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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E ENGENHARIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS JESSICA CAROLINE CORREA DE OLIVEIRA SOUSA MÉTODOS COMBINADOS NA CONSERVAÇÃO DE MANGA UBÁALEGRE ES NOVEMBRO 2019

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_12308_Disserta... · dias. Os revestimentos utilizados provocaram efeitos positivos sobre

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E ENGENHARIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE

ALIMENTOS

JESSICA CAROLINE CORREA DE OLIVEIRA SOUSA

MÉTODOS COMBINADOS NA CONSERVAÇÃO DE MANGA ‘UBÁ’

ALEGRE – ES

NOVEMBRO – 2019

JESSICA CAROLINE CORREA DE OLIVEIRA SOUSA

MÉTODOS COMBINADOS NA CONSERVAÇÃO DE MANGA ‘UBÁ’

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos do Centro de Ciências Agrárias e Engenharias da Universidade Federal do Espírito Santo, como parte das exigências para obtenção do Título de Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos.

Orientador: Prof. Joel Camilo Souza Carneiro

Coorientador: Antonio Manoel Maradini Filho

Coorientador: Moises Zucoloto

ALEGRE – ES

NOVEMBRO – 2019

Ficha catalográfica disponibilizada pelo Sistema Integrado de

Bibliotecas - SIBI/UFES e elaborada pelo autor

___________________________________________________________________________

Sousa, Jessica Caroline Correa de Oliveira, 1991-

S725m SouMétodos combinados na conservação de manga ‘Ubá’ /

Jessica Caroline Correa de Oliveira Sousa. - 2019.

Sou71 f.

SouOrientador: Joel Camilo Souza Carneiro.

SouCoorientadores: Antonio Manoel Maradini Filho, Moises

Zucoloto.

SouDissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de

Alimentos) - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de

Ciências Agrárias e Engenharias.

Sou1. Acondicionamento. 2. Conservação de alimentos. 3. Frutas

tropicais. 4. Mangifera indica L.. I. Carneiro, Joel Camilo Souza.

II. Maradini Filho, Antonio Manoel. III. Zucoloto, Moises. IV.

Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências

Agrárias e Engenharias. V. Título.

CDU: 664

___________________________________________________________________________

A Deus,

Aos meus pais, Lucas e Solange,

Ao meu marido, Jânio,

Aos meus irmãos, Bárbara e Lucas.

v

AGRADECIMENTOS

A Deus, que me sustentou todos os dias, me deu forças na caminhada e me

permitiu chegar até aqui.

Aos meus pais Solange e Lucas pelo amor, por sempre acreditarem em mim

e me apoiar, mesmo nas situações mais difíceis.

Ao meu amado marido Jânio, por sempre me apoiar, incentivar e participar

dos meus sonhos e projetos.

Aos meus irmãos, pelas conversas, companhia, palavras de apoio e ajuda

quando mais precisei.

A todos os meus familiares, padrinhos e amigos pelas orações, por toda

ajuda, carinho e incentivo mesmo que de longe.

Aos amigos que o PCTA me proporcionou, que além de colegas de turma,

foram parceiros, com os quais a convivência me ensinou muito.

Ao Professor Joel Camilo, por ser um orientador incrível, paciente, verdadeiro

apoiador desse projeto, que não apenas me ajudou no projeto e na escrita, mas me

deu a confiança que precisava para ir até o fim, sem desistir diante aos obstáculos.

Aos professores Antônio Maradini e Moises Zucoloto, pela coorientação,

colaboração no projeto, instrução para a realização das análises, mentoria e auxílio

durante todo este tempo.

Aos meus ajudantes Adrielle e Hygor pela dedicação e cooperação nas

análises realizadas, e, ao Caio, voluntário na participação do projeto, por todo o

auxílio e cooperação.

A todos os professores e funcionários do Departamento da Engenharia de

Alimentos que, de alguma forma, compartilharam comigo seu conhecimento e

contribuíram para minha formação.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),

pela concessão da bolsa (Código de Financiamento 001).

À DENVER – Especialidades Químicas, pela doação de amostras de

carboximetilcelulose, e a MEGH – Indústria e Comércio, pela doação de cera de

carnaúba, para a elaboração deste trabalho.

A colaboração de todos tornou possível a realização deste projeto, muito

obrigada.

vi

"Confia teus negócios ao Senhor e teus planos terão bom êxito."

Provérbios 16, 3.

“Mas todo aquele que vos honra tem a certeza de que sua vida, se for

provada, será coroada; que depois da tribulação haverá a libertação, e que, se

houver castigo, haverá também acesso à vossa misericórdia.”

Tobias 3, 21.

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Perda de massa dos frutos (%), por revestimento, ao longo do

armazenamento (dias). ............................................................................................. 29

Figura 2: Rendimento de polpa dos frutos (%), por revestimento, ao longo do

armazenamento (dias). ............................................................................................. 31

Figura 3: Firmeza de polpa, por revestimento, ao longo do armazenamento (dias). . 33

Figura 4: Coordenada de cor L* para casca dos frutos, por revestimento, ao longo do

armazenamento (dias). ............................................................................................. 34

Figura 5: Coordenada de cor a* da casca dos frutos, por revestimento, ao longo do

armazenamento (dias). ............................................................................................. 35

Figura 6: Coordenada de cor b* da casca dos frutos, por revestimento, ao longo do

armazenamento (dias). ............................................................................................. 36

Figura 7: Coordenada de cor L* da polpa dos frutos, por revestimento, ao longo do

armazenamento (dias). ............................................................................................. 37

Figura 8: Coordenada de cor a* da polpa dos frutos, por revestimento, ao longo do

armazenamento (dias). ............................................................................................. 38

Figura 9: Coordenada de cor b* da polpa dos frutos, por revestimento, ao longo do

armazenamento (dias). ............................................................................................. 38

Figura 10: pH da polpa, por revestimento, em relação ao tempo de armazenamento

(dias). ........................................................................................................................ 40

Figura 11: Acidez titulável (% de ácido cítrico) da polpa, por revestimento, ao longo

do armazenamento (dias). ........................................................................................ 41

Figura 12: Sólidos Solúveis (°Brix) da polpa, por revestimento, ao longo do

armazenamento (dias). ............................................................................................. 43

Figura 13: Ratio (SS/AT) da polpa, por revestimento, ao longo do armazenamento

(dias). ........................................................................................................................ 45

Figura 14: Imagem da casca da manga „Ubá‟ por revestimento ao longo do

acondicionamento. .................................................................................................... 52

Figura 15: Imagem da polpa da manga „Ubá‟ por revestimento ao longo do

acondicionamento. .................................................................................................... 53

viii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Tipos de revestimentos estudados em frutos. ........................................... 11

Tabela 2: Médias de perda de massa para mangas revestidas e controle em cada

tempo de armazenamento ........................................................................................ 54

Tabela 3: Médias de rendimento para mangas revestidas e controle em cada tempo

de armazenamento. .................................................................................................. 54

Tabela 4: Médias de firmeza para mangas revestidas e controle em cada tempo de

armazenamento. ....................................................................................................... 54

Tabela 5: Médias de cor L* da casca para mangas revestidas e controle em cada

tempo de armazenamento......................................................................................... 54

Tabela 6: Médias de cor a* da casca para mangas revestidas e controle em cada

tempo de armazenamento......................................................................................... 55

Tabela 7: Médias de cor b* da casca para mangas revestidas e controle em cada

tempo de armazenamento......................................................................................... 55

Tabela 8: Médias de cor L* da polpa para mangas revestidas e controle em cada

tempo de armazenamento......................................................................................... 55

Tabela 9: Médias de cor a* da polpa para mangas revestidas e controle em cada

tempo de armazenamento......................................................................................... 55

Tabela 10 Médias de cor b* da polpa para mangas revestidas e controle em cada

tempo de armazenamento......................................................................................... 56

Tabela 11: Médias de pH para mangas revestidas e controle em cada tempo de

armazenamento. ....................................................................................................... 56

Tabela 12: Médias de acidez titulável (%) para mangas revestidas e controle em

cada tempo de armazenamento. ............................................................................... 56

Tabela 13: Médias de sólidos solúveis (°Brix) para mangas revestidas e controle em

cada tempo de armazenamento. ............................................................................... 56

Tabela 14: Médias de ratio para mangas revestidas e controle em cada tempo de

armazenamento. ....................................................................................................... 57

ix

SUMÁRIO

RESUMO.................................................................................................................... xi

ABSTRACT ............................................................................................................... xii

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1

1.1. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 4

2. OBJETIVOS ...................................................................................................... 6

2.1. Objetivo geral .................................................................................................... 6

2.2. Objetivos específicos ......................................................................................... 6

3. ARTIGO DE REVISÃO ...................................................................................... 7

3.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 8

3.2. ALIMENTOS REVESTIDOS .............................................................................. 9

3.2.1. Uso de refrigeração ........................................................................................ 9

3.3. TIPOS DE SOLUÇÕES FILMOGÊNICAS ....................................................... 10

3.3.1. Cera de abelha ............................................................................................. 12

3.3.2. Carboximetilcelulose .................................................................................... 13

3.3.3. Cera de Carnaúba ........................................................................................ 13

3.3.4. Fécula de mandioca ..................................................................................... 14

3.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 16

3.5. REFERÊNCIAS ............................................................................................... 17

4. ARTIGO ORIGINAL ......................................................................................... 20

4.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 22

4.2. METODOLOGIA .............................................................................................. 24

4.2.1. Preparo das soluções filmogênicas .............................................................. 24

4.2.2. Colheita das mangas.................................................................................... 25

4.2.3. Planejamento experimental e análise estatística dos dados ........................ 25

x

4.2.4. Análises físico-químicas ............................................................................... 26

4.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 28

4.3.1. Perda de massa ........................................................................................... 28

4.3.2. Rendimento .................................................................................................. 30

4.3.3. Firmeza da polpa ......................................................................................... 31

4.3.4. Cor da casca e da polpa .............................................................................. 33

4.3.5. pH................................................................................................................. 39

4.3.6. Acidez titulável ............................................................................................. 40

4.3.7. Sólidos solúveis ........................................................................................... 42

4.3.8. Ratio (relação SS/AT) .................................................................................. 44

4.4. CONCLUSÃO .................................................................................................. 46

4.5. REFERÊNCIAS ............................................................................................... 47

5. CONCLUSÃO GERAL ..................................................................................... 50

6. APÊNDICE A – Registro digital dos frutos de manga „Ubá‟ ............................ 52

7. APÊNDICE B – Tabelas de tese de Tukey para comparação entre médias ... 54

8. APÊNDICE C – Pré-testes das soluções filmogênicas .................................... 57

8.1. Cera de abelha ................................................................................................ 57

8.2. Carboximetilcelulose ....................................................................................... 57

8.3. Cera de carnaúba ............................................................................................ 58

8.4. Fécula de mandioca ........................................................................................ 58

xi

RESUMO

SOUSA, Jessica Caroline Correa de Oliveira. Métodos combinados na conservação de manga ‘Ubá’. 2019. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) - Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre – ES. Orientador: Prof. Dr. Joel Camilo Souza Carneiro. Coorientadores: Prof. Dr. Antonio Manoel Maradini Filho e Prof. Dr. Moises Zucoloto.

A busca por uma alimentação mais natural e mais saudável tem motivado a

investigação em formas de se conservar alimentos frescos, pelo maior tempo

possível. A utilização de revestimentos naturais vem sendo usada para a

conservação pós-colheita de diversos tipos de frutas e hortaliças, inteiras ou

processadas, com o objetivo de estender a vida útil e manter suas qualidades

físicas, sensoriais e microbiológicas ao longo do armazenamento. É também muito

utilizado o acondicionamento a frio em conjunto com esta técnica, principalmente em

frutos climatéricos e em regiões de climas mais quentes. Este trabalho tem como

objetivo estudar a conservação pós-colheita de manga „Ubá‟ utilizando

revestimentos naturais à base de cera de abelha, carboximetilcelulose, cera de

carnaúba e fécula de mandioca, combinados com o armazenamento refrigerado. O

controle (manga não revestida) e as mangas revestidas foram avaliadas em relação

às características físico-químicas e reológicas, na colheita dos frutos (0 dias) e

durante o armazenamento (7, 14, 21 e 28) dias a 15 °C, mais 3 dias, em cada

intervalo, à 25 °C, totalizando o tempo de armazenamento em 3, 10, 17, 24, 28 e 31

dias. Os revestimentos utilizados provocaram efeitos positivos sobre a conservação

dos frutos, em comparação aos frutos controle, retardando o amadurecimento do

fruto, como a redução de acidez, aumento do pH e de sólidos solúveis e perda da

firmeza de polpa. Os revestimentos que obtiveram melhor desempenho foram as

soluções à base cera de abelha, carboximetilcelulose e fécula de mandioca. No

entanto, frutos revestidos com cera de abelha não amadureceram de forma

satisfatória. Assim, as soluções à base de carboximetilcelulose e fécula de mandioca

foram as mais indicadas para as condições de acondicionamento propostas.

Palavras-chave: Revestimentos naturais; pós-colheita; características físico-

químicas; refrigeração.

xii

ABSTRACT

The demand for a more natural and healthier eating has motivated the

investigation of ways to preserve fresh food as long as possible. The use of natural

coatings has been used for postharvest conservation of different types of fruits and

vegetables, integers or processed, in order to extend shelf life and maintain their

physical, sensory and microbiological qualities throughout storage. Cold storage is

also widely used in conjunction with this technique, particularly in climatic fruits and

warmer climates. This paper aims to study postharvest conservation of mango 'Ubá'

using natural coatings based on beeswax, carboxymethylcellulose, carnauba wax

and cassava starch combined with refrigerated storage. The control (mango without

coating) and coated mangoes were evaluated for physicochemical and rheological

characteristics at fruit harvest (0 days) and during storage (7, 14, 21 and 28) days at

15 ° C, plus 3 days, at each interval, at 25 ° C, totaling the storage time at 3, 10, 17,

24, 28 and 31 days. The coatings used had positive effects on fruit preservation,

compared to control fruits, delaying fruit ripening, like acidity reduction, pH and

soluble solids increasing and pulp firmness loss. The best performing coatings were

beeswax, carboxymethylcellulose and cassava starch solutions. However, beeswax-

coated fruits did not mature satisfactorily. The carboxymethylcellulose and cassava

starch solutions were the most suitable for the proposed storage conditions.

Key-Word: Natural coatings; post-harvest; physicochemical characteristics; cold

storage.

1

1. INTRODUÇÃO

A manga „Ubá‟ é um fruto proveniente da mangueira (Mangifera indica L.

cultivar Ubá), muito comumente encontrada na cidade de Ubá-MG, recebendo, por

isso, o nome dessa cidade. Forma uma árvore vigorosa, muito produtiva quando não

atacada pela antracnose, normalmente apresentando alternância de produção muito

alta num ano e com baixa produção no próximo. O fruto é pequeno, de forma

oblonga-oval, com o peso variando entre 85,0 a 170,9 g, comprimento de 6,6 cm, cor

amarelada, polpa com fibras curtas, amarelada, suculenta, saborosa, com bom teor

de açúcares (MANICA et al., 2001).

Na Zona da Mata Mineira, o cultivar de mangueira mais utilizado é o 'Ubá', o

que tem gerado procura por informações não somente sobre as formas de cultivo,

mas, também, sobre a qualidade dos frutos produzidos (SILVA et al., 2012).

Essa cultivar destaca-se pelos valores elevados de vitamina C, carotenoides e

açúcares solúveis (SILVA et al., 2009). Sendo um fruto de clima tropical, apresenta

rápida perecibilidade e, por isso, torna-se importante o desenvolvimento de métodos

eficientes para sua conservação. Por ser um fruto climatérico, a colheita é feita antes

do seu amadurecimento, atingindo o pico de produção de etileno durante o

armazenamento (GOMES, 2007). Ao reduzir o metabolismo dos frutos durante esse

armazenamento, prolonga-se o amadurecimento, tornando mais lentas as mudanças

bioquímicas, fisiológicas e estruturais do fruto (CHITARRA; CHITARRA, 2005).

A manga „Ubá‟ possui grande aceitação para o consumo ao natural no

mercado interno, e grande importância como matéria-prima no setor industrial, por

meio da produção de polpa durante as épocas de safra. Além disso, pode ser

utilizada para a fabricação de néctares, doces, iogurtes, biscoitos, bolos, sorvetes,

refrescos e alimentos infantis (BENEVIDES et al., 2008; MANICA et al., 2001).

De acordo com o Anuário Brasileiro de Fruticultura, o estado de Minas Gerais

é o 3º maior produtor brasileiro de frutas e o Espírito Santo, o 6º principal exportador

brasileiro de frutas frescas, secas e processadas, mas com pouca participação no

fornecimento de mangas devido a vários fatores, sendo citadas condições

fitossanitárias e qualidade pós-colheita (CARVALHO et al., 2017).

Pesquisas recentes apresentam formas alternativas de conservação,

utilizando diferentes métodos e materiais, como revestimento à base de goma

gelana (DANALACHE et al., 2016), revestimento comestível à base de quitosana

2

(CHEVALIER et al., 2016), uso de óleos essenciais e revestimentos à base de

plantas, como Aloe vera, capim limão e alecrim (HASSAN et al., 2018), atmosfera

controlada em frutas (ALAMAR et al., 2017), diferentes revestimentos em alimentos

frescos, além do uso de armazenamento à frio (YOUSUF et al., 2018).

Os revestimentos ou coberturas naturais são uma das alternativas para

auxiliar na conservação de alimentos. Estes possuem excelentes propriedades de

barreira, principalmente quanto à permeabilidade de gases e vapor de água, entre

outros fatores, que contribuem para a manutenção da qualidade do fruto pós-

colheita (GALUS; KADZIŃSKA, 2015).

No estudo realizado por Gonçalves, Passos e Biedrzycki (2008), percebeu-se

a preocupação do consumidor com a conservação dos recursos naturais e

minimização de impactos ambientais, por meio da utilização de embalagens

ecologicamente corretas. Nesse contexto, o uso de revestimento comestível possui

a vantagem em ser biodegradável, evitando a poluição ambiental (VILLADIEGO et

al., 2005).

Outros benefícios relatados por Villadiego e colaboradores (2005), foram

aumentar a vida útil dos alimentos, melhorar a aparência de frutas e hortaliças e

proteger suas propriedades durante estocagem e manipulação, mantendo suas

características sensoriais e propriedades de textura.

De acordo com Assis e Britto (2014) para o revestimento agir de maneira

satisfatória como barreira, fatores como o material utilizado e a fisiologia do alimento

a ser revestido são fundamentais.

Os compostos mais utilizados na elaboração de revestimentos comestíveis

são proteínas, polissacarídeos, lipídeos ou uma combinação desses compostos,

permitindo utilizar vantajosamente as distintas características funcionais de cada

classe, conferindo benefícios como resistência a danos mecânicos, retenção de

Vitamina C, redução de perda de massa e aumento do tempo de armazenamento

(LUVIELMO; LAMAS, 2012; YOUSUF et al., 2018).

Já a refrigeração retarda as reações químicas, atividades enzimáticas, a

multiplicação e a atividade dos microrganismos nos alimentos, o que permite

controlar a perda de qualidade dos alimentos decorrente da atividade fisiológica ou

de outras reações químicas, como degradação de pigmentos e vitaminas (GAVA et

al., 2008). Portanto, na utilização do frio serão reduzidas ou inibidas a atividade

microbiana e as reações enzimáticas, incluindo processos metabólicos normais da

3

matéria-prima, permitindo também o aumento do tempo de armazenamento dos

alimentos.

A refrigeração é um recurso bastante utilizado dentre os métodos combinados

na conservação de alimentos, assim como a atmosfera modificada e a radiação, em

combinação com filmes e revestimentos comestíveis (DEHGHANI; HOSSEINI;

REGENSTEIN, 2018).

O termo “métodos combinados” tem sido utilizado em pesquisas para

designar mais de uma forma de conservação aplicada ao mesmo alimento

(LEISTNER, 1992; MANTILLA et al., 2010).

Dessa forma, dada a importância de atingir um padrão de qualidade dos

produtos da fruticultura, a fim de atender as exigências do mercado internacional,

fator primário para melhorar o desempenho nacional nessa atividade, conforme

observaram Adami e colaboradores (2016), essa pesquisa buscou avaliar a

conservação pós-colheita de manga „Ubá‟, armazenada sob refrigeração, submetida

a diferentes tipos de revestimentos naturais.

4

1.1. REFERÊNCIAS

ADAMI, A. C. O.; SOUSA, E. P.; FRICKS, L. B.; MIRANDA, S. H. G.; Oferta de exportação de frutas do Brasil: O caso da manga e do melão, no período de 2004 a 2015. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 47, n. 4, p. 63-78, out./dez., 2016.

ASSIS, O. B. G.; BRITTO, D. Revisão: coberturas comestíveis protetoras em frutas: fundamentos e aplicações. Brazilian Journal of Food Technology. Campinas, v. 17, n. 2, p. 87-97, abr/jun., 2014.

ALAMAR, M. C.; COLLINGS, E.; COOLS, K.; TERRY, L. A. Impact of controlled atmosphere scheduling on strawberry and imported avocado fruit. Postharvest Biology and Technology, v. 134, p. 76-86, 2017.

BENEVIDES, D.; RAMOS, A. M.; STRINGHETA, P. C.; CASTRO, V. C. Qualidade da manga e polpa de manga Ubá. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, v. 28, n. 3, p. 571-578, 2008.

CARVALHO, C.; FILTER, F.; KIST, B. B.; SANTOS, C. E.; TREICHEL, M. Anuário Brasileiro da Fruticultura. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta Santa Cruz, 2017. 88 p.: il.

CHEVALIER, R. C.; SILVA, G.F.A.; SILVA, D. M.; PIZATO, S.; CORTEZ-VEGA, W. R. Utilização de revestimento comestível à base de quitosana para aumentar a vida útil de melão minimamente processado. Journal of Bioenergy and Food Science, v. 3, n. 3, p. 130-138. 2016.

CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós colheita de frutas e hortaliças: fisiologia a manuseio. Lavras: UFLA, 2ª ed.. 2005. 785 p

DANALACHE, F.; CARVALHO, C. Y.; ALVES, V. D.; MOLDÃO-MARTINS, M.; MATA, P. Optimisation of gellan gum edible coating for ready-to-eat mango (Mangifera indica L.) bars. International Journal of Biological Macromolecules, v. 84, p. 43-53, 2016.

DEHGHANI, S.; HOSSEINI, S. V.; REGENSTEIN, J. M. Edible films and coatings in seafood preservation: A review. Food Chemistry, v. 240, p. 505-513, 2018.

GALUS, S.; KADZIŃSKA, J. Food applications of emulsion-based edible films and coatings. Trends in Food Science & Technology, v. 45, n. 2, p. 273-283, 2015.

GAVA, A. J.; SILVA, C. A. B.; FRIAS, J. R. G. Tecnologia de alimentos: princípios e aplicações. São Paulo: Nobel, 2008. 512 p.

GOMES, R. P. Fruticultura Brasileira. São Paulo: Nobel. 13ª ed. 2007. 443 p.

GONÇALVES, A. A.; PASSOS, M. G.; BIEDRZYCKI, A. Percepção do consumidor com relação à embalagem de alimentos: tendências. Estudos Tecnológicos, v. 4, n. 3, p. 271-283, 2008.

5

HASSAN, B.; CHATHA, S. A. S.; HUSSAIN, A. I.; ZIA, K. M.; AKHTAR, N. Recent advances on polysaccharides, lipids and protein based edible films and coatings: A review. International Journal of Biological Macromolecules, v. 109, p. 1095-1107, 2018.

LEISTNER, L. Food Preservation by combined methods. Food Research International, v. 25, p. 151-158, 1992.

LUVIELMO, M. M.; LAMAS, S. V. Revestimentos comestíveis em frutas. Estudos Tecnológicos em Engenharia, v. 8, n. 1, p. 8-15, janeiro-junho, 2012.

MANICA, I.; ICUMA, I. M.; MALAVOLTA, E.; RAMOS, V. H. V.; OLIVEIRA JUNIOR, M. E. O.; CUNHA, M. M.; JUNQUEIRA, N. T. V. Manga: Tecnologia, produção, agroindústria e exportação. Porto Alegre: Cinco Continentes. 2001. 671 p.

MANTILLA, S. P. S.; SANTOS, E. B.; VITAL, H. C.; MANO, S. B.; FRANCO, R. M. Atmosfera Modificada e Irradiação: Métodos combinados de conservação e inocuidade alimentar. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, v. 8, n. 15, 2010. 23 p.

SILVA, D. F. P.; SIQUEIRA, D. L.; PEREIRA, C. S; SALOMÃO, L. C. C.; STRUIVING, T. B. Caracterização de frutos de 15 cultivares de mangueira na Zona da Mata mineira. Revista Ceres, v. 56, n. 6, nov-dez, p. 783-789, 2009.

SILVA, D. F. P.; SIQUEIRA, D. L.; ROCHA, A.; SALOMÃO, L. C. C.; MATIAS, R. G. P.; STRUIVING, T. B. Diversidade genética entre cultivares de mangueiras, baseada em caracteres de qualidade dos frutos. Revista Ceres, v. 59, n. 2, p. 225-232, abr. 2012.

VILLADIEGO, A. M. D.; SOARES, N. F. F.; ANDRADE, N. J., PUSCHMANN, R., MINIM, V. P. R.; CRUZ, R. Filmes e revestimentos comestíveis na conservação de produtos alimentícios. Revista Ceres, v. 5, n. 300, p. 221-244, 2005.

YOUSUF, B.; QADRI, O. S.; SRVASTAVA, A. K. Recent developments in shelf-life extension of fresh-cut fruits and vegetables by application of different edible coatings: A review. Food Science and Technology, v. 89, p. 198-209, 2018.

6

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral

Avaliar a conservação pós-colheita de manga „Ubá‟, armazenada sob

refrigeração, submetida a diferentes tipos de revestimentos naturais.

2.2. Objetivos específicos

Estudar o efeito da utilização de revestimentos à base de cera de abelha,

carboximetilcelulose, cera de carnaúba e fécula de mandioca sobre as

características físico-químicas de frutos de manga „Ubá‟;

Avaliar a conservação pós-colheita e tempo de vida útil dos frutos nos

diferentes tratamentos utilizados;

Determinar o melhor revestimento para a conservação das mangas da

variedade „Ubá‟ para as condições utilizadas neste trabalho.

Revista LWT – Food Science and Technology 7

3. ARTIGO DE REVISÃO

REVESTIMENTOS NATURAIS NA CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS

RESUMO

O uso de revestimentos em alimentos tem sido investigado e se intensificou

ainda mais com a ampliação no mercado de alimentos frescos. Seu uso se estende

a diversos tipos de frutas e hortaliças, inteira ou processada, com o objetivo de se

estender a vida útil e manter suas qualidades físicas, sensoriais e microbiológicas

durante o armazenamento. O presente artigo teve como objetivo descrever

pesquisas relacionadas ao tema e relatar a utilização dessa tecnologia e seus

efeitos nos alimentos. Foi observado que o uso de revestimentos é capaz de

prolongar o tempo de vida útil dos alimentos, principalmente quando associado ao

uso de refrigeração. O aumento do tempo de vida útil varia de acordo com a

composição do revestimento e a temperatura de armazenamento.

Palavras-chave: Frutas; revestimentos naturais; pós-colheita.

ABSTRACT

The use of coatings in foods has been investigated and it was intensified by

the expansion of the fresh food market. Its use extends to a diversity of fruits and

vegetables, whole or processed, with the aim to extend the shelf life and improve

their physical, organoleptic and microbiologic qualities during the storage. The

present review has the objective to bring researches related to the topic and describe

the application of this technology and its effects on food. It has been observed that

the use of coatings can prolong the shelf life of food, especially when associated with

the use of cold storage. The increase in shelf life varies with coating composition and

storage temperature.

Key-Word: Fruits; natural coatings; post-harvest.

8

3.1. INTRODUÇÃO

A qualidade de um alimento natural depende de vários fatores e o emprego

de revestimentos, embora ainda em desenvolvimento, tem apresentado resultados

bastante significativos para auxiliar na conservação de alimentos perecíveis como as

frutas climatéricas e alimentos minimamente processados (ASSIS; BRITTO, 2014).

Os revestimentos ou coberturas naturais são uma das recentes alternativas

estudadas para auxiliar na conservação de alimentos. Estes possuem excelentes

propriedades de barreira, principalmente ao transporte de gases e vapor de água,

que contribuem para a manutenção da qualidade do fruto pós-colheita (GALUS;

KADZIŃSKA, 2015).

Revestimentos comestíveis são finas camadas de soluções filmogênicas

aplicadas em alimentos para protegê-los e manter sua qualidade por mais tempo.

São preparadas a partir de recursos naturais renováveis como polissacarídeos,

lipídeos e compostos que são comestíveis (HASSAN et al., 2018).

A utilização de soluções filmogênicas como auxiliar na conservação pós-

colheita de frutas têm sido considerada uma tecnologia com grande potencial,

principalmente em frutas de origem tropical (LUVIELMO; LAMAS, 2012; ASSIS;

BRITTO, 2014).

Com a aplicação dos revestimentos tem-se a formação de uma cobertura com

preenchimento parcial dos estômatos e lenticelas, reduzindo a transferência de

umidade e as trocas gasosas. A redução da permeação do O2 para o interior do fruto

reduz a produção de etileno, permitindo prolongar a vida útil do fruto (LUVIELMO;

LAMAS, 2012).

Diferentes métodos podem ser utilizados para aplicar um revestimento em um

produto alimentício para protegê-lo, prolongando sua vida útil e melhorando outros

aspectos de qualidade, como atributos sensoriais ou de frescor (HASSAN et al.,

2018).

Diversos biopolímeros têm sido avaliados em formulações de revestimentos

e, nesta revisão, são apresentadas pesquisas relacionadas aos compostos utilizados

em sua elaboração.

Dessa forma, o objetivo principal dessa revisão foi resumir as informações

existentes sobre alimentos revestidos, que possam contribuir com a proposição de

métodos de conservação de alimentos perecíveis.

9

3.2. ALIMENTOS REVESTIDOS

A aplicação de revestimentos comestíveis e uma tecnologia cada vez mais

divulgada e avaliada como um procedimento viável para aumentar o tempo de vida

de frutas e hortaliças (ASSIS; BRITTO, 2014).

Em processo de desenvolvimento, esse tipo de revestimento tem apresentado

resultados bastante significativos, como uma prática auxiliar na conservação de

alimentos com curto prazo de vida útil (ASSIS; BRITTO, 2014).

No estudo realizado por Gonçalves, Passos e Biedrzycki (2008), percebeu-se

a preocupação do consumidor com a conservação dos recursos naturais e

minimização de impactos ambientais, por meio da utilização de embalagens

ecologicamente corretas.

Nesse contexto, o uso de revestimento comestível possui vantagem em ser

biodegradável, evitando a poluição ambiental (VILLADIEGO et al., 2005).

Outros benefícios observados na revisão de Villadiego e colaboradores (2005)

foi de aumentar a vida de prateleira dos alimentos, melhorar sua aparência e

proteger suas propriedades durante estocagem e manipulação, mantendo suas

características sensoriais e propriedades de textura.

De acordo com Assis e Britto (2014), para cobertura agir de maneira

satisfatória como barreira, depende tanto do material utilizado como da fisiologia do

alimento a ser revestido.

Os compostos mais utilizados na elaboração de revestimentos comestíveis

são proteínas, polissacarídeos, lipídeos ou uma combinação desses compostos,

permitindo utilizar vantajosamente as distintas características funcionais de cada

classe, conferindo benefícios como resistência a danos mecânicos, retenção de

Vitamina C, redução de perda de massa e aumento do tempo de armazenamento

(LUVIELMO; LAMAS, 2012; YOUSUF et al., 2018).

3.2.1. Uso de refrigeração

Na deterioração de tecidos vegetais, as reações bioquímicas são

predominantemente de decomposição, envolvem processos oxidativos,

apresentando transformações como elevada taxa de respiração e atividade

metabólica, perda de massa, amaciamento dos tecidos e perda do “flavor” e do valor

nutritivo (CHITARRA; CHITARRA, 2005).

10

Em geral, a taxa de respiração é mais elevada nas primeiras 24 horas após a

colheita. As perdas são maiores e a vida de armazenamento é menor, quando o

produto é armazenado após a colheita em ambiente com temperatura elevada, sem

refrigeração (CHITARRA; CHITARRA, 2005).

A refrigeração retarda as reações químicas, atividades enzimáticas, a

multiplicação e a atividade dos microrganismos nos alimentos, o que permite

controlar a perda de qualidade dos alimentos decorrente da atividade fisiológica ou

de outras reações químicas, como degradação de pigmentos e vitaminas. Portanto,

na utilização do frio serão reduzidas ou inibidas a atividade microbiana e as reações

enzimáticas, incluindo processos metabólicos normais da matéria-prima, permitindo

também o aumento do tempo de armazenamento dos alimentos (GAVA et al., 2008).

A refrigeração é um recurso bastante utilizado dentre os métodos combinados

na conservação de alimentos, assim como a atmosfera modificada e a radiação, em

combinação com filmes e revestimentos comestíveis (DEHGHANI; HOSSEINI;

REGENSTEIN, 2018).

O termo “métodos combinados” tem sido utilizado em pesquisas para

designar mais de uma forma de conservação aplicada ao mesmo alimento

(LEISTNER, 1992; MANTILLA et al., 2010).

3.3. TIPOS DE SOLUÇÕES FILMOGÊNICAS

A escolha do material apropriado para elaboração de soluções filmogênicas

depende das características do fruto, do próprio material e dos objetivos desejados

para o revestimento. Na Tabela 1 estão exemplificados alguns revestimentos

aplicados em diferentes espécies de frutos.

11

Tabela 1. Tipos de revestimentos estudados em frutos.

Fruto Condição Revestimento Conservação pós-colheita

Autor

Manga

Inteira Fécula de

mandioca 2%; Amido de milho 4%

21 dias 21 dias

SANTOS et al., 2011

Inteira

Cera de abelha; Cera de carnaúba; Alginato de Sódio;

Quitosana; CMC

30 dias SILVA, 2015

Mamão

Inteiro Fécula de mandioca

12 dias PEREIRA et

al., 2006

Inteiro CMC;

CMC e timol 7 dias 9 dias

ZILLO et al., 2018

Goiaba

Cortada ao meio

Goma de caju e CMC

8 dias FORATO et al.,

2015

Inteira Cera de carnaúba 8 dias RIBEIRO et al.

2005

Maçã Minimamente processada

Extrato de nabo e goma xantana

13 dias BORGES et al.,

2016

Melão Minimamente processado

Quitosana com montmorillonita e óleo essencial de

cravo

6 dias CHEVALIER et

al., 2016

Jujuba Inteira Cera de carnaúba 10 dias CHEN et al.

2019

Berinjela Inteira Cera de carnaúba 12 dias SINGH et al.

2016

Ameixa Inteira Cera de abelha 28 dias NAVARRO-

TARAZAGA et al., 2011.

A fisiologia do fruto deve ser levada em consideração no tempo de

conservação observado. Cada espécie tem um tempo de vida após a colheita e com

a utilização de um mesmo material para a solução filmogênica a ação sobre o fruto é

particular.

Em todos os casos citados na Tabela 1 houve algum aumento no tempo de

conservação em relação ao fruto não revestido (controle). No entanto, em alguns

casos isso foi possível com a utilização conjunta do armazenamento a frio dos frutos

revestidos, como a ameixa (1 °C) e os minimamente processados (4 °C).

12

Frutas tropicais, especialmente as climatéricas, tem curta vida útil por

apresentarem elevado teor de umidade, textura macia e altas taxas respiratórias -

quando comparados aos produtos agrícolas duráveis como grãos e cereais

(CHITARRA; CHITARRA, 2005). Essas características geram desvantagens em

relação ao manuseio pós-colheita, podendo resultar em perdas consideráveis até a

comercialização ou o consumo.

A solução filmogênica para revestir o fruto deve ser capaz de limitar as trocas

gasosas e a perda de água para o ambiente, reduzindo o metabolismo e

prolongando sua vida pós-colheita.

Santos e colaboradores (2011) relataram que apenas foi possível um controle

efetivo da perda de massa em frutos de manga „Tommy Atkins‟ revestida associada

à refrigeração.

Silva (2015) observou que, dentre os revestimentos testados (Tabela 1) em

mangas „Palmer‟, a aplicação de revestimentos à base de cera de abelha e de cera

de carnaúba foram os mais eficientes na redução da perda de massa associado ao

armazenamento refrigerado (21 dias a 10,3 °C e 81 de UR, mais nove dias a 25 °C e

73 de UR).

3.3.1. Cera de abelha

Filmes formados por lipídeos, como o caso da cera de abelha, são mais

opacos do que de outras fontes. Quanto maior a concentração de cera de abelha,

maior é a opacidade e a perda de brilho do revestimento. Seu uso se justifica pela

barreira contra a umidade, por ser comestível e de baixo custo (NAVARRO-

TARAZAGA et al., 2011).

É possível melhorar a qualidade e aparência do revestimento, pela adição de

agentes surfactantes, como span 80 e tween 80, que possuem propriedades

emulsificantes (SILVA, 2015).

Na investigação de Navarro-Tarazaga e colaboradores (2011), a cera de

abelha foi capaz de formar uma barreira semipermeável ao oxigênio em ameixas,

reduzindo a perda de massa e o amolecimento da polpa, sem afetar a qualidade

sensorial da fruta. Foi utilizado o acondicionamento dos frutos a 1ºC, revestidos com

a cera de abelha, promovendo sua conservação por 4 semanas.

13

Em estudos para conservação de manga com revestimentos à base de cera

de abelha, azeite de oliva, amido e benzoato de sódio; foi observado um maior

prolongamento da vida de prateleira e melhor redução da perda de massa no caso

dos frutos revestidos com cera de abelha, enquanto que os frutos revestidos com

amido apresentaram melhor qualidade de cor, sólidos solúveis e carotenoides (BIBI;

BALOCH, 2014).

3.3.2. Carboximetilcelulose

A carboximetilcelulose (CMC) é derivada da celulose, amplamente estudada

em elaboração de revestimentos. Sua preparação consiste em diluição em água

aquecida a 70 °C com agitação constante (SILVA, 2015).

Sua utilização combinada com quitosana conservou a firmeza em laranjas e

toranjas, mas não reduziu significativamente a perda de massa dos frutos (ARNON

et al., 2014).

Soluções filmogênicas à base de goma de caju e carboximetilcelulose foram

analisadas como revestimentos comestíveis em frutos inteiros e cortados pela

metade de goiaba vermelha. Foi observada a redução na perda de massa,

preservação da firmeza e retardo na mudança da cor da casca dos frutos,

prolongando o armazenamento por até 8 dias (FORATO et al., 2015).

Revestimento à base de CMC, acrescido de timol, foi efetivo no controle pós-

colheita em mamão papaia, apresentando redução da antracnose, retardo das

mudanças fisiológicas, podridão e murchamento dos frutos. Foi feito um estudo

comparativo com controle, frutos revestidos com CMC e frutos revestidos com CMC

e óleo essencial (timol), apresentando tempo de vida útil de cinco, sete e nove dias

respectivamente (ZILLO et al., 2018).

3.3.3. Cera de Carnaúba

A cera de carnaúba provém de uma palmeira brasileira (Copernica cerifa),

utilizada como revestimento e foi capaz de reduzir perda de massa e manter a

aparência brilhante em alguns frutos (RIBEIRO et al., 2005; CHEN et al., 2019).

Esta cera é interessante quando se pretende ter uma barreira à perda de

água, devido à sua natureza hidrofóbica, os lipídios melhoram a resistência dos

filmes à umidade. A sua opacidade se deve à concentração utilizada, podendo

14

comprometer a qualidade dos filmes quando a alta transparência é necessária. No

entanto não é eficiente como barreira ao vapor de água em altas concentrações,

tornando o revestimento rígido (RODRIGUES et al., 2014).

Chiumarelli e Hubinger (2014) sugerem a utilização de glicerol para obter

melhor desempenho do filme ou revestimento, atuando como agente plastificante.

O glicerol é um plastificante usado para aumentar a flexibilidade dos

revestimentos, mas pode afetar a permeabilidade ao vapor de água e aos gases,

pois é muito hidrofílico e higroscópico (SOTHORNVIT; KROCHTA, 2001).

Resultados obtidos em análises de caracterização de formulações de

revestimentos com amido de mandioca, glicerol, cera de carnaúba e ácido esteárico

mostraram que alto teor de cera e baixa concentração de glicerol formam filmes

ruins, com estrutura rígida, barreira de gases e vapor de água fraca. Obteve-se

revestimento com boas propriedades de barreira e filmes com boas propriedades

mecânicas, térmicas, físicas e estruturais, adequadas para uso como revestimentos,

a partir de uma formulação com estes componentes balanceados (CHIUMARELLI;

HUBINGER, 2014).

3.3.4. Fécula de mandioca

A mandioca é uma cultura de raízes amiláceas e é utilizada tanto para o

consumo humano como em numerosas aplicações industriais. Tanto a amilose como

a amilopectina são componentes do amido cujo conteúdo e estruturas contribuem

para as suas propriedades únicas (TAPPIBAN et al., 2019).

Além de sua importância para a alimentação humana, a fécula de mandioca

vem sendo bastante estudada como revestimento ou na formação de filmes para

várias aplicações (RODRIGUES et al., 2014 ).

É um recurso renovável amplamente disponível e pode ser obtido a partir de

diferentes sobras de colheita e industrialização de matérias-primas. É desejável

devido à sua claridade, baixa temperatura de gelatinização e boa estabilidade do gel

(FAKHOURI et al., 2012).

Os revestimentos à base de polissacarídeos têm baixa permeabilidade ao

oxigênio, o que pode reduzir a taxa de respiração. O amido é o polissacarídeo mais

importante usado na formulação de filmes biodegradáveis e revestimentos

comestíveis. Os revestimentos à base de amido de mandioca são insípidos,

15

inodoros e transparentes, não alterando o sabor, aroma e aparência do produto

(CHIUMARELLI; HUBINGER, 2014).

Em um estudo com mangas “Tommy Atkins‟ foi observado que a solução

filmogênica à base de fécula de mandioca foi eficiente na manutenção da qualidade

dos frutos em relação a perda de massa, o pH, a cor da casca e a relação sólidos

solúveis/acidez titulável - SS/AT (VIEIRA et al, 2009).

A fécula de mandioca reduziu a perda de massa em mangas de forma

inversamente proporcional à sua concentração (SCANAVACA JR et al., 2007).

Em um estudo com maçãs minimamente processadas, observou-se um

melhor desempenho em formulação contendo 3% (m/m) de amido de mandioca,

1,5% (m/m) de glicerol, 0,2% (m/m) de cera de carnaúba e 0,8% (m/m) de ácido

esteárico, que apresentaram melhor aproveitamento, boas propriedades mecânicas,

térmicas, físicas, de barreira à umidade e troca de gás (CHIUMARELLI; HUBINGER,

2014).

16

3.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base em estudos na literatura, observa-se que o uso de revestimentos

prolongou o tempo de vida útil dos frutos, principalmente quando aliado à

refrigeração.

Um mesmo material para a elaboração do revestimento pode proporcionar um

resultado diferente em diferentes frutos. O tempo de vida útil variou de acordo com a

fisiologia do fruto estudado, composição do revestimento e a temperatura do

armazenamento.

O estudo prévio das soluções filmogênicas possibilita uma melhor escolha

para pesquisa em pós-colheita de frutas e hortaliças. Tendo em vista a qualidade

sensorial da fruta, é desejável que se escolha o revestimento que possibilite, além

de sua conservação, uma melhora em seu aspecto visual para maior aceitação

pelos consumidores.

É importante que se estude mais de um tipo de solução filmogênica para a

formação do revestimento, visto que foram obtidos resultados diversos de uma

mesma solução filmogênica em diferentes frutos e em alguns frutos as soluções

estudadas não proporcionaram resultados efetivos.

Em produtos minimamente processados e em frutos muito perecíveis

observa-se a necessidade de armazenamento refrigerado juntamente com o

revestimento para obter resultado satisfatório.

17

3.5. REFERÊNCIAS

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Revista LWT – Food Science and Technology 20

4. ARTIGO ORIGINAL

APLICAÇÃO DE REVESTIMENTOS NATURAIS E DE REFRIGERAÇÃO NA

CONSERVAÇÃO DE MANGA ‘UBÁ’

RESUMO

A utilização de revestimentos naturais em combinação com a refrigeração é uma das

técnicas muito utilizadas para a conservação pós-colheita da maioria das frutas. A

manga, ainda que utilizada na produção de polpas, sucos e doces, é muito

consumida in natura. Além disso, é interessante economicamente aumentar o

volume de exportação dessa fruta por meio da melhoria da qualidade dos frutos e

manejo pós-colheita. Portanto, estudar formas de prolongar seu período de

armazenamento e comercialização é essencial. Esse trabalho teve como objetivo

estudar a conservação pós-colheita de manga „Ubá‟ utilizando revestimentos

naturais à base de carboximetilcelulose, cera de abelha, fécula de mandioca e cera

de carnaúba, combinados com o armazenamento refrigerado. O controle (manga

não revestida) e as mangas revestidas foram avaliadas em relação às suas

características físico-químicas e reológicas, na colheita dos frutos (0 dias) e durante

o armazenamento (7, 14, 21 e 28) dias a 15 °C, mais 3 dias, em cada intervalo, à 25

°C, totalizando o tempo de armazenamento em 3, 10, 17, 24, 28 e 31 dias. Os

revestimentos utilizados provocaram efeitos positivos sobre a conservação dos

frutos, em comparação aos frutos controle, retardando processos fisiológicos do

amadurecimento do fruto, como a redução de acidez, aumento do pH e de sólidos

solúveis e perda da firmeza da polpa. Os revestimentos que obtiveram melhor

desempenho foram as soluções à base cera de abelha, carboximetilcelulose e fécula

de mandioca. No entanto, os frutos revestidos com cera de abelha não

amadureceram de forma satisfatória. Assim, as soluções à base de

carboximetilcelulose e fécula de mandioca foram as mais indicadas para as

condições de acondicionamento propostas.

Palavras-chave: Amadurecimento; revestimentos naturais; pós-colheita; vida útil.

21

ABSTRACT

The use of natural coatings combined with refrigeration is one of the most widely

used technics for post-harvest conservation of fruits. Mango, although used in the

production of juices and sweets, is widely consumed in natura. In addition, it is

economically interesting to increase the fruit export volume of this fruit by improving

fruit quality and post-harvest management. Therefore, studying ways to extend

storage and marketing period is essential. This work aims to study postharvest

conservation of 'Ubá' mango using natural coatings based on beeswax,

carboxymethylcellulose, carnauba wax and cassava starch, combined with

refrigerated storage. The control (mango without coating) and coated mangoes were

evaluated for physicochemical and rheological characteristics at fruit harvest (0 days)

and during storage (7, 14, 21 and 28) days at 15 ° C, plus 3 days, at each interval, at

25 ° C, totaling the storage time at 3, 10, 17, 24, 28 and 31 days. The coatings used

had positive effects on fruit preservation, compared to control fruits, delaying

physiological processes of fruit ripening, like acidity reduction, pH and soluble solids

increasing and pulp firmness loss. The best performing coatings were beeswax,

carboxymethylcellulose and cassava starch based solutions. However, beeswax-

coated fruits did not mature satisfactorily. The carboxymethylcellulose and cassava

starch based solutions were the most suitable for the proposed storage conditions.

Key-Word: Ripening; natural coating; post-harvest; shelf life.

22

4.1. INTRODUÇÃO

Originária do Sudoeste Asiático, a mangueira (Mangifera indica L.)

disseminou-se para várias regiões do mundo. A manga é uma fruta tropical de

grande aceitação pelos consumidores, por causa de suas características exóticas e

composição nutricional. As principais variedades cultivadas comercialmente no Brasil

são: “Tommy Atkins”, “Haden”, “Palmer”, “Keitt”, “Van Dyke”, “Rosa”, “Ubá”, entre

outras. A variedade Ubá é bastante conhecida em algumas regiões do Brasil,

sobretudo no Estado de Minas Gerais (FARAONI et al., 2009).

Essa cultivar destaca-se pelos valores elevados de vitamina C, carotenoides e

açúcares solúveis (SILVA et al., 2009). Sendo um fruto de clima tropical, apresenta

rápida perecibilidade e, por isso, torna-se importante o desenvolvimento de métodos

eficientes para sua conservação. Por ser um fruto climatérico, a colheita é feita antes

do seu amadurecimento, atingindo o pico de produção de etileno durante o

armazenamento (GOMES, 2007). Ao reduzir o metabolismo dos frutos durante esse

armazenamento, prolonga-se o tempo de amadurecimento, tornando mais lentas as

mudanças bioquímicas, fisiológicas e estruturais do fruto.

A manga „Ubá‟ possui grande aceitação para o consumo ao natural no

mercado interno brasileiro, e grande importância como matéria-prima no setor

industrial, por meio da produção de polpa durante as épocas de safra. Além disso,

pode ser utilizada para a fabricação de néctares, doces, iogurtes, biscoitos, bolos,

sorvetes, refrescos e alimentos infantis (MANICA et al., 2001; BENEVIDES et al.,

2008).

Adami e colaboradores (2016) observaram a importância de atingir um padrão

de qualidade dos produtos da fruticultura, a fim de atender as exigências do

mercado internacional, fator primário para melhorar o desempenho nacional nessa

atividade.

Alimentos em geral têm como característica sua fácil deterioração, que, no

caso dos vegetais, começa imediatamente após a sua colheita (GAVA et al., 2008),

e, especialmente no clima tropical, apresentam aceleração da maturação e

deterioração em consequência das mudanças bioquímicas, fisiológicas e também de

procedimentos de manuseio e acondicionamentos inadequados (LUVIELMO;

LAMAS, 2012).

Os revestimentos ou coberturas naturais são uma das recentes alternativas

23

para auxiliar na conservação de alimentos. Estes possuem excelentes propriedades

de barreira, principalmente ao transporte de gases e vapor de água, entre outros

fatores que contribuem para a manutenção da qualidade do fruto pós-colheita

(GALUS; KADZIŃSKA, 2015).

Benefícios relatados por Villadiego e colaboradores (2005) foram: aumentar a

vida útil dos alimentos, melhorar a aparência de frutas e hortaliças e proteger suas

propriedades durante estocagem e manipulação, mantendo suas características

sensoriais e propriedades de textura.

De acordo com Assis e Britto (2014), para o revestimento agir de maneira

satisfatória como barreira, fatores como o material utilizado e a fisiologia do alimento

a ser revestido são fundamentais.

Os compostos mais utilizados na elaboração de revestimentos comestíveis

são proteínas, polissacarídeos, lipídeos ou uma combinação desses compostos,

permitindo utilizar vantajosamente as distintas características funcionais de cada

classe, conferindo benefícios como resistência à danos mecânicos, retenção de

Vitamina C, redução de perda de massa e aumento do tempo de armazenamento

(LUVIELMO; LAMAS, 2012; YOUSUF et al., 2018).

Já a refrigeração retarda as reações químicas, atividades enzimáticas, a

multiplicação e a atividade dos microrganismos nos alimentos, o que permite

controlar a perda de qualidade dos alimentos decorrente da atividade fisiológica ou

de outras reações químicas, como degradação de pigmentos e vitaminas (GAVA et

al., 2008). Portanto, na utilização do frio serão reduzidas ou inibidas a atividade

microbiana e as reações enzimáticas, incluindo processos metabólicos normais da

matéria-prima, permitindo também o aumento do tempo de armazenamento dos

alimentos.

A refrigeração é um recurso bastante utilizado dentre os métodos combinados

na conservação de alimentos, assim como a atmosfera modificada e a radiação, em

combinação com filmes e revestimentos comestíveis (DEHGHANI; HOSSEINI;

REGENSTEIN, 2018).

Dessa forma, neste trabalho foram avaliados diferentes tipos de

revestimentos, associados à refrigeração, para a conservação pós-colheita de

manga „Ubá‟.

24

4.2. METODOLOGIA

4.2.1. Preparo das soluções filmogênicas

As soluções filmogênicas foram previamente testadas para o devido ajuste

das formulações, utilizando-se os melhores resultados a partir de observações das

aplicações nos frutos (Apêndice C).

4.2.1.1. Cera de abelha (CA)

Foi elaborada uma solução à base de cera de abelha a 4,0 % (m/v) de

concentração. Solubilizou-se em um Becker sobre chapa aquecedora, 120 g cera de

abelha, 200 mL de tween 80, 30 g de ácido cítrico e 30 g de ácido ascórbico em 3 L

de água destilada (SILVA, 2015). A utilização de ácido cítrico (1,0 % m/v) e ácido

ascórbico (1,0 % m/v) foi necessária para melhorar a textura e a aplicação das

soluções filmogênicas nos frutos (PEREIRA JUNIOR, 2014).

4.2.1.2. Carboximetilcelulose (CMC)

Foi elaborada uma solução à base de CMC a 1,0% (m/v) de concentração,

com óleo de girassol a 0,3% (v/v), tween 80 a 0,3% e glicerol a 5% (v/v) em

aquecimento (50°C) sob agitação (SILVA, 2015). Foi adicionado ácido ascórbico

0,5% e ácido cítrico 0,5% (m/v) (PEREIRA JUNIOR, 2014).

4.2.1.3. Cera de carnaúba (CC)

A emulsão de cera de carnaúba foi pesada e solubilizada em água destilada

na proporção 1:2 e homogeneizada (SILVA, 2015).

4.2.1.4. Fécula de mandioca (FM)

A solução de fécula de mandioca foi preparada na concentração de 4% (m/v),

aquecendo a suspensão, sob agitação, até 70 ºC até completa gelatinização do

amido. Foi acrescentado óleo de girassol 0,3 % e glicerol 5 % como agente

plastificante (SILVA, 2015).

25

4.2.2. Colheita das mangas

Em vários locais do Brasil, para diferentes cultivares e épocas do ano tem

sido adotado como o ponto de colheita cerca de 90 a 120 dias após o florescimento

da planta (MANICA et al., 2001). Em um estudo de cultivares de manga „Ubá‟ foi

observada a maturação fisiológica dos frutos 120 dias após a antese, ou 17ª

semana (LIMA, 2018). Portanto, neste trabalho, os frutos foram colhidos

observando-se esse período.

Os frutos da mangueira „Ubá‟ foram colhidos na área experimental da

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), localizada em Rive, município de

Alegre – ES (20°45'00.4"S 41°29'14.1"W). Foram descartados aqueles com defeitos

físicos, ataque de pragas e doenças.

Os frutos foram colhidos fisiologicamente maduros, transportados para a

Planta Piloto do Departamento de Engenharia de Alimentos do Centro de Ciências

Agrárias e Engenharias da Universidade Federal do Espírito Santo, onde foram

higienizados.

Após a higienização e secagem, as mangas foram caracterizadas sem a

aplicação dos revestimentos. Foram analisadas a massa dos frutos e as

características físico-químicas: firmeza de polpa, rendimento, pH, acidez titulável e

sólidos solúveis. A análise de cor da casca e da polpa foi realizada após a etapa de

revestimento dos frutos.

Os frutos foram submersos nas soluções filmogênicas, previamente

preparadas, durante um minuto (exceto o controle). Em seguida, o excesso de

solução foi drenado e os frutos foram armazenados de acordo com o planejamento

experimental.

4.2.3. Planejamento experimental e análise estatística dos dados

O experimento foi conduzido em esquema fatorial, com dois fatores:

revestimento e tempo de armazenamento.

O fator revestimento com cinco níveis, sendo esses, quatro tipos de

revestimentos e o controle (manga não revestida), e o tempo de armazenamento,

seis níveis: na colheita dos frutos (0 dias) e durante o armazenamento (7, 14, 21 e

28) dias a 15 °C, mais 3 dias, em cada intervalo, à 25 °C, totalizando o tempo de

armazenamento em 3, 10, 17, 24, 28 e 31 dias.

26

O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado, com três repetições,

totalizando 90 unidades experimentais, e cada unidade experimental foi constituída

de seis frutos.

Os dados obtidos foram submetidos à ANOVA, teste de comparação entre

médias e análise de regressão, com o auxílio do programa GENES (CRUZ, 2013).

4.2.4. Análises físico-químicas

Cada unidade experimental continha seis frutos, separados aleatoriamente

para as análises. Para a análise de firmeza, cor, perda de massa e rendimento

foram utilizados frutos inteiros, sem triturar a polpa.

As mangas foram descascadas manualmente com faca, separando a polpa

da semente e da casca. A polpa foi triturada com auxílio de um liquidificador. A polpa

triturada foi direcionada às análises de pH, acidez titulável, sólidos solúveis e ratio.

4.2.4.1. Perda de massa

A perda de massa foi determinada por meio da diferença entre o peso inicial e

final dos frutos em balança semi-analítica BALMAK modelo ELP- 25, ao longo de

cada período de armazenamento e expressa em porcentagem.

4.2.4.2. Rendimento

Os frutos foram pesados e, em seguida, descascados e despolpados. A polpa

foi então pesada. O rendimento foi obtido pela relação entre o peso da polpa e fruto

inteiro, realizado em duplicata.

4.2.4.3. Firmeza de polpa

Para esta análise, as mangas foram descascadas e feitas duas medidas em

cada face da manga, obtendo-se a média dos quatro valores. Ensaios de TPA foram

realizados utilizando um analisador de textura (CT3 texture analyzer Brookfield). As

seguintes condições experimentais foram selecionadas: velocidade de pré-teste: 1,0

mm/s, velocidade de teste: 2,0 mm/s, velocidade de pós teste: 2,0 mm/s (teste com

dois ciclos de contagem), força de gatilho (trigger) 0,07N, ponta de prova (sonda) TA

44, dispositivo (base) TA-BT-KIT. Essas condições de configuração foram

determinadas através de ensaios preliminares. O parâmetro Dureza (N) foi

27

automaticamente calculado pelo software do equipamento.

4.2.4.4. Cor da casca e polpa

A cor da casca e da polpa foram medidas na região central em lados opostos

do fruto, para se obter um valor médio de cada medida. Para essas análises,

utilizou-se o colorímetro (Konica Minolta modelo N/1800UV), onde foram avaliados

os parâmetros L*, a* e b* (LEMOS, 2014).

A coordenada L* (luminosidade) varia de 0 (preto) a 100 (branco), a

coordenada expressa o grau de variação a* do verde (mais negativo = mais verde)

ao vermelho (mais positivo = mais vermelho) e a coordenada b* do azul (mais

negativo = mais azul) ao amarelo (mais positivo = mais amarelo) (McGUIRE, 1992).

4.2.4.5. pH

A análise de pH da polpa foi realizada através de leitura direta realizada por

potenciômetro, à temperatura ambiente, utilizando pHmetro (TEKNA modelo T-1000)

calibrado com soluções-tampão de pH 4, 7 e 10 (IAL, 2008).

4.2.4.6. Acidez titulável

A acidez titulável foi feita seguindo a metodologia 312/IV do Instituto Adolfo

Lutz (IAL, 2008) e expressa em porcentagem de ácido cítrico, que é o ácido

predominante na manga (Equação 1).

Equação 1

4.2.4.7. Sólidos Solúveis

A análise de sólidos solúveis foi realizada por meio de leitura direta da polpa

da manga, com auxílio de um refratômetro digital (Atago Abber DR-A1) (IAL, 2008).

4.2.4.8. Ratio (SS/AT)

Obtida através do quociente dos valores de sólidos solúveis e da acidez

titulável (LEMOS, 2014).

28

4.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observou-se que a interação entre os fatores estudados foi significativa (p ≤

0,05), ou seja, os fatores não atuam de forma independente sobre as variáveis

respostas. Procedeu-se, então, ao desdobramento da interação, por meio da Análise

de Regressão por tempo e Teste de Tukey por revestimento para comparação entre

médias. As tabelas contendo os resultados para o teste de comparação entre

médias estão apresentadas no Apêndice B.

Verificou-se que com 24 dias de acondicionamento os frutos já não estavam

aptos ao consumo, e, aos 31 dias, todos os frutos estavam deteriorados,

apresentando degradação da casca e da polpa e excessiva perda de massa (cerca

de 33 % em 24 dias e 42 % em 31 dias). Por isso, serão discutidos os resultados

referentes aos tempos de acondicionamento zero (colheita) até 17 dias,

desconsiderando 24 e 31 dias de acondicionamento.

4.3.1. Perda de massa

Para os revestimentos e o controle, os modelos ajustados foram de grau 1 (p

≤ 0,05), mostrados na Figura 1, em que pode ser observada a perda de massa ao

longo do armazenamento.

Embora não exista legislação específica que determine a perda de massa

máxima aceitável para comercialização, Chitarra e Chitarra (2005) sugerem que

alguns alimentos perecíveis ainda são comercializáveis com 10% de perda de

umidade.

Esse valor foi destacado na Figura 1, como limite superior (LS) de perda de

massa para avaliação do efeito dos revestimentos sobre os frutos de manga „Ubá‟.

Somente após 24 dias de acondicionamento é que foi observada diferença

significativa entre os revestimentos. As mangas revestidas com CMC e CC

apresentaram menor perda de massa que as mangas controle (CO). No entanto, as

mangas com e sem revestimento já haviam atingido a perda de massa em torno de

10% quando acondicionadas por 10 dias (Figura 1).

Nenhum revestimento, portanto, foi capaz de reduzir a perda de massa de

forma desejável em relação à vida útil do fruto.

Assis e colaboradores (2009) ressaltaram que a redução significativa de O2

pode provocar em uma mudança para respiração anaeróbica, resultando ao longo

29

do tempo no aumento de metabolismos indesejáveis, principalmente a ocorrência de

fermentação.

Caso se utilizasse algum agente com maior potencial de barreira de umidade,

poderia ser provocada a impermeabilização dos poros da casca dos frutos,

impedindo a respiração e alterando o metabolismo dos frutos.

Figura 1: Perda de massa dos frutos (%), por revestimento, ao longo do armazenamento (dias).

Lima (2018) constatou que frutos de manga „Ubá‟, colhidas a partir de 120

dias após a antese, apresentaram 10% de perda de massa em três dias de

acondicionamento à temperatura ambiente.

Comparando a durabilidade dos frutos acondicionados em temperatura

ambiente e os frutos deste experimento, constata-se que a refrigeração pode ter sido

o fator responsável por estender esse período em todos os frutos, com revestimento

e controle, em relação à perda de massa.

A partir das equações dos modelos ajustados, constatou-se que os frutos

controle e os revestidos com CA e FM atingiram a perda de massa de 10 % em oito

dias de acondicionamento, os frutos revestidos com CMC e CC atingiram esse valor

em nove dias de acondicionamento.

Seria recomendável que se utilizasse de algum mecanismo de controle de

umidade, a um baixo custo, em conjunto com o revestimento e a refrigeração, de

forma a aumentar o tempo de acondicionamento em relação à perda de massa.

30

4.3.2. Rendimento

Em relação ao rendimento, para os frutos CO e os revestidos com CC e FM

os modelos ajustados foram de grau 1. Para os frutos revestidos com CA e CMC os

modelos ajustados foram de grau 2 (p ≤ 0,05) (Figura 2).

Observou-se queda do rendimento ao longo do acondicionamento nos frutos

revestidos e controle, exceto pelos frutos revestidos com CA (Figura 2).

O gasto energético do processo respiratório resulta em diferentes

modificações na composição e características dos produtos, causando sua

deterioração, devido a eventos fisiológicos como aumento da transpiração com o

murchamento e perda de massa (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Esses eventos

fisiológicos afetam diretamente o rendimento de polpa.

Observou-se, pelo teste de médias, que em até 10 dias de acondicionamento,

os frutos revestidos não diferiram do controle (Figura 2), porque os revestimentos

não produziram efeito significativo na perda de massa, fator que afeta diretamente

no rendimento dos frutos.

Apenas nas análises do 17º dia de acondicionamento, observou-se que houve

diferença entre os frutos revestidos com CA e CMC em relação ao controle, com

rendimento significativamente superior.

É possível considerar que os frutos revestidos com CA e CMC tiveram a sua

transpiração reduzida, fator que contribuiu para o controle do rendimento da polpa

dos frutos.

No Apêndice A, estão dispostas fotos dos frutos testados, controle e

revestidos, ao longo dos tempos de acondicionamento. Observou-se que os frutos

revestidos com CA e CMC foram os que menos sofreram murchamento.

Silva e colaboradores (2009) encontraram, em relação à porcentagem de

polpa, que para a variedade „Ubá‟ o rendimento foi de 61,2%, em frutos colhidos

fisiologicamente maduros (observando a cor da casca e formato dos frutos).

Segundo Benevides e colaboradores (2008) o rendimento industrial na ordem

de 50% é considerado satisfatório para a industrialização de mangas. Dessa forma,

no presente trabalho foi possível observar que todas as mangas estudadas tiveram

porcentagem de rendimento de polpa superior a 50% até os 17 dias de

acondicionamento. Em relação ao rendimento, todos os frutos estariam em

condições satisfatórias de processamento e comercialização.

31

Figura 2: Rendimento de polpa dos frutos (%), por revestimento, ao longo do armazenamento (dias).

4.3.3. Firmeza da polpa

Para os frutos controle e revestidos com CMC, CC e FM, o modelo ajustado

foi de grau 1, para os frutos revestidos com CA o modelo ajustado foi de grau 2 (p ≤

0,05) (Figura 3).

Na Figura 3 é possível observar que a firmeza dos frutos diminuiu com o

decorrer do tempo, de acordo com cada revestimento. Silva (2015) observou o

mesmo comportamento ao longo do armazenamento de mangas „Palmer‟, e destaca

a importância de retardar o metabolismo de carboidratos na manga, uma vez que

promove o amaciamento da polpa, que é um fator limitante para a comercialização

da fruta.

Em três dias de acondicionamento, apenas os frutos revestidos com CA

diferiram significativamente do controle; todos os frutos revestidos foram

considerados iguais (pelo teste de médias, Figura 3). Em 10 dias de

acondicionamento apenas os frutos revestidos com CA diferiram de todos os demais

tratamentos. No 17º dia de acondicionamento, todos os frutos foram considerados

iguais (Figura 3).

32

Em alguns casos, as ceras são eficientes na manutenção da firmeza, como foi

o caso da cera de abelha que atrasou o amaciamento da polpa dos frutos durante 10

dias.

Os revestimentos CMC, CC e FM não foram efetivos na redução do

amolecimento dos frutos durante o acondicionamento. A redução da firmeza destes

frutos, ao longo do tempo, ocorreu de forma similar ao controle. Por outro lado, os

frutos amadureceram.

A modificação da textura ocorre devido à solubilização das pectinas e

hidrólise de polissacarídeos estruturais da parede celular (CHITARRA; CHITARRA,

2005).

Em frutos de manga a firmeza está relacionada ao etileno. O amento da

produção de etileno coincide com o aumento na respiração e com a diminuição da

firmeza (KOSLANUND et al., 2005). A firmeza também está relacionada com a

quantidade de água no interior das células, que diminui com o tempo de

armazenamento (HUSSAIN et al., 2010).

Além disso, há a conversão das fracções pécticas insolúveis em formas

solúveis durante o amadurecimento. Durante o amadurecimento, as enzimas

protopectinase e pectinametilesterase são responsáveis pela hidrólise e

solubilização de substâncias pécticas, contribuindo assim para a redução da firmeza

(HUSSAIN et al., 2010).

O cálcio, assim como o nitrogênio, é o nutriente mais exigido pela mangueira.

O cálcio influencia na firmeza do fruto e no tempo de prateleira. Os baixos teores de

cálcio estão associados com o colapso interno. Os períodos críticos para a absorção

de cálcio ocorrem durante o fluxo pós-colheita e o desenvolvimento inicial dos frutos.

(COSTA et al., 2008). Os valores observados na firmeza dos frutos podem ser um

indicativo de baixo teor de nutrientes disponíveis para as plantas.

33

Figura 3: Firmeza de polpa, por revestimento, ao longo do armazenamento (dias).

4.3.4. Cor da casca e da polpa

Os modelos ajustados para explicar o comportamento da luminosidade (L*)

para a casca da manga, durante o armazenamento, para todos os frutos foram

lineares (p ≤ 0,05).

Observa-se na Figura 4, uma redução da luminosidade da casca em todos os

revestimentos testados, o que evidencia que houve escurecimento da casca (Figura

14 – Apêndice A). Quanto menor o valor de L*, mais escuro é o produto.

A incidência de manchas negras foi notada nos frutos, na colheita e durante o

acondicionamento. Algumas doenças e desordens fisiológicas pós-colheita em

manga são responsáveis pelo escurecimento, tanto da casca como da polpa, como

antracnose, podridão negra e podridão apical, e representam uma das fontes mais

severas de perdas de frutas e hortaliças (CHITARRA; CHITARRA, 2005), sendo uma

das possíveis causa do escurecimento da casca dos frutos.

Comparando a inclinação das retas, observou-se escurecimento mais lento

nas mangas revestidas quando comparadas às do controle.

Não houve diferença significativa (p > 0,05) entre os frutos revestidos, em

cada um dos intervalos de tempo testados. Em relação ao controle, os frutos

revestidos com CMC, CC e FM diferiram em 10 dias de acondicionamento, e, em 17

34

dias de acondicionamento, apenas os frutos revestidos com CA diferiram,

apresentando-se mais claros que o controle, mas considerados iguais aos demais

frutos revestidos (Figura 4).

Dessa forma, é possível afirmar que os frutos revestidos apresentaram algum

retardo no escurecimento durante o tempo de acondicionamento, em especial a

solução à base de CMC, CC e FM em 10 dias de acondicionamento.

Figura 4: Coordenada de cor L* para casca dos frutos, por revestimento, ao longo do armazenamento (dias).

Os modelos ajustados para explicar o comportamento de a* para casca da

manga, durante o armazenamento, para todos os revestimentos foram de grau 1 (p ≤

0,05), como pode ser observado na Figura 5. Houve aumento do valor de a* da

casca em todos os revestimentos testados, indicando a mudança de coloração,

evidenciando uma redução da coloração verde.

Os modelos ajustados para explicar o comportamento de b* para casca da

manga, durante o armazenamento, para todos os revestimentos foram de grau 1 (p ≤

0,05) (Figura 6).

Observa-se na Figura 6 um decréscimo do valor de b* da casca em todos os

revestimentos testados, indicando a mudança de coloração, evidenciando uma

modificação na tonalidade da coloração amarelada.

Analisando o comportamento das curvas nas Figura 5 e Figura 6,

35

simultaneamente, percebe-se o amadurecimento dos frutos por meio da evolução da

coloração da casca dos frutos, que mudaram do verde para o verde amarelado,

característico dessa cultivar.

Nos dias zero e três de acondicionamento não foi observada diferença de cor

entre os frutos, com e sem revestimento. Em 10 dias de acondicionamento, foi

observada diferença entre os frutos revestidos com CMC e FM em relação ao

controle para a cor a*; e diferença entre os frutos revestidos com CMC, CC e FM em

relação ao controle para a cor b* (Figura 5 e Figura 6).

Figura 5: Coordenada de cor a* da casca dos frutos, por revestimento, ao longo do armazenamento (dias).

A modificação na pigmentação ocorre devido a degradação da clorofila, com

aparecimento de pigmentos pré-existentes, com síntese de carotenoides e

flavonoides (CHITARRA; CHITARRA, 2005).

Todos os revestimentos reduziram, em algum grau, as modificações na cor da

casca dos frutos e foi possível notar, na análise de regressão, que o avanço da

modificação na pigmentação dos frutos controle foi maior que os demais.

Aos 10 dias, frutos revestidos com CC e FM também se destacaram do

controle, em relação às componentes de cor a* e b*.

36

Figura 6: Coordenada de cor b* da casca dos frutos, por revestimento, ao longo do armazenamento (dias).

Em relação à polpa dos frutos, os modelos ajustados para a componente L*

para todos os frutos, exceto os revestidos com CA, foram de grau 1 (p ≤ 0,05). Não

houve modelo que se ajustou para a componente L* dos frutos revestidos com CA

(Figura 7).

Observou-se a redução da luminosidade da polpa dos frutos, sendo que para

os frutos revestidos a redução da luminosidade foi mais lenta que para os frutos do

controle. Assim os revestimentos retardaram o amadurecimento dos frutos,

principalmente CMC e FM.

Silva (2015) associou a redução do brilho (L*) da polpa ao amadurecimento

dos frutos, principalmente quando foram retirados da refrigeração e mantidos a

temperatura ambiente.

Ao longo do amadurecimento observou-se que as manchas provocadas pela

antracnose, e o aparecimento de podridão negra, penetraram na polpa,

comprometendo a qualidade da cor da polpa dos frutos (Figura 15, Apêndice A).

Em 17 dias de acondicionamento, observou-se que os frutos revestidos com

CA, CMC e FM diferiram do controle com maior intensidade de brilho (Figura 7).

Seriam, a partir desta análise, os revestimentos recomendados para a melhor

conservação dos frutos.

37

Figura 7: Coordenada de cor L* da polpa dos frutos, por revestimento, ao longo do armazenamento (dias).

Em relação a componente a*, para os frutos CO e os revestidos com CC e

FM, os modelos ajustados foram de grau 1. Para os frutos revestidos com CA e

CMC os modelos ajustados foram de grau 2 (p ≤ 0,05) (Figura 8).

Em relação ao componente b*, para os frutos revestidos com CMC, CC e FM,

os modelos ajustados foram de grau 1. Para os frutos CO e revestidos com CA, os

modelos ajustados foram de grau 2 (p ≤ 0,05) (Figura 9).

Houve aumento dos valores das componentes a* e b* da polpa em todos os

frutos, após o período de acondicionamento. No tempo zero não houve diferença

entre nenhum dos frutos, revestidos e controle. No tempo de acondicionamento de

três dias, não houve diferença significativa entre os frutos revestidos e apenas os

frutos revestidos com CC diferiram dos frutos controle em relação a componente a*.

Já em relação a componente b* não houve diferença significativa entre nenhum dos

frutos, revestidos e controle com dias de acondicionamento (Figura 8 e Figura 9).

38

Figura 8: Coordenada de cor a* da polpa dos frutos, por revestimento, ao longo do armazenamento (dias).

Figura 9: Coordenada de cor b* da polpa dos frutos, por revestimento, ao longo do armazenamento (dias).

Em 10 dias de acondicionamento, os frutos revestidos com CA e CMC

diferiram dos demais, com menor intensidade de tonalidade amarelo (+a*) e

vermelho (+b*) (Figura 8 e Figura 9), evidenciando uma possível redução do

metabolismo dos frutos e, por consequência, uma diminuição de seu

39

amadurecimento, uma vez que o processo fisiológico de amadurecimento sugere

degradação de clorofilas e síntese de carotenoides e flavonoides.

Em 17 dias de acondicionamento, os frutos revestidos com CA, CMC e FM

foram significativamente iguais, mas apenas os revestidos com CA diferiram dos

frutos controle em relação a componente a* (Figura 8). Em relação a componente b*,

os frutos revestidos com CMC, CC e FM foram significativamente iguais, mas

apenas os revestidos com FM diferiram dos frutos controle (Figura 9).

Todos os revestimentos apresentaram algum efeito sobre os frutos em

relação à cor (componentes: L*, a* e b*), retardando o processo fisiológico de

amadurecimento. Por isso, em relação a essa análise, qualquer um dos

revestimentos seria recomendável para a manutenção da qualidade em relação aos

frutos controle.

No entanto, para se eleger um em destaque aos demais, é necessário

comparar em relação ao desempenho em outras análises físico-químicas.

4.3.5. pH

Para os frutos controle o modelo ajustado foi o linear e para os frutos

revestidos com CMC, CC e FM os modelos ajustados foram de grau 2 (p ≤ 0,05).

Não houve modelo que se ajustou para o pH dos frutos revestidos com CA ao longo

do tempo (Figura 10).

Os valores de pH para os frutos revestidos com CA permaneceram muito

próximos ao longo do período de acondicionamento (Figura 10).

De acordo com Benevides e colaboradores (2008), valores de pH para

mangas „Ubá‟ destinadas a processamento, devem estar entre 3,7 a 4,3. A

legislação estabelece valores entre 3,3 a 4,5 para polpa de manga (BRASIL, 2000).

Na Figura 10 estão fixados os limites inferior e superior para a faixa de pH da

polpa de manga, de acordo com a Instrução Normativa nº 01, de 7 de janeiro de

2000. Observando esses limites, seria possível determinar um período máximo ideal

para consumo dos frutos em cada grupo de frutos revestidos e controle.

Nenhum fruto estava abaixo do limite inferior, indicando que os frutos foram

colhidos no estádio de maturação fisiológico adequado. Por meio das equações

obtidas na análise de regressão, foi possível estimar o período máximo ideal para

consumo. Para os frutos controle foi de sete dias, para os frutos revestidos com

40

CMC 16 dias, para os frutos revestidos com CC 13 dias, para os frutos revestidos

com FM 14 dias, e, para os frutos revestidos com CA, 17 dias ou mais - visto que ao

final desse período o pH médio dos frutos ainda estava abaixo do limite máximo

estabelecido pela IN n°01 de 2000 (Figura 10).

Após 10 dias de acondicionamento, os frutos revestidos com CA e CMC

diferiram dos frutos controle, mas não diferiram dos frutos revestidos com CC e FM

(Figura 10).

Dessa forma, o uso dos revestimentos retardou o aumento do pH ao longo do

armazenamento, ou seja, o amadurecimento dos frutos revestidos foi mais lento do

que os do controle, o que é desejável.

Figura 10: pH da polpa, por revestimento, em relação ao tempo de armazenamento (dias).

4.3.6. Acidez titulável

Para os frutos controle e os revestidos com FM, os modelos ajustados foram

de grau 2, para os frutos revestidos com CMC e CC os modelos ajustados foram de

grau 1 (p ≤ 0,05). Não houve modelo que se ajustou para a acidez dos frutos

revestidos com CA ao longo do tempo (Figura 11).

Os valores de acidez para os frutos revestidos com CA permaneceram muito

próximos ao longo do período de acondicionamento.

41

Na Figura 11 é possível observar que as médias de acidez dos frutos

revestidos de CA diferiram dos frutos controle aos 3, 10 e 17 dias de

acondicionamento. Em 10 dias, os frutos revestidos com CMC e FM também

diferiram do controle.

De acordo com a IN nº 01 de 2000 (BRASIL, 2000), a acidez titulável em

polpa de manga deve ser igual ou superior a 0,32%. Nesse caso, apenas os frutos

controle após 17 dias de acondicionamento não atenderiam ao valor exigido.

Os frutos revestidos com CA não atingiram a acidez característica de manga

madura até o final dos 17 dias de acondicionamento.

Figura 11: Acidez titulável (% de ácido cítrico) da polpa, por revestimento, ao longo do armazenamento (dias).

Lima (2018) encontrou valores de acidez para frutos de manga „Ubá‟, colhidos

após 120 dias da antese, de 2,0 a 0,6 % de acidez (avaliando de 0 a 12 dias de

acondicionamento). Pacheco e colaboradores (2015) obtiveram média de acidez em

manga „Ubá‟ de 0,42 a 1,03 %. Oliveira e colaboradores (2013) observaram acidez

em frutos de manga „Ubá‟, colhidos fisiologicamente maduros, de 0,28 a 0,86 %.

De acordo com Pacheco e colaboradores (2015) o manejo pré e pós-colheita

adotado pelos produtores de manga podem provocar variações nas características

físico-químicas dos frutos, como pH, acidez e sólidos solúveis.

Os ácidos orgânicos encontram-se em constante estado de fluxo nos tecidos

42

vegetais pós-colheita e tendem a diminuir durante a senescência. Grande parte da

perda é atribuída a sua oxidação no metabolismo respiratório (DAMODARAN et al.,

2010).

Os revestimentos que melhor retardaram esse processo nos frutos foram CA,

CMC e FM. Entretanto, considerando que o acúmulo de ácidos orgânicos gera

aumento de sabor ácido ou azedo (DAMODARAN et al., 2010), seria recomendável

que se utilizasse o revestimento à base de CMC e FM, que possibilitaram uma

redução na acidez ao longo do tempo de acondicionamento. O revestimento à base

de CC também permitiu a redução da acidez, no entanto não diferiu do controle em

nenhum tempo de acondicionamento testado.

A acidez é um componente importante na qualidade sensorial dos frutos e é

tendência natural que ocorra redução da acidez nos frutos com o tempo de

armazenamento. É interessante que ocorra a redução da acidez de forma lenta e,

possivelmente, este comportamento tenha sido provocado pela redução na

respiração decorrente do uso dos revestimentos, levando à menor degradação de

ácidos orgânicos.

4.3.7. Sólidos solúveis

Para os frutos CO e os revestidos com CMC os modelos ajustados foram de

grau 2. Para os frutos revestidos com CA, CC e FM, os modelos ajustados foram de

grau 1 (p ≤ 0,05) (Figura 12).

O teor de sólidos solúveis (SS) aumentou gradativamente ao longo dos dias

de acondicionamento (Figura 12), como também observado por Silva (2009) em seu

estudo sobre amadurecimento de manga „Ubá‟.

Oliveira e colaboradores (2013) observaram teores de SS variando entre 14,3

e 20,5 °Brix em frutos de manga „Ubá‟. Pacheco e colaboradores (2015) obtiveram

média de 16,32 °Brix em frutos de manga „Ubá‟.

A instrução normativa nº 01 de 2000 (BRASIL, 2000) estabelece os padrões

de identidade e qualidade para polpas de frutas, incluindo polpa de manga em geral,

de qualquer cultivar. O teor mínimo de SS para manga estar apta para o consumo é

de 11 ºBrix.

No entanto, os valores encontrados na literatura são superiores ao

estabelecido pela normativa e os estabelecidos para agroindústria, no trabalho

43

desenvolvido por Pacheco e colaboradores (2015), são de 15 a 22 °Brix, como

padrão de segurança para garantir a qualidade da polpa de manga „Ubá‟.

Foram destacados, no gráfico da Figura 12, os valores de 14 e 22 °Brix.

Frutos maduros geralmente se apresentam dentro desta faixa.

Observou-se que os frutos, no dia da colheita, estavam abaixo dessa faixa.

Ao 3º dia de acondicionamento somente o controle atingiu o mínimo desejável para

considerar o fruto amadurecido. Todos os revestimentos utilizados nos frutos

retardaram, em algum grau, o desenvolvimento dos frutos, visto que o valor de 14

°Brix foi atingindo mais tardiamente. (Figura 12),

No 10º dia de acondicionamento todos os frutos revestidos diferiram do

controle, mas os frutos revestidos com CA diferiram dos demais, e não atingiram o

valor de 14 °Brix.

Em 17 dias de acondicionamento apenas os frutos revestidos com CA

diferiram significativamente do controle, e o valor médio de SS permaneceu baixo,

enquanto os outros frutos revestidos e o controle se aproximaram do teor de SS

desejável para processamento industrial.

Figura 12: Sólidos Solúveis (°Brix) da polpa, por revestimento, ao longo do armazenamento (dias).

Esses resultados mostram como a utilização das soluções filmogênicas pode

ser efetiva para a manutenção da qualidade dos frutos, uma vez que se gastou mais

44

tempo de acondicionamento para aproximar o teor de SS desejável para o

processamento de polpa, prolongando a vida útil dos frutos de manga „Ubá‟.

No amadurecimento, ocorrem reações de síntese e de degradação. A

modificação de sabor e aroma de frutas ocorre por meio da hidrólise de

polissacarídeos de reserva, interconversão de açúcares, síntese e/ou degradação de

ácidos orgânicos, polimerização de fenólicos e síntese de compostos voláteis

aromáticos (CHITARRA; CHITARRA, 2005).

Durante a senescência dos frutos, ocorre concentração de sólidos devido a

perda de massa excessiva dos frutos. Mesmo que o teor de SS seja alto, a

qualidade de polpa não é garantida. O período ideal para comercialização e

consumo em relação ao teor de SS deve ser o tempo em que se permanece com

esse parâmetro dentro da faixa recomendada.

Em relação ao teor de sólidos solúveis, as soluções filmogênicas

recomendáveis, para o revestimento de manga „Ubá‟, são à base de CMC, CC e FM.

4.3.8. Ratio (relação SS/AT)

O ratio que é a relação entre sólidos solúveis e acidez é utilizado para avaliar

a aceitação sensorial do alimento, mostrando o equilíbrio entre esses dois

parâmetros (CHITARRA; CHITARRA, 2005).

Para os frutos controle e frutos revestidos com CMC e CC, o modelo ajustado

foi de grau 1. Para os frutos revestidos com FM, os modelos ajustados foram de

grau 2 (p ≤ 0,05). Não houve modelo que se ajustou para os frutos revestidos com

CA ao longo do tempo (Figura 13).

Houve diferença entre os frutos revestidos e o controle a partir do 10º dia de

acondicionamento, sendo que os frutos do controle apresentaram a relação SS/AT

mais alta. Não houve diferença entre os frutos revestidos com CMC, CC e FM

(Figura 13).

Por meio desta comparação, observou-se que os revestimentos afetaram

significativamente o desenvolvimento dos frutos, retardando seu amadurecimento e

proporcionando maior tempo de vida útil.

Em 17 dias de acondicionamento, todos os frutos revestidos diferiram do

controle, com menor ratio. Dentre os frutos revestidos, os com solução à base de CA

diferiu dos demais, com menor ratio, e os frutos revestidos com FM apresentaram o

45

maior valor em relação aos demais frutos revestidos (Figura 3).

Ao longo do período de acondicionamento (0 a 17 dias) foram encontrados

valores entre 7,10 a 72,94 para os frutos controle. Oliveira e colaboradores (2013)

encontraram, para manga „Ubá‟, a relação SS/AT entre 18,8 e 65,0. Rufini e

colaboradores (2011) encontraram valores entre 5,08 e 57,7.

A relação SS/AT é muito importante na avaliação do sabor dos frutos, pois

esta aumenta com o amadurecimento, devido ao decréscimo na acidez, fato que

permite uma relação elevada em frutas contendo alto teor de sólidos solúveis e

baixos teores de acidez titulável, como é o caso da manga (CHITARRA; CHITARRA,

2005). O aumento do ratio é um indicativo de que o fruto está mais doce, menos

ácido, portanto, mais agradável ao paladar.

É desejável que se apresente valores de ratio mais elevados em frutos

amadurecidos, dentro dos limites estabelecidos como desejáveis para a qualidade

de polpa de manga. Observando os limites de pH durante o acondicionamento (item

4.3.5), nota-se que os frutos que mantiveram o pH dentro deste limite foram os

revestidos com CA, CMC, FM e CC. Dentre estes, os frutos que apresentaram maior

relação SS/AT, foram os revestidos com FM e CC. Portanto, as soluções

filmogênicas mais indicadas em relação à razão SS/AT foram à base de FM e CC,

para maior tempo de conservação dos frutos e, ao mesmo tempo, melhor qualidade.

Figura 13: Ratio (SS/AT) da polpa, por revestimento, ao longo do armazenamento (dias).

46

4.4. CONCLUSÃO

Não foi observada alteração na cor da casca dos frutos na caracterização

(zero dias) com a aplicação dos revestimentos naturais à temperatura ambiente,

evitando alterações na aparência dos frutos, mantendo-a natural. Ao longo do

tempo, observou-se que, em relação ao pH, AT, Ratio, SS e firmeza de polpa, o uso

de revestimento apresentou efeitos positivos na conservação pós-colheita dos frutos,

retardando os processos fisiológicos e prolongando o tempo de vida útil da manga

„Ubá‟.

É importante salientar que o uso de refrigeração também influenciou

positivamente na conservação, mais nitidamente observado nas análises de

rendimento e perda de massa, onde, mesmo com os frutos revestidos não diferindo

do controle, os frutos tiveram melhor resultado em relação à literatura, em avaliações

de frutos de manga à temperatura ambiente.

Um dos fatores limitantes para se estimar o tempo de vida útil dos frutos de

manga „Ubá‟ testados foi a perda de massa, visto que nenhum revestimento foi

capaz de retardar a perda de massa. Como não existe norma estabelecida de um

limite máximo para perda de massa, não se pode afirmar um período em dias de

armazenamento, apenas que a perda se tornou extremamente severa em 24 e 31

dias de acondicionamento.

Em relação aos parâmetros em que os revestimentos tiveram alguma

influência, para cada solução filmogênica utilizada observou-se um retardo do

metabolismo dos frutos em relação ao controle, em algumas características, como: a

CA em rendimento, cor da casca e polpa, pH e SS; a CMC em rendimento, cor da

casca e polpa, pH, AT e SS, apresentando o melhor desempenho na conservação

dos frutos e permitindo que amadurecessem de forma satisfatória; a CC em

rendimento, cor da polpa, SS e ratio, no entanto os frutos não mantiveram sua

qualidade nas outras características por mais tempo que o controle como nos

demais revestimentos; e a FM em rendimento, cor da casca e polpa, AT, SS e ratio,

apresentando bom desempenho na conservação dos frutos.

Entre estes revestimentos, o mais indicado seria utilizar a solução à base de

carboximetilcelulose ou à base de fécula de mandioca, visto que no período de

avaliação obtiveram melhores resultados em relação aos parâmetros estudados.

47

4.5. REFERÊNCIAS

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50

5. CONCLUSÃO GERAL

A partir da revisão de literatura, observou-se que o estudo prévio das

soluções filmogênicas possibilita uma melhor escolha para pesquisa em pós-colheita

de frutas e hortaliças. Tendo em vista a qualidade sensorial da fruta, é desejável que

se escolha o revestimento que possibilite, além de sua conservação, uma melhora

em seu aspecto visual para maior aceitação pelos consumidores.

É importante que se avalie o tipo de solução para o revestimento do fruto,

observando os fatores mais relevantes para a conservação pós-colheita, visando

obter o melhor método para o acondicionamento.

Observou-se a necessidade de armazenamento refrigerado juntamente com o

revestimento para obter resultado satisfatório em relação à perda de massa e

rendimento.

Na caracterização dos frutos (tempo zero), em relação à cor da casca, os

frutos revestidos foram significativamente iguais, não houve alteração na aparência

dos frutos, mantendo sua aparência natural e desejável. Uma vez que os frutos

foram submersos nas soluções filmogênicas à temperatura ambiente, os

revestimentos não provocaram alterações sobre os frutos.

Ao longo do tempo, observou-se que em relação ao pH, AT, Ratio, SS e

firmeza de polpa, o uso de revestimento apresentou efeitos positivos na

conservação pós-colheita dos frutos, retardando os processos fisiológicos e

prolongando o tempo de vida útil da manga „Ubá‟.

É importante salientar que o uso de refrigeração também influenciou

positivamente na conservação, mais nitidamente observado nas análises de

rendimento e perda de massa, onde, mesmo com os revestimentos menos

eficientes, os frutos tiveram melhor resultado em relação a outros trabalhos

semelhantes, em avaliações de frutos de manga à temperatura ambiente.

Um dos fatores limitantes para se estimar o tempo de vida útil dos frutos de

manga „Ubá‟ testados foi a perda de massa, visto que nenhum revestimento foi

capaz de retardar a perda de massa como o pH, AT, SS e firmeza de polpa. Como

não existe norma estabelecida de um limite máximo para perda de massa, não se

pode afirmar um período em dias de armazenamento, apenas que a perda se tornou

extremamente severa em 24 e 31 dias de acondicionamento.

Em relação aos parâmetros em que os revestimentos tiveram alguma

51

influência, para cada solução filmogênica utilizada observou-se um retardo do

metabolismo dos frutos em relação ao controle, em algumas características, como: a

CA em rendimento, cor da casca e polpa, pH e SS; a CMC em rendimento, cor da

casca e polpa, pH, AT e SS, apresentando o melhor desempenho na conservação

dos frutos e permitindo que amadurecessem de forma satisfatória; a CC em

rendimento, cor da polpa, SS e ratio, no entanto os frutos não mantiveram sua

qualidade nas outras características por mais tempo que o controle como nos

demais revestimentos; e a FM em rendimento, cor da casca e polpa, AT, SS e ratio,

apresentando bom desempenho na conservação dos frutos, mas não melhor que a

CMC.

Poderia se afirmar que o período de conservação utilizando solução

filmogênica à base de CMC se estenderia em até 16 dias, e, com a solução a base

de FM em até 14 dias. Entre estes revestimentos, o mais indicado seria utilizar a

solução à base de carboximetilcelulose ou à base de fécula de mandioca, visto que

no período de avaliação obtiveram melhores resultados em relação aos parâmetros

estudados.

52

6. APÊNDICE A – Registro digital dos frutos de manga „Ubá‟

TACOND CO CA CMC CC FM

0

3

10

17

24

31

Figura 14: Imagem da casca da manga „Ubá‟ por revestimento ao longo do acondicionamento.

53

TACOND CO CA CMC CC FM

10

17

24

31

Figura 15: Imagem da polpa da manga „Ubá‟ por revestimento ao longo do acondicionamento.

54

7. APÊNDICE B – Tabelas de tese de Tukey para comparação entre médias

Tabela 2: Médias de perda de massa para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento

3 dias 10 dias 17 dias 24 dias

CO 2,54a 11,46a 23,31a 41,45a

CA 2,57a 13,44a 20,33a 31,08ab

CMC 2,07a 9,87a 18,64a 27,49b

CC 1,82a 10,11a 19,62a 27,97b

FM 3,27a 12,76a 21,75a 35,83ab

Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

Tabela 3: Médias de rendimento para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento.

0 dias 3 dias 10 dias 17 dias

CO 68,04a 63,16a 56,37a 50,07c CA 68,04a 62,99a 61,86a 65,94a CMC 68,04a 67,32a 56,17a 59,06ab CC 68,04a 65,05a 56,77a 56,93bc FM 68,04a 64,81a 58,24a 58,15abc Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

Tabela 4: Médias de firmeza para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento.

0 dias 3 dias 10 dias 17 dias

CO 5,68a 4,14b 1,79b 1,29a

CA 5,68a 7,79a 7,08a 2,72a

CMC 5,68a 5,84ab 2,58b 1,71a

CC 5,68a 5,21ab 1,46b 1,42a

FM 5,68a 5,90ab 1,81b 1,24a

Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

Tabela 5: Médias de cor L* da casca para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento.

0 dias 3 dias 10 dias 17 dias

CO 49,80a 51,01a 41,44b 40,12b CA 50,65a 50,62a 45,34ab 45,25a

CMC 53,18a 50,18a 49,68a 44,05ab CC 49,66a 49,39a 46,61a 41,43ab FM 51,47a 49,44a 46,74a 43,42ab

Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

55

Tabela 6: Médias de cor a* da casca para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento.

0 dias 3 dias 10 dias 17 dias

CO -4,29a -3,88a 0,05a 0,31a CA -4,81a -4,31a -1,79ab -0,45ª

CMC -4,93a -4,70a -3,30b -0,29a CC -3,19a -3,23a -1,47ab 0,38a FM -4,80a -3,51a -3,21b 0,49a

Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

Tabela 7: Médias de cor b* da casca para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento.

0 dias 3 dias 10 dias 17 dias

CO 14,66a 17,19a 3,93b 1,07b CA 16,74a 17,37a 9,18ab 8,87a

CMC 19,02a 17,29a 14,67a 7,61a CC 13,84a 14,51a 10,86a 3,15ab FM 17,23a 15,76a 13,97a 4,32ab

Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

Tabela 8: Médias de cor L* da polpa para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento.

0 dias 3 dias 10 dias 17 dias

CO 77,44a 75,85b 71,74b 65,15c CA 77,44a 79,91a 73,95ab 77,27a CMC 77,44a 76,51ab 75,82a 70,31b CC 77,44a 79,38ab 71,36b 68,49bc FM 77,44a 79,29ab 73,95ab 70,24b Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

Tabela 9: Médias de cor a* da polpa para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento.

0 dias 3 dias 10 dias 17 dias

CO 13,88a 15,37a 18,57a 21,23a CA 13,88a 11,40ab 9,08b 14,39b

CMC 13,88a 13,47ab 9,99b 18,57ab CC 13,88a 10,20b 18,57a 20,92a FM 13,88a 12,20ab 15,40a 18,91ab

Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

56

Tabela 10 Médias de cor b* da polpa para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento.

0 dias 3 dias 10 dias 17 dias

CO 49,81a 49,09a 47,75b 52,28b CA 49,81a 47,74a 45,39b 52,83b

CMC 49,81a 47,94a 49,33b 55,03ab CC 49,81a 48,77a 55,53a 55,34ab FM 49,81a 49,59a 55,80a 57,84a

Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

Tabela 11: Médias de pH para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento.

0 dias 3 dias 10 dias 17 dias

CO 4,06a 4,38a 4,51a 5,18a

CA 4,06a 4,16a 4,01b 4,31c

CMC 4,06a 4,12a 4,02b 4,62bc

CC 4,06a 4,13a 4,22ab 4,90ab

FM 4,06a 4,04a 4,13ab 4,89ab

Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

Tabela 12: Médias de acidez titulável (%) para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento.

0 dias 3 dias 10 dias 17 dias

CO 1,34a 1,14b 0,38c 0,29c

CA 1,34a 1,55a 1,37a 1,62a

CMC 1,34a 1,34ab 1,07ab 0,82b

CC 1,34a 1,24ab 0,74bc 0,54bc

FM 1,34a 1,50ab 1,27a 0,47bc

Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

Tabela 13: Médias de sólidos solúveis (°Brix) para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento.

0 dias 3 dias 10 dias 17 dias

CO 9,4a 14,4a 20,0a 20,9ab

CA 9,4a 9,6b 13,8c 16,4c

CMC 9,4a 12,0b 17,5b 19,9ab

CC 9,4a 11,2b 16,6b 19,0b

FM 9,4a 11,2b 17,1b 21,5a

Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

57

Tabela 14: Médias de ratio para mangas revestidas e controle em cada tempo de armazenamento.

0 dias 3 dias 10 dias 17 dias

CO 7,10a 12,06a 53,44a 72,94a

CA 7,10a 6,26a 10,17c 10,16d

CMC 7,10a 8,57a 16,88bc 25,94c

CC 7,10a 9,10a 23,68b 36,04bc

FM 7,10a 7,94a 13,74bc 45,67b

Pares de médias seguidas por pelo menos uma mesma letra, na vertical, não diferem estatisticamente entre si (p > 0,05).

8. APÊNDICE C – Pré-testes das soluções filmogênicas

8.1. Cera de abelha

Foram realizados testes com 4 % (m/v) de cera de abelha e concentrações de

10 %, 15 % e 20 % (v/v) de tween 80, sendo verificado melhor controle de perda de

massa dos frutos de manga revestidos na formulação contendo 20 % (v/v) de tween

80 em relação aos frutos revestidos com as outras formulações.

Essa formulação foi testada em comparação a outras duas, acrescentando

0,3 % (v/v) de óleo de girassol em uma e 0,5 % (m/v) ácido ascórbico e 0,5 % (m/v)

ácido cítrico na outra. Foi observado que a formulação contendo 4 % (m/v) de cera

de abelha, 20 % (v/v) de tween 80, 0,5 % (m/v) ácido ascórbico e 0,5 % (m/v) ácido

cítrico foi a melhor formulação em relação ao tempo de secagem, brilho da casca

dos frutos e perda de massa, sendo escolhida para a formulação de solução

filmogênica à base de cera de abelha.

8.2. Carboximetilcelulose

Foram testadas formulações com duas fontes de carboximetilcelulose

diferentes codificadas como CMC 1808 e CMC 2804. Foram testadas em 1 % (m/v),

acrescidas de 5 % glicerol e 0,3 % de tween 80 a partir do trabalho realizado por

Silva (2015). Frutos revestidos com solução a base de CMC 1808 tiveram perda de

massa reduzida em relação aos demais frutos (revestidos com CMC 2804 e

controle). Os frutos revestidos com CMC 2804 tiveram perda de massa superior ao

controle, por isso, foi descartado do experimento.

58

8.3. Cera de carnaúba

Foi realizado teste a partir do trabalho realizado por Silva (2015), com diluição

1:2 de solução de cera de carnaúba. Foi observado que a perda de massa foi menor

que a dos frutos não revestidos.

8.4. Fécula de mandioca

Foi realizado teste de solução filmogênica com 3 % (m/v) de fécula de

mandioca, observando-se perda de massa superior ao controle e pouca aderência

do revestimento na superfície dos frutos.

Foi, então, testado a solução filmogênica com 4 % (m/v), com 5 % de glicerol

e 0,3 % de óleo de girassol. Verificou-se que a perda de massa dos frutos revestidos

foi menor que os frutos não revestidos.