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Repensando desenvolvimento econômico no século XXI: Instituições,
sustentabilidade e outros desafios
Rethinking economic development in the 21st century: Institutions, sustainability and
other challenges
Alexandre Ottoni Salles
Professor Adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo
E-mail: [email protected]
Resumo: O artigo se propõe compreender o papel das instituições no processo de crescimento
e desenvolvimento econômico de acordo com a abordagem elaborada pelo precursor da
Escola, o economista norte-americano Thorstein Veblen, bem como autores por
institucionalistas contemporâneos. Para tal, o artigo inicia com uma revisão de literatura
acerca do papel das instituições para o desenvolvimento econômico, bem como os elementos
fundamentais da teoria Vebleniana no que se refere à formação e evolução das instituições.
Além disso, fez-se uma análise de como este marco teórico interpreta o desenvolvimento
sustentável. Os resultados possibilitaram inferir que a abordagem Vebleniana e de seus
sucessores é bastante robusta para a análise do tema em debate, pois a formação e a evolução
das instituições estão na base de qualquer projeto de desenvolvimento que promova padrões
avançados de progresso tecnológico, crescimento econômico com inclusão social, e
responsabilidade ambiental com as gerações futuras. O caráter interdisciplinar da abordagem
institucionalista contribui para o diagnóstico do problema e para o estabelecimento de
propostas desejáveis promovedoras de um desenvolvimento econômico humano e sustentável.
Palavras-chave: Instituições. Desenvolvimento Econômico. Desenvolvimento sustentável
Abstract: The article aims to understand the role of institutions in the process of growth and
economic development, according to the approach developed by the American economist
Thorstein Veblen, and contemporary institutionalist scholars. To do so, it begins with a
literature review on the role of institutions for economic development, as well as analyzing
the underpinnings of Veblen’s theory regarding the evolution of institutions. Moreover, it
analyzes how this theoretical framework discusses environmentally sustainable development.
The results allowed inferring that the Veblenian approach is quite robust for the analysis of
the topic under discussion since the formation and evolution of institutions are the backbone
of any development project that promotes advanced standards of technological progress,
economic social inclusion, and environmental responsibility to future generations. The
interdisciplinary nature of the institutionalist approach helps to diagnose the problem, and to
indicate propositions for the establishment of a desirable human and sustainable economic
development.
Key words: Institutions. Economic Development. Sustainable development
Repensando desenvolvimento econômico no século XXI:
Instituições, sustentabilidade e outros desafios
Agenda Social. V.5, nº2, mai/ ago / 2011, p. 1- 23 , ISSN 1981-9862
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1. Introdução
O papel desempenhado pelas instituições no processo de crescimento e
desenvolvimento econômico foi omitido ou pouco explorado pelos teóricos da abordagem
mainstream em Economia por boa parte do século XX e até recentemente. Exemplo disso são
os modelos neoclássicos, inclusive os de crescimento endógeno, em que instituições são
tratadas como variáveis exógenas, a tecnologia como uma variável estática, e os indivíduos
como agentes hedonistas que, sujeitos a restrições orçamentárias, buscam posições de
equilíbrio maximizando uma dada função de produção (AREND e CÁRIO, 2004; PESSALI e
FERNÁNDEZ, 2006).
De uma forma geral, as teorias neoclássicas do crescimento asseveram que a produção,
distribuição e utilização dos fatores produtivos obedece a uma série de axiomas que garantem
estabilidade e equilíbrio de fatores. Em outras palavras, o retorno marginal decrescente dos
fatores de produção geram, através do mecanismo de mercado em uma economia competitiva,
resultados positivos entre a taxa de crescimento da produção e a expansão da população,
gerando normalmente condições de equilíbrio intertemporal estacionárias.1 Tal abordagem
forma, crescimento e desenvolvimento econômico são considerados sinônimos, e não havia
preocupação com os aspectos sociais na medida em que através do princípio do
individualismo metodológico, as demandas dos agentes seriam satisfeitas por suas decisões
individuais de maximização intertemporal de sua função utilidade. Em outras palavras, a
abordagem mainstream levava em conta apenas o caráter quantitativo de evolução econômica,
deixando para o próprio mercado a responsabilidade pela alocação e distribuição eficiente dos
recursos.
No entanto, as crises do sistema capitalista e a percepção de que os fundamentos
teóricos estabelecidos pela abordagem convencional não tiveram o êxito proposto ao longo da
história do sistema, fez com que novas abordagens teóricas em economia se desenvolvessem
apresentando uma visão alternativa acerca da natureza do processo econômico em geral e do
desenvolvimento em particular. Dentre estas vertentes, emergiu ainda no fim do século XIX a
Escola Institucionalista aqui analisada. Trata-se de um programa de pesquisa que nasceu
1 Não há espaço neste ensaio para sumariar as modernas teorias neoclássicas do crescimento pois a
literatura referente ao tema é vasta. Para uma visão panorâmica a este respeito, vide Solow (1956, 1957), Lucas
(1988), Michl (2000), Cesaratto (1999a e b) e Romer (1994).
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interdisciplinar e que tem preservado este DNA teórico até os dias de hoje com um grande
número de publicações de autores que têm mantido a tradição Vebleniana que usar metáforas
de outras disciplinas para explicar a dinâmica econômica.
Ao longo de sua história, esta Escola desenvolveu princípios teóricos divergentes dos
marginalistas. A abordagem institucionalista entende que desenvolvimento econômico é
distinto de crescimento econômico, e que instituições, mudanças tecnológicas e estruturais são
consideradas endógenas ao sistema e fundamentais para a determinação do desenvolvimento
econômico e social de qualquer nação (HODGSON, 2005). Sendo assim, o objetivo do artigo
é compreender o papel das instituições no processo de desenvolvimento econômico de acordo
com a abordagem elaborada pelo precursor da Escola, o economista norte-americano
Thorstein Veblen, e seus sucessores contemporâneos.
Após esta introdução, o artigo está organizado em mais 3 seções. A segunda apresenta
uma revisão de literatura onde se define o que são instituições e seu papel no debate sobre
desenvolvimento. A terceira seção discute com mais detalhes o relacionamento entre
instituições e desenvolvimento. A seção 4 descreve como este marco teórico interpreta o
desenvolvimento sustentável, e finalmente, breves considerações finais concluem o artigo.
2. Bases teóricas da abordagem institucionalista Vebleniana e o processo de mudança
econômica
As instituições e suas mudanças subjacentes ao processo de desenvolvimento
econômico e social são fenômenos interligados e interdependentes. Neste artigo,
desenvolvimento econômico é entendido como um processo que evolui historicamente a partir
das características idiossincráticas relacionadas aos aspectos culturais e sociais de cada nação.
Portanto, compreende-se que o processo de desenvolvimento não é resultado apenas de taxas
positivas de crescimento per capta do produto interno bruto, mas é fruto fundamentalmente do
processo evolutivo de uma complexa rede de instituições que promove mudanças estruturais
necessárias à melhoria do padrão de vida da maioria da população. Assim, entendemos que
desenvolvimento econômico se materializa na forma de mudanças nas estruturas econômica,
social, política, na organização da produção, da distribuição e do consumo que garantam o
acesso da sociedade aos benefícios provenientes da acumulação de capital.
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Neste sentido, desenvolvimento é um conceito historicamente e institucionalmente
denso. Isso quer dizer que alterações estruturais no perfil das instituições e das relações
econômicas e sociais são importantes para descrever a trajetória do fenômeno. Pode-se
perceber que as instituições desempenham um importante papel neste processo pelos
seguintes motivos: estabelecem o aparato legal, regimental e regulatório necessário a toda
atividade produtiva de curto e longo prazo em âmbito local, regional, nacional e internacional
(COMMONS, 1931); viabilizam a implementação da rede de incentivos ao investimento e às
inovações tecnológicas; estão na base da organização das empresas enquanto sistemas de
governança; tornam viável a formalização e a estruturação do mercado de trabalho; e
finalmente ajudam a coordenar as políticas macroeconômicas domésticas e internacionais. Em
outras palavras, as instituições articulam o processo de crescimento e desenvolvimento
econômico de forma mais ou menos duradoura e sustentada (BUENO, 2004).
O termo “instituição” tem sido objeto de intenso debate na literatura econômica desde
o trabalho seminal elaborado pelo economista norte-americano Thorstein Veblen (1857-1929)
no final do século XIX. Veblen é considerado o precursor da Escola Institucionalista a partir
da publicação de sua obra mais importante, A teoria da Classe Ociosa, em 1899.2 Desde o
lançamento desta obra pioneira, diversos autores tem debatido intensamente a definição e a
importância das instituições na dinâmica econômica, em diferentes contextos e aplicações
teóricas.
A teoria institucionalista desenvolvida por Veblen propõe que a história humana é
pautada pela evolução das instituições, ou seja, a sociedade é vista como um organismo
complexo que evolui a partir das mudanças que ocorrem na estrutura institucional na qual se
assenta. Em outras palavras, a evolução da estrutura social é um processo de seleção natural
das instituições de forma que a vida do homem em sociedade, assim como a vida de outras
2 Vale a pena salientar que a perspectiva institucionalista Vebleniana não é a única dentro do constructo
teórico da Escola. Samuels (1995) subdivide os institucionalistas em três abordagens distintas, quais sejam, o
Velho Institucionalismo (ou Institucionalismo Original), a Nova Economia Institucional e os Neo-
institucionalistas. Pretende-se neste artigo abordar o conceito de instituições e seu papel no desenvolvimento
econômico e social a partir dos princípios teóricos propostos pelo Institucionalismo Original e pelos autores
Neo-institucionalistas contemporâneos que tem procurado resgatar o pensamento de Veblen. Por isso, foge dos
objetivos deste artigo apresentar com maiores detalhes todas estas abordagens. Para tanto, além de Samuels, veja
Mayhew (1987), Hodgson (1998) e Conceição (2002).
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espécies, é uma luta pela existência e, portanto, um processo de adaptação seletiva.3 Sendo
assim, as instituições são o produto de processos históricos passados, adaptados a
circunstâncias sociais e culturais passadas e, por conseguinte, normalmente não estão em
pleno acordo com as exigências do presente. Um passo rumo ao desenvolvimento constitui
por si só uma mudança de situação que exige uma nova adaptação por parte da sociedade.
Torna-se, com efeito, um ponto de partida para um novo passo rumo a um novo ajustamento,
e assim sucessivamente formando um ciclo de evolução institucional interminável. Em suma,
o que o autor quer dizer é que as nações progridem como um conjunto de processos que se
desdobram de maneira evolutiva, gradual e interdependentemente umas das outras.
Sendo assim, torna-se imprescindível capturar o conceito de instituição elaborado pelo
autor. Em várias passagens de sua obra, Veblen define instituições como hábitos mentais (ou
de pensamento) tão enraizados na sociedade que determinam padrões de comportamento
coletivo, que evoluem e são responsáveis pela trajetória global da sociedade. Nas suas
palavras (1983, p. 87 e 89):
As instituições são elas próprias o resultado de um processo seletivo e
adaptativo que modela os tipos prevalescentes, ou dominantes, de
atitudes e aptidões espirituais, são ao mesmo tempo métodos especiais
de vida e de relações humanas, e constituem, por sua vez, fatores
eficientes de seleção. [...] Instituições são métodos habituais de dar
continuação ao modo de vida da comunidade em contato com o
ambiente material no qual ela vive.
Assim como a teoria da seleção natural de Darwin defende que as espécies evoluem
para sobreviver às intempéries do meio ambiente em que vivem, para Veblen a sociedade e as
instituições também estão sujeitas à evolução e seleção, processo histórico que leva
invariavelmente a uma mudança dos hábitos de pensamento dos agentes, portanto de suas
condutas e decisões econômicas. Desta maneira, as resoluções tomadas pela sociedade ao
longo de sua história estão associadas aos hábitos mentais arraigados de sua população.4
3 Veblen defendeu o emprego de metáforas biológicas, propondo que o processo de desenvolvimento
econômico, social e tecnológico das economias capitalistas fosse compreendido a partir da metáfora darwinista
da evolução (em lugar do equilíbrio defendido por seus colegas do mainstream). 4 Na literatura evolucionária, principalmente desenvolvida por Nelson e Winter (1982), este processo
que mostra a importância da trajetória histórica das instituições na determinação dos fenômenos correntes
levando a situações futuras não capturáveis através de modelos de equilíbrio é chamado de path dependence.
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Assim, a visão evolucionária de Veblen assevera que as instituições são de extrema
importância para compreender o comportamento das decisões humanas, consequentemente,
dos fenômenos que daí decorrem, incluindo o desenvolvimento econômico. Dizendo de outra
forma, como os hábitos mentais dos indivíduos são instituições, sua evolução histórica
determina os padrões de desenvolvimento das sociedades na medida em que está relacionada
com o padrão de formação profissional, de inovação tecnológica e de empreendedorismo.
Esta é a razão pela qual é importante analisar desenvolvimento econômico levando-se
em conta o caráter institucional dos hábitos e costumes incorporados ao longo do tempo, e sua
evolução (HODGSON, 2007). Uma das definições de instituição de Hodgson (2006, p. 2)
sintetiza o parágrafo acima e a visão dos autores contemporâneos ligados à visão de Veblen
sobre o tema:
We may define institutions as systems of established and prevalent
social rules that structure social interactions. Language, money, law,
systems of weights and measures, table manners, and firms (and other
organizations) are thus all institutions. … Generally, institutions
enable ordered thought, expectation, and action by imposing form and
consistency on human activities. They depend upon the thoughts and
activities of individuals but are not reducible to them.5
Veblen vê a economia como um processo em permanente mudança pois as instituições
estão sujeitas a transformações históricas cumulativas e contínuas. Isso significa que os
agentes não se comportam uniformemente na medida em que absorvem e reagem às
mudanças no meio ambiente da economia de maneira diferente e idiossincrática, o que reforça
o caráter dinâmico e evolutivo do sistema. De acordo com Veblen (1898), as ações dos
indivíduos são resultado de um processo cumulativo e adaptativo decorrente das mudanças
das instituições dos períodos anteriores que exercem forte influência em seu comportamento
presente.
Uma das principais contribuições dos autores institucionalistas ligados ao
Institucionalismo Vebleniano à teoria econômica, e que interessa na discussão acerca do
desenvolvimento, é atribuir às instituições a atenção focal como elemento de coordenação do
sistema econômico, portanto do processo de desenvolvimento. Instituições possuem o papel
5 Há várias referências a este respeito deste debate sobre o conceito de instituição sob a ótica
institucionalista Vebleniana. Sobre isso, veja por exemplo Searle (2005), Neale (1987), Crawford e Ostrom
(1995), Rutherford (1998), Dequech, (2005) e Pessali e Dalto (2010), e Cavalieri (2009), capítulo 3.
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central nas análises destes autores, sendo inseridas no contexto econômico como algo
fundamental ao seu funcionamento. Segundo Hodgson (2002) instituições estabilizam,
coordenam e regulam as atividades envolvidas no processo econômico, e são capazes de criar
determinados padrões de comportamento em relação aos agentes econômicos na medida em
que canalizam e restringem o comportamento dos mesmos (veja também sobre isto, NEALE,
1987 e HODGSON, 2006). Contudo, apesar de serem instrumentos que dão estabilidade ao
sistema, as instituições não são imutáveis, pelo contrário, estão em constante e gradual
processo de transformação pois só dessa forma serão capazes de cumprir seu papel e
acompanhar o processo de evolução econômica e social do país.
A abordagem institucionalista contemporânea6 considera o indivíduo como um agente
de racionalidade limitada, assim as instituições são necessárias como forma de reduzir as
incertezas (FERRARI e CONCEIÇÃO, 2005). Como os indivíduos também não são
considerados passivos diante das transformações sociais (VEBLEN, 1909), o papel das
instituições é fundamental no sentido de regular este processo. E por fim, devido à rejeição de
Veblen da hipótese do indivíduo hedonista e maximizador, a influência coletiva no
comportamento dos agentes é perceptível e a função cognitiva das instituições é o esteio sobre
o qual prospera as determinações sócio-culturais que lançam as bases (as sementes) do
desenvolvimento. Instituições são mecanismos de coordenação e instrumentos capazes de
direcionar a aplicação de conhecimentos práticos na resolução dos gargalos do sistema
econômico, tornando possível assim a inovação e o progresso técnico, fundamentais ao
desenvolvimento (PESSALI e FERNÁNDEZ, 2006).
De acordo com esta abordagem, a mudança econômica, política, social e tecnológica
são responsáveis pelo constante processo de transformação do sistema capitalista. O papel
fundamental das instituições como instrumentos que sustentam o processo econômico permite
entender os aspectos históricos, políticos e sociais que afetam diretamente seu desempenho
econômico. Por isso, em nossa visão, compreender o processo de desenvolvimento econômico
6 A abordagem neo-institucionalista contemporânea é derivada de forte influência de Veblen, e busca
resgatar as principais contribuições do Velho Institucionalismo associando-o ao pensamento evolucionário
proposto por Nelson e Winter (1982), entre outros.
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requer, necessariamente, a vinculação das instituições e suas mudanças num contexto
histórico evolutivo.7
Tendo definido as bases teóricas que apontam as instituições como estando no cerne
do processo de mudança, pretende-se na seção seguinte compreender o seu papel no
crescimento e no desenvolvimento das nações.
3. Instituições, crescimento e desenvolvimento econômico
Ao longo dos dois séculos de evolução da ciência econômica, a análise dos
determinantes do crescimento e do desenvolvimento tem sido pretendida por uma diversidade
de escolas, abrangendo sistematizações teóricas e interpretações distintas. Segundo Conceição
(2002a), para a análise neoclássica, crescimento é um fenômeno passível de formalização
teórica, o que implica simplificá-lo e reduzi-lo à dedução de suas relações causais. Ou seja,
crescimento econômico, ao invés de processo, é determinado pela variação do PIB, ou pela
relação do PIB versus crescimento populacional, ou ainda pela variação na produção per
capita em relação ao aumento do estoque de capital. Em contraste, a visão sobre
desenvolvimento da abordagem teórica institucionalista aqui delineada considera o fenômeno
como um processo, e portanto deve ser analisado não apenas de forma quantitativa, mas
qualitativamente, levando em conta as relações históricas e institucionais que lhes são
subjacentes.
Sendo assim, uma distinção essencial que deve ser feita refere-se à noção de
crescimento e desenvolvimento econômico. Souza (2005) e Bresser-Pereira (2006) descrevem
duas correntes de economistas que buscam diferenciar tais conceitos. Uma considera
crescimento como sinônimo de desenvolvimento, enquanto outra, voltada mais para a
realidade empírica dos países em desenvolvimento, entende que crescimento é condição
indispensável, mas não suficiente para se alcançar uma situação de desenvolvimento. No
primeiro grupo, enquadram-se os modelos de crescimento de tradição neoclássica, como os de
James Meade e Robert Solow, e os de inspiração mais Keynesiana, como os de Roy Harrod,
Evsey Domar e Nicholas Kaldor. Na segunda corrente, estão economistas como Michal
Kalecki, Arthur Lewis, Ronsentein-Rodan, Albert Hirschman, Gunnar Myrdal, Raúl Prebish e
7 Segundo Conceição (2002a), as instituições são como que engrenagens ou articulações do processo de
crescimento econômico, que tem lugar em determinado momento de tempo e espaço.
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Ragnar Nurkse. Embora alguns deles tivessem formação convencional, realizaram análises e
elaboram modelos mais próximos da realidade das economias subdesenvolvidas do pós
segunda guerra. Vejamos com um pouco mais de detalhe os orgumentos de cada uma destas
correntes.
A abordagem convencional incorpora a visão de que o crescimento econômico
distribui diretamente a renda entre os proprietários dos fatores de produção, engendrando
assim automaticamente a melhoria dos padrões de vida e de desenvolvimento econômico.
Imaginava-se, segundo Veiga (2008), que bastaria a economia de um país crescesse
continuamente em termos de seu PIB para que automaticamente se tornasse desenvolvida. Isto
porque as poucas nações desenvolvidas do pós guerra eram as que haviam obtido taxas de
crescimento positivo do produto interno e assim se tornado ricas principalmente pelo vigor de
sua atividade industrial. Por outro lado, países que haviam permanecido subdesenvolvidos
eram industrialmente pobres, ou mesmo sua atividade industrial era ainda incipiente ou nem
havia começado. Em suma, a abordagem destes autores na época era de que “crescer”, via
mecanismo de mercado e o vigor da atividade industrial, era sinônimo de “desenvolver”.
As raízes teóricas do pensamento econômico moderno sobre desenvolvimento surgem
como resultado das crises do sistema a partir da década de 1950, onde se começa a perceber
que a expansão ou crescimento quantitativo da economia não engendra, necessariamente, uma
melhora nos padrões de vida dos países. Conforme descrevem Bastos e Britto (2010),
observando o crescimento da economia numa perspectiva de longo prazo pode-se perceber
que a partir da expansão do capitalismo industrial no século XIX há uma mudança no padrão
de crescimento da renda per capita, contudo este crescimento “intensivo” da renda teve um
caráter bastante desigual. Ou seja, o crescimento (leia-se expansão das atividades
econômicas) de determinados países, e mesmo de algumas regiões no mundo, ocorreu em
velocidades muito distintas, levando a um afastamento no padrão de renda e do nível de vida
das populações dos países (ditos) desenvolvidos e daqueles (ditos) sub-desenvolvidos.
A segunda corrente, por outro lado, discorda da assertiva de que crescimento é
resultado de uma simples variação do produto. Segundo estes autores, desenvolvimento
envolve mudanças qualitativas no modo de vida das pessoas, das instituições (vide definição
de HODGSON, 2006 acima) e das estruturas produtivas. Assim, crescimento e
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desenvolvimento econômico não podem ser considerados sinônimos. Como crescimento
refere-se à mera expansão do PIB, é, por isso, insuficiente para gerar desenvolvimento
econômico, o que significa que há uma grande preocupação com fatores que dificilmente são
garantidos através da obtenção de variações positivas do produto. O descompasso entre
crescimento e equidade pode ser observado através da análise de outros indicadores tais
como: níveis de educação, saúde, redução da pobreza, distribuição de renda, melhora do IDH,
aperfeiçoamento das instituições em geral, entre outros. Além disso, esta abordagem defende
que há uma forte correlação entre as decisões políticas e a estrutura da economia, de forma
que não há espontaneidade no desenvolvimento econômico. Assim sendo, torna-se
fundamental o apoio vigoroso do Estado, nos moldes do modelo Keynesiano, ou seja,
estabelecendo um sistema de regulação comercial e financeira, criando emprego, promovendo
obras de infra-estrutura e mesmo fabricando bens de capital quando a atividade produtiva
privada estiver deprimida.
Pessali e Dalto (2010) concordam com tal visão, ressaltando outros conceitos
relevantes ao desenvolvimento econômico como por exemplo os aperfeiçoamentos
tecnológicos ligados aos sistemas nacionais de inovação, arranjos produtivos, e redes de
cooperação. Além disso, eles chamam à atenção para a importância das reformas
institucionais, solução de dilemas sociais, preservação dos recursos naturais, melhorias no
mercado de trabalho, e ampliação dos mercados domésticos.
Tendo isso em mente, podemos agora debater mais especificamente as relações entre
instituições e desenvolvimento econômico. Segundo Conceição (2002b), o ideário conceitual
e metodológico do pensamento institucionalista, base teórica do presente artigo, está mais
próximo do campo analítico heterodoxo do que do mainstrem neoclássico. Uma abordagem
institucionalista sobre desenvolvimento econômico envolve não apenas uma análise da
evolução quantitativa, mas deve levar em conta a evolução da sociedade e das instituições,
dentro de seu universo histórico e cultural. Isso quer dizer que deve-se observar o progresso
econômico e social considerando path-dependence, reconhecendo o caráter diferenciado do
processo de desenvolvimento econômico, pressupondo que o ambiente econômico envolve
disputas, antagonismos, conflitos e incerteza. Estes aspectos sugerem que a relação entre a
atividade humana, as instituições e a natureza evolucionária do processo econômico define
tipos diferentes de economia, o que explica as distintas evoluções dos países ao longo da
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história. Em poucas palavras, o processo de desenvolvimento econômico relaciona-se, assim,
à interdependência entre instituições, à mudança institucional que ocorre na história da
sociedade, e dos arranjos institucionais que ela constói para engendrar seu processo de
inovação técnica.
Sachs (2008) enfatiza a importância das instituições ao asseverar que desenvolvimento
não é o resultado espontâneo do mercado agindo livremente. Na opinião do autor, o
desenvolvimento tende a habilitar cada indivíduo a manifestar suas potencialidades, talentos e
imaginação, na procura da auto-realização e felicidade, mediante empreendimentos
individuais e coletivos, numa combinação de trabalho e tempo gasto em atividades de lazer.
Desta forma, enfatiza que os aspectos qualitativos subjacentes ao processo são essenciais para
determinar se uma nação está passando por um período de desenvolvimento econômico, ou se
por mera fase de progresso material sem que haja a observância de melhorias nos padrões
sociais. Neste sentido, os mercados são tão somente uma entre as várias instituições que
participam do processo desenvolvimento.
Segundo Veiga (2008), quem melhor define o conceito de desenvolvimento neste
sentido é Celso Furtado, segundo o qual:
O crescimento econômico, tal qual o conhecemos, vem se fundando
na preservação dos privilégios das elites que satisfazem seu afã de
modernização; já o desenvolvimento se caracteriza pelo projeto social
subjacente. Dispor de recursos para investir está longe de ser condição
suficiente para preparar um melhor futuro para a massa da população.
Mas quando o projeto social prioriza a efetiva melhoria das condições
de vida dessa população, o crescimento se metamorfoseia em
desenvolvimento (FURTADO, 2004, p. 484, apud VEIGA 2008).
Como vimos, instituições são hábitos de pensamento (ie, padrões de conduta e seus
valores), regras, normas, e sua evolução (HODGSON, 1998). Instituições evoluem de
maneira diferenciada e idiossincrática no tempo cronológico, o que significa que não
determinam os mesmos padrões de desenvolvimento das sociedades. Dito de outra forma, em
função do processo de aprendizagem dos agentes, as mudanças tecnológicas e a evolução das
instituições ocorrem de maneira distinta entre as economias de tal forma que há diferentes e
genuínas trajetórias de desenvolvimento econômico entre países e regiões.
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4. Desenvolvimento econômico e sustentável
Definida a distinção entre crescimento e desenvolvimento econômico, bem como o
aparato teórico de análise, pretende-se abordar nesta seção questões relacionadas à
sustentabilidade do meio ambiente. Esta discussão é de fundamental importância por dois
motivos: primeiro, porque os recursos naturais disponíveis no mundo estão dando sinais
claros de esgotamento e, por via de consequência, esta exaustão tem colocado em xeque a
operacionalidade da matriz industrial global. Ainda não estamos em xeque mate mas a já
irreversível degradação ambiental desafia a humanidade a encontrar formas mais sustentáveis
e inteligentes de usar os recursos da natureza. Segundo, todo o qualquer programa de
desenvolvimento que se queira empreender vai esbarrar nesta limitação de recurosos.
Cechin e Veiga (2010, p. 439) colocam este argumento da seguinte forma: “Se a
economia pega recursos de qualidade de uma fonte natural e despeja resíduos sem qualidade
para a economia de volta para a natureza, então não é possível tratar a economia como um
ciclo fechado e isolado da natureza”. Portanto, é crucial e insuprimível no debate sobre
desenvolvimento no século XXI encarar de frente os problemas, os desafios e procurar
elaborar possíveis respostas a eles, principalmente porque esta discussão ainda não tem sido
amplamente incorporada na literatura heterodoxa especializada até o momento.
Segundo Romeiro (1999), o conceito de desenvolvimento sustentável surgiu pela
primeira vez com o nome de ecodesenvolvimento no início da década de 1970, em resposta à
polarização exarcebada proveniente da publicação do Relatório do Clube de Roma. Este
Relatório, publicado em 1972, apresentou idéias de partidários de duas visões opostas sobre
as relações entre crescimento econômico e meio ambiente. De um lado, propunha-se que os
limites ambientais ao crescimento econômico fossem relativos diante da capacidade inventiva
da humanidade, de tal forma que o processo de crescimento econômico gerasse uma força
positiva capaz de eliminar, por si só, as disparidades sociais. De outro, prognosticava-se que o
meio ambiente apresentava limites absolutos ao crescimento econômico, de tal forma que a
humanidade estaria próxima de uma catástrofe se fossem mantidas as taxas de expansão de
extração de recursos naturais e de utilização da capacidade de fornecimento dos serviços
ambientais do meio natural.
De acordo com o Romeiro (1999), a literatura econômica tem reconhecido que o
progresso técnico efetivamente relativiza os limites ambientais, embora não os elimine, e que
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o crescimento econômico é condição necessária, mas não eficiente nem suficiente para
eliminação da pobreza e das disparidades sociais. Sendo assim, a prosição de que é necessário
intervir no processo de desenvolvimento e direcioná-lo de modo a conciliar eficiência
econômica, desejabilidade social e prudência ecológica passa a ter uma aceitação generalizada
(apesar de Romeiro ressaltar que ainda há divergências relacionadas ao trade-off crescimento
econômico e meio ambiente).
Conforme Romeiro (1991), a viabilidade econômica pressupõe a concepção de
sistemas produtivos onde os custos de produção, medidos pela produtividade do trabalho
obtida, sejam compatíveis com os níveis de bem-estar social considerados minimamente
aceitáveis. A desejabilidade social pressupõe a solidariedade entre classes sociais, o que
implica optar por padrões tecnológicos que propiciem uma distribuição mais equitativa da
renda gerada.
Por sua vez, Chacon (2000) assevera que a expressão “desenvolvimento sustentável”
surgiu quando foi criada a Comissão Mundial para de Meio Ambiente e Desenvolvimento,
defendendo a tese de que as necessidades geradas pelas sociedades no presente devem ser
atendidas, bem como uma preocupação com as gerações futuras. Tal expressão se tornou
mundialmente conhecida quando foi adotada no programa da ONU chamado “Nosso futuro
comum”, mais conhecido por Relatório Brundtlan, apresentado em 1987 à Assembléia Geral
das Nações Unidas.
Sachs (2008) afirma que o desenvolvimento sustentável obedece ao duplo imperativo
ético da solidariedade com as gerações presentes e futuras, e exige a explicitação de critérios
de sustentabilidade social e ambiental e de viabilidade econômica. Na opinião do autor,
somente as soluções que considerem estes três elementos, isto é, que promovam o
crescimento econômico com impactos positivos em termos sociais e ambientais, merecem a
denominação de desenvolvimento.
Seguindo esta linha de pensamento, Veiga (2005, p. 5) descreve que “no médio prazo,
o desenvolvimento deve ser adequado à ambição de que no longo prazo haja compatibilidade
entre a humanidade, os recursos que ela consome e o efeito de suas atividades sobre o meio
ambiente”. Sendo assim, o reconhecimento da existência de limites absolutos à expansão do
sistema econômico, de acordo com a visão de sustentabilidade do desenvolvimento, implica a
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necessidade de estabilizar a produção material/energética a um nível considerado sustentável.
É neste sentido que a dimensão institucional torna-se relevante na análise de desenvolvimento
sustentável.
A degradação ambiental vem atingindo mundialmente níveis alarmantes
principalmente a partir da década de 1970 e tem se tornado um problema endêmico para a
consecução efetiva de programas de desenvolvimento econômico na perspectiva que estamos
defendendo neste trabalho. Os motivos parecem óbvios, porém o que não é tão evidente são
as formas de se lidar com os problemas que isto tem criado para as sociedades que
procuraram não apenas expandir sistematicamente seu produto mas se desenvolver
preservando os recursos da natureza para as próximas gerações. Muitas pesquisas tem sido
feitas nos principais países do mundo a fim de encontrar novos padrões tecnológicos de
geração de energia limpa. Todos estes esforços mais relacionados com o conhecimento de
engeharia ambiental são de extrema importância e devem ser crescentemente incentivados.
Porém neste artigo, vamos nos concentrar em discutir outro aspecto igualmente importante
para a sustentabilidade do meio ambiente que são as mudanças dos hábitos de se lidar com os
recuros da natureza.
Hábitos de pensamento, que determinam padrões sociais de comportamento,
estabelecidos por décadas tornam-se instituições arraigadas na cultura de uma sociedade.
Como afirma Hodgson (2006), instituições tornam os comportamentos estruturados e
duráveis, não sendo portanto eliminados de maneira repentina, casual ou extemporânea.
Tornam-se parte da cultura de uma nação, ou grupo de indivíduos que, no plano empresarial,
desenvolvem seus próprios valores e interesses de acordo com ramo de atividade a que
pertencem. Quando o respeito à preservação dos recursos naturais não é foi formado como
uma institiução na forma de pensar e agir de determinado grupo, isso cria muitas vezes são
um importante obstáculo ao desenvolvimento sustentável.
O trecho a seguir de Cechin e Magalhães (2007, p.7) ilustra bem a importância das
instituições na reformatação de hábitos de pensamento e padrões de comportamento mais
ordenados a partir da constatação das graves limitações ambientais do mundo atual. Sem uma
importante mudança em nível global que envolva sociedade, empresas, governos, dificilmente
poderemos pensar em um processo de desenvolvimento sustentável em nível global. Vale a
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pena enfatizar que a visão dos autores acerca das instituições é totalmente coerente com
aquela que foi esboçada na primeira parte deste artigo. Segundo eles:
A emergência de uma nova instituição que se refira aos cuidados com
o ambiente, por exemplo, só poderá alterar fundamentalmente as
preferências e comportamentos dos indivíduos se ela alterar os hábitos
de pensamento e comportamento. Hábitos devem ser entendidos como
repertórios de pensamento ou comportamento potencial. Como uma
disposição de se engajar em um comportamento. O comportamento
concordante com o hábito é engatilhado pelo contexto apropriado.
Se a sociedade global internalizar como parte de sua cultura a concepção de que os
recursos naturais são imprescindíveis mas limitados, seus hábitos de consumo, preferências,
formas de extração e utilização destes recursos irão mudar e influenciar mudanças na estrutura
de regras (legais e não legais, formais e não formais) desta sociedade. Conforme Romeiro
(1999) as alterações na trajetória institucional são (muito mais do que mudanças
imprevisíveis) o resultado de ações conscientes em busca de ações socialmente eficientes.
Veiga e Zatz (2008) colocam as discussões e conceitos em torno do tema de maneira
bastante simples e didática. Acreditam que as discussões de fato vêm se aprofundando desde o
Relatório de Brundtlan, e suscitando em compromissos internacionais como as conferências
Rio-92, Rio+10 e o Protocolo de Kyoto. No entanto, segundo os autores, parece haver um
retrocesso no que se refere às ações práticas concretas na busca pela sustentabilidade. Eles
colocam no plano de discussão da conciliação entre conservação ambiental e crescimento
econômico visões otimistas e pessimistas. Vejamos primeiro a visão defendida pelos
otimistas.
Para Veiga e Zatz, o crescimento de per si só prejudica o meio ambiente enquanto não
se atinge um razoável nível de riqueza, a partir do qual se daria o inverso, ou seja, o
crescimento passaria a melhorar a qualidade ambiental. Segundo Veiga (2008) tal afirmação
possui raciocínio idêntico à velha parábola sobre a necessidade de primeiro fazer o bolo
crescer para depois distribuí-lo melhor. Tanto é que essa hipótese tem sido chamada de
“Curva Ambiental de Kuznets”, por analogia à curva em “U” invertido, proposta em 1954
pelo ganhador do prêmio Nobel de Economia em 1971, Simon Kuznets. O problema desta
hipótese, segundo Veiga & Zatz (2008) é que ela supõe que o que aconteceu num país deve
acontecer em todos, o que não é verdade. Natureza, cultura, hábitos, padrões de
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comportamentos, estrutura institucional são elementos idiossincráticos, e sua evolução é
distinta e específica em regiões e países.
Sendo assim, os mais otimistas acreditam que forçosamente surgirão inovações
tecnológicas necessárias capazes de substituir recursos naturais e evitar, ou contornar, as
catástrofes ambientais, dado o contínuo crescimento econômico e populacional global (Veiga
& Zatz, 2008). No entanto, é fundamental acelerar as pesquisas científicas visando procurar
garantir em nível global uma situação de sustentabilidade agregada a uma mudança estrutural
que contemple o processo.
Já a visão pessimista é baseada em medidas tomadas da física de variação ou
desordem de sistemas (entropia), especialmente da segunda Lei da Termodinâmica. De acordo
com esta Lei, todas as formas de energia são gradualmente transformadas em calor, sendo que
este acaba tornando-se difusa e não reutilizável. Essa tendência de aumento de entropia
(energia não-reutilizável) ocorre com qualquer elemento, tanto de um organismo vivo quanto
por exemplo do carvão, conforme Veiga & Zatz (2008). É com base nesta lei da entropia que
economistas ecodesenvolvimentistas tem argumentado que o crescimento econômico não
pode ser permanente e de duração indefinida. Na visão destes autores, deve haver inclusive
períodos de decrescimento, ou seja, desenvolvimento sem contrapartida do crescimento
econômico. Em síntese, para os otimistas não há uma maior preocupação com as gerações
futuras dado que acreditam que a tecnologia irá substituir os recursos utilizáveis. Já no que se
refere aos pessimistas, há um impasse entre desenvolvimento econômico e a disponibilidade
natural de recursos produtivos para empreendê-lo.
Herman Daly, um dos discípulos de Nicholas Georgescu-Roegen (considerado um dos
fundadores da Economia Ecológica), propõe um que o sistema econômico deve procurar
empreender um programa de desenvolvimento que seja independente do crescimento. Daly
(2004, p. 198) argumenta que crescer significa “aumentar naturalmente em tamanho pela
adição de matéria através de assimilação ou acréscimo”, e desenvolver-se significa “expandir
ou realizar os potencias de trazer gradualmente a um estado mais completo, maior, ou
melhor”. Em outras palavras, ele quis dizer que quando determinado fator cresce fica maior,
contudo quando se desenvolve torna-se diferente. Neste sentido, por inferência pode-se
concluir que o ecossistema terrestre desenvolve-se (evolui) mas não cresce. A economia,
portanto, deve finalmente parar de crescer, mas continuar a se desenvolver.
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Esta teoria é difícil de ser vislumbrada na prática. Veiga & Zatz (2008) argumentam
que para os habitantes de um país desenvolvido este objetivo de desenvolver pode ser viável,
e que não é por acaso que o principal apoio para as políticas ecológicas vem desses países e
também das confortáveis classes rica e média de todos os países (pelo menos os que não
almejam ganhar com a poluição). No entanto, nações mais pobres tem observado taxas de
desemprego elevadas, principalmente após a aceleração dos mercados comericiais e
financeiros globalizados nos anos 1980, por isso, a maioria deles deseja mais crescimento não
necessariamente baseado em princípios ecologicamente aceitáveis.
Veiga (2008) argumenta que em última estância, o papel da sociedade civil é essencial
para a implementação de práticas ambientais responsáveis. Empresas, governos e políticos
mudam suas posturas quando a sociedade passa a esperar e a exigir comportamentos e
decisões em maior sintonia com as demandas sociais. Novamente, vemos a importância de
uma mudança cultural na ativação do processo hostórico do desenvolvimento.
Responsabilidade ambiental deveria ser um valor a ser perseguido pelas sociedades modernas,
e deveria estar embutido na estrutura ética da liderança das nações. Portanto, a visão de
desenvolvimento elaborada por Veiga está entrelaçada com a abordagem teórica discutida
acima, onde os hábitos arraigados dos indivíduos geram decisões que no tempo histórico
afetam inequivocamente o padrão de vida das nações. Assim, as instituições influenciam e são
influenciadas pelos indivíduos como um processo de causação reconstitutiva (HODGSON
2002).
Em suma, a busca por um desenvolvimento econômico que inclua melhoramentos no
uso dos recursos ambientais, mais investimentos em pesquisa e tecnologias de ponta que
garantam a sustentabilidade da oferta dos serviços ambientais, e um aparato institucional apto
para fiscalizar e estruturar o uso destes recursos, constitui um processo evolutivo que a
sociedade global precisa colocar em prática. Governantes, partidos políticos, grupos
empresariais, sindicatos, ONGs, imprensa, comunidades e líderes mundiais em evidência nas
diversas e importantes agências multilaterias internacionais tem um papel de destaque nesta
nova etapa da vida humana. Seu papel também está em alertar os agentes econômicos sobre
as consequências para a humanidade do padrão tradicional de desenvolvimento das atuais
sociedades industriais avançadas. Este artigo procurou mostrar que instituições são
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importantes para engendrar um processo de desenvolvimento que seja sustentável, inclusivo e
preferível, pois o futuro está para ser criado.
5. Concsiderações finais
O artigo procurou compreender o papel das instituições no processo de crescimento e
desenvolvimento econômico a partir da abordagem institucionalista proposta por Veblen e por
institucionalistas contemporâneos. A primeira parte analisou os elementos fundamentais da
teoria Vebleniana acerca do que são instituições e sua importância para a formação histórica
de uma nação. Em seguida, estabelecemos as pontes entre a visão da Escola Institucionalista
(na sua vertente chamada neo-institucionalista) e a proposta de desenvolvimento econômico
diferente daquela estabelecida pela abordagem mainstream na segunda metade do século XX.
Neste sentido, o artigo procurou mostrar que um dos desafios cruciais do desenvolvimento
passa inexoravemente por uma mudança de mentalidade no processo de decisão, não apenas
dos governos e das elites empresariais, mas também (e fundamentalmente) da sociedade civil
como um todo. Isso quer dizer que colocar em prática um programa de desenvolvimento
humano e sustentável que rejeite anomalias como a corrupção, mas que rivilegie a produção
do conhecimento e a geração de inovação e o respeito ao meio ambiente, pressupõe mudanças
importantes nos valores, hábitos de pensamento e consequentemente na cultura da sociedade.
Por fim, o artigo discutiu num tema que vem ganhando grande destaque na literatura
econômica nas últimas décadas: o desenvolvimento ambientalmente sustentável (ou eco-
desenvolvimento). Essa temática ambiental entrou efetivamente na pauta dos economistas na
década 1960 com as primeiras projeções catastróficas de esgotamento dos recursos naturais
(MAY et al, 2003). Entretanto, como argumenta Sachs (2008, p.13), o desenvolvimento
sustentável não é um paradigma a ser superado apenas por teorias e ferramentas econômicas.
É necessário uma abordagem interdisciplinar na qual cientistas das mais diversas áreas
trabalharem em conjunto para que se possa fazer melhor uso e proveitos dos recursos naturais.
As aspirações da sociedade moderna por um padrão de consumo e conforto material
crescente entram em conflito com os limites de crescimento da produção, dados por um lado
pela oferta finita de matéria prima e energia, e por outro, pelo limite de absorção e
processamento de resíduos por parte do meio ambiente. Limitações essas que não podem ser
solucionadas simplesmente com o aumento da produtividade dos fatores de produção. É
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preciso criar condições econômicas, político-institucionais e culturais para se fazer uma
mudança tecnológica capaz de se antecipar aos problemas (CECHIN, 2008, p.13; SACHS,
2008, p.55). Assim, podemos concluir que desenvolvimento sustentável não é um processo
natural nem é incompatível com o jogo sem restrições das forças de mercado, portanto os
governos, as entidades não governo e as multilaterais, e o cidadão comum terão função
fundamental no processo de transição para esse novo padrão não apenas desejável mas
urgente de desenvolvimento, e que não apenas seja sustentável ecologicamente mas acima de
tudo que seja respeitável humanamente.
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