RELEITURAS HISTORIOGRÁFICAS NA SALA DE AULA: A HISTÓRIA AMBIENTAL NA AMAZÔNIA COLONIAL, MÉTODOS
E PERSPECTIVAS1.
Autor: Davison Hugo Rocha Alves2. Universidade Federal do Pará.
Co - autora: Raquel Alves da Silva3. Universidade Federal do Pará.
Resumo
O Ensino de História desde a década de 80, vem passando por uma reformulação em relação aos seus aspectos didáticos do professor na sala de aula, o conhecimento histórico através da pesquisa, começa a ganhar destaque no ambiente acadêmico e com isso o método de ensino aprendizagem acaba mudando, devido o surgimento de novas tendências historiográficas, a história ambiental surge nesse contexto de mudança de concepção sobre o ensino de história, esta comunicação tem por objetivo analisar o ensino de história para o 7º e 8º ano de ensino fundamental, acerca da historiografia ambiental no ambiente amazônico colonial, usando a narrativa dos viajantes Como uma forma de representar a historia, saindo daquele contexto de memorização dos fatos históricos, fazendo introduzir na sala um método que leva o aluno a ter interesse pela disciplina, através da transposição didática (adaptação de textos historiográficos – narrativas de viajantes), tendo como base as diversas formas de abordagem do assunto, os padres missionários do século XVll e XVlll, Pe. João Daniel (1722- 1776), que na obra ‘’O Tesouro descoberto do Rio Amazonas’’, faz uma descrição detalhada sobre temas centrais como a natureza, os índios e a cultura da região, o PE. Felipe Bettendorf (1627- 1698), onde este descreve a ocupação do espaço amazônico pelo colonizador português, na obra “Crônicas dos padres da companhia de Jesus do Estado do Maranhão”, demonstram como podemos perceber a realidade da Amazônia Colonial, como resultados espera-se que o trabalho contribua para auxiliar o material didático do professor de estudos amazônicos, que a partir do registro deixado pelos cronistas, possam compreender o ambiente amazônico.
Palavras-chave: Historiografia, Viajantes, Natureza, Método, Interdisciplinaridade.
1. A interdisciplinaridade na educação e o ensino de História.
A educação nos dias de hoje passa por algumas reformulações, que atingem
diretamente os parâmetros curriculares no ambiente escolar, os educadores acabaram
tendo que compartilhar experiências e saberes na sala de aula, como forma de despertar
1 Este trabalho é baseado em pesquisa dos autores financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior (CAPES), com o projeto intitulado, “O conhecimento histórico na escola: prática docente, pesquisa e historiografia’- CAPES/Brasil (2010/11).2 Acadêmico do curso de História – Licenciatura e Bacharelado da Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém/PA. E-mail: [email protected]. 3 Acadêmica do curso de História – Licenciatura e Bacharelado da Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém/PA. E-mail: [email protected].
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o interesse do aluno por determinado assunto ou temática, tornar as aulas atrativas é o
essencial para o educador.
A organização curricular tradicional, que é baseada nas disciplinas in loco, acaba
enfatizando o processo de defasagem com que a educação brasileira, assumiu como
característica central nas últimas décadas do século XXI. Os parâmetros curriculares
nacionais vêm trazer uma nova proposta na educação básica brasileira, trazer para o
ambiente escolar a interdisciplinaridade, possibilita ter um outro ponto de vista sobre
como organizar os conteúdos de ensino, além de se obter novas alternativas de ensino-
aprendizagem, acabando com a centralidade educacional.
O que se deve ter em mente em se ter uma educação de qualidade? Certamente,
temos que enfrentar certas resistências à frente desse modelo que adotaremos, o livro
didático assume ainda hoje um critério importantíssimo de seleção e de ordenamento
dos conteúdos ministrador, mas certamente não é a única verdade absoluta em relação à
aprendizagem na sala de aula, é o que pretendemos reduzir com essa proposta de ensino,
que tenta tornar o educador algo importante e independente no ensino-aprendizagem.
O conservadorismo curricular que aos poucos ganha força no ensino o Brasil, se
deve ao grande fato de que as maiorias dos alunos estão preocupados em se preparar
para os vestibulares ou simplesmente para concluir os seus estudos e se esquecem que o
conhecimento é algo de grande aprendizado, o que levarão para a vida inteira, o ensino
acaba sendo uma obrigação e não algo prazeroso, com isso, o papel do educador é tentar
encontrar um meio termo para essa dualidade que vive o aluno do século XXI.
O ensino de História leva a passar por essas políticas conservadoras em que o
critério cronológico é ainda o grande motim, para dificultar esse processo de usar o
ensino de forma integrada, o que faz com que o ensino torne-se uma “exposição de
fragmentos e de contextos de longa duração”, tentar tirar esse estereótipo da sala de aula
com novas visões de práticas de ensino é o que pretende alcançar abordando novos
métodos, acerca da historiografia.
Nesse contexto de integralização do ensino fundamental faz-se necessário fazer
uma discussão sobre a importância do conhecimento histórico para a formação do
aluno, enquanto aprendizagem inicialmente e depois quanto cidadão consciente,
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logicamente que tendenciemos para algo que tenha significado (no caso de prepará-lo
para o ensino médio), mas não devemos esquecer o quanto o conhecimento torna o ser
humano alguém mais consciente da sua realidade, esse será o papel da
interdisciplinaridade.
A história ambiental como campo interdisciplinar, permite um significativo
valor com a Geografia. Afirma Donald Worster que os historiadores ambientais, para
chegarem as suas conclusões, apóiam-se numa variedade de geógrafos. Estes ajudam os
historiadores a perceber que, ao invés de sermos moldado pelo meio ambiente, estamos
cada vez mais assumindo esta moldagem, e por vezes como conseqüências desastrosas.
Atualmente, a responsabilidade que se coloca tanto á História como a geografia, é a de
desvendar o motivo pelo quais os povos modernos têm intentado escapar da natureza,
no sentido de evidenciar os efeitos ecológicos desta atitude (WORSTER, 1991:16-17).
O objetivo que se percebe em estudar o meio ambiente na sala de aula é a
necessidade que se tem em “colocar a sociedade na natureza”. Com isso busca-se um
equilíbrio entre a sociedade e o meio ambiente, nesse sentido é importante à
colaboração de outras disciplinas. Segundo Cipriano (2009), a história ambiental, que
tem a natureza como objeto de estudo, resulta simultaneamente de processos naturais e
humanos.
2. A Ausência da natureza nos livros didáticos.
Compor o ensino de História não é uma tarefa fácil, para os professores que atuam
diretamente no ambiente escolar, pois a impossibilidade de se estudar todos os
tempos e sociedades requerem uma seleção de conteúdo, baseados em critérios
estabelecidos sobre os conteúdos a ser ensinado. Assim, segundo os parâmetros
curriculares (1998), os conteúdos procuram sensibilizar e fundamentar a
compreensão de que os problemas atuais e cotidianos, não podem ser explicados
unicamente a partir de acontecimentos restritos ao presente, desse modo, e
pertinente que o aluno não estude somente o período histórico, mas tentar incentivar
atitudes nos estudantes que o permitam pensar a História objetivamente.
A história factual e narrativa dos acontecimentos históricos foi o que
predominava no ensino até os anos 70, abordando apenas fatos políticos e
valorizando o indivíduo como um agente transformador da sociedade. Os
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movimentos sociais, não possuíam um destaque por parte da historiografia, esse fato
deve ser levado em consideração o não incentivo à pesquisa histórica, em
contrapartida surge uma história estrutural que valoriza o papel das forças
produtivas e das relações sociais, com esse novo olhar sobre a História algumas
categorias que foram esquecidas como meios de produção, estrutura, conjuntura e
acontecimento aos poucos foram assumindo os debates e discussões no campo
historiográfico.
Todavia, diante do avanço válido que teve o ensino de história, a relação
sociedade e natureza, foi esquecido. Essa ausência verificava-se tanto nos livros
didáticos como no ambiente acadêmico. O motivo central desse fato deve-se ao
caráter antropocêntrico e sociocêntrico, com que os estudos herdaram do sistema
filosófico ocidental, durante a difusão do racionalismo no século XVII, ou seja, isso
acabou por influenciar correntes historiográficas liberais (positivismo e
wevbwerianismo), onde detém a questões e ordem social e política. A natureza
acabou sendo deixada, como um plano também secundário para a historiografia.
Segundo Soffiati (1990), esse processo de esvaziamento do conceito de natureza
é revelado por um culturalismo e um historicismo exagerado, onde só esforça-se, no
século XIX, para resgatar-lhe a realidade com os cientistas naturais da época, Lazare
Carnot, com a formulação das leis termodinâmicas (1824), Charles Darwin, com a
teoria da evolução orgânica (1859) e Ernest Haeckel (1824), criador do ramo da
ecologia como história natural (1866). Diante de tal fato, o ambiente acadêmico, só
despertou o interesse pelo estudo da natureza diante da crise ambiental e
generalizada, que foi provocado pelo sistema econômico industrial, este foi a causa
imediata da poluição dos oceanos e das águas, extinção de espécies vegetais e
animais, as alterações climáticas e etc. a natureza deixa de ser olhada como uma
mera construção da história, mas que tem um valor significativo, os historiadores
olharam as relações sociedades humanas e natureza com um outro olhar.
O Brasil é um país privilegiado para se estudar a história ambiental, por ter um
imenso território com vários biomas, ecossistemas, rios, recursos naturais (pau-
brasil, café, açúcar, drogas-do-sertão, tabaco, algodão), que ao longo de toda a
colonização foi importante para a colonização, são exemplos que demonstram a
importância da temática, para as aulas de História e de estudos Amazônicos,
segundo Drummond (2002), a economia brasileira é muito grande e dinâmica (...),
uma economia sujeita a fortes e duradouros ímpetos de crescimento, até hoje,
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baseados em grande parte do consumo extensivo de recurso naturais, o Brasil é uma
da maiores potencialidades mundiais de hidroelétricas (produção e consumo), tem o
maior parque metalúrgico do mundo movido a carvão vegetal e detém enormes
reservas minerais, são argumentos suficientes para argumentar a relevância do
Brasil, em estudar a história ambiental como algo particular.
Algum aspecto pode abordar na sala de aula, em relação ao tema como a
importância de se salientar o papel inadequado da apropriação da natureza pelas
sociedades humanas, este estudo verifica-se no modo como os colonizadores
portugueses ao chegarem à região Amazônica, tinha relação com os produtos
regionais tanto para o seu consumo como a para a exportação, os relatos dos padres
missionários são interessantes nesse aspecto de descrição do ambiente, ou mesmo,
as sociedade indígenas que habitavam o país usavam a natureza para a sua
sobrevivência, mas não com o teor de destruição que ocorreu com a chegada dos
europeus. Sobre essa questão, Soffiati comenta:
“Por este prisma, a chegada dos europeus causou não apenas um impacto
cultural, mas também um forte impacto ambiental. A implantação dos antigos
sistemas colonial e seu funcionamento produziu danos ecológicos profundos.”
(SOFFIATI: 1990 pp. 49).
A educação ambiental no Brasil acaba caminhando por um caminho que
não necessariamente leve a conscientização da população, e sim a punição (leis,
multas, etc.). O que se considera algo de fundamental importância para o cenário
que se estava desenvolvendo, a partir da grande aparição dos movimentos
ambientalistas e a construção de uma Política Nacional de Meio Ambiente
(PNMA), em 1981 é que se entendeu o meio ambiente como um bem público, se
somado a isso a nova Lei de Diretrizes e bases da educação – LDB (Brasil,
1996), a temática ambiental passou a ser considerado como um tema transversal
dos Parâmetros curriculares Nacionais (PCN) do Ensino Fundamental MEC/SEF
(1998), segundo os parâmetros os temas transversais podem ser abordados na
sala de aula, pela disciplina de maneira convencional, atuando como um fio
condutor da aprendizagem, potencializando valores, desenvolvendo conceitos e
atitudes do aluno, para que os mesmos respondam à necessidade pessoal e da
própria sociedade.
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3. Releituras historiográficas na sala de aula.
A partir da década de 80, o ensino de História passou por uma reavaliação
com relação às propostas curriculares, diante das diferentes tendências
historiográficas, que dominaram o campo de conhecimento histórico, os
historiadores sentiram a necessidade de trabalhar novas temáticas de estudo,
como a história social, cultural, do cotidiano, com isso sugerindo rever o
ensino de história do 6ª ao 9ª ano (antiga 5ª a 8ª série), com isso, “A
apresentação do processo histórico num eixo espaço-temporal eurocêntrico,
seguindo um processo evolutivo, seqüencial e homogêneo, foi denunciada
como um produto pronto e acabado, redutos da História, e restritivo ao
discernimento da diferença entre o conhecimento histórico produzido por
estudiosos e as ações dos homens realizadas no passado”. Diante dessa visão
fechada do conhecimento histórico, estava desenvolvendo junto ao
estudantes alguns domínios de como a pesquisa histórica poderia auxiliar o
professor na sala de aula.
O ensino de História na sala de aula a partir da década de 90 vem
sendo um intenso debate acerca do seu ensino, os currículos apresentados
tentam direcionar o professor para essa nova didática na formação Básica
(correspondente ao ensino fundamental e ao Ensino Médio) do aluno,
segundo os parâmetros curriculares nacionais (1998), para o ensino
fundamental vem propor um ensino voltado para a realidade do aluno, em
que o processo de memorização e reprodução fosse abolido do ensino de
história, para que isso ocorresse era importante ter uma historiografia que se
fosse aliada em buscar novos elementos e métodos para o ensino de História.
O papel dos materiais didáticos nas últimas décadas acaba tendo
percepções diferentes no processo de ensino aprendizagem, dessa forma é
importante que se reestruturem as ferramentas que o professor utiliza na sala
de aula, como: as avaliações, o currículo escolar e o material didático. Neste
sentido, a história ambiental vem colaborar para a mudança de concepção
tradicional de história, pensada somente como algo acabado e relato do
passado, mas que faz parte construtiva da vida do estudante. Temas
interessantes, com novas abordagens e temáticas a ser abordado pelo
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professor, que leva ao domínio do aluno, um mundo de descoberta sobre o
seu espaço social.
Existem inúmeras linguagens, como a fotografia, a narrativa dos
viajantes, os jornais, os documentos de época, o desenho, que podem ser
utilizados na sala de aula e que são voltadas para a produção e compreensão
do conhecimento histórico, segundo Zamboni. Por isso, buscar novas formas
de se trabalhar a história na sala de aula, passa por representações na didática
do professor, pois sabemos que a tarefa de aprendizagem não é fácil, buscar
mecanismos que o ajudem a elaborar uma aula mais didática e próxima da
realidade do aluno é o nosso maior objetivo.
Segundo os parâmetros curriculares nacionais do ensino fundamental
(1998), a História é um campo de pesquisa e produção de saber em
permanente debate que está longe de apontar para o consenso, assim pode
ser interpretada a visão historiográfica, como algo que está sempre em
mudanças e que possui diversas visões acerca de um determinado momento
histórico.
“Nesta última tendência [historiográfica], que não deixa de abrigar
diferentes modelos analíticos e conceituais, as obras de arte, as
articulações de poderes religiosos, os rituais, os costumes, as tradições,
os desvios de comportamento, as resistências cotidianas, os valores
presentes em imagens e textos, as relações e papéis interpessoais e
intergrupais, são abordados em suas particularidades, em suas inter-
relações ou na perspectiva de suas permanências e transformações no
tempo.” (PCN, 1998: 31).
Por outro a pesquisa histórica permite ao professor ter vários documentos
e linguagens (jornais, revistas, narrativas de viajem, fotografias, mapas), que não
se resume o livro didático a somente ter a teoria, isso de certo modo favorece o
ensino aprendizagem, uma vez que o aluno pode fazer uma análise,
confrontação, interpretação e organização de conhecimentos históricos escolares.
Isso faz com que o estudante perceba que a História é feita de representações, e
que este entenda que refletir essas especificidades são formas de comunicação
usadas pelos historiadores como fonte de pesquisa.
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No ano de 2009, realizamos um trabalho para a disciplina “Seminário de
História e educação”, em que fizemos uma entrevista com cinco professores da
escola publica da região metropolitana de Belém, na escola José Alves Maia,
localizada na Avenida senador lemos, no bairro da Sacramenta, foi entrevistada
a professora Vera Lúcia, esta comentou um pouco sobre a sua experiência de
aluna na graduação de História e relatou das dificuldades que se tem em
ministrar a disciplina estudos amazônicos, devido se ter pouco material didático
voltado para a educação básica, em relação à Amazônia.
A professora Vera foi um instrumento importante para que pudesse
pensar este trabalho, pois despertou-nos para olhar o ensino de História voltado
para a nossa região, de modo diferenciado, o aluno da graduação tem esse papel
de serem agentes transformadores e multiplicadores de novas didáticas
historiográficas para a educação no Brasil. A disciplina estudos amazônicos ou
história do Pará é de extrema importância para o aluno de o ensino fundamental
entender a sua realidade.
Outro estímulo pode ser pelo fato do professor da disciplina Amazônia,
percebendo essa dificuldade que se encontra em ter materiais referentes sobre a
Amazônia, colabora na medida em que realiza trabalhos com os alunos da
graduação para a realização de um material didático a ser utilizado na sala de
aula, usando uma linguagem adequada, para que o aluno entenda o conteúdo
ministrado na graduação, fazendo uma adaptação de textos historiográficos, seja
por documentos de época, juntamente com obras consagradas da historiografia
nacional e regional.
No ano de 2010, o projeto financiado pela CAPES sob a orientação do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), com o nome
“O conhecimento histórico na sala de aula: prática docente, pesquisa e
historiografia”, vêm contribuir para essa reflexão sobre a experiência da
docência na sala de aula, e de como podemos contribuir diminuir a disparidade
que existe entre o ensino de graduação e a educação básica, usando como eixos
de trabalho de pesquisa: o uso de fontes históricas na sala de aula, A
historiografia na sala de aula e a pesquisa em História, possibilitando assim uma
reflexão sobre a prática pedagógica, onde se permita a discussão e releitura de
textos historiográficos e a proposição de atividades visando alternativas para o
cotidiano da sala de aula.
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Esses dois exemplos, um como um problema e outro como solução,
mesmo que ainda restrito a uma atividade acadêmica, para esse impasse no
ensino de estudos amazônicos, nos leva a perceber como está mudando a
concepção do professores de graduação em relação ao ambiente da sala de aula.
Ferramentas como estas, ajudam o estudante de graduação a ter outro olhar sobre
o ensino da historiografia não como algo que só é ensinado na academia, mas
sim que pode ser levado para as aulas sobre determinado assunto.
4. O ensino de Estudos Amazônicos no 7º ano: uma adaptação para
a história ambiental.
O relato de viajantes sobre o ambiente amazônico é um instrumento importante
para se entender a Amazônia no período colonial, os padres missionários foram
os responsáveis pela colonização e conversão dos gentios da terra – indígenas –
nas colônias portuguesas, fruto de um movimento de reestruturação da igreja –
Concílio de Trento -, frente ao avanço do protestantismo na Europa, o seu alvo
foram o novo mundo, com a atuação da companhia de Jesus, sob a direção de
Ignácio de Loyola. Entender a literatura dos viajantes é compreender a
ocupação do espaço amazônico pela ótica de suas crônicas, pois descrevem com
minuciosidade a região Amazônia em especial o Rio Amazonas e suas
impressões sobre os índios (cultura, costumes, práticas religiosas etc.), segundo
a obra do padre João Daniel (1722-1776), ou mesmo, um relato sobre as
atividades dos missionários, o seu dia-a-dia, relações com a sociedade colonial e
até mesmo acontecimentos da época, até o período de 1698, segundo as crônicas
do padre. João Felipe Bettendorf.
Preparar um material didático para o ensino fundamental, é entender
como esse processo de construção do ambiente amazônico, a partir do século
XVII, não pode ser separado da historiografia amazônica, em relação aos
jesuítas, que habitaram o ambiente naquele período, o relato dos viajantes serve
de apoio, por meio de representações, o professor possa criar alternativas ao
livro didático, em relação à disciplina estudos amazônicos, é um elemento
essencial ir à busca de novas formas didáticas sobre o estudo da região, diante da
falte de material, como mencionado anteriormente, a seguir, podemos perceber
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dois trechos sobre a visão dos missionários sobre a realidade amazônica no
período colonial.
“... As águas do rio amazonas ordinariamente são brancas, e as dos seus
colaterais, pretas; e desta diversidade vem ao rio Negro o seu nome, nascimento
da qualidade das águas. E posto que as águas do Amazonas sejam as mesmas
que recebem dos seus colaterais, contudo neles são pretas, e no Amazonas; não
porque na realidade sejam totalmente brancas, e a dos rios inteiramente preta,
pois tiradas em alguma vasilha, ou copo, são muitos cristalinas, mas porque
vistas nos rios se representam pretas, e vistas no Amazonas se parecem brancas.
Provém toda a diferença da qualidade do terreno de fundo, e as margens por
onde correm: se as margens e terreno são areias, como ordinariamente sucede os
rios, é água preta neles, e muito cristalina no copo. Mas, se o fundo é lodo, e as
margens, parecem brancas no rio e, no copo é esbranquiçada, e lodosa; o que se
vê na maior parte do Amazonas porque posto que tenha muitos e muitos
dilatados areais, a maior parte corre para o lodo, e por serem tão enlodadas e
esbranquiçadas e turvas as suas águas são pouco capazes para se beberem e
pouco sadias. Nem os seus povoadores ordinariamente a bebem, nem
necessitam delas, porque as fontes e os regatos são inumeráveis, dos quais
provêm, e se em alguma parte não há comodidade das fontes, e se vêem
obrigados a beber do Amazonas, têm a providência de coarem por panos,
deixando-a assentar nas vasilhas em que algumas vezes aparece metade água, e
metade lodo.” (Daniel, 2004: 77).
Podemos perceber pela descrição do padre João Daniel sobre a qualidade
da água do Rio Amazonas, como os habitantes da região não utilizavam à água
do local, somente em situações de extrema necessidade e como surgiu o nome
do referido rio, o aluno do ensino fundamental a partir das impressões do padre
pode fazer relação com a atualidade do Rio Amazonas, levando o mesmo a
perceber as diferenças e/ou semelhanças entre o passado e o presente.
O padre João Felipe Bettendorf (1627 – 1698), em Crônicas dos padres
da companhia de Jesus do estado do Maranhão, segundo José Honório
Rodrigues eles “descreve sua origem e fundação, relata as missões desde a
primeira em 1607, até 1698 quando falece, a viagem de Pedro Teixeira e mais
tarde de Samuel Fritz, a invasão holandesa, os governos temporal e espiritual, as
grandes questões de liberdade e escravidão dos índios, os tumultos do Estado,
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como o de Manuel de Beckman, em 1684.”, a seguir, relata-se um trecho da
chegada da descrição da capitania do Grão-Pará.
“Segue-se para a mesma banda do Pará a Capitania de Jorge Gomes Alemó,
mas como este quebrou no negócio por certas razões, achou o Governador
Gomes de Freire de Andrade que a vila de Vigia, que tinha mandado a fazer,
estava nas terras d’El-rei, nem nunca teve aldeã, e conseqüentemente nem
missionário e a tirou delle; e parece nunca mais se tornou a pôr em pé; suposto
que os moradores da Villa gozam dos bons ares do mar, com seus peixes, ostras,
caranguejos, e da fartura da terra pelo mantimento que produz em abundância,
estão sujeitos ao Pará, e o que lá tem de melhor é a imagem milagrosa de Nossa
Senhora de Nazareth, que de todas as partes se freqüenta os romeiros, que vão
fazer suas romarias e novenas (...)”. (BETTENDORF, 1900: 21-22.).
Apesar de no início da crônica, Bettendorf descrever a cidade de São
Luiz, logo em seguida este descreve algumas capitanias presentes na missão
colonizadora no estado do Pará, a descrição acima da vila de Vigia demonstra
como era vida na colônia portuguesa, mostrando a alimentação e a religiosidade
do povo paraense, a festividade de Nossa Senhora de Nazaré pode ser levado
como um tema de grande importância para a cidade, pode perceber também
pelas suas descrições como os habitantes da região usavam os recursos
alimentícios tanto para o seu consumo como para o seu sustento, onde fica
implícito, na seguinte passagem “e da fartura de terra pelo mantimento que
produz em abundância”, ao longo da crônica este missionário destaca a
importância que a farinha, um produto típico da região, tem para o progresso
econômico da região amazônica e o seu consumo tanto para pela população
nativa como por parte dos habitantes da capitania.
Podemos extrair também a produção econômica do período colonial, na
cidade de Belém e de como a utilização desse processo ajudou para aumentar
desde a colonização da região, o aumento do desequilíbrio ambiental, o relato do
padre Felipe Bettendorf, ilustra esse acontecimento com a necessidade se ter
mão-de-obra africana na cidade, mas este propõe uma solução para este impasse,
a utilização de moradores como trabalhadores nas fazendas, como se verifica a
seguir:
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“A cidade do grampará, (...) tem carne fresca de vaca que a cada semana lhe
corta o preço acommodado, vinda de Curraes de Tapuytapera, dos grandiosos
pastos do ryo Maery; umas das coisas que lhes faltam são os escravos e as
embarcações do reino; nada disso lhe faltaria se se empregassem os moradores
com diligência em cuidar de algodões, tabaco, cana de assucar, urucu e fábrica
de anil, ajuntar óleos preciosos e bellas madeiras, e cousas semelhantes de
preço, que a terra liberalmente dá sem falta de tintas tambem e crystaes que em
seus arredores, conforme ouvi dizer, se descobrem.” (BETTENDORF: 1900
19).
Compreender o ambiente amazônico, como um espaço de relações
sociais e de entender como se desenvolveu este processo de ocupação na visão
dos viajantes é captar a importância que se tem, o historiador sobre a
historiografia amazônica, o método utilizado ajuda na formação do aluno à
medida que contribui a partir da obra de cada autor – aqui abordada a narrativa
de viajem dos séculos XVII e XVIII – as diferentes mudanças no ambiente e
como essa relação tem com o presente, a descrição serve para se pode entender à
diversidade de sentidos que se tem a Amazônia, para cada viajante, acaba sendo
a imagem mesmo que sobre a sua visão do universo amazônico. As narrativas
têm um papel importante na historiografia amazônica colonial, apresenta-se
como fonte de pesquisa em um período, em que a fotografia ainda era algo
escasso na região, os nossos registros acabam sendo as impressões dos
missionários, como forma de se conhecer o passado.
Em seu conteúdo para o terceiro ciclo do ensino fundamental, os
parâmetros curriculares ao abordarem o eixo temático “História das relações
sociais, da cultura e do trabalho”, se desdobrando como subitem ‘As relações
sociais e natureza’, sugere para o professor pesquisas e estudos históricos sobre
as relações entre a sociedade e natureza. Podendo enfocar questões sobre a
região relacionadas aos recursos naturais, às matérias-primas e a produção de
alimentos, vestimentas e utensílios e ferramentas, são exemplos a serem
explorados com a seleção de alguns temas históricos pelo professor, segundo
esta questão, os parâmetros concluem:
“Por exemplo, se escolher um recorte a alimentação, no subitem” As relações sociais e a
natureza’, é possível fazer um levantamento com os alunos sobre os alimentos do
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cotidiano, identificando os que são naturais, os industrializados, onde foram produzidos,
de onde é originado, como são preparados etc. Como a alimentação atual tem uma
história, é possível pesquisar em livros, os relatos dos viajantes, confrontarem desenhos
e pinturas para identificar quais eram os seus alimentos de época da chegada dos
europeus aqui no Brasil, como eram obtidos, servidos e consumidos pelas populações
indígenas (...)” (PCN, 1998: 36).
Desse modo, podemos extrair inúmeros aspectos sobre a região
Amazônica, frente ao relato dos viajantes, os parâmetros curriculares vêm
auxiliar e complementar a nossa proposta de ensino, pois percebe a importância
de se ter um eixo temático que estude a relação da sociedade com a natureza, ao
longo do processo histórico, no nosso país.
5. Considerações Finais
Fazer uma releitura historiográfica na sala de aula requer do professor um olhar
diferente para e educação, a interdisciplinaridade assume um papel decisivo, a
história ambiental, como um campo novo dentro da História, necessita desse
diálogo coma Geografia para se entender como o meio ambiente, interfere na
relação do homem com a natureza, da sua relação com a sociedade, acaba sendo
o agente principal dessas relações. O ensino na Amazônia, não fica tão longe
nessa questão, a ocupação de sua região no século XVII, demonstra como foi à
percepção do europeu sobre o espaço e como este se adaptou ao ambiente. O
estudo da natureza na disciplina estudos amazônicos, ministrado para o ensino
fundamental, é um eixo temático principal, a grande vasta bibliografia que se
tem em relação à Amazônia pode ser usada como um recurso didático, na sala de
aula, o relato dos missionários viajantes é apenas uma das infinitas formas de se
expor o ambiente amazônico, o exemplo de como os padres missionários
observaram a região do rio Amazonas para o Daniel e a descrição da cidade de
Belém para o padre Bettendorf, podemos perceber a construção de imagens
diferentes sobre o mesmo espaço, apesar de terem vivido em séculos diferentes
mostram o mundo amazônico, com riquíssimas descrições, interessantes de se
abordar na sala de aula. A aula de Estudos Amazônicos, torna-se mais
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interessante com a introdução de novo método de estudo, esse é o papel da
historiografia, buscar novas didáticas para ser inseridos no contexto escolar e
não restringir o conhecimento acadêmico, os parâmetros curriculares nacionais
ajudam a entender o processo histórico, como forma de se construir o
conhecimento na sala de aula.
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