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JORNALISMO E TEMPORALIDADE12
Do ideal modernista ao Manifesto dos Jornalistas Livres
JOURNALISM AND TEMPORALITY From the modernist ideal to the Manifesto dos Jornalistas Livres
Dayane Barretos3
RESUMO
O presente artigo discorre sobre as possibilidades para a prática jornalística na contemporaneidade. Por meio de uma articulação entre o jornalismo e o tempo em que este se insere, a proposta é refletir sobre o modo como os conflitos e as mudanças vivenciadas na sociedade afetaram essa atividade de forma incisiva, o que acabou por acarretar uma padronização técnica e estética do jornalismo. Uma vez que esse modelo adotado pelas grandes empresas jornalísticas provocou diversas críticas à prática ao longo do tempo, buscou-se problematizar essas críticas e repensar as práticas jornalísticas a partir de iniciativas encontradas no cenário comunicacional digital que propõem uma subversão do jornalismo exercido nos grandes meios de comunicação, como é o caso da rede Jornalistas Livres, projeto que deu origem ao Manifesto dos Jornalistas Livres, que é destaque neste trabalho.
PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo. Temporalidade. Contemporâneo. Manifesto Jornalistas Livres.
ABSTRACT
This article discourses about the possibilities for journalistic practice in contemporary times. Through an articulation between the journalism and the time in which it operates, the propose is reflect about how the conflict and the changes lived in the society affect this activity incisively, which lead to a technical and aesthetics standardization journalism. Once this model adopted by large media companies caused several criticisms of the practice over time, it sought to discuss these criticism and rethinking journalistic practices based on initiatives found in the digital communication scenario they propose a subversion of journalism exercised in the major media, such as the Rede Jornalistas Livres, a project that gave rise to Manifesto dos Jornalistas Livres, which is featured in this work.
KEY WORDS: Journalism. Temporality. Contemporary. Manifesto Jornalistas Livres.
1 Trabalho apresentado no GT Processos sociais e práticas comunicativas.
2 A autora agradece a CAPES pelo apoio financeiro que viabilizou o projeto que possibilitou este artigo.
3Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP); [email protected].
VIII Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Minas Geraishttps://ecomig2015.wordpress.com/ | [email protected]
1. Apontamentos iniciais
A mídia ocupa hoje um papel central no cotidiano dos indivíduos. Os produtos
midiáticos compõem o presente e ajudam a construir a memória do passado, conforme
argumenta Leal (2006, p. 19). “Os fragmentos que compõem o tecido da memória
frequentemente advém dos diversos produtos mediáticos. A sua recuperação, pela
mobilização da memória, produz narrativas que se caracterizam exatamente pela colagem
desses elementos”. O movimento é, portanto, dialético: a temporalidade afeta a produção
midiática, e esta última provoca uma ruptura na temporalidade vivenciada pelos indivíduos,
afetando diretamente o processo de apreensão do vivido e ajudando a compor a memória.
As lembranças de infância permeadas por produtos midiáticos infantis ou as reminiscências
de coberturas de grandes acontecimentos são exemplos de como a experiência do indivíduo
contemporâneo está calcada na apropriação da mídia do que é importante saber e lembrar-
se. Em um processo semelhante, durante muito tempo, o jornalismo das grandes empresas
jornalísticas ditou o que se deveria apreender sobre o mundo e que, mais tarde, faria parte
da memória sobre aquele tempo.
Devido a esse caráter, a prática jornalística, e mais especificamente a produção de
informação, sempre sofreu duras críticas de intelectuais, como Walter Benjamin (1994) e
Deleuze e Guattari (2011). Neste trabalho a intenção é resgatar essas críticas relacionando-
as com os processos que deram origem a esse modelo de jornalismo e ir além: trazer à tona
as reflexões que nascem no seio da tensão entre esse modelo de produção jornalística
arraigado nos ideais burgueses da modernidade e as possibilidades que o desenvolvimento
de novas tecnologias trouxe para o jornalismo contemporâneo.
O objetivo deste trabalho é abordar o jornalismo enquanto uma prática que acaba
por refletir a temporalidade em que se insere, suas emergências e paradigmas. Para tanto
foram selecionados como recorte dois momentos em especial: a fase industrial modernista e
as possibilidades contemporâneas para o jornalismo. Se a tensão está na ordem do dia, é no
seio do conflito entre o ideal de informar e a crise na credibilidade que se abrem novas
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possibilidades para a prática jornalística. É esse processo que visa repensar a prática o
ponto de partida aqui.
Para Medina (2006, p. 69) “comunhão, a plenitude da comunicação, ocorre na
tríplice tessitura da ética, técnica e estética”. É essa a essência do jornalismo com que a
atividade deve restabelecer o vínculo. Problematizar essa tríade – ética, técnica e estética –
no âmbito da prática jornalística é um exercício que deve ser efetuado tanto pelos
profissionais da área quanto pelos seus estudiosos. Esse texto reúne apontamentos que tem
como objetivo abarcar essas questões a partir das propostas para um novo jornalismo
possível que pode ser observado em iniciativas que emergem no cenário digital, como é o
caso da Ponte Jornalismo,4 da Agência Pública,5 da Mídia Ninja6 e da rede Jornalistas
Livres.7 O intuito é problematizar o que esses projetos trazem de novo para a reflexão
acerca do jornalismo atual ao proporem uma desvinculação da lógica de mercado das
empresas jornalísticas tradicionais e buscarem uma maior independência. Nesse esteio,
buscou-se resgatar discussões que promoveram novos modos de fazer jornalismo, como é o
caso do Jornalismo Alternativo e do movimento do New Journalism.
Para os fins dessa discussão foram selecionados cinco trechos do texto do Manifesto
dos Jornalistas Livres,8 lançado em abril de 2015 pela Rede Jornalistas Livres, sendo que o
texto completo deste manifesto consiste em 19 itens que reúnem as diretrizes que norteiam
as produções e que impulsionaram o surgimento do projeto. Procurou-se efetuar uma leitura
crítica dos trechos de forma articulada aos conceitos explorados no referencial teórico a fim
de problematizar as propostas para o jornalismo contemporâneo que o documento traz.
2. Jornalismo e Temporalidade
Ao jornalismo é dada a função de abordar um espaço-tempo bem definido: o presente.
Ainda que se aborde um assunto relacionado ao passado é sempre a partir da óptica do hoje, 4 Ver: http://ponte.org/ Acesso em 20 ago. 2015.5 Ver: http://apublica.org/ Acesso em 20 ago. 2015.6 Ver: https://ninja.oximity.com/ Acesso em 20 ago. 2015.7 Ver: https://medium.com/jornalistas-livres Acesso em 17 ago. 2015.8 Ver: https://medium.com/jornalistas-livres/n%C3%B3s-somos-s-jornalistaslivres-651d193d664 Acesso em 17 ago. 2015.
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nesse sentido a temporalidade serve como parâmetro. Assim, por estar imbricada no tempo
presente, a prática jornalística se reinventa na medida em que a própria sociedade se
reinventa, a partir das mudanças estruturais, ideológicas e nos processos políticos e
econômicos. Dessa forma, abraçado pela modernidade do século XX e impulsionado pelo
desenvolvimento industrial, o jornalismo abandona seu caráter artesanal, deixa de priorizar
a conscientização política e define a sua função social: informar.
O jornalismo, no século XX, incorpora o ideal modernista: construir o progresso, a qualquer custo, pela via da ‘ordem’. Ordem que, no que se refere à produção jornalística, significou normatização e compactação dos textos. (...) era o caráter informativo que se adequava à frenética corrida contra o tempo (RESENDE, 1999, p. 39).
Atravessada pelo ideal cientificista e positivista, conforme descreve Resende
(1999), a prática jornalística padroniza-se. Dados e números são valorizados e quaisquer
marcas de enunciação são apagadas de forma a garantir uma pretensa objetividade e
imparcialidade. Até hoje, essas características do texto jornalístico aliadas a um certo
modus operandi da profissão – ouvir os dois lados, usar pelo menos três fontes, entre outros
- tornaram-se sinônimo do fazer jornalístico. Nas palavras de Leal (2013):
Com isso, é como se essas estratégias dissessem menos de um modo específico do fazer jornalístico, adotado em certo momento por um grupo de organizações e jornalistas, e passassem a caracterizar o jornalismo, de modo geral. De descrições acerca de como o jornalismo é feito, se transformam em prescrições de como ele deve ser (LEAL, 2013, p. 25-26, grifo do autor).
Essa homogeneização do modo como a atividade é vista se torna problemática na
medida em que ao criticar-se esse modo específico de fazer jornalístico, praticado pelas
grandes empresas de jornalismo que possuem uma maior difusão e, portanto, maior acesso,
essa crítica desloca-se para o jornalismo como um todo.
É essa prática tecnicista que explora o discurso da objetividade e da imparcialidade
para garantir a credibilidade do jornalismo que estudiosos de outras áreas passam a criticar,
como os filósofos Deleuze e Guattari (1995, p. 11). “Os jornais, as notícias, procedem por
redundância, pelo fato de nos dizerem o que é ‘necessário’ pensar, reter, esperar, etc”. Essa
redundância é característica de textos fechados, que não dão margem para a interpretação.
É como se a notícia, da maneira como é construída, conseguisse englobar um todo que é o
que se deve compreender sobre determinado fato. Assim, a linguagem jornalística não seria VIII Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Minas Gerais
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uma forma de comunicação, uma vez que o comunicar pressupõe um compartilhamento e,
na visão dos autores, o processo aqui seria de transmissão. “A linguagem [jornalística] não
é informativa nem comunicativa, não é comunicação de informação, mas – o que é bastante
diferente – transmissão de palavras de ordem” (DELEUZE; GUATTARI, 2011, p.11).
Uma crítica semelhante é feita por Walter Benjamin (1994, p. 203). “Cada manhã
recebemos notícias de todo o mundo. E, no entanto, somos pobres em histórias
surpreendentes. A razão é que os fatos já nos chegam acompanhados de explicações”. A
impossibilidade de uma outra interpretação e a necessidade de verificação imediata, que
não dá tempo para possíveis desdobramentos, reduziria a complexidade dos fatos a um
enunciado simplista.
É possível perceber que o que esses três autores criticam é uma espécie de
paradigma de transmissão de informação a que o discurso jornalístico permaneceu atrelado
desde que ganhou ritmo industrial e ampliou sua disseminação. A impossibilidade de
interpretação por parte do leitor, que deve apenas compreender o que está posto, inquietava
pelo caráter reducionista.
O pessimismo de Benjamin (1994) no ensaio “O Narrador”9 com relação ao
discurso informativo é compreensível, uma vez que o autor opõe essa modalidade textual
emergente às narrativas tradicionais orais (LEAL, 2006). O cenário era realmente
perturbador, o clima pós-guerra ainda perdurava, as cidades estavam se reconstruindo e o
tempo acelerava-se. O espaço para o devaneio, para os hábitos do indivíduo solene e
tradicional praticamente não existia no contexto industrial dos centros urbanos. Para
Benjamin (1994) a experiência comunicável se esvaía. “Com a guerra mundial tornou-se
manifesto um processo que continua até hoje. No final da guerra, observou-se que os
combatentes voltavam mudos do campo de batalha não mais ricos, e sim mais pobres em
experiência comunicável” (BENJAMIN, 1994, p. 198). Se a experiência comunicável
necessita de um compartilhamento para se efetivar enquanto tal, o discurso informativo
seria uma via de mão única, se encerrando em si mesmo.
9 O ensaio foi escrito em 1936.VIII Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Minas Gerais
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A sociedade em transformação exigia uma ferramenta ágil para fazer circular a
informação, as grandes tiragens, a facilidade de aquisição e a periodicidade garantiam que o
indivíduo tivesse acesso a tudo aquilo que deveria saber sobre o mundo a céu redor.
Naquele momento a imprensa se consolidava enquanto um importante instrumento para a
burguesia, consequentemente, o jornalismo vincula-se de uma vez por todas ao mercado e
aos interesses burgueses. Em consonância com esse processo de legitimação, uma pretensa
racionalidade é reforçada pela prática garantindo a credibilidade das informações.
Conforme argumenta Sodré (2009):
Emergindo historicamente na passagem do Estado absoluto ao Estado de direito, como porta-voz dos direitos (civis) que inauguram a modernidade da cidadania, a imprensa traz consigo a novidade ideológica da liberdade de expressão, mas sem abandonar por inteiro a garantia de alguns velhos recursos mitológicos, a exemplo da construção de uma narrativa sobre si mesma como entidade mítica que administra a verdade dos fatos sociais, e mais, a retórica encantatória na narração fragmentária sobre a atualidade. (SODRÉ, 2009, p.12).
Dessa forma, a construção de um discurso sobre si mesma contribuiu para
padronizar a prática jornalística, tentou-se materializar ideais como imparcialidade e
objetividade no modelo de texto jornalístico tradicional, para que fosse assim reconhecido
enquanto tal. Uma vez legitimada, a imprensa passou a exercer uma forte influência nas
sociedades modernas e o jornalismo ganhou o ritmo das fábricas e dos centros urbanos. As
notícias quentes são as que se ligam ao imediato. “A informação só tem valor no momento
em que é nova. Ela vive nesse momento, precisa entregar-se inteiramente a ele e sem perda
de tempo tem que se explicar nele” (BENJAMIN, 1994, p. 204). A aceleração dos tempos
modernos transforma a experiência duradoura em séries de estímulos a que a sociedade é
submetida cotidianamente, dessa forma as notícias cumprem bem o papel de transmitir a
informação necessária de forma rápida, sem brechas para outros entendimentos e
interpretações. Hoje, esse fetiche da velocidade (MORETZSOHN, 2002) é potencializado
pelo jornalismo em tempo real da web e pelas coberturas ao vivo.
A psicanalista Maria Rita Kehl (2009) retoma e atualiza as ideias de Walter
Benjamin ao tratar da aceleração que se vive na contemporaneidade. “A temporalidade
contemporânea, frequentemente vivida como pura pressa, atropela a duração necessária que
caracteriza o momento de compreender, a qual não se define pela marcação abstrata dos
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relógios” (KEHL, 2009, p. 119). A autora resgata a realidade da Europa de Benjamin de
modo a construir uma reflexão acerca da desvalorização da experiência, diagnosticada pelo
autor naquele dado momento e que, de certa forma, perdura até os dias de hoje.
Na vivência cotidiana dos sobreviventes, habitantes das cidades devastadas e reconstruídas, era necessário impedir as invasões do psiquismo pelas reminiscências espontâneas (fragmentos vivos do passado no presente), por pelo menos duas razões: em primeiro lugar, porque a memória de tantas referências destruídas tornaria a vida insuportável; em segundo, para manter a atenção consciente trabalhando a todo vapor a fim de promover as reações adequadas e imediatas aos estímulos e solicitações do novo mundo (KEHL, 2009, p.156, grifo da autora).
Ainda que o interesse de Kehl (2009) ao retomar as discussões de Benjamin (1994)
seja abordar questões caras à psicanálise, a autora lança luz a inquietações da própria
Comunicação e dos estudiosos do jornalismo. Uma prática que ganhou força em meio a
esse contexto acaba por refletir alguns desses paradigmas, como a aceleração que
empobrece a experiência comunicável. Resta ao jornalismo, portanto, questionar seus
formatos, dogmas e preceitos característicos a fim de resgatar a sua potência
transformadora.
3. Um novo horizonte de possibilidades
É necessário problematizar as considerações de Benjamin (1994) a respeito do
esvaziamento da experiência e do desaparecimento do narrador em busca de possibilidades
para a comunicação na contemporaneidade que superem as limitações apresentadas pelo
autor. Ainda que a narrativa jornalística esteja marcada por restrições da própria dinâmica
da profissão – como os dead lines muitas vezes apertados, a disputa por espaço com os
anúncios e a desvalorização do profissional – ainda existem iniciativas que procuram
movimentar vozes e processos, bem como propor novas perspectivas para abordar a
realidade. Para Leal (2006, p. 20) “contrário e consequente ao que pensou Walter Benjamin
se ‘a sabedoria – o lado épico da verdade’ se desfaz, levando consigo o narrador da
experiência forte, por outro, as narrativas conservam-se como formas capazes de articular o
estar-num-mundo aberto, em fluxo, tecido no entremear de imagens, falares, tradições,
saberes”. A narrativa sobrevive, portanto, na sua missão de articular os saberes. Nessa VIII Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Minas Gerais
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linha, mostra-se fundamental ampliar o olhar e ver o entorno da narrativa jornalística, o seio
em que ela se produz e refletir sobre as possibilidade que daí advém..
Por ser uma atividade diretamente ligada ao público, a prática jornalística é alvo
constante de crítica, seja pelos próprios profissionais que atuam na área, pela academia ou
pela sociedade em geral.10 Desse modo, o jornalismo se modificou desde sua origem até os
dias de hoje, tanto estruturalmente, com o desenvolvimento de novas tecnologias, como no
que diz respeito ao formato, às narrativas ou à uma nova proposta para o fazer jornalístico.
O movimento do New Journalism é um exemplo de reflexão sobre a narrativa e a
linguagem jornalísticas, já o Jornalismo Alternativo diz respeito a uma nova concepção
para a prática. Ambos demonstram uma preocupação com os rumos da atividade e
levantaram questões que hoje são abordadas pelas novas iniciativas que nascem no meio
digital, já citadas neste texto. Esses dois momentos serão sucintamente trabalhados a seguir
para que seja possível problematizar os seus preceitos nos projetos de jornalismo
contemporâneos.
No que se refere à linguagem, o movimento do New Journalism se configurou
enquanto um marco na história do jornalismo. A proposta teve como principais expoentes
os jornalistas Tom Wolfe, Gay, Talese, Normal Mailer e Truman Capote e se caracterizava
por uma aproximação da linguagem literária. Para os jovens jornalistas da década de 60 “a
notícia mais parcial era justamente aquela que se apresentava sob o formato objetivo, na
medida em que, desprovida de interpretações e questionamentos, meramente reproduzia a
visão da realidade transmitida pelos detentores do poder” (DÜREN, 2014, p. 73). Esse
diálogo entre a narrativa literária e a jornalística não ocorre de forma indiscriminada. As
descrições pormenorizadas e por vezes subjetivas, a inserção de diálogos e o relato a partir
de um narrador que se mostra enquanto testemunha são explorados de modo que se
mantenha a referencialidade com o real. Assim, tal aproximação se dá de forma a respeitar
os limites da não-ficção, mostrando-se mais como um recurso narrativo do que como um
modus operandi, ou seja, uma narrativa jornalística que explore recursos da literatura, como
a descrição pormenorizada ou o uso de metáforas, não se livra da obrigatoriedade de uma
apuração cuidadosa.
10 Não afirmo aqui que essa crítica é construtiva ou transformadora, apenas que ela ocorre. VIII Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Minas Gerais
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Já o Jornalismo Alternativo é um exemplo pertinente no que concerne a uma nova
proposta para a atividade. Para Garcia (2009, p.26) a imprensa alternativa “toca a inclusão
de vozes esquecidas e/ou impedidas de fala perante os desafios socioculturais e políticos
em combate ao sistema hegemônico”. Em regimes ditatoriais o Jornalismo Alternativo
desponta como voz dissonante, enquanto a liberdade de expressão é cerceada na maioria
dos meios de comunicação tradicional. Já nos governos democráticos, o jornalismo
alternativo conserva o seu papel de trazer à tona vozes silenciadas, mas, nesse caso, aquelas
que ferem interesses econômicos de que dependem as grandes empresas jornalísticas.
As características desses dois movimentos trazem à tona tensões existentes nas
reflexões sobre o jornalismo: a perspectiva autoral do jornalista enquanto narrador versus o
apagamento das marcas da enunciação; objetividade versus subjetividade; cerceamentos
políticos e econômicos versus o direito à informação; os interesses do mercado versus o
interesse público, entre outros. Esses mesmos conflitos aparecem nas propostas abordadas
nesse trabalho e, mais diretamente no Manifesto dos Jornalistas Livres que traz os
parâmetros para a produção da Rede Jornalistas Livres e ao mesmo tempo desenvolve uma
crítica aos preceitos do jornalismo tradicional atual.
O desenvolvimento da web trouxe novas e inéditas possibilidades para a produção
jornalística. No ambiente digital novas ferramentas possibilitaram novos formatos e,
sobretudo, a mescla de diversos formatos já conhecidos, como vídeo, foto, áudio e texto em
uma mesma reportagem. Ainda que na época do surgimento da internet alguns fatalistas
pregassem o fim do jornalismo, o que ocorreu foi o inverso: iniciativas de produção
jornalística independente, projetos ligados aos movimentos sociais e propostas que se
baseiam no livre compartilhamento encontraram o seu lugar na web.
Na web, os movimentos sociais têm voz através da mídia alternativa. Com a crença de que os meios de comunicação tradicionais e hegemônicos contribuem para o recrudescimento dos problemas sociais causados pela globalização, difundindo e defendendo as ideias neoliberais e o discurso da inevitabilidade do fenômeno, várias formas de mídia alternativa surgiram no ciberespaço, algumas seguindo o modelo das agências de notícias e inspiradas pelos movimentos antiglobalização, como o Fórum Social Mundial. Assim, os movimentos sociais se articulam, apesar de suas diversidades e dispersão pelo planeta, como o objetivo comum de lutar ou defender valores considerados universais, como os direitos humanos e a justiça social (GÓES, 2007, p. 7).
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O baixo custo de manutenção, a possibilidade de uma narrativa que agrega diversos
formatos, uma infinidade de espaço e uma fácil e rápida disseminação, tornaram possível
que diversos projetos de jornalismo independente saíssem do papel e ganhassem o mundo.
Como é o caso de iniciativas como a rede Jornalistas Livres, a Ponte Jornalismo, a Mídia
Ninja e a Agência Pública, que despontam no cenário comunicacional digital e promovem
uma crítica aos moldes convencionais do jornalismo exercido nos grandes meios de
comunicação ao demonstrar que um novo formato de jornalismo pautado pelos Direitos
Humanos é possível.
Segundo o seu próprio site, a Ponte se configura enquanto um “canal de
informações sobre Segurança Pública, Justiça e Direitos Humanos que surgiu da convicção
de um grupo de jornalistas de que jornalismo de qualidade sob o prisma dos direitos
humanos é capaz de ajudar na construção de um mundo mais justo.”11 A iniciativa foi
fundada pelos jornalistas André Caramante, Bruno Paes Manso, Caio Palazzo, Claudia
Belfort, Fausto Salvadori Filho, Joana Brasileiro, Laura Capriglione, Luis Adorno, Maria
Carolina Trevisan, Marina Amaral, Milton Bellintani, Natalia Viana, Paulo Eduardo Dias,
Tatiana Merlino, Rafael Bonifácio e William Cardoso.
O projeto conta com o apoio institucional da Agência Pública, outra proposta que se
fixou na web, explorando o formato de agência, e produz “reportagens de fôlego pautadas
pelo interesse público, sobre as grandes questões do país do ponto de vista da população –
visando ao fortalecimento do direito à informação, à qualificação do debate democrático e à
promoção dos direitos humanos”.12 As produções podem ser replicadas livremente desde
que sejam dados os devidos créditos. A agência foi fundada pelas jornalistas Natália Viana
e Marina Amaral, não possui fins lucrativos e é financiada por fundações como a Ford
Foundation e a Open Society Foundation, além de contar com financiamentos específicos
para algumas séries de reportagens e por meio do crowdfunding13.
Já a proposta da Mídia Ninja e da rede Jornalistas Livres se baseia em uma rede de
comunicadores e coletivos que se articulam para a produção de conteúdo jornalístico. 11 Ver: http://ponte.org/contact/ acesso em 20 ago. 2015.
12 Ver: http://apublica.org/quem-somos/#sobre aceso em 20 ago. 2015
13 Modelo de financiamento coletivo baseado na doação direta dos próprios leitores.VIII Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Minas Gerais
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Utilizam a internet para distribuir as suas produções e tem como proposta o livre
compartilhamento. No caso da rede Jornalistas Livres não há uma diretoria definida, todos
os participantes produzem e disponibilizam o conteúdo no site.
A luta pelos Direitos Humanos e pela Democracia, citados por Góes (2007), são
pilares que norteiam a produção dessas iniciativas. Salvo as especificidades de cada um
desses projetos, eles aglutinam algumas discussões sobre os rumos do jornalismo na
atualidade, como a crítica à produção jornalística dos grandes veículos de comunicação e a
invisibilidade de questões caras ao debate democrático e à promoção de direitos humanos
na mídia tradicional.
Uma das características da imprensa alternativa, que é encontrada em iniciativas
como essa, é trazer à tona vozes e processos silenciados na imprensa tradicional, seja por
cerceamentos políticos ou econômicos, conforme caracterizado anteriormente. Como é
colocado de forma explícita no Manifesto: “nos opomos aos estratagemas da tradicional
indústria jornalística (multi)nacional, que, antidemocrática por natureza, despreza o
espírito jornalístico em favor de mal-disfarçados interesses empresariais e ideológicos,
comerciais e privados, corporativos e corporativistas” (MANIFESTO DOS
JORNALISTAS LIVRES, 2015, documento eletrônico).
A abordagem proposta pela rede tem foco no contexto humano em detrimento de
dados quantitativos, o que subverte os preceitos do jornalismo norte-americano do século
XX que a imprensa brasileira importou como modelo, abordados na primeira parte deste
texto.. A primazia pelos dados não é levada em conta aqui.
A matéria-prima de nossas reportagens é HUMANA. Almejamos um jornalismo humano, humanizado e humanizador, ancorado principalmente em personagens da vida real (não só em estatísticas), na frondosa diversidade da vida dentro da floresta (não à distância robocop das tomadas aéreas panorâmicas), na fortuna das histórias (não dos cifrões). (MANIFESTO DOS JORNALISTAS LIVRES, 2015, documento eletrônico).
A independência dos jornalistas e a luta pela democratização da informação
também são ressaltadas no manifesto. Percebe-se uma crítica às empresas jornalísticas e às
influências que os interesses dos anunciantes exercem sobre o conteúdo jornalístico.
Lutamos pela democratização da informação, da comunicação e da vida em sociedade, contra a ditadura de pensamento único instalada dentro das redações
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convencionais. Agimos por espírito público, jamais por interesses privados. Produzimos reportagem, crônica, análise, crítica, nunca publicidade ou lobby privado. (MANIFESTO DOS JORNALISTAS LIVRES, 2015, documento eletrônico)
É possível construir um diálogo entre essa concepção acerca de uma completa
independência com relação aos interesses privados, proposta pela rede Jornalistas Livres,
e uma proposição de Muniz Sodré (2009) sobre a prática jornalística na imprensa
tradicional e os interesses em jogo. A relação é de oposição.
Uma vez ultrapassada a fase artesanal e publicista, a imprensa passou a oscilar continuamente entre os seus interesses empresariais – dificilmente isentos das tentações da manipulação e da corrupção política – e os fatos relativos à realidade sociopolítica de seu público, sempre cercada pela mística da defesa incondicional dos direitos da cidade regional ou mundial. (SODRÉ, 2009, p.12-13).
Outra crítica presente no manifesto diz respeito ao apagamento das marcas autorais.
Visando o desaparecimento do sujeito por trás da notícia, um dos preceitos básicos do texto
jornalístico tradicional é a impessoalidade. Ao apagar o sujeito que narra é como se o fato
falasse por si só. Indo pelo caminho oposto, o manifesto propõe uma não anulação do
jornalista no texto e na fotografia. Admitindo uma subjetividade que seria inerente a
qualquer produção.
Não observamos os fatos como se estivéssemos deles distantes e alienad@s. Sabemos que a mídia, o jornalismo e @s jornalistas interferem diretamente naquilo que documentamos, reportamos e interpretamos. Não nos anulamos, não nos apagamos das fotografias, não nos escondemos atrás dos fatos para manipulá-los. Nos assumimos como participantes ativ@s dos fatos que reportamos. Participamos da realidade como cidadãos e cidadãs movid@s pelo interesse coletivo: transparentes, franc@s, abert@s, democrátic@s. (MANIFESTO DOS JORNALISTAS LIVRES, 2015, documento eletrônico).
Por fim, o último trecho em destaque para essa discussão coloca a imparcialidade
em xeque. Para os Jornalistas Livres os ideais do jornalista que narra determinado fato não
devem ser negligenciados a fim de uma aparente neutralidade. Deve-se admitir que há um
lado e deixá-lo claro para o leitor, assim como sugere Barbosa (2011, p.10). “Se os textos
são ideológicos, ou seja, são resultados da disputa em torno da produção do sentido, da
seleção de um ponto de vista que exclui outro, a abordagem (angulação, ponto de vista)
escolhida deve ficar evidente para quem recebe aquela informação”.
Temos lado (cada uma de nós tem seus próprios lados). Individualmente, não somos neutr@s, isent@s, apartidári@s, branc@s ou nul@s. Nossa pluralidade é
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resultado do agrupamento de todos nós, não da ruptura interna de nossos corpos e mentes individuais. (MANIFESTO DOS JORNALISTAS LIVRES, 2015, documento eletrônico).
A ideia neste artigo não é comprovar se a rede Jornalistas Livres utiliza o
manifesto de forma efetiva nas suas produções, mas tensionar as proposições presentes no
documento. É possível perceber que diversos aspectos apresentados no manifesto também
estão presentes nos movimentos aqui citados que buscaram mudar os rumos da prática
jornalística ao longo do tempo. No que diz respeito ao New Journalism, questões como o
foco nos sujeitos envolvidos e o não apagamento das marcas autorais, retornam ao debate
pelo manifesto. Já sobre os ideais do Jornalismo Alternativo presentes nesse documento
pode-se citar a oposição ao caráter mercadológico da produção jornalística das grandes
empresas de comunicação e a luta pela democratização da informação.
As propostas da rede e as características citadas pelas quatro iniciativas como
pilares da sua produção demonstram que há jornalistas envolvidos e preocupados com os
rumos da prática no país, buscando saídas. Além disso, contribuem para fomentar
discussões éticas e estéticas acerca do jornalismo contemporâneo.
4. Considerações Finais
Segundo Kehl (2009, p. 162), “o sentido e o saber extraídos de uma vivência só
adquirem o estatuto de experiência no momento em que aquele que os viveu consegue
compartilhá-los com alguém” (KEHL, 2009, p.162). Partindo dessa premissa que vincula a
constituição da experiência ao ato de compartilhá-la, a discussão tecida no presente artigo
deixa ao sujeito que o lê e àquele que o escreveu a seguinte questão: é possível exercer um
jornalismo que resgate a experiência e a comunicação entre sujeitos no mundo
contemporâneo da efemeridade e da fragmentação?
O jornalismo enquanto prática intimamente ligada ao tempo presente e à realidade
tende a dizer muito acerca dos conflitos vividos na sociedade. Ao se propor tratar da
realidade no momento em que ela se expressa, o jornalismo provoca uma ruptura, dá
sentido a esse tempo-espaço e se apropria dele enquanto sua matéria prima. A essa
narrativa de um real imbricado em uma temporalidade fugidia, como é o caso do presente,
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é dada uma importante tarefa, nas palavras de Leal (2013, p.28), “narrar é estabelecer um
modo de compreensão do mundo, de configurar experiências e realidades, de comunicar-se
com o outro”. É carregando os traços da temporalidade de que trata e construir significação
sobre ela que a atividade jornalística se renova. Propostas como o New Journalism, o
Jornalismo Alternativo e o Manifesto dos Jornalistas Livres tentam dar conta das
problemáticas que afetam o jornalismo em cada época, reflexo de dada temporalidade.
As novas possibilidades trazidas pelo cenário digital, aliadas a uma postura crítica
adotada por jornalistas que buscam olhar para a atividade a partir das suas potencialidades,
abrem um novo horizonte de possibilidades. Ao tentar se desvincular da lógica de mercado
buscando novas formas de financiamento e condições de produção mais baratas, há uma
mudança significativa na dinâmica da prática jornalística, propiciando uma maior
independência na produção de conteúdo. Além disso, tensionar o modelo jornalístico
tradicional a partir de propostas consistentes de um novo modo de produzir conteúdo
jornalístico, de narrar e, assim, compartilhar a realidade, é um importante ponto de partida
para repensar o jornalismo atual.
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