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Página 1 _________________________________________________________________________________ Ano Letivo 2012/2013 Curso de Educação e Formação de Adultos – EFA (cont.) – NS CULTURA, LÍNGUA e COMUNICAÇÃO [CLC] UFCD 7 – Fundamentos de Cultura Língua e Comunicação A professora: Antonieta de Sousa Objetivo: Formula opiniões críticas mobilizando saberes vários e competências culturais, linguísticas e comunicacionais Conteúdos: Arte Privada e Arte Pública Conceitos: Arte, Património Cultural e Artístico, Urbanismo, Artista, Proposta nº 2 Texto 1 A expressão “Arte Pública” é - hoje - um oximoro.(1) Para compreendermos observemos qual um significado de Arte. De muitas (e extensas) definições do mesmo, Irvin Lavin(2), citando Lucy Freeman Sandler, dá- nos cinco pressupostos: 1. Qualquer coisa feita pelo Homem é uma obra de arte. 2. Tudo numa obra de arte foi intencionalmente lá colocada pelo criador 3. Cada obra de arte é um “self-contained” todo 4. Cada obra de arte é uma afirmação absoluta 5. Cada obra de arte é uma afirmação única Neste caso, porquê considerarmos Arte Pública um oximoro? As teorias modernistas, sobretudo de teoria da estética, debruçam-se amplamente sobre a obra de arte como um produto resultante da criatividade individual de um artista – tal como os artistas “lutaram” pelo autonomização da sua arte – e como tal, o visionamento de uma obra de arte é um ato igualmente privado. Nos últimos anos têm surgido propostas no âmbito das metodologias de trabalho da História da Arte ampliando a projeção e importância da receção da obra, do público como a Semiótica ou Semiologia, a Iconografia e a já referida, Estética ou Filosofia da Estética. Da mesma forma que se “sacralizou” o trabalho do artista, elevando-o a todo um novo estatuto, também a interpretação do público foi-se autonomizando e tornando extremamente (ou exageradamente?) relevante. A partir do momento em que estas práticas se tornam “bastiões comuns” o estudo da obra de arte, do artista ou mesmo da receção altera-se. Se por um lado o artista e a sua criatividade individual, o mesmo que, privada, produzem uma obra de arte, uma vez materializada, esta transita da esfera privada (mente do artista) para a pública e sujeita a análise e interpretação. Logo, toda a obra de arte, é pública. Por outro

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Ano Letivo 2012/2013Curso de Educação e Formação de Adultos – EFA (cont.) – NS

CULTURA, LÍNGUA e COMUNICAÇÃO [CLC]

UFCD 7 – Fundamentos de Cultura Língua e ComunicaçãoA professora: Antonieta de Sousa

Objetivo: Formula opiniões críticas mobilizando saberes vários e competências culturais, linguísticas e comunicacionais

Conteúdos: Arte Privada e Arte Pública Conceitos: Arte, Património Cultural e Artístico, Urbanismo, Artista,

Proposta nº 2

Texto 1

A expressão “Arte Pública” é - hoje - um oximoro.(1)

Para compreendermos observemos qual um significado de Arte. De muitas (e extensas) definições do mesmo, Irvin Lavin(2), citando Lucy Freeman Sandler, dá-nos cinco pressupostos:

1. Qualquer coisa feita pelo Homem é uma obra de arte.

2. Tudo numa obra de arte foi intencionalmente lá colocada pelo criador

3. Cada obra de arte é um “self-contained” todo

4. Cada obra de arte é uma afirmação absoluta

5. Cada obra de arte é uma afirmação única

Neste caso, porquê considerarmos Arte Pública um oximoro? As teorias modernistas, sobretudo de teoria da estética, debruçam-se amplamente sobre a obra de arte como um produto resultante da criatividade individual de um artista – tal como os artistas “lutaram” pelo autonomização da sua arte – e como tal, o visionamento de uma obra de arte é um ato igualmente privado. Nos últimos anos têm surgido propostas no âmbito das metodologias de trabalho da História da Arte ampliando a projeção e importância da receção da obra, do público como a Semiótica ou Semiologia, a Iconografia e a já referida, Estética ou Filosofia da Estética. Da mesma forma que se “sacralizou” o trabalho do artista, elevando-o a todo um novo estatuto, também a interpretação do público foi-se autonomizando e tornando extremamente (ou exageradamente?) relevante. A partir do momento em que estas práticas se tornam “bastiões comuns” o estudo da obra de arte, do artista ou mesmo da receção altera-se. Se por um lado o artista e a sua criatividade individual, o mesmo que, privada, produzem uma obra de arte, uma vez materializada, esta transita da esfera privada (mente do artista) para a pública e sujeita a análise e interpretação. Logo, toda a obra de arte, é pública. Por outro

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lado, se presentemente considerarmos o visionamento de uma obra de arte como algo individual e característico de cada pessoa, então o “público” que recebe a obra de arte assume uma posição privada em relação a cada receção, obra e momento. Na tradição Ocidental, e anteriormente ao Renascimento, a obra de arte e o artista expressavam desejos, valores e convicções da comunidade cultural em que se inseriam, ainda que por antítese ou oposição à ordem (ou arte) estabelecida, e facilmente encontramos exemplos de como esse sentimento comunitário (partilhado, público) se articulava com a arquitetura ou o desenho dos espaços públicos onde essa mesma comunidade se encontrava – ágora, forum, praça, igreja. O conceito de privacidade (por oposição a público) foi durante séculos um conceito limitador da experiência humana social. O Modernismo trouxe consigo a glorificação do indivíduo, a individualização dentro da comunidade, invertendo igualmente o conceito arte e o seu significado sobretudo no que diz respeito ao artista – único, genial, criativo – e a obra de arte – subjetiva, expressiva, portadora de uma função libertadora através da articulação entre a independência artística e a autonomia política dada a ausência de uma heterogenia coerciva dentro da comunidade. O artista transcende a obra, a obra o público e este tem a função de compreender a obra sozinho e dentro se si.

Sistematicamente, não podemos considerar que a mais insignificante obra de arte seja privada. Nenhuma obra com um pendor artístico – e num sentido mais lato, seja ela pictórica, escultórica, literária ou mesmo musical – foi concebida para permanecer “secreta”; toda a obra é criada com a última intenção não de “expressar” mas de ser partilhada e “lida” por outros que não o artista que a concebeu. Se utilizarmos alguns dos pressupostos da Semiótica, toda de arte é uma comunicação; como tal parte de um ponto inicial (o remetente) para um ponto intermédio (recetor) almejando um ponto final (receção). Logo (reforça-se) toda a obra de arte é pública e nunca privada. Mas a arte também não se torna “pública” pela sua simples exposição e acessibilidade ao mundo – o facto de uma obra ser colocada num local público – e novamente, por público, pretendemos que nos situemos no referencial oposto a privado em termos urbanos e arquitetónicos – faz com que seja uma obra de arte pública? Será que o nosso sentido de comunidade, de um todo socialmente coerente se alterou dramaticamente ao ponto de ser hoje, irrealizável a conceção de uma “obra de arte pública” porque perdemos a essencial capacidade de a lermos unitariamente - e não individualmente? Patricia Philips, curadora, editora e crítica de arte afirmou“(…)A arte pública não é pública só porque está ao ar livre (…) é pública porque é uma manifestação de atividades artísticas e estratégias que utilizam o público como a génese e o tema para analisar. É pública por causa do género de questões levantadas ou postas, e não pela sua acessibilidade ou número de espectadores [...]“ (3 ).

Tal como muitos outros conceitos sociais complexos o de Arte Pública tem passado por radicais mudanças conceptuais e obviamente estéticas. Se hoje é virtualmente impossível a possibilidade de conceber O público em vez de UM público, a arte oferece uma perspetiva e visão sectarizada do mesmo – ainda assim, questões como o espaço, tempo e o significado mantêm-se transversais a estas alterações. Como conceitos filosóficos e abstratos que são, os seus significados na arte vão-se afunilando mas, permanecem como reminisciência na mesma – já não se reporta ao “onde” e “quando” mas sim como indicadores ou marcadores simbólicos, coordenadas geográficas para o significado, estratégias (como Patricia Philips afirma) para moldarem o público até ao significado da obra de arte pública – que progressivamente se tem tornado cada vez mais abstrata (Jorge Vieira,Homem-Sol ,

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recinto da Expo 98), temporária ou efémera (Brian Tolle,For the gentle wind doth move Silently, invisibly, Cleveland, 2004-2006), de performance ou instalação (Christo, The Gates , instalação em Central Park, 2005).Numa clara inversão da dissociação do público (ou como vimos, públicos) com a obra de arte pública surgem cada vez mais projetos de arte comunitária. Esta incapacidade contemporânea de ler uma obra de arte como comunidade, com uma única mensagem, levou artistas e entidades a unirem-se à comunidade com projetos comuns, murais, levando a que a comunidade não seja somente mais um (tipo de) observador mas também um executor dessa obra (4)– estas estratégias orientadas para e com o público, permitem circunscrever a passividade da audiência perante a obra, o afastamento da mesma e potenciam a capacidade de leitura da obra de arte – para além que o óbvio envolvimento da comunidade na mesma implica que esta não só aprova a obra como a compreende e de futuro, a preserva e salvaguarda. Antoni Remesar na sua sessão de 21 de dezembro, apresenta uma extensa, complexa e por vezes, aparentemente repetida, lista de campos de trabalho artístico que se podem inserir na grande família da Arte Pública. Desde o trabalho do equipamentos ou mobiliário urbano, às materialidades utilizadas, desenho e conceção de escultura – estatuária, fontanária, abstrata, celebrativa ou mesmo em relva (Fernanda Fragateiro, Jardins de Ondas , Lisboa, 1998)...entre tantos, tantos outros exemplos. O domínio da arte pública, como reforça, deverá ser também o domínio da arquitetura, do design urbano, do urbanismo – tece-se uma malha complexa que interliga todas as disciplinas de modo a elevar esse objeto de arte que é dito público. Um dos pontos que vem reforçar é a necessidade de desenhar cidade pensando e marte; desenhar em articulação com artistas e arquitetos, unindo as práticas e criando locais onde tudo se encontra e faz sentido – onde o local comunica e relaciona-se com a obra e vice-versa – e em último, com o público. Poderemos considerar a hipótese de termos que reorientar a Arte Pública para um site-specific? A primeira vez que ouvi esta expressão relacionava-se com obras de arte especificamente encomendadas e criadas para locais específicos...em museus ou galerias. Apesar de estes serem os locais tradicionais de “mostra” e “visionamento” de arte, também eles são públicos. O acesso é livre, restringido somente pelo preço do bilhete; são locais da memória também, perpetuando o espaço e o tempo pelo significado; retomando a discussão do que é realmente Arte Pública. À parte desta última questão, para não retormarmos ao início desta reflexão, parece existir também uma certa incapacidade ou falta de vontade do artista plástico em ultrapassar os seus próprios projetos pessoais e artísticos nesta adaptação ao local e à necessidade do site-specific, tal como o arquiteto Antoni Remesar referiu. Joana Vasconcelos na sua obra Vitrine (2008), ao animar a fachada em construção de um edifício em Lisboa, repete plástica e formalmente uma instalação do mesmo ano, Contaminação, para a Pinacoteca do Estado em São Paulo. Estamos perante uma pesquisa plástica no percurso da artista ou uma “colagem”? Maior sensibilidade foi demonstrada com o seu trabalho Garrafão (Sr. Vinho) (2010)? A peça é frequentemente apresentada isoladamente (e mesmo, fora do seu local de encomenda original) não sendo clara qual a relação espacial com a especificidade do local para onde foi desenhada e concebida e sim, focando o aspeto simbólico da peça em relação com a arquitetura do equipamento (simbólica): Mercado de Torres Vedras. Podemos avaliar o trabalho de uma coletividade de artistas, entre eles Bansky (2005), no muro que separa Israel da Cisjordânia, à semelhança do muro de Berlim, como pertencente à família da arte pública, sub-família do mural, género de site-specific? As imagens são plasticamente fortes, a mensagem é compreensível e apreensível, a execução não

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é comunitária mas o público é invocado PORQUE é através daquele muro que se separam duas nações, dois povos, duas comunidades.

Na relação obra-local um dos mais fortes marcadores parece-me que é sem dúvida a memória. A persistência da memória cristalizada na edificação de uma obra de arte que assinale um determinado evento no tempo e no espaço (passado) recordado no presente e relembrado ou assinalado no futuro. A esta noção geral poderiamos também fazer corresponder o termo monumento (5). E os monumentos desta índole, variados nas camadas temporais das nossas cidades são interessantes obras de arte pública e marcos reconhecíveis e caracterizadores da cidade em si mesma – ver o exemplo de Berlim e a profusão de “monumentos” ou obras de arte em via pública que ilustram este caso. Das sessões com Antoni Remesar a que se reportam estas questões, não é claro o que é arte pública. São claros os exemplos de arte pública. Os campos de ação da arte pública. Os intervenientes não só no desenho da cidade mas também no seu “embelezamento” pela arte. As estratégias de financiamento da arte pública. Foram apontados exemplos do que não é arte pública – como o graffiti, apesar de não nos pretendermos alongar mais sobre a temática em questão, até que ponto não é o graffiti também arte, pública? -, das boas práticas da mesma entre tantos outros tópicos. A questão de fundo permanece: existe arte pública? O que é exatamente a arte pública hoje em dia? Será que se deu a “morte da arte pública” pelo rápido consumismo de informação também ela rapidamente descartada? Ou estamos perante alguns exemplos de “crise” na arte pública? Portugal certamente tem procurado com iniciativas como o parque escultórico de Santo Tirso ou o Jardim Bordalo Pinheiro, escapar ao ciclo pernicioso de “arte” nas rotundas... mas será que no nosso País os “bons” e/ou “grandes” programas de arte pública permanecerão sempre vinculados à urbanização nova e extensa de cariz público, com dinheiros públicos e para “o” público, como o Parque Expo (anterior Expo’98) ?Como “o” público, não deveriamos todos questionar estas opções e sobretudo, participar nelas sem ser para lá da crítica “desconstrutiva”?

SIMÕES, Daniela, Arte Adjetivada de Pública[Em linha].FCSH, 2010. [Consult.20 setembro 2012]. Disponível em www:<URL: http://unl-pt.academia.edu/DanielaVieiradeFreitasSim%C3%B5es/Papers/386845/Arte_adjetivada_de_Publica>.

(1)expressão inicialmente lançada por Hilde Hein,“What is Public Art? Time, Place, and Meaning”, The Journal of Aesthetics and Art Criticism , vol. 54, n.º 1, (inverno 1996), pp. 1-7

(2)Irving Lavin,“The Crisis of «Art History»” ,The Art Bulletin, vol. 78, n.º 1 março 1996: pp. 6-25

(3)in, http://artepublica.blog.com/2008/05/26/frases/ 

(4) sobre a importância dos projetos de arte pública comunitários, por exemplo, ler artigo de MarkFavermann,“Community Mural Projects of 1975 and 1977 at Boston, Mass., U.S.A.” , Leonardo , vol. 11,n.º 4 (outono 1978), pp. 298-300.

(5)José Lamas na sua obra“Morfologia Urbana e Desenho da Cidade”,5ª edição,Lisboa, FundaçãoCalouste Gulbenkian, 2010, pp. 102-106, faz um resumo muito interessante do monumento em meio urbano.

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Questões:

Partindo do texto

1.1. Elabore uma definição de arte.

A definição de arte prende-se com qualquer coisa que seja produzida pelo homem com o intuito de se expressar transpondo parar ela os seus sentimentos. Todo a obra de arte tem como objetivo ser “lida” por algum tipo de público e transmite uma mensagem imposta na peça pelo criador.

1.2. Considera pertinente a distinção entre arte privada e arte pública? Justifique.

Uma obra de Arte tem vários momentos em que se pode considerar publica e privada. Quando o Artista está a conceber a sua “peça” de arte está a utilizar as suas emoções e as suas capacidades criativas, sendo estas características privadas e tornando a arte privada. Por outro lado, no fim da “peça” de arte estar pronta esta requer uma apreciação pública inata a sua existência tornada a arte pública. Em suma, podemos repartir a várias etapas (criação, exposição, apreciação) de uma “peça” de arte como pública ou privada mas de uma maneira geral a “peça” de arte é pública e o principal motivo é que foi criada para isso.

1.3. Considera que a arte pública tem impacto no urbanismo.

Arte pública significa, em traços gerais, todas as intervenções artísticas realizadas num espaço público de livre acesso (rua, praça, jardim, metro, fachada de edifício, internet, etc). A arte pública engloba uma grande diversidade de géneros artísticos, desde a escultura, pintura, grafiti, mosaico, mural, baixo-relevo, performance, entre outras formas de expressão. Tudo o que esteja relacionado direta ou “indiretamente” com o espaço público e a sua vivência social logo podemos perceber que a arte publica cria uma relação de simbiose com a urbanidade pois a arte pública existe no espaço público e o espaço público é existe na urbanidade logo toda a arte que se produz publica molda e cria impacto na urbanidade.

1.4. O que é ser artista? Justifique.

Artista é aquele que tem coragem de explorar todo seu potencial, o que se torna ponte e escada para encurtar caminhos, simplificando, trazendo e doando para o

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seu tempo a beleza que foi capaz de encontrar. O verdadeiro artista, a ser louvado, é aquele que descobre uma nova forma de ver e fazer da vida individual e coletiva algo mil vezes melhor do que antes. Por outro lado, todos nós somos artistas, seja no trabalho, na vida pessoal, seja rompendo as barreiras impostas pela vida, e principalmente aquele que apesar de sua origem, violência, repressão, consegue encontrar o seu lugar na vida.

1.5. Relacione arte com património cultural e artístico.

O patrimônio é a nossa herança do passado, com que vivemos hoje, e que passamos às gerações vindouras, pois representa aquilo que somos, tem marcado no seu todo a nossa identidade. Todo a arte é criada por artistas que transpõem nas suas obras uma identidade própria de um lugar, de um país, da própria pessoa levando a que tudo o que seja denominado de arte seja património pois representa a nossa identidade.

FIM Arte Pública 03-05