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Parte I

Orando no espírito com spurgeon parte 1

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Parte I

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Orando no Espírito com Spurgeon

Parte 1

Traduzido, adaptado e editado

por Silvio Dutra

FEV/2016

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S772 Spurgeon, Charles H. Orando no Espírito com Spurgeon./ Charles H. Spurgeon : tradução e adaptação Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 288p.; 14,8x21cm 1. Oração. 2. Pregação. 3. Alves, Silvio Dutra. I. Título. CDD 252

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Sumário

A Chave de Ouro da Oração........................... 5

Certeza do Êxito na Oração.......................... 30

Como Suplicar.................................................. 46

O Dever da Oração Incessante...................... 66

O Poder da Oração Unânime.......................... 84

“Orai sem cessar” (I Tes 5.17)....................... 91

Pedir e Receber................................................ 111

“Sede perseverantes na oração”

(Rom 12.12).........................................................

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A Chave de Ouro da Oração

Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e

adaptado por Silvio Dutra)

"Clama a mim e te responderei e te mostrarei coisas grandes e ocultas que tu não conheces."

(Jer 33:3)

Algumas das obras mais famosas do mundo

têm o odor do azeite da mediocridade; porém há

obras, livros e ditos mais espirituais e escritos

pelos homens que têm o aroma úmido das masmorras. Poderia citar vários exemplos, sem

dúvida, O Peregrino de João Bunyan é melhor

que um cento deles. E este bom texto que temos

ante nossos olhos, amolecido e frio com a prisão em que Jeremias se encontrava, tem, não

obstante, um brilho e beleza em si, que jamais

houve e não haverá, como uma oração

reconfortante do Senhor para o prisioneiro, encerrado no pátio do cárcere. O povo do

Senhor sempre tem encontrado o melhor de

seu Deus quando se acha na pior das condições.

Ele é bom em todo o tempo porém parece dar a conhecer sua melhor expressão quando os seus

estão em seu pior momento. Rutherford teria

um dito pitoresco; quando era lançado nas celas

da aflição, recordava-se que o Grande Rei guardava ali o seu vinho, de modo que

imediatamente se poria a buscar as botijas e a

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beber. Os que mergulham no mar da aflição são

os que pegam as pérolas mais preciosas. Com-

panheiros na aflição, vocês sabem que assim é.

Vocês têm comprovado que Ele é um Deus fiel, e que quando abundam as suas tribulações, suas

consolações superabundam por Cristo Jesus.

Ao escolher este texto para esta manhã, minha oração é que sua grata promessa seja ouvida no

coração de alguns dos prisioneiros do Senhor; que se encontram amarrados e encerrados e

não podem sair devido ao seu presente estado

de espírito pesado, escutem o que E1e lhes diz ao

ouvido em um suave murmúrio que chega até ao coração: "Clama a mim e eu te responderei e

te mostrarei coisas grandes e poderosas que tu

não conheces.".

O texto está dividido naturalmente em três partes da verdade. Falaremos destas na medida

que Deus o Espírito Santo nos capacite. Em primeiro lugar, há uma ordem para orar: "Clama

a mim"; em segundo lugar, a promessa de uma

resposta: "e te responderei"; em terceiro lugar, o

estímulo à fé: "e te mostrarei coisas grandes e ocultas que tu não sabes.".

I. A primeira divisão é: UMA ORDEM PARA ORAR.

Não se nos aconselha e recomenda somente que oremos, senão que se nos ordena orar. Esta é

uma grande condescendência. Constroem um

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hospital. Considera-se que basta dar livre

admissão aos enfermos que buscam ser

atendidos. Porém a diretoria do hospital não

emite uma ordem no sentido de mandar que uma pessoa cruze suas portas. No mais rigoroso

do inverno se abre uma sala de jantar bem

abastecida. Divulga-se a notícia: para comer ali, os pobres devem apenas pedir; porém não se

pensa que o Parlamento promulgue uma lei

obrigando os pobres a entrarem pelas suas

portas em busca da caridade oferecida. Pensa-se que basta se dar a conhecer isto sem emitir

nenhuma ordenança no sentido de que os

homens devam aceitá-la. Sem dúvida, é tão

estranha a vaidade humana, por um lado, faz-se necessária uma ordem para que tenha

misericórdia de sua própria alma., e tão

maravilhosa é a condescendência do nosso

Deus misericordioso, por outro, que dá uma ordem de amor sem a qual nem sequer um só

homem nascido de Adão poderia participar da

festa do evangelho, antes preferiria morrer de

fome e não obedecer.

É assim que ocorre com a oração. O povo de

Deus necessita mesmo de um mandamento para orar, pois de outro modo, não o fará. Porém,

como pode ser isto? Queridos amigos, isto se

deve a que nós estamos mui sujeitos a

arrebatamentos de mundanismo, sim é que esse não é o nosso estado normal. Não nos

esquecemos de comer; não esquecemos de

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fechar nossas casas; não esquecemos de ser

diligentes nos negócios; não esquecemos de

tirar nossas folgas para descansar. Porém, com

frequência esquecemos de lutar com Deus em oração, e ter, como deveríamos, longos períodos

em consagrada comunhão com nosso Pai e

nosso Deus. Para muitos professores o maior livro é tão pesado que não o podem mover,

enquanto que a Bíblia, que representa sua

devoção, é tão pequena que podem colocá-la em

um bolso de sua roupa. Horas para o mundo! Pequenos momentinhos para Cristo! O mundo

recebe o melhor do nosso tempo, enquanto

nossa câmara de oração recebe somente os

desejos. Damos nossa força e juventude aos caminhos de Mamon, e nossa fadiga e languidez

aos caminhos do Senhor. Por isso é que se faz

necessário um mandamento para participar do

ato mesmo que deveria constituir nossa maior felicidade, do mais alto privilégio que podemos

ter, isto é, ir ao encontro de nosso Deus. "Clama

a mim," diz E1e, porque sabe que somos dados a

esquecer de clamar a Ele. "Que tens, dorminhoco? Levanta-te, e clama a teu Deus," é

uma exortação que necessitamos hoje tanto

quanto Jonas em meio à tormenta.

Ele sabe quão pesados são nossos corações quando estamos sob uma sensação de pecado.

Satanás nos diz: "Por que tens que orar? Como pensas prevalecer? Em vão estás dizendo

“levantar-me-ei e irei a meu Pai”, porque não és

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digno nem sequer de ser como um de seus

empregados. Como podes olhar o rosto do Rei

depois de havê-lo traído? Como te atreves a

acercar-te do altar que tu mesmo tens manchado, e quando o sacrifício que poderias

oferecer é pobre e imundo?" Oh, irmãos, quão

bom é que nos seja ordenado orar. Se Deus o ordena, indigno como sou, me arrastarei até o

estrado da graça. Pois que ele disse: "Orai sem

cessar," ainda que minhas palavras faltem e meu

coração divague, todavia poderei balbuciar os desejos de minha alma faminta e dizer-lhe: "Oh

Deus, ensina-me ao menos a orar, e ajuda-me a

prevalecer diante de ti!".

Não somos dados a orar devido à nossa frequente incredulidade? A incredulidade

murmura: "Que proveito tem o que busca ao Senhor em tal coisa? Seja algo muito trivial, ou

relacionado com coisas temporais, ou uma

questão em torno da qual tem pecado em

demasia, ou algo demasiadamente elevado, demasiadamente difícil, uma questão

demasiadamente complicada, não tens direito a

isso diante de Deus!" Isto é o que sugere desde o

inferno o inimigo imundo. Por isso permanece escrito como um preceito para todos os dias e

apropriadamente para cada caso em que possa

ver-se envolvido um cristão: "Clama a mim

...clama a mim." Estás enfermo? Queres ser curado? Clama a mim, porque sou o Grande

Médico! Perturba-te a providência? Temes que

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não poderás suster-te com honestidade diante

dos homens? Clama a mim! Te provocam

desgostos teus filhos? Estás sentindo aquilo que

é mais agudo do que os dentes de uma víbora, a ingratidão de teu filho? Clama a mim! São tuas

tribulações, poucas porém dolorosas, como

pequenas pontas de espinho? Clama a mim! É tua carga pesada, tanto que parece que tu cedes

sob ela? Clama a mim! "Lança sobre Jeová a tua

carga, e ele te sustentará; não deixará caído para

sempre o justo.".

Não devemos dar por encerrado nosso primeiro ponto antes de fazer outra observação. Devemos alegrar-nos muito no fato de que Deus nos tem

dado este mandamento em sua palavra para que

seja seguro e permanente. Poderia ser um

interessante exercício para alguns de vocês descobrir com quanta frequência nos é

mandado orar. Surpreenderia vocês descobrir

quantas vezes são-nos dadas palavras como

estas: "Invoca-me no dia da angústia e eu te livrarei"; "Oh, crentes, derramai diante dele

vosso coração;" "buscai a Jeová enquanto pode

ser achado, procurai-o enquanto está perto;"

"Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e se vos abrirá;" "Vigiai e orai, para que não entreis

em tentação." "Orai sem cessar;" "acheguemo-

nos confiadamente ao trono da graça;" "Achegai-

vos a Deus e ele se achegará a vós;" "Perseverai na oração." Não é necessário multiplicar os

exemplos em um ponto em que não posso ser

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exaustivo. Basta colher duas ou três desta

grande bolsa de pérolas. Vamos cristão!, não

deves jamais perguntar se tens direito a orar;

não deves jamais perguntar: “É-me permitido entrar em sua presença?”. Posto que tens tantos

mandamentos (e os mandamentos de Deus são

promessas), podes achegar-te confiadamente ao trono da graça celestial, pelo novo e vivo

caminho do véu que se rasgou.

Porém, há oportunidades em que Deus não somente manda seu povo orar na Bíblia, senão

que também o faz ordenando-lhes que orem de

modo direto por meio dos impulsos de seu Espírito Santo. Vocês, que conhecem a vida

interior, haverão de me compreender. Em meio

de seu trabalho vocês sentem um repentino

estímulo de retirarem-se para orar. Poderia ser que ao princípio não notem particularmente a

inclinação, porém uma e outra vez, vai e volta:

"Retira-te e ora!" Enquanto em oração percebo

que sou como um moinho de água que corre muito bem enquanto há água em abundância,

porém que vai perdendo força à medida que o

volume de água do rio baixa; ou como o barco

que navega sobre as águas e estende todo o seu velame quando o vento é favorável, porém que

tem que mover trabalhosamente as velas para

captar algo de uma pequena brisa favorável.

Agora, bem, me parece que quando nosso Senhor lhes der esta inclinação especial para

orar, vocês devem duplicar sua diligência.

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Devem sempre orar e não desmaiar, porém,

quando ele põe em seu coração um desejo

especial de orar, e sente uma atitude peculiar e

gozo nele, terá, além do mandamento que o obriga constantemente, outra ordem que o

levará a uma grata obediência. Penso que em

tais ocasiões poderíamos estar na posição de Davi, a quem o Senhor disse: "Quando ouvires o

ruído como de marcha pelas copas das

palmeiras então te moverás." O ruído de marcha

nas copas das palmeiras bem poderiam ser as pisadas de anjos que viriam apressadamente

ajudar a Davi, então Davi deveria atacar os

filisteus, e assim quando as misericórdias de

Deus se aproximam, suas pisadas são nossos desejos de orar; e nossos desejos de orar devem

ser uma indicação que tem chegado o momento

divino de favorecer imediatamente a Sião.

Semeia abundantemente agora, porque tua colheita será segura. Luta agora, Jacó, porque

estás a ponto de converter-te em um príncipe

que prevalece, e teu nome será chamado Israel.

Agora é teu tempo, mercador espiritual; o mercado está em alta, há muito negócio; teu

ganho será alto. Preocupa-te em usar de forma

correta a hora ensolarada, e realiza tua colheita

enquanto brilha o sol.

II. Consideremos agora nosso segundo ponto: A

PROMESSA DE UMA REPOSTA

Não deveríamos sustentar nem sequer por um só momento o horrível pensamento que Deus

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não responderá a oração. sua natureza, segundo

se manifesta em Jesus Cristo, demanda que

assim seja. Ele tem se revelado no evangelho

como Deus de amor, cheio de graça e verdade; assim, como poderia negar-se a ajudar aos que

são seus, que humildemente buscam seu rosto

e seu favor pelo modo que foi estabelecido por ele mesmo?

Em uma ocasião, o senado ateniense considerou mais conveniente reunir-se ao ar livre.

Enquanto estavam sentados em suas

deliberações, um pardal, perseguido por um

falcão, voou em direção ao senado. Perseguido muito de perto pela ave de rapina, buscou

refúgio no seio de um dos senadores. Este

homem de caráter rude e vulgar, tomou a ave de

seu seio, a lançou contra o solo e a matou. Naquele instante todo o senado se pôs de pé, e

sem uma só voz discordante, o condenaram à

morte, como indigno de sentar-se no senado

com eles ou de ser chamado um ateniense, posto que havia negado o socorro a uma criatura

que havia confiado nele. Podemos supor que o

Deus do céu, cuja natureza é amor, vá lançar de

seu seio a pobre pomba que para ali voa fugindo da águia da justiça e se refugia no seio da sua

misericórdia? Nos dará o convite para buscar

seu rosto, e quando nós, como ele sabe, com

tanta vacilação de temor, reunimos forças para voar a seu seio, será então tão injusto e carente

de graça como para atender em ouvir nosso

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clamor e responder-nos? Não pensemos tão mal

do Deus do céu.

Recordemos logo, junto com sua natureza, seu caráter passado. Me refiro ao caráter que lhe tem feito famoso através de suas obras de graça

passadas. Considerem, meus irmãos, aquela

grandiosa demonstração de amor - se

quiséssemos nomear um milhar, não poderíamos dar uma melhor ilustração do

caráter de Deus do que aquele fato grandioso: "O

que não poupou nem a seu próprio filho, senão

que o entregou por todos nós. Como - e esta não é uma inferência minha, senão inspirada

conclusão do apóstolo - não nos dará também

com ele todas as coisas?" Se o Senhor não se

nega a escutar minha voz sendo pecador culpado e inimigo, como vai recusar meu

clamor agora que tem sido justificado meu

coração, que não conhecia, e não buscava ajuda, se depois de tudo não me escutará agora que sou

seu filho e seu amigo? As feridas sangrentas de

Cristo são a segura garantia da oração atendida.

Em seu conhecido poema The Bag (a Bolsa), George Herbert apresenta o Salvador dizendo:

“Se há algo que queiras mandar ou escrever, para entregar nas mãos de meu Pai, creia-me

que seguramente vai recebê-lo, porque me

preocuparei do teu encargo. Perto do meu coração o podes, e se outros querem empregar-

me assim, a porta acham aberta de par em par,

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e, o que enviar, em mãos do Pai entregarei

acrescentado para que receba mais.”

Certamente o pensamento de George Herbert era que a expiação por si mesma é uma garantia

de que a oração deve ser ouvida, que a grande

ferida feita junto do coração do Salvador, que ficou exposto à luz para que se visse as

profundidades do coração da divindade, era una

prova de que aquele que se senta nos céus quer

escutar o clamor de seu povo. Se pensas que a oração é inútil, estás fazendo uma leitura

equivocada do Calvário.

Porém, amados, temos a promessa de Deus a respeito, e E1e é Deus, que não pode mentir.

"Invoca-me no dia da angústia . . . te

responderei." Não tem dito "Tudo o que pedires

em oração, crendo, o recebereis?". Por certo, não podemos orar a menos que creiamos nesta

doutrina; "porque é necessário que o que se

aproxima de Deus, creia que E1e é galardoador

dos que o buscam"; e se temos alguma dúvida quanto a que nossa oração seja ouvida somos

comparáveis com os que têm ânimo dobre:

"Porque o que duvida é semelhante à onda do

mar, que é arrastada pelo vento e é lançada de uma parte a outra. Não pense pois, quem o faz,

que receberá alguma coisa do Senhor."

Poderia além disso dar força ao nosso argumento se disséssemos que nossa experiência nos leva a crer que Deus atenderá a

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oração. Eu não posso falar por ti; porém posso

falar por mim. Se há algo que eu sei, algo de que

estou seguro além de qualquer dúvida, é que as

palavras de uma oração jamais são gastas em vão. Se não há aqui algum homem que se atreva

a dizê-lo, eu me atrevo a afirmá-lo, e sei que

posso prová-lo. Minha própria conversão é o resultado de longas, afetuosas, ferventes e

importunas orações. Meus pais oravam por

mim; Deus ouviu seus clamores, e aqui estou

para pregar o evangelho. Desde então, tenho me aventurado em empresas que estavam muito

acima de minha capacidade, porém, nunca

tenho fracassado, porque me tenho lançado nos

braços do Senhor.

Vocês sabem como igreja que não tenho tido escrúpulos para fixar-me em grandes ideias do que poderíamos, fazer para Deus. E tudo a que

nos temos proposto temos cumprido. Tenho

buscado a ajuda de Deus, seu socorro e auxílio

em todas as múltiplas empresas, e ainda não posso contar aqui a história de minha vida

privada enquanto faço a obra de Deus, se a

escrevesse seria uma prova firme de que há um

Deus que atende a oração. Ele tem ouvido minhas orações, não de vez em quando, não um

par de vezes, senão muitíssimas vezes, tantas,

que se tem convertido em um hábito expor

minha causa diante de Deus com absoluta certeza de que aquilo que lhe pedir, Ele me

concederá. Agora não é um "talvez" ou uma

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possibilidade. Sei que meu Senhor me atende, e

não me atrevo a duvidar, porque seria certa-

mente uma tolice fazê-lo. Assim como estou

seguro que uma quantidade de força sobre uma alavanca levantará uma coisa pesada, eu sei que

uma certa quantidade de oração traz a bênção.

Como a primavera tudo enche de flores, assim as súplicas asseguram as misericórdias. Em

todo trabalho há ganho, porém mais que em

tudo há na obra de intercessão; pois estou

seguro, porque dele tenho tido minha colheita.

Lembre-se porém que a oração sempre se oferece em sujeição à vontade de Deus; que

quando dizemos "Deus ouve a oração, não

queremos dizer com isto que ele sempre nos dá

literalmente o que pedimos. Todavia queremos dizer isto, que ele dá o que é melhor para nós e

que se ele não nos dá a misericórdia que lhe

pedimos em prata, a concede em ouro. Se não nos retira o aguilhão da carne, nos diz "Basta-te

a minha graça," e isso finalmente equivale ao

mesmo.

Lord Bolinbroke dizia à condessa de

Huntingdon: "Não entendo, senhora, como poderia fazer uma oração sincera que se

harmonizasse com a vontade divina.". "Meu

filho, disse ela, "Isso é algo que não oferece

dificuldade. Se eu fosse da corte de algum generoso rei, e ele me desse autorização para

solicitar dele qualquer favor, eu certamente lhe

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diria: "Poderia sua majestade em sua graça

conceder-me tal e tal favor? Porém, ainda que

muito o deseje, se de alguma forma empane a

honra de vossa majestade, ou se segundo o critério de sua majestade parece bem que não

receba tal favor, estarei tão contente sem ele

como se o houvesse recebido." Assim você pode ver que eu posso apresentar sinceramente

minha petição, porém submissimamente deixar

a resposta nas mãos do rei.". O mesmo ocorre

com Deus. Nós nunca oferecemos uma oração sem inserir aquela oração: "Porém não se faça

minha vontade, senão a tua.”. Somente

podemos orar sem um "se" condicional quando

estamos seguros de que nossa vontade é a vontade de Deus.

III. Chegamos a nosso terceiro ponto, que, penso, está cheio de alento para todos os que se

exercitam na arte bendita da oração: O ESTÍMULO À FÉ: "Te ensinarei coisas grandes e

ocultas que tu não conheces."

Notemos que isto originalmente foi dito a um profeta em prisão, e a maneira de conhecer as

verdades reservadas, as verdades mais elevadas e misteriosas de Deus, é esperando em Deus em

oração. Ontem, enquanto lia o livro de Daniel

notei de forma muito especial como Daniel

descobriu o sonho de Nabucodonosor. Os encantadores, magos, astrólogos e caldeus

trouxeram seus livros curiosos, e seus

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estranhos instrumentos, e começaram a

pronunciar suas abracadabras e a realizar toda

sorte de encantamentos misteriosos, porém

todos fracassaram. Que fez Daniel? Se pôs a orar, e sabendo que a oração de um corpo unido de

homens prevalece melhor que a oração de um

só, vemos Daniel convidando a seus irmãos a unirem-se a ele em fervente oração para que

Deus, em sua infinita misericórdia, pudesse dar-

lhe a conhecer a visão. E no caso de João, que é o

Daniel do Novo Testamento, recordareis que ele viu um livro na mão direita daquele que estava

assentado no trono, um livro selado com sete

selos, não achando-se ninguém digno de abrir

os selos. Que fez então João? O livro foi aberto pelo Leão da Tribo de Judá, que havia

prevalecido para abrir o livro, porém está

escrito que antes que o livro se abrisse, "eu

chorava muito." Sim e as lágrimas de João, que eram suas orações líquidas, foram no que lhe

respeita, as chaves sagradas pelas quais foi

aberto o livro selado.

Irmãos no ministério, vocês que são mestres na Escola Dominical, e todos os que são estudantes

na escola de Jesus Cristo, lhes rogo que recordem que a oração é seu melhor meio de

estudo. Como Daniel entenderão o sono e a

interpretação, quando o buscarem em Deus. E

como João verão os sete selos abertos entregando as preciosas verdades depois que

houverem chorado muito. "Se clamares à

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inteligência, e à prudência deres a tua voz; se

como a prata a buscares, e a procurares como a

tesouros, então entenderás o temor de Jeová, e

acharás o conhecimento de Deus.". As pedras não se rompem senão por meio do uso aplicado

do martelo, e o picador de pedras usualmente se

põe de joelhos. Utiliza o martelo da verdade, e além disso exercita o joelho da oração e as

doutrinas da Revelação, duras como rocha,

necessárias a vosso entendimento, se abrirão

diante de vocês o exercício dela e da oração. “Orar bem é estudar bem" é uma sábia sentença

de Lutero, que tem sido citada com tanta

frequência, que apenas nos temos atrevido a

fazer uma alusão a ela. "Haver orado bem é haver estudado bem.". Podes abrir-te caminho

através de qualquer coisa com a vara da oração.

Os pensamentos e os raciocínios podem ser

como cunhas de um arado que podem abrir um caminho até a verdade, porém a oração é a

chave, a alavanca que abre o cofre de ânimo do

mistério sagrado, para obter o tesouro ali

escondido somente para quem pode abrir com esforço uma via para alcançá-lo. O reino dos

céus todavia sofre violência e os violentos o

arrebatam. Cuidem em trabalhar com o

poderoso implemento da oração, e nada poderá opor-se a vocês. Todavia, não devemos deter-

nos aqui. Temos aplicado o texto a um só caso.

Se pode aplicar a centenas. Queremos assinalar

outro. O santo deve esperar descobrir uma experiência mais profunda e conhecer mais de

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uma vida espiritual mais elevada ao dedicar-se

mais à oração. Há diferentes traduções do meu

texto. Uma versão diz: "Te mostrarei coisas

grandes e reservadas que tu não conheces." Agora bem, nem todos os progressos na vida

espiritual são igualmente fáceis de alcançar.

Estão presentes as estruturas comuns e os sentimentos de arrependimento, fé, gozo e

esperança que desfruta toda a família. Porém há

uma esfera superior de rapto, de comunhão e de

união consciente com Cristo que estão longe de ser lugares comuns para os crentes. Todos os

crentes vêm a Cristo. Porém nem todos podem

por seus dedos nas feridas dos cravos, nem

meter suas mãos em seu lado. Nem todos temos o privilégio que João teve de reclinar-se sobre o

peito de Jesus, nem o de Paulo de ser arrebatado

ao terceiro céu.

Na arca da salvação encontramos o primeiro, segundo e terceiro pisos. Todos estão na arca,

porém nem todos estão no mesmo piso. A maioria dos crentes, quanto ao rio da

experiência, têm a água somente até os

tornozelos. Outros tem vadeado o rio até que as

águas lhes cheguem aos joelhos; uns poucos encontram a água até ao peito. Porém somente

uns poucos - quão poucos! Encontram-se no rio

de tal modo que podem nadar, cujo fundo não

pode ser tocado. Meus irmãos, há alturas no conhecimento experimental das coisas de Deus

que o olho da águia da perspicácia e do

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pensamento filosófico não tem logrado ver. E há

sendas secretas que a razão e o juízo ainda não

têm aprendido a transitar. Somente Deus nos

pode levar até ali. Porém a carruagem em que nos leva, e os cavalos de fogo que conduzem a

carruagem, são as orações prevalecentes. A

oração que prevalece é vitoriosa pela misericórdia de Deus. "Com seu poder venceu o

anjo; venceu o anjo e prevaleceu; chorou e lhe

rogou; em Betel lhe falou, e ali falou conosco.". A

oração que prevalece conduz o crente até o Carmelo e o habilita para cobrir os céus com

nuvens de bênçãos, e a terra com correntes de

misericórdia. A oração prevalecente leva o

crente ao alto do monte de Pisga e lhe mostra a herança que tem reservada. O eleva ao Tabor e o

transfigura até que na semelhança de seu

Senhor, como Ele é, assim somos nós neste

mundo. Se queres alcançar algo mais alto que a ordinária experiência de humilhação,

contemple a rocha que é mais alta que tu, e com

os olhos e de cima dela olhe através das janelas

da oração importuna.

Assim que, para crescer na experiência, deve haver muita oração.

Rogo a vocês que tenham paciência comigo enquanto aplico este texto a um, dois ou três

casos mais. É certamente verdadeiro para o que sofre provas. Se em oração espera em Deus,

receberá uma liberação muito maior que

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pudera haver sonhado: "Coisas grandes e

poderosas que tu não conheces.". Este é o

testemunho de Jeremias: "Te aproximaste no dia

que te invoquei, disseste: “Não temas.". Advogaste, Senhor, a causa de minha alma;

redimiste minha vida.". E com Davi dá-se o

mesmo: "Na minha angústia invoquei o Senhor, e me respondeu pondo-me num lugar

espaçoso... Te louvarei porque me tens ouvido,

foste-me por salvação.". E também: "Clamaram

a Jeová em sua angústia e ele os livrou de suas aflições. Os dirigiu por caminho direito para que

viessem à cidade habitada.". "Meu marido

morreu," disse a pobre mulher, "e tem vindo o

credor para levar meus dois filhos como servos.". Ela esperava que Eliseu possivelmente

dissesse: "Quanto deves? Eu pagarei."

Em lugar de fazer isso, ele multiplicou o azeite até que pôde dizer-lhe: "Paga a teus credores, e" - para quê era o "e"? - "tu e teus filhos vivam do

que restou.". Com muita frequência ocorrerá

que Deus não somente ajudará a seu povo a

cruzar os lugares lamacentos do caminho, Ele os levará a salvo através de toda a viagem.

Foi um milagre realmente notável. Quando em meio da tormenta Jesus Cristo veio caminhando

sobre o mar, os discípulos o receberam no

barco, e não somente se acalmou o mar, senão que está escrito: "O barco, chegou em seguida à

terra para onde iam.".

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Essa foi uma misericórdia superior ao que haviam pedido. Às vezes os escuto orar usando

uma citação que não está na Bíblia: É poderoso

para fazer todas as cousas muito mais abundantemente do que podemos pedir ou entender." Não diz assim na Bíblia. Eu não sei o

que podemos pedir ou o que podemos entender. Porém diz: "É poderoso para fazer todas as

cousas muito mais abundantemente do que

pedimos ou entendemos.".

Então, queridos amigos, quando estivermos em

grande tribulação digamos somente: "Agora estou em prisão; qual Jeremias, orarei como ele

o fez, porque tenho o mandamento de Deus de

fazê-lo; e esperarei, como ele o fez, até a hora por

mim desconhecida. E1e não somente vai conduzir o seu povo através da batalha,

protegendo suas cabeças nela, senão que os

levará adiante com os estandartes ondeando, para repartir despojos com os poderosos, e

reclamar sua porção com os fortes. Esperai

grandes coisas de um Deus que lhes dá

promessas tão grandes como estas.

Além disso, há aqui um estímulo para o obreiro. Meus queridos amigos, esperai muito de Deus

em oração, pois tendes a promessa de que E1e

fará por ti cousas maiores do que as que

conheces. Não sabemos quanta capacidade de serviço há em nós. Aquela queixada de jumento

tirada da terra, que poderia fazer?

Page 25: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

25

Nada se sabe para que serve. Porém nas mãos de Sansão, que não pode fazer? Nada se pode

duvidar agora que Sansão a maneja. E tu, amigo,

frequentemente tens te considerado tão desdenhável como este osso e tens dito: "Que

posso fazer?". Sim, porém quando Cristo pelo

seu Espírito te toma, o quê não podes fazer? Certamente podes adotar a linguagem do

apóstolo Paulo e dizer; "Tudo posso em Cristo

que me fortalece.".

Todavia, não deveis depender da oração sem esforço. Em uma escola havia uma menina que

conhecia ao Senhor. Muito graciosa, sensível e confiante. Como deve ser, a graça se

desenvolveu na menina conforme a sua posição.

suas lições sempre eram as melhores da classe.

Outra menina lhe disse: "Como consegues que tuas lições estejam sempre bem?". "Oro a Deus

para que me ajude a aprender minhas lições,"

respondeu ela. "Bem," pensou a outra, "Eu farei o

mesmo.". No dia seguinte, quando fez a lição não sabia nada, e sentindo-se desgraçada se queixou

à outra colega e lhe disse: "Por que eu orei a Deus

pedindo-lhe que me ajudasse a aprender a lição

e não aprendi nada? Para que serviu a oração?". "Porém, te sentaste para aprendê-la?" "Oh, não,"

disse ela. "Nem sequer olhei o livro.". "Ah," disse

a outra, "Eu pedi a Deus que me ajudasse a

aprender a lição, porém em seguida me sentei para estudá-la, e prossegui até que a soubesse

bem, e a aprendi com facilidade, porque meu

Page 26: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

26

desejo sincero, que havia expressado a Deus, era

que me ajudasse a ser diligente em meu esforço

para cumprir meus deveres."

Assim ocorre com alguns que vêm as reuniões de oração e oram, e logo se acham de braços

cruzados e se vão esperando que a obra de Deus

siga adiante. Como a mulher que disse: "Voa, voa, poderoso evangelho," porém não pôs

dinheiro no ofertório. sua amiga lhe tocou o

braço e lhe disse: "Porém, como pode voar, se tu

não lhe dá as asas?". Há muitos que parecem ser muito poderosos em oração, maravilhosos em

suas súplicas, porém logo requerem que Deus

faça o que eles podem fazer por si mesmos, e

portanto, Deus não faz nada por eles. “Deixarei meu camelo solto,”, disse um árabe a Maomé,

“e confiarei na providência”. “Amarra-o

firmemente”, disse Maomé, “ e depois confia na

providência”.

Assim, vocês que dizem, "Orarei e entregarei minha igreja, ou minha classe, ou minha obra ao

cuidado de Deus,", mas bem poderias ouvir a voz

da experiência e da sabedoria que diz: "Faz o melhor de tua parte; trabalha como se tudo

dependesse do teu trabalho; como se teu

próprio braço pudesse trazer-te a salvação"; "e

quando houveres feito tudo bem. Descansa sobre aquele sem o qual é em vão levantar-se

cedo, sair tarde e comer o pão do esmero. E se

Page 27: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

27

ele te der um caminho abençoado, dá-lhe

graças.".

Não lhes deterei por muitos minutos mais, porém quero destacar que esta promessa deve provar sua utilidade para consolar aos que

intercedem em favor de outros. Vós, que estais

clamando a Deus para que salve a vossos filhos,

que abençoe vossos vizinhos, que tenha harmonia com vossos maridos e com vossas

esposas, em sua misericórdia, podereis receber

consolo disto: "Te mostrarei cousas grandes e

ocultas que tu não conheces.".

Não podes imaginar a grande bênção com que Deus te abençoaria. Se somente chegas e ficas

parado à sua porta, não podes dizer o que Ele lhe

tem reservado. Se não rogas, nada receberás. Porém se lhe rogas, não te irás a dar com ossos e

restos de carne, senão se dirá ao que serve a tua

mesa: "Toma essa carne primorosamente

servida e coloque ante este pobre homem.”. Rute foi a rebuscar as espigas; esperava ter

umas poucas espigas, porém Boaz lhe disse:

"Que recolhesse também espigas entre as

gavelas, e não a censureis," e além disso, à hora da comida: "Venham aqui e come do pão, e

molha teu bocado em vinagre.”. Ela encontrou

um marido onde somente esperava encontrar

um punhado de cevada! Assim ocorre quando oramos pelos outros, Deus pode dar-nos tais

misericórdias que cairemos perplexos ante elas

Page 28: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

28

pois que esperávamos somente um pouco.

Lembrem-se do que disse a Jó: “Jeová disse...:

Meu servo Jó orará por vós porque certamente

atenderei a ele para não tratar-lhes afrontosamente, porquanto não tendes falado

de mim com retidão como meu servo Jó.”. E

Jeová retirou a aflição de Jó, quando ele orou por seus amigos, e aumentou ao dobro todas as

coisas que Jó havia tido.

Agora, esta palavra para terminar. Alguns de vocês estão buscando sua conversão. Deus tem

vivificado o interesse de vocês por orar por suas

próprias almas. Não lhes alegra ir para o inferno. Vocês querem o céu. Querem ser

lavados no sangue precioso. Querem a vida

eterna. Queridos amigos, eu lhes rogo que se

apropriem deste texto – Deus mesmo o tem dito para vocês: "Clama a mim e te responderei e te

mostrarei coisas grandes e ocultas que tu não

conheces.". Toma imediatamente a palavra de

Deus. Regresse para casa, entra no teu quarto, fecha a porta e prova-o. Jovens, provai e vede se

ele é fiel ou não. Se Deus é verdadeiro, não

podereis buscar misericórdia em suas mãos por

meio de Cristo e receber uma resposta negativa. Posto que sua própria promessa e seu caráter o

obrigam, ele deve abrir-lhes as portas da

misericórdia quando lhe clamarem de todo o

coração. Deus te ajude, crendo em Cristo Jesus, a clamar em voz alta a Deus e sua resposta de paz

está já a caminho para encontrar-se contigo. O

Page 29: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

29

ouvirás dizer: "Teus pecados, que são muitos,

têm sido perdoados.".

Que Deus os abençoe por causa do seu amor! Amém.

Page 30: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

30

Certeza do Êxito na Oração

Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e adaptado por Silvio Dutra)

“Por isso vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que

pede recebe, o que busca, encontra; e a quem

bate, abrir-se-lhe-á.”. (Lc 11.9,10).

Buscar ajuda em um ser sobrenatural em

tempo de angústia é um instinto da natureza

humana. Não dizemos que a natureza humana

não renovada ofereça uma oração

verdadeiramente espiritual, ou que possa exercer a fé salvadora no Deus vivo. Porém, não

obstante, como criança que cora na escuridão

com desejo angustiante de receber ajuda de um

ou de outro lugar, dificilmente pode saber de onde, a alma com profundo pesar quase

invariavelmente clama a algum ser

sobrenatural no seu pedido de socorro. Não há

pessoas mais dispostas a orar em tempo de angústia que aquelas que têm ridicularizado a

oração em tempos de prosperidade; e

provavelmente não há orações mais reais e em

conformidade com os sentimentos da hora que as que o ateu tem oferecido sob a pressão do

temor da morte.

Page 31: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

31

Este instinto de procurar ajuda sobrenatural foi colocado pelo próprio Deus no homem, de

forma que possa se deixar achar especialmente

pelos seus escolhidos, tanto para dar-lhes a salvação quando os chama, como para socorrê-

los em suas aflições. O homem ora porque há

algo na oração. Como quando Deus deu a suas criaturas o dom da sede, é porque existe a água

para saciá-la, e a sede é o sinal de que o corpo

necessita de ser reabastecido pela água. Da

mesma forma, há uma sede espiritual que indica a necessidade da alma de ser

reabastecida com a graça de Deus. Assim,

quando Deus inclina os homens a orarem é

porque a oração tem uma bênção correspondente que está unida a ela.

Encontramos uma poderosa razão para esperar que a oração seja efetiva pelo fato de que é uma

instituição de Deus. Na palavra de Deus,

repetidas vezes se nos dá o mandamento de

orar. As instituições de Deus não são vazias. Posso crer que o Deus infinitamente sábio me

tem ordenado um exercício que é ineficaz e que

não é mais que um jogo de meninos? Me ordena

orar, e contudo, a oração não tem mais resultado do que o silvo do vento? Se não há

resposta à oração, a oração é um monstruoso

absurdo e Deus é o autor dele. E isto é uma

blasfêmia se alguém se atreve a afirmá-lo. Nenhum homem que não seja um tonto seguirá

orando uma vez que se lhe tem provado que a

Page 32: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

32

oração não faz qualquer efeito diante de Deus, e

nunca recebe uma resposta. A oração é uma

tarefa de idiotas e loucos, e não para pessoas sãs,

se fosse verdade que seus efeitos terminam no mesmo homem que ora.

Jesus sabia que surgiriam muitas dificuldades em relação à oração, e poderiam fazer vacilar a

seus discípulos, assim, eliminou toda oposição

mediante uma afirmação incontroversível: “Por

isso vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que

pede recebe, o que busca, encontra; e a quem

bate, abrir-se-lhe-á.”. No texto, o Senhor faz

frente a todas as dificuldades, em primeiro lugar, dando-nos o peso da sua autoridade: “Por

isso vos digo”. Em segundo lugar, dando-nos

uma promessa: “Pedi e dar-se-vos-á, etc”. E

recordando-nos um fato indiscutível: “todo o que pede recebe, o que busca encontra, e a

quem bate abrir-se-lhe-á”. Temos aqui três

feridas mortais para as dúvidas que o crente

possa ter em relação à oração.

I. Em primeiro lugar, NOSSO SALVADOR NOS DÁ O PESO DA sua PRÓPRIA AUTORIDADE:

“Por isso vos digo”.

A primeira marca de um seguidor de Cristo é que crê em seu Senhor. De nenhum modo

podemos seguir ao Senhor se levantamos dúvidas acerca de pontos que Ele tem

estabelecido positivamente. Embora uma

Page 33: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

33

doutrina esteja rodeada de dez mil dificuldades,

o dito do Senhor Jesus suprime todas elas. No

que concerne aos verdadeiros crentes. Estes

sabem que há condições que acompanham a oração triunfante e perseverante. Eles sabem

quais renúncias têm que fazer quanto à carne,

ao mundo e ao diabo, para se manterem na Palavra do Senhor, e assim poderem conhecer a

sua vontade, para pedirem de acordo com ela,

submetendo-se a tudo que está ordenado por

Deus, ou pelo menos esforçando-se neste sentido, à medida que crescem no

conhecimento do Senhor e da sua vontade,

renunciando ao próprio eu, para serem achados

em conformidade com a santidade de Cristo. Se as palavras dele estiverem em nós, e se

estivermos nele, para que Ele permaneça em

nós, então pediremos o que quisermos, que seja

conforme a sua vontade, e nos será feito.

Mas, como dizíamos, a declaração do nosso Mestre é todo o argumento que necessitamos

para sabermos que nossas orações são ouvidas e

respondidas, quando atendem às condições a que nos referimos antes. Quando Ele diz: “Por

isso vos digo” todo debate e dúvida chegam ao

fim. Porque Ele tem dito, e isto põe um ponto

final em tudo o mais.

Se a natureza tem leis irreversíveis, não importa porque Aquele que criou todas as coisas diz:

“pedi e dar-se-vos-á”. Então certamente será

Page 34: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

34

assim, sejam quais forem as leis da natureza.

Sendo o Criador o Senhor conhece todo o

mecanismo de todas as forças do universo, e

assim Ele diz: “Pedi e dar-se-vos-á”. Não há forças naturais ou espirituais que possam

impedir o cumprimento da palavra do Senhor.

Pedi e dar-se-vos-á. Agora, quem é que diz isto? É o que tem estado com o Pai desde o princípio,

e Ele conhece quais são os propósito de Deus e como é o coração de Deus, porque tem dito em

outro lugar, “o Pai mesmo lhes ama”. Agora, já

que Ele conhece o decreto do Pai, e o coração do

Pai, pode dizer com absoluta certeza de um testemunho ocular que não há nada no

conselho eterno que entre em conflito com esta

verdade e de que o que pede recebe, e o que

busca acha. Ele tem lido os decretos do princípio ao fim. Não tem tomado o livro e não tem

desatado os sete selos, declarando as

ordenanças do céu? Ele lhes diz que nada há que

seja contra os teus joelhos dobrados e teus olhos molhados com lágrimas, e com o fato de que o

pai abra as janelas dos céus para fazer chover

sobre ti as bênçãos que tu estás buscando. Mais

ainda, Ele mesmo é Deus: os propósitos dos céus são seus propósitos, e aquele que ordenou o

propósito aqui da segurança de que nada há nele

que impeça a eficácia da oração. “Eu vos digo”. E

quando Ele diz cessam todos os argumentos contrários. E as tuas dúvidas são lançadas ao

vento, porque sabes que Ele ouve a oração.

Page 35: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

35

Porém às vezes surge em nossa mente uma terceira dificuldade, que está associada com

nosso próprio juízo acerca de nós mesmos e

nossa avaliação de Deus. Sentimos que Deus é muito grande, e trememos na presença de sua

majestade, sentimos que somos muito

pequenos, e que, além disso, somos vis, e parece uma coisa incrível que uma insignificância

culpável tenha poder para mover o braço que

move o universo. Me pergunto se não é esse

temor culpável o que nos impede frequentemente que oremos. Porém Jesus

responde docemente: “Eu vos digo: Pedi e dar-

se-vos-á.”. E pergunto novamente, quem é o que

diz “eu vos digo”? É aquele que conhece tanto a grandeza de Deus como a fraqueza do homem.

Ele é Deus e desde sua excelsa majestade,

imagino ouvir-lhe dizer: “Eu vos digo: Pedi e dar-

se-vos-á”.

Porém Ele também é homem como nós, e diz: “Não tenhas medo de tua insignificância, porque eu, osso de teus ossos, e carne de tua

carne te asseguro que Deus ouve a oração do

homem.”. E, se contudo o terror do pecado nos

espante, e nosso pesar nos deprime, eu lhes recordaria que quando diz: “Eu vos digo”, Jesus

nos dá a autoridade, não somente de sua pessoa,

senão de sua experiência. Jesus era dado a orar.

Nunca ninguém orou como ele o fez. Ele passava as noites em oração, e dias inteiros em fervente

intercessão. Ele é quem nos diz: “Eu vos digo,

Page 36: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

36

pedi e dar-se-vos-á”. Jesus provou o poder da

oração.

Além disso, recordem que se Jesus podia falar positivamente aqui, há razões maiores ainda

para crer nele agora, porque passou além do

véu, e se assentou à destra de Deus Pai, e a voz que agora nos vem não nos chega do homem

pobre que usa uma túnica sem costura, senão do

sacerdote entronizado que nos diz desde a

destra de Deus: “Eu vos digo: pedi e dar-se-vos-á”. Vocês não creem no seu nome? Se creem,

então como poderia cair em terra uma oração

que se oferece sinceramente nesse nome?

Quando apresentas a tua petição no nome de Jesus, uma parte da sua autoridade reforça as

tuas orações. Se tua oração é recusada, Cristo é

desonrado. Não podes crer que isso possa

ocorrer. Posto que tens confiado nele. Creia que a oração oferecida por meio dele deve ter êxito,

e o terá.

II. Agora recordaremos que NOSSO SENHOR NOS APRESENTA UMA PROMESSA

Note-se que a promessa é dada para diversas

formas de oração: “Eu vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á.”.

O texto claramente afirma que todas as formas

de oração verdadeira serão escutadas, com a

condição de serem apresentadas por intermédio de Jesus Cristo, e são para bênçãos

prometidas. Algumas são orações verbalizadas

Page 37: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

37

em que os homens pedem, não devemos jamais

deixar de oferecer a oração expressada pela

língua, porque a promessa é que o que pede será

ouvido. Porém, há outros que sem descuidar a oração ativa, porque pelo uso humilde e

diligente dos meios eles buscam as bênçãos que

necessitam. seus corações falam com Deus por meio de seus anelos, seus esforços, suas

emoções e seus trabalhos. Que não cessam de

buscar, porque certamente acharão. Há outros

que, em seu ardor, combinam as formas mais apaixonadas, atuando e falando, porque

clamam, e isso é uma forma intensa de pedir e

uma forma veemente de buscar. Assim a oração

cresce desde o pedir – que é sua vocalização, sua declaração, até o buscar – que é suplicar; e

clamar – que é importunar. Para cada uma

destas etapas da oração há uma promessa clara.

O que pede terá aquilo que pediu. Porém, o que busca tendo ido mais além, encontrará,

desfrutará, estreitará entre suas mãos, saberá

que tem obtido. E o que clama, irá mais longe

ainda, porque entenderá, e se lhe abrirão as coisas preciosas. Não somente terá a bênção e o

desfrute, senão que a compreenderá, entenderá

com todos os santos quais sejam as alturas e as

profundidades. Contudo, quero que notem o seguinte, que engloba tudo, seja qual for a forma

de oração, terá êxito. Se somente pedis,

recebereis; se buscais, achareis; se clamais, será

aberto, porém em cada caso lhes será feito conforme a vossa fé. As cláusulas da promessa

Page 38: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

38

que temos diante de nossos olhos não se nos

apresentam coletivamente, como dizemos no

direito: o que pede e busca e clama, receberá, o

que busca achará e o que clama lhe será aberto. Não é quando combinamos as três coisas que

recebemos a bênção, embora indubitavelmente

se as combinamos receberemos uma resposta combinada; porém se exercemos somente uma

destas três formas de oração, de todos os modos

teremos o que nossa alma necessita.

Estes três métodos da oração exercitam uma variedade de nossa graça. Os pais comentam

sobre esta passagem que a fé pede, a esperança busca e o amor clama, e vale a pena repetir esse

comentário. A fé pede porque crê que Deus dará;

havendo pedido, a esperança espera, e em

consequência busca a bênção; o amor leva mais perto ainda, e não receberá uma negativa de

Deus, antes deseja entrar em sua casa e cear

com Ele, e por isso clama à sua porta até que lha

abram. Porém, voltamos ao nosso ponto original. Não importa qual é a graça que se

exerce, uma bênção corresponde a cada uma. Se

a fé pede, receberá; se a esperança busca,

achará, e se o amor clama, lhe será aberto. Estes três modos de orar nos convêm em diferentes

situações de angústia. Ali estou, pobre mendigo,

à porta da misericórdia, peço e receberei.

Porém, me extravio, de modo que não posso falar com Aquele a quem uma vez pedi tão

exitosamente; então posso buscá-lo com a

Page 39: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

39

certeza de que o acharei. E se estou na última das

etapas, não somente pobre e confuso, senão

também imundo como para sentir-me separado

de Deus, como leproso que é lançado fora do acampamento, então posso clamar e a porta se

me abrirá.

Cada uma desta diferentes descrições das orações é sobremaneira sincera. Se alguém dissesse: “Não posso pedir”, nossa resposta

seria: “não entendes a palavra.”. Com toda a

segurança qualquer pessoa pode pedir. Uma

criança pode pedir. Muito antes que o bebê saiba falar, ele pode pedir. Não necessita de palavras

para pedir o que necessita, e não há um só entre

nós que esteja incapacitado de pedir. Não é

necessário que as orações sejam belas. Creio que Deus abomina as orações floreadas. Quando

oramos, quanto mais sincera for nossa oração

melhor, a linguagem mais sincera, a mais humilde, que expressa o que queremos dizer, é

a melhor de todas.

A segunda palavra é buscar, e certamente não há dificuldade para buscar. Poderia haver

dificuldades para encontrar, porém não para buscar. Quando a mulher da parábola perdeu o

dinheiro, ela acendeu uma luz e a buscou. Não

creio que tenha estado alguma vez na

universidade, ou que foi qualificada como doutora em medicina, ou que houvesse estado

diante da Junta Escolar como mulher de sentido

Page 40: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

40

superior, porém ela podia buscar. Todo o que

deseja fazê-lo pode buscar, seja homem, mulher

ou criança; e para estimular-lhes, a promessa

não é dada de alguma forma filosófica particular quanto ao buscar, senão estabelece

simplesmente, “o que busca acha”.

Agora vejamos o “clamar” ou “chamar”, que é traduzido em nossa Bíblia como “bater”. Bater à

porta é o mesmo que clamar ou chamar à porta.

A ideia é que alguém venha nos atender. Muito bem, quando éramos crianças, sempre

encontrávamos métodos para chamar. Uma

pedra ou um bico com nossa bota serviam para

chamar a atenção daqueles que eram muito altos em relação à nossa estatura. Qualquer

coisa servia para bater na porta. De nenhum

modo estava isso além da nossa capacidade.

Portanto, Jesus o põe desta maneira como para dizer-nos: “Não necessitas ter escolaridade,

preparação, talento, e nem gênio para orar.

Pede, busca, chama, isso é tudo, e há uma

promessa para cada uma destas formas de orar.

Crerás na promessa? É Cristo quem a dá. Jamais tem saído de seus lábios uma mentira. Oh, não

duvidem dele. Se tens orado, prossegue orando, e se nunca tens orado, Deus te ajude para que

comeces ainda hoje.

III. Nosso terceiro ponto é que JESUS DÁ TESTEMUNHO DO FATO DE QUE A ORAÇÃO É

OUVIDA

Page 41: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

41

Havendo dado uma promessa, logo acrescenta: Podeis estar completamente seguros de que

esta promessa será cumprida, não somente

porque eu vos digo, senão porque é e tem sido sempre assim. Quando um homem diz que

manhã após manhã sairá o sol, e cremos, porque

sempre tem sido assim. Nosso Senhor nos diz, como fato indiscutível, que através de todas as

eras o verdadeiro pedir tem sido seguido pelo

receber. Recordem que quem afirma este fato o

conhece. Se eu afirmasse um fato, poderias responder-me: “Sim, no que respeita ao que tu

tens observado, é verdade”, porém a observação

de Cristo não tem limites. Jamais tem havido

uma oração verdadeira que Ele não tenha conhecido. As orações aceitáveis ao Altíssimo

lhe chegam pela via das feridas de Cristo. Daí

que o Senhor Jesus pode falar com

conhecimento pessoal, e sua declaração é que a oração tem tido êxito: “Todo o que pede recebe,

e o que busca encontra.”.

Neste ponto devemos supor, desde logo, as limitações que iniciaria o sentido comum

ordinário, e que são estabelecidas pelas

Escrituras. Não é que todo o que peça com frivolidade ou maldade a Deus, vá obter o que

pediu. Deus não responderá cada petição néscia,

ociosa e desconsiderada do coração não

regenerado. De nenhum modo. As Escrituras colocam o limite: “Não recebeis porque não

pedis, ou pedis mal”. Há um pedir mal que

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42

nunca obterá o que pede. Porém tendo em conta

estas cousas, a declaração de nosso Senhor não

tem outra limitação: “Todo o que pede recebe.”.

Cabe recordar que frequentemente, ainda quando os ímpios e os perversos têm pedido a Deus, têm recebido. Com muita frequência no

dia da angústia têm clamado a Deus, e Ele lhes

tem respondido. Como te atreves a dizer isso?

Diz alguém. Não o digo eu, a Escritura é quem o diz. A oração de Acabe foi respondida e o Senhor

disse: “Não tens visto como Acabe se tem

humilhado diante de mim? Pois porquanto se

tem humilhado diante de mim, não trarei o mal em seus dias; nos dias de seu filho trarei o mal

sobre sua casa.”. Assim também, o Senhor ouviu

a oração de Joacaz, filho de Jeú, que fez o que era

mau diante do Senhor (II Rs 13.1-4). Os israelitas também, quando por seus pecados foram

entregues a seus inimigos, clamaram a Deus,

pedindo libertação e receberam sua resposta,

contudo, o Senhor mesmo testifica a respeito deles que somente o lisonjeavam com seus

lábios. Muitas vezes, no tempo de enfermidade

e no tempo de dor, Deus tem atendido às

orações dos ingratos e dos maus. Pensas que nada dá senão aos bons? Tens ficado ao pé do

Sinai e tens aprendido a julgar segundo a lei dos

méritos? Que eras quando começaste a orar?

Eras bom e justo? Não te tem mandado Deus que faças bem aos maus? Crês que Ele te mandaria

fazer algo que ele mesmo não faria? Não tem

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43

dito que envia a chuva sobre justos e injustos?

Não está dando bênçãos cotidianas a quem lhe

maldiz? Esta é uma das glórias da graça de Deus.

Bem, agora se Deus tem ouvido as orações ainda que de homens que não o buscam da maneira

mais elevada, e lhe tem dado libertação

temporal em resposta aos seus clamores, não te ouvirá com maior razão quando te humilhas na

sua presença, e desejas ser reconciliado com

Ele?

O publicano estava de pé e tão quebrantado de

coração que não se atrevia a levantar os olhos ao céu. Contudo, Deus o contemplou desde acima

e atendeu à sua oração. Manassés tinha sido um

cruel perseguidor dos santos, e não havia nele o

que pudesse servir-lhe de recomendação diante dos olhos de Deus. Mas Deus lhe ouviu desde

suas prisões e concedeu liberdade à sua alma.

Pelo seu próprio pecado Jonas chegou ao ventre do grande peixe. Contudo, desde o seio do

inferno clamou e Deus lhe ouviu. “Todo o que

pede recebe, e o que busca acha e ao que chama

se lhe abrirá.”. Todo o que. Eu não creio que entre os condenados ao inferno haverá alguém

que se atreva a dizer: “Eu busquei ao Senhor e

ele me recusou.”.

Não se achará no dia final da redenção uma só

alma que possa dizer: “Chamei à porta da misericórdia, porém Deus se negou a abrí-la.”.

Isto não poderá ocorrer de modo algum, porque

Page 44: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

44

Deus não pode negar-se a si mesmo. Ele não

pode deixar de ser fiel à sua Palavra para a

cumprir, pois tem dito “Todo o que... recebe,

acha, abrir-se-lhe-á”. Se tens dúvidas, faça a prova, se já tens provado, prova novamente.

Estás vestido de farrapos? Não importa, todo o

que pede recebe. Estás imundo pelo pecado? Não tem importância, todo o que busca

encontra. Te sentes como se estiveras de todo

separado de Deus? Tampouco importa, chama e

a porta será aberta, para que você seja atendido. Quando o Senhor disse estas palavras, ele

poderia haver recorrido à sua própria vida como

evidência. Em todo caso, nós podemos nos

referir à mesma agora e demonstrar que ninguém pediu a Cristo sem receber. A mulher

sirofenícia descobriu que todo aquele que pede

recebe. A mulher que sofria de hemorragia e

tocou a veste do Senhor, não estava pedindo, estava buscando, e encontrou.

“Tenho pedido fé”. Diz alguém. Bem, que queres dizer com isso? Crer em Jesus é um dom de

Deus, porém além disso deve ser um ato teu.

Pensas que Deus crerá por ti, ou que o Espírito

Santo crê no nosso lugar? Que tem que crer o Espírito Santo? Tu deves crer por ti mesmo ou te

perderás, caso não conheças ainda ao Senhor.

Ele não pode mentir. Ele tem dito que o que crer

e for batizado será salvo. Se alguém pede em oração para ser salvo, mas não crê ao mesmo

tempo no Senhor Jesus, não pode ser salvo.

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45

Porque a Palavra não diz: “Ora e serás salvo”,

mas sim “crê e serás salvo”. Confia no Senhor e

serás salvo, e tua oração será respondida.

Se na tua constante comunhão com o Senhor te sentes movido a orar pela salvação de

determinada pessoa, continua orando com

esperança porque obterás a resposta à tua oração. Há muitos que têm tido a resposta às

suas orações por outros depois de mortos.

Page 46: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

46

Como Suplicar

Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e

adaptado por Silvio Dutra)

“Eu sou pobre e necessitado; ó Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu

libertador. Senhor, não te detenhas!” (Sl 70.5).

Oh! Quantas convicções errôneas temos fixado

em todas as nossas relações com as pessoas, não

sabendo a forma de dar a devida honra e

deferência a quem é digno de honra, conforme

está determinado pelo Senhor. E com o próprio Deus também não sabemos como convém sobre

a maneira de nos dirigirmos a Ele, e isto é algo

para ser aprendido ao longo de toda a vida. Mas podemos aprender muitas coisas básicas a este

respeito, e temos um bom professor para isto na

pessoa de Davi.

Os pintores, na antiguidade costumavam aprender debaixo dos pés dos grandes mestres.

Eles estavam convencidos de que poderiam

alcançar mais facilmente os níveis de excelência se estivessem na escola de homens

eminentes. Os homens têm gasto grandes

somas em dinheiro para que seus filhos possam

ser aprendizes das pessoas que são as melhor preparadas em seus ofícios e profissões. Agora

se algum de nós quiser aprender a sagrada arte

Page 47: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

47

e mistério da oração, é bom que estude as

produções dos grandes mestres desta ciência.

As condições da oração ouvida, em relação ao

comportamento e à vida do que ora, a sua atitude, o objeto de sua petição, e tantas outras

minúcias, podemos aprender da vida daqueles

que prevaleceram com Deus na oração. E não houve quem melhor entendesse a arte da

oração do que o salmista Davi. Ele também

conhecia a forma de louvar, e seus salmos se

converteram na linguagem dos bons homens de todas as épocas. Ele entendeu tão bem como se

deve orar, que se nós captarmos o seu espírito, e

seguir sua maneira de orar, teremos aprendido

a suplicar a Deus da maneira que melhor prevalece. Põe diante de ti, em primeiro lugar ao

Filho e Senhor de Davi, o mais poderoso de todos

os intercessores, e junto a Ele encontrarás a

Davi como um dos mais admiráveis modelos para ser imitado.

Então consideraremos nosso texto como uma das produções de um grande mestre em

assuntos espirituais, e o estudaremos orando todo o tempo que Deus nos ajude a orar da

mesma maneira.

Em nosso texto teremos a alma de alguém que suplica com êxito sob quatro aspectos: em

primeiro lugar, vemos a alma que confessa: “eu sou pobre e necessitado”. Logo, temos a alma

que suplica, porque usa sua pobre condição

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48

como argumento para pedir, e acrescenta: “ó

Deus, apressa-te em valer-me”. Em terceiro

lugar podes ver uma alma premida pela

urgência, porque exclama: “apressa-te”, e varia a expressão porém conserva a mesma ideia:

“Senhor, não te detenhas!”. E tens em quarto e

último lugar, uma alma que se aferra a Deus, porque o salmista o expressa deste modo: “pois

tu és o meu amparo e o meu libertador.”, assim

se agarra a Deus com suas mãos, como para não

deixá-lo ir até haver obtido a bênção.

I. Então, para começar, vejamos neste modelo de súplica UMA ALMA QUE CONFESSA

O lutador se despe antes de começar a luta, e a confissão faz o mesmo pelo homem que está por

apresentar sua causa diante de Deus. O que corre nas pistas da oração não pode esperar o

triunfo a menos que, por meio da confissão e

arrependimento e fé, se despoje de todo o peso

do pecado. Para a salvação da alma é necessário que se reconheça pela operação do Espírito, a

condição de miséria espiritual em que nos

encontramos por conta do pecado, para que

Deus possa nos salvar tornando-nos ricos com a sua graça. No caso de crentes, que têm

necessidades específicas, é necessário o

reconhecimento e pesar diante de Deus destas

necessidades e da nossa total incapacidade de atendê-las. A alma confessa que é pobre e

necessitada e Deus se move para suprir a vida

Page 49: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

49

daquele que ora com o que for necessário à

manutenção da sua vida, enquanto ele se

mantém em obediência e fiel à vontade de Deus,

porque os seus olhos repousam sobre os justos e sobre os que se humilham, mas Ele resiste ao

soberbo.

Agora, temos que recordar sempre que a confissão é absolutamente necessária para o pecado quando busca pela primeira vez ao

Salvador. O que busca, não pense que achará a

paz para o seu coração atribulado, enquanto não

tiver reconhecido a sua transgressão e iniquidade diante do Senhor. Pode fazer tudo o

que desejar, mesmo tentar crer em Jesus,

porém irá descobrir que a fé dos eleitos de Deus

não está ainda nele, a menos que esteja disposto a fazer uma confissão completa de suas

transgressões, e desnudar seu coração diante de

Deus. Geralmente nós não fazemos doações de

caridade a pessoas que não a necessitam. O médico não dá seu medicamento a quem não

está enfermo. O cego junto ao caminho a

mendigar. Se ele tivesse dúvida quanto à sua

cegueira, o Senhor teria passado de largo adiante dele. Ele abre os olhos aos que se

confessam cegos, porém ao demais diz: “porque

dizeis vemos, o vosso pecado permanece”. Aos

que eram levados diante dele, perguntava: “Que queres que eu te faça” para que sua necessidade

fosse publicamente reconhecida. Tem que ser

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50

assim para todos nós: devemos oferecer a

confissão, ou não podemos obter a bênção.

Permitam-me que fale a vocês que desejam encontrar a paz com Deus, e a salvação por meio do precioso sangue de Jesus. Vocês farão bem

em fazer uma confissão muito sincero e muito

explícita diante de Deus. É certo que vocês não

têm nada para esconder, porque nada há que possam esconder. Ele já conhece a culpa de

vocês, porém ele quer que vocês a conheçam, e

por isso manda que a confessem. Entra no

detalhe dos seus pecados reconhecendo-os secretamente diante de Deus. Reconhece a

maldade do pecado, pede a Deus que lhe faça

senti-la. Não o trates como se fosse uma coisa

pequena, porque não é. Deus odeia o mínimo pecado. Para redimir o pecador dos efeitos do

pecado, Cristo mesmo teve que morrer, e de

outra sorte não poderia haver perdão de qualquer pecado, por mínimo que fosse.

Procure ver o pecado como Deus o vê, como

uma ofensa contra tudo o que é bom, uma

rebelião contra tudo o que é amável. Veja o pecado como traição, como ingratidão, como

uma coisa baixa e egoísta.

Nunca espere que o Rei do céu perdoe a um traidor, se este não confessa e abandona sua

traição. Até o pai mais terno espera que o filho se humilhe quando tem causado uma ofensa, e

não deixará de mostrar-lhe a face franzida até

Page 51: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

51

que ele com lágrimas diga: “pai, tenho pecado”.

Você se atreve a esperar que Deus se humilhe

diante de você, e não seria ao contrário que Ele

te constrangeria a se humilhar a Ele? Você quer que Ele faça vista grossa às suas faltas e feche os

olhos às suas transgressões? Ele terá

misericórdia, porém é santo. Está disposto a perdoar, porém não tolera o pecado, e portanto,

não pode lhe perdoar se você segue acariciando

os seus pecados, ou se atreve a dizer: “não tenho

pecado”. Assim pois dá-te pressa, lhe rogo, e apresenta-te diante do trono da graça com isto

em teus lábios: “Eu sou pobre e necessitado; ó

Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu

amparo e o meu libertador. Senhor, não te detenhas!”. Com tal reconhecimento começas

bem a tua oração, e por Jesus Cristo prosperarás

nisto.

Amados leitores, o mesmo princípio se aplica à igreja de Deus. Estamos orando por uma

demonstração do poder do Espírito Santo nesta igreja, para o fim de orarmos com êxito nisto, é

necessário que unanimemente façamos a

confissão que se acha em nosso texto: “eu sou

pobre e necessitado”. Temos que reconhecer nisto que carecemos de poder. A salvação é de

Jeová e não podemos salvar uma só alma. O

Espírito de Deus está escondido em Cristo, pelo

que devemos buscá-lo diante do que é o grande Cabeça da Igreja. Não podemos enviar o Espírito,

e nada podemos fazer sem Ele.

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52

Ele sopra onde quer. Devemos sentir isto profundamente e reconhecê-lo honestamente.

Antes de abençoar a sua igreja, Deus quer que

saiba que a bênção vem completamente dele, não com exército, nem com força, senão com o

seu Espírito, diz o Senhor.

A lição que aprendemos da experiência que Deus concedeu a Gideão para confirmar que

faria por meio dele aquilo que havia designado, é muito instrutiva. Lemos em Jz 6.36-40: “Disse

Gideão a Deus: Se há de livrar a Israel por meu

intermédio, como disseste, eis que eu porei uma

porção de lã na eira: se o orvalho estiver somente nela, e seca a terra ao redor, então

conhecerei que hás de livrar a Israel por meu

intermédio, como disseste. E assim sucedeu;

porque ao outro dia se levantou de madrugada e, apertando a lã, do orvalho dela espremeu uma

taça cheia de água. Disse mais Gideão: não se

acenda contra mim a tua ira, se ainda falar só

esta vez; rogo-te que mais esta vez faça eu a prova com a lã: que só a lã esteja seca, e na terra

ao redor haja orvalho. E Deus assim o fez

naquela noite: pois só a lã estava seca, e sobre a

terra ao redor havia orvalho.”. Gideão tem sido retratado nesta passagem como um homem

cheio de dúvidas, medroso, mas isto não faz

honra ao seu caráter, porque Deus não teria

respondido ao coração que duvida do seu poder. Vemos de outra forma, uma prova da fé que

Gideão tinha em Deus, e por isso mesmo foi

Page 53: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

53

chamado por Ele para liderar Israel, pois Ele cria

que Deus era poderoso para fazer o que fez.

Vemos uma atitude de prudência e de

confirmação, de que quem o estava chamando era de fato o Senhor, porque nenhum outro

poderia fazer o que Ele fez. A lição que Deus

ensinou a Gideão e que também nos ensina nesta passagem é que sem o orvalho da sua

graça nada podemos fazer. Não é porque

estamos no auge de um ministério que Deus

normalmente abençoa, ou porque estamos numa igreja que Deus normalmente visita com

sua graça, porém nos faz ver que as visitações do

seu Espírito são o fruto da sua soberana graça, e

são dons do seu amor infinito, e não da vontade do homem, nem pelo homem. Como disse

Tomás Fuller: “os ventos de Deus podem mudar

e serão tão gloriosos de uma maneira como de

outra.”. Tal qual o Senhor fizera com a lã de Gideão, numa noite encharcou a lã com o

sereno, deixando tudo seco ao redor, e numa

outra noite fez o contrário, deixou a lã seca e

encharcou tudo ao seu redor. O pedido de Gideão foi sábio, porque o orvalho que cai numa

região, não pode cair num só pequeno ponto (a

lã), e não ao redor, como também não pode

deixar de cair num único pequeno ponto, enquanto cai em todo o seu redor. Isto somente

Deus pode fazer pelo seu poder. Isto nos revela

que no que se refere especialmente a milagres,

dependemos inteiramente dele e da sua soberana vontade. Somos de fato, diante dele,

Page 54: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

54

pobres e necessitados. Nada podemos fazer

quando o feito excede a nossa capacidade

pessoal. Dependemos inteiramente do Espírito

que age como quer e onde quer e sobre quem quer, assim como o vento que sopra onde quer.

É muito significativo que antes que desse de comer aos milhares de pessoas, Jesus pediu que

os discípulos fizessem antes o inventário das

provisões que estavam disponíveis, para que

ninguém dissesse que o milagre foi feito com os recursos do próprio homem que estavam

disponíveis no momento. Quando Jesus

ordenou aos discípulos que lançassem as redes

à direita do barco e eles o encheram de peixes, ele não fez o milagre até que eles tivessem

confessado que haviam trabalhado a noite

inteira e que não tinham conseguido pescar

nenhum peixe. Assim, souberam que naquele milagre o êxito foi inteiramente devido ao seu

Senhor. Devemos entender e aprender isto, e

quanto mais cedo o consigamos, melhor.

Por isso dou graças a Deus quando nos limpa a alma de toda autosuficiência e vaidade e

bendigo o seu grande nome quando nos levar a

sentir a pobreza de nossa alma como igreja, porque é certo que então virá a bênção.

Um pai e crente fiel, chora porque o dinheiro

mal dá para pagar as contas e já não pode ofertar e ajudar a outros como gostaria, e na sua

pobreza financeira chora diante de Deus, não

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murmurando, mas prosseguindo com sua alma

grata e satisfeita ao Senhor, mesmo com o quase

nada que tem, reconhece sua pobreza e

necessidade, e incapacidade de inverter a situação, porque todas as portas parecem ter

sido fechadas. Não demora muito e a resposta

vem do céu trazendo a provisão necessária para tornar aquele coração confiante na certeza de

que há um Deus no céu que cuida de cada uma

das nossas necessidades.

Quando o fogo vem do céu como resposta à nossa oração, dá-se o mesmo que se deu com

Elias, podemos colocar água, uma, duas, três vezes sobre o altar onde nos oferecemos como

sacrifício vivo e santo ao Senhor, e o fogo

queimará a oferta, e nenhuma água poderá

apagá-lo. Se nesta igreja, se deseja que o Senhor nos abençoe grandemente, o Senhor pode

enviar-nos a prova de derramar água, uma,

duas, ou três vezes. Pode desalentar-nos, afligir-

nos, provar-nos e fazer-nos esmorecer, até que vejamos que não é o pregador, nem a

organização, não é o homem senão

completamente de Deus, o Alfa e o Omega, que

vem a bênção da igreja, daquele que opera todas as cousas de acordo com o conselho da sua

vontade. Assim, tenho demonstrado que para

ter uma boa sessão de oração o melhor é

começar com a confissão de que somos pobres e necessitados. Aprendamos com o rei Davi que

prevaleceu diante de Deus.

Page 56: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

56

II. Em segundo lugar, quando a alma se tem despojado do peso dos méritos e da

autosuficiência, e começa a orar, então nos

encontramos diante de UMA ALMA QUE SUPLICA.

“Eu sou pobre e necessitado; ó Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu

libertador. Senhor, não te detenhas!”. O leitor

cuidadoso notará quatro súplicas neste único

versículo.

Deus é quem tudo faz. É quem opera o querer e o efetuar. Mas você tem que atender as

condições que Ele mesmo estabeleceu para abençoar o seu povo: obediência à sua vontade,

à sua Palavra, e isto implica muitas coisas. Lutar

com Ele em súplica, ser submisso a quem é

devido, amar com apreço os pastores, o cônjuge, os filhos, enfim, andar em fidelidade nos seus

deveres para com o Senhor, guardando a sua

Palavra e esforçando-se para honrar o seu

nome. A bênção virá no entanto não pelo nosso mérito decorrente da nossa obediência, esta é

condição, mas não é a causa, a causa é sempre o

próprio Senhor, lembre-se sempre que somos

pobres e necessitados, nada há em nós, mesmo em nossa fidelidade que nos recomende à

benção de Deus.

Sobre este tema quero destacar que é hábito da fé, quando está orando, usar súplicas. Que sejam

até mesmo suspiros do coração, mas que sejam

Page 57: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

57

expressões da alma que se move diante do Deus

vivo e procura o seu socorro e auxílio. Os que são

simples pronunciadores de orações, de

nenhum modo estão orando, porque se esquecem de se oferecer a Deus. Porém aqueles

que querem prevalecer, oferecem suas razões e

seus poderosos argumentos e debatem a questão com Deus. Os que lutam o fazem de

acordo com certas regras. Têm um estilo de se

lançar sobre o oponente. E a arte da luta da fé é

suplicar a Deus, e dizer com ousadia: “que seja assim e assim, por tais e tais razões”.

Quando Jacó temia seu irmão Esaú, ele se colocou diante de Deus e lembrou-Lhe que ele

estava vindo àquele lugar em obediência a Ele e

que Ele lhe havia prometido que lhe faria bem. Estando em grande aperto, se firmou na

promessa do Senhor: “Disseste: eu te farei

bem.”. E o Senhor o ouviu e o abençoou.

Irmãos, aprendemos assim a suplicar com os preceitos e promessas, e com qualquer outra

coisa que possa servir-nos; porém tenhamos

sempre algo em que basear nossa súplica. Não

faças conta de ter orado se não tens argumentado porque o argumentar é a medula

mesma da oração. O que suplica com

argumentos conhece o segredo de prevalecer

com Deus, especialmente se apela ao sangue de Cristo, porque isso abre a fechadura dos

tesouros celestiais.

Page 58: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

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A fé invocará ousadamente todas as relações da graça de Deus. Poderás Lhe dizer: “Não és tu o

Criador? Desampararás a obras das tuas mãos?

Não és o Redentor? Normalmente a fé se deleita em lançar mão da paternidade de Deus. “Tu és

Pai e nos castigarás e matarás? Um pai e não

proverás? Um pai e não te compadeces e nem tens misericórdia? Um pai e negas o que teu

filho pede?”.

Os que oram de verdade são como pessoas sérias que vão ao banco sacar dinheiro. Elas não

saem da agência até que tenham retirado o seu dinheiro. Assim, são pessoas frívolas aqueles

que jogam a oração, digo que jogam, porque não

pedem com seriedade e não esperam o

recebimento da resposta de Deus, e assim são pessoas puramente frívolas, que não honram ao

Senhor. Não lhe dão a oportunidade de provar a

sua completa fidelidade. O Senhor não está jogando ou brincando quando faz promessas.

Não foi um jogo quando derramou o seu sangue,

e não devemos converter a oração numa

frivolidade, orando com um espírito que nada espera.

O Espírito Santo é sério e nós devemos também ser sérios. Devemos ir em busca de uma bênção,

e não ficarmos satisfeitos até que a tenhamos

alcançado. Como o caçador, não fica satisfeito por haver corrido, tantas milhas, e não está

contente até que tenha colhido uma presa.

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Ademais, a fé apela às proezas de Deus. Contempla o passado e diz: “Senhor, tu me

salvaste em tais e tais ocasiões, me faltarás

agora?”. “Tens me trazido até este ponto para que ao final seja posto em vergonha?”. A fé

conhece as antigas misericórdias de Deus, e as

converte em argumentos para obter favores presentes. Porém todo teu tempo se terá ido se

tratas de mostrar sequer a milésima parte dos

argumento da fé.

Contudo, às vezes os argumentos da fé são

muito singulares. Como ocorre no nosso texto, de nenhum modo se conforma às regras da

orgulhosa natureza humana ao suplicar: “Eu

sou pobre e necessitado, oh Deus apressa-te em

socorrer-me”. Esta não é a maneira com que os homens suplicam, porque dizem: “Senhor, tem

misericórdia de mim, porque não sou tão

pecador como os outros.”. Porém a fé faz sua leitura sob uma luz mais realista, e baseia seus

argumentos na verdade. “Senhor, posto que

meu pecado é grande, e tu és o grande Deus, que

tua misericórdia seja concedida a mim.”.

Vocês conhecem a história da mulher siro-fenícia. É um grande exemplo da ingenuidade

do arrazoamento da fé. Veio a Cristo a suplicar

por sua filha, e ele não lhe respondeu palavra

alguma. Que creem que disse seu coração? “Bem, está bem, porque não me tem recusado.

Posto que não tem falado não me tem

Page 60: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

60

recusado.”. Animando-se com isto, começou a

suplicar de novo. Deste vez Jesus lhe falou de

forma um tanto áspera, e então seu valente

coração disse: “Por fim tenho alcançado o que esperei. Logo terei uma obra maravilhosa.”. Isso

também a alegrou, e então, quando Ele a

chamou de cachorro, ela respondeu: “porém um cachorrinho é parte da família, tem alguma

conexão com o amor da casa. Embora não coma

à mesa, recebe as migalhas que caem dela, e

agora te tenho a ti, grande Amo, ainda que seja um cachorrinho. A grande misericórdia que te

estou pedindo, embora seja muito grande para

mim, para ti é somente uma migalha. Conceda-

ma te rogo.”. Poderia fracassar o que estava pedindo? Impossível. Quando a fé tem um

desejo, sempre encontra um caminho, e obterá

a vitória quando todas as coisas pressagiam uma

derrota. Ainda que o próprio Deus nos ponha à prova indicando que não está muito interessado

em resolver nossos problemas.

Não é um argumento contundente afirmar que estamos aflitos e necessitados. Não é esse o principal argumento diante da benevolência,

seja humana ou divina? Não é nossa

necessidade a melhor razão que podemos

oferecer?

III. No ponto seguinte devo ser breve. É UMA ALMA PREMIDA PELA NECESSIDADE

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“Apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. Senhor, não te

detenhas!”. Podemos pedir urgência a Deus, se

todavia não somos salvos, porque nossa necessidade é urgente. Estamos em perigo

constante, e perigo da pior espécie. Oh, pecador,

dentro de uma hora, dentro de um minuto, podes encontrar-te onde a esperança já não te

visitará mais. Portanto, clama: “Dá-te pressa,

Oh, Deus, livra-me, apressa-te em socorrer-

me!”. O teu caso é um que não admite demoras. Não tens tempo para perder. És uma alma

premida, porque tua necessidade é urgente. E

recorda, se estás realmente numa necessidade,

e o Espírito está operando em ti, terás a sensação de urgência e deves atuar com urgência. Um

pecador comum poderia contentar-se com

esperar, porém um pecador vivificado quer

misericórdia agora mesmo. Um pecador morto permanecerá quieto, porém um pecador

vivificado não pode descansar até que o perdão

tenha sido selado em sua alma. Se tens urgência

agora, fico contente com isso, porque na tua urgência alcançarás a posse da vida espiritual.

Quando já não podes viver sem um Salvador, o

Salvador virá a ti, e tu te regozijarás nele.

Irmãos, membros desta igreja, a mesma verdade tem valor para vocês. Deus virá para

abençoá-los, e virá prontamente, quando a sensação de urgência se faça mais profunda e

urgente. Oh, quão grande é a necessidade desta

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62

igreja! Não se acostume ao seu fracasso. Não se

acostume à sua enfermidade, se esta é

espiritual. Não se acostume á frieza de coração.

Isto nos fará mundanos, nos colocará longe da santidade, nos dividirá, trará discórdias de todas

as espécies. Satanás se regozijará, e Cristo será

desonrado, a menos que obtenhamos uma maior medida do Espírito Santo. Nossa

necessidade, então receberemos a bênção que

desejamos se a buscarmos com o espírito de

urgência em Deus. De minha parte, irmãos e irmãs, desejo sentir um espírito de urgência

dentro de minha alma enquanto suplico a Deus

o orvalho de sua graça descendo sobre esta

igreja. Jesus tem dito que devemos orar sempre e não desmaiar. Deus nos tem convidado a nos

aproximarmos do trono da graça. Ele te motiva,

te ordenando que acudas a Ele, e tem prometido

que tudo o que pedirmos em oração, crendo, o receberemos. Então venha com urgência, venha

em forma importuna, venha com esse

argumento: “estou pobre e necessitado, não te

detenhas, oh Deus meu”, e seguramente virá uma bênção, não tardará. Que Deus nos conceda

o poder de vê-la, para que lhe demos toda a

glória.

IV. Esta é outra parte da arte e mistério da oração: A ALMA QUE SE AFERRA A DEUS.

A alma tem suplicado, tem mostrado a urgência, e agora se aproxima de Deus e se agarra a Ele.

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Agarra-o com uma das mãos e diz? “Tu és minha

ajuda”, e com a outra mão: “Tu és meu

libertador.”.

Agora, pecador, possa Deus ajudá-lo a dizer nesta manhã ao bendito Cristo de Deus: “Tu és

minha ajuda e meu libertador.”. Talvez te queixes de não poder ir longe, porém, pobre

alma, tens outra ajuda? Se a tens, não podes ter

dois ajudadores em uma só mão. “Oh, não,”,

digas, “não tenho ajuda alguma. Não tenho esperanças senão em Cristo.”. Então, pobre

alma, posto que tens as mãos vazias, essa mão

vazia foi preparada intencionalmente para

aferrar-se a teu Senhor. Aferra-te a Ele. O Senhor ama a ousadia dos pobres pecadores.

“Oh”, diz alguém, “porém sou tão indigno. “Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido”. Ele não é Salvador dos que se creem justos. Ele é

Salvador dos pecadores: “amigo dos pecadores.”

é seu nome. Tu que te sentes indigno, aferra-te

a Ele. “Oh,”, diz alguém. “porém não tenho direito”. Bem, posto que tu não tens direito, tua

necessidade será teu clamor: é tudo o que

necessitas pedir. Parece-me ouvir alguém que

diz: “é demasiado tarde para que eu suplique pedindo graça. “Não pode ser, é impossível,

enquanto vivas e desejes a graça, não será

demasiado tarde para buscá-la.

Qualquer momento é o tempo oportuno para invocar o nome de Jesus. Assim não deixes que o

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diabo te tente com o pensamento de que é

demasiado tarde. Acode a Jesus agora, vem

imediatamente, e aferra-te aos cornos do altar

pela fé, e diz-lhe: “Sacrifício dos pecadores, te fizeste sacrifício em meu lugar. Intercessor dos

que estão sem a graça, sê tu meu intercessor. Tu

que dás dons aos rebeldes, dá-me dons a mim, porque tenho sido rebelde. Quando ainda

éramos fracos, a seu tempo Cristo morreu pelos

ímpios. Que o poder da tua morte seja visto em

mim para a salvação da minha alma.”.

Oh, vocês que são salvos, e portanto, que amam a Cristo, quero que vocês, irmãos amados, como

são de Deus, ponham em prática esta parte final de meu tema, estejam seguros de aferrar-se a

Deus em oração. “Tu é minha ajuda e meu

libertador.”. Como igreja nos arrojamos sobre o

poder de Deus, e nada podemos fazer sem Ele. Porém não queremos estar sem Ele, nos

aferremos a Ele firmemente.

A oração move o braço que move o mundo.

Quando a igreja começa a orar, Ele poderia em princípio fazer como que tivéssemos que ir mais

longe, e poderíamos ter o temor de não receber resposta alguma. Sigam firmes, queridos

irmãos. Estejam firmes, inamovíveis, apesar de

tudo. Mais tarde, poderia ocorrer, haverá

desalento onde esperávamos um êxito grandioso, encontraremos irmãos que opõem

dificuldades, alguns caíram no pecado,

Page 65: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

65

abundaram os reincidentes e impenitentes.

Porém não deixemos de avançar. Sigamos com

maior firmeza. E se chegar a ocorrer que nós

mesmos nos desencorajamos e nos desalentarmos, e sentimos que nunca ficamos

tão débeis como agora, não importa irmãos,

sigamos adiante, porque quando o tendão se encolhe, (tal como se deu com a coxa de Jacó), a

vitória está próxima.

O que se obtém por uma só oração, às vezes é somente uma bênção de segunda classe. Porém

a que se obtém depois de um esforço desesperado, e de uma luta terrível, está é uma

bênção completa e preciosa. Sempre é lindo

contemplar os filhos da importunidade. Aqueles

que são importunos diante de Deus por conta das incessantes petições que lhe dirigem. A

bênção que nos custa mais orações será a mais

apreciada. Somente sigamos perseverando em

súplicas, e obteremos uma bênção ampla e de largo alcance para nós, para a igreja e para o

mundo.

Page 66: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

66

O Dever da Oração Incessante

Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e

adaptado por Silvio Dutra)

Agora, mais uma ordenança prática de Paulo

em I Tes 5.17, que está resumindo

sinteticamente o dever de orar sempre sem

cessar.

Paulo aprendeu isso do próprio Jesus. Lemos em Lc 18.1: “Disse-lhes Jesus uma parábola, sobre o

dever de orar sempre e nunca esmorecer.”. Isto inclui tanto a oração particular privada, quanto

a oração pública. Quanto a esta última podemos

ler em I Tim 2.8: “Quero, portanto, que os varões

orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade.”.

Em primeiro lugar, a oração é absolutamente necessária à salvação do homem. Sabemos firmemente que a salvação de qualquer um é

pela graça de Deus, e não por qualquer coisa que

façamos. Mas que alguém possa alcançar a

salvação sem que a peça a Deus, como uma forma de oração em seu coração, não podemos

ver isto na Bíblia. Porque somente aqueles que

invocarem o nome do Senhor, e aqueles que o

confessarem como Senhor com sua boca, crendo isto em seu coração, é que são salvos.

Não é propriamente a oração que salva, mas a

Page 67: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

67

graça do Senhor, mas não podemos encontrar

que sem oração alguém será salvo.

Não é absolutamente necessário à salvação que um homem deveria ler e conhecer toda a Bíblia.

Um homem pode não ter nenhuma

aprendizagem, ou ser cego, e ainda ter Cristo dentro do seu coração. Não é absolutamente

necessário que um homem deva ouvir a

pregação pública do Evangelho (entretanto ele

tem que receber a Palavra de alguma outra forma). Ele pode viver onde o Evangelho não é

pregado publicamente, ou ele pode estar

acamado, ou ser surdo. Mas a mesma coisa não

pode ser dita sobre oração. É absolutamente necessário à salvação que um homem deveria

orar.

Como poderemos ser salvos por um Deus “desconhecido?”. E como poderemos conhecer

a Deus sem oração? Nós não podemos conhecer

as pessoas se nós não falarmos com elas, e da

mesma forma não podemos conhecer Deus em Cristo, a menos que nós falemos com Ele em

oração. Se nós desejarmos estar com Ele no céu,

nós devemos ser amigos dele na terra. E se

desejamos ser seus amigos na terra, nós devemos orar.

Em segundo lugar, o hábito de oração é uma das

marcas mais seguras de um verdadeiro crente. Todos os filhos de Deus na terra são

semelhantes neste aspecto. Assim como o

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primeiro sinal de vida em uma criança quando

é nascida ao mundo, é o ato de respirar, assim o

primeiro ato de homens e mulheres quando

eles nascem de novo, é orar. Esta é uma das marcas comuns de todos os eleitos de Deus:

"Eles sempre oram e nunca esmorecem” (Lc

18:1). O Espírito Santo os faz novas criaturas, trabalha neles o sentimento de adoção, e os faz

clamar,"Abba, Pai" (Rm 8:15). Eles veem a

necessidade deles de misericórdia e graça. Eles

sentem a fraqueza deles.Eles têm que orar.

Eu examinei as vidas dos santos de Deus cuidadosamente na Bíblia. Eu não pude achar

um cuja história que nos é contada, de Gênesis

a Apocalipse, que não fosse um homem de

oração. Eu encontro mencionado na Bíblia que uma característica do homem piedoso, é que

eles clamam ao Pai, que eles clamam ao Senhor

Jesus Cristo. E eu acho registrado como uma característica dos ímpios, que eles não clamam

a Deus (I Pe 1.17; I Cor 1:2; Sl 14:4).

Eu li as vidas de muitos grandes cristãos que estiveram na terra desde os dias da Bíblia.

Alguns deles, eu vejo, eram ricos, e alguns pobres. Alguns eram educados, e alguns sem

educação. Eles vieram de várias denominações

e alguns eram independentes. Alguns amaram

um serviço de culto muito estruturado, e alguns gostaram disto de forma bastante informal. Mas

uma coisa, eu, vejo, que todos eles tiveram em

Page 69: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

69

comum. Todos eram homens de oração.

Quando Jesus diz, quando Paulo diz: “orai sem

cessar”. É porque a oração deve ser uma parte

integrante da vida do crente. Ele deve ter o seu pensamento e o seu coração fixado em Deus em

todo o tempo.

Eu não nego que um homem possa orar sem coração, e sem sinceridade. Eu não posso afirmar que o mero fato de uma pessoa estar

orando prova tudo sobre a sua alma. Como em

tudo o mais na religião, também nisto, há

bastante decepção e hipocrisia.

Mas isto eu digo - que não orar, é uma prova clara que um homem não é ainda um verdadeiro

crente. E além disso, eu digo, que de todas as

evidências do real trabalho do Espírito Santo, o hábito da oração privada é o mais indicativo da

obra do Espírito na alma. Um homem pode

pregar. Um homem pode escrever livros, e fazer

bons discursos, e parecer diligente em boas obras, e ainda ser um Judas Iscariotes. Mas um

homem raramente entra no seu quarto, e

derrama a sua alma diante de Deus em secreto,

a menos que ele seja sincero. O Senhor fixou o selo dele em oração como a melhor prova da

verdadeira conversão. Quando Ele enviou

Ananias a Saulo em Damasco, Ele não lhe deu

nenhuma outra evidência da mudança do coração dele além desta, "ele está orando" (Atos

9:11).

Page 70: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

70

Eu sei que o eleito de Deus é escolhido para a salvação por toda a eternidade. Eu não esqueço

que o Espírito Santo que os chama a seu devido

tempo em muitos exemplos os conduz através de graus muito lentos para uma consciência de

Cristo. Mas o olho do homem só pode julgar

pelo que vê. Eu não posso chamar ninguém de justificado até que ele creia. Eu não ouso dizer

que qualquer um creu até que ele ore. Eu não

posso entender uma fé silenciosa e estupefata.

O primeiro ato da fé será falar com Deus. A fé está para a alma assim como a vida está para o

corpo. A oração está para a fé assim como a

respiração está para a vida.

Sua visão doutrinária pode ser correta. seu

amor pelo evangelho pode ser inconfundível. Mas ainda estes podem ser um conhecimento

mais de cabeça e espírito de festa. O grande

ponto é este - se você pode falar "com" Deus tanto quanto pode falar "sobre" Deus.

Em terceiro lugar, não há nenhuma parte da vida espiritual tão negligenciada como a oração

privada. Nós vivemos em dias em que abundam

as profissões religiosas. Há mais lugares de adoração pública agora do que já havia dantes.

Há mais pessoas que assistem a eles que alguma

vez houve desde que nós nos tornamos uma

nação. E ainda apesar de toda esta religiosidade pública, eu creio que há uma negligência vasta

de oração privada. Eu tenho chegado à

Page 71: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

71

conclusão que a grande maioria dos crentes

professos não oram.

Eu sei que isto chocará a muitos. Mas eu estou convencido que a oração é dessas coisas sobre

as quais se pensa que é "um assunto privado", e

como muitos "assuntos privados" está vergonhosamente negligenciada. Como é uma

transação privada entre a nossa alma e Deus,

que nenhum olho vê, então há toda uma

tentação para passar por cima disso e não cumpri-lo. Orar em todo o tempo é um dever,

mas não há dever mais negligenciado na face da

terra.

Eu creio que milhões "nunca dizem uma palavra de oração, nenhuma.". Eles comem; eles bebem;

eles dormem; eles vão para o seu trabalho; eles

voltam para suas casas; eles respiram o ar de Deus; eles veem o sol de Deus; eles caminham

na terra de Deus; eles desfrutam as

misericórdias de Deus; eles têm julgamento e

eternidade diante deles. Mas eles "nunca falam com Deus!". Eles vivem como os animais que

perecem; eles se comportam como criaturas

sem almas; eles não têm nenhuma palavra para

dizer a Ele em cujas mãos está a vida deles, a respiração e todas as demais coisas. Quão

terrível isto parece!

Eu creio que há milhões cujas orações são uma mera forma - um jogo de palavras repetido, sem

um pensamento sobre o significado delas".

Page 72: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

72

Palavras ditas sem coração são totalmente

inúteis para as nossas almas. Onde não há

nenhum coração, os lábios podem se mover e a

língua ser articulada, mas não há nada sendo escutado por Deus - não há nenhuma oração.

Não há nenhum exagero no que eu estou afirmando. Você esqueceu que não é uma coisa

natural a qualquer um, o ato de orar? A mente

carnal é inimizade contra Deus. O desejo do

coração do homem natural é ficar afastado de Deus. O sentimento dele para com Deus não

está baseado no amor, mas no medo.

Isto ocorre não porque Deus não seja desejável ou atraente, isto ocorre porque a natureza

terrena está sujeita ao pecado, e o pecado

impede que o homem faça a correta apreciação

do valor de Deus e das suas bênçãos. É por isso que Paulo exorta os crentes a prosseguirem em

seu crescimento rumo à maturidade espiritual.

Que sejam homens espirituais com a mente

renovada, com a mente de Cristo. E não crentes carnais, que agem segundo o homem, e que

julgam segundo o homem, e não segundo Deus.

Crentes espirituais podem orar segundo a

mente de Deus, porque são assistidos pelo Espírito Santo que intercede por eles com

gemidos inexprimíveis.

Em quarto lugar, a oração é o ato da vida espiritual no qual há o maior encorajamento.

Porque Jesus como nosso Sumo-Sacerdote que

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73

intercede por nós à direita do Pai dia e noite,

endossa as nossas orações, fazendo com que as

petições daqueles que sabem que são pobres e

necessitados diante do trono da sua graça, sejam fortalecidos pelo seu poder enquanto

oram. Este é um segredo que Davi e Paulo

aprenderam. Em todas as suas tribulações e fraquezas encontramos a ambos orando e

clamando junto ao Pai de misericórdias, e eram

fortalecidos com o seu poder. O incenso da

oração dos santos misturado ao poderoso incenso da intercessão de Jesus Cristo faz com

que nossas orações subam como aroma suave

diante do trono de Deus.

Da mesma maneira que os ouvidos do Senhor Jesus já estão abertos ao clamor de todos os que

querem misericórdia e graça, é também sua

alegria ouvir a oração deles. Pense nisto. Isto não é encorajador?

Sempre há o Espírito santo pronto para ajudar nossa fraqueza em oração. É uma parte das funções especiais dele nos ajudar em nosso

empenho para falar com Deus. Nós não

precisamos ser lançados abaixo e ficar afligidos

pelo medo de não saber o que dizer. O Espírito nos dará palavras se nós só buscarmos a sua

ajuda.

Há ótimas promessas para aqueles que oram. Lemos em Mt 7.7,8: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai,

e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo o que

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74

pede recebe; o que busca, encontra; e a quem

bate, abrir-se-lhe-á.”. E na sequência Jesus

afirma que isto é como um pai atendendo às

necessidades de seus filhos. Se os homens sendo maus, sabem dar boas dádivas aos seus

filhos, quanto mais o Pai celeste não dará boas

coisas aos que lhe pedirem? (Mt 7.9,11). Lemos também em Mt 21.22: “e tudo, quanto pedirdes

em oração, crendo, recebereis.”. E em Jo 14.13,14:

“E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso

farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma cousa em meu nome, eu

o farei.”. Pense no encorajamento que há nestas

palavras para que oremos sem cessar.

Há exemplos maravilhosos na Bíblia sobre o poder da oração. Nada parece ser muito grande,

muito duro, ou muito difícil que a oração não

possa resolver. Obteve coisas que pareciam

impossíveis e fora de alcance. Ela obteve vitórias sobre o fogo, ar, terra, e água. A oração

abriu o Mar Vermelho. A oração tirou água da

pedra e trouxe pão do céu.

A oração fez o sol parar. A oração trouxe fogo do céu nos dias de Elias. A oração transformou o

conselho de Aitofel em tolice. A oração derrotou

o exército de Senaqueribe. Como disse Maria, a

rainha dos escoceses, "eu temo mais as orações de John Knox do que um exército de dez mil

homens.". A oração curou o doente. A oração

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75

levantou o morto. A oração obteve a conversão

de almas.

Em quinto lugar, a diligência em oração é o segredo da santidade eminente. Sem dúvida há uma grande diferença entre verdadeiros

crentes. Há uma imensa distância entre o mais

forte e o mais fraco no exército de Deus. Todos

eles está empenhados no mesmo bom combate da fé - mas quão valentemente uns lutam mais

do que outros! Todos eles estão fazendo a obra

de Deus - mas alguns fazem melhor do que

outros! Todos eles são luz no Senhor - mas alguns brilham mais intensamente do que

outros! Todos eles estão na mesma corrida –

mas alguns correm mais rápido do que outros!

Todos eles amam o mesmo Deus e Salvador - mas quantos O amam mais do que outros!

Agora, como nós podemos responder pela diferença que eu há pouco descrevi? Qual é a

razão de que alguns crentes são luminosos e mais santos do que outros? Eu creio que a

diferença em dezenove casos em vinte, surge de

hábitos diferentes de oração privada. Eu creio

que aqueles que não são eminentemente santos orem pouco, e esses que são eminentemente

santos orem muito. É por isso que Paulo diz em I

Tes 5.17: “Orai sem cessar.”. Este é o caminho da

verdadeira santificação, do verdadeiro crescimento espiritual, que torna o homem

poderoso em obras diante de Deus.

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76

Ninguém nasce grande na fé diante de Deus. Todos começam do mesmo ponto no novo

nascimento. E o que torna um crente poderoso

em palavras e em obras como foi Moisés (At 7.22) é o hábito da oração privada. Os crentes

crescem mais quanto mais crescem no hábito

da oração privada. Por isso Paulo diz: “Orai sem cessar.”. Ele mesmo estava “orando noite e dia,

com máximo empenho” para vê-los

pessoalmente e reparar as deficiências da fé dos

tessalonicenses (I Tes 3.10). E particularmente em relação a eles disse o que lemos em II Tes

1.11,12: “Por isso também não cessamos de orar

por vós, para que o nosso Deus vos torne dignos

da sua vocação, e cumpra com poder todo propósito de bondade e obra de fé; a fim de que

o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado

em vós, e vós nele, segundo a graça do nosso

Deus e do Senhor Jesus Cristo.”. Isto eram palavras de efeito usadas por Paulo? Palavras

para impressionar os leitores de sua epístola?

De modo nenhum. Ele conhecia o poder que há

na oração incessante e que prevalece diante de Deus. Ele praticava isto, assim como Davi

praticara no passado. Eles cresceriam no

conhecimento de Deus e seriam capacitados a

fazer a sua obra na mesma proporção que orassem. E Paulo destacou para eles o seu

próprio exemplo pessoal. A obra do Senhor

prosperava em suas mãos porque ele orava

incessantemente. Jesus lhe ensinou isto quando ele aprendeu o evangelho diretamente do

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77

Senhor, e ele o colocou por prática, e aprendeu

que a obra do Senhor só avança quando

obedecemos o seu mandamento de orar sempre

sem esmorecer.

A oração é o remédio mais seguro contra os ataques do diabo. O pecado não mantém sua influência sobre nós quando temos uma vida

regular de oração privada incessante.

Em sexto lugar, negligenciar a oração é uma grande causa de apostasia. Os homens podem

correr bem por um período, assim como os

Gálatas, e então se desviarem com o ensino de

falsos mestres. Os homens podem perder o seu primeiro amor, como os da igreja de Éfeso. Os

homens podem esfriar em seu zelo tal como

João Marcos, o bom companheiro de Paulo. Os

homens podem seguir um apóstolo por um tempo e depois voltarem para o mundo, tal com

Demas, os homens podem fazer todas estas

coisas.

Não há nenhuma dúvida que se a pessoa é verdadeiramente um crente então a verdadeira

graça nunca será extinta, e a verdadeira união

com Cristo nunca será quebrada. Mas eu creio que um homem pode apostatar tão longe que ele

perderá a visão da sua própria graça, e a certeza

da sua própria salvação. E se isto não for o

inferno, é certamente algo muito próximo dele! Uma consciência ferida, uma mente doente,

uma memória cheia de autocomiseração; um

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78

coração ferido com as correções de Deus, um

espírito quebrado, com uma carga de acusação

no seu interior - tudo isso tem "gosto de

inferno.". É um inferno na terra.

Agora, qual é a maior causa da apostasia? Eu creio que uma das suas principais causas é a negligência da oração privada. Claro que a

história secreta de apostatar não será conhecida

até o último dia. Eu somente posso dar minha

opinião como ministro de Cristo e como um estudante do coração.

Bíblias lidas sem oração, sermões pregados sem oração, compromissos para matrimônio sem oração, viagens empreendidas sem oração,

casas escolhidas sem oração, amizades

formadas sem oração – são os tipos de passos

que fazem um crente cair na condição de paralisia espiritual, ou atingir um ponto onde

Deus permite que ele tenha uma tremenda

queda.

Em sétimo lugar, a oração é um dos melhores modos para se adquirir felicidade e satisfação.

Nós moramos em um mundo onde a tristeza

abunda. Este sempre foi seu estado desde que o pecado entrou no mundo. Não pode haver

nenhum pecado sem tristeza. E até que o pecado

seja tirado do mundo será vão para qualquer um

supor que ele pode escapar da tristeza. Alguns, sem dúvida, têm um cálice maior de tristeza

para beber do que outros. Mas poucos serão

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79

achados por muito tempo vivendo sem tristezas

ou cuidados de um tipo ou outro. Nossos corpos,

nossas propriedades, nossas famílias, nossos

filhos, nossas relações, nossos amigos, nossos vizinhos, e tudo o mais são fontes de cuidado.

Doenças, mortes, perdas, decepções, divisões,

separações, ingratidões, difamações - tudo isto são coisas comuns. Nós não podemos passar

pela vida sem experimentá-las. Algum dia elas

nos descobrirão E qual é o melhor modo para se

ter alegria num tal mundo como este? Como nós passaremos por este vale de lágrimas

entretanto com menos dor? Eu não conheço

nenhum modo melhor que o hábito de "levar

tudo a Deus em oração.". Este é o conselho claro que a Bíblia dá, tanto no Velho quanto no Novo

Testamento. O que diz Deus? "Clama a mim no

dia da angústia, eu te livrarei e tu me

glorificarás.” (Salmo 50:15). O que o apóstolo Paulo diz? “Não andeis ansiosos de cousa

alguma; em tudo, porém sejam conhecidas

diante de Deus as vossas petições, pela oração e

pela súplica, com ações de graça. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento,

guardará os vossos corações e as vossas mentes

em Cristo Jesus.” (Fp 4.6,7). E o que Tiago diz?

“Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração.” (Tg 5.13).

O único modo para estar realmente contente, num tal mundo como este é lançando todos os

nossos cuidados sobre Deus. É a tentativa de

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80

levar o seu próprio fardo que tão

frequentemente faz com que os crentes vivam

tristes. Se eles somente contassem as suas

dificuldades para Deus Ele os capacitaria a suportar mais facilmente os seus fardos assim

como Sansão fez com os portões de Gaza.

Jesus pode fazer feliz aquele que nele confia. Ele pode lhe dar paz de coração na prisão, satisfação

no meio da pobreza; conforto em meio a perdas;

alegria à beira da morte. Há uma abundância poderosa nele para todos os seus membros -

uma abundância que está pronta para ser

despejada sobre todos os que lhe pedem em

oração. Oh, que os homens venham a entender que a felicidade não depende de circunstâncias

externas, mas do estado do coração!

A oração pode trazer um raio de esperança, quando todos nossos prospectos terrenos

parecem falhar.

É de fato impressionante a forma econômica como o Espírito Santo diz grandes e profundas

verdades com poucas palavras: “Orai sem

cessar.”. É o seu mandamento. Você deve orar

perseverantemente. Tendo começado o hábito uma vez, nunca o abandone. seu coração às

vezes vai dizer, "Nós já fizemos a oração familiar;

que grande dano será se nós quebrarmos o

hábito da nossa oração privada. seu corpo às vezes dirá: "Você está doente, ou sonolento, ou

cansado; você não precisa orar.". sua mente às

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81

vezes dirá: "Você tem um negócio importante

para fazer hoje; corte suas orações, para ganhar

tempo.". Olhe, todas essas sugestões vêm

diretamente do diabo. Isto é o mesmo que dizer: "Negligencie sua alma.". Não a alimente. Deixe-a

perecer. Eu não digo que suas orações sempre

deveriam ter o mesmo tempo e intensidade; mas eu digo, não permita que nenhuma

desculpa o leve a deixar de orar. Porque o

mandamento de Deus para você é: “Orai sem

cessar”. Ele sabe que você necessita disso para permanecer de pé na sua presença, de maneira

que possa estar habilitado a fazer a sua vontade

neste mundo. Não foi sem razão que Paulo disse:

“Orai sem cessar” em I Tes 5.17 e “Perseverai na oração, vigiando com ações de graça” em Col

4.2. Ele não quis dizer que os homens sempre

deveriam estar sobre os seus joelhos. Mas ele

queria dizer que nossas orações deveriam estar como a oferta contínua que queimava

ininterruptamente – algo que perseverasse

continuamente no nosso interior, em todos os

dias da nossa vida – algo que deveria existir com a regularidade das quatro estações do ano, que

sempre chegam no seu próprio tempo. Algo que

nunca cessará enquanto a terra existir.

Nunca esqueça que você pode fazer uma cadeia infinita de orações curtas ao longo do dia. Até

mesmo na companhia de outros, ou enquanto você trabalha, ou indo rua abaixo, você pode

estar enviando silenciosamente para cima

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82

pequenos mensageiros alados a Deus, como

Neemias fez na presença mesma de Artaxerxes

(Ne 2:4). E nunca pense que o tempo que é dado

a Deus é tempo perdido. Uma nação não fica mais pobre porque perde um ano de dias úteis

em sete por honrar o Dia do Senhor.

É também importante a sinceridade, a seriedade e o fervor na oração. Não é necessário que um

homem devesse gritar, ou gritar muito alto, para provar que ele é sincero e sério. Mas é desejável

que nós sejamos fervorosos revelando que nós

estamos realmente interessados naquilo que

nós estamos fazendo. É a oração de um homem íntegro que é "poderoso e efetiva", e não do frio,

sonolento, preguiçoso, desatento. Esta é a lição

que nos é ensinada pelas expressões usadas na

Bíblia sobre oração. É "chorando, batendo, lutando, trabalhando, se esforçando.". Esta é a

lição que nos é ensinada através de exemplos da

Bíblia. Jacó lutando com Deus em Peniel: “Não

te deixarei ir, se me não abençoares”. (Gên 32.26). Daniel é outro exemplo, que ficou três

semanas inteiras na presença de Deus, e o

Senhor veio ter com ele em resposta à sua

perseverança (Dn 10.2,3,12,13). Veja um trecho da forma como ele orava em Dn 9.19: “Ó Senhor,

ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e

age; não te retardes, por amor de ti mesmo, ó

Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome.”. Ele derrama o

coração em interjeições. Ele apresenta

Page 83: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

83

argumentos poderosos diante de Deus. É a Tua

honra Senhor que está em jogo, diria ele em

outras palavras.

O próprio Senhor Jesus, sendo Deus, deu-nos o exemplo da oração perseverante. dele se diz em

Hb 5.7: “Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo

oferecido com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem podia livrar da morte, e tendo

sido ouvido por causa da sua piedade,”. Isto é

muito importante para ser aprendido: “foi

ouvido por causa da sua piedade”. Ninguém espere ser ouvido por Deus vivendo na prática

da impiedade. Os olhos do Senhor repousam

sobre os justos e os seus ouvidos estão atentos às

suas orações. Deus quer ser glorificado em nós, atendendo nossas orações. Por isso não

atenderá os pedidos que lhe são dirigidos para o

simples atendimento de prazeres terrenos,

egoístas, carnais (Tg 4.3).

Page 84: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

84

O Poder da Oração Unânime

“Em verdade, também vos digo que, se dois

dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer cousa que porventura

pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que

está nos céus. Porque onde estiverem dois ou

três unidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.19.20)

Uma das principais lições de nosso Senhor no

seu ensino sobre a oração foi: Que não seja para

ser vista pelos homens. Entre no seu quarto; e

fale a sós com o Pai. Assim, Ele nos ensinou que

o significado da oração é contato pessoal, individual com Deus, mas Ele deu também uma

segunda lição: Você não somente precisa de

oração secreta solitária, mas também de oração

pública, unânime. E Ele nos dá uma muito especial promessa para a oração unânime de

dois ou três que concordam no que eles pedem.

Como uma árvore tem suas raízes escondidas

no chão e seu caule cresce para cima à luz solar, assim a oração precisa igualmente para seu

desenvolvimento completo do segredo

escondido no qual a alma conhece a Deus

individualmente, e do companheirismo público com aqueles que acham no nome de Jesus o

lugar da sua reunião comum.

Page 85: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

85

A razão por que isto deve ser assim está claro. O laço que une um homem aos membros da raça

humana não são menos reais e íntimos do que

aqueles que os unem a Deus; ele é um com eles. A graça não somente renova nossa relação com

Deus mas também para com os homens. Nós

não somente aprendemos a dizer "Meu Pai", mas "Nosso Pai.". Nada seria mais antinatural do que

os filhos de uma família sempre conhecerem o

pai deles separadamente, mas nunca na

expressão unida dos desejos ou do amor deles. Crentes não somente são os membros de uma

família, mas até mesmo de um corpo. Da mesma

maneira que cada membro do corpo depende do

outro, e a ação completa do espírito que habita no corpo depende da união e cooperação de

tudo, assim os cristãos não podem alcançar a

bênção plena que Deus está pronto para dar pelo

seu Espírito a menos que eles busquem e recebam isto dentro da comunhão de uns com

os outros. Está na união e comunhão dos

crentes que o Espírito pode manifestar o seu

completo poder. Eram cento e vinte perseverando em oração unânime, e o Espírito

veio do trono do Deus glorificado, sobre os

discípulos, no dia de Pentecoste.

São dadas a nós as características da verdadeira oração unânime nestas palavras de nosso

Senhor:

1. Acordo sobre a coisa pedida

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86

A primeira é "acordo" sobre a coisa pedida. Não deve haver somente o consentimento geral para

concordar com qualquer coisa que outro possa

pedir, deve haver alguma coisa especial, algum assunto de desejo comum; o acordo teria que

ser, como deve ser toda a oração, em espírito e

em verdade. Em tal acordo ficará muito claro a nós aquilo que nós estamos exatamente

pedindo, e se nós podemos pedir

confiantemente de acordo com a vontade de

Deus, e se nós estamos prontos para crer que nós receberemos o que nós pedimos.

2. Reunidos no Nome de Jesus.

A segunda característica é estar unidos no nome de Jesus. Nosso Senhor nos ensina que o

Nome deve ser o centro de união no qual os

crentes devem estar reunidos, o laço de união

que lhes faz um, da mesma maneira que uma casa contém e une tudo que está nela. "O nome

do SENHOR é uma torre forte". Esse Nome é

uma realidade tal para aqueles que nele creem,

que se encontrar dentro disto é ter um presente. O amor e a unidade dos discípulos dele têm

atração infinita para Jesus: "Onde dois ou três

estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.”. É a presença viva de Jesus, na

comunhão dos seus discípulos, que dá à oração

unânime o seu poder.

3. A resposta segura.

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A terceira marca, é a resposta segura: “ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus”.

Uma oração que tenha por alvo manter nossa comunhão em Cristo, ou buscar nossa própria edificação, pode ter seu uso; mas não era esta a

visão do Salvador quanto ao seu desígnio. Ele

quis dizer isto como um meio de afiançar a

resposta especial à oração. Uma oração que se encontra sem resposta reconhecida deveria ser

uma exceção. Quando qualquer de nós tem

desejos com respeito aos quais nos sentimos

muito fracos para exercitar a fé necessária, nós deveríamos buscar força na ajuda de outros. Na

unidade de fé e de amor e do Espírito, o poder do

Nome e a presença de Jesus agimos mais

livremente e a resposta vem mais seguramente. A marca da verdadeira oração unânime é o

fruto, a resposta, o recebimento da coisa que

nós pedimos: “Em verdade, também vos digo que... ser-lhes-á concedida por meu Pai que está

nos céus.”.

Isso que é um privilégio indizível da oração unânime, e isso revela o poder que ela poderia

ter. Se o marido crente e sua esposa soubessem que eles foram unidos no Nome de Jesus para

experimentar a presença dele e dar poder à

oração unânime (1 Peter 3); se os amigos

cressem que auxílio poderoso há em dois ou três orando em acordo, podem dar um ao outro; se

em toda oração que se faz em Nome de Jesus, a

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fé na sua presença, e a expectativa da resposta,

se levantasse em primeiro plano; se em toda

igreja a oração unânime e eficaz foi considerada

como um dos propósitos principais para os quais eles estão ligados juntamente, sendo o

exercício mais alto do poder deles como uma

igreja; se na Igreja Universal a vinda do reino, a vinda do próprio Rei, primeiro, na efusão

poderosa do Espírito Santo, a própria pessoa

gloriosa dele, realmente for uma questão de

clamar juntos e unidos incessantemente a Deus - Oh, que poder e bênçãos poderiam vir, àqueles

que assim aceitaram provar a Deus no

cumprimento da sua promessa.

Nós vemos isso no apóstolo Paulo isso muito

distintamente, como uma realidade da fé dele no poder da oração unânime da igreja. Aos

romanos ele escreve (15:30): “Rogo-vos, pois,

irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente

comigo nas orações a Deus a meu favor.”.

Ele esperava ser livrado de seus inimigos e ter prosperidade em seu trabalho através das

respostas às orações unânimes da igreja. Lemos em II Cor 2.10,11: “O qual nos livrou e livrará de

tão grande morte, em quem temos esperado que

ainda continuará a livrar-nos, ajudando-nos

também vós, com as vossas orações a nosso favor, para que, por muitos sejam dadas graças a

nosso respeito, pelo benefício que nos foi

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89

concedido por meio de muitos.”. Paulo sabia que

seria beneficiado em razão da oração unânime

de muitos, dando-se cumprimento à promessa

do Senhor de abençoar a oração da igreja unida.

Aos efésios ele escreveu: “com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito, e

para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos, e também por mim;

para que me seja dada, no abrir da minha boca,

a palavra, para com intrepidez fazer conhecido o

mistério do evangelho,”. (Ef 6.18,19). O sucesso no seu ministério dependia da oração deles.

Em Fp 1.19 ele diz: “Porque estou certo de que isto mesmo, pela vossa súplica e pela provisão

do Espírito de Jesus Cristo, me redundará em libertação.”.

Em Col 4:3 lemos: “Suplicai ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo,

pelo qual também estou algemado;”.

E em II Tes 3.1,2: “Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague, e seja glorificada, como também está

acontecendo entre vós; e para que sejamos

livres dos homens perversos e maus; porque a fé

não é de todos.”.

Em todos os lugares está evidente que Paulo se sentia membro de um corpo e que ele contou

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90

com as orações destas igrejas para alcançar o

que era necessário e que de outro modo não

poderia ser obtido. As orações da Igreja eram

para ele como um fator real no trabalho do reino para a manifestação do poder de Deus.

Quem pode dizer que poderia formar uma igreja sem exercitar esse trabalho de oração, dia e

noite? Como Deus poderia ser glorificado através da vida de seus servos na salvação de

almas, sem este exercício de oração unânime?

A maioria das igrejas pensa que os seus membros são simplesmente unidos para

edificação mútua. Eles não sabem que Deus rege o mundo através das orações dos seus santos,

que a oração é o poder pelo qual Satanás é

vencido, que através da oração a Igreja na terra

tem à sua disposição os poderes do mundo divino. Eles não se lembram que Jesus tem toda

autoridade no céu e na terra, e que por sua

promessa, consagrou toda a igreja em seu Nome

para ser um portão do céu, onde a presença dele será sentida, e o poder dele experimentado

cumprindo os desejos dos seus servos.

Page 91: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

91

“Orai sem cessar” (I Tes 5.17)

A afirmação do nosso texto vem

imediatamente depois do mandamento:

“Regozijai-vos sempre”, como se esse mandamento tivesse desnorteado um pouco o

leitor, levando-o a perguntar: “Como eu posso

estar sempre alegre?”, então, o apóstolo juntou

como resposta: “orai sem cessar”. Isto não é muito diferente do que se lê em Tg 5.13 a: “Está

alguém entre vós sofrendo? Faça oração.”. As

tristezas como que nos acompanham neste

mundo, incessantemente e bem de perto. E como poderia o crente cumprir o mandamento

de estar sempre alegre, se não fosse pelo vencer

as tristezas que lhe sobrevêm, por meio da

oração? Até parece que as tribulação têm este propósito específico de obrigar-nos a orar, para

que sejamos conduzidos à presença de Deus, e

ali, vemos que nossas tristezas são dissipadas.

A oração constrói um canal para que as tristezas retidas na alma, sejam lançadas para fora, e para

que flua no lugar delas uma inundação de gozo sagrado no coração. Ao mesmo tempo quando

se está alegre e que se ora; quando o coração

está em uma condição quieta, e cheio de alegria

no Senhor, então ele se aproxima também do Senhor em adoração. A alegria santa e o ato da

oração influenciam um ao outro.

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92

Porém, observe o que imediatamente se segue no texto: "Em tudo dai graças.". Quando alegria e

oração estão casadas, o primeiro filho nascido

deles é a gratidão. Quando nós nos alegramos no Senhor pelo que nós temos, e oramos mais a ele,

então nossas almas lhe agradecem tanto pelo

prazer do que nós temos, quanto por aquilo que ainda há de vir. Esses três textos são três

companheiros inseparáveis, enquanto

representando a vida de um verdadeiro crente.

I. O Que significam estas palavras? "Orai sem cessar.". Elas não significam que o uso da voz é

um elemento essencial na oração? Seria até mesmo muito impróprio se fosse possível nós

continuarmos orando em voz alta

incessantemente. Não haveria nenhuma

oportunidade, claro, para pregar e ouvir, para a troca de relacionamento amigável, para

negócio, ou para qualquer outro dos deveres da

vida; enquanto o estrondo contínuo de tantas

vozes nos faria lembrar mais dos adoradores de Baal do que os de Sião. Nunca foi desígnio do

Senhor Jesus que nossas gargantas, pulmões, e

línguas deveriam estar para sempre em oração.

Desde que nós devemos orar sem cessar, e ainda, que não podemos orar com a voz sem

cessar, está claro que idioma audível não é

essencial à oração. Nós podemos falar mil

palavras que parecem ser oração, e ainda nunca ter orado; por outro lado, nós podemos clamar

ao ouvido de Deus mais efetivamente, e ainda

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93

nunca ter dito uma palavra. No livro de Êxodo

Deus é apresentado como dizendo a Moisés:

"Por que clamas a mim?". E ainda não está

registrado que Moisés tivesse proferido uma única sílaba até aquele momento. É verdade que

o uso da voz ajuda frequentemente a oração. Eu

acho, pessoalmente, que eu posso orar melhor quando eu posso ouvir minha própria voz; ao

mesmo tempo não é essencial, não entra nada

na aceitabilidade, realidade, ou prevalência da

oração.

Está igualmente claro que a postura de oração não é de nenhuma grande importância, porque

se fosse obrigatório orar de joelhos nós não

poderíamos orar sem cessar, a postura seria

dolorosa e prejudicial. Para que fim nosso Criador nos deu os pés, se ele nunca desejasse

que nós nos levantássemos sobre eles? Está bem

que orar de joelhos é uma postura mais apropriada, porque expressa humildade, mas,

ao mesmo tempo, os homens piedosos oraram

em seus quartos, sentados, de pé, em qualquer

postura, e a postura não entra na essência da oração. Não consinta ser colocado em

escravidão por esses para os quais o joelho

dobrado tem maior importância do que o

coração arrependido.

Também, está claro no texto, que o lugar não é essencial para a oração, porque se houvesse

lugares certos e santos somente nos quais a

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94

oração seria aceitável, e se nós tivéssemos que

orar sem cessar, nossas igrejas deveriam ser

extremamente grandes, para que nós sempre

pudéssemos estar nelas. Mas isto é ridículo; portanto eu junto que frequentar determinados

lugares em particular tem pouco ou nada a ver

com a oração.

"Orai sem cessar.". Esse preceito põe por terra a ideia de que há tempos particulares em que a oração é mais aceitável ou mais apropriada do

que outros. Se eu devo orar sem cessar, então

todos os segundos devem ser satisfatórios para

a oração, e não há nenhum momento profano da hora, nem de qualquer dia do ano. O Senhor não

designou uma certa semana para a oração, mas

todas as semanas deveriam ser semanas de

oração: nem ele disse qual hora do dia é mais aceitável do que outra. É comum se ouvir que a

madrugada é o tempo em que Deus atende

melhor à oração. É possível até que seja para o

que ora, mas não para Deus. Todo o tempo é igualmente legítimo para súplica, igualmente

santo, igualmente aceitável por Deus, ou então

não nos deveria ser dito que devemos orar sem

cessar. É bom ter suas horas do dia reservadas para oração; é bom reservar períodos especiais

para a súplica, nós não temos nenhuma dúvida

quanto a isso; mas nós nunca temos que

permitir este tipo de superstição de que há uma certa hora santa para oração pela manhã, uma

hora especialmente aceitável para oração à

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95

noite, e um tempo sagrado para oração e certos

períodos do ano. Onde quer que nós busquemos

a Deus com verdadeiros corações ele é achado

por nós; sempre que nós clamamos diante dele, Ele nos ouve. Todo lugar é chão sagrado para um

coração sagrado, e todos os dias sãos dias santos

para um homem santo.

Há uma outra coisa insinuada no texto, isto é, que nenhum lugar está vedado ao crente quanto

à permissão para orar. Orai sem cessar? E se há

algum lugar onde eu não posso fazê-lo, como

estar diante de programas e situações mundanas, envolvido na participação das

mesmas. Não devo estar fazendo isso porque

não me permitem cumprir o mandamento de

orar sem cessar. Aquilo que Deus não pode abençoar, e que ao contrário está amaldiçoado

pelo diabo, deve ser imediatamente condenado

por nós, e não devemos participar disto, porque não pode contar com a bênção de Deus, e pelo

fato de não me permitir o cumprimento do

mandamento da oração incessante.

II. “Orai sem cessar.”. Mas agora, o que ISTO

SIGNIFICA REALMENTE? É privilégio e dever de todo filho de Deus, entrar na sua presença. As

portas do templo do amor divino nunca estão

fechadas a qualquer hora do dia ou da noite.

Nada pode interpor uma barreira entre a alma que ora e o seu Deus. Porém, ainda é um

preceito, "orai sem cessar.". E o que significa?

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96

Significa uma grande verdade que eu não posso

muito bem dar a você em algumas palavras, e,

então, tenho que tentar colocar isso em quatro

ou cinco pontos.

Significa, primeiro, nunca abandonar a oração. Nunca por qualquer causa ou razão deixe de

orar. Não imagine que você tem que orar até que

você seja salvo, e pode partir então sem orar

mais. Para esses cujos pecados são perdoados a oração continua sendo totalmente necessária.

"Orai sem cessar", para que você possa

perseverar em graça, você tem que perseverar

em oração. Caso você esteja experimentando a graça e sendo enriquecido com muito

conhecimento espiritual, você não deve nem

sonhar em parar com a oração por causa de seus dons e graças. "Orai sem cessar", ou então sua

flor enfraquecerá e seu fruto espiritual nunca

amadurecerá. Continue em oração até o último

momento de sua vida.

"Enquanto viverem devem os crentes orar,

porque somente enquanto eles oram é que eles vivem.".

Como nós devemos respirar sem cessar, assim nós devemos também orar sem cessar. Assim

como uma pessoa não pode progredir na vida

em saúde, força ou vigor muscular, sem respirar, do mesmo modo não pode ter qualquer

condição de crescimento espiritual ou avançar

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97

em graça dispensando o dever de orar sem

cessar.

Nunca deixe de orar, nem mesmo Satanás deveria sugestioná-lo que é em vão para você

clamar a Deus. Ore diante dos dentes dele; "ore sem cessar.". Ainda que os céus pareçam como

bronze sobre sua cabeça, continue orando; se

mês após mês sua oração parece ter falhado, e

nenhuma resposta foi dada a você, contudo continue clamando ainda a Deus. Não abandone

o lugar da misericórdia por qualquer razão que

seja. Se é uma coisa boa que você tem pedido, e

você está seguro que está de acordo com a vontade divina, e se a visão permanecer,

continue esperando a resposta, peça, lute,

agonize até que você adquira aquilo pelo que

você tem orado. Se seu coração está frio em oração, não pare de orar até que seu coração se

aqueça, mas peça a ajuda do Espírito Santo que

nos ajuda nas nossas fraquezas. Lembre que

somente a graça do Senhor pode fortalecer o nosso coração em nossas angústias e aflições,

despachando-as para longe de nós. A sua graça

nos basta. O seu poder se aperfeiçoa na nossa

fraqueza. É Deus mesmo, depois de termos sofrido por um pouco, que nos aperfeiçoa,

firma, fortifica e fundamenta. É Ele quem faz

nossa alma sossegar, repousar e se aquietar, em

face dos maremotos desta vida. Nunca cesse a oração por qualquer tipo de razão ou

argumento. Se o filósofo lhe falar que todo

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98

evento é fixo, e, então, a oração não pode mudar

nada, e, por conseguinte, deve ser loucura;

ainda, que você não possa lhe responder e possa

até mesmo ficar um pouco confundido pelos argumentos dele, continue todavia com todas as

suas súplicas a Deus. E você saberá que há um

Deus que responde a oração miraculosamente, reduzindo a sabedoria deste mundo a nada.

Nenhum problema difícil relativo à digestão

impediria o seu ato de se alimentar, porque o

resultado justifica a prática, e assim também nenhuma discussão deveria nos fazer cessar de

orar, porque o sucesso seguro disto recomenda

a prática da oração a nós. Você sabe o que seu

Deus lhe prometeu, e se você não pode responder a toda dificuldade que o homem

possa apresentar, você pode no entanto

continuar obediente à vontade divina, e ainda

pode "orar sem cessar.". Nunca, nunca, nunca renuncie ao hábito da oração, ou sua confiança

em seu poder.

Um segundo significado é isto. Nunca suspenda o oferecimento regular da oração. Você terá, se

for um crente vigilante, seus momentos de

devoção diários, não fixados por superstição, mas por sua conveniência; da mesma maneira

que Davi, o fazia três vezes ao dia, e como Daniel,

que orava sete vezes ao dia, buscando o Senhor.

Mantenha esta oração diária sem interrupção. Nunca deixe a oração matinal, nem a oração da

noite, nem a oração do meio-dia se isso se tornar

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99

o seu hábito. E assim, se você persevera orando

nesses momentos reservados para a oração,

pode ser dito que você ora sem cessar.

Estes momentos diários que nós reservamos para falar com Deus, parecem ser o motivo de

sermos abençoados no restante do dia.

Porém, isso é só uma ajuda, porque eu tenho que acrescentar, em terceiro lugar, a estes

momentos separados para a devoção, o trabalho da oração que acontece quando estamos

envolvidos em nossas atividades, porque

mesmo nessas horas devemos deixar nossos

corações falarem com Deus; não em vinte orações de cada vez, mas em orações quebradas

em interjeições. Deixe que orações curtas

subam ao céu, introduzidas por um "Ah", um

"Oh", ou mesmo sem palavras nós podemos orar com os suspiros do coração. Aquele que ora sem

cessar lança muitos pequenos dardos e

granadas de mão de desejos que partem do seu

coração na direção de Deus.

Em quarto lugar, se nós desejamos orar sem cessar, nós devemos sempre estar em espírito

de oração. Nosso coração, renovado pelo Espírito Santo, deve ser como a agulha

magnetizada que está sempre apontando para o

Norte. Assim deixe seu coração ficar sempre

magnetizado com a oração, de forma que toda vez que você deixe de orar por coisas que

costumam desviar nossa atenção de Deus, seu

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100

coração magnetizado volte sempre para a

direção de Deus, assim como a agulha da

bússola que volta a apontar para o Norte, depois

que é liberada por algum dedo que a houvesse desviado para outra direção.

Mas, talvez, o último significado que eu darei tem a maior parte da verdade do texto nisto, a saber: todas as suas ações devem ser

consistentes umas com as outras, sendo na

realidade uma continuação de suas orações.

Orar sem cessar, não pode significar que eu sempre estarei no ato de devoção direta; porque

a mente humana, segundo Aquele que a

constituiu, necessita de variedade de ocupação.

Então, nós temos que mudar o modus operandi, ou seja, a maneira de operação, se nós

desejamos perseverar em oração. Nós temos

que procurar fazer nossas orações sempre de

outra maneira.

Por exemplo. Nesta manhã eu orei pedindo a Deus para despertar o seu povo para a

intercessão; muito bem; quando eu fui para

casa, minha alma continuou pedindo: "O Deus, desperte os teus filhos para a intercessão".

Agora, enquanto eu estou orando por você, não

estou me dirigindo ao mesmo ponto? Meu

sermão não é a continuação da minha oração, porque eu estou desejando e estou apontando

para a mesma coisa? Não é perseverando na

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101

oração que nós usamos os melhores meios para

a obtenção daquilo que estamos pedindo?

III. COMO NÓS PODEMOS OBEDECER ESTAS PALAVRAS?

Evitemos todos os tipos de interrupções desnecessárias da nossa oração. Se nós sabemos

que qualquer assunto, do qual nós podemos

escapar, tem uma tendência para perturbar o

espírito de oração dentro de nós, evitemos isto seriamente. Devemos tentar o quanto possível,

não ficarmos fora da atmosfera da oração. O

objetivo de Satanás será distrair a mente,

desviar seu alvo.

Quando Edward Payson era um estudante na Faculdade, ele achou que deveria somente

gastar o seu tempo assistindo as aulas e se preparando para os exames, e que não deveria

gastar tanto tempo com oração privada; mas,

afinal, acordando com o sentimento de que ele

estava substituindo as coisas divinas pelos seus hábitos, ele passou a gastar o tempo devido à

devoção e ele registrou no seu diário que fez

mais progressos em seus estudos em uma única

semana depois que ele tinha passado tempo com Deus em oração, do que ele tinha realizado

em doze meses antes. Deus pode multiplicar

nossa habilidade para fazer uso do tempo. Se nós

dermos para Deus o que é devido a ele, nós teremos tempo bastante para todos os

propósitos necessários. Neste assunto busque

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102

primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas

estas coisas serão acrescentadas a você. seus

demais compromissos andarão suavemente se

você não esquecer de seu compromisso com Deus.

Nós devemos, queridos amigos orar sem cessar, por isso se esforce contra a indolência na

oração. Eu creio que nenhum homem ama a oração até que o Espírito Santo lhe ensine a

doçura e o valor disto. Se você alguma vez orou

sem cessar continuará orando sem cessar. Os

homens que não gostam de orar não conhecem a sua alegria secreta. Quando a oração é um ato

mecânico, e não há nenhuma alma nisto, é uma

escravidão e um cansaço; mas quando a oração

é verdadeira e viva, e quando o homem ora porque ele é um crente e não pode ficar sem

orar, quando ele ora caminhando na rua, no seu

trabalho, quando ora em casa, no campo, quando toda a sua alma estiver cheia de oração,

então ele não pode ficar sem ter isto.

Deixe-nos evitar, acima de tudo coisas como letargia e indiferença na oração. Oh, já é uma

coisa terrível que nós insultemos a Majestade do céu com palavras que saíram do nosso

coração. Eu devo, meu espírito, educar-te a isto,

que tu tens que ter comunhão com Deus, e se tu

não falas com Deus em oração, tu deves aprender a fazê-lo. Não fiques longe do trono da

misericórdia pela falta de oração.

Page 103: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

103

Irmão amado, diga assim à tua alma: "eu vim aqui ao trono da graça para adorar a Deus e

buscar a bênção dele, e eu não vou embora até

que eu tenha feito isto; eu não sairei de meus joelhos, porque eu passei meus minutos

habituais, mas vou permanecer orando até

saber em meu espírito que eu alcancei a bênção.". Satanás fugirá frequentemente

quando ele o achar assim resoluto em oração.

Irmãos, nós precisamos acordar. A rotina cresce

em nós. Nós entramos na caminhada que não leva a lugar algum como o cavalo que anda em

redor do moinho para esmiuçar o grão. Isto é

mortal. Um homem pode pedir vinte anos com

regularidade, até onde o tempo permita, e fazê-lo de tal forma que nunca tenha pedido de fato

um único grão de oração em todo este período.

Um real gemido que parta do coração vale um

milhão de ladainhas, uma respiração viva de uma alma vale mais do que dez mil palavras

recitadas mecanicamente. Nós podemos ser

mantidos despertados pela graça de Deus,

enquanto oramos sem cessar.

E nós temos que ter cuidado, queridos irmãos,

ainda, ao executarmos este dever de orar, em lutar contra qualquer coisa como o medo de não

sermos ouvidos. Se nós não fomos ouvidos

depois de seis vezes, nós devemos, como Elias,

orar pela sétima vez; se nosso Pedro está em prisão, e a igreja pediu a Deus para o libertar, e

ele ainda está acorrentado na prisão,

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104

continuemos orando até que num destes dias

Pedro bata no portão. Seja inoportuno, o portão

do céu não se abre para toda batida fugitiva.

Bata, e bata, e bata novamente; e continue buscando, e não fique satisfeito até que tenhas

obtido uma real resposta.

Nunca cesse a oração por presunção; vigie contra isso. Sinta, crente que você sempre precisa orar. Não diga, "eu sou rico e aumentei

em bens, e não tenho necessidade de nada.". Tu

és por natureza, pobre, nu e miserável; então,

persevere em oração, e compre do Senhor ouro refinado pelo fogo, vestiduras brancas para se

vestir, e colírio para os olhos para que veja. Sem

a graça do Senhor não somos verdadeiramente

ricos, porque a aparência deste mundo passa, e por mais que tenhamos no mundo, nada

levaremos dele conosco. Também não estamos

dignamente vestidos diante de Deus por mais luxuosas que sejam as nossas vestes deste

mundo. E também não podemos enxergar as

coisas de Deus sem a graça de Jesus, que é colírio

para os nossos olhos espirituais.

IV. Agora, muito brevemente, em último lugar, POR QUE NÓS deveríamos OBEDECER ESTE

PRECEITO? Claro que nós deveríamos obedecer

isto porque é uma ordenança divina; mas, além

disso, nós deveríamos prestar atenção a isto porque o Senhor sempre merece ser adorado. A

oração é uma forma de adoração; então, sempre

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105

continue rendendo a seu Criador, seu Provedor,

seu Redentor, seu Pai, a homenagem de suas

orações. Como a um Rei não nos deixe afrouxar

a homenagem. Devemos pagar-lhe continuamente o devido louvor. Todos os

pecados perdoados do passado, e os que

continua perdoando no presente e sendo longânimo e misericordioso para conosco

fazendo-nos experimentar pelo perdão, a sua

paz, amor, bondade, alegria, cura de nossas

enfermidades da alma e do corpo, já são por si só suficiente motivo para louvarmos o seu santo

nome diariamente, porque as suas

misericórdias são renovadas a nosso favor a

cada despertar de um novo dia. Os inimigos do Senhor o amaldiçoam; mas nós o adoraremos

sem cessar. Além disso, irmãos, o espírito de

amor dentro de nós nos incita seguramente à

comunhão com Deus, fazendo com que nos aproximemos dele. Cristo é nosso marido. A

noiva deve ser fiel aos votos do seu matrimônio

para permanecer na companhia do noivo. Deus

é nosso Pai. Que tipo de filho não deseja subir no colo de seu pai e receber um sorriso da sua face?

Se você e eu podemos viver dia após dia e

semana após semana sem qualquer comunhão

com Deus, como o amor de Deus permanecerá em nós? "Orai sem cessar", porque o Senhor

nunca deixa de amar, nunca deixa de abençoar,

e nunca deixa de nos considerar seus filhos.

"Orai sem cessar", porque você deseja uma bênção em todo o trabalho que você está

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106

fazendo. Exclua o Senhor da construção da casa,

e todo o trabalho naquela construção será em

vão. E em se tratando de negócios? Será inútil

levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente foi ganho. Você é

ensinado a dizer: “o pão nosso de cada dia dai-

nos hoje” - uma oração inspirada para coisas seculares. Oh, consagre seus assuntos seculares

através da oração. E, se você estiver

comprometido no serviço de Deus, que trabalho

poderá ter sucesso sem a bênção dele? Ensinar o jovem, pregar o evangelho, instruir o

ignorante, tudo isto não requer a bênção dele? O

que farão eles se esse favor for negado? Então,

ore enquanto você trabalha.

Você sempre está em perigo de ser tentado; não há qualquer posição na vida na qual você não

possa ser assaltado pelo Inimigo. "Orai sem

cessar", então. Um homem que vai ao longo de uma estrada escura onde ele sabe que há

inimigos lhe espreitando, deve ter sempre uma

espada com ele, para que os ladrões saibam que

ele está pronto para eles.

Assim também o crente, orando sem cessar; leva sua espada em sua mão, a mais poderosa

arma de todas é a oração, da qual Bunyan fala.

Nunca embainhe a espada. Você não temerá

qualquer inimigo se você orar sem cessar. Como você é tentado sem cessar, assim também ore

sem cessar.

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107

Você sempre precisa orar, porque você sempre quer algo. Em nenhuma condição você é tão rico

que você não precise de algo de seu Deus. Não é

possível você dizer, "eu tenho todas as coisas", ou, se você puder, você só as tem em Cristo, e de

Cristo você tem que continuar buscando-as.

Como você sempre está em necessidade, assim sempre implore no portão da misericórdia.

Além disso, bênçãos sempre estão esperando

por você. Anjos estão prontos com favores que

você não conhece, e você tem mais para pedir e receber.

As bênçãos do céu estão esperando somente que você ore para recebê-las. O homem que sabe

que a sua agricultura é lucrativa, e que a terra

dele produz abundantemente, estará alegre de semear uma extensão mais ampla de terra no

ano seguinte; e aquele que sabe que Deus

responde a oração, e ainda está pronto para respondê-la, abrirá a sua boca ainda mais

amplamente para que Deus possa enchê-la.

Continuem orando, irmãos, porque até mesmo se vocês não precisassem orar em seu próprio

favor, há outros que estão morrendo, doentes, pobres, ignorantes, ou apostatando, ou

blasfemando. "Orai sem cessar", porque os

inimigos trabalham incessantemente, e o reino

ainda não foi estabelecido em Sião. Você nunca poderá dizer, "eu parei de orar, porque eu não

tinha nada pelo que orar.".

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E, agora, eu digo porque NÓS especialmente deveríamos orar, e isso fechará o sermão.

Amados amigos, esta igreja deveria orar sem

cessar. Nós estivemos por anos orando. Se alguma igreja tem orado, eu posso dizer que esta

é a nossa igreja. Eu poderia achar muitas faltas

com respeito à oração em alguns, mas eu ainda posso dizer que na visão de Deus houve oração

viva por muitos anos nesta igreja, e

consequentemente nós tivemos muitos anos de

paz e prosperidade. Nós não tivemos falta de nada porque nós não faltamos com a oração. Eu

não duvido que nós poderíamos ter tido muito

mais se nós tivéssemos orado mais.

Agora, irmãos, suponham que vocês não tivessem nenhum pastor, suponham que o

pastor tivesse deixado vocês, e isto não os levaria a orar? Vocês não orarão então por mim

enquanto eu viver? Se você oraria para que

outro viesse, você não orará por mim enquanto

eu estiver aqui? Amados, vocês oraram muito seriamente pelo seu pastor quando ele esteve

doente, suas orações foram a sua consolação e a

sua restauração; e vocês têm orado agora para

que ele possa pregar o evangelho com poder, e que a saúde dele possa ser santificada ao serviço

de Deus, e o ministério da verdade possa ser

poderoso em alcançar almas. Eu peço isto a

vocês, eu penso que eu poderia reivindicar isto de vocês. Eu peço a vocês, irmãos, orem por nós.

Suponham ainda, queridos irmãos, não havia

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109

nenhuma conversão em nosso meio, vocês não

orariam? E desde então tem havido muitas

conversões, e isso deveria ser uma razão para

cessar a oração? Para cada oração elevada para cima quando não havia nenhuma conversão,

deveria haver agora dez quando Ele continua

operando a salvação entre nós.

Suponham que nós fomos divididos, e houve muitos cismas, e ciúmes, e brigas, e os fiéis não

orariam em amargura de espírito? Você não

orará então quando não há nenhuma divisão, e há muito amor cristão? Seguramente, eu digo

novamente, você não tratará Deus pior porque

ele o trata melhor. Isso realmente é algo tolo.

Nós oraremos menos porque Deus tem dado mais?

Orem então, sem cessar.

Igreja do Tabernáculo, guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa. Continua sendo

uma igreja de oração, porque quando nós nos

levantarmos diante do Tribunal de Cristo,

pastores e ovelhas, não possam ser acusados de falta de oração, nem de fazerem a obra de Deus

relaxadamente. Eu espero seriamente que tudo

isso tenderá a fazer com que o dia de oração

amanhã seja mais sério e intenso; mas ainda mais eu peço isso a toda hora que tudo de nós

deve ser fervoroso, frequente, com prontidão, e

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110

constante em oração; orando no Espírito Santo,

no nome de Jesus.

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111

Pedir e Receber

“Cobiçais, e nada tendes; matais e invejais, e

nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer

guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para

esbanjardes em vossos prazeres.”( Tg 4.2,3).

O homem é uma criatura cheia de

necessidades, e sempre intranquilo, e por isso seu coração está cheio de desejos. Não posso

imaginar a um homem sequer, que não tenha

muitos desejos de uma ou de outra espécie. O

homem é comparável com a anêmona marinha com seus muitos tentáculos, que sempre estão

caçando seu alimento da água; ou como certas

plantas trepadeiras que enviam pendentes,

buscando meios para subir.

Este fato ocorre com os piores dos homens e com os melhores. Nos maus os desejos se corrompem e chegam a converter-se em

luxúria: anelam o que é egoísta, sensual e

consequentemente, mau. A corrente de seus

desejos está posta firmemente numa direção equivocada. Em muitos casos a luxúria se faz

extremamente intensa: Faz do homem seu

escravo. Domina seu juízo; o estimula à

violência: peleja e faz a guerra, talvez literalmente, o mate. À vista de Deus, que

considera a ira como homicídio, mata

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112

frequentemente. Tal é a força de seus desejos

que comumente são chamados paixões, e

quando estas paixões se excitam plenamente,

então o homem mesmo luta veementemente, de maneira que o reino do diabo sofre violência

e os violentos o arrebatam pela força.

Entretanto, há também os desejos da graça no homem. Retirar do santos os seus desejos seria

prejudicá-los grandemente, porque devido a eles elevam seu baixo ser. Os desejos da graça

nos homens são por coisas melhores: coisas

puras e pacíficas, louváveis e com elevados

propósitos. Desejam a glória de Deus, e por isso seus desejos brotam de motivos mais elevados

que os que inflamam a mente não renovada.

Tais desejos nos crentes, frequentemente são

muito ferventes e contundentes; sempre deveria ser assim. E os desejos movidos pelo

Espírito de Deus agitam a nova natureza,

excitando-a, e fazendo que o homem anele e

entre em ansiedade até que possa alcançar aquilo que Deus lhe tem ensinado que é digno

de ser almejado. O desejo do mau e o santo

desejo dos justos têm seus próprios meios de

buscar satisfação. Os desejos dos maus se convertem em contenda, matam e desejam ter;

pelejam e fazem guerra, todavia por outro lado

os desejos dos justos, corretamente guiados,

tomam um curso muito melhor para atingir seus propósitos, porque se expressam em

oração fervente e insistente. O homem piedoso,

Page 113: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

113

quando está cheio de desejos pede a Deus e

recebe da mão de Deus.

Nesta oportunidade, com a ajuda de Deus, tratarei de expor a partir de nosso texto,

primeiro, a pobreza de cobiçar, - “Cobiçais e

nada tendes.” Em segundo lugar, com tristeza mostrarei a pobreza de muitos crentes

professantes nas coisas espirituais,

especialmente em sua qualidade de igreja;

também desejam e não têm. Em terceiro lugar, e para terminar, falaremos da riqueza com que serão recompensados os santos desejos se tão somente usarmos os meios corretos. Se

pedimos, receberemos.

I. Primeiro, consideremos A POBREZA DE COBIÇAR - “Cobiçais e não tendes.”.

As cobiças carnais, sem importar quão fortes possam ser, em muitíssimos casos não obtêm o

que buscam: como diz o texto, “Cobiçais e não

tendes.” O homem anela ser feliz, porém não é; suspira por ser grande, porém se faz menor a

cada dia. Aspira a conseguir isto e aquilo, que

pensa que o deixaria contente, porém segue

insatisfeito. É como o mar agitado que não tem repouso. De uma ou outra forma sua vida é uma

desilusão. Se agita como se estivesse no fogo,

porém o resultado é vaidade e aflição de espírito.

Como poderia ser de outro modo? Se semeamos ventos? Não devemos colher tufões e nada

mais? 0u, ainda que os fortes desejos de um

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114

homem ativo, talentoso e perseverante lhe

deem o que busca, logo o perde. O que, de certo

modo é o mesmo que não ter. A busca é trabalho

porém a posse é uma ilusão. Ganha para perder; edifica e seu fundamento arenoso se desfaz e

sua torre desmorona em ruínas. O que tem

conquistado reinos morre descontente em uma solitária em meio ao oceano; e o que tem

revivido um império cai para não mais se

levantar. Assim como a aboboreira de Jonas

murchou numa noite, há impérios que têm caído repentinamente, e seus senhores têm

morrido no exílio. Assim, o que os homens

obtêm por meio de guerras e pelejas é uma

propriedade com um contrato por breve tempo. A conquista é tão temporária, que segue sendo

correto que “cobiçam e não têm”.

0u se há homens com dons e poder suficientes para reter o que têm obtido, todavia, noutro

sentido não têm, porque o prazer que

esperavam encontrar nele não está ali. Tiram a maçã da árvore, e se transforma numa das

maças do Mar Morto, que se desfaz na mão. O

homem é rico, porém Deus afasta dele o poder

de desfrutar sua riqueza. Por suas cobiças e batalhas o homem licencioso obtém o objeto de

seus desejos, e depois de um momento de

deleite, sente aversão pelo que tão

apaixonadamente havia cobiçado. Aspira ao prazer tentador, o agarra, e o faz em pedacinhos

devido à ânsia com que o agarrou.

Page 115: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

115

Sua pobreza se apresenta de três maneiras. “Matais e invejais e nada podeis obter”. “Não

tendes o que desejais porque não pedis.”. “Pedis

e não recebeis, porque pedis mal.”.

Se os que cobiçam fracassam, não é porque não se põem a trabalhar para alcançar seus

objetivos. Porque de acordo com sua natureza,

utilizaram os meios mais práticos ao seu alcance, e os usaram amplamente. Segundo a

mente carnal o único modo de obter uma coisa

é lutar por ela, e Tiago deixou isto escrito como

a razão de todas as lutas. De onde procedem as guerras e contendas que há entre vós? Não é das

paixões que militam em vossa carne?”

Esta é a forma de esforço do que lemos: “combateis e lutais, porém não tendes.”. Neste modo de agir se aferram os homens de época em

época. Se alguém deseja progredir neste

mundo, dizem que deve lutar com seu próximo,

e tirá-los do lugar vantajoso em que se encontram. Não deve dar importância ao fato de

como os demais têm prosperado, senão que

deve preocupá-lo a oportunidade que a ele se

apresenta, e cuidar em aparecer, não importa quantos devam ser pisados no processo. Não

pode esperar progresso se ama ao próximo

como a si mesmo. Lhes parece que sou satírico?

Pode ser, porém tenho ouvido este modo de falar da parte de pessoas que o diziam de forma

séria. Assim que eles empreendem a luta, e essa

Page 116: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

116

luta é sempre vitoriosa, porque segundo o texto

“Matais,” é dizer, combatem de tal maneira que

derrotam seu adversário e acabam com ele.

Multidões de homens estão vivendo para si mesmos, combatendo aqui e lutando acolá,

fazendo a guerra com suas próprias mãos com a

máxima perseverança.. Não selecionam a forma

de fazê-lo. Não permitem que a consciência interfira em suas transações, porém soa em

seus ouvidos, o antigo conselho: “Ganha

dinheiro; ganha-o honestamente, se podes,

porém por todos os meios, ganha dinheiro.”. Não importa que se arruínem corpo e alma, e

que outros sejam liquidados pela miséria,

combate, porque nesta guerra não há trégua.

Bem disse Tiago: “Matais e invejais, e não podeis alcançar; combateis e lutais, porém não

tendes.”.

Quando os homens se entregam a seus propósitos egoístas e não logram êxito, poderiam possivelmente ouvir que a razão de

sua falta de êxito é “porque não pedis.” Então,

deve alcançar o êxito pedindo? Isso é o que

parece insinuar o texto, e isso é o que entende o justo. Por que este homem de desejos intensos

não pede? A razão é, em primeiro lugar, que é

contrário à natureza do homem natural que ore.

É como esperar que voe. Sente desprezo pela ideia de suplicar. “Orar?” pergunta. “Não, eu

quero trabalhar. Não posso desperdiçar meu

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117

tempo em devoções; a oração não é prática;

quero lutar à minha maneira. Enquanto tu oras,

eu derrotarei o meu adversário. Eu vou ao meu

serviço e te deixo com tua Bíblia e orações.”. Não tem intenção de suplicar a Deus. É tão orgulhoso

que se considera a si mesmo como sua própria

providência. sua própria destra e seu braço forte o conduziram à vitória. Quando se gaba de sua

muita liberalidade em suas opiniões reconhece

que ainda que não ore, poderia haver algo de

bom na oração, porque tranquiliza a mente da gente, e lhe faz sentir-se bem, porém rechaça a

ideia de que alguma resposta possa vir para a

oração, e fala filosófica e teologicamente do

absurdo que é pensar que Deus altere o curso de sua conduta ou responda às orações de homens

e mulheres. “Ridículo,” diz, “completamente

ridículo”; e então, em sua grande sabedoria,

volta à luta e à sua guerra, porque por tais meios espera atingir seus objetivos. Porém não

alcança. Toda a história da humanidade mostra

o fracasso da cobiça para obter seu objetivo.

Por um momento o homem carnal segue sendo o mesmo, porém se não pode alcançá-lo de um

modo, tentá-lo-á de outro. Se tiver que pedir, pedirá; se fará religioso, e este será o método

pelo qual alcançará seu objetivo. Descobre que

alguns religiosos prosperam no mundo, e que

inclusive os crentes sinceros estão longe de serem néscios nos negócios, e portanto provará

o esquema deles. E então fica sob a terceira

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118

censura do nosso texto: «Pedis e não recebeis.»

Qual é a razão do homem que é escravo de sua

cobiça não obter o que deseja, apesar de

começar a pedir? A razão é que seu pedir é um puro formalismo; seu coração não está em sua

adoração. Compra um livro que contém o que se

denomina fórmulas de oração, e as repete, porque repetir é mais fácil que orar, e não

requer que se pense.

Não tenho objeções contra o uso de um formulário de oração se com ele tu oras de fato;

porém sei que a grande maioria não ora com eles, senão somente repetem a fórmula. Muitos

homens espirituais usam um formulário,

porém os homens carnais seguramente o fazem

porque sempre caem no formalismo. (É necessário ter muito cuidado para que não

tenhamos também uma espécie de formulário

verbal, onde a congregação é estimulada simplesmente a repetir as palavras que lhe são

proferidas pelo dirigente do culto, pois é bem

possível que na maioria das vezes, não se esteja

de fato orando na presença de Deus – nota do tradutor).

Se teus desejos são anelos da natureza caída, se teus desejos começam e terminam no teu

próprio eu, e se a finalidade principal pela qual

vives não é a de glorificar a Deus, senão glorificar a ti mesmo, então poderás lutar,

porém não terás; poderás levantar-te cedo e

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119

deitar-te tarde porém não obterás de Deus

nenhuma coisa que valha a pena. Lembra o que

o Senhor diz no Salmo trinta e sete: “Deixa a ira,

abandona o furor; não te impacientes; certamente isso acabará mal. Porque os

malfeitores serão exterminados, mas os que

esperam no Senhor possuirão a terra. Mais um pouco de tempo e já não existirá o ímpio;

procurarás o seu lugar, e não o acharás. Mas os

mansos herdarão a terra, e se deleitarão na

abundância de paz.”.

II. Em segundo lugar, COMO AS IGREJAS CRISTÃS PODEM SOFRER DE POBREZA

ESPIRITUAL, de modo que elas também

“cobiçam e não podem alcançar.”

Supostamente, o crente busca coisas mais elevadas do que as coisas mundanas, de outro

modo, não seria digno de ser chamado assim.

Pelo menos, professadamente, seu objetivo é alcançar as verdadeiras riquezas, e glorificar a

Deus em espírito e em verdade. Se, porém

olharem, queridos irmãos, nem todas as igrejas

alcançam o que almejam. Teremos que queixar-nos não em um ou outro lugar, mas em muitos

lugares, de igrejas que estão quase

adormecidas, e declinam gradualmente. O culto

público está quase deserto em algumas partes, o pastor não tem poder de reunir gente, e os que

entram pela aparência, ou estão descontentes

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120

ou indiferentes. Em tais igrejas não há

conversões. Qual é a razão disto?

Em primeiro lugar, ainda entre os que professam ser crentes, pode haver a busca de coisas desejáveis por métodos errôneos.

“Combateis e lutais, porém não tendes.”. Não há

igrejas que têm pensado prosperar competindo

com outras? “Em tal e tal lugar de adoração tem um homem muito esperto. Temos que

conseguir um assim também para nós.”. De fato

deveria ser mais astuto que o herói de nossos

vizinhos. Esta é a coisa: um homem esperto! Ai de mim! Que temos que viver em uma era em

que falamos de ter um homem esperto que

pregue o evangelho de Jesus Cristo! Ai, como se

pode pensar que este santo serviço depende da astúcia humana!

As igrejas têm competido entre si em arquitetura, em música, em equipamento e em

estado social. Em alguns casos há uma medida de amargura em rivalidade. As mentes estreitas

não permitem achar agradável ver que outras

igrejas prosperem mais do que a sua própria.

Podem ser mais ferventes que nós, e podem estar fazendo melhor que nós na obra de Deus,

porém somos dados a contemplá-los com

inveja, e mais ainda, queríamos que eles não

fossem tão bem. “Pensais que a Escritura diz em vão: O Espírito que ele tem feito habitar em nós

não anela zelosamente?”. Sim poderíamos ver

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um escândalo neles, de modo que sofreram

uma queda e caíram eclesiasticamente mortos,

não nos regozijaríamos. Por certo que não,

porém não nos daria uma tristeza mortal. Em algumas igrejas há permanentemente um

espírito ruim. Não tenho uma acusação

denegridora para apresentar, e portanto não direi mais do que isto: Deus nunca bendirá tais

meios nem tal espírito; os que se deixam levar

por isto desejaram ter, porém nunca

alcançaram.

Ao mesmo tempo, qual é a razão pela qual não têm uma bênção? O texto diz: “Porque não

pedis,”, temo que haja igrejas que não pedem.

Descuida-se da oração em todas as suas formas.

Permite-se que termine a oração particular. Deixo à consciência de cada pessoa até que

ponto têm se preocupado com a oração secreta,

e quanta comunhão com Deus há em secreto entre os membros da igreja. Certamente sua

existência saudável é vital para a prosperidade

da igreja. A oração familiar é mais fácil de julgar,

porque podemos vê-la. Temo que nestes dias muitos têm abandonado a oração familiar.

Rogo-lhes que não os imitem.

Quisera que todos fôssemos do mesmo pensamento do trabalhador escocês que obteve

um emprego na casa de um rico agricultor famoso porque pagava bem. Todos seus amigos

o invejavam porque estava a seu serviço. Pouco

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tempo depois retornou à sua terra natal e

quando lhe perguntaram por que havia deixado

seu trabalho, respondeu que “não podia viver

em uma casa que não tinha teto.”. Uma casa sem oração é uma casa que não tem teto. Não

podemos esperar bênçãos em nossas igrejas se

não a temos em nossas famílias.

Quanto à oração congregacional, não está decaindo em reunir-se no que chamam de cultos de oração? Em muitos casos a reunião de

oração é desprezada, e considerada como uma

espécie de reunião de segunda categoria. Há

membros da igreja que nunca estão presentes, e não lhes toca a consciência pelo fato de se

manterem afastados. Algumas congregações

mesclam a oração com uma reunião de estudo,

de modo que têm um só serviço durante a semana. Há alguns dias li uma desculpa para

isto: diz-se que as pessoas estão melhor em casa

atendendo às ocupações familiares. São

palavras infundadas, porque, quem entre nós deseja que as pessoas descuidem de seus

deveres domésticos? Se descobrirá que os que

melhor atendem às suas ocupações rotineiras,

que são diligentes em pô-las em ordem, são os que se esforçam para participar das reuniões de

adoração. O descuido da casa de Deus, com

frequência é um indicador da negligência de

suas próprias casas. Não trazem seus filhos a Cristo, disto estou convencido, de outro modo

os trariam aos serviços. De toda forma, as

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123

orações da igreja medem sua prosperidade. Se

retemos a oração retemos a bênção. Nosso

verdadeiro êxito como igreja só se pode obter

pedindo-o a Deus. Não estamos dispostos a fazer uma reforma quanto a isto? Oh, que chegue a

hora da angústia de Sião, quando uma agonia

em oração mova todo o corpo dos fiéis!

Porém alguns respondem: “Há reuniões de oração, e pedimos bênçãos, no entanto não

chegam.”. Não se encontra a explicação em

outra parte do texto: “Não recebeis porque pedis

mal.”.

Quando as reuniões de oração se convertem em uma pura formalidade, quando os irmãos se

levantam e esgotam o tempo com suas largas

orações, em vez de falar a Deus com palavras sinceras e ardentes, quando não há expectação

de uma bênção, quando a oração é fria e

congelante, então nada sai dela. O que ora sem

fervor, na realidade não tem orado. Não podemos ter comunhão com Deus, que é fogo

consumidor, se não há fogo em nossas orações.

Muitas orações não chegam a seu destino

porque não há fé nelas. As orações que estão cheias de dúvidas, são petições de recusa.

Imagine que você escreve a um amigo e lhe diz:

“Querido amigo. Estou em graves problemas, e

portanto te escrevo para pedir-te ajuda porque me parece bom fazê-lo. Porém ainda que te

esteja escrevendo, não creio que vais ajudar-me

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124

em algo. Por certo, me surpreenderia muito

receber tua ajuda, e falaria disto como uma

grande maravilha.”.

Pensas que receberás ajuda? Eu diria que seu amigo teria suficiente sensibilidade para

observar a pouca confiança que deposita nele.

Então responderia que, como não esperas nada,

não te provocarei uma surpresa.

Tua opinião de sua generosidade é tão baixa que não se sente chamado a sair de sua rotina por

tua causa. Quando as orações são deste tipo, não

cabe surpreender-se se “não recebeis, porque pedis mal.”. Ademais, se nossas orações, por

ferventes e confiantes que sejam são um

simples pedir de prosperidade para nossa igreja

porque queremos gloriarmo-nos nisto, se queremos ver que nossa denominação cresça

em grande número e melhore em

respeitabilidade, para poder participar das

honrarias, então nossos desejos não passam de meras cobiças. Pode ser possível que os filhos de

Deus manifestem as mesmas emulações, zelos e

ambições dos homens do mundo? Pode ser a

obra religiosa uma questão de rivalidades e de competição? Ah, então as orações que buscam

êxito não terão aceitação diante do trono da

graça. Deus não nos ouvirá, senão que nos

despedirá, porque não se importará em responder as petições, das quais Ele não é o

objeto: “Não tendes, porque pedis mal.”.

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125

III. Em terceiro lugar, A RIQUEZA QUE ESPERA O USO DOS MEIOS ADEQUADOS, a saber, de

pedir de forma correta a Deus.

Convido-os a colocarem toda a atenção neste assunto porque é de vital importância. Minha

primeira observação é esta: depois de tudo, quão

pequena é esta demanda que Deus nos faz. Pedi!

É o mínimo que pode esperar de nós, possivelmente, e não é mais do que nós

geralmente exigimos de quem necessita da

nossa ajuda. Esperamos que um pobre peça, e se

não o faz, não lhe tiramos a culpa da sua carência. Se Deus dá ao que pede, e nós

seguimos em pobreza, de quem é a culpa? Não é

a culpa mais grave? Não dá a impressão que

estivéramos fora de ordem com Deus, de modo que nem sequer condescendemos em pedir-lhe

um favor? Certamente deve existir em nossos

corações uma inimizade secreta com Ele, ou de outro modo em vez de ser uma necessidade

indesejável seria considerado um grande

prazer.

Entretanto, irmãos, agrade-nos ou não,

lembremos: pedir é a regra do reino, “Pedi e recebereis.”. É uma regra que nunca será

alterada por nenhum motivo. Nosso Senhor

Jesus Cristo é o irmão mais velho da família,

porém Deus não afrouxou a regra para Ele. Lembra deste texto: “Jeová diz a seu Filho: Pede-

me e te darei as nações por herança.”. Se o Filho

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126

de Deus, real e divino não pode ser excetuado da

regra de pedir, como nós seríamos isentados

dela? Deus bendirá Elias e enviará chuva a

Israel, porém Elias deve orar por ela. Se a nação eleita tem de prosperar, Samuel deve suplicar a

respeito. Se os judeus têm de ser livrados, Daniel

deve interceder. Deus ungirá Paulo, as nações serão convertidas por seu intermédio, porém

Paulo deve orar. Orou sem cessar. suas epístolas

mostram que nada esperava sem ter pedido a

Deus em oração.

Além disso, é claro, ainda ao pensador mais superficial, que há algumas coisas necessárias para a igreja de Deus que não podemos obter de

outro modo que não seja pela oração. Podeis ter

o homem astuto de que lhes falei; e a nova igreja,

o novo órgão, e até o coro podereis obter sem oração. Porém não podereis obter a unção

celestial: o dom de Deus não se pode comprar

com dinheiro. Alguns membros de uma igreja

em uma primitiva aldeia da América pensavam que poderiam levantar uma congregação

colocando um muito formoso jogo de luzes na

casa de reuniões. O povo falava do jogo de luzes,

e alguns iam vê-la, porém a luz logo começou a diminuir. Tu podes comprar toda sorte de

pintura, e todo tipo de música – tudo isto sem

oração, em realidade, seria uma impertinência

orar por tais coisas, porém não podes ter o Espírito Santo sem oração. “Ele sopra onde

quer”. Não se achegará por nenhum processo

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ou método controlado por nós, senão pelo pedir.

Não há meios mecânicos que possam substituir

sua ausência. A oração é a grande porta das

bênçãos espirituais, e se a desprezais, jogais fora o favor.

Irmãos amados, não acham que este pedir que Deus requer é um privilégio muito grande?

Suponhamos que se tem publicado um édito segundo o qual não podes orar. Por certo seria

uma dificuldade.

Se a oração interrompesse o fluxo da bênção em vez de aumentá-lo, seria uma triste calamidade. Tens visto a um mudo sob uma forte excitação,

ou sofrendo uma grande dor, e devido ao seu

desejo de falar? É um espetáculo terrível. O rosto

fica desfigurado, o corpo se agita de forma atroz. O mudo se retorce e sofre com espantosa

angústia; cada membro se contorce com o

desejo de ajudar a língua, porém não pode

romper suas ligaduras. Sons cavernosos saem de seu peito, e sussurros ineficazes.

Suponhamos que nossa natureza espiritual

estivesse cheia de desejos intensos, e entretanto

estivesse muda quanto à expressão em oração. Penso que isto seria uma das aflições mais

espantosas que poderia nos sobrevir.

Estaríamos terrivelmente lesionados e nossa

agonia seria angustiante. Bendito seja seu nome! O Senhor estabelece uma forma de

expressão e pede ao nosso coração que fale.

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128

Amados, devemos orar. Parece-me que deveria ser a primeiríssima coisa por fazer quando

estamos em necessidade. Se os homens

estivessem em boa relação com Deus e o amassem de verdade, orariam de forma tão

natural como respiram. É minha esperança que

alguns de nós estejamos em uma boa relação com Deus e não tenhamos que ser arrastados à

oração, porque em nós ela tem chegado a ser um

instinto natural.

Recentemente, um amigo me contou a estória de um menino alemão, estória que o seu pastor

gosta de narrar. O menino amado, cria em seu Deus, e se deleitava na oração. seu mestre estava

exigindo aos estudantes que chegassem à escola

na hora prevista para o início das aulas, e este

menino estava cumprindo a exigência. Porém seu pai e mãe eram pessoas fleumáticas, e uma

manhã, somente por falta deles, o menino saiu

de casa no momento em que o relógio marcou a

hora do início da classe. Um amigo que estava próximo do menino o ouviu clamar: “Querido

Deus, concede-me que possa chegar a tempo na

escola.”. A pessoa que o ouviu pensou que

daquela vez a oração não poderia ser respondida, porque já havia chegado a hora, e

ainda havia uma grande distância a percorrer.

Teria curiosidade por saber o resultado. Agora,

bem nesta manhã aconteceu que o professor, ao abrir a porta da escola, deu uma volta ao

contrário na chave, e não pôde mover a tranca,

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129

vendo-se na necessidade de chamar um

chaveiro para abrir a porta. Houve uma

dilatação no tempo, e quando a porta foi aberta,

nosso pequenino amigo entrou com o restante da turma, a tempo. Deus tem muitas formas de

atender nossos desejos. Foi muito natural que

um menino que realmente ama a Deus falasse com Ele, de seu problema em vez de por-se a

chorar e a fazer pirraça. Não deveria ser natural

que tu e eu, espontânea e imediatamente

apresentássemos ao Senhor o nosso primeiro recurso?

Ai! segundo a Escritura e pela observação, dói-me concordar, segundo a experiência, a oração

com frequência é a última coisa. Olhe o homem

enfermo do Salmo cento e sete. Os amigos lhe

trazem diversos alimentos, porém sua alma aborrece todo tipo de comida. Os médicos fazem

o que podem para sarar-lhe, porém adoece mais

e mais, e chega próximo das portas da morte:

“Clamaram a Jeová em sua angústia.”. O que devia ser o primeiro fizeram no final. “Chamem

ao doutor. Preparem-lhe alimentos. Envolvam-

no em faixas.”. Tudo está muito bem, porém,

haveis orado a Deus? Deus será invocado quando a situação se fizer desesperante. Olhe os

marinheiros descritos no mesmo Salmo. O

barco está a ponto de naufragar. “Sobem até o

céu, descem aos abismos; suas almas se derretem com o mal.”. Todavia fazem tudo o que

podem para escapar da tormenta; porém

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130

quando “andaram e cambalearam como ébrios,

e perderam todo tino. Então, na sua angústia,

clamaram ao Senhor, e ele os livrou das suas

tribulações.”. Oh, sim! Buscam a Deus quando se veem próximos a perecer. E que misericórdia é

que Ele escute orações tão tardias, e libere os

suplicantes de suas angústias! Porém, deveria ser assim contigo, comigo e com todas as igrejas

em decadência dizer: “Oremos dia e noite até

que o Senhor venha a nós. Reunamo-nos

unânimes em um lugar, e não nos separemos até que desça sobre nós a bênção”.

Os irmãos sabem quantas grandes coisas poderiam obter somente pedindo? Todos os

céus estão ao alcance do homem que pede.

Todas as promessas de Deus são ricas e inesgotáveis, e seu cumprimento pode ser

alcançado pela oração.

Jesus disse: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai,” e Paulo disse: “Tudo é vosso, e vós de Cristo.”. Quem não poderia orar

quando todas as coisas nos têm sido entregues

dessa maneira? Sim, e promessas que em

princípio foram feitas a indivíduos especiais, são todas feitas para nós também, se sabemos como

pedi-las em oração. Israel cruzou o Mar

Vermelho faz muitos anos; entretanto, lemos no

Salmo sessenta e seis: “Ali nos alegramos nele.”. Somente Jacó estava presente em Peniel,

entretanto, Oseias disse: “Ali falou conosco.”.

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131

O autor de Hebreus quer dar-nos uma grande promessa para os tempos de necessidade, e cita

do Antigo Testamento: “Porque ele disse: Não te

desampararei, nem te deixarei.”. De onde ele tirou isso? É da segurança que o Senhor deu a

Josué: “Não te deixarei, nem te desampararei.”.

É certo que a promessa era para Josué somente? Não. É também para nós, e por isso é reafirmada

pelo Espírito Santo através do autor de Hebreus.

“Nenhuma Escritura é de interpretação

particular.”. Toda Escritura é nossa. Olhe como Deus aparece a Salomão de noite e lhe diz: “Pede

o que queres que eu te dê.”. Salomão pediu

sabedoria. “Oh, esse é Salomão,” dizes tu. Ouve:

“Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça a Deus.”. Deus deu a Salomão riqueza e fama

dentro do trato. Não é peculiar a Salomão? Não,

porque da verdadeira sabedoria se diz:

“Longevidade de dias estão em sua mão direita, em sua esquerda, riquezas e honra”; e isto não

difere muito das palavras de nosso Salvador:

“Busca primeiro o reino de Deus e sua justiça, e

todas estas cousas vos serão acrescentadas.”. Assim, podeis ver que as promessas do Senhor

têm muitos cumprimentos e seguem esperando

para derramar seus tesouros no regaço da

oração. Isto não conduz a oração a um elevado nível, quando Deus está disposto a repetir em

nós as biografias de seus santos, quando espera

mostrar sua graça e encher-nos com seus

benefícios? Devemos mencionar outra verdade que deve fazer-nos orar, e é esta, que se

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132

pedimos, Deus nos dará muito mais do que

pedimos. Abraão pediu a Deus que Ismael fosse

preservado em vida. Pensava “seguramente ele

é a semente prometida: não posso esperar que Sara possa gerar um filho em sua velhice. Deus

me tem prometido uma semente, e

seguramente é este filho de Hagar. Oxalá Ismael possa viver diante de ti.”. Deus lhe concedeu

isto, porém também lhe deu a Isaque, e todas as

bênçãos do pacto. Lá está Jacó, ajoelhado a orar,

e pede ao Senhor que lhe dê “pão para comer e vestido para vestir.”. Porém, que lhe deu Deus?

Quando voltou a Betel, teria dois

acampamentos, milhares de ovelhas e camelos,

e muita riqueza. Deus lhe havia ouvido e havia feito muito mais abundantemente acima de

tudo que havia sido pedido. De Davi se diz: “vida

te pediu e lhe deste longevidade de dias,”. Sim,

não somente lhe deu longevidade mas também um trono para seus filhos para todas as

gerações, até que Davi se sentou diante de Jeová,

abençoado pela bondade de Deus.

“Bom,” dizes, “porém, vale isso para as orações do Novo Testamento?”. Sim, assim ocorre com

os que oram no Novo Testamento, sejam santos ou pecadores. Trazem um homem paralítico a

Cristo, e lhe pedem que o sare, e ele diz: “Filho,

teus pecados te são perdoados.”. Ele não havia

pedido isso, verdade? Não, porém Deus dá coisas maiores que as que pedimos. Escuta a

humilde oração daquele pobre ladrão

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133

moribundo, “Senhor, recorda-te de mim

quando vieres em teu reino.”. Jesus lhe

respondeu: “Hoje estarás comigo no paraíso.”.

Não sonhava com tal honra. Ainda a história do pródigo nos ensina isto. Ele havia resolvido

dizer: “Não sou digno de ser chamado teu filho,

faz-me como a um de teus jornaleiros.”. Qual foi a resposta? “Este meu filho estava morto, e

reviveu, estava perdido e foi achado. Trazei

depressa a melhor roupa; vesti-o, ponde-lhe um

anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e

regozijemo-nos.”. Uma vez que tiveres entrado

na posição de um que pede, terás o que não tens

pedido e que nunca pensaste receber. Nós poderíamos pedir, somente para sermos mais

santos e ter mais fé, coisas das maiores, porém

Deus está disposto a dar-nos infinitamente mais

do que pedimos.

Creio que neste momento a igreja de Deus poderia ter bênçãos inconcebíveis se somente estivesse disposta a orar agora. Tens notado

alguma vez o maravilhoso quadro do capítulo

oitavo de Apocalipse? É digno de ser

considerado com muito cuidado. Não intentarei explicá-lo em suas conexões, senão que vou

sinalizar o quadro tal como se apresenta:

“Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve

silêncio no céu cerca de meia hora.”. Silêncio no céu: não havia hinos! Não havia aleluias, nem

anjos que movessem uma asa! Silêncio no céu!

Page 134: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

134

Podem imaginá-lo! E olhem! Sete anjos de pé

diante de Deus, aos quais são entregues sete

trombetas. Ali esperam com as trombetas nas

mãos, porém não há sonidos. Nenhuma nota de alegria ou de advertência durante um intervalo

que foi suficientemente longo para provocar

vivas emoções, porém suficientemente breve para evitar a impaciência. Um silêncio

ininterrupto, profundo e terrível, reinava no

céu. A ação foi suspensa no céu, o centro de toda

atividade. “Veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com um incensário de ouro, e foi-lhe dado

muito incenso para oferecê-lo com as orações

de todos os santos sobre o altar de ouro que se

acha diante do trono.”. Ali parou, porém tudo está quieto e em silêncio. Que será que o porá

em movimento? O incenso e as orações dos

santos, sobre o altar de ouro que estava diante

do trono. A oração é apresentada com o mérito do Senhor Jesus.

Agora, veja o que aconteceu. “E da mão do anjo, subiu à presença de Deus o fumo do incenso

com as orações dos santos.”. Essa é a chave de

todo o assunto. Agora o anjo começa sua tarefa.

Toma o incensário, enche-o com o fogo do altar, e o lança à terra, “e houve trovões, vozes,

relâmpagos e terremoto.”. “E os sete anjos que

tinham as sete trombetas prepararam-se para

tocar.”. Agora tudo começa a se mover. Tão pronto como as orações dos santos foram

mescladas com o incenso do mérito eterno de

Page 135: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

135

Cristo, e a fumaça começou a subir desde o altar,

então as orações se fizeram eficazes. Caíram as

brasas vivas entre os filhos dos homens,

enquanto os anjos da divina providência, que ainda estavam quietos fizeram soar suas

trombetas e cumpriram a vontade do Senhor.

Tal cena no céu, é em certa medida, ainda até ao dia de hoje. Traz até aqui o incenso. Traz até aqui

as orações dos santos. Acende o fogo com os

méritos de Cristo, e sobre o altar de ouro deixa

que queimem diante do Altíssimo. Então veremos o Senhor em ação e sua vontade será

feita na terra como no céu. Deus envie a sua

bênção com estas palavras, por amor de Cristo.

Amém.

Page 136: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

136

“Sede perseverantes na oração” (Rm

12.12)

Isto é colocado em relação a um grande

número de preceitos muito pesados. A oração tem uma relação distinta com todos os deveres

cristãos e graças. Não é possível nós levarmos a

cabo os santos mandamentos de nosso Senhor

Jesus Cristo a menos que nós sejamos abundantes em súplica. Os romanos, na ocasião

em que Paulo lhes escreveu estavam sujeitos à

perseguição, e neste verso ele menciona dois

remédios para a impaciência debaixo de tais aflições, remédios que são igualmente eficazes

debaixo de todas as tentações da vida. O apóstolo

Paulo nos dá o primeiro antídoto: "regozijar-se

na esperança", e então ele nos dá o segundo antídoto: "ser paciente na tribulação". Qualquer

um destes, ou ambos juntos, trabalharão

maravilhosamente para sustentar o espírito na

hora da aflição; mas será observado, que nenhum destes remédios pode ser aplicado à

alma salvo se eles estiverem misturados com a

oração. A alegria e a paciência são essências

curativas, mas elas devem ser derramadas em um copo cheio de súplica, e então elas serão

maravilhosamente eficientes. Como nós

poderemos nos "alegrar na esperança" se nós

não soubermos nada sobre orar ao Deus de esperança. Sempre que sua esperança parece

fracassar e sua alegria começa a entristecer, o

Page 137: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

137

método mais curto é dobrar os seus joelhos. Pela

oração a promessa da esperança será

sustentada, e então a alegria vai saltar disto,

porque a alegria é o filho primogênito da esperança. O mesmo vale para a "paciência",

porque como nós poderemos ser pacientes se

nós não podemos orar?

Os santos antigos sempre se sustentaram nos

seus dias difíceis de aflição e depressão

recorrendo à oração. A impaciência irá seguir a falta de oração. Eu gosto daquele bonito,

entretanto triste, quadro do mártir de Norwich,

Hudson, de quem Fox nos fala que, quando ele

foi levantado preso à estaca para ser queimado, ele foi envolto numa nuvem. O Senhor tinha

retirado a luz do seu rosto, e então este homem

de Deus saiu de suas cadeias para ter alguns

minutos somente com o Senhor. Alguns pensaram que ele estava a ponto de se retratar,

e os mártires da mesma categoria dele

começaram a exortá-lo a ser firme, mas este

querido crente sabia quem ele era, e quando ele tinha falado com o seu Senhor ele voltou à

estaca com um semblante luminoso e radiante,

enquanto dizia: "Agora, eu agradeço a Deus,

porque eu sou forte, e não temo o que possa me fazer o homem", e se levantou no seu lugar com

os sofredores que tiveram a mesma sorte que

ele e foi queimado rapidamente à morte sem

qualquer temor. Oh o poder da oração! Se nós soubermos manter contato com o Eterno e

Onipotente, nós seremos joviais e pacientes em

Page 138: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

138

todas as tribulações, e corajosamente

suportaremos até mesmo o extremo da morte

aguda.

A oração será exercitada em todas as coisas, porque de sua posição no contexto presente nós

somos ensinados que sem oração nós não

podemos "atender às necessidades dos santos.".

Porque é orando por eles que nós ficamos preparados para ajudá-los com ações de amor.

Se nós não fomos acostumados a orar pelos

irmãos, nós não seremos dados à hospitalidade;

e muito menos poderemos "abençoar os que nos perseguem.”. A oração é a vida e sangue do

dever, a seiva secreta da santidade, a fonte da

obediência.

“Na oração perseverantes”. No original grego o sentido de nosso texto é: "aplicar sempre força

na oração", ou “continuar com todo seu poder

em oração.”. Nossa oração deve estar cheia de

força; "abençoado é o homem cuja força está em ti.". Um cachorro de caça quando está em

perseguição de sua vítima trabalha em

movimento pleno, enquanto usa todo membro e

músculo para seguir tão rápido quanto possível. Se você pega isto num olhar rápido você verá

que se lança adiante com intensa ânsia, o corpo

inteiro e alma do cachorro está em movimento

para um objeto; nenhuma porção dele está envolvido em qualquer outra coisa a não ser no

seu objetivo, a criatura inteira busca de forma

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139

pronta e imediata o que procura, urgentemente,

com pés ligeiros, como costumamos dizer, para

colher a presa. Agora, este é o modo com que

nós devemos orar. A oração como uma mera forma, isto é, formal, e de maneira desfalecida e

indiferente pode ser mais um escárnio que

desonra a Deus do que qualquer honra para ele; nós mesmos podemos ser muito prejudicados

através da oração morna, do que beneficiados

por isto. A oração prevalecente é

frequentemente descrita na Bíblia como uma agonia: "esforçando-se juntamente comigo em

suas orações.". Nós frequentemente falamos

disto como "lutando", e nós fazemos bem,

porque é assim. Como um homem luta com toda sua mente como também todo o seu corpo,

ocupando-se com o desejo de vencer o seu

antagonista.

Da mesma forma deve ser a oração, com toda a sua mente, sua memória, seu julgamento, seu

afeto, suas esperanças, seus temores, e até mesmo sua imaginação devem estar

concentrados nesta luta de oração. Possa o

trabalho de Espírito Santo em você produzir este

ardor interior, esta energia do homem inteiro. Nós temos que ir com nossa alma inteira a Deus

ou Ele não nos aceitará. Estará indiferente a nós

se nós formos indiferentes, porque isto está

escrito: “o coração deles está dividido”. “o homem de coração dobre não obterá nada do

Senhor”. O reino dos céus é tomado pela força.

Page 140: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

140

Nós somos exortados a "bater", e temos para

exemplo do que devemos ser, aquele que

despertou seu amigo à meia-noite. Nós somos

exortados a ser inoportunos, como a viúva com o juiz injusto. Nós devemos orar como se tudo

dependesse de nossa oração. Nós devemos ser

tão inoportunos como que se Deus estivesse pouco disposto, e alegar tão seriamente como se

ele ainda não soubesse das coisas que nós temos

necessidade.

A seriedade deve estar presente em todas as

nossas orações ou elas voltarão a nós sem resposta: isto é bastante razoável. Será esperado

que Deus dê a nós aquilo a que não damos o

devido valor? Se nós não avaliarmos a bênção

suficientemente para estarmos verdadeiramente ansiosos e desejosos em

buscá-la, não é certo que Ele deveria retê-la até

que nós estejamos com uma mente melhor? E nós podemos adorar a Deus com uma

reverência dividida? Nós podemos esperar que

ele receba o nosso sacrifício se nós não

pusermos nenhum fogo debaixo dele? Se nós não tivermos nenhuma seriedade impetuosa de

espírito, nós podemos esperar que sejamos

aceitos?

Ele detesta o morno, e isto o torna contrário às

nossas orações. Veja como nós lidamos com nossos membros da raça humana; se eles nos

pedem um favor e nós vemos que eles se

Page 141: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

141

preocupam muito pouco com o que estão

pedindo, nós não temos nenhuma pressa em

atendê-los. E se observamos que a necessidade é

apenas uma expressão verbal de um desejo que não está no coração, neste caso nem os

atendemos, porque na verdade não desejam o

que está pedindo com a boca.

Mas, se forem muito insistentes e sinceros no que pedem, nós atendemos às suas solicitações;

e é do mesmo modo que Deus se rende aos

pedidos sinceros de misericórdia do seu povo. A

mãe poderá continuar nos seus afazeres domésticos se o seu bebê está chorando

intermitentemente, e baixinho, mas se este

choro se torna intenso e forte, ela para

imediatamente o que está fazendo para atendê-lo. Filhos de Deus, vocês têm que chorar

poderosamente diante de Deus, e derramar

seus corações em lágrimas diante dele, e então ele terá consideração com a voz do seu clamor,

e agirá com você de acordo com a intensidade

do seu desejo. A insistência na oração é

necessária; e nós devemos ser ferventes e ardentes, ou nós não prevaleceremos.

A falta de intensidade e fervor pode denunciar que apesar de reconhecermos as nossas

necessidades, sejam quais forem, sentimentais,

financeiras, espirituais, etc, não lhes damos a devida atenção e valor. Podemos estar

amargurados por elas e acostumados à nossa

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142

amargura, mas não dispostos o suficiente para

vencê-la. Podemos estar confiando que seremos

atendidos por outros meios ou pela sorte, e até

mesmo, podemos estar cultivando um coração incrédulo que não consegue aceitar a ideia que

Deus de fato possa modificar as circunstâncias

de nossas vidas. Não podemos esperar que Ele nos socorra enquanto mantemos tal atitude.

Mas, como sairemos deste estado e podemos adquirir este espírito de urgência e insistência.

Somente o Espírito Santo pode nos ajudar nisto.

Mas, lembremos que o Espírito sempre opera por métodos. Se é uma coisa sobre a qual você

não tem certeza de que estaria de acordo com a

vontade de Deus, coloque de lado: você não deve orar sobre uma necessidade que é questionável.

Mas quando você está convicto de que a bênção

que busca é uma coisa boa e necessária para a

sua alma, então para que o seu espírito possa ser forte em oração, adquira um senso profundo do

valor do que você está buscando, avalie a sua

necessidade; examine como um ourives

inspeciona uma joia quando ele desejar calcular seu valor. O ardor de um homem em

perseguição será proporcional à consciência

dele do valor daquilo que ele procura. Adquira o

senso de que se trata de uma graça preciosa, e que vale lutar por ela para que o Senhor a traga

a você; e uma vez que o seu coração perceba o

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143

valor daquilo que busca, então expresse isto

com suas orações cheias de intenso desejo.

Quando você estiver fazendo isto, medite muito sobre as suas necessidades e do quanto elas dependem da misericórdia de Deus. Veja a

pobreza da sua alma e da sua própria inutilidade.

Olhe para o que lhe acontecerá a menos que esta

bênção venha. Se é alguma bênção espiritual absolutamente indispensável, imagine-se a si

mesmo como ficarias murcho se Deus a

retivesse, que males lhe sobrevirão se esta

necessidade não for atendida, e que necessidades adicionais ainda poderão lhe

sobrevir. Quanto maior for a sua necessidade,

maior deve ser o seu clamor diante de Deus.

Devemos reconhecer nossa incapacidade para obter a bênção que buscamos pelo nosso

próprio poder ou de outras pessoas. Nada pode

sair de nada, e eu não sou nada. Eu não posso

trazer uma coisa limpa de uma suja, e eu estou sujo. Esta bênção espiritual que eu não posso

obter de meu próximo; nem rei, nem pai

poderiam trazer isto a mim. Somente Deus pode

dar isto a mim, e ele é soberano, ele tem direito para dar ou reter. Eu não posso reivindicar isto

dele como um assunto de direito, ele tem que

dar isto a mim pela sua exclusiva misericórdia,

deve ser um benefício de favor imerecido. Oh, se você tiver esta verdade bem forjada em sua

alma, você orará seriamente, e você usará os

Page 144: Orando no espírito com spurgeon   parte 1

144

argumentos certos: "Tem misericórdia de mim,

ó Deus, de acordo com a sua longanimidade, que

outorga até a multidão das tuas ternas

misericórdias.". Somente Deus pode ajudá-lo, e se ele demora em atendê-lo, então chore

poderosamente diante dele.

Isto deve motivá-lo a se esforçar ainda mais em oração para desejar o que é bom. Não se levante

antes que tenhas a certeza de que Deus está contente ou não. Não fique satisfeito sem que

tenha uma resposta. Mas, lembre que a apatia

nunca prevalecerá com Deus. Há tempos

quando você deve ser trazido a esta condição que não lhe negarão. Há uma "ousadia" santa,

como os Puritanos costumavam chamá-la, que

consiste no fato de que nós devemos ter uma

santa coragem em dizer como Jacó: “Eu não te deixarei até que me abençoes”. Tal idioma seria

blasfêmia se não fosse permitido, seria

presunção se não fosse encorajado. Nos é

permitido usar a liberdade de crianças obedientes, amorosas. Nos é permitida a

confiança santa da fé para solucionar o que nós

buscamos até que o achemos, nós pediremos

até que recebamos, nós bateremos até que a porta nos seja aberta. Nosso caso é urgente, e

nós devemos apresentar os nossos argumentos

até que a nossa causa saia vencedora. A oração

deve ser trabalho de coração, da alma, do espírito. A oração deveria ser o suor da alma, às

vezes deveria ser até mesmo como o suor

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145

sangrento de um coração agonizante, enquanto

chora poderosamente diante do Senhor, como

Jesus fez no jardim.

Reúna todas as suas faculdades para ver se esta coisa é uma questão de promessa ou não. Pegue

o Livro, sua Escritura e vá a seu Pa, e veja se há

qualquer parte da Escritura que promete esta

coisa boa a você. Quando você encontrar a posição da promessa coloque o seu dedo sobre

ela. Melhor ainda, com seu aperto de espírito

com isto em sua mão, vá diante de Deus com

isto. Se sua oração é como Lutero a chamava, "bombarda Christianorum", a grande arma do

crente com que ele pode bombardear o céu,

então seguramente a promessa é o tiro que ele

envia. Alegue a promessa dizendo, "Deus, faça como tu disseste. Cumpre esta palavra que

criaste e na qual tu me fizeste esperar.". Se você

não parece prevalecer com uma promessa

procure outra e alegue. Derrame esta segunda promessa diante de Deus. Nada o agrada mais

que ver a própria palavra dele ser declarada

pelos seus filhos. Tente isto, e caso se torne

manifesto que você não obteve sucesso com esta, volte com outra promessa, e outra e outra

e outra, e então alegue: "Por causa do teu nome,

por causa da tua verdade, por causa do teu pacto;

e então entre com o maior argumento de todos: "Por causa de Jesus e do nome dele, por causa do

seu sangue.". Você prevaleceu lá. Por aquele

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146

sinal você venceu. Novamente será visto que o

Senhor ouve e atende a voz de um homem.

Ainda há uma coisa mais querido, e isso é a fé forte, não somente no que Deus é, mas que ele é

o recompensador daqueles que diligentemente o buscam. Você não pode oferecer uma oração

aceitável caso você não acredite que a oração

será ouvida por Deus. Os homens sábios

modernos, com um ar protetor, asseguram que a oração é um exercício piedoso, sumamente

benéfico para nós mesmos, mas bastante

inoperante com Deus. Eles são amáveis bastante

para nos permitir orar, só que nós não devemos supor que a oração terá o menor efeito. E eles

pensam que nós somos tão idiotas ao ponto de

que nós estaríamos de pé e assobiaríamos ao

vento por achar que seria bom para nossas almas um tal procedimento estúpido? Eles

devem ter formado a noção deles da nossa

condição mental a partir da própria condição

deles, se eles imaginam que nós deveríamos orar se soubéssemos que Deus não nos ouviria,

e não nos responderia. Oração aparte da ideia de

uma audição e resposta de Deus não é oração; é

solilóquio, ou, em palavras mais claras, uma fala tola. Você tem que crer que Deus existe, e que

seus pedidos são uma parte do modo divino de

abençoar, ou então você não está orando mas

falando consigo mesmo e tagarelando. O Senhor realmente escuta as petições de seus filhos, e

entretanto ele não altera a ordenação dele e o

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147

seu decreto, contudo de algum modo ou outro

ele faz com que as orações do seu povo sejam

uma ligação eficiente na maquinaria da sua

providência, de forma que se há oração ele os abençoa abundantemente. Queridos amigos,

possa o Espírito Santo nos incitar a sermos

perseverantes na oração poderosa, enérgica.

II. Em segundo lugar vem a CONSTÂNCIA - "na oração perseverantes". É o mesmo que: “continuando na oração”. Voltemos ao exemplo

do cachorro de caça. Nós o vimos se apressando

como o vento para atingir seu objetivo, mas isto

não seria o suficiente se durasse somente por um pequeno tempo; ele tem que continuar a

corrida se ele deseja pegar a sua presa. Não

importa quão rápido o cão de caça tenha sido se

depois de ter mantido o passo por algum tempo ele começa a afrouxar, e com isso a caça

escapará dele. Nós temos que manter o ardor da

oração; nós sempre devemos ser intensos.

Oração não é para ser uma coisa de ontem, mas de cada dia, e para amanhã, até isto se

transformar em louvor. Talvez a oração

continuará até mesmo no céu. Certamente as

almas debaixo do altar clamam "Quanto tempo?", e profecias ainda não cumpridas,

contudo grandes, relativas a eventos futuros são

alegadas até mesmo lá. Porém, o louvor é a

característica principal do estado futuro, como a oração é a característica do presente. Nós

devemos manter um passo constante e bom "na

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148

oração perseverantes", e então manter isto para

cima continuando perseverando em oração.

"Isso é difícil" diz alguém. Quem disse que não

era? Todos os processos da vida Cristã são difíceis; realmente, eles são impossíveis aparte

da ajuda permanente do Espírito divino: mas "o

Espírito ajuda nossas fraquezas.". Agora então, irmãos que nós podemos ser ajudados a manter

nosso fervor em oração, por favor note que a

oração deve ser contínua, porque é misturada

de modo singular com a dispensação inteira do evangelho. Como o incenso encheu o templo,

assim faz o abastecimento da oração na

economia do evangelho. O fogo deveria queimar

incessantemente sobre o altar, no Tabernáculo; e o incenso deveria ser queimado diariamente

no altar do incenso, indicando-se com isto que

toda a igreja, como as doze tribos, está servindo

o Senhor dia e noite em oração, esperando o cumprimento da promessa da sua volta gloriosa.

A unidade, a vida, e a espiritualidade da igreja

são vistas melhor, na oração.

"Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão.” (Sl

2.8). A oração é a atmosfera que envolve a terra

de Emanuel: como as nuvens repousam sobre as

montanhas, assim a oração repousa sobre toda a grande misericórdia de Deus.

A oração está conectada com todas as bênçãos do pacto. Porque, amado, é sobre aqueles que

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149

são chamados pelo nome de Deus que a

promessa da salvação está determinada.

Nosso Pai divino dá o Espírito Santo àqueles que O pedem. A justificação foi dada ao publicano

em vez do fariseu, porque ele tinha se

apresentado de modo humilde, enquanto cria, e

a sua oração foi aceitável; mas o fariseu nada pediu, mas só se glorificou. A adoção gera a

oração, porque ela traz o espírito de adoção por

meio do qual nós clamamos, Abba, Pai.

Agora, amados, nos é ordenado que sejamos constantes em nossa perseverança. Isto está

correto não está? Há qualquer hora quando nós

podemos afrouxar a oração? Quando um crente poderia parar de orar? É quando ele prospera?

Não. É quando ele está em angústia? A própria

natureza não nos ensina que em tempo de

aflição nós deveríamos especialmente estar mais próximos de Deus em oração? Não somos

templos do Espírito Santo? Onde quer que você

vá você leva seu templo com você, e então esteja

seguro que você deve orar em todo o tempo e lugar. Se você está no eirado com Pedro ore lá, e

se está servindo à mesa com Neemias, ore lá: se

no campo com Isaque ou no monte com o

Senhor, ou no mar com Jonas, ou em uma prisão com José, ou diante da morte com Estevão, ore

lá.

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150

"Onde quer que vivam devem os crentes orar, porque somente enquanto eles oram é que eles

vivem.".

Mas, especialmente, nós deveríamos ser constantes em oração, porque se você pode

esperar quieta e pacientemente, tudo estará

bem. As melhores bênçãos do céu estão

reservadas para os Elias que podem dizer ao seu moço enquanto orava de joelhos com o rosto em

terra para que voltasse a chover, e que olhasse

para o lado do mar para ver se havia alguma

nuvem como evidência de chuva: “Volta”, porque não havia evidência, e lhe mandou voltar

por sete vezes até que Deus respondeu à sua

oração, ainda que com uma pequena nuvem

como a palma da mão de um homem (I Rs 18.41-45). Era uma pequena evidência, mas somente

por ela o profeta afirmou o que de fato ocorreu,

dentro em pouco, os céus se enegreceram, com nuvens e vento, e caiu grande chuva, depois de

a terra ter ficado sem chuvas por mais de três

anos.

Assim, voltemos novamente, novamente e

novamente e não deixemos de voltar à oração até que a resposta do céu nos seja enviada, ainda

que com uma pequena evidência, que será a

promessa para a prova da nossa fé, do

cumprimento pleno da bênção esperada. Espere então no Senhor com importunidade santa de

oração, e sua recompensa será certa. É bom para

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151

nós sermos compelidos a orar assim; porque

nos conduz da infância espiritual ao

aperfeiçoamento da varonilidade. Então seja

constante em oração, e junte forças para pedir inoportunamente.

Nenhuma razão pode ser dada por que nós não deveríamos perseverar em oração. Eu posso

supor um irmão dizendo, "eu sinto eu não posso

orar.". Quando você sente que você não pode orar, esteja seguro que você está em falta com o

dever de orar constantemente e com

perseverança, porque é uma ordenança do

Senhor para nós. É um mandamento que será transgredido se não for obedecido. Então ore

quando você puder orar, e ore quando você não

puder orar. "Ai, Senhor, eu não posso emitir

além de um gemido." Irmão, não fique aflito, a melhor forma de orar em todo o mundo consiste

em "gemidos que não podem ser exprimidos.".

Não temos qualquer dúvida quando o Espírito de

Deus nos ajuda a orar com orações alegres, entretanto eu digo que não há qualquer

necessidade para a dúvida quando nós não

podemos fazer nada além de uma oração triste,

porque é dito expressamente que Ele intercede por nós com gemidos inexprimíveis. Você pensa

que o fim principal da vida de um crente é estar

confortável? É frequentemente melhor para nós

lamentarmos como pombas do que cantar como rouxinóis. Às vezes pode haver mais oração em

um suspiro do que numa oração longa. Então

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ore sempre; se você sente vontade ou não de

orar, ainda ore. O pescadores de Mentone

continuam pescando com a grande rede deles;

sim, eles continuam lançando suas redes, mesmo que muitas vezes, para a dor deles, não

consigam retirar do mar mais do que uma

pequena sardinha. Muitas vezes eu vi que eles não puderam tirar da imensidão do mar, mais

do que pudesse encher a mão deles. Mas por que

eles continuam navegando? Porque eles são

pescadores, e não podem fazer qualquer outra coisa. Você e eu estamos pedindo aos homens, e

não há nada mais que nós possamos fazer, mas

podemos esperar no Senhor.

Assim se, depois de muitos lançamentos de

rede, nós adquirimos uma resposta pequena, nós tentaremos novamente, porque isto é tudo o

que nós podemos fazer. "Senhor, para quem

iremos nós?".

Continue em oração porque a continuação de nossa perseverança em oração é o teste da

realidade da nossa devoção. Homens que estão

envolvidos em negócios não podem se dispor a

abrir sua loja e fazer comércio em poucas ocasiões, e então colocar um anúncio: "o

proprietário desta loja saiu para uma excursão,

e retomará ao negócio quando ele se sentir

inclinado a isto.". E é assim com a oração: orar um pouco e então parar será uma ilusão e uma

armadilha.

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153

Orações reais são orações constantes. Há um peixe, você sabe, que às vezes tenta voar, mas

não é nenhum pássaro. Só consegue um

pequeno voo e então está novamente na água; mas um verdadeiro pássaro se mantém com

suas asas, especialmente se tal pássaro é a águia

cuja asa incansável a conduz acima das nuvens. Se precavenha de orações que saltam para cima

como um gafanhoto e estão lobo abaixo

novamente. Deixe suas orações terem asas

como de uma pomba, e as deixe voar longe da terra e descanse em Deus. Um crente genuíno

"ora sem cessar.".

Amados, nós temos que continuar em oração, mas somente o Espírito Santo pode nos

capacitar a fazer isto. Porém, nós podemos ser

ajudados muito nisto reservando um tempo especial ocasionalmente. Dias de oração e horas

de oração, e temporadas de oração são muito

úteis.

Nós deveríamos ter nossos períodos de oração designados cada dia, mas tempos especiais para

isto podem ajudar o fogo a queimar mais

brilhantemente. Unir-se com outros cristãos em

oração é frequentemente muito útil. A oração privada é mais importante que oração pública

sob qualquer aspecto, e é um teste melhor de

um crente; ainda que oração pública resulte

frequentemente em devoção privada, e quando dois ou três estão reunidos em nome do Senhor,

as suas súplicas serão frequentemente úteis a

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154

um e ao outro e obterão a coisa que eles

desejam.

III. Nossa última palavra EXPECTANTE não é

citada diretamente no texto, mas deve estar lá realmente, porque não haverá nenhuma coisa

tal como insistência ou constância a menos que

haja uma expectativa, e uma convicção de que

Deus pode e dará aquilo que nós buscamos. Voltemos mais uma vez ao exemplo do cão de

caça. Ele não correria tanto se ele não esperasse

agarrar a sua presa. Não há nenhuma oração

com qualquer fervor a menos que haja fé que Deus a ouvirá; pelo menos se pode ser sentida a

insistência durante algum tempo, a constância

não pode ser mantida por muito tempo sem isto. Expectativa que Deus ouvirá. Nós oramos

porque o Senhor já atendeu pedidos nossos

antes, e agora nós oramos não somente porque

isto nos é ordenado, mas porque se tornou natural para nós orar, e esperamos porque

sabemos que o Senhor nos ouve. Nós somos

filhos pobres e necessitados que são

expectantes da graça de Deus, assim como os filhotes dos pássaros aguardam com confiança

o alimento que lhes é trazido pelos seus pais.

Alguns líderes raramente exercitam a

expectativa em oração, mas a alma da oração se terá ido quando você não tiver nenhuma

expectativa.

Deus atende ao clamor do seu desejo, mas a mão na qual ele porá a sua misericórdia é a mão da

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155

sua expectativa. Você tem que acreditar que

você tem a bênção, ou você não terá isto a menos

que experimente por um pouco a misericórdia

extraordinária além do que é prometido. O modo habitual do Senhor é atender nossas

expectativas de forma que nós olhemos para o

seu favor, e então ele envia o que esperamos. Entretanto, não devemos pedir a Deus o que nós

mesmos podemos fazer. Se temos recursos

suficientes para ajudar as viúvas, porque

pediremos ao Senhor que provenha para elas se nós mesmos podemos fazê-lo com o nosso

próprio dinheiro? Inúmeras orações são desse

tipo: nós estamos pedindo a Deus para fazer o

que nós deveríamos fazer, e isso é impertinência completamente. Quando oramos “venha a nós o

teu reino”, é nossa obrigação cooperar com o

Senhor para que o seu reino venha. Quando

oramos para que o seu nome seja santificado, nós devemos nos consagrar e santificar o seu

nome. Nós deveríamos ser de ação tão prática,

de forma que nós achássemos a resposta para a

nossa oração antes de nós pedirmos, de acordo com a promessa, "Antes que eles clamem eu

lhes responderei, e enquanto eles ainda

estiverem falando eu os ouvirei." Foi encontrado

num documento escrito por um pobre homem, e que foi transcrito pela Duquesa de Gordon, o

seguinte pedido: "Oh Deus, dê-me graça para

sentir minha necessidade da tua graça! Dê-me

graça para te pedir a tua graça! Dê-me graça para receber as tuas bênçãos!.