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Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em condições reais de utilização Hugo José da Silva Fernandes Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica Orientadores: Dra. Patrícia de Carvalho Baptista Dr. Gonçalo Nuno de Oliveira Duarte Júri Presidente: Prof. Edgar Caetano Fernandes Orientador: Dr. Gonçalo Nuno de Oliveira Duarte Vogal: Prof. Luís Alberto Gonçalves de Sousa Junho 2018

Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

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Page 1: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

condições reais de utilização

Hugo José da Silva Fernandes

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Mecânica

Orientadores: Dra. Patrícia de Carvalho Baptista

Dr. Gonçalo Nuno de Oliveira Duarte

Júri

Presidente: Prof. Edgar Caetano Fernandes

Orientador: Dr. Gonçalo Nuno de Oliveira Duarte

Vogal: Prof. Luís Alberto Gonçalves de Sousa

Junho 2018

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Page 3: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

I

Abstract

The transport sector is responsible for roughly 33% of the energy consumption at the EU-28 level,

as well as for 23% of the total greenhouse gas emissions (GHG). Electric vehicles, namely those used

in public transports, can contribute to reduce such impacts, due to their improved energy and

environmental performances when comparing to conventional internal combustion vehicles.

In this study, a performance evaluation of an electric bus in real world conditions was performed

through on-board experimental tests. The energy consumption profile, as well as the GHG emission

profile of the bus were obtained through the VSP methodology. These results were used to simulate the

behaviour of the electric vehicle when circulating in other routes, as well as to enable a performance

comparison with a conventional bus.

The comparison between the electric and the conventional buses presented the advantages of the

first at the energy consumption and GHG emissions level, with reductions up to 70% and 85%,

respectively, on a WTW basis, for the studied routes. The obtained results show that the circulation

conditions and the terrain topography have little influence in the efficiency of the electric propulsion unit,

both at the energy delivery level as well as at the energy recovery level, making this vehicle ideal for

circulation in an urban environment. Regarding this analysis, the major effect noticed is an increase of

13% in the power required by the motor, for the same VSP modes, when the road grade changes from

0 to 2,5º to 2,5º to 5º.

Keywords: Electric bus; VSP; energetic efficiency; greenhouse gases (GHG); technology

comparison.

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II

Page 5: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

III

Resumo

O sector dos transportes é responsável por cerca de 33% do consumo de energia ao nível da EU-

28, bem como por 23% das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Veículos elétricos,

nomeadamente os usados em transportes públicos, podem contribuir para reduzir esses impactes,

devido ao seu desempenho energético e ambiental melhorado quando comparados com os veículos

convencionais a combustão interna.

Neste estudo, fez-se uma avaliação do desempenho de um autocarro elétrico em condições reais

de utilização, através de ensaios experimentais realizados a bordo. Através da metodologia VSP

obtiveram-se os perfis de consumo de energia e emissões de GEE. Estes resultados foram utilizados

para simular o comportamento do veículo quando em circulação noutros percursos e para fazer uma

comparação do seu desempenho com um autocarro convencional.

As comparações feitas entre o autocarro elétrico e o convencional evidenciam as vantagens do

primeiro ao nível dos consumos de energia e das emissões de GEE, conseguindo obter, para os

percursos estudados, reduções na ordem dos 70% e 85%, respetivamente, numa base WTW. Os

resultados obtidos mostram que as condições de circulação e topografia do terreno influenciam pouco

a eficiência do conjunto propulsor elétrico, tanto ao nível do fornecimento como da regeneração de

energia, indicando que este veículo é ideal para circulação urbana. Em relação a esta análise, a maior

influência notada foi um aumento de cerca de 13% na potência requerida pelo motor, para os mesmos

modos VSP, quando a inclinação da estrada passa de 0 a 2,5º para 2,5 a 5º.

Palavras-chave: Autocarro elétrico; VSP, eficiência energética; gases de efeito estufa (GEE);

comparação de tecnologias.

Page 6: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

IV

Page 7: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

V

Índice

Abstract ............................................................................................................................................... I

Resumo ............................................................................................................................................. III

Índice .................................................................................................................................................. V

Lista de Figuras ............................................................................................................................. IX

Lista de Tabelas .......................................................................................................................... XIII

Lista de abreviações ......................................................................................................................XVII

Lista de símbolos ............................................................................................................................XIX

1. Introdução ................................................................................................................................ 1

1.1. Enquadramento ................................................................................................................... 1

Veículos elétricos no passado ..................................................................................... 3

Situação presente ........................................................................................................ 3

1.2. Objetivo ................................................................................................................................ 5

1.3. Estrutura da Tese ................................................................................................................ 5

2. Estado da arte ......................................................................................................................... 7

2.1. Classificação dos autocarros disponíveis no mercado pelo tipo de powertrain .................. 7

2.2. Autocarros elétricos a bateria .............................................................................................. 9

Tecnologias de motores .............................................................................................. 9

Tecnologias de baterias ............................................................................................ 11

Principais limitações .................................................................................................. 13

2.3. Análise das vantagens e desvantagens dos vários tipos de powertrain ........................... 13

Consumo de energia ................................................................................................. 13

Emissões de GEE e outros impactos ambientais ..................................................... 15

Autonomia .................................................................................................................. 17

Comparação de custos .............................................................................................. 18

3. Metodologia ........................................................................................................................... 21

3.1. Recolha 1 - Monitorização de autocarro elétrico em condições reais de utilização ......... 21

Veículo estudado ....................................................................................................... 21

Procedimento para recolha de dados e equipamentos utilizados ............................. 22

Rotas utilizadas para a recolha de dados ................................................................. 23

Page 8: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

VI

3.2. Recolha 2 - Dados representativos da dinâmica de autocarros convencionais em rotas

urbanas em condições reais de utilização ......................................................................................... 24

Procedimento para recolha de dados ....................................................................... 24

Veículo estudado ....................................................................................................... 24

Rotas utilizadas para a recolha de dados ................................................................. 25

3.3. Autocarro convencional utilizado para comparação de consumos e emissões de GEE e

percurso adicional de características extra-urbanas ......................................................................... 26

3.4. Metodologia VSP ............................................................................................................... 27

3.5. Metodologia de análise de dados provenientes da Recolha 1 .......................................... 29

Sincronização dos dados recolhidos e remoção dos períodos de ralenti ................. 29

Obtenção do declive e correção das oscilações introduzidas no mesmo pelo GPS 30

Distribuição modal de VSP e potência do motor por modo VSP .............................. 31

Sensibilidade à variação de parâmetros operacionais .............................................. 32

3.5.4.1. Variação do SOC................................................................................................... 32

3.5.4.2. Percursos urbano e extra-urbanos ........................................................................ 32

3.5.4.3. Variação com o declive da estrada ....................................................................... 33

Estimativa da eficiência de propulsão e de regeneração .......................................... 34

Estimativa do consumo médio dos auxiliares e das perdas de energia ................... 35

3.6. Metodologia de análise dos dados provenientes da Recolha 2 ........................................ 35

Remoção dos períodos de ralenti e correções na velocidade fornecida pelo GPS .. 35

Distribuição modal de VSP, obtenção do declive e correção das oscilações

introduzidas no mesmo pelo GPS .................................................................................................. 36

3.7. Metodologia do cálculo das emissões de GEE para o autocarro elétrico estudado e para o

autocarro a gasóleo utilizado para comparação ................................................................................ 36

3.8. Metodologia de simulação de autocarro elétrico ............................................................... 37

Software utilizado ...................................................................................................... 37

Modelação computacional ......................................................................................... 38

3.8.2.1. Noções básicas ..................................................................................................... 38

3.8.2.2. Descrição dos módulos utilizados e dos parâmetros inseridos nestes ................. 39

3.8.2.3. Introdução e simulação no AVL CRUISE dos percursos recolhidos com o GPS . 39

3.9. Metodologia da seleção de eventos específicos para comparação do desempenho entre o

autocarro elétrico e o autocarro convencional ................................................................................... 41

Page 9: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

VII

3.10. Metodologia da análise operacional do autocarro elétrico quando em circulação nos

percursos estudados .......................................................................................................................... 43

4. Resultados ............................................................................................................................. 45

4.1. Caracterização experimental e numérica do autocarro elétrico ........................................ 45

Resumo dos dados recolhidos .................................................................................. 45

Potência fornecida ao motor em função do modo VSP e eficiência média de propulsão

e de regeneração ........................................................................................................................... 45

Validação do modelo computacional ......................................................................... 47

Estimativa do consumo médio dos auxiliares, consumo total do autocarro por modo

VSP e obtenção de uma função continua para a potência total em função do VSP ..................... 49

Consumo total do autocarro em função da velocidade e do declive ......................... 50

Sensibilidade à variação de parâmetros operacionais .............................................. 52

4.1.6.1. Variação do SOC................................................................................................... 52

4.1.6.2. Percursos urbanos e extra-urbanos ...................................................................... 53

4.1.6.3. Variação com o declive da estrada ....................................................................... 56

4.2. Resultados obtidos a partir da Recolha 2 ......................................................................... 57

4.3. Comparação com autocarro convencional a gasóleo ....................................................... 58

Comparação do consumo de energia e das emissões de GEE para os troços

estudados 58

Comparação de eventos específicos ........................................................................ 62

4.3.2.1. Paragem seguida de arranque com inclinação positiva ou negativa .................... 62

4.3.2.2. Arranque e circulação com inclinação positiva, nula ou negativa ......................... 65

4.4. Análise operacional do autocarro quando em circulação nos percursos estudados ........ 68

5. Conclusões e trabalho futuro ................................................................................................. 69

6. Referências............................................................................................................................ 73

7. Anexos ..................................................................................................................................XXI

Page 10: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

VIII

Page 11: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

IX

Lista de Figuras

Figura 1.1 – A: Consumo de energia final, por sector, EU-28, em 2015. Percentagens das toneladas

equivalentes de petróleo. B: Emissões de gases de efeito de estufa, por sector, EU-28, em 2015.

Percentagens das toneladas de CO2 equivalentes (%tonCO2eq) [2,3]. ................................................. 1

Figura 1.2 - A: Emissões de óxidos de azoto, NOx, por sector, EU-28, em 2015, em milhões de

toneladas. B: Emissões de partículas finas, PMx, por sector, EU-28, em 2015, em milhões de toneladas

[4]. ............................................................................................................................................................ 2

Figura 1.3 – Distribuição da quota esperada para o mercado de autocarros em 2020 [10]. Em 2016

existiam cerca de 345 000 autocarros elétricos em circulação, o dobro do ano anterior [12]. Legenda:

Gasóleo e outros; GNG/LNG; Híbrido e elétrico. ...................................................................... 4

Figura 2.1 – Classificação, por tipo de powertrain, dos vários tipos de autocarros disponíveis no

mercado [10,11]. ...................................................................................................................................... 7

Figura 2.2 – A: Esquema do powertrain de um autocarro híbrido em paralelo. B: Esquema do

powertrain de um autocarro híbrido em série [10]. ................................................................................. 8

Figura 2.3 – A: Esquema do powertrain de um autocarro elétrico a bateria. B: Esquema do

powertrain de um autocarro elétrico célula de combustível [10]. ............................................................ 8

Figura 2.4 – Mapas de eficiência típicos para motores de imanes permanentes montados na

superfície do rotor (a), imanes permanentes montados no interior do rotor (b), indução ou assíncronos

(c), relutância (d), corrente direta (e) e síncronos (f) [14]. .................................................................... 10

Figura 2.5 – Comparação inicial do desempenho das várias tecnologias de bateria em função da

sua densidade energética e da densidade de potência [7]. .................................................................. 11

Figura 2.6 – Evolução temporal dos vários tipos de tecnologia de bateria [10]. ............................. 12

Figura 2.7 – Eficiências genéricas na produção de eletricidade e hidrogénio [10]. ........................ 13

Figura 2.8 – Autonomia dos autocarros elétricos por tipo de powertrain [10]. ................................ 17

Figura 2.9 – Custo total de posse, TCO, para vários tipos de powertrain, em 2012 e previsão para

2030 [22]. ............................................................................................................................................... 19

Figura 3.1 - Autocarro elétrico a bateria e.City Gold da Caetano Bus. ........................................... 21

Figura 3.2 - Dados fornecidos diretamente pelo painel do carregador de bateria. ......................... 22

Figura 3.3 – GPSMap 76 CSx, da Garmin. ..................................................................................... 23

Figura 3.4 – Rota 904 da STCP. A: Sentido Bolhão-Coimbrões. B: Coimbrões-Bolhão [24]. ........ 23

Figura 3.5 - Autocarro convencional a gasóleo City Gold 2KD da MAN. ........................................ 24

Figura 3.6 – Rota 758 da Carris. A: Sentido Cais do Sodré-Portas de Benfica. B: Portas de Benfica-

Cais do Sodré (mapas gerados através dos dados recolhidos). .......................................................... 25

Figura 3.7 – Rota 718 da Carris. A: Sentido Al. Afonso Henriques-ISEL. B: ISEL-Al. Afonso

Henriques (mapas gerados através dos dados recolhidos). ................................................................. 25

Figura 3.8 – Exemplo da sincronização da velocidade fornecida pelo GPS, a laranja, com a

velocidade fornecida pelo autocarro, a azul. ......................................................................................... 29

Figura 3.9 - Comparação entre a altitude fornecida pelo GPS e a altitude suavizada a pelo script de

MATLAB (excerto do troço P4). ............................................................................................................ 30

Figura 3.10 – Exemplo da distribuição temporal dos modos VSP (troço P4). ................................ 31

Page 12: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

X

Figura 3.11 – Exemplo de um excerto utilizado para a caracterização do autocarro em ciclo urbano

(troço P4). .............................................................................................................................................. 33

Figura 3.12 - Exemplo de um excerto utilizado para a caracterização do autocarro em ciclo extra-

urbano (troço P1). .................................................................................................................................. 33

Figura 3.13 - Interface do utilizador do AVL CRUISE. .................................................................... 37

Figura 3.14 – Módulos do AVL CRUISE necessários para representar o autocarro elétrico em estudo

e interligações entre os mesmos. .......................................................................................................... 38

Figura 3.15 – Input do perfil de velocidades de um percurso no AVL CRUISE. ............................. 40

Figura 3.16 - Input do perfil de altitude de um percurso no AVL CRUISE. ..................................... 40

Figura 3.17 – Características dos eventos selecionados para a comparação do desempenho dos

dois autocarros em paragens seguidas de arranque com inclinação positiva, (A) e (B), ou negativa, (C)

e (D). ...................................................................................................................................................... 41

Figura 3.18 - Características dos eventos selecionados para a comparação do desempenho dos

dois autocarros em arranque seguido de circulação com inclinação positiva, (E) e (F), nula, (G), ou

negativa, (H). ......................................................................................................................................... 42

Figura 4.1 - Caracterização do autocarro em termos de potência fornecida ao motor em função do

modo VSP. ............................................................................................................................................ 46

Figura 4.2 - Caracterização de um autocarro convencional em termos do consumo de combustível

do motor em função do modo VSP [25]. ............................................................................................... 46

Figura 4.3 – Potência fornecida ao motor (kW) em função do modo VSP. Resultados das simulações

do autocarro elétrico no AVL CRUISE e comparação com os valores reais recolhidos no ensaio

experimental. ......................................................................................................................................... 48

Figura 4.4 – Percentagem de tempo em função do modo VSP. Resultados das simulações do

autocarro elétrico no AVL CRUISE e comparação com os valores reais recolhidos no ensaio

experimental. ......................................................................................................................................... 49

Figura 4.5 – Potência fornecida ao motor em função do tempo para o troço P5. Resultados das

simulações do autocarro elétrico no AVL CRUISE e comparação com os valores reais recolhidos no

ensaio experimental. ............................................................................................................................. 49

Figura 4.6 - Caracterização do autocarro em termos da potência total em função do modo VSP. 50

Figura 4.7 – Potência total em função da velocidade e do declive da estrada. A: Declives negativos

(-5º a -1º); B: Declives nulos e positivos (0º a 5º). ................................................................................ 51

Figura 4.8 - Consumo de energia em função da velocidade e do declive da estrada. A: Declives

negativos (-5º a -1º); B: Declives nulos e positivos (0º a 5º). ................................................................ 52

Figura 4.9 - Potência fornecida ao motor em função do modo VSP para várias classes de SOC. 53

Figura 4.10 - Potência fornecida ao motor em função do modo VSP para os ciclos urbano e extra-

urbano.................................................................................................................................................... 54

Figura 4.11 – Consumo específico do motor em função do modo VSP para os ciclos urbano e extra-

urbano.................................................................................................................................................... 55

Figura 4.12 - Potência fornecida ao motor em função do modo VSP para as várias classes de

declive.................................................................................................................................................... 56

Page 13: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XI

Figura 4.13 – Comparação do consumo de energia (kWh/km) entre o autocarro elétrico em estudo

e o autocarro convencional para os vários percursos analisados. (A): Porto, (B): Lisboa e (C): Mafra.

............................................................................................................................................................... 59

Figura 4.14 – Comparação das emissões de GEE (gCO2eq/km) entre o autocarro elétrico em estudo

e o autocarro convencional para os vários percursos analisados. (A): Porto, (B): Lisboa e (C): Mafra.

............................................................................................................................................................... 61

Figura 4.15 – Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a

gasóleo no evento (A) do Porto. ............................................................................................................ 63

Figura 4.16 - Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a

gasóleo no evento (B) do Porto. ............................................................................................................ 63

Figura 4.17 - Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a

gasóleo no evento (C) do Porto. ........................................................................................................... 64

Figura 4.18 - Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a

gasóleo no evento (D) do Porto. ........................................................................................................... 64

Figura 4.19 - Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a

gasóleo no evento (E) de Lisboa. .......................................................................................................... 65

Figura 4.20 – Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a

gasóleo no evento (F) de Lisboa. .......................................................................................................... 66

Figura 4.21 - Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a

gasóleo no evento (G) de Lisboa. ......................................................................................................... 66

Figura 4.22 - Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a

gasóleo no evento (H) de Lisboa. ......................................................................................................... 67

Page 14: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XII

Page 15: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XIII

Lista de Tabelas

Tabela 2.1 – Classificação, de 1 a 5, da eficiência dos principais tipos de motores elétricos e os seus

respetivos controladores eletrónicos [14]. ............................................................................................. 10

Tabela 2.2 – Comparação das propriedades dos diferentes tipos de baterias disponíveis para

veículos elétricos [6]. ............................................................................................................................. 12

Tabela 2.3 – Consumo de energia por tipo de powertrain [10] (1 litro de Gasóleo=9,97 kWh=35,9

MJ). ........................................................................................................................................................ 14

Tabela 2.4 – Emissões WTW de gases de efeito de estufa para um autocarro de 12m (gCO2eq/km)

[10]. ........................................................................................................................................................ 15

Tabela 2.5 – Emissões WTT de gases de efeito estufa para autocarros a gasóleo, hidrogénio e

eletricidade (gCO2eq/MJ) [10]. .............................................................................................................. 16

Tabela 2.6 – Emissões TTW de gases de efeito estufa para um autocarro de 12 m (gCO2eq/km)

[10]. ........................................................................................................................................................ 16

Tabela 2.7 – Características de autonomia da frota atualmente no mercado da empresa Proterra

[21]. ........................................................................................................................................................ 18

Tabela 2.8 - Comparação dos custos associados à posse e utilização de autocarros standard de 12

metros com várias configurações de powertrain. Dados de 2012 [22]. ................................................ 18

Tabela 3.1 – Características gerais da versão do autocarro elétrico a bateria e.City Gold ensaiada.

Versão de 12 m, 3 portas e bateria de 85 kWh [23]. ............................................................................. 22

Tabela 3.2 – Características gerais do autocarro convencional a gasóleo City Gold 2KD. ............ 25

Tabela 3.3 - Características gerais do autocarro convencional utilizado para a comparação de

consumos de energia e emissões de GEE com o autocarro elétrico em estudo [25]. ......................... 26

Tabela 3.4 - Descrição dos termos presentes na equação que calcula o VSP. ............................. 27

Tabela 3.5 - Definição dos modos VSP utilizados. .......................................................................... 28

Tabela 3.6 - Dados recolhidos para a caracterização do veículo. ................................................... 29

Tabela 3.7 - Divisão do SOC em classes. ....................................................................................... 32

Tabela 3.8 - Divisão do percurso experimental em ciclo urbano e extra-urbano. ........................... 33

Tabela 3.9 - Divisão do declive da estrada em classes. ................................................................. 34

Tabela 3.10 - Valores médios das classes VSP -5 a 5. .................................................................. 34

Tabela 3.11 – Valores das emissões de GEE por unidade de energia fornecida ao veículo para

autocarros movidos a eletricidade e a gasóleo (gCO2eq/MJ) [10,31–33]. ............................................. 36

Tabela 3.12 – Módulos utilizados na simulação do veículo e principais parâmetros a definir em cada

um. ......................................................................................................................................................... 39

Tabela 3.13 - Características dos eventos selecionados para a comparação do desempenho dos

dois autocarros em paragens seguidas de arranque com inclinação positiva, (A) e (B), ou negativa, (C)

e (D). ...................................................................................................................................................... 41

Tabela 3.14 - Características dos eventos selecionados para a comparação do desempenho dos

dois autocarros em arranque seguido de circulação com inclinação positiva, (E) e (F), nula, (G), ou

negativa, (H). ......................................................................................................................................... 42

Page 16: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XIV

Tabela 4.1 - Resumo dos percursos feitos para a recolha dos dados utilizados para caracterizar o

autocarro................................................................................................................................................ 45

Tabela 4.2 – Resultados das simulações do autocarro elétrico no AVL CRUISE e comparação com

os valores reais recolhidos no ensaio experimental. ............................................................................ 48

Tabela 4.3 - Divisão do SOC em classes e número de pontos de dados experimentais disponíveis

para cada uma. ...................................................................................................................................... 52

Tabela 4.4 - Divisão do percurso experimental em ciclo urbano e extra-urbano e número de pontos

experimentais usados para a caracterização de cada um. ................................................................... 53

Tabela 4.5 – Comparação das características gerais do ciclo urbano e extra-urbano analisado e do

consumo específico do autocarro em cada um deles. .......................................................................... 55

Tabela 4.6 - Divisão do declive da estrada em classes e número de pontos de dados experimentais

disponíveis para cada uma.................................................................................................................... 56

Tabela 4.7 - Resumo dos percursos feitos para a recolha dos dados utilizados para caracterizar a

dinâmica do autocarro a gasóleo em ambiente urbano. ....................................................................... 57

Tabela 4.8 – Percentagem da redução de consumo de energia e de GEE, numa base WTW, que o

autocarro elétrico proporciona em relação ao autocarro a gasóleo para os troços com características

urbanas. ................................................................................................................................................. 60

Tabela 4.9 – Percentagem da redução de consumo de energia e de GEE, numa base WTW, que o

autocarro elétrico proporciona em relação ao autocarro a gasóleo para os troços com características

extra-urbanas. ....................................................................................................................................... 60

Tabela 4.10 - Percentagem da redução de consumo de energia e de GEE, numa base WTW, que o

autocarro elétrico proporciona em relação ao autocarro a gasóleo, para os eventos selecionados a partir

das rotas do Porto. ................................................................................................................................ 65

Tabela 4.11 - Percentagem da redução de consumo de energia e de GEE, numa base WTW, que o

autocarro elétrico proporciona em relação ao autocarro a gasóleo, para os eventos selecionados a partir

das rotas de Lisboa. .............................................................................................................................. 67

Tabela 4.12 - Análise operacional do autocarro elétrico em estudo quando em circulação nos

percursos estudados. ............................................................................................................................ 68

Tabela 7.1 – Consumo de energia e emissões de GEE, em base TTW, para o autocarro elétrico em

estudo e para um autocarro diesel, para os troços com características de percurso urbano. ............XXI

Tabela 7.2 – Consumo de energia e emissões de GEE, em base TTW, para o autocarro elétrico em

estudo e para um autocarro diesel, para os troços com características de percurso extra-urbano. ..XXII

Tabela 7.3 – Consumo de energia e emissões de GEE, em base WTW, para o autocarro elétrico

em estudo e para um autocarro diesel, para os troços com características de percurso urbano. ... XXIII

Tabela 7.4 – Consumo de energia e emissões de GEE, em base WTW, para o autocarro elétrico

em estudo e para um autocarro diesel, para os troços com características de percurso extra-urbano.

........................................................................................................................................................... XXIV

Tabela 7.5 - Consumo de energia, TTW e WTW, e emissões de GEE, em base WTW, para o

autocarro elétrico em estudo e para um autocarro diesel, para os eventos de paragens seguidas de

arranque com inclinação positiva, (A) e (B), ou negativa, (C) e (D). ................................................. XXV

Page 17: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XV

Tabela 7.6 - Consumo de energia, TTW e WTW, e emissões de GEE, em base WTW, para o

autocarro elétrico em estudo e para um autocarro diesel, para os eventos de arranque seguido de

circulação com inclinação positiva, (E) e (F), nula, (G), ou negativa, (H). ......................................... XXV

Page 18: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XVI

Page 19: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XVII

Lista de abreviações

ACV – Avaliação do ciclo de vida;

BEB – do inglês Battery Electric Bus, autocarro elétrico a bateria;

CNG – do inglês Compressed Natural Gas, gás natural comprimido;

DB – do inglês Diesel Bus, autocarro a gasóleo;

DC – do inglês Direct Curent, motor de corrente direta;

DC – do inglês Direct Current, corrente direta;

DHEB – do inglês Diesel Hybrid Electric Bus, autocarro gasóleo-elétrico hibrido;

EU-28 – União Europeia a 28 países;

FCEB – do inglês Fuel Cell Electric Bus, autocarro elétrico a célula de combustível;

GEE – Gases de Efeito de Estufa;

IM – do inglês Induction Motor, motor de indução;

LGN – do inglês Liquified Natural Gas, gás natural liquefeito;

Li-air – Bateria de lítio ar;

LiFePO4 – Bateria de lítio ferro fosfato;

Li-ion – Bateria de iões de lítio;

LiPo – Bateria de polímero de lítio;

Li-S – Bateria de lítio enxofre;

NGSR – do inglês Natural Gas Steam Reforming, conversão por vapor do gás natural;

Ni-Cd – Bateria de níquel cádmio;

Ni-MH – Bateria de níquel metal hidreto;

NOx – Óxidos de azoto;

Pb-ácido – Bateria de chumbo ácido;

PMx – Particúlas poluentes de pequena dimensão;

RM – do inglês Reluctance Motor, motor de relutância;

SBM – do inglês Synchronous Brushed Motor, motor síncrono de escovas;

SOC – do inglês State of Charge, estado de carga;

SPM – do inglês Synchronous Permanent Magnet, motor síncrono de íman permanente;

STP – do inglês Scaled Tractive Power

Page 20: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XVIII

TCO – do inglês Total Cost of Ownership, custo total da posse;

TTW – do inglês Tank to Wheel, do reservatório do veículo até às rodas;

UE – União Europeia;

VSP – do inglês Vehicle Specific Power

WE – do inglês Water Electrolysis, eletrólise da água;

WTT – do inglês Well To Tank, da fonte de energia para o reservatório do veículo;

WTW – do inglês Well to Wheel, da fonte de energia até às rodas do veículo;

ZEBRA – Bateria de sal fundido;

Zn-air – Bateria de zinco ar;

Page 21: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XIX

Lista de símbolos

%t(i) Percentagem de tempo no modo VSP (i)

%t(i,j) Percentagem de tempo no modo VSP (i) no troço (j)

%𝑡𝑜𝑝.𝑚𝑎𝑥 Percentagem máxima de tempo que o veículo pode estar operacional

�̅�𝑎𝑢𝑥 Potência média dos equipamentos auxiliares do autocarro

�̅�𝑡(𝑖) Potência teórica média do modo VSP(i)

�̅�𝑝𝑟𝑜𝑝 Eficiência média de propulsão

�̅�𝑟𝑒𝑔𝑒𝑛 Eficiência média de regeneração

𝑉𝑆𝑃̅̅ ̅̅ ̅̅ (𝑖) Valor médio da classe VSP(i)

�̅� Massa média do autocarro

µft Coeficiente de fricção dos travões

a Aceleração do autocarro

Af Área frontal

At Área da superfície de travagem

Cbat Capacidade da bateria

Cd Coeficiente de atrito aerodinâmico

E Energia consumida

ET Consumo total do autocarro (motor + auxiliares)

g Aceleração da gravidade

m Massa do autocarro

nc Número de classes

nf Relação de transmissão final

np Número de pontos experimentais

np(i,c) Número de pontos experimentais no modo VSP (i) na classe (c)

np(i,j) Número de pontos experimentais no modo VSP (i) no troço (j)

np(j) Número de pontos experimentais no troço (j)

nrpm.máx Velocidade de rotação máxima

nt Número de troços

ⱷ Declive da estrada

P(i) Potência do motor no modo VSP (i)

P(i,c) Potência do motor no modo VSP (i) na classe (c)

P(i,c,k) Potência do motor no modo VSP (i) na classe (c) no ponto experimental (k)

P(i,j) Potência do motor no modo VSP (i) no troço (j)

P(i,j,k) Potência do motor no modo VSP (i) no troço (j) no ponto experimental (k)

Paux(k) Potência dos equipamentos auxiliares do autocarro no ponto experimental k

PT Potência total do autocarro (motor + auxiliares)

Rbat Resistência interna da bateria

rd Raio dinâmico do pneu

re Raio estático do pneu

v Velocidade do autocarro

Page 22: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XX

Vmáx Tensão máxima

Vmin Tensão mínima

Vnom Tensão nominal

η Eficiência

t Tempo

Page 23: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

1

1. Introdução

1.1. Enquadramento

O estilo de vida da nossa civilização faz com que exista uma grande necessidade de meios para o

transporte de pessoas e bens, sendo que estes meios de transporte têm naturalmente requisitos de

energia. A energia gasta pelo sector dos transportes, em valores absolutos, tem vindo a aumentar a

um ritmo de 2% ao ano desde a viragem do milénio, fazendo com que este sector representasse, em

2016, cerca de 28% do consumo total de energia a nível mundial. Deste valor cerca de 60% é devido

ao transporte de passageiros, no qual estão incluídos os autocarros [1]. Já ao nível da União Europeia

a 28 países, EU-28, o sector dos transportes representa uma fatia ainda maior do consumo de energia

total com 33,1% (Figura 1.1).

Esta energia utilizada nos transportes provém maioritariamente de combustíveis fósseis,

especialmente nos veículos que utilizam motores de combustão interna. A queima destes combustíveis

produz tanto gases de efeito de estufa (GEE) que contribuem para o aquecimento global e para as

alterações climáticas, como poluentes que têm efeitos nocivos na saúde das populações dos locais

onde são libertados. Estes poluentes são na sua maioria os óxidos de azoto (NOx), e as partículas de

pequenas dimensões (PMx). Ao nível da EU-28 o setor dos transportes é responsável por 23,0% das

emissões de GEE, pelo que melhorias ao nível das emissões deste setor têm um resultado global

importante (Figura 1.1).

Figura 1.1 – A: Consumo de energia final, por sector, EU-28, em 2015. Percentagens das toneladas equivalentes de petróleo. B: Emissões de gases de efeito de estufa, por sector, EU-28, em 2015. Percentagens

das toneladas de CO2 equivalentes (%tonCO2eq) [2,3].

33,1%

25,4%

25,3%

13,6%

2,2% 0,5%

Transportes Habitação

Indústria Serviços

Agricultura e floresta Outros

23,0%

10,0%

8,0%

3,0%

55,0%

TransporteAgricultura e florestaProcessos indústriais e uso de produtosGestão de resíduosQueima de combústiveis (exceto transportes)

BA

Page 24: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

2

Ao nível das emissões de NOx, e novamente analisando o caso da EU-28, o sector dos transportes

tem um peso superior a qualquer um dos outros analisados, como pode ser visto na Figura 1.2 (A),

representado 38,5% do total. Isto faz com que as melhorias implementadas na redução das emissões

de NOx deste sector sejam da maior importância e tenham um impacte considerável.

A contribuição do sector dos transportes para as emissões de PMx, que mesmo sendo menor que a

contribuição para as emissões de NOx, vale cerca de 11,5% do total das emissões destas partículas ao

nível da EU-28 (Figura 1.2 (B)). Esta é uma percentagem muito relevante e, por setor, apenas vem

atrás das emissões de PMx devidas ao setor da habitação e comércio.

Figura 1.2 - A: Emissões de óxidos de azoto, NOx, por sector, EU-28, em 2015, em milhões de toneladas. B: Emissões de partículas finas, PMx, por sector, EU-28, em 2015, em milhões de toneladas [4].

É ao nível da redução das emissões dos poluentes referidos anteriormente que entram em cena os

veículos elétricos. Com este tipo de veículos todas as emissões ao nível local, onde o veículo é utilizado,

são suprimidas, melhorando automaticamente a qualidade do ambiente, especialmente ao nível das

grandes cidades onde centenas de milhar de veículos são utilizados diariamente. Continua a existir

uma potencial geração de GEE, NOx e PMx resultantes da utilização destes veículos dependendo da

forma como a eletricidade que utilizam é gerada, mas em valores geralmente inferiores aos veículos

de combustão interna devido ao facto de os veículos elétricos poderem utilizar eletricidade proveniente

de fontes renováveis cujas emissões são praticamente nulas.

Ao nível do CO2, e numa perspetiva de avaliação do ciclo de vida, ACV, e considerando as condições

típicas de uso de um veículo automóvel em Portugal em 2009, existem análises que demonstram que

um veículo elétrico pode representar uma redução de 23% nas emissões deste GEE quando

comparado com um veículo a combustão. Além disso é possível o veículo elétrico apresentar uma

2,98

0,921,51

0,57

1,09

0,210,40 0,05 0,01

0,15

0,08

0,060,03

0,74

0,13

0,050,05 0,00

Tansportes rodoviários Energia usada na indústria

Produção e distribuição de energia Transportes não rodoviários

Habitação e comércio Processos industriais e uso de produtos

Agricultura Resíduos

Outros

Transportes rodoviários

A B

Page 25: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

3

redução de 38% no consumo total de energia quando comparado com o veículo a combustão [5]. As

avaliações do tipo ACV têm em conta todo o impacto gerado pelo veículo desde a sua construção até

ao seu abate, passando pela utilização, tendo em conta fatores como o CO2 emitido e a energia utilizada

pelo mesmo.

Veículos elétricos no passado

Os veículos elétricos surgiram no século XIX sendo que no início do século XX foram substituídos

pelos veículos a gasolina, pelas razões que se encontram descritas abaixo. Assim, estes estiveram

ausentes das estradas durante um longo período até começarem a regressar em números significativos

a partir da viragem do milénio.

A primeira carruagem elétrica foi introduzida nos anos 30 do século XIX e recorria a células não

recarregáveis como meio de armazenamento de energia. Desde esta altura e até ao período

compreendido entre 1856 e 1881 pouco mudou. Nesse período foram desenvolvidas e postas no

mercado baterias recarregáveis, do tipo chumbo-ácido, e motores elétricos DC com boas eficiências.

Com a tecnologia referida anteriormente foi lançado no mercado, em 1897, o primeiro veículo elétrico,

um táxi introduzido em Nova Iorque. Com um relativo sucesso inicial, em 1900 cerca de 28% dos

veículos nas estradas eram elétricos [6].

Porém, a partir 1908, os veículos a gasolina começaram a ganhar terreno e viriam a dominar por

completo o mercado já no ano de 1935, ano este em que já não existiam veículos elétricos em

circulação. Isto deveu-se ao aparecimento de veículos a combustão relativamente baratos, como o

famoso Ford Model T, à invenção do motor de arranque elétrico para estes veículos e o baixo preço

dos combustíveis na altura [6]. Estas vantagens, aliadas aos problemas de autonomia e desinteresse

dos fabricantes nos veículos elétricos, fizeram então com que os veículos a gasolina tivessem um

grande sucesso e os veículos elétricos ficassem no esquecimento.

Passaram-se muitos anos até o desenvolvimento de veículos elétricos ser trazido de novo para cima

da mesa. As crises petrolíferas que deram origem a aumentos e instabilidade dos preços dos

combustíveis, as crescentes preocupações ambientais e as leis cada vez mais restritas em termos de

emissões poluentes dos veículos fizeram com que isso acontecesse.

Situação presente

O crescimento significativo das cidades atuais tem levado a um aumento do uso dos vários meios

de transporte a combustão, resultando num aumento da poluição local devido às emissões de poluentes

como os óxidos de azoto, NOx, e partículas de pequenas dimensões, PMx. Além disso existem ainda

os problemas gerados pelo GEE, que em muito contribuem para as alterações climáticas, emitidos pela

queima dos combustíveis fósseis utilizados na grande maioria dos meios de transporte atuais. Uma vez

que, de acordo com metas estabelecidas pela Comissão Europeia, o sector dos transportes necessita

de reduzir as emissões de GEE até 2050 em pelo menos 60%, em relação aos níveis de 1990, um dos

Page 26: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

4

maiores desafios atuais será o desenvolvimento de veículos com emissões nulas ou o mais baixas

possível [6–9].

A eletrificação dos meios de transporte, e em particular dos transportes públicos, com especial

relevância nos autocarros, é uma abordagem bastante promissora para fazer frente a estas projeções

[6]. Na gama dos autocarros eletrificados, além dos puramente elétricos, que podem ser alimentados

por uma bateria ou por uma célula de combustível, existem as chamadas configurações híbridas, nas

quais existem motores elétricos a assistir os motores a combustão convencionais. Estas configurações

híbridas podem resultar em reduções de mais de 30% no consumo de combustível, com uma

consequente diminuição das emissões poluentes [8]. No entanto, as configurações híbridas só por si

não conseguem atingir os objetivos propostos ao nível da redução de GEE e de consumo de energia,

sendo por isso apenas um passo intermédio no caminho para a eletrificação total [10].

As principais vantagens dos autocarros elétricos a bateria em relação aos convencionais a gasóleo

ou a gás natural (CNG, gás natural comprimido, ou LNG, gás natural liquefeito) residem nos baixos

custos de manutenção e no facto de a energia elétrica ter um preço muito mais estável, e reduzido, que

o dos combustíveis fósseis. Isto faz com que os custos operacionais dos autocarros elétricos a bateria

apresentem uma redução de cerca de 80% em relação aos autocarros convencionais ou cerca de 70%

quando comparados com os autocarros híbridos, enquanto o nível de serviço é mantido ou melhorado

[10]. Assim, e mesmo tendo custos de aquisição superiores, os autocarros elétricos a bateria já são

uma alternativa real aos autocarros convencionais e híbridos, especialmente em ambiente urbano [11].

A distribuição geográfica e o número e tipo de autocarros vendidos no mundo em 2012 e o valor

esperado de unidades a serem vendidas em 2020 pode ser lido na Figura 1.3.

Figura 1.3 – Distribuição da quota esperada para o mercado de autocarros em 2020 [10]. Em 2016 existiam cerca de 345 000 autocarros elétricos em circulação, o dobro do ano anterior [12]. Legenda: Gasóleo e outros;

GNG/LNG; Híbrido e elétrico.

33%

84%58%

84%

85%

52%

76%

30%

7%14%

11%

9%

18%

16%

37%

9%

28%

5%

6%

30%

8%

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

Unid

ad

es

89%

72%

5%

13%

6%

15%

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

Unid

ad

es

Page 27: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

5

Relativamente aos dados de 2012 é bastante claro que a China é a atual líder em termos de novas

aquisições para a sua frota de autocarros híbridos e elétricos, tanto em valores absolutos como em

percentagem do total de veículos adquiridos. Pode ver-se ainda que já em 2020 é esperado que 15%

dos novos autocarros vendidos sejam híbridos ou elétricos, valor que se situava em apenas 6% em

2012 [10].

Em Portugal ainda se encontram em circulação comercial muito poucos autocarros elétricos, no

entanto têm surgido recentemente noticias de vários operadores de transportes públicos que estão

neste momento a atualizar a sua frota de autocarros e pretendem adquirir a curto prazo veículos

elétricos, como é o caso da CARRIS, a operar em Lisboa, que pretende ter à sua disposição 15

autocarros elétricos antes do fim do primeiro trimestre de 2019 [13].

1.2. Objetivo

Tendo em conta o que foi apresentado anteriormente relativamente ao peso do sector dos

transportes no consumo de energia e nas emissões de GEE da nossa sociedade, este trabalho tem

como objetivo avaliar o desempenho de um autocarro elétrico, a bateria, desenvolvido pela empresa

Caetano Bus, de forma a quantificar os seus impactes energéticos e ambientais para perceber de que

forma este veículo pode contribuir para a solução dos problemas descritos. Tal será baseado numa

análise da tecnologia do autocarro em condições reais de utilização, através de medições em rotas

reais de passageiros. Assim, além de ser feita uma caracterização do veículo, será também feita a

caracterização das rotas que este percorre, de modo a poder ser feita uma comparação do

desempenho do autocarro elétrico em estudo com um autocarro convencional, veículo no qual também

se procederá à caracterização de rotas percorridas de forma a estudar a adequação do autocarro

elétrico a essas mesmas rotas. Pretende-se também proceder a uma análise teórica, através de um

modelo feito a partir dos dados recolhidos no autocarro em circulação, da adequação do veículo a

diferentes condições de circulação, como o declive, o contexto de circulação, e as condições de tráfego.

Adicionalmente, pretende-se utilizar um modelo numérico do autocarro elétrico, no software AVL

CRUISE, para averiguar se este modelo pode ser utilizado para simular com exatidão o comportamento

do autocarro em situações reais de utilização.

1.3. Estrutura da Tese

Este trabalho encontra-se dividido em 5 capítulos, estando os principais conteúdos de cada

descritos nesta secção.

No primeiro capítulo é feita uma pequena descrição da envolvente ao tema em estudo. Nesta é feito

um enquadramento acerca do sector dos transportes e do seu peso a nível energético e ambiental,

bem como uma breve descrição da história dos veículos elétricos, um resumo dos desafios que o sector

dos transportes enfrenta atualmente e por último é apresentada a situação atual no que toca ao

mercado de autocarros.

Page 28: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

6

No segundo capítulo começa-se por apresentar uma classificação dos autocarros em função do seu

tipo de powertrain. De seguida é apresentada uma secção relativa às tecnologias de motores e baterias

presentes nos autocarros elétricos a bateria, sendo também abordadas as suas principais limitações.

De seguida é feita uma comparação entre os vários tipos de powertrain dos autocarros disponíveis no

mercado, sendo avaliados o consumo de energia, os impactes ambientais, a autonomia e os custos

associados a cada um.

O terceiro capítulo apresenta as diversas metodologias utilizadas para a recolha e tratamento dos

dados obtidos. Primeiro aborda-se o método utilizado para a recolha de dados a bordo do autocarro

elétrico e do autocarro convencional. De seguida é abordada a metodologia VSP, essencial à realização

deste trabalho. Depois são abordadas as metodologias de tratamento dos dados recolhidos de forma

a caracterizar o autocarro elétrico e os vários percursos recolhidos, bem como as formas de comparar

o autocarro elétrico com um autocarro convencional a diesel. Neste capítulo é também apresentada a

forma de proceder para simular o autocarro em estudo no software comercial AVL CRUISE.

No quarto capítulo são apresentados e discutidos os resultados relativos à caracterização do

autocarro elétrico, à validação do seu modelo computacional e à comparação deste com o autocarro

convencional. É ainda feita uma análise operacional do mesmo para todas as rotas de passageiros

estudadas.

Por último, no quinto capítulo, são retiradas as principais conclusões relativas ao trabalho realizado

e são ainda deixadas algumas sugestões de trabalho futuro.

Page 29: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

7

2. Estado da arte

2.1. Classificação dos autocarros disponíveis no mercado pelo tipo de powertrain

Os autocarros existentes atualmente no mercado podem ser divididos, no que diz respeito à

tecnologia do powertrain, em três categorias: convencionais, híbridos e elétricos (Figura 2.1) [10,11].

Figura 2.1 – Classificação, por tipo de powertrain, dos vários tipos de autocarros disponíveis no mercado

[10,11].

Nos convencionais estão incluídos os autocarros que recorrem apenas a um motor de combustão

interna para gerar energia mecânica, sendo esta entregue às rodas sem nenhum armazenamento

intermédio. Estão incluídos nesta categoria os autocarros a gasóleo e a CNG ou LGN.

Os autocarros híbridos são veículos que recorrem a um motor de combustão interna e a um ou mais

motores elétricos para gerar e entregar energia mecânica às rodas, como ilustrado na Figura 2.2. Estes

autocarros têm a vantagem de conseguir recuperar energia cinética proveniente das travagens e

armazená-la como energia elétrica para ser utilizada mais tarde, sendo que os do tipo plug-in podem

ainda ser ligados à rede elétrica para recarregar o meio de armazenamento de energia elétrica a bordo

e assim diminuir ainda mais o consumo de combustível.

Existem duas variantes principais dos autocarros híbridos, os híbridos em paralelo e os híbridos em

série. Nos híbridos em paralelo, Figura 2.2 (A), o motor de combustão interna está continuamente ligado

às rodas motrizes através da transmissão e por isso funciona numa ampla gama de regimes de rotação.

Este é assistido por um motor elétrico que fornece ou regenera energia consoante as necessidades da

dinâmica do veículo (aceleração, travagem, etc.). Já nos híbridos em série, Figura 2.2 (B), o motor a

combustão é usado para acionar um gerador elétrico, podendo assim ser projetado e utilizado num

regime de rotação e carga que proporcione alta eficiência. A energia elétrica gerada é então

armazenada para posteriormente ser usada pelo motor elétrico que irá fazer mover o veículo.

Autocarros disponíveis no mercado

Convencionais

Gasóleo CNG; LGN

Híbridos

(bateria ou ultra-condensador)

Série Paralelo

Elétricos

BateriaCélula de

combustível

Page 30: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

8

Figura 2.2 – A: Esquema do powertrain de um autocarro híbrido em paralelo. B: Esquema do powertrain de

um autocarro híbrido em série [10].

Quanto aos autocarros elétricos, os dois principais tipos a considerar são os autocarros cuja energia

é armazenada numa bateria, que fornece eletricidade de uma forma direta, e irá ser designado “a

bateria”, e os autocarros que recorrem a hidrogénio armazenado num depósito e a uma célula de

combustível, FCEB, para gerar eletricidade.

Nos autocarros a bateria, Figura 2.3 (A), tem-se a menor complexidade entre os dois tipos de

autocarros elétricos. A energia elétrica proveniente da bateria flui para o motor, ou vice-versa,

consoante a dinâmica do veículo assim o solicite, dando origem a um sistema simples e com a

potencialidade de ser altamente eficiente. Este tipo de autocarros é ainda subdividido em duas

categorias tendo em conta a capacidade das baterias e consequente autonomia. Resultam desta

subdivisão os chamados opportunity BEB, Battery Electric Bus, com pequenas baterias e uma

autonomia de 20/30 km que pode ser conseguida em 5 minutos de carregamento e os overnight BEB,

com baterias relativamente grandes, que podem proporcionar autonomias de 250 km, e com

aproximadamente 4 km de autonomia por cada 5 minutos de carregamento [10]. Já nos veículos a

célula de combustível, Figura 2.3 (B), esta tem de converter o hidrogénio a bordo em eletricidade que

será usada diretamente pelo motor elétrico ou armazenada numa bateria para posterior utilização, uma

vez que as células de combustível têm outputs de potência mínimos, estando sempre a gerar alguma

eletricidade mesmo quando o motor não necessita. Este sistema tem normalmente eficiências globais

inferiores aos veículos a bateria.

Figura 2.3 – A: Esquema do powertrain de um autocarro elétrico a bateria. B: Esquema do powertrain de um autocarro elétrico célula de combustível [10].

A B

A B

Page 31: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

9

2.2. Autocarros elétricos a bateria

Tecnologias de motores

Existem vários tipos de arquitetura de motores elétricos que podem equipar veículos elétricos.

Atualmente, entre os principais tipos de motores elétricos presentes no mercado, existem os motores

de corrente direta, DC, de indução, IM, síncronos de íman permanente, SPM, e os síncronos de

escovas, SBM [14].

Os motores DC têm como principais vantagens a robustez, o baixo custo e a simplicidade do seu

controlo. Já em termos de desvantagens destaca-se a baixa razão potência/peso, a baixa eficiência e

a necessidade de manutenção nas suas escovas.

Quanto aos motores de indução, também conhecidos como motores assíncronos ou motores em

gaiola de esquilo, estes apresentam vantagens ao nível da simplicidade da sua construção e de

estarem bem estandardizados. Estes conseguem obter eficiências superiores a 75% para gamas de

velocidade bastante amplas.

Os motores síncronos de íman permanente, por não necessitarem de correntes de excitação, que

representam cerca de 50% das perdas de Joule de um motor sem excitação própria, são inerentemente

muito eficientes e requerem menos capacidade de arrefecimento por estas mesmas perdas de Joule

serem muito inferiores. No entanto são motores que necessitam de estratégias de controlo mais

complexas devido ao seu campo de excitação ser constante, logo esse mesmo campo de excitação

não pode ser modificado como meio de controlo sobre a máquina. Outra desvantagem é o facto de

necessitarem de ímanes muito fortes, fabricados através de elementos caros, como o neodímio, que

por vezes apresentam flutuações de preços bastante bruscas.

Os síncronos de escovas apresentam vantagens ao nível do elevado binário inicial, das correntes

de excitação poderem ser reduzidas em carga parcial e também por terem um controlo mais simples e

mais robusto que os motores SPM, sendo, no entanto, menos eficientes do que estes.

Existe ainda um outro tipo de motor elétrico, o de relutância, RM, que apesar de ainda ser uma

tecnologia muito pouco explorada tem o potencial de vir a ser bastante importante no futuro, pois é

potencialmente simples e barato de produzir e não necessita de materiais magnéticos caros.

Estes motores, ao serem utilizados num veículo elétrico, vão funcionar necessariamente numa

ampla gama de valores de carga e velocidade de rotação e por isso devem ser caracterizados através

de mapas do tipo potência-velocidade ou binário-velocidade-eficiência. Diferentes arquiteturas de motor

apresentam a sua região de eficiência máxima em diferentes faixas de rotação e carga, bem como

diferentes curvas de variação da eficiência em geral. Na Figura 2.4 podem ser vistos mapas de binário-

velocidade-eficiência típicos dos tipos de motor elétrico referidos anteriormente.

Page 32: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

10

Figura 2.4 – Mapas de eficiência típicos para motores de imanes permanentes montados na superfície do rotor (a), imanes permanentes montados no interior do rotor (b), indução ou assíncronos (c), relutância (d),

corrente direta (e) e síncronos (f) [14].

Olhando agora para a Tabela 2.1 pode ver-se uma análise comparativa das eficiências

apresentadas pelos diversos tipos de motor e unidades de controlo e da eficiência global do conjunto,

feita por De Santiago et al. [14]. Atualmente, e segundo a análise do autor, o tipo de motor elétrico que

permite uma melhor eficiência em aplicações de mobilidade elétrica é o motor síncrono de íman

permanente, sendo o motor síncrono de escovas igualmente uma boa opção. Já o motor DC é aquele

que apresenta eficiências mais baixas e por isso apenas fará sentido ser utilizado em aplicações que

requeiram baixas potências e baixo custo, o que claramente não é o caso de um autocarro elétrico.

Tabela 2.1 – Classificação, de 1 a 5, da eficiência dos principais tipos de motores elétricos e os seus respetivos controladores eletrónicos [14].

Tecnologia/ Componente Motor Eletrónica Sistema Global

SPM 5 4 4 SBM 4 4 4 RM 4 3,5 3 IM 3,5 4 3 DC 2 5 2

De notar também que devido à natureza das perdas de Joule, que aumentam com o aumento da

corrente que circula num dado sistema, a eficiência de um motor elétrico de um autocarro tenderá,

teoricamente, a depender do estado de carga, SOC, da sua bateria. Isto porque a tensão da bateria

baixa com a diminuição do seu SOC, de modo que, para manter a potência constante, a corrente a

circular no sistema terá necessariamente de aumentar.

B

inário

Bin

ário

Bin

ário

Bin

ário

Bin

ário

Bin

ário

rpm

rpm

rpm

rpm rpm

rpm

Page 33: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

11

Tecnologias de baterias

O tipo de meio de armazenamento de energia elétrica a ser utilizado em cada situação pode ser

determinado, numa primeira análise, através da sua capacidade de fornecer energia e potência por

unidade de massa. Isto é feito através da análise da densidade energética e da densidade de potência

dos meios de armazenamento disponíveis.

Pode ver-se, através da Figura 2.5, cujos eixos se encontram em escala logarítmica, que existem

dois extremos no que toca aos parâmetros anteriormente descritos. Na zona mais à direita da figura

estão os condensadores e os supercondensadores. Estes exibem baixas densidades energéticas, mas

altas densidades de potência. Isto faz com que sejam mais adequados a uma utilização que requeira

altas potências durante curtos intervalos de tempo, como momentos de grande aceleração ou

desaceleração. Já na zona mais à esquerda da mesma figura estão as células de combustível, as

baterias de iões de lítio, as de níquel-metal-hidreto e as de chumbo-ácido. Estes dispositivos oferecem

uma maior densidade energética, mas uma menor densidade de potência, quando comparados com

os condensadores e supercondensadores. Assim, estes são mais adequados para fornecer potências

relativamente baixas durante longos intervalos de tempo, como numa situação de um veículo que segue

em velocidade cruzeiro.

Figura 2.5 – Comparação inicial do desempenho das várias tecnologias de bateria em função da sua densidade energética e da densidade de potência [7].

Tendo de novo em conta a Figura 2.5 mas também a Tabela 2.2 pode então perceber-se o porquê

de as baterias mais comuns em veículos 100% elétricos serem do tipo iões de lítio. Estas oferecem um

bom compromisso entre vários fatores, como densidade energética, densidade de potência e custo de

produção.

Densid

ade

Energ

ética (

Wh/k

g)

Densidade de Potência (W/kg)

Page 34: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

12

Tabela 2.2 – Comparação das propriedades dos diferentes tipos de baterias disponíveis para veículos elétricos [6].

Tipo de bateria

Tensão nominal

(V)

Densidade energética

(Wh/kg)

Densidade potência (W/kg)

Nº ciclos

Efeito memória

Temperatura de operação

(ºC)

Custo de produção ($/kWh)

Pb-ácido

2,0 35 180 1000 Não -15 a +50 60

Ni-Cd 1,2 50-80 200 2000 Sim -20 a +50 250-300 Ni-MH 1,2 70-95 200-300 3000 Raramente -20 a +60 200-250 ZEBRA 2,6 90-120 155 1200 Não +245 a +350 230-345 Li-ion 3,6 118-350 200-430 2000 Não -20 a +60 150 LiPo 3,7 130-225 260-450 1200 Não -20 a +60 150

LiFePO4 3,2 120 2000-4500 2000 Não -45 a +70 350 Zn-ar 1,65 460 80-140 200 Não -10 a +55 90-120 Li-S 2,5 350-650 - 300 Não -60 a +60 100-150 Li-ar 2,9 1300-2000 - 100 Não -10 a +70 -

Neste momento estão em desenvolvimento tecnologias de bateria que oferecem densidades

energéticas muito superiores às baterias de lítio atuais. Consequentemente estas novas baterias irão

permitir o aumento da autonomia de um dado veículo elétrico mantendo a sua massa de baterias

constante. Como se pode ver no esquema da Figura 2.6, uma das mais promissoras para atingir este

objetivo é a tecnologia de lítio ar, Li-ar.

Figura 2.6 – Evolução temporal dos vários tipos de tecnologia de bateria [10].

Teoricamente esta bateria seria capaz de ter densidades energéticas similares a combustíveis

fósseis como a gasolina. A nível prático este tipo de baterias já possuí densidades energéticas cerca

de cinco vezes superiores às baterias de Li-ion atualmente no mercado [15].

Page 35: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

13

Principais limitações

Atualmente os principais fatores limitantes da adoção em massa de autocarros elétricos a bateria

são o elevado custo inicial de aquisição, a questão da autonomia e dos tempos de carregamento e

ainda o facto de a infraestrutura destinada a suprir as necessidades deste tipo de veículos estar muito

pouco estabelecida [10,11,16,17]. Estes fatores serão analisados nas próximas secções.

2.3. Análise das vantagens e desvantagens dos vários tipos de powertrain

Consumo de energia

O consumo de energia de um autocarro, em MJ/km, engloba toda a energia despendida nos

processos de obtenção, transformação e utilização da mesma. Assim, é importante não só ter um

veículo eficiente do ponto de vista de conversão da energia armazenada a bordo em energia mecânica,

como ter uma fonte de energia que permita que esta chegue ao veículo com o mínimo de perdas de

conversão e transporte.

Nos dados recolhidos por Mahmoud et al. [10], que podem ser vistos na Figura 2.7, pode observar-

se as eficiências associadas à produção de eletricidade e hidrogénio através de várias fontes de

energia. Chega-se facilmente à conclusão de que o caso ideal é a obtenção de eletricidade a partir de

fontes renováveis, pois este processo apresenta uma eficiência de 100%. Quanto à obtenção de

eletricidade e hidrogénio a partir de fontes fósseis estes valores são naturalmente mais baixos, na

ordem dos 40-50%, devido a limitações de natureza termodinâmica e metalúrgica.

Figura 2.7 – Eficiências genéricas na produção de eletricidade e hidrogénio [10].

Estas eficiências associadas à produção de eletricidade e hidrogénio encontram-se incorporadas

nos termos de consumo de energia WTT, Well-to-Tank, que engloba a energia necessária para a

produção e distribuição da eletricidade e do hidrogénio, na Tabela 2.3.

Page 36: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

14

Analisando então a Tabela 2.3, obtida por Mahmoud et al. [10] através da compilação de dados

existentes em vários artigos da literatura, pode ver-se que um BEB é sempre superior a um autocarro

gasóleo, DB (diesel bus), em termos de consumo de energia, mesmo que a sua eletricidade provenha

do atual mix da EU que engloba fontes de energia renováveis e fontes de energia fósseis.

No limite, e com eletricidade totalmente proveniente de fontes de energia renováveis, o BEB tem o

potencial de representar um consumo de energia de apenas 50% em comparação com um autocarro

convencional a gasóleo, e o menor entre os diversos tipos de powertrain disponíveis.

Tabela 2.3 – Consumo de energia por tipo de powertrain [10] (1 litro de Gasóleo=9,97 kWh=35,9 MJ).

Powertrain Fonte de energia WTT

(MJ/km) TTW

(MJ/km) WTW

(MJ/km)

Redução média comparando com DB (%)

Gasóleo Gasóleo 3,82 16,84 20,66 - Gasóleo – série Gasóleo 3,45 10,81 15,26 26,14%

Gasóleo – paralelo Gasóleo 3,31 12,81 16,12 21,97% FCEB H2 – NGSR 7,00 10,48 17,48 15,39% FCEB H2 - WE 4,45 10,48 14,93 27,73% BEB Eletricidade – UE 11,90 6,76 18,66 9,68% BEB Eletricidade - renovável 3,57 6,76 10,33 50,00%

Para além do consumo de energia ser inferior aos tradicionais DB, um estudo realizado em Macau

por Zhou et al. [18], revelou ainda, através de ensaios experimentais com autocarros elétricos, que

estes, comparativamente aos autocarros convencionais a gasóleo, são menos sensíveis às variações

das condições de trânsito. Os autores concluíram também que, no geral, para quaisquer condições de

trânsito, carga de passageiros e uso de climatização do veículo, como o uso de ar condicionado, o

autocarro elétrico apresenta sempre consumos de energia inferiores aos autocarros a gasóleo, isto

numa perspetiva WTW. Segundo os resultados deste estudo, quando os autocarros circulavam com

carga de passageiros completa e climatização ligada, o autocarro elétrico tem um consumo cerca de

25% superior em relação ao cenário base, no qual o autocarro circula vazio e sem climatização,

enquanto o autocarro a gasóleo apresenta um consumo cerca de 48% superior. Este estudo nota ainda

que as eficiências de carregamento para os conjuntos carregador-autocarro testados variavam entre

60% e 84%, o que significa que ainda existe bastante margem para melhoria no que toca à eficiência

energética do carregamento dos autocarros elétricos.

Um outro estudo, realizado com dados provenientes das realidades da Califórnia e da Finlândia,

feito por Lajunen et al. [16], conclui igualmente que os autocarros elétricos a bateria se adaptam melhor

a condições de trânsito desfavoráveis, como congestionamentos e circulação a baixas velocidades,

quando comparados com os autocarros a gasóleo ou a gás natural. Além disso, os autores deste estudo

salientam que os consumos de combustível dos autocarros a gasóleo se têm mantido praticamente

constantes ao longo da última década, apesar dos avanços nas tecnologias dos motores de combustão.

Isto acontece devido às leis que restringem as emissões de poluentes por parte destes veículos, o que

Page 37: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

15

faz com que por vezes o consumo de combustível tenha de ser aumentado como forma de diminuir as

emissões de NOx e PMx, por exemplo, o que anula um eventual decréscimo no consumo de combustível

devido ao aumento da eficiência do processo de combustão. Este estudo conclui ainda que em relação

a um autocarro a gasóleo os autocarros híbridos têm um potencial de redução do consumo de energia

de 30%, os autocarros a célula de combustível 50% e os autocarros elétricos a bateria 75%, enquanto

que os autocarros a gás natural apresentam um aumento no consumo de energia de 25%.

Emissões de GEE e outros impactos ambientais

O desempenho ambiental dos vários tipos de powertrain pode ser analisado através das emissões

de GEE gerados pela sua utilização. Os dados presentes na Tabela 2.4, compilados por Mahmoud et

al. [10], permitem fazer esta análise através do conceito de emissões de GEE Well-to-Wheel, ou seja,

tem em conta a soma dos GEE que são emitidos no processo de produção e distribuição, parcela Well-

to-Tank, e na utilização, parcela Tank-to-Wheel, de uma dada fonte de energia.

Tabela 2.4 – Emissões WTW de gases de efeito de estufa para um autocarro de 12m (gCO2eq/km) [10].

Powertrain Fonte de energia WTT TTW WTW Redução média

comparando com DB (%)

Gasóleo Gasóleo 218 1004 1222 - CNG H2 – mix 157 1014 1171 4,17

DHEB – série Gasóleo 172 796 968 20,79 DHEB – paralelo Gasóleo 188 870 1058 13,42

FCEB H2 – NGSR 320 0 320 73,81 FCEB H2 - WE 305 0 305 74,96 BEB Eletricidade – UE 720 0 720 41,08 BEB Eletricidade - renovável 20 0 20 98,36

Olhando para estes dados é claramente percetível a vantagem dos BEB sobre todos os outros, isto

caso a eletricidade que os mesmos utilizem seja obtida através de fontes de energia renováveis. Neste

caso a redução nas emissões de GEE é de cerca de 98% em relação aos autocarros a gasóleo. Esta

seria a situação ideal que maximizaria o potencial ambiental a ser retirado dos autocarros elétricos. No

entanto, a utilização de um BEB alimentado a eletricidade proveniente da rede europeia (que incluí

eletricidade proveniente de fontes de energia de origem fóssil e renovável) continua a ser uma melhoria

significativa em relação a um autocarro a gasóleo ou híbrido a gasóleo, apresentando apenas emissões

maiores que as dos autocarros alimentados através de célula de combustível.

Na Tabela 2.5 e na Tabela 2.6, igualmente compiladas por Mahmoud et al. [10], são apresentados

dados relativos ao peso de cada uma das parcelas, WTT e TTW, para os vários tipos de powertrain e

para várias regiões do globo. Uma das principais conclusões a retirar da Tabela 2.6 é que os BEB e os

FCEB têm emissões locais de GEE nulas, o que contribui para a melhoria da qualidade do ar nas

regiões em que são utilizados. Além disso pode ver-se na Tabela 2.5 que a forma como a eletricidade

Page 38: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

16

de um dado país é gerada, ou seja, quais as suas fontes primárias, tem uma grande influência no

impacte ambiental desta ao nível da produção. Pode por exemplo comparar-se o caso de Portugal, com

110,22 gCO2eq/MJ, com o caso da China, com 289,6 gCO2eq/MJ, sendo que a diferença neste valor

provém do facto de cerca de 50% da eletricidade gerada em Portugal ser proveniente de fontes

renováveis enquanto que na China este valor é cerca de 25%, sendo a parte não renovável

maioritariamente assegurada por carvão [1].

Tabela 2.5 – Emissões WTT de gases de efeito estufa para autocarros a gasóleo, hidrogénio e eletricidade (gCO2eq/MJ) [10].

Região Gasóleo Hidrogénio

Eletricidade NGSR WE

Estados Unidos 19 265 256 223 União Europeia 13,8 306 - 150

Canadá 21,7 - - 60 China 12,4 - - 289,6

Espanha 14,62 150,72 136,83 104,47 Itália 14,2 98,2 110,9 116,1

Portugal 14,2 69,45 112,1 110,22

Tabela 2.6 – Emissões TTW de gases de efeito estufa para um autocarro de 12 m (gCO2eq/km) [10].

Região/ Powertrain Gasóleo Gasóleo Híbrido CNG FCEB BEB

Itália 1311 1084 1079 0 0 China 1171 - 893 0 0

Espanha 1326 796 - 0 0 Países desenvolvidos 1290 794 946 0 0

Europa 1005 796 1014 0 0

No estudo já referido anteriormente de Zhou et al. [18], foi concluído que, para o caso de Macau em

particular, o autocarro elétrico a bateria apenas conseguiu reduzir as emissões de CO2 em 19-24%

numa perspetiva WTW, em comparação com os 41% de redução para o caso europeu descrito na

Tabela 2.4. Isto evidencia a sensibilidade dos BEB ao mix energético a partir da qual é obtida a

eletricidade que consomem, no que toca às emissões de CO2. Esta percentagem relativamente baixa

de redução das emissões de CO2 verificada em Macau deve-se ao facto de grande parte da eletricidade

consumida nesta região, na altura da realização do estudo em causa, ser gerada a partir de centrais

térmicas a carvão.

Segundo um estudo de ACV de Cooney et al. [19], que compara o ciclo de vida de autocarros a

gasóleo com autocarros elétricos a bateria, no que diz respeito à fase de construção do veículo os

autocarros elétricos são mais prejudiciais ao meio ambiente do que os autocarros a gasóleo. Segundo

os autores isto deve-se ao facto de a produção de baterias para o autocarro elétrico gerar quantidades

significativas de emissões de GEE, de resíduos tóxicos e até cancerígenos, e ainda substâncias que

apresentam um efeito nocivo para a camada do ozono. Já ao nível da fase de uso do veículo, é

concluído pelos autores que o autocarro elétrico apresenta benefícios em relação ao seu concorrente

Page 39: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

17

a gasóleo pois não emite poluição local, não contribuindo assim para os problemas respiratórios e

cardiovasculares a que este tipo de poluição está associada.

Num outro estudo, feito por Notter et al. [20], foi comparado um veículo automóvel elétrico a bateria

com um veículo automóvel a combustão, numa base de ACV, e os autores concluíram que a energia e

os impactos ambientais causados pelo veículo elétrico a bateria eram inferiores aos causados pelo

veículo a combustão. Além disso, os impactos ambientais resultantes da bateria de lítio do veículo eram

pequenos comparados com o impacto global resultante da produção e utilização do veículo,

representando cerca de 7-15% do impacto ambiental total.

Autonomia

A autonomia tem sido uma grande barreira à adoção em massa de veículos elétricos a bateria, uma

vez que, como se pode ver através da Figura 2.8, atualmente os tempos de carga que permitem

autonomias semelhantes aos autocarros convencionais ainda são bastante elevados.

Figura 2.8 – Autonomia dos autocarros elétricos por tipo de powertrain [10].

No entanto, espera-se que num futuro próximo, com a evolução das tecnologias de armazenamento

e de carregamento rápido, o problema da autonomia e dos tempos de carga seja cada vez menos

importante e que estes parâmetros convirjam para os valores a que estamos habituados nos autocarros

convencionais [16]. Um exemplo disto, e devido a estarem continuamente a ser investidos recursos

nestas questões, são algumas soluções que já existem no mercado que fazem equiparar os autocarros

elétricos a bateria a veículos a combustão convencionais. Tal como é possível ver na Tabela 2.7 já

existem empresas que oferecem autocarros a bateria com autonomias na ordem dos 500 km, através

do recurso a baterias de grande capacidade, cerca de 650 kWh, e também tempos de carregamento

relativamente reduzidos, com potências de carregamento na ordem dos 150 kW [21].

> 300 > 300 > 300 > 300

250

40

420

0

50

100

150

200

250

300

ICE -Gasóleo

HEB -Série

HEB -Paralelo

FCEB BEB -Overnight

BEB -Opportunity

Auto

nom

ia (

km

)

Autonomia total

Autonomia por cada 5 minutos de carregamento/abastecimento

Page 40: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

18

Tabela 2.7 – Características de autonomia da frota atualmente no mercado da empresa Proterra [21].

Tipo de percurso Percurso circular de

24 h Baixa quilometragem

diária Percursos longos

Tempo de carga 19 – 24 km/5min <2,5 h <4,5 h Autonomia 88 – 115 km 219 – 310 km 404 – 563 km

Capacidade da bateria

94 ou 126 kWh 220 ou 330 kWh 440, 550 ou 660 kWh

Comparação de custos

Analisando os dados presentes na Tabela 2.8, provenientes de uma análise feita pela FCH-JU (Fuel

Cells and Hydrogen Joint Undertaking) [22], podem-se retirar conclusões acerca dos vários

componentes que constituem o custo total de posse (TCO) de autocarros standard de 12 metros com

diferentes tipos de powertrain. Estes resultados, que têm por base o estudo da realidade europeia,

consideram que os autocarros percorrem cerca de 100 000 km por ano e têm uma vida útil de 12 anos.

Tabela 2.8 - Comparação dos custos associados à posse e utilização de autocarros standard de 12 metros com várias configurações de powertrain. Dados de 2012 [22].

Powertrain Preço

unitário (€)

Custo de Manutenção

(€/km)

Custo de funcionamento (energia) (€/km)

Custos de infraestrutura

(€/km)

TCO (€/km)

ICE – Gasóleo 224 000 0,30 0,64 0,03 2,10 HEB – Série 328 000 0,19 0,54 0,03 2,40

HEB - Paralelo 356 000 0,21 0,61 0,03 2,30 FCEB 1 600 000 0,96 0,42 0,13 4,60

BEB - Overnight 472 000 0,16 0,12 0,12 5,50 BEB - Opportunity 424 000 0,16 0,12 0,21 3,20

O preço inicial de aquisição tem a mesma ordem de grandeza para todos os autocarros, exceto para

os autocarros a célula de combustível, que custam cerca de 7 vezes mais que um autocarro

convencional a gasóleo. Os autocarros elétricos têm um preço que ronda o dobro dos autocarros

convencionais a gasóleo, com os autocarros híbridos, em série ou paralelo, a apresentarem um preço

intermédio.

Quanto ao custo de manutenção, os autocarros elétricos a bateria são os mais económicos, pois

têm uma complexidade mecânica baixa com poucas peças móveis ou de desgaste, e os autocarros a

célula de combustível são novamente os mais caros.

Analisando os custos de energia, os autocarros elétricos movidos a bateria têm novamente um custo

por quilómetro percorrido mais baixo que a concorrência, sendo cerca de 5 vezes inferior a um

autocarro a gasóleo. A eletricidade é uma forma de energia com um preço muito mais estável e

previsível que o gasóleo, o que permite uma estimativa bastante boa dos custos de funcionamento de

veículos que a utilizem.

Page 41: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

19

Os custos de infraestrutura são mais penalizadores para os autocarros a célula de combustível e

elétricos, pois os primeiros necessitam de uma rede de abastecimento de hidrogénio que praticamente

não existe e os segundos necessitam de uma rede de carregadores. A complexidade desta rede varia

consoante o tipo de autocarros que suportam, opportunity ou overnight, sendo mais complexa e

consequentemente mais cara para os primeiros. Isto porque enquanto que os autocarros do tipo

overnight apenas necessitam de carregadores nos locais onde passam as horas onde não estão a ser

utilizados, os autocarros do tipo opportunity necessitam de estações de recarregamento ao longo dos

percursos que efetuam.

Analisando o custo total de posse, TCO, obtido somando todas as componentes descritas

anteriormente, pode ver-se que os autocarros elétricos ainda não são uma alternativa economicamente

viável em relação aos autocarros convencionais ou híbridos. No entanto, olhando para os dados da

Figura 2.9, provenientes de uma análise feita pela FCH-JU [22], pode-se concluir que é esperado que

no final da próxima década os autocarros elétricos a bateria, especialmente os do tipo opportunity,

consigam competir diretamente com autocarros convencionais e híbridos em termos de TCO.

Figura 2.9 – Custo total de posse, TCO, para vários tipos de powertrain, em 2012 e previsão para 2030 [22].

Pegando no caso real de Macau, já referido anteriormente, analisado por Zhou et al. [18], pode ver-

se que os autores concluem que neste caso em particular o autocarro elétrico já era economicamente

mais favorecedor do que o autocarro a gasóleo, apresentando um custo total global cerca de 11-26%

inferior ao último.

Numa análise feita por Lajunen et al. [16], os autores concluem que na atualidade, e para as

realidades da Finlândia e da Califórnia, a opção mais eficiente em termos de TCO é a configuração

gasóleo-híbrido, e que além disso, e quando possível a escolha, o autocarro elétrico a bateria do tipo

opportunity é mais eficiente em termos de custos do que o do tipo overnight.

Num outro estudo, feito por Pihlatie et al. [17], também tendo em conta a realidade da Finlândia, os

autores afirmam que os autocarros citadinos 100% elétricos podem ser vistos como os primeiros

2,12,4 2,3

4,6

5,5

3,2

2,5 2,6 2,65

3,1

3,6

2,85

0

1

2

3

4

5

6

ICE -Gasóleo

HEB -Série

HEB -Paralelo

FCEB BEB -Overnight

BEB -Opportunity

TC

O (

€/k

m)

2012

2030

Page 42: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

20

veículos elétricos, dentro dos veículos rodoviários, que fazem sentido tanto do ponto de vista económico

como do ponto de vista ambiental. Isto é suportado pelo argumento de que os custos de operação

reduzidos dos autocarros elétricos, aliados à sua alta eficiência energética, fazem com que o TCO seja

inferior ao dos autocarros a gasóleo, principalmente para o caso de autocarros elétricos com baterias

de pequena autonomia, mas com elevada potência.

Page 43: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

21

3. Metodologia

3.1. Recolha 1 - Monitorização de autocarro elétrico em condições reais de utilização

O caso de estudo no qual este trabalho se foca tem por base a monitorização de um autocarro

elétrico em condições reais de utilização com o objetivo de avaliar o seu desempenho. Este autocarro

tem como objetivo fazer a demonstração da tecnologia elétrica da empresa Caetano Bus, a maior

fabricante de carroçarias e autocarros em Portugal, e está neste momento a apostar fortemente na

mobilidade urbana elétrica. O autocarro elétrico em causa foi ensaiado enquanto se encontrava ao

serviço da operadora de transportes públicos STCP [23].

Veículo estudado

O ensaio foi feito com o objetivo de analisar o desempenho do autocarro elétrico e.City Gold (Figura

3.1), da Caetano Bus, em condições reais de utilização. Trata-se de um autocarro que pretende

melhorar a sustentabilidade da mobilidade em ambiente urbano ao mesmo tempo que reduz custos de

manutenção e energia para a entidade operadora e proporciona elevado conforto aos seus passageiros

[23].

Figura 3.1 - Autocarro elétrico a bateria e.City Gold da Caetano Bus.

A versão do veículo que foi ensaiado, cujas características gerais estão apresentadas na Tabela

3.1, foi a de 12 m com 3 portas, equipado com baterias de 85 kWh de capacidade.

Page 44: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

22

Tabela 3.1 – Características gerais da versão do autocarro elétrico a bateria e.City Gold ensaiada. Versão de 12 m, 3 portas e bateria de 85 kWh [23].

Carroçaria Caetano Lugares sentados 35 Comprimento 11 995 mm Velocidade máxima 70 km/h

Largura 2 500 mm Baterias 85 kWh Altura 3 058 mm Autonomia ~70 km

Distância entre eixos 5 845 mm Motor SPM: 160 kW, 1500

Nm

Portas 3 Carregamento AC trifásico a bordo ou

DC 150 kW externo

Procedimento para recolha de dados e equipamentos utilizados

Os dados foram recolhidos no período de operação da manhã, sendo que no início da recolha a

bateria do autocarro se encontrava completamente carregada. Após a realização dos testes procedeu-

se ao recarregamento total da bateria por forma a estimar a energia total consumida durante os

mesmos. Este valor foi obtido diretamente através do painel do carregador de baterias utilizado, tal

como pode ser visto na Figura 3.2.

Figura 3.2 - Dados fornecidos diretamente pelo painel do carregador de bateria.

A recolha dos dados relativos à topografia do terreno percorrido pelo autocarro foi feita com o

aparelho GPSMap 76 CSx, da Garmin (Figura 3.3). Este aparelho tem uma antena GPS, que permite

a recolha dos dados relativos à localização do mesmo em termos de latitude e longitude, e um sensor

barométrico, que recolhe o valor da altitude. Esta unidade permite a instalação de uma antena exterior

ao autocarro com vista à melhoria da qualidade de receção do sinal GPS e, consequente, melhoria na

precisão da localização. Esta antena foi instalada no exterior da janela do motorista e permitiu manter

uma muito boa receção de sinal GPS ao longo de todo o ensaio, exceto quando o autocarro passava

em túneis, o que representa uma porção desprezável dos percursos em causa.

Este aparelho foi configurado para proceder ao registo dos dados referidos anteriormente com uma

frequência de 1 Hz, frequência máxima de amostragem para este modelo, de modo a se conseguir

obter um perfil da dinâmica do veículo o mais detalhado possível.

Page 45: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

23

Figura 3.3 – GPSMap 76 CSx, da Garmin.

Foram também recolhidos dados relativos aos parâmetros operacionais do autocarro, com uma

frequência de 50 Hz, dados estes provenientes do computador de bordo do mesmo e cedidos pelos

técnicos da Caetano Bus. Estes dados incluem os seguintes parâmetros: corrente, tensão e estado de

carga da bateria, potência do motor de tração e velocidade medida pelo velocímetro do autocarro.

Rotas utilizadas para a recolha de dados

Os dados utilizados para a caracterização do autocarro em causa foram recolhidos numa situação

de utilização real do mesmo enquanto este se encontrava ao serviço da STCP [24] a fazer uma das

suas linhas, a 904 (Bolhão-Coimbrões, Figura 3.4). Relativamente a esta rota foram recolhidos dados

relativos à topografia do terreno por onde o autocarro circulou e dados relativos aos seus parâmetros

operacionais, tal como descrito na secção 3.1.2.

Figura 3.4 – Rota 904 da STCP. A: Sentido Bolhão-Coimbrões. B: Coimbrões-Bolhão [24].

Os dados recolhidos, por ordem de aquisição, são referentes ao percurso entre as oficinas da

Caetano Bus e as oficinas da STCP (chamado de troço P1), ao percurso das oficinas da STCP ao início

da rota em Coimbrões (troço P2), a três voltas completas da linha 904 (troços P3, P4 e P5), e ainda ao

percurso de Coimbrões de volta às oficinas da Caetano Bus (troço P6).

A B

Page 46: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

24

3.2. Recolha 2 - Dados representativos da dinâmica de autocarros convencionais em

rotas urbanas em condições reais de utilização

Procedimento para recolha de dados

A recolha de dados relativos à dinâmica de um autocarro convencional a operar em rotas urbanas,

em condições reais de utilização, foi feita recorrendo ao mesmo equipamento GPS utilizado para

monitorizar o autocarro elétrico. Assim, e ao longo de um dia, foram recolhidos dados relativos à

topografia do terreno e à velocidade do veículo para duas rotas distintas, operadas pela Carris, em

Lisboa.

Nesta recolha de dados não foi utilizada a antena exterior do equipamento GPS, porém a receção

de sinal apresentou níveis de qualidade similares aos verificados aquando da sua utilização no

autocarro elétrico. A frequência de aquisição de dados foi definida para 1 Hz, tal como no caso do

autocarro elétrico.

Nesta situação não foi possível recolher dados operacionais diretamente do autocarro convencional,

sendo por isso utilizada nos cálculos, com algumas correções que serão mencionadas posteriormente,

a velocidade fornecida pelo aparelho GPS.

Veículo estudado

O ensaio foi feito com o objetivo de analisar a dinâmica de um autocarro convencional a operar em

ambiente urbano, para verificar posteriormente se o autocarro elétrico estudado o consegue substituir.

Tendo isso em conta o autocarro utilizado para o efeito foi o City Gold 2KD, da MAN, ao serviço da

Carris.

Figura 3.5 - Autocarro convencional a gasóleo City Gold 2KD da MAN.

Page 47: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

25

As características gerais do autocarro convencional utilizado encontram-se resumidas na Tabela

3.2, apresentada de seguida.

Tabela 3.2 – Características gerais do autocarro convencional a gasóleo City Gold 2KD.

Fabricante MAN Lugares sentados 35 Comprimento 12 062 mm Lugares em pé 52

Largura 2 500 mm Motor 288 kW (310 cv) Portas 2 Combustível Gasóleo

Rotas utilizadas para a recolha de dados

Os dados utilizados para a caracterização do comportamento do autocarro a gasóleo a operar em

rotas urbanos foram recolhidos numa situação de utilização real do mesmo enquanto este se

encontrava ao serviço da Carris, a fazer duas das suas linhas, a 758 (Cais do Sodré-Portas de Benfica,

Figura 3.6, chamada de troço L1 e L2) e a 718 (Al. Afonso Henriques-ISEL, Figura 3.7, chamada de

troço L3 e L4).

Figura 3.6 – Rota 758 da Carris. A: Sentido Cais do Sodré-Portas de Benfica. B: Portas de Benfica-Cais do Sodré (mapas gerados através dos dados recolhidos).

Figura 3.7 – Rota 718 da Carris. A: Sentido Al. Afonso Henriques-ISEL. B: ISEL-Al. Afonso Henriques

(mapas gerados através dos dados recolhidos).

A B

A B

Page 48: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

26

As rotas referidas anteriormente foram escolhidas para a recolha de dados por englobarem vários

tipos de topografia de terreno, partes com secções planas e outras com declives médios ou bastante

acentuados, e velocidades de circulação variadas. Deste modo, é possível utilizá-las para testar através

de metodologias adequadas (secção 3.4) o autocarro elétrico em estudo num leque relativamente

abrangente de situações de circulação urbana reais, com o intuito de concluir acerca do potencial de

utilização deste como substituto direto de um autocarro urbano a gasóleo.

3.3. Autocarro convencional utilizado para comparação de consumos e emissões de

GEE e percurso adicional de características extra-urbanas

Com o objetivo de comparar o desempenho do autocarro elétrico em estudo com um autocarro

convencional a gasóleo foram recolhidos da literatura dados relativos à caracterização de um autocarro

deste tipo. Os dados foram obtidos por Santos, R. [25] e descrevem o consumo de energia, em termos

do consumo de combustível em função do modo VSP, de um autocarro da marca SETRA equipado

com um motor a gasóleo, cujas características gerais se encontram na Tabela 3.3.

Tabela 3.3 - Características gerais do autocarro convencional utilizado para a comparação de consumos de energia e emissões de GEE com o autocarro elétrico em estudo [25].

Marca Potência Cilindrada Tara Transmissão

Setra 300 hp 12 L 13 400 kg Manual, 6 velocidades

Foram também utilizados do mesmo documento dados relativos a uma rota de características extra-

urbanas relativa a um percurso Mafra-Lisboa, com cerca de 50 km. Estes dados caracterizam a rota

em termos da percentagem de tempo que o autocarro passa em cada modo VSP e permitem assim

fazer uma comparação do autocarro elétrico com o autocarro convencional. Esta rota será referida

como Mafra, troço M1.

Page 49: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

27

3.4. Metodologia VSP

A metodologia utilizada para a caracterização do autocarro elétrico estudado foi a VSP, Vehicle

Specific Power, metodologia bastante utilizada para estimar os consumos de energia de veículos

ligeiros a gasolina bem como de autocarros a gasóleo que fazem serviços de curta distância, como

autocarros urbanos [26]. Existe uma outra metodologia alternativa para este efeito, a metodologia STP,

Scaled Tractive Power. No entanto, esta é mais adequada para veículos pesados em condições de

circulação extra-urbana. Assim, para o estudo presente neste trabalho, a abordagem mais correta a

utilizar é a VSP, tal como utilizado em vários trabalhos semelhantes [6,26–28].

A metodologia VSP resulta da aplicação da segunda lei de Newton à dinâmica do veículo em estudo

e é definido como a potência de tração do mesmo por unidade de massa (W/Kg). Assim sendo, o VSP

é uma função da velocidade do veículo, da aceleração e do gradiente da estrada tendo em

consideração a resistência aerodinâmica e a resistência ao rolamento provocada pelos pneus [29].

Para autocarros urbanos o VSP é estimado através da equação (1) [26]. O significado de cada um

dos termos está explicado a seguir à mesma na Tabela 3.4. As constantes apresentadas para o termo

de resistência de rolamento e de resistência aerodinâmica representam valores típicos para este tipo

de autocarros [26], valores estes obtidos empiricamente.

𝑉𝑆𝑃 (𝑊/𝑘𝑔) = 𝑣 × (𝑎 + 𝑔 × sin(ⱷ) + 0,092) + 0,00021 × 𝑣3 (1)

Tabela 3.4 - Descrição dos termos presentes na equação que calcula o VSP.

𝒗 Velocidade do autocarro (m/s) 𝒂 Aceleração do autocarro (m/s2)

𝒈 Aceleração da gravidade (m/s2)

ⱷ Inclinação da via (rad) 𝟎, 𝟎𝟗𝟐 Termo da resistência de rolamento (m/s2)

𝟎, 𝟎𝟎𝟎𝟐𝟏 Termo da resistência aerodinâmica (m-1)

Através dos valores de VSP obtidos são definidos os modos VSP a utilizar. Estes podem ser

divididos em três grupos distintos, os que contêm valores negativos, nulos e positivos, tal como pode

ser visto na Tabela 3.5, que apresenta a distribuição modal de VSP definida para a análise dos dados

recolhidos neste trabalho.

O objetivo de fazer esta distribuição é a de atribuir a cada modo VSP um dado valor médio de

potência consumida pelo autocarro, determinada através dos dados recolhidos. Sabendo o valor de

potência consumida que corresponde a cada modo VSP, a percentagem de tempo que o veículo passa

em cada um dos modos num dado percurso e o tempo que esse percurso demorou a ser percorrido,

pode então calcular-se para esse mesmo percurso a energia total requerida pelo veículo às baterias

(equação (2)).

Page 50: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

28

𝐸 = ∑ %𝑡(𝑖) × 𝑃(𝑖) × 𝑡

𝑖=7

𝑖=−7

(2)

Os modos -7 a -1 correspondem a situações em que a dinâmica do veículo exige que seja retirada

energia cinética ao mesmo, quer seja através da atuação dos travões, ou no caso do autocarro elétrico

em estudo, através da utilização do modo de regeneração de energia do motor elétrico de tração. Estas

situações ocorrem por exemplo em eventos de desaceleração ou quando o veículo percorre uma

estrada com inclinação negativa. O modo 0 (zero) corresponde a uma situação em que não é

necessário retirar nem fornecer energia cinética ao veículo, como por exemplo numa situação em que

o declive da estrada permita que o termo da energia potencial gravítica compense a energia dissipada

pelos termos de atrito, ou num caso mais comum, quando o veículo está parado. Por último, os modos

compreendidos entre 1 e 7 correspondem às situações que exigem que o motor elétrico forneça energia

cinética ao veículo, como em eventos de aceleração ou quando este está a percorrer uma estrada com

inclinação positiva.

Tabela 3.5 - Definição dos modos VSP utilizados.

Modos que implicam dissipação/ regeneração de energia por parte dos

travões/motor

Modos que implicam fornecimento de energia por parte do motor

Modo VSP Intervalo VSP (W/Kg) Modo VSP Intervalo VSP (W/Kg)

-7 < -13 1 0 2

-6 -13 -10 2 2 4

-5 -10 -8 3 4 6

-4 -8 -6 4 6 8

-3 -6 -4 5 8 10

-2 -4 -2 6 10 13

-1 -2 0 7 > 13

Modo que não requer ação por parte dos travões/motor

Modo VSP Intervalo VSP (W/Kg)

0 0 0

Para definir o número de modos VSP e a dimensão do intervalo destes, foi tido em conta que a

distribuição de modos escolhida teria de dar origem a valores de potências requeridas pelo veículo que

fossem estatisticamente diferentes entre si e, além disso, que nenhum dos modos VSP definidos fosse

dominante em relação aos outros. Desde modo conseguem-se obter resultados confiáveis no cálculo

da energia total consumida pelo autocarro num dado percurso [26]. Isto traduz-se em dizer que os

modos VSP sejam definidos de tal forma que o autocarro não passe a maioria do tempo de viagem

num dado modo VSP dominante, sendo que tal é conseguido através de uma primeira análise dos

dados recolhidos.

Page 51: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

29

3.5. Metodologia de análise de dados provenientes da Recolha 1

Sincronização dos dados recolhidos e remoção dos períodos de ralenti

Após uma primeira análise do ficheiro de dados criado pelo computador de bordo do autocarro,

chegou-se à conclusão que a sua frequência de amostragem era de 50 Hz, mas as 50 leituras feitas a

cada segundo não eram espaçadas entre si pelo mesmo intervalo de tempo. Um resumo do valor das

várias frequências de amostragem dos dados recolhidos ao longo do ensaio é apresentado na Tabela

3.6.

Tabela 3.6 - Dados recolhidos para a caracterização do veículo.

Variável Frequência de aquisição (Hz) Método de aquisição

Potência do motor 50 Computador de bordo do veículo Potência à saída da bateria 50 Computador de bordo do veículo Velocidade (velocímetro) 50 Computador de bordo do veículo

Topografia do terreno 1 GPSMap 76 CSx Velocidade (GPS) 1 GPSMap 76 CSx

Dada a necessidade de sincronizar no tempo e no espaço os dados fornecidos pela unidade de

GPS e pelo computador de bordo do autocarro, procedeu-se à criação de um script de MATLAB que

tratasse os dados provenientes do autocarro de modo a colocá-los numa base de 1 Hz. Isto foi feito

através da média ponderada, para cada segundo, de cada umas das 50 medições e do seu respetivo

intervalo de tempo.

Tendo os dados provenientes de ambas as fontes numa mesma base de 1 Hz procedeu-se então à

sincronização dos mesmos no tempo. Tal foi feito através dos valores de velocidade fornecidos pela

unidade de GPS e pelo velocímetro do autocarro.

É importante notar que a velocidade fornecida pelo GPS apenas serve para sincronizar no tempo a

topografia do terreno fornecida por este com os restantes dados fornecidos pelo autocarro, sendo que

todos os cálculos que necessitaram da variável velocidade foram efetuados com a velocidade

proveniente do velocímetro do veículo. Assim sendo, os picos de velocidade medidos pelo GPS,

facilmente vistos na curva a laranja na Figura 3.8, não introduziram quaisquer erros nos cálculos

efetuados.

Figura 3.8 – Exemplo da sincronização da velocidade fornecida pelo GPS, a laranja, com a velocidade

fornecida pelo autocarro, a azul.

0

50

100

150

0 200 400 600 800 1000 1200 1400Velo

cid

ade (

km

/h)

Tempo (s)

Page 52: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

30

Após a sincronização dos dados no tempo, descrita anteriormente, procedeu-se à remoção dos

períodos de ralenti, períodos em que o autocarro se encontra em funcionamento mas permanece

imóvel, por vezes existentes no início e no fim de cada viagem. Isto foi feito porque estes períodos não

acrescentam informação relevante para a análise a efetuar. Feito isto, chegou-se assim, para cada

troço de percurso efetuado, aos dados relevantes a tratar com vista à caracterização do autocarro em

estudo.

Obtenção do declive e correção das oscilações introduzidas no mesmo pelo GPS

A obtenção do declive da estrada é feita através dos dados de velocidade, provenientes do

autocarro, e dos dados de altitude, provenientes do equipamento de GPS.

O equipamento GPS utilizado tem uma boa precisão, de cerca de 3 m [30], no que toca ao registo

da altitude a que se encontra. No entanto, e devido à frequência de amostragem ser de 1 Hz, quando

o veículo se desloca a velocidades muito baixas vai existir um registo de muitos pontos experimentais

para uma pequena distância percorrida. Isto faz com que sejam registados vários valores de altitude,

por vezes com variações significativas, para coordenadas espaciais que se encontram bastante

próximas. Isto introduz oscilações nos dados que se vão traduzir em variações bruscas do declive da

estrada (Figura 3.9).

O cálculo do declive e a respetiva remoção de oscilações bruscas foi feito através de um script de

MATLAB já existente. Este script calcula o declive num dado ponto do percurso através dos valores da

altitude e da velocidade do veículo na sua vizinhança, tanto os que o precedem como os que lhe

sucedem, criando assim um perfil de altitudes e declives suavizado que mais se adequa à realidade

(Figura 3.9).

Figura 3.9 - Comparação entre a altitude fornecida pelo GPS e a altitude suavizada a pelo script de MATLAB

(excerto do troço P4).

85

90

95

100

105

110

115

120

750 800 850 900 950 1000

Altitude (

m)

Tempo (s)

Altitude GPS Altitude a partir do declive corrigido

Page 53: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

31

Distribuição modal de VSP e potência do motor por modo VSP

Após o tratamento de dados feito nos subcapítulos anteriores, procedeu-se então ao cálculo da

distribuição modal de VSP para cada um dos troços. Tal consiste em determinar a percentagem de

tempo correspondente a cada modo VSP. Assim, para cada modo VSP, e tendo em conta que os dados

têm a frequência de 1 Hz, basta fazer o somatório do número de ponto que este contém e dividir pelo

número total de pontos do troço em análise, como descrito na equação (3).

%𝑡(𝑖, 𝑗) =

𝑛𝑝(𝑖, 𝑗)

𝑛𝑝(𝑗)

(3)

A caracterização do autocarro com base nos dados recolhidos ao longo do ensaio descrito

anteriormente tem como objetivo determinar uma distribuição de potência do motor de tração em função

do modo VSP. Esta distribuição de potência, aliada a informação semelhante à apresentada na Figura

3.10, permite então estimar a energia necessária para percorrer um dado percurso e também concluir

se o autocarro se adequa ou não ao mesmo.

Figura 3.10 – Exemplo da distribuição temporal dos modos VSP (troço P4).

Isto é feito recorrendo diretamente aos dados de potência do motor e da dinâmica do autocarro

provenientes do data logger do mesmo e dos dados do GPS, para cada um dos troços individuais

(equação (4)).

𝑃(𝑖, 𝑗) =

∑ 𝑃(𝑖, 𝑗, 𝑘)𝑘=𝑛𝑝(𝑖,𝑗)𝑘=1

𝑛𝑝(𝑖, 𝑗)

(4)

De seguida procede-se à aglomeração dos dados de todos os troços, através de uma média

ponderada, de forma a obter a distribuição de potência que será apresenta na secção 4.1 (equação

(5)).

𝑃(𝑖) =

∑ 𝑃(𝑖, 𝑗) ×𝑗=𝑛𝑡𝑗=1 𝑛𝑝(𝑖, 𝑗)

𝑛𝑝(𝑖)

(5)

0

5

10

15

20

25

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7

Tem

po (

%)

Modo VSP

Page 54: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

32

Sensibilidade à variação de parâmetros operacionais

Os dados recolhidos foram também tratados de forma a poderem ser retiradas conclusões acerca

do desempenho do autocarro em função da variação de parâmetros operacionais como o SOC, o

declive da estrada e o tipo de percurso (urbano ou extra-urbano). Estas conclusões serão obtidas a

partir do impacte que a variação destes parâmetros tem na curva de consumo específico do autocarro

(potência fornecida ao motor versus modo VSP).

3.5.4.1. Variação do SOC

Para avaliar o impacte da variação do SOC no desempenho do autocarro os dados recolhidos foram

divididos em classes de SOC. Foram criadas cinco classes, sendo que cada uma corresponde a um

intervalo de 20% no mesmo (Tabela 3.7).

Tabela 3.7 - Divisão do SOC em classes.

Classe Intervalo SOC (%)

1 0-20 2 20-40 3 40-60 4 60-80 5 80-100

Assim, para cada classe de SOC, pode ser obtida através da equação (6) a distribuição da potência

do motor em função do modo VSP.

𝑃(𝑖, 𝑐) =

∑ 𝑃(𝑖, 𝑐, 𝑘)𝑘=𝑛𝑝(𝑖,𝑐)𝑘=1

𝑛𝑝(𝑖, 𝑐)

(6)

3.5.4.2. Percursos urbano e extra-urbanos

Para avaliar o impacte do tipo de ciclo de condução, urbano ou extra-urbano, no desempenho do

autocarro, os dados recolhidos foram tratados manualmente de forma a obter dois tipos diferentes de

comportamento. Para simular o ambiente urbano, foram selecionadas partes do percurso experimental

em que o autocarro circulava a baixas velocidades com acelerações e desacelerações constantes

(Figura 3.11). Já para simular o ambiente extra-urbano, foram selecionadas partes do percurso

experimental que apresentassem velocidades mais elevadas, e relativamente constantes, por maiores

períodos (Figura 3.12).

Page 55: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

33

Figura 3.11 – Exemplo de um excerto utilizado para a caracterização do autocarro em ciclo urbano (troço

P4).

Figura 3.12 - Exemplo de um excerto utilizado para a caracterização do autocarro em ciclo extra-urbano

(troço P1).

Assim, de acordo com o tratamento de dados descrito anteriormente, e que pode ser visto na Tabela

3.8, pode ser então calculada a distribuição da potência do motor em função do modo VSP para cada

um dos ciclos de condução utilizando a equação (6).

Tabela 3.8 - Divisão do percurso experimental em ciclo urbano e extra-urbano.

Classe Ciclo

1 Urbano 2 Extra-Urbano

3.5.4.3. Variação com o declive da estrada

Para avaliar a variação do desempenho do autocarro com o declive da estrada os dados recolhidos

foram divididos em classes de declive, que englobam os declives mais comuns encontrados ao longo

do ensaio experimental, de -5 a 5 graus, correspondendo a cerca de 95% dos pontos experimentais

recolhidos.

De acordo com a divisão em classes presente na Tabela 3.9, pode-se então, utilizando a equação

(6), calcular a distribuição da potência do motor em função do modo VSP para cada uma das classes

de declive.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1500 1600 1700 1800 1900 2000

Velo

cid

ade (

km

/h)

Tempo (s)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

350 450 550 650 750 850

Velo

cid

ade (

km

/h)

Tempo (s)

Page 56: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

34

Tabela 3.9 - Divisão do declive da estrada em classes.

Classe Intervalo de declive (º)

1 -5 a -2,5 2 -2,5 a 0 3 0 a 2,5 4 2,5 a 5

Estimativa da eficiência de propulsão e de regeneração

Uma primeira estimativa da eficiência média do sistema de propulsão e regeneração do autocarro

elétrico em estudo, pode ser feita através de uma estimativa da potência teórica média de cada modo

VSP e da potência real média de cada modo VSP determinada através do descrito na secção 3.5.3. A

potência teórica média por modo VSP, �̅�𝑡(𝑖), pode ser calculada usando a equação (7).

�̅�𝑡(𝑖) = 𝑉𝑆𝑃̅̅ ̅̅ ̅̅ (𝑖) × �̅� (7)

Sendo 𝑉𝑆𝑃̅̅ ̅̅ ̅̅ (𝑖) o valor médio da classe VSP(i), e utilizando as classes VSP -5 a 5, por serem as que

geraram mais dados do ensaio experimental, apresentam-se na Tabela 3.10 os valores de 𝑉𝑆𝑃̅̅ ̅̅ ̅̅ (𝑖) a

utilizar. O símbolo �̅� representa a massa média do autocarro elétrico ao longo de todo o ensaio.

Tabela 3.10 - Valores médios das classes VSP -5 a 5.

Classe VSP -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5

Valor médio (W/kg) -9 -7 -5 -3 -1 0 1 3 5 7 9

Tendo então �̅�𝑡(𝑖) e 𝑃(𝑖) pode calcular-se a eficiência média de propulsão, �̅�𝑝𝑟𝑜𝑝 , e a eficiência

média de regeneração, �̅�𝑟𝑒𝑔𝑒𝑛, através das equações (8) e (9), respetivamente.

�̅�𝑝𝑟𝑜𝑝 =1

5∑

�̅�𝑡(𝑖)

𝑃(𝑖)

𝑖=5

𝑖=1

(8)

�̅�𝑟𝑒𝑔𝑒𝑛 =1

5∑

𝑃(𝑖)

�̅�𝑡(𝑖)

𝑖=−1

𝑖=−5

(9)

Page 57: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

35

Estimativa do consumo médio dos auxiliares e das perdas de energia

Para modelar o consumo global do autocarro elétrico é necessário ter em conta, além do consumo

do motor elétrico de tração, o consumo dos equipamentos auxiliares ao seu funcionamento, como a

iluminação, o sistema de direção assistida e o sistema pneumático de travagem, bem como as perdas

de energia que ocorrem em todo o sistema. Por um motivo de simplificação designou-se a soma destes

dois consumos por consumo médio dos auxiliares.

Durante o ensaio foram recolhidos dados relativos à potência global à saída da bateria, tal como à

potência à entrada do motor de tração. A diferença entre estes dois valores foi considerada a potência

consumida pelos sistemas auxiliares do autocarro, paux. Pode assim obter-se a potência média

consumida pelos auxiliares, �̅�𝑎𝑢𝑥, ao longo de todo o ensaio experimental através da equação (10).

�̅�𝑎𝑢𝑥 =∑ 𝑝𝑎𝑢𝑥

𝑘=𝑛𝑝𝑘=1 (𝑘)

𝑛𝑝

(10)

3.6. Metodologia de análise dos dados provenientes da Recolha 2

Remoção dos períodos de ralenti e correções na velocidade fornecida pelo GPS

Uma vez que os dados relativos à análise da dinâmica do autocarro convencional, a gasóleo, apenas

provêm do aparelho de GPS, não há assim necessidade de se proceder a uma sincronização no tempo

com eventuais dados provenientes do autocarro, como foi feito no caso do autocarro elétrico. Assim

sendo, o primeiro passo no tratamento destes dados foi o de remoção dos períodos de ralenti.

Foi verificado durante a recolha de dados que o aparelho de GPS continuava a registar movimento

mesmo quando o autocarro se encontrava parado, ou seja, o GPS media velocidade diferente de zero,

mas bastante baixa, na maioria das situações em que o autocarro estava parado. Com recurso aos

dados referentes ao ensaio do autocarro elétrico, do qual se dispõe da velocidade fornecida tanto pelo

autocarro como pelo GPS, foi possível concluir que com o autocarro parado o GPS continua a medir

uma velocidade entre 0 e 1,5 km/h, sensivelmente, e que, além disso, as situações em que o autocarro

circula a uma velocidade inferior a 1,5 km/h são essencialmente nulas. Tendo isto em conta procedeu-

se a uma correção dos valores de velocidade fornecidos pelo aparelho de GPS para o autocarro a

gasóleo, de tal forma que todas as velocidades registadas que fossem inferiores a 1,5 km/h passassem

a ser consideradas como nulas para efeitos de cálculo. Feito isto, chegou-se assim, para cada troço de

percurso efetuado, aos dados relevantes a tratar com vista à caracterização dos percursos recolhidos.

Page 58: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

36

Distribuição modal de VSP, obtenção do declive e correção das oscilações introduzidas no

mesmo pelo GPS

Esta parte da análise dos dados recolhidos no autocarro convencional, a gasóleo, processa-se da

mesma forma do que a análise feita para os dados recolhidos no autocarro elétrico, tendo assim sido

feita tal como descrito nas subsecções 3.5.2 e 3.5.3.

3.7. Metodologia do cálculo das emissões de GEE para o autocarro elétrico estudado

e para o autocarro a gasóleo utilizado para comparação

Com o objetivo de determinar, analisar e comparar as emissões de GEE do autocarro elétrico em

estudo com um autocarro convencional a gasóleo, foram recolhidos dados na literatura para quantificar

estas emissões numa base de gCO2eq/MJ para os dois tipos de veículos [10,31–33]. Através destes

dados recolhidos é também possível comparar o impacto de dois cenários possíveis no que toca à

origem da eletricidade utilizada pelo autocarro elétrico, considerando o caso das emissões de GEE

provenientes do mix energético português de 2013 ou o caso da obtenção de eletricidade a partir de

fontes 100% renováveis. Estes dados encontram-se resumidos na Tabela 3.11.

Tabela 3.11 – Valores das emissões de GEE por unidade de energia fornecida ao veículo para autocarros

movidos a eletricidade e a gasóleo (gCO2eq/MJ) [10,31–33].

Fonte de energia WTT TTW WTW

Gasóleo 16,27 74,98 91,25 Eletricidade (mix português) 110,22 - 110,92

Eletricidade (100% renovável) 5,6 - 5,6

Page 59: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

37

3.8. Metodologia de simulação de autocarro elétrico

Software utilizado

A simulação computacional do autocarro elétrico em estudo foi feita através do software comercial

AVL CRUISE, disponibilizado pela AVL no âmbito de uma parceria com o Instituto Superior Técnico.

Este software encontra-se em uso e desenvolvimento há mais de duas décadas, período durante o qual

tem sido validado através de dados provenientes dos fabricantes dos vários tipos de veículos que

consegue simular [34]. Com ele é possível analisar um dado veículo como um todo ou desenvolver

análises mais detalhadas de componentes individuais do mesmo. Podem-se simular vários tipos de

veículos, desde motociclos a autocarros e outros veículos pesados, sejam eles convencionais, híbridos

ou elétricos.

A partir deste programa pode ainda estimar-se o consumo de energia de um veículo para um dado

percurso. Este percurso pode ser standard, como o ciclo NEDC, disponível no programa, ou um

percurso real fornecido diretamente pelo utilizador. Posteriormente é possível alterar os parâmetros do

autocarro ou do percurso a percorrer de modo a avaliar vantagens e desvantagens de uma dada

configuração de autocarro e ainda a que tipo de percurso esta se adequa melhor. O programa permite

ainda fazer testes aos limites do autocarro, como testar a aceleração e desaceleração máximas e o

gradiente máximo da estrada que este consegue vencer a uma dada velocidade.

A interface do programa tem por base uma estrutura modular na qual cada módulo corresponde a

um subsistema do veículo, como por exemplo motor, carroceria, travões e bateria. É nestes módulos

que são inseridos os parâmetros do veículo a simular (Figura 3.13).

Figura 3.13 - Interface do utilizador do AVL CRUISE.

Page 60: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

38

Modelação computacional

3.8.2.1. Noções básicas

Modelar o autocarro elétrico no AVL CRUISE implica fornecer a este uma série de parâmetros que,

consoante a informação disponível sobre o autocarro, permitam caracterizá-lo o melhor e mais

corretamente possível.

Como foi dito anteriormente para simular um veículo no AVL CRUISE utiliza-se um conjunto de

módulos, interligados entre si, em que cada um representa um subsistema do mesmo, e a sua

totalidade representa o veículo. Este tipo de organização pode ser visto na Figura 3.14.

A interligação entre os vários módulos do veículo é feita através de ligações mecânicas,

representadas pelas linhas a azul, ligações elétricas, representadas pelas linhas a vermelho, output de

dados, representados pelos símbolos a vermelho, e input de dados, representados pelos símbolos a

verde.

Figura 3.14 – Módulos do AVL CRUISE necessários para representar o autocarro elétrico em estudo e

interligações entre os mesmos.

Ligação

mecânica

Ligação

elétrica

Input de

dados

Output de

dados

Page 61: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

39

3.8.2.2. Descrição dos módulos utilizados e dos parâmetros inseridos nestes

Para simular o autocarro elétrico em estudo foi necessário utilizar os módulos representados na

Figura 3.14, sendo que na Tabela 3.12 podem ver-se quais as variáveis principais a definir em cada

um dos mesmos. Dentre os valores das variáveis a definir, os mais específicos ao autocarro elétrico

em questão foram fornecidos diretamente pela Caetano, enquanto que os restantes, que estão em linha

com os apresentados em autocarros convencionais, foram retirados de modelos de veículos já

existentes no AVL CRUISE ou através de pesquisa na literatura existente sobre autocarros.

Tabela 3.12 – Módulos utilizados na simulação do veículo e principais parâmetros a definir em cada um.

Módulo Componente Principais parâmetros a definir

1 Carroçaria m, Cd, Af, dimensões exteriores 2 Transmissão final nf 3 Roda de trás direita interior re, rd 4 Roda da frente direita re, rd 5 Roda de trás esquerda interior re, rd 6 Roda da frente esquerda re, rd 7 Roda de trás direita exterior re, rd 8 Roda de trás esquerda exterior re, rd 9 Travão de trás direito At, µft 10 Travão da frente direito At, µft 11 Travão de trás esquerdo At, µft 12 Travão da frente esquerdo At, µft

13 Motor elétrico Vnom, Vmáx, Vmin, mapa binário máximo versus rpm,

mapa binário versus rpm versus η 14 Diferencial traseiro Divisão de binário pelas rodas 15 Cockipit Tipo de caixa de velocidades 16 Controlo de derrapagem - 17 Bateria Vnom, Vmáx, Vmin, Cbat, Rbat

18 Controlador do motor elétrico Velocidade a partir da qual existe travagem

regenerativa 19 Controlador de travagem - 20 Monitor - 21 Constantes Fator de travagem

3.8.2.3. Introdução e simulação no AVL CRUISE dos percursos recolhidos com o GPS

Os perfis de altitude e velocidade que foram recolhidos tanto no ensaio com o autocarro elétrico

como no ensaio com o autocarro convencional a gasóleo foram tratados de forma a fornecer ao AVL

CRUISE. Os primeiros, recolhidos no ensaio do autocarro elétrico, têm como objetivo a validação do

modelo computacional do mesmo, através da comparação com os dados recolhidos através do data

logger do veículo. Já os segundos, recolhidos no ensaio do autocarro convencional a gasóleo, têm

como objetivo poder averiguar se o autocarro elétrico em estudo consegue igualar e superar o

desempenho do autocarro a gasóleo.

No caso do perfil de velocidade de um dado troço, e uma vez que o autocarro elétrico em estudo

apenas tem uma mudança, é necessário fornecer ao CRUISE como input uma tabela com o valor da

Page 62: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

40

velocidade a cada segundo, ao longo de um dado percurso (Figura 3.15). No caso dos dados recolhidos

no autocarro elétrico a velocidade fornecida ao CRUISE é a proveniente do velocímetro do mesmo, por

ser mais exata que a do GPS. Já no caso dos dados recolhidos no autocarro convencional a velocidade

fornecida ao CRUISE é a proveniente do GPS, com as correções referidas na secção 3.6.1. É assim

gerado no programa o perfil de velocidade que o modelo do autocarro elétrico irá ser forçado a seguir.

Figura 3.15 – Input do perfil de velocidades de um percurso no AVL CRUISE.

O perfil de altitude de um dado troço é definido no programa de forma semelhante ao de velocidade.

São assim fornecidos em forma de tabela os valores da altitude em função da distância ao longo de um

dado troço a analisar (Figura 3.16). A altitude é calculada a partir da velocidade do autocarro, caso

disponível, ou então da do GPS, e do declive corrigido calculado na secção 3.5.2. A distância é

igualmente calculada a partir da velocidade do autocarro, caso disponível, ou então da do GPS. É assim

gerado no programa o perfil de altitude que o modelo do autocarro elétrico irá ser forçado a seguir.

Figura 3.16 - Input do perfil de altitude de um percurso no AVL CRUISE.

Page 63: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

41

3.9. Metodologia da seleção de eventos específicos para comparação do

desempenho entre o autocarro elétrico e o autocarro convencional

Foi desenvolvida uma análise comparativa, com base em eventos específicos, entre o autocarro

elétrico em estudo e o autocarro convencional, com o objetivo de melhor compreender as diferenças

no comportamento entre ambos e quais as condições que mais favorecem cada um. Para isso foram

escolhidos oito eventos específicos. Destes, quatro correspondem a situações em que os veículos

iniciam o evento com uma velocidade diferente de zero, fazem uma paragem e retomam a marcha

numa situação de declive positivo ou negativo. Estes eventos foram selecionados a partir dos troços

do Porto e encontram-se caracterizados na Tabela 3.13 e na Figura 3.17. Este tipo de análise pode

futuramente ser utilizado para informar os condutores de veículos elétricos da melhor estratégia de

abordagem a paragens, por exemplo, de forma a aumentar a eficiência de condução.

Tabela 3.13 - Características dos eventos selecionados para a comparação do desempenho dos dois autocarros em paragens seguidas de arranque com inclinação positiva, (A) e (B), ou negativa, (C) e (D).

PORTO Inclinação positiva (A)

Inclinação positiva (B)

Inclinação negativa (C)

Inclinação negativa (D)

Duração (s) 60,00 53,00 63,00 53,00 Distância (km) 0,39 0,37 0,39 0,39 V. média (km/h) 23,69 25,07 22,52 26,67 ∆ altitude (m) 8,43 12,99 -15,14 -5,88

Figura 3.17 – Características dos eventos selecionados para a comparação do desempenho dos dois

autocarros em paragens seguidas de arranque com inclinação positiva, (A) e (B), ou negativa, (C) e (D).

88

90

92

94

96

98

100

102

104

-10

0

10

20

30

40

50

60

0 100 200 300 400

Altitu

de

(m

)

Ve

locid

ad

e (

km

/h)

; D

ecliv

e (

º)

Distância (m)

(A)

94

96

98

100

102

104

106

108

110

-10

0

10

20

30

40

50

0 100 200 300 400

Altitu

de

(m

)

Ve

locid

ad

e (

km

/h)

; D

ecliv

e (

º)

Distância (m)

(B)

85

90

95

100

105

110

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

0 100 200 300 400

Altitu

de

(m

)

Ve

locid

ad

e (

km

/h)

; D

ecliv

e (

º)

Distância (m)

(C)

93

94

95

96

97

98

99

100

101

-10

0

10

20

30

40

50

0 100 200 300 400

Altitu

de

(m

)

Ve

locid

ad

e (

km

/h)

; D

ecliv

e (

º)

Distância (m)

(D)

Velocidade Declive Altitude

Page 64: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

42

Os quatro restantes correspondem a situações em que os veículos partem do repouso, iniciando a

marcha numa situação de declive positivo, nulo ou negativo e circulam de seguida por um determinado

período de tempo. Estes eventos foram selecionados a partir dos troços de Lisboa e encontram-se

caracterizados na Tabela 3.14 e na Figura 3.18.

Tabela 3.14 - Características dos eventos selecionados para a comparação do desempenho dos dois autocarros em arranque seguido de circulação com inclinação positiva, (E) e (F), nula, (G), ou negativa, (H).

LISBOA Inclinação positiva (E)

Inclinação positiva (F)

Inclinação nula (G)

Inclinação negativa (H)

Duração (s) 31,00 72,00 121,00 39,00 Distância (km) 0,22 0,49 0,10 0,34 V. média (km/h) 26,04 24,43 2,9 31,37 ∆ altitude (m) 15,58 23,37 -0,43 -25,00

Figura 3.18 - Características dos eventos selecionados para a comparação do desempenho dos dois

autocarros em arranque seguido de circulação com inclinação positiva, (E) e (F), nula, (G), ou negativa, (H).

85

90

95

100

105

0

10

20

30

40

50

0 100 200

Altitu

de

(m

)

Ve

locid

ad

e (

km

/h)

; D

ecliv

e (

º)

Distância (m)

(E)

0

5

10

15

20

25

30

35

-10

0

10

20

30

40

50

0 200 400

Altitu

de

(m

)

Ve

locid

ad

e (

km

/h)

; D

ecliv

e (

º)

Distânca (m)

(F)

130

131

132

133

134

135

-5,0

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

0 50 100

Altitu

de

(m

)

Ve

locid

ad

e (

km

/h)

; D

ecliv

e (

º)

Distância (m)

(G)

0

10

20

30

40

50

60

-10

0

10

20

30

40

50

0 100 200 300

Altitu

de

(m

)

Ve

locid

ad

e (

km

/h)

; D

ecliv

e (

º)

Distância (m)

(H)

Velocidade Declive Altitude

Page 65: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

43

3.10. Metodologia da análise operacional do autocarro elétrico quando em circulação

nos percursos estudados

Uma análise relativa ao desempenho operacional do autocarro elétrico em estudo pode ser levada

a cabo através dos dados, recolhidos ou calculados, relativos aos consumos de energia e tempos

médios de viagem de cada uma das rotas reais de passageiros. Para tal é admitido que o tempo de

recarregamento médio do autocarro é de 45 minutos. Este valor foi utilizado tendo em conta os valores

anunciados de potência de carregamento e capacidade de bateria, bem como o valor de tempo de

carregamento lido durante os ensaios experimentais. Esta análise tem como objetivo determinar a

percentagem máxima de tempo que o autocarro pode estar operacional para cada uma destas rotas e

é obtida a partir da equação (11).

%𝑡𝑜𝑝.𝑚𝑎𝑥 = (1 −𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑟𝑒𝑐𝑎𝑟𝑟𝑒𝑔𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜

𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 𝑝𝑜𝑟 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 + 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑟𝑒𝑐𝑎𝑟𝑟𝑒𝑔𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜) ∗ 100 (11)

Page 66: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

44

Page 67: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

45

4. Resultados

4.1. Caracterização experimental e numérica do autocarro elétrico

Resumo dos dados recolhidos

Durante os ensaios realizados a bordo do autocarro elétrico foram recolhidos no total cerca de

3h40m de dados válidos referentes à dinâmica do mesmo, o que se traduz em cerca de 13 200 pontos

de dados (Tabela 4.1), divididos em 6 troços. Ao longo do ensaio foi efetuado um ciclo quase completo

de descarga da bateria do autocarro, tendo a bateria carga máxima no início dos testes e apenas 10%

aquando do fim dos mesmos. No total foram percorridos cerca de 71 km a uma velocidade média de

22 km/h.

Tabela 4.1 - Resumo dos percursos feitos para a recolha dos dados utilizados para caracterizar o autocarro.

Troço Descrição SOC Energia

consumida pelo motor (kWh)

Distância percorrida

(km)

Velocidade média (km/h)

Início Fim

P1 Caetano → STCP 99 90 5,97 12,19 34,2 P2 STCP → Coimbrões 90 80 6,17 8,42 33,0 P3 904: Volta 1 80 58 10,05 14,72 14,9 P4 904: Volta 2 58 38 9,96 14,68 15,3 P5 904: Volta 3 38 21 9,05 14,69 15,5 P6 Coimbrões → Caetano 21 10 5,78 6,45 31,6

Potência fornecida ao motor em função do modo VSP e eficiência média de propulsão e

de regeneração

O indicador mais global do desempenho energético do autocarro elétrico em estudo é a potência

fornecida ao motor em função do modo VSP, pois, tal como descrito na secção 3.5.3, esta informação

aliada à informação relativa à distribuição modal de VSP para um dado percurso permite estimar a

energia necessária para percorrer esse mesmo percurso.

Após se ter procedido à análise dos dados recolhidos no ensaio experimental chegou-se aos valores

apresentados na Figura 4.1. Para esta caracterização foram excluídos os dados relativos ao troço P1,

pois verificou-se que, provavelmente devido à baixa temperatura da bateria e do facto de o SOC ser

100% aquando do início da viagem, no início deste percurso as potências de regeneração eram algo

inferiores à média do restante ensaio. Obtiveram-se assim resultados que representam melhor o

autocarro quando este se encontra num estado mais comum de operação.

Analisando a Figura 4.1 nota-se, como esperado, uma tendência quase linear no comportamento

exibido pelo motor elétrico que equipa o autocarro em estudo. Isto indica que o autocarro mantém uma

eficiência praticamente constante para toda a gama de potências em que o seu motor funciona.

Page 68: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

46

Figura 4.1 - Caracterização do autocarro em termos de potência fornecida ao motor em função do modo

VSP.

É também importante notar que, quando o motor não está a ser requisitado pelo autocarro para

fornecer ou regenerar energia do mesmo (modo VSP zero), este apresenta um consumo de energia

que é muito próximo de zero, em contraste com um veículo convencional a gasóleo, em que mesmo

com o veículo parado o motor continua a ter um consumo de ralenti para este se manter a si e aos seus

auxiliares em funcionamento.

Os modos VSP negativos, de -1 a -7, correspondem às situações em que é necessário remover

energia cinética do veículo. Num autocarro convencional, cuja representação característica da potência

fornecida ao motor em função do modo VSP se pode ver na Figura 4.2, esta remoção de energia

cinética ocorre através dos travões do veículo, sendo por isso dissipada sob a forma de calor [26]. No

autocarro elétrico em estudo pode ver-se que existe regeneração da energia cinética do mesmo,

energia essa devolvida posteriormente às baterias do veículo para que possa ser novamente utilizada

(Figura 4.1).

Figura 4.2 - Caracterização de um autocarro convencional em termos do consumo de combustível do motor

em função do modo VSP [25].

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7

Potê

ncia

forn

ecid

a a

o m

oto

r (k

W)

Modo VSP

0

1

2

3

4

5

6

7

8

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7

Consum

o d

e c

om

bustível

(g/s

)

Modo VSP

Page 69: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

47

Como discutido na secção 3.5.5, pode fazer-se uma estimativa da eficiência de tração e de

regeneração do autocarro em estudo, obtendo-se então os seguintes valores:

�̅�𝑝𝑟𝑜𝑝 =

1

5∑

�̅�𝑡(𝑖)

𝑃(𝑖)

𝑖=5

𝑖=1

= 93,8%

(12)

�̅�𝑟𝑒𝑔𝑒𝑛 =

1

5∑

𝑃(𝑖)

�̅�𝑡(𝑖)

𝑖=−1

𝑖=−5

= 77,9% (13)

Estes valores (equações (12) e (13)), bastante elevados, demonstram bem a superioridade dos

veículos elétricos em relação aos convencionais no que toca ao desempenho energético dos seus

sistemas de propulsão/regeneração. Para um autocarro convencional a gasóleo ter-se-ia uma eficiência

de regeneração de zero e uma eficiência de propulsão bastante inferior, eventualmente na ordem dos

30%, o que combinado resulta numa eficiência energética total muito inferior à do autocarro elétrico em

estudo.

Validação do modelo computacional

A validação do modelo computacional, proveniente do software AVL CRUISE, do autocarro elétrico

em estudo foi feita de várias formas. Por um lado, foi feita através da comparação dos consumos reais

do motor do autocarro, obtidos durante os ensaios experimentais para os vários percursos, com os

consumos simulados, obtidos através da simulação desses mesmos percursos no software em causa.

Os resultados dessa comparação, que se encontram na Tabela 4.2, indicam que para os troços P3 a

P6 o modelo apresenta um erro médio de apenas -4%, o que é um resultado bastante satisfatório. No

entanto, os troços P1 e P2 apresentam erros muito superiores, com a simulação do consumo do troço

P1 a apresentar um resultado 50% inferior ao real e a simulação do troço P2 um resultado 26% inferior

ao real. Uma vez que o troço P6, que é semelhante a estes dois, apresenta um baixo erro na sua

simulação, então as discrepâncias nos valores da simulação dos troços P1 e P2, principalmente a do

troço P1, devem vir maioritariamente do facto de o autocarro ainda não estar a operar num regime

ótimo no que toca às temperaturas do motor e das baterias aquando da realização dos ensaios nestes

dois troços, bem como da capacidade de regeneração para altas potências se encontrar limitada devido

ao elevado SOC da bateria.

Page 70: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

48

Tabela 4.2 – Resultados das simulações do autocarro elétrico no AVL CRUISE e comparação com os valores reais recolhidos no ensaio experimental.

Troço Consumo real

do motor (kWh) Consumo simulado

do motor (kWh) Variação em relação

ao real (%)

P1 5,97 2,96 -50% P2 6,17 4,55 -26% P3 10,06 9,60 -5% P4 9,96 9,84 -1% P5 9,05 9,41 4% P6 5,78 5,63 -3%

Por outro lado, a validação do modelo computacional foi feita tendo em conta a comparação da

potência fornecida ao motor, por modo VSP, obtida nos ensaios experimentais com a obtida através do

modelo computacional, apresentada na Figura 4.6. Através dos dados desta figura pode ver-se que, de

uma forma geral, tanto a potência fornecida ao motor por modo VSP proveniente dos ensaios

experimentais como a do modelo computacional seguem a mesma tendência. No entanto é claramente

visível que, ao nível dos modos VSP negativos, o modelo computacional apresenta de forma

consistente potências inferiores, em módulo, do que aquilo que é indicado pelos dados experimentais.

Estas diferenças situam-se em torno dos 20% para os modos VSP -2 a -7. Já para os modos VSP

positivos os dados provenientes do modelo computacional seguem muito mais de perto a realidade,

com as discrepâncias nos valores a situarem-se entre os -10% e os 10% para os modos VSP 3 a 7.

Figura 4.3 – Potência fornecida ao motor (kW) em função do modo VSP. Resultados das simulações do

autocarro elétrico no AVL CRUISE e comparação com os valores reais recolhidos no ensaio experimental.

Também a partir da Figura 4.4 pode ser comparado o modelo computacional com os dados

experimentais recolhidos nos ensaios. Esta comparação foi feita com os valores da percentagem de

tempo por modo VSP e mostra que de uma maneira geral o modelo está alinhado com a realidade,

sendo que a maior discrepância ocorre para os modos VSP -1 e 0. Esta discrepância é natural, pois

apenas significa que por vezes o modelo atribui ao veículo velocidades que valem frações de quilómetro

por hora quando na realidade seriam de zero quilómetros por hora.

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7

Potê

ncia

forn

ecid

a a

o m

oto

r (k

W)

Modo VSP

CRUISE

Real

Page 71: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

49

Figura 4.4 – Percentagem de tempo em função do modo VSP. Resultados das simulações do autocarro

elétrico no AVL CRUISE e comparação com os valores reais recolhidos no ensaio experimental.

Foram ainda comparadas, para algumas secções de alguns percursos, a potência instantânea

fornecida ao motor proveniente dos ensaios experimentais e do modelo computacional. Tal

comparação encontra-se exemplificada na Figura 4.5, onde se pode ver sobreposta a comparação da

potência fornecida ao motor num excerto do troço P5. De uma forma geral, a comparação da potência

fornecida ao motor para todos os troços simulados apresentou resultados semelhantes aos da referida

figura, com a exceção dos troços P1 e P2 devido muito provavelmente aos problemas já referidos

anteriormente.

Figura 4.5 – Potência fornecida ao motor em função do tempo para o troço P5. Resultados das simulações

do autocarro elétrico no AVL CRUISE e comparação com os valores reais recolhidos no ensaio experimental.

Estimativa do consumo médio dos auxiliares, consumo total do autocarro por modo VSP e

obtenção de uma função continua para a potência total em função do VSP

A potência média consumida pelos auxiliares do autocarro foi calculada através da equação (10) da

secção 0, obtendo-se o valor de 3,28 kW. Assim, adicionando este valor à potência consumida pelo

motor do autocarro por modo VSP (Figura 4.1), chegou-se então à potência total consumida pelo

veículo, PT, por modo VSP (Figura 4.6).

0

5

10

15

20

25

30

35

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7

Tem

po (

%)

Modo VSP

CRUISE

Real

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

500 600 700 800 900 1000

Potê

ncia

forn

ecid

a a

o m

oto

r (k

W)

Tempo (s)

CRUISE

REAL

Page 72: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

50

Figura 4.6 - Caracterização do autocarro em termos da potência total em função do modo VSP.

Com o objetivo de obter uma função que represente de forma mais contínua a potência total do

autocarro em função do VSP (W/kg) foram utilizadas funções lineares por troços ajustadas aos valores

presentes na Figura 4.6, chegando-se então ao conjunto de equações (14). Estas funções permitem

obter resultados com maior resolução para eventos de curta duração ou melhor caracterizar as curvas

características de consumo do autocarro em função da velocidade ou do declive.

𝑃𝑇(𝑘𝑊) = −146,000 ; [−20 < 𝑉𝑆𝑃 < −14] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 11,823 ∗ 𝑉𝑆𝑃 + 19,865 ; ] − 14 < 𝑉𝑆𝑃 < −11,5] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 8,824 ∗ 𝑉𝑆𝑃 − 14,624 ; ] − 11,5 < 𝑉𝑆𝑃 < −9] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 10,025 ∗ 𝑉𝑆𝑃 − 3,816 ; ] − 9 < 𝑉𝑆𝑃 < −7] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 12,168 ∗ 𝑉𝑆𝑃 + 11,185 ; ] − 7 < 𝑉𝑆𝑃 < −5] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 10,107 ∗ 𝑉𝑆𝑃 + 0,881 ; ] − 5 < 𝑉𝑆𝑃 < −3] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 12,716 ∗ 𝑉𝑆𝑃 + 8,710 ; ] − 3 < 𝑉𝑆𝑃 < −1] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 8,148 ∗ 𝑉𝑆𝑃 + 4,141 ; ] − 1 < 𝑉𝑆𝑃 < 0] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 12,654 ∗ 𝑉𝑆𝑃 + 4,141 ; ]0 < 𝑉𝑆𝑃 < 1] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 15,796 ∗ 𝑉𝑆𝑃 + 0,998 ; ]1 < 𝑉𝑆𝑃 < 3] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 12,706 ∗ 𝑉𝑆𝑃 + 10,271 ; ]3 < 𝑉𝑆𝑃 < 5] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 12,259 ∗ 𝑉𝑆𝑃 + 12,502 ; ]5 < 𝑉𝑆𝑃 < 7] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 11,862 ∗ 𝑉𝑆𝑃 + 15,282 ; ]7 < 𝑉𝑆𝑃 < 9] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 16,578 ∗ 𝑉𝑆𝑃 + 65,844 ; ]9 < 𝑉𝑆𝑃 < 11,5] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 10,000 ∗ 𝑉𝑆𝑃 + 23,486; ]11,5 < 𝑉𝑆𝑃 < 14] 𝑃𝑇(𝑘𝑊) = 163,000 ; ]14 < 𝑉𝑆𝑃 < 20]

(14)

Consumo total do autocarro em função da velocidade e do declive

Para caracterizar a potência total, PT (kW), e o consumo total do autocarro, ET (kWh/km), em função

da velocidade e do declive da estrada (Figura 4.7 e na Figura 4.8), foi utlizado o conjunto de equações

(14).

Analisando os resultados da Figura 4.7 (B) pode observar-se que a potência máxima do motor do

autocarro, 160 kW, limita a velocidade de subida do mesmo para inclinações superiores a 3º, pois para

inclinações inferiores a esta o que impõe o limite de velocidade do autocarro é a rotação máxima do

motor. Para inclinações de 4º, a velocidade de subida é limitada a cerca de 60 km/h enquanto que para

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7

Potê

ncia

tota

l (k

W)

Modo VSP

Page 73: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

51

inclinações de 5º a velocidade de subida é limitada a cerca de 50 km/h. Pode ver-se também, para o

caso de inclinação nula, que a potência aumenta de forma aproximadamente cúbica com a velocidade

do veículo, o que seria de esperar devido à linearidade do comportamento do motor aliado à natureza

cúbica que o principal componente da resistência de atrito, o atrito de natureza aerodinâmica, possui.

Passando à análise da Figura 4.7 (A) pode ver-se um dos principais fatores que diferenciam o

autocarro elétrico em estudo de um autocarro a gasóleo convencional, que é a capacidade de

transformar energia mecânica em energia elétrica. Isto permite ao autocarro ter consumos de energia

negativos para quase todas as gamas de velocidade quando se encontra a circular em estradas com

declives negativos. Por exemplo, quando o autocarro circula a uma velocidade de 50 km/h numa

estrada com um declive negativo de 3º, este consegue devolver às baterias uma potência de cerca de

53 kW.

Figura 4.7 – Potência total em função da velocidade e do declive da estrada. A: Declives negativos (-5º a -1º); B: Declives nulos e positivos (0º a 5º).

Transformando estes valores de potência em consumos de energia, com unidades de energia por

quilómetro, obtiveram-se as curvas presentes na Figura 4.8. Olhando para o gráfico (A) da referida

figura, pode ver-se que para declives negativos o consumo por quilómetro decresce com a velocidade

até valores na ordem dos 40 km/h, sendo que a partir desta velocidade o consumo aumenta de forma

bastante ligeira. Mais uma vez é evidenciada a vantagem dos autocarros elétricos em relação aos

autocarros convencionais, pois em situações de circulação em declives negativos o consumo de

energia corresponde a um ganho da mesma na maioria das gamas de velocidade e declive.

Observando agora o comportamento do consumo de energia para as gamas de declive nulo e

positivo, Figura 4.8 (B), pode ver-se que para a situação de declive nulo o consumo de energia do

autocarro decresce com a velocidade até atingir um mínimo de 0,5 kWh/km quando circula a 30 km/h,

ponto a partir do qual o consumo aumenta de forma gradual até atingir 0,75 kWh/km para uma

circulação a velocidade constante de 70 km/h. Para declives positivos entre 1º e 2º o consumo de

energia é praticamente constante para velocidades a partir de 15 km/h, valendo cerca de 1,3 kWh/km

e 1,9 kWh/km, respetivamente. Por último, para declives superiores a cerca de 2º o consumo de energia

tem um comportamento descendente à medida que a velocidade aumenta até se atingir o limite de

velocidade de 70 km/h do autocarro.

-150

-120

-90

-60

-30

0

30

0 10 20 30 40 50 60 70

Potê

ncia

(kW

)

Velocidade (km/h)

-1º -2º -3º -4 -5º

(A)

0

50

100

150

200

250

0 10 20 30 40 50 60 70

Potê

ncia

(kW

)

Velocidade (km/h)

0º 1º 2º 3º 4º 5º

(B)

Page 74: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

52

Figura 4.8 - Consumo de energia em função da velocidade e do declive da estrada.

A: Declives negativos (-5º a -1º); B: Declives nulos e positivos (0º a 5º).

Sensibilidade à variação de parâmetros operacionais

4.1.6.1. Variação do SOC

Através do tratamento dos dados recolhidos de acordo com o descrito na secção 3.5.4.1, que

originou a Tabela 4.3, obtiveram-se então os resultados presentes na Figura 4.9. É de notar que a

classe 1, que engloba o intervalo de SOC entre 0%-20%, foi deixada de fora desta análise devido ao

número de pontos experimentais disponíveis para esta ser muito inferior às restantes. Além disso, irá

também ignorar-se o comportamento do gráfico presente na figura abaixo para as potências fornecidas

ao motor pertencentes ao modo VSP 5 e superior, isto também devido à pouca quantidade de pontos

experimentais disponíveis para uma caracterização correta desta zona, o que induz um comportamento

algo aleatório na mesma.

Tabela 4.3 - Divisão do SOC em classes e número de pontos de dados experimentais disponíveis para cada uma.

Classe Intervalo SOC (%) Número de pontos experimentais

1 0-20 734 2 20-40 3737 3 40-60 3328 4 60-80 3344 5 80-100 2196

-2,5

-2

-1,5

-1

-0,5

0

0,5

1

0 10 20 30 40 50 60 70

Consum

o d

e e

nerg

ia

(kW

h/k

m)

Velocidade (km/h)

-1º -2º -3º -4 -5º

(A)

0

1

2

3

4

5

0 10 20 30 40 50 60 70Consum

o d

e e

nerg

ia

(kW

h/k

m)

Velocidade (km/h)

0º 1º 2º 3º 4º 5º

(B)

Page 75: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

53

Figura 4.9 - Potência fornecida ao motor em função do modo VSP para várias classes de SOC.

Pode-se constatar que não existe nenhuma tendência clara no que toca à variação da potência

fornecida ao motor em função da classe de SOC para um dado modo VSP. Isto indica que a eficiência

do motor se mantém relativamente constante ao longo do ciclo de descarga da bateria, indicando que

o facto da tensão da mesma variar à medida que a bateria descarrega pouco influencia o funcionamento

do motor. No entanto, parece existir a sugestão que a classe de SOC 5, a azul, é a que permite menor

potência de regeneração para qualquer modo VSP. Provavelmente isto deve-se a uma limitação ao

nível da bateria, pois estas têm mais dificuldade em receber carga a SOC’s elevados. Além disso, um

outro fator que deverá ter contribuído igualmente para a inferior capacidade de regeneração desta

classe de SOC terá sido a baixa temperatura da bateria, pois o ensaio iniciou-se com o SOC a 100% e

por volta das 8h da manhã num dia de inverno, com a mesma à temperatura ambiente.

4.1.6.2. Percursos urbanos e extra-urbanos

No que toca à caracterização do autocarro ensaiado em relação à sua adequação para percursos

urbanos ou extra-urbanos, os dados recolhidos foram tratados de acordo com o descrito na secção

3.5.4.2, dando origem à Tabela 4.4. A partir dos pontos experimentais considerados nesta obteve-se

assim a informação presente na Figura 4.10 e Figura 4.11 e na Tabela 4.5.

Tabela 4.4 - Divisão do percurso experimental em ciclo urbano e extra-urbano e número de pontos experimentais usados para a caracterização de cada um.

Classe Ciclo Número de pontos experimentais

1 Urbano 11183 2 Extra-Urbano 2657

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7

Potê

ncia

forn

ecid

a a

o m

oto

r (k

W)

Modo VSP

100%-80% 80%-60% 60%-40% 40%-20%

Page 76: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

54

Olhando para a Figura 4.10 pode ver-se que a potência fornecida ao motor por modo VSP é

praticamente a mesma quer o veículo esteja a percorrer um percurso urbano ou extra-urbano. Isto é

expectável para um veículo equipado com um motor elétrico pois a sua eficiência não tem grandes

oscilações em função da sua velocidade e carga, que são as variáveis que mais distinguem a condução

urbana da extra-urbana, acabando assim estes resultados por comprovar a robustez da metodologia

VSP. Assim sendo, e falando apenas em termos da eficiência do motor do veículo, este apresenta uma

igual aptidão tanto para percursos urbanos como para percursos extra-urbanos. Deve notar-se também

que os dados relativos ao modo VSP 7 foram ignorados, para esta análise, devido à falta de pontos

experimentais para o caracterizar corretamente.

Figura 4.10 - Potência fornecida ao motor em função do modo VSP para os ciclos urbano e extra-urbano.

Analisando a Figura 4.11 pode verificar-se que o que realmente faz a distinção em termos

energéticos do ciclo urbano e extra-urbano, para o autocarro elétrico em questão, é o consumo

específico, em kWh/km, do mesmo em função do modo VSP. Pode ver-se que o autocarro apresenta

consumos específicos positivos, de tração, mais elevados em ambiente urbano do que em ambiente

extra-urbano, e apresenta consumos específicos negativos, de regeneração, mais elevados, em

módulo, em ambiente urbano do que em ambiente extra-urbano. Na prática o efeito que esta

característica tem é a de implicar um maior desgaste à bateria de tração quando o autocarro se encontra

em ambiente urbano, pois a cada quilómetro percorrido esta vai ser obrigada a trocar mais energia com

o motor elétrico, efetuando assim mais ciclos de carga e descarga para uma dada distância percorrida.

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6

Potê

ncia

forn

ecid

a a

o m

oto

r (k

W)

Modo VSP

Extra-Urbano Urbano

Page 77: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

55

Figura 4.11 – Consumo específico do motor em função do modo VSP para os ciclos urbano e extra-urbano.

Passando agora à análise da Tabela 4.5, pode ver-se que, como sugerido na secção 3.5.4.2, o perfil

extra-urbano, construído a partir dos dados recolhidos no autocarro, é caracterizado por velocidades

médias mais elevadas do que o perfil urbano. Os dados utilizados para a constituição de cada um dos

perfis correspondem a distâncias percorridas e consumos da mesma ordem de grandeza, e através

destes chega-se, para cada um deles, ao consumo específico do veículo ensaiado.

Chega-se assim à conclusão de que este autocarro oferece um melhor desempenho energético

global, e consequente autonomia, considerando que se encontra equipado com a mesma capacidade

de baterias, em percursos mais urbanos, que sejam compreendidos maioritariamente por deslocações

a velocidades relativamente baixas, tendo apresentando um consumo específico 11% inferior ao

consumo específico calculado para o percurso extra-urbano.

Tabela 4.5 – Comparação das características gerais do ciclo urbano e extra-urbano analisado e do consumo específico do autocarro em cada um deles.

Percurso Velocidade média

(km/h) Distância

(km) Consumo

(kWh) Consumo específico

(kWh/km)

Urbano 14,68 43,55 27,68 0,63 Extra-urbano 37,38 27,60 19,32 0,70

Pode assim concluir-se, como esperado, que para este autocarro elétrico, que contém um sistema

de travagem regenerativa bastante eficiente, a penalização energética que provém da circulação a

maiores velocidades, que se deve principalmente ao aumento da resistência aerodinâmica, e com

menos fases de regeneração, características de um percurso extra-urbano, é superior à penalização

energética que provém de uma condução a velocidades mais baixas mas com mais fases de

regeneração, característica de um percurso urbano. O valor obtido para o consumo especifico do motor

no percurso urbano é similar aos encontrados na literatura [17].

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6

Consum

o e

specíf

ico (

kW

h/k

m)

Modo VSP

Extra-Urbano Urbano

Page 78: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

56

4.1.6.3. Variação com o declive da estrada

Os resultados da análise descrita na secção 3.5.4.3, que tem por objetivo avaliar a variação da

potência fornecida ao motor, por modo VSP, com o declive da estrada, podem ser vistos na Figura

4.12. Estes resultados foram obtidos através dos pontos experimentais descritos na

Tabela 4.6. Pode ver-se que existe uma tendência clara, nos modos VSP positivos, que indica que,

à medida que o declive aumenta, a potência fornecida ao motor também aumenta. Nos modos VSP

negativos também existe uma tendência, porém menos acentuada, que indica que à medida que o

declive aumenta, em módulo, a potência regenerada pelo motor aumenta igualmente.

Tabela 4.6 - Divisão do declive da estrada em classes e número de pontos de dados experimentais disponíveis para cada uma.

Classe Intervalo de declive (º) Número de pontos experimentais

1 -5 a -2,5 1570 2 -2,5 a 0 5205 3 0 a 2,5 4527 4 2,5 a 5 1402

Figura 4.12 - Potência fornecida ao motor em função do modo VSP para as várias classes de declive.

Este comportamento mais distinto verificado na zona dos modos VSP positivos pode ser explicado

pela forma como a eficiência do motor varia em função da velocidade de rotação e da carga. O motor

que equipa o autocarro é um SPM com ímanes montados no interior do rotor, cuja curva característica

de funcionamento se encontra representada na Figura 2.4. Nesta pode ver-se que a eficiência do motor

é máxima a cargas e rotações média-baixas, piorando para rotações mais elevadas e para elevadas

cargas a baixa rotação.

É razoável admitir que à medida que o autocarro circula em inclinações positivas cada vez mais

elevadas a sua velocidade vai baixar, consequentemente fazendo baixar a rotação do motor ao mesmo

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6

Potê

ncia

forn

ecid

a a

o m

oto

r (k

W)

Modo VSP

-5º a -2,5º -2,5º a 0º 0º a 2,5º 2,5º a 5º

Page 79: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

57

tempo que a sua carga aumenta, levando a que a eficiência do motor vá diminuindo e o seu consumo

aumente.

No geral, pode concluir-se que o aumento do declive do percurso provoca um aumento no consumo

de energia do autocarro. Em particular, isto traduz-se num aumento de cerca de 13% no consumo entre

a classe de declive 3 (0 a 2,5 graus) e a 4 (2,5 a 5 graus) para os modos VSP positivos.

4.2. Resultados obtidos a partir da Recolha 2

Relativamente aos percursos percorridos na Recolha 2, a bordo de um autocarro convencional,

foram caracterizados 4 troços, correspondentes a duas rotas de passageiros, que representam cerca

de 2h40m de dados referentes à dinâmica do autocarro a gasóleo e da topografia do terreno percorrido,

o que se traduz em cerca de 9 650 pontos de dados. O resumo dos dados obtidos encontra-se na

Tabela 4.7.

Tabela 4.7 - Resumo dos percursos feitos para a recolha dos dados utilizados para caracterizar a dinâmica do autocarro a gasóleo em ambiente urbano.

Troço Descrição Número de pontos

experimentais Distância

percorrida (km) Velocidade

média (km/h)

L1 758: C. Sodré → P. Benfica 2598 9,89 13,7 L2 758: P. Benfica → C. Sodré 2962 9,86 12,0

L3 718: Al. Afonso Henriques

→ ISEL 1920 8,36 15,7

L4 718: ISEL → Al. Afonso

Henriques 2175 8,81 14,6

Page 80: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

58

4.3. Comparação com autocarro convencional a gasóleo

Comparação do consumo de energia e das emissões de GEE para os troços estudados

Os resultados da comparação do consumo de energia e das emissões de GEE do autocarro elétrico

em estudo com o autocarro convencional a gasóleo são apresentados na Figura 4.13 e Figura 4.14 e

na Tabela 4.8 e Tabela 4.9. Os resultados foram organizados de forma a colocar em perspetiva o peso

que cada uma das parcelas do consumo de energia e das emissões de GEE, a parcela WTT e a parcela

TTW, possuem no impacte energético e ambiental total de cada um dos veíulos. Dados extra acerca

desta comparação encontram-se presentes nas Tabela 7.1 a Tabela 7.4, em anexo.

Observando o gráfico (A) da Figura 4.13 pode ver-se que no caso dos troços analisados no Porto o

autocarro elétrico apresenta sempre consumos de energia bastante inferiores ao autocarro a gasóleo,

especialmente se tivermos em consideração apenas a parcela TTW. Esta tendência é mantida nos

gráficos (B) e (C) da mesma figura que são referentes ao troços recolhidos em Lisboa e ao troço de

Mafra, respectivamente. Para os troços P3, P4 e P5 do gráfico (A) os consumos dos dois autocarros

mantêm-se praticamente inalterados, pois trata-se do mesmo percurso (Rota 904 da STCP) feito

apenas com condições de trânsito diferentes. Neste percurso o autocarro elétrico consome cerca de

0,9 kWh/km enquanto que o autocarro a gasóleo consome cerca de 6,5 kWh/km, isto em termos de

energia TTW, o que representa um consumo 7 vezes superior por parte do último em relação ao

primeiro.

Em termos de consumo total WTW, e para o mesmo percurso, o autocarro elétrico apresenta valores

na ordem dos 1,4 kWh/km, considerando que a eletricidade provém de fontes 100% renováveis (REN),

ou então cerca de 2,5 kWh/km, considerando que a eletricidade provém do mix energético português

(PT), enquanto que o autocarro a gasóleo consome cerca de 8,1 kWh/km. Isto significa que no caso de

a energia elétrica ser 100% renovável o autocarro a gasóleo tem um consumo que é cerca de 5,8 vezes

superior ao do autocarro elétrico, enquanto que no caso da eletricidade proveniente do mix energético

português este valor baixa para 3,2 vezes. Estes valores são em geral semelhantes para os troços do

gráfico (B) da Figura 4.13, pois os percursos apresentam características similares aos do troço P3, P4

e P5.

Os consumos dos dois tipos de autocarros aproximam-se mais para os troços P1, P2 e P6 e para o

troço M1. Todos estes troços apresentam características extra-urbanas, que no geral são os que menos

favorecem os autocarros elétricos. Para o troço P2, por exemplo, o autocarro elétrico consome, numa

base TTW, cerca de 0,8 kWh/km enquanto o convencional consome cerca de 3,7 kWh/km, valor que é

4,6 vezes o do autocarro elétrico, enquanto que para os troços P3, P4 e P5 o consumo do autocarro a

gasóleo era 7 vezes o do autocarro elétrico.

Partindo das conclusões anteriores e dividindo os percursos analisados pelas suas características

mais ou menos urbanas ou extra-urbanas, e pelo tipo de declives mais ou menos acentuados que estes

apresentam, é possível, através da Tabela 4.8 e Tabela 4.9, tirar conclusões sobre a que tipo de

percursos cada autocarro melhor se adequa em termos energéticos e ambientais.

Page 81: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

59

Figura 4.13 – Comparação do consumo de energia (kWh/km) entre o autocarro elétrico em estudo e o autocarro convencional para os vários percursos analisados. (A): Porto, (B): Lisboa e (C): Mafra.

A partir da Tabela 4.8 pode ver-se a redução de consumo de energia e das emissões de GEE, numa

base WTW, proporcionada pelo autocarro elétrico em relação ao autocarro convencional, para os troços

que têm características mais urbanas. Em média, para este tipo de percursos, o autocarro elétrico

apresenta uma redução de consumo da ordem dos 70%, quando se considera eletricidade proveniente

do mix energético português, ou na ordem dos 80-85% quando se considera que a eletricidade provém

de fontes 100% renováveis. Estes valores são algo diferentes daqueles presentes na Tabela 2.3, 9,68%

e 50%, respetivamente, principalmente devido ao facto de o mix energético considerado na mesma ser

o europeu e não o português, e de o autocarro convencional considerado nessa tabela ser mais

eficiente do que o utilizado nesta comparação. Destes troços, aquele que sobressai mais a favor do

autocarro elétrico é o troço L2, apresentando mesmo uma redução de consumo de 78% ou 87,9%

quando se considera eletricidade proveniente do mix português ou de origem 100% renovável,

respetivamente. Isto acontece devido à significativa diferença de altitude entre o início e o fim deste

0

2

4

6

8

10

E. R

EN

E. P

T

Gasóle

o

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E. P

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o

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o

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EN

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Gasóle

o

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EN

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T

Gasóle

o

E. R

EN

E. P

T

Gasóle

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P1 P2 P3 P4 P5 P6

Consum

o d

e e

nerg

ia (

kW

h/k

m)

Autocarro/Troço

(A)

0

2

4

6

8

10

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o

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E. R

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T

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E. R

EN

E. P

T

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o

L1 L2 L3 L4

Consum

o d

e e

nerg

ia (

kW

h/k

m)

Autocarro/Troço

(B)

0

2

4

6

8

10

E. R

EN

E. P

T

Gasóle

oM1

Consum

o d

e e

nerg

ia (

kW

h/k

m)

Autocarro

(C)

TTW WTT

Page 82: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

60

troço, diferença essa que permite ao autocarro elétrico regenerar bastante energia potencial gravítica,

algo que o autocarro convencional não consegue fazer.

Por outro lado, a Tabela 4.9 agrupa os troços que apresentam características extra-urbanas. Nestes

existe novamente um caso particular no qual o autocarro elétrico apresenta uma redução de consumo

de cerca de 72% ou 85%, consoante a origem da eletricidade seja do mix energético português ou

100% renovável, numa base WTW, em vez da média dos restantes percursos que se situa nos 47-53%

e 71-74%. Isto deve-se novamente à diferença considerável de altitude que existe entre o início e o

final do troço P1, e que favorece o autocarro elétrico.

Pode então concluir-se que em qualquer situação de circulação o autocarro elétrico apresenta

consumos de energia inferiores ao autocarro a gasóleo, independentemente da origem da eletricidade

que o primeiro consome, sendo que a sua utilização é ainda mais vantajosa em ambiente urbano do

que em ambiente extra-urbano.

Tabela 4.8 – Percentagem da redução de consumo de energia e de GEE, numa base WTW, que o autocarro elétrico proporciona em relação ao autocarro a gasóleo para os troços com características urbanas.

Troços com declives médios menos acentuados

Troços com declives médios mais acentuados

Troço P3 P4 P5 L1 L2 L3 L4

Consumo (PT) 70,4% 68,8% 69,2% 70,3% 78,2% 69,3% 71,1%

Consumo (REN) 83,6% 82,7% 82,9% 83,5% 87,9% 83,0% 84,0%

GEE (PT) 84,0% 83,1% 83,3% 83,9% 88,2% 83,4% 84,3%

GEE (REN) 99,2% 99,1% 99,2% 99,2% 99,4% 99,2% 99,2%

Tabela 4.9 – Percentagem da redução de consumo de energia e de GEE, numa base WTW, que o autocarro

elétrico proporciona em relação ao autocarro a gasóleo para os troços com características extra-urbanas.

Troços com menor % de via rápida Troços com maior % de via rápida

Troço P1 P2 P6 M1

Consumo (PT) 72,2% 51,6% 47,5% 53,0%

Consumo (REN) 84,6% 73,1% 70,9% 73,9%

GEE (PT) 84,9% 73,8% 71,6% 74,5%

GEE (REN) 99,2% 98,7% 98,6% 98,7%

No que toca à comparação das emissões de GEE, estas seguem a mesma tendência do consumo

de energia no que toca à percentagem de redução que o autocarro elétrico proporciona em relação ao

autocarro convencional, sendo a principal diferença o facto do autocarro elétrico não apresentar

emissões locais, TTW, como pode ser visto na Figura 4.14. Nesta figura pode ver-se que as emissões

de GEE WTT dos dois tipos de autocarros apresentam valores semelhantes quando se considera o mix

energético português como fonte de energia para o autocarro elétrico, como por exemplo, para o troço

P4, 368 gCO2eq/km para o autocarro elétrico e 388 gCO2eq/km para o autocarro a gasóleo. Já quando

se considera que a eletricidade que abastece o autocarro elétrico é proveniente de fontes 100%

renováveis, o autocarro elétrico atinge valores de emissões WTT uma ordem de grandeza inferiores ao

Page 83: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

61

autocarro a gasóleo em todos os percursos considerados, sendo que para o troço M1, um dos mais

favoráveis para o autocarro convencional, este tem valores de emissões WTT na ordem dos 272

gCO2eq/km enquanto o autocarro elétrico se fica pelas 19 gCO2eq/km.

Figura 4.14 – Comparação das emissões de GEE (gCO2eq/km) entre o autocarro elétrico em estudo e o

autocarro convencional para os vários percursos analisados. (A): Porto, (B): Lisboa e (C): Mafra.

Os dados da Figura 4.14, condensados na forma de emissões WTW, e organizados na Tabela 4.8

e na Tabela 4.9 consoante o tipo de percurso, mostram claramente a superioridade do autocarro elétrico

no que toca às emissões globais de GEE por quilómetro percorrido. A maior redução de emissões em

comparação com o autocarro convencional ocorre para os percursos com características mais urbanas,

percursos nos quais o autocarro elétrico apresenta reduções médias na ordem dos 84% ou 99%,

dependendo da origem da eletricidade utilizada. Estes valores são algo diferentes daqueles presentes

na Tabela 2.4, 41,08% e 98,36%, respetivamente, novamente devido ao facto de o mix energético

considerado na mesma ser o europeu e não o português, e de o autocarro convencional considerado

nessa tabela ser mais eficiente do que o utilizado nesta comparação. Já no caso dos percursos com

características extra-urbanas esta redução das emissões de GEE é um pouco inferior, mas apresenta

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

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N

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P1 P2 P3 P4 P5 P6

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PT

Ga

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L1 L2 L3 L4

Em

issõ

es d

e G

EE

(g

CO

2e

q/k

m)

Autocarro/Troço

(B)

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

E.

RE

N

E.

PT

Ga

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o

M1

Em

issõ

es d

e G

EE

(g

CO

2e

q/k

m)

Autocarro

(C)

TTW WTT

Page 84: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

62

igualmente valores elevados, na ordem dos 73% ou 98,5%, novamente dependendo da origem da

eletricidade utilizada.

É importante notar que devido à diferença de potências entre o autocarro elétrico e os autocarros

convencionais, onde foram recolhidos os dados para caracterização das rotas de Lisboa e Mafra,

existem alguns pontos destes percursos em que o autocarro elétrico não consegue seguir a dinâmica

que lhe é pedida. No entanto estas situações apenas representam cerca de 3% dos pontos do percurso

de Mafra, percurso que é aquele em que o autocarro elétrico tem mais dificuldade em seguir a dinâmica

do autocarro convencional. Assim sendo o que foi descrito anteriormente representa uma fonte de erro

na comparação que foi levada a cabo, no entanto, o seu impacto é bastante reduzido.

Comparação de eventos específicos

Os resultados da comparação dos consumos de energia e emissões de GEE entre os dois

autocarros, descrita da secção 3.9, encontram-se apresentados de seguida para os 8 eventos

específicos selecionados.

4.3.2.1. Paragem seguida de arranque com inclinação positiva ou negativa

Os eventos selecionados para a comparação de paragem seguida de arranque têm todos durações

e velocidades médias semelhantes, mas todos obrigam os autocarros a dinâmicas diferentes (Tabela

3.13). Para estes quatro eventos a evolução da energia consumida, numa base TTW, em função da

distância encontra-se representada entre a Figura 4.15 e a Figura 4.18. Por fim, na Tabela 4.10,

encontram-se os valores da percentagem da redução de consumo de energia e de GEE, numa base

WTW, que o autocarro elétrico proporciona em relação ao autocarro a gasóleo.

No evento (A), Figura 3.17 (A) e Figura 4.15, pode ver-se que na fase inicial de desaceleração, que

dura sensivelmente até aos 200 m, e que acontece em grande parte numa situação de declive negativo,

o autocarro elétrico consegue regenerar energia e devolvê-la às baterias, enquanto o autocarro

convencional mantém uma perda contínua de energia relativa ao ralenti do motor e ao consumo dos

auxiliares (embora, em veículos mais recentes, possa existir corte de injeção de combustível e nesse

caso o consumo é nulo). Devido a isto o autocarro elétrico chega à paragem com um consumo negativo

de 0,3 kWh, enquanto que o autocarro convencional gasta 0,67 kWh só para chegar a este ponto. A

fase de arranque dá-se já com declive positivo e devido a isso o consumo do autocarro elétrico nesta

fase passa igualmente a ser positivo. No final do evento o autocarro elétrico apresenta um consumo

acumulado de 0,43 kWh enquanto que o autocarro a gasóleo apresenta um consumo de 2,18 kWh, ou

seja, cerca de 5 vezes o consumo do primeiro.

Page 85: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

63

Figura 4.15 – Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a gasóleo

no evento (A) do Porto.

No evento (B), Figura 3.17 (B) e Figura 4.16, todo o percurso é feito numa situação de declive

positivo, o que faz com que o não haja recuperação de energia potencial gravítica por parte do autocarro

elétrico, mas continua a existir recuperação de energia cinética, tal como pode ser visto pela fase em

que este apresenta uma diminuição na energia consumida entre os 150 e os 200 m do evento. No geral,

este evento favorece menos o autocarro elétrico do que o evento anterior, fazendo com que no final

este apresente um consumo de energia total de 0,60 kWh enquanto que o autocarro convencional

apresenta um valor de 1,98 kWh, valor este 3,3 vezes superior ao consumo do autocarro elétrico.

Figura 4.16 - Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a gasóleo no evento (B) do Porto.

No evento (C), Figura 3.17 (C) e Figura 4.17, é claramente visível a vantagem que o autocarro

elétrico tem em situações de declive negativo, pois na grande maioria da duração do evento este

apresenta uma potência negativa, enquanto que o autocarro a gasóleo mantém um consumo de ralenti.

Isto faz com que na altura da paragem o autocarro elétrico apresente um consumo de -0,21 kWh e

acabe o evento com um consumo de -0,23 kWh, enquanto que o autocarro a gasóleo chega à paragem

com um consumo de 0,82 kWh e acaba o evento com um consumo de 1,63 kWh,

-0,5

0

0,5

1

1,5

2

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-5

0

5

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15

0 100 200 300 400

Energ

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VSP Consumo energético - Elétrico Consumo energético - Gasóleo

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0 100 200 300 400

Energ

ia c

onsum

ida

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h)

VS

P (

W/k

g)

Distância (m)

VSP Consumo energético - Elétrico Consumo energético - Gasóleo

Page 86: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

64

Figura 4.17 - Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a gasóleo no

evento (C) do Porto.

Por último, o evento (D), Figura 3.17 (D) e Figura 4.18, é bastante semelhante ao evento (C), sendo

a principal diferença a variação de altitude entre o início e o fim do mesmo que é de cerca de -6 m

enquanto que no evento (C) esta diferença ronda os -16 m. Na prática, isto traduz-se numa menor

recuperação de energia por parte do autocarro elétrico e consequente aumento no consumo de energia

do mesmo, valendo neste caso 0,10 kWh. Já o consumo do autocarro a gasóleo é praticamente o

mesmo do evento (C), valendo 1,65 kWh.

Figura 4.18 - Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a gasóleo no evento (D) do Porto.

Tendo em conta o que foi dito anteriormente, e considerando agora os consumos de energia e as

emissões de GEE numa base WTW, pode comparar-se de forma mais global os dois autocarros em

questão nos eventos referidos anteriormente (Tabela 4.10). No pior evento para o autocarro elétrico,

evento (B), este ainda assim apresenta uma poupança energética de 31,4% ou 62% em relação ao

autocarro a gasóleo, dependendo se a origem da eletricidade que este utiliza provém do mix energético

português ou de fontes 100% renováveis, respetivamente. Neste mesmo caso, é conseguida uma

redução de 62,8% ou 98,1% nas emissões de GEE, dependendo novamente da fonte de eletricidade.

Na melhor situação, evento (C), o autocarro elétrico apresenta um consumo inferior a zero, conseguindo

acabar o evento com um consumo negativo equivalente a 32,8% ou 18,2 % do consumo do autocarro

a gasóleo, consoante a fonte de energia elétrica seja o mix energético português ou fontes 100%

-0,5

0

0,5

1

1,5

2

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0 100 200 300 400

Energ

ia c

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VSP Consumo energético - Elétrico Consumo energético - Gasóleo

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Energ

ia c

onsum

ida

(kW

h)

VS

P (

W/k

g)

Distância (m)

VSP Consumo energético - Elétrico Consumo energético - Gasóleo

Page 87: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

65

renováveis. É possível concluir, como esperado, que a superioridade do autocarro elétrico é mais visível

nos eventos com declives negativos do que nos que contêm declives positivos. Na Tabela 7.5, em

anexo, encontram-se todos os valores obtidos a partir da análise destes eventos.

Tabela 4.10 - Percentagem da redução de consumo de energia e de GEE, numa base WTW, que o autocarro elétrico proporciona em relação ao autocarro a gasóleo, para os eventos selecionados a partir das rotas do

Porto.

EVENTO (A) (B) (C) (D)

Consumo (PT) 56,2% 31,4% 132,8% 86,2%

Consumo (REN) 75,7% 62,0% 118,2% 92,3%

GEE (PT) 76,3% 62,8% 117,3% 92,5%

GEE (REN) 98,8% 98,1% 100,9% 99,6%

4.3.2.2. Arranque e circulação com inclinação positiva, nula ou negativa

Os eventos selecionados para a comparação de arranque seguido de circulação com inclinação

positiva, nula ou negativa englobam uma gama de velocidades médias que vai dos 2,9 km/h, para o

evento com inclinação nula, até aos 31 km/h, para o evento com inclinação negativa (Tabela 3.14).

Para estes quatro eventos a da energia consumida, numa base TTW, em função da distância encontra-

se representada entre a Figura 4.19 e a Figura 4.22. Por fim, na Tabela 4.11, encontram-se os valores

da percentagem da redução de consumo de energia e de GEE, numa base WTW, que o autocarro

elétrico proporciona em relação ao autocarro a gasóleo.

No evento (E), Figura 3.18 (E) e Figura 4.19, dado o declive ser sempre positivo, o autocarro elétrico

apenas apresenta uma fase de regeneração na zona dos 100 m, quando a velocidade tem uma queda

acentuada. No geral, as curvas de consumo dos dois autocarros têm uma forma e tendência

semelhantes, sendo separadas por um fator de escala. Neste tipo de evento a vantagem do autocarro

elétrico provém não do facto de ter capacidade de regenerar energia, mas do facto de ser mais eficiente

do ponto de vista de propulsão do que o autocarro a gasóleo. Isto faz com que no fim deste evento o

autocarro elétrico apresente um consumo de 0,79 kWh enquanto que o autocarro convencional

apresenta um consumo de 1,65 kWh, ou seja, cerca do dobro.

Figura 4.19 - Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a gasóleo no evento (E) de Lisboa.

0

0,5

1

1,5

2

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0

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10

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0 50 100 150 200

Energ

ia c

onsum

ida

(kW

h)

VS

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W/k

g)

Distância (m)

VSP Consumo energético - Elétrico Consumo energético - Gasóleo

Page 88: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

66

No evento (F), Figura 3.18 (F) e Figura 4.20, a comparação entre os dois autocarros é semelhante

àquela que pode ser feita no evento (E). Novamente as curvas de consumo dos dois veículos

apresentam uma forma e tendência semelhante, sendo de novo separadas, na sua generalidade, por

um fator de escala. Assim, no final deste evento, o autocarro elétrico apresenta um consumo de 1,24

kWh enquanto que o autocarro a gasóleo apresenta um consumo de 2,46 kWh, ou seja, cerca de 2,5

vezes o consumo do primeiro.

Figura 4.20 – Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a gasóleo no evento (F) de Lisboa.

O evento (G), Figura 3.18 (G) e Figura 4.21, apresenta uma situação de circulação a uma velocidade

média bastante baixa ao longo de apenas 100 m com um declive praticamente nulo. Esta situação é

muito mais favorável ao autocarro elétrico do que ao convencional, devido à grande diferença dos

consumos de ralenti de cada um. Este tipo de eventos permite ao autocarro elétrico fazer uma

alternância entre momentos de fornecimento e regeneração de energia, levando a que no total a

energia consumida seja muito inferior à do autocarro convencional. Assim, no final deste evento o

autocarro elétrico tinha consumido apenas 0,18 kWh enquanto que o autocarro a gasóleo tinha

consumido 2,32 kwh. Ou seja, neste evento em particular, o autocarro a gasóleo apresentou um

consumo cerca de 13 vezes superior ao do autocarro elétrico.

Figura 4.21 - Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a gasóleo no evento (G) de Lisboa.

0

1

2

3

4

-15

-10

-5

0

5

10

15

0 100 200 300 400 500

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VSP Consumo energético - Elétrico Consumo energético - Gasóleo

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0 20 40 60 80 100

Energ

ia c

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ida

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W/k

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Distância (m)

VSP Consumo energético - Elétrico Consumo energético - Gasóleo

Page 89: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

67

Por último, no evento (H), Figura 3.18 (H) e Figura 4.22, mais uma vez é evidenciada a vantagem

do autocarro elétrico no que toca à capacidade de regeneração de energia, e a desvantagem do

autocarro a gasóleo no que toca aos consumos de ralenti. Assim, uma vez que durante todo o evento

a estrada apresenta um declive negativo, o autocarro elétrico chega ao fim do mesmo com um consumo

de energia negativo de -0,44 kWh, enquanto que o autocarro convencional apresenta um consumo de

1,21 kWh.

Figura 4.22 - Comparação da energia consumida (TTW) pelo autocarro elétrico e pelo autocarro a gasóleo no evento (H) de Lisboa.

Tal como foi feito para o conjunto de eventos da subsecção anterior, pode comparar-se de forma

mais global os dois autocarros em questão nos eventos referidos anteriormente considerando os

consumos de energia e as emissões de GEE numa base WTW (Tabela 4.11). No pior evento para o

autocarro elétrico, evento (E), este apresenta um consumo de energia 7,4% superior ao autocarro a

gasóleo, caso a eletricidade provenha do mix energético português, ou um consumo 40,5% inferior

caso a eletricidade provenha de fontes 100% renováveis. Ainda assim em qualquer um dos casos existe

uma redução significativa nas emissões de GEE, com 41,8% e 97,1% de redução, respetivamente. Na

melhor situação, evento (H), o autocarro elétrico apresenta um consumo negativo, conseguindo acabar

o evento com um consumo negativo equivalente a 81,7% ou 45,3 % do consumo do autocarro a

gasóleo, consoante a fonte de energia seja o mix português ou fontes 100% renováveis. Em todos os

eventos analisados o autocarro elétrico apresenta uma superioridade inegável no que toca à

minimização das emissões de GEE. Na Tabela 7.6, em anexo, encontram-se todos os valores obtidos

a partir da análise destes eventos.

Tabela 4.11 - Percentagem da redução de consumo de energia e de GEE, numa base WTW, que o autocarro elétrico proporciona em relação ao autocarro a gasóleo, para os eventos selecionados a partir das rotas de

Lisboa.

(E) (F) (G) (H)

Consumo (PT) -7,4% 8,8% 82,3% 181,7%

Consumo (REN) 40,5% 49,4% 90,2% 145,3%

GEE (PT) 41,8% 50,5% 89,5% 144,2%

GEE (REN) 97,1% 97,5% 99,5% 102,2%

-1

-0,5

0

0,5

1

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0

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0 50 100 150 200 250 300 350

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W/k

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Distância (m)

VSP Consumo energético - Elétrico Consumo energético - Gasóleo

Page 90: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

68

4.4. Análise operacional do autocarro quando em circulação nos percursos estudados

A análise relativa ao desempenho operacional do autocarro elétrico em estudo foi levada a cabo

através dos dados presentes na Tabela 4.1, Tabela 4.7 e Figura 4.13, conforme descrito na secção

3.10.

Analisando os resultados obtidos (Tabela 4.12), é possível ver que para as três rotas urbanas de

passageiros, que são constituídas pelos troços P3/P4/P5 (representa a média do mesmo troço

percorrido 3 vezes), L1+L2 e L3+L4, o autocarro tem o potencial de estar operacional durante 91,1% a

92,5% do tempo, o que representa, para estas rotas, poder estar sem recarregar durante cerca de 8 a

9 horas. Já no caso da rota extra-urbana de passageiros, M1, e como seria de esperar devido às

velocidades médias bastante mais elevadas, a percentagem de tempo máxima em que o autocarro

consegue apresentar-se operacional decresce para os 83,9%, representando um carregamento a cada

4 horas de utilização. Assim, se o objetivo for ter o autocarro operacional o maior período de tempo

possível, as rotas urbanas são as mais indicadas para este veículo com a sua configuração de bateria

atual.

Tabela 4.12 - Análise operacional do autocarro elétrico em estudo quando em circulação nos percursos estudados.

P3/P4/P5 L1+L2 L3+L4 M1

Capacidade da bateria (kWh) 85 85 85 85 Consumo por volta (kWh) 9,69 12,27 11,40 42,27

Número de voltas possível por carga 8 6 7 2 SOC final (%) 8,8 13,4 6,1 0,5

Carga restante (kWh) 7,48 11,38 5,20 0,46 Duração média por volta (s) 3470 5560 4095 7048

Tempo operacional por carga (h) 7h:42m 9h:16m 7h:58m 3h:55m Tempo de recarregamento (min) 45 min 45 min 45 min 45 min

Percentagem máxima de tempo que pode estar operacional (%)

91,1 92,5 91,4 83,9

Page 91: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

69

5. Conclusões e trabalho futuro

O presente estudo teve como principal objetivo avaliar o desempenho do autocarro elétrico a bateria

e.City Gold, da Caetano Bus, quando em condições reais de utilização. Os dados necessários para tal

foram recolhidos através de ensaios experimentais em estrada quando este se encontrava a realizar

rotas reais de passageiros, correspondendo assim à utilização que este terá quanto começar a circular

periodicamente ao serviço das empresas de transportes públicos.

Com os dados recolhidos, e através da metodologia VSP, foi possível caracterizar o conjunto

propulsor do autocarro e a forma como este reagia a diferentes condições de circulação e terreno. Foi

concluído, tal como esperado, que a potência consumida pelo motor do autocarro varia de forma

praticamente linear com a potência que lhe é requerida pela dinâmica do veículo. Isto tanto para as

ocasiões em que este funcionava como motor, fornecendo energia ao autocarro, como para as ocasiões

em que funcionava como gerador, retirando energia ao mesmo. Foi concluído que a eficiência média

do conjunto propulsor é de 94% para os modos VSP positivos, ou seja, quando está a funcionar como

motor, e 78% para os modos VSP negativos, ou seja, quando está a funcionar como gerador. Concluiu-

se ainda que os equipamentos auxiliares do autocarro, como a iluminação, o computador de bordo, a

climatização e os equipamentos pneumáticos que suportam a travagem mecânica do mesmo

consumiram em média uma potência de 3,28 kW ao longo da duração de todos os ensaios.

Através da caracterização feita com a metodologia VSP foi possível avaliar o consumo do autocarro

em função da velocidade e do declive do terreno. Foi possível concluir que a potência máxima do seu

motor, 160 kW, limita a velocidade de subida para inclinações superiores a 3º, sendo que para

inclinações de 4º a velocidade máxima de subida é de 60 km/h e para inclinações de 5º esta velocidade

baixa para 50 km/h. Para inclinações inferiores a 3º, o que limita a velocidade de subida do veículo é a

rotação máxima do motor. Foi também possível concluir que, nas situações em que o declive da via é

nulo, a potência utilizada pelo autocarro varia de forma aproximadamente cúbica com a velocidade, o

que indica que é a sua resistência aerodinâmica o fator que mais influência esta relação. Tal faz sentido

devido ao comportamento praticamente linear do motor elétrico. Adicionalmente concluiu-se que para

condições de declive negativo inferior a -1º o autocarro apresenta um ganho líquido de energia,

recarregando assim as suas baterias quando circula nestas circunstâncias.

Em relação à influência do SOC da bateria no valor da potência por modo VSP, foi concluído que

essa esta apenas existe quando os valores de SOC são muito elevados, na ordem dos 90%-100%, e

que essa influência se traduz numa diminuição da potência que o autocarro consegue regenerar nos

modos VSP negativos.

A análise que comparou a potência fornecida ao motor, por modo VSP, entre os percursos urbanos

e os extra-urbanos, permitiu concluir que o comportamento do motor, em termos de eficiência

energética, é praticamente o mesmo para os dois tipos de percurso, não havendo assim nessa

perspetiva um tipo de percurso que o favoreça mais. Através dos dados desta análise foi concluído

ainda que o consumo de energia do motor, em termos de kWh por quilómetro percorrido, é cerca de

11% inferior para o percurso considerado urbano em comparação com o percurso extra-urbano. Esta

Page 92: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

70

diferença deve-se principalmente ao facto de que as velocidades mais elevadas do percurso extra-

urbano implicam perdas de energia superiores devido ao maior atrito aerodinâmico.

Em relação à análise que comparou a potência fornecida ao motor, por modo VSP, em função do

declive da estrada, esta permitiu concluir que existe uma tendência que associa maiores potências a

declives mais elevados, para os modos VSP positivos. Num contexto VSP, isto significa que a eficiência

do motor é ligeiramente afetada, de forma negativa, quando em circulação em declives mais elevados.

Esta conclusão faz sentido tendo em conta que normalmente a circulação associada a declives mais

elevados corresponde a menores velocidades de rotação do motor e cargas mais elevadas, zona de

funcionamento em que o tipo de construção do motor em causa apresenta normalmente eficiências

mais baixas. Assim, concluiu-se que entre a classe de declive 3 (0 a 2,5º) e a 4 (2,5 a 5º), existe um

aumento de consumo de cerca de 13% na zona dos modos VSP positivos.

Um modelo computacional do autocarro elétrico foi analisado no software AVL CRUISE com o

objetivo de verificar se este produzia resultados semelhantes aos obtidos nos ensaios experimentais.

Este modelo foi construído a partir das especificações do autocarro fornecidas pelos técnicos da

Caetano e complementado com dados da literatura, quando necessário, sendo a validação deste

modelo feita através dos dados recolhidos durante os ensaios experimentais. Para 4 dos 6 percursos

simulados, os resultados referentes ao consumo de energia do motor obtidos através do modelo

variaram entre valores 5% inferiores e 4% superiores ao real, um resultado bastante satisfatório. Os 2

outros percursos simulados apresentaram erros bastante superiores, mas tal ter-se-á devido ao facto

de os dados experimentais relativos a estes terem sido recolhidos quando a capacidade de

regeneração do autocarro se encontrava limitada devido ao elevado SOC da bateria, algo que não foi

tido em conta no modelo computacional. A comparação feita ao nível da potência fornecida ao motor

em função do modo VSP permitiu concluir que o modelo se comportava de forma semelhante ao

autocarro real, sendo que, no entanto, o modelo apresenta potências de regeneração cerca de 20%

inferiores para os modos VSP -2 a -7 e entre 10% inferiores e 10% superiores para os modos VSP 3 a

7. De um modo geral concluiu-se também que a curva temporal da potência fornecida ao motor no

modelo seguia de forma bastante semelhante a potência real medida experimentalmente. A

continuação da análise e melhoramento do modelo computacional não pode ser continuada devido à

inesperada falta de disponibilidade do software. Futuramente este trabalho poderia ser retomado com

vista a melhorar o modelo já existente, podendo assim ser desenvolvida uma ferramenta que ajudasse

a traçar a direção que as especificações deste autocarro deveriam seguir para este cumprir um dado

objetivo operacional específico, de modo a poder ser otimizado caso a caso consoante as situações de

operação.

Utilizando a caracterização feita para os vários percursos recolhidos (6 recolhidos no Porto a bordo

do autocarro elétrico, 4 recolhidos em Lisboa a bordo de um autocarro convencional e um recolhido da

literatura) foi feita uma comparação, em termos de consumo de energia e emissões de GEE, com base

na metodologia VSP, entre o autocarro elétrico em estudo e um autocarro convencional a gasóleo. Esta

análise permitiu concluir que o autocarro elétrico apresenta sempre consumos de energia inferiores ao

autocarro convencional, quer numa perspetiva TTW quer numa perspetiva WTW, com reduções na

Page 93: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

71

ordem dos 70% para percursos urbanos e 50% para percursos extra-urbanos, isto numa perspetiva

WTW e considerando que a energia que o autocarro elétrico utiliza provém da rede elétrica nacional.

Estas reduções são ainda maiores caso a eletricidade utilizada provenha de fontes 100% renováveis,

valendo então cerca de 80-85% e 70-75%, respetivamente. Em relação às emissões de GEE o

autocarro elétrico apresenta igualmente valores sempre inferiores ao autocarro convencional, quer

numa perspetiva TTW, em que o primeiro não apresenta quaisquer emissões, quer numa perspetiva

WTW, com reduções na ordem dos 84% para percursos urbanos e 73% para percursos extra-urbanos,

isto numa perspetiva WTW e considerando que a energia que o autocarro elétrico utiliza provém da

rede elétrica nacional. Estas reduções são ainda maiores caso a eletricidade utilizada provenha de

fontes 100% renováveis, valendo então cerca de 99% e 98%, respetivamente.

Foi realizada também uma comparação entre os dois autocarros baseada em eventos específicos.

Estes eventos eram compostos por paragens seguidas de arranque e arranques seguidos de

circulação, sendo que em cada uma das categorias havia situações diferentes no que toca ao declive

da via. De 8 eventos realizados o autocarro elétrico apresentou consumos de energia superiores ao

convencional em apenas um deles, isto numa perspetiva WTW e considerando eletricidade proveniente

do mix energético português, mas mesmo assim apresentou emissões de GEE inferiores em cerca de

42%. Porém, de uma forma geral, o autocarro elétrico apresenta um desempenho energético e

ambiental claramente superior ao autocarro convencional, principalmente nos eventos de paragem

seguida de arranque, nos quais apresenta reduções no consumo de energia entre 31% e 133% e

reduções nas emissões de GEE entre 63% e 117%, considerando o mix energético português. Estes

valores para os eventos de arranque seguido de circulação ficaram entre os -7% e 182% e 42% e

144%, respetivamente. É ainda visível na análise destes eventos que as situações de maior

superioridade do autocarro elétrico em termos de consumo de energia e emissões de GEE ocorrem em

circulação a baixas velocidades, em situações de declive negativo e em situações de travagem.

Uma análise operacional do autocarro elétrico foi desenvolvida para os percursos estudados que

correspondem a rotas comerciais de passageiros. Através dela foi possível concluir que para as rotas

com características urbanas o autocarro podia operar continuamente sem recarregar por períodos entre

7h:42m e 9h:16m, fazendo com que nesses casos ele estivesse operacional durante 91% e 93% do

tempo, respetivamente. Já no caso da rota com características extra-urbanas estes valores são

notoriamente mais baixos, podendo o autocarro circular durante cerca de 4h sem ter necessidade de

recarregar, o que corresponde a uma disponibilidade operacional de 84%.

Futuramente o trabalho aqui desenvolvido poderia ser complementado através da realização de

mais ensaios experimentais a bordo do autocarro elétrico que permitissem fazer uma melhor

caracterização ao nível da variação da eficiência do motor do mesmo com a sua carga e rotação, com

vista a poder melhorar o modelo desenvolvido no software AVL CRUISE, podendo assim ser feita uma

melhor seleção das especificações do autocarro principalmente no que diz respeito à dimensão da

bateria.

Seria também interessante conseguir fazer uma melhor caracterização dos equipamentos auxiliares

do autocarro, pois em situações de circulação a muito baixas velocidades médias ou em situações de

Page 94: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

72

elevada utilização da climatização do veículo estes consumos têm uma influência significativa no

consumo global do mesmo, e dessa forma essa influência poderia ser mais bem compreendida e

modelada.

Adicionalmente seria interessante comparar o desempenho do autocarro elétrico estudado com uma

maior gama de autocarros convencionais, especialmente com os mais recentes em termos de

tecnologias de redução de consumo de energia e emissão de poluentes.

Assim que surgissem mais opções de autocarros elétricos a bateria no mercado português seria

também uma boa sugestão fazer uma comparação entre esses novos autocarros e aquele aqui

estudado, de modo a perceber se existem discrepâncias significativas no desempenho das várias

tecnologias propostas ou se todas elas convergem para um dado standard.

Page 95: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

73

6. Referências

[1] REN21 Steering Commitee. RENEWABLES 2016 - GLOBAL STATUS REPORT. 2016.

[2] Eurostat. Consumption of energy - statistics explained 2016.

http://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/Consumption_of_energy (accessed

March 23, 2018).

[3] Eurostat. Greenhouse gas emission statistics - emission inventories - Statistics Explained n.d.

http://ec.europa.eu/eurostat/statistics-

explained/index.php/Greenhouse_gas_emission_statistics_-_emission_inventories (accessed

March 23, 2018).

[4] Eurostat. Air pollution statistics - emission inventories - Statistics Explained n.d.

http://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/Air_pollution_statistics_-

_emission_inventories (accessed March 23, 2018).

[5] Faias S, Sousa J, Xavier L, Ferreira P. Energy Consumption and CO2 Emissions Evaluation for

Electric and Internal Combustion Vehicles using a LCA Approach. Int Conf Renew Energies

Power Qual 2014;1:1382–8. doi:10.24084/repqj09.660.

[6] Yong JY, Ramachandaramurthy VK, Tan KM, Mithulananthan N. A review on the state-of-the-

art technologies of electric vehicle, its impacts and prospects. Renew Sustain Energy Rev

2015;49:365–85. doi:10.1016/j.rser.2015.04.130.

[7] Hannan MA, Azidin FA, Mohamed A. Hybrid electric vehicles and their challenges: A review.

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Page 98: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XXI

7. Anexos

Tabela 7.1 – Consumo de energia e emissões de GEE, em base TTW, para o autocarro elétrico em estudo e para um autocarro diesel, para os troços com características de percurso urbano.

Troço Veículo Consumo do

motor (kWh/km)

Consumo dos auxiliares (kWh/km)

Consumo total (kWh/km)

Emissões de CO2 (g/km)

Mix português Eletricidade 100%

renovável

Tro

ço

s c

om

decli

ves

méd

ios m

en

os

acen

tuad

os

P3 Elétrico 0,65 0,22 0,87 0,00 0,00

Gasóleo 6,62 - 6,62 1786,62

P4 Elétrico 0,71 0,21 0,92 0,00 0,00

Gasóleo 6,64 - 6,64 1791,92

P5 Elétrico 0,68 0,21 0,89 0,00 0,00

Gasóleo 6,48 - 6,48 1748,93

Tro

ço

s c

om

decli

ves

méd

ios

mais

acen

tuad

os

L1 Elétrico 0,76 0,24 1,00 0,00 0,00

Gasóleo 7,59 - 7,59 2048,89

L2 Elétrico 0,48 0,27 0,75 0,00 0,00

Gasóleo 7,74 - 7,74 2087,95

L3 Elétrico 0,66 0,21 0,87 0,00 0,00

Gasóleo 6,39 - 6,39 1723,57

L4 Elétrico 0,66 0,22 0,89 0,00 0,00

Gasóleo 6,90 - 6,90 1862,40

Page 99: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XXII

Tabela 7.2 – Consumo de energia e emissões de GEE, em base TTW, para o autocarro elétrico em estudo e para um autocarro diesel, para os troços com características de percurso extra-urbano.

Troço Veículo Consumo do motor

(kWh/km) Consumo dos auxiliares

(kWh/km) Consumo total

(kWh/km)

Emissões de GEE (gCO2eq/km)

Mix português

Eletricidade 100% renovável

Tro

ço

s c

om

men

or

% d

e v

ia

ráp

ida

P1

Elétrico 0,32 0,10 0,41 0,00 0,00

Gasóleo 3,33 - 3,33 898,60

P2

Elétrico 0,70 0,10 0,80 0,00 0,00

Gasóleo 3,72 - 3,72 1004,59

P6

Elétrico 0,87 0,10 0,97 0,00 0,00

Gasóleo 4,17 - 4,17 1124,38

Tro

ço

s c

om

maio

r %

de

via

ráp

ida

M1

Elétrico 0,85 0,13 0,97 0,00 0,00

Gasóleo 4,64 - 4,64 1253,76

Page 100: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XXIII

Tabela 7.3 – Consumo de energia e emissões de GEE, em base WTW, para o autocarro elétrico em estudo e para um autocarro diesel, para os troços com características de percurso urbano.

Troço Veículo Consumo do motor TTW (kWh/km)

Consumo dos auxiliares TTW

(kWh/km)

Consumo total (PT) (kWh/km)

Consumo total (REN)

(kWh/km)

Emissões de GEE (gCO2eq/km)

Mix português Eletricidade

100% renovável

Tro

ço

s c

om

decli

ves

méd

ios m

en

os

acen

tuad

os

Elétrico 0,65 0,22 2,41 1,33 348,09 17,57

Gasóleo 6,62 - 8,14 2174,30

P4 Elétrico 0,71 0,21 2,55 1,41 368,22 18,59

Gasóleo 6,64 - 8,17 2180,75

P5 Elétrico 0,68 0,21 2,45 1,36 355,02 17,92

Gasóleo 6,48 - 7,97 2128,43

Tro

ço

s c

om

decli

ves

méd

ios m

ais

acen

tuad

os

L1 Elétrico 0,76 0,24 2,77 1,54 400,92 20,24

Gasóleo 7,59 - 9,34 2493,48

L2 Elétrico 0,48 0,27 2,07 1,15 299,86 15,14

Gasóleo 7,74 - 9,51 2541,02

L3 Elétrico 0,66 0,21 2,41 1,34 348,64 17,60

Gasóleo 6,39 - 7,85 2097,57

L4 Elétrico 0,66 0,22 2,45 1,36 354,81 17,91

Gasóleo 6,90 - 8,49 2266,53

Page 101: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XXIV

Tabela 7.4 – Consumo de energia e emissões de GEE, em base WTW, para o autocarro elétrico em estudo e para um autocarro diesel, para os troços com

características de percurso extra-urbano.

Troço Veículo Consumo do motor TTW (kWh/km)

Consumo dos auxiliares TTW

(kWh/km)

Consumo total (PT) (kWh/km)

Consumo total (REN)

(kWh/km)

Emissões de GEE (gCO2eq/km)

Mix português Eletricidade

100% renovável

Tro

ço

s c

om

men

or

% d

e

via

ráp

ida

P1 Elétrico 0,32 0,10 1,14 0,63 164,62 8,31

Gasóleo 3,33 - 4,09 1093,59

P2 Elétrico 0,70 0,10 2,22 1,23 320,88 16,20

Gasóleo 3,72 - 4,58 1222,58

P6 Elétrico 0,87 0,10 2,69 1,49 389,05 19,64

Gasóleo 4,17 - 5,12 1368,36

Tro

ço

s c

om

maio

r %

de

via

ráp

ida

M1

Elétrico 0,85 0,13 2,69 1,49 388,89 19,63

Gasóleo 4,64 - 5,71 1525,82

Page 102: Avaliação do desempenho de autocarro eléctrico em

XXV

Tabela 7.5 - Consumo de energia, TTW e WTW, e emissões de GEE, em base WTW, para o autocarro elétrico em estudo e para um autocarro diesel, para os eventos de paragens seguidas de arranque com

inclinação positiva, (A) e (B), ou negativa, (C) e (D).

Evento Veículo Consumo total TTW (kWh/km)

Consumo total WTW (PT) (kWh/km)

Consumo total WTW (REN) (kWh/km)

Emissões de GEE WTW (gCO2eq/km)

Mix português

Eletricidade 100%

renovável

(A) Elétrico 0,43 1,17 0,65 169,73 8,57

Gasóleo 2,18 2,68 715,34

(B) Elétrico 0,60 1,67 0,92 241,38 12,19

Gasóleo 1,98 2,43 649,59

(C) Elétrico -0,24 -0,66 -0,37 -88,24 -4,46

Gasóleo 1,63 2,01 511,42

(D) Elétrico 0,10 0,28 0,16 40,58 2,05

Gasóleo 1,65 2,03 542,20

Tabela 7.6 - Consumo de energia, TTW e WTW, e emissões de GEE, em base WTW, para o autocarro elétrico em estudo e para um autocarro diesel, para os eventos de arranque seguido de circulação com

inclinação positiva, (E) e (F), nula, (G), ou negativa, (H).

Evento Veículo Consumo total TTW (kWh/km)

Consumo total WTW (PT) (kWh/km)

Consumo total WTW (REN) (kWh/km)

Emissões de GEE WTW (gCO2eq/km)

Mix português

Eletricidade 100%

renovável

(E) Elétrico 0,79 2,18 1,21 315,35 15,92

Gasóleo 1,65 2,03 541,93

(F) Elétrico 1,24 3,43 1,90 417,20 21,06

Gasóleo 3,05 3,76 842,07

(G)

Elétrico 0,18 0,51 0,28 30,83 1,56

Gasóleo 2,32 2,86 292,59

(H) Elétrico -0,44 -1,22 -0,67 -176,11 -8,89

Gasóleo 1,21 1,49 398,10