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1 UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES URI – CAMPUS DE SANTO ÂNGELO EVOLUÇÃO E DIAGNÓSTICO DOS RECURSOS DE INTERESSE PATRIMONIAL DA REGIÃO DAS MISSÕES Maria Matilde Villegas J. Santo Ângelo 2008

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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES

URI – CAMPUS DE SANTO ÂNGELO

EVOLUÇÃO E DIAGNÓSTICO DOS RECURSOS DE INTERESSE PATRIMONIAL DA

REGIÃO DAS MISSÕES

Maria Matilde Villegas J.

Santo Ângelo

2008

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INTRODUÇÃO

El patrimonio cultural de un pueblo comprende las obras de sus artistas, de sus arquitectos, de sus músicos, de

sus escritores, de sus sabios, pero también las creaciones anónimas surgidas del alma popular y el conjunto de

los valores que dan un sentido a la vida. Engloba las obras materiales e inmateriales que expresan la

creatividad de un pueblo, las lenguas, los rituales, las creencias, los lugares y monumentos históricos, la

literatura, las obras de arte, los archivos y las biblioteca. (Definição de patrimônio cultural dos povos segundo a

Conferencia Mundial sobre políticas culturais organizada pela UNESCO – México, 1982.)

O patrimônio material de nossas cidades, povos e região pertence a todos nós. Seu desaparecimento equivale a

apagar o passado, assim como a perda de nossa identidade e cultura. Este fato nos afeta em múltiplos aspectos: no

cultural, pela perda dos traços essenciais da identidade; no social, pela perda de espaços aprazíveis para o dia a dia da

vida; no moral, pela perda do sentido humano e de sua trajetória.

Viver em uma comunidade significa algo mais que estar em um mesmo lugar. Significa conviver com as pessoas,

relacionar-se com elas, compartir as celebrações e suas festas, criar e manter os laços que nos unem a elas. Os que

vivemos e desfrutamos da vida cotidiana de uma comunidade, nos vamos identificando, tornamos nossos hábitos

costumes que, passado o tempo, se persistem em uma maioria de pessoas, se convertem em tradições, e as tradições

em patrimônio, pois nelas se sustenta a processo da identidade. Formar parte na construção de sua história, cuja

manifestação se dá através da arquitetura, na forma das ruas, nos parques e praças, nos mercados e comércios, nas

moradias e nas construções importantes, fazem que nos identifiquemos com o lugar e, de maneira mais próxima, com

as pessoas que o habitam.

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Mas viver nas Missões e falar delas é rememorar os povos mágicos e cenários de natureza exuberante nos quais

as comunidades têm conservado seus testemunhos nos sítios arqueológicos, ruínas, imagens sacras, utensílios,

alimentos e costumes. Não entanto, falar de Missões também é falar de cidades e comunidades que foram fundadas por

povos diferentes dos guarani e jesuítas. Europeus chegados ao Brasil por diversas razões e seus descendentes, que

ocuparam os territórios das antigas Reduções, formaram novas comunidades que tem conservado tradições,

celebrações religiosas, arquitetura, artesanato e que por diversos fatores do tipo social, econômico e cultural estão em

um preocupante processo de estagnação e alteração de sua arquitetura e estrutura urbana.

Muitas destas cidades possuem uma memória arquitetônica apreciável e pouco conhecida, um grande patrimônio

de construções do final do século XIX e primeira metade do século XX, com exemplares de várias linguagens

arquitetônicas. Um acervo que merece ser conservado assim como tem sido preservado o patrimônio Jesuítico-Guarani,

por ser ele a continuidade da história das Missões no Rio Grande do Sul.

Utilizar estes recursos patrimoniais de forma sustentável para o turismo poderá ser a saída para a melhoria da

qualidade de vida destas comunidades e ao mesmo tempo preservar seus traços culturais.

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1. CARACTERIZAÇÃO DA REGIÃO O processo de urbanização do Rio Grande do Sul diferentemente do restante do Brasil não teve no litoral sua

maior ocupação, esta se deu prioritariamente nas regiões centro e nordeste (BARROSO, 1992, pág. 35):

Sua rarefeita ocupação fugia à regra do caso brasileiro, uma vez que até o século XIX, especialmente, muitos

estados pontilhavam uma intensa rede urbana na área litorânea em oposição aos grandes vazios da área

ocidental.

Por não oferecer atrativos econômicos para a política econômica da época, o Rio Grande do Sul começou

tardiamente a ser ocupado. Somente a partir do século XVII é que Jesuítas e Bandeirantes iniciaram a penetração no

território. Os Jesuítas fundando as missões com os Guarani e os bandeirantes para aprisionar os indígenas

catequizados (BARROSO, 1992, pág. 37):

Do lado litorâneo, é feita a penetração portuguesa, com a descida de jesuítas itinerantes até a altura de

Tramandaí. Paralelamente, a oeste, os jesuítas a serviço da Coroa espanhola atravessavam o rio Uruguai,

fundando a partir de 1626 missões na região do Tape [Rio Grande do Sul]; uma parcela do projeto das Missões

Jesuíticas do Paraguai. Entretanto, a ação bandeirante ao destruir as Missões e delas levando muitos índios

cativos transformou o território em ‘terra de ninguém’, entre os anos de 1641-82.

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Somente a partir de 1682 é que os Jesuítas recomeçam a ocupar a região noroeste, com a fundação das

reduções conhecidas como os Sete Povos da Banda Oriental do Rio Uruguai: São Francisco de Borja (1682), São

Nicolau (1687), São Luiz Gonzaga (1687), São Miguel Arcanjo (1687), São Lourenço Mártir (1690), São João Batista

(1697) e Santo Ângelo Custódio (1706).

Por sua vez os portugueses iniciaram uma estratégia de ocupação da região, então pertencente à Espanha pelo

Tratado de Tordesilhas, a partir da fundação da Colônia do Sacramento em 1680. Posteriormente, no início do século

XVIII, com a necessidade de muares para transportar as riquezas encontradas nas Minas Gerais, os portugueses

iniciaram a descida rumo ao sul, abrindo caminhos e improvisando currais e invernadas que deram origem às primeiras

estâncias.

A expansão sobre o território levou à lutas permanentes entre portugueses e espanhóis, tendo como motivo

principal a definição dos limites das colônias. O Tratado de Tordesilhas foi completamente desrespeitado durante a

unificação das Coroas Portuguesa e Espanhola (1580-1640), levando a assinatura do Tratado de Madrid, em 1750,

onde ficou estabelecida a permuta dos Sete Povos da Banda Oriental pela Colônia do Sacramento. O governo

português passou a preocupar-se com a ocupação do oeste riograndense recrutando açorianos para povoar a região

das Missões o que não se concretizou. Estes colonizadores entraram pela região do estuário do Guaíba e subiram pelo

rio Jacuí até onde havia profundidade para as embarcações, nesse ponto fundaram Rio Pardo.

Após a conquista pelos portugueses, em 1801, a região passou a ser administrada por uma Comandância Militar,

subordinada ao governo com sede em Porto Alegre.

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A definição do processo de urbanização do Rio Grande do Sul se dá a partir do século XIX, neste momento foi

indispensável resguardar a posse da região oeste do estado. Para tanto em 1809 foram criados os municípios de Porto

Alegre, Rio Grande, Rio Pardo (ao qual pertencia a atual região das Missões) e Santo Antônio da Patrulha (SOUZA,

2000, pág. 32):

A partir do século XIX, com a relativa ocupação da região do vale do Jacuí e dos campos do sul, o eixo de

urbanização deslocou-se de Santa Maria para a direção norte, em regiões também propícias ao

desenvolvimento da pecuária. Foram surgindo Cruz Alta, Passo Fundo, Lagoa Vermelha e Palmeira das

Missões. A região das Missões, uma vez incorporada à Província, propiciou o aparecimento de núcleos que

rapidamente chegaram à condição de freguesia, como São Borja e Santo Ângelo.

Por volta de 1825 alguns imigrantes alemães foram levados para as Missões numa tentativa de colonização que

não foi bem sucedida, mas alguns colonos resistiram e se fixaram na região.

O repovoamento da região se iniciou em 1831 com a vinda de algumas famílias paulistas que passaram a se

dedicar ao comércio da erva mate e da madeira, apropriando-se das terras e do gado que haviam sido abandonados

pelos jesuítas, em propriedades isoladas que não formavam núcleos urbanos.

Em 1875 a Província do Rio Grande possuía 37 vilas originárias dos primeiros quatro municípios, a maioria delas

no Município de Rio Pardo, dentre as quais se encontravam as vilas de Santo Ângelo e de São Borja que deram origem

aos municípios que formam a atual Região das Missões.

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Na última década do século XIX imigrantes alemães, italianos e poloneses entre outros chegaram à região

modificando a realidade econômica e cultural, introduzindo o cultivo de produtos agrícolas e a criação de animais para o

consumo da população, assim como a instalação de indústrias caseiras, estabelecimentos comerciais e escolas.

Embora as Missões tenham sido incorporadas ao território riograndense em 1801, sua efetiva ocupação se deu

apenas no final do século XIX e inicio do século XX, após o quase esgotamento das possibilidades de utilização

extensiva das terras situadas no Vale do Jacuí, imediações do litoral norte, encosta da serra e planaltos meridional e

setentrional (BARROSO, 1992, pág. 51):

No primeiro momento (até 1950), na zona agrícola colonial, centrada na pequena propriedade, ocorre o rápido

esgotamento do solo, dado o seu uso intensivo.Paralelamente, desenvolveu-se a minifundiarização pelo

contínuo fracionamento da terra.[...] Mas não foi esse apenas o fator de deslocamento de muitas levas de

agricultores imigrantes na rota do noroeste.

A Região das Missões tornou-se a grande opção para as novas ocupações em função dos fortes atrativos que

possuía, herança das antigas Reduções: o gado, os cavalos, as mulas e a erva mate. Aliado aos produtos estava o

caminho dos tropeiros que passavam pela região para levar o gado e muares para o centro do país (BARROSO, 1992,

pág. 46):

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Aliás, havia consumo fácil para tudo quanto viesse das Missões: o gado para as charqueadas; os couros para o

Porto de Rio Grande; cavalos e mulas para serra acima, a caminho da Feira de Sorocaba.”

[...]

“Por outro lado, na linha noroeste, coube aos ervais o vinculo de atração, além dos efeitos do comércio do gado

em pé para o centro brasileiro, via caminho das Missões.

A grande maioria dos municípios que conformam a Região das Missões se originou de São Borja e Santo Ângelo,

que foram fundados como reduções em 1682 e1707 respectivamente. Ao longo dos anos as emancipações foram se

sucedendo e assim se criaram os 26 municípios que formam parte desta região, sendo que São Borja pertence à região

da Fronteira Oeste.

A alta mecanização da monocultura baseada no plantio da soja, trigo e milho, iniciada na década de 1970, levou

à concentração de terras, criando grandes latifúndios, e a expulsão do pequeno agricultor, empobrecendo a região como

um todo, promovendo um processo de estagnação que vem a refletir na organização e desenvolvimento destas cidades.

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2. DIAGNÓSTICO DOS RECURSOS DE INTERESSE PATRIMONIAL

O Patrimônio Cultural da região das Missões apresenta-se em primeira instância como o legado deixado pelos

Guarani e os Jesuítas nas reduções. São um sem número de sítios Arqueológicos espalhados por toda a região, quatro

deles reconhecidos como Patrimônio. Partindo de São Miguel Arcanjo, declarado Patrimônio Nacional em 1938 e da

Humanidade em 1983, São João Batista, São Lourenço Mártir e São Nicolau declarados Patrimônio Nacional em 1970.

Mas a idéia deste trabalho é precisamente encontrar e resgatar um legado diferente. Resgatar todo esse outro

patrimônio criado e construído após as reduções é chegar a encontrar os pontos que unem a história desta região onde

se fala muito no patrimônio missioneiro – os Sítios arqueológicos. Existe uma lacuna na história que é pouco conhecida.

Estas terras foram praticamente abandonadas pelos guarani e posteriormente repovoadas. Quem veio para cá? De

onde vieram? O que fizeram?

Se encontra um legado arquitetônico construído pelos descendentes de alemães, italianos e poloneses entre

outros, constituído em sua maioria por conjuntos de edificações e paisagens que lembram a influência européia na

arquitetura, gerado durante todo o período das imigrações no Rio Grande do Sul.

Um patrimônio em pedra, barro, madeira e outros materiais, construído por pedreiros, artesãos e agricultores,

seguindo seus costumes e as tradições que haviam trazido com eles de seus pais e estes por sua vez de seus países

para edificar espaços civis e religiosos que vão configurar este patrimônio.

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A região se caracteriza por possuir uma variada gama de exemplares arquitetônicos que marcam a sua evolução,

desde a época missioneira, passando pelas arquiteturas típicas dos imigrantes, o Ecletismo, o Neoclássico, o Art Déco e

o Modernismo. No entanto toda esta arquitetura teve a influência do meio onde foi construída, adaptando-se a uma nova

forma de vida.

As primeiras construções, conhecidas como coloniais, surgiram na região após o período reducional, são

edificações simples, a maior parte térreas com pouca preocupação estética, feitas de tijolos artesanais com argamassa

de barro, telhado em duas águas de telha capa-canal, com beirais estreitos, vergas de linhas retas. Internamente

possuem uma distribuição espacial com base no esquema da arquitetura açoriana. Esta arquitetura foi mais utilizada

nas sedes das fazendas, onde muitas ainda se conservam. Atualmente são poucos os exemplares urbanos que se

reconhecem porque no final do século XIX e inicio do XX foi uma prática comum agregar elementos da arquitetura oficial

à fachada frontal, mantendo a configuração espacial interna.

Bossoroca Entre Ijuis

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A arquitetura da imigração alemã na região se caracteriza por apresentar duas tipologias diferentes. A primeira

utiliza a estrutura em enxaimel para suas construções. Conforme Günter (1987):

A arquitetura espontânea mais notável e característica que o imigrante alemão praticou no meio rural do Rio

Grande do Sul foi o enxaimel, uma estrutura geométrica independente de madeira com fechamento não-portante

(taipa, adobe, etc.) essas construções típicas foram realizadas em “uma segunda fase na qual os colonos já

estavam plenamente estabelecido”, sendo que em épocas anteriores eles construíam cabanas, ranchos ou

abrigos temporários. A arquitetura do imigrante alemão no espaço rural sul-rio-grandense constitui-se em uma

reinterpretação do enxaimel europeu, com profundas adaptações em função de condicionantes materiais,

climáticos e interações culturais internas.

Cerro Largo São Pedro do Butia

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A segunda se distingue pelas construções em alvenaria de tijolos rebocada com argamassa de cal, utilização de

mansardas, telhados altos, beirais e alpendres com avarandados. Segundo Vidor (2005):

... algumas com características comuns: casas de alvenaria, colégios, clubes ou edificações de escritórios; as

primeiras com telhado de cumeeira única e quatro planos, duas para cada lado com inclinações diferentes. A

primeira partindo da cumeeira com inclinação menor de 45º e a segunda, a que repousa sobre as paredes, com

inclinação superior a 45º. Varanda em um ângulo frontal da casa, ou seja, desenvolvimento em C ou L com para

peito de alvenaria e pilares revestidos com reboco. As janelas se desenvolvem em sentido vertical, portanto

tornando as elevações frontais mais elegantes.

Pirapó Cerro Largo

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Com a imigração italiana surgem as construções de base rural italiana, dificilmente distinguíveis porque são muito

simples ou mescladas, cuja maioria serve de residência. As técnicas vindas da Itália foram adaptadas à realidade local,

utilizando-se a pedra, madeira e tijolo. Iniciaram aproveitando os materiais disponíveis nas matas vizinhas ou nas

pedreiras. As casas nos núcleos urbanos se assemelhavam a moradia rural: o primeiro pavimento era utilizado como

zona de serviços e deposito. Este “porão” era construído em pedra ou tijolos, sobre esta base a edificação era

usualmente de madeira, com um ou dois níveis, normalmente, se apresentava com planta retangular e cobertura a duas

águas, o que ajudava a conformar o sótão. Os beirais eram, normalmente, ornamentados por lambrequins. Muitas vezes

no segundo piso aparecem pequenos alpendres e detalhes de acabamento um pouco mais sofisticados.

Salvador das Missões Roque Gonzales

A partir do final do século XIX inicia-se o Ecletismo que surge em uma época onde há um grande embate de

idéias e culturas. Tem como principal característica o emprego de elementos pertencentes a vários estilos. Geralmente

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são plantas retangulares de distribuição geométrica simples. Podem ser de tipologia térrea ou de dois pavimentos

(sobrados), apresentando, em sua grande maioria, porão alto, alternativa encontrada para oferecer às residenciais

urbanas maior privacidade. Muitas vezes estas plantas são coloniais que sofrem modificações na sua ornamentação.

Utiliza vários recursos estilísticos do neoclássico como pilastras, platibandas ricamente trabalhadas, entablamento,

frontões cimbrados e retos sobre as vergas, meias colunas e cunhais que delimitam a elevação principal. Balcões de

ferro batido, muitas vezes trabalhados em linhas orgânicas características do Art Noveau. Alguns elementos decorativos

como vasos, porcelanas, pinhas, medalhões e esculturas são resgatados do barroco.

Cerro Largo Santo Ângelo

O Art Déco surgiu como uma transição entre o ecletismo e o modernismo. No período do governo de Getulio

Vargas (1930-1945) proliferaram-se as construções de edifícios governamentais e de cunho nacionalista, como a

empresa dos Correios e Telégrafos, que empregou o Art Déco como padrão, isto fez com que a arquitetura civil

passasse a utilizá-lo largamente. Caracteriza-se pelo emprego de materiais como o ferro e o vidro, utiliza as formas

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puras dando um ar de simplicidade e limpeza das ornamentações em linhas geométricas, platibandas recortadas em

formas angulares ou curvas e frisos retilíneos.

Santo Ângelo Cerro Largo

O Modernismo no Brasil, mais que um estilo arquitetônico foi movimento que marcou uma época. Segundo Bahia

(2004):

O Modernismo como fato cultural esteve intimamente ligado a um movimento, a uma estética e a um período,

que no Brasil surgiu principalmente pela literatura e pela arte, quando ocorreu a Semana de Arte Moderna de

1922 em São Paulo. Esse período caracterizou-se pelas grandes transformações das relações sociais,

econômicas e fundamentalmente políticas que acarretaram profundas modificações dos hábitos e costumes dos

brasileiros.

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A arquitetura modernista se caracterizou pela estrita coerência entre as formas das fachadas e a organização

espacial interna. Adotou-se a chamada construção funcional, que permitia vislumbrar vigas e estruturas de ferro ou

concreto combinadas com vidro, linhas geométricas e abstratas, precursoras da futura arquitetura racionalista. A

prioridade do planejamento urbano e o máximo de economia na utilização do solo na construção são duas de suas

premissas fundamentais, assim como a rigorosa racionalidade das formas arquitetônicas. O uso da tecnologia industrial,

da padronização e da pré-fabricação.

Santo Ângelo São Borja

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3. ANÁLISE DOS DADOS E MAPAS DA REGIÃO DAS MISSÕES

De acordo com a análise dos dados levantados nas fichas, nas planilhas e nos diferentes mapas dos 27

municípios estudados pode-se chegar a algumas conclusões.

Os elementos analisados são denominados como Recursos de Interesse Patrimonial - RIP, este termo vai

designar os bens arquitetônicos em geral sem ter em conta sua proteção. Somente os bens arquitetônicos que estão

declarados Patrimônio, em alguma instância administrativa – municipal, estadual ou federal, foram denominados como

Bens de Interesse Cultural – BIC.

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3.1. SITUAÇÃO DO PATRIMÔNIO 3.1.1. ANTIGUIDADE

A maioria das edificações catalogadas foram construídas em finais do século XIX e na primeira metade do século

XX, com exceção dos Remanescentes Missioneiros que datam do século XVII e XVIII. Isto se deve a que o

repovoamento desta área, após seu abandono por parte dos Jesuítas e Guaranis, só veio a acontecer com a chegada

dos novos colonos provenientes de migrações internas de descendentes de europeus, principalmente alemães.

Este fato vai marcar a cultura e as tradições destes novos povoados, onde se encontra uma quantidade de

recursos de interesse patrimonial com características trazidas por estes migrantes. Neste item pode-se assinalar

cidades como Cerro Largo, Salvador das Missões, São Pedro do Butiá e Pirapó que se destacam do grupo por possuir

um grande acervo de edificações com características arquitetônicas de influência alemã, que marcam o principio desta

nova ocupação. São edificações construídas em enxaimel, técnica construtiva com estrutura de madeira e

preenchimento de tijolos, assim como edificações com características do eclético alemão.

Posteriormente se encontra uma grande quantidade de edificações com características Ecléticas de meados do

século XX, principalmente nos três municípios onde se localizam os maiores aglomerados urbanos, São Borja, São Luiz

Gonzaga e Santo Ângelo. Nestas mesmas cidades se encontra um grande número de construções com características

arquitetônicas do Art Déco e do Modernismo, constituindo conjuntos que conformam os centros destas cidades.

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3.1.2. TIPOLOGIA DOS RECURSOS DE INTERESSE PATRIMONIAL

Os Recursos Patrimoniais estudados foram classificados de acordo com sua representatividade e distribuídos em

várias categorias: Edificação Religiosa, Conjunto Histórico, Edificação Civil, Edificação Residencial, Obras Civis, Sítios

Arqueológicos Missioneiros, Pequenos Grupos de Interesse, Fazendas de Interesse, Outros Sítios Arqueológicos

Missioneiros e Conjuntos de Imagens Missioneiras.

No mapa foram assinalados os elementos e conjuntos representativos de cada categoria dentro da região.

Com respeito às categorias, a maior parte dos recursos analisados é de caráter residencial, conjuntos históricos e

pequenos grupos homogêneos de casas, muitas vezes acompanhados de uma Igreja, representando a importância da

religião nestas comunidades. Também se encontram algumas edificações de caráter comercial e educacional,

geralmente acompanhando estes conjuntos. Outro elemento a ressaltar são as fazendas missioneiras dispersas nos

diferentes municípios.

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3.1.3. SITUAÇÃO ADMINISTRATIVA

A análise da situação administrativa se centrou em cinco categorias: Federal, Estadual, Municipal, Particular e

Eclesiástica. Este último, mesmo podendo estar incluído na categoria Particular, foi diferenciado pela importância que

representam os bens da Igreja dentro do conjunto dos recursos patrimoniais encontrados.

Titularidade Federal

Apresentam-se apenas seis municípios que tem algum bem de propriedade da união, entre estes, quatro

possuem os Sítios Arqueológicos Missioneiros de São Miguel Arcanjo, no município de São Miguel das Missões, São

Nicolau, no município do mesmo nome, São João Batista, em Entre-Ijuis e São Lourenço Mártir no município de São

Luiz Gonzaga. Os outros dois são em São Borja, a Estação Férrea, e a Agência dos Correios, em Santo Ângelo, as

Estações Férreas de Santo Ângelo e a do Comandai.

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Titularidade Estadual

Como se constata a participação do Estado, enquanto à propriedade, é muito pouca. Somente três municípios

possuem algum bem, são eles: A fonte “Missioneira” em São Nicolau. O Colégio Estadual Onofre Pires no município de

Santo Ângelo e em São Luiz Gonzaga a antiga Escola da Zona Norte, conhecida como o Sobrado da Duque.

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Titularidade Municipal

Enquanto aos bens de caráter municipal, a grande maioria deles são instituições de ensino ou instituições

culturais como museus, mas sua quantidade comparada com o total de recursos é pouca, nesta categoria podemos

destacar os municípios de: Santo Ângelo, São Borja, Cerro Largo e Pirapó.

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Titularidade Eclesiástica

Como já foi comentado anteriormente, esta categoria deveria fazer parte da Titularidade Particular, mas pela sua

importância dentro do contexto foi classificada separadamente.

Dez municípios contam com recursos de interesse propriedade da Igreja, entre eles, Santo Ângelo, Cerro Largo e

Roque Gonzáles com três ou mais RIP nesta categoria. Sete municípios com um ou dois recursos de propriedade

eclesiástica, são eles em sua grande maioria Igrejas católicas, muitas delas com características Neo-góticas construídas

pelos imigrantes de origem alemã. Podem-se destacar as de Guarani, Cerro Largo e São Pedro do Butiá, assim como

as Igrejas Matrizes de Santo Ângelo e São Luiz Gonzaga e a casa paroquial de Pirapó com suas pinturas internas.

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Titularidade Particular

A grande riqueza deste levantamento está na quantidade de Recursos de Interesse Patrimonial de caráter

particular. Conta-se com oito municípios que possuem mais de dez RIP como Santo Ângelo com setenta e oito, São

Borja com sessenta, Pirapó com trinta e nove, São Pedro do Butiá com vinte e oito, Cerro Largo com vinte e Salvador

das Missões com doze. Cinco municípios possuem entre cinco e dez RIP, representados por edificações geralmente de

moradia com algumas de uso comercial.

Este fato dificulta o manejo ou gestão destes recursos, pois faz com que dependa da boa vontade dos

proprietários e do incentivo que se lhes dê para sua valorização.

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3.1.4. DISTRIBUIÇÃO DOS BENS DE INTERESSE PATRIMONIAL DE ACORDO COM O NÍVEL DE PROTEÇÃO

A grande maioria dos Recursos de Interesse Patrimonial encontrados na região não possui nenhum tipo de

proteção.

Bens Declarados Patrimônio Federal

Neste grupo se encontrou apenas os quatro Sítios Arqueológicos Missioneiros e o conjunto de imagens Sacras

da Igreja Matriz de São Luiz Gonzaga. Se pode constatar que outros recursos de grande interesse como os conjuntos

de imagens do Museu Municipal de Santo Antonio das Missões, da Igreja de São Nicolau e conjuntos arquitetônicos

representativos da migração alemã como é o caso da cidade de Pirapó e a zona rural de São Pedro do Butiá, se

encontram sem nenhuma proteção.

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Bens Declarados Patrimônio Estadual

Em nível Estadual se percebe a ausência na proteção do Patrimônio da Região Missioneira, só foram

encontrados dois bens tombados, no município de São Borja, são eles a casa de João Goulart e o Museu de Getulio

Vargas.

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Bens Declarados Patrimônio Municipal

Em nível municipal foi encontrado um problema ainda maior, a grande maioria dos municípios não possui

nenhuma lei de proteção do Patrimônio, demonstrando a falta de preocupação dessas comunidades. Apenas três

municípios possuem bens tombados, a partir de decretos. Santo Ângelo, com três BIC, Cerro Largo com um BIC e uma

proposta de lei de Tombamento que ainda não está aprovada e São Borja que conta com nove patrimônios tombados,

sendo que seis são túmulos, um é o acervo do Museu da Estância e somente um prédio, a casa de João Goulart.

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3.1.5. ESTADO DE CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS

Foram analisados de acordo com as categorias Bom, Regular e Ruim. A análise das edificações foi realizada de

forma parcial, sendo que em muitas delas não se chegou a considerar seu interior.

Na grande maioria dos municípios o estado dos recursos é relativamente bom. Foi constatado que os que

possuem um grande número de edificações em enxaimel como Pirapó, São Pedro do Butiá e Salvador das Missões, o

estado destes recursos poderia se catalogar como regular, pois são edificações construídas com estruturas de madeira,

preenchidas com tijolos, que na maioria dos casos não tem uma manutenção adequada. Também foi constatado que

aquelas que se encontram desocupadas estão em piores condições. Outro elemento preocupante neste patrimônio e

principalmente nas cidades com maior desenvolvimento, são as modificações que se realizam sem nenhum critério,

descaracterizando as edificações, entre elas podemos citar Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga, Cerro Largo e São Pedro

do Butiá.

3.1.6. SITUAÇÃO DO ENTORNO

Enquanto a situação do entorno, aqueles recursos que se encontram nos cascos urbanos, apresentam-se com

características aceitáveis, muitas delas com suas ruas asfaltadas e nas de menor tamanho com calçamento de pedra.

As localizadas nas áreas rurais têm sua situação precária, a maioria das vezes com ruas de chão batido e sem calçadas

nem adequações urbanas.

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3.2. ASPECTOS TURÍSTICOS

A região tem se caracterizado por seu Patrimônio Jesuítico – Guarani, sendo este o único recurso patrimonial

explorado turisticamente. Este fato faz com que a maioria dos municípios da região procure encontrar algo que os

integre a este tema, muitas vezes esquecendo seus outros recursos.

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3.2.1. POSSIBILIDADE DE VISITA TURÍSTICA E INTEGRAÇÃO COM ROTAS

Neste item não se tem um panorama claro, pois a maioria dos elementos apresentados no levantamento de

campo leva a pensar que estes recursos podem ter possibilidades de visita turística, mas como eles são propriedades

particulares isto fica dependendo dos seus donos. Enquanto a integração em rotas turísticas, na região a única que se

encontra funcionando é a “Rota Missões”, hoje a “Rota Iguaçu – Missões”, mas ela esta mais direcionada aos recursos

vinculados com as reduções e não a outros recursos patrimoniais.

Também se conta com “O Caminho das Missões”, que abarca quase toda a região. Vai desde o município de São

Borja até o de Santo Ângelo, percorrendo os antigos caminhos das reduções, tendo em conta as antigas estâncias e o

patrimônio natural. Ainda falta incluir nesta rota as cidades fundadas pelas migrações, como as alemãs.

3.2.2. NÍVEL DE FUNCIONALIDADE E SERVIÇOS COMPLEMENTARES

Enquanto ao nível de funcionalidade, está intimamente relacionado com a possibilidade de visita turística, mesmo

que eles possam figurar com esta possibilidade, a grande maioria não está adequada, não possui as condições mínimas

para a acolhida dos visitantes, assim como não conta com serviços complementares. Só nas cidades com maior

desenvolvimento como São Borja, Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga e Cerro Largo, é que se pode constatar um nível de

funcionalidade um pouco melhor, contando com infra-estrutura e serviços de apoio.

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3.2.3. VALORAÇÃO TURÍSTICA ATUAL

Enquanto à Valoração Turística Atual, as categorias que foram consideradas são visita obrigatória, muito

interessante, interessante e pouco interessante.

Visita Obrigatória

Nesta categoria foram classificados os quatro Sítios Arqueológicos Missioneiros, a Catedral e o Museu Municipal

Dr José Olavo Machado de Santo Ângelo, a Igreja Matriz de São Luiz Gonzaga onde se encontram treze imagens do

período Missioneiro e o Museu Don Estanislau Wolski, no município de Santo Antonio das Missões, com um acervo de

aproximadamente oitenta imagens do período missioneiro.

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Muito interessante

Foram classificados como muito interessante, quando o recurso analisado apresenta características

excepcionais, que podem representar um bem de interesse cultural. Pode-se ressaltar aqueles municípios que possuem

mais de um RIP, como São Borja que conta com a Estação Ferroviária, a casa de João Goulart e o Museu de Getulio

Vargas, estes dois últimos declarados patrimônio Estadual, e Santo Ângelo com a Prefeitura Municipal, a estação férrea,

e o Antigo Hotel Avenida. Com um RIP, São Luiz Gonzaga com a Estação Férrea e em São Nicolau a casa de pedra

construída com a técnica e os materiais das reduções.

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Interessante

Foram Classificados como interessante àquelas construções que são representativas e conservam suas

características tipológicas. Este é o maior grupo encontrado, são pequenas cidades com um grande número de

edificações que, precisamente por ser um grupo homogêneo e que representam um período da historia, podem passar a

ser analisadas como conjuntos muito interessantes para serem trabalhados. O valor não está na categoria, mas sim na

quantidade de elementos que são encontrados.

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Pouco Interessante

Os municípios que apesar de possuírem Recurso de Interesse Patrimonial não despertam interesse ou aqueles

elementos que por si só não tem muito valor, mas unidos às demais categorias poderiam, muitas vezes, acrescentar

valores a conjuntos urbanos ou sítios de interesse. Neste grupo se podem assinalar municípios como Pirapó, Roque

Gonzáles e Salvador das Missões, que possuem conjuntos muito interessantes ou interessantes que seriam

complementados com estes elementos de pouco interesse.

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3.2.4. DIFICULDADE DE VALORAÇÃO

O Grau de dificuldade de Valoração foi analisado tendo em conta as distâncias aos principais centros da região e

aos sítios Arqueológicos Missioneiros. Aqui foi dividido em varias zonas, onde os municípios foram relacionados pela

proximidade física e pela homogeneidade de seus recursos patrimoniais.

A primeira zona é a dos Sítios Arqueológicos Missioneiros, que já é conhecida. Está conformada pelos quatro

Sítios e pelos municípios de Santo Ângelo, Entre-Ijuis, São Miguel das Missões, São Luiz Gonzaga, São Nicolau e

Santo Antonio das Missões, este último faz parte deste grupo por possuir como recurso de interesse patrimonial o

conjunto de imagens que se encontram no Museu Municipal.

O segundo grupo é formado pelos municípios localizados ao norte da região onde se encontra uma

homogeneidade nos RIP, pela sua historia e desenvolvimento, são eles: Giruá, Sete de Setembro, Guarani das Missões,

Cerro Largo, Salvador das Missões, São Pedro de Butiá, São Paulo das Missões, Roque Gonzáles e Pirapó. Neste

grupo se destaca Cerro Largo como município com maior desenvolvimento. Municípios como Sete de Setembro e São

Paulo das Missões têm um grau de dificuldade maior por não possuir muitos RIP.

E um terceiro grupo, formado pelos Municípios de Bossoroca, Itacurubí, Santo Antonio das Missões, Garruchos e

São Borja. A maior parte deles tem um grau de dificuldade de valoração muito alto, por possuir poucos recursos de

interesse patrimonial ou por se encontrar em uma área muito distante dos principais atrativos turístico-culturais. Como

exceção neste grupo se tem São Borja, cidade de médio porte com um conjunto relevante de edificações.

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A maior dificuldade de valoração da região como um todo é o fato das grandes distâncias entre os diferentes

grupos de recursos de interesse patrimonial e a grande distancia às cidades de maior importância como Santa Maria e

Porto Alegre.

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3.2.5. VALORAÇÃO DO POTENCIAL TURÍSTICO

Foram consideradas as mesmas categorias que na Valoração Turística Atual, tendo em conta a importância dos

RIP, o número deles encontrado em cada Município, as suas possibilidades e também se levou em conta as distâncias

aos grandes centros e aos Sítios Arqueológicos Missioneiros.

Visita Obrigatória

Nesta categoria foram classificados os municípios formados a partir dos Sete Povos das Missões, levando em

conta que não só possuem os principais Sítios Arqueológicos Missioneiros, como por apresentarem grandes conjuntos

arquitetônicos pós reducionais ou por terem possibilidades de organizar uma infra-estrutura adequada para a recepção

turística como Santo Ângelo, São Borja e São Luiz Gonzaga.

Nesta categoria também foram incluídos os municípios de Pirapó e São Pedro do Butiá, eles são avaliados como

conjuntos que apresentam um grande valor.

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Muito Interessante

Nesta categoria foram catalogados como Recursos de Interesse Patrimonial muito interessantes, os elementos

que já possuíam esta valoração e não tinham condições de mudá-la e os RIP interessantes que por meio de um

trabalho de restauração, melhoria do entorno e infra-estrutura podem mudar sua categoria de valoração e acrescentar

valores a conjuntos urbanos ou sítios de interesse.

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Interessante

Nesta categoria foram catalogados como Recursos de Interesse Patrimonial interessantes, os elementos que já

possuíam esta valoração e não tinham condições de mudá-la e os RIP pouco interessantes que por meio de um

trabalho de restauração, melhoria do entorno e infra-estrutura podem mudar sua categoria de valoração e acrescentar

valores a conjuntos urbanos ou sítios de interesse.

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Pouco Interessante

Nesta categoria permaneceram os Recursos de Interesse Patrimonial pouco interessantes, que necessitariam de

um trabalho muito grande ou que não tem características para melhorar sua categoria de valoração e que não

acrescentam valores aos conjuntos urbanos nos quais estão inseridos.

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3.2.6. NÍVEL DE SINALIZAÇÃO

Os níveis de sinalização na região em termos gerais são muito baixos, os únicos municípios que possuem uma

sinalização medianamente aceitável são aqueles que contêm os Sítios Arqueológicos Jesuítico-Guarani e as cidades

com maior desenvolvimento na região. Percebe-se uma grande lacuna nesta área.

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3.2.7. DISTRIBUIÇÃO DOS MUNICÍPIOS POR CARACTERÍSTICAS TIPOLÓGICAS DOS RECURSOS DE INTERESSE PATRIMONIAL (RIP)

O conjunto dos 27 municípios estudados pode ser dividido em quatro grupos pelas características do patrimônio

encontrado. Estas características consistem em possuir elementos em comum, seja sua origem ou as linhas de sua

arquitetura.

O primeiro grupo

Está formado pelos municípios de Santo Ângelo, São Borja e São Luiz Gonzaga. Possuem as cidades maiores da

região e de grande importância por terem sido os núcleos iniciais, que apresentam características similares como

haverem sido construídas sobre as antigas reduções, ter um conjunto arquitetônico urbano variado, ser formado por

construções do final do século XIX e século XX com características que poderiam ser identificadas como Ecléticas,

Neoclássicas, Art Déco e exemplares do primeiro modernismo. Não estão definidas por terem sido formadas por alguma

migração especifica, mas sim por grupos étnicos variados. Destaca-se o município de São Luiz Gonzaga por possuir em

sua área rural o Sítio Arqueológico de São Lourenço Mártir.

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O segundo grupo

Está constituído por Cerro Largo, Guarani das Missões, Giruá e Roque Gonzáles. São cidades que, mesmo

diferentes entre si, possuem alguns elementos em comum como sua formação. Neste grupo se destaca Cerro Largo,

por possuir um conjunto arquitetônico muito rico e variado, onde encontramos desde a arquitetura com linguagem Luso-

brasileira, Eclética, Art Déco e, principalmente, um grupo de edificações erguidas pelos descendentes de alemães.

Estas últimas construídas em dois modelos, umas no sistema construtivo “enxaimel” e outras de alvenaria de tijolo

rebocadas com argamassa de cal e decoradas com motivos típicos. Outro município que se diferencia é Roque

Gonzáles por possuir um conjunto arquitetônico da migração alemã de grande interesse localizado no distrito de Vila

Dona Otilia.

O terceiro grupo

Conformado pelos municípios de Pirapó, Salvador das Missões e São Pedro do Butiá que se caracterizam por

serem de pequeno porte e possuir um patrimônio arquitetônico de grande valor. São cidades construídas por migrações

internas, principalmente de origem alemã, que vêm conservando suas características tipológicas com uma grande

homogeneidade, possuem conjuntos de casas com características similares.

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O quarto grupo

Formado por uma grande quantidade de cidades com características diversas e onde não há um grupo étnico

predominante e não foi encontrada uma leitura clara de sua arquitetura, possuem alguns elementos interessantes, mas

não se pode dizer que apresentam um conjunto homogêneo de construções ou monumentos de grande relevância. São

eles: Bossoroca, Caibaté, Entre-Ijuis, Garruchos, Itacurubi, Santo Antônio das Missões, São Miguel das Missões, São

Nicolau, São Paulo das Missões, Sete de Setembro, e Ubiretama. Neste grupo se destacam as cidades de Entre-Ijuis,

São Miguel das Missões e São Nicolau por possuírem em seus territórios, respectivamente, os Sítios Arqueológicos de

São João Batista, São Miguel Arcanjo e São Nicolau. Assim como Santo Antônio das Missões pelo acervo de imaginaria

Missioneira.

Os Municípios de Dezesseis de Novembro, Eugênio de Castro, Mato Queimado, Porto Xavier, Rolador e Vitória

das Missões não foram considerados por não possuírem Recursos de Interesse Patrimonial.

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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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