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SUPERF ´ ICIES M ´ INIMAS COMPLETAS MERGULHADAS DE CURVATURA TOTAL FINITA E GENUS ZERO EM R 3 EDILSON SOARES MIRANDA Centro de Ciˆ encias Exatas Universidade Estadual de Maring´ a Programa de P´ os-Gradua¸ ao em Matem´ atica (Mestrado) Orientador: Ryuichi Fukuoka Maring´ a- Pr 2004

Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

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Page 1: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

SUPERFICIES MINIMAS COMPLETAS

MERGULHADAS DE CURVATURA TOTAL

FINITA E GENUS ZERO EM R3

EDILSON SOARES MIRANDA

Centro de Ciencias Exatas

Universidade Estadual de Maringa

Programa de Pos-Graduacao em Matematica

(Mestrado)

Orientador: Ryuichi Fukuoka

Maringa- Pr

2004

Page 2: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

SUPERFICIES MINIMAS COMPLETAS

MERGULHADAS DE CURVATURA TOTAL

FINITA E GENUS ZERO EM R3

EDILSON SOARES MIRANDA

Dissertacao submetida ao corpo docente do Programa de Pos-Graduacao em Ma-

tematica da Universidade Estadual de Maringa - UEM-PR, como parte dos requisitos

necessarios a obtencao do grau de Mestre.

Banca examinadora:

Prof. Dr. Ryuichi Fukuoka - UEM ......................................................

(Orientador)

Prof. Dr. Francesco Mercuri - UNICAMP ......................................................

Prof. Dr. Armando Caputi - UEM ......................................................

Maringa

2004

ii

Page 3: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

Aos meus pais e irmaos

iii

Page 4: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

Agradecimentos

Meus sinceros agradecimentos a todos que de alguma forma contribuıram para

o exito deste trabalho, e em especial:

- A Deus, pelo Dom da vida e pela luz divina que sempre me acompanha.

- Aos meus pais, Osvaldo e Lucia, pelo contınuo apoio, ensinando-me, princi-

palmente, a importancia da construcao e coerencia de meus proprios valores. E

principalmente pelo “amor sem limites”.

- Aos meus Irmaos, Edirley e Eder, meus eternos companheiros, que souberam

entender minhas dificuldades e minhas ausencias.

- Ao Orientador, Professor Dr. Ryuichi Fukuoka, pela amizade e constante

incentivo, sempre indicando a direcao a ser tomada. E principalmente pela confianca

que depositou em mim. Minha eterna gratidao.

- Aos Professores, pelo valioso conhecimento que me forneceram.

- A Secretaria, Lucia, pela boa-vontade e pelos esclarecimentos sobre procedi-

mentos academicos.

- Aos Amigos, pelo prazer de suas amizades, conversas e trocas de conhecimentos,

futebol, e outras coisas mais.

- A Meire, pela forca e apoio em todos os momentos e tambem pelo computador.

- Ao CNPq, pela bolsa concedida durante os anos do curso.

iv

Page 5: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

Resumo

Neste trabalho demonstra-se que o plano e o catenoide sao as unicas superfıcies

mınimas completas mergulhadas de curvatura total finita e genus zero em R3.

Para tal resultado utiliza-se a teoria de Geometria Diferencial, Topologia, Analise

Complexa e um pouco da teoria de Algebra e Equacoes Diferenciais Parciais.

v

Page 6: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

Abstract

In this work it is demonstrated that the plane and the catenoid are the only embed-

ded complete minimal surfaces of finite total curvature and genus zero in R3.

For such a result Differential Geometry, Topology, Complex Analysis and a little

of Algebra and Partial Differential Equations are used.

vi

Page 7: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

Conteudo

Introducao 1

1 Resultados Preliminares 2

1.1 Princıpio do maximo para equacoes diferenciais parciais e-

lıpticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1.2 Geometria diferencial local das superfıcies em Rn . . . . . . . 4

1.3 Estruturas em variedades diferenciaveis . . . . . . . . . . . . . 9

1.4 O fibrado tangente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

1.5 Aplicacoes de recobrimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

1.6 O grau de uma aplicacao entre variedades diferenciaveis fe-

chadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

1.6.1 Regularidade de aplicacoes diferenciaveis . . . . . . . . . . . . 18

1.6.2 O grau de Brouwer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

1.7 A caracterıstica de Euler de uma variedade diferenciavel

fechada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

1.8 Zeros de uma funcao algebrica de C× C em C . . . . . . . . . . 23

1.8.1 Superfıcies de Riemann associada a funcoes analıticas . . . . . 23

1.8.2 Funcoes algebricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

vii

Page 8: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

2 Superfıcies Mınimas em Rn 28

2.1 Superfıcies que minimizam a area . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2.2 Parametros isotermicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

2.3 Superfıcies parametricas em R3. A aplicacao normal de Gauss . . . . 42

2.4 A formula de Jorge-Meeks . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

3 Superfıcies mınimas completas mergulhadas de genus zero 53

3.1 Deformacoes de superfıcies mınimas mergulhadas . . . . . . . . . . . 56

3.2 Resultado principal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

Bibliografia 72

viii

Page 9: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

Introducao

Superfıcies mınimas mergulhadas completas sao objetos interessantes em Geome-

tria Diferencial. Os planos, catenoides e helicoides sao exemplos desses objetos.

R. Osserman [15] mostrou que uma superfıcie mınima, completa e de curvatura

total finita e conformemente equivalente a uma superfıcie de Riemann compacta,

furada em um numero finito de pontos. Com esse resultado classico seria natural

tentar classifica-las.

Ate o comeco da decada de 80, os unicos exemplos mergulhados conhecidos eram

o plano e o catenoide.

Depois surgiram a Superfıcie de Costa, e exemplos com genus arbitrarios.

Nesse trabalho, analisamos um trabalho de Lopes e Ros que classifica as su-

perfıcies mınimas completas mergulhadas de genus zero e curvatura total finita.

Elas sao o plano e o catenoide.

No capıtulo 1, introduziremos pre-requisitos necessarios para o estudo das su-

perfıcies mınimas.

No capıtulo 2, desenvolveremos o estudo de superfıcies mınimas em R3 com

curvatura total finita. E mostraremos a formula de Jorge-Meeks usando a teoria de

campos de vetores.

No capıtulo 3, caracterizaremos as superfıcies mınimas completas mergulhadas

de curvatura total finita e genus zero em R3. Mais precisamente provaremos que as

superfıcies satisfazendo as hipoteses acima sao precisamente o plano e o catenoide.

1

Page 10: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

Capıtulo 1

Resultados Preliminares

O objetivo deste capıtulo e apresentar alguns resultados basicos, os quais preci-

saremos nos capıtulos posteriores.

1.1 Princıpio do maximo para equacoes diferen-

ciais parciais elıpticas

Seja f : U → R uma aplicacao de classe C2 em U ⊂ Rn. Um operador elıptico

L na forma nao divergente e dado por

Lf = −m∑

i,j=1

aijfxixj+

n∑i=1

bi(x)fxi+ cf, (1.1)

onde aij, bi e c sao funcoes contınuas e det[aij(x)] > 0 para todo x ∈ U . Sem perda

de generalidade, podemos assumir que aij = aji, i = 1, ..., n, pois fxixj= fxjxi

.

Definicao 1.1 Dizemos que um operador diferencial parcial L e uniformemente

elıpitico, se existe uma constante θ > 0 tal que

m∑i,j=1

aij(x)ξiξj ≥ θ|ξ|2 (1.2)

para qualquer x ∈ U e todo ξ ∈ Rn.

2

Page 11: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.1 3

Seja L um operador uniformemente elıptico. Funcoes que satisfazem Lf ≤ 0,

Lf ≥ 0 sao chamadas de subsolucoes e supersolucoes de (1.1) respectivamente.

A seguir apresentamos alguns resultados classicos dessas classes de funcoes.

Teorema 1.2 (Princıpio do maximo fraco) Suponhamos que f ∈ C2(U) ∩ C(U) e

que c(x) = 0 ∀x ∈ U .

(i) Se Lf ≤ 0 em U , entao

maxU

f = max∂U

f. (1.3)

(ii) Se Lf ≥ 0 em U , entao

minUf = min

∂Uf. (1.4)

Teorema 1.3 (Princıpio do Maximo Fraco com c ≥ 0). Suponhamos que f ∈

C2(U) ∩ C(U) e c ≥ 0 em U .

(i) Se Lf ≤ 0 em U , entao

maxU

f ≤ max∂U

f+.

(ii) Se Lf ≥ 0 em U , entao

minUf ≥ −max

∂Uf−.

Em particular, se Lf = 0 em U , entao

maxU

|f | = max∂U

|f |.

Um resultado que e interessante por si so, e e usado tambem na demonstracao

do princıpio do maximo forte (veja teoremas 1.5 e 1.6), e o lema de Hopf:

Lema 1.4 (Lema de Hopf). Suponhamos que f ∈ C2(U) ∩ C(U), c ≡ 0, Lf ≤ 0

em U e que existe x0 ∈ ∂U tal que

f(x0) > f(x), ∀x ∈ U. (1.5)

Page 12: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.2 4

Alem disso suponha que U satisfaz a condicao da bola interior em x0, isto e,

existe uma bola aberta B ⊂ U com x0 ∈ ∂B.

(i) Entao ∂f∂w

(x0) > 0, onde w e um vetor normal exterior a B em x0.

(ii) Se c ≥ 0 em U , a mesma conclusao e valida desde que f(x0) ≥ 0.

Teorema 1.5 (Princıpio do Maximo Forte). Suponhamos que f ∈ C2(U) ∩ C(U)

e que c ≡ 0 em U , onde U e conexo, aberto e limitado.

(i) Se Lf ≤ 0 em U e f atinge um maximo no interior de U , entao f e constante

em U .

(ii) Se Lf ≥ 0 em U e f atinge um mınimo no interior de U , entao f e constante

em U .

Teorema 1.6 (Princıpio do Maximo Forte com c ≥ 0). Suponhamos que f ∈

C2(U) ∩ C(U) e c ≥ 0 em U , onde U e conexo.

(i) Se Lf ≤ 0 em U e f atinge um maximo nao negativo no interior de U , entao

f e constante em U .

(ii) Se Lf ≥ 0 em U e f atinge um mınimo nao positivo no interior de U , entao

f e constante em U .

Note que as funcoes harmonicas satisfazem o princıpio do maximo.

1.2 Geometria diferencial local das superfıcies em

Rn

Agora vamos desenvolver o estudo local de superfıcies em Rn, cujas demonstra-

coes podem ser encontradas em [15].

Seja x = (x1, ..., xn) um ponto no espaco euclidiano n-dimensional Rn e D um

domınio no plano parametrizado por u = (u1, u2). Definimos provisoriamente uma

Page 13: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.2 5

superfıcie S em Rn como sendo uma aplicacao f : D → Rn. Se f ∈ Cr em D, entao

escrevemos S ∈ Cr. Denotaremos a matriz jacobiana da aplicacao f por

J = (Jij); Jij =∂fi

∂uj

, i = 1, ..., n; j = 1, 2.

Observe que a j-esima coluna de J e formada pelo vetor

∂f

∂uj

=

(∂f1

∂uj

, ...,∂fn

∂uj

). i, j = 1, 2.

Definimos a matriz g por

g = (gij) = J tJ ; gij =∂f

∂ui

· ∂f∂uj

. (1.6)

Lema 1.7 Seja f uma aplicacao diferenciavel de D em Rn. Em cada ponto de D,

as seguintes condicoes sao equivalentes:

a) Os vetores ∂f∂u1, ∂f

∂u2sao linearmente independentes;

b) A matriz jacobiana J tem posto 2;

c)Existe i, j, com 1 ≤ i < j ≤ n tal que∂(fi,fj)

∂(u1,u2)6= 0;

d) ∂f∂u1

∧ ∂f∂u2

6= 0;

e) detg > 0.

Definicao 1.8 Uma superfıcie S e regular em um ponto se as condicoes do lema

1.7 sao satisfeitas neste ponto; S e regular se ela e regular em cada ponto de D.

Seja S ∈ Cr uma superfıcie dada por f : D → Rn e ι : D → D e um difeomorfis-

mo de classe Cr. Dizemos que a superfıcie S definida por f ι : D → Rn e obtida de

S por uma mudanca de parametros. Dizemos que uma propriedade de S independe

Page 14: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.2 6

dos parametros, se ela valida nos pontos correspondentes de todas as superfıcies S

obtida de S por uma mudanca de parametros.

Seja S uma superfıcie regular definida por f ∈ C2 em um domınio D. Suponha-

mos que Ω e um subdomınio de D tal que Ω ⊂ D, onde Ω e o fecho de Ω. Seja Σ a

superfıcie definida por f restrito a Ω. Definimos a area de Σ por

∫ ∫Ω

√detgdu1du2. (1.7)

Se f : Ω → R e uma funcao contınua, podemos definir a integral de f com respeito

ao elemento de area da superfıcie Σ como,

∫ ∫Ω

f(u)dA =

∫ ∫Ω

f(u)√

detgdu1du2. (1.8)

Pode-se mostrar que as integrais acima nao dependem da parametrizacao.

Definicao 1.9 Seja Ω um domınio cujo fecho esta em D. A superfıcie definida pela

restricao de f em Ω tem curvatura total dada por,∫ ∫Ω

KdA

onde K e a curvatura gaussiana de f .

Definicao 1.10 Sejam 1 ≤ i, j ≤ n dois inteiros fixos distintos e D um domınio do

plano parametrizado por (xi, xj), onde (x1, ..., xn) ∈ Rn. As equacoes

xk = ϕk(xi, xj), k = 1, ..., n k 6= i, j; (xi, xj) ∈ D, (1.9)

onde ϕk ∈ C2, definem uma superfıcie S em Rn que sera chamada de superfıcie na

forma nao parametrica ou forma explıcita.

Assumiremos que a superfıcie e definida por (1.9) com

x1 = f1(u1, u2) = u1, x2 = f2(u1, u2) = u2,

Page 15: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.2 7

xk = fk(u1, u2) = ϕk(u1, u2), k = 3, ..., n. (1.10)

Entao

∂f

∂u1

=

(1, 0,

∂ϕ3

∂u1

, ...,∂ϕn

∂u1

),

∂f

∂u2

=

(0, 1,

∂ϕ3

∂u2

, ...,∂ϕn

∂u2

)(1.11)

e

g11 = 1 +n∑

k=3

(∂ϕk

∂u1

)2

, g12 = 1 +n∑

k=3

(∂ϕk

∂u1

∂ϕk

∂u2

),

g22 = 1 +n∑

k=3

(∂ϕk

∂u2

)2

. (1.12)

Observa-se claramente que os vetores ∂f∂u1

e ∂f∂u2

sao linearmente independentes.

Logo toda superfıcie na forma nao parametrica e automaticamente regular.

Em varias situacoes a representacao de uma superfıcie na forma nao parametrica

facilita os calculos. O lema seguinte e importante pois diz que todas as superfıcies

parametricas tem localmente uma representacao nao parametrica.

Lema 1.11 Seja S uma superfıcie na forma parametrica dada por f : D → Rn e

q um ponto regular de S. Entao existe uma vizinhanca Ω de q, tal que a superfıcie

Σ obtida pela restricao de f em Ω tem uma reparametrizacao Σ na forma nao

parametrica.

Agora vamos definir o plano tangente a uma superfıcie S em um ponto. Para isso,

primeiramente definimos uma curva em D como sendo uma aplicacao γ : [a, b] → D

continuamente diferenciavel.

Seja S uma superfıcie definida por f : D → Rn. Como estamos interessados no

estudo local de S, considere um ponto q ∈ D no qual S e regular. Restringindo S

a uma vizinhanca suficientemente pequena de q (que por comodidade continuamos

chamando de D) temos que f : D → Rn e injetora em D. Considere o conjunto

TqS = dfq(γ′(t0)); γ ∈ C,

Page 16: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.2 8

onde C e o conjunto de todas as curvas que estao contidas em D com γ(t0) = q.

Definicao 1.12 O espaco vetorial TqS descrito acima e chamado de plano tangente

a superfıcie S no ponto q.

Assim uma superfıcie S tem um plano tangente em cada ponto regular e inde-

pende dos parametros.

Seja ν um vetor normal a S, entao ν e ortogonal aos vetores ∂f∂u1

e ∂f∂u2

. Defina

bij(ν) =∂2f

∂ui∂uj

· ν 1 ≤ i, j ≤ 2 (1.13)

Se TqS e o plano tangente a S em um ponto q, entao o seu complemento ortogonal

que denotaremos por T⊥q S, e chamado espaco normal de S em q.

Denote o fibrado normal de S por T⊥S (onde T⊥S = (q, ν); q ∈ D, ν ∈ T⊥q S).

A curvatura media e uma aplicacao H : T⊥S → R dada por

H(ν) =g22b11(ν) + g11b22(ν)− 2g12b12(ν)

2 det(gij). (1.14)

Pode se mostrar queH nao depende da parametrizacao escolhida. H(ν) e chama-

do de curvatura media S em relacao a ν.

Segue imediatamente de (1.13) que bij(ν) e linear em ν e de (1.14) que H(ν) e

linear em ν. Portanto existe um unico vetor H ∈ T⊥q S tal que

H(ν) = H · ν ∀ν ∈ T⊥q S. (1.15)

O vetor H e chamado vetor curvatura media de S em q.

O lema a seguir sera utilizado no estudo de superfıcies que minimizam area.

Lema 1.13 Seja f : D → Rn uma superfıcie S ∈ Cr, q um ponto regular de S e

ν ∈ T⊥q S. Entao existe uma vizinhanca Ω de q e um campo normal Υ ∈ Cr−1 em Ω

tal que Υ(q) = ν.

Page 17: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.3 9

1.3 Estruturas em variedades diferenciaveis

Para o estudo global das superfıcies, vamos dar algumas definicoes sobre varie-

dades diferenciaveis.

Definicao 1.14 Uma variedade (topologica) de dimensao n e um espaco de Haus-

dorff, onde cada ponto possui uma vizinhanca homeomorfa a um domınio em Rn.

Um atlas A de uma variedade de dimensao n e uma colecao de triplas (Oα, Uα, hα),

onde Oα e um domınio em Rn, Uα e um conjunto aberto de M , hα e um homeomor-

fismo de Oα em Uα, e a uniao de todos Uα e igual a M . Para cada α, hα e chamada

parametrizacao de M .

Dadas as parametrizacoes hα : Oα → Uα e hβ : Oβ → Uβ numa variedade M ,

tais que Uα ∩ Uβ 6= ∅, entao o homeomorfismo

h−1α hβ : h−1

β (Uα ∩ Uβ) → h−1α (Uα ∩ Uβ)

e chamado mudanca de parametros.

Definicao 1.15 Uma estrutura de classe Cr sobre M e um atlas para os quais as

mudancas de parametros h−1α hβ sao de classe Cr onde ela estiver definida.

Uma estrutura conforme sobre M e um atlas para os quais as mudancas de

parametros h−1α hβ sao aplicacoes conformes (aplicacoes que preservam angulos)

onde ela estiver definida.

Uma variedade M e orientavel, se ela possui um atlas para os quais as mu-

dancas de parametros h−1α hβ preservam orientacao onde ela estiver definida. Uma

orientacao de M e uma escolha de tal atlas.

Page 18: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.3 10

Definicao 1.16 Uma variedade diferenciavel de dimensao n e classe Cke uma va-

riedade M de dimensao n, juntamente com uma estrutura de classe Ck sobre M .

Definicao 1.17 Sejam M e N variedades diferenciaveis de dimensoes finitas. Uma

aplicacao f : M → N e diferenciavel no ponto p ∈ M , se existem parametrizacoes

hα : Oα → Uα em M , hβ : Oβ → Uβ em N , com p ∈ Uα e f(Uα) ⊂ Uβ tais que

hβ h−1α : Oα → Oβ e diferenciavel em h−1

α (q).

Como as mudancas de parametros em M e N sao de classe Ck, segue que a defi-

nicao acima independe da parametrizacao. Dizemos que f : M → N e diferenciavel,

se f for diferenciavel em todos os pontos de M .

Definicao 1.18 Uma superfıcie S de classe Cr em Rn e uma variedade bidimen-

sional M com uma estrutura de classe Cr e uma aplicacao f : M → Rn de classe

Cr.

Seja S uma superfıcie de classe Cr em Rn e A = (Oα, Uα, hα) a estrutura de

classe Cr associada a S. Entao f hα : Oα → Rn define uma superfıcie local no

sentido da definicao da secao 1.2. Em particular, um ponto de S significa o par

(q0, f(q0)) onde q0 ∈ M . Daı e possıvel falar em um ponto regular de S, de plano

tangente e vetor curvatura media de S num ponto, etc.

Definicao 1.19 Uma superfıcie de Riemann M e uma variedade bidimensional,

conexa de Hausdorff com um atlas maximal A, onde as mudancas de parametros

sao aplicacoes conformes.

Por exemplo, o plano complexo C com um atlas maximal que contenha a funcao

identidade, e a esfera unitaria com um atlas maximal que contenha as projecoes

estereograficas pelos polos norte e sul respectivamente como coordenadas, sao su-

perfıcies de Riemann.

Page 19: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.3 11

Definicao 1.20 Seja M uma variedade de dimensao n com uma estrutura de classe

Cr definida por um atlas (Oα, Uα, hα). Uma estrutura Riemanniana sobre M ou uma

metrica riemanniana de classe Ck, 0 ≤ k ≤ r − 1, e uma colecao de matrizes gα

onde:

1. Seus elementos sao funcoes de classe Ck em Uα;

2. Em cada ponto, gα e definida positiva;

3. Para qualquer α e β tal que a mudanca de parametros h−1α hβ esta definida,

a relacao

gβ = J⊥gαJ (1.16)

e satisfeita, onde J e a matriz jacobiana da transformacao h−1α hβ.

Uma variedade M com uma estrutura riemanniana e chamada de variedade Rie-

manniana.

Uma curva diferenciavel sobre M e uma aplicacao diferenciavel γ : [a, b] →M .

O comprimento de arco da curva γ : [a, b] → M em relacao a uma metrica

Riemanniana gα e definido como

∫ b

a

(n∑

i,j=1

gij(γ(t))u′i(t)u

′j(t)

)1/2

dt, (1.17)

onde para cada t0 ∈ [a, b], escolhemos um Uα tal que γ(t0) ∈ Uα, gα = [gij] e ui,

1 ≤ i ≤ n sao parametros de Oα. Por (1.16), a definicao do integrando acima

independe da escolha de Uα.

Um caminho divergente sobre M e uma aplicacao contınua γ : [a, b) → M tal

que para todo subconjunto compacto Π ⊂M , existe um t0 ∈ [a, b) tal que γ(t) /∈ Π

para t > t0.

Page 20: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.4 12

Se um caminho divergente e diferenciavel, definimos seu comprimento de arco

como

limb−→b

∫ b−

a

(n∑

i,j=1

gij(γ(t))u′i(t)u

′j(t)

)1/2

dt. (1.18)

Definicao 1.21 Uma variedade M e completa com respeito a uma metrica rieman-

niana dada se a integral 1.18 diverge para cada caminho diferenciavel divergente

sobre M .

Seja S uma superfıcie regular de classe Cr definida por uma aplicacao f : M →

Rn. Entao esta aplicacao induz uma metrica em M , definida por

gij =∂f

∂ui

· ∂f∂uj

. (1.19)

Assim, cada superfıcie regular S em Rn esta em correspondencia com uma varie-

dade Riemanniana bidimensional M . Dizemos que S e completa se M for completa

com respeito a metrica Riemanniana dada por (1.19).

Se S e uma superfıcie regular de classe Cr definida por uma aplicacao f : M →

Rn, entao esta aplicacao induz tambem uma estrutura conforme em S, pois toda

metrica induz um conceito de angulo. Portanto toda superfıcie regular esta em

correspondencia com uma superfıcie de Riemann.

1.4 O fibrado tangente

Agora vamos definir o espaco tangente a M em um ponto p ∈M , onde M e uma

variedade diferenciavel de classe Ck. Para isso indicamos por Cp o conjunto de todos

os caminhos γ : (a, b) →M , onde 0 ∈ (a, b), tais que γ(0) = p e γ e diferenciavel em

0.

Page 21: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.4 13

Se γ ∈ Cp e hα : Oα ⊂ Rn → Uα ⊂ M uma parametrizacao em M com p ∈ Uα,

toda vez que escrevemos h−1α γ estamos admitindo que o domınio (a, b) de γ e

suficientemente pequeno tal que γ((a, b)) ⊂ Uα.

Dizemos que dois caminhos γ, % ∈ Cp sao equivalentes, e escrevemos γ ∼ %,

quando existir uma parametrizacao

hα : Oα ⊂ Rn → Uα ⊂M

em M com p ∈ Uα, tal que

(h−1α γ)′(0) = (h−1

α %)′(0).

Observe que a relacao γ ∼ % define uma relaccao de equivalencia em Cp.

O vetor velocidade γ de um caminho γ ∈ Cp, e por definicao, a classe de equiva-

lencia de γ.

O conjunto quociente Cp/ ∼ sera indicado por TpM e sera chamado o espaco

tangente a variedade M no ponto p.

Observe que a definicao de espaco tangente acima coincide com a definicao an-

terior para superfıcies S no caso onde S e definida por f : D → Rn.

Seja Mn uma variedade de classe C∞ com uma estrutura diferenciavel dada pelo

atlas A. Considere

T (M) = ∪p∈MTpM,

e a projecao canonica

π : T (M) →M

dada por π(p, v) = p. Fazendo

hα = (hα1 , ..., hαn),

definimos a aplicacao

h−1α : π−1(Uα) → R2n

Page 22: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.5 14

dada por

h−1α (p, v) = (h−1

α1(π(p, v)), ..., h−1

αn(π(p, ν)), dh−1

α1((p, v)), ..., dh−1

αn((p, v)))

A partir das consideracoes acima se verifica as seguintes propriedades:

1. Se (Oα, Uα, hα), (Oβ, Uβ, hβ) ∈ A, entao h−1β hα e de classe C∞.

2. A colecao

π−1(Uα); (Oα, Uα, hα) ∈ A

forma uma base para uma topologia sobre T (M).

3. Seja A o atlas maximal, contendo

((Oα × Rn), hα(Oα × Rn), hα); (Oα, Uα, hα) ∈ A.

Segue das propriedades acima que A e uma estrutura diferenciavel sobre T (M).

T (M) com esta estrutura diferenciavel e chamado de fibrado tangente de M , que

denotaremos por TM .

1.5 Aplicacoes de recobrimento

Agora veremos algums resultados, cujas demonstracoes podem ser encontradas

em [12].

Sejam X, Y espacos topologicos. Uma aplicacao π : X → Y chama-se uma

aplicacao de recobrimento quando cada ponto y ∈ Y pertence a um aberto V ⊂ Y

tal que π−1(V ) = ∪αUα, onde os Uα sao abertos dois a dois disjuntos e π|Uα : Uα → V

e um homeomorfismo para cada α.

O espaco X se chama espaco de recobrimento de Y , e para cada y ∈ Y , o

conjunto π−1(y) se chama fibra de y.

Page 23: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.5 15

Um recobrimento π : X → Y , com X simplesmente conexo e localmente conexo

por caminhos, se chama um recobrimento universal.

Dizemos que uma aplicacao contınua e sobrejetiva f : X → Y goza da pro-

priedade de levantamento de caminhos, se dados arbitrariamente um caminho γ :

[t0, t1] → Y e um ponto x ∈ X tal que f(x) = γ(t0), existir um caminho γ : [t0, t1] →

X tal que γ(t0) = x e f γ = γ.

Se existir um unico γ como acima dizemos que f : X → Y goza da propriedade

de levantamento unico de caminhos.

Proposicao 1.22 Sejam M , N variedades diferenciaveis. Se uma aplicacao f :

M → N possui a propriedade de levantamento unico de caminhos, entao f e uma

aplicacao de recobrimento.

Proposicao 1.23 Seja X um espaco de Hausdorff. Se um homeomorfismo local

sobrejetivo f : X → Y e uma aplicacao fechada, entao f possui a propriedade de

levantamento unico de caminhos. Em particular, se alem disso f : X → Y e uma

aplicacao diferenciavel entre variedades diferenciaveis, entao f e uma aplicacao de

recobrimento.

Proposicao 1.24 Sejam M e N variedades riemannianas de mesma dimensao, a

primeira completa e a segunda conexa. Seja f : M → N uma aplicacao de classe C1

e suponha que exista uma cobertura de N por abertos V , a cada um dos quais esta

associado um numero εV > 0 tal que se x ∈ M e f(x) ∈ V entao |f ′(x)v| ≥ εV .|v|

para todo v ∈ TxM . Nessas condicoes f : M → N e uma aplicacao de recobrimento.

O teorema a seguir caracteriza o recobrimento universal de qualquer superfıcie

de Riemann.

Teorema 1.25 (Teorema da Uniformizacao de Koebe) O recobrimento universal de

qualquer superfıcie de Riemann e conformemente equivalente (difeomorfismo holo-

morfo) ao disco unitario, ao plano ou a esfera.

Page 24: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.5 16

O teorema de uniformizacao foi demonstrado por P. Koebe e H. Poincare. (Ver

[8], [16] e [9]).

Uma funcao f : U ⊂ Rn → R de classe C2 e dita subharmonica se

∆f = −n∑

i=1

∂2f

∂x2i

≤ 0.

Esse conceito pode ser generalizado para variedades Riemaniannas com metrica

g. Neste caso temos que f : M → R de classe C2 e subharmonica se

∆f = − 1√detg

n∑j,k=1

∂xj

(gjk√

detg∂f

∂xk

)≤ 0,

onde [gjk] denota a matriz inversa de [gij]

Um fato interessante e que a propriedade de uma funcao ser subharmonica

depende somente da estrutura conforme induzida pela metrica, ou seja, se duas

metricas forem conformemente equivalentes em M , entao uma funcao f sera sub-

harmonica em relacao a uma metrica se e somente se ela for subharmonica em relacao

a outra.

A definicao abaixo caracteriza superfıcies de Riemann de acordo com a existencia

de certas funcoes subharmonicas.

Definicao 1.26 Uma variedade M de dimensao 2 com uma estrutura conforme e

chamada hiperbolica, se existe uma funcao de valores reais nao constante, negativa

e subharmonica sobre M . Caso contrario M e chamada parabolica.

Denotando ζ = ζ1 + iζ2 ∈ C, funcao f(ζ) = ζ1 − 1, mostra que o disco unitario

|ζ| < 1 e hiperbolico.

O teorema a seguir e devido a Huber (ver [6]), e relaciona a parabolicidade de

uma superfıcie de Riemann com a existencia de certas metricas conformes.

Teorema 1.27 Se uma superfıcie de Riemann aberta S admite uma metrica con-

forme eu(z)|dz|, completa e com curvatura total finita, entao S e parabolica.

Page 25: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.5 17

Necessitaremos das seguintes generalizacoes do teorema 1.27 mais adiante.

Corolario 1.28 Se uma superfıcie de Riemann aberta S admite uma metrica con-

forme gS = ef(z)|dz|, completa e com curvatura total finita, entao S − p1, . . . , ps

e parabolica.

Demonstracao: A ideia e construir uma metrica gS conforme, completa e com

curvatura total finita em S − p1, . . . , ps tal que gS = gS longe de p1, . . . , ps, e

com uma metrica completa de curvatura gaussiana nula em uma vizinhanca furada

de pi, 1 ≤ i ≤ s.

Sejam D1, . . . , Ds ⊂ S discos suficientemente pequenos contendo p1, . . . , ps res-

pectivamente. Coloque em Di − pi metricas conformes gi de modo que Di − pi

seja isometrico ao complementar de um disco no plano. Podemos escolher gi de

modo que gi(v, w) ≥ gS(v, w) para todo v e w em T (Di − pi), 1 ≤ i ≤ s.

Considere uma cobertura de S − p1, . . . , ps com abertos D1 − p1, . . . , Ds −

ps, S, onde o fecho de S em S e disjunto de p1, . . . , ps. Seja Φ1, . . . ,Φs, Φ uma

particao da unidade de S−p1, . . . , ps subordinado a cobertura D1−p1, . . . , Ds−

ps, S. Considere a metrica gS =∑s

i=1 Φigi + ΦgS. Entao:

1. A metrica gS tem curvatura total finita pois:

(a) a curvatura total e finita em S − (∪si=1Di) pois coincide com gS;

(b) a curvatura total e finita em S ∩Di, 1 ≤ i ≤ s, pois o fecho de S ∩Di e

compacto em S − p1, . . . , ps;

(c) a curvatura total e finita em Di−pi− S pois gS coincide com a metrica

do complemento de um disco no plano.

2. A metrica gS e conforme a gS por construcao.

3. A metrica gS e completa. De fato, tome qj∞j=1 uma sequencia de Cauchy

em (S − p1, . . . , ps,gS). Entao essa sequencia sera de Cauchy em (S,gS),

Page 26: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.6 18

pois gS ≤ gS. Portanto qj∞j=1 → q em (S,gS). Se q ∈ p1, . . . , ps entao a

sequencia nao e de Cauchy em (S − p1, . . . , ps,gS), o que e um absurdo. Se

q ∈ S − p1, . . . , ps, entao podemos escolher uma vizinhanca suficientemente

pequena de q tal que as metricas gS e gS sao equivalentes. Portanto qj∞j=1 →

q em (S − p1, . . . , ps,gS) e gS e completa.

Finalmente podemos utilizar o teorema 1.27, e concluir que S − p1, . . . , ps e

parabolico.

Corolario 1.29 Seja S e ef(z)|dz| como no teorema 1.27. Seja Σ uma superfıcie

de Riemann e f : Σ → S − p1, . . . , ps um recobrimento conforme finito. Entao Σ

e parabolico.

Demonstracao: Vimos no corolario 1.28 que S − p1, . . . , ps admite uma

metrica gS conforme, completa e com curvatura total finita. Podemos colocar uma

metrica gΣ em Σ de modo que f : (Σ,gΣ) → (S − p1, . . . , ps,gS) seja uma isome-

tria local. Entao gΣ sera uma metrica conforme, completa e com curvatura finita.

Portanto, pelo teorema 1.27, Σ e parabolico.

1.6 O grau de uma aplicacao entre variedades di-

ferenciaveis fechadas

1.6.1 Regularidade de aplicacoes diferenciaveis

Seja f : M → N uma aplicacao diferenciavel entre variedades diferenciaveis de

mesma dimensao.

Definicao 1.30 Um ponto x ∈M e chamado um ponto regular de f , se a derivada

dfx e nao singular. Um ponto y ∈ N e chamado um valor regular se f−1(y) contem

Page 27: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.6 19

somente pontos regulares ou e vazio. Se dfx e singular, x e chamado ponto crıtico

de f . A imagem f(x) e chamado valor crıtico de f .

Proposicao 1.31 Se M e uma variedade compacta e y ∈ N e um valor regular,

entao f−1(y) e um conjunto finito.

Demonstracao: Como f−1(y) ⊂M e fechado com M compacto e de Hausdorff

entao f−1(y) e compacto. Agora seja x ∈ f−1(y). Entao pelo teorema da funcao

inversa, existe uma vizinhanca Vx ⊂M de x tal que f |Vx e um difeomorfismo.

Como (Vx)x∈f−1(y) e uma cobertura aberta para f−1(y) e acima vimos que f−1(y)

e compacto, entao tal cobertura admite uma subcobertura finita, ou seja, f−1(y) ⊂

∪ni=1Vxi

, onde xi ∈ f−1(y). Ja que f |Vxie um difeomorfismo, segue que Vxi

so contem

xi como ponto regular satisfazendo f(xi) = y. Portanto f−1(y) e finito.

O seguinte resultado classico foi provado por A. Sard em 1942. Sua demonstracao

pode ser encontrada em [14].

Teorema 1.32 (Teorema de Sard) Seja f : U → Rm uma aplicacao diferenciavel,

onde U e um aberto de Rn. Se C e o conjunto dos pontos crıticos de f , entao

f(C) ⊂ Rm tem medida nula.

Corolario 1.33 (A. B Brown) Sejam M e N variedades de dimensoes finitas.

Entao o conjunto dos valores regulares de uma aplicacao diferenciavel f : M → N

e denso em N .

Definicao 1.34 Sejam M , N variedades diferenciaveis. Duas aplicacoes diferen-

ciaveis f, g : M → N sao chamadas diferenciavelmente homotopicas (notacao f ∼

g), se existe uma aplicacao diferenciavel F : M × [0, 1] → N com

F (x, 0) = f(x), F (x, 1) = g(x) ∀x ∈M.

A aplicacao F e chamada de homotopia diferenciavel entre f e g.

Page 28: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.6 20

1.6.2 O grau de Brouwer

Agora vamos definir o grau de uma aplicacao entre variedades diferenciaveis,

onde as provas dos resultados podem ser vistas em [14].

Definicao 1.35 A variedade e dita ser fechada se ela for compacta e nao possuir

pontos de bordo.

Para visualizarmos como devem ser tais objetos, observamos que o proprio disco

fechado de dimensao n e uma variedade compacta, mas nao fechada por possuir

pontos de bordo, enquanto que o disco aberto de dimensao n e uma variedade

sem pontos de bordo que nao e fechada, por nao ser compacta. A esfera e o toro

bidimensional, que sao variedades fechadas de dimensao 2, ilustram bem o aspecto

de tais objetos.

Seja f : M → N uma aplicacao diferenciavel, onde M , N sao variedades de

dimensao n, orientadas, com M fechada e N sem bordo e conexa. Considere tambem

x ∈M um ponto regular de f . Desse modo

dfx : TxM → Tf(x)N

e um isomorfismo linear entre espacos vetoriais orientados. Definimos o sinal de dfx

como sendo +1 ou −1 conforme dfx preserva ou inverte a orientacao, pois os espacos

vetoriais admitem exatamente duas orientacoes.

Pelo corolario do teorema de Sard, temos que cada funcao diferenciavel f : M →

N admite um valor regular, pois o conjunto dos valores regulares e denso em N .

Para um valor regular y ∈ N definimos

deg(f ; y) =∑

x∈f−1(y)

sign(dfx),

cuja soma e finita devido a proposicao 1.31. O proximo resultado nos permite definir

o grau de uma aplicacao diferenciavel entre variedades.

Page 29: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.7 21

Teorema 1.36 O inteiro deg(f;y) nao depende da escolha do valor regular y.

Daı, pelo teorema anterior, definimos o grau de f (denotado por deg(f)) como

sendo

deg(f) = deg(f ; y),

onde y ∈ N e um valor regular qualquer de f .

Teorema 1.37 Duas aplicacoes diferencialmente homotopicas tem o mesmo grau.

1.7 A caracterıstica de Euler de uma variedade

diferenciavel fechada

Nesta secao, vamos obter a caracterıstica de Euler de uma variedade diferen-

ciavel fechada M em termos do ındice de um campo de vetores em M em suas

singularidades isoladas. As demonstrcoes dos resultados podem ser vistas em [17].

Definicao 1.38 Um campo de vetores ~X em uma variedade diferenciavel M e uma

corrrespondencia que associa a cada p ∈ M , um vetor ~X(p) ∈ TpM . Em termos

de aplicacoes, ~X e uma aplicacao de M em TM . O campo e diferenciavel se a

aplicacao ~X : M → TM for diferenciavel.

Seja Mn uma variedade diferenciavel e ~X um campo de vetores em M . Dizemos

que p e uma singularidade isolada de ~X, se existe uma vizinhanca V de p tal que

~X(q) = 0 e ~X(q) 6= 0 para todo q ∈ V − p.

Agora vamos definir o ındice de ~X em uma singularidade isolada p. Para isso

considere ~X um campo de vetores sobre um conjunto aberto U ⊂ Rn, com 0 ∈ U

sendo uma singularidade isolada de ~X. Seja Sn−1 a esfera unitaria em Rn com a

orientacao induzida de Rn, ou seja, se e1, . . . , en define uma base positiva de Rn

Page 30: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.7 22

tal que e2, ..., en pertencem a TxSn−1 e e1 e um vetor normal apontando para “fora”

de Sn−1 em x, entao e2, . . . , en define uma orientacao positiva de Sn−1.

Definimos a aplicacao f ~X : U − 0 → Sn−1 dada por

f ~X(p) =~X(p)

| ~X(p)|.

Se iε : Sn−1 → U e dada por iε(p) = εp, entao a aplicacao

f ~X iε : Sn−1 → Sn−1

tem um grau que independe de ε para ε suficientemente pequeno, devido ao teorema

1.37, pois as aplicacoes f ~X iε1 e f ~X iε2 : Sn−1 → Sn−1 serao diferenciavelmente

homotopicas. Com isso podemos definir o ındice de ~X em 0 como sendo o grau de

f ~X iε.

Seja ~X um campo de vetores em uma variedade diferenciavel M com uma sin-

gularidade isolada em p. Considere um difeomorfismo h : U → V ⊂ Rn, onde U e

uma vizinhanca de p e h(p) = 0. Temos que, dh ~X e um campo de vetores em V

e 0 e uma singularidade isolada de dh ~X.

Lema 1.39 Se h0 : V1 ⊂ Rn → V2 ⊂ Rn e um difeomorfismo com h0(0) = 0 e ~X

tem uma singularidade isolada em 0, entao ındice de dh0 ~X em 0 e igual ındice de

~X em 0.

O lema 1.39 nos permite definir o ındice de um campo de vetores ~X de uma

variedade M em uma singularidade isolada p ∈ M . De fato, se ~X e um campo

de vetores em uma variedade M que tem uma singularidade isolada em p ∈ M ,

entao escolhemos um sistema de coordenadas (x, U), onde U e um aberto do Rn

com x(p) = 0 e definimos o ındice de ~X em p, denotado por I ~X(p), como sendo o

ındice de dx ~X em 0. Este ındice nao depende do sistema de coordenadas escolhido

devido ao lema 1.39.

Page 31: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.8 23

Toda superfıcie compacta sem bordo S possui uma triangularizacao, e sua carac-

terıstica de Euler, denotada por χ(S), e dada por χ(S) = #V −#A+#F , onde #V ,

#A e #F sao os numeros de vertices, arestas e faces da triangularizacao respectiva-

mente. A caracterıstica de Euler pode ser estendida para variedades diferenciaveis

fechadas e e um invariante topologico. Podemos calcula-la via campo de vetores.

Teorema 1.40 Seja M uma variedade diferenciavel fechada e seja ~X : M → TM

um campo de vetores diferenciavel em M tal que p ∈M ; ~X(p) = 0 = p1, ..., pm.

Entao

χ(M) =m∑

i=1

I ~X(pi).

1.8 Zeros de uma funcao algebrica de C×C em C

1.8.1 Superfıcies de Riemann associada a funcoes analıticas

Nesta secao vamos desenvolver o conceito de superfıcie de Riemann, cujas de-

monstracoes dos resultados podem ser encontrados em [2].

Definicao 1.41 Sejam z0 ∈ C ∪ ∞, R > 0 e considere a serie de potencias

∞∑n=0

an(z − z0)n se z0 6= ∞ ou

∞∑n=0

bn(z)−n se z0 = ∞, (1.20)

cujo raio de convergencia e R. Considere f uma funcao analıtica cujo desenvolvi-

mento em serie de potencias numa vizinhanca de z0 e dada por (1.20), definida em

D = z ∈ C; |z − z0| < R se z0 6= ∞ ou em D = z ∈ C; |z| > R se z0 6= ∞.

Dizemos que (1.20) define um elemento de funcao analıtica de centro z0 e raio R e

Page 32: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1.8 24

escrevemos

E = (f, z0, R) =∞∑

n=0

an(z − z0)n.

Proposicao 1.42 Sejam E = (f, z0, R), z0 ∈ C, um elemento de funcao com

domınio D e z1 ∈ D tal que |z1 − z0| = ρ. Entao

F =∞∑

n=0

bn(z − z1)n =

∞∑n=0

an[(z − z1) + (z1 − z0)]n (1.21)

define um elemento de funcao F, com centro z1 e raio µ ≥ r−ρ. Alem disso, fazendo

z1 variar em D, os coeficientes bn = bn(z1) obtidos em (1.21) sao funcoes analıticas

de z1 para todo n, e o raio do elemento de funcao F obtido varia continuamente com

z1.

Definicao 1.43 O elemento de funcao F de centro z1 e raio µ da proposicao 1.42

e dito uma continuacao imediata do elemento de funcao E.

Definicao 1.44 Sejam E = (f, z0, R) com domınio D e seja γ(t), 0 ≤ t ≤ 1, um

caminho com γ(0) = z0, γ(1) = z1. Dizemos que o elemento de funcao E com centro

z1 e uma continuacao de E ao longo de γ(t), se para todo t existirem elementos de

funcoes Et centrados em γ(t), e domınios Dt tais que

(i) E0 = E, E1 = E e

(ii) se 0 ≤ t0 ≤ 1, entao existe δ > 0 tal que para todo t0 − δ < t < t0 + δ, Et e

uma continuacao imediata de Et0.

Dizemos tambem que Et e uma continuacao analıtica ao longo de γ ligando E a

E.

Considere um elemento de funcao E = (f, z0, R). Seja Ω ⊂ C ∪ ∞ o conjunto

de todos os pontos z tais que existem curvas γ(t) em Ω com γ(0) = z0, γ(1) = z e

continuacoes analıticas Eγ(t) de E ao longo de γ(t).

Page 33: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1. 8 25

Definicao 1.45 Ao conjunto M formado por todos os elementos Ez, z ∈ Ω, que sao

obtidos por continuacao analıtica de Ez0 ao longo de caminhos em Ω ligando z0 a z

e que chamamos de uma funcao analıtica no sentido de Weierstrass.

A todo z ∈ Ω e Ez = (f, z, R) ∈ M associamos F (z) = f(z). A proxima

proposicao implica que podemos munir naturalmente M de uma estrutura de su-

perfıcie de Riemann, onde F pode ser definida como uma funcao analıtica univalente.

Proposicao 1.46 Sejam M o conjunto acima, Ez ∈ M , Ez = (f, z, R) e ε ≤ R.

Entao os conjuntos Vε(Ez), formados por todos os elementos Ez ∈M tais que |z−z| <

ε e Ez e uma continuacao analıtica imediata de Ez, formam uma base de abertos para

uma topologia, conexa por caminhos, e Hausdorff em M . Alem disso as funcoes

h : Vε(Ez) → C definidas por h(Ez) = z fazem parte de um atlas A que define uma

estrutura de superfıcie de Riemann M .

1.8.2 Funcoes algebricas

Agora consideraremos as funcoes algebricas as quais sao casos especiais de funcoes

analıticas completas.

SejamQ(w, z) = Q0(z)wn+Q1(z)w

n−1+...+Qn(z) um polinomio a duas variaveis

(w, z) ∈ (C ∪ ∞)2, irredutıvel, isto e, nao existem dois polinomios nao constantes

P1(w, z), P2(w, z) tais que Q = P1P2.

Note que se Q0(z) = 0, com z0 ∈ C, entao o numero de raızes distintas de

Q(w, z0) = 0 e menor que n. O mesmo acontece se Q(z0) 6= 0 e Q(w, z0) = 0 possuir

uma raiz dupla em w1 ∈ C, o que ocorre se e somente se

Q(w1, z1) =∂Q

∂w(w1, z1) = 0. (1.22)

Page 34: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1. 8 26

O conjunto dos pontos z0 pontos que satisfazem uma das condicoes acima e

chamado de conjuntos de pontos singulares de Q(w, z) e sera denotado por C.

Para o ponto z = ∞, considere a mudanca de variaveis ζ = z−1 e o polinomio

Q(w, ζ) = Q0(ζ)wn + Q1(ζ)w

n−1 + Qn(ζ), (1.23)

onde Qj(z) = zmQj(ζ) e m e o maximo valor assumido pelo grau dos polinomios

Qj(z). Com isso, podemos dizer se ∞ ∈ C ou nao.

Se z0 6∈ C, o numero de raızes distintas de Q(w, z0) e igual a n. Mais precisa-

mente:

Proposicao 1.47 Sejam Q(w, z) um polinomio irredutıvel e C seu conjunto de pon-

tos singulares. Entao para todo z ∈ C−C, existem n-raızes distintas w1(z),..., wn(z)

da equacao Q(w, z) = 0.

Agora veremos que as solucoes wj(z) dadas pela proposicao 1.47 em C−C podem

ser agrupadas localmente em n funcoes analıticas distintas.

Teorema 1.48 Sejam Q(w, z) um polinomio irredutıvel e C seu conjunto de pontos

singulares e z0 ∈ C−C. Entao existe uma vizinhanca aberta V (z0) de z0 em C−C

e n funcoes analıticas w1(z),..., wn(z) definidas em V (z0) tais que Q(w(z), z) = 0 e

wi(z) 6= wj(z) para todo z ∈ V (z0) e i 6= j.

O proximo resultado mostra que as funcoes algebricas wi, 1 ≤ i ≤ n, representam

os ramos locais de uma funcao algebrica multivalente W (z) definida em C − C, o

qual e uma funcao analıtica completa no sentido de Weierstrass.

Teorema 1.49 Sejam w(z) = wj(z) como no teorema 1.48, associado ao polinomio

irredutıvel Q(w, z), definido numa vizinhanca de z0. Suponha que o elemento de

Page 35: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao1. 8 27

funcao E = (w(z), z0, R) esteja definida em um domınio D como definido em (1.20).

Entao

a) E = (w(z), z0, R) pode ser continuado analiticamente atraves de todo caminho

γ(t) em C− C,

b) toda solucao local wj(z) dada pelo teorema 1.48 em vizinhancas de C − C e

atingida pela continuacao de E ao longo de algum caminho em C− C.

Em resumo, dado um polinomio irredutıvel Q(w, z) cujos pontos singulares sao

C = z1, ..., zk ⊂ C, o teorema 1.49 garante a existencia de uma funcao analıtica

completa no sentido de Weierstrass W (z) = w(z), tal que (w(z), z) sao todas as

solucoes de Q(w, z) para z ∈ C− C. Pela proposicao 1.46, obtemos a superfıcie de

Riemann M associada a Q.

Note que M e um recobrimento conforme de n folhas de C−C, isto e, a projecao

Z : M → C− C que associa a todo elemento de funcao a seu centro, e uma funcao

meromorfa. O mesmo vale para a funcao W : M → C−C que associa a todo elemento

de funcao∑∞

n=0 an(z−z0)n ao numero a0. Usando o teorema 1.48, podemos mostrar

que o conjunto

M = (w, z) ∈ C× (C− C);Q(w, z) = 0

esta em correspondencia biunıvoca com M , associando a cada (w(z), z0, r) ∈ M o

elemento (w(z0), z0) ∈ M . Isto induz uma estrutura de superfıcie de Riemann em

M , tornando-a conformemente equivalente a M .

O proximo resultado mostra que pode-se compatificar M .

Teorema 1.50 Seja C = z1, ..., zn os pontos singulares de Q(w, z) = 0. Entao

existem pontos wi, 1 ≤ i ≤ r, correspondentes a C, tal que a supefıcie de Riemann

M = M ∪ ∪wi, associada ao polinomio irredutıvel Q(w, z) de grau n em w, e

compacta.

Page 36: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

Capıtulo 2

Superfıcies Mınimas em Rn

2.1 Superfıcies que minimizam a area

Vamos caracterizar as superfıcies que tem a menor area entre todas as superfıcies

com a mesma fronteira. Considere a seguinte situacao.

Seja S uma superfıcie regular de classe C2 definida por f : D → Rn. Considere

Γ uma curva fechada em D e Ω um subdomınio limitado por Γ. Seja Σ a superfıcie

definida por f restrito a Ω. Denotando a area de Σ por A(Σ) suponhamos que

A(Σ) ≤ A(Σ),

para toda Σ definida por f em Ω tal que f = f em Γ.

Primeiro vamos fazer a variacao normal de superfıcies e posteriormente vamos

considerar superfıcies nao parametricas e variacoes perpendiculares ao plano (x1, x2).

Seja ν ∈ C1 em D um campo de vetores normal a S, isto e

ν · ∂f∂ui

≡ 0 , i = 1, 2. (2.1)

Derivando (2.1) em relacao a uj temos

∂ν

∂uj

· ∂f∂ui

+ ν · ∂2f

∂ui∂uj

= 0.

28

Page 37: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.1 29

Entao

∂ν

∂uj

· ∂f∂ui

= −ν · ∂2f

∂ui∂uj

= −bij(ν). (2.2)

Agora consideremos uma funcao arbitraria h ∈ C2 em D e para cada numero

real λ formamos a superfıcie

Sλ : f(u) = f(u) + λh(u)ν(u), u ∈ D.

Temos que

∂f

∂ui

=∂f

∂ui

+ λ

[∂h

∂ui

ν + h∂ν

∂ui

]. (2.3)

Como

gij =∂f

∂ui

· ∂f∂uj

,

de (2.1) e (2.3) temos

gij =

(∂f

∂ui

+ λ

[h∂ν

∂ui

+∂h

∂ui

ν

])·(∂f

∂uj

+ λ

[h∂ν

∂uj

+∂h

∂uj

ν

])

=∂f

∂ui

· ∂f∂uj

+∂f

∂ui

· λh ∂ν∂uj

+ λh∂ν

∂ui

· ∂f∂uj

+ λ2cij, (2.4)

onde cij e uma funcao contınua de u em D. De (2.2) e (2.4) segue-se que

gij = gij − 2λhbij(ν) + λ2cij. (2.5)

Como

det(gij) = g11g22 − g12g21, (2.6)

entao de (2.5) e (2.6) resulta que

det(gij) = a0 + a1λ+ a2λ2, (2.7)

Page 38: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.1 30

onde a0 = det(gij), a1 = −2h(g11b22(ν) + g22b11(ν) − 2g12b12(ν)) e a2 uma funcao

contınua em D.

Como S e regular segue que a0 > 0. Portanto a0 tem um mınimo positivo em Ω

e existe ε > 0 tal que det(gij) > 0 para |λ| < ε, ou seja, para |λ| < ε as superfıcies

Σλ definidas pela restricao de f em Ω sao superfıcies regulares.

Queremos calcular a area de Σλ. Em cada u ∈ Ω, o desenvolvimento de√det(gij)

em serie de Taylor em torno de λ = 0 e dada por

√det(gij) =

√a0 +

a1

2√a0

λ+4a2a0 − a2

1

8a1/30

λ2 +O(λ3). (2.8)

Entao existe L > 0 tal que

∣∣∣∣4a2a0−a21

8a1/30

∣∣∣∣ < L em Ω, e de (2.8) segue-se que

∣∣∣∣√det(gij)−(√a0 +

a1

2√a0

λ

)∣∣∣∣ < Lλ2. (2.9)

De (1.7) e (2.9), temos que

A(0) = A (Σ) =

∫ ∫Ω

√a0du1du2.

Integrando (2.9), temos que

∣∣∣∣∫ ∫Ω

(√det(gij)−

(√a0 +

a1

2√a0

λ

))du1du2

∣∣∣∣ < L1λ2 ⇒

⇒∣∣∣∣A(λ)− A(0)− λ

∫ ∫Ω

(a1

2√a0

)du1du2

∣∣∣∣ < L1λ2 ⇒

⇒∣∣∣∣A(λ)− A(0)

λ−∫ ∫

Ω

(a1√a0

2a0

)du1du2

∣∣∣∣ < L1λ.

Fazendo λ tender a zero e usando as equacoes (1.14) e (2.7) obtemos

A′(0) = −2

∫ ∫Ω

H(ν)h(u)√detgijdu1du2 = −2

∫ ∫Ω

H(ν)h(u)dA. (2.10)

Page 39: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.1 31

Note que A′(0) e o valor da variacao da area como funcao de λ.

Se escolhermos nossa famılia de superfıcies Sλ colocando h(u) ≡ 1, entao (2.10)

se reduz a

A′(0) = −2

∫ ∫Σ

H(ν)dA.

Afirmacao: Para que Σ minimize a area, a sua curvatura media devera ser

identicamente nula. De fato suponhamos por absurdo que existe p ∈ Ω e um vetor

normal ν(p) tal que H(ν(p)) 6= 0. Podemos assumir sem perda de generalidade que

H(ν(p)) > 0. Pelo lema (1.13) existe uma vizinhanca V1 de p e ν ∈ C1 em V1 tal

que ν e normal a S. Portanto H(ν) > 0 em uma vizinhanca V2 com p ∈ V2 ⊂ V1, e

se escolhermos a funcao h de modo que h(p) > 0, h(u) ≥ 0 ∀u e h(u) ≡ 0 se u nao

pertence V2, segue que a integral do lado direito de (2.10) sera estritamente positiva.

Se V2 e suficientemente pequeno de modo que V2 ⊂ Ω, entao f(u) = f(u) sobre Γ,

de modo que Σλ sera a superfıcie com a mesma fronteira de Σ. Como por hipotese

Σ minimiza area entao

A(λ) ≥ A(0) ∀λ,

o que implica A′(0) = 0, o que e uma contradicao com (2.10) e isto mostra a nossa

afirmacao.

Definicao 2.1 Uma superfıcie S e dita uma superfıcie mınima se a sua curvatura

media e nula em todo ponto.

Mostraremos agora que as superfıcies mınimas satisfazem o princıpio do maximo

fraco e o princıpio do maximo forte. Usando (1.14), as superfıcies mınimas na forma

parametrica sao caracterizadas pela equacao

g22b11(ν) + g11b22(ν)− 2g12b12(ν) = 0. (2.11)

Page 40: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.1 32

Denotando

ϕ(x1, x2) = (ϕ3(x1, x2), ..., ϕn(x1, x2))

segue de (1.13),(1.11) e (1.12) que a equacao das superfıcies mınimas nao parametricas

e dada por

(1 +

∣∣∣∣ ∂ϕ∂x2

∣∣∣∣2)∂2ϕ

∂x21

− 2

(∂ϕ

∂x1

· ∂ϕ∂x2

)∂2ϕ

∂x1∂x2

+

(1 +

∣∣∣∣ ∂ϕ∂x1

∣∣∣∣2)∂2ϕ

∂x22

= 0. (2.12)

Fazendo a11 = 1 +∣∣∣ ∂ϕ∂x2

∣∣∣2, a12 = a21 = −(

∂ϕ∂x1

· ∂ϕ∂x2

)e a22 = 1 +

∣∣∣ ∂ϕ∂x1

∣∣∣2, entao

a11a22 − (a12)2 = 1 +

∣∣∣∣ ∂ϕ∂x2

∣∣∣∣2 +

∣∣∣∣ ∂ϕ∂x1

∣∣∣∣2 +

∣∣∣∣ ∂ϕ∂x2

∣∣∣∣2 ∣∣∣∣ ∂ϕ∂x1

∣∣∣∣2 − ( ∂ϕ∂x1

· ∂ϕ∂x2

)2

> 0.

Portanto as funcoes ϕk satisfazem os princıpios do maximo fraco e forte, pois elas

satisfazem a equacao (1.1), onde L e o operador uniformemente elıptico.

Facamos um novo tipo de variacao em torno de uma superfıcie fixa. Passemos a

considerar uma superfıcie na forma nao parametrica

fk = ϕk(x1, x2), k = 3, ..., n.

Os calculos feitos aqui serao utilizados para demonstrar a existencia de parametros

isotermicos.

Denotemos

ϕ = (ϕ3, ..., ϕn), p =∂ϕ

∂x1

, q =∂ϕ

∂x2

, r =∂2ϕ

∂x21

, s =∂2ϕ

∂x1∂x2

, t =∂2ϕ

∂x22

.

Entao a equacao da superfıcie mınima (2.12) pode ser escrita como

(1 + |q|2

) ∂p

∂x1

− (p · q)

(∂p

∂x2

+∂q

∂x1

)+(1 + |p|2

) ∂q

∂x2

= 0, (2.13)

ou como

(1 + |q|2

)r − 2 (p · q) s +

(1 + |p|2

)t = 0. (2.14)

Page 41: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.1 33

De (1.12) temos que

g11 = 1 + |p|2, g12 = p · q, g22 = 1 + |q|2, (2.15)

de onde

det(gij) = 1 + |p|2 + |q|2 + |p|2|q|2 − (p · q)2.

Denote

W =√det(gij). (2.16)

Faremos agora uma variacao em nossa superfıcie

ϕk = ϕk + λhk k = 3, ..., n,

onde λ ∈ R e hk ∈ C1 no domınio D de ϕk. Seja h = (h3, ..., hn). Entao temos

ϕ = ϕ+ λh, p = p + λ∂h

∂x1

, q = q + λ∂h

∂x2

,

e

W2 = W2 + 2λX + λ2Y,

onde

X =[(

1 + |q|2)p− (p · q) q

]· ∂h∂x1

+[(

1 + |p|2)q− (p · q) p

]· ∂h∂x2

e Y e contınua em x1, x2. Daı

W = W + λX

W+ λ2Z,

onde Z e contınua.

Agora consideremos Γ uma curva fechada no domınio de definicao de ϕ(x1, x2)

e seja Ω a regiao limitada por Γ. Se a superfıcie fk = ϕ(x1, x2) sobre Ω minimiza

Page 42: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.1 34

area entre todas as superfıcies com a mesma fronteira, entao para cada escolha de

h tal que h = 0 em Γ, temos

∫ ∫Ω

Wdx1dx2 ≥∫ ∫

Ω

Wdx1dx2

que e possıvel somente se

∫ ∫Ω

X

W= 0.

Substituindo X na integral acima, integrando por partes e escolhendo h tal que

h = 0 em Γ, temos que

∫ ∫Ω

[∂

∂x1

[(1 + |q|2)

Wp− (p · q)

Wq

]+

∂x2

[(1 + |p|2)

Wq− (p · q)

Wp

]]hdx1dx2 = 0.

Pela mesma razao do argumento usado para o caso nao parametrico, segue que

a equacao

∂x1

[(1 + |q|2)

Wp− (p · q)

Wq

]+

∂x2

[(1 + |p|2)

Wq− (p · q)

Wp

]= 0 (2.17)

e satisfeita em toda a parte. Desenvolvendo (2.17), temos que,

[(1 + |q|2)

W

∂p

∂x1

− (p · q)

W

(∂q

∂x1

+∂p

∂x2

)+

(1 + |p|2)W

∂q

∂x2

]+

+

[∂

∂x1

((1 + |q|2)

W

)− ∂

∂x2

(p · qW

)]p

+

[∂

∂x2

((1 + |p|2)

W

)− ∂

∂x1

(p · qW

)]q. (2.18)

O primeiro termo de (2.18) e nulo por (2.13). Se nos expandirmos os coeficientes

de p no segundo termo de (2.13), temos que

Page 43: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.2 35

[∂

∂x1

((1 + |q|2)

W

)− ∂

∂x2

(p · qW

)]

=1

W3

[(p · q)q−

(1 + |q|2

)p]·[(

1 + |q|2)r − 2(p · q)s +

(1 + |p|2

)t]

e a equacao acima e identicamente zero por (2.14). Trocando p e q, x1 e x2 vemos

que o coeficiente de q da equacao (2.18) tambem e zero. Isto mostra que

∂x1

((1 + |q|2)

W

)=

∂x2

(p · qW

)e

∂x2

((1 + |p|2)

W

)=

∂x1

(p · qW

). (2.19)

sao satisfeitas para toda superfıcie mınima dada pela equacao (2.14).

2.2 Parametros isotermicos

Quando estudamos propriedades de superfıcies que sao independentes da escolha

de parametros, e conveniente escolhe-los de modo que as propriedades geometricas da

superfıcie fiquem facilmente explicitadas em termos dos mesmos. Por exemplo, tome

um domınio D = (u1, u2) e uma superfıcie definida por uma aplicacao f : D → Rn.

Se o angulo entre dois vetores quaisquer v1 e v2 no plano coordenado (u1, u2) for igual

o angulo de suas imagens df(v1) e df(v2), entao f e conforme e essa parametrizacao

deve refletir propriedades da superfıcie. Analiticamente, esta condicao e expressa

em termos da primeira forma fundamental (1.2) por

g11 = g22, g12 = 0 (2.20)

Page 44: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.2 36

ou

gij = λ2δij, λ = λ(u) > 0. (2.21)

Parametros u1, u2 satisfazendo estas condicoes sao chamados de parametros isoter-

micos.

Varios conceitos basicos considerados na teoria de superfıcies simplificam con-

sideravelmente quando referidas em parametros isotermicos. Por exemplo, de (2.21)

temos

det(gij) = λ4 (2.22)

e por (1.14) a curvatura media e dada por

H(ν) =b11(ν) + b22(ν)

2λ2. (2.23)

Lema 2.2 Seja S uma superfıcie regular definida por f ∈ C2 onde u1, u2 sao

parametros isotermicos. Entao

∆f = 2λ2H (2.24)

onde ∆f = ∂2f∂u2

1+ ∂2f

∂u22

e H e o vetor curvatura media.

Demonstracao. Podemos escrever (2.20) da seguinte forma:

∂f

∂u1

· ∂f∂u1

=∂f

∂u2

· ∂f∂u2

,∂f

∂u1

· ∂f∂u2

= 0.

Logo

∂u1

(∂f

∂u1

· ∂f∂u1

)=

∂u1

(∂f

∂u2

· ∂f∂u2

)∂

∂u2

(∂f

∂u1

· ∂f∂u2

)= 0,

ou seja,

Page 45: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.2 37

∂2f

∂u21

· ∂f∂u1

=∂2f

∂u2∂u1

· ∂f∂u2

∂2f

∂u1∂u2

· ∂f∂u2

= − ∂f

∂u1

· ∂2f

∂u22

.

Combinando as equacoes acima temos que

∆f · ∂f∂u1

= 0

De maneira analoga

∆f · ∂f∂u2

= 0

Assim ∆f e um vetor perpendicular ao plano tangente de S. Mas se ν e um

vetor normal arbitrario de S, de (2.23) segue que

∆f

2λ2· ν =

1

2λ2

(∂2f

∂u21

· ν +∂2f

∂u22

· ν)

=b11(ν) + b22(ν)

2λ2= H(ν).

Pela unicidade do vetor H definido em (1.15) segue que ∆f = 2λ2H.

Lema 2.3 Seja S uma superfıcie regular definida por f ∈ C2, onde u1, u2 sao

parametros isotermicos. Entao as funcoes coordenadas fk(u1, u2) sao harmonicas se

e somente se S e uma superfıcie mınima.

Demonstracao. Como ∆f = 2λ2H entao S e supefıcie mınima ⇔ H = 0 ⇔

∆f = 0 ⇔ fk sao harmonicas.

Dada uma superfıcie f , consideremos as seguintes funcoes a valores complexos,

φk(ζ) =∂fk

∂u1

− i∂fk

∂u2

; ζ = u1 + iu2. (2.25)

Temos que

Page 46: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.2 38

n∑k=1

φ2k(ζ) =

n∑k=1

(∂fk

∂u1

)2

−n∑

k=1

(∂fk

∂u2

)2

− 2in∑

k=1

∂fk

∂u1

∂fk

∂u2

=

∣∣∣∣ ∂f∂u1

∣∣∣∣2 − ∣∣∣∣ ∂f∂u2

∣∣∣∣2 − 2i∂f

∂u1

· ∂f∂u2

= g11 − g22 − 2ig12 (2.26)

e

n∑k=1

|φk(ζ)|2 =n∑

k=1

(∂fk

∂u1

)2

+n∑

k=1

(∂fk

∂u2

)2

= g11 + g12. (2.27)

Agora verificaremos algumas propriedades das funcoes φk:

a) φk e analıtica em ζ ⇔ fk e harmonica em u1, u2;

De fato, φk e analıtica em ζ ⇔ ∂2fk

∂u1∂u2= −

(− ∂2fk

∂u2∂u1

)e ∂2fk

∂u21

+ ∂2fk

∂u22

= 0 ∀k devido

as equacoes de Cauchy-Riemann. Isto mostra a).

b) u1, u2 sao parametros isotermicos se e somente se

n∑k=1

φ2k(ζ) ≡ 0. (2.28)

Segue diretamente de (2.26)

c) Se u1, u2 sao parametros isotemicos, entao S e regular se, e somente se

n∑k=1

|φk(ζ)|2 6= 0. (2.29)

De fato, como g11 = g22 e g12 = g21 = 0, de (2.27) segue que

det(gij) = g11g22 − g12g21 6= 0 ⇔ g11 = g22 6= 0 ⇔n∑

k=1

|φk(ζ)|2 6= 0,

o que mostra c).

Page 47: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.2 39

Daqui em diante, denotaremos a funcao que define uma superfıcie mınima regular

em Rn por ψ.

Lema 2.4 Seja S uma superfıcie mınima regular definida por ψ com parametros

isotermicos u1, u2. Entao as funcoes φk definidas por (2.25) sao analıticas e elas

satisfazem (2.28) e (2.29). Reciprocamente, sejam φ1,...,φn funcoes analıticas de ζ

satisfazendo (2.28) e (2.29) em um domınio simplesmente conexo D. Entao existe

uma superfıcie mınima regular ψ definida sobre D, tal que as equacoes (2.25) sao

satisfeitas.

Demonstracao. A primeira parte segue imediatamente das propriedades a),

b), c) e do lema (2.3). Para mostrar a recıproca definimos

ψk = Re

∫φk(ζ)d(ζ). (2.30)

As funcoes ψk sao harmonicas satisfazendo (2.25) e aplicando a), b) e c) na

direcao oposta o resultado segue do lema (2.3).

Os proximos resultados ilustram o fato de que certas superfıcies podem ser repre-

sentadas localmente em termos de parametros isotermicos. No caso de superfıcies

mınimas temos o seguinte lema:

Lema 2.5 Seja S uma superfıcie mınima. Entao cada ponto regular de S possui

uma vizinhanca na qual existe uma reparametrizacao de S em termos de parametros

isotermicos.

Demonstracao. Pelo lema 1.11, para cada ponto regular em S podemos en-

contrar uma vizinhanca na qual S pode ser representada na forma nao parametrica.

Entao (2.19) e satisfeita em algum disco (x1−p1)2 +(x2−p2)

2 < R2. Estas equacoes

implicam a existencia de funcoes

F (x1, x2) =

∫p · qW

dx2, G(x1, x2) =

∫p · qW

dx1

Page 48: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.2 40

neste disco, satisfazendo

∂F

∂x1

=1 + |p|2

W,

∂F

∂x2

=p · qW

;

∂G

∂x1

=p · qW

,∂G

∂x2

=1 + |q|2

W. (2.31)

Seja,

u1 = x1 + F (x1, x2), u2 = x2 +G(x1, x2). (2.32)

Entao

∂u1

∂x1

= 1 +1 + |p|2

W,

∂u1

∂x2

=p · qW

,

∂u2

∂x1

=p · qW

,∂u2

∂x2

= 1 +1 + |q|2

W.

Como

W2 = 1 + |p|2 + |q|2 + |p|2|q|2 − (p · q)2

entao

J =∂(u1, u2)

∂(x1, x2)= 2 +

2 + |p|2 + |q|2

W> 0.

Assim a transformacao (2.32) tem uma inversa local

(u1, u2) → (x1, x2)

e fazendo, ψk = ϕk(x1, x2) para k = 3, ..., n, ψ1 ≡ x1 e ψ2 ≡ x2, podemos representar

a superfıcie em termos dos parametros u1, u2. Com isso,

Page 49: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.2 41

∂ψ1

∂u1

=∂x1

∂u1

=W + 1 + |q|2

JW,

∂x2

∂u1

= −p · qJW

,

∂ψk

∂u1

=W + 1 + |q|2

JWpk −

p · qJW

qk, k = 3, ..., n;

∂ψ1

∂u2

=∂x1

∂u2

= −p · qJW

,∂x2

∂u2

=W + 1 + |p|2

JW,

∂ψk

∂u2

=W + 1 + |p|2

JWqk −

p · qW

pk, k = 3, ..., n.

Com respeito aos parametros u1, u2, temos

g11 = g22 =

∣∣∣∣ ∂ψ∂u1

∣∣∣∣2 =

∣∣∣∣ ∂ψ∂u2

∣∣∣∣2 =W

J=

W2

2W + 2 + |p|2 + |q|2

e

g12 =∂ψ

∂u1

· ∂ψ∂u2

= 0. (2.33)

Portanto u1, u2 sao coordenadas isotermicas.

Corolario 2.6 Seja ψk = ϕk(x1, x2), k = 3, ..., n funcoes definindo uma superfıcie

mınima na forma nao parametrica. Entao fk sao funcoes analıticas reais de x1, x2.

Demonstracao. Na vizinhanca de cada ponto podemos introduzir a aplicacao

(2.32) que da localmente a superfıcie em termos de parametros isotermicos u1, u2.

Pelo lema 2.3, x1, x2 sao harmonicas, portanto funcoes reais analıticas de u1, u2. As-

sim a inversa (x1, x2) 7→ (u1, u2) tambem e real analıtica. Mas cada ψk e harmonica

em (u1, u2) e portanto uma funcao analıtica real de x1, x2.

Lema 2.7 Uma superfıcie mınima nao pode ser compacta.

Page 50: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.3 42

Demonstracao. Seja S uma superfıcie mınima definida pela aplicacao ψ :

M → Rn. Entao cada coordenada ψk(p) de ψ e uma funcao harmonica sobre M .

Se M fosse compacto ψk(p) atingiria um maximo, portanto seria uma constante,

contradizendo a hipotese de que a aplicacao ψ(p) nao e constante.

Lema 2.8 Cada superfıcie mınima S simplesmente conexa possui uma reparametrizacao

na forma ψ : D → Rn, onde D e o disco |ζ| < 1 ou o plano C.

Demonstracao: Segue do lema anterior e do teorema de uniformizacao de

Koebe.

Lema 2.9 Seja S uma superfıcie definida por ψ com parametros isotermicos u1,

u2 e seja S obtida de S por uma mudanca de parametros u. Entao u1, u2 sao

parametros isotermicos se, e somente se, a mudanca de parametros u e conforme

ou anti-conforme.

Demonstracao. Como u1, u2 sao parametros isotermicos entao gij = λ2δij.

Denote a matriz jacobiana da transformacao u(u) por J = (Jij). Fazendo alguns

calculos temos g = J⊥GJ , onde g e dado por (1.6). Entao

g = λ2J⊥J = λ2J⊥J,

Portanto u1, u2 sao parametros isotermicos ⇔ gij = λ2δij ⇔ λ2J⊥J = λ2I ⇔(λ

λJ⊥).(

λ

λJ)

= I ⇔(

λ

λJ)

e ortogonal ⇔ u(u) e conforme ou anti-conforme.

2.3 Superfıcies parametricas em R3. A aplicacao

normal de Gauss

Veremos agora varios resultados validos para superfıcies mınimas em R3, os quais

nao foram estendidos para dimensoes arbitrarias, ou que requerem uma discussao

mais elaborada para tal. Comecaremos explicitando todas as solucoes da equacao

Page 51: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.3 43

φ21 + φ2

2 + φ23 = 0. (2.34)

Lema 2.10 Seja D ⊂ C um domınio, g uma funcao meromorfa arbitraria em D e

ω uma funcao analıtica tendo a propriedade que em cada ponto onde g tem um polo

de ordem r, ω tem um zero de ordem maior ou igual a 2r. Entao as funcoes

φ1 =1

2ω(1− g2

), φ2 =

i

2ω(1 + g2

), φ3 = ωg (2.35)

serao analitıcas em D e satisfazem (2.34). Reciprocamente, cada tripla de funcao

analıtica em D satisfazendo (2.34), pode ser representada na forma (2.35), exceto

para φ1 = iφ2, φ3 = 0.

Demonstracao. As funcoes (2.35) claramente satisfazem (2.34). Reciproca-

mente suponhamos que temos uma tripla φ1, φ2, φ3 de funcoes analıticas em D

satisfazendo (2.34). Definimos

ω = φ1 − iφ2, g =φ3

φ1 − iφ2

. (2.36)

Como

0 = φ21 + φ2

2 + φ23 = (φ1 − iφ2) (φ1 + iφ2) + φ2

3 (2.37)

temos que

φ1 + iφ2 = − φ23

φ1 − iφ2

= −ωg2. (2.38)

De (2.36) e (2.38) resulta,

2φ1 = ω − ωg2 ⇒ φ1 =1

2ω(1− g2

),

2iφ2 = −ω − ωg2 ⇒ φ2 =1

2i

(−ω − ωg2

)=i

2ω(1 + g2

)

Page 52: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.3 44

e

φ3 = ωg.

Portanto (2.35) e satisfeita. Agora seja z0 um polo de ordem r de g. Em alguma

vizinhanca de z0 temos

g(z) =h(z)

(z − z0)r,

onde h(z0) 6= 0, h e analıtica nesta vizinhanca e z0 e um polo de ordem 2r de 1− g2.

Como φ1 = 12ω (1− g2) e analıtica, entao z0 e um zero de ω de ordem maior ou igual

a 2r, caso contrario φ1 teria um polo em z0. Esta representacao nao e valida se, e

somente se, φ1− iφ2 = 0, onde a equacao (2.37) implica que φ3 = 0, que e a excecao

de nossa hipotese. Isto mostra o lema.

Lema 2.11 Cada superfıcie mınima simplesmente conexa em R3 pode ser represen-

tada na forma

ψk = Re

∫ ζ

0

φk(z)dz

+ ck, k = 1, 2, 3, (2.39)

onde φk sao definidos por (2.35), as funcoes ω e g tem as propriedades fixadas no

lema (2.10), o domınio D sendo o disco unitario ou o plano inteiro, e a integral sendo

calculada sobre um caminho arbitrario ligando a origem ao ponto ζ. A superfıcie

sera regular se e somente se os zeros de ω coincidem com os polos de g e alem disso

a ordem desses zeros e exatamente duas vezes a ordem dos polos de g.

Demonstracao. Pelo Lema 2.8, superfıcie pode ser representada na forma ψ :

D → R3 onde D e o disco ou o plano C e as coordenadas ψk sao harmonicas em ζ.

Seja

φk =∂ψk

∂ζ1− i

∂ψk

∂ζ2, ζ = ζ1 + iζ2.

Page 53: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.3 45

Estas funcoes sao analıticas e satisfazem (2.39) (a integral independe do caminho).

Para uma superfıcie mınima, (2.34) e valida e pelo lema 2.10 temos (2.35).

A superfıcie nao sera regular, se e somente, se todos os φk se anularem simultane-

amente, que acontece exatamente nos pontos onde ω = 0 e g e regular ou quando

ωg2 = 0 e g tem um polo.

Definicao 2.12 O par (g, ω) acima, juntamente com a equacao (2.39), e chamado

de representacao de Weierstrass de ψ = (ψ1, ψ2, ψ3).

Por exemplo, se escolhermos ω ≡ 1 e g(ζ) = ζ, a superfıcie mınima obtida e

chamada superfıcie de Enneper.

A funcao g e essencialmente a aplicacao normal de Gauss, isto e, se π : S2 −

(0, 0, 1) → C e a projecao estereografica e gν : D → S2 e a aplicacao normal de

Gauss, entao g = π gν . Para ver isto, note que localmente gν e dado por

gν =

(2Reg|g|2 + 1

,2Img|g|2 + 1

,|g|2

|g|2 + 1

)isto e, gν = π−1 g. Portanto g = π gν .

Agora veremos alguns resultados importantes, cujas demonstracoes podem ser

vistas em [15].

Proposicao 2.13 Seja Ω um domınio cujo fecho esta em D. A curvatura total de

uma superfıcie definida pela restricao de ψ em Ω e o negativo da area da imagem

da aplicacao normal de Gauss.

Teorema 2.14 Seja M uma variedade Riemanniana bidimensional completa com

K ≤ 0 e ∫ ∫Ω

|K|dA <∞.

Entao existe uma superfıcie compacta M e um numero finito de pontos p1, ..., pk em

M tal que M e conformemente equivalente a M − p1, ..., pk.

Page 54: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.4 46

Como a aplicacao normal de Gauss g e uma funcao meromorfa, entao g nao

inverte orientacao porque suas singularidades sao isoladas. Portanto deg(g) e numero

de elementos de g−1(y), onde y e valor regular de g.

Seja ψ : M = M −p1, ..., pk → R3 uma superfıcie mınima, regular e completa.

Para cada aberto simplesmente conexo de M , existem g e ω tal que ψ e dada

por (2.39). Em geral a funcao ω nao se estende a M , mas a 1-forma ω, definido

localmente por ωdz se estende a M . Mais precisamente

Teorema 2.15 Seja ψ : M → R3 uma superfıcie mınima, regular e completa S. Se

a curvatura total de S e finita, entao a conclusao do teorema anterior e valida e a

aplicacao de normal de gauss g e a 1-forma ω se estendem meromorficamente a M .

Alem disso a curvatura total de ψ e dada por −4πdeg(g).

Definicao 2.16 Os pontos omitidos p1, ..., pk sao chamados de fins da imersao

ψ. As vezes ψ(M ∩ Dj) tambem sao chamados de fins de ψ, onde Dj e um disco

pequeno contendo pj.

O teorema abaixo classifica as superfıcies mınimas completas cujas aplicacoes

normal de Gauss sao injetivas.

Teorema 2.17 O catenoide e a superfıcie de Enneper sao as unicas superfıcies

mınimas regulares completas cuja curvatura total e −4π.

2.4 A formula de Jorge-Meeks

Nesta secao vamos mostrar a formula de Jorge-Meeks calculando a caracterıstica

de Euler atraves de campos de vetores.

Page 55: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.4 47

Considere ψ : M − p1, ..., pk → R3 uma superfıcie mınima completa com

curvatura total finita, onde pi, 1 ≤ i ≤ k, sao os fins de M .

Seja ξ ∈ S2(1) ⊂ R3, um vetor fixo. A funcao altura na direcao de ξ e dada por

hξ(p) = 〈ψ(p), ξ〉. O gradiente ~Xξ de hξ e a projecao ortogonal de ξ em TxM . Mais

precisamente

~Xξ = ξ − 〈ξ, gν(x)〉gν(x),

onde gν(x) e um campo normal a superfıcie. Esses campos de vetores ~Xξ em su-

perfıcies em R3 sao chamados de gradiente da funcao altura, e a mesma construcao

pode ser estendido para hipersuperfıcies.

Proposicao 2.18 Seja ψ : M → R3 uma superfıcie mınima e considere ξ um vetor

unitario em R3 tal que ξ /∈ g(pi) tal que pi e um fim de M. As singularidades de

~Xξ sao os pontos g−1ν (ξ,−ξ). Se ξ e valor regular de gν, entao o ındice de ~Xξ em

p ∈ g−1ν (ξ) e −1.

Demonstracao. Claramente ~Xξ(p) = 0 ⇔ g(p) ∈ ξ,−ξ.

Se ξ e um valor regular de gν , entao g−1ν (ξ,−ξ) consiste de pontos isolados.

Alem disso,

D ~Xξ(x) = 〈Dgν(x), ξ〉gν(x)−Dgν(x)〈ξ, gν(x)〉 = −〈ξ, gν(x)〉Dgν(x),

onde Dgν representa a segunda forma fundamental. Mas em uma superfıcie mınima

Dgν =

[k 00 −k

]em um sistema de coordenadas adequado, onde k e a curvatura principal. Como

I ~Xξ(p) = sign(det(Dgν)), entao I ~Xξ

(p) = −1.

Considere ψ : M2 → R3 uma superfıcie mınima completa com curvatura total

finita. Pelo teorema 2.15 existe uma superfıcie de Riemann compacta M2

tal que

M e conformemente equivalente a M − p1, ..., pk.

Page 56: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.4 48

Teorema 2.19 Seja ψ : M − p1, ..., pk → R3 uma superfıcie mınima completa

com curvatura total finita, onde pi, 1 ≤ i ≤ k, sao os fins de ψ.

Seja g⊥ν (pi) o plano perpendicular aplicacao normal de Gauss em pi e π : R3 →

g⊥ν (pi) a projecao canonica. Entao para cada pi, existe uma vizinhanca Vpi3 pi tal

que

π ψ|Vpi: Vpi

→ g⊥(pi),

da I(pi) voltas em torno de π(ψ(Vpi)), ou seja, π ψ|Vpi

e uma aplicacao de recobri-

mento.

Demonstracao: Fixe j com 1 ≤ j ≤ k, P = limq→pjg(q). Considere E ⊂ M

um disco fechado perfurado em pj. Como a ∂E e compacto, existe r suficientemente

grande tal que π ψ(∂E) ⊂ B2r (0).

Considere E ′ = (π ψ)−1(D), onde D = R2 − B2

r(0). Obviamente E ′ e sub-

variedade de E. Observe que o fecho E ′ de E ′ em E e uma variedade com bordo

completa. Para mostrar que

f = π ψ|E′ : E ′ → f(E ′) = D,

basta mostrar que f levanta caminhos diferenciavel por partes.

Seja y ∈ D e x ∈ (π ψ)−1(y) e γ : [0, 1] → D tal que γ(0) = y. Queremos

levantar γ a uma curva γ em E ′ onde γ(0) = x.

Seja A ⊂ [0, 1] o conjunto maximal onde γ pode ser levantado. O fato de π ψ

ser um difeomorfismomo local e D ser aberto implica que o intervalo maximal onde

γ pode ser levantado e do tipo [0, t0), isto e um aberto em [0, 1]. Se mostrarmos que

γ pode ser levantado inclusive ate t0, teremos provado que o intervalo maximo de

levantamento de γ e fechado em [0, 1]. Portanto o intervalo maximo de levantamento

devera ser [0, 1] pela conexidade de [0, 1].

Considere (tn) uma sequencia crescente de A, tal que limn→∞ tn = t0, an =

(γ(tn)) ⊂ D e bn = (γ(tn)) ⊂ E ′. Como (tn) e convergente e γ e contınua, entao

Page 57: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.4 49

(an) e convergente e portanto de Cauchy.

Como ‖v‖ ≤ ‖dfx(v)‖ para todo x ∈M e v ∈ TxM , segue que (bn) e de Cauchy.

De fato,

dist(bm, bn) ≤∫ tm

tn

‖γ′(t)‖dt ≤∫ tm

tn

‖γ′(t)‖dt ≤ H|tm − tn|

onde H = sup0≤t≤1 ‖γ′(t)‖ <∞. Portanto (bn) e de Cauchy. Ja que E ′ e completa,

segue que (bn) converge a b ∈ E ′. Alem disso, π ψ(b) = limn→∞ π ψ(bn) =

limn→∞ an = a ∈ D.

Ja que π ψ(∂E ′) ⊂ ∂D temos b ∈ E ′.

Considere V ⊂ E ′ uma vizinhanca de b tal que f |V e difeomorfismo. Entao

γ(t0) ∈ f(V ) e por continuidade, existe um intervalo I ⊂ [0, 1], t0 ∈ I, tal que

γ(I) ⊂ f(V ). Escolha um ındice n tal que γ(tn) ∈ V e considere o levantamento l

de γ em I passando por b. Os levantamentos l e γ coincidem em [0, tn)∩ I, pois f |V

e biunıvoca. Portanto, l e uma extensao de γ em I, donde γ esta definido em t0 e

t0 ∈ A. Daı f |E′ e uma aplicacao de recobrimento.

Para mostrar que tal recobrimento e finito, como D e conexo seja z ∈ D com

|z| < ∞. Se a cardinalidade do conjunto (π ψ)−1(z) e infinita, entao o conjunto

(π ψ)−1(z) tem um ponto de acumulacao y ∈ E ′ ⊂ E. Entao existe uma sequencia

en em (π ψ)−1(z) convergindo para y. Daı

limn→∞

|π ψ(en)| = limn→∞

|z| <∞.

Entao y 6= pi. Portanto π ψ nao e homeomorfismo para qualquer vizinhanca de y,

o que e um absurdo. Portanto π ψ e um recobrimento finito

Observe que (π ψ)−1(∂D) = ∪ni=1Ci, onde Ci sao circunferencias disjuntas duas

a duas, contidas em E.

Para concluir a demonstracao do teorema, basta mostrar que ∂E ′ = ∪ni=1Ci tem

apenas uma componente conexa, e que ∂E ′ limita um disco perfurado em pj. De

Page 58: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.4 50

fato, considere Ei o disco fechado com fronteira Ci. Se para algum i com 1 ≤ i ≤ n,

Ei nao for perfurado em pj, entao a funcao distancia, d(y) = d(0, π ψ(y)) atinge

um maximo em algum x ∈ Ei. Daı π ψ nao e homeomorfismo local para toda

vizinhanca de x, o que e um absurdo. Portanto Ei e perfurado em pj para todo i.

Suponha que existem i, k com 1 ≤ i, k ≤ n tal que Ci 6= Ck. Suponha que

Ei ⊂ Ek. Entao a funcao distancia d(y) = d(0, πψ(y)) atinge um maximo em algum

x ∈ Ek − int(Ei). Daı π ψ nao e homeomorfismo local em qualquer vizinhanca de

x, o que e uma contradicao. Portanto nao existem duas componentes Ci e Cj da

∂E ′, com i 6= j.

Logo (π ψ)−1(R2 − B2

r(0)) = E ′ e um disco perfurado em pj, o que conclui a

demonstracao.

Seja Vpiuma vizinhanca de um fim pi tal que πψ|Vpi

e uma aplicacao de recobri-

mento. Seja ξ um vetor unitario de R3 tal que ξ /∈ g(pi) tal que pi e um fim de M.

Se escolhermos Vpisuficientemente pequeno, entao o campo d(π ψ)( ~Xξ) sera quase

constante em π ψ(Vpi). Em particular, ~Xξ nao se anulara em Vpi

.

Considere γ ⊂ Vpiuma curva simples e fechada em torno de pi tal que ~Xξ e

tangente a γ apenas em um numero finito de pontos. Sempre podemos obter γ com

essas propriedades fazendo-se eventualmente pequenas deformacoes em γ.

Seja ne o numeros de pontos de γ onde a curva integral de d(π ψ)( ~Xξ) e

(localmente) exterior a γ e ni o numeros de pontos de γ onde a curva integral do

campo de vetores e (localmente) interior a γ. Entao o ındice do campo vetorial e

dada por

I ~Xξ(p) =

2 + ni − ne

2(Ver[5]).

Agora observe que para cada volta, o campo de vetores projetado e quase cons-

tante e tem ındice 0 = 2+ni−ne

2, ou seja ni − ne = −2 para cada volta completa.

Observe que o tangenciamento externo (respectivamente interno) do fluxo de

d(π ψ)( ~Xξ) ao longo de α := π ψ(γ), corresponde ao tangenciamento interno

Page 59: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.4 51

(respectivamente externo) ao longo de γ do fluxo de ~Xξ. Consequentemente o ındice

de ~Xξ, e dado por

I ~Xξ(p) =

2 + ne − ni

2=

2 + 2I(p)

2= 1 + I(p), (2.40)

pois para cada volta, ni − ne = −2, e neste caso temos I(p) voltas.

Teorema 2.20 Seja ψ : M − p1, ..., pk → R3 uma superfıcie mınima completa

com curvatura total finita, onde pi, 1 ≤ i ≤ k, sao os fins de M . Entao

χ(M) =k∑

i=1

(1 + I(pi))− 2m, (2.41)

onde m e o grau de g. A equacao (2.41) e conhecida como a formula de Jorge-Meeks.

Demonstracao: Podemos escolher um ponto ξ ∈ S2(1) tal que ele e valor

regular de gν com ξ fora do conjunto gν(pi) tal que pi e um fim de M. Considere

o gradiente funcao altura ~Xξ. Pelo teorema 1.40

χ(M) =k∑

i=1

(I ~Xξ(pi)) +

∑p∈g−1

ν (ξ,−ξ)

I ~Xξ(p).

Como ~Xξ tem 2m singularidades em M , cada uma com ındice −1 (veja a

proposicao 2.18), temos que

∑p∈g−1

ν (ξ,−ξ)

I ~Xξ(p) = −2m. (2.42)

Tambem por (2.40)k∑

i=1

(I ~Xξ(pi)) =

k∑i=1

1 + I(pi). (2.43)

De (2.42) e (2.43) resulta que

χ(M) =k∑

i=1

(1 + I(pi))− 2m.

Page 60: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao2.4 52

Se ψ e um mergulho, entao I(pi) = 1, e por (2.41) temos que

χ(M) = −2m+ 2k, (2.44)

onde k e o numero de fins de ψ. Como

genus(M) =2− χ(M)

2,

segue de (2.44) que

genus(M) =2− (−2m+ 2k)

2= 1 +m− k.

Portanto

deg(g) = m = genus(M) + k − 1. (2.45)

Page 61: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

Capıtulo 3

Superfıcies mınimas completasmergulhadas de genus zero

Nesta secao mostraremos o principal resultado deste trabalho que e um teorema

devido a Lopes e Ros: O Catenoide e o Plano sao as unicas superfıcies mergulhadas

com curvatura total finita e genus zero em R3. (Vide [13]).

Recordemos alguns resultados basicos sobre superfıcies mınimas completas de

curvatura total finita em R3 vistos anteriormente.

Do lema 2.11 considere ψ : M → R3 definindo uma superfıcie mınima completa

orientavel de curvatura total finita e nao plana. Seja g uma funcao meromorfa e ω

uma-forma sobre M que determinam a representacao de Weierstrass, isto e

ψ = Re

∫ ((1− g2

) ω2,(1 + g2

) iω2, gω

). (3.1)

Pelo teorema 2.15, M e conformamente equivalente a M − p1, ..., pn, onde M

e uma superfıcie de Riemann compacta, os pj correspondem aos fins de M e alem

disso g e ω podem ser estendidas a uma funcao meromorfa em M . Sendo ψ um

mergulho, isto implica que os fins de M sao paralelos e que cada fim e mergulhado.

Consequentemente a equacao (2.45) e valida.

Por rotacao podemos supor que g(pj) = 0 ou ∞ para j = 1, ..., k.

Seja pj um fim de M . Podemos supor sem perda de generalidade que pj = 0.

53

Page 62: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 54

Como pj e um fim mergulhado segue-se que

∫ (1− g2

) ω2

e

∫ (1 + g2

) iω2

(3.2)

tem polo de ordem 1 em pj = 0.

Afirmacao 1: Se g(pj) = 0, entao ω tem um polo de ordem 2 Alem disso g2ω

e holomorfa em pj e ω nao tem resıduo em pj.

Seja ω(z) = a−sz−s + a−(s−1)z

−(s−1) + . . . em uma vizinhanca de zero. Entao

(1− g2) e holomorfa em uma vizinhanca de 0 e

∫ (1− g2

) ω2dz =

(d0z

−s+1 + d1z−s+2 + ...

), d0 6= 0.

Portanto s = 2, o que prova a afirmacao 1.

Analogamente mostra-se a proxima afirmacao.

Afirmacao 2: Se g(pj) = ∞, entao g2ω tem um polo de ordem 2 sem resıduo

em pj e ω e holomorfa em pj.

Podemos assumir sem perda de generalidade que pj = 0 e g(pj) = 0.

Considere g(z) = a0zr + a1z

r−1 + ..., com a0 6= 0.

Afirmacao 3: Se pj nao e um ponto de ramificacao de g, ou seja se r = 1,

entao gω tem um polo simples em pj com resıduo real.

De fato, segue da afirmacao 1 que k = 2. Daı r − k = −1 e gω tem um polo

simples em pj. Alem disso, como (3.1) esta bem definido, entao

Re

∫C

gωdz = 0, (3.3)

onde C e um caminho fechado contendo apenas pj em seu interior. Por outro lado

Re

∫C

gωdz = Re(2πires(gω; pj)), (3.4)

Page 63: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 55

onde res(gω; pj) e o resıduo de gω em pj. De (3.3) e (3.4) resulta que res(gω; pj) ∈ R,

o que mostra a afirmacao.

Assim, gω(z) = a−1

z+ a0 + a1z + a2z

2 + ..., com a−1 ∈ R− 0. Portanto

h(z) = Re

∫ z

z0

gω(z)dz + c = a−1 log |z|+ h1(z) (3.5)

onde h1(z) e uma funcao harmonica na vizinhanca de 0 ∈ C e h1(0) = 0. O numero

real (−a−1) e chamado o crescimento logarıtmico do fim pj.

Observacao 3.1 Se pj e um ponto de ramificacao de g, isto e r > 1, entao segue

diretamente que gω e holomorfa em pj.

Assim,

limz→pj

Re

∫ z

z0

gω(z)dz = L ∈ R, (3.6)

isto e, o fim pj se aproxima do plano x3 = L em R3.

Definicao 3.2 Se pj esta nas condicoes da afirmacao 3, dizemos que pj e um fim

catenoidal. Caso contrario, pj e chamado de fim planar.

A partir de agora assuma que M e de genus zero, isto e, M = C. Portanto ω,

g2ω sao exatas, ou seja,∫ω e

∫g2ω independem do caminho.

Defina F =∫

ω2, G =

∫g2ω2

, η = F − G e h = Re∫gω. Entao a imersao ψ e

dada por

ψ(x) = (η(x), h(x)) ∈ C× R = R3 ∀x ∈M,

pois

ω − g2ω

2= Re

2(1− g2)

)−Im

2(1 + g2)

)= Re

2(1− g2)

)+Re

(iω

2(1 + g2)

).

Page 64: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 56

F (respectivamente G) tem polos simples nos fins pj com g(pj) = 0 (respectiva-

mente g(pj) = ∞) e ela e holomorfa nos outros pontos de C. De fato, se g(pj) = 0,

podemos supor pj = 0. Pela afirmacao 1, ω tem polo de ordem 2 em pj sem resıduo.

Daı, localmente em 0, temos

ω(z) = a−2z−2 + a0 + a1z + a2z

2 + ...,

e

F =

∫ω

2dz = −a−2z

−1

4+a0z

2+a1z

2

4+ ....

Portanto F tem polo simples no fim pj = 0. O outro caso e analogo.

Note que gω e holomorfa fora do conjunto dos fins catenoidais de M . Daı (3.5)

e (3.6) implicam que a coordenada h e nao limitada somente nos fins catenoidais de

M .

Assumiremos o seguinte resultado, que pode ser encontrado em [10].

Teorema 3.3 (Princıpio do maximo no infinito): Seja M1 e M2 superfıcies mınimas

completas com curvatura total finita e fronteira compacta em R3. Se dist(M1,M2) =

0 entao M1 ∩M2 6= ∅.

3.1 Deformacoes de superfıcies mınimas mergu-

lhadas

Se λ > 0, podemos ver facilmente que a aplicacao meromorfa gλ = λg e a 1-

forma ωλ = 1λω determinam, via representacao de Weirstrass, uma imersao mınima

completa ψλ : M → R3 com cuvatura total finita.

Sendo ηλ = 1λF − λG, entao ψλ e dada por

ψλ(x) = (ηλ(x), h(x)) ∈ C× R ∀x ∈M.

Page 65: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 57

Note que gλ(pj) ∈ 0,∞, j = 1, ..., k, e que cada fim pj de ψλ e mergulhado,

sendo do tipo catenoidal ou planar independentemente de λ.

Seja ψ : M → R3 uma superfıcie mınima nao plana, completa, mergulhada, de

genus zero e curvatura total finita, e ψλ : M → R3, λ > 0 a deformacao escrita

acima. Vamos mostrar que ψλ e um mergulho para todo λ > 0.

Lema 3.4 Dado x0 ∈ C e λ0 ∈ (0,∞), existe uma vizinhanca U de x0 em C e ε > 0

tal que, se | λ− λ0 |< ε entao ψλ |U∩M e injetora.

Demonstracao. Se x0 ∈M o resultado e obvio.

Se x0 ∈ C −M e um fim de M , podemos assumir que x0 = 0 e que G tem um

polo simples na origem. Daı existem uma vizinhancas D de x0 e I de λ0 tal que

G(x) =a

x+G1(x),

com a ∈ C − 0, G1 e F sao funcoes holomorfas definidas em D, e ηλ 6= 0 para

todo x ∈ D − 0 e λ ∈ I.

Entao f : (D − 0)× I → C, definida por

f(x, λ) =1

ηλ

=1

1λF (x)− λG1(x)− λa

x

=x

xλF (x)− λxG1(x)− λa0

,

estende-se diferenciavelmente a D × I. Alem disso,

fx =

xλF (x)− λxG1(x)− λa0 − x

(F (x)

λ− λG1(x)− λxG′

1(x))

(xF (x)

λ− λxG1(x)− λa0

)2

fx =−x(

∂F∂x

)(xF (x)

λ− λxG1(x)− λa0

)2

fλ =−x(−xF (x)

λ2 − xG1(x)− a0

)(xF (x)

λ− λxG1(x)− λa0

)2 ,

Page 66: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 58

e

df(0,λ0)(v, 0) = (fx(0, λ0), fx(0, λ0), fλ(0, λ0))

vv0

, (3.7)

o que implica

df(0,λ0)(v, 0) =−vλ0a

. (3.8)

Considere κ : D × I → C× R dado por

κ(x, λ) = (f(x, λ), λ).

Sendo x = x1 + ix2 e f = f1 + if2 temos que

J = dκ(0,λ0) =

∂f1

∂x1

∂f1

∂x2

∂f1

∂λ∂f2

∂x1

∂f2

∂x2

∂f2

∂λ

0 0 1

=

−1λ0a

0 ∂f1

∂λ

0 −1λ0a

∂f2

∂λ

0 0 1

devido a (3.8).

Portanto κ e injetiva U × I1, onde U ⊂ D e uma vizinhanca de 0 e I1 = (λ0 −

ε, λ0 + ε), para algum ε > 0.

Para qualquer λ ∈ I1 fixo, temos que f(x, λ) e injetora em U . De fato, seja x1,

x2 ∈ U com f(x1, λ) = f(x2, λ). Entao (f(x1, λ), λ) = (f(x2, λ), λ) = ψ1(x, λ) =

ψ1(x, λ), o que implica x1 = x2, pois ψ1 e injetora em U × I1.

ηλ|U e injetora para todo λ ∈ I1. De fato, seja x1, x2 ∈ U nao nulos com

ηλ(x1) = ηλ(x2). Entao 1ηλ(x1)

= 1ηλ(x2)

⇒ f(x1, λ) = f(x2, λ) o que implica x1 = x2.

Portanto ηλ|U∩M e injetora se |λ − λ0| < ε. Estamos agora em condicoes de

concluir a demonstracao do lema. Seja x1, x2 ∈ U ∩M e |λ− λ0| < ε. Se ψλ(x1) =

ψλ(x2), entao (ηλ(x1), h(x1)) = (ηλ(x2), h(x2)) e segue-se que ηλ(x1) = ηλ(x2). Daı

x1 = x2, pois ηλ|U∩M e injetora. Portanto ψλ|U∩M e injetora para |λ− λ0| < ε.

Page 67: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 59

O lema seguinte juntamente com o princıpio do maximo no infinito, tem um

papel importante na demonstracao da proposicao 3.6.

Lema 3.5 Seja pj ∈ C−M um fim de M, λ0 > 0 e λnn∈N ⊂ (0,∞), xnn∈N ⊂M

sequencias tais que λn → λ0 e xn → pj. Entao existe uma sequencia x′nn∈N ⊂ M

satisfazendo x′n → pj e

|ψλn(xn)− ψλ0(x′n)| → 0.

Demonstracao. Podemos assumir que pj = 0 e que G tem um polo simples

neste ponto. A serie de Laurent de gω em torno de pj e dado por gω(x) = bx

+ b0 +

b1x+ b2x2 + ... com b ∈ R (eventualmente zero se o fim for planar). Entao podemos

escolher uma vizinhanca D da origem tal que em D − 0 temos

G(x) =a

x+G1(x) e h(x) = Re

∫gωdx = b log |x|+ h1(x),

com a ∈ C− 0, b ∈ R, G1 e F holomorfas e h1 harmonica em D.

Como G e invertıvel perto da origem podemos considerar a sequencia x′n =

G−1(

λnG(xn)λ0

).

Observe que x′n → 0 e λ0G(x′n)− λnG(xn) = 0. Tambem temos que

ηλn(xn)− ηλ0(x′n) =

1

λn

F (xn)− 1

λ0

F (x′n) → 0,

pois F e holomorfa. Alem disso, para n fixo temos que

a

x′n+G1(x

′n) =

λn

λ0

a

xn

+λn

λ0

G1(xn),

o que implica

xn

x′n+xn

aG1(x

′n) =

λn

λ0

+λn

λ0

G1(xn)xn

a.

Fazendo n→∞ na equacao acima, resulta que xn

x′n→ 1. Finalmente temos que

h(xn)− h(x′n) = a−1 log

∣∣∣∣xn

x′n

∣∣∣∣+ h1(xn)− h1(x′n) → 0.

Portanto ψλn(xn)− ψλ0(x′n) → 0, como querıamos demonstrar.

Page 68: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 60

Proposicao 3.6 Seja ψ : M → R3 uma superfıcie mınima completa mergulhada de

curvatura total finita e genus zero. Entao ψλ e um mergulho para qualquer λ > 0.

Demonstracao: Suponhamos por absurdo que existe um λ > 1 (o caso 0 < λ < 1

e analogo) tal que ψλ nao e injetiva. Considere

λ0 = infλ > 1;ψλ nao e injetiva.

Vamos analisar os seguintes casos:

(i) ψλ0 e injetiva.

Por definicao de λ0, existe uma sequencia λnn∈N ⊂ (0,∞), xnn∈N e ynn∈N ⊂

M tal que

λn > λ0, λn → λ0, xn 6= yn e ψλn(xn) = ψλn(yn) ∀n ∈ N. (3.9)

Sem perda de generalidade suponha que xn e yn tem limites em C, xn → x,

yn → y. Neste caso temos as seguintes situacoes:

a) Se x = y, entao pelo lema 3.4, existe uma vizinhanca U de x = y e N ∈ N tal

que

ψλn|U∩M e injetora para todo n ≥ N. (3.10)

Mas temos xn 6= yn e

ψλn(xn) = ψλn(yn) ∀n ∈ N, (3.11)

o que nos da uma contradicao.

b) x 6= y com x, y ∈M contraria a injetividade de ψλ0 , pois

ψλ0(x) = limn→∞

ψλn(xn) = limn→∞

ψλn(yn) = ψλ0(y).

Page 69: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 61

c) Se x ∈M e y ∈ C−M , temos que

|ψλn(xn)| → |ψλ0(x)| e |ψλn(yn)| → ∞,

o que e uma contradicao com (3.9).

d) Finalmente se x e y sao fins distintos de M , entao pelo lema 3.5 podemos

construir sequencias x′nn∈N e y′nn∈N ⊂M com x′n → x e y′n → y tal que

|ψλn(xn)− ψλ0(x′n)| → 0 e |ψλn(yn)− ψλ0(y

′n)| → 0.

Portanto

|ψλ0(x′n)− ψλ0(y

′n)| → 0,

o que contraria o princıpio do maximo no infinito. De a), b), c) e d) concluimos que

ψλ0 nao pode ser injetiva.

(ii) ψλ0 nao e injetiva.

Neste caso λ0 > 1 e ψλ e um mergulho para λ ∈ [1, λ0). Sejam z1, z2 ∈ M com

z1 6= z2 tais que

q = ψλ0(z1) = ψλ0(z2).

Considere as vizinhancas Ui de zi, i = 1, 2, suficientemente pequenas tais que

ψλ0|Uje injetiva. Entao ψλ0(U1) nao pode encontrar transversalmente ψλ0(U2) em q,

pois a transversalidade e preservada por pequenas pertubacoes e ψλ e injetiva para

λ < λ0. Pelo mesmo motivo acima ψλ0(U1) deve estar “do mesmo lado” de ψλ0(U2).

Entao ψλ0(U1) tangencia ψλ0(U2) em q. Sejam ψu1 e ψu2 funcoes definidas em

um mesmo conjunto tal que ψλ0(U1) e ψλ0(U2) contem os graficos de ψu1 e ψu2

respectivamente. Daı ψu1 , ψu2 e ψu1 − ψu2 satisfazem a equacao das superfıcies

mınimas (2.12), e o princıpio do maximo forte e valido para ψu1 − ψu2 . Podemos

supor que ψu1 ≥ ψu2 . Entao ψu1 − ψu2 assume o mınimo zero no interior do seu

Page 70: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 62

domınio e ψu1 ≡ ψu2 em alguma vizinhanca de q. Daı ψλ0(U1) coincide localmente

com ψλ0(U2) em q. Entao concluimos que N = ψλ0(M) e uma superfıcie mınima

completa mergulhada orientavel em R3 de curvatura total finita, conformemente

equivalente a N − q1, ..., qs, onde N e uma superfıcie de Riemann compacta.

A aplicacao

ψλ0 : M → N

e um recobrimento de Riemann pela proposicao 1.24. Agora vamos mostrar que

tal recobrimento e finito. De fato suponhamos por absurdo que a cardinalidade de

ψ−1λ0

(y) e infinito. Entao existe uma sequencia de elementos distintos xnn∈N, onde

xn ∈ ψ−1λ0

(y), tal que

limn→∞

xn = x ∈ C.

Se x ∈ C −M entao ψλ0(x) = limn→∞ ψλ0(xn) = y, o que e uma contradicao,

pois |ψλ0(x)| = ∞.

Se x ∈M , entao ψλ0(x) = limn→∞ ψλ0(xn) = y e x ∈ f−1(y). Segue que qualquer

vizinhanca Vx de x contem algum z 6= x ∈ f−1(y). Daı

ψλ0 : Vx → ψλ0(Vx)

nao e homeomorfismo, o que e uma contradicao. Portanto ψλ0 : M → N e um

recobrimento de Riemann finito.

Seja V uma vizinhanca distinguida de ψλ0 contendo um fim qj de N . Como

ψλ0 : M → N e um recobrimento de Riemann finito e conforme, entao ψ−1λ0

(V )

e uma uniao finita de vizinhancas disjuntas Ui, onde cada Ui e isometrica a V .

Portanto podemos estender ψλ0 conformemente a pj ∈ U i e com isso ψλ0 se estende

conformemente a M , resultando num recobrimento

ψλ0 : M → N.

Page 71: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 63

Como M e simplesmente conexo, entao ψλ0 e um difeomorfismo conforme e ψλ0

e injetiva, o que e um absurdo.

De (i) e (ii) resulta que λ0 nao pode ser finito, portanto ψλ e injetiva para todo

λ > 1, consequentemente um mergulho.

3.2 Resultado principal

Agora vamos mostrar que o plano e o catenoide sao as unicas superfıcies mınimas

mergulhadas com curvatura total finita e genus zero em R3.

Observe que se x, y ∈M sao tais que F (x) 6= F (y) e λ ∈ (0,∞) temos que

ηλ(x) = ηλ(y) ⇔1

λF (x)− λG(x) =

1

λF (y)− λG(y)

⇔ 1

λ

(F (x)− F (y)

)= λ (G(x)−G(y))

⇔ 1

λ2

(F (x)− F (y)

)(F (x)− F (y)) = (F (x)− F (y)) (G(x)−G(y))

⇔ |F (x)− F (y)|2

λ2= (F (x)− F (y)) (G(x)−G(y)) . (3.12)

Primeiramente demonstraremos uma versao fraca do teorema 3.8.

Lema 3.7 Seja ψ : M → R3 uma superfıcie mınima mergulhada de curvatura

total finita e genus zero, com dois fins catenoidais (possivelmente com outros fins

planares). Entao ela e o catenoide.

Demonstracao: Apos uma mudanca de coordenadas holomorfa, podemos supor

que 0, ∞ ∈ C −M sao os fins catenoidais de M . Entao gω tem um polo simples

com resıduo real em 0 e ∞ e sua serie de Laurent em torno de z = 0 fica:

gω(z) =(a−1

z+ a0 + a1z + a2z

2 + ...)dz, a−1 ∈ R− 0. (3.13)

Observe que o seu raio de convergencia e ∞, pois gω e holomorfa fora dos fins

catenoidais.

Page 72: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 64

De modo analogo, temos que a serie de Laurent em torno de z = ∞, apos uma

mudanca de coordenadas u = z−1, fica

gω(u) =

(b−1

u+ b0 + b1u+ b2u

2 + ...

)du, b−1 ∈ R− 0

Como du = −dzz2 , entao

gω(z) =

(b−1

z+b0z2

+b1z3

+b2z4

+ ...

)(−dz). (3.14)

Igualando (3.13) e (3.14) temos que a−1 = −b−1, ai = 0 para 0 ≤ i ≤ ∞ e bi = 0

para 0 ≤ i ≤ ∞. Portanto

h = Re

∫gω = b log |z|, b ∈ R− 0. (3.15)

Agora para cada θ ∈ C defina a funcao meromorfa Sθ : C → C dada por

Sθ(x) = (F (x)− F (θx)) (G(x)−G(θx)) .

Afirmacao: Sθ e uma funcao constante para cada θ ∈ C com |θ| = 1.

De fato, suponhamos por absurdo que Sθ nao e uma funcao constante para algum

θ ∈ C com |θ| = 1. Entao Sθ e sobrejetora, pois caso contrario existiria x ∈ C tal

que x nao pertence a ψλ0(C). Como a diferencial de uma funcao meromorfa sempre

preserva a orientacao entao grau de Sθ e igual a cardinalidade de S−1θ (x) que e zero.

Absurdo pois Sθ nao e constante. Portanto Sθ e sobrejetora, e existe x0 ∈M−θx0

com θx0 ∈M tal que Sθ(x0) = R2 para algum R > 0. Fazendo

λ =1

R|F (x0)− F (θx0)|

segue-se que

ψλ(x0) = ψλ(θx0).

De fato, como

ψλ(x0) = (ηλ(x0), h(x0))

Page 73: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 65

basta mostrar que

ηλ(x0) = ηλ(θx0) e h(x0) = h(θx0). (3.16)

Como

|F (x0)− F (θx0)|2

λ2= R2 = Sθ(x0)

e por definicao

Sθ(x0) = (F (x0)− F (θx0)) (G(x0)−G(θx0)) ,

segue da equacao (3.12) que

ηλ(x0) = ηλ(θx0). (3.17)

Alem disso

h(θx0) = b log |θx0| = b log |θ||x0| = b log |x0| = h(x0), (3.18)

e de (3.17) e (3.18) resulta que (3.16) e valida. Portanto

ψλ(x0) = ψλ(θx0).

Como x0 6= θx0 entao ψλ nao e mergulho. O que e um absurdo e isto mostra a

afirmacao.

Suponha que M tem um fim planar pj ∈ C. Podemos supor sem perda de

generalidade que g(pj) = ∞ e que G tem um polo simples em pj.

Portanto podemos escrever

G(z) =c−1

(z − pj)+ c0 + c1(z − pj) + c2(z − pj)

2 + ... com c−1 6= 0

Consequentemente

Page 74: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 66

G(z)−G(θz) =c−1

(z − pj)− c−1

(θz − pj)+ c1 [(z − pj)− (θz − pj)] + .... (3.19)

Sabemos tambem que se g(pj) = ∞, entao F e holomorfa. Entao F (z)− F (θz)

tambem e holomorfa. Com isso

Sθ(z) = (F (z)− F (θz))

(c−1

(z − pj)− c−1

(θz − pj)+ h1(z)

)(3.20)

onde h1 e analıtica em z.

Por (3.20) podemos escolher um θ com |θ| = 1 tal que Sθ tem um polo simples

em pj. Daı Sθ nao seria constante para todo θ ∈ C com |θ| = 1, o que contradiz a

afirmacao anterior. Entao M nao tem fim planar e com isso M tem precisamente

dois fins. Por (2.45) temos

deg(g) = genus(M) + k − 1, entao deg(g) = 0 + 2− 1 = 1.

Portanto pelo teorema (2.17), ψ : M → R3 e o catenoide, pois a superfıcie de

Enneper nao e mergulhada.

Teorema 3.8 Seja ψ : M → R3 uma superfıcie mınima completa nao plana mer-

gulhada de curvatura total finita e genus 0. Entao ψ : M → R3 e o catenoide.

Demonstracao: Temos que G, F sao funcoes meromorfas em C. Considere a

equacao

[G(x)−G(y)][F (x)− F (y)] = 1, (x, y) ∈ C× C. (3.21)

A equacao (3.21) da origem a uma equacao polinomial Q(x, y) = 0. De fato, sendo

G : C → C uma funcao meromorfa, entao

1. G(∞) = u ∈ C.

2. Sendo T (z) = az+bcz+d

uma transformacao de Moebius tal que T (u) = 0, entao

G = T G e uma funcao meromorfa e G(∞) = 0.

Page 75: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 67

3. Sejam z1, ..., zk ∈ C os polos distintos de G. Considere Pj

(1

z−zj

)a parte

principal do desenvolvimento de Laurent de G em zj, onde Pj sao polinomios

em C, 1 ≤ j ≤ k. Assim a aplicacao holomorfa

G(z) = G(z)−k∑

j=1

Pj

(1

z − zj

)nao tem polos, e portanto e uma constante.

4. Entao G e uma funcao racional.

5. Portanto G (e F ) sao funcoes racionais e (3.21) da origem a uma equacao

algebrica Q(x, y) = 0.

Seja Q(x, y) uma componente irredutıvel de Q(x, y). Do teorema 1.50, considere

Σ como sendo a superfıcie de Riemann compacta associada a Q, ou seja,

Σ = (x, y) ∈ C× C;Q(x, y) = 0.

As funcoes

F (x), F (y), G(x), G(y) : Σ → C

sao funcoes meromorfas, pois as projecoes x, y : Σ → C sao funcoes meromorfas.

Considere C ⊂ Σ o conjunto finito formado pelos polos das seis funcoes acima e

pelos pontos de ramificacoes de x. Seja

M ′ = C− x(C) ⊂M e Σ′ = x−1 (M ′) .

Portanto x : Σ′ →M ′ e um recobrimento conforme finito e Σ′, M ′ sao superfıcies

de Riemann compactas finitamente furadas. Alem disso x, y, F (x), F (y), G(x),

G(y), h(x) e h(y) sao funcoes com valores finitos em Σ′. Mais ainda x (Σ′), y (Σ′) ⊂

M , pois se p ∈ Σ′ e x(p) ou y(p) e um fim de M , entao F ou G teria um polo em

x(p) ou y(p), daı p nao pertence a Σ′, o que seria um absurdo.

Page 76: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 68

Segue diretamente de (3.21) que para cada p ∈ Σ′ tem-se

x(p) 6= y(p) e F (x(p)) 6= F (y(p)).

Afirmacao: a funcao harmonica h(x) − h(y) nao se anula em Σ′, ou seja, ela

e positiva ou negativa.

De fato, supohamos por absurdo que existe p ∈ Σ′ tal que h(x(p)) = h(y(p)).

Faca

λ = |F (x(p))− F (y(p))| > 0.

Como ∣∣∣∣F (x(p))− F (y(p))

λ2

∣∣∣∣2 = 1 = [G(x)−G(y)][F (x)− F (y)],

entao (3.12) implica que

ηλ(x(p)) = ηλ(y(p)), (3.22)

o que contradiz a proposicao 3.6. Isto mostra a afirmacao.

Pelo corolario 1.29 do teorema 1.27, Σ′ e um domınio parabolico. Daı a afirmacao

anterior implica que h(y) = h(x) + c para algum c ∈ R − 0. Em particular para

p, q ∈ Σ′ tal que x(p) = x(q), temos

h(y(q)) + c = h(x(q)) = h(x(p)) = h(y(p)) + c,

e portanto

h(y(p)) = h(y(q)). (3.23)

Considere agora a funcao f : Σ′ → (0,∞) dada por

f(p) = |F (x(p))− F (y(p))|.

Sejam p, q em Σ′ com x(p) = x(q) e f(p) = f(q). Fazendo λ = f(p) = f(q)

temos

∣∣∣∣F (x(q))− F (y(q))

λ

∣∣∣∣2 =

∣∣∣∣F (x(p))− F (y(p))

λ

∣∣∣∣2 =f(p)2

f(p)2= 1,

Page 77: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 69

e segue de (3.12) que

ηλ(x(p)) = ηλ(y(p)) e ηλ(x(q)) = ηλ(y(q)).

Como x(p) = x(q), entao

ηλ(y(q)) = ηλ(y(p)).

De (3.23) temos h(y(p) = h(y(q)), o que implica

ψλ(y(p)) = ψλ(y(q)).

e da proposicao (3.6) resulta que y(p) = y(q) e portanto p = q.

Dessa forma f e uma funcao contınua que separa os pontos nas fibras do reco-

brimento finito x : Σ′ →M ′.

Agora vamos mostrar que qualquer fibra x−1(a) com a ∈ M ′ possui um unico

elemento. De fato, suponhamos por absurdo que x−1(a) = a1, a2, com a1 6= a2.

Observe que neste caso, todas as fibras terao dois elementos distintos. Como f

separa os pontos nas fibras do recobrimento finito x : Σ′ →M ′, entao f(a1) 6= f(a2).

Suponha f(a1) > f(a2).

Considere a curva γa1,a2 : [0, 1] → Σ′, onde γa1,a2(0) = a1 e γa1,a2(1) = a2.

Observe que xγa1,a2 e uma curva em M ′ tal que xγa1,a2(0) = xγa1,a2(1) = a.

O levantamento de xγa1,a2 em Σ′, sao duas curvas: γa1,a2 e γa2,a1 : [0, 1] → Σ′, onde

γa2,a1(0) = a2 e γa2,a1(1) = a1.

Seja % : [0, 1] → R dada por

%(t) = f(γa1,a2(t))− f(γa2,a1(t)).

Observe que %(t) > 0 para todo t pois:

a) f separa fibras de x,

b) γa1,a2(t) e γa2,a1(t) estao na mesma fibra de x γa1,a2(t),

Page 78: Superfícies Mínimas Completas Mergulhadas de Curvatura Total

secao3.0 70

c) f(a1) = f(γa1,a2(0)) > f(a2) = f(γa2,a1(0)).

Daı f(γa1,a2(1)) > f(γa2,a1(1)), entao f(a2) > f(a1) o que e um absurdo. Por-

tanto x−1(a) 6= a1, a2.

Analogamente, mostra-se que x−1(a) 6= a1, a2, ..., an, n ≥ 3. Portanto x−1(a)

tem somente um elemento.

Daı x tem inversa, obviamente esta inversa e diferenciavel, entao x e um difeo-

morfismo conforme.

Portanto a extensao x : Σ → C nao possui pontos de ramificacao, consequente-

mente x : Σ → C tambem e um difeomorfismo conforme de grau um.

Trocando x por y, com a mesma ideia usada anteriormente, obtemos que a funcao

meromorfa y : Σ → C tambem e de grau um. Como os difeomorfismos conformes

entre esferas de Riemann sao dados pelas transformacoes de Mobius, concluımos que

T = y x−1 : C → C

e uma transformacao de Mobius que satisfaz

[G(x)−G T (x)][F (x)− F T (x)] = 1, (3.24)

e

h T (x) = h(x) + c para cada x ∈ C, (3.25)

onde c 6= 0. De (3.25) segue-se que T preserva o conjunto dos fins catenoidais. De

fato, seja x um fim catenoidal de M , e suponha x = 0. Entao gw tem polo simples

com resıduo real e segue-se que

h(x) + c = a−1log|x|+ h1(x). (3.26)

Se T (x) nao fosse fim catenoidal entao gw seria holomorfa em T (x). Daı

h(T (x)) = h2(x), (3.27)

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onde h2(x) e harmonica. Absurdo pois h(T (x)) = h(x) + c.

Tambem T n nao pode ser a funcao identidade em C para nenhum n ∈ N.

De fato, se T n for identidade para algum n ∈ N, entao

h(x) = h(T n(x)) = hT (T n−1(x)) = h(T n−1(x)) + c

= h(T n−2(x)) + 2c = h(x) + nc, para todo x ∈ C.

Portanto

nc = 0 ⇒ c = 0

o que nos da uma contradicao.

Alem disso, a superfıcie mınima tem no maximo dois fins catenoidais. De fato

suponha por absurdo que z1, ..., zj sao fins catenoidais de M com j ≥ 3. Como T

preserva o conjunto dos fins catenoidais, entao T n seria identidade nesse conjunto

para algum n ∈ N, (teoria de grupos de permutacao). Mas tres pontos determinam

uma aplicacao de Mobius. Portanto T n seria a aplicacao identidade, o que seria um

absurdo.

Por outro lado, ela tem no mınimo dois fins catenoidais. De fato suponha por

absurdo que ela tenha no maximo um fim catenoidal 0 ∈ C. Daı a funcao harmonica

h : C − 0 ≈ C → R seria limitada superiormente ou inferiormente. Portanto o

teorema de Liouville implica que f e constante, o que e uma contradicao.

Pelos dois paragrafos anteriores, concluimos que a superfıcie tem exatamente

dois fins catenoidais, e pelo lema 3.7, temos o desejado

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