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Mestrado Integrado em Medicina Síndrome de May-Thurner Tiago Filipe Mendes Chantre M 2018

Mestrado Integrado em Medicina Síndrome de May-Thurner · IV RESUMO Introdução: A síndrome de May-Thurner resulta da compressão extrínseca da veia ilíaca comum esquerda pela

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Mestrado Integrado em Medicina

Síndrome de May-Thurner Tiago Filipe Mendes Chantre

M 2018

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MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA

SÍNDROME DE MAY-THURNER AUTOR: Tiago Filipe Mendes Chantre

Estudante do 6º ano Mestrado Integrado em Medicina no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar

Universidade do Porto Contacto: [email protected]

ORIENTADOR(A): Professora Doutora Ivone Fernandes Santos da Silva

Professora associada do ICBAS-CHUP

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ABEL SALAZAR DA UNIVERSIDADE DO PORTO

MAIO, 2018

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MAIO, 2018

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RESUMO Introdução: A síndrome de May-Thurner resulta da compressão extrínseca da veia ilíaca

comum esquerda pela artéria ilíaca comum direita e a coluna lombo-sagrada. O correto

diagnóstico e o estabelecimento de um plano terapêutico eficaz são fundamentais para

prevenir complicações, como insuficiência venosa crónica e trombose venosa profunda,

particularmente do membro inferior esquerdo. Esta síndrome é causa comum e

subdiagnosticada destas complicações.

Objetivos: A propósito de um caso clínico, esta revisão bibliográfica tem por objetivo

esclarecer quais os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na síndrome de May-Thurner,

a epidemiologia conhecida, a apresentação clínica, bem como aspetos referentes ao seu

diagnóstico e tratamento, analisando, para tal, o estado da arte acerca deste tema.

Desenvolvimento: O número de doentes diagnosticados é reduzido, porém a compressão

venosa extrínseca descrita não é causa infrequente de anomalias venosas do membro

inferior esquerdo, que, em muito casos, são consideradas como primárias por falha ao

encontrar a etiologia. A ultra-sonografia duplex é um meio de diagnóstico não invasivo que

permite uma triagem inicial eficaz. A compressão pode depois ser confirmada com o uso

de venografia de tomografia computorizada ou ressonância magnética, com contraste,

flebografia ou ultra-sonografia intravascular. A compressão mecânica deve ser aliviada,

preferencialmente, antes do início da insuficiência venosa ou da ocorrência de trombose.

O tratamento da síndrome de May-Thurner evoluiu ao longo das últimas décadas,

favorecendo-se atualmente as intervenções endovasculares com angioplastia e colocação

de stent.

Conclusões: Torna-se importante reconhecer que o edema e dor recorrentes do membro

inferior esquerda podem ser causados pela síndrome de May-Thurner, especialmente em

mulheres jovens, sem outra causa conhecida. Assim, com alto nível de suspeição clínica,

reconhecimento precoce e intervenção adequada, esta síndrome pode ser bem gerida.

Palavras-chave: Síndrome de May-Thurner; Síndrome de compressão da veia ilíaca;

insuficiência venosa; trombose venosa profunda; flebografia; angioplastia.

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ABSTRACT

Introduction: The May-Thurner syndrome results from the extrinsic compression of the left

common iliac vein by the right common iliac artery and the lumbosacral spine. Correct

diagnosis and establishment of an effective therapeutic plan are essential to prevent

complications such as chronic venous insufficiency and deep venous thrombosis,

particularly of the left lower limb. This syndrome is a common and underdiagnosed cause

of these complications.

Objectives: With regard to a clinical case, this literature review aims to clarify the

pathophysiological mechanisms involved in the May-Thurner syndrome, the known

epidemiology, the clinical presentation, as well as aspects related to its diagnosis and

treatment, analyzing, for this purpose, the state of the art on this topic.

Development: The number of patients diagnosed is reduced, but the extrinsic venous

compression described is not an infrequent cause of venous anomalies of the left lower

limb, which, in many cases, are considered primary by failure to find the etiology. Duplex

ultrasonography is a non-invasive diagnostic method that allows effective initial screening.

Compression may then be confirmed with the use of computed tomography or magnetic

resonance imaging with contrast, phlebography or intravascular ultrasonography.

Mechanical compression should be relieved, preferably, prior to the initiation of venous

insufficiency or the occurrence of thrombosis. The treatment of the syndrome of May-

Thurner has evolved over the last decades, favoring itself the endovascular intervention

with angioplasty and stent placement.

Conclusions: It is important to recognize that recurrent edema and pain of the left lower

limb may be caused by May-Thurner syndrome, especially in young women, with no other

known cause. Thus, with a high level of clinical suspicion, early recognition and appropriate

intervention, this syndrome can be well managed.

Keywords: May-Thurner syndrome; iliac vein compression syndrome; venous

insufficiency; deep venous thrombosis; phlebography; angioplasty.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AICD – Artéria Ilíaca Comum Direita AVC – Acidente Vascular Cerebral CDT - Trombólise Dirigida por Cateter CTV – Venografia de Tomografia Computorizada DUS – Ultra-sonografia Duplex ePTFE - Politetrafluoroetileno expandido IV – Intravenoso IVC – Insuficiência Venosa Crónica IVUS – Ultra-sonografia Intravascular MIE – Membro Inferior Esquerdo MRV – Venografia de Ressonância Magnética PMT - Trombectomia Mecânica Percutânea PTA – Angioplastia Transluminal Percutânea rTPA – Activador de Plasminogénio Tecidual Recombinante SMT – Síndrome de May-Thurner SPT – Síndrome Pós-trombótica TC – Tomografia Computorizada TEP – Tromboembolismo Pulmonar TVP – Trombose Venosa Profunda VCI – Veia Cava Inferior VICE – Veia Ilíaca Comum Esquerda

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 20 FIGURA 2 21 FIGURA 3 21

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ÍNDICE Introdução ........................................................................................................................... 1 Metodologia ....................................................................................................................... 3 Mecanismos Fisiopatológicos ............................................................................................ 4 Epidemiologia .................................................................................................................... 8 Apresentação Clínica......................................................................................................... 9 Meios Complementares de Diagnóstico........................................................................... 11 Tratamento ...................................................................................................................... 14 Caso Clínico .................................................................................................................... 20 Discussão ........................................................................................................................ 22 Conclusão ....................................................................................................................... 23 Bibliografia ....................................................................................................................... 24 Anexo I...............................................................................................................................28

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INTRODUÇÃO

A Síndrome de May-Thurner (SMT) é uma situação clínica em que a veia ilíaca

comum esquerda (VICE) é comprimida extrinsecamente pela artéria ilíaca comum direita

(AICD) contra a coluna vertebral lombo-sagrada.1 Esta síndrome foi descrita a primeira vez

por May e Thurner, em 1956, que examinaram 457 cadáveres e observaram lesões na

VICE em 22% dos casos, classificando-as como spurs (esporões).2 Estes spurs foram

divididos em três tipos: laterais, ocorrendo de cada lado da VICE; centrais, ocorrendo

antero-posteriormente na VICE; e com padrão em rede, formando múltiplas fenestrações.

Os autores postularam que os spurs eram induzidos pelo traumatismo contínuo da

pulsação arterial sobre a parede venosa, condicionando inflamação, com desenvolvimento

de lesões cicatriciais.2 Já no século XIX, Virchow tinha observado que a trombose venosa

profunda (TVP) iliofemoral era cinco vezes mais frequente à esquerda.3 Em 1908,

McMurrich, num estudo cadavérico, descreveu adesões internas das veias ilíacas e

postulou que estas eram responsáveis pela maior incidência de TVP.4 Em 1943, Ehrich e

Krumbhaar publicaram uma série de 400 autópsias onde observaram que 23,8% dos

adultos tinham lesões endovenosas na VICE e, por análise histológica, confirmaram a

origem adquirida destas.5 Em 1965, Cockett e Thomas clarificaram os achados anatómicos

e clínicos associados a SMT, associando a compressão da VICE com a subsequente

insuficiência venosa crónica (IVC). Estes foram os autores responsáveis pela primeira série

clínica de 57 doentes com TVP ilio-femoral aguda, onde observaram que as intervenções

cirúrgicas padrão para a IVC não solucionavam o problema clínico, já que não intervinham

sobre a real etiologia da síndrome.6 Desta forma são utilizados vários termos para designar

a compressão extrínseca da VICE, tais como SMT, Síndrome de Cockett ou Síndrome de

Compressão Iliocaval.7

A SMT é mais comum em mulheres jovens ou de meia-idade, especialmente

multíparas. Os sintomas de apresentação típicos são dor e edema no membro inferior

esquerdo (MIE), de início agudo, secundários a TVP.8 Os doentes podem ainda apresentar

sintomas de IVC sem resposta a meias de compressão ou manobras de elevação dos

membros.

O número de doentes com diagnóstico de SMT é reduzido, porém a compressão

venosa extrínseca descrita não é causa infrequente de anomalias venosas do MIE, que,

em muito casos, são consideradas como primárias por falta de diagnóstico etiológico.9 Tal

deve-se, pelo menos em parte, à substituição dos métodos invasivos de diagnóstico (como

a flebografia) pelos métodos não invasivo, quando se pretende estudar doenças venosas

dos membros inferiores. Em casos de SMT, o diagnostico deve ser idealmente feito antes

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do aparecimento de complicações major como a TVP, IVC por incompetência valvular ou

úlceras de estase.10

Na medida em que o SMT é uma entidade subdiagnosticada e que frequentemente

cursa com complicações vasculares, esta revisão bibliográfica tem como objetivos

principais abordar os mecanismos fisiopatológicos envolvidos, a epidemiologia conhecida,

bem como a apresentação clínica, os meios complementares de diagnóstico mais

frequentemente utilizados e, por fim, as opções terapêuticas disponíveis.

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METODOLOGIA

Com recurso à base de dados eletrónica Pubmed-Medline, foram selecionados

artigos publicados entre 2007 e 2017, em inglês, com delineamentos experimentais ou

observacionais, realizados em humanos e que se enquadravam dentro das seguintes

tipologias de artigos: Classical article; clinical trial; guideline; journal article; meta-analysis;

practice guideline; review; scientific integrity review; systemic reviews.

No motor de buscar, foram utilizadas as seguintes palavras-chaves: May-Thurner

syndrome; Cockett syndrome; iliac vein compression syndrome; venous insufficiency; deep

venous thrombosis; phlebography; angioplasty; epidemiology; risk factors; diagnosis;

treatment.

Dos artigos obtidos após a aplicação dos filtros mencionados foram selecionados

aqueles que se encontravam disponíveis na base de dados do Centro Hospitalar da

Universidade do Porto (biblioteca virtual) e aqueles considerados relevantes para a

concretização da revisão bibliográfica proposta. A fim de identificar estudos não incluídos

na base de dados referida foi efetuada uma revisão das referências bibliográficas dos

artigos selecionados.

O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética para a Saúde, Gabinete

Coordenador de Investigação, Direção do Departamento de Ensino, Formação e

Investigação do Centro Hospitalar do Porto e pelo Presidente do Conselho de

Administração.

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MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS

Anatomia A VICE resulta da confluência da veia ilíaca externa e da veia ilíaca interna.

Encontra-se em posição póstero-medial face à artéria ilíaca comum esquerda, sendo

posterior à AICD e anterior à coluna vertebral lombar.11 O seu comprimento é de

aproximadamente 8 a 10 centímetros, cruzando o andar superior da pelve e formando, ao

nível de L4-L5, a veia cava inferior (VCI) por junção com a veia ilíaca comum direita.

Contudo, a anatomia descrita está apenas presente em 75% dos indivíduos. Em 22% dos

doentes a relação entre a bifurcação de aorta e a origem VCI pode ser mais alta e em 3%

pode ser mais baixa.12 De notar que em 2010, Fretz e Binkert relataram uma variante da

SMT com compressão do VCI pela AICD num doente com bifurcação aórtica alta.13 Por

outro lado, somente 4% dos doentes apresentam válvulas no trajeto entre as veias ilíacas

comuns e a aurícula direita.14

Oguzkurt et al comparou 34 doentes diagnosticados com SMT face a 34

indivíduos assintomáticos com idade e sexo correspondentes. O grau de compressão da

VICE observado na TC foi 45 a 100% (média 74%) nos doentes com SMT versus 0-68%

(média 28%) nos controlos assintomáticos. Este estudo salienta o fato de haver uma

grande sobreposição nos achados entre doentes e controlos.15 Noutro estudo retrospetivo

de uma população selecionada de mulheres com menos de 45 anos de idade observou-se

que quando o diâmetro da VICE diminui 1 mm, a taxa de incidência de TVP aumenta em

1,68 vezes. Os autores observaram também que, em pacientes com TVP aguda ou crónica

com SMT, a compressão média está próxima de 70%.16

Nenhum estudo identificou um limiar claro para o grau de estenose que fará com

que um doente apresente sintomas. Contudo, num estudo de Ou-Yang et al, com 69

doentes, foi estabelecido com ponto de corte para SMT o diâmetro da VICE de 2,98 mm,

com sensibilidade diagnóstica de 90% e especificidade 100%.14 Por outro lado, alguns

autores sugerem que o alívio dos sintomas é mais provável com a colocação de stents com

estenose superior a 25%17 ou 50%18. No entanto, esses valores são empiricamente

derivados, sendo que nenhum desses limiares foi prospectivamente validado em estudos

metodologicamente rigorosos.

Ontogenia e Filogenia O sistema venoso embrionário desenvolve-se ao longo de três sistemas venosos

primitivos: vitelino, umbilical e cardinal. As veias ilíacas comuns surgem após a obliteração

parcial dos segmentos caudais das veias cardinais posteriores. Já o sistema arterial ilíaco

surge a partir do quinto par de artérias lombares intersegmentais.12 Ao fim de 5 semanas

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de desenvolvimento, as artérias ilíacas internas estabelecem uma conexão com as artérias

umbilicais bilaterais, servindo para transportar sangue desoxigenado ao longo do feto e

para a placenta. Para além disso existe uma pressão evolutiva durante o desenvolvimento

que privilegia o sistema umbilical e o sistema arterial ilíaco sobre o sistema venoso ilíaco.

Tal pode explicar a posição relativa entre a AICD e a VICE. Contudo, acredita-se que não

seja apenas este o motivo para o desenvolvimento de SMT, mas que a verdadeira etiologia

da síndrome resida na relação entre a artéria ilíaca e a coluna vertebral. Na verdade,

existem várias outras localizações anatómicas onde uma artéria se sobrepõe a uma veia,

por exemplo, no caso das artérias e veias femorais. Contudo, a pressão da artéria femoral

simplesmente desloca a veia medialmente no canal femoral. No entanto, na SMT, a

proximidade da vértebra lombar traduz uma pressão em compressão da AICD sobre a

VICE, sem desvio.12

Não existem casos relatados de compressão extrínseca VICE em chimpanzés,

apesar das evidentes semelhanças em termos anatómicos. Acredita-se que tal consiga ser

explicado por uma análise das estruturas circundantes, das forças gravitacionais externas

e da postura adotada. Na posição quadrúpede, a gravidade atua perpendicularmente ao

plano coronal, resultando em deslocamentos anteriores (para baixo), reduzindo a

compressão da VICE contra a coluna vertebral. No entanto, na posição bípede, a gravidade

atua paralelamente ao plano coronal e, portanto, não ocorre a referida diminuição de

compressão. Além disso, quando os seres humanos estão orientados em posição supina,

a gravidade desloca os vasos posteriormente, aumentando a compressão. Assim, a

ausência documentada de SMT em chimpanzés, combinada com a avaliação acima

referida das diferentes ações de gravidade na anatomia dos vasos ilíacos comuns nas duas

espécies é consistente com a hipótese de que a compressão da VICE é consequência da

adoção da posição vertical.12

Fisiologia Quando um indivíduo se encontra em decúbito dorsal, a pressão normal da aurícula

direita é de aproximadamente 0 mmHg, variando ligeiramente com a sístole e a diástole.

As veias intratorácicas mantêm-se distendidas devido à pressão negativa da cavidade

torácica. A pressão das veias retroperitoneais mantem-se pouco acima da pressão de

cavidade peritoneal, que normalmente não excede os 2 mmHg, sem que haja um gradiente

de pressão entre elas

Nos indivíduos em posição ortostática observa-se o efeito de pressão hidrostática

sobre a circulação venosa. Apesar disto, a pressão na aurícula direita permanece próxima

de 0 mmHg porque um coração morfológica e fisiologicamente normal bombeia o excesso

de volume que tenda a se acumular nas câmaras cardíacas. Estando um indivíduo

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completamente imóvel e em ortostatismo, a pressão nas veias dos pés é de cerca de 90

mm Hg, gerando-se um gradiente de pressão entre as veias mais distais dos membros e a

aurícula direita.1

Fisiopatologia Ainda não são totalmente conhecidos os contornos etiológicos para o

desequilíbrio da normal relação anatómica entre a artéria e a veia, que interfere,

consequentemente, no fluxo venoso e na fisiopatologia da SMT.12 Contudo, Butros et al

mostraram evidência de que a AICD induz obstrução parcial sobre a VICE, essencialmente,

através de dois modos. De forma direta, a obstrução resulta da compressão extrínseca

mecânica crónica propriamente dita da veia entre a artéria e a coluna vertebral.11 Por outro

lado, o “shear stress” entre as paredes anterior e posterior da VICE, bem como a pressão

vibratória pulsátil da AICD anteriormente, causam extensa hipertrofia da túnica íntima da

parede da veia. Este dano endotelial e o processo inflamatório resultante levam à

deposição de plaquetas e fibrina e uma predisposição para o desenvolvimento de

trombos.11

Outro mecanismo que se pensa contribuir para a fisiopatologia do SMT são as

bandas intravenosas. A sua presença na VCIE varia de 14% a 32,3%, nas diferentes series

de dissecação anatómica em cadáveres já efetuadas.1 Em termos histológicos, as bandas

são compostas por músculo liso e tecido fibroso recobertos por endotélio.1 Apesar de

alguns autores previamente terem colocado a hipótese de que a origem das bandas estava

associada a trombos ou êmbolos organizados, não existe evidência histológica que aponte

nesse sentido. Por um lado, não se encontram fibras musculares em trombos organizados

e, por outro lado, a hemossiderina, que esta presente nos trombos organizados, não se

encontrada nas bandas intravenosas. Sabe-se ainda que estas têm origem adquirida

sendo a sua frequência maior em crianças com mais de dez anos e adultos.19 A sua

localização preferencial é na intersecção da veia com a artéria, em posição medial, lateral

ou diafragmática.

A compressão extrínseca da VICE produz uma dificuldade do retorno venoso do

membro ipsilateral, levando a um progressivo surgimento de circulação venosa colateral.3

Esta será tão mais extensa quanto maior o grau de obstrução do lúmen da veia ilíaca. O

aumento da pressão intravenosa no MIE, que resulta da compressão referida, pode levar

a insuficiência valvular superficial e/ou profunda. Assim, quando ocorrem lesões do sistema

valvular superficial com incompetência das válvulas da veia safena magna podem surgir

varizes em todo o território venoso afetado.10 Estas também podem dever-se a insuficiência

de veias perfurantes diretas ou indiretas. Já a incompetência do sistema valvular profundo

leva a complicações mais graves, como úlceras venosas, dependendo do grau de

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obstrução, da patência, da extensão da rede de colaterais e da competência das veias

perfurantes.

Jeon et al relatou três tipos morfológicos de síndrome de SMT: compressão

extrínseca focal pelas artérias ilíacas subjacentes, atrofia difusa e obliteração em corda.

Estes tipos representam uma cronicidade progressiva da obstrução e o seu conhecimento

é importante para prever dificuldades técnicas endovasculares.20

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EPIDEMIOLOGIA

A prevalência da SMT permanece desconhecida, porém, estima-se que esta

condição exista em 2 a 5% dos doentes com IVC.7 Em 50 a 60% dos casos de TVP

iliofemoral, os doentes apresentam SMT, concomitantemente.21 Já nos casos de TVP das

extremidades inferiores, a SMT representa apenas 2 a 3%.7 Por outro lado, a existência de

um aneurisma da artéria aorta abdominal está associada um grau significativamente menor

de compressão na VICE pela AICD, resultante de uma maior prevalência de tortuosidade

nesta artéria.

Dissecções anatómicas post mortem revelaram uma incidência de 22 a 32% de

lesões obstrutivas na VICE.3 Esta diferença entre os dados das dissecções cadavéricas e

a incidência de compressão sintomática demonstra claramente que a compressão da VICE

é condição necessária, mas não suficiente, para causar SMT. Em termos histológicos,

estas lesões são compostas por colagénio e elastina, sem evidência de infiltrado celular

inflamatório ou fibrose e não se tratam de casos de trombose recanalizada. Ademais, foi

constatado que não se tratam de lesões congénitas (mas, sim, adquiridas) e que 33,8%

destas ocorreram após a primeira década de vida.14 A utilização da tomografia

computadorizada (TC) abdominal com contraste intravenoso (IV) obtida em indivíduos

assintomáticos com baixo risco de trombose aguda do MIE mostrou que 35% destes

apresenta algum grau de compressão da VICE.14 Desta população, 66% apresenta

compressão superior a 25% e 24% demostrou compressão superior a 50%.

A SMT tem uma distribuição assimétrica entre sexos, sendo mais prevalente em

mulheres jovens (cerca de 72% de todos os casos), entre a segunda e a quinta décadas

de vida (idade média de diagnóstico 42 anos) .14 Um estudo subsequente de Nazzal et al

analisou o registo clínico e TC de 300 doentes e concluiu que 25,9% das mulheres

apresentavam estenose com redução do diâmetro superior a 70%.22 Por outro lado, 44,7%

dos doentes, independentemente do género, apresentavam estenose de 50% ou mais e

19,6% apresentavam estenose de 70% ou superior. A presença de uma estenose não foi

associada a sintomas clínicos de SMT. Assim, a compressão extrínseca da VICE

isoladamente não é responsável pelos sintomas clínicos. Contudo, os autores postulam

que em alguns doentes a compressão induz um estado fisiopatológico predisposto à TVP

e IVC.22

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APRESENTAÇÃO CLÍNICA

A compressão extrínseca da VICE pode assintomática ou sintomática. Mesmo

nos casos de estenose com redução do diâmetro superior a 70%, 30.6% dos indivíduos

não apresentam sintomas.9 As manifestações clínicas da SMT podem dividir-se, de forma

genérica, em eventos não trombóticos ou trombóticos.

Os doentes com compressão não trombótica da VICE podem apresentar um vasto

espectro de sinais e sintomas, tais como dor e edema progressivos dos membros inferiores

(essencialmente à esquerda), IVC ipsilateral, tromboflebite venosa superficial recorrente e

claudicação venosa.3 O exame físico pode ainda revelar alterações cutâneas compatíveis

com IVC tais como varizes, lipodermatoesclerose ou úlceras venosas. A extensa drenagem

venosa colateral pélvica contornando o segmento sob compressão está, também,

fortemente associado a SMT. Na verdade, a forma de apresentação mais frequente da

SMT é a IVC que está presente em até 55% dos doentes sintomáticos e, quando a

obstrução é diminuída pela colocação de stent endovascular, aproximadamente 50%

destes veem a sua dor e edema reduzidos ou eliminados e 55% dos casos de úlceras

venosas cicatrizam.23 Esta IVC é muitas vezes erradamente classificada como sendo

primária e, por si, raramente leva ao diagnóstico de SMT. Apenas um reduzido número de

doentes, à data de diagnóstico, tem somente edema moderado e dor mal caracterizada do

MIE, sem eventos trombóticos documentados.11 A maioria apresenta TVP aguda ou

recorrente do MIE sem, porém, ter fatores de risco prévios conhecidos para tal.24

No que diz respeito aos eventos trombóticos, estes ocorrem devido à configuração

anatómica predisponente e estão muitas vezes associados a um estado fisiológico pro-

trombótico equacionado com base na tríade de Virchow (inflamação, hipercoagulabilidade

e lesão endotelial). Assim, a gravidez, o puerpério, o uso de anticoncecionais orais, trauma,

procedimentos cirúrgicos e/ou imobilização prolongada são circunstâncias que exacerbam

as manifestações clínicas de SMT.25 A título de exemplo, durante a gravidez, o aumento

do número de casos de TVP no MIE é explicado em 88% pelo peso extra que o feto

acarreta e pelo tempo adicional passado na posição de supina.12 Além disso, 67% dos

doentes com TVP associada a SMT têm trombofilia.3

Os sinais e sintomas comuns da TVP incluem dor ou sensibilidade, edema, calor,

rubor ou descoloração e distensão das veias superficiais, embora cerca de metade dos

casos sejam assintomáticos.11 Por outro lado, a phlegmasia cerulea dolens é um tipo de

TVP de grande extensão e gravidade, caracterizando-se por uma oclusão venosa aguda e

quase total de todo o fluxo venoso da extremidade, incluindo as veias ilíacas e femorais.26

O membro inferior geralmente encontra-se doloroso, edemaciado, com coloração azulada,

podendo resultar em gangrena venosa. Na TVP, os sinais e sintomas por si só não são

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suficientemente sensíveis ou específicos para fazer o diagnóstico, mas quando

equacionados em conjunto com fatores de risco conhecidos, podem orientar a investigação

e organizar probabilisticamente as hipóteses de diagnóstico.7 Na maioria dos casos

suspeitos, a TVP é descartada após a avaliação, e os sintomas são mais frequentemente

devido a outras causas, como celulite, cisto de Baker, lesão músculo-esquelética ou

linfedema. Outros diagnósticos diferenciais incluem hematoma, tumores, aneurismas e

doenças do tecido conjuntivo.27

Embora a TVP seja um achado comum em doentes com SMT, estes raramente

apresentam tromboembolismo pulmonar (TEP). Sugere-se que a proteção concedida pela

SMT face ao TEP sintomático esteja associada a um mecanismo de captura de grandes

êmbolos, análogo a um filtro na VCI. De facto, as primeiras intervenções para a prevenção

de TEP associado a TVP envolveram a oclusão parcial da VCI com a aplicação de sutura

ou o clip DeWeese .12 Chan et al, num modelo experimental com 75 doentes, concluiu que

a compressão ilio-caval superior ou igual a 70% ou um lúmen da VICE igual ou inferior a

4mm reduz o risco de TEP sintomático em até 83%.28 Por oposição aos casos de TEP,

existe uma maior associação entre SMT e acidente vascular cerebral (AVC) embólico.

Enquanto que para causar um episódio TEP sintomático normalmente é necessário uma

carga embólica significativa, já com uma carga de coágulos muito pequena, equivalente a

micro-êmbolos, podemos ter resultados neurológicos devastadores quando estes chegam

ao cérebro. A anatomia do SMT não protege suficientemente contra os micro-êmbolos, que

podem facilmente passar pela veia comprimida ou, alternativamente, através de

colaterais.12

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11

MEIOS COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO

O SMT é essencialmente diagnosticado por exames de imagem. Estes podem

subdividir-se em não invasivos, como a ultra-sonografia duplex (DUS) e invasivos, como o

uso de imagens transversas (cross-sectional imaging) com contraste (flebo-TAC e RMN),

a flebografia ou a ultra-sonografia intravascular (IVUS).3 Paradoxalmente, apesar da

disponibilidade destes meios, não existem critérios imagiológicos uniformizados e

universalmente aceites para o diagnóstico desta síndrome.27 Além disso, existe uma

variabilidade significativa no grau de compressão da VICE, para o mesmo doente, em

intervalos de tempo curtos, utilizando o mesmo meio de diagnóstico. Portanto, um único

estudo pode ser insuficiente para diagnosticar SMT, já que existem variáveis, como o status

de volume, que alteram significativamente o grau de compressão da veia.

DUS

A DUS é o teste inicial mais utilizado quando se pretende avaliar um doente com

edema ou dor do MIE.11 A avaliação ultra-sonográfica, devido à sua rápida execução e

ampla disponibilidade, comporta uma significativa importância no diagnóstico de SMT e

TVP ileofemoral.3 Contudo, uma visualização adequada do sistema ilíaco dentro da pelve

pode ser dificultada pelo gás intestinal, pelas estruturas adjacentes e em doentes com

excesso de peso ou obesidade.29 Num estudo de Brin e Vedantham, apenas em cerca de

47 e 79% dos casos se consegue visualizar a VICE e a veia ilíaca externa,

respetivamente.30

Labropoulos et al estabeleceram critérios para o diagnóstico de obstrução venosa

central: (1) turbulência pós-estenótica, indicado por um perfil de velocidade mosaico, (2)

sinal doppler anormal na área de estenose, (3) fluxo contínuo com a manobra de Valsalva

e (4) fluxo não espontâneo e lento com pouco aumento e ausência de respiratory phasicity

(variação do fluxo com a inspiração/expiração). A DUS teve alta sensibilidade em 41

pacientes que apresentaram estenoses de alto grau da VICE e a variável que se mostrou

crucial para a determinação de uma estenose significativa é a taxa de velocidade sistólica

máxima maior que 2,5ml/seg.31

Imagens transversais

As imagens transversais incluem venografia de tomografia computorizada (CTV)

com contraste de fase venosa ou venografia de ressonância magnética (MRV) e, em muitos

centros, têm substituído a DUS no estudo de diagnóstico.3 Na verdade, quando se suspeita

de SMT após DUS devemos recorrer a CTV ou MRV para visualizar com precisão a região

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pélvica.32 A CTV permite identificar áreas de estenose ou lesão estenótica e caracterizar

as estruturas circundantes, procurando causas de compressão venosa extrínseca19, assim

como a identificação de circulação colateral venosa pélvica. O rendimento diagnóstico tem

sido significativamente aumentado pelo desenvolvimento de novos meios de contraste que

persistem na circulação por mais tempo, aumentando a probabilidade da veia alvo ser

visualizada.20

A MRV fornece informações semelhantes à CTV com melhor caracterização da

patologia, bem como avaliação adicional do significado hemodinâmico, demonstrando

colaterais pélvicas e reversão do fluxo.32 Os achados típicos da CTV e MRV incluem

trombose aguda ou oclusão da VICE com existência de colaterais pélvicas e

retroperitoneais em casos crónicos.20

Um pequeno estudo de MRV sugere que as medidas do diâmetro da VICE obtidas

no mesmo doente com diversos meses de diferença apresentam variância superior a 20%

do diâmetro e que este método tem resolução limitada para estenoses menos

significativas.33

Flebografia

A flebografia é considerada a técnica mais definitiva para o diagnóstico de

obstrução venosa. Esta técnica é, aliás, o gold-standart para o diagnóstico de SMT.21

Através dela é possível definir os contornos anatómicos e as redes venosas colaterais,

bem como interpretação em tempo real da direção e velocidade do retorno venoso.11 O

estudo consiste de uma flebografia ascendente complementada por um estudo da veia

ilíaca e VCI por punção da veia femoral comum bilateral, associada a uma flebografia

descendente. A flebografia ascendente é tradicionalmente realizada por punção da veia

dorsal do pé, enquanto que a flebografia descendente é realizada por punção da veia

femoral comum. A veia deve ser avaliada em múltiplas projeções, já que uma projeção

única pode não localizar a compressão que geralmente se orienta no plano antero-

posterior.1

A flebografia pode ser complementada com medições diretas de pressão em

áreas de estenose, por forma a determinar se existe um gradiente de pressão intraluminal.

O limiar para uma lesão hemodinamicamente significativa situa-se num gradiente superior

a 2mmHg em repouso e 3 mmHg em exercício.19

IVUS

A IVUS utiliza um transdutor de ultra-som de 12,5 MHz ou 20 MHz que permite uma

avaliação de alta resolução da parede da veia e da sua arquitetura interna em 360 graus.1

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Por comparação, esta técnica e a flebografia têm capacidades diferentes de diagnóstico

de SMT, havendo uma clara diferença de sensibilidade: 90% para 66%, respetivamente. 34

Num estudo com 33 doentes, 25% dos que apresentaram flebografia sem alterações,

mostraram ter uma estenose superior a 50% na IVUS. Por outro lado, 36% dos doentes

que apresentaram flebografias normais pós-trombólise, tinham lesão obstrutiva com

trombo intraluminal residual.34 Além disso, a IVUS melhora a precisão diagnóstica e é útil

na caracterização das lesões intimais estenóticas da VICE, bem como de possíveis

trombos aderentes.11 A IVUS identifica também trabeculações intraluminais, septações e

espessamentos da parede, que podem ser minimizados ou perdidos na flebografia. Apesar

da aparente superioridade do método, a IVUS é ainda dispendiosa, o que faz com que

muito centros não dispõem da tecnologia ou a utilizam apenas em casos selecionados.9

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TRATAMENTO

O tratamento da SMT pode ser conservador ou através de procedimentos

invasivos, nomeadamente de descompressão venosa por cirurgia aberta ou

endovascular. Na literatura, não há consenso no que diz respeito à necessidade e tipo de

tratamento dos doentes assintomáticos, apesar de existir maior probabilidade destes virem

a desenvolver fenómenos tromboembólicos. Por outro lado, existe consenso na

necessidade de tratamento da SMT sintomática.35

Uma abordagem agressiva visando a descompressão da VICE deve ser

considerada, na medida em que esta é uma doença progressiva, com complicações

incapacitantes a longo termo ou mesmo fatais.3 Contudo, como resultado da raridade deste

diagnóstico, não existem estudos randomizados que permitam a comparação entre o

tratamento conservador, por cirurgia aberta ou endovascular, apesar da crescente

influência ganha pela abordagem endovascular.

Tratamento Conservador O tratamento conservador ou clínico envolve alívio sintomático, nomeadamente

álgico e do edema, com ou sem profilaxia medicamentosa da TVP. Nos doentes com IVC

sem trombose há orientação para elevação do MIE nos períodos de repouso, associada

ao uso de meias de compressão elástica. Nos casos de TVP aguda, o tratamento

padronizado passa por hipocoagulacão sistémica efetiva do doente, para evitar a formação

de novos trombos ou a sua propagação e fibrinólise se a TVP for recente, no MIE e em

doente sem fatores de risco para a mesma.29 Nos quadros de síndrome pós-trombótica

(SPT) é recomendado o uso de meia elástica de alta compressão associado ou não ao uso

de hipocoagulação oral.9

Na medida em que não existem relatos de casos de resolução espontânea da SMT,

a opção pelo tratamento conservador exclusivo é uma decisão difícil, principalmente em

doentes jovens e ativos.3 Além disso, o tratamento sistémico não atua na etiologia

subjacente da síndrome.19 Por outro lado, 23 a 60% dos doentes com TVP que realizam

hipocoagulação isolada vão desenvolver SPT.36

Cirurgia Aberta A cirúrgica aberta é essencialmente indicada para doentes em que o tratamento

conservador e/ou endovascular falhou. Não existe um consenso em torno de uma técnica

cirúrgica padrão, mas sim diferentes técnicas que podem ser utilizadas de acordo com as

particularidades do doente.12 Assim, as opções para tratamento cirúrgico incluem: o

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cruzamento de Palma, que corresponde ao bypass de enxerto da veia safena contralateral

para a veia femoral comum ipsilateral com a criação de uma fístula arteriovenosa

temporária para aumentar o fluxo sanguíneo e prevenir a trombose; angioplastia da VICE

com a remoção das obstruções intraluminais, utilizando uma ponte de silastic para separar

a AICD; deslocamento da AICD para localização posterior à VICE ou VCI; e encaving da

VICE com enxertos de politetrafluoroetileno expandido (ePTFE).11 Por outro lado, a

trombectomia venosa na fase aguda está apenas reservada para os casos em que haja

risco de gangrena venosa. Alguns doentes com incompetência valvular profunda

sintomática resultante da hipertensão venosa e do aumento do diâmetro da veia, podem

ser submetidos a correção através de valvuloplastia pela técnica de Kistner. Esta técnica

inclui a transposição da veia femoral superficial para a veia femoral profunda ou safena

magna, desde que exista competência valvular, ou transposição de um segmento

valvulado de veia braquial para a veia poplítea.12

A utilização da técnica de abordagem direta da AICD com deslocamento posterior

desta apresenta algumas vantagens face às outras técnicas referidas como a total

liberdade superior da VICE e a possibilidade de acesso retroperitoneal por incisão no

quadrante inferior direito do abdómen, facilitando a abordagem da artéria. No entanto,

apresenta algumas dificuldades técnicas como a dissecção do túnel retrovenoso e a

possível existência de uma AICD curta, com uma bifurcação precoce. No que se refere à

técnica de encaving da VICE com ePTFE, tende a haver restabelecimento da compressão,

a longo prazo, o que também ocorre na técnica com uso de ponte de silastic.12

As técnicas cirúrgicas demonstraram sucesso variável na abordagem da SMT,

estando associadas a elevada morbidade e patência intermédia. Deste modo, estão

relatadas taxas de patência globais primárias e secundárias a três anos de 54% e 62%,

respetivamente.37 Um outro estudo retrospetivo que avaliou os resultados cirúrgicos em

doentes com SMT, entre 1985 e setembro de 2009 relatou taxas de patência globais

primárias e secundárias a cinco anos de 42% e 59%, respetivamente.38 Noutro estudo, das

técnicas listadas, o cruzamento de Palma teve a melhor taxa de permeabilidade a longo

prazo (83%, ao fim de quatro anos). Já a angioplastia da VICE utilizando uma ponte de

silastic para separar a AICD resulta numa taxa de patência cumulativa de 54% aos dois

anos.12

Tratamento Endovascular Atualmente, os doentes com SMT raramente sofrem abordagens cirúrgicas

invasivas, já que as técnicas endovasculares têm mostrado boas taxas de permeabilidade,

com menor morbi-mortalidade associada.19 Raju numa revisão da literatura abrangendo

estudos que perfizeram um total de aproximadamente 1500 doentes concluiu que o

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tratamento endovascular da SMT é uma alternativa segura e efetiva em comparação com

o tratamento cirúrgico aberto tradicional.35 O tratamento endovascular pode visar a

resolução da trombose venosa aguda ou subaguda, a recanalização de segmentos

venosos ocluídos ou estenóticos e a angioplastia transluminal percutânea (PTA) com balão

e colocação de stent para assegurar a permeabilidade da VICE.39 O aumento da carga de

coágulos distal à compressão da VICE pode requerer, além do stent, métodos auxiliares

como trombectomia mecânica percutânea (PMT) e/ou trombólise dirigida por cateter

(CDT).40 Atualmente, a PMT é considerada preferível à CDT, na maioria dos casos, porque

pode melhorar a eficiência da remoção do coágulo, reduzir a dose lítica e o tempo de

procedimento, bem como diminuir as complicações hemorrágicas. 41

A PMT separa mecanicamente o trombo através de dispositivos motorizados por

cateter, sendo muito eficaz no tratamento de tromboses agudas ou subagudas. Se o

trombo se resolver, o tratamento da estenose da VICE é completado com PTA.42 Esta é

usada para expandir temporariamente o espaço intraluminal da região estenosada da

VICE, facilitando a colocação subsequente do stent. Já a persistência de trombo residual

requer a utilização de CDT. Para esta técnica, um cateter de infusão de orifício multiside é

posicionado dentro do trombo para permitir a infusão de ativador de plasminogénio tecidual

recombinante (rtPA), nomeadamente o alteplase. Assim, existe um contacto mais próximo

e preciso do agente trombolítico farmacológico com o trombo.43 O alteplase é administrado

de 0,5 a 1 mg/hora através do cateter e a heparina é administrada de 500 a 1000

unidades/hora através de uma cânula periférica IV.9 Nas 24 a 48 horas seguintes, a

trombólise é continuada numa unidade de terapia intensiva com monotorização dos níveis

de fibrinogénio e contagem sanguínea completa. Para quantificar o grau de lise e identificar

algum grau de estenose venosa residual que possa exigir PTA com colocação de stent ou

continuação da terapia trombolítica são realizadas flebografias de acompanhamento.20

Moudgill et al., analisando os dados de 113 doentes (72% mulheres), na sua

maioria submetidos a CDT seguida de colocação de stent intravascular, encontrou uma

média de sucesso técnico de 95% e uma média de patência a um ano de 96%.44 Já Zhu et

al encontraram uma taxa de sucesso técnico para PMT seguida de PTA com ou sem

colação de stent de 100%, sem ocorrência de complicações severas relacionadas ao

procedimento. A taxa de permeabilidade primária e secundária a um ano foi de 96% e

100%, respetivamente.45 Uma meta-análise (37 estudos, 2869 pacientes) relatou um

sucesso técnico do tratamento endovascular de 94 a 96%, com ou sem trombose,

respetivamente. 36

Nos doentes com estenose crónica não trombótica sintomática da VICE ou

trombose refratária crónica isolada, a PTA com colocação de stent oferece alívio

sintomático e boa permeabilidade a longo prazo.23 A redução inicial da dor do MIE e do

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edema ocorreu em mais de 95% dos doentes tratados e é mantida por três anos em 66 a

79% destes.46 O acesso percutâneo é efetuado através da veia poplítea ou da veia femoral

ipsilateral comum usando orientação de ultra-som.19 Para se obter acesso através da

lesão, um fio-guia hidrófilico e um cateter são avançados pela VCI sob orientação

fluoroscópica. Já o ultra-som intravascular apresenta grande utilidade para as medidas do

comprimento apropriado do balão e stent a utilizar.47 A revascularização endovenosa tem

taxas de mortalidade entre 0 e 1%. A maioria das complicações passar por reestenose

precoce (menos de 30 dias) ou tardia, 1-3% e 5%, respetivamente.48

Colocação de stent A pedra angular para uma abordagem bem-sucedida de SMT é a colação de stent

na VICE, já que demonstrou ser benéfica em comparação com a PTA de forma isolada.37

Um estudo controlado randomizado para avaliar a colocação de stent em casos de TVP

aguda revelou que os doentes submetidos à colocação de stent resultaram em maior

patência primária a ano e melhorias superiores na sintomatologia do que aqueles com

angioplastia sem stent (86% versus 55%).49 Os stents auto-expansíveis de 12 a 16 mm

não revestidos são preferidos em relação aos stents montados em balão, dada a sua

flexibilidade, maior durabilidade e capacidade de não deformar com as pulsações arteriais.9

Contudo, nos casos em que a dilatação da lesão não é conseguida na preparação para a

implantação do stent ou se o stent auto-expansível não conseguir a patência necessária,

os stents montados em balão podem ser úteis. Em relação aos materiais constituintes, os

stents de aço inoxidável fornecem maior força radial. Por outro lado, atualmente, não existe

evidência que suporte a utilização de stent profilático em doentes assintomáticos.9

Para evitar a migração do stent, permitindo uma melhor ancoragem, o

procedimento frequentemente inclui a extensão proximal ligeira do stent na VCI. Caso não

seja conseguida esta extensão, ocorre reestenose e oclusão em 36% dos doentes.48

Apesar da migração ser uma complicação rara, ela é devastadora. A sua remoção pode

ser realizada percutaneamente ou através de cirurgia aberta, dependendo de sua

localização. Em doentes com uma vasta trombose, a extensão do stent na veia ilíaca

externa e femoral comum pode ser necessária.9 Porém, há evidência que a extensão distal

ao ligamento inguinal está associada a taxas mais altas de estenose e trombose. Um

estudo (n = 493) constatou que nos doentes com PTS, a permeabilidade do stent era

elevada (84%), mesmo quando os stents precisavam ser estendidos para a veia femoral

comum.18

Numa coorte composta de 285 casos com SMT não trombótica, tratados com

dilatação com balão isoladamente (n = 13) ou em combinação com colocação de stent (n

= 272), Meng et al relataram que as taxas primárias de patência a um, três e cinco anos

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atingiam 98%, 96% e 94%, respetivamente.50 Num estudo de 982 doentes, as taxas de

patência primária e secundária aos 72 meses de seguimento foram de 79% e 100%,

respetivamente, para lesões vasculares não-trombóticas; mas foram menores (57% e 86%,

respetivamente) para lesões em doentes com história de TVP.51 Noutro estudo sobre a

utilização de stents para lesões da VICE não-trombóticas, observou-se uma

permeabilidade primária de stent de 98% após quatro anos de seguimento.52

A utilização de meias de compressão (30-40 mmHg) a longo prazo é sugerida para

prevenir a SPT. A hipocoagulação e antiagregração sistémica são recomendadas após a

colocação de stent. Assim, deve-se realizar uma dose de carga de clopidogrel seguida de

dose de manutenção por 6-12 semanas e heparina IV com transição para hipocoagulação

oral por pelos 3 meses e ácido acetilsalicílico indefinidamente, a menos que haja alguma

contraindicação.9 As últimas recomendações sugerem a utilização preferencial de novos

anticoagulantes orais, nomeadamente dabigatrano, ribaroxabano, apixabano e

edoxabano, face aos antagonistas da vitamina K e destes face à heparina de baixo peso

molecular.53

Filtros na VCI Pela associação entre a SMT e TVP foi sugerida a utilização de filtros na VCI,

nomeadamente antes de procedimentos como CDT ou PMT, por forma a diminuir o risco

de TEP fatal.9 Contudo é já reconhecida uma certa proteção conferida pela síndrome face

a grandes embolias, particularmente em casos de estenose significativa. Assim, a

indicação de colocação do filtro IVC é questionável em doentes com SMT, devido às

conhecidas complicações a longo prazo e ao risco relativamente baixo de eventos trombo-

embólicos, principalmente em doentes hipocoagulados.12 No entanto, a colocação do filtro

pode ser equacionada em doentes com baixa reserva cardiopulmonar, com TEP de

repetição apesar de terapêutica hipocoagulante e com trombo livre flutuante conhecido.54

Acompanhamento pós-procedimento e follow-up As complicações relacionadas com os procedimentos supracitados incluem as do

local de acesso e a hemorragia intra-abdominal ou retroperitoneal. No que se refere às

complicações associadas ao uso de fibrinolíticos há a mencionar os eventos hemorrágicos,

como hemorragia intracraniana, gastrointestinal ou coagulação intravascular disseminada.9

As taxas de complicações variaram de 0,3% a 1,1% para hemorragia maior, de 0,2% a

0,9% para TEP, de 0,1% a 0,7% para mortalidade periprocedural e de 1,0% a 6,8% para

trombose precoce, nos referidos grupos.36

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A necessidade de stents múltiplos e o uso irregular de meias de compressão são

preditores independentes para estenose in-stent.55 Knipp et al relataram, também, o sexo

masculino, o trauma recente e idade inferior a 40 anos como estando associados à

diminuição da patência primária.56 Um estudo retrospetivo de 106 doentes com TVP

iliofemoral aguda observou que a colocação do stent na VICE foi associada a baixas taxas

de re-trombose precoce pós-operatória (12-14%).57 A estenose do trombo ou do stent

requer trombectomia farmacomecânica e dilatação do balão com ou sem colocação

adicional de stent.36 A longo prazo, a utilização de stent endovascular pode complicar de

estenose in-stent e migração. Num seguimento médio de 22 meses, a estenose in-stent

ocorreu em apenas 3% dos doentes, numa mediana de 13 meses.58

Os doentes devem ser acompanhados do ponto de vista clínico e

imagiológico, em intervalos de temos regulares. Se ocorrerem recorrências sintomáticas é

aconselhado repetir os exames de imagem.

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CASO CLÍNICO

Doente caucasiana, do sexo feminino, com de 37 anos de idade, previamente

saudável, foi enviada a consulta de cirurgia vascular a partir da sua unidade saúde familiar,

por sensação de MIE pesado, edema e claudicação venosa deste, com 7 meses de

evolução e progressão sintomática. Sem história pessoal de TVP, nulípara, sem

internamentos documentados ou qualquer antecedente patológico de revelo. O exame

físico dos membros inferiores revelou pulsos distais presentes e ausência de trajetos

varicosos, alterações cutâneas ou úlceras venosas.

O estudo imagiológico foi iniciado com a realizou de uma DUS que mostrou

estenose da VICE com aceleração significativa de fluxos, sem TVP. A TC toraco-abdomino-

pélvica demonstrou anatomia compatível com SMT, com compressão da VICE entre a

AICD e o corpo vertebral de L5. Não foi observada nenhuma massa pélvica (Figura 1 e 2).

A flebografia guiada por TC com contraste confirmou a compressão da VICE com defeito

de enchimento e redução de calibre (Figura 3 a)). Perante este quadro clínico, a doente foi

internada e submetida a tratamento endovascular com angioplastia e colação de stent (AE

Optimed Sinus Venous 18x80mm). Após o procedimento foi realizada flebografia que

revelou calibre e fluxo da VICE restabelecido (Figura 3 b)). O pós-operatório ocorreu sem

intercorrências. A doente teve alta dentro de 5 dias, medicada com rivaroxaban, a cumprir

com término 3 meses após o início do tratamento. Até à data, apresentou-se assintomática

em todas as consultas de seguimento hospitalar.

Figura 1 - TC toraco-abdomino-pélvica revelando anatomia compatível com SMT (AICD comprimindo a VICE).

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Figura 2 - TC axial com contraste, mostrando a compressão da VICE entre a AICD e o corpo vertebral de L5.

a) b) Figura 3 - Flebografia guiada por TC com contraste: a) – defeito do enchimento/calibre da VICE, consentâneo com estenose e SMT; b) – após angioplastia com colocação de stent, mostrando calibre e fluxo da VICE restabelecido.

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DISCUSSÃO

Uma história de edema persistente do MIE com ou sem TVP numa mulher entre

a segunda e quinta décadas de vida, sem uma causa óbvia, é altamente sugestivo de

SMT.14 Uma propensão para esta síndrome é encontrada em mulheres jovens após

imobilização prolongada ou gravidez, que a doente não refere. Devido ao carácter crónico

´da síndrome, os doentes também podem apresentar estigmas associados quer a IVC ou

SPT, como claudicação venosa, varizes, dor crónica, úlceras cutâneas recorrentes ou

alterações na pigmentação do MIE.3 A doente não apresentava varizes, nem úlceras ou

alterações cutâneas. O diagnóstico de SMT baseia-se na apresentação clínica do edema

e da dor no MIE em associação com a evidência imagiológica de compressão extrínseca

da VICE.27 Assim, para uma avaliação inicial do sistema vascular ilíaco foi estabelecida

uma DUS. Este método não invasivo permite detetar a existência de TVP, que neste caso

não estava presente, e avaliar a obstrução venosa, tendo mostrado estenose da VICE com

significativa aceleração de fluxos. De seguida, foi realizada uma flebografia guiada por TC

que confirmou os achados encontrados na DUS. A flebografia é a técnica gold-standart

para diagnóstico de SMT.21 Através dela é possível definir os contornos anatómicos da

VICE e a melhor estratégia terapêutica. Acrescentar ainda que com o afastamento

progressivo do uso de flebografia e o aumento do recurso a técnicas não invasivas para

confirmar a presença de TVP, muitos casos SMT têm sido ignorados e a incidência real da

doença subestimada.

Na medida em que a SMT é uma doença progressiva com complicações a longo

prazo e aumento do risco de TVP recorrente, há evidencia para que uma estratégia

agressiva de alívio da compressão mecânica seja fortemente considerada.35 Assim, a

doente foi submetida a angioplastia com colocação de stent na VICE. Os stents auto-

expansíveis são usados no sistema venoso, pois permitem cobrir distâncias longas, são

fáceis de re-endotelizar e têm durabilidade adequada. A extensão do stent ao IVC pode

ser feita sem aumentar o risco de oclusão da veia ilíaca contra-lateral e permitindo uma

melhor ancoragem, ou seja, diminuindo o risco de migração de stent.9 Após o procedimento

é aconselhada hipocoagulação, que a doente realizou por 3 meses.

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CONCLUSÃO

A propósito de um caso clínico de uma doente com SMT sem TVP e com

realização de angioplastia com colocação de stent foi feita uma revisão bibliográfica sobre

o tema. A SMT resulta da compressão extrínseca da VICE pela AICD e a coluna lombo-

sagrada, sendo uma causa comum, ainda que subdiagnosticada, de IVC e TVP do MIE.

Em doentes com TVP à esquerda sem etiologia aparente, particularmente em mulheres

jovens, é necessária uma alta suspeita clínica para proceder ao diagnóstico. Meios

complementares de diagnóstico não invasivos, como a DUS, são formas de triagem

efetivas quando realizadas por examinadores experientes. Entretanto, a CTV e a MRV são

exames mais fidedignos, sendo o método de escolha para a confirmação, principalmente

no nosso meio, em que ainda não há ampla disponibilidade do IVUS, eleito como mais

adequado. A flebografia em múltiplas incidências, com medição de gradientes de pressão,

é considerado o gold-standart para o diagnóstico.

A intervenção endovascular com trombólise e stent continua a ser a primeira

escolha para resultados bem-sucedidos. O reconhecimento precoce e o tratamento

agressivo são vitais para o alívio sintomático e para prevenir a trombose recorrente e a

SPT.

Este trabalho foi apresentado no congresso “Porto Vascular Conference 2018”

(Anexo I).

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BIBLIOGRAFIA

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ANEXO I