125
JORGE VIDIGAL DA CUNHA MÍDIA E MARKETING POLÍTICO: A CAMPANHA ELEITORAL DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO PARA PRESIDENTE, NAS PÁGINAS DA REVISTA VEJA EM 1994 Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo-SP, 2010

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JORGE VIDIGAL DA CUNHA

MÍDIA E MARKETING POLÍTICO:

A CAMPANHA ELEITORAL DE FERNANDO HENRIQUE

CARDOSO PARA PRESIDENTE, NAS PÁGINAS DA REVISTA

VEJA EM 1994

Universidade Metodista de São Paulo

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

São Bernardo do Campo-SP, 2010

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JORGE VIDIGAL DA CUNHA

MÍDIA E MARKETING POLÍTICO:

A CAMPANHA ELEITORAL DE FERNANDO HENRIQUE

CARDOSO PARA PRESIDENTE, NAS PÁGINAS DA REVISTA

VEJA EM 1994

Dissertação apresentada em cumprimento parcial às

exigências do Programa de Pós-Graduação em

Comunicação Social, da UMESP – Universidade

Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de

Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Adolpho Carlos Françoso

Queiroz

Universidade Metodista de São Paulo

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

São Bernardo do Campo-SP, 2010

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FOLHA DE APROVAÇÃO

A dissertação de mestrado sob o título “Mídia e marketing político: a campanha

eleitoral de Fernando Henrique Cardoso para presidente, nas páginas da revista

Veja em 1994”, elaborada por Jorge Vidigal da Cunha, foi apresentada e aprovada em

5 de abril de 2010, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. Adolpho Carlos

Françoso Queiroz (Presidente/Umesp), Prof. Dr. Daniel dos Santos Galindo

(Titular/Umesp) e Profa. Dra. Ângela Schaun (Titular/Mackenzie).

_______________________________________

Prof. Dr. Adolpho Carlos Françoso Queiroz

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

_______________________________________

Prof. Dr. Sebastião Carlos de Morais Squirra

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Comunicação Social

Área de Concentração: Processos Comunicacionais

Linha de Pesquisa: Comunicação Massiva

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DEDICATÓRIA

Àquele que está sempre presente em minha vida,

auxiliando-me e confortando-me nas horas difíceis –

Deus.

À minha querida e amada esposa, Sídia.

Ao meu querido e amado filho, Lucas.

Ao meu estimado orientador, Prof. Dr. Adolpho Carlos

Françoso Queiroz.

À minha irmã, Rita.

Ao meu amigo e incentivador, Prof. Dr. Davi Ferreira

Barros.

Aos meus sogros, Sílvio e Maria.

Aos meus queridos afilhados, Márcio Divino e Elaine.

Ao estimado prefeito de Piracicaba, Dr. Barjas Negri.

Ao ilustre ex-presidente da República e motivo do estudo

de caso desta dissertação, Fernando Henrique Cardoso.

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[...] imagem, mídia e marketing constituem hoje as

palavras-força que mobilizam dirigentes de toda a

espécie de instituições públicas ou particulares,

fascinam políticos de todas as idades, apaixonam

iniciantes e conduzem uns à gloria e outros à ruína

em sua carreira ou até na vida privada.

POYARES (1998, p.17).

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AGRADECIMENTOS

A Deus, na Santa Pessoa de seu filho Nosso Senhor Jesus Cristo e seu Espírito Santo,

ao qual professo a minha fé, força e esperança, a saúde que me concede a cada dia para que eu

pudesse lutar e chegar até onde cheguei. Tudo o que tenho, tudo o que sou e o que vier a ser

pertence a Ti Senhor. Graças te dou pela conclusão deste trabalho, a qual parecia impossível.

À Sídia, minha esposa, amiga e companheira, pela força e incentivo, nunca me

deixando desistir nos momentos mais difíceis na conciliação do meu trabalho com meus

estudos. Um grande beijo!

Ao Lucas, meu querido filho, pela compreensão, apoio e por sempre me animar.

Quantas vezes, preocupando-se ao ver a minha preocupação, disse-me: “Acredite garoto, um

Vidigal nunca desiste. Você vai conseguir.” Valeu meu filho!

Ao Prof. Dr. Adolpho Carlos Françoso Queiroz, que acreditou em mim,

incentivando-me nos momentos mais difíceis.

Ao Prof. Dr. Davi Ferreira Barros, meu amigo e ex-chefe pelo incentivo, e apoio.

Sem esta grande ajuda, eu não teria realizado este sonho.

Ao Prof. Dr. Clovis Pinto de Castro, meu atual chefe, reitor da Universidade

Metodista de Piracicaba, pelo grande apoio na continuação dos meus estudos.

Ao Sr. João Francisco Rodrigues de Godoy, o Johnny, diretor de Esportes da

Prefeitura Municipal de Piracicaba, e ao Dr. Pedro Antonio de Mello, secretário de Esportes

desta, pela intermediação juntamente com o prefeito, nos contatos com o ex-presidente

Fernando Henrique Cardoso.

Ao Prof. Dr. Barjas Negri, prefeito municipal de Piracicaba, pelo empenho em

conseguir a tão desejada entrevista com o ex-presidente do Brasil Fernando Henrique

Cardoso, realizada no dia 14 de janeiro de 2010, no Instituto Fernando Henrique Cardoso, em

São Paulo.

Ao Prof. Dr. Fernando Henrique Cardoso, que além de ser o objeto de estudo desta

dissertação, foi muito gentil e atencioso em me conceder a entrevista para este estudo. Apesar

dos seus inúmeros compromissos e sua agenda lotada, disponibilizou-se a me conceder uma

hora e quinze minutos do seu precioso tempo para atender este aluno, que o admira muito.

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À Sra. Patrícia Kundrát Scarlati Jaloto, assessora de Fernando Henrique Cardoso,

pela especial atenção à minha pessoa e a este trabalho, e por conseguir um espaço na tão

lotada agenda dele.

Ao Dr. Roberto Civita, presidente do Grupo Abril e do Conselho Editorial deste e

editor da revista Veja, pela entrevista concedida para esta dissertação.

À Sra. Cleide Castellan, pela atenção dispensada, conseguindo-me um espaço na

agenda do Dr. Roberto Civita.

À Sra. Meire Fidelis, diretora de Relações Corporativas do Grupo Abril, que nos

acompanhou o tempo todo durante a entrevista.

Ao Adm. Jorge Luis dos Santos B., presidente do Conselho Estadual de Secretários

Municipais de Administração do Estado de São Paulo, responsável pelos contatos e

intermediação da entrevista com o Dr. Roberto Civita.

À Profa. Mirian de Fátima Polla, pela revisão e formatação deste trabalho, pelas

orientações dadas e pelo firme incentivo quando o desânimo bateu forte.

Ao Fábio Henrique Mendes, meu amigo e repórter fotográfico, pela

cobertura/reportagem fotográfica das entrevistas realizadas: com Fernando Henrique Cardoso

e Dr. Roberto Civita.

À Celiana Elisa Perina Maschio, amiga e colega de trabalho, por ter me dado a maior

força indicando a Profa. Mirian de Fátima Polla para revisar e formatar este trabalho e,

também, por sempre ter me animado quando eu estava quase desistindo.

Ao Fabiano Pereira, amigo e também colega de trabalho, coordenador da TV Unimep

e professor dessa mesma instituição, pela boa vontade de sempre e pela gravação e edição de

toda a entrevista com Fernando Henrique Cardoso.

À Flávia Silva Vieira, amiga e colega de trabalho, pelo incentivo e orientação.

Ao Prof. Dr. Luciano Sathler Guimarães, ex-pró-reitor de Educação a Distância, da

Universidade Metodista de São Paulo, amigo de muitos anos, pela oportunidade que me deu

para entrar no ramo educacional, quando da minha indicação para trabalhar na Universidade

Metodista de Piracicaba, incentivando-me logo de início a fazer o mestrado em Comunicação

Social.

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Ao Marcio Divino de Oliveira, meu grande amigo, pastor metodista e mestre em

Ciências da Religião, e à sua esposa, Elaine Cristina Batista Borges Oliveira, pelo apoio,

pelas orações e pela força contínua, principalmente quando o desânimo batia forte.

À Profa. Dra. Marilena Aparecida de Souza Rosalen, pelo apoio e pelas orientações.

À Carmelita Dídimo Santos, minha amiga, pelo incentivo e pela força dada aos meus

estudos.

Ao meu amigo Prof. Ms. Wesley Lopes Honório, pelo grande incentivo e apoio

Ao meu amigo e irmão, Prof. Ms. Francisco de Assis (Xykym), que, mesmo distante,

tem, constantemente, me apoiado e orado por mim, para que eu sempre vença os desafios que

surgem em minha vida.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Códigos: Fernando Henrique Cardoso .......................................................113

TABELA 2 – Gêneros jornalísticos: Fernando Henrique Cardoso ................................114

TABELA 3 – Códigos: Luiz Inácio Lula da Silva ...........................................................115

TABELA 4 – Gêneros jornalísticos: Luiz Inácio Lula da Silva........................................116

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Códigos: Fernando Henrique Cardoso....................................................117

GRÁFICO 2 – Comparativo dos códigos de junho a outubro/1994: Fernando

Henrique Cardoso ..................................................................................

118

GRÁFICO 3 – Publicações relativas a gêneros informativos: Fernando Henrique

Cardoso ................................................................................................

119

GRÁFICO 4 – Publicações relativas a gêneros informativos por mês: Fernando

Henrique Cardoso ..................................................................................

120

GRÁFICO 5 – Publicações relativas a gêneros opinativos: Fernando Henrique

Cardoso ................................................................................................

121

GRÁFICO 6 – Publicações relativas a gêneros opinativos por mês: Fernando

Henrique Cardoso ..................................................................................

122

GRÁFICO 7 – Códigos: Luiz Inácio Lula da Silva ........................................................123

GRÁFICO 8 – Comparativo dos códigos de junho a outubro/1994: Luiz Inácio

Lula da Silva..........................................................................................

124

GRÁFICO 9 – Publicações relativas a gêneros informativos: Luiz Inácio Lula da

Silva ......................................................................................................

125

GRÁFICO 10 – Publicações relativas a gêneros informativos por mês: Luiz

Inácio Lula da Silva .............................................................................

126

GRÁFICO 11 – Publicações relativas a gêneros opinativos: Luiz Inácio Lula da

Silva ................................................................................................

127

GRÁFICO 12 – Publicações relativas a gêneros opinativos por mês: Luiz Inácio

Lula da Silva........................................................................................

128

GRÁFICO 13 – Comparativo dos resultados dos códigos entre FHC e Lula ..................129

GRÁFICO 14 – Comparativo dos resultados dos textos informativos entre FHC e

Lula ................................................................................................

130

GRÁFICO 15 – Comparativo dos resultados dos textos opinativos entre FHC e

Lula ................................................................................................

131

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LISTA DE SIGLAS

ABCOP Associação Brasileira de Consultores Políticos

AI-5 Ato Institucional Nº 5

BBDO Batten, Barton, Durstin e Osborne

CEBRAP Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

COFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CONSESAD Conselho Estadual de Secretários Municipais de Administração do

Estado de São Paulo

CPI Comissão Parlamentar de Inquérito

CUT Central Única de Trabalhadores

ECO Escola de Comunicação

ESPM Escola Superior de Propaganda e Marketing, em São Paulo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MDB Movimento Democrático Brasileiro

PDS Partido Democrático Social

PDT Partido Democrático Trabalhista

PIB Produto Interno Bruto

PL Partido Liberal

PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PPR Partido Progressista Renovador

PRN Partido da Reconstrução Nacional

PRONA Partido de Reedificação da Ordem Nacional

PSC Partido Social Cristão

PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

PSDB-PFL Partido da Social Democracia Brasileira-Partido da Frente Liberal

PT Partido dos Trabalhadores

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

UDN União Democrática Nacional

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UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UMESP Universidade Metodista de São Paulo

UNIMEP Universidade Metodista de Piracicaba

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

URV Unidade Real de Valor

USP Unique Selling Proposition [Proposição única de venda]

USP Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................... 18

Capítulo I – A EVOLUÇÃO DO CONCEITO SOBRE MARKETING

POLÍTICO .................................................................................................

28

1. Conceito de marketing e marketing político.......................................................... 28

1.1 O papel dos consultores de marketing político e dos assessores políticos....... 59

2. Início e desenvolvimento do marketing político no Brasil..................................... 62

2.1 1954 - Primeira atuação do marketing político: o trabalho de um

publicitário que garantiu a vitória de um candidato .......................................

64

2.2 Brasmarket: a primeira empresa de consultoria de marketing político ............ 66

Capítulo II – A VIDA DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E A

HISTÓRIA DA REVISTA VEJA ..............................................................

70

1. Infância, juventude e família ................................................................................ 70

2. O gosto pela política............................................................................................. 71

3. 1964 – O exílio no Chile ...................................................................................... 75

4. O retorno ao Brasil e a sua trajetória política ........................................................ 77

5. Candidatura à Presidência do Brasil...................................................................... 85

6. Vitória e posse como presidente do Brasil ............................................................ 86

7. 1968 – Ano da criação da revista Veja .................................................................. 89

8. Veja e Fernando Henrique Cardoso: fatos que marcaram o Brasil ......................... 92

Capítulo III – A CAMPANHA ELEITORAL DE FERNANDO

HENRIQUE CARDOSO NAS PÁGINAS DA REVISTA VEJA EM

1994 .............................................................................................................

95

1. As manchetes da revista Veja no ano de 1994....................................................... 95

2. Corrida presidencial – Fernando Henrique x Lula nas manchetes da revista Veja,

nas 19 edições de junho a outubro de 1994 ..........................................................

97

3. Gêneros e formatos das notícias, na propaganda eleitoral na revista Veja, de

junho a outubro de 1994 ......................................................................................

110

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4. Fernando Henrique Cardoso na revista Veja, propaganda ideológica e identidade

da imprensa .........................................................................................................

131

CONCLUSÃO ............................................................................................ 157

REFERÊNCIAS ......................................................................................... 161

ANEXOS..................................................................................................... 167

ANEXO 1 – Roteiro da entrevista realizada com o ex-presidente do Brasil

Fernando Henrique Cardoso ..............................................................

168

ANEXO 2 – Entrevista (na íntegra) com o ex-presidente do Brasil Fernando

Henrique Cardoso, realizada no dia 14 de janeiro de 2010, às 15

horas, no Instituto Fernando Henrique Cardoso – São Paulo ..............

173

ANEXO 3 – Fotos pertinentes à entrevista com Fernando Henrique Cardoso......... 194

ANEXO 4 – DVD relativo à entrevista com Fernando Henrique Cardoso: Fotos ... 195

ANEXO 5 – DVD relativo à entrevista com Fernando Henrique Cardoso: Vídeo ... 196

ANEXO 6 – Autógrafo de Fernando Henrique Cardoso para o autor desta

dissertação, Jorge Vidigal da Cunha ..................................................

197

ANEXO 7 – Roteiro da entrevista realizada com o presidente do Grupo Abril e

do Conselho Editorial deste e redator da revista Veja, Dr. Roberto

Civita ................................................................................................

198

ANEXO 8 – Entrevista (na íntegra) com o presidente do Grupo Abril e do

Conselho Editorial deste e redator da revista Veja, Dr. Roberto

Civita, realizada no dia 23 de fevereiro de 2010, às 15h30, no

Grupo Abril – São Paulo....................................................................

202

ANEXO 9 – Fotos pertinentes à entrevista com Dr. Roberto Civita........................ 213

ANEXO 10 – DVD relativo à entrevista com Dr. Roberto Civita: Fotos .................. 214

ANEXO 11 – DVD relativo à entrevista com Dr. Roberto Civita: Áudio.................. 215

ANEXO 12 – Autógrafo do Dr. Roberto Civita para o autor desta dissertação,

Jorge Vidigal da Cunha .....................................................................

216

ANEXO 13 – Reportagem com Fernando Henrique Cardoso

Revista Veja – 8/6/94 – ed. 1.343 – p. 34 ...........................................

217

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ANEXO 14 – Charge de Orestes Quércia, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando

Henrique Cardoso

Revista Veja – 8/6/94 – ed. 1.343 – p. 35 ...........................................

218

ANEXO 15 – Reportagem com Fernando Henrique Cardoso

Revista Veja – 29/6/94 – ed. 1.346 – p. 38 .........................................

219

ANEXO 16 – Reportagem com Fernando Henrique Cardoso

Revista Veja – 27/7/94 – ed. 1.350 – p. 88 .........................................

220

ANEXO 17 – Reportagem com Luiz Inácio Lula da Silva

Revista Veja – 3/8/94 – ed. 1.351 – p. 28 ...........................................

221

ANEXO 18 – Reportagem com Fernando Henrique Cardoso

Revista Veja – 3/8/94 – ed. 1.351 – p. 29 ...........................................

222

ANEXO 19 – Reportagem com Nizan Guanaes, publicitário da campanha de

Fernando Henrique Cardoso

Revista Veja – 10/8/94 – ed. 1.352 – p. 34-35....................................

223

ANEXO 20 – Capa da revista com o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero

Revista Veja – 7/9/94 – ed. 1.356 ......................................................

225

ANEXO 21 – Reportagem com o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero

Revista Veja – 7/9/94 – ed. 1.356 – p. 30 ...........................................

226

ANEXO 22 – Capa da revista com Ruth Cardoso

Revista Veja – 21/9/94 – ed. 1.358.....................................................

227

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RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo verificar, de acordo com o conceito de marketing político,

como se deu a construção da imagem pública do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na

revista Veja durante as eleições presidenciais de 1994. Para tanto, analisou-se 19 edições

desse periódico, todas relativas ao período de junho a outubro do referido ano. Estudou-se a

propaganda ideológica e suas categorias, como codificação, controle ideológico,

contrapropaganda e difusão, presentes no material empírico analisado. Este trabalho

desenvolveu-se à luz dos procedimentos metodológicos referentes ao “Estudo de Caso”

enquanto tipo ou estratégia de pesquisa. Entre as técnicas para a coleta de dados, realizou-se a

“Análise de Conteúdo” de natureza quantitativa e qualitativa dos dados pesquisados e

entrevista com o próprio ex-presidente. Por meio deste estudo obteve-se os seguintes

resultados: Fernando Henrique Cardoso teve o maior volume em centímetro/coluna em

relação ao seu opositor, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Em relação aos códigos

utilizados nas matérias analisadas, o volume maior em centímetro/coluna ocorreu no código

linguístico, significando que a revista Veja deu mais ênfase às palavras, às frases e aos

parágrafos que compõem as estruturas articuladas, segundo os padrões históricos e culturais

da língua portuguesa. No que diz respeito aos gêneros informativos, o volume maior em

centímetro/coluna foi em reportagem, isso significa que a revista enfatizou os fatos que

repercutiram e produziram efeitos na sociedade, e que foram percebidos pela revista. Conclui-

se que as matérias publicadas fortaleceram significativamente a sua imagem perante os

leitores da Veja, favorecendo-o em relação ao seu opositor, mas não chegaram a elegê-lo.

Palavras-chave: Propaganda eleitoral. Eleições presidenciais no Brasil. Marketing político.

Revista Veja.

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RESUMEN

Este estudio tiene como objetivo verificar, según los conceptos de comunicación y marketing

político, cómo ocurrió la construcción de la imagen pública del ex presidente Fernando

Henrique Cardoso en la revista Veja durante las elecciones presidenciales de 1994. Así, fueran

analizadas 19 ediciones, relativas al período de junio a octubre del referido año. Fue estudiado

la propaganda ideológica y sus categorías, como codificación, control ideológico, contra

propaganda y difusión, todos presentes en el material empírico analizado. Este trabajo se

desenvolvió en la luz de los procedimientos metodológicos referentes al “Estudio de Caso”

mientras tipo o estrategia de investigación. Entre las técnicas de recogida de datos, fue

realizado la “Análisis del Contenido” de naturaleza cuantitativa y cualitativa de los datos

investigados y la entrevista con lo proprio ex presidente. Por medio dese estudio fueran

obtenidos los siguientes resultados: Fernando Henrique Cardoso tuvo lo mayor volumen en

centímetro/columna relativo al su opositor, lo candidato Luiz Inácio Lula da Silva. En

relación con los códigos utilizados en los reportajes analizados, lo mayor volumen en

centímetro/columna ocurrió en el código linguístico, significado que la revista Veja dio más

énfasis a las palabras, las frases y a los parágrafos que componen las estructuras articuladas,

según los patrones históricos y culturales de la lengua portuguesa. Con respecto a los géneros

informativos, lo mayor volumen en centímetro/columna fue en reportaje, eso significa que la

revista Veja enfatizó los factos que repercutirán y producirán efectos en la sociedad, y que

fueran percibidos por la revista. Entonces se concluye que los artículos publicados,

fortalecerán significativamente su imagen antes de los lectores de Veja, lo favoreciendo en

relación a su opositor, pero no vino a lo elegir.

Palabras-clave: Propaganda Electoral. Elecciones Presidenciales en Brasil. Marketing

Político. Revista Veja.

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ABSTRACT

The goal of this essay is to verify, according to the concepts of political marketing, how did

the construction of the public image of the ex-president Fernando Henrique Cardoso

happened in the Veja magazine during the elections of 1994. To fulfill this project, it was

investigated 19 editions, relative to the period of June to October of the referred year. It was

studied the ideological propaganda and its categories, such as codification, ideological

control, counterpropaganda and diffusion, all present in the analyzed material. This work was

developed in the light of the methodological procedures referred to the “Study of Case” as a

type or research strategy. Among the techniques for collecting data, it was held the “Content

Analysis” of quantitative and qualitative nature of the data researched and the interview with

the ex-president. Furthermore, this study obtained the following results: Fernando Henrique

Cardoso had the majority of the volume in centimeter/column in relation to his opponent, the

candidate Luiz Inácio Lula da Silva. Regarding the codes used in the analyzed material, the

bulk volume in centimeter/column occurred in the linguistic code, meaning that Veja

magazine gave more attention to the words, sentences and even the paragraphs which

composed the articulated structures, following the historic and cultural patterns of the

Portuguese language. Concerning the informative genre, the biggest share in

centimeter/column was in news report, designating that Veja magazine emphasized the facts

that echoed and produced effects on society, and were memorable by the magazine’s point of

view. It is possible to reckon that the published material strengthened significantly his image

before the Veja readers, favoring him in relation to his opponent, however didn’t really elect

him.

Keywords: Electoral Propaganda. President’s Election in Brazil. Political Marketing. Veja

Magazine.

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18

INTRODUÇÃO

Este estudo faz parte de um projeto maior de pesquisa que vem sendo desenvolvido no

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Umesp, sob a coordenação do

orientador deste trabalho, Prof. Dr. Adolpho Carlos Françoso Queiroz. Esse projeto procura

identificar de que forma os presidentes brasileiros, que venceram as eleições no período

republicano, têm sido estudados, com o objetivo de buscar confirmar e demonstrar de que

forma eles utilizaram os meios de comunicação para atingir os seus objetivos eleitorais.

Os pleitos eleitorais para a Presidência da República do Brasil movimentam todos os

segmentos da sociedade brasileira, que se articulam em vários níveis para sugerir, entender e

reivindicar as propostas dos candidatos ao cargo máximo da nação brasileira. Dentre esses

segmentos, está a imprensa brasileira presente nos diversos veículos de comunicação, como

jornal, revista, rádio e televisão.

Dessa forma, o tema do presente trabalho é “é mídia e marketing político”, e o objeto

de estudo é a campanha eleitoral de Fernando Henrique Cardoso1 para presidente apresentada

nas páginas da revista Veja em 1994, ano de eleições no Brasil.

Nessas eleições, os candidatos que concorreram ao cargo de presidente da República e,

para tanto, trabalharam com suas coligações partidárias, com o objetivo de conseguir apoio

máximo para o fortalecimento de suas candidaturas, foram: Luiz Inácio Lula da Silva2 –

Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Henrique Cardoso – Partido da Social

Democracia Brasileira-Partido da Frente Liberal (PSDB-PFL), Esperidião Amim Helou

Filho – Partido Progressista Renovador (PPR), Flávio Rocha – Partido Liberal (PL), Leonel

de Moura Brizola – Partido Democrático Trabalhista (PDT), Orestes Quércia – Partido do

Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Enéas Ferreira Carneiro – Partido de

Reedificação da Ordem Nacional (PRONA), Walter Queiroz – Partido da Reconstrução

Nacional (PRN) e Almirante Fortuna – Partido Social Cristão (PSC). A revista Veja, dentre

outros veículos de comunicação, cobriu o acontecimento, mostrando todos os candidatos que

concorriam à eleição presidencial, suas propostas de trabalho, as negociações e apoios

partidários.

As eleições de 1994 foram muito significativas para o povo brasileiro, pois o Brasil

vinha de um momento político muito conturbado desde a última eleição, que resultou na 1 Em alguns trechos deste trabalho, será tratado por Fernando Henrique ou FHC. 2 Em alguns trechos deste trabalho, será tratado por Lula.

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vitória de Fernando Collor de Melo, em outubro de 1989. Após o impeachment deste, em

outubro de 1992, o vice-presidente, Itamar Augusto Cautiero Franco (de agora em diante

denominado Itamar Franco), assumiu um governo politicamente desgastado pelas notícias de

corrupção e mentiras. Em 1993, a inflação beirava os 30% ao mês e, assim, temia-se a

deterioração da situação política do País. No intuito de sanar essa situação caótica, foi lançado

o Plano Real, o qual incluía medidas drásticas de controle do déficit público e uma reforma

monetária que se completou com a circulação de uma nova moeda, o Real, em julho de 1994.

Dentre todos os candidatos postulantes à Presidência da República, Luiz Inácio Lula

da Silva, Fernando Henrique Cardoso e Leonel Brizola foram os que mais se destacaram

perante a mídia nacional. Na proximidade das eleições, além de uma força maior da

propaganda política presente nos debates e as pesquisas apresentadas pelos institutos de

pesquisa, os dois primeiros foram se destacando e tornaram-se os principais candidatos ao

cargo. Os vários veículos de comunicação, baseados nas informações das pesquisas de

opinião pública, noticiaram essa tendência e os resultados obtidos.

A revista Veja também acompanhou toda essa movimentação que antecedeu as

eleições. As notícias do fracasso do presidente anterior, que foi sucedido por Itamar Franco,

deixaram uma preocupação em todos os segmentos da sociedade, ou seja, como seria o

próximo governo e quem seria o próximo presidente da República. Assim sendo, a atuação da

mídia naquele momento foi muito importante para o povo brasileiro.

Diante do exposto, como corpus desta pesquisa, foram analisadas 19 edições da revista

Veja publicadas no período de junho a outubro de 1994, cujos números e respectivos meses

são: 22, 23, 24, 25, 26 de junho; 27 e 28 de julho; 31, 32, 33, 34, 35 de agosto; 36, 37, 38, 39

de setembro; e 40, 41, 43 de outubro. Além dessa análise, foram realizadas duas entrevistas:

uma com Fernando Henrique Cardoso, no dia 14 de janeiro de 2010, às 15 horas, com uma

duração de 75 minutos, no Instituto Fernando Henrique Cardoso, na cidade de São Paulo

(ANEXOS 1-6), e outra com o presidente do Grupo Abril e do Conselho Editorial deste e

editor da revista Veja, Dr. Roberto Civita, no dia 23 de fevereiro de 2010, às 15h30, com uma

duração de 60 minutos, na sede do Grupo Abril, também na cidade de São Paulo (ANEXOS

7-12).

As edições da revista nesse período apresentaram vários destaques sobre os dois

candidatos, com diversos espaços que compreendem: fotos, desenhos, caricaturas, gráficos,

charges, palavras, frases, enquetes, entrevistas, notas, notícias, perfis, reportagens, serviços,

artigos, cartas, colunas, comentários, crônicas, editoriais e resenhas.

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Conforme Peruzzo (2008, p.14), “Já o problema de uma pesquisa refere-se sempre à

dúvida principal inserida no tema proposto, que merece ser investigada a fim de encontrar as

devidas respostas. Pode-se dizer que ele é sempre uma indagação, uma questão complexa a

ser estudada e esclarecida pela pesquisa.”

Ambos os candidatos tiveram seus espaços nas 19 edições analisadas, mas estes foram

mais favoráveis a Fernando Henrique ou a Lula? Qual dos dois candidatos teve o maior

número em centímetro/coluna (cm/col.)? Na identidade da imprensa, nos códigos e nos

gêneros jornalísticos (informativos e opinativos), qual foi a performance dos dois candidatos?

O material publicado na revista Veja (reportagens, gráficos, charges, etc.) foi responsável pela

vitória de Fernando Henrique?

O objeto de estudo desta pesquisa visa especialmente mostrar como foi a participação

da Veja “neste universo tão grande do marketing político”, na construção da imagem pública

de Fernando Henrique Cardoso nas eleições presidenciais de 1994. Na época, tudo indicava

que haveria uma disputa final entre esses dois candidatos, entretanto o povo brasileiro não

tinha certeza de quem seria o vencedor.

É possível observar que a construção da imagem pública de ambos os candidatos pela

revista Veja tornou-se mais uma ferramenta de convencimento dos leitores desse periódico,

mostrando, obviamente, que o resultado da campanha eleitoral não dependeu somente da

influência da revista, mas esta, certamente, ajudou no processo democrático em relação à

disseminação das informações acerca dos candidatos.

Considerando este contexto, o objetivo deste trabalho consistiu em identificar como

foi realizada a campanha eleitoral de Fernando Henrique Cardoso na revista Veja, nas eleições

presidenciais de 1994, diante ao seu opositor, Luiz Inácio Lula da Silva. Para tanto, os

objetivos específicos foram:

a) analisar as 19 edições da revista Veja, cujo período compreende os meses de junho a

outubro de 1994;

b) analisar os códigos linguísticos, fotos, desenhos, gráficos e charges;

c) analisar todos os gêneros jornalísticos que pertencem aos gêneros informativos e

opinativos;

d) nos gêneros informativos, foram analisados os seguintes elementos: notas, notícias,

reportagens, entrevistas, serviços, enquetes e perfil de Luiz Inácio Lula da Silva e

Fernando Henrique Cardoso;

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e) nos gêneros opinativos, os seguintes elementos serviram como objeto de análise:

editoriais, comentários, artigos, resenhas, colunas, crônicas, caricaturas, charges e

cartas de ambos os candidatos.

O presente estudo foi realizado com base nas estratégias e nos procedimentos

metodológicos referentes ao “Estudo de Caso”, enquanto tipo ou estratégia de pesquisa.

Entre as técnicas para coleta de dados, fez-se necessária a “Análise de Conteúdo”, de

natureza quantitativa e qualitativa dos dados pesquisados. Segundo Yin (2001, p. 27), esse

método é constituído de uma investigação empírica, que tem como foco a ocorrência passível

de observação e o contexto da vida real, quando ambos confundem e se interagem e, ainda,

quando múltiplas fontes de evidências são utilizadas.

Goode e Hatt (1979, p. 421-422) tornam compreensível que: o “Estudo de Caso [...]

não é uma técnica específica. É um meio de organizar dados sociais, preservando o caráter

unitário do objeto social estudado.”

Este método é o mais indicado nesta pesquisa, tendo em vista que o fenômeno

estudado, nas 19 edições da revista Veja, é recente e insere-se em uma situação específica, em

que não é possível manipular comportamentos.

O estudo de caso permite “lidar com uma ampla variedade de evidências –

documentos, artefatos, entrevistas e observações” (YIN, 2001, p.27).

Segundo Berelson (apud BARDIN, 1977, p.18-19), a análise de conteúdo “[...] é uma

técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo

manifesto das comunicações, tendo por objetivo interpretá-las. Não se deve mais considerar

indispensáveis os termos ‘manifesto’ e ‘quantitativa’”.

Dentro dessa perspectiva, foram analisados os seguintes elementos: a quantidade dos

códigos linguísticos, icônicos, fotos, desenhos, gráficos e charges e, também, os gêneros

jornalísticos, que compreendem os informativos e opinativos, como: análise da quantidade de

notas, notícias, reportagens, entrevistas, serviços, enquetes e perfil.

Quanto às análises quantitativa e qualitativa, Berelson (apud BARDIN, 1977, p.21-22)

afirma que a segunda baseia-se na presença ou ausência de uma dada característica, enquanto

a primeira busca identificar a frequência dos termos, palavras ou símbolos considerados.

Segundo Richardson (1989, p.29-30), o método em pesquisa significa a escolha de

procedimentos sistemáticos para a descrição e explicação de fenômenos. Esses procedimentos

são a delimitação de um problema e a realização de observações, isto é, como interpretá-las a

partir das relações encontradas. Há dois grandes métodos: o quantitativo e o qualitativo; eles

se diferenciam pela forma de abordagem do problema.

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Richardson (1989, p.30) complementa: o método quantitativo caracteriza-se pelo

emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informação quanto no

tratamento destas, por meio de técnicas estatísticas, desde as mais simples, como percentual,

média e desvio-padrão, até as mais complexas, como coeficiente de correlação, análise de

regressão, etc.

Para o autor, o método qualitativo, em princípio, não emprega um instrumento

estatístico como base principal do processo de análise do problema de pesquisa. Não pretende

enumerar ou medir unidades ou categorias homogêneas. Em geral, as investigações que se

voltam para uma análise qualitativa têm como objeto situações complexas ou estritamente

particulares. Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos. (RICHARDSON, 1989, p.39).

Quanto à observação dos métodos, Richardson (1989, p.39) explica que são utilizadas,

para esse caso, técnicas de observação e entrevistas. Para documentários e pesquisas, utiliza-

se a análise de conteúdo e a análise histórica. Neste trabalho utilizou-se ambas as análises e

duas entrevistas, sendo uma com Fernando Henrique Cardoso e outra com Dr. Roberto Civita,

além da pesquisa bibliográfica.

A literatura da área de comunicação/marketing político e o constante oferecimento de

cursos, simpósios, seminários e congressos demonstram o crescimento de interesses por essa

área. Têm sido publicados “manuais” diversos, cujo fim é ensinar os candidatos de uma

campanha eleitoral os meios para se ganhar uma eleição. A área acadêmica também tem

demonstrado um significativo interesse sobre o assunto, haja vista o crescimento do número

de monografias, dissertações e teses apresentadas, configurando-se na importância desse

campo de estudos, no que diz respeito às transformações sociais que vêm ocorrendo no País a

partir da década de 1990 (QUEIROZ, 1998, p.36).

Para Silva (2005, p.55-57), há muitas interpretações a respeito de marketing político,

bem como há diferentes teses e convicções de especialistas da área; entretanto, em um ponto a

maioria concorda: marketing político e marketing eleitoral, apesar de serem áreas próximas,

são distintos, pois implicam em modos de ação diferenciados. O marketing eleitoral está

contido no marketing político, pois a maioria dos candidatos chega à ação do marketing

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eleitoral tendo passado necessariamente pelo marketing político. Esse instrumento de

comunicação está diretamente ligado ao momento eleitoral. Ele começa na campanha

eleitoral, momento em que é ditado o ritmo, a estratégia imediata, os rumos e as decisões a

serem tomadas no calor da disputa. São as etapas que precedem as eleições, ou seja, o

marketing político começa já na fase de planejamento de uma campanha. Nesse momento, o

sucesso nas urnas depende dos objetivos e das metas a serem alcançados.

De acordo com o autor, o marketing eleitoral é inerente ao momento da eleição,

quando são tomadas decisões referentes à conjuntura do processo eleitoral, e reflete as

atitudes do candidato, a comunicação com os eleitores, tais como: os comerciais, os slogans,

os discursos, as promessas e o plano de trabalho. Mais abrangente que o marketing eleitoral, o marketing político faz parte não somente do momento eleitoral, como também acompanha a história de vida de um político ou de um partido político. Compõe uma técnica de comunicação que visa a promoção de uma imagem favorável aos olhos da opinião pública. (SILVA, 2005, p.55).

Para Torquato (1985, p.13-14), o marketing político é a ferramenta que o candidato

utilizará para vencer nas eleições. É o caminho para ele chegar a posições de poder e

conquista. O marketing político é entendido como o espaço planejado para se cultivar a

atenção, o interesse e a preferência de um mercado de eleitores, é a via indicada e segura para

o sucesso daquele que deseja ingressar na carreira política.

Conforme Kuntz (2006, p.19), o marketing eleitoral é o marketing da conquista; nele

estão reunidas a força, a convicção e a estratégia de campanha.

Torquato (2004, p.169) afirma que o marketing é uma avaliação das oportunidades, da

satisfação de desejos e das atividades dirigidas à estimulação de troca entre produtores e

consumidores. É o conjunto de atividades determinadas a promover as relações de troca entre

um emissor e um receptor, no momento certo, por meio de canais adequados e mensagens

apropriadas que atinjam o foco de interesse dos segmentos-alvo. Os termos-chave desse

conceito são: satisfação de desejo, avaliação de oportunidades e estimulação da troca entre

quem produz e quem consome.

Para se ter um bom resultado nas urnas, o político precisa tomar cuidado na mensagem

a ser levada ao público/eleitor. Dentre esses cuidados, está o saber passar uma boa imagem, a

qual deve ser a melhor possível. A construção dessa imagem dá-se a partir de alguns rearranjos no modo do candidato apresentar-se, como se ele fosse um ator para o eleitor. O objetivo

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é um só, ou seja, é o mesmo no marketing e na propaganda publicitária: conquistar as pessoas, mexer com seus sentimentos e suas emoções, pulsões, motivações inconscientes e desejos. Além de tentar ajustar a imagem percebida de um candidato à imagem do candidato ideal, desejado de forma não-artificial, os especialistas de marketing procuram também posicionar corretamente o candidato na disputa. (SILVEIRA, 2000, p.129).

Cabe ressaltar que, num processo eleitoral, além da propaganda presente na mídia, o

estabelecimento de elos de identificação com o eleitorado pela maioria dos candidatos torna-

se importante, pois o objetivo deles é mostrar sua imagem/posição e as preocupações e

expectativas predominantes. A capacidade dos agentes políticos é quem vai determinar o

sucesso ou fracasso do estabelecimento desses elos. O concorrente político trabalhará para

obter sucesso e sensibilizar o eleitor, mostrando que possui os atributos políticos necessários

para tal convencimento.

Silveira (2000, p.130-131) relata que a população está atenta aos aspectos negativos da

política, e que há grande rejeição por parte dos eleitores a esses aspectos. Assim, os

candidatos tiram proveito dessa reação, transformando símbolos negativos em positivos. Há

muitos exemplos dessas atitudes, tais como: práticas de corrupção na máquina pública, uso

indevido de verbas, nepotismo, favoritismo e altos salários no funcionalismo público. Alguns

candidatos, no passado, tiraram proveito dessa imagem negativa diante dos seus eleitores e

criaram símbolos, por exemplo, o ex-presidente Jânio Quadros criou a “vassoura” como um

instrumento para varrer a corrupção do meio público, já outro ex-presidente, Fernando Collor

de Mello, chamou os políticos de marajás e prometeu caçá-los em seu governo.

A imagem utilizada pelos candidatos tinha também como objetivo levar uma

mensagem de segurança. Esses foram exemplos claros de transformação do sentimento de

desagrado do eleitorado brasileiro em símbolos de esperança e fé para mudar o que havia de

errado na política. As estratégias do marketing político e a mídia tornam-se cada vez mais relevantes nas disputas eleitorais, em função da sua grande incidência na construção das imagens dos candidatos, no estabelecimento das clivagens das campanhas e na conquista emocional e simbólica dos eleitores. (SILVEIRA, 2000, p.132).

De acordo com o autor, o marketing político vai além do momento eleitoral, pois são

inúmeras as ações, as variáveis, certezas e incertezas, para discernir qual é o melhor ou pior

momento para se construir uma boa ou má imagem do candidato diante do eleitorado. A

decisão do voto está intimamente ligada à imagem dos candidatos, sendo ambas meios

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fundamentais para a decisão do eleitor. O eleitor pode captar intuitivamente as características,

os modos de ser e agir dos candidatos, perceber se os sentimentos e as emoções expressos são

efetivamente autênticos e, ainda, por relação simbólica, combinar instintivamente as imagens

dos candidatos captadas com as imagens de político ideal desejado, retidas no seu quadro de

referências valorativas e simbólicas.

No terreno político, as imagens formadas adquirem um caráter acentuadamente moral.

E é por meio dos valores morais que os candidatos, os políticos e a política de um modo geral

são definidos. Os valores morais estão associados a certas características pessoais dos

candidatos, como: boa oratória, empatia, aparência física, modo de se vestir e expressar

sentimentos e emoções, tranquilidade para responder acusações e tratar a invasão em sua vida

pessoal e demonstração de sinceridade nas respostas. Um candidato que apresente essas

características está, certamente, perto da decisão do voto a seu favor. [...] imagem, mídia e marketing constituem hoje as palavras-força que mobilizam dirigentes de toda a espécie de instituições públicas ou particulares, fascinam políticos de todas as idades, apaixonam iniciantes e conduzem uns à glória e outros à ruína em sua carreira ou até na vida privada. (POYARES, 1998, p.17).

As eleições de 1994 para presidente do Brasil geraram muitas expectativas ao povo

brasileiro. Os veículos de comunicação deram uma grande e significativa contribuição na

cobertura de todos os fatos políticos daquele período: a população brasileira era informada

passo a passo de todas as mudanças políticas que aconteciam no Brasil desde a vitória de

Fernando Collor de Mello na disputa com o seu oponente Luiz Inácio Lula da Silva, bem

como o acompanhamento das denúncias de corrupção no seu próprio governo, passando pelo

seu impeachment, a posse de Itamar Franco e o lançamento do Plano Real no final do governo

deste.

A revista Veja fez parte dos inúmeros veículos de imprensa que mantiveram a

população brasileira informada sobre esse período de transição política. Ela acompanhou os

resultados das convenções dos partidos, inserindo nos seus espaços de notícias todos os

candidatos que concorriam às eleições em 1994.

Tanto nesse periódico quanto nos outros veículos de imprensa a construção da imagem

pública de cada candidato da época começava a ser construída, sendo acompanhada pela

população brasileira, a qual precisava de um novo presidente e necessitava acreditar que ele

seria diferente. Para isso, a imprensa e os institutos de pesquisas informavam qual era a real

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expectativa do povo e qual seria o ideal candidato para comandar o Brasil nos próximos

quatro anos.

Diante dos fatos apresentados, a análise de 19 edições da revista Veja, no período de

junho de 1994 a outubro de 1994, se faz necessária, uma vez que ela abriu seus espaços de

notícias para todos os candidatos à Presidência do Brasil.

A revista contribuiu, também, para a construção da imagem de cada candidato na

época, com ênfase nos últimos exemplares que antecederam as eleições. O foco da revista

estava, então, nos dois principais candidatos. Assim, a construção da imagem pública de

Fernando Henrique na Veja tornou-se o objeto de estudo a ser analisado.

Segundo Luna (2002, p.82), a determinação do “estado da arte” corresponde a

descrever o estado atual de uma dada área de pesquisa, ou seja, o que já se sabe, quais as

principais lacunas e onde se encontram os principais entraves teóricos e/ou metodológicos.

Constitui-se “uma excelente fonte de atualização para pesquisadores fora da área na qual se

realiza o estudo, na medida em que condensam os pontos importantes do problema em

questão”.

Com relação à revisão da pesquisa empírica, Luna (2002, p.85) afirma:

[...] isto implica na explicação de como o problema em questão vem sendo pesquisado, especialmente do ponto de vista metodológico, além de fornecer dados, responde questões entre elas, cita-se: quais os procedimentos empregados no estudo do problema, que fatores afetam os resultados, que respostas têm sido feitas para explicá-los ou para controlá-los, que procedimentos são empregados para a análise dos resultados e se há manutenção e generalização dos resultados obtidos.

Quanto à revisão histórica, esta tem a proposta de recuperar a evolução de um

conceito, uma área, um tema, além de inserir essa evolução dentro de um quadro de referência

que explique os fatores determinantes e as implicações das mudanças (LUNA, 2002, p.86).

A revisão de literatura, segundo Luna (2002, p.105), “constitui-se em um respeito ao

trabalho de outros pesquisadores; é um compromisso com a crítica contínua ao produto destes

e, portanto, com o aprimoramento da ciência.”

Para alcançar o objetivo proposto e já anunciado, esta dissertação estrutura-se em três

capítulos, iniciando com a presente introdução, cuja finalidade é mencionar brevemente o

tema analisado e seu desenvolvimento, e finalizando com a conclusão obtida de acordo com

os resultados apresentados neste estudo.

No primeiro capítulo, A evolução do conceito sobre marketing político, analisa-se o

conceito de marketing político sob os seguintes aspectos: qual é o seu real significado? O que

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difere o marketing de produto do marketing político? O candidato que concorre a um cargo

político, seja na esfera municipal, estadual ou federal, pode ser vendido para o eleitor como se

vende um produto? Quais são as expectativas que o eleitor tem em relação ao político? Quais

são as percepções que o candidato precisa ter em relação ao eleitor?

O capítulo II, A vida de Fernando Henrique Cardoso e a história da revista Veja,

aborda a vida, a trajetória política, a posse de Fernando Henrique como presidente da

República e a sua participação, de um modo geral, nos fatos políticos mais importantes, que

levaram o Brasil a sair de uma ditadura para o renascimento político, como as eleições das

“Diretas Já”. Trata, também, da revista Veja, um dos principais veículos de comunicação no

Brasil e no mundo, sendo editada pela Editora Abril S.A., a qual, antes de iniciar as

publicações da Veja, publicou várias outras revistas em diversos segmentos. Esse periódico

faz parte do Grupo Abril, um dos maiores e mais influentes grupos de comunicação da

América Latina.

No capítulo III, A campanha eleitoral de Fernando Henrique Cardoso nas páginas da

revista Veja em 1994, trata-se da propaganda ideológica e suas quatro categorias

fundamentais para a análise das 19 edições da revista Veja, a saber: codificação, controle

ideológico, contrapropaganda e difusão.

Este trabalho finaliza-se com a conclusão, na qual se apresenta um relato da

experiência pertinente à realização da presente pesquisa, mediante os resultados obtidos de

acordo com as hipóteses e os objetivos propostos, e recomendação para pesquisas futuras.

O material pertinente à argumentação, fundamentação, comprovação e ilustração

encontra-se ao final deste trabalho, na seção Anexos.

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Capítulo I – A EVOLUÇÃO DO CONCEITO SOBRE MARKETING

POLÍTICO

1. Conceito de marketing e marketing político

De acordo com definição do dicionário Aurélio, marketing é: 1.Conjunto de estratégias e ações que provêem o desenvolvimento, o lançamento e a sustentação de um produto ou serviço no mercado consumidor. [V. composto de marketing.] 2.P. ext. Conjunto de estratégias e ações que visam a aumentar a aceitação e fortalecer a imagem de pessoa, idéia, empresa, produto, serviço, etc., pelo público em geral, ou por determinado segmento desse público. 3.O conjunto de conhecimentos relativos ao marketing (1). [Correspondente em port., p. us., mercadologia]. (FERREIRA, 2004).

Skacel (1992, p.7) afirma que as necessidades do consumidor precisam ser satisfeitas

quando ele escolhe um algum produto ou serviço de uma determinada empresa. Para isso, as

empresas precisam destinar seus recursos em pesquisas, as quais irão mostrar a aceitação ou

não do produto ou serviço no mercado consumidor.

Para que o produto seja vendido, ele precisa ser divulgado, propagado, e, nesse

sentido, torna-se imprescindível a ação do marketing. “A palavra ‘marketing’ tem sido usada

livremente para designar principalmente as atividades de promoção, vendas e propaganda.”

(SKACEL, 1992, p. 7).

Conforme discorre Skacel (1992, p.7), o marketing pode ser definido como um

instrumento para o convencimento dos consumidores, para que estes comprem ou venham a

comprar mais os produtos e serviços oferecidos e se sintam satisfeitos e atendidos nas suas

necessidades de consumo. Dessa forma, a melhoria contínua e a sensibilidade para entender o

cliente são valores importantes, que devem constar do processo de venda. Skacel (1992, p. 7)

menciona também que a empresa, na venda de seus produtos ou serviços, precisa manter o

cliente satisfeito para que ele volte, bem como é importante conquistar novos clientes, o que

implica em oferecer o melhor em relação ao que existe no mercado.

As decisões e atividades de marketing precisam estar atentas e voltadas para o

consumidor, pois este, adquirindo o produto ou serviço, está deixando claro o que quer,

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quando quer, como quer e quanto está disposto a pagar. Assim, o marketing pode ser definido,

segundo Skacel (1992, p.7), como “A geração de lucro através do gerenciamento dos recursos

e atividades que determinarão e satisfarão as necessidades e desejos das pessoas que compram

produtos e serviços.”

Dentre as muitas estratégias de marketing utilizadas para se vender um produto ou

serviço e convencer o consumidor a comprá-lo, três elementos são essenciais para se alcançar

o sucesso na venda: a) oferecer um produto que esteja de acordo com as necessidades e os

desejos do consumidor; b) usar uma estratégia de marketing eficiente para colocar o produto

em contato com o consumidor; c) conseguir os resultados almejados por meio de um plano de

marketing que identifique as estratégias e as responsabilidades de se colocar o produto ou

serviço no mercado consumidor (SKACEL, 1992, p.8).

Para Silva (2005, p.55-57), há muitas interpretações, bem como há diferentes teses e

convicções de especialistas a respeito de marketing político e marketing eleitoral; entretanto,

em um ponto a maioria deles concorda: ambos, apesar de serem áreas próximas, são distintos,

pois implicam em modos de ação diferenciados. O primeiro está contido no segundo, pois

grande parte dos candidatos chega à ação do marketing eleitoral tendo passado

necessariamente pelo marketing político, o qual começa já na fase de planejamento de uma

campanha, momento em que é ditado o ritmo, a estratégia imediata, os rumos a serem

seguidos e as decisões a serem tomadas no calor da disputa, que correspondem às etapas que

precedem as eleições, momento em que o sucesso nas urnas depende dos objetivos e das

metas alcançados durante a campanha.

De acordo com o autor, o marketing político é mais abrangente que o marketing

eleitoral, pois este eleitoral é inerente ao momento da eleição, quando são tomadas decisões

referentes à conjuntura do processo eleitoral, e reflete as atitudes do candidato e a sua

comunicação com os eleitores por meio dos seguintes veículos: rádios, TVs, jornais, slogans,

discursos, promessas e plano de trabalho.

Mais abrangente que o marketing eleitoral, o marketing político faz parte não somente do momento eleitoral, como também acompanha a história de vida de um político ou de um partido político. Compõe uma técnica de comunicação que visa à promoção de uma imagem favorável aos olhos da opinião pública. (SILVA, 2005, p.55).

Segundo Santos (1996 apud GRANERO; TOZZI, 2009, p.1), “Marketing político

define-se como a arte e ciência da ética da persuasão. Ética pressupõe referências morais,

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valores, honestidade e vigor. Vai buscar a substância da sua significação ao conceito de

relações públicas”.

Em nossa sociedade, vender é um ato de extrema importância e necessidade, por isso a

estratégia de marketing é fundamental para que se possa alcançar esse objetivo, ou seja,

vender um determinado produto. Um candidato que pretende vencer uma eleição não foge à

regra, até porque o mundo em que ele vive é de oferta e de procura. Na política, as

necessidades são bem parecidas, pois o marketing político e o marketing comercial

comungam as mesmas teorias e práticas para atender os eleitores, que também são clientes em

suas necessidades sociais.

Conforme Granero e Tozzi (2009, p.1), no passado, as campanhas eleitorais eram

baseadas na intuição e nos palpites, por isso, com o surgimento do marketing político,

passaram de intuitivas a racionais. Em razão disso, as pesquisas assumiram o lugar dos

palpites, apontando o caminho mais seguro para se planejar uma campanha com mais

eficiência.

Para esses autores, os temas principais de uma campanha eram “livres” e apresentados

em palavras perdidas. Hoje, existem os slogans, nos quais estão contidos a estratégia e o

conceito. A cada dia, a propaganda eleitoral está mais profissional e menos amadora. Muitas

coisas mudaram, por exemplo, os receptores das mensagens, que são os eleitores, estão mais

exigentes, são pessoas mais esclarecidas, são mais críticas. As condições necessárias para se

alcançar resultados favoráveis dependem de elementos básicos numa campanha eleitoral, isto

é, saber planejar estrategicamente, no sentido de cuidar da orientação e dos detalhes das

atividades da campanha, do tempo e dos recursos para realizá-la, como mão de obra

especializada em propaganda e monitoramento do processo durante todo o processo eleitoral.

Ou seja, Granero e Tozzi (2009, p.1) afirmam que:

Hoje em dia, é impossível pensar em eleições, sem pensar em uma forte estrutura de marketing político, seguido em todos os segmentos do eleitorado. Com essa evolução, a propaganda eleitoral deixou de ser um ato simples como imprimir milhares de folhetos coloridos e pichar os muros das cidades com os nomes dos candidatos.

Conforme Torquato (1985, p.13-14), o marketing político é a ferramenta que o

candidato utilizará para vencer nas eleições e atingir uma posição de poder e conquista. O

marketing político é entendido como o espaço planejado para se cultivar a atenção, o interesse

e a preferência de um mercado de eleitores; é a via indicada e segura para o sucesso daquele

que deseja ingressar na carreira política.

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Torquato (2004, p.169) afirma que o marketing é uma avaliação das oportunidades, da

satisfação de desejos e das atividades dirigidas à estimulação de troca entre produtores e

consumidores. É o conjunto de atividades determinadas a promover as relações de troca entre

um emissor e um receptor, no momento certo, por meio de canais adequados e mensagens

apropriadas que atinjam o foco de interesse dos segmentos-alvo. Os termos-chave desse

conceito são: satisfação de desejo, avaliação de oportunidades e estimulação da troca entre

quem produz e quem consome. Cabe ressaltar as linhas básicas que estão por trás desse

conceito: emissor de um lado e receptor do outro – produtor e comprador –, o momento certo,

ou seja, a ocasião mais pertinente para dar a mensagem e convencer o eleitor, e os canais

adequados, isto é, a mídia – mensagens apropriadas que atinjam o foco dos segmentos-alvo.

Para o autor, a teoria do marketing é composta dos 4 Ps, ou seja: produto, posição

(lugar), promoção e preço. No caso do marketing político, são os 4 Cs: candidato, cenário,

comunicação e custos.

O esquema de marketing aplicado ao sistema de comunicação é o marketing

organizacional, que compreende, em primeiro lugar, a comunicação. Esta segue os seus

desdobramentos da seguinte forma: no centro estão os bens e serviços; de um lado, o

oferecimento de ambos; e de outro, o destino. No oferecimento dos bens e serviços há o

produtor e o consumidor, o vendedor e o comprador e, por fim, de um lado, o que recebe

(dinheiro/informações) e, de outro, o feedback do consumidor/comprador. Essa cadeia traduz

o conceito geral do marketing (TORQUATO, 2004, p.169).

No marketing político, o mesmo modelo se desenvolve. O candidato, cujo objetivo é

receber o voto do eleitor, apresenta a este as suas ideias, seus programas, suas promessas e

seus compromissos. O eleitor analisa e retêm em sua mente aquilo que é comunicado pelo

candidato e, no dia da eleição, realimenta-o com o seu voto, que é o feedback da ação do

candidato. Se o eleitor ainda não conseguiu “comprar” a ideia do candidato, ou se ele não se

posicionou acerca desta, precisará de mais informações sobre o candidato, que subsidiem sua

decisão final. De qualquer maneira, o que ocorre é um processo de interação informativa entre

candidato e eleitor: as ideias do primeiro são divulgadas por intermédio da mídia – jornal,

revista, materiais de propaganda, rádio e televisão –, o eleitor toma conhecimento do

programa de trabalho do candidato, o vê na mídia, tem simpatia por suas propostas, iniciando,

assim, um processo de empatia, que se dá inclusive por meio da maneira de o candidato

expressar-se e da forma de apresentar-se. Nesse processo, o eleitor pode achar que o

candidato é agradável, bonito, inteligente e culto e passar a ter simpatia por ele. Se, de

imediato, o eleitor não se decidir por votar no candidato, poderá exigir mais informações a

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respeito dele. Com o decorrer da campanha, o processo vai fechando-se, fazendo com que o

eleitor se aproxime mais do candidato, afirma Torquato (2004, p.170).

Dessa forma, a comunicação, os programas, os compromissos, as promessas e os

favores constituem o eixo da identidade do candidato, que é transmitido por meio de canais

impressos e eletrônicos. Em síntese, o esquema de marketing empresarial aplicado ao

marketing político tem o seguinte desdobramento: no centro do esquema está o marketing

político com as comunicações e ideias, promessas e os favores; de um lado, a apresentação do

candidato, cujo objetivo é vencer as eleições, e, de outro, o eleitor que, por meio das

informações adquiridas, dá um feedback ao primeiro na forma de voto (TORQUATO, 2004,

p.170).

Seguindo essa teoria, alguns autores apontam um paralelo entre o marketing político e

o marketing de produtos. Gary Mauser (apud FIGUEIREDO, 2000, p.14) nos mostra três

exemplos desse paralelismo: primeiro – empresas e partidos políticos se organizam, ambos

estão de olho no consumidor final, ou seja, os consumidores/eleitores. A empresa vende o

produto; já o partido tem como produto o candidato; segundo – o eleitor é, ao mesmo tempo,

um consumidor, que exerce o seu poder de decisão na hora de comprar e também na hora de

votar; terceiro – tal como os produtos que, para serem vendidos, precisam dos recursos da

comunicação, os candidatos, para atingirem o número máximo de eleitores com a sua

mensagem e persuasão, não têm alternativa a não ser o uso dos tradicionais canais de

comunicação, que são o contato pessoal (um dos mais importantes) e a comunicação de massa

pelos seguintes meios: eletrônico, rádio, televisão, jornais e revistas.

É óbvio que existe uma grande diferença entre um candidato e um produto, apesar de

podermos traçar um paralelo entre eles, conforme explicitado acima, entretanto o uso dos

veículos de comunicação de massa tem o mesmo objetivo para ambos, que é alcançar um

número maior e em pouco tempo de compradores/eleitores que possam comprar tanto os

produtos como os candidatos. A finalidade é a mesma, isto é, a promessa de satisfação dos

desejos do comprador/eleitor. O produto é um bem que está à disposição para a venda, já o

candidato, um ser que pensa, fala, tem uma história de vida, laços familiares e de amizade,

representa o produto no marketing político. No quesito eleição, o candidato se vende para a

maior parcela de eleitores. Para tanto, ele poderá usar uma comunicação massiva ou mesmo a

segmentada, o corpo a corpo (FIGUEIREDO, 2000, p.14).

Para Cervellini (2000, p.84), o marketing político e o marketing empresarial têm, em

comum, os instrumentos teóricos e técnicos, que visam atender às necessidades de seus

clientes em suas especificidades.

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Entretanto, não se pode vender um candidato, como se vende um produto qualquer.

Ambos exigem técnicas diferenciadas, o que implica no conhecimento e nas experiências nas

áreas política e eleitoral. Tal como a venda de um produto requer diferentes técnicas de

persuasão, o mesmo ocorre em relação ao candidato, uma vez que o consumidor de um

produto também é consumidor/eleitor das ideias de um candidato, tendo o voto como

pagamento. Assim sendo, apesar do diferencial entre os produtos e as técnicas de venda, o

objetivo é o mesmo, isto é, fazer com que o consumidor/eleitor se convença de sua escolha,

seja o produto propriamente dito, seja dar o seu voto ao candidato.

Para tanto, é necessário priorizar o planejamento estratégico, o uso de pesquisas e de

informações sistematizadas, para entender o consumidor e o ambiente, bem como adaptar a

comunicação de acordo com estratégias, desenvolver e aprimorar as técnicas de comunicação

para se ter um contato mais individual e direto com o consumidor/eleitor, são requisitos

importantes para se conquistar o voto. Essa convergência torna-se necessária e traz o

resultado de uma crescente profissionalização na área de marketing, de um modo geral, em

resposta à exigência do mercado, por resultados satisfatórios e inseridos na lógica do custo-

benefício.

Cervellini (2000, p.83), ao refletir sobre o marketing político e marketing comercial,

faz os seguintes questionamentos: “[...] quais teorias e ideologias poderão dar conta da nova

realidade econômica mundial? Existe ainda espaço para a afirmação e adesão social a

estruturas de pensamento político e econômico com a abrangência do socialismo ou do

liberalismo?”

Para Figueiredo (2000, p.83), os debates a respeito dessas questões vêm acontecendo

de uma maneira cada vez mais frequente no Brasil. Isso porque, nos últimos seis anos, a

relativa estabilidade política e econômica tem levado à sociedade brasileira a se preocupar e

ficar mais atenta aos novos temas de interesse nacional, pois os cidadãos têm interesse em

manter essa estabilidade. Não existem ainda respostas claras o suficiente para os temas

pertinentes às dimensões das decisões políticas a serem enfrentadas no futuro.

Kuntz (2006, p.20), tal como Figueiredo (2000) e Cervellini (2000), também não

considera que a mesma técnica de marketing deva ser utilizada para vender um produto e um

candidato. O autor afirma que os mitos da associação entre marketing político e marketing de

produtos, isto é, que se vende um candidato tal como se vende um sabonete, não procedem e

depreciam o exercício da função política. Esses mitos foram criados pelos publicitários que se

sentiam ameaçados com o novo segmento de mercado (marketing político) que se iniciava na

década de 80. Nessa época, era divulgado, além de ser comentado a fim de espalhar a ideia,

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que o marketing político anularia a personalidade de seu usuário, visando enganar o eleitorado

ao apresentar o candidato como alguém que, na realidade, não o é, isto é, apresentar uma

imagem falsa do candidato.

Vale lembrar a importância do papel de um candidato para o seu partido, seus eleitores

e toda a sociedade, pois sua função é defender os interesses das causas públicas e dos

eleitores. No caso do partido, este, em seu plano de marketing político, tem, no candidato, o

instrumento que vai transmitir para a sociedade as suas ideologias e suas estratégias; isso será

como uma vitrine, para que todos vejam e entendam os ideais de ambos (candidato e partido).

Segundo Silva (2002, p.3): “O candidato é o conteúdo, é um contexto amplo entre partido,

ideologia, vida e sua participação na sociedade.”

Assim sendo, alguns fatores são importantes para compor um candidato, os quais,

dentro das suas características próprias, são: capacidade de liderança, habilidades na

comunicação e no discurso e ter carisma; também há os fatores internos, chamados de fatores

de pressão, como grupos políticos (partidos ou facções) e grupos de financiamento e, por fim,

os fatores externos de pressão, que são os eleitores e adversários.

O marketing político utiliza várias ferramentas para conquistar o eleitor. Como o nome

já diz (comunicação), os eleitores precisam ser comunicados sobre a intenção do candidato, o

qual procura ser simpático durante a campanha e conseguir, assim, o voto dos eleitores.

É sabido que as pessoas são bombardeadas diariamente por todos os tipos de

informações e estímulos. No entanto, é sabido que elas não conseguem processar e reter todas

as informações, pois o cérebro seleciona o que recebe de informação, aceitando apenas aquilo

que interessa.

A complexidade que envolve o processo de comunicação, em especial no que se refere

à comunicação eleitoral, tem como uma das suas finalidades criar diversas possibilidades de

um mundo digno, fornecendo um cenário favorável a esse mundo. O objetivo é fazer o

cidadão/eleitor acreditar em seus sonhos. É no período eleitoral que essa atividade real das

estratégias parece ter maior fluidez, e a disputa pelo voto se configura no discurso perfeito e

na persuasão. Ao convencer um grupo maior de eleitores, fazendo-os acreditar que os seus

sonhos serão realizados, o político demonstrará competência e será bem-sucedido no

resultado final das eleições (BORGES, 2007, p.1).

O candidato pode transmitir a sua mensagem de uma forma pessoal, conversando,

tocando no eleitor, explicando seu plano de trabalho nas comunidades de um modo geral.

Também pode ser usada a forma de comunicação não pessoal, comunicação de massa por

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meio de rádio, televisão, jornais, revistas, pelos quais sua mensagem chegará mais rápida e

com uma abrangência maior de pessoas atingidas.

Segundo Borges (2007, p.4): A comunicação de massa afeta atitudes e comportamentos individuais através de um processo de fluxo em duas etapas: as idéias fluem do rádio, da televisão e da imprensa escrita para os formadores de opinião e destes para os grupos de pessoas menos envolvidos com a mídia. A internet é a mais nova ferramenta de comunicação e interatividade com o eleitorado, principalmente com os formadores de opinião. Os políticos que trabalham com a internet estão utilizando a propaganda viral como forma de boca-a-boca para atrair a atenção e interagir com as pessoas.

Para Kotler (apud BORGES, 2007, p.4): [...] especialistas advertem que, embora os influentes ou ‘alfas’ originem tendências, são muitas vezes introspectivos e socialmente alienados para disseminar corretamente as informações. Por outro lado, os profissionais de marketing e propaganda política/eleitoral precisam tomar certos cuidados na hora de atingir o eleitor, pois ele pode não estar de acordo com uma comunicação não solicitada, ou invasiva. O mix de comunicação apresenta ainda, outros canais não pessoais, como promoções, patrocínios, eventos e relações públicas. O candidato pode construir a sua imagem com o auxílio da criação ou patrocínio de eventos, tais como: esportivos, culturais e ambientais, além das formas de entretenimento.

Além da comunicação, é muito importante que tanto empresas quanto partidos saibam,

com antecedência, o que a população espera deles.

Assim, para qualquer empresa/produto, ou partido político/candidato, o ideal seria

saber por antecipação os desejos e as necessidades dos clientes/eleitores. Isso economizaria

tempo, dinheiro, além do fato de que os objetivos seriam atingidos com maior precisão. Por

outro lado, descobrir esses desejos e essas necessidades é uma tarefa complexa, mas não

impossível, pois é possível obter essa informação por meio de uma pesquisa de mercado. De

acordo com Borges (2007, p.4), “Os componentes do marketing eleitoral são: pesquisa de

mercado, o conceito, a estratégia utilizada pelo candidato e o plano de comunicação.”

Para o autor, o estudo de mercado é o alicerce de todo o processo. É com base nele que

o candidato conhecerá as necessidades da comunidade, seus sonhos e desejos; é o ponto

inicial de todo o processo de uma campanha política, pois é esse estudo que apontará a

estratégia que será usada para influenciar os eleitores. Ou seja, é necessário conhecê-los muito

bem, saber como eles pensam e como tomam as suas decisões na hora do voto.

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Dessa forma, para Silva (2002, p.3), as pesquisas são ferramentas importantes no

marketing político, pois elas que ajudam o candidato a conhecer melhor o eleitor e mensuram

os tipos de levantamentos de dados para essa avaliação. As pesquisas podem ser de dois tipos:

1) de opinião pública, que procura medir o conhecimento da população sobre determinados

assuntos, como: privatização, economia, déficit público, política social, de saneamentos entre

outros; 2) de acompanhamento e desempenho administrativo, que visa levantar os principais

problemas da população avaliando o desempenho dos governantes. O objetivo dessas

pesquisas é avaliar e conferir a imagem administrativa do governo que está no poder, o grau

de informação dos projetos e das obras realizadas, a satisfação com os serviços públicos

prestados. Nas pesquisas eleitorais, as intenções de voto do eleitor são um dado importante,

pois, por meio delas, procura-se detectar cada momento, medindo-se o potencial de aceitação

ou rejeição do candidato.

Para Figueiredo (2000, p.12), o marketing político também é uma avaliação de como

andam as tendências de aceitação dos eleitores em relação aos candidatos. Para isso, uma das

técnicas usadas no marketing político são as pesquisas qualitativas e quantitativas, as quais

têm como objetivo avaliar a reação do eleitor diante da campanha do candidato. De acordo

com os resultados dessas pesquisas, o candidato terá um caminho norteador para outras ações

que possam resultar numa maior votação possível. Dentro desse conjunto de análises, são

necessários os seguintes procedimentos: detectar o clima de opinião do quadro político não só

do candidato como de seus adversários; planejar, realizar e analisar todas as pesquisas;

elaborar, conforme os dados obtidos, as estratégias necessárias; definir o plano de mídia,

usando os melhores meios de comunicação para atingir o maior número de eleitores e,

consequentemente, um número maior de votos. Caso haja necessidade, deve-se corrigir

alguma decisão já tomada, mudando, se necessário for, o rumo dos caminhos até então

percorridos.

Pesquisas e estratégias são recursos essenciais do marketing político, isto é, são

instrumentos fundamentais em qualquer campanha, pois ambas ajudam a atingir o alvo certo;

é como pilotar um avião seguindo as orientações do radar para se ter um bom voo, ou então

usar uma bússola para se orientar durante a navegação. Toda e qualquer estratégia de

marketing político necessita amparar-se e sustentar-se em pesquisas qualitativas e

quantitativas, pois é por meio delas que se definem a postura do candidato, os temas da

campanha, as propostas que serão apresentadas aos eleitores, a forma de apresentá-las, quais

segmentos do eleitorado devem ser priorizados e de que maneira, quais apoios são

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importantes e se é conveniente ou não atacar os outros candidatos (FIGUEIREDO, 2000,

p.20).

A determinação do eixo da campanha do candidato baseia-se na campanha de sua

imagem durante o período eleitoral. Ambas vêm precedidas de análise do estado de espírito

dos eleitores, análise dos adversários e análise dos meios disponíveis. Em consequência, tem-

se a determinação dos alvos e dos objetivos, que trazem a elaboração de um plano de

campanha na escolha das mídias, dos temas de comunicação, da determinação da imagem do

político e da realização da campanha. O pré-teste em escala reduzida, com correções

eventuais, torna-se necessário na determinação do eixo da campanha do candidato. Assim, é

importante que a equipe e o candidato façam simulações (ensaios) de discursos e outros

detalhes que envolvem uma campanha, para que, no momento de efetivá-los perante um

grande número de eleitores, seja o candidato bem-sucedido, e não passe por constrangimentos

(FIGUEIREDO, 2000, p.15).

O autor continua, apresentando os seguintes fatos: em 1952, nos Estados Unidos, o

marketing político surgiu de uma maneira mais clara e objetiva, cujo formato é moderno. Pela

primeira vez, os republicanos contrataram uma agência de publicidade, a BBDO (Batten,

Barton, Durstin e Osborne), para fazer a campanha do general Eisenhower. Foi nesse ano que

surgiram as primeiras regras da comunicação política, como a da Unique Selling Proposition

[Proposição única de venda] (USP), que ditava o seguinte: em cada peça publicitária do

candidato, deveria ser vendida apenas uma ideia, uma proposição. Logo após, surgiu, então, a

publicidade negativa, que tinha como objetivo atacar os candidatos adversários, algo já

conhecido e praticado pelos candidatos brasileiros e bem conhecido dos eleitores. Foi em

1960 que, pela primeira vez, surge o debate dos candidatos na televisão. Um deles foi

decisivo para selar a vitória de John Kennedy sobre Richard Nixon, quando ficou clara a

importância da aparência do candidato para os eleitores.

Sobre a dimensão simbólica da escolha eleitoral, Silveira (2000, p.128-129) relata que

a mídia eletrônica cresceu e muito nos últimos anos, sendo a principal responsável pelo

crescimento também dos atributos simbólicos dos candidatos. E isso tem um peso

significativo na escolha do candidato pelos eleitores, uma vez que a utilização intensa e

massificada dessa mídia pelas campanhas políticas e, ao mesmo tempo, pela sofisticação do

marketing político e eleitoral, leva também ao surgimento de uma nova escolha: a não

racional.

A melhora de desempenho na conquista de votos deu-se na incorporação dos

instrumentos e recursos voltados ao marketing mercadológico e à propaganda publicitária. O

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marketing político cresceu e ganhou espaço, sendo utilizado nas disputas eleitorais como uma

forma de melhorar desempenhos e conquistar votos. Conforme explicitado anteriormente,

“vender” um candidato não é o mesmo que vender um produto de consumo qualquer. O

candidato é um produto especial, que está associado a características de personalidade, a

ideias políticas, a compromissos partidários e programáticos e a disputas e confrontos no

terreno institucional e social, que alteram as relações de força no jogo político.

Segundo Silveira (2000, p.129), é no marketing político e eleitoral que se constrói a

imagem de um candidato. Isso significa eliminar e neutralizar todos os aspectos considerados

negativos pelos eleitores. O sentimento de repulsa e rejeição por parte dos eleitores precisa ser

eliminado, pois eles precisam ser convencidos da existência dos aspectos positivos do

candidato; para tanto, cabe ao marketing a tarefa de convencê-los, traçando, para tanto, um

novo caminho inverso a tudo que signifique rejeição, ou seja, fortalecer os aspectos do

candidato tidos como positivos, que sejam capazes de atrair a simpatia e o apoio dos eleitores.

O marketing político busca desenvolver o potencial de cada candidato, harmonizando

suas características e a valorização dos elementos que estão em sintonia com a percepção dos

eleitores. A construção dessa imagem dá-se a partir de alguns rearranjos no modo do candidato apresentar-se, como se ele fosse um ator para o eleitor. O objetivo é um só, ou seja, é o mesmo no marketing e na propaganda publicitária: conquistar as pessoas, mexer com seus sentimentos e suas emoções, pulsões, motivações inconscientes e desejos. Além de tentar ajustar a imagem percebida de um candidato à imagem do candidato ideal, desejado de forma não-artificial, os especialistas de marketing procuram também posicionar corretamente o candidato na disputa. (SILVEIRA, 2000, p.129).

No terreno político, as imagens formadas adquirem um caráter acentuadamente moral.

E é por meio dos valores morais que os candidatos, os políticos e a política de um modo geral

são definidos. Os valores morais estão associados a certas características pessoais dos

candidatos, como: boa oratória, empatia, aparência física, modo de se vestir, como expressa

sentimentos e emoções, tranquilidade para responder acusações e tratar a invasão de sua vida

pessoal e sinceridade nas respostas. Um candidato que apresente essas características está,

certamente, perto da decisão do voto a seu favor. [...] imagem, mídia e marketing constituem hoje as palavras-força que mobilizam dirigentes de toda a espécie de instituições públicas ou particulares, fascinam políticos de todas as idades, apaixonam iniciantes e conduzem uns à glória e outros à ruína em sua carreira ou até na vida privada. (POYARES, 1998, p.17).

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O estabelecimento de elos de identificação com o eleitorado pela maioria dos

candidatos torna-se importante, pois seu objetivo é mostrar sua imagem/posição e as

preocupações e expectativas predominantes. A capacidade dos agentes políticos é quem vai

determinar o sucesso ou o fracasso do estabelecimento dos elos de identificação. O

concorrente político trabalhará para obter sucesso e sensibilizar o eleitor, mostrando que

possui os atributos políticos necessários para tal convencimento.

Galindo (2008, p.17), ao discorrer sobre o marketing político, faz as seguintes

considerações:

O crescente fenômeno do marketing político tem apresentado inúmeras facetas da apropriação das técnicas de mercado, fala-se mais do candidato como produto, ignorando-se o ser político em si. A ênfase é quase sempre focada nas alterações perceptuais dos políticos como se as práticas dessas técnicas fossem verdadeira cirurgia plástica ou a arte de esculpir novas formas ou roupagens sobre os políticos, conferindo-lhes uma nova dimensão competitiva tanto no cenário eleitoral como no desempenho de seus mandatos.

Os candidatos a um cargo político precisam, bem como são orientados a enfrentar, as

diversas demandas que se lhes apresentam, as quais deverão ser atendidas, caso o candidato

vença a eleição (GALINDO, 2008, p.6). Para isso, é necessário que ele adquira por si só uma

postura pertinente, ou seja, se posicione perante seu partido e seus eleitores, ou então

desenvolva-a por meio de orientação de especialistas da área de marketing político

direcionada à alteração de seu comportamento, para que este esteja alinhado com a sua

proposta política.

A prática do marketing pessoal não pode ser somente uma possibilidade de

transformar a limitação de um candidato, que não é competitivo nem encantador ou

manipulador dos eleitores, que representam a vontade coletiva.

Para Galindo (2008, p.6): O marketing pessoal, longe de ser uma panacéia é a busca constante pelo melhor desempenho do ser humano, comprometido com suas ações e reações no sentido da construção consciente de uma imagem legitima, crível e alinhada com o perfil político do candidato que busca a uniformidade perceptiva junto aos seus eleitores.

São muitas ações e diversos são os segmentos da sociedade aos quais um candidato

precisa estar atento; suas preocupações deverão sempre estar voltadas para uma boa

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construção da sua imagem. É possível agregar vários componentes subjetivos a ela, sem que

uma só palavra seja dita. As suas expressões e sua aparência perante o público constituem o

fortalecimento da sua boa imagem. Assim, num programa de televisão, o candidato deverá

saber usar seus gestos, expressões faciais e a sua modulação de sua voz, ao responder as

perguntas a ele dirigidas. Também é de fundamental importância que o candidato frequente

missas e todos os tipos de cultos religiosos, pois isso dará a ele uma imagem de pessoa

religiosa, que tem bons princípios e boa formação de caráter. O fato de estar sempre

acompanhado da família transfere a imagem de alguém que tem sólidos valores familiares

(KUNTZ, 2006, p.53).

Segundo Granero e Tozzi (2009, p.4), a imagem do candidato, conforme explicitado

anteriormente, é um item muito relevante, pois é nela que serão trabalhadas todas as formas

de se conquistar o eleitor. A imagem compreende a sua aparência, o seu modo de falar, como

se porta perante as pessoas e os seus concorrentes nas entrevistas, no âmbito pessoal e em

público. Esses são fatores importantes na hora da conquista do voto. Mesmo que o candidato

já tenha um perfil definido, deve trabalhar e adaptar esse perfil. É preciso fazer uma

verificação sistemática para saber como os eleitores estão recebendo e assimilando a figura de

um candidato, bem como desenvolver com a sua assessoria política uma agenda de aparições

pessoais, nas quais o candidato conversará com as pessoas, tocará nelas, sentirá nesses

contatos a noção de sua aceitação ou rejeição. O candidato além de cativar o público, tem a

responsabilidade de motivar o partido, os cabos eleitorais e os eleitores comprometidos com a

sua campanha.

Essas e outras ações constituem a importância do símbolo na comunicação política,

uma vez que o público precisa de líderes e de referenciais que correspondam aos seus anseios,

seus valores e às suas necessidades.

Silveira (2000, p.130-131) relata que a população está atenta aos aspectos negativos da

política, e que há grande rejeição por parte dos eleitores em relação a eles. Assim, os

candidatos vão tirar proveito dessa reação, transformando símbolos negativos em positivos.

Há muitos exemplos dos aspectos negativos, tais como: práticas de corrupção na máquina

pública, uso indevido de verbas, nepotismo, favoritismo e altos salários no funcionalismo

público. No passado, alguns candidatos tiraram proveito dessa imagem negativa presente na

política e criaram símbolos, por exemplo: o ex-presidente Jânio Quadros, criou a “vassoura”,

como instrumento para varrer a corrupção do meio público; outro ex-presidente, Fernando

Collor de Mello, chamou os políticos de marajás e prometeu caçá-los em seu governo; já

Fernando Henrique Cardoso, também ex-presidente, usou, como símbolo, a mão aberta,

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explicando que seus cinco dedos significavam as suas cinco prioridades de campanha; o

símbolo (imagem) tinha também como objetivo levar uma mensagem de segurança. Esses

foram exemplos claros de transformação do sentimento de desagrado do eleitorado brasileiro

em símbolos de esperança e fé para mudar o que havia de errado na política. As estratégias do marketing político e a mídia tornam-se cada vez mais relevantes nas disputas eleitorais, em função da sua grande incidência na construção das imagens dos candidatos, no estabelecimento das clivagens das campanhas e na conquista emocional e simbólica dos eleitores. (SILVEIRA, 2000, p.132).

Conforme o autor, o marketing político vai além do momento eleitoral, pois são

inúmeras ações, variáveis, certezas e incertezas utilizadas para discernir qual é o melhor ou

pior momento para se construir uma boa ou má imagem do candidato diante do eleitorado. A

decisão do voto está intimamente ligada às imagens dos candidatos, e estas são meios

fundamentais para a decisão do eleitor. O eleitor pode captar intuitivamente as características,

os modos de ser e agir dos candidatos, perceber se os sentimentos e as emoções expressos são

efetivamente autênticos e, ainda, por relação simbólica, combinar instintivamente as imagens

dos candidatos captadas com as imagens de político ideal desejado, retidas no seu quadro de

referências valorativo e simbólico.

A estratégia de marketing político, no conceito de Tomazeli (1988, p.17), compreende

análise, planejamento e controle da ação mercadológica. As etapas que compõem o plano

estratégico são: identificação de oportunidades, definição de objetivos preliminares, análise

do macroambiente, análise dos partidos, análise dos candidatos, pesquisas para fins políticos,

o candidato como produto, desenvolvimento da plataforma de governo, levantamento de

recursos necessários, formulação das diretrizes da campanha.

Na identificação de oportunidades, uma pessoa, antes de tomar uma decisão, ao

escolher uma profissão, ou um local para morar, ou outras coisas que atendam às suas

necessidades, tem que fazer um exercício de avaliação e análise de oportunidades. Ela precisa

saber se a sua escolha foi certa, se foi oportuna para o seu projeto de vida, ou projeto político.

A política é um caminho que exerce fascínio sobre muitos, especialmente os que gostam de

estar à frente dos demais, que resistem a ser liderados (preferindo liderar), que precisam do

poder para se sentirem realizados. Toda pessoa paga um alto preço para iniciar uma carreira

política: a cobrança surge de todos os lados, a vida se torna pública, as atitudes tornam-se

sujeitas a todo tipo de julgamento, independente de credo ou classe social (TOMAZELI,

1988, p.17-18).

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Já na definição de objetivos preliminares, o político tem que optar por um único

caminho, ou seja, aquela oportunidade mais concreta ou mais ousada, de acordo com os seus

objetivos, os quais deverão ser planejados e determinados. Por exemplo: certo partido

apresenta um espaço para que o político decida entre ser candidato a vereador ou a prefeito

em uma determinada cidade. Nesse exemplo, o aspirante decidiu ser candidato a prefeito e,

desde então, passa a pensar e agir sempre nesse sentido. Quando se fala em objetivos

preliminares, entende-se que há diferença entre os objetivos mercadológicos de uma empresa

e os de marketing político, pois, tratando-se de política, tudo é possível.

Tomazeli (1988, p.21) relata que, na análise do macroambiente, nota-se que este passa

por transformações constantes, pois, de um modo geral, as condições que se apresentam

afetam toda a vida da sociedade e também todo o sistema de marketing político. O

macroambiente se modifica cada vez mais, de maneira que os partidos e candidatos precisam

estar bem sintonizados com essas mudanças significativas que afetam o meio social. As forças

do macroambiente que mais afetam o sistema de marketing são: ecologia, mercado, economia,

política, concorrência, tecnologia e cultura.

A análise dos partidos tem, por conseguinte, crescimento, maturidade e declínio. Todo

produto tem um ciclo de vida que obedece a essas três fases, e os partidos não fogem a essa

regra. São muitos os partidos políticos no Brasil, muitos cresceram e alcançaram maturidade,

outros mal nasceram e declinaram, alguns até já desapareceram. Esses partidos passam por

muitos conflitos; na fase da maturidade, há os conflitos internos, divisões, pois, quando o

partido chega ao poder, seus integrantes começam a disputar os melhores cargos e espaços

internos e externos. Quando tal partido atinge um alto grau de maturidade, esse é assediado

por políticos de outros partidos para uma possível afiliação. É o efeito de atração do poder

conquistado. A maioria dos partidos tende a se posicionar a favor de quem está no comando.

Já na análise dos candidatos, Tomazeli (1988, p.26) entende que um político não

nasce repentinamente. Ele é produto de um processo que, ao longo do tempo, vai tornar

conhecida a sua imagem. Durante esse tempo, passa a ser identificado perante o eleitor. O

candidato precisa e deve conhecer o seu concorrente, bem como estudar o passado público e

privado deste, identificar os seus pontos fortes e fracos diante da opinião pública e de seu

partido. Ele deve analisar os pleitos dos quais participou, as estratégias que utilizou e seus

públicos-alvo. Também é importante saber quais recursos serão utilizados na campanha e a

procedência deles. É imprescindível saber os pontos mais importantes da estratégia que irá

desenvolver na campanha da qual irá participar. Outra etapa importante é o candidato se

incluir na análise, comparando-se aos seus concorrentes na identificação de vantagens e

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desvantagens, com o objetivo de avaliar suas reais chances de vitória. A sua postura terá que

ser diferente da de seus opositores, para que estes tenham dificuldades e não consigam espaço

para atacá-lo e, assim, desmoralizá-lo frente à opinião dos eleitores.

Quanto às pesquisas para fins políticos, segundo Tomazeli (1988, p.27), só é possível

montar as estratégias de campanha por meio de pesquisa de opinião para fins políticos, pois é

por intermédio dela que os candidatos recebem todas as informações básicas e necessárias

para desenvolver o trabalho de convencimento do eleitor.

Antes e durante o trabalho de desenvolvimento da campanha, serão necessárias várias

pesquisas, pois é por meio delas que serão avaliadas e ajustadas as diretrizes preestabelecidas.

Geralmente, a primeira pesquisa tem como objetivo conhecer as expectativas, necessidades,

interesses e valores da comunidade, bem como a imagem pública dos candidatos que estão em

evidência para a disputa do pleito que se aproxima.

A preferência dos eleitores pelos candidatos e partidos deverão fazer parte das demais

pesquisas, pelas quais serão detectadas e reveladas a aceitação e a capacidade de penetração

de cada um dos candidatos e partidos nas diversas classes socioeconômicas e áreas

geográficas.

Os institutos de pesquisas e as empresas especializadas em pesquisa eleitoral

cresceram e se aperfeiçoaram ao longo do tempo. A redemocratização do País deu essa grande

contribuição para as campanhas eleitorais. Tornou-se um serviço confiável perante a opinião

pública. Mas, devido à seriedade de trabalho questionada, nem todos que se declaram

institutos de pesquisas o são. Para um melhor entendimento, é preciso diferenciar a pesquisa

de opinião da pesquisa promocional (TOMAZELI, 1988, p.27).

Segundo o autor, a pesquisa de opinião, como diz o próprio nome, reflete a opinião

pública em dado momento de um evento. A pesquisa promocional tem o objetivo de mudar o

comportamento indesejado das pessoas diante de determinadas situações e conceitos

negativos já arraigados em suas mentes, por exemplo, o conceito de que todo “político é

mentiroso” é um dos alvos da pesquisa promocional. É de fundamental importância que se

saiba escolher e bem os profissionais para esse trabalho, além de ser importante, também,

saber interpretar corretamente as pesquisas divulgadas pelos meios de comunicação.

São muitos os partidos que têm os seus instrumentos de pesquisa para colherem

informações para seus candidatos. São trabalhos realizados de forma aleatória, que tendem a

ser parciais e devem ser interpretados com reservas. Para um resultado eficaz, é importante a

contratação de profissionais que realizem pesquisas de modo científico.

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A pesquisa eleitoral é o meio mais eficiente para o candidato conhecer o pensamento

do eleitorado. Sem ela, as chances de sucesso do candidato serão reduzidas.

O candidato como produto nada mais é que a fixação de um conceito de produto

adaptado ao marketing político. Para Tomazeli (1988, p.29), antes mesmo de desenvolvermos

a ideia do candidato como produto e o seu posicionamento diante do mercado de eleitores,

devemos entender que estes falam, têm sentimentos, se comunicam, são formadores de

opinião. É um produto diferenciado, que, para se posicionar, procura entender o que o

eleitorado busca num candidato.

O autor ainda explica que um produto é um bem ou serviço disponível no mercado

para ser comercializado, visando satisfazer necessidades e desejos. Os produtos são

classificados em dois grandes grupos: os de natureza tangível e os de natureza intangível. Os

tangíveis são aqueles que podem ser tocados, têm forma e embalagem, são empacotados e

armazenados pelo consumidor, por exemplo, um televisor, uma geladeira ou um computador,

isto é, são os que tomam forma de um bem de consumo concreto. Já os produtos intangíveis

não podem ser tocados, armazenados ou visualizados. É traduzido por um serviço, uma ideia

ou um gesto que leve satisfação ao consumidor, sem ser, necessariamente, um bem material,

por exemplo, um automóvel é um bem tangível, já o serviço de lavagem desse veículo é um

bem intangível; é o serviço prestado ao proprietário do carro, o qual, na realidade, terá

somente a satisfação de dirigir um carro limpo.

O eleitor não foge à regra do dono do veículo que procura satisfação com a limpeza do

seu carro, pois, ao votar num candidato vencedor, ele quer ver os seus sonhos e pedidos

realizados. A relação entre candidato e eleitor é estabelecida no campo das ideias, ou seja, das

mensagens, campanhas e promessas que somente poderão se transformar em bens públicos e

concretos quando o candidato ganhar as eleições e assumir o poder. Os bens públicos são

diversos, por exemplo, escolas, hospitais, creches, pontes, ruas asfaltadas, praças, áreas de

lazer e outros, os quais fornecerão à população serviços e assistência na forma de produtos

intangíveis.

Um candidato, o qual se constitui num bem intangível muito particular, é um produto

formado pelo conjunto de seus atributos pessoais, suas ideias, seus planos e sua mensagem

pública. Ele não poderá ser testado pelos seus eleitores como se testa um automóvel, mas sim

poderá ser questionado e, conforme a resposta a esse questionamento, irá conseguir ou não a

credibilidade do eleitor, tendo, como resultado, o voto esperado. O candidato carrega em si a

emoção, a persuasão, cujo objetivo é envolver as pessoas menos esclarecidas para conseguir o

voto delas.

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Conforme Tomazeli (1988, p.29), “Um produto-candidato também tem marca e

embalagem que podem influir decisivamente na sua penetração junto ao eleitor. A marca do

político é o seu partido, sua sigla ideológica, da qual deverá extrair toda a inspiração para

desenvolver os seus ideais políticos”.

Nesse caso, se o partido não tiver um bom conteúdo ideológico, com princípios rígidos

ou esclarecedores, terá grandes dificuldades para se posicionar com vantagem perante os seus

eleitores e terá, ainda, dificuldades internas com seus filiados no sentido de homogeneizar

uma campanha. O produto, além da sua marca, tem que ter uma boa embalagem, ou seja, uma

boa apresentação que convença o comprador a levá-lo para casa, pois, tão importante quanto à

marca de um produto, é a sua embalagem. No campo político, a figura ampliada do candidato

exige esses atributos aos olhos do eleitor. É na apresentação física, nas expressões e na

postura que conseguirá aumentar o nível de empatia que um político pretende alcançar diante

do eleitor (TOMAZELI, 1988, p.30).

Quanto ao desenvolvimento da plataforma de governo, Tomazeli (1988, p.32) relata

que o candidato e o partido elaboram um conjunto ordenado de planos baseados em estudos

das necessidades da população. Esses planos são vendidos como produtos intangíveis aos

eleitores, em forma subjetiva de promessas sobre a realização dos seus desejos durante o

exercício do poder do candidato no poder, caso este seja eleito. Existem regras para isso e as

fundamentais são: a primeira rege que as promessas devam ir ao encontro das principais

necessidades ou carências da população e, portanto, não pode e não deve haver erros nessa

identificação. A segunda diz respeito à coerência nessas promessas, isto é, não deve haver

contradição entre a plataforma de governo do candidato e os conceitos que ele apresenta, por

exemplo, o candidato não pode passar uma imagem de defensor dos operários e prometer a

eles que irá lutar contra a lei que ampara greves de trabalhadores.

Os planos apresentados na plataforma de governo devem ter clareza para que sejam

bem recebidos pela população. É importante considerar que os planos têm que ser abrangentes

nos projetos e soluções dos problemas para todos os segmentos da sociedade, pois, caso

contrário, serão planos incompletos, ou incapazes de administrar todos os conflitos e todas as

necessidades da sociedade. Essas observações são importantes no caso de um candidato que

pleiteia o cargo de prefeito de um município, ou governo de um Estado.

É durante a campanha que a plataforma de governo do candidato deverá ser clara na

exposição de seus objetivos; para tanto, deverá usar uma linguagem simples, compacta e de

fácil assimilação. O discurso do candidato deverá ir ao encontro das necessidades daqueles

que ouvem e assistem a sua mensagem (“promessas”), aí sim representará a sua essência na

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atenção às necessidades dos eleitores. Isso dependerá da sua proposição e exposição para

atingir o seu objetivo, obviamente seguida dos demais tópicos para completar a proposta

básica do postulante.

Tomazeli (1988, p.32-33) afirma, ainda, que o marketing político também precisa de

recursos necessários. Caso consiga obtê-los, o candidato decidirá participar ou não de um

pleito. Todas as etapas da construção da imagem de um candidato, desde a sua orientação,

planejamento e execução, dependem desses recursos, sem os quais se torna inviável entrar na

corrida para conseguir uma vaga nos cargos eletivos. Os recursos não se restringem somente a

dinheiro, mas também a apoio e dedicação de pessoas que irão trabalhar como voluntárias

para o candidato. Para eleger-se, o candidato deverá fazer um levantamento preliminar do

custo por voto com base no orçamento das campanhas anteriores e, em seguida, corrigir esse

custo de acordo com os valores atuais. O custo da campanha é variável, aumentando na

proporção inversa da popularidade do candidato. O candidato mais popular, mais conhecido,

que participou de outros pleitos, geralmente gasta menos que aquele que está fazendo

campanha pela primeira vez, ou seja, esse candidato precisará se esforçar mais para se tornar

conhecido da população. Assim, para começar a construir a sua imagem, deverá investir

significativamente na busca de apoios políticos por meio de empresários de um modo geral,

de outros políticos, de verbas e de voluntários como cabos eleitorais. Para isso, o candidato

terá que planejar as estratégias para a obtenção de verbas, as promessas que serão feitas para

os investidores de sua campanha e, ao mesmo tempo, caso ganhe, deverá pagar esses favores,

aprovando leis em beneficio deles. No Brasil, é comum que empresas, ou pessoas influentes,

adotarem candidatos, financiando-lhes a ação política em troca de favores futuros.

Cabe ressaltar que o dinheiro não é tudo em uma eleição. Há muitos exemplos de

candidatos que construíram a sua imagem por meio de participação em sindicatos, associações

diversas, como associações de bairros e movimentos estudantis e, com poucos recursos,

conseguiram vencer os pleitos dos quais participaram.

É importante o candidato saber o quanto poderá dispor em sua campanha, uma vez que

é por meio desses recursos financeiros que ele desenvolverá a sua estratégia, pois em nada

adiantará o candidato ter um bom plano de marketing, se não tiver verba para colocá-lo em

prática. No caso dos candidatos que dispõem de poucos recursos financeiros, a criatividade

tem que ser dobrada, bem como o trabalho pessoal (corpo a corpo) para obter os votos dos

eleitores (TOMAZELI, 1988, p.33).

A formulação das diretrizes da campanha só é possível com o agrupamento de todas

as conclusões obtidas em relação aos levantamentos feitos sobre as necessidades dos eleitores

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e as ações que deverão ser tomadas para atender e conquistar a simpatia deles. A próxima

etapa será o desenvolvimento do plano de marketing, pois as diretrizes se constituem nas

linhas políticas básicas e de atuação do candidato e de toda a sua equipe.

Tomazeli (1988, p.33) refere ainda que, no marketing político, as linhas políticas

podem ser divididas em quatro grupos: conceitos do candidato; canais de venda do candidato;

promoção do candidato; e postura frente aos concorrentes.

O conceito do candidato, seu pensamento, sua ação por meios de palavras, suas ideias

e opiniões devem ser resumidos de forma clara e objetiva. Exemplo: o candidato a prefeito

que decide assumir a postura de defensor da industrialização no município; ao mesmo tempo,

de uma forma menos importante ou secundária projeta-se como democrata, protetor dos

pobres e das crianças, cujo objetivo é ser cada vez mais popular diante dos seus eleitores. Sua

meta é passar uma imagem de pessoa simples, sem pretensões, modesta. Ele defende todos os

direitos humanos, por exemplo, a igualdade de direitos das mulheres, ou a fixação do homem

no campo, buscando, nesse caso, o desenvolvimento de novas técnicas agrícolas. Esse

candidato pode ser um homem simples e pacífico, que não ataca os seus oponentes.

Os canais de venda do candidato são vários, sendo que os mais conhecidos são: rádio,

televisão, jornal, comícios, o contato direto com o eleitor no corpo a corpo, os partidos, cabos

eleitorais e grupos de interesse. É por meio desses canais que o candidato irá passar o seu

conceito, a sua imagem. Esses canais são a sua identificação com todos os níveis da

sociedade.

Com relação às diretrizes de promoção do candidato, deve ser considerada a

necessidade de cobrir todos os espaços possíveis do mercado de eleitores. O candidato não

deve se limitar somente a esses canais de divulgação, devendo descobrir outros meios, desde

que estes estejam de acordo com a legislação eleitoral (TOMAZELI, 1988, p.34).

É na postura do candidato frente aos seus concorrentes que tanto ele quanto toda a

sua equipe precisam analisar e decidir, com clareza, o que pretendem informar aos eleitores.

A linguagem deve ser analisada e utilizada com sabedoria e uniformidade para combater o

concorrente, a fim de provocar um efeito eficaz nos eleitores. Os eleitores precisam sentir essa

linha de uniformidade nos discursos e na postura do candidato e, ao mesmo tempo, o

candidato, também, deve mostrar para o seu eleitor como se comporta o seu concorrente. O

candidato tem que definir de qual lado está – “dos ricos ou dos pobres” –, ou seja, precisa se

posicionar. Se, por exemplo, ele somente ler seu discurso, não irá se posicionar e, ainda, dará

margem para o seu opositor difamá-lo. É na repetição que as pessoas serão, aos poucos,

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convencidas da imagem positiva do candidato e, ao mesmo tempo, do estigma da imagem

negativa do concorrente (TOMAZELI, 1988, p.35).

O plano de marketing político, que é uma das ferramentas do marketing político, se

constitui na ação em direção ao campo no qual se desenvolverá a competição política e está

assim dividido: previsão de votos necessários, segmentação dos públicos-alvo, formação da

equipe de trabalho, planejamento do tempo do candidato, táticas de venda.

Tomazeli (1988, p.60) enfatiza que é de fundamental importância a administração do

marketing nos partidos políticos. Nunca antes a filosofia de marketing foi tão importante,

como instrumento para adaptar e transformar as instituições políticas, principalmente os

partidos, pois deles depende todo o sistema democrático.

Os partidos devem estar preparados para as profundas mudanças tecnológicas, sociais

e políticas, bem como devem se reciclar e se adaptar aos novos tempos. Se os partidos não

acompanharem essa evolução, correm o risco de ficarem ultrapassados, com propostas

obsoletas, tornando-se somente lembrança, uma peça de ferro velho social, inútil para os

cidadãos.

Para que os partidos possam resolver suas crises de existência, devem, no entanto,

passar para uma posição de liderança como geradores de mudanças e não partidos que imitam

outros, sem opinião, sem originalidade, ou seja, devem sair do banco dos réus dos problemas

sociais e políticos para alcançar essa liderança. É importante destacar que existe no mundo

uma grande crise de lideranças políticas, que tem provocado a fragilidade e a falta de

qualidade dos partidos e mantido os vícios antigos na forma e na busca de administração do

poder. Os líderes estão acomodados com a garantia de seus empregos e não percebem, ou não

querem perceber, que os políticos estão, cada vez mais, perdendo o controle dos destinos dos

que são governados por eles.

Para Tomazeli (1988, p.61), a grande procura dos candidatos por mudança de partidos

(trocas de filiação) é o resultado dos movimentos para tornar independentes os parlamentares.

Os partidos já perderam e continuam perdendo o controle sobre seus filiados; perderam

importância, permitindo que os homens se sobreponham à ideologia e aos postulados das

agremiações políticas.

É nesse contexto que se torna importante a necessidade de uma assessoria de

marketing nos partidos políticos, juntamente com o auxílio de outras ciências, para encontrar

um caminho que leve, ao povo, respostas que possam significar a salvação daqueles

denominados “os pilares da democracia”, pois os candidatos precisam demonstrar que

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respeitam e agem de acordo com a ideologia do partido. Cabe ressaltar que a troca de partido

por parte do candidato traz insegurança para o eleitor.

Conclui Tomazeli (1988, p.61): “o exercício da administração de marketing nos

partidos tem como objetivo ligar as estruturas partidárias aos seus públicos, como eleitores,

filiados e colaboradores, identificando e implementando ações que venham a satisfazer as

necessidades de cada público, possibilitando, assim, o crescimento das suas agremiações.”

Kuntz (2006, p.19) afirma que: O marketing político-governamental é o marketing da ocupação e consolidação do poder conquistado. O primeiro é vibrante e seria afoito se não fossem as pesquisas, dado seu objetivo a curto prazo e imediatismo; o segundo é frio e calculista e visa produzir seus efeitos que atendem objetivos a longo prazo, entre eles o maior de todos: vencer as eleições futuras e levar o grupo dominante a permanecer no poder.

No dia a dia, as pessoas tomam posições e usam estratégias de marketing para se

destacar; é nos relacionamentos que acabam passando um tipo de imagem aos outros. Nesse

sentido, o objetivo das pessoas é procurar ser bem visto para ser aceito num determinado

grupo, ou mesmo para conquistar um cliente, uma amizade, ou, ainda, um amor. Esse

procedimento revela a prática do marketing, ainda que as pessoas não a percebam ou não

tenham conhecimento sobre ela.

Nos relacionamentos, a preocupação em entender os grupos com os quais mantemos

contato passa a ser uma atitude constante. Assim, estamos sempre procurando entender o que

pensam e sentem as pessoas dos grupos de nossa relação, como o que gostam, o que

desgostam, como são, como vivem, para somente depois nos adaptarmos às suas atitudes e

preenchermos as nossas expectativas e, obviamente, sermos aceitos, aumentando as nossas

chances de êxito diante das pessoas que compõem esses grupos, afirma Kuntz (2006, p.19).

Na busca desse objetivo, é necessário colocar em primeiro lugar os interesses para alcançar

esses alvos, pois essa é a essência do marketing.

Conforme Kuntz (2006, p.19-20): Você poderia perguntar-se nesta altura: se cada indivíduo é capaz de praticar o marketing sem saber, por que deveria gastar seu rico e precioso dinheirinho para contratar os serviços de especialistas? A resposta é simples: toda atividade de marketing é assentada no bom senso, na busca e análise de informação e na obsessão de comunicar melhor, buscando oportunidades, caminhos e estratégias diferenciais que possam torná-lo melhor que os seus concorrentes, e isto, durante todo o tempo.

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No período eleitoral, o tempo é exíguo; em razão disso, é necessário que os candidatos

fiquem atentos a cada nova oportunidade em relação aos adversários, por exemplo, “um erro

no discurso” destes torna-se uma grande oportunidade de se explorar a campanha a favor

deles e contra os adversários. Dessa forma, é preciso estar o tempo todo atento, percebendo as

oportunidades de uma nova ideia, aprendendo algo novo no dia a dia, para fazer uso em

seguida; caso isso não aconteça, será um dia perdido para ele. E quando começam os

programas do horário eleitoral gratuito, o trabalho dobra. Nesse período, cresce

proporcionalmente ou até mais a responsabilidade do candidato, pois todo o seu tempo fica

consumido em preparar os programas que devam entrar no ar, com isso acaba não lhe

sobrando tempo para fazer o principal, ou seja, sair para conquistar os votos que precisa para

eleger-se (KUNTZ, 2006, p.20).

A conquista dos eleitores pelos candidatos é realizada da mesma forma que são

conquistas as pessoas importantes na vida pessoal ou na relação profissional: é uma adaptação

ao que pensam, acham importante e querem. É essa postura que o candidato terá que ter para

conquistar eleitores e vencer uma eleição.

No nosso dia a dia, temos todo o tempo do mundo para refletir sobre os nossos erros,

consertá-los e recomeçar. É nessa reflexão e amadurecimento que vamos pensar em novas

estratégias, modificando todo o nosso modo de ação naquilo que importa: a nossa conquista

pessoal. O nosso alvo em comparação ao alvo que se tem numa eleição é bem menor. Numa

eleição, tudo é mais complexo, a começar pelo grande número de concorrentes, pois são

centenas de candidatos que estão com o mesmo objetivo, ”conquistar milhares de mentes e/ou

corações” em tão pouco tempo, em tão poucos meses. É a corrida atrás do voto de cada

eleitor, até atingir o patamar suficiente para assegurar uma vitória eleitoral.

Para Kuntz (2006, p.21), a tarefa do marketing é fornecer aos eleitores elementos para

que eles possam compreender o que seja um bom candidato, mostrando-lhe a melhor imagem

e o bom conceito deste. Nesse sentido, o marketing político tem como objetivo buscar a forma

mais adequada de apresentar a mensagem política do candidato, de maneira que ela possa ser

mais bem absorvida pelo eleitor.

É nas pesquisas que o marketing procura saber o que os eleitores pensam, necessitam e

aspiram. Isso demonstra a preocupação do marketing em sintonizar o candidato com a

sociedade e o respeito a ela. Portanto, o marketing político não se constitui numa técnica para

enganar a sociedade, aconselhando o candidato a falar somente o que o eleitor quer ouvir.

Cabe ressaltar que, se o candidato fizer promessas somente na intenção de satisfazer os

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eleitores, isto é, sem a real intenção de cumpri-las, dará margem para seja colocado em

dúvida, antes de tudo, o seu caráter.

A busca da sintonia com o eleitor, saber o que o ele quer, precisa ou pensa, é o

caminho para se elaborar a proposta de trabalho, que se constitui na regra prioritária, tornando

o discurso atraente e capaz de obter um grande número de votos. É no discurso que o

candidato visa assegurar que, enquanto representante dos cidadãos, vai trabalhar naquilo que

realmente importa para os eleitores, e não o que o candidato pensa ser importante. Essa

postura, no mínimo, é honesta, legítima e conveniente.

O candidato não disputa sozinho a eleição, por isso o bom projeto de marketing

respeita a sua personalidade, que precisa se adequar, se possível, a todas as orientações dadas

pela assessoria que presta esse tipo de serviço. Até porque o candidato, por ser

constantemente observado pelo concorrente, pela imprensa de um modo geral, precisa estar

atento a todos os detalhes. Respeitando o passado do candidato e o seu modo de vida, o

marketing político fornece algumas orientações básicas que são muito importantes, tais como:

vestir-se melhor, com mais refinamento, aprimorar o seu modo de ser, o seu vocabulário e

suas atitudes, ter melhor oratória e desempenho na TV e em outros veículos de comunicação.

São mudanças necessárias que visam melhorar o perfil, a imagem, o discurso e o

posicionamento do candidato, com objetivo de ampliar as suas possibilidades de conquistar

mais votos.

Uma propaganda eleitoral bem-sucedida é o resultado das orientações que foram

sendo dadas por meio do marketing político, pois, antes de ser veiculada aos diversos meios

de comunicação, o candidato teve e continua tendo orientação sobre em qual mote ou

caminho deverá ser conduzida a sua campanha. O que a propaganda eleitoral deve priorizar é,

antes de tudo, independente do conteúdo crítico, que cada programa produza um clima de

otimismo, de construção de um mundo melhor e de esperança, isto é, que deixe claro que a

resolução dos problemas é possível.

Não se deve tentar conscientizar o eleitorado do quão miserável ou sem perspectivas

podem ser suas vidas, ou mesmo falar dos problemas que este vem enfrentando.

O eleitor sabe mais que o político os problemas que enfrenta, quais são as suas

necessidades básicas, tendo uma clara noção de como resolvê-los. O que ele espera do

político é que este lhe assegure que irá resolver os seus problemas e lhes dê esperança de um

futuro melhor. O candidato precisa estar também atento aos diversos temas a serem discutidos

na campanha, precisa ser seguro nas respostas e mostrar ao eleitor que ele entende do assunto

e tem domínio sobre o que fala (KUNTZ, 2006, p.54).

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Segundo Silva (2002, p.1), todos os esforços do marketing político têm como objetivo

obter o maior número possível de votos no resultado final de uma campanha. Pode-se dizer

que o voto é a principal atração de todo o trabalho que envolve o marketing político. Atrás de

cada voto há pessoas, sentimentos, crenças, esperança, expectativa por uma vida melhor, um

pedido atendido e outros motivos. O voto pode ser assim dividido: ideológico, político e

eleitoral.

No voto político, o candidato se relaciona diretamente com o eleitor. Para tanto, ele

cria a oportunidade de firmar de uma forma direta essa relação, sem intermediários. Há vários

exemplos de como isso ocorre em cidades pequenas e como contribui para um bom resultado,

chegando a 80% da motivação dos votos.

Já no voto ideológico, este já não tem a mesma força e o mesmo resultado do voto

político. Os diversos discursos, sejam de direita, de esquerda, do socialismo ou do

liberalismo, atingem pouco mais de 5% do eleitorado e 10% no mercado nacional.

Quanto ao voto eleitoral, este requer uma concentração de esforços focados na

conquista do eleitor. Esse é o trabalho que deverá ser muito bem feito, pois é o campo de

atuação do marketing político. Quanto maior o universo de eleitores, maior terá que ser a sua

influência de convencimento. Esse trabalho chega a atingir até 70% das decisões de voto.

A construção da imagem das pessoas que desejam se projetar publicamente como

futuros candidatos a cargos políticos e os próprios políticos é em longo prazo, sendo que uma

das funções do marketing político é trabalhar essa concepção.

O marketing eleitoral tem que ser ágil, pois o tempo torna-se exíguo para se montar as

estratégias e as táticas de comunicação, as quais serão usadas num ambiente já existente, em

funcionamento, ou seja, não é um ambiente criado, afirma Silva (2002, p.2).

O mercado eleitoral é um mercado competitivo, dado o grande número de candidatos

que disputam as eleições. Nessa relação de mercado encontra-se, de um lado, o candidato e,

de outro, o eleitor: o primeiro quer entender o anseio do segundo e este, por sua vez, quer que

os seus anseios sejam atendidos pelo primeiro. É a regra, isto é, um vende e o outro compra,

sendo que o comprador busca satisfação com o produto ou serviço a ele prestado. Para

entender melhor esse mercado eleitoral, o candidato precisa entender o que o eleitor quer e

precisa. A partir dessas informações, o candidato poderá criar os seus futuros programas de

atuação política. Ele poderá desenvolver o seu programa de governo, caso o voto o leve ao

poder.

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O candidato precisa comunicar-se de maneira satisfatória com o eleitor, para que este

tenha pleno entendimento dos seus objetivos e, ao mesmo tempo, que sinta segurança no

cumprimento das promessas feitas pelo candidato.

Para Silva (2002, p.2), determinar o padrão de comportamento dos eleitores é outro

mistério; é um problema que a própria ciência política procura estudar e entender. O que se

passa na cabeça do eleitor na hora do voto? Como ele é influenciado? Como ele decide o seu

voto? O que o motivou votar nesse ou naquele candidato? Quais os aspectos que padronizam

essa escolha?

O comportamento do eleitor tem sido motivo de constantes estudos. No Brasil, alguns

estudos realizados apontam alguns aspectos importantes sobre esse comportamento, por

exemplo, o eleitor se posiciona na hora de votar e seu pensamento e sua reação se

fundamentam nas leis descritas a seguir (DOMENACH, 1963, p.54-59).

Lei da indiferença: é o momento em que o eleitor se dirige à cabine de votação sem

saber, ainda, em quem irá votar. Ele pensa em muitas coisas menos no candidato, ou seja, só

quer cumprir com a sua obrigação de votar. Para esse eleitor, todos são iguais e votar nesse ou

naquele candidato não faz a menor diferença.

Lei da Procrastinação: significa adiamento da decisão, isto é, o eleitor, às vésperas

da votação, continua indeciso e, sempre que possível, adia a sua decisão de voto. Tudo fica

para a última hora, podendo esse adiamento chegar até no período mais próximo possível da

eleição. Segundo pesquisas, cerca de 90% dos eleitores já escolheram o seu candidato no

momento de se dirigirem à cabine de votação, mas o restante deles (10%) ainda entra na

cabine de votação com muita dúvida. Esses eleitores são chamados de procrastinadores ou

proteladores. Cabe ressaltar que esses 10% podem fazer toda a diferença numa campanha

mais acirrada.

Lei da efemeridade: a sociedade, com suas ideias e aspirações, passa por constantes

transformações, as quais obedecem a ciclos de vida determinados como miséria, corrupção,

ecologia, violência, medo, etc. A lei da efemeridade trata desses ciclos, nos quais essas ideias

e aspirações nascem, crescem, se desenvolvem, desgastam-se e desaparecem. A defesa de

uma causa ou ideia por um candidato deverá estar de acordo com o momento em que essa

defesa se realiza, por exemplo, defender a ecologia, numa época em que o mundo inteiro não

fala mais no assunto, é uma atitude, aos olhos do eleitor, já ultrapassada, uma vez que a ênfase

do assunto naquele momento seja o combate à violência.

Conforme Seguela (apud SILVA, 2002, p.5), os princípios estratégicos no marketing

político são baseados em ações que visam, de um modo geral, entender o eleitor e neutralizar

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o máximo possível o candidato concorrente. Essas ações, que precisam ser percebidas pelo

eleitor, são: a) estar constantemente atento – manter sempre “uma carta” na manga contra o

adversário político faz parte do jogo da disputa; b) para se conquistar um eleitor, é importante

conhecê-lo e entender o que ele pensa; para isso, o candidato deverá sair na frente do

concorrente, sempre ser o primeiro a despertar a atenção do eleitor; c) o aspecto

representativo perante a população não é o suficiente, por isso é preciso estabelecer uma

afinidade com o eleitor antes dos adversários; d) quebrar a resistência do eleitor,

posicionando-se no maior grau de aceitação deste; e) suplantar as falhas e os erros dos

adversários, elevando ao máximo os seus pontos positivos; f) as ideias precisam ser

antecipadas ao momento da eleição, antes que o concorrente o faça com ideias semelhantes;

g) o eleitor está convicto de que poderá haver mudanças ou continuidade de ações no

governo; assim, de acordo com essa premissa, o candidato precisará se adequar à tendência

que predominará a vontade do eleitor; h) a valorização do partido e de sua unidade deverá ser

o centro do discurso do candidato; i) é na convenção que se fortalece o candidato e a imagem

do partido; portanto, é importante antecipar a convenção antes dos outros concorrentes; j)

entender o principal inimigo político e suas estratégias é importante, para que não se

desperdice a munição, quando for necessário confrontá-lo; k) atacar o inimigo pelos pontos

fracos, levando o eleitorado ao convencimento que essa é a verdade; l) mostrar as

contradições entre o discurso e o passado do concorrente; m) a liderança do candidato precisa

se fortalecer a cada momento, pois nela reside a neutralização de reação do inimigo; n)

discernir e procurar os segmentos que indicam um maior potencial de votos, valendo-se de

todas as forças nessa conquista.

O marketing político é permanente, independentemente das variáveis que poderão

ocorrer. Para que a campanha seja constante e duradoura na construção da imagem do

candidato, deverá contar com profissionais altamente competentes para a permanência da

ação. A comunicação funciona como a outra ponta do processo de marketing permanente. A

solução de um problema não representa benefício à imagem do político, se não for divulgada.

A omissão do político em comunicar certos feitos em determinadas ocasiões deixa espaço

para que o opositor cresça, pois este poderá se valer dessa omissão, distorcendo os fatos para

ganhar mais espaço com os eleitores (SILVA, 2002, p.6).

Alguns fatores precisam ser bem estudados e bem explorados para que uma campanha

seja bem feita e não fique sem rumo, mas centrada no principal objetivo, que é vencer as

eleições.

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A análise do meio ambiente em que se realiza a campanha eleitoral pode oferecer tanto

oportunidades quanto ameaças ao candidato, por isso esse ambiente precisa ser bem avaliado.

Administrar a campanha eleitoral também significa a força de venda constituída pelo

candidato. O conceito filosófico de produto faz parte da política do pensar do candidato, o

qual é vendido ao eleitor como se fosse um produto, apesar dos seus sentimentos e suas

emoções (GRANERO; TOZZI, 2009, p.2).

Todo o planejamento de campanha política passa por um único objetivo: “O que fazer

para vencer as eleições?” Os canais de comunicação e de distribuição dos materiais de

propaganda política também fazem parte dessas importantes ações, pois envolvem a escolha

da mídia, que será utilizada, se permitida pelas leis eleitorais, dentro das necessidades do

partido e do candidato. A garantia de resultados positivos representa os segmentos diversos e

diferenciados de eleitores. É necessário que a mensagem do candidato atinja, se possível,

todas as camadas sociais. Acompanhar e revisar os resultados implica dar nova orientação à

campanha quando for necessário.

Granero e Tozzi (2009, p.2) referem que a campanha é movida por estímulos, por

entusiasmo, por acreditar na vitória, pela luta e esperança durante todo o período eleitoral. Os

eleitores precisam ser estimulados; aliás, não só eles, mas também o partido político e todos

que, de uma forma direta ou indireta, trabalham e apoiam a campanha do candidato. Os

estímulos/entusiasmos precisam ser internos e externos, os grupos de interesse que

contribuem precisam ser incentivados. A assessoria política tem também esse papel de dirigir

e encaminhar essas questões para aumentar, de uma maneira mais adequada, o potencial da

campanha.

Já o foco principal do marketing político é o candidato; nele é depositado todo o

otimismo para que se atinja a vitória. O candidato é o produto que precisa ser vendido e, para

isso, os esforços de venda da sua imagem precisam estar centrados no que poderá ser

explorado, como o que ele tem de melhor. O nome dele precisa ter uma preferência

significativa diante dos eleitores; o talento pessoal precisa ser aperfeiçoado; deve passar a

emoção mais precisa, a ponto de conseguir emocionar seus eleitores; ser hábil no uso das

mídias de massa, principalmente no trato com a imprensa; a postura do início ao fim da

campanha precisa ser coerente na projeção da imagem. Para Granero e Tozzi (2009, p.3),

“Quando comparado o candidato a um produto, percebe-se que existem semelhanças

significativas. Tanto o produto quanto o candidato tem que passar por algumas fases para

poderem se consolidar perante os clientes/eleitores.”

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O produto, além de ser testado e aprovado, precisa ter uma boa qualidade, marca

própria, uma embalagem bonita e atraente, que chame a atenção do consumidor. O candidato

deve passar uma boa imagem, uma boa impressão, ter uma personalidade bem definida, para

que consiga ter o apoio e a credibilidade do partido, no caso, a inscrição partidária. Isso

significa ser o candidato escolhido para concorrer às eleições. O próximo passo é conquistar a

simpatia e o reconhecimento do eleitor, impondo o seu nome e a sua marca.

A aliança feita entre o partido e o candidato precisa estar firme e bem alicerçada do

começo ao fim da eleição, não podendo haver dúvidas quanto a isso, afirmam Granero e Tozzi

(2009, p.3). Não tem como ser diferente, não pode haver ruídos entre ambos, tem que haver

sintonia entre eles para que a campanha siga com maturidade e cumplicidade. O partido

precisa de um bom candidato e vice-versa. O partido é como uma empresa, isto é, tem o

produto a dispor (o candidato). Os recursos necessários para vender esse produto aos

eleitores/clientes são oriundos de mecanismos e sistemas já articulados pelo partido, que os

detém para esse fim. Assim sendo, não é possível um candidato sem partido e vice-versa.

Outro ponto importante diz respeito a estar atento à ideologia do partido, que é um dever do

candidato, pois a ideologia deste e seus pensamentos não podem estar em desarmonia com a

ideologia do partido. Por exemplo: um candidato com uma ideologia de esquerda não pode se

aliar a um partido de direita. O eleitorado não iria entender posturas diferentes, o que geraria

confusão em suas mentes. O partido e o candidato precisam se ajudar mutuamente, ou seja,

um não pode prejudicar o outro.

Os componentes do marketing político, que precisam ser bem usados para se ganhar

uma eleição, são as pesquisas de mercado e as estratégias da ação de marketing, como o

conteúdo da mensagem do candidato. Esses componentes são essenciais para mensurar os

interesses do eleitor, suas necessidades, seus desejos e seus valores como pessoa e cidadão.

Cabe ao candidato ficar atento ao que a pesquisa revela; é por meio dos resultados obtidos que

ele poderá estar em consonância aos sentimentos do eleitor.

Para Borges (2007, p.1), antes de ser convencido a entregar o seu voto para um

determinado político, o eleitor é levado a enxergá-lo como se ele fosse um produto de

consumo que vai satisfazer as suas necessidades de desejo, de preenchimento de um vazio ou

uma carência. O eleitor vota num candidato esperando o retorno das promessas feitas por ele.

É por meio do marketing político que o candidato vai se orientar para conseguir uma melhor

maneira de construir sua imagem. As orientações dadas pelo consultor de marketing ao

candidato sobre a sua aparência física, seu vestuário, seu linguajar, sua postura diante das

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pessoas, seu discurso e a programação visual de sua campanha são importantes na caminhada

pela busca do voto.

Segundo o autor, com essas orientações básicas, os estrategistas entendem que a

maneira de se comportar do candidato torna evidente que é um processo de comunicação de

mão dupla e não única. Um depende do outro (eleitor/candidato). É o chamado sistema

dialógico, que visa estabelecer pactos e acordos entre candidato e eleitor, pois ambos têm

intenções: um de ganhar as eleições e o outro de ter as reivindicações atendidas. Para atrair a

atenção das pessoas, a comunicação tem que ser bem elaborada, e o político sabe disso, pois

ele dependerá dessa comunicação para conquistar o número suficiente de votos para se eleger.

Kotler (2006 apud BORGES, 2007, p.2), “Um dos principais objetivos do marketing é,

cada vez mais, desenvolver relacionamentos profundos e duradouros [...] tem como meta

construir relacionamentos de longo prazo, mutuamente satisfatórios.”

No que se refere ao produto político, este se torna duvidoso e impossível, uma vez que

a proposta de trabalho vendida durante o período da propaganda eleitoral poderá ser ou não

efetivada e consumida no período dos quatro anos de mandato do candidato. O eleitor fica na

expectativa sobre o retorno de algo que ele acreditou (comprou). Ele não terá controle sobre

esse produto, influência e nem como exigir a troca, caso as expectativas e crenças em sua

escolha não sejam atendidas. Isso gera a desconfiança do cidadão, que se colocará numa

relação de troca um tanto quanto complicada. Os estrategistas precisam se posicionar

corretamente, buscando a diferenciação do candidato à luz dos maus exemplos do passado,

para que o político deixe de ser apenas mais um no jogo eleitoral, afirma Borges (2007, p.2).

Conhecer as necessidades e os desejos da comunidade é muito importante para se

fazer o marketing político. É preciso que os estrategistas estejam atentos a esse significado,

pois fazer esse tipo de marketing é estar com o olhar voltado para essas necessidades, é

reforçar o conceito de que o alvo principal de uma campanha é a representação política e que

a ocupação de um cargo público torna-se objeto de análise por parte dos pesquisadores.

Segundo Borges (2007, p.2), “No marketing clássico isso pode ser associado ao

trabalho que as empresas devem fazer para garantir um produto de qualidade e a segurança do

consumidor”.

As causas públicas e a comunidade são os alvos dos candidatos, pois eles constituem o

elo entre elas. Os partidos políticos têm, como sua ideologia e estratégia de marketing, a

atenção a esses dois importantes segmentos. Borges (2007, p.2) explica que .O candidato é o

conteúdo, é um contexto amplo entre partido, ideologia, vida e sua participação na vida

social.”

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Conforme Santos (2006 apud BORGES, 2007, p.2), “O que se vê, no entanto, é uma

transformação nos laços de representação política, onde o candidato objetiva o

estabelecimento de uma relação que confira poder sob a égide da espetacularização e do

modelo de mensagem.”

Apesar da tentativa para se manter os laços entre candidatos e eleitores e o conceito de

uma boa imagem destes ao longo do tempo, é comprovada a evidência no imediatismo da

vitória. Esse imediatismo joga por terra todo um planejamento de longo prazo, pois essa

insegurança do eleitor na hora do voto (boca de urna) foge do alcance de toda a estratégia

elaborada.

As surpresas das urnas trazem o contraditório desse planejamento em longo prazo. Às

vezes, o próprio candidato se surpreende com os resultados “da vitória ou da derrota”. Os

estrategistas são pegos de surpresa, positiva ou negativamente, por causa desse imediatismo

na decisão do voto.

O marketing eleitoral também tem seus pontos controvertidos, por isso faz-se

necessário buscar uma discussão mais ampla para entendê-lo melhor. Não se pode deixar de

considerar os seus reflexos a partir da agenda e plataforma política, passando pelo plano

estratégico e de convencimento, pela propaganda nos diversos tipos de mídias, pelos

apontamentos e pela influência da pesquisa (BORGES, 2007, p.3).

É na crença e no comportamento do consumidor que as estratégias de marketing se

baseiam, no intuito de uma aproximação cada vez mais forte, no sentido de corresponder com

a sua crença, seja ela implícita ou explícita. As decisões precisam ser tomadas com

informações consistentes e não baseadas em palpites, sendo estes resultados da intuição. Para

que a decisão seja bem-sucedida, precisa estar baseada em premissas explícitas, em teorias e

pesquisas bem fundamentadas, afirma Borges (2007, p.4).

Cabe ressaltar que o marketing político/eleitoral foi construído e elaborado com base

em dados simples, tornando-se disciplina introdutória recentemente na política brasileira.

Com o tempo, foi transformando-se em objeto de investigação teórica e também de dúvidas.

Antes, havia muita desinformação e controvérsia quanto à sua natureza, ao seu mecanismo, à

sua abrangência e aos seus resultados. Ao longo do tempo, foi aperfeiçoando seu conceito e

sua proposta inicial, tanto no que se refere às suas ferramentas quanto à adequação das

técnicas usadas. Isso consiste em acompanhar as alterações do ambiente político, perceber as

demandas e tendências do eleitorado.

Borges (2007, p.5) menciona que, independente do que se pensa sobre o marketing

político/eleitoral, atualmente ele exige um raciocínio mais profissional por parte dos políticos.

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Para que a imagem dos políticos possa ir sendo construída e se consolidando de uma maneira

sustentável, os candidatos não podem trabalhar sem planejamento em longo prazo. Nesse

espaço de tempo, a imagem do político precisa estar relacionada com o comprometimento, a

ética, a verdade. Esses podem ser considerados os ingredientes necessários e integrantes da trajetória exitosa da democracia moderna, que objetivam eleger seus representantes de forma responsável e que cumpram os compromissos apresentados durante a campanha. Neste panorama, os políticos candidatos precisam utilizar as estratégias corretas para construir uma imagem verdadeira com vistas ao relacionamento de longo prazo da comunidade. (BORGES, 2007, p.5).

1.1 O papel dos consultores de marketing político e dos assessores políticos

Para Kuntz (2006, p.25), cada uma das assessorias: marketing, propaganda e política

têm papel e atribuições bem definidos. Mas, no caminho que leva à construção da imagem de

um candidato, é importante que ele seja orientado sobre o papel e a importância de cada uma

delas, bem como possa estabelecer clara diferença entre as diversas classes de profissionais

com as quais poderá manter contato ao longo de sua campanha, pois ele precisa entender o

valor que deverá atribuir aos conselhos recebidos gratuitamente ou àqueles que terão de

pagar. Nesse caminho escolhido pelo candidato – o de ser “eleito” –, receberá todos os tipos

de conselhos e orientações daqueles que afirmam entender ou acham que entendem do

assunto. Muitos conselhos virão de pessoas bem-intencionadas, interessadas em demonstrar

afeto, preocupação com a sua eleição. São pessoas que se mostram dispostas a contribuir com

seus pontos de vista e suas opiniões. Às vezes, um ou outro conselho poderá dar certo,

independente daquele que o deu, independente da sua condição ou classe social. O

importante, nesse momento, é o candidato saber ouvir a todos, pois essa atitude é uma

qualidade.

Segundo Kuntz (2006, p.41): O problema em ouvir a todos é que não existe estrutura que seja capaz de separar o joio do trigo e os conselhos avulsos, mesmo quando bons, na maioria das vezes, não se encaixam na estratégia e objetivos centrais da campanha. Daí a importância em saber a diferença entre um palpite e um conselho, e também de ter em seu staff gente qualificada para analisar e filtrar as informações, checando e descartando o que não serve.

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Nesse sentido, o papel do assessor de marketing político é de suma importância para o

sucesso e a vitória do candidato. Esse profissional, além de ter um bom conhecimento de

marketing, comunicação e propaganda, deverá ter algo mais forte que o diferencia dos demais

e que vai realmente credenciá-lo como especialista nessa área: “o tamanho” da sua paixão por

política. Quem não tem essa paixão e não gosta imensamente de política pode até ser um

profissional regular, mas jamais será um profissional excelente. A democracia pode não ser

um sistema perfeito, mas tem o mérito de ser o melhor. Um assessor de marketing político

deve acreditar nisso, além de saber que o único instrumento legítimo de exercício do poder é a

política.

De acordo com Kuntz (2006, p.43), embora o meio político já tenha diversas regras,

vivido diversos momentos, inúmeras experiências, formado vários conceitos, apresentado

resultados positivos e negativos ao mesmo tempo, o assessor de marketing político precisa ir

além das regras e dos conceitos já formados. Esse é um atributo, ou seja, uma qualidade que

precisa possuir. Sua mente precisa estar liberta das limitações, dos estereótipos e

preconceitos; ele precisa exercer a sua imaginação, sua criatividade para tal, além de precisar

contestar, perder a vergonha de fantasiar ou sonhar acordado, estar sempre atento em fazer o

diferente, procurar novos caminhos, discernir o que é bom e descartar rapidamente o que é

ruim, pois as surpresas que acontecem na política são constantes.

É preciso fazer ainda melhor o que se tem feito ao longo do tempo, como afirma

Kuntz (2006, p.43): “Autoconfiança, ousadia e uma mente livre são pré-requisitos para

desobstruir os canais que dão acesso à inspiração e à criatividade”.

Nesse sonhar e libertar a mente, sendo criativo para quebrar os paradigmas, o assessor

de marketing político precisa estar ancorado à realidade, pois esse será o seu contrapeso dos

atributos descritos, que o ajudará a manter o equilíbrio e a sanidade mental, necessários para

tornar-se efetivo e não ser absorvido pela fantasia somente. Um dos pontos dessa realidade é a

capacidade de pensar ou refletir sobre as complicações e dificuldades da natureza humana, as

emoções, os interesses e as razões que motivam de fato ou influem na conduta da sociedade.

É estar atento às diversidades e perceber as diferenças e influências do meio, a cultura e os

fatores sociais, econômicos e conjunturais, que exercem poder sobre o comportamento

individual e coletivo da sociedade.

O consultor de marketing político não pode trabalhar em funções executivas; quanto

menos ele se envolver no dia a dia da campanha que assessora, melhor. Senão ele pode perder

de vista o objetivo principal de sua função, que é de coordenar, enxergar além dos outros, com

isenção, ser sensato e justo no ambiente da campanha. A sua relação com o cliente/candidato

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tem que ser a mais transparente possível e ser honesto mesmo contrariando seu cliente. Sua

função é apontar o que considerar errado, alertar o candidato sobre os riscos, prever as

consequências, avaliar a relação custo-benefício. O candidato precisa ter a liberdade de

decidir se vai ou não seguir a recomendação. Caso decida não acatar as orientações dadas pelo

consultor, com o risco de cometer erros em razão dessa atitude, e caso ambos queiram

continuar trabalhando juntos, resta ao consultor pensar em como remediar as consequências e

tentar transformar os erros e os prejuízos em benefícios ao candidato (KUNTZ, 2006, p.45).

Dentre as habilidades que um consultor de marketing político precisa ter, eis algumas

muito importantes: ser imprevisível para desorientar e surpreender os adversários, possuir boa

capacidade analítica para prever situações diversas, ter disposição para ler, analisar pesquisas

e conjunturas, fazer projeções de cenários e disputa e ser oportunista. Sem essas habilidades, a

campanha fica limitada aos procedimentos simplistas e sem objetivos concretos.

O consultor de marketing político tem a visão macro, panorâmica da situação, pelo

fato de ter a capacidade de detectar as vulnerabilidades de cada concorrente, buscando

soluções para todos os transtornos e todas as dificuldades que poderão surgir no decorrer da

campanha.

Conforme Kuntz (2006, p.46), o profissional de propaganda, “é o principal

interlocutor do consultor de marketing que, somados à assessoria de imprensa, formam o

triunvirato ou o tripé que sustentará a imagem pessoal, o conceito social, o conteúdo e a

eficácia da mensagem do candidato junto a opinião pública”.

O consultor de marketing político, o publicitário e o assessor de imprensa, não podem

trabalhar separados, um depende do outro; não tem como cada um usar a sua própria

linguagem. A responsabilidade que pesa sobre cada um é enorme: caso um falhe, todos

falharão, pois a falha de um prejudicará igualmente as três partes. A consequência de um ato

falho é o comprometimento da eficácia de toda a campanha. As atividades de cada um são

complementares, não tem como cada um fazer a sua parte sem se importar com a dos outros.

Quanto aos assessores políticos, são os profissionais que têm maior proximidade do

candidato, pois são eles que gerenciam o tempo e a presença física do candidato ao longo da

sua campanha política, avalizam os compromissos assumidos por ele no mundo político e nos

ambientes superiores ou organizados da sociedade (KUNTZ, 2006, p.47). Cabem à assessoria

política do candidato as diversas tarefas que são de fundamental importância para o êxito das

relações do candidato com os vários segmentos da sociedade, as quais são: administrar as

alianças e os apoios políticos do candidato; propor e articular acordos; atender os candidatos

aliados; articular com a sociedade organizada e seus organismos tais como sindicatos,

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associações, lideranças da sociedade civil; receber, encaminhar e acompanhar as

reivindicações de lideranças políticas e comunitárias; elaborar os roteiros e cronogramas de

viagem e da agenda do candidato; supervisionar e organizar os comícios do candidato;

trabalhar na cooptação política com lideranças sindicais e sociais; coordenar área de

arregimentação, seleção, cadastramento e orientação do trabalho dos cabos eleitorais; entre

outras.

Para Kuntz (2006, p.48), “Geralmente, os assessores e coordenadores políticos são

líderes com vasta experiência e prestígio no meio político eleitoral”.

Devido aos contatos diversos com interlocutores diferentes e partidos políticos ao

longo da campanha, a assessoria política contribui em muito com a assessoria de marketing,

pois ela tem todas as informações necessárias sobre o candidato e sobre como foram acertadas

as bases das negociações com diversas forças políticas e sociais, que sempre impõem limites e

cuidados no que se refere a posicionar o público do candidato.

Kuntz (2006, p.22) refere que os candidatos concorrentes têm a função de revelar o

pior lado do candidato, afinal é a tarefa da concorrência destruir uma imagem bem construída

dos oponentes. É também nessa etapa que o profissional de marketing político terá que

assessorar bem o candidato, evitando um maior desgaste da sua imagem e, ao mesmo tempo,

desencadear um contra-ataque, que custará caro ao seu opositor, responsável por levantar

acusações. A função do profissional de marketing político, além de mostrar que o seu cliente é

bom, é de mostrar que é ele melhor que seus concorrentes.

2. Início e desenvolvimento do marketing político no Brasil

A trajetória do marketing político no Brasil é recente. Rita (2002, p.9) comenta que: [...] cerca de 25 anos também é a idade do marketing político no Brasil, uma atividade muito nova, mal saída da adolescência, ainda em permanente ajustamento. Ninguém ensinou ninguém a fazê-lo. Fomos aprendendo, fazendo. Com a mão na massa descobri segredos, entendi lições, acumulei experiências.

Segundo o autor, a atividade eleitoral no Brasil teve reinício somente após a ditadura

militar. Nesse período, não havia preocupação por parte dos candidatos com as técnicas de

campanha e não lhes era dada a devida importância. Tudo era realizado entre amigos e

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família, de forma empírica e amadorística. Um cuidava da mobilização, outro da propaganda,

outro do caixa, etc. O candidato gastava energia à espera de um milagre (vencer as eleições),

que podia ou não acontecer, pois ele dependia de certos fatores como: carisma que causasse

impacto no eleitor, apoio de empresários, além de erros, escândalos e falta de carisma dos

adversários. A preocupação com a campanha só aparecia para corrigir falhas de última hora,

nas vésperas da eleição, tal como era tratada a campanha eleitoral da época. Não havia

preocupação com um trabalho mais aprofundado, de longo alcance, que demandasse a

construção de uma imagem, positiva ou negativa, uma preparação para a campanha eleitoral,

que se sustentasse no marketing político.

Atualmente, se não houvesse o marketing político, esse procedimento causaria sérios

problemas aos candidatos brasileiros, visto que o eleitor não é mais um ser passivo, capaz de

aceitar qualquer coisa. Ele é exigente, está aprendendo a votar, identificando melhor o

candidato quanto à sua honestidade. Ele está atento também ao comportamento dos

candidatos e prestes a repudiar a propaganda enganosa. Suas análises são e estão alicerçadas

no grande crescimento dos diversos meios de comunicação, nas críticas e orientações que

recebe diariamente. É nesse lapso de tempo – entre a campanha e a votação – que a imagem

do candidato poderá ser construída positiva ou negativamente, constituindo-se no marketing

político (RITA, 2002, p.225).

Apesar de a atividade de marketing político no Brasil já ter vários anos, foi na década

de 1990, na campanha do então candidato, Fernando Collor de Mello, que esse tipo de

marketing ficou mais conhecido no Brasil, ganhando proporções de tal maneira que chegou a

eleger o referido candidato para o cargo de presidente do Brasil. A partir dessa época, as

campanhas ficaram cada vez mais técnicas e mais sofisticadas; os profissionais começaram a

trabalhar cada vez menos com a intuição e passaram a usar cada vez mais os recursos técnicos

e sofisticados de planejamento e estratégia. É importante ressaltar A capacitação dos

profissionais de marketing político é ampla, passando pela criação, leitura e interpretação das

pesquisas à previsão dos cenários de acordo com os resultados obtidos. Feito isso, esses

profissionais irão trabalhar as mensagens e a imagem do candidato, para que este consiga,

responder às expectativas do eleitor (BORGES, 2007, p.1).

Nesse sentido, o marketing político tem contribuído, sobremaneira, com as campanhas

eleitorais brasileiras.

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2.1 1954 - Primeira atuação do marketing político: o trabalho de um publicitário

que garantiu a vitória de um candidato

Nas últimas eleições do Brasil, que aconteceram no ano de 2008, o marketing eleitoral

completava 54 anos de presença no país, levando-se em consideração o tempo do trabalho de

marketing realizado por um publicitário, em 1954, que promoveu a vitória de um candidato

político totalmente desconhecido dos eleitores.

Tudo começou no ano de 1954, na cidade de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais,

quando o engenheiro Celso Azevedo da União Democrática Nacional (UDN) concorreu às

eleições municipais para o cargo de prefeito dessa cidade. Na realidade, tanto esse candidato

quanto o publicitário que fez a campanha eleitoral para ele, João Moacir de Medeiros da JMM

Publicidade, não imaginavam que esse trabalho teria mais tarde seu reconhecimento, como

um marco histórico na política e na vida dos brasileiros (PACHECO, 2008, p.8).

Medeiros atuou como publicitário por mais de 50 anos, produzindo e criando

campanhas publicitárias para diversos clientes. Fundou a sua agência de publicidade em 1950,

a JMM Publicidade, na cidade de Belo Horizonte.

Naquela época, não era conhecida a técnica do marketing; assim sendo, nem se

cogitava haver algo semelhante voltado às campanhas eleitorais, ou seja, o marketing

eleitoral. Essa técnica havia chegado recentemente ao Brasil, mas se restringia apenas ao

âmbito da Fundação Getúlio Vargas, provavelmente porque, pelo fato de ser uma instituição

muito restrita, foi o canal de entrada dessa técnica e o início da implantação de uma nova

maneira de ver e pensar o mercado no Brasil. A técnica do marketing foi desenvolvida nos

EUA ao longo dos primeiros trinta anos do século XX (PACHECO, 2008, p.8).

Conforme Pacheco (2008, p.9), “Hoje, Medeiros goza de sua merecida aposentadoria,

e entre as suas glórias profissionais, constituídas por grandes prêmios nacionais, ele preza, de

modo particular, o seu título de Pioneiro Absoluto do Marketing Eleitoral no Brasil.”

Segundo o autor, foi, em 1993, durante o seminário “Voto é Marketing?”, realizado

pela Escola de Comunicação (ECO) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que

Medeiros relatou como foi a campanha para o candidato Celso Azevedo. O relato se deve ao

questionamento do próprio título do seminário, pois o meio acadêmico e científico buscava

entender a verdade sobre o marketing nas eleições, com base na vitória de um candidato

desconhecido dos eleitores.

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Medeiros relatou que, em 1954, dois candidatos concorriam às eleições municipais

para a Prefeitura de Belo Horizonte: Amintas de Barros do PSD, já velho conhecido dos

mineiros e apoiado pelo, então, presidente, Getúlio Vargas e pelo Governador de Minas

Gerais, Juscelino Kubitschek, e o engenheiro Celso Azevedo da UDN, totalmente

desconhecido.

Azevedo contou com o apoio do empresário Magalhães Pinto, o qual procurou

Medeiros, fazendo-lhe o seguinte pedido: “Veja que propaganda você pode fazer para o Celso

não perder muito feio [...]” (PACHECO, 2008, p.10). Diante a essa solicitação, percebe-se

que o empresário era cético em relação à vitória do candidato que ele mesmo apoiava.

A estratégia utilizada por Medeiros, que deu a vitória a Azevedo, foi explorar o caráter

profissional do candidato, pelo fato dele não ser um “político”. Assim, pela sua formação,

Azevedo poderia cuidar da cidade e atender às expectativas do povo em relação aos

problemas dos bairros, por exemplo, calçando as ruas, construindo viadutos e pontes onde

houvesse necessidade, bem como resolver os problemas de transporte e atender outras

necessidades básicas da população.

O publicitário, diante ao tempo exíguo, pois faltavam apenas três semanas para as

eleições, pensou em fazer uma rápida pesquisa de opinião. Assim, ele saiu às ruas,

perguntando às pessoas que encontrava: “Escuta aqui, eu sou de fora, estou de passagem, sou

um caixeiro viajante. Estou ouvindo falar de eleição, da campanha... Me fala aí, quem você

acha que vai ganhar ?” As pessoas diziam: “Tem o Amintas de Barros, esse é o certo. Tem

também um outro para fazer o páreo” (PACHECO, 2008, p.11).

Além dessa pergunta, Medeiros fazia outra: “Esquecendo o nome, esquecendo o

candidato, você escolheria entre qual político? Um advogado brilhante, ou um engenheiro?

Quem você acha que resolve os problemas da sua rua, do seu bairro, da sua cidade?”

(PACHECO, 2008, p. 11). A maioria das pessoas respondia que preferia o engenheiro.

Essa foi a estratégia adotada no ano de 1954 para o caso do candidato em questão. A

campanha, cujo mote era resolver os problemas essenciais da população, teve o apoio de

várias emissoras de rádio, as quais tocavam regularmente um jingle com a seguinte letra: “O

povo reclama, com razão / minha casa falta água / minha rua não tem condução / Mas não

basta reclamar, meu senhor / é preciso votar no prefeito de valor” (PACHECO, 2008, p.12).

Outra estratégia de campanha era não denegrir a imagem do candidato concorrente.

De acordo com Pacheco (2008, p.11), o mote da campanha era: “Os problemas de

Belo Horizonte são problemas seus, mas são problemas técnicos. Confie sua solução a um

técnico, a um engenheiro, a um homem capaz: Celso Azevedo.”

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Após a vitória de Azevedo, quatro anos depois, Magalhães Pinto, que patrocinou a

campanha deste, convidou Medeiros para fazer a sua própria campanha para o cargo de

governador de Minas Gerais, ganhando com grande vantagem do seu opositor, Tancredo

Neves. “Isso confirmou que a orientação eleitoral tradicional estava obsoleta, e a nova

orientação mercadológica viera para ficar” (PACHECO, 2008, p.9).

Passado esse período, houve um intervalo de 25 anos sem eleições, as quais

retornaram, em 1989, com a redemocratização do País. A campanha do candidato Fernando

Collor de Mello se tornou histórica, por usar as ferramentas do marketing eleitoral. Quem

dirigiu a campanha para esse candidato foi Chico Santa Rita, especialista em Marketing

Político, e as agências de publicidade responsáveis foram: Setembro (Minas Gerais) e

Casablanca (São Paulo), ambas do mesmo dono, o publicitário Almir Sales.

Em 1991, nasceu a Associação Brasileira de Consultores Políticos (ABCOP),

resultado da maturidade do marketing eleitoral brasileiro. A orientação mercadológica que a

ABCOP se propõe estende-se de presidente da República até vereadores.

Hoje, além dos candidatos brasileiros serem beneficiados pelo marketing eleitoral, o

know-how dos consultores políticos/eleitorais brasileiros é conhecido e requisitado além das

fronteiras do Brasil, concentrando-se nos países hispano-americanos e africanos (PACHECO,

2008, p.9).

2.2 Brasmarket: a primeira empresa de consultoria de marketing político

No Brasil, a primeira empresa de consultoria de marketing político propriamente dita

teve seu início por meio da Brasmarket. Conforme Kuntz (2006, p.22), ele e seu primo Sidney

fundaram a Brasmarket, com o objetivo de inaugurar uma nova fase na prestação de serviços

de consultoria e pesquisa política. Isso se deu em 1982, quando do surgimento de novos

partidos políticos, após a abertura política no Brasil. Kuntz foi convidado para disputar as

eleições nesse ano pelo Partido Democrático Social (PDS). No final de 1981, havia escritórios de assessoria em todas as áreas de marketing, mas não havia nenhum profissional que prestasse serviços de consultoria na área de marketing político eleitoral, para dar orientação sobre o que fazer ou como eu poderia avaliar, aferir minha viabilidade eleitoral. (KUNTZ, 2006, p. 22).

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Em razão disso, Kuntz saiu, em peregrinação, pelos gabinetes de parlamentares

amigos, para se informar melhor como deveria proceder. Assim, acabou importando e

pesquisando obras estrangeiras sobre o tema, pois não havia obras de autor brasileiro nessa

área. Foram seis meses de pesquisa para descobrir que sofreria uma estrondosa derrota, caso

aceitasse lançar-se como candidato. Quando pensou que haveria milhares de pessoas

interessadas no mesmo objetivo (pleitear uma vaga na política), compreendeu que essas

pessoas teriam muitas dificuldades em coletar informações relevantes que as norteassem na

decisão de ingressarem ou não na carreira política. Kuntz se deu conta de que só ele tinha

essas informações nas pilhas de livros que possuía e nos estudos que já havia feito, bem como

que não havia concorrentes para o trabalho de assessoria em marketing político. Dentro dessa

visão e da pesquisa realizada durante meses, percebeu que já possuía material suficiente para

concluir um livro sobre o tema, o qual poderia ser o pioneiro como ele mesmo disse: “achei o

mapa da mina”. Em seguida, convenceu seu primo que poderiam ficar ricos e poderosos e,

então, ambos tomaram a decisão, em 1982, de escrever a primeira obra e fundaram a que seria

a primeira empresa de consultoria de marketing político do País, a Brasmarket.

A alegria e o entusiasmo iniciais foram substituídos pela decepção, pois aprenderam

rapidamente que ninguém sente falta de algo que nunca usou e nem conhece. Como o tema e

o trabalho eram novos, além da natural curiosidade, não havia demanda nem consciência da

classe política sobre a importância do uso do marketing político. Ambos descobriram que,

antes de ficarem ricos e poderosos, teriam que investir muito até que as técnicas do marketing

passassem a ser valorizadas pelo mercado (KUNTZ, 2006, p.23).

Logo perceberam também que, na época, o marketing eleitoral era um negócio que

dizia respeito somente aos publicitários, os quais atendiam as contas publicitárias

governamentais, mas não prestavam serviços de consultoria às pessoas físicas – clientes

interessados em entrar na vida política. Como já havia a relação de prestação de serviços

publicitários a essas organizações políticas, entendia-se que era só fazer as campanhas

políticas associando a imagem do candidato a essas organizações na qual trabalhavam.

As agências de publicidade não se preocupavam em investir nas especializações da

área política. Como cortesia, elas faziam todas as campanhas eleitorais dos grupos políticos

aos quais atendiam e estavam ligadas, em troca da conta publicitária dos governos. Essa é

uma prática das agências de publicidade que continua até hoje, caso os seus clientes vençam

as eleições. Não havia como competir com as agências, pois todo o material publicitário e

serviços que eram produzidos para os clientes-candidatos eram habitualmente pagos, pois,

como não havia especialistas na área política, as agências faziam o serviço gratuito, mas, caso

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o candidato ao governo fosse o vitorioso, ele dava para essas agências contas publicitárias de

alguns órgãos ou autarquias. Por exemplo, alguma agência investiu em um determinado

político/candidato, o qual encontrou meios de beneficiar essa agência com uma conta do

governo, mesmo não sendo esta uma empresa licitada. A capacidade intelectual e os

aconselhamentos dos consultores e profissionais da área do marketing político, que deveriam

ser vendidos, eram oferecidos gratuitamente e, com isso, não havia como sobreviver a essa

forte concorrência.

Os publicitários tinham a vantagem de pertencerem ao ramo de atividade econômica

mais ligada aos grupos políticos. Com medo do crescimento da especialização na área de

marketing político, eles lançaram e trabalharam, de uma maneira discreta, a tese de que não

haveria nenhuma diferença entre vender um produto ou um candidato. Esse conceito foi

difundido em grande escala, pois as agências de propaganda eram os elos fortes entre

anunciantes e veículos de comunicação. Suas poderosas ramificações, seus estreitos contatos,

acesso e forte influência sobre os meios de comunicação eram usados, o que lhes deu a força

suficiente para vencer uma concorrência fraca, que não tinha esse entrosamento com esses

fortes grupos.

O conceito de que vender um produto é a mesma coisa que vender um candidato durou

até 1989, pois, na década de 1990, começaram a surgir os especialistas em marketing político,

todos saídos com estreitamentos ligados ao mercado publicitário. As agências de propaganda

começaram a anunciar os seus departamentos ou divisões especializadas em marketing

político, que antes renegavam.

Os publicitários usaram suas estratégias com os cientistas políticos e intelectuais, para

provar que não havia diferença entre uma campanha para um candidato e outra para um

produto. Com isso, aos poucos, os especialistas e estudiosos, que lutavam para

profissionalizar a atividade de marketing político, foram eliminados de acordo com a

argumentação dessas agências (KUNTZ, 2006, p.24).

O autor explica que as agências estavam em defesa de seu mercado e a sua estratégia

de convencimento foi eficaz, pois gozavam de grande credibilidade por utilizarem o conceito

de que se pode vender um candidato como se vende um produto. Os publicitários

conseguiram tirar a atenção do foco da discussão, gerando dúvidas e polêmicas, que acabaram

dando-lhes tempo suficiente de se prepararem para enfrentar os novos concorrentes em

marketing político, sem perder sua superioridade sobre o mercado. Só depois de muitos anos

eles perceberam e entenderam o quanto foram ingênuos no início dessa caminhada, isto é, em

vez de remar contra, o melhor teria sido fazer alianças e parcerias aqueles que detinham esse

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mercado (as agências e os publicitários), as quais dariam origem mais cedo na abertura de um

espaço para a evolução do marketing político no País.

Sempre houve muito preconceito e desinformação a respeito do marketing político.

Kuntz (2006, p.24) relata que foi preciso usar de toda a criatividade para tentar derrubar estas

barreiras. Na época, foram concedidos espaços pela grande maioria dos veículos de

comunicação brasileiros, que divulgavam a versão dos seus clientes, as agências de

propaganda, mas, ao mesmo tempo, esses veículos foram descobrindo que o marketing

político era muito mais do que a repetição das técnicas de propaganda usadas para vender

produtos, por exemplo, sabonetes. Foi entre 1982 e 1989 que todos os grandes veículos de

comunicação tornaram-se aliados e apoiaram a realização de cursos e seminários sobre

marketing político, que foram levados para todo o País. Os apoios foram diversos de todos

aqueles que acreditavam nesse novo e emergente mercado. Nesse período, dentre os

importantes apoios dados a Kuntz e Sidney, pode-se citar o apoio da Escola Superior de

Propaganda e Marketing, em São Paulo (ESPM), por meio do seu diretor, Francisco Gracioso.

Apesar dessas mudanças, a luta continuava para a consolidação de um novo mercado

e, para isso, a Brasmarket promoveu, em todo o País, dezenas de seminários estaduais e

centenas de cursos e palestras sobre marketing político, incluindo congressos internacionais

para os quais eram trazidos especialistas norte-americanos e europeus.

Mesmo assim, expõe Kuntz (2006, p.25), a concorrência com as agências era desleal,

pois, de um lado, havia a prática de dumping e, do outro, a enganação (mão de obra pouco

qualificada, mas barata).

Diante do exposto, pode-se constatar que, apesar de todas as dificuldades enfrentadas

para a implantação de uma empresa de assessoria de marketing no Brasil, a iniciativa foi de

grande valia, pois o marketing político é hoje, certamente, um importante instrumento que

pode ser usado por candidatos e partidos na busca de vencer qualquer tipo de eleição.

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Capítulo II – A VIDA DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E A

HISTÓRIA DA REVISTA VEJA

O objetivo deste capítulo é apresentar a vida do ex-presidente da República Fernando

Henrique Cardoso, discorrendo sobre os seguintes aspectos: infância, família, trajetória

política, influências recebida, o gosto pela política, participação nos fatos políticos mais

importantes do Brasil da ditadura militar à democracia, que culminou com as eleições

decorrentes do movimento “Diretas Já”, e sua posse como presidente do Brasil em seu

primeiro mandato, o qual começou em 1º de janeiro de 1995.

Cabe ressaltar que grande parte do desenvolvimento deste capítulo será baseada no

livro Fernando Henrique Cardoso e a reconstrução da democracia no Brasil, de Ted G.

Goertzel, traduzido por Pedro Guimarães Mogachi, com a colaboração de Danielle Ardaillon,

diretora do Departamento de Documentação Histórica da Presidência da República.

1. Infância, juventude e família

Fernando Henrique Cardoso nasceu no dia 18 de junho de 1931, na cidade do Rio de

Janeiro, na casa de sua avó paterna, Leonilda Fernandes Cardoso. Ele não chegou a conhecer

seu avô paterno, o general Joaquim Inácio Batista Cardoso, pois este faleceu em 1924.

A família Cardoso não era rica, mas de classe média, e residia no bairro Botafogo, na

zona sul do Rio de Janeiro.

Segundo Goertzel (2002, p.2), “Fernando Henrique Cardoso diz que foi criado por sua

avó, a quem delicadamente atribui sua cordialidade e boas maneiras.”

Quando ele já havia completado um ano, nasceu sua irmã Gilda e, mais tarde, seu

irmão caçula, Antônio Geraldo. Fernando Henrique Cardoso não conheceu os avós maternos

que moravam no Amazonas.

Ele nasceu e cresceu numa família de políticos, sendo filho, neto e sobrinho de

generais. Durante sua infância e adolescência viveu cercado de adultos, que tanto falavam

sobre política quanto viviam no meio desta o tempo todo. Seus pais eram o General Leônidas

Fernandes Cardoso e Nayde Silva Cardoso, que era descendente de espanhóis e índios. O

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general conheceu sua esposa quando foi transferido para servir o Exercito, em Manaus, capital

do Amazonas.

A família Cardoso é de origem portuguesa. O bisavô paterno de Fernando Henrique

Cardoso, Felicíssimo do Espírito Santo Cardoso, foi senador, governador de Goiás e líder do

Partido Conservador na época do Império (GOERTZEL, 2002, p.2).

Por ter nascido numa família de militares, a educação que Fernando Henrique Cardoso

recebeu foi muito rigorosa. Em razão disso, ele foi alfabetizado em sua casa com a idade de 3

anos. Também muito cedo aprendeu francesa língua francesa com uma professora particular.

Durante o seu aprendizado, preferia os livros de história a livros de contos de fadas.

Estava sempre atento aos fatos e às notícias; assim, acompanhou pelos jornais o

desenrolar da Segunda Guerra Mundial.

Aos 10 anos de idade, mudou-se para São Paulo, em virtude do seu pai ter sido

transferido de posto. Quando adolescente, tinha um gosto especial em ler os clássicos, por

exemplo, Émile Zola, consagrado escritor francês, criador e representante mais expressivo da

Escola Literária Naturalista (ISTO É, 2009).

Em 1933, o pai de Fernando Henrique Cardoso foi promovido a major e, em 1934, a

um posto de comando no Ministério da Guerra. Em 1945, foi promovido a coronel. Fernando

Henrique Cardoso completava, nessa época, 14 anos de idade. Apesar da pouca idade, ele já

se interessava pelos assuntos que diziam respeito somente aos adultos. E foi assim,

interessado nos assuntos relativos à nação, que Fernando Henrique se firmou

profissionalmente e ingressou na política.

2. O gosto pela política

Apesar de ser membro de uma família de militares, Fernando Henrique Cardoso não

quis, e nem tinha pretensões de seguir a carreira militar, pelo contrário, foi opositor ao golpe

de Estado militar no ano de 1964, quando estava com 33 anos de idade. Sua carreira política

foi totalmente dedicada à luta em favor da democracia civil e da reforma social.

Para quem o observava, podia até pensar que ele era um filho rebelde, pelo fato de,

sendo de uma família de militares, se opor ao regime militar, ou seja, rebelando-se contra a

própria família.

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Leônidas Fernandes Cardoso comungava as mesmas ideias do filho, pois, mesmo

sendo militar, não concordava com o golpe de Estado e, com isso, não tinha nenhuma

pretensão que seu filho também se tornasse militar, entrando, na época, para as forças

armadas (GOERTZEL, 2002, p.3).

Apesar do histórico militar da família, o pai de Fernando Henrique Cardoso desejava

que o filho seguisse o seu próprio caminho, sendo feliz naquilo que escolhesse, desde que sua

opção contribuísse para a construção de uma nação melhor.

De acordo com Goertzel (2002, p.7), Fernando Henrique Cardoso, num dos momentos

em que se lembra do pai, faz o seguinte comentário: “Meu pai nunca foi autoritário.

Rigorosamente democrata e homem muito aberto, era liberal, tolerante, com sentido absoluto

de moralidade pública. A tolerância dele me marcou profundamente.”

No despertar dos seus interesses pela vida, ou seja, qual caminho deveria seguir, o

trajeto político não foi o primeiro objetivo de Fernando Henrique Cardoso. Ele gostava muito

de ler, mas especialmente literatura. Seu interesse por esta já vinha de muitos anos, quando

começou a ler os grandes clássicos. Ele não se interessava muito por outros temas, os

científicos, por exemplo. Numa ocasião, ainda moço, durante umas férias com a família na

estância de Lindóia (SP), teve a oportunidade de conhecer o famoso professor português de

literatura Fidelino de Figueiredo. Na oportunidade, conversaram o suficiente para esse

professor perceber a curiosidade que Fernando Henrique Cardoso tinha pelos livros que lia.

Ele chegou a manifestar ao professor a sua preferência e seu entusiasmo pelos poetas

brasileiros da geração de 1945. Entre estes, ele admirava muito os poemas de Péricles

Eugênio da Silva Ramos e Domingos Carvalho da Silva. O professor não perdeu a

oportunidade de incentivá-lo nas suas aspirações literárias, tanto que o orientou a aprofundar

seus estudos na literatura clássica e a prestar o vestibular para a Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) (GOERTZEL, 2002, p.7).

Na época, Fernando Henrique Cardoso se inscreveu para o vestibular de Filosofia, mas

ainda não estava seguro com a escolha desse curso, tanto que também fez o exame seletivo

para o curso de Direito da mesma universidade. Acabou não sendo aprovado em Direito, pois

não foi bem na prova de Latim.

Assim, acabou optando por Sociologia, por entender que as disciplinas do curso

forneceriam subsídios para os seus interesses filosóficos e teóricos, afinal ele queria se

preparar para abordar os problemas práticos do Brasil.

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Nunca tive tentação forte para ser militar, porque meu pai já tinha deixado de ser. Meus interesses eram outros [...] Eu não tinha muita noção do que era o curso de Ciências Sociais, mas me interessava pelos assuntos brasileiros, principalmente por influência de um parente nosso, general Horta Barbosa, que tinha em sua casa um vidrinho de petróleo brasileiro. Assim, entramos todos na campanha, do ‘O Petróleo é nosso’, até com um jornalzinho da escola secundária. (GOERTZEL, 2002, p.8).

Goertzel (2002, p.8) refere que, nessa mesma época, Fernando Henrique Cardoso

estava muito entusiasmado pela campanha do “O Petróleo é nosso”, tanto que as suas

inspirações eram baseadas nos ideais comunistas, apesar de saber pouco sobre a realidade dos

sistemas sociais comunistas. Um fato que o inspirou para seguir esses ideais foi a vitória do

corredor checo Emil Zatopek, que venceu a corrida de São Silvestre no ano de 1954, na

cidade São Paulo. Fernando Henrique Cardoso e seus amigos viram, nessa vitória, um marco

do poder socialista, que além de produzir mudanças políticas e sociais decisivas, mostrava ao

mundo também os seus bem preparados atletas que sempre triunfavam nas mais diversas

competições mundiais.

Em 1956, Fernando Henrique Cardoso e seus companheiros ficaram decepcionados

com a União Soviética, em razão dos acontecimentos históricos da época. Dentre esses

acontecimentos, o que mais o marcou foi o 20º Congresso do Partido Comunista da União das

Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em fevereiro de 1956, que provocou grande aflição

entre os intelectuais brasileiros, tudo por causa do discurso secreto, “O culto da personalidade

e suas conseqüências”, que nada mais era do que uma denúncia feita a Joseph Stálin,

secretário-geral do Partido Comunista, por Nikita Khruchov, por causa de abusos

antidemocráticos contra outros membros do partido. As notícias desse discurso secreto

abalaram, e muito, a todos os intelectuais brasileiros que acompanhavam de perto os eventos

na Europa, caindo, também, como uma bomba na comunidade da USP.

Goertzel (2002, p.11) menciona que, para acabar de vez com a simpatia de Fernando

Henrique Cardoso pelo comunismo soviético, aconteceu a invasão da União Soviética na

Hungria, em outubro de 1956, ocasião em que ele assinou um abaixo-assinado protestando

contra essa invasão. Se os modelos de Cuba e da antiga URSS não serviam para reformar o Brasil, qual, então, poderia servir? Como muitos de sua geração, Fernando Henrique Cardoso esperava que uma análise sociológica rigorosa pudesse fornecer melhores respostas. Conforme disse, ‘no final da década de 1940, quem entrava na faculdade de Filosofia da USP, como foi o meu caso, era porque queria mudar o Brasil’. Como muitos outros, ele e seus colegas não possuíam clareza exata sobre a diferença entre Sociologia e socialismo,

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evocando que ‘o que realmente queríamos era ser socialistas, não sociólogos’. (GOERTZEL, 2002, p.13).

Em 1951, quando concluía os seus estudos de graduação, foi assistente de pesquisa na

Faculdade de Economia da USP para a cadeira de Ciência Administrativa. Foi supervisionado

por Lucila Hermann, que estava desenvolvendo um estudo sobre a força de trabalho industrial

em São Paulo. No ano seguinte, já com 21 anos, Fernando Henrique Cardoso, mesmo sem

pós-graduação, foi convidado para ministrar um curso de História Econômica, sendo a

professora Alice Canabrava a titular da cadeira desse curso.

Segundo Goertzel (2002, p.18), Fernando Henrique fez o seguinte relato: Tive de desdobrar-me para dar um curso sobre ‘História Econômica da Europa’. Sabia pouco da história, mas lia muito Weber e algo de Marx. A professora Alice fazia-me trabalhar furiosamente nos arquivos e achava, no fundo, que eu poderia ser um intelectual do gênio ensaísta (como Antônio Cândido, dizia ela, para meu orgulho), mas nunca um pesquisador, vocação que ela valorizava.

Nesse mesmo ano, apresentou o seu trabalho de conclusão de curso e, no ano seguinte,

recebeu o diploma de graduação. Logo em seguida, casou com Ruth Correa Leite, que, na

época, era estudante de Antropologia na cidade de Araraquara, interior de São Paulo. Ambos

já eram amigos, estudavam juntos, passeavam juntos, indo a museus, teatros e cinemas

(GOETZEL, 2002, p.19).

Fernando Henrique Cardoso conheceu sua esposa na Faculdade de Filosofia da USP,

em 1948, quando tinha então 17 anos. Dessa união nasceram os três filhos: Beatriz, Paulo

Henrique e Luciana (ISTO É, 2009).

Mesmo cursando a pós-graduação, tendo iniciado a sua tese de doutorado sobre a

história da escravidão no Rio Grande do Sul, assumiu, no ano de 1953, o cargo de professor

assistente em Sociologia na USP.

Até então, Fernando Henrique Cardoso não pensava, e nem esperava entrar para a

política; seu sonho e objetivo era ser professor em uma importante universidade brasileira.

Mas, para realizar esse sonho, teria que trabalhar e pesquisar muito, além de publicar livros

que fossem reconhecidos como contribuições importantes para o conhecimento.

Para se envolver na carreira docente, conforme mencionado acima, era preciso uma

boa dose dedicação à pesquisa, a qual, muitas vezes, se concentra mais no passado do que em

eventos do presente. Isso causava certa frustração e ansiedade em Fernando Henrique

Cardoso, pois ele queria participar de algo mais dinâmico, mais prático. Ele se cansou dos

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debates filosóficos e teóricos, pois a contribuição dessas discussões era pouca, segundo o seu

entendimento, em relação ao que estava ocorrendo no mundo.

Ele buscava contribuir com os debates mais práticos – os debates políticos em curso –,

pois isso significava rapidez na publicação dos seus trabalhos, mesmo que não fossem, ainda,

inteiramente confirmados por pesquisas rigorosas.

Foi por meio dessa busca, pelo debate mais dinâmico, que os seus livros mais

importantes tiveram influência, devido à oportunidade que ele teve de introduzir novas

abordagens para as questões da época (GOERTZEL, 2002, p.25).

3. 1964 – O exílio no Chile

O golpe de Estado de 1964 foi consequência de uma tensão política que já vinha

crescendo no Brasil desde o mês de agosto de 1961. Tudo começou quando o presidente da

República, Jânio Quadros, renunciou ao seu mandato. O motivo da renúncia se deu por

conflitos constantes do presidente com o Congresso Nacional, pois não havia entendimento

político entre ambos e, assim, a tensão só aumentava.

O vice-presidente, João Goulart, assumiu a Presidência do Brasil, observado por

militares e pelos conservadores, por ser de centro-esquerda, por se juntar a grupos que

apoiavam e defendiam a reforma agrária em grandes dimensões e pelas medidas econômicas

socialistas. Tanto os militares quanto os conservadores não queriam que João Goulart tomasse

posse como presidente. Dessa forma, não hesitaram em tentar fazer uma emenda

constitucional para criar uma forma parlamentar de governo, com o objetivo de reduzir o

poder de João Goulart.

O povo, em plebiscito, não validou essa mudança, sendo totalmente contra, pois

algumas pessoas que declararam ser de esquerda tinham, na Presidência de João Goulart, uma

oportunidade para mudanças revolucionárias.

A classe média ficou muito preocupada, principalmente as donas de casa as quais, com

o apoio dos empresários, demonstravam preocupação pela instabilidade política presente no

País e, com isso, clamavam por intervenção militar. Diante desse impasse por parte dos

líderes civis e com a preocupação que o povo (as massas) saísse do controle, o Exército estava

prestes a intervir na situação política ali instalada.

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Durante esse período, Fernando Henrique Cardoso estava fazendo uma pesquisa com

os empresários para o seu pós-doutorado. Por ser filho de oficial do Exército, ele sabia que

estava para acontecer um golpe militar, mas não sabia como e quando, bem como desconhecia

os detalhes desse golpe. Na época, ele era professor universitário e não tinha nenhum

envolvimento com a política.

Segundo Goertzel (2002, p.44): Em 13 de março de 1964, quando o Exército estava realizando sua reunião final para proclamar o golpe, Fernando Henrique Cardoso tomou o trem do Rio de Janeiro para São Paulo. No percurso até a estação ferroviária, ele viu que quase todas as casas em Copacabana tinham uma vela acesa na janela; a exceção era a casa de seu pai. As velas simbolizavam apoio ao golpe militar.

Apesar da sua convicção contra o golpe militar, que era também compartilhada pelo

pai, Fernando Henrique Cardoso considerava que o presidente João Goulart era irresponsável

quando fazia promessas que, com certeza, não conseguiria cumprir.

Essas promessas estimulavam as expectativas do povo brasileiro e poderiam, mais

adiante, caso não fossem cumpridas, tornaram-se verdadeiros fracassos. Ele temia também

que o presidente pudesse dar um golpe antecipado, o que poderia resultar num verdadeiro

desastre político. Seu temor concretizou-se: o golpe militar veio das forças armadas e se

encerrou rapidamente.

Fernando Henrique Cardoso e seus amigos resolveram se juntar às forças democráticas

do Rio Grande do Sul, pois havia boatos que as unidades militares daquele Estado estavam

resistindo ao golpe militar. Assim, pegaram as armas e se dirigiram rumo ao aeroporto de São

Paulo, mas não foram muito longe, pois naquele dia todas as ruas de São Paulo estavam

bloqueadas. Com isso, foram impedidos de passar e, pela inexperiência em lidar com armas,

correram sério risco de vida, isto é, de serem mortos pelos militares.

Foi na Rua Maria Antônia, onde se localizava o prédio da universidade na qual

Fernando Henrique Cardoso era professor, que ele e seus amigos foram ver de perto o que

estava acontecendo. As ruas estavam bloqueadas por estudantes. Foi, então, que o avisaram

que ele estava sendo procurado pelo Exército, e que seu amigo Bento Prado foi confundido

com ele, sendo preso imediatamente.

A partir desse momento, passou a viver escondido, mudando todos os dias, sendo

abrigado nas casas dos amigos. Vivia em endereços incertos, pois alguns acadêmicos

conservadores, com os quais havia tido alguns conflitos no passado, delataram-no, com o

objetivo de se livrarem de uma facção radical.

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Para sua sorte, descobriu, por intermédio de amigos, que o seu nome não constava na

lista de pessoas que deveriam ser detidas no aeroporto, caso tentassem deixar o País. Com a

ajuda de um amigo, Mauricio Segall, que se tornou mais tarde líder do PT, conseguiu

embarcar para a cidade de Buenos Aires, na Argentina (GOERTZEL, 2002, p.45).

A família se juntou a ele e, assim, em 1º de maio de 1964, mudaram-se para o Chile,

na cidade de Santiago, onde ele conseguiu trabalho e um excelente salário. Os três filhos do

casal foram matriculados em boas escolas particulares e a família ocupou uma boa casa no

bairro de classe média de Vitacura.

Fernando Henrique Cardoso, agora trabalhando na Comissão Econômica para a

América Latina e o Caribe (CEPAL), e outros importantes cientistas sociais do Chile,

Argentina, Bolívia, Venezuela, México e outros países estavam voltados para o estudo do

“pensar” sobre os problemas da América Latina. O autoexílio de Fernando Henrique Cardoso

durou quatro anos (1964 a 1968) (GOERTZEL, 2002, p.45-46).

4. O retorno ao Brasil e a sua trajetória política

Em 1967, Fernando Henrique Cardoso teve que retornar ao Brasil por um breve

período, para acompanhar os funerais de seu pai. Como ele não havia se exilado formalmente

e a situação política no Brasil estava mais calma, o Superior Tribunal Militar, na época sob o

comando do juiz liberal Peri Bevilacqua, emitiu um mandado de habeas corpus, que

cancelava totalmente o processo contra ele. O sonho de lecionar na USP estava próximo,

sendo essa possibilidade muito tentadora.

Mas foi somente em 1968 que ele regressou definitivamente ao Brasil, com o objetivo

de conseguir um cargo pleno como professor na USP, o que seria muito difícil, pois a

universidade seguia o modelo francês de administração universitária, no qual já havia um

número disponível de cadeiras em cada disciplina. Ele só teria chance se uma dessas cátedras

vagasse em função de aposentadoria ou morte de um professor titular.

De acordo com Goertzel (2002, p.47), naquele mesmo ano, faleceu o professor

Lourival Gomes Machado, titular da cadeira de Ciência Política. Dessa forma, foi aberto um

concurso público para essa vaga. Os candidatos precisavam apresentar amostras de suas obras

escritas. Fernando Henrique Cardoso tornou-se um forte candidato pelo registro de diversas

publicações, dentre elas, o livro Dependência e desenvolvimento na América Latina,

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publicado em espanhol, português, italiano, alemão, francês e inglês, respectivamente em

1969, 1970, 1971, 1977, 1978 e 1979.

Goertzel (2002, p.56) relata que, nesse processo seletivo, o candidato, depois de ter

passado pelas sabatinas e pela avaliação rigorosa do comitê de avaliação, fazia a defesa

pública de sua tese, ocasião em que participavam dessa exposição juízes e observadores

interessados na tese do candidato. A defesa contava com a participação de um grande público

exigente e qualificado.

Fernando Henrique Cardoso venceu todas as etapas e, enfim, assumiu a cátedra de

Ciência Política da USP. Em 1969, foi aposentado compulsoriamente e teve seus direitos

políticos cassados pelo AI-5.

Fernando Henrique Cardoso criou, em 1969, na cidade de São Paulo, com outros

professores e pesquisadores cassados, o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

(Cebrap), que se tornaria um importante núcleo de pesquisa e reflexão sobre a realidade

brasileira.

Em palestras e artigos publicados em vários órgãos de imprensa, destacou-se como

crítico do regime militar e defensor de uma transição pacífica para a democracia.

O regime militar deu a ele a oportunidade de não se acomodar, pois era confortável

viver como professor titular de uma importante universidade brasileira. A carreira acadêmica

na USP era atraente, mas se limitava somente ao mundo acadêmico.

Quando da sua aposentadoria e cassação, Fernando Henrique Cardoso voltou a se

reunir com vários de seus colegas, pessoas brilhantes do mundo acadêmico. Todos faziam

parte de um grupo de estudos marxistas, ainda eram amigos íntimos, mas cada um havia

seguido caminhos diferentes, pois foram aposentados também compulsoriamente em 1969.

(GOERTZEL, 2002, p.63-64). As reuniões eram frequentes, pois o grupo tinha como objetivo

pensar sobre o Brasil e refletir sobre os seus problemas e a sua realidade.

Segundo o Instituto Fernando Henrique Cardoso (2009), em 1974, o presidente do

Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Ulysses Guimarães, convidou Fernando

Henrique Cardoso para coordenar a elaboração da plataforma eleitoral do partido. Em 1978,

ele concorreu ao Senado pelo MDB, elegendo-se como suplente de Franco Montoro.

Em 1982, os militares permitiram eleições livres somente em nível estadual. Esse ato,

sem dúvida, demonstrava que o Brasil já dava sinais favoráveis à democracia. A oposição

lançou vários candidatos aproveitando a oportunidade que se instalava. Foi nos principais

Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que a oposição venceu as eleições

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para o governo. Esses Estados representavam, na época, 42% da população brasileira e

produziam 62% do Produto Interno Bruto (PIB).

O candidato ao governo do Estado de São Paulo, senador Franco Montoro, eleito em

1978 pelo MDB, foi eleito em 1983 para governador do Estado de São Paulo, pelo PMDB.

Fernando Henrique Cardoso, como seu suplente, assumiu a vaga deixada no Senado.

E, assim, a amizade entre os dois fortaleceu-se, pois mesmo estando separados pelos

cargos que ocupavam, sendo que um ficava em Brasília e o outro em São Paulo, a relação de

trabalho e amizade era cada vez mais estreita.

Fernando Henrique foi conselheiro de Franco Montoro nos assuntos relacionados a

São Paulo, o que implicava em representar, no Senado, o Estado mais poderoso da Federação,

em uma época muito difícil, pois o governo do Estado de São Paulo representado por Franco

Montoro era forte oposição ao Governo Federal (GOERTZEL, 2002, p.94).

De acordo com Goertzel (2002, p.100), em seu discurso como senador, Fernando

Henrique Cardoso agradeceu a seus mentores políticos, Ulysses Guimarães e Franco Montoro,

reconhecendo que estava entrando no Senado como parte de um movimento que havia

herdado o legado político da [...] ‘resistência democrática dos anos mais duros, os anos da tortura, os da censura, os do exílio’. O movimento havia sido construído por líderes sindicais, artistas, intelectuais, líderes religiosos e os líderes mais dinâmicos do meio empresarial. Mas ainda não era o momento para uma celebração de vitória: ‘Não estréio nesta Casa com a galhardia que só a certeza do amanhã melhor permite. Não me é dado pretender abrir horizontes nos quais se vislumbre, além da crítica, a proposta e a conciliação’.

Fernando Henrique Cardoso teve participação destacada na campanha das “Diretas Já”

e na articulação da candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República, em 1984. Foi

indicado por Tancredo Neves como líder do governo no Congresso Nacional e conduziu, em

nome do governo, as mudanças na legislação eleitoral e partidária, as quais abririam o

caminho para a democratização da vida política no País.

Em 1985, foi escolhido pelo PMDB como candidato a prefeito de São Paulo,

oportunidade esta que, caso ganhasse, iria lidar exatamente, com muitos problemas que ele e

seus colegas haviam estudado dez anos antes, em São Paulo. O estudo deles baseava-se no

tema Crescimento e Pobreza, o que rendeu a Fernando Henrique Cardoso uma boa

experiência administrativa e destaque nacional. Tudo iria contribuir para que ele ficasse em

posição de concorrer à sucessão de Franco Montoro, ao governo de São Paulo.

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Seu oponente ao cargo de prefeito da cidade de São Paulo era o ex-presidente do

Brasil, Jânio Quadros, homem carismático, popular, sabia como administrar uma boa

campanha, tendo a vassoura como o seu símbolo de campanha, a qual representava a sua

promessa de varrer a corrupção da prefeitura da cidade de São Paulo.

Jânio Quadros obteve 38% dos votos contra os 34% dos votos dados a Fernando

Henrique Cardoso. O candidato do PT, Eduardo Suplicy, obteve apenas 20% dos votos

(GOERTZEL, 2002, p.110).

O ex-presidente Jânio Quadros ganhou as eleições para a prefeitura de São Paulo, com

a diferença de 30.000 votos frente ao seu principal opositor.

No ano seguinte, em 1986, Fernando Henrique Cardoso se candidatou novamente ao

Senado e reelegeu-se com 6 milhões de votos, sendo considerada a segunda maior votação no

Estado de São Paulo, em uma eleição majoritária.

No Senado, foi líder do PMDB e também um dos relatores do Congresso Nacional

Constituinte de 1987/1988.

Em 1988, o PMDB, que era também o partido do presidente José Sarney, estava

passando por um momento de indefinição em relação à própria administração, ao governo do

presidente e também a temas polêmicos relacionados à Constituinte. Isso levou Fernando

Henrique Cardoso a sair do PMDB, renunciando a liderança do partido no Senado.

Nesse mesmo ano, com o apoio dos ex-governadores do Estado de São Paulo, Franco

Montoro e Mário Covas, do atual governador José Serra e de outras lideranças vindas de

outros partidos, fundou o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) (INSTITUTO

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, 2009). Em reuniões que contaram com a participação de 1.178 pessoas. Realizadas nos dias 24 e 25 de junho de 1988, foram amplamente debatidos os atos constitutivos do novo Partido, que nasceu sob a liderança de políticos de expressão nacional, dentre eles: o ex-Governador Franco Montoro; o Senador Mario Covas, ex-Líder da maioria na Constituinte; o Senador Fernando Henrique Cardoso, que renunciava à liderança do partido majoritário no Senado, Afonso Arinos e o Senador José Richa. O Manifesto de fundação do PSDB foi subscrito por 40 Deputados e 8 Senadores. (PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA, 2009).

Conforme Goertzel (2002, p.117), a saída de Fernando Henrique Cardoso do PMDB,

se deu logo que encerrou a convenção constitucional, pois tanto ele quanto os demais líderes

que o acompanharam faziam parte da ala esquerda do partido.

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Até então, toda a sua carreira política havia sido construída no PMDB. Sua saída foi

uma decisão difícil, até porque era o partido mais forte e mais importante do País, e as suas

relações de amizade eram estreitas, principalmente com Ulysses Guimarães que, além de

amigo, foi seu mentor político. Ulysses Guimarães continuou no partido e isso trouxe um

constrangimento a Fernando Henrique Cardoso, que precisou explicar as suas razões para tal

decisão.

Em um discurso no Senado, no dia 22 de junho de 1988, ele reconhecia a sua lealdade

a Ulysses Guimarães, o qual, na sua concepção, seria sempre o “Sr. Diretas” e o patriarca da

Constituição de 1988.

Para Goertzel (2002, p.117), as alegações sobre sua saída continuavam em seu

discurso: O PMDB, contudo, havia alcançado suas metas de fundação: ‘A democracia está aí, com imperfeições, mas aí está; a Constituição foi escrita por nós’. Na visão de Fernando Henrique Cardoso, o PMDB havia sido incapaz de redefinir seus objetivos. Uma conquistou o poder, o partido se tornou um veículo carreirista para os políticos, o ‘grande cartório cujo carimbo é condição indispensável para o exercício do poder’ [...] Ele reconhecia que muitas pessoas diriam ‘ora, política é assim mesmo’, e por isso ela é para aqueles cuja única meta é manter-se no poder. Mas a meta das forças progressistas no PMDB sempre foi diferente, era a política para a mudança.

Segundo Goertzel (2002, p.119), em março de 1990, Fernando Collor de Mello venceu

as eleições para presidente do Brasil, tendo como objetivo acabar com a corrupção e inflação,

conforme havia sido divulgado no seu programa de governo na campanha presidencial. De

acordo com suas propostas e aspirações, sua missão era privatizar, abrir a economia para o

mercado mundial, eliminar a inflação, acabar com a corrupção, banir os chamados “marajás”

da política.

Fernando Henrique Cardoso, mesmo contrariando os seus amigos radicais do PT,

apoiava as metas e aspirações do presidente Fernando Collor de Mello, contudo não aceitou o

convite que lhe fez para um cargo ministerial, devido às objeções de membros do seu partido,

o PSDB.

Na época, o presidente lançou o Plano Collor, em virtude do qual foram bloqueados 85

bilhões de cruzados em contas bancárias, houve congelamento de preços e salários, a

eliminação de diversos órgãos governamentais, tarifas foram reduzidas e as restrições às

importações foram suspensas. O Brasil vivia a hiperinflação que tanto afligia o povo

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brasileiro, o qual viu nessas medidas um sinal de esperança, ainda que não pudesse sacar o

seu dinheiro do banco e seu limite de saque tivesse sido limitado.

No início do Plano Collor, a inflação foi reduzida drasticamente, permanecendo por

um período de seis meses. Parecia que o problema estava dominado e que a situação estava

totalmente sobre controle. Mas o plano não se sustentou e, tão logo os preços dos produtos

começaram a subir, o governo não soube o que fazer. Isso deixava claro que: Uma economia de mercado não consegue funcionar por muito tempo com preços e salários fixados pelo governo porque a essência do mercado é que a oferta e a procura variem em resposta a sinais dos preços. Na melhor das hipóteses, um congelamento de preços e salários é uma medida de emergência temporária a ser acompanhada por alguma coisa mais. (GOERTZEL, 2002, p.119).

Já no segundo ano de mandato de Fernando Collor de Mello começaram a surgir

algumas denúncias contra o governo deste. O foco era o tesoureiro de sua campanha, Paulo

César Farias. Em meio às denúncias, o presidente não tinha como substituir o seu projeto de

longo prazo no controle da inflação. As pessoas procuravam meios jurídicos para desbloquear

o dinheiro de suas contas e as empresas procuravam formas de contornar os controles de

preços. Com isso, a inflação estava de volta, denunciando que o Plano Collor não estava

funcionando.

Para Goertzel (2002, p.119), o alerta a respeito dessa situação foi feito em artigo do

jornalista Júlio Mesquista Neto, do jornal O Estado de São Paulo, que já havia revelado

publicamente essa preocupação. No dia 14 de junho de 1990, Fernando Henrique Cardoso

introduziu esse artigo nas atas do Congresso, com o objetivo de alertar os membros deste para

a situação que estava caminhando o País.

As acusações contra Paulo César Farias aumentavam e, cada vez mais, o nome do

presidente ficava exposto na mídia, pois Farias era o seu homem de confiança.

As denúncias eram muitas, e a mais grave dentre todas partiu do próprio irmão do

presidente, Pedro Collor de Mello, que o acusou de ter dado uma festa, junto com Paulo César

Farias, em um luxuoso apartamento que mantinha em Paris (França), para comemorar o

esquema sofisticado de propina de empresas que desejavam acesso e privilégio no seu

governo. Essa festa resultou da comemoração do primeiro bilhão de dólares em propina.

Pedro Collor de Mello sofreu pressão da própria família, que tentou silenciá-lo

demitindo-o de seu emprego nas organizações de rádio e televisão da família, sendo inclusive

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questionado sobre a sua sanidade mental. O presidente não tinha mais como se sustentar no

governo.

Segundo Goertzel (2002, p.120), em 5 de setembro de 1991, Fernando Henrique disse

ao Senado: A minha angústia é real, e não é só minha, é do povo brasileiro [...] nos últimos meses, a crise brasileira se agravou. A angústia nacional aumentou, a profunda descrença, que já era corrente no povo, se instalou, definitivamente, nas elites do país. Há a nítida sensação de que existe um desgoverno e o caos está próximo.

A fala de Fernando Henrique Cardoso, somada às diversas acusações e denúncias, teve

uma grande repercussão diante das instituições brasileiras. Se o Brasil vivesse num sistema

parlamentarista, a saída do presidente Fernando Collor de Mello seria mais fácil, pois ele

poderia ter sido afastado por um simples voto de desconfiança. No sistema presidencialista,

não era tão simples assim afastá-lo do cargo, mas ele poderia ser impugnado

constitucionalmente (GOERTZEL, 2002, p.120).

A queda do presidente Fernando Collor de Mello se deu rapidamente. Em março de

1992, ele parecia estar seguro no cargo e, com isso, brigava com o Congresso. Era um

momento de vida ou morte política e, por isso, ele tentou de todas as formas permanecer no

poder.

Foi em 29 de setembro de 1992 que a Câmara dos Deputados votou decididamente por

afastá-lo do cargo. O afastamento se deu dentro das bases jurídicas legais, depois de uma

longa investigação pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), em votação aberta no

Congresso. Não houve interferência dos militares, pelo contrário, eles deixaram que a situação

fosse resolvida entre os civis. Muitos presidentes foram afastados do poder por meios irregulares, mas Collor foi o primeiro a ser afastado por um processo constitucional formal. Um país pode sobreviver ao desapontamento com um líder se as suas instituições forem sólidas e, neste sentido, o Brasil estava em melhor situação do que então imaginava a maioria dos brasileiros. (GOERTZEL, 2002, p.121).

Com o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em outubro de 1992, o

seu vice, Itamar Franco, assumiu o governo em meio a tantas confusões, denúncias e

expectativas do povo brasileiro. Itamar Franco, apesar da pouca experiência administrativa até

então acumulada por dois mandatos como prefeito da cidade de Juiz de Fora, uma derrota

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para o governo de Minas Gerais e um mandato como senador, se viu diante de um grande

desafio, talvez o mais importante de sua vida política, que era governar o Brasil, em um

momento tão complicado politicamente.

De acordo com Goertzel (2002, p.125-126), na composição de sua nova equipe

ministerial, convidou Fernando Henrique Cardoso para assumir o Ministério das Relações

Exteriores. Em pouco tempo, o presidente Itamar Franco, em um telefonema a Fernando

Henrique Cardoso, no dia 19 de maio de 1993, disse que iria pedir a renúncia do então

Ministro da Fazenda Elizeu Rezende, pois a inflação ainda não estava dominada e a pressão

sobre o ministro era muito forte. Após seis meses no Ministério das Relações Exteriores,

Fernando Henrique Cardoso foi confirmado como o novo Ministro da Fazenda, em maio de

1993.

O desafio do novo Ministro da Fazenda era dominar o desempenho fraco da economia,

que já se arrastava desde 1992. Em 1993, a economia começou a dar alguns sinais de melhora.

Diante de um desempenho fraco, o crescimento econômico total era de 4,2%, liderado pelos

7,5% do setor industrial. O superávit comercial era de 13 bilhões de dólares, mas a inflação

era o que estava fora de controle, conforme os índices econômicos sinalizavam (GOERTZEL,

2002, p.128).

Havia a opinião daqueles que só achavam possível atacar a inflação depois da posse de

um novo presidente, pois as eleições estavam próximas; e, na visão daqueles que criticavam o

governo, era necessário que, em 1995, um novo governo assumisse, ou seja, um que não

tivesse nenhum vínculo com o de Fernando Collor de Mello.

Fernando Henrique Cardoso, diante dessas opiniões e desafios e com o apoio do

presidente Itamar Franco, mobilizou uma maioria de parlamentares, entre eles, o Senador

Antônio Carlos Magalhães, do PFL da Bahia. Consequentemente, esse apoio colocou este

último e Fernando Henrique Cardoso em uma aliança. Na época, o PSDB se opunha

frontalmente ao PFL no Estado da Bahia.

Além disso, Fernando Henrique Cardoso conseguiu um amplo apoio da opinião

pública a favor do seu plano de estabilização, o Plano Real, que incluiu medidas fortes no

controle do déficit público e uma reforma monetária, que se completou com a entrada em

circulação de uma nova moeda, o “Real”, em julho de 1994.

Nas muitas articulações para implantar o Plano Real, que não se restringia apenas em

lançar uma nova moeda, e sim em um pacote econômico para tirar o Brasil da situação em

que se encontrava, Fernando Henrique Cardoso conseguiu, em 8 de fevereiro de 1994, uma

aprovação do Congresso Nacional para o Fundo Social de Emergência, o qual consistia em

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dar ao Ministério da Fazenda o controle sobre 18% dos gastos federais, ou seja, cerca de 15

bilhões de dólares.

5. Candidatura à Presidência do Brasil

Essa aprovação deu a Fernando Henrique Cardoso uma projeção política nacional, que

foi fundamental na disputa das eleições presidenciais que se aproximavam. Nesta, Fernando

Henrique Cardoso tinha um forte opositor, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

“Tudo dependia, contudo, de se conseguir que o Plano Real fosse legalmente promulgado e

implementado com sucesso.” (GOERTZEL, 2002, p.137).

O então candidato à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, dominava as

pesquisas de intenções de voto no ano de 1994. Tudo estava relacionado aos últimos

acontecimentos políticos que envolviam o governo do presidente Fernando Collor de Mello e

de seu sucessor Itamar Franco. O PT era, sem dúvida, uma organização de grande oposição e

também bem disciplinada. Luiz Inácio Lula da Silva havia disputado anteriormente as

eleições presidenciais contra Fernando Collor de Melo, perdendo por uma pequena margem

de votos.

Segundo Goertzel (2002, p.139), “Muitos eleitores consideravam que a desgraça de

Collor evidenciava que Lula havia sido o melhor candidato.”

O opositor era um forte candidato segundo as pesquisas, com 29% das intenções de

voto. Isso representava uma grande vantagem frente aos candidatos oponentes, Antônio Brito

(PSDB-RS) e Paulo Maluf (PPR-SP), que tinham cada um 16% das intenções de voto.

Fernando Henrique Cardoso tinha apenas 6%, apesar da grande cobertura jornalística dada ao

Plano Real.

O candidato Antônio Brito, ex-ministro da Previdência Social, resolveu sair da disputa

presidencial, optando por concorrer no seu Estado (Rio grande do Sul) como candidato a

governador. Com sua saída do páreo, Fernando Henrique Cardoso ficou como candidato

natural para os social-democratas, tendo o presidente Itamar Franco insistido e o apoiado para

que concorresse às eleições presidenciais de 1994.

Com a saída do candidato Antônio Brito, Paulo Maluf tornou-se o concorrente mais

forte do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Maluf era o prefeito da cidade de São Paulo, e

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seu partido representava uma aliança que havia apoiado a sucessão de governos militares

(GOERTZEL, 2002, p.140-141).

Em abril de 1994, Fernando Henrique Cardoso deixa o Ministério da Fazenda, para

assumir a candidatura à Presidência da República pela coligação PSDB-PFL-Partido

Trabalhista Brasileiro (PTB).

Goertzel (2002, p.146) relata que: Os assessores de campanha lidaram com questões como o nome de Fernando Henrique Cardoso deveria ser usado na campanha. Ele não poderia se chamar Fernando porque este era também o prenome de Collor. Fernando Henrique Cardoso era comprido demais, e a pesquisa demonstrou que as iniciais FHC soavam como nome de remédio. Finalmente, definiram Fernando Henrique como a combinação perfeita de informalismo e respeitabilidade. (Diferentemente do Brasil, onde o uso de prenomes ao referir-se a figuras públicas é costumeiro, na cédula eleitoral, por exemplo, os principais candidatos foram identificados simplesmente como Fernando Henrique e Lula, em outros países, isto implica um grau de familiaridade não usual).

6. Vitória e posse como presidente do Brasil

Em 3 de outubro de 1994, com 54% dos votos, Fernando Henrique Cardoso foi eleito

presidente do Brasil. Seu principal opositor, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva teve 27%

dos votos, o restante dos 19% foi distribuído entre diversos candidatos. Fernando Henrique

Cardoso venceu praticamente em quase todos os Estados da federação, exceto no Estado do

Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

Conforme as pesquisas da época, a sua liderança se deu em todas as classes sociais,

sendo que na classe alta ele liderou mais, ou seja, os números foram mais representativos. Ele

ganhou no primeiro turno, pois obteve mais da metade do total de votos numa eleição

multipartidária (GOERTZEL, 2002, p.148).

Provavelmente, sua vitória foi em decorrência de sua atuação como ministro da

Fazenda no governo de um presidente que surpreendeu o povo brasileiro com uma

administração competente, que deu início a um processo de estabilização econômica no

Brasil. Em nota de rodapé de uma das reportagens da revista Veja consta o seguinte: Itamar Augusto Cautiero Franco. Presidente do Brasil (1992-1994). A princípio desacreditado, considerado provinciano e despreparado para o

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cargo, surpreendeu com uma administração honesta e competente. Sua principal realização foi dar início ao processo de estabilização da economia. Teve 55 ministros, sendo seis da Fazenda. Um deles, Fernando Henrique Cardoso, sucedeu-o, com seu apoio, na Presidência. Foi um dos poucos presidentes, a partir de 1930, a fazer seu sucessor, propiciando ao país uma das mais tranqüilas transmissões de comando de sua História. (TOLEDO, 1994, p.41).

A posse de Fernando Henrique Cardoso, como presidente do Brasil, se deu nas férias,

em janeiro de 1995, em Brasília, capital Federal. A escolha desse período teve como objetivo

o rompimento da barreira que havia entre governo e sociedade civil. Isso significava

promover, nas festividades de posse, um grande concerto popular na praça, com a presença da

cantora baiana Daniela Mercury e uma banda de chorinhos como atrações principais.

A cerimônia de posse se deu na Praça dos Três poderes, onde compareceram 20 mil

pessoas para as festividades. Após o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de

Mello, há dois anos Brasília não tinha uma primeira-dama, pois o presidente Itamar Franco

era solteiro.

Dona Ruth Cardoso assume então, em 1995, o posto de primeira-dama. O casal fez

também a opção de participar de uma cerimônia religiosa ecumênica na Catedral de Brasília,

algo que há muito tempo não acontecia, pois os antecessores de Fernando Henrique

dispensaram esse tipo de cerimônia.

Segundo Goertzel (2002, p.153), “O povo brasileiro queria três coisas de sua

administração: uma moeda estável, um padrão de vida cada vez melhor e um governo

honesto.”

Durante o governo do presidente Itamar Franco, a economia já apresentava alguns

sinais de recuperação. Os indicadores econômicos apontavam que, em 1993, a economia já

dava sinais de crescimento em torno 4,2%, seguidos de 6% em 1994, mantendo-se, em 1995,

em 4,1% e 3,5%, em 1996, sendo esses dois últimos anos já no governo de Fernando

Henrique Cardoso. Estimava-se para os anos de 1997 e 1998 um crescimento de

aproximadamente 4,5%.

O Brasil tinha todo o potencial para um crescimento econômico, a começar pela

indústria siderúrgica que comparada com a de outros países, era maior que da França e do

Reino Unido, com grande produção nos setores: automobilístico, eletrônico, petroquímico, de

calçados, roupas, papel, na agricultura, mineração e construção naval.

As oportunidades econômicas e o grande potencial para o crescimento do País

estimularam Stephen Kanitz, professor de administração da USP, a escrever o livro O Brasil

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que dá certo: o novo ciclo de crescimento 1995-2005, o qual foi publicado no ano de 1994.

Cabe ressaltar que o título da obra era uma forma de contestar a opinião pública de que o

Brasil não tinha solução e nada dava certo no país. O autor afirma que os planos anteriores

voltados ao combate da inflação não obtiveram êxito por razões técnicas e não por falta de

vontade política. Agora, com o início de um crescimento que se apontava desde o ano de

1993, o Brasil estava pronto para viver a experiência de um crescimento econômico muito

positivo (GOERTZEL, 2002, p.154).

Em razão dessa oportunidade de crescimento econômico, Fernando Henrique Cardoso

e sua equipe econômica acreditavam que, para impulsionar mais ainda esse crescimento, o

caminho era a privatização das indústrias estatais, a redução, ao máximo, das regulamentações

sobre elas e, com isso, atrair o maior número possível de investidores estrangeiros. Era um

momento de convencimento dos investidores brasileiros e estrangeiros, para que estes

pudessem investir o máximo de grandes somas no Brasil, deixando, assim, de investir em

outros países.

Só havia uma maneira de convencê-los, a fim de atrair investimentos de capital para o

Brasil, ou seja: “Fornecer uma moeda corrente estável, um bom clima de investimento e a

infra-estrutura necessária a uma economia em rápido crescimento.” (GOERTZEL, 2002,

p.155).

Segundo o autor, as estratégias anteriores beneficiavam os primeiros anos do governo

de Fernando Henrique Cardoso. A estratégia de atrair novos investimentos estava dando certo

diante de uma taxa mensal de inflação que estava em 45% nos meses de março e abril de

1994, tendo uma queda muito significativa para 1,75% em junho de 1994. As taxas

inflacionárias estavam caindo mês após mês, ficando abaixo de 3% e, por várias vezes, abaixo

de 1%. Depois de 35 anos convivendo com uma constante inflação, o Brasil pela primeira vez

manteve cifras anuais de inflação na faixa de 20% a 25% em 1994 e, em 1995, 10%, em 1996,

4,5%, e uma redução de quase 0% em alguns meses de 1998.

Com essa resposta do mercado nacional, foi possível conseguir a confiança dos

investidores internacionais; o ambiente estava favorável ao Brasil, que atraia os fundos de

mercados emergentes, populares nos principais centros financeiros do mundo. Assim, o Brasil

toma o rumo do crescimento econômico (GOERTZEL, 2002, p.156).

Atualmente, Fernando Henrique Cardoso preside o Instituto que leva o seu nome. Nos

últimos cinco anos, o Instituto promoveu mais de cinquenta seminários e diversos estudos. As

discussões dos temas são sempre voltadas à agenda do desenvolvimento e da democracia no

Brasil e no mundo

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Fernando Henrique Cardoso afirma que: O Instituto segue em construção. E pretende cumprir sempre melhor a missão a que se propôs. Uma última palavra. De tudo o que fiz no e pelo Instituto até aqui, o mais gratificante tem sido receber a cada mês uma turma de alunos do ensino médio. Com respeito, mas sem cerimônia, sou questionado sobre o que penso sobre um tema escolhido por eles. Falo e escuto. E assim reforço em mim a convicção de que a democracia tem feito bem ao Brasil. Mais uma razão para continuar a trabalhar por ela. (INSTITUTO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, 2009).

7. 1968 – Ano da Criação da revista Veja

Em 11 de setembro de 1968, foi lançada a primeira edição da revista Veja, ano em que

o Brasil estava sob o regime militar. No dia 13 de dezembro desse ano, foi instituído o Ato

Institucional Nº 5, mais conhecido como AI-5, sendo considerado o mais cruel dos Atos

Institucionais. Nessa época, cujo presidente era o Marechal Arthur da Costa e Silva, foi um

período difícil para os brasileiros, pois o país atravessou uma fase muito complicada

politicamente; em razão do regime instaurado, havia muita revolta e insatisfação por parte do

povo. Os militares tentavam controlar as manifestações políticas e as passeatas estudantis cujo

objetivo era a instauração da democracia e o fim do regime militar. Foi um período

considerado de “trevas” e de “terrorismo de esquerda”, que se estendeu durante 11 anos,

começando em 1968 e terminando em 1979.

O governo militar instituiu o AI-5, com o pretexto de controlar essas manifestações e

restabelecer a ordem pública. Com esse argumento, ele usou esse Ato para fechar o Congresso

Nacional, cassar o mandato dos deputados, prender centenas de pessoas e suspender a

concessão de habeas corpus daqueles que eram contra a ditadura.

O presidente tinha a prerrogativa de nomear prefeitos e governadores. Com isso, os

Estados e Municípios ficaram sob o controle do regime militar e em obediência total a ele.

Instalou-se no Brasil o período do medo, mas o controle das manifestações políticas

não era total, pois sempre havia alguém que, sendo contra o governo, era preso. Assim,

tornou-se rotina prender, torturar e matar várias pessoas, chamadas de presos políticos e

torturados da ditadura.

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Em dezembro de 1968, a ditadura estava com toda a sua força de coerção, e infeliz

aquele que ousasse desobedecer a ordem estabelecida pelo governo. Nem os próprios juízes

escaparam do terror do Estado, que se voltou contra eles. Também os professores, artistas e

muitos outros não escaparam da censura, perdendo a liberdade de expressão.

A partir do referido mês, as centenas de pessoas que estavam sendo perseguidas

começaram a deixar o Brasil, indo para outros países. Foi o chamado período do “exílio

político”. Dentre os exilados, havia muitos estudantes, políticos, professores, artistas, e

trabalhadores de um modo geral, que não aceitavam o regime militar e nem compactuavam

com o terrorismo feito àqueles que eram presos. Os exilados só retornaram ao Brasil quando a

situação estava se normalizando, isto é, a partir dos anos 80.

Foi nesse ano, no governo do general Ernesto Geisel, que começou uma abertura lenta,

gradual e segura para o início da democracia no Brasil. Era um momento delicado, pois, por

maior que fosse a repressão, a manifestação contra o regime militar já era conhecida e se

encontrava no âmbito internacional. Isso se deu em razão do exílio de brasileiros que foram

morar em países cujo regime político era a democracia.

Ernesto Geisel foi sucedido pelo também general do Exército, João Baptista

Figueiredo, o último presidente do regime militar, cuja missão era executar o processo de

abertura política no Brasil, já iniciado pelo seu antecessor.

Com relação a esse período, o AI-5 disse Veja: “É o mais drástico de todos os atos

editados e deve-se pensar – segundo revelações de uma fonte militar – que ele foi feito para

ser também o último, o definitivo” (VEJA 40 ANOS, 2008a, p.111).

O editor da Veja, Victor Civita, na coluna Carta do Editor da primeira edição da

revista (1968, p.20-21), conforme consta no arquivo digital desse periódico3, conta como

surgiu a ideia de lançar a revista.

Civita dirige-se ao leitor enfatizando que não importa onde esse leitor esteja neste

imenso território nacional, pois as linhas escritas na coluna Carta do Editor da edição tanto n°

1 quanto das próximas edições serão lidas, ao mesmo tempo, por todos os leitores do País. Ele

afirma que a revista Veja quer ser a grande revista semanal de informação de todos os

brasileiros.

Há quase vinte anos que antecedeu o ano de 1968, a Editora Abril lançava sua

primeira publicação, a Pato Donald, uma revista para jovens de todas as idades, que contava

as estórias dos personagens de Walt Disney.

3 Informação disponível em: <http://www.veja.com.br/acervodigital>. Acesso em: 10 jan. 2010.

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Após esse lançamento, foram publicadas outras revistas, mas Civita admite que, com o

sucesso de alguns lançamentos e o insucesso de outros, a Editora Abril, cresceu e aprendeu

muito. Várias publicações foram surgindo, como as revistas Capricho (1952), Manequim

(1959), junto com a implantação da primeira indústria automobilística brasileira, a Quatro

Rodas (1960), Claudia (1961), Intervalo (1963) e Realidade (1965).

Quando a revista Veja nasceu, para que ela fosse editada, criou-se toda uma única e

grande estrutura para produzi-la, pois se tratava de um grande desafio lançar uma revista de

informação semanal, com circulação nacional. Isso demandava todo um complicado sistema

de logística, envolvendo vários profissionais de diversas áreas, para que a revista pudesse

chegar às mãos do leitor no mesmo dia, em todos os Estados do Brasil.

O processo de nascimento da revista Veja foi o seguinte: a Editora Abril selecionou

cem entre 1.800 candidatos universitários de todos os Estados, os quais participaram de um

inédito curso intensivo de jornalismo. Ao término do curso, com cinquenta desses

universitários e outros jovens jornalistas experientes, a Veja tinha a maior equipe redacional já

reunida por uma revista brasileira.

Além disso, foram enviados editores e redatores para o exterior, com o objetivo de

observar as principais revistas similares que já estavam sendo publicadas.

No Brasil, foram abertos e ampliados vários escritórios regionais em todas as grandes

cidades e, em consequência, foi necessário montar uma grande e completa rede de

telecomunicações para que fosse feito e mantido contato constante com a redação na sede da

revista, na cidade de São Paulo.

Para que a cobertura internacional fosse feita com competência e muito

profissionalismo, foram contratados os serviços de notícias de revistas de prestígio mundial,

entre elas: Paris-Match da França, Newsweek dos Estados Unidos, Época da Itália e Der

Spiegel da Alemanha.

Foram preparadas na época, num decorrer de três meses, 13 edições experimentais

completas, com capa, texto, fotos e anúncios. Houve um grande treinamento em virtude da

grande jornada de trabalho que se iniciava, pois a revista precisava também ser

comercializada na venda de seus espaços, bem como precisava de anunciantes.

Segundo Civita (1968, p.21):

O Brasil não pode mais ser o velho arquipélago separado pela distância, pelo espaço geográfico, pela ignorância, pelos preconceitos e pelos regionalismos: precisa de informação rápida e objetiva a fim de escolher rumos novos. Precisa saber o que está acontecendo nas fronteiras da ciência,

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da tecnologia e da arte no mundo inteiro. Precisa acompanhar o extraordinário desenvolvimento dos negócios, da educação, do esporte, da religião. Precisa enfim, estar bem informado. E este é o objetivo de Veja. Devemos esta revista em primeiro lugar aos milhões de leitores que através dos anos têm prestigiado nossas publicações. Às classes governantes, produtoras, intelectuais que reclamaram da Abril este lançamento. Aos jornalistas que com dedicação e espírito profissional a tornaram possível. Aos quase mil gráficos que participam, entusiasticamente, de seu complexo esquema de produção semanal. Aos distribuidores, jornaleiros e transportadores que aceitaram o desafio de vencer as enormes distâncias nacionais na corrida até as bancas toda segunda-feira. E as agências e aos anunciantes que tomaram todo o nosso espaço disponível sem sequer conhecerem o projeto final da revista, numa comovedora prova de confiança. Conscientes da responsabilidade assumida ao editar Veja, dedicamos a revista a todas essas pessoas. Ao Brasil de hoje e de amanhã. Veja está empenhada em apresentar semanalmente não apenas um grande leque de informações confiáveis, mas também o contexto e a análise que permitam colocar os fatos em perspectiva e entendê-los melhor.

8. Veja e Fernando Henrique Cardoso: fatos que marcaram o Brasil

Dentre os milhares de fatos que foram notícias no País e no mundo, destaca-se o ano

de 1984, quando no Brasil, no mesmo palanque, estiveram presentes Fernando Henrique

Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Tancredo Neves (VEJA 40 ANOS, 2008b, p.40). Nessa

época, o regime militar já estava com seus dias contados. Foi o maior comício dentre todos os

realizados pelas “Diretas Já”, o qual reuniu cerca de 1,5 milhão de pessoas no Vale do

Anhangabaú, no centro da cidade de São Paulo.

Mais tarde, os três participantes destacados na foto/reportagem, viriam a ser eleitos

para a Presidência da República, respectivamente: Tancredo Neves, Fernando Henrique

Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

A emenda constitucional que previa a eleição para presidente da República por meio

de voto popular não passou, mas a oposição conseguiu eleger, por via indireta, Tancredo

Neves, que morreu antes de tomar posse e, por ironia da história, foi substituído por José

Sarney, ex-prócer do partido do regime militar.

Depois que o Brasil finalmente retomou as eleições diretas para a Presidência, em

1989, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva nunca mais voltariam a dividir

o mesmo palanque.

As páginas números 80 a 87 da edição especial de Veja n° 2077 mostram as 1.951

entrevistas em 39 anos da seção Páginas Amarelas.

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Em 1987, o sindicalista e presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ao ser

questionado pelo jornalista da revista Veja se ele seria candidato à Presidência da República,

respondeu o seguinte: Eu concorreria se meu nome ajudasse na organização do partido em nível nacional. Seria uma oportunidade de promover a apresentação do programa de governo do PT. Sei que tenho apenas o diploma primário, o curso do SENAI e o meu aprendizado na vida sindical, mas, ao analisar os conhecimentos políticos, sociológicos e filosóficos dos últimos presidentes, sinto-me superior a eles porque tenho um diploma que eles não têm: o da compreensão dos problemas sociais.

Doze anos depois, em 1999, Fernando Henrique Cardoso, já presidente da República,

concedeu uma entrevista para a seção Páginas Amarelas da Veja. Nessa entrevista, FHC foi

questionado sobre a acusação de ele ser muito lento para tomar decisões. A resposta do ex-

presidente foi a seguinte: Eu não tomo decisões de repente. Exatamente porque sei qual é o custo dessas decisões. Vivemos num país relativamente mal organizado, contraditório, segmentado. O Brasil não é homogêneo. Se o governo não imprimir certa tranqüilidade ao país, pode provocar tumulto o tempo todo. Não se deve governar o país na base do supetão. O pior é que esse tem sido um padrão adotado cada vez mais na política. A política cada vez mais é mídia, e a mídia requer o inusitado. Se o político vier com uma surpresa, se atacar alguém, por exemplo, terá um espaço nobre na mídia e, portanto, na política. É difícil governar com estabilidade num mundo que requer instabilidade, excitação e nervosismo. Se o governante se transformar num político comum, ele vai para o abismo. Um sujeito que não tem a responsabilidade que eu tenho no governo pode dizer qualquer coisa e parecer no jornal num dia, no dia seguinte, mas esse procedimento não tem substância. (VEJA, 2008a, p.85).

Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva figuram nesses destaques da

Veja como opositores do regime militar que lutavam pela mesma causa (a democracia) e que,

depois de muitos anos, tornaram-se presidentes da República. Após dois mandatos

consecutivos de Fernando Henrique Cardoso como presidente do Brasil, ele foi sucedido por

Luiz Inácio Lula da Silva que, em 2010, exerce seu segundo mandato.

Cabe ressaltar que a edição nº 2077, de setembro de 2008, foi publicada em

comemoração aos quarenta anos de trabalho da revista Veja, cujo conteúdo consistiu-se num

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breve destaque de todos os fatos que foram notícia no Brasil e no mundo. Dentre as matérias,

consta a seguinte carta do editor da revista: Esta Edição Especial de Veja comemora os primeiros quarenta anos de história da revista com uma retrospectiva dos principais acontecimentos no Brasil e no mundo, com destaque para 1968, o ano da criação da revista, e 2008, quando os brasileiros finalmente começam a desfrutar da maturidade econômica, política e social conquistada no decorrer das quatro últimas décadas. Para nossa enorme satisfação e orgulho, VEJA continua sendo a maior, a mais influente e a mais prestigiada revista brasileira. Atribuímos isso ao compromisso permanente da revista com seus mais de 5 milhões de leitores, e com o Brasil. Desde a sua primeira edição, em setembro de 1968, VEJA está empenhada em apresentar semanalmente não apenas um grande leque de informações confiáveis, mas também o contexto e a análise que permitem colocar os fatos em perspectiva e entendê-los melhor. É fundamental para isso que a revista seja independente, isenta, inteligente e responsável. Que não admita pressões de governos e governantes, amigos e inimigos, acionistas e anunciantes. Que busque a objetividade. E que esteja comprometida sempre com a liberdade e a verdade. Evidentemente, não basta declarar boas intenções para realizá-las. É preciso reunir centenas de competentes jornalistas, treiná-los, motivá-los e liderá-los com sensibilidade, imaginação e talento. VEJA tem conseguido fazer isso ao longo destes anos todos, graças em especial aos seus extraordinários e sucessivos Diretores de Redação Minocarta, José Roberto Guzzo, Mario Sergio Conti, Tales Alvarenga e atual e notadamente Eurípedes Alcântara. O sucesso de VEJA depende acima de tudo do fato de ela ser útil aos seus leitores. Depende também de milhares de outras pessoas envolvidas na sua impressão, comercialização, operação de assinaturas, distribuição e entrega. E das centenas de agências de publicidade e anunciantes que reconhecem a importância da revista e tanto contribuem para viabilizá-la com os seus belos e informativos anúncios. Nada mais oportuno, neste momento de celebração, que reiterar o compromisso permanente de VEJA com a transformação do importante em interessante, com isenção e a responsabilidade jornalística, e com a defesa intransigente dos interesses do Brasil. Como escreveu o nosso fundador, meu pai, Victor Civita, nos dez anos da revista: ‘O leitor sabe de que lado lutamos ao longo desses agitados, controvertidos, mas certamente estimulantes anos de vida. E sabe, também, onde nos encontrará amanhã’. (CIVITA, 2008, p.14).

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Capítulo III – A CAMPANHA ELEITORAL DE FERNANDO

HENRIQUE CARDOSO NAS PÁGINAS DA REVISTA VEJA EM 1994

1. As manchetes da revista Veja no ano de 1994

O ano de 1994 foi marcado por vários acontecimentos que mudaram o Brasil e o

mundo.

Os vários veículos de comunicação informaram ao seu público leitor, ouvinte,

telespectador os acontecimentos mais importantes que ocorreram, os quais de uma forma

direta ou indireta atingiram as pessoas do mundo todo. Assim, é claro, nós brasileiros também

fomos atingidos.

No Brasil, 1994 foi um ano também de muitas notícias relacionadas à política, até

porque a política brasileira enfrentava um período difícil e conturbado, com o impeachment

do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em outubro de 1992, sendo substituído pelo seu

vice, Itamar Augusto Cautiero Franco.

Em 1993, a inflação beirava os 30% ao mês, e temia-se a deterioração da situação

política do País. Em razão disso, foi lançado o Plano Real, o qual incluiu medidas drásticas de

controle do déficit público e uma reforma monetária que se completou com a circulação de

uma nova moeda, o Real, em julho de 1994.

Outros acontecimentos importantes tiveram destaque no Brasil, que foram noticiados

por todos os veículos de comunicação. Além disso, foi o ano das eleições para governador,

senador, deputado federal, deputado estadual e presidente da República.

A revista Veja também informou ao seu público leitor (assinante e não assinante)

sobre todos os acontecimentos no Brasil e no mundo. Ao todo, foram 52 edições no ano de

1994 – ano 27 a partir do lançamento da revista – iniciando pela de nº 1.321e terminando na

de 1.372.

Os títulos das manchetes de capa foram os seguintes, respectivamente: Hora da faxina

(política); E agora Fernando (referindo-se ao Ministro da Fazenda FHC); As chaves de um

sucesso; O Congresso fere a corrupção (ao propor a cassação de 18 parlamentares, a CPI

inicia uma faxina inédita); O que pensam, querem e fazem os Militares; O povo desunido,

jamais será vencido, (a força das 5 mil organizações não governamentais que atuam no

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Brasil); Fala Mangueira (carnaval); O X da questão, a folia de Itamar no carnaval (sobre a

foto que aparece a calcinha da namorada de Itamar Franco, que estava com ele num

palanque); Lula sozinho na estrada; Os preços mordem o plano; Holocausto; Assim é demais

(enquanto um País se sacrifica, a Câmara se dá um aumento de salário); A louca dança dos

Três Poderes (Itamar pisa no pé do Supremo); Fernando Henrique de olho no Planalto; Tiro

ao Bicho (prisão dos bicheiros do Rio); A primeira dama da notícia (sobre a repórter Lilian

Witte Fibe – do Jornal da Globo); Corsa a história de um sucesso industrial; África do Sul – o

nascimento de uma nova nação; A tragédia dobrou o Brasil (sobre a morte de Ayrton Senna);

Romário – o gênio casca grossa; A princesa que inventou a mulher (sobre Jackeline

Kennedy); A aventura no mar (sobre a família Schumann); A cerveja invade a Copa; PT –

porque o partido de Lula brilha e assusta; O Itamar da seleção (sobre o técnico Carlos Alberto

Parreira); R$ - Prepare-se (sobre a nova moeda); As chances de dar certo (sobre a nova

moeda); A trombada Cósmica (sobre o alinhamento dos planetas); Romário, você decide

(sobre a Copa do Mundo); Muamba tétrica (Receita Federal apreende produtos dos jogadores

da copa); % O peso da pesquisa (fotos de FHC x Lula); Morte digna (sobre pacientes

terminais); A infância de um vencedor (sobre todos os candidatos que concorriam à

Presidência do Brasil em 1994); O Brasil segundo FHC; Caçador de histórias (o sucesso das

biografias brasileiras, de Fernando Morais, autor do livro Chatô); A chocante conversa que

derrubou Ricupero (ex-ministro da Fazenda); A máquina que ajuda os candidatos; Ruth

Cardoso sai do casulo; O elo perdido (sobre os primatas); O que o eleitor quer e o que o

eleitor não quer; O presidente FHC; O fim do emprego e o novo profissional; A baixaria na

corte (escândalos na relação do príncipe Charles e princesa Diana); A invasão do Rio (polícia

invadindo os morros do Rio); O Leão é manso com os tubarões (sobre o imposto de renda dos

ricos); Os anos Itamar (sobre o tempo de governo do presidente Itamar Franco); O medo (o

pânico que toma conta dos moradores das grandes cidades); O Natal gordo dos importados

(sobre a febre de produtos importados); Santuários ecológicos; O maestro (sobre a vida de

Tom Jobim); Gordura (sobre cuidados com a saúde); Êta ano bom (uma retrospectiva do ano

de 1994).

Na última edição do ano de 1994, o editor escreveu: “O ano em que o país apostou em

si. 1994 encontrou um Brasil maduro. Recebeu o tetra sem perder de vista que Fisco e taça

são coisas separadas, votou no real, mostrou por que Senna é o nº 1” (VEJA, 1994b, p. 4).

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2. Corrida presidencial - Fernando Henrique x Lula nas manchetes da revista

Veja, nas 19 edições de junho a outubro de 1994

Nas páginas 30 e 31 da edição nº 22 (Seção Brasil), de 1º de junho de 1994, a revista

traz em sua reportagem a matéria A onda do caminhão, com uma interpretação exorbitante da

lei eleitoral e a defesa da ilegalidade feita por Lula, surge um debate ridículo sobre sua

cassação (VEJA, 1994a, p.30-31).

O texto da matéria refere-se a um debate sobre a legalidade ou não das atitudes a

seguir mencionadas, quando então o candidato Lula subiu em um caminhão de som do

Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, para fazer comício em porta de fábrica. Lula foi pego

em flagrante, uma vez que é proibido por lei eleitoral (Lei nº 9.504, de 30 de setembro de

1997) esse tipo de atitude. É proibido, segundo essa regra, que entidades sindicais, de

empresários ou de trabalhadores prestem serviços ou cedam equipamentos para campanhas

políticas.

Na mesma reportagem, também é mostrado Fernando Henrique Cardoso usando um

ônibus do governo de Sergipe. A legenda da foto diz: “Lula no carro de som da CUT,

Fernando Henrique e Palmeira num ônibus do governo de Sergipe: criminosos?”.

O candidato Esperidião Amim refere-se a Lula como o vadio mais bem-sucedido do

Brasil, e Lula responde no mesmo nível dizendo que “Só um babaca e imbecil como o Amim

pode me acusar disso (de receber dinheiro dos sindicatos para a campanha)” (VEJA, 1994a,

p.33).

Fernando Henrique Cardoso, em resposta à acusação sobre o Plano Real, responde aos

seus adversários políticos, que eles deveriam calar a boca, quando o acusam que o “Real” é

um estelionato eleitoral. (VEJA, 1994a, p.33).

Na edição de 8 de junho de 1994, na chamada de capa, Fernando Henrique aparece na

foto com seus assessores, cumprimentando um eleitor negro. O texto-legenda da foto diz: “O

vermelho e o Negro: o tucano Fernando Henrique Cardoso diz que é mulato e o PT tira o

vermelho de seus cartazes. As raças e as cores entram na campanha”.

A reportagem na seção Brasil dessa mesma edição, página 34, o título da matéria é:

“Festival furta-cor: na barganha de votos, Lula abandona o vermelho da esquerda e Fernando

Henrique diz que é ‘mulatinho’ e tem um ‘pé na cozinha’. Na página 35, há uma foto do Lula

controlando uma bola de futebol na cabeça, cuja legenda diz: “Lula, numa carona no clima de

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copa, e a nova marca do PT: vermelho só na estrela”. Ainda nessa mesma página há uma

charge do cartunista Ique, na qual aparecem os candidatos Orestes Quércia fazendo um gesto

de roubo com as mãos, Lula mostrando a mão direita, faltando o dedo mindinho, e Fernando

Henrique mostrando a mão direita aberta e a mão esquerda segurando um quadro com a foto

de uma mão aberta, para mostrar o mote de sua campanha, isto é, as cinco prioridades do seu

plano de governo.

Na charge de Chico Caruso (O Globo), página 41 da Veja, ainda na edição de 8 de

junho, aparece o presidente da África do Sul, Nelson Mandela, dançando com Fernando

Henrique Cardoso, este de cor negra, trajando um terno branco, sem gravata com uma camisa

amarela. Nelson Mandela, por sua vez, com um terno azul, gravata azul e camisa cinza.

Na edição de 15 de junho de 1994, a reportagem na seção Finanças tem no seu título e

subtítulo o texto: “Baú de dólares: os partidos anunciam seus orçamentos de campanha e

apontam para despesas milionárias”. A matéria mostra a apresentação da previsão de gastos

dos candidatos a presidente, governador, senador e deputados ao Tribunal Superior Eleitoral.

Os candidatos aparecem com as seguintes quantias em milhões: Fernando Henrique –

US$ 75; Orestes Quércia – US$ 58,5; Flávio Rocha – US$ 50; Leonel Brizola – de US$ 30 a

US$ 50; Esperidião Amin – US$ 40; e Lula –US$ 30.

Na mesma edição, na coluna Radar, de Ancelmo Gois, título: “FHC e o beijo da

velhinha”, o texto informa que o candidato FHC, numa palestra para grandes investidores

estrangeiros, explicando as dificuldades para eles entenderem a campanha política brasileira,

deixou a plateia de queixo caído, conforme afirma Gois, quando FHC disse: “A gente sai do

palanque e é obrigado a ganhar beijo de velhinha, levar beliscão.” “As pessoas querem te

cumprimentar, e toda hora você precisa verificar se não te levaram o relógio de pulso.” “Sou

sociólogo. Nesta condição, defendi uma tese sobre negros, que me obrigou a freqüentar esses

ambientes. Não teria dificuldade em voltar lá, atendendo a conselhos de meu homem de

marketing.”

Na mesma coluna, na seção Curtas, em relação ao candidato Lula, o texto diz o

seguinte: “Ao dizer que se Lula fosse inteligente não teria perdido um dedo, Enilson Simões,

o ‘Alemão’, da Força Sindical, levou o Troféu Estupidez da campanha”.

A edição de 22 de junho de 1994 traz na sua chamada para a reportagem “A campanha

do tucano no arraial do PFL” o texto diz o seguinte: “Em suas andanças pelo Nordeste, o

candidato tucano Fernando Henrique Cardoso faz comício em Canudos ao lado de pefelistas,

prova frutas produzidas na região de Petrolina, deixa a baiana amarrar-lhe a fitinha no pulso e

sofre cerrado patrulhamento dos adversários”.

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Na página 38 da edição de 22 de junho, na seção Eleições cujo título é: “Dinheiro de

cada um”, entre os candidatos ao Planalto há riquíssimos e falsos classe média, e todos vivem

melhor que a maioria dos eleitores.

Na comparação entre os candidatos Fernando Henrique e Lula, a matéria mostra o

patrimônio atualizado de cada um, em cujas fotos aparecem legendas que dizem: “US$

120.281 – Luiz Inácio Lula da Silva (PT), bem mais rico que um metalúrgico, tem patrimônio

razoável para quem já foi parlamentar. US$ 920.886 – Fernando Henrique Cardoso (PSDB-

PFL), perto do seu primeiro milhão, juntou patrimônio como professor, escritor e político".

Na charge de Chico Caruso/O Globo, página 43, aparece os principais candidatos à

Presidência carregando seus objetos de uso para campanha. O texto diz: “As grandes

conclusões a que chegamos: em política, pecar é não poder carregar!!!” A charge mostra

Orestes Quércia com uma grande caixa nas costas, na qual está escrito Israel. Lula aparece

carregando um carro de som nas costas, e neste está escrito CUT SOM. Fernando Henrique

carrega também uma grande caixa aberta nas costas e dentro dela tem a caricatura de José

Sarney. Os candidatos Enéas, Brizola, Esperidião Amim e Flávio Rocha aparecem vestidos de

carregadores, com os seus carrinhos vazios a espera de clientes.

A edição de 29 de junho de 1994, página 38, o título da reportagem diz: “Dupla

gestação. Como surgiu o plano dentro da equipe e como, dentro do plano, fortaleceu-se uma

candidatura”. A matéria de Expedito Filho explica o fortalecimento da candidatura de

Fernando Henrique Cardoso para presidente do Brasil. No início do texto, Expedito Filho faz

a seguinte indagação: “Um plano sincero, que acima de tudo situa o combate à inflação? Ou

um plano hipócrita, que não serve senão de plataforma a um candidato a presidente? Um

esforço sério para domar o bicho horrendo da inflação brasileira? Ou o famigerado estelionato

eleitoral?”

Na edição de 13 de julho de 1994, página 4, o texto de chamada diz: “Pesquisas

apontam mudanças na campanha. A vantagem de Lula ainda é grande, mas o candidato do PT

parou de crescer e até caiu um pouco, enquanto o Tucano Fernando Henrique Cardoso mostra

fôlego para chegar ao segundo turno”. Esse texto é de uma foto- legenda, na qual aparece o

candidato Lula, com militantes do PT, carregando uma bandeira do Brasil. Por sua vez,

Fernando Henrique carrega um quadro de Juscelino Kubitscheck, ao lado do prefeito da

cidade de Anápolis-GO, Adhemar Santillo.

Na página 20, na seção Brasil, aparece a seguinte reportagem “Até o segundo turno: as

pesquisas anunciam que diminui a diferença entre Lula e Fernando Henrique e colocam o

candidato do PT na defensiva”.

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Já na página 43, de 27 de julho, na seção Imprensa, o título e seu subtítulo estão assim

escritos: “Páginas da campanha: pesquisas mostram que jornais e TVs gostam mais de falar

de Lula que de Fernando Henrique – mas quase sempre mal”. A matéria menciona os

seguintes periódicos: Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil, O Globo,

Zero Hora. Na TV, somando quatro telejornais, Lula recebe quase quatro vezes mais notícias

negativas do que Fernando Henrique. A pesquisa foi feita pela Look Comunicações, agência

especializada em assuntos políticos, com base no noticiário do Jornal Nacional, TJ Brasil,

Jornal da Bandeirantes e Jornal da Manchete. Lula apareceu em vídeos exibidos nas TVs

durante dois dias, numa terça e quinta-feira: 61% foram de notícias contra e 2%, neutro. Já

Fernando Henrique teve 18% contra e 4% neutro.

Na seção Economia e Negócios da mesma edição, com o título: “A inflação é zero –

Com uma queda brutal dos preços, as pessoas retomam velhos hábitos de consumo, como

comprar a prazo, e as vendas voltam a crescer”. Segundo consta no texto, na época, o ministro

Fernando Henrique, em uma de suas aparições, estava montado em um pangaré. No início, ele

montou na Unidade Real de Valor (URV) e saiu candidato. O povo brasileiro não acreditava

que o Plano ia dar certo perante uma inflação que beirava os 45%. O Plano acabou dando

100% certo.

No dia 3 de agosto de 1994, a reportagem de capa da revista Veja teve como título o

desenho de um percentual com a foto dos candidatos, Fernando Henrique e Lula, com o

seguinte texto: “O peso das pesquisas: como são feitas, como são usadas pelos candidatos,

como influem na campanha?”

A reportagem na página 28, na seção Brasil, “O laboratório dos candidatos: longe do

eleitor as pesquisas confeccionam regras de comportamento na campanha”, esclarece ao leitor

sobre os dois tipos de pesquisa que os institutos de pesquisa realizam a pedido dos meios de

comunicação e dos candidatos. São elas: as pesquisas quantitativas, que levantam as intenções

de votos e a quantidade de pessoas que provavelmente votarão nesse ou naquele candidato, e

as pesquisas qualitativas, que têm como foco reunir pequenos grupos anônimos que tenham

uma boa representatividade do eleitorado, para colher as suas opiniões, em relação aos

candidatos, neste caso Lula e Fernando Henrique.

Na referida reportagem, as pesquisas qualitativas procuraram ouvir as opiniões dos

eleitores pesquisados, suas preferências e detectar os seus sentimentos. Os resultados

capacitam os candidatos a observar regras em seu comportamento durante a campanha.

Foram cinco os apontamentos detectados pelas pesquisas qualitativas em relação aos

candidatos Lula e Fernando Henrique. Em relação ao primeiro: a) depois de ser informado de

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que o eleitor pensava que enriqueceu com a política, Lula parou de fumar charutos em

público; b) para agradar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Lula deixou

de defender o aborto. Como as mulheres são favoráveis ao aborto, Lula errou; c) a fama do PT

ser chamado de “baderneiro”, conforme aponta a pesquisa, Lula se distanciou dos sindicatos;

d) com as aparições de sua esposa Marisa, Lula procura mostrar que o PT também é família;

e) as pesquisas mostraram que o Plano Real está em alta. Lula sai em defesa da nova moeda:

“Um real deveria valer três dólares.”

A respeito do candidato Fernando Henrique: a) as pesquisas apontaram que ele nunca

seria visto como homem do povo. Então, ele tentou essa opinião deixando, aos poucos, de

usar gravatas; b) foi chamado de milionário nas pesquisas, mas, no momento oportuno, ele

afirmou que é mulatinho e tem um pé na cozinha; c) ao descobrir que os eleitores não

mudariam de voto por causa da “crise Bisol”, Fernando Henrique elogiou o senador,

chamando-o de homem de bem e honrado; d) em relação aos jogadores do tetra (seleção

brasileira) flagrados trazendo produtos sem pagar impostos (muamba), Fernando Henrique

não fez críticas e nem comentários. Os eleitores querem que os jogadores paguem a dívida na

alfândega brasileira; e) ao montar num jegue no interior do Nordeste, Fernando Henrique

tenta apagar a imagem de elitista.

O que manteve Fernando Henrique e Lula na mesma posição foi o fato de ambos não

terem feito comentários negativos do ex-presidente José Sarney, pois o povo se lembra dele

com afeição, por conta do Plano Cruzado.

Ainda na edição de 3 de agosto, na página 30, as pesquisas mostram cinco meses de

altos e baixos. A seguir, apresenta-se datas e percentuais de, respectivamente, Lula e

Fernando Henrique nas referidas pesquisas: 1º de março – 30% e 11%; 5 de abril – 37% e

21%; 3 de maio – 42% e 16%; 24 de maio – 40% e 17%; 13 de junho – 41% e 19%; 5 de

julho – 38% e 21%; 11 de julho – 34% e 25%; 28 de julho – 32% e 29% (Fonte Datafolha).

Ainda na edição do dia 3 de agosto, a reportagem em seu título: “Conversa direta com

o eleitor: a propaganda política fica mais chata, mas faz os candidatos dar o seu recado sem os

truques do passado”. Na foto-legenda há o seguinte texto: “Fernando Henrique e Lula: unidos

nas reclamações contra as mudanças na TV”.

Em um quadro comparativo, é demonstrado que a campanha política na TV segue o

programa eleitoral, que vai ao ar das 7 às 8 horas e das 20h30 às 21h30, diariamente, sendo os

minutos assim divididos: Fernando Henrique (PSDB) – 7 min49s; Orestes Quércia (PMDB) –

6min15s; Esperidião Amin (PPR) – 6min15s; Lula (PT) –3min31s; Leonel Brizola (PDT) –

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2min34s; Flávio Rocha (PL) – 1min47s; Walter Queiroz (PRN) – 1min32s; Almirante

Fortuna (PSC) – 1min13s; Enéas Carneiro (PRONA) – 1min8s.

Na reportagem da seção Brasil, de 10 de agosto, página 30, com o título: “Sem medo

do aliado, o subtítulo complementa: “Ao assumir o lugar de Palmeira na chapa de Fernando

Henrique, Marco Maciel dá maior clareza ao papel do PFL na aliança com o PSDB”.

Nessa mesma edição, página 34, na seção Horário eleitoral “A mágica de Nizan: com

o uso de recursos do cinema no programa de FHC, publicitário colhe elogios dos eleitores e

até dos adversários”.

A capa da Veja nº 33, de 17 de agosto, traz em seu título: “A infância de um vencedor

– Como viveu até a adolescência o próximo presidente”. Na página 4 da seção Especial

consta o seguinte comentário: Como foi a infância do próximo presidente. Um dos candidatos à Presidência viveu as revoluções em casa, o outro, cercado de cuidados para não se resfriar. Um terceiro, paulista, queria ser maquinista de trem, o nordestino comeu pão pela primeira vez aos 7 anos e o sulista só conheceu escova de dentes aos 11.

Na página 67, comenta-se sobre a data de nascimento de Fernando Henrique, em 18 de

junho de 1931, no bairro Botafogo, na cidade do Rio de janeiro, e seus progenitores, D.

Nayde e o capitão do Exército Leônidas Cardoso.

Em relação ao Lula, na página 71, a revista menciona que, quando de seu nascimento,

o pai já havia ido embora, pois ele abandonou mãe de Lula 15 dias antes do seu nascimento.

Lula nasceu no dia 27 de outubro de 1945, e sua mãe tinha naquela época seis filhos, além

dele. Sua cidade natalícia é Caeté, distrito a seis léguas de Garanhuns, Pernambuco.

Na página 30 da edição de 17 agosto, na seção Brasil, com o título e respectivo

subtítulo: “Reviravolta total: com o real de cabo eleitoral, Fernando Henrique passa Lula nas

pesquisas e fica até com chance de ganhar no primeiro turno.”

A pesquisa da Datafolha apontou sete pontos de Fernando Henrique à frente de Lula, a

oito semanas do primeiro turno, como segue: 13 de julho Lula 34%, Fernando Henrique 25%;

26 de julho, Lula 32%, Fernando Henrique 29%; 9 de agosto, Fernando Henrique 36%, Lula

29%.

Mais uma vez, os candidatos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva

são questionados em assuntos polêmicos. Na mesma edição de 17 de agosto, página 37, seção

Polêmica, há uma matéria com o seguinte título: “Perguntas inconvenientes: Fernando

Henrique não fala sobre maconha e Lula não diz o que pensa sobre a proibição do aborto”, a

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qual se refere a um debate no auditório do clube A Hebraica, em São Paulo, quando

perguntaram a Fernando Henrique qual era a sua opinião e a sua posição em relação às

drogas, principalmente sobre a maconha. Fernando Henrique preferiu não emitir opinião,

sendo taxativo dizendo que por ser um assunto delicado, preferia não falar.

Já o Lula, em um encontro com trezentos pastores evangélicos, na cidade do Rio de

janeiro, foi questionado sobre o aborto, ou seja, se ele era a favor ou contra. Lula respondeu

de forma direta que era contra e que, caso houvesse necessidade, ele aconselharia uma mulher

de seu convívio a não interromper uma gravidez indesejada.

Na página 20 da edição do dia 24 de agosto, início da reportagem de capa, na seção

Brasil, há uma matéria com o seguinte título e subtítulo: “Viagem às idéias do líder nas

pesquisas: o que FHC pensa do Real, de Itamar, da campanha, do PFL, da Constituição, o que

ele quer e por quê”.

A reportagem de capa da edição de 24 de agosto traz a foto de Fernando Henrique, e o

título da matéria é “O Brasil segundo Fernando Henrique” Em seguida, abrem-se aspas com

um comentário dele: “Não somos mais um país subdesenvolvido. Somos um país injusto”. “O

próximo presidente irá encontrar a economia mais em ordem e em crescimento. Não haverá

recessão”, “O país, hoje, só tem um projeto forte: ser mais humanitário.”

Na página nº 30 dessa edição há referência sobre a reviravolta triunfal nas eleições de

94. Segundo o texto, Fernando Henrique foi aconselhado a não imitar o ex-presidente

Fernando Collor, que sempre fugia dos debates. Segundo a reportagem, ele foi e se saiu bem

diante dos seus opositores, Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola.

Segundo a pesquisa da Datafolha, 24% dos telespectadores acharam ótimo o

desempenho de Fernando Henrique num debate ocorrido na TV Bandeirantes, contra os 14%

de Luiz Inácio Lula da Silva e 6% do ex-governador Leonel Brizola.

Marcos Sá Corrêa, em artigo da edição de 24 de agosto, página 31, título: “O Brasil de

Lula encolheu”, faz uma análise das estratégias de campanha de Lula e Fernando Henrique.

Na manchete da edição do dia 31 de agosto, página 4, título: “O real vence o segundo

mês e dá voto” (foto-legenda de FHC), o texto refere-se a como é a convivência do povo dois

meses após a implantação do Plano Real, e de que forma ele funciona como uma máquina

geradora de votos para a campanha de Fernando Henrique.

Na página 28, seção Brasil, título: “O triângulo amigo”, a reportagem informa que um

amigo de Lula e tesoureiro responsável pela sua campanha em 94, Paulo Okamoto, viu-se

envolvido negativamente entre as verbas de uma prefeitura do PT e uma empresa que prestava

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serviços super faturados. O comportamento de Okamoto era estranho, tendo em vista que essa

conduta sempre foi combatida pelo PT.

Já na página 31 da edição de 31 de agosto, título: “O visual retocado”, mostra uma

evolução das fotos do candidato Lula, mudando o visual do seu rosto no ano de 1989 e em

1994. Também em foto-legenda na qual mostra a casa onde Lula morava de graça; o texto diz

que Lula está perdendo o melhor de sua campanha, ou seja, a sua biografia.

Na charge de Chico Caruso/O Globo, coluna Radar, de Ancelmo Gois, edição 31 de

agosto, página 45, aparece a caricatura de Lula no corpo de um capeta, sentado, triste,

segurando um tridente, com um olhar perdido, enquanto Fernando Henrique, vestido de anjo,

alegre, cantando e pulando e segurando uma harpa, com o seguinte texto-legenda: “Alô! Me

liga com o pessoal do marketing, por favor!”

Na mesma página, um comentário de Chico Buarque de Holanda, cujo título é “Chico

Buarque, o muy amigo.” O texto conta a justificativa de ele ser amigo de Fernando Henrique,

e não votar nele. Inclusive justifica que o próprio pai dele é amigo de Fernando Henrique, mas

que ele vai votar no Lula, pois num governo Lula, justifica: “[...] há espaço para o PSDB, ter

ministros. Já no governo do PFL, não haveria espaço para o PSDB.”

A capa de Veja da edição do dia 7 de setembro, nº 36, traz em sua capa a foto do

ministro Rubens Ricupero. Na manchete consta a seguinte fala do ministro: “Eu não tenho

escrúpulo: o que é bom a gente fatura; o que é ruim esconde”; em seguida, a manchete de

Veja: “A chocante conversa que derrubou Ricupero”.

A matéria na página 30, seção Brasil, traz em seu título: “A queda patética do grande

leitor de FHC: uma conversa vexaminosa, captada por parabólicas, faz com que Ricupero

peça demissão”. Segundo a Veja, Ricupero pediu demissão diante da conversa que teve com o

jornalista da Rede Globo, Carlos Monforte, a qual foi captada por antenas parabólicas. O

presidente Itamar telefonou para o então candidato à Presidência Fernando Henrique, pedindo

uma orientação sobre quem poderia substituir o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero.

Fernando Henrique indicou dois nomes: Pedro Malan ou Edmar Bacha, pois eles já eram da

equipe econômica, e completou “O mais importante era decidir com rapidez, para não criar

vácuo”. Em seguida, disse Fernando Henrique a Itamar Franco: “Nada vai abalar a minha

campanha, isto é um problema do Ricupero”.

Já na página 34 da edição de 7 de setembro, Fernando Henrique aparece em 30 de

agosto com o dobro de votos do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, sendo 42,8% contra

21% de Lula, conforme o Instituto Gallup.

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Na página 36 da edição de 7 de setembro, a matéria “O assessor secreto” discorre

como os tucanos tentam esconder que James Carville, marqueteiro da eleição do presidente

dos Estados Unidos, Bill Clinton, pôs o dedo na campanha de Fernando Henrique Cardoso.

Carville disse: “Só analisei algumas pesquisas.”

“Corrida por votos e por dinheiro: com muitas chances de vencer no primeiro turno,

Fernando Henrique lança a ofensiva final ao eleitorado”, este é o título e subtítulo da seção

Campanha, da página 38, de 7 de setembro, que relata os últimos trinta dias de campanha de

Fernando Henrique. Segundo a reportagem, depois que ele acumulou uma vantagem superior

ao dobro das intenções de votos em relação a Lula, começou a “chover” dinheiro nos cofres

do PSDB.

Marcos de Sá Corrêa, em seu artigo “O adversário é o eleitor”, página 45, de 7 de

setembro, comenta as consequências que sofre o candidato quando o eleitor resolve mudar o

seu voto. Exemplos como o de Lula, que foi declarado imbatível três meses antes do pleito em

1994, com 40% dos votos, e que a biografia de Fernando Henrique está longe de dar uma

virada. Conforme Marcos Sá, o eleitor tem, e muito mais, ideias políticas que os profissionais

de marketing. Ele cita, por exemplo, o eleitor paulistano, que representa quase a metade dos

votos que o Brasil todo tinha na inauguração do governo de Juscelino Kubitschek. Este eleitor

teve a facilidade, no caso da prefeitura de São Paulo, em surpreender as urnas, indo de Jânio

Quadros a Paulo Maluf, passando pela prefeita Luiza Erundina. No caso do eleitor paulistano,

ele sempre quis experimentar uma prefeitura nova, diferente.

Na coluna Radar, de Ancelmo Gois, página nº 47, de 7 de setembro, os destaques são:

Charge de Chico Caruso/O Globo, na qual Vicentinho aparece ao lado de Fernando Henrique

Cardoso, vestindo uma camiseta branca e nela escrito CUT, que significa Central Única de

Trabalhadores, em vermelho, equilibrando-se em um dos pés calçados, mostrando para

Fernando Henrique, os cinco dedos dos pés e das mãos, com os dizeres: “Quer dizer, o

reajuste tem que ser de...”, enquanto Fernando Henrique de terno amarelo, camisa branca e

gravata lilás, olha-o como se o repreendesse, com a mão direita aberta mostrando os cinco

dedos.

Outro destaque da seção acima mencionada é a matéria “Divisão no Palco”, mostrando

que os artistas estão em caminhos opostos na escolha do candidato à Presidência da

República. Os que votaram (os que votarão, é o correto) em Lula são: Camila Pitanga, Chico

Buarque e Letícia Sabatela, e em Fernando Henrique: Dominguinhos, Ruth Escobar e Regina

Duarte. Esse destaque também mostra as fotos dos artistas.

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A matéria de capa da edição de 14 de setembro, revista nº 37, mostra uma foto

montada de cinco engrenagens, cada uma com o seu nome próprio, ou seja: imprensa,

sindicato, governo, televisão e empresários, e logo abaixo, o título da matéria: “A máquina

que ajuda os candidatos: como funciona, sua influência e seus limites”.

Na página 34 dessa edição, a reportagem mostra a máquina que trabalha para o

candidato Fernando Henrique, como a Rede Globo, o Plano Real com o apoio do governo

Itamar, de igrejas e de 97% dos empresários e dos bancos estrangeiros. E na página 36 é

exibida a máquina que trabalha para o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, ou seja, a CUT de

Vicentinho, que em setembro planejava uma greve, mas recuou por causa de Lula, os

representantes da Teologia da Libertação; o frei Leonardo Boff subiu nos palanques para dizer

ao povo que Lula não é o diabo. Na máquina estatal, o PT, segundo a Veja, tem a maior rede

de arapongas – petistas que trabalham nas estatais – do País, a qual trabalha dia e noite para

passar informações estratégicas ao partido. São funcionários de bancos oficiais, que

vasculham documentos à procura de provas para desmoralizar o governo que apoia o

adversário político.

O Ibope mostra um gráfico com os últimos números das intenções de voto, na página

39 de 14 de setembro, sendo 43% das intenções de voto de Fernando Henrique, 23% de Lula,

5% de Orestes Quércia, 4% de Brizola, 4% de Enéas e 2% de Espiridião Amin. Quanto à

campanha na televisão, o principal noticiário, o Jornal Nacional da Rede Globo, deu mais

espaço em notícias positivas a Fernando Henrique do que ao candidato Lula, conforme o

quadro “Campanha na TV.”

A matéria de capa da edição de 21 de setembro apresenta como título e subtítulo:

“Ruth Cardoso sai do casulo – Quem é, como vive e o que pensa a antropóloga casada com o

candidato tucano”.

Na edição de 28 de setembro, página 32, na seção Brasil, o título e subtítulo da

reportagem são “Na reta de chegada: na última semana de campanha, Fernando Henrique

torce para não errar e vencer no primeiro turno, e Lula aposta na sua militância”.

No artigo de Tutty Vasques, na página 39, “São todos de esquerda”, artistas torcem

por empate entre Lula e FHC. Na página 39 aparece uma charge com foto do cantor Chico

Buarque carregando Lula, e Gilberto Gil carregando Fernando Henrique.

Na coluna Radar de Ancelmo Gois, de 28 de setembro, os destaques são os seguintes

textos: “O dinheiro de Dominguinhos” – é uma denúncia de Dominguinhos, o qual reclama

que trabalhou para FHC e até aquele momento não havia recebido nada; O dia seguinte de

Lula” – caso fosse confirmada a derrota de Lula para Fernando Henrique, a ideia do PT seria

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enviar Lula para o exterior, ocupando algum cargo no sindicalismo internacional;

“Procuradoria em cima de FHC” – o Ministério Público vai instaurar um inquérito contra

Fernando Henrique Cardoso, pois ele ainda se encontra como ministro da Fazenda e assinou,

em dezembro de 1993, uma portaria ampliando de sessenta para oitenta meses o prazo de

pagamento das dívidas das empresas privadas com a Contribuição para o Financiamento da

Seguridade Social (COFINS), principal fonte de renda do Ministério da Saúde. Com isso, 5

mil devedores deixaram de pagar no prazo certo, houve atraso no repasse do Ministério da

Previdência para o Ministério da Saúde; “A matemática de Lula” – os técnicos do Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) contestam os números que Lula publicou em um artigo no jornal O Globo, no qual ele

diz que o Brasil gastava com saúde 82 dólares por habitante e que no ano de 1993 gastou 34

dólares. Os técnicos Francisco Barreto do Ipea e Kaizô Iwakami Beltrão do IBGE afirmam

que Lula está equivocado e que o gasto com saúde passou de 77,34 dólares, em 1988, para 82

dólares.

Na reportagem de capa da edição 1.360, de 5 de outubro, a matéria traz o seguinte

título: “Pesquisa Exclusiva. O que o eleitor quer: Ordem, continuidade, prudência. O que o

eleitor não quer: salvador da pátria, pacotes, escândalos”.

Na página 32 é mostrado o perfil do eleitor: 94,7 milhões estão habilitados a votar; 8,5

milhões são analfabetos; e 3,5 milhões têm curso superior completo. A matéria diz que eles

têm o País na ponta da língua, têm cara própria, não aparecem na campanha e sabem bem o

que querem dos políticos: “Que os deixem em paz.”

Na página 33 informa que apenas 25,3 milhões dos eleitores leem e escrevem o

próprio nome; 26,1 milhões têm entre 25 e 34 anos, faixa etária em que se situa a maior parte

do eleitorado, 2,1 milhões de eleitores têm entre 16 e 17 anos; 20,7 milhões vivem no Estado

de São Paulo, o maior colégio eleitoral do País (Fonte: Aba/Marplan).

Segundo opinião do povo, o governo de Fernando Henrique seria tranquilo, entretanto

não foi dito o mesmo em relação a Lula, ou seja, os políticos que eram contra o governo de

Lula, não o deixariam governar.

Na seção Panorama, páginas 42 e 43, de 5 de outubro, num quadro em que constam as

fotos de Lula e FHC na reportagem, mostra-se um comparativo sobre os programas de

governo dos candidatos Fernando Henrique e Lula, em relação ao desenvolvimento e à

política econômica, à privatização, aos monopólios, à reforma agrária, à educação e à saúde.

O título diz: “O duelo no papel – as propostas de governo de FHC e Lula são reveladoras

tanto pelo que dizem quanto pelo que não dizem.”

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No final do quadro de propostas (página 44), aparece uma charge de Chico Caruso, na

qual Fernando Henrique, vestido a caráter como um lutador de esgrima, empunhando sua

espada, e Lula, vestido com um macacão e com uma grande chave de boca, estão se atacando.

Na seção Governo, páginas 46 e 47, cujo título é: “O que podem fazer: FHC e Lula

passam os últimos dias no confronto das promessas com a realidade”, a foto-legenda, mostra

Fernando Henrique com Marcos Maciel e outros políticos com as palmas da mão direita

abertas, sinalizando o número 5, e Lula (em lágrimas) segurando a mão de um garoto e

discursando. O texto da foto diz: “FHC recebe apoio de Alagoas e Lula comove-se com o

depoimento do menino de rua, Maguinho: o embalo da campanha é muito diferente de

governar”.

A charge do cartunista Angeli, de 5 de outubro, página 48, mostra duas situações: de

um lado o povo pobre tocando a campainha da casa, com os dizeres: “Alô Lula, viemos

buscar o nosso almoço!”, e na outra uma fila de empresários bem vestidos, também tocando a

campainha da casa, com os dizeres: “Alô Fernando, viemos trazer o seu jantar!”.

Abaixo da página 5, dois anúncios, com o formato de anúncios classificados, com os

logotipos do PT e do PSDB.

O anúncio do PT tem como título: “A estrela do PT: os números da administração

petista na prefeitura de Porto Alegre”. Esse anúncio é sobre a melhoria da rede de esgoto, o

crescimento do número de matrículas na rede pública municipal, o aumento da frota de ônibus

na cidade, o orçamento de 420 milhões de dólares que é discutido com a população para ver

como destinar o dinheiro.

Já o anúncio do PSDB, cujo título é “A vitrine do PSDB: os números da gestão tucana

no governo do Ceará”, mostra como a mortalidade infantil caiu na administração do PSDB, o

crescimento do número de matrículas na rede pública estadual de ensino, o enxugamento da

máquina administrativa do Estado, passando de 145 mil funcionários para 100 mil.

No artigo de Marcos de Sá Corrêa, página 49, cujo título é “Enquanto isso, aqui na

Índia...”, comenta-se que: A impossibilidade de mudar o destino não impede que se escolha o sentido de vitórias e derrotas, sobretudo nas disputas sem competição, como esta campanha presidencial. E tanto elas existem que a vaca que pariu o miúra que matou Manolete foi sacrificada depois da corrida, para estancar em suas entranhas a matriz de uma raça disposta a impugnar na marra as regras do jogo. Também as dificuldades eleitorais de Lula já estavam escritas nas prévias do primeiro semestre, enquanto ele duelava sozinho com seus índices de rejeição e perdia.

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109

Armar sobre aqueles números preliminares, a miragem da pista livre para uma candidatura invencível, serviu para animar a preparação deste desfecho em que ganha Fernando Henrique, Enéas recebe honras de fenômeno, Brizola chega em segundo na raia, dos excêntricos e Quércia passa ao ataque. Só Lula perde. Como se a candidatura de Fernando Henrique tivesse crescido sobre a dele e não no vazio que as pesquisas assinalavam. Com todo respeito à densidade pessoal do candidato, assim até os gases se expandem.

A coluna Radar de Ancelmo Gois, de 5 de outubro, página 51, teve como principal

destaque a charge de Chico Caruso/O Globo, cujo texto diz: “O mano-a-mano do corpo-a-

corpo”. Caruso mostra os candidatos a Presidência da República, da esquerda para a direita,

fazendo gestos com a mão direita.

O primeiro é Fernando Henrique, sorrindo e mostrando os cinco dedos (mote de sua

campanha); o segundo, o candidato Lula, com o indicador e polegar estendidos em forma de

L; o terceiro, Orestes Quércia, empunhando o dedo na cabeça em forma de um revólver; o

quarto, o candidato Enéas, com os dedos indicador e médio sobre a cabeça, passando um

conceito de estar doido; o quinto, Leonel Brizola, fazendo o sinal negativo, mão fechada e

polegar para baixo; e o sexto e último, Esperidião Amin, acenando com a mão direita aberta e

com a esquerda enxugando as lágrimas.

O verdadeiro peso eleitoral na coluna Radar mostra que a tensão e o ritmo puxado da

campanha eleitoral afetam a silhueta dos candidatos, por exemplo, Fernando Henrique

engordou dois quilos, foi de 78 para 80 quilos, e Lula emagreceu dois.

A edição da revista Veja nº 41 de 12 de outubro de 1994, a qual traz a cobertura da

vitória de Fernando Henrique Cardoso, tem como reportagem de capa a foto dele (sorrindo e

acenando) e no título e respectivos subtítulos: “O Presidente – A campanha vista por dentro;

Fotos inéditas dos bastidores; Como o intelectual virou chefe de Estado”. Foram 31 páginas

de matéria dedicadas a essa reportagem de capa, iniciando na página 27 e terminando na 58.

Já nas páginas 64 e 65 dessa mesma edição, a matéria “Lula tropeçou na moeda:

depois do real, a campanha do PT se transformou numa viagem amarga, sem rumo e sem

ânimo”. Na foto Lula aparece sorrindo, fazendo um gesto com a mão esquerda de uma letra L,

com o dedo polegar na horizontal e o indicador na vertical e os outros dedos fechados. Ao

fundo, vários meninos, em um muro com obstáculos, para fazer escalada/rapel; todos sorrindo

e fazendo o mesmo gesto.

A charge de Chico Caruso/O Globo, página 89 dessa mesma edição, mostra Fernando

Henrique Cardoso vestido de smoking, já com a faixa presidencial.

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110

Na seção Eleição da edição de 26 de outubro, página 40 há uma reportagem com o

seguinte título: “Os números finais: os dados do TSE revelam que FHC teve uma vitória tão

grande como a de Jânio Quadros”.

A charge de Chico Caruso/O Globo do dia 26 de outubro, página 43, mostra Fernando

Henrique vestido de rainha ao lado da rainha Elizabeth, em Moscou. O texto diz: “Encontro

real”.

3. Gêneros e formatos das notícias, na propaganda eleitoral na revista Veja, de

junho a outubro de 1994

A revista Veja, bem como toda a imprensa escrita, estão inseridas numa mesma regra

de técnicas para que as notícias cheguem de uma forma clara para o público leitor.

Os veículos de imprensa de um modo geral, isto é, jornal, revista, rádio e televisão,

têm as suas estratégias próprias de comunicação, obedecendo às respectivas características de

cada um em relação aos gêneros e formatos de se comunicar a notícia.

A propaganda eleitoral de Fernando Henrique Cardoso para presidente do Brasil nas

páginas da revista Veja no ano de 1994, especificamente no período de junho a outubro,

presente nas dezenove edições estudadas, encerrou em suas notícias toda uma regra e uma

estratégia próprias da revista.

Segundo Melo e Queiroz (1998, p.11-12): [...] o jornalismo brasileiro construiu a sua própria identidade comunicacional, assimilando padrões forâneos, originais da Europa e dos Estados Unidos, embora estes tenham sido paulatinamente transformados e adaptados para atender as especificidades da cultura nacional e as demandas do mercado metropolitano.

Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva foram os principais

protagonistas e focos noticiosos da ação jornalística da revista Veja no período de junho a

outubro de 1994.

No livro “Identidade da imprensa brasileira no final do século: das estratégias

comunicacionais aos enraizamentos e as ancoragens culturais”, são utilizados vários itens de

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111

análise de conteúdo a partir de esquemas elaborados por Kayser4, e que Melo adaptou para o

estudo/pesquisa dos jornais brasileiros (MELO; QUEIROZ, 1998, p.21).

No levantamento realizado com as edições da revista Veja relativas à propaganda

eleitoral de Fernando Henrique Cardoso foram utilizadas as mesmas ferramentas de análise,

para uma melhor organização e entendimento de todo o material coletado.

As análises feitas na revista Veja se converteram na mensuração da soma total em

centímetros/coluna (cm/col.) dentro de um padrão de três colunas de largura por 26

centímetros de altura, que é o formato da revista Veja e de outras similares.

Cada mensagem/matéria apresentada corresponde à soma total utilizada em centímetro

coluna (largura), versos, altura, de acordo com o tamanho do texto jornalístico, das fotos e

outros elementos que compõem a matéria.

Foram analisadas 213 páginas da revista Veja, as quais compreendem as dezenove

edições no período de junho a outubro de 1994.

A análise dos dados é apresentada em duas tabelas para cada um dos candidatos que

disputaram o último turno das eleições para presidente em 1994, as quais foram adaptadas da

obra de Melo e Queiroz (1998, p.34;39). A Tabela 1 relaciona os códigos – linguístico,

icônico, fotos, desenhos, gráficos e outros – e seus significados. Já a Tabela 2 expõe os

gêneros jornalísticos, que compreendem os informativos: nota, notícia, reportagem, entrevista,

serviço, enquete, perfil e outros – e os opinativos: editorial, comentário, artigo, resenha,

coluna, crônica, caricatura, carta e outros.

Como os protagonistas finais da disputa das eleições para presidente do Brasil em

1994 foram os candidatos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, tornou-se

necessário fazer também uma análise comparativa no mesmo modelo de Melo e Queiroz

(1998), que é o da mensuração total em centímetros/coluna entre Fernando Henrique e Lula.

As diversas matérias analisadas trazem informações positivas e negativas dos dois

candidatos, independente do volume de centímetros/coluna que serão mostrados.

Para um melhor entendimento das tabelas elaboradas pelos autores mencionados, de

acordo com os gêneros e formatos jornalísticos utilizados para comunicar a notícia, seguem

abaixo todos os significados de cada um deles, conforme Marques e Queiroz (1998, p.21-24).

Cabe ressaltar que código é o instrumento utilizado pelos profissionais para documentar os fatos que

convertem em informações jornalísticas.

4 Jacques Kayser, Une semaine dans Le monde (Paris, UNESCO, 1953), El períodíco: Estudios de morfologia,

de metodologia y de prensa comparada (Quito, Ciespal, 1964) .

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a) Código icônico: imagens que reproduzem ou representam a realidade de

interesse cotidiano do jornal (fotografias, desenhos, gráficos, etc.); b) Código lingüístico: palavras, frases e parágrafos que compõem estruturas

articuladas seguindo padrões históricos e culturais (língua portuguesa, língua inglesa, língua espanhola etc.);

Já na tabela de número 2, gêneros e formatos jornalísticos, os significados estão agrupados em dois grupos, ‘informativos e opinativos.’ São eles, a começar pelos informativos: a) Nota: relato de um fato que está por se configurar; b) Notícia: relato integral de um fato que já eclodiu no organismo social; c) Reportagem: relato ampliado de um fato que já repercutiu na sociedade e

produziu alterações que são percebidas pela empresa jornalística; d) Entrevista: relato que privilegia um ou mais protagonistas do fato,

possibilitando-lhes um contato direto com a coletividade; e) Serviço: relato de informação de utilidade pública; f) Enquete: relato de pesquisa de opinião pública, onde uma amostragem

significativa da população emite parecer sobre determinado assunto; g) Perfil: relato sobre um personagem real, geralmente baseado numa

entrevista, com textos que podem privilegiar aspectos de sua biografia, de seu pensamento, de sua atividade e da realidade vivida por ele;

Já nos gêneros opinativos: a) Editorial: texto que expressa a opinião oficial da empresa jornalística

diante de fatos de maior repercussão no momento; b) Comentário: texto feito, geralmente, por um jornalista de grande

experiência, que não apenas acompanha os fatos na sua aparência, mas também possui dados nem sempre disponíveis ao cidadão comum;

c) Artigo: texto em que alguém, jornalista ou não, desenvolve uma idéia e apresenta sua opinião;

d) Resenha ou crítica: texto de apreciação dos produtos culturais com a finalidade de orientar a ação dos consumidores;

e) Coluna: seção especializada, publicada com regularidade de textos redigidos em estilo mais livre e pessoal, geralmente assinada;

f) Crônica: texto de caráter mais literário, baseado em fatos reais, ou imaginários e em experiências e observações pessoais do autor;

g) Caricatura: ilustração gráfica com finalidade satírica ou humorística, geralmente acompanhada de pequeno texto ou de fala dos personagens; texto com conotações que encenam juiz de valor;

h) Carta: textos de leitores contendo suas opiniões com relação à matéria publicada.

A seguir, são apresentados as tabelas e os gráficos contendo todos os elementos da

análise realizada nesta pesquisa.

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113

TABELA 1 – Códigos: Fernando Henrique Cardoso

CÓDIGOS JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO TOTAL LINGUÍSTICO 1.878 459 2.752 2.548 2.711 10.348ICÔNICO 389 118 730 245 1.522 3.004FOTOS 290 73 612 186 1.309 2.470DESENHOS 99 0 18 33 83 233GRÁFICOS 0 45 100 26 130 301OUTROS 0 0 0 0 0 0

TOTAL 2.656 695 4.212 3.038 5.755 16.356

CM/COL.

Fonte: Adaptado de Melo e Queiroz (1998, p.34).

Fernando Henrique Cardoso teve um volume maior em cm/col. no código linguístico,

que é a soma dos centímetros da revista na horizontal (largura), multiplicado pela soma dos

centimentros na vertical (altura) no período de junho a outubro de 1994. Isso significa que a

revista Veja deu mais ênfase às palavras, às frases e aos parágrafos que compõem as

estruturas articuladas, segundo os padrões históricos e culturais da língua portuguesa. Nesse

caso, o código linguístico representa 63,27% do total de 16.356 cm/col. da tabela dos códigos.

No código desenhos, teve o menor volume em cm/col., que é a representação e

reprodução das imagens de interesse cotidiano. A representação é de 14,25% da soma total.

No comparativo com o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (Tabela 3), no código linguístico,

Fernando Henrique Cardoso obteve 83,82% da soma total e Lula 16,18%.

Já no código desenhos, Luiz Inácio Lula da Silva não teve menção. Na soma total das

tabelas de códigos, Fernando Henrique (Tabela 1) teve um total de 16.356 cm/col. e Luiz

Inácio Lula da Silva (Tabela 3), 2.750 cm/col. Isso representa que Fernando Henrique

Cardoso foi beneficiado pela revista Veja, ficando a frente do outro candidato com 83,19% de

cm/col., o qual obteve 16,81%. Entretanto, isso não significa que todas as matérias foram

favoráveis a ambos.

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114

TABELA 2 – Gêneros jornalísticos: Fernando Henrique Cardoso

GÊNEROS/FORMATOS JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO TOTAL

NOTA 0 0 16 0 0 16NOTÍCIA 988 338 754 1.179 234 3.493REPORTAGEM 884 234 1.248 1.092 2.496 5.954ENTREVISTA 0 0 780 0 0 780SERVIÇO 78 0 0 0 0 78ENQUETE 0 0 0 0 0 0PERFIL 0 0 0 0 1.482 1.482OUTROS 0 0 0 0 0 0SUBTOTAL 1.950 572 2.798 2.271 4.212 11.803

EDITORIAL 0 0 0 0 0 0COMENTÁRIO 18 0 16 8 69 111ARTIGO 98 0 52 104 52 306RESENHA 0 0 0 0 0 0COLUNA 156 0 0 0 0 156CRÔNICA 0 0 0 0 0 0CARICATURA 49 0 34 33 71 187CARTA 0 0 26 0 0 26OUTROS 0 0 0 0 0 0SUBTOTAL 321 0 128 145 192 786

TOTAL 2.271 572 2.926 2.416 4.404 12.589

OPINATIVOS

INFORMATIVOS

CM/COL.

Fonte: Adaptado de Melo e Queiroz (1998, p.39).

Fernando Henrique Cardoso teve um volume maior em cm/col., em reportagem, nos

gêneros informativos, no período de junho a outubro de 1994, revelando que a revista Veja

enfatizou os fatos que repercutiram e produziram efeitos na sociedade e que foram percebidos

pela revista.

O gênero nota teve o menor volume, que são os relatos de fatos que estão para se

configurar.

Já o gênero opinativo artigo revelou um maior volume em cm/col., o que representa,

segundo a revista Veja, os textos redigidos, que expressam a ideia e a opinião dos jornalistas

responsáveis por eles.

Quanto ao gênero carta, que teve o menor volume em cm/col., significa que, em

relação às matérias publicadas, houve pouca manifestação por parte dos leitores. Na soma

total dos gêneros jornalísticos, a ênfase dada pela Veja em relação ao candidato Fernando

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115

Henrique Cardoso ficou assim: reportagem 50,45%; nota 0,1355%; artigo 39%; carta 3,31%.

Os gêneros informativos, em comparação aos opinativos, ficaram assim: informativos 93,34%

e opinativos 6,66%, significando que a revista destacou mais os primeiros.

TABELA 3 – Códigos: Luiz Inácio Lula da Silva

CÓDIGOS JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO TOTALLINGUÍSTICO 48 119 717 270 521 1.675ICÔNICO 92 17 269 51 44 473FOTOS 92 17 269 51 44 473DESENHOS 0 0 0 0 0 0GRÁFICOS 0 18 15 14 82 129OUTROS 0 0 0 0 0 0

TOTAL 232 171 1.270 386 691 2.750

CM/COL.

Fonte: Adaptado de Melo e Queiroz (1998, p.34).

No código linguístico, Luiz Inácio Lula da Silva teve um volume maior em cm/col., no

período de junho a outubro de 1994, mostrando que a revista Veja deu mais ênfase às

palavras, às frases e aos parágrafos que compõem as estruturas articuladas, segundo os

padrões históricos e culturais da língua portuguesa. Apesar desta informação indicar 60,91%

da importância dada às matérias, não significa que elas foram somente favoráveis ao

candidato

No código gráficos, que é a representação e reprodução das imagens de interesse

cotidiano da revista Veja, houve menor volume em cm./col., representando 46,91% do total. A

diferença entre o código linguístico e gráficos é de 7,70%, o que significa a ênfase menor em

gráficos, no comparativo total da tabela. No comparativo total entre a Tabela 1 e a Tabela 3, o

resultado ficou assim: Fernando Henrique Cardoso 83,19%, e Lula 16,81%. Para ambos os

candidatos, as matérias não foram só de favorecimento.

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116

TABELA 4 – Gêneros jornalísticos: Luiz Inácio Lula da Silva

GÊNEROS/FORMATOS JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO TOTAL

NOTA 0 0 5 12 0 17NOTÍCIA 51 110 177 0 156 494REPORTAGEM 15 0 504 234 546 1.299ENTREVISTA 0 0 0 0 0 0SERVIÇO 0 0 0 0 0 0ENQUETE 0 0 0 0 0 0PERFIL 0 0 0 0 0 0OUTROS 0 0 0 0 0 0SUBTOTAL 66 110 686 246 702 1.810

EDITORIAL 0 0 0 0 0 0COMENTÁRIO 0 0 0 18 30 48ARTIGO 0 0 52 98 52 202RESENHA 0 0 0 0 0 0COLUNA 2 0 0 0 0 2CRÔNICA 0 0 0 0 0 0CARICATURA 20 0 18 0 44 82CARTA 0 0 0 0 0 0OUTROS 0 0 0 0 0 0SUBTOTAL 22 0 70 116 126 334

TOTAL 88 110 756 362 828 2.144

OPINATIVOS

INFORMATIVOS

CM/COL.

Fonte: Adaptado de Melo e Queiroz (1998, p.39).

Luiz Inácio Lula da Silva teve um volume maior em cm/col., em reportagem, nos

gêneros informativos, no período de junho a outubro de 1994. Isso significa que a revista Veja

deu ênfase nos fatos que repercutiram e produziram efeitos na sociedade e que foram

percebidos pela revista. Reportagem representa 71,77% da ênfase dada pela revista.

No gênero nota, que são os relatos de fatos que estão para se configurar, teve o menor

volume, que representa 9,40%. O gênero opinativo artigo teve o maior volume em cm/col., o

que representa segundo a revista Veja, os textos redigidos, que apresentam a ideia e a opinião

dos jornalistas responsáveis por eles, o que representa um total de 60,48% em cm/col. Na

soma total dos gêneros jornalísticos de 2.144 cm/col., o resultado entre os gêneros

informativos e opinativos foram, respectivamente, 81,54% e 18,46%. O gênero informativo

teve mais ênfase em relação ao outro.

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117

GRÁFICO 1 – Códigos: Fernando Henrique Cardoso

63,27%18,37%

15,10%

1,42% 1,84% 0,00%

PUBLICAÇÕES REVISTA VEJA Fernando Henrique Cardoso - jun. a out./1994

LINGUÍSTICO ICÔNICO FOTOS DESENHOS GRÁFICOS OUTROS

O código linguístico representa o maior volume. Nas matérias veiculadas, a revista

Veja deu mais ênfase às palavras, às frases, aos parágrafos e às estruturas articuladas da língua

portuguesa. Os resultados dos códigos ficaram assim distribuídos: o linguístico significa

63,27% da soma total de 16.356 cm/col., seguido de icônico: 18,37%, fotos: 15,10%,

desenhos: 1,42% e gráficos: 1,84%.

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118

GRÁFICO 2 – Comparativo dos códigos de junho a outubro/1994: Fernando Henrique Cardoso

18,1

5%

12,9

5%

11,7

4%

42,4

9%

0,00

%4,44

%

3,93

%

2,96

%

0,00

%

14,9

5%

26,5

9%

24,3

0%

24,7

8%

7,73

%

33,2

2%

24,6

2%

8,16

%

7,53

% 14,1

6%

8,64

%

26,2

0%

50,6

7%

53,0

0%

35,6

2%

43,1

9%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

LINGUÍSTICO ICÔNICO FOTOS DESENHOS GRÁFICOS OUTROS

CM/C

OL.

CÓDIGOS

PUBLICAÇÕES REVISTA VEJA Fernando Henrique Cardoso: comparativo mensal - 1994

JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO

Por intermédio do comparativo mensal, torna-se evidente que o código linguístico teve o

menor volume de cm/col. em julho no período de junho a outubro. Isso significa pouca ênfase

dada pela revista Veja a palavras, frases e parágrafos que compõem as estruturas articuladas do

texto.

O código desenho teve o maior volume de cm/col. no mês de junho, com 42,49%, que

representa o interesse cotidiano por parte da revista. O código linguístico teve o seu menor

volume em cm/col. no mês de julho, com 459 cm/col., representando 4,44%. Já no mês de agosto,

teve o seu maior volume, que foi de 2.752 cm/col. Isso significa que, na soma total dos

centímetros x coluna, esse mês representou 26,59%. O icônico teve o seu menor volume em

cm/col. no mês de julho, com 118 cm/col., o que significa 3,93%. Já no mês de outubro,

apresentou o seu maior crescimento, ou seja, 1.522 cm/col., representando 50,67% da soma total

do período. Fotos teve o seu menor crescimento no mês de julho, com 73 cm/col., o que

representa 2,96%. No mês de outubro, teve o seu maior volume, de 1.309 cm/col., o que

representa a soma total de 53% em cm/col. Desenhos não foi a tônica dada pela revista no mês de

julho (não houve registro). O menor volume foi em agosto, com 7,73%, ou seja, 18 cm/col., e o

maior, em junho, com 99 cm/col., ou seja, 42,49%. Gráficos também não foi a tônica das edições,

tendo, em setembro, o menor volume em cm/col., com 26 cm/col., ou seja, 8,64%. Não houve

registro em junho. O maior crescimento foi em outubro, com 130 cm/col., representando 43,19%

da soma total.

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119

GRÁFICO 3 – Publicações relativas a gêneros informativos: Fernando Henrique Cardoso

0,14%

29,59%

50,44%6,61%

0,66%0,00%

12,56%0,00%

PUBLICAÇÕES REVISTA VEJA - TEXTOS INFORMATIVOSFernando Henrique Cardoso - jun. a out./1994

NOTA NOTÍCIA REPORTAGEM ENTREVISTA

SERVIÇO ENQUETE PERFIL OUTROS

O gênero informativo reportagem aparece com maior volume em cm./col. Isso

significa que, na revista Veja, a campanha de Fernando Henrique teve um grande volume de

relatos ampliados, o que repercutiu na sociedade, produzindo alterações nesta, as quais foram

percebidas pela revista. Os resultados dos gêneros informativos ficaram assim distribuídos:

reportagem 50,44%; notícia 29,59%; perfil 12,56%; entrevista 6,61%; serviço 0,66%; nota

0,14%.

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120

GRÁFICO 4 – Publicações relativas a gêneros informativos por mês: Fernando Henrique Cardoso

0,00

%

28,2

9%

14,8

5%

0,00

%

100,

00%

0,00

%

0,00

% 9,68

%

3,93

%

0,00

%

0,00

%

0,00

%

100,

00%

21,5

9%

20,9

6%

100,

00%

0,00

%

0,00

%

0,00

%

33,7

5%

18,3

4%

0,00

%

0,00

%

0,00

%

0,00

%

6,70

%

41,9

2%

0,00

%

0,00

%

100,

00%

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

120,00%

CM

/CO

L.

GÊNEROS/FORMATOS

PUBLICAÇÕES REVISTA VEJA - TEXTOS INFORMATIVOSFernando Henrique Cardoso: comparativo mensal - 1994

JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO

No comparativo mensal, reportagem aparece com menor volume no período em

cm/col., tendo um crescimento maior no mês de outubro, com 41,92%, indicando que, na

revista Veja, a campanha de Fernando Henrique teve um bom volume de relatos ampliados, o

que repercutiu na sociedade, produzindo alterações nesta, as quais foram percebidas pela

revista. Quanto aos outros gêneros, os resultados foram os seguintes: notícia 33,75%, maior

crescimento em setembro; perfil 100% somente em outubro; entrevista 100% apenas em

agosto; serviço 100% só em junho; nota 100% unicamente em agosto. A incidência em

outubro foi maior na soma dos gêneros reportagem e perfil, totalizando 141,92%.

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121

GRÁFICO 5 – Publicações relativas a gêneros opinativos: Fernando Henrique Cardoso

0,00%

14,12%

38,93%

0,00%

19,85%0,00%

23,79%

3,31%

0,00%

PUBLICAÇÕES REVISTA VEJA - TEXTOS OPINATIVOS Fernando Henrique Cardoso - jun. a out./1994

EDITORIAL COMENTÁRIO ARTIGO RESENHA COLUNA

CRÔNICA CARICATURA CARTA OUTROS

O maior volume em cm/col., nos textos opinativos, foi no gênero artigo. A campanha

de Fernando Henrique, na ótica da revista Veja, foi analisada pelos textos, ideias e opiniões

dos jornalistas responsáveis por eles. O resultado ficou assim: artigo 38,93%; caricatura

23,79%; coluna 19,85%; comentário 14,12%; carta 3,31%.

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122

GRÁFICO 6 – Publicações relativas a gêneros opinativos por mês: Fernando Henrique Cardoso

16,2

2% 32,0

3%

100,

00%

26,2

0%

0,00

%

0,00

%

0,00

%

0,00

%

0,00

%

0,00

%14,4

1%

16,9

9%

0,00

% 18,1

8%

100,

00%

7,21

%

33,9

9%

0,00

% 17,6

5%

0,00

%

62,1

6%

16,9

9%

0,00

%

37,9

7%

0,00

%

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

120,00%

CM

/CO

L.

GÊNEROS/FORMATOS

PUBLICAÇÕES REVISTA VEJA - TEXTOS OPINATIVOS Fernando Henrique Cardoso: comparativo mensal - 1994

JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO

O comparativo mensal mostra o maior volume em coluna, cujo texto, escrito pelo

colunista da revista, é mais livre e mais pessoal, pois é uma seção especializada e publicada

com regularidade, geralmente assinada por quem a escreve. O gráfico também aponta uma

incidência maior desses gêneros no mês de junho, além do grande crescimento deste, o qual

representa 100%, seguido de artigo 32,03%, caricatura 26,20% e comentário 16,22%.

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123

GRÁFICO 7 – Códigos: Luiz Inácio Lula da Silva

60,91%17,20%

17,20%

0,00%

4,69%

0,00%

PUBLICAÇÕES REVISTA VEJA Luiz Inácio Lula da Silva - jun. a out./1994

LINGUÍSTICO ICÔNICO FOTOS DESENHOS GRÁFICOS OUTROS

O linguístico aparece com o maior volume em cm/col., ou seja, 60,91%. Isso significa

que foram várias palavras e frases e vários parágrafos aos quais a revista Veja deu maior

ênfase. Os demais códigos (icônico 17,20%, fotos 17,20%, gráficos 4,69%) somados

representam 39,09%.

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124

GRÁFICO 8 – Comparativo dos códigos de junho a outubro/1994: Luiz Inácio Lula da Silva

2,87

%

19,4

5%

19,4

5%

0,00

%7,10

%

3,59

%

3,59

%

13,9

5%

42,8

1%

56,8

7%

56,8

7%

11,6

3%

31,1

0%

9,30

%

9,30

%

63,5

7%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

LINGUÍSTICO ICÔNICO FOTOS DESENHOS GRÁFICOS OUTROS

CM/C

OL.

CÓDIGOS

PUBLICAÇÕES REVISTA VEJALuiz Inácio Lula da Silva: comparativo mensal - 1994

JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO

No comparativo mensal, o código linguístico é o que representa maior volume em

cm/col. nos meses de agosto e outubro, com 73,91%; já gráficos apresenta o maior volume

em outubro, com 63,57%, indicando que a ênfase da revista em relação à reprodução da

realidade cotidiana, que é o interesse desse periódico no tema, foi significativo. O mês de

agosto mostra maior incidência no volume de cm/col. em relação aos códigos linguístico

(42,81%), icônico (56,87%) e fotos (56,87%), num total de 156,55%.