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  • avaliao de serviosBiblioteca Pblica:

  • Diretora

    Conselho Editorial

    Maria Helena de Moura Arias

    Abdallah Achour JuniorEdison ArchelaEfraim RodriguesJos Fernando Mangili JniorMarcia Regina Gabardo CamaraMarcos Hirata SoaresMaria Helena de Moura Arias (Presidente)Otvio Goes de AndradeRenata GrossiRosane Fonseca de Freitas Martins

    Ndina Aparecida Moreno

    Berenice Quinzani Jordo

    Reitora

    Vice-Reitor

    UniversidadeEstadual de Londrina

    Editora da Universidade Estadual de Londrina

  • avaliao de serviosBiblioteca Pblica:

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  • Direitos reservados Editora da Universidade Estadual de LondrinaCampus UniversitrioCaixa Postal 6001Fone/Fax: (43) 3371-4674E-mail: [email protected] Londrina - PR

    Impresso no Brasil / Printed in BrazilDepsito Legal na Biblioteca Nacional

    2013

    Catalogao elaborada pela Diviso de Processos Tcnicos daBiblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina.

    Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)

    A447b Almeida Jnior, Oswaldo Francisco de.Biblioteca pblica : avaliao de servios [livroeletrnico] / Oswaldo Francisco de AlmeidaJnior. Londrina : Eduel, 2013.1 Livro digital.

    Inclui bibliografia.Disponvel em : http://www.uel.br/editora/portal/pages/livros-digitais-gratutos.phpISBN 978-85-7216-689-8

    1. Bibliotecas pblicas. 2. Servio de referncia.3. Avaliao de Servio. I. Ttulo.

    CDU 027.4

  • INTRODUO .............................................................................................. 1

    BIBLIOTECAS PBLICAS E SERVIO DE REFERNCIA

    E INFORMAO ..........................................................................................39

    Servio de Referncia e Informao......................................... 39

    His t r i c o .............................................................................................................. 44

    Conceituao do Ser vio de Referncia e Infor mao ............................ 53

    Bibliotecas pblicas ................................................................ 66

    Biblioteca pblica tradicional e alternativa ................................................. 76

    Ser vios desenvolvidos ..................................................................................... 87

    O Servio de Referncia e Informao nas Bibliotecas pblicas ... 95

    AVALIAO ................................................................................................... 101

    Conceitos ............................................................................. 101

    Objetivos .............................................................................. 133

    Tcnicas e Instrumentos ......................................................... 144

    Avaliao quantitativa e qualitativa ........................................... 165

    Sumrio

  • AVALIAO DE SERVIOS EM BIBLIOTECAS PBLICAS ................173

    Proposta de modelo para avaliao de servios .......................... 192

    CONCLUSO ................................................................................................213

    BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 225

    ANEXO 1BIBLIOTECAS PBLICAS E BIBLIOTECAS

    ALTERNATIVAS ...................................................................... 247

    ANEXO 2AVALIAO DE SERVIO: UM EXEMPLO

    PRTICO .................................................................................. 271

  • 1Introduo

    So escassos, na literatura bibliotecria brasileira, artigos

    e textos que enfoquem a avaliao em qualquer um de seus

    aspectos. bem verdade que o tema avaliao no algo,

    aparentemente, concreto, perfeitamente definido e delineado,

    ou suficientemente autnomo para requerer, no mbito

    bibliotecrio, anlises e discusses especficas. A avaliao est

    presente e perpassa inmeras reas e segmentos da

    biblioteconomia, incluindo-se, tambm, diversos espaos de

    atuao e servios desenvolvidos pelos profissionais que

    compem a rea.

    Muitos artigos mencionam a necessidade da avaliao,

    embora o faam de maneira genrica, apenas apontando tal

    necessidade, sem apresentar as correspondentes tcnicas,

    ferramentas e instrumentos que se fazem imprescindveis para

    a aplicao concreta da avaliao. A literatura deixa a impresso

    Introduo

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    de que o tema no faz parte do universo de preocupaes do

    profissional bibliotecrio (por motivos que sero posteriormente

    analisados) ou que os autores evitam um aprofundamento do

    tema. Cabe ressaltar que essa tendncia a se evitar o tema no

    ocorre apenas no mbito acadmico, mas, e provavelmente de

    maneira mais forte, d-se tambm entre os profissionais que

    atuam na rea. Embora contrrio a essa dicotomia, poderamos

    dizer, genericamente, que a avaliao relegada a um segundo

    plano na biblioteconomia, tanto no espao terico como no

    prtico. Os artigos e textos, presentes na literatura, no so

    elaborados apenas por autores vinculados academia, podendo-

    se encontrar uma grande quantidade produzida por tcnicos

    vinculados exclusivamente ao mercado de trabalho.

    No obstante ter ocorrido uma alterao no perfil dos

    artigos veiculados pelas revistas especializadas da rea, o nmero

    de textos que reproduzem atividades e que pretendem

    apresentar como so planejados, implantados e desenvolvidos

    determinados servios, ainda representa um percentual

    significativo no conjunto da produo bibliogrfica

    bibliotecria.

    Historicamente, os profissionais da biblioteconomia no

    Brasil podem fazer uso, para sua educao continuada, de trs

    grandes ncleos de publicaes: as revistas especializadas, os

    livros e a literatura cinzenta (incluindo neste segmento,

    apostilas, textos reproduzidos em fotocopiadoras ou impressoras

    de computador portanto, com pequenas tiragens e reduzida

    circulao e, em especial, os anais de eventos).

    Os bibliotecrios tm disposio vrias revistas

    especializadas. So elas publicadas, quase sempre, pelas Escolas

  • 3Introduo

    e Faculdades de Biblioteconomia: Perspectivas em Cincia da

    Informao; Revista de Biblioteconomia de Braslia; Informao

    & Sociedade; Cadernos de Biblioteconomia; Trans-informao;

    Informao&Infor mao; Revista de Biblioteconomia e

    Comunicao e Revista de Biblioteconomia do Maranho.

    Diferenciando-se dessas, trs revistas no possuem vnculos

    exclusivos, quanto produo editorial, com Universidades:

    Cincia da Informao; Revista Brasileira de Biblioteconomia

    e Documentao e Palavra Chave. Mesmo no estando sob

    responsabilidade de Universidades, estas ltimas revistas tm

    seus conselhos editoriais formados quase que exclusivamente

    por professores e pesquisadores que, obviamente, imprimem

    um carter acadmico a elas. A exceo fica por conta da revista

    Palavra-Chave que, apesar de ser tambm dirigida e estruturada

    por professores e pesquisadores, tem uma proposta diferenciada,

    enfocando prioritariamente o profissional bibliotecrio e

    possuindo uma linha editorial que privilegia nmeros temticos,

    autores convidados, artigos curtos e com uma linguagem

    descontrada, em oposio ao formalismo que caracteriza os

    textos acadmicos.

    Todas essas publicaes lidam com srios problemas de

    sobrevivncia: os assinantes, sem exceo, so poucos e

    insuficientes para cobrir os custos bsicos delas, implicando a

    necessidade de subsdios de rgos financiadores de pesquisa e

    estudos. Sendo poucos os assinantes (num universo que, por

    absoluta falta de dados concretos, estima-se em,

    aproximadamente, 20.000 profissionais bibliotecrios em

    atividade no Brasil), possvel inferir um nmero muito

    pequeno de leitores dos artigos veiculados por essas publicaes.

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    No obstante o carter acadmico da maioria das revistas,

    como j observado, muitos artigos nelas veiculados descrevem

    experincias de implantao de trabalhos tcnicos e de servios

    voltados ao usurio. Invariavelmente so atividades bem

    sucedidas, com resultados que pretendem se transformar em

    modelos a serem seguidos por outras unidades de informao.

    - Poucos foram os ttulos de livros sobre Biblioteconomia

    editados no Brasil, at meados da dcada de 90. As editoras

    comerciais no mostravam interesse pela rea, certamente

    motivadas pela baixa comercializao dos poucos livros

    publicados. Algumas Associaes de Bibliotecrios e Instituies

    governamentais, vinculadas informao, assumiram a

    responsabilidade de edio de livros de interesse da

    Biblioteconomia.

    A grande maioria dos textos publicados nesse perodo era

    de baixa qualidade grfica, sendo inclusive muitos deles

    meramente datilografados e mimeografados. Mesmo

    considerando e reconhecendo as limitaes dos recursos

    tcnicos existentes na poca, impossvel negar a precariedade

    dos livros disponibilizados aos interessados: capas sem

    plastificao e constitudas de uma gramatura apenas um pouco

    superior utilizada no corpo do livro; impresso esbranquiada;

    muitos erros de digitao e/ou composio, etc. Deve-se

    ressaltar, no entanto, a importncia dessas publicaes (e das

    instituies que as editaram), pois cobriam parcialmente uma

    lacuna e atendiam a uma demanda (pequena, mas concreta)

    originria de uma crescente quantidade de novos profissionais

    lanados no mercado, pelas Escolas e Faculdades de

    Biblioteconomia.

  • 5Introduo

    A partir de 1995, aproximadamente, houve um aumento

    significativo de livros editados na rea, no s causado pela

    criao de novas editoras, pelo crescimento das editoras

    universitrias e pela entrada nesse segmento de mercado por

    algumas editoras comerciais tradicionais, como tambm pela

    procura, por parte de uma parcela dos bibliotecrios, de

    subsdios para atualizao. A oferta e a demanda cresceram,

    mas num patamar ainda aqum do ideal e do esperado para

    uma rea que se diz emergente, por lidar com a informao,

    entendida esta ltima, como norteadora e base do

    desenvolvimento tcnico, cientfico, cultural e mercadolgico

    do prximo sculo. Indicador de que esse crescimento da oferta

    e da demanda ainda se apresenta tmido o excessivo tempo (4

    anos para mais, em mdia) para que uma edio normal (1.000

    exemplares) se esgote. Quase nenhum livro publicado na rea,

    quando esgotado, reimpresso ou relanado com

    modificaes e/ou acrscimos (nova edio).

    Essa situao no exclusiva da rea de biblioteconomia.

    No Brasil, ttulos so lanados no mercado quase sempre com

    pequenas e insignificantes tiragens. penoso ver todo o esforo

    editorial acabar em edies que no ultrapassam 3 mil

    exemplares. (FERNANDES, 1999, p.1). Esse o desabafo de

    Eduardo Iassuda, livreiro paulista e presidente da ANL

    Associao Nacional de Livrarias.

    A expanso do nmero de editoras universitrias e a

    ampliao de suas atividades tambm se refletem na rea da

    Biblioteconomia. No visando lucro, tais editoras passaram a

    editar, como livro, teses e dissertaes, contribuindo para

    veicular e disseminar uma produo cientfica que,

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    tradicionalmente, aps sua defesa formal, estava fadada a

    permanecer intocada nas prateleiras das bibliotecas. As editoras

    tradicionais no editam, com excees claro, esse tipo de

    produo, pois, por abordarem aspectos especficos, possuem

    um pblico bastante restrito. A Biblioteconomia beneficiou-se

    desse crescimento das publicaes editadas pelas editoras

    universitrias, na medida em que a maioria de sua produo

    cientfica estava concentrada nesse tipo de trabalho. Boa parte

    dos livros publicados nestes ltimos anos formada por textos

    originalmente elaborados como dissertaes de mestrado ou

    teses de doutorado.

    O pequeno nmero de leitores, como afirmado acima,

    significa, indica e aponta para um desinteresse por textos que

    no tratam especificamente de experincias concretas, que no

    possam ser transferidos, copiados, aplicados ou, usando um

    termo atual, meramente escaneados para os espaos

    informacionais em que atuam os profissionais.

    O terceiro grande ncleo de publicaes constitudo

    pela literatura cinzenta. Esse termo designa um tipo de

    publicao que no distribudo, por vrios motivos, pelos

    canais comerciais.

    Vrias publicaes podem aqui ser includas, como

    mencionado anteriormente: apostilas, textos reproduzidos em

    fotocopiadoras, mimegrafos ou atravs de impressoras de

    computador. Alm da forma de reproduo, esse tipo de

    publicao possui caractersticas prprias, entre as quais pode-

    se mencionar, acompanhando Campello e Campos (1993, p.52):

    geralmente destinada a uma clientela especfica e reduzida;

    publicada em pequenas tiragens; produzida, quase sempre, por

  • 7Introduo

    instituies; interessados encontram dificuldades para acess-

    la. Apesar de Campello e Campos (1993, p.51-52), citando

    Wood, afirmarem que no conveniente definir a literatura

    cinzenta por tipo de material, no caso especfico da situao

    editorial brasileira no mbito da biblioteconomia, importante

    a incluso na literatura no-convencional (como tambm

    designada a literatura cinzenta) de alguns tipos de materiais,

    em especial as dissertaes, teses e os anais de eventos. No caso

    das dissertaes e teses, o motivo, j mencionado no segmento

    destinado aos livros, est centrado na nfima quantidade de

    produes desse tipo, impressas em formato de livro. Muitos

    autores, insatisfeitos com o abandono a que so relegadas suas

    produes intelectuais, veiculam resumos ou extratos de suas

    dissertaes ou teses, em forma de artigos, nas revistas

    especializadas da rea. Essa uma maneira de amenizar o

    problema, mas no impedimento para no enquadrar as

    dissertaes e teses, elaboradas e defendidas no Brasil, como

    pertencentes e fazendo parte da literatura cinzenta.

    Os anais de eventos tambm devem ser includos no

    segmento da literatura cinzenta. Reproduzindo palestras,

    trabalhos e debates ocorridos em Congressos, Encontros,

    Simpsios, Seminrios, etc., os anais foram durante muitos anos,

    ao lado dos poucos ttulos de peridicos existentes, o principal

    meio de atualizao e de educao continuada, disponvel ao

    profissional da rea.

    Qualquer anlise, mesmo que rpida e destituda de uma

    metodologia formal, dos contedos dos textos apresentados nos

    anais de eventos publicados evidencia uma grande quantidade

    voltada para a descrio de implantao de trabalhos em

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    bibliotecas especficas. Quase sempre acompanham um padro

    definido tacitamente, reproduzido principalmente porque

    textos anteriores servem de exemplo, muitos vezes como

    gabarito, para a elaborao dos posteriores: identificao da

    instituio, objetivos e descrio detalhada da implantao do

    trabalho. A forma de avaliao do trabalho, quando

    mencionada, o de maneira genrica. Aponta-se sua

    importncia e o desejo de efetu-la, mas sem a preocupao

    em criar uma estrutura que permita, atravs de resultados

    obtidos com ela, interferir, modificar, alterar e, at mesmo,

    suspender o trabalho.

    No h registro de artigos que retratam, aps um

    determinado perodo, a situao de um servio implantado

    anteriormente. Os artigos, invariavelmente, referem-se

    implantao desses servios e nunca, ou quase nunca, sobre a

    sua suspenso ou modificaes efetuadas, visando sua

    adequao s necessidades informacionais dos usurios.

    Percebe-se, atravs desse dado, que no leviana a afirmao

    de que a avaliao desconsiderada, menosprezada e relegada

    a um plano secundrio pelos profissionais bibliotecrios.

    A atualizao do profissional bibliotecrio em funo do

    carter atomizado de sua atuao ou seja, trabalhando ao

    lado de um nmero muito pequeno de outros profissionais,

    quando no, sozinho e sem vnculos formais e sem vnculos

    formais constantes com seus pares desenvolvida, utilizando

    pouco das formas tradicionais: as publicaes, j descritas, os

    cursos e os eventos.

    A oferta de cursos de atualizao, aperfeioamento,

    especializao e de ps-graduao, cresceu tambm, a partir de

  • 9Introduo

    meados desta dcada. O mesmo ocorreu em relao aos eventos,

    embora estes tenham conhecido a ampliao de oferta a partir

    do final da dcada passada.

    Pelos problemas enfrentados quanto sua atualizao,

    espera-se que o profissional bibliotecrio procure cursos de

    aperfeioamento e de especializao, participe de eventos e

    adquira livros e assinaturas de peridicos da rea. No entanto,

    essa no uma situao encontrada com a freqncia necessria,

    para que o quadro da desatualizao desse profissional seja

    modificado. Apesar da mudana ocorrida nos ltimos anos, o

    panorama pouco se alterou. Assim, dependem os bibliotecrios

    da formao recebida durante o curso de graduao, e de

    informaes e experincias ouvidas de outros profissionais,

    quase sempre de maneira fortuita ou por contatos mantidos

    por fora da atuao profissional. Essas informaes so

    propagadas, na maioria dos casos, a partir de textos veiculados

    na literatura ou de palestras proferidas em eventos da rea.

    Considerando esse panorama, em especial, o isolamento

    do profissional e o descaso para com sua atualizao, infere-se

    uma enorme dificuldade do bibliotecrio em obter subsdios

    para reflexes e questionamentos sobre pontos que afetam

    diretamente seu trabalho, sua atuao e seu desempenho, ou

    de pontos que digam respeito sua funo social, seu contato

    com o usurio, a razo de ser de sua profisso e as teorias que

    embasam sua ao. Sem reflexes e sem questionamentos, o

    bibliotecrio passa a copiar, simplesmente, as experincias

    veiculadas por outros profissionais, implantando-as em suas

    bibliotecas como mero modismo, acreditando serem essas

    experincias fruto de teorias inovadoras. A cpia do que j foi

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    implantado em outros espaos d-se sem adequaes e

    adaptaes, partindo-se de um conceito inexistente de

    neutralidade e imparcialidade, quer do profissional, quer dos

    servios oferecidos. Esse tema ser aprofundado no transcorrer

    do nosso trabalho.

    Em uma anlise que fizemos tempos atrs, buscando

    conhecer a real situao das publicaes brasileiras da rea de

    biblioteconomia, documentao e cincia da informao,

    conclumos que um nmero insignificante, dentro do universo

    de bibliotecrios do Brasil, so assinantes dessas publicaes.

    Entre 1994 e 1995, as publicaes da rea possuam um nmero

    inferior a 200 assinantes. Condies financeiras, falta de

    conhecimento da existncia dessas publicaes, falta de

    oportunidade para aquisio, etc., so explicaes comumente

    apresentadas pelos profissionais bibliotecrios, quando

    indagados sobre o motivo para no assinarem os peridicos da

    rea. Alguns afirmam que, apesar de no possurem assinatura,

    consultam os fascculos das revistas nas bibliotecas,

    constantemente ou quando se defrontam com algum problema

    no local onde esto atuando. Quando instados a identificar o

    ttulo ou o autor de um artigo, no entanto, invariavelmente

    no conseguem faz-lo. Uma pesquisa realizada por Almeida

    Jnior (1995b) sobre hbitos de leitura de bibliotecrios

    confirma a dificuldade dos profissionais em lembrar artigos

    lidos recentemente, o que derruba a afirmao de muitos

    profissionais de que acessam a literatura da rea atravs das

    bibliotecas. Questionando mais de 60 bibliotecrios que atuam

    no Servio de Referncia e Informao das Bibliotecas Pblicas

    da cidade de So Paulo, o autor da pesquisa procurou conhecer

  • 11

    Introduo

    e avaliar o tipo de leitura efetuada por esses profissionais, tanto

    no mbito da literatura de fico como no mbito da rea de

    atuao deles, ou seja, a biblioteconomia e, mais

    especificamente, o servio de referncia e informao. Dentro

    deste ltimo, inclui-se a aquisio e leitura dos peridicos

    especializados. As respostas confirmaram o que as observaes

    evidenciavam:

    - 22% dos entrevistados alegaram no dedicar nenhum

    tempo semanal leitura de textos profissionais.

    - 23% afirmaram dedicar at uma hora por semana para

    esse tipo de leitura.

    - 16% despendem at duas horas por semana com a leitura

    de literatura profissional.

    importante alertar que aproximadamente 19% dos

    entrevistados no respondeu a essa pergunta, levando-nos a

    supor que no o fizeram, por no querer declarar que no

    dedicam nenhum tempo a esse tipo de leitura.

    Quanto assinatura de revistas especializadas:

    As revistas da rea de biblioteconomia foram assinadas, no

    ltimo ano (1995), por no mais do que 7 profissionais (um

    deles com 2 assinaturas), correspondendo a 10% do total de

    respondentes. O nmero de assinantes das 4 grandes revistas

    da rea inferior a 5% do total de bibliotecrios brasileiros.

    Com base nesse dado, os bibliotecrios de referncia das

    bibliotecas pblicas paulistanas teriam o dobro da mdia

    nacional de assinantes de revistas especializadas da rea. Apesar

    desse nmero, um dado extrado das respostas

    surpreendente: apenas 2 bibliotecrios escreveram

    corretamente o nome da revista assinada. A Revista Brasileira

    de Biblioteconomia e Documentao uma publicao da

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    FEBAB Federao Brasileira de Associaes de Bibliotecrios

    e comeou a ser editada em 1971. Essa revista foi citada,

    corretamente, por apenas 2 respondentes. Todos os outros ttulos

    de revistas indicados, simplesmente no existem ou tiveram seus

    nomes modificados. No existem os seguintes ttulos: Revista

    de Biblioteconomia, Revista Brasileira de Biblioteconomia e

    Revista de Biblioteconomia e Documentao. A semelhana

    de ttulos leva a crer que os respondentes quiseram se referir

    revista publicada pela FEBAB, mas, no momento de preencher

    o questionrio, no se lembraram do nome correto dessa

    publicao. Estranha-se o fato, mesmo em se considerando o

    esquecimento momentneo, de todos os ttulos de revistas gerais

    terem seus ttulos grafados corretamente. O outro ttulo indicado

    Revista da Faculdade de Biblioteconomia de Minas Gerais

    tambm foi escrito erroneamente; o correto seria: Revista da

    Escola de Biblioteconomia da UFMG. (ALMEIDA JNIOR,

    1995b, p. 36).

    Quando solicitados a indicarem as revistas consultadas no

    semestre anterior pesquisa, quase metade dos entrevistados

    deixou de responder a essa pergunta. Os restantes, a exemplo

    do que ocorreu em relao assinatura de revistas da rea,

    tambm apontaram vrios ttulos inexistentes na literatura ou

    grafaram o nome dos peridicos de maneira errnea. A falta

    de leitura evidencia-se atravs das respostas a uma questo que

    instava os entrevistados a relacionar os artigos efetivamente lidos

    no semestre anterior. Quase 70% dos pesquisados no

    respondeu ou assinalou Nenhum artigo lido.

    Outro dado que merece ateno que to somente um artigo

    foi citado mais de uma vez e, esse, sobre conservao de acervo.

    A grande maioria das indicaes referiram-se a temas genricos

    e no a ttulos de artigos. (ALMEIDA JNIOR, 1995b, p. 40)

  • 13

    Introduo

    Na concluso, o autor apresenta sua estranheza em relao

    a muitas das respostas apresentadas pelos entrevistados,

    chegando mesmo a questionar a veracidade de muitas delas.

    Especificamente quanto leitura de artigos de revistas

    especializadas, a seguinte citao parece resumir sua concluso:

    41 artigos foram indicados, correspondendo a pouco mais de

    meio artigo/semestre/bibliotecrio. A atualizao desses

    profissionais no ocorre, definitivamente, pela leitura de textos

    especializados da rea. (ALMEIDA JNIOR, 1995b, p. 41)

    possvel inferir, assim, que os textos da rea praticamente

    no interferem, influem ou motivam os bibliotecrios. Possuem,

    talvez, pouca ou quase nenhuma influncia. Os bibliotecrios

    vivem isolados e tm uma atualizao muito deficiente e precria.

    A avaliao, enquanto um assunto de possvel interesse

    para o profissional bibliotecrio, encontra-se, dessa forma,

    duplamente prejudicada, pois os artigos veiculados em revistas

    especializadas pouco influenciam, e o nmero deles sobre o

    tema avaliao insignificante.

    Se a avaliao est ausente ou negligenciada na maioria

    dos trabalhos disseminados pela literatura e pelas palestras

    proferidas em eventos da rea; se a maior parte dos textos e

    artigos produzidos descrevem experincias de servios

    implantados e se, quase sempre, os bibliotecrios reproduzem,

    copiam essas experincias, podemos afirmar que a avaliao

    no utilizada em quase todos os servios oferecidos

    populao pelas bibliotecas pblicas.

    Esse, parece-nos, um problema srio que afeta

    sobremaneira a eficcia dos trabalhos das bibliotecas pblicas;

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    a relao destas com os usurios, com a comunidade e com a

    sociedade e, em ltima instncia, afeta o desenvolvimento dos

    debates, reflexes e questionamentos, impedindo, obstruindo

    ou, ao menos, dificultando a interao da biblioteconomia e,

    em particular, das bibliotecas pblicas com as transformaes

    que rapidamente vm ocorrendo no mundo.

    A avaliao pode amenizar esse problema, pois, quando

    empregada, exige uma postura voltada para a anlise da ao

    empreendida pelos profissionais bibliotecrios, quebrando a

    tradicional atitude passiva, inerte e reprodutora que empurra a

    biblioteca pblica para o isolamento, para a dissociao com os

    interesses dos usurios, para as decises unilaterais, sem ao

    menos dar oportunidade manifestao e participao da

    comunidade a quem deve servir.

    Devemos alertar, no entanto, para o fato de que estamos

    nos referindo avaliao enquanto um processo formal. lgico

    que as bibliotecas pblicas avaliam, sim, os seus servios, mas o

    fazem de maneira intuitiva, emprica, baseadas em suposies

    presentes no senso comum dos bibliotecrios. Na medida em

    que esses profissionais reproduzem servios implantados em

    outras bibliotecas, so motivados pela certeza de que tais servios

    so importantes para suas comunidades (ou, quem sabe, para

    que suas bibliotecas sejam entendidas como atuais e

    modernas). Dessa maneira, torna-se desnecessrio o emprego

    da avaliao, pois foi ela, se o foi, realizada na biblioteca que

    originou o servio copiado. Os resultados da avaliao so dados

    a priori, validados pela autoridade da biblioteca e do prprio

    processo de reproduo, outorgada pelos profissionais

    bibliotecrios.

  • 15

    Introduo

    A exemplo do que ocorre com a avaliao, muitos outros

    aspectos que deveriam fazer parte das preocupaes dos

    bibliotecrios so negligenciados e relegados, provavelmente

    por serem entendidos como no importantes ou por serem

    interpretados como no fazendo parte das atribuies da

    biblioteconomia ou, ainda, por temerem, os bibliotecrios, que

    tais aspectos os levem a concluses que exijam mudanas na

    atitude passiva e aptica, que retrata grande parte dos

    profissionais e das bibliotecas pblicas brasileiras.

    Entre esses aspectos possvel citar o Servio de Referncia

    e Informao (SRInfo).

    Apesar de ter surgido no final do sculo XIX, como afirma

    a literatura, at hoje o Servio de Referncia e Informao no

    foi plenamente considerado importante pelas bibliotecas pblicas

    brasileiras. Prova disso que, em geral, o atendimento dos

    usurios uma tarefa para a qual so designados auxiliares de

    biblioteca. Sob a responsabilidade dos bibliotecrios, ficam os

    trabalhos de aquisio, processamento tcnico e a administrao.

    Entretanto, o Servio de Referncia e Informao o servio

    fim da biblioteca; o espao onde se d a relao entre a

    informao e o interesse do usurio; o momento em que se

    procura satisfazer as necessidades informacionais do usurio,

    enfim, quando todo o trabalho da biblioteca se completa.

    Embora seja um consenso entre os bibliotecrios, na prtica o

    que se observa um desinteresse, um menosprezo por esse

    trabalho. No cotidiano da biblioteca, o atendimento ao usurio

    uma funo exercida por funcionrios no preparados para

    desenvolv-la, seja por no possurem um curso especfico, seja

    por no terem sido treinados para execut-la.

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    Abordando especificamente as bibliotecas pblicas, a

    situao ainda pior: o Brasil conta com uma porcentagem de

    municpios com bibliotecas pblicas muito aqum do ideal. Em

    recente reportagem, afirma-se que Dos 5482 municpios

    brasileiros, 3288 possuem bibliotecas. Desse total, funcionam

    3079, mas, entre 700 e 1000, esto mal-instaladas. (AVANCINI,

    1999, p.5). Mesmo essas bibliotecas no possuem estrutura,

    pessoal, acervo e servios adequados. Boa parte delas funcionam

    com um nico bibliotecrio ou, o que no raro, sem a presena

    desse profissional. O trabalho e o atendimento so realizados

    por leigos, quase sempre funcionrios da prefeitura indicados

    ao cargo de responsvel e nico funcionrio muitas vezes

    pela biblioteca. Muitos dos profissionais bibliotecrios que

    atuam nessas bibliotecas municipais assumem uma funo muito

    mais administrativa (diferente da administrao de um sistema

    de informao) do que biblioteconmica. O atendimento do

    usurio, nesses casos, tarefa desenvolvida pelo auxiliar de

    biblioteca que no possui preparo e condies para exerc-la.

    Um agravante pode aqui ser includo: muitos dos funcionrios

    que atendem no Servio de Referncia e Informao, nessas

    bibliotecas, no possuem as mnimas condies para faz-lo,

    sendo alguns deles semi-alfabetizados.

    O interesse pessoal pelas Bibliotecas Pblicas e pelo

    Servio de Referncia e Informao antigo: remonta ao

    perodo do curso de graduao em Biblioteconomia e

    Documentao, quando, entre as inmeras possibilidades de

    especializao oferecidas pela rea, optamos (talvez

    indevidamente, considerando-se as enormes dificuldades e

    obstculos enfrentados para a abordagem do assunto) pela

  • 17

    Introduo

    relao biblioteca/usurio, bibliotecrio/usurio. Nessa

    relao, ocorre a atividade fim de qualquer biblioteca, seja ela

    acompanhando uma distino hoje considerada imprecisa,

    mas que servir como exemplo pblica, escolar, universitria,

    especializada ou alternativa. Atravs dessa relao, dessa

    interao, na realidade, explicita-se a funo social da biblioteca.

    Embora utilizando tcnicas que muitas vezes entorpecem a

    criatividade e burocratizam a conscincia crtica do profissional

    bibliotecrio, a relao biblioteca/usurio exige o

    envolvimento, mesmo que de for ma desinteressada e a

    contragosto, entre a necessidade da informao e a sua satisfao

    concretizada pela questo de referncia/resposta, bibliotecrio/

    usurio, biblioteca/comunidade. O cerceamento normalmente

    provocado pelas tcnicas biblioteconmicas, na medida em que

    cria normas e padres e exige seu emprego sem alteraes e

    mudanas, existia na poca e ainda se faz presente, trazendo

    problemas para a criao de servios voltados para a satisfao

    das necessidades informacionais dos usurios e para os debates

    e reflexes sobre a funo social do profissional bibliotecrio.

    A relao bibliotecrio/usurio d-se, quase que

    exclusivamente, no processo que, em Biblioteconomia,

    chamado de Servio de Referncia e Infor mao. Nossa

    preocupao, assim, no poderia deixar de estar voltada para

    esse processo. As leituras que a busca de uma especializao

    exigiu demonstravam a tendncia para o uso, cada vez maior e

    mais generalizado, de tcnicas rgidas, alm de padres que

    normalmente desconsideravam e ainda desconsideram as

    peculiaridades de cada biblioteca. Nossa posio perante o uso

    dessas tcnicas, evidentemente, no era de refut-las totalmente.

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    Aceitvamos sua utilizao, mas apenas entendida e

    compreendida como um instrumento de apoio ao processo de

    referncia. Este, por sua vez, deveria estar livre de esquemas

    pr-estabelecidos, permitindo a sua autonomia e adaptao aos

    interesses da comunidade a quem deve servir. Serrai, (1975)

    em artigo publicado na Revista da Escola de Biblioteconomia

    da UFMG, afirma que a prpria histria da biblioteconomia

    est irremediavelmente presa e comprometida com a histria

    das tcnicas bibliotecrias. O comprometimento da

    biblioteconomia com as tcnicas que lhe so intrnsecas

    tolheriam, partindo-se de concepes geradas pela posio de

    Serrai, as discusses de problemas que ultrapassam o mbito

    das tcnicas. A funo social do profissional bibliotecrio, por

    exemplo, estaria entre esses problemas, sendo que sua anlise

    teria como base e pressuposto a imutabilidade das tcnicas,

    quando, em verdade, seria a funo social o norteador da criao

    e aplicao das tcnicas bibliotecrias.

    A opo por privilegiar em nossos estudos a Biblioteca

    Pblica deu-se naturalmente. Em nenhum outro tipo de

    biblioteca, o trabalho de Referncia e Informao possui igual

    abrangncia do ponto de vista social. Na Biblioteca Pblica, a

    funo social apresenta-se de forma clara e muito mais fcil

    de ser visualizada e compreendida. O trabalho de Referncia e

    Informao nas Bibliotecas Pblicas pareceu-nos a fatia mais

    importante e, principalmente, sedutora da rea de

    Biblioteconomia e Documentao. No entanto, as leituras

    efetuadas enfocavam aspectos que evidenciavam uma concepo

    de biblioteca totalmente dissociada da comunidade e do usurio,

    j que aptica, isolada, elitista e marginal. Um artigo do Prof.

  • 19

    Introduo

    Antnio Miranda fundamentava essa concepo, quando

    afirmava, em relao Biblioteca Pblica, que

    Quanto s suas funes na sociedade ela passiva (geralmente

    depositria e no promotora do livro e da leitura),

    conservadora (excessivamente presa ao livro, com prejuzo de

    outros veculos de informao), elitista (atende a poucos,

    quando deveria ser um direito de todos) e raramente est

    engajada na educao contnua, limitando-se ao emprstimo

    de livros de texto e para a realizao de trabalhos escolares

    (funcionando, portanto, mais como biblioteca escolar).

    (MIRANDA, 1979, p.231).

    Mesmo este autor, embora alertando para o fato de a

    biblioteca estar excessivamente presa ao livro, faz consideraes

    a respeito dos objetivos da biblioteca pblica, vinculando-a quase

    que incondicionalmente ao livro. Outros suportes da

    informao, tais como filme, vdeo, slide, fotografia, escultura,

    pintura, desenhos, mapas, gravuras, etc., poderiam ser usados

    pelas bibliotecas pblicas, desde que direcionadas para a leitura.

    Seguindo as idias apresentadas por Antnio Miranda,

    representativas da poca em que foram veiculadas, mas ainda

    hoje presentes no discurso dos bibliotecrios, torna-se difcil

    conceber a criao e implantao de servios nas bibliotecas

    pblicas preocupados com o usurio. Parece que os servios

    idealizados e concretizados no Servio de Referncia e

    Informao das bibliotecas pblicas norteiam-se muito mais pela

    necessidade em aplicar tcnicas j sedimentadas e entendidas

    como imprescindveis e corretas, do que se direcionam para o

    atendimento da satisfao informacional dos usurios.

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    A abordagem dos diversos artigos sobre Biblioteca Pblica

    apresentavam-na como uma entidade dinmica, fadada a

    colaborar e, em alguns artigos, at mesmo como plo

    desencadeador de transformaes e mudanas, no s nos

    indivduos como na sociedade. O contraste com a realidade

    impunha-se de forma evidente j que, na prtica, a Biblioteca

    Pblica atuava e ainda em grande parte continua atuando

    tendo o livro como suporte bsico. Todos os servios e trabalhos,

    como j mencionados anteriormente, deveriam estar

    direcionados para o livro, criando em todos os seus participantes,

    condies para o desenvolvimento ou a manuteno do hbito

    de leitura. A ao da biblioteca pblica precisava,

    necessariamente, redundar na leitura, sendo medida sua eficcia

    atravs do volume de obras retiradas por emprstimo domiciliar

    ou utilizadas nas dependncias da prpria biblioteca, ou seja, a

    avaliao de sua performance era feita de forma meramente

    quantitativa.

    O ndice de analfabetismo no Brasil pas reconhecidamente

    do terceiro mundo era e continua sendo elevadssimo. Somando-

    se a esse ndice o nmero de brasileiros semi-analfabetos, ou seja,

    aqueles que ou apenas conseguem assinar o prprio nome ou

    apenas decodificam as letras do alfabeto, sem contudo relacion-

    las num todo coerente e compreensvel, somando-se os semi-

    analfabetos, como dizamos, temos um percentual que beira 3/4

    da populao, aproximadamente 75%. Dos 25% restantes,

    alfabetizados e aptos a exercer plenamente o ato de leitura, nem

    todos, obviamente, entendem a leitura como importante e

    necessria. O gosto e o hbito de leitura, aliados necessidade de

    execuo de trabalhos escolares e profissionais, alm do uso

  • 21

    Introduo

    da biblioteca pblica para a educao continuada, no esto

    presentes em todos os que constituem os 25% da populao

    aptos leitura. Teramos, em sntese, uma parcela quase que

    insignificante da populao com condies e disposio de fazer

    uso da biblioteca. Seriam seus usurios reais. Isso implica

    afirmar que a biblioteca, pretensamente aberta a toda a

    populao, presta servios a um nmero muito pequeno dela,

    nmero esse restrito quase que exclusivamente a determinadas

    classes sociais. Dessa forma, a biblioteca pblica estaria

    ampliando o fosso entre aqueles que tm e aqueles que no

    tm informao, a exemplo do que ocorre com a distribuio

    de rendas no Brasil.

    Os dados acima referem-se a uma pesquisa realizada pelo

    Sistema Brasileiro de Televiso e publicada parcialmente na

    revista Imprensa. Os resultados correspondem ao incio dos anos

    90. Hoje, provavelmente o ndice de analfabetismo no Brasil

    menor do que o apresentado no pargrafo anterior. No entanto,

    preciso salientar as diferenas de metodologias utilizadas pelas

    vrias pesquisas e pelos vrios institutos ou instituies que se

    propem a conhecer a realidade da alfabetizao no pas. O

    conceito de analfabetismo normalmente diverso nas vrias

    pesquisas realizadas sobre o assunto. Algumas instituies

    consideram alfabetizado aquele que consegue assinar, ou

    escrever, seu prprio nome; outras, aqueles que reconhecem e

    conseguem ler palavras; algumas instituies, por sua vez,

    entendem alfabetizado a pessoa que consegue ler e

    compreender uma frase. Essas variaes de entendimento do

    conceito de alfabetizado e, por conseguinte, de analfabeto,

    levam a mudanas, muitas vezes discrepantes, na quantificao

    da populao alfabetizada.

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    Falvamos, em pargrafos anteriores, nos modismos

    presentes na atuao da biblioteca pblica. Entre os

    freqentemente assumidos pela biblioteconomia, um se destaca

    hoje: a democratizao da informao. O emprego e uso dessa

    idia recorrente na literatura da rea. Afirma-se que essa seria

    a grande funo das bibliotecas pblicas brasileiras. Levar a

    informao populao vincula-se ao conceito de acesso. J

    que as bibliotecas pblicas atuam norteadas pelo livro, a

    concepo de acesso est restrita entrega de um suporte de

    informao ao usurio, independentemente de sua adequao

    aos interesses, necessidades e caractersticas individuais. No

    processo de referncia, como ser abordado na pesquisa, a

    anlise da mensagem o primeiro passo para o trabalho de

    referncia propriamente dito. O segundo passo, a negociao

    da questo de referncia, imprescindvel para viabilizar a

    interao questo/informao. Esta, por sua vez, no

    independente do usurio, ao contrrio, s se concretiza quando

    o usurio a entende como tal. Apesar da insistncia presente

    na literatura quanto importncia da negociao da questo,

    o que se observa um atendimento inteiramente baseado

    apenas na anlise da mensagem, gerando barreiras e obstculos

    que impedem, na maior parte das vezes, que o objetivo do

    Servio de Referncia e Informao seja alcanado.

    O emprego de redes eletrnicas de informao contribui

    muito pouco para essa propalada democratizao da

    informao. Na verdade, a Internet, tal como a conhecemos

    hoje, contribui para a ampliao do fosso existente entre os

    que possuem e os que no possuem informao, na medida em

    que atende um nmero diminuto da populao, pois exige,

  • 23

    Introduo

    para seu acesso, trs nveis de alfabetizao: a leitura

    (decodificao das palavras); o conhecimento da lngua inglesa

    e conhecimentos pelo menos bsicos de informtica. O acesso

    informao via Internet est condicionado, tambm, posse

    de ferramentas bsicas: computador, modem, telefone e

    provedor. Apesar de posies otimistas alardeadas pelos meios

    de comunicao de massa, quanto ao rpido acesso de todos s

    informaes, presentes na Internet, o quadro atual no deve se

    modificar a curto ou mdio prazos; essa afirmao baseia-se no

    acesso da populao s novas tecnologias j existentes

    (ALMEIDA JNIOR, 1997a; ALMEIDA JNIOR, 1997c).

    Outros agravantes dizem respeito a) dificuldade de pesquisa

    e localizao de informaes e b) problemas resultantes do uso

    da Internet, cada vez com maior intensidade, como veculo para

    a divulgao e venda de produtos: O mercado vai invadir a

    Internet com seu lixo, isso certo. (COELHO NETO, 1998).

    necessrio alertarmos para o fato de que poucas so as

    bibliotecas pblicas brasileiras que se utilizam de computadores

    e de recursos da informtica. Os trabalhos, mesmo os internos,

    so quase todos desenvolvidos manualmente. Acesso Internet

    visto sempre como uma perspectiva futura e, na maioria das

    bibliotecas, como uma remota possibilidade.

    Trabalhando com modismos, a biblioteca pblica os aceita

    e implanta, quando possvel, sem nenhuma anlise quanto

    real necessidade deles para os trabalhos desenvolvidos. Tambm

    no so feitas adaptaes visando adequao deles s

    caractersticas da comunidade atendida. Parte-se do pressuposto

    de que se j foram implantados e analisados em alguma

    biblioteca, esto aptos a serem utilizados e empregados, sem

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    alteraes, em qualquer biblioteca. Essa uma concepo

    presente na rea biblioteconmica, que existe em decorrncia

    da concepo de que as tcnicas bibliotecrias e os servios

    oferecidos nos espaos das bibliotecas, so neutros, imparciais

    e apolticos. Sendo neutras e imparciais, as tcnicas e as

    ferramentas utilizadas pelos bibliotecrios para o

    desenvolvimento de seus trabalhos cotidianos podem ser

    implementadas em qualquer tipo de biblioteca, independente

    do tipo de usurios que atende. Do mesmo modo, os servios

    oferecidos aos usurios tambm so considerados neutros e

    imparciais, com objetivos que apenas visam ao desenvolvimento

    (principalmente intelectual) das pessoas. Com objetivos

    entendidos dessa forma, qualquer servio pode ser considerado

    apto a ser implantado nas bibliotecas pblicas. Alm disso,

    visando ao crescimento, enquanto ser humano, de seus usurios,

    a opo e determinao dos servios a serem oferecidos

    dispensam o conhecimento mais profundo e a participao

    daqueles que faro uso desses servios. Pesquisa realizada com

    bibliotecas pblicas pertencentes ao Sistema de Bibliotecas

    Pblicas do Estado de So Paulo procurou analisar as formas

    como o usurio participava da gesto nessas bibliotecas. Os

    resultados demonstraram que no faz parte das preocupaes

    dos bibliotecrios a criao de mecanismos formais que

    permitam a participao dos usurios. As respostas fornecidas,

    no entanto, creditavam a algumas formas tradicionais das

    bibliotecas o fato de coletarem opinies e sugestes dos usurios,

    como atuaes verdadeiramente democratizantes e que

    permitiriam a participao efetiva dos usurios na gesto das

    bibliotecas (ALMEIDA JNIOR et al, 1991). Tal pesquisa

  • 25

    Introduo

    corrobora a idia aqui defendida embasada na literatura,

    nos contatos com bibliotecrios e na observao da atuao

    das bibliotecas de que os servios desenvolvidos pelas

    bibliotecas pblicas no passam de modismos e so meramente

    aplicados com base na crena de que j foram testados e

    reconhecidos como importantes e necessrios em alguma

    biblioteca ou so defendidos pela literatura da rea.

    Essa afirmao nos leva a acreditar que, se tais servios

    so meramente aplicados e reconhecidos antecipadamente

    como importantes e necessrios, no h motivo para serem

    avaliados. As bibliotecas pblicas, assim, no reconheceriam

    como necessrio o emprego de um processo formal de avaliao.

    Por que avaliar um servio se ele, comprovadamente, atingiu

    os objetivos a que se propunha, mesmo que em outro espao e

    voltado para outros usurios? A prpria literatura parece apoiar

    essa idia. Como j observado anteriormente, poucos so os

    textos publicados, nos anos recentes, sobre avaliao dos servios

    oferecidos pelas bibliotecas pblicas. Tudo leva a crer que os

    bibliotecrios fogem e, propositalmente, relegam a

    importncia da avaliao, dispensando, dessa forma, sua

    aplicao nos servios que desenvolvem. Acreditamos que tal

    fuga evita tambm a necessidade de amplos e cansativos

    estudos de usurios e de comunidade, pois seriam estes as bases

    para a criao e determinao dos servios e da prpria atuao

    da biblioteca pblica. Copiando e implantando servios j

    pretensamente testados, dispensar-se-ia os estudos de usurios

    e de comunidade, alm de reconhecer como desnecessria a

    avaliao desses servios. Se avaliar pressupe, simplista e

    genericamente, a atribuio de valor ao objeto de anlise, a

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    concepo acima concebe esse valor dado antecipadamente.

    Parece cmoda uma postura que, alm de copiar sem a

    preocupao de adequar o servio s necessidades da

    comunidade a quem deve atender, tambm se apropria, sem

    questionamentos, de julgamentos avaliativos previamente

    estabelecidos.

    Quando iniciamos a pesquisa, nossa concepo de

    biblioteca pblica j a diferenciava em dois segmentos: a

    biblioteca pblica tradicional e a que se prope como alternativa

    quela, no s quanto aos servios oferecidos, mas, e

    principalmente, quanto postura diferenciada, entendendo sua

    funo social como um processo dependente de uma relao

    prxima com a sociedade.

    O excesso de preocupao com os trabalhos tcnicos das

    bibliotecas; o cuidado exagerado com a preservao e a reunio

    de grandes quantidades de materiais; a seleo descuidada e

    restrita a doaes aleatrias; o direcionamento dos trabalhos

    apenas para a leitura; a nfase no livro e o seu entendimento

    como a nica forma de transmisso de cultura; a insistncia em

    reconhecer o livro como o material a ser priorizado pelos

    trabalhos da biblioteca, etc., configuram, rapidamente, a

    biblioteca pblica tradicional. As bibliotecas com uma

    concepo alternativa, por sua vez, devem estar preocupadas,

    predominantemente, com a informao, no importando o

    suporte no qual esteja ela contida. a informao que altera o

    carter do trabalho e da ao da biblioteca pblica tradicional.

    O atendimento ao analfabeto ou ao semi-analfabeto, e por

    conseguinte, a ampliao do pblico das bibliotecas, s pode

    se concretizar atravs da informao. A preocupao com a

  • 27

    Introduo

    comunidade, presente na idia das bibliotecas alternativas, vai

    refletir-se no s no trabalho conjunto, independente do espao

    formal da biblioteca, mas tambm, e prioritariamente, na

    participao efetiva da comunidade nas decises da poltica,

    dos objetivos e dos rumos da biblioteca que deve prestar seus

    servios a partir das necessidades e interesses determinados pela

    comunidade. Os profissionais que atuam nessas bibliotecas sero

    os intermedirios entre as necessidades e sua satisfao, no

    mbito da informao, mas cientes da importncia da

    participao da comunidade; do conhecimento que devem ter

    dessa comunidade conseguido atravs de um relacionamento

    e de uma convivncia mais prxima e constante com ela e

    cientes ainda de que seus conhecimentos tcnicos e

    especializados em Biblioteconomia e Documentao devem

    estar a servio daquela comunidade em que esto atuando, no

    descartado, evidentemente, a possibilidade da interferncia no

    processo de disseminao da informao, disseminao essa que

    se contrape idia de preservao presente nas bibliotecas

    pblicas tradicionais. O que distingue as bibliotecas alternativas,

    efetivamente, o objetivo, a postura, a forma como atua. A

    distino est na forma como se d a ao dessa biblioteca e

    quais so seus compromissos.

    O artigo de Depallens (1987) parece-nos de suma

    importncia para a discusso dessas concepes, j que,

    abordando as bibliotecas da Nicargua, esse autor constata que,

    diferentemente de outras instituies, aquelas no sofreram

    nenhuma alterao aps a Revoluo Sandinista. Os mesmos

    trabalhos, as mesmas atitudes e posturas, a mesma ao, enfim,

    os mesmos objetivos antes e depois da Revoluo que derrubou

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    Somoza e que alterou por completo a vida do pas. Tal

    constatao pode ser transportada para o Brasil, encontrando-

    se inmeros pontos coincidentes. No que em nosso pas tenha

    ocorrido uma revoluo (na verdade, o golpe de 1964 foi uma

    contra-revoluo), mas, no perodo pr 1964, durante a ditadura

    militar, aps a abertura poltica e, mais recentemente, a

    transio democrtica, durante todos esses perodos da vida

    nacional, durante esses momentos conflitantes, antagnicos e

    de situaes scio-poltica e econmicas diferentes, a biblioteca

    pblica no Brasil, a exemplo da Nicargua, teve pouca ou quase

    nenhuma alterao. Os mesmos trabalhos, as mesmas posturas,

    a mesma atuao. O mesmo ocorreu e ocorre na maioria dos

    pases do mundo.

    Os servios desenvolvidos nas bibliotecas pblicas esto

    sob a responsabilidade do Servio de Referncia e Informao,

    at mesmo porque, quase sempre, os Sistemas de Bibliotecas

    Pblicas, quer sejam eles de mbito estadual ou municipal, esto

    estruturados a partir de uma coordenao central que tambm

    responsvel por todos os trabalhos tcnicos, e de ramais que

    atendem determinadas localidades, bairros ou regies. Estes

    ramais atuam diretamente com os usurios e, no tendo a

    responsabilidade de atividades de processamento tcnico,

    dedicam-se exclusivamente aos trabalhos de referncia, ou seja,

    organizao e implantao de servios e atividades voltados para

    atender s necessidades do seu pblico. Apesar de subordinadas

    administrativa e politicamente coordenao central, possuem

    elas, normalmente, certa autonomia quanto aos servios e

    atividades que desenvolvem. Assim, no h, com excees,

    determinaes prvias, por parte da coordenao, de quais os

  • 29

    Introduo

    servios e atividades que devem ser implantados, at porque os

    interesses e necessidades do pblico de cada uma das bibliotecas

    ramais so diferenciados.

    A preocupao formal com o usurio data do surgimento

    do Servio de Referncia e Informao, mas tal preocupao

    est restrita ao discurso do profissional bibliotecrio, no se

    fazendo presente na sua prtica. evidente que o trabalho junto

    ao SRInfo exige um determinado perfil daquele que ir exerc-

    lo, perfil esse que no necessariamente todo profissional deve

    possuir. Trabalhar diretamente com o atendimento de pessoas;

    exerccio de uma atividade em constante presso; trocas

    constantes e abruptas dos temas solicitados para pesquisa, so

    algumas, entre vrias outras, das caractersticas que deve possuir

    o profissional que escolhe o SRInfo como espao de atuao.

    O trabalho voltado para outro ser humano, com todos os

    problemas resultantes da relao entre duas pessoas, est

    implcito no Servio de Referncia e Informao. Muitos

    profissionais apenas atuam (ou aturam) nesse setor, por no

    conseguirem colocao em outros espaos da biblioteca,

    acarretando um servio de baixa qualidade ou a procura desses

    profissionais por outras tarefas possveis de serem executadas,

    mesmo quando a biblioteca em que atuam basicamente

    constituda pelo SRInfo.

    Quando de um concurso para bibliotecrio e as

    bibliotecas pblicas so prdigas em exemplos dessa natureza

    so selecionados aqueles que, em um exame prvio, obtiveram

    as maiores notas, classificando-os e recrutando at o limite das

    vagas existentes. O candidato que conseguiu a maior nota

    chamado para escolher, entre as vagas existentes, aquela que

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    mais lhe interessa. Dentro dos cargos disponveis pode ocorrer,

    e de fato ocorre em muitos casos, a incluso de chefias,

    obviamente com um salrio diferenciado e maior em relao

    aos outros cargos oferecidos. Os candidatos com as maiores

    notas tomam para si os cargos de chefias, mesmo que o tipo de

    trabalho no seja o mais adequado para o seu perfil ou no se

    enquadra no mbito do seu real interesse. A escolha do cargo

    motivada, em grande parte dos casos, pelo salrio oferecido.

    Outros candidatos, tambm com uma boa classificao, fazem

    sua opo a partir da alocao do cargo, ou seja, vincula sua

    escolha proximidade do local onde exercer suas atividades,

    muitas vezes em detrimento do interesse pelo trabalho a ser

    executado. Aos ltimos classificados, restam poucos locais, sendo

    a escolha determinada de forma no condizente com seus reais

    interesses na rea. Em nenhum momento, nesses concursos,

    feita uma avaliao das caractersticas do profissional em relao

    s peculiaridades do cargo a ser preenchido. Logo, as pessoas

    ocupam cargos para os quais, muitas vezes, no esto preparados

    ou, simplesmente, so incompetentes para exerc-los.

    O Servio de Referncia e Informao trabalha, hoje, com

    um conceito muito mais amplo do que aquele que o

    acompanhou, quando das propostas de formalizao de um

    espao dentro da biblioteca exclusivo para atendimento de

    usurios.

    Em princpio, o objetivo bsico desse servio, que ser

    discutido em captulo posterior, propiciar aos usurios o acesso

    e, mais do que isso, a apropriao de informaes que satisfaam

    determinadas necessidades. As atividades desenvolvidas no

    Servio de Referncia e Informao, atualmente, no visam dar,

  • 31

    Introduo

    oferecer informaes, mas mediar, intermediar a relao

    do usurio com suportes que as contenham.

    A avaliao dos servios oferecidos pelas bibliotecas

    pblicas, desse modo, deve ser de responsabilidade e

    preocupao do Servio de Referncia e Informao, motivo

    pelo qual o estamos enfocando neste estudo.

    Outro ponto que ser objeto de uma discusso maior o

    fato de que os servios desenvolvidos pelas bibliotecas pblicas

    brasileiras comumente resumem-se to somente em dois:

    emprstimo e consulta. Os emprstimos so feitos quase que

    mecanicamente (com exceo de indicao de leitura) e as

    consultas atm-se ao acervo localizado na biblioteca,

    demonstrando um interesse muito maior pelo suporte do que

    pela informao. Os servios de extenso, entendidos por

    muitos como atividades diferenciadas, no passam de

    deslocamento do acervo para regies que ainda no possuem

    bibliotecas, invariavelmente oferecendo, tambm, emprstimo

    domiciliar e consulta ao acervo. As atividades de animao

    cultural esto restritas a poucas bibliotecas e atingem quase que

    exclusivamente o pblico infanto-juvenil, alm de estarem

    direcionadas para a leitura. Esses pontos reforam a idia de

    que os servios idealizados e concretizados no Servio de

    Referncia e Informao das bibliotecas pblicas norteiam-se

    muito mais pela necessidade em aplicar tcnicas j sedimentadas

    e entendidas como imprescindveis e corretas, do que se

    direcionar ao atendimento da satisfao informacional dos

    usurios.

    O objetivo principal do presente trabalho o estudo de

    como se d a avaliao dos servios e trabalhos desenvolvidos

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    nos Servios de Referncia e Informao das bibliotecas

    pblicas. Conhecendo a forma como a avaliao praticada,

    podemos apresentar tpicos norteadores para um modelo que

    sirva de parmetro para uma avaliao mais consistente.

    Qualquer modelo deve ser considerado como algo no

    definitivo, necessariamente submetido a modificaes que o

    torne adequado s necessidades de cada comunidade de

    usurios. No pode ser meramente transportado, importado,

    escaneado, copiado sem adequaes, sob pena de se

    transfor mar em verdade absoluta. Deve ser questionado,

    analisado e avaliado, antes de ser empregado.

    Como subsdios e fundamentos, recorremos alm da

    biblioteconomia, evidentemente, a outras reas, em especial a

    Educao.

    A opo por privilegiar, em nossos estudos, a Biblioteca

    Pblica, deu-se naturalmente. Em nenhum outro tipo de

    biblioteca, o trabalho de Referncia e Informao possui igual

    abrangncia do ponto de vista social.

    O presente trabalho, em vista do acima apresentado,

    estruturou-se em trs grandes blocos, excetuados a Introduo

    e a Concluso.

    O captulo 1, Bibliotecas pblicas e Servio de Referncia

    e Informao, est subdivido em alguns tpicos considerados

    importantes para a compreenso do que ser desenvolvido nos

    captulos que o sucedem.

    Pretendemos, neste momento do trabalho, introduzir os

    conceitos referentes ao Servio de Referncia e Informao

    (SRInfo), enfocando seu aspecto restrito e amplo. Sero

    apresentados, tambm, as cinco linhas de atuao desse servio,

  • 33

    Introduo

    em especial o Servio de Referncia propriamente dito, assim

    denominado por Neusa Dias de Macedo. A nfase maior,

    evidentemente, ser quanto ao seu funcionamento nas

    bibliotecas pblicas. A relao do usurio com a biblioteca

    ocorre no SRInfo, razo pela qual os servios devem estar

    alocados e coordenados por esse setor.

    O histrico do Servio de Referncia e Informao faz-se

    necessrio, enfatizando, principalmente, as idias que o

    originaram, as mudanas ocorridas na biblioteconomia durante

    os ltimos anos do sculo passado, o incio da preocupao

    formal com o usurio, etc. Esse item foi introduzido com o fim

    de evidenciar que a preocupao com o usurio recente, ainda

    no tendo sido assimilada pela maioria das bibliotecas pblicas

    brasileiras.

    O captulo tambm aborda os conceitos referentes

    Biblioteca Pblica Tradicional, entendida, simplificadamente,

    como aquela anterior s propostas que incluram a funo

    informacional nesse tipo de biblioteca, e Biblioteca

    Alternativa, que contraria e, mesmo, se ope quela.

    A relao com a comunidade bsica para que suas

    necessidades informacionais possam ser satisfeitas pela

    biblioteca pblica. Esta deve conhecer seus usurios, possibilitar

    condies de acesso e participao na gesto, na poltica e na

    determinao de seus objetivos e, principalmente, deve, a partir

    disso, determinar os servios que sero oferecidos. A partir desse

    ponto de vista, entendemos ser necessrio um espao especfico

    para melhor desenvolver essa questo.

    Os servios oferecidos pelas bibliotecas pblicas merecem

    um destaque e so discutidos neste captulo. Os artigos presentes

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    na literatura, quase todos, limitam-se descrio dos trabalhos

    realizados por uma biblioteca especfica. Na maioria das vezes,

    tais artigos contentam-se em apenas descrever, no discorrendo

    sobre os motivos que levaram a biblioteca a realizar os trabalhos.

    Destaque ser dado ao fato de que os artigos no apresentam as

    formas de avaliao e, quando o fazem, no mostram os

    resultados e nem as mudanas que ocasionaram. Evidenciam a

    preocupao, comum nas bibliotecas pblicas, em relao ao

    como em detrimento do por que. Pelo fato dos servios

    oferecidos pelas bibliotecas estarem alocados no Servio de

    Referncia e Informao, tornou-se importante a abertura de

    um item especfico para reflexes sobre as caractersticas desse

    setor quando inserido nas bibliotecas pblicas.

    Tanto o captulo 1 como o seguinte esto embasados na

    literatura da rea de biblioteconomia e em reas prximas e de

    interesse para o tema da pesquisa. Alertamos para o fato de que

    a literatura sobre o assunto teve seu auge no incio dos anos 80.

    Muito pouco, aps esse perodo, foi escrito a respeito. Alguns

    trabalhos publicados recentemente so reprodues de textos

    editados na poca em que a avaliao parecia ganhar um espao

    prprio e permanente na biblioteconomia fato que,

    infelizmente, no ocorreu.

    A avaliao ser enfocada no segundo captulo. Em

    primeiro lugar, buscamos conceituar o termo de maneira ampla

    e analis-lo a partir, em especial, da rea da Educao. Foi ela

    utilizada como subsdio bsico para, com adequaes

    evidentemente, propor mos for mas de avaliao na

    Biblioteconomia.

    A avaliao, enquanto parte de um projeto de servio,

  • 35

    Introduo

    possui objetivos prprios. No entanto, buscamos, neste

    momento, evidenciar a necessidade da interao entre esses

    objetivos e os da instituio qual est inserida a biblioteca.

    Infelizmente, principalmente no mbito da biblioteconomia,

    os objetivos dos servios oferecidos aos usurios no possuem

    relaes com os objetivos da biblioteca e, at mesmo, com os

    objetivos dos outros servios oferecidos. Estes so totalmente

    independentes, autnomos, sem vnculos entre si. Os princpios

    da avaliao tambm mereceram um espao para discusso. So

    eles idias que devem ser conhecidas previamente e que

    nortearo a concretizao da avaliao. As tcnicas e os

    instrumentos de avaliao so escolhidos e selecionados com

    base nesses princpios. Eles, por exemplo, alertam para as

    limitaes da avaliao, da parcialidade inerente avaliao, o

    entendimento da avaliao como um meio e no um fim, etc.

    Assim, nos resultados da avaliao, devero ser consideradas as

    idias emanadas por esses princpios.

    Neste estudo, partimos do conceito de avaliao, no

    como algo estanque, esttico, implantado em um nico

    momento, mas como um processo, permeando toda a

    implantao de cada servio oferecido pelas bibliotecas aos

    usurios. necessrio, ento, indicar as etapas em que deve

    ocorrer a avaliao ou, melhor dizendo, as etapas em que a

    avaliao deve ser dividida. Cada etapa no se esgota em si

    mesma. As etapas esto discutidas dentro do item dedicado aos

    objetivos da avaliao.

    Vrias so as tcnicas e os instrumentos passveis de serem

    utilizados na avaliao. Apresentamos as tcnicas e os

    instrumentos comumente empregados, indicando, no entanto,

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    a necessidade de adequ-los aos objetivos de cada avaliao. As

    tcnicas e os instrumentos no podem ser empregados

    aleatoriamente ou em dissonncia com os objetivos de cada

    servio ao qual a avaliao est atrelada.

    Alguns conceitos e idias quanto avaliao quantitativa

    e a qualitativa, presentes na literatura, foram destacados. A

    avaliao quantitativa uma idia hegemnica, no s na rea

    de educao como na da biblioteconomia. A quantificao de

    dados, no entanto, no pode ser relegada ou ter sua importncia

    negada, fato que nos levou a abordar o tema.

    Deve-se enfatizar, como j afirmado anteriormente, a

    necessidade do entendimento da avaliao como um processo

    e no como algo que ocorre em momentos determinados. A

    avaliao no se d, necessariamente, ao final da implantao

    ou da execuo dos servios oferecidos pelas bibliotecas aos

    usurios. Ela ocorre, sim, ao longo de todo o servio,

    influenciando-o e motivando alteraes, transformaes e, at

    mesmo, sua suspenso.

    No captulo 3, apresentamos os tipos de avaliao

    empregados pelas bibliotecas pblicas, nos servios oferecidos

    pelo SRInfo. Destacamos, tambm, os objetivos, as tcnicas e os

    instrumentos mais utilizados. A partir desses dados, e com base

    no que foi apresentado nos captulos anteriores, analisamos os

    motivos e as causas para a predominncia de determinadas

    concepes e idias a respeito de avaliao no espao das

    bibliotecas pblicas.

    Discutimos, alm disso, as relaes entre o discurso e

    prtica do profissional bibliotecrio quanto avaliao.

    Analisamos, tambm, atravs das experincias e idias presentes

  • 37

    Introduo

    na literatura da rea de biblioteconomia, se a forma ou as formas

    de avaliao mais empregadas e recomendadas esto voltadas e

    direcionadas para atender um modelo de biblioteca pblica

    tradicional ou alternativo.

    Finalizando o captulo, resgatamos as discusses

    desenvolvidas durante o trabalho, apresentando-as de maneira

    sistematizada, em forma de tpicos e parmetros com o intuito

    de construir um modelo como proposta de avaliao de servios

    em bibliotecas pblicas, visando contribuir para a adequao

    desses servios s necessidades informacionais da populao.

    Nas concluses, procuramos resgatar algumas idias

    apresentadas inicialmente, reafirmando-as ou contestando-as,

    conforme o caso, sob a luz das anlises desenvolvidas e dos

    resultados obtidos no transcorrer do trabalho. As restries e

    limitaes existentes nesse tipo de pesquisa foram evidenciadas.

    Esperamos contribuir para que a avaliao tenha um

    espao entre os interesses e as preocupaes no s dos

    estudiosos e pesquisadores da rea, mas, e principalmente, dos

    profissionais bibliotecrios. Acreditamos que, sendo empregada

    e utilizada, a avaliao levar a um questionamento maior e,

    qui, a transformaes na concepo do Servio de Referncia

    e Informao e da Biblioteca Pblica brasileira.

  • 39

    Bibliotecas Pblicas e servios de referncia e inform

    ao

    SERVIO DE REFERNCIA E INFORMAO

    O Servio de Referncia e Informao, em especial nas

    bibliotecas pblicas, apresenta-se como o espao em que se

    realiza a relao usurio-informao. Talvez fosse melhor aqui

    dizer o espao onde se pretende a relao usurio-informao,

    a relao necessidade informacional e informao. O talvez

    motivado pelo fato de que em grande parte das vezes, essa

    relao praticamente no existe. O grande usurio da biblioteca

    pblica o aluno das escolas dos ensinos fundamental e mdio,

    que a procura para desenvolver pesquisas solicitadas pelos

    professores e para as quais no preparado. Afirma a literatura

    que esse tipo de usurio representa aproximadamente 90% de

    todo o atendimento desenvolvido pela biblioteca.

    Considerando-se que as pesquisas realizadas pelos alunos nada

    Bibliotecas Pblicas eServio de Referncia eInformao

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    mais so do que meras cpias de verbetes de enciclopdias ou

    de qualquer tipo de material que trate um determinado assunto

    de maneira rpida e sucinta, possvel afirmar que a relao

    usurio-informao pretendida pela biblioteca termina por no

    ocorrer nesse caso. Almeida Jnior (1992) afirma que esse tipo

    de pesquisa pode ser entendido como a grande farsa do ensino.

    A pesquisa, tal como concebida e aplicada nas escolas de

    ensinos fundamental e mdio, pode ser visualizada por um trip

    em que os professores, os alunos e as bibliotecas constituiriam,

    cada um desses segmentos, uma das trs pontas. O professor

    exige a pesquisa dos alunos, mas no fornece uma orientao

    segura e adequada para que seja eficiente e vinculada aos

    objetivos pedaggicos que, espera-se, motivaram o emprego

    dessa estratgia. A biblioteca, por sua vez, limita-se a indicar os

    materiais nos quais o tema proposto para a pesquisa possa ser

    localizado. Esses materiais, no entanto, restringem-se, como j

    observado, queles que tratam o assunto de maneira sucinta e

    abrangente, como o caso das enciclopdias, e que possibilitam

    uma cpia rpida (na verdade, o objetivo principal do aluno,

    diferentemente do esperado pelos professores1). De posse da

    1 Os professores podem desejar um outro contedo de pesquisa, mas,principalmente pelo fato de tambm eles no terem conhecimento de comopesquisar, no sabem exatamente o que esperar desse contedo diferente.Assim, as correes dos trabalhos apresentados pelos alunos seguem critriosno vinculados diretamente aos contedos das pretensas pesquisas. H relatosde bibliotecrios que orientaram seus usurios a utilizarem vrios materiais e,do que foi apreendido, criarem textos prprios. Provavelmente pela falta deexperincia e por ser a primeira vez que assim realizaram suas pesquisas, otrabalho final redundou curto e com muitos problemas de organizao deidias. No entanto, tais trabalhos foram frutos de uma pesquisa e de umareflexo ou, no mnimo, de entendimento dos contedos lidos. Em contatocom esses alunos posteriormente, os bibliotecrios ficaram surpresos:invariavelmente os professores atriburam notas baixas, levando os alunos quetentaram um procedimento diferenciado de pesquisa a retornar ao velho eantigo mtodo de apenas copiar trechos de enciclopdias.

  • 41

    Bibliotecas Pblicas e servios de referncia e inform

    ao

    cpia, o aluno apresenta o trabalho solicitado ao professor que,

    de acordo com critrios nunca totalmente explicitados, traduz

    sua avaliao em forma de uma nota. Dessa forma, o aluno, por

    um lado, precisa realizar uma pesquisa, um trabalho para o

    qual no possui nenhum interesse, pois no foi motivado para

    t-lo; por outro, procura a biblioteca e dela obtm, sem esforo,

    um texto que, copiado, satisfaz a exigncia da pesquisa. ele,

    infelizmente, o grande prejudicado, j que professores e

    bibliotecrios participam dessa farsa educacional como

    instrumentos, como peas de um jogo que escamoteia os

    problemas da educao formal brasileira.

    Em recente pesquisa idealizada e coordenada por Nice

    Figueiredo (1997), e da qual participamos, quando o espao

    pesquisado foi a cidade de So Paulo, foram identificados, entre

    outros, os usurios que freqentam as bibliotecas pblicas das

    cidades do Rio de Janeiro e de So Paulo e o uso que fazem das

    obras de referncia. Quanto aos usurios, os dados

    demonstraram que mais de 60% so do sexo feminino e

    aproximadamente 80% cursavam o primeiro ou o segundo grau.

    importante salientar, no entanto, que em So Paulo a pesquisa

    abrangeu uma amostra apenas das bibliotecas ramais do

    Departamento de Bibliotecas Pblicas, excluindo, para se

    adequar ao perfil da pesquisa realizada no Rio de Janeiro, as

    bibliotecas ramais pertencentes ao Departamento de Bibliotecas

    Infanto-Juvenis. Esse dado importante, pois, includas estas

    ltimas bibliotecas, possivelmente os dados apontariam para um

    pblico prximo dos 90% composto por alunos de ensinos

    fundamental e mdio.

    Outro dado importante da pesquisa diz respeito s obras

    mais consultadas nas bibliotecas pblicas. O resultado, embora

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    j fosse esperado, confirma a literatura e a observao dos

    bibliotecrios que atuam no Servio de Referncia e Informao

    dessas bibliotecas: entre os 20 ttulos mais utilizados em todas

    as bibliotecas pertencentes amostra, 13 eram enciclopdias.

    Alm disso, os trs ttulos mais consultados, com uma quantidade

    de uso amplamente superior aos demais, so enciclopdias.

    Sendo, como afirmado anteriormente, aproximadamente

    90% dos usurios das bibliotecas pblicas brasileiras constitudo

    de estudantes de ensinos fundamental e mdio, a exigncia

    desses usurios est vinculada quase que exclusivamente

    realizao de pesquisas solicitadas pelos professores, possvel

    afirmar que os trabalhos desenvolvidos nas bibliotecas so, em

    sua maioria, tambm uma farsa em relao aos objetivos e

    funes da biblioteca pblica. A biblioteca pblica brasileira

    pode ser interpretada como um equipamento cultural obsoleto,

    inoperante e totalmente dispensvel. A afirmao pode ser

    entendida como extremamente forte, mas traduz as anlises

    desenvolvidas pela literatura, as observaes que qualquer

    pesquisador interessado pode obter atravs de visitas s

    bibliotecas pblicas brasileiras e as conversas com bibliotecrios

    responsveis ou no por essas bibliotecas.

    Os 10% restantes do total de usurios das bibliotecas so

    compreendidos por todos os outros segmentos que,

    teimosamente, ainda insistem em qualificar a biblioteca pblica

    como importante e necessria para solucionar problemas

    informacionais. Boa parcela desses usurios representada por

    pessoas da terceira idade, aposentados em sua maioria, que

    procuram a biblioteca para ter acesso aos jornais do dia ou para

    encontrar amigos e colegas com o mesmo interesse.

  • 43

    Bibliotecas Pblicas e servios de referncia e inform

    ao

    Outro segmento desses usurios constitui-se de pessoas

    que procuram a biblioteca para retirada de livros de fico,

    invariavelmente aqueles, poucos, que desenvolveram o gosto

    pela leitura.

    H ainda, em pequena quantidade, alunos do ensino

    superior em busca de material para a realizao de pesquisas,

    cada vez em maior nmero, que pouco diferem das cpias

    elaboradas (elaboradas?) pelos alunos de ensinos fundamental

    e mdio. Invariavelmente, tais usurios pouco ou nada

    conhecem de biblioteca pblica, pois estas no possuem acervo

    adequado para atender e satisfazer as necessidades deles.

    Transitam, assim, completamente perdidos por entre estantes,

    mesas e fichrios em busca de algo que imaginam residir naquele

    emaranhado de materiais alocados, armazenados e ordenados,

    a partir de cdigos incompreensveis. A procura pela ajuda do

    bibliotecrio, ou melhor, daquele que est disponvel no

    atendimento, resulta, ao contrrio do esperado, quase sempre

    em frustrao. O mesmo ocorre em relao aos que procuram

    a biblioteca para resolver problemas de informao vinculados

    a atividades profissionais ou empresariais. A biblioteca, tambm

    nesses casos, no est preparada e equipada para atender

    adequadamente a essas solicitaes.

    Os que desejam satisfazer uma curiosidade ou ampliar

    seus conhecimentos numa determinada rea e que

    procuraram a biblioteca movidos por interesses pessoais

    acabam, do mesmo modo, se frustrando, deixando a biblioteca

    com informaes aqum do desejado.

    Obviamente, a generalizao apresentada acima possui

    excees, mas representam pouco dentro da quantidade de

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    usurios que deixam a biblioteca insatisfeitos com as

    informaes obtidas.

    Um parnteses se faz necessrio aqui e diz respeito

    satisfao/insatisfao do usurio. Como ser discutido

    posteriormente, a satisfao ou insatisfao do usurio

    normalmente analisada na literatura da rea biblioteconmica

    vinculada ao momento em que ocorre a interao do usurio

    com a biblioteca. baseada nos conhecimentos e conceitos

    prvios dos usurios a respeito da biblioteca. A sociedade possui

    uma idia sobre a razo da existncia, o porqu da biblioteca, a

    importncia social da biblioteca. Nessa concepo, obviamente,

    esto includos os servios que ela pode oferecer populao.

    Tradicionalmente, para a sociedade, a biblioteca pblica oferece

    dois grandes servios: o emprstimo domiciliar e a consulta em

    seu espao. A satisfao ou no do usurio em relao aos

    servios prestados est diretamente relacionada com o

    entendimento prvio que o usurio possui desses servios,

    includo a ele, as concepes sobre a prestao de servios

    pblicos.

    Baseando-se nas idias expostas, pode-se chegar

    concluso que a relao usurio/informao pretendida pela

    biblioteca pblica se concretiza em pouqussimos casos,

    contrariando o discurso presente na literatura e na fala do

    profissional bibliotecrio que atua nesse tipo de biblioteca.

    Histrico

    Apenas com o intuito de identificar um perodo de

    surgimento e aparecimento do Servio de Referncia, enquanto

    um espao de atuao formal dentro da biblioteca dado

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    Bibliotecas Pblicas e servios de referncia e inform

    ao

    importante para a compreenso do seu desenvolvimento

    alguns fatos esto abaixo indicados:

    1876: Na primeira conferncia da ALA American Library

    Association, Samuel Sweet Green apresenta a primeira proposta

    para o estabelecimento de um servio de referncia

    formalizado nas bibliotecas (embora no use o termo Servio

    de Referncia).

    1883: Acontece a primeira posio de um bibliotecrio em

    tempo integral para atender o Servio de Referncia (SR) da

    Boston Public Library.

    1891: Aparece, pela primeira vez, o termo reference work

    (servio de referncia, como traduzido para o portugus), no

    ndice da Library Journal (revista tradicional na rea da

    Biblioteconomia, publicada at hoje). Nessa poca, surge o

    SR com a idia que dele temos hoje.

    O rpido histrico, na verdade algumas datas o suficiente

    para o que se prope neste momento, permite determinar o

    surgimento do Servio de Referncia durante os ltimos vinte

    e cinco anos do sculo XIX. necessrio que se alerte, no

    entanto, para o fato de que essas datas representam o momento

    em que a proposta de um servio formal e exclusivo de

    atendimento aos usurios explicitada; no significa,

    obviamente, que o servio proposto foi imediatamente aceito e

    implantado nos vrios tipos de bibliotecas espalhadas pelo

    mundo. Ao contrrio: a idia lanada nos Estados Unidos da

    Amrica muito lentamente vai sendo assimilada e concretizada,

    em especial no Brasil, espao de interesse neste trabalho.

    Para confirmar essa assertiva, basta apresentar duas

    situaes, facilmente constatadas em visitas e observaes nos

    vrios tipos de bibliotecas e em todos os Estados brasileiros:

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    Bib

    liote

    ca P

    blic

    a: a

    valia

    o

    de s

    ervi

    os

    - Boa parte das bibliotecas brasileiras no dispe de um

    Servio de Referncia organizado e estruturado. As propostas

    mais recentes, identificadas com o termo Servio de Referncia

    e Informao, passam longe dessas bibliotecas. O que existem

    so arremedos de um servio voltado aos usurios, atuando,

    quase que invariavelmente, sem uma poltica de trabalho

    definida, sem planejamento e oferecendo ao seu pblico meras

    cpias de atividades e trabalhos desenvolvidos em outros locais.

    Com exceo das bibliotecas especializadas e empresariais

    (mesmo assim, no em todas), onde o trabalho bsico est

    vinculado disseminao e mediao da informao, portanto,

    ao Servio de Referncia e Informao, em todos os outros tipos,

    a situao a apresentada acima, inclusive nas bibliotecas

    universitrias, cuja estrutura no pode prescindir de um servio

    formalizado de atendimento ao usurio. Instituies de renome,

    como o caso da USP, estruturaram apenas recentemente (no

    incio dos anos 90, em algumas bibliotecas de unidades no

    exemplo da USP) um servio voltado aos usurios em suas

    bibliotecas.

    - Na grande maioria das bibliotecas brasileiras, o

    atendimento ao usurio realizado e executado por

    funcionrios sem qualificao, competncia, for mao e

    preparo nesse segmento especfico da biblioteconomia.

    As bibliotecas pblicas, por uma srie de motivos que

    explicam mas no justificam, deixam o atendimento sob a

    responsabilidade de auxiliares de bibliotecas e, at mesmo, de

    funcionrios em desvio de funo, ou seja, exercendo um cargo

    para o qual no foi contratado. Invariavelmente, neste ltimo

    caso, o funcionrio atua num cargo hierarquicamente superior

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    Bibliotecas Pblicas e servios de referncia e inform

    ao

    ao que est enquadrado. comum encontrar-se, por exemplo,

    atendentes contratados como copeiros, vigias, porteiros,

    exercendo uma funo junto ao Servio de Referncia e

    Informao, para a qual absolutamente no esto preparados,

    ocorrendo, em situaes extremas, de pessoas semi-analfabetas

    orientarem pesquisas que exigem um determinado nvel de

    elaborao muito alm da possuda por esses funcionrios. As

    explicaes para essa situao so vrias, indo desde o nmero

    insuficiente de bibliotecrios contratados pela instituio at a

    avaliao questionvel de que determinados funcionrios

    mesmo sem formao; com um nvel de instruo inferior ao

    da mdia de usurios; sem experincia com pesquisa formal,

    etc. possuem um perfil que os qualifica para a funo.

    A primeira das explicaes, a falta de profissionais

    bibliotecrios na instituio, precisa ser melhor avaliada. Quase

    sempre, nesses casos, a biblioteca isolada, a rede ou o sistema

    de bibliotecas conta com um nmero determinado de

    bibliotecrios. Esse nmero, provavelmente, inferior ao

    necessrio para desenvolver as atividades, atribuies e funes

    inerentes a uma concepo ideal de biblioteca. No entanto,

    deve-se considerar a alocao desses bibliotecrios, pois ela

    define a idia de biblioteca pblica dos responsveis por aquela

    unidade. Um nmero considervel dos profissionais

    bibliotecrios, boa parte das vezes, so deslocados para o

    trabalho tcnico e administrativo. S aps o preenchimento

    desses espaos que o servio que atua diretamente com o

    usurio passa a ser motivo de preocupao. As excees

    existentes apenas confirmam a regra. Desse modo, sobram

    cargos na referncia e faltam profissionais para preench-los.

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    2 A viso tecnicista aqui empregada est relacionada exacerbao da importnciada tcnica. Quando a tcnica empregada por ela mesma, no entendida como uminstrumento; quando as ferramentas cdigos e tabelas de que dispe o profissionalbibliotecrio para aplicar as tcnicas indispensveis em sua atuao so entendidascomo mais importante do que o processo (de classificao, de catalogao, deindexao, por exemplo); quando tais ferramentas so empregadas indiferentementedo tipo de biblioteca ou do pblico ao qual deve servir, evidencia-se a viso tecnicista,viso essa, alis, extremamente presente na rea da biblioteconomia.

    Est descartada assim, no modo de entender dos responsveis,

    a culpa da biblioteca pblica pela situao vivenciada pela

    inoperncia no atendimento ao usurio, pelo fracasso no

    cumprimento dos seus objetivos, em especial o da

    democratizao da informao. A falta de pessoal qualificado,

    leia-se profissional bibliotecrio, nos servios de atendimento

    ao usurio tem como um de seus principais motivos a concepo

    de biblioteca pblica por parte dos responsveis por ela. Quando

    os trabalhos tcnicos, servios e o meio da biblioteca so

    priorizados, depreende-se uma viso extremamente tecnicista2

    dessa biblioteca e um descompasso com o invarivel discurso

    de que o usurio o norteador, o fim ltimo de todas as aes

    empreendidas pelas bibliotecas pblicas. Outro procedimento

    comum pode ser aqui apresentado, com o intuito de corroborar

    com a idia de que a viso de biblioteca interfere na ausncia

    de bibliotecrios para o atendimento ao pblico: quando da

    falta de um bibliotecrio em qualquer setor de processamento

    tcnico, muitas vezes um profissional que atua no servio de

    referncia deslocado para cobrir essa ausncia, desfalcando

    ainda mais o j insuficiente grupo. Esses dados apontam para

    uma concepo, insistindo, extremamente tecnicista da funo

    da biblioteca pblica, concepo que acompanha a histria da

    biblioteca. Serrai, (1975) em artigo publicado na dcada de

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    70, afirma