Analíse Política Comparada Apontamentos (1)

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  • Anlise Poltica Comparada

    Aula de Apresentao

    Apresentao programa, bibliografia e mtodos de avaliao

    Aula 1

    Bibliografia aula 1

    Bsica

    Giovanni Sartori, Compare Why and How. Comparing, Miscomparing and the Comparative

    Method, em M. Dogan e A. Kazancigil, eds., Comparing Nations. Concepts, Strategies, Substance , Oxford, Blackwell, 1994, pp. 14-34. [dossier; Bib FCSH CS 11102 ]

    Complementar

    Ken Newton e Jan Van Deth, Introduction in Newton e Van Deth, Foundations of Comparative Politics, 2010, pp. 1-10. [pdf]

    Richard Rose, Comparing Forms of Comparative Analysis, Political Studies, 1991, pp. 446-462 [pdf]

    A. Porqu comparar?

    - Fugir ao etnocentrismo

    - Falso particularismo

    - Falso universalismo

    Conhecer melhor mostra relao genrico/particular: compreenso caso isolado liga-se

    compreenso de muitos casos. O particular melhor percebido luz do geral. Por exemplo:

    transio democracia no Egito.

    Por outro lado, familiar escapa percepo. George Orwell escreveu nuesaiode9ueTo see hat is i fot of oes ose eeds a ostat stuggle.O estudante de Erasmus que vive um ano em Paris poder no ficar a perceber muito de Paris ou Frana, mas torna-se mais lcido pelo

    contnuo exerccio comparativo em relao ao pas de origem.

    Comparar prossegue o projeto das Luzes [capacidade do ser humano definir bases de legitimidade

  • para o seu conhecimento e discurso sobre a realidade, diferentes da verdade recebida na escritura

    e na transio. Qual o novo processo? A cincia. O conhecimento passa de ser sagrado e passa a

    assentar na discusso], obrigando-nos a reconsiderar a validade de interpretaes no discutidas e

    recebidas, e alargando o campo visual, uma vez que todos os investigadores pertencem a uma

    dada cultura que torna certas coisas bvias ou assumidas, logo invisveis.

    Comparar ensina que a bitola do espao cultural do investigador no pode servir de venda nos

    olhos[oidetaisaizesgadesosbiombos japoneses].

    Comparamos para escapar ao falso particularismo e ao falso universalismo.

    Falso particularismo: ePotugal.Uosevadoueestudausasopodeosideasingular algo que no resiste comparao geral. (ex: ePotugaluehtatosfuioiosplios.).

    Falso universalismo: Tomar como universal a ideia ocidental de progresso, levando a classificar

    cada sistema poltico numa escala imaginria que conduz inexoravelmente ao desenvolvimento ou

    deoaia.Poleaagavadoooeodoevoluioiso:fatode que cada desenvolvimento que parea aproximar-se do Estado Final seja considerado positivo e cada

    desenvolvimento que parea afastar-se do Estado Final seja considerado negativo.

    Existe ainda um aspecto poltico importante, referido com perspiccia por Mattei Dogan:

    taslated i tems of political demands, the perception of difference is one of the most important levers i histo, as poeful pehaps as soial oflits ithi atios. (p.7). Ex: Gerao de 1870 e 1850 Filhos da madrugada e seus pais?

    -> Diferena de comparar na diacronia (em relao ao passado) e na sintonia

    (contemporaneamente, com outros pases).

    (Ex. pode-se comparar o estado do pas relativamente a um sculo atrs, ou ento de forma

    contempornea, relativamente aos demais pases da Europa).

    Dinmica geracional gera estas divergncias.

    Apenas a comparao demonstra conhecimentos racionais, lcidos.

    B. A comparao procura regras sociolgicas e tenta chegar s causas gerais dos fenmenos

    sociais (dispositivo heurstico pretende descobrir relaes empricas verdadeiras; e nomolgico).

    1. Os fenmenos polticos no podem ser objeto de uma cincia experimental

    Investigador do mtodo experimental pode provocar num ambiente fechado o fenmeno que

    quer estudar, assegurando que nenhuma perturbao ambiental interfira; ao manter constantes

  • variveis que no quer estudar, pode exclu-las do campo de anlise. Este tipo de manipulao controlo impossvel nas cincias sociais e humanas, onde s se podem estudar fenmenos no provocados (espontneos). Dispositivo heurstico e nomolgico.

    2. A comparao ajuda a separar o acidental do inevitvel;

    A comparao permite a introduo de leis e a elaborao de generalizaes. O prprio esprito da

    comparao envolve a procura de universais, com pontes provisrias entre universos

    aparentemente irreconciliveis.

    Existe acumulao de conhecimento no movimento que vai do particular para o geral e regressa

    ao particular com novas hipteses e conceitos cada vez mais refinados.

    S a anlise de mltiplos casos permite localizar, ordenar e construir uma hierarquia. S a

    comparao permite ordenar a realidade de acordo com eixos conceptuais que talvez se

    transformem em explicaes.

    B. Anlise Poltica Comparada

    A poltica comparada distingue-se por um mtodo, ou, nas palavras de Lijphart, a APC um campo

    da cincia poltica que se define por um tulo etodolgio e ez de sustatio.... Defie-se pelo todo e ez de sustatio. Comparao refere-se ento a um mtodo de estudo e no a um corpo substantivo de conhecimento.

    As investigaes podem ser implicitamente comparativas? Sim. Ainda que se estude apenas um

    pas ele pode estar enquadrado num contexto comparativo e os conceitos que usa, as suas

    feaetasaaltias,seeopaveis.CooidiaRosep.9peseaouausiadeconceitos aplicveis a uma multiplicidade de pases o teste para saber se um estudo pode ser

    osideadoopaativo.

    (Nota: Manuel Germano gnero humano. So dois polos opostos: Manuel Germano osiste e dize tudo soe ua oisa. E oposio, geo huao eside e o dize uase ada soe tudo. preciso encontrar um meio-termo de forma a aperfeioar a anlise).

    O objetivo da comparao ilustrar mas tambm explicar, compreender. Diz Ragin (1987:6), o

    conhecimento comparativo ofeee a hae paa opeede, eplia e itepeta. Certo, mas todo o conhecimento visa estes objetivos. Qual a razo especfica para o exerccio comparativo?

    - Sartori responde: opaa otola: testar se determinada generalizao ou hiptese casual se mantm (vlida) a todos os casos a que se aplica mantendo algumas variveis constantes

    e observando a ao de outras (Variveis operativas). Se se generalizar , nesse sentido,

    cientificamente verdadeira.

  • Outasfoasdeotolosoaepeietaoeaaliseestatstia,asotodocientfico (experincia) tem uma aplicabilidade limitada nas cincias sociais e o estatstico requer

    muitos casos. Estamos muitas vezes, como refere Lijphart, face ao problema de ter muitas

    variveis e poucos casos (many variables, small N).

    Poeeplo,sevoluessoausadaspopivaoelativaouossisteaspesideiaistendem a gerar governos eficazes, enquanto os sistemas parlamentares resultam em governos

    faosouapoezaeadeoaiaestoivesaeteelaioadas.Verdadeiro? Falso? Como saber? Sabemos comparando.

    O que comparvel? A questo crucial da comparabilidade

    Duas entidades dizem-seiopaveisuadoopossueehuaaatestiaecomum (como pedras e macacos a comparao no tem interesse, porque acaba onde comea). Para poder comparar necessrio que as entidades a ser comparadas possuam pelo menos uma

    caracterstica em comum. Peras e mas so diferentes, mas so comparveis em relao a

    algumas das suas propriedades, as propriedades que partilham, e no comparveis com respeito

    s propriedades que no partilham. Peras e mas so comparveis enquanto fruto, coisas que se

    podem comer, coisas que crescem em rvores, mas incomparveis no que respeita sua forma.

    Comparar assemelhar e dissemelhar at um certo ponto. Se duas entidades so iguais em tudo

    (todas as caractersticas) ento elas so a mesma unidade.

    Se duas entidades forem diferentes em todos os aspectos, a comparao no tem sentido, exceto

    esse mesmo.

    fundamental classificar: ordenar um dado universo em classes mutuamente exclusivas e

    ojutaeteeaustivas.slassifiaesestaeleeoueigualedifeete.Osojetosque recaem na mesma classe so assemelhveis segundo o critrio escolhido para classificar, e so

    mais parecidos entre si e dentro da mesma classe do que com os objetos que recaem noutras

    classes. Quanto mais pequeno o nmero de classes de uma classificao, mais elevada a variao

    intra-classe (e vice-versa).

    D. Conceitos

    Classificar pressupe a existncia de classificadores, ou conceitos, que por sua vez decorrem

    teorias. No h empiria sem teoria, e teoria sem empiria ftil.

    Aplicado APC, quer dizer que: sem abstrao e construo intelectual no existem

    denominadores comuns entre diversos objetos submetidos comparao. Porque o conceito

    esta mesma abstrao, no possvel a comparao sem conceitos. O conceito representa todos

    os objetos de um dado gnero, uma ideia abstrata, na medida em que considera apenas algumas

    caractersticas dos objetos, uma ideia genrica, na medida em que se estende as caractersticas

    consideradas a todos os objetos da mesma classe. Primeiro a abstrao, depois a generalizao.

  • A APC usa conceitos como participao, legitimidade, autoridade, anomia, integrao, excluso,

    alienao, populismo, etc. Estas categorias lgicas so teis ao representarem inteligivelmente os

    fenmenos estudados. Os conceitos no so julgados pela sua verdade ou falsidade, mas pela sua

    utilidade terica necessariamente relacional e heurstica.

    E. Teoria

    Os conceitos so indispensveis, mas no suficientes, que tem que analisar e dissecar a realidade,

    mas tambm estruturar os dados de forma coerente. na criao de quadros tericos que o

    comparatista pode tornar o conhecimento cumulativo.

    Vemos, atravs dos indicadores das variveis que decorrem dos conceitos, aquilo que a teoria nos

    aponta como pertinente, que a teoria, atravs dos conceitos, seleciona como pertinente.

    LaPalombara chamou a ateno, em 1968, para o abismo que se abria entre, por um lado, teorias

    demasiado genricas para alguma vez serem testadas e, por outro, pesquisas empricas sem

    direo. Argumentou que a APC precisa de teorias de mdio alcance [ideia de Merton: teorias

    mais adequadas ao trabalho emprico, no pretendem abarcar o conjunto da sociedade, mas sim

    aplicar-se a conjuntos limitados de dados, transcendem a simples descrio do fenmeno social e

    preenchem o vazio entre o puro empirismo e as grandes teorias abstratas), a um nvel mdio de

    abstrao, que permitiram a...

    Se o esquema conceptual no susceptvel de verificao, como pode ser falsificado, quer dizer,

    testado empiricamente, validado ou no, e portanto refinado e modelado?

    No ser demasiado cmodo e estril, que a distncia entre a teoria e a realidade seja demasiado

    grande para ser transposta?

    A ordem intelectual (problemas de ordem so sempre problemas de conhecimento), e impe-se

    de forma mais necessria medida que aumenta o volume de informao acumulada.

    A teoria quem mais ordena, mas a teoria tambm guia. Alis, dar ordem, ordenar,

    implicitamente selecionar isto e no aquilo. A teoria pode ser uma fonte de percepes biased e

    deitepetaeseeas.opeigodasgadesteoias,edeoeitosoofalsasconscincias,paaepliaporque que camponeses no se revoltam ou os desenvolvimentistas uedefediaegaaiadoulodlaespaaiavedadeiosdeoatasasiosospor seguir o modelo americano de cidadania.

  • Aula 2

    As Fundaes Clssicas da abordagem comparativa (i): Mill, Durkheim e Weber

    Bibliografia aulas 2 e 3

    Bsica

    DURKHEIM, mile, Regras relativas administrao da prova in As Regras do Mtodo Sociolgico, Lisboa, Presena, 1995, pp.137-150.[FCSH Bib CS 7482/A]

    MILL , JohnStuart, Of the four methods of experimental inquiry, in A system of logic, ratiocinative and inductive..., Londres, pp. 222-237. [dossier]

    WEBER, Max, The types of legitimate domination in Economy and Society, vol. 1, pp. 212-244. [Tipos de dominao in Manuel Braga da Cruz, org., Teorias Sociolgicas I. Os Fundadores e os Clssicos, 1988, pp. 681-724] [dossier; gabinete]

    Neil J. SMELSER,leisdeTouevilleasCopaativealstiI.Vallie,ed., Comparative Methods in Sociology, Berkeley, U.C.P., 1971, pp. 19-47. [dossier; gabinete]

    Complementar

    Alexis de Tocqueville, O Antigo Regime e a Revoluo [FCSH CS 10661/C] e Da Democracia na Amrica[FCSH CS 642/C]

    mile Durkheim, O Suicdio [FCSH CS 734/A]

    Max WEBER, A tica protestante e o esprito do capitalismo [FCSH CS 5842/D]

    William Sewell, "March Bloch and the Logic of Comparative History", History and Theory, Vol. 6, No. 2 (1967), pp. 208-218 (pdf)

    A. O mtodo comparativo

    Os fenmenos histricos no podem ser objeto de uma cincia experimental.

    Os autores clssicos das cincias sociais e polticas (Tocqueville, Weber, Durkheim, Marc

    Bloch) compreenderam que podiam ultrapassar essa limitao pelo uso de comparaes. Para

    esses autores, o mtodo comparativo era o melhor substituto para o mtodo experimental

    nas cincias sociais.

  • [votadedasiiassoiaisdeoseeoles,seetoduasooasiiasduas=>aspetooolgio[leis]=>oseguiissoatavsdeopaa]. Blohafia:opaaesolhe, em um ou mais meios sociais diferentes, dois ou mais fenmenos que parecem, ao primeiro olhar, apresentar entre eles algumas analogias,

    descrever as curvas das suas evolues, constatar as semelhanas e as diferenas e, na medida

    do possvel, explicar uns e outros. Logo, duas condies so necessrias para que exista,

    historicamente falando, comparao: uma certa semelhana entre os factos observados o que parece evidente- e uma certa dissemelhana entre os eioseuesepoduze.(Bloch, 1963, p.17)

    Na sua forma mais ambiciosa, a comparao serve para falsificar hipteses de forma

    controlada, ou seja, para testar a validade de determinada generalizao ou hiptese causal

    mantendo certas variveis constantes e observando a aco de outras (as operativas:

    independentes e dependentes).

    B. As fundaes clssicas de anlise comparativa.

    1. John Stuart Mill

    Ostodosdaivestigaoepeietaleotaeteasiustiasueprecedem ou sucedem a um fenmeno, aquelas com as quais est realmente ligado

    atravs de umaleiivaivel,isto,elaesestveisdeausalidade,ouseja,leis. MTODO DA CONCORDNCIA

    Compara diferentes casos em que o fenmeno ocorre, de forma a verificar aquilo em que

    ooda.edoisouaisasosistiaseueofeeoooe tm apenas um fator iustiaeouateedete,etoessefatoioeuetodososasosconcordam a causa do fenmeno.

    Primeiro, identificam-se todas as instncias do fenmeno, depois, procura-se determinar que fator

    invariavelmente precede o seu surgimento.

    Case 1 Case 2 Case 3

    a d g

    b e h

    c f i

    X X X

    Y Y Y

    Crtica

    No claro em que sentido corre a causalidade.

  • Exemplo: (Ragin, Comparative Method): investigamos a causa de revoltas camponesas. Entre as

    causas possveis, identificadas pela literatura, esto a falta de terra, comercializao rpida da

    agricultura, uma classe mdia camponesa forte e tradicionalismo campons. Neste mtodo, o

    investigador considera todos os casos de revolta camponesa de forma a eliminar qualquer uma

    das quatro variveis explicativas, encontrando casos em que uma revolta camponesa no foi

    precedida de, por exemplo, existncia de uma classe media camponesa forte. A causa restante, ou

    combinao de causas, considerada decisiva. Se todos os casos concordassem nas quatro causas,

    ento todas seriam condies causais importantes.

    Este mtodo procura padres de invarincia e assenta na ideia de que tudo aquilo que pode ser

    eliminado no est relacionado com o fenmeno por qualquer lei.

    [Eliminam-se condies que no sejam partilhadas por todos os casos porque, se h uma situao

    (ex. de revolues) em que X no est presente, ento X no pode ser a causa do fenmeno Y. Se

    eu posso eliminar uma coisa ento essa coisa no est ligada ao fenmeno.

    A isto se responde: se encontrarmos um caso negativo que partilha o fator que supostamente ser

    causal, a tese invalida-se.

    Ex: seguindo este mtodo, descobrimos num primeiro momento que a causa de Revolues a

    escassez de terras. // Encontra-se um pas com escassez de terras e sem revoluo => tese

    invlida.]

    MTODO DA DIFERENA

    Compara casos em que o fenmeno ocorre com casos em que o fenmeno no ocorre, mas que

    so em todo o resto iguais. Se um caso em que o fenmeno ocorre e um caso em que no ocorre

    tm todos os fatores em comum excepto um, e esse ocorre no primeiro caso, ento o fator nico

    em que os dois casos diferem a causa, ou uma parte independente da causa, do fenmeno.

    Positive case (s) Negative case (s)

    a a

    b b

    c c

    X NOT X

    Y NOT Y

    Este mtodo assenta na ideia de que tudo o que no pode ser eliminado est relacionado com o

    fenmeno atravs de uma lei.

    Crtica: Nunca podemos estar completamente certos que analismos todas as variveis.

    MTODO INDIRECTO DA DIFERENA

  • Se dois ou mais casos em que o fenmeno ocorre tm apenas um fator em comum, e se dois ou

    mais casos em que ele no ocorre nada tm em comum exceto a ausncia desse fator: o fator

    nico em que os dois conjuntos de casos diferem, a causa do fenmeno.

    Teste hiptese: revoltas camponesas so provocadas por rpida comercializao da agricultura, 1,

    verificamos os casos de revoltas camponesas para ver se eles concordam no fator rpida

    comercializao, 2, procuramos casos de ausncia de revolta camponeses (em sociedades

    agrrias) para ver se concordam na ausncia do fator rpida comercializao da agricultura.

    MTODOS DOS RESDUOS

    Se um conjunto de fatores causa um conjunto de fenmenos, e se j atribumos todos os fatores

    exceto um, a todos os fenmenos, exceto um, ento o fenmeno remanescente pode ser

    atribudo ao fator remanescente.

    MTODO DAS VARIAES CONCOMITANTES

    Qualuefeeouevaiedeuafoaualuesepeueuualueoutofeeovarie de uma forma particular, a causa ou efeito desse fenmeno, ou est ligado com ele atravs

    deuualuefatodeausalidade.Mill

  • 2. mile Durkheim em As Regras do Mtodo Sociolgico:

    2.1 iafoadeostaueufeeoaausadooutoopaaosasosem que esto simultaneamente presentes ou ausentes, e procurar saber se as

    variaes por eles apresentadas nessas diferentes combinaes de circunstncias

    testemunham que um depededoouto. Quadopodesepoduzidosatifiialete,otodooepeietal.Quado,pelocontrrio, s podemos confront-los tais como se produziram espontaneamente, o mtodo

    utilizadoodaepeietaoidietaoutodoopaativo. Se a explicao sociolgica consiste em estabelecer relaes de causalidade e se os fenmenos

    soiolgiosesapaaodosoilogo,otodoopaativooioueovsoiologia:soiologiaopaadaouaopatiuladasoiologia; a prpria soiologia,uavezueeladeiadesepuaetedesitivaeaiioaepliaosfatos.

    2.2 Se todos os processos do mtodo comparativo so aplicveis, nem todos tm a

    mesma fora demonstrativa.

    difcil usar os mtodos da concordncia e da diferena porque supem que os casos comparados

    concordam ou diferem num nico ponto. Nunca se pode estar completamente certo de no ter

    deixado escapar algum antecedente. Nunca se pode ter a certeza que dois casos concordam em

    tudo menos um.

    Certo de no ter deixado escapar alguma antecedente o carcter nico de uma concordncia ou de uma diferena difcil estabelecer de forma irrefutvel. Nunca se pode ter a certeza que dois

    casos concordam ou diferem em todos os aspectos menos um.

    O mtodo das variaes concomitantes no assim: para que seja demonstrativo no preciso

    que todas as variaes diferentes daquelas que se comparam tenham sido rigorosamente

    excludas. O simples paralelismo nos valores de dois fenmenos, desde que tenha sido verificado

    um nmero de casos suficiente e suficientemente variado, a prova de que existe uma relao

    entre eles.

    Essa relao no tem necessariamente de ser de causalidade, concomitncia pode no significar

    um fenmeno ser causa do outro, mas serem ambos efeitos de uma mesma causa ou de existir

    entre eles um fenmeno intercalado e despercebido que efeito de um e causa do outro.

  • Os resultados deste mtodo precisam de ser interpretados, como de todos os mtodos, incluindo

    o experimental.

    Os outros mtodos s podem ser utilizados pela sociologia utilmente se a quantidade dos factos

    comparados for muito grande. preciso comparar, no variaes isoladas (no se trata de ilustrar

    hipteses, at porque ilustrar uma ideia no demonstr-la), mas sries de variaes, constitudas

    regularmente, cujos termos se liguem entre si atravs de uma gradao to contnua quanto

    possvel e que, alm disso, tenham uma amplitude suficiente.

    2.3 Exemplo: O Suicdio (1897)

    Eteosdeausalidade,auesoefeitooespodesepeuaesaausa.ssi,se parece que o suicdio depende de mais do que uma causa, porque h vrios tipos de suicdio.

    Tiposdesuidio: egosta, altrusta e anmico. Suicdio egosta: excesso de individualismo. Suicdio explicado pelo fraco compromisso do indivduo com o coletivo. O suicdio varia inversamente com o grau de integrao religiosa,

    familiar e na sociedade poltica.

    Durkheim descobriu que protestantes comentem mais suicdio do que catlicos, a varivel que

    usou para explicar esteesultadofoiitegaosoialdifeeialdosguposeligiosos:variao concomitante inversa:> integrao

  • Durkheim virou-se para as diferenas intra-militares nas taxas de suicdio (ou seja, manteve

    constante o estatuto de militar) e, concluiu: Durao de servio (integrao militar): durao do

    sevio;taasuidioPateteatiguidadeaistituio:ofiiais;taasuidioaio Escolha livre da vida militar: voluntrios e re-alistados;taasuidio Conclui que quanto mais inclinados e comprometidos com a vida militar, mais inclinados para o

    suicdio.

    Casado/solteiro = integrao social

    Ou seja, ao demonstrar a replicao ao nvel intra-unitrio da relao, Durkheim tornou mais

    plausvel a relao ao nvel inter-unitrio. frutuoso replicar comparaes entre unidades sociais

    atravs de comparaes dentro de unidades sociais.

    Aula - Conferncia

    (Ver Globalisation as a challenge to democracy) Aula 3

    Bibliografia: em conjunto com aula 2 (Heurstico: descobrir coisas novas empiricamente verdadeiras)

    C. Max Weber

    1. O uso dos tipos ideais

    O tipo ideal uma construo que destaca analiticamente certos aspectos de um fenmeno

    concreto de forma a entender a sua natureza especfica e de forma a mostrar a sua produo por

    causas especficas. (leitura em Braga da Cruz Pg. 685)

    A anlise ao mesmo tempo abstrai da realidade e ajuda-nos a perceb-la, na medida em que

    mostra em que medida um fenmeno histrico concreto num aspecto feudal, noutro

    patrimonial, noutro burocrtico, e ainda noutro carismtico.

    Para dar significados precisos a estes termos necessrio formular tipos ideias puros que

    envolvem o grau mais elevado possvel de integrao lgica em virtude da sua completa

    adequao ao nvel do significado, por isso improvvel ou raro que num fenmeno real

    corresponda exatamente a qualquer um destes tipos puros. (pg. 683, tipos de dominao, ler)

    Todos os tiposideais,poeeploaessiadaistadade,teessariamente apenas uma validade muito relativa e problemtica quando se pretende que sejam o relato histrico dos factos

    (1). Por outro lado, so de elevado valor sistemtico e heurstico, quando so usados como

    instrumentos conceptuais para a comparao e medio da realidade. Permitem comparar

  • (semelhanas/dissemelhanas) casos concretos com o tipo, vrios casos com o tipo e casos

    concretos entre si.

    [perspectiva abstracta que no suposto descrever factos histricos, nem se espera que estes

    correspondam aos tipos ideias comparar casos concretos de burocracia (Ex) com o tipo ideal de burocracia moderna]

    A estratgia comparativa de Weber estabelece, com a ajuda de tipologias:

    i) As diferenas entre as condies modernas e as antigas

    ii) As causas dessas diferenas

    Primeiro exemplo: (2) os tipos ideais e o estudo da mudana social

    Tambm as sequncias de desenvolvimento podem ser construdas em tipo ideal (narrativo) e

    possuir elevado valor heurstico (quer dizer, a ajudar a descobrir relaes empricas verdadeiras).

    Se construirmos um tipo ideal de organizao econmica artesanal, podemos conceber uma

    imagem ideal da mudana para uma organizao econmica capitalista. Depois, usa-se o

    construdo como dispositivo heurstico para inquirir o curso de desenvolvimento emprico

    histrico, de forma a comparar o tipo ideal e os factos. Se o tipo ideal foi bem construdo e os

    factos no correspondem ao previsto pelo tipo ideal, a hiptese de que a sociedade medieval no

    seria em certos aspectos estritamente uma sociedade artesanal seria privada, levando ainda a

    uma melhor compreenso dos aspectos no artesanais da sociedade medieval. Se der origem a

    este resultado, cumpre o seu propsito lgico, ainda que demonstre a sua divergncia da

    realidade. Foi, neste caso, uma forma de teste uma hiptese.

    Segundo exemplo: a tica protestante e o esprito do capitalismo

    (oeto anti-Marx de Max Weber, porque fala do capitalismo como causado por razes socioculturais e no pela luta de classes burguesia vs. proletariado)

    Uso do tipo ideal. Ao estudar a relao entre o protestantismo asctico e o esprito do capitalismo,

    Weber destaca um aspecto especfico de esprito do capitalismo, nomeadamente, a devoo ao

    trabalho rduo sem o gozo dos prazeres do consumo, a confiabilidade e a legalidade nas

    transaes econmicas, de outros aspectos do capitalismo, como os elementos de risco e

    especulativos. De igual forma, quando faladatiapotestate, destaca determinados aspectos, que liga com os outros aspectos que j havia destacado no capitalismo. Os tipos ideais no

    explicam nem descrevem todos os aspectos de um fenmeno. Ao descrever o capitalismo, afirma

    que precisamente a sua especifica tica do trabalho que o distingue de todos os tipos de

    atividade econmica o distingue de todos os tipos de atividade econmica precedentes e que tem

    efeitos duradouros sobre o desenvolvimento do capitalismo e o conjunto da sociedade (tese

    central de A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo).

  • Estratgia Comparativa. Os estudos de Weber sobre religio e capitalismo burgus racional

    mostram a diferena entre o mtodo comparativo positivo (lgica do mtodo da concordncia) e

    negativo (lgica do mtodo da diferena). Weber verificou que as sociedades da europa ocidental

    e da Amrica do norte que desenvolveram o capitalismo burgus racional partilhavam um

    aspecto: o esprito do protestantismo (semelhana crucial). Identificou condies semelhantes

    associadas a resultados semelhantes.

    Depois,olhadopaaosasosegativos,assoiedadesueno desenvolveram a organizao econmica capitalismo burgus racional (ndia clssica, china clssica), pergunta em que aspectos

    diferiam das sociedades anteriores. Ao faz-lo usou o mtodo da diferena, identificando

    condies associadas a resultados diferentes. Weber manteve invariantes alguns aspectos

    partilhados pelas sociedades ocidentais e orientais, como a existncia de classes mercadoras, de

    forma a chegar sua causa explicativa de que diferenas no sistema de crenas religiosas so

    cruciais para explicar as diferenas nas histrias econmicas das sociedades (A diferena crucial a

    ausncia de tica protestante).

    Alexis de Tocqueville e as causas da desigualdade social

    1. Teoria geral de Tocqueville sobre a sociedade e a mudana

    Centra-se na questo da igualdade social vs. desigualdade social (4). Usa a lgica do tipo ideal:

    aristocracia (igualdade mnima) e a democracia (igualdade mxima).

    Da Democracia na Amrica (1835 1840) descreve e explica as consequncias das condies de igualdade social nos EUA; O Antigo Regime e a Revoluo (1856), as consequncias da revoluo

    Francesa, na direo da igualdade.

    Frana (sculo XI) aproxima do tipo puro de sociedade aristocrtica. Os EUA (1835), do tipo puro

    da democracia.

    Argumento: as democracias tornam-se despticas indivduos afastam-se dos assuntos pblicos, governo cada vez mais centralizado, opinio pblica torna-se tirania da maioria. Mas e os EUA?

    Mecanismo que impedem despotismo: leis (unio federal, a institucionalizao dos municpios,

    sistema judicial), costumes (religio comum que encoraja a liberdade, a separao entre Estado e

    igreja, elevado nvel de educao), liberdade de imprensa e associaes polticas voluntrias.

    Tasiodaaistoaiapaaadeoaiadesigualdadeigualdade) favorece despotismo e instabilidade. Na Frana do XVIII certas mudanas tinham destrudo em parte a sociedade

    aristocrtica e feito avanar parcialmente os princpios da igualdade.

    Esta mistura instvel dos dois princpios causou insatisfao, egosmo e autopromoo, conflito,

    despotismo, e destruio da moral (anomia), culminando na revoluo francesa. A Amrica

    construiu uma democracia sem ter que destruir primeiro uma sociedade aristocrtica: colhe os

    frutos da revoluo democrtica, sem ter que passar pela Revoluo.

  • 2. Como explicar as diferenas entre EUA e Frana? Mtodos e estratgias comparativos em

    Tocqueville

    2.1. Comparao binria de naes

    Exemplo: igualdade otidaustadaaistoaiavs.Igualdadepua. Tendncias Frana XVIII enfraqueceram o princpio da aristocracia (i) centralizao e padronizao

    do governo e (ii) Avano parcial da burguesia e camponeses em direo igualdade. Geram

    desequilbrios, pivaoelativa:udaassoiaisetosgupos sociais perdiam nuns aspectos, ganhavam noutros. Grupos sociais, nobres, classes medias, camponeses, ficaram isolados e em

    competio uns com os outros: cada um quer manter os privilgios que tinha, ganhar os que no

    tinha e livrar-se dos pesos no partilhados por outros grupos. Para o governo central estas divises

    eram boas pois nenhum grupo sozinho conseguia opor-se ao poder da coroa. O efeito acumulado

    foi deixar a Frana num estado precrio de integrao.

    Ao contrrio, Amrica: conjunto de fatores a contribuir para uma igualdade geral de condio e

    para inibir o desenvolvimento da aristocracia e de centralizao. Os governos criam a partir da

    tradio colonial uma constituio federal, sistemas eleitorais e de partidos, e uma imprensa livre,

    contribuindo para a liberdade poltica do povo. O governo central exerce nos EUA relativamente

    pouco controlo sobre a vida dos cidados, que vivem uma vida do minada por costumes uniformes

    e pela importncia de opinio pblica.

    Comparaes dentro de cada nao

    Para acrescentar peso ao argumento, tenta mostrar que as relaes existentes entre naes

    existem dentro de cada nao (= Durkheim).

    Exemplo: depois de referir que os camponeses na Inglaterra e na Alemanha avanaram menos do

    que em Frana no sentido da igualdade (1 comparao), virou-se para a situao alem (2

    comparao), sendo que as partes ao longo do Reno em que os camponeses detinham a terra

    numa situao parecida com a do pequeno proprietrio francs foi onde o zelo revolucionrio dos

    franceses encontrou mais cedo adeptos, noutras partes da Alemanha que resistiram at mais

    tarde a estas ideias foram as partes em que os camponeses no desfrutavam dos mesmos

    privilgios. Assim, a comparao intra-Alemanha deu o mesmo resultado que a comparao

    Frana-Alemanha: quanto mais os camponeses tinham avanado na direo igualitria, maior o

    fervor revolucionrio.

    A comparao dentro de cada nao pode ser feita entre:

    1. Sub-unidades diferentes na sincronia

    Ou 2. Entre a mesma (sub) unidade em momentos diferentes.

    Identificao de caractersticas comuns entre naes para reforar a explicao

  • Por exemplo, argumenta que a democracia (9) torna o convvio social mais fcil e simples.

    Exemplo: os americanos que viajam no estrangeiro ficam logo amigos pois vm-se a si prprios

    como iguais. Os ingleses, pelo contrrio, so distanciados e quieto exceto se forem da mesma

    classe social (vd. Titanic). Ou seja, diferenas no comportamento so explicadas por diferenas no

    grau e forma da igualdade.

    Afirmaes comparativas com referncia comparativa desconhecida. Muitas vezes, identificou

    explicitamente as unidades que manifestavam as diferenas a explicar (naes, regies). Noutras,

    o referente comparativo ficou implcito, como no caso do uso do temperamento francs para dar

    origem a uma revoluo frentica, sbita e profunda, em que no so feitas referencias a outros

    temperamentos.

    Causalidade

    Exemplo. Argumentos at agora: as intuies de Frana predispem a grandes revolues sociais,

    as da Amrica a estabilidade social combinada com atividade individual frentica- no chegam

    para explicar a ocorrncia ou no da revoluo, mas ajudam a perceber a sua probabilidade.

    Tocqueville estava ciente dos diferentes nveis de generalizao dos fatores que usou para explicar

    a ooiadaevoluo.EOtigoRegieeaRevoluoaalisaasircunstncias remotas no tempo e deodegealuepepaaoaihopaaaevoluo. Mas,eaiouta,evetospatiulares, mais recentes que finalmente determinaram o local de oigedaevoluo,oseusugietoeafoaueassuiu,poeeplo: aumento da privao relativa das classes nas dcadas anteriores; varias medidas repressivas, tais como a

    abolio dos parlamentos medievais em 1777; refirmas apressadas e mal concebidas, muitas delas

    rapidamente revertidas; variedade de prticas injustas contra os pobres.

    Nasce um modelo geral de causalidade histrica: (i) causas gerais e indeterminadas, dentro do

    qual so identificadas ii) causas particulares e determinadas, numa combinao de condies que

    predispem e que precipitam.

    PARA LER MAIS:

    3. Avaliao das estratgias comparativas de Tocqueville

    3.1 A natureza qualitativa e impressionista de muitos dos dados em que se baseou, inevitvel em

    funo do carcter limitado do material de arquivo ento disponvel, pelo que muitas

    comparaes tem uma fiabilidade limitada.

    3.2. O uso de indicadores indiretos para as variveis comparativas. O problema mais srio

    (alm da disponibilidade de medidas estatsticas sobre a riqueza e o fisco nas diversas naes

    comparativas) respeita noo central de privao relativa, ou seja, que um sistema social semi-

    destrudo mais pesado que um sistema social consistentemente organizado, ainda que este

    possa ser mais opressivo (pag19).

  • Acabou aqui matria.

    _______________________________________________________

    Matria acrescentada dos anos anteriores:

    Na maioria dos casos a evidncia emprica para a privao indireta, e refere-se a presumveis

    causas. O uso de indicadores indiretos para as variveis comparativas. O problema mais srio ou

    efeitos. No existia na altura informao direta sobre o estado psicolgico de grupos; medidas

    indiretas so melhores que nenhumas. Mas em relao fora explicativa, parece certo que sem

    medidas diretas de privao o argumento assenta em generalizaes psicolgicas no verificadas:

    de que discrepncias em privilgios de status so a fonte de maior insatisfao do que privaes

    absolutas no que se refere a estes privilgios; e que estas insatisfaes se manifestam em conflito

    grupal e atividade revolucionria. Apenas medidas diretas da privao podiam validar estas

    generalizaes, elos crticos na cadeia de argumentos de Tocqueville.

    3.3 A seleo de casos comparativos. Ainda que a maior preocupao fosse explorao sistemtica

    das semelhanas e diferenas entre EUA e Frana, por vezes, citou outros asos 3.4. A imputao de relaes causais a associaes comparativas. Porque Tocqueville se apoia num

    quadro com mltiplas foras causais e porque lidou com to poucos casos, fica-se necessariamente

    com uma sensao vaga sobre o peso preciso de certas foras causais e sobre quando elas podero

    ser esmagadas ou deflectivas por outras foras.

    Exemplo: diz que as naes democrticas tendem para a centralizao do governo e concentrao

    do poder, avanando vrios argumentos. Mas, no seu exemplo principal de nao democrtica, a

    Amrica, verificou que esta relao ao prevalecia, por um conjunto de razoes. Partindo apenas do

    relato de Tocqueville no se consegue discernir o peso relativo das foras e contra-foras que se

    relacionam com a centralizao. Para o fazer, era preciso um conjunto de pases definidos como

    deotio e vrios gaus e etalizados e ios gaus, de foa a ue a elao ete as duas condies e a incluso de outras condies, pudesse ser estabelecida numa perspectiva

    opaada _______________________________________________

  • Aula 4

    Bibliografia

    Bsica

    A. Lijphart, The Comparable-Cases Strategy in Comparative Research, 1975, pp. 158-177 [pdf; dossier]

    Complementar

    C. Ragin, Captulo 1 de The Comparative Method [pdf; dossier]

    D. Collier,TheCopaativeMethod,99,pp.-119 [pdf; dossier]

    Os dados de partida da anlise comparativa: Se quisermos saber porque que o PIB cresce mais

    nalgumas sociedades do que noutras, partida, os determinantes explicativos so muitos (i)

    factores produtivos (terra, capital, trabalho e organizao) (ii) nveis de procura sobre a produo.

    Por seu lado, estes determinantes dependem de um outro leque de factores sociais e culturais (ou

    estruturas): sistema educativo, sistema de estratificao, estrutura poltica, etc. Ou seja, o quadro

    inicial com que nos deparamos :

    i) Multiplicidade de condies operativas

    ii) Mistura das suas influncias sobre a varivel dependente

    iii) Indeterminao respeitante ao efeito de qualquer condio ou combinao de

    condies

    Os problemas a resolver so, portanto:

    i) Reduzir o nmero de condies operativas

    ii) Isolar as condies umas das outras e

    iii) Assim precisar a funo de cada condio, isolada ou em combinao

    Como fazer? Comea-sepoogaizaasefeidasodiesopeativasoufatoes. Primeiro (i) distinguindo entre variveis independentes, as que influenciam a varivel depende

    (Ex grau de escolaridade), e dependentes (taxa de absteno eleitoral).

    Segundo (ii), dentro das condies tratadas como variveis independentes, tratar como

    parmetros as condies que se assume (ou se faz) no variarem (=) e como variveis operativas

    as que se permite que variem, de forma a avaliar o seu impacto sobre a varivel dependente

  • (tringulo). Ao parametrizar, tenta-se que a maior parte das condies no varie de forma a isolar

    e examinar o funcionamento de uma (ou algumas) condio.

    Como que cada mtodo cientfico controla, manipula, combina e recombina os parmetros e

    variveis em explicaes ou narrativas causais?

    1. O mtodo experimental: manipulao humana de situaes para criar parmetros e

    variveis operativas. Os parmetros ou constantes so variveis cuja influncia anulada

    pela manipulao de condies experimentais, de modo a que a influncia de condies

    experimentalmente variadas possa ser isolada e investigada sistematicamente.

    2. O mtodo estatstico: aplica tcnicas matemticas a populaes e a amostras contendo

    grandes nmeros para tentar transformar condies em parmetros. A diferena para o

    experimental o que o estatstico faz isso empregando manipulao conceptual (tcnicas

    matemticas) em vez de manipulao experimental, que mantm constantes ou elimina

    fontes de variao, ou mostra que so inoperativas.

    3. O mtodo comparativo: usado quando o tipo de dados no pode ser, pura e

    simplesmente, controlado experimental ou (diz Smelser) o nmero de casos demasiado

    pequeno para permitir anlise estatstica. O nome da tcnica de controlo anlise

    comparativa sistemtica, ou seja, o mtodo comparativo produz explicaes cientficas

    pela manipulao sistemtica de parmetros e variveis. Lembre-se o exemplo do suicdio

    egosta em resultado da integrao social diferencial entre catlicos e protestantes e a

    foaooDukheiotoloupelaioiaou seja,desligouopossvelefeitodeestar em minoria).

    Smelser (1976) sugere dois caminhos para anlise comparativa contempornea:

    i) mais frutuoso comparar variaes no fenmeno que se deseja estudar em

    sociedades que so muito mais parecidas em muitos outros aspectos.

    Por exemplo, embora fosse possvel, em princpio, comparar polticas de penses da Dinamarca

    com as dos pases africanos emergentes da descolonizao, cujas tradies culturais e estruturas

    sociais so muitos diferentes, seria mais produtivo fazer essa comparao com a Noruega, Sucia,

    Finlndia e Islndia, que so semelhantes mas no idnticos em tradies culturais e estruturas

    sociais.

    Se duas sociedades partilham condies importantes, admissvel tratar essas condies como

    parmetros e presumir que o seu funcionamento igual (ou seja, agir como se a sua operatividade

    fosse nula), e que portanto no explica diferenas, e passar a examinar o funcionamento de outras

    variveis.

    Pelo contrrio, se um investigador escolhe duas unidades sociais diferentes em quase todos os

    aspectos enfrenta a dificuldade ter de considerar todasafotesdevaiaooovaivel ii) frutuoso replicar comparaes entre unidades sociais atravs de comparaes

    dentro de unidades sociais.

  • Exemplo (Durkheim) do suicdio altrusta e das diferenas entre, primeiro, civis e militares e depois

    dentro dos militares em funo do seu grau de integrao na cultura e condigo de honra militares.

    A vantagem da replicao a diferentes nveis analticos aumentar ou diminuir a confiana do

    investigador na associao entre as condies e o fenmeno a ser explicado, ou seja, na fora

    explanatria.

    Partindo daqui, Arend Lipjhart apresenta (1971, 1975) uma sistematizao das estratgias para

    lidar com o problema, MUITAS VARIVEIS, POUCOS CASOS.

    1) Aumentar o mais possvel o nmero de casos estendendo a anlise no espao,

    geograficamente, e no tempo, incluindo o maior nmero possvel de casos histricos.

    2) (Variveis) combinar duas ou mais variveis que expressam uma caracterstica subjacente

    essencialmente semelhante numa nica varivel. (reduzindo o numero de clulas, e

    aumentando o nmero de casos por clula).

    Reduzir o nmero de classes em que cada varivel se divide (por exemplo, simplificando um

    conjunto de categorias numa dicotomia) e assim atingir o mesmo objectivo de aumentar o nmero

    mdio de casos por clula da matriz.

    3) (Variveis) focar a anlise comparativa nas variveis-chave, omitindo as menos

    importantes: parcimnia terica.

    4) (Variveis) foaaaliseopaativaeasosopaveis,uedize,seelhatesnum nmero importante de caractersticas (variveis) que se querem tratar como

    constantes (parmetros) mas dissemelhantes no que respeita s variveis que queremos

    relacionar e entre as quais colocamos a hiptese de uma relao. a forma de ter uma

    boa diferena no que interessa enquanto temos o resto controlado. No reduz o nmero

    de variveis, mas reduz o nmero de variveis operativas, sob condies controladas.

    a) Os estudos de rea comparam unidades diferentes mas semelhantes (Amrica Latina ou

    Europa do Sul), de forma a controlar o mximo de variveis ao assumir que as sociedades

    so bastante parecidas.

    b) Ao analisar um mesmo pais na diacronia. A comparao da mesma unidade em momentos

    diferentes oferece uma melhor soluo para ao problema do controlo do que os estudo de

    rea. O controlo no perfeito: o mesmo pas no de facto o mesmo em momentos

    diferentes. Caso da Alemanha, entre as repblicas de Weimar e

    Bona, ou depois da IIGM, para estudar democracia vs. totalitarismo.

    c) Excepto quando a unidade de anlise o prprio sistema poltico nacional, podem fazer-se

    comparaes intra-nao em vez de inter-nao. o exemplo da industrializao na

    Alemanha e na Itlia. Poderia ser mais til comparar o norte e o sul de Itlia e a Baviera

    com Ruhr do que Itlia com a Alemanha, pois os pases diferem no apenas no nvel de

    industrializao mas nas tradies culturais, estrutura de governo, etc.

  • Lipjhat9evisitaaestatgiadosasosopaveis:estatgiadosasos comparveis: seleccionar casos comparveis e conseguir uma parte boa de controlo com o resultado da sua

    comparabilidade.

    A dificuldade encontrar casos em que no apenas as variveis de fundo so iguais (assuno de

    base, mas que efectivamente no controlada) mas tambm as operativas. O que se deseja

    encontrar casos o mais parecidos com o mtodo da diferena de Mill embora aqui se trate de testar relaes empricas j formuladas em hipteses do que descobrir relaes empricas):

    variveis de fundo controlados pela assuno de invarincia (por eeplo,pasesdoodelonrdicolietadopaaavaiaoapeasasvaiveis independentes e dependentes (operativas), para maximizar a varincia das independentes e observar resultado nas dependentes.

    (texto 75)

    Ragin e a lgica do mtodo comparativo:

    Estas so estratgias para o problema de o mtodo comparativo lidar com um nmero pequeno

    de casos para muitas variveis, impondo limitaes ao rigor cientfico. Ragin: ao invs, a natureza

    combinatria das explicaesda cincia social comparativa e o carcter holstico ou global do

    mtodo comparativo que dificultam esse rigor. Quando os argumentos causais so combinatrios,

    no o nmero de casos mas a sua variedade limitada que impe limites ao rigor.

    O investigador estuda a forma como um conjunto de condies ou causa se combina num certo

    contexto para explicar um fenmeno e comparam-no com a forma como essas condies ou

    causas se combinam noutro contexto, ou caso (ou com a forma como se poderiam combinar num

    tipo ideal). Ou seja, analisam cada caso como uma combinao de partes, como um todo. por

    isso que as explicaes da cincia comparada normalmente invocam condies causais

    convergentes, que se combinam de certa forma.

    Vamos a um exemplo dado por Ragin (pg. 14)

    Para explicar que nos votantes ingleses a pertena de classe e a preferncia de partido esto

    fortemente relacionadas (varivel dependente) devido convergncia de trs condies

    i) Uma histria de lutas de classes, geradora de mobilizao de classe

    ii) Que coincidiu com a maturao do sistema poltico actual (surgimento do Labour

    como partido)

    iii) Num pas industrializado h muito tempo

    o efeito combinado que explica a persistente relao individual entre classe social e partido. Esta

    configurao de causas explica a associao observada.

    Para avaliar com rigor este argumento seria necessrio encontrar instncias entre os pases

    democrticos, de todas as combinaes lgicas possveis das trs condies, e depois avaliar a sua

    relao com a associao entre classe social e partido ao nvel do votante. Todas as combinaes

  • possveis teriam de ser examinadas, porque o argumento afirma que a combinao das trs, e se

    fosse possvel que bastava uma combinao de duas, o argumento caia.

    Ora, todas as instncias possveis destas combinaes (8 casos lgicos distintos) no existem na

    histria. Na melhor hiptese, pode-se examinar as combinaes que existem.

    Para Ragin, o investigador estuda e compara casos, compara unidades macrossociais que tm que

    ser operacionalizadas. Ele esta interessado nas diferenas e semelhanas entre unidades

    macrossociais, incluindo na histria dos prprios casos, e no apenas como instancias da relao

    entre variveis. Isto significa que o mtodo comparativo no funciona com amostra ou populaes

    (como o estatstico= mas com todos os casos relevantes do fenmeno, pelo que as explicaes no

    so do tipo probabilstico (como em Durkheim). Por outro lado, insensvel frequncia relativa

    de tipos de casos, porque se um fenmeno for causado por duas combinaes de condies,

    ambas so consideradas validas independentemente da sua frequncia. Por isso Ragin identifica

    dois caminhos: a comparao orientada para variveis (cap. 3 e 4, respectivamente).

  • Anlise Poltica Comparada

    Aula 5 24 de Fevereiro de 2011

    Abordagem comparativa contempornea Os dados de partida da anlise comparativa

    Se quisermos saber porque que o PIB cresce mais nalgumas sociedades do que noutras,

    partida, os determinantes explicativos so muitos: (i) factores produtivos (terra, capital,

    trabalho e organizao), (ii) nveis de procura sobre a produo. Por seu lado, estes

    determinantes dependem de um outro leque de factores sociais e culturais (ou estruturas):

    sistemas educativos, sistema de estratificao, estrutura poltica, etc.

    Ou seja, o quadro inicial com que nos deparamos :

    1) Multiplicidade de condies operativas

    2) Mistura das suas influncias sobre a varivel dependente

    3) Indeterminao respeitante ao efeito de qualquer condio ou combinao de

    condies

    4) Os problemas a resolver so, portanto:

    a) Reduzir o nmero de condies operativas;

    b) Isolar as condies umas das outras e

    c) Assim precisar a funo de cada condio, isolada ou em combinao.

    COMO FAZER?

    Comea-se por organizar as referidas condies operativas ou factores.

    Primeiro, distinguindo entre variveis independentes, as que influenciam a varivel

    dependente (ex. grau de escolarizao), e dependentes (taxa de absteno eleitoral).

    Segundo, dentro das condies tratadas como variveis independentes, tratar como

    parmetros as condies que se assume (ou se faz) no variarem (=) e como variveis

    operativas as que se permite que variem, de forma a avaliar o seu impacto sobre a varivel

    dependente. Ao parametrizar, tenta-se que a maior parte das condies no varie de forma a

    isolar e examinar o funcionamento de uma (ou algumas) condio.

    Como que cada mtodo cientfico controla, manipula, combina e recombina os parmetros e

    variveis em explicaes ou narrativas causais?

  • Anlise Poltica Comparada

    (parmetro so variveis que poderiam diferenciar os casos independentes, mas que esto

    desligadas e portanto no explicam diferenas entre os casos)

    1) O mtodo experimental: manipulao humana de situaes para criar parmetros e

    variveis operativas. Os parmetros ou constantes so variveis cuja influncia

    anulada pela manipulao de condies experimentais, de modo a que a influncia de

    condies experimentalmente variadas possa ser isolada e investigada

    sistematicamente.

    2) O mtodo estatstico: aplica tcnicas matemticas a populaes e a amostras

    contendo grandes nmeros para tentar transformar condies em parmetros. A

    diferena para o experimental que o estatstico faz isso empregando manipulao

    conceptual (tcnicas matemticas) em vez de manipulao experimental, que mantm

    constantes ou elimina fontes de variao, ou mostra que so inoperativas.

    3) O mtodo comparativo: usado quando o tipo de dados no pode ser, pura e

    simplesmente, controlado experimentalmente ou (diz Smelser) o nmero de casos

    demasiado pequeno para permitir anlise estatstica. O nome da tcnica de controlo

    anlise comparativa sistemtica, ou seja, o mtodo comparativo produz explicaes

    cientficas pela manipulao sistemtica de parmetros e variveis.

    SMELSER (1976) sugere dois caminhos para anlise comparativa contempornea.

    1) mais frutuoso comparar variaes no fenmeno que se deseja estudar em

    sociedades que so muito mais parecidas em muitos outros aspectos.

    Por exemplo, embora fosse possvel, em princpio, comparar polticas de penses da

    Dinamarca com as dos pases africanos emergentes da descolonizao, cujas tradies

    culturais e estruturas sociais so muito diferentes, seria mais produtivo fazer essa comparao

    com a Noruega, Sucia, Finlndia e Islndia, que so semelhantes mas no idnticos em

    tradies culturais e estruturas sociais.

    Se duas sociedades partilham condies importantes, admissvel tratar essas condies como

    parmetros e presumir que o seu funcionamento igual (ou seja, agir como se a sua

    operatividade fosse nula), e que portanto no explica diferenas, e passar a examinar o

    funcionamento de outras variveis.

  • Anlise Poltica Comparada

    Pelo contrrio, se um investigador escolhe duas unidades sociais diferentes em quase todos os

    aspectos enfrenta a dificuldade de ter de considerar todas as fontes de variao como

    vaiveis opeativas poue icapaz

    2) frutuoso replicar comparaes entre unidades sociais atravs de comparaes

    dentro de unidades sociais.

    Exemplo (Durkheim) do suicdio altrusta e das diferenas entre, primeiro, civis e militares, e

    depois dentro dos militares em funo do seu grau de integrao na cultura e cdigo de honra

    militares.

    A vantagem da replicao a diferentes nveis analticos aumentar ou diminuir a confiana do

    investigador na associao entre as condies e o fenmeno a ser explicado, ou seja, na fora

    exploratria.

    Partido daqui, Arend Lijphart apresenta (DOIS ARTIGOS 1971 e 1975) uma sistematizao das estratgias para lidar com o problema MUITAS VARIVEIS,

    POUCOS CASOS:

    1) Aumentar o mais possvel o nmero de casos estendendo a anlise no espao,

    geograficamente, e no tempo, incluindo o maior nmero possvel de casos histricos

    2) [variveis] combinar duas ou mais variveis que expressam uma caracterstica

    subjacente essencialmente semelhante numa nica varivel (reduzindo o nmero de

    clulas, e aumentando o nmero de casos por clula). Reduzir o nmero de classes em

    que cada varivel se divide (por exemplo, simplificando um conjunto de categorias

    numa dicotomia), e assim atingir o mesmo objectivo de aumentar o nmero mdio de

    casos por clula da matriz.

    3) [variveis] Focar a anlise comparativa nas variveis-chave, omitindo as menos

    importantes: parcimnia terica.

    4) [variveis] Focar a anlise comparativa em casos comparveis, quer dizer,

    semelhantes num nmero importante de caractersticas (variveis) que se querem

    tratar como constantes (parmetros) mas dissemelhantes no que respeita s variveis

    que queremos relacionar e entre as quais colocamos a hiptese de uma relao. a

    forma de ter uma boa diferena no que interessa enquanto temos o resto

    controlado. No reduz o nmero de variveis, mas reduz o nmero de variveis

    operativas, sob condies controladas.

  • Anlise Poltica Comparada

    a) Os estudos de rea comparam unidades diferentes mas semelhantes ( Amrica

    Latina ou Europa do Sul), de forma a controlar o mximo de variveis ao

    assumir que as sociedades so bastante parecidas.

    b) Analisar um mesmo pas na diacronia. A comparao da mesma unidade em

    momentos diferentes oferece uma melhor soluo para o problema do controlo

    do que o estudo de rea. O controlo no perfeito: o mesmo pas no de facto

    o mesmo em momentos diferentes. Caso da Alemanha, entre as repblicas de

    Weimar e Bona, ou, depois da II GM, para estudar democracia vs. totalitarismo.

    c) Excepto quando a unidade de anlise o prprio sistema poltico nacional,

    podem fazer-se comparaes intra-nao em vez de inter-nao. o exemplo da

    industrializao na Alemanha e na Itlia. Poderia ser mais til comparar o Norte

    e Sul de Itlia e a Baviera com o Ruhr do que a Itlia com a Alemanha.

    (o que se entende por N [caso] vai sofrendo transformaes consoante o contexto histrico)

    Lijphart, em 1975 revisita a estratgia dos casos comparveis A estratgia dos casos comparveis: seleccionar casos comparveis e conseguir uma parte boa

    de controlo como resultado da sua comparabilidade.

    A dificuldade encontrar casos em que no apenas as variveis de fundo so iguais

    (assumpo de base, mas que efectivamente no controlada) mas tambm as operativas. O

    que se deseja encontrar casos o mais parecidos com o mtodo da diferena de Mill (embora

    aqui se trate de testar relaes empricas j formuladas em hipteses do que descobrir

    relaes empricas): variveis de fundo controlados pela assuno de invarincia (por exemplo,

    pases do modelo nrdico).

    Ragin e a lgica do modelo comparativo Tudo isto so estratgias para contrair o problema de o mtodo comparativo lidar com um

    nmero pequeno de casos (se fossem muitos, era possvel atingir controlo estatstico sobre as

    condies e causas da variao dos fenmenos sociais)

    Ragin afirma que se o pequeno nmero de casos constitui uma limitao ao rigor, muitas vezes

    a natureza combinatria das explicaes da cincia social comparativa e o carcter holstico

    ou global do mtodo comparativo que dificultam esse rigor.

    Quando os argumentos causais so combinatrios, no o nmero de casos mas a sua

    variedade limitada (historicamente das condies) que impe limites ao rigor.

  • Anlise Poltica Comparada

    O investigador estuda a forma como um conjunto de condies ou causas se combina num

    certo contexto para explicar um fenmeno e comparam-no com a forma como essas condies

    ou causas se combinam noutro contexto, ou caso (ou com a forma como se poderiam

    combinar num tipo ideal). Ou seja, analisam cada caso como uma combinao de partes, como

    um todo. por isso que as explicaes da cincia comparada normalmente invocam condies

    causais convergentes, que se combinam de uma certa forma.

    Exemplo dado por Ragin (pgina 14):

    Para explicar que nos votantes ingleses a pertena de classe e a preferncia de partido esto

    fortemente relacionadas (varivel dependente) devido convergncia de trs condies:

    1) Uma histria de luta de classes, geradora de mobilizao de classe

    2) Que coincidiu com a maturao do sistema poltico actual (surgimento do Labour

    como partido),

    3) Num pas industrializado h muito tempo.

    o efeito combinado que explica a persistente relao individual entre classe social e partido.

    Esta configurao de causas explica a associao observada.

    Para avaliar com rigor este argumento seria necessrio encontrar instncias entre os pases

    democrticos, de todas as combinaes lgicas possveis das trs condies, e depois avaliar a

    sua relao com a associao entre classe social e partido ao nvel do votante. Todas as

    combinaes possveis teriam de ser examinadas, porque o argumento afirma que a

    combinao das trs, e se fosse possvel que bastava uma combinao de duas, o argumento

    caa (numa lgica de mtodo da concordncia). Ora, todas as instncias possveis destas

    combinaes (8 casos lgicos distintos) no existem na histria. Na melhor hiptese, pode-se

    examinar as combinaes que existem.

    Ragin est interessado nas diferenas e semelhanas entre unidades macro sociais, incluindo

    na histria dos prprios casos, e no apenas com instncias da relao entre variveis. Isto

    significa que o mtodo comparativo no funciona com amostras ou populaes (como o

    estatstico) mas com todos os casos relevantes do fenmeno, pelo que as explicaes no so

    do tipo probabilstico (como em Durkheim). Por outro lado, insensvel frequncia relativa

    de tipos de casos, porque um fenmeno for causado por duas combinaes de condies,

    ambas so consideradas valias independentemente da sua frequncia.

    Por isso, Ragin identifica dois caminhos: a comparao orientada para casos e comparao

    orientada para variveis (captulos 3 e 4, respectivamente).

  • Anlise Poltica Comparada

    Aula 6 1 de Maro de 2011 Designing Social Inquiry Gary King / Robert O. Keohane / Sidney Verba (KKV)

    1. LGICA CIENTFICA A investigao cientfica em poltica comparada pretende produzir inferncias vlidas sobre a vida social e poltica. Definio de INFERNCIA: processo que usa os factos que conheo para aprender algo sobre os factos que desconheo. Exemplo de inferncia descritiva: Observao da hora de ponta: trnsito intensifica-se em torno de um conjunto de horas: posso prever tipo de intensidade em funo da hora, etc. (DIFERENTE de inferncia causal, que pretende explicar as causas da existncia do fenmeno).

    2. DOIS ESTILOS DE PESQUISA: quantitativo e qualitativo

    Tese do livro KKV: as duas tradies ou estilos de pesquisa chamadas quantitativa e qualitativa

    partilham uma mesma lgica de inferncia unitria. As diferenas entre as duas tradies so

    sobretudo de estilo e no de substncia: para serem cientficas, ambas devem respeitar a

    lgica da inferncia.

    2.1) O estilo quantitativo usa nmeros e mtodos estatsticos; tende a estar baseado

    em medies numricas de aspectos especficos dos fenmenos; abstrai instncias particulares

    para se focar na descrio geral (como Ragin explicita no livro, a orientao quantitativa

    distingue-se por testar hipteses de teorias formuladas anteriormente), ou para testar

    hipteses causais; procura medies e anlise que sejam facilmente replicadas por outros

    investigadores.

    2.2) O estilo qualitativo cobre leques de investigaes que, por definio, no assenta

    em medies numricas; tende a focar-se num nmero menor de casos, a usar entrevistas

    aprofundadas ou anlise em profundidade de materiais histricos, discursiva no mtodo, e

    preocupada com uma descrio e explicao circunstanciada de um qualquer evento ou

    unidade. Retira-se muita informao, muitas vezes ligadas com rea studies ou estudos de

    caso. Muitas vezes, o evento escolhido com um particular de um tipo genrico de evento.

    Mas estas diferenas so mais de estilo. Alm do mais, toda a cincia social requer

    comparao, a qual implica juzos sobre que fenmenos so mais ou menos parecidos em grau

    ou em gnero. As investigaes reais combinam com os dois: [Robert Putnam em Making

    Democracy Work] combinou entrevistas as oficiais das regies italianas, estudos de caso

    aprofundados de cada uma das regies, inquritos massivos de opinio, etc.

  • Anlise Poltica Comparada

    3. Definio de investigao cientfica, independentemente dos estilos

    a) O objectivo realizar inferncias descritivas ou explicativas na base de informao

    emprica acerca do mundo. Descries cuidadosas so muitas das vezes

    indispensveis, mas a acumulao de factos s por si no chega.

    b) Na investigao cientfica os mtodos so explcitos, codificados e pblicos para

    permitir a rplica e promover a falsaficabilidade, logo a confiana [Popper].

    c) As concluses so, portanto, incertas.

    d) O contedo o mtodo. O contedo da cincia primariamente os mtodos e as

    regras, e no objectos, uma vez que se podem usar os mtodos e regras cientficas

    para estudar qualquer objecto. [Marshall McLuan: the message is the media, a

    mensagem o meio; a forma o contedo iluminismo]

    4. INFERNCIA DESCRITIVA

    Definio (bis): inferncia descritiva o processo de saber coisas, compreender, um

    fenmeno no observado com base num conjunto de observaes.

    EXEMPLO: identificar a existncia de um planeta no de forma directa visual, mas a partir da

    influncia da sua gravidade na rbita de uma estrela ou dos desvios que a sua gravidade

    provoca na deslocao da luz proveniente de corpos celestes ou pelo ponto de sombra que

    provoca na emisso de luz de uma estrela que est por detrs.

    Descrever vs. Explicar?

    Devemos recorrer a ambos.

    Descrever (coligir os factos de forma articulada) e explicar (relacionar causas e efeitos) o

    mundo so dois objectivos da cincia, seja qualitativa ou quantitativa. No possvel construir

    boas explicaes causais sem boa descrio. A boa descrio perde interesse quando no

    ligada com algumas relaes causais.

    Como descrever?

    A descrio cientfica no mecnica: implica a seleco a partir do nmero infinito de factos

    que podem ser registados; seleco orientada pela teoria.

    4.1) Conhecimento geral e factos particulares

    O mundo social constitudo por particulares.

  • Anlise Poltica Comparada

    4.2) Temos que organizar os factos. Como Smelser refere, os factos que no conhecemos so

    os objectos da investigao, das teorias e das hipteses. Os factos que conhecemos

    (quantitativos ou qualitativos) formam os nossos dados ou observaes.

    A melhor forma cientfica de organizar os factos como implicaes observveis de uma

    qualquer teoria ou hiptese.

    A simplificao implica a escolha produtiva de uma teoria ou hiptese que nos serve para

    avaliar; a teoria, depois, guia-nos para a seleco daqueles factos que so implicaes da

    teoria.

    Teoria e observao vo a par. No temos que ter a teoria concluda, mas entramos num vai-

    e-vem entre a teoria e prtica, de forma a ir afinando a teoria, e aprendendo com as

    observaes.

    Devemos procurar o mximo de implicaes observveis da teoria que podermos: fazer a

    pergunta se a minha explicao correcta da razo para esta deciso, o que mais poderei

    esperar encontrar no mundo real?.

    Depois, temos que sistematizar os dados.

    A categoria pode ser votantes; as unidades podem ser uma amostra de votantes em vrios

    distritos eleitorais, e os atributos podem ser rendimento, identificao partidria ou qualquer

    outra implicao observvel da teoria que estamos a testar.

    4.3) Uso de modelos formais de investigao qualitativa

    Um modelo uma simplificao de, e uma aproximao a, algum aspecto do mundo. Os

    modelos nunca so literalmente verdadeiros ou falsos. Um bom modelo o que faz abstrair as

    caractersticas certas ou pertinentes da realidade que representam.

    (Um conjunto articulado de hipteses que pretende descrever um determinado

    comportamento)

    Por exemplo, um modelo escala de um avio no se confunde com um avio real, mas pode

    abstrair as caractersticas relevantes do avio para efeitos de experincias aerodinmicas em

    tnel de vento. A caracterstica chave abstrada a sua forma. Se quisssemos estudar o poder

    dos motores, a sensao de estar dentro, a resistncia das partes, etc., necessitaramos de

    outros modelos. No podemos avaliar um modelo sem saber que caractersticas do objecto

    queremos avaliar.

  • Anlise Poltica Comparada

    4.4) Fazer sumrios

    Depois de recolher os dados, a primeira coisa a fazer so sumrios dos dados a ser

    explicados. No faz sentido dizer tudo o que se sabe sobre um evento qualquer. Apenas

    aquilo que essencial, aquilo que possa constituir uma implicao observvel da teoria

    (EXEMPLO: uma mdia estatstica do rendimento das unidades observadas ou um sumrio das

    caractersticas constitucionais dos estados EU 27).

    No caso dos sumrios histricos, (i) deve focar os resultados que desejamos descrever ou

    explicar (EXEMPLO: se o poder executivo corresponde a um governo que resulta do

    parlamento ou se est concentrado num presidente eleito directamente e que no resulta do

    parlamento); (ii) deve simplificar a informao (usar menos estatsticas de sumrio, como a

    mdia, a mediana, etc., do que as unidades observadas).

    4.5) Distinguir os aspectos sistemticos dos no sistemticos

    Vamos a um exemplo de cincia poltica.

    Podemos estar interessados em compreender as variaes no voto por distrito eleitoral na

    eleio de 1979 nos partidos Conservador, Trabalhista e Liberal-Democrata na Gr-Bretanha. O

    que observamos so 650 eleies para a Cmara dos Comuns nesse ano.

    Se, por hiptese, realizssemos eleies semanalmente, podamos observar directamente a

    fora dos conservadores tomando nota da sua parte do voto por distrito e da sua parte global

    de lugares no parlamento. Os resultados seriam sempre ligeiramente diferentes de semana

    para semana, e de distrito para distrito. Afinal, a observao numa qualquer eleio nica no

    seria uma medida perfeita da fora dos Conservadores.

    Podemos conceber a varincia no voto de distrito para distrito como tendo duas origens:

    Factores sistemticos: como diferenas de ideologia, rendimento, organizao da campanha

    Factores no sistemticos, como o tempo, etc., a repartio das observaes elimina os

    factores no sistemticos, mas no os sistemticos.

    Um dos objectivos da inferncia descritiva distinguir no fenmeno que observamos a

    componente sistemtica da componente no sistemtica.

  • Anlise Poltica Comparada

    4.6) Erros na inferncia, estimadores

    Na medio do comportamento de variveis podemos ter estimativas no distorcidas quando

    a variao de uma replicao da medio para a prxima no sistemtica, e move a

    estimativa ora numa direco ora noutra. Distoro ocorre quando h um erro sistemtico

    que desloca a estimativa mais numa direco do que noutra. (EXEMPLO: o taco que

    Berllusconi utiliza nos sapatos, de forma a parecer mais alto erro sistemtico)

    EXEMPLO: O que causa o facto de o CDS, ou do PCP, ser repetidamente sub-representado nas

    sondagens por amostra (face aos resultados nas urnas)?

    1. No h sub-representao: o comportamento implcito correctamente medido,

    simplesmente o comportamento altera-se no dia das eleies.

    2. H sub-representao que decorre de erros no sistemticos de medio (por

    exemplo, incompetncia dos inquiridores), pelo que no temos esperana de corrigi-

    los. NO O CASO: Torna difcil explicar que seja sempre o mesmo partido a ser sub-

    representado, uma vez que os erros no sistemticos so aleatrios e portanto no se

    deveriam concentrar sobre a estimativa de um partido, mas de todos; e, mais,

    deveriam cancelar-se uns aos outros.

    3. H sub-representao que de corre de erros sistemticos de medio, porque, por

    exemplo, os votantes no CDS mentem sobre a sua real inteno de voto. Isto explica o

    erro, falta perceber porqu. Por exemplo, foi estudado que em inquritos nos EUA as

    respostas variavam em funo da etnia dos entrevistados, sotaque, etc.

    Por outro lado, devemos distinguir distoro numa estimativa estatstica (como nas sondagens

    do CDS ou PCP), de distores substantivas, por exemplo, no sistema eleitoral (horrios de

    votao que tornam mais difcil o voto de trabalhadores e operrios).

    Finalmente, h que ponderar a relao entre a preciso e eficcia, ou seja, a capacidade de

    um estimador se aproximar do valor real do parmetro (preciso), da capacidade de o

    estimador o fazer com consistncia (eficcia). De um lado, a medida em que se aproxima do

    valor real; do outro, a possibilidade de uma estimativa dar sempre valores consistentes

    (varincia reduzida).

    possvel um estimador ser eficaz mas pouco preciso: estar consistentemente longe do valor

    real do parmetro a medir. Por outro lado, um indicador pode ser capaz de uma preciso

    incrvel mas ser muito pouco consistente (ter grande varincia).

  • Anlise Poltica Comparada

    Exemplo de estimador no distorcido mas inconsistente: um faroleiro no Bugio deve avisar

    Lisboa sempre que um navio passar pelo farol durante a noite. O faroleiro reporta sem falhar,

    nem equvocos. Mas por vezes est a dormir. A informao no distorcida (tem preciso),

    mas inconsistente.

    Exemplo de estimador distorcido mas consistente: por exemplo, X-5/N distorcido, mas

    consistente medida que N se aproxima do infinito porque 5/N se aproxima do zero.

    Aula 7 3 de Maro de 2011

    Apresentao do TEXTO 1 (The Comparative Method, Charles Ragin)

    Tipologia de casos Tipologia de causas

    A causalidade muitas vezes conjuntural:

    1) As caractersticas de caso so vistas em conjunto

    2) Varia consoante o contexto (condies no tempo e espao)

    3) Ela tambm mltipla (um determinado resultado no causado sempre pela

    mesma causa, mas sim por um conjunto de variveis)

    Dois tipos de orientao na investigao da cincia poltica (VER TEXTO)

    A aplicao de mtodos experimentais torna-se complicada nesta rea.

    EXEMPLOS DE MULTICAUSALIDADE: Causalidade mltipla e conjuntural, no captada pelo tipo

    de mtodos, como a regresso, que se focam na influncia (ou contributo) de uma ou de um

    conjunto de variveis independentes para o comportamento (varincia) da varivel dependente

    (resultado de interesse).

    1) X [nvel de desenvolvimento econmico] causa Y [democratizao] nuns casos, mas

    no tem efeito noutros casos, em que Y causado por Z (classe mdia).

    2) X [governo social-democrata] causa Y [despesas sociais] num momento temporal T1,

    mas no no momento temporal T2 (ex: antes ou depois do retrenchment [recuo do Estado-

    providncia] ou do PEC)

  • Anlise Poltica Comparada

    3) X [protesto social] causa Y [mudana de governo], nuns casos, e noutros causa um

    resultado diferente (ex: represso)

    4) Instncias em que o resultado Y [xito na coordenao salarial] depende de muitas

    variveis [densidade sindical, governo social-democrtico ou regime poltico-social] cujos

    valores, por seu turno, dependem conjuntamente uns dos outros.

    Nestes casos no possvel utilizar a abordagem orientada para variveis (Ragin) que

    assenta na alise de regrsso, ou seja, na anlise do contributo individual de cada varivel

    independente para a varincia, independentemente dos valores assumidos pelas outras

    variveis independentes.

    As diferenas so ao nvel da forma de conceber a prpria estrutura de causalidade que

    funciona no mundo social e poltico.

    Aula 8 10 de Maro de 2011

    Conceitos, tipologias e indicadores Bsica David Collie e Jaes Maho, Coceptual tetchig Revisited: Adaptig Categoies i Comparative Analysis, American Political Science Review, 87, 1993, TEXTO 2 [dossier]

    ___________________________________

    1. Comparao, teoria, conceitos

    O problema da comparabilidade o de lidar com a diferena, como comparar instituies,

    actividades, comportamentos em contextos sociais e culturais diferentes.

    (i) Evitar conceitos que, por to estreitamente ligados a uma nica cultura ou grupo

    de culturas, nenhuma instncia do mesmo possa ser encontrada noutras

    culturas.

    Exemplo: o pro de Miguel Esteves Cardoso.

    (ii) Lidar com fontes de variabilidade cultural. Adoptar conceitos, metodologias e

    estratgias que tornem determinadas (conhecidas) aquelas fontes de variao que

    at antes se assumia serem to simples que seriam no determinantes ou to

    complexas que seriam indeterminantes.

  • Anlise Poltica Comparada

    2. A necessidade de conceitos

    Conceitos: pontos de referncia comuns (categorias) para agrupar fenmenos que se

    diferenciam no espao, no tempo, na cultura. Sem conceitos, pode ser recolhida informao

    sobre diferentes pases mas no possvel relacion-los entre si.

    Por exemplo, o conceito de Primeiro-Ministro permite relacionar o Presidente del Consiglio

    dei Ministri italiano com o alemo Bundeskanzler ou com o Prime Minister. Para que seja

    possvel relacionar materiais empricos atravs de fronteiras nacionais (horizontal viaja pela Euopa dos casos, ecessio ue estes se elacioe co coceitos vetical elao co as teorias dos sistemas polticos) que possam viajar atravs de fronteiras nacionais.

    3. Equivalentes funcionais

    A noo de equivalente funcional descende directamente da de funo. Desde o

    comportamentalismo que a cincia poltica afirma que diferentes estruturas podem

    desempenhar a mesma funo e que a mesma estrutura pode desempenhar funes

    diferentes.

    Exemplo 1:

    A tarefa de recrutamento poltico pode ser desempenhada numa sociedade pela tribo e

    noutra pelo partido; partido que desempenha outras tarefas, como intermediar as procuras

    polticas sobre o sistema poltico, embora no sejam a nica instituio que recruta e articula

    sidicatos, associao sociedade civil Exemplo 2:

    O Presidente da Repblica Francesa, no seu papel de supremo magistrado, desempenha trs

    funes: representao simblica do Estado, chefe do Executivo; chefe poltico da maioria no

    Parlamento. Em Inglaterra, o monarca desempenha o primeiro papel, e o PM os outros dois,

    Em Itlia, no passado (antes do incio dos anos 90), cada uma dessas funes era

    desempenhada por uma pessoa diferente (chefe de Estado, Presidente do Conselho de

    Ministros, Secretrio-Geral da DC).

    4. Teoria, conceitos e casos: individualizar ou generalizar?

    Explicar diferenas requer hipteses, conceitos e teorias. Os conceitos operacionalizados ligam

    a observao emprica discusso da teoria, e at permitem desenvolver a teoria. As

  • Anlise Poltica Comparada

    concluses so generalizveis na medida em que sejam capazes de ser apresentadas em

    termos conceptuais. (uato ais escolaizao, ais paticipao eleitoal)

    Do ponto de vista metodolgico: alternativa entre individualizar e generalizar.

    Sartori sugere como forma de relacionar universais com particular uma forma ordenada, um

    mtodo, que o de organizar as categorias ao longo de uma escada de abstraco cuja regra

    bsica de transformao (agregao ascendente [menos atributos, mas o mesmo conceito

    aplica-se a mais casos] e, inversamente, especificao descendente [mais atributos, mas o seu

    grau de cobertura mais baixo]) a de que a conotao (intenso itesio e deotao (extenso) do conceito esto inversamente relacionadas.

    VER QUADRO DO TEXTO FIGURE 1: THE LADDER OF GENERALITY

    Assim, a forma de tornar um conceito mais geral, de aumentar a sua capacidade para viajar

    (aplicar a mais casos com pertinncia), reduzir as suas caractersticas ou propriedades.

    Inversamente, a forma de tornar um conceito mais especfico (contextualmente adequado)

    aumentar as suas caractersticas ou propriedades. Alcanar o equilbrio entre estes dois

    aspectos o dilema.

    Conceptual Stretching: aumentar o nmero de casos, sem diminuir o nmero de atributos.

    5. A formao de categorias qualitativas na Teoria Clssica [a de Sartori]

    Antes de investigar a presena ou ausncia de um atributo uma pessoa ou numa situao

    social (beleza), antes de hierarquizar objectos ou medi-los nos termos de uma varivel

    (idade), temos que construir o conceito de varivel: que atributos compem o conceito de

    beleza?

    Temos que decidir que atributos da realidade emprica desejamos observar e medir, segundo

    certas regras de procedimento:

    5.1) Articulao, a classificao, a organizao do material emprico, deve proceder do geral

    para o especfico, para que o material possa ser examinado seja do ponto de vista de

    categorias detalhadas (muito adaptadas aos prprios dados) e agrupamentos genricos

    (capazes de viajar e comparar)

  • Anlise Poltica Comparada

    Os itens reunidos numa mesma categoria caracterizam-se por se comportar de forma mais ou

    menos semelhante em relao ao problema estudado.

    O aspecto decisivo conseguir reter, manter, a heterogeneidade relevante entre as

    categorias e no dentro das categorias, perdendo-se a capacidade de apanhar distines

    importantes. Quanto mais genricas as categorias, maior heterogeneidade interna e vice-versa

    (homem/mulher).

    Tem que se alcanar o justo equilbrio entre categorias to genricas que todas as distines

    pertinentes esto dentro delas e no entre elas (pelo que no servem para nada) e distines

    to finas que cada categoria capta apenas um elemento muito especfico e singular pelo que

    cada categoria corresponde a cada elemento emprico, logo no servindo para nada. (Gnero

    Humano vs. Manuel Germano).

    A soluo usar uma classificao articulada em cascata, comeando com categorias

    genricas e depois decompondo-as em categorias mais restritas, dentro de cada categoria

    genrica.

    Para certos efeitos, usamos escolaridade, para outros, temos que usar as categorias mais

    finas (categorias dentro de escolaridade). Por exemplo, pode existir uma relao de

    repulsa/atraco entre certas categorias de escolarizao e participao eleitoral.

    Outras vezes, necessrio partir de respostas muito decompostas para categorias mais

    genricas. Por exemplo, nas respostas pergunta o que fez no ltimo Domingo?, as

    respostas fui praia ver o campeonato de surf e fui a Sintra comer uma queijada com a

    namorada, podem ser agrupadas em passear.

    5.2) Correco lgica, as categorias devem ser exaustivas e mutuamente exclusivas.

    Uma classificao cumpre os requisitos lgicos se oferecer categorias exaustivas e

    mutuamente exclusivas em cada nvel de classificao. (esgotar a variabilidade do fenmeno

    e ser mutuamente exclusivas).

    Exemplo:

    1) Falta de exaustividade: pessoas que influenciam os votantes: famlia, vizinho,

    amigos, deixando de fora colegas de trabalho, sindicalistas, militantes

    partidrios, estranhos [claro que qualquer classificao pode preencher o

    requisito com outros, mas isso derrota o prprio objectivo da classificao].

  • Anlise Poltica Comparada

    2) Falta de mtua exclusividade: pode ser do tipo: fontes informao: mass

    media, jornais e contactos pessoais (jornais fazem parte dos mass media).

    Para usar vrios tipos de categorias ao mesmo tempo, temos que criar um sistema

    de classificao multi-dimensional.

    5.3) Adaptao estrutura da situao, a classificao) deve basear-se num esboo

    compreensivo da situao como um todo (sumrio), que contenha os principais elementos e

    processos na situao que importa distinguir para efeitos de compreenso, previso e policy-

    making.

    Como criar as categorias mais adaptadas ao material e ao problema a ser estudado?

    A organizao do material emprico em categorias tem que ser feita em relao com um

    sistema mais geral de conceitos, e teoria.

    Por exemplo: classificar as razes dadas como explicao para comportamento (voto

    num certo candidato, mudar de emprego, etc.)

    Partindo de entrevistas, por exemplo, difcil chegar formulao de categorias, pois

    as explicaes aparecem sempre como especficas.

    Normalmente, preciso construir primeiro um modelo da situao a que os comportamentos

    se referem, e depois localizar a resposta concreta dentro do esquema estrutural. O

    esquema pode ser prvio ou pode resultar da interaco entre abordagem exploratria

    (respostas numa fase inicial do inqurito) a partir das respostas.

    Podem usar-se esquemas ou guies estruturais narrativos:

    1) O guio qualidades tcnicas-gratificao resultante para saber porque que

    algum gosta de X.

    Exemplo: X o New Deal: gosto do New Deal porque usa a teoria econmica

    keynesiana, e isso acaba com o desemprego massivo.

    2) O guio onde que est o que o mantm l de quem a culpa para estudar as

    respostas dadas a problemas de escassez de qualquer coisa, X.

    Exemplo: X a fruta nacional. A fruta nacional fica nas rvores porque os

    agricultores preferem deixar estragar a fruta do que vend-la, para assim, ganhar o

    subsdio da CEE a culpa da CEE (a Unio Europeia serve de passa culpas aos

  • Anlise Poltica Comparada

    governos quando desejam fazer algo de impopular, como uma reforma estrutural,

    defendendo os Estados nacionais).

    6. A sistematizao de juzos qualitativos

    Como classificar os dados empricos de forma objectiva em cada uma das categorias ou

    dimenses: como saber que um lder autoritrio ou democrtico, como saber se a

    dinmica de um grupo permissiva, cooperativa ou competitiva?

    Possvel soluo: multiplicar os indicadores (se usar apenas um indicador, o

    investigador est a falhar toda a investigao; se tiver dez, a probabilidade de errar

    muito mais pequena. Tendem a anular a possvel ocorrncia de subjectividade por

    parte do investigador)

    Usamos indicadores para captar o conceito, segmentando o conceito em partes ou atributos e

    identificando conceitos para cada segmento.

    Quanto mais segmentamos o conceito, quanto mais finos so os indicadores, mais

    objectivos so, quer dizer, menos sujeitos a distoro subjectiva dos investigadores. Mas

    quanto mais se segmenta, mais complicado se torna voltar a combinar os indicadores de

    regresso varivel ou conceito.

    Aula 9 15 de Maro de 2011

    Apresentao do TEXTO 2 (Conceptual Stretching, David Collier/James Mahon) Bsica David Collie, Jaes E. Maho, Coceptual tetchig Revisited: Adaptig Categoies in Comparative Analysis, American Political Science Review, 87, 1993. TEXTO 2 [pdf; dossier] Complementar Neil Smelser, Captulo 6, Comparative Methods in the Social Sciences, Englewood Cliffs, Prentice Hall, 1976 [dossier] Giovanni Sartori, "Concept Misformation in Political Science", American Political Science Review, 1970 (pdf) __________________________________________ Extensividade / Intensividade (de acordo com as origens lingusticas)

    (LER TEXTO)

  • Anlise Poltica Comparada

    Atributos que compem um tipo:

    - Atributo dicotmico: pertence ou no a um objecto (morto/vivo)

    - Varivel, um atributo que permite gradaes e intensidades e que pode ser medido (altura)

    (supe intervalos iguais e um ponto zero)

    - Tipo comparado: os objectos apenas podem ser avaliados por comparao uns com os

    outros, individual ou colectivamente. Atravs destes atributos (grau de inteligncia, atitude

    perante a paz) as pessoas podem ser hierarquizadas, ordenadas, mas no medidas. So seriais,

    tambm podem ser agrupados (dos 10% de escritores mais pacficos aos 10% de escritores

    menos pacficos).

    Exemplo de classificao multi-dimensional.

    Espao de atributos para os Tipos de Suicdio de Durkheim

    Existncia de Normas Contedo das Normas

    Individualismo Colectivismo

    Existem Egosta Altrusta

    No existem/Enfraquecidas Anmico

    As classificaes multi-dimensionais se podem transformar em ordens de seriais.

    Por exemplo, tolerncia racial: est disponvel para aceitar negros..?

    Colega Trabalho Amizade Famlia/Casamento 3 Dimenses

    No No No Sim/No

    Sim No No

    Sim Sim No

    Sim Sim Sim

    Pode-se construir uma ordem de combinaes de atributos que medem a intensidade de

    atitude racial: de um plo mais favorvel a um plo desfavorvel:

    +++ Favorvel (Sim-Sim-Sim)

    ++ Favorvel (Sim-Sim-No)

    + Favorvel (Sim-No-No)

    - Favorvel (No-No-No)

    Converte-se num espao de atributos multi-dimensional numa ordenao multi-dimensional

    que pode depois ser tratada como serial, que pode ser convertida em ndice.

  • Anlise Poltica Comparada

    B. Uso de ndices e de Indicadores

    1) Vimos que os conceitos genricos tm muitas vezes que ser decompostos em segmentos

    para que possam ser sistematicamente observados. (Exemplos: lealdade, coeso,

    discriminao, tamanho, forma, etc.)

    Faz-lo, implica que possam ser declinados, segmentados, em critrios ou atributos mais

    especficos, para os quais sero usados indicadores.

    Vimos que os indicadores devem (i) facilmente e inequivocamente detectada a sua presena

    ou ausncia e (ii) devem variar estreitamente com outros indicadores que apanham o mesmo

    conceito. Por exemplo, um dos indicadores que mede o custo de vida, a inflao, deve variar

    estreitamente com os outros no cabaz, excepto se o cabaz for constitudo por partes

    parcialmente autnomas, de forma propositada (o que o caso no custo de vida).

    Para alm disso, a partir do momento em que temos um conjunto de indicadores para um

    conceito, surge o problema de como combin-los.

    Suponhamos que, no estudo de classe social, Manuel supera Maria no indicador X

    (rendimento), mas que Maria supera Manuel no indicador Y (escolariza