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MUSEUS DE SERGIPE: EXPOGRAFIA E ETNOGRAFIA AUDIO-VISUAL Mara Jane Santos Alves * Graduanda em Museologia pela Universidade Federal de Sergipe Integrante do Grupo de Estudos em Memória e Patrimônio Sergipano (GEMPS/CNPq/UFS PIBIC-CNPq 2013-2014 (COPES-UFS)* [email protected] Prof. Dra. Janaina Cardoso de Mello (NMS/UFS) - Orientadora 1. INTRODUÇÃO Os lugares de memória são espaços construídos para a preservação, conservação das vivências, costumes, práticas de um povo. Faz-se saber que uma de suas relevantes funções é de salvaguardar as identidades cultural e social de uma comunidade. A herança cultural desta, tornando assim, todo e qualquer acervo que se possa perceber, ou de modo mais direto, fazer parte enquanto patrimônio, de propriedade. E quando se tem por determinado lugar, objeto e afins, não há como fugir à valoração: em todo e quaisquer sentidos e sentimentos que suscitem pertencimento, atribui-se valor. E para que este valor seja efetivado e evidenciado alhures, é necessário o registro. O registro que se liga diretamente à memória. Põe-se, a saber, que enquanto lugar que se liga diretamente à memória, o museu tem em sua função social a obrigação de se dispor e mostrar-se agregador. Porém, pode e deve se fazer usos de mecanismos para que esta memória se sustente enquanto função de herança independente de sua vertente: cultural, social... Músicas, poemas, fotografias, filmes personalizam em exemplos os tais registros desde que sejam destinados para o fim proposto. Os museus de Sergipe são em número restrito, e mais restrito ainda é o número daqueles que são famigerados, encolhendo-se em qualificações menores e mantendo-se longe das possibilidades de conhecimento, dada a importância da instituição cultural, que de acordo com a Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, tem como definição: “Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituições sem fins lucrativos

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MUSEUS DE SERGIPE: EXPOGRAFIA E ETNOGRAFIA AUDIO-VISUAL

Mara Jane Santos Alves *

Graduanda em Museologia pela Universidade Federal de Sergipe

Integrante do Grupo de Estudos em Memória e Patrimônio Sergipano

(GEMPS/CNPq/UFS

PIBIC-CNPq 2013-2014 (COPES-UFS)*

[email protected]

Prof. Dra. Janaina Cardoso de Mello (NMS/UFS) - Orientadora

1. INTRODUÇÃO

Os lugares de memória são espaços construídos para a preservação, conservação

das vivências, costumes, práticas de um povo. Faz-se saber que uma de suas relevantes

funções é de salvaguardar as identidades cultural e social de uma comunidade. A

herança cultural desta, tornando assim, todo e qualquer acervo que se possa perceber, ou

de modo mais direto, fazer parte enquanto patrimônio, de propriedade. E quando se tem

por determinado lugar, objeto e afins, não há como fugir à valoração: em todo e

quaisquer sentidos e sentimentos que suscitem pertencimento, atribui-se valor. E para

que este valor seja efetivado e evidenciado alhures, é necessário o registro. O registro

que se liga diretamente à memória. Põe-se, a saber, que enquanto lugar que se liga

diretamente à memória, o museu tem em sua função social a obrigação de se dispor e

mostrar-se agregador. Porém, pode e deve se fazer usos de mecanismos para que esta

memória se sustente enquanto função de herança independente de sua vertente: cultural,

social... Músicas, poemas, fotografias, filmes personalizam em exemplos os tais

registros desde que sejam destinados para o fim proposto.

Os museus de Sergipe são em número restrito, e mais restrito ainda é o número

daqueles que são famigerados, encolhendo-se em qualificações menores e mantendo-se

longe das possibilidades de conhecimento, dada a importância da instituição cultural,

que de acordo com a Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009, tem como definição:

“Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituições sem fins lucrativos

que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de

preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções

de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural,

abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento.”

Ainda na página do IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus), seu presidente,

Angelo Oswaldo de Araújo Santos, discursa de maneira certeira mais uma das funções

do museu: ‘Por meio dos museus, a vida social recupera a dimensão humana que se

esvai na pressa da hora. As cidades encontram o espelho que lhes revele a face apagada

no turbilhão do cotidiano. E cada pessoa acolhida por um museu acaba por saber mais

de si mesma.’ Sabendo e fazendo uso de assertivas como estas, que se corrobora a

constatação de que no Estado de Sergipe, a maioria dos museus é muito pouco

conhecida, principalmente das regiões do agreste ou sertão, assim, conferir visibilidade

a eles é um dos impactos esperados. Atuar como agentes de intercâmbio de informações

sobre os parâmetros de registro junto ao IBRAM e captação de recursos em editais do

Ministério da Cultura (MINC) também pressupõe a moeda de troca com a qual a

pesquisa, intitulada ‘Museus de Sergipe’, lidará em cada instituição. Para tanto, o

projeto de pesquisa em vigor desde agosto do ano anterior, lançou mão de etapas

salutares para concretude deste.

Mapa das áreas pesquisadas.

Fonte: Google

Imagens das Instituições visitadas:

Museu Afro Museu da Música

Foto: Mara Jane Foto: Raphael Reis

Museu Galdino Bicho Museu de Arte-Sacra

Foto: Mara Jane Foto: Mara Jane

No que tange mais diretamente à etnografia audiovisual nos museus de Sergipe

objetivou-se registrar o que cada localidade visitada se dispõe em evidenciar o que para

si são seus pontos de memória, o que eles entendem, como é e funciona a tão falada

herança cultural e mais: o que eles querem que seja registrado disto. Com filmagens,

entrevistas, fotografias, questionários, acumulou-se dados interessantíssimo ao projeto

que objetivou enquanto resultado direto deste trabalho três produtos: um livro, filmes de

12 minutos para cada roteiro, um site.

2. DAS FONTES ANALIZADAS E DA METODOLOGIA APLICADA

Disse VALÉRY (1993): “Não gosto muito de museus. Alguns deles são

admiráveis, mas nunca deliciosos. As ideias de classificação, de conservação e de

utilidade pública, que são justas e claras, têm pouca relação com as delícias.”

É sabido que os museus são lugares para muitos, mas será que pode ser para

todos? Mas como fazer com que sejam se toda e qualquer instituição quando organizada

por um grupo ou determinado cidadão traz consigo anseios, medos, curiosidades,

práticas e sentimentos próprios? Como fazer com que os memorialistas creiam que por

mais que lhe pertença, quando exposto, passa a pertencer a quem possa interessar

acervo cuidado por si? De qual maneira tornar uma instituição que nasceu para ser

própria de uma comunidade, mas por motivos diversos se mantenha alheia aos

interessados diretos e aos que não tiveram a oportunidade do saber, passe a ser

conhecida e mais que isso, seja ferramenta de reconhecimento de histórias e saberes de

todos?

Questões como estas estão em voga desde o primórdio da ciência que estuda os

museus, e simultaneamente a busca para sanar estas dúvidas. Não seria diferente que

elas se fizessem presente na execução do projeto. Muitas não são sanadas, mas

fomentam novas perspectivas e norteiam novas pesquisas dada a subjetividade da área

de ciência com a qual trabalhamos. Fazemos saber, que o supracitado projeto não tem

como intuito apontar gratuitamente o que é certo ou errado em cada instancia almejada

enquanto foco deste, de forma alguma queremos suscitar o desprazer em conhecer mais

amplamente aquela que é apontada enquanto diretriz mais aconselhável para o fazer

museológico: a Museologia.

Num interessante artigo, CASCO (2013) diz que:

‘O sujeito que preserva, que guarda e protege, não é um

expectador passivo, ou um estável funcionário público que metódica e

burocraticamente arquiva documentos, mas é um sujeito apaixonado

e acuado, ameaçado pela perda de algo (ou alguém) que ama, (ou

alguém) que faz parte da sua história e dos traços de sua identidade.

O sujeito que preserva é de certa forma um guerrilheiro.’

Somos catapultados pela autora a nos perceber enquanto agentes diretos da

preservação das experiências nossas e que mesmo que sejam divulgadas alhures,

precisamos continuar a manter a postura em levar para outras instancias sem

descaracterizar o que se quer proteger. É salutar o reconhecimento naquele que

preservou, mesmo sem conhecimento empírico do que estava a fazer.

Desse modo, o trabalho focalizou a relação dos museus com a vida social: os

diferentes significados das instituições para os agentes sociais. A cultura, a memória e

os museus de cada região sergipana, assim como as narrativas expográfica analisadas.

No que tange a etnografia, esta, uma das mais importantes vertentes da

Antropologia (COPANS, 1999; CLIFFORD, 2011), uma vez que é o que se pode

chamar de registro escrito, a chamada coleta de dados em campo, no contato direto com

o objeto de pesquisa via entrevistas gravadas ou filmadas. Pode-se citar, tendo como

aporte, a informação acima descrita: que as instituições com base etnográfica, agregam

em si a memória e a identidade social da comunidade que retrata. Salientando que

muitas das instituições trabalhadas no projeto serão de cunho comunitário, gabinetes de

curiosidade, pequenos memoriais que carregam consigo, bem enraizado, esta pecha

etnográfica.

O autor lusitano, BRANCO (2008, p.53), discorre sobre a função dos métodos

em análises interligando-os aos acervos de museus de identidades locais. Localizando-

se de forma direta no objetivo maior deste e conforme o mesmo afirma:

‘O património etnográfico não é um exclusivo das estruturas

museológicas referidas. Ao sector público junta-se o do

associativismo cultural sem fins lucrativos, onde se incluem os

agrupamentos folclóricos. Quase sempre detêm aquilo que designam

por colecção etnográfica, ou simplesmente etnografia, exposta numa

sala de convívio, destinada a servir de referência e legitimação ao

reportório musical detido. [...] Tanto os pequenos museus, como as

colecções etnográficas referidas são ingredientes insubstituíveis na

fabricação de identidade local.’

E, voltando-se a historicidade que cerceia a origem desta tipologia de museu, o

autor discorre que esta ocorreu devido a migração maciça dos moradores da zona rural,

para áreas mais urbanas, devido a integralização europeia, ocorrida no século passado,

dando fim ao campesinato, promovendo naqueles que mais intensamente viveram este

último, um sentimento de perpetuação da memória:

‘Os museus etnográficos de identidade local não se orientam

para atrair um público forasteiro. Vigora um discurso repetitivo sobre

um passado pautado pela sucessão de ciclos agrícolas. Vista uma

aldeia, conhecem-se todas. Diferem pela casualidade de algum

artefacto de decoração doméstica diferente, doado por algum

residente, que consegue interromper a recapitulação de acervo que

cada um constitui do anterior.’

Deixo evidenciado aqui, que durante a prática do projeto, direcionamos as

análises do que seria a etnografia audiovisual, que neste caso, não se aplica somente à

prática desta vertente antropológica enquanto tipologia de museu, mas não seria

interessante deixar de dar relevância a importância da etnografia aplicada diretamente

no museu. Para tanto, fomos trabalhar na gênese de cada um dos termos que intitula a

etapa do projeto trabalhado aqui. Por isso, há por vezes, no presente artigo um tom de

prolixidade.

No que tange ao audiovisual enquanto registro da memória, podemos citar algo

bem primário, mas não menos valoroso quando ligado à prática etnográfica, fazendo uso

de uma assertiva de COUTINHO (2006):

Grande parte do uso que fazemos da linguagem, essa que

usamos para expressar por meio da fala e de uma língua, no nosso

caso o português, é para relatar fatos, contar histórias narrar desde

os acontecimentos mais corriqueiros – hoje eu vi Maria chegar – aos

mais complexos: discursos e conferências muito elaboradas.

De acordo com POLLOK, a memória, antes de mais é próprio do indivíduo, mas

a mesma, quando justaposta ao coletivo, promove uma interessante possibilidade para

construção da oralidade no cerne de histórias de vidas. Sabendo que nossa memória é

pontuada por seres icônicos, repleta de histórias contada por outro, que a contou para

aquele, que ouviu deste e a partir de então deixou de ser propriedade de um, para

pertencer a todos a quem desperte tal sentimento. O ver, o ouvir, esse trabalho sensorial,

torna mais fácil a difusão de tais memórias. Trabalhar os sentidos em prol da

permanência da memória.

Os estudos, as pesquisas, o trabalho etnográfico acerca das instituições

culturais no estado de Sergipe, realizados pelos envolvidos no supracitado projeto,

visam, além de deter o reconhecimento das supracitadas, a divulgação destas alhures.

Para tanto, sempre que possível, olhar e encaminhar as discussões para vertentes no que

tange o comportamento da comunidade em determinados lugares. A sensação de

pertencimento, ou simplesmente como elas se sentem ou sentem estes. Como estão,

também, voltados estes espaços para o público.

Faz-se saber, no entanto, que não somente o museu, enquanto lugar tido fechado,

com monitores, acervos e tantos outros aparatos que nos saltam à lembrança quando

nele falamos, é detentor de todas estas práticas referentes à memória, nem tampouco à

noção de pertencimento. Toda esta carga de informações e, talvez, prolixidade, se dá a

fim de nortearmos nossos estudos, neste momento, no que seria o lugar e o não-lugar.

Queria-se como enfoque, perceber as práticas museais num espaço altamente comercial

e altamente visitado por diversas pessoas. A teoria do não-lugar não poderia ser

discutida sem referenciar Marc Augé, no seu trabalho intitulado “Não-lugares:

Introdução à uma Antropologia da Supermodernidade”, além de outros textos

produzidos por autores de diversas áreas de pesquisa que utilizaram o viés do referido

autor. Faço uso de SÁ (2006) quando explicou os usos de Augé ao criar seu trabalho:

[...] “O espaço da sobremodernidade, esse, é trabalhado pela seguinte

contradição: só conhece indivíduos (clientes, passageiros, utentes,

ouvintes), mas estes não são identificados, socializados e localizados

(nome, profissão, local de nascimento, local de residência) senão à

entrada e à saída.”[...] estamos sempre sós sem disso termos

consciência, porque há um conjunto de atos mecânicos que ‘temos que

cumprir’[...] esses atos põem-nos em contato com os outros, sem de

facto estarmos com ninguém. (SÁ apud AUGÉ, 2006:182)

Durante as reuniões, viu-se como este tema, ainda pouco trabalhado, haja vista

que o texto fora divulgado em 1992, rende uma celeuma de discussões que tendem a

acrescentar e fomentar o meio acadêmico por ser, óbvio, amplo, mas principalmente,

por requerer embates que promovam discordâncias do estabelecido. Enfim, um tema

valioso, sem dúvidas.

O projeto teve como métodos para concretizar os objetivos: discussões de textos

próprios de cada etapa deste para reconhecimento de teorias acerca de patrimônio,

memória, representação, relações de poder, legislação entre outros, em reuniões

regulares, com solicitação de resenhas e fichamentos para embasar as práticas das

teorias estudadas. Neste interim, a produção de um questionário com perguntas de

cunho geral a ser aplicado em cada instituição visitada a fim de promover um

conhecimento da instituição visitada e analisada, além do conhecimento destas ao

projeto e seus objetivos centrais.

Assim a equipe concentrou-se nas visitas técnicas às instituições no entorno

além da capital – faltaram à época algumas desta região que demandou um tempo maior

por questões burocráticas, dos interiores. Em todos, seguiu-se o mecanismo usado

anteriormente; entrevistas filmadas, áudios (percebeu-se nesta etapa uma solicitação

maior de áudio por parte dos entrevistados) e fotografias foram realizados e transcritos.

3. DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES

Seguindo o plano de execução do supracitado projeto, as atividades concernentes

ao mesmo, tiveram inicio em meados do mês de agosto do ano anterior. A orientadora, a

profº drª Janaina Cardoso de Mello, detalhou em reunião inicial a função de cada um no

projeto, recomendando enquanto leituras iniciais para discussões nos futuros encontros

algumas produções textuais. A equipe, depois de diversas discussões e planejamentos,

deu início às visitações. Várias foram as instituições visitadas, mas consideramos de

grande valia, as instadas a seguir. A primeira, fora a cidade de Divina Pastora, situada

no Leste do estado. Nesta foram entrevistadas senhoras que trabalham artesanalmente

com a renda irlandesa autonomamente e aquelas que permaneceram na cooperativa. A

visita aconteceu aos 22 de fevereiro.

Aos 05 de maio do corrente ano, a equipe do projeto, a convite realizado durante

visitação no IPHAN, se dirigiu à cidade de São Cristóvão, mais precisamente à Casa do

IPHAN a fim de participar de uma palestra montada exclusivamente para nós com o

intuito de verificarmos os resultados do trabalho da equipe arqueológica designada.

Desta vez há registros em vídeo e áudio, este último da palestra que durou pouco mais

de uma hora. No áudio há o depoimento dos atuantes que discorrem de maneira geral,

mais precisamente didática, uma vez que eles tinham por objetivo demonstrar como

agem com os visitantes mais comuns, utilizando-se de recursos tecnológicos tais como:

Datashow, slides... No registro visual, observa-se o resultado do trabalho da equipe:

desde o restauro de algumas peças expostas de maneira inapropriada, armazenada de

modo primário, até catalogação de peças nunca analisadas desde sua chegada e estadia

na instituição. Abro aqui uma ressalva de que a equipe teve o auxílio da museóloga

Hildênia Oliveira, inclusive, ela estreitou mais a realização da visita.

Em seguida, as instituições da cidade de Laranjeiras Museu de Arte Sacra e

Museu Afro foram visitadas, respectivamente. Na primeira fomos recebidos pelo

estagiário Glaudson Souza que concedeu entrevista gravada em vídeo, monitorando

como costuma quando de visitantes comuns, mas diferenciando ao responder mais

tecnicamente quando perguntado. No material, o vídeo dura em média doze minutos, o

estagiário explicita dados contundentes sobre o histórico, acervo, reserva técnica e

documentação. A estes dois, o acesso fora restrito devido a diretora não se fazer

presente e, por consequência, não ter o referido estagiário autonomia para apresenta-las

a equipe.

O Museu Sacro é mantido por três instituições: SECULT (Secretaria de Cultura),

a Prefeitura Municipal e a Arquidiocese de Aracaju. Antes de se fixar na atual

instalação, o referido mantinha-se instalando na vulgarmente conhecida como Igreja do

Galo em 1978 até a data de 1995. Sendo que o público alvo são os estudantes, mas é

visitado costumeiramente por turistas que, de acordo com o entrevistado, veem à

instituição movidos à curiosidade de o prédio, antes de abrigar as instalações museais,

fora cenário de uma produção televisiva, além de manter uma espécie de tradição que é

manter as perucas de cabelos naturais doados pelos fiéis da cidade.

Concomitante, a equipe realizou sua missão no Museu Afro Brasileiro de

Sergipe. Desta vez, o material adquirido fora em áudio devido à entrevistada Suellen

não sentir-se à vontade em gravar sua participação em vídeo. Ela, única estagiária

disponível no museu para atender a demanda de visitação, que passou o período de duas

semanas fechado por ter sofrido um assalto, tendo sido em desfalcado em todos os

colares da Exposição Arte In África de Guga Viana, esta, em exposição desde seu

lançamento no XXXIX Encontro Cultural de Sergipe, nos recebeu em razão de está em

férias a diretora da instituição.

Em fins do vigente mês, mais duas instituições foram visitadas: Museu da

Música e Museu Galdino Bicho, respectivamente. Dia 17, a equipe visitou primeira

instituição citada, sendo recebida por Valtênio Alves de Souza, presidente da

Filarmônica Nossa Senhora da Conceição que abriga o museu. Ele discorreu sobre a

origem da filarmônica – atualmente chamada Orquestra Sinfônica de Itabaiana.

Remanescente de um grupo religioso, a filarmônica data de 1745. Em 1998 o museu

está no espaço que abriga a filarmônica, onde estão expostos instrumentos musicais

do século XX fazendo parte também o acervo da filarmônica constituído de partituras

de compositores itabaianenses. O material concentrado em vídeo tem por volta de dez

minutos, contendo também fotografias.

Em 24 de julho, o IHGSE – Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe – que

abriga em suas instalações o Museu Galdino Bicho, recebeu os componentes para que

fosse realizada uma entrevista com a diretora do museu Ane Mecenas. No interior da

‘Casa de Sergipe’, a diretora discorreu sobre o histórico do supracitado, iniciando o

processo agradecendo nossa iniciativa, ressaltando a importância das práticas

acadêmicas à comunidade.

Seguindo, ela dialoga conosco sobre a história do Galdino Bicho, intitulado o

primeiro Museu Histórico de Sergipe, meio nômade em fase inicial de sua formação.

Parte de seu acervo é proveniente de doações de diversos e muitos sem origem verídica,

inclusive há peças provenientes do Museu de Buenos Aires. Não tendo como fugir da

origem do IHGSE que assim como tantos outros, fora criada para salvaguardar a

história e geografia do estado que representa, a diretora apresenta parte integrante do

acervo: selos, cartas, moedas, quadros, livros, peças apreendidas de terreiros que na

década de 1930, eram proibidos de realizar suas atividades, entre outros. E fazendo

questão de não esquecer: objetos de participantes ativos da II Grande Guerra.

A diretora frisa em determinado momento da entrevista a atual organização do

museu, cuja curadoria é de Verônica Nunes, que pensou em fazê-lo de modo temporal.

Além disso, cita aquele que nomeia o museu: Galdino Bicho, pintor, nascido no Rio de

Janeiro, que vêm a Sergipe, torna-se amigo de Jordão de Oliveira, pintor sergipano, que

com a morte do primeiro faz uma moção a fim de homenageá-lo, trazendo as telas de

Bicho. Nasce assim, o Museu Galdino Bicho e, com a morte do segundo, é criada no

instituto a Pinacoteca Jordão de Oliveira, ‘dois amigos que se encontram na casa de

Sergipe’, poetiza a depoente. O material fora gravado em áudio a pedido da depoente,

mas que no final nos convidou para o lançamento da Revista do IHGSE, se dispondo a

gravar um vídeo, alegando que estaria preparada.

No que tange a participação de seminários, congressos e afins, a equipe manteve

forte participação.

4. CONCLUSÕES

Seguindo diversos autores, a guisa de complementação de estudos que envolvem

a memória, o patrimônio, a etnografia e afins, pode-se ressaltar no presente artigo que

os professores e pesquisadores envolvidos no projeto de descoberta dos museus

sergipanos, embasaram-se em teorias-base e em teorias que permitem a interação

complementar na construção, desconstrução, reconstrução e concretização das ações,

antes tidas como estimadas, partindo para a prática destas nos museus e que com a

permissão dos organizadores de cada uma destas unidades aos academicamente

letrados, os ajustes de conhecimento da área museológica que vai desde a catalogação

dos objetos ao registro iconográfico dos mesmos.

As possibilidades de sucesso foram amplas, e se concretizaram na medida do

possível através do empenho dos envolvidos. Saliento que apesar dos entraves

burocráticos em algumas, a maioria das instituições nos receberam com vontade de

ajudar e fazer parte do projeto, sempre ressaltando a importância deste tipo de atividade

que fomenta o crescimento e o estreitamento entre comunidade/academia, além de se

sentir, digamos, satisfeitos com o reconhecimento de um trabalho de formiguinha,

difícil em sua execução dadas as devidas proporções, mas possível com persistência.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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COPANS, Jean. Introdução à etnologia e à Antropologia. Tradução de Ana

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COUTINHO, Laura Maria. Audiovisuais: arte, técnica e linguagem. 60 horas /Laura

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SÁ, Teresa. Lugares e Não-lugares em Marc Augé. In: ARTiTEXTO 03. Dezembro-

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