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Robert Murray Mcheyne - 10 sermões_volume 2

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10 Sermões Por Robert Murray M'Cheyne

VOLUME 2

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Sumário

Prefácio.............................................................................................................................................3

Reformação Pessoal e na Oração Secreta....................................................................................4

Sermão 1 – A Voz do Meu Amado ...............................................................................................14

Sermão 2 – O Amor de Cristo.......................................................................................................24

Sermão 3 – Pai, Eu Quero.............................................................................................................34

Sermão 4 – Olhe para um Cristo traspassado............................................................................48

Sermão 5 – Cristo, o Único Refúgio.............................................................................................55

Sermão 6 – Pode uma Mulher Esquecer......................................................................................64

Sermão 7 – Gloriando-se na Cruz de Cristo................................................................................70

Sermão 8 – Feliz és tu, ó Israel.....................................................................................................76

Sermão 9 – Cristo, a Porta para a Igreja......................................................................................85

Sermão 10 – Motivos para Agarrar-se a Jesus...........................................................................89

UMA BIOGRAFIA DE ROBERT MURRAY M'CHEYNE.................................................................93

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Prefácio

Nosso coração transborda de gratidão e nossa boca de riso, pois alegre e reverentemente

reconhecemos: “Senhor, tu nos darás a paz, porque tu és o que fizeste em nós todas as

nossas obras. E seja sobre nós a formosura do Senhor nosso Deus, e confirma sobre nós a

obra das nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos.” (Isaías 26:12; Salmos 90:17).

Este é o segundo volume dos 10 Sermões, por Robert Murray M'Cheyne. Os primeiros 10

sermões têm sido abençoadores, o nosso forte anseio é que estes sejam tanto quanto ou

mais do que aqueles, e prosperem naquilo que a Deus aprouver.

Este sermões são muito preciosos aos nossos olhos, cada um deles nos traz doces lembran-

ças e excelentes meditações. A pena do mui amado Sr. M’Cheyne é como que cheia da luz

do conhecimento de Deus e do calor da piedade bíblica. Aqui há a Doutrina que é segundo a

verdadeira piedade.

Muito anelamos que mais e mais almas possam se beneficiar desses sermões simples, mui

bíblicos e por isso belos, confortadores, edificantes. Aqui há amor e um coração fervendo com

palavras boas ao Noivo de nossas almas. Acredito que a maior necessidade de nosso dias é

de homens que amem a Cristo mais do que tudo, e sejam constrangidos por este amor a

ponto de O seguirem em todo o tempo, com espadas de dois fios nas mãos e com os altos

louvores nas gargantas, com vestes alvas e óleo puro sobre suas cabeças redimidas, que-

brantadas. Onde estão os homens que amam a Jesus Cristo mais do que tudo? Deus o sabe.

O desejo de nosso coração é que a trombeta que soou por Dundee, na Escócia, há quase

duzentos anos atrás com toque suave e impetuoso, toque outra vez, mas agora no Brasil, que

a suavidade console os santos; e o estrugir impetuoso desperte os mortos de seu sono

terrível, e os descuidados de Sião, sejam alertados pelo som certo, solene e urgente do

Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

Que o Senhor lhe conceda Sua Livre a Soberana Graça, para que te lembres desta palavras

na glória e bem-aventurança eterna, no Céu, ao lado de nosso mui Amado Senhor e Salvador

Jesus Cristo; e não no inferno na companhia de Satanás e seu demônios, e não em

tormentos eternos. Nas palavras do piedoso pregador escocês: “Pode ser verdadeiramente

dito para todo pecador que lerá estas palavras, que você foi agora chamado, advertido,

convidado a escapar da ira vindoura, e para lançar-se a Cristo, que está posto diante de você.

Se você não obteve o suficiente para salvar-se, você obteve o suficiente para condenar-te.”

William Teixeira. São Paulo, 10 de maio de 2014.

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Reformação Pessoal e Na Oração Secreta

O Sr. M'Cheyne intitula o exame de seu coração e vida de “Reforma” e este começa assim:

É dever dos ministros neste dia, que comecem a reforma da religião e maneiras neles

mesmos, famílias, etc., com confissão de pecados passados, fervente oração por direção,

graça e pleno propósito de coração. Malaquias 3:3 – “[Ele] purificará os filhos de Levi”. Os

ministros são colocados à parte, por um tempo para esta finalidade.

I. Reforma Pessoal

Estou convencido de que obterei a maior quantidade de felicidade presente, farei mais

para a glória de Deus e o bem do homem, e terei a plena recompensa na eternidade,

através da manutenção de uma consciência sempre lavada no sangue de Cristo, por ser

cheio do Espírito Santo em todos os momentos e por obter mais de toda a semelhança

com Cristo em mente, vontade e coração, que seja possível para um pecador redimido

alcançar neste mundo.

Estou convencido de que, sempre que qualquer um exteriormente, ou o meu coração

interiormente, a qualquer momento, ou em qualquer circunstância, contradiz isto – se

alguém deve insinuar que não é para a minha felicidade presente e eterna, e para a glória

de Deus e minha utilidade, a manutenção de uma consciência lavada pelo sangue, o ser

completamente cheio do Espírito e ser totalmente conforme à imagem de Cristo em todas

as coisas – isto é a voz do Diabo, o inimigo de Deus, o inimigo de minha alma e de todo o

bem, a mais tola, ímpia e miserável de todas as criaturas. Veja Provérbios 9:17: “As

águas roubadas são doces”.

1. Para manter uma consciência livre de ofensa, estou convencido de que eu devo

confessar mais os meus pecados. Eu penso que eu devo confessar o pecado no

momento em que eu perceba que isto seja pecado. Se eu estiver no trabalho, ou em

estudo, ou mesmo na pregação, a alma deve lançar um olhar de aversão ao pecado. Se

eu continuar com o serviço, deixando o pecado não confessado, eu prossigo com a

consciência sobrecarregada, e acrescento pecado a pecado. Eu penso que devo, em

certos momentos do dia – no meu melhor momento – digo, depois do almoço e depois do

chá, confessar solenemente os pecados das horas anteriores, e buscar a sua remissão

completa.

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Encontro que o Diabo frequentemente faz uso da confissão de pecado para agitar

novamente o mesmo pecado confessado em novo exercício, de modo que eu tenho medo

de me debruçar sobre a confissão. Devo solicitar Cristãos experientes sobre isso. No

momento, eu acho que devo me esforçar contra este terrível abuso da confissão, em que

o Diabo tenta me assustar ao confessar. Eu devo obter todos os métodos para perceber a

vileza dos meus pecados. Eu devo me considerar como um ramo condenado de Adão,

como participante de uma natureza oposta a Deus desde o ventre materno (Salmos 51),

como tendo um coração cheio de toda a maldade, que contamina cada pensamento,

palavra e ação, durante toda a minha vida, desde o nascimento até a morte. Eu devo

confessar muitas vezes os pecados da minha mocidade, como Davi e Paulo, meus

pecados antes da conversão, os meus pecados desde a conversão, pecados contra a luz

e conhecimento, contra o amor e a graça, contra cada pessoa da Divindade. Eu devo

olhar para os meus pecados à luz da santa lei, à luz da face de Deus, à luz da cruz, à luz

trono de julgamento, à luz do inferno, à luz da eternidade. Eu devo examinar os meus

sonhos, meus pensamentos vagueantes, minha predileções, minhas ações recorrentes,

meus hábitos de pensamento, sentimento, palavra e ação; as calúnias de meus inimigos e

as reprovações e até gracejos dos meus amigos, para descobrir os traços de meu pecado

predominante, assunto para a confissão. Eu devo ter um dia estabelecido de confissão,

com jejum, digamos, uma vez por mês. Eu devo ter um número de escritos assinalados,

para trazer o pecado à lembrança. Eu devo fazer uso de todas as aflições do corpo, do

julgamento interior, das carrancas da providência sobre mim mesmo, da casa, da

paróquia, da igreja, ou do país, como apelos de Deus para confissão de pecado. Os

pecados e aflições dos outros homens devem me chamar para o mesmo. Eu devo, nas

noites de Sabath, e nas noites de Comunhão de Sabath, ter um cuidado especial para

confessar os pecados de coisas sagradas. Eu devo confessar os pecados de minhas

confissões, suas imperfeições, objetivos pecaminosos, tendência hipócrita, etc., e olhar

para Cristo como tendo confessado meus pecados perfeitamente sobre Seu próprio

sacrifício.

Eu devo ir a Cristo para o perdão de cada pecado. Ao lavar o meu corpo, eu passar por

cima de cada parte, e lavo-as. Devo ser menos cuidadoso ao lavar a minha alma? Eu

devo ver o golpe que foi feito nas costas de Jesus por cada um dos meus pecados. Eu

devo ver a infinita pontada impressa através da alma de Jesus como uma eternidade de

meu inferno por meus pecados, e por todos eles. Eu devo ver que naquele derramamento

de sangue de Cristo há um infinito pagamento excessivo por todos os meus pecados.

Embora Cristo não tenha sofrido mais do que a justiça infinita exigiu, contudo Ele não

poderia sofrer em absoluto, sem estabelecer um resgate infinito.

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Sinto, quando eu peco, uma relutância imediata para ir a Cristo. Tenho vergonha de ir.

Sinto como se não fizesse nenhum bem em ir – como se estivesse fazendo de Cristo um

ministro do pecado, indo direto da calha do suíno para a melhor veste, e mil outras

desculpas; mas estou certo de que essas são todas mentiras, diretas do inferno. João

argumenta o caminho oposto: “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai” [1

João 2:1]; Jeremias 3:1, e mil outras Escrituras são contra isso. Estou certo de que não há

nem paz nem segurança provinda do mais profundo pecado, mas em ir diretamente para

o Senhor Jesus Cristo. Este é o caminho de Deus, da paz e da santidade. É tolice para o

mundo e para o coração obscurecido, mas este é o caminho.

Eu nunca devo considerar um pecado pequeno demais para não necessitar da aplicação

imediata do sangue de Cristo. Se eu lançar fora uma boa consciência, em relação à fé, eu

faço naufrágio. Nunca devo pensar que os meus pecados são tão grandes, tão

agravados, tão presunçosos, como quando feitos de joelhos, ou na pregação, ou em um

leito de morte, ou durante uma doença perigosa, para me impedir de fugir para Cristo. O

peso dos meus pecados deve agir como o peso de um relógio: quanto mais pesado ele é,

mais rápido ele o faz ir.

Eu não devo apenas me lavar no sangue de Cristo, mas vestir-me da obediência de

Cristo. Para cada pecado de omissão em mim, que eu possa encontrar uma obediência

divinamente perfeita pronta para mim em Cristo. Para cada pecado de comissão em mim,

que eu não apenas possa encontrar um golpe ou uma ferida em Cristo, mas também uma

perfeita prestação da oposta obediência em meu lugar, para que a lei seja magnificada, a

sua maldição mais do que cumprida, sua demanda mais do que respondida.

Muitas vezes a Doutrina de Cristo parece-me comum, bem conhecida, não tendo nada de

novo nela. E sou tentado a passar por ela e ir para alguma Escritura mais atrativa. Isto é o

Diabo de novo; uma mentira em brasa. Cristo é para nós sempre novo, sempre glorioso.

“Riquezas incompreensíveis de Cristo” [Efésios 3:8]; um objeto infinito e o único para uma

alma culpada. Eu devo ter um número de Escrituras disponíveis, que conduzam a minha

alma cega diretamente para Cristo, tal como Isaías 45 e Romanos 3.

2. Para ser cheio do Espírito Santo, estou certo de que eu devo estudar mais a minha

própria fraqueza. Que eu devo ter um número de Escrituras prontas para serem

meditadas, como Romanos 7, João 15, para convencerem-se de que eu sou um verme

desamparado.

Sinto-me tentado a pensar que eu sou agora um Cristão confirmado, que eu venci este ou

aquele desejo há muito, que eu adquiri o hábito da graça oposta, de modo que não há

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temor; que eu posso aventurar-me muito perto da tentação, mais perto do que os outros

homens. Isto é uma mentira de Satanás. Assim como eu posso falar da pólvora

adquirindo por hábito, um poder de resistir ao fogo, de modo a não produzir a faísca.

Enquanto o pó está molhado, ele resiste à faísca, mas quando ele se torna seco, está

pronto a explodir ao primeiro toque. Enquanto o Espírito habita em meu coração, Ele me

amortece para o pecado, de modo que, se legalmente chamado a passar pela tentação,

eu posso confiar que Deus me conduz. Mas quando o Espírito me deixa, eu sou como

pólvora seca. Ó, uma percepção disso!

Sinto-me tentado a pensar que há alguns pecados pelos quais não tenho gosto natural,

como a bebida forte, linguagem profana, etc., de forma que eu não preciso temer a

tentação por tais pecados. Isto é uma mentira, uma mentira orgulhosa, presunçosa. As

sementes de todos os pecados estão em meu coração, e talvez de todas as mais

perigosas são as que eu não vejo.

Eu deveria orar e trabalhar pela mais profunda sensibilidade de minha fraqueza e

impotência do que jamais um pecador foi levado a sentir. Estou desamparado em relação

a cada concupiscência que sempre esteve, ou sempre estará no coração humano. Sou

um verme, uma besta diante de Deus. Muitas vezes eu tremo ao pensar que isso é

verdade. Eu sinto como se não fosse seguro a mim, renunciar a toda força que habita

interiormente, como se fosse perigoso que eu sinta (o que é verdade) que não há nada

em mim guardando-me do pecado mais grosseiro e mais vil. Esta é uma ilusão do Diabo.

Minha única segurança é saber, sentir e confessar minha impotência, para que eu possa

pendurar-me no braço da Onipotência. Eu diariamente desejo que o pecado fosse

erradicado do meu coração. Eu digo: “por que Deus permite a raiz de lascívia, orgulho,

raiva e etc. no meu seio? Ele odeia o pecado, e eu o odeio também; por que Ele não o

purifica?” Eu conheço muitas respostas a isto que satisfazem completamente o meu

julgamento, mas ainda assim, não me sinto satisfeito. Isso é errado. É correto estar

cansado de estar pecando, mas não é correto brigar com meu presente “bom combate da

fé”. As quedas em pecado de professos me fazem tremer. Eu tenho sido afastado da

oração, e sobrecarregado de uma forma temerosa por ouvir ou ver o seu pecado. Isso é

errado. É correto tremer, e fazer de cada pecado de todo professo uma lição da minha

própria impotência, mas isso deveria levar-me mais para Cristo. Se eu estivesse mais

profundamente convencido de meu completo desamparo, penso que não ficaria tão

alarmado quando ouço das quedas de outros homens. Eu devo estudar aqueles pecados

em que sou mais impotente, em que a paixão se torna como um furacão e eu como uma

palha. Nenhuma figura de linguagem pode representar a minha absoluta falta de poder

para resistir à torrente de pecado. Eu devo estudar mais a onipotência de Cristo: Hebreus

7:25, 1 Tessalonicenses 5:23, Romanos 6:14, 5:9, Romanos 10 e Escrituras semelhantes

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deveriam estar sempre diante de mim. O espinho de Paulo, 2 Coríntios 12, é a

experiência da maior parte da minha vida. Isso deve estar sempre diante de mim. Existem

muitos métodos auxiliares de buscar a libertação dos pecados, que não devem ser

negligenciados, como: casamento, 1 Coríntios 7:2; fuga, 1 Timóteo 6:11, 1 Coríntios 6:18;

vigiar e orar, Mateus 26:41; a Palavra, “está escrito, está escrito”, Assim, Cristo Se defen-

deu em Mateus 4. Mas a defesa principal é lançar-me nos braços de Cristo como uma

criança indefesa, e suplicar-Lhe que me encha com o Espírito Santo. “Esta é a vitória que

vence o mundo: a nossa fé”, João 5:4-5, uma passagem maravilhosa.

Eu devo estudar mais sobre Cristo como um Salvador, como um Pastor, carregando a

ovelha que Ele encontra; como um Rei, reinando nas e sobre as almas que Ele redimiu;

como um Capitão, lutando contra aqueles que lutam comigo, Salmos 35; como Aquele

que se comprometeu a conduzir-me através de todas as tentações e provações, mesmo

impossíveis para a carne e sangue.

Muitas vezes sou tentado a dizer: “Como pode este Homem nos salvar? Como Cristo no

céu pode livra-me das paixões furiosas que sinto em mim, e das redes que sinto

prendendo-me?” Isto é o pai da mentira novamente! “Ele pode salvar perfeitamente”

[Hebreus 7:5].

Eu devo estudar sobre Cristo como um Intercessor. Ele orou mais por Pedro, que era o

mais tentado. Eu estou em Seu peitoral. Se eu pudesse ouvir Cristo orando por mim na

sala ao lado, eu não temeria um milhão de inimigos. Ainda assim, a distância não faz

diferença; Ele está orando por mim.

Eu devo estudar mais sobre o Consolador, Sua Divindade, Seu amor, Sua onipotência.

Tenho encontrado por experiência que nada me santifica tanto quanto meditar sobre o

Consolador, como João 14:16. E ainda assim, como é raro que eu faça isso! Satanás me

afasta disso. Muitas vezes sou como aqueles homens que disseram que não sabiam que

havia algum Espírito Santo. Eu nunca devo esquecer que meu corpo é habitado pela

terceira Pessoa da Trindade. Somente pensar nisso, deve fazer-me tremer a pecar; 1

Coríntios 6. Eu nunca devo esquecer que o pecado entristece o Espírito Santo, irrita e

extingue-O. Se eu quero ser cheio do Espírito Santo, sinto que devo ler mais a Bíblia, orar

mais, e vigiar mais.

3. Para obter plena semelhança a Cristo, eu devo ter uma alta estima da bem-

aventurança disso. Estou persuadido de que a alegria de Deus está inseparavelmente

ligada à Sua santidade. Santidade e alegria são como luz e calor. Deus nunca provou dos

prazeres do pecado.

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Cristo teve um corpo como o que eu tenho, mas Ele nunca provou um dos prazeres do

pecado O redimido, por toda a eternidade, nunca provará um dos prazeres do pecado.

Ainda assim, a sua felicidade é completa. Seria minha maior felicidade ser desde já

inteiramente como eles. Cada pecado é algo distante de meu maior prazer. O Diabo se

esforça dia e noite para me fazer esquecer isso ou não acreditar nisso. Ele diz: Por que

você não desfruta deste prazer, tanto quanto Salomão ou Davi? Você pode ir para o céu

também. Estou convencido de que isso é uma mentira. Que a minha verdadeira felicidade

seja prosseguir e não mais pecar.

Eu não devo adiar o abandono de pecados. Agora é o tempo de Deus. “Apressei-me, e

não me detive” [Salmos 119:60]. Eu não deveria poupar os pecados, porque eu tenho há

muito tempo consentido com eles como enfermidades, e outros achariam estranho se eu

devesse mudar tudo de uma vez. Que ilusão miserável de Satanás isto é!

Tudo o que eu percebo ser pecado, eu devo, a partir desta hora, estabelecer toda a minha

alma contra ele, usando todos os métodos bíblicos para mortifica-lo, como as Escrituras,

oração especial pelo Espírito, jejum, vigilância.

Eu deveria observar rigorosamente as ocasiões em que eu caí, e evitar a ocasião, tanto

quanto o próprio pecado.

Satanás muitas vezes me tenta a ir tão perto quanto possível das tentações, sem cometer

o pecado. Isto é temeroso, tenta a Deus e entristece o Espírito Santo. É uma trama

profunda colocada por Satanás.

Eu devo fugir de toda a tentação, de acordo com Provérbios 4:15: “Evita-o; não passes

por ele; desvia-te dele e passa de largo”. Eu devo, constantemente, derramar o meu

coração a Deus, orando por inteira conformidade com Cristo, para que toda a lei seja

escrita no meu coração. Eu devo resoluta e solenemente entregar meu coração a Deus,

entregar o meu tudo em Seus braços eternos, de acordo com a oração, Salmos 31; “Nas

tuas mãos entrego o meu espírito”, suplicando-Lhe para não deixar que qualquer

iniquidade, secreta ou presunçosa, tenha domínio sobre mim e me encha de toda graça

que está em Cristo no mais elevado nível que for possível para pecador redimido recebê-

la, e em todos os momentos, até a morte.

Eu devo meditar muitas vezes no céu como um mundo de santidade, onde todos são

santos, onde a alegria é uma alegria santa, a obra uma obra santa; de modo que, sem a

santidade pessoal, eu nunca posso estar ali. Eu devo evitar a aparência do mal. Deus me

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ordena, e eu encontro que Satanás tem uma arte singular em associar a aparência e a

realidade, unindo-as.

Eu encontro que falar de alguns pecados contamina a minha mente e me leva a tentação,

e encontro que Deus proíbe até mesmo os santos de falarem das coisas que são feitas

por eles em oculto. Eu deveria evitar isso.

Eva, Acã, Davi, todos caíram através da concupiscência dos olhos. Eu devo fazer uma

aliança comigo, e orar, “Desvia os meus olhos de contemplar a vaidade”. Satanás torna

os homens não-convertidos como a víbora surda, ao som do evangelho. Eu devo orar

para ser feito surdo pelo Espírito Santo a todos que querem me seduzir ao pecado.

Um de meus momentos mais frequentes de ser levado à tentação é esse: Eu digo que é

necessário para o meu ofício que eu escute isso, ou olhe para isso, ou fale disso. Até

agora, isto é verdadeiro; ainda assim, tenho certeza que Satanás tem sua parte nesse

argumento. Eu devo procurar a direção Divina para resolver o quanto isso será benéfico

para o meu ministério, e quão maligno para a minha alma, para que eu possa evitar este

último.

Estou convencido de que nada está prosperando na minha alma a menos que isso esteja

crescendo: “Crescei na graça”. “Senhor: Acrescenta-nos a fé”. “Esquecendo-me das

coisas que atrás ficam”. Estou convencido de que eu deveria estar perguntando a Deus e

ao homem que graça eu necessito, e como eu posso tornar-me mais semelhante a Cristo.

Eu devo lutar por mais pureza, humildade, mansidão, paciência sob o sofrimento e amor.

“Faça-me semelhante a Cristo em todas as coisas” deve ser a minha constante oração.

“Enche-me com o Espírito Santo”.

II. Reforma na Oração Secreta

Eu não devo omitir qualquer uma das partes da oração: confissão, adoração, ação de

graças, petição e intercessão.

Há uma temerosa tendência de omitir a confissão, proveniente dos baixos pontos de vista

sobre Deus e Sua lei, débeis visões de meu coração e pecados passados de minha vida.

Isso deve ser resistido. Há uma tendência constante para omitir a adoração, quando eu

esqueço com Quem eu estou falando, quando eu corro descuidadamente da presença do

Senhor, sem lembrar-me de Seu nome e caráter temíveis, quando eu tenho pequena

visão de Sua glória, e pouca admiração por Suas maravilhas. “Onde está o sábio?” Tenho

a tendência natural do coração para omitir a ação de graças. Ainda assim isto é

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especialmente ordenado em Filipenses 4:6. Muitas vezes, quando o coração está egoísta,

insensível para a salvação dos outros, eu omito a intercessão. Embora, este é especial-

mente o espírito do grande Advogado, que tem o nome de Israel sempre em Seu coração.

Talvez nem toda oração precise ter todas estas, mas com certeza, um dia não deveria

passar sem algum espaço sendo dedicado a cada uma.

Eu deveria orar antes de ver qualquer pessoa. Muitas vezes, quando eu durmo muito, ou

encontro-me cedo com outros, e depois, tenho a oração familiar, e café da manhã, e

pessoas que me procuram pela manhã, frequentemente são onze horas ou meio-dia,

antes que eu comece a oração secreta. Isto é um sistema miserável. Isto é antibíblico.

Cristo ressuscitou antes do amanhecer, e foi para um lugar solitário. Davi diz: “Pela

manhã ouvirás a minha voz, ó Senhor; pela manhã apresentarei a ti a minha oração, e

vigiarei” [Salmos 5:3]. Maria Madalena foi ao sepulcro, sendo ainda escuro. A oração

familiar perde muito de sua força e doçura; e eu não posso fazer nada de bom por

aqueles que vêm me procurar. A consciência sente-se culpada, a alma em jejum, a

lâmpada não avivada. Então, quando a oração secreta vem, a alma está muitas vezes

fora de sintonia. Eu sinto que é muito melhor começar com Deus, ver Seu rosto primeiro,

aproximar a minha alma dEle, antes que eu me aproxime de outrem. “Quando acordo

ainda estou Contigo” [Salmos 139:18].

Se eu dormi por muito tempo, ou viajar cedo, ou se o meu tempo é de qualquer forma

abreviado, é melhor vestir-me apressadamente, e ter alguns minutos a sós com Deus do

que dar isto por perdido.

Mas, em geral, é melhor ter pelo menos uma hora a sós com Deus, antes de se envolver

em qualquer outra coisa. Ao mesmo tempo, tenho que ter cuidado para não contar a

comunhão com Deus por minutos ou horas, ou pela solidão. Tenho me debruçado sobre a

minha Bíblia e de joelhos por horas, com pouca ou nenhuma comunhão, e meus

momentos de solidão têm sido, muitas vezes, os de maior tentação.

Quanto à intercessão, eu devo interceder diariamente pela minha própria família,

conhecidos, parentes e amigos; também pelo meu rebanho: os crentes, os despertados,

os descuidados, os doentes, os enlutados, os pobres, os ricos, meus anciãos, os

professores da Escola Dominical, professores da escola diária, crianças e distribuidores

de sermões; para que todos os meios sejam abençoados: a pregação e ensino de Sabath,

a visita aos doentes, a visita de casa em casa; providências, sacramentos. Eu devo

diariamente interceder brevemente por toda a cidade, pela Igreja da Escócia, por todos os

ministros fiéis, pelas congregações vagas, estudantes de teologia e etc., pelos queridos

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irmãos nominalmente, por missionários enviados aos judeus e Gentios, e para este fim,

eu preciso compreender a inteligência missionária regularmente, e familiarizar-me com

tudo o que estão fazendo em todo o mundo. Isso deveria me estimular a orar com um

mapa diante de mim. Tenho que ter um esquema de oração, também os nomes dos

missionários marcados no mapa. Eu devo interceder, em geral, mais na manhã e noite de

Sabath, das sete às oito. Talvez eu também possa tomar diferentes partes em diferentes

dias; eu apenas devo pleitear diariamente por minha família e rebanho. Eu devo orar

sobre tudo. “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em

tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças” [Filipenses

4:6]. Muitas vezes eu recebo uma carta solicitando para pregar, ou algum pedido

semelhante. Encontro-me respondendo antes de ter pedido conselho a Deus. Ainda mais

frequentemente uma pessoa me chama e pede-me alguma coisa, e eu não solicito

direção. Muitas vezes eu saio para visitar uma pessoa doente com pressa, sem pedir Sua

bênção, o que por si só pode fazer a visita de alguma utilidade. Estou convencido de que

eu nunca devo fazer nada sem oração, e, se for possível, especial oração secreta.

Ao ler a história da Igreja da Escócia, eu vejo o quanto seus problemas e tribulações têm

sido relacionados com a salvação das almas e a glória de Cristo. Eu devo orar muito mais

por nossa igreja, por nossos principais ministros nominalmente, e pela minha própria clara

orientação no caminho correto, para que eu não seja levado a desviar-me, ou me conduza

a desviar de seguir a Cristo. Muitas questões difíceis podem ser forçadas sobre nós para

as quais eu não estou totalmente preparado, como a legalidade das alianças. Eu deveria

orar muito mais em dias de paz, para que eu possa ser guiado corretamente quando os

dias de tribulações vierem.

Eu devo passar as melhores horas do dia em comunhão com Deus. Este é a minha mais

nobre e mais frutífera ocupação, e isto não deve ser empurrado para qualquer canto. As

primeiras horas da manhã, de seis às oito, são as mais ininterruptas, e, portanto, devem

ser assim empregadas, se eu puder evitar a sonolência. Um pouco de tempo após o

almoço pode ser dedicado à intercessão. Após o chá é o meu melhor horário, e este deve

ser solenemente dedicado a Deus, se possível.

Eu não devo abandonar o velho e bom hábito de orar antes de ir para a cama; mas a

vigilância deve ser mantida contra o sono; planejar as coisas que devo pedir é o melhor

remédio. Quando eu despertar no meio da noite, eu devo levantar-me e orar, como Davi e

como John Welsh fizeram.

Eu devo ler três capítulos da Bíblia, em segredo, todos os dias, no mínimo.

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Eu devo, no Sabath, pela manhã, olhar todos os capítulos lidos durante a semana, e

especialmente os versículos marcados. Eu devo ler em três diferentes lugares, e devo

também ler de acordo com os temas, biografias, etc.

Ele, evidentemente, deixou isso inacabado, e agora ele conhece como também ele é

conhecido.

Trecho de “A Biografia de Robert Murray M'Cheyne”, por Andrew A. Bonar.

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A Voz do Meu Amado

“Esta é a voz do meu amado; ei-lo aí, que já vem saltando sobre os montes,

pulando sobre os outeiros. O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho do

veado; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando

pelas grades. O meu amado fala e me diz: Levanta-te, meu amor, formosa minha, e

vem. Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; Aparecem as

flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A

figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-

te, meu amor, formosa minha, e vem. Pomba minha, que andas pelas fendas das

penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz,

porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa. Apanhai-nos as raposas, as

raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor. O

meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios. Até

que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao

gamo ou ao filho dos veados sobre os montes de Beter” (Cânticos 2:8-17).

Não há nenhum livro da Bíblia que proporcione um melhor teste da profundidade do

Cristianismo de um homem do que o de Cântico dos Cânticos. (1.) Se a religião de um

homem estiver toda em sua cabeça – uma estrutura bem definida de doutrinas, construída

como trabalho de pedreiro, pedra sobre pedra – mas não exercer nenhuma influência

sobre o seu coração, este livro não pode deixar de ofendê-lo; pois, nele não há decla-

rações rígidas de doutrina sobre as quais a sua religião sem coração possa ser

construída. (2.) Ou, se a religião de um homem for toda em sua imaginação – se, como

Flexível em O Peregrino, ele seja levado pela beleza exterior do Cristianismo – se, como

a semente lançada sobre o solo rochoso, a sua religião é estabelecida apenas nas

faculdades superficiais da mente, enquanto o coração permanece rochoso e impassível;

embora ele desfrute deste Livro, mais do que o primeiro homem, ainda assim, há um ar

misterioso de íntima comoção nele, em que não pode senão tropeçar e ofender-se. (3.)

Mas se a religião de um homem for a religião do coração – se ele não tem não apenas

doutrinas em sua cabeça, mas o amor de Jesus em seu coração – se ele não tem so-

mente ouvido e lido do Senhor Jesus, mas tem sentido a sua necessidade dEle, e foi

levado a apegar-se a Ele, como o primeiro entre dez mil, e totalmente desejável, então

este livro será inestimavelmente precioso para sua alma; pois contém os mais ternos

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suspiros do coração do crente pelo Salvador, e os mais ternos desejos do coração do

Salvador, novamente, em direção ao crente.

“O seu assunto é totalmente sublime, espiritual e místico; e as formas de sua composição,

universalmente alegóricas” – John Owen.

Há uma concordância entre os melhores intérpretes deste Livro – (1). Que ele consiste

não de um cântico, mas de muitas canções; (2). Que esses cânticos estão em uma forma

dramática; e (3). Que, como as parábolas de Cristo, elas contêm um significado espiritual,

sob a veste e ornamentos de alguns episódios poéticos.

A passagem que eu li compõe um destes cânticos dramáticos, e o tema deste é uma

visita repentina que uma noiva Oriental recebe de seu senhor ausente. A noiva é

representada para nós como sentada sozinha e desolada em um quiosque, ou bosque

Oriental – um lugar seguro e de retraimento nos jardins do Oriente – descrito por viajantes

modernos como “um bosque cercado por um muro verde, coberto por videiras e jasmins,

com janelas de gelosias¹”.

Os montes de Beter (ou, como estão no limiar, os montes da divisão), os montes que a

separam de seu amado, parecem quase intransponíveis. Eles parecem tão íngremes e

escarpados, que ela teme que ele nunca mais consiga vir por sobre eles para visitá-la.

Seu jardim não possui nenhuma beleza que a atraia a seguir adiante. Toda a natureza

parece participar de sua tristeza; o inverno reina fora e dentro; nenhuma flor aparece na

terra; todos os pássaros canoros parecem estar tristes e silenciosos sobre as árvores; e a

voz de amor da rola não é ouvida na terra.

É enquanto ela está sentada, assim, solitária e desolada aquela voz de seu amado alcan-

ça o seu ouvido. O amor é rápido em ouvir a voz que é amada; e, portanto, ela ouve mais

rápido do que todas as suas donzelas, e o cântico inicia com a sua exclamação impetu-

--------------------

[1] Gelosia: A palavra “gelosia” surgiu a partir do árabe. É uma estrutura herdada da arquitetura da etnia

árabe, popularizada na Península Ibérica, e é constituída por treliças de madeira capazes de vedar vãos de

janelas, formando uma espécie de gaiola, cujo objetivo era “aprisionar” ou proteger as mulheres em casa.

Uma vez que a gelosia evita que quem está atrás da janela seja visto por quem está de fora, os maridos

árabes costumavam usar esta janela nos quartos de suas esposas para que elas não tivessem contato

visual direto com outros homens, daí a palavra gelosia vir do francês “jalousies”, ou do inglês “jealous”,

significando ciúmes” (Fonte: pt.wikipedia.org).

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osa: “Esta é a voz do meu amado!” Quando ela sentou-se em sua solidão, as montanhas

entre ela e seu senhor pareciam quase intransponíveis, eles eram tão elevados e tão

íngreme; mas agora ela vê com que rapidez e facilidade ele salta estes montes, de forma

que ela pode compará-lo a nada além de um gamo, ou o jovem cervo, as criaturas mais

formosas e mais rápidas das montanhas. “O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao

filho do veado”. Sim, enquanto ela está falando, ele já chegou ao muro do jardim; e agora,

eis que “ele olha pelas janelas, espreitando pelas grades”. A noiva, a seguir, nos relata o

convite suave, que parece ter sido o cântico de seu amado vindo tão rapidamente sobre

os montes. Enquanto ela se sentava solitária, toda a natureza parecia morta – o inverno

reinava; mas agora ele diz a ela que ele trouxe o tempo da primavera, juntamente com

ele. “Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Porque eis que passou o inverno; a

chuva cessou, e se foi; aparecem as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da

rola ouve-se em nossa terra. A figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor

exalam o seu aroma; levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem”. Movida por este com-

vite premente, ela sai de seu lugar de retraimento para a presença de seu senhor, e se

apega a ele como uma temerosa pomba das fendas das rochas; e, em seguida, ele se

dirige a ela com estas palavras da mais terna e delicada afeição: “Pomba minha, que

andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me

ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa”. Alegremente concordan-

do em ir adiante com seu senhor, ela ainda lembra que esta é a época de maior perigo

para as vinhas, devido as raposas que mordiscam a casca das vinhas; e, portanto, ela

não sairá sem deixar o comando de cautela para as suas donzelas: “Apanhai-nos as rapo-

sas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor”.

Ela, então, renova a aliança de seu casamento com o seu amado, com estas palavras de

pertinente afeição: “O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho

entre os lírios”. E por fim, por ela saber que esta temporada de comunhão íntima não

durará, já que o seu amado deve sair novamente sobre os montes, ela não suportará que

ele vá, sem rogar-lhe que frequentemente renove estas visitas de amor, até que amanhe-

ça aquele dia feliz em que eles não mais precisaram estar separados: “Até que refresque

o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos

veados sobre os montes de Beter”.

Podemos muito bem desafiar o mundo inteiro de gênios para produzirem em qualquer

idioma um poema como este – tão pequeno, tão abrangente, tão delicadamente bonito.

Porém, o que é muito mais para o nosso atual propósito, não há nenhuma parte da Bíblia

que desvele mais lindamente um pouco da experiência mais íntima do coração do crente.

Olhemos, então, agora para a parábola como uma descrição de uma dessas visitas que o

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Salvador muitas vezes faz às almas crentes, quando Ele Se manifesta a eles de forma

diferente do que o faz ao mundo.

I. QUANDO O CRENTE ESTÁ SOZINHO

Quando Cristo está longe da alma do crente, ele senta-se sozinho.

Nós vimos na parábola, que, quando o seu senhor foi embora, a noiva estava sentada

sozinha e desolada. Ela não se importou com a juventude e alegria para animarem as

suas horas solitárias. Ela não solicitou a harpa do menestrel para acalmá-la em sua

solidão. Não havia flauta, nem adufe, nem vinho em suas festas. Não, ela sentou-se

sozinha. Os montes pareciam quase intransitáveis. Toda a natureza participou de sua

tristeza. Se ela não podia estar feliz sem à luz da face do seu senhor, ela estava decidida

a não estar feliz com mais nada. Ela sentou-se solitária e desolada. Exatamente assim é

com o verdadeiro crente em Jesus. Quaisquer que sejam os montes de Beter que estejam

entre a sua alma e Cristo, se ele foi seduzido por velhos pecados, de forma que as suas

iniquidades fazem separação entre ele e o seu Deus; e os seus pecados encobrem o Seu

rosto dele, para que não lhe ouça [Isaías 59:2]; ou se o Salvador retirou por um momento,

a luz consoladora de Sua presença para a simples prova da fé de Seu servo, para ver, se,

quando ele anda em trevas, e não tem luz nenhuma, confia no nome do Senhor, e firma-

se sobre o seu Deus [Isaías 50:10]; quaisquer que sejam os montes de separação, é a

evidência segura de um crente que ele se assentará desolado e sozinho. Ele não

consegue rir, longe de seus intensos cuidados, como os homens mundanos podem fazer.

Ele não consegue mergulhar-se na taça da intemperança, como os miseráveis homens

cegos podem fazer. Mesmo o inocente vínculo da amizade humana não traz nenhum

bálsamo para a sua ferida – ou melhor, até mesmo a comunhão com os filhos de Deus

agora é desagradável para a sua alma. Ele não consegue apreciar o que ele gostava

antes, quando aqueles que temiam ao Senhor falavam um com o outro. Os montes entre

ele e o Salvador parecem tão vastos e intransponíveis, que teme que Ele nunca mais o

visitará. Toda a natureza participa de sua tristeza – o inverno reina fora e dentro. Ele

senta-se sozinho, e fica desolado. Estando aflito, ele ora; e o peso de sua oração é o

mesmo daquele de um velho crente: “Senhor, se eu não posso me contentar com a luz de

Tua face, que me concedas não ser feliz com nada mais; pois a alegria sem Ti é morte”.

Ah! meus amigos, vocês conhecem algo sobre esse sofrimento? Vocês sabem que é,

assim, sentar-se sozinho e estar desolado, porque Jesus está fora da vista? Se vocês o

sabem, então se alegrem, se é possível, mesmo em meio a vossa tristeza! Pois, essa

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mesma tristeza é uma das marcas que vocês são crentes – de forma que vocês encon-

tram toda a vossa paz e toda a vossa alegria na união com o Salvador.

Mas ah, quão oposto é o caminho da maioria de vocês! Vocês não conhecem nada dessa

tristeza. Sim, talvez vocês zombem disso. Vocês conseguem estar felizes e contentes

com o mundo, mas vocês nunca tiveram uma visão de Jesus. Vocês podem estar felizes

com seus companheiros, embora o sangue de Jesus nunca tenha sussurrado paz à tua

alma. Ah, quão evidente é que vocês estão se apressando para o lugar onde “não há paz

para os ímpios, diz o meu Deus” [Isaías 57:21].

II. A VINDA DE CRISTO ATÉ O CRENTE

A vinda de Cristo até o crente desolado é, muitas vezes, súbita e maravilhosa.

Nós vimos na parábola, que foi quando a noiva estava sentada sozinha e desolada que

ela ouviu, de repente, a voz do seu senhor. O amor é rápido em ouvir, e ela exclama: “A

voz do meu amado!” Antes, achava as montanhas quase intransponíveis; mas agora ela

pode comparar a rapidez dele a nada, a não ser ao gamo, ou ao filho do veado. Sim, em-

quanto ela fala, ele está na parede, na janela, mostrando-se através da grade. Muitas

vezes, exatamente assim ocorre com o crente. Enquanto ele se senta sozinho e desolado,

os montes da separação parecem uma barreira vasta e intransponível para o Salvador, e

teme que Ele nunca volte. Os montes de provocações de um crente são frequentemente

mui grandes. “Que eu tenha pecado novamente, eu que fui lavado no lavado no sangue

de Jesus. É pouco que os outros homens pequem contra Ele; eles nunca O conheceram –

nunca O amaram como eu o fiz. Certamente eu sou o maior dos pecadores, e pequei

demais, meu Salvador. Os montes de minhas provocações cresceram até o céu, e Ele

nunca mais poderá vir”. Assim é que o crente escreve coisas amargas contra si mesmo; e

nessa ocasião, é que muitas vezes ele ouve a voz de seu Amado. Algum texto da Pala-

vra, ou alguma palavra de um amigo cristão, ou alguma parte de um sermão, mais uma

vez revela Jesus em toda a Sua plenitude, o Salvador dos pecadores, mesmo do principal. Ou

pode ser que Ele se dá a conhecer à alma desconsolada no partir do pão, e quando Ele

fala as palavras gentis: “Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós... Tomou

o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as

vezes que beberdes, em memória de mim” [1 Coríntios 11:24-25]; então, ele exclama: “A

voz do meu amado! Eis que vem saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros”.

Ah! meus amigos, vocês conhecem alguma coisa deste alegre surpresa? Se conhecem,

por que vocês sempre sentam-se em desespero, como se a mão do Senhor estivesse

encolhida de forma que Ele não possa salvar, ou como se seus ouvidos estivessem

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agravados de forma que Ele não possa ouvir? Na hora mais tenebrosa digam: “Por que

estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus,

pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus” [Salmos 42:11].

Venham com expectativa à Palavra. Não venham com essa indiferença apática, como se

nada que um verme companheiro possa dizer seja digno de sua audição. Esta não é a

palavra do homem, mas a Palavra do Deus vivo. Venham com grandes esperanças, e

então vocês encontrarão a promessa verdadeira, que Ele enche os famintos com coisas

boas, embora Ele despeça os ricos de mãos vazias.

III. VINDA DE CRISTO MUDA TODAS AS COISAS

A Vinda de Cristo muda todas as coisas para o crente, e seu amor é mais suave do que

nunca.

Nós vimos na parábola que, quando a noiva estava desolada e sozinha, toda a natureza

estava mergulhada em tristeza. Seu jardim não possuía encantos para levá-la adiante,

pois o inverno reinava dentro e fora. Mas quando o seu senhor veio tão rapidamente so-

bre os montes, ele trouxe a primavera junto com ele. Toda a natureza é alterada enquanto

ele avança, e seu convite é: “Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Porque eis

que passou o inverno”. Exatamente assim é com o crente, quando Cristo está ausente:

tudo é inverno na alma. Mas, quando Ele vem novamente sobre os montes da provação;

Ele traz uma temporada de feliz primavera junto consigo. Quando esse Sol da Justiça

surge de novo na alma, não apenas os Seus raios alegrantes caem sobre a alma do cren-

te, mas toda a natureza se alegra com a sua alegria. As montanhas e colinas irrompem

em cânticos diante dEle, e todas as árvores do campo batem palmas. É como uma

mudança de estação para a alma. É como que a súbita mudança das chuvas torrenciais

de inverno sombrio para a plena primavera corada, que é tão peculiar aos climas do sol.

O mundo da natureza é todo modificado. Em lugar do espinheiro surge a faia, e em lugar

da sarça surge a murta. Cada árvore e campo possuem uma beleza nova para a alma

feliz. O mundo da graça é todo transformado. A Bíblia estava completamente seca e sem

sentido, antes; agora, que inundação de luz é derramada sobre as suas páginas! Quão

plena, quão revigorante, quão rica em significado, como suas frases mais simples tocam o

coração! A casa de oração estava completamente triste e melancólica antes – os seus

serviços eram áridos e insatisfatórios; mas agora, quando o crente vê o Salvador, como

ele O viu no interior do santo lugar, seu clamor é: “Quão amáveis são os teus taberna-

culos, SENHOR dos Exércitos! Porque vale mais um dia nos teus átrios do que mil”

[Salmos 84: 1, 10]. O jardim do Senhor estava todo triste e desanimado antes; agora a

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ternura em direção aos não-convertidos brota revigorada, e o amor ao povo de Deus arde

no peito, aqueles que temem ao Senhor falam-se frequentemente. O tempo de cantar os

louvores de Jesus chega, e a voz amorosa da rola a Jesus é mais uma vez ouvida na

terra; a videira do Senhor frutifica, e a romã floresce, e a voz de Cristo para a alma é:

“Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem”.

Como a pomba temerosa perseguida pelo abutre, e quase feita uma presa, com asa vi-

brante e ansiosa, esconde-se mais profundamente do que nunca nas fendas das rochas,

e nos lugares secretos do precipício, assim o crente caído, a quem Satanás desejou ter,

para que pudesse peneirá-lo como trigo, quando ele é restaurado mais uma vez com a

presença toda-graciosa do seu Salvador, apega-se a Ele com fé vibrante, desejosa, e

esconde-se mais profundamente do que nunca nas feridas de seu Salvador. Foi assim

com Pedro ao cair, quando ele tão gravemente negou o seu Senhor, ainda assim, quando

trazido novamente à visão de seu Salvador, de pé sobre a terra, foi o único dos discípulos

que se cingiu com sua capa de pescador, e lançou-se ao mar para nadar até Jesus; e

assim como aquele apóstolo caído, quando mais uma vez ele se escondeu na Rocha

Eterna, descobriu que o amor de Jesus era mais terno em relação a ele do que nunca,

quando ele começou aquela conversa, que, mais do que todas as outras na Bíblia,

combina a mais amável das reprovações com o mais amável dos incentivos: “Simão, filho

de Jonas, amas-me mais do que estes?” [João 21:15]. Exatamente assim cada crente

caído encontra, que quando novamente ele está escondido nas feridas recém-abertas do

seu Senhor, a fonte de Seu amor começa a fluir renovada, e o ribeiro de bondade e

afeição é mais pleno e transbordante do que nunca, porque a Sua palavra é: “Pomba

minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face,

faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa”.

Ah, meus amigos, vocês conhecem alguma coisa disto? Vocês já experimentaram essa

vinda de Jesus sobre o monte de vossas provocações, enquanto fez uma mudança de

estação em vossa alma? E você, crente caído, encontrado, quando se escondeu nova e

mais profundamente do que nunca nas fendas das rochas – como Pedro cingindo sua

capa de pescador, e lançando-se ao mar – você encontrou o Seu amor mais terno do que

nunca em sua alma? Então, isto não deveria ensinar-lhe o arrependimento rápido quando

você cai? Por que manter-se por um momento longe do Salvador? Você está esperando

até que você limpe a mancha de sua veste? Ai! O que a purificará, senão o sangue que

você está desprezando? Você está esperando até que torne a si mesmo digno da Graça

do Salvador? Ai! Embora você espere por toda a eternidade, você nunca pode tornar-se

mais digno. O seu pecado e miséria são sua única súplica. Venha, e você encontrará com

que ternura Ele curará as suas rebeliões, e o amará voluntariamente, e dirá: “Pomba

minha” etc.

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IV. CRISTO DESPERTA TEMOR, AMOR E ESPERANÇA.

Eu observo a tríplice disposição de temor, amor e esperança, que esta visita do Salvador

desperta no seio do crente. Estes três formam, por assim dizer, uma corda no seio do

crente restaurado, e um cordão de três dobras não se quebra facilmente.

1. Temor Filial

Em primeiro lugar, há temor – Como a noiva na parábola não sairia para desfrutar a

comunhão com seu senhor, sem deixar a ordem para que suas donzelas apanhassem as

raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, assim cada crente sabe e sente que o

tempo da íntima comunhão é também o momento de maior perigo. Quando o Salvador foi

batizado, e o Espírito Santo, como uma pomba, desceu sobre Ele, e uma voz, dizendo:

“Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” [Mateus 3:17], foi, então, que Ele foi

conduzido ao deserto, para ser tentado pelo Diabo; e exatamente assim é quando a alma

está recebendo seus maiores privilégios e consolos, que Satanás e seus ministros estão

mais próximos – as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas.

(1) O orgulho espiritual está próximo. Quando a alma está se escondendo nas feridas do

Salvador, e recebe grandes sinais de Seu amor, então o coração começa a dizer: Certa-

mente eu sou alguém – o quão longe eu estou acima da corrida diária dos crentes! Esta é

uma das raposinhas que come a vida da piedade vital.

(2) Aqui há um valer-se de Cristo pelos seus consolos – olhando para eles, e não para

Cristo – inclinando-se sobre eles, e não sobre o seu amado. Esta é outra das raposinhas.

(3) Existe a falsa noção de que agora certamente você deve estar acima de pecar, e aci-

ma do poder da tentação, agora você pode resistir a todos os inimigos. Este é o orgulho

que vem antes da queda – outra das raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas.

Nunca esqueçam, eu vos suplico, que o temor é uma evidência da segurança de um

crente. Mesmo quando vocês sentirem que é Deus quem opera em vocês, ainda assim, a

Palavra diz: “operai a vossa salvação com temor e tremor” [Filipenses 2:12]. Mesmo

quando a vossa alegria for transbordante, ainda assim, lembrem-se do que está escrito:

“alegrai-vos com tremor” [Salmos 2:11], e novamente: Lembrem-se do cuidado da noiva, e

digam: “Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as

nossas vinhas estão em flor”.

2. Apropriando-se do Amor

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Mas se o temor cauteloso é uma marca de um crente em tal temporada, ainda mais é o

apropriar-se do amor. Quando Cristo vier de novo dos montes da provocação, e revela-Se

à alma livre e plenamente como sempre, de uma forma diferente do que o faz ao mundo,

então, a alma pode dizer: “O meu amado é meu, e eu sou dele”. Eu não digo que o crente

pode usar essas palavras em todas as estações. Em tempos de escuridão e em tempos

de pecado a realidade da fé de um crente deve ser medida antes por sua tristeza do que

por sua confiança. Mas eu digo, que nas temporadas em que Cristo revela-Se de novo à

alma, brilhando como o sol atrás de uma nuvem, com os raios do amor soberano, imere-

cido – então nenhuma outra palavra satisfará o verdadeiro crente, senão estas: “O meu

amado é meu, e eu sou dele”. A alma vê Jesus sendo um Salvador tão gratuito – tanto

anseia que todos venham a Ele e tenham vida, estendendo Suas mãos o dia todo – não

tendo nenhum prazer na morte do ímpio – pleiteando os homens: “Convertei-vos, conver-

tei-vos, por que morrereis?”

A alma vê Jesus ser um Salvador tão apropriado, a própria cobertura que a alma neces-

sita. Quando ela primeiramente escondeu-se em Jesus, O encontrou adequado para

todas as suas necessidades, a sombra de uma grande rocha em terra sedenta. Mas,

agora, ele descobre uma nova adequação no Salvador, como Pedro, quando ele se cingiu

com sua capa de pescador, e lançou-se ao mar. Ela encontra que Ele é um Salvador

adequado para um crente caído; que seu sangue pode apagar até mesmo as manchas

daquele que, depois de ter comido pão com Ele, ainda levantou o calcanhar contra Ele. A

alma vê Jesus ser um Salvador tão pleno, concedendo ao pecador não apenas perdão,

mas transbordando perdões imensuráveis, concedendo não somente a justiça, porém a

justiça que é mais do que mortal, pois ela é totalmente divina; concedendo não somente o

Espírito, mas derramando água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca. A alma vê tudo

isso em Jesus, e não pode deixar de escolhê-Lo e deleitar-se nEle com amor renovado e

apropriado, dizendo: “O meu amado é meu”. E, se alguém perguntar, Como podes tu,

verme pecaminoso, chamar tal Divino Salvador de teu? A resposta está aqui: Porque eu

sou dEle. Ele me escolheu desde a eternidade, senão eu nunca O teria escolhido. Ele

derramou Seu sangue por mim, senão eu nunca teria derramado uma lágrima por Ele. Ele

chorou por mim, mas eu nunca teria suspirado por Ele. Ele procurou por mim, mais eu

nunca O teria procurado. Ele me amou, portanto, eu O amo. Ele me escolheu, por isso eu

sempre O escolho. “O meu amado é meu, e eu sou dele”.

3. Esperança Orante

Mas, por fim, se o amor é uma marca do verdadeiro crente em tal temporada, assim

também é esperança em oração. Foi a palavra de um verdadeiro crente, em uma hora de

comunhão elevada e maravilhosa com Jesus: “Senhor, bom é estarmos aqui” [Mateus

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17:4]. Meu amigo, você não é crente se Jesus tem nunca Se manifestou à sua alma em

suas devoções secretas – na casa de oração, ou, no partir do pão – em forma tão doce e

avassaladora, que você clamou: “Senhor, é bom para mim estar aqui!” Mas, embora isso

seja bom e muito agradável, como a luz solar para os olhos, ainda assim, o Senhor vê

que não é mais sábio e melhor sempre estar ali. Pedro tem que descer novamente do

monte da glória, e combater o bom combate da fé em meio à vergonha e afronta de um

mundo frio e desdenhoso. E assim deve cada filho de Deus. Nós ainda não estamos no

céu, o lugar da visão aberta e gozo eterno. Esta é a terra, o lugar da fé, da paciência, e da

esperança para o céu indicado. Uma grande razão pela qual o júbilo próximo e íntimo do

Salvador não pode ser constantemente efetuado no seio do crente é para dar espaço pa-

ra a esperança, a terceira corda que forma o cordão de três dobras. Até mesmo os cren-

tes mais esclarecidos estão andando aqui em uma noite tenebrosa, ou crepúsculo, no

máximo; e as visitas de Jesus para a alma apenas servem para fazer a escuridão circun-

dante mais visível. Mas a noite é passada, e o dia é chegado. O dia da eternidade está

rompendo no oriente. O Sol da Justiça está apressando-se a subir sobre o nosso mundo,

e as sombras estão se preparando para fugir. Até então, o coração de cada crente verda-

deiro, que sabe a preciosidade da estreita comunhão com o Salvador, suspira a fervorosa

oração, que Jesus frequentemente venha de novo, assim, orvalhante e subitamente, para

ilumina-lo em sua sombria peregrinação. Ah! Sim, meus amigos, que todo aquele que

ama ao Senhor Jesus com sinceridade, junte-se agora à bendita oração da noiva: “Até

que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo

ou ao filho dos veados sobre os montes de Beter”.

“A Voz do Meu Amado” é extraído de Memórias e Lembranças do Reverendo Robert

Murray M´Cheyne, por Andrew Bonar. Primeiramente publicado em 1844, (reimpresso,

Edimburg: Oliphant, Anderson, & Ferrier), p. 431-440.

Este Sermão foi pregado por M´Cheyne em 14 de Agosto de 1836, em St. Peter, Dundee.

Ele, nesta época, era candidato ao ministério, e posteriormente tornou-se ministro de St.

Peter.

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2

O Amor de Cristo

“Porque o amor de Cristo nos constrange” (2 Coríntios 5:14).

De todas as características do caráter de São Paulo, a atividade incansável foi a mais

marcante. Desde o início da história de Paulo, nos é dito de seus esforços pessoais em

perseguir a Igreja nascente, quando ele era um “blasfemo, e perseguidor, e injurioso” [2

Timóteo 3:2], é bastante óbvio que esta era a característica proeminente de sua mente

natural. Mas, quando aprouve ao Senhor Jesus Cristo manifestar nele toda a longanimida-

de e torná-lo um padrão para aqueles que se haviam crer nEle, é bonito e muito instrutivo

ver como os recursos naturais deste homem ousadamente mau tornaram-se não apenas

santificados, mas revigorados e ampliados; assim é verdade que os que estão em Cristo

são uma nova criação: “As coisas velhas passam, e tudo se fez novo” [2 Coríntios 5:17];

“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” [2 Coríntios 4:8-9];

este era um retrato fiel da vida de Paulo quando convertido. Conhecendo os terrores do

Senhor, e a situação temerosa de todos os que estavam ainda em seus pecados, ele

deixou o negócio de sua vida para persuadir os homens; esforçando-se, se, para que por

qualquer meio, pudesse recomendar à verdade às suas consciências. “Porque, se

enlouquecemos, é para Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós” (verso 13).

Se o mundo acha que nós somos sábios ou loucos, por causa de Deus e das almas

humanas é a causa em que embarcaram todas as energias do nosso ser. Quem, então,

não está pronto para investigar a fonte secreta de todos estes trabalhos sobrenaturais?

Quem não desejaria ter ouvido da boca de Paulo, o poderoso princípio de que o impeliu a

tantas labutas e perigos? Que poder tinha tomado posse desta poderosa mente, ou que

invisível influência planetária, com poder incessante, ele baseou-se para atravessar todos

os desânimos, indiferente tanto para o pavor do riso do mundo quanto para o medo do

homem; despreocupado tanto do desprezo do ateniense cético quanto da carranca do

luxuoso Coríntio e da raiva do tacanho Judeu? O que o apóstolo diz a si mesmo? Temos

a sua própria explicação do mistério nas palavras diante de nós: “O amor de Cristo nos

constrange”.

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I. O Amor Constrangedor de Cristo

O amor de Cristo pelo homem está aqui pretendido, e não o nosso amor ao Salvador, é

bastante óbvio, a partir da explicação que se segue, onde a Sua morte por todos é apon-

tada como o exemplo do Seu amor. Foi o ponto de vista de que a estranha compaixão do

Salvador, levando-O a morrer por seus inimigos, em seu lugar, para suportar os seus

pecados, para provar a morte por todos; foi essa visão que deu a Paulo o impulso em

cada trabalho, o que tornou todo o sofrimento leve para ele, e todos os mandamentos

suaves. Ele “correu com paciência a carreira que lhe foi proposta”. Por quê? Porque,

olhava para Jesus, viveu como um homem “crucificado para o mundo e o mundo

crucificado para ele”. Com que meios? Olhando para a Cruz de Cristo.

À medida que o Sol natural nos céus exerce uma poderosa energia atrativa e incessante

sobre os planetas que giram ao redor dele, assim fez o Sol da Justiça, que havia de fato

surgido em Paulo com um brilho superior ao do meio-dia, e exercia em sua mente uma

energia contínua e onipotente, constrangendo-o a viver a partir de agora não mais para si,

mas para aquele que por ele morreu e ressuscitou. E, observe, que não era uma energia

temporária e irregular que foi exercida sobre o seu coração e vida, mas uma permanente

e continuada atração; pois ele não diz que o amor de Cristo que uma vez o constrangeu;

ou que ele deva ainda constrangê-lo; ou que, em tempos de excitação, nas temporadas

de oração ou devoção peculiar, o amor de Cristo o tinha constrangido. Ele disse simples-

mente, que o amor de Cristo o constrange. É sempre presente, sempre permanente, o

poder sempre em movimento, que constitui a mola mestra de todo o seu trabalho; de

modo que se isso for tirado suas energias se vão, e Paulo se tornaria fraco como os

outros homens.

Não há ninguém lendo isto cujo coração é desejoso de possuir apenas um princípio-

mestre como tal? Não há ninguém que tenha chegado a essa mais interessante de todas

as etapas de conversão em que você está suspirando por um poder para lhe renovar?

Você entrou pela porta estreita da Crença. Você viu que não há paz para o não-justifi-

cado; e, portanto, se revestiu de Cristo para a sua justiça; e já sente um pouco da alegria

e da paz da crença. Você pode olhar para trás em sua vida passada, vivida sem Deus,

sem Cristo e sem o Espírito no mundo; você pôde ver-se um pária condenado, e você

disse: “Ainda que eu pudesse lavar as mãos em água de neve, ainda assim as minhas

próprias vestes me abominam”, Você pode fazer tudo isso, com vergonha e autocensura,

é verdade, mas ainda sem desânimo e sem desespero; pois o seu olho foi levantado com

fé para Aquele que foi feito pecado por nós, e está convencido de que, como aprouve a

Deus imputar todas as vossas iniquidades no Salvador, Ele está pronto, e sempre foi

disposto, para imputar toda a Justiça do Salvador a você. Sem desespero, eu disse? Ou

melhor, com alegria e canto; porque, se, de fato, você creu de todo o seu coração, então

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você tornou-se o homem bem-aventurado a quem Deus imputa a justiça sem as obras; ao

qual Davi descreve, dizendo: “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e

cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade”

[Salmos 32:1-2].

Esta é a paz do homem justificado. Mas essa paz é um estado de bem-aventurança

perfeita? Não há nada deixado a desejar? Faço um apelo para aqueles de vocês que

sabem o que é estar apenas crendo. O que é que ainda obscurece a testa, que reprime a

exultação do espírito? Por que não juntar-se sempre na canção de ação de graças: “Bem-

dize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. Ele é o

que perdoa todas as tuas iniquidades” [Salmos 103:2-3]! Se nós recebemos em dobro por

todos os nossos pecados, assim deveria nunca ser necessário para nós para arguir como

o faz o salmista: “Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de

mim?” [Salmos 42:11a]. Meus amigos, não há um homem entre vós que realmente crê,

que não tenha sentido o pensamento inquietante do qual eu estou falando agora. Pode

haver alguns de vocês que se sentirão tão dolorosamente, como que tendo sido

obscurecidos com uma nuvem pesada, a doce luz da paz evangélica, o brilho do rosto

reconciliado sobre a alma. O pensamento é este: “Eu sou um homem justificado; mas, ai

de mim! Eu não sou um homem santificado. Eu posso olhar para a minha vida passada,

sem desespero; mas como eu posso olhar para a frente, para o que está por vir?”.

Não há uma paisagem moral mais pitoresca no universo do que a alma de um desses

presentes. Tendo todas as suas ofensas passadas perdoadas, o olho contempla o inte-

rior, com uma clareza e uma imparcialidade desconhecidas antes, e lá ele olha para suas

afeições há muito estimuladas ao pecado, que, como os rios antigos, tem usado um canal

profundo para o coração; suas declarações periódicas de paixão, até então irresistível e

avassaladora, como as marés do oceano; suas perversidades de temperamento e de

hábito, tortos e inflexíveis, como os galhos retorcidos de um carvalho atrofiado. Que cena

está aqui; que antecipação do futuro! Que pressentimentos de uma luta vã contra a tirania

da luxúria! contra caminhos velhos de agir, e de falar, e de pensar! Se não fosse a

esperança da glória de Deus ser um dos direitos adquiridos do homem justificado, ele

ficaria surpreso se essa visão de terror levasse um homem para trás, como um cão ao

seu vômito, ou a porca lavada a chafurdar na lama de novo?

Agora assim é com o homem precisamente nesta situação, clamando pela manhã e à tar-

de, “Como poderei ser feito de novo?”. Que bem deverá o perdão dos meus pecados pas-

sados fazer de mim, se eu não for liberto do amor ao pecado? Assim é com o homem que

nós iremos agora, com toda a seriedade e afeição, apontar o exemplo de Paulo, e o poder

secreto que operou nele. “O amor de Cristo” (diz Paulo) “nos constrange”. Nós também

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somos homens, de natureza semelhante a vocês mesmos; essa mesma visão que você

vê com desânimo dentro de você, foi de igual modo revelada em nós em todo o seu poder

desanimador. De quando em quando a mesma visão horrenda dos nossos próprios

corações é revelada a nós. Mas nós temos um encorajamento que nunca falha. O amor

do Salvador sangrante nos constrange. O Espírito é dado para os que creem; e este a-

gente Todo-Poderoso tem um argumento que nos move continuamente: o Amor de Cristo.

Meu presente objetivo é mostrar como esse argumento, na mão do Espírito, move o

crente a viver para Deus; como tão simples verdade do amor de Cristo ao homem,

continuamente apresentada à mente pelo Espírito Santo, deve capacitar qualquer homem

a viver uma vida de santidade evangélica. Se há um homem entre vós, cujo inquérito é

grande: “Como serei salvo do pecado, como devo andar como um filho de Deus?”. Este é

o homem dentre todos os outros, cujo ouvido e o coração eu estou ansioso para ocupar.

II. Seu Amor Remove Nosso Ódio

O amor de Cristo ao homem constrange o crente a viver uma vida santa, pois essa

verdade tira todo o seu medo e ódio de Deus.

Quando Adão ainda não havia caído, Deus era tudo para sua alma; e tudo era bom e

desejável para ele, somente na medida em que tinha a ver com Deus. Cada veia do seu

corpo, de modo assombrosamente maravilhoso formado, cada folha que farfalhava nos

caramanchões do Paraíso, a cada novo sol que se erguia, regozijando-se como um herói,

a correr a sua corrida, levou-o em todos os dias novos temas de pensamentos piedosos e

de admiráveis louvores; e foi só por isso que ele podia se encantar a olhar para eles. As

flores que apareceram sobre a terra, o canto dos pássaros, e a voz da rola ouvida em

toda a terra feliz, a figueira produzindo seus figos verdes, e as vinhas com as uvas dando

um cheiro bom, tudo isso combinado a trazer a ele por todos os poros um tributo rico e

variado de delícias. E por quê? Só porque eles trouxeram na alma comunicações ricas e

variadas da multiforme Graça de Jeová. Pois, assim como você pode ter visto uma

criança na terra dedicada a seu pai terreno, satisfeito com tudo quando ele está presente,

e valorizando cada dom da mesma forma que mostra mais a ternura do coração de seu

pai, assim também era com essa genuína criança de Deus. Em Deus, ele viveu, e moveu-

se, e teve o seu ser; e não mais certo seria que o apagamento do Sol nos céus tirasse

essa luz que é tão agradável aos olhos, do que seria a ocultação da face de Deus ter-lhe

tirado a luz de sua alma, e deixado a natureza em um escuro e desolado deserto.

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Mas, quando Adão Caiu, o ouro fino tornou-se escuro, o sistema de seus pensamentos e

gostos foi invertido. Em vez de desfrutar a Deus em tudo, e tudo em Deus, tudo agora

parecia odioso e desagradável para ele, justamente na medida em que tinha a ver com Deus.

Quando o homem pecou, passou a temer, e odiar Aquele a quem temia; e fugiu para todo

o pecado apenas para fugir dAquele a quem ele odiava. De modo que, assim como você

pode ter visto uma criança que penosamente transgrediu contra um pai amoroso fazendo

todo o possível para esconder-se da vista de seu pai, fugindo de sua presença e

mergulhando em outros pensamentos e ocupações só para livrar-se do pensamento de

seu pai justamente ofendido; na mesma forma, quando Adão caiu ouviu a voz do Senhor

Deus, que passeava no jardim pela viração do dia, aquela voz que antes de pecar era

música celestial em seus ouvidos, então “esconderam-se Adão e sua mulher da presença

do Senhor Deus, entre as árvores do jardim” [Gênesis 3:8], e da mesma maneira todo

homem natural foge da voz e da presença do Senhor, não para esconder-se sob as folhas

grossas do Paraíso, mas para enterrar-se em cuidados, e negócios, e prazeres, e farras.

Qualquer retiro é agradável, desde que Deus não esteja lá; qualquer ocupação é

tolerável, desde que Deus não esteja nos pensamentos.

Agora tenho a certeza que muitos de vocês podem ouvir essa acusação contra o homem

natural com incrédula indiferença, se não com indignação. Você não sente que você odeia

a Deus, ou teme a Sua presença; e, portanto, você diz que não pode ser verdade. Mas

quando Deus diz a respeito de seu coração que é “desesperadamente corrupto” [Jeremias

17:9]; quando Deus reivindica para si o privilégio de conhecer e experimentar o coração,

isto não é presunçoso, em tais seres ignorantes como nós que devamos dizer que não é

verdade em relação a nossos corações o que Deus afirma ser verdade, simplesmente

porque não estamos conscientes disso? Deus diz que “a inclinação da carne é inimizade

contra Deus” [Romanos 8:7], que a própria semente e substância de uma mente não

convertida é o ódio contra Deus, absoluto, implacável ódio contra aquele em Quem

vivemos, nos movemos e existimos. É bem verdade que não sentimos esse ódio dentro

de nós; mas isso é apenas um agravamento do nosso pecado e do nosso perigo. Temos

assim bloqueado as vias de autoexame, há tantas voltas e voltas antes que possamos

chegar aos verdadeiros motivos de nossas ações, que o nosso medo e ódio de Deus, que

levam o homem a pecar, e que ainda são as grandes forças impulsoras quais os

aguilhões de Satanás sobre os filhos da desobediência; estes estão totalmente escondi-

dos de nossa vista, e você não pode convencer um homem natural que eles estão

realmente lá. Mas, a Bíblia testemunha que destas duas raízes mortais do temor e do ódio

de Deus, cresce a densa floresta de pecados com que a terra está enegrecida e coberta.

E se há alguém entre vós, que foi despertado por Deus para saber o que está em seu

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coração, eu tomo esse homem hoje para testemunhar que seu clamor amargo, tendo

visto todos os seus pecados, tem sido: “Contra ti, contra ti somente pequei” [Salmos 51:4].

Se, então, temor de Deus e o ódio de Deus, são a causa de todos os nossos pecados,

como devemos ser curados do amor ao pecado, senão por tirarmos a causa? Como você

mais efetivamente mata a erva daninha? Não é atacando a raiz? No amor de Cristo ao

homem, então – neste estranho dom, inefável de Deus, quando Ele deu a Sua vida por

Seus inimigos, quando morreu o justo pelos injustos para levar-nos a Deus – você não vê

um objeto que, se realmente crido pelo pecador, tira todo o seu medo e todo o seu ódio

de Deus? A raiz do pecado está separada do tronco. Em seu duplo suporte de todos os

nossos pecados, vemos a maldição levada, vemos Deus reconciliado. Por que devemos

temer? Não tema, por que devemos odiar a Deus ainda? Não odeie Deus, mais o que de

desejável podemos ver no pecado? Descanse sobre a justiça de Cristo, estamos

novamente no lugar onde Adão esteve, com Deus como nosso amigo. Nós não temos

nenhum objetivo para pecar; e, portanto, nós não nos importamos com o pecado.

No sexto capítulo de Romanos, Paulo parece falar do crente pecando, como se a própria

proposição fosse absurda. “Nós, que estamos mortos para o pecado”, isto é, nós que em

Cristo já trouxemos a pena, “como viveremos ainda nele?” [v. 2]. E novamente ele diz

muito corajosamente: “O pecado não terá domínio sobre vós” – é impossível na natureza

das coisas – “pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” [V. 14]; você não está

mais sob a maldição de uma lei violada, temendo e odiando a Deus; você está debaixo da

Graça; sob um sistema de paz e amizade com Deus.

Mas há alguém pronto para objetar-me que se essas coisas são assim, se nada mais do

que isso é necessário para trazer um homem à paz com Deus e à uma vida e conver-

sação santa, como os crentes ainda cometem pecado? Eu respondo, é de fato muito

verdadeiro que os crentes pecam; mas é igualmente verdade que a incredulidade é a

causa de seu pecado. Se você e eu estivéssemos vivendo com o olho tão próximo em

Cristo suportando tanto por todos os nossos pecados, oferecendo gratuitamente a todos

uma justiça em dobro por todos os nossos pecados; e se esta visão constante do amor de

Cristo mantida dentro de nós, como certamente seria se olhássemos com um olho

simples, a paz de Deus que excede todo o entendimento – a paz que não repousa em

nenhum de nós, mas inteiramente sobre Cristo – então eu digo que, frágeis e indefesos

como somos, nós nunca deveríamos pecar; não devemos ter a menos motivação para

pecar. Mas não é desta forma conosco. Quantas vezes durante o dia o amor de Cristo

está completamente fora de vista! Quantas vezes está obscurecido para nós! Às vezes se

oculta de nós pelo próprio Deus, para nos ensinar o que somos. Quantas vezes somos

deixados sem o sentido do que é a completude da Sua oferta, a perfeição de Sua Justiça,

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e sem vontade ou sem confiança para afirmar um interesse nEle! Quem maravilha-se,

então, que onde há tanta incredulidade, medo e ódio por Deus haverá mais e mais

deformação, e o pecado irá muitas vezes exibir sua cabeça venenosa?

A questão é muito simples, se somente nós tivéssemos olhos espirituais para vê-la. Se

vivêssemos uma vida de fé no Filho de Deus, então iríamos certamente viver uma vida de

santidade. Eu não digo que devemos fazê-lo; mas eu digo, deveremos, como uma

questão de consequência necessária. Mas na medida em que não vivemos uma vida de

fé, viveremos uma vida de impiedade. É por meio da fé que Deus purifica o coração; e

não há outra maneira.

Existe algum de vocês, então, desejoso de ser feito novo, de ser liberto da escravidão de

hábitos e afeições pecaminosas? Não podemos apontar-lhe nenhum outro remédio,

senão o amor de Cristo. Vede como Ele o amava! Veja o que Ele suportou por você;

coloque o dedo, por assim dizer, nas marcas dos cravos, e coloque a mão no seu lado; e

não sejas mais incrédulo, mas crente. Sob um senso de seu pecado, fuja para o Salvador

dos pecadores. Como a pomba temerosa voa para esconder-se nas fendas das rochas,

assim fuja para se esconder nas feridas de Seu Salvador; e depois de ter encontrado-O,

como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta; quando você se sentar sob Sua

sombra, com grande prazer; você vai achar que ele matou toda a inimizade, que Ele tem

concluído todas as tuas guerras. Deus agora é por você. Plantado juntamente com Cristo

na semelhança da sua morte, você será também na semelhança da Sua ressurreição.

Morto para o pecado, você deverá estar vivo para Deus.

III. Seu Amor Desperta O Nosso Amor

O amor de Cristo ao homem constrange o crente a viver uma vida santa; porque esta

verdade não somente remove o medo e o ódio, mas desperta o nosso amor.

Quando somos levados a ver a face do Deus reconciliado em paz, este é um grande

privilégio. Mas como podemos olhar para Aquela face, reconciliando e reconciliado, e não

amar Aquele que assim nos amou? Amor gera amor. Dificilmente podemos deixar de

estimar aqueles no mundo que realmente nos amam, embora eles possam ser inúteis.

Mas quando estamos convencidos de que Deus nos ama, e convencidos de tal forma pelo

dom de Seu Filho por todos nós, como iremos, senão amar Aquele em Quem estão todas

as excelências – tudo para evocar o amor?

Eu já mostrei que o Evangelho é um esquema de restauração; ele nos traz de volta para o

mesmo estado de amizade com Deus que Adão desfrutava, e, assim, tira o desejo do

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pecado. Mas agora eu irei mostrar a você, que o Evangelho faz muito mais do que restau-

rar-nos ao estado do qual caímos. Se correta e consistentemente apreendido por nós, ela

nos coloca em um estado muito melhor do que Adão. Ele nos constrange por um motivo

muito mais poderoso. Adão não tinha esse forte amor de Deus ao homem, derramado em

seu coração; e, portanto, ele não tinha esse poder constrangedor para fazê-lo viver para

Deus. Mas os nossos olhos viram esta grande visão. Diante de nós Cristo foi evidente-

mente crucificado. Se realmente acreditamos que, Seu amor trouxe-nos à paz, por meio

de perdão; e porque estamos perdoados e em paz com Deus, o Espírito Santo nos é

dado. O fazer o quê? Ora, exatamente para derramar esta verdade sobre os nossos cora-

ções, para nos mostrar mais e mais desse amor de Deus por nós, para que possamos ser

atraídos a adorar Aquele que nos amou, viver para Aquele que morreu e ressuscitou por nós.

É realmente admirável ver como a forma bíblica de fazer-nos santos é adequada à nossa

natureza. Se Deus tivesse proposto nos atemorizar para vivermos uma vida santa, quão

vão teria sido a tentativa! Os homens têm sempre uma ideia, que se alguém vivesse dos

mortos para nos contar sobre a realidade das regiões onde habitam tristes na miséria sem

fim, os espíritos dos condenados; que aqueles iriam constrangê-los a viver uma vida

santa; mas que ignorância isso mostra da nossa natureza misteriosa!

Suponha que Deus nesta hora desvendasse diante dos nossos olhos os segredos dessas

moradas terríveis aonde a esperança nunca vem; suponha, se fosse possível, que você

foi realmente levado a sentir por algum tempo as dores reais do lago e experimentado a

agonia, e o verme que nunca morre; e depois que você foi trazido de volta à terra, e colo-

cado em sua velha situação, entre seus velhos amigos e companheiros; você realmente

acha que haveria qualquer chance de você caminhar com Deus como um criança? Eu

não duvido que você iria ter medo de seus pecados positivos; a taça do prazer sem Deus

iria cair de sua mão; você estremeceria com um juramento, você tremeria ante uma

mentira, porque você tinha visto e sentido algo do tormento que aguarda o bêbado, o

blasfemador e o mentiroso, no mundo além-túmulo; mas você realmente acha que você

iria viver para Deus mais do que você vive, que você iria servi-lo melhor do que antes? É

bem verdade que você pode ser levado a ser mais caridoso; sim, a dar todos os seus

bens para sustento dos pobres, e seu corpo para ser queimado; que você pode viver com

rigor e seriedade, a com o maior medo de quebrar um dos mandamentos, todo o resto de

seus dias, mas isso não seria viver para Deus, você não iria amá-lo um pouquinho mais.

Infelizmente vocês estão cegos para os vossos corações curiosamente formados, se você

não sabe que o amor não pode ser forçado; nenhum homem jamais foi atemorizado ao

amor, e, portanto, nenhum homem jamais foi atemorizado para a santidade.

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Mas, três vezes bendito seja Deus, Ele inventou uma maneira mais poderosa do que o

inferno e todos os seus terrores; um argumento mais forte do que até mesmo a visão

daqueles tormentos; Ele inventou uma maneira de nos atrair para a santidade. Ao

mostrar-nos o Amor de Seu Filho, Ele suscita nosso amor. Ele conhecia a nossa

estrutura; lembrou-se de que somos pó; Ele conhecia todas as peculiaridades do nosso

coração traiçoeiro; e, portanto, Ele adequou Sua maneira de santificar a criatura a ser

santificada. Assim, o Espírito não faz uso do terror para nos santificar, mas de amor: “O

amor de Cristo nos constrange”. Ele nos atrai com “Atraí-os com cordas humanas, com

laços de amor” [Oséias 11:4]. O que o pai faz para conhecer a verdadeira forma de

ganhar a obediência de um filho, não é ganhar o afeto da criança? E você acha que Deus,

que nos deu essa sabedoria, Ele mesmo não sabe disso? Você acha que Ele iria definir

sobre como obter a obediência de seus filhos, sem antes de tudo a ganhar seus afetos?

Para obter nossas afeições, que por natureza perambulam pela face do mundo, e centrar-

se em nada, senão nEle, Deus enviou o Seu Filho ao mundo para suportar a maldição de

nossos pecados. “Sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza

enriquecêsseis” [2 Coríntios 8:9].

Se há apenas um de vocês que irá consentir neste dia, sob um senso de aniquilação, fuja

para o refúgio, para o Salvador, para encontrar nEle o perdão de todos os pecados pas-

sados, eu sei muito bem que a partir de hoje em diante você vai ser como aquela pobre

mulher, que era uma pecadora, que estava aos pés de Cristo, atrás dele, chorando e

começou a lavar os pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça, e

beijava os seus pés e os ungia com o unguento. Quando muito perdoado, você vai amar

muito; amando muito, você vai viver para o serviço dAquele a quem você ama. Este é o

grande princípio-mestre do qual falamos; esta é a fonte secreta de toda a santidade dos

santos.

A vida de santidade não é o que o mundo falsamente representa, uma vida de rigidez e

de fadiga, na qual um homem se priva da toda afeição de sua natureza. Não existe tal

coisa como a abnegação no sentido papista desta palavra na religião da Bíblia. O sistema

de restrições e autoflagelação é o próprio sistema que Satanás criou como uma falsifi-

cação do caminho de santificação de Deus. É assim que Satanás atemoriza milhares

contra a paz e a santidade Evangelho; como se para ser um homem santificado o homem

devesse ser privado de todos os desejos do seu ser, que fizesse tudo o que fosse

desagradável e desconfortável para ele. Meus amigos, o nosso texto nos mostra

claramente que não é assim. Somos constrangidos à santidade pelo amor de Cristo; o

amor dAquele que nos amou, é a única corda pela qual estamos vinculados ao serviço de

Deus. O flagelo dos nossos afetos é o único flagelo que nos leva ao novo dever. Doces

laços e gentis flagelos! Quem não gostaria de estar sob o Seu poder?

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IV. O Perseverante Amor de Cristo

Finalmente, se o amor de Cristo por nós é o objeto que o Espírito Santo faz uso, no início,

para nos atrair para o serviço de Cristo, é por meio deste mesmo objeto que Ele nos

chama a perseverar até o fim. Assim, que se você é visitado com temporadas de frieza e

indiferença; se você começar a se cansar, ou ficar para trás no serviço de Deus! Eis, aqui

está o remédio: Olhe novamente para o Salvador sangrante. Este Sol da Justiça é o

grande centro de atração, em torno do qual todos os Seus santos se movem rapidamente,

e em conjunto harmonioso suave, “não sem música”. Enquanto o olho crente se fixar

sobre o Seu amor, o caminho do crente é fácil e desimpedido; pois este amor sempre

constrange. Mas, retire o olho, crente, e o caminho se torna impraticável e a vida de

santidade um cansaço.

Quem, então, deseja viver uma vida de santidade perseverante, mantenha o olhar fixo no

Salvador. Enquanto Pedro olhou apenas para o Salvador, ele caminhou sobre o mar em

segurança, para ir a Jesus; mas quando ele olhou ao redor e sentiu o vento forte, teve

medo, e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!”, apenas assim será com você.

Enquanto você olhar com fé para o Salvador, que Te amou, e entregou a Si mesmo por

você, desde que você possa pisar nas águas do mar agitado da vida, e as solas dos pés

não serão molhadas. Mas, se porventura você olhar ao redor para os ventos e as ondas

que o ameaçam em cada lado, e, como Pedro, você começar a afundar, clame: “Senhor,

salva-me!” Quão justamente, então, podemos dirigir-vos a repreensão do Salvador a

Pedro: “Ó, Homem de pouca fé, por que duvidaste?”. Olhe novamente para o amor do

Salvador, e contemple o amor que constrange a viver não mais para si, mas por Aquele

que morreu por você e ressuscitou.

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3 Pai, Eu Quero

I

SERMÃO

“Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver,

também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste;

porque tu me amaste antes da fundação do mundo” (João 17:24).

I. A FORMA DESTA ORAÇÃO

“Pai, eu quero”.

Esta é a mais maravilhosa oração que alguma vez elevou-se da terra para o trono de

Deus, e esta petição é a mais maravilhosa da oração. Nenhuns lábios humanos jamais

oraram assim antes: “Pai, eu quero”. Abraão era amigo de Deus, e ficou muito perto de

Deus em oração; mas ele orou como pó e cinzas. “E respondeu Abraão dizendo: Eis que

agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza” [Gênesis 18:27]. Jacó lutou

com Deus e prevaleceu, mas a sua palavra mais ousada foi: “Não te deixarei ir, se não

me abençoares” [Gênesis 32:26]. Daniel foi um homem muito amado, e teve respostas

imediatas às orações, e ainda assim ele clamou a Deus como um pecador: “Ó Senhor,

ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age” [Daniel 9:19]. Paulo foi um homem

que esteve muito perto de Deus, e ainda assim ele diz: “Por causa disto me ponho de

joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” [Efésios 3:14]. Porém quando Cristo

orou, clamou: “Pai, eu quero” Por que Ele ora assim?

Ele era companheiro de Deus – “Ó espada, desperta-te contra o meu pastor, e contra o

homem que é o meu companheiro” [Zacarias 13:7]. Apesar disso, Ele não usurpou o ser

igual a Deus. Foi Ele quem disse: “Haja luz, e houve luz”. Portanto, agora Ele diz: “Pai, eu

quero”.

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Ele tinha uma vontade com o Pai – “Eu e o Pai somos um” [João 10:30]. Um só Deus, um

só coração e vontade. É verdade, Ele tinha uma santa alma humana, e, portanto, uma

vontade humana; mas sua vontade humana era uma com a Sua vontade Divina. A corda

humana em seu coração estava sintonizada na mesma corda da Sua vontade Divina.

Aprendam quão seguramente esta oração será respondida, queridos filhos de Deus. É

impossível que esta oração fique sem resposta. É a vontade do Pai e do Filho. Se Cristo

quer, e se o Pai quer, vocês podem ter certeza de que nada pode impedir isso. Se a

ovelha está na mão de Cristo, e na mão do Pai, elas jamais perecerão.

II. POR QUEM ELE ORA

“Aqueles que me deste”.

Seis vezes neste capítulo Cristo chama o seu povo por este nome: “Aqueles que me

deste”. Esta parece ter sido uma expressão favorita de Cristo, especialmente quando os

conduzidas sobre Seu coração diante do Pai. A razão parece ser que Ele lembra ao Pai

que eles são tanto do Pai como eles são Seus próprios; que o Pai tem o mesmo interesse

que Ele por eles, tendo-lhes dado a Ele antes que o mundo existisse. E assim Ele o

repete no versículo 10: “E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas”.

Antes que o mundo existisse, o Pai escolheu um povo deste mundo. Ele os entregou na

mão de Cristo, ordenando-Lhe que não perdesse nenhum, a suportar os seus pecados

em Seu próprio corpo no madeiro, a ressuscitar no último dia. E, consequentemente, Ele

diz: “Dos que me deste nenhum deles perdi” [João 18:9]. Há algum sinal daqueles que

são dados a Cristo? Eles não são melhores do que os outros. Ás vezes Ele escolhe o

pior! Resposta – Sim: “Todo o que o Pai me dá virá a mim [João 6:37]. Uma das marcas

seguras de todos os que foram dados a Cristo é que eles vêm a Jesus: Todos eles vêm “a

Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão” [Hebreus 12:24]. Você

veio a Cristo? O seu coração foi aberto para receber a Cristo? Cristo tornou-se precioso

para você? – Então você pode ter a certeza que você foi dado a Cristo antes da fundação

do mundo. Seu nome está no Livro da Vida do Cordeiro, e seu nome está no peitoral de

Cristo. É por você que Ele ora: “Pai, eu quero que este alma esteja comigo”. Cristo nunca

perderá você. O Pai, que deu você a Ele é maior do que todos, e ninguém pode arrebatar

você da mão do Pai.

III. O ARGUMENTO

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“Porque Tu me amaste”.

Ele lembra o Pai de Seu amor a Ele, antes que o mundo existisse. Quando não havia

terra, nem sol, nem lua, nem anjo, – quando Ele estava ao lado dEle.

Então, “Tu me amaste”. Quem pode compreender esse amor – o amor de um Deus não

criado ao Seu Filho não criado? O amor de Jônatas a Davi era muito grande, ultrapassan-

do o amor das mulheres. O amor de um crente a Cristo é muito grande, porque veem que

Ele é totalmente desejável. O amor de um santo anjo por Deus é muito ardente, porque

são como labaredas de fogo. Mas estes todos são amores da criatura; Estes são apenas

córregos; mas o amor de Deus por seu Filho é um oceano de amor. Há de tudo em Cristo

para atrair o amor do Pai. Agora discriminem Seu argumento: Se Tu me amas, faça isso

pelo Meu povo.

Assim como Ele disse a Paulo: “Por que me persegues?” Sentindo-se Um com Seus

membros aflitos sobre a Terra. Deste modo Ele dirá no último dia: “Em verdade vos digo

que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” [Mateus

25:40]. Ele reconhece os crentes como parte de Si mesmo; que é feito para eles é feito

para Ele. Então, aqui, quando Ele os conduz ao Seu Pai, este é todo o Seu argumento:

“Tu me amas”. Se Tu me amas, os ama, pois eles são parte de Mim. Veja quão

seguramente a oração de Cristo será respondida por você, amado. Ele não alega que

você é bom e santo; Ele não alega que você é digno; Ele só pleiteia a Sua própria

amabilidade aos olhos do Pai. Não olhe para eles, diz Ele, mas olhe para mim. Tu me

amaste, antes da fundação do mundo. Aprendam a usar o mesmo argumento com Deus,

queridos crentes. Isso é, pedir em nome de Cristo, por amor do Senhor; esta é a oração

que nunca é recusada. Vejam para que vocês não venham em seu próprio nome, senão

vocês serão expulsos. Venham assim, para a Sua mesa. Diga ao Pai: me aceite, pois Tu

O amas, desde a fundação do mundo.

IV. A ORAÇÃO EM SI

Duas partes.

1. Que eles estejam comigo.

(1) O que Ele não quer dizer. Ele não quer dizer que devemos estar atualmente retirados

deste mundo. Alguns de vocês que têm vindo a Cristo podem, neste dia, ser favorecidos

com tanto de Sua presença e do amor do Pai, tanto da alegria do céu, e um tal pavor de

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voltar a trair Cristo no mundo, que vocês podem estar desejando que esta casa fosse

realmente aquele portão do céu; vocês podem desejar que pudessem ser transportados

da mesa de baixo para a mesa de cima. “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo

desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” [Filipenses 1:23].

Cristo ainda não deseja isto. “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”

[João 17:15]. “Para onde eu vou não podes agora seguir-me” [João 13:36]. (Como aquela

mulher no Diário de Brainerd – “Ó, bendito Senhor! Leve-me; permita-me morrer e ir com

Jesus Cristo. Tenho medo de que, se eu viver, eu pecarei novamente”).

(2) O que Ele quer dizer. Ele quer dizer que, quando a jornada acabar, estaremos com

Ele. Todo aquele que vem a Cristo tem uma jornada para realizar neste mundo. Alguns

têm uma longa, e alguns têm uma curta. Esta é através de um deserto. Cristo ainda ora

para que, no final, você possa estar com Ele. Todo aquele que vem a Cristo tem suas

doze horas para encher-se para Cristo. “Convém que eu faça as obras daquele que me

enviou, enquanto é dia” [João 9:4]. Mas quando isso é feito, Cristo ora para que você

esteja com Ele. Ele quer dizer que você deve vir para a casa de Seu Pai, com Ele. “Na

casa de meu Pai há muitas moradas” [João 14:2]. Você deve morar na mesma casa com

Cristo. Você nunca é muito íntimo de uma pessoa até que você a veja em sua própria

casa – até que você a conheça em casa. Isto é o que Cristo quer de nós – que estejamos

com Ele em Sua própria casa. Ele quer que estejamos no seio do mesmo Pai com Ele.

“Eu subo para meu Pai e vosso Pai” [João 20:17]. Ele quer que estejamos no mesmo

sorriso com Ele, que sentemos no mesmo trono com Ele, que nademos no mesmo

oceano de amor com Ele.

Aprenda quão seguro é que você estará, em breve, um dia com Cristo. Esta é a vontade

do Pai, esta é a vontade do Filho. É a oração de Cristo. Se você realmente foi levado a

Cristo, você nunca perecerá. Você pode ter muitos inimigos opondo-se a você em seu

caminho para a glória. Satanás deseja ter você para te peneirar como trigo. Seus amigos

do mundo farão todo o possível para impedi-lo. Ainda assim você estará com Cristo. Vere-

mos o seu rosto na mesa da glória. Você tem um coração duro, um coração incrédulo, um

coração enganoso acima de todas as coisas, e desesperadamente corrupto. Muitas vezes

você acha que o seu coração levará você a trair Cristo. Ainda assim você estará com

Cristo. Se você está em Cristo hoje, você estará para sempre com o Senhor. Você tem

vivido uma vida má. Você tem pecados terríveis sobre os quais olhar. Ainda assim, se

você está vindo para Jesus, esta é a Sua palavra para ti: “Tu estarás comigo no paraíso”.

Na verdade, Cristo não pode perder você. Você é a Sua joia – a Sua coroa. O céu não

seria céu para Ele, se você não estivesse ali. Isso pode lhe dar coragem ao vir para a

mesa do Senhor. Alguns de vocês têm medo de vir a esta mesa, porque, se vocês se

unirem a Cristo hoje, têm medo que possam traí-Lo amanhã. Mas vocês não precisam ter

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medo. “Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus

Cristo” [Filipenses 1:6]. Vocês devem sentar-se à mesa de cima, onde Cristo deve estar

na cabeceira. Vocês não precisam ter medo de vir a esta mesa.

2. Para que vejam a minha glória que me deste

Há três estágios na glória de Cristo. Esta será a ocupação do céu: a contemplação de

todas elas.

Primeiro. A glória original de Cristo. Esta é a Sua glória não derivada, não criada, como

igual ao Pai. Ela é mencionada em Provérbios 8:30: “Então eu estava com ele, e era seu

arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo”. E,

novamente, nesta oração: “aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse”

(Versículo 5). Dessa glória nenhum homem pode falar, nenhum anjo, nem arcanjo.

Somente de uma coisa sabemos, que devemos honrar o Filho, bem como devemos

honrar o Pai. Ele compartilhou com o Pai em ser o Único todo-perfeito, quando não havia

nada para admirar, ninguém para adorar, nem anjos com harpas de ouro, nem serafins a

cantar Seu louvor, nem querubins a clamar: “Santo, Santo, Santo”. Antes que todas as cri-

aturas existissem, Ele era Um com o Deus infinitamente Perfeito, Bom e Glorioso. Ele era,

então, tudo o que Ele mais tarde evidenciou ser. A Criação e Redenção não O mudaram.

Elas apenas só revelaram o que Ele era anteriormente. Elas apenas forneceram os

objetos para que aqueles raios de glória repousassem, de forma que brilhavam tão

plenamente como antes, desde toda a eternidade. A eternidade será tomada com o louvor

a Deus, a medida que Ele revelou a Si mesmo absolutamente; assim mesmo Ele sairá do

retraimento de Sua amável e bem-aventurada eternidade.

Segundo. Quando Ele se tornou carne. “O Verbo se fez carne” [João 1:14]. Cristo não

obteve mais glória, tornando-se homem, mas Ele manifestou a Sua glória de uma nova

maneira. Ele não ganhou uma maior perfeição, tornando-se homem; Ele tinha todas as

perfeições de Deus anteriormente. Mas agora essas perfeições eram derramadas através

de um coração humano. A onipotência de Deus agora movia-se em um braço humano. O

amor infinito de Deus agora bateia em um coração humano. A compaixão de Deus pelos

pecadores agora brilhava em um olho humano. Deus era amor antes, mas Cristo foi o

amor coberto com carne. Assim como você já viu o sol brilhando através de uma janela

colorida, – ainda é a mesma luz solar, e ainda assim ela brilha com um brilho adoçado,

assim, em Cristo habita toda a plenitude da Divindade. A perfeição da Divindade brilhou

por todos os poros, por meio de toda a ação, palavra e olhar, as mesmas perfeições,

somente estavam brilhando com um brilho adoçado. O véu do templo era um tipo de sua

carne, porque ele cobriu a luz brilhante do mais santo de todos. Mas, assim como a luz

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brilhante da Shekiná muitas vezes brilhou pelo véu, assim ocorreu, pois à Divindade do

próprio Cristo irrompeu-se através do coração do homem Jesus Cristo. Havia muitas

aberturas do véu quando a glória resplandecente brilhava.

1. Quando Ele transformou a água em vinho – Ele manifestou a Sua glória e os Seus

discípulos creram nele. O Poder Todo-Poderoso falou com uma voz humana, e o amor de

Deus, também, brilhou na mesma; pois Ele mostrou que Ele veio para transformar toda a

nossa água em vinho.

2. Quando Ele chorou sobre Jerusalém – Isso foi uma grande demonstração da Sua

glória. Havia muita coisa que era humana nEle: Os pés que ficavam sobre o Monte das

Oliveiras eram humanos. Os olhos que desprezaram a cidade deslumbrante eram huma-

nos. As lágrimas que caíram no chão eram humanas. Mas ó, havia a ternura de Deus

batendo debaixo daquele manto! Olhem e vivam, pecadores. Olhem e vivam. Eis o vosso

Deus! Aquele que vê a Cristo chorando, viu o Pai. Este é Deus manifestado em carne.

Alguns de vocês temem que o Pai não queira que vocês venham a Cristo e sejam salvos.

Mas vejam aqui, Deus está manifestado em carne. Aquele que vê o Filho vê o Pai. Veja

aqui o coração do Pai e o coração do Filho desvelados. Ó, por que vocês duvidam? Cada

uma dessas lágrimas escorre do coração de Deus.

3. Na cruz. As feridas de Cristo foram as maiores demonstrações de Sua glória que já

existiram. A glória Divina brilhou mais através de Seus ferimentos do que através de toda

a Sua vida antes. O véu foi então rasgado em dois, e pelo que todo o coração de Deus

permitiu transmitir-se. Este era um corpo humano que se contorcia, pálido e torturado,

sobre o madeiro maldito; eram mãos humanas que foram furadas tão rudemente pelos

cravos; era carne humana que suportou aquele golpe mortal sobre o lado; era sangue

humano que fluía de mãos e pés, e lado; o olho que humildemente se virou para o Seu

Pai era um olho humano; a alma que suspirou sobre Sua mãe era uma alma humana.

Mas ó, havia glória Divina fluindo através de tudo; cada ferida era uma boca para falar da

graça e do amor de Deus! A santidade Divina brilhou. O infinito ódio ao pecado estava ali

quando Ele se ofereceu, assim, um sacrifício sem mácula a Deus! A sabedoria Divina

brilhou: todos os seres criados não poderiam ter concebido um plano pelo qual Deus seria

justo e justificador. O Amor Divino: cada gota de sangue que caiu veio como um

mensageiro do amor de Seu coração para contar sobre o amor da fonte. Este foi o amor

de Deus. Aquele que vê a Cristo crucificado, vê o Pai. Ó, olhem para o pão partido, e

vocês ainda verão essa glória fluindo! Aqui está o coração de Deus desvelado, – Deus é

manifesto em carne. Alguns de vocês estão debruçados sobre o seu próprio coração,

examinem seus sentimentos, observando sua doença. Desviem o olhar de tudo no

interior. Eis-Me aqui, eis-Me! Cristo clama. Olhem para Mim, e sejam salvos. Contemplem

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a glória de Cristo! Há muita dificuldade sobre o seu próprio coração, mas não há trevas

sobre o coração de Cristo. Olhem através de Suas feridas; acreditem no que vocês veem

nEle.

Terceiro. A glória de Cristo assunto – Eu não posso falar disso. Eu confio que um dia, em

breve, eu verei isto. Ele não deixou de lado a glória que Ele tinha na terra. Ele ainda é o

Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Mas Ele tem mais glória agora. Sua

humanidade não é mais um véu para esconder qualquer um dos raios de Sua Divindade.

Deus brilha ainda mais claramente através dEle. Ele obteve muitas coroas agora, o óleo

de alegria, agora, o cetro de justiça.

O céu será gasto em contemplar a Sua glória – Veremos o Pai eternamente nEle.

Olharemos em Seu rosto, e em Seu olho humano leremos o terno amor de Deus por nós,

para sempre. Ouviremos de Seus santos lábios humanos claramente do Pai. “Chega,

porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei

acerca do Pai” (João 16:25). Olharemos em Suas cicatrizes, saradas, porém evidentes e

abertas em Suas mãos, e os pés, e lado, e fronte de brilho celeste, e leremos ali

eternamente o ódio de Deus contra o pecado, e o Seu amor por nós que O fez morrer por

nós. E, às vezes, talvez, possamos inclinar a nossa cabeça, onde João inclinou-se, sobre

Seu santo seio. Ó! Se o céu deve ser desfrutado dessa forma, o que farão vocês, que

nunca viram a Sua glória?

Ó, amados, se sua eternidade deve ser gasta assim, passem muito de seu tempo desta

forma! Se vocês devem estar assim comprometidos com a mesa de baixo, estejam assim

comprometidos agora com a mesa de baixo.

Comunhão de Sabath, 19 de janeiro de 1840.

II

PROTEGENDO AS MESAS

“Mas um certo homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma proprie-

dade, E reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e, levando uma parte, a

depositou aos pés dos apóstolos. Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o

teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da

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herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que

formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus. E Ana-

nias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E um grande temor veio sobre todos os que

isto ouviram. E, levantando-se os moços, cobriram o morto e, transportando-o para fora, o

sepultaram. E, passando um espaço quase de três horas, entrou também sua mulher, não

sabendo o que havia acontecido. E disse-lhe Pedro: Dize-me, vendestes por tanto aquela

herdade? E ela disse: Sim, por tanto. Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos

concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o

teu marido, e também te levarão a ti. E logo caiu aos seus pés, e expirou. E, entrando os

moços, acharam-na morta, e a sepultaram junto de seu marido. E houve um grande temor

em toda a igreja, e em todos os que ouviram estas coisas. E muitos sinais e prodígios

eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E estavam todos unanimemente no

alpendre de Salomão. Dos outros, porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles; mas o povo

tinha-os em grande estima. E a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como

mulheres, crescia cada vez mais” (Atos dos Apóstolos 5:1-14).

Houve hipócritas na igreja de Cristo desde o início. Havia um Judas, mesmo entre os

doze apóstolos; e na igreja apostólica houve um Ananias e Safira. Observem

1. O seu pecado – uma mentira. Quando tanto do Espírito foi dado, todos tiram um cora-

ção e alma. Aqueles que tinham propriedades, as venderam, trouxeram o preço, e o de-

positaram aos pés dos apóstolos. Foi uma amável visão para contemplar. Entre o restante

veio um Ananias; ele era rico. Por algum motivo mundano, ele se juntou aos Cristãos –

Marido e mulher, ambos sem Cristo, almas sem a Graça. Ele vendeu suas posses para

ser parecido como o restante, e trouxe uma parte, e disse que era o seu tudo! Ele fingiu

ser um Cristão – ele fingiu que a Graça estava em seu coração. Não mentiu ao homem

somente, mas ao Espírito Santo; pois ele estava declarando que Deus havia feito uma

mudança em sua alma, quando não havia nenhuma – ele ainda era o velho Ananias.

2. Sua punição – Eles caíram e entregaram o espírito. Ó! É uma coisa terrível quando os

pecadores morrem no ato do pecado – com a mentira na sua boca – com o juramento

sobre a sua língua. Assim foi com os miseráveis Ananias e sua esposa. Em um momento

– num piscar de olhos – eles estavam no lugar para onde todos os mentirosos vão.

3. O efeito: um grande temor veio sobre todos eles. Ninguém ousava juntar-se à

companhia dos apóstolos.

Queridos amigos, estas coisas estão escritas para nossa aprendizagem. Não há ninguém

que veio aqui hoje com a mentira de Ananias em seu coração?

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O pão partido e o vinho derramado representam o corpo partido e o sangue derramado de

Cristo. Ó! É o suficiente para derreter o coração do mais forte a olhar para eles. Tomar

este pão e vinho é declarar que você tem comunhão com Cristo – que você O toma como

seu Salvador – que Deus abriu seu coração para crer. No casamento, a aceitação da mão

direita é uma declaração solene, por sinal, que você aceita a noiva ou o noivo; e assim na

Ceia do Senhor. Se não é assim com você, então isto é uma mentira; e é uma mentira

para o Espírito Santo. Ananias veio declarando que ele tinha a obra do Espírito em seu

coração. Esta era uma época em que muito do Espírito de Deus havia sido concedido

(versículos 31 e 32).

É provável que ele e sua esposa tivessem algumas convicções. Mas uma vez que isto era

falso, uma vez que ele não era realmente o que ele fingia ser, diz-se: “mentiu ao Espírito

Santo”. Assim, queridos amigos, o Espírito Santo está particularmente presente nesta

ordenança. Ele glorifica a Cristo. Ele converteu muitos neste lugar. Pecar hoje, é mentir

contra o Espírito Santo. Ao vir para a mesa, você professa que você está sob o ensina-

mento do Espírito. Se você não estiver, você mente ao Espírito Santo!

Agora, você sabe que não veio a Cristo? Você sabe que não é convertido? E você sentar-

se-á ali e tomará o pão e o vinho? Tome cuidado, Ananias! Tu não mentes a um homem,

mas a Deus.

Talvez haja um dentre vocês alguém que está secretamente viciado em beber, a

blasfemar, a ser impuro. Você vai vir e tomar o pão e o vinho? Tome cuidado, Ananias!

Talvez haja dois dentre vós, marido e mulher, que sabem que nenhum de vocês jamais

foram convertidos. Vocês nunca oram juntos, e ainda assim vocês concordam em conjun-

to a virem aqui. Tomem cuidado, Ananias e Safira!

Não existe nenhum dentre vós [que seja] um perseguidor? Suponha um pai, cujos filhos

têm vindo a Cristo, mas em seu coração você odeia a mudança deles; você se opõe a

isso com palavras amargas; e, ainda assim, com um semblante suave, você chegou a

sentar-se ao lado deles à mesma mesa! Ó hipócrita, tome cuidado para que não caia mor-

to! Recue a sua a mão para que ele não fique mirrada! Se pudéssemos ver o copo cair de

sua mão, e olho envidraçar, e os pés tornarem-se frios, ó, onde estaria a sua alma?

Queridos filhos de Deus, não desanimem de vir a esta mesa sagrada. Esta é propagada

aos pecadores que veem Jesus. “Ó, venha e coma”. Alguns de vocês dizem: “Eu não

conheço o caminho para esta mesa”. Jesus diz: “Eu sou o caminho”. Alguns de vocês

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dizem: “Eu sou cego; Eu não consigo ver os meus pecados, nem meu Salvador”. Vão

lavar-se no tanque de Siloé. Alguns de vocês dizem: “Eu sou nu”. Jesus diz: “Aconselho-

te que de mim compres... roupas brancas, para que te vistas”. Vocês estão contaminados

em seu próprio sangue; mas Cristo lançou a Sua orla sobre vocês? Então não tenham

medo; venham com o Seu manto sobre vocês. Venham assim, e vocês são bem-vindos.

III

SERVIÇO DE MESA

(Este é o único exemplar de seu Serviço de Mesa, encontrado em seu próprio escrito à

mão, mas sem data).

“O Meu amado é meu, e eu sou Dele”.

1. Nos braços de minha fé, Ele é meu. Eu já fui do mundo – frio e descuidado com a

minha alma. Deus me despertou e me fez sentir que eu estava perdido. Eu tentei tornar-

me bom – consertar a minha vida; mas eu tentei isto em vão; eu fiquei mais perdido do

que antes. Eu fui, então, alertado a crer no Senhor Jesus. Então, eu tentei fazer-me

acreditar. Eu li livros sobre a fé, e tentei inclinar minha alma a crer, para que eu fosse para

o céu; mas ainda em vão. Eu encontrei isto escrito: “A fé é um dom de Deus” [Efésios

2:8]. “Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo” (1 Coríntios

12:3). Então eu fiquei mais perdido do que nunca. Enquanto eu estava assim, indefeso,

Jesus se aproximou, – suas vestes mergulhadas em sangue. Ele havia esperado muito

tempo em minha porta, mas eu não sabia disto. Sua cabeça estava “cheia de orvalho, os

meus cabelos das gotas da noite” (Cânticos 5:2). Ele tinha cinco feridas profundas, e Ele

disse: “Eu morri no lugar de pecadores; e qualquer pecador pode ter-me como Salvador.

Você é um pecador desamparado; você terá a mim?” Como posso resisti-Lo? Ele é tudo o

que eu preciso! Eu O segurei, e não poderia deixa-Lo ir. “Meu amado é meu”.

2. Nos braços do meu amor, Ele é meu. Outrora eu não sabia o que as pessoas queriam

dizer por amar a Jesus. Eu queria perguntar como eles poderiam amar alguém a quem

eles nunca haviam visto; mas foi respondido: “Ao qual, não o havendo visto, amais” [1

Pedro 1:8]. Mas agora que eu tenho me escondido Nele, agora que eu estou apegado a

Ele, agora eu sinto que não posso deixar de amá-Lo; e eu espero vê-Lo, para que eu

possa amá-Lo mais. Muitas vezes eu caio em pecado, e isso remove a sensação de

segurança em Cristo. A escuridão vem, tudo está nublado, Cristo está ausente. Ainda

assim, nessa ocasião, eu estou doente de amor. Cristo não é luz e paz para mim; mas eu

O sigo diligentemente em meio à escuridão, Ele é precioso para mim; e apesar de eu

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estar em trevas, Ele ainda é o meu amado: “Tal é o meu amado, e tal o meu amigo”

[Cânticos 5:16].

3. Ele é meu no Sacramento – Muitas vezes, eu disse a Ele em oração, Tu és meu.

Muitas vezes, quando as portas se fecharam, e Jesus veio mostrando Suas feridas,

dizendo: “Paz seja convosco”, minha alma apegou-se a Ele, e disse: “Meu Senhor e meu

Deus!” Meu amado, Tu és meu! Muitas vezes tenho encontrado com Ele em lugares

solitários, onde não havia olhos do homem. Muitas vezes tenho chamado as rochas e

árvores para testemunharem que eu O tomei para ser o meu Salvador. Ele me disse:

“desposar-te-ei comigo para sempre”, e eu Lhe disse: “O meu amado é meu”. Muitas

vezes tenho saído com algum amigo Cristão, e nós derramamos nossos trêmulos

corações juntos, consultando um ao outro como para saber se tínhamos liberdade para

aproximarmo-nos de Cristo ou não; e nós juntos chegamos a esta conclusão: que se nós

[éramos] apenas pecadores desamparados, tínhamos o direito de nos aproximar do

Salvador dos pecadores. Nós nos apegamos a Ele e O chamamos de nosso. E agora,

viemos para toma-Lo publicamente, para chamar um mundo ímpio para testemunhar,

para chamar o céu e a terra para um registro de nossa alma, que nós realmente nos

aproximamos de Cristo. Vejam-No entregando-Se a nós no pão! Nós O aceitamos ao

aceitarmos este pão. Deem testemunho, homens e anjos, dê testemunho todo o universo

– “O Meu amado é meu”.

(Os comungantes, em seguida, participaram do pão partido e do cálice de bênção).

(Era seu costume, depois de terem comungado {participado da Ceia do Senhor}, falar

brevemente sobre alguns textos apropriados, antes de despedi-los das mesas. No Sabath

de 19 de janeiro, os textos eram: “Amai-vos uns aos outros” [João 15:12]; “Tudo quanto

pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar” [João 14:13]; “Em mim tenhais

paz; no mundo tereis aflições” [João 16:33].

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45

IV

DISCURSO DE CONCLUSÃO DO DIA

“Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensí-

veis, com alegria, perante a sua glória”, (Judas 1:24).

Não há fim para as ansiedades de um pastor. Nosso primeiro cuidado é para que vocês

estejam em Cristo; e o próximo, para guarda-los de cair. Eu tenho uma boa esperança,

amados, que um bom número de vocês uniram-se hoje ao Senhor. Mas agora uma nova

ansiedade começa: levá-los a andar em Cristo – a caminhar segundo o Espírito. Aqui nós

lhes dizermos o que Deus, nosso Salvador é capaz de fazer por vocês: Primeiramente, os

guarda de cair por todo o caminho; Em segundo lugar, vos apresentará irrepreensíveis

por fim.

I. GUARDÁ-LOS DE TROPEÇAR

(1) Nós não somos capazes de guardar-nos de cair – Aqueles que se apoiam em

ministros, apoiam-se em uma cana agitada pelo vento. Quando uma alma recebeu

mensagem salvífica por meio de um ministro, ele frequentemente pensa que será mantido

de cair pelos mesmos meios. Ele pensa: “Ah, se eu tivesse esse amigo sempre ao meu

lado para me avisar, para me aconselhar!” Não; ministros não estão sempre próximos,

nem amigos piedosos. Vossos pais, onde estão eles? E os profetas, eles viverão para

sempre? Nós em breve poderemos ser retirados de vocês, e pode vir a fome do pão. E,

além disso, nossas palavras nem sempre informam. Quando a tentação e as paixões são

fortes, vocês não dariam ouvidos a nós.

(2) Você nem sempre são capazes de guardar-se de cair – No momento vocês sabem

pouco da fraqueza ou maldade de seu próprio coração. Não há nada mais enganoso do

que sua estimativa de sua própria força. Ó, se vocês vissem a sua alma em toda a sua

enfermidade; se vocês vissem como todo pecado tem a sua fonte no seu coração; se

vocês vissem que mera cana vocês são, vocês chorariam: “Senhor, dirige os meus

passos” [Salmos 17:5]. Vocês podem estar fortes, no momento; parem até que uma

companhia convidativa ocorra; parem até uma oportunidade secreta. Ó quantos caíram,

então! No momento vocês se sentem fortes, – os seus pés como os da corça. Assim fez

Pedro à mesa do Senhor. Mas parem até esta explosão de sentimento passar; parem até

que vocês sejam convidados a juntar-se em algum jogo profano; parem até alguma

oportunidade completamente invisível, secreta de pecar– até que alguma provocação

amarga desperte a sua raiva, – e vocês encontrarão que vocês são fracos como a água, e

que não há pecado em que não possam cair.

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(3) Nosso Deus Salvador é capaz – Cristo nos trata como vocês fazem com os seus

filhos. Eles não podem andar sozinhos; vocês os seguram; o mesmo acontece com Cristo

por meio de Seu Espírito. “Eu ensinei a andar a Efraim; tomando-os pelos seus braços”

(Oséias 11:3). Suspirem esta oração: “Senhor, leve-me pelos braços”, diz John Newton.

Quando uma mãe está ensinando seu filho a andar sobre um tapete macio, ela, às vezes,

o deixa ir, e ele cairá, para ensiná-lo sobre a sua fraqueza; mas não tanto à beira de um

precipício. Assim o Senhor, às vezes, os deixa cair, como Pedro nas águas, mas não para

seu dano. O pastor carrega a ovelha em seu ombro; não importa quão grande a distância

seja; Não importa quão altas as montanhas, quão áspero o caminho; nosso Deus

Salvador é um Pastor Onipotente. Alguns de vocês têm montanhas em seu caminho para

o céu, – alguns de vocês têm montanhas de luxúrias em seus corações, e alguns de

vocês têm montanhas de oposição; não importa, apenas deitem no ombro. Ele é capaz de

guarda-los; mesmo no vale sombrio Ele não tropeçará.

II. APRESENTAR-VOS IRREPREENSÍVEIS

(1) Irrepreensíveis em justiça – Enquanto vocês vivem em vosso corpo mortal, vocês

serão repreensíveis em si mesmos. É um erro [capaz] de arruinar a alma acreditar em

qualquer outra coisa. Ó, se vocês fossem sábios, olhariam muitas vezes sob o manto da

justiça do Redentor para ver sua própria deformidade! Isto manterá vocês mais rápida-

mente sob Seu manto, e os manterá lavando-se na fonte. Agora, quando Cristo lhes trou-

xer diante do trono de Deus, Ele vestirá você com o Seu próprio linho fino, e vos apresen-

tará irrepreensíveis. Ó, é doce para mim pensar em quão breve vocês terão a justiça de

Deus nEle. Que justiça gloriosa, que pode permanecer à luz da face de Deus! Às vezes,

uma peça de roupa parece branca com pouca luz; quando vocês a trazem para a luz do

sol pode ver as manchas. Ó louvem, então, a justiça Divina, que é a vossa cobertura.

(2) Irrepreensíveis em santidade – Meu coração às vezes adoece quando eu penso sobre

os defeitos dos crentes; quando eu penso em um Cristão sendo amante da vida social,

outro vaidoso, outro dado à maledicência. Ó, anelem por serem Cristãos santos! – Cris-

tãos luminosos, resplandecentes. O céu está mais adornado pelas grandes constelações

brilhantes do que por muitas estrelas insignificantes; assim Deus pode ser mais glorificado

por um único Cristão brilhante do que por muitos indiferentes. Anelem por ser este único.

Em breve, seremos irrepreensíveis. Aquele que começou, o concluirá. Seremos

semelhantes a Ele, porque O veremos como Ele é. Quando vocês deixarem este corpo,

podem dizer: Adeus para sempre, concupiscência, adeus meu odioso orgulho, adeus,

odioso egoísmo, adeus luta e inveja; adeus, vergonha de Cristo. Ó, isso torna a morte

doce, de fato! Ó, anelem partir e estar com Cristo!

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III. A ELE SEJA A GLÓRIA

(1) Ó, se algo tem sido feito por sua alma, deem a Ele a glória! Não louvem nenhum outro,

deem todo o louvor a Ele.

(2) E deem o domínio a Ele também. Apresentai-vos a Ele, alma e corpo.

“Pai, eu quero” é extraído de Memórias e Lembranças do Reverendo Robert Murray

M'Cheyne, pelo Reverendo Andrew Bonar. Publicado pela primeira vez em 1844,

(Reimpresso, Edinburgh: Oliphant, Anderson, e Ferrier, 1883), páginas 419 a 431.

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4 Olhe Para Cristo Traspassado

“Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito de

graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem traspassaram; e prantearão sobre ele,

como quem pranteia pelo filho unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora

amargamente pelo primogênito” “Naquele dia haverá uma fonte aberta para a casa de

Davi, e para os habitantes de Jerusalém, para purificação do pecado e da imundícia”

(Zacarias 12:10; 13:1).

Nestas palavras você tem uma descrição da conversão dos Judeus, que ainda está por

vir; um evento que dará vida a este mundo morto. Mas o método de Deus é o mesmo na

conversão de uma alma. A conversão é a obra mais gloriosa de Deus. A Criação do sol é

uma obra muito gloriosa; quando Deus primeiramente o moveu em chamas ao longo do

céu, espalhando adiante bênçãos de ouro em cada margem. A mudança na primavera é

mui maravilhosa; quando Deus faz a grama que desaparecera reviver, as árvores mortas

expõem as folhas verdes, e as flores aparecem na terra. Porém, muito mais gloriosa e

maravilhosa é a conversão de uma alma! Isto é a criação de um sol que deve brilhar pela

eternidade; é a primavera da alma que não conhecerá o inverno; o plantio de uma árvore

que deve florescer com beleza eterna no paraíso de Deus.

I. A fonte de conversão. A mão de Cristo: “derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e

olharão para mim, a quem traspassaram”. O Espírito Santo vem da própria mão que foi

perfurada pelo cravo no maldito madeiro. De fato, a fonte mais íntima do Espírito parece

ser o coração do Pai. Jesus o chama de “o Espírito da Verdade, que procede do Pai”, e

em 1 Coríntios 2:11 diz-se que Ele vem do coração de Deus, como o espírito de um

homem está no coração do homem. Ele é o amigo que habitava desde a eternidade no

seio do Pai e do Filho. Mas ainda é tão verdade que o Pai deu o Espírito a Cristo: “Porque

foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse” [Colossenses 1:19]. Jesus

obteve o dom do Espírito Santo, como recompensa de Seu trabalho. É justo que Aquele

que morreu pelos pecadores deva ter o Espírito para dispensar a quem Ele quer; e assim

uma de Suas últimas palavras aos Seus discípulos foi: “vo-lo enviarei. E, quando ele vier,

convencerá o mundo do pecado” [João 16:7-8].

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1. Isto ensina, almas despertas, de onde vêm as suas convicções. Alguns de vocês

sentem que têm sido despertados para preocuparem-se em relação às suas almas?

Vocês foram traspassados por uma seta de convicção. Olhem para a seta; ela saiu do

arco de Cristo. Foi Cristo que a tirou de sua aljava, Cristo apontou para o seu coração;

Cristo fez que ela traspassasse seu coração. A pena está marcada com o sangue da mão

perfurada. Essa flecha veio das mãos de amor; da mão que foi pregada na Cruz. Ah! Em

seguida, leve-a como uma prova de que Cristo quer vos salvar. Ele está começando a

lidar com vocês. Ah! Não virem as costas: não arranquem a flecha; não curem a ferida

levemente. Vão para Ele mesmo, e a mesma mão que vos perfurou os curará. Senhor, se

eu não puder ter paz de ti, concede-me que eu não a obtenha de mais ninguém.

2 Quando você vê outros gravemente feridos, você deve reconhecer a mão de Cristo.

Acho que alguns reconhecem a mão do ministro, mas não a mão de Cristo. Esta é uma

desonra dolorida para o nosso glorioso Emanuel! Dizia-se dos Erskines, os pais da

Secessão, que Deus tirou grande parte da bênção de seus trabalhos, pois as pessoas

não podiam ver Cristo sobre suas cabeças. Eu encontro muito disto entre vocês. O

Senhor te ensina a olhar acima das cabeças dos ministros, para o nosso glorioso

Redentor, montado em Seu cavalo branco; enviando as Suas setas de convicção!

3. Ore para Cristo faça isso. Se ele derrama o Espírito, quem o pode impedir? Eu não

tenho dúvida de que muitos de vocês que vieram hoje, teriam permanecido longe se

imaginassem que Cristo hoje converteria sua alma. Temo que haja alguns entre vós que

fecham os olhos e tapam suas orelhas, e fazem seu coração bruto, para que vós não

sejais convertidos, e Cristo os cure. Vocês não gostariam de serem feitos em um crente

pranteante, orante e humilde em Jesus. Mas, ó, se Cristo derrama o Espírito hoje, então

mesmo vocês serão derretidos; mesmo vocês serão levados a prantear e clamar: “O que

eu devo fazer para ser salvo?”

Em um momento em que Cristo não está derramando o Espírito, os ministros falam e se

esforçam, mas em vão; é como falar com os ventos, ou com as ondas furiosas do mar.

Mas quando Cristo se levanta de Seu trono e derrama o Espírito, então os meios mais

fracos são infinitamente poderosos. A Palavra não vem apenas em palavra. A queixada

de um jumento era uma espada muito fraca para matar os homens porém na mão de

Sansão era poderosa. Ele matou mil homens com esta. Uma funda e uma pedra era uma

arma muito fraca para se opor a um gigante armado; e ainda quando Davi atirou a pedra,

ele a afundou na testa do gigante, e ele caiu com o rosto em terra. Ó! orem, queridos

Crentes, para que a funda e a pedra possam estar hoje na mão de nosso glorioso Davi;

que a Palavra possa penetrar nos corações duros deste povo; para que mesmo os

gigantes em pecado possam ser reduzidos ao pó. Ah! Temo que muitos de vocês estejam

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armados até os dentes contra a Palavra de Deus; vocês estão armados da cabeça aos

pés, em todos os pontos. Vocês estão escarnecendo, talvez, em sua segurança; ainda

assim, olhem para cima, queridos amigos, para o braço de Emanuel; Ele pode derrubar o

mais orgulhoso. Orem para que Ele se agrade em derramar o Espírito. Eu acredito que as

orações humildes de um único crente podem obter uma obra profunda e pura de Deus em

uma cidade. Se houvesse homens entre nós, como Noé, Jó e Daniel poderíamos esperar

uma chuva de bênçãos.

II. O Espírito que converte.

1. O Espírito da Graça, Ele é assim chamado, porque a Sua vinda a qualquer alma, e tudo

o que Ele faz na alma, é por Livre Graça. Quando o Espírito de Deus visita pela primeira

vez uma alma, Ele não encontra nada o convidando para vir ou para permanecer; Ele

encontra a alma como os ossos secos no vale aberto, sem qualquer forma ou formosura,

sem qualquer desejo de vida. Todo homem natural não tem mais beleza do que um

esqueleto seco, nem mais desejo de Graça do que uma carcaça morta. Não, mais, há

tudo para conduzir o Espírito à distância. Ele é um Espírito Santo; mas Ele encontra o

coração em um poço de corrupções, cheio das mais repugnantes luxúrias e paixões. Ele é

um Espírito de amor; mas Ele encontra o coração do homem cheio de rebeldia e terrível

inimizade contra Deus. Ele é um Espírito zeloso; mas Ele encontra o coração do homem

uma câmara de imagens, repleto de abominações. Ó! Eu posso imaginar o Espírito Santo

a olhar para alguns dos seus corações, e dizendo: “Por que eu deveria aproximar-me de

tal alma? Ele não quer que eu o converta. Ele quer ser deixado em paz. Ele prefere servir

às suas paixões; por que eu deveria incomodá-lo? Eu vou deixá-lo sozinho”. Permaneça,

permaneça, bendito Espírito de Graça! Venha, por Livre Graça. Venha, não porque ele

deseja a Ti, mas porque és Gracioso. Venha e faça mesmo esses ossos secos

levantarem-se e invocarem o nome de Jesus.

Alguns de vocês sabem que foi assim que Ele veio até você. Ele encontrou você um

rebelde, e Ele fez-lhe uma filho obediente. Ó, você nunca se desesperou por nada, até

Ele que converteu seu coração! Há alguns entre vós, queridos amigos, cujo homem

poderia desesperar os homens e mulheres que têm vivido por muito tempo em velhos

pecados formalistas, para quem receber o Senhor nesta mesa é um antigo negócio. Ó,

não nos desesperemos pelos tais! O Espírito é o Espírito da Graça. Convide-O para vir,

pobre alma morta.

2. De súplicas. Porque Ele ensina a orar. Dificilmente pode ser dito de um homem natural

que ele está a orar. É verdade que ele tem frequentemente uma forma comum para

clamar na hora da angústia; mas “será que ele sempre clama a Deus?” Uma alma ansiosa

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não pode orar com uma forma; pois ela diz: Ninguém jamais foi como eu. Mas um homem

ora realmente quando o Espírito vem à sua alma. Ele conduziu um ímpio Manassés aos

seus joelhos. Manassés havia muitas vezes dobrado os joelhos na juventude no colo de

seu pai piedoso; muitas vezes tinha orado aos seus ídolos sanguinários; ele tinha muitas

vezes orado ao Diabo; mas agora, quando o Espírito veio, ele começou a orar de fato. Ele

conduziu um blasfemo Paulo aos seus joelhos. Muitas vezes, Paulo havia orado aos pés

de Gamaliel. Na sinagoga, e nos cantos das ruas, ele fez longas orações, por pretensão;

mas agora, despertado pelo Espírito de Deus, “eis que ele está orando” [Atos 9:11].

Você foi ensinado a orar pelo Espírito de Deus? Você já teve uma forma, ou orou por

pretexto, ou você orou a ídolos; mas você foi levado a orar pelo Espírito Santo? Então,

você pode estar certo de que Ele começou a trabalhar em seu coração. Se algum dentre

vocês não foi levado a orar em segredo, você pode estar certo de que você está em “fel

da amargura e laço de iniquidade”. Uma alma sem oração é uma alma adormecida muito

perto do fogo. Alguns pedaços de madeira queimarão muito mais facilmente do que

outros; alguns pedaços são verdes, e não são facilmente apanhados pela chama, mas um

pedaço de madeira seca é facilmente acendido. As almas sem oração são pedaços secos

de madeira que estão prontos para a queima.

III. Onde a alma busca por conversão: “Eles olharão para mim, a quem traspassaram”.

Quando o Espírito de Deus está trabalhando realmente no coração, Ele faz o homem

olhar para um Cristo traspassado. Por onde passa, este é o objeto de destaque em Seu

olho: Cristo, aquele que foi traspassado. Satanás quer fazer um homem olhar em

qualquer lugar, em vez de Cristo. Há tal coisa como falsa conversão. Satanás às vezes

atiça as pessoas para que se preocupem com suas almas. Ele faz com que busquem por

ministros, ou livros, ou reuniões, ou deveres a sentimentos, a ampliação da oração e etc.

Ele vai deixá-los olhar para qualquer coisa no universo, exceto para um objeto - A Cruz de

Cristo. A única coisa que ele esconde é o Evangelho – o glorioso Evangelho de Cristo.

Quando é o Espírito de Deus, Ele não vai deixar a alma olhar para qualquer outra coisa,

senão para Cristo, para um Cristo traspassado.

O que uma alma despertada vê ali?

1. Que ela traspassou o Filho de Deus por seus pecados. Isto dá-lhe uma sensação

terrível da grandeza infinita do pecado. Um homem natural não pensa nada a respeito do

pecado. Um juramento ou uma mentira é tão leve como uma pluma em muitas de suas

consciências. Você sente isso sem fardo, mesmo que houvesse um milhão deles

colocados sobre a sua alma. Você pode dormir com facilidade em todos os seus pecados.

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Mas se os seus olhos se abrissem para olhar para um Cristo traspassado, você veria que

o peso é infinito. Ah! Veja ali que Deus não poupou a Cristo. Embora ele não tivesse

pecado seu próprio, nenhum, mas o pecado imputado ainda vê a infinita ira derramada

sobre Ele! Vê que lanças perfuraram sua santa alma! Os cravos perfuraram suas mãos e

pés inculpáveis; mas todas as flechas de Deus bebiam de Seu espírito. Deus poupará

você, se você morrer em seus próprios pecados, quando estes pecados são os seus

próprios atos e ações?

Pense novamente: Cristo era Deus. Este sofredor pálido é o “Deus Forte, Pai da Eterni-

dade, Príncipe da Paz”; veja ainda como Ele afunda sob o peso; veja; no Getsêmani,

como Ele fica trêmulo, suando grandes gotas de sangue; veja-o no Calvário, como Seus

ossos estão fora das juntas, como sua cabeça está inclinada morrendo em agonia. Você é

apenas um verme. Você pode suportar esta ira? “Porventura estará firme o teu coração?

Porventura estarão fortes as tuas mãos, nos dias em que eu tratarei contigo?” [Ezequiel

22:14]. Ó, olhem para Cristo, pecadores busquem por um Cristo traspassado, e

lamentem. Nada quebrantará o vosso coração, senão uma visão de Cristo traspassado

por seus pecados.

2. Que ela traspassou o Filho de Deus por meio da incredulidade. Quando o Espírito

revela Cristo à alma, isto é geralmente uma pontada amarga. Um homem não despertado

não pensa nada sobre a incredulidade, ele não se importa que tenha rejeitado a Cristo por

vezes sem número. Os ministros têm pregado até esgotar o fôlego, rogando-lhe para

converter-se e viver; Cristo tem permanecido todo o dia com as mãos estendidas; Deus

lamentou sobre esse homem, adiou lança-lo no inferno; ainda assim, ele é um rebelde

endurecido. Ah! quando o Espírito desperta aquele homem, que visão ele vê em um

Cristo traspassado! Alguns de vocês estão dizendo hoje: Eu tenho desprezado esse

Alguém Glorioso. Ele com frequência quis me acolher, e eu não quis. Deus tem esperado

por mim há anos. Jesus tem batido em minha porta, e eu nunca quis deixa-lo entrar; e

agora eu sinto que Ele se foi para sempre. Sim, alguns de vocês podem sentir que o seu

coração não está disposto a obtê-lO, está tão duro e morto. Quanto mais formoso Ele

aparece, mais o seu coração é traspassado, porque você O tem rejeitado. Ah, não há dor

como a de olhar para um Cristo traspassado!

(1) É uma amarga tristeza. Você já viu os pais de luto pela perda de seu único filho, ou de

seu primogênito? É uma tristeza inefável. Tal é a angústia de quem olha para um Cristo

traspassado. De fato, alguns têm agonia mais profunda do que outros; mas todos os que

verdadeiramente olham para Cristo estão em amargura.

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(2) É uma tristeza solitária. Na verdade, esta não estará restrita em nenhum lugar; e estão

errados aqueles que condenam precipitadamente a ansiedade intensa manifestada

mesmo em público; mas esta dor procura a sombra, a alma atingida procura estar a sós

com Deus, ou com alguns de semelhante espírito. David Brainerd menciona que em uma

ocasião, quando ele estava pregando a Cristo traspassado aos seus Índios, o poder de

Deus desceu entre eles como um vento impetuoso: “A preocupação deles foi tão grande,

cada um por si, de modo que nenhum parecia ter qualquer atenção daqueles ao seu

redor. Eles estavam, à sua própria apreensão, tão retraídos como se estivessem sozinhos

no deserto mais espesso. Cada um estava orando à parte, e ainda todos juntos”.

Ó, queridos amigos, se vocês realmente olharam para um Cristo traspassado, vocês

estariam em angústia de alma a fim de obter um interesse por Ele. Ó! vejam como vocês

O tem menosprezado nos dias passados. Na juventude na Escola Dominical, como

criancinhas, como vocês O recusaram! Quando vocês vieram pela primeira vez à mesa do

Senhor, Ele permaneceu um Salvador traspassado diante de seus olhos; mas vocês O

negligenciaram, e O pisotearam debaixo de seus pés. E vocês estão chegando ao dia de

hoje para perfurar-Lhe mais uma vez, para enfiar novamente os cravos em Suas mãos, a

lança em Seu lado, os espinhos em Sua testa? Ó, pare, pecador! você está perfurando

Alguém que te ama, matando o Príncipe da Vida, negligenciando o único Salvador. Se

você O rejeitar hoje, você pode nunca vê-Lo novamente até que você O veja nas nuvens

do céu, e lamente-se por causa dEle.

Caros crentes, lembrem-se de como vocês O traspassaram; deixem que ervas amargas

adocem a sua páscoa – permitam que uma lembrança amarga do pecado passado faça

de Cristo o mais precioso.

IV. Uma fonte é vista em um Cristo traspassado.

O primeiro olhar a Cristo faz o pecador lamentar-se; o segundo olhar a Cristo alegra o

pecador. Quando a alma primeiramente olha para Cristo, ela vê metade da verdade, ela

vê a ira de Deus contra o pecado, que Deus é santo, e deve vingar o pecado, por que ele

de nenhuma forma inocenta o culpado, ela vê que a Ira de Deus é infinita. Quando ela

olha para Cristo novamente, ela vê a outra metade da verdade, o amor de Deus pelos

perdidos, que Deus providenciou uma segura libertação a todos. É isso que enche a alma

de alegria. Ó, é estranho que o mesmo objeto deva quebrar o coração e curá-lo! Um olhar

para as feridas de Cristo, um olhar para Cristo cura. Muitos, eu temo, têm apenas um

meio olhar para Cristo, e isso causa apenas tristeza. Muitos são tardos de coração para

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crer em tudo o que se fala a respeito de Jesus. Eles acreditam em tudo, exceto que ele é

gratuito para eles [...].

Quando o Espírito está ensinando, Ele concede uma visão plena de Cristo, um olhar para

Ele somente por justiça. O que o pecador vê? As feridas de Cristo, uma fonte para o

pecado e para a impureza. Ó, trêmulos pecadores, venham e obtenham este olhar para

Cristo! Venham e vejam uma fonte para o pecado e para a impureza, aberta no Calvário

há mil e oitocentos anos atrás. “Eu não posso, pois os meus pecados são muito grandes”.

Você é todo pecado e impureza, nada além de pecado, uma massa de pecado? Em sua

vida, em seu coração, você é um feixe de luxúrias? Aqui está uma fonte aberta para você;

olhe para Cristo traspassado, e pranteie; olhe para Cristo traspassado, e seja feliz. “Eu

não consigo me lavar”. Olhar é lavar. Tão logo o olho se volta, as vestes imundas caem.

A fonte está aberta nesta casa de Deus hoje. Na própria chegada para as mesas, Jesus

se levanta e diz: “E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da

vida” [Apocalipse 22:17]. Você está disposto? Você busca somente por Ele para a justiça?

Então, venha, assim lavado para a mesa do Senhor, na mesma veste que você usará na

glória. Sente-se com seu olho sobre a fonte. Ó, valorize isso altamente! O que você não

deve a Quem te salva de ser lançado fora!

Alguém poderia passar da fonte para a mesa. Cuidado, homem ímpio! Você se atreverá a

sentar-se ali com o pecado não perdoado sobre você? Você se arriscará a tocar o pão,

sem que sua alam esteja lavada? Ah, você se arrependerá amargamente um dia! Alguns,

eu confio se lembrarão deste dia na Glória; alguns, receio, se lembrarão deste dia no Inferno.

São Pedro, 19 abril de 1840.

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5 Cristo, o Único Refúgio

“Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te

só por um momento, até que passe a ira” (Isaías 26:20).

ESTA passagem é uma palavra em tempo oportuno ao povo de Deus em toda época de

calamidade iminente. A forma de expressão é evidentemente tomada a partir daquela

noite terrível quando Deus passou pela terra do Egito para ferir todos os primogênitos

Egípcios, desde o primogênito de Faraó, que estava assentado sobre o trono, até o

primogênito do cativo que sentava-se na masmorra. E Faraó levantou-se de noite, ele e

todos os seus servos, e todos os Egípcios, e houve um grande clamor no Egito, porque

não havia casa em que não houvesse um morto. Mas Deus tinha ordenado o Seu próprio

Israel a matar o cordeiro pascal, o tipo do Senhor Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, e a

tomar um molho de hissopo, e mergulhá-lo no sangue, e pô-lo na verga da porta e em

ambas as ombreiras, com sangue: “porém nenhum de vós saia da porta da sua casa até à

manhã” [Êxodo 12: 22]. “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas

portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”

Pode ser difícil determinar a que tempo de indignação o profeta aqui se refere. A profecia

foi dada no início do reinado de Ezequias, quando muita destruição ainda estava por vir

sobre a terra de Israel. A invasão por Senaqueribe, o Assírio, estava apenas à mão, e

pode ser primariamente referido a isto. A invasão por Nabucodonosor, e cativeiro de

setenta anos também estavam vindo; e também podia referir-se a isso. E a invasão pelos

Romanos, na qual Jerusalém foi destruída, e os Judeus finalmente dispersos pelo mundo

inteiro, também podia remeter-se a isso. E em todos essas iminentes indignações, a

Palavra de Deus ao seu povo foi, para que se escondessem em seus aposentos, no

refúgio em que Ele lhes tinha designado, até que a ira passasse.

Porém, acima de tudo, esta profecia refere-se à grande tempestade de ira que Deus ainda

trará sobre o mundo, antes que venha o fim; quando o Senhor Jesus virá uma segunda

vez, sem pecado para salvar; quando Ele virá novamente, não mais um pobre homem,

vestido com uma túnica sem costura, mas glorioso em seu traje, marchando na plenitude

da Sua força; “quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu

poder, com labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos

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que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; Quando vier para ser

glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que creem

(porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós)” [2 Tessalonicenses 1: 7-8,10].

Naquele dia de terrível tribulação, que a não ser que fosse encurtado, nenhuma carne se

salvaria, Deus reunirá os Seus como se fosse em câmaras, e os guardará escondidos até

que a tempestade passe.

Como no dilúvio Ele conduziu Seu pequeno rebanho para o interior da Arca, e está

escrito: “o Senhor o fechou dentro” [Gênesis 7:16], Ele fechou as portas sobre eles, até

que o dilúvio de Sua ira passou; como na destruição de Jericó, a família de Raabe foi toda

reunida dentro das portas, e salvos da ira que veio sobre todos; como na destruição dos

primogênitos do Egito, Deus guardou o Seu próprio Israel escondido em segurança nas

suas habitações; assim, na última tempestade que cairá sobre este miserável mundo que

perece, Deus reunirá os seus eleitos em segurança sob a palma da mão, dizendo: “Vai,

pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por

um momento, até que passe a ira”.

A doutrina a ser aprendida a partir desta passagem é muito simples, a saber, que em

todos os tempos de calamidade Deus nos ordena e a nossas famílias a encontrarmos

refúgio em Cristo. Não há segurança em qualquer outro lugar.

Cristo é um refúgio completo em cada tempestade.

Em outras partes da Bíblia, Cristo é comparado a “um esconderijo contra o vento, e um

refúgio contra a tempestade e como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta”

[Isaías 32:2]; Ele é comparado a uma “Torre forte” [Provérbios 18:2] ou “alto refúgio”

[Salmos 18:2], para o qual nós podemos fugir e estar a salvos. Ele é comparado a uma

“macieira entre as árvores do bosque”, a qual sob a sombra, podemos sentar, e seu fruto

é doce ao nosso paladar [Cântico dos Cânticos de Salomão 2:3], mas a comparação aqui

é bem diferente, ele é aqui comparado ao nosso próprio quarto com a porta fechada:

““Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te

só por um momento, até que passe a ira”

Agora Cristo é como o nosso próprio quarto com a porta fechada, em muitos aspectos: 1.

Porque há segurança nEle. Não há lugar em todo o mundo para o qual olhamos com mais

frequência em uma hora de perigo, como um refúgio e lugar de segurança, mais do que a

nossa própria casa, o quarto interior, com a porta fechada Irmãos, precisamente assim é

Cristo. Há segurança nEle: “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”

[Romanos 8:1]. 2. Porque há sossego e descanso nEle. No mundo nós olhamos para a

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agitação e preocupação dos negócios, mas quando entramos em nosso quarto e

fechamos a porta para o mundo inquieto; tudo é tranquilidade e paz.

Irmãos, exatamente assim é Cristo. NEle o “cansado está em repouso”. Nós estamos

“sem inquietações” temos “repouso e segurança para sempre”. 3. Porque a nossa casa é

um refúgio de prontidão, de acesso próximo e fácil. Quando buscamos a nossa casa, não

temos que subir com a águia até o topo das rochas escarpadas: nem como a pomba se

aninha nos lados da boca da caverna, nem temos que cavar a terra, para que possamos

esconder nossa cabeça ali. Nossa casa está próxima de nós. Irmãos, precisamente assim

é Cristo. Ele é um Salvador de prontidão, em mãos, e não de longe. Nós não temos que

subir, para trazer Cristo do alto, nem temos que descer para a profundeza, para trazer

Cristo, novamente, dentre os mortos. Mas a palavra está perto de ti, na tua boca e no teu

coração. Ó! Ele é um Salvador próximo; Ele não está longe de cada um de nós. Agora,

este é o refúgio para o qual Deus ordena ao Seu povo fugir, em cada tempestade: “Vai,

pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por

um momento, até que passe a ira”. E ó! Ele é um refúgio todo-suficiente em cada

tempestade.

1. Cristo é um refúgio completo em uma tempestade da consciência. A grande maioria

dos homens não-convertidos estão vivendo mui seguros em seus pecados; indo de um

dia para o outro sem a menor ansiedade, embora estejam permanecendo sob a ira. A

razão é que os cálices da ira estão mantidas sobre suas cabeças, mas ainda não foram

derramadas; as chamas do Inferno estão queimando aos seus próprios pés, mas eles

ainda não sofreram por tocá-las. Deus é longânimo, não querendo que nenhum pereça.

Mas quando Deus desperta a alma para conhecer a sua verdadeira condição, então

surge, no interior, uma tempestade da consciência.

O irmãos! não há mais segurança para aquela alma. Ele não sente a repugnância do

pecado como um filho de Deus, mas ele sente o terror da ira. O Espírito o convenceu do

pecado. Cada pecado de sua vida passada se levanta atrás dele, e parecem clamar

vingança; todos os pecados de suas mãos tomando as coisas que não eram suas, sua

manipulação de coisas ilegais, e escrevendo coisas abomináveis e tolas; os pecados de

seus pés, velozes para derramar sangue, rápidos para levá-lo para os antros do pecado;

os pecados de seus olhos, cheios de adultério, e que não poderiam deixar de pecar; os

pecados da língua amando e praticando a mentira, expressando palavras de queixa e

maledicência, calúnia e amargura, falando palavras vergonhosas na escuridão, coisas as

quais mesmo o citar é uma vergonha; os pecados do seu coração, pois este deve ter sido

sempre como uma fonte, derramando desejos abomináveis e afeições repugnantes em

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direção à criatura, ao passo que o Criador era desprezado, embora [seja] o mais amorável

de todos.

Ó, irmãos! quando um homem realmente sente que a Ira de Deus está posta sobre ele

por toda uma vida de pecado, quem pode suportar a tempestade? e, o pior de tudo:

quando o Espírito convence do pecado, “porque ele não crê em Jesus?” Quando o

pecador sente que Jesus estendeu a Sua mão o dia todo, e ele não considerou; que o

gentil Salvador o chamou, e ele recusou; que ele pisou as ofertas de misericórdia sob

seus pés, e desprezou o Espírito da graça, ó! em seguida, a tempestade de consciência

sobe em um turbilhão. Os temores da ira caem duramente sobre a alma; eles são como

ondas e vagas passando por cima dele. Sua esposa e filhos não pode animá-lo agora.

Seus companheiros de pecado não podem fazê-lo rir de seus medos agora. Ó, irmãos, se

alguma vez vocês já viram o semblante triste, abatido de um pecador convencido por

Deus, vocês não esquecerão disto tão cedo. Ele não tem certeza, mas seu próximo passo

pode ser o inferno. Quando ele adormece, ele não sabe, mas ele pode acordar no inferno.

Ó! se há uma alma aqui, assim despertada, aflita, na tempestade e desconsolada, ouça

esta palavra: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti;

esconde-te só por um momento, até que passe a ira”. É verdade, esta é uma palavra,

principalmente para o povo de Deus, que já está escondido em Cristo, mas Cristo é tão

livre para você como para eles. NEle há uma segurança perfeita. NEle há tranquilidade e

descanso. Ele é um Salvador próximo. Seus braços são tão abertos para recebê-lo como

é a sua própria casa. Vinde, pobres pecadores, entrem neste quarto. Todo aquele que

está agora em Cristo, já esteve na tempestade, como você está. Quando um homem é

surpreendido ao cair da noite em um pântano sombrio, quando o vento gelado sopra

amargamente sobre ele, e a neve abundante retarda cada passo seu, onde é que ele

deseja estar? Que lugar em todo o mundo vem frequentemente através de sua desejosa

imaginação? É sua casa, seu quarto interior, com a porta fechada em seguida. Ó! Se ele

apenas estivesse ali, estaria seguro. Ó! pobre alma, exatamente assim é você, e

precisamente assim, como uma casa, é Cristo, não distante, mas próximo. Crê no Senhor

Jesus e serás salvo. Esconda-se nEle, pois Ele é um esconderijo contra o vento.

2. Cristo é um refúgio completo em uma tempestade de providência.

Quando as providências são todas favoráveis, é assombroso como quão descuidados os

homens não-convertidos são [em relação a] Deus e às coisas da eternidade.

Quando o esplendor da saúde tem sido sobre seu rosto, eles começam a viver como se

fossem viver para sempre, como se não houvesse morte, e nenhum inferno. Quando o

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seu negócio continua próspero de semana a semana, eles começam sentir-se como

senhores do universo, como se esse mundo fosse seu próprio, como se as suas casas e

terras, e dinheiro, fossem todos seus próprios, e eles nunca poderiam abrir mão. E ó! são

ainda mais surpreendente ver quão mais descuidados até mesmo os filhos de Deus são

nestes tempos de prolongada continuidade de prosperidade; como a morte e a eterni-

dade, e estar com Cristo, e assemelhar-se a Cristo, tornam-se coisas menos desejáveis

do que uma vez foram; quão parecidos eles se tornam com o mundo, ao supor que o

ganho é piedade; como os pobres, miseráveis bens deste mundo parecem, por um tempo,

estar no meio e interceptar a visão da herança que é incorruptível, incontaminável, e que

não desvanece; como o deslumbre e o brilho deste presente mundo vil ofusca os seus os

olhos, e escurece a sua visão da contemplação do Rei em Sua formosura, e da terra que

está mui distante.

Agora, é profundamente interessante e profundamente instrutivo observe o pânico que

vem sobre a face da sociedade, quando Deus faz uma súbita mudança de providências;

quando, de repente, o céu está nublado, o trovão distintamente começa a revolver, e a

tempestade da providência progride. Quando aqueles acidentes súbitos ocorrem no

mundo comercial, quando, como a avalanche das montanhas nevadas, que desce sobre

alguma aldeia infeliz, sufoca famílias inteiras em meio à sua alegria irracional, quando

essas catástrofes esmagadoras descem, envolvendo famílias inteiras em ruína e miséria:

ó! é estranho ver como o mundo fica espantado; a sua sabedoria é totalmente frustrada e

confundida. Ou, quando Deus envia um tempo de doença disseminada e morte, quando

ele parece envenenar a própria atmosfera; quando somos visitados pela peste que anda

na escuridão, e a mortandade que assola ao meio-dia, quando caem mil nosso lado, e

dez mil à nossa direita, ó! é estranho ver o pânico que vem sobre os homens, e palidez

sobre todos os rostos. É como quando um conjunto de barcos de pesca saiu em uma

excursão quando o vento era bom, e o sol brilhava alegremente, e as ondas azuis

ondulavam suavemente por todos os lados, e tudo é alegria e despreocupação em cada

barco, quando de repente o céu é nublado, o vento ruidoso sobe, uma terrível tempestade

está à mão, e a morte olha os homens no rosto. Ah! Então, que pânico se apodera da

tripulação em cada barco?

Que rizadura das velas! que avidez no leme! como alguém procura correr para o litoral,

outro para o interior! Assim é o pânico que vem sobre os homens não convertidos em um

momento de generalizada calamidade. E ó! quão religiosos eles agora se tornam! como

olham a sepultura, e abandonam seus gracejos e conversas folgadas, e pensam que isto

é religião! Eles são como Israel no passado: “Quando os matava, então o procuravam; e

voltavam, e de madrugada buscavam a Deus. E se lembravam de que Deus era a sua

rocha, e o Deus Altíssimo o seu Redentor. Todavia lisonjeavam-no com a boca, e com a

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língua lhe mentiam. Porque o seu coração não era reto para com ele, nem foram fiéis na

sua aliança” [Salmos 78: 34-37].

Agora, irmãos, em tal tempestade da providência Cristo é um refúgio completo; e embora

os filhos de Deus, em tais momentos, mesmo eles, parecem estar em dúvida e risco,

porque não sabem o que pensar, eles não sabem para onde fugir, ainda assim eles

podem ouvir a palavra de Deus acima da tempestade: “Vai, pois, povo meu, entra nos

teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que

passe a ira” [Isaías 26:20]. Assim como o nosso próprio quarto, com as portas fechadas

sobre nós, é o lugar onde temos sossego e descanso, e a tempestade pode enfurecer-se

fora, mas não a sentiremos; e o mundo pode estar chorando em voz alta, ainda assim,

nós não o ouviremos; assim o Senhor Jesus é um refúgio perfeito para o crente, em todas

as tempestades da providência.

Os homens tendem a pensar que o único bem em esconder-se em Cristo é salvar as

nossas almas, de forma que quando um pecador despertado se esconde no Senhor

Jesus, ele encontra o perdão de todos os pecados e paz com Deus, porém nada mais.

Mas toda a Bíblia mostra que há muito mais em Cristo, de modo que, quando nós nos

escondemos nEle, nós somos salvos de todas as nossas angústias, de nossos problemas

de saúde, do dinheiro, do mundo. No Salmo 34, é mencionado quatro vezes, que quando

nos aproximamos de Cristo, somos salvos, e não de um problema, mas de todos os

nossos problemas: “Busquei ao Senhor, e ele me respondeu; livrou-me de todos os meus

temores”, versículo 4. “Clamou este pobre, e o Senhor o ouviu, e o salvou de todas as

suas angústias”, versículo 6. “Os justos clamam, e o Senhor os ouve, e os livra de todas

as suas angústias”, versículo 17. “Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de

todas”, versículo 19. E a razão é simples: quando nos escondemos em Jesus, o Deus de

provisão torna-se o nosso Deus e Pai, e nós sabemos que todas as coisas cooperam para

o nosso bem. O Senhor é nosso pastor, nada nos faltará. Qualquer temporal pode ser

afastado, nós sabemos que nosso bem eterno está seguro: “porque eu sei em quem

tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia”

[2 Timóteo 1:12].

Ó! Meus amigos crentes, por que vocês deveriam estar desencorajados neste tempo de

peste amplamente disseminada e calamidade? por que vocês estariam abatidos, como se

Deus estivesse cobrindo-lhes com uma nuvem em Sua ira? Estas nuvens podem ser

algumas gotas da ira vindoura de Deus sobre o mundo, elas podem ser como o primeiro

trovejar da chuva, mas para vocês, elas falam na linguagem do amor. Deus quer que

vocês se escondam mais profundamente em Cristo, Ele quer vocês mais separados do

mundo: ““Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti”.

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Nós nunca conheceríamos a bênção de uma casa, se não houvesse as neves e os ventos

invernais para nos fazer em multidão em volta da lareira feliz! Exatamente assim, crente,

você não conhece a bênção de tal quarto como é Cristo, se não houvesse enfermidades,

e escuras eminentes providências para faze-los viver mais nEle. Venha então, crente, que

cada gota de ira que cai em torno de você fale com o novo poder à sua alma, dê nova luz

à fé pela qual você se apegará a Jesus. Deixe que cada suspiro que você ouve, seja

como se fosse uma voz de Deus, dizendo: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos”.

E vocês, pobres almas sem Cristo, ah! Para onde vocês correrão, pobres ovelhas que não

têm pastor, indefesas e perdidas no deserto deste mundo? Vocês não têm casa. Entrem

em vossos quartos mais seguros, e fechem a porta; ainda assim a vingança pode chegar

ali. Deus está contra você, Sua ira está habitando sobre você. Ó! o dia do Senhor é trevas

e não luz para você. Onde quer que você vá, é uma alma perdida. “É como se um homem

fugisse de diante do leão, e se encontrasse com ele o urso; ou como se entrando numa

casa, a sua mão encostasse à parede, e fosse mordido por uma cobra” [Amós 5:19]. Ó,

irmãos! Vós sois homens, vós tendes entendimento, não fugireis da ira vindoura? Será

que essas enfermidades assoladoras não vos convencem de que Deus é mais forte do

que vocês, que vocês serão [como] nada nas mãos de um Deus irado? Mesmo para

vocês, então, Cristo, a porta da salvação, ainda está aberta, escancarada. Vinde, pobres

pecadores, entrem neste quarto e fechem as tuas portas sobre vós. “Esconde-te só por

um momento, até que passe a ira”

Há apenas duas observações que gostaria de fazer, em conclusão:

1. Que esta passagem ordena que nos escondamos em Cristo, e não isoladamente, mas

em famílias. Na libertação que Deus operou por Israel no Egito, Ele ensinou isso mui

notavelmente, pois Ele não reuniu Israel em alguma grande torre onde eles poderiam

estar seguros, mas ordenou que cada família permanecesse dentro de sua própria casa,

apenas borrifando as portas com o sangue; e assim, ao salvar Noé, Deus não salvou a

alma de um indivíduo, mas a família inteira; e assim, na salvação de Ló, Deus salvou a

Ló, e e todos os que estavam com ele; e assim, na salvação de Raabe, ela e toda a sua

parentela foram reunidos e salvos. Meus amigos, Deus ainda é o Deus das famílias, e Ele

ainda quer que famílias inteiras sejam salvas; e Ele diz assim nas palavras diante de mim:

“Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos”. Ai! Meus amigos, nós vivemos em dias

quando a religião de família está caída ao chão. Os homens são muito orgulhosos para

ser como Abraão, e ordenar os seus filhos e seus servos após eles. Os homens atuais

tomam as palavras de Caim, e dizem: “Sou eu o guardião de meu irmão?” Ah! Onde estão

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os nossos Andrés, agora? André primeiro achou seu próprio irmão, Pedro, e disse a ele:

“Achamos o Cristo; e levou-o a Jesus”.

O quê! há um de vocês que pensa de si mesmo ser um filho de Deus, que é ainda se

envergonha de ajoelhar-se no meio de sua família, e orar? Ai de mim! meu amigo, você

pode sonhar que é um filho de Abraão, mas lembre-se que você não faz as obras de

Abraão. Ah irmãos, famílias inteiras precisam ser salvas, pois famílias inteiras estão em

perigo do inferno.

Ó! Então, você que conhece o Senhor, as suas entranhas não suspiram pela sua

parentela perecendo? Você não pode inclinar-se em algum artifício, penso eu, para

ganhá-los para Cristo? Você não fortalecerá nossas mãos, no mínimo, pelas suas

palavras e orações, e pela abertura do caminho para que o ministro de Cristo entre no

seio de suas famílias não-convertidas? Ah! neste tempo de angústia, você não insistirão

com eles, como os anjos fizeram com Ló? Ouça! o Senhor vos chama: “Vai, pois, povo

meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um

momento, até que passe a ira”.

2. Eu observo que os perigos a que estão expostos o crente são apenas passageiros.

Deus diz: “Esconde-te só por um momento, até que passe a ira”. Foi assim naquela noite

quando Deus feriu os primogênitos do Egito. Era apenas por uma noite que eles tiveram

que esconder-se em suas casas: “nenhum de vós saia da porta da sua casa até à ma-

nhã”. Foi assim na destruição de Jericó, Raabe e sua parentela esconderam-se por sete

dias, até que o perigo passasse. E justamente assim, os problemas dos crentes agora são

por um curto período: “nossa leve e momentânea tribulação” [2 Coríntios 4:17]. E também

a ira que há de vir sobre o mundo será, apenas por um momento, que em breve passa.

(I.) As tribulações temporais são apenas por um momento; estas tristes doença e

calamidade não durarão para sempre; um pouco de tempo, e este corpo será passado do

poder da dor para lamentar por isso. Eu sei que se algum de vocês tivesse provado a

doçura de estar em Cristo, estaria contente em esconder-se nEle por uma eternidade.

Bem-vindo, uma eternidade de problemas exteriores, se eu tiver um tal esconderijo. Mas

você não é solicitado a fazer isso: “Esconde-te só por um momento”. Viva apenas mais

alguns anos na fé, e tu deves viver o restante em glória: “Se sofrermos, também com ele

reinaremos” [2 Timóteo 2:12].

(2.) A ira do último dia será, apenas por um momento. Dias de ira estão chegando, meus

amigos, é vão escondê-la; tal como o mundo nunca conheceu antes. E se esses dias não

fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria, mas por causa dos escolhidos serão

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abreviados, para que sejam feitos como um pouco tempo. Se estes dias de tribulação

serão em nossos dias, eu não sei, pois não sabemos o dia nem a hora em que o Filho do

Homem virá. Mas isso eu sei, que não há segurança, não, nem para outra noite, para

qualquer alma que não esteja escondida no Salvador. Eu repito isto, meus amigos, se

vocês deitarem em sua cama esta noite fora de Cristo, o Filho do Homem pode vir antes

da manhã, e vocês serão arruinados, e terão o seu quinhão com os hipócritas, onde há

choro e ranger de dentes.

Mas, ó crente! Escondidos na Rocha, permanecei nEle. Enquanto o céu escurece ao

vosso redor, escondam-se mais profundamente nEle. Isto é apenas por um curto período

uma nuvem sombria, escura, e a luz do sol eterno acima de uma grande onda de

vingança, e um oceano infinito de glória.

Filhinhos, permanecei nEle, para que quando Ele se manifestar tenhais confiança, e não

fiqueis confundidos diante dEle na Sua vinda: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quar-

tos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.

Dundee, 15 de janeiro de 1837.

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6 Pode Uma Mulher Esquecer?

“Porém Sião diz: Já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim.

Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se

compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo

eu não me esquecerei de ti” (Isaías 49:14-15).

Estas palavras aplicam-se, em primeiro lugar, ao antigo povo de Deus, os Judeus. Antes

de sua conversão final, acredito que seus olhos serão abertos para ver o seu pecado e

miséria. Eles olharão para aquele a quem traspassaram, e lamentarão. Quando eles

ouvem as ofertas gloriosas de misericórdia, eles não serão capazes de acreditar nelas:

“Sião dirá: Já me desamparou o Senhor, o meu Deus se esqueceu de mim”. Mas Deus vai

responder-lhes que, não obstante todos os seus pecados e aflições passadas, Ele ainda

os amará, e será o seu Deus: “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu

filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se

esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti”. Estas palavras são igualmente

verdadeiras para todos os crentes.

I. Investigue nesses momentos em que os próprios crentes pensam estar abandonados.

1. Em tempos de aflição dolorosa. Assim foi com Noemi. Ela havia perdido seu amado

marido e seus dois filhos na terra de Moabe. E agora, quando ela voltou, apoiando-se em

sua nora, até o monte de Belém, toda a cidade se alvoroçou, e eles disseram: “Não é esta

Noemi? Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande

amargura me tem dado o Todo-Poderoso. Cheia parti, porém vazia o Senhor me fez

tornar; por que pois me chamareis Noemi? O Senhor testifica contra mim, e o Todo-

Poderoso me tem feito mal” [Rute 1:19-21]. Assim, foi com Ezequias. Quando o Senhor

lhe disse: “Assim diz o SENHOR: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não

viverás. Então virou Ezequias o seu rosto para a parede, e orou ao Senhor [...] E chorou

Ezequias muitíssimo. Como o grou, ou a andorinha, assim eu chilreava, e gemia como a

pomba; alçava os meus olhos ao alto; ó Senhor, ando oprimido, fica por meu fiador”

[Isaías 38:1-3, 14-15]. Assim com Jó. Quando Jó perdeu seus rebanhos, e seus dez filhos

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num dia, quando a sua saúde corporal foi destruída, e ele sentou-se entre as cinzas,

então, abriu Jó a sua boca, e amaldiçoou o seu dia: “Pereça o dia em que nasci. Por que

se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo? E que Deus quisesse quebrantar-

me, e soltasse a sua mão, e me acabasse!” [Jó 3:3,20; 6: 9].

Ah! É uma coisa triste quando a alma enfraquece sob as repreensões de Deus. Elas

foram intencionadas a conduzir você mais profundamente a Cristo; a um fruir mais pleno

de Deus. Não desmaies quando fores repreendido por Ele. Quando uma alma vem a

Cristo, ela espera ser levada para o céu em um caminho verdejante, suave, sem espi-

nhos. Pelo contrário, ela é levada à escuridão; a miséria olha em seu rosto, ou a perda

deixa-lhe sem filhos, ou as perseguições amarguram a sua vida; e agora sua alma se

lembra do absinto e do fel. Ela esquece o amor e a sabedoria que está lidando com ela;

ela diz: “Eu sou aquele homem que viu a aflição, Já me desamparou o Senhor, e o meu

Senhor se esqueceu de mim”.

2. Quando eles caem em pecado. Enquanto um crente anda humildemente com o seu

Deus, sua alma está em paz. A lâmpada do Senhor brilha sobre sua cabeça. Ele caminha

na luz, como Deus está na luz, e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho purifica-o de todo o

pecado. Mas no momento em que a incredulidade o atinge, ele é levado ao pecado; como

Davi, ele cai muito baixo. Um crente geralmente cai mais baixo do que o mundo; e agora

ele cai na escuridão.

Quando Adão caiu, ele estava com medo, e ele escondeu-se de Deus, entre as árvores

do jardim, e ele fez uma cobertura de folhas. Ai de mim! quando um crente cai, ele tam-

bém tem medo; ele se esconde de Deus. Agora, ele perdeu uma boa consciência; ele

teme se encontrar com Deus; ele não ama a casa de oração; o seu coração está cheio de

dúvidas. Se eu tenho sido um filho de Deus, Deus me deixaria entregue às concupiscên-

cias do meu próprio coração? Ele se recusa a voltar. “Não há esperança; porque amo os

estranhos, após eles andarei” [Jeremias 2:25]. Embora Deus nunca tenha sido um

deserto, nem uma terra de escuridão para a alma, ainda assim ela diz: “Temos determi-

nado; não viremos mais a ti?” [Jeremias 2:31]. “Já me desamparou o Senhor, e o meu

Senhor se esqueceu de mim”. Ah! Este é o mais amargo de todos os tipos de deserção.

Se você lançar fora a fé e uma boa consciência, você fará um naufrágio.

3. Em tempo de deserção. Deserção é Deus retirando-se da alma do crente, de modo que

a Sua ausência é sentida. O mundo não conhece nada sobre isso, e ainda assim é

verdade. Deus tem maneiras de revelar a Si próprio de outra maneira do que ele faz para

o mundo: “O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua

Aliança” [Salmos 25:14]. Jesus está frequente e pessoalmente com ele. Eles sentem a

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Sua presença, seus corações ardem dentro deles. Ele, às vezes, sentem que Ele cumpre

essa palavra: “Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” [João 14:18]. O Pai é o seu

próprio refúgio. Eles sentem Seus braços eternos debaixo deles, eles sentem Seu olho

contemplando-os, sentem o Seu amor sendo derramado sobre eles como um raio de luz

do céu. O Espírito Santo está dentro deles. Eles às vezes sentem o seu sopro, às vezes

eles sentem que têm o Espírito dentro deles, clamando: “Aba, Pai”. Oh! este céu sobre a

terra, alegria plena, satisfatória. Às vezes agrada a Deus retirar-se da alma, principalmen-

te, eu creio: Primeiro, para nos humilhar ao pó; Segundo, para revelar alguma corrupção

não mortificada; Terceiro, para nos conduzir a mais fome por Ele. Tal era a condição de

Davi quando ele escreveu o salmo 42: “Direi a Deus, minha rocha: Por que te esqueceste

de mim? Por que ando lamentando por causa da opressão do inimigo? Com ferida mortal

em meus ossos me afrontam os meus adversários, quando todo dia me dizem: Onde está

o teu Deus? Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a mi-

nha alma por ti, ó Deus!” Ah, muito mais do que a sede natural do cervo ferido pelas

correntes de águas, é a sede espiritual da abandonada alma pelo Deus. Tal era o

sentimento de Jó, quando ele clamou: “Porque as flechas do Todo Poderoso estão em

mim”, e novamente, “Ah! quem me dera ser como eu fui nos meses passados, como nos

dias em que Deus me guardava!” [Jó 29:2]. Ele tem uma lembrança amarga de sua

alegria passada, um amargo senso de que meios não podem trazer sua alma de volta

para o descanso. Tal foi o sentimento da noiva: “De noite, em minha cama, busquei

aquele a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei” (Cânticos 3:1). Ah irmãos, se

você alguma vez conheceu algo disto, você saberá o sentimento miserável da distância

de Deus, de ter montanhas entre a alma e Ele, implícitas nestas palavras: “Já me

desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim”.

II. Deus não pode esquecer uma alma em Cristo: “Porventura pode uma mulher esquecer-

se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas

ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti”.

1. Ele é como um amor de mãe. Não há amor neste mundo semelhante ao amor de uma

mãe. É um amor livre, não comprado, altruísta. Por mais dor que ela tenha sofrido por

causa de seu filho, apesar dos muitos problemas que ela tenha que suportar por ele, de

noite e de dia, enquanto ele se pendura em seu seio, isto é mais precioso do que o ouro.

Há algo em seu coração que se apega ao seu filho fraco, adoentado, ou melhor, até

mesmo ao débil. O amor de Deus por uma alma em Cristo é mais forte do que esse amor.

O Salmista o compara ao de um pai: “Assim como um pai se compadece de seus filhos,

assim o Senhor se compadece daqueles que o temem” [Salmos 103:13]. E Malaquias

3:17: “poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve”. Novamente, em

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Isaías 66:3: “Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei; e em

Jerusalém vós sereis consolados”.

Este amor de uma mãe por seu filho é natural para ela. Ela não consegue explica-lo. Você

não pode mudá-lo. Você deve quebrar em pedaços o coração da mãe antes que possa

alterar o seu amor por seu filho. E ainda existem algumas almas miseráveis tão deforma-

das por Satanás, com seus corações tão brutalizados, que podem se esquecer de seus

filhos. A mãe indiana pode dançar sobre o túmulo de seu filho, e a assassina pode

levantar a mão contra a vida de seu pequenino: “Mas ainda que esta se esquecesse dele,

contudo eu não me esquecerei de ti”.

O amor de Deus por uma alma em Cristo é um amor natural. É um amor enraizado em

Sua natureza. O Pai ama o Filho; e este é o mesmo amor com que Ele ama a alma que

está em Cristo. Ele não pode esquecê-lo. Ele O ama porque Ele é totalmente desejável,

Ele o ama porque Ele é digno de ser amado, Ele O ama porque Ele deu a Sua vida pelas

ovelhas. Tudo o que há em Deus leva-O a amar Seu Filho, Sua Santidade, Sua Justiça,

Sua Verdade; e assim tudo o que há em Deus leva-O a amar a alma que está em Cristo.

Não estejam prostrados, irmãos, em aflição. Almas abandonadas, o amor de Deus não

pode mudar, a menos que sua natureza mude. Não até que Deus deixe de ser Santo,

Justo e Verdadeiro, Ele deixará de amar a alma que se esconde sob as asas de Jesus.

2. Amor do Pai é o amor pleno. O amor de uma mãe é o maior amor que temos na Terra.

Ela ama com todo seu coração. Mas não há amor pleno, senão o de Deus para com seu

Filho; Deus ama a Jesus totalmente; todo o coração do Pai é, por assim dizer, continua-

mente derramado em amor pelo Senhor Jesus. Não há nada em Cristo, exceto o que

atraia o Amor infinito de Deus, NEle, Deus vê Sua própria imagem perfeita, Sua própria

Lei cumprida, Sua própria vontade feita. O Pai ama o Filho plenamente; mas quando a

alma vem a Cristo, o mesmo amor repousa sobre aquela alma: “Para que o amor com que

me tens amado esteja neles” [João 17:26].

É verdade, uma criatura não pode receber o amor de Deus, como Jesus pode; mas é o

mesmo amor que brilha sobre nós e sobre Ele; amor pleno, satisfatório, sem limites.

Quando o sol derrama seus feixes no largo oceano e em uma pequena flor, ao mesmo

tempo, é a mesma luz do sol que é vertida em ambos, embora o oceano tenha muitíssimo

maior capacidade de receber os seus gloriosos feixes; assim, quando o Filho de Deus

recebe o amor de seu pai, e um pobre verme culpado esconde-se nEle, é o mesmo amor

que vem para o Salvador e para o pecador, embora Jesus seja capaz de conter mais.

Como Deus pode esquecer o que Ele ama plenamente? Se Deus plenamente te ama, Ele

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não te esqueceu; Ele não pode esquecer-te. O amor da criatura pode falhar, pois o que é

a criatura? Um vaso de barro, um sopro que passou e não volta. Mas o amor do Criador

não pode falhar; Ele é amor pleno em direção a um objeto infinitamente digno de Seu

amor, em quem tu o compartilhas.

3. É um amor imutável. O amor de uma mãe é, dentre o amor de todas as criaturas, o

mais imutável. Um menino deixa a casa de seu pai, ele atravessa mil mares, ele trabalha

sob um céu estrangeiro; ele volta, ele encontra sua mãe idosa mudada, a cabeça está

grisalha, a respeitável testa está franzida com a idade; ele ainda sente, enquanto ela o

aperta junto ao seu peito, que o coração dela é o mesmo. Mas, ah! Muito mais imutável é

o amor de Deus por Cristo, e por uma alma em Cristo: “Eu sou o Senhor; Eu não mudo”.

O Pai que ama não apresenta mutabilidade. Jesus, que é amado, é o mesmo, ontem, hoje

e para sempre. Como é possível que o amor mude? Ele fluiu antes do mundo existir; fluirá

quando o mundo passar.

Se você está em Cristo, este amor brilha sobre você: “Com amor eterno eu te amei”

[Jeremias 31:3]. “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem

os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a

profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está

em Cristo Jesus nosso Senhor” [Romanos 8:38-39].

(1) Consolo para crentes abatidos. Muitos de vocês podem estar abatidos, e suas almas

inquietas. Vocês pensam que Deus tem lidado amargamente com vocês; ele vos deixou

sem filhos; Ele encontrou-se com vocês como um leão e com um urso privado de seus

filhotes; ou Ele feriu a vossa aboboreira; ou Ele os abandonou, assim, vocês o buscam, e

não o encontra. Olhem para Cristo, o amor de Deus brilha nEle; nada pode separar Jesus

deste amor; nada pode vos separar. No momento em que Sião dizia: “O meu Senhor se

esqueceu de mim”; no mesmo momento Deus estava dizendo: “eu não me esquecerei de ti”.

Suas aflições e deserções apenas provam que você está sob a mão do Pai. Não há

momento em que o paciente seja um objeto de tal terno interesse do cirurgião, como

quando ele está sob o bisturi; assim, você pode ter certeza, se você está sofrendo sob a

mão de Deus, Seu olho está ainda mais inclinado a você. “O Deus eterno é a tua

habitação, e por baixo estão os braços eternos” [Deuteronômio 33:27].

(2) Convite a pobres pecadores para que venham e provem desse amor. É algo doce ser

amado. Suponho que a maioria de vocês provou do amor de uma mãe. Você sabe o que

é ser embalado em seus braços, ser observado por seu olho gentil, ser acariciado por seu

sorriso; mas, oh! irmãos, isso não é nada em comparação ao amor de Deus. O olho

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daquela querida mãe fechará na morte; aquele braço amável da mãe será desfeito no pó.

Ó, venha e prove do amor dAquele que não pode morrer. Há apenas um lugar em que o

amor de Deus continuamente cai sem nuvens: é na cabeça de Jesus: “O Pai ama o Filho”.

Ele O ama plenamente. Todos os tesouros do amor que estão no infinito seio de Jeová

são derramados continuamente no seio de seu próprio Filho, que Ele ama imutavelmente;

nenhuma nuvem jamais pode se interpor, nenhum véu, nenhuma distância. Mas o que é

isso para mim? É tudo para você, pecador. Jesus permanece um refúgio para pecadores,

pronto para receber até mesmo a ti. Fuja para Ele, permaneça nEle, e aquele amor per-

manecerá sobre você. Você é um verme; mas você pode entrar no gozo de seu Senhor.

Você pode compartilhar do amor de Deus com Jesus, de uma forma que os santos anjos

não podem fazer. Ó, pecador, você prefere ficar sob a ira de Deus? “Aquele que crê no

Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de

Deus sobre ele permanece” [João 3:36]. “Deus está irado com o ímpio todos os dias” [Salmos

7:11], mas, ah! “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao

mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” [1 Timóteo 1:15].

Ó! É doce passar da ira para o amor, da morte para a vida. Aquela pobre assassina

pularia em sua cela, quando chegasse a notícia de que ela não morreria a morte do

assassino; mas, ah! Dez mil vezes mais doce seria para você, se Deus, neste dia, fosse

persuadido a abraçar a Cristo livremente como oferecido no Evangelho.

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7 Gloriando-se na Cruz de Cristo

“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o

mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gálatas 6:14).

Doutrina: Gloriando-se na Cruz

I. O assunto aqui falado por Paulo. A Cruz de Cristo. Essa palavra é usada em três sentidos

diferentes na Bíblia. É importante distingui-los.

1. Ela é usada para significar a cruz de madeira, o madeiro sobre o qual o Senhor Jesus foi

crucificado. A punição da cruz foi uma invenção Romana. Era usada apenas no caso de

escravos, ou malfeitores mui notórios. A cruz era feita de duas vigas de madeira que se

cruzavam. Ela era colocada no chão e o criminoso, estendido sobre ela. Um cravo era

introduzido através de cada mão, e um cravo através de ambos os pés. Em seguida, era

levantada na posição vertical, e deixada cair em um buraco, em que era presa. O homem

crucificado era então deixado para morrer, pendurado por suas mãos e pés. Esta foi a morte

a que Jesus se rebaixou. “Ele suportou a cruz, desprezando sua ignomínia”. “Tornando-se

obediente até a morte, e morte de cruz” (Mateus 27: 40,42; Marcos 15:30,32; Lucas 23:26;

João 19: 17, 19, 25, 31; Efésios 2:16).

2. Ela é usada para significar o caminho da salvação por Jesus Cristo crucificado. Assim, em

1 Coríntios 1:18: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós,

que somos salvos, é o poder de Deus”, em comparação com o versículo 23: “Mas nós

pregamos a Cristo crucificado...” Aqui é evidente que a pregação da Cruz e a pregação de

Cristo crucificado são a mesma coisa. Este é o significado da passagem diante de nós: “Mas

longe esteja de mim gloriar-me...” Este é o nome dado a todo o plano de salvação por um

Redentor crucificado. Essa pequena palavra implica toda a obra gloriosa de Cristo por nós.

Isso implica o amor de Deus em dar o Seu Filho (João 3:16); o amor de Cristo em entregar a

Si mesmo (Efésios 5:25); a encarnação do Filho de Deus; Sua Substituição, um por muitos;

seus sofrimentos expiatórios e morte. Toda a obra de Cristo está incluída nessa pequena

expressão: a Cruz de Cristo. E a razão é simples; Sua morte na cruz foi o ponto mais baixo

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de Sua humilhação. Foi ali que ele clamou: Está consumado, o trabalho da minha obediên-

cia está consumado! Meus sofrimentos terminaram, a obra da Redenção está completa; a ira

do meu povo está extinta; e Ele reclinou a cabeça, entregou o espírito. Daí toda a sua obra

consumada é chamada de a Cruz de Cristo.

3. Ela é usada para significar os sofrimentos suportados em seguir a de Cristo.

“Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-

me” (Mateus 16:24). Quando um homem determina-se a seguir a Cristo, ele deve abandonar

seus prazeres pecaminosos, suas companhias pecaminosas; ele se encontra com o

escárnio, zombaria, desprezo, ódio, a perseguição dos antigos amigos; o seu nome é

lançado fora, como o mal. “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus

padecerão perseguições”. Agora, encontrar-se com tudo isso é “tomar a cruz”. “E quem não

toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim” [Mateus 10:38].

Na passagem diante de nós as palavras são usadas no segundo sentido, o plano de

salvação por meio de um Salvador crucificado.

Queridos amigos, é isso que está diante de vocês no pão partido e vinho derramado; toda a

Obra de Cristo para a Salvação dos pecadores. O Amor e a Graça do Senhor Jesus estão

todos reunidos em um foco ali. O amor do Pai, a Aliança com o Filho, o amor de Jesus, Sua

encarnação, obediência, morte, todos estão postas diante de vocês nestes pão e vinho

partidos. É um sermão doce, silencioso. Muitos sermões não contêm Cristo do começo ao

fim. Muitos O mostram com ar de dúvida e imperfeitamente. Mas aqui não há outra coisa

senão Cristo e este crucificado. A mais rica e eloquente ordenança! Orem para que a própria

visão deste pão partido possa quebrantar seus corações, e faça-os fluir para o Cordeiro de

Deus. Orem por conversões a partir da visão do pão partido e vinho derramado. Olhem com

atenção, queridas almas e crianças pequenas, quando o pão é partido e o vinho vertido. É

uma visão que afeta o coração. Que o Espírito Santo abençoe isso. Caros Crentes, olhem

vocês com atenção, para que obtenham visões mais profundas, mais plenas do caminho do

perdão e da santidade.

Um olhar a partir do olho de Cristo quebrou e derreteu o coração orgulhoso de Pedro; ele

saiu e chorou amargamente. Orem para que um único olhar deste pão partido possa fazer o

mesmo por vocês. Quando o centurião Romano, que assistia ao lado da cruz de Jesus, O

viu morrer, rochas áridas fenderam, ele bradou: “Verdadeiramente este era Filho de Deus!”

[Mateus 27:54]. Olhe para este pão partido, e você verá a mesma coisa, e que seu coração

sejam levado a chorar após o Senhor Jesus. Quando o ladrão moribundo olhou o rosto páli-

do de Emanuel, e viu a majestade santa que sorriu a partir de seu olho morrendo, clamou:

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“Senhor, lembra-te de mim!” [Lucas 23:42]. Este pão partido revela a mesma coisa. Que a

mesma Graça seja dada a você, e que possa aspirar o brado: “Senhor, lembra-te de mim!”

Ó, obter visões maduras de Cristo, queridos crentes. O milho da safra, às vezes, amadurece

mais em um dia do que em semanas anteriores. Assim, alguns cristãos ganham mais Graça

em um dia do que durante os meses anteriores. Orem para que este possa ser um dia de

colheita de amadurecimento em suas almas.

II. Os sentimentos de Paulo em direção à Cruz de Cristo: “Longe de mim […]”

1. Está implícito que ele havia deixado absolutamente o caminho da justiça pelas obras da

lei. Todo homem natural busca a salvação através de tornar a si mesmo melhor aos olhos de

Deus. Ele tenta consertar sua vida, ele coloca um freio na língua, ele tenta comandar seus

sentimentos e pensamentos, tudo para tornar-se melhor aos olhos de Deus. Ou ele vai mais

longe: tenta cobrir pecados passados por meio de observâncias religiosas; ele se torna um

homem religioso; ora, chora, lê, atende aos sacramentos, fica profundamente ocupado na

religião, e tenta colocá-la em seu coração, tudo para tornar a sim mesmo, na aparência, bom

nos olhos de Deus, para que ele possa colocar Deus sob dívida para perdoá-lo e amá-lo.

Paulo tentou este plano por muito tempo. Ele era um Fariseu, segundo a justiça que há na

lei, irrepreensível; ele viveu uma vida exteriormente sem culpa, e foi altamente considerado

como um homem dos mais religiosos. “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por

Cristo” [Filipenses 3:7]. Quando aprouve a Deus abrir os seus olhos, ele abandonou esta

forma de justiça própria para todo o sempre; ele não tinha mais qualquer paz em olhar para

dentro: “e não confiamos na carne” [Filipenses 3:3]; ele se despediu para sempre dessa

forma de buscar a paz. Não, ele pisoteou-a debaixo de seus pés. “E as considero como es-

cória, para que possa ganhar a Cristo” [Filipenses 3:8]. Ó, é uma coisa gloriosa, quando um

homem é levado a pisotear sob os pés a sua justiça própria; esta é a coisa mais difícil do mundo.

2. Ele dirigiu-se ao Senhor Jesus Cristo. Paulo teve tal visão da glória, brilho e excelência do

caminho da Salvação por meio de Jesus, que isso preenchia todo o seu coração. Todas as

outras coisas afundavam em pequenez. Todo monte e outeiro foi abatido, o torto foi endirei-

tado, os lugares ásperos aplainados, e a glória do Senhor foi revelada. Como o nascer do

sol faz com que todas as estrelas desapareçam, assim a ascensão de Cristo sobre a sua

alma fez todo o restante desaparecer. Os sofrimentos de Jesus por nós encherem os seus

olhos; preencheram o seu coração. Ele viu, creu, e estava feliz. Cristo por nós, correspondeu

a toda a sua necessidade. Da cruz de Cristo um raio de luz celestial inflamou a sua alma,

enchendo-o de luz e alegria indizíveis. Ele sentiu que Deus foi glorificado, e ele foi salvo; ele

abriu caminho para o Senhor com todo o propósito do coração. Como Edwards diz: “eu

estava inefavelmente satisfeito”.

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3. Ele se gloriava na Cruz. Ele confessou a Cristo diante dos homens, ele não tinha vergo-

nha de Cristo diante daquela geração adúltera; se vangloriou de que este era o caminho do

perdão, paz e santidade Ah! que mudança! uma vez ele blasfemara contra o nome de Jesus,

e perseguia até a morte aqueles que invocavam o Seu nome; agora esta é toda a sua

jactância, “E logo nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus” [Atos dos

Apóstolos 9:20]. Uma vez ele se vangloriara de sua vida inculpável, quando ele estava entre

os Fariseus; agora ele se gloria no fato de que ele é o principal dos pecadores, mas que

Cristo morreu por tais como ele. Uma vez ele se vangloriara de sua aprendizagem, quando

ele se sentou aos pés de Gamaliel; agora ele se gloria em ser considerado como louco por

amor de Cristo, em ser uma criancinha conduzida pela mão de Jesus. À mesa do Senhor,

entre seus amigos, nas cidades pagãs, em Atenas, em Roma, entre os sábios ou insensa-

tos, diante de reis e príncipes, ele se gloria nisto como a única coisa digna de ser conhecida;

o caminho da salvação por Jesus Cristo e este crucificado.

Queridos amigos, vocês foram trazidos a gloriarem-se somente na Cruz de Cristo?

1. Você se desprendeu do antigo caminho da salvação pelas obras da lei? Seu coração

natural está estabelecido sobre este caminho. Você está sempre como que fazendo-se me-

lhor e melhor até que você possa colocar Deus sob a obrigação de perdoá-lo. Você está

sempre olhando para dentro por justiça. Você está olhando para a suas convicções, e triste-

za pelos pecados passados, suas lágrimas e orações ansiosas, ou você está procurando no

interior, na sua correção, abandono de conselhos ímpios, e as lutas por uma nova vida, ou

você está olhando para os seus próprios exercícios religiosos, o seu fervor, e coração

aumentado em oração ou na casa de Deus; ou você está olhando para a obra do Espírito

Santo em você, para as Graças do Espírito. Ai de mim! ai de mim! A cama é mais curta do

que você possa esticar-se sobre ela, a cobertura é mais estreita do que você possa envol-

ver-se nela. Desespere-se por perdão neste caminho. Desista para sempre. Seu coração é

desesperadamente corrupto. Cada justiça que há em seu coração tem algo de vil e

contaminada, e não pode aparecer diante de sua vista. Considere tudo como perda, trapos

de imundícia, refugo, para que você possa ganhar a Cristo.

2. Dirija-se ao Senhor Jesus Cristo. Acredite no amor do Senhor Jesus Cristo. Ele se deleita

na misericórdia; Ele está pronto a perdoar, nele as misericórdias fluem; Ele justifica o ímpio.

Você já viu a glória da Cruz de Jesus? Isto atraiu o seu coração? Você se sente inexplicável-

mente satisfeito com essa forma de Salvação? Você vê que Deus é glorificado quando você

é salvo? que Deus é um Deus de majestade, verdade, santidade imaculada, e justiça

inflexível, e ainda assim você é justificado? Será que a cruz de Cristo preenche o seu

coração? Isto produz uma grande calma em sua alma, um descanso celestial? Você ama

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essa palavra, “a justiça de Deus”; “a justiça que é pela fé,” a justiça sem as obras? Você

senta-se no interior, à vista da cruz? Será que a sua alma descanse ali?

3. Glorie-se apenas na Cruz de Cristo. Observe, não pode haver um cristão secreto. A Graça

é como unguento escondido na mão, ela denuncia a si mesmo. Um Cristão vivificado não

pode manter o silêncio. Se você realmente sente a doçura da Cruz de Cristo, você será

constrangido a confessar a Cristo diante dos homens. É como “o bom vinho [...] que se bebe

suavemente, e faz com que falem” [Cântico dos cânticos de Salomão 7:9]. Você O confessa

em sua família? Faz conhecido ali que você é de Cristo? Lembre-se, você deve ser decidido

em sua própria casa. É a marca de um hipócrita o ser um cristão em toda parte exceto em

casa. Entre os seus companheiros, você tem a Ele por um amigo a quem você encontrou?

Na loja e no mercado, você está disposto a ser conhecido como um homem lavado no

sangue do Cordeiro? Você almeja que todas os seus negócios estejam sob as doces regras

do Evangelho? Venha, então, à mesa do Senhor e confesse Ele, que salvou a sua alma. Ó!

Permita que esta possa ser uma verdadeira, livre e plena confissão. Este é o meu doce

alimento, meu cordeiro, minha justiça, meu Senhor e meu Deus, meu tudo em todos. “Mas

longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz”. Uma vez você se vangloriou nas

riquezas, amigos, fama, pecado; agora em um Jesus crucificado.

III. Os efeitos. “O mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. “Se alguém está em

Cristo Jesus, nova criatura é,” [2 Coríntios 5:17], etc. Quando o mendigo cego de Jericó teve

seus olhos abertos pelo Senhor, este mundo estava todo modificado para ele, e ele para o

mundo. Assim foi com Paulo, não mais depressa ele elevou-se de seus joelhos, com a paz

de Jesus em seu coração, que o mundo teve o seu golpe mortal aos seus olhos. Enquanto

ele corria sobre as pedras lisas nas ruas de Damasco, ou olhava para baixo do telhado

plano de sua casa sobre os belos jardins nas margens de Abana, o mundo e todo o seu

deslumbrante espetáculo pareciam ao seu olho, uma coisa pobre, murcha, crucificada. Uma

vez isto foi o seu tudo. Uma vez suas lisonjas macias e escorregadias eram agradáveis

como música ao seu ouvido. Riquezas, beleza, prazer, tudo o que o olho natural admira, seu

coração foi uma vez posto; mas no momento em que ele acreditou em Jesus, tudo isto

começara a morrer. É verdade que eles não foram mortos, mas eles estavam pregados em

uma cruz. Eles não tinham mais aquela atração viva para eles, a qual que tiveram uma vez;

e agora todos os dias eles começavam a perder o seu poder. Como um homem morrendo

na cruz enfraquece a cada momento, enquanto o sangue do seu coração escorre a partir

das feridas profundas em suas mãos e pés, aquilo que uma vez foi o seu tudo, começou a

perder a cada momento seu poder de atração. Ele provou tanta doçura em Cristo, no

perdão, o acesso a Deus, o sorriso de Deus, o Espírito habitante, que o mundo tornou-se, a

cada dia, um mundo mais insípido para ele.

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Outro efeito foi: “Eu para o mundo”. Enquanto Paulo colocava a mão sobre o seu próprio

seio, ele sentia que esse também fora transformado. Uma vez foi um corajoso cavalo de

corrida que marcha no chão e não pode ser freado; uma vez foi uma raposa caçadora ao

aroma impaciente da cólera; seu coração, desta forma, corria atrás de fama, honra, louvor

mundanos; mas agora era pregado na cruz, um coração quebrantado e contrito. É verdade,

não estava morto. Muitas vacilos despertaram sua velha natureza, fato que o levou aos seus

joelhos e o fez clamar por Graça para auxílio; porém ainda, quanto mais ele olhou para a

Cruz de Jesus, mais o seu velho coração começou a morrer. A cada dia ele sentia menos

desejo de pecar; mais desejo por Cristo, e Deus, e perfeita santidade.

Alguns podem descobrir que eles nunca vieram a Cristo. Será que o mundo está crucificado

para você? Uma vez que este era o seu tudo: o seu louvor, suas riquezas, suas canções, e

felizes-inclinações? Isso já foi pregado na cruz em sua visão? Ó! Coloque a mão em seu

coração. Perdeu-se o seu desejo ardente por coisas terrenas? Os que são de Cristo crucifi-

caram a carne com as suas paixões e concupiscências. Você sente que Jesus colocou os

cravos em suas paixões? Você deseja que elas fossem mortas? Que resposta vocês podem

dar, filhos e filhas do prazer, para quem a dança e música, e o espelho, e respostas chisto-

sas são a soma da felicidade? Vós não sois nada de Cristo. Que resposta vocês podem dar,

amantes do dinheiro, sórdidos fazedores de dinheiro, que preferem ser um pouco mais sobe-

ranos do que ter a Graça de Deus em seu coração? Que resposta vocês podem dar, gratifi-

cadores da carne, caminhantes da noite, amantes da escuridão? Vós não sois de Cristo. Vós

não vieram a Cristo. O mundo está todo vivo para vocês, e vocês estão vivos para o mundo.

Vocês não podem se gloriar na cruz, e amar o mundo. Ah! pobres almas iludidas, vocês

nunca viram a glória do caminho do perdão por Jesus. Vão em frente; amem o mundo;

agarrem cada prazer; reúnam montes de dinheiro; alimentem e engordem as suas concupis-

cências; saciem-se. Do que isso adiantará a vocês quando perderem sua própria alma?

Alguns estão dizendo: Ó, que mundo fosse crucificado para mim e eu para o mundo! Ó, que

o meu coração fosse tão morto quanto uma pedra para o mundo, e vivo para Jesus! Você

realmente deseja isso? Olhe, então, para a cruz. Contemplem o maravilhoso dom do amor.

A salvação é prometida a um olhar. Sente-se como Maria, e contemple a Jesus crucificado.

Assim o mundo se tornará uma coisa ofuscada e moribunda. Quando você olha o sol, isso

torna todo o mais escuro; quando você prova o gosto de mel, isso torna todo o mais insípido;

assim, quando a sua alma se alimenta de Jesus, isso retira a doçura de todas as coisas

terrenas; louvor, prazer, desejos carnais, todos perdem a sua doçura. Mantenha um olhar

contínuo. Corra, olhando para Jesus. Olhe, até que o caminho da salvação por Jesus pre-

encha todo o horizonte, tão glorioso e em linguagem de paz. Então, o mundo estará

crucificado para você, e você para o mundo.

25 de Outubro de 1840.

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Feliz és tu, ó Israel

“Feliz és tu, ó Israel! Quem é como tu? Povo salvo pelo SENHOR, escudo que te socorre,

espada que te dá alteza. Assim, os teus inimigos te serão sujeitos, e tu pisarás os seus

altos” (Deuteronômio 33:29 – ARA).

ESTAS são as últimas palavras de Moisés, o homem de Deus. Ele estava agora com

cento e vinte anos; seus olhos não estavam obscurecidos, nem lhe fugira o vigor. Por

quarenta anos ele liderou o povo em meio ao deserto; ele os cuidou, e orou por eles, e os

liderou como um pastor lidera seu rebanho; e agora, quando Deus o disse que ele deveria

deixá-los, ele determinou a separar-se deles, abençoando-os. E, a esse respeito, como

em muitos outros, ele prenunciou o Salvador, de quem está escrito, que “os levou para

Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou, aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-

se retirando deles, sendo elevado para o céu” [Lucas 24: 50-51].

Em primeiro lugar, podemos entender essas palavras literalmente como a bênção de

Moisés ao povo de Israel. Ele olhou por cima do deserto através do qual ele os levou, e

este era todo brilhante cravejado com as coisas maravilhosas que Deus fizera por eles.

Ele lembrou-se da mão elevada e braço estendido com os quais ele os levara do Egito;

ele se lembrou de como abriu um caminho para eles através do Mar Vermelho, quando

seus inimigos afundaram como chumbo nas águas impetuosas; permaneceu lembrando

como ele foi adiante deles em uma coluna de nuvem de dia, e uma coluna de fogo à noite;

ele lembrou-se como ele adoçou as águas de Mara, pois eles estavam sedentos; ele

lembrou-se como ele os alimentou com maná do alto: o homem comeu a comida dos

anjos. Ele recordou como ele feriu a rocha em Refidim, e águas jorraram adiante; como

ele ergueu as mãos para o pôr-do-sol, e Israel prevaleceu contra Amaleque; como ele

recebeu a lei da própria mão de Deus para eles. Ele recordou como ele havia trazido de

novo a água da pederneira em Meribá; Como ele erguera a serpente de bronze no

deserto; e olhando para trás sobre toda esta trajetória de maravilhas de quarenta anos,

durante a qual as suas vestes não tinham envelhecido, nem a ruim sola de seu pé inchou,

como poderia ele apenas colocar uma bênção sobre eles? Ele sentiu-se como Balaão:

“Benditos os que te abençoarem, e malditos os que te amaldiçoarem”. E nesse sentido,

quando ele tinha ido sobre cada uma das tribos separadamente, deixando a cada uma a

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sua bênção profética, ele resume o todo nestas palavras gloriosas: “Não há outro, ó

Jesurum, semelhante a Deus” [Deuteronômio 33: 26].

Mas, em segundo lugar, estas palavras podem ser entendidas tipicamente como a bênção

de Moisés ao povo de Deus para o fim dos tempos. Nenhum homem pode ler o Antigo

Testamento de forma inteligente, sem ver que o povo de Israel era um povo típico, que a

escolha deles para fora do Egito, a trazê-los através do Mar Vermelho, e através do de-

serto e para a terra da promessa, eram todos tipos da maneira que Deus traz Seus

escolhidos para fora de seus pecados, deste mundo de pecado e miséria, para a Canaã

celestial, o descanso que resta para o povo de Deus. Se, então, a escravidão, a liberta-

ção, a incredulidade, os inimigos, as jornadas, a orientação, e o remanescente dos

israelitas, eram todos tipos do relacionamento de Deus com o Seu próprio povo para o fim

dos tempos, estamos bastante justificados por compreender estas palavras como a

bênção de Moisés, o homem de Deus, a todos os verdadeiros filhos de Deus.

“Feliz és tu, ó Israel! Quem é como tu? Povo salvo pelo SENHOR, escudo que te socorre,

espada que te dá alteza. Assim, os teus inimigos te serão sujeitos, e tu pisarás os seus

altos”. A partir destas palavras, eu extraio o seguinte:

Doutrina. Que o Povo de Deus é um povo feliz, porque eles são salvos pelo Senhor.

I. Israel é um povo feliz, por que é escolhido pelo Senhor.

1. Isto foi verdadeiro para o antigo Israel. Moisés os disse claramente: “Não vos teve o

SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer

povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava e, para

guardar o juramento que fizera a vossos pais” [Deuteronômio 7: 7-8a]. Aqui há algo

estranho a qual o mundo não pode entender. Ele os amou porque Ele os amou, não

porque eles eram melhores, ou maiores, ou mais dignos do que outra nação, mas por que

Ele os amou. Peculiar, soberano, inexplicável amor! Ele não presta contas de Seus

assuntos; então, assim, “não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar

Deus a sua misericórdia”.

2. Isto é verdadeiro para todo o povo de Deus até os dias atuais. Davi diz: “Bem-aven-

turado aquele a quem escolhes e aproximas de ti” [Salmos 65: 4]. Cristo diz: “Não fostes

vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros”. E Paulo diz:

“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda

sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu,

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nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e

em amor”. Ah! sim, meus amigos, o nosso Deus é um Deus soberano: “Logo, tem ele

misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz”.

Cada crente é uma testemunha disso. Existe algum crente aqui? Bem, eu tomo você para

testemunhar. Você era morto e descuidado com sua alma, você poderia ser feliz com o

mundo, embora não perdoado e não santificado. Como você foi trazido a fugir da ira

vindoura? Você despertou a si mesmo do sono? Ah! não, você sabe bem que se Deus

tivesse deixado você estaria disposto a permanecer dormindo. Como o preguiçoso, você

teria dito: “Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os

braços em repouso” [Provérbios 24: 33]. Mas Ele despertou a você, pela Sua Palavra,

pelos Seus ministros, ou pela sua providência; e ele não o teria deixado ir até que

clamasse: “O que devo fazer para ser salvo?”. Novamente: você foi trazido da convicção

de pecado à convicção de justiça; de uma consciência perturbada a um coração em paz

ao crer. Como ocorreu isso: Você veio por si mesmo a Jesus, ou você foi trazido pelo Pai?

Ah! Vocês bem sabem que não receberam isto de um homem, nem por homem que Deus

os trouxe dentro da visão de Jesus. Ele que, primeiro, trouxe a luz às trevas [que] brilhou

em seus corações, e incitou vocês ao ato de fé em Jesus; e assim, vocês foram salvos;

pois, “ninguém pode ir a Cristo se o Pai não o trouxer”. Do início ao fim, a obra é de Deus.

Por graça vós sois salvos; e bem-aventurado, de fato, “é o homem a quem tu escolhes e

aproximas de ti”.

Objeção. Mas alguém pode objetar que esta doutrina ministra ao orgulho; que fazer um

homem acreditar dele mesmo como o escolhido favorito de Deus, incha este homem de

orgulho.

A isto eu respondo que esta é própria verdade que corta o orgulho pelas raízes. Como

está escrito: “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido?

E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?” [1 Coríntios 4:

7]. Se há um crente dentre vocês. (1). Eu proponho a ele olhar em volta daqueles da sua

própria família que permanecem sem Cristo e sem Deus no mundo. Talvez você seja o

único em sua casa que conhece e ama o Salvador. Agora, eu pergunto a você, Quem te

fez sobressair? Você é por natureza algo melhor do que sua parentela, para que fosse

escolhido e eles deixados? Como, então, você pode ser orgulhoso? (2). Ou, olhe em volta

de sua vizinhança, você verá embriaguez e contaminação, você ouvirá perjúrios e

profanidade. Agora eu pergunto: Quem fez você diferente? Ou em que você era melhor

do que eles? Pode você, então, ser orgulhoso? (3). Ou, olhe em volta do mundo Papista e

Pagão afogado na mais tenebrosa ignorância sem alguém a dizer-lhes o claro caminho de

Salvação por Jesus. Olhe sobre nove décimos do mundo que carecem da pura luz do

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Evangelho, e diga-me. Quem te fez sobressair? E como você pode ser orgulhoso? (4).

Ou, olhe além desde além deste horizonte mundano, olhe para baixo para os reinos das

trevas e da morte eterna, e veja os anjos que caíram “Longe outra vez contemple em

êxtase, Milhões de espíritos por uma falta banidos do Céu, e dos esplendores eternos

arremessados por sua rebeldia”. Olhe para estas inteligências majestosas “guardado sob

trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia”, e diga-me, Quem te fez diferen-

te? Em que melhor é você, por natureza, do que demônios? Homens não-convertidos são

filhos do Diabo. Não há luxúria no coração do Diabo que não esteja em cada coração

natural: e ainda assim Deus passou por eles, e veio para salvar-te. Deus veio e o acordou

quando você estava em uma condição natural, e não melhor do que demônios, sim, ele

passou pelos Pagãos, assim ele tem deixado seus vizinhos em seus pecados, seus

próprios filhos não despertados, mas ele tem despertado você.

Oh! mui misterioso amor eletivo! Você bem pode clamar com Paulo: “Ó profundidade da

riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os

seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” E isto o faz orgulhoso? Antes, isto

não faz você enterrar a sua cabeça no pó, e nunca mais erguer os seus olhos? E isto não

o faz feliz? “Feliz és tu, ó Israel! Quem é como tu? Povo salvo pelo SENHOR!”.

Não oferece a você nenhum júbilo, sentir que Deus pensou sobre você em amor antes da

fundação do mundo? Que quando ele estava sozinho desde toda a eternidade, Ele deu a

você o Seu Filho para ser redentor? “Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te

conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei”. Não dá nenhuma alegria a você

pensar que o Filho de Deus pensou em você com amor antes que o mundo existisse:

“achando as minhas delícias com os filhos dos homens” [Provérbios 8:31], que ele veio ao

mundo carregando o seu nome sobre o Seu coração, que ele orou por você na noite de

sua agonia: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em

mim, por intermédio da sua palavra”? Não oferece júbilo a você que Ele pensou sobre

você em Seu suor sangrento; que Ele pensou em você sobre a cruz, e intencionou

aqueles sofrimentos para estar em seu lugar? Oh, filhinhos como isto deveria elevar os

seus corações em santo arrebatamento acima do mundo; acima de seus cuidados

irritantes; de suas brigas mesquinhas; de seus prazeres contaminantes; se vocês guar-

dassem esta santa alegria interiormente; acolhendo a própria palavra de seu Senhor:

“Pai... me amaste antes da fundação do mundo” [João 17: 24].

Oh mundo incrédulo! vós não conheceis nada desta alegria. É tudo presunção frenética

aos seus olhos, e isso é exatamente o que a Bíblia diz: Um estranho não participa da

alegria do crente. Isto é exatamente o que Cristo disse: “Mas vós não credes, porque não

sois das minhas ovelhas” [João 10: 26]. Levem esta coisa com vocês: “Nós erámos uma

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vez exatamente o que você é agora (cada crente falará a você) nós éramos exatamente

tão insensíveis e incrédulos como você é. Nós, uma vez, desprezamos e rimos de cada

pessoa com as quais nós somos um agora no Senhor; mas nós fomos despertados por

Deus, e fugimos para Cristo, e somos redimidos e felizes conhecendo a nossa eleição de

Deus”. Oh! Que esta seja a sua história, e então, você conhecerá o significado destas

palavras: “Ó, feliz Israel!”.

II. Israel é um povo feliz, porque eles são justificados pelo Senhor: “O Deus eterno é a tua

habitação”. Versículo 27. “[Ele é] escudo que te socorre”. Versículo 29.

Antes de tudo, isto é verdade por que Cristo é o nosso refúgio e proteção, e Cristo é

Deus. (1). É dito sobre Ele: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o

Verbo era Deus” [João 1:1]. (2). Novamente, é dito sobre Ele: “... O teu trono, ó Deus, é

para todo o sempre; e: Cetro de equidade é o cetro do seu reino” [Hebreus 1: 8]. (3).

Novamente, é dito dEle: “pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a

terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer

potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele,

tudo subsiste” [Colossenses 1: 16-17]. (4) Novamente, é dito sobre Ele, que “é sobre

todos, Deus bendito para todo o sempre” [Romanos 9: 5]. (5) Mais uma vez, Tomé disse

sobre Ele: “Meu Senhor, e meu Deus”. (6) E Ele é chamado Deus “manifestado na carne”

[1 Timóteo 3: 16]. Assim, então, Ele é de fato, “Emanuel, Deus conosco”. Ele é o Criador

do mundo; o Deus de Provisão; o Deus dos anjos. E este é o Ser que veio para ser o

Salvador de pecadores, mesmo do principal!

Agora, irmãos, eu desejo que vejam a utilidade do Salvador sendo Deus, e quanto do

pleno consolo e júbilo de crente é encontrado nisto. Tudo o que Deus faz é infinitamente

perfeito: Ele nunca falha em nada que Ele promete. Tudo, portanto, que o Salvador fez foi

infinitamente perfeito. Ele não podia, e nem poderia, falhar em algo que Ele prometeu.

(1). Ele prometeu suportar a ira de Deus em lugar dos pecadores. Seu coração foi

estabelecido sobre isso desde toda a eternidade, pois, antes que o mundo foi feito, Ele

nos diz: “achando as minhas delícias com os filhos dos homens” [Provérbios 8:31]. Para

este fim Ele tomou sobre si a nossa natureza; tornou-se um homem de dores e familiar-

zado ao sofrimento. De seu berço na manjedoura até a cruz, a nuvem escura da ira de

Deus esteve sobre ele, e, especialmente, em direção ao fim de sua vida, a nuvem passou

a ser a mais escura, ainda assim, ele alegremente sofreu tudo “me angustio até que o

mesmo se realize” [Lucas 12: 50]. O cálice da ira de Deus foi dado a Ele sem mistura;

ainda assim Ele disse: “não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?” [João 18:

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11]. Agora, nós podemos estar bem certos que desde que Ele é o Filho de Deus, ele

sofreu tudo o que os pecadores deveriam ter sofrido. Se Ele tivesse sido um anjo, Ele

poderia ter deixado alguma parte inacabada; mas desde que Ele era Deus, Sua obra deve

ser perfeita. Ele mesmo disse: “Está consumado”; e uma vez que Ele era Deus que não

pode mentir, nós estamos bem seguros que todo o sofrimento é consumado, que nem Ele

nem seu corpo podem sofrer algo mais por toda a eternidade.

(2). Porém, mais uma vez, ficou comprometido a obedecer à lei em lugar dos pecadores.

O homem não só tinha quebrado a lei de Deus, mas ele falhou em obedecê-la. Agora,

como o Senhor Jesus veio para ser um Salvador completo, ele não apenas sofreu a

maldição da lei quebrada, mas obedeceu a lei em lugar dos pecadores. Através de toda a

sua vida, ele fez de sua comida e bebida, fazer a vontade de Deus. Agora, podemos ter a

certeza de que uma vez que Ele era o Filho de Deus, Ele fez tudo o que os pecadores

deveriam ter feito. Sua justiça é a justiça de Deus; assim, que nós podemos estar certos,

que cada pecador que assume esta justiça é mais justo do que se o homem nunca tivesse

caído; mais justo do que os anjos; tão justo como Deus. “Quem intentará acusação contra

os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” [Romanos 8: 33].

Oh, pecadores descuidados! Este é o Salvador que nós estamos sempre pregando para

vocês, este é o divino Redentor a quem você tem sempre pisado. Você pensaria ser uma

grande coisa se o rei deixasse o seu trono, e batesse à sua porta, e lhe suplicasse para

aceitar um pouco de ouro, mas, oh! quanto maior coisa há aqui. O Rei dos reis deixou seu

trono, e morreu, o justo pelos injustos, e agora bate à sua porta. Pecador descuidado,

você ainda permanece resistente?

Despertados, almas ansiosas! Este é o Salvador que sempre vos oferecemos; este é o

refúgio, a rocha que tem seguido você. Você está ansioso por sua alma; e por que, então,

não vai se esconder aqui? Você acha que honra a Cristo por duvidar se o seu sangue e

justiça são suficientes para cobri-lo? Você acha que honra a Deus, fazendo-o de

mentiroso, e recusando-se a acreditar no testemunho que Ele tem dado de seu Filho? Oh!

Não duvide mais dEle. Outro dia, e pode ser tarde demais. Fuja como os homens que têm

um inferno eterno por trás deles, e um refúgio eterno diante deles. Tome o céu por violên-

cia. “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão

entrar e não poderão”.

E você que já correu para o refúgio, para o Salvador: “Feliz és tu, ó Israel! Quem é como

tu? Povo salvo pelo SENHOR”. O Deus eterno é teu refúgio; e a quem você pode temer?

Lembre-se, habite nEle. Nas horas escuras do pecado e tentação, Satanás sempre tenta

transportar você deste refúgio. Ele tentará fazer você duvidar se Cristo é Deus; se a Sua

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obra é uma obra consumada; se pecadores podem esconder-se nEle; se um apóstata

pode esconder-se nEle; mas não lance fora a sua confiança. Abra caminho rápido para

Cristo; e então, o Deus eterno é teu refúgio. Na hora da morte, você pode ter uma vale

sombrio para atravessar; você pode perder de vista todas as suas evidências; você pode

sentir que todas as suas graças partiram, e chorar: “Todas estas coisas estão contra

mim”. Permaneça, como um necessitado pecador, corra para o Deus Salvador. Jogue fora

a questão se você jamais acreditou ou não; e diga, eu acreditarei agora; e assim, no

período da noite, será luz, e você morrerá com o Deus eterno e seu refúgio. Os seus

olhos fecharão para este mundo apenas para abrirem para o mundo aonde não há

dúvida, e nem medo, e nem morte.

III. Israel é um povo feliz, porque é santificado pelo Senhor: “por baixo de ti, estende os

braços eternos” e “[Que é a] espada que te dá alteza”.

No capítulo anterior (32:11), Deus compara o Sua condução de Israel a uma águia e seus

filhotes: “Como a águia desperta a sua ninhada e voeja sobre os seus filhotes, estende as

asas e, tomando-os, os leva sobre elas, assim, só o SENHOR o guiou, e não havia com

ele deus estranho”. Novamente, em Isaías, é dito: “Em toda a angústia deles, foi ele

angustiado, e o Anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor e pela sua compaixão, ele

os remiu, os tomou e os conduziu todos os dias da antiguidade.” Mais uma vez, na

história da ovelha perdida, encontramos que o Salvador não apenas encontrou a ovelha

perdida, mas “Achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo”. Este é exatamente o

mesmo significado como o do texto: “por baixo de ti, estende os braços eternos” e,

novamente: “[Ele é] espada que te dá alteza”.

Quando um jovem crente veio a [ter] paz em Jesus, ele, então, vem a anelar sobre cami-

nhar santamente. Tão logo ele encontre a doce calma de uma alma perdoada, ele

começa a conhecer a amarga ansiedade de uma alma que teme o pecado. É verdade, eu

vim a Cristo, e devo ter paz, mas agora eu começo a temer que não serei capaz de com-

fessar a Cristo diante dos homens. Agora começo a ver que o mundo inteiro está contra

mim, que todas as coisas estão me tentando a pecar, e eu temo voltar para o mundo.

Temo ser enlaçado novamente. Meus companheiros, como posso resisti-los? e Satanás,

como posso lutar contra ele?

Este é o momento em que o jovem crente começa a fazer um grande número de

resoluções em sua própria força. Se ele somente pudesse manter-se fora do caminho da

tentação, e separar-se do mundo, ele acha que poderia manter-se santo, mas Deus logo

lhe ensina a insuficiência de sua própria força. Suas resoluções são todas quebradas

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inteiramente; seus hábitos de andar estreitamente desaparecem como fumaça diante do

sopro da tentação; e o filhinho de Deus senta-se para chorar sobre a chaga de seu

próprio coração, e a clamar: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo

desta morte?”

Se aqui há alguém assim me ouvindo, permita-me, peço-te, recomendar um novo plano,

de longe um melhor caminho. Entregue a si mesmo aos braços eternos. Quando o

pecado surgir; quando o mundo vem como uma inundação; quando a tentação chega de

repente sobre você; se incline para trás sobre o Espírito Todo-Poderoso, e você está

seguro. O que faz uma criancinha que tem sido colocada sobre o chão para caminhar,

quando percebe que seus pequenos membros sobram-se sob ela, de forma que o

primeiro sopro do vento a derrubará? Será que ela não entregou a si mesma aos braços

da mãe? Quando ela não consegue ir, ela consente em ser conduzida; e assim você,

débil filho de Deus. Deus deu a você apegada fé em Cristo somente por justiça; e que deu

a você a paz do justificado. Ore agora, para que Deus dê a você fé resignada, para que

você possa confiar nEle somente por força, para que você possa render a si mesmo aos

braços eternos. Vá e aprenda o que isto significa: Jeová nossa Justiça é o mesmo Jeová

nossa Bandeira. Então, mas não até então, você conhecerá plenamente o significado

desta bênção: “Feliz és tu, ó Israel! Quem é como tu? Povo salvo pelo SENHOR!”.

Objeção: Eu não vejo o Espírito, nem ouço o Espírito, nem sinto o Espírito; e como eu

posso render-me aos Seus braços?

Resposta. Esta é a própria descrição Bíblica da obra do Espírito: “O vento sopra onde

quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o

que é nascido do Espírito” [João 3:8]. Você não vê o Espírito, nem compreende o

mecanismo pelo qual ele sopra, e ainda assim você estende a vela para pegar a brisa; e

assim, o alto navio é sustentado sobre um mar muito agitado até o porto de descanso.

Somente incline-se sobre o Espírito, embora você não compreenda o seu agir. Embora

agora você não o veja, ainda assim creia nele. E você se alegrará com júbilo inefável e

cheio de glória; você será sustentado sobre as ondas ásperas deste mundo até o porto de

descanso. Novamente: você não conhece como o manancial brota; você não compreende

o funcionamento pelo qual os mananciais de água não falham; e ainda assim, você leva o

cântaro até a fonte, e nunca volta com ele vazio. Então, dependam do suprimento invisível

do Espírito; tomem uma provisão diária para necessidades diárias; vão confiantes aos

mananciais da salvação, e vós tirareis água com júbilo. “Se alguém tem sede, venha a

mim e beba”. “Feliz és tu, ó Israel! Quem é como tu?” Tenham bom ânimo. Nós somos

confiantes que Aquele que começou a boa obra em vós, há de completá-la até ao Dia de

Cristo Jesus.

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Mas, ah! Pobres almas sem Cristo, não há promessa do Espírito para vocês. Todas as

promessas são sim e amém em Cristo. Fora de Cristo não há promessa; [não há] nada

senão ira. Vocês não têm braços eternos debaixo de vós. Vocês são sensuais, não têm o

Espírito. Não há pecado no qual vocês não possam falhar. Os pecados que fazem os

homens estremecerem e empalidecerem, vocês podem cometer. Em nenhum lugar Deus

prometeu guarda-los deles. Vocês não têm o Espírito, não podem amar a Deus, ou fazer

qualquer boa obra, vocês podem apenas pecar. Oh, almas miseráveis! que estão

crescendo ainda sobre a linhagem do velho Adão, vocês não podem deixar de dar maus

frutos; e o fim será a morte. Oh! que vocês fossem embora e chorassem por sua

miserável condição, e clamassem a Deus para trazê-los para o meio da Seu feliz Israel,

que é escolhido, justificado, santificado e salvo pelo Senhor!

São Pedro, 29 de Janeiro de 1837.

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9 Cristo, A Porta Para A Igreja

“Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que lhes dizia.

Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta

das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as

ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará,

e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu

vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10:6-10).

CRISTO É O MAIS GENTIL DE TODOS os mestres. Ele estava falando a uma multidão

de judeus ignorantes e preconceituosos, e ainda quão gentilmente ele lida com eles. Ele

disse-lhes uma parábola, mas eles não compreenderam. “Jesus disse-lhes esta parábola;

mas eles não entenderam o que lhes dizia. Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes”. E ainda, nos

é contado que Cristo disse-lhes novamente. Ele lhes deu uma descrição de um verdadeiro

e de um falso pastor, e da porta para o aprisco das ovelhas; mas eles pareciam estar per-

didos para compreender o que significava a porta, portanto, ele diz: “Em verdade, em

verdade eu vos digo: eu sou a porta das ovelhas”. Vejam vocês quão gentilmente Ele

tenta os instruir. Meus irmãos, Cristo é o mesmo tipo de mestre ainda. Não há muitas

pessoas estúpidas, e preconceituosas aqui? E ainda Ele não lhes deu “mandamento

sobre mandamento, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, regra sobre

regra, um pouco aqui, um pouco ali” (Isaías 28:10). Ele tem partido o pão por você.

Examinemos agora esta parábola explicativa: (1) Cristo é a porta para a Igreja. (2) O

convite aqui é feito para entrar. (3) A promessa para aqueles que entram.

Cristo é a porta para a Igreja.

I. “Eu sou a porta”. O único caminho para a Igreja de Deus, seja para ministros ou

membros é por Cristo e pela fé nEle. Muitos entram pelo aprendizado; o conhecimento

não deve ser desprezado. Mas ainda assim não é a porta. Há muitos que entram no

ministério, por terem dons eminentes, mas estes não são a porta. E aqueles que entram

de tal forma são ladrões e salteadores, pois não entram pela porta. Mais uma vez, muitos

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entram pela porta do favor mundano, alguns pelo favor dos ricos, alguns pela vida das

pessoas comuns, alguns pelo favor do patrono; mas ainda assim eles continuam sendo

ladrões e salteadores, pois não entram pela porta. Lembrem-se, então, e nunca esque-

çam, que o caminho certo para o ministério é através de Jesus Cristo. Ninguém pode falar

do pecado, senão aqueles que sentiram o seu fardo. Ninguém pode falar de perdão, se-

não aqueles que provaram disso. Ninguém pode falar do poder de Cristo para santificar, a

não ser aqueles que têm a santidade em seus corações. Irmãos, se apeguem a isso em

reverência, fujam de todos os outros, eles podem ter o conhecimento, eles podem ter

dons, eles podem ter os elogios das pessoas comuns, mas eles são ladrões e salteadores.

Mas, além disso, há muitos membros que entram no rebanho de outra forma; eles

também são ladrões e salteadores. Há muitos que entram pela porta do conhecimento –

eles foram familiarizados com conhecimento da Bíblia, eles podem falar de uma forma de

aceitação do pecador com Deus; mas se você não entrou no rebanho por ser lavado no

sangue de Cristo, você é um ladrão e salteador.

Alguns entram no rebanho por uma boa vida. No tocante à lei, eles são como Paulo,

irrepreensíveis. Você não é um ladrão, você não é um blasfemador, você não é um bêba-

do, você acha que tem o direito de entrar, o direito de sentar-se à mesa do Senhor; mas

Cristo diz que uma e outra vez, você é um ladrão e salteador. Ah, irmãos, lembrem-se de

que se vocês são admitidos no rebanho por causa de vossa moralidade, vossa decência

exterior, vossa boa vida, vocês são ladrões e salteadores. Irmãos, há um dia vindouro,

quando aqueles que entraram no aprisco das ovelhas, não pela porta, mas de alguma

outra forma, olharão para trás e verão sua culpa quando eles entrarem em uma eterni-

dade arruinada.

Observem, porém, irmãos, antes de eu deixar esta parte do assunto, que Cristo é uma

entrada presente. Irmãos, há um tempo na sua história em que a porta do aprisco está

aberta para você. “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á”, mas o tempo

passará. É apenas um momento em comparação com a eternidade. Esta é uma verdade

solene. Irmãos, se eu pudesse prometer-lhes que a porta ficará aberta por cem anos, mas

ainda seria sábio para vocês entrarem agora; mas eu não posso responder por um ano,

eu não posso responder por um mês, eu não posso responder por um dia, eu não posso

responder por uma hora; tudo o que eu posso responder é, ela está aberta agora -

amanhã pode estar fechada para sempre.

II. Venho agora à segunda coisa proposta, e que é: mostrar-lhes o convite de Cristo.

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“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á”. Há muitos convites doces para

os pecadores na Bíblia; Frequentemente tenho sentido serem estas palavras as mais

doces. Há convites amorosos endereçados para aqueles que têm sede. Diz-se em Isaías:

“Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às águas” (Isaías 55:1a). Cristo disse, no último

dia, aquele grande dia da festa: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7:37).

E Ele diz que, próximo ao final do livro do Apocalipse: “A quem quer que tiver sede, de

graça lhe darei da fonte da água da vida” (21:6). Novamente, há alguns convites que são

endereçadas para aqueles que têm um fardo: “Vinde a mim todos os que estais cansados

e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11: 28). Mais uma vez, há alguns que são dirigi-

dos para aqueles que estão presos: “Voltai à fortaleza, ó presos de esperança” (Zacarias

9:12).

Mas este me parece o mais doce de todos, pois é dito: “Se alguém”. Não é dito, se algum

homem sedento, se algum homem cansado, se alguém com um fardo, mas é: se alguém

entrar, ele será salvo. Eu tenho visto as portas de certo homem rico, onde ninguém podia

entrar, senão o rico; e onde o mendigo deveria permanecer no portão. Mas a porta de

Cristo está aberta a qualquer pessoa, qualquer que seja a sua vida, qualquer que seja o

seu caráter. Cristo não é como a porta de algumas igrejas, onde ninguém pode entrar,

exceto os ricos; a porta de Cristo está aberta aos pobres, “Aos pobres é anunciado o

Evangelho” (Mateus 11:5). Alguns, talvez, podem dizer: “Eu sou o mais vil nesta con-

gregação”, mas Cristo diz: “Entre”. Alguns, talvez, podem dizer: 'Pequei mais do que

todos; pequei contra o pai, pequei contra uma mãe, pequei contra as misericórdias e con-

tra os julgamentos, contra os convites do Evangelho, e contra a luz”, ainda assim, Cristo

diz: “Entre”.

Observem ainda mais longe que o convite não é para olhar para a porta, mas para entrar.

Há muitos que ouvem sobre a porta, mas isso não é suficiente; deve-se entrar nela. E há

muitos que gostam de ouvir sobre a porta, mas ainda assim eles não entram. Ah, meus

irmãos, isto é uma grande fraude do Diabo. Estou convencido de que muitos de vocês vão

embora hoje mui satisfeitos porque ouviram falar sobre a porta, mas vocês não entram.

Há muitos que vão um passo mais longe: eles olham para a porta, mas ainda assim eles

não entram. Eu acredito que muitos de vocês são muitas vezes trazidos para lá; mas

quando chegam ao ponto, que vocês devem deixar os seus ídolos, que devem deixar

seus pecados, vocês não entram. “Se alguém entrar por mim, salvar-se-á”.

Mais uma vez, há alguns que veem as outras pessoas entrarem, mas eles mesmos não

entram. Você, talvez, tem visto um pai, ou mãe, ou um vizinho entrar; você já viu uma

transformação vinda sobre eles, e uma paz apodera-se de suas mentes, e você diz: “Eu

gostaria de ser eles”; mas você não entra. Ah! se você deseja ser salvo, você deve entrar

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pela porta; convicções não o farão, as lágrimas não o farão, etc. E esta é a razão pela

qual muitos de vocês não são felizes: vocês não entram.

III. Agora, eu venho ao terceiro e último ponto, e é este: a promessa:

“Se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens [...] eu vim

para que tenham vida, e a tenham com abundância.”

A primeira parte da promessa é: “Eles serão salvos”. Cristo empenha a Sua Palavra nisso:

aqueles que entram serão salvos. Aqueles que não entram serão condenados. Se você

não é de Cristo, você está fora, e “ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se

prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira”

(Apocalipse 22:15). Mas aqueles que entram serão salvos.

Isto é perdão imediato. Não haverá, mesmo agora, nenhuma condenação para os que

estão em Cristo Jesus. Ó meus irmãos, é perdão imediato que lhe oferecemos da parte

do Pai: “Se alguém entrar, salvar-se-á”. E, em seguida: “entrará, e sairá, e achará pasta-

gens”. Ou seja, vocês terão todos os privilégios de uma ovelha; ela sai para o poço; ela

sai para o pasto. Então, se vocês são dEle, vocês podem entrar e sair para encontrar pas-

tagens. Meus queridos irmãos, pode chegar um tempo na Escócia, quando há pouco

pasto, quando não haverá subpastor, quando as testemunhas serão assassinadas.

Contudo, o Senhor será o vosso Pastor, ele vos alimentará. Vocês “sairão e entrarão, e

acharão pastagens”. Amém.

Manhã de Sabath, 11 de setembro de 1842.

Extraído da edição de 1975 de Um Cesto de Fragmentos,

editado pela Christian Focus Publications.

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10 Motivos Para Agarrar-se a Jesus

“Apartando-me eu um pouco deles, logo achei aquele a quem ama a minha alma; agarrei-

me a ele, e não o larguei, até que o introduzi em casa de minha mãe, na câmara daquela

que me gerou” (Cânticos 3:4).

Você encontrou Aquele a quem a sua alma ama? Neste dia, você já viu a Sua beleza,

ouviu a Sua voz, acreditou no relato sobre Ele, sentou-se sob a Sua sombra, encontrou

comunhão com Ele? Então, agarre-O, e não O deixe ir.

I. Motivos.

1. Porque a paz deve ser encontrada nEle. Justificados pela fé, temos paz com Deus, e

não a paz com nós mesmos, não a paz com o mundo, com o pecado, com Satanás, mas

a paz com Deus. A Verdadeira paz Divina deve ser encontrada apenas em crer, apenas

em agarrar-se rapidamente a Cristo. Se você O deixar ir, você deixará escapar a sua

justiça; pois este é o Seu nome. Você fica, então, sem justiça, sem abrigo da ira de Deus,

sem um caminho para o Pai. A lei novamente te condenará; a carranca de Deus voltará a

lhe ofuscar; você terá novamente terrores de consciência. Segure-O, então, e não O deixe

ir. Não importa o que você deixe ir; não permita que Cristo se vá, pois Ele é a sua paz,

não no conhecimento, não no sentimento, mas creia nEle somente.

2. A santidade flui dEle. Não há santidade verdadeira neste mundo, senão a que brota

dEle. Um Cristo vivo é a fonte de santidade para todos os Seus membros. Enquanto nós

O agarramos, e não O deixamos ir, nossa santidade está segura. Ele está comprometido

em nos impedir de cair. Ele nos ama muito para nos deixar cair sob o reinante poder do

pecado. Sua palavra está empenhada: “E porei dentro de vós o meu Espírito” [Ezequiel

36:27]. Sua honra estaria manchada se alguém que se apega a Ele padecesse por viver

em pecado. Se você O deixar ir, você cairá em pecado. Você não tem força, nem estoque

de Graça, nem poder para resistir a mil inimigos, nem promessas. Se Cristo estiver com

você, quem pode ser contra você; mas se você se for de Seus braços, onde você fica?

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3. A esperança da glória esta nEle. Nós nos gloriamos na esperança da glória de Deus.

Se você encontrou Jesus neste dia, você encontrou um caminho para a glória. “Mais

alguns passos”, você pode dizer, “e eu estarei para sempre com o Senhor”. Serei livre da

dor e tristeza; livre do pecado e fraqueza; livre de inimigos. Contanto que você agarre a

Cristo, você pode ver o seu caminho para o tribunal: “Guiar-me-ás com o teu conselho, e

depois me receberás na glória” [Salmos 73:24]. Isto oferece tanta alegria, tais desejos

condutores para o mundo celestial. Mas deixe Cristo ir, e isto desaparecerá. Deixe Cristo

ir, e como você pode morrer? A sepultura está coberta de nuvens de ameaça. Deixe-O ir

e como você pode ir para o julgamento, como poderá aparecer?

II. Meios.

1. Cristo promete manter você agarrado a Ele. Se você está realmente segurando a Cristo

neste dia, você está na mais abençoada condição, pois Cristo se compromete em manter

você apegando-se a Ele: “A minha alma te segue de perto; a tua destra me sustenta”

[Salmos 63:8]. Aquele que é o Criador deste mundo é o defensor dele, assim Aquele que

cria a nova alma a mantém em seu existir. Isto nunca deve ser esquecido. Não somente a

Igreja se apoia em seu amado, mas Ele coloca a sua mão esquerda sob a cabeça dela, e

a sua mão direita a abraça [Cânticos 2:6]. “Todavia, eu ensinei a andar a Efraim;

tomando-os pelos seus braços, mas não entenderam que eu os curava” [Oséias 11:3]. É

bom para um filho segurar-se no pescoço da mãe, mas ah! Que apoio fraco seria, se o

braço materno não envolvesse a criança, e a apertasse contra o seu peito. A fé é boa,

mas ah! Não é nada sem a Graça que a concedeu. “Porei o meu temor nos seus

corações” [Jeremias 32:40].

2. Fé em Cristo. A única maneira de agarrar-se é crer mais e mais. Obtenha uma maior

familiaridade com Cristo, com a Sua Pessoa, Obra e Caráter. Cada página do Evangelho

desvela uma particularidade de Seu Caráter, cada linha das Epístolas mostram

profundezas de Sua Obra. Obtenha mais fé, e você terá sustentação mais firme. Uma

planta que tem uma única raiz pode ser facilmente retirada pela mão, ou esmagada pelo

pé de um animal selvagem, ou derrubada pelo vento; mas uma planta que tem mil raízes

ficadas no chão, pode permanecer. A fé é como a raiz, muitos acreditam um pouco a

respeito de Cristo; um fato. Cada nova verdade sobre Jesus é uma nova raiz fincada para

baixo. Acredite mais intensamente. Uma raiz pode estar em uma direção certa, mas, não

aprofundada é facilmente arrancada. Ore por fé profundamente enraizada. Ore para ser

confirmado, fortalecido, estabelecido. Olhe intensa e longamente a Jesus; muitas e muitas

vezes. Se você quisesse reconhecer um homem novamente, e ele estivesse indo embora,

você olhasse intensamente para o seu rosto. Então, olhe para Jesus; profundamente,

intensamente, até que cada característica seja gravada em seu coração. Thomas Scott

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superou o medo da morte, olhando intensamente para o seu filho morto, que havia

morrido no Senhor.

3. Oração. Jacó em Betel. Isaías 27:5: “se apodere da minha força”. Você deve começar a

orar por outra forma da que você tem feito. Que seja a relação real com Deus, como

Ezequias, Jacó, Moisés, etc.

4. Não ofendendo-O. Primeiro, por meio da preguiça. Quando a alma se torna sonolenta

ou descuidada, Cristo vai embora. Nada é mais ofensivo para Cristo do que a preguiça. O

amor é algo cada vez mais ativo, e quando ele está no coração nos manterá acordados.

Por muitas noites o Seu amor por nós O manteve acordado. Agora, você não pode vigiar

com Ele por uma hora? Cânticos 5:2. Segundo, por meio de ídolos. Você não pode

segurar dois objetos. Se você estiver segurando Cristo hoje, e lançar mão de outro objeto

amanhã, Ele não pode permanecer. Ele é um Deus zeloso. Você não pode manter

companheiros mundanos e também a Cristo. “O companheiro dos tolos será destruído”

[Provérbios 13:20]. Quando a arca entrou na casa de Dagon, fez o ídolo cair ao chão.

Terceiro, por não estar disposto a ser santificado. Quando Cristo nos escolhe e nos atrai

para Si, é para que Ele possa nos santificar. Cristo está muitas vezes entristecido e dis-

tante, por nosso desejo de preservar um pecado. Quarto, por uma casa profana. “O intro-

duzi em casa de minha mãe”. Lembre-se de levar Cristo com você para casa, e deixe-O

governar sua casa. Se você andar com Cristo no exterior, mas nunca O levar para casa,

você logo se apartará O companheiro para sempre.

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FONTES E TRADUÇÃO:

Reformação Pessoal e na Oração Secreta

♦ Fonte: Fonte: Reformation-Scotland.org.uk ♦ Tradução: Camila Rebeca Almeida ♦ Revisão: William Teixeira

Sermão 1 – A Voz do Meu Amado

♦ Fonte: Fonte: Reformation-Scotland.org.uk ♦ Tradução: Camila Rebeca Almeida ♦ Revisão: William Teixeira

Sermão 2 – O Amor de Cristo

♦ Fonte: ChapelLibrary.Org ♦ Tradução: William Teixeira ♦ Revisão: Camila Rebeca Almeida

Sermão 3 – Pai, Eu quero ♦ Fonte: Reformation-Scotland.org.uk ♦ Tradução: Camila Rebeca Almeida ♦ Revisão: William Teixeira

Sermão 4 – Olhe Para Cristo Traspassado

♦ Fonte: Archive.Org ♦ Tradução: Camila Rebeca Almeida ♦ Revisão: William Teixeira

Sermão 5 – Cristo, o Único Refúgio

♦ Fonte: Archive.Org ♦ Tradução: Camila Rebeca Almeida ♦ Revisão: William Teixeira

Sermão 6 – Pode Uma Mulher Esquecer?

♦ Fonte: Archive.Org ♦ Tradução: Camila Rebeca Almeida ♦ Revisão: William Teixeira

Sermão 7 – Gloriando-se na Cruz de Cristo

♦ Fonte: Archive.Org ♦ Tradução: Camila Rebeca Almeida ♦ Revisão: William Teixeira

Sermão 8 – Feliz És Tu, Ó Israel

♦ Fonte: Archive.Org ♦ Tradução: Camila Rebeca Almeida ♦ Revisão: William Teixeira

Sermão 9 – Cristo, A Porta para A Igreja

♦ Fonte: The-Highway.com ♦ Tradução: Camila Rebeca Almeida ♦ Revisão: William Teixeira

Sermão 10 – Motivos Para Agarrar-se a Jesus

♦ Fonte: Archive.Org ♦ Tradução: Camila Rebeca Almeida ♦ Revisão: William Teixeira

***

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Uma Biografia de Robert Murray M'Cheyne

Robert Murray M'Cheyne (1813 - 1843)

Robert Murray M'Cheyne nasceu em 29 de maio de 1813, nunca época dos primeiros

resplendores de um grande avivamento espiritual que ocorreria na Escócia. Entre os

preparativos secretos com os quais Deus tencionava derramar sobre seu povo dias de

verdadeiro e profundo refrigério espiritual se achava o nascimento do mais jovem dos

cinco filhos de Adam McCheyne.

Desde sua infância, M'Cheyne deu mostras de possuir uma natureza doce e afável, ao

mesmo tempo que se podia ver nele uma mente desperta e prodigiosa. Com apenas

quatro anos de idade tinha como seu passatempo favorito estudar o grego e o hebraico.

Aos oito anos ingressou numa escola superior, tendo passado anos mais tarde para a

Universidade de Edimburgo. Em ambos centros de ensino, distinguiu-se como estudante

brilhante. Era de boa estatura, cheio de agilidade e vigor, nobre em sua disposição,

evitando toda forma de comportamento enganoso. Alguns consideravam-no como

possuidor de forma inata de todas as virtudes do caráter cristão, porém, segundo seu

próprio testemunho, aquela moralidade pura e externa que era por ele exibida, nascia de

um coração farisaico, e como muitos de seus companheiros, lhe agradava gastar sua vida

nos prazeres mundanos.

A morte do seu irmão Davi causou uma profunda impressão em sua alma. Seu diário

contém numerosas alusões a este fato. Anos depois, escrevendo a um amigo, Robert

disse: “Ore por mim, para que possa ser mais santo e mais sábio, sendo menos o que

sou, e sendo mais como é o meu Senhor... Hoje, faz sete anos que perdi meu querido

irmão, porém comecei a encontrar o Irmão que não pode morrer”.

A partir de então, a consciência tenra de M'Cheyne despertou para a realidade do pecado

e para as profundidades de sua corrupção. “Que massa infame de corrupção tenho sido!

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Tenho vivido uma grande parte de minha vida completamente separado de Deus e para o

mundo. Tenho me entregado completamente ao gozo dos sentidos e às coisas que

perecem em torno de mim.”.

Embora ele nunca tenha sabido a data exata do seu novo nascimento, jamais abrigou

temor algum de que este não tivesse acontecido. A segurança de sua salvação foi algo

característico de seu ministério, de modo que sua grande preocupação foi, em todo o

tempo, obter uma maior santidade de vida.

No inverno do ano de 1831 começou seus estudos no Divinity Hall, onde Tomas Chalmers

era professor de Teologia, e Davi Welsh de História Eclesiástica. Juntamente com outros

companheiros seus, Eduard Irving, Horátius e André Bonar – que escreveria a sua

biografia posteriormente, dentre outros amigos fervorosos, M'Cheyne se reunia para

pregar e estudar a Bíblia, especialmente nas línguas originais. Quando o Dr. Chalmers

teve notícia do modo simples e literal com que M'Cheyne esquadrinhava as Santas

Escrituras, não pôde deixar de exclamar: “Agrada-me esta literalidade. Verdadeiramente,

todos os sermões deste grande servo de Deus estão caracterizados por uma profunda

fidelidade ao texto bíblico”.

E já neste período de sua vida, M'Cheyne deu mostras de um grande amor pelas almas

perdidas, e juntamente com seus estudos dedicava várias horas da semana para a

pregação do Evangelho, tarefa que realizava quase sempre nos bairros pobres e mais

baixos de Edimburgo.

Como os demais grandes servos de Deus, M'Cheyne teria uma clara consciência da

radical seriedade do pecado. A compreensão clara da condição pecaminosa do homem

era para M'Cheyne um requisito imprescindível para fazer sentir ao coração a

necessidade de Cristo como único Salvador, e também a experiência necessária para

uma vida de santidade.

Seu diário testemunha o severo juízo que fazia de si mesmo: “Senhor, se nenhuma outra

coisa pudesse livrar-me dos meus pecados, a não ser a dor e as provas, envie-mas,

Senhor, para que possa ser livrada de meus membros carregados de carnalidade”.

Inclusive nas mais gloriosas experiências do crente, M'Cheyne podia descobrir resquícios

de pecado, e assim nos diz numa ocasião: “Mesmo minhas lágrimas de arrependimento

estão manchadas de pecado”.

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André Bonar escreveu acerca do seu amigo as seguintes palavras: “Durante os primeiros

anos de seus cursos no colégio o estudo não chegou a absorver toda a sua atenção.

Contudo, tão logo começou a mudança em sua alma, isto se refletiu em seus estudos. Um

sentimento muito profundo de sua responsabilidade o levou a dedicar todos seus talentos

ao serviço do Mestre, que lhe havia redimido. Poucos têm se consagrado à obra do

Senhor, como fruto de um claro conhecimento de sua responsabilidade”.

Enquanto estudava Literatura e Filosofia no colégio sabia encontrar tempo para dedicar

sua atenção à Teologia e à História Natural. Nos dias de sua maior prosperidade no

ministério da pregação, quando juntamente com sua alma, sua congregação, e rebanho,

constituíam o todo dos seus desvelos, frequentemente lamentava não ter adquirido, nos

anos anteriores, um caudal de conhecimentos mais profundo, pois se havia dado conta

que podia usar as jóias do Egito no serviço do Senhor. De vez em quando seus estudos

anteriores evocavam em sua mente alguma ilustração apropriada para a verdade divina, e

precisamente no solene instante em que apresentava o Evangelho glorioso aos mais

ignorantes e depravados.

Suas próprias palavras manifestam sua estima pelo estudo, e ao mesmo tempo revelam o

espírito de oração, que segundo M'Cheyne, devia sempre acompanhar os estudos.

“Esforça-te nos estudos”, escreveu a um jovem estudante em 1840. “Dá-te conta que

estás formando, em grande parte, o caráter do teu futuro ministério. Se adquirires agora

hábitos de estudo matizados pelo descuido e inatividade, nunca tirarás proveito do

mesmo. Faz cada coisa a seu tempo. Sê diligente em todas aquelas coisas que valham a

pena serem feitas, e faz isto com todas as tuas forças. E acima de tudo, apresenta-te ao

Senhor com muita frequência. Não intentes nunca ver um rosto humano até que não

tenhas visto primeiro o rosto dAquele que é nossa luz e nosso tudo. Ora por teus

semelhantes. Ora por teus mestres e companheiros de estudo”. A um outro jovem

escreveu: “Cuidado com a atmosfera dos autores clássicos, pois é na verdade, perniciosa,

e tu necessitas muitíssimo, para afastá-la, do vento sul que sopra das Escrituras. É certo

que devemos conhecê-los – porém da mesma maneira que o químico faz experiência

com as substâncias tóxicas – para descobrir suas propriedades químicas, e não para

envenenar com elas o seu sangue.”. E acrescentou: “Ora para que o Espírito Santo faça

de ti não somente um jovem crente e santo, senão para que também te dê sabedoria em

teus estudos”.

“Às vezes um raio da luz divina que penetra a alma pode dar suficiente luz para aclarar

maravilhosamente um problema de matemática. O sorriso de Deus acalma o espírito, e a

destra de Jesus levanta a cabeça do decaído, enquanto seu Santo Espírito aviva os

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efeitos, de modo que os estudos naturais possam ser feitos um milhão de vezes melhor e

mais facilmente”.

As férias, para M'Cheyne, como para os seus amigos mais íntimos que permaneceram na

cidade, não eram consideradas como uma interrupção quanto aos estudos a que nos

referimos. Uma vez por semana costumavam passar uma manhã juntos com o propósito

de estudar algum ponto de teologia sistemática, assim como para trocar impressões sobre

o que haviam lido em privado.

Um jovem assim, com faculdades intelectuais tão pouco comuns e às quais se unia o

amor ao estudo numa memória extremamente profunda, facilmente escolheu não colocar

em primeiro lugar a erudição, mas sim a tarefa de salvar as almas. Ele submeteu todos os

talentos que possuía à obra de despertar aqueles que estavam mortos em delitos e

pecados. Preparou sua alma para a poderosa e solene responsabilidade de pregar a

Palavra de Deus, e isto fez “com muita oração e profundo estudo da Palavra de Deus;

com disciplina pessoal; com grandes provas e dolorosas tentações, pela experiência da

corrupção da morte em seu próprio coração, e pela descoberta da plena graça do

Salvador. Por experiência própria podia dizer: “Quem é o que vence o mundo senão o que

crê que Jesus é o Filho de Deus?”.

No dia primeiro de julho de 1835, M'Cheyne obteve licença para pregar pelo presbitério de

Annan. Depois de haver pregado por vários meses em diferentes lugares e dado

evidência da peculiar doçura com que a Palavra de Deus fluía de seus lábios, M'Cheyne

veio a ser o ajudante do pastor John Bonar nas congregações unidas de Larberte e

Dunipade, próxima de Stirling. Em sua pregação fazia outros partícipes de sua vida

interior, à medida que sua alma crescia na graça e no conhecimento do Senhor e

Salvador. Começava o dia muito cedo cantando salmos ao Senhor. A isto seguia a leitura

da Palavra para sua própria santificação. Nas cartas de Samuel Rutherford encontrou

uma mina de riquezas espirituais. Entre outros livros de leitura favorita figuravam

Chamamento aos Não Convertidos, de Richard Baxter, e a Vida de Davi Brainderd, de

Jonathan Edwards. Em novembro de 1836 foi ordenado pastor na Igreja de São Pedro,

em Dundee. Permaneceu como pastor desta congregação até o dia da sua morte. A

cidade de Dundee, como ele mesmo se referiu a ela, “era uma cidade dada à idolatria e

de coração duro”. Porém não havia nada em suas mensagens que buscasse o agrado do

homem natural, pois longe estava de seu coração buscar agradar os incrédulos. “Se o

Evangelho agradasse ao homem carnal, então deixaria de ser Evangelho”. Estava

profundamente convencido que a primeira obra do Espírito Santo na salvação do pecador

era a de produzir convicção do pecado e a de trazer o homem a um estado de desespero

diante de Deus. “A menos que o homem não seja posto ao nível de sua miséria e culpa,

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toda nossa pregação será vã porque somente um coração contrito pode receber ao Cristo

crucificado”. Sua pregação estava caracterizada por um elemento de marcante urgência e

alarme. “Que me ajude sempre a lhes falar com clareza. Mesmo a vida daqueles que

podem viver muitos anos, é na realidade, curta. Contudo, esta vida curta, que Deus nos

tem dado e que é suficiente para que busquemos o arrependimento e a conversão, logo,

muito rapidamente passará. Cada dia que passa é como uma passo a mais em direção ao

trono do juízo eterno”.

Ao seu profundo amor pelas almas se somava uma profunda sede de santidade de vida.

Escrevendo a um companheiro no ministério, disse: “Sobre todas as coisas cultiva teu

próprio espírito. Tua própria alma deveria ser o principal motivo de todos os teus cuidados

e desvelos. Mais que os grandes talentos, Deus abençoa aqueles que refletem a

semelhança de Jesus em suas vidas. Um ministro santo é uma arma poderosa nas mãos

de Deus”. M'Cheyne talvez pregou com mais poder com sua vida que com suas

mensagens, como bem sabia e dizia seu amigo André Bonar, que “os ministros do

Evangelho não somente devem pregar fielmente, como também viver fielmente”.

Como pastor em Dundee, M'Cheyne introduziu importantes inovações na congregação.

Naquela ocasião as reuniões de oração eram desconhecidas, eram muito raras.

M'Cheyne ensinou aos membros a necessidade de ser reunirem todas as quintas-feiras à

noite para unirem seus corações em oração ao Senhor, e estudar Sua Palavra. Também

destinava outro dia durante a semana para os jovens. Seu ministério entre as crianças

constitui a nota mais brilhante de seu ministério.

Ao seu zelo por santidade de vida acrescentava seu afã por pureza de testemunho entre

os membros de sua congregação. M'Cheyne era consciente de que a igreja – como parte

do corpo místico de Cristo deveria manifestar a pureza e santidade dAquele que havia

morrido para apresentar uma igreja santa e sem mancha ao Pai. Daí seu zelo pela

observância da disciplina na congregação. E assim, num culto de ordenação de

presbíteros, disse: “Ao começar meu ministério entre vocês, eu era extremamente

ignorante da grande importância que a igreja de Cristo tem da disciplina eclesiástica.

Pensava que meu único e grande objetivo nesta congregação era o de orar e pregar.

Suas almas me pareciam tão preciosas e o tempo me parecia tão curto, que eu decidi

dedicar-me exclusivamente com todas minhas forças e com todo o meu tempo ao

trabalho da evangelização e à doutrina. Sempre que os anciãos desta igreja me

apresentaram casos de disciplina, eu os considerava como dignos de aborrecimento.

Constituíam uma obrigação diante da qual eu me encolhia. Porém agradou ao Senhor,

que ensina a seus servos de uma maneira muito distinta que o homem, dará ocasião dEle

ser bendito não apenas com o dom da conversão, mas com alguns casos de disciplina a

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nosso cuidado. Desde então uma nova luz acendeu em minha mente. Dei-me conta que

não somente a pregação era uma ordenança de Cristo, como também o exercício da

disciplina eclesiástica”.

Ao mesmo tempo que o vigor e a força espiritual de sua alma alcançava uma grandeza

gigantesca, a saúde física de M'Cheyne se enfermava e enfraquecia à medida que os dias

transcorriam. Em fins do anos de 1838, uma violenta palpitação do coração, ocasionada

por seus árduos trabalhos ministeriais, obrigaram o jovem pastor a buscar repouso. E

como sua convalescença seguia num ritmo muito lento, um grupo de pastores, reunidos

em Edimburgo na primavera de 1839, decidiu convidar M'Cheyne para que se unisse a

uma comissão de pastores que planejava ir à Palestina para estudar as possibilidades

missionárias da Terra Santa. Todos criam que tanto o clima como a viagem redundariam

em benefício para a saúde do pastor. De um ponto de vista espiritual, sua estada na

Palestina constituiu uma verdadeira bênção para sua alma. Visitar os lugares que haviam

sido o cenário da vida e obra do bendito Mestre, e pisar a mesma terra que um dia pisara

o Varão de Dores, foi uma experiência indescritível para o jovem pastor. Contudo,

fisicamente, o estado de M'Cheyne não melhorou, antes, pelo contrário, parecia que seu

tabernáculo terrestre ameaçava desmoronar totalmente. E assim, em fins de julho de

1839, encontrando-se a delegação missionária próximo de Esmirna, e já a caminho de

volta, o Senhor estendeu sua mão curadora, e o grande servo do Evangelho pôde

finalmente regressar à sua amada Escócia e a seu querido rebanho em Dundee.

Durante sua ausência, o Espírito Santo começou a operar um avivamento maravilhoso na

Escócia. Este avivamento começou em Kilsyth, e sob a pregação do jovem pastor W. C.

Burns, que havia substituído a M'Cheyne enquanto ele se convalescia. Num curto espaço

de tempo a força do Espírito Santo, que impulsionava o avivamento, se deixou sentir em

muitos lugares. Em Dundee, onde cultos se prolongavam até altas horas da noite em

cada dia da semana, as conversões foram muito numerosas. Parecia como se toda a

cidade houvesse sido sacudida pelo poder do Espírito.

Em novembro do mesmo ano, M'Cheyne, tendo melhorado de sua enfermidade, retornou

à sua congregação. Os membros da Igreja transbordavam de alegria ao ver de novo o

rosto do seu amado pastor. A igreja fez um silêncio absoluto, enquanto todos esperavam

que M'Cheyne ocupasse o púlpito. Muitos membros derramaram lágrimas de gratidão ao

verem de novo o rosto de seu pastor. Porém ao terminar o culto, e movidos pelo poder de

sua pregação, foram muitos os pecadores que derramaram lágrimas de arrependimento.

O regresso de M'Cheyne a Dundee marcou um novo episódio no seu ministério e também

na Igreja escocesa. Parecia como se a partir de então o Senhor houvesse se disposto a

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responder as orações que o jovem pastor elevara desde o princípio do seu ministério

suplicando um avivamento ali onde M'Cheyne pregara, e o Espírito acrescentava novas

almas à Igreja.

Na primavera de 1843, ao ter M'Cheyne regressado de uma série de reuniões especiais

em Aberdeenshire, caiu repentinamente enfermo. Neste lugar havia visitado a vários

enfermos com febre infecciosa, e a sua constituição enfermiça e débil sucumbiu ao

contágio da mesma. E no dia 25 de março de 1843 ele partiu para estar com o Senhor.

“Em todas as partes onde chegava a notícia de sua morte – escreveu Bonar – o

semblante dos crentes se ensombrecia de tristeza. Talvez não haja havia outra morte que

tenha impressionado tanto os santos de Deus na Escócia como a deste grande servo de

Deus, que consagrou toda sua vida à pregação do Evangelho eterno. Com frequência

costumava dizer: “vivam de tal modo que nenhum dia seja perdido por vocês”, e ninguém

que houvesse visto as lágrimas que foram vertidas na ocasião de sua morte teriam

duvidado em afirmar que sua vida havia sido o que ele havia recomendado a outros. Não

teria mais que vinte e nove anos quando o Senhor o levou”.

“No dia do sepultamento cessaram todas as atividades em Dundee. Desde o domicílio

fúnebre até o cemitério, todas as ruas estavam abarrotadas de gente. Muitas almas se

deram conta naquele dia que um príncipe de Israel havia caído, enquanto muitos

corações indiferentes experimentaram uma terrível angústia ao contemplar o solene

espetáculo”.

A sepultura de M'Cheyne pode ser vista no rincão nordeste do cemitério que fica ao redor

da Igreja de São Pedro. Ele se foi às montanhas de mirra e às colinas de incenso, até que

desponte o dia e fujam as sombras. Completou sua obra. Seu Pai celestial não teria para

ele outra planta para regar, nem outra vida para cuidar, e o Salvador, que tanto o amou

em vida, agora o esperava com suas palavras de boas-vindas: “Muito bem, servo bom e

fiel, entra no gozo do teu Senhor.”.

O ministério de M'Cheyne não terminou com sua morte. Suas mensagens e cartas,

juntamente com sua biografia, escrita por seu amigo André Bonar, têm sido um rico meio

de bênção para muitas almas.

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♦ Fonte: www.poesias.omelhordaweb.com.br

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Quem Somos

O Estandarte de Cristo é um projeto cujo objetivo é proclamar a Palavra de Deus e o Santo

Evangelho de Cristo Jesus, para a glória do Deus da Escritura Sagrada, através de traduções

inéditas de textos de autores bíblicos fiéis, para o português. A nossa proposta é publicar e

divulgar traduções de escritos de autores como os Puritanos e também de autores posteriores

àqueles como John Gill, Robert Murray McCheyne, Charles Haddon Spurgeon e Arthur

Walkington Pink. Nossas traduções estão concentradas nos escritos dos Puritanos e destes

últimos quatro autores.

O Estandarte é formado por pecadores salvos unicamente pela Graça do Santo e Soberano,

Único e Verdadeiro Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, segundo o testemunho das

Escrituras. Buscamos estudar e viver as Escrituras Sagradas em todas as áreas de suas vidas,

holisticamente; para que assim, e só assim, possamos glorificar nosso Deus e nos deleitar-

mos nEle desde agora e para sempre.

Indicações de Sites onde você poderá

encontrar materiais edificantes e/ou baixar

outros e-books bíblicos gratuitamente

Trovian.blogspot.com.br – Estudos e

Mensagens Cristãs

JosemarBessa.com – Puro Conteúdo

Reformado

FirelandMissions.com

MinisterioFiel.com.br

ProjetoSpurgoen.com.br

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Indicações de E-books de publicações próprias.

Baixe estes e outros gratuitamente no site.

10 Sermões – Robert Murray M’Cheyne

Cristo, Totalmente Desejável – John Flavel

Eleição & Vocação – Robert Murray M’Cheyne

A Gloriosa Predestinação – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração – C. H. Spurgeon

A Livre Graça – C. H. Spurgeon

A Paixão de Cristo – Thomas Adams

Quem São Os Eleitos? – C. H. Spurgeon

Reforma – C. H. Spurgeon

Salvação Pertence Ao Senhor – C. H. Spurgeon

O Sangue – C. H. Spurgeon

Semper Idem – Thomas Adams

Tratado sobre a Oração, Um – John Bunyan

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Livros que Recomendamos:

A Prática da Piedade, por Lewis Bayly – Editora PES

Graça Abundante ao Principal dos Pecadores, por

John Bunyan – Editora Fiel

Um Guia Seguro Para o Céu, por Joseph Alleine –

Editora PES

O Peregrino, por John Bunyan – Editora Fiel

O Livro dos Mártires, por John Foxe – Editora Mundo

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Os Atributos de Deus, por A. W. Pink – Editora PES

Por Quem Cristo Morreu? Por John Owen (baixe

gratuitamente no site FirelandMissions.com)

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2 Coríntios 4 1

Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não

desfalecemos; 2

Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à

consciência de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3

Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4

Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não

resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. 5

Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos

vossos servos por amor de Jesus. 6

Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do

conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7

Temos, porém, este tesouro

em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8

Em tudo

somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. 9

Persegui-

dos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; 10

Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se

manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos

também, por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos

ressuscitará também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de

graças para glória de Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem

exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e

momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.