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A Fenomenologia

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  • #NOTAmanuscrita# . resenhas . Vitria-ES . 2012/01

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    A FENOMENOLOGIA ANOTAES

    [Lyotard, Jean-Franois. A Fenomenologia. Lisboa: Edies 70, 2008.]

    Caderno de Anotaes, p. 099, 17.01.2012.

    O ceticismo Psicolgico: inscreve-se a fenomenologia no combate ao psicolo-

    gismo, que separa o sujeito do contato concreto com o mundo num tipo de idealizao

    conceitualista prpria do cientificismo, que ser alvo tambm de Merleau-Ponty e Hei-

    degger.

    [Seria muito interessante citar Husserl, levando em considerao que ele o

    precursor de Heidegger e possvel observar uma continuidade nos pensamentos.

    Nesse sentido, pode ser interessante mesmo a citao para ]

    O estudo das Cincias, que no uma espcie de idealizao como o psicolo-

    gismo, pois pauta por uma descrio do contato concreto, sem excluir a realizao da

    conscincia, como faria o empirismo (o qual tambm criticado por Husserl). A verifi-

    cao da cor, por exemplo: a cor um objeto da percepo enquanto a encontro numa

    qualidade de extenso. No posso realizar a cor no mundo sem que ela esteja em algo,

    em uma extenso-suporte; no pode nem mesmo a cor ser imaginada. A cor, assim co-

    mo qualquer coisa, possuiria qualidades fundamentais, para que seja colocada sua real

    existncia, que esto sempre na dependncia de um outro algo, outra coisa.

    Eidtica: a cada cincia emprica corresponde uma cincia eidtica respeitante

    ao eidos regional dos objetos por ela estudados, e a prpria fenomenologia , nessa eta-

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    pa do pensamento husserliano, definida como cincia eidtica da regio da conscincia

    (p. 21).

    A fenomenologia como propedutica s cincias do esprito (p. 23). A consci-

    ncia sempre conscincia de alguma coisa (mxima de Bretano, professor de Husserl).

    Coloca-se assim o problema como uma indefinio entre o mundo transcendente e o

    mundo imanente. Esse problema colocado com mais evidncia na reduo descarti-

    ana, de onde desdobramos o problema para o EU, a conscincia. Uma idia de eu puro

    [eu transcendente ou eu imanente]; a aparente reduo disso a intencionalidade:

    uma conscincia se mostra naquilo de que conscincia. Se dissermos ser conscincia

    de nada isso j seria um fenmeno de que conscincia. A coisa surge como o fenme-

    no da conscincia da coisa. A variao imaginria operada na conscincia nos mostra

    claramente a sua verdadeira ausncia, que ser conscincia de alguma coisa (p. 57).

    Caderno de Anotaes, p. 100, 19.01.2012.

    III O Mundo da Vida

    1 O Idealismo Transcendental e suas contradies: se o mundo a ideia da u-

    nidade de todas as coisas, e a coisa a unidade da percepo da coisa [mundo = relao

    entre os entes do modo como se-me-apresentam], chegamos ao solipsismo. A pergunta

    direciona-se assim, para o saber do outro. Bem entendido, o outro experimentado por

    mim como estranho (Meditaes Cartesianas), pois fonte de sentido e de intencionali-

    dade (p. 42). V-se ento a contradio entre uma filosofia transcendental e a constitu-

    io social do sujeito. nesse sentido de integrao cultural que se pensa o Esprito

    (geist) como Lebenswelt, ou, O Mundo da Vida. Somente o transcendentalismo, doa-

    dor de sentido, vivendo de uma vida pr-objetiva, pr-cientfica, num mundo da vida

    imediato, para o qual a cincia exata no passa de revestimento, conceder ao objeti-

    vismo o verdadeiro fundamento e lhe retirar o poder alienatrio (p. 46). Essa impor-

    tncia salvadora dada fenomenologia a mesma sada encontrada por Heidegger na

    luta contra o esquecimento do ser, causado pelo clculo e pela tcnica moderna. A ver-

    dade da cincia j no se funda em Deus, como em descartes, nem nas condies a prio-

    ri de possibilidade, como em Kant, funda-se no vivido imediato de uma evidncia atra-

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    vs da qual o homem e o mundo se encontram originariamente de acordo (p. 50). Esta

    sempre a busca pela Verdade e como busca por uma originariedade, Verdade aqui

    gnese do Sentido (p. 55), ou, fundao do Ser.

    Caderno de Anotaes, p. 101.

    Segunda Parte Fenomenologia e Cincias Humanas

    Captulo I Posio do Problema

    As cincias humanas esto no centro do pensamento fenomenolgico. Obser-

    vando as contradies e idealizaes do sociologismo, do historicismo, do empirismo,

    do intelectualismo e principalmente do psicologismo, a fenomenologia tenta fundar-se

    como um modo de investigao lgica, isto , como um conhecimento que parta da ob-

    servao objetiva das partes e do todo, com o intuito de construir um discurso (logos)

    que coloque j de incio a si mesmo como objetivado e objetivvel.

    E a Lgica das Cincias Humanas: procura a fenomenologia por (i) definir eide-

    ticamente o objetivo dessa cincia numa (ii) pr-objetividade, (iii) sem excluir a expe-

    rimentao (iv) na medida em que seja uma experimentao concreta e (v) pressuponha

    uma retomada filosfica, i., de seu discurso inicial, dos resultados da experimentao,

    com a direo e o sentido de (vi) alar o significado fundamental tendo em vista sempre

    (vii) a ferramenta mental utilizada.

    Num primeiro sentido, a fenomenologia a cincia eidtica correspondente s

    cincias humanas empricas (em especial a psicologia); num segundo sentido, instala-se

    no mago dessas cincias, no corao do facto, assim realizando a verdade da filosofia,

    que consiste em extrair a essncia do interior do prprio concreto: , ento, o revelador

    das cincias humanas. (p. 63).

    Caderno de Anotaes, op. 105, 24.01.2012.

    Captulo II Fenomenologia e Psicologia

    Como mtodo geral a psicologia admite a introspeco, essa introspeco pres-

    supe: (i) que o vivido da conscincia constitui um saber da conscincia e que existiria

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    uma transparncia entre o fenmeno e a conscincia; (ii) que esse vivido seria concebi-

    do como interioridade, onde distingue-se exterioridade e interioridade de modo absolu-

    to; (iii) que esse vivido, esse saber, seria individual (pontual e no reprodutvel). Desse

    modo a experincia no seria transmissvel, comunicvel, a no ser havendo uma condi-

    o humana, que integre essas individualidades absolutas.

    A fenomenologia concorda com a crtica objetivista das teses introspeccionistas

    (p. 67). A respeito do saber mediato da conscincia: O conhecimento de si por si in-

    direto, uma construo; me necessrio decifrar a minha conduta como decifro a do

    outro (Merleau-Ponty, Les sciences de lomme et la phnomnologie) (p. 67). V-se a

    oposio reflexo/introspeco. Se sei o que a clera porque tenho essa experincia

    retida em mim. Sendo que essa reflexo fenomenolgica no uma idealizao e sim

    mais no sentido descritivo, como aproximao da prpria coisa.

    Colocando a reflexo como aproximao descritiva com a coisa, rejeita-se a dis-

    tino entre interior e exterior e a questo ento como existem objetos para mim?

    ...por isso a intencionalidade encontra-se no centro do pensamento fenomenolgico

    (p. 69).

    Isso leva ao problema da distino entre conscincia e corpo, que no retorna pa-

    ra uma interioridade e assim ao mesmo problema da incomunicabilidade da experincia

    (saber).

    Caderno de Anotaes, p. 106.

    Merleau-Ponty em A Fenomenologia da Percepo apresenta o problema de

    modo coerente e: Em psicologia, tal superao [objetivo/subjetivo] consegue-se, como

    mtodo, pela retomada descritiva e compreensiva dos dados causais e, como doutrina,

    pelo conceito de pr-objetivo (lebensewelt) [mundo da vida] (p. 84).

    .

    Nesse questionamento de como pode haver coisa externa a mim e eu, vai-se ao

    questionamento do outro e tenta-se constituir uma cincia do outro, uma cincia desse

    mundo e relaes entre outros, uma sociologia. A sociologia no existe para a fenome-

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    nologia, pois, procurando-se descritivamente a eidtica social, nos aproximando das

    origens das relaes, vemos que no haveria essa transformao positivista na criana,

    mas a manuteno de uma primeira indiviso com o outro (que faria com que o eu se

    coloque num intermundo).

    A fenomenologia no prope uma sociologia, mas uma descrio dessa atividade

    reflexiva. Mas essa descrio, por sua vez, s pode realizar-se com base nos dados

    sociolgicos, tambm eles, resultados de uma objetivao prvia do social (p. 103).

    [Adendo: Lyotard ao citar (p. 104-105) as pesquisas de Kardiner a respeito dos

    habitantes de Alors. Todos esses resultados soam estranhos quando se busca um enten-

    dimento descritivo do social, pois, os resultados parecem sempre partir e uma observa-

    o definida com base na existncia de um comportamento social positivo e outro nega-

    tivo, como se, a priori, houvesse um objetivo no social. Os comportamentos apontados

    soam como qualidades ou defeitos; como se houvesse um modo melhor de aquele social

    desenvolver. Enxergamos aqui algo que denominaramos de uma crena na falha soci-

    al, ou na falha comportamental, que faz com que o ato, ou a relao desencadeada pelo

    ato, no se apresente como fenmeno a ser significado (no qual se insere significado),

    mas j como um significado em si sem escapatria, que pressupe o contrrio, uma

    sociabilidade bem sucedida. Nota-se que essas pesquisas antropolgicas so baseadas

    em valores tidos como universais, como crena]

    Caderno de Anotaes, p. 107, 26.0.2012.

    Captulo IV Fenomenologia e Histria

    Questiona-se, de incio, como a histria torna-se um objeto para a conscincia.

    Um mvel antigo seria histrico no simplesmente por sua materialidade ser velha, ou

    por seus estilos no serem mais os usuais; histrico porque provm de uma humanida-

    de que esteve presente, identificada num mundo humano que o sujeito atual tempora-

    liza, presentifica. Nesse sentido temporal, a conscincia seria um fluxo de vivncias pre-

    sentificadas (erlebnisse) (p. 111).

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    Como se daria, ou qual seria a temporalidade da conscincia (ou como conceber

    a historicidade)? Lyotard adota o seguinte esquema de Merleau-Ponty (p. 114):

    Em cada estado temporal, no posso deixar de realizar os demais estados, em a-

    tualidade e virtualidade, a diferena apenas de giro das posies. Heidegger >> Mer-

    leau-Ponty >> Lyotard: A temporalidade temporaliza-se como futuro e vai ao passado,

    ao vir ao presente. E na sequncia Lyotard: ... porque soou uma intencionalidade a-

    berta que sou uma temporalidade (p. 115).

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    Sabemos agora como que h histria para a conscincia: ela prpria hist-

    ria (p. 116). Se decide-se ento pensar uma cincia da histria, esta deve sempre se

    apoiar numa filosofia da histria, pois a histria seria da ordem do esprito (p. 118) e

    nesse ponto interessante retomar a viso heideggeriana de histria. Ento se tornaria

    fundamental a leitura de Ser e Tempo, para travar contato com o Mitsein heideggeriano.

    [guardando a citao: Lyotard, p. 137, nota de rodap 35, a respeito de Galli-

    mard, 1955: Eis a verdadeira questo: a revoluo um caso limite do governo ou o

    fim do governo? ao que MP responde: Concebe-se no segundo sentido e pratica-se no

    primeiro. As revolues so verdadeiras como movimentos e falsas como regime.]

    Caderno de Anotaes, p. 108.

    Concluso

    Na inteno de separar a alternncia objetivismo/subjetivismo, a fenomenologia,

    ainda em Husserl, coloca os conceitos de essncia, ego transcendental, e Leben [relati-

    vos nas cincias humanas corpo, Mitsein, e historicidade].

    A fenomenalidade do fenmeno nunca , ela mesma, um dado fenomenal, es-

    creve muito bem E. Fink (p. 140) [in: Problmes actualles de la phnomnologie,

    1952, p. 71] Da a fenomenologia no atingir a questo acerca da identificao de Ser e

    Fenmeno .

    E se MP faz sua a clebre frmula de Marx: s podeis suprimir a filosofia, rea-

    lizando-a, porque a fenomenologia lhe parece significar exatamente uma filosofia

    feita real, uma filosofia suprimida como existncia separada (p. 143).