Da ampliação do modelo semiótico textual à lá Umberto Eco

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  • 7/31/2019 Da ampliao do modelo semitico textual l Umberto Eco

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    INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao

    XXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Salvador/BA 1 a 5 Set 2002

    1 Trabalho apresentado no NP01 Ncleo de Pesquisa Teorias da Comunicao, XXV Congresso Anualem Cincia da Comunicao, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

    Antonini, Eliana Pibernat. Prof. Dr. USPDa ampliao do modelo semitico textual l Umberto Eco1Faculdade dos Meios de Comunicao Social. PUCRS.

    Resumo:O presente ensaio recupera, numa viso crtica , o modelo semitico textual

    proposto por Umberto Eco. Refletindo sobre os percursos metodolgicos que o autorconstri, redimensiona o leitor-modelo e o atualiza no papel de enunciatrio. Prevendoanalisar os produtos culturais contemporneos, tal modelo de anlise reconstri umsimulacro de emissor/receptor, que o prprio tecido textual promove.

    Palavras Chaves:Modelo terico Produo de sentido Leitor Modelo.

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    1 Trabalho apresentado no NP01 Ncleo de Pesquisa Teorias da Comunicao, XXV Congresso Anualem Cincia da Comunicao, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

    Da ampliao do modelo semitico textual l Umberto Eco1

    A ponte rene enquanto passagem que atravessa. Heidegger

    I - Recortes metodolgicosA reflexo sobre as teorias e os modelos aplicveis a todo processo comunicativo

    vem proporcionando um fecundo debate entre os pesquisadores da rea. Preocupados,

    mais uma vez, com os limites do objeto, as interferncias plurais do campo, com a

    prpria viso de cincia e mtodo, debruamo-nos sobre a realidade emprica em busca

    de representaes culturais que nela se espelham. Escorados e legitimados por

    pensadores da cultura globalizada, do simulacro, das tecnologias virtuais e

    hipertextuais, afastamo-nos, por vezes, do cerne terico e vamos deriva numarecapitulao de discusses h bastante tempo j esgotadas.

    Digo isso porque os produtos culturais constitudos como tecitura miditica, como

    amostragem de dada e particular cultura, podem ser enfocados a partir de uma tica

    peculiar, onde se recortem as marcas de significao, as searas metodolgicas e a

    tentativa, pragmtica, de reconhecimento e uso. Mergulhados nas categorias- fetiche,

    to ao gosto dos mass media, esquecemos, por vezes, de remeter nossos

    questionamentos, a correntes mais fecundas do pensamento cientfico e filosfico, numa

    dialtica mais hegeliana, numa apreciao esttica l Walter Benjamin, em discusses

    que extrapolem as vises da ps-modernidade e redimensionem o contemporneo.

    Pensar no produto miditico como marca cultural pressupe pensar no s a

    histria da sociedade em sua tradio milenar, como tambm a histria da sociedade de

    massa, escravizada pelo consumo, legitimada por atos de violncia e de engodo. A

    prtica social e crtica desta sociedade neobarroca, nos permite revisar noes de

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    conhecimento, de saber, de anlises culturais, interligadas a dadas teorias e especficas

    modelizaes.Uma viso prpria de conhecimento se delineia. Se o conhecer implica num vis a

    vis entre o Sujeito e o Objeto, tal dualismo pertence essncia do prprio saber, que se

    constri na apreenso do que representado pelo Objeto por um dado Sujeito. Tal

    dualismo gera um reconhecimento de simpatias, similitudes e diferenas, antipatias, que

    um determinado objeto obtm em sua representatividade, em sua transformao em

    signo. A busca por identidade instiga procura de traos culturais que emanam de tais e

    quais objetos e que revelam tais e quais sujeitos. Por conseqncia, o prprio objetosugere o mtodo de abordagem e exige um sujeito receptor de competncia, dotado de

    uma curiosidade exemplar.

    Entendo por mtodo, um procedimento que possibilita ao sujeito conhecer,

    dissecar, apreender tal objeto. Mtodo como instrumento, portanto, que atualiza dada

    teoria, com carter eminentemente dialtico, que possibilite ao sujeito um ultrapassar de

    limites, uma ruptura, uma transformao de antigos conhecimentos em novos. Objeto

    ser, aqui, uma construo da representao, do imaginrio; espao discursivo que

    existe num determinado tempo; objeto possvel, real ou virtual; recorte; manifestao.

    Modelo, abranger a representao de traos pertinentes e reiterativos que configuram,

    dado objeto. Teoria, ser um conjunto de princpios que interage sobre o objeto, sobre

    uma infinidade potencial de objetos, sistematicamente, e que se fazem pertinentes,

    verificveis, em vrias propostas de anlise destes mesmos objetos.

    Entendo tambm que todo objeto carrega consigo uma relao de significao,

    que passa a representar uma conveno cultural, onde se manifestam as produes de

    sentido de dada sociedade, em dado tempo e espao. As identidades e diferenas

    passam a revelar significaes que mostram/ revelam fronteiras, entre-lugares, espaos

    geopolticos locais, globais, virtuais. Entender, analisar o objeto implica num processo

    de conhecimento de cdigos, tecidos significantes que interagem em especfica

    produo de cultura. Nesta perspectiva, faz-se necessrio entender o objeto como

    linguagem e de codific-lo a partir de elementos diversificados que retratam as nuances

    textuais, contextuais e intertextuais. Prximo a nossa perspectiva terica, Frederic

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    1 Trabalho apresentado no NP01 Ncleo de Pesquisa Teorias da Comunicao, XXV Congresso Anualem Cincia da Comunicao, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

    Jameson, afirma que a distino entre sujeito-objeto garante e separa condies de

    saber e objeto do saber, sendo est distino fundamental para a identificao e anlise,e pelo prprio reconhecimento dos produtos1

    culturais gerados pela comunidade midiatizada. A separao entre conhecimento sobre

    o objeto, conhecimento do sujeito, reproduz uma outra, aquela onde o no-humano

    constitui a matria-prima a partir da qual se constri uma noo de objeto-mundo e,

    tambm, um perfil de sujeito ideal que recorta as amostragens da cultura a partir de

    uma inferncia prpria.

    O sujeito, ao se deparar com as representaes do objeto-mundo, faz uso de

    lgicas inferenciais e as retrabalha no interior de dado pressuposto terico. Com isso,

    adquire a capacidade de projetar modelos que se adeqem a representar, de forma

    cartogrfica, o objeto. Ou, ainda, modelos que expressem os mecanismos que

    engendram o sentido, e que mergulhados no caldo da cultura, remetam ainda a

    contextos sociais especficos e interajam com mltiplos agentes histricos.

    Nesta tica, o sujeito que se dispe a interpretar o objeto, deve, a priori , inferir

    sobre ele, e a partir da construir algum tipo de relao que se permita reconhecer o

    objeto em suas inmeras virtualidades. Interpretar, netsa lgica, pressupe

    compreender, antecer a significao de tal objeto. Na ampliao da referncia

    aristotlica, constri-se a relevncia da significao de dado objeto em sua relao mais

    estreita com aquilo que representa. Representar aqui conhecer a partir da competncia

    simblica. E, seja na viso saussureana, fenomenolgia de HUSSERL, na teoria de

    FREUD distentida por LACAN; seja na lgica perceiana, interpretar no nem ter aatribuio de um contedo a uma forma, mas a descoberta do sentido privilegiado que

    certo objeto refere. Digo mais, poder se a traduo de uma unidade de significao em

    outra, o ato de seleo que gera sentido, a equivalncia entre signos e semioses, o

    interpretante da teoria de Pierce. O jogo interpretativo leva ao reconhecimento de que

    11- James, Frederic. O inconsciente poltico: a narrativa, como ato socialmente simblico. ( 1992)

    tica, So Paulo ( pp.111).

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    cada objeto agrega uma produo de sentido, que poder ser revelada, ao sujeito, no

    momento em que este se debrua em sua anlise. O jogo interpretativo prope limitesao sujeito, ao contexto cultural, ao prprio objeto-texto. Para tal, necessita-se melhor

    entender a construo de simulacros textuais a partir de modelos abstratos de leitores.

    Na minha concepo, insistir em compreender, analisar os produtos culturais

    miditicos, sem a aplicao de um mtodo especfico que d conta da construo das

    semioses possveis, dos limites do que a desconstruo, enquanto abordagem

    metodolgica, prescreve, acaba por nos fazer esquecer que estamos frente a um objeto

    polmico, interdisciplinar, fugitivo, o da Comunicao e que interagimos com ele demuitas formas e podemos estud-lo, visualiz-lo a partir de pressupostos tericos que

    remetem a modelos e estratgias produzidos, questionados, ampliados pela prpria

    comunidade cientfica.

    II-Conjunes tericas

    O impasse filosfico gerado pela morte do sujeito, ou qui, por sua eliminao

    do palco da cultura, passa a se resolver a partir da individuao e analise dos cdigos

    que se articulam no tempo e no espao, submetidos a sistemas de convenes culturais

    j previamente determinados. A proposta de um cdigo faz com que certos significantes

    e significados se confirmem em detrimento de outros, o que leva a uma lgica dos

    agentes, numa primeira decodificao. Numa segunda ou terceira decodificao, tal

    lgica deve ser amparada pelo universo da significao que o texto promove,

    confirmando os significados que o contexto prev.

    Preocupado em delimitar seu campo de pesquisa, Umberto Eco, revela que seu

    estudo partiu da possibilidade de interpretar e reconhecer cdigos que se manifestam

    nos fenmenos comunicativos. A questo epistemolgica recobre uma pesquisa

    semitica que trabalha sobre um fenmeno social como a comunicao e sobre

    sistemas de convenes culturais como os cdigos (...) o salto consiste em passar,

    atravs de uma srie de fices descritivas, do universo dos seres humanos ao universo

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    dos modelos comunicativos2. Dialeticamente, isto aponta para hipteses de cdigos

    que funcionam como modelos estruturados de possveis trocas comunicacionais.Ao propor uma semitica da interpretao, dos limites que tal interpretao,

    sugere, nosso autor constri um modelo de estratgia textual que pressupe uma figura

    de leitor de modo totalmente abstrato. Para Eco, no est em questo um tipo de

    modelo comunicativo que projete um receptor efetivo, sociolgico ou emprico, mas

    sim uma categoria textual. Esta sua aposta no texto acaba por revelar um procedimento

    metodolgico que recupera, via tecido construdo culturalmente, as nuances dos

    receptores efetivos. Aos receptores empricos cabem outras funes que aqui noexploradas. Aos receptores modelo se oferece um contrato enunciativo e se exige um

    grau de competncia enciclopdica que os torna capazes de identificar e interpretar os

    cdigos elencados. Tentando estabelecer as

    diferentes relaes de sentido a partir de um modelo semitico, Eco e Fabri, introduzem

    a questo da significao e da decodificao, e ampliam este referencial, chegando

    noo de texto confrontada com a de contexto, este ltimo j estabelecido, dado dentro

    de uma produo cultural demarcada.

    Centrando-se no texto, a viso de Eco, que aqui endossamos o entender como o,

    nada mais sendo que um mecanismo que prescreve quais representaes dos termos ns

    fragmentos que compem devem ser delimitadas de modo a que se possa estabelecer

    nveis e praticas significativas. Fora do texto, os termos possuem todos os sentidos

    virtuais possveis; so, portanto, o lugar onde o sentido se produz e onde se produz

    sentido. Ou, se quisermos, na perspectiva de M. Bahktin, onde no h texto, no h

    tampouco objeto de investigao e de pensamento ( 1977/111); no texto esto os

    confins, as projees hipotticas, que determinam a gestao de um ou mais sentidos em

    detrimento de outros. Ou, ainda. como Y. Lotman, o considera, o texto ser conjunto

    sgnico coerente, formao semitica singular, fechada em si, dotada de um dado

    significado e de uma funo de integridade no descomponvel, a no ser em

    desconstrues terico prticas.

    2 Eco, Umberto. (1976) A estrutura ausente. SP. Perspectiva.

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    1 Trabalho apresentado no NP01 Ncleo de Pesquisa Teorias da Comunicao, XXV Congresso Anualem Cincia da Comunicao, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

    Eco retrabalha tais categorias e define o texto como um mecanismo preguioso,

    construdo de modo a pedir ao seu possvel leitor que execute uma grande parte dotrabalho de sua produo. Um texto, para nosso autor, um mecanismo que, de um

    lado, fornece uma serie de instrues para que se delimeie um possvel imagem de seu

    autor e de seu preferido leitor e, de outro, concretiza um jogo de estratgias que levam

    coerncia do seu sentido. Assim, h textos que requerem um leitor que responda de

    modo nico a sua concretizao, tipo os best-sellers, os filmes norteamericanos, as

    telenovelas, os reality shows, enquanto existem outros, no entanto, que so construdos

    para leitores que fazem um pacto de fantasia, de fico, de realismo mgico. H textos,portanto, que exigem uma nica resposta de seu leitor, enquanto h outros que tornam

    complexa esta resposta, levando o leitor a perder-se em trilhas de bosques vastos e

    densos at que seja possvel encontrar algum caminho que o conduza ao sentido,

    significao como um todo textual.

    Tal viso implica em uma abordagem terica que prope vises de conexo e de

    coerncia textual que devem interagir com o prprio leitor/ atualizador da significao.

    A produo e a interpretao de tal texto se confunde com a prpria idia de signo,

    quando ambos so processos contnuos de significao permanentemente ativos,

    associados pela intertextualidade. Para se obter um leitor que sova o texto e que o

    entende como uma pratica interpretativa em aberto, precisa-se ultrapassar o patamar da

    mera textualidade e entender quanto tanto texto, quanto leitor, quanto o prprio autor

    so simulacros projetados por um devir de sentido. Entender-se-, portanto, que todo

    texto ser um processo de edificao do sentido, gerador de seu prprio leitor ideal e

    amostragem de um perfil modelo de autor. Todo texto revelar sua intentio auctoris,

    intentio operis ou intentio lectoris, e defrontar-se com uma dificuldade ao tratar com

    o conceito de sujeito, uma vez que este ser um receptor-modelo, representante de uma

    teoria da linguagem que se propem a trabalhar com a significao a partir dos jogos

    interpretativos e de simulacros do processo comunicacional.

    III- Disjunes terico-crticas

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    O modelo de Eco prope uma nova discusso, uma problematizao do contexto,

    pois, ainda que tal contexto esteja imbricado totalmente ao sentido que o texto produz,j representa uma abertura a outros discursos que vo revelar do objeto mundo. Propor

    um modelo que interaja com o contexto, seja este lgico, lingstico, de imagens, sons,

    marcas temporais...implica, desde logo, numa teoria que faz uso do nvel textual como

    unidade primeira, para dela eleger seus preceitos metatextuais. Tal modelo aprimora a

    reflexo sobre como se d a visualidade das manifestaes culturais a partir dos meios

    de comunicao de massa. Igualmente, preocupa-se com o papel do receptor na

    construo do processo comunicativo, e com a dinmica que se estabelece entre emissore receptor situando o texto como produtor designificantes. A partir dos MCM, os

    receptores recebiam conjuntos textuais que s podem ser descodificados com base na

    literatura dos cdigos j sedimentados no contexto cultural. Construda a partir de

    diferentes linguagens, tal mensagem-texto englobar os no-ditos, os pressupostos, as

    ancoragens, exigindo dos receptores competncias mltiplas intra e intertextuais. Dito

    de outro modo, a passagem dos contedos veiculados pelos MCM no se realiza ao

    nvel do discurso posto, dado, de referncia unvoca, com um s cdigo, mas,

    sobretudo, tais contedos s se podem atualizar em relao s diversas regras

    contextuais que permitiram sua produo e que fazem parte de sua competncia

    produtiva, sua coerncia e sua coeso de sentido. A mensagem-texto constituir,

    portanto, o lugar onde a significao se estabelece, ou seja, o lugar onde se revela

    fenmenos de sentido que s adquirem significao mediante o contexto social em que

    se inserem e as linguagens das quais fazem uso.

    A relao entre os meios, os intrpretes ditos empricos e aqueles que, aqui,

    correlacionamos como leitores-modelo, pressupem todo um sistema da significao

    que parte da nominao, da representao do objeto dinmico pelo objeto imediato,

    representao sgnica pura no entender de C. S. Pierce 3. Igualmente, os leitores-

    3 Objeto dinmico ou mediato e objeto imediato so conceitos de que Pierce faz uso para sua teorizaoda semiose: o objeto imediato aquele como o prprio signo o representa, uma representao mentaldeste objeto. O objeto dinmico, real ou mediato segmentado da realidade e s pode ser indicado no

    processo da semiose.

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    modelos necessitam reconhecer no jogo interpretativo entre texto-contexto, as

    construes de umimaginrio ideolgico que se reproduz continuamente nos meios. Todo discurso

    ideolgico subjaz aos meios e, aos receptores, cabe prever jogos de inferncias que

    dem conta de determinada interpretao scio-cultural inserida numa dada- e s nesta

    relao paradigmtica de significao. Todos estes processos de ativao e insero do

    texto em complexos contedos facilitam a compreenso do que o Umberto Eco chama

    de topics e isotopias que levaro confirmao do sentido.4

    Revistando a noo de enunciado, e conseqentemente, a de enunciao, afirmao autor que a comunicao se produz e s se produz atravs do tecido textual, onde

    esto as marcas da sua produo quer como forma de emissor, quer de receptor. Os

    MCM no permitem jamais a viso de um emissor emprico e, igualmente, de um

    receptor emprico; eles projetam, no seu construto textual, virtualizaes de sujeitos.

    Estas virtualizaes s se podem concretizar como simulacros de sujeitos, actantes que

    so de uma relao de intercmbio bilateral, de uma relao de mundos possveis. Na

    enunciao se projetam os frames de sentido que revelaro ao destinatrio as

    propostas para construir este ou aquele universo de significao. Nesta perspectiva, as

    imagens textuais so deslocadas daquelas totalmente empricas, ou seja, h um

    mecanismo de produo de sentido que separa totalmente a enunciao (com sujeitos

    empricos, em situao real, determinada no espao e no tempo) do enunciado (sujeitos

    similados em espao/tempo do texto) colocando em relevo os efeitos de real que dado

    texto pode criar para persuadir seus receptores. O jogo comunicativo torna-se uma

    similitude dos produtos interativos que se instauram entre sujeitos, mundos possveis,

    tempos e espaos virtuais. Tudo isso acaba por gerar um modelo terico que pretende

    dar conta da mediao do sentido que os MCM executam.

    O receptor-modelo j recebe a mensagem textualizada dos meios com um

    contrato de leitura, uma aceitao do que est sendo proposto. O pseudo-real passa a

    4 Topic so representaes baseados na semiose ilimitada, que requerem a cooperao do leitor. Naperspectiva terica da literatura, podem ser entendidos como temas. Isotopia, recuperada da noo deGreimas, corresponde a coerncia textual, quela aposta interpretativa que o leitor deve fazer frente aotexto.

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    significar ainda mais do que o real vivenciado. E para possibilitar que tal leitura

    encontre, realmente, o sentido do texto, Eco estabelece limites na interpretao do leitor,redimensionados no prprio texto. Assim, afirma que as imagens textuais se

    despreendem da interpretao do receptor como parte de uma grande estratgia de

    inferncias e abdues. Tomando o termo a Pierce5, que, por sua vez, o ampliara de

    Aristteles, Umberto Eco vai entender que a abduo uma terceira modalidade de

    inferncia, uma espcie de intuio que se d lentamente, etapa por etapa, at chegar a

    uma concluso, ela ser uma busca pelo sentido que se d pela interpretao racional de

    sinais, indcios, signos. Movido de uma curiosidade abrangente, o receptor modelotentar encontrar o caminho interpretativo a partir das inferncias que puder confirmar e

    das abdues que lhe conduziro a um vis de sentido s coerente com aquele tipo de

    tecido textual. E, uma vez que o texto dado pelos MCM se constri como, algumas

    vezes vago, algumas vezes dogmtico, faz-se necessrio que o receptor o reconhea e

    estabelea algumas estratgias junto com o emissor para poder de codific-lo. O texto

    ser, pois, uma estratgia de interpretaes legitimveis, sem as quais podem acontecer

    at decodificaes aberrantes. Revisando diferenas entre interpretao e uso do

    texto, o autor cria uma teoria dos limites interpretativos que funciona como uma

    estratgia de cooperao entre a inteno do autor/emissor, do leitor/receptor e do

    prprio texto em si. Delineia uma srie de procedimentos que este leitor modelo deve

    desenvolver, que iro desde o reconhecimento daquilo que o texto tem de mais linear,

    em seu contedo atualizado, at antecipaes que podem ou no se confirmar como

    universo de sentido. Estes caminhos e descaminhos que o leitor busca, cria simulaes

    de narrativas, enredos, topics, isotopias... So passeios inferenciais. Assim, no s

    emissor/receptor so simulaes textuais como o prprio texto em si mesmo gera

    construes de simulacro de linguagem e de prticas interpretativas. Neste vis como j

    dito, o texto se aproxima da idia peirceana de signo, onde toda ao de sentido

    acontece numa produo infinita de semiose. A interpretao ser um processo que dar

    5 Para Pierce, a abduo consiste numa razo ou raciocnio que se realiza mediante uma inferncia. Seriauma espcie de intuio que busca chegar a um patamar de significao , onde o leitor deve ler o mundocomo um grande universo de sinais, indcios, convenes, ou seja, ler o mundo como um grande texto

    construdo a partir de inmeras linguagens.

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    conta do reconhecimento, primeiro, de um objeto- mundo ou estado de mundo, seguido

    por sua representao sgnica, traduzido num outro signo que ser seu interpretante,numa cadeia infinita de significao. Os enunciados podem e devem ter um sentido

    literal, mas esto dispostos de uma dada forma que revelam alguns e s estes tipos de

    mundos atuais e possveis. A competncia dos receptores deve estabelecer quais

    escolhas devem ser privilegiadas e quais destas mesmas escolhas estabelecem conexes

    com o universo externo. Todo conjunto de escolhas deve ser sustentado pelo tecido

    textual e pelo prprio leitor emprico que aposta numa certa conjectura sobre que tipo de

    leitor-modelo o texto postula. Isto aponta para uma pratica hermenutica que rev oprincpio do interpretante em Peirce e, consequentemente da semiose ilimitada e para

    uma leitura pr-textual, outra problemtica terica que aqui no cabe ainda elencar.

    Porto Alegre, abril de 2002

    Bibliografia:

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