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SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DE PERNAMBUCO ESCOLA DE GOVERNO DE SAÚDE PÚBLICA DE PERNAMBUCO RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA COM ÊNFASE EM GESTÃO DE REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE CAPS / NASF / CRAS Residentes: AURELIANE CADENGUE GALINDO JONNATHAN ANDERSON DA SILVA SANTOS DENYSE FIGUEIREDO IZABELLY CAVALCANTI REBECA GOMES ÉLENA RAMOS

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SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DE PERNAMBUCO

ESCOLA DE GOVERNO DE SAÚDE PÚBLICA DE PERNAMBUCO

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA COM ÊNFASE

EM GESTÃO DE REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE

CAPS / NASF / CRAS

Residentes:

AURELIANE CADENGUE GALINDO

JONNATHAN ANDERSON DA SILVA SANTOS

DENYSE FIGUEIREDO

IZABELLY CAVALCANTI

REBECA GOMES

ÉLENA RAMOS

VI GERES - ARCOVERDE / 2014

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RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA

COM ÊNFASE EM GESTÃO DE REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE

INTRODUÇÃO

Considerando a importância do serviço CAPS, como substitutivo para as Redes de

Atenção à Saúde, além de ser primordial para a transformação e a promoção do cuidado

ao usuário em sofrimento mental, o Programa de Residência de Saúde Coletiva com

Ênfase em gestão de redes em saúde proporcionou aos residentes uma breve experiência,

ao nos inserir na rotina do CAPS II Espaço Renascer. Neste espaço, pudemos

acompanhar momentos importantes como a reunião de equipe, reunião do colegiado,

supervisão da GASAN, discussão e busca de resolutividade para algumas problemáticas,

assembleia dos técnicos de referência com os usuários, além de participarmos dos grupos

terapêuticos realizados. E a partir desta experiência, pôde-se construir um pensamento

crítico a respeito das práticas neste serviço, sobre os instrumentos de gestão utilizados,

além da observação do perfil dos usuários, as limitações enfrentadas pelos profissionais,

familiares, etc.

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OBJETIVOS

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CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL - CAPS

Este tópico trata-se de uma análise crítica sobre as vivências e reflexões obtidas

pelos residentes deste programa, durante as duas semanas de convivência no Centro de

Atenção Psicossocial CAPS II – ESPAÇO RENASCER, situado na cidade de Arcoverde-

PE, no período de 27/10 a 07/11.

Tendo em vista a composição das Redes de Atenção à Saúde, e mais

especificamente a Rede de Atenção Psicossocial como processo contínuo, compartilhado

e com envolvimento de todos os setores sociais e privados e os níveis de poder, o CAPS

dentro da rede de cuidado é o dispositivo de saúde voltado para atender de forma integral

os usuários em sofrimento mental. Visando, como afirma Merhy (2007) se aproveitar de

sua potencialidade de um fazer coletivo solidário e experimental, tornando-se um campo

instigante de cooperação, reflexão, autoanálise e ressignificação de práticas.

O CAPS têm se mostrado como uma estratégia essencial, capaz de promover

mudanças muito significativas na atenção à saúde mental, por possuir atribuições que vão

além da promoção de cuidados tradicionais de saúde, considerando, ainda, as questões

culturais, políticas, sociais, de cidadania, além do preconceito que a sociedade ainda

apresenta para com esses usuários, um estigma histórico-cultural a ser ultrapassado,

sendo possível a reinserção dos usuários na sociedade e o ressignificado dos papéis

desses sujeitos perante ela.

Vários serviços incluídos nas Redes de Atenção Psicossocial estão se modificando

e se adequando para promover melhorias e transformações no cuidado à saúde mental –

porém, na região de saúde na qual foi vivenciada esta experiência, percebemos que

muitos projetos ainda permanecem com os seus objetivos no papel, previstos em

portarias, mas que ainda não estão sendo postos em prática, como a inserção de leitos

psiquiátricos nos hospitais gerais, além de ações que promovam transformações desde a

formação a qualificação dos profissionais que irão atuar no cuidado a este público

especifico.

Apesar deste serviço de atenção psicossocial ter sido estudado na literatura e em

políticas que preconizam o seu funcionamento, puderam ser observados vários pontos na

prática, quando puderam ser formadas as reflexões sobre essa abordagem, em especial,

desenvolvida no CAPS II, no município de Arcoverde. O primeiro aspecto que

apontamos aqui é relacionado ao espaço físico da instituição, segundo informações

colhidas na unidade, são cerca de 400 usuários cadastrados e 50 usuários acompanhados

diariamente nesse serviço. O CAPS fica instalado numa casa pequena para o quantitativo

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de usuários cadastrados, com recepção, sala de acolhimento, quarto de repouso – com

apenas duas camas, sala dos técnicos de referência, cozinha, área de serviço, banheiro e

garagem – onde são realizados todos os grupos terapêuticos no CAPS.

Observamos a realização do grupo de acolhimento, que tem o objetivo de escutar

o usuário sobre o que discorreu em seu final de semana. Consideramos a importância

desse grupo, pois trata-se de um espaço no qual a equipe pode escutar o sujeito e traçar

alternativas para a resolução de problemas. Essa ação reflete em um cuidado mais

humanizado, através de uma prática acolhedora. Porém, no decorrer da vivência no

CAPS, pudemos perceber neste e na maioria dos outros grupos realizados, o excesso de

usuários - aproximadamente 45 pessoas no grupo -, tendo em vista que a Portaria n.º

336/GM, de 19 de fevereiro de 2002 preconiza que os CAPS II preste atendimento a 30

usuários por turno – refletindo na dificuldade de o grupo alcançar os objetivos propostos.

O espaço físico do CAPS tem apenas um lugar disponível para a realização das

atividades, sendo este aberto e limitado a uma garagem na qual é bastante susceptível a

estímulos externos (visuais e sonoros), que dificultam a atenção e tolerância do usuário

ao que se pretende trabalhar dentro do grupo. Sugerimos que os usuários poderiam ser

divididos em grupos menores, tornando o lugar mais apropriado para desenvolver as

ações planejadas, com começo-meio-fim, de forma que os objetivos sejam alcançados.

Pela falta de direcionamento, muitas vezes percebida nos grupos, os usuários

acabaram por usar os espaços para instigarem uma discussão voltada a um mesmo

assunto em todos os grupos – assunto este que poderia ser abordado no grupo de

acolhimento – fazendo com que o objetivo da atividade saísse do foco. Propomos a

necessidade de o profissional determinado para facilitar o grupo direcione com mais

firmeza a discussão ao objetivo que se pretende trabalhar, que os usuários consigam

compreender o papel de cada profissional, a importância de cada grupo, e não pense que

todos os grupos são apenas espaços de acolhimento.

Ribeiro (2014) afirma que um ponto frágil caracterizado na estruturação do novo

cuidado proposto pelo CAPS é a visão dos usuários sobre o que eles fazem no serviço.

Em sua pesquisa, ao indagar aos usuários sobre o tratamento e atividades que realizavam

durante o tempo que passavam no CAPS, percebeu que, além dos espaços serem muito

poucos ocupados, a visão das práticas em grupo realizadas era compreendida como

ocupação, atividade feita para a distração ou entretenimento. Assim, percebemos a

importância de que esses espaços ainda precisam de reformulações, para que os grupos

terapêuticos sejam ofertados em resposta às demandas reais dos usuários, para que as

atividades não sejam realizadas, apenas, com a intenção de preencher um tempo ocioso.

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Tivemos a impressão de que os grupos terapêuticos existem, porém com maior

peso teórico do que real, pois acreditamos que dessa forma, os resultados podem não se

apresentarem de maneira significativa no processo reabilitação psicossocial destes

usuários. Campos (2001 apud RIBEIRO, 2014) indica possíveis consequências de

situações como essas que observamos no CAPS, como a constante realização de oficinas

que se estruturam somente em base do produtivo e não do que produzem concretamente,

sobre o singular de cada usuário; grupos que funcionam como espaços banalizados, sem

clareza de seus objetivos e de seu significado para cada usuário.

Diante da constante preocupação dos usuários sobre a medicação, principalmente

com a saída do médico psiquiatra, e por observarmos que muitos tomam grandes

dosagens de medicamentos, percebemos que os usuários mantém a relação do seu

tratamento e melhora ainda muito centrado no médico, sendo ainda necessário – e

possível – que a equipe promova essa mudança de pensamento, seja percebida e

valorizada pelo usuário, pelos familiares e pela gestão, pois não só o tratamento médico e

as medicações, como todos os recursos e atribuições da equipe multiprofissional e

interdisciplinar são importantes para a promoção deste cuidado. Porém, essa

transformação do papel do psiquiatra no novo cuidado, como ainda afirma Ribeiro

(2014), deve ser feita por toda a equipe que, muitas vezes, reproduz a dinâmica hospitalar

ou minimamente ambulatorial, focando na medicação e no médico a responsabilidade do

tratamento, não se apropriando do seu espaço de protagonista.

Percebemos profissionais desmotivados e cansados, talvez por uma rotina e

grande demanda de atendimentos, falta de recursos, espaço físico e ainda serviços

burocráticos como o preenchimento de RAAS – Registro de Ações Ambulatoriais de

Saúde e o BPA-I – Boletim de Produção Ambulatorial Individualizada, e que precisam,

além de terem melhores condições de trabalho, encontrar estratégias para o

enfrentamento das dificuldades, pois é necessário que sejam criados dispositivos que

gerem alívio e alegria também para esses sujeitos que executam o cuidado.

Além do que observamos dentro do serviço CAPS, pudemos perceber a

importância de este serviço exercer o cuidado dentro de uma rede, que ainda inexiste

neste território. Brêda et al (2005) apontam para a necessidade de aprimorar projetos que

estimulem a integração e desenvolvimento de ações conjuntas entre os serviços

substitutivos e o Programa Saúde da Família (PSF). ESF?

É importante abordarmos o que Ribeiro (2014) aponta sobre as relações que são

constituídas a partir dessa nova proposta de cuidado, pois as mesmas devem levar em

consideração todos os atores envolvidos nesse coletivo: o usuário, sua família, a

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comunidade no entorno, os trabalhadores e cuidadores, as instituições que fazem parte da

rede de cuidado e aquelas que fazem parte da rede de vida da comunidade. Dentre as

instituições dessas redes (de cuidado e de vida), destacamos a importância do PSF e dos

Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), que também proporcionaram

experiências exitosas aos residentes, ampliando o olhar sobre a rede de cuidado. Pudemos

observar que a autora concluiu em sua pesquisa, sobre a falta articulação dos serviços de

assistência com essas instituições e movimentos e, provocando, então, um cuidado

manifesto em ações isoladas, sendo necessário que essa articulação seja estimulada e

realimentada cotidianamente, no esforço conjunto para a formação e sustentação de uma

rede de atenção real.

NÚCLEO DE APOIO A SAÚDE DA FAMÍLIA – NASF

Criado por meio da Portaria GM n° 154, de 24 de janeiro de 2008, sendo republicada

em 04 de março de 2008, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) objetiva apoiar

às equipes de saúde da família, ampliando as ações de atenção primária.

Em Arcoverde, existem três NASF da modalidade 1, em que o primeiro foi

implantado em 2008 e o terceiro no recorrente ano, favorecendo a ampliação das ações da

atenção básica de forma integrada à rede de serviços de saúde, a partir das demandas

identificadas no trabalho conjunto com as equipes saúde da Família.

Conforme a Portaria nº 3.124, de 28 de dezembro de 2012, a modalidade NASF 1

deverá ter uma equipe formada por uma composição de profissionais de nível superior em

que a soma das cargas horárias semanais dos membros da equipe devam acumular no

mínimo 200 horas semanais, e que nenhum profissional poderá ter carga horária semanal

menor que 20 horas (Art. 3º, I). E ainda, cada NASF 1 deverá estar vinculado no mínimo

5 e a no máximo 9 Equipes Saúde da Família (Art. 3º, II), ratificando com a atual

realidade do município: 22 ESF para 3 NASF.

Um NASF deve ser constituído por profissionais de diferentes áreas de

conhecimentos, definidos pelos gestores municipais, mediante disponibilidade dos

mesmos e necessidades locais. Assim, com o total de 16 profissionais, envolvendo

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educadores físicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e médicos ginecologistas, é

notório no NASF do município e provavelmente em muitos outros, a dificuldade desses

profissionais compreenderem o papel dessa ferramenta na rede de atenção à saúde.

Para Nascimento & Oliveira (2010), a formação dos profissionais que não está

compossível com as demandas do SUS, dificulta o processo de trabalho do NASF. Nesse

sentido, é preocupante a atuação do NASF em Arcoverde quanto suas ações

ambulatoriais, reforçadas pelos números de atendimentos individuais realizados em 2014

(total: 2.325 atendimentos pelos fisioterapeutas; 1.235- psicólogos; 2.371- nutricionistas e

27.701- educadores físicos). De maneira geral, pode-se dizer que são muitos os

atendimentos clínicos, poucos atendimentos domiciliares e raras as discussões e

elaboração de projetos terapêuticos.

Esses dados corroboram com o que afirmam Cunha & Campos (2011) em que a falta

de serviços de saúde especializados pode conduzir a um funcionamento equivocado do

NASF, que assume um papel de “substituição do serviço que falta”, na tentativa de

responder à demanda da população.

Assim, nota-se que o NASF que deveria compartilhar responsabilidades e contribuir

para a efetivação da coordenação integrada do cuidado, por muitas vezes, assume um

espaço de outro nível de atenção: a atenção secundária, voltada a assistência curativa,

especializada, fragmentada e individual. Esse núcleo ainda vem constituindo uma porta

de entrada na atenção primária para os usuários, o que não é previsto pelo Ministério da

Saúde, que o estabelece como um suporte a equipe de saúde da família e outros serviços

da secretaria municipal, como CAPS e CRAS.

No entanto, não foi possível observar essa comunicação entre NASF e esses serviços

supracitados. Os encaminhamentos realizados pelos profissionais restringem-se ao Centro

de Reabilitação do Município e comunicação interna entre eles.

Segundo Oliveira et al (2012), só será possível fazer uma nova clínica com

pensamento ampliado, quando ocorrer mudanças no modelo tradicional de formação, que

remete o sujeito como objeto inativo, o qual segue as orientações e prescrição da equipe

de saúde a qual está submetido.

Os profissionais junto à equipe de saúde da família precisam contribuir para que os

sujeitos, famílias e comunidade assumam o protagonismo das ações voltadas à promoção,

proteção e recuperação da saúde, direcionadas a co-responsabilização e gestão integrada

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do cuidado, envolvendo projetos terapêuticos singulares, atendimentos compartilhados,

ampliando suas ações, articulando com as redes de atenção à saúde e consequentemente,

otimizando os fluxos de referência e contrarreferência. O NASF do Município poderá

facilitar a organização do seu processo de trabalho em conjunto com a equipe de Saúde

da Família através de ferramentas elencadas a seguir, como possível sugestão a serem

trabalhadas como itens de responsabilidade dos profissionais do NASF:

Ação com ênfase em estudo e discussão de casos clínicos e situações especifica;

Realização de educação permanente sobre temas relevantes para com as

equipes;

Participação da construção de protocolos com as equipes;

Fortalecimento na construção de projetos terapêuticos singulares, espaços de

reuniões, bem como consultas/atendimentos conjuntos;

Para (Campos,1999) o atendimento/consultas compartilhadas consiste em realizar

intervenções tendo como sujeitos de ação o profissional de saúde, a intenção é permitir a

troca de conhecimentos e de práticas, gerando experiência e constituindo um processo de

aprendizado coletivo para os profissionais envolvidos.

Dentre das potencialidades do dispositivo abordado destacam-se a agenda

compartilhada junto às unidades de saúde da família através do cronograma de

atendimento dos profissionais e reuniões/eventos. Evidencia-se na prática de consultas

compartilhadas na facilitação da integralidade do cuidado por meio de troca de saberes

entre a equipe, esse processo do cuidar possibilita uma maior resolutividade das ações de

saúde.

Implantar o NASF implica estabelecer espaços para discussão de casos, resolução de

conflitos, onde os profissionais assumam responsabilidades quanto à construção

constante no processo de trabalho interdisciplinar.

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CENTRO DE REFERENCIA A ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS

O CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) é responsável pela oferta de

serviços continuados de proteção social básica, como unidade pública de base

municipal, integrante do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o qual tem como

indicador para implantação, a taxa de vulnerabilidade social existente no território.

O CRAS assume como eixos estruturantes do Sistema Único de Assistência

Social - SUAS: a matricialidade sociofamiliar e a territorialização. O CRAS tem como

pressuposto estrutura de referência, descentralizada e estrategicamente

territorializada. Para a Política Nacional de Assistência Social – PNAS 2004, a família é

definida como “espaço privilegiado e insubstituível de socialização, proteção aos seus

membros, que necessita ser cuidada e protegida”, corroborando as considerações na

Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança e do Adolescente, na Lei Orgânica

de Assistência Social e no Estatuto do Idoso.

Já a territorialização não refere-se ao espaço meramente geográfico, mas faz

alusão a sua importância quanto fator determinante para a compreensão das situações

de vulnerabilidade e risco sociais, bem como para seu enfrentamento.

A adoção da perspectiva da territorialização se materializa a parti r da descentralização a política de assistência social e consequente oferta dos serviços socioassistenciais em locais próximos aos seus usuários. Isso aumenta sua eficácia e efetividade, criando condições favoráveis à ação de prevenção ou enfrentamento das situações de vulnerabilidade e risco social, bem como de identifi cação e estímulo das potencialidades presentes no território. (Brasília 2009. Pág. 15)

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Nessa perspectiva da territorializaçao, o município de Arcoverde possui 3

Centros de Referência de Assistência Social – CRAS. O CRAS do Bairro Boa Esperança,

Bairro São Geraldo e Bairro São Cristovão. A vivência dos Residentes se deu nos dois

últimos, configurando-se como uma unidade que permite que um grande número de

famílias tenha acesso à proteção de assistência social, por isso é considerado a “Casa

das Famílias”. A definição do número de famílias a serem referenciadas aos CRAS está

relacionada ao porte do município, como presume a NOB-SUAS e a capacidade de

atendimento prevista deve está de acordo com esse número de famílias presente no

território. Assim, o CRAS do Bairro São Geraldo, inaugurado 2007, pode referenciar até

3.500 famílias referenciadas, capacidade para atendimento de 750 famílias, possuindo

1.650 famílias cadastradas. O CRAS São Cristóvão, inaugurado no ano de 2006, pode

referenciar até 5.000 famílias, a capacidade de atendimento é de 1.000 famílias,

atualmente possui 1.539 famílias cadastradas. Famílias que necessitam de um

acompanhamento sistemático com vistas ao fortalecimento dos vínculos familiares são

inseridas no PAIF – Programa de Atenção Integral a Família, principal programa da

unidade.

O fluxo de atendimento é iniciado no acolhimento e triagem quando o Técnico

do serviço realiza o Cadastro Social, onde é possível identificar as demandas, as quais

também podem chegar ao serviço por meio da procura espontânea; busca ativa;

encaminhamento da rede socioassistencial; encaminhamento das demais políticas

públicas. Os Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – SCFV existentes são

composto por grupos específicos de usuários: grupos de crianças, adolescentes e idosos.

Em relação ao SCFV de idosos, percebe-se uma fragilidade, uma vez que existe somente

um ponto de apoio no município para todos os grupos de idosos desse serviço, o que

dificulta o deslocamento dos que residem em bairros afastados e este não se articula de

forma adequada com o CRAS, porém o CRAS disponibiliza um Técnico como referência

para o serviço, o que está de acordo com a legislação. O ideal seria que esses grupos

funcionassem no CRAS de referência de seu território. De acordo com a Tipificação

Nacional de Serviços Socioassistenciais, Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009,

são serviços de proteção social básica: Serviço de Proteção e Atenção Integral à Família

– PAIF, Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, Serviço de Proteção Social

Básica no Domicílio para Pessoas com Deficiência e Idosos.

Não há nenhum SCFV para pessoas com deficiência. Em relação à realização de

oficinas, reuniões para acompanhamento de famílias em descumprimento do Programa

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Bolsa Família e grupos de seguimentos específicos da população que encontra-se em

situação de vulnerabilidade e risco social, assim como, mediações de grupos de famílias

do PAIF, as duas unidades visitadas não dispõem de espaços físicos adequados que

garantam o cumprimento das funções do CRAS, o que segundo a legislação deve ser

realizados os grupos em sala de uso coletivo. De acordo com as Orientações Técnicas:

Centro de Referência de Assistência Social – CRAS/ Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome – MDS:

.

A sala de uso coletivo deve ser ampla, com 35m2, de maneira a acomodar até 30 pessoas de modo confortável, contar com mobiliário que possa ser deslocado e que garanta a livre circulação dos usuários dos serviços, de forma a possibilitar interação entre os participantes, produções coletivas e em pequenos grupos, além do desenvolvimento de dinâmicas e técnicas de trabalho em grupos.(Brasília, 2009, pág.55)

Nos dois CRAS esse espaço não é adequado, sendo as atividades desenvolvidas

em garagem externa e terraço que não comporta todos os usuários, bem como, o

acesso à rua não contribui com o caráter ético e conforto dos participantes. Outra

fragilidade da unidade é que há turnos em que nenhum Técnico da equipe técnica como

Assistente Social e Psicólogo não se encontra na unidade para acolher os usuários e

assisti-los em suas demandas:

[...]O CRAS deve funcionar, no mínimo, cinco dias por semana, por oito horas diárias, totalizando 40 horas semanais, com a equipe de referência do CRAS completa (Brasilia, 2009 pág. 61).

O serviço é considerado uma porta de entrada para as ações, serviços,

programas e projetos da política de assistência social pelos usuários, por isso a

necessidade de acolhida e orientações sobre seus direitos sociais no momento em que

procurar o serviço.

Ainda são ações e serviços desenvolvidos pelo CRAS: Orientação sobre BPC –

Benefício de Prestação Continuada, viabilização de: Carteira do Idoso, Passe Livre para

pessoa com deficiência, 2ª Via de registro; acolhida e escuta qualificada para

identificação das necessidades sociais, atendimento individual e familiar, trabalhos em

grupo, inserção e acompanhamento em programas sociais, campanhas educativas,

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oficinas de convivência e socialização, atendimento psicossocial, encaminhamento das

demandas para a rede socioassistencial e de outras políticas públicas, visitas domiciliar,

grupos de convivência e fortalecimento de vínculos.

As Orientações Técnicas: Centro de Referência de Assistência Social – CRAS/

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS sugerem que:

Na recepção deve-se afixar cartazes (ou informações) que traduzam os direitos socioassistenciais dos usuários, favoreçam a visualização da rede de serviços do território e informações geográficas (mapas ou quadros) sobre o território de abrangência do CRAS. (Brasília, 2009. Pág.53)

Nas referidas unidades não foi presenciado esse instrumento, o qual é de suma

importância para o conhecimento do território, sendo disponibilizado para o público,

em local visível, o fluxo de atendimento do serviço.

O registro de informações compõe instrumento essencial para gestão,

monitoramento e avaliação, e consequentemente, para o aprimoramento das ações e

serviços do CRAS, são estes: Relatório Mensal de Atendimentos ao Ministério de

Desenvolvimento Social - sistema onde é registrado as informações sobre o volume de

atendimentos e quais as famílias atendidas nos CRAS; Relatório interno para a secretaria

de assistência social sobre as ações desenvolvidas; Cronograma das atividades mensais;

Registro das atividades em grupos e oficinas com as famílias e Censo CRAS. No que

tange ao processo de planejamento, este se materializa através da construção do Plano

Municipal de Assistência Social, elaborado pelo órgão gestor e aprovado pelo conselho

de assistência social, o qual deve atuar sobre as situações de vulnerabilidade e riscos

sociais identificados nos territórios, com vistas ao resgate da cidadania e protagonismo

dos usuários.

Mediante a vivência no CRAS destacamos como potencialidade desse serviço a

intersetorialidade e a capacidade de articulação com a rede socioassistencial e outros

serviços do município. Dentre a rede de Arcoverde, observamos que o município conta

vários dispositivos a serem articulados quando necessários: Centro de Referência

Especializada de Assistência Social (CREAS); Programa Saúde da Família, Centro de

Atenção Psicossocial (CAPS II), Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF); Conselho

Tutelar; Casa São Vicente de Paula; Abrigo para idosos da Fundação Terra; Associação

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Raio de Luz (Órgão responsável pela fiscalização: Promotoria de Justiça da Comarca);

Casa de Passagem; Desafio jovem para homens usuários de drogas.

Ainda, enfatizamos o instrumental próprio de referência e contra referencia no

encaminhamento de casos para a rede, o que pressupõe o acompanhamento contínuo

do usuário bem como, a confecção do Protocolo de Atendimento do CRAS, elaborado

com vistas a orientar o fluxo na unidade.

O contato com o CRAS possibilitou certificar a necessidade da construção de

saberes e a importância da intersetorialidade com o objetivo de integralidade do

cuidado, com vistas a garantia dos direitos sociais aos usuários. No entanto observamos

que a rede da Política de Assistência Social, encontra-se mais articulada que a Política de

Saúde.

A rede do CRAS encontra-se mais articulada e horizontalizada do que a do CAPS.

Enquanto que no CAPS, muitos usuários procuram o serviço espontaneamente, sem

muitos encaminhamentos. Fazendo ainda uma análise crítica entre esses dois serviços,

tanto o CRAS como o CAPS realizam um trabalho com as famílias com o objetivo

resgatar vínculos afetivos para a superação de vulnerabilidade vivenciada. Essa

estratégia encontra-se mais fortalecida e enfática no CRAS, já o CAPS II tenta suprir as

demandas no grupo de famílias e nas visitas domiciliares, que até onde presenciamos,

não foram realizadas. Em relação ao trabalho em rede com o NASF, encontra-se

fragilizado, cuja articulação restringe-se aos eventos realizados pelo município.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho nos fez refletir sobre a importância da intersetorialidade na

gestão das políticas públicas de saúde e de assistência social, na perspectiva de

compartilhamento de responsabilidades e na organização de atribuições

necessárias à gestão. Considerando dessa forma, um novo modo de trabalho

em saúde centrado no usuário, com equidade, resolubilidade e qualidade. Foi

observado a necessidade de integrar os três dispositivos discutidos a fim de

contribuir para discursão entre gestores, profissionais e usuários objetivando a

qualidade da assistência e efetividade das ações, mediante a análise crítica das

fragilidades e potencialidades observadas durante a vivencia nesses serviços.

Portanto, se faz necessário o fortalecimento de uma rede de atenção

articulada nas ações desenvolvidas nas políticas de saúde e de assistência

social, visando minimizar a desorganização, fragmentação e discrepância da

disponibilidade de serviços e consequentemente combater as diversas formas

de violação de direitos.

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