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ANDRÉ CHAVES CALABRIA Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), Lages, SC, Brasil. E-mail: [email protected] CLAUDIA SPANIOL Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), Lages, SC, Brasil. E-mail: [email protected] MIRNA GRUBERT GOMES Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), Lages, SC, Brasil. E-mail: [email protected] Resumo Durante a gravidez, as necessidades nutricionais esto aumentadas por cau- sa do desenvolvimento fetal. Portanto, interessante questionar se restries dietticas, como no vegetarianismo, so seguras para gestante e feto. Como objetivo, procurou-se discutir possveis impactos das dietas vegetarianas na gestao e investigar se existem deficincias nutricionais causadas por essas dietas na gravidez. O estudo foi realizado por meio de pesquisa bibliogrfica em peridicos nacionais e internacionais indexados nas bases de dados Pub- Med, Medline, ScienceDirect, Bireme e Lilacs, no perodo de 2009 a 2019. Utilizaram-se os descritores em cincia e sade: dieta vegetariana, deficincias nutricionais, vitaminas e gravidez. Os critrios de incluso para a seleo foram artigos gratuitos que exploram dietas vegetarianas e veganas durante a gravidez ou as complicaes dessas dietas na gestante, no feto e no recm- -nascido. Os critrios de excluso foram artigos que no abordam as conse- quncias dessas dietas na gravidez, mas em mulheres no grvidas e/ou homens adultos; estudos que tratam das consequncias em longo prazo das dietas vegetarianas e veganas adotadas durante a gravidez, em crianas e adolescentes. Encontraram-se 14.006 artigos com os descritores. Aps crit- rios de incluso e excluso, analisaram-se 12 artigos selecionados. Os artigos mostram que gestantes vegetarianas esto mais suscetveis à deficincia de nutrientes – principalmente vitamina B12, ferro, zinco e iodo. Essas carncias Dieta vegetariana na gestação e o impacto sobre o organismo materno e fetal: uma revisão da literatura Recebido em: 26.3.2020 Aprovado em: 27.5.2020

Dieta vegetariana na gestação e o impacto sobre o

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Page 1: Dieta vegetariana na gestação e o impacto sobre o

ANDRÉ CHAVES CALABRIAUniversidade do Planalto Catarinense (Uniplac), Lages, SC, Brasil.E-mail: [email protected]

CLAUDIA SPANIOLUniversidade do Planalto Catarinense (Uniplac), Lages, SC, Brasil.E-mail: [email protected]

MIRNA GRUBERT GOMESUniversidade do Planalto Catarinense (Uniplac), Lages, SC, Brasil.E-mail: [email protected]

Resumo

Durante a gravidez, as necessidades nutricionais estao aumentadas por cau-sa do desenvolvimento fetal. Portanto, e interessante questionar se restricoes dieteticas, como no vegetarianismo, sao seguras para gestante e feto. Como objetivo, procurou-se discutir possiveis impactos das dietas vegetarianas na gestacao e investigar se existem deficiencias nutricionais causadas por essas dietas na gravidez. O estudo foi realizado por meio de pesquisa bibliografica em periodicos nacionais e internacionais indexados nas bases de dados Pub-Med, Medline, ScienceDirect, Bireme e Lilacs, no periodo de 2009 a 2019. Utilizaram-se os descritores em ciencia e saude: dieta vegetariana, deficiencias nutricionais, vitaminas e gravidez. Os criterios de inclusao para a selecao foram artigos gratuitos que exploram dietas vegetarianas e veganas durante a gravidez ou as complicacoes dessas dietas na gestante, no feto e no recem--nascido. Os criterios de exclusao foram artigos que nao abordam as conse-quencias dessas dietas na gravidez, mas em mulheres nao gravidas e/ou homens adultos; estudos que tratam das consequencias em longo prazo das dietas vegetarianas e veganas adotadas durante a gravidez, em criancas e adolescentes. Encontraram-se 14.006 artigos com os descritores. Apos crite-rios de inclusao e exclusao, analisaram-se 12 artigos selecionados. Os artigos mostram que gestantes vegetarianas estao mais suscetiveis à deficiencia de nutrientes – principalmente vitamina B12, ferro, zinco e iodo. Essas carencias

Dieta vegetariana na gestação e o impacto sobre o organismo materno e fetal: uma revisão da literatura

Recebido em: 26.3.2020Aprovado em: 27.5.2020

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sobre o organismo materno e fetal: uma revisao da literatura

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v20n1p132-157

nutricionais predispoem a gestante e o recem-nascido à anemia, podendo prejudicar o desenvolvimento fetal. Alem disso, estao associados ao parto prematuro e a uma falha no desenvolvimento neuropsicomotor. A alimenta-cao balanceada e adaptada às novas necessidades fisiologicas da gestante e imprescindivel para o bom estado geral da gestante e o adequado desenvol-vimento fetal. Frequentemente a suplementacao oral se faz necessaria, bem como o acompanhamento da dieta por profissionais de saude e a realizacao de um pre-natal adequado, com atencao especial às possiveis carencias nu-tricionais que a gestante possa apresentar.

Palavras-chave

Vegetarianismo. Gestacao. Gravidez. Nutricao. Periodo gestacional.

INTRODUÇÃOO individuo que segue a dieta vegetariana pode ser classificado, de

acordo com o consumo de subprodutos animais, em: 1. ovolactovegetariano, que utiliza em sua alimentacao ovos, leite e laticinios; 2. lactovegetariano, que nao utiliza ovos, mas consome leite e laticinios; 3. ovovegetariano, que nao utiliza laticinios, mas consome ovos; 4. vegetariano estrito, que nao utiliza nenhum derivado animal na sua alimentacao; e 4. vegano, que e o individuo vegetariano estrito que ainda recusa o uso de componentes animais nao ali-menticios, como vestimentas de couro, la, seda, assim como produtos testados em animais (DINU et al., 2017).

Por diversos motivos, o estilo de vida vegetariano vem crescendo nos ultimos anos. A maior parte das pessoas que adotam esse regime alimentar baseia sua escolha em um estilo de vida que julga ser mais saudavel (ROLA, 2015). Existem ainda outros aspectos que impulsionam o crescimento do nu-mero de pessoas adeptas à alimentacao vegetariana, como a preocupacao crescente da populacao com os impactos de seus habitos de consumo (ABO-NIZIO, 2016; CHAUVEAU et al., 2013).

No Brasil, 14% da populacao se declara vegetariana, de acordo com pesqui-sa realizada em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Opiniao Publica e Estatistica (Ibope), em 142 municipios. A estatistica representa um crescimento de 75% em relacao ao ano de 2012, quando a mesma pesquisa indicou que a proporcao da populacao brasileira nas regioes metropolitanas que se declarava vegetariana era de apenas 8%. Assim, atualmente, quase 30 milhoes de brasileiros se declaram adeptos dessa opcao alimentar (SOCIEDADE VEGETARIANA BRASILEIRA, 2017).

Page 3: Dieta vegetariana na gestação e o impacto sobre o

134Andre Chaves Calabria, Claudia Spaniol, Mirna Grubert Gomes

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020

http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v20n1p132-157

Do ponto de vista cientifico, o vegetarianismo e o veganismo sao conhecidos por causarem muitas deficiencias nutricionais, principalmente de vitamina B12, ferro, zinco e iodo (AGNOLI et al., 2017). Contudo, varios estudos tendem a mostrar que uma dieta vegetariana ou vegana equilibrada fora da gravidez pode ter um efeito benefico na saude, manifestada em particular por uma diminuicao na concentracao de colesterol plasmatico, uma reducao no risco de doencas cardiovasculares (diminuicao do risco de doenca cardiaca, hipertensao arterial), menor risco de desenvolver diabetes (especialmente do tipo 2), reducao do in-dice de massa corporal, diminuicao da probabilidade de desenvolver câncer, bem como um aumento da expectativa de vida (WINSTON; ANN, 2009).

A gravidez e um periodo especifico durante o qual as necessidades nutri-cionais maternas sao aumentadas por causa do desenvolvimento fetal (HYDE et al., 2017). Portanto, e interessante investigar se essas restricoes dieteticas sao realmente seguras para a gestante, o feto, o recem-nascido e o bebe (TEI-XEIRA et al., 2015; APPLEBY; KEY, 2015; ARMELAGOS, 2014).

Nesta revisao de literatura, a seguinte questao de pesquisa foi investigada:

• Quais sao as consequencias das dietas vegetarianas e veganas durante a gravidez para a gestante, o feto e o recem-nascido?

Portanto, o principal objetivo deste estudo e identificar as possiveis con-sequencias das dietas vegetarianas sobre a gestante, o feto e o recem-nascido. O objetivo secundario e identificar as possiveis deficiencias nutricionais cau-sadas por essas dietas no ciclo gravidico-puerperal, considerando o organismo da gestante e do recem-nascido e o desenvolvimento fetal.

MÉTODOPara atender aos objetivos de pesquisa, realizou-se uma pesquisa bibliogra-

fica por meio de uma revisao integrativa da literatura cientifica. Foram consul-tados artigos publicados no periodo de 2009 a 2019. As bases de dados con-sultadas foram PubMed, Medline, ScienceDirect, Bireme e Lilacs. Utilizaram-se os seguintes descritores em ciencia da saude: dieta vegetariana, dieta vegana, deficiencias nutricionais, vitaminas e gravidez.

Para a inclusao de material na pesquisa, selecionaram-se artigos que:

• tratam de dietas vegetarianas e veganas durante a gravidez;• lidam com as complicacoes de dietas vegetarianas e veganas na ges-

tante, no feto e no recem-nascido, e durante o periodo da gestacao;

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sobre o organismo materno e fetal: uma revisao da literatura

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v20n1p132-157

• tratam das deficiencias causadas por essas dietas;• tratam da prevalencia das deficiencias nutricionais em vegetarianas e

veganas gravidas;• sejam disponiveis gratuitamente em portugues, espanhol, ingles ou

frances;• foram publicados no periodo entre 2009 e 2019.

Os criterios para a exclusao foram os seguintes:

• Artigos escritos em um idioma que nao o portugues, espanhol, ingles ou frances.

• Artigos que tratam de regimes terapeuticos e pos-cirurgicos.• Artigos que nao sejam disponibilizados gratuitamente.• Artigos com resumo em portugues, espanhol, ingles ou frances, mas

com texto integral escrito em outro idioma.• Artigos que nao tratam das consequencias dessas dietas na gravidez,

mas em mulheres nao gravidas e/ou homens adultos.• Artigos que tratam das consequencias em longo prazo das dietas ve-

getarianas e veganas, adotadas durante a gravidez, em criancas e ado-lescentes.

O periodo de coleta de dados foi de marco de 2019 a agosto de 2019, totalizando aproximadamente seis meses de pesquisa e producao bibliografica.

Por fim, com a referida busca nas bases de dados, empregando os dife-rentes descritores de ciencia da saude, encontraram-se 14.006 artigos nas bases de dados consultadas e selecionaram-se 12 artigos pertinentes referentes ao tema, que vao ao encontro dos criterios de inclusao e exclusao: quatro re-visoes bibliograficas, tres estudos de coorte, um estudo transversal, um estudo comparativo prospectivo, um ensaio clinico randomizado, duas meta-analises com revisoes sistematicas, alem de outros estudos utilizados para a elabora-cao completa do presente artigo (introducao e discussao). O artigo mais anti-go foi publicado em 2009 e o mais recente, em 2019.

RESULTADOS E DISCUSSÃOO Quadro 1 apresenta os 12 artigos selecionados. Revisaram-se os artigos,

e dividiram-se os principais achados em topicos.

Page 5: Dieta vegetariana na gestação e o impacto sobre o

136Andre Chaves Calabria, Claudia Spaniol, Mirna Grubert Gomes

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020

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Page 7: Dieta vegetariana na gestação e o impacto sobre o

138Andre Chaves Calabria, Claudia Spaniol, Mirna Grubert Gomes

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020

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ar

o au

men

to d

e pe

so e

xces

sivo

du

rant

e a

gest

ação

, m

elho

rand

o as

sim

a s

aúde

m

ater

no-f

etal

.

How

pre

vale

nt

is v

itam

in B

12

defic

ienc

y am

ong

vege

taria

ns?

2013

Rein

o U

nido

Ava

liar a

taxa

de

defic

iênc

ia d

e vi

tam

ina

B12

entr

e ve

geta

riano

s e

vega

nos.

Revi

são

bibl

iogr

áfic

a

Dez

oito

art

igos

ana

lisar

am

rela

tos

de d

efic

iênc

ias

de

vita

min

a B1

2 m

edin

do a

co

ncen

traç

ão d

e ác

ido

met

ilmal

ônic

o,

holo

tran

scob

alam

ina

ou a

m

edid

a de

sses

doi

s m

arca

dore

s bi

oquí

mic

os.

Def

iciê

ncia

de

vita

min

a B1

2 m

arca

da p

or

uma

baix

a co

ncen

traç

ão d

e ho

lo-

tran

scob

alam

ina

e ric

a em

áci

do

met

ilmal

ônic

o.N

úmer

o de

pes

soas

com

def

iciê

ncia

s di

fere

ntes

seg

undo

as

popu

laçõ

es:

• 62

% d

as m

ulhe

res

gráv

idas

;•

entr

e 25

% e

86%

das

cria

nças

;•

de 2

1% a

41%

dos

ado

lesc

ente

s;•

de 11

% a

90%

dos

idos

os.

Os

vege

taria

nos

dese

nvol

vem

de

ficiê

ncia

s de

vit

amin

a B1

2,

inde

pend

ente

men

te d

e su

as

cara

cter

ísti

cas

soci

odem

ográ

ficas

ou

do

tipo

de

diet

a ve

geta

riana

seg

uida

.

Med

idas

pre

vent

ivas

par

a ve

geta

riano

s e

vega

nos

deve

m s

er p

osta

s em

prá

tica

pa

ra g

aran

tir a

inge

stão

ad

equa

da d

e vi

tam

ina

B12,

in

clui

ndo

o co

nsum

o re

gula

r de

sup

lem

ento

s co

nten

do

vita

min

a B1

2.

Qua

dro

1A

rtig

os se

leci

onad

os p

ara

o es

tudo

(c

ontin

uaçã

o)

(con

tinua

)

Page 8: Dieta vegetariana na gestação e o impacto sobre o

139Dieta vegetariana na gestacao e o impacto

sobre o organismo materno e fetal: uma revisao da literatura

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v20n1p132-157

Títu

lo d

o ar

tigo

Ano

de

publ

icaç

ãoPa

ís d

e or

igem

Obj

etiv

o(s)

do

estu

doTi

po d

o es

tudo

Mét

odo

utili

zado

Prin

cipa

is re

sult

ados

Aná

lise

Prev

alen

ce a

nd

corr

elat

es o

f zi

nc d

efic

ienc

y in

pre

gnan

t Vi

etna

mes

e w

omen

in H

o Ch

i Min

h Ci

ty.

2013

Aus

trál

ia

Det

erm

inar

a

prev

alên

cia

de

viet

nam

itas

grá

vida

s co

m d

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iênc

ia d

e zi

nco

e su

as p

ossí

veis

co

nseq

uênc

ias

na

grav

idez

, em

um

a po

pula

ção

que

se

alim

enta

pr

inci

palm

ente

de

diet

as à

bas

e de

pl

anta

s.

Estu

do

tran

sver

sal

Inte

rrog

atór

io e

am

ostr

as

de s

angu

e, re

aliz

ados

em

um

a ci

dade

de

Viet

nã.

Cerc

a de

30%

das

mul

here

s gr

ávid

as

viet

nam

itas

em

Ho

Chi M

inh

são

defic

ient

es e

m z

inco

.A

inge

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diá

ria d

e pr

odut

os lá

cteo

s pa

rece

pre

veni

r um

a po

ssív

el d

efic

iênc

ia

de z

inco

.

A d

efic

iênc

ia d

e zi

nco

é co

mum

em

áre

as c

om a

lta

prev

alên

cia

de d

ieta

s ba

sead

as e

m v

eget

ais

e ac

esso

lim

itad

o a

prod

utos

ric

os e

m z

inco

.A

sup

lem

enta

ção

isol

ada

de

zinc

o nã

o te

m

nece

ssar

iam

ente

efe

itos

po

siti

vos

nos

país

es e

m

dese

nvol

vim

ento

: ain

da

assi

m, s

ão n

eces

sário

s es

forç

os n

a tr

ansm

issã

o de

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elho

res

hábi

tos

alim

enta

res.

Zinc

sta

tus

of

vege

taria

ns

durin

g pr

egna

ncy:

a

syst

emat

ic

revi

ew o

f ob

serv

atio

nal

stud

ies

and

met

a-an

alys

is

of z

inc

inta

ke

2015

Suíç

a

Essa

revi

são

sist

emát

ica

expl

ora

a re

laçã

o en

tre

diet

as

vege

taria

nas

habi

tuai

s e

inge

stão

/es

tado

de

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o na

di

eta

dura

nte

a gr

avid

ez.

Revi

são

bibl

iogr

áfic

a

A p

esqu

isa

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iogr

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a fo

i re

aliz

ada

nas

base

s de

da

dos

Med

line,

Pub

Med

, Em

base

, Bib

liote

ca

Coch

rane

, Web

of S

cien

ce e

em

out

ras

base

s de

dad

os

elet

rôni

cas,

até

set

embr

o de

201

4. S

eis

estu

dos

obse

rvac

iona

is e

m lí

ngua

in

gles

a qu

alifi

cara

m-s

e pa

ra

incl

usão

na

revi

são

sist

emát

ica.

Foi

real

izad

a um

a m

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anál

ise

que

com

paro

u a

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stão

di

etét

ica

de z

inco

de

grup

os

vege

taria

nos

e nã

o ve

geta

riana

s (N

V) g

rávi

das.

Nem

os

grup

os v

eget

aria

nos

nem

NV

sati

sfiz

eram

a re

com

enda

ção

diet

étic

a (R

DA

) par

a zi

nco.

Em

um

a sí

ntes

e qu

alit

ativ

a, n

ão fo

ram

enc

ontr

adas

di

fere

nças

ent

re o

s gr

upos

no

zinc

o sé

rico/

plas

ma

ou n

os re

sult

ados

fu

ncio

nais

ass

ocia

dos

à gr

avid

ez.

Mul

here

s ve

geta

riana

s gr

ávid

as tê

m m

enor

inge

stão

de

zin

co d

o qu

e as

po

pula

ções

con

trol

e N

V, e

am

bos

os g

rupo

s co

nsom

em

men

os d

o qu

e as

qu

anti

dade

s re

com

enda

das.

Qua

dro

1A

rtig

os se

leci

onad

os p

ara

o es

tudo

(c

ontin

uaçã

o)

(con

tinua

)

Page 9: Dieta vegetariana na gestação e o impacto sobre o

140Andre Chaves Calabria, Claudia Spaniol, Mirna Grubert Gomes

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020

http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v20n1p132-157

Títu

lo d

o ar

tigo

Ano

de

publ

icaç

ãoPa

ís d

e or

igem

Obj

etiv

o(s)

do

estu

doTi

po d

o es

tudo

Mét

odo

utili

zado

Prin

cipa

is re

sult

ados

Aná

lise

Vita

min

b12

su

pple

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- ta

tion

dur

ing

preg

nanc

y an

d ea

rly

lact

atio

n in

crea

ses

mat

erna

l, br

east

milk

, and

in

fant

mea

sure

s of

vit

amin

b12

st

atus

2014

Rein

o U

nido

Det

erm

inar

se

um

supl

emen

to o

ral

diár

io d

e vi

tam

ina

B12

dura

nte

a gr

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ez e

o

pós-

part

o au

men

ta o

s ní

veis

san

guín

eos

mat

erno

s e

neon

atai

s pa

ra v

itam

ina

B12.

Ensa

io c

línic

o co

ntro

lado

ra

ndom

izad

o

Foi r

ealiz

ada

a su

plem

enta

ção

oral

diá

ria

de 5

0 μg

de

vita

min

a B1

2 (1

83 m

ulhe

res)

ou

plac

ebo

(183

) + s

uple

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taçã

o de

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rro

e ác

ido

fólic

o pa

ra

toda

s as

mul

here

s.

Das

mul

here

s su

plem

enta

das

com

vi

tam

ina

B12,

24%

der

am à

luz

uma

cria

nça

com

reta

rdo

de c

resc

imen

to

intr

aute

rino,

em

com

para

ção

com

34%

da

quel

as q

ue re

cebe

ram

pla

cebo

. La

cten

tes,

test

ados

com

sei

s se

man

as

de id

ade,

tinh

am u

ma

conc

entr

ação

m

édia

no

plas

ma

de v

itam

ina

B12 ρm

ol

199/

L pa

ra a

quel

es c

ujas

mãe

s ti

nham

si

do s

uple

men

tada

s co

m v

itam

ina

B12

cont

ra ρ

mol

139/

L pa

ra o

gru

po d

e pl

aceb

o. C

once

ntra

ções

pla

smát

icas

de

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o m

etilm

alôn

ico

e ho

moc

iste

ína

no

recé

m-n

asci

do s

igni

ficat

ivam

ente

m

enor

es n

o gr

upo

supl

emen

tado

com

vi

tam

ina

B12.

Def

iciê

ncia

de

vita

min

a B1

2 du

rant

e a

grav

idez

, inc

luin

do

anem

ia m

ater

na, f

etal

e

neon

atal

, hip

erte

nsão

in

duzi

da p

ela

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idez

, bai

xo

peso

ao

nasc

er p

ara

a id

ade

gest

acio

nal,

reta

rdo

de

cres

cim

ento

intr

aute

rino,

tu

bo n

eura

l e p

arto

pr

emat

uro.

Um

est

udo

real

izad

o em

M

umba

i, na

Índi

a, in

dica

que

a

conc

entr

ação

pla

smát

ica

de v

itam

ina

B12

é m

enor

em

ve

geta

riana

s do

que

em

m

ulhe

res

onív

oras

.

Rela

tion

ship

s of

m

ater

nal f

olat

e an

d vi

tam

in B

12

stat

us d

urin

g pr

egna

ncy

wit

h pe

rinat

al

depr

essi

on: t

he

GU

STO

stu

dy.

2014

Hol

anda

Ava

liar a

rela

ção

entr

e nu

triç

ão e

de

pres

são

em

gest

ante

s, v

isto

que

po

uco

se s

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sobr

e o

perío

do p

erin

atal

.

Coor

te

Fora

m e

xam

inad

as a

s re

laçõ

es d

as c

once

ntra

ções

pl

asm

átic

as d

e fo

lato

e

vita

min

a B1

2 du

rant

e a

grav

idez

com

dep

ress

ão

perin

atal

. Da

26ª

à 28

ª se

man

a de

ges

taçã

o, o

fo

lato

pla

smát

ico

e a

vita

min

a B1

2 fo

ram

med

idos

em

mul

here

s em

Sin

gapu

ra.

Os

sint

omas

dep

ress

ivos

fo

ram

med

idos

com

bas

e na

Ed

inbu

rgh

Post

nata

l D

epre

ssio

n Sc

ale

(EPD

S)

dura

nte

o m

esm

o pe

ríodo

e

aos

três

mes

es p

ós-p

arto

.

Das

709

mul

here

s, 7,

2% fo

ram

id

enti

ficad

as c

om p

rová

vel d

epre

ssão

pr

é-na

tal e

10,4

% c

om p

rová

vel

depr

essã

o pó

s-pa

rto.

As

conc

entr

açõe

s pl

asm

átic

as d

e fo

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fora

m

sign

ifica

tiva

men

te m

enor

es n

aque

las

com

pro

váve

l dep

ress

ão p

ré-n

atal

do

que

naqu

elas

sem

. As

conc

entr

açõe

s pl

asm

átic

as d

e vi

tam

ina

B12

não

fora

m

asso

ciad

as à

dep

ress

ão p

erin

atal

.

O b

aixo

nív

el d

e fo

lato

no

plas

ma

dura

nte

a ge

staç

ão

foi a

ssoc

iado

à d

epre

ssão

pr

é-na

tal,

mas

não

à

depr

essã

o pó

s-pa

rto.

A

repl

icaç

ão e

m o

utro

s es

tudo

s é

nece

ssár

ia p

ara

dete

rmin

ar a

dire

ção

da

caus

alid

ade

entr

e ba

ixo

fola

to e

dep

ress

ão p

ré-n

atal

.

Qua

dro

1A

rtig

os se

leci

onad

os p

ara

o es

tudo

(c

ontin

uaçã

o)

(con

tinua

)

Page 10: Dieta vegetariana na gestação e o impacto sobre o

141Dieta vegetariana na gestacao e o impacto

sobre o organismo materno e fetal: uma revisao da literatura

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v20n1p132-157

Títu

lo d

o ar

tigo

Ano

de

publ

icaç

ãoPa

ís d

e or

igem

Obj

etiv

o(s)

do

estu

doTi

po d

o es

tudo

Mét

odo

utili

zado

Prin

cipa

is re

sult

ados

Aná

lise

Is a

veg

etar

ian

diet

saf

e to

fo

llow

dur

ing

preg

nanc

y? A

sy

stem

atic

re

view

and

m

eta-

anal

ysis

of

obs

erva

tion

al

stud

ies.

2018

Rein

o U

nido

Esse

est

udo

teve

co

mo

obje

tivo

de

term

inar

a

asso

ciaç

ão e

ntre

die

ta

vege

taria

na d

uran

te a

gr

avid

ez e

vár

ios

desf

echo

s m

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no-

feta

is.

Revi

são

sist

emát

ica

e m

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anál

ise

obse

rvac

iona

l

Nas

bas

es d

e da

dos

PubM

ed, M

edlin

e, E

mba

se e

Bi

blio

teca

Coc

hran

e,

pesq

uisa

ram

-se

arti

gos

rele

vant

es. O

s da

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quan

tita

tivo

s fo

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an

alis

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por

um

mod

elo

de e

feit

os a

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ório

s co

m

odds

ratio

s ag

rupa

dos

ou

dife

renç

a de

méd

ia

pond

erad

a e

inte

rval

o de

co

nfia

nça

de 9

5% c

omo

esti

mat

ivas

agr

egad

as.

Um

tota

l de

19 e

stud

os o

bser

vaci

onai

s fo

ram

iden

tific

ados

par

a ca

da m

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ise

e re

visã

o na

rrat

iva.

A re

laçã

o gl

obal

est

imad

a en

tre

grav

idez

ve

geta

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e b

aixo

pes

o ao

nas

cer (

BPN

) fo

i mar

gina

lmen

te s

igni

ficat

iva.

Mãe

s ve

geta

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s as

iátic

as e

xibi

ram

risc

os

aum

enta

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para

o p

arto

de

bebê

s co

m

BPN

. No

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nto,

o p

eso

ao n

asce

r ne

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al e

m c

inco

est

udos

não

sug

eriu

di

fere

nça

entr

e ve

geta

riano

s e

onív

oros

. D

ada

a al

ta h

eter

ogen

eida

de d

os e

stud

os

incl

uído

s, fa

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de e

vidê

ncia

s de

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a qu

alid

ade

e es

tudo

s lim

itado

s in

cluí

dos

para

cad

a ca

tego

ria, n

ão c

onse

guim

os

cheg

ar a

resu

ltad

os c

oncl

usiv

os s

obre

os

risco

s de

hip

ospá

dia,

reta

rdo

de

cres

cim

ento

intr

aute

rino,

ane

mia

m

ater

na e

dia

bete

s m

ellit

us g

esta

cion

al.

As

mãe

s ve

geta

riana

s as

iáti

cas

apre

sent

aram

m

aior

es ri

scos

par

a o

part

o de

beb

ês c

om B

PN d

o qu

e pa

ra o

s on

ívor

os.

Low

mat

erna

l vi

tam

in B

12

stat

us d

urin

g pr

egna

ncy

is

asso

ciat

ed w

ith

redu

ced

hear

t ra

te v

aria

bilit

y in

dice

s in

you

ng

child

ren

2012

Rein

o U

nido

O o

bjet

ivo

dess

e es

tudo

foi a

valia

r a

ativ

idad

e ne

rvos

a au

tonô

mic

a ca

rdía

ca

em c

rianç

as n

asci

das

de m

ães

com

bai

xo

níve

l de

vita

min

a B1

2 du

rant

e a

grav

idez

, ut

iliza

ndo

índi

ces

de

varia

bilid

ade

da

freq

uênc

ia c

ardí

aca

(VFC

) no

dom

ínio

da

freq

uênc

ia.

Coor

te

Sete

nta

e no

ve c

rianç

as

saud

ávei

s en

tre

3 e

8 an

os

de id

ade

fora

m a

valia

das

a pa

rtir

de u

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142Andre Chaves Calabria, Claudia Spaniol, Mirna Grubert Gomes

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020

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143Dieta vegetariana na gestacao e o impacto

sobre o organismo materno e fetal: uma revisao da literatura

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VEGETARIANISMO NA GESTAÇÃO: BENEFÍCIOS VERSUS RISCOSNesta secao, apresentam-se os beneficios e os riscos que a gestante assu-

me ao aderir a uma dieta vegetariana. A literatura afirma que gestantes podem ser veganas ou vegetarianas sem

oferecer riscos à propria saude ou à saude do feto/recem-nascido, desde que sejam corretamente suplementadas com os principais nutrientes que, por con-ta da gestacao, encontram-se em niveis fisiologicamente reduzidos. Alem dis-so, a gestante vegetariana pode evidenciar o beneficio de evitar o aumento de peso excessivo durante a gravidez (STUEBE; OKEN; GILLMAN, 2009).

Entretanto, a literatura tambem alerta que dietas vegetarianas desequili-bradas podem ocasionar muitas deficiencias nutricionais, como a hipovitami-nose de B12, uma das principais carencias nutricionais presentes no organismo da gestante, do feto e do recem-nascido (PICCOLI et al., 2015).

Deficiência nutricional de vitamina B12 em indivíduos adeptos do vegetarianismo

A vitamina B12 nao e sintetizada pelos seres humanos. Portanto, sua disponibilidade no corpo depende exclusivamente da dieta. Ela e encontrada em produtos de origem animal, como carne, figado, aves, peixes, crustaceos, laticinios e ovos, bem como em produtos enriquecidos com essa vitamina (SEBASTIANI et al., 2019).

A ingestao recomendada de vitamina B12 e de aproximadamente 0,5 a 1 micrograma por dia em lactentes, 2,4 microgramas por dia em uma pessoa adulta, 2,6 microgramas por dia em mulheres gravidas, 2,8 microgramas por dia em mulheres lactantes e 3 microgramas por dia em idosos (VANNUCCHI; MONTEIRO; TAKEUCHI, 2017).

No organismo humano, as reservas de vitamina B12 estao presentes prin-cipalmente no figado, e seu uso e suficiente para evitar um deficit em caso de ocorrencia episodica de uma patologia que potencialmente provoque uma diminuicao desse nutriente (DINU et al., 2017).

Em relacao à biodisponibilidade de micronutrientes, a American Dietetic Association aponta que os niveis de vitamina B12 sao significativamente me-nores em vegetarianos quando comparados aos onivoros e, alem disso, fre-quentemente sao associados a niveis mais altos de homocisteina, um aminoa-cido sulfidrilico (WINSTON; ANN, 2009).

Page 13: Dieta vegetariana na gestação e o impacto sobre o

144Andre Chaves Calabria, Claudia Spaniol, Mirna Grubert Gomes

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020

http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v20n1p132-157

Pessoas que assumem dietas vegetarianas comumente apresentam deficit de vitamina B12. Alem disso, essa carencia nutricional tambem pode ser eviden-ciada nos seguintes casos: idade avancada, alcoolismo e pacientes com doen-cas autoimunes ou disturbios gastrointestinais.

Nesse sentido, a literatura aponta que o principal determinante no desen-volvimento de hipovitaminose de vitamina B12 e a duracao da pratica desse regime, independentemente das caracteristicas sociodemograficas do adepto do vegetarianismo ou do subtipo de dieta adotada (PAWLAK et al., 2013).

O consumo de algas por individuos adeptos de dietas vegetarianas pode elevar a concentracao de vitamina B12 no organismo a niveis ate duas vezes superiores em relacao a vegetarianos que nao as consumam. Assim, um con-sumo significativamente elevado de algas poderia fornecer vitamina B12 em quantidade suficiente ao organismo do individuo que nao consome produtos de origem animal. Entretanto, o consumo medio de algas pelos vegetarianos geralmente nao e ideal para manter uma concentracao corporal adequada de vitamina B12 (CROWE et al., 2010).

Porem, alguns autores refutam a ideia de que a ingestao de algas possa suprir as necessidades de vitamina B12, afirmando que, apesar da alta con-centracao da vitamina em algumas variedades de algas, a biodisponibilidade em humanos e baixa (WATANABE; YABUTA; BITO; TENG, 2014).

A deficiencia de vitamina B12 pode levar a danos hematologicos (anemia macrocitica e pancitopenia); envolvimento mucocutâneo, como glossite, ulce-ras, vaginite e ictericia (por hematopoiese ineficiente); e disturbios neurolo-gicos, como parestesia, ataxia, sensibilidade profunda, polineurite e possivel-mente disturbios cognitivos (PICCOLI et al., 2015).

Destaca-se tambem a relacao entre a baixa concentracao de vitamina B12 e o aumento da concentracao total de homocisteina no plasma em mulheres ovolactovegetarianas. A homocisteina e de fato um enxofre de aminoacido nao proteinogenico resultante do catabolismo da metionina ou da cistationina. A hiper-homocisteinemia pode ser identificada em certas doencas cardiovas-culares e neuropsiquiatricas (doenca de Alzheimer, falta de fechamento do tubo neural, disturbios depressivos, esquizofrenia) e levar a fraturas osseas (ELMADFA; SINGER, 2009).

A gestação e a hipovitaminose fisiológica de vitamina B12Durante a gravidez, os niveis sericos de vitamina B12 diminuem fisiolo-

gicamente (MOLLOY et al., 2008). De fato, um estudo prospectivo realizado

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145Dieta vegetariana na gestacao e o impacto

sobre o organismo materno e fetal: uma revisao da literatura

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v20n1p132-157

no Canada mostra que a proporcao de mulheres com uma deficiencia de vita-mina B12 e maior durante a gravidez e aumenta progressivamente durante a gestacao (WU et al., 2013). No entanto, se a mulher gravida estiver bem nu-trida e suplementada, a sua taxa nao diferira das mulheres nao gravidas que nao fizeram suplementacao (MOLLOY et al., 2008).

O risco de carencia de vitamina B12 e aumentado entre as mulheres gra-vidas veganas ou vegetarianas, porque suas reservas dessa vitamina, ja muito menores do que as das mulheres gravidas onivoras, diminuem gradualmente ao longo da gestacao (SEBASTIANI et al., 2019).

A literatura aponta que, para os vegetarianos, a deficiencia de vitamina B12 afeta cerca de 62% das mulheres gravidas e de 25% a 86% de seus recem--nascidos (PAWLAK et al., 2013).

IMPACTOS DA DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 NO ORGANISMO DA GESTANTE

Nesta secao, busca-se evidenciar o que a literatura relata a respeito das principais consequencias da hipovitaminose de B12 no organismo da gestante.

Estudos apontam que a deficiencia de vitamina B12 leva a complicacoes maternas e fetais. Quanto às manifestacoes maternas dessa hipovitaminose, incluem-se declinio da concentracao plasmatica materna de vitamina B12 e anemia materna. O declinio na concentracao plasmatica materna de vitamina B12 e uma causa potencial de anemia perniciosa, que pode ocasionar inferti-lidade, abortos espontâneos precoces, pre-eclâmpsia, entre outros (MOLLOY et al., 2008).

Um estudo clinico randomizado envolvendo 366 mulheres gravidas con-firma que a deficiencia de vitamina B12 na gravidez e responsavel pela anemia materna (em 30% das mulheres no estudo), o que provavelmente acarreta a hipertensao gestacional e o trabalho de parto prematuro (risco aumentado em cerca de 60%) (DUGGAN et al., 2014).

Existe ainda uma correlacao entre o estado materno de vitamina B12 e a concentracao plasmatica de colina no final da gravidez. Um estudo compara-tivo de alto potencial envolvendo 572 mulheres encontrou niveis plasmaticos de colina mais baixos em mulheres gravidas que tinham niveis plasmaticos de vitamina B12 insuficientes em comparacao com aquelas que tinham concen-tracao normal (WU et al., 2013).

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146Andre Chaves Calabria, Claudia Spaniol, Mirna Grubert Gomes

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IMPACTOS DA DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 NO DESENVOLVIMENTO FETAL E CONSEQUÊNCIAS PARA O RECÉM-NASCIDO

Nesta secao, busca-se evidenciar o que a literatura relata a respeito das principais consequencias da hipovitaminose de B12 no desenvolvimento fetal e no organismo do recem-nascido. A deficiencia de vitamina B12 afeta o de-senvolvimento fetal. Alem disso, interfere no crescimento neonatal e no esta-do neurologico de recem-nascidos e lactentes. A escassez da vitamina B12 no organismo materno pode acarretar a hipovitaminose fetal, que, por sua vez, pode levar a uma serie de falhas no desenvolvimento embriologico, incluindo falha no fechamento do tubo neural, anencefalia e nanismo intrauterino (MOLLOY et al., 2008).

Em recem-nascidos e lactentes, as manifestacoes clinicas da deficiencia dessa vitamina, causada por uma dieta materna vegetariana ou vegana, nao sao muito especificas. Porem, pode ocorrer o nascimento de recem-nascido pequeno para a idade gestacional (em cerca de 30% dos casos), funcionamen-to prejudicado de processos neuronais no periodo neonatal, ausencia de mie-linizacao e atraso do desenvolvimento neuropsicomotor (MOLLOY et al., 2008).

O estudo clinico de Duggan et al. (2014) reafirma que a baixa concentra-cao no plasma materno de vitamina B12 e a causa mais comum de anemia fetal e neonatal, baixo peso para a idade gestacional, retardo de crescimento intrauterino e defeitos do tubo neural.

Do mesmo modo, de acordo com Dror e Allen (2008), uma deficiencia de vitamina B12 pode causar, de dois a dez meses apos o nascimento, irritabili-dade, atraso do crescimento, ruptura da curva de crescimento, apatia, anore-xia, recusa de comer alimentos solidos, anemia megaloblastica e um retroces-so do desenvolvimento em bebes (INSTITUT NATIONAL DE PREVENTION ET D’EDUCATION POUR LA SANTE, 2015).

As dietas vegetarianas e veganas praticadas por mulheres gravidas nao aumentam o risco de defeitos congenitos principais, com excecao de um maior risco de hipospadia, sugerido em um estudo de identificacao de mais de oito mil recem-nascidos (PICCOLI et al., 2015).

Deficiência nutricional de ferroEmbora a deficiencia de vitamina B12 seja a complicacao mais frequen-

temente identificada em gestantes vegetarianas e veganas, bem como em seus

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147Dieta vegetariana na gestacao e o impacto

sobre o organismo materno e fetal: uma revisao da literatura

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v20n1p132-157

recem-nascidos, existem outras deficiencias bastante significativas (PICOLLI, 2015; WINSTON; ANN 2009). A exemplo, a deficiencia de ferro afeta particu-larmente mulheres em idade reprodutiva e durante a gestacao (ROSSI, 2006).

As quantidades recomendadas de ingesta de ferro sao baseadas nas perdas fisiologicas. Na gestacao, as necessidades dieteticas de ferro aumentam por causa da necessidade de repor as perdas basais usuais, permitir a expansao das celulas vermelhas, prover ferro à placenta e ao feto e repor as perdas de sangue durante o parto (ROSSI, 2006).

Assim, durante a gravidez, as necessidades de ferro materno aumentam drasticamente: uma mulher com idade entre 19 e 50 anos precisa de cerca de 18 miligramas por dia de ferro, enquanto uma mulher gravida da mesma ida-de requer cerca de 27 miligramas por dia. Consequentemente, gestantes que nao realizam adaptacoes em sua dieta tem maior chance de desenvolver defi-ciencia de ferro.

Para gestantes vegetarianas e veganas que nao adaptam suas dietas à nova necessidade diaria de ferro, esse risco e ainda maior. Sao importantes fontes vegetais de ferro que podem ser utilizadas na dieta da gestante: algas, lentilhas, grao-de-bico, feijao-vermelho e cereais.

A principal consequencia da deficiencia de ferro durante a gravidez e a anemia ferropriva materna e possivelmente fetal, a qual ocasiona astenia, taquicardia materna e fetal, dispneia e palidez cutâneo-mucosa (SEBASTIANI et al., 2019).

A suplementacao oral rotineira com ferro permanece como assunto con-troverso na literatura medica. Entretanto, existe uma maior tendencia em indica-la por conta da alta prevalencia de carencia de ferro durante a gestacao, principalmente em gestantes vegetarianas ou veganas, nas quais se observa uma deplecao serica desse nutriente com diversas funcoes sistemicas (BRANDÃO; CABRAL; CABRAL, 2011).

Deficiência nutricional de zincoO zinco e essencial à reproducao, diferenciacao celular, crescimento, de-

senvolvimento e imunidade, e esta presente em uma grande variedade de alimentos. No entanto, alguns fatores interferem na sua biodisponibilidade: a suplementacao elevada de ferro (30mg/dia), o fumo e o abuso do alcool po-dem diminuir a concentracao plasmatica materna de zinco, reduzindo tambem sua disponibilidade para o feto (SILVA et al., 2007).

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Ainda, a deficiencia de zinco pode estar associada a habitos alimentares quase exclusivo de produtos à base de plantas e pobre em alimentos ricos em zinco, segundo estudo transversal realizado no Vietna. Nessa realidade, cons-tatou-se que 30% das mulheres gravidas vietnamitas tem deficiencia de zinco. Os parâmetros utilizados nesse estudo sugerem que as concentracoes plasma-ticas de zinco urinario e capilar sao mais afetadas pelo estado de gravidez do que pelas dietas ovolactovegetarianas ou veganas (NGUYENet al., 2013). Portanto, estudos de escala maiores sao necessarios para determinar se as dietas vegetarianas ou veganas realmente tem impacto sobre a concentracao de zinco.

No periodo gestacional, as principais consequencias da carencia de zinco estao relacionadas com: aborto espontâneo, retardo do crescimento intraute-rino, prematuridade, complicacoes no trabalho de parto, bem como malfor-macoes fetais (MORAN et al., 2012).

No entanto, a suplementacao isolada de zinco em gestantes nao parece ter um impacto significativo na prevencao dessa deficiencia nos paises em desenvolvimento (NGUYEN et al., 2013), podendo estar relacionada ao au-mento da idade gestacional na ocasiao do parto e ao aumento do peso ao nascer (SILVA et al., 2007).

Dessa forma, recomenda-se que os profissionais de saude orientem as gestantes quanto à necessidade de se adotar uma dieta que contemple o con-sumo de alimentos ricos em zinco. Assim, a adocao de habito alimentares equilibrados pode evitar a deficiencia nutricional de desse elemento.

No entanto, o profissional de saude deve estar atento a fatores que in-terferem na biodisponibilidade do zinco, podendo diminuir a concentracao plasmatica materna e sua disponibilidade para o feto. Sao eles: dieta rica em alimentos integrais e fitatos, suplementacao elevada de ferro (30 mg/dia), fumo, abuso do alcool e stress causado por infeccao ou trauma. Diante destas condicoes, a gestante se beneficia com a suplementacao de zinco (25mg/dia), reduzindo as complicacoes relacionadas à deficiencia deste elemento (SILVA et al., 2007).

Deficiência nutricional de iodoO iodo e indispensavel para a saude, por ser necessario para a sintese de

hormônios da tireoide (T3 e T4). Ele nao e produzido pelo corpo, e, dessa forma, sua disponibilidade para o organismo depende do consumo alimentar.

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149Dieta vegetariana na gestacao e o impacto

sobre o organismo materno e fetal: uma revisao da literatura

Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do DesenvolvimentoSão Paulo, v. 20, n. 1, p. 132-157, jan./jun. 2020http://dx.doi.org/10.5935/cadernosdisturbios.v20n1p132-157

A ingesta insuficiente de iodo leva a uma producao inadequada de hormônios da tireoide e a todas as consequencias relacionadas ao hipotireoidismo (LOPES et al., 2012).

A deficiencia materna de iodo aumenta o risco de aborto, complicacoes na gravidez e infertilidade. O desenvolvimento fetal e infantil e prejudicado com a deficiencia desse elemento. Assim, se o feto e o recem-nascido nao forem expos-tos a quantidades adequadas de hormônios tireoidianos, poderao apresentar deficits cognitivos, por mais que a carencia seja minima (LOPES et al., 2012).

O caderno de atencao basica ao pre-natal de baixo risco do Ministerio da Saude reafirma que a falta do iodo durante a gestacao esta associada a uma serie de riscos, como aborto, baixo peso da crianca ao nascer, retarda-mento mental e fisico ou risco de apresentar dificuldades de aprendizado (BRASIL, 2012).

Importantes fontes alimentares de iodo sao carne, peixe e produtos lac-teos. Assim, dietas vegetarianas ou veganas poderiam resultar em baixa inges-tao desse elemento (PISTOLLATO et al., 2015). Nesse sentido, a Organizacao Mundial da Saude (OMS) recomenda a disponibilizacao universal de iodo na forma de sal iodado, de maneira a abranger toda a populacao. Assim, o iodo presente no sal tem a importante funcao de evitar o risco dessa deficiencia (SILVA, 2018).

Orientações nutricionais para gestantes vegetarianasA fim de evitar a carencia nutricional de vitamina B12, recomenda-se que

a gestante vegetariana inclua em sua dieta o consumo de algas marinhas, que sao ricas nessa vitamina. A ingesta de algas pode elevar a concentracao de vitamina B12 no organismo em duas vezes, em relacao a dietas vegetaria-nas que nao as considerem (CROWE et al., 2010). Alem disso, e importante que ocorra suplementacao na forma de droga de vitamina B12, pois, mesmo que as gestantes vegetarianas sejam capazes de diversificar sua dieta, e possivel que elas ainda assim desenvolvam a deficiencia de vitamina B12.

Para atender às demandas de ferro do organismo, e importante que a gestante consuma alimentos ricos nesse elemento, como feijao, lentilha, grao--de-bico, soja, folhas verde-escuras, graos integrais e castanhas. Com esses alimentos, devem-se consumir aqueles que sao fontes de vitamina C, como acerola, laranja, caju e limao, para garantir a correta absorcao do ferro pelo trato gastrointestinal (BRASIL, 2012).

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Alem disso, e padrao no procedimento de pre-natal de baixo risco ofertar à gestante suplementacao oral de ferro por meio do sulfato ferroso, que tam-bem deve ser ingerido com uma fonte de vitamina C, como suco natural de limao ou laranja (BRASIL, 2012).

E importante que a gestante vegetariana utilize em sua alimentacao somen-te o sal iodado, para garantir o aporte nutricional adequado desse elemento. Ressalta-se tambem que a gestante vegetariana realize o acompanhamento pre--natal em sua Unidade Basica de Saude (UBS). Assim, e possivel identificar a existencia de possiveis carencias nutricionais e iniciar o tratamento por meio de uma alimentacao equilibrada e suplementacao oral.

Este trabalho encontrou principalmente tres limitacoes para o seu desen-volvimento:

• Em bancos de dados cientificos, alguns artigos nao sao disponibilizados gratuitamente, o que impossibilitou o estudo exaustivo da literatura disponivel sobre o assunto.

• Um pequeno numero de artigos se refere especificamente ao impacto das dietas vegetarianas e veganas em gestantes e recem-nascidos.

• Muitos artigos discutem as consequencias das dietas vegetarianas e veganas em pessoas nao gravidas e as consequencias em longo prazo dessas dietas em criancas.

De fato, a realizacao da presente revisao de literatura permitiu evidenciar a escassez de estudos que tenham como enfoque o impacto de dietas vegeta-rianas no periodo gestacional, sendo o estudo do impacto da dieta vegetariana em um individuo nao gravido bastante discutido. Esse foi um fator limitante para o desenvolvimento da pesquisa.

CONCLUSÃOA alimentacao e a nutricao inadequadas podem ser consideradas como

um fator de risco para o desenvolvimento de algumas complicacoes no orga-nismo materno, no desenvolvimento fetal e no organismo do recem-nascido. Nesse sentido, atentar às dietas vegetarianas se faz necessario, especialmente no periodo gestacional.

A deficiencia de vitamina B12 e uma complicacao frequente em pessoas que adotam dietas vegetarianas. A deficiencia de ferro, zinco e iodo tambem

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sobre o organismo materno e fetal: uma revisao da literatura

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e significativa. A gestacao e uma fase na qual as necessidades dessas vitami-nas e nutrientes estao fisiologicamente elevadas. Dessa forma, dietas vegeta-rianas que nao sejam balanceadas podem predispor o organismo materno a deficiencias nutricionais e, consequentemente, o desenvolvimento fetal e o organismo do recem-nascido tambem podem ser afetados.

A deficiencia nutricional de vitamina B12 pode levar o organismo materno à anemia perniciosa. Esta relacionada ainda com a hipertensao arterial mater-nal e com a ocorrencia de parto prematuro. Alem disso, predispoe o feto à hi-povitaminose, que, por sua vez, esta relacionada a falhas no desenvolvimento embriologico (MOLLOY et al., 2008). Pode ainda resultar em um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor do recem-nascido (MOLLOY et al., 2008).

A deficiencia nutricional de ferro tambem e frequentemente associada às dietas vegetarianas. Essa condicao se agrava na gestacao, periodo no qual as necessidades do elemento estao elevadas, especialmente por causa da funcao do organismo materno de prover ferro à placenta e ao feto, e repor as perdas sanguineas que ocorrem durante o parto. A anemia ferropriva materna e fetal e consequente da deficiencia de ferro e pode ocasionar taquicardia materna e fetal, dispneia e palidez cutâneo-mucosa (SEBASTIANI et al., 2019).

A carencia nutricional de zinco esta relacionada ao aborto espontâneo, retardo do crescimento uterino e prematuridade (MORAN et al., 2012). Para evitar a carencia nutricional, e fundamental que a gestante tenha uma dieta diversificada e que inclua alimentos ricos em zinco. O profissional de saude deve se atentar a fatores que reduzem a biodisponibilidade deste elemento, podendo indicar a suplementacao de zinco caso julgue necessario (SILVA et al., 2007).

E fundamental que o iodo esteja presente no organismo materno em quantidades suficientes para a sintese adequada de hormônios tireoidianos. O feto e o recem-nascido necessitam da exposicao a quantidades apropriadas desses hormônios. Caso essa exposicao nao seja adequada, o feto e o recem--nascido terao maiores chances de apresentar deficits cognitivos (LOPES et al., 2012). O iodo e disponibilizado no sal iodado, facilitando assim a ingesta adequada desse elemento por toda a populacao. Dessa forma, gestantes vege-tarianas que consumam sal iodado tem um risco de apresentar carencia de iodo diminuido.

Constata-se, portanto, que as dietas vegetarianas tornam a gestante sus-cetivel a diversas deficiencias nutricionais, incluindo a insuficiencia de vitami-

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na B12, ferro, zinco e iodo. Todos esses elementos sao necessarios para um bom estado geral da gravida e para o adequado desenvolvimento fetal e neo-natal. Dietas vegetarianas e veganas balanceadas podem ser consideradas com seguranca durante a gravidez, desde que as mulheres sejam suplementadas para evitar essas deficiencias potenciais.

Portanto, e necessario que a gestante que opte por dietas vegetarianas realize adequadamente o acompanhamento pre-natal em sua UBS e que seja acompanhada por profissionais de saude qualificados, para que possa receber orientacoes acerca de uma alimentacao balanceada e contemplar a ingesta adequada de nutrientes de que, fisiologicamente, o organismo necessita em doses mais elevadas durante a gestacao.

Picolli (2015) e a American Dietetic Association demonstram que a pra-tica de uma dieta balanceada vegetariana ou vegana durante a gravidez nao apresenta um risco agravado de desenvolver eventos adversos significativos sobre a saude da paciente e o feto ou malformacoes graves no recem-nascido, desde que as mulheres gravidas vegetarianas ou veganas sejam rastreadas e suplementadas, se necessario, com vitamina B12, ferro, zinco e iodo (PICOLLI, 2015). Assim poderao ser evitadas as varias deficiencias nutricionais e suas consequencias.

Dessa forma, dada a responsabilidade dos profissionais da area da saude com as maes durante a gravidez, com o momento do parto e ao longo de todo o acompanhamento pos-natal, e sensato considerar a expansao do atual co-nhecimento por meio da criacao de rastreio sistematico, prevencao e aconse-lhamento nutricional a fim de reduzir as varias patologias resultantes das deficiencias identificadas neste estudo. Outros trabalhos observacionais em larga escala ajudariam a definir as correlacoes entre dietas baseadas em vege-tais, gestacao e saude, e poderiam ser adequados para a elaboracao de estra-tegias de intervencao nutricional.

Vegetarian diet in pregnancy and impact on the maternal and fetal organism: a literature review

Abstract

During pregnancy, nutritional needs are increased due to fetal development. Therefore, it is interesting to question whether dietary restrictions, as in vegetarianism, are safe for pregnant women and fetuses. As an objective,

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we sought to discuss possible impacts of vegetarian diets on pregnancy and investigate whether there are nutritional deficiencies caused by these diets in pregnancy. The study was carried out through bibliographic research in national and international journals indexed in the databases PubMed, Med-line, ScienceDirect, Bireme, Lilacs from 2009 to 2019. The descriptors in science and health used were: vegetarian diet; nutritional deficiencies; vi-tamins and pregnancy. The inclusion criteria for the selection were free articles that explore vegetarian and vegan diets during pregnancy or the complications of these diets in the pregnant woman, the fetus and the new-born. The exclusion criteria were articles that do not address the conse-quences of these diets on pregnancy, but on non-pregnant women and/or adult men; studies addressing the long-term consequences of vegetarian and vegan diets adopted during pregnancy in children and adolescents. 14,006 articles were found with the keywords. After inclusion and exclusion criteria, 12 selected articles were analyzed. The articles show that pregnant vegetarians are more susceptible to nutrient deficiency - mainly vitamin B12, iron, zinc and iodine. These nutritional deficiencies predispose the pregnant woman and the newborn to anemia, which can harm fetal devel-opment. In addition, they are associated with premature birth and problems in neuropsychomotor development. A balanced diet adapted to the new physiological needs of the pregnant woman is essential for the general health of the pregnant woman and adequate fetal development. Often oral supplementation is necessary, as well as monitoring the diet by health pro-fessionals and carrying out an adequate prenatal care, with special attention to the possible nutritional deficiencies that the pregnant woman may have.

Keywords

Vegetarianism. Gestation. Pregnancy. Nutrition. Gestational period.

Dieta vegetariana en el embarazo y el impacto en el organismo materno y fetal: una revisión de la literatura

Resumen

Durante el embarazo, las necesidades nutricionales aumentan debido al desarrollo fetal. Por lo tanto, es interesante preguntarse si las restricciones dieteticas, como en el vegetarianismo, son seguras para las mujeres emba-razadas y los fetos. Como objetivo, buscamos discutir los posibles impactos de las dietas vegetarianas en el embarazo e investigar si hay deficiencias nutricionales causadas por estas dietas en el embarazo. El estudio se reali-

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zo a traves de la investigacion bibliografica en revistas nacionales e inter-nacionales indexadas en las bases de datos PubMed, Medline, ScienceDirect, Bireme, Lilacs de 2009 a 2019. Se utilizaron los descriptores en ciencia y salud: dieta vegetariana; deficiencias nutricionales; vitaminas y embarazo. Los criterios de inclusion para la seleccion fueron articulos gratuitos que exploran las dietas vegetarianas y veganas durante el embarazo o las com-plicaciones de estas dietas en la mujer embarazada, el feto y el recien naci-do. Los criterios de exclusion fueron articulos que no abordan las conse-cuencias de estas dietas en el embarazo, sino en mujeres no embarazadas y / o hombres adultos; Estudios que abordan las consecuencias a largo plazo de las dietas vegetarianas y veganas adoptadas durante el embarazo en niños y adolescentes. Se encontraron 14,006 articulos con las palabras clave. Despues de los criterios de inclusion y exclusion, se analizaron 12 articulos seleccionados. Los articulos muestran que las vegetarianas emba-razadas son mas susceptibles a la deficiencia de nutrientes, principalmente vitamina B12, hierro, zinc y yodo. Estas deficiencias nutricionales predis-ponen a la mujer embarazada y al recien nacido a la anemia, que puede dañar el desarrollo fetal. Ademas, estan asociados con el parto prematuro y una falla en el desarrollo neuropsicomotor. Una dieta equilibrada adap-tada a las nuevas necesidades fisiologicas de la mujer embarazada es esen-cial para el buen estado general de la mujer embarazada y el desarrollo fetal adecuado. A menudo es necesaria la suplementacion oral, asi como el control de la dieta por parte de profesionales de la salud y la realizacion de una atencion prenatal adecuada, con especial atencion a las posibles defi-ciencias nutricionales que pueda tener la mujer embarazada.

Palabras clave

Vegetarianismo. Gestacion. Embarazo. Nutricion. Periodo de gestacion.

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