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8.60 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 Definições A vela é um esporte náutico caracterizado pela habilidade de conduzir e manobrar embarcações com propulsão à vela. Originalmente conhecido como “iatismo”, este esporte assumiu a denominação de “vela” a fim de se diferenciar do “iatismo a motor”, pois a origem desses dois esportes é comum, pois se utilizam de embarcações. A vela é praticada tanto na forma de competição (regatas) como na forma de lazer (cruzeiro). Ambas as atividades são tratadas como navegação amadora na legislação marítima brasileira, que exige habilitação específica para a prática. As Normas da Autoridade Marítima para Amadores 3, (NORMAM 3), que são as “Normas para Embarcações de Esporte e/ou Recreio e para Cadastramento e Funcionamento das Marinas, Clubes e Entidades Desportivas Náuticas”, dispõem sobre quatro tipos de habilitação, categoria amador para a vela: a) veleiro amador, até 16 anos, b) arrais amador, c) mestre amador e d) capitão amador. Observe-se que, excetuando-se a primeira, as outras categorias habilitam o portador também a navegar em embarcações de recreio com propulsão a motor. A entidade internacional que organiza o esporte competitivo é a International Sailing Federation – ISAF, e a autoridade nacional é a Federação Brasileira de Vela e Motor - FBVM. Existem 14 Federações Estaduais de Vela no Brasil. Na vela há diferentes tipos de embarcações, que variam em características e propósitos. Quando estas embarcações seguem um mesmo projeto naval, na tradição náutica são correntemente denominadas “classes” (Tabela 1). As classes, especialmente as de competição estão organizadas em “Associações de Classe”, sejam elas regionais, nacionais ou internacionais. Para os Jogos Olímpicos e para os Jogos Pan-Americanos, conforme resolução da ISAF e do Comitê Olímpico Internacional-COI, as competições são organizadas em “equipamentos” que têm sua correspondência em classes (Tabela 2). Origens Do ponto de vista histórico, admite-se que a Vela se inicia como esporte na Holanda em meados do século XVII. A Holanda daquela época era uma grande potência de comércio marítimo e havia um grande número de embarcações menores que navegavam nos canais do país. Estas embarcações eram chamadas de jagth e “muitos nobres e abastados homens de negócio” possuíam um desses barcos para transporte e lazer. Atribui-se ao rei Charles II da Inglaterra, que estivera exilado na Holanda, o estímulo ao yachting, pois foi ele quem solicitou o desenvolvimento dos projetos holandeses e promoveu as primeiras regatas à vela. Em 1720 foi fundado na Irlanda o Royal Water Club of the Harbour of Corck, considerado o primeiro clube do esporte. Em 1851 o iate America aceita o desafio do Royal Yacht Squadron e conquista a Copa de 100 Guinéus vencendo a flotilha britânica diante da Rainha Victoria e sua corte. A partir daí criou-se o desafio da Copa América. Hoje a Copa América é a competição esportiva mais antiga ainda em disputa e certamente uma das mais dispendiosas. Com a expansão marítima e comercial da Inglaterra, bem como a influência política e cultural no século XIX desse país, o esporte da vela difundiu-se pelo mundo. A primeira participação da vela nos Jogos Olímpicos se deu em 1900, em Paris. No Brasil, a primeira prova esportiva de vela noticiada em jornais foi realizada em Paquetá, baía de Guanabara no Rio de Janeiro, em 1875, por ocasião das festas de São Roque, padroeiro dos pescadores. Em 7 de setembro de l877, na Enseada de Botafogo, Vela GUILHERME BORGES PACHECO PEREIRA Sailing Besides its traditions of excellence, creativity and technology of great prominence in Brazil, sailing is the sport that has had the best results in international competitions. There have been sailing competitions in Rio de Janeiro since 1877, when this sport was consolidated in England and taken to various European countries and to the U.S. The very first sailing club was founded in RJ in 1906 and, in 1913, another one came up in Niterói-RJ, where a cluster was developed with the additional foundation of several clubs and initiatives of boat building for both leisure and competition. The first units of “Hagen Sharpie”, a boat designed and produced by a group of sailors of the Rio Sailing Club of Niterói, were launched in 1915. Most of the members of the club and sailors of the Niterói cluster included Germans and their descendants, situation which had prevailed until a few years ago. Likewise, other groups of German immigrants created similar clusters in Porto Alegre- RS and in São Paulo-SP. The Brazilian class of competition boats was developed in 1934: the Guanabara class, which permitted sailing to be practiced all over the country. The lone sailor who participated in the Olympic Games in Berlin in 1936 was from Niterói. In the following decades, as several classes were added to the clubs and to the national competitions, it became possible for Brazilian sailing to take part in international competitions, especially because of two prominent Brazilian sailors: Walter von Hütschler (double citizenship) and Joerg Bruder. They were both world champions in their respective classes and inventors of technologies that changed the construction of competition boats in international terms. This chapter analyzes the evolution of the main competition classes – with emphasis on ocean sailing – in Brazil up to the present stage including advances in paralympic sailing, female sailing, and technology of boat building, which is supported by three participating Brazilian universities. Social-educational projects that offer sailing opportunities for low-income population groups, with promising results, are also reported in this chapter. Today’s data in Table 4 show the economic impact of sailing in Brazil. houve outra competição de veleiros, destacando-se os barcos “Poti”, “Canário” e “Veloz”. Nesta época pioneira, o Clube Botafogo de Regatas, do Rio de Janeiro, já se destacava por ter equipes de remo e vela. Entretanto, a organização do esporte definiu-se no início do século seguinte, a partir de dois pólos de desenvolvimento: Rio de Janeiro e Niterói. Mais tarde surgiram dois outros centros: um localizado nas represas do estado de São Paulo e outro às margens do Rio Guaíba, em Porto Alegre. Além dessas concentrações, o desenvolvimento da vela brasileira tem acontecido por meio de líderes da modalidade e das Associações de Classe. 1906 Em que pese iniciativas pioneiras vindas desde o século XIX, é aceito que o berço da vela, como esporte organizado, foi o antigo Yatch Club Brasileiro, fundado neste ano e tendo como primeiro Comodoro o então Ministro da Marinha, Almirante Alexandrino de Alencar. Este clube funcionou inicialmente no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, mudando-se em 1910 para a praia de Gragoatá em Niterói, no lado oposto da baía de Guanabara. 1910-1921 O Movimento Escoteiro (Escotismo) é fundado no Brasil por oficiais e praças da Marinha de Guerra do Brasil, que tomaram conhecimento do movimento em missão na Inglaterra (há versões, contudo, que indicam uma fundação anterior no RS, pelo clubes Turnen). Pouco tempo depois são criados os primeiros grupos de escoteiros do mar e em 1921, foi fundada em Niterói a Federação de Escoteiros do Mar do Brasil. Benjamim Sodré, Gilmirez de Melo e Carlos Nascimento foram, entre outros, grandes líderes desse movimento, que teve destacada importância na difusão da vela e dos conhecimentos sobre o mar. Através da participação em inúmeros eventos de vela organizados pelo escotismo do mar, muitos jovens se iniciaram no esporte. Atualmente existem vários grupos de escoteiros do mar em atividade espalhados pelo Brasil, cumprindo a mesma função. O Grupo de Escoteiros do Mar mais antigo ainda em atividade é o 10º Grupo, fundado em 1915, com base no Rio de Janeiro. 1913 Os velejadores mais ativos do Yatch Club Brasileiro resolvem criar um outro clube como desdobramento do anterior, exclusivamente voltado para a prática esportiva da vela: o Rio Sailing Club, que se instalou em Niterói, RJ, no Saco de São Francisco, local onde se encontra até hoje. 1914 O Yatch Club Brasileiro é uma das entidades signatárias da Ata de Fundação do Comitê Olímpico Brasileiro-COB. 1915 Lançamento à água das primeiras unidades Hagen Sharpie, barco desenhado e produzido pelo grupo de velejadores do Rio Sailing Club. Naquela época os barcos tinham de ser importados da Europa, pois não havia estaleiros e carpinteiros navais familiarizados com a construção de barcos para esporte. E como a I Guerra Mundial tornou a importação de barcos mais difícil, os sócios do clube se reuniram e decidiram sobre a criação de um tipo de barco nacional que atendesse às exigências dos velejadores: não muito grande e oneroso, suficientemente seguro, e de fácil construção. O desenho ficou a cargo de Harry Hagen, um dos sócios, razão pela qual passou a ter o seu nome. O casco foi uma novidade para aquela época, pois tinha o fundo em “V”, o que facilitava a construção amadora. A flotilha do Hagen Sharpie favoreceu também o crescimento da vela. 1920 Surge na Enseada de Botafogo, hoje bairro da Urca, no Rio de Janeiro, o Fluminense Yacht Club. Embora localizado à beira d’água, pouco tinha a ver com a vela: a sua principal atividade era a aviação esportiva. Com a II Guerra Mundial, os combustíveis foram racionados e voar por esporte tornou-se mais difícil. Depois de um sério acidente em que faleceu o esportista Darke de Mattos, a Prefeitura decidiu condenar o campo de pouso por achá-lo perigoso. Por iniciativa de um grupo de sócios, o clube passou então a investir nos esportes náuticos. Em 1942 mudou o nome para Iate Clube do Rio de Janeiro-ICRJ e é atualmente um dos maiores e um dos mais importantes iates clube do país. O ICRJ promove, desde 1944, a Regata Darke de Mattos, para a Classe Star, que é a competição esportiva regular mais antiga do país. Décadas 1920 – 1930 Nos anos de 1920, em Porto Alegre–RS, alguns esportistas pioneiros velejavam pelo rio Guaíba e a se reuniam no bar Liliput daquela cidade. Da formação deste grupo surgiram as primeiras regatas na raia do bairro Navegantes. A primeira prova oficial de Porto Alegre foi em abril de 1934. Porém a falta de um local adequado para abrigar os barcos levou o empresário Leopoldo Geyer a adquirir um terreno na rua Frederico Mentz, onde o grupo de velejadores pudesse dispor de um porto e de uma sede. No dia 12 de dezembro de 1934, em uma das habituais reuniões no Liliput, Hugo Berta sugeriu aproveitar a passagem do Dia do Marinheiro, para fundar a nova sociedade homenageando a Marinha do Brasil. Foi programado um jantar na Sociedade Germânia com tal finalidade. E assim, em 13 de dezembro de 1934, estava fundado o Clube Veleiros do Sul. Ewaldo Ritter foi escolhido o primeiro Comodoro. Desde o seu começo até os dias presentes, o Veleiros do Sul vem se mantendo fiel à sua filosofia de clube de vela. Foi o pioneiro do Brasil na participação de regatas internacionais, a partir de 1937, ao manter intercâmbio com os clubes do Uruguai e Argentina. Destacou-se ao sediar eventos nacionais e internacionais, assim como seus velejadores que têm conquistado títulos importantes para o iatismo brasileiro. 1923 O Yatch Club Brasileiro já renovado muda-se para o seu endereço atual no Saco de São Francisco, ao lado do Rio Sailing Club. A vela recomeçou a crescer, estimulada pelo grande número de alemães e seus descendentes, que formavam a maioria do quadro social. No mesmo ano o clube adotou um monotipo, uma “jolle” alemã de casco trincado, com 15 m² de área vélica. 1931 Neste ano foi lançado na Alemanha o “Sharpie” 12m², e no ano seguinte o Yacht Club Brasileiro o adotava, formando a primeira flotilha no Brasil. Rapidamente a classe se espalhou por todo país. 1934 Fundou-se neste ano primeiro clube de vela de Porto Alegre– RS, o Veleiros do Sul, e logo em seguida por iniciativa de seu criador, Leopoldo Geyer, tem início o Clube Jangadeiros e o Iate Clube Guaíba, fazendo da capital gaúcha um dos maiores centros de vela do país, à época. Na década de 1940, junto com José Cândido Pimentel Duarte do Rio de Janeiro, Geyer fundou e ajudou a manter a primeira revista especializada em vela, a Yachting Brasileiro. E para estimular a juventude fundou a Sociedade de Amigos da Vela - SAVEL, com o propósito de construir e financiar barcos para os jovens. E como o seu contemporâneo e colega esportista Pimentel Duarte, Geyer velejava no Guaíba e fazia cruzeiros na Lagoa dos Patos. Ele passava parte de seu tempo no Rio de Janeiro onde fazia cruzeiros na Baía de Guanabara com seu

Atlas Da Vela Brasiliera

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8.60 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006

Definições A vela é um esporte náutico caracterizado pelahabilidade de conduzir e manobrar embarcações com propulsão àvela. Originalmente conhecido como “iatismo”, este esporteassumiu a denominação de “vela” a fim de se diferenciar do“iatismo a motor”, pois a origem desses dois esportes é comum,pois se utilizam de embarcações. A vela é praticada tanto naforma de competição (regatas) como na forma de lazer (cruzeiro).Ambas as atividades são tratadas como navegação amadora nalegislação marítima brasileira, que exige habilitação específicapara a prática. As Normas da Autoridade Marítima para Amadores3, (NORMAM 3), que são as “Normas para Embarcações de Esportee/ou Recreio e para Cadastramento e Funcionamento das Marinas,Clubes e Entidades Desportivas Náuticas”, dispõem sobre quatrotipos de habilitação, categoria amador para a vela: a) veleiro amador,até 16 anos, b) arrais amador, c) mestre amador e d) capitão amador.Observe-se que, excetuando-se a primeira, as outras categoriashabilitam o portador também a navegar em embarcações de recreiocom propulsão a motor. A entidade internacional que organiza oesporte competitivo é a International Sailing Federation – ISAF, e aautoridade nacional é a Federação Brasileira de Vela e Motor -FBVM. Existem 14 Federações Estaduais de Vela no Brasil. Navela há diferentes tipos de embarcações, que variam emcaracterísticas e propósitos. Quando estas embarcações seguemum mesmo projeto naval, na tradição náutica são correntementedenominadas “classes” (Tabela 1). As classes, especialmente as decompetição estão organizadas em “Associações de Classe”, sejamelas regionais, nacionais ou internacionais. Para os Jogos Olímpicose para os Jogos Pan-Americanos, conforme resolução da ISAF e doComitê Olímpico Internacional-COI, as competições sãoorganizadas em “equipamentos” que têm sua correspondênciaem classes (Tabela 2).

Origens Do ponto de vista histórico, admite-se que a Vela seinicia como esporte na Holanda em meados do século XVII. AHolanda daquela época era uma grande potência de comérciomarítimo e havia um grande número de embarcações menoresque navegavam nos canais do país. Estas embarcações eramchamadas de jagth e “muitos nobres e abastados homens denegócio” possuíam um desses barcos para transporte e lazer.Atribui-se ao rei Charles II da Inglaterra, que estivera exilado naHolanda, o estímulo ao yachting, pois foi ele quem solicitou odesenvolvimento dos projetos holandeses e promoveu asprimeiras regatas à vela. Em 1720 foi fundado na Irlanda oRoyal Water Club of the Harbour of Corck, considerado oprimeiro clube do esporte. Em 1851 o iate America aceita odesafio do Royal Yacht Squadron e conquista a Copa de 100Guinéus vencendo a flotilha britânica diante da Rainha Victoriae sua corte. A partir daí criou-se o desafio da Copa América.Hoje a Copa América é a competição esportiva mais antigaainda em disputa e certamente uma das mais dispendiosas. Coma expansão marítima e comercial da Inglaterra, bem como ainfluência política e cultural no século XIX desse país, o esporteda vela difundiu-se pelo mundo. A primeira participação da velanos Jogos Olímpicos se deu em 1900, em Paris.

No Brasil, a primeira prova esportiva de vela noticiada em jornaisfoi realizada em Paquetá, baía de Guanabara no Rio de Janeiro,em 1875, por ocasião das festas de São Roque, padroeiro dospescadores. Em 7 de setembro de l877, na Enseada de Botafogo,

VelaGUILHERME BORGES PACHECO PEREIRA

Sailing

Besides its traditions of excellence, creativity and technology of greatprominence in Brazil, sailing is the sport that has had the best resultsin international competitions. There have been sailing competitions inRio de Janeiro since 1877, when this sport was consolidated in Englandand taken to various European countries and to the U.S. The very firstsailing club was founded in RJ in 1906 and, in 1913, another one cameup in Niterói-RJ, where a cluster was developed with the additionalfoundation of several clubs and initiatives of boat building for bothleisure and competition. The first units of “Hagen Sharpie”, a boatdesigned and produced by a group of sailors of the Rio Sailing Club ofNiterói, were launched in 1915. Most of the members of the club and

sailors of the Niterói cluster included Germans and their descendants,situation which had prevailed until a few years ago. Likewise, othergroups of German immigrants created similar clusters in Porto Alegre-RS and in São Paulo-SP. The Brazilian class of competition boatswas developed in 1934: the Guanabara class, which permitted sailingto be practiced all over the country. The lone sailor who participatedin the Olympic Games in Berlin in 1936 was from Niterói. In thefollowing decades, as several classes were added to the clubs and tothe national competitions, it became possible for Brazilian sailing totake part in international competitions, especially because of twoprominent Brazilian sailors: Walter von Hütschler (double citizenship)

and Joerg Bruder. They were both world champions in theirrespective classes and inventors of technologies that changed theconstruction of competition boats in international terms. This chapteranalyzes the evolution of the main competition classes – withemphasis on ocean sailing – in Brazil up to the present stageincluding advances in paralympic sailing, female sailing, andtechnology of boat building, which is supported by three participatingBrazilian universities. Social-educational projects that offer sailingopportunities for low-income population groups, with promisingresults, are also reported in this chapter. Today’s data in Table 4show the economic impact of sailing in Brazil.

houve outra competição de veleiros, destacando-se os barcos“Poti”, “Canário” e “Veloz”. Nesta época pioneira, o ClubeBotafogo de Regatas, do Rio de Janeiro, já se destacava por terequipes de remo e vela. Entretanto, a organização do esportedefiniu-se no início do século seguinte, a partir de dois pólos dedesenvolvimento: Rio de Janeiro e Niterói. Mais tarde surgiramdois outros centros: um localizado nas represas do estado deSão Paulo e outro às margens do Rio Guaíba, em Porto Alegre.Além dessas concentrações, o desenvolvimento da vela brasileiratem acontecido por meio de líderes da modalidade e dasAssociações de Classe.

1906 Em que pese iniciativas pioneiras vindas desde o século XIX,é aceito que o berço da vela, como esporte organizado, foi o antigoYatch Club Brasileiro, fundado neste ano e tendo como primeiroComodoro o então Ministro da Marinha, Almirante Alexandrino deAlencar. Este clube funcionou inicialmente no bairro de Botafogo,no Rio de Janeiro, mudando-se em 1910 para a praia de Gragoatáem Niterói, no lado oposto da baía de Guanabara.

1910-1921 O Movimento Escoteiro (Escotismo) é fundado noBrasil por oficiais e praças da Marinha de Guerra do Brasil, quetomaram conhecimento do movimento em missão na Inglaterra (háversões, contudo, que indicam uma fundação anterior no RS, peloclubes Turnen). Pouco tempo depois são criados os primeiros gruposde escoteiros do mar e em 1921, foi fundada em Niterói a Federaçãode Escoteiros do Mar do Brasil. Benjamim Sodré, Gilmirez de Meloe Carlos Nascimento foram, entre outros, grandes líderes dessemovimento, que teve destacada importância na difusão da vela edos conhecimentos sobre o mar. Através da participação eminúmeros eventos de vela organizados pelo escotismo do mar, muitosjovens se iniciaram no esporte. Atualmente existem vários gruposde escoteiros do mar em atividade espalhados pelo Brasil,cumprindo a mesma função. O Grupo de Escoteiros do Mar maisantigo ainda em atividade é o 10º Grupo, fundado em 1915, combase no Rio de Janeiro.

1913 Os velejadores mais ativos do Yatch Club Brasileiro resolvemcriar um outro clube como desdobramento do anterior,exclusivamente voltado para a prática esportiva da vela: o RioSailing Club, que se instalou em Niterói, RJ, no Saco de SãoFrancisco, local onde se encontra até hoje.

1914 O Yatch Club Brasileiro é uma das entidades signatárias daAta de Fundação do Comitê Olímpico Brasileiro-COB.

1915 Lançamento à água das primeiras unidades Hagen Sharpie,barco desenhado e produzido pelo grupo de velejadores do RioSailing Club. Naquela época os barcos tinham de ser importadosda Europa, pois não havia estaleiros e carpinteiros navaisfamiliarizados com a construção de barcos para esporte. E como aI Guerra Mundial tornou a importação de barcos mais difícil, ossócios do clube se reuniram e decidiram sobre a criação de um tipode barco nacional que atendesse às exigências dos velejadores:não muito grande e oneroso, suficientemente seguro, e de fácilconstrução. O desenho ficou a cargo de Harry Hagen, um dossócios, razão pela qual passou a ter o seu nome. O casco foi umanovidade para aquela época, pois tinha o fundo em “V”, o quefacilitava a construção amadora. A flotilha do Hagen Sharpiefavoreceu também o crescimento da vela.

1920 Surge na Enseada de Botafogo, hoje bairro da Urca, no Riode Janeiro, o Fluminense Yacht Club. Embora localizado à beirad’água, pouco tinha a ver com a vela: a sua principal atividade eraa aviação esportiva. Com a II Guerra Mundial, os combustíveisforam racionados e voar por esporte tornou-se mais difícil. Depoisde um sério acidente em que faleceu o esportista Darke de Mattos,a Prefeitura decidiu condenar o campo de pouso por achá-loperigoso. Por iniciativa de um grupo de sócios, o clube passouentão a investir nos esportes náuticos. Em 1942 mudou o nomepara Iate Clube do Rio de Janeiro-ICRJ e é atualmente um dosmaiores e um dos mais importantes iates clube do país. O ICRJpromove, desde 1944, a Regata Darke de Mattos, para a ClasseStar, que é a competição esportiva regular mais antiga do país.

Décadas 1920 – 1930 Nos anos de 1920, em Porto Alegre–RS,alguns esportistas pioneiros velejavam pelo rio Guaíba e a sereuniam no bar Liliput daquela cidade. Da formação deste gruposurgiram as primeiras regatas na raia do bairro Navegantes. Aprimeira prova oficial de Porto Alegre foi em abril de 1934. Poréma falta de um local adequado para abrigar os barcos levou oempresário Leopoldo Geyer a adquirir um terreno na rua FredericoMentz, onde o grupo de velejadores pudesse dispor de um porto ede uma sede. No dia 12 de dezembro de 1934, em uma das habituaisreuniões no Liliput, Hugo Berta sugeriu aproveitar a passagem doDia do Marinheiro, para fundar a nova sociedade homenageando aMarinha do Brasil. Foi programado um jantar na SociedadeGermânia com tal finalidade. E assim, em 13 de dezembro de 1934,estava fundado o Clube Veleiros do Sul. Ewaldo Ritter foi escolhidoo primeiro Comodoro. Desde o seu começo até os dias presentes, oVeleiros do Sul vem se mantendo fiel à sua filosofia de clube devela. Foi o pioneiro do Brasil na participação de regatasinternacionais, a partir de 1937, ao manter intercâmbio com osclubes do Uruguai e Argentina. Destacou-se ao sediar eventosnacionais e internacionais, assim como seus velejadores que têmconquistado títulos importantes para o iatismo brasileiro.

1923 O Yatch Club Brasileiro já renovado muda-se para o seuendereço atual no Saco de São Francisco, ao lado do Rio SailingClub. A vela recomeçou a crescer, estimulada pelo grande númerode alemães e seus descendentes, que formavam a maioria do quadrosocial. No mesmo ano o clube adotou um monotipo, uma “jolle”alemã de casco trincado, com 15 m² de área vélica.

1931 Neste ano foi lançado na Alemanha o “Sharpie” 12m², e noano seguinte o Yacht Club Brasileiro o adotava, formando a primeiraflotilha no Brasil. Rapidamente a classe se espalhou por todo país.

1934 Fundou-se neste ano primeiro clube de vela de Porto Alegre–RS, o Veleiros do Sul, e logo em seguida por iniciativa de seucriador, Leopoldo Geyer, tem início o Clube Jangadeiros e o IateClube Guaíba, fazendo da capital gaúcha um dos maiores centrosde vela do país, à época. Na década de 1940, junto com JoséCândido Pimentel Duarte do Rio de Janeiro, Geyer fundou e ajudoua manter a primeira revista especializada em vela, a YachtingBrasileiro. E para estimular a juventude fundou a Sociedade deAmigos da Vela - SAVEL, com o propósito de construir e financiarbarcos para os jovens. E como o seu contemporâneo e colegaesportista Pimentel Duarte, Geyer velejava no Guaíba e faziacruzeiros na Lagoa dos Patos. Ele passava parte de seu tempo noRio de Janeiro onde fazia cruzeiros na Baía de Guanabara com seu

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classe Carioca e cruzeiros e regatas de Oceano com o classe Brasil“Cairu”. Em 1984, aos 95 anos, Leopoldo Geyer faleceu, tornando-se um dos modelos de liderança esportiva no Brasil.

1934 Fundação da Liga Carioca de Vela e Motor pela reuniãodas entidades Clube de Regatas Guanabara (sede da Liga); Clubedos Tabajaras; Clube dos Caiçaras; Clube de Regatas doFlamengo; Iate Clube Brasileiro; Rio Yacht Club e FluminenseYacht Clube (Iate Clube do Rio de Janeiro). Seu primeiropresidente foi até l5 de março de l939, Mario Luiz Frias, sucedidopor José Candido Pimentel Duarte, que dirigiu a Liga até agostode l944. Durante seu mandato, em 5 de novembro de l941, aAssembléia Geral alterou sua denominação para “FederaçãoMetropolitana de Vela e Motor”. Em 1975, esta entidade assumiua sua denominação atual: Federação de Vela do Estado do Riode Janeiro, hoje a mais antiga do país. É criada também nesteano a Federação Brasileira de Vela e Motor, tendo como seuprimeiro presidente o Almirante Lemos Bastos.

1935 Walter Heuer encomendou na Alemanha os desenhos deum barco de bolina retrátil, cabinado e com suficiente confortopara pernoites e cruzeiros pela baía de Guanabara; a nova classese chamaria “Guanabara”.

1936 Com a colaboração do então Comodoro Preben Schmidt,um dinamarquês radicado no Brasil, o desenho do Hagen Sharpiefoi modernizado e os velejadores passaram a disputar regatas efazer pequenos cruzeiros até o fundo da baía de Guanabara. PrebenSchmidt, o “velho Preben” como era conhecido, foi o patriarca demais duas gerações de velejadores: Axel Schmidt e Eric Schmidt,tricampeões mundiais da Classe Snipe pelo Brasil, MargreteSchmidt, pioneira entre as mulheres, além de Torben Schmidt Graele Lars Schmidt Grael (netos de Preben), medalhistas olímpicos.Em 1936 a vela brasileira estreou na Olimpíada de Berlim com umparticipante, o velejador de dupla nacionalidade alemão/ brasileiro,Walter Heuer, na classe Iole Olímpica.

Década de 1940 Neste período, a vela brasileira teve seudesenvolvimento marcado por lideranças como José CandidoPimentel Duarte, Leopoldo Geyer, Anchyses Carneiro Lopes emuitos outros. Um marco importante para o desenvolvimento davela no Brasil foi a iniciativa de Anchyses Lopes em 1944, que como apoio de Jorge Bhering de Mattos, comodoro do então FluminenseYacht Club (depois Iate Clube do Rio de Janeiro), trouxe a classeStar ao Brasil. Classe olímpica e de alto desempenho técnico, oStar exigiria dos velejadores grande preparo técnico. AnchysesLopes, em iniciativa original, traz para o Rio de Janeiro um velejadorde prestígio internacional, Walter von Hütschler, para ensinar etreinar velejadores brasileiros.

Nascido na Alemanha e bicampeão mundial da Classe Star em1938-39, Walter von Hütschler passa a representar o Brasil nosmundiais desta classe a partir dos anos 1950. No mundial deHavana, 1955, Hütschler participa sob a bandeira brasileira,tendo como proeiro Peter D. Siemsen, futuro Vice-Presidenteda IYRU (atual ISAF). Foram 11 participações pelo Brasil e 4pela Alemanha de 1932 a 1975, totalizando 43 anos de atividadeem competições de alto nível. De reconhecida importânciahistórica, mas sobretudo técnica, Hütschler foi durante muitosanos um dos principais interlocutores da vela brasileira com osvelejadores internacionais. Em particular von Hütschlerdesenvolveu a técnica de modificar o perfil aerodinâmico davela pela flexão do mastro. Técnica hoje generalizada efundamental, sendo utilizada em todos os barcos à vela.Septuagenário, von Hütschler ainda navegava nas águas da Baíade Guanabara em seu Star “Pimm”.

José Candido Pimentel Duarte, presidente Clube de RegatasGuanabara, iniciou-se na vela com um Star fora de classe e chegouà vela de oceano quando mandou construir na Alemanha o“Procelária”, um barco com quilha de barbatana, que se tornou oembrião da vela de oceano brasileira. Em 1944 importou osdesenhos de Snipe e junto com Fernando Avelar fundou a primeiraflotilha deste monotipo. Em 1946 ele lançou os primeiros onzebarcos da Classe Lightning. Para incentivar o novo esporte, elefinanciava os barcos para os sócios do Clube, que assim podiamadquiri-los em suaves prestações. O seu barco mais famoso foi olendário “Vendaval”, um iole de 63 pés, cujos desenhos eleencomendara ao escritório de desenho naval Sparkman & Stephensem 1940. Mais tarde, em 1947, Hipólito Gil Elizalde e Pimentel

Duarte, idealizaram a mais longa, e por décadas, a mais importante,regata de oceano da América do Sul, Regata Buenos Aires-Rio,um percurso de cerca de 1200 milhas.

O Grêmio de Vela da Escola Naval, fundado em 1943, organizaa Regata Escola Naval em 1946, que chegaria a ser o evento devela recordista em participação na América do Sul, em 1999,com a participação de 852 barcos, com mais de mil velejadoresem ação. A Regata Escola Naval é um dos eventos maistradicionais da vela brasileira.

Décadas de 1950 -1960 Neste período, com base em algumasiniciativas isoladas da década anterior, surgem os primeiros clubesde vela do estado de São Paulo. Estas entidades se concentraramna represa de Guarapiranga e mais tarde na Represa Billings, queconstituiu até recentemente um dos clusters de vela do paísacompanhando o exemplo de Niterói, Rio de Janeiro e Porto Alegre.Desde o aparecimento deste pólo de desenvolvimento, já velejavamno local as velozes “Jollen” de 20 m², depois seguidos de barcosmais sofisticados, como o Flying Dutchman e outros. Deste pólo deexcelência náutica saíram campeões mundiais como Joerg Bruder,os primeiros medalhistas olímpicos brasileiros Reinaldo Conrad eBurkhard Cordes (bronze na Classe Flying Dutchman, 1968). JoergBruder, falecido precocemente em 1973, foi tricampeão mundialda Classe Finn, feito somente superado em 2004. Bruder éconsiderado até hoje um dos maiores velejadores brasileiros eainda é lembrado internacionalmente na Classe Finn. Seu papel nodesenvolvimento da vela no país também foi marcante. Numa épocade rarefeito intercâmbio internacional e uma indústria aindaincipiente, Bruder solidificou a participação brasileira em nívelmundial; criou e fabricou também os famosos mastros de alumínioBruder. Na Classe Oceano, disputou-se em 1951 a primeira versãoda Regata Santos-Rio, a primeira regata longo curso em águasbrasileiras, que se tornou uma prova clássica e é disputada atéhoje, sem interrupções. Neste mesmo ano os brasileiros conquistamduas medalhas na primeira versão dos Jogos Pan-Americanos:ouro na Classe Star com Ronaldo Bueno e Gastão de Souza e pratana Classe Snipe com Jean Maligo e Geraldo Motoro. A classePingüim chega ao país e irá formar pelo menos três gerações develejadores de qualidade, que conquistarão mais de 20 títulosinternacionais. Durante muitos anos o Pingüim será o barco dereferência para a iniciação no esporte.

Décadas de 1970-1980 Este período marca a maturidade davela no Brasil. São importados os primeiros veleiros de oceano defibra de vidro da França e dos EUA. As classes Optimist, 470,Hobbie Cat e Laser surgem como classes de iniciação esportiva ede internacionalização da vela. O interesse se expande e a indústrianáutica nacional inicia um segundo processo de crescimento, jábaseada em materiais sintéticos e sofisticados, como a fibra devidro para os cascos, o dacron, o naylon e mais tarde o mylar e okevlar para as velas e o alumínio para os mastros. São construídosos primeiros monotipos, pranchas à vela e veleiros de oceanos emfibra de vidro e são utilizados materiais exóticos, alguns a partir deprojetos nacionais. Há uma notável expansão do número depraticantes que se reflete no aumento do número de estaleiros,fábricas de equipamentos, de lojas especializadas, de publicaçõesnáuticas, e na criação das primeiras escolas de vela desvinculadasde clubes, destinadas a pessoas que não eram sócias de clubesnáuticos. São construídas as primeiras marinas e empreendimentosimobiliários associados aos esportes náuticos. O Brasil sediacampeonatos continentais e mundiais de várias classes.

O intercâmbio internacional aumenta e os resultados esportivosganham expressão internacional. Em Montreal, 1976, ReinaldoConrad repetiria o seu feito de 1968, nesta ocasião com o proeiroPeter Ficker. Gastão Brun se destaca na classe Soling, onderepresenta o Brasil nos jogos de Montreal formando tripulaçãocom Vicente Brun e Andréas Wengert. Em 1978 é campeão mundial,junto com seu irmão Vicente e Roberto Martins. A partir dos anos1980, surge uma outra geração de velejadores campeões, comgrande reconhecimento internacional, que irá se consolidar nosanos seguintes. Nos Jogos Olímpicos de Moscou o Brasil consegueas suas duas primeiras medalhas de ouro olímpicas na vela comAlex Welter e Lars Bjorgstrom, na classe Tornado e Marcos Soarese Eduardo Penido na classe 470. Soares e Penido são hoje doisempreendedores no esporte em importantes iniciativas.

Décadas de 1980-2004 A vela no Brasil ganha contornosprofissionais, surgindo a figura do patrocinador, do velejador

profissional e dos grandes projetos. Várias cidades e clubes mantêmem seus calendários esportivos eventos de vela que duram váriosdias. Peter D. Siemsen torna-se Vice-Presidente da InternationalYatch Race Union (atual ISAF), órgão máximo da vela. As dimensõesatuais do esporte exigem planejamento profissional e grandesrecursos. É criada a ACOBAR – Associação Brasileira dosConstrutores de Barcos e neste período sugiram ou se consolidarameventos da vela de grandes dimensões:

• Salões Náuticos de São Paulo e Rio de Janeiro – Exposição deindústria, comércio e outros serviços na área náutica;

• Semana de Vela de Ilhabela – o maior evento da vela brasileira;

• Regata Escola Naval – Regata tradicional para todas as classes,com 57 edições realizadas;

• Regata Darke de Matos (classe Star) – A mais antiga regata docalendário nacional com 60 edições realizadas;

• Os circuitos de vela de oceano do Rio de Janeiro, Salvador eFlorianópolis;

• Regatas Oceânicas Santos-Rio, Buenos Aires-Rio, Recife-Fernando de Noronha e Vitória-Trindade – regatas tradicionaisde longo curso;

• Regata Rota do Aço – Idealizada por um grupo de siderurgia parareproduzir a rota do aço de Vitória a São Francisco do Sul, é aprimeira regata de oceano a conceder prêmios em dinheiro, ajudade custo e sorteio para patrocínio. Em sua primeira edição em2004, reuniu 40 barcos de oceano;

• Simpósio de Segurança do Navegador Amador – Realizado naEscola Naval, sob a chancela da Diretoria de Portos e Costas-DPC, teve sua primeira edição em 2001 e recebe mais de 500inscrições por evento;

• Semanas Pré-Olímpicas – Eventos exclusivos para as classesolímpicas;

• Match Race Brasil – Evento de alto nível, com tripulaçõesconvidadas e timoneiros ranqueados, caracterizado por uma sériede regatas de “um contra um em barcos iguais”, onde as tripulaçõestrocam de barco a cada regata.

Vela Olímpica Os velejadores brasileiros das classes olímpicase internacionais têm apresentado ao longo dos anos uma trajetóriamerecedora de destaque. Em que pese a distância dos grandescentros da vela mundial e o diferencial tecnológico, tecnicamente avela é um dos esportes brasileiros de melhores resultadosinternacionais (Tabela 3). Os resultados esportivos e os eventossão muito expressivos, provocando um significativo aumento daparticipação e um reconhecimento da mídia. Inúmeros velejadorescontribuíram para o desenvolvimento técnico do esporte.Medalhistas olímpicos e campeões mundiais estão envolvidos naindústria náutica, administração de pólos náuticos, projetos decompetição e divulgação da vela.

Da geração dos anos 1980 e 1990, ao menos três velejadores devemser mencionados:

Lars Grael – Participou de três edições dos Jogos Olímpicos, comduas medalhas de bronze na Classe Tornado em 1988 e 1996,igualando-se a R. Conrad. Foi atleta representante do Brasil noCOI. Tornou-se um importante dirigente esportivo no país, ocupandovários cargos públicos e é um dos principais estimuladores da velanacional.

Robert Scheidt – Tricampeão Pan-Americano na Classe Laser,conquistou duas medalhas olímpicas (ouro em Atlanta e prataem Sidney). Tornou-se um destaque individual no esportebrasileiro quando conquistou seis títulos mundiais na ClasseLaser e recebeu o título de melhor velejador do mundo em2001, conferido pela ISAF. Participará pela terceira vez dosJogos Olímpicos.

Torben Grael – Campeão Pan-Americano (Soling) e Mundial(Snipe Juvenil e Star), tem quatro medalhas olímpicas ((Prata –Los Angeles, 1984; Bronze – Seul, 1988; Ouro – Atlanta, 1996 eBronze – Sydney, 2000). Em 2000, Torben teve o privilégio deser selecionado para compor a tripulação da equipe italiana queparticipou da America’s Cup, a mais sofisticada e prestigiada

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competição de vela internacional, exercendo a função de táticoda equipe. Nesta competição, foi o Campeão da Louis VuittonCup. Torben participará pela sexta vez dos Jogos Olímpicos einscreveu-se como um dos maiores atletas da história do esportebrasileiro.

Vela de Oceano A classe oceano reúne tipos de barcos queapresentam condições para navegações de maior distância e demaior tempo. Pode-se velejar ao longo da costa ou cruzando oceanosdurante dias, semanas ou meses. Entretanto é necessário que oveleiro seja adequadamente equipado. Os veleiros de oceanoapresentam acomodações para dormir, cozinhar, mesa de navegaçãoe banheiro. Os barcos de oceano em geral são equipados commotores para manobras, geração de energia e deslocamentos. Essesbarcos variam muito em comprimento, área vélica, peso,acomodações e equipamentos. Muitos dos equipamentos utilizadossão de alta tecnologia como GPS (posicionamento por satélite),radares, rádio-transmissores. Materiais exóticos também sãoamplamente utilizados.

A vela de oceano no Brasil é antiga, registrando-se o primeirolançamento de uma classe (projeto) nacional em 1946, a ClasseRio de Janeiro, um slupe de 33,5 pés, projetado por LindseyLambert, um arquiteto naval inglês radicado no Brasil. Ele jádesenhara entre outros, um “Seis metros RI” e o “Dingue”nacional de 12 pés. Entretanto, antes desta iniciativa, no inícioda década de 1940, Pimentel Duarte sentindo a necessidadede um barco de oceano adequado para cruzeiros e regatas maislongas em nosso litoral, entre elas a Buenos Aires-Rio, haviaencomendado à firma Sparkman & Stephens o projeto do ClasseBrasil, um slupe de 42 pés. Em 1949 foi para a água o primeirode uma série de 10 barcos, o “Ondina”, de Joaquim Belém queseria vencedor das duas primeiras Regatas Santos-Rio. Em1953 o Classe Brasil Cairu II de Jorge Frank Geyer venceria a3ª Regata Buenos Aires-Rio. Nas décadas de 1950 e 1960, aClasse já contava com adeptos que se tornaram líderes da velabrasileira tais como Günter Schaefer, Joaquim Belém, JoaquimPádua Soares, Ragner Janer, José Luis e Fernando PimentelDuarte, Domício Barreto, Alcides Lopes, Leon Joulié, JorgeGeyer e Paulo Ferraz. Neste estágio, os últimos dois barcosClasse “Brasil” foram construídos em Salvador. E. Fischerprojeta e constrói duas classes “anão de oceano”, o Toninha eo Dourado.

Depois dos anos de 1960, a Vela de Oceano começou a crescer e semodernizar com o aparecimento dos cascos de fibra de vidro e asvelas de fibras sintéticas. Instala-se a indústria de construção navalpara este segmento baseada na tecnologia da fibra de vidro,barateando o custo e acelerando a construção. Em 1970 é criado oCircuito-Rio, primeiro campeonato em série de regatas para a classeoceano. Em 1971 é disputada a 1ª Regata Cape Town-Rio,competição que, embora irregular ainda existe. Um dos marcosmais importantes para a vela de competição oceânica desta épocadeu-se em 1973. O veleiro Saga, de Erling Lorentzen, vence aprestigiosa Fastnet Race durante a Admiral´s Cup na Inglaterra. Apartir dos anos 1970, muitas tripulações de oceano participariamde regatas internacionais na Europa e nos Estados Unidos, muitasvezes com destaque. Líderes da vela de oceano foram importantesnesta época, estimulando a indústria e as competições, entre elescabe registrar Eduardo Souza Ramos, Fernando Pimentel Duarte eLaurits A. von Lachmann.

Hoje, há importantes competições de veleiros de oceano em váriaspartes do país: Circuito de Ilhabela, as Regatas e Circuitos emAngra dos Reis, o Circuito Rio e Circuito de Niterói; as regatas develeiro cabinado em Brasília; os Circuitos de Salvador eFlorianópolis e o Campeonato Brasileiro da Classe Oceano. Emtermos internacionais, Ilhabela, Salvador e Rio de Janeiro têm sidoescalas ou portos de chegada de importantes regatas transoceânicascomo a Mini-Transat, a Transat Jacques Vabre, a Around Alone, aClipper e Volvo Ocean Race.

Vela de Oceano, exploração e aventura Muitos velejadoresbrasileiros se aventuraram em empreitadas difíceis. Esta versão doesporte se aproxima da exploração e da aventura, ainda queinspirada por motivos turísticos ou competitivos. Freqüentes empaíses de cultura marítima solidificada, a vela de longo curso éainda incipiente no Brasil, mas é reveladora da expansão do esportee do estágio de desenvolvimento tecnológico. Algumas realizaçõesdevem ser mencionadas:

Um grupo de brasileiros, liderados pelo campeão mundial AlanAdler está atualmente planejando participar da Regata Volvo OceanRace, volta ao mundo tripulada, onde participam barcos de altatecnologia e alto custo.

Vela Paraolímpica Desde 1999, em Guarapiranga - SP, existe ainiciativa de oportunizar a vela de competição para pessoas portadorasde deficiência física em um projeto denominado “Água Viva”. Estainiciativa reúne o Clube Desportivo Municipal de Iatismo, o ClubeParadesportivo Superação e a Associação Paulista de Velejadores daClasse Day Sailer. A Federação Brasileira de Vela e Motor – FBVMuniu-se ao projeto para facilitar o desenvolvimento de condições paraa implantação da Classe 2.4, internacional e paraolímpica, no Brasil.

Vela não-competitiva A vela se apresenta também como umaprática não-competitiva. Diferentes tipos de embarcações são utilizadospara esses fins. As embarcações menores e mais leves servem parapasseios mais curtos. Os veleiros de oceano, com cabine e acomodaçõesinternas permitem cruzeiros mais longos de vários dias ou semanas.Há um número incontável de velejadores não-competitivos. Estesvelejadores nem sempre são filiados às associações de classes, aosclubes náuticos ou às federações, ficando assim difícil dimensionareste tipo de participação. Mas é notável a expansão dos serviços e daindústria para o esporte náutico. Este crescimento é maior do que onecessário para a vela de competição, portanto certamente estesserviços estão também dirigidos para a vela não-competitiva.

Vela Feminina A participação feminina na vela, desde suas origens,é bastante significativa. Certamente um fator facilitador foi a

possibilidade da ampla participação familiar, particularmente nasua versão de lazer. Na vela de competição a mulher também temparticipação histórica. Um dado revelador desta participação é acriação da 3º flotilha da Classe Snipe no Brasil, no Iate ClubeCruzeiro do Sul na represa Billings em São Paulo no ano de 1950.No início desta flotilha, a metade dos participantes se constituíapor meninas, acontecimento raro em outros esportes.

Desta flotilha se destacaria Bibi Juetz, que veio realizar grandesconquistas de dar importante contribuição à vela feminina.Conquistou três vice-campeonatos brasileiros (1952 em São Paulo1953 no Rio de Janeiro e em 1957 Maceió), sempre com proeiras,e sempre as únicas participantes femininas. Foi reserva da tripulaçãomasculina da Classe Snipe nos Jogos Pan-Americanos de 1951,que viria a conquistar a medalha de prata. Bibi permanece ativa,tendo participado de todos os Campeonatos Mundiais Master daClasse Snipe, desde o primeiro em 1986, vencendo o CampeonatoMundial de 1988, em Córdoba, Argentina, tendo na proa FelipeVasconcellos. Bibi iniciou muitos velejadores de sucesso comoinstrutora de vela e é, entre homens e mulheres, uma das maisrespeitadas velejadoras da Classe Snipe no mundo.

Ainda em São Paulo, velejando na Represa de Guarapiranga,Cornélia Buckup foi precursora da Classe Pingüim e mais tarde aofinal dos anos 1960 velejou com sucesso na Classe Snipe. Na Baíade Guanabara destacava-se Margrete Schmidt (Guida), do RioYatch Club. Iniciou-se na vela em família e devido ao pequenonúmero de competidoras do sexo feminino, competia contra oshomens, nas classes Hagen-Sharpie e Snipe, tendo sido Vice-campeã Brasileira desta classe em 1960, comandando o barco quetinha seu irmão Erik Schmidt como proeiro. Representou o Brasilno Campeonato Sul-Americano de Snipe, no Chile, no mesmo ano.

Outro nome importante para participação feminina na vela éCarmem Ballot, do Rio de Janeiro, que no final dos anos sessentacomeçou a participar de regatas na Classe Oceano, com o veleiroSagitaire. Carmem não somente foi velejadora de destaque comotambém participou ativamente na promoção da vela como jornalistae editora. Ajudou a criar e manter durante muitos anos a revistaVela & Motor, cobrindo o hiato deixado pela Revista YatchingBrasileiro. A Vela & Motor, antecedente das atuais revistas náuticas,gerou o novo padrão editorial neste segmento. Carmem Ballotparticipou também da criação das Edições Marítimas quepraticamente fundou o mercado editorial náutico no Brasil, editandolivros de autores nacionais e estrangeiros.

Em Seul em 1988, o Brasil teve, pela primeira vez, representantesfemininas nos Jogos Olímpicos. As competições à vela, até então,eram tratadas como mistas, exceto nos equipamentos de apenasum tripulante, exclusivamente masculinos. Mas a partir daqueleevento foi implantada a categoria feminina. Pelo Brasilcompetiram Cíntia Knoth e Márcia Pellicano na Classe 470feminina. Em 2003 as velejadoras Isabel Ficker e Laura Zanni,conquistaram o inédito título mundial da classe 420 feminina,tornando-se assim as primeiras brasileiras campeãs mundiais navela. Na Classe Oceano, desde o início dos anos 1990 tripulaçõesexclusivamente femininas estão participando dos mais importanteseventos nacionais. Atualmente quase todas as classes contamcom ativa participação feminina em regatas e no calendárionacional há regatas exclusivas para mulheres.

Vela Rádio Controlada A vela Rádio Controlada surge donautimodelismo e é atualmente reconhecida como modalidadeesportiva filiada à vela em geral. A União Brasileira de VeleirosRádio Controlados é a suprema dirigente da vela rádio controladano Brasil, fundada em 31 de outubro de 1982, oficialmentereconhecida pela ISAF / RSD Radio Sailing Division e FederaçãoBrasileira de Vela e Motor-FBVM. Em 1993 passa a serdenominada oficialmente Vela Rádio Controlada e torna-se umDepartamento do FBVM.

Em 1965 foi inaugurado o tanque de modelismo naval no aterrodo Flamengo – Rio de Janeiro – RJ. Paulistas e cariocas se encon-traram na inauguração do Modelódromo do Ibirapuera em 1968.Nesta época, o nautimodelismo era ainda praticado com leme devento o antecessor do rádio-controle. Em 1980 aconteceu a 1ªRegata Anual de Brasília que reuniu velejadores de váriaslocalidades do país, a saber: São Paulo, Curitiba, Goiânia, PortoAlegre, e de Brasília, onde a vela rádio controlada era praticada,até então de maneira isolada. Pode-se dizer que o encontro em

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Brasília deu início à fase moderna da modalidade no Brasil.Atualmente a VRC organiza campeonatos nacionais nas classes“M” e “1 Metro”. Esta última classe somente utiliza barcos deprojeto nacional devidamente homologados pela U.L.Y - UniãoLatinoamericana de Yates Rádio Controlados.

Desenvolvimento tecnológico O desenvolvimento detecnologia diretamente associada à vela tem sido impulsionadopor uma série de iniciativas. Projetos navais e tecnologia deconstrução de barcos e de equipamentos têm se expandido. Aconstrução amadora de veleiros também tem sido beneficiadapor este desenvolvimento. Informações de várias fontes, comocontatos pela Internet, publicidade e reportagens em revistasespecializadas, disponibilidade de equipamentos e de materiaisdão as bases para se operar com a hipótese que há um númerobastante considerável de iniciativas nesta área. Estedesenvolvimento na vela brasileira pode ser exemplificado pelomenos por meio de quatro projetos importantes:

a) A Universidade de São Paulo-USP, em conjunto com uma empresade construção naval, está desenvolvendo um projeto de um catamarãde alta velocidade (veleiro de dois cascos com hidrofólios) que seráutilizado em uma longa travessia no Ártico. Nesta mesmauniversidade foi implantado um curso de projeto e construçãoamadora voltado para embarcações de recreio.

b) O Pólo Náutico da Universidade Federal do Rio de Janeiro,gerado a partir da Escola de Engenharia desta universidade,desenvolve alguns projetos importantes para a vela:

• Projeto da Classe Open 650, com o objetivo de implantar aclasse no Brasil. Esta iniciativa conta com o apoio de diversasempresas e velejadores experientes. É nesta classe que édisputada a regata Mini-Transat em solitário no percurso entreLa Rochelle e Salvador, que já contou com um representantebrasileiro na versão de 2003.

• A Holos, indústria náutica, incubada pelo Pólo Náutico daUFRJ, que retomou, com inovações tecnológicas, a construçãodo pequeno veleiro de projeto nacional para dois tripulantes:o Dingue.

• Desenvolvimento de projeto de um multi-casco de alta tecnologia.

• Desenvolvimento de projeto para a construção de um barco escolaem conjunto com a MaxiVela, empresa dedicada aodesenvolvimento do esporte.

c) A Federação de Vela de Santa Catarina associou-se à Universidadedo Estado de Santa Catarina-UDESC para desenvolver estudossobre biomecânica, fisiologia e treinamento para velejadores. AUDESC faz parte da Rede CENESP (Centros Nacionais deExcelência Esportiva), um programa do Ministério dos Esportes deapoio à tecnologia do treinamento esportivo.

d) A FBVM organizou um grupo de trabalho com objetivos deformar e desenvolver a vela olímpica brasileira por meio de váriasiniciativas:

1. Curso de formação de treinadores, com o apoio da SolidariedadeOlímpica (2003);

2. Curso de formação de instrutores para iniciação, com o apoio daISAF (2003);

3. Equipe de desenvolvimento para o treinamento das equipes de vela;

4. Criação da Equipe Permanente de Vela Olímpica, com o apoioda Petrobrás;

5. Criação de uma base permanente na Europa (Como, Itália) parafacilitar a logística e a participação dos brasileiros nos eventosmais técnicos do esporte;

6. Implantação dos Centros de Treinamento, em clubes do RioGrande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, por meio de convênios.

e) Desenvolvimento do projeto para a participação de tripulaçãobrasileira, com barco de bandeira nacional, na regata Volvo OceanRace – volta ao mundo, em 2005.

Projetos sócio-educacionais A recente história social e políticada sociedade brasileira provocou uma considerável demanda pelo

papel social do esporte. A vela, como outros esportes, tambémgerou iniciativas nesta área. Este capítulo destaca algumasiniciativas criadas a partir do mesmo núcleo de idéias.

1. Projeto Grael – Em junho de 1998, na cidade de Niterói, foicriado um projeto com objetivo de oportunizar a experiência navela para crianças e jovens estudantes de baixa renda da RedePública de Ensino de Niterói. Com o apoio da Prefeitura da Cidadede Niterói e impulsionado pelo reconhecimento social dosvelejadores niteroienses a partir dos expressivos de resultadosem Jogos Olímpicos e em importantes competições internacionais.O programa, na sua fase inicial, foi organizado por Lars Grael eTorben Grael, Marcelo Ferreira, Cíntia Knoth e Luis Evangelista,ficando conhecido pelo nome de Projeto Grael. Em setembro de1999 o projeto implantou um núcleo na Cidade de Vitória noEspírito Santo. Até o ano de 2003, o Projeto Grael formou 11turmas em Niterói e 7 em Vitória. Alguns atletas com êxito jáforam revelados a partir desta experiência.

O Projeto Grael, devido às necessidades de organização maiscomplexas diante de sua expansão, gerou o Instituto Rumo Náutico,que é o braço institucional do Projeto Grael, e que permitiu aexpansão das metas e dos objetivos. O Instituto Rumo Náuticotem sua atuação baseada em quatro objetivos principais: a)formação esportiva, b) capacitação profissional, c) educaçãoambiental e d) cultura (cultura da maritimidade). Atualmente, oInstituto Rumo Náutico dedica-se a expandir suas atividades deforma a beneficiar um número maior de jovens e vem aperfeiçoandoa capacidade do seu programa profissionalizante. Para isso, tempriorizado a busca de parcerias institucionais para o financiamentoe para a cooperação de forma a viabilizar estes objetivos. O IRNestá atualmente sedimentando parcerias com empresas eprefeituras a fim de facilitar a expansão do projeto. O InstitutoRumo Náutico recebeu o “Prêmio Náutica” de melhor projetosocial náutico do país em 2003 e foi finalista do Prêmio Itaú/Unicef de Ação Social (entre os 20 melhores em relação a 1860outros projetos concorrentes) e recebedor de Menção Honrosa,sendo o único finalista de ação social/esportiva.

2. Projeto Navegar – Em 1999, Lars Grael, levou a concepção doprojeto implantado em Niterói e em Vitória para o Ministério dosEsportes e acrescentando as modalidades náuticas de remo e decanoagem criou o Navegar. Em 2001, Grael, ao assumir a SecretariaNacional de Esportes, incentivou ainda mais o projeto. Considerandoos três esportes, o projeto conta hoje 37 núcleos espalhados peloBrasil em 17 estados, atendendo 5.920 jovens entre 12 e 15 anos.O Projeto Navegar é desenvolvido pelo Ministério do Esporte emparceria com as secretarias municipais e estaduais de Esportes,Educação e de Meio Ambiente, Capitania dos Portos (Marinha),Corpo de Bombeiros e entidades onde os núcleos estão instalados.O Projeto Navegar foi reconhecido e incluído no Programa deMentalidade Marítima da Comissão Interministerial de Recursosdo Mar-CIRM em 2002. Através de convênio com países membrosdo Conselho Sul-Americano do Desporto-CONSUDE, também foiimplantado no Uruguai (2002) e está em fase de implantação noEquador (2003). Alguns atletas oriundos do Navegar já integramequipes nacionais de Canoagem e Vela. Os projetos Grael e Navegarinspiraram outras iniciativas dentro do mesmo modelo, reforçandoa idéia de objetivos sócio-educacionais com os esportes do mar.

3. Fundação Alavanca – Atua em Ubatuba, SP, com vela e sob aimagem do velejador/aventureiro Betão Pandiani.

4. Instituto Vento em Popa – Atua com escola de vela de carátersocial nas represas de Guarapiranga, Billings (grande São Paulo)em parceria com a USP no desenvolvimento de veleiros populares.

5. PROMAR – Desenvolvido pela Marinha do Brasil em seus doisclubes no Lago Paranoá, Brasília, e outros núcleos experimentaisna costa.

6. Maxi-Vela – Empresa de promoção de eventos do campeãoolímpico Eduardo Penido que criou em parceria com a prefeitura deRio das Ostras-RJ, uma escola de vela municipal.

7. Centro de Excelência em Educação Prof. Darcy Ribeiro –Araruama-RJ. Escola pública modelo que através de sua marina“Lars Grael” desenvolve aulas para seus alunos.

8. Projeto Navega-São Paulo – Versão do Governo do Estado deSão Paulo (Secretaria da Juventude, Esporte e Lazer e com apoio

da SABESP e VIII Distrito Naval) para o Projeto Navegar está emimplantação nos municípios de Presidente Epitácio (este emparceria com o Ministério do Esporte), Praia Grande, Cananéia eSão Bernardo do Campo.

Situação Atual Atualmente a vela é um esporte em expansãoem todo o país, quer no litoral ou no interior. Na Federação Brasileirade Vela e Motor, em números atuais, há 2.694 velejadores filiados,quase todos atuantes em competição. Os clubes náuticos e asmarinas têm se multiplicado. Inicialmente praticada no litoral, hádécadas já alcançou o interior. Veleja-se na represa da Pampulha,na Represa de Itaipu e no lago Paranoá. Em Brasília, por exemplo,o Iate Clube de Brasília foi fundado pelo então Presidente JuscelinoKubitscheck, antes mesmo da fundação oficial da cidade e é hoje omaior clube náutico do país em número de associados (ver mapa).Entretanto ainda não foi possível precisar o número de interessadospela vela no Brasil. Em que pesem tais dificuldades, em dadosrecentes, pode-se estimar que todo o conjunto da indústria e docomércio náutico é bastante significativo para a economia nacional(ver Tabela 4). Em perspectiva de distribuição espacial no Brasil, omapa deste capítulo indica que a vela se desenvolveu principalmenteem cerca de uma dúzia de cidades brasileiras. Nessas cidades seinstalaram os principais estaleiros e as principais indústrias dosegmento náutico. Da mesma forma, o comércio também se ampliou,sugerindo-se, portanto, que a vela no Brasil tem se desenvolvidobasicamente por meio de clusters, ou seja, por pólos que reúnemcondições propícias e convergentes com tradições esportivas locaispara o desenvolvimento.

Como a vela atinge um amplo espectro de pessoas no que se refereà idade, pode-se afirmar que este esporte é longevo, pois criançascom menos de dez anos velejam com autonomia, ao mesmo tempoem que velejadores sexagenários são comuns em barcos maiores.Em relação ao gênero, a vela tem ampliado e facilitado aparticipação feminina. O perfil sócio-econômico e cultural dopraticante da vela está situado no segmento médio e alto.Aristocrática nas suas origens, a vela é popular em muitos paísesdo primeiro mundo e da Europa, e no Brasil desde a década de1940 há esforços no sentido da sua popularização. No aspectocompetitivo, fatos, eventos e iniciativas espelham não somente opotencial do esporte no país, como as realizações já consolidadas.Como é possível observar na Tabela 1, que aponta o número depraticantes nas principais classes no Brasil e na Tabela 3, quemostra os resultados olímpicos do Brasil. Os brasileiros sãorespeitados no cenário mundial da vela, pois há cerca de quatrodécadas são colhidos importantes resultados internacionais. Aexpansão das empresas e serviços do mercado náutico é um outroimportante indicador do crescimento do esporte. Em termoseconômicos a vela está intimamente ligada aos outros esportesnáuticos e isto parece ser um elemento facilitador para o seudesenvolvimento. A indústria e os serviços náuticos muitas vezesse associam, pois freqüentemente têm os mesmo fornecedores ese instalam nas mesmas regiões e locais. Esta forte associação sereflete, por exemplo, no comércio de equipamentos e materiais. Arede de lojas náuticas pouco discrimina o tipo de esporte, e comotal pode dar suporte a todos eles. O setor tem grande complexidade,pois vai da indústria chegando ao turismo e ao mercado imobiliário.Dessa forma nem sempre é possível discriminar a atividadeeconômica exclusiva da vela. Todavia é importante destacar algunsaspectos econômicos que estão relacionados ao esporte.

Destaque-se que o nível sócio-econômico dos praticantes é demédio para alto, característica que alimenta a indústria e o comércionáuticos. Em segundo lugar, a interface econômica com outrosesportes, devido à sua grande flexibilidade, pode garantirinvestimentos e ofertas em longo prazo, uma vez que a indústria oucomércio pode se dirigir a mais de uma clientela específica.Finalmente a vela tem uma associação estreita com o turismo e ocomércio imobiliário. No caso de eventos esportivos importantes, énecessário que, além das instalações de apoio náutico, se disponhade uma boa estrutura turística. A vela é um esporte de meio naturale sempre se busca regiões com condições adequadas para a suaprática, muitas vezes distantes dos locais de residência dospraticantes. Por outro lado, a vela na forma de cruzeiro, podebuscar regiões turísticas e de veraneio, aonde muitos praticantesvão à busca de suporte permanente em marinas, clubes,condomínios e residências. Atualmente, muitos empreendimentosimobiliários voltados para as regiões litorâneas, particularmenteem águas abrigadas, prevêem instalações de apoio náutico.

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8.64 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006

Vela no Brasil, 1877 – 2003: clusters de desenvolvimento e práticas em rios e lagosSailing development in Brazil, 1877 – 2003: developing clusters and practice in rivers and lakes

Porto Alegre

Florianópolis

SantosSão Paulo(Guarapiranga eBillings)Ilhabela

Angra dos ReisRio de JaneiroNiteróiBúzios

Salvador

Recife

Brasília

Locais de vela em água doceRivers, dams and lakes to sailRio Negro (Manaus-AM);Rio Tapajós (em Santarém-PA);Rio Xingu (Senador José Porfírio-PA);Rio Amazonas (Soure/Ilha do Marajó-PA);Represa de Tucuruí (Tucuruí/PA);Represa do Lajeado (Palmas-TO);Aruanã, Itumbiara e Três Ranchos (represas em GO);Represa de Furnas (Capitólio-MG);Rio Tietê (Pederneiras e Araçatuba-SP);Rio Paraná (Pres.Epitácio-SP);Rio Paranapanema (Pirajú-SP);Represa de Paraibuna (SP);Represa de Jurumiri (Avaré-SP);Represa de Chavantes (Ribeirão Claro-PR);Imaruí, Laguna e Tubarão (Complexo lagunar de SC);Rio Guaíba e Lagoa dos Patos; represas, rios e arroiosno RS (Caxias do Sul e Estrela).Lagoa da Pampulha (Belo Horizonte-MG) eLago Paranoá (Brasília)

Fontes Comunicações Pessoais: Walcles Figueiredo de A. Osório,Benjamim Sodré Jr., Lars Schimdt Grael, Axel Schimdt Grael, JoãoSchimdt; Moreau P. e Voulquing G. Les sports modernes illustrés.Paris: Librairie Larrousse, 1905; Carvalho, Antonio Maria de Históriado Clube Naval. Rio de Janeiro. Baptista de Souza e Cia. Editores,1968; Dossiê Náutico 3, São Paulo, Editora Talento, 2000; Linck, G.Tollens. Velejando o Brasil. São Paulo: Círculo do Livro,1981; RevistaBrasil Paraolímpico ano VII, nº 5, jul 2003, pág 10-11 – Comitê

Paraolímpico Brasileiro; Revista Mar & Mar, Ano 5, nº 25, 2003;Coleção da revista YACHTING BRASILEIRO, anos 1944-1945;www.icrj.com.br; www.360graus.terra.com.br/travessiadodrake/ –19/03/2004 22:36H; www.sailing.org; www.feverj.org.br/institucional/historia.htm, 04/122/2003; www.rotaaustral.com.br;www.americascup.yahoo.com/story12.html; www.esporte.gov.br/navegar; www.VeleiroNet-CVNB.htm; www.fbvm.org.br/;www.minitransatufrj.hpj.com.br;

Page 6: Atlas Da Vela Brasiliera

DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 8.65

Tabela 2 / Table 2Equipamentos / Equivalência de Classes – JogosOlímpicos e Pan-AmericanosEquipment / Class equivalence – Olympic andPan-American Games

Tabela 4 / Table 4Vela e motor: dados econômicos / 2002 / Sailing andsea motor sports: economic data

* Este número corresponde ao total de embarcações de recreio, a motor e àvela, de diferentes propósitos e características. O número de veleiros é, emtermos absolutos e relativos, mais reduzido. Entretanto cabe registrar edestacar que a vela sofre efeitos positivos do desenvolvimento náutico emgeral, na medida em que o parque industrial e as tecnologias se expandem.Evidentemente existem indústrias, projetos, profissionais e serviços exclusiva-mente voltados para a vela, mas a rede de comércio e de serviços atende emgeral todos os esportes náuticos.

Tabela 3 / Table 3Medalhas Jogos Olímpicos e Pan-Americanos e Campeonatos Mundiais, 1936-2003Medals in Olympic and Pan-American Games and World Championships, 1936-2003

Tabela 1 / Table 1Principais associações de classes em atuação, 2003Main class associations in operation, 2003(Class - crew – membership and / or boats)