Upload
votu
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA
DOUTORADO EM PSICOBIOLOGIA
Viviane da Silva Medeiros
COMPORTAMENTO COMO INDICADOR DE SAÚDE EM CAMARÕES
INFECTADOS POR Vibrio parahaemolyticus
Natal/RN
2016
Viviane da Silva Medeiros
COMPORTAMENTO COMO INDICADOR DE SAÚDE EM CAMARÕES
INFECTADOS POR Vibrio parahaemolyticus
Tese apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Psicobiologia, Centro de
Biociências da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito parcial para a
obtenção do título de Doutora em
Psicobiologia.
Área de concentração: Estudos do
Comportamento.
Orientadora: Profa. Dra. Maria de Fátima
Arruda.
Co-orientador: Prof. Dr. Pedro Carlos da C.
Martins.
Natal/RN
2016
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do
Centro de Biociências
Medeiros, Viviane da Silva.
Comportamento como indicador de saúde em camarões infectados
por Vibrio parahaemolyticus / Viviane da Silva Medeiros. – Natal,
RN, 2016.
68 f.: il.
Orientadora: Profa. Dra. Maria de Fátima Arruda.
Coorientador: Prof. Dr. Pedro Carlos da Cunha Martins.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.
1. Bem estar animal. – Tese. 2. Isopatia. – Tese. 3. Sanidade. –
Tese. I. 4. Vibriose. – Tese. I. Arruda, Maria de Fátima. II. Martins,
Pedro Carlos da Cunha. III. Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. IV. Título.
RN/UF/BSE-CB CDU
591.5
Viviane da Silva Medeiros
COMPORTAMENTO COMO INDICADOR DE SAÚDE EM CAMARÕES
INFECTADOS POR Vibrio parahaemolyticus
Tese apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Psicobiologia do Centro de
Biociências da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito parcial para a
obtenção do título de Doutora em
Psicobiologia, e aprovada pela seguinte banca
examinadora:
Professora Doutora Maria de Fátima Arruda – UFRN
Presidente
Professora Doutora Cibele Soares Pontes – UFRN
Examinador Interno
Professora Doutora Emiko Shinosaki Mendes – UFRPE
Examinadora Externa
Professor Doutor José Cuauhtémoc Ibarra Gámez – ITSON, MX
Examinador Externo
Professor Doutor José Ticiano Arruda Ximenes de Lima – UFERSA
Examinador Externo
Natal/RN
13/11/2015
Todo caminho da gente é resvaloso.
Mas também, cair não prejudica demais
A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!...
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim:
Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
Sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
Guimarães Rosa
AGRADECIMENTOS
Quando a Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas nos criou, criou-nos
para sermos felizes. No entanto, creio que ele não pretendia que houvesse doutorado, isso com
certeza é criação humana! Brincadeira! E por ser nossa criação, precisamos da ajuda de
nossos pares para dar cabo à tão árdua tarefa. Por isso, contei primeiro com a família, estes
amados e loucos que me apoiam e acreditam em mim: Mãe Lenita e Pai Claudionor (amor
presente), Laércio (amor de sempre → para sempre), filhos queridos e amados (Taís,
Carolina, Rafael, Clarice e Gabriel), netos feitos de ternura (Pedro, Lavínia, Miguel e Ítalo),
genros e nora para crescer o amor na família (Jorge Augusto, Paulo Dário, Raphael e
Maynnara), Edna Silva (minha Beth querida), Kácia, Claudinha e todos os Medeiros (partindo
dos meus amores Lenildo e Lêda), Silva, Rocha e Trindade. A todos vocês, agradeço!
Fátima Arruda, você é especial, admiro muito a sua pessoa. Obrigada por tudo, do
pessoal ao profissional você é minha orientadora! Teresa Mota, amiga de muitos anos, até
comadre virou! Arrilton, Fívia, Regina Silva, Alessandra, Wall e Alícia, vocês me ajudaram
muito além da academia.
Professora Emiko, meu porto seguro na UFRPE, sou muito grata por tudo. E, claro,
agradeço a todos da UFRPE: Fernando Leandro, Alexandre Duarte, Carol Notaro, Rodrigo,
João, Juliana (CE) e Juliana (PE), Artur e todos os bolsistas e funcionários, vocês me
ensinaram muito.
Ao professor Alberto Nunes e toda equipe do LABOMAR, pela doação dos sujeitos
experimentais.
Pedro Carlos, agradecida pela enorme contribuição e confiança, seu laboratório ficou
comigo por dois anos e consegui aprender sobre o que eu nem imaginava saber: sanidade na
carcinicultura. Tamiris (braço direito), Emanuelly, Cajá, Isabelle, Emilly, João Henrique,
Jonas Leite, João Pedro, Rony Jeijo, Hortência, todos os bolsistas do CSAq, obrigada.
Obrigada Seixas e todos os professores e funcionários do DOL, vocês me ajudaram, e muito!
Pessoal da Microbiologia da UFRN, técnicas e professoras, obrigada por me
socorrerem para os testes de Gram, para a escala Mc Farland. Agradeço às Professoras
Daniele, Nayssandra, Cadu Moura, amigos para sempre!
Professor Idivaldo e Ilany, da Officinalis, agradeço pelo trabalho e estudo, sempre me
orientando nas dúvidas, doando material, emprestando livros, fazendo medicação, muito
agradecida!
Minha querida Daniele Bezerra, uma galega muito amiga, colega de doutorado, colega
muitos meses na FACEX e que conto todas as horas. Sem palavras para lhe dizer o quanto
você é importante em minha vida! Priscila, Dina e Fabiana Gonçalves, esta, colega de
mestrado e doutorado, agora colega da UFRN, obrigada por seu semblante de paz todos os
momentos.
Escola Agrícola de Jundiaí – aqui eu vejo a escola em que trabalho como um núcleo
de amor, não é para ser piegas não, lá somos assim. A patente não importa, quem limpa o
chão, quem carrega o lixo, quem constrói a parede, quem faz o documento na direção, quem
serve o café, quem dirige ou coordena um setor, tanto faz a função, lá você é uma pessoa!
Amo a EAJ e muitas são as pessoas para agradecer: Gerbson, Josenildo (Chinida), Jailson,
Carlinhos, João Inácio, Lígia, Joanice, Afrânio, Eronilson, Herika, Dona Deusa, Dorinha,
Rodolfo, Isaque, Valquíria, Amandita, Gean, Dulce, Dalvanisa, Prof. Júlio, Lulão, Cristiano,
Emerson, Cláudio, Seu Raimundo, sei que tem muito mais... A todos vocês pedi ajuda,
compreensão e sempre encontrei carinho, respeito e tolerância. Vocês me ensinam a viver.
Meus colegas e amigos queridos da Aquicultura, aprendo muito com todos vocês.
Obrigada Karina, Paulo, Cibele, Fabiana, David, Dárlio, Fábio, Rodrigo, vocês me ajudaram
muito! Lendo a tese, doando material, emprestando aquário, doando aeração, avisando da
queda de energia no DOL, ensinando a fazer filtro biológico, fazendo testes, lendo, relendo,
auxiliando, fazendo parte da banca... Vocês são super!
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por ter me propiciado fazer o que mais
gosto: estudar. Pelos bolsistas, pelo material, pelo afastamento, pelo estágio no México, por
desmantelar a minha vida e juntar em uma nova etapa da mesma vida.
Para los amigos de México. Me gustaria de decir a ustedes que le soy muy grata e muy
feliz con su amistad, que todas las personas que conoci son queridas y no hay um solo dia que
no me acuerde de los momentos em que estuvi ahi. Profesor Temo, Martha Quiroz, Ceci,
Reyes, Ricardo, Marco, Diva, Doña Sara, Migdalia, Elda, Ariel, Lionel, Martha, El Patólogo
Lionel, Maestra Conchita, Rafael Borguez, Livia, Rebecca, Gilberto, Gerardo. Gracias por
todo.
E para agradecer melhor: ao bolsista sem remuneração, ao psicólogo sem formação, ao
técnico em aquicultura, técnico em informática, massagista, saco de pancada, ASG, motorista,
relações públicas, agente de turismo, amigo, namorado, companheiro, amor da minha vida,
Laércio Medeiros!
RESUMO
A carcinicultura mundial sofre grandes perdas econômicas por enfermidades virais e
bacterianas, sendo importante que sejam incentivados estudos e ações que minimizem os
danos provocados por estas doenças em todas as áreas, desde os econômicos, saúde animal e
humana até ambientais. Diante destes fatos, foram avaliados: a) o efeito da presença de areia
como substrato sobre o comportamento de camarões juvenis Litopenaeus vannamei em
laboratório (manuscrito I); b) as atividades comportamentais de camarões juvenis L. vannamei
infectados por Vibrio parahaemolyticus (ATCC 17802) e submetidos a tratamentos
veterinários em laboratório (manuscrito II); c) identificação dos agentes envolvidos em
enfermidades com altas mortalidades em fazendas de carcinicultura (manuscrito III). O estudo
foi realizado em três etapas. Na primeira etapa (manuscrito I), os animais foram submetidos a
tratamentos com ausência ou presença de areia como substrato, divididos em dois grupos,
cujos animais foram colocados em 30 aquários de material plástico com capacidade para
quatro litros, 15 deles com areia como substrato e 15 sem areia. Foram avaliados os
comportamentos de enterramento somente para o grupo com areia e inatividade, natação,
ingestão de alimento, limpeza e rastejamento; sobrevivência e ganho de peso para ambos os
grupos. Na segunda etapa (manuscrito II), os animais foram divididos em cinco grupos: 1)
Controle 1, 2) Controle 2 -animais infectados e sem tratamento veterinário; 3) Animais
infectados, tratados com medicamento isopático ISO; 4) Animais infectados, tratados com
medicamento antibiótico (florfenicol) ANTIB; 5) Animais infectados, tratados com
medicamentos isopático e antibiótico (florfenicol) simultaneamente ISO+ANTIB. Foram
então analisados os comportamentos desses animais, a sobrevivência e o ganho de peso. Na
terceira etapa (manuscrito III), foi visitada uma fazenda de carcinicultura com altos índices de
mortalidade na cidade de Obregón, em Sonora, no México. Foram coletados 30 animais dessa
fazenda, os quais foram levados para análises presuntivas (análise a fresco e bacteriologia) e
confirmatórias (bioquímica e qPCR) para identificação de agentes patogênicos virais e/ou
bacterianos. Os resultados obtidos no manuscrito 1 mostram que não houve diferença
significativa entre os comportamentos observados, também não houve diferença entre
crescimento e ganho de peso, indicando que a ausência de areia não interferiu na expressão de
comportamento dos animais. Isto possibilita que os experimentos seguintes não usem areia
como substrato. No manuscrito 2, os camarões infectados e tratados com isopatia e antibiótico
simultaneamente apresentaram desempenho comportamental semelhante ao grupo controle 1,
indicando que apresentam comportamento compatível com animais saudáveis. No Manuscrito
3, ficou evidente que a alta mortalidade identificada em viveiros com camarões juvenis, além
da cepa patógena causadora da AHPND, Vibrio parahaemolyticus, outras espécies de
bactérias dos gêneros Vibrio e Aeromonas estavam associadas.
Palavras chave: Bem estar animal; Isopatia; Sanidade; Vibriose.
ABSTRACT
World shrimp culture suffers large economic losses for viral and bacterial diseases, so it is
important that studies and actions be encouraged to minimise the damage caused by these
diseases in all areas - economy, animal and human health and environment. The present study
evaluated the effect of a) presence of the substrate on the behaviour of juvenile shrimp
Litopenaeus vannamei in the laboratory (manuscript I); b) behavioral activities of juvenile
shrimp L. vannamei infected by Vibrio parahaemolyticus (ATCC 17802) and subjected to
veterinary treatments in laboratory (manuscript II); c) identified the pathogenic agents
associated to diseases with high mortality in shrimp culture farms (manuscript III). The study
was conducted in three stages. In the first stage (manuscript I), the animals were subjected to
two treatments, the absence or presence of sand as substrate, and were divided into two
groups, placed in 30 plastic aquariums with capacity for four liters, half of them with sand on
the bottom as substrate and the other half without sand. Burying behavior was evaluated only
for the group whose aquariums had sand as substrate; inactivity, swimming, food intake,
cleaning and crawling, survival and weight gain were measured in both groups. In the second
stage (manuscript II), the animals were divided into five groups: 1) control, 2) infected
animals with no veterinary treatment; 3) infected animals treated with isopathic medicine; 4)
infected animals treated with antibiotics (florfenicol); 5) infected animals treated with
isopathic medicine plus antibiotics (florfenicol). Then, the behaviors and survival and weight
gain of the animals were analysed. In the third stage, we visited a shrimp farm with high rates
of mortality in Obregón city, Sonora, Mexico. Thirty animals collected in the ponds were
taken to presumptive (fresh smear analysis and bacteriology) and confirmatory (Biochemistry
and qPCR) analyses for identification of viral and/or bacterial pathogens. The results in
Manuscript 1 showed that for juvenile prawns maintained in aquariums with or without sand
as substrate for up to three weeks, behavior, survival and weight gain were not significantly
different, which demonstrates that lack of sand on the substrate did not modify behavioral
responses of the animals. So, in the next stage, sand was not used as substrate anymore. In
Manuscript 2, the infected prawns that were treated with isopathy plus antibiotics showed
behavioral performance similar to the control group, indicating that their behavior is
compatible with healthy individuals. And in Manuscript 3, concerning the high mortality of
juvenile prawns in the ponds, besides the pathogenous that causes AHPND, Vibrio
parahaemolyticus, other species of bacteria of the genus Vibrio and Aeromonas were
associated to the pathology of the prawns.
Keywords: animal welfare; Isopathy; Sanity; Vibriosis.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
INTRODUÇÃO
Figura 1 – Diagrama da anatomia externa de L. vannamei............................................. 14
MANUSCRITO I
Figura 1 – Tratamento sem areia..................................................................................... 26
Figura 2 – Tratamento com areia..................................................................................... 26
MANUSCRITO II
Figura 1 – Estantes e aquários de vidro numerados......................................................... 35
Figura 2 – Comportamento alimentar dos camarões infectados por Vibrio e
submetidos a tratamentos clínicos com antibiótico e/ou isopatia, após a oferta da
ração. Tratamentos: 1) ANTIB: grupo de camarões infectados e com administração
de antibióticos; 2) CONTR: grupo controle sem inoculação de patógeno e sem
administração de medicamentos alopático e isopático; 3) INFEC: grupo infectado e
sem administração de medicamentos alopático e isopático; 4) ISO+ANTIB: grupo
infectado e com administração de medicamentos alopático e isopático; 5) ISOP:
grupo infectado e com administração de medicamento isopático. Médias seguidas de
letras iguais não diferem pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade...........................
37
Figura 3 – Comportamento manipulação do alimento após a oferta da ração em L.
vannamei Tratamentos: 1) ANTIB: grupo de camarões infectados e com
administração de antibiótico; 2) CONTR: grupo controle sem inoculação de patógeno
e sem administração de medicamentos alopático e isopático; 3) INFEC: grupo
infectado e sem administração de medicamentos alopático e isopático; 4)
ISO+ANTIB: grupo infectado e com administração de medicamentos alopático e
isopático; 5) ISO: grupo infectado e com administração de medicamento isopático.
Médias seguidas de letras iguais não diferem pelo teste de Tukey, a 5% de
probabilidade.
39
Figura 4 – Comportamentos do camarão L. vannamei infectados por Vibrio e
submetidos a tratamentos clínicos com antibiótico e/ou isopatia, após a oferta da
ração. Figura A: comportamento limpeza. Figura B: comportamento de inatividade.
Figura C: comportamento rastejando. Figura D: comportamento de natação.
Tratamentos: 1) ANTIB: grupo de camarões infectados e com administração de
antibióticos; 2) CONTR: grupo controle sem inoculação de patógeno e sem
administração de medicamentos alopático e isopático; 3) INFEC: grupo infectado e
sem administração de medicamentos alopático e isopático; 4) ISO+ANTIB: grupo
infectado e com administração de medicamentos alopático e isopático; 5) ISOP:
grupo infectado e com administração de medicamento isopático. Médias seguidas de
letras iguais não diferem pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade..........................
41
Figura 5 – Média de ganho de peso nos grupos experimentais a cada 6 dias do
experimento a) Controle, b) Isopatia e florfenicol simultaneamente (ISO+ANTIB), c)
Infectado, d) Antibiótico florfenicol (ANTIB) e Isopatia............................................... 43
Quadro 1 – Descrição dos resultados da observação histopatológica dos camarões dos
5 grupos experimentais, onde 0= não encontrado lesão, 1= encontrado lesões
características, 2= encontradas muitas lesões características.......................................
44
Tabela 1 – Descrição dos grupos experimentais.............................................................. 48
Tabela 2 – Descrição dos comportamentos observados durante o experimento............. 48
Tabela 3 – Taxa de mortalidade observada nos grupos................................................... 48
MANUSCRITO III
Figura 1 – Camarão L. vannamei recuperado de viveiro com alta mortalidade com
carapaça amolecida, letárgico e hepatopâncreas esbranquiçado.....................................
52
Figura 2 – Camarões apresentando hepatopâncreas esbranquiçado e conteúdo
intestinal entrecortado. Observe a diferença de coloração entre hepatopâncreas (seta).
54
Figura 3 – Lesões de necrose e má formação dos túbulos do hepatopâncreas.............. 55
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quadro 1 – Estão apresentadas as hipóteses e suas respectivas predições e os
resultados que demonstram se elas foram ou não corroboradas.....................................
59
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 11
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
HIPÓTESES E PREDIÇÕES ............................................................................................... 21
OBJETIVOS ........................................................................................................................... 22
OBJETIVO GERAL ................................................................................................................. 22
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................................... 22
MANUSCRITO I – COMPORTAMENTO DO CAMARÃO MARINHO Litopenaeus
vannamei (BOONE, 1931) EM AQUÁRIOS DE EXPERIMENTAÇÃO COMO
INDICADOR DE CONFORTO ............................................................................................ 23
MANUSCRITO II – RESPOSTAS COMPORTAMENTAIS DE CAMARÕES
INFECTADOS POR VIBRIOS E EXPOSTOS A DIFERENTES TRATAMENTOS
VETERINÁRIOS ................................................................................................................... 31
MANUSCRITO III – DETECÇÃO DE NECROSE HEPATOPANCREÁTICA AGUDA
ASSOCIADA A BACTÉRIAS OPORTUNISTAS EM CAMARÕES JUVENIS ............ 50
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 57
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 59
11
APRESENTAÇÃO
Optou-se por colocar esta produção científica em formato de manuscritos para
publicação. Todavia, para esclarecer etapas importantes da construção deste documento – e
que foi comum a todos os manuscritos – a tese foi elaborada da seguinte forma: (a) introdução
geral; (b) hipóteses e predições; e (c) objetivos. Em seguida, apresentam-se (d) propostas de
manuscritos; (e) considerações finais; (f) conclusões; e (g) referências. Não foi descrita uma
metodologia geral, pois, aos experimentos foram aplicadas metodologias muito distintas entre
si, em todas suas etapas nos dois primeiros manuscritos e o ultimo sendo um relato de caso.
Dessa forma, em cada trabalho constarão os métodos ali utilizados para o desenvolvimento do
estudo.
A introdução geral consta de uma revisão da literatura sobre as enfermidades que
atingem os camarões criados, as enfermidades provocadas por bactérias do gênero Vibrio, as
terapias utilizadas na produção animal e os riscos presumíveis para as atividades aquícolas por
uso de substâncias potencialmente impactantes ao ambiente.
Já o manuscrito I, é o resultado do primeiro experimento, em que se buscou esclarecer
se a ausência de sedimento nos aquários de experimentação poderia causar alguma mudança
comportamental que fosse passível de gerar algum dano aos animais.
No manuscrito II, é relatado, pela primeira vez, o tratamento de camarões com
enfermidades bacterianas através de isopatia. Neste estudo, observou-se as respostas
comportamentais à infecção bacteriana e às alterações de comportamento durante o uso de
terapêuticas alopática e isopática ou, ainda, ambas.
O manuscrito III é um relato de caso decorrente do interesse em estudar um surto de
enfermidade bacteriana provocada por Vibrio parahaemolyticus, ainda não diagnosticada no
Brasil, a Hepatopancreatite necrosante aguda – AHPND. Acompanhou-se animais infectados
por seus sinais clínicos, observou-se o comportamento nos viveiros e identificou-se, em
laboratório, a ocorrência do agente causador da enfermidade e outros agentes patogênicos.
Ao fim do trabalho, apresentam-se as considerações finais a partir das conclusões
geradas das hipóteses criadas inicialmente, além do referencial utilizado para a produção da
tese.
12
INTRODUÇÃO
O camarão continua a ter o maior valor entre os commodities, representando cerca de
15% do valor total dos produtos oriundos da pesca, comercializados internacionalmente em
2012 (FAO, 2014).
A produção mundial deve-se, sobretudo aos países asiáticos, que chegam a uma
produção superior a 1 milhão de toneladas anuais. Em primeiro lugar destaca-se a China, em
seguida a Tailândia e o Vietnã. Entre os países do continente americano, destacam-se
Equador, México e Brasil (FAO, 2014).
Em 2011, o camarão tornou-se uma das mercadorias mais negociadas do agronegócio
mundial (FAO, 2014) e, em 2012, sua produção oriunda da captura registrou 3,4 milhões de
toneladas (FAO, 2014). Devido ao aumento na demanda por camarões e a diminuição dos
estoques pesqueiros, observou-se, a partir de 2010, uma queda na produção por captura (FAO,
2014). Todavia, o camarão mantém-se como produto interessante e importante no mercado
mundial e sua criação é sempre crescente. Observa-se que, em 2012, 48,9% da produção
aquícola do mundo foi originária de criatórios e, desta produção, a de crustáceos foi bastante
representativa, sendo liderada pelos camarões marinhos com 70,6% (FAO, 2014).
A criação de camarões – ou carcinocultura, como é conhecida no Brasil
(CAVALCANTI, 2012) – é uma área da produção animal muito importante do ponto de vista
de segurança alimentar como vimos, mas também o é do ponto de vista social, pois grande
parte de seus produtores estão caracterizados como pequenos e médios, tendo como maiores
estados produtores os da região nordeste do país (ROCHA, 2015).
Observa-se que a produção mundial de camarões criados diminuiu em 2012 e 2013,
sobretudo como consequência de problemas relacionados à enfermidades como a
hepatopancreatite necrosante aguda (AHPND), em alguns países da Ásia e da América Latina,
levando a uma redução da oferta e impulsionando os preços do camarão em todo o mundo.
Nos camarões da família Peneidae está a espécie mais relevante para a criação, a
saber, Litopenaeus vannamei, a mais explorada comercialmente no sul do México,
Guatemala, El Salvador e em todo Hemisfério Ocidental (BARBIERE JÚNIOR;
OSTRENSKY NETO, 2002; FAO, 2012), destacando-se também no oriente como a espécie
mais criada, a partir de 2003, em detrimento do Penaeus mondon (FAO, 2014).
Até o ano 2003, o Brasil apresentava-se como o maior produtor de camarão cultivado
do Hemisfério Ocidental, tendo sua produção chegado a, aproximadamente, 90 mil toneladas,
correspondendo a mais de 6% da oferta mundial no segmento de camarões marinhos
13
cultivados (ROCHA et al., 2004). As dificuldades que ocorreram a partir de 2004, seja por
fatores climáticos, enfermidades ou questões de mercado internacional (MADRID, 2005;
ROCHA, 2009), levaram à queda da exportação, fazendo com que a produção se voltasse para
o mercado interno. Desta forma, com tal nova demanda, a produção de peneídeos na região
Nordeste continua sendo da espécie L. vannamei e é líder na produção brasileira de camarões
(FAO, 2012).
Esta espécie é indicada para a criação devido à suas características, que consistem em
ampla tolerância à salinidade e à temperatura, resistência ao manuseio, rápida taxa de
crescimento, sobrevivência e boa taxa de conversão alimentar (BRAY; LAWRENCE;
LEUNG-TRUJILLO, 1994; SAOUD et al., 2003). Além disso, é uma espécie que apresenta
crescimento uniforme e grande capacidade adaptativa às mais variadas condições de criação
(BROCK; MAIN, 1994).
Observa-se a anatomia da espécie L. vannamei, que apresenta o corpo alongado,
comprimido lateralmente e coberto por um exoesqueleto calcificado, dividido em cefalotórax
(cabeça) e abdômen. No cefalotórax, encontram-se os principais órgãos funcionais como o
coração, o estômago, a glândula digestória (hepatopâncreas) e as brânquias (FENUCCI,
1988). Ventralmente, localizam-se a boca e os apêndices torácicos. Na boca, as mandíbulas e
maxilas servem para captura e dilaceração do alimento, o que permite sua ingestão. Próximo à
boca, encontram-se também três pares de maxilípedes. Os apêndices torácicos são
constituídos por cinco pares de pereiópodos (BROCK; MAIN, 1994; NUNES; MARTINS,
2002). Geralmente, somente o terceiro par de maxilípedes e os três primeiros pares de
pereiópodos participam da apreensão, manipulação e condução do alimento à boca, enquanto
os dois últimos pares têm papel na manutenção do equilíbrio durante a alimentação (NUNES;
GESTEIRA; GODDARD, 1997), participando ainda na locomoção e detecção de alimentos
enterrados. A localização e o reconhecimento do alimento são feitos principalmente pelas
antenas e antênulas. No abdômen, encontram-se as estruturas natatórias (pleópodos), os
apêndices reprodutivos dos machos (petasmas) e parte do cordão nervoso (NUNES;
MARTINS, 2002), conforme designado na Figura 1, disposta a seguir.
14
Figura 2 - Diagrama da anatomia externa de L. vannamei
Fonte: LEBER; PRUDER, 1988.
A digestão química nos camarões começa após o bolo alimentar atravessar o esôfago e
o estômago, também chamados conjuntamente de proventrículo. Essa é uma estrutura
complexa e dividida em duas porções: anterior ou cardíaca e posterior ou pilórica, que estão
separadas por uma válvula cárdio-pilórica. A ação das partes que compõem o estômago
possibilita a maceração do alimento e impede a passagem das partículas grandes para o
intestino médio. O alimento, sendo então misturado a secreções da glândula do intestino
médio, conhecida como hepatopâncreas, leva à degradação química do alimento. O
hepatopâncreas é um dos órgãos mais importantes em peneídeos, chegando a representar de 2
a 6% do peso corporal de um animal (DALL; MORIARTY, 1983).
Durante o período de muda, os camarões não se alimentam, pois algumas porções da
boca, esôfago e parte do estômago se desprendem junto com o exoesqueleto antigo e deixam
de ser funcionais, impedindo a realização de funções como apreensão, passagem e trituração
do alimento (CECCALDI, 1997). Por meio da muda, ocorre o aumento de tamanho e de peso
do camarão e tem lugar outros processos vitais, como expulsão de parasitas e regeneração dos
apêndices (BARNABÉ, 1996). Sendo assim, as modificações estruturais e fisiológicas
causadas pela muda interferem em diversos sistemas funcionais (LOCKWOOD, 1967), como
a percepção sensorial e o comportamento, que são direta ou indiretamente afetados pela troca
do tegumento e por ciclos característicos de acumulação metabólica (PASSANO, 1960).
O comportamento que se modifica diante de uma alteração do ambiente interno ou
externo traz em si um sinal, que pode ser observado e ter significado na comunicação, por isso
15
a Etologia, ciência que estuda o comportamento animal, torna-se uma excelente ferramenta de
tradução do animal e suas relações com o ambiente, vindo somar-se a várias outras atividades,
sobretudo na perspectiva do bem-estar animal, buscando a melhoria na produção, levando
sempre em conta a promoção de conforto e de tratamentos eficientes que atendam às
necessidades dos mesmos (YAMAMOTO, 2011). Isso deve acontecer, ora pela compreensão
de comportamentos simples e complexos, ora discutindo a vida em grupo, o comportamento
social e reprodutivo das espécies, trazendo benefícios aos vertebrados e invertebrados,
melhoria aos sistemas de produção e possibilitando menor comprometimento da saúde
animal.
Os benefícios do estudo do comportamento para a produção são difundidos em várias
áreas da criação. Nesse sentido, tais conhecimentos possibilitam a diminuição do sofrimento
dos animais e, consequentemente, a promoção de conforto aos mesmos, servindo de base para
que outra ciência assim surgisse: o bem-estar animal. Esse campo da ciência tem conceito
mais abrangente, seja este interno ou externo (BROOM, 1986), assim, vemos que estão
implícitas todas as modificações mentais e/ou físicas que possam ocorrer a um animal em
relação ao seu ambiente. A dificuldade de adaptação, repetidas vezes ou por tempo muito
longo, pode levar o animal a uma situação de estresse, propiciando o ataque por agentes
patogênicos. Observa-se, nessa direção, que a doença pode ser a causa ou ser causada pelo
bem-estar pobre (BROOM, 1988).
Estudar o comportamento de crustáceos e, mais especificamente, de camarões, tem
trazido informações importantes que devem ser utilizadas como primeiro passo para novas
pesquisas, mas que podem também ser aplicadas à produção animal. Muitos estudos de
comportamento têm auxiliado a ciência do bem-estar, pois, nesses, observa-se a densidade de
estocagem ideal de camarões criados para que o estresse não interfira negativamente no
conforto, seja sobre a própria densidade de estocagem (SILVA et al., 2013), horários de
alimentação (PONTES; ARRUDA, 2005) ou tipos e cores de substrato (LUCHIARI et al.,
2013; SANTOS; FREIRE; PONTES, 2013).
As pesquisas com L. vannamei juvenil descrevem comportamentos como natação,
limpeza, rastejamento e, principalmente, alimentação. Tais itens têm sido descritos como
importantes ferramentas para os produtores, pois a ingestão e o enchimento do trato digestório
podem ser itens utilizados para avaliação da ocorrência de desperdício de alimento, dado este
que influenciaria não só em ganho de peso, mas a qualidade de água e economia no processo
(PONTES; ARRUDA, 2005; SANTOS; FREIRE; PONTES, 2013), Outros autores,
patologistas em sua maioria, descreveram os sinais clínicos de doenças destes animais
16
(MORALES-COVARRUBIAS, 2010; LIMONTA; COFFILNY, 2012), porém sem o registro
da expressão comportamental destes. Ao observar animais doentes, pôde-se identificar as
mudanças que ocorreram durante o adoecimento, podendo influenciar sobremaneira o
tratamento clínico dado a estas enfermidades, identificando as possíveis fases em que os
animais devem ser efetivamente tratados.
Percebe-se que um ambiente inadequado para criação, somado a fatores internos dos
organismos animais, podem provocar mudanças na fisiologia e no comportamento dos
crustáceos (HINDLEY, 1975), que levará a um estado de estresse, tornando possível o
surgimento de doenças e, em último caso, levar à morte os animais. Neste contexto, podem
surgir enfermidades infecciosas causadas por agentes patogênicos como vírus, bactérias,
protozoários e fungos. Considera-se que as enfermidades têm sido o principal fator limitante
para o sucesso da carcinicultura mundial (BARRACCO; PERAZOLO; ROSA, 2008).
Tratamentos podem não ser eficazes e vacinas não são viáveis devido ao sistema imune dos
invertebrados não contar com a possibilidade de desenvolver imunidade adquirida, na
concepção clássica do termo, diminuindo a possibilidade de se prevenir e controlar doenças
nesses animais através deste método (SMITH; BROWN; HAUTON, 2003).
Observou-se a partir dos anos 80 e na década de 90 que muitas doenças tiveram um
efeito devastador na criação de camarão marinho, causando um colapso na produção de
grandes países produtores e grande impacto econômico na indústria (HERNANDEZ;
NUNES, 2001). Desde então, as enfermidades passaram a ser vistas como um obstáculo
econômico e uma ameaça à viabilidade desta criação. Considerando o potencial da indústria
aquícola mundial, as enfermidades em organismos aquáticos passaram a figurar entre os
principais fatores de risco do investimento nesta área (GARCÍA, 2003).
Uma destas enfermidades é a doença da mancha branca (WSSV), a qual tem arrasado
criações de camarão no mundo (LIGHTNER, 2005), chegando ao Brasil e levando a quedas
na produção de até 95% (COSTA, 2010). Mais recentemente uma nova doença causada por
uma bactéria já conhecida, o Vibrio parahaemolyticus, foi inicialmente chamada síndrome da
mortalidade precoce (EMS) e, após ser identificado seu agente etiológico, recebeu o nome de
Doença da Necrose Aguda Hepatopancreática (AHPND).
Os primeiros casos foram descritos na Ásia (LIGHTNER et al., 2012) e, desde 2011,
muitas instituições e agências (nacionais, regionais, internacionais, públicas e setores
privados) têm se esforçado de forma a compreender e encontrar soluções para conhecer o
agente e conter os impactos reais significativos para o camarão e para a indústria da
aquicultura. Os vibrios podem ser causadores de doenças graves como a AHPND, sendo
17
comumente os causadores de doenças bacterianas nos sistemas de criação (MORALES-
COVARRUBIAS, 2010). Acometem os camarões em todos os estágios de vida e, como
formam parte dos microrganismos que decompõe os detritos encontrados nos sedimentos e na
água dos viveiros, estão quase sempre presentes como oportunistas quando há um
desequilíbrio no ambiente.
O excesso de matéria orgânica pode causar desequilíbrio no sistema de criação,
podendo favorecer o crescimento da biomassa desses patógenos, que encontram nos animais
debilitados condições ideais para a infecção (VANDENBERGHE; THOMPSON; GOMEZ-
GIL; SWINGS, 2003). Podem levar, ainda, ao aumento de taxa de mortalidade,
principalmente na presença de estressores no sistema de criação, tais como: diminuição de
oxigênio, densidade de estocagem excessiva, manuseio inapropriado do estoque, lesão na
cutícula dos animais, subalimentação e altas concentrações de compostos nitrogenados no
ambiente (AGUIRRE-GUZMÁN; VÁZQUEZ-JUÁREZ; ASCENCIO, 2001).
As espécies causadoras dos maiores prejuízos à produção são: Vibrio harveyi, Vibrio
vulnificus, Vibrio parahaemolyticus e Vibrio alginolyticus (BROCK; MAIN, 1994; NUNES;
MARTINS, 2002). O processo de infecção da vibriose pode causar enfermidades diferentes:
cuticular ou erosão de carapaça, sistêmico (envolvendo vários órgãos), doença da
luminescência e a síndrome Zoea II (COVARRUBIAS, 2010). Quando localizada, apresenta
lesões melanizadas na carapaça e/ou abscessos pontuais no hepatopâncreas. O impacto da
vibriose é variável, mas em alguns casos pode alcançar até 70% da população cultivada
(LIGHTNER, 1998; SAULINER; HAFFNER; GOARANT; LEVY; ANSQUER, 2000;
SOTO-RODRIGUEZ et al., 2010). Os animais infectados apresentam extrema fraqueza
(ficam no fundo do viveiro), nado desorientado, opacidade da musculatura abdominal,
aumento da pigmentação e grampo na cauda (BROCK; MAIN, 1994; COVARRUBIAS,
2010). O diagnóstico presuntivo a fresco pode ser realizado a partir de amostras observadas ao
microscópio óptico, em que se podem analisar as brânquias, apêndices orais, animais
completos, como larvas e pós-larvas. Fragmentos de tecidos e órgãos são muito úteis para
demonstração destas enfermidades (HERZBERG, 1996).
Como prática rotineira, deve ser buscado o diagnóstico da doença que atinge a criação,
realizado através da observação de vários parâmetros: aparência física, resposta
comportamental, variáveis de produção (conversão e produção/ha/ano), características
populacionais do estoque criado e qualidade dos parâmetros ambientais ao longo da criação.
A taxa de sobrevivência, o peso corporal e a taxa de crescimento são os índices mais sensíveis
a alterações adversas na condição de saúde da população criada em cativeiro (NUNES;
18
MARTINS, 2002). Uma estratégia importante, e que sempre deve ser utilizada para avaliar o
estado de saúde dos animais, é a análise presuntiva, protocolo aceito mundialmente, capaz de
identificar modificações anatômicas dos camarões, as quais podem estar relacionadas a
enfermidades; em seguida, exames confirmatórios e escolha do melhor fármaco através de
antibiograma e da concentração mínima inibitória (MIC), sempre tendo o cuidado de ministrar
produtos quando a sua possível eficácia seja comprovada. O cuidado é imprescindível, pois os
antibióticos podem permanecer nos ambientes de criação, nas águas e nos vegetais por mais
de duas semanas e ser encontrados em organismos que consumiram restos de alimentos com
resíduos destes antibióticos (ARAÚJO et al., 2016; REGITANO; LEAL, 2010).
O uso de antibióticos na criação animal, quando usado de forma inadequada, pode
causar o surgimento de cepas resistentes, levando ao aumento na mortalidade
(MACMILLAN, 2001). A resistência bacteriana foi investigada por Montoya (2003), que
verificou o desenvolvimento dessa resistência quando os agentes antimicrobianos foram
usados em baixas concentrações em fazendas de criação de camarão, assim como em criações
de peixes, o que leva a maior dificuldade no controle de bactérias patogênicas
(FIGUEIREDO; LEAL, 2008).
A disseminação e a presença de resíduos de antibióticos no camarão e no ambiente,
quando despejados na água, podem provocar a mortalidade de diversos organismos, mudando
a composição e a diversidade das comunidades locais (XUAN LE; MUNEKAGE, 2004).
Nota-se uma grande diferença climática e de solo nas diversas regiões no Brasil, dessa forma,
fica difícil entender o comportamento de resíduos de antibióticos no ambiente, por isso é
ainda mais importante a pesquisa desse tema em busca da qualidade, sobretudo na criação de
animais, plantio e ambiente que, certamente, vão influenciar a saúde humana (REGITANO;
PEREIRA, 2010). A busca pela diminuição do uso de antibióticos em fazendas de camarão é
um dos pontos que poderá trazer ganhos para a saúde humana, meio ambiente e ecossistemas
costeiros (HOLMSTROM et al., 2002).
É importante ressaltar que pesquisas para a diminuição do uso de medicamentos que
deixem resíduos devem ser estimuladas, pois essas qualidades devem estar presentes em todos
os produtos, principalmente nos orgânicos, incluindo os oriundos da aquicultura. Tal fato já é
uma realidade, a preocupação com a sustentabilidade dos projetos para que não levem a
degradação ambiental, nem humana (BALDI; LOPES, 2008). Equilíbrio ecológico, qualidade
de vida e bem-estar animal são fatores prioritários na produção animal, por isso fornecer
alimentos que não levem contaminantes ao ambiente, aos produtores e aos consumidores é
urgente como detalhado na Instrução Normativa 46/2011 (MAPA, 2011). Faz-se necessário
19
desenvolver procedimentos de segurança e/ou buscar produtos que tragam menor risco ao
ambiente (PLASCENCIA; ALMADA, 2012).
O produto ideal para a aquicultura seria o que apresentasse as seguintes características:
ausência de danos ao tecido animal, ter degradação rápida, não deixar resíduo na água, no
substrato ou no tecido do animal, não interferir na qualidade da água, não oferecer perigo aos
humanos e animais, baixo custo e fácil aplicação (NUNES et al., 2004). A homeopatia é uma
possibilidade terapêutica que pode ser usada para evitar a resistência dos microrganismos aos
tratamentos, minorando os problemas de saúde pública da resistência bacteriana
(VIKSVEEN, 2003).
A homeopatia, como Samuel Hahnemann a propôs e como vem sendo aplicada, é uma
terapêutica em que cada paciente ou população recebe o medicamento que cobre a totalidade
dos sintomas (PUSTIGLIONE, 2002). A palavra homeopatia tem origem no grego: homeo =
semelhante; pathos = moléstia, foi criada por Samuel Hahnemann (1755-1843) na Alemanha
e divulgada através da publicação de suas bases e princípios no livro Organon da arte de
curar, em 1810 (BENEZ; BOERICKE; CAIRO; JACOBS; MACLEOD; SCHROYENS;
TIEFENTHALER; VIJNOVSKY; WOLFF, 2002).
A utilização da homeopatia em animais data da época em que foi testada pelo próprio
Hahnemann, quem medicava seus cavalos com essa terapêutica. Além dele, Guilherme Lux
(1773-1849), médico veterinário, aplicou com sucesso medicamentos dinamizados em
animais doentes de mormo, enfermidade grave e zoonótica, que acomete estes animais. A
medicina veterinária homeopática é uma terapia na qual seus preparados são resultantes da
dinamização de substâncias de origem animal, mineral e vegetal. As preparações
homeopáticas são caracterizadas pelas dinamizações, que consistem em diluição seguida de
sucussão, que libera energia dinâmica da substância original. A diluição progressiva promove
a liberação do potencial interno da substância, aumentando o respectivo potencial
(BELLAVITE, 2002).
Na medicina humana, cada indivíduo é tratado de acordo com suas necessidades,
sendo a individualização do paciente o ideal. Em medicina veterinária, na presença de grande
número de animais, muitas vezes sujeitos ao mesmo agente pela sua condição de cativeiro, a
aplicação da homeopatia pode ser feita direta aos grupos animais (rebanhos, manadas,
cardume), o que constitui a Homeopatia Populacional. Esta forma de tratar tornou-se a
medicina ideal para rebanhos, devido ao seu custo reduzido, à sua eficácia, pela ausência de
toxidez e por serem os princípios ativos extremamente diluídos, apresentando absoluta
20
impossibilidade de deixarem resíduos nos produtos animais, sendo incapazes de prejudicar a
saúde humana (REAL, 2006).
As atuais terapias propostas para uso de antibióticos em doenças bacterianas já são
conhecidas, mas com muitas críticas a seu uso inadequado. Além disso, não são aceitos pela
comunidade mundial quando para tratamento de animais em sistemas de criação orgânicos.
Os medicamentos homeopáticos não provocam danos aos animais, aos consumidores
dos produtos de origem animal, nem ao meio ambiente, o qual é favorecido pelo menor uso de
produtos químicos (LOPES, 2004).
Além do uso do medicamento homeopático, pode-se trabalhar com o agente causador
da doença altamente diluído e dinamizado ao que se chama isoterápico, antes chamado
nosódio. Os termos nosódio e isopatia derivam do grego, nosos que significa doença, eidos,
significa semelhante; iso significa igual e pathos, afecção. Portanto, nosódios ou isoterápicos
são medicamentos cuja matéria prima é o produto de uma doença potencializada da mesma
maneira que se potencializa um medicamento homeopático (MACLEOD, 1994; SAXTON;
GREGORY, 2005).
Os isoterápicos são medicamentos preparados de acordo com a farmacotécnica
homeopática a partir de produtos biológicos, quimicamente indefinidos, tais como, secreções,
excreções, tecidos e órgãos doentes ou não, produtos de origem microbiana e alérgenos
(AMORIM; FONTES, 2001).
O uso de isopatia é conhecido na medicina veterinária, entretanto trabalhos com seu
uso ainda não foram descritos para uso em camarões criados, sendo importante estudar a
resposta dos animais ao tratamento. Somado a isto, o conhecimento científico das
modificações comportamentais que ocorrem com o camarão branco do Pacífico, L. vannamei,
durante o adoecimento, podem trazer contribuições para técnicas complementares de manejo
quando identificada a presença de vibrioses na criação.
21
HIPÓTESES E PREDIÇÕES
Hipótese 1 – Os camarões em aquários de experimentação exibirão respostas
comportamentais ajustadas ao ambiente com ou sem areia como substrato.
Predição 1.1 – Os camarões apresentarão frequências mais elevadas de
comportamentos indicativos de movimentação no ambiente sem areia no substrato.
Predição 1.2 – Os camarões apresentarão taxas de sobrevivência e ganho de peso mais
baixas no ambiente sem areia.
Hipótese 2 – O tratamento clínico influenciará nas respostas comportamentais de
camarões infectados.
Predição 2.1 – Os camarões tratados com medicamento isopático exibirão mais
comportamentos de movimentação, como natação e exploração de substrato.
Predição 2.2 – Os camarões infectados e sem tratamento apresentarão maior
frequência de inatividade quando comparados aos grupos tratados.
Hipótese 3 – Os animais infectados com V. parahaemolyticus e submetidos a
tratamentos clínicos apresentarão lesões teciduais histopatológicas diferentes em
quantidade e gravidade que os não tratados.
Predição 3.1 – Os animais tratados com isopatia apresentarão número inferior de
lesões histopatológicas.
Predição 3.2 – Os animais do grupo infectado e que não recebeu tratamento terão o
número maior de lesões histopatológicas.
22
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Avaliar a influência da terapêutica alopática e isopática no comportamento do camarão
marinho Litopenaeus vannamei, artificialmente infectado com Vibrio
parahaemolyticus.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Avaliar o efeito da presença de areia sobre o comportamento, ganho de peso e
sobrevivência de camarões juvenis Litopenaeus vannamei em laboratório.
Comparar a resposta comportamental de camarões juvenis L. vannamei, infectados por
Vibrio parahaemolyticus, tratados com isopatia, antibioticoterapia ou ambas.
Identificar outros agentes bacterianos presentes em camarões enfermos acima de 5g,
infectados por bactéria V. parahaemolyticus, causadora de AHPND.
23
MANUSCRITO I COMPORTAMENTO DO CAMARÃO MARINHO Litopenaeus
vannamei (BOONE, 1931) EM AQUÁRIOS DE
EXPERIMENTAÇÃO COMO INDICADOR DE CONFORTO1
Resumo: Objetivou-se avaliar em condições experimentais o comportamento de L. vannamei na
presença e ausência de areia no substrato. O experimento foi conduzido no Centro de Saúde de
Animais Aquáticos do Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Durante 3 semanas, 30 camarões juvenis da espécie Litopenaeus vannamei, foram
divididos em dois grupos: um grupo foi acomodado em aquários de vidro, individuais, com água e
uma camada de areia como substrato e o outro grupo foi acomodado individualmente, sob as mesmas
condições, sem areia. Foram avaliados os comportamentos de inatividade, natação, ingestão de
alimento, limpeza e exploração do substrato; também, sobrevivência e ganho de peso. Não foram
encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os tratamentos paratodas as variáveis
analisadas. Assim, conclui-se que, por não promover alterações comportamentais nos camarões jovens
testados, a ausência de um substrato de areia por um período de três semanas em condições
laboratoriais, não interfere no comportamento dos animais.
Palavras-chave: Bem-estar animal. Bioética. Invertebrado.
BEHAVIOR OF THE MARINE SHRIMP LITOPENAEUS VANNAMEI (BOONE,
1931) IN EXPERIMENTAL AQUARIA AS AN INDICATOR OF COMFORT
Abstract: In this study, our objective was to determine whether the lack of sand as the substrate of
aquariums, restraining shrimps from burying in the sand – a typical behavior of such animals – has any
influence in other kinds of behavior as well as in those animals’ survival and weight gain,
consequently reducing shrimps’ comfort when they are used as subjects in laboratory research. As a
way of monitoring the animals’ behavior, a bioassay was conducted at the Department of
Oceanography and Limnology at the Federal University of Rio Grande do Norte. For the experiment,
which was carried out for three weeks, thirty juvenile whiteleg shrimps (Litopenaeus vannamei) were
kept, respectively, in thirty aquariums, of which fifteen had sand as substrate and fifteen did not have
any kind of material on their bottom. The purpose was to examine the following behaviors: inactivity,
swimming, feeding, cleaning, substrate exploration, survival and weight gain. The results of this study
did not show statistically significant differences between the groups, both showing similar
performances and weight gain and survival. The lack of sand as substrate during the research did not
interfere with the shrimps’ comfort, indicating that the absence of sand as substrate does not hamper
the animals’ welfare.
Key words: Animal welfare. Bioethics. Invertebrate.
1 O manuscrito I corresponde ao artigo submetido à Revista Ciência Animal Brasileira, da Universidade Federal
de Goiás, e, inclusive, já se encontra normatizado conforme preconiza o periódico em questão.
24
1 INTRODUÇÃO
Pesquisas que utilizam animais devem, obrigatoriamente, ter seus protocolos
experimentais aprovados por um comitê de ética que avaliará o protocolo experimental
apresentado. Para que isto fosse aceito, foi necessária a aprovação de uma lei de proteção dos
animais em pesquisa científica para que o uso desses animais não leve os mesmos a
sofrimento. São indicadas recomendações aceitas em todo o mundo, chamadas de os 3R, que
equivalem à substituição dos animais por outras técnicas (Replacement), redução do número
de animais (Reduction) e ao refinamento das técnicas (Refinement)(1)
.
No Brasil, há legislação que trata do uso dos animais em experimentações científicas.
Nela, está especificada a aplicação aos animais das espécies classificadas como filo Chordata,
subfilo Vertebrata, observada a legislação ambiental(2)
, não incluindo os animais
invertebrados. Porém, com as mudanças de paradigma, os animais em todos os seus táxons
devem ser considerados como passíveis de sofrer dor ou desconforto. A iniciativa de
realizarmos pesquisas sobre o conforto animal traz a possibilidade de termos animais com
menor estresse durante experimentos, também que os resultados destas pesquisas sejam mais
próximos às condições naturais, evitando possíveis vieses causados por prejuízos ao bem-
estar.
Prioritariamente com foco na produção animal, várias investigações têm sido
realizadas na área de comportamento animal, fisiologia do estresse, epidemiologia veterinária
entre outros campos(3)
, e muitas outras devem ser feitas nos próximos anos, importando
manter o conforto dos animais, pois como relatou Jeremy Bentham, em 1780, “a questão não
é se eles são capazes de raciocinar ou se são capazes de se comunicar, mas sim, eles são
capazes de sofrer?” (4)
. Assim, o que se busca é compreender onde começa e até onde vai o
possível sofrimento dos animais em cativeiro, que poderá auxiliar ao desenvolvimento das
pesquisas.
Em crustáceos, já foi observado que mudanças nos comportamentos de locomoção –
como desorientação, diminuição da atividade, assim como diminuição na ingestão de
alimentos, associados a modificações teciduais macroscópicas – entre elas, alterações na
aparência e na cor de brânquias, apêndices, cutícula e músculo abdominal, podem ser
indicativos de estresse(5)
. Os camarões L. vannamei apresentam uma boa adaptação a
mudanças no ambiente aquático, como por exemplo as variações de salinidade, que não
interferem no crescimento de pós-larvas(6)
, entretanto, diferente de outros crustáceos, o
25
substrato é um fator muito importante, para os camarões, pois possui comportamento
bentônico em sua fase juvenil e gastam grande parte do seu tempo no fundo dos viveiros (7)
.
Neste estudo, buscou-se esclarecer se a ausência de areia como substrato em aquários
de experimentação é capaz de influenciar o padrão comportamental, sobrevivência e
crescimento de animais da espécie Litopenaeus vannamei, o que poderia denotar alteração da
qualidade do ambiente e do bem-estar para estes animais que, uma vez detectados, podem
influenciar resultados de pesquisas que o adotarem como sujeito experimental.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 ANIMAIS
O experimento foi realizado no Centro da Saúde dos Animais Aquáticos (CSAq),
Departamento de Oceanografia e Limnologia (DOL) da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), nos meses de novembro e dezembro de 2012. Os sujeitos experimentais
foram camarões juvenis da espécie L. vannamei, com peso médio de 6 g (±0,3), provenientes
de fazenda de criação de camarões do município de São Gonçalo do Amarante, pertencente à
grande Natal/RN (5°47’35.3”S e 35°19’15.4”W).
Os camarões foram transportados em caixas plásticas de polietileno (310 L), com a
água do viveiro e aeração constante, mantendo o oxigênio dissolvido entre 5 e 8 mg/L. Ao
chegarem ao laboratório, realizou-se troca parcial da água e os animais foram colocados em
tanques de alvenaria, onde permaneceram por um período de 10 dias para aclimatação. Após
este período, foram transferidos para aquários individuais.
2.2 AQUÁRIO, ÁGUA E AREIA
As unidades experimentais foram compostas de aquários com tampa de plástico
transparente com capacidade para 4l (Figura 1). Todos os aquários foram higienizados com
solução clorada (10%) antes de serem colocados no laboratório. Filtros e aeração foram
instalados para manter a boa qualidade da água. A salinidade da água foi monitorada para que
permanecesse constante em 35ppt e a reposição da evaporação foi realizada sempre que
necessário com água tratada.
Toda a água utilizada no processo experimental foi previamente clorada (4%) e, após
48h de aeração e verificação da ausência de cloro da mesma, foi passada por um filtro UV por
26
mais 48h. Durante o experimento, a cada 48h os seguintes parâmetros de qualidade da água
foram monitorados: oxigênio dissolvido, temperatura (oxímetro acoplado a termômetro
digital), amônia total, nitrito e pH (métodos colorimétricos). A areia utilizada como substrato
foi clorada e exposta ao sol por 24 horas em balde telado para evitar contaminação.
Figura 1 – Tratamento sem areia Figura 2 – Tratamento com areia
Fonte: acervo da pesquisa Fonte: acervo da pesquisa
2.3 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL
O experimento foi dividido em 2 tratamentos: (1) um grupo sem areia no substrato
(SA) (Figura 1) e outro grupo utilizando areia no substrato (CA) (Figura 2). Para cada um dos
tratamentos foram utilizadas 15 unidades experimentais, composta de um aquário e um
camarão juvenil.
A alimentação foi realizada com ração peletizada com 35% de proteína bruta, própria
para juvenis, duas vezes ao dia (às 08h00 e às 15h00). As observações foram realizadas pelo
método focal sampling ou animal focal, que consiste em focar a atenção em um único
indivíduo, casal ou ninhada por um tempo determinado ou enquanto o evento comportamental
acontece. Neste estudo, foram utilizadas janelas de observação de 10 min., com registros
instantâneos a cada dois minutos, uma antes e outra posterior a alimentação, havendo um
intervalo de 5 min. para disponibilização dos pellets de ração. Essas observações foram
realizadas durante 21 dias consecutivos.
Os comportamentos observados foram natação (NAT), ingestão de alimento – o
animal pega o alimento com pereiópodos e coloca na boca sendo observada a entrada do
alimento no trato digestório (ING), exploração (EXP) e inatividade (INAT), para ambos os
tratamentos, e enterramento (ENT), para o tratamento com areia. Os animais foram mantidos
em ciclo claro/escuro de 12/12h, sendo as coletas de dados sempre realizadas na fase de claro.
Ao final do experimento, avaliou-se tamanho (medido do rostro ao urópodo), ganho de peso e
27
sobrevivência durante o período. Para a análise estatística utilizou-se o Programa livre “R”.
Os dados foram analisados utilizando-se as premissas exigidas para a parametricidade ou não
dos dados (Normalidade – Kolmorov – Smirnov; Homocedasticidade – Shapiro Wilks),
análise de variância para medidas repetidas. Havendo diferença, realizou-se o teste post hoc
de Tukey, quando necessário. O nível de significância adotado foi de 5%.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para os fatores associados ao crescimento dos animais, como ganho de peso e
comprimento, assim como sobrevivência, não se observou diferença significativa entre os
grupos com e sem substrato de areia (p>0,05)1 (Tabela 1). Em estudos realizados com L.
vannamei, não encontrou-se diferença nos índices zootécnicos de criação em substratos com
diferentes granulometrias ou sem substrato(8)
. Entretanto, em Penaeus monodon foi observado
que o crescimento dos animais é maior quando há substrato, quando comparados ao sem
substrato(9)
. Da mesma forma, em outro trabalho, observou-se que quando estavam em
laboratório havia relação entre o tipo de solo e o crescimento de L. vannamei(6)
. Talvez, num
experimento com duração maior que 21 dias, fosse observado uma diferença entre a presença
de areia como substrato ou sua ausência.
Tabela 1 - Médias finais de peso, comprimento e percentual de sobrevivência dos camarões submetidos aos
tratamentos com e sem areia
Crescimento e sobrevivência Tratamento com areia (CA) Tratamento sem areia (SA)
Média do peso inicial (g)
Média de peso final (g)
6,00(±3)
7,00 (±0,2)
6,00(±3)
6,60 (±0,3)
Média de comprimento (cm) 10,01 (±0,4)
9,45 (±0,4)
Sobrevivência (%) 73,33 (11animais) 66,67 (10)
Fonte: acervo da pesquisa 1Não houve diferença significativa ao nível de 5 % de probabilidade pelo teste de Tukey
O comportamento de enterramento (ENT) diferiu entre os turnos manhã e tarde, sendo
a frequência superior no período da manhã. Este comportamento está relacionado à defesa de
predadores. O aparecimento da luminosidade deve atuar como um sinalizador de perigo de
predação (p≤0,05) (Tabela 2), pois, sabe-se que parte dos camarões marinhos utiliza o
enterramento como estratégia de fuga e refúgio(10)
.
28
Apesar de não terem sido verificadas diferenças na frequência de exploração do
substrato (EXP) entre os turnos da manhã e tarde (p> 0,05), observou-se uma redução
significativa de exploração do substrato após a oferta de alimento aos camarões e presença do
comportamento ingestão do alimento (ING). Já estava descrito que L. vannamei se alimenta
sempre que o alimento é oferecido e a quantidade é sempre maior na fase clara(10)
. Neste
trabalho, foram realizadas observações apenas na fase de claro. Talvez não tenha sido
observado que após o oferecimento do alimento cessa o comportamento de exploração e tem
lugar a ingestão do alimento (ING), neste estudo, porque as observações foram realizadas na
fase claro, apenas.
Tabela 2 – Médias da frequência dos comportamentos: Enterramento (ENT), Natação (NAT), Ingestão de
Alimento (ING), Exploração do substrato (EXP) e Inatividade (INAT), durante os turnos da manhã (M) e tarde
(T), antes (A) e depois (D) da alimentação. n=11
COM AREIA A D A D A D A D A D
Comportamentos ENT ENT EXP EXP NAT NAT ING ING INAT INAT
Manhã 4,1 3,8 17,15 5,65 14,1 3,75 0 48,8 27,55 8,75
Tarde 2,1 1,62 16,81 7,86 12,67 7,57 0,29 38,29 14,86 4,24
SEM AREIA A D A D A D A D
Comportamentos
EXP EXP NAT NAT ING ING INAT INAT
Manhã
16,35 7,35 14,7 8,15 0,35 41,45 26,04 8,8
Tarde 11,35 2,3 12,67 9,05 0,57 32,43 9,46 2,94
Fonte: acervo da pesquisa 1C/A, Com areia; S/A, sem areia.
Para o comportamento de ingestão de alimento (ING) (p>0,05), a presença de areia
como substrato não provocou diferenças em número de episódios de ingestão. Também não
foram observadas diferenças comportamentais para os turnos manhã e tarde, o que era
esperado, pois, estes horários são os melhores para alimentação destes animais(11)
.
De acordo com os resultados apresentados, a utilização ou não de uma camada de
areia no assoalho dos aquários não promoveu alterações significativas diretas sobre os
comportamentos, crescimento e sobrevivência, nas condições experimentais apresentadas.
Resultados semelhantes já foram publicados(13,14)
, após utilizarem diferentes substratos para
testar o desempenho zootécnico de adultos e juvenis da espécie L. vannamei. Afirmaram que
a presença ou não de areia e outros substratos no ambiente não promoveram diferenças
significativas sobre os parâmetros zootécnicos analisados, confirmando que o desempenho de
29
camarões independe do substrato do ambiente em que se encontram, sejam adultos ou juvenis,
pois esta espécie tem fácil adaptação a modificações ambientais, inclusive a salinidades
diferentes e, até em água doce, é possível ser cultivada(15)
, prestando-se, desta forma, mais
facilmente, a experimentação em laboratórios, pois sendo mais resistentes a mudanças
ambientais, provavelmente estará menos sujeita a mudanças no conforto que interfiram
negativamente em seu bem-estar.
A natação é mais observada na espécie L. vannamei durante a fase de escuro(11)
. Em
Xiphopenaeus kroyeri também foi observado uma maior frequência de natação durante a fase
de escuro(12)
. Neste trabalho, observou-se apenas na fase de claro, não havendo diferença na
natação na presença ou ausência de areia, e também entre os turnos manhã e tarde.
4 CONCLUSÃO
A ausência de areia por um período de três semanas, em condições laboratoriais, não
interferiu na expressão dos comportamentos observados e, provavelmente, não interfere no
conforto dos animais.
AGRADECIMENTOS
Ao CSAqui, ALCONpet e a todos que colaboraram com este trabalho.
REFERÊNCIAS
1. BALLS, M. The Principles of Humane Experimental Technique: Timeless Insights and
Unheeded Warnings. Reissued: 2010, Universities Federation for Animal Welfare (UFAW), Potters
Bar, Hertfordshire. Disponível em: <http://altweb.jhsph.edu/altex/27_2/rPL7_Balls2.pdf>. Acesso em:
05 fev. 2015.
2. BRASIL. Lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008. Regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 da
Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais; revoga a Lei nº
6.638, de 8 de maio de 1979; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11794.htm>. Acesso em: 05 fev.
2015.
3. FRASER, D.; DUNCAN, I. J.; EDWARDS, S. A.; GRANDIN, T.; GREGORY, N. G.;
GUYONNET, V. et al. General Principles for the welfare of animals in production systems: The
underlying science and its application. Vet, n.198, v.1, 2013. p. 19-27.
4. SILVA, J. O. M. Especismo: porque os animais não-humanos devem ter seus interesses
considerados em igualdade de condições em que são considerados os interesses semelhantes dos seres
humanos. Ethic@, v. 8, n. 1, 2009. p. 51-62.
30
5. MAIN, K. L.; LARAMORE, R. Shrimp Health Management. In: Farming Marine Shrimp in
Recirculating Freshwater Systems. In: VAN WYK, P.; DAVIS-HODGKINS, M.; LARAMORE, R.;
MAIN, K. L.; MOUNTAIN, J.; SCARPA, J. (Eds.). Harbor Branch Oceanographic Institution
(HBOI). 1999. p.163-177.
6. SANTOS, C. et al. Crescimento e sobrevivência do camarão branco do Pacifíco Litopenaeus
vannamei (BOONE, 1931) em diferentes salinidades. Ciência Animal Brasileira, [S.l.], v. 10, n. 3,
set. 2009. p. 783-789. ISSN 1809-6891. Disponível em:
<http://www.revistas.ufg.br/index.php/vet/article/view/4728>. Acesso em: 18 out. 2015.
7. RITVO, G.; SAMOCHA, T. M.; LAWRENCE, A. L.; NEILL, W. H.; RITVO, W. H. Growth of
Penaeus vannamei on soils from various Texas shrimp farms, under laboratory conditions.
Aquaculture, n. 1, v.16, 1998. p. 101-110.
8. CHIEN, Y. H. Water quality requirements and management for marine shrimp culture. In:
WYBAN, J. (Ed.). Proceedings of the Special Session on Shrimp Farming. World Aquaculture
Society: Baton Rouge, LA, USA, 1992. p. 144-155.
9. DALL, W.; HILL, B. J.; ROTHLISBERG, P. C.; STAPLES, D. J. Biology of the Penaeidae. In:
BLAXTER, J. H. S.; SOUTHWARD, A. J. (Eds.). Advances in Marine Biology. v. 27. Academic
Press: London, UK, 1990.
10. PONTES C. S.; ARRUDA, M. F.; MENEZES, A. A. L.; LIMA, P. P. Daily activity pattern of the
marine shrimp Litopenaeus vannamei (Boone, 1931) juveniles under laboratory conditions.
Aquaculture Research, v. 37, n.10, 2006. p. 1001-1006.
11. PONTES, C. S. Padrão de deslocamento do camarão marinho Litopenaeus vannamei (Boone)
(Crustacea, Decapoda, Penaeidae) nas fases clara e escura ao longo de 24 horas. Rev. Bras.
Zool. [online], v.23, n.1, 2006. p. 223-227. ISSN 0101-8175. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S0101-81752006000100015>. Acesso em: 06 fev. 2015.
12. FREIRE, F. A. M.; LUCHIARI, A. C.; FRANSOZO, V. Environmental substrate selection and
daily habitual activity in Xiphopenaeus kroyeri shrimp (Heller, 1862) (Crustacea:
Penaeioidea). Indian Journal of Geo-Marine Sciences, v.40, 2011. p. 325-333.
13. DOMINGOS, J. A. S. Efeito do uso de diferentes quantidades de substratos artificiais na
engorda do camarão marinho Litopenaeus vannamei (Boone, 1931), em um sistema de cultivo
semi-intensivo. [Dissertação de Mestrado em Aquicultura]. Centro de Ciências Agrárias,
Universidade Federal de Santa Catarina; 2003. 36f. Disponível em:
<http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/84854>. Acesso em: 06 fev. 2015.
14. SANTOS, D. B.; PONTES, C. S.; FREIRE, F. A. M.; BESSA JUNIOR, A. P. Efeito do tipo de
sedimento na eficiência alimentar, crescimento e sobrevivência de Litopenaeus vannamei (Boone,
1931). Acta Scientiarum. Biological Sciences, n. 33, v. 4, 2011. p. 369-375.
15. FONSECA, S. B.; MENDES, P. P.; LYRA, C. J.; BITTENCOURT, A. C. F.; VILAR DA SILVA,
J. H. Cultivo do camarão marinho em água doce em diferentes densidades de estocagem. Pesquisa
agropecuária brasileira, v. 44, n.10, 2009. p.1352-1358.
31
MANUSCRITO II RESPOSTAS COMPORTAMENTAIS DE CAMARÕES
INFECTADOS POR VIBRIOS E EXPOSTOS A DIFERENTES
TRATAMENTOS VETERINÁRIOS2
Resumo: O estudo do comportamento animal auxilia no conhecimento das enfermidades e subsidia as
discussões sobre manejo em muitas espécies. Na carcinicultura, foram descritos dados sobre o
comportamento de Litopenaeus vannamei, que podem ser de grande valia no controle da sanidade.
Objetivou-se descrever o comportamento de juvenis L. vannamei infectados por Vibrio
parahaemolyticus submetidos a tratamentos veterinários. Cento e sessenta camarões juvenis foram
trazidos para o Centro de Sanidade Aquícola do Departamento de Oceanografia e Limnologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Foram divididos em cinco grupos com 32 aquários de
vidro cada, com capacidade para 5L, colocado apenas um camarão, obedecendo a um ciclo de
claro/escuro de 12h. A qualidade de água foi avaliada diariamente. Grupos: a) Controle 1, Animais
saudáveis; b) Controle 2, Animais infectados e não tratados; c) Grupo ANTIB, tratado com antibiótico
florfenicol; d) Grupo ISO, tratado com isopatia; e) Grupo ANTIB+ISO, tratado com as duas
terapêuticas. Para todos os grupos, à exceção do grupo Controle 1, foi aplicado por via oral, em dose
única, 0,5 mL inóculo com V. parahaemolyticus. Os comportamentos de inatividade, exploração de
substrato, natação, ingestão de alimento, limpeza, manipulação do alimento, foram observados. Os
resultados obtidos indicam que os animais tratados com a associação de medicamentos ANTIB+ISO
têm respostas comportamentais semelhantes ao grupo Controle 1, sugerindo que os animais
mantiveram o comportamento semelhante aos animais saudáveis.
Palavras-chave: Isopatia. Litopenaeus vannamei. Vibrioses.
VETERINARY TREATMENTS TO VIBRIOSIS IN MARINE SHRIMP:
BEHAVIORAL RESPONSES
Abstract: The study of animal behavior is important for a better comprehension of animal diseases
and for supporting development of species management. Data obtained from shrimp culture focusing
the behavior of Litopenaeus vannamei have been identified as an important tool in the control of
shrimp sanity. This study aimed to describe the behavior of L. vannamei juveniles infected with Vibrio
parahaemolyticus and undergoing veterinary treatment. One hundred and sixty juvenile shrimp were
brought to the Aquaculture Health Center of the Department of Oceanography and Limnology at the
Federal University of Rio Grande do Norte, where they were divided into five groups of 32
individuals, each introduced to a glass aquarium, with a capacity of 5L, under a 12 hour light/dark
cycle. Water quality was analysed daily. The five groups according to treatments were as follows: a)
control, b) animals infected, but not treated, c) Group treated with antibiotics, d) treated group with
isopathy, e) Group treated with isopath plus antibiotics. For all groups, but the control group, a single
dose of 0.5 ml Inoculum to V. parahaemolyticus was administered orally. The behaviors of inactivity,
substrate exploration, swimming, food intake, cleaning, food handling were recorded. The results
indicate that infected prawns treated with isopathy plus antibiotics showed behavioral
performance similar to the control group, indicating that their behavior is compatible with
healthy individuals.
Index terms: Isopathy, Litopenaeus vannamei, Vibrio Infections.
2 O manuscrito II corresponde a artigo a ser submetido para publicação em periódico especializado, estando
normatizado conforme preconiza a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
32
1 INTRODUÇÃO
Na produção animal, em algumas ocasiões, faz-se uso de uma grande quantidade de
medicamentos para manter a sanidade dos animais em criação e sua produtividade. Entre os
fármacos mais utilizados estão os antibióticos, o que tem gerado um problema para saúde
animal e humana, a resistência bacteriana (BENGTSSON; GREKO, 2014). Observa-se que,
nessa produção, muitas vezes como tratamento, outras para prevenir ou ainda como aditivo,
os antibióticos são usados (MOTA et al., 2005; MENDES et al., 2009), sendo a possibilidade
de presença de resíduos verdadeira (NERO et al., 2007).
Os impactos causados pelo uso de antibióticos no ambiente não estão bem definidos, o
que causam nos animais e destes para a saúde pública. As possibilidades de interação entre
produtos para a lavoura e saúde animal são inúmeras no ambiente, pois o produto poderá
chegar aos mananciais e retornar em pequenas concentrações para outros animais e destes à
saúde humana por meio de vários mecanismos, sem que tenhamos como avaliar sua meia-
vida, ou ação em somatório com outros agentes dispersos no ambiente (ARIAS et al., 2007).
Os antibióticos apresentam peso molecular alto, muitos grupos funcionais ionizáveis, fatores
que dificultam a compreensão de sua ação no ambiente, já que são poucos os estudos
realizados nas nossas condições climáticas (KAY et al., 2005). Entende-se que é imprevisível
o impacto do uso indiscriminado destas moléculas e que há necessidade de mais pesquisas
sobre o tema.
As enfermidades na carcinicultura, por ser uma área de alta produtividade e grande
empregabilidade, sobretudo na região Nordeste do Brasil (ROCHA, 2011), geram um forte
impacto econômico e social. Dentre essas enfermidades, destacam-se as provocadas por
bactérias do gênero Vibrio, pois são agentes patogênicos importantes de caráter oportunista,
infectando os camarões em situações estressantes da criação, tais como, mudanças de
parâmetros ideais da água e aparecimento de outros agentes causadores de doença
(LIGHTNER, 1993; MENDES et al., 2005).
Os camarões infectados por este grupo de patógenos podem desenvolver: vibriose
sistêmica, síndrome Zoea II, necrose com erosão da carapaça e doença de luminescência
(MORALES-COVARRUBIAS, 2008). Em uma vibriose sistêmica, a mais grave entre estas,
L. vannamei, pode apresentar o seguinte quadro clínico: nado incoordenado, grampeamento
abdominal, inflamação em hepatopâncreas e, também, luminescência. Se outros agentes
mórbidos estiverem envolvidos ou ocorrer algum desequilíbrio no ambiente, pode levar ao
33
agravamento da doença (MORALES-COVARRUBIAS, 2014). A cura poderá advir do
diagnóstico e manejo sanitário adequado.
No ano de 2009, foi relatado à carcinicultura mundial uma enfermidade atualmente
conhecida como Hepatopancreatite Necrosante Aguda, em sua sigla inglesa AHPND, sendo
identificado como agente causador Vibrio parahaemolyticus. Esta enfermidade, com altas
taxas de mortalidade entre camarões juvenis, foi identificada na Ásia e América do Norte,
levando a perda de grandes produções de camarões (SOTO et al., 2015).
Nas enfermidades bacterianas, entre a melhoria do manejo e da qualidade ambiental
alguns fármacos são permitidos, inclusive alguns antibióticos. Dentre os usados na
aquicultura brasileira podemos citar a oxitetraciclina (UNO et al., 2006), enrofloxacina e o
florfenicol (CARRASCHI et al., 2011), que tem seu uso permitido para algumas espécies de
peixes (MSD, 2009). Estes entre outros antibióticos têm sido encontrados em ambientes
aquáticos (HIRSCH et al., 1999), podendo deixar resíduos nos animais se não respeitada sua
meia-vida. O mau uso dessas substâncias pode trazer problemas graves através da seleção de
bactérias resistentes, que podem permanecer nos resíduos da produção (GASTALHO et al.,
2014).
Devido aos transtornos que o uso indevido de antibióticos pode causar, busca-se
terapêuticas mais seguras aos humanos e animais e menos impactantes ao ambiente. A
homeopatia, princípio que trata através de similitude, é uma alternativa terapêutica segura,
usada em muitas espécies, inclusive sendo especialidade na medicina veterinária desde o ano
1995 (SOUZA, 2002).
Da mesma forma, a isopatia, cura pelos iguais, também descrita pelo fundador da
homeopatia, tem sido prescrita na medicina veterinária para tratamentos de várias
enfermidades e em muitas espécies animais (CAMILO et al., 2015). A isopatia, princípio em
que o medicamento é elaborado a partir do agente que causa a enfermidade, segue as
orientações de preparo da farmacotécnica homeopática, excluindo, no entanto, o princípio de
similitude, ou seja, no caso da isopatia o princípio usado é da igualdade, o agente que causa a
doença será o mesmo que será usado na medicação para provocar a cura (CORREA et al.,
2006). Por sua característica de diluição a doses mínimas, onde muitas vezes não há a
substância que deu origem ao preparo, não deixa resíduos nos animais, na água e no ambiente.
Não causa perigo à saúde pública, o que pode fazer deste uma terapia ideal para uso na
aquicultura (MARTINS et al., 2004).
Outro fator de fundamental importância e que pode fornecer subsídios para a busca do
bem-estar dos animais, como diminuição do estresse e melhoria dos índices zootécnicos na
34
criação, são as investigações sobre a resposta comportamental desses animais às terapêuticas
aplicadas. Os estudos em etologia aplicada à criação comercial visando o entendimento do
comportamento natural da espécie animal e a promoção de conforto aos animais pela
adequação dos recintos. Esse tema tem sido uma preocupação da sociedade hodierna,
confirmada pela criação da “International Society for Applied Ethology” – ISAE (MILLMAN
et al., 2004; LAWRENCE, 2008; HUNTINDFORD et al., 2008).
Além da observação dos sinais clínicos, um dado importante na compreensão do
adoecimento e que ainda não está claro, é em de que forma uma infecção irá modificar
expressões comportamentais dos camarões, além das já descritas na literatura como sinais
clínicos (PEÑA-NAVARRO; VARGAS-CORDERO; VARELA-MEJÍAS, 2013). Alguns
estudos têm avançado trazendo dados sobre as respostas comportamentais dos camarões
peneídeos saudáveis (PONTES et al., 2008; SANTOS et al., 2011; FREIRE et al., 2011;
SANTOS et al., 2013). Como sinais clínicos característicos das vibrioses, observa-se letargia,
inapetência, nado errático e anorexia, estes dados são fruto da observação, das avaliações
macroscópicas e análises a fresco.
A ocorrência de parâmetros ruins de qualidade da água, alimentação inadequada, nível
de salinidade alterado, podem causar estresse aos animais e desencadear alteração na resposta
do sistema imune (PERAZZOLO et al., 2002) diminuindo seu potencial de resposta ao
agressor e predispondo estes organismos a doenças. Sendo um intricado número de fatores
que atuam na resposta do animal ao agente patogênico, o objetivo deste trabalho foi descrever
o comportamento de camarões marinhos infectados pela bactéria Vibrio parahaemolyticus,
submetidos a tratamentos clínicos com antibiótico associado ou não a medicamento isopático.
2 MATERIAL E MÉTODO
O trabalho experimental foi realizado no Centro de Sanidade de Animais Aquáticos,
Departamento de Oceanografia e Limnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), Natal/RN, entre novembro de 2012 e fevereiro de 2013. Toda a água usada no
experimento foi previamente clorada, filtrada, passada em raios UV por 48h, e seguida de
análise microbiológica. Livre de patógenos foi utilizada para encher os 160 aquários de vidro
com capacidade para 5L, os quais foram divididos em 5 grupos (Controle 1, Controle 2,
Infectado INF, Isopatia ISO, Antibiótico ANTIB e Isopatia e antibiótico ISO+ANTIB) de 32
aquários, numerados sequencialmente e colocados em prateleiras, onde fosse possível
visualizar todos os animais (Figura 1).
35
Figura 1 – Estantes e aquários de vidro numerados, que constituíram as unidades experimentais
Fonte: acervo da pesquisa
Os camarões juvenis da espécie L. vannamei foram colocados individualmente nos
aquários para aclimatação cinco dias antes do início do experimento. Foram pesados no início
do tratamento (5,1± 0,29 g) e, durante todo o experimento, receberam ração para camarões
juvenis com 35% de proteína bruta. A ração foi preparada após a pesagem, sendo embebida
em óleo de peixe (Biogel) para que, independente do grupo a ser tratado, tivessem
palatabilidade semelhante. Em parte da ração foi adicionado florfenicol (10 mg/kg) para ser
oferecida ao grupo tratado com antibiótico. A ração, para todos os grupos, foi oferecida duas
vezes ao dia, às 9h e às 16h, na proporção de 5% da biomassa.
Previamente ao início do experimento, as cepas de Vibrio parahaemolyticus foram
reativadas em Agar Triptona de Soja (TSA adicionado 1% de NaCl), incubadas à temperatura
de 30ºC e após 24h foram semeadas em Agar Tiosulfato-Citrato-Sais Biliares-Sacarose
(TCBS) em placas invertidas e incubadas na mesma temperatura por mais 24h. Algumas
colônias foram semeadas em tubos inclinados com TSA com sal (1%) e incubadas por 24h. O
inóculo foi preparado a partir das colônias que foram retiradas, sendo dissolvidas em 100 mL
de solução salina estéril até obter a concentração de 0,5 da escala Mc Farland.
O experimento foi composto por dois grupos controle, um sem infecção (CONT) e
outro com camarões infectados (INF), mas que não receberam tratamento com medicamentos
(antibiótico ou isopatia), e três grupos experimentais, tendo um recebido tratamento com
antibiótico florfenicol, o outro tratado só isopatia (medicamento preparado com colônia de V.
parahaemolyticus diluído em água na CH12, conforme farmacotécnica homeopática) e o
terceiro recebendo ambos os tratamentos (Quadro 1).
36
Todo o experimento teve duração de 18 dias. No primeiro dia, os animais dos grupos
experimentais e Controle 2 (INF, ANTIB, ISO e ISO+ANTIB) foram inoculados com cepa de
V. parahaemolyticus (ATCC-17802). O inóculo foi aplicado imediatamente após o seu
preparo, na dose de 0,5 mL por via oral com auxílio de seringa de 1 mL e cateter para uso
endovenoso no. 24. Os animais do grupo Controle 1 receberam 0,5mL de solução salina
0,09% por via oral, para que houvesse similaridade no manejo. Para confirmação da
viabilidade das bactérias e ausência de contaminação, o inóculo aplicado aos animais foi
semeado em placas TCBS e incubado por 24h (CLSI).
A água dos aquários foi monitorada a cada três dias para os seguintes parâmetros:
oxigênio dissolvido (OD), temperatura (estes dois usando oxímetro digital acoplado com
termômetro), pH, nitrito, amônia total (testes colorimétricos). Nos mesmos dias, amostras de
água foram retiradas de cinco aquários de cada grupo de 32 ao acaso e realizada análise
microbiológica para confirmação da presença das bactérias.
A cada seis dias, foram sorteados aleatoriamente cinco camarões vivos, previamente
pesados e encaminhados para análise presuntiva a fresco, seguida de bacteriologia do
hepatopâncreas, e um deles era encaminhado para histologia de acordo com a metodologia
proposta por Bell e Lightner (1988) e Lightner (1996). A mortalidade em todos os grupos foi
registrada ao longo do experimento.
Para os dados comportamentais, cinco animais foram observados, por sorteio,
diariamente em cada grupo. As observações ocorreram nos dez minutos anteriores e dez
minutos posteriores à colocação do alimento, pelo método focal (ALTMANN, 1974), com
registro instantâneo a cada 2 minutos. Durante as observações, foi utilizada uma planilha
elaborada para registros, que incluiu os seguintes comportamentos já observados por Pontes
(2006), descritos no Quadro 2. Os horários estabelecidos para observação foram às 9h e às
16h. As observações foram feitas no período claro e os animais foram mantidos em ciclo
claro/escuro de 12h, com o claro iniciando às 6h.
Para realização das análises estatísticas, foi utilizado o programa SIGMASTAT,
versão 3.5 (Systat, Erkrath, Alemanha) e STATISTIC 6.0. Os dados foram analisados
utilizando-se a análise de variância não paramétrica de Friedman, dependendo da sua
parametricidade (normalidade: Kolmorov-Smirnov; homocedasticidade: ShapiroWilks),
seguido do teste de Tukey ou do teste de Student-Newman-Keuls (SNK), a 5% de
probabilidade (ZAR, 1999).
37
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 ATIVIDADES COMPORTAMENTAIS DE L. vannamei ANTES E APÓS A
OFERTA DA RAÇÃO
A presença do alimento artificial influencia a expressão comportamental (PONTES;
ARRUDA, 2005). Observou-se que a ingestão de alimento (ING) registrada apenas após a
oferta da ração, diferiu entre os tratamentos testados (χ2 = 100,911; Tukey) (Figura 2), sendo
os maiores valores médios observados para o grupo controle 1 (CONTR 1) (4,71±0,78) e para
o grupo tratado com isopatia e antibiótico (ISO+ANTIB) (4,01±0,89). Observou-se nos
grupos que receberam tratamentos com isopatia+antibiótico (ISO+ANTIB), apenas isopatia
(ISO) e no grupo controle 2(INF) valores semelhantes entre si e superiores ao grupo tratado
apenas com antibióticos (χ2 = 100,911; Tukey).
Figura 2 – Comportamento alimentar dos camarões infectados por Vibrio e submetidos a tratamentos clínicos
com antibiótico e/ou isopatia, após a oferta da ração. Tratamentos: 1) ANTIB: grupo de camarões infectados e
com administração de antibióticos; 2) CONTR 1: grupo controle sem inoculação de patógeno e sem
administração de medicamentos alopático e isopático; 3) INF: grupo controle 2 infectado sem uso de
medicamentos alopático e isopático; 4) ISO+ANTIB: grupo infectado e com administração de medicamentos
alopático e isopático; 5) ISOP: grupo infectado e com administração de medicamento isopático. Médias
seguidas de letras iguais não diferem pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
Fonte: acervo da pesquisa
O princípio do vitalismo de que trata a homeopatia justifica que os animais tratados
com o medicamento isopático se alimentam melhor, pois têm a sua energia vital estimulada,
daí observamos que o grupo enfermo e que usa só antibiótico não consegue o mesmo
resultado quanto à ingestão de alimento (SOUZA, 2002). O grupo tratado com as duas
38
terapêuticas, a que recebe as duas ao mesmo tempo tem a resposta de ingestão maior,
provavelmente porque o antibiótico diminui a carga bacteriana, enquanto que o isopático
estimula a força vital. O comportamento alimentar de peneídeos é desencadeado a partir da
oferta de alimento artificial, especialmente das rações que são acrescidas de atrativos
químicos de baixo peso molecular (aminoácidos livres) (LEE; MEYERS, 1996; PONTES;
ARRUDA, 2005). Observou-se que as atividades comportamentais de L. vannamei sofrem
influência da presença do alimento artificial, variando em função da oferta, o que também foi
observado por Pontes e Arruda (2005).
Sobre os comportamentos exibidos por L. vannamei na presença do alimento artificial,
foi observado que os animais se tornam mais ativos (busca pelo alimento) durante os
primeiros minutos de exposição à ração, fato este também observado por Pontes e Arruda
(2005a) e, além disto, para F. subtilis, a alimentação é mais intensa nos 10 minutos
posteriores à exposição à ração, ocorrendo após esta fase de forma ininterrupta e pausada
(NUNES et al., 1997). Neste trabalho, observamos a ingestão do alimento apenas nos
primeiros 10 minutos após o oferecimento do alimento, de modo que não podemos relatar se a
ingestão foi maior após este período em algum grupo.
Na descrição dos sinais clínicos de vibriose nos camarões, estes apresentaram
fraqueza, inapetência, anorexia e baixo ou nenhum enchimento do trato digestório (NUNES;
MARTIN, 2002; AGUIRREZ-GUSMAN, 2004). No entanto, diferente destes dados,
observou-se que os camarões infectados, recebendo ou não tratamento, apresentaram sinais
(registros comportamentais) de apetite durante as observações.
Os grupos controle 1 (CONTR 1) e tratados com isopatia e florfenicol (ISO+ANTIB)
tiveram mais registros de ingestão de alimento, provavelmente os demais grupos testados
tiveram menores registros devido à colonização de Vibrio no hepatopâncreas dos animais.
Ainda não está clara a relação de patogenicidade de espécies de Vibrio no hepatopâncreas
com o atraso no crescimento (SUNG, 1994; 2001). O autor sugeriu que o camarão sob ataque
do patógeno teria o seu crescimento retardado por algum(ns) mecanismo(s), porém não se
sabe se comportamental ou fisiológico, os quais permanecem indeterminados.
Observou-se a manipulação do alimento (MAN) em todos os grupos após a oferta da
ração, apresentando diferença significativa entre os grupos testados (χ2 = 93,339, Tukey). As
maiores médias foram encontradas nos grupos tratados com florfenicol (0,49±0,78) (ANTIB)
e isopatia (0,53±0,8) (ISO) (Figura 3). Alimentos para camarões que possuam em sua
composição nutricional quimioatratores são importantes para este grupo animal, pois seu
consumo do alimento é lento e pode ocasionar lixiviação dos nutrientes após a imersão na
39
água (NUNES et al., 2006). Desta forma, entende-se aqui que não houve diferença entre os
grupos pela presença de óleo de peixe que funcionou como um quimioatrator.
Figura 3 – Comportamento manipulação do alimento após a oferta da ração em L. vannamei Tratamentos: 1)
ANTIB: grupo de camarões infectados e com administração de antibiótico; 2) CONTR: grupo controle sem
inoculação de patógeno e sem administração de medicamentos alopático e isopático; 3) INFEC: grupo
infectado e sem administração de medicamentos alopático e isopático; 4) ISO+ANTIB: grupo infectado e com
administração de medicamentos alopático e isopático; 5) ISO: grupo infectado e com administração de
medicamento isopático. Médias seguidas de letras iguais não diferem pelo teste de Tukey, a 5% de
probabilidade.
Fonte: acervo da pesquisa
Observou-se que os comportamentos que obtiveram os maiores valores médios antes
da oferta da ração foram inatividade, exploração do substrato, limpeza e natação. A
inatividade diferiu estatisticamente (χ2 = 136,106, Tukey), antes e após a oferta do alimento,
sendo observadas maiores frequências para os grupos infectado (INF), antibiótico (ANTIB) e
isopatia (ISO). Observou-se que o comportamento de exploração de substrato foi diferente
entre os grupos (χ2 = 64,211, Tukey) antes da oferta do alimento, tendo maiores valores
médios para o grupo tratado com isopatia + florfenicol (ISO+ANTIB) (1,89±1,38). Não foi
observado diferença neste comportamento (EXP) após a oferta do alimento (χ2 = 7,610, p=
0,107).
A limpeza (LIM) foi um comportamento exibido antes e após a oferta do alimento,
tendo sido observada diferença significativa antes da oferta, com maiores valores médios para
o grupo tratado com isopatia + florfenicol (ISO+ANTIB) (χ2 = 32,816, Tukey). A limpeza é
um comportamento que em crustáceos pode estar ligado a quimiorrecepção, capacidade
importante para o estabelecimento de hierarquia (BARBATO; DANIEL, 1997). Apesar de
várias espécies de crustáceos decápodes apresentarem este comportamento e gastarem muito
tempo e energia na realização desta atividade, consideramos este dado como um
40
comportamento aparentemente deslocado (tensão), que pode ser relacionado com o tamanho
do aquário (espaço restrito) e a presença de microrganismos no ambiente externo e interno.
Neste trabalho, a inatividade foi o comportamento mais frequente e este sofreu
modificações em função da presença do alimento artificial. Os indivíduos mostraram-se mais
inativos em todas as observações ocorridas antes (A) da oferta, sendo os grupos infectados e
tratados com antibiótico (ANTIB) e isopatia (ISO) com maiores registros de inatividade. É
descrito na literatura que camarões infectados por Vibrio apresentam letargia e quando estão
próximos à morte, deitam-se no fundo do viveiro e ficam com pouca ou nenhuma
movimentação de seus apêndices locomotores, ficando parados (MENDES et al., 2009). Nos
trabalhos de Dall (1986) e Dall et al. (1990) foi enfatizado que os camarões peneídeos
(Penaeus esculentus, L. vannamei) reduzem suas atividades exibidas durante o dia para
poupar o gasto energético. Afirmam que os camarões permanecem inativos durante o dia e
que à noite, tornam-se mais ativos, triplicando o consumo de oxigênio.
Guerao e Ribeira (1996) analisaram o padrão de atividades do camarão
marinho Palaemon serratus e observaram que o camarão apresenta ritmicidade endógena de
período circadiano, com atividade máxima noturna. No entanto, Lima (2011) registrou maior
frequência de inatividade durante a fase de escuro do dia e em temperatura de 18ºC. Santos et
al. (2013) registraram frequências de atividade (emergência do substrato e atividade natatória)
durante a fase clara do dia. Devido à ausência de areia, provavelmente para diminuir o gasto
energético e a exposição a predadores, observou-se que os animais ficaram mais tempo
inativos, uma vez que não pôde exibir o comportamento de enterramento e nem revirar
sedimento sobre o substrato.
Os animais exploraram o ambiente de forma homogênea em todos os horários
observados e em todos os tratamentos testados. Este comportamento também foi observado
em camarões L. vannamei por outros autores (PONTES et al., 2006; LIMA, 2011; SANTOS
et al., 2013).
O deslocamento dos animais (comportamento de exploração e natação) é mais
frequente durante o dia (DALL et al., 1990; FREIRE, 2005; PONTES, 2006; SANTOS,
2013), no entanto, comparado aos outros comportamentos, consideramos o registro de
menores frequências de natação, podendo estar relacionado ao fato da presença de patógenos
no ambiente. Observou-se que a natação apresentou sua maior média no grupo infectado sem
tratamento depois da alimentação. Este dado é importante e está relacionado aos sinais
clínicos da enfermidade, desorientação e nado errático (MENDES et al., 2005), mesmo
sensibilizado pela presença do alimento. Por apresentar os sinais da doença, os animais giram
41
sem parar até conseguirem segurar a ração e, em seguida, param e iniciam o processo de
ingestão, ou seja, os animais deste grupo (INFEC) demoram mais que os animais dos outros
grupos para realizarem a ingestão.
Figura 4 – Comportamentos do camarão L. vannamei infectados por Vibrio e submetidos a tratamentos clínicos
com antibiótico e/ou isopatia, após a oferta da ração. A: comportamento limpeza. B: comportamento de
inatividade. C: comportamento rastejando. D: comportamento de natação. Tratamentos: 1) ANTIB: grupo de
camarões infectados e com administração de antibióticos; 2) CONTR: grupo controle sem inoculação de
patógeno e sem administração de medicamentos alopático e isopático; 3) INFEC: grupo infectado e sem
administração de medicamentos alopático e isopático; 4) ISO+ANTIB: grupo infectado e com administração de
medicamentos alopático e isopático; 5) ISOP: grupo infectado e com administração de medicamento isopático.
Médias seguidas de letras iguais não diferem pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
42
3.2 TAXA DE MORTALIDADE
Não foi registrada diferença estatística significativa na taxa de mortalidade entre os
grupos (p>0,05) (Tabela 3). Houve registros de animais mortos em todos os grupos, sendo o
número de mortos maior no grupo controle 2 (infectado) do que nos grupos controle 1 e nos
grupos que fizeram uso de medicamentos (isopatia e antibioticoterapia, simultaneamente). As
vibrioses podem levar à morte dos animais em 48h pós-inoculação (PADILHA et al., 2013).
No entanto, no grupo CONTR ocorreu nos primeiros 12 dias do período experimental,
provavelmente os animais gravemente enfermos morreram e os que sobreviveram, tratados ou
Antes Depois
Fonte: acervo da pesquisa
A
D
C
B
43
não, entraram em fase de recuperação e remissão dos sinais clínicos, o que também foi
acompanhado através da histopatologia.
3.3 GANHO DE PESO
Na carcinicultura, o parâmetro zootécnico do ganho de peso é um dos mais
importantes (NUNES, 2005). Os dados do controle (CONT) e isopatia mais antibiótico
simultaneamente (ISO+ANTIB) formaram curva ascendente nos 18 dias de experimento,
embora ao analisarmos o ganho semanal em gramas por camarão, o melhor desempenho foi
ainda o controle (CONT) com 0,6g/semana. O grupo ANTIB tratado com florfenicol
apresentou mesmo ganho de peso, 0,6g/semana. Este parâmetro zootécnico depende de outros
fatores, entre eles destacamos: qualidade nutricional do alimento, biodisponibilidade dos
nutrientes, parâmetros de qualidade da água e densidade de estocagem. Em Penaeus
monodom observou-se aumento do peso destes organismos em 0,58 g/semana em uma dieta
basal (WILLIAMS et al., 2005), o que se aproxima dos resultados aqui obtidos para L.
vannamei. O grupo controle 2 (INFEC) apresentou ganho de peso de 0,3g/semana, muito
abaixo dos outros dois grupos: isopatia mais florfenicol simultaneamente (ISO+ANTIB)
0,5g/semana e grupo isopatia (ISO) 0,5g/semana, mesmo que com relação a ingestão de
alimento os três grupos não apresentassem diferença estatística. É possível que a presença de
Vibrio nos camarões resultou em baixa taxa de conversão alimentar e de crescimento, o que
significa dizer que camarões altamente colonizados por Vibrio no hepatopâncreas tendem a
crescer mais vagarosamente e, portanto, consomem mais insumos (CHAYABURAKUL et al.,
2004). Observamos ingestão de alimento igual nos três grupos (CONT, ISO+ANTIB e
INFEC), assim, sugere-se que o desgaste observado no grupo infectado para alcançar o
alimento (nado incoordenado e desorientado) contribuiu para a diminuição de sua taxa de
conversão e, consequentemente, seu ganho de peso.
À exceção dos camarões do grupo ISO+ANTIB, todos os demais apresentaram um
ganho de peso nos primeiros 6 dias, seguido de queda para o grupo INFEC e ISSO. Talvez a
situação de estresse provocada pela inoculação do patógeno tenha levado ao disparo na
resposta humoral do sistema imune. Estas incluem o sistema profenoloxidase, a coagulação
em cascata e vários peptídeos com ação antimicrobiana (IWANAGA; LEE, 2005). Em
seguida deve ter ocorrido um aumento da carga bacteriana nos animais, morte de alguns, os
camarões não tratados tiveram perda de peso e os tratados reverteram e ganharam peso ou
estabilizaram. Observa-se que nos últimos seis dias houve uma ligeira queda no ganho de
44
peso do grupo tratado com florfenicol (ANTIB), mas não interferiu na sua média de ganho de
peso semanal, mantendo este grupo em situação semelhante ao de controle (Figura 5).
Figura 5 – Média de ganho de peso nos grupos experimentais a cada 6 dias do experimento a) Controle,
b)isopatia e florfenicol simultaneamente (ISO+ANTIB), c) Infectado, d) Antibiótico florfenicol (ANTIB) e
Isopatia.
Fonte: acervo da pesquisa
Um dado importante, e que foi avaliado para todos os grupos, foi o acompanhamento
da histopatologia a cada 6 dias pós infecção (Quadro 1). Os camarões estavam saudáveis no
início do experimento, entretanto não eram livres de patógenos específicos. Quando se
observou a histologia dos animais amostrados, foram identificadas lesões compatíveis com
doença viral conhecida por Doença da Mionecrose Infecciosa (IMNV).
Quadro 1 – Descrição dos resultados da observação histopatológica dos camarões dos 5 grupos experimentais,
onde 0= não encontrado lesão, 1= encontrado lesões características, 2= encontradas muitas lesões características.
Tratamento 12/12/2013 18/12/2013 25/12/2013
Gravidade das lesões encontradas
CONTROLE IMNV 0 1 0
BACTERIOSE 0 0 0
INFECTADO IMNV 2 2 1
BACTERIOSE 1 1 0
ISOPATIA IMNV 1 1 0
BACTERIOSE 1 0 0
ANTIBIOTICO IMNV 1 1 1
BACTERIOSE 0 0 0
ANTIB + ISO IMNV 1 0 1
BACTERIOSE 1 0 0
Fonte: acervo da pesquisa
45
A IMNV atinge camarões juvenis e está relacionada a estresse físico e ambiental,
apresentando na fase aguda alta mortalidade, reduzindo na fase crônica (LIGHTNER;
PANTOJA, 2004). Nos dois animais de cada grupo retirados para histopatologia foram
observadas lesões características de infecção bacteriana até 12 dias pós inoculação do
patógeno no grupo infectado (INFEC). Nos demais animais medicados seja por isopatia (ISO)
ou por florfenicol (ANTIB) ou ainda os dois simultaneamente (ISO+ANTIB), as lesões
provocadas pelas bactérias só foram observadas até o sexto dia após a inoculação do patógeno
e o grupo controle (CON) e o tratado com florfenicol (ANTIB) não foi verificada lesão
característica de infecção bacteriana.
4 CONCLUSÕES
O grupo tratado com antibiótico florfenicol associado ao medicamento isopático
Vibrio parahaemolyticus CH 12 e o grupo controle apresentaram maiores
frequências de comportamento de ingestão de alimento e exploração de substrato.
O grupo tratado com antibiótico florfenicol associado ao medicamento isopático
Vibrio parahaemolyticus CH 12 e o grupo controle apresentaram menor número de
animais mortos durante o experimento.
O uso do medicamento isopático para tratar vibriose em camarões juvenis leva as
mesmas frequências comportamentais que os tratados apenas com alopático.
Utilizando este parâmetro como indicativo de enfermidade ou sanidade a melhor
escolha, por provocar menos danos ambientais, é a isopatia.
REFERÊNCIAS
ALTMANN, J. Observational study of behavior: sampling methods. Behaviour, Leiden, 40:
227-267, 1974.
ARIAS, A. R. L. et al. Utilização de bioindicadores na avaliação de impacto e no
monitoramento da contaminação de rios e córregos por agrotóxicos. Ciência & saúde
coletiva, v. 12, n. 1, p. 61-72, 2007.
BARBATO, J. C.; DANIEL, P. C. Chemosensory activation of an antennular grooming
behavior in the spiny lobster, Panulirus argus, is tuned narrowly to L-glutamate. Biological
Bulletin, 193, 107-l15, 1997.
BELL, T. A.; LIGHTNER, D. V. A Handbook of Normal Penaeid Shrimp Histology.
Lousiana. USA: World Aquaculture Society. 114p. 1988.
46
BENGTSSON, B.; GREKO, C. Antibiotic resistance-consequences for animal health,
welfare, and food production. Upsala journal of medical sciences, v. 119, n. 2, p. 96-102,
2014.
CAMILLO, L. et al. Efeito de bioterápico na eosinofilia durante a SLMV experimental.
Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, v. 35, n. 4, 2015.
CARRASCHI, S. P. et al. Efficacy of the florfenicol and of the oxytetracycline in the control
in Aeromonas hydrophila in pacu (Piaractus mesopotamicus). Arquivo Brasileiro de
Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 63, n. 3, p. 579-583, 2011.
CORREA, A. D. et al. Similia Similibus Curentur: revisitando aspectos históricos da
homeopatia nove anos depois. Hist. cienc. saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1,
p. 13-31, Mar. 2006. Available from:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
59702006000100002&lng=en&nrm=iso>. Access on: 29 oct. 2015.
CORREA, A. D.; SIQUEIRA-BATISTA, R.; QUINTAS, L. E. M.; SIQUEIRA-BATISTA,
R. Similia Similibus Curentur: revisitando aspectos históricos da homeopatia nove anos
depois. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 2006, v.13, n.1, p. 13-31. Available from:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104>. Access on: 29 oct. 2015.
FREIRE, F. A. M.; LUCHIARI, A. C.; FRANSOZO, V. Environmental substrate selection
and daily habitual activity in Xiphopenaeus kroyeri shrimp (Heller, 1862) (Crustacea:
Penaeioidea). Indian Journal of Geo-Marine Sciences, v.40, p. 325-33, 2011.
GASTALHO, S.; SILVA, G.; RAMOS, F. Uso de antibióticos em aquacultura e resistência
bacteriana: impacto em saúde pública. Acta Farmacêutica Portuguesa, v.3, n.1, p. 29-45,
2014.
HIRSCH, R. et al. Occurrence of antibiotics in the aquatic environment. Science of the Total
Environment, v. 225, n. 1, p. 109-118, 1999.
HUNTINGFORD, F. A.; KADRI, S. Welfare and fish. In: Branson, E.J. (Ed.), Fish welfare.
Blackwell Publishing, Oxford, p. 19-31, 2008.
IWANAGA, S.; LEE, B. Recent advances in the innate immunity of invertebrate
animals. BMB Reports, v. 38, n. 2, p. 128-150, 2005.
KAY, P.; BLACKWELL, P. A.; BOXALL, A. B. A. A lysimeter experiment to investigate
the leaching of veterinary antibiotics through a clay soil and comparison with field
data. Environmental Pollution, v. 134, n. 2, p. 333-341, 2005.
LAWRENCE, A. B. Applied animal behaviour science: past, present and future
prospects. Applied Animal Behaviour Science, v. 115, n. 1, p. 1-24, 2008.
LEE, P. G.; MEYERS, S. P. Chemoattraction and feeding stimulation in
crustaceans. Aquaculture Nutrition, v. 2, n. 3, p. 157-164, 1996.
47
LIGHTNER, D. V. Diseases of cultured penaeid shrimp. CRC handbook of mariculture, v.
1, p. 393-486, 1993.
LIGHTNER, D. V. et al. Infectious myonecrosis: new disease in Pacific white shrimp. Glob
Aquac Advocate, v. 7, p. 85, 2004.
MARTINS, M. L. Cuidados básicos e alternativas no tratamento de enfermidades de peixes
na Aquicultura Brasileira. In: RANZANI-PAIVA, M. J. T.; TAKEMOTO, R. M.; LIZAMA,
M. A. P. (Eds.). Sanidade de Organismos Aquáticos. Editora Varela. São Paulo, 2004. p.
357-370.
MENDES, E. S.; MENDES, P. P.; GÓES, L. M. N. B.; BEZERRA, S. S.; VIEIRA, K. P. B.
A. Os víbrios na carcinicultura. Revista Panorama da Aquicultura, p. 26-29, set.-out. 2005.
MENDES, E. S. et al. Vibrio spp. isolados de camarão e água de cultivo de fazenda marinha
em Pernambuco. Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 4, p. 1191-1199, 2009.
MILLMAN, S. T.; DUNCAN, I. J. H.; STAUFFACHER, M.; STOOKEY, J. M. The impact
of applied ethologists and the International Society for Applied Animal Ethology in
improving animal welfare. Appl. Anim. Behav. Sci, 86:299–311, 2004.
MORALES, V.; CUELLAR-ANJEL, J. (Eds). Guía técnica-Patología e inmunología de
camarones peneidos. OIRSA, Panamá, Rep. Do Panamá, 382p. 2014.
MORALES-COVARRUBIAS, M. S. Enfermedades bacterianas. En: MORALES, V.;
CUÉLLAR- ANJEL, J. (Eds). Guía técnica - patología e inmunología de camarones
penaeidos. Programa CYTED Red II-D Vannamei, Panamá, Rep. de Panamá. 2008. p. 117-
134.
MOTA, R. A; SILVA, K. P. C.; FREITAS, M. F. L.; PORTO, W. J. N.; SILVA, L. B. G.;
Utilização indiscriminada de antimicrobianos e sua contribuição a multirresitência
bacteriana. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, Brasil, v. 42, n.
6, p. 465-470 , jan. 2005. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/bjvras/article/view/26406>. Acesso em: 28 out. 2015.
NERO, L. A. et al. Resíduos de antibióticos em leite cru de quatro regiões leiteiras no
Brasil. Cienc Tecnol Aliment, v. 27, n. 2, p. 391-393, 2007.
NUNES, A. J. P.; MARTINS, P. C.; GESTEIRA, T. C. V. Carcinocultura Ameaçada.
Produtores sofrem com as mortalidades decorrentes do Vírus da Mionecrose Infecciosa
(IMNV). Panorama da Aquicultura, Maio/Junho. p. 37-51. 2004.
PAIVA ROCHA, I. Carcinicultura Brasileira: Processos Tecnológicos, Impactos Sócio-
Econômicos, Sustentabilidade Ambiental, Entraves e Oportunidades. 2011.
PEÑA-NAVARRO, N.; VARGAS-CORDERO, R.; VARELA-MEJÍAS, A. Productos
naturales como estimuladores del sistema inmunológico de Litopenaeus vannamei, infectado
con Vibrio parahaemolyticus. Agronomía Mesoamericana, v. 24, n. 1, p. 133-147, 2013.
PERAZZOLO, L. M. et al. Evaluation of some hemato-immunological parameters in the
shrimp Farfantepenaeus paulensis submitted to environmental and physiological
stress. Aquaculture, v. 214, n. 1, p. 19-33, 2002.
48
PONTES, C. S.; ARRUDA, M. F. Comportamento de Litopenaeus vannamei (Boone)
(Crustacea, Decapoda, Penaeidae) em função da oferta do alimento artificial nas fases clara e
escura do período de 24 horas. Revista Brasileira de Zoologia, v.22, p.648-652, 2005.
PONTES, C. S. Padrão de deslocamento do camarão marinho Litopenaeus vannamei (Boone
1931) (Crustacea, Decapoda, Penaeidae) nas fases clara e escura ao longo de 24 horas.
Revista Brasileira de Zoologia, v.23, p.223-227, 2006.
SANTOS, D. B.; PONTES, C. S.; FREIRE, F. A. M.; BESSA JÚNIOR, A. B. Efeito do tipo
de sedimento na eficiência alimentar, crescimento e sobrevivência de Litopenaeus vannamei
(Boone, 1931). Acta Scientiarum. Biologial Sciences, v.33, p.369-375, 2011.
SANTOS, D. B.; DE MORAIS FREIRE, F. A.; PONTES, C. . Comportamento do camarão
em diferentes substratos nas fases clara e escura do dia. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
v. 48, n. 8, p. 841-848, 2013.
SILVA, E.; BESERRA, F. et al. Uso de probióticos na produção de pós-larvas de
camarão-rosa. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 47, n. 6, p. 869-874, 2012.
SOUZA, M. F. A. Homeopatia veterinária. In: Conferência Virtual Global sobre Produção
Orgânica de Bovino de Corte, Anais... São Paulo. 2002.
SOTO-RODRIGUEZ, S. A.; GOMEZ-GIL, B.; LOZANO-OLVERA, R.; BETANCOURT-
LOZANO, M.; MORALES-COVARRUBIAS, M. S. Field and experimental evidence of
Vibrio parahaemolyticus as the causative agent of acute hepatopancreatic necrosis disease of
cultured shrimp (Litopenaeus vannamei) in northwestern Mexico. Appl Environ Microbiol
81:1689-1699. 2015.
UNO, K.; AOKI, T.; KLEECHAYA, W.; TANASOMWANG, V.; RUANGPAN, L.
Pharmacokinetics of oxytetracycline in black tiger shrimp, Penaeus monodon, and the effect
of cooking on the residues. Aquaculture, p.24-31, 2006.
ANEXOS
Anexo A
Tabela 1 – Descrição dos grupos experimentais
Grupos experimentais Inoculação
do patógeno
Tratamento
isopático
Tratamento
alopático
Controle (CONT) Não Não Não
Infectado (INFEC) Sim Não Não
Antibiótico (ANTIB) Sim Não Sim
Isopático (ISO) Sim Sim Não
Isopático+Antibiótico (ISO +ANTIB) Sim Sim Sim
Fonte: acervo da pesquisa
49
Anexo B
Tabela 2 – Descrição dos comportamentos observados durante o experimento
Comportamento Descrição
Inatividade (INA) O animal fica imóvel ou estacionário no fundo do aquário, movendo
ou não os apêndices locomotores
Exploração de substrato
(EXP)
O animal move os apêndices locomotores e se desloca no fundo do
aquário, aparentemente buscando sobras de alimento
Natação (NAT) O animal se mantém suspenso ou se desloca verticalmente ou
horizontalmente na coluna d’água com movimento dos pleópodos
Ingestão de alimento (ING) O animal ingere a ração peletizada
Limpeza (LIM) O animal fricciona os dois primeiros pares de pereiópodos sobre a
superfície do cefalotórax ou abdome
Manipulação do alimento
(MAN)
Antes e durante a ingestão do alimento o animal gira o alimento com
os apêndices.
Fonte: Pontes, 2006
Anexo C
Tabela 3 – Taxa de mortalidade observada nos grupos
Tratamento Morte Sobrevive
N % N %
ISOPATIA 5 15,6% 27 84,4%
ANTIBIOTICO 5 15,6% 27 84,4%
ISO +ANTIB 4 12,5% 28 87,5%
INFECTADO 6 18,8% 26 81,3%
CONTROLE 4 12,5% 28 87,5%
Fonte: acervo da pesquisa
AGRADECIMENTOS
Ao Laboratório de Farmacotécnica Homeopática e Farmácia Oficinallis pela
elaboração dos medicamentos isopáticos utilizados.
Ao Laboratório de Piscicultura Ornamental da Escola Agrícola de Jundiaí pela cessão
dos aquários de vidro utilizados no experimento.
Ao Labcon pela cessão de testes colorimétricos para análise de água.
50
MANUSCRITO III DETECÇÃO DE NECROSE HEPATOPANCREÁTICA
AGUDA ASSOCIADA A BACTÉRIAS OPORTUNISTAS
EM CAMARÕES JUVENIS3
DETECÇÃO DE NECROSE HEPATOPANCREÁTICA AGUDA ASSOCIADA A
BACTÉRIAS OPORTUNISTAS EM CAMARÕES JUVENIS
Resumo: A carcinicultura mundial tem sofrido forte impacto causado por enfermidades, sobretudo as
de origem viral e bacteriana, levando a queda de produção do Litopenaeus vannamei e perdas
econômicas. A partir de 2009 uma enfermidade causada por Vibrio parahaemolyticus, a
hepatopancreatite necrosante aguda (AHPND) foi relatada em vários países asiáticos e na América do
Norte. O grupo etário alvo são animais juvenis, os quais apresentavam: letargia, anorexia,
permanência no fundo do viveiro, estômago e intestino vazio e atrofia e coloração esbranquiçada do
hepatopâncreas. Em fazenda de cacinicultura apresentando mortalidade foram capturados animais
apresentando os sinais da vribriose, foram examinados com o objetivo de identificar os agentes
bacterianos presentes. Por meio de análise presuntiva, seguida de confirmatória foi isolado V.
parahaemolyticus, e presença das bactérias Aeromonas hydrophila e Vibrio mimicus, agentes
presentes em viveiros provável causa primária da hepatopancreatite necrosante aguda (AHPND).
Conclui-se que é necessário manter os animais cultivados em conforto, uma vez que são oportunistas e
estão em ambientes aquáticos.
Palavras-chave: Bem-estar animal. Litopenaeus vannamei. AHPND.
DETECCIÓN DE BACTERIAS DE LA NECROSIS AGUDA
HEPATOPANCREÁTICA ASOCIADOS EN CAMERÚN JUVENIL OPORTUNISTA
Resumén: La camoronicultura mundial ha sufrido impactos de las enfermedades infecciosas, ya sean
virales o bacterianas. Así la caída de la producción conduce a pérdidas económicas. Desde el año 2009
una nueva enfermedad causada por Vibrio parahaemolyticus se ha reportado en alguns países de Asia
y América del Norte, el grupo de edad son los animales en las primeras etapas de la vida y que pesan
cerca de 2 g. Mostran signos clínicos cómo: letargo, anorexia, quedarse en el fondo del estanque, tripa
vacía y retraso en el crecimiento y el hepatopáncreas blanquecinas. Objetivouse hacer la identicación
de los agentes oportunistas en animales infectados AHPND. Hiciemos a través del análisis presuntivo
seguido por V. parahaemolyticus de confirmación por la biología molecular y había presencia de otras
bacterias además de este agente: Aeromonas hydrophila y agentes de Vibrio mimicus describen por ser
oportunista en viveros y también ser un riesgo para la salud pública, ya que afectan la ser humano.
Palabras-clave: Bienestar de los animales. Litopenaeus vannamei. AHPND.
1 INTRODUÇÃO
3 O manuscrito III corresponde a artigo a ser submetido à revista Industria Acuicola Aqua Negocios S.A. de C.V.
de las Torres, n. 202, CP: 82136, Mazatlán, Sinaloa, México (669) 981 85 71. A priori, encontra-se normatizado
conforme preconiza a ABNT.
51
A carcinicultura mundial sofre prejuízos na produção por enfermidades virais e
bacterianas, que causam alta mortalidade, gerando perdas econômicas
(JIRAVANICHPAISAL et al., 1993; VERSCHUERE et al., 2000; ESCOBEDO-BONILLA,
2008; LIGHTNER, 2011; DANTAS et al., 2015). Os vibrios são bactérias conhecidas por
serem oportunistas, ou seja, estão no ambiente aquático e em baixas de imunidade dos
animais podem provocar infecção. Mudanças bruscas no ambiente aquático, que alterem os
parâmetros de qualidade de água podem debilitar os animais, deixando-os vulneráveis a estes
patógenos (SAULNIER et al., 2001).
A partir de 2009, uma alta taxa de mortalidade nas fases iniciais do ciclo de produção
em camarões peneideos foi relatada em países asiáticos com alta taxa de mortalidade variando
entre 40 a 100% (CUÉLLAR-ANJEL; LIGHTNER; PANTOJA, 2012; HONG et al., 2015).
Em 2010, 2011 e 2013 mais casos com sinais clínicos semelhantes foram identificados no
Vietnam, Malásia e México, tendo o seu agente etiológico, Vibrio parahaemolyticus, sido
identificado em 2013 (SOTO-RODRIGUES et al., 2015). Os sinais clínicos apresentados
pelos animais são: nado errático, pouco crescimento, hepatopâncreas pálido ou esbranquiçado
de tamanho reduzido, carapaça amolecida e intestino com presença entrecortada de alimento
ou sem alimento, manchas escuras no hepatopâncreas que podem ser visualizadas a olho nu e
permanência dos animais no fundo do viveiro. Os sinais clínicos podem aparecer entre o
sétimo e o décimo dia depois do povoamento, podendo ocorrer a reaparição dos sinais clínicos
e mortalidade aos 60 dias da criação (CUÉLLAR-ANJEL, 2013). Foi objetivo deste trabalho
identificar os agentes bacterianos presentes em animais enfermos examinados em fazenda de
produção de camarão que apresentou alta mortalidade.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 LOCAL DE COLETA
Fazenda de produção de camarão Litopenaeus vannamei com 58 ha, 8 tanques de
criação com tamanho aproximado, cada um, de 7ha, localizada na Cidade de
Obregón/Sonora/MX. A fazenda dispunha de berçário, onde as PLs eram mantidas até 30 dias
e em seguida levadas para os viveiros escavados.
2.2 ANIMAIS
52
Camarões da espécie L. vannamei coletados de fazenda onde havia sido relatada alta
mortalidade em viveiros no dia anterior. Do viveiro suspeito foi retirada uma amostra de 10
camarões moribundos apresentando sinais de enfermidade que pesavam entre 7 e 9g (Figura
1). A densidade de criação nos viveiros era de 15 animais/m2, os quais estavam no 52º dia de
cultivo no dia da coleta.
Figura 1 – Camarão L. vannamei retirado do viveiro com alta mortalidade com carapaça amolecida, letárgico e
hepatopâncreas esbranquiçado
Fonte: acervo da pesquisa
2.3 LABORATÓRIO DE ANÁLISES
Todas as análises presuntivas e confirmatórias foram realizadas no Laboratório de
Biosistemas Acuáticos do Instituto Tecnológico de Sonora, unidade centro-ITSON.
2.4 ANÁLISE A FRESCO
Seguindo-se o método estabelecido por Morales Covarrubias (2014). É uma técnica
presuntiva e, como tal, necessita de outras técnicas complementares para diagnóstico
definitivo. Após a observação dos tecidos, a presença de necrose no hepatopâncreas, lesões
necróticas na carapaça, entre outros sinais característicos de infecções por víbrios, era
indicada a retirada de três destes animais para exame no setor de bacteriologia.
2.5 BACTERIOLOGÍA
53
Os organismos que apresentavam danos no hepatopáncreas (necrose e melanização)
foram processados por bacteriología. O órgão foi macerado em 9mL de solução salina
(relação 1:10) e semeados em 100 µl por extensão em placas de agar TCBS, as quais foram
incubadas a 28-30oC por 24h. Foram contadas colônias verdes e amarelas; aquelas que
prevaleceram foram isoladas para sua posterior análise e caracterização. Os isolados foram
purificados em placas de TSA 2% NaCl, e criopreservados a -80oC em frascos com TSB
2%NaCl-30% glicerol (GÓMEZ GIL, 1998).
2.6 COLORAÇÃO DE GRAM
A coloração de Gram (GRAM, 1884) foi utilizada para avaliar possível contaminação
do material observado. As bactérias testadas para V. parahaemolyticus são Gram negativos e
são observadas ao teste com coloração rósea ou vermelha e em forma de vírgula.
2.7 BIOQUÍMICA
As cepas que cresceram foram isoladas e identificadas por sua cor e características de
crescimento da colônia e encaminhadas para provas bioquímicas realizadas por kit comercial
para identificação bioquímica após teste de oxidase.
2.8 BIOLOGIA MOLECULAR
Os isolados com suspeita de V. parahaemolyticus foram analisados mediante reação
em cadeia de polimerase em tempo real (qPCR) com primers AHPND/EMS (IQ2000). Cada
isolado recuperado na bacteriologia dos animais foi submetido ao enriquecimento em Caldo
Soja Tripticaseína (TSB) 2% NaCl e incubado a 28 oC; um mililitro amostra foi transferido
em microtubo e enviado ao Laboratorio de Biología Molecular para confirmação da espécie.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi observada alta mortalidade no viveiro, o que dificultou a captura de animais. A
maior parte destes apresentavam carapaça amolecida e hepatopâncreas esbranquiçado (Figura
2). Segundo Moralles-Covarrubias (2014), a primeira etapa da identificação da enfermidade é
a observação dos sinais clínicos.
54
Figura 2 – Camarões apresentando hepatopâncreas esbranquiçado e conteúdo intestinal entrecortado.
Evidenciado na diferença de coloração entre hepatopâncreas (seta)
Fonte: acervo da pesquisa
Observou-se um aumento do tempo de coagulação em todos os organismos
examinados. Vieira e Gesteira (2008) relataram que a contagem do tempo de coagulação da
hemolinfa não tem relação com o grau de infecção dos animais. No entanto, Maggioni (2004)
e Santos et al., (2005) descrevem que o processo de coagulação da hemolinfa está envolvido
na ação do sistema imune dos camarões, que bloqueia e fecha pequenas lesões, evitando,
assim, a entrada de patógenos em situações de estresse e em possíveis invasões bacterianas.
Isto leva ao desequilíbrio no processo e a coagulação se dá mais lenta do que o esperado.
Na observação do trato digestório, todos os animais apresentavam o intestino vazio e
hepatopâncreas atrofiado e branco, os túbulos também apresentavam deformações, necrose e
melanização, dados que estão de acordo com os descritos para infecção AHPND
(MORALES-COVARRUBIAS, 2014) (Figura 3).
Figura 3 – Lesões, necrose e má formação dos túbulos do hepatopâncreas
Fonte: acervo da pesquisa
55
Os animais com lesões graves em hepatopâncreas tiveram material encaminhado para
PCR no Laboratório de Biologia Molecular de ITSON-centro, com resultado positivo para
AHPND, entretanto, mesmo encaminhando material para identificação molecular, foi seguido
o protocolo de identificação bacteriológica. Estômago e hepatopâncreas foram encaminhados
para o setor de bacteriologia e macerados em solução salina e 100µL foi pipetado e aplicado
sobre o agar TCBS e incubado em placas invertidas a temperatura de 28 a 30°C por 24 h.
Após este período, foi feita a primeira leitura das placas, identificou-se crescimento de
colônias sacarose positivas em hepatopâncreas e estômago para um dos camarões que
apresentou-se com as mais graves lesões em hepatopâncreas. Após o isolamento das cepas em
TSA e feita coloração de Gram para identificar possíveis contaminações, realizou-se
identificação bioquímica das cepas com kits comerciais
Foram identificadas as bactérias Aeromonas hydrophila, bactéria oxidase positiva,
fermentadora de sacarose e patogênica para camarões e Vibrio mimicus, não fermentadora de
sacarose e oxidase positiva, ambas bactérias são patogênicas para camarões e estão descritas
em águas de viveiros, são patogênicas para humanos, portanto, importante para a saúde
pública (COSTA et al., 2008).
Após o crescimento de bactérias dos gêneros Vibrio e Aeromonas encontradas em
estômago dos camarões que apresentaram necrose em hepatopâncreas, foi encaminhado
material para biologia molecular e esta amostra foi positiva para a presença de V.
parahaemolyticus. A região do estado de Sonora havia sido relacionada à presença de
AHPND em 2013 (LIGHTER et al., 2013; SOTO et al., 2015). Sabe-se que os camarões
infectados por esta enfermidade têm mortalidade alta, com 35 dias após a estocagem (TRAN
et al., 2013). Assim, os camarões aqui descritos, no quinquagésimo segundo dia, com peso
entre 7 e 9g, estavam fora deste limite, provavelmente sobreviveram a uma infecção anterior
pela AHPND e foram infectados por bactérias oportunistas frequentemente encontradas em
água de viveiros.
4 CONCLUSÃO
Conclui-se que, em camarões positivos para AHPND, acima do peso, em que
frequentemente incide esta enfermidade, têm alta mortalidade quando infectados por bactérias
oportunistas que estão comumente em águas de viveiros. Desta forma, sugere-se que é
56
necessário manter os animais de criação em condições de conforto, reduzindo o estresse, que
os deixaria vulneráveis a estas infecções.
REFERÊNCIAS
COSTA, R. A. et al. Susceptibilidade" in vitro" a antimicrobianos de estirpes de Vibrio spp
isoladas de camarões (Litopenaeus vannamei) e de água de criação destes animais
provenientes de uma fazenda de camarões no Ceará Nota prévia. Brazilian Journal of
Veterinary Research and Animal Science, v. 45, n. 6, p. 458-462, 2008.
CUÉLLAR-ANJEL, J. D.V; LIGHTNER, C. Síndrome de Mortalidad Temprana (EMS) o
Síndrome de Necrosis Hepatopancreática Aguda (AHPNS). Panorama Acuícola Magazine,
n.18, v.1, 2012. p. 42-43.
CUÉLLAR-ANJEL, J. Enfermedad de la necrosis aguda del hepatopáncreas (AHPND)
Última actualización: 2013, IOWA State University. Disponível em:
<http://www.cfsph.iastate.edu/Factsheets/es/acute-hepatopancreatic-necrosis-disease-es.pdf>.
Acesso em 05 jun. 2015.
DANTAS, M. D. A.; CHAVANTE, S. F.; TEIXEIRA, D. I. A.; LIMA, J. P. M.S.; LANZA,
D. C. F. Analysis of new isolates reveals new genome organization and a hypervariable region
in infectious myonecrosis virus (IMNV). Virus Research. v. 203, 2015. p. 66-71.
ESCOBEDO-BONILLA, C. M.; ALDAY-SANZ, M.; WILLE, P.; SORGELOOS, P. M.B.;
NAUWYNCK, H. J. A review on the morphology, molecular characterization, morphogenesis
and pathogenesis of white spot syndrome virus J. Fish Dis., n. 31, 2008. p. 1-18.
HONG, X.; LU, L.; XU, D. Progress in research on acute hepatopancreatic necrosis disease
(AHPND). Aquaculture International, 2015. p. 1-17.
LIGHTNER, D.V. Virus diseases of farmed shrimp in the Western Hemisphere (the
Americas): a review. J. Invertebr. Pathol, n.106, 2011. p. 110-130.
MORALES-COVARRUBIAS, M. S. Montajes en Fresco. En: MORALES, V.; CUÉLLAR-
ANJEL, J. (Eds.). Guía Técnica – Patología e Inmunología de Camarones Penaeidos.
OIRSA, Panamá, Rep. de Panamá. 2004. p. 29-47.
MORALES-COVARRUBIAS, M. S.; GOMEZ, B. G. Enfermedades bacterianas. En:
MORALES, V.; CUÉLLAR-ANJEL, J. (Eds.). Guía Técnica – Patología e Inmunología de
Camarones Penaeidos. OIRSA, Panamá, Rep. de Panamá. 2004. p. 167-192
SAULNIER, D.; HAFFNER, P.; GOARANT, C.; LEVY, P.; ANSQUER, D. Experimental
infection models for shrimp vibriosis studies. A review Aquaculture, v.191, n. 1, 2000.
p.133-144.
SOTO-RODRIGUEZ, S. A. et al. Field and experimental evidence of Vibrio
parahaemolyticus as the causative agent of acute hepatopancreatic necrosis disease of cultured
shrimp (Litopenaeus vannamei) in Northwestern Mexico. Applied and environmental
microbiology, v. 81, n. 5, 2015. p. 1689-1699.
57
TRAN, L. et al. Determination of the infectious nature of the agent of acute hepatopancreatic
necrosis syndrome affecting penaeid shrimp. Diseases Aquatic Organisms, v. 105, 2013. p.
45-55.
ZHAN W. B.; WANG, Y. H.; FRYER J. L.; YU, K. K.; FUKUDA, H.; MENG, Q. X. White
spot syndrome virus infection of cultured shrimp in China. J. Aquat. Anim. Health, v. 10,
1998. p. 405-410.
AGRADECIMENTOS
A ITSON, Comitê de Sanidade Acuícola de estado de Sonora, Escola Agrícola de Jundiaí e
Secretaria de Relações Internacionais da UFRN.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo demonstrou que pesquisas em laboratório que visem utilizar
camarões juvenis L. vannamei para testes com enfermidades, o uso de aquários sem areia não
afeta a expressão dos comportamentos (alimentação, natação, exploração com substrato,
manipulação de alimentos e inatividade) desses animais, provavelmente não afetando o bem-
estar.
Quando essa espécie na fase juvenil está infectada pelo V. parahaemolyticus, o
tratamento veterinário que utiliza a combinação de medicamentos isopático e alopático
(florfenicol) apresenta frequências comportamentais semelhantes ao grupo controle, o qual
não havia sido infectado.
Em fazendas de carcinicultura com alta mortalidade de L. vannamei, observamos in
loco a presença da bactéria V. parahaemolyticus, causadora de AHPND, e a alta mortalidade
encontrada nos camarões foi relacionada à infecção por bactérias oportunistas frequentemente
encontradas nos viveiros.
A partir das respostas obtidas, conclui-se que a observação do comportamento dos
animais é uma ferramenta importante para auxiliar na manutenção de conforto dos animais
submetidos a condições laboratoriais, pois as respostas não diferiram entre os grupos com
areia e sem areia, mesmo na ausência da possibilidade de execução do comportamento de
enterramento. A partir desta observação, teve-se a tranquilidade de usar condições
semelhantes, sem areia, para avaliar animais infectados experimentalmente por bactérias da
espécie Vibrio parahaemolyticus.
58
As respostas obtidas em resposta aos tratamentos indicaram que é possível usar a
isopatia para tratar camarões, um tratamento que ainda não havia sido testado para as
infecções bacterianas. Mostrou-se importante para a carcinicultura, por sua ação de
estimulação da força vital, provavelmente proporcionando uma melhor resposta aos animais
tratados com antibiótico concomitantemente.
A bactéria Vibrio parahaemolyticus é o agente causador de AHPND, enfermidade com
alta mortalidade no continente Asiático e na América do Norte. Por se tratar de uma cepa
diferente da que trabalhamos no Brasil, visitamos fazendas no México e identificamos a
presença deste agente causando mortalidade naquele país. Também observamos que animais
recuperados se infectavam por bactérias oportunistas, levando novamente à altas taxas de
mortalidade.
Quadro 1 – Estão apresentadas as hipóteses e suas respectivas predições e os resultados que demonstram se elas
foram ou não corroboradas
HIPÓTESE 1 – Animais em aquários de experimentação exibem respostas comportamentais ajustadas ao
ambiente com ou sem areia como substrato.
PREDIÇÕES RESULTADOS CONCLUSÕES
1 - Os camarões apresentarão
frequências comportamentais
diferentes dependendo do
substrato oferecido.
As frequências comportamentais
foram semelhantes entre os
grupos testados
Hipótese negada
(manuscrito 1)
2 - Os camarões que tiverem
areia como substrato
apresentarão taxas de
sobrevivência e ganho de peso
maior que o grupo sem areia.
A sobrevivência e ganho de peso
não apresentou diferença entre
os grupos.
Hipótese negada
(manuscrito 1)
HIPÓTESE 2 -O tratamento clínico influenciará nas respostas comportamentais de camarões infectados.
2.1 - O camarão tratado com
medicamento isopático exibirá
mais comportamentos de
movimentação, como natação e
exploração de substrato.
O camarão tratado
concomitantemente por
antibiótico e isopatia obteve
resposta comportamental
semelhante ao grupo controle.
Parcialmente corroborada
(manuscrito 2)
2.2 – O camarão infectado e sem
tratamento apresentará maior
frequência de inatividade
comparado aos grupos tratados.
O camarão sem tratamento e
infectado apresentou frequência
de inatividade semelhante ao
grupo antibiótico
Parcialmente negada
(manuscrito 2)
HIPÓTESE 3 – Os animais infectados com V. parahaemolyticus e submetidos a tratamentos clínicos
apresentarão lesões teciduais histopatológicas diferentes em quantidade e gravidade que os não tratados
3.1 - Os animais tratados com
isopatia apresentarão número
inferior de lesões
histopatológicas.
Os animais tratados apenas por
alopatia não apresentaram lesões
por infecção bacteriana.
Hipótese negada
(manuscrito 2)
3.2 – Os animais do grupo
infectado e que não recebeu
tratamento terão o número maior
de lesões histopatológicas.
Os animais do grupo infectado
apresentaram maior frequência
de lesões por bactéria e também
apresentaram mais lesões
sugestivas de IMNV.
Hipótese corroborada
(manuscrito 2)
Fonte: acervo da pesquisa
59
REFERÊNCIAS
AGUIRRE-GUZMÁN, G. R.; VÁZQUEZ-JUÁREZ; ASCENCIO, F. Efecto de diferentes
espécie de Vibrio sobre la sobrevivencia larval del camarón blanco (Litopenaeus vannamei).
Panorama Acuícola, n. 7, v. 5, 2001. p. 18-19.
ALTMANN, J. Observational study of behavior: sampling methods. Behaviour, Leiden, 40:
227-267, 1974.
AMORIM, V.O.; FONTES, O. L. Bioterápicos. In: Farmácia Homeopática: Teoria e
Prática. Fontes, O.L. Ed. Manole: São Paulo, 2001.
ARAÚJO, S. et al. Resistência bacteriana a antibióticos em vegetais e águas de irrigação: um
problema de saúde pública. Revista Captar: Ciência e Ambiente para Todos, v. 6, n. 1, 2016.
ARIAS, A. R. L. et al. Utilização de bioindicadores na avaliação de impacto e no
monitoramento da contaminação de rios e córregos por agrotóxicos. Ciência & saúde
coletiva, v. 12, n. 1, p. 61-72, 2007.
BALDI, M.; LOPES, F. Primar orgânica: innovation in times of crisis. Cadernos EBAPE.
BR, v. 6, n. 3, 2008. p. 01-16.
BALLS, M. The Principles of Humane Experimental Technique: Timeless Insights and
Unheeded Warnings. Reissued: 2010, Universities Federation for Animal Welfare (UFAW),
Potters Bar, Hertfordshire. Disponível em:
<http://altweb.jhsph.edu/altex/27_2/rPL7_Balls2.pdf>. Acesso em: 05 fev. 2015.
BARBATO, J. C.; DANIEL, P. C. Chemosensory activation of an antennular grooming
behavior in the spiny lobster, Panulirus argus, is tuned narrowly to L-glutamate. Biological
Bulletin, 193, 107-l15, 1997.
BARBIERE JÚNIOR, R. C.; OSTRENSKY NETO. Camarões Marinhos: Engorda.Viçosa,
MG: Aprenda Fácil, v. 2, 2002.
BARRACCO, M. A.; PERAZZOLO, L. M.; ROSA, R. D. Inmunologia en camarones -
Capitulo 6. In: MORALES, V. E.; CUELLAR-ANGEL, J. (Eds). Guía Práctica de
Inmunologia y Patología del Camarón. Ed. CYTED, 2008. p. 169-224.
BELL, T. A.; LIGHTNER, D. V. A Handbook of Normal Penaeid Shrimp Histology.
Lousiana. USA: World Aquaculture Society. 114p. 1988.
BELLAVITE, P. Medicina biodinâmica: a força vital, suas patologias e suas terapias.
Papirus editora: Campinas, 2002.
BENEZ, S. M.; BOERICKE, S.; CAIRO, N.; JACOBS, P. H.; MACLEOD, G.;
SCHROYENS, F.; TIEFENTHALER, A.; VIJNOVSKY, B.; WOLFF, H. G. Manual de
Homeopatia Veterinária - Indicações clínicas e patológicas – teoria e prática. São Paulo:
Robe Editorial, 2002.
60
BENGTSSON, B.; GREKO, C. Antibiotic resistance-consequences for animal health,
welfare, and food production. Upsala journal of medical sciences, v. 119, n. 2, p. 96-102,
2014.
BRASIL. Lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008. Regulamenta o inciso VII do § 1º do art.
225 da Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais;
revoga a Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11794.htm>. Acesso em:
05 fev. 2015.
BRAY, W. A.; LAWRENCE, A. L.; LEUNG-TRUJILLO, J. R. The effect of salinity on
growth and survival of Penaeus vannamei, with observations on the interaction of IHHN virus
and salinity. Aquaculture, v. 122, n. 2, 1994. p. 133-146.
BROCK, J. A.; MAIN, K. L. A Guide To The Common Problem and Diseases of Cultured
Penaeus vannamei. Lousiana, USA: World Aquaculture Society, 1994.
BROOM, D. M. Indicators of poor welfare. British veterinary journal, v. 142, n. 6, 1986. p.
524-526.
BROOM, D. M. The scientific assessment of animal welfare. Applied Animal Behaviour
Science, v. 20, n. 1, 1988. p. 5-19.
CAMILLO, L. et al. Efeito de bioterápico na eosinofilia durante a SLMV experimental.
Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, v. 35, n. 4, 2015.
CARRASCHI, S. P. et al. Efficacy of the florfenicol and of the oxytetracycline in the control
in Aeromonas hydrophila in pacu (Piaractus mesopotamicus). Arquivo Brasileiro de
Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 63, n. 3, p. 579-583, 2011.
CAVALCANTI, L. E. Aspectos Geoambientais da Carcinicultura no Rio Grande do Norte e
Seus Desdobramentos Legais: A Implementação da Licença Ambiental em Defesa do Meio
Ambiente. Redunb, v.10, 2012. p. 71-88.
CECCALDI, H. J. Anatomy and physiology of the digestive system. Crustacean nutrition,
v. 6, 1997. p. 261-291.
CHIEN, Y. H. Water quality requirements and management for marine shrimp culture. In:
WYBAN, J. (Ed.). Proceedings of the Special Session on Shrimp Farming. World
Aquaculture Society: Baton Rouge, LA, USA, 1992. p. 144-155.
CORREA, A. D. et al. Similia Similibus Curentur: revisitando aspectos históricos da
homeopatia nove anos depois. Hist. cienc. saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1,
p. 13-31, Mar. 2006. Available from:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
59702006000100002&lng=en&nrm=iso>. Access on: 29 oct. 2015.
CORREA, A. D.; SIQUEIRA-BATISTA, R.; QUINTAS, L. E. M.; SIQUEIRA-BATISTA,
R. Similia Similibus Curentur: revisitando aspectos históricos da homeopatia nove anos
61
depois. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 2006, v.13, n.1, p. 13-31. Available from:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104>. Access on: 29 oct. 2015.
COSTA, R. A. et al. Susceptibilidade" in vitro" a antimicrobianos de estirpes de Vibrio spp
isoladas de camarões (Litopenaeus vannamei) e de água de criação destes animais
provenientes de uma fazenda de camarões no Ceará Nota prévia. Brazilian Journal of
Veterinary Research and Animal Science, v. 45, n. 6, p. 458-462, 2008.
COSTA, Sérgio Winckler da. Prospecção de fatores associados à manifestação e dispersão
da enfermidade do vírus da síndrome da mancha branca em Santa Catarina. 2010. Tese
de Doutorado. Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina.
CUÉLLAR-ANJEL, J. D.V; LIGHTNER, C. Síndrome de Mortalidad Temprana (EMS) o
Síndrome de Necrosis Hepatopancreática Aguda (AHPNS). Panorama Acuícola Magazine,
n.18, v.1, 2012. p. 42-43.
CUÉLLAR-ANJEL, J. Enfermedad de la necrosis aguda del hepatopáncreas (AHPND)
Última actualización: 2013, IOWA State University. Disponível em:
<http://www.cfsph.iastate.edu/Factsheets/es/acute-hepatopancreatic-necrosis-disease-es.pdf>.
Acesso em 05 jun. 2015.
DALL, W.; MORIARTY, D. J. W. Functional aspects of nutrition and digestion. The biology
of Crustacea, v. 5, 1983. p. 215-261.
DALL, W.; HILL, B. J.; ROTHLISBERG, P. C.; STAPLES, D. J. Biology of the Penaeidae.
In: BLAXTER, J. H. S.; SOUTHWARD, A. J. (Eds.). Advances in Marine Biology. v. 27.
Academic Press: London, UK, 1990.
DANTAS, M. D. A.; CHAVANTE, S. F.; TEIXEIRA, D. I. A.; LIMA, J. P. M.S.; LANZA,
D. C. F. Analysis of new isolates reveals new genome organization and a hypervariable region
in infectious myonecrosis virus (IMNV). Virus Research. v. 203, 2015. p. 66-71.
DOMINGOS, J. A. S. Efeito do uso de diferentes quantidades de substratos artificiais na
engorda do camarão marinho Litopenaeus vannamei (Boone, 1931), em um sistema de
cultivo semi-intensivo. [Dissertação de Mestrado em Aquicultura]. Centro de Ciências
Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina; 2003. 36f. Disponível em:
<http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/84854>. Acesso em: 06 fev. 2015.
ESCOBEDO-BONILLA, C. M.; ALDAY-SANZ, M.; WILLE, P.; SORGELOOS, P. M.B.;
NAUWYNCK, H. J. A review on the morphology, molecular characterization, morphogenesis
and pathogenesis of white spot syndrome virus J. Fish Dis., n. 31, 2008. p. 1-18.
FAO, Food and Agriculture Organization of the United Nations. El Estado Mundial de la
Pesca y la Acuicultura. 2012.
FAO, OECD-FAO Agricultural Outlook 2014, OECD Publishing, Paris. 2014.
FENUCCI, J. L. Manual para la cría de camarones peneidos. Organización de las
Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentación, 1988.
62
FIGUEIREDO, H. C. P.; LEAL, C. A. G. Tecnologias aplicadas em sanidade de
peixes. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 37, n. SPE, 2008. p. 8-14.
FONSECA, S. B.; MENDES, P. P.; LYRA, C. J.; BITTENCOURT, A. C. F.; VILAR DA
SILVA, J. H. Cultivo do camarão marinho em água doce em diferentes densidades de
estocagem. Pesquisa agropecuária brasileira, v. 44, n.10, 2009. p.1352-1358.
FRASER, D.; DUNCAN, I. J.; EDWARDS, S. A.; GRANDIN, T.; GREGORY, N. G.;
GUYONNET, V. et al. General Principles for the welfare of animals in production systems:
The underlying science and its application. Vet, n.198, v.1, 2013. p. 19-27.
FREIRE, F. A. M.; LUCHIARI, A. C.; FRANSOZO, V. Environmental substrate selection
and daily habitual activity in Xiphopenaeus kroyeri shrimp (Heller, 1862) (Crustacea:
Penaeioidea). Indian Journal of Geo-Marine Sciences, v.40, 2011. p. 325-333.
FREIRE, F. A. M.; LUCHIARI, A. C.; FRANSOZO, V. Environmental substrate selection
and daily habitual activity in Xiphopenaeus kroyeri shrimp (Heller, 1862) (Crustacea:
Penaeioidea). Indian Journal of Geo-Marine Sciences, v.40, p. 325-33, 2011.
GASTALHO, S.; SILVA, G.; RAMOS, F. Uso de antibióticos em aquacultura e resistência
bacteriana: impacto em saúde pública. Acta Farmacêutica Portuguesa, v.3, n.1, p. 29-45,
2014.
HERNANDEZ, J. Z.; NUNES, A. J. P. Biossegurança no cultivo de camarão marinho:
qualidade da água e fatores ambientais. Revista da ABCC, v. 3, n. 2, p. 55-59, 2001.
HERZBERG, M. Z. Enfermidades mas frecuentes em cultivos regionales de camarón. Centro
de Ciências de Sinaloa. 1996. p.1-12.
HINDLEY, J. P. R. Effects of Endogenous and Some Exogenous Factors on the Activity of
Juvenile banana Prawn Penaeus merguiensis. Marine Biology, n. 29, 1975. p. 01-08.
HIRSCH, R. et al. Occurrence of antibiotics in the aquatic environment. Science of the Total
Environment, v. 225, n. 1, p. 109-118, 1999.
HOLMSTRÖM, K. et al. Antibiotic use in shrimp farming and implications for
environmental impacts and human health. International journal of food science &
technology, v. 38, n. 3, 2002. p. 255-266.
HONG, X.; LU, L.; XU, D. Progress in research on acute hepatopancreatic necrosis disease
(AHPND). Aquaculture International, 2015. p. 1-17.
HUNTINGFORD, F. A.; KADRI, S. Welfare and fish. In: Branson, E.J. (Ed.), Fish welfare.
Blackwell Publishing, Oxford, p. 19-31, 2008.
IWANAGA, S.; LEE, B. Recent advances in the innate immunity of invertebrate
animals. BMB Reports, v. 38, n. 2, p. 128-150, 2005.
63
KAY, P.; BLACKWELL, P. A.; BOXALL, A. B. A. A lysimeter experiment to investigate
the leaching of veterinary antibiotics through a clay soil and comparison with field
data. Environmental Pollution, v. 134, n. 2, p. 333-341, 2005.
LAWRENCE, A. B. Applied animal behaviour science: past, present and future
prospects. Applied Animal Behaviour Science, v. 115, n. 1, p. 1-24, 2008.
LEE, P. G.; MEYERS, S. P. Chemoattraction and feeding stimulation in
crustaceans. Aquaculture Nutrition, v. 2, n. 3, p. 157-164, 1996.
LIGHTNER, D. V. Diseases of cultured penaeid shrimp. CRC handbook of mariculture, v.
1, p. 393-486, 1993.
LIGHTNER, D. V. et al. Infectious myonecrosis: new disease in Pacific white shrimp. Glob
Aquac Advocate, v. 7, p. 85, 2004.
LIGHTNER, D. V. Virus diseases of farmed shrimp in the Western Hemisphere (the
Americas): a review. J. Invertebr. Pathol, n.106, 2011. p. 110-130.
LIGHTNER, D. V. et al. Historic emergence, impact and current status of shrimp pathogens
in the Americas. Journal of invertebrate pathology, v. 110, n. 2, 2012. p. 174-183.
LIMONTA, M. R.; COFFIGNY, R. S. Enfermedades infecciosas en camarones Penaeus y
langosta Panulirus. Situación actual. REDVET. Revista Electrónica de Veterinaria, v. 13,
n. 7, 2012. p. 1-17.
LOCKWOOD, A. P. M. Sense Organs. In: Aspects of the Phisiology of Crustacea. Grã
Bretanha: The Aberdeen University Press, 1967. p.206-265.
LOPES, E. G. Homeopatia aplicada à parasitologia veterinária. In: Congresso Brasileiro De
Parasitologia Veterinaria, 12. 2004.
MACLEOD, G. Pigs: the homeopathic approach to the treatment and prevention of diseases.
Saffron Walden: C.W. Daniel Company Ltda, 1994.
MAIN, K. L.; LARAMORE, R. Shrimp Health Management. In: Farming Marine Shrimp in
Recirculating Freshwater Systems. In: VAN WYK, P.; DAVIS-HODGKINS, M.;
LARAMORE, R.; MAIN, K. L.; MOUNTAIN, J.; SCARPA, J. (Eds.). Harbor Branch
Oceanographic Institution (HBOI). 1999. p.163-177.
MADRID, R. M. A crise econômica da carcinicultura. Panorama da Aquicultura, v. 90,
2005. p. 22-29.
MARTINS, M. L. Cuidados básicos e alternativas no tratamento de enfermidades de peixes
na Aquicultura Brasileira. In: RANZANI-PAIVA, M. J. T.; TAKEMOTO, R. M.; LIZAMA,
M. A. P. (Eds.). Sanidade de Organismos Aquáticos. Editora Varela. São Paulo, 2004. p.
357-370.
MENDES, E. S. et al. Vibrio spp. isolados de camarão e água de cultivo de fazenda marinha
em Pernambuco. Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 4, p. 1191-1199, 2009.
64
MENDES, E. S.; MENDES, P. P.; GÓES, L. M. N. B.; BEZERRA, S. S.; VIEIRA, K. P. B.
A. Os víbrios na carcinicultura. Revista Panorama da Aquicultura, p. 26-29, set.-out. 2005.
MILLMAN, S. T.; DUNCAN, I. J. H.; STAUFFACHER, M.; STOOKEY, J. M. The impact of
applied ethologists and the International Society for Applied Animal Ethology in improving animal
welfare. Appl. Anim. Behav. Sci, 86:299–311, 2004.
MORALES, V.; CUELLAR-ANJEL, J. (Eds). Guía técnica-Patología e inmunología de
camarones peneidos. OIRSA, Panamá, Rep. Do Panamá, 382p. 2014.
MORALES-COVARRUBIAS, M. S. Detección mediante análisis en fresco e
histopatología. Enfermedades del camarón. Editorial Trillas, SA de CV. 2010. p. 1-130.
MORALES-COVARRUBIAS, M. S. Enfermedades bacterianas. En: MORALES, V.;
CUÉLLAR- ANJEL, J. (Eds). Guía técnica - patología e inmunología de camarones
penaeidos. Programa CYTED Red II-D Vannamei, Panamá, Rep. de Panamá. 2008. p. 117-
134.
MORALES-COVARRUBIAS, M. S. Montajes en Fresco. En: MORALES, V.; CUÉLLAR-
ANJEL, J. (Eds.). Guía Técnica – Patología e Inmunología de Camarones Penaeidos.
OIRSA, Panamá, Rep. de Panamá. 2004. p. 29-47.
MORALES-COVARRUBIAS, M. S.; GOMEZ, B. G. Enfermedades bacterianas. En:
MORALES, V.; CUÉLLAR-ANJEL, J. (Eds.). Guía Técnica – Patología e Inmunología de
Camarones Penaeidos. OIRSA, Panamá, Rep. de Panamá. 2004. p. 167-192
MOTA, R. A; SILVA, K. P. C.; FREITAS, M. F. L.; PORTO, W. J. N.; SILVA, L. B. G.;
Utilização indiscriminada de antimicrobianos e sua contribuição a multirresitência
bacteriana. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, Brasil, v. 42, n.
6, p. 465-470 , jan. 2005. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/bjvras/article/view/26406>. Acesso em: 28 out. 2015.
NERO, L. A. et al. Resíduos de antibióticos em leite cru de quatro regiões leiteiras no
Brasil. Cienc Tecnol Aliment, v. 27, n. 2, p. 391-393, 2007.
Nunes, A.J.P.; Gesteira, T.C.V. & Goddard, S. (1997). Food ingestion and assimilation by the
Southern brown shrimp Penaeus subtilis under semi-intensive culture in NE Brazil.
Aquaculture. v. 149, p.121-136.
NUNES, A. J. P.; MARTINS, P. C. Avaliando o estado de saúde de camarões marinhos na
engorda. Panorama da Aqüicultura, v. 12, n. 72, 2002. p. 23-33.
NUNES, A. J. P.; MARTINS, P. C.; GESTEIRA, T. C. V. Carcinocultura Ameaçada.
Produtores sofrem com as mortalidades decorrentes do Vírus da Mionecrose Infecciosa
(IMNV). Panorama da Aquicultura, Maio/Junho, 2004. p. 37-51.
PAIVA ROCHA, I. Carcinicultura Brasileira: Processos Tecnológicos, Impactos Sócio-
Econômicos, Sustentabilidade Ambiental, Entraves e Oportunidades. 2011.
65
PASSANO, L. M. Moulting and its control. In Watermn, T. H.(Org.), The Physiology of
Crustacea, v. 1, n. 15, 1960. p.473-536.
PLASCENCIA, A; BERMÚDEZ, A. M. C. The use of antibiotics in shrimp farming.
INTECH Open Access Publisher, 2012.
PEÑA-NAVARRO, N.; VARGAS-CORDERO, R.; VARELA-MEJÍAS, A. Productos
naturales como estimuladores del sistema inmunológico de Litopenaeus vannamei, infectado
con Vibrio parahaemolyticus. Agronomía Mesoamericana, v. 24, n. 1, p. 133-147, 2013.
PERAZZOLO, L. M. et al. Evaluation of some hemato-immunological parameters in the
shrimp Farfantepenaeus paulensis submitted to environmental and physiological
stress. Aquaculture, v. 214, n. 1, p. 19-33, 2002.
PONTES C. S.; ARRUDA, M. F.; MENEZES, A. A. L.; LIMA, P. P. Daily activity pattern of
the marine shrimp Litopenaeus vannamei (Boone, 1931) juveniles under laboratory
conditions. Aquaculture Research, v. 37, n.10, 2006. p. 1001-1006.
PONTES, C. S. Padrão de deslocamento do camarão marinho Litopenaeus vannamei (Boone)
(Crustacea, Decapoda, Penaeidae) nas fases clara e escura ao longo de 24 horas. Rev. Bras.
Zool. [online], v.23, n.1, 2006. p. 223-227. ISSN 0101-8175. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S0101-81752006000100015>. Acesso em: 06 fev. 2015.
PONTES, C. S. Padrão de deslocamento do camarão marinho Litopenaeus vannamei (Boone
1931) (Crustacea, Decapoda, Penaeidae) nas fases clara e escura ao longo de 24 horas.
Revista Brasileira de Zoologia, v.23, p.223-227, 2006.
PONTES, C. S.; ARRUDA, M. F. Comportamento de Litopenaeus vannamei (Boone)
(Crustacea, Decapoda, Penaeidae) em função da oferta do alimento artificial nas fases clara e
escura do período de 24 horas. Revista Brasileira de Zoologia, v.22, p.648-652, 2005.
PUSTIGLIONE, M. (O moderno) organon da arte de curar de samuel hahnemann. São
Paulo: Typus, 2001.
REAL, C. M. Homeopatia Populacional (Homeopatia de resultados). 2006. Disponível
em:<www.realh.com.br/index_br.php? idcanal= 43>. Acesso em: 10 set. 2010.
REGITANO, J. B.; LEAL, R. M. P. Comportamento e impacto ambiental de antibióticos
usados na produção animal brasileira. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 34, n. 3,
2010. p. 601-16.
RITVO, G.; SAMOCHA, T. M.; LAWRENCE, A. L.; NEILL, W. H.; RITVO, W. H. Growth
of Penaeus vannamei on soils from various Texas shrimp farms, under laboratory conditions.
Aquaculture, n. 1, v.16, 1998. p. 101-110.
ROCHA, I. P.; ROCHA, D. M. Carcinicultura Marinha: Realidade Mundial, Perspectivas e
Oportunidades para o Brasil. 2009. Disponível em: <http://abccam.com.br/site/wp-
content/uploads/2013/12/Carcinicultura-Marinha-2009-Fevereiro2010-.pdf>. Acesso em: 06
jun. 2015.
66
SANTOS, C. et al. Crescimento e sobrevivência do camarão branco do Pacifíco Litopenaeus
vannamei (BOONE, 1931) em diferentes salinidades. Ciência Animal Brasileira, [S.l.], v.
10, n. 3, set. 2009. p. 783-789. ISSN 1809-6891. Disponível em:
<http://www.revistas.ufg.br/index.php/vet/article/view/4728>. Acesso em: 18 out. 2015.
SANTOS, D. B.; FREIRE, F. A. M; PONTES, C. Comportamento do camarão em diferentes
substratos nas fases clara e escura do dia. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 48, n. 8, p.
841-848, 2013.
SANTOS, D. B.; PONTES, C. S.; FREIRE, F. A. M.; BESSA JUNIOR, A. P. Efeito do tipo
de sedimento na eficiência alimentar, crescimento e sobrevivência de Litopenaeus vannamei
(Boone, 1931). Acta Scientiarum. Biological Sciences, n. 33, v. 4, 2011. p. 369-375.
SANTOS, D. B.; PONTES, C. S.; FREIRE, F. A. M.; BESSA JÚNIOR, A. B. Efeito do tipo
de sedimento na eficiência alimentar, crescimento e sobrevivência de Litopenaeus vannamei
(Boone, 1931). Acta Scientiarum. Biologial Sciences, v.33, p.369-375, 2011.
SAOUD, I. P. et al. Suitability studies of inland well waters for Litopenaeus vannamei
culture. Aquaculture, v. 217, n. 1, 2003. p. 373-383.
SAULNIER, D.; HAFFNER, P.; GOARANT, C.; LEVY, P.; ANSQUER, D. Experimental
infection models for shrimp vibriosis studies. A review Aquaculture, v.191, n. 1, 2000.
p.133-144.
SAXTON, J.; GREGORY, P. Textbook of veterinary homeopathy. Oxford: Beaconsfield
Publishers Ltd, 2005.
SILVA, E.; BESERRA, F. et al. Uso de probióticos na produção de pós-larvas de
camarão-rosa. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 47, n. 6, p. 869-874, 2012.
SILVA, J. O. M. Especismo: porque os animais não-humanos devem ter seus interesses
considerados em igualdade de condições em que são considerados os interesses semelhantes
dos seres humanos. Ethic@, v. 8, n. 1, 2009. p. 51-62.
SMITH, V. J.; BROWN, J. H.; HAUTON, C. Immunostimulation in crustaceans:does it really
protect against infection? Fish & Shellfish Immunology, v. 15), n.1, 2003, p.71-90.
SOTO-RODRIGUEZ, S. A. et al. Field and experimental evidence of Vibrio
parahaemolyticus as the causative agent of acute hepatopancreatic necrosis disease of cultured
shrimp (Litopenaeus vannamei) in Northwestern Mexico. Applied and environmental
microbiology, v. 81, n. 5, 2015. p. 1689-1699.
SOTO-RODRIGUEZ, S. A.; GOMEZ-GIL, B.; LOZANO-OLVERA, R.; BETANCOURT-
LOZANO, M.; MORALES-COVARRUBIAS, M. S. Field and experimental evidence of
Vibrio parahaemolyticus as the causative agent of acute hepatopancreatic necrosis disease of
cultured shrimp (Litopenaeus vannamei) in northwestern Mexico. Appl Environ Microbiol
81:1689-1699. 2015.
SOUZA, M. F. A. Homeopatia veterinária. In: Conferência Virtual Global sobre Produção
Orgânica de Bovino de Corte, Anais... São Paulo. 2002.
67
TRAN, L. et al. Determination of the infectious nature of the agent of acute hepatopancreatic
necrosis syndrome affecting penaeid shrimp. Diseases Aquatic Organisms, v. 105, 2013. p.
45-55.
UNO, K.; AOKI, T.; KLEECHAYA, W.; TANASOMWANG, V.; RUANGPAN, L.
Pharmacokinetics of oxytetracycline in black tiger shrimp, Penaeus monodon, and the effect
of cooking on the residues. Aquaculture, p.24-31, 2006.
VANDENBERGHE, J.; THOMPSON, F. L.; GOMEZ-GIL, B.; SWINGS, J. Phenotypic
diversity amongst Vibrio isolates from marine aquaculture systems. Aquaculture, n. 219,
2003, p. 9-20.
VIKSVEEN, P. Antibiotics and the development of resistant microorganisms. Can
homeopathy be an alternative?. Homeopathy, v. 92, n. 2, 2003. p. 99-107.
XUAN LE, T.; MUNEKAGE, Y. Residues of selected antibiotics in water and mud from
shrimp ponds in mangrove areas in Viet Nam. Marine Pollution Bulletin, v. 49, 2004. p.922
-929.
YAMAMOTO, M. E.; VOLPATO, G. L. Comportamento Animal. Natal: Edufrn, 2011.
ZHAN W. B.; WANG, Y. H.; FRYER J. L.; YU, K. K.; FUKUDA, H.; MENG, Q. X. White
spot syndrome virus infection of cultured shrimp in China. J. Aquat. Anim. Health, v. 10,
1998. p. 405-410.