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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.20, n.2, p.143-156, 2018 143 ISSN: 1517-8595 IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA APPCC INTEGRADO AO CONTROLE ESTATÍSTICO DE PROCESSO NO ABATEDOURO INDUSTRIAL AGROLUSA - SÃO LUÍS, MA Gracyelle Macedo Lemos 1 , Eduardo Mendonça Pinheiro 2 , Adryelle Anchieta Sousa 3 , Ayla Kelly Soares Assunção 4 , Rawlisson Silva Gonçalves 5 , Thamires Yslanny Oliveira Sousa 6 , Ana Célia Silva Vieira 7 RESUMO O programa de qualidade de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) é um plano sistemático para identificação e controle de perigos nas diferentes fases do processo industrial, que tem como pré-requisitos as Boas Práticas de Fabricação (BPF) e os Procedimentos- Padrão de Higiene Operacional (PPHO). O foco deste trabalho foi a aplicação das técnicas de Controle Estatístico de Processo (CEP) e APPCC. O objetivo, neste estudo de caso, foi promover melhorias de qualidade e confiabilidade no processo. Realizou-se o estudo do CEP e foi elaborado o APPCC, para assegurar qualidade e confiabilidade em todo o processo produtivo e a certeza de um produto final seguro e sem contaminação. Foram realizados treinamentos dos funcionários para a implantação do APPCC, para que a conscientização e motivação dos funcionários resultassem em mudanças significativas, atingindo o controle de todas as temperaturas no sistema de processamento da carne suína. Sem este controle, as análises e a monitorização, o produto estava suscetível a contaminações. Portanto, as técnicas de APPCC e CEP auxiliam a empresa AGROLUSA, e as demais empresas deste setor, a atingirem níveis elevados de qualidade. Palavras Chave: Análise de Perigos e Ponto Crítico de Controle; Processo produtivo; Carcaça Suína. IMPLANTATION OF THE HACCP SYSTEM INTEGRATED TO THE STATISTICAL CONTROL OF PROCESS AT AGROLUSA INDUSTRIAL SLAUGHTERHOUSE - SÃO LUÍS, MA ABSTRACT The Hazard Analysis and Critical Control Points (HACCP) quality program is a systematic plan for the identification and control of hazards in the different phases of the industrial process, which has as prerequisites the Good Manufacturing Practices (GMP) and Standard Procedures of Operating Hygiene (SPOH). The focus of this work was the application of Statistical Process Control (SPC) and HACCP techniques. The objective, in this case study, was to promote quality improvements and process reliability. The SPC study was carried out and the HACCP was elaborated to ensure quality and reliability throughout the production process and the certainty of a safe and non-contaminated final product. Employee training was conducted to implement the HACCP, so that employee awareness and motivation resulted in significant changes, reaching the control of all temperatures in the pork processing system. Without this control, analysis and monitoring, the product was susceptible to contamination. Therefore, the techniques of HACCP and SPC help the company AGROLUSA, and other companies in this sector, to reach high levels of quality. Keywords: Hazard Analysis and Critical Control Point; Production Process; Swine Carcass. Protocolo 19-2017-37 de 20/11/2017 1 Engenheira de Produção, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, São Luís MA: [email protected] 2 Mestre em Agroecologia, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, São Luís - MA: [email protected] ³Engenheira Agrônoma, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, São Luís MA: [email protected] 4 Engenheira Agrônoma, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, São Luís - MA: [email protected] 5 Graduando em Engenharia Agronômica, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, São Luís - MA: [email protected] 6 Engenheira Agrônoma, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, São Luís - MA: [email protected] 7 Tecnologa em Alimentos, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, São Luís - MA: [email protected]

IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA APPCC INTEGRADO AO CONTROLE ... · control of all temperatures in the pork processing system. Without this control, analysis and monitoring, the product was

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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.20, n.2, p.143-156, 2018 143 ISSN: 1517-8595

IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA APPCC INTEGRADO AO CONTROLE

ESTATÍSTICO DE PROCESSO NO ABATEDOURO INDUSTRIAL

AGROLUSA - SÃO LUÍS, MA

Gracyelle Macedo Lemos1, Eduardo Mendonça Pinheiro2, Adryelle Anchieta Sousa3,

Ayla Kelly Soares Assunção4, Rawlisson Silva Gonçalves5, Thamires Yslanny Oliveira

Sousa6, Ana Célia Silva Vieira7

RESUMO

O programa de qualidade de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) é um

plano sistemático para identificação e controle de perigos nas diferentes fases do processo

industrial, que tem como pré-requisitos as Boas Práticas de Fabricação (BPF) e os Procedimentos-

Padrão de Higiene Operacional (PPHO). O foco deste trabalho foi a aplicação das técnicas de

Controle Estatístico de Processo (CEP) e APPCC. O objetivo, neste estudo de caso, foi promover

melhorias de qualidade e confiabilidade no processo. Realizou-se o estudo do CEP e foi elaborado

o APPCC, para assegurar qualidade e confiabilidade em todo o processo produtivo e a certeza de

um produto final seguro e sem contaminação. Foram realizados treinamentos dos funcionários

para a implantação do APPCC, para que a conscientização e motivação dos funcionários

resultassem em mudanças significativas, atingindo o controle de todas as temperaturas no sistema

de processamento da carne suína. Sem este controle, as análises e a monitorização, o produto

estava suscetível a contaminações. Portanto, as técnicas de APPCC e CEP auxiliam a empresa

AGROLUSA, e as demais empresas deste setor, a atingirem níveis elevados de qualidade.

Palavras Chave: Análise de Perigos e Ponto Crítico de Controle; Processo produtivo; Carcaça

Suína.

IMPLANTATION OF THE HACCP SYSTEM INTEGRATED TO THE

STATISTICAL CONTROL OF PROCESS AT AGROLUSA INDUSTRIAL

SLAUGHTERHOUSE - SÃO LUÍS, MA

ABSTRACT

The Hazard Analysis and Critical Control Points (HACCP) quality program is a systematic plan

for the identification and control of hazards in the different phases of the industrial process, which

has as prerequisites the Good Manufacturing Practices (GMP) and Standard Procedures of

Operating Hygiene (SPOH). The focus of this work was the application of Statistical Process

Control (SPC) and HACCP techniques. The objective, in this case study, was to promote quality

improvements and process reliability. The SPC study was carried out and the HACCP was

elaborated to ensure quality and reliability throughout the production process and the certainty of

a safe and non-contaminated final product. Employee training was conducted to implement the

HACCP, so that employee awareness and motivation resulted in significant changes, reaching the

control of all temperatures in the pork processing system. Without this control, analysis and

monitoring, the product was susceptible to contamination. Therefore, the techniques of HACCP

and SPC help the company AGROLUSA, and other companies in this sector, to reach high levels

of quality.

Keywords: Hazard Analysis and Critical Control Point; Production Process; Swine Carcass.

Protocolo 19-2017-37 de 20/11/2017 1Engenheira de Produção, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, São Luís – MA: [email protected] 2Mestre em Agroecologia, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, São Luís - MA: [email protected]

³Engenheira Agrônoma, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, São Luís – MA: [email protected] 4Engenheira Agrônoma, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, São Luís - MA: [email protected] 5Graduando em Engenharia Agronômica, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, São Luís - MA: [email protected] 6Engenheira Agrônoma, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, São Luís - MA: [email protected] 7Tecnologa em Alimentos, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, São Luís - MA: [email protected]

144 Implantação do sistema APPCC integrado ao controle estatístico de processo no abatedouro industrial Agrolusa..... Lemos et al.

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.20, n.2, p.143-156, 2018

INTRODUÇÃO

Sabe-se que o consumo atual da carne

suína se avalia em torno de 44% a nível mundial.

Isso ocorre pelo sabor bem acentuado, baixo

preço de custo e seu valor nutricional é bastante

alto. (Portal Suínos e Aves, 2015). As empresas

processadoras de carne in natura ou derivados,

atualmente, têm como objetivo principal

oferecer produtos seguros e com altos padrões de

qualidade ao consumidor. Para o alcance desse

objetivo, as indústrias vêm aderindo à

implantação de Programas de Gestão da

Qualidade como, por exemplo, o Sistema

APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de

Controle) (Bomfim, 2010).

As indústrias de carne suína, tem utilizado

o APPCC como ferramenta para garantir a

segurança dos produtos, pois existe uma

legislação em torno disto, como a Portaria N° 46,

de 10 de Fevereiro de 1998 do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O

APPCC ou HACCP (da sigla em inglês referente

à Hazard Analysis Critical Control Points) é um

sistema preventivo que busca a produção de

alimentos inócuos, embasado na aplicação de

princípios técnicos e científicos na produção e

manejo dos alimentos desde o campo até a mesa

do consumidor. O programa é determinado pelo

Codex Alimentarius como um sistema que

identifica, avalia e controla perigos que são

expressivos na segurança dos alimentos

(Forsythe, 2002). Os princípios do APPCC são

aplicáveis a todas as fases da produção de

alimentos, incluindo a agricultura básica, a

pecuária, a industrialização e manipulação dos

alimentos, os serviços de alimentação coletiva,

os sistemas de distribuição e manejo e a

utilização do alimento pelo consumidor

(Almeida, 1998).

Considerando-se que o APPCC é

reconhecido internacionalmente como o melhor

método de garantia de segurança de produtos

alimentícios que permite identificar riscos

específicos e medidas preventivas para seu

controle, objetivou-se neste trabalho a aplicação

da metodologia de implantação do Sistema

APPCC integrando ao Controle Estatístico de

Processo do parâmetro Temperatura no

Abatedouro Industrial Agrolusa no município de

São Luís, abordando suas definições, histórico,

metodologia para a elaboração do Plano APPCC,

integrado ao Controle Estatístico de Processo no

parâmetro temperatura, contribuindo desta

forma para a qualidade e confiabilidade do

processo e principalmente, do produto final.

MATERIAIS E MÉTODOS

A Agrolusa é uma empresa que tem sede

e foro na cidade de São Luís, localizada na Rua

Misaragaia, s/nº – Santa Barbara. A Agrolusa

Agroindustrial Lusitana Ltda. ou mais conhecida

como Agrolusa, foi fundada no ano de 1984, é a

melhor empresa na distribuição de suínos em

São Luís quando se fala em qualidade de carne,

faz parte do grupo Lusitana. A presente pesquisa

foi desenvolvida como um estudo de caso, sendo

caracterizado por uma pesquisa qualitativa e

explicativa. O presente trabalho concentrou-se

nas análises e levantamentos de dados, pontos

críticos e temperaturas coletados no local,

durante todo o processo de abate dos animais.

Tudo que direta ou indiretamente afeta na

qualidade final do produto, que é a carcaça suína.

A partir desses levantamentos e medições de

temperaturas, que é o ponto onde mais necessita

ser controle, foi utilizado o CEP (Controle

Estatístico de Processo) para verificar a

estabilidade e capabilidade do processo. Por fim,

foi elaborado e implantado o APPCC,

apresentando todos os pontos de controle e

crítico de controle, ações corretivas e

preventivas.

O CEP foi aplicado em algumas etapas do

processo de abate de suíno, para diagnosticar a

estabilidade e capabilidade das etapas com

controle de temperatura no processo, onde foram

coletados esses dados. Posteriormente, foram

plotados no Minitab 17 (software), obtendo-se a

carta controle para média mostrada e a carta de

amplitude móvel de cada câmara de refrigeração,

e principalmente, o relatório de capabilidade do

processo.

A primeira análise aplicada no processo

foi o resfriamento, onde diariamente as

temperaturas da carcaça foram medidas através

do trocador de calor. Os conceitos do CEP foram

aplicados à refrigeração da carcaça suína. Foram

coletados dados de temperatura, através de

termômetro espetado no pernil da carcaça,

diariamente. Em seguida foi utilizado o Minitab

17 para realizar o estudo de estabilidade do

processo mostrada na carta de controle de média

e de amplitude móvel.

O APPCC foi aplicado na linha de abate

de suínos, desde a entrada do animal no corredor

de abate até a expedição da carcaça suína.

Implantação do sistema APPCC integrado ao controle estatístico de processo no abatedouro industrial Agrolusa..... Lemos et al. 145

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.20, n.2, p.143-156, 2018

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise do CEP

O CEP foi aplicado em algumas etapas do

processo de abate de suíno, como forma de

diagnosticar a estabilidade e capabilidade das

etapas com controle de temperatura no processo.

Os dados obtidos foram demonstrados em

observações, apresentados nas tabelas. Os

índices de capabilidade (Tabela 1) demonstram

como o processo poderá agir no futuro, ao passo

que os índices de performances (Tabela 2)

informam como o processo agiu no passado ou

está agindo no momento. Assim foi possível

avaliar o desempenho operacional das

respectivas máquinas.

Tabela 1. Classificação do processo de acordo

com a capabilidade.

Classificação Valor de Cpk

Capaz/Satisfatório > ou = 1,33

Razoavelmente Capaz 1 < ou = Cpk < ou = 1,33

Incapaz/Insatisfatório < 1

Fonte: Helman & Andery (1995)

Tabela 2. Classificação do processo de acordo

com a performance.

Classificação Valor de Ppk

Capaz/Satisfatório > ou = 1,33

Razoavelmente Capaz 1 < ou = Ppk < ou = 1,33

Incapaz/Insatisfatório < 1

Fonte: Helman & Andery (1995)

Tomando como referência os padrões de

cada índice, de maneira geral, o Cp mede a

capacidade potencial do processo, considerando

a taxa de tolerância (largura entre os limites de

especificação) à variação atual do processo,

enquanto Cpk mede a capacidade real do

processo, que compreende a taxa de tolerância, a

variação atual, considerando a média do

processo relativa ao ponto médio das

especificações. A utilização do CEP possibilita a

verificação da segurança do processo no que

tange ao cumprimento de alguns pré-requisitos

para o APPCC.

Aplicação do CEP na Temperatura de Câmara

de Refrigeração de Carcaça Suína

A primeira análise aplicada no processo

foi o resfriamento da carcaça suína, onde

diariamente as temperaturas foram medidas

através do trocador de calor, quando este estava

resfriando a carcaça suína. Os resultados deste

estudo indicam que existem causas aleatórias

estão atuando sobre este processo que precisam

ser tratados e corrigidos.

Tabela 3. Amostras de temperatura de câmara

de carcaça suína.

DATAS AMOSTRAS

1ª 2ª 3ª 4º 5ª 6ª

20/05/2016 5,5 0 -1 -2 -3 4,4

26/05/2016 -2 -2 6 - - -

27/05/2016 1 1 0 2 2 2

29/05/2016 -1 -1 -1 - - -

01/06/2016 -3 -2 -2 -2 - -

03/06/2016 -2 -2 -2 1 15 -

08/06/2016 3 -2 -3 2 5 -

10/06/2016 2 -3 -2 -2 13 6

Os resultados obtidos indicam que os

valores coletados possuíram diferenças no

avançar dos dias. As amostras de temperatura da

Câmara Suína possuem valores diferentes entre

si e entre os dias de coleta. Isso infere em

oscilações e possível falha no processo de

promoção de abaixamento de temperatura, ou

seja, resfriamento.

A obtenção de dados como esse, ilustra

como o resfriamento é importante para a

qualidade do produto, uma vez que, após o abate

diversos processos são desencadeados, e a

putrefação é uma delas. E claro, os fatores como

ambiente, temperatura e umidade estão

intimamente ligados e controla-los é de suma

importância para obtenção de um produto de

qualidade. Segundo Borges (2009), a

variabilidade indesejada é a grande inimiga da

qualidade. Ela está presente em todo processo de

produção, não podendo ser totalmente

eliminada, mas diminuída a um nível tolerável.

A medição da variabilidade torna-se um

indicador efetivo da qualidade do processo

produtivo e do produto fabricado.

O que se observa pela Figura 1A, são

pontos dentro do limite de controle, ou seja, por

mais que haja oscilações nas 6 amostras

coletadas dentro da Câmara suína, a conclusão é

a de que outros padrões de não-aleatoriedade

devem ser investigados. Caso nenhum padrão de

não-aleatoriedade seja detectado, a conclusão é

de que o processo está sob a ação de causas

comuns, ou seja, está sob controle estatístico.

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Figura 1 - Carta de Controle de Temperatura (A) e Carta de Amplitude Móvel da câmara de carcaça

suína (B)

Ferreira et al., (2011), em um trabalho de

CEP no resfriamento de aves, observou que na

análise da temperatura por meio do par de cartas

de controle X-R, pode-se observar a enorme

oscilação ao longo do tempo, com muitas médias

e amplitudes médias estando fora dos limites de

controle. Tal fato já é suficiente para afirmar que

o processo de resfriamento se encontra fora de

controle – não sendo necessário investigar outros

padrões de não-aleatoriedade e indicando que

existem causas especiais gerando variabilidade. O mesmo pode se confirmar para o presente

trabalho, onde na Figura 1B, analisa-se uma

oscilação de temperatura ao passar do tempo e

que, as amplitudes médias estão no limite ou fora

da linha de controle. Permitindo afirmar, que a

temperatura na Câmara de Carcaça Suína sofre

problemas e que causas especiais podem estar

gerando essa variabilidade.

Para o parâmetro de histograma da

temperatura de câmara de carcaça suína observa-

se que a distribuição não segue o modelo normal,

possivelmente devido às oscilações na demanda

de frio que atua nas causas de instabilidade na

etapa de resfriamento do equipamento (Figura

2).

Figura 2. Histograma de temperatura da câmara de carcaça suína.

O CEP deve ser usado não somente para

diagnosticar o processo, mas para assegurar o

monitoramento de variáveis e atributos

envolvidos e a ação continuada sobre as causas

de variabilidade, ajudando a reduzir os PC’s e

PCC’s, definidos no âmbito do APPCC,

tornando muito mais fácil de ser implantado no

processo produtivo.

Em seguida, foi realizado o estudo de

capabilidade da temperatura da câmara de

resfriamento de carcaça suína (Figura 3) e

observa-se que o processo é efetivamente

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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.20, n.2, p.143-156, 2018

incapaz e possui um percentual de observações

fora de especificação em torno de 45%, o que

indica que os esforços de melhoria devem

priorizar essa etapa.

Figura 3. Estudo de Capabilidade da Câmara de Carcaça Suína.

Aplicação do CEP na temperatura de

refrigeração de carcaça suína

Os conceitos do CEP foram aplicados à

refrigeração da carcaça suína. Foram coletados

dados de temperatura, através de termômetro

espetado no pernil da carcaça, diariamente, onde

verificou-se que o processo não é estável,

corroborando com oscilações no processo de

resfriamento.

Os valores da Carta de Controle e Carta de

Amplitude de temperatura de refrigeração de

carcaça suína estão acima do limite de

especificação indicando oscilações no processo.

E que ainda as médias e amplitudes médias se

encontram fora do limite de controle. Isso gera

não só problemas químicos e físicos a carne,

como também microbiológicos. Ocasionando

em perdas e até mesmo em multas.

A legislação brasileira referente a

refrigeração de carcaça suína pauta-se na

Portaria Nº 914, de 12 de setembro de 2014.

Onde no Capítulo V, Seção II diz respeito às

normas dos procedimentos da área de

Frigorificação. O Art. 214 ressalta que “As

carcaças nas câmaras de resfriamento devem

atingir a temperatura de 7º C (sete graus Celsius)

na superfície da carcaça, no tempo máximo de

12 horas após o fechamento da câmara” e ainda

Parágrafo único – “Não será permitida a

oscilação com elevação da temperatura interna

da massa muscular até o momento da desossa ou

expedição”.

Utilizando o aplicativo obteve o

histograma da temperatura da carcaça suína e

que observamos que a distribuição não segue o

modelo normal, possivelmente devido

instabilidade do processo Apesar da falta de

estabilidade do processo foi feito o estudo de

capabilidade do processo de refrigeração da

carcaça suína. Este indicou que o processo é

potencialmente muito capaz. Isso acontece

porque o equipamento utilizado para a

refrigeração possui uma efetividade de processo

o que mantém a temperatura dentro dos limites

de especificação.

Implantação do APPCC

O APPCC foi aplicado na linha de abate

suínos, desde a entrada do animal no corredor de

abate, até a expedição da carcaça suína. E

respeitando as etapas de implantação do APPCC,

inicialmente, foi definida a equipe APPCC que,

na AGROLUSA. Em seguida, foram

identificados os pontos críticos de controle

(PCC's), considerando os diversos tipos de

contaminação que podem ocorrer, conforme o

Fluxograma específico para o APPCC (Figura

4), onde aparecem todas as etapas do processo

com a indicação dos pontos críticos de controle

(PCC's).

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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.20, n.2, p.143-156, 2018

Figura 4. Fluxograma de Abate da Agrolusa/MA

Na implantação da Análise de Perigos, o

primeiro procedimento recomendado é a

observação das operações rotineiras do processo,

inclusive práticas higiênicas dos trabalhadores e

métodos de limpeza dos equipamentos.

Baseando-se nestas observações, pode-se fazer o

Fluxograma da sequência de produção do

alimento, o qual poderá fornecer detalhes sobre

a atual ou potencial contaminação, exposição,

tempo, temperatura e sobrevivência dos

microrganismos patogênicos (AOAC, 2003;

Gonzales, 2001; NACMCF, 1998).

Análise dos Perigos: Matéria-prima e

Embalagem

Conforme as observações e análises, a

Tabela 5 mostra os perigos encontrados na

carcaça e na embalagem. A análise de perigos é

uma etapa do sistema APPCC no qual é aplicado

no campo visando assegurar o controle dos

perigos que estão no processo, bem como

auxiliar sensivelmente os problemas ligados à

questão da qualidade da carne suína em questão.

Implantação do sistema APPCC integrado ao controle estatístico de processo no abatedouro industrial Agrolusa..... Lemos et al. 149

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.20, n.2, p.143-156, 2018

Tabela 5. Análise dos perigos: Matéria-prima e embalagem.

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Tabela 6. Análise de perigos durante as etapas do processo

Continuação.......

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Tabela 6. Análise de perigos durante as etapas do processo

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Continuação.......

Tabela 6. Análise de perigos durante as etapas do processo

Plano APPCC

Implantação do sistema APPCC integrado ao controle estatístico de processo no abatedouro industrial Agrolusa..... Lemos et al. 153

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.20, n.2, p.143-156, 2018

Após as análises, o Plano APPCC pode ser

observado na Tabela 7. No plano APPCC

evidenciam-se vários pontos críticos, que

necessitam de monitorização constante. Com o

APPCC é e foi possível visualizar cada etapa e

seus perigos, saber exatamente quando atuar no

processo, o que fazer para corrigir algum

parâmetro que estiver fora do limite crítico de

controle, quais as medidas preventivas para que

não ocorram problemas no processo, onde

devem ser registrados os dados e o que deve ser

verificado.

A partir deste estudo de caso, torna-se

possível extrair várias indicações de melhorias

que devem ser implementadas em toda a

empresa e, em especial no processo de abate que

gere assim uma qualidade maior no produto final

e uma confiabilidade no produto e em todo o

processo.

Tabela 7. Plano APPCC da Agrolusa

154 Implantação do sistema APPCC integrado ao controle estatístico de processo no abatedouro industrial Agrolusa..... Lemos et al.

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.20, n.2, p.143-156, 2018

Continuação........

Tabela 7. Plano APPCC da Agrolusa

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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.20, n.2, p.143-156, 2018

Continuação........

Tabela 7. Plano APPCC da Agrolusa

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Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.20, n.2, p.143-156, 2018

CONCLUSÕES

Com a implantação das técnicas CEP e

APPCC, houve uma mudança significativa na

qualidade e na confiabilidade da carcaça suína.

As mudanças e melhorias são visíveis desde as

instalações e ambiente de trabalho, através de

treinamentos realizados para a implantação do

plano APPCC, onde houve a conscientização e

motivação dos funcionários para que essas

mudanças ocorressem de forma significativa.

Chegando ao controle de todas as temperaturas

que, sem as análises e monitorização, tornava a

carcaça suscetível às contaminações.

Vale ressaltar que o processo, apesar de já

implantado e está sendo aplicado, ainda há

ajustes que estão em andamento e que é papel da

Equipe APPCC, criada durante o estudo,

monitorar a eficácia do sistema e estimular o

desenvolvimento cada vez maior das melhorias,

bem como o comprometimento de todos os

colaboradores com a manutenção do APPCC.

A partir dos resultados gerados com este estudo,

acredita-se que a proposta da utilização, de

forma unida, das técnicas APPCC e CEP,

expostas no trabalho, auxiliam a empresa

Agrolusa e podem auxiliar todas as demais

empresas do setor alimentício a atingirem níveis

elevados de qualidade.

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e a segurança alimentar aos consumidores

destes produtos. Disponível em:

<http://www.portalsuinoseaves.com.br/proc

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alimentar-aos-consumidores-destes-

produtos/> Acesso em: 17 de Abril de 2017.