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12/11/12 Técnicas construtiv as do período colonial – I | Coisas da Arquitetura 1/12 coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/09/06/tecnicas-construtiv as-do-periodo-colonial-i/ Coisas da Arquitetura Just another WordPress.com weblog Técnicas construtivas do período colonial – I Publicado em 06/09/2010 | 8 Comentários Sílvio Colin Foto Pedro Martinelli A alvenaria é uma técnica de confecção de muros utilizando tijolos, lajotas ou pedras de mão, aglutinados entre si por meio de uma argamassa. No período do Brasil colonial as argamassas mais utilizadas eram de cal e areia ou de barro. O adobe é uma lajota feita de barro com dimensões aproximadas de 20 x 20 x 40 cm, compactados manualmente em formas de madeira, postos a secar à sombra durante certo numero de dias e depois ao sol. O barro deve conter dosagem correta de argila e areia, para não ficar nem muito quebradiça, nem demasiadamente plástica. Para melhorar sua resistência, pode-se acrescentar fibras vegetais ou estrume de boi. As lajotas assim confeccionadas são assentadas com barro, e revestidas com reboco de argamassa de cal e areia. Embora encontremos importantes construções feitas inteiramente de adobe, como a matriz de Santa Rita Durão, MG[1] , o material era usualmente reservado a divisórias interiores.

Técnicas construtivas do período colonial – I _ Coisas da Arquitetura

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    Coisas da ArquiteturaJust another WordPress.com weblog

    Tcnicas construtivas do perodo colonial IPublicado em 06/09/2010 | 8 Comentrios

    Slvio Colin

    Foto Pedro Martinelli

    A alvenaria uma tcnica de confeco de muros utilizando tijolos, lajotas ou pedras de mo,

    aglutinados entre si por meio de uma argamassa. No perodo do Brasil colonial as argamassas mais

    utilizadas eram de cal e areia ou de barro.

    O adobe uma lajota feita de barro com dimenses aproximadas de 20 x 20 x 40 cm, compactados

    manualmente em formas de madeira, postos a secar sombra durante certo numero de dias e depois

    ao sol. O barro deve conter dosagem correta de argila e areia, para no ficar nem muito quebradia,

    nem demasiadamente plstica. Para melhorar sua resistncia, pode-se acrescentar fibras vegetais ou

    estrume de boi. As lajotas assim confeccionadas so assentadas com barro, e revestidas com reboco

    de argamassa de cal e areia. Embora encontremos importantes construes feitas inteiramente de

    adobe, como a matriz de Santa Rita Duro, MG[1], o material era usualmente reservado a div isrias

    interiores.

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    Fig. 1 Adobe. Confeco e assentamento

    Usando a mesma matria prima a argila, o tijolo cermico difere do adobe pelas suas dimenses

    menores e pelo fato de ser cozido em fornos, a altas temperaturas. Sua durabilidade o rivaliza com a

    pedra. Foi talvez o primeiro material de construo durvel utilizado pelo homem. Alis, mesmo o

    homem fora feito de argila, de acordo com a Bblia, que ensinava a utiliz-lo [2],e sua presena

    assinalava para a possibilidade de v ida sedentria, junto aos aluv ies dos rios. O Porto de Ishtar, na

    Babilnia, do sculo IV a.C. e a Muralha da China, do sculo III a.C., constituem-se em exemplos no

    somente da durabilidade como tambm do grau de evoluo a que chegou esta tcnica no perodo

    proto-histrico. Desde o sculo XVII, o tijolo era comumente empregado na Bahia e em 17 11 j

    existe registro de uma olaria em Ouro Preto. A precariedade de condies, entretanto, reservava a

    maior parte da produo das olarias para telhas. As alvenarias de tijolos somente vo se tornar

    comuns no sculo XIX. Nos sculos precedentes perde, em importncia para a taipa de pilo, a pedra

    e cal, e mesmo o adobe. Encontramos, entretanto, fiadas de tijolos associadas pedra em muros de

    pedra e cal.

    Fig. 2 Alvenaria de tijolos. Aparelhos.

    Era o material que conferia maior resistncia aos muros, razo porque era utilizada nas fortificaes,

    igrejas monumentais e nas construes oficiais. No incio da colonizao, ainda no sculo XVI, j

    encontramos construes assim realizadas. o caso da torre que Duarte Coelho ergueu em Olinda

    em 1535. Foi a tcnica preferida das igrejas de Ouro Preto [3].

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    Fig. 3 Alvenaria de pedra

    As pedras utilizadas eram calcrios, arenitos ou pedra de rio e granitos , no Rio de Janeiro, e mesmo

    a pedra-sabo e a canga [4], em Minas. As argamassas eram cal e areia, mais resistente, ou o barro,

    onde no existia a disponibilidade de cal. As pedras eram de tamanho varivel, at 40 cm na maior

    dimenso ou mais, e acabamento irregular, sem qualquer trabalho de aparelhagem. Pedras menores

    eram colocadas para calar as maiores.

    Na alvenaria de pedra seca, dispensada a argamassa. As paredes tm grande espessura (0,60 a 1 ,00

    m) e so assentadas com a ajuda de formas de madeira. Esta tcnica mais utilizada para muros

    exteriores. As pedras de mo, maiores, contornadas por pedras menores recebe o nome de

    cangicado.

    Fig. 4 Canjicado.

    Por cantaria entendemos o serv io utilizando a pedra lavrada de maneira precisa, de modo que as

    peas se ajustam perfeitamente umas sobre as outras sem o auxlio de argamassa aglutinante. Para o

    assentamento rigoroso utilizam-se grampos metlicos e, s vezes, leo de baleia como adesivo, para

    auxiliar na vedao. Apesar de ser um serv io sofisticado, que exige profissional bastante habilitado

    o canteiro, tambm milenar. Os templos gregos e romanos, as grandes catedrais medievais

    foram, em sua maioria, executados em cantaria.

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    Fig. 5 Aparelho de cantaria e aparelho misto de cantaria e alvenaria de pedra.

    No Brasil, entretanto, como tambm em Portugal, dev ido dificuldade de mo de obra qualificada e

    tambm devido ao custo, a cantaria no era utilizada na totalidade do edifcio, mas apenas em suas

    partes mais importantes: nos frontispcios, nas soleiras, nas pilastras, nas cornijas, nos portais, nas

    janelas e nos cunhais, sendo, no restante das vedaes, utilizada outra tcnica mural. O aparelho das

    pedras no era muito elaborado, exceto no Rio de Janeiro, a partir da segunda metade do

    sculo XVIII.

    Fig 6. Portal de cantaria. Imagem RODRIGUES, 197 9.

    A taipa de pilo foi o material mais empregado nas construes coloniais no Brasil, dev ido

    sobretudo abundncia de matria prima o barro vermelho, relativa facilidade de execuo,

    satisfatria durabilidade [5] e s excelentes condies de proteo que oferece quando recebem

    manuteno adequada. uma tcnica de origem mourisca praticada pelos portugueses e espanhis

    desde tempos imemoriais, conhecida tambm pelos negros africanos. Era de uso comum na Europa,

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    at meados do sculo XIX. Na Frana recebia o nome de pis.

    Fig. 7 Taipal e pilo. Imagem BARDOU, 1981, p. 19

    A tcnica consiste em amassar com um pilo o barro colocado em formas de madeira, os taipais,

    semelhantes s formas de concreto utilizadas hoje. Os taipais tm somente os elementos laterais, e

    so estruturados por tbuas e montantes de madeira, fixados por meio de cunhas, em baixo, e um

    torniquete em cima. Suas dimenses so de aproximadamente 1 ,0 m de altura por 3,0 a 4,0 m

    lateralmente, e tm a espessura final da parede, 0,6 m a 1 m. Aps a secagem, o taipal desmontado

    e deslocado para a posio v izinha. E assim sucessivamente.

    Fig. 8 Execuo da taipa de pilo. Imagem BARDOU, 1981, p. 20.

    Os critrios de escolha do barro no se conservaram plenamente, de vez que dependia de tradio

    oral e ficou perdida no tempo. Sabe-se que, semelhante ao adobe, deve ser uma mistura bem dosada

    de argila e areia e alguma fibra vegetal, crina de animal ou mesmo estrume. Podia-se tambm

    misturar leo de baleia, que conferia uma resistncia extraordinria [6]. O barro colocado em

    pequenas quantidades, em camadas sucessivas de aproximadamente 20 cm, que se reduzem a 10 ou

    15 cm depois de comprimidas.

    A secagem durava de 4 a 6 meses, findos os quais as paredes poderiam receber revestimento,

    geralmente argamassa de cal e areia, que lhe aumentava a resistncia. A esta argamassa era, s vezes

    acrescentada bosta de vaca. O resultado era uma argamassa capaz de resistir mais forte e

    duradoura chuva [7 ]. Como a parede no podia receber gua de chuva, alguma prov idncias eram

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    tomadas, entre elas o uso de grandes beirais e a elevao acima do terreno com alvenaria de pedra.

    Paulo Santos nos fala de uma construo existente em Cabo Frio, datando de pelo menos trs

    sculos, de taipa de pilo, cuja resistncia to grande, a ponto de se assemelhar ao nosso

    concreto [8] Uma variante do sistema, chamado formigo [9], consiste em misturar massa de

    barro pedras midas e pedras maiores (pedras de mo).

    A taipa de pilo foi mais utilizada nas regies de So Paulo e Gois. Em Minas, a encontramos em

    igrejas mais antigas e em residncias. Nas cadeias, quando no era possvel sua execuo com pedra

    e cal, a taipa era reforada com engradamento de madeira, nas paredes e nos pisos.

    Fig. 9 Taipa de pilo reforada com madeira, utilizada nas cadeias. Fonte BARRETO, P. T. Casas de

    cmara e cadeia In: Arquitetura Oficial I,

    Pau-a-pique, taipa de sebe, taipa de mo, barro armado ou taipa de sopapo, so diversos nomes

    para um dos sistemas mais utilizados tanto nos tempos da colnia como ainda hoje em construes

    rurais, dev ido a suas qualidades baixssimo custo (todos os materiais so naturais), resistncia e

    durabilidade. Conhecido dos indgenas e dos negros africanos, utilizado no Nordeste, nos Massaps

    e em Minas.

    Fig. 10 Construo em pau-a-pique rustica. Imagem BARDOU, 198, p. 49.

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    Na sua verso mais depurada, consiste em uma estrutura mestra de peas de madeira, cuja seo

    pode variar 50 x 50 cm, 40 x 40 cm at 20 x 20 cm composta de esteios peas verticais enterradas

    no solo, baldrames peas horizontais inferiores, e frechais peas horizontais superiores. Os

    esteios tem comprimento de at 15 m, dos quais 2 a 4 m so enterrados.

    Fig. 11 Construo em pau-a-pique apurada. Detalhe. Imagem SANTOS, 1951

    A parte extrema dos esteios, que ficava enterrada no era afeioada em seo quadrada, mantendo a

    forma rolia das rvores. Era popularmente denominada nabo. As madeiras preferidas era a Aroeira

    ou Brana. Os baldrames era ligados aos esteios por sambladuras tipo rabo-de-andorinha. Entre os

    esteios e os frechais eram ento colocados paus rolios verticais (paus-a-pique), de

    aproximadamente 10 cm de dimetro. A este eram ligados horizontalmente outros mais finos,

    compondo uma malha quadrangular, em apenas um dos lados ou nos dois lados. Esta trama era

    amarrada com cordes de seda, linho, cnhamo ou buriti. Feita a trama, o barro era jogado e

    apertado com as mos, da o nome de sopapo.

    Fig. 12 Elementos de estrutura em pau-a-pique apurada. Imagem SANTOS, 1951

    No caso de paredes muito altas, utilizam-se peas intermedirias entre o baldrame e o frechal,

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    denominadas madres [10]. Sob os baldrames esto os socos, o espao preenchido com alvenaria,

    funcionando apenas para vedao. Para reforo do baldrame, entre este e o solo, pode-se colocar

    peas de madeira, denominadas burros.

    Paulo Santos nos informa de diversas igrejas de Minas construdas por esta tcnica: Santa Rita e

    Nossa Senhora do , em Sabar, Matriz de Nossa Senhora da Conceio, em Catas Altas, Nossa

    Senhora das Mercs, em Mariana, Nossa Senhora das Mercs e Perdes em Ouro Preto [11].

    Era a tcnica muito utilizada tambm para div isrias internas, sobretudo nos pav imentos elevados,

    em construes cujas paredes externas eram de taipa de pilo.

    Em tudo semelhante ao sistema anterior no que se refere estrutura principal, dele difere quanto

    vedao. Neste caso o vo entre os esteios, estes tambm denominados enxaimis, e as madres,

    baldrames e frechais, reforado com peas inclinadas nos cantos ou na diagonal dos quadros. Estas

    peas tm o nome de cruz de Santo Andr ou aspas francesas. O vo preenchido com adobe ou

    mesmo tijolos. Esta tcnica tambm milenar, utilizada na Europa medieval, e muito popular no sul

    do pas. Mas tanto Paulo Santos como Sy lv io de Vasconcelos registram a utilizao em outras

    regies.

    Fig. 13 Muro de enxaimel. Imagem BARDOU, 1981

    Tabique uma div isria feita com estrutura de v igas de madeira e revestimento de tbuas. um

    serv io e grande simplicidade e facilidade de execuo, utilizado no Brasil colonial sobretudo para

    div isrias internas. As madeira utilizadas so as mesmas das estruturas de maior responsabilidade,

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    isto , aroeira, ip, peroba, maaranduba, jatob, e tambm aquelas de menor densidade como o

    cedro, a canela, o v inhtico, a cav ina, entre outras. Esta grande simplicidade entretanto no quer

    dizer que lhe foi reservado papel de menor responsabilidade. O exemplo mais marcante , sem

    dvida, o da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, de Ouro Preto, cujas paredes externas so de

    alvenaria de pedra e a parede da nave, de madeira, conferindo-lhe a forma poligonal.

    Fig. 14 Tabique. Imagem www.masisa.com

    Fig. 15 Planta da matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto com as div isrias da nave

    construdas em tabique. Imagem SANTOS, 1951

    Notas

    [1] BAZIN, 1956, Vol. 1 , p. 58.