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Universidade Tuiuti do Paraná Rodrigo Bezerra da Trindade TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2007

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Universidade Tuiuti do Paraná

Rodrigo Bezerra da Trindade

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA 2007

Rodrigo Bezerra da Trindade

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

curso de Medicina Veterinária da Faculdade de

Ciências da Saúde da Universidade Tuiuti do

Paraná, como requisito parcial para obtenção do

título de Médico Veterinário.

Orientador(a): Dra. Ana Laura Angeli

CURITIBA 2007

TERMO DE APROVAÇÃO

Rodrigo Bezerra da Trindade

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Este trabalho de conclusão de curso e esta monografia foram julgados e

aprovados para obtenção do título de Médico Veterinário no programa de conclusão

de curso em Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 29 de maio de 2007.

_______________________________

Universidade Tuiuti do Paraná

Medicina Veterinária

Orientador:

________________________________________________

Profª Dra. Ana Laura Angeli

________________________________________________

Prof.ªDra. Elza Maria Galvão Ciffoni

_______________________________________

Prof.Antônio Carlos do Nascimento

Reitor

Profº Luiz Guilherme Rangel Santos

Pró-Reitor Administrativo

Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos

Pró-Reitora Acadêmica

Profª Carmen Luiza da Silva

Pró-Reitor de Planejamento

Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos

Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão

Profª Elizabeth Tereza Brunini Sbardelini

Secretário Geral

Profº João Henrique Ribas de Lima

Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Sa úde

Profº João Henrique Faryniuk

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária

Profª Neide Mariko Tanaka

Coordenador de Estágio Curricular do Curso de Medic ina Veterinária

Profº Elza Maria Galvão Ciffoni

Metodologia Científica

Profª Ana Laura Angeli

CAMPUS CHAMPAGNAT Rua .Marcelino Champagnat, 505 - Mercês CEP 80.215-090 – Curitiba – PR Fone: (41) 3331-7953

Dedicatória

Eu dedico este trabalho às pessoas que me ajudaram e estivem

presente durante a realização deste e contribuíram para que concluísse meu curso

de Medicina Veterinária, meus pais Ricardo Bezerra da Trindade e Sueli Bezerra da

Trindade, minha irmã Milena Trindade e Kelly Ribeiro uma personalidade muito

especial que esteve ao meu lado durante a graduação.

APRESENTAÇÃO

O estágio curricular obrigatório é parte integrante do currículo do curso

de Medicina Veterinária, e foi realizado no período de 26 de fevereiro a 27 de abril

de 2007 nas dependências do Hospital Veterinário da Universidade Paranaense

(UNIPAR), totalizando 350 horas. A UNIPAR está localizada no município de

Umuarama,Paraná. O estágio foi voltado para as áreas de clínica médica e cirúrgica

de grandes animais (bovinos, eqüinos, suínos, caprinos e ovinos), sob a orientação

profissional do Dr. Luis Rômulo Alberton, diretor do Hospital Veterinário da UNIPAR

e orientação acadêmica da professora doutora Ana Laura Angeli pela Universidade

Tuiuti do Paraná. Este trabalho tem como objetivo descrever as atividades realizadas

durante este período, incluindo encefalite eqüina protozoária, desmotomia medial

patelar e mastectomia bilateral total.

DESCRIÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO

O Hospital Veterinário da UNIPAR (figura 01), está em funcionamento desde

1998 e sua estrutura física dispõe de uma ampla área com local para recepção dos

animais, baias, balança, tronco de contenção, tronco para tratamento de casco, sala

de curativos, sala para demais equipamentos, farmácia completa, laboratório de

análises clínicas, laboratório de patologia clínica, sala de necrópsia e sala cirúrgica

completa. As instalações incluem ainda, área de pastejo para animais enfermos ao

lado a clínica, mangueira com tronco de contenção para vacinação e procedimentos

realizados nos animais soltos a pasto, sala de reprodução com conservação de

sêmen em criogenia, equipada com pipetas e demais equipamentos para

reprodução, aprisco para caprinos e ovinos, instalações para suínos, leiteria e sala

de ordenha. Junto a esta estrutura, funciona a clínica médica e cirúrgica de

pequenos animais e suas devidas instalações, que não serão relatados no presente

trabalho.

Figura 01 – Entrada do Hospital Veterinário da UNIPAR.

RESUMO

Durante o estágio curricular realizado entre os dias 26 de fevereiro de 2007 e 27 de

abril de 2007 no HV da UNIPAR, foram observados casos clínicos e cirúrgicos em

diversas espécies. Dispostos em totalidade da seguinte forma em relação à espécie

animal: 8 ocorrências em bovinos leiteiros, 8 em bovinos de corte, 7 em eqüinos e 2

ocorrências em ovinos. Neste presente trabalho serão citados alguns casos

acompanhados. Estes foram escolhidos pelo maior interesse pessoal e por terem

sido os mais ricos em termos de diagnóstico, exames laboratoriais e procedimentos

em geral. Os casos são mastectomia bilateral total em um bovino, devido a um

mastocarcinoma; mieloencefalite protozoária eqüina e desmotomia medial patelar

em um eqüino.

ABSTRACT

During the carried through curricular period of training it enters days 26

of February of 2007 and 27 of April of 2007 in the HV of the UNIPAR, had been

observed clinical and surgical cases in diverse species. Made use in totality da

following form in relation à animal species: 8 occurrences in milk bovines, 8 in cut

bovines, 7 in equines and 2 occurrences in ovinos. In this present text the cases

folloied and with bigger emphasis of bigger personal and richer interest in diagnosis

terms will be cited, laboratoriais examinations and procedures in general; amongst

them total bilateral mastectomia in a bovine, which had to a mastocarcinoma; equine

mieloencefalite caused by protozoários and medial desmotomia to patela.

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO......................................................................................10

2. RELATO DOS CASOS CLÍNICOS........................................................12

2.1 Mieloencefalite Eqüina Protozoária .................................................12

2.1.1 Revisão de Literatura................................................................13

2.1.2 Discussão .................................................................................21

2.2 Mastectomia Bilateral Total .............................................................22

2.2.1 Revisão de Literatura................................................................23

2.2.2 Discussão .................................................................................30

2.3 Desmotomia Medial Patelar.............................................................31

2.3.1 Revisão de Literatura................................................................32

2.3.2 Discussão .................................................................................38

3. BIBLIOGRAFIA .....................................................................................39

LISTA DE FIGURAS E TABELAS

Gráfico 01 – Descrição dos casos acompanhados no estágio...................................11

Figura 02 – Bovino com neoplasia na glândula mamária...........................................23

Figura 03 – Anatomia úbere bovino...........................................................................28

Figura 04 – Sistema circulatório, vascularização úbere bovino.................................29

Figura 05 – Animal em estação para Desmotomia Medial Patelar............................32

Figura 06 – Animal após Desmotomia Medial Patelar...............................................32

10

1. INTRODUÇÃO

No estágio curricular de conclusão de curso foram desenvolvidas várias

atividades que envolveram a clínica médica, clínica cirúrgica e demais atividades da

rotina do profissional da área de Medicina Veterinária. Como por exemplo, recepção

do animal, anamnese, abordagem, métodos de contenção das espécies

acompanhadas, exame clínico em geral, coleta de material para exames

laboratoriais (soro sangüíneo, plasma sangüíneo, liqüor, medula óssea, urina e

fezes), manipulação de equipamentos de diagnóstico por imagem (ultra-som e raio-

X), manipulação de fluidos e medicamentos (ringer com lactato, glicofisiológico, soro

fisiológico, solução de gentamicina, etc), para uso em grandes quantidades, coleta

de sangue para transfusão sanguínea, manipulação de sondas orogástricas e

nasogástricas, administração de fluidos (oral, parenteral), rotina de vacinação e

administração de medicamentos, área de reprodução e obstetrícia (coleta de sêmen,

inseminação artificial, partos), rotina cirúrgica, preparação do animal para cirurgia,

paramentação, instrumentação, pós-cirúrgico, farmacologia, prescrição de

medicamentos e atendimento aos proprietários dos animais.

A distribuição dos casos acompanhados de acordo com a espécie e a

doença em questão está descrita no Gráfico 01.

11

Gráfico 01 – Descrição do número de casos de podologia, gastroenterologia,

pneumologia, hematologia, sistema reprodutor, ortopedia, neurologia e outros,

observados em bovinos, eqüinos, suínos e ovinos no período de estágio na

UNIPAR.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Bovinos Equinos Suinos Ovinos

Podologia

Gastro

Pneumologia

Parasitose

SistemaReprodutorOrtopedia

Neurologia

12

2. RELATO DOS CASOS CLÍNICOS

2.1 Mieloencefalite Protozoária Eqüina

O paciente da espécie eqüina meio sangue quarto de milha, com

aproximadamente sete anos chegou ao HV da UNIPAR no dia 19 de abril de 2007

para internamento, sendo que este já havia apresentado os mesmo sinais clínicos

em outubro de 2006 porém menos acentuados. A principal queixa do proprietário era

que o animal apresentava incoordenação motora dos membros pélvicos, dificuldade

de locomoção e após exames complementares e a partir dos sinais clínicos a

principal suspeita foi mieloencefalite protozoária eqüina. Esta foi confirmada pela

presença de hemoparasitas através de esfregaço sangüineo. Ao realizar o

hemograma foi observada a presença de anemia macrocítica normocrômica, desvio

de neutrófilos à esquerda, leucocitose e neutrofilia. O animal estava com a

temperatura normal, tempo de preenchimento capilar de dois segundos, bem nutrido,

fezes e urina sem alterações e mucosas hipocoradas.

O tratamento indicado no primeiro atendimento em 2006 foi:

- Diclazuril 30g (5g/100kg V.O, SID), por 21 dias.

- Sulfadoxina+trimetoprima (10mg/kg, I.M dose única).

- Vitaminas do complexo B, (10ml, IM, a cada 72h).

- DMSO (4g/kg, E.V BID).

- Dipropionato de Imidocarb (1ml/50kg, IM).

- Ringer Lactato de sódio 20 litros E.V.

Durante o tratamento em 2006, o animal permaneceu por um mês internado

no HV da UNIPAR e ficou em observação, este apresentou resposta positiva ao

tratamento, e recebeu alta. O animal retornou dia 19 de abril de 2007 com os

13

mesmos sinais, porém mais agravante em relação à primeira consulta clínica. Foi

então sugerida a eutanásia.

2.1.1 Revisão de Literatura

O agente etiológico da mieloencefalite protozoária eqüina (MEP) é o

protozoário Sarcocystis neurona. A encefalomielite também pode ser causada pelas

Nespora spp. (DUBEY et al., 1991).

A doença foi relatada pela primeira vez em 1974 nos Estados Unidos.

Atualmente estima-se que mais de 50% dos eqüinos norte-americanos tenham sido

expostos ao parasito (DUBEY & MILLER, 1986). Em 1986, Barros et al. relataram

um caso de mieloencefalite por protozoários em um eqüino de 10 anos de idade, no

Sul do Brasil.

Sua distribuição parece corresponder à do suposto hospedeiro

definitivo, Didelphis virginiana, ou espécies afins, como a D.marsupialis e

D.albiventris na América do Sul. A doença acomete eqüinos de dois meses a 19

anos de idade. Estudos soroepidemiológicos, realizados com base no teste Western

immunoblot de anticorpos múltiplos contra a S.neurona, indicam que 45 a 53% dos

eqüinos estão expostos ao agente, mas não desenvolvem a doença (RADOSTITS,

2002).

Estudos criteriosos revelaram a alta prevalência de anticorpos contra a

S.neurona no líquido cefaloraquidiano de eqüinos normais; 75% de 28 potros da

raça PSI, com pouco mais de um ano e clinicamente normais apresentavam

anticorpos no LCR (RADOSTITS, 2002).

Acredita-se que S.neurona realize o ciclo biológico em dois

hospedeiros, comuns a outras Sarcocystis e Toxoplasma spp. O hospedeiro

definitivo é o gambá, D.virginiana, e os hospedeiros intermediários pertencem a uma

14

extensa faixa de aves, psitacídeos e columbiformes, porém nem todas ainda

identificadas. O hospedeiro definitivo infecta-se ingerindo cistos da S.neurona

presentes na musculatura do hospedeiro intermediário. Os oocistos podem

permanecer infectantes no meio durante meses, mas considerando o

comportamento dos oocistos de outras Sarcocystis spp., são provavelmente

destruídos pela dessecação ou umidade excessiva. Aves e insetos também atuam

como hospedeiros de transporte. Os esporocistos ingeridos do hospedeiro

intermediário sofrem esquizogonia, originando formas infectantes na musculatura.

Os eqüinos se infectam ingerindo o agente no solo liberado nas fezes dos

hospedeiros definitivos, e são chamados de hospedeiros aberrantes, pois a

S.neurona não completa a esquizogonia, permanecendo na forma de merozoítos

não-infectantes no tecido nervoso. Por isso, os eqüinos não transmitem a infecção

para outros eqüinos ou outras espécies animais (RADOSTITS, 2002).

A patogênese na MEP não é conhecida em detalhes. Admite-se que

após a infecção, a qual provavelmente ocorre por ingestão, o esporocisto deixa a

forma de cisto e invade o eqüino por via desconhecida na forma de esquizontes.

Penetram nas células do sistema nervoso central, como os neurônios, células da glia

e macrófagos intratecais. Esses equizontes multiplicam-se no interior da célula, fato

evidenciado pela presença de merozoítos. A infecção produz inflamação não

purulenta, caracterizada pelo acúmulo de linfócitos, neutrófilos, eosinófilos e células

granulosas compostas. A infecção dos neurônios e conseqüente reação inflamatória

provocam alterações da função neurológica normal, fazendo surgirem sinais clínicos,

como fraqueza, atrofia muscular e alterações na propriocepção. O período de

incubação na infecção experimental de eqüinos jovens situa-se na faixa de 28 a 42

dias, porém na doença natural, esta é desconhecida (RADOSTITS, 2002).

15

As características clínicas da MEP são muito vagas. Nas zonas

endêmicas, deve-se proceder ao diagnóstico em qualquer eqüino que apresente

sinais clínicos associados ao sistema nervoso. O S.neurona pode infectar qualquer

área cerebral ou da medula espinhal e, no mesmo animal, pode acometer mais de

um local. Os sinais da doença variam, podendo ocorrer modificações quase

imperceptíveis no andar, atrofia muscular e convulsões. O início dos sinais é

insidioso e gradativo ou agudo, progredindo rapidamente. Os eqüinos acometidos

não apresentam aumento de temperatura ou da freqüência cardíaca, a não ser que

ocorram complicações de ordem neurológica (RADOSTITS, 2002).

Ataxia espinhal, evidenciada por fraqueza, hipometria e hipermetria, além de

defeitos na propriocepção, são manifestações comuns na MEP. O acometimento

espinhal ou cervical de abrangência multifocal, acomete os quatro membros, e as

lesões situadas posteriormente à intumescência cervical provocam sintomas apenas

nos membros posteriores. Os sinais de ataxia espinhal variam desde alterações

muito discretas no andar, de difícil diferenciação da manqueira indeterminada

conseqüente à enfermidade musculoesquelética, até a ataxia espinal verdadeira,

que se evidencia por oscilações de tronco, arrastamento do casco e torção dos

posteriores com queda espontânea e permanência em decúbito. A assimetria dos

sinais clínicos, na qual um dos membros se mostra mais alterado do que o membro

colateral é altamente sugestivo de Encefalopatia Eqüina por Protozoários, uma vez

que a mielopatia cervical estenosante e a mielopatia eqüina degenerativa

normalmente causam ataxia bilateral ou simétrica (RADOSTITS, 2002).

Lesões na medula sacral produzem sinais de síndrome da cauda

eqüina com paresia da cauda e incontinências urinária e fecal. As lesões que

16

acometem a substância cinzenta da medula espinhal causam atrofia muscular

assimétrica (unilateral) localizada, ausência de reflexos e sudorese em determinadas

áreas. Os músculos freqüentemente acometidos são os músculos quadríceps,

bíceps femoral, epaxial e o grupo espinhoso/infra-espinhoso. A encefalomielite

eqüina por protozoários pode-se apresentar como agressão ao plexo braquial,

evidente como paralisia do nervo radial (RADOSTITS, 2002).

A doença do nervo cranial é manifestação comum da MEP. As

síndromes comuns são, doença vestibular evidente pelo andar em círculos,

nistagmo, inclinação da cabeça e queda para o lado acometido, paralisia unilateral

do nervo facial evidenciada por orelha pendente, perda de reflexo palpebral ou

corneal bem como indiferença ao ser ameaçado no lado afetado, além da distorção

pronunciada do lábio superior e narinas no lado lesado, disfagia com deslocamento

dorsal permanente do palato mole, paralisia na língua, atrofia do masseter e

fraqueza e perda de sensibilidade nas narinas e pele da face. A Encefalopatia

Eqüina por Prototozoários também pode provocar alterações de personalidade e

comportamento, movimentos bruscos da cabeça e convulsões (RADOSTITS, 2002).

Não são observadas alterações características no hemograma ou

bioquímica sérica. O diagnóstico baseia-se no encontro de anticorpos S.neurona no

soro ou no liqüor, pela técnica de Western blot, apesar de não estarem bem

definidas a especificidade e sensibilidade dela (RADOSTITS, 2002).

A interpretação dos resultados de Western blot por meio da analise da IgG

contra S.neurona, presente no liqüor, é bastante problemática em virtude da

possibilidade de contaminação de amostras de sangue durante a colheita e da falha

de clareza sobre a especificidade e sensibilidade do teste. As estimativas que

indicam 90% dessas características baseiam-se no exame post-mortem de

17

Encefalopatia Eqüina por Protozoários. É provável que esta técnica apresente alta

sensibilidade (poucos resultados falsos-negativos), mas talvez baixa especificidade

(maior número de resultados falsos positivos).

A detecção de concentrações elevadas dos anticorpos no liqüor em eqüinos

normais é preocupante, sugerindo especificidade ainda mais baixa. A alta

sensibilidade no teste significa que o valor esperado de positivos em um teste

positivo para eqüinos com sinais inequívocos de doença nervosa consistente com

MEP encontra-se próximo do valor real. No entanto, aquele valor em testes

preditivos positivos mostra-se pouco consistente, quando se trata de eqüinos que

apresentam sintomas muito vagos ou ausência deles na doença nervosa. O valor

esperado de negativos encontra-se próximo do real em qualquer dessas situações.

No entanto, um resultado negativo, obtido com o Western blot do liqüor,

praticamente exclui a doença entre os prováveis diagnósticos, e resultados positivos

de eqüinos com alta probabilidade da doença, verificada em pré-testes, contribuem

pouco para a confirmação do diagnóstico. Testes positivos em eqüinos com baixa

probabilidade de estarem acometidos, como os testes anteriores realizados para a

comercialização dos referidos animais, não indicam que os eqüinos têm a doença e

praticamente não mostram qualquer utilidade para a avaliação dos animais

(RADOSTITS, 2002).

A análise de outras características do liqüor tem valor limitado do diagnostico

da MEP. A verificação da atividade de creatina quinase nesse líquido não demonstra

qualquer valor diagnóstico (RADOSTITS, 2002).

As lesões de necrópsia limitam-se à medula espinhal e cérebro, com

exceção da atrofia muscular neurogênica. Lesões macroscópicas, como hemorragia

e malácia, podem ser observadas nos tecidos do sistema nervoso central. Não

18

possuem simetria, sendo mais encontradas nas protuberâncias cervical e lombar da

medula espinhal. O exame histológico revela necrose multifocal no tecido nervoso

com infiltração de macrófagos, linfócitos, neutrófilos e ocasionalmente, eosinófilos. A

reação é predominantemente do tipo não-purulento e normalmente apresenta alguns

depósitos perivasculares. Esquizontes e merozoítos livres podem ser observados

nos tecidos, porém serão dificilmente localizados, se não forem empregadas

técnicas de imunohistoquímica. A sensibilidade para a detecção dos parasitas em

cortes de tecido nervoso corados pela hematoxilinaeosina, nos casos que

apresentam alterações histológicas sugestivas de MEP, é apenas 20%. A

sensibilidade aumenta para 51%, quando são empregadas técnicas de

imunohistoquímica. A mesma dificuldade de interpretação, encontrada quando se

utilizam amostras de liqüor colhidas ante-mortem, é verificada quando as amostras

do líquido são colhidas post-mortem (RADOSTITS, 2002).

Um dos maiores desafios em tratar essa doença é começar o tratamento o

mais cedo possível, pois mesmo que o parasita seja destruído, os cavalos afetados

clinicamente ainda ficarão com danos no sistema nervoso central e por isso, suas

performances estarão comprometidas. Quanto mais cedo o tratamento começar,

maiores serão as chances do cavalo de se recuperar (RADOSTITS, 2002). É

recomendado o tratamento, via oral, com 20mg/Kg de sulfadiazina e 1mg/Kg de

pirimetamina, uma vez ao dia, ou 15 – 20mg/Kg de trimetoprim/sulfa e 1mg/Kg de

pirimetemina duas vezes ao dia por 30 dias. A presença do alimento no trato

digestivo pode comprometer a absorção desses medicamentos, portanto a

alimentação deve ser retirada uma a duas horas antes e após o tratamento

(THOMASSIAN, 2005).

19

Devido à necessidade da resposta imune celular-mediada para o

controle da proliferação dos protozoários, a administração de corticoesteróides a

pacientes com MEP é contra-indicada (SMITH, 1993).

Não existe garantia de que o tratamento tenha 100% de eficácia. A

medicação pode oferecer simplesmente 70% de chance de melhora ou resolução

dos sinais clínicos. Pesquisadores acreditam que a medicação prescrita que se

supunha ser eficaz em alguns casos pode apenas ser efetiva deprimindo a

viabilidade do parasita temporariamente, permitindo assim que o sistema imune do

cavalo controle a infecção durante o período de tratamento. Apesar disso, os

animais afetados em geral não conseguem se recuperar completamente mesmo

após terapia prolongada e intensiva. Mesmo após terapia prolongada e intensiva,

alguns animais debilitados não conseguem se recuperar completamente (SMITH,

1993).

A prevenção da MEP é difícil. Pesquisas atuais têm tentado identificar os

fatores de risco associados com o desenvolvimento da doença. Um programa

preventivo consiste em um manejo adequado da vida selvagem nos estábulos e na

propriedade. (A prevenção do acesso aos gambás às cocheiras e estábulos é uma

importante medida a ser tomada, uma vez que a ingestão de fezes do gambá é a

principal forma de transmissão da doença (THOMASSIAN, 2005).

Os gambás são onívoros e, portanto, grãos, rações felinas ou caninas

úmidas ou secas, frutas e lixo, os atraem. Por esse motivo não se devem deixar

alimentos de eqüinos e animais de estimação no ambiente externo; os sacos abertos

de ração e o lixo devem ser mantidos em recipientes de metal fechados, deve-se

eliminar os comedouros de aves e também remover as frutas caídas (MACKAY et

al., 2001).

20

Recentemente foi desenvolvida uma vacina contra MEP, que

atualmente só está liberada nos Estados Unidos. Ela é produzida a partir de

protozoários mortos, e sabe-se que não provoca efeitos colaterais nos animais,

entretanto, testes de eficácia e potência ainda estão sendo desenvolvidos. A

recomendação para a vacina consiste de duas aplicações: a primeira dose deve ser

seguida de uma segunda dosificação, três a seis semanas depois, com reforço anual

(SILVA, 2003).

21

2.1.2 Discussão

A conduta do médico veterinário responsável foi correta sugerindo o

tratamento para a mieloencefalite protozoária eqüina. Porém devido ao diclazuril ser

um anticoccidiano de alto valor comercial e não oferecer garantias de que o animal

se recupere, leva-nos a optar pela eutanásia na maioria dos casos. Mas o

proprietário concordou em tentar salvar o animal e foi realizado o tratamento. Após

três meses, este animal retornou com os sinais ainda mais agravantes, somente

então foi sugerida a eutanásia. O tratamento primário que este animal recebeu no

final de 2006, que consistiu na utilização de antiinflamatórios não esteróides

(AINES), e terapia contra anemia parasitaria favorecendo assim a eliminação do

agente infeccioso, foi bem aplicado e obteve sucesso. Porém o período de

tratamento em relação ao diclazuril na opinião foi muito curto de apenas 21 dias.

Segundo Silva et. al. a terapia deve durar de 3 a 6 meses, caracterizada pela

melhora dos sinais clínicos e ausência de anticorpos para S.neurona no líqüor. A

suplementação com vitamina E (8000 UI/dia) pode ser útil no tratamento de MEP,

uma vez que possui atividade antioxidante que resulta em propriedades

antiinflamatórias quando em altas concentrações no sistema nervoso central.

22

2.2 Mastectomia Bilateral Total

Animal da espécie bovina do sexo feminino da raça Bramhan, com

aproximadamente 17 meses e peso aproximado de 630kg, chegou ao HV da

UNIPAR com aumento de tecido diferenciado na região mamária (figura 02). À

palpação notou-se que as duas mamas do lado esquerdo estavam afetadas por uma

massa anormal (aproximadamente 25cm) com consistência firme e aparentemente

não havia aderência no tecido e apresentava uma certa mobilidade. A imagem

ultrasonográfica revelou presença de massa tumoral, descartando a possibilidade de

abscesso. A biopsia aspirativa determinou e confirmou a suspeita clínica de tumor

mamário sendo este mastocarcinoma de células escamosas. Com base no

diagnostico optou-se por realizar a mastectomia bilateral total, e para isto

submeteram o animal pré-cirurgicamente a jejum de 48 horas para alimentos e 24

horas de água.

Em plano anestésico, incisão elíptica nas margens do tecido mamário,

divulsão junto à parede tecidual interna do epitélio com auxilio de uma tesoura curva

e pinça anatômica. Localizar artéria e veia mamária com intuito de reduzir a

hemorragia dos vasos e capilares superficiais descendentes. Retirada do tecido

(úbere) mamário e junto a ele massas tumorais. Foi realizada hemostasia

permanente com fio de sutura absorvível dos vasos, e aproximação das camadas

musculares internas para diminuir o espaço morto presente, instalação de dois

drenos de Pem Rose evitando assim deicencia dos pontos, formação de seroma, e

infecções. Sutura da camada subcutânea com fio de nylon e sutura da superfície

com nylon em sutura contínua simples.

23

Medicação pós-operatória: sete dias de penicilina (por via intramuscular.

Três dias de flunixim meglumine. Curativo local com Iodo tópico pasta cicatrizante

(Ungüento) e spray repelente e bactericida (Fipronil). Houve ruptura da sutura da

camada muscular interna após uma semana, formação de seroma na região

abdominal e abertura dos pontos externos. Foi determinado neste caso cicatrização

por segunda intenção e curativo local uma vez ao dia.

Figura 02: Bovino com neoplasia na glândula mamária

2.2.1 Revisão de Literatura

Mastectomia é a excisão de uma ou mais glândulas mamárias ou de tecido

mamário (Fossum, 2002). O diagnóstico de uma doença do trato reprodutivo baseia-

se na anamnese, sinais clínicos, exame físico, obtenção de imagens diagnósticas

(radiografias, ultra-sonografia), citologia, microbiologia, ensaios hormonais,

hematologia, perfil bioquímico sérico, urinálise. O exame físico deve incluir inspeção

e palpação no abdome, da vulva e das glândulas mamárias. Verificar simetria,

textura, tamanho, mobilidade e secreções. Caso identifique massas, uma citologia

24

dos aspirados ou das secreções poderão auxiliar a diferenciação de neoplasias e

inflamações, na maioria das vezes torna-se necessária uma avaliação

histopatológica, para confirmar o diagnostico e permitir um prognóstico mais preciso.

Deve-se avaliar os linfonodos e procurar evidencias de metástases. Os tumores

mamários malignos disseminam-se pelos vasos linfáticos e sanguineos para os

linfonodos regionais e pulmões. Outros locais metastáticos menos comuns incluem

as glândulas adrenais, os rins, o coração, o fígado, os ossos, o cérebro e a pele.

Desconhece-se a causa das neoplasias de glândulas mamarias, no entanto muitas

são hormônio-dependentes. Na clínica de pequenos animais existe a possibilidade

da OSH, que estudos já provaram que reduz significativamente a incidência de

neoplasias de glândula mamária, porém tal possibilidade é descartada na clínica de

bovinos, às vezes pelo custo por se tratar de um animal de produção, e

principalmente pelo interesse reprodutivo (FOSSUM, 2002).

A neoplasia é a principal indicação para uma mastectomia, o prognóstico

para tumores malignos é reservado a ruim, as taxas de cura para pacientes com

tumores mamários malignos ainda são baixos, mesmo após ter removido

quantidades maciças de tecido. A falha no tratamento é representada por uma

recidiva local intratável ou, mais comumente, por uma doença metastática (BOJRAB,

1996).

Escolha do procedimento

A quantidade de tecido mamário a se remover de um animal com neoplasia

é influenciada por vários fatores incluindo o tamanho, a consistência, localização, a

idade, estado fisiológico do paciente (BOJRAB, 1996).

Lumpectomia (nodulectomia) – Remoção do tumor sozinho sem qualquer

tecido mamario circundante. Geralmente utiliza-se a lumpectomia quando o tumor é

25

pequeno, ecapsulado e não invasivo, exigindo conseqüentemente um mínimo de

dissecação cirúrgica para remoção (BOJRAB, 1996).

Mastectomia parcial – Remoção do tumor e de uma margem circundante de

tecido mamário. Esse procedimento geralmente é indicado para tumores que sejam

pequenos ou moderados em tamanho, e ocupam somente uma porção de uma

glândula individual. Pode-se suspeitar que o tumor seja invasivo e que tenha ou não

margens facilmente palpáveis distintas (BOJRAB, 1996).

Mastectomia simples – Remoção de toda a glândula mamária que contém o

tumor.

Mastectomia regional – remoção de mais de uma glândula. O fundamento

para este procedimento regional depende da anatomia presumida da drenagem

linfática da glândula mamaria e da suposição de que o câncer mamário tenha se

espalhado de uma glândula para outra por meio de trajetos linfáticos, os quais não

são alterados por massas que ocupam espaço (BOJRAB, 1996).

Mastectomia unilateral completa – Remoção das duas glândulas mamárias,

tecidos interpostos e linfonodos regionais do mesmo lado (BOJRAB, 1996).

Mastectomia bilateral completa – Remoção total das glândulas mamárias,

tecidos interpostos e linfonodos regionais (BOJRAB, 1996).

Técnica cirúrgica

Mastectomia Simples, Mastectomia Regional e Mastectomia Unilateral

completa: A técnica básica para a mastectomia simples, a mastectomia regional e a

mastectomia unilateral completa é a mesma. Todos esses procedimentos envolvem

a remoção de um segmento cutâneo que engloba as glândulas mamárias afetadas.

Inicia-se a cirurgia fazendo uma incisão elíptica ao redor das glândulas mamárias a

26

serem removidas. Estende-se a incisão precisamente através do tecido subcutâneo

ate a parede corporal é representada pelo músculo peitoral, e na região abdominal,

pela fáscia retal cranial. Foi estabelecido um plano de dissecção que permitirá que

se retirasse limpamente o segmento cutâneo e os tecidos mamários associados a

partir da parede corporal. O plano apropriado de dissecção é profundo em relação

ao tecido adiposo e direto sobre o músculo ou a fascia (BOJRAB, 1996).

Nas regiões abdominal e inguinal, as glândulas são frouxamente

aderentes e podem ser retiradas da fáscia subjacente por meio de um tampão. A

tração na porção rostral do segmento cutâneo facilita a dissecção. Procede-se a

dissecção crânio caudalmente sem na maioria dos casos danificar o músculo

subjacente. Ao se completar a remoção dos tecidos, o músculo intacto deve ficar

claramente visível na região abdominal (BOJRAB, 1996).

A invasão do tecido subjacente por um tumor, requer uma ressecção

em bloco do tecido muscular. Esse método não é muito usado em animais de

produção (BOJRAB, 1996).

Cuidados e Complicações pós operatórias

As complicações pos operatórias associadas a mastectomia incluem a

formação de seroma, a deiscência do ferimento e o edema de um ou de ambos

membros traseiros. A drenagem ajuda temporariamente porém aumenta o risco de

infecção. É melhor que se deixem as deiscências de ferimentos, se não forem muito

extensas, cicatrizarem por segunda intenção. As deiscências extensas requerem um

debridamento e um fechamento. Pode ocorrer um edema do membro posterior

devido à cirurgia ou ao tumor. A remoção dos tumores mamários inguinais

27

interrompe temporariamente o fluxo linfático por também remover os vasos linfáticos

e linfonodos (BOJRAB, 1996).

O exercício moderado, as compressas mornas, os diuréticos e o tempo

geralmente resultam na resolução. Mais ameaçador é o edema que resulta de uma

embolia tumoral nos vasos linfáticos entre as glândulas mamárias os linfonodos

sublombares e de uma metástase tumoral nos linfonodos sublombares. As ultimas

situações são indicações de um prognóstico grave, e embora o edema possa reduzir

à medida que se estabeleça o trajeto linfático potencial, as chances de um retorno

completo a uma homoestasia de fluido tecidual normal são pequenas. O bloqueio

dos vasos linfáticos ou dos linfonodos por meio de uma infiltração tumoral resulta

algumas vezes em uma “metástase retrógrada”. Por exemplo, pode-se estender o

tumor inguinal distalmente em uma faixa de nódulos na face medial da perna traseira

(BOJRAB, 1996).

Revisão Anatômica

As quatro glândulas mamárias da vaca estão fundidas em uma única

massa, o úbere (figura 03). Sua maior parte esta situada abaixo da parte caudal do

abdome, mas essa parte estende-se abaixo do assoalho da pelve e, assim, localiza-

se entre os membros pélvicos. O aspecto do úbere varia muito, dependendo da

maturidade e do estado funcional, bem como de características individuais e raciais.

Em muitas vacas leiteiras, é extremamente grande, chegando muitas vezes a pesar

60kg (DYCE, 1997).

Um sulco intermediário proeminente geralmente marca a divisão do

úbere em metades direita e esquerda, o limite entre os quartos anteriores e

posteriores dificilmente é distinguível, a medida que o parênquima de uma glândula

28

penetra no parênquima de outra sem evidência de septo interno. A superfície dorsal

da maior parte do úbere esta caracterizada para fixar-se contra a parede o abdome,

mas a parte abaixo da pelve é menos regular e mais estreita, uma vez que fica

lateralmente comprimida entre os posteriores. Uma certa quantidade de tecido

adiposo interpõe-se entre a base e as outras adjacentes (DYCE, 1997).

A pele que recobre o úbere é fina, flexível e livremente móvel sobre a

fáscia adjacente, exceto nas tetas, onde fica limitada pelas camadas mais profundas

da parede. Tende a ficar pendente em pregas sobre a parte caudal do úbere que

ascende em direção ao períneo. É esparsamente recoberta por pêlos, mais sedosos

do que aqueles encontrados nas partes vizinhas, as tetas, entretanto, são glabras

(DYCE, 1997).

Figura 03– Anatomia do Úbere Bovino

Fonte: The Babcock Institute

Vascularização

A principal artéria do úbere é a continuação da artéria pudenda externa

(figura 04) adiante da origem de ramos para a parede abdominal e a coxa.

29

Complementa-se por um pequeno ramo mamário da artéria perineal ventral. A

artéria principal que pode passar de 1,5 cm de diâmetro, adentra o úbere após

passar através do canal inguinal, onde se acompanha uma veia satélite, linfáticos e

nervos. A artéria inicialmente forma uma flexura sigmóide, uma proteção contra o

estreitamento, quando o úbere estiver cheio, antes de mergulhar em uma grande

artéria cranial dirigida vetrocranialmente e uma artéria mamária caudal muito menor,

que corre em direção a parede caudal do úbere. Ambas estão parcial ou totalmente

infiltradas no parênquima do úbere, para o qual fornecem muitos ramos. Alguns dos

maiores abordam os seios lactíferos de todos os lados, dão origem a ramos que se

unem ao redor das bases das tetas para formar plexos a partir dos quais as paredes

da teta são nutridas (DYCE, 1997).

Figura 04 – Sistema circulatório. Vascularização do Úbere Bovino.

Fonte: Prof. Ismar Araújo de Moraes

30

2.2.2 Discussão

O tumor mamário é raro acontecer em bovinos e também realizar tal

procedimento. Porque em animais de produção leiteira, perderiam sua função

principal, e animais de corte perderiam a sua capacidade reprodutiva, sendo assim

determinados ao abate, isto é claro sem contar o valor sentimental. Porém ao se

tratar de um caso como este de um animal premiado com alto valor genético, ainda

restaria a possibilidade da aspiração folicular, e transferência de embriões, o que

nos proporcionou a realização deste procedimento. Da forma como se apresentou

esta neoplasia, a principal recomendação realmente é a mestectomia, porém na

minha opinião não haveria necessidade de se retirar por completo a glândula

mamária, devido ao espaço morto gerado pelo volume deste conteúdo. Assim

proporcionando uma grande porta de entrada para agentes infecciosos e

complicações pós-cirurgicas.

31

2.3 Desmotomia Medial Patelar

Paciente eqüino cujo nome é Apache do sexo masculino da raça quarto de

milha com aproximadamente 3 anos de idade, chegou no dia 15 de março de 2007

ao HV da UNIPAR com queixa principal de claudicação dos membros pélvicos,

arrastando a pinça do casco, sendo o lado direito o mais afetado. A palpação do

membro posterior direito, nota-se que há travamento patelar, e tensão do ligamento

medial patelar, o animal estava bem nutrido e apresentava temperatura normal

aproximadamente 38,5ºC. Ao exame complementar de radiologia percebe-se que há

um deslocamento patelar lateral. Contudo foi diagnosticado o travamento patelar e a

desmotomia medial patelar foi o tratamento cirúrgico de escolha. Foi realizado como

protocolo pré-cirurgico o hemograma que apresentou, policitemia normocitica,

monocitopenia e eosinopenia.

Técnica

Animal em estação (Figura 05), foi realizada uma sedação com morfina e

xilazina e foi realizada anestesia local com Lidocaína. Após incisão de

aproximadamente 1cm, com ajuda de uma pinça anatômica foi localizado e exposto

o ligamento patelar medial e assim realizada a incisão com um bisturi de ponta

romba, rompendo-se assim todas as fibras presentes neste ligamento. Sutura em

pontos simples interrompidos utilizando fio mononáilon (figura 06).

Após procedimento cirúrgico o animal recebeu flunixim meglumine

(1,1mg/kg, IM SID) durante três dias, e penicilina (20.000 UI/kg) a cada 48h. E

recebeu alta no dia 18 de março de 2007. E foi prescrito repouso e fisioterapia.

32

A B

A - Figura 05: Animal em estação para realização da desmotomia Medial Patelar

B – Figura 06: Animal após realização do procedimento, membro posterior direito.

2.3.1 Revisão de Literatura

O travamento proximal da patela ocorre na tróclea medial do fêmur,

entre os ligamentos patelares medial e intermédio. O travamento da patela na tróclea

medial do fêmur impede a flexão do membro pélvico afetado. Isto algumas vezes é

chamado de luxação, apesar de ser um erro. Os termos “luxação” ou “luxação

lateral” da patela não devem ser utilizados para este problema; apesar da luxação

verdadeira ocorrer, os sintomas são completamente diferentes do travamento

proximal (STASHAK, 2002).

Considera-se que possa haver uma predisposição genética para o

travamento patelar que se refere à conformação. Um eqüino com um grande ângulo

entre a tíbia e o fêmur, ou chamado de “membro pélvico reto”, com o que parece ser

uma tíbia longa, esta mais predisposto a este problema que um eqüino de

33

conformação normal. Podem ser resultados de um trauma sofrido quando o membro

estava estendido, a conformação do cavalo favorece o travamento patelar devido a

traumas. Debilidade e acondicionamento físico podem também ser fatores

contribuintes. Animas fracos, não treinados na soldra também estão predispostos. O

travamento cranial da patela foi também observado em cavalos repentinamente

tirados de treinamento e confinado em cocheiras. Aparentemente, a rápida perda de

musculatura e tono dos ligamentos permite uma maior área de movimento patelar,

podendo ocorrer o travamento. Isto normalmente é aliviado logo após o cavalo voltar

a aos exercícios. Uma vez que o travamento proximal ocorreu, os ligamentos podem

ser distendidos, de modo que a recorrência é comum. O problema pode estar

presente em apenas um membro pélvico, mas o exame cuidadoso muitas vezes

revela suscetibilidade em ambos os membros pélvicos. Os pôneis de Shetland são

provavelmente mais afetados desse modo (STASHAK, 2002).

No travamento proximal agudo da patela, o membro pélvico e afetado em

extensão. A soldra e o jarrete não podem ser flexionados, mas o boleto pode. O

problema pede se curar espontaneamente por algum tempo, apenas para travar-se

de novo em poucos passos, ou pode permanecer travado por varias horas ou

mesmo dias. Em alguns casos, há apenas um “prender” da patela, conforme o

cavalo anda e o membro nunca realmente se trava em extensão. Este “prender” da

patela é mais notado quando o cavalo descreve um pequeno circulo na direção do

membro afetado. Este travamento proximal intermitente da patela pode causar uma

claudicação que é confundida com harpejamento, sendo necessário um exame físico

cuidadoso (STASHAK, 2002).

Outra manobra útil para diagnostico é fazer o cavalo andar para cima e

para baixo em uma rampa. Como os cavalos com travamento proximal intermitente

34

da patela relutam em estender completamente a soldra quando sobem uma rampa,

eles assumem uma posição ligeiramente curvada, relutando em estender as soldras

em sentido caudal. Conforme eles descem a rampa, um andar saltitante é notado,

resultante da extensão incompleta da soldra. Se a soldra se estender

completamente, um prender que leva a um arrastar da pinça ocorre em alguns casos

(STASHAK, 2002).

Na palpação quando o membro esta travado em extensão, os

ligamentos da patela estão tensos e a patela esta travada sobre a porção medial da

tróclea do fêmur. Quando o cavalo é forçado a se mover para frente com o membro

travado, ele arrasta a frente do casco no solo. Em alguns casos, pode-se ouvir um

som de estalo quando a patela é liberada da tróclea (STASHAK, 2002).

Os sinais são típicos e, se o membro esta travado, o diagnostico é simples.

Nos casos em que o proprietário descreve um travamento parcial, ou completo, o

membro deve ser testado forçando-se a patela para cima e para fora com a mão. Se

o membro puder ser travado em extensão por um ou mais passos, esta predisposto

ao travamento proximal patelar. Em alguns casos, este problema é crônico,

causando uma inflamação da articulação da soldra. A inflamação da articulação

pode permanecer presente mesmo após o travamento proximal ter sido corrigido. A

cápsula articular deve ser checada quando à sua distensão, palpando-se entre os

ligamentos patelares lateral e irtermédio. Um excesso de liquido ou espessamento

da cápsula articular indica a presença de gonite (STASHAK, 2002).

Quando a travamento proximal intermitente da patela, pode haver confusão

com o arpejamento. Neste caso, uma observação cuidadosa do andar e da

articulação da soldra revelará se a patela esta “prendendo”. O problema muitas

vezes é bilateral, apesar de que pode ser pior em um dos membros. Em alguns

35

casos vagos, é notado que o cavalo tende a arrastar a pinça quando avança o

membro. O arco de suspensão da pata é baixo e a fase cranial do passo é curta.

Neste caso, a patela pode ser travada proximal a mão; se assim ocorrer, deve ser

utilizado o tratamento cirúrgico. Em cavalos co menos de 3 anos devem ser feitas

radiografias da soldra para eliminar a possibilidade de osteocondrite dissecante da

tróclea e cistos no osso subcondral do côndilo medial concomitantes (STASHAK,

2002).

O tratamento é variado e depende da gravidade do problema. No

travamento proximal agudo da patela, pode ser colocado um pe de amigo no

membro afetado, de modo que o membro seja puxado para frente, a patela

empurrada medialmente e para baixo, o que geralmente destrava a patela afetada.

Alguns defendem o método de que se assustar o cavalo com um chicote, de modo

que o pulo súbito para a frente libere a patela. Em outros casos fazer o cavalo

recuar, enquanto se empurra a patela para dentro e para baixo, a liberará. Em outros

ainda, será necessária uma desmotomia medial patelar (STASHAK, 2002).

Para a intervenção cirúrgica (desmotomia patelar medial), a área sobre

os ligamentos patelares medial e intermédio e tosada rente e preparada para a

cirurgia. O cavalo deve ser tranqüilizado e a cauda enfaixada para evitar que atinja

os campos cirúrgicos. Um anestésico local é injetado no tecido subcutâneo sobre o

ligamento patelar intermédio com uma agulha de 1,5cm calibre 25. Insere-se, então,

uma agulha de 5cm calibre 20 através dessa bolha na pele para infiltrar a região

subcutânea sobre o ligamento patelar medial imediatamente acima da sua inserção

tibial. Deve-se ter cuidado para não danificar o osso, ou isto pode resultar em uma

periostite. São utilizados 5 a 8ml de anestésico local para esta injeção. Uma incisão

de 0,5 a 1,0cm deve ser feita sobre o ligamento patelar intermédio, próxima a

36

inserção tibial do ligamento. Um bisturi de Udall, ou outro bisturi de ponta grossa

adequado é inserido sob o ligamento patelar medial próximo da sua inserção da

tíbia. A lâmina é virada para fora, de modo que a borda cortante fique de encontro

ao ligamento. Neste momento, utilizando-se uma ação de serrar e empurrando-se o

ligamento com o indicador, através da superfície da pele, o ligamento patelar medial

é cortado. Todas as fibras do ligamento devem ser cortadas, mas o cirurgião não

deve penetrar muito caudalmente. Uma cavidade definida é sentida com o indicador

quando o ligamento é cortado. Uma ou duas suturas são utilizadas para fechar a

incisão na pele (STASHAK, 2002).

Um método melhorado para a desmotomia patelar medial é o seguinte;

após a preparação cirúrgica e injeção de anestésico local como já foi descrito, uma

pequena incisão (de 0,5 a 1,0cm de comprimento) é realizada na pele

imediatamente medial ao ligamento patelar intermédio. Uma hemostática mosquito

curva é forçado através da fáscia espessa sob o ligamento patelar medial quando se

esta empurrando a hemostática através da fáscia espessa, certifique-se de que a

porção curvada fique completamente sob o ligamento patelar medial. Isto rasga a

fáscia, de modo que um grande bisturi pode ser introduzido sob o ligamento. O

bisturi de ponta grossa não pode ser forçado através da fáscia espessa sem que se

passe primeiro a hemostática mosquito. A borda cortante do bisturi é, então, virada

para fora e o ligamento é cortado. Faz-se uma verificação cuidadosa para certificar-

se de que todas as fibras do ligamento patelar medial foram cortadas. As fibras

próximas ao ligamento patelar intermédio são as esquecidas co maior freqüência,

mas não o serão se a hemostática e o bisturi forem manipulados adequadamente.

As vantagens do bisturi grande é de que há menos hemorragia e o ligamento pode

ser cortado em um só golpe. Isto provoca menos trauma à região e menor inchaço

37

pós-operatório. Um ou dois pontos são então colocados na incisão da pele. Não

deve ser permitida a montaria ou treinamento por aproximadamente 6 semanas,

para que possa ocorrer uma acomodação completa a perda do ligamento antes que

se sujeite a articulação a estresse. Ambos os membros podem ser operados ao

mesmo tempo, se for necessário. Se a correção cirúrgica for realizada antes que a

gonite ou dano a cartilagem articular da patela seja evidente, este método de

travamento fornece uma alta taxa de recuperação (STASHAK, 2002).

Quando ocorre o travamento proximal em animais de um ano de idade, ser

ser aconselhável retardar a cirurgia para determinar se o cavalo não se curará com o

crescimento. No entanto, se o membro (ou membros) travar em extensão, a cirurgia

deve ser realizada imediatamente. O retardo na cirurgia é aconselhado apenas para

aqueles cavalos jovens que apresentam um “prender” intermitente da patela, pois o

travamento pode parar antes que eles atinjam os dois anos de idade. Um tratamento

alternativo para os cavalos com travamento proximal intermitente que não apresenta

inchaço palpável da cápsula articular femorotibio patelar é a injeção de contra-

irritantes nos ligamentos patelares intermédio e medial. As injeções geralmente são

realizadas com o cavalo em pé, utilizando sedação leve e cachimbo. Os irritantes

comumente utilizados contem iodo. São injetados aproximadamente 1 ou 2ml em

seis pontos distintos ao longo do ligamento patelar medial (quantidade total de 6 a

12ml). Aproximadamente metade dessa quantidade é injetada no ligamento patelar

médio. A maioria dos cavalos demonstra um ligeiro enrijecimento e inchaço por

alguns dias após as injeções. Recomendam-se exercícios leves diários para que

ocorra uma perda mínima de tono muscular. Embora a maioria dos cavalos

responda bem a este tratamento, alguns exigem repetição do mesmo. Para os que

38

não responderem ao tratamento, é indicada a desmotomia patelar (STASHAK,

2002).

Rotineiramente não se faz uso de antibióticos. Caminhar com o animal

é proveitoso para controle de edema local. O cavalo deve ser colocado em repouso

e passeado por no mínimo de duas semanas e preferentemente de 4 a 6 semanas.

Mesmo com cirurgiões experientes, casos de edema grave e claudicação de

duração variável são observados ocasionalmente (A.TURNER, 1985).

2.3.2 Discussão

A desmotomia media patelar é na realidade um procedimento simples e

que ocorre com grande freqüência nos eqüinos. Existe a possibilidade de outros

tipos de tratamento a não ser o cirúrgico, porem não aplicáveis a este caso.

Cuidados pós-operatórios que algumas literaturas consideram desnecessários, como

a utilização de antibióticos e anti-inflamatórios foram utilizados, a recuperação deste

animal foi perfeita e o procedimento técnico muito bem realizado.

39

3. BIBLIOGRAFIA

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Grande Porte, editora ROCA LTDA, Cap 9 Cirurgia Ortopédica no Eqüino pág 123-

125, 1985

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