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O Futuro da Rádio em Portugal O DAB (Digital Audio Broadcasting) e as conclusões de um grupo de discussão Abstract: After having developed the investigation work the one that it had proposed me on the Digital Audio Broadcasting, I understood that would be of all the usefulness to appeal to the technique of the discussion groups. Of my point of view, he/she offered a group of advantages that could confirm or to illuminate important aspects of this new technology puts to the service of the radio. I gathered professionals of radio of three age groups (up to 25 years, between 26 and 40 years and with more than 40), of both sexes, residents for the whole country, in conditions so much with precarious employment as stable, and with knowledge of the theme DAB submitted to the discussion. They were also invited teachers and students of the area of Sciences of the Communication. Resumo Depois de ter desenvolvido o trabalho de investigação a que me tinha proposto sobre o Digital Audio Broadcasting, entendi que seria de toda a utilidade recorrer à técnica dos grupos de discussão. Do meu ponto de vista, oferecia um conjunto de vantagens que podia confirmar ou esclarecer aspectos importantes desta nova tecnologia posta ao serviço da rádio. Reuni profissionais de rádio de três grupos etários (até 25 anos, entre 26 e 40 anos e com mais de 40), de ambos os sexos, residentes por todo o país, em condições tanto com emprego precário como estável, e com conhecimento do tema DAB submetido à discussão. Foram também convidados professores e alunos da área de Ciências da Comunicação. A opção pelo grupo de discussão 1

O Futuro da Rádio em Portugal O DAB (Digital Audio Broadcasting) e as conclusões de um grupo de discussão 2003

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Publicado no Caderno de Estudos Mediáticos, da Faculdade de Ciências Humanas da UFP. Entretanto depois de termos emissores e emissões digitais de rádio em Portugal parou tudo a partir do momento em que a RDP foi absorvida pela RTP. Vale a pena ponderar o que tem estado a perder por razões da mais lamentável crise de competência da e dos políticos que, como as crianças, não conhecendo os brinquedos, destroem-nos para ver como funcionam. Com tantas peças partidas é natural que o futuro não vá por ali (DAB).

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O Futuro da Rádio em Portugal

O DAB (Digital Audio Broadcasting) e as conclusões de um grupo de discussão

Abstract:

After having developed the investigation work the one that it had proposed me on the Digital Audio Broadcasting, I understood that would be of all the usefulness to appeal to the technique of the discussion groups. Of my point of view, he/she offered a group of advantages that could confirm or to illuminate important aspects of this new technology puts to the service of the radio. I gathered professionals of radio of three age groups (up to 25 years, between 26 and 40 years and with more than 40), of both sexes, residents for the whole country, in conditions so much with precarious employment as stable, and with knowledge of the theme DAB submitted to the discussion. They were also invited teachers and students of the area of Sciences of the Communication.

Resumo

Depois de ter desenvolvido o trabalho de investigação a que me tinha proposto sobre o Digital Audio Broadcasting, entendi que seria de toda a utilidade recorrer à técnica dos grupos de discussão. Do meu ponto de vista, oferecia um conjunto de vantagens que podia confirmar ou esclarecer aspectos importantes desta nova tecnologia posta ao serviço da rádio. Reuni profissionais de rádio de três grupos etários (até 25 anos, entre 26 e 40 anos e com mais de 40), de ambos os sexos, residentes por todo o país, em condições tanto com emprego precário como estável, e com conhecimento do tema DAB submetido à discussão. Foram também convidados professores e alunos da área de Ciências da Comunicação.

A opção pelo grupo de discussão

Chamar uns quantos participantes de um grupo similar de pessoas para um auditório e manter com elas, durante cerca de duas horas, um debate dirigido, tanto se pode transformar num êxito como num rotundo fracasso. Portanto, apesar da sua aparente simplicidade, a técnica dos grupos de discussão colocou-me perante a necessidade de tudo fazer para que resultasse em algo de positivo para um trabalho sobre o DAB e implicações nos conteúdos radiofónicos. Tanto na fase de organização como no desenvolvimento deste grupo de discussão, procurei seguir uma metodologia que me pusesse a salvo de surpresas desagradáveis. Naturalmente que pari para esta solução com a consciência de que esta é apenas uma forma de obter informação qualitativa.

Na planificação a que procedi, comecei por considerar a data e a hora da reunião que, sendo factores circunstanciais, se me afiguravam importantes. Escolhi o dia 7 de Abril, Terça-feira, a seguir às férias da Páscoa, e optei pela

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parte da tarde, 15 horas. Assim, eliminei duas condicionantes relacionadas com a época de aulas e de retorno ao trabalho, de forma a não prejudicar as actividades normais dos convidados. O horário das 15 horas refere-se à experiência de outras realizações. Como dois dos convidados vinham de Lisboa, a parte da tarde dava-me garantias de pontualidade e de presença, no caso de haver algum atraso nos transportes. Mesmo assim, estava consciente de que estavam longe de estar esgotadas as possibilidades circunstanciais de atraso ou ausência de alguns convidados.

A Universidade Fernando Pessoa disponibilizou os seus serviços do Gabinete de Comunicação para centralizar a organização e cedeu o espaço do seu auditório, com condições excelentes de comodidade e de intercomunicação.

A selecção assentou em pessoas que, previamente, acreditei reunirem requisitos suficientes para contribuírem para um resultado final positivo. Propus-me reunir profissionais de rádio de três grupos etários (até 25 anos, entre 26 e 40 anos e com mais de 40), de ambos os sexos, residentes por todo o país, em condições tanto com emprego precário como estável, e com conhecimento do tema DAB submetido à discussão. Foram também convidados professores e alunos da área de Ciências da Comunicação. Tive o cuidado de convidar mais pessoas do que as estritamente necessárias.

Participaram os engº.s Francisco Mascarenhas e José Luís Magalhães como director técnico da RDP, o primeiro, e responsável pela implementação do DAB, o segundo; Augusto Macedo, director, Álvaro Costa, realizador, Madalena Balsa, chefe de departamento de programas, Olga Leite, chefe de redacção, Laura Melo Sarmento, secretária de redacção, todos da RDP; Mónica Alexandra, jornalista estagiária da Rádio Nova; Ana Rocha Gonçalves, jornalista estagiária da TSF; Rui Ribeiro, director da Rádio Comercial; João Palmeiro, professor de Ciências da Comunicação da Universidade Fernando Pessoa e dirigente da Associação Portuguesa de Rádios, Daniel Medina, professor de Ciências da Comunicação, especializado em rádio, Ana Gabriela, Dulce Miranda, Fernando Mauia e Pedro Monteiro, todos professores no laboratório de audiovisuais da Universidade Fernando Pessoa; as alunas de Ciências da Comunicação Daniela Machado, Mónica Vilela e Sandra Azevedo por terem evidenciado particular interesse pelas novas tecnologias e pela rádio em particular. Como observador esteve um grupo de alunos de Engenharia Publicitária, dirigidos pelo Dr. João Palmeiro, José Pedro Torres, David Lamas, Paula Cardoso, Paula Salvador, Rui Monteiro, Pedro Vieira, Patrícia Chagas, Luís Rodrigues, Martim Durão, Miguel Oliveira, Nuno Martins, José Matias, Ana Tavares, André Gonçalves, Fernando Coelho, Hugo Silva e Joana Bessa.

O objectivo deste encontro era, em primeiro lugar, trazer à discussão, no âmbito do audiovisual, a rádio, meio que tem estado muito subalternizado no debate do audiovisual, e que agora, com o DAB, o Digital Audio Broadcasting, se assume como um meio que vai ser determinante porque, para além do áudio, vai poder contar com o visual e com a transmissão de dados. Em segundo lugar, deixar bem claro o que é o DAB e qual a actual cobertura em Portugal. Em terceiro lugar, conhecer as potencialidades que oferece ao

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comunicador de rádio na criatividade de novos conteúdos áudio e de dados. Em quarto lugar, conhecer as sugestões de conteúdos dos comunicadores presentes.

DAB – “a primeira hipótese de a rádio se tornar numa actividade multimédia”

Da comunicação do Eng.º. Mascarenhas ficou a confirmação de que era da "rádio do séc. XXI aquilo de que estamos a falar" e que "é a primeira hipótese de a rádio se tornar numa actividade multimédia".

1. A RDP começou a trabalhar no DAB em 1989, imediatamente a seguir à implantação do sistema RDS (transmissão de dados via rádio que auxilia, entre outras coisas, a sintonia do receptor no programa que se pretende ouvir). O trabalho iniciou-se no âmbito da UER onde o Eng. José Luís Magalhães representou a RDP. A UER faz parte do consórcio Eureka147 que desenvolveu os estudos do DAB.De 89 a 95, e mesmo depois, foram feitas diversas intervenções públicas, sobretudo em Lisboa e no Porto (na Exponor, por ocasião de uma feira da Portugal Telecom) em que se falou sobre o que era o DAB, as suas características técnicas, as suas virtudes e as suas potencialidades.

2. Em 1995, a RDP constituiu o consórcio PRODAB juntamente com o INESC do Porto (teve um papel com algum significado no desenvolvimento do DAB pois colaborou na execução de partes do projecto), com a Grundig de Braga, com uma fábrica de equipamentos de áudio, com a INTELCO (fábrica de equipamentos de radiofrequência que já não existe) e com a Portugal Telecom. Tratava-se de arranjar uma plataforma que fosse coerente e que juntasse em simultâneo o difusor, o transportador do sinal, os construtores dos equipamentos. O consórcio concorreu a verbas do PEDIP II para desenvolver a indústria em Portugal, nomeadamente, auto-rádios (com este projecto a serem feitos em Braga), a indústria do áudio digital e a indústria dos emissores digitais. O júri do PEDIP II entendeu não aceitar aquela candidatura e perdeu-se a oportunidade de fabricar em Portugal equipamentos desenhados por técnicos nacionais.

3. Em 1998, a RDP obteve autorização para efectuar uma primeira demonstração de DAB em Lisboa. Em Maio, iniciavam-se as transmissões por ocasião da abertura da Expo 98, com três emissores em Lisboa, Arrábida e Serra de Montejunto, constituindo uma pequena rede de frequência única e um outro emissor no Monte da Virgem, em Vila Nova de Gaia, junto à cidade do Porto. Em Dezembro, teve lugar uma demonstração durante uma semana no Funchal para que os madeirenses se pudessem aperceber do que era o DAB.

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4. Ainda em 1998, a RDP teve de concorrer à obtenção da licença para a exploração da rede T-DAB, enquanto rede pública de telecomunicações. Em 1999, em Março, e em resultado do concurso, a RDP foi seleccionada como operadora da rede T- DAB para o bloco1 nacional 12 B.

5. Aquilo que a RDP planeia fazer, em termos de cobertura DAB, prolonga-se até 2006. É um esforço muito grande de fazer uma rede tão complexa e tão extensa em tão pouco tempo. Portugal propõe-se ser o primeiro país da Europa a ter uma cobertura integral de DAB.Além de tudo isto a RDP vai ter “gap fillers”, ou “tapa-buracos”, que são pequenos emissores que podem funcionar em pequenas zonas urbanas e no interior de túneis ou outros casos não servidos pela cobertura normal.

6. Para tudo isto, a RDP teve de instalar uma rede de feixes hertzianos de transporte de sinal que contém todas as ligações, com interligação aos centros de produção do Porto e de Lisboa. Esta rede de feixes hertzianos, que não está contabilizada nos números da cobertura em DAB, é uma rede que teve sobretudo em linha de vista a distribuição do sinal DAB e que custou 800.000 contos (4 milhões de Euros). Quanto ao transporte do sinal para os Açores e Madeira o sistema de transmissão é via satélite, uma vez que este bloco nacional vai conter seis programas que vão ser os mesmos em todo o espaço nacional. A recepção do satélite é feita em cada um dos emissores daquelas regiões autónomas. 7. O investimento total previsto neste projecto é de cerca de 2,3 milhões de contos (11 milhões e 500 mil Euros) inteiramente financiado pelos próprios meios da RDP, sendo cerca de 1,7 milhões para o continente, 200 mil contos para a Madeira e 400 mil para os Açores.

8. Falta ainda decidir quem será o operador de rede para os blocos regionais. Este bloco, de que a RDP é o operador de rede, é o bloco nacional. Os blocos regionais foram postos a concurso, mas ninguém concorreu. Provavelmente, por deficiência de planificação, o custo das redes naquelas circunstâncias era extremamente caro. Daí que estejam a ser objecto de replanificação por forma a tornar os blocos regionais acessíveis a outras estações.Tem-se falado muito do DAB e das rádios locais. Mas é muito difícil que as rádios locais, com o volume de negócios que hoje têm, possam pagar uma fracção de um canal regional T-DAB. É bastante caro, pelo menos por enquanto.

O professor Pedro Monteiro interveio para manifestar a sua preocupação quanto à situação de monopólio do DAB que favorecia a RDP. No seu ponto de vista, a RDP, sendo detentora dos emissores, podia limitar, a todo o momento, o acesso2 à emissão por um utilizador.

1 O bloco de frequências é o grupo de frequências que torna possível transmitir vários programas numa emissão digital.2 Acesso condicional - sistema de controle do acesso a serviços de radiodifusão, implementado por meios de encriptação de sinais nos receptores dos consumidores. O sistema comporta acções normais ou procedimentos de controle de subscrições, e possibilita que um operador só faculte certos serviços apenas a quem os paga e impeça quem não paga de os receber.

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O Eng.º Mascarenhas apressou-se a esclarecer que as coisas não se passam dessa forma. Da mesma maneira que essa questão não se põe em relação à entidade que distribui o correio, aos telefones, aos hospitais. Só pelo facto de os utilizadores não serem detentores de hospitais, a sua saúde não está em perigo. As questões não se põem dessa forma. Por razões de natureza tecnológica, concluiu-se que a melhor forma de utilizar o espectro era criar blocos com um certa dimensão que permitissem a transmissão até seis canais estéreo, embora as configurações possam ser outras.

As possibilidades do DAB

Da comunicação do Eng.º. José Luís Magalhães, que foi o responsável pela execução na prática do projecto DAB na RDP, ressaltaram indicações importantes quanto às potencialidades do DAB para pôr à prova a criatividade dos comunicadores de rádio.

A sua intervenção versou sobre as possibilidades do DAB, as características gerais que apresenta e lançou algumas pistas quanto às aplicações que são mais ou menos previsíveis e aquelas que não podem ser levadas a cabo pelo DAB, definindo-o claramente como um sistema de multidifusão unilateral e nunca bilateral.

1. Esta é uma tecnologia que vai tornar a rádio uma coisa muito bonita no próximo século. O DAB é um espaço alargado de reflexão porque, no fundo, está-se a discutir a rádio do séc. XXI, e quais os seus requisitos. Para que ela se torne competitiva com os outros media, com a televisão digital, com aplicações de dados no GSM, nos telemóveis quando as pessoas esperam hoje níveis de qualidade muito superiores às que a rádio, neste momento, é capaz de fornecer. Daí, portanto, que seja necessário reconhecer que, ainda que o FM sirva, não pode competir.

2. Tem então de se proceder à digitalização completa desde o microfone até ao receptor. Isto por questões de qualidade do sistema. Portanto, vamos precisar de qualidade em todos os domínios. A rádio hoje é principalmente para o automóvel, o que faz com que tenha de ser uma rádio para o ouvinte que se desloca ou que tem um portátil, chega a casa e o lança para cima de uma cadeira e ele tem de tocar de qualquer maneira. Ora estamos a pedir à rádio coisas que o FM não é capaz de desempenhar. Muitas vezes as pessoas não sabem, mas o FM é um sistema que foi inventado para recepção fixa, para ter uma antena no telhado apontada para o emissor. Portanto, nunca foi feito para serviço móvel. Só graças à grande qualidade e aos grandes benefícios que os receptores têm tido nos últimos anos, é que é possível ainda fingir que o FM serve para alguma coisa. No entanto, são evidentes os fenómenos de ruídos estranhos que se processam nos receptores em movimento por efeito de reflexões múltiplas nas paredes, os chamados fenómenos de distorção por

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efeitos de multipercurso. Isto faz com que a recepção em movimento seja muito difícil de fazer no caso do FM que chega ao receptor cheio de erros.

3. É também necessário repensar a rádio no sentido de lhe acrescentar algo ao seu conceito tradicional. É um pouco desaparecer o termo radiodifusão sonora digital e passar-se a pensar na rádio digital como um todo. Este termo também tem muito a ver com a ampliação do conceito de rádio ao aplicarmos tecnologias, aplicações e funcionalidades que já não têm só a ver com áudio, mas também com a transmissão de imagem, de dados especiais para sistemas autónomos ou para serviço de uso público genérico.

4. Também é necessário que a rádio tenha uma grande capacidade de evolução, de adaptação a necessidades que venham a existir nos próximos 20 ou 30 anos. Não podemos andar a mudar de sistemas e a inventá-los sistematicamente. Tem que ser uma rádio robusta, capaz de se adaptar a novas exigências que ocorram. Neste ponto de vista terá de representar em relação ao futuro uma oportunidade de novos negócios quer para os actuais radiodifusores quer para o aparecimento de novos operadores, de novas entidades que procurem a rádio como o seu espaço de divulgação e de trabalho.

5. No caso de uma certa integração paneuropeia, é crítico também que se caminhe para que o sistema inventado para o DAB terrestre se aplique igualmente à distribuição por satélite, para que não seja preciso ter receptores diferentes para domínios diferentes de aplicação. Ou seja, vamos precisar de receptores que trabalhem por satélite com o DAB terrestre e que sejam compatíveis.

6. Na Europa, escolheu-se o EUREKA 147 que é o nome de um consórcio que foi estabelecido no plano europeu dos projectos Eureka e que concentrou alguns investimentos e alguns financiamentos comunitários para se inventar um sistema que reunisse uns quantos requisitos. Um dos requisitos do sistema era o de um bom desempenho em termos de recepção móvel, para além, obviamente, da recepção fixa ou portátil, o que já acontecia com os sistemas anteriores. Lembra-se que o FM não serve para recepção móvel e a AM, que teria algumas características de recepção móvel, hoje não tem níveis de qualidade minimamente aceitáveis para poder ser utilizada.

7. Outra exigência é que, para além de ter de ter qualidade pelo menos CD, tinha de ser feito um upgrade da qualidade relativamente ao FM, dado que também teria de ter possibilidade de vir a transmitir dados e outras aplicações adicionais. Teria ainda de ter a possibilidade de gerir de uma forma ainda mais eficiente o espectro radioeléctrico, poupar frequências. Teria de ter maior eficiência em termos de potência dos emissores. Em termos comparativos, pode dizer-se que a potência de emissão, em DAB, é da ordem dos 300 a 600 Watt, enquanto em FM a RDP chega a ter potências emitidas com o ganho de antena da ordem dos 100 KW e de emissores com consumos de energia muito altos. Trata-se de dividir quase por dez a potência dos emissores. Além de que também seria necessária a existência de um sistema que permitisse flexibilidade de configuração. Isto significa que hoje se pode estar a trabalhar,

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em tempo real, com seis programas no mesmo bloco, mas rapidamente se pode desdobrar um dos programas em três ou quatro e arranjam-se outras componentes por simples reconfiguração do sistema. Portanto, os receptores também teriam que se adaptar automaticamente a estas reconfigurações.

8. A escolha do Eureka 147 também assenta no facto de poder trabalhar tanto na faixa do VHF como na do UHF, nomeadamente na banda L, que é uma faixa nos 1,5 GHz que, em princípio, estava preparada para o DAB satélite, mas que, neste momento, já está a ser usada para o DAB terrestre. A maior parte dos países da Europa usam estas frequências para as rádios locais para fazer DAB terrestre. Esta escolha deriva do facto de o sistema ser não só válido para o DAB nacional (o bloco nacional que ocupa o país todo) mas também é válido para ser usado nas rádios locais, nacionais ou internacionais. Ou seja, o mesmo sistema pode evoluir. E com a hipótese também de ele poder utilizar multimédia. A emissão de dados é uma das características do DAB. De facto, a transmissão de música faz-se de maneira diferente de como se transmitem dados, mas trata-se na mesma de transmitir "bits". E tem a possibilidade de fazer multiplex a outros serviços. Ou seja, no mesmo bloco, transmitem-se várias coisas: seis programas de rádio agora e um pacote de dados, duas horas depois desdobrar aquilo em dois programas mono, quatro estéreo, surrounds e mais qualquer outra coisa, com alguns com multimédia lá agarrados e outros canais de dados dedicados a aplicações específicas.

9. É um sistema que já está normalizado. Temos normas que descrevem o DAB, nomeadamente a TS 300401, norma europeia, é uma recomendação da ITU, é o único sistema que está proposto e é recomendado pela União Internacional de Telecomunicações, ao contrário de alguns sistemas americanos que andam a tentar vender e que não podem funcionar. Nomeadamente os sistemas de que eles falam são os In Band On Channel, que são sistemas em que no mesmo sítio onde está a emissão de FM colocam por baixo uma portadora digital para terem os dois programas na mesma frequência. Estes sistemas nunca poderão funcionar para recepção móvel. Só poderão, eventualmente, para ter rádio em casa. Nunca poderão servir para recepção móvel, o que não nos interessa.

10. A utilização da codificação do áudio, neste momento, também está normalizada e que na gíria se chama os MPEG's, o 1, 2 e 3, como forma de compressão do sinal de áudio, avaliando psicoacusticamente a audição humana, eliminando as redundâncias que se teria de transmitir, poupando numa relação de 10 vezes a informação transmitida. Portanto só se transmite cerca de um décimo da informação porque essa é que é relevante, os nossos ouvidos não são capazes de ouvir a maior parte da informação contida numa música, por exemplo. Considerando as máscaras psicoacústicas do ouvido humano é que se faz essa compressão, portanto, não se ataca a música, ela não é estragada, o que simplesmente se faz é pôr o sistema a suportar uma relação dinâmica superior à de um CD. Nós estamos a trabalhar com relações dinâmicas da ordem dos 120 dB’s, o que é muito superior a um CD, ou tem capacidade superior a um CD, portanto, o que se avalia é o que se transmite e que apenas são coisas que são perceptíveis pelos nossos ouvidos.

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11. Depois há outras normas internas de distribuição de sinal, nomeadamente STTI, o STI e a própria normalização da saída de dados que está feita. A expectativa aqui, na perspectiva do interesse do ouvinte, é ter receptores com uma saída normalizada de dados que permita facilmente ligar um interface a um computador e usá-lo como um display de uma página multimédia ou de uma imagem ou de um som, de uma configuração que esteja a ser transmitida via DAB.

12. Em termos de diagrama de blocos, globalmente, o sistema divide-se:a) Um conjunto de equipamentos que admitem a entrada de áudio, do programa sob a forma sonora. Estes equipamentos físicos, além do áudio, já têm uma entrada para dados associados aos programas. Portanto, trata-se de áudio e de dados agarrados ao programa: o nome da música, textos relacionados com o programa ou não, mesmo algumas aplicações multimédia, em que a maior parte delas vão migrar agarradas a estes equipamentos.

b) Mas há outros equipamentos que se poderão eventualmente encarregar da transmissão de dados. Aqui já não se trata de áudio mas da criação de canais de RDIS, tipo Telecom, e que é um canal de dados em que se pode pendurar um computador de um lado para transmitir e no outro terminal um computador a receber.

c) Depois disto tudo, existe uma unidade única, o multiplexador, que é o equipamento que vai pegar nestes dados todos e vai compor uma stream única com os bits todos colocados, cada um pertencente aos seus serviços. Uma informação digital, um bit, pode pertencer à música, o outro pertence a um canal de dados, que não vêm por pacotes, mas no interleave de tempo, dessincronizadamente, ao longo do tempo, numa frame contínua.

À saída do multiplexador gera-se uma frame de 2 Mbits, daquelas que se podiam pôr na rede Telecom convencional, que esta a ser mandada pela rede própria de feixes da RDP até aos emissores.

d) Do lado dos emissores, temos a outra componente essencial ao funcionamento do DAB que é o COFDM que trata da modulação digital, da resolução das redes de frequência única e da possibilidade do receptor ir recebendo vários emissores ao mesmo tempo, considerando-os todos a somar no receptor. Ao contrário do FM, em que cada receptor conta apenas com um emissor como contributo. Em DAB o que acontece é que um receptor pode estar a receber vários emissores ao mesmo tempo com ganho adicional desses contributos e, inclusivamente, contando com que as próprias reflexões nas paredes ou nos obstáculos mais diversos se tornam num ganho do sistema, ao contrário do que acontece com o FM. Em DAB há ganhos aditivos da rede, pelo que as reflexões nos obstáculos ou a recepção de um emissor distante podem ser considerados como ganhos aditivos. Simplesmente, este COFDM tem de estar um em cada emissor porque a ligação a 2 Mb que sai da origem, o que vai para o ar à saída da frame do COFDM já tem 2,4 Mb, portanto, bastante mais larga do que o que poderia ser transmitido nas nossas ligações normais da Telecom. Assim, os sistemas não eram capazes de transmitir 2,4 Mb, o que

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forçaria a recorrer à layer a seguir, de 8 Mb, que ficava muitíssimo mais cara. Daí que seja muito mais barato pôr um codificador destes em cada emissor.

e) Também é muito importante aqui, em termos de funcionalidades adicionais, estes dois módulos que representam a configuração do serviço, jogando com parâmetros e definições dentro do multiplexador e a geração de funções associadas aos programas e a definição daqueles pacotes todos feitos à custa de funções que estão já todas tabeladas e numeradas (por ex., a nº 19 é a função data/hora). O rádio pega nessa informação, descodifica, vai buscar o que lhe interessa das componentes que estiverem a ser recebidas, etc..

13. Em termos da rádio o que vai acontecer é que até aqui nós tínhamos as rádios que eram donas dos seus próprios meios, eram service providers, donos do emissor, donos dos próprios sistemas de distribuição, porque tinham um feixe para transmitir o programa do estúdio até ao emissor (no caso das locais, muitas vezes, o emissor está junto aos estúdios). Agora com o DAB a situação altera-se completamente. De facto, é um sistema em que se podem juntar, em princípio, seis operadores, porque o sistema suporta seis programas de rádio no mesmo emissor. No caso das rádios locais, por exemplo, vão ter de juntar-se seis no mesmo bloco. Isto pode significar que, provavelmente, já não se está a falar de um emissor mas de "seis emissores" porque uma rádio está no Entroncamento, outra em Torres Novas, etc., e então já não é uma rádio local com um só emissor mas numa rede de frequência única de cobertura extra local. Este é um tema que vai tornar esta situação muito complicada e obrigar a grandes reflexões no panorama das rádios locais actuais e que vão ter de proceder a fusões, a associações de alguma forma, porque, não há outra maneira de fazerem face aos custos e também ao ambiente em que vão ter de trabalhar.

a) De facto, nesta situação, intercala-se o conceito de um service provider, um fornecedor de serviços, que, no fundo, é a estação de rádio, alguém que faz a música, alguém que tem PAD's, que são dados associados aos programas, injectados pelo próprio service provider. O fornecedor de serviços encarrega-se de meter música e os dados que lhe interessam. A RDP, enquanto proprietária do sistema, não tem nada com isso do ponto de vista de operador de rede. A Antena 1 funciona como um service provider tal como a RFM ou a Rádio Renascença. Aparecem todos, do ponto de vista do DAB, como fornecedores de serviços que estão a montante do próprio sistema. Mas também temos de considerar a existência de data providers, entidades que terão aplicações de dados especiais, que já não têm nada a ver com música e que vão precisar de equipamentos especiais nos quais injectarão o seu canal de dados e que são, obviamente, descodificados pelo sistema, do outro lado. b) Surge o conceito do operador do ensemble, coisa que não existia antes. Tem que haver alguma entidade que tem de pegar nos dados todos, empacotá-los numa só frame, num só bloco, e tem de ser responsável pela gestão desse próprio ensemble. Além de que, em muitos países, esta entidade, o operador de ensemble, é diferente e não tem sequer funções de service provider. Pode ser uma telecom. No nosso país não é esse o caso, mas em muitos países este operador é uma empresa diferente das que fornecem programas de rádio.

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Chega a introduzir-se, em alguns países, o conceito de operador de rede, que pode ser outra entidade. Portanto, podem envolver-se cinco ou seis entidades nesta organização funcional. Um service provider podia ter subalugado a alguém a transmissão de dados que pode entrar juntamente com o áudio e transmite para o operador do ensemble que, por sua vez, empacota tudo isto, transmite por um distribuidor de rede e, depois, faz chegar essa informação a um operador de rede que é uma outra entidade. Isto pode dar origem a organizações muito complexas.

c) No caso da RDP, ela é responsável por isto tudo. A RDP é service provider nos 3 programas nacionais (Antena 1, Antena 2 e Antena 3), é operador do ensemble (dona do multiplexador), e dona do sistema de distribuição (os feixes hertzianos), com excepção da ligação por satélite para as ilhas.

14. Em termos da codificação áudio, temos o MPEG 1 e 2. O MPEG 1 layer 2 que é o que se usa aqui, permite transmitir programas de voz, com muito pouca capacidade atribuída, com muito boa qualidade, de quase alta fidelidade. Um dos objectivos do MPEG 2 era também fazer multichannels e fazer surround. São áreas em que a RDP também está muito interessada relativamente aos dados associados ao programa áudio. É o controle automático de ganho, particularmente importante para a recepção em automóvel. Se o carro for a grande velocidade, o barulho do motor aumenta e tem que aumentar o volume do receptor, portanto há fenómenos que entram em interacção com o próprio automóvel. Para além de que, muitas vezes, é o próprio conteúdo do programa que, à nascença, nos obriga a taxas de compressão muito elevadas para que depois, do outro lado, se possa ouvir sempre a música. No caso da Antena 3, usam-se taxas de compressão muito altas, dadas as características da sua programação. Obviamente, na Antena 2 já não se pode fazer isso.

Imagine-se uma situação em que se ouve num carro a 80 Kms por hora um programa de música clássica que a certa altura tem um pianíssimo durante dez minutos. Estas ponderações têm de ser analisadas. Aqui tem de se contar com esta funcionalidade que é o controle automático de ganho que representa a possibilidade de, à distância, o emissor poder controlar automaticamente o receptor para que ele aumente, sem intervenção de ninguém, os níveis de recepção de acordo com o programa que está a ser transmitido.

15. Além de se poder transmitir texto dinâmico, fazendo uma espécie de rádio-texto para ser descodificado em ecrã ou em displays de texto ou com painéis de plasma que é possível pôr no pára brisas (e falta saber se, por razões de segurança, isto vai ser permitido). Também se considera a possibilidade da comutação música/palavra e as possibilidades multimédia agarradas aos PAD.

16. É também crítica a possibilidade de se ajustar dinamicamente o multiplexador, de ser possível ajustar a configuração em tempo real. Ou seja, chegar a um codificador, alterar todas as suas componentes, desdobrar aquilo tudo e dizer ao multiplexador que aquilo tem de ser empacotado doutra maneira. E, a partir daí, o receptor tem de reagir de uma forma automática a essa reconfiguração.

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O que acontece é que no receptor, em vez de ter lá 6 programas, se o ouvinte carregar mais uma vez na tecla, vão-lhe aparecer mais programas naquele momento mas, se carregar umas horas depois, já não lhe aparece nada outra vez. Isto tem a ver com reconfigurações dinâmicas do multiplexador com novas componentes que podem entrar e sair. Pretende-se então que essa comutação seja silenciosa no receptor. Isto é muito complexo tecnicamente porque o receptor demora muito tempo a sintonizar. O que faz, por exemplo, com que a comutação automática para FM/RDS, no caso de faltas de cobertura DAB, ou no caso da percentagem de erros em DAB ser muito alta, permita ao receptor saltar para um programa similar em FM. O problema é que os fabricantes de auto-rádios não o querem fazer porque o tempo de comutação de DAB para FM é rápido mas o inverso, de FM para DAB é muito longo, porque a frame de DAB que está a passar tem muitas coisas penduradas até que o receptor consiga adquirir a informação relevante, por exemplo, referente ao programa Antena 1. Até conseguir reunir todos os bits que pertencem à Antena 1, pode demorar vários segundos. Em zonas de percentagem de erros elevada, o receptor tem de fazer mute, cortar o som da saída, porque vai ter que captar coisas que façam sentido para aquilo que a pessoa quer ouvir. No fundo, vai tudo agarrado no mesmo pacote, mas o receptor só lá vai buscar as componentes que dizem respeito ao programa que a pessoa seleccionou.

17. O sistema permite redes de frequência única que é o que também vai acontecer em relação às rádios locais, o que obriga a configurações muito mais avançadas tecnicamente do que pôr simplesmente o emissor ligado a um fio. A rede de frequência única levanta problemas de sincronismo entre os vários emissores que são muito difíceis de validar e de prever. No caso dos sincronismos vamos ter de aplicar atrasos diferentes a cada emissor. A RDP tem uma rede de frequência única em Lisboa (Monsanto, Arrábida e Montejunto) em que o emissor de Monsanto está atrasado 90 micro segundos em relação ao da Arrábida porque o sinal pelos feixes chega mais cedo a Monsanto do que ao emissor da Arrábida que está 40 Kms a sul. Portanto, teve de se fazer a compensação do atraso na própria rede de distribuição. Quando temos uma rede complexa com uns cinquenta e tal emissores, isto é um tema muito complexo porque emissores estratégicos como o da Lousã, com 600 ou 700 Watt, se fosse ligado sem correcção, ele poderia vir prejudicar a recepção no Porto. Portanto tem de se jogar bem com os atrasos dos emissores de maneira a que não torne o emissor da Lousã subtractivo, não venha perturbar, a recepção na zona do Porto, o que faz com que uma rede em DAB não se possa considerar como o FM, mas como uma teia complexa de calibração destes equipamentos todos. Esta questão do sincronismo é um tema tecnicamente muito avançado e complexo. A RDP é o operador na rede T-DAB nacional no bloco 12 B, frequência que usamos na banda III. Chama-se 12 porque era um canal de televisão que nunca foi usado e B porque se pegou em todo o canal e subdividiu-se em 4 blocos de 1,5 MHz para um programa DAB. Portanto estamos a usar o 2º bloco do canal 12 que foi atribuído na Conferência de Wisbaden como bloco nacional para Portugal. Para além disso, há 12 A, 11 C e 11 D, por exemplo, para blocos regionais. Para sintonizar a rede DAB usamos a sintonização GPS e nas estações mais estratégicas vamos instalar receptores com bases/tempo de rubidium como forma de suplência à falha do satélite. Isto é, mesmo que falhe o satélite, a rede fica

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sempre operacional. É ao GPS que vamos buscar, neste caso, informações de tempo (e não de localização) porque o satélite tem picos de 1pps (um pulso por segundo) extremamente estáveis e é com eles que nós sincronizamos a rede.

18. Existem receptores disponíveis no mercado. Uma vez que estes receptores são caros porque são produzidos em pequena escala, os radiodifusores estão claramente à espera que muito rapidamente sejam postos no mercado pelo menos auto-rádios para as pessoas começarem a comprar. Isto faz com que estejamos atrasados em relação às previsões do projecto Eureka cerca de três a quatro anos, que apontavam para 2005 a existência de cerca de 20% de receptores no mercado.

A Tecnotrende, a Bosch e a Roke Manor são empresas que fazem umas placas de PC para ouvir rádio em DAB. A primeira que nós comprámos custou-nos 200 mil escudos (1000 Euros), mas já existem por menos de metade do preço e é uma forma barata de receber multimédia.

Como conceitos em termos de DAB é necessário aceitar que teremos áudio, o que implica atribuir a cada programa ou a cada serviço, a cada rubrica a capacidade de transmissão estritamente necessária à qualidade daquilo que está a ser transmitido. Porque há aqui uma coisa que é básica, o DAB tem uma grande capacidade de transmissão mas que acaba por ser muito escassa porque nós queremos meter lá muitas coisas. Há aplicações que vão para o DAB com menos capacidade do que a que dispõe no RDS.

Fora dos dados associados ao áudio o sistema comporta a transmissão de dados em modo stream, portanto em transmissão contínua, ou em modo de pacote (package) que é quando há uma informação a transmitir, transmite-se e a seguir o canal fica em vazio, o que significa que pode dar lugar à existência de mais do que uma aplicação no mesmo canal de dados, desde que não haja colisões em termos temporais.

19. Na Internet tem-se assistido a muitas discussões sobre o que a rádio vai fazer no DAB. Um exemplo é o pay per listen em que parece que as pessoas se esqueceram do que é o DAB. O DAB é um meio de multidifusão unidireccional, ou seja, transmite-se de um emissor para um número indefinido ou indeterminado de receptores e não tem hipótese nenhuma de receber ordens via DAB de qualquer receptor. Isto é, qualquer sistema que obrigue a bidireccionalidade terá de ser sempre um sistema assimétrico. Isto implica que teremos de usar sistemas assimétricos envolvendo GSM, o telemóvel ou rede pública de comunicações para fazer chegar qualquer informação do ponto de vista de algum receptor por forma a que seja possível transmitir dados para esse receptor. O DAB não tem bidireccionalidade.

Não é possível pensarmos em sistemas de navegação em que o DAB vai transmitir um mapa com um acontecimento de tráfego. Os sistemas de navegação é que têm de ter os mapas residentes no interior dos auto-rádios. O que nós fazemos é transmitir números que valem por um acontecimento de tráfego que é o que já se está a fazer com o RDS TMC, em que se transmitem dois números que valem por um acontecimento de tráfego, por exemplo,

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acidente na auto-estrada do norte ao quilómetro 92. E vão só dois números porque os mapas e os textos e as conversões para forma de texto são feitas dentro dos auto-rádios pelos receptores de navegação. Não podem ser transmitidos. Imagine-se o que seria num determinado momento haver 4 ou 5 acidentes e o tempo que demora a transmitir um mapa, uma imagem. Não dá.

Os comunicadores de rádio e as possibilidades do DAB

Para além dos engenheiros quis também incluir no grupo de discussão profissionais que nos pudessem falar sobre os conteúdos que vão aproveitar essa inovação. Álvaro Costa, então realizador da Antena 3 (actualmente na Rádio Nova) e antigo apresentador e autor de programas de televisão, demonstrou ser um profissional de rádio atento à realidade digital e assina, semanalmente, um artigo sobre Rádio Digital no Diário de Notícias, aos sábados. Achei que devia dar destaque especial à sua intervenção.

1. Aquilo que posso dizer é que estamos num mundo de profunda transição. Julgo que este programa terá dez anos para se implantar. Eu faço a pergunta a mim próprio muitas vezes: qual é o papel do comunicador no futuro? Vai ser hiper expert especializado? Vai ser um comunicador de hipermédia? Vai ser um comunicador técnico? São questões muito interessantes e algumas propostas de rádio que tenho feito na RDP, e de uma forma muito modesta, já incorporam essa ideia. Procuro informar-me tecnicamente, conversar com algumas pessoas que, no fundo, fazem parte de uma equipa. Os comunicadores do futuro que estão nesta sala vão ter de ter a humildade de se rodearem de pessoas que tecnicamente serão certamente muito úteis.

Outra questão que me coloco e que talvez não tenha resposta é como alimentar este monstro? Um monstro muito esfomeado de conteúdos que teremos de alimentar. Há uma questão que tenho abordado nos últimos dois anos que é a da webradio que em alguns aspectos já terá avançado. O Eng.º Magalhães referia a ideia de que o DAB não é propriamente uma panaceia universal e a igreja de todas as verdades. O DAB tem um bocado a ver com todas aquelas características que me disseram há uns anos atrás: a rádio não morre enquanto houver automóveis e computadores. A perspectiva dos engenheiros é de melhorar, de aumentar a fidelidade e a capacidade de recepção. O escalão etário dos jovens é muito mais sensível ao sortilégio do digital, do bom som, da qualidade, do rigor áudio-estético do que gerações anteriores para quem som já era suficiente. Portanto os comunicadores do futuro e todos nós, nesta altura de mudança, o somos, não podemos dizer que tudo o que aprendemos é para deitar fora. O que entendo é que estamos todos a começar de novo. Compete-nos a nós, comunicadores, reflectir, aprofundar todas estas questões que se colocam.

2. Do ponto de vista da minha experiência de ouvir rádio na web, na Internet, disponho de números americanos, mas que se podem também aplicar ao que está a acontecer no resto do mundo. Estudos científicos e muito sólidos

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indicam que nos últimos meses a audiência radiofónica duplicou em apenas seis meses. E dobrou por questões de facilidade, ou seja, o espaço de audição aumentou, hoje é mais fácil ouvir rádio. E há aqui o aspecto excitante de as pessoas terem certas dificuldades tecnológicas e quanto mais fácil for carregar num botão e termos os canais que pretendemos, sejam áudio, sejam audiovisual ou multimédia, mais facilitada está a comunicação. Não há por parte desta audiência que dobrou a audição na Internet uma procura religiosa. Eu acho que as audiências procuram qualidade, bom som, rigor, procuram alta fidelidade.

3. Parece-me que o exemplo da web será interessante. Porque começo por notar que empresas como a BBC começam a transferir para a área os chamados porters da Internet, ou seja, começam a fornecer serviços, começam a fragmentar-se. A Radio ONE, que é um belíssimo exemplo da BBC e que corresponde à nossa Antena 3, tem já alguns programas autónomos, fragmentos de emissões, momentos de rádio que não existem no tempo real. Isto são ideias muito interessantes para aplicar no futuro. Alguns comunicadores têm emissões praticamente autónomas na web. Ou em fragmento, ou em pequenas conversas. Por exemplo, os locutores da Radio ONE, em Dezembro de 98, gravaram um texto com áudio a propósito das suas apostas para 99. Esse texto áudio, com imagem, com texto e com aquilo que nós chamamos comunicação rádio não foi ouvido no formato tradicional, portanto, quem sintonizou a Radio ONE não escutou este pedaço. E parece-me ser uma ideia muito interessante para o futuro que é a de estações como a RDP se fragmentarem, de criarem produção autónoma para os vários canais que vai ser necessário alimentar de conteúdos. Neste aspecto parece-me que o futuro é brilhante e que estamos de novo numa fase excitante. Aqueles que têm a paixão da rádio, como nós que aqui estamos, não direi que é uma vingançazinha em relação à televisão, mas é, de certo modo, reequilibrar as forças em presença. E voltar a entender que aquilo que conhecemos como rádio vai de novo tomar um espaço essencial na difusão de cultura e de entretenimento.

4. Parece-me que esta grande perspectiva dos comunicadores, nesta altura, é de transição, de alguma preocupação que é necessária e, acima de tudo, a necessidade de uma enorme humildade. Eu próprio tenho vindo a reflectir sobre qual vai ser o meu papel no meio disto tudo. Porque acredito que, apesar do avanço tecnológico, e de toda esta maravilha que nos foi apresentada, não há comunicação sem o sentir humano. Podemos ter as melhores cabines, os melhores microfones do mundo, enfim, os melhores equipamentos, mas se não houver talento, se não houver suor, se não houver inspiração creio que não acontece comunicação. E quero deixar claro como comunicador que acredito que a tecnologia pode ser fundamental para a nossa evolução, para melhorarmos o nosso trabalho, para atrairmos mais audiências (porque é essencial que elas existam) e, portanto, a tecnologia vai servir como instrumento, não é o ponto de chegada, é o ponto de partida. E compete-nos estar prontos para estes desafios.

5. Exemplos concretos de canais que poderão surgir e alimentar esta multiplicação de hipóteses em DAB. Porque não um canal de rádio-conversa,

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dirigido para uma região 24 horas por dia? Porque não um canal de rádio-teatro? Tem-se notado na Internet a recuperação dessa coisa mágica que é o rádio-teatro. Obviamente que terá de ser um rádio-teatro para o séc. XXI, com outro conteúdo, quase com som multidimensional, com surround. Porque não uma rádio completamente ligada ao desporto? E até algumas vezes fragmentada e dirigida para interesses regionais. Os relatos, às vezes, são aborrecidos, porque não fragmentar a programação? As ideias são muitas e o futuro é ilimitado. Pode pensar-se também num canal audiolivros. Há um canal muito interessante na web que tem a ver com a leitura de textos de livros. Obviamente com a ajuda de textos e imagens. Por exemplo, há um canal com nomes da ficção científica a lerem os seus livros, portanto, a criarem momentos de comunicação notáveis.

6. Parece que nesta fase há que, acima de tudo, dar uma ideia muito positiva e muito vibrante, mas há um "aviso" que se deve deixar: hoje trabalha-se muito mais do que há meia dúzia de anos. Até porque há uma questão essencial que é afastar a ideia do comunicador num "altar" a falar para os seus "súbditos". Hoje em dia, tudo isto se esbate na ideia de que o acesso às fontes de informação é muito mais democrático. Ou seja, qualquer um pode ter acesso às informações que o comunicador também dispõe. Há sete ou oito anos atrás, o comunicador teria um acesso muito mais privilegiado às fontes. Toda esta tecnologia digital vai também exigir inclusão. Dentro das muitas possibilidades que a RDP oferece, tem-se procurado criar emissões chamadas on line, em que os ouvintes funcionam ao mesmo tempo, fazem perguntas. Ainda ontem tivemos um convidado internacional na nossa emissão nocturna, em directo, durante uma hora e o auditório on line participava com questões numa ideia, que não é ilusória, de inclusão. Portanto, o comunicador moderno tem também de perceber que o seu auditório hoje estará muito bem informado e às vezes, até está melhor informado do que nós. Há tempos fez-se uma especial sobre um grupo essencial dos anos 90, Massive Attack, e houve alguém, por correio electrónico, que referiu que eu não tinha passado os singles x, y e z. Isto porque essa pessoa pode ser um "meta-especialista" em Massive Attack, enquanto que o comunicador tem de se "especializar em tudo"… Daí que o volume de trabalho, hoje, seja muito superior se não se quiser fazer má figura. Portanto, por um lado temos um futuro brilhante, activo, criativo onde a rádio vai voltar a ocupar um lugar não subalterno em relação à televisão que, na minha opinião, é talvez o medium que mais tem a perder com esta revolução digital. Por outro lado, vai obrigar-nos a suar e muito as camisolas e a perceber que no futuro o auditório terá de ser incluído e não exclui-lo do processo comunicativo.

7. O Eng.º. Mascarenhas intervém para pegar no que disse o Álvaro Costa, e fazer três observações sobre o medo das tecnologias, a necessidade de humanização da rádio e os problemas de desfasamento do tempo na rádio on line.Primeiro, não há que ter medo das tecnologias. Isto são coisas altamente complexas. Não são os comunicadores que têm de perceber dos MPEG’s e dessas coisas todas complicadas. Só têm de saber utilizar estas possibilidades, saberem o que é que está à sua disposição e ter ideias para as utilizar. E o que importa é fornecer, por exemplo, nestes canais associados ao programa, e em

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simultâneo com o áudio informação adicional que seja interessante para ouvinte. E que podem ser as coisas mais diferenciadas, a capa do disco, dados sobre o cantor, sobre a família, o que vocês quiserem. Mas são informações que não têm necessariamente de ser dadas pelos comunicadores e aí o Álvaro Costa tem razão quando diz que todos nós hoje trabalhamos muito mais do que há uns anos atrás. Por variadas razões e um dos culpados é o computador. Porque passámos a ser escravos do computador. Nós hoje somos vítimas das ferramentas de alta tecnologia que temos à nossa disposição e que são de alta velocidade e que, portanto, estão um pouco para além da nossa velocidade de cruzeiro que é a própria do homem. Em segundo lugar, uma questão que os estudantes de comunicação social têm que pôr e que é não desumanizarem a rádio. A rádio não pode ser apenas uma sucessão de botões e coisas esquisitas, ela tem que continuar a ter pessoas por trás dessas tecnologias. E é aí que o Álvaro Costa tem razão, a rádio continua a ser pessoas. Podemos gostar muito dos computadores e disso tudo, a RDP também tem dispositivos para automatizar os programas, mas gostamos é dos programas ao vivo, feitos por gente. O ouvinte tem de perceber que o cidadão está do outro lado ao mesmo tempo que ele vai a conduzir o seu carro ou está a fazer a barba de manhã. Senão aquilo soa a falso, o que é uma coisa que não agrada a ninguém. O ouvinte está motivado para recusar aquilo que é automático. Gosta-se de ouvir rádio viva, directa, no momento.Outra questão que é a do auditório on line. Estas novas tecnologias, conforme tiveram já oportunidade de apreciar, trazem-nos problemas complicados. Uma rede DAB comporta um atraso entre o momento em que o locutor fala e o momento em que o ouvinte escuta e que pode andar na ordem dos 3 ou 4 segundos.

Álvaro Costa interrompe para contar que num destes dias foi feita a experiência na emissão on line que tem semanalmente. Ouviu-se a si próprio passados 10 segundos, que era o atraso da viagem do som. Estava completamente alucinado porque aquilo que tinha dito há 10, 15, 20 segundos estava a entrar de novo nos seus auscultadores. E era do sul da Europa porque, se calhar, na América do Norte ou na Ásia ou na África, estaria bastante mais atrasado.

O Eng.º. Mascarenhas pegou no exemplo da televisão e das comunicações via satélite em que se assiste ao locutor de estúdio a falar com o correspondente na Bósnia ou Nova Iorque e acabar de fazer a pergunta e o outro do outro lado permanece calado. As pessoas não percebem porque é que ele não fala, mas o que acontece é que ele ainda está a acabar de ouvir a pergunta. Só depois é que fala.

À parte estas questões, que são problemas, para já, insolúveis, o que interessa é que os alunos, quando começarem a trabalhar, não julguem que vão deixar de estudar. Porque vão provavelmente ter que estudar bem mais do que estudam hoje. O Álvaro Costa já fez referência a isso e o José Luís Magalhães também diz com frequência que já tem “os fusíveis fundidos” e que já não tem neurónios que cheguem para esta coisa toda. De facto, nós já temos mais de 50 anos, podíamos ser pais de alguns de vocês e no tempo em que andámos na Universidade, não aprendemos nada disto que vocês aqui ouviram. Nem

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parecido. O estudo posterior é fundamental, ao mesmo tempo que se tem de trabalhar nas outras coisas. Há que não perder de vista que a formação é contínua e é, sobretudo, da responsabilidade do indivíduo. Não temos de ficar à espera que os outros nos venham ensinar.

8. O Professor João Palmeiro disponibilizou então os últimos resultados de audiência de rádio em Portugal. Trata-se do estudo mais desenvolvido de todos quantos se fizeram no nosso país. Ficou a saber-se que quase 58% dos portugueses maiores de 15 anos ouve rádio mais de três horas por dia, o que corresponde a cerca de seis milhões de pessoas.

9. O professor e antigo profissional, Fernando Mauia, interveio para clarificar que é possível, por exemplo, estar a transmitir um relato de futebol, esmaga-se o relato porque não precisa de tantos bits como a música e abre-se um espaço para transmitir um programa de música ao mesmo tempo. Quem gosta de futebol fica a ouvir o relato, quem não gosta, carrega na tecla e fica a ouvir música, continuando na Antena 1. Quer dizer, a estação não perde ouvintes, fragmenta-se para vários públicos.

10. O Eng.º. Magalhães concordando com esta solução, aportou um esclarecimento em relação a ser uma exigência do sistema, por questões de qualidade, que se trabalhe em banda larga, ou seja, o espectro de frequências é muito mais largo do que o que ocupa o FM. Usa-se 1,5MHz de largura de banda em DAB enquanto o FM usa 200 ou 300 KHZ, considerando as potências laterais. Teremos que considerar sempre que o serviço móvel só é possível em DAB porque estamos a trabalhar com uma largura de banda de 1,5 MHz. Há componentes espectrais que estão a ser perturbados mas, grosso modo, aquele pacote todo é robusto porque ocupa uma banda larga. Se estreitarmos a largura de banda utilizada, os erros começam a ser significativos e o sistema deixa de poder trabalhar em serviço móvel.

11. O Eng.º. Magalhães informou que na UER o que se fala é admitir começar a descontinuar o FM nunca antes de 2020. Estamos a falar de coisas que, a seguir, se calhar não vão ocorrer. Tal como aconteceu com a Onda Média, o FM não será desligado tão cedo. Talvez nem em 2020. A questão que se coloca, por graça, em 2050 já estamos todos em digital ou não? Estamos com certeza. Mas em 2020 não sabemos.

12. Mónica Alexandra disse que se ouve falar em DAB. Sabe-se que já há emissões em DAB, mas ainda não se vêem receptores em DAB. Esta é uma componente determinante para a existência de ouvintes e para que a comunicação aconteça. O que é que se passa?

Daniel Medina informou que, neste momento, o que se sabe é que há uma intenção de satisfazer 1% do mercado. Isto quer dizer que, se partirmos do princípio que vai haver uma progressão geométrica, semelhante ao que aconteceu com outras inovações tecnológicas, como o computador ou o telemóvel, em 2005 já teremos mais de 50% do mercado servido de receptores DAB. Os cálculos apontam para uma cobertura completa em 2007. Mas, no

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entanto, os receptores que a RDP comprou ainda devem estar a um preço exorbitante. É isso que gostaria de saber.

O Eng.º. Magalhães disse que um receptor DAB sem terminal de dados custou 400 contos (2.000€), com terminal, 700 (3.500€).

O Eng.º. Mascarenhas apontou para o receptor que estava na sala e que tinha sido trazido para demonstrações na Universidade, custou quase 700 contos. Não é um vulgar receptor, trata-se de um topo de gama da Blaupunkt, como é possível qualquer um ter no seu carro. Tem terminal de dados, com o display que é uma peça bastante cara. Para ouvir DAB no carro, não é preciso o terminal de dados nem o descodificador de dados nem o monitor. E isso significa que o produto vem a um preço substancialmente inferior. O que se pensa que está a acontecer é que as coisas andam conforme as pessoas que têm o know-how e o dinheiro querem. E nestas coisas quem superintende na Europa costumam ser os alemães. Houve um atraso no desenvolvimento do projecto DAB na Alemanha que fez com que os fabricantes se retraíssem um pouco. Mas o projecto DAB na Alemanha foi relançado, afastando todas as nuvens negras e espera-se que vão aparecendo no mercado os primeiros receptores completamente integrados.Para além deste, está aí, para vermos e ouvirmos, também um receptor Philips que parece um tijolo, nem sequer tem display e que custou na altura, há seis anos, 800 contos (4.000€) à RDP. Foi uma edição que a Philips fez só para testes. É o receptor de referência do projecto DAB. Foi comprado antes de haver emissores ou licenças porque, quem quer andar à frente tem que gastar algum dinheiro. É por essa razão também que nós entendemos que um projecto desta natureza tem que ser liderado pelas empresas públicas de cada país porque é quem recebe dinheiro dos cidadãos para prestar esses serviços. Não pode estar à espera da perspectiva do lucro porque senão não há DAB.

13. O Professor João Palmeiro lembrou que estavam presentes alunos de Engenharia Publicitária e gente das rádios privadas. Falou-se praticamente só de rádio pública e só lateralmente é que se falou de rádio privada ou de rádio local. Vamos lá supor que estamos na emissão normalíssima e anuncia-se, por exemplo, que “o Pingo Doce está em promoção especial, conheça os artigos e os preços carregando na tecla do seu receptor DAB”. Isto é uma nova exploração para a publicidade. É escusado estar a ler os artigos e os preços, pois é possível remeter os ouvintes para o PAD.

O Eng.º. Magalhães assegurou que tecnicamente é possível. Mas é preciso lembrarmo-nos que estamos a falar de meios unidireccionais, ou seja, um emissor transmite para vários pontos. Se ele quer receber ordens de alguém tem que ter outro sistema, GSM, por exemplo, não o DAB. Mas se é o próprio emissor que, como no exemplo citado, oferece propostas múltiplas, então já é possível no DAB, embora dependa do receptor. É uma boa ideia e é outro caminho para a publicidade. No entanto, há ideias que devem ser desmontadas, como é o caso do pay per listen, ou qualquer coisa que tenha a ver com bidireccionalidade. Num exercício que foi feito com um colega da comunicação social em Lisboa num trabalho de curso, ele foi posto a pensar como é que assegurava o pay per listen com o

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DAB. Como é que se arranja um sistema a pôr as pessoas a pedirem o que querem ouvir e a encomendarem programas à distância? Temos de utilizar um meio de comunicações via GSM, telefónico, etc.. Tem que se pôr o modem3, um computador e algum equipamento que fizesse chegar o pedido a uma central de pedidos da estação de rádio. E mesmo admitindo que era só um a pedir de cada vez, o que não era viável, era muito mais rápido devolver a música pelo próprio canal que estabeleceram do que enviá-lo pelo DAB. Então não preciso de mandar pelo DAB.

14. Álvaro Costa referiu que houve um período em que o DAB parecia que ia explodir e não se passou nada, devido a barreiras económico-políticas que o impediram. Pensa-se que o DAB vai ter vários níveis de receptores como existem telemóveis mais caros e mais baratos com mais ou menos aplicações. Acredita-se que o DAB vai ter um formato standard, a que as pessoas facilmente vão ter acesso. É evidente que haverá diferenças de qualidade e diferenças económicas e de acesso que existem na sociedade. Mas a questão da explosão do DAB está inserida nas grandes questões económico-políticas da realidade mais ampla que é a Europa comunitária.

O Eng.º. Mascarenhas considerou a complexidade de coisas como esta porque é preciso ter em atenção.A terceira geração dos receptores de DAB inclui a possibilidade de localização através do sistema GPS e também a possibilidade de acesso via GSM para receber e estabelecer ligação com a Internet.

O Eng.º. Magalhães chamou a atenção para o facto de andar muita gente a oferecer produtos que parecem muito espectaculares, mas que, bem espremido, não dá rigorosamente nada. Vamos passar uma fase de limpar o trigo do joio. Estamos na fase do folclore das aplicações DAB.

Em termos do crescimento do DAB estamos muito mais preocupados com o facto de rapidamente ser preciso criar mercados DAB. Ao contrário do que aconteceu com o RDS, é muito problemático que os Estados Unidos não tenham aderido rapidamente ao DAB. Só para dar uma ideia: na fábrica da Grundig em Braga 95% dos receptores que produz são para a Alemanha. Ficam cá só 5%. E este atraso do DAB tem a ver com o facto de os alemães terem de absorver a integração do Leste e também com a falta de decisão política por parte dos Estados Unidos em aderir a isto. Porque senão o processo do DAB seria tão rápido como foi com o RDS. Há componentes já integrados DAB da Bosch disponibilizados para os fabricantes de receptores que têm o DAB numa caixa preta, ou seja, se quiserem fazer receptores com DAB, basta acrescentar-lhes aquele componente com uma ligação normalíssima. Ora o RDS demorou dez anos a custar apenas um dólar e meio a dotar um auto-rádio de RDS, ou seja, cerca de trezentos escudos. É um sistema que é único em todo o mundo, único standard que existe na área da radiodifusão para RDS. Ora, não podemos perder a perspectiva de que

3 Modem é a abreviatura de modulador-demodulador. É um dispositivo que transforma os sinais digitais em analógicos e vice-versa. Na informática, representa um equipamento que transforma os sinais veiculados pelas linhas telefónicas analógicas em sinais digitais compreensíveis para o computador, e vice-versa. Esta solução resolve o problema da ligação do computador com o exterior, possibilita o diálogo com outro computador ou a consulta a um banco de dados.

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fazemos rádio para as pessoas. Estar a fazer rádio para o ar é muito bonito, mas temos de ter audiências. Há que pôr as tecnologias ao serviço das audiências porque senão o nosso trabalho não faz sentido nenhum. Ou seja, no caso do RDS, no princípio não havia receptores e houve que esperar um pouco que aparecessem os receptores equipados com RDS. É que não se espere que as pessoas vão comprar modelos de receptores domésticos. Só portáteis. São indicadores que já se conhecem. E mesmo auto-rádios, as pessoas mantêm os seus auto-rádios. Nas listas de compras, não consta a compra de um receptor DAB. Se calhar o que está é quando trocar de carro, esperar que ele já venha com essa tecnologia incorporada. Não se está a ver que vá toda a gente comprar receptores DAB à loja mais próxima. O que nos atribui uma responsabilidade adicional porque não é só com os três programas que estão no ar, que são iguais aos do FM, que vamos levar as pessoas a gastarem, por exemplo, 150 contos (750€) para ouvirem uma coisa que já ouvem bem. Só um número muito simples: a relação sinal/ruído num automóvel a 80 Kms por hora é de cerca de 12 dB, ou seja, por definição, é impossível ter alta fidelidade a bordo de um automóvel a 80 Kms por hora. Porque com um nível de audição adequado dentro de um automóvel, face ao nível de ruído de motor do carro, só tem 12 a 20 dB’s para pôr a música cá em cima. Agora, se se tratar de um concerto sinfónico, temos relações de sinal/ruído, ou relações dinâmicas da ordem dos 60 dB’s, ou seja, não é possível ouvir pianos. Portanto há que adequar o sistema a essas realidades. Com isto quero dizer que é necessário inventar novos produtos para a rádio para a tornar atractiva. Só com a rádio que conhecemos é problemático manter o atractivo. Temos de inventar produtos para dar uso à tecnologia. Mas não é a tecnologia que vai resolver o problema da rádio, ela é apenas um meio para atingirmos os fins de conquista de audiências.

15. Rui de Melo concluiu que primeiro deve estar a ideia e só depois a tecnologia que vai ser posta em prática para aplicar a ideia. É esta a ordem das coisas.Finalmente, é importante lembrar que, cada vez mais se exige, aquilo que o relatório McBride da UNESCO já dizia em 1980, que o jornalista deve ser dotado duma grande formação cultural e de uma grande especialização técnica. Eu alargo o conceito para o comunicador para dizer que cada vez mais é sua grande responsabilidade ter uma grande formação cultural e um grande aperfeiçoamento técnico, que tem a ver com a utilização da linguagem, da palavra, da música, dos efeitos sonoros.

Ilacções extraídas do grupo de discussão

A confirmação e, sobretudo, os esclarecimentos aportados pelo grupo de discussão em relação à investigação por mim desenvolvida podem resumir-se num percurso que arranca da rádio convencional, passa pela rádio em DAB, pelas características dos receptores DAB (e o atraso do seu lançamento no mercado a preços aceitáveis) e termina onde o futuro começa, ou seja, na questão dos novos conteúdos da rádio.

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Resumidamente, podemos concluir do grupo de discussão, e em perfeita sintonia com a investigação por mim desenvolvida, que o DAB apresenta as seguintes vantagens em relação à rádio que conhecemos: 1) Melhor qualidade de som . A rádio em DAB leva a realidade do som até ao

ouvinte, sem os inconvenientes da distorção e das interferências diversas das emissões analógicas. Com o DAB não há qualquer deterioração adicional na qualidade desde o emissor até ao receptor. A inexistência de interferências inclui a resolução do problema com o fenómeno multipath. Enquanto que os receptores analógicos estão sujeitos a interferências provocadas por condições atmosféricas, por acidentes geográficos e algum equipamento eléctrico (produtor de ondas electromagnéticas). Por outro lado, a rede de frequência única resolve o problema da sintonia da estação de rádio da preferência do ouvinte, sempre que tenha de viajar. Em AM e FM, existe a necessidade de proceder a sintonias sucessivas dos emissores de cobertura das áreas geográficas que o ouvinte vai percorrendo, enquanto que, com o DAB, a mesma frequência serve para todos os emissores da rede, e em áreas de sobreposição, o receptor encarrega-se de somar os sinais captados de vários emissores ao mesmo tempo e, portanto, fortalecer a recepção. No mesmo sentido, com o DAB o fenómeno das interferências diversas não enfraquece o sinal, pelo contrário, robustece-o.

2) Novos serviços . A Radiodifusão em DAB dispõe de uma grande capacidade de transporte de informação, o que cria possibilidades de inovação de conteúdos aos radiodifusores e provedores de serviços. A viabilidade de inclusão de dados, texto e imagem pode trazer novas soluções de fragmentação de conteúdos por uma mesma emissora. As possibilidades do DAB são enormes, com a dimensão acrescida de elementos visuais, dados e interacção. O ouvinte pode programar o receptor para aceitar as suas preferências pessoais em programas. Não só é possível ouvir a entrevista com a personalidade cujas opiniões interessam particularmente como vê-lo na tela do receptor de rádio. Informação diversa durante 24 horas por dia em áudio e com elementos visuais. Em alternativa, o ouvinte, para além das notícias da actualidade, pode até, por exemplo, ter acesso aos resultados desportivos do momento. Isto para além de informações específicas sobre o tempo, trânsito, estado das estradas e informação sobre o mercado de acções que até podem ser visualizadas no ecrã do receptor de rádio.

3) A definição progressiva da indústria de radiodifusão . Na indústria de radiodifusão em DAB na Europa ocidental é possível começar a distinguir os seguintes segmentos de negócio:

a) Distribuidores(service providers), provendo cadeias de emissão terrestre, por cabo ou por satélite.

b) Fornecedores de programação (programme providers) que colocam os programas nos respectivos canais.

c) Provedores de conteúdos (content providers) que criam os programas para os fornecedores de programação de canais.

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Algumas organizações, como a BBC no Reino Unido ou a RDP em Portugal, cobrem todos aqueles segmentos da indústria de radiodifusão do DAB.

4) Quanto aos conteúdos, saíram sugestões que vale a pena registar:

a) os locutores da Radio ONE, em Dezembro de 1998, gravaram um texto com áudio a propósito das suas apostas para 99. Esse texto áudio, com imagem, com texto e com aquilo a que se chama comunicação rádio não foi ouvido no formato tradicional, portanto, quem sintonizou a Radio ONE não escutou este serviço acrescentado que foi transmitido como PAD.

b) Um canal de rádio-conversa dirigido para uma ou várias regiões 24 horas por dia.

c) Um canal de rádio-teatro pois tem-se notado na Internet a recuperação dessa coisa mágica que é o rádio-teatro. Obviamente que terá de ser um rádio-teatro para o séc. XXI, com outro conteúdo, quase com som multidimensional, com surround.

d) Um canal completamente ligado ao desporto e até algumas vezes fragmentado e dirigido para interesses regionais.

e) O canal áudio pode fragmentar-se em conteúdos que sirvam vários públicos ao mesmo tempo (música, notícias, debates, desporto, por exemplo).

f) É possível, portanto, estar a transmitir um relato de futebol, esmaga-se o relato porque não precisa de tantos bits como a música e abre-se um espaço para transmitir um programa de música ao mesmo tempo. Quem gosta de futebol fica a ouvir o relato, quem não gosta, carrega na tecla e fica a ouvir música, continuando na Antena 1. Quer dizer, a estação não perde ouvintes, fragmenta-se para vários públicos.

g) Criação de um canal audiolivros.h) Na emissão normal pode anunciar-se, por exemplo, que “o Pingo

Doce está em promoção especial, conheça os artigos e os preços carregando na tecla do seu receptor DAB”. Isto é uma nova exploração para a publicidade. É escusado estar a ler os artigos e os preços na emissão principal, pois é possível remeter os ouvintes para o PAD.

5. Finalmente, concluiu-se que primeiro deve estar a ideia e só depois a tecnologia que vai ser posta em prática para aplicar a ideia. É esta a ordem das coisas.

Portanto, cada vez mais se exige, aquilo que o relatório McBride da UNESCO já dizia em 1980, que o jornalista deve ser dotado duma grande formação cultural e de uma grande especialização técnica. Eu alargo o conceito para o comunicador de rádio em geral para dizer que cada vez mais é sua grande responsabilidade ter uma grande formação cultural e um grande aperfeiçoamento técnico, que tem a ver com a utilização da linguagem, da palavra, da música, dos efeitos sonoros.

4 anos depois - o grande equívoco da rádio pública digital

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Importa agora, quatro anos volvidos, confrontar a realidade da rádio digital, pelo menos, no nosso país.

Se é certo que o plano de cobertura de emissores tem decorrido conforme o exposto no grupo de discussão, já em relação ao desenvolvimento de novos conteúdos ou ao crescimento de hábitos de escuta, nada se passou. Um aspecto está a ser decisivo: a não disponibilidade no mercado de aparelhos de recepção digital. Enquanto no Reino Unido, por exemplo, já há modelos de automóveis a incluírem receptores digitais, tal não se está a generalizar, para já. Aliás, se nos dermos ao trabalho de visitar qualquer estabelecimento especializado ou qualquer hipermercado, não conseguimos ainda descortinar nas prateleiras receptores de rádio digital.

Constata-se, por outro lado, que tem estado a ser descurado o útil papel de democratização da tecnologia digital que a rádio pode desempenhar na sociedade da informação.

Hoje, com a possibilidade de configuração de programas que o DAB proporciona, sectores como a educação, a protecção social ou a ciência, por exemplo, podem explorar afinidades com o sector da produção audiovisual.

A rádio (e a televisão) de serviço público podem assumir aqui um papel de vanguarda.

É legítimo que os cidadãos menos favorecidos se retraiam na utilização de novos serviços electrónicos e da tecnologia da informação em geral, a despeito das vantagens evidentes em facilidade de utilização ou em economia de tempo, por exemplo.

Aqui está uma boa motivação para a rádio (e a televisão) de serviço público fornecer novos serviços que ponham o acento nos pontos de vista dos cidadãos, nos seus interesses, nas suas peculiaridades, nas suas necessidades (expressas ou implícitas).

O serviço público de radiodifusão deve ser entendido como uma via complementar para a transmissão de valores, da língua e da cultura nacionais.

À luz de uma nova ética em função da qual o serviço público de radiodifusão deve devolver à sociedade aquilo que esta lhe tiver dado (pela via indirecta dos impostos ou das taxas); ou seja, o serviço público de radiodifusão, actualmente, deve assumir um papel social.

O serviço público de radiodifusão, baseado exclusivamente na repetição do que se tem vindo a fazer na rádio analógica, está destinado ao fracasso, à contestação e, irremediavelmente, à privatização.

Em seu lugar devem instaurar-se progressivamente novos valores culturais, numa "nova sensibilidade" caracterizada primariamente pelo serviço à sociedade.

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O grande projecto A rádio pública deve aproveitar o DAB para: a) proporcionar um serviço à comunidade social; b) gerar um suficiente valor acrescentado em conhecimento; c) proporcionar aos seus membros satisfação pessoal e aperfeiçoamento humano e profissional d) projectar uma capacidade de auto renovação em permanência.

A rádio digital, assim encarada, assume papel determinante no combate ao analfabetismo tecnológico porque um melhor acesso à informação, implica, necessariamente, o acesso à infra-estrutura global do conhecimento.

Mas o acesso ao conhecimento requer, cada vez mais, uma infra-estrutura de telecomunicações que é inacessível aos pobres. É um fenómeno que não tem a ver com a tecnologia, mas com o desnível, cada vez mais acentuado, entre os info-ricos e os info-pobres.

Temos de ter bem presente que dos 333 milhões de pessoas estimadas com acesso à Internet (aproximadamente 5% da população mundial), mais de 75% vivem na América do Norte ou na Europa, onde se radica 10% da população mundial. Alguns (poucos) países na Ásia e no Pacífico contam com outros 20%. A América latina conta com menos de 5% e a África com menos de 1%.

Na maioria dos países em desenvolvimento, só tem acesso directo às novas tecnologias menos de 1% da população.

É neste contexto que a rádio digital, sobretudo o DAB, pode ajudar a disfarçar o abismo que separa os info-ricos dos info-pobres.

Só a radiodifusão de serviço público pode promover a convergência da rádio tradicional com as novas tecnologias interactivas da comunicação.

O serviço público de radiodifusão digital é o meio mais acessível e mais disponível (quase 100% da população vai ter acesso à rádio em DAB em Portugal). Por outro lado, a rádio vai continuar a ser o meio mais económico e mais flexível.

Até pode haver um final feliz

Um serviço público de rádio tem todas as condições para interpretar o mundo na perspectiva da sua comunidade, com a linguagem e a língua dessa comunidade.

O passado mostra a rádio capaz de se constituir em palco de expressão do pluralismo, dos géneros, das culturas, no respeito pelos direitos humanos e pela participação democrática das sociedades.

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Rui de MeloProfessor da UFP

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