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CONTRIBUIÇÕES DA ÉTICA PARA A PRÁXIS EDUCATIVA NO ENSINO FUNDAMENTAL NOS ANOS INICIAIS CONTRIBUTIONS OF ETHICS FOR EDUCATIONAL PRAXIS IN ELEMENTARY EDUCATION JOANA DARK BERNARDES DE BRITO 1 JOSÉ REIS JUNIOR 2 LIZANDRO POLETTO 3 KARLA ROBERTO SARTINI 4 RICARDO DE ANDRADE KRATZ 5 MARIA DO ROSARIO RIBEIRO 6 RESUMO: Um dos objetivos da educação é ensinar conteúdos que capacitem pessoas para serem inseridas no mercado de trabalho. Estudiosos entendem que é primordial aaquisição de conhecimentos logo nos anos iniciais do ensino fundamental, que as tornem capazes de compreender sua emancipação dentro da sociedade. Logo, um ensino reflexivo que as torne autônomas de seus fazeres necessita ser pautado numa teoria e prática pedagógica e ética, que vise à formação integral do aluno. Numa sociedade ligada ao consumismo, tais valores são bem vindos. Desta forma, o estudo em questão é uma reflexão de como é importante que o docente seja ético na prática educativa do ensino fundamental, visando à formação de uma cidadania humanitária. Palavras-chaves: Alunos dos anos Iniciais. Ensino Fundamental. Ética do docente. Professor. Educação. ABSTRACT: One of the goals of education is to teach content that empower people to be in the labor market. Scholars believe that it is crucial to acquire knowledge already during the first years of elementary school, which will make them able to understand their emancipation in society. Therefore, a reflective teaching that make people to become autonomous of their doings needs to be guided by a theory and pedagogical practice and ethics that seeks the integral formation of the student. Connected to a consumerism society, such amounts are welcome. Thus, the present study is a reflection of how important it is that teaching is ethical in educational practice of elementary school for the training of a humanitarian citizenship. Keywords: Students of the initial years. Elementary Education. Ethics of teaching. Teacher. Education. 1 Graduanda do Curso de Licenciatura em Pedagogia, Faculdade Alfredo Nasser. 2 Professor Me. José Reis Junior. [email protected] 3 Professor Me. Lizandro Poletto, orientador. [email protected]. 4 Coordenadora do Curso de Engenharia Civil da Fac UNICAMPS e Mestre em Agronegócios 5 Professor da Fac UNICAMPS e Mestre em Ciências da Computação 6 Professora da Fac UNICAMPS e Mestre em Matemática

CONTRIBUIÇÕES DA ÉTICA PARA A PRÁXIS EDUCATIVA NO … · Deus governava e as coisas aconteciam conforme Deus queria. 2.2 A ética na Idade Média Este período é conhecido como

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CONTRIBUIÇÕES DA ÉTICA PARA A PRÁXIS EDUCATIVA NO ENSINO FUNDAMENTAL NOS ANOS INICIAIS

CONTRIBUTIONS OF ETHICS FOR EDUCATIONAL PRAXIS IN ELEMENTARY EDUCATION

JOANA DARK BERNARDES DE BRITO

1JOSÉ REIS JUNIOR

2 LIZANDRO POLETTO

3KARLA

ROBERTO SARTINI4RICARDO DE ANDRADE KRATZ

5MARIA DO ROSARIO RIBEIRO

6

RESUMO: Um dos objetivos da educação é ensinar conteúdos que capacitem pessoas para serem inseridas no mercado de trabalho. Estudiosos entendem que é primordial aaquisição de conhecimentos logo nos anos iniciais do ensino fundamental, que as tornem capazes de compreender sua emancipação dentro da sociedade. Logo, um ensino reflexivo que as torne autônomas de seus fazeres necessita ser pautado numa teoria e prática pedagógica e ética, que vise à formação integral do aluno. Numa sociedade ligada ao consumismo, tais valores são bem vindos. Desta forma, o estudo em questão é uma reflexão de como é importante que o docente seja ético na prática educativa do ensino fundamental, visando à formação de uma cidadania humanitária. Palavras-chaves: Alunos dos anos Iniciais. Ensino Fundamental. Ética do docente. Professor. Educação.

ABSTRACT: One of the goals of education is to teach content that empower people to be in the labor market. Scholars believe that it is crucial to acquire knowledge already during the first years of elementary school, which will make them able to understand their emancipation in society. Therefore, a reflective teaching that make people to become autonomous of their doings needs to be guided by a theory and pedagogical practice and ethics that seeks the integral formation of the student. Connected to a consumerism society, such amounts are welcome. Thus, the present study is a reflection of how important it is that teaching is ethical in educational practice of elementary school for the training of a humanitarian citizenship. Keywords: Students of the initial years. Elementary Education. Ethics of teaching. Teacher. Education.

1Graduanda do Curso de Licenciatura em Pedagogia, Faculdade Alfredo Nasser.

2Professor Me. José Reis Junior. [email protected]

3Professor Me. Lizandro Poletto, orientador. [email protected].

4Coordenadora do Curso de Engenharia Civil da Fac UNICAMPS e Mestre em Agronegócios

5 Professor da Fac UNICAMPS e Mestre em Ciências da Computação

6 Professora da Fac UNICAMPS e Mestre em Matemática

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1 INTRODUÇÃO

A temática em estudo visa levantar uma reflexão sobre a importância de um

ensino pautado na ação ética do docente, que pode muito contribuir para a formação

de uma sociedade mais humanizada.

Quando o professor reflete sobre os objetivosda educação, sobre o que vai

ministrar em sala de aula, sobre como o farápara atingir a educação integral do

aluno, percebe que a ética precisa estar entronizada em todo o processo educativo.

O docente deve expandir seus horizontes para que corresponda ao que a

sociedade necessita e espera de um educador, porque atuar em sala de aula é uma

ação de cidadania; é um compromisso com a educação, com a formação de uma

sociedademais ética.

A Lei maior da Educação, LDB 9394/93 (Lei de Diretrizes e Bases da

Educação) menciona, em um dos seus capítulos, que o educador trabalhe valores

éticos nas instituições educacionais; e, nos Parâmetros dos Currículos Nacionais,

em especial, nos objetivos do ensino fundamental, é citada a importância de se

trabalhar a Ética no ensino para a compreensão do que é uma sociedade e de como

relacionar-se com a mesma.

Julliato (2013, p. 222) lembra que o professor ensina também pelo exemplo:

“ele ensina mais pelos seus exemplos e atitudes do que por suas palavras”. É nos

relacionamentos que se comprova o discurso de um docente ao criar vínculos de

harmonia e confiança com seus alunos, que se estendem para além dos muros

escolares.

Divinizar o ensino, como lembra Freire (1996), é proporcionar um ensino

ético, reflexivo, capaz de mudar a direção de seus alunos.

Desde a antiguidade, os gregos preocupavam-se com os princípios éticos na

sociedade. O filósofo Aristóteles valorizava uma ética virtuosa, segundo a qual os

indivíduos aprenderiam a lidar adequadamente uns com os outros na sociedade.

Esses valores contribuíram para o exercício de uma educação emancipadora,

numa sociedade em que bons costumes são deixados de lado em razão do

consumismo. Como acredita Bauman (2011), muitos costumes, nesta era de

mudanças foram esquecidos, dentre eles o respeito pela singularidade do outro.

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Sendo assim, a temática em questão visa discutira importância da ética nas

ações pedagógicas, para que se alcance uma educação reflexiva, com qualidade,

criatividade, crítica, cognitiva, desde os anos inicias da vida estudantil.

O presente artigo aborda também que, para uma prática educacional ser bem

sucedida, é primordial que, já na academia, haja espaços e oportunidades para se

trabalhar a ética no ensino.

Este estudo foi embasado em pesquisas bibliográficas de estudiosos em

Educação, Sociologia e Filosofia. Dentre eles: Abbagnano (2000); Juliatto (2013),

Ferreira (2004); Taille (2006); Johan (2009); PCNs (BRASIL, 1998); Paviani (1988);

Libâneo (1998); Rios (2009); Bauman (20011); LDB 9394/96 (BRASIL, 1996);

Ghirandelli Jr. (2007); e, Nalini (2011).

A presente pesquisa propõe uma reflexão sobre a importância de um ensino

ético, pois as ações do professor em sala de aula certamente influenciarão positiva

ou negativamente o cotidiano de seus alunos, o presente e também o futuro da

sociedade.

2 CONCEITUAÇÃO DE ÉTICA

Na busca da conceituação de ética, conta-se com auxílio de teóricos como

Nalini (2011), que a conceitua como se originando do grego ethos, que significa

“costume”, “modo de ser” ou “caráter”.

Encontra-se, no dicionário Aurélio (2011, p. 300.), que ética é “o estudo dos

juízos, apreciação referente à conduta humana do ponto de vista do bem e do mal;

conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano”.

Dentro da concepção de ética, a escritora Passos (2009) diz que o termo ético

se origina do grego ethos, com significado de costume; a palavra moral, originada do

latim mores, que significa costume, se mistura e acaba se confundindo com o

significado deética.

A autoradeixa claro que ética difere da moral, pois ela vai normatizara moral e

oferecer apoio à moral.

Ao refletir sobre suas ações, o indivíduo se orientade modo prático,

inteligente; planeja e idealiza de forma consciente. Desta forma, se desenvolve e

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avança em suas experiências. Passos (2009) evidencia que o ser possui

consciência e possibilidades que lhe garantem ter noções do mundo à sua volta.

Passos (2009, p. 24) afirma:

Essa condição específica do ser humano proporciona-lhe capacidade de manter como mundo um vasto número de relações que se estendam desde a ação sobre a realidade física com intenção de transformá-la em seu benefício ou em prol do coletivo.

Segundo Sá (2009, p. 4), a ética se divide em dois campos: no primeiro, a

“Ética como ciência que estuda a conduta dos seres humanos, analisando os meios

que devem ser empregados para que a referida conduta se reverta sempre em favor

do homem”. Nesse sentido, há uma ligação entre o homem material e o homem

espiritual. E, no segundo campo, “como Ciência que busca os modelos da conduta

conveniente, objetiva, dos seres humanos’’. Neste aspecto, a ética é objetiva e cria

modelos de normas.

Valls (1994) compreende que a ética é um estudo ou uma reflexão científica

ou filosófica ou até mesmo teológica acerca dos costumes; e, que estes costumes

podem variar de época e de sociedade.

Weber (2012), comentando Boff, explica que, num primeiro momento, a ética

é o “modo de ser”, o “caráter”, ou seja, o “perfil de uma pessoa”. Num segundo

momento, a ética se concretiza nos relacionamentos das pessoas, em suas atitudes

no cotidiano.

Ética é parte da Filosofia. Considera concepção de fundo acerca da vida, do universo do ser humano e de seu destino, estatui princípios e valores, orientam pessoas e sociedades. Partamos dos sentidos da palavra ethos, donde deriva ética. Constatamos que a escrita da palavra ethos, aparece em duas formas, [...] significando a morada humana e também caráter, jeito, modo de ser, perfil de uma pessoa; e [...] querendo dizer costumes, usos, hábitos e tradições. (WEBER, 2012, p. 33)

O dicionário Abbagnano (1901, p. 380-383) também esclarece duas

concepções sobre ética. Na primeira, a conduta do homem deve buscar a perfeição.

Na segunda, uma ciência regida por esforços, que parte da noção do bem, busca

agir de forma que a natureza do homem siga ética por motivos e ações definidas,

como a busca por prazer.

Para Chauí (1999) a ética, éthos vai aludir às particularidades de cada

indivíduo. Ao que estabelecem qualidades e dependências que irão praticar, em sua

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cultura, seus costumes, seria então refinar cada momento de sua vida, sua natureza,

sua índole.

Do ponto de vista de Aranha e Martins (2006), a ética vem do grego “éthos”

que significa “costumes” e que muitos usam a ética e moral como se fosse a mesma

coisa. Mas moral se origina do latim mos, mores que é definido como costume. Ela

diferencia moral e ética, sendo moral normas de conduta de uma sociedade em

alguma época; e, Ética sendo uma atitude reflexiva com relação aos princípios que

gerenciam a vida da pessoa.

2.1 A ética no período grego

A autora Passos (2009) menciona que Sócrates (469-399 a.C.), o pai da

filosofia, nascido em Atenas, é um marco na história do conhecimento. Ele dizia que

á ética era algo tão maravilhoso, que todos deveriam agir em conformidade com o

Bem, para alcançar a felicidade.

Valls (1994) escreve em seu livro “O que é Ética”, que Sócrates acreditava

que ética e moral são sinônimos e que as pessoas vão agir conforme seus

costumes. O que vai determinar seu modo de agir serão as ações que a maioria

realiza no seu cotidiano. São as virtudes que fazem com que o homem seja ético.

O autor acima afirma que, segundo Platão, que viveu entre 424 e 347 a.C, a

ética consistia na ideia do Sumo do Bem; ao contemplar o bem, o indivíduo

certamente teria a seu favor as virtudes que o ajudariam ainda mais a ser ético.

Sobre Ética Platônica, Passos (2009) diz que um conjunto das virtudes como

fortaleza, prudência e equilíbrio, quando praticadas, refletem a ética no dia a dia de

uma determinada sociedade.

Ainda em relação aos teóricos clássicos, Passos (2009) comenta que

Aristóteles (384-322 a.C.) definiu ética em suas obras mais conhecidas: “Ética a

Eudemo”, “Ética a Nicômaco” e “Magnas Éticas”. Para ele, a busca por felicidade

estava ligada às virtudes como sabedoria e prazer, sendo importante haver equilíbrio

entre elas. Este era o ponto central dodiscurso.

Segundo Valls (1994), o filósofo Aristóteles advertia que quem tivesse os

privilégios de possuir a ética e a moral não poderia ou não teria o direito de causar

prejuízo aos outros. Então, o homem deveria refletir suas ações e as consequências,

de forma a serem condizentes com a razão e a espiritualidade.

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Ao refletir sobre suas ações e pesar as implicações, o homem faria suas

escolhas com mais liberdade e possuiria tais virtudes. Propunha até mais que

Platão, que o homem constituído de corpo material e alma espiritual precisava

contemplar o Sumo do Bem.

Passos (2009) destaca a ideia de Epicuro (341-270) de que o pensamento

filosófico é dividido em canônico, físico e ético, sendo este último considerado o

mais importante. Epicuro compreendia que só era feliz quem era justo, sábio e

honesto.

Ao contrário dos epicuristas, a autora cita Zenão (324-263), que dizia que a

ética se baseava na forma de viver. Ele não conceituou as virtudes como Aristóteles

fez. Aceitava que o contemplar possui mais valor do que as virtudes. Acreditava que

Deus governava e as coisas aconteciam conforme Deus queria.

2.2 A ética na Idade Média

Este período é conhecido como negro, pois nele ocorreram várias pestes.

Mas, houve também desenvolvimento científico, filosófico e cultural. O cristianismo

se tornou a religião oficial. “Deus é o criador de tudo”.

Passos (2009) cita Santo Agostinho (354-430), que depois de viver uma vida

imoderada, e se converter ao cristianismo, pensava que deveria restaurar a razão

através da fé. Assim, cita “compreender para crer, crer para compreender”.

(PASSOS, 2009, p. 38). É necessário que o indivíduo saiba qual é a vontade de

Deus através da fé, com isso passará a entender a fé.

Valls (1994) diz que Santo Agostinho, em sua famosa frase: “Conhece-te a ti

mesmo”, foi, de certa forma, influenciado pelos filósofos Platão e Sócrates. A ética,

para Santo Agostinho, vai além da vida material, é pensada no âmbito espiritual e

este passa a influenciar as ações dos indivíduos na prática.

2.3 A ética na Idade Moderna

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Este período,entre os séculos XVI e XIX, difere de todos os demais, pois foi

marcado por diversas mudanças nos campos econômico, político, religioso e social.

A ética aristotélica é deixada de lado e o homem passa a ser o centro. A ética é

centrada no homem; o ser é a causa e o fim.

De acordo com Passos (2009), Immanuel Kant (1724-1804) trouxe boa

contribuição em relação à ética, valorizando o cidadão vivo e autor de seus atos,

sejam eles bons ou maus.

Valls (1994) diz que Kant já pregava que o homem é um ser racional, que por

si só consegue raciocinar e ter critérios que o auxiliam na convivência em sociedade.

A ética e a moral são sinônimas. Para que o indivíduo saiba como agir, ele defende

que não precisa de alguém que o ensine; deve agir conforme sua Máxima. Ou seja,

sua ética é pensada na ação e não no que pode acontecer se não agir. Ele defendia

que, ao agir sem interesse de algo em troca e repetindo várias vezes o mesmo ato,

estaria agindo dentro da sua Máxima e contagiaria outros, até todos agirem da

mesma maneira.

Nalini (2011) descreve que Kant anuncia que sua ética é orientada a opor-se

a qualquer restrição da autonomia do indivíduo. O seguir ou deixar-se ser levado por

imposições religiosas ou políticas, torna os indivíduos presos às mesmas.

De acordo com Sá (2009), ética, para Kant, é quando alguém é virtuoso,

quando age sem interesse; ao agir por interesse perde-se a virtude.

Valls (1994) cita o filósofo Hegel (1770-1831), já no século XIX, que diz que o

homem deve pensar na liberdade, tanto interior como exterior e que a mesma

deveser para todos na sociedade; uma ética em que a família contribua com amor,

liberdade e o Estado com saúde, educação, moradia e liberdade de expressão.

Num estado ditatorial, dificilmente haverá ações éticas. O mesmo serve para

a Educação, pois é preciso que os alunos sejam ensinados a buscar respostas e a

lutar por liberdade de consciência.

2.4 A ética na Idade Contemporânea

Nesta época, a ética tem por objetivo gravar no cidadão contemporâneo

valores e princípios que não sejam obedecidos cegamente, mas que tenham um

significado capaz de transformar a realidade do seu cotidiano.

Para Passos (2009, p. 43), ao citar Karl Marx(1818-1883):

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[...] a moral deixa de ser como queriam os idealistas, um conjunto de valores eternos e imutável, aos quais os seres humanos deviam submeter-se, e transforma-se em um conjunto de normas construídas por eles [...] Tornando-se temporais e espaciais.

Percebe-se então que, segundo Karl Marx, a moral não é estática, mas

definida, dependendo dos costumes e até mesmo das forças que regem o cotidiano

da sociedade. Assim, o que será certo aqui não é correto em outro local.

Em relação ao pensamento do filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900),

Passos (2009) cita a inversão de valores em suas obras. O que era considerado

principal perante a sociedade torna-se para ele um segundo plano. Em sua opinião,

a religião tirava a liberdade e forçava a viver conforme os costumes dos dirigentes.

Para alcançar a liberdade, costume algum deveria ser seguido, mas a própria

consciência. “Todos devem ser senhores de seus princípios e atos”.

De acordo com Passos (2009), o filósofo Jean Paul Sartre (1905-1980)

representa o existencialismo. Para ele, os seres vão ser o que já decidiram,

independentemente de fatores externos, sejam eles os costumes, a política, a

economia ou a religião. Sua ideia é a de rejeição de tudo já existente; não há lei,

Deus ou valores.

A autora diz que sua ética tem como base a liberdade. O indivíduo é capaz de

sobreviver sem estar ligado a qualquer dogma ou costume da sociedade e cada um

deveria criar seus próprios costumes.

Segundo as contribuições de Martins e Aranha (2003), o filósofo Jurgen

Habermas (1929) define uma ética comunicativa, que tem como base a razão, mas

razão comunicativa, que se apoia no diálogo, valoriza a linguagem e busca uma

argumentação racional.

Valls (1994), citando Habermas, diz que os meios de comunicação retiraram

do homem o espaço que lhe garantia uma reflexão sobre a consciência ética. As

ações do homem passaram a ser regidas por tais veículos, permanecendo assim no

cinismo.

Bauman (2011) discute, em seu livro “É possível Ética no mundo de

consumidores?”, que ninguém vive isoladamente e é de extrema importância o amor

pelos outros. Para ele, até mesmo os valores familiares foram modificados e busca-

se mais os prazeres individuais promulgados pela mídia consumidora.

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O autor esclarece ainda que as ações éticas devem ser pensadas por toda

humanidade, devem ser desejadas e fluir naturalmente, mas o que parece é que o

consumismo sobrepujou a ética, provocando um distanciamento nas relações entre

as pessoas.

Este pequeno estudo mostra como a ética é vista e compreendida por

diversos filósofos em diferentes períodos. Alguns valores relacionados à ética

modificam enquanto outros permanecem.

3 PRESENÇA DA ÉTICA NA FORMAÇÃO PEDAGÓGICA

Como contribuição da ética na formação pedagógica e para que haja uma

atuação brilhante diante de seus educandos, é imprescindível que as teorias, que

compõem a grade curricular, contribuam para que os discentes passema refletir de

forma planejada, consciente e responsável sobre a importância da ética na sala de

aula.

Questiona-se: é realmente necessário que o professor preocupe-se com a

ética na sua formação? Para responder a esta indagação, é preciso ingressar no

campo da Filosofia para se conceituar as palavras pedagogo e pedagogia.

O dicionário Abbagnano (2000, p. 747-748) define pedagogia como “a prática

ou profissão de educador”. Em tempos antigos, possuía dois significados: parte da

sociedade a considerava como ética e parte como política. Posteriormente, passou a

ser considerada uma ciência, que apresenta estudos que enriquecem o campo da

Educação.

É importante que o profissional, que irá atuar na Educação, tenha esse

esclarecimento de que a ética está enraizada na própria definição do termo

pedagogo.

Segundo Ghiraldelli Jr. (2007), o termo pedagogo vem do grego antigo

paidós, que significa “criança”; e, agodé significa “condução”. Na Grécia antiga, o

pedagogo era visto como alguém que deveria conduzir, guiar a criança no caminho

do conhecimento, ou seja, uma espécie de cuidador de crianças.

Para Ghiraldelli Jr. (2007), atualmente, o pedagogo é o profissional que

trabalha com meios intelectuais e técnicos, e que proporciona as melhores

condições de ensino e aprendizado aos seus alunos.

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Ao referir-se à palavra pedagogia, não se relaciona aos conteúdos, mas à

prática reflexiva. Então, o que exprime a pedagogia é uma ação que venha a ser

estudada, pensada e repensada no fazer dentro da sala de aula.

Libâneo (1994, p.24) esclarece que:

Pedagogia é um campo de conhecimento que investiga a natureza das finalidades da educação numa determina sociedade, bem como os meios apropriados para a formação dos indivíduos, tendo em vista prepará-los para as tarefas da vida social.

Ao profissional da Educação cabe a responsabilidade de ensinar não somente

os conteúdos teóricos, a ler e escrever, mas um ensino que engloba todo o ser. É

um dos objetivos da pedagogia: ligar o ser (aluno) ao objeto (teoria), para sua

socialização e ampliação de seu senso crítico e de percepção, principalmente numa

sociedade que se modifica a cada instante, tanto em sua maneira de aprender como

nos conhecimentos.

Discutir ética, numa sociedade que se transforma a todo o momento, é tão

considerável que Herkenhoff (1996, p. 59-60) cita o seguinte:

Nas reformulações curriculares, em debate no país, será importante pensar na inclusão da ética ou de temas éticos, em todas as escolas que formam profissionais nas mais diversas áreas. Numa outra linha da questão, as indagações éticas devem ser uma provocação e um desafio que se coloca à inteligência e à sensibilidade de todos aqueles que, no seu ofício, contribuem para a construção do mundo e a dignificação do homem. A questão ética é uma das maiores urgências do Brasil contemporâneo.

É da responsabilidade do pedagogo proporcionar a seus alunos as condições

necessárias para que ele entendao mundo a sua volta e saiba se relacionar com ele.

Alude-se que pedagogia se refere à prática e é uma ciência da educação.

Gadotti (1998, p. 31) confirma: “fazer a prática teoria por excelência é descobrir e

elaborar instrumento de ação social”. Nesta citação, nota-se uma preocupação do

fazer no cotidiano do espaço educacional, baseando-se em conceitos científicos.

Libâneo (1994, p. 27) ainda cita que a formação no ensino superior de

pedagogos é abrangente em termos de disciplinas como: “filosofia, sociologia,

história da educação e da pedagogia, psicologia da educação, didática, pesquisas

educacionais e outras”.

O currículo, portanto, é extenso e abrange diversos conceitos de grande ajuda

na prática educacional, provendo informações suficientes para ampliar os horizontes

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do educador, no sentido de capacitá-lo a agir eticamente numa escola particular ou

pública.

É indispensável que o professor busque ações que permitam a prática da

autonomia, o prazer no ensinar, o prazer no explicar; crie novos rumos na hora em

que se depare com situações diversas; e, inove com as descobertas, mas que nunca

deixe que a atitude de ser ético vá embora.

De acordo com Guzzo (2011), é na faculdade, na preparação do ensino

superior, que o futuro docente deve adquirir “valores éticos na formação docente”. É

imprescindível que quando o educador adentre a sala de aula, leve consigo atitudes,

gestos, pensamentos e conhecimentos que foram adquiridos na sua formação.

Neste caminho, a LDB9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, frisa em seu título VI, artigo sessenta e um, inciso II, que o profissional da

educação básica seja alguém formado em pedagogia: “II - Trabalhadores em

educação, portadores de diploma de pedagogia, com habilitação em administração,

planejamento, supervisão e orientação educacional, bem como títulos de mestrado e

doutorado nas áreas”. (BRASIL, 1996, p. 1).

Assim, somente poderão pleitear os cargos de educadores aqueles que

passaram por uma formação superior, quando adquiriram capacitação para estar

diante de uma turma de alunos, que desejam e precisam realizar inúmeras

descobertas.

Ainda sobre ética na formação do pedagogo, um dos mais brilhantes

pedagogos, Freire (1994, p. 33) diz o seguinte:

Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer da ética, quanto mais longe, quanto mais fora dela. Estar longe, ou pior fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão. É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é mesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador.

O autor defende que, para proporcionar uma educação com autonomia, é

preciso que o educador reflita no que suas atitudes de hoje podem vir a se tornar

amanhã.

Não é permitido pensar que o ser relapso nos conteúdos, nos horários, não

influenciará negativamente seu alunado. Pensar assim é ser ingênuo, é não honrar

seu compromisso com a educação, feito sob juramento.

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É através da educação em sala de aula que muitos terão condições e

oportunidades de conhecer e conviver comos valores tão necessários à vida. Muitos,

em sua vivência familiar, não os receberam ou não foram estimulados a adquiri-los.

O autor deixa claro que as atitudes devem ser pensadas e analisadas.

Propõe ainda que a prática educativa deve ser uma vivência real da teoria.

Isso implica que as ações dentro de uma escola não podem ser dirigidas sobre

qualquer paradigma ou até de qualquer jeito, por mais que existam dificuldade sem

sala de aula, devidas à diversidade cultural, e que haja preocupação com a

formação integral do indivíduo.

Ele defende que quando o professor não ensina seus alunos com ética, é

como se estivesse destruindo neles a possibilidadede conquistas, que lhes fariam

grandes homens na sociedade.

Pensar em docência é pensar em atuar com qualidade, é pensar em como o

estudante receberá os conteúdos, de que forma vai aprendê-los e como vai

relacioná-los com sua vivência diária.

Conforme Freire (1996), o ensinar deve ter algo que leve além do

cumprimento do currículo da escola para aquele ano ou do cumprimento dos

conteúdos dos livros didáticos. Para ele, o educador precisa refletir se o que está

sendo ensinado tem um propósito, que saia das linhas dos livros e se estenda às

suas ações políticas.

Freire (1996) chama nossa atenção para a importância de uma postura ética:

“É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a

próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem que ser

de modo concreto, que quase se confunda com a prática”. (FREIRE, 1996, p. 39). O

educador precisa desejar tanto ser ético como agir com ética.

O professor deve agir eticamente, para que seus passos tragam as marcas do

seu falar e que corresponda a altura de sua profissão. Tais atitudes ajudarão seus

alunos a entenderem que podem tornar-se cidadãos intelectuais.

Afirmando essa ideia da ética na formação do pedagogo, Rios (2006 apud

RIOS, 2009, p. 19) afirma: “É no espaço da Ética que o pesquisador se pergunta

sobre a finalidade última de sua investigação, sobre os sociais dessa investigação,

sobre os compromissos implicados nos resultados”.

A faculdade é um espaço para investigação, para ampliar o senso crítico

sobre a prática exercida no cotidiano e também é importante que se considere a

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ética. Como já foi conceituada, a ética é uma ação reflexiva sobre as ações do

professor na prática escolar. É imprescindível que o docente reflita sobre os

saberes.

4 CONTRIBUIÇÃO DA ÉTICA NA PRÁTICA DA EDUCAÇÃO NO ENSINO

FUNDAMENTAL

Dentro da abordagem “Contribuição da Ética Para Uma Práxis Educativa no

Ensino Fundamental”, questiona-se: é necessário que o professor haja eticamente?

Em busca da resposta, Rios (2009) auxilia no detalhe que caracteriza um professor

competente, que é quando elecasa conhecimentos básicos com uma prática

reflexiva e ética.

Uma vez que a sala de aula pode ser opalco emquevai se apresentar, o

educador deve estar preparadíssimo para atuar, lembrando que na convivência se

aprende ou se desaprende. Através de seus atos, de sua linguagem imprimirá em

seus alunos o que eles presenciarem.

De acordo com a autora, é através da consciência ética que o docente tem a

chance de questionar suas ações, para averiguar possíveis necessidades de

mudança. O aprimoramento constante é fundamental no trabalho educacional.

Rios (2009, p. 18) chama atenção para um valioso ensinamento:

É com base nos princípios da Ética que avaliamos mais amplamente todas as dimensões de nosso trabalho. Os critérios que nos fazem estabelecer os conteúdos e os métodos, a forma como estabelecemos nossas relações com colegas e os alunos, as escolhas que fazemos, deverão ser questionadas se não tiverem como fim último o bem comum. É aí que ganha sentido a afirmação de que a escola deve ser construtora da cidadania.

A maneira de agir do profissional da Educação deixará marcas nas suas

relações com seus colegas, com os alunos, com os pais de alunos e com a

comunidade. Sem dúvida, é mediante ações conscientes que demonstrará a

seriedade de seu ofício.

A promoção de um ensino ético, que deixará marcas positivas na sociedade,

é de responsabilidade da escola e do professor. Tal ensino proporcionará mudanças

na sociedade, respeito e valorização do outro como ser humano.

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É papel também da escola ensinar os valores reivindicados pela sociedade,

uma vez que o discente do ensino fundamental precisa ser bem direcionado para o

exercício da cidadania.

É papel fundamental da educação, em todas as suas etapas, que em sala de

aula sejam trabalhados conteúdos que estimulem a visão crítica do aluno, que o

preparem para viver numa sociedade que se modifica a cada hora.

Na visão de Paviani (1988, p. 108), a profissão do educador é essencialmente

ética: “Por isso, o professor como profissional da educação não apenas acrescenta

às suas atividades técnicas e científicas uma dimensão ética, mas realiza uma

atividade essencialmente ética”.

Não pode ser deixado de lado, que o profissional da educação está na

presença de uma sociedade que busca e cobra qualidade no ensino. Para

corresponder aos anseios desta sociedade, o educador precisa pautar os

conhecimentos técnicos e científicos na ética.

“Sua ação como educador expressa uma escolha que influencia o

comportamento do estudante.” (PAVIANI, 1988, p. 108). Diante disso, é importante

que o educador aja com responsabilidade, pois além de transmitir conteúdos, estará

influenciando a vida do educando.

O agir dentro de uma sala de aula, sem ponderar suas ações, é uma

alienação irresponsável. O professor precisa manter sempre em mente que, neste

recinto, estão presentes seres humanos em busca de conhecimento, respeito e

valorização.

Segundo Paviani (1988), a dimensão do ato de lecionar ultrapassa em muito o

ato de meramente escrever no quadro negro. As atitudes do professor marcam

diretamente seus alunados, que o observam como alguém que sabe muito bem o

que está dizendo, alguém digno de ser imitado.

O professor, enquanto educador e profissional técnico enfrenta duas vezes a questão da ética: Uma em relação ao ato humano de professor, de ensinar e orientar o aluno; outra é em relação ao exercício de atividade técnica, permanente e remunerada. (PAVIANE, 1988, p. 109).

Embora as dificuldades sejam deparadas na profissão, tais como salários

baixos, carga horária excessiva, infraestrutura precária, desvalorização, deve-se

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manter uma postura ética para não se desviar do objetivo maior da profissão:

educar.

Na visão de Juliatto (2013), a ética deve imprimir valores nos educandos. O

docente deve entender que, em grande medida, ele influenciará o futuro, os sonhos

e caminhos que seus alunos seguirão. Ginott (1973 apud JULIATTO, 2010) cita que

a postura do professor é o elemento chave na sala de aula.

O educador tem tanto poder, que até o seu humor pode causar estragos ou

trazer benefícios. Um clima agradável em sala de aula, uma relação positiva entre

professor e aluno despertarão o interesse e facilitarão o aprendizado. Na visão do

autor, o profissional da educação deve lidar eticamente com seus alunos e

transmitir-lhes valores morais.

Segundo o autor, muitos dos profissionais da educação não toleram plágio, o

plágio, a fraude, a cola na prova, trabalhos escolares copiados e comprados, por

parte dos seus alunos, mas não lhes ensina que os maiores prejudicados são eles

mesmose que a desonestidade, por menor que seja, não deve ser relevada.

A falta de ética leva à falta de respeito e esta chega a níveis tão críticos no

cotidiano da vida escolar, que não raro, a violência é utilizada por ambas as partes

como a única saída. Lembrando que o ambiente escolar é o espaço onde se

aprende a conviver com o próximo. As ações de respeito e liberdade não podem ser

menosprezadas, porque “a pessoa precisa sentir que, no ambiente escolar, é tratada

de forma justa e digna”. (WEBER, 1998, p. 73).

Ferreira (2004, p. 216) afirma que “o professor Ético também deve ser um

profissional didático, dinâmico e criativo, que procure ir além do mero texto e

positivismo, assim como da visão arcaica de avaliação: a memorização e transcrição

de dados”. Uma aula permeada por tais características, sem dúvida nenhuma,

favorecerá um excelente aprendizado.

Cabe ao educador estar sempre atento às suas atitudes; não ser relapso nos

conteúdos e horários; e, não agir com discriminação relativa à religião, idade, sexo,

etnia e condição social. Sua obrigação é semear valores como respeito, igualdade e

responsabilidade, dentro ou fora da sala de aula.

Na visão de Juliatto (2013), ao agir com ética em sala de aula, o professor

aceitará seus alunos, lhes dará liberdade de expressão e os ensinará a serem

responsáveis. Ainda assegura que a proximidade da ética na educação melhora a

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qualidade do ensino, o que contribui para a formação de uma sociedade mais

humanizada.

É importante que na prática educativa o professor continue a buscar

conhecimento, aprimoramento profissional, que seja estudante também, que

continue a aprender para contribuir com o crescimento do aprendizado dos alunos,

sendo então, como diz Julliatto (2013, p. 224), “um humilde servidor da

aprendizagem de seus alunos”.

Sobre valores na educação, Taille (2006, p. 5-6) define valores através do

pensamento de Piaget: “valor é um conjunto de sentimentos projetados sobre o

objeto; ele constitui uma relação entre o objeto e o sujeito, mas uma relação afetiva”.

Assim, para o psicólogo, Piaget considerou estes objetos físicos, ideias e também as

pessoas.

E, como a escola tem por objetivo formar cidadãos, deve trabalhar os

conteúdos e valores simultaneamente. O autor deixa claro que ensinar valores,

princípios éticos, não se dá num passe de mágica; é preciso esforço, dedicação.

Para ele, este assunto deve ser trabalhado em conjunto com a família, o que

ampliará a possibilidade de se atingir tal objetivo.

Taille (2006) declara que para que seus alunos estejam aptos a ingressar na

escola da vida, para que estejam conscientes da importância de uma formação com

cidadania, é preciso que o professor se estenda além do currículo.

Em uma época de individualismo crescente, em que as pessoas são mais

valorizadas pelo que elas têm, faz toda a diferença os alunos saberem questionar os

valores exercidos pela sociedade, usando para tal, valores éticos que lhes permitam

libertarem-se das armadilhas postas diante deles pelo sistema.

Ainda sobre a escola, o professor Johan (2009) apresenta características que

são muito válidas para tal fundamentação.

Para o autor, a escola também contribui com um ensino reflexivo e é

primordial em uma época em que as incertezas predominam no cenário escolar. É

dever da instituição educacional, um trabalho sério, em que os documentos exigem

que é preciso ir além. Assim, Johan (2009, p. 42-43) confirma:

Responsabilidade social da escola implica uma exigência ética que vai muito além de uma mera explicação formal em códigos e documentos normativos. A complexificação da vida e do mundo, neste novo milênio, exige uma reflexão aprofundada, um diálogo permanente e uma busca

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incessante dos caminhos nos meandros de uma incerteza, por paradoxos desconcertantes e consequentemente por maiores dúvidas.

Asmann (2000 apud JOHANN, 2009) diz que como não é natural ao ser

humano ser tão cheio de bondade, se faz necessário plantá-la e cultivá-la,

diariamente, no ambiente escolar, por meio de ações éticas, o que engloba as

atitudes do educador para com sua turma.

Seguindo a linha de pensamento de que a ética pode contribuir na prática do

docente, em especial nos primeiros anos do Ensino Fundamental, entende-se que é

imprescindível “trazer à tona os talentos e habilidades do ser humano para que ele

desenvolva pela auto-observação e discernimento uma personalidade íntegra e um

caráter consistente”. (MARTINELLI, 1988, p. 109).

Encontra-se nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), um dos

documentos que regulamenta a direção do ensino no país, especialmente para tratar

do exercício da cidadania no ensino fundamental. Declara-se que os alunos sejam

capazes de:

Compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia a dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito. (BRASIL, 1998, p. 58).

Ao se destacar a importância de se ensinar em prol da convivência social, o

órgão regulamentador do ensino nas escolas no título I, artigo 1°, parágrafo 2°, nos

incisos II e III, diz o seguinte:

II - A compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade. III - O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos, habilidades e a formação de atitudes e valores em que fundamenta a sociedade. (BRASIL, 1996, p. 1).

Na visão da LDB, o aluno que adentra a sala de aula não pode sair sem

aprender valores que o ajudem no exercício de uma cidadania participativa, política,

consciente e democrática, sendo a escola, na pessoa do professor, o agente

formador de tal cidadão.

Para uma prática reflexiva que expressa o desejo da sociedade, a LDB

9394/96 diz que os cidadãos do presente e do futuro necessitam aprender além dos

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conteúdos obrigatórios; devem relacionar os conteúdos didáticos aos valores

aprendidos na escola com os professores, para o exercício de uma cidadania

democrática na prática do cotidiano.

Estes alunados participarão, na sociedade, em várias esferas que exigirão

tais valores, tanto na política como no lidar com novas tecnologias. Assim, a criança

necessita ser estimulada a desenvolver tal sensibilidade ética.

Portanto, é imprescindível que oprofessor pratique e ensine a ética no Ensino

Fundamental. Desta maneira, ele estará ajudando na formação de cidadãos aptos a

contribuírem com o melhor de si na formação de uma sociedade melhor e também

na valorização do profissional da educação.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao refletir sobre a contribuição da ética na práxis educativa, percebe-se que

muitos dos estudiosos tratam com relevância uma educação que preza o ser

integral. Soma-se a isto um professor que está sempre questionando sua prática

educativa, sua maneira de atuar em sala de aula.

Ao passar pela sala de aula, qual será a marca impressa em seus

educandos? Mesmo sendo do ensino fundamental, eles são seres humanos tanto

quanto os adultos, aliás, neles, as marcas deixadas serão muito mais profundas.

Quantos são os relatos, que se ouve nos corredores das escolas, de docentes

que assumem a arte de ensinar com irresponsabilidade, seja com relação ao

horário, aos conteúdos, as suas metodologias ou a sua postura, diante de uma

turma em sala de aula.

Visto que muitos estudiosos se preocuparam com a relação professor-aluno

no cenário educacional, este artigo aborda a contribuição de valores éticos como

ação reflexiva. Ele não traz receitas ou listas de condutas para os profissionais da

educação, até porque, educação não é moldar os estudantes como se fossem tábua

rasa, e sim fornecer os elementos necessários para a sua formação intelectual,

moral e social, de maneira individualizada, consoante às necessidades de cada um.

Os estudos aqui abordados mostram o quanto é relevante que a classe de

professores reflita sobre sua prática ao ensinar. É claro que o educador não

encontrará em sala de aulatodos os alunos com a mesma cultura, o mesmo

pensamento e os mesmos valores que os seus. Mas, valendo-se da ética, permitirá

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questionamentos e criará uma relação de valores mais humanos entre ele e os seus

estudantes.

Como citado anteriormente, o processo de ensinar não se dá apenas com giz,

lápis e um livro didático. Para uma educação de qualidade é preciso sonhar, amar e

ter, bem claro, os olhos fixos aos horizontes em que se pretende chegar, mesmo

diante das imprevisões, incertezas e falta de infraestrutura que circulam a escola.

Pensar na contribuição da ética na educação é pensar em como será

diferente, valoroso e criativo um ensino que visa uma práxis, que corresponda aos

objetivos da sociedade em que o indivíduo está inserido. Disso, Freire (1996) alertou

que o professor tem que ter uma visão crítica do seu cotidiano.

O mesmo autor conclama que é possível sim ensinar com ética e estética,

porque o ensino deve almejar criar no aluno uma visão consciente e crítica da vida,

o que aumentará suas chances de emancipação. E, assim “é pensando criticamente

a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima”. (FREIRE, 1996, p.

39).

O que foi apresentado nas linhas acima são desejos de presenciar, no

cotidiano dos educadores, ações práticas que demonstrem que o professor tem o

cuidado consciente e criterioso de quem ele ensina, que seu ensinar seja apreciado

por todos na sociedade e que seja também uma forma de valorizar a classe.

Os resultados de tal práxis educativa serão estampados nas avenidas do ser

humano e contribuirão para a felicidade do outro, como acreditou Aristóteles, na

Grécia antiga. Agir com ética em sala de aula possibilitará a formação de cidadãos

que trilharão os caminhos da ética nas comunidades em que estarão inseridos.

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