicos. Isso também é constatável tanto para os
transtornos mentais mais leves, como ansiedade e depressão, como para os
graves, como as psicoses. A busca por algum alívio do sofrimento , por alguma
significação ao desespero que se instaura na vida de quem adoece, parece ser
algo marcadamente recorrente na experiência, sobretudo para as classes
populares.
15
Cabe salientar que a temática de práticas religiosas é pouco discutida na
academia, razão pela qual não encontramos publicações com referencias, mas
existem alguns grupos na Unicamp estudando a relação saúde e religião.
Esses trabalhos discutem a trajetória terapêutica e a busca da população por
esses espaços na tentativa de aliviar os seus males e sofrimentos, com
resultados positivos na saúde. Este movimento sempre existiu, mas de um
tempo para cá se intensificou.
1.3 A Medicina e a loucura
A Medicina conceitua a loucura como o avesso do normal e do saudável
e assim como anormalidade e doença.
No campo médico ela é uma patologia, uma doença marcada por
sintomas, que necessita, portanto, de tratamento para alcançar a cura. A noção
de cura é um tanto complexa no contexto psiquiátrico, pois ainda no século
XVII, quando a medicina se estruturava como ciência, os sintomas da loucura
eram violentos, e assim seu tratamento era violento com ações agressivas para
combatê-lo.
Foucault define o perfil das decisões médicas com uma frase” existe na
convulsão uma violência que só pode ser combatida através da violência”.
(Foucault, 2002,pag305)
Eram usados por isso, para o tratamento da loucura substâncias com
odores fortes, óleos, sais, terra, sangue, caldo de víboras, musgo, carvão em
brasa e tantos outros elementos desagradáveis.
Foucault tinha uma explicação para isso, dizia que os remédios por
terem odores fortes e desagradáveis faziam uma acentuada e súbita impressão
nos nervos que eram sensíveis do nariz e com isso não apenas excitam os
diversos órgãos com os quais esses nervos têm alguma simpatia para entrar
em ação, como também contribuiriam para diminuir ou destruir a sensação
desagradável experimentada pelo corpo que teria ocasionado os espasmos.
16
Foucault buscando dar sentido as práticas terapêuticas voltadas para a
cura da loucura, faz uma análise das idéias a ela associada para as quais tais
práticas seriam voltadas.
Seria assim essa análise:
a) A Consolidação, a loucura era entendida como fraqueza, uma falta de
resistência os loucos são espíritos submetidos a movimentos irregulares, a
espasmos, convulsões e as fibras de seus nervos são móveis demais e
irritáveis. Por isso os métodos de cura devem ser de vigor, relacionado a uma
imagem de vivacidade e robustez. E os odores fétidos, sabores ácidos e o ferro
fariam os espíritos readquirirem seu peso certo, consolidando-os
b) A purificação, a impureza também está relacionada à loucura, e o sangue é o
foco, e o louco tem o sangue sobrecarregado, grosso e precisa ser purificado.
E o tratamento indicado é a transfusão de sangue e uma abertura de pequenas
pústulas na cabeça para a saída das impurezas, queimaduras e cauterização
em todo corpo, sangrias, purgações, banhos e duchas.
c) A imersão ai existe elementos da purificação. A água e a sua limpidez são
indicadas para banhos longos de imersão, assim como duchas, banhos frios e
banhos de surpresa.
d) A regulação do movimento a loucura era associada pelo desvio do movimento,
sua aceleração do pensamento e o corpo ou pela estagnação dos nervos e
afixação das idéias. Assim o tratamento eram as caminhadas, viagens a fim de
restaurar o equilíbrio saudável dos movimentos internos e externos.
Esses métodos de tratamento ao longo dos séculos foi sendo
sofisticados, menos violentos e o uso das intervenções químicas foram
substituindo as ações mais violentas.
Chegamos a era do fim do sofrimento físico dos pacientes com
transtornos mentais e foi um médico de nome Philippe Pinel o pioneiro no
questionamento do uso dos métodos radicais que tanto sofrimento causou aos
doentes mentais, nas câmaras de tortura, preocupou-se em incluir no
tratamento terapias com o paciente, programas de atividades dirigidas, e
principalmente que o pessoal que trabalhasse com o doente mental recebesse
17
treinamento adequado e que a administração das instituições fosse
competente.
18
CAPÍTULO II
AS SÍNDROMES PSIQUIÁTRICAS
Neste capítulo iniciaremos situando o campo de estudo da
psicopatologia para podermos compreender a área da saúde mental e o
conjunto das doenças , suas características, alterações que afetam todo o
sujeito e o em torno de seu sofrimento.
Segundo Campbell(apudDalgalarrondo(2000,pag.88) define a psicopatologia
como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser
humano.
Pesquisas realizadas em todo o mundo constatam que os transtornos
mentais tornam-se uma realidade comum a todos os povos e precisa de um
reconhecimento pela sociedade em geral e pelos profissionais que atuam na
saúde mental como os psicólogos, psicanalistas, médicos e outros.
Segundo Velasco a década de 90 foi proclamada a década do cérebro. A
neurociência vem desenvolvendo muitos estudos sobre o cérebro e a mente
humana, nas áreas da neurologia, psiquiatria, psicologia e psicanálise, essa
busca sobre o cérebro e a mente humana, procura mostrar como funciona, o
que ocorre quando está danificado, como reage quando é bombardeado por
sentimentos recalcados no desenvolvimento primário do sujeito, e assim
alterando todo o funcionamento químico do organismo e promovendo vários
distúrbios.( Velasco, 2009pag.15)
Esta pesquisa tem a necessidade de abordar os transtornos mentais que
afetam a população comprometendo sua capacidade de trabalho e sua auto
estima.
E hoje encontramos de variadas maneira a preocupação com o tema
até nas letras das músicas, o alerta para nossa reflexão. Orlando Moraes
canta “De onde vim.
No final da estrada
E você não sabe o que é
Se é fim ou é chegada
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Na vida, no tempo
Na luz da escuridão
No mundo, no sonho
Na brasa, no carvão
O horizonte esconde
A ciência do onde.
2.1 Definindo o que é Síndrome
Para nosso melhor entendimento vamos definir o que é síndrome e
destacar algumas delas com seus sintomas para assim compreendermos o que
o doente com transtornos mentais vivencia.
Síndrome é um conjunto bem determinado de sintomas que não
caracterizam necessariamente apenas uma afecção patológica ou uma
moléstia, mas podem traduzir uma certa modalidade patogênica. O conceito de
síndrome distingui-se da idéia de doença por não implicar numa unidade
etiológica ou patológica. Uma mesma síndrome pode ser produzida por
diferentes doenças.
As síndromes designam-se ora pelos fenômenos fisiopatológicos que os
caracterizam-se, ora pelo órgão ou estrutura cujas alterações determinam o
fenômeno mórbido, ou ainda pelo nome do autor, que os descrevem.
www.psiqueweb.med.br.acessado 20/01/2010
As síndromes são organizadas em categorias e identificas em sistemas
de classificação. Os mais importantes até o momento são o DSM IV(
documento de classificação das doenças mentais da Associação Americana de
Psiquiatria) e o CID 10( Classificação dos Transtornos Mentais da Organização
Mundial de Saúde).
Para o nosso estudo vamos conhecer algumas síndromes para nossa
compreensão.
20
2.2 Conhecendo algumas Síndromes Psiquiátricas
Síndromes Depressivas
Considerada a primeira causa de incapacidade entre todos os problemas
de saúde. Sua característica principal é o humor triste.
Seus sintomas afetivos são:
• Tristeza, melancolia
• Choro fácil ou freqüente
• Apatia
• Sentimento de falta de sentimento
• Tédio
• Aumento da irritabilidade
• Angustia e ansiedade
• Desespero
• Desesperança
Alterações da esfera instintiva e neurovegetativa
• Fadiga, cansaço fácil e constante
• Desânimo, diminuição da vontade
• Insônia ou hipersonia
• Perda ou aumento do apetite
• Diminuição do desejo sexual
• Incapacidade de sentir prazer em varias esferas da vida(anedonia)
Alterações ideativas
• Ideação negativa,pessimismo em relação a tudo
• Idéias de arrependimento e culpa
• Ruminações com mágoas antigas
• Idéias de morte, desejo de desaparecer
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• Ideação, planos ou atos suicidas
Alterações cognitivas
• Déficit de atenção e concentração
• Dificuldade de tomar decisões
Alterações da autovaloração
• Sentimento de baixa auto-estima
• Sentimento de incapacidade
• Sentimento de vergonha e autodepreciação
Síndromes Maníacas
São opostas aos transtornos depressivos, tem como característica a
alegria patológica ou euforia.
Alguns sintomas:
• Aumento da auto estima
• Sentimento de expansão e engrandencimento do eu
• Insônia
• Produção verbal rápida, fluente e persistente
• Atenção diminuída
• Agitação psicomotora
• Irritabilidade
• Arrogância
• Desinibição sexual e social
• Compulsão para compras
• Desejo de poder
Em alguns casos existe a possibilidade de episódios depressivos
intercalados com fases de normalidade e fases maníacas, e são chamados de
transtornos bipolares.
22
Síndromes Neuróticas
Síndromes fóbicas: caracterizam-se por medos intensos e irracionais,por
situações,objetos e animais que não oferecem ao sujeito perigo real e
proporcional à intensidade de tal medo.
Síndromes Obssessivas Compulsivas:tem como característica idéias,
fantasias e imagens obssessivas e também por atos, rituais ou
comportamentos compulsivos. Elas podem se dividir em dois subtipos : a)
aquelas nas quais predominam as idéias obssessivas b) aquelas que
predominam os atos e comportamentos compulsivos. No entanto as vezes se
apresentam de formas mistas.
As síndromes obssessivas: tem por características idéias, pensamentos,
fantasias, imagens persistentes que surgem na consciência e são vivenciadas
com angústia.Quem sofre dessa síndrome reconhece seu caráter irracional e
absurdo e tenta as vezes neutralizá-los com outros pensamentos, atos ou
rituais específicos.
As síndromes compulsivas: se caracterizam pela repetição de
comportamentos e rituais, assim como repetir palavras mentalmente.
Síndromes hipocondríacas:a predominância são os temores e
preocupações intensas com a idéia de ter uma doença grave.Essa
preocupação surge em geral a partir de sensações corporais ou sinais físicos
insignificantes.
Síndromes Psicóticas
Tem como características os sintomas de alucinação e delírios,
pensamento desorganizado e comportamento bizarro(fala e risos imotivados).
Alucinação é a vivência de percepção de um objeto, sem que este objeto
esteja presente, sem o estímulo sensorial respectivo, sem a presença do objeto
real.
Alguns tipos de alucinações freqüentes: auditivas, visuais, táteis,
olfativas e gustativas.
23
Delírios são juízos patologicamente falseados. Geralmente o delírio é
uma convicção de um só homem. Ao delirar o indivíduo desgarra-se de sua
trama social.
Além da alucinação e do delírio, os sintomas paranóides são mias
comuns, como idéias delirantes e alucinações auditivas de conteúdo
persecutório.A psicose é a perda de contato com a realidade e a esquizofrenia
é uma delas e tem como sintomas de primeira ordem:
• A percepção delirante
• Alucinações auditivas que se caracterizam com as vozes
• Eco do pensamento o paciente escuta seus pensamentos ao pensá-los
• O paciente sente que seus pensamentos são ouvidos ou percebidos pelos
outros, no momento em que pensa
• Pensa que seu pensamento foi roubado
• O paciente sente que uma força ou ser age sobre seu corpo, sobre seus
órgãos, emitindo raios que influenciam na suas forças corporais.
Todos esses sintomas indicam uma profunda alteração da relação eu -
mundo e isso influenciam numa perda marcante da dimensão da intimidade.
A esquizofrenia tem ainda outros sintomas como: distanciamento afetivo,
retração social, diminuição da fluência verbal,diminuição da vontade, auto-
negligência, alucinações, idéias delirantes, comportamentos bizarros,agitação
psicomotora,produção nova da lingüística.
Destacamos quatro tipos de esquizofrenia a paranóide, a catatônica,
hebefrênica e a simples.
A paranóide se caracteriza pro alucinações e idéias delirantes de
conteúdo persecutório.
A catatônica é marcada pelo negativismo e impulsividade, além de
aletrações motoras.
A hebefrênica tem como característica o pensamento desorganizado, um
comportamento bizarro e afeto pueril.
A simples faltam alguns sintomas característicos, existe um
empobrecimento psíquico e comportamental com auto-negligencia e
distanciamento afetivo e social.
24
A doutora Nise da Silveira discorda dela abordagem, ela destaca que o
paciente esquizofrênico tem uma intensa afetividade.
2.3 Os Recursos para a Cura dos Transtornos Mentais.
As Doenças Mentais têm cura ou só podemos falar em controle?
As Doenças Mentais têm cura tanto quanto as doenças da cardiologia,
da endocrinologia, da reumatologia, da neurologia e assim por diante. A
medicina tem como primeira obrigação definir se a pessoa que a procura É ou
ESTÁ doente. Se estiver doente, a possibilidade de cura definitiva é
enormemente maior do que nos casos da pessoa ser doente. Citamos outras
especialidades médicas para que se comparem os problemas da psiquiatria
com, por exemplo, a hipertensão arterial; quando, exatamente, podemos falar
em cura da hipertensão arterial? Quando, exatamente, podemos falar em cura
da diabetes?... Do reumatismo? ... Da asma? ..., podemos ver que a medicina
esta cheia de situações onde, felizmente, podemos controlar a pessoa
portadora de alguma doença para que viva o mais próximo possível do normal.
Em outros casos podemos falar em cura, como por exemplo, na pneumonia (e
outras infecções), na cólica de rins, na diarréia... etc. São situações onde a
pessoa ESTÁ doente. Doenças Mentais mais atreladas à maneira da pessoa
ser, mais inerentes à sua personalidade, pode ser muito bem controlado pela
psiquiatria, enquanto as situações reativas, onde a pessoa apresenta uma
alteração repentina em seu psiquismo, podemos falar mais facilmente em cura
definitiva.
Nos últimos anos, foram registrados progressos significativos na
compreensão e na atenção aos problemas de saúde mental, aumentando o
25
conhecimento cientifico das causas das doenças mentais e os tratamentos
disponíveis para a maioria destas doenças.
As reformas da assistência em saúde mental, em varias partes do
mundo, demonstram que redes de atenção em saúde mental de base
comunitária representam uma abordagem eficaz para o tratamento q que há
menos necessidade dos hospitais psiquiátricos tradicionais.
As portas do século XXI, ainda é imenso o preconceito em relação a
“doenças mentais”. Antigamente, esse preconceito estava associado à falta de
conhecimento sobre os distúrbios que afetam a mente.
Na Europa, durante a Inquisição, muitos doentes mentais foram
acusados de bruxaria, de estarem “possuídos pelo demônio” e foram
queimados na fogueira nas praças públicas. Até 1801, quando o medico
francês Henri Pinel libertou os loucos estes ficavam acorrentados em prisões
ou porões de castelos, como se fossem criminosos perigosos e só a partir de
Pinel, a loucura passou a ser considerada uma doença, mas mesmo assim,
durante todo século XIX e na primeira metade do século XX os recursos que se
dispunham para cuidar dos problemas mentais eram poucos e ineficazes e o
tratamento continuava sendo inadequado, internando – se os pacientes em
manicômios (hospital para loucos) e asilos, onde permaneciam por longos
períodos ou mesmo até o fim da vida.
Utilizava-se nessa época, métodos cruentos e arriscados, como algumas
cirurgias altamente incapacitantes (lobotomias) e também diversos tipos de
choques (insulínico, cardiazol, malárico, térmico, e posteriormente o choque
elétrico). Como em outras ocasiões na medicina, esses choques foram
descobertos por acaso. O choque térmico, por exemplo, passou a ser utilizado
após a observação de doentes mentais que apresentaram um comportamento
mais calmo depois que a carruagem que os transporta caiu num rio gelado.
Apesar de todo processo conseguido em muitos outros aspectos de
saúde, a saúde mental ainda não recebe a atenção e os recursos que merecia.
Por isso, a Organização Mundial de Saúde (O.M.S) declarou que a partir do dia
07 de abril de 2001, o Dia Mundial de Saúde Mental, com o sentido de
sensibilizar o público em geral e provocar uma mudança positiva na posição
26
pública acerca da doença mental. A idéia é despertar a atenção para a questão
da saúde mental e para a melhoria dos cuidados de saúde mental.
Hoje em dia, com o progresso da medicina, especialmente no ramo da
Psiquiatria após a “Revolução Bioquímica” da década de 50 e a “Revolução
Cientifica” da década de 80 e a” Década do Cérebro” dos anos 90, cada vez
mais o Transtorno Mental vem se inserindo no contexto dos problemas de
Saúde Pública. Agora eles podem ser adequadamente identificados e
diagnosticados, e mais importantes ainda, já se conta com recursos
terapêuticos específicos que possibilitam o tratamento ambulatorial, evitando-
se assim as internações desnecessárias que muitas vezes tornavam-se
hiatrogênica por asilarem o portador de transtorno mental.
Cuidar sim, discriminar não.
Cada ser humano nasce e se desenvolve de maneira única. Nenhuma
pessoa é igual à outra, reconhecer isso é fundamental para compreender e
respeitar os diferentes.
Direitos de cidadão
É preciso que as pessoas com transtornos mentais sejam reconhecidos
como seres integrais, dignos, com direito a liberdade, a integridade física e
moral, a reabilitação para o trabalho e a qualidade de vida. Para alcançar esses
objetivos, devemos trabalhar em conjunto e diminuir o preconceito por parte
dos profissionais de saúde, das famílias e das comunidades. A final, aceitar e
tratar com respeito e afeto o portador de transtorno mental é o melhor caminho
para sua reabilitação e para o fortalecimento de sua cidadania.
Portanto, para alcançar esses objetivos devemos trabalhar em conjunto
para diminuir o preconceito. Afinal, aceitar e tratar com respeito e afeto a
pessoa com transtorno mental é o melhor caminho para a sua reabilitação e
para o fortalecimento da sua cidadania.
A reforma psiquiátrica tem como principio básico o respeito aos direitos
das pessoas com transtornos mentais, buscando sua reintegração na vida
familiar e comunitária. Enfim, seu bem estar e sua felicidade.
Com a reforma psiquiátrica podemos repensar a relação do sujeito e sua
família, porque existe a proposta de uma relação saudável e humana.
27
A família de pessoas que apresentam transtornos mentais necessitam
de ajuda para o enfrentamento dos problemas e seus conflitos diários.
Atualmente observamos que o atendimento ao doente mental tem tido
inovações e propostas de intervenções também para seus familiares, isso gera
possibilidades na qualidade do tratamento como um todo.
O convívio com a família dos doentes mentais é enriquecedora e
fundamental para o tratamento, pois essa relação paciente/família tem várias
possibilidades de aprendizado mútuo.
28
CAPÍTULO III
A REFORMA PSIQUIÁTRICA
Nosso objetivo com este capítulo é verificar a nova proposta, um
questionamento e elaboração de propostas de transformação do modelo
clássico e de um novo paradigma para a psiquiatria.
A reforma psiquiátrica tem como proposta a transformação do modelo
assistencial em saúde mental e de construção de um novo estatuto social para
o louco para que ele seja um cidadão como qualquer um outro.
Ela deseja continuar o tratamento clínico dos pacientes com transtornos
mentais, porém eliminar o internamento, pois isso o exclui da sociedade.
A reforma psiquiátrica defende a criação de redes de serviços de
atenção psicossocial, e de base comunitária, para que o paciente seja um
cidadão capaz de ser produtivo e de ser respeitado.
Alguns movimentos da reforma, para mudanças ao paciente psiquiátrico.
Comunidade Terapêutica
A comunidade terapêutica tem como característica o processo de
reforma institucionais que predominam ao hospital psiquiátrico e marcadas pela
adoção de medidas administrativas democrática, participativas e coletivas, e
tem como objetivo a transformação da dinâmica institucional asilar.
Segundo Amarante(1995,pag.28), o período pós guerra torna-se cenário
para o projeto de reforma psiquiátrica contemporânea, atualizando críticas e
reformas da instituição asilar.
As estratégias da comunidade terapêutica são o envolvimento dos
pacientes em atividades produtivas e socializantes no hospital e uma interação
entre pacientes, familiares e funcionários do hospital.
O foco da comunidade terapêutica é o hospital e o trabalho em grupo.
Psicoterapia Institucional
É da terapia dedicada à cura da doença mental para que o paciente
possa ser devolvido a sociedade. A psicoterapia institucional tem como
29
característica trazer a reflexão de que as instituições são doentias e que
precisam se tratar.
Para Vertzman (apud Amarante, 1995) a psicoterapia institucional deve
trabalhar o meio, o ambiente, afim de que o mesmo permita revelar, para
melhor tratar, o processo psicótico no que este tem de patogênico, especifico,
metabolizando o que existe de patoplástico, entendido aqui mais precisamente
como as aparências mórbidas resultantes das inter-relações entre a pessoa e o
meio.
Psiquiatria de Setor
Tem como idéia principal levar à psiquiatria a população, evitando o
isolamento do doente, o paciente deverá ser tratado dentro do seu meio social
e a sua passagem pelo hospital deverá ser de uma etapa transitória ao
tratamento, esvaziando assim os hospitais.
Psiquiatria Preventiva
A psiquiatria preventiva tem como estratégia intervir nas causas ou no
surgimento das doenças mentais, é a promoção da saúde.
Assim a psiquiatria preventiva determina que as intervenções precoces
evitem o surgimento e/ou desenvolvimento de doenças e que seu tratamento
deve ter inicio no meio social, evitando que se produzam condutas patológicas.
Antipsiquiatria
A loucura na perspectiva da antipsiquiatria é produto social resultante
das tensões e contradições culturais, e, portanto, não deve ser transformada
em uma doença de origem biológica.
A loucura, portanto é uma experiência positiva de libertação, é uma
reação ao desequilíbrio familiar, e por isso não configura um estado patológico,
nem, muito menos, o louco um objeto passível de tratamento.
30
3.1 A Reforma Psiquiátrica no Brasil
O Brasil também participou dos movimentos da reforma psiquiátrica e
teve com o deputado Paulo Delgado em 2001 a Lei Federal 10.216 que
redirecionou a assistência em saúde mental, que privilegiou o oferecimento de
tratamento em serviços de base comunitária, e dispõe sobre proteção e os
direitos das pessoas com transtornos mentais.
Ate a metade do século XIX, no Brasil, não havia um estabelecimento
especial para acolher os chamados “alienados mentais”. Os primeiros protestos
da comunidade médica contra a situação dos loucos surgem na década de 30.
No Rio de Janeiro, os alienados até então eram encarcerados na Santa Casa
de Misericórdia sem receber qualquer tipo de tratamento especial.
No momento em que estão sendo criadas as primeiras faculdades de
medicina do país (no Rio e na Bahia), a Câmara Municipal do Rio de Janeiro,
promulga a legislação sanitária municipal. Neste período a classe médica
começa a se reorganizar e a consolidar sua influência sobre a sociedade.
O primeiro hospício do país, o Hospício Pedro II, foi criado em 1841,
sendo inaugurado somente 11 anos depois, em 1852,e após a proclamação da
republica ele passou a ser denominado Hospício Nacional de Alienados O
nome da instituição marcava a ascensão do novo imperador ao trono. No
Brasil, assim como na Europa, o hospício surgiu antes da criação da
psiquiatria. A psiquiatria enquanto especialidade só vem a se estabelecer no
país em 1881, a partir de uma reforma no ensino médico. O asilo no Brasil,
desde o momento de sua criação, foi alvo de inúmeras criticas por parte da
classe médica. Excluídos da sua direção, que estava nas mãos da Igreja e do
Estado, a classe médica acusava a instituição de não ter um projeto
assistencial especifico, e reivindicava um reconhecimento legal da pratica
médica, que legitimassem a sua intervenção no campo da doença mental e da
assistência psiquiátrica. Com a Proclamação da Republica, a psiquiatria busca
modernizar-se, e expandir a sua atuação para além dos muros do hospício, no
espaço social: “no espaço onde vivem as pessoas, onde se estruturam as
doenças mentais” (Amarante, 1992 p.76). A história da psiquiatria brasileira é
31
então, baseada no processo de asilamento. Desde o inicio, a resposta social
dada à loucura, pela psiquiatria, foi à internação. O movimento da reforma
psiquiátrica surge com a proposta de tentar construir uma nova resposta social
para a loucura.
O processo mais recente de reforma psiquiátrica no país surge no
contexto de redemocratização dos anos 70 e 80, sob o pano de fundo do
projeto de Reforma Sanitária, da redemocratização das intuições e de inúmeros
movimentos sociais.
Num primeiro momento, o foco de atenção dos atores da reforma está
direcionado para o hospital psiquiátrico, buscando a humanização desses
serviços. São discutidas questões relacionadas à forma de atendimento.
Cogita-se a construção de outras opções de atendimento, diferentes do padrão
manicomial, neste contexto se inserem o desenvolvimento de uma grande rede
ambulatorial em saúde mental. Entretanto essas estruturas ainda estão
referenciadas ao hospital.
Num segundo momento, final da década de 80, inicia-se uma proposta
que aponta a necessidade de uma mudança estrutural no modelo assistencial.
É neste período que ocorre o II Congresso Nacional de Trabalhadores em
Saúde Mental, em 1987, onde é reforçada a importância de levar essa
discussão para a sociedade. O lema “Por uma sociedade sem manicômios”
aponta a necessidade da construção de uma rede de serviços substitutivos ao
modelo tradicional, e também neste momento é colocado para sociedade o
desafio de viver uma estrutura manicomial.
A partir de 1990, com a implantação do Sistema único de Saúde (SUS),
a reestruturação psiquiátrica passou a fazer parte da política oficial de governo.
Normas objetivas foram criadas para a avaliação e fiscalização dos serviços de
internação psiquiátrica e novos serviços foram sendo criados, segundo
recomendações da OMS, para substituir gradualmente o modelo clássico de
hospital psiquiátrico.
Esses novos serviços de assistência, de características diversas, tiveram
um grande incentivo por parte do Ministério da Saúde, dentre eles destacam-se
os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Núcleos de Atenção
32
Psicossocial (NAPS), os Hospitais-Dia, os Centros de Convivência, as
Cooperativas, os Lares Abrigados, dentre outros.
Os CAPS, que surgiram de uma experiência em São Paulo, geralmente
são estruturas de atendimento que priorizam a reabilitação psicossocial,
funcionando em regime parcial ou integral, de segunda a sexta-feira. Os NAPS
são estruturas regionalizadas que funcionam 24 horas por dia e respondem a
uma demanda em saúde mental, em uma determinada região. Ambos serviços
citados são baseados num modelo de atenção diária, desvinculado do hospital.
Os Hospitais-Dia também possuem características de um serviço de atenção
diária, entretanto funcionam dentro de uma unidade hospitalar. Os Centro de
Convivência não possuem a assistência como característica principal, eles se
constituem como espaços de trocas, de produção, ou como o próprio nome já
diz, de convivência, muitas vezes associados a arte, criação e expressão. As
Cooperativas são espaços cujo objetivo e propiciar a inserção social, facilitar o
processo de emancipação e autonomia dos sujeitos e tornar possível o
enfrentamento com necessidades reais de trabalhos. Os Lares-Abrigados se
constituem como uma alternativa de moradia e cuidado aqueles que não têm a
possibilidade de se manterem junto à família ou sozinhos, neste grupo estão
incluídos aqueles sujeitos que passaram por um longo processo de
institucionalização.
3.2 O Hospital Nise da Silveira
Iniciaremos este item com uma frase de Nise da Silveira extraída do
Museu do Inconsciente do Hospital Psiquiátrico antigo Pedro II e hoje
conhecido como Nise da Silveira, pois a partir da experiência do ateliê na
seção de terapêutica ocupacional muitos benefícios foram trazidos aos
pacientes com transtornos mentais.
“ A meta de todo tratamento psiquiátrico não pode
mais continuar sendo a recuperação de sintomas, porém,
a recuperação do indivíduo para a comunidade. Por isso
33
dar forma à situação psíquica sob o impacto de emoções,
pintar sonhos e fantasias, será medida preventiva
indicada contra recaídas na condição psicótica”. (Nise da
Silveira visita feita ao Museu do Inconsciente, março de
2009.)
Conhecendo um pouco da história da grande guerreira que adorava
poesias e vivia a poesia do cotidiano de paixão pelo trabalho, de amor pelos
animais, crianças, natureza e principalmente de amor pelos deserdados da
sociedade, os doentes mentais.
Nise da Silveira nasceu em 1906, em Maceió. Foi à única mulher, entre
os 156 alunos da Faculdade de Medicina da Bahia, que se graduou em 1926.
Em 1927 seu pai morreu, a mãe mudou-se para a casa do pai, e Nise, decidida
como sempre, pegou um navio para o Rio de Janeiro. Começou sua carreira
em psiquiatria no hospital que na época era popularmente chamado de
hospício da Praia Vermelha (hoje Hospital Pinel), em 1933.
Morava num quarto do hospital,uma enfermeira, ao fazer a limpeza do
quarto, achou livros socialistas na sua estante, e durante o Levante Comunista
de 1935, em plena ditadura Vargas, denunciou-a. Embora fosse apenas
simpatizante do comunismo, e não soubesse nada sobre a organização do
movimento liderado por Prestes, Nise foi presa, ficou na Casa de Detenção
durante um ano e quatro meses. Lá conheceu Olga Benário, Graciliano Ramos
e outros participantes do movimento comunista, que se tornaram amigos seus.
Diz ter tirado grandes lições deste período. Só conseguiu voltar ao cargo de
psiquiatra, em 1944, no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro.
Foi lá que, por recusar-se a usar os métodos usuais da psiquiatria clássica,
como eletro choques, choque de insulina e utilização indiscriminada de
medicação (que deixava, e deixa até hoje os pacientes num estado terrível de
torpor - a chamada impregnação), foi deslocado para um setor considerado
“pouco nobre” do Centro Psiquiátrico, o lugar onde não havia médicos e que
era cuidado por serventes, a Terapêutica Ocupacional, que de terapêutica não
tinha nada, os pacientes faziam apenas serviços de limpeza, uma boa
economia para o hospital.
34
Nesse lugar “abandonado” pela direção do hospital, Nise começou sua
grande revolução. Em 1946 fundou a Seção de Terapêutica Ocupacional e
Reabilitação (STOR). A partir de muito estudo, e principalmente a partir de sua
veia rebelde e criativa, Nise inovou e criou um espaço em que os internos eram
recebidos num ambiente de acolhimento e respeito. Abriu ateliês para vários
tipos de atividades (encadernação, musica, pintura, modelagem, teatro, etc.) e
orientou os monitores que acompanhariam os pacientes no sentido de terem
uma atitude de não interferência na sua produção. Procurava apontar para a
importância do contato afetivo para que aquelas pessoas, que passavam pelo
grande sofrimento do rompimento com a realidade, do mergulho, sem proteção,
nos abismos do inconsciente, pudessem tentar o caminho de volta para a
superfície, para a possibilidade de recuperar a autonomia perdida. Além da dor
provocada pela doença mental, os pacientes sofriam com a discriminação no
meio social e no próprio hospital. Um dos pintores do ateliê, que ainda
conseguia expressar-se verbalmente, falava do sentimento de ser “etiquetado”,
e que por ser “etiquetado como esquisito, uma coisa assim“ nunca mais
conseguiria sair dali.
O Museu continua existindo, graças à garra de Nise e dos que a auxiliam
e dão continuidade ao trabalho, a Sociedade dos Amigos do Museu do
Inconsciente (criada para isto), e a fama internacional conseguida pela
divulgação das pesquisas lá realizadas e das obras que impressionam críticos
de arte, artistas e pesquisadores do Brasil e do exterior. Por diversas vezes
esteve a ponto de extinguir-se, em função da incompreensão de alguns
psiquiatras que ocupavam postos de poder no Centro Psiquiátrico, por falta de
verbas, por falta de incentivo por parte dos órgãos públicos por ele
responsável. Ainda bem que alguns apaixonados pelo museu e o que ele
representa, heroicamente continuam lutando para que ele não morra.
Nise era já profunda conhecedora de Freud, mais viu principalmente na
psicologia de Carl Gustav Jung uma fonte preciosa de conhecimento, que
poderia ajudar na busca do sentido das vivencias dos pacientes,
dramaticamente representadas por seu trabalho plástico. Freud já tinha
esboçado a idéia de um inconsciente herdado, mas foi Jung que mergulhou na
35
pesquisa do que ele chamou de Inconsciente Coletivo, que ultrapassa as
fronteiras do Inconsciente Pessoal. Este último refere-se as percepções que
não alcançaram a consciência, a potencialidades ainda não vividas, a aspectos
da personalidade não aceitos pela consciência e, principalmente, aos
complexos núcleos afetivamente carregados, vinculados a experiência
pessoais conflitivas. Jung, a partir do mergulho no seu próprio mundo interno e
do acompanhamento de pacientes psicóticos e não psicóticos percebeu a
existência de camadas mais profundas no inconsciente, em que processos
comuns a toda a humanidade estariam presentes. Deu a estas camadas o
nome de inconsciente coletivo e de arquétipos a seus elementos estruturais.
Os arquétipos seriam tendências herdadas para formar imagens semelhantes,
que apontam para uma mesma forma, ou para um mesmo tema básico. O
arquétipo só pode ser conhecido indiretamente, através das imagens
arquetípicas e possui forte carga energética. Jung estudou intensamente os
vários tipos de representações de arquétipos nas religiões, nos mitos, nos
contos de fada, nos escritos e desenhos alquímicos, nas artes enfim, em
diversas manifestações da cultura coletiva.
36
Capítulo IV
FAMÍLIA E DOENÇA MENTAL
Neste capítulo será apresentado um estudo para reflexão acerca de
como atuar na família que tem em seu padrão de relacionamento um portador
de transtorno mental. Esses familiares necessitam de auxílio para lidar com
essa complexidade de problemas e conflitos.
Atualmente no Brasil tem se ampliado em propostas de intervenções
familiares e essa ajuda vem gerando varias possibilidades na qualidade do
tratamento dos doentes com transtornos mentais.
A partir dessas possibilidades trabalhar com a família juntamente com o
doente mental é uma experiência positiva na relação e no aprendizado mútuo,
para que seja resgatada a coragem de reconstruir suas vidas de uma forma
mais feliz.
Segundo Melman, (2006, pag.20) “o poder grupal tem a função de
proteger seus integrantes das forças ameaçadoras”.
Melman se refere que essa força ameaçadora é a enfermidade e isso gera
muita tensão, pois existe um sentimento de impotência, porque nos casos
graves das doenças os freqüentes insucessos nos tratamentos produzem muita
frustração e desespero e assim um isolamento do convívio social.
Isso acontece porque na nossa sociedade não estamos preparados para o
desafio que é o de cuidar de pessoas que adoecem mentalmente, pois
sabemos também que existe o preconceito e a exclusão. E a família adoece
junto, a doença atinge a todos alterando o ritmo do cotidiano, as relações
desses membros, e isso um maior número de atritos.
Imaginamos a dificuldade dessas famílias para o enfrentamento da doença,
umas buscam a solução nos manicômios, outros se dedicam a apoiar o doente
rejeitando a internação, por isso entendemos a necessidade do apoio e
orientação por profissionais especializados para essas famílias.
37
” a família deve preparar-se para entrar em processo de
análise, pois, certamente, o paciente não será somente o
espelho que reflete o desequilíbrio, o mais sensível que
assume estar precisando de ajuda, mas toda a estrutura
familiar deverá ser analisada, revista e curada”. (Olivier
2008,pag.19)
4.1 Quando a família adoece
Será abordada a relação da doença mental e as questões da relação
entre a família e as pessoas acometidas de adoecimento psíquico. Para a
sociedade já é um desafio lidar com a loucura, imaginem para a família, pois o
doente mental desperta vários sentimentos conturbados em seus parentes.
Podemos perceber que a identificação do transtorno mental ocorre
geralmente através da família ou grupos próximos do portador desse sintoma,
(como por exemplo: da religião, escola, amigos) pela observação de ruptura
com o comportamento convencional do indivíduo.
O transtorno mental tende a sobrecarregar a família emocionalmente,
pois o convívio com uma pessoa que não se considera enfermo costuma gerar
tensões. Quando se esgotam os argumentos para convencer o portador de
transtorno mental de sua realidade e necessidade de tratamento, muitas vezes
a família tem de recorrer a persuasão e às vezes repressivo para ser ouvida.
É óbvio que essas estratégias geram um sentimento de culpa e atitudes
de super proteção para o doente. Cria-se então um sentimento de tensão na
família que partilha para os mesmos códigos culturais da sociedade, tem uma
atitude reativa e segregadora em relação ao portador de transtorno mental.A
família tem sentimentos de proteção e rejeição, isso constitui angústia.A família
tem uma sobrecarga emocional e temporal, pois lhe é exigido muita dedicação,
vigilância nas crises, socorro e cuidados.A família fica angustiada, estressada
38
com sentimento de culpa, impotência, pois não compreendem como lidar com o
doente com transtorno mental na sua vida diária.
Quando acontecem as crises os doentes são levados para os serviços
tradicionais que são estruturados para o internamento e os medicamentos. A
família, no entanto é como uma unidade separada do doente e por isso é
excluída da intervenção terapêutica. Com isso, perdas significativas são cons
tatadas, os doentes tem rupturas do convívio familiar e a família perde pro não
saber utilizar a conduta adequada com o doente. Essas perdas acarretam um
afastamento desses integrantes do grupo familiar e tornam-se estranhos um ao
outro.
Atualmente novos serviços, centros de atenção psicossocial procuram
resgatar os pacientes com transtornos mentais, buscam construir novas formas
de relação entre a sociedade e a loucura. Visam incluir a família executando
trabalho educativo de esclarecimento, de capacitação, dividindo com ela os
cuidados para que o portador de transtorno menta passe o dia todo bem.
Assim com essa abordagem de serviço, a família compreende melhor a
natureza do transtorno e aprende a lidar com sua sintomatologia.
4.2 A Família como agente de saúde mental
A família é de suma importância para o tratamento do doente mental, o
acolhimento, o vínculo de confiança, incentivo para que entre em contato com
atividades como pintura é fundamental para o controle emocional do paciente,
evitando assim as crises.
A família quando procura auxílio para o tratamento da doença mental,
está na verdade em busca da saúde mental, pois nesta hora devem ser
orientados, pois trazem muitas dúvidas e questionamentos sobre a doença e o
tratamento.
Segundo Coll(2004,pag.101) as famílias atingem quatro fases quando
constatam um transtorno mental em um dos seus membros.
39
• Fase de choque, cria-se um bloqueio, um atordoamento geral que inclusive
pode impedir a compreensão das mensagens que estão sendo recebidas.
• Negação, depois da profunda perturbação e desorientação inicial, a primeira
reação dos familiares é esquecer ou ignorar o problema, resistem, questionam
o diagnóstico dos profissionais. Esse comportamento prejudica, pois impede de
tomar as medidas necessárias para o tratamento.
• Fase de reação, depois do choque da negação , surgem sentimentos e
emoções para que possam se adaptar a nova situação, são necessários
expressa-los para atingir fases construtivas
A irritação, a raiva e agressão, manifestam-se como estados de ânimo difusos,
ou voltando-se contra os que orientaram sobre a doença mental, os médicos,
outros familiares ou até mesmo o portador da doença mental.
O sentimento de culpa que traduz uma profunda frustação, no caso dos
pais, buscam possíveis causas na gravidez, nos cuidados físicos e até mesmo
em sua educação.
A tristeza é um luto da dor, sentido de perda do familiar saudável.
A partir ,desses sentimentos vem a fase de adaptação e de orientação,
depois da calma emocional avançam para a realidade e a prática, na maneira
de ajudar o membro adoecido da família.
A família necessita passar por essa fases para que possam
compreender a situação de seu familiar adoecido e assim ajudá-lo em sua
melhora.
A família é parceira indispensável no uso adequado do medicamento por
parte dos pacientes, além de se responsabilizar pela relação deste com seus
demais vínculos terapêuticos, garantindo sua presença em psicoterapias
individuais, hospitais dias, oficinas terapêuticas entre outras. Existem em
alguns desses espaços de tratamento lugares de participação dos próprios
familiares. Esta participação é um sinal de afeto para o paciente, e ativa suas
forças curativas.
Citaremos o E.A.T( Espaço Aberto ao Tempo)no hospital psiquiátrico
Pedro II, hoje conhecido como Nise da Silveira, que tem esse atendimento ao
portador da doença mental e a seus familiares. Existem oficinas terapêuticas
40
de pintura, bijouteria, artesanato em papel, caixas de madeiras para ocupação
diária dos pacientes e são realizadas reuniões também com a família.
” existe um grande número de evidências que demonstram
a eficácia das intervenções familiares em promover a
melhora do quadro clínico, diminuir ou atenuar recaídas e
diminuir o número de internações psiquiátricas nos
pacientes com transtorno mental severo”. Melman (2006,
pag.110)
O envolvimento da família é hoje reconhecido como um recurso
terapêutico a ser mobilizado na qualidade da saúde mental. As intervenções
familiares tenta explorar mais intensamente os limites e as possibilidades dos
participantes,uma valorização dos familiares como possíveis agentes de ações
e estratégias complexas,para tanto foi necessário encontrar mecanismos que
ativassem o potencial familiar, dando a eles expressão e legitimidade.
A presença de familiares no espaço terapêutico intensificam em trocas
enriquecendo a qualidade da convivência. Nos últimos anos aumentou o
interesse por parte dos profissionais de saúde mental em prover aos familiares
de pacientes com transtornos mentais com informações sobre os tratamentos
em saúde mental e sobre como lidar com os pacientes em casa.
Os familiares com muita freqüência, solicitam informações e opiniões
sobre as mais diferentes questões do campo da saúde mental. Participam de
cursos, palestras, oficinas para que ampliem a compreensão do problema.
Sabemos que não existe uma fórmula pronta e ideal, nem o melhor modelo
para resolver esses problemas, cada pessoa constrói seus modelos provisórios
e úteis para enfrentar as suas questões e durante esse percurso modificar seu
olhar e suas atitudes para as várias possibilidades que serão apresentadas.
“ a experiência do grupo familiar, assim como de
muitos outros trabalhos nesse campo, aponta para a
possibilidade de deixar a família escapar do olhar
familiocêntrico, deslocando a instituição familiar do lugar
central que ocupa em nossa cultura. É necessário
problematizar a noção da família como a grande
41
mediadora universal do desenvolvimento humano.”
Melman(2006, pag.142)
Nessa perspectiva se propõe a uma valorização da alteridade, condição
fundamental para os processos de diferenciação e singularização do sujeito,
apoiando-se num olhar que pudesse acolher as incertezas e a desordem como
partes integrantes no tratamento.
42
CONCLUSÃO
Analisamos ao longo deste trabalho a loucura, sua perspectiva histórica
e sua evolução ao longo do tempo.
Aprendemos um pouco sobre o sofrimento dos pacientes com
transtornos mentais e descrevemos algumas síndromes, suas características,
afim de que possamos lidar com alguém acometido de uma dessas patologias.
Analisamos a evolução da reforma psiquiátrica e pudemos perceber
nesse contexto que os familiares são fundamentais no processo de promoção
da saúde mental. A família é parceira indispensável no uso adequado de
medicamento por parte dos pacientes, além de se responsabilizar pela relação
destes com seus demais vínculos terapêuticos , garantindo sua presença nas
consultas, terapias e oficinas terapêuticas. Em alguns desses espaços de
tratamento podem ser encontrados lugares de participação dos próprios
familiares, pois a promoção da saúde mental deve alcançar os familiares dos
portadores de transtornos mentais.
Se somos capazes de compreender que a família de um paciente
também é uma família doente, devemos assumir nossa responsabilidade em
promover seu bem estar junto ao de seu familiar.
Concluímos então a importância do convívio dos familiares de pessoas
com transtornos mentais para que juntamente com os profissionais de saúde
mental possam lidar com a complexidade de seus problemas e conflitos, e
assim descobrir horizontes de possibilidades para o tratamento.
43
BIBLIOGRAFIA
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Brasil. Rio de Janeiro: SDE/ENSP,1995.
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Editora WAK,2009.
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