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OS COMPORTAMENTOS DE MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: REVISÃO LITERÁRIA
THE BEHAVIOR OF WOMEN VICTIMS OF DOMESTIC VIOLENCE: LITERARY REVIEW
Franciny Giovanna Monteiro Silva – [email protected]
Pós Graduação em Psicologia Comportamental Cognitivo – Centro Universitário Católico
Salesiano Auxílium de Lins
Prof. Alessandra Pereira Falcão – Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Lins-
RESUMOConsiderando que a violência doméstica cresce a cada ano, este artigo tem
como objetivo apresentar os possíveis comportamentos das referidas vítimas, após sofrer algum tipo de agressão, para proporcionar dados mais específicos sobre esta problemática enfrentada pela mulher. A metodologia utilizada foi a revisão literária, através de pesquisa em banco de dados Scielo, Google Acadêmico e biblioteca. Como resultado, foram constatados que os principais comportamentos das vítimas são tentativa de suicídio; abuso de álcool e drogas; depressão; ansiedade; síndrome do pânico; estresse pós-traumático; baixa autoestima; distúrbios na alimentação e sono; vergonha e culpa; irritabilidade; insegurança; inatividade física; tabagismo; autoflagelo e comportamento sexual inseguro. O intuito desta pesquisa é propagar as informações coletadas, para contribuir para a evolução do estudo da Psicologia, no sentido de incentivar demais pesquisadores a realizar outras pesquisas para o tratamento das vítimas de violência doméstica que apresentam os comportamentos identificados.
Palavras-Chave: Violência doméstica. Violência contra a mulher. Consequências da violência doméstica. Comportamentos.
ABSTRACTConsidering that domestic violence grows every year, this article aims to
present the possible behaviors of those victims, after suffering some type of aggression, to provide more specific data on this problem faced by women. The methodology used was the literary review, through research in Scielo database, Google Scholar and library. As a result, it was found that the main behaviors of the victims are suicide attempt; alcohol and drug abuse; depression; anxiety; Panic Syndrome; post-traumatic stress disorder; low self esteem; eating disorders and sleep; shame and guilt; irritability; insecurity; physical inactivity; smoking; self-flagellation and unsafe sexual behavior. The purpose of this research is to propagate the information collected to contribute to the evolution of the study of Psychology, in
the sense of encouraging other researchers to conduct some research for the treatment of victims of domestic violence that present the identified behaviors.
Key words: Domestic violence. Violence against women. Consequences of domestic violence. Behaviors.
INTRODUÇÃODe acordo com o Banco Mundial, “um em cada cinco dias de falta no trabalho
é causado pela violência sofrida pelas mulheres dentro de suas casas” (RIBEIRO &
COUTINHO, 2011 apud FONSECA; RIBEIRO; LEAL, 2012, p. 308). Além dos
prejuízos no âmbito profissional, os danos da violência doméstica se estendem no
domínio afetivo, emocional, familiar e social.
Devido ao crescente número das estatísticas, referentes ao assunto, este
artigo visa colher informações, através de pesquisa realizada em bancos de dados
da Scielo, Google Acadêmico e biblioteca, de autores que descrevem a respeito dos
prejuízos psicológicos, físicos e comportamentais, dando ênfase nesta última, de
mulheres que foram vítimas de violência doméstica. O problema do estudo refere-se
a quais comportamentos as mulheres vítimas de violência apresentam, após sofrer
algum tipo de agressão, que foi respondida de acordo com o referencial teórico
coletado e descrito a partir de revisão literária.
O estudo é composto por uma compilação de informações de livros, artigos,
trabalhos, a respeito da posição da mulher na sociedade; quais os tipos de violência
existentes e mecanismos atuais que combatem tal prática; foi descrito os fatores que
podem predispor a violência doméstica; os comprometimentos que a violência gera
na mulher. Em seguida, foi descrito os comportamentos identificados através da
pesquisa, com base no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais,
5ª edição (DSM V), para maior embasamento teórico.
O objetivo de realizar este levantamento de dados é para propagar as
informações coletadas, contribuindo para a evolução do estudo da Psicologia.
Futuros estudos podem dar continuidade à presente pesquisa, para realizar
intervenções psicológicas em casos reais, através de uma abordagem que atue nos
comportamentos identificados por esta pesquisa, proporcionando assim, melhor
qualidade de vida, no âmbito emocional, profissional, social da vítima.
1 REVISÃO DA LITERATURA1.1 Histórico sobre a posição da mulher na sociedade
Como aponta Rechtman e Phebo (2001, apud CARMO; MOURA, 2010), o
fato da mulher apresentar-se em uma posição de subordinada, submissa, acontece
a muito tempo, há pelo menos 2.500 anos, devido a fortes valores de gênero, em
que presava pela superioridade do homem em detrimento da autonomia feminina.
De acordo com estudos sobre a história dos papéis do homem e da mulher na
sociedade e família, desde os tempos remotos, é possível especular sobre o motivo
da autoridade masculina se sobressair à liberdade feminina. A forte forma de pensar
de que a virilidade do homem é afirmada através da procriação, fez com que este se
sentisse no dever de cuidar de sua esposa, não permitindo que se arriscasse em
ocupações que pudessem colocar em risco a sua família (CARMO; MOURA, 2010).
Segundo Thompson (1995 apud DIAS; COTRIM, 2014), nessa relação
homem e mulher, há aquele que pensa ter mais poder sobre o outro e para tentar
provar isso, usa de mecanismos como a violência, para dominar e reprimir o outro.
Essa problemática da violência contra a mulher, advém de uma hierarquia entre os
sexos, arraigada ao longo dos anos, através da educação diferente entre homens e
mulheres (AZEVEDO, 1999 apud FONSECA; LUCAS, 2006).
Como descreve Ferraz et al. (2009, p.756 apud PAIVA; SANTOS; SANTOS,
2014), tal diferença de gênero no Brasil, começa a ser questionada apenas na
década de 1980, através de estudos, pesquisas sobre as agressões. O
patriarcalismo passa por uma nova avaliação pelas famílias, o que acaba por fazer
com que esses valores arraigados por séculos, percam um pouco da força e passam
a ser mais flexibilizados, mais adequados aos novos tempos de modernidade
(CARMO; MOURA, 2010).
1.2 Tipos de violência doméstica e artifícios que as combatemPartindo da premissa, de que homens e mulheres são iguais, em relação a
direitos, não devendo haver discriminação relacionada aos sexos, houve a criação
da Lei Nº 11.340, de 7 de Agosto de 2006, chamada Lei Maria da Penha (BRASIL,
2006), que “cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher [...] e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação
de violência doméstica e familiar”. A referida lei ainda dispõe que “configura como
violência doméstica e familiar contra a mulher, qualquer ação ou omissão baseada
no gênero, que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e
dano moral ou patrimonial”. (BRASIL, 2006, p.1)
O artigo 7º da Lei Maria da Penha (BRASIL, 2006), descreve as formas de
violência doméstica e familiar contras as mulheres: violência física, quando um
comportamento acaba comprometendo a saúde corporal de uma pessoa; violência
psicológica, acontece quando uma pessoa causa danos emocionais, contribui para a
diminuição da auto estima em outro através de situações de constrangimento,
humilhação, isolamento social e familiar, exploração, ameaça, cooperando assim,
para o não desenvolvimento psicológico saudável; violência sexual, é interpretada
como quando uma pessoa é forçada a manter relação sexual, é constrangida,
ameaçada para que comercialize sua sexualidade. Não é permitida que faça uso de
métodos contraceptivos, é obrigada a casar-se, engravidar, cometer aborto, através
de chantagem, acuação, não permitindo assim seu direito em optar como
desenvolver sua sexualidade; violência patrimonial, compreendida como
comportamentos de uma pessoa em restringir o uso de recursos financeiros à
mulher, destruição de objetos pessoais da vítima como documentos, bens materiais,
direitos econômicos em geral; violência moral, concebida como condutas que
estejam relacionadas à calúnia, insultos, desmoralização.
Em adição, cita-se Massena et al. (2016), que descreve a violência emocional
e psicológica como comportamentos de desprezo; insulto; humilhação à vítima de
forma privada e/ou público; crítica a seu modo de ser, vestir; gritar; destruir objetos
de valor e de estima da vítima; perseguição no trabalho, ruas; acusações; ameaças
à vítima e/ou familiares; não deixar descansar e dormir. Quanto à violência física,
refere-se ao uso de força para causar danos como marcas ou até a morte. São os
empurrões; chutes; murros; queimar; atropelar.
A Lei Maria da Penha também garante a medida protetiva de urgência, em
que o juiz dá ordens ao agressor, para evitar que o ciclo da violência continue. As
medidas protetivas são para o agressor não se aproximar da vítima, filhos e seus
familiares, não entrar em contato através de nenhum tipo de meio de comunicação.
Não estar no mesmo ambiente que a vítima, isso inclui o meio de trabalho, locais
públicos, lar. (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, et al., s.d).
É importante ressaltar outra ferramenta de apoio a mulheres vítimas de
violência. A Central de Atendimento à Mulher, que ao discar 180, conta com 80
atendentes durante todo o dia e noite, fins de semana e feriados. O serviço do
governo federal norteia e ampara as vítimas gratuitamente, em qualquer estado
Brasileiro. Oferece acolhimento, presta informações sobre os direitos das mulheres e
os locais de atendimentos mais próximos (SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS
PARA AS MULHERES, 2008).
1.3 Fatores que podem predispor a violência e suas repercuçõesEstudos apontam que, a violência contra as mulheres, atinge pessoas de
todos os países, se tornando assim uma grave violação dos direitos humanos,
contribuindo para a desigualdade de gênero (ONU, 2006 apud LIMA; BÜCHELE;
CLÍMACO, 2008). Nenhum motivo pode justificar a violência contra outro ser
humano, porém como relata Araújo (2013 apud PAIVA; SANTOS; SANTOS, 2014)
existem estatísticas que mostram que 69% dos casos de conflitos são devidos a
ciúmes, problemas financeiros, separação, filhos, entre outros.
Existem demais teorias, que embasam pesquisas sobre o tema, que
discorrem sobre possíveis causas da violência de homens contra mulheres: teoria do
aprendizado social, que preserva a concepção de que a violência é transmitida de
geração a geração (ROTHMAN et al., 2003 apud LIMA; BÜCHELE; CLÍMACO,
2008).
Azevedo (1985 apud FONSECA; LUCAS, 2006), disserta que as condições
de violência são geradas pelo sistema capitalista, ou seja, a imagem do machismo e
a educação desigual entre os gêneros.
Langley e Levy (1980 apud JACOBUCCI, 2004) consideram que o álcool e
drogas apenas colaboram para os atos violentos, pois existem casos em que a
violência acontece sem que o agressor esteja sobre efeito de alguma substância
psicoativa (LANGLEY & LEVY, 1980 apud JACOBUCCI, 2004). Seria errôneo
afirmar que a causa da violência é devido a drogas e álcool, mas sim estes podem
ser facilitadores das situações de agressão (MASSENA et al., 2016).
A violência dentro do lar gera também absenteísmo, atrasos e queda de
produtividade no trabalho, somado a isso, tal impacto no trabalho se deve a
distúrbios provocados pelo agressor no ambiente (WALKER et al., 2004; CDC, 2003;
SWANBERG, LOGAN, 2005 apud MIRANDA et al., 2010).
1.4 Comprometimentos físicos, psicológicos e sociais na mulher, após a violência doméstica
A violência contra a mulher acomete a vida da vítima em um aspecto geral,
sendo que na saúde física, pode desencadear ferimentos, hematomas na pele;
invalidez; redução ou aumento de peso; fadiga; queimaduras; dores crônicas, entre
outros. Consequências no âmbito sexual e reprodutivo como o aborto; gravidez não
planejada; distúrbios ginecológicos dos diversos tipos e magnitudes; sangramentos;
doenças sexuais; infertilidade; inflamações, etc. Os danos emocionais e de
comportamento, podem ser depressão; estresse pós-traumático; tentativas de
suicídio; ansiedade generalizada; uso abusivo de múltiplas drogas; diminuição ou
aumento da alimentação; desregulação do sono; culpa; baixa autoestima, e demais
(GARCIA-MORENO; HEISE, 2002; ALIAGA; AHUMADA; MARFULL, 2003 apud
CASIQUE; FUREGATO, 2006).
O comportamento abusivo de fumar e utilizar outras drogas, baixa autoestima,
depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, tentativas de suicídio, também são
apontados por Batista (2003; ADEODATO et al., 2005; CANAAN, 2009ª; DAY et al.,
2003 apud CANAAN-STEIN et al., 2014). Segundo relata Oliveira et al. (2005;
VILLELA, 2008 apud FONSECA et al., 2012) o bem estar da mulher torna-se muito
comprometido, visto que o sentimento de culpa, baixa autoestima, depressão,
ansiedade e suicídios, são muito incidentes nas vítimas.
São incontáveis os estudos referentes a comoção da violência doméstica para
a vítima, correspondendo a agressões físicas de alta intensidade que geram
traumatismos como fraturas, hemorragias, deformidades. As agressões psicológicas
favorecem comportamentos de riscos que podem oportunizar acidentes (HEISE;
GARCIA-MORENO, 2002; GARCIA-MORENO et al., 2006; COKER et al., 2002;
LUDERMIR et al., 2008; PLICHTA, 2004; CAMPBELL, 2002 apud MIRANDA et al.,
2010).
As consequências fatais da violência, como a intenção de tentativa de suicídio
e homicídio é muito presente (JACOBUCCI, 2004), bem como o uso frequente de
álcool e o aborto, como consta em estudos realizados pela Organização Mundial de
Saúde – OMS (2005 apud LIMA et al., 2008). As consequências não fatais
corroboram com os dados já apresentados, que são comportamentos como
depressão, ansiedade; desordens alimentares; problemas de personalidade;
comportamentos obsessivos compulsivos (JACOBUCCI, 2004).
MASSENA et al. (2016) explana outros danos cognitivos e de memória:
pensamentos e memórias intrusivas; dificuldades de concentração. Danos
psicológicos como distorção da imagem corporal; disfunção sexual; perturbação
alimentar; fobias; vergonha; desânimo; isolamento social; falta de confiança em
terceiros.
Outros sintomas psicológicos apresentados por Kashani; Allan (1998 apud
FONSECA; LUCAS, 2006) são a irritabilidade frequente, depressão,
comportamentos abusivos como o uso de álcool e drogas, estresse pós-traumático,
tentativas de suicídio, entre outros.
Os fatores que influenciam no quão impactante será a violência sofrida na
vítima, são:
(...) a frequência da ocorrência dos maus tratos; a severidade dos maus tratos; os
tipos de maus tratos; as condições e contextos de ocorrência; a história anterior de
vitimização; a gravidade dos danos; a rede de apoio social/familiar; os recursos
pessoais, familiares, sócio-comunitários e institucionais disponíveis (MASSENA et al.,
2016, p. 40,41).
Como aponta estudiosos, apenas uma pequena parcela das mulheres que
são vitimadas pela violência doméstica, apresenta histórico e perfil psiquiátrico,
antes das agressões domésticas. O que se pode observar, é que justamente a
violência sofrida, acaba gerando transtornos psicológicos e psiquiátricos, em vítimas
que costumavam ter controle emocional constante e equilibrado (AMOR et al., 2002
apud CARVALHO, QUINTAS, 2011).
Os transtornos mentais podem ser identificados no Manual de Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM V). Este manual classifica cada
transtorno e seus critérios, para estabelecer diagnósticos. É um instrumento para
médicos, psicólogos e demais profissionais, para identificação de características e
sintomas dos transtornos mentais (DSM V, 2014).
Referente à Depressão, comportamento identificado no estudo, conforme
consta no DSM V, a classificação da doença é denominada como Transtornos
Depressivos, sendo o Transtorno Depressivo Maior o mais recorrente. Alguns dos
comportamentos característicos dos pacientes são sentimentos de tristeza,
inutilidade e culpa; retraimento social; diminuição na eficiência da realização das
atividades; agitação; ideação suicida; tentativa de suicídio, sintomas estes que
causam sofrimento expressivo e prejuízos em várias áreas da vida do indivíduo
(DSM V, 2014).
Quanto à Ansiedade, também mencionado na pesquisa, segundo o DSM V
(2014), sua classificação é Transtornos de Ansiedade. O Transtorno de Ansiedade
Generalizada, possivelmente encontrado em vítimas de violência doméstica, os
comportamentos são: pensamentos intrusos; perturbação do sono; dificuldade em se
concentrar.
Em relação ao Transtorno de Estresse Pós-Traumático, frequentemente
identificado na pesquisa deste artigo, está englobado nos Transtornos Relacionados
a Trauma e a Estressores. Os comportamentos identificados são agressividade;
vergonha; culpa; medo; diminuição do interesse em atividades; distanciamento em
relação aos outros; irritação; comportamento imprudente ou autodestrutivo (uso de
álcool e drogas); comportamento suicida (DSM V, 2014).
Tais conjuntos de comportamentos apresentados caracterizam a Depressão,
Ansiedade e Transtorno de Estresse Pós-Traumático, que foram frequentemente
apresentados nas pesquisas realizadas para este artigo, por causarem prejuízos
expressivos em vários âmbitos na vida da mulher.
2 MÉTODO2.1 Seleção dos artigos
Para dar início à pesquisa, foi realizado um levantamento bibliográfico na
base eletrônica de dados Scielo, Google Acadêmico e biblioteca, onde utilizou-se
palavras-chave em português, como: violência doméstica, violência contra a mulher,
consequências da violência doméstica, violência de gênero, Lei Maria da Penha,
DSM V. Das palavras-chaves citadas, foram selecionados 10 artigos, 2 trabalhos de
conclusão de pós-graduação e mestrado, 1 lei, 1 capítulo de livro e 4 guias/manuais
digitais e físicos.
É importante salientar que o critério de seleção de artigos, livros, manuais,
guias, para serem analisados, se encaixam no objetivo e critérios de inclusão, que
deve ser sobre violência doméstica; apresentar as formas de violência doméstica;
apresentar os possíveis motivos da violência doméstica; apresentar as
consequências da violência doméstica na vítima; apresentar os comportamentos das
vítimas da violência doméstica; ser de qualquer área; ser publicação com até 15
anos. Já o critério de exclusão, ser artigo e livro com mais de 15 anos de publicação,
exceto material que seja primordial para o entendimento da abordagem; artigo que
não descreva os comportamentos apresentados pela vítima de violência doméstica.
Após a instituição dos critérios de inclusão e exclusão e a leitura dos artigos,
livros, guias, manuais, trabalhos, foram eleitos 5 artigos, 3 trabalhos de conclusão de
mestrado, 1 manual e 1 capítulo de livro para serem base do estudo, apresentado
nos resultados abaixo, esquematizado pelo Quadro 1, que apresentava descrita as
consequências e comportamentos das mulheres, após terem sofrido violência
doméstica.
3 RESULTADOSQuadro 1 - Quadro de seleção dos artigos/capítulo de livro e variáveis que serão
analisadas: Título Autores Ano Área Fatores que contribuem
para a violênciaComportamentos da
vítimaO tratamento psicológico de grupo para mulheres em situação de dependência afetiva e de violência doméstica.
CANAAN-STEIN, Silvia; BAÍA, Pedro Augusto Dias; CANAAN-CARVALHO, Manoella.
2014 Psicologia
-Níveis de Seleção de caráter filogenético, ontogenético e cultural.
- Fumo-Depressão, ansiedade, estresse pós-traumático.-Tendência ao suicídio.-Uso abusivo de álcool e drogas.
Violência doméstica contra a mulher e suas consequências psicológicas.
FONSECA, Paula Martinez da; LUCAS, Taiane Nascimento Souza.
2006 Psicologia
-Comportamento de violência como uma forma de reestabelecer o poder, controle que acredita ter perdido ou até mesmo que nunca teve, ou também confirmação de sua identidade masculina.-Preocupações financeiras, hábitos irritantes, diferenças de opiniões.-Opressão perpetrada pelo sistema capitalista, pelo machismo e pela educação diferenciada.-Álcool, drogas, estresse, cansaço.
-Insônia; pesadelos; falta de concentração; irritabilidade; falta de apetite; depressão; ansiedade; síndrome do pânico; estresse pós-traumático.-Comportamentos autodestrutivos como uso de álcool e drogas; tentativa de suicídio.-Distúrbios na habilidade de se comunicar com os outros, de reconhecer e comprometer-se, de forma realista, com os desafios encontrados.-Desenvolvimento de sentimento de insegurança concernente às decisões a serem tomadas
Violência doméstica e suas diferentes manifestações.
DAY, Vivian Peres et al.
2003 Psiquiatria
-Ser homem.-Ter presenciado violência conjugal quando criança.-Ter sofrido abuso sexual quando criança.-Consumo de álcool e/ou drogas.-Conflito conjugal; pobreza; desemprego.
-Baixa autoestima; depressão; fobia; estresse pós-traumático.-Tendência ao suicídio.-Consumo abusivo de álcool e drogas.
Título Autores Ano Área Fatores que contribuem para a violência
Comportamentos da vítima
Violência doméstica contra a mulher: realidades e representações sociais.
FONSECA, Denire Holanda da; RIBEIRO, Cristiane Galvão; LEAL, Noêmia Soares Barbosa.
2012 Psicologia
-Questões conceituais referentes à distinção entre: poder e coação; vontade consciente e impulso; determinismo e liberdade.
- Faltas no trabalho.-Sentimento de culpa; baixa autoestima; depressão; ansiedade; estresse pós-traumático.- Suicídio.-Desordens alimentares.-Alcoolismo e abuso de outras drogas.- Isolamento.
Homens, gênero e violência contra a mulher.
LIMA, Daniel Costa; BÜCHELE, Fátima; CLÍMACO, Danilo de Assis.
2008 Sociologia
-Teoria do aprendizado social: transmissão da violência de uma geração a outra.-Teoria feminista: poder e dominação masculina sobre as mulheres.
-Intenção e tentativa de suicídio.-Uso de álcool.-Aborto.
Estudo psicossocial de mulheres vítimas de violência doméstica, que mantêm o vínculo conjugal após terem sofrido as agressões.
JACOBUCCI, Patrícia Gugliotta.
2004 Psicologia
-Problemas emocionais ou mentais do agressor.-Álcool e drogas.-Falta de comunicação entre o casal.-Frustração do agressor no emprego, com as metas, com o status econômico.-Mudanças na vida, cotidiano, rotina do agressor.-Autoimagem vulnerável do agressor.
-Absenteísmo no trabalho; diminuição na produtividade.-Isolamento social.-Dependência emocional; sentimentos de culpa.-Tentativa de suicídio.-Depressão; ansiedade.-Homicídio.-Desordens alimentares.-Problemas de personalidade.-Comportamento obsessivo/compulsivo.-Comportamento danoso à saúde; fumar; sexo inseguro.
Violência doméstica- implicações sociológicas, psicológicas e jurídicas do fenómeno.
MASSENA, Ana et al.
2016 Judiciário
-Psicopatologias/perturbação mental.-Álcool e drogas.
-Isolamento social ou evitamento; desvalorização pessoal; falta de confiança.- Tentativas de suicídio ou suicídio consumado.-Perturbações alimentares.-Perturbações de pensamento; hipervigilância; fobias; ataques de pânico.-Sentimentos de medo; vergonha; culpa.
Violência conjugal física contra a mulher na vida: prevalência e impacto imediato na saúde, trabalho e família.
MIRANDA, Milma Pires de Melo; PAULA, Cristiane Silvestre de; BORDIN, Isabel Altenfelder.
2010 Psicologia, Medicina
- Absenteísmo, atrasos e queda de produtividade no trabalho.-Comportamentos de risco que favorecem infecções e acidentes.-Transtorno de estresse pós-traumático (com ou sem suicídio) e abuso e dependência de substâncias.
Título Autores Ano Área Fatores que contribuem para a violência
Comportamentos da Vítima
Violência contra mulheres: reflexões teóricas.
CASIQUE, Letícia Casique; FUREGATO, Antônia Regina Ferreira.
2006 Enfermagem
-Valores autoritários e patriarcais; aceitação da violência como forma de resolver diferenças.-Valorização da violência do papel masculino; aceitação da violência como forma de resolver conflitos entre o casal.-Impulsividade; consumo de álcool e drogas.-Experiências infantis de violência dos pais, da vítima ou do casal maltratado.
-Abuso de álcool, drogas, tabagismo.-Depressão, ansiedade, distúrbio da alimentação e sono.-Sentimento de vergonha, culpa.-Fobia e síndrome do pânico.-Inatividade física, baixa autoestima.-Estresse pós-traumático.-Comportamento sexual inseguro,suicida,autoflagelo.
Perfil psicológico das mulheres vítimas de violência doméstica e suas repercussões.
CARVALHO, Noémia; QUINTAS, Jorge.
2011 Psicologia
- Isolamento social, geográfico, físico ou afetivo.-Poder e o domínio ou influência moral.-Crenças e atitudes; stress; frustração; perturbações mentais ou físicas; vivências infantis de agressão ou de violência parental.-Personalidade da mulher (introspecção; incapacidade de gerir o lar; fragilidade).
-Tentativa de suicídio; fugir de casa.
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.
Analisando-se o quadro acima, pode-se perceber que o artigo e o trabalho de
curso que foram publicados no ano de 2006, apesar de serem de áreas distintas, da
Enfermagem e Psicologia, ambos apresentam informações semelhantes, referente
aos comportamentos da vítima de violência doméstica. Um e outro identificam
comportamentos destrutivos como o abuso de álcool e drogas; depressão;
ansiedade; síndrome do pânico; estresse pós-traumático; baixa autoestima;
comportamentos suicidas. Distúrbios na alimentação e sono; vergonha e culpa;
irritabilidade; insegurança; inatividade física; tabagismo; autoflagelo e
comportamento sexual inseguro, também foram caracterizados como
comportamentos, no artigo.
Em relação ao capítulo de livro publicado em 2014, da área da Psicologia, e o
artigo de 2010, da área da Psicologia e Medicina, revelam os mesmos elementos
apresentados no ano de 2006. Já o artigo do ano de 2003, da área da Psiquiatria,
expõe a fobia como comportamento demonstrado por vítimas de violência
doméstica. O ano de 2012, da área da Psicologia, mostra um artigo, que descreve
as faltas no trabalho e isolamento, como dados novos, e outros já conhecidos dos
outros artigos.
O artigo do ano de 2008, da área da Sociologia, nos aponta o aborto, como
uma atitude tomada por vítima de violência doméstica e demais que foram descritos
acima. Em 2004, da área da Psicologia, os dados colhidos referem-se a diminuição
da produtividade no trabalho; dependência emocional; homicídio; problemas de
personalidade e comportamentos obsessivos/compulsivos mais frequentemente
demonstrados pelas vítimas. O ano de 2016, da área Judiciária, nos revela uma
publicação, em que caracteriza a desvalorização pessoal; falta de confiança;
perturbações de pensamento; hipervigilância e sentimentos de medo. O trabalho de
2011, da área da Psicologia, acrescenta o comportamento de fuga de casa.
Em relação a coluna dos fatores que contribuem para a violência, é
perceptível o quanto o uso de álcool e drogas pode facilitar o comportamento
agressivo do homem, bem como o controle e domínio que o agressor apresenta
para com a mulher, sendo esse comportamento oriundo de crenças pessoais,
influências culturais ou sociais. Estas predisposições mais apresentadas nos artigos
pesquisados, são importantes de serem ressaltadas, pois quando identificadas, são
melhor trabalhadas e tratadas, e assim possivelmente são reduzidos os casos de
violência doméstica.
Através da análise dos resultados, pode-se ressaltar a grande contribuição
que a área da Psicologia oferece para a literatura que descreve as consequências e
comportamentos da vítima da violência doméstica. 5 publicações são da referida
área, talvez pelo fato desta ciência possuir abordagens de atendimentos que são
voltados aos comportamentos humanos, proporcionando assim melhoras e
evoluções neste aspecto nos pacientes.
Com esta pesquisa, nota-se que no ano de 2006 houve mais de um autor que
realizou estudo sobre o tema. Tal fato pode ter ligação com a criação da Lei Nº
11.340, de 7 de Agosto de 2006, a Lei Maria da Penha, citada no presente artigo,
que combate qualquer tipo de violência contra a mulher e também estabelece
medidas protetivas de urgência às mesmas. A maior divulgação da mídia pode ter
sido incentivadora de maiores pesquisas sobre o assunto.
Dos 10 títulos selecionados, apenas um deles exibe a abordagem
quantitativa, com enfoque estatístico, medindo os comportamentos, já os demais são
de abordagem qualitativa, identificando e descrevendo os comportamentos.
Os principais comportamentos desencadeados, apresentados por mulheres
que foram vítimas de violência doméstica, identificados através da apresentação do
Quadro 1, foram uso abusivo de drogas, álcool e fumo; tentativas ou suicídio
consumado; faltas e/ou atrasos no trabalho; depressão; ansiedade; estresse pós-
traumático; baixa autoestima; isolamento social; insegurança.
CONCLUSÃOA partir dos artigos avaliados no presente estudo, foi possível visualizar os
comportamentos comumente apresentados por mulheres que foram vítimas de
violência doméstica. Assim, pode-se chegar a conclusão de que a resposta da
pergunta problema “quais comportamentos as mulheres vítimas de violência
apresentam, após sofrer algum tipo de agressão?”, foi respondida na discussão
acima.
É possível identificar que os comportamentos das mulheres encontrados nos
artigos se encaixam com aqueles apontados como sintomas de alguns transtornos
descritos no DSM, conforme apresentado no referencial teórico deste artigo, sendo
assim existe todo um embasamento teórico e científico para a apresentação destes
comportamentos pelas vítimas.
A vantagem observada nesta pesquisa é que as áreas específicas que as
vítimas possuem maior dificuldade podem ser identificadas, posteriormente em
estudos futuros, será possível elaborar formas de intervenções psicológicas para um
caso real, com base em uma abordagem da Psicologia, na intenção de modificação
dos comportamentos e melhora na qualidade de vida da mulher, mudando assim a
realidade vivenciada.
A relevância deste estudo é alta, visto que existem muitas mulheres que
sofrem violência doméstica e apresentam comportamentos deficitários após a
agressão. Tais comportamentos geram detrimento das relações familiares, sociais e
sentimentais da mulher.
REFERÊNCIAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (recurso eletrônico). Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM 5. Tradução Maria Inês Corrêa Nascimento, ET. AL. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
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