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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
ALESSANDRA MELO
ENFRENTAMENTO DO SOFRIMENTO PSÍQUICO CAUSADO PELO
ALCOOLISMO NA FAMÍLIA
BIGUAÇU
2009
ALESSANDRA MELO
ENFRENTAMENTO DO SOFRIMENTO PSÍQUICO CAUSADO PELO
ALCOOLISMO NA FAMÍLIA
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Enfermeiro, na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Centro de Educação Superior de Biguaçu- Campus B.
Orientadora: Profª MSc Valdete Préve Pereira
BIGUAÇU 2009
ALESSANDRA MELO
SAÚDE MENTAL: ENFRENTAMENTO DO SOFRIMENTO PSÍQUICO
CAUSADO PELO ALCOOLISMO NA FAMÍLIA
Esta monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Enfermagem e aprovada pelo Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí – Centro de Educação Biguaçu.
Área de conhecimento: Ciência da Saúde / Enfermagem
Biguaçu (SC), novembro 2009.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________ Prof.ª MSc. Valdete Préve Pereira
Orientadora
___________________________________________ Profª. MSc. Maria Catarina da Rosa
UNIVALI – Biguaçu Membro
_________________________________________________ Prof.ª Mda Janelice das Neves Azevedo Bastiani
UNIVALI – Biguaçu Membro
4
Dedicatória:
Dedico este trabalho a todas as pessoas que em algum momento de
suas vidas conviveram ou convivem com o problema da
dependência do álcool por seus familiares, principalmente as
mulheres guerreiras que conheci ao fazer esta pesquisa.
5
MEUS AGRADECIMENTOS
A DEUS pelo dom da vida, pela força e determinação com que me agraciou.
Aos meus irmãos Alex e Iara, e meu pai Aloir. AMO VOCÊS.
À minha mãe; mulher de fibra que me serve de exemplo, a quem comparo, em amor e proteção, á
Nossa Senhora Aparecida.
Ao meu amado filho George, que é minha vida, minha força, meu motivo de ser e existir.
Ao meu companheiro Ângelo, homem honrado que me enche de orgulho, que apostou em mim e
me incentivou nos estudos.
A todos aqueles que de alguma forma me ajudaram a colocar as idéias no papel, principalmente, a
amiga Aline que colaborou com a tradução do resumo. OBRIGADA.
Em memória, ao meu eterno amigo Douglas de Maman que, não fosse uma fatalidade do destino,
estaria colando grau comigo.
A todos os amigos que de uma forma ou outra me deram apoio e incentivo, principalmente, às
amigas da parede. ADORO VOCÊS.
Aos mestres, pelo conhecimento repassado.
Às professoras da banca examinadora, Maria Catarina da Rosa, Janelice das Neves Azevedo
Bastiani, obrigada por todo o carinho, conhecimento, sabedoria e apoio.
6
À minha querida orientadora professora Valdete que, com a graça de Deus, é provida de muita
paciência e sabedoria, sempre ajudando e amparando nos momentos mais difíceis, com as palavras certas,
por ter se engajado nesta luta comigo, respeitando minhas idéias e limites.
À minha mais nova companheira e amiga Alessandra da Rosa, que me ajudou e muito, neste
último semestre em que caminhamos juntas.
À minha querida tia Rosa, a mais amada entre todas as tias.
ENFRENTAMENTO DO SOFRIMENTO PSÍQUICO CAUSADO PELO
ALCOOLISMO NA FAMÍLIA
RESUMO O presente estudo é do tipo qualitativo, exploratório, descritivo e tem como objetivo, compreender como se dá o enfrentamento do sofrimento psíquico causado pelo uso abusivo do álcool na família. A pesquisa foi realizada em uma clínica de atenção básica, no município de Biguaçu, SC, com a colaboração de nove mulheres as quais faziam parte do grupo de apoio aos familiares de dependentes. Como referencial teórico utilizou-se a teoria da “Relação Pessoa a Pessoa” de Joyce Travelbee, considerando ser uma teoria interpessoal de enfermagem, que pressupõe a interação entre os profissionais de saúde e paciente, a interação entre seres humanos, na qual não é evidenciado nenhum processo de hierarquia, ambos podem compartilhar seus sentimentos, valores e significados, através do processo de comunicação. É, antes de tudo, uma relação que se faz entre o enfermeiro e o beneficiário de seus cuidados. Os dados foram coletados por meio de entrevista semi estruturadas através de diálogo, em encontros pré estabelecidos e foram analisados a luz do referencial teórico e de outros autores seguindo as etapas da análise de conteúdo, onde foram evidenciados sentimentos que puderam ser agrupados em três categorias: na primeira, aparece a descoberta do problema na família; na segunda, ocorre a conscientização do problema e das perdas e na terceira categoria, aparece o enfrentamento o tratamento e a busca de ajuda para o familiar ou dependente. Pode-se concluir que, neste processo vivencial dos sujeitos, era evidente a fragilidade emocional das entrevistadas que, ao se expressarem, deixavam visíveis sentimentos de dor, angústia e sofrimento psíquicos, desenvolvidos ao longo dos anos de convivência com o problema do alcoolismo na família, como também, em alguns casos já havia a presença deste enfrentamento. Percebeu-se, também, que as dificuldades encontradas pelos familiares, em relatos, são, na maioria das vezes, pela falta de conscientização do próprio doente que não aceita ajuda ou tratamento, nem tão pouco aceita que está doente e dependente de um vício. O estudo oportunizou ao pesquisador, momentos de inter-relação pessoal junto a estas famílias, assim sendo, pode, por alguns momentos de convívio, sentir o drama relatado e vivenciado pelos sujeitos da pesquisa, compreendendo junto com as participantes o significado desta experiência vivida, podendo colocar em prática a teoria de Travelbee, no que tange a relação Pessoa a Pessoa: o oferecimento da ajuda. Palavras-chaves: Alcoolismo. Sofrimento psíquico. Enfermagem.
ABSTRACT
CONFRONTATION OF THE PSYCHIC SUFFERING CAUSED BY FAMILY ALCOHOLISM The present study has qualitative base of research, descriptive method with intention to understand the confrontation of the psychic suffering caused by the abusive use of alcohol in family. This research was made in a clinic of basic attention, in the city of Biguaçu, SC, Brazil, with the contribution of nine women which were part of the group of support to the familiar ones of dependents. As theoretician referential, was used as base the theory of the “Relation Person to Person” of Joyce Travelbee, considering being an interpersonal theory of nursing, that estimates the interaction between health professionals and patients, the interaction between human beings, in which no process of hierarchy is evidenced. Both can share their feelings, values and meanings through communication process. It is before everything a relation that occurs between the nurse and the beneficiary of its cares. Data had been collected by interviews structuralized by means of dialogue, in pre scheduled meetings, and analyzed based on theoretical referential and other authors following the stages of the content analysis, where had been evidenced feelings that could been organized in three stages: At first stage the discovering of alcoholism happens, second stage is the awareness of the problems and losses, followed by the third and last stage where the confrontation occurs: the treatment and the search of aid to the parents or dependent. In this process it can be concluded the evidential emotional fragility of interviewed by means of dialogue, leaving visible feelings of pain, anguish, and psychic suffering, developed throughout the years living with the problem of family alcoholism, as in some cases the confrontation with the problem. It was realized, also, that the difficulties found by familiars in stories, are mostly of the time the lack of acceptance by the proper patient that does not accept help or treatment, neither accept the fact that he is ill or dependent. This study gave the researcher the opportunity to interact with families when they had many moments of drama and difficulty, understanding together with the participants the meaning of this lived experience, in which could be practiced the theory of Travelbee, the Relation Person to Person: The offering of Help. Key words: Alcoholism. Psychic Suffering. Nursing
LISTA DE FIGURAS Figura: 01- Imagem de Joyce Travelbee.........................................................................28
LISTA DE APÊNDICES
Apêndice 1: Termo de compromisso de orientação..........................................................68
Apêndice 2: Termo de consentimento livre e esclarecido.................................................69
Apêndice 3: Consentimento de participação do sujeito.....................................................70
Apêndice 4: Termo de aceite da instituição.......................................................................71
Apêndice 5 : Termo de solicitação para a pesquisa na clinica CIABS.............................72
Apêndice 6: Instrumento para pesquisa e coleta de dados.................................................73 .
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO & JUSTIFICATIVA......................................................................13
2 OBJETIVOS...............................................................................................................16
2.1Objetivo geral..........................................................................................................16
2.2 Objetivos específicos.............................................................................................16
3 REVISÃO DA LITERATURA..................................................................................17
3.1 A dependência química...........................................................................................26
3.1.1 A dependência química e a família.................................................................27
4 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................29
4.1 Teoria da relação Interpessoal por Joyce Travelbee................................................30
4.1.1 Princípios ou pressupostos da teoria de Travelbee.........................................31
4.2 Conceitos inter-relacionados....................................................................................33
4.2.1 Enfermagem....................................................................................................33
4.2.2 Percepção.........................................................................................................33
4.2.3 Comunicação....................................................................................................34
4.2.4 Relação pessoa- pessoa....................................................................................35
4.2.5 Sofrimento........................................................................................................35
5 METODOLOGIA.......................................................................................................38
5.1 Caracterizações da pesquisa....................................................................................38
5.2 Sujeito da pesquisa..................................................................................................39
5.3 Coleta de dados........................................................................................................39
5.4 Aspectos éticos da pesquisa.....................................................................................41
6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.....................................43
6.1 A descoberta do problema em família.....................................................................43
6.2 A conscientização do problema e das perdas...........................................................46
6.3 O enfrentamento: o tratamento e a busca de ajuda..................................................51
12
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................57
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................63
13
1. INTRODUÇÃO & JUSTIFICATIVA
A história da humanidade está permeada pelo consumo de álcool, registros
arqueológicos revelam que os primeiros indícios, sobre este consumo, pelo ser humano,
datam de aproximadamente 6000 a.C., sendo, portanto, um costume muito antigo e que tem
persistido por milhares de anos. A noção de álcool como uma substância divina, por
exemplo, pode ser encontrada em inúmeros exemplos na mitologia, sendo talvez um dos
fatores responsáveis pela manutenção do hábito de beber ao longo do tempo
(FREDERICH, 1974).
Alcoolismo é uma doença reconhecida pela (OMS), Organização Mundial de Saúde,
desde 1967 – que afeta seguramente, dez por cento da população do mundo, sem poupar
sexo, idade, condição sócio-econômica e/ou etnia. A OMS (Organização Mundial de
Saúde) define a dependência do álcool como: estado psíquico e, também, geralmente físico,
resultante da ingestão de álcool, caracterizado por reações de comportamento e outras que
sempre incluem uma compulsão para ingerir álcool de modo contínuo ou periódico, a fim
de experimentar seus efeitos psíquicos e, por vezes, evitar o desconforto de sua falta; a
tolerância ao mesmo podendo ou não estar presente. (RAMOS, 1990, p.17).
Os efeitos deste problema vão bem mais longe do que se podem imaginar, dando
margem a uma séria de indagações e reflexões (OMS, 2001).
Inicialmente, as bebidas tinham conteúdo alcoólico relativamente baixo, como por
exemplo, o vinho e a cerveja, já que dependiam exclusivamente do processo de
fermentação. Com o advento do processo de destilação, introduzido na Europa pelos
árabes, na Idade Média, surgiram novos tipos de bebidas alcoólicas com teores de
concentração muito mais fortes. Nesta época, este tipo de bebida passou a ser considerado
como um remédio para todas as doenças (FREDERICH, 1974).
A partir da Revolução Industrial, registrou-se um grande aumento na oferta deste
tipo de bebida, contribuindo para um maior consumo e, conseqüentemente, gerando um
aumento no número de pessoas que passaram a apresentar alguns problemas de saúde
devido ao uso excessivo de álcool (FREDERICH, 1974).
Segundo Varella 2008, o problema do alcoolismo não diz respeito apenas à pessoa
que consome bebidas alcoólicas. Os membros da sua família, as pessoas mais próximas, são
14
particularmente atingidas no plano afetivo e no seu quotidiano, sentindo-se tão
desamparados como o doente alcoólico (VARELLA, 2008).
A dependência atinge toda a família, dividindo-a e isolando-a do resto do mundo.
Os sentimentos, os pensamentos e o comportamento de cada membro da família são
dirigidos para o consumo de bebidas alcoólicas, pelo familiar dependente. O alcoolismo é,
portanto, mais que um problema individual, na medida em que atinge a família no seu
conjunto.
Considera-se muitas vezes doença do sistema familiar, uma vez que cada um está
envolvido, quer no processo de desenvolvimento do problema, quer na sua resolução;
muitas vezes, a lei do silêncio impõe à família o não pronuncionamento em conjunto,
acerca do problema do álcool. A comunicação fica perturbada e cada qual fica sozinho face
as suas angústias; na verdade, são estas pessoas que mais precisam de ajuda e que nem
sempre conseguem superar seus medos.
O sentimento de vergonha leva a família a evitar os lugares onde possa ser vista
com o familiar alcoolista; este pode, de fato, ter um comportamento vergonhoso sempre
que faz uso indevido do álcool, o que perturba profundamente a sua família e esta vergonha
vai, também, impedir a procura de ajuda externa.
Em geral, por preconceito ou vergonha, procura-se negar o fato e esta resistência só
é vencida, quando a situação fica insustentável e a família inteira desestruturada. Estando o
alcoolista inserido numa família, sofrendo as conseqüências que o mal lhe causa, como uma
doença física, psíquica, emocional, espiritual e social, é impossível que as pessoas do seu
convívio permaneçam alheias à relação (VARELLA, 2008).
O adoecer da família vai acontecendo à medida que evolui e se instala e evolui a
dependência propriamente dita, do alcoolista. É um processo paralelo, onde no ambiente
familiar - o alcoolista, o cônjuge e os filhos convivem e partilham em conjunto de todos os
acontecimentos (fáceis e difíceis, alegres e tristes, da rotina do dia-a-dia, do crescimento da
família, dos filhos), etc... – a família é quem mais sofre as conseqüências, a desagregação e
o adoecer (VARELLA, 2008).
O espaço doméstico passa a ter, em comum, dores físicas e emocionais, como: a
angústia, o medo, a raiva, o ressentimento e os dissabores. O estado etílico provoca o
nervosismo dos que se encontram em casa e não sabem em que estado chegará o familiar
15
alcoolista; as promessas não cumpridas, os sonhos desfeitos, as noites insones, a ausência
total; tudo é sofrimento, decepção, uma verdadeira ‘dor da alma’.
Em suma, os efeitos do álcool no alcoolista, no que diz respeito aos distúrbios
físicos, psicológicos e sociais, serem ‘socializados’ com os que com ele convivem, assim
como as seqüelas por este comportamento, ao longo da vida (MEDEIROS, 2009).
Considerando a mudança de personalidade, alteração de humor, angústia, depressão,
levam a concluir que, sendo o alcoolista um dependente químico do álcool, seus familiares
e as pessoas de sua convivência são co-dependentes, por tudo que adquiriram ao longo
deste processo, este relacionamento tende a se transformar em dilema, e tumulto
(MEDEIROS, 1998).
Considerando as informações expostas acima e, partindo da premissa de que, são
inúmeros os malefícios do álcool em relação à família do usuário, surgiu o maior interesse
pelo tema e que possa, de alguma forma, o presente estudo contribuir para ampliar o
conhecimento sobre este assunto e que repercute cotidianamente em nossa sociedade e em
todas as especialidades médicas bem como, na vida de muitas pessoas.
O vigente tema já debatido em sala de aula, fez com que optasse pelo
desenvolvimento deste trabalho de conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem e que
oportuniza, agora, uma realidade diferente, podendo acompanhar relatos de familiares
envolvidos no problema.
Como futuros profissionais da saúde, temos que estar preparados teoricamente e
emocionalmente, para sabermos enfrentar as situações que ocorrerão no transcurso da
profissão, portanto, devemos conhecer a realidade da família que vivencia e sofre com esse
problema.
Para o desenvolvimento deste estudo optou-se pela teoria da “Relação pessoa a
pessoa” de Joice Travelbee, que servirá de guia na condução do mesmo. E para
compreender melhor o problema da família que convive com o alcoolista pretende-se
responder a seguinte pergunta de pesquisa: como se dá o enfrentamento do sofrimento
psíquico causado pelo alcoolismo na família?
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2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral:
-conhecer o processo de enfretamento do sofrimento psíquico das famílias de
usuários de álcool em seu cotidiano.
2.2 Objetivos específicos:
� Identificar o perfil das participantes;
� Conhecer o contexto familiar;
� Identificar dificuldades na convivência familiar no cotidiano;
� Identificar as preocupações em relação ao familiar e a dependência do álcool;
� Identificar potencialidades e dificuldades que possam ajudar no processo de
enfrentamento;
� Compreender o enfrentamento das dificuldades no meio social.
17
3. REVISÃO DE LITERATURA
O álcool etílico é uma substância psicoativa que atua no Sistema Nervoso Central
(SNC), causando efeitos prazerosos, mudanças de comportamento e podendo causar
repercussões em nível físico, psíquico e social. É considerada uma droga, pois atua como
calmante, reduzindo a ansiedade e a sensação de medo do desconhecido. Pode provocar
pensamentos e atos descontrolados, perda da memória, da concentração e da moderação. O
humor fica em alta para logo em seguida, ficar em baixa (tende a provocar uma euforia
inicial, sendo os efeitos depressores mais evidentes com doses maiores (VARELLA, 2008).
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, a incidência de alcoolismo é
relativamente alta na população, de modo geral (8% a 10%), levando, inclusive, muitos
indivíduos à hospitalização (OMS, 2001).
O alcoolista é uma pessoa com perturbação crônica de comportamento, ingerindo
excessivamente o álcool, excedendo o uso social e dietérico da comunidade em que vive,
chegando a influenciar em seu funcionamento social e econômico.
Na população em geral, muitos são os problemas decorrentes do uso de álcool tais
como: violência, prejuízo na vida escolar, familiar e no trabalho, acidentes de trânsito,
baixa produtividade, aumento da morbidade e mortalidade associado ao uso do álcool
(TEIXEIRA, 2001).
O alcoolismo é uma doença, confirmada pela medicina, porém a maior dificuldade
das pessoas é entender como isso funciona: Alguns acham que é falta de vergonha; outros
que falta a força de vontade para largar o vício, personalidades desajustadas, problemas
sexuais, brigas familiares, etc; outros pensam que é coisa do capeta e outros acham que leva
algum tempo para desenvolver tal dependência (OMS 2004).
Na verdade é que algumas pessoas nascem com o organismo predisposto a reagir de
determinada maneira quando ingerem o álcool, aproximadamente, dez, em cada cem
pessoas, nascem com esta predisposição, porém, só desenvolverão esta doença se fizerem
uso de álcool. Apesar do alcoolismo não ser hereditário, existe uma predisposição orgânica
para o seu desenvolvimento, sendo então, o alcoolismo transmissível de pais para os filhos.
A herança genética pode explicar parcialmente a vulnerabilidade de alguns indivíduos à
dependência do álcool, já que, outros fatores, também, demonstraram estar relacionados.
18
Entre eles podemos citar: estilo de vida, influência do meio, presença de eventos estressores
e capacidade de enfrentamento frente aos problemas ou dificuldades (OMS 2004).
O desenvolvimento do alcoolismo envolve três características: a base genética, o
meio e o indivíduo. Filhos de pais alcoólatras são geneticamente diferentes, porém, só
desenvolverão a doença se estiverem em um meio propício e/ou características psicológicas
favoráveis (OMS, 2001).
Segundo Kaplan 1997, os dados indicam fortemente a presença de um componente
genético em, pelo menos, algumas formas de transtornos relacionados ao álcool.
Os dados para a hereditariedade dos transtornos relacionados ao álcool em homens
são mais poderosos que para as mulheres. Tanto o desenho dos estudos quanto a
interpretação de seus resultados são complicados, contudo, pela provável heterogeneidade
dos transtornos e por prováveis causas poli-gênicas. Estudos tem mostrado que as pessoas
com parentes em primeiro grau afetados com um transtorno relacionado ao álcool estão de
três a quatro vezes mais propensas a terem um transtorno relacionado ao álcool do que as
que não têm parentes de primeiro grau afetados (KAPLAN, 1997).
Os pacientes com transtorno relacionado ao álcool com histórias familiares de abuso
de álcool tendem a ter formas severas do transtorno e a terem índices superiores de
consumo alcoólico e mais problemas relacionados ao álcool do que os pacientes sem
histórias familiares.
Segundo Kaplan (1997), as implicações biológicas da herança genética são
desconhecidas, porém, a única certeza que podemos constatar, de fato, são os estragos
desencadeados pelo uso do álcool que, trazem consigo os sentimentos de tristeza e alegria e
alteram o fundo afetivo da vida psíquica normal. Estudos epidemiológicos estão sendo cada
vez mais direcionados para as pesquisas sobre o consumo de álcool, uma tarefa árdua para
os epidemiologistas que vem se assustando com os resultados obtidos.
Sabemos que, a epidemiologia é “o estudo da distribuição dos estados ou
acontecimentos relacionados à saúde de uma dada população”. Na questão específica do
álcool, a epidemiologia diz respeito ao estudo do número de casos de usuários e/ou
dependentes, além de problemas relacionados ao seu uso. Este artigo traça o panorama
geral sobre o álcool e o alcoolismo no Brasil, abrangendo as seguintes áreas: levantamento
da população geral entre estudantes, meninos de rua e indicadores estatísticos, por este
19
motivo, acho que é de suma importância englobar tais dados á pesquisa, pois, denotam a
importância de políticas de saúde mais vigentes em relação ao tratamento do alcoolismo.
Os estudos epidemiológicos mais abrangentes de uso de álcool, na população geral,
foram os realizados pelo CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas.
Galduróz et al. (2000), pesquisaram as 24 maiores cidades do Estado de São Paulo,
num total de 2.411 entrevistas, estimando que 6,6% da população estavam dependentes do
álcool. Dois anos depois, a mesma população foi pesquisada novamente e constatou-se um
aumento estatisticamente significativo, para 9,4% de dependentes. Outro amplo estudo
domiciliar englobou 107 cidades com mais de 200 mil habitantes correspondendo a
47.045.907 habitantes, ou seja, 27,7% do total do Brasil. A amostra totalizou 8.589
entrevistados. O uso de álcool na vida da população total foi de 68,7%. Esta proporção se
mantém mais ou menos estável para as diferentes faixas etárias, lembrando que entre os 12-
17 anos, 48,3% dos entrevistados já usaram bebidas alcoólicas.
A prevalência da dependência de álcool foi de 11,2%, sendo que 17,1% para o sexo
masculino e 5,7% para o feminino. A prevalência de dependentes foi mais alta nas regiões
Norte e Nordeste, com porcentagens acima dos 16%. Fato mais preocupante foi a
constatação de que no Brasil 5,2% de adolescentes (12 a 17 anos de idade), são
dependentes do álcool. No Norte e Nordeste essas porcentagens ficaram próximas aos 9%.
Outras informações advindas desse levantamento domiciliar foram: o uso de 1 ou 2
doses de bebidas alcoólicas por semana foi considerado um risco grave para a saúde, por
26,7% dos intrevistados. As porcentagens de pessoas que já receberam tratamentos para o
uso de álcool chegaram aos 4,0% do total, sendo de 5,6% para o sexo masculino e 2,5%
para o feminino. A faixa etária, onde apareceram as maiores porcentagens, foi aquela de
pessoas com mais de 18 anos de idade. Com relação às porcentagens de complicações
decorrentes do uso de álcool, apareceram em maiores porcentagens as discussões após o
seu uso, com 5,0% do total, sendo que 7,9% dos homens e 2,1% das mulheres já discutiram
sob efeito do álcool. As quedas, como conseqüências do uso de álcool, foram a segunda
colocada (3,3%) e as outras complicações estiveram em torno dos 2%.
I. B - Levantamentos populacionais específicos:
20
1. Estudante do Ensino Fundamental e Médio:
Os estudos mais amplos, de âmbito nacional e que apresentaram constância de
realização, foram os desenvolvidos pelo CEBRID. Foram realizados um total de quatro
estudos (1987, 1989, 1993, 1997) [5] nas mesmas 10 cidades, com a mesma metodologia,
todos com estudantes de 1º e 2º graus.. Nos quatro levantamentos a cerveja foi a bebida
mais consumida, com cerca de 70% dos estudantes relatando seu uso, seguido pelo vinho
com 27% e destilados por volta dos 3%. Pode-se notar que o uso na vida de álcool se
manteve estável ao longo dos anos, aumentando significativamente apenas em Fortaleza, de
1987 a 1997. Quanto ao uso pesado (pelo menos 20 vezes no mês anterior à pesquisa),
observou-se um aumento significativo na maioria das cidades estudadas, mostrando uma
tendência da juventude beber com mais freqüência nos últimos anos. O uso pesado de
álcool foi maior nas classes sociais mais elevadas: 10,7% dos usuários pesados pertenciam
à classe A; 9,1% da B; 7,6% na C; na D foi de 6,8% e finalmente na E, a mais pobre, com
4,9%. Os usuários pesados de álcool relataram, também, já terem entrado em contato com
outras drogas, assim, 26,5% deles já usaram solventes; maconha, já foi utilizada por 17,3%;
tabaco, por 14,2%; ansiolíticos, por 10,5%; anfetamínicos, por 8,1%; cocaína por 7,2%,
entre as drogas mais citadas.
2. Estudantes do ensino superior:
Em 1994, foi publicado um estudo sobre o uso de bebidas alcoólicas entre os
estudantes de medicina de duas faculdades: uma em Marília, São Paulo, e outra na cidade
de São Paulo (7). Observou-se que, 11,8% dos estudantes do sexo masculino e 1,3% do
feminino foram classificados como bebedores-problema; 4,2% do sexo masculino e 0,8%
do feminino como sendo dependentes de álcool. No mesmo ano, 922 estudantes da
Universidade Federal de Santa Maria (RS), foram entrevistados, dos quais 10% tiveram
prevalência positiva para o CAGE (8).
Outro estudo foi publicado em 1996 por Andrade et al. (9), que aplicaram
questionários sobre o uso de drogas na Universidade de São Paulo – USP. Os resultados
foram separados por áreas de estudo, assim, o álcool teve uso na vida de 88,6% na área de
Humanas; 93,3% na de Biológicas e 92,6 na área de Exatas. Tal qual, nos outros estudos, os
21
homens bebem mais que as mulheres, porém, apenas na área de humanas essa diferença foi
estatisticamente significante (94,0% e 84,0%, respectivamente).
3. Meninos de rua:
Os mais constantes destes estudos foram os do CEBRID, que pesquisou essa
população em 1987, 1989, 1993 e 1997 [10]. Em 1987 observou-se que o uso na vida do
álcool, em São Paulo e Porto Alegre foi, respectivamente, 83,0% e 71,0%. No segundo
levantamento realizado em 1989 obteve-se discreto aumento do uso na vida, 86,0% em São
Paulo e 74,5% em Porto Alegre (11).
No terceiro e quarto estudos do CEBRID houve aumento do número de cidades,
passando para seis capitais pesquisadas, São Paulo, Porto Alegre, Fortaleza, Rio de Janeiro,
Recife e Brasília. O uso diário de bebidas alcoólicas variou de 7,0% entre os meninos de
rua de São Paulo, a nenhum entrevistado em Fortaleza, que bebia diariamente. Por outro
lado, nas seis capitais o uso de solventes liderou todas as prevalências. Por exemplo, em
Recife, 45,1% desses meninos, usavam algum tipo de solvente diariamente.
II. Indicadores epidemiológicos
1. Internação Hospitalares por Dependências de Drogas:
O mais recentes e abrangentes destes estudos foram o de Noto et al. (2002) [12].
Estes autores obtiveram dados junto a hospitais e clínicas psiquiátricas de todo o Brasil, no
período de 1988 a 1999, o álcool foi o responsável por cerca de 90% de todas as
internações hospitalares por dependências, variando de 95,3% em 1988, o que equivale em
números absolutos a 62.242 internações, contra 4.7% (3.062 de todos os outros
diagnósticos de internações por substâncias psicoativas), a 84,4% em 1999. A queda das
internações por alcoolismo na década de 90 pode simplesmente refletir uma ênfase, cada
vez maior, no tratamento ambulatorial, porém, infelizmente, o país não dispõe dessas
estatísticas.
22
2. Dados do instituto médico-legal (IML) / Criminalidade:
Nappo et al., 1996 [13] avaliaram os laudos cadavéricos do IML de São Paulo de
1987 até 1992, totalizando 120.111 laudos. Um total de 18.263 de laudos foram positivo
para a alcoolemia, uma média de 2.605 casos positivos/ano. Duarte e Carlini-Cotrim (2000)
[14], analisaram 130 processos de homicídios ocorridos entre 1990 e 1995 na cidade de
Curitiba. Os resultados mostraram que, 53,6% das vítimas e 58,9% dos autores dos crimes
estavam sob efeitos de bebidas alcoólicas, no momento da ocorrência criminal.
3. Álcool e acidentes de trânsito:
O mais amplo estudo sobre acidentes de trânsito e uso de bebidas alcoólicas foi
realizado em 1997 pela AB DETRAM – Associação Brasileira dos Departamentos de
Trânsito – em quatro capitais brasileiras, Brasília, Curitiba, Recife e Salvador, em que das
865 vítimas, 27,2% apresentaram alcoolemia superior a 0,6g/l, que é o atual limite
permitido pelo Código Nacional de Trânsito de 1997 (15).
Outro importante estudo realizado em 1995 pelo Centro de Estudos do Abuso de
Drogas (CETAD/UFBA) [16], correlacionou o consumo de bebidas alcoólicas em
situações de lazer, ou seja, foram entrevistadas pessoas em bares e na orla marítima de
Salvador, onde constataram que, dos que já tinham sofrido acidentes dirigindo veículos,
37,7% deles, haviam ingerido bebidas alcoólicas na ocasião do episódio (16). Em 1997 o
Instituto Recife de Atenção Integral às Dependências (RAID), [17] realizou estudo
semelhante ao de Salvador e constatou-se que, 23% dos entrevistados apresentavam
alcoolemia de 0,8g/l. De modo geral, os acidentes de trânsito estão relacionados à
concentração alta de álcool no sangue, ocorrem mais freqüentemente, à noite e nos finais de
semana, além disso, em sua maioria, os autores são homens jovens e solteiros (18).
4. Indicadores de mercado de consumo de bebidas alcoólicas:
O famoso jurista brasileiro Sobral Pinto, dizia: “Quando o Brasil criar juízo e se
tornar uma potência mundial, será a cachaça e não o uísque, a bebida do planeta”, porém,
não é a cachaça a bebida com maior consumo per capita em nosso país; a cerveja aparece
em primeiro lugar, com 54 litros per capita/ano; 12 litros de cachaça per capita/ano e o
vinho com 1,8 litros per capita/ano. Segundo estudo da Organização Mundial de Saúde
23
(OMS, 1999) [19], o Brasil estava situado em 63º lugar no uso per capita de álcool, na faixa
etária de 15anos, entre 153 países, um consumo razoavelmente discreto, porém, quando a
OMS compara a evolução do consumo per capitã, entre as décadas de 1970 e 1990, em 137
países, o Brasil apresenta um crescimento de 74,5% no consumo de bebidas alcoólicas.
Nota-se um crescente e imperturbável aumento do consumo de cervejas no país que
é na ordem de 3 a 5% ao ano, com uma produção anual estimada para 2005 de 9.884
milhões de litros (20), cachaça teve, em 2002, uma produção nacional de 1,3 bilhões de
litros, dos quais 14,8 milhões de litros foram exportados. Já, o consumo de vinho teve, em
2000, uma produção de 2,3 milhões de litros.
Convém não se esquecer da produção ilegal de bebidas alcoólicas em nosso país. A
Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE), em 1984, estimava que quase metade do
consumo de destilados no Brasil foi produzida ilegalmente (21). Hoje em dia esses números
não são conhecidos.
Os dados aqui apresentados sugerem dois pontos fundamentais: há necessidade de
se dar mais ênfase aos estudos epidemiológicos no Brasil, não só com a ampliação como,
também, a renovação sistemática dessas pesquisas; o álcool certamente contribui
fortemente na etiologia e manutenção de vários problemas sociais, econômicos e de saúde
enfrentados em nosso país (GALDURÓZ, 2006).
Em se tratando dos problemas gerados pelo álcool, vários sentimentos são
desencadeados e a tristeza constitui-se na resposta humana universal às situações de perda,
derrota, desapontamento e outras adversidades.
Cumpre lembrar que, esta resposta tem valor adaptativo, do ponto de vista
evolucionário, uma vez que, através do retraimento, colocará energia e recursos para o
futuro, e por outro lado, constitui-se em sinal de alerta para os demais, de que a pessoa está
precisando de companhia e ajuda.
Estudos epidemiológicos de grande porte tem demonstrado que a depressão é um
transtorno mental muito freqüente na população em geral e está associada a uma
incapacidade social importante, assim como a maior utilização de serviço de saúde não
especializados, fazendo com que seja uma prioridade de saúde pública. Nas populações,
desatacam-se os fatores de risco ambientais particularmente aqueles ligados à condição de
vida das pessoas. O termo depressão, em seu contexto clínico, não se refere somente a um
24
humor deprimido, mas sim a um complexo sindrômico caracterizado por alterações de
humor, de psicomotricidade e por uma variedade de distúrbios somáticos e
neurovegetativos. (LAFER e BENY, 2000).
No caso de usuários de álcool e seus familiares, são muitos os fatores que
contribuem para o agravamento de sentimentos que se acumulam ao longo da trajetória da
família, permeando os sentimentos de dor e angústia. Nem sempre quem sente angústia
ocasionalmente, sofre de depressão. A angústia pode ser uma manifestação da ansiedade. A
ansiedade é o receio do futuro que não sabem ao certo como enfrentar e se irão enfrentar.
A ansiedade é um recurso utilizado por nós, afim de nos preparar-nos, de certa
forma, para acontecimentos futuros. Quando temos uma prova, um encontro importante,
uma decisão a tomar podemos sentir esta sensação de apreensão; estas sensações surgem e
são momentâneas, fazem parte do cotidiano do ser humano, é o receio do novo e do
inusitado. Nosso organismo lança mão de uma carga extra de adrenalina (CLARET. M,
2002).
Não podemos controlar os acontecimentos e isto gera medo. Podemos controlar
nossas emoções; isso é tranqüilizador. Chamamos de angústia a sensação psicológica,
caracterizada por "abafamento", insegurança, falta de humor, ressentimento e dor. Na
moderna psiquiatria é considerada uma doença que pode produzir problemas
psicossomáticos. A angústia é, também, uma emoção que precede algo (um
acontecimento,uma ocasião, circunstância), pode-se chegar à angústia através de
lembranças traumáticas que dilaceraram ou fragmentaram o ego. Há angústia quando a
integridade psíquica está ameaçada, também, ela costuma existir em estados paranóicos,
onde a percepção é redobrada e em casos de ansiedade persecutória.
A angústia exerce função crucial na simbolização de perigos reais (situação,
circunstância), e imaginários (consequencias temidas).
No tocante à análise do problema da angústia, Arthur Schopenhauer, filósofo
irracionalista, nos apresenta, em sua filosofia uma visão extremamente pessimista da vida:
para ele, viver é necessariamente sofrer. Por mais que se tente conferir algum sentido à
vida, na verdade, ela não possui sentido ou finalidade alguma, a própria vontade é um mal.
Nós queremos vencer, desejamos vencer, mas a vontade gera a angústia e a dor e os mais
tenros momentos de prazer, por mais profícuos que possam vir a ser, são apenas intervalos
25
frente à infelicidade que é viver. A felicidade é, nesse sentido, apenas uma ilusão, restando-
nos a busca de meios para suspender a dor e o sofrimento (CLARET.M, 2002).
Então, o que dizer para quem convive com momentos de angustia e ansiedade,
constantemente, pensando em como está, onde está aquele que padece do uso contínuo do
álcool, para a família estes sentimentos e momentos são a degradação da vida, do viver, são
um contínuo processo de espera e incertezas que custam a paz, a tranqüilidade do ser,
projetando a ameaça futura de desacreditados momentos de tranqüilidade.
É com base em Schopenhauer que, um outro pensador alemão, Friedrich Wilhelm
Nietzsche, concluiu: dentre todos os povos da antiguidade, os gregos foram os que
apresentaram maior sensibilidade para compreender o sofrimento e a tragicidade da
existência humana, como que permeada pela dor, solidão e morte. No entanto, os mesmos
gregos criaram uma sociedade baseada no princípio do equilíbrio: nada em demasia, como
forma de combater todos os nossos instintos e paixões (NIETZSCHE, 1974).
A arte é concebida, nesta concepção da vida, como catarse. Assim, surgiram as
tragédias gregas que, enquanto arte da representação e da aparência, nos colocam, ainda
hoje, em contato com toda a tragicidade e angústia de nossa existência. Segundo Nietzsche,
é preciso ter consciência de que, a vida é sim uma tragédia, para que possamos desviar um
instante os olhos da nossa própria indigência, desse nosso horizonte limitado, colocando
mais alegria em nossas vidas. A arte tem essa função (NIETZSCHE, 1974).
Jean-Paul Sartre, filósofo francês contemporâneo, representante maior da corrente
existencialista, defendeu que a angústia surge no exato momento em que o homem percebe
a sua condenação irrevogável à liberdade, isto é, o homem está condenado a ser livre, posto
que sempre haverá uma opção de escolha: mesmo diante de A, pode optar por não lhe
escolher. Ao perceber tal condenação, ele se sente angustiado em saber que é senhor de seu
destino. Sigmund Freud, pai da Psicanálise, realizou estudos sobre o problema da angústia.
Ele afirmou que, vivemos um profundo mal, o de estar provocado pelo avanço do
capitalismo. Neste ínterim, se faz mister observar, o quão sucestível está o ocidente a
adquirir as doenças próprias desse sistema econômico, tais como, a esquizofrenia. Contudo,
a mais eminente colaboração da psicanálise, para essa temática, pode ser percebida na sua
análise do aparelho psíquico: um conflito interno entre três instâncias psíquicas
fundamentais ao equilíbrio do ser: as vontades (Id) vivem em constante atrito com o
26
instinto repressor superego. O balanço entre as vontades e as repressões tem que ser
buscado pelo ego, a consciência. É o Ego que analisa a possibilidade real de por em prática
uma ação desejada pelo id, desta forma, controla o excessivo rigor imposto pelo superego.
A esse conflito, entre o id e o superego, Freud denominou angústia. Cabe ao ego, portanto,
a busca de um equilíbrio entre estas partes do psíquico e, isto é, entre o sujeito e o todo
social."Pessoas que apresentam o quadro de angústia sem acompanhamento profissional,
desenvolvem outros distúrbios emocionais, tais como cansaço físico-mental, abaixamento
da auto-estima e comportamentos inadequados (CLARET. (M, 2002).
3.1 A dependência quimica
A dependência de qualquer substância psicoativa, ou seja, qualquer droga que altere
o comportamento e que possa causar dependência (álcool, maconha, cocaína, crack,
medicamentos para emagrecer a base de anfetaminas, calmantes indutores de dependência
ou "faixa preta" etc.), se caracteriza quando o indivíduo sente que a droga é tão necessária
(ou mais!) em sua vida, quanto alimento, água, repouso, segurança.
O álcool, embora a maioria das pessoas o separe das drogas ilegais, é uma droga tão
ou mais poderosa, em causar dependência em pessoas predispostas, quanto qualquer uma
outra, ilegal ou não. A dependência química não tem uma causa única, mas sim, é o produto
de vários fatores que atuam ao mesmo tempo, sendo que, às vezes, uns são mais
predominantes naquele paciente específico que outras.
No entanto, sempre há mais de uma causa, por exemplo, existe uma predisposição
física e emocional para a dependência, própria do indivíduo. Vivendo como um
dependente, o paciente acaba tendo uma série de problemas sociais, familiares, sexuais,
profissionais, emocionais, religiosos etc., que são conseqüências e não causa de seu
problema. Portanto, as causas são internas e não externas. Problemas da vida não geram
dependência química. O álcool age no organismo de forma catastrófica desencadeando uma
série de eventos.
A Organização Mundial de Saúde reconhece a dependência química como doença.
Uma doença é uma alteração da estrutura e funcionamento normal da pessoa que lhe seja
prejudicial. Por definição, como a diabete ou a pressão alta, a doença da dependência não é
culpa do dependente; o paciente somente poderá ser responsabilizado por não querer o
27
tratamento, se for o caso. Exatamente, da mesma maneira que poderíamos cobrar do
diabético ou do cardíaco de não querer tomar os medicamentos prescritos ou seguir a dieta
necessária (OMS, 2002).
Dependência química não é; simplesmente, falta de vergonha na cara ou um
problema moral, é preciso desmistificar estes conceitos em nossa sociedade, tendo em vista
que, a dependência é uma doença e, como tal, merece todo apoio e tratamento necessários
ao pronto restabelecimento do indivíduo em questão.
3.1.1 A dependência química e a família
O convívio com o dependente faz com que os familiares adoeçam emocionalmente,
sendo necessário que o familiar, também, se trate e, ao mesmo tempo, receba orientações a
respeito de como lidar com o dependente, como lidar com seus sentimentos em relação ao
dependente, o que fazer, o que não fazer e sobre como proteger todos os membros da
família dos problemas emocionais causados pela doença do dependente.
Muitas vezes, os familiares se assustam quando se fala que, também, eles
necessitam de tratamento, pois ninguém quer ser chamado de doente. No entanto, todos os
familiares de dependentes, que encontramos durante nossa trajetória acadêmica, nos
relataram pelo menos alguma conseqüência ou problema relacionado à dependência de uma
pessoa próxima, como uma constante angústia, preocupação exacerbada, tristeza e
sentimento de impotência. Isto nos faz acreditar que, de nosso ponto de vista, quanto mais
tempo o dependente e o familiar levarem para admitir a real necessidade de ajuda, maior
tempo sofrerá; porém, sabemos que a sociedade cobra atitudes éticas que, por muitas vezes
acabam afastando as famílias dos dependentes, o que acarreta ainda mais sofrimento e
culpa por ambas as partes.
A dependência química dentro de uma família traz uma grande dose de estresse,
transformando-se rapidamente em uma doença a todo o grupo familiar. Este estresse é
responsável pelo rompimento da estabilidade. Frente a tais problemas, são frequentes os
isolamentos sociais, as disfunções sexuais (em ambos), a inversão de papéis, confundindo
assim, a parte com o todo.
A família tem um papel importante na criação de condições relacionadas, tanto ao
uso abusivo de drogas, quanto aos fatores de proteção, funcionando igualmente como
28
antídoto, quando o uso de drogas já estiver instalado (LEITE, 1999).
Segundo Leite (1999, p. 19), “o papel da família é um fator fundamental, tanto na
dependência, como em seu tratamento”.
Complementa o autor, afirmando que:
Alguns estudiosos chegam a considerar a dependência como uma patologia familiar (doença de origem no funcionamento familiar). A genética por um lado, é considerada responsável por 30% dos casos de alcoolismo, embora sua influência seja menor no caso de outras drogas. Por outro lado, a convivência familiar, os relacionamentos interpessoais e seus conflitos ambientais a que todos os integrantes da família estão submetidos, são considerados de importante contribuição para a dependência (LEITE, 1999, p.19).
Engels (2000), refere-se a pesquisas que reforçam a idéia de que é preciso atingir as
famílias e trabalhar os vínculos entre seus membros, nos casos dos indivíduos adictos que
querem sair dessa situação, baseando-se que o tratamento do adicto se beneficiará da inclusão
do sistema familiar no trabalho dos vínculos familiares, devido à ligação entre os mesmos.
Trabalhar as famílias é peça chave no tratamento e recuperação de dependentes,
portanto, o enfermeiro, como profissional da área da saúde, deve estar conscientizado da
magnitude desse problema e preparado para assistir a família e a comunidade em nível de
promoção, prevenção tratamento e reabilitação. As famílias, em si, apresentam mecanismos de
defesa agindo de formas diferentes, quase sempre há poucas expectativas em relação à
recuperação, por este motivo real é que todos os membros da família devem se tratar, não só o
alcoolista. É necessário que eles entendam as etapas da dependência e do tratamento, sabendo
agir de maneira a apoiar e não só criticar negativamente o dependente.
Um dos fatores que levam o alcoólatra a continuar bebendo é a interferência de
forma errônea de familiares que procuram apagar o “ontem à noite”, procurando minimizar
as perdas que a bebida traz. A falta de informação da população, de profissionais
preparados para esse tipo de atendimento, de cursos sobre a dependência química nas
escolas de saúde, levam à ignorância em relação ao que poderia ser uma ajuda real. De fato,
está nas mãos dos profissionais de saúde mudar esta realidade com atitudes plenas e
corretas no que tange o problema do alcoolismo e os problemas por eles desencadeados.
29
4. REFERENCIAL TEÓRICO
Como referência para a construção deste projeto acadêmico, para sustentação teórica de
estudo e ampliação dos conceitos, servindo como guia para a discussão, utilizará a teoria da
relação interpessoal explicitada por Joyce Trevelbee, para melhor abranger as questões que
norteiam nossa pesquisa em relação, às famílias e seu enfrentamento no convívio com
usuários de álcool.
4.1. Teoria da relação interpessoal por Joyce Travelbee
Fonte: Joyce Travelbee, 1926
Joyce Travelbee foi enfermeira psiquiátrica, educadora e escritora, nascida em
1926 e falecida em 1973. Apesar da vida curta, sua contribuição para a enfermagem foi
muito grande. Obteve o título de enfermeira em 1946 na University of New Orleans – USA.
Em 1952 iniciou a carreira como educadora da enfermagem, ensinando Enfermagem
Psiquiátrica em New Orleans. Em 1959 recebeu o título de mestre em Enfermagem pela
Louisiana State University (MELEIS 1997; LEOPARDI, 1999).
Travelbee começou a publicar artigos sobre a enfermagem em meados de 1960.
Em 1966 publicou seu primeiro livro Interpersonal Aspects of Nursing, reeditado em 1971,
em que discute o relacionamento interpessoal. Em 1969 publicou seu segundo livro que, em
Espanhol, recebeu o nome de Intervencion en Enfermeria Psiquiatrica. Em 1973 começou
o programa de doutorado na Flórida, mas não conseguiu terminá-lo, pois morreu
prematuramente nesse mesmo ano (MELEIS 1997; LEOPARDI, 1999).
30
Para Travelbee a enfermagem:
[...] é um processo interpessoal entre dois seres humanos, no qual um deles precisa de ajuda e o outro fornece ajuda. O objetivo desta ajuda é proporcionar os meios para o cliente enfrentar a situação da doença. Aprender com a experiência e encontrar o seu significado (LEOPARDI, 1999, p. 85).
Ao falar sobre o conceito de saúde, TRAVELBEE (1979), discute a definição da
Organização Mundial da Saúde (OMS), dizendo que esta é um juízo de valor que tange à
natureza do ser humano e, esses juízos são definidos como normas culturais, regras e
comportamentos dentro de uma sociedade, significando que eles não são estáticos, mas
formados por concepções vigentes sobre ele e sua natureza, ou seja, sobre a sociedade na
qual esse ser humano vive.
A autora, ao falar de suas crenças sobre a natureza da saúde mental, destaca a
importância de três qualidades: capacidade para amar, para enfrentar a realidade e para
descobrir um propósito ou sentido na vida. A primeira delas é considerada a mais
importante, pois se não amarmos a nós mesmos e os demais não podemos desenvolver
nossa atividade profissional com êxito. Na segunda, enfrentar a realidade salienta que a
principal função da enfermeira é ajudar a pessoa a identificar seus problemas e a enfrentá-
los de forma realista, e assim reconhecer seu papel na experiência e encontrar soluções
práticas para os problemas da vida.
Segundo Travelbee (1979), acredita que a doença ajuda as pessoas a compreender
sua limitação e condição humana. Esta sua concepção está embasada na crença de que a
experiência de doença ajuda o ser humano a crescer e se fortalecer, reconhecendo assim sua
limitação e potencialidade. A experiência de doença leva a pessoa a compreender sua
própria vida levando-o a encontrar, a partir dela, as forças interiores necessárias para a luta
travada na recuperação ou adaptação a uma situação que não pode ser mudada. Mas esse se
adaptar, na visão da autora, não tem o sentido de conformismo, mas de realmente
compreender e aceitar sua realidade e limitação.
Em relação à terceira capacidade – que é a de encontrar um propósito e sentido para
a vida – destaca que a função da enfermeira neste campo é ajudar as pessoas a desenvolver
uma filosofia de vida que lhes dê sustento nos momentos de pressão e sofrimento. Para ela,
o transtorno mental é um uma experiência vivida pelo ser humano que não pode ser
31
experimentada como um rótulo, devendo a pessoa ser aceita e respeitada pelos que a
cercam.
4.1.1. Princípios ou pressupostos da teoria de Travelbee
� A finalidade do cuidado profissional é conseguida através do estabelecimento do
relacionamento pessoa-a-pessoa;
� Somos seres humanos únicos, mas similares em nossa natureza;
� A qualidade e a quantidade do cuidado oferecido ao residente são influenciadas pela
percepção do enfermeiro e do residente;
� Para estabelecer o relacionamento terapêutico, é necessário ir além dos papéis de
enfermeiro e residente;
� A doença e o sofrer são experiências espirituais, físicas e emocionais;
� O enfermeiro estabelece um relacionamento através da comunicação o que lhes
permite cumprir a finalidade dos cuidados;
� O enfermeiro pode ajudar as pessoas a encontrar um significado na sua recuperação
e assim ajudá-los a lidar com ela;
� Bagagem filosófica do enfermeiro ajuda o residente e a sua família a encontrar um
significado na experiência de recuperação;
� É de responsabilidade do enfermeiro ajudar o alcoolista e a família, no processo de
recuperação (TRAVELBEE, 1979).
É muito comum, no Brasil, o uso do referencial teórico de Travelbee pelos
enfermeiros que trabalham em psiquiatria, contudo as escolas de enfermagem são
aquelas que a utilizam com maior freqüência na disciplina de saúde mental e/ou
enfermagem psiquiátrica. Nos últimos anos os conceitos desta autora, também, foram
adotados por profissionais, pesquisadores de outras áreas da enfermagem e isto,
segundo eles, se deu pela preocupação com o ser humano doente e em desenvolver uma
assistência de enfermagem humanizada.
Segundo Meleis (apud LEOPARDI, 1999), há outros pontos baseados na Teoria de
Travelbee, os quais tem importância fundamental para proposta, mesmo que a autora não os
tenha abordado explicitamente, ou seja:
32
� A relação enfermagem/paciente é a essência do propósito da enfermagem;
� Todos os seres humanos passam por certas experiências durante o processo de vida.
Tais experiências podem ser consideradas como totalidades coerentes e podem ser
compreendidas (exemplo: doença, ansiedade, alegria). Então, semelhanças e
similaridades entre seres humanos estão na natureza de suas experiências;
� Classificações tendem a evocar categorias estereotipadas. Enfermeiros devem
lembrar que pacientes são seres humanos que se diferenciam entre si e somente
precisam da assistência de pessoas que acreditam ser capazes de ajudá-los a resolver
os problemas de saúde;
� Relações são estabelecidas quando os parceiros percebem a singularidade um do
outro. Então, tais relações humanas transcendem os papéis e são verdadeiras;
� Estas relações são significativas e efetivas, baseadas nas relações de singularidade;
� As relações enfermeiro/paciente são baseadas na percepção do paciente como um
doente e da enfermagem como um trabalho. Doença é somente compreendida no
contexto de percepção do paciente e do enfermeiro;
� As experiências de doenças, sofrimento e dor podem ser auto-atualizáveis, se os
indivíduos encontram significados nelas;
� Os seres humanos são motivados a procurar e compreender os significados de todas
as experiências de vida;
� Doenças e sofrimentos não são somente conflitos físicos para os seres humanos, são
conflitos emocionais e espirituais também;
� A interação enfermeiro/paciente, quando tem um propósito, preenche os objetivos
de enfermagem;
� A comunicação é um processo que pode capacitar o enfermeiro a estabelecer a
relação enfermeiro/paciente e, se necessário, assisti-los para que busquem
significado naquela experiência;
� Espera-se que os enfermeiros averigúem os significados das mensagens
intercambiadas.
33
4.2 Conceitos inter-relacionados
4.2.1 Enfermagem
Para Travelbee, a enfermagem é um processo interpessoal e um serviço
comprometido com a mudança e a influencia de outros, onde o enfermeiro é o profissional
que assiste o paciente e a família, na prevenção e no enfrentamento da doença e sofrimento,
se possível, os auxilia no encontro de significado para esta experiência. O enfermeiro tem
esta capacidade por ter adquirido um cabedal de conhecimento especializado e é preciso
que tenha percepção desenvolvida a partir de suas experiências e comunicação, já que se
envolve com o paciente estabelecendo assim uma relação pessoa-pessoa (LEOPARDI,
1999).
Em outras palavras, o foco da teoria de Travelbee é a relação pessoa-pessoa, com o
intuito de auxiliar a pessoa e família na compreensão dos processos de dor e sofrimento
vividos. Vêem na relação enfermeiro/paciente os sujeitos da ação, numa relação de
satisfazer as necessidades do paciente, onde o enfermeiro controla e escolhe os métodos
eficazes para a ajuda (LEOPARDI, 1999).
Também, é perceptível na teoria de Travelbee que a sua abordagem dentro da
enfermagem seja ampla, envolvendo não só a pessoa do doente, mas tudo e todos que o
cercam.
Ao definir o enfermeiro, TRAVELBEE (1979), o identifica como uma pessoa com
conhecimento, interessada em ajudar os outros e a si mesma, em prevenir enfermidades,
promover a saúde e ajudar os doentes a encontrar um sentido na vida, a partir de sua
enfermidade. Coloca que, a tarefa do profissional é ajudá-los a encontrar um significado
para a experiência. Esta concepção é fundamental para ajudar os residentes a aderir a
recuperação e encontrar caminhos para enfrentá-la.
4.2.2 Percepção
É o movimento interno de uma pessoa pelo qual toma ciência da realidade,
consciência do mundo que o cerca, em conformidade com suas experiências (LEOPARDI,
1999), fundamental na terapia de recuperação para saber exatamente onde o residente se
encontra, qual a etapa de tratamento ou como se encontra após o tratamento recebido.
34
Relacionando-se a percepção ao residente, pode-se focá-lo no tratamento, durante a
etapa da negação, onde o mesmo não admite ser um dependente. Este “encontrar sentido na
experiência” de que fala Travelbee, faz com que o residente e sua família busquem dentro
de si forças capazes de mudar a realidade, pois vários estudos (SCHNEIDER, 2001;
OLIVEIRA, 2001; MORENO & ALENCASTRE, 2002), descrevem que as famílias
apresentam dificuldades no relacionamento com o dependente químico, como por exemplo,
a falta de habilidade para lidar com situações como agressividade e alterações do humor.
4.2.3 Comunicação
A capacidade humana de se fazer entender e ser entendido troca de informações e
significados sobre o mundo e sobre si mesmo; permite ao enfermeiro estabelecer uma
relação pessoa-pessoa. Portanto, vale aqui repetir que é fundamental, na terapia, saber
exatamente, onde o indivíduo se encontra, no intuito de tratá-lo da melhor forma possível e
será essa comunicação que fará com que o enfermeiro consiga ainda, na etapa da negação,
saber em qual sub-etapa o residente se encontra, ou seja, negando que usa Substâncias
Psicoativas (SPAs), ou admitindo que usem SPAs, mas não vendo problema algum no uso,
por exemplo.
Ao falar da comunicação com o paciente, descreve algumas técnicas que o
enfermeiro pode levar em consideração, entre elas: saber a hora de falar e de calar-se;
discutir temas relevantes e apropriados a cada situação; saber ouvir, mesmo que seus
pensamentos divirjam dos pensamentos do outro; usar seus atributos pessoais, como
caráter, a experiência anterior, o bom senso, o conhecimento científico e a preocupação
com o bem-estar do residente nas diversas etapas de sua recuperação.
Segundo Travelbee 1979, o trabalho do enfermeiro, por sua vez, só será possível a
partir do estabelecimento da comunicação. Comunicar-se com outra pessoa pode ser uma
experiência significativa ou pode não ter nenhum significado, dependendo de como ela é
desenvolvida. É através da comunicação que o enfermeiro descobre a finalidade de seu
cuidado, que ele ajuda os indivíduos e suas famílias a lidar com as experiências da
doença/dependência.
35
4.2.4 Relação pessoa-pessoa
Quanto ao relacionamento terapêutico ou relação pessoa-a-pessoa, o descreve
como uma meta a ser alcançada, sendo resultado final de uma série de interações planejadas
entre os seres humanos – enfermeiro e paciente – durante as quais estes desenvolvem uma
capacidade crescente para estabelecer relações interpessoais. Destaca que uma das
características desta relação é que ambos experienciam o crescimento e mudança de
comportamento (TRAVELBEE, 1979).
Reflete-se assim, com a teoria de Joyce Travelbee, sobre a importância da relação
interpessoal do enfermeiro com a família, a partir do momento em que constata a
dificuldades em se expressar dessa família e, principalmente, em lidar com os mesmos de
uma forma assertiva e tranqüila durante a vivência no processo da crise, abstinência e
recuperação, segundo a teoria de Travelbee, é de suma importância e indispensável a
relação pessoa-pessoa, para a ajuda prestada aos adictos que querem sair dessa situação.
Interação entre seres humanos, na qual não é evidenciado qualquer processo de
hierarquia. Ambos podem compartilhar seus sentimentos, valores e significados através do
processo de comunicação. É antes de tudo uma relação que se faz entre o enfermeiro e o
beneficiário de seus cuidados. Neste estudo a relação pessoa-pessoa acontecerá através da
interação entre os familiares e a pesquisadora acadêmica de enfermagem, para evidenciar
suas perspectivas em relação ao quadro e ao tratamento e recuperação do familiar.
Segundo a autora, como fundamental para o êxito do relacionamento pessoa-a-
pessoa, é o compromisso dos envolvidos. Isto faz com que a relação seja única e original, já
que cada momento não pode ser repetido. Para ela, a interação não pode existir sem
compromisso. Comprometer-se, significa transcender-se e interessar-se pelo bem-estar da
outra pessoa. Quando se refere a transcender quer dizer que o seu compromisso vai muito
mais além do esperado, que envolve e ultrapassa todas as dimensões que envolvem a vida
daquele ser humano. O enfermeiro deve se preocupar com a pessoa como um todo,
inclusive seu lado espiritual e relacional do mundo que a cerca (TRAVELBEE, 1979).
4.2.5 Sofrimento
Na visão de Travelbee, o sofrimento é um sentimento de desprazer que percorre
desde um simples desconforto mental, físico ou espiritual a uma angústia extrema,
36
incluindo as fases além da angustia, que são o desespero e negligência de si mesmo e a fase
terminal da indiferença apática, sendo experiência variável em intensidade, de indivíduo
para indivíduo.
A autora acredita ainda, que o cuidado do enfermeiro com o alcoolista, ainda como
paciente, deve estar pautado no relacionamento humano, envolvendo a empatia, a simpatia
e o rapport. Na segunda edição do seu livro Interpersonal Aspects of Nursing considera que
o enfermeiro deve procurar não somente aliviar a dor física do outro, mas transcender ao
cuidado físico e ver a pessoa inteira, o seu sofrer, o seu estado mental e espiritual
(THOMAS & CARVALHO, 1999).
O Processo de enfermagem desenvolvido por Travelbee apresenta detalhadamente
estas (cinco) fases, citadas abaixo:
1. Fase do encontro original, como primeiro contato entre as pessoas, de modo causal
ou deliberado, voluntário ou determinado por circunstâncias que impedem a
expressão da vontade, como em casos da dificuldade da comunicação, neste caso o
enfermeiro deve buscar a ajuda de familiares ou pessoas significativas da pessoa
enferma. Neste caso, o encontro original é o primeiro contato entre pesquisador
(acadêmico de enfermagem), e participante da pesquisa (cliente), momento em que
o acadêmico de enfermagem coloca-se à disposição do cliente, informando a
disponibilidade profissional em iniciar uma relação de ajuda terapêutica.
2. Fase das identidades emergentes, que ocorre quando os envolvidos se expressam
sua identidade pessoal, seus valores e significados um ao outro, de modo a
estabelecer uma relação pessoa a pessoa. Esta fase acontecerá no primeiro contato
entre pesquisador/participante, quando o acadêmico de enfermagem “provoca” a
comunicação dos sentimentos e percepções do cliente.
3. Fase da empatia ocorre quando o profissional e enfermo expressam o desejo de
estabelecerem um processo de ajuda mútua, por encontrarem receptividade no outro
(LEOPARDI, 1999). Momento em que o acadêmico de enfermagem percebe a
possibilidade de interagir, ouvindo, orientando ou propondo condutas aos clientes.
4. Fase da simpatia é o momento em que se dá o estabelecimento mútuo dos objetivos,
quando o enfermeiro pode colocar-se como apoiador para ajudar a pessoa a
enfrentar sua doença e tratamento (LEOPARDI, 1999). Neste momento o cliente
37
percebe a presença verdadeira do acadêmico de enfermagem como participante
ativo do processo de busca do significado da doença ou experiência vivida, das
possibilidades terapêuticas e os diferentes papéis (profissional e não profissional),
no processo saúde-doença.
5. Fase do Rapport ocorre quando ambos avaliam a relação e os resultados
terapêuticos (LEOPARDI, 1999). Momento em que acadêmico de enfermagem e
cliente consegue avaliar o presente e traçar planos para o futuro.
38
5. METODOLOGIA:
5.1 Caracterização da pesquisa
De acordo com Marconi Lakatos (2003) metodologia é o conjunto de atividades
sistemáticas e racionais, que permite alcançar, com segurança e economia, o objetivo e o
conhecimento a ser seguido, detectando prováveis erros e auxiliando nas decisões dos
cientistas.
Para Gil (1991), é sabido que toda e qualquer classificação se faz mediante algum
critério. Com relação às pesquisas, é usual a classificação com base em seus objetivos
gerais. Assim, é possível classificar as pesquisas em três grandes grupos; exploratórias,
descritivas e explicativas. Segundo Gil (1991, pg. 45) a pesquisa exploratória, visa
proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo explícito ou a
construir hipóteses, tendo como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a
descoberta de intuições.
Já, as pesquisas descritivas vão além da simples identificação da existência de
relações entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa relação. Cita, ainda, a
existência de pesquisas que, “embora definidas como descritivas a partir de seus objetivos,
acabam servindo mais para proporcionar uma nova visão do problema, o que as aproxima
das pesquisas GIL (1991, pg. 46)”.
Gil, (1991), define a pesquisa explicativa dizendo que, esse tipo de pesquisa é “o
que” aprofunda mais o conhecimento da realidade, porque explica a razão das coisas. Por
isso é o tipo mais complexo e delicado, já que o risco de cometer erros aumenta
consideravelmente. Afirma ainda que, o conhecimento científico esteja assentado nos
resultados oferecidos por tais estudos, que se utilizam de pesquisas exploratórias e
descritivas como uma etapa prévia e valem-se, quase exclusivamente, do método
experimental. Gil (1991, p. 46).
Portanto, trata-se de um tipo de pesquisa que pode ou não prescindir de uma
pesquisa descritiva, que descreva o relacionamento entre as variáveis e também, uma
modalidade de pesquisa que se utiliza basicamente de experimentos para inferir as relações
de causalidade, a pesquisa experimental. Também, se torna importante evidenciar a
importância desse tipo de pesquisa para a ciência, uma vez que seu principal propósito é a
39
busca de respostas para uma questão fundamental em qualquer ramo do conhecimento: o
porquê, ou seja, as causas da ocorrência de determinado acontecimento.
Para elaboração do referido estudo objetivamos o método descritivo-qualitativo.
Para Gil (1991), o método descritivo visa descrever as características de determinada
população, envolvendo o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados como
questionário e entrevista, assumindo, em geral, a forma de levantamento. Qualitativo, por
ser o mais indicado ao tratar-se de dados subjetivos, uma vez que permite o contato direto
com o sujeito pesquisado, através do qual ele pode revelar-se tanto em sua fala quanto em
seu silêncio, obtendo-se uma referência a seu respeito e do mundo que o cerca, ou seja, suas
atitudes, valores, aspirações e crenças. Significados estes que, segundo Minayo (2001), vão
além das mensurações quantitativas.
5.2 Sujeitos da pesquisa
Fizeram parte deste estudo apenas 09 das 12 participantes que haviam sido
selecionadas. Todas elas, mulheres, adultas, as quais são usuárias dos serviços de saúde da
CIABS e que aceitaram participar prontamente da pesquisa. Outra característica comum a
estas mulheres é que, apresentam história familiar do sofrimento psíquico, causado pelo
convívio com usuários de álcool. São histórias de vida, onde o enredo é sempre o mesmo,
baseado em dor e sofrimento, mudando apenas os personagens. Em relação aos três
indivíduos que não se envolveram na pesquisa, a primeira alegou que estava sem tempo
para os encontros, pois havia retornado ao trabalho, a segunda esquivou-se dos encontros
sem dar explicação e por fim não consegui mais contato via celular e a terceira, realmente,
não demonstrou interesse.
5.3 Coleta e análise de dados.
A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas semi estruturadas, que seguiram
algumas questões norteadoras, as quais serviram de guia para as entrevistas. Os encontros
foram gravados, transcritos e posteriormente arquivados, com o consentimento dos
participantes, tendo o objetivo de garantir que os dados coletados fossem aproveitados na
íntegra e de forma fidedigna.
40
A partir das respostas às perguntas iniciais de cunho exploratório, realizou-se novos
questionamentos aprofundando a busca de significados com outras perguntas do tipo
descritivas e explicativas.
Foram muitas as dificuldades, para coleta dos dados uma vez que, as participantes
trabalhavam fora, quando estavam em casa, seus companheiros também estavam como
durante a noite e nos fins de semana, neste caso eu não poderia visitá-las, pois, elas não
gostariam que seus companheiros soubessem que estavam participando deste estudo.
Assim sendo, houve muitos imprevistos e, em alguns casos, as entrevistas foram
feitas na rua, sentadas em um banco, ou na própria CIABS; fato este que não implicou, nem
um pouco, na qualidade dos dados coletados, mas sim, contribuíram para uma melhor
aproximação e diálogo, uma vez que ficávamos mais à vontade para falar sobre o assunto.
Pode-se evidenciar durante as horas de diálogo, a força da teoria de Joyce
Travelbee, sobre a importância da relação interpessoal, do enfermeiro com a família, a
partir do momento em que se constata a dificuldades, interação entre seres humanos, na
qual não é evidenciado nenhum processo de hierarquia.
Ambos podem compartilhar seus sentimentos, valores e significados através do
processo de comunicação. É antes de tudo uma relação que se faz entre o enfermeiro e o
beneficiário de seus cuidados. Neste estudo a relação pessoa-pessoa deu-se através da
interação entre as famílias, e pesquisadora acadêmica de enfermagem.
Para Travelbee (1979), o fundamental para o êxito do relacionamento pessoa-a-
pessoa é o compromisso dos envolvidos. Isto faz com que a relação seja única e original, já
que cada momento não pode ser repetido. Para ela, a interação não pode existir sem
compromisso. Comprometer-se, significa transcender-se e interessar-se pelo bem-estar da
outra pessoa.
Quando se refere a transcender quer dizer, que o seu compromisso vai muito mais
além do esperado, envolve e ultrapassa todas as dimensões e cercam a vida daquele ser
humano.
Foi o que de real, pude vivenciar, pois, foram muitos momentos de entrega com
total interação, assim posso afirmar que, o enfermeiro deve se preocupar com a pessoa
como um todo, inclusive, seu lado espiritual, ambiental, e relacional do mundo que a cerca.
41
5.4 Aspectos éticos da pesquisa
Ética é um dos mecanismos de regulação das relações sociais do homem que visa
garantir a coesão social e harmonizar interesses individuais e coletivos. Na atualidade,
vivenciamos uma sociedade pluralista, onde coexistem diferentes compreensões e
interpretações sobre os princípios e valores ético-sociais e não se aceita a existência de
deveres e princípios absolutos, como antes.
A ética, enquanto disciplina, se refere à reflexão crítica sobre o comportamento
humano, reflexão que interpreta, discute e problematiza, investiga os valores, princípios e o
comportamento moral.
A tarefa da ética é a de procurar o estabelecimento das razões que justifiquem o que
“deve ser feito”, e não o “que pode ser feito”.
O ato ético é exclusivo do ser humano, realizado por sujeitos éticos, e deve ser livre,
voluntário e consciente. Para serem julgados eticamente é necessário que se caracterizem
por afetar as pessoas, o meio ambiente ou coletividade (ANTONIO, 2001).
Para realização deste estudo, inicialmente, aguardou-se a resposta do Comitê de
Ética e Pesquisa da UNIVALI, que deferiu parecer favorável à pesquisa.
Foi adotada a recomendação do Parecer 196/96 do Conselho Nacional de Saúde,
que tem o mérito de dar ênfase aos compromissos éticos com os sujeitos da pesquisa, seja
indivíduo, seja coletividade (BRASIL, 1996), como também, o respeito ao Código de Ética
e Deontologia de Enfermagem, assegurando aos participantes, o anonimato e sigilo de suas
informações, bem como o direito de desistirem do estudo quando desejassem, sem
quaisquer formas de alteração na assistência recebida.
Com a Resolução 196/96, estão aprovadas as diretrizes e normas que regulamentam
as pesquisa envolvendo seres humanos. Brasil (1996), afirma que: a Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa- CONEP- é uma comissão do Conselho Nacional de Saúde- CNS, criada
através da Resolução 196/96 e com constituição designada pela Resolução 246/97, com a
função de programar as normas e diretrizes regulamentadoras de pesquisas envolvendo
seres humanos, aprovadas pelo conselho. Tem a função consultiva, deliberativa, normativa
e educativa, atuando conjuntamente com uma rede de Comitês de Ética em Pesquisa –
CEP- organizados nas instituições, onde as pesquisas se realizam. Segundo Ferreira (1986,
pg 383), ética é “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana
42
susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à
determinada sociedade, seja de modo absoluto”.
As entrevistas foram gravadas com a permissão dos indivíduos, que se propuseram
participar da pesquisa foi apresentado e discutido o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido, bem como solicitado o preenchimento do mesmo.
Para a garantia do anonimato dos participantes foram utilizados pseudônimos de
pedras preciosas, sendo elas: RUBI, PÉROLA, ESMERALDA, ÁGATA, AMETISTA,
TOPÁZIO, TURMALINA, QUARTZO, TURQUESA.
43
6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O capítulo a seguir aborda os dados obtidos a partir das entrevistas que, foram
analisados à luz do referencial teórico de Travelbee. Foram semanas de um exaustivo
trabalho, transcrevendo as informações coletadas, ouvindo e repetindo as gravações, para
que nenhum dado fosse perdido ou passasse despercebido. O método descritivo qualitativo
escolhido para este estudo possibilitou o agrupamento de um leque muito grande de dados.
Depois de uma profunda análise, optou-se por agrupar os resultados em três categorias onde
revelaram sentimentos e angústias das entrevistadas que sofrem com o problema do
alcoolismo, tentando ao máximo entender como ocorre o processo do enfrentamento do
sofrimento psíquico causado pelo alcoolismo na família.
Tais categorias foram agrupadas, como:
� A descoberta do problema na família;
� A conscientização do problema e das perdas;
� O enfrentamento: o tratamento e a busca de ajuda
A seguir, apresentação das discussões dos resultados apurados, a partir de cada
categoria.
6.1 A descoberta do problema em família
Falar do álcool e do seu consumo implica em distinguir o consumo moderado e o
consumo excessivo. Ao contrário de outras substâncias tóxicas como, a heroína e a cocaína,
o álcool é uma substância que se aceita um consumo moderado, em adultos saudáveis. A
maior parte das famílias lida com esta substância de forma saudável, outras pelo contrário,
sofrem os malefícios de uma substância que se transforma em uma droga, quando é
consumida em excesso. Neste caso, existem duas tipologias clínicas do problema de
consumo excessivo: o abuso e a dependência ou alcoolismo, tendo sempre,
respectivamente, um aumento da gravidade e dos danos.
O abuso é hoje um padrão de consumo frequente nos adolescentes e jovens adultos,
que se caracteriza pelo uso com intenção de ficar intoxicado e com alterações de
comportamento. As famílias, muitas vezes, não estão sensíveis e preparadas para este
44
problema, desvalorizando o problema junto aos filhos e sem querer estão a incentivar e
perpetuar um padrão de consumo de risco com danos claros para o próprio e para o sistema
familiar, por exemplo, o álcool e a condução é a principal causa de morte dos jovens. Por
outro lado temos o alcoolismo ou síndrome de dependência alcoólica, uma doença cada vez
mais freqüente em idades mais jovens, inclusive em mulheres. (VARELLA 2008).
Um doente alcoolista é uma pessoa que sofre e que faz sofrer aqueles que lhe são
próximos Afetivamente, assim, o alcoolismo é considerada uma doença do sistema familiar,
pois todos são afetados, sendo que o seu tratamento, também, apela a uma abordagem de
todo o sistema.
Não podemos subestimar o problema do alcoolismo, é uma doença grave
progressiva e incurável, cuja única saída será o tratamento e a abstinência total, entendemos
que os danos físicos não são gerados tão eminentes, a não ser após a ingestão regular de
quantidades maiores, por um longo período, mas os efeitos sobre a estrutura espiritual e a
personalidade do ser humano são intensos, mesmo ingerindo-se pequenas quantidades, o
homem se desconecta do aspecto espiritual, provocando a decadência física e psíquica da
sua personalidade. O consumo de bebidas alcoólicas é um traço comum na nossa sociedade
é bastante contraditório, se de um lado traz a aproximação fraterna entre as pessoas, de
outro provoca a destruição do indivíduo e daqueles que o cercam, quando é levado ao uso
excessivo.
As conseqüências físicas na evolução do alcoolismo, mesmo quando o indivíduo
possui uma dieta normal, são acarretados por sérias complicações orgânicas e mesmo de
desnutrição, porque existe um mau aproveitamento dos alimentos ingeridos, além de
problemas digestivos, neurológicos, cardiovasculares, entre outros.
Além destas complicações físicas mencionadas acima, aparecem pela ordem de
freqüência, os seguintes problemas sociais: no trabalho; na família (cônjuge e filhos); no
financeiro; atos de violência; meio habitacional; com amigos; previdenciários legais, etc. É
importante e indispensável que se assuma o problema e encare os fatos, para que haja um
maior controle sobre os distúrbios do álcool na família que passa a ser a maior sofredora.
Em relação aos relatos que veremos a seguir, observa-se que, a descoberta do
problema do álcool na família não demorou muito para acontecer, as famílias em questão,
talvez até, já soubessem do problema, mas, não achavam de fato que seria um problema ou
45
que se tornaria uma doença, somente com a convivência ao longo dos anos juntos foram
revelando a verdadeira face do álcool na família, como veremos nos relatos a seguir.
Turmalina diz:
Desde que nos conhecemos eu com 14 e ele com 16 anos, ele já bebia um pouco e às vezes até ficava bêbado. Éramos muito jovens e eu não me preocupava com isso, não sabia nem mesmo se ficaríamos juntos. Mas nos casamos e as coisas ao passar dos anos foram piorando, vieram os filhos e as brigas eram constantes. Sinto muita tristeza com tudo isso, pois ele é um homem bom e trabalhador, mas quando bebe vira outra pessoa nojenta mesmo.
Esmeralda relata:
Com mais ou menos 16 anos ele já bebia, eu fui notar depois que nos casamos, há uns nove anos, não sabia que ele bebia assim. Tentei ficar com ele, depois acabei engravidando e aceitando mais um tempo. Ia esperar o filho crescer para deixá-lo, veio o segundo filho e a gente foi ficando. Estamos nessa até hoje. Mas agora não tem mais jeito, estou me separando.
Ao analisarmos as falas, fica evidente a presença dos mais variados sentimentos
entre eles: angústia, tristeza. Conforme relatos, a informação do provável alcoolista já
existia, o que faltava era a comprovação, a miúde, do que se deu no processo da
convivência a dois, ficando pior com o passar dos anos.
Na visão de Travelbee 1979, o sofrimento é um sentimento de desprazer que
percorre desde um simples desconforto mental, físico ou espiritual, a uma angústia extrema,
incluindo as fases além da angústia, que são, o desespero e negligência de si mesmo e a
fase terminal da indiferença apática, sendo experiência variável em intensidade, de
indivíduo para indivíduo.
Topázio, também, parecia saber que o marido bebia, somente, não imaginava que
fosse virar um problema de dependência:
Meu marido me falou que foi seu avô quem o ensinou a beber, pois ele achava bonito. Fiquei desesperada ao saber do vicio e como ele bebia muito, perdemos casa, carro, empregos etc. Esta experiência só me trouxe desgraça e destruição. Eu fico em pânico quando ele bebe, me vem o desespero, me sinto muito revoltada, pois minha vida mudou muito.
46
Mais uma vez, surgem os mais variados sentimentos, como a raiva, medo,
desespero, tristeza. As falas são tomadas pela dor e angústia de ter vivido uma história que
poderia ter tomado um rumo diferente não fosse a vontade de vencer o vício e retomar suas
vidas de volta.
Ágata; descreve sua experiência assim:
“[...] Ele chegava em casa bêbado, agredia com palavras eu e meus filhos, e também muitas mentiras. Primeiro eu pensava em me separar, depois no outro dia conversava com ele e ele amenizava no álcool, também eu pensava em meus filhos. Esta experiência foi aterrorizante, só vamos descobrir os defeitos das pessoas com a convivência mesmo. Eu ficava com muita raiva, e tinha que me fingir de cega, surda e muda às vezes.
Quando ouvimos os relatos dos sujeitos, nos deparamos com as necessidades que
estes tem de serem ouvidos e mais do que isto, de sentirem que podem ser ajudados,
quando realmente alguns já perderam as esperanças e estão perdendo as forças.
Para Travelbee (1979), o cuidado do enfermeiro deve estar pautado no
relacionamento humano, envolvendo a empatia, a simpatia e o rapport, considera que o
enfermeiro deve procurar não somente aliviar a dor física do outro, mas transcender ao
cuidado físico e ver a pessoa inteira, o seu sofrer, o seu estado mental e espiritual.
(TRAVELBEE (1979).
Ao falar sobre o conceito de saúde, Travelbee (1979), discute a definição da
Organização Mundial da Saúde (OMS), dizendo que esta é um juízo de valor que tange à
natureza do ser humano e, esses juízos são definidos como normas culturais, regras e
comportamentos dentro de uma sociedade, significando que eles não são estáticos, mas
formados por concepções vigentes sobre ele e sua natureza, ou seja, sobre a sociedade na
qual esse ser humano vive, destaca a importância de três qualidades: capacidade para amar,
para enfrentar a realidade e para descobrir um propósito ou sentido na vida.
Penso ser a primeira delas, a capacidade para amar, a mais importante, pois se não
amarmos a nós mesmos e os demais não podemos desenvolver nossa atividade profissional
com êxito. Na segunda, enfrentar a realidade salienta que a principal função do enfermeiro
é ajudar a pessoa a identificar seus problemas e a enfrentá-los de forma realista, assim,
quando tomamos esta atitude, assumimos de fato nosso papel de enfermeiro, participando
47
ativamente da experiência e colaboramos para encontrar soluções práticas e a resolução
para os problemas da vida.
6.2 A conscientização do problema e das perdas
Em relação à família, “algumas pesquisas sugerem que as reações da esposa e dos
familiares passam por uma seqüência previsível de estágios” (JACKSON, 1954 apud
EDWARDS, 2005, p.74). Edwards (2005), comenta que as evidências não apóiam que
todas as esposas passem pelo mesmo processo, com as mesmas reações, porém existem
atitudes que, por vezes, são “reconhecíveis”. O autor descreve um padrão sequencial da
maioria das mulheres casadas com alcoolistas, com base nos fatores mais recorrentes: de
início, vem a negação do problema; em seguida, as tentativas de controlar ou impedir o
comportamento problemático de seu esposo; a família vai se isolando dos contatos sociais,
permanecendo a maior parte do tempo em casa, como vemos na colocação de
Turmalina que enfatiza:
. Pois só por muito amor por ele é que suportei e suporto tudo até hoje. Acho muito triste essa doença, tenho dentro de casa e com meus irmãos, agora só um deles ainda não conseguiu se livrar, os outros já. Espero que um dia eu olhe para traz e esse vício tenha ficado no passado
Mais tarde, a esposa começa a perceber que suas tentativas e estratégias, para que o
comportamento problemático de seu esposo desapareça, não estão funcionando.
Possivelmente, neste momento “começa a temer pela própria sanidade por vezes se
sentindo desesperançada frente ao caos familiar.
O relacionamento sexual diminui ou cessa e paira uma sensação geral e continuada
de distância, medo ou raiva.
Neste momento, a esposa geralmente aconselha o marido a procurar ajuda e, se ele
não o faz, é grande a chance de o casamento chegar ao fim ou, se continuar, entrar “numa
fase caracterizada por estratégias de evitação (Brasil (2005), e Edwards (2005), comentam
que essencialmente, os problemas que afetam a esposa são de ordem “tanto emocional,
quanto práticas”, ou seja, emocionalmente a vida da mulher pode passar por momentos de
ansiedade, medo, desgosto, decepção, dúvida, raiva, sentimentos de culpa, sensação de
fracasso, carência emocional, baixa auto-estima etc.
Como nos coloca Turquesa:
Esta experiência para mim e minha família significa muita tristeza desunião entre nós, e meus filhos também sofrem muito com isso.
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Tenho pena de meus filhos em ver seu pai chegar em casa alcoolizado e também tenho medo que ele possa nos agredir, as vezes penso em me separar, mas vejo que não consigo viver só e ainda tenho sentimento por ele.Já chorei muito mas agora deixo ele falando sozinho e me calo. Fazer o que.
Já constatamos, como pode ser estressante uma situação em que freqüentemente
existe isolamento social em vez de apoio social, em que não existe nenhuma orientação.
Outro aspecto adicional frequente é o estresse imposto pela imprevisibilidade do que vai
acontecer a esposa nunca sabe como o marido vai chegar do bar. A exaustão criada pela
experiência de lidar com a angústia continuada e os picos de crise ao longo dos anos, talvez
seja a queixa dominante da esposa. Fundamentalmente, a esposa tende lidar com problemas
de nível da realidade (Orford & Edwards, 1977).
Nas falas a seguir, constatamos que as esposas tiveram uma luta incessante na
esperança de salvar seus companheiros do vício e que, mesmo com todo sofrimento,
algumas não abandonaram suas histórias, assumindo o papel de chefes de família e até se
conformando com a situação diante da falta de perspectiva como descreve: Ametista:
Tentei ajudar de todas as formas, internação na área de dependente químico IPQ, e nas reuniões do AA de Biguaçu. Sinto-me decepcionada e impotente diante desta situação. Nossa relação agora esta estremecida devido a falta de confiança. Já vi tanta gente deixar o vício a bebida quem sabe né. Agora já não é mais só a bebida já tem a droga também o ckac. Meus pais sofrem muito.
Powell e Brady (1996), referindo-se a importância do relacionamento humano e da
felicidade, diz que “a nossa vida parece ter a mesma qualidade dos nossos relacionamentos,
somos tão felizes, quanto felizes são os nossos relacionamentos. Um ser humano solitário é
uma contradição em termos”. O autor afirma, também, que a existência de um ser humano
isolado dos outros é como uma planta tentando sobreviver, sem sol ou sem água. Nenhum
novo crescimento pode ocorrer e a vida que existe começa a murchar e lentamente morrerá.
Rubi acrescentou:
No começo é muito difícil você e o doente admitirem que o alcoolismo aos poucos vai te tirando tudo e todos. Você só se da conta quando esta chegando ao fundo do poço. Tive perseverança, paciência, amor, compreensão, sabedoria e discernimento, mas às vezes tudo isso não adianta. Mas graças a Deus meu marido esta há
49
onze anos liberto. Mas ainda tem o medo constante da recaída.
Observamos algumas características em comum, nas experiências relatadas como o
fato de quase todas se sentirem impotentes e incapazes contra o vício, também, o fato de
não abandonarem seus parceiros. Dentro de uma definição sucinta de sofrimento, Daly
(1995a, p. 50), diz que na perspectiva de Parse, O sofrimento “é um peso agonizante
incitado ao se estar com e separado de outras pessoas, objetos, e situações que se mostram
como de uma leveza, com peso emocional suportável”. As descrições dos fenômenos do
sofrimento podem incluir, muitas vezes, conforto ou desconforto, a escolha do sofrer pode
nos ligar aos outros ou nos separa das pessoas.
Não penso que estas pessoas escolheram sofrer, simplesmente sofrer, elas apenas
escolheram sofrer com e ao lado de seus familiares sendo eles, seus filhos, maridos, irmãos.
Observamos uma trajetória única e que às vezes inicia já na infância e se arrasta por
um longo percurso da vida como nos relata Quartzo.
Quartzo não se conforma com o tempo perdido em relação a convivência com seu
pai:
[...] Meu pai bebeu muito por toda minha infância e adolescência, minha mãe sofreu muito, mais não é de demonstrar sentimentos, ela quem criou a gente, deu estudo, educação. Hoje ele não é mais dependente, nossa relação mudou 100% nem parece ser o mesmo pai. Agora temos uma vida normal, mas ele luta contra um câncer. Isso ainda mexe muito e não gosto de ficar lembrando é uma ferida que não cicatrizou. [..]
Milhões de crianças e adolescentes convivem com algum parente alcoolista no
Brasil. As estatísticas mostram que eles estarão mais sujeitos a problemas emocionais e
psiquiátricos do que a população desta faixa etária não exposta ao problema, o que de
forma alguma significa que todos eles serão afetados. Na verdade 59% não desenvolvem
qualquer problema. O primeiro problema que podemos citar é a baixa auto-estima e auto-
imagem com consequentes repercussões negativas sobre o rendimento escolar e demais
áreas do funcionamento mental, inclusive em testes de QI. Esses adolescentes e crianças
tendem quando examinados, a subestimarem suas próprias capacidades e qualidades.
Outros problemas comuns em filhos e parentes de alcoolistas são persistência em mentiras,
roubo, conflitos e brigas com colegas, vadiagem e problemas com o colégio (OMS 2004).
50
Topázio nos coloca ainda outro problema que segundo ela pode ter sido
desencadeado pelo vício do marido.
Tentei ajudar sempre, internando levando para igreja, ele não esta mais tomando, mas tenho medo de recaída. Hoje estou lutando para tirar meu filho das drogas. Por ver o pai sempre bêbado hoje ele esta nas drogas. Ele não esta aceitando ajuda e já estou desesperada.
Turmalina enfatiza que:
Penso em como seria melhor a nossa convivência familiar, poderíamos passear mais, curtir a vida. Pois deixo de ir aos lugares por medo de passar vergonha. Eu o levei no psiquiatra, tomou medicamento por um tempo, mas abandonou o tratamento, daí eu larguei de mão. Ele fala que não é viciado e para quando quiser. Nossa relação esta turbulenta e cansativa, o amor diminuiu com os anos, mas não acabou.
Para Powell e Brady (1996), a solidão é uma das experiências mais dolorosas, é
como se fosse a prisão do espírito humano, quando estamos solitários andamos para lá e
para cá em pequenos mundos introvertidos, cremos que ninguém nos compreende e
realmente não nos importamos muito em compreender os outros.
Sentimos nos relatos acima que, para muitos o divórcio não é uma alternativa. Há a
vontade de estar ao lado do alcoolista e a esperança de o poder ajudar. Só que, para que
sejamos capazes de ajudar alguém, é preciso que estejamos bem e, muitas vezes, o cônjuge
do paciente alcoolista desenvolve estados depressivos que não são diagnosticados. Além
disso, o alcoolista pode recusar-se a admitir o problema e, conseqüentemente, rejeitar a
ajuda terapêutica. Daí que, em muitos casos, o processo terapêutico seja iniciado com o
cônjuge (MORAES 2005).
Segundo Bub e Penna et al. (1994), a família é um sistema interpessoal constituído
por pessoas que interagem por variados motivos, tais como: ligações de afeto e amizade e
para a reprodução, dentro da sua história de vida, mesmo sem habitar o mesmo espaço
físico. É entendida como uma relação social dinâmica que, durante todo o seu processo de
desenvolvimento, assume diferentes estados em função de crenças, valores e normas,
seguindo a cultura de cada família, a classe social a que pertence e as influências
ambientais com que se deparam. “Seus membros podem estar unidos por laços
consangüíneos, de interesse ou de afetividade. A cultura irá determinar a estrutura da
família, o tipo de ligação e a interação entre os seus membros” (PORTELA, 2006, p.51).
51
Macedo e Monteiro (2004), afirmam com segurança que, a família é o primeiro e
principal lugar de crescimento e desenvolvimento, no qual o ser humano tem a base para a
formação da sua personalidade, bem como de seus padrões de relacionamento. A interação
da família é um processo de grande importância nas relações de convívio familiar, assim
como a relação com outras pessoas, por isto a família é parte fundamental para que ocorra
este processo. Sabemos que uma família bem estruturada já não é mais garantia nem
segurança para que os filhos sejam corretos em suas decisões e ações, porém, pior ainda
poderão ser os problemas se este contexto familiar for desestruturado.
6.3 O enfrentamento: o tratamento e a busca de ajuda.
Segundo Moraes 2005, quando uma pessoa é vítima de uma experiência traumática
como um acidente, assalto, agressão, ameaça, sequestro ou violação é expectável que,
durante algum tempo que pode variar entre algumas semanas ou alguns meses, sinta doses
elevadas de ansiedade. A brutalidade destes eventos pode implicar um período de
readaptação a realidade que é variável de pessoa para pessoa. Contudo, aquilo que se espera
é que, mais cedo ou mais tarde, haja recuperação da estabilidade emocional. Se isso não
acontecer, é possível que a pessoa envolvida sofra de uma perturbação de estresse pós-
traumático.
Mas não são somente as vítimas diretas destes episódios que podem sofrer desta
perturbação. Uma pessoa que assista a experiências emocionalmente traumáticas, também,
pode sentir sérias dificuldades em libertar-se da ansiedade e do horror associados aquilo
que testemunhou. Os sintomas do stress pós traumático incluem pensamentos assustadores
recorrentes, memórias da agonia por que a pessoa passou perturbações do sono,
afastamento emocional (em particular em relação às pessoas que até aí eram próximas),
ansiedade exacerbada, desinteresse, hipervigilância, irritabilidade e até violência. Mas esta
sintomatologia pode não ser evidente nos primeiros tempos.
Algumas pessoas só apresentam manifestações do problema anos após o evento
traumático. Além disso, estas manifestações podem desaparecer e reaparecer, sem aviso
prévio. Por exemplo, se uma pessoa tiver sido vítima de um assalto, o simples fato de voltar
a ouvir no rádio do carro a música que estava a tocar na altura pode desencadear um ataque
de ansiedade. Do mesmo modo, o som de uma forte rajada pode desencadear num veterano
52
de guerra comportamentos aparentemente desajustados, como saltar para baixo da cama à
procura de defesa como se estivesse, de novo, debaixo de fogo. (MORAES 2005).
A evolução da própria perturbação, também, é variável em alguns casos, e com a
resposta adequada normalmente através da combinação de fármacos e psicoterapia, a
recuperação ocorre ao fim de aproximadamente seis meses, mas existem outros em que o
tratamento é muito mais prolongado.
Mas, nem todas as pessoas pedem ajuda. Algumas sentem vergonha, outras acham
que devem enfrentar o problema sozinho. E ainda há aquelas que, pura e simplesmente, não
se sentem capazes de enfrentar/ falar sobre o evento traumático.
Quando não é tratada, esta perturbação pode implicar o aparecimento de outros
problemas como depressão, ataque de pânico, alcoolismo ou tóxico-dependência. Um
psicoterapeuta experiente poderá ajudar alguém nestas circunstâncias a restabelecer-se
explorando os pensamentos e as emoções associadas ao trauma, trabalhando eventuais
sentimentos de culpa muito comuns no caso dos sobreviventes de eventos que provocaram
a morte de outras pessoas, explorando as questões relacionadas com a confiança,
implantando estratégias para lidar com as recordações intrusivas e recorrentes e trabalhando
o impacto da própria perturbação nas relações familiares do paciente. (MORAES, 2005).
Nos relatos que veremos a seguir é evidenciado o desgaste do familiar e família. A
procura de ajuda nem sempre é fácil, e acontece geralmente quando já se veem no fundo do
poço como afirma Esmeralda:
Fui procurar ajuda por causa da doença mesmo, estresse, meu corpo me deu sinal eu já não agüentava mais, e fui procurar ajuda na hora certa, senão não sei o que teria sido de mim. A ajuda psicológica foi muito importante e, o grupo também me ajudou muito.
A família deixa de confiar no doente alcoolista que promete sempre que foi a última vez
que bebeu em excesso. Os conflitos são frequentes independentemente de o doente estar
intoxicado ou não.
Os doentes alcoolistas são frequentemente negligentes em relação às responsabilidades
familiares e sentimentos para com a família passam muito tempo fora da família, não
acompanham a educação dos filhos e gastam recursos econômicos que fazem falta em outras
áreas. Dependendo da fase de progressão da doença, chega um momento que o doente faz uso
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ininterrupto do álcool, tudo é pensado em função do álcool, que é papel prioritário em sua vida.
A família vive dia a dia em stress com medo permanente do doente se embriagar e chegar em
casa irritado ou venha a sofrer um acidente, e a consequência disso nas suas vidas é maléfica,
causando patologias como, depressão e um alto nível de estresse.
A família tende a culpar-se secretamente pela situação de alcoolismo que lhes
assombra. Os filhos acham-se maus filhos, achando por essa razão o motivo do uso de álcool
pelos pais.
A lei do silêncio impera entre os membros da família; o alcoolismo é considerado um
segredo da família e a comunicação entre os elementos fica perturbada, levando a solidão dos
seus membros e ao isolamento social.
O sentimento de vergonha leva a família a evitar contatos sociais, com receio do
comportamento inconveniente que o familiar alcoolista poderá vir a ter. Esta vergonha é a razão
que impede muitas famílias de pedirem ajuda, o que contribui para o seu isolamento. Segundo
Varela (2004), fácil falar; difícil fazer. Em geral, por preconceito ou vergonha, procura-se negar
o fato e a resistência só é vencida quando a situação fica insustentável e a família inteira
desestruturada. Disse a esposa de um alcoolista, que quanto mais doente estava, menos
condição tinha de pedir socorro, seja para ela ou para o cônjuge.
Sentimentos que vão se instalando com o tempo de progressão da doença e que vão
desgastando os elementos do sistema que se veem impotentes perante o problema do
familiar. A negação típica do doente alcoolista e a sua dificuldade em pedir ajuda
desgastam a família a ponto de levar à ruptura. (MORAES 2005). PÉROLA, também,
precisou de ajuda e relatou que:
Sempre fui consciente que situações como estas precisam de ajuda. Procurei ajuda dos médicos, pois eu chorava dia e noite, não conseguia controlar o choro, a tristeza, angústia, o pânico era de mais que eu preferia mais morrer a viver.
Percebe-se claramente que realmente o pedido de ajuda do familiar veio tardiamente
quando a saúde já esta completamente abalada. O emocional e o psicológico a esta altura já
sofreram todo tipo de abalo. Neste período é fundamental todo tipo de ajuda, psicológica e
medicamentosa, os profissionais de saúde, devem estar aptos a enfrentarem situações como
esta e saber que o fato de chegar ao momento do pedido de ajuda não foi fácil e realmente
toda atenção deve ser direcionada a esta pessoa, pois para que ela possa ser ajudada tem
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que se sentir segura, e o sigilo profissional e a compreensão são essenciais neste momento e
proporcionarão uma melhor interação entre quem procurou ajuda e quem ira ajudar. Por
trás deste pedido de ajuda estão, anos de dor e sofrimentos que neste momento estão sendo
apresentados em lágrimas ou pânico. É nesta hora que a empatia e amor ao próximo podem
fazer toda a diferença.
Turmalina, também, confirma que precisou de ajuda:
Ao longo destes 20 anos já sofri muito, me separei, mas hoje não dou muita importância, já tive que tomar medicamentos para depressão, o grupo na CIABS me ajudou muito e agora estou bem de saúde.
Para Travelbee (1979), o sofrimento é um sentimento de desprazer que percorre
desde um simples desconforto mental, físico ou espiritual a uma angústia estrema,
incluindo as fases além da angústia, que são o desespero e negligência de si mesmo e a fase
terminal da indiferença apática, sendo experiência variável em intensidade, de indivíduo
para indivíduo.
Ametista relata que:
Busquei ajuda médica, espiritual e psicológica, para ajudá-lo. Hoje me vejo novamente sendo obrigada a retomar o uso de antidepressivo, depois de estar mais de um ano sem. Busquei novamente ajuda médica e agora estou tomando fluoxetina. Não é fácil a gente têm altos e baixos.
Travelbee (1979), acredita que a doença ajuda as pessoas a compreender sua limitação e
condição humana. Esta sua concepção está embasada na crença de que a experiência de doença
ajuda o ser humano a crescer e se fortalecer, reconhecendo, assim, sua limitação e
potencialidade. A experiência de doença leva a pessoa a compreender sua própria vida levando
a encontrar, a partir dela, as forças interiores necessárias para a luta travada na recuperação ou
adaptação a uma situação que não pode ser mudada, porém esse se adaptar, na visão da autora,
não tem o sentido de conformismo, mas de realmente compreender e aceitar sua realidade e
limitação.
Também, é perceptível na teoria de Travelbee que a sua abordagem dentro da
enfermagem é ampla, envolvendo, não só a pessoa do doente, mas tudo e todos que o cercam.
Ao definir o enfermeiro, Travelbee (1979), o identifica como uma pessoa com conhecimento,
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interessada em ajudar os outros e a si mesma, em prevenir enfermidades, promover a saúde e
ajudar os doentes a encontrar um sentido na vida, a partir de sua enfermidade. Coloca que, a
tarefa do profissional é ajudá-los a encontrar um significado para a experiência. Esta concepção
é fundamental para ajudar o alcoolista a aderir à recuperação e encontrar caminhos para
enfrentá-la.
Segundo Morais (1999), diz que qualquer tentativa de tratar usuário isoladamente de
sua família é inútil para ele, pois os principais passos para a promoção da saúde mental e
seu tratamento devem ser planejados dentro do contexto familiar. Isso porque, quando uma
pessoa apresenta um problema mental, não apenas ela sofre, mas também, toda a sua
família e, assim todos precisam de apoio e acompanhamento. Cuidar de alguém é um ato de
muita responsabilidade e, dependendo de quem se cuida o peso desta responsabilidade pode
ser um fardo muito árduo.
Boff (2000), já dizia que, há algo nos seres humanos que não se encontra surgido
em outras espécies. Há milhões de anos no processo evolutivo quando emergiram os
mamíferos, dentro de cuja espécie nos inscrevemos, o nosso processo evolutivo
desenvolveu: o sentimento, a capacidade de emocionar-se, de envolver-se,de afetar e de
sentir-se afetado.Só nós humanos podemos sentar-nos à mesa com o amigo frustrado,
colocar-lhe a mão no ombro, tomar com ele um copo de cerveja e trazer-lhe consolação e
esperança. Construiu o mundo a partir de laços afetivos. Esses laços tornam as pessoas e as
situações preciosas, portadoras de valor. Preocupamo-nos com elas. Tomamos tempo para
dedicar-nos a elas. Sentimos responsabilidade pelo laço que cresceu entre nós e os outros.
A categoria cuidado recolhe todo esse modo de ser. Mostra como funcionamos enquanto
seres humanos (Boff, 2000).
É comum ouvirmos que para cuidar, antes de tudo, é necessário cuidar-se, pois o
cuidador é aquela pessoa que, inspira confiança, acaba com o desespero, luta contra o
medo, inicia ações positivas e produtivas, e sendo assim todos esses valores teriam que
fazer parte das práticas de quem cuida (Guimarães Lopes, 1993).
Saraceno (1999), destaca que a intervenção familiar gera benefícios, tanto para os
membros da família, quanto para o familiar adoecido e para os programas de reabilitação
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que para ele são desenvolvidos. Dessa maneira, a família pode ser considerada através das
expressões alicerce, rede social de acolhimento, rede de suporte e rede terapêutica.
As famílias necessitam de todo apoio possível e é fundamental que os serviços de
saúde estejam aptos a prestar este tipo de atendimento e socorro.
Ao procurarem ajuda os familiares devem receber a segurança que procuram e,
sentirem apoiados e encorajados a continuar seu tratamento, pois somente estando
fortalecidos e bem psicologicamente é que conseguirão dar apoio e o cuidado necessário ao
dependente de álcool.
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As pseudas facilidades e a agitação da vida moderna trouxeram consigo o estresse.
O trânsito, a instabilidade no emprego, a violência, entre outras coisas, fazem com que
recebamos doses diárias de estresse. Mas o estresse em si não é algo ruim, na verdade ele é
uma importante resposta do organismo para a manutenção da vida. Temos que aprender,
portanto, a lidar com ele, não permitindo que o estresse traga conseqüências danosas para a
nossa saúde.
O estresse é uma resposta do organismo frente a um perigo, que prepara o corpo
para fugir ou lutar. Está presente nos animais com a finalidade de preservação da espécie,
como por exemplo, para fugir de um predador. Hoje não precisamos nos defender de
predadores, mas há muitas outras coisas que disparam o gatilho do estresse, que podem ser
externas ou internas, agudas ou crônicas. As externas incluem condições físicas adversas
como dor, frio ou calor excessivo e situações psicologicamente estressantes más condições
de trabalho, problemas de relacionamentos, insegurança, etc. Entre as internas estão
também as condições físicas (doenças em geral) e psicológicas.
Na tentativa de fugir dos momentos de estresse e do sofrimento psíquico vem se
buscando alternativas que não são nada agradáveis aos hábitos de vida que deveriam ser
naturais e menos perigosos, entre estas alternativas estão o uso de drogas e entre elas o uso
de álcool, que tem sido motivo de sofrimentos, desavenças familiares, divórcios, e até casos
de mortes.
O alcoolismo hoje, junto com o uso de outras drogas, já está entre os maiores
problemas de saúde pública do mundo. O álcool está presente em qualquer evento ou
situação que aglomere pessoas, é freqüente nas reuniões de adolescentes e ultimamente
vem funcionando como válvula de escape para amenizar os problemas do dia a dia e da
vida corrida.
Na verdade vem sendo camuflado de todas as formas e o seu uso é uma constante
não escolhendo idade raça ou crédulo. Um fato mais difícil ainda é o dependente aceitar
que está doente e buscar tratamento. Uma das maiores dificuldades no tratamento de
manutenção do paciente é garantir o uso da medicação, por diversos motivos os pacientes
não tomam a medicação corretamente, ou porque não se acham doentes, ou pelos efeitos
colaterais que incomodam muito, e às vezes por mero esquecimento. Este fato compromete
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todo tratamento e a família fica desacreditada de uma recuperação, o que aumenta ainda
mais os níveis de estresse e discórdias.
Diante deste fato, pesquisar sobre alcoolismo e como se dá o enfrentamento do
sofrimento psíquico causado pelo uso abusivo do álcool em família, foi para mim um
desafio. Não imaginava me deparar com as histórias que ouvi, e sinceramente fiquei
surpresa com a gravidade dos problemas gerados pelo uso abusivo de álcool ao alcoolista e
a sua família.
Os fatos relatados parecem saídos das telas do cinema, as histórias se confundem
mudando somente os personagens. O estudo me permitiu questionar de onde viria a força
demonstrada pelas famílias e, também, me fez ver qual tamanha é a fragilidade do ser
humano diante da dependência química seja ela do álcool ou drogas.
Meus melhores momentos de vida acadêmica foram por meio desta pesquisa, em
que me senti realmente estar ajudando alguém, foi justamente quando somente parei para
ouvir estas famílias, pelo fato de somente ter demonstrado empatia, tão pouco o fiz e tão
maravilhoso foi o retorno em forma de confiança e entrega. Pois para estas pessoas eu era
uma completa estranha, no entanto me receberam desarmadas e completamente entregues,
depositando em mim confiança e amizade ao desabafarem suas angustias e sofrimentos.
Neste momento, ficou claro que a escolha da Teórica, Travelbee, não poderia ter
sido a mais acertada; pois, reflete-se assim, sobre a importância da relação do enfermeiro
com a família, a partir do momento em que constata a dificuldades em se expressar dessa
família e, principalmente, em lidar com os mesmos de uma forma assertiva e tranqüila
durante a vivência no processo da crise, abstinência e recuperação, pois, segundo a teoria
da relação interpessoal de Travelbee, é de suma importância e indispensável à relação
pessoa – a – pessoa, para a ajuda prestada aos adictos que querem sair dessa situação.
Interação entre seres humanos, na qual não é evidenciado nenhum processo de hierarquia.
Ambos podem compartilhar seus sentimentos, valores e significados através do processo de
comunicação. Neste caso, o processo de comunicação e o relacionamento pessoa a pessoa,
ou seja, a interação entre pesquisado e pesquisadora, deu-se de forma natural onde ambos
puderam compartilhar sentimentos.
Travelbee (1979), considera que cada ser humano experimenta um aprendizado
onde cada um é afetado com pensamentos, sentimentos e comportamentos do outro. Daí
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pode-se inferir que o profissional ao trabalhar com famílias deve ter consciência de seus
conceitos, pensamentos e atitudes, para que estes não interfiram na relação com o ser
humano/família. O trabalho com famílias não pode ser realizado de forma rígida e sem
espaço para a criatividade, porque as famílias são diferentes entre si.
Apesar de existirem problemas comuns, as pessoas que os vivenciam e o ambiente
em que eles acontecem são diferentes, por isso devem ser conduzidas de formas diferentes
e individualizadas, de preferência com base na realidade de cada um, como, por exemplo,
levando em consideração as crenças, valores, cultura e o conhecimento específico daquela
família. É neste sentido que acredito que os pressupostos de Travelbee podem ser úteis,
pois na sua proposta de relação interpessoal e comunicação ela propõe a compreensão do
outro como um todo, ou seja, como ele é nas suas potencialidades e limitações.
Nesse sentido a autora não faz distinção do papel desempenhado pelos seres
humanos, quer sejam profissional, doente ou família, colocando que a diferença entre eles é
que um precisa de ajuda e o outro pretende ajudar. Consideramos essa visão importante
para compreender o outro e ajudá-lo a encontrar caminhos para a melhoria da qualidade de
vida, tanto da família como do próprio profissional.
A proposta do presente estudo era a de conhecer mais de perto, como se dá o
processo do enfrentamento do sofrimento psíquico causado pelo uso abusivo do álcool em
família. Assim sendo, penso que os objetivos foram alcançados uma vez que, os relatos
mostraram como agem as famílias diante das mais variadas situações provocadas pelo uso
abusivo do álcool e, como tentam resolver os problemas e ajudar o dependente alcoolista.
Ficou-nos claro que as dificuldades são muitas, porém a força e garra das famílias
superam muitas vezes a dependência, conseguindo livrar seu familiar da situação ou
buscando uma forma mais adequada de enfrentamento dos problemas. Porém, em alguns
casos a situação pende para o fracasso onde as famílias se deterioram e a dependência
vence, no entanto ainda resta a dignidade e a garra para continuar lutando, é neste momento
que acontece a procura de ajuda e a recuperação da saúde e da auto-estima.
Vejo que foi de suma importância a participação das famílias para a concretização
deste trabalho, podendo-se assim, identificar um padrão de perfil, onde todas estão
engajadas na mesma luta, compartilhando dos mesmos problemas em maior ou menor
escala. Quanto a teoria de Travelbee, deixa claro que vem a oferecer um novo paradigma
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para “o cuidar’’ na enfermagem, dentro de uma abordagem moderna, inovadora e
desafiadora, centrada no indivíduo e sua família, enfocando os valores e experiências
vividas por estas pessoas, respeitando suas crenças, acreditando em suas potencialidades,
ajudando em suas dificuldades e na superação do ser, por si próprias. Segundo Moreno e
Alencastre (2003), a família vem ocupando um espaço privilegiado nas discussões sobre as
políticas públicas, sendo convidada a tornar-se aliada em um novo modelo de atenção a
saúde.
A luta contra as drogas e o álcool não é específica destas pessoas acompanhadas
aqui, no mundo todo, são milhares de pessoas e famílias lutando por dias melhores, e
esperamos de fato que os tenham. Diante da oportunidade de convivência, baseado nos
relatos que ouvimos, acredito que o eixo central seja mesmo o enfoque da atenção às
famílias que devem estar bem amparadas e estruturadas para poder dar um maior suporte ao
alcoolista. Acredito que a enfermagem esteja instrumentalizando-se, baseada em novas
teorias para realizar um cuidado mais humanizado, contribuindo de forma mais incisiva
para a reforma da assistência, podendo atuar com mais eficiência no que tange os
problemas de alcoolismo e, no tratamento com as famílias de alcoolistas e o próprio
alcoolista. Espero com esta singela pesquisa, ter dado minha pequena contribuição
enquanto acadêmica tentando chamar atenção para um problema de ordem mundial e que
aumenta em proporções alarmantes em todo mundo. Concluo que esta pesquisa me
possibilitou sair da universidade com um olhar mais humanístico para as questões de álcool
e drogas e uma visão mais abrangente da dimensão do problema do alcoolismo no país e no
mundo.
Quanto às políticas públicas de saúde, baseada na Política Nacional do Álcool
determina que ações, devem ser realizadas com o objetivo de reduzir os referidos danos e,
contém princípios fundamentais à sustentação de estratégias para o enfrentamento coletivo
dos problemas relacionados ao consumo de álcool, contemplando a intersetorialidade e a
integralidade de ações para a redução dos danos sociais, à saúde e à vida, causados pelo
consumo desta substância, bem como as situações de violência e criminalidade associadas
ao uso prejudicial de bebidas alcoólicas na população brasileira. (BRASIL1988), uma vez
que, espera-se que governos e autoridades invistam em prevenção e propostas de
tratamento, também em apoio às famílias que são os que mais sofrem a meu ver. Não vejo
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que este estudo apenas tenha acabado aqui, mas sim, aberto portas para que outros venham
a relatar os problemas vivenciados por familiares de dependentes de drogas e álcool.
Baseia-se a idéia de uma necessidade imediata de reavaliar e implementar, ativamente
políticas de expansão, formulação e avaliação da atenção básica, diretrizes que incluam a
dimensão subjetiva dos usuários de álcool e os problemas mais graves ocasionados pelo seu
uso indevido.
Esta é uma forma de compromisso e responsabilidade em relação à produção de
saúde, à busca da eficácia das práticas e à promoção da eqüidade, da integralidade e da
cidadania, num sentido mais amplo (BRASIL 1988).
Uma vez tendo o pesquisador a oportunidade de co-existir com estas famílias
fortalecendo a cada encontro os laços de confiança e ajuda, observou-se claramente que
nem sempre os familiares sabem onde e como procurar ajuda, assim sendo o profissional
enfermeiro da Unidade Básica de Saúde quase sempre irá se deparar com conflitos
envolvendo alcoolismo e drogas. E para que a ajuda possa existir, é imprescindível que este
profissional saiba dos recursos e profissionais disponíveis, para orientar claramente o
familiar podendo apontar um norte na direção que parece não ter rumo acertado.
Enquanto pesquisador conclui que são muitas as direções a serem apontadas, o
passo mais difícil com certeza é o alcoolista pedir ajuda e decidir se tratar, diante desta
possibilidade tem o médico de família, é um profissional importante para a abordagem dos
problemas ligados ao álcool no seio da família. A relação de confiança entre o médico e o
seu paciente e a família, facilitará indiscutivelmente a abordagem do problema da
dependência, quer física quer psíquica. O médico de família pode dar informações
necessárias sobre a doença, falando com o seu paciente procurando soluções realistas. Pode
de acordo com as necessidades, propor locais de tratamento e tratamentos especializados.
Ainda no que diz respeito ao tratamento do alcoolista contamos também, com os
grupos de auto-ajuda, pois, reúnem pessoas que convivem uma dificuldade em comum
ajudando uns aos outros para poder superar e ultrapassar estas dificuldades. Neste caso,
manter a abstinência é a maior dificuldade, a participação regular em reuniões é uma forma
corrente de tratamento. Os grupos estão sempre disponíveis para as pessoas que tenham
problemas de álcool, e que procurem quem os ouça e quem os ajude. Estes grupos são
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conhecidos como; (Alcoólicos Anónimos, Alcoólicos Tratados, etc.), tal como as
instituições especializadas, oferece apoio e ajuda.
Através da convivência do estudo, concluo que os problemas são bem maiores do
que possam aparentar, envolvem famílias, homens de bem pessoas em comum iguais a mim
e você, porém envolvem também profissionais que são e sempre serão a chave fundamental
no fechamento das histórias. Assustou-me a idéia do poder que temos enquanto mediadores
da saúde assustou-me também o fato de algum profissional não estar preparado em relação
aos problemas gerados pelo alcoolismo quando for procurado por uma familiar. Espero ter
aberto os horizontes de todos os profissionais de saúde, sobre a relevância do tema, do
respeito ao próximo, e da importância de despir-se do preconceito e da rotulação do ser
humano enquanto doente ou dependente.
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APÊNDICES.
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APÊNDICE 1: Termo de Compromisso de Orientação
TERMO DE COMPROMISSO DE ORIENTAÇÃO
Eu, Valdete Préve Pereira, professora da disciplina Saúde da Mulher, da Criança, do Adolescente, do Adulto e do Idoso, do Curso de Graduação de Enfermagem, da Universidade do Vale do Itajaí – Centro de Educação – Campus Biguaçú, concordo em orientar a aluna Alessandra Melo no decorrer do desenvolvimento da pesquisa, tendo como tema: ENFRENTAMENTO DO SOFRIMENTO PSÍQUICO CAUSADO PELO ALCOOLISMO NA FAMÍLIA conforme projeto ora submetido à aprovação.
Todos estão cientes das Normas para Elaboração do Trabalho de Conclusão
do Curso, bem como, dos prazos de entrega das tarefas.
Biguaçu, 15/06/2009
_____________________________ Alessandra Melo.
Acadêmica de Enfermagem.
___________________________________ Valdete Préve Pereira
Orientadora
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APÊNDICE 2: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o Projeto de
Pesquisa
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado (a) de forma alguma.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: ENFRENTAMENTO DO SOFRIMENTO PSÍQUICO CAUSADO PELO ALCOOLISMO NA FAMÍLIA. Pesquisador Responsável: Valdete Préve Pereira. Pesquisador participante: Alessandra Melo Telefone para contato: 48 - 99489394 Eu, como acadêmica do Curso de Enfermagem de Biguaçu estou desenvolvendo esta pesquisa que tem como objetivo conhecer o processo de enfrentamento da família em relação ao sofrimento psíquico causado pelo alcoolismo na família afim de que se possa refletir sobre este evento possibilitando a elaboração de novas estratégias para o tratamento e a reabilitação das pessoas submetidas a esta experiência. O levantamento dos dados ocorrerá no período de agosto e setembro/2009 e será realizado com a aplicação de um questionário, em encontros, com data e horário pré estabelecido por você, conforme suas possibilidades. A pesquisa não lhe trará nenhum risco ou prejuízo, muito pelo contrário, os resultados da mesma poderão lhe proporcionar uma reflexão sobre esta fase da sua vida, problema ou situação, como também, produzir conhecimentos que contribuirão com todos àqueles que estejam envolvidos no problema, ou seja, clientes, familiares, profissionais e sociedade em geral. Ao final do estudo será marcado um encontro com os participantes e representantes da instituição para divulgação dos resultados. Será garantido o seu anonimato e o sigilo de todas as informações prestadas. Você poderá retirar o seu consentimento de participação da pesquisa a qualquer tempo.
--------------------------------------- Alessandra Melo Pesquisadora
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APÊNDICE 3; Consentimento de participação do sujeito Eu, _____________________________________, RG_____________, CPF ____________ abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento. Local e data: _________________________________________________ Nome: ________________________________________________________________ Assinatura do Sujeito ou Responsável:______________________________________ Telefone para contato:____________________________________________________
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APÊNDICE 4: Termo de Aceite da Instituição
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ –UNIVALI
CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
TERMO DE ACEITE DA INSTITUIÇÃO
Declaro para devidos fins, que autorizo a realização do projeto de monografia
intitulada, Enfrentamento do sofrimento psíquico causado pelo alcoolismo na
família, na CLINICA CIABS localizada em Biguaçu-SC, no período de julho a outubro
de 2009”.
Tenho ciência de que o projeto será realizado pela acadêmica do Curso de
Graduação de Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação
Biguaçu, Alessandra Melo, sob a orientação da professora orientadora Valdete Préve
Pereira.
Biguaçu,_______ de___________________ de 2009.
______________________________________________________
Assinatura e carimbo do responsável pela instituição.
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APÊNDICE 5: Termo de Solicitação para desenvolvimento da pesquisa na Clinica CIABS
OFÍCIO Nº 01
Termo de Solicitação para desenvolvimento da pesquisa na Clinica CIABS.
Ofício nº 01 Biguaçu, 15 de junho de 2009. Prezada Senhora Eu; Alessandra Melo, Acadêmica do curso de Graduação em Enfermagem da
UNIVALI 7ª fase, sirvo-me do presente instrumento para encaminhar solicitação de
autorização para realização de Projeto de Monografia, nesta unidade de saúde, orientada
pela professora orientadora Valdete Préve Pereira.
Atenciosamente
___________________
Alessandra Melo Acadêmica.
______________________________
Valdete Préve Pereira Orientadora.
________________________________
Maria Ligia dos Reis Bellaguarda Coordenadora do Curso de Enfermagem.
__________________________________ Srª. Andréia Teixeira
Coordenadora da Clínica CIABS
Biguaçu-SC
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APÊNDICE 6: Questões Norteadoras
INSTRUMENTO DE PESQUISA
QUESTÕES NORTEADORAS
I – IDENTIFICAÇÃO: CODINOME:_______________________________________ __________________ Idade: _________ Sexo: ( ) Masc. ( ) Fem. Formação: ( ) 1º Grau completo - incompleto ( ) 2º Grau completo( ) incompleto ( ) Superior completo ( ) incompleto( ) completando( ) Ocupação Profissional: _______________________________ Grau de parentesco com usuário de álcool familiar pai ( ) mãe( ) irmão(â) ( ) outros especificar_______________________ O que espera da pesquisa? Apoio ( ) ajuda( ) orientação( ) somente participar( ) Há quanto tempo convive com o problema? Especificar em ____anos_____meses___dias.
1. Como iniciou o problema?
2. Qual foi a sua reação no início?
3. O que significou esta experiência para você e seus familiares a família?
4. Quais as perdas mais graves?
5. Que sentimentos lhes trazem esta experiência?
6. Como lidou com esta experiência? E com seus sentimentos?
7. Teve algum prejuízo em sua saúde? Qual? Tomou alguma providência
para resolvê-los?
8. Quando você pensa no seu familiar e a relação com o uso abusivo de
álcool, o que lhe vem à cabeça?
9. Você tentou ajudar seu familiar? Como?
10. Como os demais familiares lidam com este problema?
11 Como esta a sua relação com o familiar dependente?
12 Por que resolveu procurar ajuda?
13 Quanto tempo você levou para se conscientizar de que você ou sua família
precisava de ajuda?
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