EDUCAÇÃO FÍSICA
Assessoria: Prof. Esp. Claudio Marcelo de Almeida – 1o ao 5o ano
Profª.Ms. Dilma Montagnoli – 6o ao 9o ano
Comissões:
Professores do 6o ao 9o ano Professores do 1o ao 5o ano
Adriane Weber Cleide Mosca
Bernhard W. de Andrade Dóris M. R. Ferreira
Eduardo Ramsauer Egon Langer
Eliane de Stefani Luderitz Gonçalves Filho
Márcia Rosane Oliveira Rosemeri Nascimento Sibowicz
Maristela Menel Roza Vanderléia S. S. Luciani
Jaraguá do Sul - SC2007
8.1 INTRODUÇÃO
A Proposta Curricular de Educação Física para as Escolas de Ensino Fundamental do 1o ao 9o
ano, do município de Jaraguá do Sul – SC, consiste em um documento que tem como base as
aspirações dos profissionais dessa área; é proposta aberta e flexível oportunizando-lhes um trabalho
voltado a um currículo que contemple a realidade regional e local sem desconsiderar os contextos
globais.
O conjunto de proposições que marcam esta Proposta Curricular tem seus fundamentos nos
princípios de uma educação inclusiva que atenda à diversidade, uma educação multicultural e
voltada para a complexidade e uma educação integral, entendidos como princípios
comprometidos com a efetiva qualidade do processo ensino-aprendizagem.
As reflexões abordadas e fundamentadas neste documento norteador têm como base a Educação
Física Escolar Progressista, tendo em vista a perspectiva de que o movimento humano está articulado
com o movimento social e cultural da sociedade e dos seus contextos. Entende-se que os conteúdos
devem privilegiar a cultura erudita, o saber sistematizado, o pensamento filosófico e científico
constituindo-se na base da formação integral do aluno, sem desconsiderar seus aspectos de realidade
prática.
Freire (1997, p. 110) entende que “O educador ou a educadora crítico, exigente, coerente, no
exercício de sua reflexão sobre a prática educativa ou no exercício da própria prática, sempre a entende
em sua totalidade”. Assim sendo, uma Proposta Curricular é comunicação e intencionalidade para a
prática pedagógica do profissional da Educação Física Escolar, embasando-se numa perspectiva do ser
humano visto como um ser biopsicossociocultural, reafirmando valores e princípios democráticos e
participativos.
Os princípios fundamentais da Educação Física Escolar, embasados nos macro-princípios
contidos na Proposta Curricular de Santa Catarina (2005), deverão nortear a prática pedagógica
corporal do movimento, descartando os critérios de seletividade por aptidão física e rendimento
padronizado.
Santin (apud MOREIRA, 1993, pp. 63-65) corrobora dizendo que:
Assim, a Educação Física age sobre o corpo em nome do princípio da utilidade. Ela pensa no uso do corpo. Atualmente esse uso está quase exclusivamente voltado para as práticas esportivas. Numa observação, ainda que superficial, pode-se perceber que a Educação Física, tanto quanto a medicina, mantém-se presa a uma compreensão de corporeidade muito limitada ao corpo físico. Dificilmente vê-se a corporeidade vinculada às questões de ordem social, política, econômica, ideológica, religiosa ou cultural. (...) A história da Educação Física é longa e conhecida nessa dedicação de fabricar corpos disciplinados e submissos.
Nesse sentido, torna-se necessário que os profissionais da Educação Física Escolar discutam e
construam estratégias de trabalho com os alunos, levando-os a refletir e a questionar a cultura do
melhor, a cultura da exclusão e a cultura do consumo induzido. Os Parâmetros Curriculares Nacionais
de Educação Física Escolar (PCN – EDUCAÇÃO FÍSICA, 1997, p. 28) advertem que compete aos
profissionais da área “garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuir para a
construção de um estilo pessoal de exercê-las e oferecer instrumentos para que sejam capazes de
apreciá-las criticamente”.
Desde 1980 a Educação Física vem buscando descobrir sua real identidade, seu real sentido no
contexto escolar. Para tanto, entende-se como necessário que essa disciplina torne extinta a credencial
de singular, ou seja, de que pouco serve para o real aprendizado e desenvolvimento do aluno e que sua
função seria apenas de caráter lúdico. É necessário que seja identificado o verdadeiro sentido de sua
prática na escola, pois é somente por esse caminho que os profissionais da Educação Física, juntamente
com os demais profissionais da educação, poderão credenciar seu real valor educativo.
Mais do que um simples espaço rico em movimentos, atividades lúdicas e atividades esportivas,
as aulas de Educação Física devem vivenciar práticas pedagógicas que propiciem aos alunos um
aprender a aprender para a vida, diz Freire (2003).
Sendo assim, deve-se identificar a Educação Física como disciplina que utiliza a cultura
corporal de movimento como ferramenta para proporcionar ao aluno conhecimentos que devem ir
muito além de habilidades físicas e esportivas, ou seja, essas práticas deverão ser vistas no contexto
escolar como meios para um desenvolvimento integral do sujeito, entendido como ser humano em sua
ampla integralidade.
Considerando que conhecimentos universais tais como comunicação, escrita, leitura, criticidade,
consciência e autonomia fazem parte dos contextos escolares, estes devem estar inseridos na prática
educativa da Educação Física no Ensino Fundamental. (NEIRA, 2003)
Esses conhecimentos possibilitam ao aluno uma aprendizagem significativa, e o processo
pedagógico ficará mais dinâmico. Esse conjunto de saberes articulados ao processo ensino-
aprendizagem promove alunos capazes de desenvolver práticas diversificadas como jogos,
brincadeiras, esportes, lutas, danças. Entende-se, dessa forma, que: “No corpo estão inscritas todas as
regras, todas as normas e todos os valores de uma sociedade específica, por ser ele o meio de contato
primário do indivíduo com o ambiente que o cerca”. (DAOLIO, 1995, p. 39)
O processo de inserção do corpo aprendente como sujeito de aprendizagem, que se expressa e
comunica nas diferentes formas de linguagem, fortalece sua formação integral para o exercício da
cidadania, exercício que permite a vivência nas diferentes culturas, pois “Respeitar o corpo presente-
pressente na produção epistemológica em motricidade é lembrar: que o acesso a uma concepção
global de homem só se dará por meio do corpo, pois este possui uma expressão que dialoga e faz
comunicar-se com outros corpos; [...]” (MOREIRA, 1995, p. 26).
Esse movimento de compreensão do corpo como sujeito da aprendizagem exige do
profissional da Educação Física Escolar constante formação, buscando na pesquisa o fundamento para
a construção de projetos de docência. Essa base conceitual permite ao profissional compreender o
processo e a prática pedagógica através da teoria, reflexão, análise, síntese, considerando e propondo
novas formas de intervenção na realidade escolar, ou seja, re-significando a realidade na qual
professor e aluno são os autores e atores do processo ensino-aprendizagem.
Nessa perspectiva, é necessário que o objetivo geral e os objetivos específicos da disciplina
desvelem a intencionalidade da proposta pedagógica da Educação Física Escolar. A seguir, serão
apresentados os objetivos (gerais e específicos) para a Educação Física Escolar – 1º ao 9º ano do
Ensino Fundamental.
8.2 OBJETIVOS
8.2.1 Objetivos gerais do 1o ao 5o ano
- Proporcionar, pela cultura corporal de movimento e pelas diversas manifestações corporais, a
construção e reconstrução do saber, viabilizando assim o desenvolvimento da consciência crítica, da
autonomia, de atitudes de solidariedade, de respeito às e de aceitação das diferenças físicas, psíquicas,
étnicas, religiosas, sociais, culturais e de gênero.
- Promover a aprendizagem e o desenvolvimento de variadas habilidades motoras, afetivas, cognitivas e
sociais, incentivando a cidadania, a socialização, a cooperação e a manutenção da saúde.
8.2.2 Objetivos específicos do 1o ao 5o ano
1º Ano
- Desenvolver os movimentos fundamentais (locomotores, manipulativos, estabilizadores).
- Estimular a imaginação, a criatividade, a ludicidade e a sensibilização corporal.
- Ampliar experiências e conhecimentos com liberdade de ação, autonomia e criticidade, explorando a
atenção.
2º Ano
- Desenvolver e aprimorar as habilidades básicas nos movimentos fundamentais, através de atividades
lúdicas.
- Experienciar diferentes formas de convivência, criando situações-problema de ordem cognitiva,
social, moral, sensorial, afetiva e motora, buscando soluções para os desafios propostos.
- Exercitar a prática de reflexões, cálculos, previsões e negociações, produzindo compreensão a
respeito de suas próprias ações e tomada de consciência.
3º Ano
- Executar habilidades motoras fundamentais para as habilidades motoras especializadas, favorecendo o
desenvolvimento integral do aluno.
- Motivar-se à prática de variadas atividades físicas, discutindo e criando/recriando regras, valores e
atitudes.
- Reconhecer saberes comunicacionais universais, através das diferentes linguagens de comunicação e
expressão.
4º Ano
- Desenvolver habilidades motoras especializadas.
- Iniciar-se nas diversas modalidades esportivas e demais culturas do movimento humano,
desenvolvendo a capacidade de organização, conhecendo e diversificando as formas de realização das
atividades.
- Ter uma atitude orientada à prática de exercícios físicos para a melhoria na qualidade de vida
- Vivenciar valores ético-morais de acordo com seu contexto sociocultural.
5º Ano
- Aprimorar habilidades motoras especializadas através de jogos pré-desportivos.
- Adquirir conhecimentos anatômicos, fisiológicos, biomecânicos e culturais sobre o corpo humano,
favorecendo a análise crítica da atividade física e de sua utilização permanente.
- Participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas, favorecendo o
respeito mútuo e a solidariedade.
- Descobrir novas situações para o jogo desenvolvendo o espírito esportivo.
- Valorizar as diferentes manifestações culturais e pré-desportivas.
- Participar da construção/reconstrução de regras, bem como da resolução de problemas por meio do
diálogo.
8.2.3 Objetivo geral do 6o ao 9o ano
- Oportunizar aos alunos vivenciar o corpo em movimento através de oportunidades educacionais, para
transformar as possibilidades em competências para a vida.
8.2.4 Objetivos específicos do 6o ao 9o ano
- Praticar diferentes modalidades esportivas, através da cooperação e da inclusão.
- Conhecer sua realidade, respeitando as individualidades e diversidades.
- Conhecer e valorizar a pluralidade de manifestações da cultura corporal e social, percebendo-as como
meio para integração de pessoas e diferentes grupos sociais.
- Perceber a cidadania como fim e meio de aprendizado que lhe permitem ser agente e destinatário de
transformações sociais.
- Participar de jogos com regras flexíveis e adaptadas para uma educação inclusiva, integral e
multicultural.
- Educar-se para o movimento corporal e social objetivando atividades recreativas facilitadoras do
aprendizado, estabelecendo relações equilibradas e construtivas.
- Reconhecer e respeitar as características físicas e de desempenho de si próprio e dos outros, sem
discriminar por características pessoais, físicas, de gênero, étnicas ou socioculturais.
- Conhecer os fundamentos das modalidades, adotando atitudes de respeito mútuo, dignidade,
solidariedade e bom senso, em situações lúdicas e esportivas, repudiando qualquer espécie de violência
no jogo com a aplicação das regras.
A partir da intencionalidade subjacente aos objetivos estabelecidos para o processo ensino-
aprendizagem, os professores, como mediadores da prática pedagógica, têm o compromisso social de
fazer do espaço escolar um lugar de produção, construção e reconstrução de cultura, de valores, de
saberes historicamente constituídos. Essa participação política de organização escolar possibilita ao
aluno a vivência democrática dos direitos e deveres, pois as produções inserem, no sujeito aprendente,
marcas, sinais, símbolos que ampliam sua leitura de mundo e do seu contexto, uma vez que as práticas
corporais revelam os ditames da cultura.
Portanto, a escola é um espaço de promoção da cultura e da diversidade. Ela como instituição
reprodutora das relações da sociedade, possui regras fixas e impessoais de funcionamento, métodos de
ensino e avaliação, ao mesmo tempo em que admite acatamentos, subversões, resistências e
enfrentamentos por parte dos sujeitos que nela atuam. Assim, os professores e os alunos são sujeitos
concretos que produzem essa cultura que move e transforma o espaço/tempo escolar.
8.3 FUNDAMENTOS, AVANÇOS E PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
A Educação Física Escolar precisa repensar o sujeito aprendente na sua complexidade, pois não
se justifica uma educação inclusiva voltada para a diversidade, uma educação integral e uma educação
multicultural fora da realidade contextual e pedagógica do alunado. Assim, os profissionais da
Educação Física Escolar, como mediadores do processo ensino-aprendizagem, têm como desafio uma
prática pedagógica que contemple os conhecimentos prévios dos alunos, articulando-os com os
conteúdos oficiais e oportunizando a construção da cidadania através da formação integral do aluno.
Diante dessa realidade curricular exigida pelo novo paradigma, Silva (1999, p. 150) afirma que:
O currículo tem significados que vão muito além daqueles aos quais as teorias tradicionais nos confinaram. O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forja nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade.
Assim os sujeitos da aprendizagem - professores e alunos - nesse processo de formação
integral, que é o de tornar-se mais humano através da Educação Física Escolar, carregam sonhos que,
na interação dentro do espaço social da escola, tornar-se-ão realidade para a compreensão da natureza
humana. Portanto, esse espaço escolar tem em seu contexto um movimento de sujeitos aprendentes
que necessitam dialogar, interagir, se movimentar corporalmente, refletir, sonhar, entre outras
possibilidades para ampliar sua leitura de mundo e a construção da sua identidade sociocultural.
“Olhar a corporeidade do sujeito é buscar a expressão, é buscar o desejo, pois o olhar conhece
sentindo e o sente conhecendo” (MOREIRA, apud MOREIRA, 1995, p. 19).
Esse processo corporal é real e, dentro do espaço-tempo escolar, é dialético, plural e transitório
como o é o processo de aprendizagem de cada sujeito que interage com o conhecimento e com a
cultura. Professores e alunos, sendo sujeitos aprendentes, precisam ter novos olhares para a
corporeidade no espaço escolar, buscando uma educação diferenciada e emergente para um tempo de
igual natureza. Conforme Moreira (2003, p. 87): “Conhecer corporeidade é entender um corpo sujeito
existencial complexo que vive sempre no sentido de uma auto-superação. (...) A corporeidade só pode
ser entendida como relacional”.
A escola, como espaço de produção de conhecimento e transformação do sujeito aprendente,
não pode deixar a cultura corporal em um vazio social e político, pois esta abrange um universo rico em
conteúdos eruditos e populares, que aproxima e promove inúmeras possibilidades aos sujeitos na
prática democrática. O reconhecimento da cultura corporal como intencionalidade política e social
torna possível o exercício da convivência das diferentes culturas, na qual o respeito à diversidade deve
ser vivenciado como um marcante diferencial na prática social dos sujeitos democráticos.
Nesse sentido, Touraine (1998, p. 65) afirma que:
Então, não se trata mais de reconhecer o valor universal de uma cultura ou de uma civilização, mas, de maneira bem diferente, de reconhecer em cada indivíduo o direito de combinar, de articular em sua experiência de vida pessoal ou coletiva, a participação no mundo dos mercados e das técnicas com uma identidade cultural particular. O que é preciso reconhecer não é a inspiração universalista de uma cultura, mas a vontade de individuação de todos os que procuram reunificar o que o nosso mundo, economicamente globalizado e culturalmente fragmentado, tende sempre mais fortemente separar.
Consciente desse novo paradigma, Freire (1983, p. 109) ajuda a compreender o conceito
antropológico de cultura, dizendo que:
A cultura [pode e deve ser entendida] como o acrescentamento que o homem faz ao mundo que não fez. A cultura [pode ser entendida] como resultado de seu trabalho. Do seu esforço criador e recriador. O sentido transcendental de suas relações. A dimensão humanista da cultura como aquisição sistemática da experiência humana. Como uma incorporação, por isso crítica e criadora, e não como uma justaposição de informes ou prescrições “doadas”. A democratização da cultura – dimensão da democratização fundamental. O aprendizado da escrita e da leitura como uma chave com que o analfabeto iniciaria a sua introdução no mundo da comunicação escrita. O homem, afinal, no mundo e com o mundo. O seu papel de sujeito e não de mero e permanente objeto.
A Educação Física Escolar atenta às questões culturais, que são pertinentes ao exercício da
cidadania, não pode deixar de contemplar no seu currículo os temas transversais, pois eles são
constantes desafios aos profissionais no processo pedagógico. Os Parâmetros Curriculares Nacionais da
Educação Física (PCN – EDUCAÇÃO FÍSICA, 1997, p. 29) como documento norteador da educação
nacional apresenta ”Um conjunto articulado e aberto a novos temas, buscando um tratamento didático
que contemple sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das áreas
convencionais”.
Assim, os PCN - Educação Física (1997) apontam diferentes temas que devem ser refletidos e
colocados em ação nas diferentes áreas do conhecimento, sendo eles: Ética, Meio Ambiente,
Pluralidade Cultural, Saúde, Orientação sexual e Trabalho e Consumo. Os temas transversais propostos
foram estabelecidos conforme os seguintes critérios: urgência social, abrangência nacional,
possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental, favorecimento da compreensão da
realidade e participação social.
Então, questiona-se: como trabalhar esses temas nas aulas de Educação Física Escolar? É
preciso deixar o aluno dentro da sala para realizar esse trabalho? Acredita-se que as aulas devem ser
articuladas com esses temas de forma que a aprendizagem seja significativa, pois o processo de ensino-
aprendizagem na Educação Física Escolar não deve ser desarticulado da realidade do aluno. Dessa
forma, o que priorizar em cada tema para ser refletido e vivenciado nas aulas de Educação Física?
O que é ética? O que é ser ético? Como agir de forma ética? São perguntas que exigem do
professor conhecimento, reflexão e ação, já que durante as aulas será necessário refletir com seus
alunos atitudes éticas que permeiam a realidade. Boff (2000b, p. 35) entende que: “O ethos não é algo
acabado, mas algo aberto a ser sempre feito, refeito e cuidado como só acontece com a moradia
humana. Ethos se traduz, então, por ética. É uma realidade da ordem dos fins: viver bem, morar”.
A Constituição Federal de 1988 garante princípios éticos, conforme se pode verificar no
conteúdo de seu Art. 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida,
à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”. A partir do que reza a
Carta Magna do país, fica clara a responsabilidade do profissional em oportunizar aos alunos a
reflexão-ação sobre a convivência ética.
Como a ética pode ser relacionada à sensibilização sobre o meio ambiente na prática pedagógica
da Educação Física? Sabemos que o meio ambiente é hoje o tema mais evidente, pois a mídia mostra
todos os dias como a sobrevivência do planeta está ameaçada. Diante dessa realidade, a Educação
Física Escolar pode contribuir para sensibilizar a comunidade escolar para novas atitudes diante da
emergência de salvar o planeta, ou seja, de garantir a própria sobrevivência. Boff (2000 a, p. 137) diz
que: “Na prática a sociedade deve mostrar-se capaz de assumir novos hábitos e de projetar um tipo de
desenvolvimento que cultive o cuidado com os equilíbrios ecológicos e funcione dentro dos limites
impostos pela natureza”.
É possível conviver com o meio ambiente equilibrado se considerarmos a pluralidade cultural
nas aulas de Educação Física? A pluralidade cultural vincula-se diretamente com a Educação Física,
pois esta tem como proposta pedagógica promover atividades de aprendizagens através das quais,
independentemente dos limites e possibilidades, todos possam estar inclusos no processo pedagógico.
Esse princípio é o respeito pela diversidade das culturas que enriquecem a área do movimento humano.
Conforme Sales e Garcia (apud PADILHA, 2004, p. 222) o pluralismo cultural:
(...) surge como uma reação à hierarquização etnocêntrica das culturas e da afirmação da diferença cultural como positiva. Cada grupo cultural tem o direito de conservar e desenvolver sua cultura no marco da sociedade e a se educar a partir dos seus próprios valores e conhecimentos culturais, em igualdade de condições.
Assim, através do respeito pela pluralidade e diversidade culturais, constata-se que a saúde é
outro tema de extrema relevância social e pedagógica, existindo um estímulo muito forte pela prática
de atividades físicas, pois é preocupação dos órgãos de saúde pública e debate acadêmico a promoção
da saúde. Diante dessa realidade, a Educação Física Escolar não pode deixar de fazer a sua parte
sensibilizando e orientando as atividades físicas para atividades voltadas à prevenção e manutenção da
saúde. Boff (2000 a, p. 144) entende saúde como sendo: “(...) um processo permanente de busca de
equilíbrio dinâmico de todos os fatores que compõem a vida humana. Todos os fatores estão a serviço
da pessoa para que tenha força de ser autônoma, livre, aberta e criativa face às várias injunções que vier
a enfrentar”.
A busca pelo equilíbrio, defendida por Boff (2000 a), contribui nas reflexões sobre as angústias
que a sexualidade desperta no espaço escolar. Como a sexualidade pode ser refletida nas aulas de
Educação Física? Esse tema exige dos professores capacidade para enfrentar as interrogações que
afligem os alunos, pois a família relegou à escola a responsabilidade da formação integral.
Considerando que a família nem sempre dispõe de orientação para discutir temas sobre as angústias e
transformações da sexualidade que afetam os sujeitos, é importante que a Educação Física tenha como
objetivo a vivência da sexualidade nas suas ações, pois estas promovem o desenvolvimento pessoal e
coletivo dos alunos.
A sexualidade tem grande importância no desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-se com a busca do prazer, necessidade fundamental dos seres humanos. Nesse sentido, a sexualidade é entendida como algo inerente, que se manifesta desde o momento do nascimento até a morte, de formas diferentes a cada etapa do desenvolvimento. Além disso, sendo a sexualidade construída ao longo da vida, encontra-se necessariamente marcada pela história, cultura, ciência, assim como pelos afetos e sentimentos, expressando-se então com singularidade em cada sujeito. (PCN – EDUCAÇÃO FÍSICA, 1997, p. 117)
A partir do exercício da promoção pessoal e social na busca pelo equilíbrio nas questões ligadas
à sexualidade, outro tema suscita reflexões e deve ser contemplado nas atividades da Educação Física
Escolar: trabalho e consumo. Qual sua relação com a Educação Física escolar? Frente às novas
mudanças que vêm ocorrendo no mundo globalizado pautado em uma política neoliberal, “(...) o perfil
do trabalho mudou, elevando as exigências de qualificação da força de trabalho (...), Em síntese,
capacidades comportamentais, intelectuais e sociais, expressas na tríade “saber-ser”, “saber-fazer” e
“saber-conviver”, são destacadas como necessárias ao trabalho flexível e polivalente”. (PROPOSTA
CURRICULAR DE SANTA CATARINA, 2005, p. 140)
Entendendo-se que o consumo se não adequadamente orientado, segundo Santos (apud
PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA, 2005, p. 139) pode conduzir os sujeitos a um:
“(...) consumismo e competitividade que levam ao emagrecimento moral e intelectual da pessoa, à
redução da personalidade e da visão do mundo, convidando, também, a esquecer a oposição
fundamental entre a figura do consumidor e a figura do cidadão”. Questões como estas se fazem
presentes no espaço escolar e não podem ser evitadas pelo trabalho docente nas diversas áreas do
conhecimento escolar, entre elas a Educação Física. Entende-se então que a Educação Física Escolar
deve discutir essas questões, em suas vinculações com o mundo do trabalho e em suas decorrências
para a vida e o desenvolvimento dos sujeitos e das sociedades.
Portanto, a Educação Física Escolar, através dos temas transversais tem o compromisso
pedagógico de tratar questões socioculturais e econômicas que permeiam o espaço-tempo escolar e que
não podem mais ser ignoradas no trabalho curricular e formal do cotidiano da escola.
A rigor, esse compromisso pedagógico dos profissionais da Educação Física, pautado nos
princípios da democratização da cultura do movimento corporal humano, articulado com o movimento
social e com os temas transversais, aponta para uma tendência sociointeracionista de base histórico-
cultural. Assim, a educação possibilita ao sujeito aprendente conviver e interagir num determinado
contexto sociocultural, cujas influências modificam professor e aluno e ambos, em ações conjuntas, e
podem transformá-lo.
A Educação Física como um dos meios de emancipar o homem para o exercício da cidadania
através da cultura corporal, dos conteúdos do currículo formal, articulados pela arte da comunicação e
expressão, é aprendizagem significativa, ou seja, produz interação sociocultural e poderá estimular a
interatividade, a convivência saudável e a solidariedade.
Daolio (1995, p. 39-40) entende e propõe que:
O homem, por meio do seu corpo, vai assimilando e se apropriando dos valores, normas e costumes sociais, num processo de inCORPOração (a palavra é signifiticativa). Diz-se correntemente que um indivíduo incorpora algum novo comportamento ao conjunto de seus atos, ou uma nova palavra ao seu vocabulário ou, ainda, um novo conhecimento ao seu repertório cognitivo. Mais do que aprendizagem intelectual, o indivíduo adquire um conteúdo cultural, que se instala no seu corpo, no conjunto de suas expressões. Em outros termos, o homem aprende a cultura por meio do seu corpo.
A escola como instituição que deve promover a formação integral do sujeito, para interagir
numa sociedade mais equânime, encontra nesse processo uma relação dialética com a cultura e a
educação, exigindo que ambas sejam equalizadoras do conhecimento sustentável para a prática da
cidadania. “A cultura, tal como a entendemos, inclui todos os domínios do espírito e da imaginação,
das ciências mais exatas à poesia” (Delors, 1999, p. 144). Assim como a cultura e a educação
possibilitam espaços de transformações, ao mesmo tempo, reproduzem e reforçam as formas de
dominação existentes na sociedade. “A educação deve, pois, procurar tornar o indivíduo mais
consciente de suas raízes, a fim de dispor de referências que lhe permitam situar-se no mundo, e deve
ensinar-lhe o respeito pelas outras culturas”. (DELORS, 1999, p. 48)
Portanto, a partir desses argumentos, questiona-se: que projeto pedagógico os profissionais
desejam construir em suas práticas pedagógicas? Que escolhas, princípios e valores devem ser
privilegiados no processo de formação integral dos alunos? Quais perspectivas podem ser apontadas
como metas de trabalho na interação com os alunos? Interrogações como essas interrogações
permeiam a prática pedagógica e são desafios para que professores e profissionais da educação
tenham na base de sua formação inicial e continuada, a busca constante pela pesquisa, através de
novos olhares e ações, voltados para uma Educação Física Escolar que possa oportunizar a construção
do “saber-ser”, “saber-fazer” e “saber conviver” no espaço escolar para a constituição das
possibilidades do efetivo exercício da cidadania, levando a um constante processo de “aprender a
aprender”, contribuindo para o desenvolvimento integral dos sujeitos que se educam em constantes
processos de interação e comunicação.
8.4 CONTEÚDOS
A Educação Física Escolar é uma área de conhecimento rica na diversidade cultural, cujos
conteúdos a serem desenvolvidos no espaço escolar devam ser organizados a partir da realidade
cultural dos alunos, relacionando-os interativamente com os conteúdos determinados pelos currículos
oficiais. De Santo (apud TANI, 1991) sugere que a Educação Física deva estruturar seu ensino a fim de
garantir a:
- aprendizagem do movimento (conhecimento procedimental) contribuindo para a expressão habilidosa
e vigorosa do potencial motor;
- aprendizagem para o movimento (conhecimento atitudinal), em que os principais conhecimentos são
os valores e atitudes necessárias para a realização das atividades motoras;
- aprendizagem sobre o movimento (conhecimento conceitual, factual), necessário na realização de
análises e relações mais complexas do movimento.
Lovo e Rodrigues (2000, p. 103) entendem que: “(...) os conteúdos, métodos e objetivos da
educação escolar não são neutros, dependem da tessitura teórico-metodológica que, articulada às visões
de mundo, às concepções filosóficas e às condições sócio-político-históricas-econômicas, determinam
o ENSINAR”.
Para a operacionalização do conhecimento escolar é importante que existam algumas categorias
que definam as atividades de aprendizagem dos alunos. Vasconcellos (1996), aponta algumas
categorias para a escolha das estratégias visando orientar na construção do conhecimento: significação,
problematização, práxis, criticidade, continuidade e ruptura, historicidade e totalidade.
O confronto do saber popular (senso comum) com o conhecimento científico universal
selecionado pela escola, o saber escolar, é, do ponto de vista metodológico, fundamental para a reflexão
pedagógica. Isso porque instiga o aluno, ao longo de sua escolarização, a ultrapassar o senso comum e
construir formas mais elaboradas de pensamento. (SOARES, 2003, p. 32)
Contudo, não se pode negar que o aluno já apresenta uma experiência inicial, não elaborada de
movimento e conhecimento, porém com a vivência de sistemáticos processos de análise a respeito do
objeto de estudo, passa a reconstruir suas visões iniciais, que são assim superadas por novas visões,
desenvolvendo a capacidade de proceder sínteses.
Os conteúdos exigem atividades de aprendizagem que promovam a compreensão dos conceitos
para utilizá-los na interpretação, no conhecimento de situações e na construção de outras idéias. Zabala
(1998) diferencia os conteúdos de aprendizagem classificando-os como: conteúdos factuais,
conceituais, procedimentais e atitudinais. Os conteúdos factuais são os conhecimentos de fatos,
acontecimentos, situações, dados, nomes e códigos. Os conteúdos conceituais cumprem a função do
que se deve saber. Estes podem ser aprofundados e ampliados para que a aprendizagem seja
significativa para o aluno. Os conteúdos procedimentais são as regras, as técnicas, os métodos, as
destrezas ou habilidades, as estratégias. Enquanto que os conteúdos atitudinais implicam valores,
atitudes e normas que devem ser partilhados entre os componentes da comunidade escolar.
Esses conteúdos, vinculados a uma prática pedagógica contextualizada abrem perspectivas de
um aprender a aprender mais significativo, pois o professor pode sistematizar os conhecimentos a partir
da realidade social e cultural dos alunos. Lovo e Rodrigues (2000, p. 96) lembram que os estudos
vygotskynianos revelam e tratam do valor da experiência social do sujeito como contributo para o
desenvolvimento cognitivo, pois a preocupação epistemológica de Vygotsky (1994) consistiu em
analisar como o desenvolvimento social e cultural do ser humano estrutura o desenvolvimento do
próprio homem, destacando a linguagem como estruturante do pensamento e como elemento instigante,
necessário e privilegiado, na produção da expressão da comunicação.
A partir desses pressupostos, os conteúdos da área de Educação Física Escolar estão
constituídos para serem desenvolvidos do 1o ao 9o ano do Ensino Fundamental das escolas da Rede
Municipal de Jaraguá do Sul-SC, em acordo com as discussões e estudos dos profissionais envolvidos
em sua elaboração, entendendo-os como essenciais ao processo de escolarização formal dos seus
alunos.
5 CAMPOS CONCEITUAIS E CONTEÚDOS - 1o AO 9o ANO
Portanto, campos conceituais e conteúdos expressam e apresentam a organização e visualização
dos conteúdos a serem desenvolvidos nas práticas pedagógicas dos professores do 1o ao 9o ano do
Ensino Fundamental nas escolas da Rede Municipal de ensino de Jaraguá do Sul, SC.
A presente Proposta Curricular não tem a intenção de fechar e definir os conteúdos citados
entendendo-os como definitivos, uma vez que o universo da Educação Física Escolar é muito
diversificado e rico. Portanto, o professor, ao planejar as atividades pedagógicas da disciplina, terá a
flexibilidade de ampliá-los conforme a necessidade, interesse e expectativa dos alunos e as condições
de trabalho que cada Unidade Escolar apresentar, podendo-se, a partir de discussões internas, proceder
as significativas ampliações que cada contexto específico requisitar.
8.6 METODOLOGIAS E ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS
O que é metodologia? O que é método? Essas são perguntas que muitas vezes suscitam
reflexões mais apuradas, pois causam muitas apreensões e debates, entendidos como frutíferos e
necessários a uma escola e a uma sociedade em fases de transição. Ferreira (1999, p. 1328) define
Metodologia como a: “Arte de dirigir o espírito na investigação da verdade – Estudo dos métodos”.
O método, os procedimentos técnicos, as estratégias e os recursos de ensino-aprendizagem
constituem-se em elementos significativos para o processo de escolarização formal. Lovo e Rodrigues
(2000, p. 103) afirmam que: “Nem sempre as propostas pedagógicas são assumidas com clara
consciência, havendo dificuldades em articular procedimentos metodológicos com propostas e
tendências teóricas”. Assim, a articulação entre o método e os demais elementos que constituem a ação
pedagógica docente devem favorecer a interação dos conteúdos e das diferentes disciplinas que
compõem um currículo escolar, possibilitando ao professor ser o mediador do processo de
conhecimento, proporcionando orientações, discussões e sugestões para que a aprendizagem possa se
efetivar significativamente.
A prática pedagógica da Educação Física contida na presente Proposta Curricular busca formas
de ensino menos diretivas com base em conteúdos significantes, oportunizando ao aluno pensar, criar,
participar de atividades corporais com autonomia, autodeterminação, cooperação, solidariedade e
respeito aos valores ético-morais de convivência e crescimento conjuntos.
Diante desses argumentos, as aulas de Educação Física como partícipes do processo de ensino-
aprendizagem escolar são construídas numa relação dialética entre conhecimento teórico e vivência
corporal. Esse movimento relacional e contínuo entre professor e aluno na busca do conhecimento, seja
de forma individual e/ou coletiva, deverá ser entendido como possibilidade de construção de novas
habilidades e competências para compreender e interpretar os contextos vivenciais nos quais os alunos
e os professores exercitem cooperativamente novas competências para a vida comunitária e coletiva.
Para tanto, os processos pedagógicos necessitam vivenciar diferentes formas de:
- Comunicação, expressão e representação - as competências e habilidades relacionadas à
expressão, comunicação e representação corporal na Educação Física devem ser desenvolvidas através
do teatro, da dança, da música, das artes, pois as atividades de aprendizagem corporal permitem ao
aluno compreender a relação entre a linguagem corporal e as diferentes linguagens. Assim, o aluno
como sujeito-aprendente poderá criar e comunicar-se usando diferentes formas de comunicação através
dos fundamentos da linguagem.
Soares (2003, p. 29) reafirma que:
A capacidade da expressão corporal desenvolve-se num continuum de experiências que se iniciam na interpretação espontânea ou livre, evoluindo para a interpretação de temas da dança formalizada, onde conscientemente o corpo é o suporte da comunicação. A escola também pode oferecer outras formas de prática da expressão corporal, paralelamente à dança, como, por exemplo, a mímica ou pantomima, contribuindo para o desenvolvimento da expressão comunicativa nos alunos.
- Pesquisa, compreensão e interpretação - pesquisar, compreender e interpretar são
habilidades necessárias para que o aluno seja competente no mundo globalizado, pois as informações
estão disponíveis através da internet de forma democrática. “A Escola, inserida nesse contexto, não
pode furtar-se à formação de cidadãos que dêem conta do uso dessa tecnologia que, utilizada como
suporte pedagógico, ampliará as possibilidades de trabalho e inclusão social” (PROPOSTA
CURRICULAR DE SANTA CATARINA, 2005, p. 33). Essas habilidades permitem ao aluno filtrar as
informações e saber quais as suas necessidades para a vida profissional e a formação pessoal. As
habilidades e competências desenvolvidas no processo pedagógico permitem o exercício da cidadania.
- Contextualização sociocultural - que habilidades e competências o aluno leva das aulas de
Educação Física para sua vida ao sair da escola? É imprescindível que a disciplina promova as relações
entre a cultura erudita e a cultura popular, como desporto, ginástica, esportes radicais, lutas, artes
marciais, entre outras, pois a contextualização permite refletir sobre as necessidades da atualidade sem
desconhecer o passado, valorizando as diferenças culturais. Para Libâneo (apud SOARES, 2003, p. 32)
não se trata de: “oposição entre cultura erudita e cultura popular ou espontânea, mas uma relação de
continuidade em que, progressivamente, se passa da experiência imediata ao conhecimento
sistematizado”.
Assim, a metodologia de ensino e as estratégias pedagógicas devem englobar técnicas, recursos
e procedimentos utilizados pelo professor, de forma inteligente e criativa, para oportunizar ao aluno
mudança de comportamentos desejáveis e duradouros, viabilizando a construção e a descoberta de
novos conhecimentos. É preciso que essa metodologia vise ao desenvolvimento de uma educação
integral que proporcione ao educando a possibilidade de ser sujeito de sua aprendizagem; os conteúdos
em Educação Física devem ser contextualizados nas dimensões conceituais (o que se deve saber),
procedimentais (o que se deve saber fazer) e atitudinais (como se deve ser). (ZABALA, 1998).
De acordo com Darido (2005, p. 68):
Neste sentido, o papel da Educação Física ultrapassa o ensinar esporte, ginástica, dança, jogos, atividades rítmicas, expressivas e conhecimento do seu próprio corpo para todos, em seus fundamentos e técnicas (dimensão procedimental), mas inclui também seus valores subjacentes, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e para as atividades corporais (dimensão atitudinal). E, finalmente, busca garantir o direito do aluno de saber porque ele está realizando esse ou aquele movimento, isto é, quais conceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual).
O professor de Educação Física, ao utilizar formas de ensino diversificadas considerando o
contexto sociocultural no qual o aluno está inserido, sua bagagem cultural e suas características inatas,
entende que estas contribuam efetivamente para o desenvolvimento da autonomia, da crítica, da
determinação e da criatividade, co-relacionando a experiência do aluno com o saber sistematizado.
O desenvolvimento das intervenções pedagógicas, ao privilegiar a cooperação, a solidariedade,
o respeito às diferenças (em detrimento da exclusão e do individualismo), levando à participação
efetiva de todos, deverá influenciar diretamente no resultado da aprendizagem, oportunizando que os
alunos atuem com liberdade e autonomia, analisando, refletindo, criando/recriando possibilidades
normativas e produzindo tomadas de consciência que levem às transformações necessárias.
Visando contemplar o contexto pedagógico e as diversidades aqui elencadas, sugere-se a
utilização dos seguintes métodos de ensino na Educação Física: método de exposição (a apresentação
verbal, a demonstração, a ilustração e a exemplificação); método de trabalho independente (elaboração
de tarefas e desenvolvimento de habilidades posteriores à explanação do professor), método de
elaboração conjunta (interação: professor e aluno visando à obtenção e a transformação de novos
conhecimentos) e método de trabalho em grupo (cooperação para elaboração da tarefa). (LIBANEO,
2004).
Para de fato contemplar essa complexidade pedagógica, o professor utilizará teatro, música,
jogos, atividades lúdicas, práticas pré-esportivas, pesquisas bibliográficas e de campo, palestras, aulas
de campo (visitas a academias, a escolinhas, a museus...), entre outras estratégias de
ensino/aprendizagem.
Para finalizar essa seção, é pertinente mencionar o que diz Vygotsky (apud LOVO e
RODRIGUES, 2000, p. 97): “O fato do homem criar instrumentos, através do trabalho e de utilizar
signos, é que permite ao ser humano unir-se à natureza para criar a cultura e a história”. Esse
movimento interdisciplinar permite ao aluno ser sujeito aprendente, determinado pelos contextos
econômicos, político e cultural; mas também capaz de determiná-los e, como construtor da sua
realidade social, constituir-se em transformador dessa mesma realidade.
8.7 AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
O que é avaliar no processo escolar? Luckesi (1996, p. 93) entende que avaliar é diferente de
verificar, pois: “A avaliação diferentemente da verificação, envolve um ato que ultrapassa a obtenção
da configuração do objeto, exigindo decisão do que fazer ante ou com ele. A verificação é uma ação
que 'congela' o objeto; a avaliação por sua vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica de ação”.
A partir do conceito de Luckesi (1996), entende-se que avaliar exige um olhar atento ao
processo de desenvolvimento do trabalho educacional, ou seja, contemplando desde o planejamento, as
metodologias e o desenvolvimento processual da educação escolar em seu entorno englobante e
integral.
Os professores de Educação Física Escolar, cientes desse processo de aprendizagem, em suas
decorrências e implicações, têm como finalidade fazer a avaliação das competências e/ou
conhecimentos e habilidades corporais dos estudantes, que foram adquiridos e produzidos ao longo do
processo educacional. Nesse sentido, Freire (2003, p. 203) considera que:
Se o professor entender que para avaliar em Educação Física não é necessário fixar-se tão-somente em dados objetivos, em números, ele pode, de forma prática, graças à sua experiência com o grupo de crianças, colher todos esses dados, além de muitos outros, em outros momentos, os quais podem, inclusive, ser registrados em fichas individuais para cada aluno, facilitando uma avaliação qualitativa minuciosa.
Sendo assim, os estudantes devem ser avaliados em diferentes momentos do processo
pedagógico, por meio de instrumentos avaliativos diversificados, desmistificando assim o caráter de
regulação e medição da aprendizagem, que ainda se faz presente no contexto escolar atual.
A avaliação deve ser normativa e por critérios. A avaliação normativa espera padrões de
comportamentos organizados dentro do espaço social escolar. Enquanto na avaliação por critérios,
argumentada por Luckesi (1996), é o foco teórico que organiza o ensino e direciona a avaliação da
aprendizagem, ou seja, aquilo que consideramos como importante no processo ensino-aprendizagem,
visando ao desempenho individual dos estudantes e caminhando para avaliações dos seus desempenhos
coletivos dos mesmos.
Portanto, diante do exposto, a avaliação por critérios evita classificar os estudantes a partir da
comparação entre eles. Ao contrário, a avaliação criterial analisa a produção dos estudantes em relação
aos critérios determinados ou em relação a determinadas competências e habilidades, contribuindo,
assim, para o replanejamento do processo ensino-aprendizagem.
Conforme as proposições de Bratifische (2003, p. 23):
(...) almeja-se que as aulas de Educação Física tenham o intuito de oportunizar o aluno a vivenciar as habilidades físicas por meio de conhecimentos que enfatizam o corpo, esportes, lutas, danças e ginástica, os quais poderão enriquecer o vocabulário motor do aluno. Dever-se-ão abordar nas aulas temas transversais que tratem da ética, saúde, meio ambiente e pluralidade cultural, os quais, possivelmente, contribuirão para o seu aprimoramento (...).
Diante dos argumentos dos autores citados, a avaliação na Educação Física Escolar deve ser
sistemática e contínua de acordo com os objetivos específicos de cada ano de escolarização no EF,
devendo ser considerados os aspectos do domínio cognitivo, afetivo, psicomotor, sociocultural e as
características individuais e coletivas dos alunos.
De acordo com as metodologias de ensino e as estratégias pedagógicas utilizadas, a avaliação
deve também estender-se às dimensões atitudinais, conceituais e procedimentais do processo de
ensino/aprendizagem, sendo ela inclusiva e qualitativa, conforme os preceitos contidos nas normativas
legais da SEMEC, nos Regimentos Escolares e nos Projetos Político Pedagógicos de cada Unidade
Escolar da Rede Municipal de Ensino – RME – de Jaraguá do Sul – SC.
Assim, os professores da comissão de Educação Física das escolas da Rede Municipal de
Ensino de Jaraguá do Sul – SC estabeleceram os seguintes critérios para avaliar os alunos:
ConhecimentosFactuais e Conceituais
-Conhece os conceitos- Pesquisa- Dá respostas adequadas- Contextualiza conhecimentos históricos
ConhecimentosProcedimentais
- Manifesta adequada aplicabilidade prática- Resolve problemas e apresenta respostas adequadas- Mobiliza conhecimentos durante a prática- Apresenta criatividade
ConhecimentosAtitudinais
- Coopera, interage e integra-se com os demais- Demonstra tolerância- Participa das atividades propostas
- Demonstra interesse pela pesquisa e mobiliza conhecimentos - Demonstra sentido de responsabilidade e solidariedade- Apresenta assiduidade e tem iniciativa- Demonstra interesse pelas atividades- Respeita e aceita as diferenças culturais
Conforme Darido (2005, p. 125), em Educação Física Escolar, o processo de avaliação deve:
“Exercer-se como um contínuo diagnóstico das situações de ensino e de aprendizagem, útil para todos
os envolvidos no processo pedagógico”.
A avaliação, em seus procedimentos contextuais, deve servir ao professor e ao aluno para
verificar a assimilação e o entendimento que se apresenta ao longo de um processo e de escolarização
formal; deve ser um processo contínuo que tende a criar um senso crítico no aluno, para que ele crie e
desenvolva condições de auto-avaliar-se.
Assim sendo, esses argumentos acerca da avaliação por critérios são entendidos como
fundamentais para o desempenho do processo ensino-aprendizagem e os dados coletados são
indispensáveis para o professor refletir sobre sua prática pedagógica e (re)planejar suas ações no
cotidiano escolar e vivencial da escola e do contexto sociocultural no qual ela se insere.
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