A Subida Do Calvario_parteii

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2) 3) 4) 5)

)Et quairebant pr?ncipes sacerdotum, et scriba;, quo-niodo Jesum interficerent (Lc 22, 2). Satans, cheios de )Vse vobis, scriba; et phserissei hypocrita;: quia s?miles ostis sepulchris dealbatis, qua; a forisoutros instrumentos deconseguinte contra raiva interior contra] spur-Citia (Mt 23, 27). parent hominibus spe-ciosa, intus vero plena sunt ossibus mortuorum et omni toda santidade e por o Santo doa santos (7). )Insidiantes ei, et quserentes aliquid capere de ore ejus, ut aceusarent eum (Lc 11, 54). Esta escumalha do povo judeu se tinha posto em )Et ingressus in templum, esepit cjicere vendentes in lllo, et ementes (Lc 19, 45). movimento, excitada por alguns dos principaes inimigos: deJesus, vindos de todos os lados ao palcio de Cai-] phs, para ccusar falsamente, de todos os crimes, 01 cordeiro immaculado (8), que carregava sobre si 09 peccados do mundo e a perversidade das suas obras para os expiar (9). Ill 82 CONTEMPLAO Os juizes de JesusPreldios: Lancemos um olhar attento para o lugar onde em breve Jesus vae comparecer. O palcio do summo sacerdote est illuminado, e as avenidas policiadas... Anns est assentado sobre um thro-no no fundo de uma grande sala, cercado de escribas e phariseus. Todos esperam ansiosos a chegada do Nazareno. O' misericordioso Jesus, at aqui vs s tnheis sido insultado por uma vil criadagem e por emissrios assalariados!... Agora, so chefes de nao que vos esperam para approvar e completar suas ignominias... Oh! dae-me lagrimas de sangue para chorar tanta baixeza e tanto horror!...

A CASA DE ANNAS

Eis, amabilissimo Jesus, os que vos vo accusar,] julgar e condemnar. A' vista deste accumulo de baixeza,] de vicio, de impiedade e de orgulho ferido, escoria da sociedade e da familia, sente-se que a condemnao pro-1 nunciada por homens desses uma gloria, e que uma libertao sustentada por taes seres seria uma condemnao. No o que se d commigo todos os dias? Temo o juizo e o desprezo do mundo, e o mundo de hoje

6) Et vobis legisperitis va?; quia oneratis homines one ribus, qu 8)portare non possunt, et ipsi uno digito vestro non tangitis sarcinas (Lc 11, 46). Quanta malignitas est inimicus in sancto! Et gloriatl sunt, qui oderunt eum (Ps 73, 3). Quis ex vobis arguet me de peccato? (Jo 8, 46). Et posuit Dominus in eo iniquitatem omnium no-trum (Is 53, 6).

7) 9)

I Retomemos o texto do Evangelho (Jo 18, 13): E levaram-no primeiramente a Anns, por ser sogro de Caiphs, que era o pontfice daquelle anno. II Antes de entrar no palcio dos pontfices, onde o divino Mestre deve sujeitar-se ao primeiro interrogatrio e a um julgamento antecipado, vejamos quem so os homens a quem elle vae responder e qual o tribunal, que contra elle pronunciar a sentena de morte. Anns era o antigo pontfice, sogro do actual surripio sacerdote Caiphs, mas tinha conservado aos olhos ido povo um prestigio mantido pela intriga e pela astcia de seu longo conhecimento dos homens e das coi-pas (1). ' Anns e Caiphs tinham sido immediatamente avisados da priso de Jesus e tudo em redor delles estava movimentado. Tinham enviado mensageiros, que percorriam a cidade, convocando os membros do conselho. Como os phariseus, os sadduceus e herodianos de toda parte tinham vindo a Jerusalm para a festa, e como a empresa tentada contra Jesus desde muito tempo, tinha sido tramada entre elles e o grande conselho (2), aquelles que tinham mais odio contra Jesus foram convocados, com ordem de reunir-se e trazer comsigo, no momento do julgamento, todas as provas e testemunhos que pudessem encontrar contra Jesus. Todos estes homens, maus e orgulhosos, a quem Jesus tantas vezes tinha dito a verdade, em face do povo, se encontravam reunidos em Jerusalm (3). Cheios de odio e de raiva, cada um delles procurava entre os seus patrcios, que a festa tinha attrahido, alguns miserveis que, a troco de dinheiro, viessem aceusar o Salvador (4). Toda essa turba de inimigos de Jesus se dirige, pois, ao tribunal de Caiphs, guiada pelos phariseus e escribas de Jerusalm, aos quaes se reuniam muitos dos vendilhes expulsos do Templo pelo Salvador (5), muitos dos doutores orgulhosos, a quem elle tinha confundido diante do povo (6). Entre esta multido de inimigos se encontram tambm peccadores impenitentes a quem elle no queria curar. . . peccadores que se tinham tornado doentes; jovens vaidosos que elle no tinha querido para discpulos, caadores de heranas, raivosos, por elle ter mandado dar aos pobres bens com que elles contavam, 014 porque elle tinha curado aquelles cujos bens queriam herdar; perversos que elle tinha apontado como perigosos; adlteros, cujas cmplices elle tinha conduzido] ao caminho do bem e da virtude; e ainda muitos

o mesmo que aquelle de vosso tempo (10), meu Jesus! quando, a vosso exemplo, eu deveria procurar o desprezo, convencido de que no se pode servir a dois senhores (11), e que vosso reino diametralmente opposto ao reino deste mundo. O mundo s aspira gloria, estima, independncia e s commodidades.. . e vs no arnaes sino o desprezo, a humildade, a obedincia e a pureza... O' Jesus, que partido devo eu tomar?... Posso, acaso, ufanar-me, eu, vosso discpulo, de ter vossa espirito, vossas idas e vossas aspiraes. .. Virgem Santssima, alcanae-me a graa de no amar sino o que Jesus ama e de s buscar o que lhe agrada! E para que no seja um simples desejo, estril, quero applicar-me hoje em soffrer qualquer coisa pelo amor de Jesus. 83a CONTEMPLAO O inferno

desencadeado1'reludios e Evangelho: Os mesmos de hontem.

II I No teramos, sino uma ida incompleta e muitas vezes incomprehensivel da paixo tio Salvador, si limi-I tassemos as nossas contemplaes aos factos exteriores dos seus soffrimentos e dos seus opprobrios. Para comprehender plenamente esta tragedia dolo-I rosa e sanguinolenta, h tres elementos interiores, suj periores e sobrenaturaes, que preciso no perder nun- ca de vista, os quaes formam a cadeia continua da nar-I rao da Paixo, so: a permisso divina para a Paixo ^horrenda de Jesus, como representante dos peccados dos

I I

10)Mundus totus in maligno positus est (1 Jo 5, 19). 11)Nemo potest servire duobus dominis (Mt 6, 24).

1Sub principibus s'acerdotum Anna et Caipha (Lc 3, 2).1

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homens (1); o odio infernal e a duvida horrvel do demnio em presena da santidade sem sombra de Jesus (2); e finalmente a vontade livre de Jesus, que sof-fre, como victima, pela salvao do mundo (3). Eis as molas intimas, interiores, que pem tudo em movimento e de que os factos exteriores e visveis no so mais que a manifestao e revestimento. Tenhamos o cuidado de nos recordar em cada contemplao destas tres razes motoras e directoras, de tudo o que se apresenta aos nossos olhares. Por falta de terem os seus olhares fixos nestes motivos, certas almas no comprehendem a Paixo; acham exaggerados certos supplicios, bem como a applicao das prophecias que descrevem as scenas com uma brutalidade quasi repellente. No momento em que estamos, convm que nos recordemos sobretudo da aco desesperadora do inferno desenfreado. Jesus o disse: a hora das trevas (4),j a hora em que se dava ao inferno todo o poder de maltrat-lo. .. No devemos admirar-nos de nada; no a obra dos homens que ns vemos, mas, sim, a obra do poder1 das trevas, isto , a hora em que o inferno desenvolvei todo o seu poder, toda a sua raiva, todo o seu odid contra o Santo de Deus, que tantas almas lhe tinham arrancado, e inutilizado tantas de suas manobras (5)J

E' preciso reunir estes tres elementos e fundi-los [num s. O Eterno Pae quer que seu Filho expie voluntariamente os peccados dos homens, e d ao inferno K aos seus emissrios todo o poder de o atormentar (6). Foi isto o que aconteceu de modo especial por oc-casio da entrada de Jesus em Jerusalm... Sobre esta scena lgubre se estende um cu em que appareceni signaes maravilhosos; a lua parece caminhar ameaadora e perturbada com manchas extremas (7); dir-se-ia que ella se alterou e que receia chegar sua plenitude, porque neste momento que Jesus vae morrer (8). Ao sul da cidade corre Judas aguilhoado pelo remou io. morso. .. s, fugindo da sua sombra, inipellido pelo deO inferno est desencadeado. Por todas as partes excita os peccadores. Satans, furioso, redobra esforos para augmentar os cruis supplicios do cordeiro. . . Os anjos desejam ir diante do throno de Deus, supplicar a autorizao para soecorrer a Jesus; mas nada mais podem elles fazer do que adorar, cheios de espanto, o milagre da justia e da misericrdia divina, existentes no cu, desde toda a eternidade, e que agora comeam a cum-rir-se no tempo. . . (9). O barulho augmenta cada vez mais em volta do ribunal de Caiphs. Esta parte da cidade resplandesce o claro dos brandes e archotes... Em volta de Jerusalm ouvem-se os urros dos animaes que tantos strangeiros trouxeram para o sacrifcio. Os cordeirosDei erat, quod Christus dolores et passiones mortem pateretur ad finem humana; salutis (S. Thom. p., q. 18, a. 5).

12)Eum, qui non noverat peccatum, pro nobis peccatum fecit (2 Cr 13)Et accedens tentator dixit ei: Si Filius Dei es. dir ul lapides istipanes fiant (Mt 4. 5). 5, 21). Id est Deus fecit, ut Christus esset Hstia, pro peccatis hominum omnium (S. Thom. 3, p., q. 16, a. 1).

14)Nemo tollit animam meam a mc (Jo 10, 18). Id et nemo tollit, 15)Hxc est hora vestra et potestas tenebrarum (Lc 22,52). Sanctus Dei (Mc 1, 24, 25). me invito; sed pono earn voluntarie (S. Thom. 3, p. q. 47, a. 1).

17)Voluntas

16)Et erat homo in spiritu immundo. et exclamavit, dl-cens: Quidnobis et tibi, Jesu Nazarene? Venisti perdere noi; seio quis sis,

18)Catharina Emmerich: Op. cit. 19)Commota est et contremuit terra (Ps 17, 8).9) Omnis creatura terrore percussa est, noster passus est (S. Ephrem: Sermo. de pass. Dom.). quando Salvator

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sub. do calvrio 20

accumulados em um parque balam; um s, porm, o cordeiro verdadeiro, conduzido ao matadouro, sem abrir a bocca... e este cordeiro sois vs, Jesus, que vos aproximaes, vacillante, coberto de p, de sangue, de suor, de escarros, de lama, e entraes na cidade, onde em breve sereis crucificado (10). III

mpose civitatem intravit. in qua tradendus et cru-eifigendus erat (S. Petr. Dam. S. Dom. Palm.).

lutem ex inimicis nostris, et de manu omnium qul oderunt vos (Lc 1, 71).

O' Jesus! meu bom Jesus, que lio para mim, que me limito muitas vezes unicamente aos factos exteriores da vida, sem ver a mo divina que governa e dirige os acontecimentos. A' menor contrariedade accuso os homens, e esqueo-me de que elles no so mais que instrumentos em vossas mos, para executarem os desgnios da vossa Providencia. Chamo inimigos aos que me contrariam e esqueo de que elles so instrumentos de santificao para mim (11). O demnio tem a sua hora, hora limitada por vs, e o triumpho nos est reservado, desde que saibamos, como vs, ficar calmos e resignados, sem fraquear, sem olhar para trs, mas tendo o olhar sempre fixo na vontade de nosso Pae que est nos cus. O' terna Me, dae-nos esta vista sobrenatural, e a graa de me inspirar nestes princpios e nestes conselhos, afim de que em tudo e por tudo eu possa cumprir a vontade divina! Quero, de hoje em diante, ver a mo de Deus em todos os acontecimentos, e tudo acceitar desta mo, com calma e resignao. 84 CONTEMPLAO Nas ruas da cidadePreldios: Contemplemos as ruas de Jerusalm, onde se agita uma turba odienta e rancorosa, excitando-se uns aos outros contra Jesus. O' bom Jesus, a vosso exemplo, quero mostrar-me calmo e resignado no meio das agitaes humanas.

I Continuemos a considerar o mesmo texto do Evangelho : E levaram-no primeiramente a Anns, por ser sogro de Caiphs, que era o Pontfice daquelle anno. II Para formar um quadro completo das vossas dores, adorvel e doce victima, no momento em que fazeis a vossa entrada lugubremente triumphal na cidade santa, quero percorrer por um instante as ruas, para ouvir o que se diz e o que se pensa a vosso respeito... O sentimento do povo e as suas disposies intimas me faro comprehender melhor a causa dos seus gritos e dos seus actos. Jerusalm, a grande cidade, estava mergulhada em profundo somno, quando a noticia da vossa priso veiu despertar vossos amigos e inimigos. De todos os pontos da cidade saem pessoas chamadas pelos mensageiros dos prncipes dos sacerdotes e se dirigem para Sio, da lua, atravs das ruas sombrias e a esta hora de-as. Ouve-se aqui e acol baterem s portas para des-rtar os que dormem; o ruido e o tumulto renascem em ersas partes.. . Abrem-se as portas aos que batem, estes so interrogados. Os mais curiosos e impacientes vo saber o que se passa, para vir cont-lo aos que ficam. Ouve-se o fe

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io-

3

3).

se solum certamcn illud, et opus nostra; salutis pertinere (S. Cyrill, lib. 2, in Jo).

Christus debuit simul alium discipulum assumere,o trancar pro nobis, sicut porque muitos julgam que vossa Bernardo, Trat. de passione Domini). char e pas-surus das portas, assumpsit, cum se gloriosum exhibuil (S.

omo ex pharisaMs, Nicodemus nominr, princeps Judseorum; hic venit ad Jesum nocte (Jo 13, 1, 2) quem se metteram! Todos os partidrios deste agitador, n. in Is 53). Maria Magdalena, et Joanna et Marin Jacobi, et cetersj quaj cum eis erant (Lc 24, 10). que no pensavam fantico, pareciam ter compaixo dos

Atravs das ruas ouvem-se mil conversas estimenta sua straverunt in via: alii au-tcm frondes cajdebant de arboribus, et sternebant in via (Mc 11, 8). contraqui hoc tibi fecit, quo amore sit dignus (S. Anselni. De Redempt. c. 1). dictorias. Dizem uns: Lazaro e suas irms vo saber agora com deste como

uerunt in peccatis, et omnes opus habebant ul pro eis alius mereretur, et non ipsi pro aliis (Orig. in Mt 26).

priso vae provocar um tumulto. ..

O' bom Jesus, dae-ine a pacincia e a resignao, e que nunca uma queixa saia de meus lbios e um desejo de vingana altere o meu corao. Doce Virgem, como vs, eu quero soffrer por Jesus e com Jesus!... 85 CONTEMPLAO Jesus abandonadoPreldios: Contemplemos Jesus cercado pela soldadesca que o insulta c empurra, uivando ferozmente; o que contrasta singularmente com a calma e a inaltervel pacincia da victima divina...' O' doce Jesus, permitti que eu me una com-vosco, e que vos console, ao menos com a minha compaixo e com minhas lagrimas.

elles, concitat (S. no sabero Pass. Dom.). l non contra Dominum molitus est, dum Juda?osmas agora Athan. Serm. deonde se esconder! 9) Et orate pro persequentibus et calumniantibus vo? (Mt 5, 44).

J ningum apparece para juncar de vestidos e palmas

o caminho por onde elle passa (1). Estes hy-pocritas, que querem ser sempre melhores que os outros, vo ter agora o que merecem, porque todos elles esto implicados neste caso do Galileu. Quero ver como Nicodemos (2), e Jos de Ari-matha se ho de livrar; h muito tempo que se desconfiava delles. Esto de accordo com Lazaro, mas elles so finos. .. Tudo se vae esclarecer agora. E' assim que se ouve falar a muitos que esto irritados contra algumas famlias dedicadas a Jesus, e sobretudo contra as santas mulheres (3). "Joanna, irm de Chuza. continuam, Susanna e Salom se arrependero demasiado tarde de sua imprudncia; Seraphia, mulher de Sirach, ser obrigada a humilhar-se, ella que era toda do Galileu!" (4). Noutras partes a nova foi recebida de modo diffe-rente: uns esto assustados e outros gemem secretamente ou procuram algum amigo cujos sentimentos sejam conformes aos seus, para se expandirem com elle! Poucos so os que ousam manifestar publicamente o interesse que tomam por vossa pessoa. Julgar-se-ia ver scentelhas de dio, e pelo furor fascas em diversos pontos de Jerusalm; percorrendo as ruas, uns encontrando-se com outros a que se juntam, crescendo e engrossando sempre, em direco a Eio, invadindo o tribunal de Caiphs, como uma nu-;vem sombria de tempestade (5). E' a hora em que se devem cumprir as Escripturas: "Uma multido de perversos precipitou-se sobre mim, como ces sobre uma presa, para devor-la" (6). Gritam e tremem de raiva e de odio, afim de que se cumpram as Escripturas (7). III Que ineffavel contraste, doce Jesus, entre esta multido amotinada, delirante, com esses pensamentos de vingana e de inveja e vossa calma, doura e imperturbvel serenidade. Diz o Espirito Santo: "Non in conimotione Dominus" Deus no habita na perturbao. Emquanto a turba se agita, formando mil projectos de vingana, vs ficaes calmo, sabendo que elles s faro o que vosso divino Pae lhes conceder em seus eternos desgnios. "O homem se agita e Deus o conduz", diz a Sabedoria popular (8). Esta mesma scena pode ser por vs renovada, alma piedosa, ainda que num grau menor. Em torno de vs falam, criticam e se exaltam. Por certo, no comprehendida a vossa vida. O vosso ideal tratado como loucura, o mundo vos apoda de visionrio, de orgulhoso, de teimoso. . . Os maus e muitas vezes os bons se unem contra estes visionrios, cuja presena parece um perigo publico, um escndalo e um obstculo.

I O Evangelho continua (Jo 18, 16); Entretanto, Simo Pedro com outro discpulo seguia a Jesus de longe. II O' Salvador adorvel, ao ver-vos entrar em Jerusalm, s, escarnecido, insultado, sinto no somente uma compaixo invadir minha alma, mas tambm a indignao tingir-me a fronte. Nas horas de triumpho, os vossos admiradores, vossos discpulos e amigos vos cercaram; aqui vos vejo s. . . completamente s... (I). Vosso olhar dolorido ise levanta por vezes inquieto e perscrutador, e se fixa angustiado e doloroso sobre aquelles que vos cercam, como que perguntando-lhes: Onde esto os meus discpulos? (2). Um recrudescimento de odio responde vossa solicitude. . . em vossos ouvidos ecoam ainda aquellas palavras de Pedro: "Ainda que seja necessrio morrer comtigo, eu no te negarei" (3). E agora s vos cercam os algozes e os sarcasmos! O* Jesus, onde esto os apstolos? onde esto os vossos amigos. Lazaro e Nicodemos e aquelles que vos chamavam seu mestre e seu Redemptor? Nenhum delles teve a coragem para vos seguir copio o cordeiro segue seu pastor (4). No prespio tivestes por companheiros os pastores; em Belm, em Nazareth e no Egypto, tivestes ao vosso lado as caricias e a dedicao de Jos e de vossa santa me! Em Can os apstolos eram vossos companheiros. Na Transfigurao Pedro, Thiago e Joo estavam ao vosso lado. No Cenculo Joo repousou a cabea sobre o vosso peito. Durante as vossas pregaes e milagres, estavam connosco os vossos apstolos e discpulos. Por que, doce Jesus, na hora de comear a vossa Paixo, deixaes irem embora os que vos cercam? (5). Em lugar de os obrigar a ficar comvosco, vs estveis s durante a vossa orao no jardim das Olivei 1) Torcular calcavi solus et de gentibus non est vir mc-m (Is 53, 3). 2) Considerabam ad dexteram et videbam et non erat ui cognosceret me (Ps 42, 5). Etiamsi oportuerit me mori tecum. non te negabo (Mt 26. 25). Et ego non sum turbatus. te pastorem sequens (Jr 17, 18). > 5) Sinite hos abirc (Jo 18, 8).

24) 25)

20)Fremucrunt gentes ... adversus Dominum et adversus Christum ejus (Ps 2, 1). 21)Circumdederunt me canes multi: congregatio ma-llgnanlium obsedit me (Ps 21). 22)Clamant, fremunt et insaniunt, ut Scripturae impleantur, 23)Attingit, ergo, a fine usque ad finem, fortiter et sua-Jritcrdisposuit omnia (Sb 8, 1).

O' filho e discpulo de um Deus escarnecido, insultado, incomprehendido, crucificado. . . nunca vs se-reis tratado como elle o foi; tudo se colligou contra elle: prncipes dos sacerdotes, phariseus, escribas, sbios e ignorantes, se uniram para o ultrajar, insultar e maltratar. . . Olhae, meu filho, e segui o vosso caminho, calmo e resignado, perdoando e orando por aquelles que vos fazem soffrer (9). No temaes: "Os homens se agitam, mas Deus os conduz, e nunca ultrapassaro os limites que tile lhes marcou".

ras (6) e quando ali soffrestes, em todas as faculdades da vossa alma, penas excessivas, at suardes sangue pela salvao dos homens e agora que soffreis em vosso corpo, quereis estar ainda s, porque a obra da nossa Redempo s a vs pertence (7). Sobretudo, nesta hora em que ides terminar esti obra, sellando-a com a vossa morte, quereis ficar sem a companhia daquelles que vos associastes durante o curso de vossa vida (8). Quem que pode cooperar dignamente comvosco na salvao dos homens, si todos tm necessidade da mesma Redempo? (9). S vs, meu Deus, tendes o poder e a vontade de operar a nossa salvao, unicamente vs, com vossos soffrimentos, sem lhes querer associar ningum, pois s vs tendes o direito ao nosso amor e reconhecimento (10). S vs oraes por todos, e por todos soffreis (11) afim de

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que todos concentrem em vs os seus affectos e ternuras. Ill O' meu amado Jesus, eu sinto agora a necessidade de me concentrar em mim mesmo e pensar: "Vs esteies s" nos transes dolorosos da vossa Paixo. . . no Calrio, vs estaes s. Encontrareis vossa santa Me, e Mimas compassivas na estrada dolorosa, mas caminha-Beis s para o Calvrio, unicamente s ( 1-'). O' doce esposo de minha alma, escolhestes-me en-B'e mil para ser vosso, todo vosso, unicamente vosso! Realizei, eu, porventura, esta aspirao de vosso cora-Ho? No tive a fraqueza de admittir em meu cora-Ho alguma affeio terrena, capaz de enfraquecer ou Htt perturbar o vosso amor? Ao lado do altar, e por vezes sobre o altar que eu Bros erigi, no construi talvez outro altar, dedicado a f algum dolo miservel da terra? E quando o meu amor Vos offerece o incenso de minhas ternuras, no dedico B algumas parcellas desse incenso a este idolo usurpador? Oh! baixeza das baixezas! meu bom Jesus, si eu tivesse a fraqueza de commetter tal crime! Que baixeza, que covardia, que traio!... Colmo ousarei apresentar-me diante de vs, que conheceis K)s mais ntimos pensamentos e affectos de nosso cora-[ o!

o fez voltar (3). Ainda lhe tem amor, mas este

26)Et si omnes scandalizati fuerint, sed non ego (Mo 14. 26). 27)Petrus autem sequebatur eum a longe (Mt 26. 58). S.-quitur de 28)

longnquo, neque tamen omnino recedens ab M (Orig. Trat. 34 in Mt). Fortasse Petrus in hoc nobs mxima est admirationc reverendus. quod Dominum non derelinquit, etiam cum time ret. Metus natura? est; cura pietatis (S. Ambros, lib. 10 In Lc).

cidade de afastar-me de vs, enviae-me tantos desgos tos, tantas humilhaes e tantos soffrimentos que euseja forado a olhar para vs, a expellir de meu cora o tudo o que no vosso, para que vs somente sejaes o nico objecto de meus affectos e pensamentos!

Oh! si algum dia, meu Jesus, eu tivesse a infeli-

I

rao.

O' minha terna Me, vs sois a guarda de meu coOh! no permittaes nunca que elle se abra aos affectos terrenos. .. S Jesus, s Jesus a quem jurei fidelidade eterna' Quero agora examinar-me para ver si o meu co-

Bo occupa o primeiro lugar; este amor de Pedro uma lamma que comea a apagar-se. No succde o mesmo com a maior parte dos ou-os apstolos. Surprehendidos e dispersos, elles pro-fcuram a salvao na fuga, mas afflictos, como pobres prphos, que perdem o melhor dos paes, cheios de com-ixo para com o divino Mestre, a quem amam since-mente, voltam-se muitas vezes para trs e o contemplam com os olhos banhados em lagrimas (4). Por uma feliz coincidncia, Pedro encontra-se com loo, que tambm vos seguia de longe. Os dois apos-lolos se abraam chorando e consultam-se sobre o que Bevem fazer. O ardor de Pedro lhe faz tomar a pala-Irra, e queria lanar-se para a frente, mas Joo, mais palmo e mais prudente, desconfiado de si mesmo, o detm (5). Mas ns nada podemos contra esta multido, Bhe diz; si o nosso bom Mestre quizer defender-se, elle p far. . . Limitemo-nos em consolar Jesus com a nossa presena. . . Sigamo-lo e vejamos o que se passa, em nos darmos a conhecer. O conselho era prudente 1 foi seguido. Os dois apstolos seguem de longe, atravessam juntos o Cedron, sobem a encosta de Ophel, km direco a Sio (0). No caminho encontram conhecidos e amigos, que lhes contam tudo que vs acabaes me soffrer. Os habitantes de Ophel, que os conhecem tomo vossos discpulos, chorando, descrevem-lhes o lu-[gubre e horrvel cortejo. Os dois apstolos misturam suas lagrimas aos suspiros dos operrios do bairro e, ainda que retidos pelo temor, sentem-se attrahidos pelo amor (7), e se aproximam da casa do summo sacerdote, onde o ruido pa-kee concentrar-se.4i Discpulos cerne, quomodo inviti et dolentes, gemitus rt suspiria dabant, et velut orphani recedebant: et magis eo-rum augebatur dolor. cum Dominum sic videbant (S. Boas-. Mcd. vit. Chr. c. 75). 5i Multas erat fervor Petri, qui cum alios fugientes vi-ilissi t non fagit. sed stetit (S. Chrys. Hom. 85 in Mt). 6) Qui juxta me erant, de longe steterunt (Ps 37. 19). t 7) Timor retrahit, et charitas trahit (S. Jeron. in Me 14).

I

rao pertence de facto inteira e exclusivamente a Je-

; sus!

12) Torcular calcavi solus (Is 53).

8fy CONTEMPLAO Seguir Jesus de longe!. ..Preludiou e Kvangelho: Os mesmos de hontem.

II Depois de vossa priso, Salvador adorvel, eu vi vossos apstolos cheios de medo fugirem atravs dos campos, procurando um lugar onde esconder-se para se livrarem das perseguies de vossos inimigos. Alcanaram o que queriam. Os dois grupos se afastaram cada vez mais um do outro; os soldados con-duzem-vos manietado para a casa do summo pontfice; e os apstolos, correndo atravs do valle do lado de Silo, dirigem-se para os desfiladeiros sombrios do Gehenna. Que solido para vs, Jesus, em meio deste compacto e grosseiro cortejo que vos acompanha!. . . Que silencio em vosso corao, no meio do tumulto da soldadesca!. . . Todavia, Pedro, que fugira como os outros, senta o peso do remorso, volta atrs, pois no se esqueceu dos seus protestos solennes e os seus mltiplos juramentos: "Ainda que todos vos abandonem, eu no voa abandonarei nunca" (1). Opprimido por este aguilho do remorso, elle volta atrs. O cortejo j est longe, e elle o segue a passos prudentes, ora avanando, ora recuando. Quer ver o fim de tudo isso (2). Esta mistura de curiosidade e de respeito humano que

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Pobre Pedro, sente o seu corao enternecer-se ao pensar nos maus tratos infligidos ao bom Mestre. . . mas ai!. . . elle no pensa em sua propria fraqueza. . . A indignao o exalta, mas nem uma prece sae de seu corao. . . julga-se forte e quer expr-se de novo ao perigo (8), mas ai! ser para correr atrs de uma nova e maior traio (9). Ill Assustadora lio para as almas tibias! Elias tambm vos seguem de longe, Jesus; o principio de sua queda... Depois de muitas promessas Pedro se afastar de vs e cair (10). O tibio promette; mas afasta-se de vs e cae. No sou do numero daquelles que imitam Pedro neste ponto, querendo unir o servio de Deus com as minhas quedas? tranquillizar a minha conscincia e satisfazer s minhas convenincias?... Seguir Jesus de longe pela pratica exterior da piedade.. . sem delle me aproximar pela unio intima?. . . Eu no quero offendc-lo, sem duvida, mas no quero inortificar-me e sujeitar-me a imitar suas virtudes!. . . Quero ser puro sem tomar as precaues que a mortificao prescreve, consentindo em olhares, em pensamentos, em affeies e em amizades contrarias a estas bcllas virtudes. Eu quero ser pobre, mas sem sentir a privao de coisa alguma, tendo tudo o que eu julgo util. . . no querendo desfazer-me de nada. Quero ser obediente, mas sem submetter-me s inspiraes da minha regra, s recommendaes dos meus superiores, nem s exigncias de meu estado. Mas, ai!... eu me engano.. . sigo Jesus de longe.. .

6) Ecce qui elongant se a te, peribunt (Ps 72, 27). 7) Bene a longe sequebatur, jam proximus negator: ne-que negare 8)

enim potuisset, si Christo proximus adha?sisset (S. Ambros, lib. 10 in Le). Potrus promissor egregius cpit ambulare longinquus (S. Aug. Scrm. 121 De Temp.l.

bem depressa, como Pedro, eu o negarei por uma grande queda, porque Deus disse: "Quem 6 infiel nas pe-rauenas coisas, cair pouco a pouco em grandes fal-ftas" (11). O' Jesus, perdo para as minhas faltas passadas; bossa o exemplo de Pedro ensinar e prevenir-me; que-jTO seguir-vos de perto, viver em intima unio comvos-lo!. . . Minha terna Me, conservae-me perto de Jesus, debaixo de seu olhar divino e junto de seu corao, e que eu faa tudo para lhe agradar.

87a CONTEMPLAO Anns, Caiphs e o synhedrioPreldios: Representemo-nos os dois chefes dos judeus, Anns e Caiphs, conversando um com o outro, e demonstrando a sua satisfao pela priso de Jesus. Meu bom Jesus, possa a vista dos maus im-pellir-me a ter horror hypocrisia e falsidade.

O Evangelho diz: Levaram-no primeiramente casa de Anns, por ser sogro de Caiphs, que era pontfice naquelle anno (Jo 18, 13). II Antes de penetrarmos mais avante em a narrao de vossos soffrimentos, meu Deus, seria bom conhecermos de perto os dois chefes judeus e o seu grande Conselho o Synhedrio.11) Qui spernit mdica, paulatim decidet (Sr 19, 1).

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I personagem que o Evangelho colloca na primeira I seena, no intuito de chamar a atteno sobre o mesmo, Anns (1). de que Josepho faz: "AvaVO? )Omnis enim qui male agit odit lucem (Jo 3, 20). parece ter sido eleito legalmente como pontfice Eis, meu Jesus, os Anns juizes que vo supremo, depois que 3, 2). Qui pie volunt vivere in Christo Jesu pcrsecutionem patiuntur (2 Tm Roma assumira directamente o governo 3, 2). julgar-vos. da Juda, pelos seus procuradores, expulsan do Archelau, filho Quia de mundo non estis, sed ego eiegi vos de mundo propterea et odit vos mundus (Jo 15, 19). de Herodes, o brbaro assassino dos innocentes. ouca sciencia, violento e brutal, como costuma acontecer com as intelligencias estreitas, altivas e enfatuadas de sua dignl dade (V. J. Eis os 326). Chr. 2, inimigos que se erguem diante de vs, Aps uma supremacia de sete annos, Anns fora deposto, e exigem a vossa morte. embora fosse perpetua a funeo do pontificado. O Nada h para admirar de omnipotente governador romano assim o quiz e a sua vontade todo o drama a seguir-se. era a lei suprema. O vicio odeia a virtude.. . o Anns conservou, entretanto, aos olhos dos judeus, o com-modismo odeia a vida prestigio de sua eleio. Teve diversos suecessores de curta presente, o orgulho odeia durao at ao advento do seu genro Caiphs, que comprou a a humildade, a hypocrisia tira a preo de ouro (2) c que a tinha cingido, havia dezesseis odeia a sinceridade. annos, quando Jesus foi levado ao seu tribunal. Eram elles os Sendo um homem fraco, serviu apenas de instrumento representantes desses dcil nas mos de seu sogro. vicios, como vs, Jesus, Anns, ancio rico, astucioso e experimentado, reis o representante continuara a ser o verdadeiro chefe do partido sacerdotal, ao destas virtudes. Basta ponto de j ser um costume juntar estes dois nomes, pondo o comprehender este de Anns antes do de Caiphs (3). contraste, para comprehender o odio com E', portanto, Anns o verdadeiro autor do assassnio que vos perseguiram e jurdico que se vae executar, e sobre elle que recae a com que ho de conprimeira responsabilidade do deicidio (4). demnar-vos morte (9). Mas, por grande que fosse, a autoridade do summo Os sculos sacerdote, no era absoluta. succedem-se. . . mas o O juizo supremo dos negcios era da alada do mundo no muda. ynhedrio, conselho supremo tia nao, como vemos vs Aquelles que querem viver Evangelhos e nos Actos dos Apstolos. piedosamente em Chris-to O Synhedrio era presidido pelo summo sacerdote exerccio, e Jesus, tm que soffrer era composto dos chefes das tribus sa-Eerdotaes, chamados perseguies, diz o prncipes, dos doutores da lei, estribas e ancios do povo. apostolo (10). No tempo de Jesus Christo o Synhedrio estava di-fidido Eu desejo viver em duas faces: os phariseus e os sadduceus. piedosamente em vs, Os primeiros levavam a fidelidade lei at ao ri-Hiculo, e meu Jesus, quero ser faziam ostentao de suas longas preces, at lios cantos das vosso e no do mundo; , praas publicas, "In angulis platearum", Ipara explorar a pois, natural que o mundo credulidade publica e esconder os seus wicios. me odeie e me persiga (11). E' a razo por que Jesus os chamou: vboras (5), Triste de mim si sepulcros branqueados (6), hypocritas, cheios de injustia e de procurar a estima do rapina (7). mundo.. . e feliz de mim si Os sadduceus eram ainda menos recommenda-Ireis: o mundo me desprezar. eram scepticos e epicureos. No admittiam a im-portalidade da Este desprezo deve alma, nem a resurreio final, nem a Vida eterna. Sua maior alegrar-me, pois elle o preoceupao era gozar da yida presente (8). Esta faco signal de que sou vosso contava muitos partidrios na casta sacerdotal e parece quasi discpulo, que vos sigo e certo que entre ellcs encontravam-se Anns e Caiphs. no sou do mundo. O' Virgem 29)Serpentes genimina viperarum quomodo fugietis a ju-Mlcio Santssima, alcanae-rne a gehenme (Mt 23, 33). graa de procurar 30)V- vobis, scrib et pharissei hypocritw, quia similis estis unicamente agradar a sepulcris dealbatis, qu a foris parent hominibus spe-Ciosa, Jesus e considerar os intus vero plena sunt ossibus mortuorum, et omni spur-Oltia (Mt ideaes, as aspiraes, o 23. 27). espirito e a felicidade 31)Va? vobis, scriba? et pharisai hypocrita;! quia mundatis quod deste mundo, como sendo deforis ost calicis et paropsidis, intus autem pleni estis rapina et immunditia (Mt 23, 25). os continuadores dos 32)Os sadduceus tiravam o seu nome de Sadoc. que viveu phariseus e sadduceus, e duzentos annos antes de Jesus Christo. Sadduceu era para O os inimigos de vossa Igreja povo synonymo de sceptico e de commodista (Paixo, P. bliver). como os suc-cesores de Anns e Caiphs, daquelle tempo. Quero examinar bem a minha conscincia, a este respeito, para ver de que lado me inclino, e qual o ideal de minha vida. Disposi es do synhedrio

88a CONTEMPLA OPreldios: Reprcsente mo-nos a reunio tumultuosa do Synhedrio. Uma alegria selvagem brilha em todos os semblantes. Elles exclamam com accen-tos de odio: O Nazareno est preso, e breve nos ser apresentado. O' bom Jesus, como a paixo barbara cega os homens que no sabem venc-las! Oh! no permittaes que ella me domine um dia.

I O Evangelho assignala a reunio do Synhedrio: E levaram Jesus ao summo sacerdote, e juntaram-se todos os sacerdotes e os escribas e os ancios (Mc 14, 53). II O' bom Jesus, j conheo os componentes do tribunal iniquo que deve julgar-vos; mas no basta conhecer as pessoas, preciso conhecer as suas disposies. Estas disposies so francamente hostis. Todos esperavam um Messias, um Christo que restabelecesse a nao judaica e fizesse delia a nao dominadora do mundo. Mas no queriam admittir-vos, Jesus, como Messias promettido, odiavam-vos, porque, por dever, vs tnheis sido obrigado diversas vezes a desmascarar os seus vicios, e a mostrar a perversidade de suas doutrinas. Os vossos milagres, a vossa popularidade, a vossa linguagem divina, os vossos sentimentos nobres, a vossa vida illibada, tudo isso era para elles objecto de averso e de cime. Consideravam-vos como um innovador perigoso que no correspondia s idas que formavam de Christo. Queriam um libertador

319 7

politico, terrestre, que os 3A

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9) Si dimittimus eum sic, omncs credent in eum, et ve-nient Romani et tollent nostrum locum et gentom (Jo 11, 48). 10)Noluit intelligere ut bene ageret (Ps 35, 4). 11)Opera qua? ego facio in nomine Patris mei, hasc testi-monium perhibent de me (Jo 10, 25). 12)Auditu auditis et non intelligitis, et videntes vide-bitis, et nonvidcbitis, incrassatum est enim cor populi huju.i (Mt 13. 14).

arrancasse cio jugo romano, e vs reis um libertador senhores (9). No posso servir s minhas paixes e servir a espiritual, divino, que vinha arranc-los dos seus prprios vs. vicios. Me querida, ajudae a penetrar no mago de meu Elles receiavam comprometter-se perto de Cesar, corao, para eu ver e conhecer o estado de minha alma. aggravando deste modo a sua situao, sem obterem a Quero servir a Jesus. . . no quero deixar illudir-me pelo libertao esperada. Si o deixarmos assim, crero todos nelle, synhedrio de minhas paixes: oh! mostrae-me a paixo 5) )Expedit vobis ut unus homo moriatur pio populo et non tota gons pereat (Jo 11, 50). e viro os romanos e destruiro a nossa cidade e a nossa dominante, que mais me afasta de Jesus, pois desde j quero 6) )Sed quod odi malum, illud facio (Rm 7, 15). nao (1). combat-la e extermin-la, custe o que custar. Embora 7) todos anhelassem por libertarem-se7, do jugo )Sed quod nolo malum, hoc ago (Rm 19). romano, este receio os retinha, ao mesmo tempo que os 89" CONTEMPLAO peccati de Deus 8) )Infelix ego homo, quis me liberabit de corpore hujus mortis? Igitur ego ipse mente s?rvio legi Dei, carne autem legi O dedo(Rm 7, 24). estimulava a agir contra vs. E os vossos milagres, meu Jesus, as vossas obras Preldios: Contemplemos o Synhedrio reunido, combi nando os maravilhosas, no eram outras tantas manifestaes acima de meios de prender Jesus, sem que o povo o saiba, para evitar toda discusso. um levante. No! pois o Synhedrio fazia como hoje faz a impiedade: Querido Jesus, mais uma vez quero ver o dedo de Deus, dava-lhes uma explicao qualquer, e no os podendo explicar, no meio dos clculos humanos, dirigindo tudo, e servindo-se contestava-as ou as envolvia em duvidas (2). de seus prprios inimigos para conseguir os seus fins. As vossas palavras, bom Jesus, eram positivas e I convincentes: As obras que eu fao em nome de meu Pae, O Evangelho tinha observado anteriormente (Mt 23, 3-5): estas, sim, do testemunho de mim (3). 3 Ento reuniram-se os prncipes dos sacerdotes & os Infelizmente, quando as paixes invadem o espirito, no ancios do povo no trio do prncipe dos sacerdotes que se v mais nada... no se enxerga mais... pois o caminho da se chamava Caiphs. intelligencia e do corao est obstrudo. E' a realizao da vossa prpria prophecia: ouvireis com os ouvidos, e no 9) Nemo potest duobus dominis servire (Mt 6, 24). entendereis; e vereis com os olhos, e no vereis, porque o E tiveram conselho para prender a Jesus, por astcia e corao deste povo tornou-se insensvel, e os seus ouvidos tornaram-se duros (4). para o matarem. B- Alas, diziam elles: No no dia da festa, De um tribunal composto de taes elementos, presidido para que no succeda levantar-se algum tumulto entre o por taes chefes, excitados deste modo contra vs, que se pode povo (1) . esperar de direito e de justia? II Mais uma vez, bom Jesus, podemos admirar aqui Bvossa Providencia admirvel. "Os homens propem e Deus dispe", diz o adagio. Os chefes dos judeus querem prender-vos, mas querem faz-lo nas trevas, s escondidas, sem que nin-, guem o saiba, demonstrando, deste modo, a perversidade de seus planos, a perturbao de suas conscincias e a hypocrisia que os domina. Mas tudo lhes vae sair s avessas. Vs ides mostrar-lhes, Jesus, que vs vos entregaes voluntariamente e na hora marcada por vs mesmo (2). Elles nenhum poder tm sobre vs, sino o que o Pae lhe d (3). Com certeza, elles queriam passar os dias da Pscoa, esperar que os numerosos estranhos, vindos para a festa, se retirassem, para depois dar o golpe decisivo. Mas, eis que dois dias antes da Pscoa (4) o traidor se apresenta e lhes offerece os seus servios. Era preciso aproveitar a occasio; quem sabe si mais tarde encontrariam uma occasio igual? Nesta incerteza, julgaram bom mudar de ida e precipitar os acontecimentos. E' o que fizeram. Quando, no dia quatorze de Nisan, Judas volta para apressar a operao, elles combinaram logo tudo com uma fria irreflectida, para poderem terminar tudo antes do Sabbado da Pscoa.

Era um tribunal suspeito, interessado e vendido. A sentena de morte estava, pois, decidida, pronunciada, antes mesmo de examinar a vossa causa. Alis Caiphs j sentenciara: Convm-vos que inorra um homem pelo povo, e que no perea toda a nao (5). Logo, deveis ser sacrificado para o bem publico, estava decidido. Como podem, ento, ser elles os vossos juizes, em taes circumstancias? III Horrenda lio para ns, Jesus! E' fcil con-demnar a covardia, a cega paixo dos membros do Synhedrio, porm, lembremo-nos que toda a paixo perversa cega, cruel e precipitada. E no estarei eu dominado por qualquer uma destas paixes? Odeio o mal, e no fujo delle (6), vejo bem e no O realizo (7). Devo dizer como o apostolo: Infeliz de mim! Quem me livrar deste corpo de morte?... Sirvo lei de Deus com o espirito, e sirvo lei do peccado com a parne (8). Vejo que a minha vida no corresponde altura de minha vocao.. . Sinto que Deus me chama perfeio e santidade.. . Ouo a sua voz, que me excita ao desprendimento, ao herosmo. .. mas, ai de mim... ouo ao mesmo tempo os clamores de meu orgulho, os brados da minha sensualidade e os gemidos de meu corao." Diante do concerto deste novo Synhedrio, eu vaJ cillo, tenho medo, recuo e, o que acontece, repetir a palavra de Caiphs: Convm que morra um homem, este homem sois vs, Jesus, e que no perea toda q nao de minhas paixes. E eis-me a condemnar-vos, meu Jesus, sem maioi exame. Tenho medo de minhas paixes, e tenho medo de vs. . . ou melhor: desejo amar-vos e amar as minhas paixes... o que impossvel. Vs o dissestes: Ningum pode servir a dois

33)Non in die festo, ne tumultua fieret in populo (Mt 26, 5). 34)Et animam meam pono pro ovibus meis (Jo 10, 15). 35)Non haberes potestatem adversus me ullam, nisi tibl data esset desuper (Jo 19, 11). 36)Erat autem Pascha et azyma post biduum (Mc 14, 1).

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t mens et conscientia (Tt 1, 15). et nequam (Is 9, 17).

spere (Sf 3, 8).

O tempo era pouco. Apenas vinte e quatro hor os separavam da festa. A lei prohibia fazer julgamentos noite e na ve pera das

m meum stabit et omnis vo-luntas mea fiet (Is 46, 8. 10).

ed ego pono eam a me ipso. et potestatemfestas, e, entretanto, arrastaram-vos diante d< tribunaes, 18). habeo ponendi eam, et potestatem habeo ite-rum sumendi eam (Jo 10, de

lymam, et Filius hominis tra-detur principibus sacerdotum, et scribis et condemnabunt eum morte (Mt 20, 18).

noite, e na noite que precedia a maior s lennidade judaica. As irregularidades multiplicaram-se... Mas pouco importa a estes homens sem conscincia (5), tudo lhes serve, desde que cheguem ao seu fim e salvem as apparencias (6). O que o propheta tinha predito de vs, verifica-se ao p da letra: seus juizes so lobos nocturnos (7). Deste modo, ao encontro das tramas e das cabalas dos impios, os vossos desgnios cumprem-se exactamente (8), como o tnheis predito: Ningum tira a minha vida, mas eu por mim mesmo a dou, e tenho poder de a dar, e tenho poder de a reassumir (9). Poucos dias antes tnheis dito aos apstolos: Eis que subimos para Jerusalm, e o Filho do homem ser entregue aos prncipes dos sacerdotes e aos escribas, e o condemnaro morte (10). Tudo isso tinha que realizar-se, apesar dos clculos contrrios dos chefes judeus. A Pscoa judaica era figura da immolao do Cordeiro divino... Esta figura judaica deve realizar-se, no s escondidas, mas no momento em que Jerusalm est repleta de povo de todos os lugares e paizes. III Que pensamento animador para mim, Jesus, o wer que nada acontece neste mundo sem a vossa von-;tade. Na calma e no silencio da vossa omnipotncia, vs dirigis todos os acontecimentos, e sabeis dispor tudo, at a maldade dos homens, para conseguir o vosso fim. Dae-me este olhar sobrenatural, que v a vossa mo em tudo. No soffrimento, na perseguio, na ca-lumnia, na calamidade, como na alegria, na paz, na unio e no amor. Desde que eu desejo sinceramente agradar-vos, amarvos, posso ficar quieto e socegado, certo de que tudo concorrer para o bem da minha alma c para a vossa gloria (11). Este abandono vossa Providencia um dos caractersticos da santidade, como um dos meios mais efficazes para adquiri-la. Neste abandono encontro uma pratica efficaz de renunciar a mim mesmo, a minhas vistas, a minhas idas e de pr toda a minha confiana em vosso corao paternal (12). O' Virgem Santa, vs, a quem a piedade christ chama a "Me da divina Providencia", alcanae-me uma confiana sem limites na Providencia de Jesus e na vossa, pois sois associada a esta Providencia admirvel, que tudo dirige e tudo dispe para o bem das almas. Quero experimentar hoje, deixando-me dirigir pela vossa mo maternal, sem nada recusar, sem murmurar de nada e de ningum.

13)Seio, et confido in Domino Jesu (Rm 14, 14). 14)Diligentibus Deum, omnia cooperantur in bonum (Rm 8, 28).

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90a CONTEMPLAO O interrogatrio de AnnsPreldios:

Representemo-nos Anns sentado em seu throno, cercado de uma parte do Synhedrio... tendo em sua frente rum adm?ttit ex illa est voluntate qua dilexit nos et tradldit semetipsum pro nobis (S. Leo: Serm. 1 de Pass.). Jesus, exhausto, pallido e de mos atadas.

Jo?o, ap?s o vers?culo 13 do capitulo 18. "Et misit eum Annas O' querido Caipham pontificem", de modo que diversas ligatum ad Jesus, gravae cm meu espirito as o interrogat?rio n?o teria sido feito por Ann?s, mas por Caiph?s; tal interpreta??o parece carecer de base, sendo mais l?gico acceitar o Evan phascs deste interrogatrio e fazei-me comprehender as grandes lies que vs me daes.

I O Evangelho resume o interrogatrio em poucas palavras (Jo 18, 19): Entretanto o pontfice interrogou Jesus sobre os seus discpulos e sobre a sua doutrina (1). II Era perto de meia noite... Anns esperava ansioso a hora em que Jesus seria levado sua presena. Elie teria, emfim, nas mos, e poderia esmagar, vontade, este miservel Rabbi, que lhe disputava a popularidade e seduzia as multides. O velho e prfido pontfice exultava de alegria ao ouvir passos e vozes que lhe annunciavam a aproximao do cortejo. A soldadesca que vos conduzia, Jesus, no tinha difficuldade em encontr-lo, e o Evangelho nos mostra bruscamente numa commovente face a face o rancoroso Anns e o manso Jesus, brutalmente empurrado pelos algozes que gritavam ao avistar Anns: Eis aqui o Nazareno! Accendem-se as lmpadas. Sob as suas vestes manchadas, lamacentas e rasgadas, sob a pallidez de seu semblante, a vossa belleza sobrenatural, um instante eclipsada,1) Pontifex ergo interrogavit Jesum de discipulis suls, et de doctrina ejus (Jo 18, 19).

irradia de novo, cheia de majestade e de doura, de fora e de tristeza, de pacincia e de amor (2)Anns nunca vos tinha visto de to perto... nunca vos tinha visto assim face a face, desarmado, sem esta multido, cujo olhar sustenta e anima os viciosos, distraindo-os da obsesso de sua conscincia. Seu olhar brilhante e agudo de velho judeu encontrava o vosso olhar calmo e profundo. Anns perturbou-se. O seu odio, a sua inveja, que transbordava, h uns instantes, no so o bastante para sustent-lo em vossa presena (3). Os presentes que ouviram as suas ameaas, acharam-no desconcertado. Esperavam-se insultos.. . uma exploso de vituprios, e houve apenas umas perguntas irnicas, sob forma de conversao. Era visvel que Anns dissimulava o seu constrangimento, e que o vosso aspecto, por miservel que fosse, na situao presente, lhe inspirava respeito e temor. Tal foi a influencia de Jesus sobre Anns, que este ficou reduzido a fazer papel de ignorante e a mascarar-se de uma hypocrisia visvel. Elie, que vos tinha accusado, denunciado e perdido, explorando as vossas palavras, a vossa doutrina, o numero de vossos discpulos.. . elle que vos fazia espionar desde muito tempo, que tinha disposto tudo para vossa condemnao e morte, finge no estar a par dos

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acontecimentos e vos interroga sobre os vossos discpulos e sobre a vossa doutrina (4). rina Emmerich. Ei-lo, pois, o velho pontfice, de barba branca e de expresso cansada, Misericordissime Jesu,da solus amari dignissime es, da mihi ut te dilligam, nec unquam a tua dilectione recedam (Idiot. Cont. c. 31). 7) o que lhe valia qui parte dos profanos t, et est om?nium causa malorum (Idiot. Cont. c. 31). respeito e autoridade; ei-lo sentado, orgulhoso, mas humilhado, sentindo-se pequeno diante da vossa figura majestosa, interrogando-vos sem nexo e sem esperar a resposta: "Como! Jesus de Nazareth que me trazem? Mas onde esto os teus discpulos? Onde est o teu reino? Parece que as coisas no andam como desejaste? Ento acharam que basta de insultos a Deus, aos sacerdotes, e de violao ao sabbado? Onde esto elles? Tu te calas? Fala, pois, seductor e agitador! No comeste o cordeiro pascal de modo illgal, num tempo e num lugar em que no deverias faz-lo? Tu queres introduzir uma nova doutrina? Quem te deu o direito de ensinar? Onde estudaste? Fala: Qual a tua doutrina?" E Jesus permanece calmo, modesto, sem siquer levar o olhar para o rancoroso e perturbado pontfice (5). Ill O' meu Deus, que lio tremenda me d o comportamento de Anns! Elle possue tudo o que devia fazer delle um juiz imparcial, clarividente: a idade, a instruco, a autoridade, a posio e, entretanto, este homem deixa-se levar pelo cime, a mais baixa das paixes (6). Elie quer ser tudo e tudo ter nas mos, e o que no 6 elle ou delle suscita nelle rancor e odio. Vs fazeis milagres, Jesus, curaes os enfermos, resuscitaes os mortos, prgaes uma doutrina santa, e a Vossa vida sem mancha.. . exemplo perfeito de todas as virtudes. Anns conhecia tudo isso, mas a vossa virtude, a vossa doutrina e a vossa popularidade pem-no em segundo plano... a vossa popularidade rivaliza e faz (lesapparecer a sua. E' o bastante. .. elle sente-se humilhado. . . e con-clue hypocritamente que vs sois um criminoso. . . que eleveis morrer!. . . O' meu Jesus, quero penetrar no mago de minha alma... Quem sabe si ahi tambm, como na alma de Anns, no cresce qualquer paixo miservel que um dia ser capaz de endurecer o meu corao, de perturbar a minha intelligencia e falsificar a minha conscincia? Basta um nico vicio mal vencido para perder-me. Qual seria este vicio? O' Me querida, ajudae-me a descobri-lo. Quero conheclo para combat-lo. Ser, por exemplo, o orgulho?... o amor prprio?... a sensualidade?... a grosseiria?. . . a imprudncia no olhar, no tacto, nas conversas?... as amizades particulares?... a inveja?. . . o cime?.. . as antipathias?.. . Me querida, fazei-mo conhecer; prometto combat-lo desde hoje, para conservar o meu corao e a minha vida unicamente para Jesus (7).

gai de di-scipulis... Volens arguore quasi seditionis, conciliabula fa-ciens, novaque dogmata inf?rons (S. Jo Chrysostomi Horn. 82 in Jo).

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)Id est: Interroga inimicos meos qui insidiantur mihi. Sunt hasc verba confidentis in eorum, qua? dicta erant veri-tate. H?c est contestaes inaltercabilis demonstratio, que Inimicos quis invocat testes (S. J. Chrysost. Horn. 82 in Vs no cnim Veritas ao pontfice o direito, cum elle tinha, 91" CONTEMPLAO de interrogar-vos, porm, sendo irregular o seu procedimento, 7) )Va? mihi, cum tunc manifestabitur omnibus, quod nunc eonfiteri erubesco (S. Bern. Med. c. 2). vs lhe lembraes ao mesmo tempo a inutilidade, a 8) )Qui autem judicat me, Dominus est (1 Cr resposta de Jesus A 4, 4). irregularidade a perguntas (5). )Havia os Kanaim, osEgo DominusGaulonitas, cujo che?fe, Judas, o(Jr P. 10). oceasionou a revolta de 65, a ruina do Templo o a dispers?o de Israel.eUminconvenincia destas uma destas sociedades, que nada tinham de reprehensivel: Klmonem Caulonita, dos ap?stolos pertencia n 9) ) Zelotes, os scrutans Preldios: cor, et probans ren?s A inutilidade, pois no tinham objecto. )Neque mittatis margaritas vestras ante porcosmeo, 7, 6).Contemplemos 2, 35). majestoso e humilde, diante de 10) )Ambulabit coram Christo (Mt cunctis diebus (1 Rg Jesus, A irregularidade, por suppr uma confisso a fazer, m mundo: ego semper docui in Synagoga et in templo, quo omnes Judu'1 conveniunt: et in oceulto locutus sum nihll (Jo 18, 20).6) Anns, fixando-o c dando-lhe uma resposta toda divina. Bom Jesus, fazei-me comprehender esta resposta, para que me sirva de regra de vida e de modelo de mansido.

contraria lei.

I O Evangelho d esta resposta sabia e sublime (Jo 18, 20): Jesus respondeu-lhe: Eu falei publicamente ao mundo: ensinei sempre na synagoga e no templo, aonde concorrem lodos os judeus, e nada disse em segredo (1). Por que me interrogas? Interroga aquelles que ouviram o eu que lhes disse; elles sabem o que eu lhes ensinei. II Espectculo admirvel!.. . Contraste divino! De um lado o velho pontfice excitado, nervoso, perturbado. . . e de outro lado Jesus, calmo, humilde, de fronte erguida. Anns sentia a sua inferioridade, e sentia-se pequenino diante da majestade calma e humilde daquelle a quem pretendia humilhar. Jesus, vs no quizestes e nem pudestes tomar a srio as perguntas de tal interrogatrio, que no passava de uma vulgar comedia... No quizestes to pouco dar-lhes a resposta que estes prfidos mereciam, e como lhes tnheis dado em outros encontros. Conten-taes-vos em dar uma resposta evasiva, contendo indirectamente uma lio de lealdade a este homem mentiroso e falso, que s agia em segredo. E esta resposta divinamente bella: "Eu falei publicamente ao mundo". Alm de dizer que a vossa palavra foi sempre publica, mostraes-lhes que ella dirigia-se no s aos judeus, mas ao mundo inteiro, que a vossa doutrina no vi simples commentario da lei judaica, mas uma dou-irina universal! Naquelle tempo havia entre os judeus diversas sociedades secretas, espcies de revolucionrios que esperavam reconquistar a independncia perdida, e Anns affectava ver em vs um adepto de taes socieda-des (2). Podia, de facto, haver hesitao no espirito do astuto pontfice, pois vs reis, como galileu, patrcio de Judas, o (iaulonito, pregveis um reino futuro, reclamveis uma dedicao absoluta, professveis publicamente que tnheis vindo trazer o gladio terra, e recom-mendaveis aos vossos discpulos de no revelar, a todos, a doutrina e os segredos que ensinveis (3). Anns tinha, pois, uma base de hesitao. Encontrava outra base em vossa franqueza e em vossa reserva, que o desconcertavam completamente. E' o que explica as diversas perguntas feitas tumultuosamente sobre a vossa doutrina e os vossos discpulos. Elie comprehendeu que era impossvel obter uma confisso a este respeito, porm um negao categrica de vossa parte podia levar a uma discusso donde resultaria talvez a luz. Mas o pontfice comprehendeu logo o mau passo dado. A vossa resposta firme e digna era sem replica. No se tratava de nenhuma doutrina mysteriosa, nem de concilibulos secretos: os inimigos como os amigos haviam presenciado e ouvido tudo, e podiam pois prestar testemunho da doutrina por vs pregada, e dos apstolos que vos acompanharam. Por que me interrogas, continuaes, interroga aquel-les que ouviram o que eu lhes disse. Elles sabem o que eu ensinei (4). Embora respeitosa, a recusa a responder no era menos categrica, e a expreso continha uma certa ironia que os assistentes logo comprehenderam.

A inconvenincia, por serem um ultraje feito ao aceusado, da parte mesma do representante da justia. Tal o sentido destas palavras: Por que me interrogas? Ill O' meu Deus, que lio me daes, com estas palavras! Si algum me pedisse conta de minhas obras, de minhas palavras, poderia eu responder tambm, como

15)Quid me interrogas? Interroga eos qui audierunt quid locutus sum ipsis: ecce hi sciunt quid dixerim eis (Jo 18, 21). 16)De doctrina interrogat, utrum a lege discrepans, et adversaMoysi: ut ex inde oceasione accepta, Dei aemulum perdat (Theoph. in Jo 18).

|s: Interrogae aquelles que me ouviram... elles saem o que eu ensinei, ou o que eu fiz (6). Appellar para o testemunho de seus prprios ini-jrnigos, com o fim de desafi-los a encontrar em sua ma qualquer erro, , de certo, a prova mais decisiva Ide proceder bem em tudo (7). No, meu Jesus, eu no posso dizer taes palavras. ' Quantas vezes eu ajo por respeito humano, por 'fraqueza, por nervosidade!. . . Procuro desculpar os meus erros e as minhas falias, porm ellas existem e, si acaso pudessem falar aquelles que me cercam o que pensam e o que dizem de mim, como ficaria eu horrorizado ao descobrir que sou todo differente do que julgo ser. Ningum bom juiz em sua prpria causa! A minha vida particular deveria ser igual minha vida publica, pois em toda parte estou em vossa presena, meu Deus, e sois vs que me julgareis um dia (8) no como os homens que vem apenas o ex-iterior, mas como sou, em realidade, pois vs penetraes o intimo do corao (9). Me querida, quero lembrar-me sempre da presena de Jesus e procurar agir de tal modo, que os meus prprios inimigos sejam obrigados a darem testemunho de minha doutrina e de minhas obras. Assis-[ti-me, para que desde hoje eu me applique a esta presena de Deus (10).

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2) S. Jo?o Chrysostomo diz a este respeito: "Curavit eum (Jesus) qui super eum venerat et paulo post alapam daturus est". 8) Credis te sapientiorem esse? Qua; stultitla tua? Non debebas aperire os tuum! (S. Bonav. Med. vit. Chr., c. 75). 4) 5) Jo). 6)

)Contremuerunt cash, expaverunt Angeli, et f?cies suas alis contexerunt, cum daret minister iniquitatis alapam Do?mino majestatis (S. Ephr. Serm. de Pass. Dom.). )Fortis percussor et malus adulator (Rupert. 1. 13 in )Dolorosa Paix?o, c. 6.92 CONTEMPLAO A sinistra bofetada sentiram a necessidade de um accidente que terminasse o embarao geral. Um dos guardas suscitou este accidente de um modo brutal, porm decisivo e para contentamento de todos. Malcho, este mesmo Malcho (2), cuja orelha tinha ido cortada por Pedro e curado por vs, teve a ousa-'a covarde de levantar a mo contra vs, e de applicar-os uma bofetada estrondosa, gritando: E' assim que spondes ao pontfice? Julgas tu saber mais do que lie? aprende a falar melhor ou a calar-te! (3). A' vista de um attentado to ignominioso, to cruel e to revoltante, commettido com tanta vileza contra a vossa majestade, por um escravo, parece-me ver o cu abalar-se e os anjos cheios de terror velarem a face e chorar amargamente (4). Malcho quiz, sem duvida, com este acto de covardia, agradar ao pontfice (5), pois a adulao est no fundo das almas grosseiras, porm Anns devia envergonhar-se de tal ultraje infligido a um prisioneiro, em pleno interrogatrio, e entretanto, calando-se, elle ap-prova este attentado, provando deste modo no ter mais nenhum sentimento de dignidade. A serva de Deus, Irm Catharina Emmerich, descreve esta horrenda scena (6). "Um miservel soldado, diz ella, que estava perto de Jesus, na oceasio da resposta dada por este, bateu no rosto do Salvador, com a mo revestida de uma luva de ferro. Jesus vacillou sob a violncia do golpe e cahiu nos degraus da escadaria, jorrando o sangue de seu rosto divino. A sala retiniu de gargalhadas e de ultrajes grosseiros.A sub. do calvrio 22

Preldios: Assistamos horrvel scena em que Jesus vergonhosamente esbofeteado por um dos esbirros que o ladeavam, diante de Anns. Querido Jesus, seja o meu amor para com-vosco to ardente, que elle vos faa esquecer o insulto do criminoso carrasco.

I O Evangelho diz (Jo 18, 22): E tendo dito (Jesus) isto, um dos guardas que se achava presente deu uma bofetada em Jesus, dizendo: E' assim que respondes ao pontfice? (1). II Um silencio pesado seguiu a vossa resposta ponderada e calma, meu Jesus. Anns era sagaz demais para no comprehender o mau passo dado por elle e o plano inferior em que acabava de collocar-se. O seu procedimento o resvalava muito abaixo de seu adversrio; elle, o Juiz, estava abaixo daquelle a quem pretendia julgar como criminoso. O seu orgulho revoltou-se, e uma mudana nos traos de sua physionomia, um movimento de clera manifestaram a sua raiva c o seu odio para vs. Os guardas notaram tudo e tudo comprehenderam. Olhares ansiosos fixaram o velho pontfice, e todos 336

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1) Hasc autem cum dixisset, unus assistens ministrorum, dedit alapam Jesu, dcens: Sic respondes Pontlficl? (Jo 18, 22).

cogitemus, quis qui percussit, aut er me (Jo 4, 34). potuisset, per quem potentiam non t A soldadesca levantou o Salvador, isi patientiam nos doecre voltiisset, qua fcrincitur mundus? (S. Aug. Tract. 113 in Jo). puxando-o direita e esquerda. a me, quia

aeeiperit celesti igne sum

alapam, consumi,

nonne aut humilis alia corde

maltratando-o...mitis

93 CONTEMPLAO Outra resposta de Jesuset

Houve uma exploso de clamores confusos e de Preldios: non sustines ab "homine tecum ejusdem grosseiras imprecaes. na-fcuriE contumeliis affici, imitare Dominum tuum. Si enim ille, cum Dens esset, toleravit pro te ab homine peccatore Salvador, digno indignaris, quod aliquis ao convicium dicat, et ul-tioneni paras? (S. ?th Vejamos o colapho ca'di: tu e humilde, responder tibi m porhibe de maio: si autcm bene, quid me ca;dis? carrasco, que acaba de esbofete-lo. "Elie disse que era rei! Que Deus era o seu pae!. . . Que m, nc vindicandi cupiditate amittatur ipsa pa-tientia: qua? pluris est habenda, quam omne quod potest ini-micus auferre (S. Aug. Bpist. 138). Meu bom Jesus, fazci-me comprehender o modo de unir os phariseus -unt opera. Non est autem stus miracula faciebat virtute divina. Dei autem perfecta eram uns adlteros!.. . aliquid perfectum, si finem non consequatur. Finis autem exterioris curationis, per Christum fuctte, est curatio anima;: et ideo non conveniebat Christo, ut nlliujus c o brio e a dignidade mansido e humildade, que devo Subleva o povo... Cura em nome de Satans, no ser como o distinctivo dos vossos eleitos. Sabbado!... O pessoal de Ophel o cercou, cha-inando-o de I Salvador e de Propheta. Elie se faz nomear Filho de Deus... diz-se Enviado de O Evangelho termina esta scena (Jo 18): Respondeu-lhe Jesus: Deus! Brada desgraa a Jerusalm, come com os peccadores, Si eu falei mal, mostra-me o que eu disse de mal, mas si falei pagos e publicanos, faz sociedade com mulheres de m vida", bem, por que me feres? etc, etc... II Todas estas aceusaes eram feitas ao mesmo tempo, emquanto os aceusadores lanavam-lhe ao rosto insultos e Si a scena de vosso esbofeteamento horrvel, meu blasphemias, e que os archeiros o batiam, o puxavam de um a Jesus, o vosso silencio admirvel, e a vossa resposta de outro lado, gritando que lhes desse resposta. uma nobreza divina. E vs, Jesus, ficaes calmo e resignado, fitaes os O beijo de Judas tinha preparado o lugar bofetada do carrascos e o seu chefe Anns, menos para reprehen-d-los, do miservel sicrio. que para convert-los. Sobre o immundo vestgio deixado pela traio, o odio Os prophetas, annunciando a vossa paixo, deti-veram-se brutal e covarde appe o seu sello. com horror sobre a particularidade desta bofetada. Uma bofetada, si fosse apenas um acto de clera, Seria Job disse em vosso nome: Insultando-me elles esum caracter menos repugnante. bofetearam-me e fartaram-se de meus soffrimen-tos (7). Aqui, aquelle que vos feria, a vs, Jesus, o ho-imem Elie apresentar o rosto aos que o esbofeteiam, diz manso e manietado, o fazia por adulao e para tirar do Jeremias, e ser saturado de opprobrios (8). embarao um chefe envergonhado de seus prprios actos. Saturado de opprobrios, deixando-se bater no rosto (9), Havia uma hora apenas que este mesmo Malcho tinha interpreta Rupcrt. sido curado por vs, e, agora, que no havia mais nem espada E vs ficaes calmo e resignado, meu Jesus, sem dar nem vara, para impor respeito, o miservel vos bate mostras da vossa indignao, preferindo fazer resplandecer a covardemente no rosto.

17)Exprobrantes, porcusserunt maxillam meam: satiatl sunt peenis mis (Job 16, 11). 18)Dabit percutienti se maxillam. saturabitur upprobi i (Thren. 3, 30). 19)Saturatus est opprobriis, dans percutienti se maxillam (Rupert.in Thren. 3, 30).

vossa pacincia, em vez de mostrar o vosso poder, a vossa humildade, a vossa justia (10). Vs tendes menos a peito castigar um impio, que edificar-me e instruir-me pelo vosso exemplo. III O' Jesus amado, eu quero recolher as lies fecundas que me daes nesta scena, para aprender de vs a ser manso e humilde de corao (11). Tenho tanta preciso de pacincia e de humildade. A menor contrariedade exalta-me... A menor adversidade exaspera-me. Um simples esquecimento, uma falta de atteno... tudo me revolta; sinto-me incapaz de soffrer qualquer confuso, ou uma leve mortificao. Por uma razo fictcia que s existe em meu amor prprio ferido, eu sinto a clera, a raiva tomar posse de mini, em vez de seguir o vosso divino exemplo (12). Entretanto, tudo o que os homens podem fazer contra mim, no nada em comparao dos ultrajes bue vs recebeis nesta occasio, pela infame bofetada applicada em vosso semblante divino (13). Meu Jesus, eu vos supplico pela vossa admirvel pacincia, dae-me a graa de supportar, com calma e "resignao, as penas e os sacrifcios da vida e de meu estado. Dae-me a graa de conservar-me sempre firme e digno em minha convico, mas de nunca mostrar-me teimoso em defender as minhas idas, desde que no est em jogo a vossa gloria, mas, unicamente o meu amor prprio. Virgem Santssima, me da santa resignao, corno sois me do divino amor, lembrae-me dos ultrajes de Jesus, da sinistra bofetada que elle recebeu da mo de um vil escravo, para que esta lembrana me acalme na contrariedade e me fortifique na resignao. Quero passar o dia de hoje, calmo e resignado, dominando-me em todas as occasies, pela lembrana dos ultrajes de Jesus.

Era um covarde, e vs vos tinheis offerecido de antemo a todos os insultos e,a todas as baixezas que o inferno poderia suscitar. Era a hora das trevas e do sacrifcio, c vs tinheis dito: Eis-me aqui, meu Pae, disposto a tudo! (1). Eis por que vs respondeis ao carrasco com a mesma calma com que vs j haveis respondido a Judas: Meu amigo, que vieste fazer.. . (2) com um beijo |ue tu traes o filho do homem? (3) e com que vs respondeis agora: Si eu falei mal, mostra o que eu disse de mal, mas si falei bem, por que me feres? (4). Que que se passou na alma de Malcho, ao ouvir esta resposta ao mesmo tempo to suave e justa? Abriu-se ella, como breve se abrir a de Pedro, ao convite da divina misericrdia? Uns pensam que sim (5), e esta persuaso digna da clemncia que no vingou, nem a apostasia de Pedro, nem os insultos dos carrascos, nem o golpe de lana do soldado. Si aquelles no foram convertidos, porque suas almas, na expresso da Ven. Anna Catharina Emmerich, estavam inteiramente escravizadas pelo demnio, taes os phariseus e os escribas que a vossa palavra no tinha prostrado no jardim de Oethsemani. y A vossa calma e a vossa resposta cheia de dignidade e de misericrdia, j um exemplo e um ensino admirvel; h um outro mysterio ainda a elucidar. Durante toda a vossapaixo, nunca uma palavra de queixa cae de vossos Wos (6), e aqui a expresso "Por que me feres?" exprime docemente uma queixa e uma queixa dolorosa. Acredita-se, geralmente, que o servo mpio que vos esbofeteou, de modo to brbaro, foi o prprio Mal-cho, que vs tnheis curado pouco tempo antes (7). Vs vos queixaes, pois, Jesus, como sendo esta bofetada um insulto mais atroz e mais sensvel que os outros, por ter ella sido applicada por um homem que acabava de receber os vossos benefcios (8). Mas, si uma queixa calma e misericordiosa cae de vossos lbios, ella no altera, entretanto, a vossa mansido e a vossa benignidade (9). III

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Meu bom Jesus, eu devo recolher-me aqui e applicar minha vida a bella e luminosa lio que aca-baes de dar-me. E' uma lio de firmeza e de bondade. Hoje confundem-se facilmente estas duas qualida-

20)Quasi agnus coram tondente se obmutescet, et non aperiet os suum (Is 53, 7). 21)Servi nomen meminit Evangelista, quoniam magna res erat, 22) 23)quod cum curaverit eum, paulo post esset ab eo alapam accepturus (S. J. Chrysostomo. Horn. 82 in Jo). Quiil illi contumelia; potest exsequari? (S. Jo Chrysost. Horn. 86 in Mt). Dominus in sua benignitate permanet. Quis igitur, Domine, poterit mansuetudinem tuam enarrare (S. Ephr. Serm. dc P. D.).

es. Os que so de um natural bondoso, calmo, pacifi-ko, facilmente faltam de firmeza. So duas qualidades que devem dar-se as mos. Unidas, formam a perfeio; separadas, podem tornar-se dois vicios. Ns temos sempre defeitos de nossas qualidades, como temos geralmente as qualidades de nossos defeitos. O homem bom e pacifico facilmente molle, fraco, condescendente ao excesso. O seu lemma : No encontrar difficuldades. . . Elie de todos... e no c de ningum, ou, melhor, da situao, commodista. Tem medo de defender a verdade, de repellir um erro, de assignalar um abuso... quer ser bom, mas antes de tudo fraco. Pelo tempo, tornar-se- um tbio, e, talvez, um renegado. . . O vicio aproveitou uma grande qualidade, porque falta-lhe a firmeza. O homem decidido, de princpios, , facilmente, duro, spero, autoritrio. O seu lemma : Destruir os obstculos que encontrar.. . Elie tem um ideal, quer realiz-lo, e ai daquelle que lhe vae de encontro.. . E' um obstculo; logo, tem que desapparecer. Homens desta tempera so ou santos ou criminosos, pois no sabem limitar-se mediocridade. Si souberem suavizar a sua firmeza pela bondade, sero grandes homens; si no souberem pr um freio sua energia, tornar-se-o teimosos, duros, imperiosos, at chegarem, talvez, ao crime. A reunio destas duas qualidades forma o homem completo. E vs, Jesus, reis o homem completo! Por isso, dizeis a verdade, no tendes medo de di-fc-Ia; mas o fazeis de um modo cheio de bondade. Si vs tivsseis castigado o ingrato sicrio, teria sido dureza.

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ENon invenientis, quid plus facerent, mittunt eum ad CaiphamcaemChrysost. Horn. 82 in Jo). e tendes um direito estricto s honras divinas. divinas... 5) ) de vossos lbios, e mais ainda de vosso corao, (S. J. estas palavras cheias de firmeza e de bondade: Si eu falei mal, Do modo 6) )Tunc ligatus est, quando captus: et ligatum adbem, por misit, me sibi fuerat pra;sentatusmesmo Jo 18). os ultrajes que se dirigem vossa Cai?pham sicut (Beda in mostra o que eu disse de mal, mas si falei Fuit alapa a vilissimo servo illata, inhumanidade referem-se vossa divindade. que 1) personam dig-nlssimam (Salmeron). )Responsio mollis frangit iram: sermo durus suscitai furorem (Pv et convitia judaicaC?ditur contemptum, vehementibus exaeerbatis; et de impietate et saivitia vossaChristi triumphat (S. parteSerm. de Pass. 2). 7) )In eo feres? (10). quod inter injurias, 15, 1). 2) sentit palmis qui d?dit casdentibus manum Pela t. 10, t. hypostatica, a pietas humanidade faz Cypr. de (Sal. 1) )Et misit cum Ann?s ligatum ad Caiphamunio 22). (Jo 18, 24). modo que a bofetada do sicrio Pontificem )Sb 8, 1. vossa personalidade divina, de O' Virgem Santssima, minha querida Me, fazei-me 2) ) limites c. 7. conhecer o meu caracter, para conserv-lo sempre nos Anna Cath. Emmerich, como os insultos da populaa referem-se vossa pessoa divina. da virtude e da bondade firme, e firmeza bondosa: Fortiter et E' Deus que esbofeteado, insultado, manietado, suaviter (11). conspurcado. E' a grande lio que eu quero recolher hoje do exemplo Oh! semblante que os anjos desejam ver ardentemente, e da palavra de Jesus. exclama So Bernardino, face que enche os cus de alegria, como vos deixaes bater to cruelmente pela mo dos impios? (3). x Aps uns momentos de silencio pesado e repleto de perturbao, que fez empallidecer o velho Anns e lhes fez sentir toda a baixeza de seu procedimento, em permittir taes ultrajes, rigorosamente prohibidos pela prpria lei que elle representa, os sicrios, excitados pelos chefes, recomeam as sinistras gargalhadas e os grosseiros insultos. Uns conselheiros de Anns, que se conservavam ao lado de seu Mestre, para salvar as apparencias da humilhao infligida a Anns, comeam a interrogar-vos de novo. "Ento, esta a tua doutrina?.. . Que tens tu a responder, para desculpar-te? Si s rei, d as tuas ordens; si s enviado de Deus, mostra a tua misso!" Anns foi recuperando o sangue frio. Quem s tu? continuou elle com frieza insolente (4).

24)In 25)

E's tu o filho de um pobre carpinteiro, ou s tu Elias,

quem desiderant Angeli prospicerc (1 Pt 1, 12). O vultus desiderabilis Angelis et gena: quse cselum repletis la?tl-tia, quomodo tarn crudeliter ca?sa2 estis a manibus impiorum? (S. Bern. t. 1, serm. 55). Segundo Anna Catharina Emmerich, c. 6.

elevado por um carro de fogo? Contam que elle est ainda vivo, e que tu podes Vontade fazer-te invisvel. No sers tu Malachias, cujas palavras emprestas muitas vezes, para affirmar a tua dignidade? Que espcie de rei s tu, ento? Disseste que eras maior que Salomo. A CASA DE CAIPHS Eu vou dar-te um titulo de realeza!" Anns faz trazer um longo pergaminho, nelle escreve algumas aceusaes, enrola-o e mette-o num canio co que vos entrega, dizendo ironicamente: Eis o sceptro de teu reino, ahi esto includos os teus ttulos, tuas dignidades e teus direitos. Leva-os ao gro-sa-cerdote para que reconhea a tua misso e te trate conforme a tua dignidade. E, dirigindo-se aos sicrios, continua em tom imperioso: Ligae as mos a este rei, e levae-o perante o gro-sacerdote. Os sicrios lanam-se com novo furor sobre a sua victima, amarram-lhe de novo as mos, mcttem-Ihe o simulacro de sceptro debaixo do brao e, empurrando-o com furor, levam-no ao palcio de Caiphs (5), em meio de gargalhadas, insultos e maus tratos (6). A vossa mansido, em vez de abrandar estas feras, excita-lhes o odio e o furor; porem, as barbaridades dos esbirros enaltecem e salientam a pacincia e a bondade do divino Martyr (7). Ill Esbofetear-vos, manietar-vos, insultar-vos, so crimes horrveis, e, entretanto, Jesus, no so somente os miserveis sicrios dos judeus que commettcm estes crimes (8). Commetter o peccado esbofetear-vos.

94 CONTEMPLAO De Anns a CaiphsPreldios e Evangelho : Os mesmos de hontem.

II Aps a vossa resposta calma e firme, dada ao servo que vos esbofeteara, Jesus, um silencio pesado kiccedeu s gargalhadas e aos sarcasmos da multido infame. Todos sentiam um certo mal-estar e esperavam qualquer acontecimento que terminasse a scena. De facto, uma bofetada o ultimo dos ultrajes. S. Joo Chrysostomo diz que este ultraje no pode 1er comparado a nenhum outro da paixo. De facto, uma bofetada dada a uma pessoa honrada considerada como o ultraje mais infamante, por ser o semblante a parte mais nobre duma pessoa. Aqui a mo de um vil criado que bate no rosto da pessoa mais digna que existe (1). A pessoa que recebe o ultraje uma pessoa divina. r o Filho de Deus vivo, o Criador do mundo. E' elle que deu a mo com que se bate nelle (2). Sob as apparencias da humanidade que revestistes, no tempo, meu Jesus, vs conservaes todas as prero-gativas

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periculosius (S. Bern. Serm. 33). rgo Pontifices et pharisaii concilium cl dicebant: Quid facimus, quia hic homo minha regra, os meus deveres vossas graas, desprezado a multa signa facit (Jo 11, 47).

)Hoc autem a seipso non dixit, sed quum esset Pon-Ufex anni illius, prophetavit quod Jesus moviturus erat pro Konte (Jo 11, 47). 7) ) graas ligar-vos as mos. (Ps 10, 8). observao: Aps a Resistir s vossas Sedet in insidiis cum divitibus in oceultis, ut interfi-clat innocentemSoldados estavam ctis vcstibus tegltur, et elationem habemus in enserat concilio et actibus eorum (Lo 23. 51). corde. Do-ctores humilium, duces superbi?: ovina facie, lupinos dente? abscondimus (S. Greg. 4, epist. 52). resurreio de Lazaro, os 8) )Me insultar-vos. peccatores, ut perderent me (Ps 118, 95).postos em linha, desde o exspectaverunt Desprezar o dever (S. Bem. Serm. 13 in Cant.). aiph?s qui consilium dederat Judffiis, qulii expedit unum hominem mori pro populo (Jo 18, 14). p da estrada at porta phariseus tendo-se E quantas vezes )tenho cahidojudici?rio quajrunt,resistido a 9) Nonnullo more em peccado? ut habitum judi-cli, atque figuram insidiis prsetextant (S. J. Chrysost. Horn. 85 In Mt). do vestbulo, por onde juntado em conselho (5),6)

de estado? (9). No reflicto bastante, Jesus, e no me lembro que o dever, a virtude, a regra, sois vs mesmo, vs, escondido na pessoa de meus superiores, nas obrigaes de minha regra, nos deveres de meu estado (10). Oh! como tenho sido ingrato! Acostumei-me a considerar estas coisas simplesmente naturaes, esquecendo-me de que ellas so uns tantos vus atrs dos quaes vs mesmo vos escondeis para falar-me, para indicar-me o caminho, para estimular-me, para afastar-me do mal. E eu, cego como sou, no soube reconhecer-vos, c dei a estes deveres, s vezes, bofetadas, outras vezes, insultos e desprezos (11). O' Virgem Santa, dae-me aquelle olhar sobrenatural que sabe descobrir Jesus nos deveres e cumpri-los como sendo as ordens ou o convite delle.

Tomo a resoluo de ser fiel em tudo, e de fazer bem tudo o que me fr imposto ou pedido (12).

26)Rursum crucifigentes sibimetipsis Filium Dei (Hb 6, 6). 27)O homo, tu quis es, qui respondeas Deo? (Eton 9, 20). 28)Quicumque enim fecerit voluntatcm Patris mei, qui in caslis est,ipse meus frater et soror, et mater est (Mt 12, 50).

29)Lex spiritualis est: ego autem carnalis (Rm 7, 14). 30)Bene omnia fecit (Mc 7, 37).95a CONTEMPLAO O tribunal da hypocrisiaPreldios: Contemplemos Jesus, manietado, arrastado pelos sicrios perante o tribunal de Caiphs. Meu bom Jesus, eu quero seguir-vos de perto, para suavizar, com o meu amor, os maus tratos que vos infligem os vossos algozes.

I O Evangelho termina esta triste scena (Jo 18, 24, 14): 24 E Anns enviou-o manietado ao pontfice Caiphs (1). 14 E Caiphs era aquelle que tinha dado aos judeus o conselho de que convinha que um homem morresse pelo povo. II Para chegar-se ao tribunal de Caiphs, passa-se por um terreiro exterior, e dahi entra-se numa varanda interior, cercada de construces. Na frente da casa h um vestbulo aberto, cercado de tres lados por columnas, formando uma galeria coberta. Do quarto lado, atrs de outras columnas mais elevadas, h uma grande sala, onde esto collocados os assentos dos membros do synhedrio (2). E' nesta sala que vs deveis ser julgado e con-demnado, meu Jesus. Em redor delle estavam em p os membros do groconselho. Dos dois lados estavam os funccionarios pblicos, os ancios, os escribas, e atrs delles, as falsas testemunhas assalariadas.

vs devieis ser introduzido. Caiphs era um homem de apparencia grave: seu rosto era congestionado, vermelho e ameaador. Trajava manto comprido de um vermelho-escuro, bordado de flores e com franjas de ouro. Sobre o peito trazia o ephod, e sobre a cabea uma espcie de mitra com a inscripo do nome de Jehovah. O synhedrio estava quasi completo. No tinha, de certo, convocado uns membros, conhecidos como vossos partidrios. Est escripto, alis, que todos estavam concordes na vossa condemnao. Do outro lado sabemos que Jos de Arimatha no partilhava o odio de seus collegas (3). Devemos dizer o mesmo de Nicodemos e de Gamaliel, o que prova que elles no foram convidados a esta reunio, ou recusaram tomar parte nella. O Evangelista, assignalando o facto de Anns vos ter mandado para Caiphs, ajunta que era este mesmo Caiphs que tinha dito que convinha que vs morrsseis pelo povo (4). Parece que o apostolo une propositalmente estas duas phrases, para melhor excitar a nossa f e a nossa confiana, mostrando-nos em vossa pessoa, sob as apparencias da humildade e o desprezo, o Salvador do mundo, annunciado pelos prophetas, dos quaes Caiphs, nesta hora suprema, o interprete, renovando, realizando, elle mesmo, as prophecias passadas. E' o mesmo apostolo que faz esta Quantas vezes me tem acontecido sentir a

este mesmo Caiphs disse hes: Vs no sabeis nada, nem consideraes que vos onvm que morra um homem pelo povo, e que no perea toda a nao. Ora, elle no disse isto de si mesmo: mas como era pontfice daquelle anno, prophetizou que Jesus devia morrer pela nao, mas tambm para unir num s corpo os filhos de Deus que estavam dispersos (6). No era, pois, um julgamento o que se ia effe-ctuar e, sim, uma condemnao j resolvida. Caiphs est cercado de conselheiros, no para consult-los, mas para fazer approvar a sentena inqua da vossa morte (7). Em vez de ser um conselho de juizes, o conselho dos peccadores, para perder-vos, Jesus (8). As apparencias annunciam uma espcie de demanda de ordem judiciaria, mas s servem para melhor esconder um requinte de malcia e de duplicidade (9). III Eis o que o tribunal de Caiphs, que vos vae con-rjemnar, bom Jesus. E' o tribunal da inveja, do orgulho e da hypocrisia, Ires vicios que se completam mutuamente. A inveja pede a vossa morte. O orgulho quer que se tomem as medidas para no se comprometter. A hypocrisia procura encobrir o crime sob o manto da justia e do zelo. Meu Deus, no ser esta uma imagem do que se passa em mim? inveja penetrar em minha alma, porque os outros so

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mais in-telligentes, mais virtuosos, mais applaudidos, porque fazem o que eu no sei fazer... Sinto que tal inveja baixa, covarde, desprt zivel; eis por que procuro escond-la, para no comprometter a minha reputao, querendo rebaixar os outros, para elevar-me, recorrendo mentira, maledicncia, caluinnia, mas attribuindo tudo isso aos outros. . . So conhecidas as palavras com que se costuma exprimir taes baixezas: dizem, ouvi dizer, consta, parece, etc.... E para fazer acreditar que taes calumnias, criticas, revoltas, no so vicios, escondo-os sob o manto dourado de qualquer virtude, exclamando: fao isso por amor de Deus, pelo bem das almas, para evitar um mal, etc.. . chegando a transformar o mal em virtude, o orgulho em humildade, a sensualidade em mortificao, a clera em mansido e em zelo (10). Pobre hypocrisia!. . . como tu sabes esconderte! (11). O' bom Jesus, fazeime comprehender o horror deste vicio, tanto mais perigoso, quanto mais invisvel fica (12). Quero fazer um srio exame de conscincia sobre este vicio, para ver em que lugar, e sob que manto elle se esconde em minha alma. O' Virgem Santa, me querida, conservae diante de meus olhos Jesus perante o tribunal hypocrita de Caiphs, para que eu imite a bondade calma e resignada do Salvador. 96a CONT EMPL AO Os

falsos testem unhosPreldios: Contemple mos Jesus, com as mos atadas e o semblante ensanguentado , em p, diante de Caiphs. Querido Jesus, fazei-me comprehender a baixeza personificada em Caiphs, e a grandeza personificada em vs ...

circumderunt me canes multi: concilium

ma-llgnantium obsedit me (Ps 21, 17). \ sub. do calv rio 23

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O Evangelista mostra-nos as machinaes baixas I hypocritas dos inimigos de Jesus (Mc 14, 55) : / os prncipes dos sacerdotes e todo o conselho buscavam algum testemunho contra Jesus, para o fazerem morrer, e no o encontravam (1). II Tudo estava preparado para julgar, ou melhor, bar a condemnarvos, Jesus. Vs tudo vedes, tudo sabeis. Ledes at no mago Ida alma de vossos perseguidores, vedes o odio que os devora e o desejo de vingana que contrae os seus la-pios (2). O Psalmista, com pincel prophetico, tinha antecipadamente pintado esta reunio hypocrita: Vime ro-Beado por uma multido de ces, uma assembla de maus cercou-me (3).

37)Summi

38)Astiterunt

vero Sacerdotes, et omne consilium, qua? rebant adversus Jesum testimonium, ut eum morti traderent, nec inVeniebant (Mc 14, 55). reges terra, et prncipes convenerunt in unum adversus Dominum et adversus Christum eius (Ps S, 2).

39)Quoniam

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Uma multido dc novilhos cercou-me; vi-me sitfl do de touros possantes; abriram a bocca para nvfl como o leo que arrebata e ruge (4). Conduzem-vos, pois, Jesus, diante deste consfl lho perverso, em meio dos clamores, de injurias e d< pancadas. Apenas appareceis em frente de Caiphs, no meM do vestbulo, que este ultimo, j impaciente pela de-mora, exclama, sem considerao de sua dignidade e rj lugar que occupa, como juiz supremo: Eis-te ahi, inimigo de Deus, perturbando estj noite santa! Um sicrio arranca o canudo em que estavam e* criptas as accusaes de Anns e o remette a Caiphs Depois de o ter lido, o pontfice derrama-se em in< vectivas, insultos grosseiros contra vs, emquanto o| sicrios vos empurram e batem com seus varapaus pontudos, gritando: Responde, homem! Abre a bocca] No sabes falar? Ests surdo, ou mudo?... Caiphs, com mais exaltao ainda do que Anni dirigevos varias e incoherentes perguntas, mas, vl tal um rochedo immovel no meio das ondas espumantes do oceano, permaneceis calmo, paciente, de olho; baixos, sem responder a uma palavra e sem que ult musculo de vosso semblante se contrahisse, em signa de impacincia e desgosto. Os archeiros que vos acompanham querem forar-vos a levantar o olhar e a responder, batendo-vos, em-purrando-vos de um para outro lado, mas tudo intil a maldade humana no vencer a pacincia divina. Comea, ento, a audio das testemunhas. A populao excitada lana clamores tumultuosos. Os phariseus e os sadduceus, vossos maiores in-igos,4) Circumdederunt me vituli multi: tauri pingues obso-derunt me. Aperuerunt super me os suum sicut leo rapiens et rugiens (Ps 21. 12, 13). Estes touros designam os pontfices e phariseus, que, com os seus ditos mordazes, como golpes de touros, insultavam Jesus Christo (Sto. Affonso de Liguori).

clamam mais alto, para serem ouvidos, repetin-o accusaes mil vezes refutadas. Este homem viola o Sabbado, curando doen-es! (5). Expulsa o demnio pelo demnio! (6). Levanta o povo! (7). Chama os phariseus de raa de vboras! (8). Prediz a destruio do templo! (9). Frequenta os publicanos e os peccadores! (10). Faz-se chamar rei, propheta, filho de Deus! (11). Condemna o divorcio! (12). Diz que po de vida! (13). Todos estes gritos cruzam-se numa balbrdia infernal, sem que qualquer aceusao sria possa ser destacada. Mas, que podem os conselhos dos homens contra a sabedoria do Altssimo? (14). Elie ri-se das perfdias dos homens e serve-se de sua malcia para dar novo brilho iiinocencia do Justo (15).5) Indignans quia sahbato curasset Jesus (Lc 13, 14).

31)In Beelzebub, principe dcemoniorum ejicit demones (Lc 11, 15). 32)Commovet populum, docens per universam Judeam (Lc 23, 5). 33)Serpentes genimina viperarum! (Mt 23, 33). 34)Dissolvam templum hoc manufactum (Mc 14, 58). 35)Ecce publicanorum et peccatorum amicus (Mt 11, 19). 36)Ecce ego mitto ad vos prophetas... et occidetis (Mt 23, 34). 37)Qui dimittit uxorem suam., et aliam ducit, mcecha-tur (Lc 16,18).

38)Ego sum panis vitae (Jo 6, 35). 39)Qui habitat in casus, irridebit eos, et Dominus sub-sannabit eos 40)Ad(Ps 2, 4). versus Jesum nec color inveniebatur, qui posset adjuvare mendacia. Quod maximam laudem cxhibct Jesu, qui sie omnia irreprehensibiliter dixit, et fecit, ut nullam vi-risimilitudinem invenirent in eo reprehensionis mali multi et astuti (Orig. Horn. 35, in Mt).

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A vossa vida, Jesus, to pura, to exemplar, a vossa reputao to firmada, que, longe de descobrirem uma falta, nem podem descobrir uma apparencia de falta (16). A verdade apparece atravs de todas as falsas accusaes, e o seu fulgor faz que a prpria iniquidade se desminta a si mesma (17). Ill Admirvel lio para ns, Jesus! Quantas vezes eu no estou sendo escravo do mundo! A' menor aceusao que me fazem, diante de uma pequena reprehenso, uma leve humilhao, o meu orgulho levanta-se, exaspera-se, procura mil desculpas para encobrir ou negar o que eu devia franca e altamente confessar. Revolto-me contra aquelles que me mostram o meu erro. . . Trato com desprezo aquelles que no me consideram, como julgo merecer. Maldigo daquelles que no me manifestam a sua estima.. . Zango-me contra aquelles que me contradizem. Meu Jesus, como estou longe de vossos ensinamentos. . . longe dos exemplos que me daes. O' Jesus, fazei-me comprehender, emfim, que nada sou, que nada valho, que nada tenho, sino o miservel peccado... e o peccado s tem direito ao desprezo mais completo. Ser desprezado, ser tido por nada, ficar esquecido, tal devia ser o meu ideal... Oh! dae-me, Jesus, realiz-lo, pelo esforo de cada dia.

40)Falsa testimonia sine colore locum non habuerunt: adeo munda fuit vita Jesu. et omnino irreprehensibilis (Orie Horn. 36). 41)Insurrexcrunt in me testes iniqui. ct mentita est ini-quitas sibi (Ps26, 12).

E vs, Me querida, ajudae-me na hora da tentao, para que o exemplo de Jesus, desprezado e maltratado, me estimule a acceitar tudo das suas mos, com calina e resignao. Hoje quero esforar-me para no queixar-me de nada e de ningum. 97" CONTEMPLAO Os calumniadores de JesusPreldios: Contemplemos a scena. horrivel de desordem, gritos e de brutalidade, que apresenta o tribunal de Caiphs ... e no meio deste tumulto a physio-nomia calma e humilde de Jesus. Meu Deus. gravue em minha alma esta scena horrvel, para que suscite em mim o odio ao peccado.

I O Evangelho em poucas palavras assignala esta desordem (Mc 14, 53): Porque muitos depunham falsamente contra elle: mas no concordaram os seus depoimentos (1). II Caiphs tinha dado inteira liberdade multido presente, de depor contra vs, meu Jesus. Todos notaram que o chefe no queria sino augmentar o numero de aceusadores, e todos aproveitaram para gritar e invectivar aceusaes contra vs, no intuito de agradar ao seu mestre (2). Cada um brada o que lhe vem na ida, ou o que tinha ouvido dizer pelos escribas e phariseus, espcie de crticos e de censores de officio.

41)Multi cnim testimonium falsum dicebant adversus Mim: et convenientia testimonia non crant (Mc 14, 56). 42)Mendaces accedunt multi. volentes gratiam tribuere Caipha\ hocipsum desideranti (Orig. Horn. 35).

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Uns vos accusavain de amar o vinho e a boa mesa, de frequentar os publicanos e os peceadores (3). Outros gritavam que seduzistes o povo e blasphe-mastes o santo nome de Deus (4). Outros ainda vos denunciavam como um homem entregue superstio (5). Mais outros vos accusavam de ser um presumpo-so que se ufana de destruir o templo de Deus e de reconstrui-lo em tres dias (6). Todos se contradiziam. Um dizia: Elie se proclama rei! No, dizia outro, elle deixa-se apenas chamar rei, mas quando quizeram proclam-lo rei, elle fugiu. Um terceiro: Elle se diz o Filho de Deus. . . E um quarto: No, elle se diz apenas filho de Deus, porque pretende fazer a vontade de Deus. Outros diziam que tinha curado doentes, que depois recaram, e que taes curas no passavam de feitiarias. As testemunhas disputavam entre si, contradiziam-se, in