Sobre a origem e a natureza da música … a propósito da musicoterapia

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  • 8/14/2019 Sobre a origem e a natureza da msica a propsito da musicoterapia

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    Sobre a origem e a natureza da msica a propsito da musicoterapia

    Alda Margarida Azevedo1

    Msica ex nihilo

    It is not easy to determine the nature of music or why anyone should have a knowledge of it (Aristotle 2)

    A histria da msica imerge na histria do Homem. No h certezas sobre a sua origem e

    ser muito difcil descobrir o porqu da sua gnese. Em termos concretos, o que se sabe dos

    primrdios da nossa actividade musical provem essencialmente de alguma iconografia que

    sobreviveu a milhares de anos e.g. as pinturas rupestres na gruta de Les Trois Frres 3,

    consideradas como o mais antigo testemunho da nossa histria musical4 e que parecem

    evidenciar que o Homem pr-histrico j usava os sons de forma intencional.

    Ainda do perodo paleoltico tambm se conhecem instrumentos de sopro, feitos de osso e.g.

    a flauta encontrada na Eslovnia (em 19955), que se calcula datar de aproximadamente 45

    000 anos atrs. Contudo, a importncia da figura de Les Trois Frres particularmente

    significativa, porque, ao mesmo tempo que parece retratar um instrumento de corda, o arcomusical, tambm mostra uma associao entre a msica (no caso, execuo instrumental) e a

    dana a uma situao conotada com aspectos transcendentes, ritualistas e mgicos.

    A msica, a magia, o divino e o cosmos

    Para el hombre y las culturas primitivas, la msica no es un arte: es un poder, cuya fuerza la ubica en el

    origen mismo del mundo (Perazzo6

    ).

    Esta perspectiva encontra-se igualmente nas obras, ou fragmentos de obras, que nos

    chegaram da antiguidade, nas quais a msica aparece, frequentemente, associada a uma

    origem divina, aos mitos, a uma ideia de sobrenatural ou ainda aos elementos csmicos.

    Seguem-se alguns exemplos: na China, considerava-se que os princpios da msica seriam os

    mesmos do eterno sagrado, huang chung, expresso que tanto se referia ao tom fundamental

    da msica chinesa como, no sentido simblico, autoridade divina; na ndia, segundo a

    tradio o prprio Brahma ensinou o canto ao profeta Narada e este por sua vez transmitiu-

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    o ao resto dos homens; no Egipto, antes do ano de 4 000 a.C., a msica tambm era

    recorrente nos ritos, cerimnias religiosas e militares, festas etc. Para os egpcios, o Deus

    Thoth teria criado o mundo atravs de sons7. Os babilnios e os gregos relacionavam o som

    com o cosmos atravs de uma concepo matemtica das vibraes acsticas, representadas

    numericamente e expressas tambm na astrologia:

    Los pitagricos concibieron la escala musical como un elemento estructural dentro del cosmos. Adems,

    el firmamento se reflejaba como una especie de armona la armona de las esferas , y el espado tonal

    se obtena por medio de una sola cuerda tensada (monocordio), de manera que reflejase esa

    armona(Robertson e Stevens8).

    neste contexto que: Plato (c.428/27 a.C. - 347 a.C.), que considerava a astronomia e a

    msica como cincias irms tal como afirmam os pitagricos9, refere o som provocado pelo

    movimento dos planetas, acompanhado pelo canto das deusas Lquesis, Clotoe tropos10 e;

    Aristteles (c.384 a.C. 322 a.C.), em A Metafsica escreve, citando os pitagricos, que:

    todo o cu harmonia e nmero11.

    A Harmonia das Esferas e a Teoria do thos

    As ideias de uma alma do mundo (anima mundi, tal como Plato a descreve em O Timeu12,

    ou de uma harmonia das esferas, macro csmica, actuante e com efeitos no Homem

    (microcosmos), tm como percursoras (no mbito da cultura ocidental) os trabalhos dos

    filsofos e pensadores pr socrticos onde se destaca naturalmente o vulto de Pitgoras

    (c.570-500 a.C.), a quem se atribui a descoberta da expresso numrica dos intervalos da

    escala musical, definidos, ento, como relaes proporcionais que se encontram no cosmos,

    na natureza e na alma dos homens bons13. Nesta perspectiva, s harmonias (modos14),

    constitudas por relaes intervalares proporcionais s do cosmos, corresponderiam

    caractersticas comportamentais e tipos de personalidade especficos. Estes princpios,

    desenvolvidos pelos Pitagricos dos sculos seguintes, preconizaram a clebre teoria do

    thos15,baseada nas ideias de que: a msica de uma nao expressa o carcter do seu povo16

    e; os sons, decorrentes das vibraes de cada planeta, influenciam o comportamento

    humano Para Dmon de Atenas mestre de msica ateniense do sculo V a C que se

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    dedicou s relaes entre a tica e a msica, tanto era verdade que a boa msica criava almas

    boas, como o inverso:

    () deve ter-se cuidado com a mudana para um novo gnero musical, que pode pr tudo em risco. quenunca se abalam os gneros musicais sem abalar as mais altas leis da cidade, como Dmon afirma e eu creio

    (Plato,A Repblica, 424b-c).

    Tanto Plato como Aristteles mostraram apreenso acerca dos efeitos de determinados

    tipos de harmonias, pelo que, se detiveram de forma pormenorizada na anlise do tipo de

    msica modos, ritmos e instrumentos que poderiam ser permitidos numa civilizao

    ideal. Em A Repblica, Plato, estabelece diferenas entre vrios tipos de harmonias e seus

    efeitos e define os tipos de msica que deveriam ser permitidos numa civilizao ideal. No

    volume V de APoltica, Aristteles associa estados anmicos tais como dor ou embriaguez,

    entre outros, aos diversos modos da msica grega i.e. pressupondo que cada ritmo, cada som

    ou escala teriam o seu thos17respectivo.

    Em resumo, atentando nos pressupostos da teoria dothosi.e., na ideia que a msica pode

    afectar o carcter e que os diferentes tipos de harmonia (modos) tm sobre ele efeitos

    diferentes encontramos a essncia das ideias que preconizam a actual musicoterapia.

    Alguns antecedentes: msica, medicina e terapia

    A relao da msica com a medicina tambm longnqua. Remonta, provavelmente,

    civilizao egpcia a origem dos primeiros escritos sobre a aco da msica no corpo humano

    i.e. os papiros mdicos descobertos pelo antroplogo ingls Flandres Petrie, em Kahum

    (1899), de c. 1500a.C., os quais referem a influncia benfica da msica na fertilidade da

    mulher18. Tambm so referncias importantes as lendas da mitologia grega (e outros

    relatos) que enumeram episdios sobre o poder calmante e teraputico da msica: Homero,

    refere que Aquiles foi encontrado na sua tenda tocando em uma magnfica lira e expurgando

    a sua clera19; Orfeu, que aprendeu a arte com o prprio Apolo, deus da msica e da

    medicina, ao tanger a sua lira melodiosa, arrastava as rvores e conduzia os animais

    selvagens da floresta20; Empdocles (482 - 430 a.C.) era capaz de apaziguar paixes () foi

    o que fez a um jovem furioso cantando versos da Odisseia21 Os Pitagricos e os Coribantes

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    usavam a msica para expulsar os agentes causadores da doena e restabelecer a harmonia

    entre corpo e alma22 e Demcrito (c.460-370 a.C.), afirmava que muitas doenas poderiam

    ser curadas atravs de sons melodiosos de uma flauta23.

    No primeiro sculo d.C. o mdico grego Asclepades de Bitnia (c.124 40 a.C.), empregava

    a msica para acalmar a excitao dos alienados24 e usava a trompete para curar a citica.

    Esta tradio perdurou at era crist e.g. Galeno (131-201 a.C.), tambm mdico,

    acreditava que a msica tinha o poder de combater a depresso e os estados de tristeza 25. No

    Antigo Testamento atribuam-se msica poderes idnticos:

    Todas as vezes que o esprito de Deus o acometia, David tomava a lira e tocava; ento Saul se acalmava, sentia-se

    melhor e o mau esprito o deixava (Bblia de Jerusalm, Samuel 16, 23)

    J na Idade Mdia, em De Institutione musicaBocio (480-524), que tambm se ocupou da

    influncia da msica sobre os estados violentos, refere curas efectuadas por: Pitgoras, a um

    alcolico; Empdocles, a um louco e como, os pitagricos, induziam o sono atravs de

    melodias doces26. Na verdade, este tipo de relato encontra-se com frequncia ao longo da

    histria: Benenzon cita fontes medievais, tanto rabes como judias, onde se narra com

    frequncia como se chamavam os msicos para aliviar as dores dos enfermos no hospital 27.

    No sculo XV, o musicgrafo flamengo Tinctoris, (1445-1511) afirmava que um dos

    objectivos da msica seria o de curar as doenas 28. Ainda nesta poca, salienta-se o trabalho

    de Marslio Ficino (1433-99) que, de forma pioneira, preconizou a musicoterapia activa ao

    prescrever que: o homem melanclico executar, e s vezes inventar ele mesmo, os ares

    musicais () ele cantar e tanger a lira29. Nesta ptica a msica deixaria de ser uma

    medicao externa e passaria a fazer parte do processo teraputico.

    Em 1584 o naturalista italiano Giambattista della Porta (1537-1615) afirmava, na sua obra

    Magiae naturalis30, que o som advindo de instrumentos musicais feitos da mesma madeira de

    plantas medicinais produzia os mesmos efeitos teraputicos: as plantas de madeira de lamo,

    por exemplo, seriam eficazes contra as dores de citica, as de madeira de helboro contra as

    enfermidades nervosas, enquanto que os instrumentos feitos com fibra da planta de rcino

    provocariam efeitos purgativos

    31

    . Athanasius Kircher (c.1602-1680), no sculo XVII,

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    recomendava o uso teraputico da msica, depois de ter experimentado em si os seus efeitos.

    Na sua perspectiva:

    The sound has an attractive property; it draws out disease, which streams out to encounter the musical wave,and the two, blending together, disappear in space. (Blavatsky, 1877: 215)

    Finalmente, no sculo XVIII, em 1729, surge o texto mais antigo (conhecido) sobre msica e

    medicina32, de Richard Browne. Depois, e a partir de 1880, com o advento da

    experimentao psicofisiolgica, ocorreu uma maior aproximao entre a neurologia e a

    psiquiatria, surgindo uma possibilidade de fundamentar, de forma cientfica, o uso

    teraputico da msica com base nos efeitos neurofisiolgicos produzidos.

    O sculo XX e a emergncia da Musicoterapia

    No obstante a ateno em torno dos efeitos curativos da msica, o advento da

    musicoterapia, recente33. s no sculo XX que se institui como cincia e que passa a ser

    considerada na sua realidade pluridisciplinar34 e pluridimencional i.e. como disciplina de

    carcter cientfico, pressupondo um corpo terico prprio mas tambm assumidamenteinterrelacionado com outras reas, tais como, a arte, a medicina, a psicologia e a reeducao.

    Como cincia, a musicoterapia recente, tendo acelerado o seu desenvolvimento aps a 2 Guerra Mundial, em

    hospitais para reabilitao dos feridos em guerra, nos Estados Unidos. Desde ento, a pesquisa da relao som/ser

    humano, tanto na sua dinmica normal, como no seu uso teraputico tm crescido ano a ano. . (APEMESP35)

    Na primeira metade do sculo XX, at cerca de 1945/50, do-se passos fundamentais nos

    campos da investigao experimental pelo que se desenvolvem estudos sobre diversas

    populaes, nomeadamente, esquizofrnicos, adolescentes, idosos e em doentes com

    problemas cardiovasculares, cancergenos, entre outros36. A partir de 1950, so criadas

    associaes em vrios pases: a National Association for Music Therapy(1950), nos E.U.A., a

    Society for Music Therapy and Remedial Music (1958), actual British Society for Music

    Therapy, entre outras, que pressupem a criao de estatutos e cdigos deontolgicos. Em

    Portugal, a Associao Portuguesa de Musicoterapia foi criada em 1996, ano em que a

    Comisso de Prtica Clnica da Federao Mundial de Musicoterapia apresentou a seguinte

    d fi i

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    "Musicoterapia a utilizao da msica e/ou dos seus elementos musicais (som, ritmo, melodia e harmonia) porum musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou um grupo, num processo planificado com o objectivo defacilitar e promover a comunicao, a relao, a aprendizagem, a mobilidade, a expresso, a organizao e outrosobjectivos teraputicos importantes, que vo ao encontro das suas necessidades fsicas, emocionais, mentais,

    sociais ou cognitivas. A Musicoterapia tem por objectivo desenvolver potenciais e/ou restaurar funes doindivduo, a fim de melhorar a sua organizao intra pessoal e/ou interpessoal e, em consequncia, adquirir umamelhor qualidade de vida, atravs de preveno, reabilitao ou tratamento (Comisso de Prtica Clnica daFederao Mundial de Musicoterapia, 1996).

    Em Portugal a musicoterapia comeou a desenvolver-se na dcada de 60, altura em que um

    grupo dos educadores, psiclogos e mdicos comearam a interessar-se pela utilizao

    teraputica da msica e artes em geral. De entre este grupo destaca-se Arquimedes Santos, o

    pioneiro do movimento portugus da Educao pela Arte. Igualmente relevante neste

    esforo, que culminou no advento do Curso de Musicoterapia da Madeira 37 (orientado pela

    Dr. Jacqueline Verdeau-Paiills) e na fundao da j referida Associao Portuguesa de

    Musicoterapia, foi o contributo da Associao Portuguesa de Educao Musical (APEM),

    associao que promoveu o intercmbio entre profissionais portugueses e internacionais.

    No computo internacional, e na perspectiva de Aldridge38, as ltimas dcadas do sculo

    passado foram frutferas uma vez que a musicoterapia passou a enquadrar mtodos

    quantitativos e qualitativos, fundamentais, na sua perspectiva, para uma aproximao clnicadesta natureza que envolve os campos da cincia e da arte. Do mesmo modo, os mtodos de

    investigao utilizados para o estudo de caso tambm recorrem a metodologias de outras

    disciplinas e.g. medicina, psicologia e sociologia. Assim, os procedimentos protocolares

    contemplam a anlise do exame clnico, da anamnese, dos dados do inqurito social, da

    observao directa, dos testes psicolgicos clssicos e s ento, o estudo da personalidade

    musical (Identidade Sonora [I.S.39]), que se infere atravs de testes prprios (e.g. o Bilan

    Psicomusicalde Verdeau-Paills)40. A aquisio destas informaes permitir ao terapeuta

    decidir sobre a colocao (ou no) de um projecto musicoteraputico e definir modalidades

    de aplicao das Tcnicas Psicomusicais (T.P.), termo que refere o conjunto de estratgias

    utilizadas em musicoterapia.

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    Tcnicas Psicomusicais

    Entre as T.P. h uma subdiviso conceptual entre tcnicas receptivas, activas e associadas ou

    mistas41

    , no entanto, de salientar que entre as tcnicas receptivas e as tcnicas activas noh uma diviso estanque dado que, num processo de recepo musical h actividade

    orgnica e psicolgica implcita, assim como, na produo ou actividade musical tambm h,

    obviamente, receptividade sonora e/ou musical. De modo geral, as Tcnicas Psicomusicais

    Receptivas (T.P.R.) permitem a estimulao da afectividade, o apaziguamento de angstias e

    a criao de um espao sonoro protector. Tm interesse: a) diagnstico, atravs da aplicao

    do Bilan Psicomusical, anlise das relaes e posicionamento do sujeito com a msica e da

    sua Identidade Sonora; b) teraputico, atravs da escuta afectiva, montagens teraputicas,

    retrato musical, tcnicas de activao, tcnicas projectivas, entre outras. A sua forma de

    aplicao varivel i.e. podem constituir-se em sesses individuais ou de grupo, sob diversas

    formas, por exemplo: a) tcnicas de escuta individuais: relaxamento psicomusical, escuta de

    uma ou vrias obras com ou sem verbalizao, associao de obras, etc; b) tcnicas de escuta

    em grupo; escuta baseada numa escolha conjunta dos participantes, audio de msica com

    verbalizao, relaxamento psicomusical, etc.

    As Tcnicas Psicomusicais Activas (T.P.A.) fazem parte dos mtodos de utilizaoteraputica e psicopedaggica da msica cujos processos essenciais so a participao activa

    dos sujeitos numa criao sonora/musical comum. Tm como objectivos gerais: aprofundar o

    conhecimento de aspectos da personalidade; colocar em evidncia perturbaes; fornecer ao

    grupo e a cada indivduo um novo meio de se exprimir e de comunicar com a ajuda duma

    linguagem no verbal42; trabalhar a expresso rtmica e meldica dos indivduos, interaco

    e criatividade.

    semelhana das TPR, as TPA podem ser aplicadas em contexto individual ou de grupo e

    contemplam a utilizao do corpo, voz e percusses corporais, do ambiente sonoro e

    expresso musical instrumental, habitualmente recorre-se a instrumentos simples, de fcil

    manuseamento e.g. instrumental Orff, instrumentos tradicionais, instrumentos adaptados s

    deficincias e ainda instrumentos inventados e/ou fabricados para o efeito.

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    Por ltimo, apresentam-se as Tcnicas Psicomusicais Associadas ou Mistas (T.P.M.) que

    consistem, como o prprio nome indica, na associao de duas ou mais tcnicas de expresso

    tais como: expresso pictural e grfica sob induo musical; msica e expresso verbal escrita

    e oral; msica e mmica ou outra forma de expresso corporal; entre outras possibilidades

    que podem ser simultneas ou em sucesso no decorrer de uma sesso de tratamento. Como

    todas as tcnicas psicomusicais, as T.P.M. podem ser usadas tanto em sesses individuais

    como de grupo, com especial nfase na criatividade e no aspecto da activao da terapia.

    Nota final: A classificao apresentada no a nica mas tem a vantagem de no ser

    incompatvel com outras de carcter mais especfico e.g. tcnicas apresentadas por Maranto,

    Bruscia, Bonny, Wigram-Maranto e Sabbatella43.

    Indicaes da Musicoterapia

    De acordo com Verdeau-Paills44, as indicaes da musicoterapia so a consequncia directa

    dos seus princpios e colocam-se sempre que um sujeito receptivo msica, apresente

    qualquer indicao de entre as seguintes: a) sintomticas, tais como, desarmonias gestuais,

    handicaps sensoriais, angstia, desorganizao da vida interior, dificuldades em se aceitar a si

    prprio e aos outros assim como em se inserir na realidade, distrbios comunicacionais,

    inibies e bloqueios; b) nosogrficas, que se traduzam em doenas somticas, doenas

    psicossomticas, afeces neuropsiquitricas orgnicas (epilepsias, oligofrenias, sequelas

    derivadas de intervenes cirrgicas ou de leses vasculares), neuroses, psicoses,

    desequilbrios psquicos e toxicomanias. Na perspectiva de Sabbatella45, as reas de prtica

    profissional so as seguintes: preveno, educao, reeducao, reabilitao, psicoterapia,

    medicina, recreao i.e. visando o desenvolvimento pessoal, formao acadmica e

    superviso.

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    CONCLUSO

    O conceito de msica na actualidade no tem muito em comum com aquela fora misteriosa

    que os antigos associaram aos deuses e magia. Do mesmo modo, o percurso damusicoterapia foi tambm polissmico i.e. os efeitos da msica foram igualmente atribudos

    a foras extra-sensoriais. Se ao longo da histria ambas foram alvo de interesse nos contextos

    da magia, da religio, da filosofia, da poltica, da tica e da cincia, poder-se- decorrer a

    possibilidade de a msica ser to importante pela razo do seu efeito sobre o ser humano e

    natureza em geral sem pretender desvalorizar a fruio esttica.

    Pelo que foi referido, parece pertinente pensar na musicoterapia como um modo de auto e

    hetero ajuda e de enriquecimento pessoal, social e cultural, assim como, olhar para esta rea

    da cincia recente e ao mesmo tempo to enraizada na nossa natureza como uma forma

    intrinsecamente humana de promover o encontro de cada sujeito consigo prprio e a partir

    da, com os outros e com o mundo. Em ltimo reduto .

    Music washes away from the soul the dust of everyday life Berthold Auerbach in Berthold Auerbach quotes46

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    Notas de fim

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    1 Musicoterapeuta, msica (Piano, formada pelo Conservatrio), professora, especializada em Educao Especial, Mestre

    em cincias Musicais, investigadora, blogger)2 Aristotle, Politics (The Politics and The Constitution of Athens. Cambridge: Cambridge University Press, ed. Stephen

    Everson, 1996, VIII.IV, 1339a15-16)3 Trois Frres, Les , Encyclopdia Britannica ( Encyclopdia Britannica Premium Service, 2006,

    disponvel em http://www.britannica.com/eb/article-9073471 [FEV 2006]).4

    J. Chailley, 40 000 nos de msica (Ed. Luis de Caralt, Barcelona, 1970, p.5).5 I. Turk, Neanderthal flute, Government Public Relations and Media Office, 2003 (disponvel em

    http://www.uvi.si/eng/slovenia/background-information/neanderthal-flute/ [FEV 2006].6 J. I. P. P. Perazzo, Algunos antecedentes histricos de la Msica en las Culturas Ancestrales avanzadas, 2004 (disponvel

    em http://histomusica.com/hitos/10_antecedentes.html [FEV 2006]).7 J. Alvin, Musicoterapia (Ed. Paidos, Buenos Aires, 1967) e P. Rivire no artigo Un bref historique de la

    musicothrapie (disponvel em http://www.aecoute.net/txt/Histo.htm [FEV de 2006]).8A. Robertson, & D. Stevens, Historia General de la Msica(Madrid, ed. Istmo, 1972, vol. I, p. 154).9 Plato, ARepblica530d(Ed. Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa. Trad. port. de M Helena da Rocha Pereira, 2001).10 Idem617c.11 Aristteles, De Mundo, Cap. V, 296:21 apudF. Freitas no artigo Harmonia (Enciclopdia Luso Brasileira da Cultura, s.

    d., p. 1562 -1563).12 Em O Timeu (c. 360 a.C.) Plato descreve a sua concepo sobre a criao da Alma do Mundo atravs de uma espcie

    de monocrdio celestial (F. Freitas, Op. Cit., p. 1562).13 Sparshott & Goehr, Historical survey, antiquity 1750: Hellenic and Hellenistic thought (Grove Music Online, ed. L.

    Macy. Disponvel em: http://www.grovemusic.com [MAR 2004]).14 O conceito de harmonia para os gregos detinha uma significao alargada. Do ponto de vista da doutrina pitagrica dos

    nmeros, a harmonia exprimia a relao das partes com o todo implicando o conceito matemtico de proporo (). Do

    ponto de vista musical, harmonia significava uma sucesso de sete notas ordenadas e constituam-se em sete espcies a

    mixoldia ou ldia mista, ldia (que se identifica com a sintonoldia do texto), hipoldia, frigia, hipofrgia ou inia, dria,

    hipodria (talvez idntica elia). Esta ltima no mencionada por Plato (). As harmonias ou modos musicais

    gregos tm o seu equivalente moderno mais prximo nas nossas escalas maiores e menores () (A.M. Azevedo, Amsica como expresso e representao juvenil: entre o normal e o patolgico, Tese de mestrado. Faculdade de Letras da

    Universidade de Coimbra, 2005, p.17).15 Etimolgicamente, thos significa originariamente en griego morada habitual (de los animales), y de donde deriva

    thos (la primera palabra con ta y sta con psilon: thos y thos) que es lo habitual o hbito. thos es un plexo de

    actitudes o una estructura modal de habitar el mundo (Dussel, 1973:8 apudA.M. Azevedo, Op.Cit. p.19).16 () national music expressed national character or thos inSparshoot & Goehr, Historical survey, antiquity - 1750:

    Hellenic and Hellenistic thought (Grove Music Online, ed. L. Macy. Disponvel em:

    [MAR 2004]).17 J. I. P Sanz, El concepto de musicoterapia a travs de la historia (Revista Interuniversitaria de Formacin del

    Profesorado, Monogrfico Musicoterapia, n 42, Dec. de 2001, pp.19-31, disponvel em http://musica.rediris.es/leeme/

    [FEV 2006]).18 R. Benenzon, Manual de musicoterapia (Ed. Enelivros, Rio de Janeiro, 1985, p. 165).19 J. Alvin, Op. Cit. (p. 58).20 Ribeiro (1999) apudA.M. Azevedo, Op. Cit., p.12)21 Brun apudA.M. Azevedo, Op. Cit. (p. 12).22 M.H. Rocha Pereira, Introduo, traduo e notas da obra de Plato em A Repblica (Ed. Fundao Calouste

    Gulbenkian, Lisboa, 2001, p. 15).23 H. P. Blavatsky, Isis Unveiled (disponvel em http://www.theosociety.org/pasadena/isis/iu1-07.htm [FEV 2006].

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    24 Asclepiades of Bithynia (Encyclopdia Britannica. Encyclopdia Britannica Premium Service. Disponvel em

    http://www.britannica.com/eb/article?tocId=9009791 [DEZ 2004]).25 J. I. P Sanz , Op. Cit. (p. 22).26 Potiron (1961:38)apudA.M. Azevedo, Op. Cit. (p. 12).27 R. Benenzon, Op. Cit. (p. 165).28 E. Willems, " La valeur humaine de lducation musicale" (d. Pro musica, Suisse, 1975, p. 145)29

    R. Benenzon, Op. Cit. (p. 170)30 Giambattista della Porta, Magiae naturalis (1584) (disponvel em:

    http://72.14.207.104/search?q=cache:KP7ZHbUGTJwJ:www.theosociety.org/pasadena/isis/iu1-

    07.htm+%22Magia+Naturalis%22+music&hl=pt-PT&ct=clnk&cd=49 [FEV 2006]).31 R. Benenzon, Op. Cit. (p. 168)32Medicina Musica, ou, a Mechanical Essay on the Effects of Singing, Musick, and Dancing on Human Bodies.33 J. Verdeau-Paills, Musicoterapia: Reflexes e perspectivas (Conferncia proferida no Funchal, por ocasio do final do

    1 Curso de Musicoterapia, Maro de 1992. In Revista da Associao Portuguesa de Educao Musical. Trad. Teresa Paula

    Leite. Rev. Gabriela C. Gomes).34 Patxi del Campo, Secretrio da Federao Mundial de Musicoterapia, apresenta a musicoterapia como uma combinao

    de vrias disciplinas, das quais destaca, a psicologia da msica, a acstica e psicoacstica, a composio, a teoria da msica,

    a psicologia e a psiquiatria, em torno de dois temas principais, a msica e a terapia (Aldridge, 2002).35 A.M. Azevedo, Musicoterapia Anlise da Realidade Portuguesa num Enquadramento Teraputico e Psicopedaggico

    (Monografia [no publicada], Curso de Musicoterapia da Madeira, Direco Regional de Educao Especial da Madeira

    [tambm disponvel na bibliotecas da Associao Portuguesa de Educao Musical] 1988, p.14)36 D. Aldridge, An overview of music therapy research (Complementary Therapies in Medicin, 1994, 2:204-216).37 O Curso de Musicoterapia da Madeira resultou de uma parceria entre a Secretaria Regional de Educao, atravs da

    Direco Regional de Educao Especial e Universidade Ren Descartes. A Direco Pedaggica esteve a cargo da Dra.

    Jacqueline Verdeau-Paills (Neuropsiquiatra, Musicoterapeuta e Docente na Universidade Ren Descartes, Paris V)

    coadjuvada por formadores de vrias reas: Dr. SALES CALDEIRA (Madeira), Psiquiatra e Psicanalista; Dr. M. MICHEL

    KIEFFER (Luxemburgo), Psicomotricista e Musicoterapeuta; Prof. ANNE BUSTARRET (Frana), Professora de Educao

    Musical e Docente da Universidade de Paris V; Dra. KLARA KOKAS (Hungria), Instituto Kodaly, Keskemet; Dr. LUCBASTIDE (Frana), Psiclogo, Professor e Director do Centro de Audiovisuais da Universidade Ren Descartes - Paris V,

    entre outros.38 D. Aldridge, Music therapy research: A review of references in the medical literature. (2002, disponvel em:

    http://www.musictherapyworld.de/modules/archive/stuff/papers/mtreview.pdf [DEZ 2004]).39 A I.S. constituda pelas caractersticas subjectivas e objectivas que diferenciam um indivduo ou um grupo de

    indivduos, nas suas relaes com o mundo sonoro interior e exterior. Tem a ver com as msicas/sons referncia do

    sujeito i.e.: o interesse manifesto por certos instrumentos e tipo de msica; a rejeio de obras musicais, instrumentos e de

    categorias de sons; os ritmos corporais pessoais (o ritmo dos seus movimentos e as sonoridades internas do sujeito), etc.

    As componentes da I.S. so: o tempo pessoal do sujeito; o encontro de sons regressivos (cada um de ns guarda na sua

    memria sonoridades que marcaram a sua infncia e que sero eventualmente peas necessrias a reactivar); o

    estdio/momento sonoro actual do indivduo, que indispensvel para a constituio do projecto teraputico. (J. Verdeau-Paills, LIdentit Sonore (du concept laplication en musicothrapie) (Textos/material de apoio ao terceiro curso de

    musicoterapia da Madeira, 1995/98).40 O Bilan Psicomusical um instrumento de uso musicoteraputico (publicado em 1981 por J. Verdeau-Paills no livro Le

    bilan psycho-musical et la personnalit, Ed. Fuzeau) um teste projectivo que usa os sons e a msica e como tal, permite

    ao paciente/sujeito, a expresso e posterior anlise da sua personalidade nos seus aspectos imutveis, flutuaes, processos e

    evoluo. No entanto, e assim como os testes de aptides, os testes projectivos clssicos e os testes de tcnicas expressivas,

    este tambm no permite a colocao de um diagnstico, no define nem afirma critrios de (a)normalidade e no

    constitui s por si uma terapia.

  • 8/14/2019 Sobre a origem e a natureza da msica a propsito da musicoterapia

    13/13

    41 J. Verdeau-Paills, Les methodes daplication de la musicothrapie ou Techniques psicomusicales, Textos/material de

    apoio ao terceiro curso de musicoterapia da Madeira, 1995/98).42 J. Verdeau-Paills e J.M. G.Caladou no artigo As tcnicas psicomusicais activas de grupo e a sua aplicao em

    psiquiatria (Revista da Associao Portuguesa de Educao Musical. Boletim 55, Outubro/Dezembro de 1987. Trad.

    Teresa Paula Leite. Rev. Gabriela C. Gomes).43 Maranto (1993), Bruscia (1897), Bonny (1993), Wigram-Maranto (1997) referidos por P. Sabbatella no artigo Un

    Estudio Bibliogrfico sobre Metodologa de Trabajo y Evaluacin en Musicoterapia (Revista Msica, Terapia yComunicacin. N 18., 1998, p. 70).44 J. Verdeau-Paills, Les indications de la musicoterapie (Textos/material de apoio ao terceiro curso de musicoterapia da

    Madeira, 1995/98b) e J. Verdeau-Paills e J.M. G.Caladou, Op. Cit. Verdeau-Paills, J. (1995/98).45 P. Sabbatella, Op. Cit. (p.68)46 Berthold Auerbach quotes (disponvel em: http://en.thinkexist.com/quotes/berthold_auerbach/ [FEV 2006]).