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pdfcrowd.com open in browser PRO version Are you a developer? Try out the HTML to PDF API Index Estudos EBD Discipulado Mapas Igreja Ervália Corinhos Figuras1 Figuras2 Vídeos Fotos Ev. Luiz Henrique de Almeida Silva O CAIR NO ESPÍRITO: UMA ANÁLISE CRÍTICA DO FENÔMENO À LUZ DAS EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS As discussões em torno da manifestação do Espírito é uma realidade presente na comunidade cristã desde o período neotestamentário. Quando se trata do fenômeno designado de “cair no Espírito” ou “movimento do cai-cai”, as opiniões de escritores e teólogos são divergentes. Sobre o cair no Espírito, Paulo Romeiro escreveu E ainda que haja ocorrido tais fenômenos nos avivamentos passados, eles não estão acima da autoridade bíblica e nem servem de base para se estabelecer regras de fé e prática na Igreja. Que a Bíblia seja a única a ditar normas quanto a questões espirituais, e não as experiências vividas por terceiros.[1] Ao concluir seus argumentos sobre o referido fenômeno, buscando uma posição moderada, Romeiro afirma Reconheço que Deus tem poder para tocar alguém hoje de tal forma que a pessoa venha a cair. De modo algum sou contra a verdadeira manifestação do poder de Deus. Esta não me preocupa nem um pouco, pois quanto mais, melhor. O que realmente me preocupa são os abusos gerados em torno de tal prática. Estes trazem mais transtornos e divisões para o Corpo de Cristo do que edificação espiritual.[2] Entre aqueles que promovem os abusos em torno do fenômeno na atualidade, Romeiro descreve Este fenômeno foi verificado nos Estados Unidos através do ministério de Maria B. Woodwort-Etter por volta do ano de 1885. Ela mesma relata que muitos ímpios e escarnecedores foram os primeiros a cair debaixo do poder. Depois dela, muitos outros pregadores seguiram tal prática, como Kathryn Kuhlman (de quem Benny Hinn aprendeu) Kenneth Hagin e muitos outros.[3] Escrevendo sobre o assunto, Ciro Zibordi declara Os que defendem a “queda no poder” ignoram os fatos de que o culto a Deus é racional (Rm 12.1) e de que o espírito do profeta está sujeito ao profeta (1 Co 14.32). Isso significa que , por mais que sintamos a presença do Senhor, em um culto, devemos ser prudentes quanto às nossas reações. Devemos ser meninos apenas na malícia, e adultos no entendimento (1 Co 14.20).[4] Na Lição Bíblica da CPAD (Mestre), do 1º Trimestre/2012, comentada pelo pastor José Gonçalves, lemos o seguinte De vez em quando aparece uma nova onda no meio dos crentes. São modismos teológicos para todos os gostos. Antes era o cair no espírito, a unção do riso, etc. Atualmente a lista está bem maior.[5] Diante das declarações acima, entendo ser de fundamental importância uma análise crítica deste fenômeno que tanto tem dividido opiniões ao longo da história. Manifestações do Espírito no Novo Testamento O apóstolo Paulo, ao escrever sua primeira carta à igreja em Corinto, de forma mais específica no contexto dos dons (gr. charisma) relacionados em 1 Coríntios 12:4-11, se deparara com as seguintes questões em torno da manifestação do Espírito e dos abusos na administração dos dons espirituais:

Cair no espirito uma análise

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IndexEstudos EBDDiscipuladoMapas IgrejaErváliaCorinhos Figuras1Figuras2Vídeos Fotos Ev. Luiz Henrique de Almeida Silva

O CAIR NO ESPÍRITO: UMA ANÁLISE CRÍTICA DO FENÔMENO À LUZ DAS EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS As discussões em torno da manifestação do Espírito é uma realidade presente na comunidade cristã desde o período neotestamentário.Quando se trata do fenômeno designado de “cair no Espírito” ou “movimento do cai-cai”, as opiniões de escritores e teólogos sãodivergentes.Sobre o cair no Espírito, Paulo Romeiro escreveuE ainda que haja ocorrido tais fenômenos nos avivamentos passados, eles não estão acima da autoridade bíblica e nem servem de basepara se estabelecer regras de fé e prática na Igreja. Que a Bíblia seja a única a ditar normas quanto a questões espirituais, e não asexperiências vividas por terceiros.[1]Ao concluir seus argumentos sobre o referido fenômeno, buscando uma posição moderada, Romeiro afirmaReconheço que Deus tem poder para tocar alguém hoje de tal forma que a pessoa venha a cair. De modo algum sou contra a verdadeiramanifestação do poder de Deus. Esta não me preocupa nem um pouco, pois quanto mais, melhor. O que realmente me preocupa são osabusos gerados em torno de tal prática. Estes trazem mais transtornos e divisões para o Corpo de Cristo do que edificação espiritual.[2]Entre aqueles que promovem os abusos em torno do fenômeno na atualidade, Romeiro descreveEste fenômeno foi verificado nos Estados Unidos através do ministério de Maria B. Woodwort-Etter por volta do ano de 1885. Ela mesmarelata que muitos ímpios e escarnecedores foram os primeiros a cair debaixo do poder. Depois dela, muitos outros pregadores seguiramtal prática, como Kathryn Kuhlman (de quem Benny Hinn aprendeu) Kenneth Hagin e muitos outros.[3]Escrevendo sobre o assunto, Ciro Zibordi declaraOs que defendem a “queda no poder” ignoram os fatos de que o culto a Deus é racional (Rm 12.1) e de que o espírito do profeta estásujeito ao profeta (1 Co 14.32). Isso significa que , por mais que sintamos a presença do Senhor, em um culto, devemos ser prudentesquanto às nossas reações. Devemos ser meninos apenas na malícia, e adultos no entendimento (1 Co 14.20).[4]Na Lição Bíblica da CPAD (Mestre), do 1º Trimestre/2012, comentada pelo pastor José Gonçalves, lemos o seguinteDe vez em quando aparece uma nova onda no meio dos crentes. São modismos teológicos para todos os gostos. Antes era o cair noespírito, a unção do riso, etc. Atualmente a lista está bem maior.[5]Diante das declarações acima, entendo ser de fundamental importância uma análise crítica deste fenômeno que tanto tem divididoopiniões ao longo da história.Manifestações do Espírito no Novo TestamentoO apóstolo Paulo, ao escrever sua primeira carta à igreja em Corinto, de forma mais específica no contexto dos dons (gr. charisma)relacionados em 1 Coríntios 12:4-11, se deparara com as seguintes questões em torno da manifestação do Espírito e dos abusos naadministração dos dons espirituais:

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administração dos dons espirituais:- Sentimento de independência ou superioridade (1 Co 12:12-26). Para entender a essência e o propósito da manifestação do Espíritoatravés dos dons, Paulo se utilizou da metáfora do corpo, onde nele cada membro tem a sua importância, e é interdependente do outro.A unidade na diversidade dos dons é destacada, e a soberania de Deus, que coloca os membros no corpo (igreja) como lhe convém éfortalecida, evitando assim qualquer tipo de orgulho e arrogância provenientes de algum sentimento ou pensamento meritório.- A manifestação dos dons desassociada do amor (1 Co 13:1-13). Na igreja em Corinto abundava a manifestação do Espírito através dosdons, mas faltava amor (gr. agape) na relações com o próximo. Dessa forma, desassociado de compromisso integral com asnecessidades integrais do próximo, os dons perdiam o sentido de ser, por ser sem fazer, por ser sem se envolver, por ser sem secomprometer.- A hiper valorização dos dons menos relevantes para a edificação da igreja (1 Co 14:1-25). Na igreja em Corinto o dom de línguas ganhouimportância exagerada, e sua prática tornou-se equivocada na medida em que a interpretação das línguas não era buscada e valorizadano culto público. Paulo precisou colocar as coisas no devido lugar, sem, contudo proibir o falar em línguas.- A desordem no culto (1 Co 14:26-33). No contexto do culto cristão, onde havia cânticos, doutrina, revelação, línguas e interpretação,tudo deveria convergir para a edificação. Acontece que no culto alguns começaram a falar em línguas simultaneamente, e sem intérprete.O resultado era uma grande confusão. A mesma desordem acontecia com a profecia (gr. propheteia), o que também foi tratado.Em meio a todas estas questões, a postura do apóstolo Paulo sempre foi a de corrigir o erro através de um ensino claro e objetivo. Pauloentendeu que não ter a manifestação do Espírito através dos dons era um problema maior do que a necessidade de corrigir os abusos eequívocos decorrentes desta manifestação. Manifestações no MontanismoO Montanismo foi um movimento religioso que data do século II. Recebe esta designação em razão do ser fundador se chamar Montano,um sacerdote pagão da região da Ásia Menor chamada Frígia que se converteu ao cristianismo.Eusébio de Cesaréia (263-340 d.C.), em sua "História Eclesiástica", narra os fatos acerca de Montano e seu movimento da seguintemaneira:"Diz-se haver certa vila da Mísia na Frígia, chamada Ardaba. Ali, dizem, um dos conversos recentes de nome Montano, quando Crato eraprocônsul na Ásia, tendo na alma excessivo desejo de assumir a liderança, dando ao adversário ocasião para atacá-lo. De modo que foiarrebatado no espírito, sendo levado a certo tipo de frenesi e êxtase irregular, delirando, falando e pronunciando coisas estranhas, eproclamando que era contrário às instituições que prevaleciam na Igreja, conforme transmitidas e mantidas em sucessão desde osprimórdios. Mas quanto aos que aconteceu estarem presentes e ouvir esses oráculos espúrios, ficaram alguns indignados, censurando-opor estar sob a influência de demônios e do espírito de engano e por estar apenas incitando distúrbios entre a multidão."[6]Apesar da importância histórica do relato acima, vale salientar que Eusébio seguiu as ideias teológicas de Orígenes, foi provavelmentebispo de Cesaréia, simpatizou com o arianismo, mas coagido por Constantino, veio a aceitar a ortodoxia do Credo Niceno.[7] Sendoassim, já envolvido com a institucionalização e romanização do cristianismo, é possível perceber a força de suas palavras contraMontano. A frase "falando e pronunciando coisas estranhas", sugere a ideia do falar em línguas. Sobre Montano, Olson nos narra que ele reuniu um grupo de seguidores, construindo em Papuza uma comunidade. Duas mulheres,Priscila e Maximila, se uniram a ele para profetizar, alertando para o breve retorno de Cristo, e condenando os bispos e líderes comodesprovidos de vida, corruptos e apóstatas. Montano e as duas profetisas, quando entravam em transe espiritual, falavam na primeirapessoa como se Deus, o Espírito Santo, falasse diretamente através deles.[8]

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O historiador Cairns entende que na tentativa de combater o formalismo e a organização humana, e de reafirmar as doutrinas do EspíritoSanto, Montano caiu no extremo oposto, concebendo fanáticas e equivocadas interpretações da Bíblia. O aspecto positivo do movimentofoi que:"O montanismo representou o protesto perene suscitado dentro da Igreja quando se aumenta a força da instituição e se diminui adependência do Espírito de Deus. Infelizmente, estes movimentos geralmente se afastam da Bíblia, entusiasmados que ficam pelareforma que desejam. O movimento montanista foi e é aviso que a Igreja não esqueça que a organização e a doutrina não podem serseparadas da satisfação do lado emocional da natureza do homem e do anseio humano por um contato espiritual imediato com Deus."[9]Sherril, escrevendo sobre estes acontecimentos, e enfatizando a sua perspectiva pentecostal, diz que o movimento foi prejudicado peloaumento das línguas e de outros fenômenos carismáticos.[10]Olson afirma que na reação contra os abusos e excessos de Montano e seus seguidores, a liderança da igreja procurou se apoiar cadavez menos em manifestações verbais sobrenaturais, como línguas, profecias e outros dons, sinais e milagres sobrenaturais do Espírito.As manifestações carismáticas, sendo agora identificadas com Montano, quase se extinguiram no decorrer da história.[11]Para Synan[12] e Olson[13], o principal motivo da rejeição do movimento não foi a presença dos dons, mas a afirmação de Montano deque as declarações proféticas estavam no mesmo nível de autoridade com as Escrituras.A Igreja reagiu a estas extravagâncias, condenando o movimento no Concílio de Constantinopla, em 381, declarando que os montanistasdeviam ser olhados como pagãos. Tertuliano, um dos Pais da Igreja, tornou-se montanista.[14]Com o montanismo, temos a primeira tentativa histórica do resgate da manifestação do Espírito através do dom de línguas, da profecia edos demais dons designados no pentecostalismo clássico de extraordinários.Manifestações do “Cair no Espírito” nos Grandes DespertamentosDurante o Primeiro Grande Despertamento, por volta do ano de 1740, quando uma busca pelo poder do Espírito norteava o ministério degrandes homens de Deus, temos alguns relatos da manifestação do poder do Espírito nas pregações, que resultava em algunscomportamentos (reações) não muito comuns. Deere descreve alguns casos[15]:John Wesley testemunhou numerosos “sinais externos” durante a sua prédica. Em 17 de junho de 1739, por exemplo, quando pregavanuma área rural e “convidava ansiosamente a todos os pecadores a que entrassem ‘no santo dos santos’ por meio desse ‘novo e vivocaminho’”, muitos dos que ouviram, começaram a clamar a Deus com fortes gritos e lágrimas. Alguns caíram, não lhes restandonenhuma força; outros tremiam e se balançavam terrivelmente; ainda outros eram despedaçados com uma espécie de movimentoconvulsivo, e isso com tanta violência que, com frequência, quatro ou cinco pessoas não eram capazes de segurar os que assim seencontravam.John Wesley, em seu diário, narra uma experiência vivenciada por George Whitefield, e a descreve da seguinte forma:Tive a oportunidade de falar-lhe a respeito desses sinais externos que tão frequentemente tem acompanhado a obra interior de Deus. Naverdade, achei que suas objeções eram fundamentadas, principalmente, em rudes deturpações do assunto. Mas, no dia seguinte, eleteve a oportunidade de se informar melhor: porque não muito antes dele começar (na aplicação do seu sermão) a convidar todos ospecadores a crerem em Cristo, quatro pessoas se prostraram diante dele, quase no mesmo momento. Uma delas, estendida, semsentido e movimento. A segunda, tremendo excessivamente. A terceira teve convulsões fortes por todo o corpo, mas não fez nenhumruído, a não ser através de gemidos. A quarta, igualmente convulsionou, invocando a Deus com gritos fortes e lágrimas. Desde este dia,creio eu, todos permitiremos que Deus leve adiante sua obra da maneira como lhe agradar.[16]Jonathan Edwards, considerado o maior teólogo do Primeiro Grande Despertamento, descreve os fatos acontecidos em suas reuniões na

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Jonathan Edwards, considerado o maior teólogo do Primeiro Grande Despertamento, descreve os fatos acontecidos em suas reuniões naAmérica do Norte:O contágio propagou-se rapidamente por todo o salão. Muitos jovens e crianças... pareciam vencidos pelo senso de grandeza e glória dascoisas divinas. Portavam-se com admiração, amor, alegria, louvor e compaixão para com os que se consideravam perdidos. Outrosachavam-se vencidos pela agonia em razão de seu estado pecaminoso. Enfim, no salão não havia senão choros,desmaios e coisasparecidas. [...] era mui frequente ver uma casa repleta de clamores, desmaios, convulsões, tanto em meio à agonia quanto em meio àadmiração e à alegria... Isso acontecia com tanta frequência, que alguns, nem conseguiam voltar para casa, mas permaneciam a noiteinteira onde estavam.[17]Apesar de Edwards conviver com tais manifestações, Pearcey dá o seguinte testemunho a seu respeito:Muitos souberam manter o equilíbrio entre devoção e racionalismo, sendo Jonathan Edwards o principal exemplo. De alta formaçãoeducacional, Edwards harmonizou de modo admirável a aprendizagem teológica e o fervor espiritual. Até os historiadores secularesreputam-no um dos maiores eruditos da história americana.[18]Diferente do que muitos pensam, é possível conciliar poder do Espírito com profundidade teológica. Edwards é um claro exemplo disto.Durante o Segundo (por volta de 1800) e Terceiro Grande Despertamento (por volta de 1830), períodos que antecederam o início do atualderramar do Espírito, os fenômenos continuaram acontecendo. Charles Finney, durante a sua passagem por De Kalb, vivencia aexperiência abaixo:Poucos anos antes, ocorrera ali um reavivamento dirigido pelos metodistas. Fora acompanhado com bastante emoção e com várioscasos do que os metodistas chamavam “cair no poder de Deus”. Os presbiterianos haviam resistido ao movimento, e, comoconsequência, surgiu entre metodistas e presbiterianos um sentimento de hostilidade. Os metodistas acusavam os presbiterianos deterem rejeitado o reavivamento por causa das pessoas que caíam “no poder”. Pelo que consegui descobrir, existia verdade na acusação,e os presbiterianos haviam decididamente incorrido no erro. Certa noite, não muito tempo depois de eu ter começado a pregar na aldeia,pouco antes de encerrar meu sermão, vi um homem cair da cadeira perto da porta. As pessoas juntaram-se à sua volta para cuidar dele.Pelo que vi, tive a certeza de se tratar de um caso de “cair no poder”,conforme a expressão usada pelos metodistas, pelo que julguei quese tratava de um irmão daquela denominação. Confesso que receei assistir ao retorno do estado de divisão citado anteriormente. Noentanto, tomei conhecimento de que quemcaíra fora um dos membros mais destacados da igreja presbiteriana. É digno de nota o fatoque, durante esse reavivamento, tenham ocorrido vários casos semelhantes entre os presbiterianos e nenhum entre os metodistas. Essefato gerou tantas confissões e esclarecimentos entre os membros de ambas as igrejas que nasceu entre eles um ambiente de grandecordialidade e bons sentimentos.[19]Citando o relato de Barton W. Stone, uma testemunha ocular do movimento Holiness, por volta de 1870, que descreve as formas deêxtase ocorridos nos primeiros acampamentos, Vinso Synan escreve[20]:O exercício da queda era comum a todas as classes: de santos a pecadores de todas as idades e de toda estire, de filósofos apalhaços. Esse exercício geralmente consistia em um grito lancinante seguido de uma queda, como de uma árvore, ao assoalho, à terraou no meio da lama, e a pessoa ficava como morta. Num desses encontros, duas alegres jovens irmãs, de repente emitiram um somagudo de lamento e ficaram caídas,inertes, por mais de uma hora. Finalmente, deram sinal de vida, clamando aflitas por misericórdia, eentão retornaram ao estado de inércia. O aspecto do semblante delas era horrível. Depois de certo tempo, a deformação foidesaparecendo até ser substituída por um sorriso celestial, e elas gritavam: “Preciso Jesus!”. Então, elas se levantaram e começaram adar testemunho do amor de Deus.Manifestações no avivamento do País de Gales

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Manifestações no avivamento do País de GalesFrank Bartleman, evangelista pentecostal, crítico e cronista das origens do movimento[21], registra a presença de fenômenos espirituaisno ministério de Evan Roberts, líder do avivamento no País de Gales:Outro escritor declarou que não era a eloquência de Evan Roberts que comovia o povo; eram suas lágrimas. Ele os quebrantava,chorando amargamente para que Deus os dobrasse em tal agonia que as lágrimas escorriam pelo seu rosto e todo o seu corpo tremia.Homens fortes eram quebrantados e choravam como crianças. As mulheres gritavam de medo. O barulho do choro e dos gritos enchia oar. Quando sua agonia se tornava maior, Evan Roberts chegava a cair diante do púlpito, enquanto muitos dentre o povo chegavam adesmaiar.[22]Manifestações no início do moderno Movimento Pentecostal.Quando o derramar no Espírito irrompeu em Los Angeles, especialmente nas reuniões da Rua Azusa, lideradas por William J. Seymour,nas reuniões da Igreja Batista do Novo Testamento, liderada por Joseph Smale e nas reuniões da Rua Eighth comMaple, lideradas porFrank Bartleman, alguns dos fenômenos que aconteciam nos acampamentos Holiness se fizeram presentes ali também. Bartleman,escrevendo em 1925 sobre como o Pentecostes chegou em Los Angeles, relata os seguintes fatos:Alguém podia estar falando. Repentinamente, o Espírito caía sobre toda a congregação. Deus mesmo fazia os apelos. Homens caíampor toda a casa como mortos numa batalha, ou corriam ao altar em massa buscando a Deus. A cena muitas vezes parecia uma florestacheia de árvores caídas.[23]A Igreja do Novo Testamento recebeu se “Pentecostes” ontem. Foi maravilhoso. Homens e mulheres ficaram prostrados diante daquantidade de poder que havia no local. Uma atmosfera celestial invadiu todo o ambiente. Eu nunca antes ouvira cantar daquela maneira.Era uma melodia que parecia vir direto do trono de Deus.[...] Na Igreja do Novo Testamento, uma jovem requintada ficou durante horasprotrada no chão. De vez em quando, os mais belos cantos celestiais saíam de sua boca. Subiam até o trono de Deus e depois morriamnuma melodia que não era terrena. Cantava: “Louvado seja Deus! Louvado seja Deus!” Na casa inteira homens e mulheres choravam. Umpregador estava deitado com o rosto no chão, “morrendo”. O “Pentecostes” havia chegado.[24]O trabalho é para valer. Deus está conosco com grande autenticidade. Não ousamos pensar em ninharias. Homens fortes ficam durantehoras prostrados sob o poder de Deus, cortados como grama. O avivamento será mundial sem dúvida.[25]O peso da glória era tal que só podíamos ficar prostrados com o rosto em terra. Por muito tempo não podíamos nem ficar sentados.Todos ficavam com o rosto no chão, alguns durante o culto inteiro. Eu raramente conseguia sair desta posição,prostado inteiramentecom o rosto no chão.[26]Uma noite nessa época quando eu estava pregando sobre Cristo, colocando-o diante do povo no seu devido lugar, o Espírito testificou detal forma o seu agrado que fui tomado pela sua presença e caí inerte no chão sob uma poderosa revelação de Jesus na minha alma. Caía seus pés como João na ilha de Patmos.[27]Depois, uma senhora idosa de doces feições, uma luterana alemã, testemunhou que quando ouviu o povo louvando a Deus em línguas,orou para ser batizada no Espírito. Depois que estava já deitada começou a falar em línguas e louvou ao Senhor a noite inteira, paraespanto de seus filhos.[28]Uma jovem nessa reunião nessa reunião pela primeira vez foi visitada pelo Espírito e ficou meia hora com o rosto brilhando, deitada nochão, sem perceber os que estavam a seu redor, tendo visões indescritíveis. Logo começou a dizer: “Glória! Glória a Jesus!” e faloufluentemente numa língua estranha.[29]Como se vê nos relatos acima, o “cair no Espírito”, fenômeno bem frequente nos Grandes Despertamentos e nas reuniões pentecostaisem Los Angeles, não seguiam um padrão único, sendo descrito como “desmaios e coisas parecidas”, “cair no poder de Deus”, “ficar

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em Los Angeles, não seguiam um padrão único, sendo descrito como “desmaios e coisas parecidas”, “cair no poder de Deus”, “ficarcomo morto”, “caídos como mortos numa batalha”, “uma floresta cheia de árvores caídas”, “cortados como grama”, “prostrados com orosto no chão”, “deitados no chão”. Do registro deste fenômeno no início do atual Movimento Pentecostal mundial, passaremos agora aidentificá-lo nos primórdios do Movimento Pentecostal no Brasil.Manifestações no início do Movimento Pentecostal no BrasilEm seu diário pessoal, Gunnar Vingren, pioneiro das Assembleias de Deus no Brasil, relata um caso de “cair no poder”:Realizamos um culto de oração na casa da família Brito esta noite. Cerca de 20 pessoas estavam presentes. Quatro moças sentiram opoder de Deus de maneira maravilhosa. Uma delas sentiu tanto o peso dos seus pecados, que começou a chorar e a pedir perdão. Umaamiga sua, que não era crente, sentiu também o poder de Deus de uma maneira tão forte que caiu de costas no chão e começou aclamar a Deus pelo perdão dos seus pecados. Depois o Espírito Santo desceu sobre ela e ela começou a falar em outra língua e a cantarum hino espiritual no novo idioma, que recebera de Deus. Também cantou um hino em português, enquanto o poder de Deus estavasobre ela. Os vizinhos ficaram zangados com o barulho que fizemos. O culto de oração terminou à meia-noite.[30]Como pode ser observado, assim como os casos descritos ao longo da história, o fenômeno “cair no poder” nunca seguia um padrãoúnico de manifestação. Em alguns casos as pessoas caíam de rosto em terra, em outros casos caíam de costas, em algumas situaçõesficavam desacordadas, enquanto em outras permaneciam conscientes, tremiam, falavam em línguas, louvavam a Deus, tinham visões,etc..As atuais manifestações da “Cair no Espírito” à luz das evidências históricasAssim como no caso do “rir debaixo do poder”, quando se analisa o “cair no Espírito” à luz das narrativas históricas, percebem-sealgumas diferenças do atual movimento nas igrejas pentecostais e neopentecostais:- As manifestações das “cair no Espírito” não eram manipulações psicológicas;- Não se marcava culto para “cair no Espírito”;- “Cair no Espírito” era uma manifestação espontânea;- Não se idolatrava “pregadores” ou “mestres” por serem portadores de uma unção especial do “cair no Espírito”;- O culto não girava em torno da manifestação do “cair no Espírito”;O comentário de Jack Deere, ex-professor do Seminário Teológico de Dallas, EUA, é bastante pertinenteDiante das manifestações físicas causadas pela obra de Deus, devemos nos alegrar, mas jamais glorificá-las. Se as glorificamos,estaremos levando o povo a falsas crenças e ênfases equivocadas. Pois o mais importante não são as manifestações, mas as obrasque as provocam. A obra do Espírito deve ser honrada na convicção, na cura e no livramento; jamais deve ser honrada por causa de suareação.[31]O “Cair no Espírito” e o argumento da falta de evidência bíblicaAssim como no caso do “rir debaixo do poder” (ou “unção do riso”), a principal objeção para o “cair no Espírito” é a suposta falta deevidência bíblica acerca do fenômeno. Como já me pronunciei tratando sobre o “rir debaixo do poder”, não acredito que todas aspossibilidades de manifestação do poder do Espírito estão restritas às páginas da Bíblia. Escrevendo, por exemplo, sobre os atos deJesus, o evangelista João declaraHá, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e, se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todopoderia conter os livros que se escrevessem. Amém! (Jo 21.25, ARC)Sobre a falta de evidência bíblica para fenômenos espirituais, Deere argumentaTestar os frutos de uma obra é absolutamente essencial nos casos em que as Escrituras não se manifestam. Esse teste também é

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Testar os frutos de uma obra é absolutamente essencial nos casos em que as Escrituras não se manifestam. Esse teste também éaplicável aos que, embora esposem doutrinas corretas, o fruto de suas vidas e de seu ministério não se harmoniza com tais doutrinas.Conscientes ou inconscientemente os tais enganam-se a si mesmos. Não devemos avaliar algo mediante a sua bizarria ou estranheza.O estranho não é regra bíblica para se determinar se uma ação ou ministério procedem ou não de Deus. Suponhamos que víssemos umalcoólatra, que espanca a sua esposa e é inimigo de Deus, gritando e, de repente, cair imóvel por 24 horas durante uma reunião religiosa.E, se o tal homem se levantasse para nunca mais beber ou bater na esposa? E se ele começasse a amar a Deus acima de tudo? Ecomeçasse a amar a Deus e à sua Palavra? Por mais bizarro que isso nos parecesse, teríamos que extrair daí a seguinte conclusão: oEspírito Santo realmente operou nessa vida. Pois nem o diabo, nem libertam do vício. Tais coisas aconteceram e continuam a acontecerdurante os avivamentos.[32]No atual meio pentecostal assembleiano não é incomum em algumas reuniões e eventos a manifestação do cair no Espírito. Em algunscasos a apelação e a manipulação por parte de alguns pregadores é escancarada e vergonhosa, enquanto que em outros, sem nenhumtipo de indução, as pessoas “caem no poder”.Concluindo, abusos, meninice, demônios, modismos ou qualquer outro tipo de interpretação sobre o “cair no Espírito” precisa serresultado de um julgamento imparcial e com discernimento espiritual, antes da condenação e repúdio total do mesmo. [1] Romeiro, 1997, p. 75.[2] Ibid., p. 77.[3] Ibid., p. 71[4] Zibordi, 2006, p. 34.[5] Gonçalves, 2012, p. 8.[6] Cesaréia, 2003, p. 182.[7] Ibid., p. 12.[8] Olson, 2001, p. 30.[9] Cairns,1988, p. 82-83.[10] Sherrill, 2005, p. 102.[11] Ibid., p. 31[12] Synan, 2009, p. 34.[13] Ibid.[14] Leal, 2010, p. 1577 .[15] Deere, 2009, p. 92-94.[16] Wesley, 2009, p. 105-106.[17] Deere, ibid., p. 93[18] Pearcey, 2006, p. 300.[19] Rossel & Dupuis, 2006, p. 139-140.[20] Synan, 2009, p. 53-54.[21] Araújo, 2007, p. 117.[22] Bartleman, 1981, p. 25.[23] Ibid., p. 48.

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[23] Ibid., p. 48.[24] Ibid., p. 50-51.[25] Ibid. p. 54.[26] Ibid. p. 58.[27] Ibid., p. 75-76.[28] Ibid., p. 78.[29] Ibid., p. 79.[30] Ibid., p. 131.[31] Deere, 2009, p. 99.[32] Ibid., p. 98-99.

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