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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PGECOL) Zoneamento de risco a incêndios florestais com uso do Sensoriamento Remoto: aplicação na Mata do Krambeck e arredores, Juiz de Fora - MG Demetrius Vasconcelos Juiz de Fora 2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Programa de ... · 2018. 9. 17. · UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

    Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PGECOL)

    Zoneamento de risco a incêndios florestais com uso do Sensoriamento Remoto: aplicação na Mata do

    Krambeck e arredores, Juiz de Fora - MG

    Demetrius Vasconcelos

    Juiz de Fora 2013

  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

    Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PGECOL)

    Zoneamento de risco a incêndios florestais com uso do Sensoriamento Remoto: aplicação na Mata do

    Krambeck e arredores, Juiz de Fora - MG

    Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Colegiado do Curso do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para obtenção do título de mestre. Orientadores: Prof. Dr. Cézar Henrique Barra Rocha Prof. Dr. Guido Assunção Ribeiro

    Mestrando: Demetrius Vasconcelos

    Juiz de Fora - MG 2013

  • 2

    DEMETRIUS VASCONCELOS

    Zoneamento de risco a incêndios florestais com uso do Sensoriamento Remoto: aplicação na Mata do

    Krambeck e arredores, Juiz de Fora - MG

    Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Colegiado do Curso do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para obtenção do título de mestre.

    Aprovado em

    Banca Examinadora

    _______________________________ Prof. Dr. Cézar Henrique Barra Rocha

    Orientador - Presidente Universidade Federal de Juiz de Fora

    _______________________________ Prof. Dr. Guido Assunção Ribeiro

    Co-Orientador Universidade Federal de Viçosa

    _______________________________ Prof. Dr. Alexandre Rosa dos Santos

    Membro externo Universidade Federal do Espírito

    Santo

    _______________________________ Prof. Dr. Fabrício Alvim Carvalho

    Membro interno Universidade Federal de Juiz de Fora

  • 3

    Dedico este trabalho à minha Mãe Arlete

    Vasconcelos, a quem presto todos os

    elogios, pois, graças a ela alcancei fronteiras

    além de minha imaginação.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    A esta Energia inexplicável que se manifesta em todos os lugares e é a responsável

    pelo movimento de todas as partículas.

    A minha esposa Sandra e aos meus filhos Derick e Gabriel sempre me mostrando

    que é possível.

    Ao meu Orientador Prof. Dr. Cézar Henrique Barra Rocha pela amizade, pelos

    conhecimentos compartilhados, pela persistência, e principalmente pela paciência.

    Ao Prof. Dr. Guido Assunção Ribeiro, meu Co-orientador, pela disposição em

    pesquisar os incêndios florestais e por ser uma inspiração deste trabalho.

    Ao Prof. Dr. Alexandre Rosa dos Santos, pelos conhecimentos compartilhados de

    forma espontânea que permitiram que esta ideia pudesse se materializar.

    Ao Professor Dr. Homero Soares por me fazer acreditar mais.

    Ao Professor Dr. Fábio Roland Ferreira da Silva, nosso coordenador, aquele que

    carrega a lanterna – Sucesso.

    Ao Amigo e grande incentivador Alexandre Humia Casarin Major do Corpo de

    Bombeiros Militar de Minas Gerais.

    Ao Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais onde eu aprendi a respeitar e

    entender o fogo.

    Ao Amigo Gilberto Fialho Moreira do Centro de Estudos e Desenvolvimento Florestal

    (CEDEF/IEF- MG)

    Ao Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais pela cessão das imagens

    RapidEye.

    A todos os Professores do Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PGECOL)

    que contribuíram para construir meu entendimento da Ecologia Aplicada a

    Conservação e Manejo de Recursos Naturais.

    Ao Fabrício de Oliveira Loures da Secretaria de Planejamento e Gestão de Juiz de

    Fora (SEPLAG-JF) / Subsecretaria de Planejamento do Território (SSPLAT) que foi o

    importante elo desse departamento que gentilmente cederam informações para a

    realização deste estudo.

    A todos os amigos que acreditaram e me apoiaram.

    A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para que fosse possível eu

    chegar até a finalização deste trabalho.

  • 5

    Os livros têm os mesmos inimigos que o homem: o fogo, a humidade, os bichos, o tempo; e o seu próprio conteúdo.

    Paul Valéry

    http://pensador.uol.com.br/autor/paul_valery/

  • 6

    RESUMO

    Atualmente há necessidade de se compreender os fenômenos da natureza

    para minimizar os impactos que as ações humanas causam ao meio ambiente.

    Os incêndios florestais têm sido estudados por muitos ramos da ciência que

    buscam compreender os fatores causadores e a sua dinâmica de forma a reduzir

    os fatores de risco e colaborar na prevenção. O objetivo deste trabalho é a

    criação de um zoneamento de risco a incêndios florestais na área de

    preservação ambiental (APA) da Mata do Krambeck e fragmentos contínuos

    situados nos seus arredores utilizando técnicas de Sensoriamento Remoto. A

    metodologia consiste na construção de um banco de dados com base nas

    imagens do satélite RapidEye (2009) IEF/MG (Instituto Estadual de Florestas de

    Minas Gerais), ortofotos e arquivos cedidos pela Prefeitura de Juiz de Fora .

    Para a construção desta base foram utilizados o pacote de programas de

    computador ArcGIS. A integração, análise e combinação dos dados foram feitas

    através deste sistema de informações geográficas (SIG) e fazendo uso da lógica

    do processo analítico hierárquico (PAH). O resultado foi a identificação de zonas

    vulneráveis a eclosão do fogo classificados nos seguintes níveis: muito baixo,

    baixo, moderado, alto e muito alto, de forma a contribuir para o processo de

    planejamento, gestão, prevenção e combate contra incêndios em florestas

    remanescentes.

    Palavras-chave: Incêndios Florestais, Sensoriamento Remoto, Riscos.

  • 7

    RESUMÉ

    De nos jours, il est nécessaire de comprendre les phénomènes naturels

    pour minimiser l’impact des activités humaines sur l’ environnement. Les feux de

    forêt ont été étudiés par de nombreux domaines scientifiques qui cherchent à

    comprendre leurs causes et leurs dynamiques, pour réduire les facteurs de

    risques et ainsi prévenir l’occurrence de ces derniers . Le but de ce travail est la

    création d’un zonage de risque de feux de forêt dans la zone de protection

    environnementale de la « Mata do Krambeck » et dans les zones adjacentes en

    faisant usage des outils de la télédétection. La méthodologie consiste à

    construire une banque de données en se basant sur les images du satellite

    RapidEye (2009) IEF/MG (Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais), des

    orthophotos, et des données cédées par la mairie de Juiz de Fora. La suite de

    logiciels Arcgis a été utilisée pour la construction de cette base de données.

    L’intégration, l’analyse et la combinaison des données ont été faites via ce

    système d’information géographique (SIG) et en utilisant les résultats de la

    méthode hiérarchique multicritère (MHM). Les zones à risque de départs

    d’incendie ont été identifiées et classées selon les niveaux suivant : très bas,

    bas, modéré, haut et très haut . Ce zonage a pour vocation de servir de support

    de décision dans le processus de planification et gestion des zones forestières,

    dans la prévention du risque d'incendie et la lutte contre ces derniers.

    Mots-clés: Feu de forêt, Système d’Information Géographique, Télédétection,

    Risques.

  • 8

    ABSTRACT

    Nowadays it is necessary to understand natural phenomena in order to minimize

    humanity’s impact on environment. Forests fires have been studied by various

    branches of science, which aim to understand the causal factors and their dynamics,

    so as to reduce the risk factors and collaborate with prevention efforts. The objective

    of this study is the creation of a map of at-risk areas of the Mata do Krambeck

    preserve and adjacent areas using remote sensor techniques. The methodology

    consists of the construction of a database based on satellite pictures from RapidEye

    (2009) IEF/MG (Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais), vertical

    photographs and files provided by the city of Juiz de Fora. For the compilation of the

    database, the ArcGIS package was adopted. The data’s integration, analysis and

    combination were done via this Geographic Information System (GIS) and using

    Analytical Hierarchical Process (AHP). The result was the identification of sensitive

    zones for combustion, which are classified in these five classes: very low, low,

    moderate, high and very high, so as to contribute to the process of planning,

    management, prevention and the fighting of fires in the remaining forests.

    Key words: Forest Fire. Geographic Information System, Remote Sensing, Risks.

  • 9

    LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Figura 1 Triângulo e fluxograma do fogo........................................................ 19

    Figura 2 Pirâmide do incêndio florestal........................................................... 21

    Figura 3 Propagação do fogo por transmissão de calor................................. 23

    Figura 4 Incêndio Subterrâneo........................................................................ 25

    Figura 5 Incêndios de superfície e incêndios de copas.................................. 26

    Figura 6 As Partes doincêndio........................................................................ 29

    Figura 7 Contorno do incêndio........................................................................ 28

    Figura 8 Combustíveis ligeiros........................................................................ 32

    Figura 9 Combustíveis pesados...................................................................... 33

    Figura 10 Vegetação com alta densidade e estratificação contínua............... 35

    Figura 11 Vegetação com baixa densidade e estratificação descontínua...... 35

    Figura 12 O espectro eletromagnético............................................................ 54

    Figura 13 Assinaturas espectrais das folhas................................................... 55

    Figura 14 Constelação dos satélites RapidEye............................................... 59

    Figura 15 As Diversas camadas de mapas..................................................... 64

    Figura 16 Mapa de localização da APA da Mata do Krambeck..................... 72

    Figura 17 Perfil esquemático da floresta estacional semidecidual.................. 73

    Figura 18 Médias pluviométricas mensais acumuladas 2005 a 2010............. 77

    Figura 19 Área de influência ao risco a eclosão do fogo............................. 83

    Figura 20 O uso e ocupação territorial............................................................ 85

    Figura 21 Tipificação da vegetação............................................................. 88

    Figura 22 Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (IVDN)............. 90

    Figura 23 Proximidade da Ocupação Urbana.............................................. 92

    Figura 24 Proximidade da rede viária.......................................................... 94

    Figura 25 Proximidade da rede hidrográfica................................................ 96

    Figura 26 Visão parcial frontal do modelo digital de elevação..................... 97

    Figura 27 Visão geral do modelo digital de elevação..................................... 99

    Figura 28 Grau de declividade das encostas............................................... 101

    Figura 29 Orientação ou exposição das encostas....................................... 104

    Figura 30 Altitudes do terreno...................................................................... 106

    Figura 31 Calculadora do processo analítico hierárquico (PAH).................. 111

    Figura 32 Resultado do zoneamento a risco de incêndio florestal................ 113

  • 10

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 A vegetação e a propagação do fogo.............................................. 38

    Tabela 2 Definições de ameaça, vulnerabilidade e risco................................ 67

    Tabela 3 dimensões aproximadas das propriedades que compõem o

    dossel contínuo............................................................................................... 75

    Tabela 4 Dados médios das chuvas de 2005 a 2010..................................... 78

    Tabela 5. Tipificação e classificação da vegetação........................................ 87

    Tabela 6. Classificação da proximidade da ocupação urbana....................... 91

    Tabela 7. Classificação da proximidade da rede viária.................................. 93

    Tabela 8. Classificação da proximidade da rede hidrográfica........................ 95

    Tabela 9. Classificação dos graus de declividades das encostas.................. 100

    Tabela 10. Classificação da orientações ou exposições das encostas.......... 103

    Tabela 11. Classificação das altitudes do terreno........................................... 106

    LISTA DE GRÁFICOS

    Gráfico 1 Relação Incêndios Florestais – Precipitação – Umidade Relativa

    para Juiz de Fora – MG entre 1995 a 2004...................................................

    79

  • 11

    SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 13

    2 OBJETIVOS................................................................................................. 15

    3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................... 16

    3.1 A Complexidade dos incêndios florestais.................................................. 16

    3.1.2 Comportamento do fogo......................................................................... 22

    3.1.3 Tipos de incêndios................................................................................. 25

    3.1.4 Fatores que determinam o comportamento do fogo.............................. 29

    3.1.4.1 Os combustíveis vegetais................................................................... 30

    3.1.4.2 Os fatores climatológicos.................................................................... 39

    3.1.4.3 A topografia......................................................................................... 44

    3.1.5 Fontes ou causas do fogo...................................................................... 46

    3.1.6 Prejuízos ambientais.............................................................................. 49

    3.2 Sensoriamento Remoto (SR) da vegetação e os satélites

    RapidEye......................................................................................................... 50

    3.2.1 Alguns detalhes dos satélites RapidEye................................................ 59

    3.3 Sistemas de informações geográficas e os incêndios florestais............... 61

    3.4 Mapas de risco.......................................................................................... 63

    3.4.1 Conceito de risco.................................................................................... 66

    3.4.2 Os incêndios florestais e a Geografia..................................................... 68

    4 A MATA DO KRAMBECK – A ÁREA DE ESTUDOS................................... 71

    5 MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................... 80

    5.1 O uso e ocupação territorial...................................................................... 84

    5.1.1 Tipificação da vegetação 86

    5.1.2 Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (IVDN), ou NDVI

    (Normalized Difference Vegetation Index) 89

    5.1.3 Proximidade da ocupação urbana 91

    5.1.4 Proximidade da rede viária 93

    5.1.5 Proximidade da rede hidrográfica. 95

    5.2 Fatores topográficos 97

    5.2.1 Graus de declividades das encostas 100

    5.2.2 Orientações ou exposições das encostas 102

    5.2.3 Altitudes do Terreno 105

  • 12

    5.3 Zoneamento de riscos a incêndios florestais aplicando o processo analítico hierárquico (PAH)............................................................................

    107

    5.3.1 Obtendo o mapa de zoneamento de risco a incêndio florestal............ 111

    6 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 114

    7 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 118

    REFERÊNCIAS...................................................................................... 120

  • 13

    1 INTRODUÇÃO

    As intervenções antrópicas sobre as florestas têm transformado estes

    sistemas brutalmente.

    As florestas e mesmo seus fragmentos mais isolados são de extrema

    importância para a manutenção e preservação da vida como um todo no planeta. As

    matas e os fragmentos próximos às ocupações urbanas estão mais sujeitos às

    diversas pressões antrópicas que incluem a eclosão do fogo, agente este

    responsável pela maior destruição destes sistemas.

    É imprescindível o uso mais racional e sustentável possível de todos os

    recursos disponíveis, visto que já não é uma questão de se salvar o planeta, mas

    sim de se preservar a vida e com isso a raça humana.

    As florestas formam reservas estratégicas de recursos com exigências cada

    vez mais evidentes à sua preservação, proteção, desenvolvimento, uso racional e

    sustentável. As florestas têm importante destaque nas questões sociais,

    econômicas, ambientais e culturais da sociedade, são fontes de recursos renováveis

    e fundamentais na manutenção da dinâmica do ambiente local e também global.

    Portanto para ajudar a proteger e a preservar é essencial conhecer também

    quais são as condições em que se manifestam os incêndios florestais, fenômeno

    capaz de destruir importantes recursos e favorecer a emissão de gases do efeito

    estufa contribuindo para o aquecimento global.

    Devido à maneira como se deu a ocupação e uso do solo na região da zona

    da mata, hoje algumas matas estão cada vez mais reduzidas a fragmentos isolados

    suscetíveis aos danos que o fogo pode produzir. Assim esperamos que este trabalho

    possa contribuir para que ações de diagnóstico de risco a incêndios florestais de

    outras áreas florestais aconteçam a fim de proteger esta rica biodiversidade que

    mantém um imenso potencial e carrega consigo ainda muitos conhecimentos a

    serem descobertos.

    Nesse sentido, os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) combinados

    com ferramentas de Sensoriamento Remoto podem ser utilizados para geração de

    mapas estratégicos que auxiliarão no gerenciamento e no manejo das matas e

    também na obtenção de mapas de risco a incêndios florestais que indiquem áreas

    mais vulneráveis às ocorrências da eclosão do fogo podendo assim auxiliar no

    planejamento, na gestão e na prevenção ao surgimento do incêndio, contribuindo

  • 14

    para identificar os locais que necessitam aceiros, restrição de acesso, alocação de

    equipamentos para os combates aos incêndios, com a localização rápida das

    estradas, dos mananciais de água e áreas verdes próximas às aglomerações

    urbanas com maior necessidade de proteção.

    A intenção é poder colaborar na diminuição e na prevenção dos incêndios

    reduzindo assim os impactos decorrentes a este tipo de fenômeno, ou ainda

    despertar ações para evitar que tais sinistros ocorram ou pelo menos minimizar seus

    efeitos.

  • 15

    2 OBJETIVOS

    Analisar a vegetação da área da área de preservação permanente APA da

    Mata do Krambeck e arredores em Juiz de Fora – Minas Gerais utilizando imagens

    de satélite RapidEye para gerar um zoneamento de risco a incêndios florestais para

    o local utilizando Sistemas de Informações Geográficas (SIG) e técnicas de

    Sensoriamento Remoto (SR) para entendimento dos fatores que possibilitam a

    manifestação e propagação dos incêndios Florestais na área.

    Contribuir para o conhecimento do comportamento do fogo em regiões de

    mata atlântica, floresta estacional semidecidual montana, e o aprimoramento dos

    sistemas de prevenção e combate de incêndios em florestas nativas da região.

    Criar uma base cartográfica digital para a área da APA (área de preservação

    permanente) da Mata do Krambeck – Juiz de Fora – Minas Gerais, capaz de auxiliar

    análises espaciais integradas às diversas influências: cobertura vegetal, ocupação

    urbana, inclinação das encostas, exposição, proximidade de vias de acesso e

    hidrografia.

  • 16

    3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.

    3.1 A Complexidade dos incêndios florestais - noções do fogo ao incêndio.

    Os Incêndios Florestais têm sido objeto de estudos dos mais variados ramos

    das diversas ciências. Já há muito tempo e ainda hoje continuam as buscas de

    respostas para melhor entender este fenômeno que está presente nas ações

    humanas desde os mais remotos tempos. O fogo sempre existiu na natureza e a própria teoria científica do início do universo está ligada a ele, através da explosão de uma matéria de altíssima densidade, o famoso “big bang”. O fogo, a água, a terra e o ar formaram o ambiente do planeta terra. Posteriormente à origem da atmosfera, à formação dos mares e ao surgimento da vida, os vegetais começaram, há mais de 300 milhões de anos, a colonizar a superfície da terra. Desde então começou a haver uma associação entre a vegetação e o fogo que perdura até hoje. O fogo foi o responsável pela formação de muitos ecossistemas, favorecendo certas espécies e eliminando outras (SOARES & BATISTA, 2007).

    Para se falar de incêndios florestais é preciso conhecer alguns conceitos a

    respeito do fogo. É preciso entender um pouco da complexidade que envolve este

    fenômeno natural tão presente no cotidiano das pessoas.

    “Além de queimar e destruir florestas e outras formas de vegetação os

    incêndios podem afetar negativamente outros elementos do ecossistema como solo,

    fauna silvestre e o ar atmosférico”. (BATISTA & SOARES, 1997).

    Um dos principais agentes de degradação dos fragmentos ainda existentes

    das matas têm sido os incêndios, tanto pela destruição direta das áreas afetadas,

    como também pelos efeitos causados mesmo por pequenos focos que ocorrem nas

    adjacências destes fragmentos, alterando consideravelmente seus ciclos. Vale

    lembrar que o fogo faz parte da dinâmica da natureza, o grande problema tem sido a

    frequência com que têm ocorrido e sua intensidade, logo os problemas decorrentes

    com esta frequência podem ser os mais variados possíveis desde erosão do solo, a

    perda de biodiversidade, emissão de dióxido de carbono, etc.

    De acordo com Cochrane (2000) vários pesquisadores, usando técnicas de

    datação por carbono nas camadas de carvão, constataram que as queimadas

    ocorreram periodicamente, mas com intervalos de séculos, e por vezes de milhares

    de anos. Do ponto de vista evolutivo, isso significa que não há nenhum incentivo

    para que as árvores desenvolvam mecanismos de defesa contra o fogo, ao

  • 17

    contrário, em regiões onde o fogo é historicamente mais frequente, como no

    cerrado, a vegetação sofreu adaptações evolutivas para sobreviver. Umas das

    adaptações mais comuns em ecossistemas onde o fogo é frequente é o

    desenvolvimento de cascas mais grossas nos troncos das árvores. Diversas atividades humanas junto às áreas florestais têm intensificado muito o problema dos incêndios. Isto porque, direta ou indiretamente, o homem interfere nos processos naturais, alterando as relações do fogo com os ecossistemas florestais (BATISTA & SOARES, 1997).

    Como o homem interfere nos processos naturais, isto confirma a necessidade

    de trabalhos conjugados com conscientização e educação ambiental.

    No Brasil, a quase totalidade das queimadas é causada por atividades antrópicas, devido ao uso inadequado de recursos naturais, como por exemplo, o desmatamento desordenado, as queimadas para limpeza de pasto e/ou preparo do terreno para plantio (SOUZA et al., 2004).

    O fogo foi considerado pelas sociedades modernas como um evento

    completamente negativo o que desencadeou grandes esforços para 17vita-lo e/ou

    suprimi-lo. Estas atitudes somadas à outras alterações no complexo equilíbrio do

    planeta modificaram os ciclos naturais de ocorrência do fogo. Em consequência

    quando ocorrem os incêndios estes podem afetar mais drasticamente os solos, a

    vegetação e a fauna, dificultando também a regeneração natural.

    Para Deppe e Paula (2003) os incêndios podem se constituir em fenômenos

    naturais, no entanto, a susceptibilidade das florestas a incêndios está aumentando.

    Isto não é somente causado por ações antrópicas, mas também causado por efeitos

    de aquecimento global e mudanças climáticas, por exemplo, El Ninõ.

    O “controle de incêndios florestais” está associado às ações administrativas e técnicas tomadas para realizar a prevenção e o combate ao fogo por uma instituição privada ou pública, seja ela municipal, estadual ou federal. (CEMIG, 2003)

    Para evitar atos de negligência, reduzir e prevenir principalmente as causas

    antrópicas e ainda, colaborar nas diferentes formas de prevenção e de atuação em

    caso de incêndios, é necessário que informações esclarecedoras sobre o fogo

    estejam acessíveis para as pessoas.

  • 18

    O fenômeno do fogo

    Existem diversas linhas de pesquisa a respeito do fogo que geram diferentes

    raciocínios. Há quem trate como diferentes o fogo e o incêndio, lembrando, mesmo o

    incêndio é um fogo.

    Alguns destes estudos qualificam o fogo, como habitualmente o conhecemos,

    podendo este ser desde o “pequeno” fogo em um simples palito de fósforo ou até

    mesmo o “grande” fogo capaz de fundir os metais em um forno de uma siderúrgica.

    O que os iguala é o fato destes estarem sob controle e realizando uma ação prevista

    e desejada. Quanto ao incêndio, seria qualquer fogo que queime sem controle,

    podendo ser o fogo em uma lixeira que se iniciou pelo descuido de um fumante ao

    lançar uma ponta de cigarro acesa no referido cesto, ou um incêndio que destrói

    casas e florestas. Incêndio é o fogo sem controle, que queima algo que não

    desejamos ou planejamos.

    Desta maneira, incêndio florestal é o termo usado para definir o fogo sem

    controle que se propaga livremente e consome os diversos tipos de materiais

    combustíveis existentes em uma floresta e nas demais formas de vegetação.

    Para Torres et al. (2008) o próprio conceito de incêndio florestal acaba por

    gerar algumas contradições, visto que o mesmo é utilizado como sinônimo de fogo

    sem controle sobre qualquer tipo de vegetação, seja, ela pasto, campo ou floresta.

    Contudo, o termo floresta, de acordo com o IBGE ((2004) apud Torres et al., 2008)

    se refere ao conjunto de sinusais (comunidades estruturalmente definidas mediante

    a consideração das formas de vida das espécies nelas incluídas), dominadas por

    fanerófitos (plantas maiores que 25 cm) de alto porte, e apresentando quatro

    estratos bem definidos: herbáceo, arbustivo, arvoreta e arbóreo. Deve ser também

    levada em consideração a altura, para diferenciá-la das outras formações lenhosas

    campestres, para Rizzini ((1979) apud Torres et al., 2008), a definição de floresta ou

    mata é sempre que as árvores superem 7 m de altura e toquem-se pelas copas.

    No contexto da presença do fogo no meio florestal há ainda um termo que é a

    “queimada”, sendo esta uma técnica agropastoril regulamentada por lei, usada para

    limpar os campos de plantio, que necessita também estar sob controle, caso

    contrário será vista também como incêndio florestal.

    Assim ainda de acordo com Torres et al. (2008) apesar de usual o termo de

    incêndios florestais, dentro do meio científico, o leitor menos familiarizado, pode-se

  • 19

    questionar quanto à sua utilização em uma área de pasto ou campo com vegetação

    aberta. Sendo assim, sugerem-se as seguintes denominações:

    Incêndio florestal – quando o mesmo ocorrer em áreas com predomínio de espécies

    arbóreas seja elas plantadas ou nativas;

    Incêndio em campo – quando ocorrer em áreas de pasto ou campo com predomínio

    de vegetação herbácea e/ou arbustiva;

    Incêndio em vegetação – termo generalista utilizado quando o mesmo ocorrer em

    qualquer tipo de vegetação seja ela herbácea, arbustiva ou arbórea.

    Definiremos neste estudo o uso abrangente do termo incêndio florestal, ou

    seja, a manifestação do fogo em todo o tipo de vegetação, sem se ater às

    características físicas ou tipo.

    Tecnicamente o Fogo ou combustão é uma reação química de transformação

    provocada pela pirólise (decomposição química da matéria pela ação do calor) de

    materiais combustíveis e inflamáveis, que se processa em alta velocidade, com

    liberação de energia sob a forma de calor e luz, visível ou não. Inicia-se por um

    processo endotérmico (absorção de calor) dos materiais combustíveis e inflamáveis,

    passando a exotérmico (desprendimento de calor), mantendo-se através da reação

    em cadeia. (Figura 1)

    Figura 1: Triângulo e Fluxograma do Fogo. Adaptado de Soares (1985)

  • 20

    É um consenso que a combustão existirá quando se unirem simultaneamente

    os três lados de um triângulo imaginário (Figura 1), isto é a reunião de três

    elementos agrupados, sendo: COMBUSTÍVEL (o material que queima, podendo ser,

    sólidos inflamáveis, líquidos inflamáveis ou gases inflamáveis); COMBURENTE (aqui

    o oxigênio presente no ar atmosférico que alimenta a chama); CALOR (agente ígneo

    ou energia de ativação). Juntos em condições adequadas e equilibradas onde

    possam proporcionar a contínua combinação do material combustível inflamável

    com o comburente e o calor, gerando uma reação exotérmica também auto

    catalisada devido à reação em cadeia. A reação em cadeia é a responsável pela

    permanência do fogo, seria ela que manteria unidos os três elementos, por isso ela

    também é vista por algumas linhas de pesquisa como sendo o quarto elemento

    imprescindível à existência do fogo, onde neste raciocínio o fogo seria representado

    por um losango. Para os estudos de combate e prevenção de incêndios é com a

    quebra da união entre estes elementos que será possível eliminar o fogo.

    Conclui-se, então, que o fogo existirá nas florestas quando uma fonte de calor

    aquecer os materiais combustíveis (folhas, galhos, troncos etc.) aumentando a

    temperatura a ponto de liberar gases que em presença do oxigênio (comburente)

    atmosférico, permaneçam juntos a esta fonte de calor que continuará fornecendo

    energia de ativação em quantidades suficientes até que estes gases alcancem a

    temperatura do ponto de combustão de cada material em questão, e se incendeiem.

    Devido à complexidade dos incêndios florestais é necessário considerar

    diversos fatores. Souza (2000) detalhou de maneira abrangente a ênfase do

    triângulo do fogo demonstrando eficazmente o fenômeno da combustão, e ainda os

    processos de prevenção e combate de incêndios florestais reunindo diversas

    atribuições a uma “pirâmide” formada pela junção de três triângulos. Nesta pirâmide

    (Figura 2) identifica-se os múltiplos elementos envolvidos para a manifestação e

    propagação dos incêndios florestais, pois estão reunidos: o triângulo do fogo

    tradicional; o triângulo do comportamento do fogo, este formado pelas condições

    meteorológicas, a topografia e materiais combustíveis; e também o triângulo do

    regime de fogo formado pelo calor ou energia de ativação, mais material combustível

    disponível e condições para queimar. Sendo importante verificar que a vegetação,

    neste caso, o combustível é o elemento análogo presente nos três triângulos

    necessitando assim ser o principal foco das atenções nos estudos de incêndio

    florestal.

  • 21

    Figura 2: Pirâmide do incêndio florestal. Adaptado de Souza (2000)

    Para que estes combustíveis queimem com facilidade será necessário que

    estejam secos. Constituídos basicamente, primeiro pelos resíduos vegetais mortos,

    seguidos das plantas vivas que perderão umidade com o calor do incêndio se

    transformando em mais combustível.

    A queima ou combustão do combustível florestal compreende três fases

    distintas, sendo: primeiro o pré-aquecimento, em segundo a decomposição ou

    combustão dos gases e terceiro a incandescência ou consumo do carvão.

    1ª Fase: Pré-aquecimento: Nesta fase inicia-se a transformação dos materiais, que

    devido aos efeitos do aumento de temperatura serão aquecidos, desidratados, secos

    e parcialmente decompostos, porém ainda não existirão chamas. O calor eliminará a

    umidade contida nos vegetais e continuará aquecendo-os até a temperatura de

    combustão (que variará entre 260 e 400 graus Celsius para a maioria dos materiais

    combustíveis das florestas).

    2ª Fase: Decomposição ou combustão dos gases: Nesta fase os gases combustíveis

    que foram destilados dos vegetais (pirólise) se acenderão e queimarão, produzindo

  • 22

    chamas e altas temperaturas, que poderão atingir 1000 graus Celsius ou até um

    pouco mais. Neste estágio do processo de combustão dos vegetais, os gases

    continuarão queimando, o combustível estará incandescente liberando ainda mais

    gases.

    3ª Fase: Incandescência ou consumo de carvão: Nesta fase final o carvão será

    consumido, restando apenas cinzas. O calor gerado será intenso, mas praticamente

    não existirão chamas nem fumaça. A quantidade de calor liberada nessa fase

    dependerá do tipo de vegetal que foi queimado.

    Embora exista uma sobreposição entre elas, estas três fases da combustão

    dos vegetais podem ser perfeitamente observadas em um incêndio florestal. A

    primeira é o momento em que folhas e gramíneas se desidratam e enrolam devido à

    perda de umidade, à medida que vão sendo aquecidas pelo calor das chamas que

    se aproximam. Em seguida acontece a fase de combustão dos gases, ou queima

    dos combustíveis secos, onde normalmente se destacam as chamas, no caso dos

    incêndios florestais. Finalmente após a passagem das chamas vem a terceira fase, a

    do consumo do carvão.

    Os incêndios florestais na região de Juiz de Fora-MG acontecem nos meses

    de inverno ou período de estiagem, onde as precipitações são mais escassas e a

    umidade relativa do ar está muito baixa provocando a secura dos combustíveis

    deixando-os em condições ideais para que haja a combinação equilibrada do

    triângulo do fogo.

    3.1.2 Comportamento do fogo.

    A Propagação do fogo

    O início de um incêndio florestal se dará devido à presença de uma fonte de

    calor, podendo esta ser de origem natural ou antrópica, a partir da fonte de calor

    diversas características ambientais ainda condicionarão a ocorrência do foco.

    A propagação do fogo começará assim que surgir o primeiro foco do incêndio,

    ela ocorrerá através da transmissão de calor provocada pela combustão que

  • 23

    aquecerá os demais combustíveis próximos ao foco inicial que ao aquecerem,

    queimarão e assim sucessivamente.

    A grande diversificação do ambiente como o tipo e a quantidade de

    combustível disponível, a topografia, as condições climáticas, somadas às ações

    realizadas para a prevenção e a supressão do fogo influenciarão sobremaneira o

    modo como os incêndios se iniciarão e se manifestarão, ou seja, na propagação do

    fogo e seu comportamento.

    A propagação do fogo se dará principalmente pelas três formas de

    transmissão de calor: Condução, Convecção e Radiação. (Figura 3)

    Figura 3: Propagação do Fogo por Transmissão de Calor. Adaptado de Soares (1985)

    Condução

    Esta forma de transmissão de calor se dará quando existir contato direto entre

    as plantas e/ou resíduos mortos de vegetação. É o processo pelo qual o calor será

    transmitido de um corpo ao outro, acontecendo onde os materiais combustíveis

    estão dispostos sem intervalos entre eles, ou seja, há continuidade da vegetação.

  • 24

    Convecção

    Quando a massa de ar de determinado local se aquece, a tendência é a de

    elevar-se devido a sua menor densidade, transportando consigo o calor que irá

    aquecer os elementos acima.

    É o processo pelo qual o calor é transmitido de uma região para a outra

    através do deslocamento de matéria aquecida. Ocorre com os gases e os líquidos.

    O ar aquecido como consequência do desprendimento de calor gerado por

    um incêndio retira a umidade das plantas que se encontram acima e à frente das

    chamas, ressecando-as, favorecendo desta maneira a propagação do fogo. A

    transmissão de calor por convecção favorece a propagação do fogo com grande

    velocidade encosta acima, onde a topografia e os ventos entram como fatores

    determinantes no comportamento do fogo.

    A convecção, somada ao vento no caso dos incêndios florestais, favorecerá

    também um fenômeno conhecido por “transporte de fagulhas”, onde uma pequena

    porção inflamada de combustível será transportada para uma área fora do perímetro

    do incêndio, ou seja, aonde as bordas do incêndio ainda não chegaram (Figura 5),

    iniciando desta maneira um novo foco de incêndio que também é conhecido como

    “foco secundário”.

    Os efeitos da convecção em encostas com aclives acentuados são tão

    complexos que tem se observado que técnicas de prevenção de incêndios florestais

    acabam sendo ineficientes, como por exemplo, a construção de aceiros preventivos,

    que pelo fato de às vezes necessitarem possuir uma grande largura, acabam

    provocando erosão, e não são capazes de conter o avanço do fogo, pois, já foi

    observado o transporte de fagulhas por mais de cem metros distantes da frente do

    fogo.

    Radiação

    Na radiação o processo de transmissão de calor será através de ondas

    caloríficas sem que exista o movimento do ar para isso, mas atingirá somente as

    plantas que se encontrarem a curtas distâncias. A radiação nos incêndios florestais

    favorecerá a propagação do fogo afetando as plantas que estão próximas das que

    estiverem em combustão.

  • 25

    3.1.3 Tipos de Incêndios

    De acordo com o tipo de estrato ou topografia por onde o fogo se propaga se

    distinguirão três tipos de Incêndios Florestais:

    Subterrâneo;

    De Superfície;

    De Copas;

    Incêndios subterrâneos

    Avançam queimando a camada de serapilheira, a camada superficial de

    material orgânico que cobre os solos consistindo de folhas, caules, ramos, cascas,

    frutas, galhos mortos e raízes superficiais, ou seja, toda a matéria orgânica seca em

    diferentes estágios de decomposição sobre o solo da floresta (Figura 4). São

    incêndios de propagação lenta, sem chamas aparentes e com insignificante

    manifestação de fumaça, tornando-os de difícil detecção e combate. Esses

    combustíveis são geralmente de textura fina, relativamente compactados e

    consideravelmente isolados da atmosfera, ou seja, com menor suprimento de

    oxigênio. Os incêndios subterrâneos causam muitos danos à vegetação onde se

    manifestam, pelo fato de destruírem as raízes superficiais das árvores onde passam.

    Acontecem geralmente em matas e florestas que acumulam grande quantidade de

    serapilheira e em áreas alagadiças (pântanos, brejos), que quando secam formam

    espessas camadas abaixo da superfície.

  • 26

    Figura 4: Incêndio Subterrâneo. Adaptado de Soares (1985)

    Incêndios de superfície

    São aqueles que propagam superficialmente sobre o terreno queimando a

    vegetação que corresponde às plantas com altura menor que 1,80 metros, pequenas

    árvores, arbustos, galhos secos, troncos caídos, gramíneas, e todo resto vegetal não

    decomposto existente das florestas e dos pastos (Figura 5). Devido às

    características destes combustíveis sua combustão é muito fácil e rápida tornando

    sua velocidade de propagação variável, podendo se expandir, desde uns poucos

    metros até quilômetros por hora, de acordo com a disponibilidade, tipo e o arranjo

    destes combustíveis vegetais, ainda pela influência do clima e da topografia.

    Os incêndios superficiais normalmente se iniciam através de um pequeno

    foco que pode ser provocado por pontas de cigarros, velas de rituais religiosos,

    fagulhas das descargas de veículos, pequenas fogueiras, curtos circuitos das redes

    elétricas que passam sobre a vegetação etc., propagando para todos os lados,

  • 27

    tendo sua forma determinada principalmente pela ação dos ventos e das

    características do terreno.

    Os incêndios de superfície são os mais frequentes e é a partir deles que

    normalmente se iniciam os incêndios de copas e os subterrâneos.

    Figura 5: Incêndios de Superfície e Incêndios de Copas. Adaptado de Soares (1985)

    Incêndios de copas

    São os incêndios que se propagam em vegetações com mais de 1,80 metros

    de altura e principalmente através das copas das árvores, são os que avançam mais

    rapidamente pelo fato de se manifestarem em maior altura, onde os ventos

    deslocam com maior velocidade e força que próximo ao solo (Figura 5).

    São os que apresentam maior dificuldade aos trabalhos de combate e

    supressão do fogo.

    Estes três tipos de incêndios nem sempre se manifestam de forma isolada,

    sendo mais habitual a combinação dos três, e em especial a presença conjunta dos

    incêndios de superfície e de copa, porém com velocidades distintas.

  • 28

    Formas e partes de um Incêndio

    Após surgir o fogo em um ponto, as chamas irão se estender ao redor do foco

    inicial, numa situação hipotética e rara, caso o terreno seja plano, a vegetação

    uniforme e sem a presença de vento, o fogo avançará por igual em todas as

    direções formando assim um contorno queimado de aparência circular. Quando há

    vento ou o terreno é inclinado, a forma mais provável do contorno do perímetro em

    chamas será de uma elipse, tendo o fogo velocidade e intensidades diferentes nos

    diversos pontos do referido contorno (Figura 6).

    Figura 6: As Partes do Incêndio. Adaptado de PATAE - UFF (1985)

    Borda: todo o contorno que está queimando.

    Cabeça ou frente: orientada pela direção do vento ou pela inclinação da encosta, é

    a extremidade da elipse por onde o fogo avança mais rapidamente.

    Flancos: são as bordas laterais da elipse que também serão nomeadas pela direção

    do vento.

    Retaguarda: é a área da elipse onde o fogo normalmente avança mais devagar e

    tem menor intensidade, também identificada pela direção contrária a do vento.

    A frente avançará mais rápido quanto mais forte for o vento e/ou quanto mais

    inclinado for o terreno, pois assim as chamas irão desidratando e secando a

    vegetação que está adiante ainda sem queimar, favorecendo o aumento do

    perímetro da área queimada. É na frente onde existirá maior geração de calor e

    onde os danos serão maiores. É também a parte do perímetro onde é mais difícil o

    controle ou o combate.

  • 29

    Nos flancos e na retaguarda o fogo avançará com menor velocidade e

    intensidade, o calor da queima normalmente aumenta gradualmente da retaguarda

    passando pelos flancos chegando até a cabeça. É a partir dos flancos que se inicia o

    combate direto ao incêndio podendo assim chegar até a cabeça.

    Comumente a forma do contorno de um incêndio florestal não será uma

    elíptica devido aos diversos fatores que determinam o comportamento do fogo. As

    mudanças na composição da vegetação, as barreiras naturais, as variações do

    terreno, etc. farão com que as bordas do incêndio assumam contornos irregulares

    com o surgimento de dedos, que serão como frentes paralelas, dando ainda origem

    às bolsas onde haverá uma menor progressão do fogo (Figura 7).

    Figura 7: Contorno do Incêndio. Adaptado de Soares (1985)

    3.1.4 Fatores que Determinam o Comportamento do Fogo

    Os fatores que influenciam o comportamento do fogo são diversos e estão

    sempre combinados entre si, sendo os principais: os combustíveis, os fatores

    climatológicos e a topografia. Serão eles que definirão a forma e a evolução do

    incêndio florestal.

    Os combustíveis, ou cobertura vegetal, são um dos elementos do triângulo do

    fogo e as condições que se apresentam no cenário tais como seu tamanho,

  • 30

    distribuição e o grau de umidade serão decisivos para o comportamento do fogo.

    Será nos combustíveis o único dos elementos em que será possível atuar para

    controlar e combater o incêndio florestal.

    Os fatores climatológicos afetam o estado dos combustíveis através do

    aumento de temperatura, regem o grau de umidade e pelo vento favorecem a

    propagação do fogo.

    A topografia é capaz de alterar as características tanto dos combustíveis

    quanto do clima.

    3.1.4.1 Os combustíveis vegetais

    O tipo de cobertura florestal influencia o comportamento do fogo de várias

    formas sendo, portanto, um fator importante ao se analisar este tipo de fenômeno. A

    variação nas propriedades da cobertura vegetal pode causar mudanças de diversos

    aspectos relacionados ao comportamento do fogo. Uma mata densa, cerrada e

    pouca alterada mantêm um conteúdo de umidade mais elevado e estável que outra

    mata alterada e aberta estando assim mais sujeita às ações do vento e da radiação

    solar, por conseguinte mais propensa aos incêndios.

    A vegetação de uma floresta pouco alterada exerce acentuada influência no

    microclima da área onde está localizada e seus arredores. Uma floresta com árvores

    de grande porte, variada diversidade, densa e cerrada, intercepta a radiação solar,

    conservando a temperatura mais amena do ar e dos materiais combustíveis ali

    presentes. Uma mata assim funciona como barreira evitando a livre passagem das

    correntes de vento e reduzindo sua velocidade, proporcionando uma menor

    evapotranspiração, deste modo, dificultando a perda de umidade do material

    combustível da floresta.

    Uma característica importante do material combustível está relacionada às suas dimensões, principalmente com a espessura ou com o diâmetro das partículas. Quanto mais finos forem os elementos individuais do combustível, mais rápida é a troca de umidade com o ar atmosférico. (CEMIG, 2003)

    Nas florestas são considerados combustíveis todos os vegetais existentes de

    diversos tipos, as plantas vivas e seus resíduos, mesmo que no final de um incêndio

  • 31

    seja possível observar vegetais que não inflamaram, isso porque, não atingiram a

    temperatura de combustão.

    Constituirão como combustíveis vivos os capins diversos, os cipós, os

    arbustos, as árvores, etc..

    Dentre os combustíveis mortos estarão os troncos, galhos, folhas etc., sendo

    importante observar a camada formada por diversos restos de vegetação morta e de

    tamanho reduzido denominados de serapilheira, estrato localizado acima do solo,

    que proporcionará a fácil instalação do fogo e sua rápida propagação

    Todos os tipos de combustíveis tanto vivos quanto mortos exercerão

    influência sobre o fogo de acordo com as condições que apresentem tais como:

    - Grau de combustibilidade;

    - Quantidade disponível de combustível;

    - Densidade da vegetação;

    - Estratificação da vegetação;

    - Grau de umidade dos combustíveis.

    Grau de combustibilidade

    O grau de combustibilidade ou inflamabilidade se refere à maior ou menor

    capacidade que os combustíveis vegetais possuem para absorver calor e liberar

    gases que entrarão em combustão. Os vegetais terão caracterizada sua

    combustibilidade pelo tamanho, por sua estrutura, por sua capacidade de reter

    umidade, por possuir ou não substâncias que atuarão como aceleradoras da

    combustão como algumas resinas e pela fisiologia de cada espécie.

    O destaque ficará por conta do volume de combustível morto e de espessura

    mais fina disponível no cenário, devido ao fato de quanto mais fino e menor for o

    material combustível maior será sua capacidade de perder umidade e receber calor

    inflamando-se, aumentando consideravelmente o grau de combustibilidade da área

    onde se encontram. Para os estudos de combate a incêndios florestais os

    combustíveis são classificados em ligeiros e pesados

  • 32

    Tipificação dos combustíveis

    Os combustíveis podem dividir-se em quatro grandes grupos: vivos, mortos,

    ligeiros e pesados. Sendo óbvio existirem diferenças fundamentais entre uns e

    outros.

    Enquanto que nos combustíveis vivos a quantidade de água é elevada e não

    reduz este volume para além de certo limite, nos combustíveis mortos o teor em

    água é muito baixo e é muito susceptível às variações concomitantes a queda da

    umidade do ar. Assim, se a humidade do ar está muito baixa, nos combustíveis

    mortos a umidade também será baixa, e, pelo contrário, se a umidade atmosférica

    estiver elevada, então, a humidade dos combustíveis mortos tem tendência a ser

    elevada.

    Combustíveis Ligeiros - constituídos por materiais combustíveis finos, folhas, ervas,

    capins, pequenos arbustos, etc., que se aquecem, perdem umidade e se incendeiam

    facilmente. Queimam com grande rapidez contribuindo para a propagação do fogo

    (Figura 8).

    Figura 8: Combustíveis Ligeiros. Adaptado de PATAE - UFF (1985)

  • 33

    Combustíveis Pesados - formados pelos materiais combustíveis de combustão lenta,

    troncos, cipós grossos, as raízes, etc. (Figura 9), que exigem mais calor e tempo

    para se incendiarem, serão mais lentamente consumidos pelo fogo devido seus

    diâmetros mais volumosos e que também reterão mais água dificultando desta forma

    a pirólise, porém quando o fogo se instala nestes combustíveis o combate é

    dificultoso e necessitará de grande quantidade de água para se extinguir a

    combustão.

    Figura 9: Combustíveis Pesados. Adaptado de PATAE - UFF (1985)

    Em um incêndio florestal, o avanço e o comportamento do fogo dependerão

    diretamente dos tipos de combustíveis que predominem na área em que se instalou

    o fogo, da quantidade, de seu arranjo, do volume dos combustíveis vivos, mortos,

    ligeiros ou pesados. Logo, a velocidade de propagação do fogo será mais rápida nas

    pastagens do que em vegetações arbustivas predominantes e que será ainda menor

    nas matas densas etc..

    Temos ainda que levar em consideração que existirão espécies vegetais que

    possuem em suas estruturas certas resinas que ao serem aquecidas liberarão gases

    mais voláteis e com maior capacidade de queima aumentando assim o grau de

    combustibilidade destes combustíveis.

  • 34

    Quantidade do combustível

    A quantidade de combustível tanto vivo quanto morto, por unidade de

    superfície, será outro fator que influenciará sobremaneira o comportamento do fogo,

    uma vez que quanto mais combustível maior será a intensidade do incêndio e maior

    sua capacidade de provocar danos e prejuízos.

    Com o grande acúmulo de resíduos caídos no solo da floresta e com a

    alteração do ciclo do fogo, os incêndios tem se apresentado muito mais

    devastadores em alguns lugares.

    O material combustível de uma floresta pode ser quantificado, sendo o peso

    médio de matéria seca existente por unidade de área, feito por amostragem,

    normalmente sendo dada em kg/m² ou por ton./ha. A Prévia quantificação será

    importante nos trabalhos de prevenção e futura caracterização e associação aos

    efeitos do fogo na área queimada.

    Também é possível qualificar os combustíveis de uma área, conhecendo suas

    características de inflamabilidade e predominância, o que também previamente será

    útil para a prevenção.

    Densidade da vegetação

    A densidade será classificada como a extensão horizontal de cobertura do

    solo pela vegetação existente, e indicará também a maior ou menor proximidade de

    umas plantas para as outras, que ajudará a condicionar a velocidade de propagação

    do fogo (Figura 10). Se a densidade é alta sem interrupções na cobertura do

    combustível, o fogo se propagará mais rapidamente dispersando-se por longas

    distâncias caso o teor de umidade seja muito baixo.

  • 35

    Figura 10: Vegetação com alta densidade e estratificação contínua. Adaptado PATAE – UFF (1985)

    Já em áreas onde o incêndio se instalou, se a densidade for muito reduzida,

    ou existam porções sem combustível o fogo encontrará dificuldades para sua

    propagação (Figura 11)

    Figura 11: Vegetação com baixa densidade e estratificação descontínua. Adaptado de PATAE - UFF (1985)

  • 36

    Estratificação da vegetação

    A distribuição da vegetação de acordo com um plano vertical se denomina

    estratificação e se divide em uma série de camadas ou de estratos de diferentes

    alturas, variando nas pastagens ou vegetações rasteiras, nas vegetações arbustivas

    e nas matas, determinando o tipo de incêndio (subterrâneo, de superfície ou de

    copas

    Poderá ser estratificação contínua (Figura 10), onde os diferentes estratos se

    sobrepõem permitindo assim que o fogo se propague de uns para os outros. Esta

    condição favorecerá o fogo onde facilmente um incêndio de superfície se transforme

    em incêndio de copas, ou ainda, estratificação descontínua (Figura 11), onde

    existirão falhas entre os estratos. Neste caso um incêndio de superfície dificilmente

    passará para as copas das árvores.

    Os combustíveis superficiais são todos aqueles localizados sobre, e

    imediatamente acima ou no piso da floresta, até 1,80 metros de altura, e

    compreendem basicamente folhas, galhos, troncos e demais materiais que se

    encontram neste intervalo. Os combustíveis subterrâneos são todos os materiais

    combustíveis que estão abaixo da superfície da floresta, como serapilheira, raízes

    de árvores, madeira em decomposição, folas, entre outros (BATISTA, 1990).

    Nos estudos de incêndios florestais a estratificação vertical está dividida em

    três grupos específicos:

    • Arbóreo, constituído pelas árvores, em cuja posição superior se encontra a

    copa estando esta a uma altura superior 1,80 metros de altura;

    • Arbustivo, constituído por arbustos ou pequenas árvores cuja altura seja

    inferior a 1,80 metros de altura;

    • Pastagem, constituído pelas diversas espécies de capins e outras

    vegetações rasteiras, porém sem uma definição específica para a atura deste tipo de

    elemento. Castro et al. (2003)

    Para Anderson e Brown (1988 apud Batista, 2000) os combustíveis estão

    dispostos por “continuidade” referindo-se à sua distribuição sobre uma área, tanto no

    sentido horizontal quanto vertical. É uma característica muito importante porque

    controla parcialmente onde o fogo pode ir e a velocidade com que se propaga.

    Quando o material está distribuído uniformemente sobre uma área, não há

    interrupção no combustível e as chamas irão se propagar sem obstáculos. Quando a

  • 37

    continuidade não é uniforme, isto é, quando o combustível está disposto de forma

    dispersa, há dificuldade do fogo se propagar devido às interrupções do combustível

    sobre a área.

    Grau de umidade dos combustíveis

    O conteúdo de água dos combustíveis vegetais tem grande importância no

    comportamento do fogo, pela sua capacidade de até impedir um pequeno foco de se

    espalhar quando os vegetais estão muito hidratados, quanto da possibilidade de se

    iniciar a combustão e sua posterior evolução quando os vegetais se apresentarem

    muito secos.

    Para Schroeder e Buck (1970 apud Batista, 2000) o conteúdo de umidade é a

    mais importante propriedade que controla a inflamabilidade dos combustíveis vivos e

    mortos. A umidade do material reflete o clima e as condições meteorológicas do

    local, podendo variar rapidamente. Combustíveis vivos e mortos têm diferentes

    mecanismos de retenção de água e reagem distintamente às variações das

    condições meteorológicas. O conteúdo de umidade dos combustíveis mortos flutua

    principalmente em função da umidade relativa, temperatura do ar e a precipitação.

    Partículas finas do combustível morto, tais como: folhas secas e pequenos ramos

    podem variar o conteúdo de umidade em poucas horas. Ao contrário, são

    necessários vários dias ou semanas para variar significativamente o conteúdo de

    umidade de um tronco de árvore ou galho de grosso calibre caído ao solo.

    O grau de umidade dos materiais combustíveis de uma floresta é medido pela

    capacidade que estes materiais têm de reter ou armazenar água. São controlados,

    em grande parte, pela umidade atmosférica, e pelos índices de precipitação.

    De acordo com Batista e Soares (1997) existe uma troca contínua de vapor

    d’água entre a atmosfera e o combustível depositado no piso da floresta. O material

    seco absorve água de uma atmosfera úmida e libera água quando o ar está seco. A

    quantidade de umidade que o material morto pode absorver do ar e reter depende

    basicamente, da umidade do ar. Durante períodos extremamente secos, a baixa

    umidade do ar pode inclusive afetar o conteúdo de umidade do material vivo.

    A velocidade do avanço do fogo em um material florestal combustível qualquer é menor ou maior segundo o seu conteúdo de umidade no momento de entrar em combustão. O material combustível úmido absorve

  • 38

    grande parte do calor que recebe para secar-se e só entra em combustão depois que a quantidade de umidade seja suficientemente nula e incapaz de impedir a ignição. Desta forma compreende-se que um material verde e com alto conteúdo de umidade, queima com dificuldade, tornando-se um agente retardante do fogo, e às vezes até impedindo o avanço das chamas, ao que o material que está seco entra em combustão imediatamente sendo campo ideal para a rápida propagação do incêndio. (PATAE-UFF, 1985)

    Para Soares (1985) o conteúdo de umidade da vegetação viva varia

    principalmente em resposta ao estágio estacional de desenvolvimento em que se

    encontra. Geralmente, durante a estação de crescimento, período das chuvas

    regulares, as árvores apresentam muita brotação e folhas novas, portanto possuem

    um conteúdo de umidade bastante elevado, podendo chegar a 300% do peso seco.

    No início do período de estiagem, inverno, quando as árvores começam a entrar em

    dormência, apresentam teor de umidade próximos de 50%.

    A concentração de calor mesmo em um combustível vegetal com alta

    porcentagem de umidade fará primeiro com que se evapore este excesso de água

    antes que a planta alcance temperatura suficiente para liberar gases que se

    inflamem o que demonstra a importância da regularidade de chuvas no contexto dos

    incêndios florestais. Agora quanto mais baixo o volume de água que um vegetal é

    capaz de reter, mais seco estará este combustível e mais rapidamente se queimará.

    O fogo se manifestará nos combustíveis de acordo com seu estado e suas

    características conforme tabela 1.

    Tabela 1. A vegetação e a propagação do fogo, as características dos combustíveis.

    Maior Velocidade de Propagação Menor Velocidade de Propagação Combustíveis Mortos Combustíveis Vivos Combustíveis Ligeiros Combustíveis Pesados Alta Densidade Baixa Densidade Estratificação Contínua Estratificação Descontínua Pastagens e Vegetações Rasteiras Matas Fechadas Silviculturas onde predomine apenas uma espécie.

    Matas com grande diversidade, e com pouca intervenção antrópica.

    Combustíveis mais secos Combustíveis mais úmidos. Fonte: PATAE-UFF, 1985

    Como os combustíveis secos e mortos tem menor capacidade de reter água,

    estão mais sujeitos a variação de temperatura e queda nos índices de pluviosidade,

    pois perdem umidade mais rapidamente e entram em combustão com mais

    facilidade, logo se existirem em grande quantidade em uma determinada área fará

  • 39

    com que o risco de se iniciar um incêndio seja maior e que sua propagação seja

    mais rápida.

    O conteúdo de umidade do combustível controla sua inflamabilidade, é muito importante na determinação das condições de perigo de incêndio. O conteúdo de umidade dos materiais combustíveis mortos (cobertura morta, galhos, folhas, húmus) varia tremendamente dependendo dos índices pluviométricos. Ela raramente é menor que 20% mas pode exceder os 200%, como por exemplo, em madeira apodrecida ou no húmus, após prolongada chuva. (PATAE-UFF, 1985)

    Este comportamento da perda de umidade da vegetação ocorre em

    consequência do processo de transpiração, que é a evaporação devido à ação

    fisiológica dos vegetais. As plantas, através de suas raízes, retiram do solo a água

    para suas atividades vitais. Parte dessa água é cedida à atmosfera, sob a forma de

    vapor, na superfície das folhas. Deste modo, a atmosfera atua como um dreno para

    vapor d’ água, quanto mais seco estiver o ar (baixa umidade relativa), maior será a

    força desse dreno e assim maior será a perda de água pela planta. Em vegetação

    de pequeno porte, como gramíneas, a perda de umidade ocorre poucas horas

    depois da chuva e dependendo do período sem chuvas ou com chuvas inferiores a

    20 mm a recuperação da sua umidade é mais lenta, quando comparada com a

    vegetação de floresta (VOLPATO, 2002).

    3.1.4.2 Os fatores climatológicos

    A ocorrência de Incêndios Florestais e sua propagação estão intrinsecamente

    ligadas às condições climáticas da região onde se manifestam.

    Os diversos fatores que configuram as características climatológicas de uma

    área em que se instala um incêndio condicionarão também sua evolução devido a

    grande influência que exercerá nos três elementos que compõem o triângulo do

    fogo. Entre estes fatores os que mais exercerão influência são:

    - O vento;

    - A Umidade do Ar;

    - A Radiação Solar;

    - A Precipitação Pluvial;

    - A Temperatura.

  • 40

    O vento

    De grande importância no comportamento do fogo, por contribuir para a

    perda de umidade dos vegetais e especialmente por determinar a velocidade de

    propagação.

    O vento é o movimento do ar em relação à superfície terrestre. É gerado pela ação de gradientes de pressão atmosférica, mas sofre influências modificadoras de movimento de rotação da Terra, da força centrífuga ao seu movimento e do atrito com a superfície terrestre. (TUBELIS e NASCIMENTO, 1984)

    Devido a distribuição dos continentes dos mares e oceanos e as mudanças

    das estações do ano sobre a superfície do planeta, se produzem temperaturas

    diferentes (gradientes de pressão atmosférica) de certas regiões para outras o que

    produz movimentos horizontais e verticais do ar constituindo assim os ventos gerais.

    Em determinadas regiões devido também as diferenças de temperaturas

    entre o dia e a noite e ainda devido as diversidades topográficas surgirão ventos

    locais, cujas ações se somarão aos ventos gerais.

    Os ventos afetam diretamente o comportamento do fogo e por sua vez as

    variações de calor provocadas pelo incêndio alteram as características dos ventos

    locais, produzindo correntes de ar ascendentes.

    Os ventos de maior interesse no combate aos incêndios florestais são os

    ventos de encosta, anabáticos ascendentes e catabáticos descendentes, que são

    muito presentes em regiões de relevo acidentado.

    O vento afeta o comportamento do fogo nas florestas de diversas maneiras. O vento leva para longe o ar carregado de umidade, acelerando a secagem dos combustíveis, ventos leves auxiliam certos materiais finos, considerados ligeiros, em brasa a dar início ao fogo. Uma vez iniciado o fogo, o vento auxilia a combustão pelo aumento no suprimento de oxigênio (comburente). O vento alastra o fogo através do transporte de materiais acesos ou aquecidos para novos locais ainda não incendiados, inclina as chamas para perto dos combustíveis ainda não queimados que estão na frente do incêndio. A direção e velocidade da propagação do fogo serão determinadas principalmente pelo vento. (BATISTA e SOARES, 1997) O vento é fator fundamental nos incêndios de copas, onde transporta calor e chamas de árvore para árvore. Caso o vento parar, o fogo geralmente não tem continuidade nas copas. (PATAE-UFF, 1985)

  • 41

    O vento é o responsável pela rápida dispersão do fogo, já que é capaz de

    transportar materiais acesos (brasas) gerando focos secundários.

    Assim quanto mais forte o vento, mais rapidamente será a propagação do incêndio, isto porque o vento trás consigo um suprimento adicional de oxigênio, fazendo com que este alastre chamas, fagulhas e brasas em direção ao combustível que está adiante, provocando fogos intermitentes e esparsos. (PATAE-UFF, 1985)

    A umidade do ar

    Tubelis e Nascimento (1984) argumentam que a umidade do ar é a água, na

    fase de vapor, que existe na atmosfera. Suas fontes naturais são as superfícies de

    água, gelo e neve, a superfície do solo, as massas vegetais e os animais. A

    passagem para a fase de vapor é realizada pelos processos físicos de evaporação e

    sublimação, e pela transpiração.

    Para Ayoade (1996) o volume de vapor d’água na atmosfera pode variar

    praticamente de zero, em regiões áridas, até cerca de 3 - 4% nos trópicos úmidos. O

    conteúdo do vapor d’água está estreitamente relacionado com a temperatura do ar e

    com a disponibilidade de água na superfície terrestre. Assim, nas latitudes médias é

    maior no verão do que no inverno, quando a capacidade da atmosfera para reter a

    umidade é pequena.

    A importância da umidade do ar está intrinsecamente ligada à umidade dos

    materiais combustíveis, ao risco da eclosão da combustão e ao comportamento do

    fogo nos seus diversos estágios.

    Concluímos juntamente com Batista e Soares (1997) que a umidade do ar é,

    isoladamente, um dos mais importantes fatores na propagação dos incêndios

    florestais, principalmente nas regiões onde a ocorrência de incêndios é

    predominante no inverno, quando os índices pluviométricos são menores devido à

    estiagem, como ocorre na maior parte do território Brasileiro. A umidade do ar é

    também um elemento importante na avaliação do grau de dificuldade de combate

    aos incêndios. Quando a umidade do ar desce ao nível de 30% ou menos, torna-se

    extremamente difícil combater um incêndio.

  • 42

    A Radiação Solar

    A radiação solar de acordo com Tubelis e Nascimento (1984) é a energia

    recebida pela Terra, na forma de ondas eletromagnéticas, provenientes do sol. Ela é

    a fonte primária de energia que o globo terrestre dispõe, e a sua distribuição variável

    é a geratriz de todos os processos atmosféricos, influenciando sobremaneira o

    comportamento dos incêndios florestais devido a capacidade de reduzir o teor de

    umidade dos materiais combustíveis.

    Afirmam Tubelis e Nascimento (1984) que as variações diárias do

    balanço de radiação da superfície do solo ocorrem em função da trajetória diária do

    sol acima do horizonte, enquanto que as variações estacionais em função da

    variação da declinação do sol ao longo do ano. O balanço de radiação de uma

    superfície é composto por uma entrada de energia, a radiação solar absorvida, e por

    uma liberação de energia através da emissão efetiva terrestre. A radiação absorvida

    ocorre durante o período em que o sol está acima do horizonte, e sua intensidade é

    proporcional à altura do sol acima do horizonte, sendo máxima na sua passagem

    meridiana. A emissão efetiva terrestre é crescente do nascer do sol até sua

    passagem meridiana quando, passa a ser decrescente até o nascer seguinte.

    “O padrão de distribuição da radiação solar é ligeiramente alterado sobre a

    superfície terrestre, basicamente por causa do efeito da atmosfera que absorve,

    reflete, difunde e reirradia a energia solar”. (AYOADE, 1996)

    Acompanhando ainda o raciocínio de Tubelis e Nascimento (1984) a

    quantidade de radiação solar em um determinado local depende da inclinação dos

    raios solares, do comprimento do dia, da transmissividade da atmosfera e da

    cobertura do céu. Superfícies com orientações e inclinações diferentes recebem

    quantidades diferentes de radiação solar global em comparação com uma superfície

    horizontal, em uma mesma localidade e época do ano. A importância deste fato é

    que a produção de matéria vegetal é condicionada pela disponibilidade de energia

    solar, ou seja, influenciando o comportamento do fogo.

    A superfície do solo, com ou sem vegetação é o principal receptor da radiação

    solar e da radiação atmosférica, sendo também um emissor de radiação. Seu

    balanço de radiação, variável no decurso do dia e do ano, promove variações diárias

    e anuais na temperatura do solo e do ar que somados aos diversos fatores que

  • 43

    influenciam os incêndios florestais irá contribuir para sua maior ou menor

    manifestação.

    A precipitação pluvial

    Para os estudos da climatologia são diversas as formas de precipitação,

    desde saraiva, granizo, neve, água etc.. Para os estudos dos incêndios florestais

    nos interessa muito a quantidade de vapor d’água, condensado na atmosfera, que

    cai sobre o planeta em forma de gotas comumente conhecida por chuva. As chuvas

    quando regulares proporcionam que os combustíveis permaneçam úmidos, ou seja,

    contribuem para que o teor de umidade dos vegetais esteja elevado tornado difícil o

    surgimento do fogo e sua propagação.

    Durante os períodos prolongados de estiagem são observados o aumento no

    número de ocorrências de incêndios florestais, uma vez que devido ao longo período

    sem chuvas, os materiais combustíveis acabam mesmo por ceder umidade ao

    ambiente que se encontra mais seco, assim, tornando-se os vegetais mais

    inflamáveis e suscetíveis ao surgimento do fogo.

    De acordo com Batista (2000) as precipitações são importantes porque ao

    manter o material florestal úmido, dificultam ou tornam impossível o início e a

    propagação do fogo. Existe uma forte correlação entre os incêndios e prolongados

    períodos de seca. Nestes períodos de seca prolongada o material cede umidade ao

    ambiente, tornando as condições favoráveis às ocorrências de incêndios. Na

    avaliação do efeito da precipitação, deve-se considerar não apenas a quantidade de

    chuva que cai, mas também sua distribuição estacional. Se a distribuição das

    chuvas em um determinado local é uniforme durante todo o ano, sem uma estação

    seca definida, a possibilidade de ocorrência e propagação dos incêndios é menor do

    que um local onde a estação chuvosa está concentrada em alguns meses, com

    longos períodos de estiagem durante os outros meses.

    Os níveis de chuva e distribuição sazonal são usados para se encontrar

    inclusive índices que auxiliarão na previsão do período de risco a incêndios

    florestais.

  • 44

    A temperatura

    Temperatura ou calor é um dos elementos do “triângulo do fogo”, ficando

    clara a sua importância fundamental tanto na ignição (início) da combustão como na

    propagação dos incêndios florestais.

    Para Ayoade (1996) a temperatura de um corpo é o grau de calor medido por

    um termômetro, pode ser definida em termos do movimento de moléculas, de modo

    que quanto mais rápido o deslocamento destas, mais elevada será a temperatura,

    logo sua definição relativa toma-se por base o grau de calor que um corpo possui.

    De acordo com Batista e Soares (1997) embora o comportamento do fogo

    seja afetado diretamente pela temperatura, a maioria dos efeitos são indiretos.

    Quanto mais aquecido o ar e as partículas de combustível, menor a quantidade de

    calor necessária para iniciar e continuar o processo de combustão. A temperatura

    também afeta a capacidade do ar conter vapor d’água. Além disso, normalmente

    quando a temperatura aumenta, a umidade decresce e, desse modo, ajuda a baixar

    o conteúdo de umidade dos combustíveis, aumentando o risco de incêndios.

    Então a elevação da temperatura aumenta o grau de combustibilidade dos

    vegetais e da matéria morta ao favorecer maior evaporação e reduzir o grau de

    umidade destes combustíveis, criando condições ideais para a manifestação dos

    incêndios. Porém é necessário existir uma fonte de calor contínua capaz de elevar a

    temperatura dos materiais combustíveis até seu ponto de ignição, observando que

    para os vegetais vivos e verdes precisará ser mais intenso a ponto de levá-los à

    desidratação e a queima.

    3.1.4.3 A Topografia

    A topografia é a configuração do relevo, ou seja, o aspecto assumido de um

    terreno ou área com a posição de suas feições naturais ou artificiais.

    Batista e Soares (1997) costumam dizer que a topografia faz o clima e

    determina o tipo de combustível em uma determinada área. Considerando-se que o

    comportamento do fogo é em grande parte o resultado do clima e do combustível

    disponível, pode-se dizer também que topografia influi decisivamente no

    comportamento do fogo. A topografia afeta profundamente as características dos

    ventos, particularmente os ventos convectivos. Além disso, é responsável pela

  • 45

    localização dos diversos tipos de combustíveis, tendo influência sobre o seu

    crescimento e inflamabilidade devido os seus efeitos sobre o clima.

    Locais onde há grandes variações na altitude do terreno a vegetação que se

    encontra no vale será mais abundante que aquela localizada no topo das encostas.

    Para nosso entendimento os elementos da topografia que influenciam os incêndios

    florestais são:

    - A Inclinação da Encosta;

    - A Exposição/Orientação;

    - Altitude.

    As inclinações das encostas

    As encostas (aclive do terreno) são um dos fatores que contribuem para

    propagação do fogo, de acordo com o grau de inclinação, quanto mais acentuado

    maior será a velocidade da frente do incêndio. Os incêndios sobem mais facilmente

    as encostas por causa das ondas de calor tender a subir e também devido ao fato

    da inclinação positiva contribuir para aproximar as chamas até os vegetais que estão

    na parte mais adiante, assim o fogo aquece, seca e queima estes combustíveis com

    maior intensidade que aqueles localizados abaixo. Favorecidas pela inclinação do

    terreno, as correntes de ar aquecidas (convecção), auxiliadas pelos ventos, sobem

    aquecendo e secando a vegetação de forma mais ampla que no plano horizontal

    onde só atuam até a altura final das copas.

    A exposição/orientação

    São as posições em que as faces do terreno estão em relação aos pontos

    cardeais, dados úteis para a compreensão de como a radiação solar contribui para o

    crescimento da vegetação e o aquecimento da área.

    Superfícies que possuem orientações norte e sul, com diferentes inclinações, recebem energia solar como se fossem horizontais e situadas em outra latitude, esta dependente da inclinação do terreno. Superfícies que possuem orientação leste ou oeste terão menores durações diárias da insolação, devido a um adiantamento do momento do pôr do sol para terrenos leste e atraso no momento do nascer do sol para terrenos oeste. A

  • 46

    radiação solar global será a mesma para ambas as orientações na mesma inclinação. (TUBELIS e NASCIMENTO, 1984)

    As informações a respeito das orientações em que os terrenos estão expostos

    terão grande importância também ao se identificar a predominância da direção dos

    ventos, já que estes são fatores que contribuirão fortemente no comportamento do

    fogo.

    Altitude

    É a distância vertical de um ponto da superfície da Terra, que considera como

    referência a relação ao nível zero dos oceanos.

    De acordo com Batista et al (2002), a elevação do terreno, em relação ao

    nível do mar, é relevante no estudo do risco de incêndio porque tem efeito sobre as

    condições climáticas do local e consequentemente sobre as características de

    umidade do material combustível. Com a elevação da altitude se observa um

    decréscimo da temperatura acompanhado por um aumento na umidade relativa do

    ar até determinadas altitudes. Logo, o risco de incêndio florestal é maior nas baixas

    altitudes.

    3.1.5 Fontes ou causas do fogo. Os incêndios florestais são resultado da interação de diversos fatores, mas

    principalmente pelas intervenções antrópicas diretas ou indiretas e pela falta de

    informações dos seres humanos com relação aos aspectos da prevenção. Para os

    estudos de combate a incêndios florestais as origens destes são classificadas em

    Causas Naturais e Causas Humanas.

    Para podermos entender e combater os incêndios florestais é preciso

    conhecer suas origens, logo, como citado por Batista (2000) a análise das causas

    dos incêndios, através dos registros de ocorrências de incêndios florestais, é uma

    forma simples e prática de avaliar o grau de risco em função das principais fontes de

    fogo.

    De acordo com Ambiente Brasil (2008) as causas dos incêndios podem variar

    bastante de uma determinada região para outra região do país de acordo com os

  • 47

    mais diversos e diferentes aspectos, tais como condições climáticas, atividades

    agrícolas e florestais, proximidade de determinadas concentrações urbanas, cultura

    destas populações, margens de rodovias, estradas de ferro, pastagens.

    Causas Naturais

    As causas naturais que podem dar origem ao fogo e que têm realmente

    significância são os raios (descargas atmosféricas) e as combustões espontâneas.

    Os raios são descargas elétricas entre as nuvens e o solo. No Brasil não

    existem registros de grandes incêndios provocados por quedas de raios, uma vez

    que o período ocorrências de raios coincide com a estação chuvosa. Há relatos de

    princípios de incêndios, principalmente em copas de árvore, mas que não se

    propagam devido à chuva que cai posteriormente aumentando sobremaneira o teor

    de umidade dos vegetais impedindo que o fogo se alastre.

    As combustões espontâneas entre os vegetais são processos complexos que

    podem ocorrer, por exemplo, quando há acúmulo de certos vegetais juntamente com

    determinas resinas e óleos também de origem vegetal e estes pela ação de algumas

    bactérias, entram em fermentação. A fermentação produz calor e libera gases que

    se incendeiam. Estes materiais entram em combustão sem fonte externa de calor,

    são materiais com baixo ponto de ignição e são considerados combustíveis com

    grande inflamabilidade. A combustão espontânea ocorre então quando há mistura

    de determinadas substâncias químicas, provocando uma reação lenta de oxidação,

    onde esta combinação gera calor e libera gases até alcançar quantidades e

    temperatura suficientes para iniciar a combustão em contato com o oxigênio.

    Causas humanas

    As causas humanas como já citado, são maioria nas origens dos incêndios

    Florestais, já que estes são iniciados principalmente em decorrência de algum tipo

    de atividade humana, direta ou indiretamente.

    De acordo com Soares (1996) as estatísticas mais recentes sobre incêndios

    florestais no Brasil indicam que de acordo com a classificação da FAO (Food and

    Agriculture Organization), as principais causas dos incêndios florestais são “queimas

    para limpeza” e incendiários.

  • 48

    São diversas as causas humanas que dão origem aos incêndios florestais,

    mas as que usualmente são usadas para entendimento e estudos relativos a os

    incêndios são:

    - Uso do fogo para fins agropastoris ou queima para “limpeza” é uma prática

    bastante comum pela qual algumas pessoas, fazem uso do fogo para “limpeza” de

    terrenos quer seja para fins florestais, agrícolas, pecuários ou ainda para controle de

    pragas sem as devidas medidas de segurança. Nesta categoria se encaixa também

    a queima de restos vegetais ou da vegetação de lotes vagos, que são um grande

    risco quando ocorrem nas imediações aos fragmentos florestais próximos às

    concentrações urbanas.

    - O uso do fogo para eliminar o lixo, além de ser uma prática agressiva ao

    meio ambiente, quando realizado próximo às áreas verdes, pode escapar ao

    controle e gerar mais danos que o previsto.

    - As fogueiras ou fogos campestres são comumente utilizados por

    excursionistas, pescadores, caçadores e trabalhadores rurais, que as empregam

    para diversos fins como cozinhar ou se aquecerem e as abandonam sem o cuidado

    de apagá-las corretamente, dando início a incêndios.

    - O uso de velas é comum nas práticas religiosas existindo rituais próximos às

    áreas verdes e até mata adentro, onde as velas são deixadas acesas, aumentando

    desta maneira a possibilidade de início de um incêndio.

    - Incêndios provocados por incendiários normalmente são motivados por

    pessoas que agem por vingança, ou que usam o incêndio para dificultar a

    investigação de alguns crimes, existindo até pessoas que colocam fogo por mero

    vandalismo; nesta categoria se encaixam também as pessoas que agem

    inconscientemente, devido a desequilíbrios mentais.

    - Fumantes normalmente provocam incêndios florestais próximos às estradas

    e rodovias ao lançarem pontas de cigarros ou fósforos acesos na vegetação seca,

    por negligência ou imprudência.

    - Nas estradas de ferro ou linhas férreas sem as periódicas manutenções,

    onde a vegetação cresce desordenadamente aproximando do leito da ferrovia, o

    atrito das rodas dos trens com os trilhos geram centelhas que podem ocasionar

    incêndios.

    - Quando existem sobre as matas fios elétricos ou linhas de transmissão de

    energia a cobertura vegetal fica sujeita aos possíveis acidentes que