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NORVAL BAITELLO JUNIOR A ERA DA ICONOFAGIA ENSAIOS DE COMUNICAC:AO E CULTURA ~~:~ --~ =.== - - HACKER EDITORES

A Era Da Iconofagia Cap 1

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Page 1: A Era Da Iconofagia Cap 1

NORVAL BAITELLO JUNIOR

A ERA DA ICONOFAGIAENSAIOS DE COMUNICAC:AO E CULTURA

~~:~--~=.==- -HACKEREDITORES

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visillilidadc e qllanto mais visao, nlC.:nos proprioccp<;ao, 0 sClllido por cxce-Icncia do a(lui c agora, da corporeidade. () segundo aspcclO traz cOl1sigo aperda do prescnte, pois tantos tempos prescnles se aprescntam elll t1m curtolempo, sem (Iue cada um Jdes tenha a oportunidaJe de se lOrnar ato, apenasremetendo para () outro, subentendendo e exigindo a nipida passagem emzappil{/!, para 0 pf()ximo.

() pes(luisador e jornalista DOlllillik I(lclll< (1998) cnxerga () prohlema da"pcrda do presente" na nalurcza Illedializada quc VCIII ;lssul1lindo II "scrdiaklgico hOlllem" (Buber), na perda dll cspa<;o uIIlHlnicativo do di,i1ogoinlcrpcssoal (Itle confere scntido ao tcmpo de vida, cssc rccurso csgol,ivcl dllhOlllclll. Klenk (Itlalifica a cresccnlc illvasao da Illidia del rica c<IIII(I IlH)I)l>lc'lgic\e p0rtanto destruidora dll tempo prcsciltc que sc conSI rl',i no di~logo,

Diclmar Kamper (1995) desloca 0 prohlclll:l em dil"C~';ill:l per(h do Corpllc confere a problcmatica da "crise cia visibilidadc" t1mlllgar dc dest'\(jue. EmSCll Ii\TO llll!IJk~/iche C~~fllIJ'CIIl (Prr:Jenle lfll/)o.r.rit'e~ escreve:

"Esl'irilll:dizas'au, 'HI"ela ani iga aSCeSC"II C<>fI'U,In,li 1'11iSe 11:'Iknasccn·~'a P:ll'il :1 figuraliviza\j(), pac' ;\ tf:lllS(lll'llu\"jn d.1 111:IIcl i:l (,'111 illlagclll.

Nt) cnlaillo rS1.1 "isil>i1iz;u,,';ln dCI illVisl\'l'I Illc.-lnl ~t' dcs~k () illkic) de.scculo CI11 ulll:1 crise ClljCIS Clllll()rllllS Clllllillll:lI11 {dl~,nlnls. Tl'.lla-Sl' d:\

IC'll'lIi\'a dc CXIHH:rarU curl''', n;\u pcb rCl'ressau, 1l1:ISl'el.l SlIhSlillli~,\,>::\(I ill\'cs dn cnq" 111I1Ill,\IIU,l'l"cfClTIII'SC'ISilll:lgcllS \1" c\ 11'1"""(Kal11l'('I",11)9';:.17).

( ) ()lIe a lingua latina c!l;-Imava dc i!ll{!~orcferia-se ao rctralo de um l110rt 0,Pmque as imagens sao indekvcis e r0f(llIe conferem lima segllnda existcneia,(-I:ISpossllcm \1111slalllJ Scmi('llieo lla scgllllda re;t1idadc (c f. Ivall Ilyst rilla, 19H9),1'111sell easo particlllar, aIHcscll~'a dc III11aallscllcia c sell OpOStl', a ;IlISt'IlCia dc11111:1I'rcscll<,:a, Por isso, clas sa, I falllasm:lg,'lricas, cm slla origclllmais relllO-la' 1\ll-m disso, as imagells llaO sao, distilltamelllc do (JlIe :'\S vczes somoslellt:ldos a p('IlSar, sllhprodlilOs da lllz, formas dc 11Iz Oll sercs do dia. S:10Illllilo m:tis, ('Ill slla origl'm C dl'sdc clltall, habitalllcs da Iloire, possllcmIllllitl I 1l1ais faces invisiveis do (llIC a<jllclas (Juc se deixam vcr, l1lanlem cstrei-loS Ia<;os his((lricos com 0 somhrio e COl110 insol1tlavcl, COl11as zonas pro-fllndas dc n<'1smCSl11OS, com as ()lIais temel110S tn contato,

Imagens, em Ul11selllido mais ;1I11plo, podcl11 ser configura<,:I)CS de dis-lillta Ilaturcza, el11 diferentes lingllagens: aCllstieas, olfativas, gllslativas, l~-leis, proprioccptivas Oll visllais, Portanto, neSIC sentido, i~a maioria delas cillvisivcl (' podc apenas scr pcrcehid:l por sells vestfgios Oil pclos outrossellt idos (llIC nao a visao, I\km do mais, a(llIcias ((lIC sao visivcis possucmtambcm ao menos algllmas faeclas c aspectos invisiveis aos nossos olhos,ISlll <J1l('("diz('(" (ille ao lado Oil alr:is da visibili(bde de lima imagcm l'mngemIIllllll'fOSaS ("olltigllra~'()cs (IIIC a :lCompallh;lI11 c (JlIC IlOSSOSolhos Il:io COIlSC-g"cm vcr. I':, mais «(lICisso, os procedimelltos dessas cOllfigura<;l)eS invisivcissao imprc"isivcis, pois elas sc aliment am das camadas, da hisll')fia e dasbisl<'lrias, sotl'l'radas do hotllcm, sc cnraizam nas pfoflilldcz:ts illl'isiveis doCS(lllCcimento, E. uma vez (JlIC cada pessoa vive as hislllrias pn')prias C alheiasde maneira distinta, as sombras que acompanham as imagens podem apenas

..(.: il11l'ussi\'e1 :lIIIIIClll:11"n cirndn tI" l'i,il'Cl ,el11 (III(' igll:dl11ClllCn ill\'i-si\'el se :Il11plie. (~lIallln 111.lisIIIZ, ll1:1issnll1hr,l." (1(;\I11per, I~~';:57),

I\ssim, lima illlagelllilullca ser;i apenas Uilla prcsen<,:a, 1l1;IS1:1l11!>cmlllllaaliscllci:1. Faz sc, p0rtanlO, Ilccess;irio rastre:tr SCllsivcllllClllC a \'iolcllcia comosomhra das figmas a quelll cmprcstalllos 0 .r/,ilw co pOlkr dc fcalitl:tdl'. Para(I'le clas nao nos Clllll:ll1dclll, violcnl'llllcntc,

Camila
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propostas por Ilans Beltillg (ZOO)), san tao illteressalltes e opnativas. 1':Ias

possibilitam a verificll;:ao do velor de lima imagem e seu deill) sohre a COllllI-

Ilica<;ao social. E permilem um tipo de 'an.ilise de impaclo sohrc 0 mcio-

amhiente' comunicacional, possibilitam urn cliagnoslico do pOlencial

diak.gico das imagens C0ll10 for<;a imaginativa, l!Ualldo sells vetores domi-

lI:lI\!I'S CI'lldllZC'lll i\ illtni, Iriza<;ii' I, 011 como f, lIsa IksvillClll:l' I, '1':1,diss, 'ci:\! iV:I

c aUlo-refcn:nte, ljuando seus vetores san de mera exterioridade, lTmctel\do

apellas a mais imagens eX('lgenas e cerceando 0 !11ovimenlo interiorizante de

"ssllcia~'ao com as profundezas das imagens enlk'genas. Assim, a verificu;ao

,I, IS \'l'll 'res eXlni, ,riz.allles IIU illlni, ,riz"lltes de Ul11:limagell) sn.i I' pariulIcl r<I

" sn, II.snv:II!I' p"r" " c11Illprel'I\Sal' dc' su" I\aluru." I' de scu I" ,tcllcia\ dial<"gic' ,.

Nol:lveis nemplos dc lr:dl:t!ho C'>llI imagens COIll n'lHc'ssivos vetores de

intlTioriza~'ao nao f"ltam na hisll',ria d"s il1lagens "rlisticlIllellte produzid.,s

pdo hOl1lcm,lla pilllllr:l, Ila fOlogr:dia, no tcalro, 1I:llitnalllra, 110 cinema,lla

:lnl'litl'lura c' nil urhanisillo, Ila lekvis:lo, na puhlicidade. I ':las ahriralll as

pllrlas para l1lundos pnceptivlls nllvos, criaralll novos Il\hares e al1lpliar"m

horizontes da cultura humana, I~1l1cOlllrapartida, c crescelllenlente assuSla-

dill' 0 processo inllacion:irio das imagens que fccham porlas para 0 IlIUIHlo

I" lI' snel1l cOIlMnlldas a snvi<;" l d" vcl' ,r de eXlnil Iriz'l(;:a, I, ITmelelHlo a 1I1lla

oistcncia 'em efigie', sc'nl a illlniorid"de da imagill'I<;,.IO, [1111:1hela akgoria

deslc' processo inllacion:irio c de sells desdohral1lellloS l' :Ipreselllada pdo

lilllll' de Alexander 1,11Ige de I ')H'i, "( ) alaque do presellle sohre 0 restallll' do

leillpo" (I kr I\ngrill dn (;q~el1\l'''rt allf die iihrige /,eil), Il:l I'ndade, 11111

lilllil' s, ,hre "I'illl'lll" I' Sll:1gll ,rios" h:ll:dh" elll hllSCI d:IS illlagclls elHk'gcII"s,

II'g:II1lI"CIlllI as illl'isihilidadl's .II' CI!\l'Ill:II' d:lcid:Ilk. s,>I,rl' a gr:lI11;ilil:1 .I"

kllll'" da cid;lde e do lilrlle, '\prcscllla,sl' ai:1 IClll;ilica ,I:I OfIlSCI(;;IO p,ll

dcsmesurada prolifcra<;ao das imagells e do tempo acelcrado gerado pOI' slla

reprodu<;ao, Assim, acelcra<;ao e infla<;ao, por operarem no registro do exces-

sivo, illevit:l\'elmente ger:ul1 perdas,

ser illtllidas e pelletradas como campos de probahilid:ldes. II III espa<;o COIlW-

lliC:ltivo de improv:ivel delerlllilla<;-ao .•ls vezes Illesmo illlpossivel de se de·

terlllillar.

Uma cicncia que investiga as imagens e uma pr;iliea qlle as pretende utili-

zar fracassara se nao se cOllstruir sobre alicerces histl'Jricos c culturais, se per-

1ll:II11Tl'r ;IPCIl:lS ILl sUI,nricic d:ls lipol, Igi;IS e ILlS ,·l:tssilll':I~·')I'S Ill' lIf, Ik'gicIS.

I':, principalmenle, estar:i fadada ao insucesso se projclar e cxecutar processos

de comunica<;ao s()cio·cultural de malleir:1 deterministic:I. sem cOllsiderar as

facelas soml>rias e silencios:ls das hisu',ri:ls, d;IS PCSSO:lS e d:ls cois:ls I\IIC

servelll de ponto de p;lrlid:l (e de chcg:lda) n:l vida das illl:lgells.

T:llld'cm devemos eonsiderar sohret,"to IIIlLI \'olll;\dc pH"pri;1 liaS illl:l-

gens (c Il~O apell:lS, el'idenlclllclllC. dc seIlS Sllp<Jl'leS 1I1:11l'liais). pois h:1

mllilo as imagells deelararam sua illdepelldcneia do Illlll11!O da vida e d:ls

coisas. h:i IllUilO fundaram 1111111lIllldo pH"prio, 0 Illulldo d:ls imagcns. Ftcnt:lI11 1l0S seduzir :I nos transfcrirmos para 1:1. Sua scdll<;ao COIlI:l, all-m

disso, conI 11m poderoso aliado, a extenuac;:ao dos 1l0SS0S olhos diante de

scu insistente apelo. E 0 "padecimento dos olhos" (assim 0 formulou

Dictmar Kamper, 1997:1) em husca de clilladas m:lis profllildas, lorna· se

facilmclllc;1 primcira Vil,')ria das sllpcrricies illlpcnelr;ivcis das illl:lgells 11"1'

sOllcgam as hist,'lrias, sllbstiluindo-as por mais imagens, mais superficics,

ao illvcs de profllndid:ldes e desdohr:lI11eIlIOS,

l'rillKil.llllellle, SllpOlllOS.II:lS c:ll'ernas da l're·hisl'·>ri;l da pel'Ccp~';io hll

malla. I:i ollde Ilao pelle( ram 0 dia, a luz e nossos olhos. Nascem entao 110

esp:I~-o I' ILlS c:lvemas do sOllho I' no igllalmenle dcnso e ohscuro sonho

dillrno. 110 dCl'allcio, na cavcrna da lill\a Ib illlagilla<;-ao 'I"e ofl'lecc IIIlI o:isis

de cscurid~o em meio it IIiZ do dia, Depois c1as nascem no mundo da palavra

ljUe conta cia origem do mundo, das coisas e da vida, <Iue conla de scus hen')is

e de seus feitos. Muito mais larde C que elas come<;:1111 a nascer 110 interior das

eal'ernas, Ilas c]lIais - como no inlerior da cscuridao do c':'rehro pCllsallte --

eSlao resgllardadas dos r"ios destrlllil'os do sol e da luz -- como dos da razao.

E, como etas nasceram no interior, SUI movimcnlo natural del'eri:1 represen-

l;\r 11111I'elor de rccorda~-;lo. de illlcrioriz:t~'ao, :l<l im'l's Ill' 1I111:1permallellte

fllg:! par:I fora, lima cOllllcna<;~o it eXlerioridade. 11m elerno apelo para os

olhos 1l1lS,

1\ 'I' CSII' IllOlil'o. as cllcgori:ls de 'illlagells elllk'gcll:ls I' iIlLIg"IlS ('xI"gcn:ls,

,\ prodll<;:IO massiva de illl:lgclls dirige-se aos 1l0SS0S ,"hos 'Ille progrc

Sil':llllellte se transform:llll em receptadores de superficies plallas, Uma 1'(';'

'IIII' I'las sc dirigclll aos 1l0SS0S ollllls e des se tOrll:lm vieiados ('Ill hidilllell

siollalid:ll!cS, desaparecem para des as profulldidades, Passallllls a co-produ-

zir, a partir da "imago" primordial, imagens mortas, sem illterioridade e sem

I'isecr:didade, scm dilllellsiics alCm da casca, selll vitia illtnior. POI' medo da

Camila
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morte 0 homem produziu imagens, E as imagens produzidas rara afastar eesquecer a morte acaharam por Iraze-Ia para mais perlo e por :lIllecir:i-la,aClbaram pI)r lrazer sua materialidade vazia, a m:iscara de cera de unla imago,Segundo Diclmar Kamrer, "Contra 0 mcdo da morte s(i temos a chance defazer lllna imagem, Por isso eSlao presos as imagens os de<c ios de imortali-dade, Por isso, a orbita do imaginario csta ligada na etcrnidade, E por isso,estando vivos, sofremos 0 destino de j:i estarmos mOrlos," (Kamper, 1994:9),

() defront:lr-se com a morte Irouxe ao homcll\ a inVl:n<;:\Oda cullura, 0

,kscll\'olvimento de mlilldos e fOrillaS paraklos, flcciol1ais, cOlH.luziu-o :isregras de jogos illlaginativos e aos espa<;os e tempos do It',dico, nos 'Iuais,com os 'Juais c para os 'Juais eSle mcsmo homem passou a vivcr, reinvenlan-do-se a si lllesmo, E os seres 'Jue ele eria nesta realidade p:IL1kl:l rn:ehelll talinveslimento de cren<;a 'ille paSS:\lll a delnminar meSlllO a vi.!:1 do lIoll1l'm,Assim,o mUl1do da eultura posslli csta caraetcristica: eriar snes quc alllaillSl,hrc os eriadores, A lIistliria desla :lIl1a<;aocomCl;a tal\'('z, ,'Ill S,'IISprillll',rdios,soh formas lidllieas, ol1ipotentes e sem leis (ef. COlllrna,2()(12 e I,opcz-Pcdr:lZza, 11)1)7), Dcpois sob a form:1 de deuses jllsticciros c rq'aradorcs (:L

Ifillman, 1992), Postcriormcnle se CXpal1delll soli formas de il1s1:\I1eiaspollticas de domina<;'~o e dominadorcs dc todos os lipos, Por 11111,lodos alniral11p:lssagcmpara as imagens, rcprcscnta<;()cs de rcpITscllla<;'l-,es, illlslra<;'lles d,'illlslra<;()es, realidades C1d:1 vez mais dislantes, ahstratas e descarlladas deintcrioridades, vazias ou oeas, fantasmas de apari<;ao SLlhita e efemera, 'Jueserao succssivamente substituidos ror mais fantasmas, como uma imagemsueede a OUW1,infinitamente, sem nunca kvar a algo 'Jue n~o seja tamhcmuma imagem, Ilans Belting expressa este proeesso com lapidar concisao:"hoie as imagens convidam os vivos a fuga do corro" (Belling 2001: 14:1),

!. cllmplcxa rela<;~o das inngens com a nlOrtc mnccc :lssim IIm:1atel1<;ao'I"" 11'111 sido rccalcad:1 tal1to pclos Illeios de c0I11l111ica~';\o\'isuais 'Juantorelos eSllldos e reOeXl)CS sobre os mesmos, 5e a nllltiva<;ao primeira daprodll<;'ao dc imagel1s foi a tCIIlativa dc fllgir da morte, est:1 t('lll:lIiva, rCl'clidac~;lIlsti\';U\H'IIlC Sl" fCz evoei-Ia, reu 'nlando-a n:\o mais elll cSl'a<;'os dc cultose rit uais, mas em lodos os espa<;os e tempos da vida humana, I:Iusser (199H)c1assifica esta illvasividade onipresellte como "a lerceira grande cat;islrofe dolIolllell1", dcpois da 'llIe,b do arhorlcola 'ille 0 Icvoll ao 1l011l:lllismo e d,'-pois do asscntamellto do Illilllade qlle 0 Icvoll :'1posse da terra e al. cliitivo dcseus frutos, Na terceira cat:istrofe, os espa<;os do aconchcgo, da protc<;ao e dorccolhimento ficam inabitaveis por cstarem rerfurados e permitircm a enlra-da illvasiva do "fllrac~o damidia",

I\ssim, 0 desconfor!o de (erillOS 'Iue vivcr sem a interioridadc c 0 recolhi-

Illell\O, sem 0 aconchego das coisas e pessoas pnlxilllaS, nos cOllfronta per-Illallelltemellte com 0 distalltc, 0 eSIr:ll1ho, 0 desconhecido, vale dizer, 0olilro lado da vida, tao pnlximo das amea<;as c da Illor!.e imillelHe, marca dccpocas pregressas, As imagens (e aqlli nao apenas as imagens visuais, mastodas a'lliclas imagens planas ou cOllstrutoras de sllperficies e superficialida-des) desafiam insistentemelllC c reiteradamellte nosso medo, pois evocamsuas origens obscuras, suas rafzes na noite e no insond:ivel. E toda tentativade t razer a imagem para 0 rei no ahsollilo da Iliz nada mais reprcsentani queo ITc:d'llie e a oClllta<;ao de sell lado somhrio, I~,\lI:IIHO m;lis se ocultar sllas••mhra, mais se a evocad,

I ':m sell percllrso de illtcrioriza~'ao e exterioriz:I<;';\O, via 'ille deveria Sl'l'Il:ltllr:dmente de l11aodllpla, as imagells lelll apellas lima ehallce de alcan<;ar 0xlrllw da vida: ')lIando elas hllSe;lI111l0S oillos de sells espeetadores a profull-(Iidade pndida, P,.r iss' I,procur;lIl1'lla illcessallle e desespcradamellle, I': p(.risso hllscal11 ohsessi\'a e ahllsivamenle pelos olhos hllmallos, I:i n~o s~o l.Sldill IS'llIt' hllscam as illlagells, como ('Ill eras passadas CI11(lliC ;'aras imag"llsn:1I11 avidanlt'ntc' 11lIscad:ls pelos 1I0SS0Solllos, em livros, em paredes, "Ill'JlIadros, cm afn:scos, em caVerJlas, Com a reprodlilihilidade ocorre portalltoa primeira inversao: as imagens c cille nos procuram,

A partir de enlao, (Illando clas enconlram nossos olhos e neles se ani-111:1111,ocone a segllnda invcrs:lo: como as imagens vivem dc llOSSOSolllos,dcixalllOS de scr tamhcm a'llIelcs 'ille \'eem as imagens, pois a maior raneIlelas t' ilwisivcl (' a maior parte em nl',s t' IOl'l1ada artilici:dlllellte visivcl,selld •• elas 'ille 1l0S veem, alltes 'ille as vcj:1I110S,<JlIalldo acrcdil:lmos 'Iue as\'('n1<'s,(' pOHllie clas j;i nos viram h:i telllpos, j:i rOllharam a vida e a vontadedc 1l0SS0S olhos e ja os programar:1111 1':lra aercditar eSlan'1ll vClldo, As chaIII:Illas slllidagells de Illcrcado e as Pcs'lliisas dcnlos('("piLas COlllprO\':II11eSlcfel1<->Il1enodia apl"s dia, ESlamos el11 lal medida radiografados pclos oillospenet ranlemente cegos da ,lcmoscopia 'l"e nada mais em nl',s tem 0 direitod,' csistir inn"gnito, A fon;;1 de nOSSl:~ olllos, como janebs da alma 'JlleI'ersrrll 1:1III e constroem vinclilos COlll:iS profulldczas dll olltro, foi dcfilliti-\'alllellte desalivad;l. P:lra nos ohservar e eS'llIadrillhar minllciosamente, adl'moscopia 1l0S transforma lamhcm em imagens (seja soh a forma de gr~-IICos e diagramas, seja em nlll11eros c eSlatislieas), illwgens selll 50mbras(C0I110as imagens de morros), semlados obscuws, sem interroga<;()es e selll

Camila
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":\ Ill<,dc1'llida,k desde l.e"'I:lrd" d:1 \'illci C' " ":,J:igi" d" l'sl'c1il" d:lilum:lIlidade, F.la rcgiSlwu SU:ISCXpcriCIlCi:1Ssoilre slllll'rfieies e, pro\'a'\,<,llllelltc p"r c:lusa da cscd,ld:l dc I" ,der, cOllsidero" 1I:11111':lllllIlascpar:l~':io :dt:IIllCllle artifi,-i:d do 1l11111doCill rc:did,lde c il1l:lgCIII. r-I.IS 'lu:II"loc,te cfeito de Uilla \""11ade se dcsfaz, pcnlc"sc '"11:1"riCllla\':lO fUlld:l'IIl<'11t:1I. () 1I11111doCOIIIl' illl.lgl'llleolll:1 difl'lcllI:a ,I","ptici de ,igllilic\lII'(' ~.Igilitil·;lllll· ,!I'.-,Il[\'{' St' <:111 IIIlLlI.ll.i~dlidl' do ~,l'II[jdl) hill illlJ1C',C ;lcl';

1llllC1S, [illS llll;\is neSlc C;P;11 Sl' Ilcpllsil:lClll\ ']lI:\S(' (llt!.I:, ;l~ ('SIH'r:lll"';I~,,

1I1>\':1SdOlTS," (I,-ampcr, 11)'l~:22)

xC :Ix !ll'XXllaS CIll illugel1s das imagclls, slIperficics das superficio, Corpos dcilllagel1s e imagens dc corpos ja l1ao sc distingucm soh 0 impcrativo COI11-I'IIIsI'lrio da reprodulibilidade, abrindo caminho para IIllla oulra ordelll so-cial. 1\ Ilova sociedade Ilao mais vive de pessoas, feitas de cllrp"s e Villculos,da se susleilla sobre os pilares de uma inlillil:\ "serial imagery", IlIlla sClliicn-ci:1 illlllld:ivel de imagells, sempre idcnlicas, () admir:ivel e descj:ivl'1 j:i Ilao 0Illais a difLTcll\'a, mas a absllltila sClllelh:IIl\'a, N:lo Ill:tis a c:tp:lcill:tde cri:lliva e:td:'1'laliv:t0 0 (Iue se so!>ress:ti,m:ts Silll a Ilccessidade dc pCrlcllcillll.:nlll, Snau'il", ser :Idcplll, sn :tdapl:td", 0 nll"" ctr:iter juvcllil j:i n:io c' 1I1:lix alcgre,1lll'Illc d"Il1l ,Iidl 'r CI'1l11' I' plTl'1 ,nizara Ikllj:lIllill (I ')H~), Na "sl'rial illlagn)'"H i"1 ,," 11:111S(' 1"'I'II1ite 1I:11IS('I' IlIlla illl:lg"lll, 11:1" h:1 ('xl,a\'llx 1':lr:t ax Il:lll'illl:lg"IIS, 1I{'lll 11I('S1l1l1I'"r xilllltl:I\':IO, 11CIII11l('x1l1l1Ilax fr:I\"',{'x I' fn'sias da,'i":1 illlag('111. () "sclllinH'lllO dC-llI')S" ("Wir-( ;l'fiild") descril" pili' Prosx,I:io cultivado pela propaganda nazi-faxcisla, volta a alu:lI' com pOlcncia de-\':I:,f:ldor:I, dl'sla kila n:lo COlllra II oulrll, 11I:ISClllllra ax prllflllHkzas do si1110111", pois 0 gral1de llull'll il1descj:h'e1 ex!:! denllo dc si IlleSllll', 0 aillirospeu;:io, 0 llihar para 0 fundo dc si Illl'SIllO, 1\ so('il'dadc il11agl'Iica n:i":tlln' I'SI1:I\'OSpara as (I 1I11plexid:llleS Cnigl'lll'ias III, ('( 11'1'11,I'ara ax {'I 111)1II,'i":" I{'s,1111.111"1'{'l:lx iIlSi:;II'11l ('l1ll'1l11'lgir ""Ill" "lfl'ICII~':I:" {'I111111111:11{';IXI" 1"JlII:IS,(111111'IH'('lIliaridadcs, C'"III' ,illgltlarid:llk:;, Il:i, I'O,,"lll,Il:ll'ax:,:lgt'IIII':lla aXI'l'Il'dad(' illlagc'lica llIlll'xl:igio illll'l'IlIcdi:trio, Irazidll P(-I:I revllIII\':lll il1dllX--11I:t1,,'Ill I'rcpar:I\':l, I pa ra a ITcsn'Il1 C r:t rc h\':11 , dl' CIIrpo: a xl lI:in I:IIIe l'llll·lllIicl.

Gllllpll dc pmflilldidac!e, E (Iuandu IlCnhllma pmflilldidadc C 11Iais possivel,entao tamDcm os olhos j'" sao sup0rflllos,

Tais quais us tit:is vivcram das re!:tt;iics sociais Sl:m leis llas sociedadcsprimilivas; !:Iis quais liS deuscs rccchcram Sell podcr dllS povos e das pcssllastlUC criaram uma orclem social com leis e justic;:a; tais quais llS dcspotas cxer-cem seu dcspotislll0 alimentado pcla passividade c pelo dcsfalccimento Sl"cial dllS povos; !:Iis '1uais os estadlls, nat;I)l's c instituil/Il'S pol[licax sc suSlcn,lallll'da par:t1isi:t do excrcicio de ci,Lidal1i:l; 1:1l11hl'lll aSSil1IVi""111 as imagenxdllS 1llllllX cXlenuados dlls 'JIll' vccnl. Com irrcful:i\'cl r:IZ:I" diagnoslic:1Diclmar I'amper "0 pa<!ecilllcllIll d"s olhllS" ('''Ill'' pril1cipal ('llfcrmid:I"1'du llUXS" tcmpo, Assim a dcfille:

(JU:111l0 IIl:lis medo, t:11111I mais illlagcllx, i\qlli prillcipi:1 " :Ixxilll cl1:lIlla,du "XCgUl1dll c:lpilLtio Ila dominat;ao do mcdo" (I'ampcr, 199·1), '\qui prin-cipia a rcprodlltibilidadc infinita e incans:lvcl das illlagcns, "ad Pa\\'ck j:!apl Jlllar:t 0 fcnl)llleno da CI'CSCClllCprt Jiifcr:lt;:ll I d:lx im:lgcl1s elll 19(J.lcm S('UnULin'I"!),ls oplisl'hc I.ciLdln, (;ntlldziige ,'il1n ill'llI'll ":p"('hc"(r\ CLI I"plicl.hllld:lII1C1ll()X dc 1I111:llIllI'a 0l'uca), Pa\Vck (1'l(),):I)) f:tI:1 Clll "lrillnfu d"Illl1u", '1I1C apenas "encuntra paralelo no tliUllfo que a raz:io fcSlejou nosSCCltiOS 17 e I H", 1\ comparat;ao de Pa\\'ck t:1I1I1>CI11ahord:1 a "el1Chenle deilllagellx" :'1qll:tllI:io currl'spollde 11111illCl'eIIlCIIIII da capa('id,lde dc vis:!1lIi11111:111.1.

1\ CIIlIlpllls:i1l para a rcprodlllil>i1idadc (Ol1dllZ:t 11I11:\il1lla<;:io dc supcrfi-l'ies e:t III11acrcsccnre penh das profundid:Hkx,' pmfIIlHkz:IX, m:lrcas illcon,flllllliv"ix C illdck\'Cix dll corpu, I\xsilll XllrtllllllCll1 uS ('orpux, Ila perda dadilllells:lo dc pmfundidade, E pll1'que SIiCUlllbenl os corplls, lransformam-

( lrll I'lra 1111"enlrq~:tllll)S:'1 rrCn\':IIJlIC xcri:lllll'S lIS x('nllllr('s deSI:t lerr:t,dexl(' p1:1I1CI:1.Um gr:tnde C groxseiro cng:tno, Sao OS insclos (lUC dOl11inar:lIl1e d"lllin:ll11 boje C sCl11pre II dexlino d:t 1)('(lliena lena, I; (or:tm ell'S q"eIllnll','('r:lIll II n1l,dd" 1':t1':1 ax CIlIlIlIllid,ldc:; 11I11ll:lllax, xII!>rl'l"d" 1111 SIl:lSill"ll 'lliZ:ll;:l(l de grandcs m:tsxas de parlicil':II11CS, I'asxallh 'x:t fer I':trlicipac;:ionlilll,ril:lria nesra "ocil'llade enll'lIllica (llI:lIldo nlls prliprios COlllC~'aI110s al'Il1111'rccndl'l' e configuraI' 110xs:1prt"11I'ia \'ida COI11OinxcIlls, ('Ill rl'l11l1nida-dl'x d" 11Iillll-l('S, ('llm II ICIlII'(l ('lllllillizad", rllill (l cxpa~'" cnloilli/:tdll, ISllIsigllilir:t (I'll' 11101'l't'1l 0 individllo. ":nl SCII lug:tr surge" "di\'iduo" Oll 0"di"ididllo" (Iue scria lima ollfra formlllac;ao para 0 proCeSSO de el1tonliza\'ao,(;iil1lbl'l' Allders j:i apontara p:lra 0 naxcimelllo do "dil'isum" Cill IlIg:tr do"indi\'iduum", Igualmente "amper sinaliz:t 0 surgimcnto do "dividuum",1\ ulllpia do ser inlciro, tllle nao pode ser dilaeerado, (ille nao se dividc,

Camila
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Camila
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Page 6: A Era Da Iconofagia Cap 1

~':IOcom 0 ecossistema amhielltal ou COlllllllicacional sera slIpcrfllla, pois asociedaJe da imageOl c regida pela infeliz lIillfa Eco, rcjeitada pilr Narciso e'ille apenas n:pete 0 qlle ouve, mas tao somente as Liltimas silaoas, os Lilli-nH1S SOIlS. Se a Ecologia pleiteia uma integra<;ao entre homem e meio amoi-elite, cia pressupoe a existcncia de homens e coisas (Iue ja nao mais existernou estao amea<;adas. () rnundo das 'coisas' tornou-se mundo das "nao-coisas" (Flusscr). E das pcssoas foram feilas imagcns que repmduzel11 ou-Iras illlagens de pcs50as, pOrtanlo, ecos das illlagcns. 1\ssim, to(1a Ecologia,eSllido do mcio ambienle (incillindo, sem duvida, 0 meio amhiente (Oll1l1-nicacional) torna-se para esta sociedade primeiramenle descollfortavcl e de·pois ohsoleta. Em seu lugar imp()(;-se lima I\co·[,ogia, Oll 0 estudo dos,·kiIOS das illl:lgcns elll ceo. FSla lcria como tarefa ocupar-sc da Ic'lgica da"sni:d il1lagny socicly",profclizada pda "1\1:1ril)'11 l\!l'"l'!IC" ,k 1\ Ill.)' \X/arhol;a da cahnia :1Il:dis:lr SCliS dcsdohralllt'llIoS C scus possivcis cl'lLir;os.

HYliia Illlafuku j:i Illcnciol1ara "Ill Sao Paulo elll 2(1l1.1,Cllll..lla agr:Hlavclc illsligallie "(;r:II11:ilica do (:olidiallo"/', a possihilid:1l1c de .0011a"ccologia"COlllO eSludo dos ecos. Trala-sc de fascillanle idcia de In e«IS denIm de"oikos", elll paisagem de harmtlllico di:ilogo, em dUelo. Enlrelanlo, Ir:lta-se:lIlIli, na socicdade illlag(:lica, de cOllsidcrarnws os riscos de lima OUlra,0posla eOllngura~'ao: ados ecos SClll "oilws", lalvel'. nlcsnlo dos ccos CIIII'.lInr:1 cOlltra 0 "oilws". 1':111I)llIr:IS l':davras,lr:lla-S(' de illlagclIs l'Il1l'rolik·r:I~':llI ,kscllfrcada qlle provocam a rarcra~'ao dos corpos c SCli alllhiclIlC, SCIll11l'1I111llna cOllsidcnl<;ao ao cOllccilO de aUlo,suslenlahilidade. 1\ I<'lgica dasocil'lladc illl:lgl'lica pellsa a curio (. CUrlissilllO prazo, 0 pr:lzo da Ldlilllal"'lll'li~':ll', da I'dlillla rcpnlllll~':ll', 'lliC j:i cslad l,hsl)lcla allies IllCSlllll d., lcrInil10 de sua curia vigl:ncia,

sucumbiu com a dissemina<;ao das sociedadcs de insetos hlllll:1110S. 1\ pri-Illcira lei dcsla lIova sociedade reza: c:lda hOlllellll' p:lrte ilH:olJlplcla do lodo,cada pesso:1 deve se aler tao SOlllenle a sua fun<;ao para (JlIe 0 lodo funcione."Entomon" '1uer dizer, em grego, Jivididu, parlido. Assim, a sociedadecntomica lrouxe consign tambem 0 projeto da reprodutioilidade, repartindoindividllos, dilacerando existcncias e corpas, aceler:lndo fluxos, reduzinJocOlllpkxidades, dividindo e especializando 0 Irabalho, introdllzindo a repe-li<;ao exausliva de gestos, de Illovimentos, de padlClcs, de aliludcs, dt: mode-los, de idcias. Reprodu<;iies em serie, por simularem:l anlui·texlura, a tatilidadearcaica dos riluais, podem compensar 0 sentilllento de Sel'lllOS apcnas tomosisolados de uma colc<;ao, de sermos scmpre incomplctlls c selllprc apenasc!os de radeias, de snmos 0 dClllC dc ullla cngrcnagclll, d(' snlllos SOIllClllea Ilossa pn')pria fUIl<;ao. 1\ sociedade l'I11lllllicl C, assilll, llill Ill"canisillo fun-CiOIl:disl:I, ullla sociedade maquillica, e sua somhra cOIlIIKIlS:II,'lria somenlepOlk florescer por meio da conslrllc;ao de imagells C ('l'lpi:IS de illlag('lls.1\qni, a partir dessa somora, surge uma sociedade paralcla, a socicdadeimagerica, ° reverso da moeda da sociedade enttlmica, (Iue oferecc imageIll decomplerude, de individu:didade, de heleZ:l, de realiza<;ao, de perfci<;ao, illla-gens de horizoilles, de fUIUl'llS, dc safdas, de SOIl!tOS, dc projetos. 1\s ima-g(,IlS, IlO cnlalllll, lelll de cllmprir a flln~·ao SUhSliluliva dc lodas as nll'dliplasdinll'ns.'les pndidas. I'or iss", S:IOl'lllldenadas:\ rCpl'lldlilihilid.\l1c descnfrc-ada, pois se a sociedade ent()lllica s.·) se mantem ()uando elll funcionamenlo,a sllciedade in1:lgclica s(>se suslenta ellquanto produz imagcns C('ll1pensat(·)rias.

(:"111 :1 ('ons,did:I~·:I" da sllcinlade illlagclica, elllLI ('Ill Ct'ILI lima (llilraligllra de lipologia arcaica: aligura do "cco"s. i\ repl'lldillihilid:ld(' possihili-tada pelos recursos tccnicos obedcce a 11Illa I<'lgica do eco, .1:1rcperic;ao dassilabas finais, dos sons finais, das illlpressiies finais c superliciais. Nao h:iIllemliria profund:l, ha apenas Iclllhr:ln<;as epidcrmiC:ls. 1\SSilll l:lI11bclll alu-am as series de imagens reproduzidas: repelem-se suas superficies, sem me-1l11')rias viscnais. 1\parelllcmellle igllais, Illas no fundo c de I'crdade, ja ser('velanll'ililll:\das pcb fadiga da im:lgem-Illac, pois j:i n:lo !t:i llJ:lis resquicillsdas coisas, :Ipellas 0 cco de suas sllperficies. A deslllellll'lria d:1 soci.edadelllC'di:il Ira Iliio lem olilro I"und:llllcillo que nao 0 principii) d:1 I\co-I.ogi:l.

Sc iSlo dc hlo llCOlTe, e11l:1o j:i 11:10 faz selllid" '1l1al'llln lelllativa deI~rologia, pllis j:i nail podc haver Illais qualqucr "oikos", 'plal(llin preocupa-

Iksde 'IU(' passalllos da sllcicd:lde elll(lmica para a sociedade imagclica,Ulil lllllro fcn'llllenll pas sou a se lOrnar Illais evidenlc, 0 fel](lllleno daicollofagia, a devora<;ao de illlagens, jUlll:llllente com a vora :idade por im:l-gens e a gul:l das pn-)prias illlagells. Por medo d:l morte prillcipialllos, no:dl'llr('(:n da Ill,miniza~'a(), a prodllzir illlagclls ,I.,s 1l]()rloS. P"r 1'1-:.11)dasilnagclIs da Illorle passalllos a acclerar a produ<;ao das illlagells, 110 i'lIl1ito dcal:lstar ou recalcar a vivl:llci:l da pn>pria Illorlc. Tais imagens elll pl'lllifera<;ao('xacerbada nos rCllletcralll aimla Illais ils reeorda<;()es da morle. Para (ugir aesse deslillo, as illlagens passaram a se superticializar de tal forma que recor-

Camila
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Camila
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Page 7: A Era Da Iconofagia Cap 1

dLllll:io S'JlllLllle outras illlagells, IguallllLlllL 0 1'rou:dimelllo da allim:H;ao

acekrada alll1eja a mesilla fuga, pm urn lado peb allim:H;aO, illlagem do

movimento, pm outro pcb acelcrac;:ao, impedilivo da illtrospecc;:ao, Assim,

ao consumir imagens, ja nao as consumimos por sua "ful\c;:ao jancla"

(Kamper), mas pela sua "func;:ao biornbo" (Flusser), Ao invcs de remeter ao

mundo e as coisas, elas passam a blOtluear seu acesso, remetendo apel\as ao

rcpcwlrio ou repositllrio das proprias imagens,Assill1, h:i lempo as imagclls proeedell1 dc outras imagclls, se originam

.1:1dLvoLl~"lo de outras illl'lgens, Teriamos ai 0 prillll"iro dcgr:lu d:l icollofagi:1.

As imagcns que povoam nossos mcios imagcticos se cOl\slitucll1, CIIl grande

parlL, de ccos, rcpctic;:oes C rcproduC;:'lcs dc outras ill1agLns, a p:lrlir do consu-

IlHl das illl:IW'IlS !'ITscllles 110 grallde reposit,"ri",() segul\do degrau da ieollofagi,' surgc qU:IIH!" 11,'IS!lIl111:UlllS COIlll'(;a

m, IS:l corlsuillir as imagcl\s, Nao mais :IS COiS:IS,mas Sl'llS :lIributos illl:lgcticos

l; que sao cOllsumid"s, I~tal1lbl'm Il:to se 11':11:1dL IKIH'lr:lr llas iln:lgcl\s, fall'!'

uso ,k SU:I "fIJll~':t'1 j:ulel:t", parall'ls Iralls!'"l'Iarlll"S 1'al';\ :tlt'lll da illlagclIl.

Tr:lta-se de ektiv:ullellte COllsumir SU:l cpidLrll1e, SU:l supertkie c superticiali-

,L'dL' Ora, "col\sull1ir" proccde do Lilim "col\sumere", com os sigl\ific:ldos

dc' COIllCt', devorar", "dcslruir, de1>ilil:lr', 'fa/er lIlorrl'l', cSlclluar', (:om t:lis

possihilidadcs de sigllifieados, 0 cOllceito dc 'C"IISIIl11') ,LIS inlagcns' e per,

fcilo para a clueidac;:ao da icol\of:lgi:1. Consumill1Os imagclls ern tod:ls as suas

fOI'lIl:IS: IllarC:IS, modas griks, lendcllcias, atribulos, adjclivos, figur:ls, ido-

los, simbolos, Icolles, !ogom:lrC:Is, Ale mcsmo a cOlllida est:! selldo

desllt:lll'I'i:tlizad:I1'or meio d:1S imagl'lIs, cada vel Ilt:lis cco, cada vcz, IllellOS

"oikos", cada vel menos se c,)melll :tlimelllos, cul:\ v,'z, mais se COIllCIll

im:lgcns de :t1illlCnlos (embal:tgells, cores, rOrlll:lloS, tam:lllhos, padl'<lcs de

a!iIlH'IIlOS), () SOCi,'I!ogO chilcIlll Thom:is f\\"uli:lIl 0 fOl'lllula com genial

sill II" i•.idadc, j:i no Ii lul" de se II pl'( I' Il'II0 Iin, ,: "I j (IJI/.flll//IJ II/I' (IJ/I.i'III//I''' ( ( )

<:<H1SllIll() IlIC C"IlS"Il1L:),TalllJ,cll1l'Crlellcc aCSll' cCILi1'illll :l<h'l'lll0 d" sllh1'l'!H'SO l' ,Ia "J,esidadc

Illlhkrada ('(11110 d'lcIH,:a a ser trauda, lima p:t1"logiza~';i" <II' est ados e

LSlcticas corporais em outras CI'0CIS cOllsiderados :lIC meSnH) descjaveis e

csteticamcnte agr:lclaveis, Primeir:lmentc considcram-se cmpos acima do peso

nao compativeis com as imagens-padrlies, Segllndll, cles (llgem :\S leis da

produc;:ao cm scrie, seus tamanhos Il1cdios nao san descj:iveis en'luanlo

imagem, () nllll1do rC:lI, com diversid:ldc c varicdade lorna-sc ohso!cto (d,Anders),

lima \'l'Z, lille ill1:lgens e c, Irl'0s pcrtencem a calcgl HilS distinlas, as sllper-

ficies c slll'erlicia!idadcs n:to possuem os nutrienrcs nccess:irios par:l a vida

d"s COI'I'0S' f\lcsmo assinl, clas c1ab"ram uma cliciLllle estralcgi;1 de scdu~~:\o

c convencimento p:lr:l Clue cSles se tr:lnsformem crn imagens, primeir:lmente

oferLcendo-lhes :llimenws contaminados de imagens e depois tao somente

inl:lgens de alimentos, Com isto, inverte-se mais uma vez a dire<;:ao do pro-

CLSSO, Uma vel tr:lnsformados em im:lgens de eorpos, sao estes {Iue passam

ascI' devorados, cO!1Sumidos pclas imagcns, Telllos a'lui 0 pr,')xil1lo degrall

da iconofagia, Nesta etapa san as il1l:lgens que devoram os corl'0s,

1'''1 sl'lral:1I .11'11111alI'illlll"da ('(dlll1':1 hllillalla illlcivir s"I'II' a vitia s"ci:tI

l' hi, >Iisica do pl'l',prio Ill'IIlt'lll, todos os prodlilos .I" illlagill:'u'io hunl:ln"

SC,llpl'l'possuir:ulllIIIl:1 :Iscendl'ncia sllhlT a'luclcs illll'l'I'alivos do c"rpo 'llIl'

,1"\'1'111 Sl'l' d"llH'sticad"s, 1l1l"lilicad"s '"1 alt' slll'1'illlid"s, I'"LIs 1'cgras .1:1

pl,"I'1'i'l ('(dlura, ( ) t'Xl'l1lplo da eklividade, :'IS\T/CS dl':I111:'uica, dL:sl,'principio

"kl'l'Ccm os cSludos da Illedicina psic"ssolll:'lIica 'I'll' comprovam a eXiSIl:n-

ci:1 <ll' faws culturais COl1l0 pOlcnciais agl'ntcs dc' pal"logias, sOlll:'uicas Oll

psicossom:iticas, Portanto, lrala-se de 'luest:\o indiscutivel a illll'l'venc;::\" lk

IT:t1idadL's culturais sohre a vida hiossocial dos indil'idllos, Fdgar I\lmin

clllcida a din:imica da "Ilo,)sfera" c'lm sua asccndcncia so1>re ,)S IHllllens 'IU"

:1 cri:11I1. Dil Morill llue "ahslra<;lles, conceilos, teorias pOCk1l1 ad'lllirir Sl'[,

p,,,ll'I', soherania, gl<'lria, (, ..) Assim como somos possuidos I'cI'IS dellses

'1'1<' l"ISSllillll'S, SI)llll'S 1",sslIi,II's I'L'I:ls idt'i:IS 'III<' I'IISSllllll"S," I;" filial,

111<'1111',I'crglllll;I:1 sL'guir: "C:""Il'I'"dL' :IC""lnTr dl' darllll)S \'itla a SL'rL'S.II'

,'sl,irilo, '!"e Ihcs "(erl'(;am,,s dcpois nossas vidas e '11Il' l'Ics 'l<'al"'11I pOI' sc

:'1'''' Il'I':1I dclas)" (f\ Imill, ! ejl)H: I S,I, S)l'roJ,klll:ilicl, coni lido, sc :Iprcsellia a CITSCCllIe illdq,elldl'ncia L alllo-

slilicil'IICi:1 'ille as sociedades hUlllallas Vl:11lcOllferindo :\S criac;:e-)es do imagi-

n:i1'il I politico e IllClli:itico, :'1prolifcra<;:\o allle")nol1la das imagells 'luL se 1>as-

Llill a si l1leSl1las, n:to mais se ofcrecendo COl1l0 "j:lnclas" para 0 l1lundo,

sen:te, como janclas para si pn')prias, (hi seia, nao apen:ls :lscclldcnles sohre

os hOIIlt'IIS, Illas agora auto ..rcfcrentcs, Tal fcnllll1eno de allto-rd":rl'ncia inl-

I'li,'a 1'11111111;\suprcssao do nllllHlo Clll 1:lvor das rLprL'SL'lItac;:'-)L's hidilllcilsio-

ILlis l'lll circuil" fechado, Oil scia, as imagcns sc referclIl scmp1'L' c apl'nas a

11I1:lg1.'1lS,

;\ssi"" 'I 'Iu:,dro 'Iue hoic Sl' dcsc"rtina di:lll1e ,k IIlISSOS "Ihos aSSllillC

1'1'<'I)orc;:,-)es inteiramellte distintas d:uluelc das culturas convcncionais e seus

1'1'1,('('sse IS d,' aClIlturac;::\o de I hOl1lelll, grac;:as;\ cscala el1llllle eIC(lIT1'nle gra~'as

Camila
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Camila
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Page 8: A Era Da Iconofagia Cap 1

;j aut')(lOlllia (IUC ad(Juiriram, 1\ cscala Clll (IUC alualll as illl;lgens Illedi;ilicasno mundo de hoje nao sc pode Illais comp;lrar COIll SlI:1dillH:llsao c prcselH;ana era das imagcns quc se prcstavam ao culto ncm sc compara tambern coma [Olsa exercida pcla imagcm artislicl (cr, Helling, 1<)98), I\s imagcns mcdi,iticlspossLlcm 11111cnormc podcr (conftrido pcla rcprodutibilidade) e atingcmLima capilaridadc c pcnctra~ao nunca sonhadas antcriormcntc, Assim, tantomaior sua for~a diantc dc lIm publico cada VC7.mais amp!o, dc individllosscriados, ou de divididllos seriados, nivcbdos por 1111)rcpertt')rio cada vezm:tis silllplificldo e sliperficial, lr:llls[orm:ldos CITScentcl11elllC enl existcnciasem digie, ou scja, em puras imagcns, E 'Iuanto maior a sua for~a, tanlo maiscbs podcm sofrcr do mal da aUIO-rcfcrcncia, maior a sua soberania c suasoherba dianlc do mundo,

1"'lo ('SpdiJ:II111'llto C alim('ntar com illlagens idi'nticas <HI SillliLlres, 1\lilllell-tar pOl' cspclhalllcnto c 0 principio da cndogamia intrlnseea das serics, lJlllaVCI. (\ue i:i sc descartamm as possibilidades conSlflllivas de 11111novo "oikos",Sl') os ceos cOllferem legitimidade its imagcns ,\ue nos sao impost asinvasivamcnte, A ra7.ao ecolltlmica <jue criou a mial ifl/{!W"'Y JOClI.'!y para ampliara cscda dos ncglkios, re<jllcr retorno tambem cm escala ampliada, 1\0 produ-zir imagcns cm series, precisou produ7.ir receptores tambcm em series, Parapl'llduzi-Ios serialmcnte precisoll antes transform:i-Ios em imagcns, AoIr:lnsfol'lll;i-ios ('m imagcns, pro('uroll se dcsfazer dos cscolllbros e dctrilosrl'sislcnles, que nao cabiam no circuito [echado das imagens espclhadas cmf"l'I11a de labirilltll. I( nos labirin(()s das sl'ries, na caListrofe do sempre igual,SIIl'llIllbin)os todos os dias elll nossa corporcidadc '1Ul' insist" l' rcsist("

(; linl hcr 1\ Ilders (I <)95:25) chanla de "cIIlib:dismo P,')s-civilizatc')rio" 0(,sl;igio corrcspondcnte ~ tcrceir:1 Revo!tIl;:10 Industri:d 'IlIC, IH'g:lIldo Kanl'JlI:lIldo alll'llla,'" (Jill' nellllllm hOIlH'm d""eria ser lIsado ,,"n}(> Illcio 1111

(nramcilla, 1r:lllsforlll:HI emlllall'ria l)ful:\ oumateria prima (/{oh.rloj!j,I:alaainda /\nders (1995:86) de uma "torrente de mUl1do exterior" (I :iIlJliiill/(,//

1'011/IJlJJI'/11l'ell) '1"e invade 0 homem, desprivali/.alHII' sell cspa<;o de indivi-dllalidade,

A rigor, eSla "!orrellte de mlll1do exterior" se expressa na avalanche d:)simagens ex(')gcnas 'I"e nos assediam em lodos os cspa~os e tempos, apropri-ando-se de nosso eSP;I~O e de nosso tempo de vilb, de nossos mlll1dos deilllni,)J"id:ldes e de nossos rilmos e dllr;l\-'-)"S ,'it;lis, Cedclldo :10 :Issedio, elllprilllCiro 11I!~,lr l1'lS tr,ll1sforlll:llllos elll illl:lgens, sncs Sl'll1 illlniorid:ld(',selll telllpo, (I'll' OClll':llll 0 CSI':I<;O rci"indicado :'11l'Il:IS PC!.IS slll'('J'nrics,SOIlIOS ohri,I~:ldos:1 "inT 111ll:1ahstr;l~;lo, 11111corpo S('IllI11:11l'ri:l, SCllllllaSS:l,selll ,'olllllle, :I("'IUS feilO de fllllc;iies ahstralas COIllO lr"halho, SIICCSSO,visi-bilid:lde, carreira, profiss:1o, fama, I:,m segllida, an gal1harJllos 0 Jfafm deimagells, passamos a viver taml>cm 0 destino clas series e reprodll~()es, dotempo hiper-:lcelcrado das vcrSC)CS']lIe se so!>rcpl)elll ~s al1tcriorcs, deslillan-do-as ao descarte illlcdiato c j:i se prep:lral1do p:lra 0 :Illto,dcscal'lc, ( ) dcstil10dos corpos-illlagells C 0 do envelhecimento precoce das Ol1d:IS da Illoda, 0.I, >hipn :ltillecilllelllt) (Iue gna Clll'lo-circllito, () mlll1do d:IS illlagells ex(')genasSl) sob revive e se manlcm se for alimclltado por espclhamcnto, E alimentar