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S A N A R E, Sobral, v.9,n.2, p.66-72,jul./dez.2010 66 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS INFECÇÕES HOSPITALARES NA UTI NEONATAL DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SOBRAL NO ANO DE 2009 THE EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF HOSPITAL-ACQUIRED INFECTIONS IN THE NEONATAL ICU AT SANTA CASA DA MISERICÓRDIA IN SOBRAL, CE, BRAZIL IN 2009 Karina Oliveira de Mesquita 1 Elaine Cristina Bezerra Almeida 2 Gleiciane Kélen Lima 3 Isa Carolina Ximenes Dias 4 Verônica Érica Araújo da Silva 5 Maria Socorro Carneiro Linhares 6 RESUMO E sta pesquisa teve como objetivo traçar o perfil epidemiológico dos recém-nascidos que adquiriram infecção hospitalar em 2009 numa unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Trata-se de um estudo documental e epidemiológico descritivo com abordagem quantitativa, no qual os sujeitos foram constituídos dos 40 neonatos que adquiriram infecção. O estudo foi desenvolvido na Santa Casa de Misericórdia de Sobral e os dados coletados a partir do Sistema de Controle de Infecção Hospitalar. Os resultados apontaram uma maior incidência de infecção em neonatos pré-termos (77,5%) e com diagnóstico de sepse clínica confirmada (75%). Destes, apenas 23% foram confirmadas laboratorialmente e os organismos mais isolados foram a Klebisiella pneumoniae, Acinetobacter sp. e Staphylococcus aureus. São múltiplos os fatores que influenciam a ocorrência das infecções hospitalares, por isso faz-se necessário a adoção de medidas mais ativas para prevenção e, consequente impacto na redução da mortalidade infantil. Palavras-chave : Infecção Hospitalar. Prematuro. Epidemiologia. ABSTRACT T his study presents the epidemiological profile of newborns that acquired nosocomial infections in a neonatal intensive care unit in 2009. This documental, descriptive epidemiological study with a quantitative approach investigates 40 newborns that acquired infections. The study was carried out at Santa Casa da Misericórdia in Sobral, CE, Brazil and data were collected from the Hospital-Acquired Infection Control System. Results indicated a greater incidence of infection in preterm newborns (77.5%) with a confirmed diagnosis of clinical sepsis (75%). Of these, only 23% were confirmed by laboratory work and the most frequently isolated organisms were Klebisiella pneumoniae, Acinetobacter sp and Staphylococcus aureus. There are multiple factors influencing the occurrence of hospital-acquired infections. Hence, the adoption of more active prevention measures is required to reduce child mortality. Key words : Cross Infection. Infant Premature. Epidemiology. 1,2, 3, 4, 5 – Acadêmica do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Sobral – CE 6 – Professora do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Sobral – CE.

Perfil Epidemiologico na UTIN

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  • S A N A R E, Sobral, v.9,n.2, p.66-72,jul./dez.201066

    PERFIL EPIDEMIOLGICO DAS INFECESHOSPITALARES NA UTI NEONATAL DA SANTA CASA

    DE MISERICRDIA DE SOBRAL NO ANO DE 2009

    THE EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF HOSPITAL-ACQUIRED INFECTIONS IN THE NEONATAL ICU

    AT SANTA CASA DA MISERICRDIA IN SOBRAL, CE, BRAZIL IN 2009

    Karina Oliveira de Mesquita 1

    Elaine Cristina Bezerra Almeida 2

    Gleiciane Klen Lima 3

    Isa Carolina Ximenes Dias 4

    Vernica rica Arajo da Silva 5

    Maria Socorro Carneiro Linhares 6

    RESUMO

    Esta pesquisa teve como objetivo traar o perfil epidemiolgico dos recm-nascidos que adquiriram infeco hospitalar em 2009 numa unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Trata-se de um estudo documental e epidemiolgico descritivo com abordagem quantitativa, no qual os sujeitos foram constitudos dos 40 neonatos que adquiriram infeco. O estudo

    foi desenvolvido na Santa Casa de Misericrdia de Sobral e os dados coletados a partir do Sistema de Controle de

    Infeco Hospitalar. Os resultados apontaram uma maior incidncia de infeco em neonatos pr-termos (77,5%) e com

    diagnstico de sepse clnica confirmada (75%). Destes, apenas 23% foram confirmadas laboratorialmente e os organismos

    mais isolados foram a Klebisiella pneumoniae, Acinetobacter sp. e Staphylococcus aureus. So mltiplos os fatores que

    influenciam a ocorrncia das infeces hospitalares, por isso faz-se necessrio a adoo de medidas mais ativas para

    preveno e, consequente impacto na reduo da mortalidade infantil.

    Palavras-chave: Infeco Hospitalar. Prematuro. Epidemiologia.

    ABSTRACT

    This study presents the epidemiological profile of newborns that acquired nosocomial infections in a neonatal intensive care unit in 2009. This documental, descriptive epidemiological study with a quantitative approach investigates 40 newborns that acquired infections. The study was carried out at Santa Casa da Misericrdia in Sobral, CE, Brazil

    and data were collected from the Hospital-Acquired Infection Control System. Results indicated a greater incidence of

    infection in preterm newborns (77.5%) with a confirmed diagnosis of clinical sepsis (75%). Of these, only 23% were

    confirmed by laboratory work and the most frequently isolated organisms were Klebisiella pneumoniae, Acinetobacter sp

    and Staphylococcus aureus. There are multiple factors influencing the occurrence of hospital-acquired infections. Hence,

    the adoption of more active prevention measures is required to reduce child mortality.

    Key words: Cross Infection. Infant Premature. Epidemiology.

    1,2, 3, 4, 5 Acadmica do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acara UVA. Sobral CE

    6 Professora do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acara UVA Sobral CE.

  • S A N A R E, Sobral, v.9,n.2, p.66-72,jul./dez.2010 67

    1 INTRODUO

    A infeco hospitalar (IH) constitui um srio problema

    de sade pblica em virtude das constantes mutaes

    pelas quais passam os microrganismos, bem como pelo

    uso indiscriminado de antimicrobianos utilizados sem

    indicao mdica, representando, atualmente, um grande

    desafio para a ateno terciria sade.

    Estima-se que, a cada dez pacientes hospitalizados,

    um ter infeco aps sua admisso, gerando custos

    elevados resultantes do aumento do tempo de internao

    e de intervenes teraputicas e diagnsticas adicionais1.

    Segundo a portaria 2.616/MS/GM, de 12 de maio de

    1998, para a infeco se definir como hospitalar esta

    deve ser adquirida aps a admisso do paciente e que

    se manifeste durante a internao ou aps a alta e/

    ou quando puder ser relacionada com a internao ou

    procedimentos hospitalares. As infeces no recm-

    nascido so hospitalares, com exceo das transmitidas

    de forma transplacentria e aquelas associadas bolsa

    rota superiores a 24 (vinte e quatro) horas, que so

    consideradas comunitrias. Tambm considerada

    infeco comunitria aquela constatada ou em incubao

    no ato de admisso do paciente, desde que no

    relacionada com internao anterior no mesmo hospital2.

    Com o avano da microbiologia, a identificao de

    muitos agentes causais de doenas e de seus modos

    de transmisso, outras formas mais diretas de controle

    foram experimentadas, possibilitando que se realize a

    interrupo do ciclo biolgico do agente infeccioso antes

    que tenha ocorrido a contaminao. Porm, nem sempre

    as realidades dos servios possibilitam a realizao

    dessas medidas.

    Entre as causas mais comuns de infeco hospitalar

    pode-se destacar a deficiente limpeza de instrumentais

    e de lavagem das mos, geralmente agravada pela

    superlotao do servio, visto que quase sempre se

    trabalha com reduzido efetivo de pessoal e material.

    No Brasil, a maior incidncia de IH se d em hospitais

    de ensino ou universitrios, em comparao aos outros

    hospitais, fato este decorrente da maior gravidade de

    doenas, realizao de procedimentos mais complexos,

    longos perodos de internao hospitalar e contato dos

    pacientes com diversos profissionais da sade, incluindo

    estudantes4. Isto se torna mais grave medida que

    acomete pacientes mais frgeis, como os neonatos em

    Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN)(5, 6).

    So considerados neonatos as crianas com idade

    de 0 a 28 dias e, no Brasil, de acordo com a Portaria

    n 2.616/98, do Ministrio da Sade, as infeces

    nesse grupo so sempre consideradas hospitalares, com

    exceo das transmitidas via transplacentria e aquelas

    associadas rotura prematura de membrana, por perodo

    superior a 24h7.

    As infeces no perodo neonatal tm caractersticas

    singulares que no so observadas em grupos de outras

    faixas etrias. Pode-se considerar o recm-nascido

    (RN), a princpio, como bacteriologicamente estril,

    desprovido de resistncia imunolgica, que adquirir a

    microbiota bacteriana normal nas primeiras horas e nos

    dias iniciais de vida.

    Durante a internao, o neonato exposto a uma

    variedade de patgenos maternos e hospitalares, que se

    tornam invasivos pelo status imunolgico deficitrio8.

    Em geral, estas infeces podem ser prevenidas

    com medidas bsicas de assepsia e a conscientizao

    da equipe hospitalar sobre os riscos inerentes a estes

    procedimentos.

    Dessa forma, evitar infeces exige dos profissionais

    de sade e das instituies hospitalares responsabilidade

    tica, tcnica e social no sentido de munir a equipe

    de condies de preveno, o que representa um dos

    pontos fundamentais em todo o processo. O controle

    das infeces hospitalares inerente ao processo de

    cuidar e, como a equipe de enfermagem responsvel

    por esse cuidado e pela assistncia ao paciente em

    perodo integral, tem importante atuao na preveno

    e controle do risco de infeces.

    Embora recaia sobre os enfermeiros uma grande

    responsabilidade na preveno e controle das infeces,

    suas aes so dependentes e relacionadas. Nesta

    perspectiva, os desafios para o controle de infeco

    podem ser considerados coletivos e agrupados em:

    estrutura organizacional que envolve polticas

    governamentais, institucionais e administrativas;

    relaes interpessoais e intersetoriais no trabalho e

    normatizao do servio; batalha biolgica que aborda a

    Estima-se que, a cada dez pacientes hospitalizados,

    um ter infeco aps sua admisso, gerando

    custos elevados resultantes do aumento do tempo

    de internao e de intervenes teraputicas e

    diagnsticas adicionais

  • S A N A R E, Sobral, v.9,n.2, p.66-72,jul./dez.201068

    identificao de novos microrganismos e a ressurgncia

    de outros, bem como a resistncia aos antimicrobianos;

    envolvimento profissional, com enfoque para a falta de

    conscientizao dos profissionais, adeso s medidas

    de controle e o comprometimento com o servio e o

    paciente; capacitao profissional, destacando-se a

    educao continuada; epidemiologia das infeces e

    medidas de preveno e controle9.

    A responsabilidade de preveno e controle da IH

    individual e coletiva, ou seja, tanto dos profissionais

    vinculados assistncia como dos prprios pacientes.

    Desta maneira, se faz necessria a integrao da equipe

    da Comisso de Controle de Infeces Hospitalares

    (CCIH) com todos os demais setores do hospital, caso

    contrrio as IHs sempre representaro uma barreira na

    prestao de servios de sade seguros e de qualidade.

    A relevncia do presente estudo est, portanto, no

    grande risco que as IHs representam para sade coletiva,

    pretendendo-se ento, contribuir com reflexes que

    subsidiem informaes adicionais aos profissionais de

    sade, para que novas prticas possam ser implantadas

    e outros caminhos possam ser trilhados e consolidados

    para a melhor percepo deste evento.

    Diante destas consideraes, este estudo teve como

    objetivo traar o perfil epidemiolgico dos recm-

    nascidos admitidos na UTI Neonatal da Santa Casa de

    Misericrdia de Sobral, no perodo de janeiro a dezembro

    de 2009, e que adquiriram infeco hospitalar.

    2 METODOLOGIA

    Trata-se de um estudo documental e epidemiolgico

    descritivo com abordagem quantitativa.

    A pesquisa documental vale-se de materiais que

    ainda no receberam nenhuma anlise aprofundada.

    Esse tipo de pesquisa visa, assim, selecionar, tratar e

    interpretar a informao bruta, buscando extrair algum

    sentido e introduzir-lhe algum valor, podendo, desse

    modo, contribuir com a comunidade cientfica a fim de

    que outros possam voltar a desempenhar futuramente o

    mesmo papel10.

    A epidemiologia descritiva examina como a

    incidncia ou a prevalncia de uma doena ou condio

    relacionada sade varia de acordo com determinadas

    caractersticas, como sexo, idade, escolaridade, renda,

    dentre outras11.

    A pesquisa quantitativa envolve uma coleta

    sistemtica de informaes, mediante as condies de

    controle, onde a anlise dos dados realizada atravs

    de procedimentos estatsticos em nmeros absolutos e

    percentuais e so apresentados atravs de tabelas e/ou

    grficos, seguidos de anlise de representatividade dos

    dados12.

    Os sujeitos da pesquisa foram constitudos por

    40 recm-nascidos internados na Unidade de Terapia

    Intensiva Neonatal da Santa Casa de Misericrdia de

    Sobral (SCMS) que adquiriram IH no ano de 2009.

    O estudo foi realizado na SCMS, hospital filantrpico

    e conveniado ao Sistema nico de Sade de Sobral, no

    estado do Cear. Este hospital, alm de se constituir

    como de ensino, referncia para ateno secundria

    e terciria de 61 municpios da Macrorregio de Sobral,

    com atendimento predominante de urgncia. Ainda, faz

    parte do sistema macrorregional de sade para referncia

    de gestante de alto risco e procedimentos de alta

    complexidade.

    Por ser a maternidade da SCMS referncia terciria

    para gestante de alto risco para toda a zona norte do

    estado do Cear, esses dados so importantes para a

    formao de indicadores fundamentais para planejamento

    e organizao do servio13.

    As fontes de dados para a pesquisa foram os relatrios

    do Sistema de Controle de Infeco Hospitalar (SCIH) e

    para a organizao dos dados utilizou-se planilhas do

    Microsoft Office Excel, onde se realizou os cruzamentos

    das variveis de interesse ao objeto do estudo, bem

    como os clculos estatsticos. A coleta dos dados foi

    realizada em outubro de 2010.

    Os dados foram organizados e apresentados na

    forma de tabelas e, posteriormente, discutidos luz da

    literatura pertinente.

    A apresentao e discusso dos resultados foram

    divididas em duas partes, a saber: a primeira refere-se

    ao perfil das mes dos recm-nascidos e s condies

    da gestao e do parto; enquanto a segunda trata das

    Evitar infeces exige dos profissionais de sade e das

    instituies hospitalares, responsabilidade tica,

    tcnica e social no sentido de munir a equipe de

    condies de preveno, o que representa um dos pontos fundamentais em

    todo o processo

  • S A N A R E, Sobral, v.9,n.2, p.66-72,jul./dez.2010 69

    caractersticas dos neonatos quanto ao sexo, idade, peso,

    perodo de internao, causa da infeco e evoluo.

    Na conduo desse estudo seguiram-se os princpios

    contidos na Resoluo n 196/96 do Conselho Nacional

    de Sade/Ministrio da Sade que inclui beneficncia,

    no maleficncia, autonomia, justia e equidade.

    Portanto, garantiu-se o anonimato e a confidencialidade

    das informaes que poderiam expor os sujeitos.

    Para acesso aos dados, foi solicitado o consentimento

    da Diretoria de Ensino, Pesquisa e Extenso da Santa

    Casa de Misericrdia de Sobral, bem como da presidente

    da CCIH dessa instituio.

    3 ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS

    Perfil das mes e condies da gestao e do parto

    Analisando as variveis relacionadas s mes

    dos neonatos (Tabela 1), observou-se que 72,5%

    foram submetidas a parto cesreo e 27,5% realizaram

    parto normal. Destas, cinco evoluram a bito. Em

    contrapartida, em estudo realizado em uma UTIN de So

    Paulo14 houve maior frequncia de parto vaginal entre as

    mes dos recm- nascidos que adquiriram infeco,

    No Brasil, a mortalidade materna constitui grave

    questo de sade pblica. De fato, no primeiro semestre

    de 2002, houve 7.332 mortes de mulheres de 10 a 49

    anos de idade, das quais 458 (6,2%) ocorreram no ciclo

    gravdico puerperal ampliado, com mortes ocorridas na

    gestao, no parto e at um ano depois deste15.

    As mortes maternas relacionadas s causas obsttricas

    so classificadas em direta ou indireta. As causas diretas

    so aquelas resultantes de complicaes relacionadas ao

    ciclo gravdico-puerperal, ocorrendo devido a tratamento

    incorreto, omisso, interveno, ou resul tantes de uma

    srie de eventos. As mortes por causas obsttricas

    indiretas so resultantes de doenas que existiam antes

    da gestao ou que se desenvolveram durante esta e que

    so agravadas pelas alteraes fisiolgicas prprias da

    gestao15.

    Das 40 mes, 10 apresentaram complicaes

    decorrentes do parto, sendo que as mais frequentes

    foram: pr-eclmpsia grave (64,29%); amniorrexe

    prematura (28,57%); e ruptura prematura de membrana

    (7,14%).

    Os distrbios hipertensivos so as complicaes mais

    comuns no pr-natal, destacando-se que a eclmpsia

    a primeira causa de morte materna no Pas16. Em outro

    estudo17, 52,5% das mulheres que fizeram pr-eclmpsia

    eram primigestas e das 47,5% que eram multigestas, 12

    (63,1%) afirmaram gestao anterior com pr-eclmpsia.

    De fato, a primeira gestao est associada, em geral,

    a uma situao de maior estresse, sendo por esta razo

    considerada um fator de risco18.

    A ruptura prematura pr-termo das membranas

    amniticas uma complicao obsttrica observada

    em cerca de 3% das gestaes e tem como principal

    repercusso o aumento das taxas de nascimentos

    prematuros, respondendo por at um tero destes19. A

    evidncia da relao estreita entre processos infecciosos

    e/ou inflamatrios e a ocorrncia de ruptura prematura

    pr-termo das membranas amniticas parece bem

    fundamentada por diversos trabalhos, em que nem

    sempre possvel determinar se a ruptura das membranas

    ovulares levou ao processo infeccioso ou se foi este

    ltimo o fator causal determinante da amniorrexe no

    pr-termo20.

    No presente estudo, considerando-se as

    caractersticas maternas, 47,5% das mes tinham idade

    menor ou igual a 25 anos, sendo que a menor faixa foi de

    22 anos. Com relao ao nmero de consultas realizadas

    durante o pr-natal, a maioria realizou menos de cinco

    consultas (80%). Esta taxa pode ser atribuda ao fato

    da maior populao em estudo constituir-se de neonatos

    pr-termos, no tendo tempo suficiente para completar

    o nmero de consultas adequado para todo o curso do

    pr-natal, sendo de no mnimo seis consultas, segundo

    a Portaria n. 1.067, de 4 de julho de 2005, que institui

    a Poltica Nacional de Ateno Obsttrica e Neonatal.

    Das 40 mes, 10 apresentaram

    complicaes decorrentes do parto, sendo que as mais frequentes foram:

    pr-eclmpsia grave (64,29%); amniorrexe prematura (28,57%);

    e ruptura prematura de membrana (7,14%)

  • S A N A R E, Sobral, v.9,n.2, p.66-72,jul./dez.201070

    Tabela 1. Distribuio das mes dos neonatos que

    adquiriram infeco hospitalar quando admitidos

    na UTI Neonatal da Santa Casa de Misericrdia de

    Sobral, no ano de 2009, de acordo com idade, tipo de

    parto, nmero de consultas pr-natal, complicaes e

    evoluo. Sobral - Cear, 2011.

    VARIVEIS FREQUNCIA %

    IDADE 25 ANOS

    26 A 30 ANOS

    >30 ANOS

    19

    07

    14

    47,5

    17,5

    35,0

    TIPO DE PARTO

    NORMAL

    CESRIA

    11

    29

    27,5

    72,5

    N CONSULTAS PR-NATAL

    ZERO

    5 CONSULTAS

    6 A 7 CONSULTAS

    8 A 10 CONSULTAS

    01

    32

    05

    02

    2,5

    80,0

    12,5

    0,5

    COMPLICAES

    PR-ECLAMPSIA GRAVE

    AMNIORREX PREMATURO

    RUPTURA PREMATURA DE MEMBRANA

    09

    04

    01

    64,29

    28,57

    7,14

    EVOLUO

    ALTA MELHORADA

    BITO

    35

    05

    87,5

    12,5

    Fonte: Sistema de Controle de Infeco Hospitalar

    (2009).

    Perfil dos recm-nascidos quanto ao sexo, idade, peso

    ao nascer, perodo de internao, causa da infeco e

    evoluo

    A tabela 2 ilustra que a IH mostrou-se mais incidente

    no sexo feminino, representando 57,5% dos casos, e nos

    neonatos que tiveram um tempo de internao inferior a

    15 dias. Os casos em que esse perodo foi superior a 30

    dias constituram apenas 10% das infeces.

    Os resultados encontrados confrontam com outro

    estudo8, em que a maior frequncia se deu no sexo

    masculino (53,2%) e em recm-nascidos internados por

    um perodo superior a 30 dias (68,6%).

    Das 40 infeces desenvolvidas pelos neonatos, o

    diagnstico de sepse ocupou o primeiro lugar, sendo

    responsvel por quase 100% dos motivos de internao.

    Ao todo, foram 39 casos de sepse, sendo que apenas

    nove foram confirmadas laboratorialmente. Nos casos

    laboratorialmente confirmados, os microorganismos mais

    frequentemente isolados foram Klebisiella pneumoniae,

    Acinetobacter sp. e Staphylococcus aureus.

    De forma semelhante, um estudo realizado em um

    hospital universitrio de Londrina8, relata que os

    microrganismos mais frequentemente isolados foram

    Staphylococcus coagulase negativa (34,9%), Escherichia

    coli (13,8%) e Klebsiella pneumoniae (13,5%).

    Houve maior incidncia de infeco em neonatos

    pr-termos (77,5%). Destes, 13 (32,5%) pesaram menos

    que 1500g e 14 (35%) apresentaram peso entre 1.500-

    2.500g.

    Tabela 2. Distribuio dos neonatos que adquiriram

    infeco hospitalar quando admitidos na UTI Neonatal

    da Santa Casa de Misericrdia de Sobral, no ano de

    2009, de acordo com sexo, idade gestacional, peso,

    tempo decorrido do nascimento infeco, perodo de

    hospitalizao, causa da infeco e evoluo. Sobral

    Cear, 2011.

    VARIVEIS FREQUNCIA %

    SEXO

    FEMININO

    MASCULINO

    23

    17

    57,5

    42,5

    IDADE GESTACIONAL

    PR-TERMO

    TERMO/PS-TERMO

    31

    09

    77,5

    22,5

    PESO AO NASCER

    10 DIAS

    18

    19

    03

    45,0

    47,5

    7,5

    PERODO DE HOSPITALIZAO

  • S A N A R E, Sobral, v.9,n.2, p.66-72,jul./dez.2010 71

    em um Programa de Vigilncia Nacional de Infeco

    Hospitalar, que oferecia anlise e divulgao dos dados

    e fruns para discusso dos problemas de vigilncia

    e medidas de preveno, reduziu nmero de casos de

    sepse em neonatos, com peso menor que 1500g, de 8,3

    infeces por 1.000 cateteres/dia no primeiro ano para

    6,4 no terceiro ano do programa23.

    Neste contexto, medidas simples de vigilncia no

    controle das IHs podem reduzir custos hospitalares

    para os servios de sade e amenizar danos emocionais

    sofridos pelos familiares.

    4 CONCLUSES

    As informaes de natureza epidemiolgica

    representam ferramentas essenciais para o planejamento,

    execuo e avaliao das aes em sade, permitindo

    que se realize o diagnstico das falhas na prestao do

    servio.

    Com base em dados da literatura podemos sugerir

    que a higienizao das mos e dos materiais utilizados

    representa uma ferramenta eficiente para a preveno

    de doenas adquiridas no mbito hospitalar, assim

    diminuindo os custos para a instituio e com impacto

    substancial na reduo da mortalidade infantil e

    mortalidade materna.

    Durante a realizao desse estudo algumas

    limitaes foram identificadas no sistema, destacando-

    se a precariedade de informaes quanto coleta e

    os resultados de hemoculturas, dificultando a anlise

    dos microrganismos causadores das infeces. Apesar

    disso, a utilizao desse sistema de informao poder

    contribuir para melhorar a compreenso dos fatores que

    influenciam nas condies de sade da populao, alm

    de facilitar o desempenho das atividades da CCIH.

    5 REFERNCIAS

    1. Vranjac A. Sistema de Vigilncia Epidemiolgica das

    Infeces Hospitalares do Estado de So Paulo Anlise

    dos dados de 2005. Rev. Sade Pblica. 2007; 41(4):

    674-683.

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