Alto Castelo - Medievalista

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  • Nmero 14 | Julho - Dezembro 2013 ISSN 1646-740X ISSN 1646-740X

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    A Revista Medievalista um Projecto desenvolvidocom o apoio da

    Interveno arqueolgica no Alto do Calvrio,Miranda do Corvo: a necrpole rupestre

    Vera Santos

    Cmara Municipal de Miranda do Corvo, Coimbra, [email protected]

    RESUMO TEXTO FONTES E BIBLIOGRAFIA NOTAS PALAVRA-CHAVE CITAO

    Introduo

    A vetusta vila de Miranda do Corvo, no distrito de Coimbra, surgiu num localestratgico: no cruzamento do vale do rio Duea com uma das passagens ao longo daCordilheira Central, mas o momento da sua fundao permanece uma incgnita.

    As evidncias da longa da ocupao humana nesta regio tm surgido, ao longo dotempo, atravs de vrios achados arqueolgicos. Uns fortuitos, como so os casos dolendrio tesouro proto-histrico de Cho de Lamas[1] e do capitel de mrmoreidentificado na povoao do Corvo[2]. Outros provenientes de intervenesarqueolgicas programadas, como o caso do Estudo de Impacte Ambiental doParque Elico de Vila Nova[3], durante o qual foram identificados vrios tumuli pr-histricos, ou os trabalhos arqueolgicos da empreitada da A13, ItinerrioComplementar 3, entre Tomar e Coimbra. Contudo, a primeira referncia documental aesta vila s surge no sculo X[4].

    Sobranceiro vila, no alto de um cabeo arredondado, assentava o castelo medieval,atalaia fundamental da via Colimbriana. provvel que a povoao se tenhadesenvolvido em redor daquele cabeo, atualmente designado Alto do Calvrio,espraiando-se em direo ao vale. Contudo, apesar de ter sido uma pea importantena linha de defesa da cidade de Coimbra, durante e aps a Reconquista daquelacidade, pouco se sabe sobre a fundao do castelo ou da povoao. superfcie,daquele antigo baluarte apenas resistiram passagem do tempo uma torre damuralha e a cisterna, amplamente descaracterizadas.

    Daquela insero, de outrora, no polgono defensivo da cidade de Coimbra, nasceu,em 2011, o projeto da Rede Urbana dos Castelos e Muralhas Medievais doMondego (RCMM). Este projeto teve como ponto de partida o patrimnio e histriacomuns de oito municpios[5], que partilham o facto de, durante os sculos XI eXII,terem pertencido linha avanada de fortificaes que defendiam a cidade deCoimbra e os seus campos pelos lados Este, Sul e Oeste. E foi no mbito deste projetoque tiveram incio os trabalhos arqueolgicos objeto deste artigo: o Municpio deMiranda do Corvo elaborou um plano de requalificao do Alto do Calvrio, tendo comobase a recuperao da cisterna e da atual torre sineira, de gnese medieval. Ostrabalhos arqueolgicos tiveram incio em Maio de 2011, tendo ficado concludos emMaro de 2012. A equipa constituda pela signatria, que conta com a consultadoria

  • cientfica da Doutora Helena Catarino,e pelo antroplogo Flvio Simes, que conta coma consultadoria cientfica da Doutora Ana Maria Silva, do Instituto de Cincias da Vida,da FCTUC.

    Fig. 1 Levantamento topogrfico do Alto do Calvrio. A rosa, localizao do troo demuralha identificado na fotografia do incio do sculo XX.

    Fig. 2 Implantao das sondagens arqueolgicas sobre o projecto de reabilitaoarquitectnico.

    Enquadramento Histrico

    Aps a Reconquista de Coimbra, por Fernando Magno, em 1064, a linha de fronteiraentre os reinos cristos e o mundo muulmano estabeleceu-se numa faixa de territrioa sul do Rio Mondego, onde ficou fisicamente marcada pela construo oureconstruo de vrias fortificaes. Esta estremadura, onde Miranda do Corvo seencontrava inserida, foi fulcral para a defesa da cidade de Coimbra, j que permitia ocontrolo do acesso a Sul, que se apoiava na antiga via romana Olisipo-Bracara. Esta

  • regio vai adquirir ainda maior importncia estratgica quando, no sculo seguinte, apartir de 1131, o princeps portugalense Afonso Henriques se fixa na cidade doMondego. neste contexto que surgem as primeiras informaes sobre o castelo deMiranda do Corvo.

    A referncia mais antiga surge em 1136, na prpria Carta de confirmao, estabilidadee de foro[6], dada por Afonso Henriques em favor de Uzberto e sua mulher Marina, eque ser, posteriormente, confirmada por D. Afonso II. Mas o testamento doPresbtero rias, datado de 1138, j refere a sua existncia em 1116. Atravs destedocumento, ficamos a saber que rias pediu autorizao condessa D. Teresa e aobispo conimbricense para construir uma igreja in castro Miranda, o que reflete anecessidade de construir um novo local de culto para provir s necessidades de umacomunidade crist organizada. A autorizao foi concedida, visto que a construodeste novo templo iria ajudar fixao da populao numa zona de fronteira, da anecessidade deste testamento, que faz reverter, aps a morte de rias, a Igreja doSalvador para o Bispado de Coimbra. Mas estas no so as nicas informaesdeixadas pelo Presbtero. atravs dele que ficamos a saber que a investidaalmorvida de 1116, que destruiu Soure e Santa Olaia, tambm ter destrudo porcompleto[7] o castelo e a povoao de Miranda do Corvo.

    Contudo, nenhuma das fontes anteriormente referidas nos deixou qualquer informaosobre a fundao da fortificao, a sua reconquista[8] aps a investida islmica de1116 ou a sua descrio[9] arquitetnica. Supomos que, inicialmente, o castelo deMiranda do Corvo se enquadrava nos locais defensivos erguidos durante os perodosinstveis da Alta Idade Mdia, caracterizando-se por ser uma estrutura poucosofisticada, que apenas servia para abrigar a populao e seus haveres, em caso deperigo. Seria utilizada para assentamento de uma guarnio militar, e no para oestabelecimento permanente da populao. Essa estaria fixada num habitat aberto, ouhabitats se pensarmos em vrios assentamentos dispersos, a baixa altitude, e queapenas se juntava na fortificao em momentos de perigo.

    Com o passar do tempo, e a fixao da fronteira a Sul, Miranda do Corvo vai perdendoa sua importncia estratgico-militar. Muitas so as lacunas e poucas as refernciasdocumentais para o perodo subsequente. Por exemplo, no h qualquer meno prestao do servio de anduva neste castelo. Na exaustiva lista fornecida por JooGouveia Monteiro[10] de Notcias de obras (realizadas, em curso ou a realizar) emcastelos e/ou cercas de cidades e vilas, entre 1357 e 1448 um perodoespecialmente conturbado apesar das vrias referncias a obras nos lanos dosmuros e torres, barbacs de Coimbra, no castelo da Lous e na cerca de Penela,quer por iniciativa dos concelhos quer por iniciativa do monarca, no h qualquerreferncia ao castelo de Miranda do Corvo, outrora fundamental na defesa de Coimbra.Este facto no deixa de ser incompreensvel, perante a preocupao com a integridadee a proteco das muralhas e cercas, durante a Idade Mdia.

    Apesar do mutismo das fontes escritas, sabe-se que a fortificao de Miranda do Corvocontinuava a cumprir o seu papel, e que em Janeiro de 1384, em plena crise dinstica,o alcaide Joo Afonso Telo, homem prximo da rainha D. Leonor, abriu as portas dafortificao ao rei castelhano.

    Mas o castelo acaba por ser abandonado, entrando em runas. Acessvel pelaproximidade de vias de comunicao importantes (nomeadamente a estradacolimbriana[11], tornava-se mais vulnervel a ataques do que, por exemplo, o vizinhocastelo de Arouce. Este encontra-se mais isolado na serra e destaca-se menos dapaisagem envolvente. As suas diferentes posies topogrficas podero ter estado naorigem do abandono do castelo de Miranda do Corvo e o maior investimento (indiciadopelas vrias notcias de obras e melhoramentos), por parte das autoridades, namanuteno do castelo de Arouce.

  • provvel que o castelo de Miranda do Corvo estivesse j abandonado por volta de1786, ano que deve corresponder ao incio dos trabalhos de construo do atualedifcio da Igreja Matriz. Este novo templo foi implantado na zona Este do cabeo, forada linha de muralhas do antigo castelo. A sua dimenso levou escavao doafloramento xistoso, a Oeste, onde ainda permanecia um trecho do pano da muralha.O afloramento foi talhado a pique, maneira de parede, para aumentar a largura docaminho de acesso ao adro da nova Igreja do Salvador. Esta aco ter destrudoparte do pano da muralha aqui existente, onde se inseria a torre angulartransformada, nesta poca, em torre sineira. Numa atitude que no indita, a torreda antiga estrutura castelar reutilizada com nova funo, evitando a construo deuma ex-novo.

    O ltimo aluimento da estrutura defensiva ocorreu a 7 de Maio de 1799. poca, j olocal se transformara numa pedreira, aonde a populao se dirigia para aproveitar aspedras que outrora fizeram parte da estrutura defensiva, o que levou delapidao dostio e, consequentemente, dos vestgios arqueolgicos. Isso mesmo o que nos diz apostura camarria de 1799[12] onde a Cmara Municipal de Miranda do Corvo probe,veementemente, a utilizao da pedra da fortificao para obras particulares: quemfosse acusado de roubar pedra do castelo seria condenado a uma multa pecuniria e aum ano de cadeia. A Cmara considerava a pedra propriedade concelhia que deveriaser utilizada em obras pblicas. E ser isso que vai acontecer, em 1803, quando seestabelece que para a construo da nova ponte no Corvo, na Estrada Real, fosseutilizada a pedra do castelo.

    O estado de abandono da zona levou, na primeira metade do sculo XX, a duasgrandes intervenes urbansticas que alteraram, completamente, a fisionomia doantigo cabeo do castelo. A primeira interveno, realizada na dcada de 1930,centrou-se na actual Torre Sineira, qual foi retirado o telhado e acrescentadasameias, em tijolo. Durante os anos de 1940 e 1950, com a chegada do PadreFernando Coimbra parquia de Miranda do Corvo, novas obras transformaramoCaramito[13] naquilo que hoje: o Alto do Calvrio, encimado pelo Cristo Redentor.

    A interveno arqueolgica: resultados preliminares

    De acordo com o projeto de reabilitao do Alto do Calvrio, que prev a recuperaoda Torre Sineira, implantou-se a primeira sondagem ao longo da sua fachadaSudoeste.

  • Figura 3 - Torre Sineira de Miranda do Corvo: aspecto anterior intervenoarqueolgica (Maro 2011). Localizao da sondagem inicial.

    Esta sondagem tinha como objetivos obter uma cronologia para a construo da torreangular, identificar os restos da muralha que circundava o cabeo e tentarcompreender que realidades arqueolgicas estariam sob os taludes artificiais quecircundam esta zona do cabeo.

    A actual Torre Sineira, elemento norteador da sondagem, uma estrutura de plantaquadrangular, de gnese medieval, que fazia parte da cintura de muralhas, como torreangular. Est implantada na vertente Este do cabeo, dominando a estrada paraCoimbra. O aparelho aproveita a rocha local: o xisto e seixos xistosos. Os silhares decalcrio de tamanho grande so utilizados nos ngulos. Tal como j foi referido, nofinal do sculo XVIII, esta estrutura foi aproveitada como sineira da actual IgrejaMatriz. Na documentao fotogrfica do incio do sculo XX, esta estrutura surge comum telhado de quatro guas, semelhante ao que vamos encontrar nas torres coimbrs.Contudo, a interveno urbanstica realizada na dcada de 1930 centrou-se nestatorre, qual foi retirado o telhado, acrescentadas ameias em tijolo e colocado umreboco em cimento, no qual foram impressos silhares. Recebeu, tambm, o relgio,que ainda hoje marca o compasso das horas.

  • Figura 4 - Fotografia do incio do sculo XX, onde ainda se verifica a existncia departe da muralha, adossada Torre Sineira de Miranda do Corvo. Postal ilustradopublicado pelo jornal O Mirante, em 1999.

    Figura 5 Fotografia dos anos de 1940, depois da interveno na Torre Sineira.Postal ilustrado publicado pelo jornal O Mirante, em 1999.

    Actualmente, esta estrutura apresenta cerca de 11m de altura e 5m de lado. composta por 4 nveis: o rs-do-cho, actualmente utilizado como depsito da Igreja,e ao qual se acede atravs de uma porta rasgada na fachada NE; o primeiro piso, aque se tem acesso atravs de uma porta exterior (a original?), na fachada NO, e ondese encontram as sineiras; o segundo piso, ao qual se acede atravs de uma escadainterior, em beto armado, e onde se encontram os mecanismos do relgio; e oterceiro e ltimo piso, o terrao no topo ameado, que servido por umas escadasmetlicas e que foi construdo nos anos de 1930. O interior da estrutura encontra-secompletamente descaracterizado, com reboco de cimento nas paredes (excepto no rsdo cho) e pisos em beto armado.

    Durante a escavao da Sondagem A, a equipa deparou-se com um reduzido nmerode artefactos cermicos, na sua maioria pequenos fragmentos de cermica comumincaracterstica, com a quase inexistncia de estruturas e com uma estratigrafiapobre: quer o abandono precoce da fortificao, que cedo transformou o local em zona

  • de pedreira, quer as intervenes efetuadas no sculo XX, levaram a uma totaldescaracterizao do stio e a uma delapidao da sua estratigrafia. Contudo, osvestgios identificados permitiram corroborar os dados histricos conhecidos e alargaro conhecimento sobre o arqueosstio.

    Desde o incio dos trabalhos, logo durante a decapagem da camada de superfcie, quenas quadrculas a SO da Torre Sineira foi exumado muito material osteolgico humano,sem conexo anatmica. Tratava-se, essencialmente, de pequenos fragmentos e deossos mais pequenos. Como se viria a verificar, este material estava relacionado como ossrio. Trata-se de uma vala aberta no sculo XX, para colocao do materialosteolgico humano proveniente da cisterna. De acordo com testemunhos orais, nadcada de 1950 foi ordenada a limpeza da cisterna, durante as obras do Calvrio. Foiento que os trabalhadores se depararam com um imenso ossrio, tendo trasladado omaterial osteolgico para uma vala, que abriram junto torre. No havendo, at aomomento, notcias da transformao da cisterna em ossrio, levantamos a hiptese detal ter acontecido por volta de 1786, ano que deve corresponder ao incio dostrabalhos de construo do atual edifcio da Igreja Matriz. Visto a Igreja do Salvadorestar implantada in castro Miranda desde pelo menos 1116, e devido ao ritual deenterramento das populaes crists junto aos templos, provvel que a rea danecrpole desta igreja seja extensa, o que ter levado necessidade de destruiralgumas sepulturas para a implantao do edifcio setecentista[14]. Com a colocaodo material osteolgico na cisterna, para alm de se dar um fim digno s ossadasexumadas das sepulturas a destruir, selou-se uma estrutura subterrnea que, poca,j no estaria em funcionamento e que, caso permanecesse vazia, poderiatransformar-se numa armadilha.

    A abertura da vala, no sculo XX, destruiu todos os vestgios arqueolgicos aquiexistentes, inclusive os relacionados com a construo da torre: por exemplo, no foiidentificada a vala de fundao relacionada com o alicerce da fachada SO.

    Outro dos vestgios identificados foi o derrube da muralha, um derrube ptreocomposto por pedras de grandes dimenses, datado de poca Moderna (sculo XVII).Este derrube corresponde derrocada de parte do pano de muralha que, nesta zona,tinha orientao SE-NO, correndo paralelo fachada NE da atual Torre Sineira(vide Figura 4). No incio dos anos de 1930, aquando da primeira grande intervenourbanstica no Alto do Calvrio, que se centrou na Torre Sineira, o pano de muralhasremanescente foi destrudo. (vide Figura 5)

    De finais da Idade Mdia, incios de poca Moderna, identificou-se a estrutura deacesso torre angular, composta por dois muros: enquanto estruturas defensivas, astorres tinham a sua porta de entrada vrios metros acima do nvel do cho, ao nveldo primeiro andar. O acesso era feito, geralmente, por meio de uma escada demadeira, facilmente recolhida durante um ataque. Mas, medida que durante a BaixaIdade Mdia as antigas fortificaes adquirem uma caracterstica mais senhorial,angariando uma funo residencial ou civil, constroem-se acessos mais convenientes,mais de acordo com a nova funo da estrutura. o caso desta construo, que seencontra sob as atuais escadas de comunicao torre, sendo interpretada como umaescada de acesso ao primeiro andar da Torre Sineira, a fazer lembrar as tpicas casasbeirs.

  • Figura 6 Aspeto dos trabalhos: derrube da muralha e estrutura moderna de acesso Torre. Ao fundo, v-se a fachada SO da Igreja Matriz.

    A ocupao mais antiga identificada nesta rea do Alto do Calvrio data de pocamedieval e trata-se da necrpole de sepulturas escavadas na rocha. Esta necrpolemedieval encontra-se implantada num local de culto antigo, embora o actual edifcioreligioso remonte ao sculo XVIII, no se identificando vestgios de construesanteriores. As sepulturas identificadas at agora situam-se a Oeste da actual IgrejaMatriz, num plano mais elevado, dentro do que ter sido o permetro amuralhado docastelo medieval.

    Foram identificadas 28 sepulturas, das quais foram escavadas 24[15], pois asrestantes prolongavam-se para fora da rea intervencionada ou encontravam-se,parcialmente, sob alguma estrutura. Das 24 sepulturas, foram exumados 22 indivduosem conexo anatmica (14 no adultos, 4 adolescentes e 4 adultos), e 21 indivduosem reduo[16] (13 no adultos, 1 adolescente e 7 adultos), visto as sepulturas teremsido sucessivamente reutilizadas, o que demonstra um longo perodo de utilizao doespao enquanto necrpole rupestre.

    Das 22 sepulturas rupestres escavadas, 17 so sepulturas antropomrficas, ou exibemum antropomorfismo incipiente; as restantes encontram-se demasiado destrudas paraserem classificadas. A maioria dos tmulos demonstra um certo cuidado naelaborao, apesar da dificuldade que o talhe do xisto apresenta, devido suatendncia para lascar.

    Como normalmente acontece nas necrpoles, no h uma exclusividade de tipologias,embora a variedade das formas no seja muita: identificaram-se 5 tipos,depreendendo-se uma preferncia pelas formas assimtrica e trapezoidal. At aomomento, no foi inferida uma relao entre a tipologia do sepulcro e a idade doinumado ou o seu sexo.

    Relativamente orientao das sepulturas, no caso das sepulturas da Sondagem A, aorientao crist[17] no foi totalmente seguida, apresentando uma ligeira variao, oque poder ser explicado em termos de aproveitamento da pendente natural da rochabase, de NO para SE. Ou seja, os sepulcros foram escavados no afloramento de xisto,de forma a que as cabeceiras (a NO) estivessem a uma cota mais elevada do que osps (a SE). Assim, a maioria das sepulturas (16) apresenta uma orientao genricade NO-SE entre os 285 e os 330 uma ligeira variao dos cnones da altura. nas necrpoles articuladas com locais de culto que as sepulturas so sistematicamenteorientadas a Este, pois os edifcios atuavam como polo orientador das sepulturas queos envolviam.

    Quanto sua distribuio espacial, os sepulcros da Sondagem A encontram-se

  • organizados, ordenados lado a lado. Ao contrrio do verificado noutras necrpoles demaiores dimenses[18], nesta rea as sepulturas encontram-se associadas,agregadas. Para Catarina Tente (2007), o espaamento entre sepulcros, nasnecrpoles, () poder estar relacionado com uma maior diacronia na utilizao dasnecrpoles de maiores dimenses, o que vai de encontro ao considerado para anecrpole em questo, como j vimos, em relao s inmeras inumaes emreduo. Alm disso, a longa utilizao da rea enquanto espao sepulcral est,tambm, patente, no facto da maioria dos tmulos se encontrar destruda, parcial outotalmente, pelo talhe de outros, posteriores, que se sobrepem.

    Figura 7 Plano final da Sondagem A. As sepulturas escavadas esto numeradas de1 a 22. As sepulturas no escavadas esto numeradas de 23 a 26. Estruturaidentificada com a letra A: ngulo de edifcio relacionado com a Igreja do Presbtero

  • rias; estrutura identificada com a letra B: acesso moderno torre angular.

    o caso da sepultura 5, que corta as sepulturas 3 e 4; da sepultura 8, que destruiuparcialmente a sepultura 7, ou do sepulcro 10, que destruiu a sepultura 9 e que porsua vez foi destrudo pelo tmulo 11, que tambm destruiu a sepultura 12.

    Em relao aos rituais de sepultamento, depois de executado o tmulo, proceder-se-ia deposio do morto, directamente na base da sepultura. Na quase totalidade doscasos, a colocao do indivduo na sepultura fez-se na posio de decbito supino, oudorsal. Na maioria dos indivduos cujo crnio se encontra conservado, a sua cabea foicolocada de forma a ficar a olhar para nascente, de onde surgir Deus no dia do JuzoFinal. Nos casos que se conseguiram apurar, os braos encontram-se flectidos sobre obaixo-ventre (10 casos) ou cruzados sobre o peito (3) e as pernas estendidas (14).Para as inumaes escavadas nesta Sondagem, pode concluir-se que a maioria dosindivduos no foi envolvido em mortalhas, quer pela posio em que foramdepositados quer pela disposio das peas sseas, dispersas. Alm disso, no foiidentificado nenhum indivduo com os ps sobrepostos, posio normalmenteassociada ao uso de sudrio. Tambm pela disposio das peas sseas, a maioria dasinumaes primrias escavadas parece ter ocorrido em espao fechado, isto , odefunto foi coberto com terra, embora esta no tenha sido compactada.

    O processo de enterramento era concludo com o encerramento da sepultura. Noscasos preservados, a cobertura foi feita atravs da colocao de pedras calcrias, dexisto e seixos xistosos de tamanho mdio ou grande. Em algumas, argamassa de terraconsolidava esta estrutura. Mas muitas sepulturas foram identificadas sem tampa,pois certamente as pedras que as compunham sofreram reutilizaes mltiplas,impossibilitando a sua identificao. Contudo, os rebordos totais ou parciais indicam asua existncia.

    A assinalar os sepulcros, foram identificadas algumas pedras de cabeceira: pedrascalcrias, de tamanho mdio, ou seixos xistosos, colocados em cunha. No se podeconcluir que fosse uma prtica comum, quer por falta de dados quer pelo facto demuitas sepulturas terem sido destrudas pelo talhe de outras, o que pode significar quetinham sido j esquecidas, que o seu posicionamento era ignorado.

    No caso da Sondagem A, conclui-se que as tampas eram cobertas por camadas deterra, ficando os sepulcros enterrados: quer a simplicidade das coberturas, no tendosido identificadas tampas decoradas ou sequer monolticas, quer o facto de terem sidoidentificadas algumas pedras a assinalar as cabeceiras contribuem para estaconcluso. Alm disso, no foram identificados, at ao momento, canais paracirculao de gua (talvez desnecessrios devido inclinao do prprio afloramento)ou orifcios de drenagem de lquidos, na base das sepulturas. No deixa de serparadoxal o esforo empregue nos sepulcros, que ficariam cobertos, que contrastagrandemente com as pedras de cabeceira, simples seixos ou pedras calcrias, queficariam visveis, a assinalar tal monumento invisvel.

    de salientar que, de acordo com a anlise dos dados obtidos, estamos perante umarea de necrpole originalmente destinada a indivduos no adultos onde,posteriormente, passaram a ser enterrados indivduos adultos (do universo de 22sepulturas rupestres escavadas, identificaram-se 16 sepulcros infantis e 6 sepulcros deadultos). Contudo, no podemos deixar de realar a ausncia, nesta rea escavada, desepulturas de comprimento inferior a 100cm. Ou seja, a mortalidade infantil decrianas at ao ano de idade no se encontra representada. Estaro noutra zona danecrpole, ou era-lhes destinado outro tipo de enterramento? Por exemplo, nanecrpole rupestre de S. Pedro de Numo[19], foi identificada uma sepultura escavadana terra de um nado-morto.

  • Figura 8 Inumao primria de no adulto. Nesta sepultura foram identificadasduas outras inumaes, em reduo.

    Na continuao do projeto, foi implantada nova sondagem no topo do cabeo, a NE dacisterna. A cisterna do castelo de Miranda do Corvo uma estrutura escavada narocha, tipo poo, de nave nica e planta retangular (3m x 4m). Atualmente,apresenta-se sem cobertura, ainda que possam ser observados os arranques dacobertura abobadada. As paredes interiores encontram-se argamassadas; deargamassa , tambm, o piso. No apresenta qualquer tipo de dreno para limpeza emanuteno. A recolha das guas pluviais e o acesso para manuteno seriam feitospela abbada, hoje desaparecida, visto no serem visveis, nas paredes, quaisquervestgios quer de condutas e canalizaes quer de uma escada fixa que permitisse oacesso ao interior da estrutura. A cisterna foi utilizada como ossrio, provavelmenteno final do sculo XVIII, tendo sido limpa em meados do sculo XX, de acordo comtestemunhos orais recolhidos.

    Esta zona do cabeo sofreu uma forte interveno durante as obras do Padre Coimbra.Os trabalhos de terraplenagem retiraram vrios metros elevao, aplanando o seutopo. Da que na zona NO da sondagem, sob a camada vegetal, o afloramento rochosose encontre a cerca de 20cm de profundidade. A rocha apresenta-se cortada, paraatingir a cota de circulao pretendida. Todos os vestgios arqueolgicos que aquipudessem existir foram destrudos.

    Na rea SE da sondagem, sob depsitos de poca Moderna, foram identificadas 6sepulturas escavadas na rocha, que se dividem em dois grupos: 3 das sepulturasencontram-se fraturadas, sendo uma, claramente no antropomrfica e as outras duasde tipologia indeterminada. Deste grupo, duas apresentam orientao O-E, e uma E-O.So mais antigas do que o segundo grupo, que se encontra orientado no sentidoS/SO-N/NE, cortando, na perpendicular, as primeiras. As 3 sepulturas mais recentesenquadram-se na tipologia geral de no antropomrficas. Ao todo, foram identificados7 indivduos em conexo (6 adultos e 1 no adulto).

  • Figura 9 Conjunto funerrio perturbado pela escavao de outra sepultura. Trata-sede um indivduo do sexo feminino, que se encontrava grvida no momento da morte,tendo sido possvel identificar e exumar o feto.

    Figura 10 Pormenor do feto.

    As inumaes identificadas nesta zona foram, tambm elas, depositadas directamentesobre a rocha. A colocao dos indivduos nas sepulturas fez-se na posio de decbitosupino, ou dorsal. Os sepultamentos tambm foram realizados em espao fechado,isto , foi colocada terra sobre os defuntos.

    Ao contrrio das sepulturas da Sondagem A, os 6 sepulcros desta sondagem noconservavam tampa, nem apresentam rebordos, e tambm no foram identificadaspedras de cabeceira.

    Contrariamente ao identificado na Sondagem A, cujas sepulturas so mais antigas, ossepulcros da Sondagem B no se encontram organizados, nem esto paralelos, excepo das sepulturas 1 e 2, embora as inumaes apresentem orientaescompletamente divergentes. O facto de os sepulcros apresentarem uma orientaodiferente no parece ser explicado pela geologia, ou pela falta de espao, pelo menos luz dos dados actuais. Talvez a sua datao mais tardia (Baixa Idade Mdia, incio dapoca Moderna) ou o afastamento em relao ao templo, polo orientador, sejam ashipteses mais vlidas.

  • Figura 11 Plano Final da Sondagem B. As sepulturas foram numeradas de 1 a 6.

    Foi, ainda, posto a descoberto o embasamento de uma estrutura que conserva apenasuma fiada de pedras (seixos e xisto ligados por argamassa de terra e argamassa decal), de aparelho irregular, o que dificulta a sua datao. No foi possvel fazer olevantamento integral da construo, pois estende-se para fora dos limites dasondagem. Contudo, possvel verificar que se trata de uma estrutura macia, da qualfoi possvel identificar mais de 300cm, no sentido NE-SO, e 300cm, no sentido, NO-SE. possvel que se trate do embasamento de uma torre.

    Figura 12 Base de estrutura (torre?), identificada no topo do cabeo.

  • Esta estrutura anterior necrpole rupestre, nesta zona do cabeo: depois de terdeixado de exercer a sua funo, a construo foi destruda e o seu embasamentoescavado para o talhe de sepulturas. A necrpole, na zona Este do cabeo (junto atual Torre Sineira), mais antiga. Com o avanar da necrpole para Oeste, tambm otopo do cabeo passou a ser zona de enterramentos. A necrpole continuou a avanarpara poente, onde hoje se encontra o cemitrio municipal, inaugurado no sculo XIX.

    Figura 13 Localizao de inumao identificada fora da rea de escavao, notalude da zona Oeste do cabeo[20], virado para o atual cemitrio municipal.

    Figura 14 - Pormenor da inumao in situ, identificada fora da rea de escavao.

    Materiais arqueolgicos

    No foram identificados objectos cermicos associados s inumaes, assim comoqualquer numisma. Parece que o hbito pago de pagar a Caronte est ausente dassepulturas escavadas. Na necrpole rupestre da Sondagem A, o esplio funerrio estapenas representado por algumas contas isoladas, e por dois alfinetes de cabelo, decobre, exumados in situ. Contrariamente, durante a exumao do material osteolgicodo ossrio, foram resgatadas algumas moedas, de aspecto mais tardio. Deste esplio,contam-se, ainda, alguns botes, quer em osso quer metlicos, e colchetes, o queindica que os indivduos tero sido enterrados vestidos. Quanto a objectos de adorno,foram exumados alguns anis, medalhas e cruxifixos. Este esplio parece corroborar ahiptese deste material osteolgico ser proveniente das sepulturas que existiam emredor da Igreja do sculo XIV, em cima (?) da qual ter sido construdo o temploactual, no sculo XVIII (vide nota 14).

    Das sepulturas da Sondagem B, foram exumadas quatro contas, durante olevantamento de um dos indivduos: duas sobre o abdmen, duas pendentes no ladodireito, sendo provvel que este indivduo tenha sido enterrado com um rosrio na

  • mo esquerda. Foi, ainda, exumado um boto sobre o trax, o que indica a utilizaode roupa.

    Do total da interveno, no foi exumado esplio relacionado com a actividade blica,sendo a cermica comum o esplio mais abundante.

    Concluso

    Apesar dos vestgios identificados, a estratigrafia reconhecida apresenta muitos hiatos.Muitos so os momentos de ocupao do stio sobre os quais no temos dados (noforam identificados, por exemplo, os nveis de circulao relacionados com asestruturas descobertas) e para determinados momentos os dados so exguos. Oproblema da origem e edificao do castelo mantm-se em aberto; j o seu declnio eabandono parecem estar comprovados, quer do ponto de vista documental, quer doponto de vista arqueolgico.

    A anlise do material recolhido no permite avanar com cronologias absolutas, vistoque, por exemplo, os poucos numismas identificados esto em contexto de ossrio(que se encontra no seu segundo lugar de deposio) e as cermicas finas so raras.

    Em relao necrpole rupestre, perante o nmero de sepulcros identificados naSondagem A 28 sepulcros em 28 dos 40m da sondagem a sua disposioorganizada e a sua orientao cannica, colocamos a hiptese de estarmos peranteuma necrpole paroquial, mais precisamente a necrpole relacionada com a igreja doPresbtero rias, deixada em testamento, em 1138, ao bispado de Coimbra.

    A reforar esta hiptese est a proximidade com o conjunto das unidades murais nocanto superior direito da Sondagem, que apresenta a mesma orientao dos tmulos.Contudo, pensamos que a origem da necrpole poder ser anterior a esta estrutura,devido existncia de uma sepultura provavelmente anulada no momento daconstruo do edifcio ao qual pertenciam os muros referidos. Ou seja, aquando aedificao do edifcio religioso poderia j existir um espao sepulcral localmentereconhecido, cujos tmulos vieram a ser integrados num espao sacralizado. provvel que j existisse uma comunidade crist organizada[21], qual o Presbteroter vindo prestar apoio espiritual, e que a Igreja que edificou tenha vindo perpetuaruma antiga tradio de culto, que serviu de estmulo para a abertura das primeirassepulturas.

  • Figura 15 Plano final da Sondagem A. No topo da imagem, podemos identificar ongulo da estrutura que cremos pertencer Igreja do Presbtero rias, e queapresenta a mesma orientao que a maioria dos sepulcros. Assinalada a vermelhoest a sepultura rupestre anulada, provavelmente devido construo desta estrutura.

    Assim sendo, a necrpole rupestre de Miranda do Corvo, pelo menos a rea junto Torre Sineira, datar dos sculos XI-XII. Para a mesma datao aponta a tipologia dassepulturas[22]. Estamos, assim, perante mais um exemplo do inferido por IsabelAlexandra Lopes, para o Douro Superior? Neste estudo[23], a autora conclui que asnecrpoles de sepulturas antropomrficas estariam relacionadas, por norma, comlocais fortificados de maiores dimenses e/ou com edifcios religiosos. Estes ltimosso espaos que desempenharam papis preponderantes durante a conquista crist,apresentando as sepulturas caractersticas tidas como mais evolucionadas, tais comoas formas trapezoidais e as cabeceiras rectangulares e em arco ultrapassado. Aconjugao destes factores indicia uma cronologia entre os sculos XI e XII.

    Contudo, impossvel atribuir uma datao precisa aos sepulcros rupestres. Estesmonumentos no possuem qualquer contexto estratigrfico anterior ao seu talhe:como so cortados no afloramento rochoso, a estratigrafia relacionada com a anteriorutilizao do espao foi destruda, no sendo, por isso, possvel estabelecer umadatao post quem. Assim, apesar de, ao contrrio do que comum neste tipo dearqueosstio, as sepulturas terem fornecido material osteolgico em bom estado deconservao, e algum esplio (caso de alfinetes e algumas contas isoladas), no possvel atribuir uma cronologia precisa para a necrpole, com os dados recolhidos atagora. At o momento em que esta abandonada difcil de datar, pois o materialcermico exumado dos depsitos que anulam os sepulcros, caracteriza-se porpequenos fragmentos de material de construo e de cermica comumincaracterstica.

    A relao entre a necrpole rupestre e a fortificao medieval fica por concluir. No foi

  • possvel estabelecer a relao estratigrfica entre o espao sepulcral e a actual TorreSineira: junto fachada NO, encontra-se adossada a estrutura de poca Moderna deacesso torre. Em relao fachada SO, aqui a estratigrafia foi completamentealterada com a abertura da vala ossrio contempornea. Tudo isto impediu acertificao quer da cronologia da Torre quer da cronologia relativa atravs daarticulao estrutura-sepulcros. Sabemos, apenas, que o espao ter sido utilizadocomo necrpole durante muito tempo, antes da construo das estruturas muraisrelacionadas com uma fase da fortificao em que esta ter perdido parte do seucarcter defensivo, como se viu anteriormente, entre a Baixa Idade Mdia, incios depoca Moderna.

    Data recepo do artigo: 20 de Fevereiro de 2013

    Data aceitao do artigo: 3 de Junho de 2013

    FONTES E BIBLIOGRAFIA

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    NOTAS

    [1] O tesouro de Cho de Lamas, assim designado por ter sido encontrado nestapovoao durante trabalhos agrcolas, composto por 7 peas de prata e uma deprata e ouro e encontra-se no Museu Arqueolgico de Madrid, desde 1922.

    [2] Este capitel foi reaproveitado como pia de gua benta, na capela de SantaCatarina, na povoao do Corvo. volta desta pea surgem vrias questes, como ada sua provenincia: para alguns autores ser proveniente de Conimbriga ou deCoimbra (RODRIGUES, Antnio, 2000: 22) e no do territrio de Miranda. Tambm asua datao bastante discutida, tendo sido datado quer como visigtico quer comosendo posterior ao sculo VIII, como morabe. Encontra-se, actualmente, no acervodo Museu Nacional Machado de Castro.

    [3] Resultados consultados no stio da internet daDGPC, http://arqueologia.igespar.pt/index.php?sid=sitios, a 8 de Maio de 2013.

    [4]A primeira referncia escrita a Miranda do Corvo data de 980 (BAIO, Antnio etal, 1937: 25). Trata-se do testamento de Gaudinas e de sua mulher Conposta, quedeixam vrias propriedades, situadas na villa Alquinitia, ao Mosteiro do Lorvo. Estaspropriedades situavam-se perto da igreja de Sancti Martini, no territrio de Miranda.(HERCULANO, Alexandre, 1867: 78, Doc. CXXVII).

    [5] O projeto envolve os Municpios de Penela, Coimbra, Figueira da Foz, Pombal,Lous, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho e Soure, aos que se juntam a Agncia deDesenvolvimento dos Castelos e Muralhas Medievais do Mondego, a Turismo Centro de

  • Portugal, a Universidade de Coimbra, o Instituto Pedro Nunes, a Associao Comerciale Industrial de Coimbra e, ainda, a Direo Regional de Cultura do Centro.

    [6] A breve referncia ao castelo surge no estabelecimento de penas para homicdio:Et qui homicidium, aliud tantum, sed si intus castellum contigerit sexaginasolidos., apud CAPO, 1989: 29.

    [7] et inter multas adeversitates Sarracenorum, ibidem tunc temporis omniadepopulancium (). (Livro Preto, 1999: 381). de realar o tom catastrfico em queeste testamento redigido, talvez inspirado no fim do mundo bblico. Acreditamos queo documento reflita s at certo ponto o que realmente aconteceu.

    [8] Para Antnio Baio (1937: 35), a reconquista definitiva do Castelo deMiranda dever ter ocorrido no ano de 1134 ou 1135, como consequncia do seuavano para Sul. Conquista essa que Afonso Henriques consolida em 1136, aooutorgar a carta de foral a Miranda do Corvo, e no ano seguinte, a Penela, tentando,desta forma, atrair e fixar povoadores para esta rea estrategicamente fundamental.Ao futuro rei de Portugal deve-se mais de 30 cartas de foral e algumas confirmaes,nas regies de fronteira do seu futuro reino. Desta forma, tentou ligar a si asrespectivas populaes, alm de que, nesta regio em concreto, adensou a malhaconcelhia protectora de Coimbra.

    [9] Porm, frequente encontrarmos na bibliografia uma descrio pormenorizadadeste castelo. Num dos seus muitos trabalhos, o Coronel Belisrio Pimenta (1959: 17)publicou uma descrio hipottica da fortificao, alertando para a necessidade da suaverificao arqueolgica. Contudo, esta descrio hipottica passou a vigorar, emtodos os trabalhos publicados da em diante, como verdade absoluta.

    [10] Os Castelos Portugueses dos finais da Idade Mdia: presena, perfil,conservao, vigilncia e comando, 1999: 124.

    [11] A tambm denomidada Estrada da Beira ligava a Cidade Rodrigo a Coimbra,passando por Castelo Bom, Linhares, Gouveia, Seia, Santa Ovaia, Coja, Arganil ePenacova [], da qual haveria ligaes para Viseu, Lamego e Covilh., (TENTE,Catarina, 2007: 33). Esta via o eixo de circulao privilegiado da zona centro dopas: alm de entroncar no eixo norte-sul, na via Olisipo-Bracara Augusta, aoatravessar a regio faz a ligao litoral-interior. Era, por isso, passagem obrigatriapara quem se deslocava do interior da Meseta para Ocidente, dando acesso directo aCoimbra e ao litoral. Ao longo da Histria, permitiu a circulao, no s interna comode e para o exterior, de produtos, pessoas e exrcitos.

    [12] LARCHER, Jorge, 1935: 267.

    [13] Antigo nome dado pela populao ao cabeo; ser a corruptela popularde carrapito.

    [14] So conhecidas trs Igrejas do Salvador, no Alto do Calvrio: a do Presbterorias, no incio do sculo XII; a do Mestre Joo Fernandes, de finais do sculo XIV, e aactual, de finais do sculo XVIII (BORGES, Nelson Correia, 1987: 204). Para BelisrioPimenta (1959: 17), a igreja trecentista estaria situada onde hoje est a capela-morda Igreja Matriz. A ser verdade, a ampliao do edifcio levou destruio de muitassepulturas.

    [15] Deste universo de 24 sepulturas, de realar a existncia de dois sepulcros queno so rupestres. Nestes casos, os enterramentos foram feitos sobre tmulosescavados na rocha e as paredes dos sepulcros compostas por toscas fiadas depedras.

    [16] O material osteolgico ainda se encontra em fase de estudo laboratorial peloantroplogo Flvio Simes, da que estes resultados possam sofrer alteraes.

  • [17] Com a cabea virada para Oriente, onde suposto aparecer Deus no dia do JuzoFinal. A morte para os cristos desta poca um estgio intermdio, um sonoprofundo do qual iro acordar no dia da Ressurreio.

    [18] o caso da necrpole da Tapada do Anjo, em Fornos de Algodres (TENTE,Catarina: 2007: 83), cujos sepulcros foram distribudos por espaos muito maisamplos, achando-se em grupos.

    [19] TENTE, Catarina, 2007: 100

    [20] Esta inumao j no se encontra visvel, pois foi perturbada. Apesar dosesforos da equipa, a sua localizao foi divulgada e o material sseo que seencontrava visvel foi destrudo.

    [21] No nos podemos esquecer que Miranda do Corvo j referenciada numdocumento datado de 980, assim como a existncia, no seu territrio, da igrejade Sancti Martini. Esta zona situava-se, sem dvida, na rea de influncia do Mosteirode Lorvo (vide nota 1).

    [22] O mesmo foi concludo por Mrio Barroca (1990-1991: 109) para as sepulturasdo castelo de Penela: a soluo antropomrfica associada a um pronunciado sistemade encaixe de tampa apontam para uma cronologia dentro do sculo XI.

    [23] LOPES, Isabel Alexandra, Contextos materiais da morte durante a Idade Mdia:as necrpoles do Douro Superior, 2002:244, in TENTE, Catarina, 2007: 104.

    PALAVRAS-CHAVE

    Arqueologia, Miranda do Corvo, Castelo, Sepulturas Rupestres, 'Reconquista'

    COMO CITAR ESTE ARTIGO

    Referncia electrnica:

    SANTOS, Vera "Interveno arqueolgica no Alto do Calvrio, Miranda do Corvo : anecrpole rupestre". Medievalista [Em linha]. N14, (Julho - Dezembro 2013).[Consultado dd.mm.aaaa]. Disponvel em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA14/santos1405.html

    ISSN 1646-740X