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VISÕES CORPORATIVAS: PROPOSTA
DE TAXONOMIA
Dieter Brackmann Goldmeyer (UNISINOS )
Lissandra Andrea Tomaszewski (UNISINOS )
Luis Henrique Rodrigues (UNISINOS )
Maria Isabel Wolf Motta Morandi (UNISINOS )
Guilherme Sperling Trapp (UNISINOS )
A relevância das visões corporativas no planejamento estratégico é
inquestionável. Há a necessidade de visualização futura nas empresas.
Muitas empresas anunciam suas visões corporativas em sites e
propagandas, porém, muitas vezes, são mal entendidas enquanto
conceito. Provavelmente isso se deve à falta de estrutura e de
vantagens competitivas, considerando o propósito de sua criação.
Nesse sentido, o objetivo deste artigo foi desenvolver, através do
estudo de planejamento estratégico, uma taxonomia das visões
corporativas atuais. Através da catalogação das visões das 100
maiores empresas do Brasil e a Visão Viável da Teoria das Restrições
(TOC), em conjunto com a pesquisa na literatura, foi possível criar a
taxonomia, ou seja, categorias que pudessem identificar características
em comuns das visões corporativas atuais. Para comprovar a robustez
da taxonomia proposta, todas as visões corporativas catalogadas
foram confrontadas com o esquema taxonômico criado. Ademais,
pretendeu-se mensurar as características comuns presentes nas visões
corporativas atuais e incentivar trabalhos futuros para criação de
novas abordagens de estruturação de visões corporativas que possam
realmente transformar a organização em uma empresa visionária.
Palavras-chaves: Planejamento Estratégico, Visão Corporativa,
Taxonomia, Visão Viável, TOC
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1. Introdução
Com o aumento da competitividade entre empresas, conceitos antes desconhecidos, tais como
de planejamento estratégico empresarial, missão, valores e visão, passaram a fazer parte do
ambiente corporativo. Relevantes para a consolidação de marcas, empresas e produtos, é
inquestionável a importância das visões corporativas no planejamento estratégico. Sem
nenhuma dúvida estas são propriedades diferenciadoras no ambiente corporativo e sem estas
não se permeariam as grandes corporações. (COLLINS & PORRAS, 1995). Encontram-se
diversos trabalhos acadêmicos relacionados com missão organizacional, comparação com
performances, taxonomias etc. (BART & BAETZ, 1998). Porém, as pesquisas relacionadas à
visão corporativa são limitadas, talvez devido ao não consentimento enquanto conceito, já que
muitas vezes a visão corporativa é confundida ou mesmo tratada como sinônimo de missão
corporativa. Conforme Kendall (2010) o Programa da Visão Viável da TOC é uma estratégia
para alavancar o crescimento do lucro nas empresas, sem reduzir custos e com um aumento de
ganho de forma contínua. Há a necessidade de visualização futura nas empresas. O conceito
da meta na Visão Viável foi originado pelo Dr. Eli Goldratt e foi o primeiro a verbalizar como
transformar faturamento em lucro líquido em 4 anos ou menos. Barney e Hesterly (2007)
dizem que as “empresas visionárias” têm como característica a lucratividade em longo prazo.
“Uma vez que há conhecimento da Visão, Missão e Valores da Empresa, assim como
mobilização pessoal para o gerenciamento das ações para o alcance dos resultados desejados,
pode-se trabalhar efetivamente no sentido de se alcançar os resultados definidos
previamente”. (KAPLAN, 1997). Somente o alinhamento destes conhecimentos produz a
sinergia necessária para o cumprimento da estratégia. (BARNEY, 2002). De acordo com
Özdem (2011) um dos pontos relevantes para o sucesso do planejamento estratégico é a
correta formulação da declaração da missão e visão das organizações.
Diante disto, a proposição de uma taxonomia das visões corporativas poderia colaborar para
novos processos de construção, analisando-se grupos que compartilham características em
comum. De acordo com Campos e Gomes (2008) a taxonomia é uma ferramenta de
organização, onde há alocação, recuperação e comunicação de informações de maneira lógica.
Como também, estrutura conceitos e permite agregação de dados.
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A partir da relevância deste estudo, duas perguntas poderiam ser analisadas com relação ao
assunto: Qual é a real relevância da definição de visão nas organizações para o seu
planejamento estratégico? No presente artigo, pretende-se, a partir de uma pesquisa
direcionada às maiores empresas do Brasil e com embasamento na literatura, desenvolver uma
taxonomia das visões corporativas atuais. Estando esta completa, prova-se sua robustez
através da aplicação das visões destas 100 maiores empresas e da Visão Viável da TOC,
analisando-se quais categorizações estão mais presentes nestas empresas.
Alguns delimitantes devem ser ressaltados: foram consideradas somente as 100 maiores
empresas do Brasil e a visão Viável da TOC só será abordada enquanto visão propriamente
dita e não enquanto programa, isto é, um produto de consultoria empresarial que tem por
objetivo implementar de forma sistemática a estratégia, fazendo uso de um método
específico.(HENNER, 2007).
Na primeira seção será apresentado o referencial teórico pertinente ao problema de pesquisa
apresentado aqui, tais como: planejamento estratégico, visão corporativa, visão viável e
taxonomia. Em seguida será apresentada a metodologia e resultados. Por fim, as
considerações finais.
2. Revisão Bibliográfica
2.1. Planejamento estratégico / Visão corporativa
O conceito de planejamento estratégico nasceu no início dos anos 60, com o nome de política
de negócios e era apenas tratado de forma teórico-acadêmica. (BIBNETTI, LAUTERT e
WIETHAEUPER, 2005). Com o nascimento das firmas de consultoria durante os anos 60 o
agora chamado planejamento estratégico passa a ser desenvolvido na prática. Na Figura 1,
Kotler (1998) simplifica como é processo do planejamento estratégico moderno.
Figura 1 – Processo de Planejamento Estratégico
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Fonte: Kotler (1998, p. 86)
Como apresentado na Figura 1, as práticas de divulgação da visão, juntamente com a missão
corporativa, se tornaram a pedra fundamental do processo de planejamento estratégico. Ao
passar dos anos, a visão e missão corporativa passaram por várias transformações conceituais,
mas, embora estes conceitos estejam bem formulados e diferidos, eles ainda muitas vezes são
tratados como redundantes. (PORTO, 2003; BART & BAETZ, 1998; KANTABUTRA,
2009). De acordo com Silva e Lima (2011) os objetivos na estratégia devem ser alinhados a
esses conceitos, pois o devido alinhamento destes produz a sinergia necessária para o
cumprimento da estratégia. Sendo assim, para melhor definir o conceito de visão corporativa,
mesmo que isto não seja o principal objetivo deste artigo, segue abaixo, no Quadro 1, algumas
definições presentes na literatura.
Quadro 1 – Conceito de visão corporativa
Fonte: Mumford & Strange (2005), Senge (1994), Andrade et al. (2006) e Collins &Porras (1995), adaptado
pelos autores
Para responder a questão de pesquisa do presente artigo, Senge (1994) afirma que não existe
organização que aprende sem uma visão compartilhada, uma vez que a aprendizagem
organizacional é essencial para o desenvolvimento e pode ser a única vantagem competitiva, à
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medida que o mundo se torna cada vez mais interligado e complexo. Em relação à real
importância de se ter uma visão incorporada na corporação, vale ressaltar que não somente
por conter uma declaração de visão, esta empresa pode ser considerada visionária. (COLLINS
& PORRAS, 1995). Ser uma empresa visionária é muito mais do que uma declaração, é uma
orientação que deve ser usada na prática da tomada de decisão, uma proposta para todos os
atores que fazem parte da organização. Segundo Porto (2003) este seria o problema, pois a
maioria das corporações só percebe um cunho ideológico por trás das visões corporativas.
Embora não exista fórmula de criação da visão (SENGE, 1994) e a construção de uma visão
corporativa seja de natureza bem particular de cada empresa (PORTO, 2003), é importante
descrever alguns aspectos que, segundo alguns autores, tais como Senge (1994), Collins &
Porras (1995), Kantabutra (2009) e Collins & Porras (1996), deveriam estar presentes na
formulação da visão corporativa, pois estes poderão ser úteis para a análise e criação da
taxonomia, sendo este o objetivo principal deste artigo. São eles:
a) A visão deve estar alinhada com os valores e princípios da empresa. Estes devem
resistir ao desgaste do tempo e ser a raiz mais profunda da organização. (COLLINS &
PORRAS, 1996);
b) Herrera (2007) diz que a visão orienta a organização numa meta de longo prazo
criando um compromisso no intento de atingir o propósito declarado. Uma posição
que a empresa pretende ocupar no futuro em seu mercado de atuação;
c) Collins & Porras (1996) ressaltam que, para a formulação da visão, é necessário que
a missão organizacional, ou seja, a finalidade básica, ou melhor, a razão da exigência
da empresa já esteja bem determinada. Andrade et al, (2006) coloca ainda que o
planejamento estratégico como um todo deve estar enraizado na compreensão do
passado;
d) A visão compartilhada sugerida por Senge (1994) deve mobilizar todas as pessoas
da corporação por um mesmo objetivo e, embora muitas organizações façam uso de
várias metas, a visão necessita somente de uma “supermeta” (COLLINS & PORRAS
1996), pois, do contrário, a organização poderia se dividir em prol de metas diferentes;
e) Collins & Porras (1996), também concordam em uma “supermeta” que seja clara,
para que seja possível a fácil memorização e compreensão por parte dos atores da
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empresa. Mas somente ser clara não basta, a visão deve também ser objetiva para
causar inspiração e consequentemente despertar a energia criativa. (SENGE, 1994;
COLLINS & PORRAS, 1995; KANTABUTRA, 2009). Para contribuir, Kalabutra
(2009) afirma que, além de ser clara e objetiva, a visão corporativa deve ser breve, no
máximo 22 palavras;
Sendo assim, a visão é a raiz do planejamento estratégico, este conceito é de suma
importância para o planejamento estratégico corporativo e para que visão corporativa seja
coerente e perene. Aspectos presentes em sua criação devem ser observados, pois a visão deve
ir além de sua simples declaração. A visão viável da TOC apresenta alguns destes aspectos.
2.2. Visão Viável - TOC
Como Nunes (2007) explicita, apesar das organizações atualmente terem objetivos de cunho
social, ambiental e cultural, nada seria destes se a meta principal, que é o lucro, não fosse
alcançada. Para que esta meta ser alcançada, necessitam-se estratégias e táticas que sejam
capazes de reproduzir o futuro desejado na realidade atual, transcorrido certo período de
tempo. A Visão Viável da TOC pode ser considerada uma ferramenta estratégica que mira o
referido lucro.
“Quando faço a análise de uma empresa só me dou por satisfeito quando vejo claramente
como é possível levá-la a obter, em menos de quatro anos, um lucro líquido equivalente ao
seu faturamento” (KENDALL, p. 3, 2005). Esta declaração é o marco de surgimento da
chamada “Visão Viável”. Com o uso dos métodos e técnicas baseados em pressupostos
desenvolvidos por Goldratt da teoria das restrições, algumas empresas teriam capacidade de
alcançar tal meta/visão. (KENDAL, 2005). Nunes (2007) considera que a Visão Viável da
TOC é uma síntese resultante da dinâmica dialética entre as sucessivas construções teóricas e
as respectivas aplicações práticas realizadas pelo grupo de pensadores que tomam como
referencial a Teoria das Restrições.
Como o presente artigo não mira o esclarecimento ou desenvolvimento das técnicas,
associadas à Visão viável da TOC, embora estas tenham grande relevância nos ambientes
atuais de negócios (marketing, logística, produção, vendas e custos), considera-se aqui a visão
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viável somente com a seguinte declaração: “atingir no prazo de quatro anos um lucro líquido
igual às atuais receitas provenientes de vendas”. (NUNES, 2007). A seguir a abordagem da
questão de proposta de taxonomia para a criação de uma visão corporativa coerente com
objetivos e missão das organizações.
2.3. Taxonomia
Segundo Campos e Gomes (2008), a taxonomia, originalmente ciência das leis da
classificação de formas vivas usada na botânica e zoologia para classificar família, gênero ou
espécie, atualmente é muito usada para a classificação e organização de informações nas
corporações ou mesmo na comunidade acadêmica. O método taxonômico não seria apenas
uma abordagem descritiva, pois pode ser usada para entender o porquê de diferentes tipos de
categorizações.
3. Metodologia
3.1. Coleta de dados
A fonte dos dados primários para análise foi a revista EXAME – Maiores e melhores (2009).
Esta revista aborda assuntos relacionados a negócios e finanças das maiores empresas
brasileiras. Em pesquisa realizada, ranqueou as 500 maiores empresas do Brasil, tendo como
critério de avaliação o faturamento anual. Através desta base de dados, foi possível identificar
as 100 maiores empresas do Brasil e posteriormente localizar suas respectivas visões
corporativas. A procura das visões, foram realizadas no site das empresas, em contato direto
e em trabalhos acadêmicos.
3.2. Proposta de taxonomia
Primeiramente foram criadas categorias através da pesquisa na literatura. Considerando
alguns autores cujas pesquisas continham elementos básicos a serem considerados para a
criação da visão corporativa de uma empresa. (ANDRADE et al, 2006; SENGE, 1994;
COLLINS & PORRAS, 1995; COLLINS & PORRAS, 1994; KANTABUTRA, 2009). Em
seguida, foram adicionadas outras categorias, que não tinham sido mencionadas pela literatura
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(táxons) e que poderiam acrescentar qualidade à proposta de taxonomia, através da análise das
visões corporativas anteriormente coletadas.
3.3. Aplicação da proposta
Para submeter à taxonomia proposta um teste que pudesse comprovar sua robustez, todos os
dados coletados, ou seja, todas as visões corporativas coletadas das 100 maiores empresas do
Brasil e a Visão Viável da TOC foram confrontadas com o esquema taxonômico criado. Por
fim, realizou-se uma análise da frequência de cada categoria taxonômica com base nos dados
coletados.
4. Resultados
4.1. Dados coletados
Foram catalogadas as 100 maiores empresas do Brasil, segundo a revista EXAME, conforme
já citado, estas dos mais variados setores industriais, estados e nacionalidades, considerando o
controle acionário. Porém, somente em 85 empresas foi possível localizar a visão corporativa,
seguindo a metodologia de procura já relatada. Na maioria destas, a visão estava explícita na
forma de declaração, mas, em algumas, a visão estava localizada e implícita, em meio aos
valores, filosofia e missão da empresa. Nesses casos, a visão foi depreendida de maneira
empírica.
4.2. Taxonomia
Após a consolidação de todas as visões encontradas e a análise dos referencias teóricos
encontrados, procurou-se a primeira classificação a fim de facilitar a posterior distinção das
subcategorias que poderiam ser criadas. Abaixo serão detalhadas as categorias primárias em
conjunto com suas respectivas subcategorias de primeira ordem.
4.2.1. Temporalidade
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Esta categoria expressa em que tempo futuro a visão, ou seja, o desejo de futuro deveria estar
realizado. A seguir serão relatadas as subcategorias quanto à temporalidade das visões
corporativas.
a) Fixa - Esta subcategoria determina um tempo FIXO para o tal monitoramento, ou seja,
o tempo não se altera e o ponto de controle já é pré-determinado na formulação da
visão corporativa. Nesta subcategoria estaria quantificado o chamado “longo prazo”
sugerido por Collins & Porras (1995);
Ex: “2020 - A Transpetro transportadora do sistema Petrobras, será inovadora e
multimodal, pronta para atuar no exterior de acordo com as necessidades da
Petrobras” Transpetro.
b) Contínua - O tempo de monitoramento torna-se imutável, sendo assim, o controle pode
ser feito com mais frequência já que a temporalidade é contínua. Aqui o “longo prazo”
é fixo e não delimitado como pela subcategoria Fixa. Henner (2007) sugeriu como
Visão Viável da TOC: “atingir no prazo de quatro anos um lucro líquido igual às
atuais receitas provenientes de vendas” (NUNES, 2007) - Visão viável da TOC;
c) Indeterminada - Na subcategoria indeterminada, o período não é claro e o ponto de
controle pode passar a ser não “monitorável” quanto à temporalidade. Esta
subcategoria atende as sugestões de ALLEN (1998) que sugere a “relativa
atemporalidade”, pois acredita que a visão deve ser descrita de tal forma como se
nunca fosse mudar.
Ex: “Ter em cada mercado uma presença significativa. O crescimento do mercado deve
reforçar a independência e a valorização da empresa a longo prazo.” Carrefour.
4.2.2. Desejo
Considera-se o desejo o “coração” da visão corporativa, pois sem esta categorização,
provavelmente a visão não seria conhecida propriamente como visão corporativa. O desejo
nada mais é do que a classificação quanto à visualização do presente e do futuro enquanto
conceito de visão corporativa (ANDRADE et al, 2006; SENGE, 1994; COLLINS &
PORRAS, 1995).
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a) Quantitativa – Para valoração de atributos que realmente possam ser mensurados.
Quanto à criação desta subcategoria, entende-se que, como as pessoas gostam de
cruzar a linha de chegada (COLLINS & PORRAS, 1995), elas devem saber onde está,
exatamente, esta linha.
Ex: “Ser o grupo de comunicação móvel líder no Brasil em rentabilidade e em número de
clientes.” Claro
b) Qualitativa – Valoração onde não é possível a mensuração. Contrário aos desejos
quantitativos, o desejo se torna subjetivo. Devido a inexistência de uma abordagem
quantitativa, normalmente são usados para a motivação e criação da energia positiva
referida por Senge (1994).
Ex “Melhorar a vida, aperfeiçoando a cadeia global de alimentos e agronegócio.” Bunge
Fertilizantes
4.2.3. Delimitação Geográfica
Existem visões que, da mesma forma que a temporalidade, limitam o desejo, mas com base
em aspectos geográficos. Funciona como se fosse o ambiente específico onde realmente a
empresa quer que o desejo seja alcançado. Embora não abordada pela literatura, a categoria
foi criada através da análise prévia das visões corporativas catalogadas com delimitação para
controle, melhor visualização da linha de chegada (COLLINS & PORRAS 1995) e melhor
acompanhamento quanto ao atendimento do desejo contido na visão corporativa.
a) Específico – Subcategoria caracterizada por demarcar especificamente o ambiente em
que a empresa quer que o desejo seja alcançado;
Ex “Ser líder em qualidade, inovação, vendas e lucratividade da indústria automotiva na
América do Sul, com um time de alta performance e focado no desenvolvimento
sustentável.” Volkswagen.
b) Indeterminado – Referente às visões em que a delimitação carece de clareza na
delimitação geográfica e passa a ser passível de interpretações;
Ex: “Seremos a melhor opção no mercado regional e atuaremos no mercado
internacional, garantindo o nosso crescimento sustentável.” Refap.
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Entende-se, neste exemplo, o termo “regional” como vago, já que não explicita a
região de atuação.
4.2.4. Quantidade de objetivos
Em toda a pesquisa, foram encontradas visões dos mais variados tamanhos, formas e desejos e
esta categoria diferencia as visões quanto à quantidade de objetivos/metas.
a) Único – Existe somente um objetivo na visão corporativa. É uma subcategoria criada
para a classificação de visões que atendem à sugestão de Collins & Porras (1996)
quanto à existência de uma única “supermeta”, pois só assim a visão se tornaria clara,
inspiradora e motivadora da energia criativa. (ANDRADE et al, 2006; SENGE, 1994);
Ex: “Ser a melhor empresa de varejo do Brasil” Lojas Americanas.
b) Multiobjetivos – Ao contrário de uma “supermeta” que atingiria toda organização com
uma só meta, os multiobjetivos podem tornar a visão menos clara e inspiradora e
causar assim, o problema da falta de comprometimento referida por Senge (1994).
Ex: “Duplicar o valor dos negócios do Grupo até 2012, por meio da consolidação dos
principais negócios e da busca de oportunidades em novos segmentos ou nos
tradicionais e atingir padrões de classe mundial na operação e na gestão,
comparáveis aos das melhores empresas globais.” Votorantin Cimentos.
4.2.5. Explicitação do negócio
Algumas empresas optam pela explicitação dos setores em que atuam na própria visão como
forma de limitar o seu desejo. Da mesma forma que limita a visão a certo setor industrial, por
exemplo, pode ser usada como explicitação de parte da missão corporativa também citada por
Collins & Porras (1995) como componente importante na visão corporativa.
a) Explícito – Determina claramente o setor em que a empresa atua;
Ex “Ser a empresa de mineração líder em pelotização e reconhecida como uma
organização de classe mundial.” Samarco
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b) Indeterminado – A visão opta pela não explicitação do negócio, mantém a visão ampla
e, por conseqüência, não determina da linha de chegada.
Ex “Trabalhar com Espírito de Servir faz as pessoas mais felizes” TAM.
4.3. Esquema taxonômico
Segue na figura abaixo o esquema taxonômico proposto:
Figura 2 – Esquema taxonômico proposto
Delim. Geográfica
Contínuo Fixo Indeterm.
QuantitativaQualitativa
Explícito
Expecífica Indeterm.UnicoMulti-
objetivos
VISÃO CORPORATIVA
Desejo
Explic. NegócioTempora
tlidade
Quant.
Objetivos
Indeterm.
Fonte: Autores (2013)
4.3.1 Visão Viável X Esquema Taxonômico
Com base na taxonomia proposta e anteriormente descrita, a visão viável, “atingir no prazo
de quatro anos um lucro líquido igual às atuais receitas provenientes de vendas” (NUNES,
2007), foi classificada da seguinte forma:
- Temporalidade: Contínua – Explica-se pelo fato de citar “quatro anos” na visão.
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- Desejo: Quantitativo – A natureza do desejo é simplesmente financeira, ou seja,
através desta visão a empresa mira o crescimento econômico/financeiro da empresa.
- Explicitação do Negócio: Indeterminado – Como Goldratt declarou esta visão em um
âmbito global, sem distinção de setores industriais.
- Delimitação Geográfica: Indeterminada – Pelos mesmos motivos citados quanto à
explicitação do negócio, não foram localizados elementos que pudessem explicitar tal
delimitação.
- Objetivo: Único – A visão é clara e contém somente o objetivo de transformar o
faturamento em lucro líquido em quatro anos.
4.3.2 Maiores Empresas do Brasil X Esquema Taxonômico
Para comprovar a robustez da taxonomia proposta, todas as visões corporativas catalogadas
foram confrontadas com o esquema taxonômico criado, da mesma forma que houve a
categorização da Visão Viável. Abaixo segue a análise de frequência relativa do total de 85
visões corporativas encontradas e catalogadas.
Tabela 1 – Frequência da categoria Temporalidade
Fonte: Autora (2013)
Poucas foram as visões com a temporalidade determinada (fixa ou contínua), e em 90,6% das
visões o longo prazo é indeterminado. Nota-se também que não foram encontradas visões
com temporalidade contínua.
Tabela 2 – Frequência da categoria Desejo
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Fonte: Autora (2013)
Na categoria desejo, nenhuma visão foi puramente quantitativa, pois, quando houve a
valoração quantitativa, sempre houve um desejo qualitativo e isto justifica a soma relativa das
duas subcategorias terem apresentado valores superiores a 100%.
Tabela 3 – Frequência da categoria Explicitação do negócio
Fonte: Autores (2013)
Nesta categoria, houve melhor distribuição entre as visões corporativas catalogadas e a
maioria optou pela explicitação do negócio como um dos fatores delimitantes.
Tabela 4 – Frequência da categoria Quantidade de objetivos
Fonte: Autores (2013)
Distribuição praticamente igual, pois metades das visões corporativas catalogadas adotam
uma única meta.
Tabela 5 – Frequência da categoria Delimitação Geográfica
Fonte: Autores (2013)
Por fim, 55% das visões catalogadas optaram pela especificação geográfica, que, como a
explicitação do negócio e a temporalidade, inferem as condições para que a meta seja
atingida.
5. Considerações Finais
A partir da pesquisa apresentada, percebe-se claramente a possibilidade de uma taxonomia
para as visões corporativas atuais. O presente estudo pôde desenvolver uma proposta de
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taxonomia das visões corporativas atuais orientadas por um referencial teórico e por uma
pesquisa empírica das visões das 100 maiores empresas do Brasil. Embora existam muito
mais subcategorizações a partir do objeto proposto, foi possível sugerir a taxonomia para dois
níveis hierárquicos de categorizações e estas foram eficazes considerando que todas as visões
corporativas catalogadas continham os cinco elementos principais (temporalidade,
explicitação do negocio, desejo, delimitação geográfica e quantidade de objetivos). Como foi
feito na seção de comparação entre a Visão Viável da TOC e a taxonomia proposta, em todas
as 85 visões encontradas, foi possível localizar tais táxons e não foi encontrada nenhuma
possível nova categoria de primeira ordem para a taxonomia proposta.
Esta pesquisa atendeu os objetivos propostos e, principalmente, pode ser útil para possíveis
trabalhos futuros relacionados com planejamento estratégico ou especificamente com visão
corporativa. Pode-se notar pouco entendimento do conceito de visão e, por consequência, o
uso apenas de cunho ideológico em diversas organizações. Sendo assim, a pesquisa pode
colaborar para a criação de metodologias para construção de visões corporativas que
realmente funcionem como bússola para a corporação e que sejam capazes de movimentar
seus atores através da “energia positiva” e do comprometimento coletivo.
REFERÊNCIAS
ALLEN, Richard. O Processo de criação da visão. HSM Management, 1998.
ANDRADE, A. L.; SELEME, A.; RODRIGUES, L. H.; SOUTO, R.. Pensamento Sistêmico –
Caderno de Campo. Porto Alegre: Bookman, 2006.
BARNEY, J. B. Gaining and Sustaining Competitive Advantage. 2. ed. New Jersey: Pearson, 2002.
BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. Administração estratégica e vantagem competitiva. São Paulo:
Prentice Hall Brasil, 2007.
BART, C. BAETZ M. The relationship between mission statements and firm performance: an
exploratory study. Journal of Management Studies, vol. 35, p. 823 – 826, 1998.
BIBNETTI, L; LAUTERT, B; WIETHAEUPER,D. Os slogans da estratégia. HSM Management
Updade. Vol 23, 2005.
CAMPOS, M. L. A. ; GOMES, H. E. Taxonomia e Classificação: princípios de categorização.
DataGramaZero-Revista de Ciência da Informação. Rio de Janeiro, v. 9, nº4, 2008.
COLLINS, J. C. ;PORRAS, J. I. Building Your Company’s Vision. Harvard Business Review, p. 65
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