CONTRIBUIÇÕES DA ÉTICA PARA A PRÁXIS EDUCATIVA NO ENSINO FUNDAMENTAL NOS ANOS INICIAIS
CONTRIBUTIONS OF ETHICS FOR EDUCATIONAL PRAXIS IN ELEMENTARY EDUCATION
JOANA DARK BERNARDES DE BRITO
1JOSÉ REIS JUNIOR
2 LIZANDRO POLETTO
3KARLA
ROBERTO SARTINI4RICARDO DE ANDRADE KRATZ
5MARIA DO ROSARIO RIBEIRO
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RESUMO: Um dos objetivos da educação é ensinar conteúdos que capacitem pessoas para serem inseridas no mercado de trabalho. Estudiosos entendem que é primordial aaquisição de conhecimentos logo nos anos iniciais do ensino fundamental, que as tornem capazes de compreender sua emancipação dentro da sociedade. Logo, um ensino reflexivo que as torne autônomas de seus fazeres necessita ser pautado numa teoria e prática pedagógica e ética, que vise à formação integral do aluno. Numa sociedade ligada ao consumismo, tais valores são bem vindos. Desta forma, o estudo em questão é uma reflexão de como é importante que o docente seja ético na prática educativa do ensino fundamental, visando à formação de uma cidadania humanitária. Palavras-chaves: Alunos dos anos Iniciais. Ensino Fundamental. Ética do docente. Professor. Educação.
ABSTRACT: One of the goals of education is to teach content that empower people to be in the labor market. Scholars believe that it is crucial to acquire knowledge already during the first years of elementary school, which will make them able to understand their emancipation in society. Therefore, a reflective teaching that make people to become autonomous of their doings needs to be guided by a theory and pedagogical practice and ethics that seeks the integral formation of the student. Connected to a consumerism society, such amounts are welcome. Thus, the present study is a reflection of how important it is that teaching is ethical in educational practice of elementary school for the training of a humanitarian citizenship. Keywords: Students of the initial years. Elementary Education. Ethics of teaching. Teacher. Education.
1Graduanda do Curso de Licenciatura em Pedagogia, Faculdade Alfredo Nasser.
2Professor Me. José Reis Junior. [email protected]
3Professor Me. Lizandro Poletto, orientador. [email protected].
4Coordenadora do Curso de Engenharia Civil da Fac UNICAMPS e Mestre em Agronegócios
5 Professor da Fac UNICAMPS e Mestre em Ciências da Computação
6 Professora da Fac UNICAMPS e Mestre em Matemática
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1 INTRODUÇÃO
A temática em estudo visa levantar uma reflexão sobre a importância de um
ensino pautado na ação ética do docente, que pode muito contribuir para a formação
de uma sociedade mais humanizada.
Quando o professor reflete sobre os objetivosda educação, sobre o que vai
ministrar em sala de aula, sobre como o farápara atingir a educação integral do
aluno, percebe que a ética precisa estar entronizada em todo o processo educativo.
O docente deve expandir seus horizontes para que corresponda ao que a
sociedade necessita e espera de um educador, porque atuar em sala de aula é uma
ação de cidadania; é um compromisso com a educação, com a formação de uma
sociedademais ética.
A Lei maior da Educação, LDB 9394/93 (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação) menciona, em um dos seus capítulos, que o educador trabalhe valores
éticos nas instituições educacionais; e, nos Parâmetros dos Currículos Nacionais,
em especial, nos objetivos do ensino fundamental, é citada a importância de se
trabalhar a Ética no ensino para a compreensão do que é uma sociedade e de como
relacionar-se com a mesma.
Julliato (2013, p. 222) lembra que o professor ensina também pelo exemplo:
“ele ensina mais pelos seus exemplos e atitudes do que por suas palavras”. É nos
relacionamentos que se comprova o discurso de um docente ao criar vínculos de
harmonia e confiança com seus alunos, que se estendem para além dos muros
escolares.
Divinizar o ensino, como lembra Freire (1996), é proporcionar um ensino
ético, reflexivo, capaz de mudar a direção de seus alunos.
Desde a antiguidade, os gregos preocupavam-se com os princípios éticos na
sociedade. O filósofo Aristóteles valorizava uma ética virtuosa, segundo a qual os
indivíduos aprenderiam a lidar adequadamente uns com os outros na sociedade.
Esses valores contribuíram para o exercício de uma educação emancipadora,
numa sociedade em que bons costumes são deixados de lado em razão do
consumismo. Como acredita Bauman (2011), muitos costumes, nesta era de
mudanças foram esquecidos, dentre eles o respeito pela singularidade do outro.
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Sendo assim, a temática em questão visa discutira importância da ética nas
ações pedagógicas, para que se alcance uma educação reflexiva, com qualidade,
criatividade, crítica, cognitiva, desde os anos inicias da vida estudantil.
O presente artigo aborda também que, para uma prática educacional ser bem
sucedida, é primordial que, já na academia, haja espaços e oportunidades para se
trabalhar a ética no ensino.
Este estudo foi embasado em pesquisas bibliográficas de estudiosos em
Educação, Sociologia e Filosofia. Dentre eles: Abbagnano (2000); Juliatto (2013),
Ferreira (2004); Taille (2006); Johan (2009); PCNs (BRASIL, 1998); Paviani (1988);
Libâneo (1998); Rios (2009); Bauman (20011); LDB 9394/96 (BRASIL, 1996);
Ghirandelli Jr. (2007); e, Nalini (2011).
A presente pesquisa propõe uma reflexão sobre a importância de um ensino
ético, pois as ações do professor em sala de aula certamente influenciarão positiva
ou negativamente o cotidiano de seus alunos, o presente e também o futuro da
sociedade.
2 CONCEITUAÇÃO DE ÉTICA
Na busca da conceituação de ética, conta-se com auxílio de teóricos como
Nalini (2011), que a conceitua como se originando do grego ethos, que significa
“costume”, “modo de ser” ou “caráter”.
Encontra-se, no dicionário Aurélio (2011, p. 300.), que ética é “o estudo dos
juízos, apreciação referente à conduta humana do ponto de vista do bem e do mal;
conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano”.
Dentro da concepção de ética, a escritora Passos (2009) diz que o termo ético
se origina do grego ethos, com significado de costume; a palavra moral, originada do
latim mores, que significa costume, se mistura e acaba se confundindo com o
significado deética.
A autoradeixa claro que ética difere da moral, pois ela vai normatizara moral e
oferecer apoio à moral.
Ao refletir sobre suas ações, o indivíduo se orientade modo prático,
inteligente; planeja e idealiza de forma consciente. Desta forma, se desenvolve e
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avança em suas experiências. Passos (2009) evidencia que o ser possui
consciência e possibilidades que lhe garantem ter noções do mundo à sua volta.
Passos (2009, p. 24) afirma:
Essa condição específica do ser humano proporciona-lhe capacidade de manter como mundo um vasto número de relações que se estendam desde a ação sobre a realidade física com intenção de transformá-la em seu benefício ou em prol do coletivo.
Segundo Sá (2009, p. 4), a ética se divide em dois campos: no primeiro, a
“Ética como ciência que estuda a conduta dos seres humanos, analisando os meios
que devem ser empregados para que a referida conduta se reverta sempre em favor
do homem”. Nesse sentido, há uma ligação entre o homem material e o homem
espiritual. E, no segundo campo, “como Ciência que busca os modelos da conduta
conveniente, objetiva, dos seres humanos’’. Neste aspecto, a ética é objetiva e cria
modelos de normas.
Valls (1994) compreende que a ética é um estudo ou uma reflexão científica
ou filosófica ou até mesmo teológica acerca dos costumes; e, que estes costumes
podem variar de época e de sociedade.
Weber (2012), comentando Boff, explica que, num primeiro momento, a ética
é o “modo de ser”, o “caráter”, ou seja, o “perfil de uma pessoa”. Num segundo
momento, a ética se concretiza nos relacionamentos das pessoas, em suas atitudes
no cotidiano.
Ética é parte da Filosofia. Considera concepção de fundo acerca da vida, do universo do ser humano e de seu destino, estatui princípios e valores, orientam pessoas e sociedades. Partamos dos sentidos da palavra ethos, donde deriva ética. Constatamos que a escrita da palavra ethos, aparece em duas formas, [...] significando a morada humana e também caráter, jeito, modo de ser, perfil de uma pessoa; e [...] querendo dizer costumes, usos, hábitos e tradições. (WEBER, 2012, p. 33)
O dicionário Abbagnano (1901, p. 380-383) também esclarece duas
concepções sobre ética. Na primeira, a conduta do homem deve buscar a perfeição.
Na segunda, uma ciência regida por esforços, que parte da noção do bem, busca
agir de forma que a natureza do homem siga ética por motivos e ações definidas,
como a busca por prazer.
Para Chauí (1999) a ética, éthos vai aludir às particularidades de cada
indivíduo. Ao que estabelecem qualidades e dependências que irão praticar, em sua
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cultura, seus costumes, seria então refinar cada momento de sua vida, sua natureza,
sua índole.
Do ponto de vista de Aranha e Martins (2006), a ética vem do grego “éthos”
que significa “costumes” e que muitos usam a ética e moral como se fosse a mesma
coisa. Mas moral se origina do latim mos, mores que é definido como costume. Ela
diferencia moral e ética, sendo moral normas de conduta de uma sociedade em
alguma época; e, Ética sendo uma atitude reflexiva com relação aos princípios que
gerenciam a vida da pessoa.
2.1 A ética no período grego
A autora Passos (2009) menciona que Sócrates (469-399 a.C.), o pai da
filosofia, nascido em Atenas, é um marco na história do conhecimento. Ele dizia que
á ética era algo tão maravilhoso, que todos deveriam agir em conformidade com o
Bem, para alcançar a felicidade.
Valls (1994) escreve em seu livro “O que é Ética”, que Sócrates acreditava
que ética e moral são sinônimos e que as pessoas vão agir conforme seus
costumes. O que vai determinar seu modo de agir serão as ações que a maioria
realiza no seu cotidiano. São as virtudes que fazem com que o homem seja ético.
O autor acima afirma que, segundo Platão, que viveu entre 424 e 347 a.C, a
ética consistia na ideia do Sumo do Bem; ao contemplar o bem, o indivíduo
certamente teria a seu favor as virtudes que o ajudariam ainda mais a ser ético.
Sobre Ética Platônica, Passos (2009) diz que um conjunto das virtudes como
fortaleza, prudência e equilíbrio, quando praticadas, refletem a ética no dia a dia de
uma determinada sociedade.
Ainda em relação aos teóricos clássicos, Passos (2009) comenta que
Aristóteles (384-322 a.C.) definiu ética em suas obras mais conhecidas: “Ética a
Eudemo”, “Ética a Nicômaco” e “Magnas Éticas”. Para ele, a busca por felicidade
estava ligada às virtudes como sabedoria e prazer, sendo importante haver equilíbrio
entre elas. Este era o ponto central dodiscurso.
Segundo Valls (1994), o filósofo Aristóteles advertia que quem tivesse os
privilégios de possuir a ética e a moral não poderia ou não teria o direito de causar
prejuízo aos outros. Então, o homem deveria refletir suas ações e as consequências,
de forma a serem condizentes com a razão e a espiritualidade.
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Ao refletir sobre suas ações e pesar as implicações, o homem faria suas
escolhas com mais liberdade e possuiria tais virtudes. Propunha até mais que
Platão, que o homem constituído de corpo material e alma espiritual precisava
contemplar o Sumo do Bem.
Passos (2009) destaca a ideia de Epicuro (341-270) de que o pensamento
filosófico é dividido em canônico, físico e ético, sendo este último considerado o
mais importante. Epicuro compreendia que só era feliz quem era justo, sábio e
honesto.
Ao contrário dos epicuristas, a autora cita Zenão (324-263), que dizia que a
ética se baseava na forma de viver. Ele não conceituou as virtudes como Aristóteles
fez. Aceitava que o contemplar possui mais valor do que as virtudes. Acreditava que
Deus governava e as coisas aconteciam conforme Deus queria.
2.2 A ética na Idade Média
Este período é conhecido como negro, pois nele ocorreram várias pestes.
Mas, houve também desenvolvimento científico, filosófico e cultural. O cristianismo
se tornou a religião oficial. “Deus é o criador de tudo”.
Passos (2009) cita Santo Agostinho (354-430), que depois de viver uma vida
imoderada, e se converter ao cristianismo, pensava que deveria restaurar a razão
através da fé. Assim, cita “compreender para crer, crer para compreender”.
(PASSOS, 2009, p. 38). É necessário que o indivíduo saiba qual é a vontade de
Deus através da fé, com isso passará a entender a fé.
Valls (1994) diz que Santo Agostinho, em sua famosa frase: “Conhece-te a ti
mesmo”, foi, de certa forma, influenciado pelos filósofos Platão e Sócrates. A ética,
para Santo Agostinho, vai além da vida material, é pensada no âmbito espiritual e
este passa a influenciar as ações dos indivíduos na prática.
2.3 A ética na Idade Moderna
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Este período,entre os séculos XVI e XIX, difere de todos os demais, pois foi
marcado por diversas mudanças nos campos econômico, político, religioso e social.
A ética aristotélica é deixada de lado e o homem passa a ser o centro. A ética é
centrada no homem; o ser é a causa e o fim.
De acordo com Passos (2009), Immanuel Kant (1724-1804) trouxe boa
contribuição em relação à ética, valorizando o cidadão vivo e autor de seus atos,
sejam eles bons ou maus.
Valls (1994) diz que Kant já pregava que o homem é um ser racional, que por
si só consegue raciocinar e ter critérios que o auxiliam na convivência em sociedade.
A ética e a moral são sinônimas. Para que o indivíduo saiba como agir, ele defende
que não precisa de alguém que o ensine; deve agir conforme sua Máxima. Ou seja,
sua ética é pensada na ação e não no que pode acontecer se não agir. Ele defendia
que, ao agir sem interesse de algo em troca e repetindo várias vezes o mesmo ato,
estaria agindo dentro da sua Máxima e contagiaria outros, até todos agirem da
mesma maneira.
Nalini (2011) descreve que Kant anuncia que sua ética é orientada a opor-se
a qualquer restrição da autonomia do indivíduo. O seguir ou deixar-se ser levado por
imposições religiosas ou políticas, torna os indivíduos presos às mesmas.
De acordo com Sá (2009), ética, para Kant, é quando alguém é virtuoso,
quando age sem interesse; ao agir por interesse perde-se a virtude.
Valls (1994) cita o filósofo Hegel (1770-1831), já no século XIX, que diz que o
homem deve pensar na liberdade, tanto interior como exterior e que a mesma
deveser para todos na sociedade; uma ética em que a família contribua com amor,
liberdade e o Estado com saúde, educação, moradia e liberdade de expressão.
Num estado ditatorial, dificilmente haverá ações éticas. O mesmo serve para
a Educação, pois é preciso que os alunos sejam ensinados a buscar respostas e a
lutar por liberdade de consciência.
2.4 A ética na Idade Contemporânea
Nesta época, a ética tem por objetivo gravar no cidadão contemporâneo
valores e princípios que não sejam obedecidos cegamente, mas que tenham um
significado capaz de transformar a realidade do seu cotidiano.
Para Passos (2009, p. 43), ao citar Karl Marx(1818-1883):
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[...] a moral deixa de ser como queriam os idealistas, um conjunto de valores eternos e imutável, aos quais os seres humanos deviam submeter-se, e transforma-se em um conjunto de normas construídas por eles [...] Tornando-se temporais e espaciais.
Percebe-se então que, segundo Karl Marx, a moral não é estática, mas
definida, dependendo dos costumes e até mesmo das forças que regem o cotidiano
da sociedade. Assim, o que será certo aqui não é correto em outro local.
Em relação ao pensamento do filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900),
Passos (2009) cita a inversão de valores em suas obras. O que era considerado
principal perante a sociedade torna-se para ele um segundo plano. Em sua opinião,
a religião tirava a liberdade e forçava a viver conforme os costumes dos dirigentes.
Para alcançar a liberdade, costume algum deveria ser seguido, mas a própria
consciência. “Todos devem ser senhores de seus princípios e atos”.
De acordo com Passos (2009), o filósofo Jean Paul Sartre (1905-1980)
representa o existencialismo. Para ele, os seres vão ser o que já decidiram,
independentemente de fatores externos, sejam eles os costumes, a política, a
economia ou a religião. Sua ideia é a de rejeição de tudo já existente; não há lei,
Deus ou valores.
A autora diz que sua ética tem como base a liberdade. O indivíduo é capaz de
sobreviver sem estar ligado a qualquer dogma ou costume da sociedade e cada um
deveria criar seus próprios costumes.
Segundo as contribuições de Martins e Aranha (2003), o filósofo Jurgen
Habermas (1929) define uma ética comunicativa, que tem como base a razão, mas
razão comunicativa, que se apoia no diálogo, valoriza a linguagem e busca uma
argumentação racional.
Valls (1994), citando Habermas, diz que os meios de comunicação retiraram
do homem o espaço que lhe garantia uma reflexão sobre a consciência ética. As
ações do homem passaram a ser regidas por tais veículos, permanecendo assim no
cinismo.
Bauman (2011) discute, em seu livro “É possível Ética no mundo de
consumidores?”, que ninguém vive isoladamente e é de extrema importância o amor
pelos outros. Para ele, até mesmo os valores familiares foram modificados e busca-
se mais os prazeres individuais promulgados pela mídia consumidora.
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O autor esclarece ainda que as ações éticas devem ser pensadas por toda
humanidade, devem ser desejadas e fluir naturalmente, mas o que parece é que o
consumismo sobrepujou a ética, provocando um distanciamento nas relações entre
as pessoas.
Este pequeno estudo mostra como a ética é vista e compreendida por
diversos filósofos em diferentes períodos. Alguns valores relacionados à ética
modificam enquanto outros permanecem.
3 PRESENÇA DA ÉTICA NA FORMAÇÃO PEDAGÓGICA
Como contribuição da ética na formação pedagógica e para que haja uma
atuação brilhante diante de seus educandos, é imprescindível que as teorias, que
compõem a grade curricular, contribuam para que os discentes passema refletir de
forma planejada, consciente e responsável sobre a importância da ética na sala de
aula.
Questiona-se: é realmente necessário que o professor preocupe-se com a
ética na sua formação? Para responder a esta indagação, é preciso ingressar no
campo da Filosofia para se conceituar as palavras pedagogo e pedagogia.
O dicionário Abbagnano (2000, p. 747-748) define pedagogia como “a prática
ou profissão de educador”. Em tempos antigos, possuía dois significados: parte da
sociedade a considerava como ética e parte como política. Posteriormente, passou a
ser considerada uma ciência, que apresenta estudos que enriquecem o campo da
Educação.
É importante que o profissional, que irá atuar na Educação, tenha esse
esclarecimento de que a ética está enraizada na própria definição do termo
pedagogo.
Segundo Ghiraldelli Jr. (2007), o termo pedagogo vem do grego antigo
paidós, que significa “criança”; e, agodé significa “condução”. Na Grécia antiga, o
pedagogo era visto como alguém que deveria conduzir, guiar a criança no caminho
do conhecimento, ou seja, uma espécie de cuidador de crianças.
Para Ghiraldelli Jr. (2007), atualmente, o pedagogo é o profissional que
trabalha com meios intelectuais e técnicos, e que proporciona as melhores
condições de ensino e aprendizado aos seus alunos.
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Ao referir-se à palavra pedagogia, não se relaciona aos conteúdos, mas à
prática reflexiva. Então, o que exprime a pedagogia é uma ação que venha a ser
estudada, pensada e repensada no fazer dentro da sala de aula.
Libâneo (1994, p.24) esclarece que:
Pedagogia é um campo de conhecimento que investiga a natureza das finalidades da educação numa determina sociedade, bem como os meios apropriados para a formação dos indivíduos, tendo em vista prepará-los para as tarefas da vida social.
Ao profissional da Educação cabe a responsabilidade de ensinar não somente
os conteúdos teóricos, a ler e escrever, mas um ensino que engloba todo o ser. É
um dos objetivos da pedagogia: ligar o ser (aluno) ao objeto (teoria), para sua
socialização e ampliação de seu senso crítico e de percepção, principalmente numa
sociedade que se modifica a cada instante, tanto em sua maneira de aprender como
nos conhecimentos.
Discutir ética, numa sociedade que se transforma a todo o momento, é tão
considerável que Herkenhoff (1996, p. 59-60) cita o seguinte:
Nas reformulações curriculares, em debate no país, será importante pensar na inclusão da ética ou de temas éticos, em todas as escolas que formam profissionais nas mais diversas áreas. Numa outra linha da questão, as indagações éticas devem ser uma provocação e um desafio que se coloca à inteligência e à sensibilidade de todos aqueles que, no seu ofício, contribuem para a construção do mundo e a dignificação do homem. A questão ética é uma das maiores urgências do Brasil contemporâneo.
É da responsabilidade do pedagogo proporcionar a seus alunos as condições
necessárias para que ele entendao mundo a sua volta e saiba se relacionar com ele.
Alude-se que pedagogia se refere à prática e é uma ciência da educação.
Gadotti (1998, p. 31) confirma: “fazer a prática teoria por excelência é descobrir e
elaborar instrumento de ação social”. Nesta citação, nota-se uma preocupação do
fazer no cotidiano do espaço educacional, baseando-se em conceitos científicos.
Libâneo (1994, p. 27) ainda cita que a formação no ensino superior de
pedagogos é abrangente em termos de disciplinas como: “filosofia, sociologia,
história da educação e da pedagogia, psicologia da educação, didática, pesquisas
educacionais e outras”.
O currículo, portanto, é extenso e abrange diversos conceitos de grande ajuda
na prática educacional, provendo informações suficientes para ampliar os horizontes
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do educador, no sentido de capacitá-lo a agir eticamente numa escola particular ou
pública.
É indispensável que o professor busque ações que permitam a prática da
autonomia, o prazer no ensinar, o prazer no explicar; crie novos rumos na hora em
que se depare com situações diversas; e, inove com as descobertas, mas que nunca
deixe que a atitude de ser ético vá embora.
De acordo com Guzzo (2011), é na faculdade, na preparação do ensino
superior, que o futuro docente deve adquirir “valores éticos na formação docente”. É
imprescindível que quando o educador adentre a sala de aula, leve consigo atitudes,
gestos, pensamentos e conhecimentos que foram adquiridos na sua formação.
Neste caminho, a LDB9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, frisa em seu título VI, artigo sessenta e um, inciso II, que o profissional da
educação básica seja alguém formado em pedagogia: “II - Trabalhadores em
educação, portadores de diploma de pedagogia, com habilitação em administração,
planejamento, supervisão e orientação educacional, bem como títulos de mestrado e
doutorado nas áreas”. (BRASIL, 1996, p. 1).
Assim, somente poderão pleitear os cargos de educadores aqueles que
passaram por uma formação superior, quando adquiriram capacitação para estar
diante de uma turma de alunos, que desejam e precisam realizar inúmeras
descobertas.
Ainda sobre ética na formação do pedagogo, um dos mais brilhantes
pedagogos, Freire (1994, p. 33) diz o seguinte:
Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer da ética, quanto mais longe, quanto mais fora dela. Estar longe, ou pior fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão. É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é mesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador.
O autor defende que, para proporcionar uma educação com autonomia, é
preciso que o educador reflita no que suas atitudes de hoje podem vir a se tornar
amanhã.
Não é permitido pensar que o ser relapso nos conteúdos, nos horários, não
influenciará negativamente seu alunado. Pensar assim é ser ingênuo, é não honrar
seu compromisso com a educação, feito sob juramento.
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É através da educação em sala de aula que muitos terão condições e
oportunidades de conhecer e conviver comos valores tão necessários à vida. Muitos,
em sua vivência familiar, não os receberam ou não foram estimulados a adquiri-los.
O autor deixa claro que as atitudes devem ser pensadas e analisadas.
Propõe ainda que a prática educativa deve ser uma vivência real da teoria.
Isso implica que as ações dentro de uma escola não podem ser dirigidas sobre
qualquer paradigma ou até de qualquer jeito, por mais que existam dificuldade sem
sala de aula, devidas à diversidade cultural, e que haja preocupação com a
formação integral do indivíduo.
Ele defende que quando o professor não ensina seus alunos com ética, é
como se estivesse destruindo neles a possibilidadede conquistas, que lhes fariam
grandes homens na sociedade.
Pensar em docência é pensar em atuar com qualidade, é pensar em como o
estudante receberá os conteúdos, de que forma vai aprendê-los e como vai
relacioná-los com sua vivência diária.
Conforme Freire (1996), o ensinar deve ter algo que leve além do
cumprimento do currículo da escola para aquele ano ou do cumprimento dos
conteúdos dos livros didáticos. Para ele, o educador precisa refletir se o que está
sendo ensinado tem um propósito, que saia das linhas dos livros e se estenda às
suas ações políticas.
Freire (1996) chama nossa atenção para a importância de uma postura ética:
“É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a
próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem que ser
de modo concreto, que quase se confunda com a prática”. (FREIRE, 1996, p. 39). O
educador precisa desejar tanto ser ético como agir com ética.
O professor deve agir eticamente, para que seus passos tragam as marcas do
seu falar e que corresponda a altura de sua profissão. Tais atitudes ajudarão seus
alunos a entenderem que podem tornar-se cidadãos intelectuais.
Afirmando essa ideia da ética na formação do pedagogo, Rios (2006 apud
RIOS, 2009, p. 19) afirma: “É no espaço da Ética que o pesquisador se pergunta
sobre a finalidade última de sua investigação, sobre os sociais dessa investigação,
sobre os compromissos implicados nos resultados”.
A faculdade é um espaço para investigação, para ampliar o senso crítico
sobre a prática exercida no cotidiano e também é importante que se considere a
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ética. Como já foi conceituada, a ética é uma ação reflexiva sobre as ações do
professor na prática escolar. É imprescindível que o docente reflita sobre os
saberes.
4 CONTRIBUIÇÃO DA ÉTICA NA PRÁTICA DA EDUCAÇÃO NO ENSINO
FUNDAMENTAL
Dentro da abordagem “Contribuição da Ética Para Uma Práxis Educativa no
Ensino Fundamental”, questiona-se: é necessário que o professor haja eticamente?
Em busca da resposta, Rios (2009) auxilia no detalhe que caracteriza um professor
competente, que é quando elecasa conhecimentos básicos com uma prática
reflexiva e ética.
Uma vez que a sala de aula pode ser opalco emquevai se apresentar, o
educador deve estar preparadíssimo para atuar, lembrando que na convivência se
aprende ou se desaprende. Através de seus atos, de sua linguagem imprimirá em
seus alunos o que eles presenciarem.
De acordo com a autora, é através da consciência ética que o docente tem a
chance de questionar suas ações, para averiguar possíveis necessidades de
mudança. O aprimoramento constante é fundamental no trabalho educacional.
Rios (2009, p. 18) chama atenção para um valioso ensinamento:
É com base nos princípios da Ética que avaliamos mais amplamente todas as dimensões de nosso trabalho. Os critérios que nos fazem estabelecer os conteúdos e os métodos, a forma como estabelecemos nossas relações com colegas e os alunos, as escolhas que fazemos, deverão ser questionadas se não tiverem como fim último o bem comum. É aí que ganha sentido a afirmação de que a escola deve ser construtora da cidadania.
A maneira de agir do profissional da Educação deixará marcas nas suas
relações com seus colegas, com os alunos, com os pais de alunos e com a
comunidade. Sem dúvida, é mediante ações conscientes que demonstrará a
seriedade de seu ofício.
A promoção de um ensino ético, que deixará marcas positivas na sociedade,
é de responsabilidade da escola e do professor. Tal ensino proporcionará mudanças
na sociedade, respeito e valorização do outro como ser humano.
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É papel também da escola ensinar os valores reivindicados pela sociedade,
uma vez que o discente do ensino fundamental precisa ser bem direcionado para o
exercício da cidadania.
É papel fundamental da educação, em todas as suas etapas, que em sala de
aula sejam trabalhados conteúdos que estimulem a visão crítica do aluno, que o
preparem para viver numa sociedade que se modifica a cada hora.
Na visão de Paviani (1988, p. 108), a profissão do educador é essencialmente
ética: “Por isso, o professor como profissional da educação não apenas acrescenta
às suas atividades técnicas e científicas uma dimensão ética, mas realiza uma
atividade essencialmente ética”.
Não pode ser deixado de lado, que o profissional da educação está na
presença de uma sociedade que busca e cobra qualidade no ensino. Para
corresponder aos anseios desta sociedade, o educador precisa pautar os
conhecimentos técnicos e científicos na ética.
“Sua ação como educador expressa uma escolha que influencia o
comportamento do estudante.” (PAVIANI, 1988, p. 108). Diante disso, é importante
que o educador aja com responsabilidade, pois além de transmitir conteúdos, estará
influenciando a vida do educando.
O agir dentro de uma sala de aula, sem ponderar suas ações, é uma
alienação irresponsável. O professor precisa manter sempre em mente que, neste
recinto, estão presentes seres humanos em busca de conhecimento, respeito e
valorização.
Segundo Paviani (1988), a dimensão do ato de lecionar ultrapassa em muito o
ato de meramente escrever no quadro negro. As atitudes do professor marcam
diretamente seus alunados, que o observam como alguém que sabe muito bem o
que está dizendo, alguém digno de ser imitado.
O professor, enquanto educador e profissional técnico enfrenta duas vezes a questão da ética: Uma em relação ao ato humano de professor, de ensinar e orientar o aluno; outra é em relação ao exercício de atividade técnica, permanente e remunerada. (PAVIANE, 1988, p. 109).
Embora as dificuldades sejam deparadas na profissão, tais como salários
baixos, carga horária excessiva, infraestrutura precária, desvalorização, deve-se
15
manter uma postura ética para não se desviar do objetivo maior da profissão:
educar.
Na visão de Juliatto (2013), a ética deve imprimir valores nos educandos. O
docente deve entender que, em grande medida, ele influenciará o futuro, os sonhos
e caminhos que seus alunos seguirão. Ginott (1973 apud JULIATTO, 2010) cita que
a postura do professor é o elemento chave na sala de aula.
O educador tem tanto poder, que até o seu humor pode causar estragos ou
trazer benefícios. Um clima agradável em sala de aula, uma relação positiva entre
professor e aluno despertarão o interesse e facilitarão o aprendizado. Na visão do
autor, o profissional da educação deve lidar eticamente com seus alunos e
transmitir-lhes valores morais.
Segundo o autor, muitos dos profissionais da educação não toleram plágio, o
plágio, a fraude, a cola na prova, trabalhos escolares copiados e comprados, por
parte dos seus alunos, mas não lhes ensina que os maiores prejudicados são eles
mesmose que a desonestidade, por menor que seja, não deve ser relevada.
A falta de ética leva à falta de respeito e esta chega a níveis tão críticos no
cotidiano da vida escolar, que não raro, a violência é utilizada por ambas as partes
como a única saída. Lembrando que o ambiente escolar é o espaço onde se
aprende a conviver com o próximo. As ações de respeito e liberdade não podem ser
menosprezadas, porque “a pessoa precisa sentir que, no ambiente escolar, é tratada
de forma justa e digna”. (WEBER, 1998, p. 73).
Ferreira (2004, p. 216) afirma que “o professor Ético também deve ser um
profissional didático, dinâmico e criativo, que procure ir além do mero texto e
positivismo, assim como da visão arcaica de avaliação: a memorização e transcrição
de dados”. Uma aula permeada por tais características, sem dúvida nenhuma,
favorecerá um excelente aprendizado.
Cabe ao educador estar sempre atento às suas atitudes; não ser relapso nos
conteúdos e horários; e, não agir com discriminação relativa à religião, idade, sexo,
etnia e condição social. Sua obrigação é semear valores como respeito, igualdade e
responsabilidade, dentro ou fora da sala de aula.
Na visão de Juliatto (2013), ao agir com ética em sala de aula, o professor
aceitará seus alunos, lhes dará liberdade de expressão e os ensinará a serem
responsáveis. Ainda assegura que a proximidade da ética na educação melhora a
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qualidade do ensino, o que contribui para a formação de uma sociedade mais
humanizada.
É importante que na prática educativa o professor continue a buscar
conhecimento, aprimoramento profissional, que seja estudante também, que
continue a aprender para contribuir com o crescimento do aprendizado dos alunos,
sendo então, como diz Julliatto (2013, p. 224), “um humilde servidor da
aprendizagem de seus alunos”.
Sobre valores na educação, Taille (2006, p. 5-6) define valores através do
pensamento de Piaget: “valor é um conjunto de sentimentos projetados sobre o
objeto; ele constitui uma relação entre o objeto e o sujeito, mas uma relação afetiva”.
Assim, para o psicólogo, Piaget considerou estes objetos físicos, ideias e também as
pessoas.
E, como a escola tem por objetivo formar cidadãos, deve trabalhar os
conteúdos e valores simultaneamente. O autor deixa claro que ensinar valores,
princípios éticos, não se dá num passe de mágica; é preciso esforço, dedicação.
Para ele, este assunto deve ser trabalhado em conjunto com a família, o que
ampliará a possibilidade de se atingir tal objetivo.
Taille (2006) declara que para que seus alunos estejam aptos a ingressar na
escola da vida, para que estejam conscientes da importância de uma formação com
cidadania, é preciso que o professor se estenda além do currículo.
Em uma época de individualismo crescente, em que as pessoas são mais
valorizadas pelo que elas têm, faz toda a diferença os alunos saberem questionar os
valores exercidos pela sociedade, usando para tal, valores éticos que lhes permitam
libertarem-se das armadilhas postas diante deles pelo sistema.
Ainda sobre a escola, o professor Johan (2009) apresenta características que
são muito válidas para tal fundamentação.
Para o autor, a escola também contribui com um ensino reflexivo e é
primordial em uma época em que as incertezas predominam no cenário escolar. É
dever da instituição educacional, um trabalho sério, em que os documentos exigem
que é preciso ir além. Assim, Johan (2009, p. 42-43) confirma:
Responsabilidade social da escola implica uma exigência ética que vai muito além de uma mera explicação formal em códigos e documentos normativos. A complexificação da vida e do mundo, neste novo milênio, exige uma reflexão aprofundada, um diálogo permanente e uma busca
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incessante dos caminhos nos meandros de uma incerteza, por paradoxos desconcertantes e consequentemente por maiores dúvidas.
Asmann (2000 apud JOHANN, 2009) diz que como não é natural ao ser
humano ser tão cheio de bondade, se faz necessário plantá-la e cultivá-la,
diariamente, no ambiente escolar, por meio de ações éticas, o que engloba as
atitudes do educador para com sua turma.
Seguindo a linha de pensamento de que a ética pode contribuir na prática do
docente, em especial nos primeiros anos do Ensino Fundamental, entende-se que é
imprescindível “trazer à tona os talentos e habilidades do ser humano para que ele
desenvolva pela auto-observação e discernimento uma personalidade íntegra e um
caráter consistente”. (MARTINELLI, 1988, p. 109).
Encontra-se nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), um dos
documentos que regulamenta a direção do ensino no país, especialmente para tratar
do exercício da cidadania no ensino fundamental. Declara-se que os alunos sejam
capazes de:
Compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia a dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito. (BRASIL, 1998, p. 58).
Ao se destacar a importância de se ensinar em prol da convivência social, o
órgão regulamentador do ensino nas escolas no título I, artigo 1°, parágrafo 2°, nos
incisos II e III, diz o seguinte:
II - A compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade. III - O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos, habilidades e a formação de atitudes e valores em que fundamenta a sociedade. (BRASIL, 1996, p. 1).
Na visão da LDB, o aluno que adentra a sala de aula não pode sair sem
aprender valores que o ajudem no exercício de uma cidadania participativa, política,
consciente e democrática, sendo a escola, na pessoa do professor, o agente
formador de tal cidadão.
Para uma prática reflexiva que expressa o desejo da sociedade, a LDB
9394/96 diz que os cidadãos do presente e do futuro necessitam aprender além dos
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conteúdos obrigatórios; devem relacionar os conteúdos didáticos aos valores
aprendidos na escola com os professores, para o exercício de uma cidadania
democrática na prática do cotidiano.
Estes alunados participarão, na sociedade, em várias esferas que exigirão
tais valores, tanto na política como no lidar com novas tecnologias. Assim, a criança
necessita ser estimulada a desenvolver tal sensibilidade ética.
Portanto, é imprescindível que oprofessor pratique e ensine a ética no Ensino
Fundamental. Desta maneira, ele estará ajudando na formação de cidadãos aptos a
contribuírem com o melhor de si na formação de uma sociedade melhor e também
na valorização do profissional da educação.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao refletir sobre a contribuição da ética na práxis educativa, percebe-se que
muitos dos estudiosos tratam com relevância uma educação que preza o ser
integral. Soma-se a isto um professor que está sempre questionando sua prática
educativa, sua maneira de atuar em sala de aula.
Ao passar pela sala de aula, qual será a marca impressa em seus
educandos? Mesmo sendo do ensino fundamental, eles são seres humanos tanto
quanto os adultos, aliás, neles, as marcas deixadas serão muito mais profundas.
Quantos são os relatos, que se ouve nos corredores das escolas, de docentes
que assumem a arte de ensinar com irresponsabilidade, seja com relação ao
horário, aos conteúdos, as suas metodologias ou a sua postura, diante de uma
turma em sala de aula.
Visto que muitos estudiosos se preocuparam com a relação professor-aluno
no cenário educacional, este artigo aborda a contribuição de valores éticos como
ação reflexiva. Ele não traz receitas ou listas de condutas para os profissionais da
educação, até porque, educação não é moldar os estudantes como se fossem tábua
rasa, e sim fornecer os elementos necessários para a sua formação intelectual,
moral e social, de maneira individualizada, consoante às necessidades de cada um.
Os estudos aqui abordados mostram o quanto é relevante que a classe de
professores reflita sobre sua prática ao ensinar. É claro que o educador não
encontrará em sala de aulatodos os alunos com a mesma cultura, o mesmo
pensamento e os mesmos valores que os seus. Mas, valendo-se da ética, permitirá
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questionamentos e criará uma relação de valores mais humanos entre ele e os seus
estudantes.
Como citado anteriormente, o processo de ensinar não se dá apenas com giz,
lápis e um livro didático. Para uma educação de qualidade é preciso sonhar, amar e
ter, bem claro, os olhos fixos aos horizontes em que se pretende chegar, mesmo
diante das imprevisões, incertezas e falta de infraestrutura que circulam a escola.
Pensar na contribuição da ética na educação é pensar em como será
diferente, valoroso e criativo um ensino que visa uma práxis, que corresponda aos
objetivos da sociedade em que o indivíduo está inserido. Disso, Freire (1996) alertou
que o professor tem que ter uma visão crítica do seu cotidiano.
O mesmo autor conclama que é possível sim ensinar com ética e estética,
porque o ensino deve almejar criar no aluno uma visão consciente e crítica da vida,
o que aumentará suas chances de emancipação. E, assim “é pensando criticamente
a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima”. (FREIRE, 1996, p.
39).
O que foi apresentado nas linhas acima são desejos de presenciar, no
cotidiano dos educadores, ações práticas que demonstrem que o professor tem o
cuidado consciente e criterioso de quem ele ensina, que seu ensinar seja apreciado
por todos na sociedade e que seja também uma forma de valorizar a classe.
Os resultados de tal práxis educativa serão estampados nas avenidas do ser
humano e contribuirão para a felicidade do outro, como acreditou Aristóteles, na
Grécia antiga. Agir com ética em sala de aula possibilitará a formação de cidadãos
que trilharão os caminhos da ética nas comunidades em que estarão inseridos.
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