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Universidade Federal de Juiz de Fora Programa de Pós-Graduação em Química Departamento de Química UFJF Mestrado em Química Christiani Marcelo Machado Pyramides Formação Continuada de professores de química e o ensino experimental na perspectiva do professor reflexivo Juiz de Fora 2014

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Universidade Federal de Juiz de Fora

Programa de Pós-Graduação em Química

Departamento de Química UFJF

Mestrado em Química

Christiani Marcelo Machado Pyramides

Formação Continuada de professores de química e o ensino experimental na perspectiva

do professor reflexivo

Juiz de Fora

2014

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Christiani Marcelo Machado Pyramides

Formação Continuada de professores de química e o ensino experimental na perspectiva

do professor reflexivo

Dissertação apresentada ao programa de Pós-

Graduação em Química, área de concentração:

Educação em Química, da Universidade Federal de

Juiz de Fora como requisito parcial para a obtenção

do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. José Guilherme da Silva Lopes

Juiz de Fora

2014

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Às mulheres de minha vida, minha

esposa Alinne, minhas filhas

Mariana e Manuela, minhas Mães

Maria Helena e Maria Lúcia, por

seu amor, apoio incondicional e

sabedoria.

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AGRADECIMENTO

A Deus, pela vida plena e por sustentar-me nos momentos difíceis.

Aos meus pais, Luiz Carlos Pyramides e Maria Helena Machado Pyramides pelo

exemplo de vida e amor incondicional.

Aos meus irmãos, Fabrício e Bruno pelo companheirismo e amizade ao longo da

vida.

À minha esposa Alinne, por seu amor e apoio incondicional em todas as etapas de

minha vida e por sua leitura desta dissertação e suas considerações importantes para a

finalização deste trabalho.

Às minhas filhas, Mariana e Manuela, sem as quais o caminhar não teria sentido e

significado.

A professora Amanda que dispensou grande parte do seu tempo para compartilhar

comigo seus conhecimentos.

Não poderia deixar de fazer referencia e agradecer a todos os colegas de profissão,

professores, coordenadores, funcionários administrativos e diretores que ao longo desta

jornada contribuíram para a construção do meu conhecimento docente.

Aos professores do PPGE, que contribuíram diretamente em minha formação

acadêmica, em especial a Prfa. Dr. Maria Teresa de Assunção Freitas e Prof

a. Dr. Maria

Assunção Calderano.

À Universidade Federal de Juiz de Fora e ao Departamento de Química, pela

oportunidade oferecida para a realização deste curso.

Aos professores que participaram desta pesquisa direta ou indiretamente,

principalmente a P1 e P2, por suas valiosas contribuições para a minha reflexão individual.

À Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela

bolsa de estudo.

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Ao professor José Guilherme Lopes, pela orientação e pela confiança depositada em

meu trabalho, sobre tudo pela amizade construída ao longo de mais de 20 anos de

convivência.

Aos funcionários do Departamento de Química pela gentileza que sempre me

atenderam.

A secretária da Pós-Graduação Simone, pela atenção e cordialidade com que sempre

me atendeu.

Aos colegas do curso de mestrado pela convivência construtiva, Paulo, Luiz, Ingrid,

Rita, Cristiane, Fernanda, Rafael, Silvio e a Lílian.

Aos antigos professores do curso de graduação de química, em especial, Flavia,

Mauro, Ana Paula e Aloísio que sempre me abrilhantaram com seu sorriso e companheirismo.

Aos professores Dr. Luiz Antônio Sodré Costa e a Dra. Adriana Rocha Bruno por

suas importantes contribuições e comentários pertinentes para construções desta dissertação

realizados durante o exame de qualificação desta pesquisa.

Aos professores Dr. Luiz Antônio Sodré Costa e ao Dr. Waldmir Nascimento de

Araújo por propiciarem o debate construído ao longo da defesa desta dissertação e por suas

valiosas contribuições para a construção do texto final.

Por fim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste

trabalho.·.

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Ao término de um período de

decadência sobrevém o ponto de

mutação. A luz poderosa que fora

banida ressurge. Há movimento,

mas este não é gerado pela força...

O movimento é natural, surge

espontaneamente. Por está razão, a

transformação do antigo torna-se

fácil. O velho é descartado, e o novo

é introduzido. Ambas as medidas se

harmonizam com o tempo, não

resultando daí, portanto, nenhum

dano.

I Ching

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RESUMO

O ensino de ciências e em especial o ensino de química, vinha sendo pensado em uma

perspectiva utilitarista. Na última década com o desenvolvimento da área de Educação em

Ciências cresce a tendência de adotarmos uma perspectiva de Educação Científica mais ampla

no que tange à valorização de aspectos históricos e sociais que contribuam para a formação de

sujeitos críticos, autônomos e participativos; preparando-os para atuarem na sociedade de

maneira mais efetiva. No que diz respeito à formação de professores, na década de 80, surgiu

um movimento denominado “O professor reflexivo” que visa a formação profissional para

atuação neste novo contexto. Este movimento se caracteriza pela formação por meio da

reflexão e problematização do conhecimento tácito visando a produção de respostas aos

problemas de natureza complexa encontrados durante a ação profissional. Considerando este

cenário, como podemos contribuir para a formação continuada de professores de química,

favorecendo a reflexão sobre sua prática tornando-os mais conscientes e críticos? Visando

contribuir com a formação de professores a UFJF promoveu no ano de 2011 o curso

intitulado: “O uso da experimentação no Ensino de Química”, foi a referência para a

presente investigação. Os dezenove professores que participaram do curso foram os sujeitos

desta pesquisa. A metodologia utilizada foi de natureza qualitativa, aportada nos pressupostos

teóricos da pesquisa Colaborativa. A análise dos dados foi realizada com base nos

pressupostos teóricos da “Análise de Conteúdo”. A pesquisa se desenvolveu em duas Etapas.

Na Etapa I, foi realizado o levantamento das concepções sobre o ensino de ciências e o ensino

de química experimental e foram selecionados dois professores, P1 e P2, para a Etapa II,

caracterizada por um processo de reflexão crítica individual à partir do Ciclo de Reflexão

sugerido por Smyth (1992), constituído por quatro ações: o descrever; o informar; o

confrontar; o reconstruir. Observamos na Etapa I que os professores compreendem o ensino

de ciências por um viés utilitarista, além de serem dependentes dos livros didáticos para o

planejamento de suas aulas. Na Etapa II, concluímos que a reflexão crítica, possibilitou a P1 e

P2, a tomada de consciência sobre suas ações, abrindo espaço para se constituírem como

sujeitos e agentes de transformação. Assim, defendemos a reflexão crítica como um caminho

capaz de contribuir para a aproximação entre teoria e prática, além da explicitação do

conhecimento tácito destes profissionais como condição essencial para a mudança da prática

docente.

Palavras chave: Ensino de química experimental, ensino de ciências, reflexão crítica.

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ABSTRACT

The teaching of science and in particular the teaching of Chemistry had been designed in a

utilitarian perspective. In the last decade with the development of the field of Education

Sciences, the tendency to adopt a broader perspective Science Education regarding to the

recovery of historical and social aspects that contribute to the formation of critical,

participatory and autonomous subjects has grown, preparing them to act more effectively in

society. Regarding to teacher training, in the 80s, a movement called “The reflective teacher "

which aims at training to operate in this new context has emerged . This movement is

characterized by the formation through reflection and questioning of tacit knowledge in order

to produce answers to the complex nature of problems found in professional action. Given

this scenario, how can we contribute to the continuing education of teachers of Chemistry,

encouraging reflection on their practice making them more aware and critical? To contribute

to the training of teachers, Federal University of Juiz de Fora promoted in 2011 the course

entitled: “O uso da experimentação no Ensino de Química”, which was the reference for this

investigation. Therefore, nineteen teachers who attended the course were the subjects of this

research. The methodology was qualitative, the theoretical principles of Collaborative

Research. Data analysis was based on the theoretical principles of “content analysis“. The

research was developed in two steps. In Step I, the survey of conceptions of teaching science

and the teaching of experimental Chemistry was performed and two teachers , P1 and P2 were

selected for Phase II , characterized by a process of individual reflection from the Cycle

reflection suggested by Smyth (1992 ) , consisting of four actions : describe , inform ,

confront , the rebuild. Observed in Phase I that teachers understand the teaching of science by

utilitarian bias, besides being dependent on educational planning their lessons books. In Phase

II, we conclude that critical reflection enabled P1 and P2, the awareness of their actions,

making room to be constituted as subjects and agents of change. Thus, we defend the critical

thinking as a way capable to contribute to closer ties between theory and practice, beyond the

explicit tacit knowledge of these professionals as essential for changing teaching practice

condition.

Keywords: Teaching experimental chemistry, science education, and critical reflection.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: CATEGORIAS DE RESPOSTAS PARA O PRÉ-TESTE REFERENTE À PERGUNTA: “POR QUE

ENSINAR CIÊNCIAS?”. ......................................................................................................... 45

FIGURA 2: CATEGORIAS DE RESPOSTA PARA O PÓS-TESTE REFERENTE À PERGUNTA: “POR QUE

ENSINAR CIÊNCIAS?”. ......................................................................................................... 45

FIGURA 3: CATEGORIA DE RESPOSTA PARA O PRÉ-TESTE REFERENTE A PERGUNTA: QUAL

MATERIAL VOCÊ UTILIZA PARA PREPARAR SUA AULA? ....................................................... 49

FIGURA4: CATEGORIA DE RESPOSTA PARA O PÓS-TESTE REFERENTE A PERGUNTA: QUAL

MATERIAL VOCÊ UTILIZA PARA PREPARAR SUA AULA? ....................................................... 49

FIGURA 5: CATEGORIAS DE RESPOSTAS PARA O PRÉ-TESTE DA TURMA B REFERENTE À

PERGUNTA: “QUAL O PAPEL DA EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA?”. .................. 52

FIGURA 6: CATEGORIAS DE RESPOSTAS PARA O PRÉ-TESTE REFERENTE À PERGUNTA: “QUAL O

PAPEL DA EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA?”. .................................................... 52

FIGURA 7: MAPA ESPACIAL DA DISTRIBUIÇÃO DOS GRUPOS DE ALUNOS NA AULA EXPERIMENTAL

DA PROFESSORA P1. ........................................................................................................... 59

FIGURA 8: MAPA ESPACIAL DOS GRUPOS DE ALUNOS NA AULA EXPERIMENTAL DO PROFESSO P2.

........................................................................................................................................... 60

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: RESPOSTAS DOS PROFESSORES P1 E P2 PARA A AÇÃO DE DESCREVER. ..................... 61

TABELA 2: RESPOSTAS DOS PROFESSORES P1 E P2 PARA A AÇÃO DE INFORMAR. ....................... 65

TABELA 3: RESPOSTAS DOS PROFESSORES P1 E P2 PARA A AÇÃO DE CONFRONTAR .................. 71

TABELA 4: RESPOSTAS DOS PROFESSORES P1 E P2 PARA A AÇÃO DE RECONSTRUÇÃO ............... 78

TABELA 5: AÇÃO DE DESCREVER, RESPOSTAS PARA OS PROFESSORES P1 E P2 .......................... 91

TABELA 6: AÇÃO DE INFORMAR, RESPOSTAS PARA OS PROFESSORES P1 E P2 ............................ 92

TABELA 7: AÇÃO DE CONFRONTAR, RESPOSTAS PARA OS PROFESSORES P1 E P2 ....................... 93

TABELA 8: AÇÃO DE RECONSTRUIR, RESPOSTAS PARA OS PROFESSORES P1 E P2 ....................... 94

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEB Câmara de Educação Básica

CFE Conselho Federal de Educação

CNE Conselho Nacional de Educação

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

DCN Diretrizes Curriculares Nacionais

ENADE Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

ENEQ Encontro Nacional de Ensino de Química

GEDUQ Grupo de Estudos em Ensino de Química - UFJF

IES Instituições de Ensino Superior

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação

PEQ Pesquisa em Ensino de Química

Pism Programa de Ingresso Seletivo Misto

PNE Plano Nacional de Educação

Prouni Programa Universidade para Todos

P1e P2 Professores que responderam o questionário

Reuni Programa de Apoio e Planos de Restauração e Expansão das Universidades Federais

SEEMG Secretária Estadual de Educação de Minas Gerais

SRE Superintendência Regional de Ensino

UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora

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LISTA DE ANEXOS

Anexo I: Cronograma desenvolvido pelo curso de formação continuada.

Anexo II: Orientações apresentadas aos professores P1 e P2, como ferramenta mediadora para

a reflexão individual.

Anexo III: Roteiro Final.

Anexo IV: Observações aos professores P1 e P2.

Anexo V: Ferramenta utilizada pelos professores para avaliação do roteiro.

Anexo VI: Termo de Consentimento e de Assentimento.

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO: RESUMO EXPANDIDO ............................................................................... 17

1.1. META REFLEXÃO ......................................................................................................................... 19

2. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 21

2.1. O MOVIMENTO “O PROFESSOR REFLEXIVO”, PENSANDO ALGUNS REFERENCIAIS .............. 25

3. OBJETIVOS .......................................................................................................................... 34

4. METODOLOGIA ................................................................................................................... 35

4.1. CONTEXTO DA PESQUISA ...................................................................................................... 35

4.2. SUJEITOS DA PESQUISA ......................................................................................................... 36

4.3. CONSTRUÇÃO DOS DADOS E DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DA PESQUISA.................................. 37

Etapa I: Levantamento das concepções sobre experimentação e das justificativas para o ensino

de ciências ......................................................................................................................................... 37

Etapa II: Processo de reflexão individual ......................................................................................... 38

Etapa III: Processo de reflexão coletiva ........................................................................................... 40

4.4. ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................................. 41

4.4.1. Pressupostos teóricos da Analise de Conteúdo ............................................................... 41

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO DAS CONCEPÇÕES SOBRE EXPERIMENTAÇÃO E AS JUSTIFICATIVAS

PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS – ETAPA I ....................................................................................... 44

5.1. AS JUSTIFICATIVAS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS ................................................................. 44

5.2. RECURSOS PARA O PLANEJAMENTO DE AULAS .................................................................... 48

5.3. O PAPEL DA EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA ................................................... 51

5.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A ETAPA I ........................................................................... 55

6. RESULTADOS E DISCURSSÃO DO PROCESSO DE REFLEXÃO CRÍTICA INDIVIDUAL – ETAPA II .... 57

6.1. OS SUJEITOS E A DEFINIÇÃO DAS AULAS .............................................................................. 57

6.1.1. Convite ao processo reflexivo .......................................................................................... 57

6.1.2 Filmagem da aula experimental ....................................................................................... 58

6.1.2. a Aula da professora P1 ................................................................................................... 59

6.1.2. b Aula do professor P2 .................................................................................................... 59

6.2. AÇÃO REFLEXIVA CRÍTICA INDIVIDUAL DOS PROFESSORES P1 E P2 ..................................... 60

6.3. REFLEXÃO INDIVIDUAL DOS PROFESSORES P1 E P2 À PARTIR DAS QUATRO AÇÕES DO CICLO

DE SMYTH .......................................................................................................................................... 60

6.3.1. O Descrever ....................................................................................................................... 61

6.3.2. O Informar......................................................................................................................... 65

6.3.3. O Confrontar ..................................................................................................................... 71

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6.3.4. O Reconstruir .................................................................................................................... 78

6.4. APROFUNDANDO A DISCUSSÃO ACERCA DOS TEMAS QUE SURGIRAM NA ETAPA II, NO

PROCESSO DE REFLAXÃO INDIVIDUAL DE P1 E P2, HIPÓTESES E RESULTADOS ............................... 83

6.4.1. Primeiro grupo de categorias: teórico/pedagógica e o desenvolvimento profissional . 83

6.4.2. Segundo grupo de categorias: Contextualização, Cotidiano e Conteúdo Programático 90

6.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A ETAPA II .......................................................................... 97

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 100

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 103

ANEXOS.................................................................................................................................... 107

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1. APRESENTAÇÃO: RESUMO EXPANDIDO

Façamos de maneira, que como as

pedras preciosas, nossa vida valha

não por sua duração, mas por seu

peso. Mede a duração da tua vida:

não cabe nela muita coisa.

Lúcio Sêneca (3a.C. – 65 d.C.)

O Capitulo 1 corresponde a um resumo expandido que tem por objetivo favorecer o

leitor, apontando os principais tópicos discutidos em cada capítulo desta dissertação.

O Capítulo 2, Introdução, contém uma revisão teórica acerca das perspectivas

contemporâneas do ensino de ciências, do ensino de química experimental e do referencial

teórico “O professor reflexivo”. Demonstrando como este referencial teórico influenciou um

movimento de escala mundial na década de 80, apontando tendências e necessidades de

mudanças no que tange a formação inicial e continuada de professores.

O Capítulo 3 traz o objetivo geral e específico desta pesquisa. Destacando o objetivo

geral: “Como a ação reflexiva crítica contribui para a formação continuada de professores

de química, tornando-os mais conscientes e críticos acerca de sua prática docente.”.

O Capítulo 4 descreve a metodologia de pesquisa. Sendo assim, optamos por uma

pesquisa Colaborativa (IBIAPINA, 2008) e pelo Ciclo de reflexão descrito por Smyth (1992),

que apresentamos neste capítulo de forma detalhada. Neste sentido, fizemos uma narrativa do

contexto desta pesquisa, bem como dos sujeitos que participaram do processo de construção

dos dados desta pesquisa. Optamos por dividir a pesquisa em duas Etapas distintas,

denominadas Etapa I e II. A Etapa I ocorreu durante o curso de formação continuada,

promovido pela UFJF no segundo semestre de 2011, os professores participantes deste curso

são os sujeitos desta pesquisa. A Etapa II ocorreu após este curso de Formação Continuada,

onde procedemos com o Ciclo de Reflexão de Smyth (1992). Neste capítulo discutimos e

apresentamos as quatro ações que definem o ciclo de reflexão proposto por Smyth: o

descrever, o informar, o confrontar e o reconstruir. Ao finalizar este capítulo apresentamos e

justificamos o referencial teórico que utilizamos para analisar os dados construídos nas Etapas

I e II, optamos pela Análise de Conteúdo (FRANCO, 2006).

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O Capítulo 5 apresenta os resultados e discussão da Etapa I. Neste sentido,

discutimos as concepções sobre experimentação e as justificativas para o ensino de ciências

dos professores que participaram do curso de formação continuada. Esta construção de dados

foi elaborada a partir da análise das respostas apresentadas por estes professores a um

questionário apresentado a eles no formato de um pré-teste e um pós-teste. Está discussão

proporcionou a nós pesquisadores um perfil deste grupo de professores acerca das suas

perspectivas teóricas relativas ao ensino de Ciências e o ensino de química experimental. Este

perfil foi utilizado para compor um plano de fundo, denominado unidade de contexto

(FRANCO, 2006). Assim sendo, favorecendo a produção de inferências no texto construído

na Etapa II desta pesquisa. Adicionalmente, está Etapa I, possibilitou a construção do

processo de seleção dos professores, que culminou no convite de dois professores, que

denominaremos P1 e P2 a participarem da segunda etapa desta pesquisa. Por fim, fizemos

nossas considerações finais desta Etapa de pesquisa.

O Capítulo 6 apresenta os resultados e discussão da Etapa II, referente ao ciclo de

reflexão proposto por Smyth (1992), que denominamos reflexão crítica individual dos

professores P1 e P2, bem como a estrutura de construção desta Etapa, como o processo de

construção de um vídeo aula para os professores P1 e P2 que contribuiu para a reflexão destes

professores. Apresentamos as respostas dos professores as ações: o descrever, o informar, o

confrontar e o reconstruir a partir da proposta da Professora/pesquisadora Ibiapina (2008) e as

inferências que apresentamos a este texto com base nos referenciais apresentados ao longo

desta discussão. Neste sentido, consideramos dois grandes grupos de categorias de respostas

que surgiram ao longo do texto analisado decidimos aprofundar a discussão no item 5.4 com o

aporte teórico de Zeichner (1992, 2008), Magalhães (2008), Paulo Freire (2010), Maldaner

(2006) e Mortimer (1996). Por fim, fizemos nossas considerações finais desta Etapa de

pesquisa.

O capitulo 7 construímos nossas considerações finais e as perspectivas futuras para

este trabalho.

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1.1. META REFLEXÃO

Um dos desejos fundamentais de

todo homem é conseguir uma

crescente integração de todos os

dinamismos de sua vida consciente,

subconsciente e inconsciente. (...). A

viagem mais longa e perigosa que o

homem faz não é para a lua ou para

outros astros, mas para dentro de si

mesmo, em busca de um centro que

tudo atraia, polarize e harmonize.

Leonardo Boff

Sou professor da Educação Básica há aproximadamente 20 anos. Iniciei minha

atividade docente ainda quando cursava o primeiro período do curso de Licenciatura e

Bacharelado do departamento de química da UFJF, no ano de 1993.

Durante esses anos lecionei química em escolas particulares e públicas, no “Ensino

Regular”, “Ensino de Jovens e Adultos” e “Pré-vestibular”, passando pelo cargo de vice-

diretor da Escola Estadual Duque de Caxias nos anos de 2003 à 2005, onde estabeleci contato

com o processo administrativo desta escola pública. Acumulei longas jornadas de trabalho

semanais, dois a três turnos de trabalho em sala de aula.

Construí durante a minha formação inicial conhecimentos específicos e pedagógicos

que pouco a pouco se tornavam antagônicos ao meu cotidiano profissional, de maneira geral,

os “conteúdos que me ofertaram” durante a formação inicial, se opunham a minha prática de

ensino, às vezes por incerteza de seu suposto sucesso, às vezes por questionamento dos

diretores das escolas em que tive a oportunidade de trabalhar, mas, sobretudo, pela ausência

de uma reflexão crítica acerca do processo de ensino-aprendizagem. Com o passar dos anos,

após erros e acertos, estabeleci um planejamento de curso que visava compreender os

conteúdos do ensino de química que eram abordados pelo vestibular da UFJF.

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No ano de 2003, fiz um curso de especialização em Educação Ambiental, promovido

pelo departamento de educação da UFJF. Após este curso de formação continuada, surgiram

algumas ideias, que pude colocar em prática, no ano de 2004, em uma escola particular, como

projeto de extensão. Estabelecemos, em extra turno, um curso interdisciplinar com a

perspectiva de Formação Ambiental. Este curso trazia uma proposta dialógica onde alunos do

ensino médio, professores e palestrantes convidados, dialogavam acerca de temas

previamente estabelecidos. A carga horária disponibilizada pela escola para este projeto foi de

duas horas aula semanais, no período de um ano. O resultado foi satisfatório, culminando com

a apresentação de um seminário no final do ano pelos alunos que participaram do curso.

Logo após este ano iniciei atividade docente em um curso Pré-vestibular em Juiz de

Fora, que me exigiu grande esforço e um número elevado de horas/aulas, somado ao meu

cargo efetivo no Estado de MG, totalizavam três turnos de trabalho, no período de 2005 a

2012.

No primeiro semestre de 2011, fiz o curso promovido pela UFJF, retomando contato

com os professores do departamento de química, foi quando surgiu a oportunidade de fazer

esta Pós-Graduação na área de ensino de química. Aproveitei esta chance e compartilho com

vocês o trabalho que realizei durante estes últimos anos.

Neste sentido, ao longo desta pesquisa, tive a oportunidade de vivenciar minhas

angustias, frustrações, alegrias e saberes, na fala dos sujeitos desta pesquisa. Observei no

outro a minha fala e pude refletir individualmente e coletivamente a minha prática docente.

Ao dialogar com P1 e P2, tive a oportunidade de realizar o descrever, o informar, o confrontar

e o reconstruir da minha própria prática docente. Compartilhando as minhas leituras e

reflexões neste texto com o meu orientador, estava gradativamente refazendo as minhas

perspectivas teóricas acerca dos processos que envolvem o ensino-aprendizagem. Processo

este que se deu de forma lenta e gradativa, aprendendo as regras do jogo ao longo do jogo,

observando e dialogando com os outros em seus fazeres.

Portanto, abre-se espaço para as minhas futuras indagações acerca dos objetivos do

ensino formal e o papel da escola como formadora de opinião, ou seja, formadora de sujeitos

(professores e alunos) crítico, autônomos e participativos.

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2. INTRODUÇÃO

Ninguém liberta ninguém, ninguém

se liberta sozinho: os homens se

libertam em comunhão.

Paulo Freire

Conceber a química enquanto componente da matriz cultural-existencial em que

estamos inseridos, ou seja, de um sistema constituído por instituições socioculturais, implica

em considerar a química, e de maneira mais ampla a própria ciência, com seus saberes,

práticas e produtos, com as suas implicações diretas sobre o nosso cotidiano. Logo, a ciência

contribui com seus diversos saberes tanto em nossa vida doméstica como em nossa sociedade,

ou seja, na comunidade em que estamos inseridos, produzindo efeitos em nossa conduta,

determinadas por escolhas socioculturais, políticas e econômicas. Neste cenário, temos a

ciência como aliada na construção de caminhos que possibilitam a busca de soluções para

algumas das questões que afetam o desenvolvimento crítico de nossa civilização. No caso

específico da química temos a produção de novos medicamentos e agroquímicos, por

exemplo, que de certa forma, podem contribuir dependendo de seu uso, para a solução de

problemas ou para o desenvolvimento de novos problemas. Sendo neste sentido, uma questão

de escolha e utilização consciente e ética destes conhecimentos.

Para Leal, “O grau de presença de ciência e tecnologia em nossas vidas na

contemporaneidade traz à cena a importância de que o ensino de química envolva discussões

éticas e considere a correlação entre tomadas de decisão.” (LEAL, 2010, p.34).

Segundo Millar (2003), o ensino de ciências vem passando por profundas

modificações no que diz respeito aos seus objetivos, de maneira que para uma minoria dos

jovens que buscam no ensino universitário os cursos das ciências naturais e suas aplicações, o

ensino de ciências na Educação Básica, corresponde aos primeiros ensaios de sua formação

científica. Entretanto, para a grande maioria, esta etapa corresponde ao término de sua

educação formal. Neste sentido, uma vez que o ensino de ciências é parte da Educação

Básica, deveria corresponder a uma etapa importante de sua formação para a vida,

favorecendo a constituição de cidadãos críticos, autônomos e participativos, conforme

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destacado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997). Sendo assim, compreendemos que

um dos objetivos do ensino de ciências deveria ser o de desenvolver habilidades para a

tomada de decisão, o que exige um vínculo entre o conteúdo administrado em sala de aula e o

contexto social vivenciado pelos estudantes. Logo, acentuamos que entre os objetivos que

apontamos como importantes para o ensino de ciências estão as contribuições de um olhar

diferenciado para o mundo, com uma metodologia específica, construída em dialética com o

mundo em um contexto historicamente situado com a finalidade de produzir cultura.

Nesta direção, apontamos Lima, Aguiar e Braga (2000), que reafirmam o ensino de

ciências no que diz respeito a produção de cultura e, portanto, “(...) aos mecanismos que

tornam relevantes certos saberes de uma dada sociedade, ao conjunto de suporte necessário

para que possam ser apreciados e examinados pelas novas gerações” (p.92). Portanto, levam

em consideração que aprendizagem envolve “esforço, disponibilidade e abertura para rever

novos pontos de vista e elaborar novos significados” (p.92), partindo dos conhecimentos

prévios de nossos alunos. Sendo assim:

“Muito se tem falado na mudança de foco, antes centrado num sujeito ativo,

para as relações do sujeito com o mundo, isto é, um sujeito agora interativo.

Assim, a partir de uma perspectiva sociointeracionista, as questões

pedagógicas passam a ser compreendidas a partir de outro referencial. O

papel do professor e dos discursos argumentativos são novamente postos em

evidência sem, contudo, significar uma volta ao ensino baseado nos

processos de transmissão.” (LIMA, AGUIAR, BRAGA, 2000, p.91).

Observamos, portanto, uma mudança de paradigma em relação aos objetivos do

ensino de ciências para além da memorização de conhecimentos específicos, em direção a

construção de competências para a argumentação e racionalização crítica para a tomada de

decisões por parte de nossos alunos diante de situações problemas encontradas em seu

cotidiano.

Quanto à importância do ensino de ciências, Millar (2003) desenvolve sua defesa

com base em cinco argumentos, a saber: o econômico, o utilitário, o democrático, o social e o

cultural e aponta para a necessidade de um currículo mínimo que contemple o conhecimento

científico substantivo, a compreensão dos métodos de investigação usados em ciência e a

compreensão da ciência como um empreendimento social. Portanto, a argumentação da

utilidade dos conhecimentos científicos sugere um olhar tecnológico, ou seja, subsidiar os

alunos na compreensão das novas tecnologias e sua evolução. A argumentação democrática

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alerta no sentido de despertar os alunos para a compreensão das ideias fundamentais que

proporcionam uma base para o aprendizado de conceitos específicos quando estes forem

necessários. Por fim, os argumentos cultural e social apresentam uma visão de ciências como

um processo social, conduzido dentro de estruturas culturais e institucionais historicamente

constituídas apresentando questões de investigação que dizem respeito ao papel das interações

sociais em sala de aula, enfatizando-se a necessidade de olharmos para a cognição como um

fenômeno social e historicamente situado (Trindade, 2010), visando romper com as práticas

usuais do ensino conteudista, adotando uma perspectiva contemporânea em educação.

No que diz respeito a formação de professores, quais são os saberes docentes

necessários para a formação dos educadores de ciências, de forma que atendam aos objetivos

discutidos? Em especial, para os professores de química.

De acordo com Carvalho e Gil-Pérez (2009), a formação de professores de ciências

envolve a construção dos seguintes saberes:

(...) conhecer a matéria a ser lecionada; conhecer e questionar o

pensamento docente espontâneo; adquirir conhecimentos teóricos sobre a

aprendizagem e aprendizagem de ciências; crítica fundamentada no ensino

habitual; saber preparar atividades; saber dirigir a atividade dos alunos; saber

avaliar, utilizar a pesquisa e a inovação. (CARVALHO e Gil-PÉREZ, 2009,

p.19, grifo nosso).

Logo, são saberes que deveriam ser construídos pelos educadores em ciências ao

longo de sua formação inicial e continuada e serão abordados nesta pesquisa. Dentre os

saberes destacados por Carvalho (2009), o saber docente espontâneo, conforme discutido em

nosso grupo de pesquisa (GEEDUQ, UFJF), merece um olhar diferenciado, devido à

dificuldade mostrada pelos professores em superá-los, uma vez que foram construídos ao

longo de toda a trajetória escolar, apresentando grande resistência a mudanças. Para Silva

Junior (2014), o saber docente espontâneo é definido como sendo: “(...) um saber construído

durante a experiência escolar, constituído por concepções de senso comum sobre a atuação

docente, elaboradas a partir do olhar enquanto estudante, e que se caracterizam pela

aceitação ou rejeição de práticas de antigos professores de forma não refletida.”.

Portanto, no ensino de química o pensamento docente espontâneo pode ser percebido

quando analisamos a visão dos docentes sobre o papel da experimentação na Educação

Básica, onde, de fato, existe uma ideia muito forte por parte dos professores, de que as

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atividades experimentais em sala de aula são imprescindíveis para o melhor rendimento do

processo de ensino-aprendizagem. Esta concepção ocorre predominantemente durante a

Formação Inicial, devido a longa vivência dos licenciandos em atividades experimentais onde

na maioria das vezes, a concepção da aula prática tem como foco principal a comprovação de

conteúdos já discutidos em sala de aula. Sendo assim, tal discussão se apresenta sem uma

problematização adequada acerca do papel da experimentação na Educação Básica.

Neste sentido, Silva (2008) ao investigar professores de química na rede pública de

ensino, da cidade de Campo Grande (MS), identificou que 41,4% dos professores relataram

que a falta de um laboratório específico para o ensino de química corresponde a uma

dificuldade para o ensino da disciplina. Concluindo que: “A falta de laboratórios de Química

nas escolas foi apontada como uma dificuldade geral no ensino de Química (...)”. (SILVA,

2008).

Esta concepção ainda é comum entre professores que apresentam como justificativa

para suas aulas experimentais “vivenciar o processo de encontrar fatos por meio da

investigação, chegando a seus princípios e verificar fatos e princípios estudados anteriormente

(Galiazzi 2001, p.252)”. Observa-se, ainda, que muitas vezes os professores de química

realizam práticas experimentais para:

(...) estimular a observação acurada e registro cuidadoso dos dados;

promover a compreensão do Método Científico de pensamento; desenvolver

habilidades manipulativas; treinar em resolução de problemas; motivar e

manter o interesse na disciplina; tornar os fenômenos mais reais.

(GALIAZZI, 2001, pg. 252).

No entanto, contrapondo-se a esta ideia apresentada pelos professores, apontados

por Galiazzi, concordamos que o desenvolvimento de atividades manipulativas, por exemplo,

não são habilidades essenciais para a formação de cidadãos críticos e autônomos, de acordo

com os PCN (Brasil, 1997). Por outro lado, as atividades experimentais deveriam desenvolver

atitudes e destrezas cognitivas que estimulassem o pensamento crítico e questionador, e não

apenas destrezas manuais ou técnicas. Dessa forma, deveria estimular o diálogo entre os

participantes da aula, favorecendo a argumentação e até mesmo, em ultima instância, a

renúncia de ideias, de forma semelhante ao que ocorre nos diálogos científicos. Assim sendo,

tal quadro aponta para a necessidade de ruptura com relação às práticas docentes

desenvolvido pelos professores de ciências e em especial os de química, que foram

construídas ao longo de suas vivências na escola básica, muitas das vezes não

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problematizadas ao longo da formação inicial, ou seja, sem uma reflexão crítica acerca deste

processo cognitivo. Portanto, características do pensamento docente espontâneo construído

por um processo de Formação Ambiental. (GALIAZZI, 2001; LEAL, 2010; TRINDADE,

201; LIMA, AGUIAR JUNIOR, BRAGA, 2000).

De fato, as pesquisas vêm mostrando que muitos professores encontram dificuldades

para solucionar problemas de sua prática docente e sequer percebem tais questões como

problemáticas. Assim, a formação continuada torna-se fundamental para a superação desta

realidade.

Neste sentido, Maldaner (2006) defende que:

(...) torna-se consensual a ideia de que ela [formação continuada] deve ser

contínua e continuada, muito além da graduação específica, mesmo em nível

superior, em processos institucionalizados e de contínua avaliação, nas mais

variadas formas de pesquisa e de investigação. (MALDANER, 2002, p. 17).

Contudo, “(...) Não se pode, no entanto, concordar com as medidas governamentais

tomadas, ao menos até aqui, pois elas têm muito de simplificação e improvisação! Muitas

vezes, por exemplo, são propostos simples cursos de “treinamento” de professores (...)”

(MALDANER, 2006, p.18), de fato, observa-se com grande frequência, que os cursos de

formação continuada ainda contribuem com processos de formação baseados na

“racionalidade técnica” 1. Uma das limitações deste processo é a formação de profissionais

pouco reflexivos e dependentes de seus livros didáticos, com pequena autonomia em sala de

aula.

2.1.O MOVIMENTO “O PROFESSOR REFLEXIVO”, PENSANDO ALGUNS

REFERENCIAIS

Desde o início dos anos 1990, percebe-se uma nova perspectiva teórica no meio

educacional denominada “O professor reflexivo”. Este movimento ganhou força na América

do Norte e se expandiu para outros países como Reino Unido, Austrália e Noruega, conforme

analisa Zeichner (1993). Nesta década, o termo ‘prático reflexivo’ tornou-se um slogan para

uma possível reforma do ensino e da formação de professores.

1 Para Ibiapina (2008), o processo de formação pela racionalidade técnica, é compreendido em duas fases. Na

primeira fase o professor em formação adquire conhecimento específico dos princípios, leis e teorias que explicam o processo de ensino-aprendizagem e a segunda fase consiste em um espaço de aplicação deste conhecimento adquirido na primeira fase. (p.59)

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Este movimento internacional foi considerado uma reação ao fato dos professores

serem considerados, pela sociedade, como técnicos que se limitam a fazerem o que os outros

lhes ditam de fora da sala de aula, ou seja, este é, segundo Pimenta (2008), Zeichner (2008) e

Maldaner (2006), um movimento construído pela rejeição de reformas educativas feitas de

cima para baixo, sem a participação dos professores, onde estes se limitavam a atuarem como

atores passivos no processo educacional.

Neste sentido, o movimento “O professor reflexivo” contribui para o reconhecimento

e valorização das ações desenvolvidas pelo professor, atribuindo a este um papel ativo na

formulação dos objetivos e valores de seu trabalho, bem como, destinando-lhes

responsabilidade para planejarem os meios necessários para alcançarem seus propósitos.

Portanto, “(...) reconhecendo que o ensino precisa voltar para as mãos dos professores (...)”

(ZEICHNER, 1993, p.16), ou seja, o ensino não pode ser considerado um projeto político

partidário. Tendo que se submeter, ao longo de campanhas políticas e das renovações dos

partidos nos governos: municipais, estaduais e federais, em função de suas bandeiras

partidárias, às alterações nos projetos políticos educacionais. Sendo que, em muitas vezes, não

há se quer conexões com as políticas dos governos anteriores. Observamos que tais mudanças

se dão de cima para baixo, verticalmente, sem a participação dos professores nas tomadas de

decisões. (GATTI, 2010; ZEICHNER, 2008).

Para Pimenta (2008), deve-se tomar cuidado para não confundirmos o adjetivo

“refletir” que é inerente da natureza humana, com a corrente teórica em educação, que possui

como objetivo a compreensão do trabalho docente. Sendo assim, há de se enfatizar que

existem diferenças entre o adjetivo e o conceito relativos a expressão o “professor reflexivo”,

estas diferenças podem ser observadas e esclarecidas, quando se faz uma leitura deste

movimento educacional. (PIMENTA, 2008, p.18).

O movimento “O professor reflexivo” assume a perspectiva que aponta o

reconhecimento de que a produção do conhecimento não é uma propriedade exclusiva das

Universidades e dos Centros de Investigações e Desenvolvimento e que os professores

possuem seus conhecimentos e podem contribuir para uma base codificada para as questões

relativas ao ensino. “O conceito de professor como prático reflexivo reconhece a riqueza da

experiência que reside na prática dos bons professores”. (ZEICHNER, 1993, p.17).

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Neste sentido, este movimento contrapõe-se ao processo de formação de professores

que se baseia na “racionalidade técnica”, ou seja, segundo Schön (1983), ao prevalecer a

“racionalidade técnica” nas ações humanas, os fins são definidos segundo a solução técnica

concebida para casos ideais, fora do contexto da prática, constituídos em laboratório. Aí se

usam todos os meios para atingir o fim, mesmo que o fim não se justifique no real.

Assim sendo, Maldaner (2006), descreve que existe uma crise de paradigma na

ciência moderna que influencia na formação de professores de ciências, não sendo possível

propor um modelo ideal de formação que venha preparar os futuros professores para

responder a todas as questões que a realidade subjetiva e complexa lhes subjugaram.

Maldaner (2006, p.34) propõe a seguinte questão para esta discussão: “Por que a ciência

moderna não conseguiu cumprir a sua promessa de resolver todos os problemas da

humanidade, excluindo grande número de pessoas do acesso aos bens tecnológicos que ela

proporcionou?”.

Sem negar as conquistas da ciência moderna, focamos bastante a crise em

que ela se encontra; crise no sentido de ter de tomar um rumo diferente ou

retomar o rumo que a ciência moderna traçara inicialmente. O grande

desenvolvimento tecnológico em que nos encontramos exige, sempre mais,

soluções que o sustentem. Essas são produzidas dentro das comunidades

científicas que, por sua vez, também exigem, sempre mais, o

desenvolvimento tecnológico. A consequência desse processo dialético é a

sobreposição de uma única racionalidade, a racionalidade instrumental ou

técnica. Isso tende a favorecer mais as soluções técnicas para os problemas

práticos da sociedade, que são, muitas vezes, inadequadas e criam problemas

maiores do que aqueles que deveriam ser solucionados (MALDANER, 2006,

p.34).

Portanto, o referencial teórico proposto por Schön (1983), em seu livro “O

profissional reflexivo”, defende a formação de uma nova epistemologia que se apoia na

prática profissional, sendo esta subjetiva, exigirá dos professores além de seus conhecimentos

específicos, também criatividade e intuição para a solução das questões que surgirem ao longo

de suas práticas profissionais. Segundo Schön (1992), as situações práticas são instáveis,

contemplam a complexidade, contêm alto grau de incertezas e permitem conflitos de valores.

Portanto, processos de formação reducionistas que se apoiam na “Racionalidade Técnica2”

2 Para Abbagnano (2012, p.963) epistemologicamente a racionalidade se caracteriza por diversos aspectos do

comportamento humano, no sentido em que a ação humana é calculada com base na eficácia dos meios

escolhidos em vista de um fim; as crenças, cuja formação e modificação com base na evidencia preside a decisão

racional; a elaboração sistemática da experiência através de princípios explicativos gerais. A moderna noção de

racionalidade técnica originou-se fora a filosofia, tornando-se objeto de indagação em disciplinas como

economia e sociologia. As definições e conceitos de racionalidade social, racionalidade instrumental ou

racionalidade técnica, racionalidade e matematização da natureza, racionalidade e pensamento calculante,

racionalidade e método científico, racionalidade neo-empirista e racionalidade científica, são originados ao longo

da evolução teórica da própria história das ciências. As diversas concepções de racionalidade são consideradas

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não possibilitam uma formação que contemplem tais subjetividades inerentes de nosso

cotidiano.

Neste sentido, Schön (1992) propõe a construção do conhecimento com a prática

profissional por meio da reflexão e problematização do conhecimento tácito3 para a produção

de respostas às questões encontradas durante a ação profissional. Assim sendo, há uma

valorização do conhecimento produzido na ação e a formação profissional continuada é

fundamentada em uma perspectiva da epistemologia da prática.

Porém, o conhecimento na ação corresponde a um conhecimento tácito, que é

inerente a prática desta ação profissional, portanto não a precede. Logo, esta proposta de

ensino caracteriza-se como uma crítica ao modelo de formação de professores que tem por

base uma perspectiva da racionalidade técnica. Favorecendo um modelo de formação que

proporciona o desenvolvimento de habilidades que capacitem este profissional a “atuar em

condições singulares, instáveis e incertas, carregadas de conflitos e dilemas que caracteriza o

ensino como prática social em um contexto historicamente situado”. (PIMENTA e GHEDIN,

2008, pg.21).

Portanto, o conceito de “ensino reflexivo4” está diretamente atrelado ao fato de que

se não dermos atenção para a realidade cotidiana de nossas escolas de maneira adequada,

poderemos ocorrer no erro de aceitarmos de maneira ingênua soluções para problemas que

outros definiram em nosso lugar, ou seja, para Zeichner (1993), os professores que não

refletem sobre o seu ensino aceitam naturalmente a realidade cotidiana de suas escolas, neste

sentido:

(...) perdem muitas vezes de vista as metas e os objetivos para os quais

trabalham, tornando-se meros agentes de terceiros. Existe mais de uma

maneira de abordar um problema. Os professores não reflexivos aceitam

automaticamente o ponto de vista normalmente dominante numa dada

situação. (ZEICHNER, 1993, p.18).

por Harbemas apud Abbagnano (2012) como uma “crítica total a razão”, em que as várias formas de

racionalização social e cultural estariam voltadas para o único fim de constituir um sistema de controle e

domínio cerrado e inatacável, sendo assim, o racionalismo é utilizado a partir do século XVII sendo construído a

partir de um novo olhar para o mundo nos princípios das ciências positivista. 3

Para Zeichner (1992) ao se referir as definições de Schön para o conhecimento tácito, temos: “(...)

reconhecimentos e julgamentos que sabemos levar a cabo espontaneamente; não temos de pensar neles antes ou

durante a sua realização. Muitas vezes, nem temos consciência de que os aprendemos [conhecimento tácito], mas

damos conosco a fazê-los (...)” (p. 21). Para nós o “conhecimento tácito” é o conhecimento pedagógico não

refletido construído ao longo da prática profissional diferenciando-se do “pensamento docente espontâneo”. 4 Para Zeichner (1993, 2008) é a medida que se dá, enquanto professores, na direção de um ensino com metas as

quais trabalhamos de forma consciente, ou seja, por outro lado, em que medida nossas ações são orientados pelos

outros, ou por impulsos, ou por convenções, ou por autoridade. (1993, p.20)

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Neste contexto apresentado por Zeichner (1993, 2008) e compartilhado por Pimenta

(2008), Maldaner (2006) e Ibiapina (2008), podemos considerar que reflexão pode ser

compreendida como um processo ativo que implica uma persistente e cuidadosa consideração

acerca do que se acredita, contrapondo-se aos princípios dominantes, que se julgam opostos

aos princípios éticos ao qual se pratica à luz dos motivos que os justificam e das

consequências a que os conduz.

Sendo assim, quais seriam as atitudes necessárias a um professor reflexivo? Como

poderíamos identificar um professor suscetível ao processo de reflexão? Ao interpretar Dewey

(1933), Zeichner (1993, 2008) define três atitudes necessárias para a ação reflexiva:

A primeira é a “abertura do espírito” (ZEICHNER, 1993, p.18), esta atitude está

relacionada ao desejo de ouvir e a abertura ao novo, a consciência de que necessitamos

aprender e reaprender sempre, admitindo que a nossa opinião consista em uma possibilidade

entre várias outras, sendo assim, estar disposto a admitir a possibilidade de erro, mesmo

naquilo que acreditamos com mais força.

A segunda é a “responsabilidade” (ZEICHNER, 1993, p.18), esta atitude está

relacionada a ponderação cuidadosa de nossas ações. Para Zeichner esta ação implica em três

consequências para o ensino:

Consequências pessoais: o efeito do seu ensino nos autoconceitos dos

alunos.

Consequências acadêmicas: os efeitos do seu ensino no desenvolvimento

intelectual dos alunos.

Consequências sociais e políticas: os efeitos do seu ensino na vida dos

alunos. (p.18)

A terceira é a “sinceridade”, esta atitude está relacionada com a ação das duas

atitudes anteriores. Estar disposto a rever constantemente a sua prática em função de seus

objetivos e valores. Questionar e estar aberto para ser questionado, pois, como diria Freire

(2012, p.57) “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam

em comunhão”.

Portanto para Schön (1983), a reflexão é um processo que pode ocorrer antes ou

depois da ação, sendo possível ocorrer até durante a ação, os profissionais práticos reflexivos

possuem uma dinâmica reflexiva in loco. Schön a denomina reflexão na ação. Transpondo

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este conceito para o ensino, poderíamos afirmar que “o professor reflexivo” analisa seu ensino

tanto na ação como sobre ela. Schön denomina estes dois conceitos como reflexão na ação e

sobre a ação.

Há de se levar em consideração quatro aspectos negativos, segundo Zeichner (2008),

no processo reflexivo para a formação inicial e continuada de professores, que deveriam ser

evitados, se pensarmos em uma formação reflexiva como prática emancipatória. Entre elas

citamos as principais críticas propostas ao movimento por Zeichner:

Em primeiro lugar, como já referi antes, concentram-se muitas vezes

esforços a ajudar os professores a imitarem melhor as práticas sugeridas por

investigações que outros conduziram (...).

A persistência da racionalidade técnica sob a bandeira da reflexão (...).

Há um movimento do ensino reflexivo no ensino e na formação de

professores é a tendência para se centrar a reflexão dos professores na sua

própria prática ou nos seus alunos, desconsiderando qualquer consideração

das condições sociais do ensino (...).

Um aspecto final relacionado de muito perto com grande parte do trabalho

do movimento para o ensino reflexivo é a insistência na reflexão dos

professores individuais, que devem pensar sozinhos sobre o seu trabalho.

(p.23)

Para Maldaner (2006), além das críticas já mencionadas por Zeichner (2008), há de

se levar em consideração que ausência de referenciais teóricos no processo de reflexão leva a

um empobrecimento do processo reflexivo individual ou coletivo.

Uma das principais consequências deste isolamento dos professores e da pouca

atenção ao contexto social do ensino é a de acreditarem que os seus problemas relacionados a

sua sala de aula são exclusivamente seus o, que conduz com muita frequência a um stress

emocional e ao esgotamento profissional. Compartilham desta conclusão Zeichner (1992,

2008), Pimenta (2008) e Maldaner (2006).

Contrapondo-se a este contexto, ou seja, ao isolamento do professor, Ibiapina (2008),

propõe que “o homem não nasce reflexivo ele aprende a refletir na medida em que interage

com o meio natural. No processo de seleção das informações transmitidas no contexto sócio-

histórico (...)”.

Neste sentido, Zeichner (2008) afirma que a ideia de um processo de formação de

“práticos reflexivos” se dá muito antes da publicação de “O profissional reflexivo” (SCHÖN,

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1983), pesquisadores como Freire (1968), Dewey (1933) deram grandes contribuições para

este movimento.

Podemos citar entre as principais contribuições da obra de Freire (1968), a existência

de uma constante preocupação deste pesquisador com o diálogo entre os diversos atores

envolvidos no processo ensino-aprendizagem e uma atenção constante no contexto social em

que o ensino está inserido. Justificando, portanto, uma contra posição ao isolamento do

professor no processo de reflexão sobre a sua prática de ensino.

Para Freire (2012, p.18), “A verdadeira reflexão crítica origina-se e dialetiza-se na

interioridade da “práxis” constitutiva do mundo humano (...)”, ou seja, Freire aponta para um

caminho de formação construído com o professor e não para ele, ou seja, a mediação e o

diálogo entre professores e formadores devem ser uma “práxis”. Contudo, esta “práxis”, se

constitui na “(...) reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo” (FREIRE,

p.43).

Sendo assim, Freire (2012), Zeichner (1993, 2008), Ibiapina (2008), Pimenta (2008)

e Maldaner (2006), apontam para um movimento de reflexão coletivo, ou seja, com a

finalidade de proporcionar uma maior abrangência possível entre os diversos sujeitos

envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, favorecendo o diálogo que visa a reflexão

como prática para a transformação das desigualdades sociais e políticas na comunidade

escolar, com caráter de coletividade, motivando os diversos sujeitos envolvidos no direito de

se manifestarem criticamente acerca de suas perspectivas sociais, políticas e econômicas,

priorizando a autonomia e responsabilidade do educador/educando, trazendo de volta a

relevância do professor para o direcionamento de sua “práxis”, fortalecendo os processos de

formação continuada e minimizando os “achismos” ou concepções de “senso comum” no

processo de ensino-aprendizagem.

Neste sentido, como apresentado por estes referenciais teóricos, o movimento “O

professor reflexivo” reforça laços entre a comunidade acadêmica e Educação Básica

respeitando os diversos saberes e conhecimentos produzidos em ambos os níveis de ensino,

propondo o estreitamento entre a academia e a escola básica como uma possibilidade de

fortalecimento destas instituições no que tange a formação inicial e continuada de professores.

Sendo assim propomos este estreitamento através da “pesquisa participativa ou colaborativa”

(IBIAPINA, 2008).

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Portanto, como poderíamos contribuir para a formação dos professores de ciências,

em especial os de química, de forma a favorecer o pensamento crítico e a reflexão? Para

Ibiapina (2008), os professores precisam refletir sobre suas ações, sobre os pressupostos

teóricos, os valores e suas condições de trabalho; sobre os fatores que interferem em sua

prática educacional, buscando sua autonomia profissional. Sendo assim, para Ibiapina a

reflexão:

(...) abre espaços para construções de praticas sociais mais abrangentes e

complexas, já que evita pensamentos e ações reducionistas. Nesta direção, a

reflexão é atividade mental movida por necessidade (motivo) e orientada por

um objetivo sendo mediada pelos outros, pelos instrumentos e pelos signos.

Ela ocorre no plano mental e simbólico, intrapsicológico, embora seja

originária das inter-relações sociais, isto é, das relações interpessoais.

(IBIAPINA, 2008, p.71).

De acordo com Liberali (2004), existem três níveis de reflexão, a saber: a reflexão

técnica, a reflexão prática e a reflexão crítica. Abordaremos a reflexão crítica por estar

relacionada com o desenvolvimento de habilidades e competências que possibilitam uma

maior autonomia e emancipação aos sujeitos envolvidos neste processo.

Reflexão crítica, (...). Neste nível, as questões ponderam sobre que objetivos

educacionais, experiências e atividades levam a formas de vida preocupadas

com justiça, igualdade e realizações concretas. Além disso, localiza as

análises de ações pessoais em contexto histórico-sociais mais amplos. O

interesse aqui está centrado em resolver as contradições dos dois outros tipos

de reflexão em direção a uma maior autonomia e emancipação para os

praticantes. (LIBERALI, 2004, p. 89).

Neste sentido, segundo Fernandez, Lopes e Bonardo (2008) existem três formas de

reflexão para Schön (1983), a saber:

I) reflexão-na-ação, reflexão individual que pressupõe a identificação e

solução rápida de problemas imediatos para tomada de ações; II) reflexão-

sobre-a-ação, reflexão individual ou coletiva que ocorre antes ou depois da

ação num processo sistemático de deliberação de futuras ações, e III)

reflexão-acerca-da-ação, reflexão que pressupõe a tomada de decisões a

partir de uma postura mais ampla e crítica envolvendo questões de natureza

moral, ética, política e instrumental. Nesses processos de reflexão, os

profissionais aprendem a partir da análise da sua própria atividade (...).

(p.146).

Além da questão da reflexão individual, alguns autores como Maldaner (2006),

Zeichner (1993, 2008) e Delizoicov (2004), defendem a importância da reflexão sobre a

prática docente de forma coletiva nos cursos de formação de professores, tendo como uma de

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suas responsabilidades, fortificar as ações coletivas do grupo, proporcionando um maior

diálogo entre os diferentes sujeitos envolvidos no processo.

Assim sendo, entendemos que as críticas a este movimento teórico se apoiam no

individualismo do processo reflexivo que na ausência de critérios externos limitaria a

potencialização da reflexão crítica, tornando excessiva a ênfase na construção do

conhecimento na prática. A partir desta crítica é possível apontar possibilidades de superação

destes limites evidenciando as contribuições da perspectiva do “professor reflexivo” no

exercício da docência para a valorização da profissão docente, dos saberes docentes, do

trabalho coletivo destes e das escolas enquanto espaços de formação contínua (PIMENTA e

GHEDIN, 2008, p.43). Portanto, concordamos que:

(...) As reflexões coletivas necessitam uma direção e um sentido, que podem

ser mediados e negociados por um educador/professor ou pesquisador

educacional com uma perspectiva de inovação pedagógica. Não se pode

esperar que um nível de criação pedagógica fosse possível pela simples

reunião de pessoas. (MALDANER, 2006, p. 63).

Assim, o presente estudo tem como principal questão: Como a ação reflexiva crítica

contribui para a formação continuada de professores de química, tornando-os mais consciente

e críticos acerca de sua prática docente.

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3. OBJETIVOS

Esta pesquisa tem como objetivo geral estimular a reflexão crítica entre professores,

de forma sistemática, a partir de ações formativas visando desenvolverem uma visão crítica

sobre sua prática docente.

Objetivos específicos:

- Refletir acerca dos objetivos da experimentação e do ensino de ciências na

concepção de professores de química em exercício;

- Verificar a relação entre as concepções de professores em formação

continuada sobre o processo de ensino-aprendizagem e sua prática docente;

- Estimular a formação do professor reflexivo;

- Avaliar limites e potencialidades do processo de reflexão individual e

coletiva na formação continuada de professores.

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4. METODOLOGIA

A abordagem metodológica da presente investigação é de natureza qualitativa e

considera que os objetos das Ciências Humanas não são inanimados e estão diretamente

relacionados aos produtos de nossa mente5, portanto, são subjetivos e possuem valores e

emoções. Logo, não podemos separar sujeito de objeto. Em função da extrema complexidade

que envolve os sistemas sociais, estes não possuem regularidades semelhantes aos eventos

estudados pelas ciências naturais, sendo assim, busca-se uma compreensão interpretativa de

seus fenômenos e não suas generalizações (SANTOS FILHO, 2007).

Optamos por uma pesquisa colaborativa (IBIAPINA, 2008) por possuir uma

dimensão emancipadora, pois, de forma geral: “envolve investigadores e professores tanto em

processo de produção de conhecimento quanto de desenvolvimento interativo da própria

pesquisa, haja vista que o trabalho colaborativo faz com que professores e pesquisadores

produzam saberes”; e favorece a formação continuada dos indivíduos, que se tornam mais

conscientes e reflexivos, propiciando o diálogo entre os sujeitos participantes da pesquisa. A

linguagem possui neste contexto, uma importância central, pois é o instrumento que

possibilita a colaboração e a reflexão entre as partes.

4.1.CONTEXTO DA PESQUISA

No ano de 2011, a Universidade Federal de Juiz de Fora, promoveu no Centro de

Ciências da UFJF, o curso intitulado: O uso da experimentação no Ensino de Química.

Este curso foi realizado, no primeiro e segundo semestre de 2011, respectivamente, para duas

turmas. Eu participei do curso como aluno, no primeiro semestre, e como pesquisador no

segundo semestre.

A primeira turma do curso de formação continuada teve suas atividades

compreendidas no período de fevereiro a junho de 2011. A segunda turma iniciou suas

atividades em agosto de 2011, com 19 alunos e terminou em novembro do mesmo ano com

10 alunos. Na primeira etapa desta pesquisa discutimos os dados construídos com a segunda

turma. O cronograma desenvolvido no curso encontra-se no anexo I.

5 “Immanuel Kant ( 1724-1804) acreditava que todos nós compreendemos o mundo por um filtro. O filtro é a

mente humana. Ela determina como experimentamos tudo e impõe determinada forma na experiência.”(WARBURTON, 2013, p.122)

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O curso teve duração de 40h distribuídas em 13 aulas ministradas nas segundas-

feiras. As três primeiras aulas do curso não envolveram atividades experimentais, sendo que

todas foram acompanhadas da discussão de um ou mais artigos científicos, conforme descrito

no cronograma. (anexo I).

A pesquisa foi organizada em duas etapas que serão descritas no item 4.3.

4.2.SUJEITOS DA PESQUISA

O público alvo desta investigação foram os professores de química em exercício na

rede pública da região de Juiz de Fora, que participaram do curso. Todos os professores foram

sujeitos da Etapa I desta pesquisa.

Foram convidados, para a Etapa II, dois professores que participaram da Etapa I. Os

critérios utilizados para a escolha destes professores foram: a entrega da versão final do

roteiro6 de uma aula experimental; ter respondido o pré-teste e o pós-teste realizado,

respectivamente, no início e final do curso e estar em exercício efetivo da docência. Dentre os

professores que concluíram o curso e cumpriram todas as etapas, temos dois professores

denominados P1 e P2.

A professora P1 do gênero feminino, estado civil casada, graduou-se em licenciatura

pela Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) em 2004, no curso noturno de química

e começou a atuar no ensino de química no ano de 2003, lecionando continuamente há 9 anos

no município de Santos Dumont. Durante o período que participou da pesquisa possuía uma

carga horária de 18 aulas semanais em uma escola pública do estado de Minas Gerais.

O professor P2 do gênero masculino, estado civil casado, graduou-se em licenciatura

e bacharelado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) no ano de 2008, fez mestrado

em físico-química na UFJF e começou a lecionar química no ano de 2006, atuando no

magistério há 6 anos, no município de São João Nepomuceno e em outras duas cidades da

6 Uma das propostas iniciais do curso de formação continuada foi a de incentivar os professores participantes do

curso a produzirem seu próprio material didático. Neste sentido, foi solicitado aos professores entregar no final

do curso um roteiro de uma aula experimental com os seguintes itens: questão motivadora, desenvolvimento

teórico simplificado e a atividade experimental. Este roteiro foi desenvolvido ao longo do curso, por cada

professor, e foi avaliado inicialmente por pares de professores participantes do curso e posteriormente pelos

docentes formadores. Este processo teve como objetivo contribuir com os autores para o aperfeiçoamento do

roteiro final.

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região. Durante o período que participou da pesquisa possuía uma carga horária superior a 40

h semanais distribuídas na rede pública e particular de ensino médio.

O perfil de formação acadêmica e profissional dos sujeitos da pesquisa contribuiu

para a elaboração do contexto necessário para a interpretação dos dados dispostos nesta

pesquisa, como sugere Franco (2007).

4.3.CONSTRUÇÃO DOS DADOS E DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DA PESQUISA

Neste item serão apresentados como os dados foram obtidos e construídos, além da

descrição das duas etapas da pesquisa.

Etapa I: Levantamento das concepções sobre experimentação e das justificativas

para o ensino de ciências

A primeira etapa desta pesquisa, que corresponde ao levantamento e discussão das

concepções sobre experimentação e das justificativas para o ensino de ciência dos professores

que participaram do curso, ocorreu durante o curso de formação continuada, em que foi

aplicado um questionário pré-teste e um pós-teste, com o objetivo de obter dados para

proporcionar uma interpretação das concepções sobre experimentação e os motivos que

justificam o ensino de ciências para estes professores. O questionário contém as seguintes

questões: 1) Porque ensinar ciências e por que para todos? (2) Descreva qual (is) material (is)

e/ou recurso (s) você usa para o planejamento de uma aula? (3) Qual o papel da

experimentação no ensino de química?

Optamos por um questionário aberto, pois, conforme destaca Franco (2006), este

dispositivo abre um espaço para que o pesquisador possa fazer inferências sobre o que foi

dito, bem como analisar o que não foi dito, possibilitando, junto com a unidade de contexto7 e

a unidade de registro8, penetrar na mensagem construída pelos sujeitos de pesquisa.

7 Para Franco (2006), as mensagens expressam as representações sociais na qualidade de elaborações mentais

construídas socialmente, a partir da dinâmica que se estabelece entre atividade psíquica do sujeito e o objeto de

conhecimento. Relação que se da na prática social e histórica da humanidade e que se generalizam via

linguagem. Sendo construída na vida cotidiana, influenciando não apenas a comunicação e a expressão da

mensagem, mas também os comportamentos. 8 Optamos pela unidade de registro em temas. (FRANCO, 2006)

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Etapa II: Processo de reflexão individual

Esta etapa consiste no desenvolvimento de um processo de reflexão individual,

concomitantemente com a construção de dados. Para Ibiapina a reflexão é:

(...) o processo de base material responsável pela recordação e o exame da

realidade com o objetivo de transformá-la. Como movimento do

pensamento, é atividade exclusiva da espécie humana que auxilia na

formação da consciência e da autonomia e da autoconsciência, conferindo

aos indivíduos maior autonomia para pensar, sentir, fazer opções e agir.

(IBIAPINA, 2008, p. 71)

O processo de reflexão crítica individual será norteado por quatro ações em

momentos distintos como sugere Smyth apud Ibiapina (2008) e apud Magalhães (2008): o

descrever, o informar, o confrontar e o reconstruir. Os dispositivos mediadores utilizados,

para a construção dos dados, desta etapa, foram as orientações para o processo reflexivo

(anexo II) e o vídeo de uma aula9, com uma atividade experimental desenvolvida pelos

professores.

A técnica de confrontação de imagens, possibilitada pelo vídeo, permite que os

diversos sujeitos participantes da pesquisa contribuam para a reflexão crítica sobre as ações

desenvolvidas em sala pelo professor, relacionando-as com as suas respostas aos

questionários (anexo II), juntamente com a análise feita pelo pesquisador aportada nos

referenciais teóricos definidos.

Desta forma, a pesquisa colaborativa associada ao processo de reflexão individual

com o uso dessas ações formativas contribui para a reflexão crítica das ações dos diversos

sujeitos, envolvidos nesta pesquisa, propiciando um meio fértil para a reconstrução da prática

docente.

Logo, concordamos com Freire (2012), que o importante é oferecer condições aos

professores para que reflitam criticamente sua práxis, em um contexto dialógico, pois, não

podemos pensar por eles, ou mesmo pensar sem eles, mas, somente com eles em uma relação

9 No mês de julho os professores P1 e P2 foram filmados em situação de aula. Para esta aula utilizaram o roteiro

de uma aula experimental que elaboraram ao longo do curso de formação continuada. Como pesquisador

acompanhei aproximadamente 5 aulas de cada um destes professores para o processo de adaptação em campo,

somente após este tempo de acomodação é que filmamos a aula experimental destes professores. Este vídeo será

utilizado por cada um destes professores auxiliando-os no processo de reflexão individual (IBIAPINA, 2008).

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de confiança e amor, buscando pensar em alternativas para transformarmos nossa realidade,

portanto:

O fundamental, realmente, na ação dialógico-libertadora, não é “desaderir”

os oprimidos de uma realidade mitificada em que se acham divididos, para

“aderi-los” a outra.

O objetivo da ação dialógica está, pelo contrário, em proporcionar que os

oprimidos, reconhecendo o porquê e o como de sua “aderência”, exerçam

um ato de aderência à práxis verdadeira de transformação da realidade

injusta. (p.184)

Neste contexto, reafirmamos que o objetivo central desta etapa de pesquisa vai muito

além da obtenção e construção dos dados da pesquisa, ou seja, nossa expectativa é a de

estimular e favorecer uma reflexão intrapessoal e interpessoal10

dos diversos sujeitos

participantes desta pesquisa.

O processo reflexivo se inicia, segundo Smyth (1992), no momento em que o

professor descreve a sua prática educacional, respondendo a questão proposta pelo

pesquisador: O que fiz? Entre outras questões, neste momento o professor é levado a um

distanciamento de suas ações, sendo estimulado a refletir acerca das suas ações e dos motivos

que contribuíram para as escolhas feitas no decorrer da atividade docente.

A próxima ação é a de informar quais são as implicações da sua prática educacional

por meio das seguintes questões (anexo II): O que me leva a agir deste modo? O que agir

deste modo significa? O que motiva a realizar estas ações? Estas questões abrem espaço para

reflexões sobre sua formação, suas escolhas sobre práticas educacionais e se estas foram

espontâneas, sistematizadas ou explícitas. Este momento propicia a reflexão sobre os

referenciais que guiam a prática docente e abre a possibilidade de reflexão sobre a linguagem

que se utilizou em sala de aula, os objetivos e razões de se agir assim.

A terceira ação é a de confrontar. As questões propostas nesta etapa são: Qual a

função social dessa aula, neste contexto particular de ação? Que tipo de aluno está sendo

10

O desenvolvimento cognitivo, de acordo com Vygotscky (1996), não pode ser considerado como sendo uma

acumulação gradual de mudanças isoladas e sim um processo dialético complexo caracterizado por ações

periódicas e por uma desigualdade no desenvolvimento de diferentes funções, ou transformações qualitativas de

uma forma em outra, em uma conjunção de fatores internos (intrapessoal) e Externos (interpessoal) que

comungam no desenvolvimento das funções psicológicas superiores como processos adaptativos que superam as

dificuldades que o indivíduo encontra.

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formado? O que limita as teorias utilizadas? Que conceitos são utilizados? Este momento

permite identificar se o uso das ações promove aproximação entre prática observada e opção

teórica declarada, além de interrogar as ações, os princípios e as teorias, situando-os num

contexto: cultural, social e político (FERNANDEZ, LOPES e BONARDO, 2008).

A última ação é a busca da reconstrução da prática docente, que será estimulada com

questões: Como posso agir diferente? O que considero pedagogicamente importante? Esta

etapa permite ao professor a reflexão da manutenção ou a transformação de sua prática

educacional. Este momento é crucial para a reflexão crítica de suas ações. Estas quatro ações

abrem espaço para a reflexão-sobre-a-ação levando o professor a um processo de reflexão

crítica.

Após este processo de discussão evidenciaremos os temas de respostas que surgirem

com mais evidencia nas respostas dos professores e faremos uma discussão ampliada acerca

de suas implicações comparando-os com os referenciais teóricos pertinentes.

Etapa III: Processo de reflexão coletiva

A terceira e última etapa de pesquisa, prevista, mas não realizada em função da

indisponibilidade dos sujeitos desta pesquisa, seria orientada por um processo de reflexão

coletiva, através de sessões reflexivas por diálogos abertos11

(IBIAPINA, 2008), utilizando o

texto construído na etapa II desta pesquisa e as análises do pesquisador como instrumentos

mediadores para as sessões reflexivas.

Para justificar a reflexão coletiva Zeichner apud Pimenta (2002) utiliza três

argumentos:

(...) a prática reflexiva deve centrar-se tanto no exercício profissional dos

professores por eles mesmos, quanto nas condições sociais em que esta

ocorre; o reconhecimento pelos professores de que seus atos são

fundamentalmente políticos e que, portanto, podem se direcionar a objetivos

democráticos e emancipatórios; a prática reflexiva, enquanto prática social,

11

Sessões reflexivas: método de pesquisa que não se limita apenas a simples observações, mas a diálogos abertos

que ocorrem em pequenos grupos, com o objetivo de motivar trocas de opiniões acerca de determinados temas.

O pesquisador escuta atentamente intervindo quando necessário (IBIAPINA, 2008, p.95). Este método já foi

utilizado por outros pesquisadores como Zeichner (1993) e Magalhães (2002) com o objetivo de favorecer a

reflexão crítica.

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só pode se realizar em coletivos, o que leva a necessidade de transformar as

escolas em comunidades de aprendizagem (...). (PIMENTA, 2002).

Neste sentido, faríamos a terceira etapa desta pesquisa com o objetivo de conferir

sentido às palavras, ou seja, buscando de uma forma mais ampla alcançar o processo de

reflexão crítica proposto por Smyth apud Ibiapina (2008), proporcionando aos sujeitos

envolvidos nesta pesquisa a possibilidade de reverem suas práticas tanto como pesquisadores

quanto como educadores.

4.4.ANÁLISE DOS DADOS

Foram utilizados os pressupostos teóricos da Análise de Conteúdo conforme Franco

(2007), para a análise dos dados construídos nas Etapas I e II desta pesquisa.

4.4.1. Pressupostos teóricos da Analise de Conteúdo

A Análise de Conteúdo (Franco, 2007) possui uma concepção crítica e dinâmica da

linguagem, levando em consideração os pressupostos teóricos histórico-culturais, por

Vygotsky (2010). Sendo assim, a análise de conteúdo, parte das condições contextuais que

envolvem a evolução histórica da humanidade; das condições econômicas, sociais e culturais

às quais os sujeitos formadores do texto estão inseridos; das habilidades no trato dos códigos

linguísticos, a competência para decodificá-los, o que resulta em expressões verbais que

possuem componentes cognitivos, subjetivos, afetivos, construídos historicamente (Franco,

2007). Pressupostos estes que levam em consideração a complexidade da diferença entre

significado e sentido das palavras. Sendo assim, sentido e significado, para Vygotsky:

(...) a primeira, que é fundamental, é o predomínio do sentido de uma

palavra sobre seu significado – uma distinção que devemos a Paulhan.

Segundo ele, o sentido de uma palavra é a soma de todos os eventos

psicológicos que a palavra desperta em nossa consciência. É um todo

complexo, fluido e dinâmico, que tem várias zonas de estabilidade desigual.

O significado é apenas uma das zonas de sentido, a mais estável e precisa.

Uma palavra adquire o seu sentido no contexto em que surge; em contextos

diferentes, altera o seu sentido. O significado permanece estável ao longo de

todas as alterações do sentido. O significado dicionarizado de uma palavra

nada mais é do que uma pedra no edifício do sentido, não passa de uma

potencialidade que se realiza de formas diversas da fala (VIGOTSKI, 1996,

p. 125).

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Portanto, Franco (2006), levando em consideração os pressupostos teóricos de

Vygotsky, conclui que o que está escrito, falado, mapeado, será sempre o ponto de partida

para a identificação do conteúdo, seja ele explícito ou latente. Logo, a análise e interpretação

do conteúdo são passos, ou seja, processos a serem seguidos. Para tanto, o efetivo caminhar

neste processo dependerá da contextualização, que será considerada como um dos principais

requisitos, proporcionando o plano de fundo que garantirá relevância dos sentidos atribuídos a

mensagem.

A condição contextual do produtor da mensagem está em constante dialética com o

mundo a que ele pertence historicamente construído mediante as condições sociais,

econômicas e políticas. Sendo assim, para a Análise de conteúdo, um dado deve estar

relacionado no mínimo com outro dado, para possuir relevância teórica. Sendo o pesquisador

direcionado por sua sensibilidade, intencionalidade e competência, convidado constantemente

a fazer inferências acerca do texto construído pelos sujeitos participantes da pesquisa.

Neste sentido, há de se levar em consideração o conteúdo latente e manifesto contido

na mensagem, para isto é necessário compreender a fonte emissora (Quem?), o processo de

codificação (Por quê?), a mensagem (O quê?), o processo de decodificação (Com que efeito?)

e o receptor (Para quem?). Estas são, para Franco (2006), as características definidoras da

Análise de Conteúdo, que levamos em consideração ao inferir acerca das mensagens

relacionadas a está pesquisa.

Como efeito, se a descrição da mensagem é a primeira etapa para a Análise do

Conteúdo e a interpretação a última etapa deste processo, a inferência do pesquisador é o

procedimento intermediário que permitirá a transposição, explícita e segura da descrição para

a interpretação do texto. Neste sentido, produzir inferência tem um significado que pressupõe

a comparação dos dados obtidos com os pressupostos teóricos e as concepções de mundo, dos

indivíduos e da sociedade. Situação concreta que se expressa a partir da práxis de seus

produtores e receptadores enquanto sujeitos ativos nesta pesquisa Colaborativa.

Portanto, para a Análise de Conteúdo temos que levar em consideração as unidades

de análise que são divididas em: unidade de registro em palavras e temas, sendo para Franco

(2006) a menor parte do conteúdo, com características definidoras específicas e a unidade de

contexto construída na primeira etapa desta pesquisa. Esta unidade de contexto contribuirá

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para darmos sentido e significado a mensagem construída pelos diversos sujeitos participantes

desta pesquisa.

A organização da análise foi realizada por leituras flutuantes, momento de contato

com os documentos (corpus), onde o pesquisador se deixa invadir por impressões, emoções e

representações.

A escolha dos documentos foi realizada pela regra da representatividade. Conforme

adotado por Franco (2006) as principais regras de seleção para a seleção do corpus são:

Regra da exaustividade: investigar exaustivamente o contexto (histórico, político,

econômico e social) da mensagem contida no corpus.

Regra da representatividade: trabalha com a representatividade da amostra, num

universo inicial.

Regra da homogeneidade: deverá haver um critério uniforme para a realização da

coleta dos dados ou escolha dos documentos. Prevalecendo critérios definidos para

essa atividade.

Após esta etapa, temos a formulação das hipóteses, ou seja, uma afirmação

provisória que nos propomos a verificar, através dos procedimentos de análise. Por fim, a

referência aos índices, que segundo franco (2006) é constituído pela relevância de um tema

durante a análise do conteúdo e está relacionada com a frequência com que esse tema ou

palavra que aparece durante a análise dos dados, de forma objetiva ou subjetivada. Logo,

retomamos os textos e os documentos representativos para que a partir deste processo

pudéssemos fazer inferências acerca das mensagens construídas. As categorias de análise não

foram criadas a priori e sim durante a inserção e aprofundamento da pesquisa; portanto a

posteriori.

Após a categorização das respostas do questionário na Etapa I, utilizamos o software

Excel® para a elaboração de gráficos com a distribuição das categorias. Vale destacar que

selecionamos apenas os sujeitos que concluíram o curso, logo, tanto o processo de

categorização quanto a geração dos gráficos foi realizada com as respostas ao pré-teste e pós-

teste apenas dos sujeitos que concluíram o curso.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO DAS CONCEPÇÕES SOBRE

EXPERIMENTAÇÃO E AS JUSTIFICATIVAS PARA O ENSINO DE

CIÊNCIAS – ETAPA I

A seguir temos os resultados e análise dos dados construídos por meio do

questionário apresentado aos professores. Este levantamento proporcionou uma interpretação

das concepções sobre experimentação e os motivos que justificam o ensino de ciências para

os sujeitos desta investigação, proporcionando o contexto necessário para a análise da fala dos

professores na etapa seguinte desta pesquisa.

Destaca-se ainda, que não há para esta pesquisa, interesse em justificar os motivos

que levaram a variação das percentagens para as categorias de respostas destes professores ao

longo do curso, pois tal justificativa estaria mais relacionada com uma possível avaliação do

curso de formação continuada que com a questão de pesquisa. A seguir discutiremos os

resultados construídos a partir do questionário.

5.1.AS JUSTIFICATIVAS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS

A análise das respostas dos sujeitos participantes desta pesquisa à primeira pergunta

do questionário: Por que ensinar ciência e por que para todos? Permitiu a construção de sete

categorias, a saber: utilidade da ciência, democratização do conhecimento, cidadania,

motivação, formação de cientista, qualidade de vida e direito de todos ao conhecimento. As

figuras 1 e 2 apresentam a distribuição das categorias construídas a partir das respostas dos

professores no início (pré-teste) e no término (pós-teste) do curso.

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Figura 1: Categorias de respostas para o pré-teste referente à pergunta: “Por que ensinar ciências?”.

Figura 2: Categorias de resposta para o pós-teste referente à pergunta: “Por que ensinar ciências?”.

A comparação entre os gráficos das figuras 1 e 2 permite observar que entre o início

e o fim do curso de formação continuada, houve aumento no número de respostas

relacionadas com as categorias: direito de todos ao conhecimento (20% para 25% das

respostas); qualidade de vida (4% para 8% das respostas); cidadania (4% para 8% das

respostas); utilidade de ciências (56% para 59% das respostas). Houve redução no número de

respostas para as categorias: formação de cientista (4% para nenhuma resposta); motivação

(12% para nenhuma resposta).

Para exemplificar como ocorreu o processo de categorização, a posteriori, trazemos a

resposta de P1 ao questionamento sobre “Por que ensinar ciência e por que para todos?”:

curso:

Utilidade da ciência

56%

Cidadania 4%

Motivação 12%

Formação de cientista

4%

Qualidade de vida 4%

Direito de todos ao

conhecimento 20%

Utilidade da

ciência 59%

Cidadania 8%

Qualidade de vida 8%

Direito de todos ao

conhecimento 25%

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“A importância do estudo de ciências está diretamente ligado ao nosso dia-

a-dia, porque nos faz entender melhor fenômenos que ocorrem a nossa volta

e isso traz um sentido maior para a nossa vida.” (P1).

Nossa interpretação sobre esta informação nos levou a classificá-la na categoria

Cotidiano, neste caso é fácil verificar relação direta entre a resposta dia-a-dia e o nome da

categoria cotidiano; esta estratégia foi utilizada para facilitar o entendimento do leitor e

apresentar com maior clareza nossa interpretação. Destacamos o fato de que não nos

limitamos a associar uma resposta a uma única categoria, como no exemplo de P1:

”Ensinar ciência é importante porque explica fenômenos que ocorrem no

nosso dia-a-dia e nos faz entender o porquê de muitas coisas que ocorrem ao

nosso redor. O ensino de ciências deve ser para todos porque todos devem

entender a importância dessa área de estudo. Todo desenvolvimento de um

país depende dessa área.” (P1).

Dessa maneira, esta resposta foi incluída em 2 categorias construídas, pois

entendemos ser possível desconstruir as informações nela contidas e perceber pontos

distintos, tais como: dia-a-dia correlação com a categoria cotidiano e o ensino de ciência

deve ser para todos correlação a categoria Direito de todos ao conhecimento. A estratégia de

classificar uma resposta em mais de uma categoria também foi utilizada nas demais análises.

Podemos observar que não houve mudanças significativas entre o início e término do

curso, exceto para a categoria motivação com a variação de 12% das respostas para zero. Ao

pensarmos nas discussões ao longo do curso enfatizamos um modelo de ensino de ciências

que prioriza a formação de cidadãos autônomos e críticos, este dado se torna relevante em

relação a uma possível mudança qualitativa de perspectiva para o ensino de ciências, pois,

esta perspectiva de ensino está atrelada ao entendimento do ensino de ciências como

curiosidades relacionadas ao nosso cotidiano. Observamos nas respostas dos professores P1 e

P2 um olhar associado ao cotidiano para o ensino de ciências:

Pré-teste P1: “A importância do estudo de ciências está diretamente ligado

ao nosso dia-a-dia, porque nos faz entender melhor fenômenos que ocorrem

a nossa volta e isso traz um sentido maior para a nossa vida.”.

Pré- teste P2: “No cotidiano ocorrem vários fatos ligados a ciências que

podem ser interpretados de forma errônea por pessoas que não possuem o

mínimo de conhecimento em ciências. Além disso, todos deveriam ser

capazes de se orientar através do conhecimento, buscando compreender

melhor formulas químicas, termos utilizados na ciência.”.

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Pós-teste P1: ”Ensinar ciência é importante porque explica fenômenos que

ocorrem no nosso dia-a-dia e nos faz entender o porquê de muitas coisas

que ocorrem ao nosso redor. O ensino de ciências deve ser para todos

porque todos devem entender a importância dessa área de estudo. Todo

desenvolvimento de um país depende dessa área.”.

Pós-teste P2: “Para que todos entendam o verdadeiro conceito e entendam

que a ciência está em tudo o que nos rodeia.”.

Verificamos que entre os sujeitos desta pesquisa a categoria de resposta que possui

maior incidência no pré-teste (56%) e no pós-teste (59%), passa pelo argumento da utilidade

da ciência. Consideramos que este argumento indica que o conhecimento científico é

necessário para que as pessoas possam lidar com aspectos da vida cotidiana. Porém,

contrapondo-se a ênfase exagerada desta ideia, Millar (2005) defende que não é necessário

um conhecimento amplo acerca dos equipamentos técnicos que constituem uma máquina,

para que possamos utilizá-la no dia-a-dia, ou seja, não é necessário conhecermos a tecnologia

envolvida na construção de um chip para utilizarmos um computador. Logo, uma vez que o

argumento de utilidade da ciência é supervalorizado, concordamos como Millar (2005) que

este argumento deveria ser construído em uma perspectiva mais atenuada de aplicabilidade,

apontando para um currículo de ciências com uma maior ênfase no conhecimento científico

tecnológico dos fenômenos, em detrimento de conceitos mais gerais e abstratos.

Por outro lado, o que nos chama a atenção é que ao término do curso, o argumento

cultural/social, que foi enfatizado durante as aulas do curso, através da leitura e discussão de

artigos da área de ensino de ciências, não foi apontado por nenhum professor. Embora esta

questão seja considerada importante por alguns autores como Maldaner (2006) e Millar

(2005), que defendem uma visão de ciências inserida em um processo social, conduzidos

dentro de estruturas culturais e institucionais historicamente constituídas, apresentando

questões de investigação que dizem respeito ao papel das interações sociais em sala de

ciências, logo, uma visão importante a ser construída pelos professores. Adicionalmente,

Trindade (2010), enfatiza a necessidade de olharmos para a cognição como um fenômeno

social e historicamente situado. Neste sentido, esta percepção do ensino de ciências não foi

apontada por nenhum professor.

Por outro lado, o fato desta discussão ter ficado centrada aos primeiros encontros do

curso de formação, pode ter apresentado como consequência um baixo aproveitamento destes

professores.

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Assim sendo, há de se problematizar esta visão, pois entendemos que o argumento

cultural/social torna-se importante, pois atribui ao conhecimento científico, uma das

principais aquisições de nossa cultura humana e, portanto, todos os jovens deveriam ser

incentivados a compreendê-lo, levando-os certamente à aquisição de uma nova cultura, que

por sua vez não pode ser adquirida sem que haja uma instrução formal, devido ao seu alto

grau de complexidade.

5.2.RECURSOS PARA O PLANEJAMENTO DE AULAS

A segunda pergunta do questionário foi: “Descreva qual (ais) material (ais) e ou

recurso você usa para o planejamento de uma aula.” A partir desta questão foi possível

construir sete categorias de respostas, a saber: revista, recurso áudio/visual, CBC, material

alternativo, roteiro de atividades experimentais, internet e informática e paradidáticos. As

figuras 3 e 4 apresentam a distribuição das categorias construídas a partir das respostas dos

professores no início (pré-teste) e no término (pós-teste) do curso, com exceção da categoria

livro didático que surgiu em todas as respostas, logo, discutiremos este resultado

separadamente, por ser muito expressivo.

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Figura 3: Categoria de resposta para o pré-teste referente a pergunta: Qual material você utiliza para preparar

sua aula?

Figura4: Categoria de resposta para o pós-teste referente a pergunta: Qual material você utiliza para preparar sua

aula?

A comparação entre os gráficos das figuras 3 e 4 permite observar que entre o início

e o fim do curso, houve pequeno aumento no número de respostas para as categorias: recurso

áudio/visual (13% para 18% das respostas); utilização de revista (9% para 23% das

respostas); CBC (somente aparece no final do curso em 6% das respostas). Apresentaram

redução no numero de respostas as categorias: roteiro de atividades experimentais (26% para

12% das respostas); internet/informática (31% para 23% das respostas); paradidáticos (4%

das respostas e no final do curso não foi encontrada em nenhuma resposta). Não apresentou

variação significativa material alternativo (17% para 18% das respostas).

A seguir temos as respostas dos professores P1 e P2:

Revista 9%

Recurso áudio/visual

13%

Material Alternativo

17% Roteiro de atividades

experimentais 26%

Internet, informática

31%

Paradidático 4%

Revista 23%

Recurso áudio/visual

18%

CBC 6%

Material Alternativo

18%

Roteiro de atividades

experimentais 12%

Internet, informática

23%

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Pré-teste P1: ”Livro didático, vídeo, experimentos simples, reportagens,

textos.”.

Pré-teste P2: “No planejamento das aulas utilizo livros didáticos, a internet

através do computador. Aulas vídeo buscando ideias para a apresentação do

conteúdo.”.

Pós-teste P1: “Livro didático.”.

Pós-teste P2: “Livros didáticos, internet e os conceitos aprendidos no curso

de formação.”.

Dentre as categorias de respostas construídas, chamou-nos a atenção, a ausência de

“artigos científicos”, que embora tenha sido enfatizada ao longo do curso, não foi citada

diretamente por nenhum professor. Neste sentido, este resultado vai de encontro com o

trabalho recente realizado em nosso grupo de pesquisa, Melo (2012), afirma que:

Quando questionamos os professores de química sobre o conhecimento e

utilização de periódicos ou revistas da área em Ensino de Química, 60% dos

professores analisados responderam conhecer as revistas Química Nova e/ou

Química Nova na Escola. Situação preocupante, pois 34% que optaram pela

profissão docente, sequer conheciam os periódicos dessa área. Além disso,

dos que afirmaram conhecer, 23% disseram não usar, 20% utilizam apenas

como leitura e somente 17% como auxílio em atividades em sala de aula.

Logo, mesmo para aqueles que conhecem os periódicos da área, apenas um

número reduzido de docentes utilizam como auxilio para a sua prática

docente. (MELO, 2012, p.76).

Portanto, de acordo com nossos dados percebe-se que os professores não utilizam os

artigos científicos para preparar suas aulas. Uma das possíveis implicações deste

distanciamento teórico com a academia poderia ser observada na dificuldade de ruptura com

as práticas formais em educação, esta hipótese será observada ao longo da etapa II desta

pesquisa.

De fato, Gatti (2010), em pesquisa realizada com alunos de licenciaturas, apontou

que são utilizados menos de 1,6% de artigos de periódicos especializados como material de

referencia durante o curso.

No entanto, observamos a categoria revista que teve um crescimento de 9% das

respostas para 21%. Neste sentido, seria possível que os professores associaram a palavra

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“revista” a “artigos científicos”? Se este for o caso, então temos um ganho qualitativo nas

respostas destes professores.

Adicionalmente todos os professores afirmaram que utilizam o livro didático como

principal recurso para o planejamento de suas aulas. Este dado é preocupante, embora não

seja surpreendente, haja vista que vários autores como, por exemplo, Cachapuz (1997),

destacam a dependência ao livro didático e mostraram que tal limitação está relacionada

diretamente a baixa autonomia do professor no preparo de suas aulas e na problematização do

currículo adotado por ele. O que pode acarretar em um empobrecimento na discussão acerca

de temas importantes, como: por que, o que e para quem ensinar ciências. Neste sentido,

concordamos com a importância do livro didático como material a ser utilizado em sala de

aula para consulta de professores e alunos. Contudo, não deve ser a única fonte de pesquisa

para o planejamento de uma aula pelo professor. Em parte pelo avanço rápido das novas

tecnologias educacionais que são difundidas em periódicos científicos, por outro lado, tendo

em vista que significativa parcela dos livros didáticos fornece a visão de um único autor.

Portanto, consideramos indispensável ao planejamento de uma aula, uma revisão bibliográfica

mais ampla, que inclua a leitura artigos científicos e periódicos científicos.

Quanto aos professores P1 e P2 também é possível observar em suas respostas a

dependência ao livro didático. Apesar de o curso não discutir extensivamente este assunto,

esperávamos que ao conhecerem formas alternativas de abordagem de conteúdos,

começassem a indicar o uso de artigos dentre outros recursos na elaboração de suas

atividades, o que não foi observado.

Acreditamos que durante o processo de reflexão crítica existe a possibilidade de

aprofundarmos esta concepção e contribuirmos com a formação continuada de nossos

professores, no sentido, de torná-los mais consciente de suas ações.

5.3.O PAPEL DA EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA

A terceira e última questão proposta no questionário foi: “Qual o papel da

experimentação no ensino de química?” A partir desta questão os professores elaboraram suas

respostas e foi possível construir seis categorias, a saber: tornar os conteúdos mais concretos,

fator motivador, fator facilitador, ferramenta mediadora na construção do conhecimento,

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tornar os alunos mais críticos e participativos e demonstração de conceitos. As figuras 5 e 6

apresentam as categorias de respostas e as percentagens com que elas são citadas pelos

professores.

Figura 5: Categorias de respostas para o pré-teste da turma B referente à pergunta: “Qual o papel da experimentação no ensino de química?”.

Figura 6: Categorias de respostas para o pré-teste referente à pergunta: “Qual o papel da experimentação no ensino de química?”.

A comparação entre os gráficos das figuras 5 e 6 permite observar que entre o início

e o fim do curso, houve aumento no número de respostas para as categorias: ferramenta

mediadora na construção do conhecimento (não apareceu em nenhuma resposta no início e no

final do curso contribui com 17% das respostas); tornar os alunos mais críticos e

participativos (5% para 17% das respostas); demonstração de conceitos (10% para 17% das

respostas). Apresentou redução no número de respostas a categoria: fator facilitador (40%

para 8% das respostas) e não apresentaram mudanças significativas as categorias: tornar os

Tornar os conteúdos mais concretos

10%

Fator motivador

35% Fator facilitador

(auxilia o aprendizado do aluno)

40%

Tornar os alunos mais críticos e

participativos 5%

Demonstração de conceitos

10%

Tornar os conteúdos mais concretos

8%

Fator motivador

33%

Fator facilitador (auxilia o aprendizado

do aluno) 8%

Ferramenta mediadora na construção do conhecimento

17%

Tornar os alunos mais críticos e

participativos 17%

Demonstração de conceitos

17%

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conteúdos mais concretos (10% para 8% das respostas); fator motivador (35% para 33% das

respostas).

Observamos para os professores P1 e P2, uma tendência, em considerar as aulas

experimentais como motivadoras e facilitadoras. Conforme as respostas abaixo:

Pré-teste P1: “A experimentação no ensino da química é de extrema

importância para que os alunos compreendam a teoria. As aulas são muito

mais interessantes do que aulas teóricas.”.

Pré-teste P2: “O que venho notando com o passar dos anos, na minha

experiência como professor, é que no mundo atual, dinâmico e rápido, a aula

de “cuspe e giz” não chama a atenção dos alunos e não é mais atrativa. A

experimentação vem como possibilidade de se atrair a atenção dos alunos

e mostrar-lhes como as ciências podem ser interessantes. Desta forma, uma

aula utilizando experimentos passa a ser atrativa aos olhos dos alunos e

deixa de ser infundada a seus olhos.”.

Pós-teste P1: “a experimentação no ensino de química é muito importante,

pois a partir da mesma podem-se abordar vários conceitos.”.

Pós-teste P2: “A partir de agora entendo que a experimentação é importante

para que o aluno construa um conhecimento prévio sobre um determinado

assunto.”.

Portanto, com esta questão pretendemos entender como os professores percebem a

natureza pedagógica das aulas experimentais, haja vista que de maneira geral, os educadores

possuem suas concepções teóricas cunhadas em uma visão de ciência neutra, objetiva,

progressista, empirista, fundamentadas em teorias epistemológicas simplistas que precisam

ser problematizadas (Lima, 2000). De fato, podemos considerar, de acordo com Galiazzi

(2004), que as atividades experimentais possuem êxito pedagógico quando os professores

estiverem mais preocupados com a aprendizagem dos alunos que com a transmissão de

conhecimento.

Ao avaliarmos o contexto geral desta questão, percebemos que é possível justificar a

categoria demonstração de conceitos a um processo de formação inicial, em que prevalece a

supremacia dos conteúdos específicos de química em detrimento aos conteúdos pedagógicos,

isto é, uma visão experimental construída por uma visão cartesiana acerca dos objetivos das

ciências naturais, correspondendo a uma abordagem tradicional do demonstrar para crer

(GALLIAZI, 2004). Neste sentido, para o professor a demonstração de um fenômeno torna-se

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suficiente para a aprendizagem do aluno. Portanto, ao utilizar uma aula prática que demonstra

uma teoria torna-se claro que a preocupação do professor está no conteúdo a ser ensinado e

não no aluno, evidenciando uma prática pedagógica bancária12

(FREIRE, 2012).

Contrapondo-se a concepção de uma educação bancária, temos a possibilidade de

concebermos uma visão de ensino como problematizador, ou seja, na visão de Paulo Freire, o

papel do professor não seria o de expor sua visão de mundo, suas experiências ou tentar impor

seus pressupostos teóricos a seus alunos, ao contrário, por meio do diálogo com o aluno,

tornando explícitas as possíveis interpretações do mundo por ambas as partes, é que

poderemos formar cidadãos críticos, autônomos e participativos.

“Temos de estar convencidos de que a sua visão de mundo, de que se

manifesta nas várias formas de sua ação refletem a sua situação de mundo,

em que se constitui. A ação educativa e política não podem prescindir do

conhecimento crítico dessa situação, sob pena de se fazer “bancária” ou de

pregar no deserto. (...) é na realidade mediatizadora, na que dela tenhamos

educadores e povo [alunos], que iremos buscar o conteúdo programático da

educação.” (FREIRE, 2012, p.94).

Quanto às categorias fator facilitador e fator motivador, isto é, o ensino de química

experimental facilita ou motiva os alunos para o processo de ensino-aprendizagem. Para

Galiazzi (2001), esta ideia está associada à concepção de professores que se fundamentam em

um conjunto de entendimentos empiristas de ciências, em que a motivação é resultado

inerente da observação de alunos sobre o objeto de estudo, isto é, num cenário em que os

alunos se motivam ao verem algo que é diferente do seu dia-a-dia. Alguns estudos

demonstram que é um erro acreditar que aulas experimentais são motivadoras para todos os

alunos. De fato, segundo Jong (2006), cerca de 20 a 30% dos alunos continuam com

dificuldade e desinteresse em relação aos conteúdos de química ministrados no laboratório.

Neste sentido, concordamos com Galiazzi (2004) em que o importante é aprender para

permanecer motivado e não o contrário motivar para aprender.

Contudo, devemos levar em consideração “a marca do surpreendente” (GALIAZZI,

2004), intrínseca das atividades experimentais. Sobretudo, deveríamos transcender este

alcance, reconhecendo este espaço como propício para o diálogo entre os sujeitos envolvidos

no processo de ensino-aprendizagem. Sendo assim, favorecendo o professor atento, como um

12

Pedagogia Bancária, termo utilizado por Paulo Freire, ao se referir a uma prática pedagógica por transmissão

de conhecimento, de maneira geral o professor contém o conhecimento do mundo e deposita este conhecimento

em seu aluno, que pressupõe ser vazio, como uma tábua rasa. (FREIRE, 2012).

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momento de investigação das concepções prévias dos alunos acerca do tema desenvolvido, e a

partir destes, problematizá-los. É possível observar que os diálogos entre os sujeitos

envolvidos no processo de ensino-aprendizagem são favorecidos nas aulas experimentais, pois

este espaço propicia aos alunos experiências que a sala de aula não contempla. Neste sentido,

estabelecendo uma relação dialógica, existe a possibilidade de haver troca de significados

entre os diversos sujeitos participantes do processo de ensino-aprendizagem e a construção de

conhecimento (FIGUEIREDO E PAULA, 2004). Assim sendo, os sujeitos envolvidos no

processo, utilizam suas teorias pessoais e argumentam, favorecendo o desenvolvimento e a

construção de novos conhecimentos de maneira mais coerente com o processo de constituição

do conhecimento científico, possibilitando a enculturação neste discurso. Neste sentido, temos

um ganho qualitativo para a resposta destes professores, haja vista, que observamos no final

do curso um aumento no número de respostas para as categorias: ferramenta mediadora na

construção do conhecimento (não apareceu em nenhuma resposta no início e no final do curso

contribui com 17% das respostas) e tornar os alunos mais críticos e participativos (5% para

17% das respostas).

Dessa maneira, o desenvolvimento de aulas experimentais, separando os alunos em

pequenos grupos, favorece: o diálogo, a negociação de ideias pessoais, a renúncia e a

argumentação, explicitando o caráter social da ciência, em uma perspectiva de socialização.

Este diálogo pode ser enriquecido por diversos outros elementos, que podem agregar valor

aos argumentos inerentes dos discursos.

5.4.CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A ETAPA I

Percebemos que para este grupo de professores existe uma tendência em conceber o

ensino de ciências por um viés utilitarista. Neste sentido, há de se problematizar, na Etapa II,

a influência que uma possível dependência aos livros didáticos e a pouca utilização de artigos

científicos e periódicos científicos no planejamento das aulas de ciências exerce sobre as

perspectivas teóricas destes professores. Sem a possibilidade de refletirem criticamente e de

maneira mais ampla com outros referenciais teóricos, os docentes acabam tornando suas

práticas educativas estáticas e passíveis de se confrontarem com um mundo externo e

dinâmico incompatível com seu discurso em sala de aula, tornando o diálogo com seu aluno

ingênuo, distante da realidade. Como consequência, deste distanciamento teórico no

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planejamento de suas aulas, observamos uma baixa autonomia para o preparo de suas aulas e

uma pouca problematização do currículo adotado por eles.

Observamos uma tendência por parte dos professores em adotar o ensino de química

experimental como uma ferramenta facilitadora e motivadora, mas há de se considerar que ao

final do curso temos indícios de mudança no perfil de alguns professores, quando,

observamos um aumento na visão de ensino de química experimental como sendo uma

ferramenta pedagógica que proporciona a mediação para a construção do conhecimento. A

nosso ver temos aqui um ganho qualitativo na fala destes professores, pois esta mudança de

perspectiva sugere o entendimento de uma aula experimental como um espaço propício ao

diálogo entre professores e alunos, mediatizado pelo mundo, neste caso em particular, pelo

experimento proposto e suas implicações no contexto destes sujeitos.

A partir desta análise temos um perfil docente para este grupo de professores, que

será utilizado nas etapas II e também seria utilizado na Etapa III como referencia, para futuras

inferências.

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6. RESULTADOS E DISCURSSÃO DO PROCESSO DE REFLEXÃO CRÍTICA

INDIVIDUAL – ETAPA II

6.1.OS SUJEITOS E A DEFINIÇÃO DAS AULAS

Ninguém educa ninguém, ninguém

educa a si mesmo, os homens se

educam entre si, mediatizados pelo

mundo.

Paulo Freire

6.1.1. Convite ao processo reflexivo

A professora P1, por satisfazer os critérios pré-definidos (item 4.2), foi convidada a

participar da segunda etapa desta pesquisa. No primeiro encontro, foi entregue a professora

uma cópia do projeto de pesquisa, acompanhada de uma cópia da versão final do roteiro

elaborado ao longo do curso de formação continuada, além de algumas observações realizadas

pelo pesquisador, acerca dos objetivos do ensino de ciências e as características relevantes do

processo de ensino-aprendizagem em relação ao uso das aulas experimentais na Educação

Básica (anexo IV).

Os objetivos deste encontro foram: integrar a professora à pesquisa oferecendo-lhe

suporte teórico, compartilhando os caminhos almejados para o desenvolvimento desta

pesquisa, explicitando as etapas sugeridas para o processo de reflexão crítica, além de

apresentar os principais conceitos da pesquisa colaborativa, bem como, as perspectivas

teóricas do referencial teórico “O professor reflexivo”. Adicionalmente, foi sugerida a

releitura dos três primeiros textos apresentados pelo curso de formação continuada13

.

A escolha do professor P2, bem como a dinâmica e os objetivos da reunião, foi

equivalente ao relatado anteriormente.

13

Textos fornecidos e discutidos, em formato de debate, nas três primeiras aulas do curso de formação

continuada. As referencias estão citadas no anexo I.

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Durante a primeira reunião, os dois professores foram incentivados a questionar o

modelo didático de suas aulas, principalmente quanto aos objetivos do ensino de ciências. O

artigo de referência sugerido para esta reflexão foi adotado pelo curso de formação

continuada, Millar (2003). As questões: “Por quê? O que? Como?” ensinar ciências foram

novamente debatidas. Foi solicitado que reelaborassem o roteiro experimental, adequando-o a

realidade da turma e que tivesse três tópicos fundamentais: o problema inicial, com destaque

para a importância do tema escolhido pelo professor e apresentação das questões motivadoras

para o aluno; o desenvolvimento teórico contextualizado e a orientação para o procedimento

experimental, tal como foram sugeridos no curso de formação continuada.

Na primeira reunião bem como nos demais encontros foi enfatizado o espaço

privilegiado que uma aula experimental fornece para o diálogo entre os sujeitos envolvidos no

processo de ensino-aprendizagem, apontando a necessidade de um olhar pedagógico para esta

questão. Nesse sentido, foram salientados alguns pressupostos teóricos da perspectiva

histórico-cultural. Quando reafirmamos que para um professor atento, as aulas experimentais

colaboram na investigação dos conhecimentos prévios dos alunos acerca do conhecimento

científico que se pretende construir e que por meio deste diálogo abre-se a possibilidade da

construção do conhecimento em sala de aula.

Conforme Millar (2003) sugere, foi discutido com os professores que o ensino de

ciências deveria contribuir para que o aluno desenvolvesse habilidades, destrezas, conceitos

específicos distintos e perspectivas que outras disciplinas não seriam capazes de oferecer.

Sendo assim, a construção deste novo conhecimento apresentado ao aluno em sua formação

básica, denominado conhecimento científico deveria se justificar pela sua importância e valor,

o qual, através de uma reflexão crítica, poderia contribuir com a construção de um

pensamento crítico e autônomo por parte dos alunos.

Em suma, questões permearam o diálogo nestes primeiros encontros, proporcionando

um ambiente de reflexão acerca dos objetivos do ensino de ciências, do conteúdo a ser

adotado e dos motivos que justificam o ensino de química partindo de aulas experimentais.

6.1.2 Filmagem da aula experimental

O processo de filmagem ocorreu nos meses de junho e julho de 2012. No mês de

julho fui às escolas onde P1 e P2 lecionavam e os acompanhei durante cinco dias observando-

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os e em diálogo constante com os dois professores e seus alunos, este período de acomodação

no campo de pesquisa favoreceu a aproximação entre pesquisador, professores e alunos.

6.1.2. a Aula da professora P1

No mês de julho de 2012, ocorreu a filmagem da aula da professora P1. A turma

escolhida apresentava as seguintes características: 2o ano do ensino médio, turno da manhã de

uma escola pública, na cidade de Santos Dumont - MG. Inicialmente a turma foi dividida em

4 grupos de alunos, enumerados de 1 a 4. Visando facilitar as descrições futuras foram

adotadas as siglas G1, G2, G3 e G4, para denominar Grupo 1, Grupo 2, Grupo 3 e Grupo 4,

respectivamente. O G1 continha 5 alunos, o G2 7 alunos, o G3 5 alunos e, por fim, o G4 4

alunos. O total de alunos que assistiram à aula foi de 20. A aula teve duração de 1hora e 10

minutos.

O tema escolhido pela professora P1 e apresentado aos alunos no formato de roteiro de

uma aula experimental foi densidade e correntes de convecção. Na figura 7 temos o mapa

espacial da situação de aula gravada da professora P1.

Figura 7: Mapa espacial da distribuição dos grupos de alunos na aula experimental da professora P1.

6.1.2. b Aula do professor P2

No mês de julho de 2012, ocorreu a filmagem da aula do professor P2. A turma

apresentava as seguintes características: 3o ano do ensino médio, turno noturno de uma escola

pública, na cidade de São João Nepomuceno - MG. Inicialmente a turma foi dividida em dois

grupos de alunos, enumerados de 1 a 2, doravante denominaremos G1 e G2, isto é, Grupo 1 e

Grupo 2, respectivamente. O G1 continha 6 alunos e o G2 5 alunos. O total de alunos que

assistiram à aula foi de 11 alunos. A aula teve duração de 35minutos. É possível observar uma

aula expositiva por parte do professor P2, em vários momentos ele faz a pergunta e

imediatamente a responde. O tema escolhido pelo professor P2 foi Eletroquímica, em que o

G2

G1

G3

G4 Filmadora

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mesmo foi apresentado aos alunos no formato de roteiro de uma aula experimental. A figura 8

corresponde ao mapa espacial da situação de aula gravada do professor P2.

Figura 8: Mapa espacial dos grupos de alunos na aula experimental do professo P2.

6.2.AÇÃO REFLEXIVA CRÍTICA INDIVIDUAL DOS PROFESSORES P1 E P2

Esta etapa pretende contribuir para o processo de formação continuada dos sujeitos

envolvidos nesta pesquisa e consiste na obtenção de dados por meio de uma ferramenta de

reflexão individual, que será norteada por quatro ações em momentos distintos como sugere

Smyth apud Ibiapina (2008): descrever, informar e o confrontar e reconstruir.

O processo de reflexão individual foi elaborado com base em um questionário

(IBIAPINA, 2008), com o objetivo principal de orientar as ações reflexivas. Este questionário

possui uma introdução que auxilia o professor no entendimento de cada etapa do processo

reflexivo, como descrito em anexo II. Este instrumento de reflexão foi entregue aos

professores P1e P2 no mês de agosto de 2012, juntamente com o DVD que continha a

gravação da sua aula. Cada professor recebeu somente o vídeo referente à sua aula. Durante o

mês de agosto de 2012, os professores responderam às questões solicitadas e durante este

período mantiveram contato com o pesquisador, por telefone, para esclarecimento de dúvidas

referentes às questões utilizadas para o processo de reflexão.

6.3.REFLEXÃO INDIVIDUAL DOS PROFESSORES P1 E P2 À PARTIR DAS

QUATRO AÇÕES DO CICLO DE SMYTH

A seguir, apresentamos as questões que direcionaram a reflexão crítica individual

para os professores P1 e P2, suas respostas e a análise destas.

Filmadora

G2

G1

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6.3.1. O Descrever

A ação de descrever pretende levar o professor ao distanciamento de suas ações,

estimulando-o à descoberta das razões relativas às escolhas feitas no decorrer da atividade

docente.

Tabela 1: Respostas dos professores P1 e P2 para a ação de descrever.

Perguntas Respostas

1-Qual o contexto

da aula?

P1: Densidade e correntes de convecção.

P2: A aula foi apresentada aos alunos do 3o ano do ensino médio,

tendo como objetivo dar continuidade ao previsto no programa

apresentado a escola de ensino médio de Rochedo de Minas.

2-Que tipo de aluno

e qual a sua

procedência?

P1: Escola Estadual.

P2: Os alunos pertencem a uma turma do 3o ano, em que 90% do corpo

discente trabalha e são de origem humilde. Alguns alunos vieram do

ensino fundamental municipal e outros do EJA. A grande maioria

apresenta problemas de base, desinteresse, e só querem terminar o

ensino médio. Apenas três alunos pensam em dar continuidade aos

estudos.

3-Quantos alunos?

P1: 21

P2: 11

4-Qual o assunto

trabalhado?

P1: Densidade

P2: Eletrolise e deposição.

5-Por que considera

este tema

interessante?

P1: Pode ser pensado em várias situações do nosso dia-a-dia.

P2: O tema é importante, pois explica o que acontece em diversos

momentos da nossa vida, como: recarregar um celular, comprar uma

joia folheada, a outros, etc...

6-Quais os

objetivos?

P1: Para que os alunos compreendam o significado de densidade e que

sejam capazes de aplicá-los na prática do seu dia-a-dia.

P2: Fazer com que os alunos compreenda a eletrólise como um

fenômeno não espontâneo, e que pode ser controlado pelo homem.

7-Quais atividades

desenvolvidas?

P1: Leitura e reflexão do suporte teórico-roteiro. Atividade prática

relacionada ao assunto-roteiro. 6 questões sobre o experimento-

roteiro.

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P2: A eletrólise de uma solução de cloreto de sódio, e a deposição de

cobre (proveniente de uma solução de CuSO4) sobre uma moeda.

8-Como organizou a

turma?

P1: 4 grupos: 1 grupo de 4 alunos, 2 grupos de 5 alunos, 1 grupo de

7alunos.

P2: A turma foi dividida em dois grupos.

9-Por que organizou

a turma desta

forma?

P1: Nenhum motivo. Casualmente.

P2: A turma foi dividida desta forma para que os grupos pudessem

manusear os experimentos. O ideal seria dividir a turma em mais

grupos menores para que todos tivessem a oportunidade de “por a mão

na massa”, conteúdo não havia espaço físico nem material para isso.

10-Como organizou

e conduziu a aula?

P1: Testei o experimento 3 vezes. Busquei várias fontes sobre o

assunto. A condução da aula foi, através do roteiro, anotações numa

folha à parte e realização do experimento. Através da leitura e

explicação do desenvolvimento teórico os alunos constroem suas

conclusões sobre o que se observa no experimento e discutem com a

professora.

P2: Na primeira parte da aula foi realizada a leitura do roteiro e a

revisão de alguns conceitos. Na segunda parte os alunos realizavam os

experimentos, anotando os resultados observados, e por fim

responderam a algumas questões.

11-Quais as formas

de participação dos

alunos?

P1: Observação do experimento e discussão com a professora sobre

suas conclusões. Os alunos tem que explicar o fenômeno observado

com base no desenvolvimento teórico e nas explicações da professora.

P2: Os alunos realizaram as duas práticas por conta própria,

manuseando os materiais e anotando os fatos importantes buscando

compreender os fenômenos.

12-O que motivou a

escolha desse

assunto?

P1: A densidade é assunto que aparece dentro do contexto de várias

situações do nosso dia-a-dia como: misturas, vazamento de petróleo,

inversão térmica, brisa do mar, correntes de convecção no ar

(geladeira), correntes de convecção na água, densidade dos metais, etc.

uma vez aprendido, sempre é possível refletir sobre o assunto na

prática do dia-a-dia.

P2: A afinidade pela área (eletroquímica) e a grande inserção no

mundo atual.

Fonte: Dados de pesquisa.

Segundo Smyth (1992), a primeira ação corresponde ao momento em que o professor

descreve a sua prática respondendo a questão “O que fiz?”.

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Neste momento, a professora P1 descreve que o assunto trabalhado para a aula

experimental, que foi densidade e correntes de convecção e que o objetivo era dar

significado a estes conceitos. Afirma ainda que este tema foi escolhido em função de sua

aplicabilidade no dia-a-dia e que para desenvolver este tema, utilizou leituras, atividade

prática relacionada ao roteiro e questões sobre os experimentos programados. Na aula a

professora dividiu a turma em pequenos grupos de quatro a sete alunos, não sabendo ao certo

os motivos que a orientou nesta ação. De acordo com P1, os alunos após realizarem os

experimentos em sala, poderiam participar da aula fazendo observações e discutindo suas

conclusões acerca dos fenômenos observados na aula.

Observamos que para o professor P2 o conteúdo trabalhado foi eletrólise, buscando

associar este tema ao cotidiano de seus alunos, como exemplo, a recarga de uma bateria de

celular. Para desenvolver este assunto o professor realizou a leitura do roteiro e a atividade

experimental com os alunos, dividindo a turma em dois grupos, justificando esta ação em

função do espaço da sala de aula ser pequena.

As questões 1, 2, 3 e 4 (tabela 1) estão relacionadas ao conteúdo específico da aula.

Os professores P1 e P2 foram objetivos em suas respostas.

Observa-se que ao responderem as questões referentes aos motivos que levaram a

escolha do tema, questões 5, 6 e 12, os professores P1 e P2 utilizaram como argumento

principal o alicerce no cotidiano, indagando o cotidiano de seus alunos, e associando as suas

respostas ao termo dia-a-dia. Assim sendo, é necessário problematizar esta questão, pois o

termo cotidiano possui diferentes sentidos (LUFTI, 1992). Nota-se, que para este autor,

alguns professores associam o termo cotidiano à ciência, ao caráter motivador e às

curiosidades científicas, dar-se ainda, um sentido ilustrativo aos conteúdos científicos. Por

outro lado, existem professores que apresentam uma perspectiva, para o termo cotidiano, de

problematização do conteúdo, mas no fim permanece preso à sequencia formal de conteúdos.

Para Lufti (1992), uma postura crítica em relação ao cotidiano, deve estar relacionada aos

processos de acomodação e alienação sociais, sendo assim, torna-se inevitável o

conhecimento das relações vivenciadas por nossos alunos em seus espaços de vivência.

Contudo, observamos nas respostas de P1 e P2 a ausência de elementos que atrelem o tema

adotado a um questionamento sobre os processos de acomodação e alienação sociais

relacionados à sua comunidade escolar. Consideramos, portanto, que os professores utilizam

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de um viés motivador para a concepção de cotidiano, pois em suas respostas não conseguem

atrelar as relações políticas, econômicas e sociais ao contexto de suas aulas.

As questões 7, 10 e 11 estão relacionadas à dinâmica da aula e neste momento os

professores descrevem quais os recursos didáticos utilizaram e quais foram as formas de

participação dos alunos. É possível observar que P1 afirma utilizar de diálogo com os alunos

para auxiliar na construção do conhecimento e P2 centra suas respostas na atividade

experimental desenvolvida pelos alunos, para justificar a construção do conhecimento.

Retornando ao princípio do ver para aprender, ou seja, apreende-se aqui a ideia de que basta a

observação direta acerca do fenômeno para que o conhecimento seja construído pelos sujeitos.

Neste sentido, enfatizamos que este pensamento está atrelado a uma visão ingênua para o

ensino de ciências, propomos ao analisar está afirmativa que é o diálogo entre os sujeitos

participantes no processo ensino-aprendizagem que possibilita a construção do conhecimento

e a valorização das diferentes formas de pensar (MORTIMER, 1996).

Ao serem indagados a respeito dos motivos que os levaram a organizarem a turma

em pequenos grupos, questões 8 e 9 P1 utiliza como resposta a casualidade e P2 associa esta

resposta a um fazer técnico que possibilita aos alunos manusearem os equipamentos utilizados

na aula experimental. Existe nesta última fala uma preocupação em favorecer a formação

técnica de seus alunos com o manuseio dos equipamentos utilizados em sala.

Por outro lado, há de se problematizar a fala do P1, pois, ao tomar esta ação, de

dividir a turma em pequenos grupos, esta educadora está favorecendo o diálogo entre os

membros participantes do grupo, contribuindo para a troca de significados, renúncia de ideias,

socialização de conteúdos e construção de novos conhecimentos, de maneira mais coerente

com o processo de constituição do conhecimento científico contribuindo para explicitar o

caráter social da ciência, em uma perspectiva de socialização. Sendo possível verificar os

conhecimentos prévios acerca do conteúdo cientifico destes alunos e problematizá-los. Estes

diálogos podem ser enriquecidos por diversos outros elementos que podem agregar valor aos

argumentos inerentes nos discursos. Sendo assim, existe uma contribuição real que possibilita

a enculturação14 dos sujeitos envolvidos neste discurso.

14

“(...) um processo de socialização das práticas da comunidade cientifica e de suas formas particulares de pensar e de ver o mundo, em ultima análise, um processo de “enculturação”“. (MORTIMER, 1996)

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O argumento de ensino de ciências para o professor P2, observado em suas respostas

às questões 8 e 9, perpassa por um fazer técnico. Esta visão baseada na perspectiva para a

formação de cientistas, associado a um argumento motivador e facilitador do ensino de

ciências, possui aporte na década de 60, em que países como Estados Unidos da América do

Norte e Inglaterra difundiram em seus programas de ensino, a importância das atividades

experimentais em sala de aula com o intuito de incentivar a formação de cientistas para

contrapor aos avanços tecnológicos da antiga União Soviética. Por outro lado, atualmente

entendemos que o desenvolvimento de atividades experimentais precisa priorizar o

enriquecimento das experiências individuais, contribuindo para o processo de construção de

um novo conhecimento acerca da natureza da ciência, visando superar uma visão simplista

sobre ciência e não somente incentivar a formação de novos cientistas, como foi feito no

passado.

Concluímos que a realização desta etapa, o descrever, foi satisfatória no sentido de

contribuir para a identificação da compreensão de P1 e P2, acerca do papel da

contextualização no ensino de ciências.

6.3.2. O Informar

Neste momento o professor utiliza de seu conhecimento tácito, para responder a

questão “O que agir desse modo significa?” é o momento que Schön (2000) denomina como

construção do conhecimento sobre a ação.

Tabela 2: Respostas dos professores P1 e P2 para a ação de informar.

Perguntas Respostas

1-A aula atingiu os

objetivos?

P1: Parcialmente, pois como nem todos discutiram sobre a exploração do

fenômeno comigo, pode ser que alguns efetivamente não tenham

alcançado o objetivo, para confirmar se a aula atingiu o objetivo deveria

fazer uma avaliação individual utilizando situações do dia-a-dia que na

prática os levaria a pensar sobre o assunto (densidade).

Apesar de a maioria ter entregado as respostas das questões do roteiro

corretamente respondidas, como eles fizeram em grupo, não posso

afirmar que efetivamente cada um atingiu o objetivo, pois o mesmo se

estende na prática do dia-a-dia e por toda sua vida. (os alunos

comemoram por ter conseguido explicar corretamente. Queria ouvir o

que eles disseram.).

P2: Quanto à execução sim. Quanto a despertar nos alunos um censo

crítico e investigativo, parcialmente.

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2-O que fez para

atingir os

objetivos?

P1: Leitura do roteiro com explicação dos pontos mais importantes para

atingir esse objetivo. (21:44 a 29:10)

Discussão com cada grupo acerca de suas explicações sobre o fenômeno

observado no experimento com base no conceito de densidade. Para cada

grupo, fazendo perguntas importantes para que os alunos observem as

diferenças entre os sistemas analisados durante o experimento e elaborem

explicações que justifiquem suas observações. Ouvir os alunos para

verificar como eles estão interpretando as observações.

P2: À medida que a prática era executada, sempre fazia perguntas sobre

os fatos que aconteciam, buscando fazer com que os alunos observassem

e interpretassem o fenômeno a luz de seus conhecimentos.

3-Por que acha que

conseguiu atingi-

los?

P1: Em cada grupo formado as respostas do roteiro foram quase todas

corretas e no final dos experimentos os grupos conseguiram explicar

oralmente os fenômenos observados nos dos sistemas.

P2: A maioria dos alunos demonstrou interesse, interagindo com os

experimentos, fazendo perguntas e, em algumas situações, propondo

testes integrando o conhecimento com o cotidiano.

4-Quais os tipos de

conhecimento

trabalhados?

P1: Solubilidade, densidade, correntes de convecção.

P2: A observação e interpretação de fenômenos químicos visando à

integração entre prática e teoria.

5-Por que fez

opção por esses

conhecimentos?

P1: O conhecimento mais trabalhado no roteiro é densidade. Achei

interessante esse assunto, pois, foi uma maneira diferente de abordar

densidade, foi contextualizada de maneira a comparar valores de

densidade de materiais diferentes (água liquida, água sólida, água

salgada) e pensar como a densidade influencia de maneira importante na

natureza. E que aquela maneira formula (d = m/v) não é a única maneira

de pensar sobre densidade, ela pode e deve ser aplicada no nosso dia-a-

dia, ou seja, contextualizado.

P2: Como a matéria anterior foi pilhas, a qual uma reação química gerava

corrente elétrica, os alunos poderiam observar, através dos experimentos,

que o contrário também ocorre, ou seja, uma corrente elétrica gerando

uma reação química.

6-Quais as

dificuldades que

você encontra para

estimular o aluno a

aprender?

P1: Alguns estão cansados, reclamam que tudo é muito difícil e ficam

conversando durante as explicações; é difícil prender a atenção deles o

tempo todo. As turmas são muito cheias (+ ou - 40 alunos).

P2: Nesta turma, em específico, a falta de perspectiva. Os alunos não

encaram o estudo como uma ferramenta de mobilidade social, de

melhora de vida, desta forma se dedicam pouco. Falta interesse,

dedicação e tempo para os estudos.

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7-A que atribui

esta dificuldade?

P1: Não sei.

P2: A falta de perspectiva, pois numa turma de aproximadamente 20

alunos somente 2 deverão tentar vestibular ou seguir estudando. Outro

fato seria a falta de contextualização entre o conteúdo e a realidade de

cada aluno. Muitas vezes escutamos alguns dizendo: “para que estudar

isso?”.

8-Que relação

existe entre a

prática docente e o

conteúdo

conceitual?

P1: A prática docente está a todo o momento atrelado ao conteúdo

conceitual, fazemos um planejamento e trabalhamos com base nesse

planejamento.

P2: A prática e o conceitual devem andar de mãos dadas, um auxiliando

o outro na caminhada em busca de conhecimento. O conceito serve de

base, a prática deve vir na construção e interpretação do conteúdo. A

prática pode ser utilizada como novidade, atrativo, contudo não deve

parar neste ponto. Ela deve buscar a interpretação e formulação de teoria

através da observação.

9-Como

sistematiza essas

discussões

(diálogos em sala

de aula)? (Como

coloco em

prática.).

P1: Como temos livro didático, procuro aproveitar o máximo mesmo.

Faço explicações na lousa, faço atividades práticas na aula, textos.

P2: Durante a prática busco chamar a atenção dos alunos para os fatos

mais importantes, tentando indicar o caminho sem dizer o sentido, pois

eles devem ser capazes de formular suas próprias teorias. Os alunos tem

liberdade para debater entre si e me questionarem a todo o momento.

10-Que relação faz

entre o tema e as

atividades

escolhidas?

P1: Procuro relacioná-los para que o aluno reflita.

P2: A eletrólise trata das reações químicas não espontâneas que só

ocorrem frente a uma força externa. Nas atividades, as reações ocorriam

após a passagem de uma corrente elétrica, fato este observado pelos

alunos.

11-Que relação faz

entre a sua prática

e os conceitos que

internalizou

(aprendeu ao longo

de sua formação)?

(Graduação

faculdade e o que

eu utilizo no dia-a-

dia.).

P1: Nunca pensei nisso, mas não relaciono diretamente esses dois pontos.

Fazemos o planejamento e tentamos cumpri-lo. Tem conceitos que não

domino muito bem, pois também está por fora da minha realidade, ou

seja, não internalizei, fico insegura.

P2: A prática teve um papel de destaque quanto ao conhecimento

adquirido. Trabalhei com iniciação científica desde o 5o período, e muito

da teoria se tornou realidade após a execução dos trabalhos em

laboratório. Trabalhei por muito tempo com eletroquímica, fato que me

ajudou na formulação de teorias próprias e na escolha desta prática, por

exemplo.

12-Como você

acha que suas

escolhas teóricas

acerca das

P1: Nunca havia pensado nisso, mas vejo que isso faz muita diferença

para o interesse do aluno e consequentemente, para sua efetiva

aprendizagem, pois aluno interessado é aluno que entende e vai se sair

bem nas avaliações tanto internas quanto externas.

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perspectivas de

ensino-

aprendizagem,

afetam a sua

prática educativa?

P2: O professor não deve ser um reprodutor a seguir um livro. Ele deve

saber escolher o que será apresentado em determinado conteúdo, sendo

crítico e levando em conta a realidade dos alunos. Desta forma, a

formação continuada e o estudo constante devem ser ferramentas para

que haja um ensino de qualidade.

Fonte: Dados de pesquisa. (Grifo nosso).

Ao responder as questões propostas abre-se um espaço fundamental para a reflexão

sobre o significado das escolhas feitas, tornando-se possível discutir se os conhecimentos

utilizados no desenvolvimento das atividades docentes são espontâneos ou sistematizados,

explícitos ou não (IBIAPINA, 2008). Esta etapa é significativa para a reflexão sobre os

conceitos de ensino-aprendizagem que norteiam a prática do professor, promovendo

oportunidade para a análise da linguagem utilizada na aula, dos objetivos e razões em agir, do

contexto social, dos alunos e da escola, possibilitando o entendimento do significado das

escolhas feitas no decorrer da atividade docente.

As questões 1, 2 e 3 (tabela 2) estão relacionadas com os objetivos da aula, em que

os professores P1 e P2 refletem sobre suas ações, considerando se os objetivos foram

alcançados. Neste sentido, P1 e P2 afirmam ter utilizado de diálogo com os alunos em suas

aulas, entretanto somente P1 evidencia as discussões que estabeleceu e manteve ao longo de

sua aula. Neste momento, P1 e P2 fazem ponderações em relação ao aproveitamento de seus

alunos e consideram que os resultados obtidos foram satisfatórios. Entretanto P2 afirma não

ser possível avaliar se a aula contribuiu para a formação crítica de todos os seus alunos,

contudo, afirma que foi possível contribuir para a construção de habilidades técnicas, durante

a execução do experimento pelos alunos.

Quando questionados acerca dos conhecimentos trabalhados, questões 4 e 5, para P1

a resposta é objetiva e está relacionada aos conteúdos químicos específicos, densidade,

solubilidade e correntes de convecção. Entretanto para P2, sua resposta está relacionada ao

desenvolvimento de habilidades de seus alunos ligados à “observação e interpretação dos

fenômenos químicos (...)” observados em sala de aula pelos alunos. Observamos que P1 e P2

retornam ao principio da contextualização e da utilidade do conhecimento científico

(inicialmente discutido e apresentado no capítulo 4) para justificar a sua opção por estes

conteúdos. Sendo que a visão de contextualização destes professores está relacionada a uma

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visão de cotidiano associada a um efeito ilustrativo do conhecimento científico como descrito

na análise das respostas as questões 5, 6 e 12 da ação de descrever (item 5.3.1).

As questões 6 e 7 demonstram a preocupação destes professores com o conteúdo

específico. Neste sentido, P1 utiliza como justificativa para a não participação dos alunos o

número total de alunos por sala, que é de aproximadamente 40 alunos, número que considera

muito grande. P2, por sua vez, justifica o não interesse dos seus alunos em prestar vestibular

como principal justificativa para o desinteresse da turma.

Observa-se que na resposta à questão 8, os professores estão atrelando suas práticas

docentes apenas ao conteúdo específico, tendo dificuldade em definir quais teorias e ou

processos contribuem para suas práticas docentes. Neste sentido, acreditamos que os

professores utilizaram de seu conhecimento tácito para estabelecer a relação entre sua prática

docente e o conteúdo conceitual, sem se dar conta disto. Pois verificamos em suas respostas a

ausência de referencias teórica como no texto abaixo:

Pergunta 8, resposta de P1: “A prática docente está a todo o momento

atrelado ao conteúdo conceitual, fazemos um planejamento e

trabalhamos com base nesse planejamento.”.

Resposta de P2: “A prática e o conceitual devem andar de mãos dadas,

um auxiliando o outro na caminhada em busca de conhecimento. O

conceito serve de base, a prática deve vir na construção e interpretação

do conteúdo. A prática pode ser utilizada como novidade, atrativo,

contudo não deve parar neste ponto. Ela deve buscar a interpretação e

formulação de teoria através da observação.”.

Portanto, suas práticas docentes não são sistematizadas conscientemente. Sendo

assim, temos neste momento a possibilidade de discutirmos os objetivos e o sentido do ensino

de ciências no ensino médio. Acreditamos que este ensino deva favorecer uma visão de

ciência, como um processo social, que possibilita ao aluno, inserido neste processo de

socialização das práticas da comunidade científica, como uma nova forma de pensar e ver o

mundo, portanto há neste processo uma possibilidade de enculturação dos alunos

(MORTIMER, 1996).

A resposta do P1 para a questão 9 sugere uma postura tradicional ao utilizar o livro

didático para auxiliar suas explicações na lousa. Contudo, quando observamos a prática desta

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professora, para esta aula específica, percebemos que ela separa a turma em pequenos grupos

o que favoreceu o diálogo entre os alunos e a professora, além disso, é possível observar a

preocupação desta professora com os conhecimentos prévios destes alunos ao longo das

discussões, demonstrando uma postura de mediação para a construção do conhecimento.

Porém percebe-se em sua fala, na resposta às questões 8 e 9 da ação de descrever (5.3.1), que

esta ação foi espontânea, ou seja, não sistematizada, não explícita. Neste sentido, observamos

um “amalgama” em relação a sua postura pedagógica, ou seja, segundo Schön (1992), temos a

construção deste saber pedagógico na ação, ou seja, para nós estes saberes docentes são

tácitos. Observamos que a resposta de P2 está associada a uma visão de aula experimental

demonstrativa.

As questões 10, 11 e 12 trazem elementos que fazem os professores refletir sobre a

sua prática docente. Existe, para estes professores, uma grande incerteza acerca das

perspectivas teóricas que fundamentam a sua prática docente, reflexo este, dentre outros

aspectos da não utilização de artigos científicos no preparo das aulas e da dependência direta

ao livro didático, como se este pudesse, ou melhor, devesse resolver todas as complexas

questões relacionadas com a prática de ensino-aprendizagem. Existe uma lacuna teórica que

está sendo preenchida pelo conhecimento tácito.

Questão 11, resposta P1: Nunca pensei nisso, mas não relaciono

diretamente esses dois pontos. Fazemos o planejamento e tentamos

cumpri-lo. Tem conceitos que não domino muito bem, pois também

está por fora da minha realidade, ou seja, não internalizei, fico

insegura.

P2: A prática teve um papel de destaque quanto ao conhecimento

adquirido. Trabalhei com iniciação científica desde o 5o período, e

muito da teoria se tornou realidade após a execução dos trabalhos em

laboratório. Trabalhei por muito tempo com eletroquímica, fato que

me ajudou na formulação de teorias próprias e na escolha desta

prática, por exemplo. (Grifo nosso)

Neste momento, P1 foi levada a refletir criticamente sobre os elementos que

norteiam sua prática docente e percebeu que possui dúvidas e incertezas em relação às

escolhas feitas. Neste sentido, a ferramenta proposta por Smyth, contribuiu para a reflexão

intrapessoal deste professor. Na fala de P1 para a questão 12: “Nunca havia pensado nisso,

mas vejo que isso faz a diferença (...)”. Percebemos que P1 utilizou seu conhecimento, para

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refletir sobre os pressupostos que norteiam sua prática docente, como foi considerado nas

análises anteriores. Schön denomina este momento como sendo “Reflexão-sobre-a-ação”.

Contudo, ainda para estas questões, P2 questiona a utilização do livro didático e o

currículo adotado de forma padrão pelos professores, associando a escolha do material e os

conteúdos ministrados aos interesses de seus alunos. Neste momento a ferramenta utilizada

por nós contribui para a reflexão crítica deste professor.

Em síntese, consideramos que esta etapa foi importante no sentido de identificar que

P1 e P2 utilizam de seu conhecimento tácito para relacionar sua prática docente ao seu

conhecimento específico. Porem, não reconhece este conhecimento de forma sistemática.

Neste sentido, ao afirmarmos que o professor está utilizando seu conhecimento tácito

para responder às questões estamos afirmando que estes não utilizaram referenciais teóricos

sistematizados para tecerem suas observações, confirmando nossa hipótese de que estes

professores utilizam de seus conhecimentos de maneira não sistematizada.

A próxima etapa desta pesquisa tem por objetivo proporcionar meios para tornar

explicito o conhecimento tácito destes professores, contribuindo para a formação continuada

destes professores. Por sua vez, P1 e P2 manifestaram suas reflexões sobre suas ações,

aproximando-se assim do nosso objetivo.

6.3.3. O Confrontar

Nesta etapa temos, segundo Smyth (1992), como questão norteadora: Qual a função

social dessa aula neste contexto particular de ação? Portanto, as ações reflexivas permitem a

compreensão do significado das práticas para a manutenção ou transformação de

desigualdades, diferenças e preconceitos.

Tabela 3: Respostas dos Professores P1 e P2 para a ação de confrontar

Perguntas Respostas

1-Como você acha

que chegou a

construir o seu

perfil docente, ou

seja, sua

perspectiva acerca

P1: Quando estava fazendo minha graduação pensava que seria uma

professora diferente de todas, pois meus alunos iriam aprender tudo

direitinho, mas na prática estou tendo dificuldades. Falar que consigo

100% de aprendizagem efetiva dos alunos não posso. Meu perfil como

professora hoje é bem diferente de quando eu comecei, no início eu

observava menos o meu aluno e isso veio mudando com o passar da

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das contribuições

do aluno e do

educador no

processo de

ensino-

aprendizagem?

minha prática pedagógica. Mas sinto que meu perfil como docente vai

mudar ainda mais, pois estou parando para refletir sobre minhas ações e

como elas são fundamentadas para o ensino aprendizagem do aluno.

P2: O meu perfil foi construído através da prática e do diálogo com

colegas de trabalho. Contudo, desde o curso de formação continuada

para professores, realizado no centro de ciências da UFJF (João XXIII),

a minha visão do processo se modificou e ficou evidente a necessidade

de atualizações constantes. Antes do curso procurava ler artigos

variados sobre educação em química, principalmente artigos da química

nova na escola.

2-De que maneira

você considera que

o conhecimento

trabalhado

contribui para que

o aluno possa

utilizá-lo na sua

vida?

P1: O conhecimento sobre densidade pode ser contextualizado em

várias situações da nossa vida como:

. Mistura de líquidos imiscíveis como água e óleo, a exemplo em pode

ser refletida também nos acidentes com vazamento de petróleo no mar,

por ser menos denso ele flutua na água do mar causando grande prejuízo

para o meio ambiente.

. Inversão térmica.

. Brisa do mar.

. Por que o congelador na geladeira fica na parte superior e não na parte

inferior?

. Por que o condicionador de ar deve ser colocado na parte superior e

não na parte inferior?

P2: Através do conhecimento trabalhado os alunos poderão ver e

entender, com mais clareza, diversos processos redox do nosso

cotidiano. Eles terão consciência de processos corriqueiros, como

carregar o celular, utilizar pilhas recarregáveis e na análise de materiais

recobertos por metais nobres entre outros.

3-Qual a

importância desse

conhecimento para

transformar a

realidade do

aluno?

P1: A importância desse conhecimento para transformar a realidade do

aluno é mudar a maneira como ele interpreta as situações do seu dia-a-

dia que tenham haver com o assunto densidade.

P2: Quando os alunos relacionam a eletroquímica com a recarga da

bateria de um celular, eles compreendem o motivo do descarte

adequado, como o processo que ocorre, além de uma visão mais ampla

do assunto.

4-O que você acha

que limita as suas

práticas

educativas?

P1: Somos cobrados o tempo todo no âmbito escolar por supervisores e

diretor, temos que atingir metas. Nosso aluno tem que se sair bem nas

provas externas (como Pism, Enem, Simave, Paae, etc.) e nas provas

internas. Temos um planejamento a cumprir que deve seguir o CBC.

Mas ensinar e aprender são ações que precisam de muito trabalho.

Selecionar o “que” ensinar e “como” requer um planejamento

complexo, porque é preciso antes de tudo pensar em quem vai aprender.

É preciso parar para pensar se está dando certo.

P2: De uma forma geral, a falta de empenho dos alunos, a falta de

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tempo para realizá-los, pois os professores se veem presos ao conteúdo

a ser ministrado, falta de espaço físico.

5-Que perspectivas

serviram de base

para a construção

de sua prática

docente?

P1: Penso que vou fazer diferença na vida de cada aluno, pois através

dos conhecimentos desenvolvidos o mundo possa ser melhor

interpretado, pois, vão aprender coisas relacionadas com o seu dia-a-dia.

P2: Inicialmente a prática tinha o intuito de demonstrar, comprovar fatos

e servir de chamariz para o conteúdo. Contudo, atualmente vejo na

prática uma ferramenta importante na aquisição de conhecimento,

formação de opinião e teorias, além de tornar os alunos mais hábeis e

capazes de se desenvolverem, até certo ponto, sem a intromissão do

professor.

6-Em que teoria se

fundamenta para

romper com essas

dificuldades?

P1: Tentar sempre, e se preciso for mudar para atingir o objetivo

mudarei.

P2: As dificuldades são rompidas com muito esforço, força de vontade e

o desejo de que a educação possa ser algo interessante, transformador e

que forme cidadãos.

7-Qual a função

social de suas

ações?

P1: Formar cidadãos que saibam fazer suas escolhas.

P2: A prática, juntamente com a teoria, busca integrar o aluno a

sociedade cada vez mais dinâmica e moderna. O conhecimento

adquirido deve ser útil para ampliar horizontes e incentivar o

desenvolvimento dos alunos.

8-Que tipo de

aluno esta sendo

formado?

P1: Reflexivo, que pensa sobre suas ações e as consequências das

mesmas em sua vida e das pessoas que o cercam, formar cidadão

críticos.

P2: Busco sempre a formação de alunos críticos e interessados em

compreender o mundo em sua volta, capazes de interpretar, e não aceitar

o mundo.

9-Qual a função

das escolhas feitas

para a formação do

aluno?

P1: Porque é o certo a ser feito, não poderia ser diferente.

P2: Tornar os alunos em cidadãos conscientes, que compreendam o

mundo e possam transformá-lo, buscando uma vida melhor em

sociedade.

10-Que conceitos

serviram de base

para a construção

das suas práticas

educativas?

P1: Enquanto educadora de uma turma a responsabilidade é minha e

isso é um peso muito grande é o meu nome em jogo, se eu falhar toda a

turma falha comigo, pois sou a educadora, não posso medir esforços

para obter o sucesso.

P2: Os alunos devem ser capazes de realizar um experimento

interpretando-o, criando suas teorias próprias, e através de seus

conhecimentos adquiridos poderem debater sobre os fenômenos a sua

volta.

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11-Que conexão há

entre as

perspectivas

construídas e sua

prática docente?

P1: Sinto que preciso ajustá-las, pois ainda não estão em total sintonia,

pois ainda estou fracassando, que triste...

P2: Tento ao máximo deixar os alunos livres para realizar e interpretar a

aula prática sem minha ajuda. Incentivo à interpretação e formulação de

teorias, sempre com o auxilio de uma base teoria.

12-Qual a relação

existente entre

esses conceitos e

sua formação?

P1: A minha formação começou na faculdade que foi muito

encorajadora, parecia que era fácil ser educadora, mas hoje sei que é um

trabalho que evolui sempre, pois as pessoas mudam, não ensinamos

sempre para as mesmas pessoas e isso nos obriga a refletir a todo o

momento, nossa formação é contínua, ela começa na faculdade e se

estende por toda vida profissional.

P2: Na minha formação, enquanto aluno universitário realizava práticas

e era incentivado a interpretá-las, criando minhas teorias e construindo o

conhecimento. Contudo, não era incentivado, explicitamente, em utilizar

este método com alunos de ensino médio (fundamental). Inicialmente

utilizava os experimentos como atrativo algo bonito de se ver. Somente

após a realização do curso de formação continuada de professores. Tive

a visão do que deveria ser feito e o que deveria ser aproveitado em uma

aula prática.

Fonte: Dados de pesquisa.

Neste momento, segundo Smyth (1992), é possível identificar se o uso das ações

promove aproximação entre a prática observada e a opção declarada, além de interrogar as

ações, princípios e teorias. Esta etapa possui uma importância central para o processo de

reflexão crítica, pois permite confrontar aquilo que fez (descrever) com o que percebeu

(informar).

Na questão 1(tabela 3), é possível observar que P1 sente dificuldade em definir o seu

perfil docente, apesar disso, ela se diz preocupada em observar seus alunos, mas sua resposta

acaba sendo evasiva. Já P2 afirma que seu perfil docente foi construído com sua prática

profissional, evidenciando a construção do seu conhecimento tácito, e com a leitura de artigos

científicos. Contudo, após o curso de formação continuada sua visão de ensino e formação

continuada mudou, afirmando ser necessário estar atualizando-se de maneira constante,

entretanto percebemos pouca fundamentação teórica nas respostas deste professor.

Para as questões 2 e 3, os professores P1 e P2 defendem que o conhecimento

trabalhado em sala de aula contribuirá para a vida de seus alunos, não definindo exatamente

como, e atribuem o argumento “utilitário” ao conhecimento científico, aproximando-se

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novamente de suas concepções, já observadas, na primeira etapa desta pesquisa (item 4.1).

Neste sentido, há de se pensar caminhos para problematizar estas duas questões (2 e 3), pois

este seria o momento para que estes professores refletissem criticamente acerca do contexto

social, político e cultural em que seus alunos estão inseridos, no entanto percebe-se um

distanciamento destes professores acerca desta discussão.

Quando os professores se deparam com as questões 4, 5 e 6 são levados a questionar

as relações entre os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Neste sentido,

P1 demonstra uma preocupação com os alunos mais que com o conteúdo específico, este fato

foi observado durante a gravação da aula. Sendo assim, aproximando-se e compartilhando do

pensamento da pesquisadora Galiazzi (2004): “é possível afirmar que as atividades

experimentais possuem êxito pedagógico quando os professores estiverem preocupados com a

aprendizagem dos alunos mais que com a transmissão de conhecimento pela prática”.

Portanto, P1 demonstra em suas ações uma postura semelhante à citada pela literatura, apesar

de em sua resposta para a questão 6, não estar configurada esta sistematização. Observamos,

no entanto, que P2 vai além, em suas respostas, associa a atividade experimental a uma

ferramenta mediadora na construção do conhecimento. Entendemos que existe um ganho

qualitativo na resposta deste professor, associamos este feito a uma possível influência do

curso de formação continuada e a influencia do processo de reflexão crítica.

As questões 7 e 8 estão relacionadas com a função social das ações destes

professores. Para esta questão, as respostas são diretas e estão relacionadas, com os objetivos

da LDB (Brasil, 1996) ao afirmar que o objetivo de suas aulas é formar cidadãos que saibam

fazer suas escolhas, logo, cidadãos críticos e autônomos. Contudo, existe uma dificuldade em

relacionar o contexto social, político e cultural de sua comunidade escolar ao contexto de suas

aulas, como já foi observado nas questões 2 e 3 desta etapa de reflexão. Portanto, observamos

aqui uma contradição em relação ao que “se quer fazer” e ao “que se faz”. As ausências da

reflexão crítica durante a formação inicial e durante a prática profissional contribuem para a

dificuldade apresentada por estes professores em atribuir a suas práticas docentes um caráter

social e político.

As respostas de P1 para as questões 9 e 10 foram evasivas. Não há intenção de

prejulgar os saberes deste professor ao afirmar que suas respostas foram evasivas e sim

ponderar a necessidade de se problematizar esta questão na próxima etapa da pesquisa em

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função de sua importância e relevância em relação à função social, política e cultural do ato

de educar, ou seja, este momento é importante para confrontar os ideais deste professor com

sua prática docente, podendo contribuir para a sua reflexão crítica. No entanto, para P2, suas

respostas reafirmam o seu interesse em formar cidadão críticos e autônomos. Contudo, tanto

para P1 quanto para P2 existe uma tendência em enfatizar as suas práticas docentes apenas

com o conteúdo específicos.

É possível observar uma grande preocupação de P1 acerca de seu sucesso como

educadora. Neste sentido, em sua resposta para a questão 11, percebe-se uma angústia em sua

fala, já que a mesma afirma estar “triste” com o seu “fracasso”. Sendo assim, concordamos

com Zeichner (1992), quanto aos limites do processo de reflexão individual associado a “falta

de atenção ao contexto social do ensino no desenvolvimento docente”, ignorando o contexto

escolar, as estruturas políticas que norteiam às práticas escolares e as pressões externas a sala

de aula que de forma geral. Tais aspectos contribuem para os professores considerarem os

problemas como exclusivamente seus. Neste sentido para Zeichner (1992), temos:

(...) Um terceiro aspecto do insucesso da formação docente reflexiva para

promover o desenvolvimento real dos professores é a ênfase clara do foco

interiorizado das reflexões dos professores sobre o seu próprio ensino e

sobre os estudantes, desconsiderando-se as condições sociais da educação

escolar que tanto influenciam o trabalho docente em sala de aula. Esse viés

individualista faz com que seja menos provável que professores sejam

capazes de confrontar e transformar os aspectos estruturais de seu trabalho

que minam a possibilidade de atingirem seus objetivos educacionais.

(Zeichner, 1992, p.542).

Porém para Freire (2012), esta realidade se destaca quando os educadores se deparam

por um motivo qualquer a uma situação de sentirem-se proibidos de atuar, em suas palavras

“(...) quando se descobrem incapazes de usar suas faculdades, sofrem. (p.72)”. Neste sentido,

percebemos que as pressões externas a sala de aula apontada por este educador, sobrepõe as

suas intenções para o seu ato de educar, sendo forçado a percorrer caminhos que a priori não

foram definidos por eles.

Sobretudo, além do exposto acima, há de se questionar o pensamento docente

espontâneo e o conhecimento tácito, a fim de se evitar este “mal estar docente”. Uma possível

saída seria buscar na literatura conhecimento teórico atualizado sobre as questões que

envolvem a aprendizagem e o ensino de ciências, produzindo a partir da reflexão crítica

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conhecimento significativo acerca do ensino de ciências, sendo estes novos saberes

importantes para esta professora, a fim de minimizar suas incertezas acerca do processo

ensino-aprendizagem e suas angustias. Neste sentido, é importante ressaltar que na primeira

etapa desta pesquisa, P1 deixa claro em suas respostas a não utilização de artigos científicos

relacionados ao ensino de química para o planejamento de suas aulas, utilizando apenas o

livro didático.

Esta etapa da reflexão crítica, o confrontar, poderá contribuir com esta professora,

favorecendo a sua formação continuada e sugerindo possíveis caminhos para o

questionamento dos seus conhecimentos tácitos.

Observamos na resposta de P2 para a questão 11 novamente a necessidade de atrelar

a aula experimental à demonstração de teoria, neste sentido uma visão simplista acerca do

papel do ensino experimental associada a uma visão de ensino de ciências desenvolvida a

partir da década de 60, como discutido na ação de descrever e na introdução.

Ao refletir acerca da relação existente entre a sua prática docente e sua formação, P1

responde, na questão 12, que a formação para o professor deve ser contínua, mas ao mesmo

tempo, não consegue estabelecer uma relação segura entre sua formação inicial e continuada e

a relação destas com sua prática docente. Com relação à P2, há neste momento uma crítica ao

seu pensamento docente espontâneo em relação aos pressupostos que norteavam suas aulas

experimentais quando ele afirma: “Inicialmente utilizava os experimentos como atrativo, algo

bonito de se ver. Somente após a realização do curso de formação continuada de professores.

Tive a visão do que deveria ser feito e o que deveria ser aproveitado em uma aula prática.”.

Contudo, não constatamos esta mudança ao analisar sua resposta para as questões 9, 10 e 11

desta ação de confrontar.

Há de se considerar que esta terceira ação (confrontar) exerceu um grande impacto

nestes professores, em alguns momentos é possível observar, em P1, um mal estar docente

como apresentado na questão 11. Concluímos que estes professores foram levados a refletir

acerca de suas práticas docentes e de suas opções declaradas, portanto, temos aqui elementos

que podem contribuir com a formação continuada destes professores. Contudo, temos que

ponderar acerca do possível desgaste promovido por esta ferramenta, não sendo possível neste

momento, afirmar se este caminho escolhido por nós desencadeará no futuro uma

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contribuição real e positiva para a prática docente destes profissionais. Neste sentido, temos

aqui algumas questões que iriam nortear a terceira etapa desta pesquisa colaborativa.

6.3.4. O Reconstruir

A última ação será a busca da reconstrução da prática docente, que será estimulada

pela questão: Como posso agir diferente? A compreensão das ações realizadas na aula cria

condições para que a reconstrução das práticas docentes ocorra, bem como, ajuda a relacionar

as construções feitas na escola com os interesses sociais e políticos.

Tabela 4: Respostas dos professores P1 e P2 para a ação de reconstrução

Perguntas Respostas

1-O que você

mudaria na sua

aula?

P1: Preciso preparar meu material de trabalho, pois ficar seguindo livro

gera aulas cansativas para os alunos, é preciso descobrir o que é

fundamental que eles aprendam, sei que esse vai ser trabalhoso para

mim, mas importante para que eles aprendam o essencial.

P2: Reorganizaria o roteiro, adicionando algumas questões para que os

alunos respondessem á medida que realizassem a prática. As adições

das questões deverão fazer com que o professor interfira menos durante

a aula. A interferência tinha a finalidade de instigar o aluno, contudo

tirava um pouco da dinâmica da aula. Dividir a turma em mais grupos

para que todos os alunos tivessem condição de manusear e observar

melhor o experimento. Acrescentaria ao roteiro algumas questões a

serem respondidas, para realizar um rodízio durante a prática. Incentivar

os alunos a trazerem materiais do seu cotidiano para fazerem parte do

experimento.

2-O que faria

diferente no

sentido de motivar

o aluno para

aprender?

P1: Vou pensar melhor sobre isso ainda, mas de imediato parar de

ensinar coisas que não vão fazer diferença na vida dos alunos.

P2: Para cada turma, a ser aplicado o experimento, faria um estudo

sobre a realidade e os interesses dos alunos para adequar o roteiro, na

parte da introdução, buscando trazer o conteúdo para a realidade do

aluno.

3-O que você faria

para ampliar o

pensamento crítico

reflexivo do aluno?

P1: Discussão sobre texto, entrevistas, reportagens, noticias etc.

P2: Poderia realizar um debate após a prática, em que cada grupo

poderia expor e confrontar suas conclusões com as dos outros grupos,

visando criar uma teoria baseada na observação de todos.

4-Que outras

estratégias usaria

para refletir sobre

P1: A filmagem de uma aula. Confesso que fiquei morrendo de medo de

ser filmada, mas quando vi a filmagem foi muito importante para minha

reflexão como professora.

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o que fez no

decorrer da aula?

P2: Seria interessante a confecção de mini-relatórios por parte dos

alunos para que pudesse ver até que ponto a observação e interpretação

de cada um chegou.

5-Que proposta

faria para melhorar

o processo

reflexivo e mudar a

prática docente em

outras aulas?

P1: O processo reflexivo tem que ser contínuo, não podemos parar de

refletir, pois através dessa reflexão que surgem as mudanças. É preciso

detectar o que está dando certo e o que não está funcionando para

atingir o objetivo, para daí montar práticas docentes que possam surtir

maior efeito sobre os objetivos.

P2: O ideal seria trazer a prática, e o conteúdo, para o contexto do

aluno, para que ele tenha interesse e veja sentido no que aprende. Neste

sentido, realizar aulas práticas e promover debates para que o aluno seja

o “criador de teorias” e não apenas um reprodutor de conhecimento.

Isso tornaria o aluno num cidadão mais crítico, observador e antenado

com o que acontece com o mundo.

6-Que proposta

faria para melhorar

o seu percurso de

desenvolvimento

profissional?

P1: Teria que arrumar maior tempo para planejar as práticas docentes.

P2: Atualmente estou muito interessado nas aulas temáticas, em que

traria textos demonstrando a teoria no cotidiano. Estes textos teriam a

finalidade de incentivar os alunos, e sair da aula tradicional em que o

professor escreve/explica, e por muitas vezes os alunos não entendem

por não verem sentido. Claro que a teoria é importante, mas o formato

deve se adequar a velocidade e interesse dos alunos.

7-Qual a relação

que você faria

entre o seu

trabalho atual e o

realizado antes das

sessões de

reflexão?

P1: Filmagem na integra. Não posso responder efetivamente ainda a

essa pergunta, pois estou no trabalho de reflexão, mas o meu trabalho,

após essas reflexões vai, com certeza, ser bem diferente. Pois, agora não

culpo os meus alunos pelo meu fracasso, compreendo que se eles

fracassam é por minha culpa, pois eu sou a educadora e preciso buscar

maneiras para atingir o meu objetivo. Se não estou conseguindo o

problema esta na minha prática pedagógica.

P2: Após a reflexão pude observar que a prática e interpretação dos

resultados são importantes, mas não deve parar por ai. Deve ser

realizado um momento de reflexão e proposição também por parte dos

alunos. Com a relação à execução da prática, deverei interferir menos

utilizando um roteiro adequado, onde já existirão os indicativos e

perguntas que incentivarão os alunos.

8-O que você acha

que ainda precisa

melhorar no seu

atual estágio de

desenvolvimento

profissional?

P1: Saber montar o meu material de trabalho, pois preciso selecionar os

conhecimentos essenciais para as minhas turmas.

P2: As aulas ainda são, em sua maioria, tradicionais, algo não muito

atrativo. Para a clientela atual. A leitura de artigos e livros buscando

estratégias de ensino seria interessante para realizar aulas adequadas ao

interesse dos alunos e do mundo. A troca de informação com

profissionais da área também é algo proveitoso e importante, e isso pode

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ser feito através de cursos de formação continuada.

9-O que você pode

fazer para alcançar

esta mudança?

P1: Observar o perfil da turma e a partir daí, montar o material de

trabalho.

P2: O essencial seria ter tempo disponível para participar de curso de

capacitação, e o interesse em evoluir enquanto profissional.

10-Que proposta

você apresentaria

para ampliar o seu

desenvolvimento

pessoal e o de seu

aluno?

P1: Saber não sou detentora de todo saber e que também aprendo com

meus alunos e vice-versa.

P2: Seria interessante a realização de debates e grupos de estudo, até

mesmo uma iniciação científica, em que pudesse haver mais integração

entre professor/ aluno/ escola. Para isso deveria haver mais incentivo,

como maior salário, dedicação exclusiva e condições de trabalho.

Muitos professores não se veem como educadores, se veem como

profissionais que querem ganhar seu salário sem se envolver, devido às

condições da educação atual.

11-O que você

poderia fazer para

que sua prática

docente atingisse

essa mudança?

P1: Considerar os interesses dos alunos em relação ao estudo, para

descobrir o perfil da turma, e traçar metas e planejamentos para que eles

atinjam seus interesses.

P2: Devo me capacitar cada vez mais através do estudo e cursos de

formação continuada. Compreender o meu papel como educador que

deve dedicar tempo no preparo das aulas, buscando alternativas atuais e

de interesse para os alunos.

12-O que você

mudaria no macro

contexto em que

atua?

P1: Parar de seguir o livro e montar o meu material de trabalho.

P2: Atualmente trabalho em quatro escolas diferentes, fato que limita

meu tempo de estudo e a participação em projetos de meu interesse.

Neste sentido, mudaria minha carga horária para poder participar de

projetos visando a minha evolução como professor, para poder atender

melhor meus alunos aplicando o conhecimento adquirido na teoria.

Tentaria mudar minha forma de avaliação, tentando mostrar aos alunos

a importância do conhecimento adquirido e não somente a nota. Enfim,

melhorar a educação, que esta sucateada, em parte, pelo desinteresse.

Fonte: Dados de pesquisa

Esta etapa permite ao professor a reflexão sobre a manutenção ou a transformação de

sua prática docente. Este momento é crucial para a reflexão crítica de suas ações. De forma

geral, estas quatro ações abrem espaço para a reflexão-sobre-a-ação (SCHÖN, 1992)

proporcionando aos professores um processo de reflexão crítica.

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É possível observar nas respostas de P1 para as questões 1 e 2 (tabela 4), que pela

primeira vez, ao longo desta pesquisa, a mesma questiona a utilização do livro didático como

única fonte de pesquisa para o planejamento de suas aulas, e mais, questiona o programa de

conteúdos que vem ao longo dos anos sendo aplicado em suas turmas ao afirmar que não

deseja ensinar para seus alunos teorias que não sejam úteis para suas vidas. Assim sendo,

concordamos com a necessidade de se questionar o currículo de ensino de ciências, apontando

para um currículo mínimo de ciências que deveria contemplar o conhecimento científico

substantivo, a compreensão dos métodos de investigação usados em ciência e a compreensão

da Ciência como um empreendimento social. Neste sentido, sua resposta para a questão 3, traz

elementos que sugerem uma vontade de modificar algumas de suas ações, ao admitir a

necessidade de acrescentar às aulas outros recursos didáticos: “discussão sobre textos,

entrevistas, reportagens, noticias (...)”. Para P2 sua resposta esta relacionada com

modificações no roteiro da sua aula experimental, contudo, observamos um ganho qualitativo

ao associar em suas respostas, mudanças no planejamento de suas aulas no sentido de

investigar a realidade de seus alunos, para propor o tema de sua aula.

Observa-se que nas respostas às questões 4, 5 e 7, P1 demonstra perceber o papel da

reflexão crítica acerca de sua formação continuada, afirmando que esta deve ser contínua.

Neste sentido, indo ao encontro dos nossos referenciais teóricos, ou seja, para Ibiapina (2008)

“(...) a reflexão é uma atividade mental motivada pela necessidade de transformação para o

indivíduo. Deve ser orientada por objetivos e mediada pelo outro, ocorrendo no plano mental

e simbólico, intrapsicológico, contudo, estimulada nas relações interpessoais.”. No entanto,

P2 atribui suas respostas a um fazer didático, não estabelecendo em suas respostas uma crítica

concreta acerca de sua formação continuada, atribuindo a necessidade de reflexão também por

parte dos alunos.

Para as questões 6 e 8, P1 afirma que precisa dedicar mais tempo para o preparo de

suas aulas e que precisa montar seu próprio material didático, afirma também, que precisa

modificar seu conteúdo programático, fazendo relação com “conhecimentos essenciais para a

minha turma”. Há de se problematizar e investigar o sentido dado a esta fala pela professora,

pois é possível observar que existe uma insatisfação desta professora em relação ao programa

ministrado por ela. Sendo assim, quais seriam estas mudanças almejadas por esta professora?

A resposta para a questão 9 traz alguns elementos para esta reflexão, P1 reflete que para fazer

o planejamento de sua aula é necessário observar a turma, mas não define os caminhos a

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serem percorridos para que estas ações sejam concretizadas. A próxima etapa desta pesquisa,

que deveria ser a reflexão coletiva, poderíamos contribuir para o enriquecimento desta

discussão, proporcionando um ambiente fértil para a reflexão em direção a autonomia e

emancipação dos participantes. No entanto, como já foi justificado, esta etapa de pesquisa não

ocorreu, ficando para nós como uma hipótese, apoiada nos referenciais teóricos desta

pesquisa, a saber, Zeichner (1993, 2008), Maldaner (2006), Ibiapina (2008) e Magalhães

(2008).

No entanto para P2 percebemos sua preocupação com o conteúdo, na sua resposta

para a questão 6 percebemos sua vontade em associar o contexto de seus alunos aos temas

trabalhados como forma de melhorar seu percurso de desenvolvimento profissional. Neste

sentido é possível observar sua valorização do processo de formação continuada, contudo, P2

atribui a falta de tempo a uma possível dificuldade em participar de mais cursos.

Para as questões 10, 11 e 12, percebe-se que P1 traz uma crítica ao seu conhecimento

tácito, considerando em sua fala: “saber que não sou detentora de todo saber (...)”, tem-se em

sua fala a preocupação com o aluno e observa-se uma crítica à utilização do livro didático.

Sendo assim, percebemos que esta etapa contribuiu para tornar explícito o seu conhecimento

tácito, além de contribuir com questionamento à utilização do livro didático, bem como, o

tempo utilizado para o preparo das aulas. É possível observar também uma crítica ao currículo

adotado. Percebemos que P1 mostrou interesse em modificar sua prática docente indicando

alguns pontos que devem ser superados. É possível observar que P2 destaca em suas

respostas, para as questões 10, 11 e 12, que há de se levar em consideração a desvalorização

da profissão docente pela sociedade contemporânea e questões como baixos salários e

sobrecarga de trabalho como fatores que desestimulam os professores a procurarem na

formação continuada um processo de valorização profissional. Contudo, o mesmo ressalta que

para ele a formação continuada é um caminho possível para buscar alternativas para a

resolução de questões relacionadas ao dia-a-dia da profissão, como por exemplo, o

desinteresse dos alunos pelas aulas de química. Contudo, também relata que em função da sua

elevada carga horária fica difícil encontrar tempo para sua formação continuada.

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6.4.APROFUNDANDO A DISCUSSÃO ACERCA DOS TEMAS QUE SURGIRAM

NA ETAPA II, NO PROCESSO DE REFLAXÃO INDIVIDUAL DE P1 E P2,

HIPÓTESES E RESULTADOS

O processo de reflexão individual visava permitir que P1 e P2 tornassem-se mais

conscientes de suas práticas, oferecendo condição para que houvesse a transferência do plano

da ação para o plano da linguagem e vice-versa. (Ibiapina, 2008).

Após analisarmos as respostas de P1 e P2, conseguimos destacar dois grupos de

categorias que emergiram com grande frequência. Neste sentido, estas foram agrupadas em

função de suas naturezas serem complementares. O primeiro grupo de categorias destacadas

versa sobre como P1 e P2 interpretaram as perspectivas teórico/pedagógica e o

desenvolvimento profissional e o segundo grupo versa sobre como P1 e P2 compreendem a

contextualização, cotidiano e conteúdo programático de uma aula.

Neste sentido discutiremos separadamente nos itens 5.4.1 e 5.4.2 os grupos de

categorias que se observamos nas respostas de P1 e P2.

6.4.1. Primeiro grupo de categorias: teórico/pedagógica15

e o

desenvolvimento profissional

As primeiras questões relacionadas a estas categorias surgem na ação de informar.

Nesta ação, como afirma Ibiapina (2008), o professor utiliza de seu conhecimento tácito, para

responder a questão “O que agir desse modo significa?”. Este é o momento que Schön (2000)

denomina como “construção do conhecimento sobre a ação”.

Ao responderem as questões propostas abriu-se um espaço fundamental para a

reflexão sobre o significado das escolhas feitas, tornando-se possível discutir se os

conhecimentos utilizados no desenvolvimento da atividade docente são espontâneos ou

sistematizados, explícitos ou não (IBIAPINA, 2008), ou seja, se P1 e P2 utilizam seus

conhecimentos específicos e pedagógicos associados a algum referencial teórico de forma

sistemática para o planejamento e desenvolvimento de suas aulas. Esta ação de informar é

significativa para a reflexão sobre as teorias de ensino-aprendizagem que norteiam a prática

15

Conceitos fundamentados por teóricos da área de ensino, ou seja, teorias pedagógicas relacionadas ao perfil

pedagógico deste professor ou conjunto de teorias que norteiam a pratica deste professor. (VIGOTISCK, 1996).

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do professor, promovendo oportunidade para a análise da linguagem utilizada na aula, os

objetivos e razões em agir, do contexto social dos alunos e da escola, possibilitando o

entendimento do significado das escolhas feitas no decorrer da atividade docente.

Vale destacar, que tomamos o cuidado de antes de afirmar que P1 e P2 utilizaram seu

conhecimento tácito ou seu pensamento docente espontâneo para responder as questões

propostas, realizamos uma análise comparativa, ou seja, comparamos as respostas dos

professores com os referencias teóricos. O que nos levou a afirmar, com base na “Analise do

Conteúdo” referente às suas respostas, que não existe nenhuma referência a pesquisadores da

área de ensino de química e ciências e que também, não conseguimos fazer paralelos com

outros textos teóricos contemporâneos. Portanto, acreditamos que as respostas analisadas

possuem um caráter exclusivamente pessoal. Sendo assim, perguntamos: Como se deu a

construção destas respostas? Acreditamos que elas foram estimuladas pela formação inicial e

continuada de P1 e P2 e possivelmente com o acumulo de seus saberes não refletidos ao longo

de sua profissão.

Neste sentido, para esta ação de informar selecionamos quatro questões que

envolvem diretamente a perspectiva teórico/pedagógica e o desenvolvimento profissional,

conforme apresentado na tabela 1, utilizamos para esta discussão as questões 8, 9, 11 e 12, por

estarem relacionadas com o tema discutido.

Observamos que a prática docente da professora P1 está atrelada a um planejamento

realizado antes de sua aula e o recurso que utiliza para fazer este planejamento é o livro

didático. Quando se pergunta a esta professora sobre a relação que faz acerca de sua prática

docente com os conteúdos que internalizou ao longo de sua formação e sobre suas escolhas

teóricas e suas perspectivas de ensino-aprendizagem, ela afirma nunca ter pensado nisto, ou

seja, em todas as suas respostas associadas à categoria teórico/pedagógica, ela utilizou de seu

“conhecimento tácito16

e seu pensamento docente espontâneo 17

” para fazer suas ponderações.

16

Para Zeichner (1992) ao se referir as definições de Schön para o conhecimento tácito, temos: “(...)

reconhecimentos e julgamentos que sabemos levar a cabo espontaneamente; não temos de pensar neles antes ou

durante a sua realização. Muitas vezes, nem temos consciência de que os aprendemos [conhecimento tácito], mas

damos conosco a fazê-los (...)” (p. 21). Para nós o “conhecimento tácito” é o conhecimento pedagógico não

refletido construído ao longo da prática profissional diferenciando-se do “pensamento docente espontâneo”. 17

Pensamento docente espontâneo: é o conhecimento desenvolvido pelos professores ao longo de suas vivências

na escola básica, fortalecidas em sua formação inicial, e muitas vezes, sem uma reflexão crítica acerca deste

processo cognitivo.

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Para o professor P2, observou-se que ao longo de suas respostas, fez associações com o termo

prática docente com atividade experimental, ou seja, prática experimental, abaixo um

exemplo de sua fala:

A prática e o conceitual devem andar de mãos dadas, um auxiliando o outro

na caminhada em busca de conhecimento. O conceito serve de base, a

prática deve vir na construção e interpretação do conteúdo. A prática pode

ser utilizada como novidade, atrativo, contudo não deve parar neste ponto.

Ela [o aluno] deve buscar a interpretação e formulação de teoria através da

observação. (P2, grifo nosso)

Para a terceira ação a de confrontar, segundo Ibiapina (2008), P1 e P2 deveriam ter

sido levados a questionar (como definido anteriormente no primeiro instrumento de pesquisa):

Qual a função social dessa aula, neste contexto particular de ação? Portanto, as ações

reflexivas tinham como perspectiva inicial a aproximação da compreensão do significado das

práticas para a manutenção ou transformação de desigualdades, diferenças e preconceitos.

Portanto, visando uma possível aproximação entre a prática observada e a opção declarada na

primeira e segunda ações deste instrumento de pesquisa, além de interrogar os princípios e

teorias referidas nas questões propostas pelos questionários. Portanto, esta etapa possui uma

importância central para o processo de reflexão crítica, pois permite confrontar aquilo que fez

(descrever) com o que percebeu (informar).

Para a ação de confrontar observamos sete questões relacionadas ao grupo de

categorias de referencia, conforme apresentado na tabela 2, utilizamos para esta discussão as

questões 1, 4, 5, 6, 10, 11 e 12.

Foi interessante observar nas respostas em relação à primeira pergunta desta ação,

que o perfil docente de P1 e P2 foi construído com a prática docente, seja em diálogo com

outros professores mais experientes ou em sala de aula ou observando seus alunos em aula.

Neste sentido, de acordo com Zeichner (1993), de forma geral, o perfil docente dos

professores está associado a um fazer prático, ou seja, ele é construído e moldado na ação de

ensinar, a este conhecimento construído com a prática profissional denominamos

conhecimento tácito. O professor P2 afirma que além dos diálogos com seus colegas, costuma

se atualizar buscando informações em artigos do periódico “Química Nova na Escola” para

complementar sua formação, contudo, não identificamos em suas respostas, posicionamentos

a partir de as referencias teóricas.

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Observamos que P1 e P2 afirmaram, de maneira geral, que em suas práticas

docentes, o planejamento e o desenvolvimento da aula são dependentes do tempo disponível,

acreditando que este tempo disponível é curto para cumprirem o programa programático

sugerido pelo Estado. Ao longo das respostas percebemos que quando questionados acerca de

como poderiam fazer diferente em sua profissão, não identificamos propostas para de ações

indicando uma mudança de postura, de fato muitas vezes as respostas não foram conclusivas.

Tomemos como exemplo:

As dificuldades são rompidas com muito esforço, força de vontade e o

desejo de que a educação possa ser algo interessante, transformador e que

forme cidadãos (P2).

Tentar sempre, e se preciso for mudar para atingir o objetivo mudarei. (P1)

Contudo, se por um lado, observamos uma grande dificuldade na definição do perfil

pedagógico, bem como, em definir estratégias possíveis para gerar alternativas aos problemas

inerentes de sua profissão, apontadas pelo questionário, por outro lado, percebemos nesta

etapa da reflexão alguns elementos, nas suas respostas, que nos indica uma postura crítica em

relação a profissão.

A minha formação começou na faculdade que foi muito encorajadora,

parecia que era fácil ser educadora, mas hoje sei que é um trabalho que

evolui sempre, pois as pessoas mudam, não ensinamos sempre para as

mesmas pessoas e isso nos obriga a refletir a todo o momento, nossa

formação é contínua, ela começa na faculdade e se estende por toda vida

profissional. (P1, grifo nosso)

Em termos gerais, concordamos com Lüdke (2012), ao afirmar que a profissão

docente “parece fácil” aos olhos de nossos alunos e da sociedade de forma geral, esta ideia

carrega em si dilemas que deveriam ser aprofundadas na formação inicial e continuada dos

professores. Para as pesquisas atuais, tal discussão ainda parece incipiente. Observamos que:

A impressão de que o trabalho de ensinar parece fácil carrega uma série de

consequências sobre o desafio de preparar futuros profissionais para o

magistério. A convivência entre atuais e futuros professores por muitos anos,

entre nós cerca de quinze, em média, estabelece uma zona de conhecimento

tácito sobre a profissão docente, comum, aliás, a todos os que gozaram dessa

convivência, mesmo que não tenham se tornado professores, mas como pais,

avós ou simples membros da comunidade se sentem autorizados a sugerir

soluções e emitir opiniões sobre problemas de várias naturezas, ligados ao

magistério. Essa aprendizagem por observação, entretanto, esconde uma

série de limitações (...). O professor se apresenta se revela constantemente

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87

aos seus alunos, mas estes não podem alcançar todo o conjunto de

pensamentos, reflexões, elaborações, decisões e mesmo ações que precedem

as atividades desenvolvidas pelos professores frente a seus alunos. “A

aprendizagem por observação mostra a eles (alunos) muito sobre o que os

professores fazem, mas quase nada sobre porquê eles o fazem”, diz Labaree

(2004, p. 57). Eis aí um dos primeiros desafios a serem enfrentados, por um

programa de formação de Professores (...) (LÜDKE, 2012, p.432, grifo

nosso).

Portanto, a visão de nossos professores, de que ensinar “é uma tarefa fácil”, é um

conhecimento de senso comum, tradicional, enraizado em nossa sociedade e transmitido

culturalmente de uma geração a outra, constituindo-se como um pensamento docente

espontâneo, portanto não refletido. Temos aqui uma oportunidade de discutir e problematizar

com P1 e P2 a formação inicial e continuada, por este processo de reflexão crítica, suas

particularidades e nossa profissão.

Neste sentido, consideramos um ganho qualitativo nas perspectivas de formação de

professores proporcionada, por este instrumento de pesquisa que estamos utilizando, ao

vermos P1 e P2 criticarem, em suas respostas, sua própria formação docente. Como sugere

Lüdke (2012), ao apontar os problemas relacionados a profissionalização do magistério

temos:

Ele [o professor] age como indivíduo, como membro de uma comunidade

(de um tempo, de uma cultura, de um métier), tendo recebido determinada

formação e lançando mão dos recursos que dela recebeu e de outros que

possa criar, como um sujeito ativo, fazendo seu caminho profissional, sua

realização, pelo seu trabalho, para cujo conhecimento são imprescindíveis as

contribuições de ciências como a Sociologia e a Psicologia. É possível

mesmo que, em torno do estudo do trabalho docente, essas duas ciências

acabem se fecundando mutuamente (...) esse estudo “está no âmago de

qualquer projeto de profissionalização da profissão. Muito mais que as

análises macroscópicas, as da atividade têm uma grande pertinência na

formação dos docentes e na construção de uma profissionalidade reflexiva.”

(LÜDKE, 2012, p.448)

Para Freire (2012), ao argumentar sobre a relação educador/educando em um fazer

bancário18

, onde “ensinar parece ser uma tarefa fácil”, talvez possamos pensar em dois

momentos distintos no fazer educar observando a prática “bancária”:

18

A educação bancário ou fazer bancário como o próprio Paulo Freire (2012) define é um fazer pedagógico que

se apoia na transmissão de conhecimento do professor (que detém todo o conhecimento) para o aluno (que é

considerado uma tábua rasa). Nesta prática pedagógica o professor deposita seu conhecimento nos alunos.

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Esta prática que a tudo dicotomiza, distingue, na ação do educador, dois

momentos. O primeiro, em que ele [o professor], na sua biblioteca

[atualmente o livro didático] ou no seu laboratório, exerce um ato cognicente

frente ao objeto cognoscível, enquanto se prepara para dar suas aulas. O

segundo, em que, frente aos educandos, narra ou disserta a respeito do objeto

sobre o qual exerceu o seu ato cognicente. (FREIRE, 2012, P.76)

Logo, com base na Educação Bancária, temos uma justificativa para esta fala

“ensinar é uma tarefa fácil”, se pensarmos no ensino como mera reprodução de conteúdos, ou

seja, depositar em nossos alunos o conhecimento descrito nos livros didáticos. Contudo, se

quisermos superar esta dicotomia, temos no diálogo uma possibilidade de superação deste

mecanismo tradicional de ensino, proporcionando uma educação problematizadora. Para

Freire é necessário romper com esta dicotomia educador/educando se quisermos aproximar

nossos educandos e educadores da real manifestação política, social e econômica de nossa

sociedade contemporânea, promovendo uma educação libertadora. Nesta perspectiva

teórico/pedagógica não existe espaço para a inércia dos sujeitos envolvidos no processo de

ensino-aprendizagem, ou seja, as produções construídas em sala de aula deverão ser

compartilhadas de forma ativa por todos os sujeitos, desde o planejamento das aulas e a

escolha do conteúdo programático, em fim, até o ato de ensinar/aprender.

Sendo assim, a ação de confrontar abriu para, pesquisadores e professores, a

possibilidade de discutirmos nossas perspectivas, trajetórias e dúvidas acerca dos processos

que envolvem o ensino-aprendizagem, tornando-as explicitas. Neste sentido, abrindo caminho

para a próxima ação, ou seja, abrimos um espaço passível de discussão para a reconstrução de

nossa prática docente.

A última ação proposta por Smyth (1992) é a ação de reconstruir, cujo foco é a busca

da reconstrução da prática docente, que será estimulada pela questão proposta: Como posso

agir diferente?

A compreensão das ações realizadas na aula cria condições para a reconstrução da

prática docente, bem como, ajuda a relacionar as construções feitas na escola com os

interesses sociais e políticos. Esta etapa permite ao professor a reflexão sobre a manutenção

ou a transformação de sua prática educacional. Este momento é crucial para a reflexão crítica

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de suas ações. De forma geral, estas quatro ações abrem espaço para a reflexão-sobre-a-ação

(Schön, 1992) proporcionando um processo de reflexão crítica.

Para a ação de reconstruir observamos seis questões relacionadas ao grupo de

categorias de referencia, conforme apresentado na tabela 3, utilizamos para esta discussão as

questões 5, 6, 8, 9, 10 e 11.

Foi possível observar nas respostas o isolamento estrutural19

destes professores P1 e

P2.

Seria interessante a realização de debates e grupos de estudo, até mesmo

uma iniciação científica, em que pudesse haver mais integração entre

professor/ aluno/ escola [crítica ao isolamento estrutural]. Para isso deveria

haver mais incentivo, como maior salário, dedicação exclusiva e condições

de trabalho [crítica ao processo de motivação a formação continuada].

Muitos professores não se veem como educadores, se veem como

profissionais que querem ganhar seu salário sem se envolver, devido às

condições da educação atual. (P2, grifo nosso)

Portanto, abre-se aqui uma crítica ao processo de reflexão individual. Neste sentido,

concordamos com Zeichner (2008) ao afirmar que o professor isolado na escola trata seus

problemas como exclusivamente seus, sem levar em consideração as perspectivas políticas,

econômicas e sociais que norteiam a sua comunidade escolar. Sendo assim, sem o apoio

teórico e sem os pares, para que esta discussão acerca da reconstrução se desenvolva, nota-se

um empobrecimento teórico da ação de reconstrução. De fato, as respostas em sua grande

maioria não foram conclusivas.

Portanto, abre-se espaço neste momento para a reflexão coletiva, com o objetivo de

romper com o isolamento estrutural, com o apoio teórico acerca dos temas desenvolvidos ao

longo desta pesquisa e em diálogos abertos, durante as sessões reflexivas da etapa III,

esperava-se que poderíamos construir um espaço para uma discussão mais rica e produtiva.

19

Isolamento estrutural (LUDKE, 2012) inerentes a nossa profissão é a ação não refletida de ensinar

entre quatro paredes que favorece e encaminha os professores à: Auto formação; Desenvolvimento profissional

centrado na prática do dia-a-dia; Nas lições aprendidas individualmente; nos “Dialogo com colegas” mais

experientes, para a busca de soluções para os problemas do dia-a-dia; Valorização do Pensamento docente

espontâneo e o pensamento tácito.

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6.4.2. Segundo grupo de categorias: Contextualização, Cotidiano e Conteúdo

Programático

Se entendermos, “que a educação não se faz de A para B, ou de A sobre B, mas de A

com B, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 2012, p.91). Temos que, não seria possível,

pensarmos em um conteúdo programático, ou mesmo, em um conteúdo programático

contextualizado sem a presença do outro, neste caso, o aluno, a sociedade, a comunidade

escolar, a academia.

Portanto, contrapondo-se a esta ideia da educação libertadora20

, para o educador

bancário, o conteúdo programático já está pronto, ou seja, já foi pensado por ele ou pelos

órgãos competentes, sem a participação do aluno, do professor e da comunidade escolar em

que estes estão inseridos, em uma ação antidialógica21

.

Ao observar a literatura contemporânea, observamos que o termo cotidiano significa

aquilo que é habitual ao, ou seja, está presente no do dia-a-dia e o termo contexto é a relação

entre o texto e a situação em que ele ocorre dentro do texto. É o conjunto de circunstâncias em

que se produz a mensagem que se deseja emitir no lugar e no tempo, da cultura do emissor e

do receptor, etc. e que permitem sua correta compreensão. Também corresponde onde é

escrita a palavra, isto é, a oração onde ela se encontra (SILVA e NUÑES, 2007). Assim

sendo, temos que:

A necessidade de contextualização da aprendizagem tem sido objeto de

estudo de diferentes áreas disciplinares, como a Didática das Ciências

Naturais, a Psicologia Cognitiva, a Sociologia do Cotidiano, entre outras. Os

estudos nessa direção apontam para a importância dos estudantes atribuírem

sentidos aos significados do conteúdo escolar. (SILVA e NUÑES, 2007,

p.3).

As categorias contextualização, cotidiano e conteúdo programático, podemos

observar que estão presentes nas respostas de P1 e P2 nas quatro ações do ciclo de reflexão de

Smyth (1992).

20

Processo pedagógico que se apoia no diálogo entre educando/educador, de forma a contribuir com a redução

das diferenças sociais e políticas entre os sujeitos que participam do ato de educar, dando voz as massas, que

historicamente são subtraídas de sua participação e nas tomadas de decisões nos processos políticos. 21

Termo utilizado por Freire (2012) no sentido de contrapor-se a ação dialógica.

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Para a ação de descrever observamos cinco questões relacionadas ao grupo de

categorias de referencia, conforme apresentado na tabela 1, utilizamos para esta discussão as

questões 1, 2, 5, 6 e 12.

Para a ação de informar observamos uma questão relacionada ao grupo de categorias

de referencia, conforme apresentado na tabela 3, utilizamos para esta discussão as questão 5.

Para a ação de confrontar observamos quatro questões relacionadas ao grupo de

categorias de referencia, conforme apresentado na tabela 4, utilizamos para esta discussão as

questões 2, 3, 7 e 8.

Para a ação de reconstruir observamos três questões relacionadas ao grupo de

categorias de referencia, conforme apresentado na tabela 4, utilizamos para esta discussão as

questões 2, 3, e 12.

Os nossos grifos nas respostas dos professores ajudam a exemplificar a discussão.

Tabela 5: Ação de descrever, respostas para os professores P1 e P2

1-Qual o contexto

da aula?

P1: Densidade e correntes de convecção.

P2: A aula foi apresentada aos alunos do 3o ano do ensino médio, tendo

como objetivo dar continuidade ao previsto no programa apresentado a

escola de ensino médio de Rochedo de Minas.

2-Que tipo de

aluno e qual a sua

procedência?

P1: Escola Estadual.

P2: Os alunos pertencem a uma turma do 3o ano, em que 90% do corpo

discente trabalha e são de origem humilde. Alguns alunos vieram do

ensino fundamental municipal e outros do EJA. A grande maioria

apresenta problemas de base, desinteresse, e só querem terminar o

ensino médio. Apenas três alunos pensam em dar continuidade aos

estudos.

5-Por que considera P1: Pode ser pensado em várias situações do nosso dia-a-dia.

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92

este tema

interessante?

P2: O tema é importante, pois explica o que acontece em diversos

momentos da nossa vida, como: recarregar um celular, comprar uma

joia folheada, a outros, etc...

6-Quais os

objetivos?

P1: Para que os alunos compreendam o significado de densidade e que

sejam capazes de aplicá-los na prática do seu dia-a-dia.

P2: Fazer com que os alunos compreenda a eletrólise como um

fenômeno não espontâneo, e que pode ser controlado pelo homem.

12-O que motivou a

escolha desse

assunto?

P1: A densidade é assunto que aparece dentro do contexto de várias

situações do nosso dia-a-dia como: misturas, vazamento de petróleo,

inversão térmica, brisa do mar, correntes de convecção no ar

(geladeira), correntes de convecção na água, densidade dos metais, etc.

uma vez aprendido, sempre é possível refletir sobre o assunto na

prática do dia-a-dia.

P2: A afinidade pela área (eletroquímica) e a grande inserção no mundo

atual.

Fonte: Dados de pesquisa (Grifos nosso).

Tabela 6: Ação de informar, respostas para os professores P1 e P2

5-Por que fez

opção por esses

conhecimentos?

P1: O conhecimento mais trabalhado no roteiro é densidade. Achei

interessante esse assunto, pois, foi uma maneira diferente de abordar

densidade, foi contextualizada de maneira a comparar valores de

densidade de materiais diferentes (água liquida, água sólida, água

salgada) e pensar como a densidade influencia de maneira importante na

natureza. E que aquela maneira formula (d = m/v) não é a única maneira

de pensar sobre densidade, ela pode e deve ser aplicada no nosso dia-a-

dia, ou seja, contextualizado.

P2: Como a matéria anterior foi pilhas, a qual uma reação química gerava

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93

corrente elétrica, os alunos poderiam observar, através dos experimentos,

que o contrário também ocorre, ou seja, uma corrente elétrica gerando

uma reação química.

Fonte: Dados de Pesquisa (Grifos nosso).

Tabela 7: Ação de confrontar, respostas para os professores P1 e P2

2-De que maneira

você considera que

o conhecimento

trabalhado

contribui para que

o aluno possa

utilizá-lo na sua

vida?

P1: O conhecimento sobre densidade pode ser contextualizado em

várias situações da nossa vida como:

. Mistura de líquidos imiscíveis como água e óleo, a exemplo em pode

ser refletida também nos acidentes com vazamento de petróleo no mar,

por ser menos denso ele flutua na água do mar causando grande prejuízo

para o meio ambiente.

. Inversão térmica.

. Brisa do mar.

. Por que o congelador na geladeira fica na parte superior e não na parte

inferior?

. Por que o condicionador de ar deve ser colocado na parte superior e

não na parte inferior?

P2: Através do conhecimento trabalhado os alunos poderão ver e

entender, com mais clareza, diversos processos redox do nosso

cotidiano. Eles terão consciência de processos corriqueiros, como

carregar o celular, utilizar pilhas recarregáveis e na análise de materiais

recobertos por metais nobres entre outros.

3-Qual a

importância desse

conhecimento

para transformar

a realidade do

aluno?

P1: A importância desse conhecimento para transformar a realidade do

aluno é mudar a maneira como ele interpreta as situações do seu

dia-a-dia que tenham haver com o assunto densidade.

P2: Quando os alunos relacionam a eletroquímica com a recarga da

bateria de um celular, eles compreendem o motivo do descarte

adequado, como o processo que ocorre, além de uma visão mais ampla

do assunto.

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7-Qual a função

social de suas

ações?

P1: Formar cidadãos que saibam fazer suas escolhas.

P2: A prática, juntamente com a teoria, busca integrar o aluno a

sociedade cada vez mais dinâmica e moderna. O conhecimento

adquirido deve ser útil para ampliar horizontes e incentivar o

desenvolvimento dos alunos.

8-Que tipo de

aluno esta sendo

formado?

P1: Reflexivo, que pensa sobre suas ações e as consequências das

mesmas em sua vida e das pessoas que o cercam, formar cidadão

críticos.

P2: Busco sempre a formação de alunos críticos e interessados em

compreender o mundo em sua volta, capazes de interpretar, e não aceitar

o mundo.

Fonte: Dados de pesquisa (Grifos nosso).

Tabela 8: Ação de reconstruir, respostas para os professores P1 e P2

2-O que faria

diferente no

sentido de motivar

o aluno para

aprender?

P1: Vou pensar melhor sobre isso ainda, mas de imediato parar de

ensinar coisas que não vão fazer diferença na vida dos alunos.

P2: Para cada turma, a ser aplicado o experimento, faria um estudo

sobre a realidade e os interesses dos alunos para adequar o roteiro,

na parte da introdução, buscando trazer o conteúdo para a realidade do

aluno.

3-O que você faria

para ampliar o

pensamento

crítico reflexivo

do aluno?

P1: Discussão sobre texto, entrevistas, reportagens, noticias etc.

P2: Poderia realizar um debate após a prática, em que cada grupo

poderia expor e confrontar suas conclusões com as dos outros grupos,

visando criar uma teoria baseada na observação de todos.

5-Que proposta P1: O processo reflexivo tem que ser contínuo, não podemos parar de

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faria para

melhorar o

processo reflexivo

e mudar a prática

docente em outras

aulas?

refletir, pois através dessa reflexão que surgem as mudanças. É

preciso detectar o que está dando certo e o que não está funcionando

para atingir o objetivo, para daí montar práticas docentes que possam

surtir maior efeito sobre os objetivos.

P2: O ideal seria trazer a prática, e o conteúdo, para o contexto do

aluno, para que ele tenha interesse e veja sentido no que aprende. Neste

sentido, realizar aulas práticas e promover debates para que o aluno seja

o “criador de teorias” e não apenas um reprodutor de conhecimento.

Isso tornaria o aluno num cidadão mais crítico, observador e antenado

com o que acontece com o mundo.

12-O que você

mudaria no macro

contexto em que

atua?

P1: Parar de seguir o livro e montar o meu material de trabalho.

P2: Atualmente trabalho em quatro escolas diferentes, fato que limita

meu tempo de estudo e a participação em projetos de meu interesse.

Neste sentido, mudaria minha carga horária para poder participar de

projetos visando a minha evolução como professor, para poder atender

melhor meus alunos aplicando o conhecimento adquirido na teoria.

Tentaria mudar minha forma de avaliação, tentando mostrar aos alunos

a importância do conhecimento adquirido e não somente a nota. Enfim,

melhorar a educação, que esta sucateada, em parte, pelo desinteresse.

Fonte: Dados de pesquisa (Grifos nosso).

Para facilitar a descrição, inferência e as interpretações das respostas dos professores

aos questionários, utilizamos os trechos grifados acima.

Nas ações de descrever, informar, confrontar e reconstruir observou que P1 e P2

associaram o termo contexto às práticas relacionadas ao dia-a-dia, de maneira pouco

explicativa, talvez se deva ao fato de terem utilizado seu conhecimento de senso comum, o

que por sua vez, se demonstra desconectado aos referenciais contemporâneos. Ainda neste

sentido, observamos que a professora P1 relacionou o conteúdo programático de sua aula ao

termo contexto em sua resposta à primeira questão deste questionário, o que nos leva a

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acreditar que P1 está utilizando de seu conhecimento docente espontâneo e o conhecimento

tácito, para responderem as questões propostas.

Contudo, para alguns autores o conceito referente ao contexto e cotidiano de uma

aula possui diferentes interpretações, como podemos perceber na reflexão de Silva e Nuñes

(2007):

Essa discussão encontra eco nas relações entre o conhecimento cotidiano (o

senso comum) e o conhecimento científico que a escola seleciona como

objeto de aprendizagem, o que, por sua vez, é importante para se pensar

numa escola para a vida e na vida vinculada às necessidades dos estudantes.

Tais relações possibilitam compreender os fundamentos epistemológicos da

produção do conhecimento de forma contextualizada. Por outro lado, as

orientações curriculares nacionais (PCN) para o ensino de Química no nível

fundamental consideram a contextualização da aprendizagem e do

conhecimento como um princípio que fornece a compreensão de conceitos e

procedimentos da Química e a formação de atitudes positivas para o estudo

das Ciências Naturais. Disso decorre a necessidade de se discutir a

relevância dos contextos. (p.4)

Temos nesta citação duas possíveis ações dialógicas, a primeira que associa o termo

contexto a aproximação do conhecimento de senso comum (dia-a-dia) ao conhecimento

científico e a segunda situação não apenas como uma proposta de caráter didático, mas ao

refletir a contextualização da aprendizagem e do conhecimento como um norte para a

construção do conhecimento favorecendo e estimulando o estudante para o estudo das

Ciências Naturais. Aparentemente posições antagônicas em sua essência, contudo ambas

podem ser associadas em uma perspectiva dialógica para uma educação de caráter libertador

(FREIRE, 2012), ao validar o diálogo entre os sujeitos participantes do processo ensino-

aprendizagem durante as aulas experimentais de química.

Neste sentido, ao observarmos estes dois possíveis caminhos consideramos que P1 e

P2 se apropriaram, na maioria das respostas analisadas, da primeira proposta citada acima, ao

associarem o conhecimento de senso comum (denominado por P1 e P2, dia-a-dia) aos

conhecimentos científicos, no sentido de uma visão utilitarista do conhecimento científico.

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Concluímos que a visão de contexto associada a uma perspectiva utilitarista22

para o

ensino de ciências permanece nas respostas de P1 e P2. Qual seria a origem de tal

perspectiva? O Conhecimento espontâneo construído ao longo da formação destes professores

pouco refletido ao longo de sua formação inclusive durante sua formação inicial, fortalecidas

ao longo de suas trajetórias profissionais reforçadas por seus conhecimentos tácitos não

refletidos. Neste sentido, acreditamos que o curso de formação continuada, no modelo

inicialmente proposto, não foi suficiente para aprofundar esta discussão acerca dos temas

discutidos neste capítulo. Contudo, consideramos esta etapa II da pesquisa importante, no

sentido de tentar aprofundar no sentido dado por P1 e P2 as diversas questões que nos

dispomos a debater.

6.5.CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A ETAPA II

Ao pensarmos a formação inicial e continuada dos professores do ensino de ciências

e de Química, atualmente em exercício, temos que levar em consideração o distanciamento

entre sua formação teórica e prática, onde tradicionalmente há pouco espaço para a reflexão

sobre a sua ação docente. Portanto, presenciamos uma possível formação incompleta deste

profissional, haja vista, que é com a prática profissional e com os pressupostos teóricos

associados a um processo de reflexão, que o professor constrói sua identidade e sua

perspectiva docente sistematizada. Neste sentido, segundo Nóvoa (2008): “A formação dos

professores continua hoje muito prisioneira de modelos tradicionais, de modelos teóricos

muito formais, que dão pouca importância a essa prática e à sua reflexão. Este é um enorme

desafio para a profissão, se quisermos aprender a fazer de outro modo” (p. 8).

Pelo exposto, destacamos para esta análise, os principais temas encontrados nas

respostas dos professores, que proporcionaram um julgamento mais profundo das

perspectivas teóricas destes profissionais, dentre os quais se destaca: o cotidiano, a

contextualização, a prática docente e suas perspectivas teóricas, o pensamento docente

espontâneo, o conhecimento tácito, e o desenvolvimento profissional, que encontramos

frequentemente nas respostas dos professores ao longo destas quatro ações de reflexão.

22

De fato, temos para o grupo de professores que participaram da Etapa I desta pesquisa a categoria de resposta

que possui maior incidência no pré-teste e no pós-teste, passa pelo argumento da utilidade da ciência.

Consideramos que este argumento indica que o conhecimento científico é necessário para que as pessoas possam

lidar com aspectos da vida cotidiana. Porém, contrapondo-se a ênfase exagerada desta ideia, Millar (2005)

defende que não é necessário um conhecimento amplo acerca dos equipamentos técnicos que constituem uma

máquina, para que possamos utilizá-la no dia-a-dia.

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Foi possível observamos, para os professores P1 e P2, uma tendência em conceber a

contextualização e o termo cotidiano de uma forma simplista pouco crítica em relação ao

engajamento de questões sociais, políticas e econômicas associadas a comunidade escolar ao

qual pertencem. Esta conclusão pode ser observada na análise feita as respostas das questões

5, 6 e 12 da ação de descrever e para as respostas as questões 2, 3, 9 e 10 da ação de

confrontar. Neste sentido, observamos que o termo cotidiano e a contextualização para estes

professores estão associados a um conjunto de exemplos que tem por objetivo motivar o aluno

para o ensino de ciências sem uma postura crítica em relação ao contexto escolar que estes

estão inseridos.

Ao longo das quatro ações que estimulavam a reflexão crítica acerca das relações

entre as perspectivas teóricas que nortearam a prática docente destes professores, entre as

questões podemos citar as questões: 8, 9, 11 e 12 da ação de informar, 1, 4, 5, 6, 10, 11 e 12

da ação de confrontar, 5 e 11 da ação de reconstruir. Foi possível observar que para P2 houve

dificuldade em interpretar as questões, pois ao longo de suas respostas ficou claro que este

professor associou o termo prática docente a um fazer experimental, ou seja, a palavra prática

associada a aula experimental. Dessa maneira, chamamos a atenção para uma possível falha

do instrumento de pesquisa ao associar o termo prática docente ao fazer docente, já que

estávamos discutindo o ensino de ciências e as aulas de química experimentais no contexto

desta pesquisa. Contudo, as respostas de P1 foram a sua grande maioria evasivas,

evidenciando em suas respostas seu pensamento docente espontâneo e o conhecimento tácito

com grande dificuldade em fazer relação as teorias existentes acerca dos processos de ensino-

aprendizagem. Portanto, na sua grande maioria as respostas observadas possuem pouca

clareza teórica.

A nosso ver, estas respostas se justificam pelo fato do magistério, de maneira geral,

sofrer ainda no século XXI, os efeitos do isolamento estrutural (LUDKE, 2012) inerentes a

nossa profissão, ou seja, a ação de ensinar entre quatro paredes favorece e encaminha os

professores: à auto formação; ao desenvolvimento profissional centrado na prática do dia-a-

dia; às lições aprendidas individualmente; ao diálogo com colegas mais experientes, para a

busca de soluções para os problemas do dia-a-dia; à valorização do pensamento docente

espontâneo e ao pensamento tácito, ou seja, de forma não sistematizada.

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99

A busca de soluções aos problemas relacionados à profissão docente, com este viés,

traz como principal consequência, uma frequente desvalorização da formação continuada e da

formação de futuros professores, bem como, uma crescente desvalorização das perspectivas

teóricas acerca dos processos relacionados ao ensino-aprendizagem, que proporcionam um

aumento constante do distanciamento entre a escola básica e a universidade. A desvalorização

da profissionalização docente, bem como, a desvalorização do conhecimento tácito que

poderia ser superada em um processo contínuo de reflexão crítica nas comunidades escolares,

tornando-as comunidades de aprendizagens. (ZEICHINER, 1992).

Para a ação de reconstruir nota-se que algumas questões, entre elas 6, 8, 9 e 10,

levaram os professores a refletir acerca de seu desenvolvimento profissional, sendo assim, P1

e P2 relatam ser necessária uma formação contínua e continuada seguida de uma reflexão

crítica, porém, chamam atenção para as dificuldades encontradas para efetivar esta proposta,

entre elas, destacam a elevada jornada de trabalho, os baixos salários e a desvalorização

profissional contínua pela sociedade e as más condições de trabalho como pontos

desfavoráveis ao empenho destes para uma formação continuada.

Se levarmos em consideração que o trabalho do professor não é propriamente o de

ensinar e sim o de fazer aprender, existe, portanto, uma delicada dependência entre professor

e aluno para que esta ação se efetue. Ora, se o aluno não quiser aprender mesmo que o

professor ensine a ação final não se efetuará satisfatoriamente. Neste sentido, há de se pensar

caminhos para que a ato de ensinar se desdobre na aprendizagem deste aluno. Sendo assim, a

prática docente refletida e sistematizada, apoiada em pesquisa educacional atualizada, poderá

favorecer o professor a um fazer pedagógico associado ao conteúdo ministrado capaz de

favorecer a aprendizagem do aluno. Portanto, é neste sentido que consideramos a pesquisa em

educação com seus avanços tecnológicos, as perspectivas teóricas contemporâneas em

educação associada aos cursos de formação continuada e o processo de reflexão crítica como

uma alternativa possível para a solução dos problemas encontrado por estes professores no

seu dia-a-dia, contrapondo-se assim da perspectiva do isolamento estrutural deste professor e

suas consequências.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir deste estudo foi possível refletir acerca dos objetivos da experimentação e do

ensino de ciências na concepção de professores de química em exercício. Consideramos que

para a primeira etapa desta pesquisa, para este grupo de professores que participaram do curso

de formação continuada, os mesmos conceberam o ensino de ciências e de química centrados

em uma concepção utilitarista. O argumento cultural/social que consideramos importante para

o ensino, pois atribui ao conhecimento científico uma das principais aquisições de nossa

cultura humana e, portanto, todos os jovens deveriam ser incentivados a compreendê-lo,

levando-os certamente à aquisição de uma nova cultura, que por sua vez não pode ser

adquirida sem que haja uma instrução formal, devido ao seu alto grau de complexidade não

foi apontado por nenhum professor. Ao negarem esta problematização ou não reconhecerem

este argumento, cultural/social, percebemos a necessidade de propor a este grupo de

professores um processo de Reflexão Crítica sistematizada acerca de suas concepções sobre o

ensino/aprendizagem.

Adicionalmente todos os professores afirmaram que utilizam o livro didático como

principal recurso para o planejamento de suas aulas, ou seja, destacaram a dependência ao

livro didático, o que pode acarretar em um empobrecimento na discussão acerca de temas

importantes, como: “por que, o que e para quem ensinar ciências”. Neste sentido,

concordamos com a importância do livro didático como material a ser utilizado em sala de

aula para consulta de professores e alunos. Contudo, não deve ser considerado a única fonte

de pesquisa para o planejamento de uma aula pelo professor. Em parte pelo avanço rápido das

novas tecnologias educacionais que são difundidas em periódicos científicos, por outro lado,

tendo em vista que significativa parcela dos livros didáticos fornece a visão de um único

autor. Portanto, consideramos indispensável ao planejamento de uma aula, uma revisão

bibliográfica mais ampla, que inclua a leitura artigos científicos e periódicos científicos.

Em relação ao ensino de química experimental, verificamos a relação entre as

concepções destes professores em formação continuada acerca dos processos de ensino-

aprendizagem e de suas práticas docentes. Neste sentido, observamos que, o desenvolvimento

de aulas experimentais, separando os alunos em pequenos grupos, favorece: o diálogo, a

negociação de ideias pessoais, a renúncia e a argumentação, explicitando o caráter social da

ciência, em uma perspectiva de socialização. Este diálogo pode ser enriquecido por diversos

outros elementos, que podem agregar valor aos argumentos inerentes dos discursos.

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Observamos uma tendência por parte dos professores em adotar o ensino de química

experimental como uma ferramenta facilitadora e motivadora, há de se considerar que ao final

do curso temos indícios de mudança no perfil de alguns professores, quando, observamos um

aumento na visão de ensino de química experimental como sendo uma ferramenta pedagógica

que proporciona a mediação para a construção do conhecimento. A nosso ver temos aqui um

ganho qualitativo na fala destes professores, pois esta mudança de perspectiva sugere o

entendimento de uma aula experimental como um espaço propício ao diálogo entre

professores e alunos, mediatizado pelo mundo, neste caso em particular, pelo experimento

proposto e suas implicações no contexto destes sujeitos.

Para a segunda etapa desta pesquisa, estimulamos a formação do professor reflexivo,

com a ferramenta proposta por Ibiapina e percebemos que a visão de contexto associada a

uma perspectiva utilitarista para o ensino de ciências permanece nas respostas de P1 e P2.

Qual seria a origem de tal perspectiva? O Conhecimento espontâneo construído ao longo da

formação destes professores inclusive durante sua formação inicial, fortalecidas ao longo de

suas trajetórias profissionais reforçadas por seus conhecimentos tácitos.

Neste sentido, acreditamos que o curso de formação continuada, no modelo

inicialmente proposto, não foi suficiente para aprofundar esta discussão acerca dos temas

discutidos nesta pesquisa nas etapas I e II. Contudo, consideramos que a etapa II desta

pesquisa foi importante, no sentido de aprofundar a problematização das diversas questões

que nos dispomos a debater com P1 e P2.

Contudo, se levarmos em consideração que a dialogicidade contempla a essência da

educação como prática da liberdade (FREIRE, 2012), temos no ciclo de reflexão crítica

sistematizado por Smyth (1992), uma oportunidade, ou seja, um caminho, possível para

explicitarmos nossas dúvidas e buscar a conscientização do perfil docente espontâneo e do

conhecimento tácito, tornando-os explícitos e, portanto, favorecendo a conscientização dos

educadores, assim sendo, esta ferramenta se justifica como Práxis para a libertação.

Esta busca nos leva a surpreender, nela, duas dimensões: ação e reflexão. Se pelo

contrário se enfatiza ou se exclusiviza a ação, com o sacrifício da reflexão, a palavra se

converte em ativismo. Este que é ação pela ação, ao minimizar a reflexão, nega também a

práxis verdadeira e impossibilita o diálogo “(FREIRE, 2012, p.85)”.

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Neste aspecto, concordamos com Freire (2012), no sentido em que a ação sem

reflexão e a reflexão sem ação, nega o papel do docente para a formação de cidadãos críticos,

autônomos e participativos. Abre-se, portanto, neste momento um espaço oportuno para o

processo de reflexão coletiva. Durante esta etapa II da pesquisa observamos a tomada de

consciências de P1 e P2 acerca de seu papel como educadores, suas dúvidas e angustias, nas

palavras de Freire (2012), onde: “A consciência é essa misteriosa e contraditória capacidade

que tem o homem de distanciar-se das coisas para fazê-las presentes, imediatamente

presentes.” (p.16). Sendo assim, nossa atividade de reflexão abordada nesta pesquisa,

possibilitou uma investigação/formativa, no sentido em que tanto pesquisadores como

professores argumentaram acerca de suas perspectivas educacionais, tomando consciência e

constituindo-se como sujeitos e agentes de transformação.

Contudo, “a conscientização não é apenas conhecimento ou reconhecimento, mas

opção, decisão, compromisso.” (FREIRE, 2012, p.13). Sendo assim, ao avaliar limites e

potencialidades do processo de reflexão individual e coletiva na formação continuada de

professores, a terceira etapa desta pesquisa possuiria como hipótese a característica de projetar

os sujeitos ativos, em um debate onde, os “os argumentos de autoridade” já não se

constituíram como possíveis, dando espaço a “autoridade do argumento”, em uma relação de

dialogo e comunhão de ideias, no sentido em que “ninguém educa ninguém, como tampouco

ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo

mundo.” (FREIRE, 2012, P.76) com o objetivo de tornarmos mais conscientes de nossas

potencialidades como educadores, pesquisadores e educandos.

Consideramos que está ferramenta, utilizada nesta pesquisa, possui um espaço

relevante nos processos de formação de professores, podendo contribuir para a construção do

pensamento crítico e para o maior entendimento acerca do pensamento docente espontâneo e

o conhecimento tácito dos professores.

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ANEXOS

Anexo I: Cronograma desenvolvido pelo curso de formação continuada.

O uso da experimentação no Ensino de Química

Início: 04/04/2011 Término: 27/06/2010 Horário: 2ª. 14 às 17h Local: Centro de Ciências - UFJF

DATA ASSUNTO

04/04 - Recepção, conhecimento dos participantes, apresentação do curso e entrega do

material de apoio.

- Levantamento de ideias prévias sobre experimentação.

- Experimentação com magnésio e ácido clorídrico.

- Construção de um laboratório para o Ensino Básico: Princípios norteadores e

organização no laboratório de química/ciências.

11/04 - Reflexão e discussão a partir dos textos:

Texto de apoio: Um currículo de Ciências voltado para a compreensão por todos.

Ensaio, v5(2) (2003) p. 73-91.

Texto de apoio: Objetivos das atividades experimentais no ensino médio: a pesquisa

coletiva como modo de formação de professores de ciências. Ciência & Educação,

v7(2) (2001) p. 249-263.

- Critérios para elaboração de roteiros e escolha dos temas.

18/04 - Reflexão e discussão a partir do texto:

Texto de apoio: Contribuições Pedagógicas e Epistemológicas em Textos de

Experimentação no Ensino de Química. Investigações em Ensino de Ciências,

v11(2) (2006) p.219-238.

25/04 Atividades no laboratório: Evidências de reações químicas.

Texto de apoio: Reações Químicas: Fenômeno, Transformação e Representação –

QNESC, v2 (1995) p. 7-9.

02/05 Atividades no laboratório: Mudanças de fase e técnicas de separação.

Texto de apoio: Extração de pigmentos do espinafre e separação em coluna de

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açúcar comercial. QNESC, v20 (2004) p. 55-58.

09/05 Atividades no laboratório: Densidade e Soluções.

Texto de apoio: - Calorimetria – Determinação de Fe3+

em água. QNESC, v24

(2006) p. 39-42.

- Rocha-Filho, R. et al. Cálculos Básico da Química. Cap. 4, São

Carlos: EdUFSCAR, 2006, p. 55-69.

- Apresentação dos roteiros para par (sorteio)

16/05 Atividades no laboratório: Estrutura atômica e periodicidade.

Texto de apoio: A linguagem química e o ensino da química orgânica. Quim. Nova,

v 31(4) (2008), p. 921-923.

23/05 Atividades no laboratório: Ligação química, polaridade e solubilidade.

Texto de apoio: Concepções dos estudantes sobre ligação química. QNESC, v24

(2006) p. 20-24.

- Devolução dos roteiros com ficha de avaliação para autor - par

30/05 Atividades no laboratório: Termoquímica.

Texto de apoio: - Quanto mais quente melhor: calor e temperatura no ensino de

termoquímica. QNESC, v7 (1998) p. 30-34.

- A energia e a Química. QNESC, v8 (1998) p. 19-22.

06/06 Atividades no laboratório: Fatores que influenciam a velocidade das

reações.

Texto de apoio: A contextualização no ensino de cinética química. QNESC, v11

(2000) p. 26-29.

- Apresentação dos roteiros para coordenador

13/06

Atividades no laboratório: Equilíbrio químico.

Texto de apoio: Como os estudantes concebem o estado de equilíbrio químico.

QNESC, v4 (1996) p. 18-20.

20/06 Atividades no laboratório: Reações orgânicas.

Texto de apoio: - Teorias ácido-base do século XX. QNESC, v9 (1999) p. 28-30.

- Confirmando a esterificação de Fischer por meio dos aromas.

QNESC, v19 (2004) p. 36-38.

- Devolução dos roteiros com ficha de avaliação para autor - coordenador

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27/06 Atividades no laboratório: Condutividade e transferência de elétrons.

Texto de apoio: Explorando a existência de cargas elétricas na matéria. QNESC, v3

(1996) p. 11-14.

- Entrega dos roteiros – versão final

Bibliografia Periódicos: Química Nova na Escola, Química Nova (seção de educação), Jornal of Chemical Education, Ensaio etc.

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Anexo II: Orientações apresentadas aos professores P1 e P2, como ferramenta

mediadora para a reflexão individual.

Universidade Federal de Juiz de Fora.

Departamento de Química.

Pós-Graduação em ensino de Química.

Mestrando: Christiani Marcelo Machado Pyramides

Formação Continuada de professores de química e o ensino experimental na

perspectiva do professor reflexivo.

Juiz de Fora

2012

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Christiani Marcelo Machado Pyramides

Formação Continuada de professores de química e o ensino experimental na

perspectiva do professor reflexivo.

Texto apresentado aos professores como

ferramenta mediadora para reflexão individual.

Juiz de Fora

2012

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Ações reflexivas utilizadas na pesquisa colaborativa.

(Obs.: Este texto é uma adaptação da proposta elaborada pela professora Ibiapina (2008), extraído do

livro: Pesquisa Colaborativa. Investigação, formação e produção de conhecimento. Ed.Liber Livro. Brasília,

2008).

A ferramenta que iremos utilizar, para o processo de reflexão, proposta por Smyth

(1992), consiste em três etapas: a descrição, a informação e o confronto que desencadeará a

quarta ação, a reconstrução. A baixo elaborei uma breve elucidação de cada etapa e o efeito

esperado. Leia com atenção esta proposta de reflexão.

A descrição (1o

ação) detalhada leva ao distanciamento das ações, estimulando a

descoberta das razões relativas às escolhas feitas no decorrer da atividade docente.

O segundo momento considerado é o de informar (2o ação), nesta etapa ao responder

as questões propostas abre-se um espaço fundamental no contexto de formação contínua do

professor, uma vez que permite refletir sobre o significado das escolhas feitas e descobrir se

os conhecimentos utilizados no desenvolvimento da atividade docente são espontâneos ou

sistematizados, explícitos ou não. Esta etapa é significativa para a reflexão a cerca dos

conceitos de ensino-aprendizagem que norteiam a prática do professor, promovendo

oportunidade para a análise da linguagem utilizada na aula, os objetivos e razões em agir, do

contexto social, dos alunos, da escola, possibilitando o entendimento do significado das

escolhas feitas no decorrer da atividade docente.

A análise feita por meio da ação de informar permite compreender o que de fato

acontece durante o ato educativo; distinguir quem fala e para quem se fala, quem controla e

detém a linguagem e o que isso significa para o contexto social; descobrir porque o professor

age de uma forma e não de outra, e se essa ação é realizada conforme ou não aos propósitos;

além de contribuir para identificar as razões pelas quais os alunos não aprendem e tornar

possível a compreensão dos significados construídos no processo ensino-aprendizagem,

levando ao entendimento dos interesses que embasam as ações diárias em sala de aula, isto é,

das significações que estão sendo negociados e ou transmitidas pela escola.

A terceira ação é a de confrontar (3o ação). Nesta etapa, as ações reflexivas permitem a

compreensão do significado das práticas para a manutenção ou transformação de

desigualdades, diferenças e preconceitos. Esta etapa possui uma importância central para o

processo de reflexão crítica. “Neste momento gostaria que você abrisse mão de uma análise

pontual e faça uma reflexão no contexto da aula com o seu uso social dos conhecimentos

construídos na escola”.

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A compreensão das ações realizadas na aula cria condições para que a reconstrução (4o

ação) das práticas docentes ocorra, bem como ajuda a relacionar as construções feitas na

escola com os interesses sociais e políticos.

Estas quatro ações coordenadas contribuem para o processo de reflexão crítica a cerca

das práticas educativas realizadas pelo professor.

Videoformação no contexto da pesquisa colaborativa.

A sessão de videoformação, apresentada por Ibiapina (2008), favorece a análise

intrapessoal da prática docente. O processo ocorre em três etapas: o professor é filmado em

situação de aula; posteriormente o pesquisador convida o professor para sessão intrapessoal,

ou seja, discute com o professor os trechos mais significativos da filmagem; após esta etapa,

professor e pesquisador escolhem os trechos mais significativos para a reflexão coletiva.

O foco da análise distanciada se fundamenta nas ações docentes desenvolvidas no

momento pedagógico da aula. Os professores, tendo em mãos as perguntas a serem

respondidas nas ações reflexivas de descrever, informar, confrontar e reconstruir, respondem

a estes questionamentos na sessão de reflexão intra e interpsicológicas. A imagem no vídeo

permite que o professor realize análise mais objetiva da sua atividade docente.

O processo de reflexão intrapessoal permite que os sujeitos desta pesquisa

colaborativa tornem-se conscientes de suas práticas, oferecendo condição para que haja a

transferência do plano da ação para o plano da linguagem. (Ibiapina, 2008)

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I – DADOS PESSOAIS:

(1) Nome:

(2) Data de Nascimento:

II – FORMAÇÃO INICIAL:

(1) Ano que iniciou a graduação:

(2) Ano que terminou a graduação:

(3) Instituição de Ensino Superior:

III – EXERCÍCIO PROFISSIONAL:

(1) Ano que começou a lecionar:

(2) Tempo que trabalha na área de educação:

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1o ação: DESCRIÇÃO.

Data:___/___/___

Qual o contexto da aula?

Que tipo de aluno e qual a sua procedência?

Quantos alunos?

Qual o assunto trabalhado?

Por que considera este tema interessante?

Quais objetivos?

Quais atividades desenvolvidas?

Como organizou a turma?

Por que organizou a turma desta forma?

Como organizou e conduziu a aula?

Quais as formas de participação dos alunos?

O que motivou a escolha desse assunto?

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2o ação: INFORMAÇÃO.

Data:___/___/___

A aula atingiu os objetivos?

O que fez para atingir os objetivos?

Por que acha que conseguiu atingi-los?

Quais os tipos de conhecimento trabalhados?

Por que fez opção por esses conhecimentos?

Quais as dificuldades que você encontra para estimular o aluno a aprender?

A que atribui esta dificuldade?

Que relação existe entre a prática educativa e o conteúdo conceitual?

Como sistematiza essas discussões?

Que relação faz entre o tema e as atividades escolhidas?

Que relação faz entre a sua prática e os conceitos que internalizou?

Como você acha que suas escolhas teóricas afetam a sua prática educativa?

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3o ação: CONFRONTO.

Data:___/___/___

Como você acha que chegou a construir o seu perfil docente?

De que maneira faria considera que o conhecimento trabalhado contribui para que o aluno

possa utilizá-lo na sua profissão?

Qual a importância desse conhecimento para transformar a realidade do aluno?

O que você acha que limita as suas práticas educativas?

Que conceitos serviram de base para a construção de sua prática?

Em que teoria se fundamenta para romper com essas dificuldades?

Qual a função social de suas ações?

Que tipo de aludo esta sendo formado?

Qual a função das escolhas feitas para a formação do aluno?

Que conceitos serviram de base para a construção das suas práticas educativas?

Que conexão há entre os conceitos construídos e as minhas práticas educativas?

Qual a relação existente entre esses conceitos e minha formação?

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4o ação: RECONSTRUÇÃO.

Data:___/___/___

O que você mudaria na sua aula?

O que faria diferente no sentido de motivar o aluno para aprender?

O que você faria para ampliar o pensamento crítico reflexivo do aluno?

Que outras estratégias usaria para refletir sobre o que fez no decorrer da aula?

Que proposta faria para melhorar o processo reflexivo e mudar a prática docente de outras

aulas?

Que proposta faz para melhorar o seu percurso de desenvolvimento profissional?

Qual a relação que você faz entre o seu trabalho atual e o realizado antes das sessões de

reflexão?

O que você acha que ainda precisa melhorar no seu atual estágio de desenvolvimento

profissional?

O que você pode fazer para alcançar esta mudança?

Que proposta você tem para fazer melhorar também o desenvolvimento profissional de

seu aluno?

O que pode fazer na sua prática para atingir essa mudança?

O que você mudaria no macro contexto em que atua?

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Anexo III: Roteiro Final.

Instruções para elaboração do Roteiro (curso: O uso da experimentação no Ensino de Química)

Etapas 1- O professor produz o Roteiro; 2- O Roteiro é validado por 2 colegas de curso; 3- O Roteiro é validado por 1 coordenador do curso. Conteúdo do Roteiro O Roteiro terá como referência os Conteúdos Básicos Comuns – CBC/MG. Formato do Roteiro O Roteiro obrigatoriamente atenderá às seguintes especificações: - Problema inicial; - Desenvolvimento teórico disciplinar e contemporâneo; - Desenvolvimento teórico interdisciplinar (opcional); - Propostas de atividades e - Referências. Os Roteiros devem respeitar as leis de direitos autorais e propriedade intelectual n.º 9610 de 19 de Fevereiro de 1998. Cada Roteiro terá entre 02 e 04 páginas (papel A 4), margem superior de 3 cm, inferior de 2 cm, esquerda de 3 cm e direita de 2 cm, espaçamento: 1,5 e fonte: Arial 12. Problema inicial O Roteiro deve iniciar apresentando um problema que provoque, no aluno, a busca e o estudo do conteúdo pertinente ou necessário à sua resolução. A linguagem utilizada para apresentá-lo poderá ser diversificada, de acordo com a criatividade do autor: - linguagens verbais e não verbais (imagens) que explicitem e desenvolvam o problema, pensado sob a ótica do aluno do Ensino Fundamental e/ou Médio, com a intenção de mobilizá-lo, provocá-lo com a situação apresentada. O problema inicial deve estabelecer relações entre: o conteúdo, o cotidiano do aluno e o nível de ensino a que se destina. O desafio neste tópico é que o aluno seja provocado, mobilizado a ler o Roteiro, a estudar e pesquisar para encontrar a resposta. O aluno deve ter, realmente, um problema para resolver, com um grau de dificuldade tal que o mobilize. Ao elaborar o problema, portanto, o autor do Roteiro não pode:

facilitar ou formular questionamentos com soluções óbvias;

apresentar as respostas logo na sequência do texto;

fornecer as pistas e induzir a resposta no próprio corpo do problema.

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Pode-se considerar um problema como sendo um evento que perturba o cotidiano do aluno. Portanto, criar um problema para o aluno é despertar o seu desejo, o seu interesse, seduzi-lo pela situação, provocar nele a necessidade de chegar a uma resposta. Em síntese, o problema apresenta um obstáculo a ser transposto, uma dificuldade a ser superada, uma dúvida a ser dissipada. A resolução do problema proposto ou a busca de soluções devem passar por aquele conteúdo desenvolvido pelo autor. Desenvolvimento Teórico Disciplinar e contemporâneo Após a escolha do conteúdo e a elaboração do problema, o autor fará o desenvolvimento teórico, tratando do conteúdo proposto no Roteiro. O texto será escrito de modo a fornecer subsídios ao aluno para a solução ou para as tentativas de solução do problema. O tratamento dado ao conteúdo contribuirá para a compreensão e discussão do problema. O desenvolvimento teórico, remetendo-se ao problema, abordará o conteúdo da disciplina de química, garantindo que o grau de complexidade desse conteúdo seja adequado aos alunos e ao seu nível de ensino. A utilização de imagens (utilize imagens livres de direitos autorais) constitui-se um elemento fundamental que pode facilitar a compreensão do texto, desde que relacionada ao conteúdo abordado. É importante que a distribuição de textos e imagens seja realizada de forma equilibrada e adequada para auxiliar na compreensão do conteúdo. O desenvolvimento teórico deve primar pela correção conceitual e gramatical do texto, apresentando coerência no desenvolvimento das ideias. Propostas de Atividades Desenvolver o texto prevendo a participação efetiva dos alunos em todo o desenvolvimento. As propostas de atividades apresentadas pelo Roteiro (atividades de bancada, filmes, atividades em sala etc.) deverão proporcionar aos alunos um aprofundamento maior dos estudos. Neste sentido, elas serão provocativas, instigantes, mobilizadoras, reflexivas, incluídas ao longo de todo o texto, realimentando a mobilização alcançada pelo problema inicial, indicando, ainda, ao aluno, a continuidade da pesquisa e o desenvolvimento de várias linguagens. Referências Indicar todas as referências utilizadas de acordo com as normas da ABNT.

NÃO CARACTERIZA UM ROTEIRO Ao escrever o Roteiro, é preciso estar atento para o que não constitui um Roteiro: textos acadêmicos, recortes de monografia ou dissertações de mestrado e doutorado, artigos científicos, recortes da Internet, cópias de livros didáticos, projetos pedagógicos disciplinares e interdisciplinares ou textos que não contemplem as exigências deste manual ou não tenham o aluno como interlocutor. Isso significa que a linguagem deve levar em conta esta interlocução, considerando o aluno como o primeiro leitor do Roteiro. Validação

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Será fornecida ficha de avaliação com base nos critérios estabelecidos acima. Bibliografia As instruções para a produção do Roteiro, acima, foram adaptadas diretamente do “Manual de Produção do Folhas”, do Projeto Folhas do Governo Estadual do Paraná.

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Anexo IV: Observações aos professores P1 e P2.

Considerações Finais a professora P1.

Ensino de Ciências

a. Texto Robin Millar

Por quê? O que? Como?

10

20

Roteiro

10 De forma geral: - contribuir com Habilidades, conceitos e perspectivas

específicas, distintas que outras disciplinas não conseguem fazer.

- contribuir para a construção de conhecimento que não é

possível ser adquirido informalmente, mas apenas sob instrução formal.

- contribuir para aquisição de conhecimento que possua

importância e valor. Argumentos: econômico, utilitário, democrático, social e cultural.

Obs1: Contribuição do ensino experimental: a)favorecer o diálogo entre os sujeitos

participantes do processo ensino-aprendizagem, mediado por você.

b)contribui para a identificação, pelo

professor, dos conceitos prévios que os alunos possuem a respeito do conteúdo selecionado para a aula

(ZDP).

Obs2: Papel da escola: Favorecer o processo de construção do conhecimento científico, que

possui característica abstrata e generalizada, partindo do conhecimento espontâneo do aluno que

possui características concreta e particularizada.

Revisar os textos do início do curso realizado no colégio João XXIII. Perspectiva teórica do curso Histórico-Cultural.

Considerações Finais ao professor P2.

Ensino de Ciências: Texto Robin Millar

Por quê? O que? Como?

1o 2o Roteiro

10 De forma geral: - contribuir com Habilidades, conceitos e perspectivas

específicas, distintas que outras disciplinas não conseguem fazer.

- contribuir para a construção de conhecimento que não é

possível ser adquirido informalmente, mas apenas sob instrução formal.

- contribuir para aquisição de conhecimento que possua

importância e valor. Argumentos: econômico, utilitário, democrático, social e cultural.

Obs1: Contribuição do ensino experimental: a)favorecer o diálogo entre os sujeitos

participantes do processo ensino-aprendizagem, mediado por você.

b)contribui para a identificação, pelo

professor, dos conceitos prévios que os alunos possuem a respeito do conteúdo selecionado para a aula

(ZDP).

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Obs2: Papel da escola: Favorecer o processo de construção do conhecimento científico, que

possui característica abstrata e generalizada, partindo do conhecimento espontâneo do aluno que

possui características concreta e particularizada.

Revisar os textos do início do curso realizado no colégio João XXIII. Perspectiva teórica do curso Histórico-Cultural.

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Anexo V: Ferramenta utilizada pelos professores para avaliação do roteiro.

1. Dados Gerais

Título do ROTEIRO

2. Qualidade do trabalho (Assinalar com um X)

0 1/3 2/3 1

ITEM AVALIADO Insatisfatório Pouco

satisfatório

Satisfatório Plenamente

satisfatório

Não se

aplica

Sem

opinião

1. Relevância do tema abordado

2. Contribuições para a área de ECM

3. Clareza na definição do PROBLEMA INICIAL

4. Adequação entre a abordagem do PROBLEMA INICIAL e o DESENVOLVIMENTO TEÓRICO E DISCIPLINAR COMTEMPORÂNEO

fundamentação teórica, objetivos e

o encaminha

mento metodológic

o

5. O ROTEIRO tem como referência os CONTEÚDOS BÁSICOS COMMUNS – CBC/MG

6. Articulação entre os resultados e as conclusões

7. PROPOSTA DE ATIVIDADES

8. Uso das referências ao longo do texto e completeza na lista final de referências

9. Correção no uso da língua

10. Clareza, concisão e completeza do ROTEIRO

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3. Parecer justificado a ser encaminhado ao autor (Assinalar com um X e justificar)

Aceito para publicação na forma em que foi encaminhado

Aceito para publicação com modificações sugeridas em anexo

Recusado

Justificativa do parecer: (usar o espaço que julgar necessário)

Nome do parecerista:

Data:

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Anexo 6: Termo de Consentimento e de Assentimento

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

PRO-REITORIA DE PESQUISA

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP/UFJF

36036900- JUIZ DE FORA - MG – BRASIL

Você está sendo convidado (a) como voluntário (a) a participar da pesquisa “Formação

Inicial e Continuada de professores com ênfase no ensino de química experimental”. Neste

estudo pretendemos fornecer uma interpretação explicativa da formação inicial e continuada

de professores de química.

O motivo que nos leva a estudar esse assunto é construir uma argumentação teórica que

nos ajude a criar propostas de novos cursos de formação inicial e continuada.

Para este estudo adotaremos o(s) seguinte(s) procedimento(s): a metodologia aplicada a

esta pesquisa é a histórico materialista dialética.

Para participar deste estudo você não terá nenhum custo, nem receberá qualquer

vantagem financeira. Você será esclarecido (a) sobre o estudo em qualquer aspecto que

desejar e estará livre para participar ou recusar-se a participar. Poderá retirar seu

consentimento ou interromper a participação a qualquer momento. A sua participação é

voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na

forma em que é atendido(a) pelo pesquisador. O pesquisador irá tratar a sua identidade com

padrões profissionais de sigilo. Você não será identificado em nenhuma publicação que

possa resultar deste estudo. Este estudo apresenta risco mínimo, isto é, o mesmo risco

existente em atividades rotineiras como conversar, tomar banho, ler, etc. Apesar disso, você

tem assegurado o direito a ressarcimento ou indenização no caso de quaisquer danos

eventualmente produzidos pela pesquisa.

Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Seu nome ou o

material que indique sua participação não será liberado sem a sua permissão. Os dados e

instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados com o pesquisador responsável por

um período de 5 anos, e após esse tempo serão destruídos. Este termo de consentimento

encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia será arquivada pelo pesquisador

responsável, e a outra será fornecida a você.

Eu, __________________________________________________, portador(a) do documento

de Identidade ____________________, fui informado(a) dos objetivos do presente estudo de

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maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei

solicitar novas informações e modificar minha decisão de participar se assim o desejar.

Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de

consentimento livre e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas

dúvidas.

Juiz de Fora, ____ de ______________ de 20____ .

_____________________________________

Assinatura do (a) participante

_____________________________________

Assinatura do(a) pesquisador(a)

Em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos deste estudo, você poderá consultar:

CEP- COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA - UFJF

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA / CAMPUS UNIVERSITÁRIO DA UFJF

JUIZ DE FORA (MG) - CEP: 36036-900

FONE: (32) 2102-3788 / E-MAIL: [email protected]

PESQUISADOR(A) RESPONSÁVEL: CHRISTIANI MARCELO MACHADO PYRAMIDES

ENDEREÇO: RUA ENG. GENTIL FORN 50/203.

JUIZ DE FORA (MG) - CEP:36036-220.

FONE: (32) 9198-1628 / E-MAIL: [email protected]

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Ao término de um período de

decadência sobrevém o ponto de

mutação. A luz poderosa que fora

banida ressurge. Há movimento,

mas este não é gerado pela força...

O movimento é natural, surge

espontaneamente. Por está razão, a

transformação do antigo torna-se

fácil. O velho é descartado, e o novo

é introduzido. Ambas as medidas se

harmonizam com o tempo, não

resultando daí, portanto, nenhum

dano.

I Ching