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Instituto de Higiene e Medicina Tropical Universidade NOVA de Lisboa Manual de Segurança Biológica Lisboa, 2014

Manual de Seguranca Biologica

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A preparação deste manual foi realizada com base no manual de segurança do Centers for Disease Control and Prevention, e Biosafety in Microbiological and Biomedical Laboratories (5ª edição)

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Instituto de Higiene e Medicina TropicalUniversidade NOVA de Lisboa

Manual de Segurança Biológica

Lisboa, 2014

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Autores

Ana Armada

Diana Machado

Elisabete Junqueira

Isabel Couto

Jorge Ramos

José Marcelino

Miguel Viveiros

Ricardo Parreira

Sofia Costa

3

ÍNDICE

1. Notas introdutórias ............................................................................................................... 4

2. Determinação dos níveis de contenção laboratorial com base em critérios de risco ............ 6

3. Avaliação dos riscos biológicos ........................................................................................... 8

4. Laboratório de microbiologia ............................................................................................... 10

4.1. Laboratório de base – Nível 1 e 2 de segurança biológica ........................................ 12

4.1.1. Instalações do laboratório de microbiologia geral .......................................... 10

4.1.2. Boas práticas laboratoriais .............................................................................. 12

4.2. Laboratório de confinamento – Nível 2+ e 3 de segurança biológica ....................... 17

4.2.1. Instalações do laboratório de segurança de micobactérias.............................. 17

4.2.2. Boas práticas laboratoriais .............................................................................. 20

5. Laboratório de virologia ....................................................................................................... 22

6. Sistema AVAC ..................................................................................................................... 25

7. Boas práticas laboratoriais na câmara de segurança biológica ............................................. 26

8. Limpeza, descontaminação e tratamento do material contaminado ..................................... 28

9. Manutenção do equipamento laboratorial ............................................................................ 31

10. Atitudes perante o acidente ................................................................................................ 31

10.1. Atitude após exposição acidental por Mycobacterium tuberculosis ........................ 35

11. Vigilância do pessoal ......................................................................................................... 36

12. Manipulação, transporte e envio à distância de produtos potencialmente infeciosos ........ 38

13. Laboratório de Bioquímica ................................................................................................. 40

Bibliografia .............................................................................................................................. 44

Anexo I ..................................................................................................................................... 46

Anexo II ................................................................................................................................... 47

Anexo III .................................................................................................................................. 48

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1. Notas introdutórias

A preparação deste manual foi realizada com base no manual de segurança do Centers for

Disease Control and Prevention, e Biosafety in Microbiological and Biomedical

Laboratories (5ª edição), uma vez que este é a referência para os códigos de práticas

laboratoriais e a autoridade competente para o seu estabelecimento; e no “Manual de

Segurança Biológica em Laboratório” da Organização Mundial de Saúde (OMS), 3ªedição.

Este manual de biossegurança pretende ser um documento sintético, abordando conceitos,

procedimentos e normas gerais, e foi elaborado tendo em consideração as instalações e

recursos humanos existentes. Por estas razões ele não dispensa a consulta dos dois manuais

referidos anteriormente. A classificação dos agentes biológicos manipulados nos

laboratórios de microbiologia bem como dos níveis de segurança biológica corresponde à

apresentada quer no manual de segurança editado por ambas as instituições acima

referidas, a qual é aceite internacionalmente.

Este manual pretende fornecer os princípios gerais da segurança nos laboratórios, do

IHMT onde se manipulem microrganismos ou produtos biológicos que os contenham, e

quais as normas a aplicar no manuseamento de organismos específicos cuja manipulação

exige a aplicação de normas de contensão biológica mais restritas, como são os casos de

Mycobacterium tuberculosis e Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH).

O termo “Segurança biológica” é utilizado para descrever os princípios de confinamento,

as tecnologias e as práticas que são implementadas de modo a evitar exposição não

intencional a agentes patogénicos e toxinas, ou a sua fuga acidental. O termo “Proteção

biológica” em laboratório refere-se a medidas de proteção estabelecidas e pessoais

concebidas para evitar perda, roubo, utilização indevida, desvio ou fuga intencional de

agentes patogénicos e toxinas. Tanto quanto possível, cada grupo de trabalho, deverá

preparar e implementar um programa específico de proteção biológica em laboratório,

segundo as exigências do mesmo, o tipo de trabalho realizado, e as condições logísticas

existentes. É indispensável que todos os laboratórios tenham uma política de segurança

global, um manual de segurança e programas para a sua implementação. A

responsabilidade da implementação, manutenção e cumprimento de boas práticas

laboratoriais cabe ao Diretor da Unidade de Ensino e Investigação (UEI), caso se aplique.

Em alternativa, esta responsabilidade deverá ser imputada ao seu membro mais sénior.

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Também é da responsabilidade do Diretor da UEI garantir que TODOS os funcionários,

recebem treino e orientação específica sobre boas práticas laboratoriais e princípios de

biossegurança aplicados ao agente patogénico e ao trabalho que irão desenvolver. O

Diretor da UEI deve assegurar que o equipamento adequado está disponível para a

realização dos trabalhos e da sua boa utilização. Por outro lado, cada funcionário é

responsável pela sua própria segurança e pela segurança dos seus colegas. Espera-se que

os funcionários desempenhem o seu trabalho segundo as regras de segurança e que

comuniquem qualquer ato, condição ou incidente que comportem riscos.

A segurança no trabalho é um assunto que diz respeito a todo o pessoal de laboratório de

análise ou investigação. Práticas de laboratório inadequadas e desconhecimento das

normas de segurança podem estar na origem de acidentes que, nalguns casos, colocam em

risco as suas vidas e as dos outros. Precauções de segurança devem fazer parte do trabalho

de rotina e laboratório, incluindo-se a utilização de técnicas de assepsia e descontaminação

adequadas e a implementação de práticas microbiológicas seguras. Os procedimentos

devem ser cuidadosamente planeados, todo o material necessário deverá ser reunido antes

de iniciar o trabalho, sendo novamente armazenado no seu local respetivo após a

finalização do mesmo.

É de extrema importância ter em conta que não existem sistemas de segurança e/ou

barreiras de proteção 100% eficazes. Só uma boa prática laboratorial associada ao correto

uso das normas e equipamentos pode prevenir o acidente e a infeção acidental.

Existe um exemplar do manual de segurança no laboratório, disponível para consulta. Este

manual deve ser lido por todos os funcionários e visitantes que realizem trabalho

temporário nos nossos laboratórios e assinado no final (o original) assumindo que as regras

nele contidas foram aceites e compreendidas.

Distrações e desleixos são a principal causa de acidentes em laboratório.

De modo a evitar acidentes, e uma vez que a prevenção é o melhor remédio, todo o

trabalho em laboratório deverá ser previamente planeado e organizado.

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2. Determinação dos níveis de contenção laboratorial com base em critérios de risco

A tabela 1, faz referência aos perigos relativos a microrganismos infeciosos, por Grupos de

Risco (GR) 1, 2, 3 e 4. Esta classificação só deve ser utilizada em contexto laboratorial.

Tabela 1. Classificação de microrganismos infeciosos por grupo de risco

GR 1 - Nenhum ou baixo risco individual e coletivo. Um agente biológico que provavelmente não causa

doença no homem ou num animal.

GR 2 - Risco individual moderado, risco coletivo baixo. Um agente biológico patogénico que pode causar

doença no homem ou no animal, mas que é improvável que constitua um perigo grave para os

funcionários do laboratório, a comunidade, o gado ou o ambiente. A exposição a agentes infeciosos no

laboratório pode causar uma infeção grave, sendo que esta pode ser debelada por recurso a tratamento

eficaz, ou para as quais existem medidas de prevenção. O risco de propagação de infeção é limitado.

GR 3 - Elevado risco individual, risco coletivo baixo. Um agente biológico que causa geralmente doença

grave no homem ou no animal, mas que não se propaga habitualmente entre indivíduos infetados e não-

infetados. As infeções causadas por estes microrganismos podem ser debeladas com tratamento eficaz, ou

prevenidas pela aplicação de medidas de prevenção adequadas.

GR 4 - Elevado risco individual e coletivo. Um agente biológico que causa geralmente doença grave no

homem ou no animal e que se pode transmitir facilmente de uma pessoa para outra, direta ou

indiretamente. Nem sempre está disponível um tratamento eficaz ou medidas de prevenção.

As instalações laboratoriais designam-se por laboratório de base, laboratório de

confinamento, e laboratório de confinamento máximo. A cada um destes é atribuído um

nível de segurança biológica (BSL, do inglês Biosafety Laboratory). Aos laboratórios de

base são atribuídos os níveis BSL-1 e BSL-2 de segurança biológica (respetivamente),

enquanto aos laboratórios de confinamento e confinamento máximo são atribuídos os

níveis BSL-3 e BSL-4, respetivamente.

Estas designações baseiam-se num conjunto de características de estruturas de

confinamento, equipamento, práticas e normas operacionais necessárias para trabalhar com

agentes de diversos grupos de risco. Na tabela 2 relacionam-se os grupos de risco com

níveis de segurança biológica, práticas e equipamento. A tabela 3 resume as instalações e

equipamentos necessários para os 4 níveis de segurança biológica.

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Tabela 2. Relação dos grupos de risco com níveis de segurança biológica, práticas e

equipamento.

Grupo

de Risco

Nível de

Segurança

Biológica

Tipo de

laboratório

Práticas de

Laboratório

Equipamento de

Proteção

1 Básico – Nível 1 de

segurança biológica

Ensino básico;

pesquisa

BPM Nenhum; mesa/bancada

de trabalho

2 Básico – Nível 2 de

segurança biológica

Serviços básicos de

saúde; serviços de

diagnóstico, de

pesquisa

BPM e vestuário de

proteção pessoal

adequado, sinal de

perigo biológico à

porta do laboratório

Bancada de trabalho e

CSB para potenciais

aerossóis

3 Confinamento –

Nível 3 de

segurança biológica

Serviços especiais

de diagnóstico;

pesquisa

Como Nível 2, mais

vestuário protetor

especial, acesso

controlado,

ventilação dirigida

CSB e/ou outros

dispositivos primários

para todas as atividades

4 Confinamento

máximo – Nível 4

de segurança

biológica

Serviço de

manipulação de

agentes patogénicos

perigosos

Como Nível 3, mais

entrada hermética,

saída com duche,

eliminação especial

de resíduos

CSB classe III ou fatos de

pressão positiva em

conjunto com CSB classe

II, autoclave duas portas

(através da parede), ar

filtrado

CSB – Câmaras de segurança biológica (ver anexo 1 e seções seguintes); BPM – Boas práticas de Microbiologia.

Tabela 3. Resumo dos requisitos para os diversos níveis de segurança biológica

Nível de Segurança Biológica

1 2 3 4

Isolamento a do laboratório N N S S

Sala selada para descontaminação N N S S

Ventilação

Adução do ar N Desejável S S

Sistema Ventilação controlada N Desejável S S

Exaustor com filtro HEPA* N N S/N b S

Entrada com porta dupla N N S S

Câmara de vácuo N N N S

Câmara de vácuo com duche N N N S

Antecâmara N N S -

Antecâmara com duche N N S/N c N

Tratamento dos efluentes N N S/N c S

Autoclave

no mesmo edifício N Desejável S S

numa sala do laboratório N N Desejável S

de duas portas N N Desejável S

Câmaras de segurança biológica N Desejável S S

Meio de monitorização da proteção do pessoal d N N Desejável S

a) Isolamento ambiental e funcional do trânsito em geral; b) Segundo a localização do exaustor; c) Dependente dos agentes

utilizados no laboratório; d) Ex. Circuito fechado de televisão, comunicação em dois sentidos; *Ar particulado de alta

eficiência; (S) Sim; (N) Não

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A atribuição do nível de segurança biológica tem em consideração o agente patogénico

utilizado, as instalações disponíveis, bem como o equipamento, práticas e normas

necessárias para trabalhar, com segurança, no laboratório.

3. Avaliação dos riscos biológicos

A avaliação dos riscos deve ser efetuada por pessoas com formação na área, i.e., por

pessoas experientes e familiarizadas com as características específicas dos

microrganismos, normas, equipamento e modelos animais a utilizar, bem como do

equipamento de confinamento e instalações disponíveis. Um dos instrumentos disponíveis

mais uteis para efetuar uma avaliação dos riscos microbiológicos é a elaboração de uma

lista dos grupos de risco por agentes microbiológicos. Uma listagem atualizada destes

agentes pode ser encontrada, por exemplo, em http://www.hse.gov.uk/pubns/misc208.pdf.

Na tabela 4 descreve-se os agentes patogénicos mais frequentemente manipulados nos

laboratórios do IHMT.

Tabela 4. Microrganismos mais frequentemente manipulados nos laboratórios do IHMT.

Agentes microbianos Nível de risco Local de manipulação Escherichia coli AG100 (K12)* 1 BSL-1

Bacillus subtilis 168 1 BSL-1

Lactobacillus plantarum 1 BSL-1

Enterobacter aerogenes 1 BSL-1

Enterobacter cloacae 1 BSL-1

Mycobacterium smegmatis** 1 BSL-1

Rhodococcus erythropolis DCL14 1 BSL-1

Serratia marcescens 1 BSL-1

Sphingomonas wittichii 1 BSL-1

Sphingomonas pruni 1 BSL-1

Sphingomonas spp 1 BSL-1

Acinetobacter baumannii 2 BSL-1

Escherichia coli (estirpes veterinárias-MDR) 2 BSL-1

Enterococcus spp (MDR) 2 BSL-1

Enterococcus faecalis ATCC29212 2 BSL-1

Klebsiella pneumonia 2 BSL-1

Morganella morganii 2 BSL-1

Neisseria gonorrhoeae 2 BSL-1

Plasmodium spp (humano*** e roedor) 2 BSL-1

Pseudomonas aeruginosa 2 BSL-1

Salmonella enterica NCTC13349 2 BSL-1

Salmonella spp 2 BSL-1

Staphylococcus aureus subsp. aureus (MSSA) 2 BSL-1

Staphylococcus aureus subsp. aureus

(MRSA-HPV107) ATCC BAA-44™ 2

BSL-1

Staphylococcus aureus subsp. aureus (MRSA-COL) 2 BSL-1

Staphylococcus aureus subsp. aureus RN4220 2 BSL-1

Staphylococcus coagulase negativos (CoNS) 2 BSL-1

Trichomonas vaginalis 2 BSL-1

Treponema palidum 2 BSL-1

Mycobacterium spp other than tuberculosis and M. leprae (MOTT) 2 BSL-2+

Mycobacterium tuberculosis complex 3 BSL-3

Vírus da Imunodeficiência Humana 3 Lab2.BSL-3

Vírus da Imunodeficiência Símia 3 Lab2.BSL-3

Vírus da dengue 3 Lab2.BSL-3

Vírus Chikungunya 3 Lab2.BSL-3

Vírus do Nilo Ocidental 3 Lab2.BSL-3

*ou qualquer outra estirpe utilizada como vetor de clonagem molecular ou expressão heteróloga de proteínas; **Única

espécie micobacteriana não patogénica manipulada fora do laboratório de micobactérias devido a elevada probabilidade

de contaminação com micobactérias de crescimento lento; *** Exceto P. falciparum, cuja manipulação deve ser feita em

contexto BSL-3

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Considerações especiais para a manipulação de micobactérias: o aspeto mais

importante é conhecer o seu modo de transmissão.

1) M. tuberculosis complex: as partículas infeciosas produzidas por tosse e espirros são a

principal causa de disseminação do bacilo. Em termos laboratoriais, a exposição a

aerossóis infeciosos é a principal situação de perigo encontrada. Deste modo, todo o

trabalho tem ser realizado em câmaras de segurança biológica (CSB) em BSL-3.

Manipulação de pequenas quantidades da estirpe vacinal M. bovis BCG pode ser efetuada

em BSL-2 por decisão do responsável pelo laboratório em questão. A seleção do

desinfetante tuberculocida apropriado é um aspeto crucial em laboratórios que trabalham

com micobactérias.

2) Mycobacterium spp. other than M. tuberculosis complex (MOTT) e M. leprae: a

maioria das espécies de micobactérias são espécies ambientais comuns das quais

aproximadamente 30 estão associadas a infeções humanas. Todas estas espécies são

consideradas patogéneos oportunistas de humanos e nenhuma é considerada comunicável.

As micobactérias são frequentemente isoladas em amostras clinicas mas na maioria das

vezes não estão associadas a doença. A transmissão de pessoa para pessoa ainda não foi

demonstrada. A principal causa de infeções pulmonares causada por MOTT supõe-se que

seja resultado de bacilos aerossolizados de água contaminada. As micobactérias estão

amplamente distribuídas no ambiente e nos animais. Elas são também comuns em

reservatórios de água potável, provavelmente como resultado da formação de bio filmes.

Práticas de BSL-2, equipamento de proteção e instalações são recomendadas para trabalho

com amostras clínicas e culturas.

No entanto, a simples referência a um grupo de risco não é suficiente para realizar uma

avaliação de riscos correta. Outros fatores devem ser considerados, tais como:

1. Patogenicidade do agente e a dose infeciosa.

2. Resultado potencial da exposição.

3. Via natural da infeção.

4. Outras vias de infeção, resultantes de manipulações laboratoriais (parentéricas,

aerossóis, ingestão).

5. Estabilidade do agente no ambiente.

6. Concentração do agente e volume do material concentrado a manipular.

7. Presença de um hospedeiro apropriado (humano ou animal).

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8. Informação disponível de estudos sobre animais e relatórios de infeções adquiridas em

laboratórios ou relatórios clínicos.

9. Atividade laboratorial planeada (geração de ultrassons, produção de aerossóis,

centrifugação, etc.).

10. Qualquer manipulação genética do organismo que possa alargar o raio de ação do

agente ou alterar a sensibilidade do agente a regimes de tratamentos eficazes

conhecidos.

11. Disponibilidade local de profilaxia eficaz ou intervenções terapêuticas.

De acordo com a informação obtida durante a avaliação dos riscos, é atribuído um nível de

segurança biológica à atividade planeada, selecionado o equipamento de proteção pessoal

apropriado e concebidas normas-padrão de procedimento englobando outras intervenções

de segurança, a fim de assegurar a realização mais segura possível da referida atividade.

4. Laboratório de Microbiologia

Neste manual, as orientações e recomendações são apresentadas como requisitos mínimos

para os laboratórios de segurança biológica que visam microrganismos dos grupos de risco

1 a 3. Os laboratórios de diagnóstico e cuidados de saúde (saúde pública, clínicos ou

hospitalares) devem ser concebidos, no mínimo, para o Nível 2 de segurança biológica.

Chama-se a atenção para duas situações particulares. O laboratório de Micobactérias do

IHMT é constituído por um laboratório de Microbiologia Geral (BSL-1) e por um

laboratório de contenção para Micobactérias de níveis BSL-2+ e BSL-3. Adicionalmente,

se bem que maioria dos laboratórios de virologia correspondem a instalações de nível de

segurança básico (BLS-1) onde são manipulados ácidos nucleicos ou proteínas virais, a

manipulação de VIH é realizada num laboratório de contensão (BSL-3).

4.1. Laboratório de base: Níveis 1 e 2 de segurança biológica

4.1.1 Instalações do laboratório de microbiologia geral (LMG)

Laboratório sem comunicação direta com as áreas de acesso comum do IHMT. A

entrada faz-se através de corredor com acesso restrito.

A porta que dá acesso ao laboratório abre para o corredor.

É um espaço amplo de modo a empreender as atividades de forma segura, bem

como para a sua limpeza e manutenção.

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As paredes, o teto e o chão são lisos, fáceis de limpar, impermeáveis e resistentes

aos produtos químicos e desinfetantes normalmente utilizados em laboratórios.

O chão deverá ser antiderrapante.

As bancadas são impermeáveis e resistentes a desinfetantes, ácidos, álcoois,

solventes orgânicos e a calor moderado.

A iluminação é adequada a todas as atividades neles levadas a cabo.

As janelas deverão dar para o exterior do edifício e estão seladas.

O mobiliário deve ser robusto e o espaço entre e debaixo das bancadas e

equipamentos está acessível para a limpeza.

O espaço de armazenamento é apropriado para guardar o material de uso corrente.

Existe um espaço para armazenagem a longo prazo, localizado fora da área de

trabalho do laboratório.

Existe um espaço e meios para manuseamento seguro e armazenagem de solventes.

Existem instalações, fora da área de trabalho do laboratório, para guardar roupas e

objetos pessoais (gabinetes e cacifos).

Existem lavatórios com água corrente, idealmente colocados perto da porta de

saída do laboratório.

A porta não deverá ter janela mas existe uma janela que permite a visualização do

interior do laboratório.

O autoclave não está localizado no laboratório (ainda que no mesmo edifício).

Existe uma caixa de primeiros socorros convenientemente equipada e facilmente

acessível.

Deverá existir ventilação mecânica que injeta um fluxo de ar sem recirculação. O

ar que entra não é filtrado pelo que é considerado não estéril e fonte de

contaminação.

O símbolo internacional de risco biológico está exposto nas portas das salas onde

se estão a manusear microrganismos do Grupo de Risco 2 ou acima. Este deve

indicar o nome do responsável do laboratório e o (s) número (s) de telefone de

contacto em caso de acidente.

Existe um extintor de incêndios.

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4.1.2. Boas práticas laboratoriais

O código de boas práticas é uma lista de procedimentos e normas laboratoriais essenciais

para quem trabalha em laboratórios de microbiologia/se manipulam produtos biológicos.

Chama-se a atenção de que as boas práticas laboratoriais são fundamentais não só para a

segurança de quem trabalha no ambiente laboratorial, mas também para garantir que os

estes não se tornem em fonte de contaminação ambiental. O equipamento laboratorial

especializado é um suplemento dessa segurança, mas não pode substituir as normas

apropriadas. As noções expostas neste capítulo são normas gerais que se aplicam a quem

trabalha num laboratório, independentemente do seu nível de segurança. A seguir

descrevem-se os conceitos mais importantes.

O acesso à zona de trabalho é condicionado ao pessoal autorizado.

Não é permitido utilizar qualquer dependência que não seja a do laboratório em que

se encontra a trabalhar, sem autorização do Diretor da UEI.

Não é permitida a entrada a crianças nas áreas de trabalho do laboratório.

É expressamente proibido comer, beber, fumar, maquilhar, guardar alimentos,

bebidas ou objetos pessoais em qualquer parte do laboratório.

Não é permitido beber água da canalização do laboratório.

No interior do laboratório deve ser utilizado equipamento de proteção pessoal

adequado, o qual deve ser removido antes de sair do laboratório. No mínimo, é

obrigatório o uso de bata branca no laboratório.

O equipamento de proteção pessoal (incluindo a bata) deve permanecer no interior

do laboratório.

Não é permitido levar batas sujas para lavar em casa. Existe um local apropriado

para depositá-las. Estas serão recolhidas e processadas por pessoal designado para o

efeito.

Não é permitido o uso de sandálias ou sapatos abertos no laboratório.

O cabelo deve estar preso.

Usar respiradores de partículas (máscaras) com filtros sempre que sejam manuseadas

produtos tóxicos ou irritantes e gases nocivos. Os filtros devem ser adequados ao

tipo de material manuseado. Manusear estes produtos, sempre que possível, em hotte

química.

Usar máscara sempre que haja o perigo de contaminação por aerossóis infeciosos

produzidos durante o trabalho.

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Sempre que haja potencial formação de aerossóis infeciosos, trabalhar num espaço

contido (p.e. CSB).

Usar óculos, viseiras ou outros dispositivos de proteção sempre que execute um

trabalho potencialmente perigoso e for necessário proteger os olhos e a cara de

salpicos, impactos de objetos e raios ultravioleta (UV).

Usar, preferencialmente, óculos e evitar lentes de contacto se precisa regularmente

de auxiliares de visão: uma deslocação ocasional da lente pode ofuscar a visão no

decorrer de uma manipulação de risco.

Mudar de luvas de forma asséptica: sempre que inicia e finaliza o trabalho, sempre

que exista troca de material e sempre que estas se rompam.

Não deve reciclar as luvas. Estas são de um só uso!

“Lavar” luvas com etanol não é boa prática laboratorial. O etanol dilata os poros das

luvas e estas deixam de ter uma função protetora. Se necessitar de trabalhar culturas

celulares limpas utilizar luvas descartáveis estéreis.

Não deve soprar luvas. Estas não são balões!

Não andar de luvas com as mãos transpiradas. Deve trocar mais vezes de luvas ou

substituir por luvas anti-transpirantes. Andar com as mãos transpiradas dentro das

luvas é uma das principais causas de infeções de pele a nível laboratorial,

principalmente fungos nas unhas.

Não ir a casa de banho com a bata do laboratório.

Não deixar gavetas abertas e cadeiras fora do lugar. São situações que podem causar

acidentes graves.

Deve usar, se possível, luvas de nitrilo para trabalho com brometo de etídio (EtBr, do

Inglês ethidium bromide, ou BE, em Português). Após o seu uso, estas deverão ser

descartadas para o contentor de resíduos contendo EtBr.

Todo o produto biológico deverá ser considerado como potencialmente infetante e

manipulado como tal.

Rotular sempre todos os recipientes indicando claramente o seu conteúdo. Se for

caso disso, indicar se o produto é infecioso, mutagénico, carcinogénico ou

radioativo.

Não lamber as etiquetas.

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A grande maioria dos acidentes no laboratório deve-se ao manuseamento descuidado

do material de vidro. Deve-se evitar que o material se parta ao abrir ou fechar

armários ou gavetas, acomodando-o corretamente.

Evitar o uso de material danificado/partido.

Material de vidro partido deve ser recolhido rapidamente, protegendo as mãos com

luvas, podendo os fragmentos mais pequenos ser apanhados com um algodão

humedecido ou com um pedaço de plasticina.

Colocar o vidro partido (não contaminado) em contentor próprio: “vidro partido”.

Se usar o micro-ondas para fundir meios ou produtos amorfos, não esquecer que

estão envolvidas elevadas pressões e temperaturas pelo que não deve fechar o frasco

totalmente e depois de aquecido abrir sempre cuidadosamente, de modo a evitar

explosões.

Antes de iniciar o trabalho verificar se tem todo o material necessário.

Usar centrífuga com tampa ou copos de segurança.

Todo o material que entra na CSB tem de ser devidamente limpo com uma solução

desinfetante (glutaraldeído a 6% ou soluções comerciais adequadas adquiridas para o

efeito). Do mesmo modo todo o material tem de ser limpo depois de usado na CSB.

Não deixar frascos abertos e recolocá-los no seu devido lugar após a utilização.

Não deixar tesouras com os bicos abertos em cima das bancas, prateleiras, etc. Estas

devem ser colocadas em recipientes resistentes e apropriados e com os bicos

voltados para baixo. Pode causar acidentes graves.

Não deixar lápis com os bicos afiados para cima, pois pode causar acidentes graves.

Pipetar com a boca é estritamente proibido, nem mesmo água destilada. Usar

pompete ou pipetadores automáticos.

Proceder de modo a evitar a formação de aerossóis (não despejar rapidamente o

conteúdo da pipeta, nem elimine a última gota) ou o derrame de produtos infeciosos.

Manter o laboratório limpo e arrumado; deve evitar o armazenamento de material

que não é necessário para o trabalho.

Não é permitido varrer o chão do laboratório. Este deve ser aspirado.

Evitar, sempre que possível, utilizar agulhas e material cortante. Se o seu uso for

necessário, colocá-los, depois de usados, num recipiente resistente, próprio (cor

amarela) para descontaminação.

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Durante o trabalho, não tocar com as luvas no rosto, cabelo, boca, olhos, nariz,

outras superfícies cutâneo-mucosas ou em superfícies que não as de trabalho.

Utilizar sempre que possível isqueiros eletrónicos (tipo de cozinha) em vez de

fósforos.

Não deixar os bicos de Bunsen ligados e abandonados.

Vigiar as destilações, evaporações e manipulações explosivas.

Movimentos bruscos deverão ser evitados. Planear de maneira disciplinada todo o

trabalho de rotina.

A saída da área de trabalho, mesmo que temporariamente, usando luvas (mesmo

tendo a certeza que não estão contaminadas), é estritamente proibida.

Não se deve tocar com as luvas em maçanetas, interruptores, telefones, etc. Só se

deve tocar com as luvas o material estritamente necessário ao trabalho.

Descontaminar o local de trabalho após cada operação, quando houver salpicos ou

derrames e no final de cada dia de trabalho.

Não deve acumular material sujo, partido ou defeituoso no laboratório.

As mãos devem ser lavadas com água e sabão ou solução desinfetante no início e

final de cada trabalho e antes de deixar o laboratório.

Não usar qualquer aparelho/equipamento sem antes ter lido as instruções. Em caso

de dúvida procurar alguém que possa ajudar.

Material cortante não deve ser deixado ao acaso nas bancadas/prateleiras; devem ser

colocados em recipientes apropriados.

As agulhas hipodérmicas, uma vez utilizadas, não devem ser reintroduzidas nos seus

invólucros, partidas ou retiradas das seringas descartáveis. Todo o conjunto deve ser

colocado num recipiente para cortantes. Os recipientes para agulhas descartáveis

devem ser resistentes/antiperfurantes e não devem ser totalmente cheios; quando

estiverem quase a 3/4 da sua capacidade devem ser postos em contentores para

«resíduos infeciosos» e incinerados, após descontaminação em autoclave no caso dos

contentores do laboratório de segurança.

Usar sempre que possível material descartável, principalmente pipetas volumétricas

e pipetas de Pasteur.

Usar apenas ansas descartáveis. A descontaminação de ansas metálicas é uma fonte

de aerossóis.

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As CSB existentes no laboratório são do tipo II-A1. Estas não devem ser utilizadas

para técnicas que envolvam grandes quantidades de produtos tóxicos ou compostos

carcinogénicos. Nestes casos utilizar as hottes químicas existentes.

No caso de detetar equipamento com problemas técnicos, comunicar imediatamente

ao responsável para que a intervenção técnica seja providenciada.

Para sua segurança, deve conhecer os perigos associados aos produtos químicos

utilizados no seu trabalho.

Descontaminar produtos clínicos, culturas e todo o lixo potencialmente contaminado

antes de ser eliminado.

Evitar o uso de anéis e pulseiras que possam impedir uma boa limpeza das mãos e

braços.

Se reparar em algo fora do lugar, arrume.

Se entornar líquidos no chão, nem que seja apenas água…limpe.

Se for o último a sair do laboratório faça sempre uma vistoria geral ao local antes de

o abandonar.

Evite circular pelos corredores com agentes patogénicos nas mãos.

Descontaminar os equipamentos antes de qualquer serviço de manutenção.

Se tiver corte recente, lesão na pele ou com ferida aberta (mesmo uma extração de

dente), deve abster-se de trabalhar com material potencialmente infecioso.

Indivíduos imunocomprometidos e grávidas não podem desempenhar funções

laboratoriais de alto risco.

Não abrir os contentores de amostras ou culturas se não tiverem a superfície exterior

seca. Este procedimento evita o derramamento por falta de aderência.

Material para escrever deve ser mantido ao mínimo dentro do laboratório; evitar

levar cadernos grandes para o laboratório. Poupa espaço de bancada e evita que se

contamine.

Evitar a sobrelotação do laboratório. Excesso de pessoal pode causar acidentes.

Evitar ter excesso de material e equipamento na área de trabalho.

Não é permitido trazer os meios e soluções da central de lavagens sem dar

conhecimento aos funcionários.

Não deve correr no laboratório e corredores de acesso.

Não se deve usar telemóvel ou tablets dentro do laboratório.

Não usar óculos de sol no laboratório.

17

4.2. Laboratório de confinamento – Níveis 2+ e 3 de segurança biológica

4.2.1 Instalações do laboratório de confinamento para manipulação de

micobactérias

O laboratório de confinamento para manipulação de micobactérias compreende dois

laboratórios – um laboratório BSL-3 e um laboratório BSL-2+. Um laboratório BSL-2+

rege-se pelas mesmas normas de segurança e procedimentos do BSL-3. O laboratório de

segurança biológica foi concebido e equipado para trabalhar com micobactérias do GR 3 e

com grandes quantidades ou altas concentrações de micobactérias do GR 2, que

constituem um risco acrescido de propagação de aerossóis. Estes níveis de confinamento

exigem um reforço dos programas operacionais e de segurança superior ao dos

laboratórios básicos – Níveis 1 e 2 de segurança biológica. Esta categoria de laboratórios

está registada junto (ou na lista) das autoridades nacionais competentes. No IHMT, o

responsável por estes laboratórios é o Professor Doutor Miguel Viveiros.

As diretivas aqui apresentadas são de facto suplementos às diretivas para laboratórios de

base – Níveis 1 e 2 de segurança biológica, e devem, portanto, ser aplicadas antes de

aplicar as diretivas para os laboratórios de confinamento – Nível 3 de segurança biológica.

O principal objetivo deste nível de contenção é minimizar ou eliminar a exposição do

pessoal de laboratório e do ambiente exterior dos perigos associados a agentes patogénicos

de Risco 2 e 3. As instalações foram concebidas para trabalhar apenas com um grupo de

agentes patogénicos (Micobactérias) devido à probabilidade de contaminação cruzada

entre microrganismos de crescimento lento com microrganismos de crescimento rápido.

Deste modo, pretende-se assegurar a qualidade do serviço prestado no diagnóstico

laboratorial de tuberculose e outras micobacterioses. Assim, ao nível de segurança BSL-2+

e 3 aplicam-se todas as normas acima referidas (ver ponto 4.1.2) mais as seguintes:

A conceção e instalações para os laboratórios de base – Níveis 1 e 2 de segurança

biológica são aplicáveis, exceto nas situações abaixo descritas, particularizadas

relativamente às instalações laboratoriais em que se manipulam micobactérias:

O acesso é restrito.

O laboratório deverá estar totalmente separado das áreas de passagem livre, dentro

do edifício. A entrada para o laboratório de segurança é feita exclusivamente através

do laboratório BSL-2 com entrada de porta dupla.

18

Deverá existir uma antecâmara entre o laboratório BSL-2 e BSL-2+ e entre o

laboratório BSL-2+ e BSL-3, quando estes comunicam.

A existência de janelas no laboratório de segurança não é recomendada uma vez que

põe em risco a segurança (nível de contenção) das instalações devendo deste modo

ser evitadas.

O laboratório BSL-2+ deverá possui uma janela dirigida para um corredor de acesso.

Esta janela deve ser inquebrável.

As janelas, dirigidas para o exterior do edifício, deverão ser de vidro duplo e deverão

estar seladas. Se necessário, poderão estar revestidas por película de modo a evitar

reflexos e brilho indesejáveis.

As janelas exteriores deverão ser inquebráveis de modo a garantir o nível de

contenção biológica.

As estufas, frigorífico, CSB e BACTEC deverão estar ligadas ao gerador de

eletricidade de emergência.

Deverão existir contentores para luvas, máscaras e peseiras na antecâmara entre os

laboratórios BSL-2+ e o BSL-2. Ao abandonar o laboratório BSL-2+, deve deixar as

luvas nesse mesmo caixote.

As superfícies das paredes, tetos e pavimentos deverão ser resistentes à água e fáceis

de lavar. As perfurações nestas superfícies (ex. passagens de cabos e canalizações)

estão seladas para facilitar a descontaminação do local.

A sala dos laboratórios pode ser selada para descontaminação. Os sistemas de

adução de ar foram construídos de modo a permitir a descontaminação por meio de

gases.

Cada laboratório possui um lavatório operado por pedal.

Deverá existir um sistema de monitorização visual, sem alarme, para que o pessoal

possa sempre assegurar-se do bom funcionamento da ventilação/pressão negativa.

De modo a evitar pressurização positiva contínua do laboratório, a circulação de ar

no laboratório deve ser controlada por um sistema de tipo AVAC (Aquecimento,

Ventilação e Ar Condicionado) com alarme audível.

Terá de existir um sistema de ventilação que garanta a pressão negativa no espaço

laboratorial (ver ponto 5).

O ar do laboratório de segurança biológica terá de ser extraído para o exterior do

edifício (cobertura), através de filtros HEPA (High Efficiency Particulate Air).

19

O ar extraído para o exterior deverá ser expelido para longe do edifício e das

entradas de ar.

Todos os filtros HEPA estão instalados de forma a permitir descontaminação por

meio de gases e verificação.

As câmaras de segurança biológica estão situadas, tanto quanto possível, longe das

zonas de passagem e das correntes de ar provenientes das portas e sistemas de

ventilação.

O ar expelido das câmaras de segurança biológica (classe 2) e que passou através dos

filtros HEPA, é expelido de forma a evitar interferência com o equilíbrio do ar da

câmara ou com o exaustor do edifício.

O laboratório de segurança tem um autoclave de dupla entrada para

descontaminação de resíduos contaminados.

A entrada do material para descontaminação é realizada através do laboratório BSL-

3 designado como “Zona suja” e a saída faz-se através do laboratório BSL-2+

designado por “Zona limpa”.

A transferência de materiais entre o laboratório BSL-2+ para o BSL-3, para

descontaminação, é feita exclusivamente pelo cesto ou carrinho que se encontra na

caixa de dupla entrada por baixo da centrífuga.

Não encher o autoclave, deixar pelo menos 2/3 do espaço livre.

O material deve ser colocado em panelas inox sem tampa. Não encher a panela.

Estas são posteriormente colocadas dentro de sacos de autoclave. O saco de

autoclave deve ser colocado aberto para descontaminação e fechado após a

descontaminação.

Colocar sempre fita de autoclave no material a descontaminar e verificar a cor no

final do processo. O material só pode sair do laboratório após verificar se a

esterilização foi validada pelo próprio equipamento.

Culturas de elevada densidade de M. tuberculosis (MDR/XDR) têm de ser

descontaminadas por duas vezes.

Não é permitida passagem de material para descontaminar através da antecâmara.

Se for necessário remover resíduos infeciosos do laboratório de confinamento para

descontaminação e eliminação, é preciso fazê-los transportar em recipientes selados,

inquebráveis e herméticos, segundo os regulamentos nacionais ou internacionais

pertinentes.

20

Em caso de acidente, o principal objetivo é a contenção do agente patogénico

pelo que não deve entrar em pânico, não deve correr e nunca deve tentar partir

as janelas. Ao faze-lo vai colocar em perigo todas as pessoas que se encontram nas

imediações. Deve avisar os colegas que se encontram na área, abandonar o local e

chamar as autoridades competentes.

4.2.2. Boas práticas laboratoriais

O código de práticas para os laboratórios de base – Níveis 1 e 2 de segurança biológica é

aplicável, mais as seguintes:

É obrigatório o uso de respiradores de partículas (máscara). As máscaras utilizadas

no laboratório BSL-2+ e BSL-3 são máscaras P1 (“bico de pato”) para manipulação

com agentes do GR 2 e 3, uma vez que todo o trabalho é realizado em nível de

contenção 3, isto é, com pressão negativa e CSB.

Uma vez que o laboratório não possui uma CSB tipo III, são usadas máscaras P2

(“bico de pato”) exclusivamente para manipulação de M. tuberculosis

extensivamente resistente (XDRTB). Nestas ocasiões, o acesso ao laboratório

durante a manipulação está restrito ao absolutamente necessário.

É obrigatório o uso de bata descartável com mangas e região frontal reforçadas,

impermeáveis e de material não inflamável. As batas devem apertar atrás.

É obrigatório o uso de peseiras ou sapatos de laboratório dedicados. Deve-se evitar

sapatos com solas escorregadias.

As máscaras e peseiras devem ser colocadas na antecâmara BSL-2+ antes de entrar

nas instalações. Ao sair são deixadas na antecâmara.

Deve ser usado dois pares de luvas.

As batas descartáveis, máscaras, peseiras e luvas não podem sair do laboratório.

O símbolo internacional de risco biológico está colocado nas portas de acesso ao

laboratório e indica o nível de segurança biológica.

Não é permitida a entrada com batas normais de laboratório de apertar à frente, bem

como mangas curtas ou arregaçadas.

A manipulação de qualquer material é realizada na CSB tipo II. É estritamente

proibido manipular recipientes abertos com material infecioso fora da CSB.

Apenas abrir os contentores com produtos biológicos dentro das CSB. Deve

trabalhar-se sobre papel absorvente embebido em solução de glutaraldeído a 6%

21

(nome comercial: Neodisher). A superfície exterior dos mesmos deve ser limpa com

a mesma solução.

O uso de material de vidro deve ser mantido no mínimo.

É proibido usar pipetas de vidro e ansas metálicas.

Os esfregaços só podem sair da CSB depois de fixados. Todas as lâminas após

observadas devem ser colocadas em solução desinfetante (glutaraldeído a 6%)

durante 18h antes de serem destruídas.

Não é permitida a entrada dos sacos de plásticos usados para incubação de placas de

Petri (culturas) dentro da CSB.

Não é permitido guardar culturas no frigorífico (placas de Petri, etc.).

Não é permitido guardar meio de cultura líquido em frascos Shott no frigorífico por

mais do que uma semana.

Não é permitido deixar culturas em cima das bancadas (exceto rotina laboratorial).

Todas as culturas para trabalhos de investigação devem ser devidamente

identificadas, guardadas em caixas e preferencialmente dentro de um armário. Não é

permitido guardar culturas em tubos de ensaio.

Tubos de ensaio com culturas têm de ser colocados no contentor dentro do armário

do lixo.

Pontas e pipetas descartáveis têm de ser colocadas no copo com glutaraldeído a 6%

(para desperdícios).

A quantidade de material dentro da camara deve estar limitada apenas ao material

estritamente necessário à realização do trabalho de modo a não perturbar o fluxo de

ar.

Não se deve colocar papel dentro do contentor da camara exceto se estiver

contaminado. Invólucros de seringas, pipetas, tubos Falcon, placas, etc., devem ser

colocados no caixote do lixo fora da camara.

Antes de iniciar o trabalho verificar se tem todo o material necessário. Esta norma é

de especial interesse uma vez que se deve minimizar as entradas e saídas por

esquecimento.

O equipamento/aparelhos deve ser de uso dedicado.

Não é permitido trocar micropipetas entre os laboratórios.

Não é permitido estar mais do que duas horas seguidas dentro do laboratório de

segurança. Deve fazer intervalos nem que seja de apenas 5 min.

22

Os recipientes para resíduos/desperdícios que estão dentro da CSB devem conter

solução tuberculocida (glutaraldeído a 6%).

Os recipientes para resíduos/desperdícios que estão dentro da CSB devem ser

retirados da CSB no final do trabalho.

A descontaminação química é realizada com solução tuberculocida (glutaraldeído a

6%). A desinfeção de mãos e bancadas é feita com desinfetantes (ex. etanol 70%).

Não é permitido usar lixívia uma vez que esta é incompatível com a maioria dos

reagentes usados no laboratório (ex., extração de DNA e RNA) e com metais.

A manutenção da incubadora de CO2 é obrigatoriamente realizada todas as semanas

com substituição da água e solução de glutaraldeído a 0.5% e verificação de

presença/ausência de microrganismos contaminantes. Em alternativa pode ser usado

sulfato de cobre.

A manutenção do banho de água é realizada uma vez por mês e sempre que seja

necessário.

As centrífugas são limpas e desinfetadas pelo menos uma vez por mês.

A manutenção dos microscópios é efetuada diariamente.

O frigorífico é descongelado e limpo uma vez por ano.

Não é permitido encher as estufas e o material deve ser posicionado de modo a

respeitar as normas de circulação do ar.

Não é permitida a coloração de lâminas no BL-3. Esta deve ser realizada no local

destinado para o efeito no BL-2+.

Não é permitido deixar o termociclador em tempo real (Rotor-Gene) a funcionar fora das

horas de trabalho.

5. Laboratório 2 de Segurança Biológica de Nível 3 (Lab2.BSL-3)

Nesta seção são definidos um conjunto de procedimentos de segurança a serem aplicados

na manipulação de vírus, a qual é levada a cabo no designado Laboratório 2 de Segurança

Biológica de Nível 3 (Lab2.BSL-3). As regras definidas são um complemento às definidas

no manual Portuguese BSL-3 Facilities: Rules and Guidelines (em elaboração pelo

Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, para mais informações consultar

http://www.insa.pt).

A segurança dos utilizadores que trabalhem com agentes infeciosos no Lab2.BSL-3

depende do correto cumprimento das regras estipulados para o devido efeito, de modo a

23

proteger os utilizadores contra possíveis riscos para a sua saúde e segurança provenientes

da exposição a agentes infeciosos. O acesso ao Lab2.BSL-3 só será concedido aos

utilizadores que demonstrem ter conhecimentos sobre os princípios básicos para trabalhar

com microrganismos infeciosos. Os utilizadores deverão também ter formação e treino

adequada para trabalhar no Lab2.BSL-3. Todos os procedimentos a serem realizados no

Lab2.BSL-3 carecem de aprovação pelos responsáveis pela biossegurança no IHMT.

5.1 Regras de acesso e entrada no Lab2.BSL-3

Deverá ser preenchido um Formulário de Acesso de Utilizador, o qual será

submetido à apreciação dos responsáveis da biossegurança no IHMT. O acesso ao

Lab2.BSL-3 é condicionado pela obtenção de uma autorização emitida pelos

responsáveis da biossegurança.

Deverá ser fornecida uma amostra de sangue que será registada e guardada. Será

mantida a sua privacidade, não sendo realizado qualquer teste desde que não seja

necessário.

Deverá ser mostrado conhecimento das boas práticas microbiológicas, para além de

formação específica na manipulação de agentes patogénicos.

Deverão ser realizadas três sessões de trabalho no Lab2.BSL-3 acompanhado por

outro utilizador credenciado, que informará os responsáveis da biossegurança sobre a

aptidão para utilizar o Lab2.BSL-3 A entrada no laboratório 2 do BSL-3 deverá ser

feita com um cartão de acesso pessoal. Os utilizadores do Lab2.BSL-3 que não

sejam funcionários do IHMT, ou estudantes matriculados no IHMT, devem requerer

autorização previamente.

O cartão de acesso é pessoal e intransmissível. Isto implica que, o empréstimo do

cartão a outro utilizador para entrar no Lab2.BSL-3 é da responsabilidade do titular

do cartão. Perante um qualquer acidente que ocorra dentro do BSL-3 a

responsabilização será imputada ao titular do cartão em causa.

Ao entrar na antecâmara do Lab2.BSL-3, o utilizador deve registar a data, hora

entrada e saída, nome e a tarefa no livro de registo de utilização do BSL-3. Deve

verificar sempre se a pressão no interior da sala está negativa. Caso isso não

aconteça, ou existam outros alarmes de aviso ativados, não deve entrar na sala e deve

contactar imediatamente os responsáveis da biossegurança no IHMT.

24

Antes de entrar na sala 2 o utilizador deve remover o relógio, braceletes, anéis,

chaves e outros acessórios (casacos) que possam interferir com a segurança do

trabalhador. Deve também colocar o seguinte equipamento de proteção pessoal: bata,

luvas (2 pares), cobertura de calçado, óculos de segurança (quando necessário),

máscara e touca (quando necessário).

Não é permitido comer, beber ou fumar dentro do Lab2.BSL-3, e não deve ser

colocada comida ou bebida no interior dos frigoríficos que nele possam existir.

Não são permitidos animais e plantas dentro do Lab2.BSL-3.

5.2 Área de trabalho (sala 2) no interior do Lab2.BSL-3

Todas as amostras de sangue ou fluidos biológicos manipulados no interior do

Lab2.BSL-3 devem ser tratadas como estando potencialmente contaminadas.

Todo o material, infecioso, ou não, conservado no frigorífico, ou mantido a -20ºC,

deve estar devidamente identificado. O material não identificado será destruído por

autoclavagem.

O transporte de material infecioso no interior do Lab2.BSL-2 deve ser realizado

dentro de um recipiente inquebrável.

A câmara de segurança biológica (CSB) é um equipamento fundamental ao trabalho

efetuado no espaço do Lab2.BSL-3, uma vez protege o utilizador dos eventuais agentes

infeciosos durante a sua manipulação, e evita também a contaminação do material

biológico (ex. cultura de células e suspensões virais) manipulado no seu interior.

Contudo, não protege o utilizador do derrame, quebra ou técnica deficiente. A

utilização incorreta da CSB aumenta, assim o risco de exposição do utilizador a agentes

infeciosos. Neste sentido, antes de utilizar a CSB deverá ter-se em atenção aos

seguintes procedimentos:

Desligar a lâmpada de UV e acender a luz.

Ligar a câmara 5-10 antes de iniciar o trabalho (i.e. lâmpada fluorescente e o fluxo

de ar).

Desinfetar a superfície de trabalho com etanol a 70%.

Colocar dentro da CSB apenas o material essencial às manipulações previamente

planeadas, para permitir uma boa circulação do ar no interior da CSB.

Os bicos de Bunsen não devem ser utilizados dentro da CSB.

Nunca colocar documentos dentro da CSB.

25

Quando terminar o seu trabalho deve:

Deixar a câmara ligada durante 5-10 minutos.

Remover o equipamento e material utilizado.

Desinfetar as superfícies da câmara com etanol a 70%.

Colocar o material contaminado nos recipientes próprios.

Desligar a câmara e ligar a lâmpada de UV.

5.3 Agentes infeciosos

No Lab2.BSL-3 são manipulados os seguintes agentes infeciosos: Vírus da

Imunodeficiência Humana (VIH), Vírus da Imunodeficiência Símia (VIS), Vírus

Chikungunya (CHIKV), Vírus do Nilo Ocidental (WNV) e Vírus da dengue

(DENV). A sua manipulação implica claros riscos para o operador (tratam-se de

agentes virais do grupo de risco 3, tal como descrito na tabela 4.

O VIH é o agente etiológico da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), o

qual se traduz num quadro clínico complexo, do qual fazem parte uma série de

patologias causadas, por agentes patogénicos oportunistas

O VIH pode ser transmitido pelo contacto com sangue humano infetado ou por

outros fluidos corporais como: sémen, secreções vaginais, líquido cefalorraquidiano,

sinovial, pleural, peritoneal e amniótico, saliva (procedimentos odontológicos) ou

qualquer fluido corporal contaminado com sangue.

A prestação de primeiros socorros (ex. aluno na sala de aula), a manipulação de

amostras de sangue em laboratório e a limpeza de sangue são outras vias de

exposição e transmissão do VIH.

Os demais vírus manipulados em ambiente Lab2.BSL-3 são todos eles normalmente

transmitidos ao Homem na sequência de uma picada por um mosquito hematófago.

As infeções dão origem a quadros febris agudos, na maioria das vezes, benignos.

6. Sistema AVAC (Aquecimento, ventilação e ar-condicionado)

O laboratório BSL-2 possui um fluxo direcionado de ar que se inicia na porta que o liga ao

corredor e no ventilador - insuflador acima desta. O ar é aspirado direccionalmente para as

zonas de maior segurança. O laboratório BSL-2+ tem pressão negativa e fluxo direcionado

do ar num mínimo de 8-10 trocas de ar por hora. O BSL-3 tem um mínimo de 12 trocas de

26

ar/hora. O volume de ar a circular obtém-se pelo produto do volume da sala pelo número

de trocas de ar desejado. A circulação direcionada e forçada do ar obtém-se através de um

insuflador na parte superior da parede da sala junto à porta de entrada, direcionando o ar

para o extrator que está colocado no extremo oposto da sala e na parte inferior da parede, o

qual deve estar equipado com filtros absolutos esterilizantes que retêm 99,90 % de

partículas de dimensões superiores a 0,3 µm de aerossol, denominados filtros HEPA.

Assim garante-se um fluxo de ar direcionado, do local de entrada dos operadores para o

local de manipulação e ainda um fluxo direcionado do ar no sentido do teto para o chão, o

que impede a inalação de eventuais aerossóis infeciosos que se produzam por acidente.

A aerodinâmica dos laboratórios de confinamento foi estudada de modo a garantir que em

nenhuma situação haja refluxos de ar ou outras saídas de ar da sala por outro local que não

o extrator equipado com filtros HEPA. Estes garantem a esterilidade do ar que é removido

da sala não oferecendo, desta forma, perigo para o ambiente. A capacidade do insuflador e

do extrator e o respetivo balanço deve ser calculado em função da ventilação desejada. A

porta tem na sua parte mais baixa uma abertura com um filtro que retém poeiras mas que

permite a tomada de ar, o qual irá ser direcionado para o ventilador juntamente com o ar

insuflado e nestas condições a pressão no interior da secção de manipulação é negativa

relativamente à secção do laboratório geral. Os três laboratórios encontram-se em

depressão em relação ao exterior: a sala BSL-2 está em depressão em relação ao corredor;

a sala BSL-2+ está em depressão em relação à sala BSL-2, e o BSL-3 está em depressão

em relação à sala BSL-2+.

7. Boas práticas laboratoriais na utilização de câmara de segurança biológica (CSB)

As CSB das classes I, II e III (Anexo I), possuem fluxo de ar forçado, por compressores,

sobre o campo de trabalho e são providas de filtros HEPA com poros de cerca de 0,3 µm,

por onde é filtrado o ar antes de ser lançado no exterior.

As câmaras de classe I são atravessadas por um fluxo de ar aspirado, não-filtrado, através

da janela frontal, promovendo assim a proteção do operador, mas não a do material

manipulado no seu interior, o qual pode ser contaminado pelo operador ou pelo ar

ambiente.

As câmaras de classe II estão sujeitas, na área de trabalho, a um fluxo de ar vertical

previamente filtrado num filtro HEPA e, na região anterior da câmara, a um fluxo de ar

27

aspirado através da janela frontal, protegendo assim, quer o operador, quer o material

trabalhado. Podem ser de recirculação (tipo IIA) ou de extração total (tipo IIB).

As câmaras de classe III possuem contenção e extração total e o operador trabalha através

de luvas de borracha incorporadas na janela frontal completamente fechada.

O trabalho nas câmaras de segurança biológica deve obedecer às seguintes normas:

Se é o primeiro do dia a ligar e utilizar a CSB deve ligá-la e esperar 10 minutos antes

de a usar. Verificar sempre se todos os manómetros apresentam os valores

esperados.

Parar imediatamente qualquer manipulação se o exaustor ou a ventoinha falharem.

Na câmara trabalhar a cerca de 10 cm, para dentro, da janela frontal; ou seja

trabalhar para lá da grelha do exaustor.

Nunca colocar nada na câmara que possa obstruir as grelhas dos exaustores. Evite,

igualmente, tapar a grelha com os seus braços.

Minimizar/evitar a utilização de instrumentos que produzam calor dentro das

câmaras.

Não deve usar bicos de Bunsen de chama alta. Usar bicos de Bunsen apenas para

fixar lâminas. Fechar o bico de Bunsen logo após o seu uso.

Descontaminar todo o material antes de o retirar da câmara.

Limpar a câmara com solução de glutaraldeído a 6% (ou hipoclorito a 10%) no final

do trabalho e sempre que exista necessidade, mesmo durante o trabalho.

Na ocorrência de salpicos e pingos deve-se colocar imediatamente algodão ou papel

absorvente embebido em etanol (96%) por cima. De seguida, colocar papel

absorvente embebido em solução de glutaraldeído a 6% (ou hipoclorito a 10%) por

cima e deixar atuar durante 30 minutos. Após este tempo retirar o papel e algodão,

colocar dentro do contentor na câmara e limpar a câmara novamente com solução de

glutaraldeído a 6%.

Desligar a CSB apenas quando tiver a certeza que não irá ser necessária. Se for o

ultimo a utilizar a CSB deve deixar a câmara ligada 5 a 10 min depois desligue-a.

Lâmpadas de luz ultravioleta não são absolutamente necessárias nas CSB. Se forem

utilizadas, devem ser limpas todas as semanas, para retirar o pó e sujidade que

podem bloquear a eficácia germicida dos raios. A intensidade destes deve ser

28

verificada por técnicos qualificados a fim de assegurar que a emissão de luz é

apropriada.

Lâmpadas UV têm de estar desligadas sempre que a sala estiver ocupada de modo a

proteger os olhos e pele da exposição aos raios UV, que podem causar danos sérios

na córnea e cancro de pele.

No caso de utilização de lâmpadas ultravioleta, deve irradiar o interior da câmara

fora do período de trabalho. As lâmpadas devem estar ligadas apenas por períodos de

durante 30 minutos. O tempo excessivo reduz o tempo de vida da lâmpada e após 30

minutos a atividade bactericida decai. As portas da CSB devem estar completamente

fechadas de modo a que não haja exposição a radiações. Se a porta da câmara não

fechar totalmente deve ser vedada.

A CSB pode ser descontaminada/fumigada, periodicamente, com paraformaldeído,

de acordo com as instruções do fabricante. O período mínimo entre

descontaminações é de 6 a 8 meses de modo a não colapsar os filtros.

8. Limpeza, descontaminação e tratamento do material contaminado.

Para a segurança biológica do laboratório é crucial um conhecimento básico de desinfeção

e esterilização. Como os artigos muito contaminados não podem ser desinfetados nem

esterilizados prontamente, é igualmente importante compreender os fundamentos da

limpeza antes da desinfeção (limpeza prévia).

As exigências específicas de descontaminação dependerão do tipo de experiência e da

natureza do agente ou agentes infeciosos manipulados.

O tempo de aplicação de desinfetantes é específico para cada material e fabricante. Assim,

todas as recomendações para a utilização de desinfetantes devem seguir as especificações

dos fabricantes.

Desinfeção – Meio físico ou químico para eliminar microrganismos, exceto esporos

bacterianos ou fúngicos (ex. etanol).

Descontaminação – Qualquer processo de remoção e/ou eliminação de microrganismos.

O mesmo termo é também utilizado para remoção ou neutralização de produtos químicos

perigosos e materiais radioativos.

Esterilização – Processo que elimina e/ou remove todas as classes de microrganismos

incluindo esporos. Pode ser físico (ex. autoclave) ou químico (ex. glutaraldeído a 6%).

29

Depois de terminado o trabalho, e no final do dia, proceder à limpeza e

descontaminação da bancada e à descontaminação/esterilização do material

utilizado.

O material de uso único é rejeitado para sacos de autoclave colocados em

contentores amarelos sendo enviados para inceneração no final do dia. A

inceneração é o melhor método de eliminação do material contaminado de uso único

(desde que não reativo).

O material reutilizável é colocado em contentores resistentes ao autoclave para ser

descontaminado e só depois lavado e novamente esterilizado. Colocar sempre todo o

material num contentor plástico, metálico ou vidro, próprio para a

descontaminação/esterilização química (glutaraldeído a 6% ou solução de

hipoclorito de sódio a 1g/l) e física (autoclave a 121ºC, 30 minutos ou forno de

Pasteur a 170ºC, 1 hora).

Para descontaminação de material contaminado com ADN (ex. pontas de

micropipeta) utiliza-se soluções de hipoclorito de sódio.

Para procedimentos que envolvam extração de ácidos nucleicos/proteínas não usar

hipoclorito de sódio uma vez que os reagentes presentes nos Kits são incompatíveis

com hipoclorito de sódio.

As bancadas devem ser descontaminadas com uma solução de hipoclorito de sódio

(1g/l, 1000ppm) ou com álcool a 70% ou preferencialmente com o detergente

bactericida (glutaraldeído a 2%) ou tuberculocida (glutaraldeído a 6%) fornecido.

O hipoclorito de sódio tem um efeito corrosivo sobre os metais pelo que deve ser

substituído por outro desinfetante (glutaraldeído, por exemplo), sempre que a

bancada seja metálica.

Para a desinfeção das superfícies de trabalho, balanças, suportes de centrífuga, pode

usar-se apenas álcool a 70%.

O glutaraldeído a 6% é a solução utilizada para esterilizar, por imersão durante 30

minutos, rotores de centrífuga ou sistemas óticos de lentes.

A tabela 6 apresenta as características dos principais grupos de desinfetantes utilizados.

30

Tabela 6: Propriedades de alguns desinfetantes a

a +++, Bom; ++, Razoável; +, Fraco; -, Nulo; v, depende do vírus; C, catiónico; A, aniónico; NA, não aplicável. b cerca de 40ºC. c cerca de 20ºC.

Ativo contra

Inativado por Toxicidade

Bactérias

Fungos Gram-

positivas

Gram-

negativas Micobactérias Esporos

Vírus

lipídicos

Vírus não

lipídicos Proteínas

Materiais

naturais

Materiais

sintéticos Água dura Detergentes Pele Olhos Pulmões

Compostos

fenólicos +++ +++ +++ ++ - + v + ++ ++ + C + + -

Hipocloritos + +++ +++ ++ ++ + + +++ + + + C + + +

Álcoois - +++ +++ +++ - + v + + + + - - + -

Formaldeído +++ +++ +++ +++ +++b + + + + + + - + + +

Glutaraldeído +++ +++ +++ +++ +++c + + NA + + + - + + +

Iodóforos +++ +++ +++ +++ + + + +++ + + + A + + -

30

31

9. Manutenção de equipamento laboratorial

Os autoclaves e as CSB precisam de ser validados com métodos apropriados, antes de

serem utilizados. A manutenção deve ser feita com intervalos periódicos, segundo as

instruções do fabricante. Deve pedir-se a revisão periódica (semestral ou pelo menos

anual) do funcionamento das CSB, estufas, autoclaves e sistemas de AVAC por pessoal

qualificado. Os filtros devem ser mudados e a circulação do ar monitorizada, sempre que

seja necessário.

10. Atitudes perante o acidente

Numa tentativa de permitir uma resposta rápida e eficaz perante situações de acidente

laboratorial, em todos os laboratórios (ou pelo menos acessível a quem neles trabalha)

deverá existir um kit para emergências, designado vulgarmente por spill kit. Este deve

integrar, tanto quanto possível:

• Lixívia concentrada ou qualquer outro composto eficaz contra M. tuberculosis

• Um aspersor (pulverizador) com uma solução a lixívia a 10% ou com as diluições

indicadas dos bactericidas /virucidas disponíveis

• Pinças (longas), forceps, vassouras e pás, ou qualquer outros instrumentos para

remoção mecânica de fragmentos de vidros, ou outros recipientes contendo agentes

infeciosos/químicos. Todos estes materiais devem ser passíveis de descontaminação

(ex. por autoclavagem)

• Papel ou qualquer outro material absorvente, descartável

• Vestuário de proteção pessoal, idealmente descartável

• Sacos para transporte/eliminação de material biológico (autoclaváveis)

É importante não minimizar o problema. Deve manter a calma e agir serena mas

conscientemente. Não minimize, no entanto, o problema, nem impute a resolução do

mesmo a outro operador.

Caso ocorra picada, corte, contaminação da pele por projeção ou derrame de material

infecioso deve:

Fazer sangrar a ferida, se existir, e lavar a região afetada com água e sabão.

Caso ocorra derrame de material infecioso numa superfície deve:

32

Parar imediatamente o trabalho e alertar os colegas que se encontrem dentro do

laboratório.

Cobrir o produto derramado com papel ou pano absorvente. Verter sobre o papel, ou

sobre o pano lixivia ou glutaraldeído a 6% (ou hipoclorito a 10%) e deixar atuar,

pelo menos, durante 30 minutos.

Recolher o papel ou o pano com a ajuda de outro papel ou pano (com as mãos

protegidas com luvas) para um contentor de material contaminado.

Se o derrame contaminou folhas de registo, colocá-las também no contentor de

contaminados depois de copiar os dados para nova folha.

Caso ocorra derrame de material infecioso no interior de uma CSB deve:

Parar de trabalhar, manter a CSB ligada.

Cobrir o derrame com papel absorvente embebido em desinfetante (conforme

descrito anteriormente) e deixar atuar durante 30 minutos. O saco do contentor deve

ser fechado e autoclavado.

Relatar o acidente ao Diretor da UEI, assim como aos responsáveis pela

Biossegurança no IHMT e registar no livro de ocorrências.

Caso ocorra produção de aerossol em espaço não confinado deve:

Conter a respiração por breves instantes, durante os quais deve abandonar a sala e

avisar o responsável. As batas que se encontram próximas do acidente devem ser

retiradas para descontaminação posterior.

Durante l hora ninguém deve entrar na sala.

Depois 1 hora de intervalo, uma pessoa protegida com bata, máscara, óculos e luvas

deverá proceder à descontaminação das superfícies contaminadas com solução

desinfetante adequada (hipoclorito a 10% ou glutaraldeído a 6%) e à recolha do

material (frasco partido, papéis contaminados, batas e luvas de quem estava

próximo) com pinças ou pás, que deve ser colocado num saco ou contentor

específico e submetido depois a autoclavagem.

Caso ocorra quebra de tubos durante a centrifugação deve:

Esperar, pelo menos, 30 minutos após a paragem da centrífuga, para a abrir. A

abertura deve ser feita dentro da CSB, com máscara e luvas colocadas.

33

Recolher o tubo partido com a ajuda de uma pinça, evitando assim, cortes acidentais.

Descontaminar o tambor da centrífuga com glutaraldeído a 6% e imergir o rotor da

centrífuga nessa solução durante 30 minutos.

Por fim, fazer uma lavagem final de todo o material só com água destilada.

Colocar os restos do tubo partido num contentor para descontaminação.

Caso ocorra derrame ou ingestão de produtos químicos deve:

Lavar abundantemente a área afetada com água corrente, para diluir a concentração

do agente, em particular se o acidente se der ao nível dos olhos.

Se o acidente se der ao nível dos olhos, não os deve esfregar.

Em casos graves consultar por via telefónica o serviço de emergência da sua área

(Intoxicações: tel. 808 250 143) e seguir as instruções recebidas. Em alternativa

contacte o Instituto Nacional de Emergência Médica (213 508 100) ou ligue 112

(emergências).

Caso ocorra inflamação (fogo) do vestuário pessoal ou de terceiros deve:

Impedir que o sinistrado corra ou sopre as chamas para não atear o incêndio no local

de trabalho.

Fazer com que o indivíduo se deite no chão e recorrer a um cobertor ou qualquer

peça de vestuário próxima, para o envolver, o mais rapidamente possível.

Na impossibilidade de recurso à manta ou ao cobertor usar o extintor ou o chuveiro

mais próximos, com o cuidado de não direcionar o extintor para os olhos do

indivíduo.

Consultar, por via telefónica, o serviço de emergência da sua área (Bombeiros tel. 21

342 22 22/21 392 47 00 ou 112 que liga aos bombeiros), e seguir as instruções com

recurso, se necessário, à caixa de primeiros socorros.

Caso ocorra um incêndio declarado no local de trabalho deve:

Alertar rapidamente o pessoal e usar sempre os extintores portáteis de pó químico

seco, evitando o recurso à água para que o impacto desta no foco não o espalhe,

sobretudo em casos que envolvam líquidos imiscíveis com a água e aparelhos

elétricos.

34

Tomar as medidas adequadas no combate rápido às chamas: delimitar a área de fogo

e desligar o quadro elétrico principal.

Se não for possível circunscrever e apagar o incêndio com os meios disponíveis,

prevenir os bombeiros (21 342 22 22/21 392 47 00 ou 112 que liga aos bombeiros) e

organizar a evacuação calma e ordenada do edifício.

Tendo em consideração que, hoje em dia, as abordagens que impliquem a extração e

amplificação de ácidos nucleicos são cada vez mais utilizadas nos laboratórios em que se

manipulam microrganismos, é frequente que nestes, ou em laboratórios contíguos, existem

espaços dedicados às manipulações que impliquem a utilização de EtBr.

O EtBr é um agente intercalante, o qual, uma vez irradiado com luz UV, emite

fluorescência vermelho-alaranjada, o que permite a identificação, por exemplo, a

visualização dos ácidos nucleicos enquanto “bandas” num gel de agarose. Embora, hoje

em dia, na maioria das manipulações em que tem vindo a ser utilizado, possa ser

substituído por outros compostos menos tóxicos, certo é que ainda é comummente

utilizado. Porém, o EtBr é tóxico e carcinogénico, pelo que deve ser manipulado com

cuidado. A sua utilização exige a proteção obrigatória do operador com bata e luvas.

Caso o EtBr entre em contacto com os olhos deve:

Lavá-los imediatamente, durante pelo menos 15 minutos, com quantidade abundante

de água.

Caso o brometo de etídeo entre em contacto com a pele deve:

Lavar a zona afetada com água e sabão abundante. Não use solventes orgânicos (ex.

isopropanol) pois desidratam a pela e permitem uma absorção mais rápida do EtBr

remanescente.

Caso ocorra um derrame de soluções contendo EtBr sobre uma superfície deve:

Absorver o excesso de líquido com material absorvente (ex. papel).

Absorver o restante derrame com papel embebido em etanol/isopropanol ou/e cubra

a superfície contaminada com carvão ativado em pó.

Usar papel absorvente para remover a maior parte do derrame restante.

Lave com água abundante.

Coloque o lixo num contentor para incineração (não autoclave).

35

10.1. Procedimentos a adotar perante exposição acidental a Mycobacterium

tuberculosis

Sempre que aconteça um acidente no laboratório capaz de originar a infeção do técnico

pelo produto manipulado, através da produção de aerossóis, da contaminação da pele e

mucosas ou da produção de soluções de continuidade na pele e mucosas:

Conter a respiração mesmo com máscara.

Isolar a zona afetada tapando com papel absorvente e cobrir com detergente

tuberculocida (glutaraldeído a 6%).

Abandonar o local.

Deixar que o sistema de exaustão de ar retire todos os aerossóis por pelo menos 1

hora (8 a 12 renovações de ar).

Quebra de tubos na centrífuga. Deixar repousar 30 minutos antes de abrir a tampa

sempre equipada com luvas, máscara e óculos. Descontaminar a centrífuga e o rotor

com detergente tuberculocida (glutaraldeído a 6%).

O indivíduo afetado deve receber os cuidados médicos necessários e deverá ficar sob

observação cuidada. Deve ser colhido soro nesse dia e cerca de 15 dias depois (período

variável com o agente suspeito em causa) para que seja possível detetar a seroconversão,

em caso de infeção.

Se o indivíduo for tuberculina-negativo:

1) Fazer um teste de tuberculina após o acidente.

2) Repetir o teste, pelo menos 15 dias depois, se o resultado for negativo.

3) Se houver conversão, i.e., se o teste for positivo, é necessária avaliação médica e

eventual tratamento.

Se o indivíduo for tuberculina-positivo, a atitude terapêutica dependerá do resultado da

avaliação clínica apoiada nos exames complementares de diagnóstico.

10.2. Procedimentos a adotar perante exposição acidental a vírus patogénicos

Os procedimentos de emergência, traduzido por um contacto acidental entre sangue ou

material potencialmente infetado por vírus patogénicos e os olhos ou boca devem ser os

seguintes:

Lavar várias vezes abundantemente com soro fisiológico durante 5 minutos.

Contactar o Serviço de Doenças Infeciosas do Hospital Egas Moniz e solicitar

informações sobre o como proceder.

36

Contactar os responsáveis da biossegurança no IHMT (em particular o Doutor José

Marcelino, responsável direto pelo Lab2.BSL-3, a quem o incidente em questão

deverá ser reportado como acidente de trabalho.

No caso de efetuar um corte ou picada deve proceder-se da seguinte forma:

Não apertar o local da picada ou corte.

Lavar com sabão e água.

Passar com etanol a 70%.

Contactar o Serviço de Doenças Infeciosas do Hospital Egas Moniz para solicitar

informação sobre como atuar.

Contactar o responsável de biossegurança do Lab2.BSL3 (José Marcelino).

Elaborar um relatório sobre o acidente de trabalho.

Todos os acidentes e procedimentos de risco inscritos (ou não) neste manual devem ser

registados no livro de registos (está no laboratório) e comunicados ao Diretor da UEI e aos

responsáveis pela Biossegurança no IHMT.

11. Vigilância da saúde de quem trabalha em ambiente laboratorial

A entidade empregadora, através do Diretor da UEI (ou do(s) responsável(eis) pela

Biossegurança no IHMT), tem de assegurar uma vigilância apropriada da saúde do pessoal

do laboratório. O objetivo desta vigilância é controlar o aparecimento de doenças do

trabalho.

Para o efeito deve:

1. Proceder à vacinação ativa ou passiva, sempre que pertinente;

2. Facilitar a deteção precoce das infeções adquiridas no laboratório;

3. Excluir as pessoas altamente suscetíveis (grávidas e imunocomprometidos) de trabalhos

laboratoriais de alto risco;

4. Fornecer equipamento e meios de proteção pessoal eficazes.

Diretivas para a vigilância do pessoal de laboratório que manuseia microrganismos de

Nível 1 de segurança biológica:

A experiência mostra que não é provável que os microrganismos manuseados a este nível

causem doença no Homem ou doença animal de importância veterinária. Contudo, todo o

pessoal de laboratório deve ser submetido a um controlo de saúde antes de assumir as suas

funções, onde se regista a sua história médica. É aconselhável a notificação imediata de

37

doenças ou acidentes laboratoriais e deve chamar-se a atenção de todo o pessoal para a

importância de manter boas técnicas de microbiologia.

Diretivas para a vigilância do pessoal de laboratório que manuseia microrganismos de

Nível 2 de segurança biológica:

1. É necessário um controlo de saúde antes de assumir as suas funções. Deve registar-se a

história médica da pessoa e efetuar-se uma avaliação centrada na saúde ocupacional.

2. A administração do laboratório deve manter registo de doenças e ausências.

3. Os objetivos dos programas de vigilância médica do pessoal para os laboratórios de base

– Nível 1 e 2 de segurança biológica também se aplicam aos laboratórios de confinamento

– Nível 3 de segurança biológica, exceto nos seguintes casos:

4. O exame médico de todo o pessoal de laboratório, que trabalha em laboratórios de

confinamento – Nível 3 de segurança biológica, é obrigatório. Este exame deve incluir o

registo da história clínica detalhada e um exame físico centrado na profissão.

5. Após um exame clínico satisfatório, o agente recebe um cartão de contacto médico

mencionando que o portador trabalha numa unidade equipada com um laboratório de

confinamento – Nível 3 de segurança biológica. Este cartão deve conter uma fotografia do

portador, ter formato de bolso/carteira e estar sempre na posse do portador. O nome da

pessoa a contactar tem de ser definido no laboratório, e deve incluir o(s) responsável(eis)

pala Biossegurança, o Diretor de UEI, e o médico assistente.

Deve-se proceder conforme especificado abaixo:

É obrigatório a apresentação de um atestado de robustez física e psíquica adequada

ao exercício das funções a desempenhar.

O pessoal do laboratório deve ser sujeito no início a um exame clínico, a uma

radiografia do tórax e Prova de Mantoux (teste de tuberculina).

Todo o pessoal deve ser sujeito a um teste de tuberculina antes de começar a

trabalhar no laboratório de micobactérias. Os indivíduos tuberculina-positivos,

devem ser submetidos a exame médico.

Nenhum técnico deste laboratório deverá sofrer de doenças imunodepressoras ou

estar sujeito a terapêutica imunodepressora.

Anualmente deve ser feita uma revisão do estado de saúde com radiografia do tórax

e exame médico. O teste de tuberculina deve ser repetido todos os 6 meses no

pessoal tuberculina-negativo.

38

Para além das vacinas consideradas obrigatórias pelo Serviço Nacional de Saúde, o

pessoal do laboratório deve ser protegido com a vacina contra a hepatite B.

Fique atento a qualquer alteração no seu quadro de saúde dos seus colegas, tais

como: gripes, alergias, diarreias, dores de cabeça, enxaquecas, tonturas, mal-estar em

geral, etc…. comunique imediatamente ao(s) responsável(eis) pela Biossegurança

e/ou ao Diretor de UEI.

12. Transporte à distância (avião) de produtos potencialmente infeciosos

O transporte de materiais infeciosos e potencialmente infeciosos está sujeito a

regulamentação nacional e internacional. Esta regulamentação descreve a utilização

apropriada de materiais de acondicionamento, assim como outros requisitos de expedição.

Todos os funcionários envolvidos em atividades de índole laboratorial e aos quais seja

solicitado o envio de amostras biológicas contendo agentes infeciosos deve fazê-lo

obedecendo segundo os regulamentos aplicáveis a transporte. Assim deve-se garantir a

redução da probabilidade das embalagens sofrerem danos e deixarem escapar algum

conteúdo, o que leva a uma redução de exposições que resultem em infeções possíveis e

uma melhor eficiência no transporte de embalagens.

O envio à distância dos produtos pelo correio, por avião ou por outros meios de transporte

deverá obedecer às normas estabelecidas pela Comissão de Especialistas no Transporte de

Mercadorias Perigosas da ONU, pela Associação de Transportes Aéreos Internacionais,

pela União Postal Universal, pela Organização da Aviação Civil Internacional e pela OMS.

Atenção que:

Os contentores destinados ao transporte dos produtos devem ser estanques e

inquebráveis.

A sua superfície externa deve ser limpa com um desinfetante, como por exemplo,

hipoclorito de sódio a 0,1%, após o seu fecho e antes da sua abertura, já no

laboratório e se possível dentro da CSB.

A amostra deve ser colocada num recipiente estanque (embalagem primária), bem

fechado. Este deve ser à prova de fuga e devidamente selado. Neste deve estar

indicado o nome da substância a transportar. Caixas de Petri não servem de

recetáculos primários. Culturas (ex. bacterianas) ou stocks virais (suspensões virias)

devem ser enviadas dentro de recetáculos primários em ampolas seladas.

39

O recetáculo primário deve ser envolvido por material absorvente (algodão, papel ou

outro), capaz de reter a totalidade do líquido derramado em caso de acidente com

quebra do recipiente, deve ser colocado num segundo contentor (embalagem

secundária), resistente e estanque.

O transporte do contentor secundário deve ser feito dentro de uma embalagem sólida

que proteja o conteúdo de danos físicos, durante o transporte. Esta barreira (terciária)

deve ser rígida (resistente a um diferencial de 95kPa entre o exterior e o interior)

com pelo menos uma face com superfície superior a 100x100 mm. Deve ser incluída

uma descrição por item dos materiais a transportar entre a barreira secundária e

terciária. Nesta última devem ser devidamente colocados os símbolos indicados ao

tipo de material a transportar. Quando usado, o gelo seco deve encontrar-se entre a

barreira secundária e terciária, a qual deve permitir a saída de vapor de CO2.

A identificação da amostra enviada deve figurar no exterior dos recipientes primário

e secundário (Anexo II). Para além desta identificação, toda a embalagem contendo

material biológico potencialmente infecioso deverá ser obrigatoriamente etiquetada

com o símbolo específico internacionalmente definido (símbolo de perigo biológico,

Figura 1).

Figura 1. Símbolo internacional para substâncias infeciosas ou agentes patogénicos.

As amostras biológicas contendo microrganismos patogénicos devem,

adicionalmente, ser identificadas com a respetiva categoria UN (United Nations)

correspondente.

São substâncias Infeciosas da classe A aquelas que contêm agentes biológicos

suscetíveis de causar debilitação permanente ou morte de Humanos e outros animais

saudáveis que a eles venham a ser expostos acidentalmente. São incluídas nas

categorias UN 2814 se esses agentes patogénicos afetarem o Homem (possivelmente

outros animais) ou UN 2900 se o Homem não for afetado.

40

Substâncias Infeciosas da classe B todas as que contêm agentes biológicos

infeciosos que não causam doença debilitante ou fatal nos humanos ou animais a eles

expostos. Incluem a maior parte dos espécimes para diagnóstico e são incluídas na

categoria UN 3373.

O gelo seco, frequentemente utilizado para garantir a viabilidade dos agentes

biológicos presentes numa dada amostra deve ser identificado, na embalagem de

transporte, com o código UN 1845.

As quantidades máximas de materiais contendo agentes infeciosos que podem ser

transportados por via aérea são 50 ml ou 50 g (substâncias infeciosas da classe A em

avião de passageiros), 4 L ou 4 kg (substâncias infeciosas da classe A em avião de

carga), 4 L ou 4 kg (substâncias infeciosas da classe B em avião de passageiros ou

carga). A quantidade máxima de gelo seco que pode ser utilizada deverá ser inferior

a 200 kg.

13. Laboratório de Bioquímica

O laboratório de Bioquímica deve ser entendido num contexto vasto que englobe todos os

manuseamentos e operações a efetuar no âmbito de trabalhos de Genética, Bioquímica e

Química. Em qualquer dos casos, seja qual for o microrganismo ou extrato deste com que

se trabalhe, o material deve ser tratado como contaminado e todo o produto biológico deve

ser considerado potencialmente infecioso e manipulado como tal.

Ao iniciar o trabalho no laboratório de Bioquímica devem ser avaliados os riscos

potenciais para a segurança pessoal, de terceiros e do laboratório. Toda a operação

que ofereça perigo de libertação de vapores tóxicos ou de poeiras irritantes deve ser

efetuada na hotte química.

Avaliar sempre a necessidade de uso de óculos de proteção e de luvas.

Todos os recipientes do laboratório, incluindo as tinas, balões, tabuleiros e outros,

devem estar rotulados. No caso de conterem líquidos corrosivos,

inflamáveis/explosivos, radioativos ou tóxicos/carcinogéneos, estes recipientes

devem estar assinalados com o símbolo próprio (ver lista de símbolos, no final do

capítulo).

A forma mais expedita de diminuir o risco de acidente com um produto químico

consiste no recurso à sua solubilização/diluição. Assim, devem lavar-se os

recipientes ou eventuais derrames, com água abundante, exceto no caso de produtos

41

químicos incompatíveis com a água, como o sódio e o potássio elementares, bem

como os hidretos metálicos que reagem com a água libertando hidrogénio que pode

entrar em ignição e explodir.

Nunca deixar os frascos abertos; recolocá-los no seu devido local após a utilização e

nunca colocar recipientes pesados ou com líquidos inflamáveis ou corrosivos a

níveis elevados.

Não deixar os bicos de Bunsen, as bombas de vácuo ou as garrafas de gás em

utilização abandonados durante longos períodos de tempo. Fazer vistorias regulares

ao material em utilização.

Resíduos de fenol e halogéneos devem ser colocados no contentor próprio localizado

na hotte química.

Desocupar a área de trabalho de material desnecessário, efetuar montagens seguras e

estáveis e recorrer à hotte sempre que se avalie necessário. A área de trabalho deve

ser coberta com papel absorvente sobre papel de alumínio e limpa sempre que

houver um derrame.

Se o trabalho envolver materiais altamente inflamáveis verificar se não existem nas

proximidades fontes de ignição ou de eletricidade estática.

Armazenar os reagentes segundo um esquema prévio, de modo a evitar

incompatibilidades explosivas.

Deverá haver um armazém central, dotado de um ficheiro alfabético, onde os

reagentes inflamáveis, tóxicos, explosivos, oxidantes, corrosivos, sensíveis à água,

gases e substâncias radioativas estejam separados e identificados. O armazenamento

no mesmo local de líquidos inflamáveis e de outros produtos (sobretudo agentes

oxidantes como os óxidos, peróxidos e cloratos que podem iniciar reações de

combustão) é desaconselhado devendo estes ser isolados num armário ou armazém à

prova de fogo, longe de fontes de ignição, bem ventilado e dotado de equipamento

de emergência.

Tomar cuidados especiais no manuseamento de soluções contendo EtBr o,

grandemente utilizado em genética e que é um potente carcinogéneo/mutagéneo.

Deve haver um locar próprio para o seu manuseamento, devidamente referenciado e

revestido de papel absorvente, tal como todos os materiais que entrem em contacto

com soluções desta substância devem ser assinalados com a abreviatura EtBr (ou

BE), bem visível.

42

Soluções com brometo de etídio não devem ser deitadas diretamente na canalização.

Este deve ser inativado com carvão ativado e só depois descartado.

Estes materiais e soluções só podem ser manuseados com luvas. A descontaminação

dos locais onde ocorram derrames extensos deve ser efetuada de acordo com

protocolos específicos referenciados nos manuais da especialidade, devendo por isso

qualquer acidente ser comunicado ao responsável pelo laboratório para que aquela se

inicie de imediato.

Instruções importantes:

Ter cuidado redobrado com a utilização dos éteres, dioxano e tetrahidrofurano, e

outras substâncias com o grupo éter, pois são muito suscetíveis à oxidação pelo ar,

com formação de peróxidos instáveis que podem detonar com enorme violência.

Os produtos oxidantes como os óxidos, os peróxidos, nitratos e nitritos, dicromatos,

cloratos, percloratos e permanganatos podem iniciar reações de combustão e

portanto não devem ser guardados juntamente com produtos explosivos,

combustíveis, redutores e desidratantes.

Na pág. 43 é apresentada uma lista de produtos químicos incompatíveis mais utilizados

nos nossos laboratórios (NOTA: A lista não é completa e não exclui a consulta de outros

manuais e/ou o índex MERCK-QUIMICA para os restantes casos de produtos

incompatíveis.). No final apresenta-se os símbolos de perigo associados aos diversos

produtos químicos.

43

LISTA DE PRODUTOS QUIMICOS MAIS UTILIZADOS NOS LABORATÓRIOS DO

IHMT

PRODUTO PRODUTO INCOMPATÍVEL

Acetona Ácido nítrico e sulfúrico.

Ácido acético Ácido crómico, nítrico, hidróxidos, polietilenoglicois,

peróxidos, permanganatos e percloratos.

Ácido nítrico Ácido acético, acetona, álcool, anilina, todos os

produtos hidrogenados, inflamáveis, nitráveis, cobre,

latão e metais pesados.

Ácido sulfúrico Água, cloratos, percloratos, permanganatos e

carbonatos.

Anilina Ácido nítrico, peróxidos.

Carvão activado Hipocloritos e todos os agentes oxidantes.

Cobre Acetileno, peróxido de hidrogénio.

Flúor Isolar de todas as outras substâncias.

Hidrocarbonetos e solventes

orgânicos

Flúor, cloro, ácido crómico e peróxidos.

Hidróxido de sódio ou potássio Água e ácidos.

Líquidos inflamáveis Nitrato de amónio, peróxidos, ácido nítrico e

halogéneos.

Metais alcalinos Água, dióxido de carbono, hidrocarbonetos clorados.

Percloratos Ácidos e materiais combustíveis.

Peróxido de sódio Todas as substâncias oxidáveis, solventes orgânicos,

ácidos e acetatos.

*NOTA: Muitos detergentes comerciais possuem percentagens elevadas de amoníaco,

de modo que nunca devem ser misturados com lixívia (hipoclorito de sódio).

Nota: Uma vez que o trabalho com produtos radioativos foi descontinuado, este não irá ser

abordado nesta edição, pelo que caso seja necessário deverá consultar a 1ª edição deste

manual que contínua disponível no laboratório.

44

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46

Anexo I

Esquema das Câmaras de Segurança Biológica de Fluxo Laminar Vertical

CSB –

Classe

e tipo

Tipo de protecção

microbiológica

Ar

recirculado/

expelido

Esquema Legenda

I

- Operador

-Microrganismos

do grupo de risco

1 e 2

0/100

A – Abertura frontal

B – Painel em vidro para

observação

C – Filtro HEPA de exaustão

D – Filtro HEPA de insuflação

E – Ventoinha

Ar esteril

Ar contaminado

IIA1

IIA2

- Operador e

produtos

- Microrganismos

do grupo de risco

1 a 3

70/30

IIB1

IIB2

- Operador e

produtos

- Microrganismos

do grupo de risco 1-

3

30/70

0/100

III

-Operador e

produto

-Microrganismos

do grupo de risco 4

0/100

47

Anexo II

Esquema da embalagem e etiquetagem para o envio de agentes patogénicos

48

Anexo III

SÍMBOLOS DE PERIGO

PERIGO! PRODUTO RADIOACTIVO!

PERIGO! PRODUTO TÓXICO!

PERIGO! PRODUTO EXPLOSIVO!

PERIGO! PRODUTO INFLAMÁVEL!

49

PERIGO! PRODUTO CORROSIVO!

50

Instituto de Higiene e Medicina TropicalUniversidade NOVA de Lisboa

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