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Uma fronteira, muitas fronteiras ou nenhuma fronteira? A evolução da distribuição da população na região de fronteira luso-espanhola (1877-2001) el Alves, Luís Silveira e Ana Alcântara (IHC, FCSH, Marco Painho e Ana Cristina Costa (ISEGI, UNL)

One border or many borders? The evolution of population distribution on the Portuguese-Spanish cross-border region (1877-2001)

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Uma fronteira, muitas fronteiras ou nenhuma fronteira?

A evolução da distribuição da população na região de fronteira

luso-espanhola (1877-2001)

Daniel Alves, Luís Silveira e Ana Alcântara (IHC, FCSH, UNL)Marco Painho e Ana Cristina Costa (ISEGI, UNL)

Introdução

• Baseado no estudo: Luís Silveira, Daniel Alves, Marco Painho, Ana Cristina Costa e Ana Alcântara, “The Evolution of Population Distribution on the Iberian Peninsula: A Transnational Approach (1877–2001)”, Historical Methods, 46 (3), 2013, pp. 157–174.

• A fronteira luso-espanhola foi classificada como uma “fronteira do subdesenvolvimento” (Pintado e Barrenechea 1974)

• Algo que acontecia devido à sua posição periférica, sendo ainda frequente o discurso sobre “uma fronteira praticamente «intransponível»” ou uma verdadeira “barreira” (Cavaco 1995, Sequeira 2004 e Caldeira 2011)

Introdução

• Contudo, em termos demográficos, “a existência de profundas disparidades regionais só raramente coincide com as fronteiras administrativas e políticas” (Moreira e Rodrigues 2000)

• Para além disso, em muitos domínios, a fronteira foi de forma “constante” um espaço de “permeabilidade” (Cavaco 1997), constituiu uma linha “porosa” e “fluida” (Pires e Pimentel 2004)

• Recentemente, colocou-se em causa uma imagem da fronteira como região “homogénea”, “periférica” e “fechada” (Trillo-Santamaría e Paül 2014)

Introdução

• Não estarão estas leituras a ser influenciadas pelo “recente” desaparecimento das barreiras políticas e fiscais?

• Não será o conceito de fronteira, como espaço mais ou menos homogéneo, um entrave a outras perspectivas?

• E será que ao estudar a fronteira isolando-a do contexto geográfico mais amplo em que se inserem os seus vários segmentos não estaremos a usar uma escala redutora?

• Falamos de uma fronteira, várias fronteiras ou não devemos sequer falar de fronteira?

• Uma possível resposta: longa duração; diferenciação regional; integração em eixos mais amplos que se sobrepõem à “raia”

Geografia física da Península Ibérica

A fronteira luso-espanhola não representa, nem representou historicamente, uma efectiva barreira, uma qualquer descontinuidade geográfica.

Freguesias (PT) e Municípios (ES)

13 censos populacionais entre 1877 (Espanha) / 1878 (Portugal) e 2001, ao nível da freguesia (Portugal) e do município (Espanha)

Densidade populacional (1878)

Relativa concentração junto ao litoral. Interior com baixas densidades, em especial no sul. Município de Madrid é a excepção.

Densidade populacional (1940)

Densidade populacional aumenta em praticamente todo o lado, mas o padrão geral do final do século XIX não sofre grandes alterações.

Densidade populacional (2001)

Contraste entre o interior e o litoral é claramente visível, agravando-se as assimetrias regionais. Crescimento das grandes áreas metropolitanas.

Tipo de correlação espacial (1878)

Grande área do interior da Península dominada por zonas de baixa densidade. No sul de Portugal, esta área chega ao Atlântico.

Tipo de correlação espacial (1940)

Uma vez mais este padrão não sofre alterações significativas até meados do século XX.

Tipo de correlação espacial (2001)

Importância dos clusters de alta densidade, que mostram o processo de suburbanização que afectou as cidades nas últimas décadas do século XX.

Tendência da densidade populacional (1878-1940)

As áreas urbanas no litoral já estavam a crescer mais rapidamente. A tendência para a diminuição da densidade é visível no norte da PI.

Tendência da densidade populacional (1878-1940)

Não se percebe qualquer padrão distinto na fronteira que é “atravessada” por vários “eixos” com tendências muito diversas.

Tendência da densidade populacional (1940-2001)

Tendências distintas entre o interior e praticamente toda a faixa costeira. Interior com crescimento negativo, mas com várias “pequenas ilhas”.

Tendência da densidade populacional (1940-2001)

Uma vez mais é difícil destrinçar a fronteira. Os diferentes padrões que a “atravessam” são comuns a áreas mais extensas já afastadas da “raia”.

Tendência da densidade populacional (1940-2001)

Uma vez mais é difícil destrinçar a fronteira. Os diferentes padrões que a “atravessam” são comuns a áreas mais extensas já afastadas da “raia”.

Freguesias (PT) e Municípios (ES) com fronteira

Falta de “singularidade” e “homogeneidade” é reforçada pela observação da ausência de qualquer impacto específico da “raia” sobre a densidade.

1877/78 1890 1900 1910/11 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001-0.80

-0.60

-0.40

-0.20

0.00

0.20

0.40

0.60

0.80

Temperature Precipitation AltitudeDistance to littoral Distance to main rivers Distance to PT/ES borderDistance to PT/ES border 2

Spe

arm

an's

cor

rela

tion

coef

ficie

nt

Distribuição da população associada a factores geográficos como altitude, distância ao litoral e aos rios. Fronteira é irrelevante como factor explicativo.

Correlação entre densidade e factores geográficos

Conclusões

• Uma fronteira demograficamente porosa• Uma fronteira nada uniforme no que diz respeito à

distribuição da população e evolução da sua densidade• Padrões são idênticos nos dois lados da fronteira, mas

estendem-se muito para além dela aperentemente em corredores ou eixos

• Estas características são aparentemente influenciadas por outros factores geográficos e não pela existência da fronteira

• Tendo em conta esta perspectiva de longa duração, continuará a ser operativo o conceito de fronteira para estudar o desenvolvimento regional nestes vários eixos?

Obrigado!

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@DanielAlvesFCSH