A Doutrina Secreta - Vol. I - Cosmogênese

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    A Doutrina SecretaA Síntese da Ciência, Religião e FilosofiaHelena P. Blavatsky

    Autora de “Ísis Sem Véu”

    “Não há Religião mais elevada que a Verdade”

    Vol. I – COSMOGÊNESE

    The Aquarian Theosophist

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    A Doutrina Secreta

    A Síntese da Ciência, Religião e Filosofiade Helena P. Blavatsky (1831-1891)

    Tradução da Edição Original de 1888, conforme aedição fac-similar publicada pela “Theosophy Company”, de

    Los Angeles, em 1925, 1947 e 1982. Tradução de Carlos CardosoAveline, com apoio e revisão de outros associados luso-brasileiros da LUT. 

    Nota Da Edição Luso-BrasileiraA presente tradução é publicada gradualmente, online. A tarefa teve início em 8 demaio de 2012.

    Cada nota do tradutor ao pé de uma página é identificada ao final pelas palavras“(Nota do Tradutor)”. As notas da autora são identificadas com as palavras “(Notade H. P. Blavatsky)”, também ao final.

    São consultadas durante o trabalho diferentes edições da obra em vários idiomas,inclusive a correta edição preparada por Boris de Zirkoff (TPH, Adyar, Índia, 1979). Nas notas ao pé de página, com alguma frequência são dadas informações bibliográficas mais detalhadas, conforme constam na edição de Boris.

    Os interessados em saber mais sobre este projeto editorial e participar dele comotrabalhadores voluntários devem escrever para o email [email protected] .

    Um fragmento do início do Volume II pode ser localizado através do Sumário da Primeira Etapa da Tradução.

    O leitor perceberá que a linguagem com que “A Doutrina Secreta” aborda os processos cósmicos e humanos é complexa e causa perplexidade. Este é o preço a pagar por um processo invisível, mas extraordinário. O estudo da obra ativa novoscircuitos cerebrais e acelera o nascimento individual de uma consciência capaz decompreender diretamente o Cosmos.

    A dificuldade funciona como recurso pedagógico. Serve para garantir que sóentenderemos a obra na medida do mérito que tivermos. E o mérito é dado pelonosso grau de concentração em assuntos universais.

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    A compreensão avança por camadas. Ela depende do ponto a que tivermos chegadona arte de combinar a amplitude ilimitada de horizontes com fatores comoconcentração, desapego em relação a coisas inferiores, e unidirecionalidade interior.Seja qual for o nosso nível de autopreparação, possuiremos a chave para acompreensão do nível correspondente de leitura. Tentando incessantemente, oestudante reúne pouco a pouco a energia necessária e vai alcançando novos níveis decompreensão.

     Não é por acaso que “A Doutrina Secreta” gira em torno de dois conjuntos deversos orientais de grande beleza interior. A religiosidade profunda é poética. Amaior parte dos clássicos da sabedoria eterna expressa a harmonia rítmica etranscendente de tudo o que há. As mitologias e escrituras sagradas de quase todosos povos exemplificam o fato. É correto, portanto, dizer que a vida do universo e avida de cada alma devem ser estudadas através da compreensão poética, embora elas

    não estejam presas a esta linguagem.

    A estrutura básica desta obra-prima da literatura esotérica moderna consiste decomentários a dois conjuntos de versos do Livro das Estâncias de Dzyan. O primeirodeles possui sete Estâncias ou Estrofes.1  O segundo, doze Estâncias, ou, mais

     precisamente, trechos seletos delas. Estas doze estâncias, sem comentários, estão já presentes neste começo de tradução.

    O primeiro conjunto de Estâncias explica a origem do Cosmos: a Cosmogênese é otema do primeiro volume.2 Cada Estância se desdobra em vários Slokas ouconjuntos de dois versos. O segundo conjunto de Estâncias explica a origem do ser

    humano, ou  Antropogênese, que constitui o tema do segundo volume. Assim, aestrutura central da obra gira em torno de dezenove estâncias poéticas, sendo seteapresentadas no primeiro volume, e doze no segundo.

    (CCA)

    000

    1 A palavra estância, sinônimo de estrofe, designa um conjunto de versos que normalmente

     possui um sentido completo. (Nota do Tradutor)2 A edição autêntica e original, que estamos traduzindo, possui dois volumes. A ediçãoadulterada por Annie Besant e publicada no Brasil pela Editora Pensamento apresenta seisvolumes e rompeu não só o conteúdo original, mas também a estrutura oculta enumerológica da obra, que combina os números sete e doze. Para mais detalhes, veja emnossos websites o artigo “O Resgate de ‘A Doutrina Secreta’: Versão Ilegítima da Obra

     Foi Abandonada Em Inglês Mas Ainda Circula em Português”. (Nota do Tradutor) 

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    Sumário

    Da Primeira Etapa da Tradução

    Volume I

    CosmogênesePrefácio da Edição Fac-similar Norte-Americana de 1947 ................... 6

    Prefácio da Autora ................................................................................. 8

    Introdução.............................................................................................. 11

    Proêmio .................................................................................................. 42

    Parte I do Volume IA Evolução Cósmica

    Sete Estâncias do Livro de Dzyan .......................................................... 65

    Estância I - A Noite do Universo ........................................................... 73

    Estância II - A Ideia de Diferenciação .................................................. 88

    Estância III - O Despertar do Cosmos .................................................. 97

    Estância IV - As Hierarquias Setenárias ................................................ 118

    Estância V - Fohat, O Filho das Hierarquias Setenárias ........................ 137

    Estância VI - Nosso Mundo, Seu Crescimento e Desenvolvimento ...... 164

    Algumas Concepções Teosóficas Iniciais eErradas Sobre os Planetas, as Rondas, e o Ser Humano........................ 178

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    Fatos e Explicações Adicionais Sobre os Globos e as Mônadas............ 196

    Estância VI - Continuação .....................................................................

    Estância VII - Os Pais do Homem na Terra ...........................................

    Resumindo ..............................................................................................

    Parte II do Volume IA Evolução do Simbolismo em Sua Ordem Aproximada

    (...........) (..............) (...............)

    Parte III do Volume IA Ciência e a Doutrina Secreta, Comparadas

    (...........) (..............) (...............)

    Volume II

    Antropogênese

    Fragmento da Parte I do Volume II

    As Estâncias da Antropogênese no Volume Secreto de Dzyan............... 214 (A tradução continuará)

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    Prefácio da Edição

    Fac-similar Norte-Americana de 1947O Movimento Teosófico do século 19 começou em 1875. A DOUTRINASECRETA, publicada pela primeira vez em 1888, foi escrita pela senhora H. P.Blavatsky para estabelecer um registro autêntico dos ensinamentos da filosofiateosófica. “A DOUTRINA SECRETA”, disse ela, “não é um tratado ou uma série deteorias vagas, mas contém tudo o que pode ser transmitido ao mundo nesteséculo”.[1] 

    Em torno de 1925, cinquenta anos depois da fundação do Movimento em NovaIorque, a primeira edição da obra estava esgotada já havia muito tempo. Naquelemomento, o ponto médio do ciclo de cem anos do Movimento Teosófico, aTheosophy Company tornou disponível pela primeira vez uma edição fac-similar dagrande obra da senhora Blavatsky, com uma reprodução fotográfica da ediçãooriginal. O atual volume é idêntico às impressões anteriores, embora tenha sidoimpresso a partir de novas chapas.

    Além da edição original de 1888 - a única autorizada pela senhora Blavatsky -apareceram várias outras edições desta obra. Uma delas, a chamada “TerceiraEdição Revisada”, de 1893, está distorcida e com muitos milhares de alterações,

    algumas das quais são triviais, enquanto outras são verdadeiras mutilações do textooriginal.

    Mais adiante, foi incluído nesta suposta “Edição Revisada” de A DOUTRINASECRETA um ilegítimo “Terceiro Volume”. Ele foi lançado em 1897, seis anosdepois da morte de H. P. Blavatsky. Compilado de papéis vários achados em seusarquivos, este volume não faz parte da DOUTRINA SECRETA original escrita pelasenhora Blavatsky. [2] 

    A “Terceira Edição Revisada” deu lugar a outra edição em 1938, esta vez com seisvolumes, que foi chamada de “Edição de Adyar”. Esta edição é substancialmente amesma versão “revisada”, com as exceções do acréscimo de índices remissivos, deum texto biográfico sobre a autora, de várias mudanças tipográficas e de um textotentando justificar a publicação do ilegítimo “terceiro volume”.

    Houve ainda outra edição de A DOUTRINA SECRETA. Neste caso, com a exceçãode “correções” sem fundamento, feitas nas expressões sânscritas usadas pela autora,e de um acréscimo de material sectário irrelevante, trata-se de uma reproduçãovirtualmente fiel do texto original. A sua autenticidade exata, no entanto, não podeser confirmada sem uma cansativa comparação com a edição original.

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    A Doutrina SecretaA Síntese da Ciência, Religião e Filosofia

     por H. P. Blavatsky

    Vol. I - COSMOGÊNESE

    Dedico esta Obra a todos

    os Verdadeiros Teosofistas, em

    todos os Países e de todas as Raças,

    porque eles fizeram com que ela fosse

    necessária e ela foi escrita para eles.

    Prefácio da Autora

    A autora - ou, mais precisamente, a redatora - sente que é necessário desculpar-se pela longa demora na aparição desta obra. O atraso ocorreu devido a problemas desaúde e à magnitude da tarefa. Mesmo os dois volumes agora publicados nãocompletam o projeto, e eles não tratam exaustivamente os assuntos abordados. Jáfoi preparada uma grande quantidade de material sobre a história do ocultismo [1] através das vidas dos grandes Adeptos [2] da Raça Ariana [3], mostrando ainfluência da filosofia oculta sobre a conduta na vida, tal como é e tal como deveriaser. Caso os volumes atuais encontrem uma recepção favorável, não serão medidosesforços para que o plano da obra seja realizado integralmente. O terceiro volumeestá inteiramente pronto; o quarto, quase pronto.

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    Este plano, devemos acrescentar, não existia quando a preparação da obra foianunciada pela primeira vez. De acordo com a intenção inicial, “A DoutrinaSecreta” seria uma versão corrigida e aumentada de “Ísis Sem Véu”. Pouco depois,no entanto, viu-se que era necessário um método diferente para as explicações quese poderia acrescentar ao que já havia sido dado ao mundo em “Ísis Sem Véu” eoutras obras dedicadas à ciência esotérica. Por esse motivo, os presentes volumesnão contêm, ao todo, nem sequer vinte páginas de “Ísis Sem Véu”.

    A autora não considera necessário pedir pela generosa compreensão dos leitores ecríticos em relação aos muitos erros de estilo literário, ou em relação ao inglêsimperfeito que pode ser encontrado nestas páginas. Ela é estrangeira, e o seuconhecimento deste idioma foi adquirido numa etapa madura da vida. A línguainglesa é usada porque oferece o meio mais amplamente difundido para atransmissão das verdades que é seu dever colocar diante do mundo.

    Estas verdades não são apresentadas, de modo algum, como uma revelação. Aautora tampouco reivindica a posição de reveladora de um conhecimento místicoagora divulgado publicamente pela primeira vez na história do mundo. O que estácontido nesta obra pode ser encontrado em fragmentos espalhados ao longo demilhares de volumes que formam as escrituras das grandes religiões asiáticas e das

     primeiras religiões da Europa, oculto sob hieróglifos e símbolos, e até aquidespercebido devido a este véu. O que se tenta fazer agora é reunir os antigosensinamentos e fazer deles um todo harmonioso e contínuo. A única vantagem quea autora tem em relação aos seus predecessores é que ela não necessita recorrer aespeculações e teorias pessoais. Esta obra é o registro parcial do que ela própria

    aprendeu com estudantes mais avançados, e que foi complementado, apenas emalguns poucos detalhes, pelos resultados do seu próprio estudo e da sua observação.A publicação de muitos destes fatos tornou-se necessária devido às especulaçõesfantasiosas e sem fundamento em que caíram durante os últimos anos muitosteosofistas e estudantes da tradição mística, enquanto tentavam produzir um sistemacompleto de pensamento a partir dos poucos fatos comunicados antes a eles.

    É desnecessário explicar que este livro não contém a Doutrina Secreta toda, mas umnúmero seleto de fragmentos dos seus aspectos fundamentais, ao mesmo tempo queé dada, nele, uma especial atenção a certos fatos captados por diversos escritores edistorcidos até uma situação em que passam a estar muito distantes da verdade.

    Mas talvez seja desejável afirmar inequivocamente que os ensinamentos contidosnestes volumes, por mais fragmentários e incompletos que sejam, não pertencemexclusivamente ao Hinduísmo, nem ao Zoroastrismo, nem à religião dos caldeus ouà religião egípcia; e tampouco ao Budismo, ao Islamismo, ao Judaísmo ouCristianismo. A Doutrina Secreta é a essência de todas estas religiões. Inspirados

     pela Doutrina Secreta em suas origens, os vários esquemas religiosos são agoracolocados novamente no seu elemento original, a partir do qual cada mistério oucrença surgiu, cresceu e se materializou.

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    É mais do que provável que o livro seja visto por grande parte do público como umromance dos mais fantásticos: quem ouviu falar, alguma vez, do livro de Dzyan?

    A autora, portanto, está preparada para assumir completa responsabilidade peloconteúdo desta obra, e para enfrentar a acusação de haver inventado tudo o queescreveu. Ela está plenamente consciente de que a obra tem muitas falhas. O que elaafirma é que, embora a obra pareça romântica para muitos leitores, a sua coerêncialógica e a sua consistência capacitam este novo Gênesis para estar, pelo menos, nomesmo nível que a “hipótese de trabalho” tão amplamente aceita pela ciênciamoderna. Além disso, esta obra merece consideração, não porque tenha como apoioalguma autoridade dogmática, mas porque segue firmemente a Natureza, e obedeceàs leis da uniformidade e da analogia.

    A meta desta obra pode ser descrita do seguinte modo: mostrar que a Natureza não é

    “uma aglomeração casual de átomos”, e indicar ao ser humano o seu lugar corretono esquema do Universo; resgatar da degradação as verdades arcaicas que estão na base de todas as religiões; e revelar, até certo ponto, a unidade fundamental da qualtodas elas surgem; e, finalmente, mostrar que o lado oculto da Natureza nunca foienfocado pela Ciência da civilização moderna.

    Se isso tiver sido obtido, mesmo em pequena medida, a autora estará contente. Aobra foi escrita para servir à humanidade, e deve ser julgada pela humanidade e

     pelas futuras gerações. Sua autora não reconhece a validade de nenhum tribunalinferior a estes. Ela está acostumada ao desrespeito. Calúnia é algo que enfrentadiariamente; diante da maledicência, ela sorri com silencioso desprezo.

     De minimis non curat lex. [4]

    Londres, Outubro, 1888. H. P. B.

     NOTAS:

    [1] Ocultismo, ou filosofia esotérica, nada tem a ver com “artes ocultas”, mas se refere àciência que leva à compreensão altruísta do universo e da vida, situado além do mundo daforma e por isso “oculto”. O essencial é invisível aos olhos. A filosofia oculta ou esotéricainvestiga aquilo que é transcendente, e faz isso a partir do ponto de vista da ética universal ecom base no princípio do respeito por todos os seres. (Nota do Tradutor)

    [2] Adeptos; Sábios, Iniciados, Proficientes na Ciência Secreta. (Nota do Tradutor)

    [3] Em teosofia, o termo “Raça” corresponde a um tipo humano abrangente, que transcendecaracterísticas físicas, inclui diversas etnias e equivale a quase toda a humanidade,influenciando fortemente a totalidade dela. Através da reencarnação, as mesmas almas

    devem passar sucessivamente por todas as Raças. A evolução ao longo das Raças é um

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     processo da humanidade como um todo. Seria um absurdo, portanto, pensar em“superioridade” ou “inferioridade” de alguma raça em relação a outras. Durante o séculovinte, no entanto, o termo “raça” foi deturpado pelos líderes criminosos do nazismo e dofascismo, que contavam ao atacar a democracia com o discreto apoio do Vaticano, na Itália

    e na Alemanha. (Veja, a respeito, o texto “A Teosofia e a Segunda Guerra Mundial”, que pode ser localizado através da Lista de Textos por Ordem Alfabética, emwww.FilosofiaEsoterica.com. ) Para a filosofia esotérica, a “Raça Ariana” é o grupohumano descendente dos Árias, os sábios habitantes da Índia antiga. A filosofia teosóficaensina a lei da fraternidade universal entre todos os povos, raças e etnias, e afirma aigualdade de todos perante a lei da justiça universal. (Nota do Tradutor)

    [4] “De minimis non curat Lex”. Tradução do latim: “A lei não leva em conta ninharias.”Trata-se de uma paráfrase da frase latina “De minimis non curat praetor”, “o juiz não levaem conta ninharias”. (Nota do Tradutor)

    0000000

    Introdução“Ouvir gentilmente, julgar com amabilidade.” 3 

    Shakespeare

    Desde a aparição da literatura teosófica na Inglaterra, tornou-se um costumechamar os seus ensinamentos de “Budismo Esotérico”. E, como diz um velho

     provérbio baseado na experiência cotidiana - depois que o Erro se torna um hábito,“ele desce por um plano inclinado, enquanto a Verdade tem que subirlaboriosamente abrindo caminho montanha acima.”4 

    As velhas verdades conhecidas de todos são, frequentemente, as mais sábias. Amente humana dificilmente fica completamente livre de preconceitos, efrequentemente opiniões decisivas são formadas antes de um exame atento de todosos aspectos de um assunto. Dizemos isso como uma referência ao duplo erro

     predominante hoje, (a) de limitar a Teosofia ao Budismo; e (b) de confundir os princípios da filosofia religiosa ensinada por Gautama, o Buddha, com as doutrinas

    3 Citação do final do prólogo da peça “A Vida do Rei Henry V”, de William Shakespeare.

    (Nota do Tradutor)4 Neste ponto, estamos na metade superior da página xvii do volume I da edição original em

    inglês. (Nota do Tradutor)

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    esboçadas no livro “O Budismo Esotérico”.5  Seria difícil imaginar algo maiserrôneo do que isso. O fato tornou possível aos nossos inimigos encontrar uma armaeficiente contra a teosofia, porque, como um destacado estudioso do idioma pálienfaticamente afirmou, não há no volume mencionado “nem esoterismo nemBudismo”. As verdades esotéricas apresentadas na obra do Sr. Sinnett haviamcessado de ser esotéricas no momento em que foram tornadas públicas; e o livro nãocontém a religião de Buddha, mas simplesmente alguns princípios de umensinamento até aqui oculto que são agora complementados amplamente,aumentados e explicados nos presentes volumes. Mas mesmo estes últimos, emboradivulgando muitos princípios fundamentais da DOUTRINA SECRETA oriental ,erguem apenas uma pequena ponta do escuro véu. Porque ninguém, nem mesmo omaior adepto vivo, teria permissão para, caso ele pudesse - ou quisesse - divulgar

     promiscuamente para um mundo desrespeitoso e descrente, aquilo que tem sido tãoeficazmente escondido do mundo durante longos éons e eras.

    “O Budismo Esotérico” foi uma excelente obra com um título muito infeliz, emboraseu título quisesse dizer exatamente o que diz o título da presente obra, “DOUTRINASECRETA”. Ele demonstrou ser infeliz porque as pessoas têm sempre o hábito de

     julgar as coisas pela aparência e não pelo significado; e também porque o erro agorase tornou tão universal que até a maior parte dos próprios membros da SociedadeTeosófica 6 se tornaram vítimas da mesma concepção errada. Desde o início, noentanto, brâmanes e outros protestaram contra o título. Para ser justa comigo mesma,devo acrescentar que “O Budismo Esotérico” só foi apresentado a mim quando jáera um volume completo, e eu não tinha ideia de qual seria a grafia adotada peloautor para a palavra “Budh-ismo”.

    A responsabilidade pela situação deve ser atribuída a aqueles que, tendo sido os primeiros a abordar publicamente o tema, deixaram de assinalar a diferença entre“Buddhismo” 7 - o sistema religioso de ética ensinado pelo Senhor Gautama, e

    5 Referência ao livro “O Budismo Esotérico”, de A. P. Sinnett. A obra foi publicada no

    Brasil pela Editora Pensamento. Título original em inglês, “Esoteric Buddhism”. (Nota doTradutor)6 Sociedade Teosófica; esta é uma referência à Sociedade Teosófica original, que deixou deexistir pouco depois de 1891, quando morreu Helena Blavatsky. Em 1894-1895, Annie

    Besant liderou uma campanha política radical contra William Judge, provocando afragmentação do movimento teosófico. No século 21, o movimento tem um grau bastantegrande de diversidade organizativa. Portanto, cada vez que uma obra clássica de teosofia serefere a “Sociedade Teosófica”, deve-se ler “Movimento Teosófico”. (Nota do Tradutor)7 Buddhismo; embora em português a palavra seja grafada normalmente como “budismo”,

    seguimos neste trecho da tradução a grafia etimológica da palavra - que é mais próxima dalíngua inglesa - para que o leitor possa acompanhar o raciocínio de H. P. B. O uso em

     português da grafia etimológica em palavras como “buddhismo” e “Buddha” seria útil paraestabelecer uma relação mais direta com o verdadeiro significado destes termos, que sereferem a Buddhi, o sexto princípio da consciência humana ou “luz espiritual”. No entanto,usaremos na presente tradução a grafia etimológica apenas nas situações que se referem à

     presente argumentação. Fora dos limites desta discussão etimológica, grafaremos a palavra

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    chamado assim em função do seu título de Buda, “o Iluminado” - e Budha,“Sabedoria” ou conhecimento (Vidya), a função cognitiva, que vem da raiz sânscrita“Budh”, saber . Nós, teosofistas da Índia, somos os verdadeiros culpados, embora,na época, tenhamos feito o possível para corrigir o erro. (Veja “The Theosophist”,Junho de 1883) 8. Evitar este erro lamentável de denominação teria sido fácil: seriasuficiente mudar a grafia da palavra, e de comum acordo falar e escrever“Budhismo”, ao invés de “Buddhismo”. Este último termo tampouco estácorretamente grafado, porque em inglês o correto seria “Buddhaism”, e os seusseguidores seriam “Buddhaists”. 9 

    Esta explicação é absolutamente necessária no começo de uma obra como esta. A“Religião da Sabedoria” é uma herança de todas as nações, no mundo inteiro,embora tenha sido afirmado em “O Budismo Esotérico” (no Prefácio à ediçãooriginal) que “dois anos atrás (isto é, 1883) nem eu nem qualquer outro europeu

    vivo sabia o alfabeto da Ciência, aqui colocada pela primeira vez em formacientífica”, etc. Este erro deve ter surgido inadvertidamente no texto. Porque a presente redatora já conhecia tudo o que está “divulgado” em “O BudismoEsotérico” - e muito mais do que isso - muitos anos antes que se tornasse dever dela(em 1880) transmitir uma pequena parcela da Doutrina Secreta a dois cavalheiroseuropeus, um dos quais é o autor de “O Budismo Esotérico”; e seguramente a

     presente redatora tem o indubitável, embora, para ela, vago, privilégio de sereuropeia de nascimento e por educação. Além disso, uma parte considerável dafilosofia exposta pelo Sr. Sinnett foi ensinada na América do Norte, inclusive antesque o livro “Ísis Sem Véu” fosse publicado, a dois europeus e a meu colega, ocoronel H. S. Olcott. Dos três instrutores que este último cavalheiro teve, o primeiro

    foi um Iniciado húngaro, o segundo um egípcio, o terceiro um hindu. Na medida doque foi permitido, o coronel Olcott transmitiu de várias maneiras uma parte destesensinamentos; se os outros dois não fizeram isso, foi simplesmente porque nãotiveram autorização, e porque o momento para eles trabalharem publicamente nãochegou. Mas para outros indivíduos já chegou o momento de trabalhar em público, ea aparição de vários livros interessantes do Sr. Sinnett é uma prova visível destefato. É importante acima de tudo compreender que nenhum livro teosófico adquirequalquer valor adicional com base em pretensão de autoridade.

    Etimologicamente, Adi, ou Adhi Budha, a única (ou a Primeira) “SupremaSabedoria” é um termo usado por Aryasanga em seus tratados secretos, e, hoje, por

    todos os místicos budistas do Norte. É um termo Sânscrito, e um título dado pelos

     budismo e termos derivados tal como se usa hoje normalmente no idioma português. (Notado Tradutor)8 Junho de 1883. A data da referência está errada no original em inglês. Na verdade, aedição de “The Theosophist” em que foi tentado esclarecer o problema é a de junho de1884. O título do texto, assinado por “A Brahman Theosophist”, é “Esoteric Buddhism andHinduism”. Veja, naquela edição, as pp. 223-225. (Nota do Tradutor)9 Buddhaism, Buddhaists; em português, os termos equivalentes seriam “Buddhaísmo” e

    “Buddhaístas”. (Nota do Tradutor)

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     primeiros Árias à divindade Desconhecida; a palavra “Brahmâ” não é encontradanos Vedas e nas primeiras obras. Significa a Sabedoria absoluta, e “Adi-bhuta” étraduzido como “a causa primeira e não-criada de tudo” por Fitzedward Hall. Éonsde duração indizível devem ter passado antes de o epíteto “Buddha” ter sido tãohumanizado, digamos assim, a ponto de permitir o seu uso em relação a seresmortais, e finalmente a sua atribuição a um ser cujas virtudes e conhecimentofizeram com que recebesse o título de “Buddha de Sabedoria inalterada”. Bodha significa a posse inata de uma “compreensão” ou intelecto divinos; “Buddha”, a suaaquisição através de esforços pessoais e mérito próprio; enquanto Buddhi é afaculdade de conhecer o canal através do qual o conhecimento divino chega até o“Ego”, o discernimento do bem e do mal, e também a “consciência divina”; e a“Alma Espiritual”, que é o veículo de Atma. “Quando Buddhi absorve nosso EGO-ísmo (quando o destrói) com todos os seus Vikaras, Avalôkitêshvara se tornamanifesto para nós, e Nirvana, ou Mukti, é alcançado”. “Mukti” é o mesmo que

     Nirvana, isto é, liberdade das redes de “Maya” ou ilusão. “Bodhi” é também o nomede um estado específico de êxtase, chamado Samadhi, e durante o qual o indivíduoalcança a culminação do conhecimento espiritual.

    Insensatos são aqueles que, com um ódio cego e já inviável contra o buddhismo - e, por extensão, contra o “budhismo” - negam os seus ensinamentos esotéricos (quesão os mesmos dos brâmanes) apenas porque o título sugere o que para eles,monoteístas, são doutrinas nocivas.  Insensatos é o termo correto em relação a eles.Porque só a filosofia esotérica pode enfrentar, nesta época de materialismo crasso eilógico, os repetidos ataques contra tudo o que o ser humano considera mais valiosoe sagrado em sua vida espiritual interna. O verdadeiro filósofo, o estudante da

    Sabedoria Divina, deixa inteiramente de lado as personalidades, crenças dogmáticase religiões específicas. Além disso, a filosofia esotérica reconcilia todas as religiões,retira de cada uma as suas vestes externas e humanas, e mostra que a raiz de cadauma delas é idêntica à raiz de todas as outras grandes religiões. Isto comprova anecessidade de um Princípio Divino absoluto na natureza. Ela não nega aDivindade, assim como não nega o Sol. A filosofia esotérica nunca negou Deus na

     Natureza, nem a Divindade como o Ente 10 absoluto e abstrato. Ela apenas se recusaa aceitar qualquer um dos deuses das chamadas religiões monoteístas, deuses criados

     pelo ser humano à sua própria imagem e semelhança, uma blasfêmia e uma tristecaricatura do Sempre Incognoscível. Além disso, as evidências que pretendemoscolocar diante do leitor incluem os ensinamentos esotéricos de todo o mundo, desde

    o início da nossa humanidade, e o ocultismo buddhista ocupa neles apenas o seulegítimo lugar e nada mais. De fato, as partes secretas de “ Dan” ou “ Jan-na” 11 

    10 Ente; no original em inglês, “ens”, ente ou entidade, algo que tem existência real. (Nota

    do Tradutor)11  Dan, que agora se transformou em ch’an  na fonética do chinês e do tibetano modernos, éo termo geral usado nas escolas esotéricas e sua literatura. Nos livros antigos, a palavra  Jana é definida como “reformar a si mesmo através da meditação e do conhecimento”, umsegundo nascimento interior . Disso vem o termo Dzan, foneticamente Djan, o “Livro de

     Dzyan”. (Nota de H. P. Blavatsky) [ Subnota do Tradutor:  A palavra Jnana, de Jnana Ioga,tem a mesma origem.]

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    (“ Dhyan”) da metafísica de Gautama - embora pareçam grandiosas para alguém quenão esteja familiarizado com os princípios da antiga Religião da Sabedoria - sãoapenas uma porção muito pequena do todo. O Reformador Hindu limitou os seusensinamentos públicos ao aspecto puramente moral e fisiológico da Religião daSabedoria, à Ética e ao SER HUMANO, apenas. O grande Instrutor jamais abordouem suas palestras públicas as coisas “invisíveis e incorpóreas” e o mistério do Serfora da nossa esfera terrestre, reservando as coisas ocultas para o círculo seleto dosseus Arhats. Estes recebiam a sua Iniciação na famosa caverna Saptaparna (ou aSattapanni de Mahavansa), perto do Monte Baibhâr (Webhâra nos manuscritos páli).Esta caverna estava em Rajagriha, a antiga capital de Mogadha, e foi a cavernaCheta de Fa-hian, como supõem corretamente alguns arqueólogos . 12 

    O tempo e a imaginação humana empobreceram a pureza e a filosofia destesensinamentos, depois que eles foram transplantados - durante o processo do seu

    trabalho de proselitismo - do círculo secreto e sagrado dos Arhats para solos menos preparados que a Índia para receber concepções metafísicas; ou seja, quando foramtransferidos para a China, o Japão, o Sião 13  e a Birmânia. O modo como a pureza

     prístina destas revelações grandiosas foi tratada pode ser visto quando se observa asformas modernas de algumas das antigas escolas buddhistas chamadas “esotéricas”,não só na China e outros países buddhistas em geral, mas também em não poucoscasos no Tibete, onde foram deixadas sob a direção de Lamas não-iniciados einovadores mongóis.

    Assim, pedimos ao leitor que tenha presente a diferença muito importante entreBuddhismo ortodoxo - isto é, os ensinamentos públicos de Gautama, o Buddha - e o

    seu Budhismo esotérico. A sua Doutrina Secreta, no entanto, não era de modoalgum diferente da doutrina esotérica dos brâmanes da época. O Buddha era filho dosolo ária, nascido hindu, Kshatrya 14  e discípulo dos “nascidos pela segunda vez”(os brâmanes iniciados) ou Dwijas. Os ensinamentos do Buddha, portanto, não

     podiam ser diferentes das doutrinas dos brâmanes, porque toda a reforma buddhistaconsistiu apenas em divulgar uma parte daquilo que havia sido mantido fora doalcance dos que não faziam parte do círculo “encantado” dos Iniciados do Templo edos ascetas. Mesmo impossibilitado - devido a seus votos de segredo - de transmitirtudo o que lhe havia sido ensinado, o Buddha divulgou uma filosofia construídasobre o solo do verdadeiro conhecimento esotérico, e deu ao mundo apenas o corpoexterno material do conhecimento, mantendo a sua alma para os Eleitos. (Ver

    também o volume II.) Muitos eruditos chineses, entre os orientalistas, ouviram falarda “Doutrina da Alma”. Nenhum deles parece ter compreendido a sua realimportância e seu significado.

    12 Acreditamos que o Sr. Beglor, engenheiro-chefe em Buddhagaya e um destacado

    arqueólogo, foi o primeiro a descobrir isso. (Nota de H. P. Blavatsky)13

     Sião; atual Tailândia. (Nota do Tradutor)14

      Kshatrya; o termo é sânscrito e designa a casta indiana dos guerreiros. (Nota do Tradutor)

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    Esta doutrina foi preservada secretamente - demasiado secretamente, talvez - dentrodo santuário. O mistério que envolvia o seu principal conceito e suas principaisaspirações - o Nirvana - desafiou e estimulou tanto a curiosidade dos eruditos que aestudaram, que, sendo incapazes de resolver o problema logicamente e de desatar onó Górdio, eles o cortaram 15, declarando que o Nirvana significava absolutaaniquilação.

    Em torno da primeira quarta parte deste século 16, apareceu no mundo um novo tipode literatura que, a cada ano, se tornou mais bem definida em sua tendência. Sendo

     baseada, segundo ela própria afirma, nas pesquisas eruditas de especialistas emsânscrito e orientalistas em geral, era considerada científica. Atribuiu-se àsreligiões, aos mitos e aos símbolos hindus, egípcios e de outros povos qualquer coisaque o especialista em símbolos quisesse ver neles, adotando-se, deste modo, arudimentar forma externa ao invés do significado interno. Obras extremamente

    notáveis por suas hábeis deduções e especulações em círculo vicioso, comconclusões previamente determinadas trocando de lugar com as premissas, comonos silogismos de mais de um especialista em sânscrito e páli, apareceram em rápidasucessão e inundaram bibliotecas com dissertações mais dedicadas a religiosidadesfálicas e sexuais do que à verdadeira simbologia, e cada uma contradizendo asoutras.

    Esta talvez seja a verdadeira razão pela qual o esboço de algumas verdadesfundamentais da Doutrina Secreta das eras Arcaicas tem agora autorização para vir a

     público, depois de longos milênios do mais profundo silêncio e do mais profundosegredo. Digo de propósito “algumas verdades”, porque o que deve permanecer no

    silêncio não poderia ser dito ainda que escrevêssemos cem volumes, nem poderia sertransmitido às gerações atuais de saduceus.17  Mas mesmo o pouco que agora é dadoao público é melhor do que um completo silêncio sobre estas verdades deimportância decisiva. O mundo de hoje, na sua corrida enlouquecida em direção aodesconhecido - algo que ele tende a confundir com o incognoscível sempre que o

     problema está além do alcance da ciência física - está progredindo rapidamente no plano material, o plano inverso ao da espiritualidade. Tornou-se agora uma vastaarena - um verdadeiro vale da discórdia e da eterna luta - uma necrópole em queestão enterradas as aspirações mais sagradas da nossa Alma Espiritual. A cada

    15  Nó Górdio; um nó, em uma corda, que é praticamente impossível de desatar, e quesimboliza, portanto, um problema aparentemente sem solução. Uma alternativa que surge é“cortar o nó”, isto é, adotar uma medida radical e fora das regras convencionais. Aexpressão se refere a uma lenda segundo a qual Alexandre, o Grande, cortou o “nó Górdio”com sua espada. (Nota do Tradutor)16 “Deste século”; isto é, do século 19. (Nota do Tradutor)17 Saduceus; sacerdotes profissionais das classes aristocráticas judaicas, no mundo antigo.Os saduceus defendiam a leitura literal da Bíblia judaica (conforme “Webster Unabridged

     Encyclopedic Dictionary”). Eles foram responsáveis pela morte de Jesus, segundo dizem asnarrativas do Novo Testamento. Ver “ A Concise Encyclopedia of Christianity”, byGeoffrey Parrinder, OneWorld, Oxford. (Nota do Tradutor)

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    geração, esta alma se torna mais paralisada e atrofiada. 18 Os “afáveis infiéis econsumados libertinos da sociedade”, de que fala Greeley, dão pouca importância aorenascimento das ciências mortas do passado; mas há uma minoria expressiva deestudantes sérios que têm direito a aprender as poucas verdades que podem ser dadasa eles agora; e agora  muito mais do que há dez anos atrás, quando “Ísis Sem Véu”foi publicada; ou mesmo do que quando apareceram outras tentativas - posterioresa “Ísis Sem Véu” - de explicar os mistérios da ciência esotérica.

    Um dos maiores argumentos - e o mais sério deles - a serem usados contra o valor ea confiabilidade da obra diz respeito às ESTÂNCIAS preliminares: “Como é possívelverificar as afirmações feitas nelas?” É verdade que, embora grande parte das obrassânscritas, chinesas, e mongóis citadas nos presentes volumes sejam conhecidas poralguns orientalistas, a principal obra, da qual são reproduzidas as Estâncias, não estáem poder de bibliotecas europeias. O Livro de Dzyan (ou “Dzan”) é completamente

    desconhecido dos nossos filólogos, ou, pelo menos, eles nunca ouviram falar delecom este nome. Isso, naturalmente, é um grande obstáculo para aqueles que seguemos métodos de pesquisa recomendados pela Ciência oficial; mas para os estudantesde Ocultismo e para todo Ocultista legítimo o fato terá pouca importância. A maior

     parte das Doutrinas divulgadas está espalhada por centenas e milhares demanuscritos sânscritos, alguns já traduzidos - e desfigurados como de costume emsuas interpretações -; outros ainda esperando por sua vez. Todo estudioso tem,

     portanto, a possibilidade de verificar as afirmativas feitas aqui e de testar a maior parte das citações. Será difícil localizar a origem das referências a alguns fatosnovos (novos apenas para o orientalista profano), e de algumas passagensreproduzidas dos Comentários. Além disso, vários dos ensinamentos foram

    transmitidos até agora oralmente; no entanto, mesmo estes são, todos, mencionadosindiretamente nos volumes quase incontáveis das literaturas sagradas dos templos bramânicos, chineses e tibetanos.

    Em todo caso, e sejam quais forem as críticas malévolas a serem feitas contra aredatora desta obra, há um fato inegável. Os membros de várias escolas esotéricas,cuja sede central está além dos Himalaias 19, e cujas ramificações podem serencontradas na China, no Japão, na Índia, no Tibete e mesmo na Síria, além daAmérica do Sul, afirmam ter em sua posse a soma total  das obras sagradas efilosóficas, em volumes manuscritos e impressos; todas as obras, de fato, que jáforam escritas, em quaisquer idiomas ou caracteres, desde que começou a arte de

    18 “Alma se torna mais paralisada”. Ao escrever esta frase na década de 1880, o futuro

    diante de H. P. Blavatsky incluía o século vinte, com duas grandes guerras mundiais queiriam destruir uma e outra vez a Europa, além das bombas atômicas e da guerra fria queameaçariam com a possibilidade de uma hecatombe capaz de aniquilar subitamente a

     população humana. Em relação ao século 20, a missão de H. P. B. visava, entre outrascoisas, impedir o pior fortalecendo as bases da fraternidade universal. A missão teve êxito.A situação no século 21 é bem diferente. (Nota do Tradutor)19

     Além dos Himalaias; isto é, ao Norte desta Cordilheira. (Nota do Tradutor)

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    escrever, incluindo os hieróglifos ideográficos, o alfabeto de Cadmo 20 e oDevanagari 21.

    Tem sido afirmado ao longo do tempo que desde a destruição da Biblioteca deAlexandria (veja “Ísis Sem Véu”22, Ed. Pensamento, Vol. III, pp. 33-34) cada umadas obras cujo conteúdo poderia levar o profano a uma descoberta e umacompreensão nítidas de alguns dos mistérios da Ciência Secreta foi cuidadosamentelocalizado, graças aos esforços combinados dos membros das Fraternidades.Aqueles que sabem acrescentam, além disso, que, uma vez localizadas, três cópiasde cada obra foram deixadas de lado e guardadas em segurança, e todas as outrasforam destruídas. Na Índia, os últimos manuscritos preciosos foram reunidos eocultados durante o reinado do imperador Akbar. 23 

    Afirma-se, além disso, que cada um dos livros sagrados desta categoria, cujo texto

    não estava suficientemente velado através de simbolismos, ou que fazia qualquerreferência direta aos mistérios da antiguidade, foi cuidadosamente copiado emcaracteres criptográficos, de modo a impossibilitar a sua leitura por parte até mesmodos melhores e mais inteligentes paleógrafos, sendo depois também destruído até aúltima cópia. Durante o reinado de Akbar 24, alguns fanáticos membros da corte,descontentes com o interesse pecaminoso do imperador por investigar a religião dosinfiéis, ajudaram, eles próprios, aos brâmanes no esforço de ocultar os seusmanuscritos. Entre eles estava Badáoni, que sentia um horror indisfarçável  diante damania de Akbar em relação às religiões idólatras. 25 

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     Cadmo; na mitologia clássica, herói fenício que introduziu no mundo grego o alfabeto e aescrita. Fundou a cidade de Tebas. (Nota do Tradutor)21 Devanagari; etimologicamente “A língua ou as letras dos devas (deuses)”. O alfabeto doidioma sânscrito. O mesmo alfabeto é usado para outros idiomas indianos, como o hindi.(Nota do Tradutor).22

      Na edição original; “Isis Unveiled”, H. P. Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles,volume II, p. 27. (Nota do Tradutor).23 O professor Max Müller mostra que nenhuma oferta de suborno ou ameaça feita porAkbar foi suficiente para obter dos brâmanes o texto original dos Vedas; e, afirma,orgulhosamente, que os orientalistas europeus o possuem (“ Introdução à Ciência da

     Religião”, “ Introduction to the Science of Religion”, 1873, p. 23). Que a Europa possua otexto completo é altamente duvidoso, e no futuro os orientalistas podem ter surpresas muitodesagradáveis. (Nota de H. P. Blavatsky)24 Akbar foi um imperador muçulmano, liberal e que estimulava as artes, a ciência e aliteratura. (Nota do Tradutor)25

     Badáoni escreveu em seu Muntakhab em Tawarikh: “Sua Majestade gostava deinvestigações sobre as seitas destes infiéis (que são tão numerosos que não podem sercontados, e possuem um número infindável de livros de revelações) ....... Dado o fato de queeles (os Sramana e brâmanes) ultrapassam outros eruditos em seus tratados sobre moral esobre ciências físicas e religiosas, e alcançam um alto grau de conhecimento do futuro, de

     poder espiritual e de perfeição humana, eles trouxeram provas baseadas na razão e em

    testemunhos e estabeleceram estas doutrinas de modo tão firme que já ninguém podia

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    Além disso, em todas as lamaserías 26 grandes e ricas há galerias subterrâneas ebibliotecas em cavernas, cortadas na rocha, sempre que o gonpa 27 e o lhakhang  28 estão situados em montanhas. Mais além do Tsaydam ocidental, nas passagenssolitárias de Kuen-lun 29, há vários locais ocultos com estas características.30 Aolongo da cordilheira de Altyn-Toga, cujo solo nenhum europeu jamais pisou até omomento, há uma certa aldeia perdida em um profundo desfiladeiro. É um pequenoagrupamento de casas, mais uma vila do que um monastério, com um templo deaparência pobre, e um velho lama, um eremita, que vive perto para cuidar dele. Os

     peregrinos dizem que as galerias e salões subterrâneos sob a aldeia contêm umacoleção de livros cujo número, de acordo com os informes dados, é tão grande queeles não poderiam ser alojados nem mesmo no Museu Britânico. 31 

    É muito provável que tudo isso cause um sorriso de dúvida. Mas antes de negar a

    autenticidade de tais relatos32

    , o leitor deve fazer uma pausa e refletir sobre os

     provocar uma só dúvida na consciência de Sua Majestade, ainda que montanhas setransformassem em pó ou o céu se abrisse ao meio.” Esta obra “foi mantida em segredo, enão foi publicada até o reinado de Jahangir.” (“Ain i Akbari”, tradução do Dr. Blochmann,

     p. 104, nota.) (Nota de H. P. Blavatsky)26 Lamaserías; monastérios dos lamas. (Nota do Tradutor)27

     Gonpa; palavra tibetana que significa “monastério”. (Nota do Tradutor)28

     Lhakhang; palavra tibetana. Significa templo, especialmente subterrâneo. (Nota doTradutor)29

     As montanhas Karakorum, na região ocidental do Tibete. (Nota de H. P. Blavatsky)  30 Um Mestre de Sabedoria escreveu em 1880 sobre esta região dos Himalaias: “.... Um diadestes, eu descia os desfiladeiros do Kouenlun - que vocês chamam Karakorum - e videsabar uma avalanche. Eu tinha ido pessoalmente até o nosso chefe para submeter a ele aimportante oferta do sr. Hume, e estava cruzando o desfiladeiro em direção a Ladakh navolta para casa. (....) Exatamente quando eu estava desfrutando a tranquilidadeimpressionante que geralmente se segue a esse cataclisma (....) fui bruscamente chamadoaos meus sentidos. (…)” (“Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica, Brasília, 2001,Volume I, Carta 5, p. 54.) (Nota do Tradutor)31 De acordo com a mesma tradição, as regiões agora desoladas da terra seca de Tarim - um

    verdadeiro deserto no coração do Turquestão - estavam cobertas na antiguidade por cidadesricas e florescentes. Hoje em dia, só alguns poucos oásis verdes dão alívio à sua solidão semvida. Um deles, surgido no sepulcro de uma vasta cidade engolida e encoberta pelo soloarenoso do deserto, não pertence a ninguém, mas é com frequência visitado por mongóis e

     budistas. A mesma tradição fala de imensos prédios subterrâneos, e de grandes corredorescheios de cerâmicas e cilindros. Pode ser que seja apenas um rumor sem fundamento.Talvez seja um fato real. (Nota de H. P. Blavatsky)32

     Em “Cartas dos Mahatmas” há descrição de um dos refúgios usados pelos Mestres dosHimalaias. O raja-iogue escreve para um discípulo leigo inglês: “Em certo lugar que não

     pode ser mencionado a estranhos, existe um abismo, atravessado por uma frágil ponte defibras entrelaçadas, com uma impetuosa correnteza em baixo. O mais intrépido membro dos

    seus clubes de alpinismo dificilmente ousaria aventurar-se a passá-la, porque a ponte está

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    seguintes fatos, que são bem conhecidos. As pesquisas coletivas dos orientalistas, eespecialmente os esforços de anos recentes feitos por estudiosos de filologiacomparada e da Ciência das Religiões, levaram à comprovação de que um númeroimenso, incalculável, de manuscritos, e mesmo de livros impressos que se sabe queexistiram, agora já não podem ser encontrados. Eles desapareceram sem deixar omenor vestígio. Se fossem obras sem importância, poderiam ter sido deixados àmercê da destruição natural ao longo do tempo, e até os seus nomes teriam sidoapagados da memória humana. Mas não é isso o que acontece, porque, como agorafoi comprovado, a maior parte deles continha as verdadeiras chaves interpretativasde obras ainda existentes, e inteiramente incompreensíveis para a maior parte dosseus leitores, sem estes volumes adicionais de Comentários e explicações. Este é ocaso, por exemplo, das obras de Lao-tzu, o predecessor de Confúcio.33 

    Afirma-se que ele escreveu 930 livros sobre Ética e religiões, e setenta sobre magia,

    com um total de mil . Sua grande obra, no entanto, o coração da sua doutrina, o“Tao-te-King”, ou a sagrada escritura do Tao-tzu, possui, como mostra StanislasJulien 34, apenas “cerca de 5.000 palavras” (Tao-te-King , p. XXVII), não mais queuma dúzia de páginas; e no entanto o professor Max Müller considera que “o texto éininteligível sem comentários, de modo que o Sr. Julien teve que consultar mais desessenta comentadores para realizar a sua tradução”, o mais antigo dos quais é doano 163 antes da era cristã, e não antes, como vemos. Durante os quatro séculos emeio que precederam o mais antigo dos comentadores houve tempo suficiente paraque a verdadeira doutrina de Lao-tzu fosse velada para todos, com a exceção dosseus sacerdotes iniciados.35 Os japoneses, entre os quais encontramos hoje os mais

     pendurada como uma teia de aranha e parece apodrecida e intransponível. E, no entanto,não é assim; e aquele que ousa enfrentar a prova e tem êxito - como o terá se for correto queele tenha permissão - chega a um desfiladeiro cujo cenário é de uma beleza insuperável - aum dos nossos lugares, e a algumas pessoas nossas, algo em relação ao qual não háanotação ou registro entre geógrafos europeus. À distância do arremesso de uma pedradesde o velho monastério de Lamas ergue-se a antiga torre dentro da qual surgiram geraçõesde Bodhisatwas. (...).” (“Cartas dos Mahatmas”, Volume I, Carta 29, pp. 153-154.) (Notado Tradutor)33

     “Se olharmos para a China, veremos que a religião de Confúcio se baseia nos cinco livros King  e nos quatro livros Shu, eles próprios de uma extensão considerável e rodeados devolumosos Comentários, sem os quais nem mesmo o mais sábio dos eruditos tentaria

    explorar as profundezas do seu cânone sagrado.” (“ Introdução à Ciência da Religião”,“Introduction to the Science of Religion”, p. 114, 1873, Max Müller). Mas eles não asexploraram, e este é o motivo de um protesto por parte dos confucionistas, conformereclamou um destacado erudito daquela corrente de pensamento, em Paris, em 1881. (Notade H. P. Blavatsky)34 O sinólogo Stanislas Julien (13 de abril 1797 - 14 de fevereiro de 1873) publicou suaversão do Tao-te-King  em 1842, em francês. (Nota do Tradutor)35  Sobre a importância da China para os Mestres de Sabedoria, cabe levar em conta estas

     palavras escritas por um deles a um discípulo leigo ocidental: “...Nós, do Tibete e daChina...” (“Cartas dos Mahatmas”, Vol. II, Carta 136, p. 314.) Os Mestres não veemseparação entre os dois países. (Nota do Tradutor)

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    eruditos sacerdotes e seguidores de Lao-tzu, simplesmente riem diante dos errosgrosseiros e das hipóteses formuladas pelos especialistas europeus em culturachinesa; e a tradição afirma que os comentários aos quais os sinólogos ocidentaistêm acesso não são os registros realmente ocultos, mas apenas véus intencionais, eque os verdadeiros comentários, assim como quase todos os textos, desapareceram há muito tempo dos olhos do profano.

    Se observamos a literatura antiga das religiões semíticas, e a escritura dos caldeus, airmã mais velha e instrutora (se não a fonte direta) da Bíblia de Moisés, que é porsua vez a base e o ponto inicial do cristianismo - quais são as descobertas doseruditos? O que resta, atualmente, para perpetuar a memória das antigas religiões daBabilônia, para registrar o vasto ciclo de observações astronômicas dos magoscaldeus, e para justificar a tradição da sua literatura esplêndida e notavelmenteoculta? Apenas uns poucos fragmentos, que são atribuídos a Beroso.

    Tais fragmentos, no entanto, são quase destituídos de valor, mesmo como uma pistaque poderia indicar a natureza do que foi perdido, porque passaram pelas mãos doreverendo Bispo de Cesareia 36 - o autonomeado censor e editor dos documentossagrados das religiões de outros povos - e sem dúvida têm até hoje a marca de suasmãos notavelmente verazes e confiáveis. Qual é a história deste tratado sobre aquelaque foi a grande religião da Babilônia?

    Ele foi escrito em grego por Beroso, um sacerdote do templo de Baal 37, paraAlexandre o Grande, a partir dos registros astronômicos e cronológicos preservados

     pelos sacerdotes daquele templo, que cobriam um período de 200.000 anos. Agora

    está perdido. No século um antes da era cristã, Alexander Polyhistor fez uma sériede transcrições parciais da obra - também perdidas. Eusébio usou estas transcriçõesao escrever sua Chronicon (270-340, era cristã). Os pontos de semelhança - quaseidentidade - entre as escrituras judaicas e caldaicas 38 tornaram estas últimas 39 extremamente perigosas para Eusébio, em seu papel de defensor e proclamador danova fé que havia adotado as escrituras judaicas, e que havia adotado, com elas, umacronologia absurda. Está confirmado que Eusébio não preservou as Tabelas

    36 Cesareia; cidade fundada por Herodes no século um antes da era cristã, e situada no atual

    território de Israel. (Nota do Tradutor)37 Baal; “Belus” em latim. Divindade babilônica e do primeiro período da história judaica,

    mais tarde transformada em “demônio”. (Nota do Tradutor)38

     Algo que foi descoberto só agora, através das descobertas feitas por George Smith (veja-se o seu livro “Chaldean Account of Genesis”), e que, graças a este falsificador armênio,enganou a todas as nações civilizadas durante mais de 1500 anos, fazendo com que elasaceitassem os relatos judaicos como Revelação Divina direta! (Nota de H. P. Blavatsky)39 A edição de 1876 do livro “Chaldean Account of Genesis”, de George Smith - citada porH. P. B. na nota imediatamente anterior a esta - foi reeditada em 1994 por WizardsBookshelf, de San Diego, Califórnia, em 1994. A edição é fac-similar e tem 320 pp.,incluindo um índice remissivo. (Nota do Tradutor)

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    Sincrônicas Egípcias, de Manetho 40, e tanto é assim que Bunsen 41 o acusa demutilar a história de modo extremamente inescrupuloso. E tanto Sócrates, umhistoriador do século cinco, como Syncellus, vice-patriarca de Constantinopla(século oito), o denunciam como o mais audaz e desesperado falsificador.

    Será então provável que ele tenha tratado com mais respeito os documentos caldeus,que já estavam ameaçando a nova religião - aceita de modo tão apressado?

    De modo que, com a exceção destes fragmentos mais do que duvidosos, toda aliteratura sagrada dos caldeus desapareceu dos olhos do profano tão completamentequanto a perdida Atlântida. Alguns fatos que fazem parte da História escrita porBeroso são dados na parte II do volume II da presente obra, e podem lançar umagrande luz sobre a verdadeira origem dos Anjos Caídos, personificados por Bel 42 e

     pelo Dragão.

    Examinando agora a literatura Ária mais antiga, o Rig-Veda, se o estudante seguirestritamente os dados fornecidos pelos próprios orientalistas citados acima, verá queembora o Rig-Veda contenha apenas “cerca de 10.580 versos, ou 1.028 hinos”, eapesar dos Brahmanas 43 e da massa de interpretações e comentários, ele até hojenão é compreendido corretamente. Qual é a razão disso? Evidentemente, isso ocorre

     porque os próprios Brahmanas, “os tratados escolásticos e mais antigos sobre oshinos primitivos”, requerem também uma chave interpretativa, a que os orientalistasnão tiveram acesso.

    O que dizem sobre a literatura budista os eruditos? Será que eles a possuem toda e

    completa? Seguramente não. Apesar dos 325 volumes do Kanjur  e do Tanjur  dos budistas do Norte - dos quais cada volume, conforme nos é dito, “pesa entre meioquilo e dois quilos e meio” - nada, na verdade, é conhecido sobre o lamaísmo. Noentanto, considera-se que o cânone sagrado dos templos do Sul contém 29.368.000letras no Saddharma alankâra 44, ou, sem contar tratados e comentários, “cinco ouseis vezes mais que a Bíblia”, já que esta última, segundo as palavras do professorMax Müller, tem apenas 3.567.180 letras. Apesar, portanto, destes “325 volumes”(na realidade, são 333 volumes, com o Kanjur  possuindo 108, e o Tanjur  225volumes), “os tradutores , ao invés de fornecer-nos versões corretas, intercalaram

    40

     Manetho, ou Maneton; historiador egípcio antigo. (Nota do Tradutor)41

     “Egypt’s Place in History”, Bunsen, vol. I, p. 200. (Nota de H.P. Blavatsky)42

     Bel; uma variante do nome Baal. Ver nota algumas linhas acima. (Nota do Tradutor)43 Brahmanas; literalmente “que pertencem aos brâmanes”. Textos compostos por, e para, os

     brâmanes. Parte dos Vedas que ensina aos brâmanes sobre o uso dos hinos. (“A ClassicalDictionary of Hindu Mythology”, John Dowson, Munshiram Manoharlal Publishers, NewDelhi, India, 1973). Os Brahmanas contêm instruções para os iniciados. (“TheosophicalGlossary”, Theosophy Co.) (Nota do Tradutor)44

     Spence Hardy, “The Legends and Theories of the Buddhists”, p. 66. (Nota de H. P.Blavatsky).

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    nas obras os seus próprios comentários, com a intenção de justificar as doutrinas dassuas várias escolas.” 45  Além disso, “de acordo com uma tradição preservada pelasescolas budistas tanto do Sul como do Norte, o cânone sagrado budista incluíainicialmente 80.000 ou 84.000 tratados, mas a maior parte deles foi perdida, demodo que permaneceram apenas 6.000”, diz o professor ao seu público. Foram“perdidas”, como de costume, para os europeus. Mas quem pode ter certeza de queelas estão perdidas também para os budistas e os brâmanes?

    Considerando o caráter sagrado que os budistas atribuem a cada linha escrita sobreBuddha ou sua “Boa Lei”, a perda de cerca de 76.000 tratados parece miraculosa46.Se fosse o contrário, qualquer um que conheça o curso natural dos fatos aceitaria aafirmação de que, destes 76.000, cinco ou seis mil tratados poderiam ter sido destruídos durante as perseguições na Índia e a emigração daquele país. Mas comoestá bem estabelecido que os Arhats budistas começaram o seu êxodo religioso para

     propagar a nova fé além de Caxemira e dos Himalaias já no ano 300 antes da eraatual 47, e que eles chegaram à China no ano 61 da era cristã 48, quando Kashyapa,convidado pelo imperador Ming-ti, foi até lá para familiarizar o “Filho do Céu” comas doutrinas budistas, parece estranho ouvir os orientalistas falarem de uma tal perdacomo se ela fosse realmente possível. Eles parecem não admitir nem por ummomento a possibilidade de que os textos estejam perdidos apenas para o Ocidente e

     para eles próprios; ou de que o povo asiático possa ter a audácia, quaseinimaginável, de manter os seus textos mais sagrados fora do alcance dosestrangeiros, recusando-se assim a entregá-los para a profanação e o uso inadequado

     por parte de povos tão “vastamente superiores” a eles.

    Devido às lamentações feitas e às numerosas confissões de parte de quase todos osorientalistas (veja-se, por exemplo, as “Lectures” [“Palestras”] de Max Müller) o

     público pode ter certeza de que, (a) os estudantes de religiões antigas têm na verdadeinformações excessivamente escassas para construir conclusões finais, comogeralmente fazem, em relação às religiões antigas; e (b) esta falta de dados nãoimpede de modo algum que eles sejam dogmáticos a esse respeito. Poderíamos

     pensar que, graças aos numerosos registros da teogonia e mistérios egípcios ainda preservados nos clássicos, e em um bom número de obras dos escritores antigos, pelo menos os ritos e as doutrinas do Egito dos faraós deveriam estar bem

    45

     “Buddhism in Tibet”, p. 78. (Nota de H. P. Blavatsky)46 H. P. B. está mencionando aqui um número médio. A estimativa do número de tratados

    oscila entre os extremos de 80.000 e 84.000. No caso do número menor, 80.000 menos6.000 textos que foram preservados seriam 74.000. Na outra ponta, 84.000 menos 6.000

     preservados são 78.000. A média entre 74.000 e 78.000 é 76.000. (Nota do Tradutor)47 C. Lassen (“Indische Alterthumskunde”, vol. II, p. 1091; ed. 1874) mostra um monastério

     budista construído na serra de Kailas no ano de 137 antes da era cristã; e o generalCunningham menciona data anterior a esta. (Nota de H. P. Blavatsky) [  Subnota doTradutor: Seguimos aqui os dados bibliográficos indicados na edição de B. de Zirkoff.

     Neste ponto, estamos na p. xxviii do original em inglês.]48

     Reverendo T. Edkins, “Chinese Buddhism”. (Nota de H. P. Blavatsky)

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    compreendidos; e melhor compreendidos, pelo menos, do que as filosofias e o panteísmo abstrusos da Índia, de cuja religião e idioma a Europa dificilmente tinhaalguma ideia antes do começo do século atual.49  Ao longo do Nilo e de todo o país,existem até agora e são exumadas a cada ano e todos os dias novas relíquias quecontam com eloquência a sua própria história. Apesar disso, a compreensão nãoocorre. O próprio filólogo erudito de Oxford confessa a verdade ao dizer: “Embora(.........) 50, temos ainda erguidas as pirâmides e as ruínas de templos e labirintos,com suas paredes cobertas de inscrições hieroglíficas e estranhas pinturas de deusese deusas. (.....) Em rolos de papiros que parecem desafiar a passagem do tempo,temos até fragmentos do que podemos chamar de livros sagrados dos antigosegípcios; e no entanto, apesar de muitos dos antigos registros desta raça misteriosaterem sido decifrados, a tendência dominante da religião do Egito e a intençãooriginal da sua adoração cerimonial estão longe de serem completamente compreendidas por nós.” 51  Neste caso, novamente, os misteriosos documentos em

    hieróglifos permanecem, mas desapareceram as chaves indispensáveis para que elessejam inteligíveis.

     No entanto, tendo descoberto que “há uma conexão natural entre a língua e areligião”, e, em segundo lugar, que houve uma religião ariana comum antes daseparação da raça ariana; uma religião semítica comum antes da separação da raçasemítica; e uma religião turaniana 52 comum antes da separação dos chineses e dasoutras tribos pertencentes ao grupo turaniano; e tendo, na realidade, descobertoapenas “três centros antigos de religião” e “três centros linguísticos”, e emboraignore tudo sobre aquelas religiões e línguas primitivas, o professor não hesita aodeclarar que “foi obtida uma base verdadeiramente histórica para um enfoque

    científico daquelas primeiras religiões do mundo!”

    Um “enfoque científico” sobre um assunto não garante que haja uma “basehistórica”; e com dados disponíveis tão escassos, nenhum filólogo, nem sequer entreos mais eminentes, tem condições de apresentar suas próprias conclusões como fatoshistóricos. Sem dúvida, o eminente orientalista comprovou diante do mundo que, deacordo com a lei das regras fonéticas formuladas por Grimm, Odin e o Buddha eramdois personagens diferentes, bastante diferentes um do outro; e ele demonstrou isso

    49 “Século atual”; século 19. (Nota do Tradutor)

    50 Estamos à altura da metade inferior da p. xxviii do original em inglês. Foram omitidas palavras nesta citação, o que prejudica o sentido da frase. Em sua edição, Boris de Zirkoffomite a palavra “Embora”, para que a frase faça sentido. (Nota do Tradutor) 51

     Nossos maiores egiptólogos sabem tão pouco dos ritos funerários dos egípcios e dasmarcas externas diferenciando o sexo das múmias, que cometem erros ridículos. Um ou doisanos atrás, um equívoco deste tipo foi descoberto em Boulaq, no Cairo. A múmia, segundose pensava, da esposa de um faraó sem importância, foi identificada, afinal - graças a umainscrição descoberta em um amuleto pendurado ao seu pescoço - como sendo a múmia deSesostris, o maior rei do Egito! (Nota de H. P. Blavatsky)52

     Turaniana, turaniano; relativo aos povos do sul da Rússia e do Turquestão, e com traçosmongólicos. (Nota do Tradutor)

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    cientificamente. No entanto, quando ele aproveita a oportunidade para acrescentarque Odin “foi adorado como divindade suprema durante um período muito anteriorà época dos Vedas e de Homero” (Compar. Theol ., p. 318), diz isso sem a menor“base histórica”. Ele trata a história e os fatos como se estivessem a serviço das suas

     próprias conclusões, o que pode ser muito “científico”, do ponto de vista dosestudiosos de temas orientais, mas fica extremamente longe da verdade dos fatos.

     No caso dos Vedas, as visões contraditórias sobre a questão cronológica, defendidas pelos vários eminentes orientalistas e filólogos desde Martin Haug até o próprio Sr.Max Müller, são uma prova evidente de que a afirmação não tem base histórica, eque a suposta “evidência interna”, ao invés de ser um farol confiável por cuja luzalguém pode orientar-se, é frequentemente como uma abóbora iluminada do dia das

     bruxas 53. A Ciência da moderna Mitologia Comparada tampouco tem qualquer prova melhor para mostrar que os doutos escritores que insistiram ao longo dosúltimos cem anos, mais ou menos, que deve ter havido “fragmentos de uma

    revelação primitiva, dada aos ancestrais de toda raça humana (.....) preservados nostemplos da Grécia e Itália”, estavam inteiramente errados. Porque é isso que todosos Iniciados e pândits 54  Orientais têm estado dizendo ao mundo de tempos emtempos. Um destacado sacerdote cingalês 55 assegurou à autora ser um fato bemconhecido que os tratados budistas mais importantes, pertencentes ao cânonesagrado, estavam guardados à parte em países e lugares inacessíveis aos pânditseuropeus. O falecido Swami Dayanand Sarasvati, o maior sanscritista da Índia emsua época, disse a mesma coisa a alguns membros da Sociedade Teosófica, comrelação a antigas obras bramânicas. Quando foi dito a ele que o professor MaxMüller havia declarado ao público das suas “Palestras” que as teorias (.....) “segundoas quais havia uma revelação primitiva e sobrenatural , dada aos pais da raça

    humana, tem o apoio de poucos atualmente”, - o homem santo e sábio riu. Suaresposta foi significativa. “Se o Sr. Moksh Mooller ”, era assim que ele pronunciavao nome, “fosse um brâmane e viesse falar comigo, eu poderia levá-lo a uma caverna

     gupta (uma cripta secreta) perto de Okhee Math, nos Himalaias, onde ele nãodemoraria muito para descobrir que tudo aquilo que cruzou o Kalapani (as águasescuras do oceano) desde a Índia até a Europa foram só pedaços de cópiasdescartadas de algumas passagens dos nossos livros sagrados. Um dia existiu eainda existe uma ‘primitiva revelação’; ela jamais se perderá, e irá reaparecer;embora os Mlechchhas 56 tenham, é claro, que esperar.”

    53 Abóbora iluminada, Jack-o’-lantern, no original em inglês. Referência à abóborailuminada usada no dia das bruxas, ou Halloween. (Nota do Tradutor)54

     Pândits; do sânscrito, “eruditos”. (Nota do Tradutor)55

     Cingalês; nativo do Ceilão, atual Sri Lanka. (Nota do Tradutor)56

     Mlechchhas; poucas páginas mais adiante, na p. xxxiv do original em inglês, H.P.Blavatsky traduz o termo “Mlechchhas” como “párias, selvagens, aqueles que estão fora dacivilização Ária”. (Nota do Tradutor)

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    Diante de novas perguntas sobre este ponto, ele nada respondeu. Isso ocorreu emMeerut 57, em 1880.

    Sem dúvida foi cruel o embuste que os brâmanes aplicaram em Calcutá no século passado ao coronel Wilford e ao Sir William Jones. Mas foi merecido, e a culpanaquele episódio cabe apenas aos próprios Missionários e ao coronel Wilford. Osmissionários, com base no testemunho do próprio Sir William Jones (ver Asiat. Res.,Vol. I, p. 272), foram suficientemente tolos para sustentar a ideia de que “os hindusmesmo hoje em dia são quase cristãos, porque o seu Brahmâ, Vishnu e Mahesa sãonada mais e nada menos que a trindade cristã”.58 Foi uma boa lição. O fato fez comque os eruditos orientalistas ficassem duplamente cautelosos. Mas talvez isso ostenha tornado também excessivamente tímidos, e pode ser que tenha feito, comoreação, com que o pêndulo das conclusões abandonadas se inclinasse demasiado

     para o outro lado. Porque aquele “primeiro acesso ao mercado bramânico”, feito

     pelo coronel Wilford, agora criou uma necessidade e um desejo evidentes, nosorientalistas, de declararem quase todos os manuscritos sânscritos arcaicos comotextos tão modernos quanto o adequado para que seja dada uma oportunidade aosmissionários. O fato de que estes últimos aproveitam tais oportunidades até o limitemáximo das suas capacidades mentais é demonstrado pelas tentativas absurdas dosmissionários no sentido de provar que toda a história purânica sobre Krishna foi

     plagiada da Bíblia pelos brâmanes! Mas os fatos citados pelo professor de Oxfordem suas Palestras sobre a “Ciência da Religião”, e que se referem às agora famosasinterpolações feitas para o benefício e a tristeza do Cel. Wilford, não interferem demodo algum com as conclusões a que deve chegar inevitavelmente alguém queestuda a Doutrina Secreta. Porque, se os resultados mostram que nem o Novo nem o

    Velho Testamento pegaram nada emprestado da religião mais antiga dos brâmanes edos budistas, isso não significa que os judeus não obtiveram tudo o que sabiam dosdocumentos caldaicos, estes últimos tendo sido mutilados mais tarde por Eusébio.Quanto aos caldeus, eles obtiveram sem dúvida alguma o seu conhecimento originalcom os brâmanes. Rawlinson mostra uma influência inegavelmente védica namitologia mais antiga da Babilônia; e o coronel Vans Kennedy há muito tempodeclarou corretamente que a Babilônia foi, desde a sua origem, um local dasabedoria sânscrita e brâmane. Mas todas estas provas devem perder valor, devido àúltima teoria produzida pelo Prof. Max Müller. Todos sabem do que se trata. Ocódigo das leis fonéticas se tornou agora um solvente universal para todaidentificação e “ligação” entre os deuses das muitas nações. Assim, embora a mãe de

    Mercúrio (Budha, Thot-Hermes, etc.) fosse Maia, a mãe de Buddha (Gautama),sendo também Mâyâ; e embora a mãe de Jesus fosse igualmente Maya (ilusão,

    57 Meerut; cidade situada no Estado indiano de Uttar Pradesh. Fica a 70 quilômetros da

    capital da Índia, Nova Delhi. Meerut é uma cidade antiga. (Nota do Tradutor)58 Veja “Introduction to the Science of Religion” (“Introdução à Ciência da Religião”), deMax Müller, palestra “Sobre Falsas Analogias em Teologia Comparada”, pp. 288 e 296 e

     pp. seguintes. Isso tem relação com a habilidosa falsificação (em folhas inseridas em velhosmanuscritos purânicos), em idioma sânscrito correto e arcaico, de tudo aquilo que os pânditsdo Cel. Wilford haviam escutado dele sobre Adão e Abraão, Noé e os seus três filhos, etc.,etc. (Nota de H. P. Blavatsky)

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     porque Maria é Mare, o Mar, a grande ilusão simbolicamente) -, ainda assim, estestrês personagens não estão conectados, nem podem ter qualquer ligação, desde queBopp “estabeleceu seu código de leis fonéticas”.

     Nos seus esforços para reunir os muitos fios da história não-escrita, foi um passoaudacioso da parte dos nossos orientalistas a negação, a priori, de tudo o que nãoseja compatível com as suas conclusões específicas. Assim, enquanto a cada dia sãofeitas novas descobertas sobre grandes artes e ciências que existiram em momentossituados muito longe na noite do tempo, até o conhecimento da escrita é recusado aalgumas das nações mais antigas, e atribui-se a elas barbarismo, ao invés de cultura.

     No entanto, os vestígios de uma imensa civilização, mesmo na Ásia Central, aindasão encontrados. Esta civilização é inegavelmente pré-histórica. E como poderiahaver uma civilização sem forma alguma de literatura, sem anais ou crônicas? Osimples bom senso deveria ser suficiente para suplementar os elos perdidos da

    história das nações que já não existem mais. O muro gigantesco e ininterrupto demontanhas que cerca o planalto do Tibete, desde o curso superior do rio Khuan-Khéaté as montanhas Kara-Korum foi testemunha de uma civilização durante milharesde anos e teria estranhos segredos a contar para a humanidade. As porções oriental ecentral destas regiões - a Nan-Schayn e a Altyne-taga - estiveram em certa épocacobertas de cidades que bem poderiam competir com as da Babilônia. Todo um

     período geológico passou pela terra desde que aquelas cidades deixaram de viver,conforme comprovam os pequenos morros de areia em movimento, e o solo estéril,e agora morto, das imensas planícies centrais da bacia do Tarim. Só as suas zonas defronteira são conhecidas, e superficialmente, pelo viajante. Nestas planícies arenosashá água, e são encontrados, nelas, oásis plenos de vida que nenhum europeu jamais

     pisou, e cujo solo agora é traiçoeiro. Entre estes oásis verdejantes há alguns que sãointeiramente inacessíveis mesmo para o trabalhador profano nativo. Furacões podem“mudar as areias de lugar e levar para longe planícies inteiras”; mas eles não têm o

     poder de destruir o que está além do seu alcance. Construídos em níveis profundosda Terra, os depósitos subterrâneos estão seguros. E como as entradas para eles estãoescondidas nestes oásis, não há perigo de que alguém possa descobri-los, ainda quevários exércitos invadissem as áreas abandonadas e arenosas onde -

    “Nenhum pequeno lago, arbusto algum, casa nenhuma são vistos,E a cordilheira rodeia como um biombo irregularAs planícies ressequidas do deserto sem umidade alguma...”

    Mas não é necessário que o leitor atravesse o deserto, porque as mesmas provas decivilizações antigas podem ser encontradas em regiões relativamente populosas domesmo país. O oásis de Tchertchen, por exemplo, situado cerca de 1.330 metrosacima do nível do rio Tchertchen-D’arya, está rodeado em todos os lados pelasruínas de cidades antigas. Ali, cerca de 3.000 seres humanos são os remanescentesde cerca de uma centena de raças e nações, e até os nomes destes povos sãodesconhecidos dos nossos etnólogos. Um antropólogo se sentiria mais do que

     perplexo se quisesse classificar, dividir e subdividir tais nações; especialmente porque, como se tivessem caído da lua, os respectivos descendentes destas raças etribos antediluvianas desconhecem os seus próprios ancestrais. Quando

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    questionados sobre sua origem, respondem que não sabem de onde vieram seusancestrais, mas que ouviram dizer que as suas primeiras gerações (as mais antigas)eram governadas pelos grandes espíritos destes desertos. Isso pode ser atribuído àignorância e à superstição; mas, tendo em vista os ensinamentos da DoutrinaSecreta, esta resposta pode estar baseada na tradição primitiva. Apenas a tribo deKhoorassan alega ter vindo do que agora se conhece como Afeganistão, muito antesda época de Alexandre, e traz conhecimentos lendários que corroboram estaafirmativa. Um viajante russo, o coronel (agora general) Prjevalsky, encontrou pertodo oásis de Tchertchen as ruínas de duas cidades enormes, a mais velha das quais, deacordo com a tradição local, foi arruinada há três mil anos por um herói gigante; e aoutra foi destruída pelos mongóis no século 10 da era atual. “Devido àmovimentação das areias e ao vento do deserto, o local das duas cidades está agoraencoberto por relíquias estranhas e heterogêneas, inclusive louça quebrada,utensílios de cozinha e ossos humanos. Os nativos frequentemente encontram

    moedas de cobre e ouro, prata fundida, lingotes, diamantes e turquesas, e o que émais interessante, vidro quebrado.....”. “Caixões funerários feitos de alguma madeira perene, e também material com corpos embalsamados e bem conservados ...... Asmúmias masculinas são todas de homens extremamente altos, fortes, com longoscabelos ondulados ...... Foi encontrada uma galeria com doze homens mortos

     sentados. Em outra ocasião, em uma urna funerária separada, encontramos umamulher jovem. Seus olhos estavam fechados com discos dourados, e as mandíbulaseram mantidas firmes graças a uma espécie de diadema de ouro que ia desde abaixodo seu queixo até o topo da cabeça. Estava vestida com uma roupa de lã estreita,com o peito coberto de estrelas douradas, e os pés permaneciam nus.” (De uma

     palestra de N. M. Prjevalsky.) A isso, o famoso viajante acrescenta que ao longo de

    toda a sua jornada pelo rio Tchertchen ele e seus companheiros de viagem ouviramlendas sobre vinte e três cidades que foram enterradas, eras atrás, pelas mutáveisareias do deserto. A mesma tradição existe no Lob-nor e no oásis de Kerya.

    Os vestígios desta civilização e outras tradições semelhantes nos levam a acreditarnos conhecimentos lendários, aceitos por eruditos da Índia e da Mongólia, segundoos quais há imensas bibliotecas resgatadas das areias, cuidadosamente preservadas

     junto com várias relíquias dos antigos conhecimentos MÁGICOS.

    Recapitulemos. A Doutrina Secreta foi a religião universalmente propagada nomundo antigo e pré-histórico. As provas da sua difusão, os registros autênticos da

    sua história, e um conjunto completo de documentos mostrando o seu caráter e sua presença em todas as nações, junto com o ensinamento de todos os seus grandesadeptos, existem até hoje nas criptas secretas das bibliotecas que pertencem àFraternidade Oculta.

    Esta afirmativa se torna mais aceitável se levarmos em conta os seguintes fatos: atradição segundo a qual milhares de antigos pergaminhos foram salvos quando a

     biblioteca de Alexandria foi destruída; os milhares de obras sânscritas quedesapareceram na Índia durante o reinado de Akbar; a tradição universal, na China eno Japão, segundo a qual os verdadeiros textos antigos, com os comentáriosindispensáveis para a sua compreensão e somando muitos milhares de volumes,

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    foram retirados há longo tempo do alcance de mãos profanas; a desaparição da vastaliteratura oculta e sagrada da Babilônia; a perda das chaves indispensáveis para asolução de milhares de enigmas apresentados pelos registros hieroglíficos do Egito;a tradição na Índia segundo a qual os verdadeiros comentários secretosimprescindíveis para que o Veda seja compreendido, embora já não visíveis paraolhos profanos, ainda permanecem ao alcance do iniciado, ocultos em cavernas ecriptas secretas; e uma crença idêntica entre os budistas, com relação aos seus

     próprios livros secretos.

    Os Ocultistas afirmam que todas estas obras existem e permanecerão em segurança,fora do alcance das mãos saqueadoras do Ocidente, até reaparecer em uma era maisiluminada, pela qual, segundo as palavras do Swami Dayanand Sarasvati, “osMlechchhas (párias, selvagens, aqueles que estão fora da civilização Ária) terão deesperar”. 

    Porque não é por culpa dos iniciados que estes documentos estão agora “perdidos” para o profano. As normas adotadas por eles a este respeito não foram ditadas porum sentimento de egoísmo, ou por algum desejo de monopolizar o conhecimentosagrado que é fonte de vida. Houve porções da Ciência Secreta que tiveram que ficarafastadas do olhar profano durante eras incalculáveis, mas isso ocorreu porquetransmitir segredos de tamanha importância para multidões despreparadas seria omesmo que dar a uma criança uma vela acesa em um paiol cheio de pólvora.

    Uma pergunta surge frequentemente nas mentes dos estudantes, quando são feitasafirmações como esta, e cabe esboçar uma resposta.

    “Podemos entender”, dizem eles, “a necessidade de esconder da multidão segredostais como o Vril 59, a força que destrói rochas, descoberta por J. W. Keeley, daFiladélfia. Mas não podemos compreender que haja qualquer perigo na revelação deuma doutrina tão puramente filosófica como a evolução das cadeias planetárias.”

    O perigo era o seguinte: doutrinas como a das cadeias planetárias, ou a das seteraças, dão de imediato uma indicação sobre a natureza setenária do ser humano,

     porque cada princípio tem uma correlação com um plano, um planeta, e uma raça; eos princípios humanos estão, em cada plano, correlacionados a forças ocultassetenárias, das quais, as que operam nos planos mais elevados dispõem de um poder

    tremendo. De modo que toda divisão setenária dá imediatamente uma pista nadireção de poderes ocultos tremendos. O abuso destes poderes causaria umadesgraça incalculável para a humanidade. Esta talvez não seja uma pista para ageração atual 60- especialmente no Ocidente. Ela está protegida pela sua própria

    59 Vril; força sutil que rompe os muros do mundo físico e é usada pela humanidade no

    romance póstumo de Sir Edward Bulwer-Lytton “The Coming Race” (“A Raça Futura”).Tem relação com o poder do som. A atual energia atômica é uma expressão grosseira damesma energia. (Nota do Tradutor)60

     Geração atual; como “A Doutrina Secreta” foi publicada em 1888, a expressão “geração

    atual” inclui até o início do século vinte. No plano físico, na década de 1930 começou a

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    cegueira e sua descrença materialista e ignorante em relação ao que é oculto; mastrata-se de uma pista, mesmo assim, que teria sido, no entanto, muito real nos

     primeiros séculos da era cristã, para pessoas profundamente convictas da realidadedo ocultismo, vivendo no início de uma era de degradação, que os tornavavulneráveis ao abuso de poderes ocultos e à feitiçaria do pior tipo.

    Os documentos foram ocultados, é verdade, mas a existência deste conhecimentonunca foi tratada como um segredo pelos Hierofantes do Templo, no qual osMISTÉRIOS têm sido sempre uma disciplina e um estímulo à virtude. A notíciadeste conhecimento é muito antiga, e foi divulgada repetidamente pelos grandesadeptos, desde Pitágoras e Platão até os neoplatônicos. Foi a nova religião dosnazarenos que provocou uma mudança para o pior ao longo dos séculos.

    Além disso, há um fato bastante conhecido e curioso, confirmado para esta redatora

     por um respeitável cidadão que esteve vinculado durante anos a uma embaixadarussa. Vários documentos guardados nas Bibliotecas Imperiais de São Petersburgodemonstram que, mesmo em um período