Upload
voanh
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
0
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE AGRONOMIA
DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE GEOLOGIA
MODELAGEM TÉRMICA DE UMA SEQUÊNCIA DE ROCHAS MAGMÁTICAS PRÉ-
APTIANAS NA BACIA DE SANTOS.
Aluno:
EDUARDO MAMBUENI LUTONDA (200904042-0)
Orientador: Dr. SERGIO DE CASTRO VALENTE
Co-orientador: Dr. IVANILSON MOREIRA
Junho de 2014
Trabalho apresentado à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro como requisito parcial para obtenção do titulo de Bacharel em Geologia
1
SUMÁRIO
Dedicatória Agradecimentos Resumo Índice de figuras Índice de tabelas
Capítulo 1:INTRODUÇÃO
1.1: Apresentação 1
1.2: Objetivo 1
1.3: Motivação 1
1.4: Métodos 2
1.5: Localização 2
Capítulo 2: REVISÃO TEMÁTICA
2.1: Estratigrafia e Geologia da Bacia de Santos 4
2.2: O magmatismo na Bacia de Santos 12
Capítulo 3: COMPILAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
3.1: Base de dados 17
3.2: Petrografia 17
Capítulo 4: RESULTADOS
4.1: Caracterização do magmatismo e parâmetros físicos associados 24
4.2: Modelagem térmica 25
Capítulo 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1: Discussões 30
5.2: Conclusões 33
Referências bibliográficas 35
Anexo I: Perfil composto do poço estudado
2
Dedicatória
Dedico este trabalho à minha querida mãe Boa Videira, por ela ter sempre acreditado em
mim, e à minha Tia Maria Ndumba
3
Agradecimentos Agradeço a Deus por me guiar e por sempre me dar força e luz. Gostaria de agradecer a todas as pessoas que alguma forma colaboraram e incentivaram na realização deste trabalho tão importante para a minha vida profissional . Aos meus pais Sebastião Lutonda e Boa Videira pelo amor incondicional e por todo incentivo e apoio , por acreditarem sempre em mim tornaram esta graduação possível. Aos meus irmãos : Alvaro Nelo, Mana Suzana, a minha Tia Maria Ndumba pela força e compreensão. Os meus agradecimentos especiais ao meu orientador professor Dr Sérgio Valente pela orientação, dedicação e paciência ao longo deste trabalho. Ao meu coorientador Dr Ivanilson Morreira (sonangol Starfish Oil e Gás) por ter aceitado o desafio . Agradecimentos a direção de Exploração e reservatório da Sonangol Starfish Oil e Gás por me propocionar um estagio e disponibilização de dados técnicos para elaboração da minha monografia. Agrecimentos ao meu amigo e colega Dimitrov Fragoso pela colaboração e companherismo ao longo do curso, e a todos meus colegas da turma geologia 2009 em especial o Lucas Audi (Magal), Luis Filipe Farina (Visconde), Rafael Della Favera, Jonas Mendes Silva (Jonas Brother) , Lucas belo Castro (Lucassio) e Bruno Viana (Brunex). Agradeço a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro por acolher a todos como seu novo lar, não apenas no período aqui vivenciado, mas pelas lembranças e e experiências que serão sempre recordados com muita alegria. A família Ruralina que também está em meu coração que me acolheu e suportou durante todos esses anos Obrigado pela convivência.
4
Resumo
O objetivo deste trabalho foi elaborar modelos térmicos relacionados às rochas
magmáticas da sequência Pré-Aptiana e suas influências em sistemas petrolíferos da Bacia
de Santos. A base de dados utilizada nesta monografia foi cedida pela SONANGOL Starfish
Oil e Gás, com autorização da agência Nacional do Petróleo (ANP), e incluiu um perfil
composto impresso de um poço pioneiro localizado num dos blocos da companhia, na Bacia
de Santos; oito lâminas petrográficas de rochas magmáticas da seção Pré-Aptiana atingida
pelo poço; e relatórios de descrições petrográficas feitas por técnicos contratados pela
companhia. O poço atingiu a profundidade final de cerca de 6.020 m permitindo a coleta de
dados e amostras das fases drifte, pós-rifte e parte da fase rifte. O perfil composto serviu
para coleta de dados referentes às espessuras das camadas sedimentares e das
sequências magmáticas de interesse para esta monografia. As lâminas foram utilizadas para
as descrições petrográficas com vistas à discriminação da assembleia mineral, texturas e
estruturas das rochas magmáticas, além da classificação das mesmas. As rochas são
ankaramitos, basaltos alcalinos, basanitos e lamprófiros. Estas rochas estão intercaladas
àquelas das formações Piçarras (reservatórios e geradoras da bacia) e Barra Velha
(reservatórios). De um modo geral, os modelos térmicos mostraram que intrusões
relativamente pouco espessas, da ordem de 30 m, conseguem gerar uma zona de
interferência térmica mais que três vezes maior que as suas espessuras. No caso da seção
Pré-Aptiana estudada, os efeitos térmicos combinados de todo o magmatismo estudado
poderiam ter modificado a permoporosidade de potenciais reservatórios, mas também
incrementar o poder selante das sequências pelíticas. Adicionalmente, folhelhos
potencialmente geradores da Formação Piçarras estariam dentro da zona de interferência
térmica do maior corpo intrusivo estudado, e o aporte de calor poderia maturar a matéria
orgânica eventualmente presente, adiantando o processo de geração que, na bacia, parece
ter tido início apenas no Cenomaniano.
5
INDICE DE FIGURAS
Figura 1.1: Localização da Bacia de Santos e distâncias aproximadas do litoral do Rio de Janeiro e São Paulo. Os campos de hidrocarbonetos, e respectivos nomes, são mostrados na figura. Fonte: modificado de http://www.radioprogresso640.com.br/. 3 Figura 2.1: Carta estratigráfica da Bacia de Santos (Moreira et al., 2007). 5 Figura 2.2: Seção esquemática evolutiva da Bacia de Santos (Cainelli e Mohriak, 1998). Notar a expressiva halocinese e seção de rochas magmáticas (representadas como vulcânicas). 13 Figura 2.3: Principais eventos magmáticos associados à Bacia de Santos (esquerda) e demais bacias sedimentares brasileiras (direita) no Mesozoico e Cenozoico (Thomaz-Filho et al., 2000). 14 Figura 3.1: Fotomicrografia de olivina palagonitizada. Lâmina 1. Nicóis paralelos. 19 Figura 3.2: Fotomicrografia de texturas semelhantes a fiammés. Lâmina 1. Nicóis cruzados. 19 Figura 3.3: Fotomicrografia de rocha com fenocristais de augita titanífera e pseudomorfos de olivina (verde) imersos em matriz desvitrificada. Lâmina 2. Nicóis paralelos. 20 Figura 3.4: Fotomicrografia de rocha com amígdala subcircular preenchida por carbonato (amg). Lâmina 3. Nicóis cruzados. 20 Figura 3.5: Fotomicrografia de rocha com pseudomorfos de olivina imersos numa matriz de granulometria fina. Lâmina 4. Nicóis paralelos. 21 Figura 3.6: Fotomicrografia com textura indicativa de mistura magmátia no contacto entre lamprófiros alcalinos. Lâmina 5. Nicóis paralelos. 22 Figura 3.7: Fotomicrografia de basalto alcalino com matriz alterada. Lâmina 8. Nicóis paralelos. 23 Figura 4.1: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão com 40 m de espessura após um ano. A intrusão, janelas de gás e óleo e a zona de influência térmica estão indicadas. O eixo x representa a distância, em metros, a partir do centro da intrusão. O eixo y representa os valores de temperatura (⁰C). 27 Figura 4.2: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão com 40 m de espessura após um ano. A intrusão, janelas de gás e óleo e a zona de influência térmica estão
6
indicadas. O eixo x representa a distância, em metros, a partir do centro da intrusão. O eixo y representa os valores de temperatura (⁰C). 28 Figura 4.3: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão com 40 m de espessura após um ano. A intrusão, janelas de gás e óleo e a zona de influência térmica estão indicadas. O eixo x representa a distância, em metros, a partir do centro da intrusão. O eixo y representa os valores de temperatura (⁰C). 28 Figura 4.4: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão com 40 m de espessura após um ano. A intrusão, janelas de gás e óleo e a zona de influência térmica estão indicadas. O eixo x representa a distância, em metros, a partir do centro da intrusão. O eixo y representa os valores de temperatura (⁰C). 29 Figura 5.1: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão com 2 m de espessura. Os tempos decorridos após a intrusão são representados pelas curvas, cuja legenda é indicada no gráfico. As setas indicam os limites máximos das zonas de queima, geração de gás e geração de óleo a partir do contato da intrusão. O eixo x representa a distância, em metros, a partir do centro da intrusão. O eixo y representa os valores de temperatura (⁰C). 30 Figura 5.2: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão com 8 m de espessura. Os tempos decorridos após a intrusão são representados pelas curvas, cuja legenda é indicada no gráfico. 31 Figura 5.3: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão com 30 m de espessura. Os tempos decorridos após a intrusão são representados pelas curvas, cuja legenda é indicada no gráfico. 32
7
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 2.1: Correlação de episódios magmáticos Pré-Aptianos nas bacias de Santos e Pelotas. As fontes dos dados geocronológicos estão indicadas. 15
8
Capítulo 1: INTRODUÇÃO
1.1- Apresentação
Esta monografia está vinculada à disciplina Trabalho de Graduação (IA-243) do Curso
de Geologia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Este projeto foi orientado pelo
professor Dr. Sérgio Valente, orientador acadêmico, e pelo Dr. Ivanilson Moreira, da
(Sonangol Starfish Oil ee Gas). A presente monografia tem relação direta com as
atividades desenvolvidas, pelo autor, como estagiário da Direção de Exploração daquela
companhia, durante o período de julho de 2011 a setembro 2013 .
Empresas de diversas partes do mundo estão interessadas em investir na exploração
de hidrocarbonetos nas bacias sedimentares brasileiras devido ao número crescente de
descobertas nos últimos anos.
A Bacia de Santos é a maior em extensão na margem leste brasileira e uma das
principais bacias para exploração e produção de hidrocarbonetos, recebendo, assim,
grandes investimentos em pesquisa.
1.2- Objetivo
O objetivo deste trabalho foi elaborar modelos térmicos relacionados às rochas
magmáticas da sequência Pré-Aptiana e suas influências em sistemas petrolíferos da Bacia
de Santos.
1.3- Motivação
A Bacia de Santos é do tipo rifte que evoluiu para uma bacia de margem passiva
localizada na margem continental brasileira.
A história de exploração de petróleo da Bacia de Santos iniciou-se nos anos 1970,
quando ocorreram as primeiras incursões exploratórias, muito embora sem sucesso. Só em
1980, a Pecten fez a primeira descoberta na Bacia de Santos, em arenitos turbidíticos da
Formação Itajaí-Açu, no campo de Merluza.
A Bacia de Santos corresponde ao segmento da margem brasileira com maior
ocorrência de rochas vulcânicas básicas. Durante a fase rifte de fragmentação do
Gondwana, um volume expressivo de magmas intrudiu e extravasou sobre o embasamento
9
das bacias da margem continental brasileira. Além disso, vários eventos magmáticos foram
identificados na Bacia de Santos no Albiano, Santoniano, Maastrichtiano, Paleoceno e
Eoceno (Oureiro, 2006). Este magmatismo ocorreu sob a forma de soleiras de diabásio e
enxames de diques, intrusões estas que eram vistas como um problema, não pela
dificuldade nas interpretações sísmicas, devido à diminuição da penetração das ondas que
gerava interferência e falsas estruturas, mas também pela queima de hidrocarbonetos pelo
aumento excessivo da temperatura. No entanto, o calor dessas rochas magmáticas propicia
a maturação da matéria orgânica contida nas rochas geradoras de hidrocarbonetos nas
ditas bacias frias. Estes eventos magmáticos podem, também, originar condições
favoráveis aos processos de migração e até mesmo formar rochas reservatórios para
hidrocarbonetos. Tais condições favoráveis devem ser investigadas em bacias onde o
registro de processos magmáticos é recorrente, como no caso da Bacia de Santos.
1.4- Métodos
Os métodos utilizados para a execução deste trabalho incluem os seguintes itens:
1. Revisão temática com leitura de textos relativos à Geologia e sistemas petrolíferos
da Bacia de Santos, bem como sobre diferentes modelos térmicos existentes para
esta bacia.
2. Compilação de parâmetros físicos e geológicos necessários à elaboração dos
modelos térmicos.
3. Utilização de amostras de rochas e outras informações de um poço exploratório
perfurado pela Sonangol Starfish Oil e Gas na Bacia de Santos. As amostras serão
descritas sob o microscópio de luz transmitida do Laboratório de Microscopia do
Departamento de Geociências da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
4. Etapa de gabinete com a elaboração dos modelos térmicos unidimensionais,
respectivos testes, análise de dados e resultados, bem como elaboração do volume
final da monografia de graduação.
1.5- Localização
A Bacia de Santos situa-se na região sudeste da margem continental brasileira, entre
os paralelos 23º e 28º Sul, ocupando cerca de 350.000 km2 até a cota batimétrica de 3.000
m (Figura 1.1). A área estudada está inserida na porção norte da Bacia de Santos, a 100km
da linha de costa, com uma cota batimétrica em torno de 130 m (águas rasas), onde está
contido o campo Mexilhão.
10
Figura 1.1: Localização da Bacia de Santos e distâncias aproximadas do litoral do Rio de
Janeiro e São Paulo. Os campos de hidrocarbonetos, e respectivos nomes, são mostrados na figura. Fonte: modificado de http://www.radioprogresso640.com.br/.
CAPÍTULO 2: REVISÃO TEMÁTICA
11
2.1- Estratigrafia e Geologia da Bacia de Santos
A Bacia de Santos localiza-se na porção sudeste da margem continental brasileira.
Ela compreende os litorais dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa
Catarina, limitando-se, geologicamente, ao norte com a Bacia de Campos, pelo Alto de
Cabo Frio, e ao sul, com a Bacia de Pelotas, pela Plataforma de Florianópolis (Pereira e
Macedo, 1998). A oeste, a bacia é limitada pelo Cinturão de Serras Costeiras (Maciço da
Carioca, Serra do Mar e Serra da Mantiqueira). O limite de ocorrência do pacote Pré-Aptiano
é dado por uma falha normal sintética posicionada a cerca de 50 km do litoral e cujo traço é
paralelo à linha de costa.
A Bacia de Santos é uma bacia do tipo margem passiva gerada por processos
tectônicos relacionados com a fragmentação do Gondwana, iniciada no Mesozoico, e que
resultaram na abertura do Atlântico Sul (Mio et al., 2003). Esses processos foram
responsáveis pelas manifestações magmáticas e geração de estruturas rúpteis que
influenciaram na compartimentação da bacia e na acumulação de sedimentos durante a
fase rifte (Almeida e Carneiro, 1989). A sua geometria é moldada pela interação dos
esforços distensionais com descontinuidades do embasamento (Zalán et al. 2009).
A estratigrafia da Bacia de Santos foi sintetizada, inicialmente, por Pereira e Feijó
(1994), tendo sido atualizada na última revisão das cartas estratigráficas empreendida pela
PETROBRAS (Moreira et al. 2007) (Figura 2.1).
A tectônica e o magmatismo da Bacia de Santos estão inseridos em três fases: a fase
mais antiga, denominada rifte, ocorreu entre o Neocomiano e o Eoaptiano, com derrames de
basalto e deposição de sedimentos continentais lacustrinos. As fases posteriores são
denominadas pós-rifte (ou transicional) e drifte.
O registro sedimentar e magmático da fase rifte, na Bacia de Santos, teve início no
Hauteriviano (131 Ma), (Pereira e Feijó, 1994, Mio et al., 2005) e prolongou-se até o inicio
do Aptiano, sendo subdividido em três sequências denominadas K20-K34 (Formação
Camboriú), K36 (Formação Piçarras) e K38 (Formação Itapema), inseridas no Grupo
Guaratiba. Essa fase é composta por um magmatismo basal recoberto por uma sequência
sedimentar depositada em ambiente fluviolacustrino representado por folhelhos , carbonatos
e depósitos siliciclásticos grossos associados a leques aluviais. A fase rifte também é
denominada Megassequência Continental (Mio et al., 2005).
12
Figura 2.1: Carta estratigráfica da Bacia de Santos (Moreira et al., 2007).
A fase pós-rifte teve início no Eoaptiano e tem como limite superior a sua
discordância de 117 Ma, sendo subdividida em quatro sequências, quais sejam: K44, K46 e
K48 (Formação Barra Velha) e K45. O Grupo Guaratiba está representado na fase pós-rifte
pelas formações Barra Velha e Ariri (K50). Essa fase, também chamada de transicional, é
separada da fase rifte pela discordância pré-Alagoas. É composta por uma espessa seção
de rochas evaporíticas depositadas durante o Aptiano em ambiente marinho restrito e
lagunar, associado a depósitos sabkhas. Sobre os evaporitos da fase transicional instalou-
se, durante o Albiano Inferior, uma ampla plataforma carbonática, dando início à fase drifte.
Posteriomente, instalou-se a fase da margem passiva que perdura até hoje. Esta fase de
margem passiva compreende a Megassequência de Mar Aberto (Chang et al., 1992).
A fase drifte teve início no Albiano, sendo representada por um ambiente
deposicional de plataforma rasa e talude. Essa fase compreende os grupos Camburi, Frade
e Itamambuca, sendo estes dois últimos caracterizados por um ambiente deposicional
costeiro e de margem continental passiva (plataforma, talude e sopé). O Grupo Camburi é
composto pelas formações Florianópolis, Guarujá e Itanhaém. O Grupo Frade compreende
as formações Santos, Jureia e Itajaí-Açu. No Grupo Itamambuca estão inseridas as
formações Ponta Aguda, Iguape, Marambaia e Sepetiba (Figura 2.1).
13
De acordo com a última revisão da carta estratigráfica da Bacia de Santos (Moreira
et al., 2007), a antiga Formação Guaratiba foi elevada à categoria de grupo, sendo
composta por cinco formações das quais três estão inseridas na fase rifte (formações
Camboriú, Piçarras e Itapema). A sequência K20-34 corresponde à Formação Camboriú,
enquanto que as sequências K36 e K38 correspondem às formações Piçarras e Itapema,
respectivamente.
A Formação Camboriú compreende os derrames de basaltos sotopostos à seção
sedimentar. Em quase toda bacia, esta formação é composta por basaltos verde escuro e
cinza escuro, holocristalinos de granulação média e textura ofítica, constituídos,
principalmente, por plagioclásio e augita, estando comumente pouco alterados. Estes
basaltos foram datados em 138 Ma (K-Ar, rocha total; Fodor et al., 1983) de modo que a
Formação Camboriú, do Eocretáceo, deve ser correlata às formações Cabiúnas, na Bacia
de Campos, e Serra Geral, na Bacia de Pelotas (Misuzaki et al., 1992; Bueno et al., 2007).
A Formação Piçarras é composta por leques aluviais de conglomerados e arenitos
polimíticos constituídos de fragmentos de basalto, quartzo e feldspato, nas porções
proximais, e por arenitos, siltitos e folhelhos de composição talcoestevensítica, nas porções
lacustres (Moreira et al., 2007).
A Formação Itapema, informalmente denominada Sequência das Coquinas, na Bacia
de Campos, integra sedimentos depositados desde do Neobarremiano ao Eoaptiano. Seu
limite inferior é a discordância intrabarremiano de 126,4 Ma, que separa os andares locais
Buracica e Jiquiá, e o limite superior é a discordância da base do Alagoas conhecida por
discordância pré-Alagoas (DPA) na Bacia de Campos. A Formação Itapema é caracterizada
por apresentar intercalações de calcirruditos e folhelhos escuros. Os calcirruditos são
constituídos por fragmentos de conchas de pelecípodes que frequentemente encontram-se
dolomitizados e/ou silicificados (Moreira et al., 2007). O topo da Formação Itapema
corresponde ao limite superior da fase rifte.
O início a fase pós-rifte é marcada pela sedimentação da Formação Barra Velha do
Grupo Guaratiba, durante o Eoaptiano, equivalente ao andar local Alagoas inferior. A base
da Formação Barra Velha é separada do topo da Formação Itapema pela discordância Pré-
Alagoas. A deposição desta sequência é marcada por um ambiente transicional, entre
continental e marinho raso, do tipo lagunar, bastante estressante, com a deposição de
calcários microbiais, estromatólitos e laminitos, nas porções proximais, e folhelhos, nas
porções distais, além de grainstones e packstones formados por fragmentos dos
estromatólitos e ostracodes. Estes carbonatos podem estar parcial ou totalmente
14
dolomitizados. Basaltos com 117 Ma foram datados dentro da sequência da Formação Barra
Velha (Moreira et al., 2007).
A Formação Ariri se sobrepõe à Formação Barra Velha no topo do Andar Alagoas
(limite superior do Aptiano e inferior do Albiano). Ela corresponde aos evaporitos que se
depositaram no Neoaptiano ao longo de 0,7 a 1 Myr (Dias, 1998). No entanto, a taxa de
acumulação permanece imprecisa devido à alta mobilidade da halita. Seu limite inferior é
dado pelo contato com os carbonatos da seqüência K46-K48 (113 Ma) da Formação Barra
Velha, enquanto seu limite superior é dado pela passagem entre os evaporitos e os
sedimentos siliciclásticos/carbonáticos das formações Florianópolis e Guarujá, já dentro da
fase rifte. Geralmente, os evaporitos são compostos por halita e anidrita. Entretanto,
constatou-se a presença de sais mais solúveis, tais como, taquidrita, carnalita e, localmente,
silvinita (Moreira et al., 2007).
O início da fase drifte é marcada pelo estabelecimento de um ambiente do tipo
plataforma rasa-talude com a deposição da Formação Guarujá do Grupo Camburi no
Eoalbiano. Esta sequência (K60) é composta pela parte inferior da Formação Florianópolis,
Formação Guarujá e a porção basal da Formação Itanhaém. Ela é marcada pela ocorrência
de três importantes folhelhos radioativos que representam três grandes períodos de
inundações marinhas desde o Albiano Inferior até a porção basal do Albiano Superior. O
limite inferior da sequência K60 é o topo das anidritas da Formação Ariri e o limite superior é
a porção basal da Formação Itanhaém.
A Formação Florianópolis corresponde às fácies proximais e está constituída por
conglomerados, arenitos proximais e folhelhos associado a sistemas de leques aluviais e
deltaicos. A Formação Itanhaém é caracterizada por folhelhos e, mais raramente, margas de
origem marinha distribuídas desde a plataforma até as regiões bacinais. Nesta formação
encontram-se os depósitos arenosos de sistemas originados por fluxos gravitacionais
densos que compõem o Membro Tombo. Estes arenitos geralmente ocorrem encaixados em
baixos deposicionais gerados e controlados pela tectônica salífera albiana. Esta sequência
apresenta um padrão retrogradante e seus depósitos são resposta a uma progressiva
subida relativa do nível do mar com afogamento da plataforma rasa pelos sedimentos
pelágicos.
A Formação Santos (Grupo Frade) é composta por conglomerados e arenitos líticos
avermelhados, intercalados com folhelhos cinza e argilas vermelhos depositados em
ambientes continental a transicional de leques aluviais, rios entrelaçados e deltas. Esta
unidade interdigita-se, lateralmente, com as formações Jureia e Itajaí-Açu, e recobre
15
discordamente a Formação Florianópolis, sendo sotoposto às formações Iguape e
Marambaia por pronunciada discordância. As datações bioestratigraficas e as correlações
com as Formações Jureia e Itajaí-Açu permitem posicionar a Formação Santos no
Cenomaniano–Maastrichtiano.
A Formação Jureia (Grupo Frade) é uma unidade clástica situada lateralmente entre
os clastos grossos da Formação Santos (proximal) e os sedimentos pelíticos da Formação
Itajai-Açu (distal), sendo que em alguns casos se sobrepõem, esta última em contato
lateralmente discordante. O contato superior é discordante com as formações Iguape e
Marambaia. As rochas da Formação Jureia são folhelhos, siltitos e arenitos finos e muitos
finos, além de calcilutitos depositados em ambiente de plataforma marinha. Com base em
datações de nanofósseis, calcários e palimorfos, foi posicionado no Santoniano-
Mastrichtiano, sendo correlacionáveis com as porções inferiores das Formações Cidreira
(Bacia de Pelotas), Emboré (Bacia de Campos), e Rio Doce (Bacia do Espirito Santo).
A Formação Itajai-Açu inclui um pacote pelítico sotoposto e interdigitado com os
clásticos das formações Jureia e Santos. É composto por uma seção de clásticos finos,
predominando folhelhos. Arenitos turbiditicos médios, encontrados de forma dispersa na
seção, constituem o Membro Ilha Bela.
A Formação Ponta Aguda (Grupo Itamambuca) é caracterizada por arenitos
avermelhados depositados em ambiente de leques aluviais, sistemas fluviais e depósitos
costeiros. Nas porções proximais ocorrem arenitos plataformais. Esta unidade corresponde
a um sistema progradante com desenvolvimento expressivo das clinoformas de talude e o
avanço da quebra da plataforma. Durante a deposição desta sequência um significativo
vulcanismo extrusivo de caráter basáltico alcalino ocorreu na bacia, permitindo o
reconhecimento de cones vulcânicos e derrames submarinos (Oreiro, 2006).
A Formação Iguape (Grupo Itamambuca) é constituída por calcarenitos e calucilititos,
bioclásticos (briozoários, equinoides corais conchas e resto de algas), intercalados com
argilitos cinzas esverdeados, siltitos, margas. Esta unidade foi depositada em ambiente de
plataforma carbonática com influência de leques aluviais nas áreas mais proximais.
A Formação Marambaia (Grupo Itamambuca) é composta por espessa seção de
folhelhos cinzas, margas, bem como arenitos turbidíticos intercalados, depositados durante
o Terciário.
16
A Formação Sepetiba é composta por areias cinzas esbraquiçadas, grossas a finas,
quartzosas feldspáticas e glauconíticas, coquinas de moluscos briozoários e foraminíferos
que representam leques costeiros do Quaternário.
O arcabouço estrutural da Bacia de Santos está relacionado aos processos de
rifteamento do Gondwana, que alguns autores associam à interação da litosfera com a
pluma mantélica de Tristão da Cunha, seguida da deposição de uma imensa quantidade de
evaporitos e rochas siliciclásticas posteriormente deformadas por halocinese (Chang et al.,
1992; Mohriak, 2003).
De acordo com Pereira e Macedo (1990), o embasamento aflorante na área
continental limítrofe à Bacia de Santos se projeta para leste mergulhando para o oceano a
partir dos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, sendo o mesmo
cortado por sistemas de falhas transcorrentes e compressionais com direção predominante
NE-SW. Na parte rasa da bacia, o embasamento é representado por granitoides e gnaisses
de composições variadas de idade Neoproterozoica que integram os orógenos da Província
Mantiqueira (Heilbron et al., 2004). Acredita-se que a porção mais profunda seja composta
de crosta continental estirada até a passagem para crosta oceânica.
O embasamento da Bacia de Santos apresenta duas mudanças significativas no seu
gradiente de afinamento (Chang e Kowsmann,1984). A primeira mudança foi denominada
Charneira de Santos (Pereira, 1990) e está relacionada à faixa onde a crosta continental
apresenta efetivamente seu afinamento em direção ao mar. A segunda localiza-se na zona
onde a crosta passa a apresentar um menor afinamento relativo, correspondente à área do
Platô de São Paulo. Durante a fase de estiramento crustal, a área na qual se implantava a
Zona de Transferência de Florianópolis separaria reologias crustais distintas, tendo se
estabelecido, na parte norte, uma crosta mais aquecida e plástica, enquanto que a porção
sul seria caracterizada por uma crosta mais fria e rígida.
Trabalhos anteriores à última revisão da Carta Estratigráfica da Bacia de Santos
(Moreira et al., 2007) reconheciam uma fase tectônica denominada Pré-rifte e caracterizada
por derrames basálticos Eocretáceos (Formação Camboriú) que ocorrem ao longo de toda
bacia acima do embasamento Neoproterozoico e abaixo das sequências sedimentares. Este
evento é correlacionado, por vários autores (p.ex.: Fodor et al., 1984), aos derrames da
Formação Serra Geral (Província Paraná-Entendeka), sendo que este vulcanismo basáltico
apresenta idades entre 147 a 119 Ma (Thomaz Filho et al., 2008).
17
A fase rifte tem como principal consequência o afinamento litosférico que pode
culminar com a instalação de um assoalho de crosta oceânica. Em ambientes distensivos, a
geometria e os estilos resultam de rotação e translação dos blocos ao longo de
sistemas de falhas normais que afetam o embasamento. As falhas apresentam
geometria planar evidente na seção crustal superior, podendo evoluir para falhas
lístricas ou zonas de deslocamento basais suborizontais em profundidades maiores. A
configuração final é complexa, ocorrendo porções com diferentes geometrias e
magnitudes de deformação, que modificam as trajetórias das tensões e ao mesmo tempo,
amplificam a deformação rúptil em virtude da diminuição da resistência ao cisalhamento.
Os mecanismos de rifteamento da Bacia de Santos podem ser agrupados em três
fases rifte à semelhança da análise apresentada para as bacias marginais do oeste africano
(Karner e Driscoll ,1999), quais sejam:
1. Fase Sin-Rifte I (Neocomiano, 143-130 Ma): inicialmente, a fase rifte deu
origem a lagos anóxicos profundos, no Eocretáceo. Esta fase rifte foi
controlada por falhas de borda que condicionavam um meio-graben regional,
onde se desenvolveram vários grabens e horsts. Durante o desenvolvimento
da fase Sin- Rifte I, ocorreu o confinamento dos esforços na porção da crosta
submetida a afinamento, gerado falhas crustais. Neste período, nas bacias da
porção sul da atual margem atlântica, ocorria intensa fase de intumescimento
do manto devido à anomalia térmica conhecida como Pluma de Tristão da
Cunha. Esta fase inicial de abertura e separação entre os continentes é
representada, na Bacia de Santos, pelo Grupo Guaratiba, sendo denominado
por alguns autores como Megassequência Continental (Mio et al., 2005),
instalada após um período de magmatismo intenso numa larga depressão
(Chang et al., 1992). Nesta fase prevalecem as condições de strain
hardening (considerando uma simplificação para um placa homogênea),
quando a deformação alcançou a ruptura com tensões diferenciais
relativamente altas levando à formação de falhas de borda (equivalente à
linha de charneira externa das bacias de Sergipe-Alagoas e Kwanza),
nas porções onde inexistiam plumas termais, ou zonas soerguidas, nas
regiões em que ocorriam anomalias térmicas.
2. Fase Sin Rifte II (Barremiano, 130-125 Ma): desenvolveu-se com a litosfera
parcialmente afinada, o que levou à diminuição da tensão vertical (ϭ1. A
redução da tensão mínima (ϭ3 ) condicionou a ruptuta sob condições de
diminuição decrescente da resistência ao cisalhamento, configurando um
processo de strain softening e formação de sistemas de falhas balizadas
18
por uma segunda linha de charneira. A deformação foi concentrada
nas porções crustais superiores, com a formação de sistemas de falhas com
ângulos com caimento menor que a falhas da fase Sin-Rifte I,
porém distribuídas por uma área mais ampla afetada por estiramento supra-
crustal.
3. Fase Sin-Rifte III (Eoaptiano, 125-118 Ma): representou a evolução do
processo de strain softening, cujo resultado final foi o rompimento litosférico.
Essa fase parece também refletir o início da subsidência térmica, já atuante
previamente à ruptura litosférica definitiva, ou registrar processos de
cisalhamento dúctil na base da crosta. Esta fase caracterizou-se por
sistemas de falhas de pequena magnitude, concentradas na porção superior
da seção rifte, com desenvolvimento de uma ampla depressão tipo sag,
lateralmente contínua.
O registro do final da fase rifte é determinado, geralmente, pela última
descontinuidade encontrada sobre seus sedimentos, indicando que a fase de quebra da
crosta foi concluída. Tal descontinuidade pode ser correlacionada com a fase de extensão
regional e com a instalação do assoalho oceânico (Falvey, 1974).
Segundo Karner e Driscoll (1999), a fase rifte pode resultar em arquiteturas
estratigráficas complexas, como resposta ao preenchimento por sedimentos provindos de
diferentes áreas-fontes. Outros fatores responsáveis pela complexidade da fase rifte estão
associados à fisiografia da borda continental, modificações da rede de drenagem, às zonas
de acomodação de sedimentos e ao nível relativo do mar à época (Driscoll e Hogg , 1994).
A Fase Pós-rifte resultou numa extensa depressão evaporíritca formada desde a
parte sul da Bacia de Santos até a Bacia de Sergipe-Alagoas (Asmus, 1984), possibilitando
a precipitação de gigantescos depósitos salinos, com espessuras de ordem quilométrica. A
formação desta longa bacia evaporítica, além de componentes tectônicos, deve-se a uma
forte componente climática, uma vez que durante o Aptiano o clima era quente e seco.
Todas as descobertas realizadas nos últimos anos na Bacia de Santos, à exceção do Pré-
Sal, estão invariavelmente relacionadas à tectônica desta unidade.
A Fase Drifte representa a separação efetiva dos continentes Sulamericano e
Africano, a entrada definitiva do mar e a criação de uma crosta oceânica, provocando
subsidência térmica na bacia, responsável pelo basculamento e consequente inicio do
desenvolvimento da fase de margem passiva na Bacia de Santos (Mohriak, 1988). Nesta
fase tem inicio a tectônica halocinética que influenciou fortemente todos os pacotes
19
sedimentares da fase drifte. Essa fase corresponde a um período marcado por
megassequências regressivas e transgressivas. A halocinese exerceu um papel
importantíssimo nos sistemas petrolíferos da Bacia, ao criar estruturas que propiciaram a
acumulação de grande volumes de hidrocarbonetos (Dias et al., 1990).
A abertura do Atlântico Sul constitui um processo misto entre os fenômenos
controlados por estiramento litosférico (conforme o modelo clássico de MacKenzie,
1978). A Bacia de Santos, diferente das bacias a norte e a sul, corresponde à faixa mais
larga do afinamento crustal (Platô de São Paulo) e com menor taxa de estiramento devido
à atividade térmica da pluma Tristão da Cunha. Em função da anomalia, o afinamento
crustal foi acompanhado de soerguimento, com atuação dos fenômenos de underplatting,
o que provavelmente condicionou a deposição de uma seção rifte em zona
regionalmente soerguida (semelhante à situação atual dos riftes do leste africano),
com contribuição expressiva de r o c h a s m a g m á t i c a s vulcânicas. A interrupção no
estiramento provocou a formação de uma discordância sobre as margens e interior
das bacias de rifte, uma vez que a subsidência mecânica não contribuía mais na
criação de espaço para acomodação dos sedimentos. Isto levou ao assoreamento da
depressão rifte final, com posterior subsidência térmica síncrona ao início da fase drifte.
Para a Bacia de Santos, tais processos têm fundamental importância, uma vez que ocupa a
área com maior influencia da pluma.
2.2- O magmatismo da Bacia de Santos
A Bacia de Santos corresponde ao segmento da margem brasileira com maior
ocorrência de rochas magmát icas (Figura 2 .2 ) . O magmatismo na margem foi
contemporâneo àquele da Província Paraná-Etendeka, associado parcialmente à Formação
Serra Geral na Bacia do Paraná. O processo magmático foi condicionado pelo estiramento
litosférico diferenciado em toda a área de influência da Pluma de Tristão da Cunha. A
evolução geodinâmica da Bacia de Santos tem relação direta com estes fatores, havendo
correlação positiva entre as áreas com maior afinamento, magmatismo mais expressivo,
maior soerguimento e underplatting, menor espessura da seção rifte, maior volume de
evaporitos e halocinese. A ruptura continental, associada à anomalia térmica da Pluma
Tristão da Cunha, condicionou a formação das cadeias submarinas de Rio Grande e
Walvis no Atlântico Sul.
As pesquisas realizadas sobre os eventos magmáticos presentes nas bacias
sedimentares brasileiras têm mostrado a importância desses episódios para a exploração de
hidrocarbonetos. Citam-se casos da geração (aquecimento), migração (alterações
20
estruturais e petrográficas), acumulação (basaltos fraturados) e barreira (diques e soleiras)
dos hidrocarbonetos, produzidos por essas rochas, tanto nas bacias sedimentares marginais
como nas intracontinentais (Dias et al., 1994, Pereira e Feijó, 1994, Rangel et al., 1994).
Figura 2.2: Seção esquemática evolutiva da Bacia de Santos (Cainelli e Mohriak, 1998). Notar a expressiva halocinese e seção de rochas magmáticas (representadas como vulcânicas).
O magmatismo é acompanhado pelo aumento da temperatura da bacia nos
arredores das suas intrusões o que produz o aquecimento das rochas geradoras de
hidrocarbonetos e, assim, possibilita a maturação da matéria orgânica nela contida. Ao
mesmo tempo, tem sido verificado que os contatos diques/ rochas sedimentares podem ter
propiciado importantes caminhos para a migração dos hidrocarbonetos.
O magmatismo, de caráter predominantemente básico a intermediário, tem sua
gênese na astenosfera, ou seja, abaixo da litosfera. Assim sendo, mesmo os diques que se
introduziram no embasamento da bacia merecem cuidadosa atenção, posto que acima do
nível de intrusão desses diques, podem ser prognosticados maiores gradientes geotérmicos
presentes nos depósitos sedimentares.
A extrusão dos basaltos, nas bacias do sul e sudeste do Brasil, ocorreu durante as
primeiras fases do rifteamento Mesozóico, com a quebra do Supercontinente Gondwana
entre o Jurássico Superior e o Neocomiano, após o início da separação das placas
Sulamericana e Africana, com a implantação do Proto Oceano Atlântico. O intenso
21
magmatismo do Neocomiano, que veio a constituir a sequência de derrames de basaltos da
Formação Serra Geral na Bacia do Paraná, também manifestou-se de forma significativa na
Bacia do Santos (Dias et al. 1994, Pereira e Feijó 1994, Ragel et al. 1994, Santos et al.
1994, Vieira et al. 1994).
Cinco eventos magmáticos são reconhecidos nas bacias sedimentares brasileiras
(Figura 2.3). Na Bacia de Santos são reconhecidos dois eventos na Fase Rifte, um evento
na fase Pós-Rifte e três eventos na Fase Drifte (Santoniano-Campaniano, em torno de 80
Ma; Eoceno Inferior, em torno de 50 Ma).
Figura 2.3: Principais eventos magmáticos associados à Bacia de Santos (esquerda) e
demais bacias sedimentares brasileiras (direita) no Mesozoico e Cenozoico (Thomaz-Filho
et al., 2000).
Durante o Eocretáceo, boa parte da Bacia de Santos foi preenchida pelo derrame
basáltico correspondente à Formação Camboriú. Trata-se de basaltos cinza escuros,
holocristalinos, de granulação média com textura ofitica (diabásio), possuindo plagioclásio e
piroxênio (augita) como minerais predominante, normalmente pouco alterados (Moreira et
al., 2007). A Tabela 2.1 apresenta uma tentativa de correlação entre os eventos
magmáticos Pré-Aptianos na Bacia de Santos e Pelotas, de acordo com datações
geocronológicas disponíveis na literatura.
22
Tabela 2.1: Correlação de episódios magmáticos Pré-Aptianos nas bacias de Santos e
Pelotas. As fontes dos dados geocronológicos estão indicadas.
SANTOS SANTOS Idades Idades Fases Fases PELOTAS PELOTAS
113(3) Pós-rifte Basalto-Andesito-Traquiandesito Curumim
Intercalação com Barra Velha Basáltico (?) 117(4) Pós-rifte
Intercalação com Piçarras Basáltico subaquoso Não há. Rifte 118(2) Rifte Basáltico transicional toleítico Imbituba
Camboriú Basáltico toleítico 138 (?)(5) Rifte 125(2) Rifte Basáltico transicional toleítico Imbituba
138-127(1) Pré-rifte Basáltico toleítico Serra Geral
Ar-Ar K-Ar
(1): Turner et al ., 1994 (5): Fodor et al. , 1984 (138,1±3,5 Ma)
(2): Lobo, 2007 (125,3±0,7 Ma; Norte de Pelotas, Alto-TiO2)
(2): Lobo, 2007 (118,0±1,9 Ma; Sul de Pelotas; Baixo-TiO2)
(3): Dias et al. , 1994 (113±0,1 Ma; Sul de Pelotas)
(4): Moreira et al. , 2007 (117 Ma; Santos)
As idades Ar-Ar mais antigas correspondem àquelas obtidas para o vulcanismo
basáltico toleítico da Província Basáltica Paraná-Etendeka e caracterizam uma fase Pré-
Rifte na Bacia de Pelotas (Bueno et al., 2007), não reconhecida na Bacia de Santos. Vale
ressaltar, no entanto, a existência de uma idade K-Ar de 138 Ma, obtida em amostra de
basaltos toleíticos na Bacia de Santos. Muito embora os autores da datação (Fodor et al.,
1984) não tenham deixado claro se a amostra de basalto provinha da Formação Camboriú,
associada à Fase Rifte da Bacia de Santos, a idade obtida seria correlata à fase Pré-Rifte de
Pelotas. O magmatismo da Fase Rifte da Bacia de Pelotas pode ser associado aos basaltos
transicionais toleíticos de alto-TiO2 da Formação Imbituta na parte norte da bacia, com
idades mais antigas em torno de 125 Ma (Lobo, 2007). Ainda de acordo com os dados da
Tabela 2.1, o magmatismo da Fase Rifte em Pelotas persistiu até cerca de 118 Ma, com
formação de basaltos transicionais toleíticos de baixo-TiO2 na porção sul da bacia (Lobo,
2007). Esse episódio magmático da Fase Rifte em Pelotas poderia corresponder ao
magmatismo basáltico subaquoso da Fase Rifte da Bacia de Santos, não datado mas
intercalado à Formação Piçarras, que contém a rocha geradora de Santos.
Semelhantemente, os basaltos da fase Pós-Rifte da Bacia de Santos, com idades estimadas
em 117 Ma (Moreira et al., 2007) e intercalados à Formação Barra Velha, que contém os
reservatórios do Pré-Sal desta bacia, seriam correlatos ao magmatismo mais jovem da fase
Rifte da Bacia de Pelotas, caracterizado pelos basaltos transicionais toleíticos de alto-TiO2
do norte da bacia. Finalmente, o magmatismo da fase Pós-Rifte, do tipo basalto-andesito-
traquiandesito de 113 Ma, que ocorre no sul da Bacia de Pelotas e se insere na Formação
Curumim desta bacia, não tem correlatos na Bacia de Santos.
Pelo exposto, o magmatismo da Bacia de Santos, relacionado à discordância de
cerca de 117 Ma e intercalado às geradoras e reservatórios desta bacia, embora ainda
pouco estudado, parecem correlatos ao vulcanismo basáltico transicional toleítico de alto-
TiO2 do norte da Bacia de Pelotas (Formação Imbituba), estudado em detalhe (Lobo, 2007).
Já o magmatismo do Eocretáceo da Bacia de Santos (138 Ma) foi caracterizado com base
23
em apenas duas amostras (Fodor et al., 1984), tendo sido ambas classificadas como
basaltos toleíticos, sendo uma de alto-TiO2 e outra de baixo-TiO2. Essas características são
observadas tanto nos basaltos da Formação Serra Geral (Pré-Rifte) quanto da Formação
Imbituba (Rifte), tornando difícil a correlação dos processos magmáticos mais antigos
ocorridos nas bacias de Santos e Pelotas.
Segundo Moreira et al. (2007), o vulcanismo Santoniano está associado ao aumento
da taxa de subsidência da Bacia de Santos e também a movimentações tectônicas no
continente devido ao suprimento da Serra Mar. As rochas magmáticas extrusivas do
Paleoceno e do Eoceno constituem, principalmente, estrato vulcões de forma cônica. Estes
possuem textura hialoclástitos formado pelo abrupto resfriamento da lava em contato com
água do mar e rochas vulcanoclásticas (que incluem todas as partículas vulcânicas,
independente da origem, e podem estar relacionadas a múltiplos processos.
24
CAPÍTULO 3: COMPILAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS
3.1- Base de dados
A base de dados utilizada nesta monografia foi cedida pela SONANGOL Starfish Oil
e Gás, com autorização da agência Nacional do Petróleo (ANP), e inclui:
1. Um perfil composto impresso de um poço pioneiro localizado num dos blocos
da companhia, na Bacia de Santos;
2. Oito lâminas petrográficas de rochas magmáticas da seção Pré-Aptiana
atingida pelo poço;
3. Relatórios de descrições petrográficas feitas por técnicos contratados pela
companhia.
O poço atingiu a profundidade final de cerca de 6.020 m permitindo a coleta de
dados e amostras das fases drifte, pós-rifte e parte da fase rifte.
O perfil composto serviu para coleta de dados referentes às espessuras das
camadas sedimentares e das sequências magmáticas de interesse para esta monografia .
As lâminas foram utilizadas para as descrições petrográficas com vistas à discriminação da
assembleia mineral, texturas e estruturas das rochas magmáticas, além da classificação das
mesmas. Os resultados do estudo petrográfico serão apresentados a seguir.
3.2- Petrografia
A petrografia corresponde à parte descritiva da petrologia e é imprescindível para o
entendimento da gênese das rochas, auxiliando no desenvolvimento dos estudos
interpretativos, que, por sua vez, corresponde à parte da petrologia denominada
petrogênese. Portanto, essa parte descritiva da investigação sobre origem de uma dada
rocha deve merecer atenção especial, pois envolve a identificação dos minerais que
compõem a rocha e o modo como esses se encontram organizados (Costa et al., 2013).
O objetivo da descrição petrográfica é discriminar, detalhadamente, a composição
mineral das rochas, efetuar a análise das feições texturais, das estruturas, identificar
possíveis processos de alteração e, por fim, classificar as rochas com base as
caractéristicas acima citadas.
25
Com o intuito de viabilizar o levantamento de todas as informações relacionadas com
essa organização, gerada sempre pela atuação de fenômenos geológicos e expressa por
meio das estruturas e texturas, é que os estudos petrográficos foram divididos em
macroscopia e microscopia. Nesta monografia, os estudos petrográficos restringiram-se à
microscopia, uma vez que amostras macroscópicas não integraram a base de dados.
O estudo petrográfico foi realizado sob microscópio de luz polarizada no laboratório
de Miscroscopia do Departamento de Geociência da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro,
A análise textural envolveu a descrição detalhada de todas as feições ou arranjos
texturais das fases minerais presentes, com as informações sobre a granulação, tipos de
contatos, tipos de texturas (p.ex.: equigranular, porfirítica, dentre outras) e outras
informações consideradas relevantes.
A análise mineralógica envolveu a identificação e descrição detalhada das fases
minerais, separando-se a descrição da assembleia de fenocristais e dos constituintes da
matriz, no caso das amostras com textura porfirítica. Foi feita a distinção a discriminação
entre os minerais primários e secundários. Dentre os minerais primários, distinguiu-se os
essenciais (ou seja, utilizados para a classificação petrográfica) e, que ocorrem em menor
percentagem de volume.
Estruturas primárias, tais como lineações de fluxo e amígdalas, por exemplo,
também foram descritas. Finalmente, as rochas foram classificadas.
A lâmina 1 corresponde à amostra de rocha magmática coletada a maior
profundidade (5.739 m) no poço estudado corresponde a uma camada de cerca de dois
metros intercalada às rochas da Formação Piçarras. A rocha está muita alterada e é
caracterizada pela presença de fragmentos de olivina palagonitizada (Figura 3.1). O produto
de alteração é carbonato. Localmente, a rocha apresenta o aspecto de um tufo, com pouca
preservação de texturas semelhantes a fiammés (Figura 3.2).
As lâminas 2, 3 e 4 correspondem à amostras de rochas magmáticas coletadas a
5.704 m e 5.706 m no poço estudado, numa camada de cerca de seis metros intercalada às
rochas da Formação Barra Velha.
26
Figura 3.1: Fotomicrografia de olivina palagonitizada. Lâmina 1. Nicóis paralelos.
Figura 3.2: Fotomicrografia de texturas semelhantes a fiammés. Lâmina 1. Nicóis cruzados.
A lâmina 2 representa a parte superior da camada. A rocha está muito alterada, tem
textura porfirítica com fenocristais subédricos a euédricos de augita titanífera e
pseudomorfos de olivina, todos com cerca de 1 mm (Figura 3.3). A matriz da rocha é
0,25 mm
0,25 mm 0,25 mm
27
desvitrificada numa massa félsica de cor de interferência cinza claro muito alterada. A rocha
é destituída de estruturas. Ela foi classificada como um basanito.
Figura 3.3: Fotomicrografia de rocha com fenocristais de augita titanífera e pseudomorfos
de olivina (verde) imersos em matriz desvitrificada. Lâmina 2. Nicóis paralelos.
A lâmina 3 também corresponde a parte superior da mesma camada citada
anteriormente. Trata-se, também de um basanito que difere daquele da lâmina 2 pela
presença de amígdalas subcirculares, com tamanho entre 1,0 mm e 2,5 mm, preenchidas
por carbonatos e epidoto (Figura 3.4).
Figura 3.4: Fotomicrografia de rocha com amígdala subcircular preenchida por carbonato (amg). Lâmina 3. Nicóis cruzados.
0,5 mm
amg
0,3 mm
28
A lâmina 4 corresponde à porção intermediária da mesma camada de rocha
magmática, com cerca de seis metros de espessura, citada anteriormente. Esta rocha tem
granulometria superior àquelas das lâminas 2 e 3, sendo caracterizada pela abundância em
fenocristais de pseudomorfos de olivina. (Figura 3.5), tendo, também, menor quantidade de
vidro. Isto indica que a camada deve ser uma intrusão, tendo as lâminas 2 e 3 como
representantes de sua margem resfriada superior.
A lâmina 5 corresponde à porção basal da camada de rocha magmática, com cerca
de trinta e cinco metros de espessura, coletada a profundidade de 5.662 m no poço
estudado intercalada às rochas da Formação Barra Velha. A rocha está muita alterada e é
caracterizada pela presença de textura porfirítica, amígdalas que forma matriz com
argilominerais, presença de fenocristais de plagioclásio com geminação múltipla e tamanho
de cerca de 1mm, além de clinopiroxênios euédricos e pseudomorfos de olivina. A rocha
não apresenta texturas de desequilíbrio e foi classificada como um basalto alcalino.
Figura 3.5: Fotomicrografia de rocha com pseudomorfos de olivina imersos numa matriz de
granulometria fina. Lâmina 4. Nicóis paralelos.
A lâmina 6 corresponde à porção intermediária da mesma camada de rocha
magmática, com cerca de trinta e cinco metros de espessura, citada anteriormente, coletada
sob profundidade de 5.645 m no poço estudado. A rocha está intercalada às rochas da
Formação Barra Velha. A lâmina mostra um contacto entre duas rochas, ambas com
fenocristais de pseudomorfos de olivina marrom de 1 mm e biotita, e matriz muito volatizada
0,25 mm 0,25 mm 0,25 mm
0,25 mm
29
com clinopiroxênios e biotita. Há evidência de mistura magmática entre as duas rochas em
contato (Figura 3.6). As rochas foram classificadas com lamprófiros alcalinos.
Figura 3.6: Fotomicrografia com textura indicativa de mistura magmátia no contacto entre lamprófiros alcalinos. Lâmina 5. Nicóis paralelos.
A lâmina 7 corresponde ao topo da mesma camada de rocha magmática, com cerca
de trinta e cinco metros de espessura, citada anteriormente, coletada a profundidade e
5633 m no poço estudado, estando intercalada às rochas da Formação Barra Velha. A rocha
apresenta fenocristais corroídos com evidência para desequilibrio entre líquidos e cristais. A
rocha foi classificada como ankaramito.
A lâmina 8 corresponde ao topo da camada de rocha magmática, com cerca de dois m
de espessura, não esta presente no perfil composto, coletada a profundidade de 5549 m, no
poço estudado intercalada às rochas da Formação Barra Velha. A rocha apresenta textura
porforítica, matriz vitrea alterada, fenocristais de clinopiroxênio augita, olivina e pouco
plagioclásio. A rocha possivelmente está associada a derrames pouco espessos sub-aquosos
e foi classificada como basalto alcalino (Figura 3.7).
0,4 mm
30
Figura 3.7: Fotomicrografia de basalto alcalino com matriz alterada. Lâmina 8. Nicóis
paralelos.
0,25 mm
31
CAPÍTULO 4: RESULTADOS
4.1- Caracterização do magmatismo e parâmetros físicos associados
Conforme discutido no Capítulo 2.2, muito embora haja dificuldades em
correlacionar, com os dados disponíveis, o magmatismo das bacias de Santos e Pelotas, a
geocronologia Ar-Ar indica que as rochas magmáticas intercaladas na Formação Piçarras e
na Formação Barra Velha devem equivaler ao magmatismo basáltico toleítico da Formação
Imbituta na Bacia de Pelotas (Tabela 2.1).
No entanto, a descrição petrográfica apresentada no Capítulo 3 mostrou que o
magmatismo Pré-Aptiano estudado nesta monografia é alcalino, incluindo ankaramitos,
basanitos, lamprófiros alcalinos e basaltos alcalinos.
Lavas máficas alcalinas são, em geral, relativamente secas e têm viscosidade
variável, mas inferior às lavas félsicas a elas associadas, tais como fonolitos e traquitos. As
lavas máficas são tão mais quentes quanto menos evoluídas. A petrografia mostrou que os
fenocristais mais abundantes nas rochas estudadas são de olivina e piroxênio, indicativo da
pouca evolução dos magmas (ou lavas) coexistentes. Assim, as rochas máficas do Pré-
Aptiano no poço investigado devem representar lavas de temperatura elevada.
Não há muitos dados disponíveis na literatura sobre a temperatura de lavas
lamprofíricas. A temperatura estimada por alguns autores para lavas lamprofíricas
calcialcalinas (minetes) é da ordem de 1000⁰C a 1200⁰C (Esperança e Holloway, 1987).
Valores de temperatura para lavas lamprofíricas alcalinas, como as representadas na seção
Pré-Aptiana estudada, são mais elevados; da ordem de 1400⁰C (Machek et al., 2014). Já os
valores de temperatura estimados para basanitos, ankaramitos e basaltos alcalinos são da
ordem de 1220⁰C (Hakulinova et al., 2012).
Lavas máficas alcalinas são pouco viscosas e, no caso dos lamprófiros, a
viscosidade deve ser ainda menor visto que essas lavas são comumente ultrabásicas. Por
isso, o extravasamento dessas lavas forma derrames pouco espessos. Do mesmo modo, as
intrusões raramente excedem 10 m de espessura, como exemplificado pelas intrusões
desse tipo encontradas na área continental adjacente à Bacia de Santos (Valente, 1997).
Do exposto, pode-se concluir que a modelagem térmica a ser realizada como parte
desta monografia deve considerar como parâmetros essenciais a elevada temperatura e a
32
baixa viscosidade das lavas formadoras do magmatismo alcalino da seção Pré-Aptina sob
estudo.
4.2- Modelagem Térmica
As bacias sedimentares, onde a atividade exploratória de petróleo constitui um dos
principais interesses, é uma fonte importante de informações para estudos geotérmicos. A
temperatura é reconhecidamente um dos agentes mais importantes na maturação de
hidrocarbonetos e controla os processos de formação e destruição de óleo e gás (Carvalho
et al., 1990).
O conhecimento da estrutura térmica da Terra é indispensável para compreender
seu comportamento mecânico, relacionada à reologia das rochas, que depende da
temperatura que, por sua vez, varia em função da profundidade. A distribuição da
temperatura no planeta deve corresponder às entradas e saídas de calor do Sistema Terra.
A transferência de calor ocorre por processos de condução, convecção e radiação (Allen e
Allen, 2005).
A condução é um processo difusivo em que a transferência de energia cinética ocorre
por meio de colisões entre as partículas constituintes da matéria. A convecção necessita de
movimentação no meio para que haja transmissão de calor. O sol pode transmitir calor
através da energia eletromagnética, mas a irradiação tem menor relevância nos processos
de transferência de calor na Terra.
As manifestações dos processos magmáticos na crosta terrestre, e seus efeitos na
evolução geodinâmica de uma região em particular, podem ser melhor compreendidos se
analisados do ponto de vista de modelos numéricos, objetivando a descrição da variação
temporal do campo de temperaturas, por exemplo (Turcotte e Schubert, 2002).
A importância dos processos de condução e convecção varia em diferentes zonas do
planeta. Na litosfera, a condução é processo dominante no transporte de calor, já que essa
região do planeta é menos densa e quente que o manto sublitosférico, onde o processo
dominante é a convecção, que ocorre nas zonas mais interiores e profundas da Terra. A
convecção é um processo de transferência de calor muito mais rápido e eficiente que a
condução.
Variações importantes no fluxo de calor podem ser influenciadas por atividades
vulcânicas especialmente em regiões tectonicamente extensionais, que possuem um alto
33
fluxo de calor. Vale notar que em regiões sobre limites litosféricos colisionais, o fluxo de
calor varia de baixo a normal. O fluxo de calor em outras zonas distantes destes eventos é
inversamente proporcional aos isótopos radioativos que, no caso são a fonte de calor. A
perda de calor terrestre mais eficiente ocorre na superfície oceânica; aproximadamente 60%
em comparação com a crosta continental (Parsons et al., 1982).
Modelos numéricos térmicos simples podem ser elaborados considerando-se a
transferência de calor a partir de um corpo de geometria tabular em apenas uma direção
(modelo unidimensional). A equação unidimensional de condução de calor, essencial na
elaboração de modelos térmicos, é a seguinte:
Nesta equação, α é a difusividade térmica, K é condutividade Térmica , ρ é a massa
específica e cp é o calor específico sob pressão constante .
O termo unidimensional refere-se ao fato de somente uma coordenada ser
necessária para descrever a variação espacial das variáveis independentes. A maioria dos
problemas de transferência de calor encontrados na prática pode ser aproximada a
problemas unidimensionais. Porém, este nem sempre é o caso, e às vezes é preciso
considerar que o calor se transfere também em outras direções. Nesse caso, a condução de
calor é multidimensional, e a equação diferencial desses sistemas pode ser apresentada em
coordenadas retangular, cilíndrica ou esférica. No caso de problemas unidimensionais, a
solução encontrada para a equação diferencial do calor (Carslaw e Jaeger, 1986) permite
obter resultados da variação da temperatura com o tempo para intrusões diferentes
espessuras. A escala de tempo utilizada nos modelos pode variar desde anos, dezenas de
anos, anos, dezenas de milhares de anos, centenas de milhares de anos e milhões de anos.
A modelagem térmica unidimensional também foi discutida, recentemente, por
Valente (2009) para intrusões em bacias paleozóicas brasileiras e por Caldeira et al. (2010)
para diques de diabásio em Três Rios, RJ. Vale notar que os referidos autores elaboraram
os modelos térmicos com base nos mesmos parâmetros utilizados neste trabalho.
Os modelos elaborados por Valente et al. (2009) consideraram intrusões com
diferentes espessuras, desde 4 m até 400 m, assumindo a variação de temperatura a partir
do centro da intrusão. Os referidos modelos utilizaram um mesmo e único valor para a
constante de difusividade (α), considerando a média dos valores para a crosta superior (da
34
ordem de 10-6 mW/s), o que é uma simplificação, uma vez que ele deve variar para
diferentes tipos de rochas. Os resultados dos modelos elaborados mostraram que, para uma
mesma temperatura inicial de 1000ºC, quedas de temperatura da ordem de cinco vezes
ocorrem no centro de intrusões com poucos metros de espessura apenas um ano, mas em
intrusõess com centenas de metros de espessura esse tempo aumenta na ordem de 10³.
Para uma temperatura inicial de 1000ºC, as rochas encaixantes atingiriam a janela de óleo
próximo ao contato depois de 1 ano no caso de intrusões com cerca de 4 m de espessura.
No entanto, as temperaturas das rochas encaixantes de intrusões cerca de 10 vezes mais
espessas corresponderiam à janela de gás neste mesmo intervalo de tempo.
Um exemplo da modelagem térmica unidimensional é apresentado a seguir. Os
gráficos abaixo foram gerados usando o software MATLAB do Departamento de
Geociências da UFRRJ. O exemplo considera uma intrusão hipotética com 40 m de
espessura e uma temperatura inicial de 1200°C. A constante de difusividade utilizada no
modelo foi de 10-6 mW/s, tendo sido geradas curvas que representam a transferência de
calor a partir do centro da intrusão após 1 ano, 10 anos, 100 anos e 1000 anos. O modelo
assume janelas de óleo (60-120⁰C) e gás (120-220⁰C) para um gradiente geotérmico de
25⁰C/km.
O modelo referente ao tempo de 1 ano é mostrado no gráfico da Figura 4.1.
Intrusão
Janela de gás (120-220°C)
Janela de óleo (60-120°C)
Zona de influência térmica
a partir do contato: 4 m
Figura 4.1: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão
com 40 m de espessura após um ano. A intrusão, janelas de gás e óleo e a zona de influência térmica estão indicadas. O eixo x representa a distância, em metros, a partir do centro da intrusão. O eixo y representa os valores de temperatura (⁰C).
35
O modelo mostra que qualquer camada situada a uma distância superior a 4 m, a
partir do contato da intrusão, estará fora da zona de influência térmica um ano após a
intrusão. Após 10 anos, a zona de influência térmica será de 12 m (Figura 4.2) e passará a
42 m decorridos 100 anos da intrusão (Figura 4.3).
Intrusão
Janela de gás (120-220°C)
Janela de óleo (60-120°C)
Zona de influência térmica
a partir do contato: 12 m
Figura 4.2: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão
com 40 m de espessura após um ano. A intrusão, janelas de gás e óleo e a zona de influência térmica estão indicadas. O eixo x representa a distância, em metros, a partir do centro da intrusão. O eixo y representa os valores de temperatura (⁰C).
Intrusão
Janela de gás (120-220°C)
Janela de óleo (60-120°C)
Zona de influência térmica
a partir do contato: 42 m
Figura 4.3: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão
com 40 m de espessura após um ano. A intrusão, janelas de gás e óleo e a zona de influência térmica estão indicadas. O eixo x representa a distância, em metros, a partir do centro da intrusão. O eixo y representa os valores de temperatura (⁰C).
36
Passados cerca de 1000 anos do momento da intrusão, a temperatura relacionada
ao calor conduzido passa a ser menor que a temperatura mínima de geração, não havendo
mais influência alguma da intrusão no sistema petrolífero (Figura 4.4).
Intrusão
Janela de gás (120-220°C)
Janela de óleo (60-120°C)
Zona de influência térmica
a partir do contato: 110 m
Figura 4.4: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão
com 40 m de espessura após um ano. A intrusão, janelas de gás e óleo e a zona de influência térmica estão indicadas. O eixo x representa a distância, em metros, a partir do centro da intrusão. O eixo y representa os valores de temperatura (⁰C).
Em resumo, o modelo mostra que a zona de influência térmica total de uma intrusão
de 40 m, com a temperatura de 1200⁰C, pode chegar a 110 m a partir do contato, após 1000
anos. No entanto, a influência térmica sobre as janelas de geração, tanto de óleo quanto de
gás, varia com o tempo. Como a zona de influência térmica se amplia com o tempo, é
possível que alguma matéria orgânica transformada em óleo numa camada atingida pelo
calor da intrusão seja, posteriormente transformada em gás ou mesmo queimada. Em geral,
deve-se esperar uma progressão de eventos com o tempo em que, dentro da zona de
influência térmica, a janela de gás será ultrapassada (próximo às margens da intrusão), a
janela de gás ocupará uma posição intermediária e, mais longe do contato, as rochas
atingirão a janela de óleo. Isso mostra que a influência térmica de uma intrusão numa
sequência sedimentar poderá ser tanto danosa quanto valiosa, a depender da distância em
que a rocha geradora (ou reservatório) estiver a partir do contato.
No próximo capítulo serão mostrados os resultados obtidos para modelos térmicos
elaborados com os dados do perfil composto do poço estudado nesta monografia.
37
CAPÍTULO 5: DISCUSSÕES E RESULTADOS
5.1- Discussões
A modelagem térmica unidimensional foi aplicada às camadas de rochas
magmáticas identificadas na seção Pré-Aptiana do poço estudado nesta monografia. Todos
os modelos assumem janelas de óleo (60-120⁰C) e gás (120-220⁰C) para um gradiente
geotérmico de 25⁰C/km.
A rocha que aparece no perfil composto a profundida de 5549 m foi classificada
como ankaramito (Capítulo 3). Esta rocha está intercalada àquelas da Formação Barra
Velha e as suas características petrográficos mostraram tratar-se um derrame pouco
espesso, não representado no perfil composto. Assim, a espessura utilizada no modelo foi
de 2 m, enquanto que a temperatura foi de 1200°C (Hakulinova et al., 2012). Os resultados
do modelo são mostrados na Figura 5.1.
Figura 5.1: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão
com 2 m de espessura. Os tempos decorridos após a intrusão são representados pelas curvas, cuja legenda é indicada no gráfico. As setas indicam os limites máximos das zonas de queima, geração de gás e geração de óleo a partir do contato da intrusão. O eixo x representa a distância, em metros, a partir do centro da intrusão. O eixo y representa os valores de temperatura (⁰C).
De acordo com o modelo, após 50 anos, a temperatura nas rochas encaixantes
estará abaixo da temperatura mínima da janela de geração. Após cerca de 10 anos o limite
máximo da zona de queima de hidrocarbonetos será de 1,5 m a partir do contato, da zona
de gás será de 3,5 m (entre 1,5 e 3,5 m), e o da zona de óleo será 8 m (entre 3,5 e 8 m). O
38
modelo mostrou, portanto, que a zona de interferência térmica máxima dentro de uma
possível cozinha de geração, durante o período de tempo considerado, seria de 8 m.
A rocha intercalada à Formação Barra Velha, sob profundidade de 5633 m, foi
classificada como um basalto alcalino (Capítulo 3). As características petrográficas não
permitem discriminar a natureza intrusiva ou extrusiva da rocha, que está representada no
perfil composto como uma camada de espessura de 8 m. Conforme discutido anteriormente,
a temperatua de magmas basálticos alcalinos é de cerca de 1200°C (Hakulinova et al.,
2012), tendo sido este o valor utilizado no modelo. Os resultados são apresentados na
Figura 5.2.
Figura 5.2: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão
com 8 m de espessura. Os tempos decorridos após a intrusão são representados pelas curvas, cuja legenda é indicada no gráfico.
De acordo com o modelo, após 100 anos, a temperatura nas rochas encaixantes
estará abaixo da temperatura mínima da janela de geração. Após cerca de 10 anos o limite
máximo da zona de queima de hidrocarbonetos será de 2 m a partir do contato, da zona de
gás será de 14 m (entre 2 e 14 m), e o da zona de óleo será 30 m (entre 14 e 30 m). O
modelo mostrou, portanto, que a zona de interferência térmica máxima dentro de uma
possível cozinha de geração, durante o período de tempo considerado, seria de 30 m.
O gráfico da Figura 5.3 apresenta os resultados do modelo térmico para os
lamprófiros e basaltos alcalinos localizados entre as profundidades de 5645 m e 5662 m,
dentro da Formação Barra Velha. As características petrográficos mostraram evidências
para mistura magmática entre os lamprófiros, mas não é possível saber se o basalto alcalino
39
foi envolvido no mesmo processo. Para simplificação do modelo, considerou-se a espessura
total da camada dessas rochas (30 m) e uma temperatura de 1200°C (Hakulinova et al.,
2012). Esta temperatura é menos que a de magmas lamprofíricos (1400°C; Machek et al.,
2014), mas o processo de mistura entre magmas de diferentes temperaturas tenderia a
diminuir a temperatura da intrusão como um todo.
Figura 5.3: Resultado do modelo térmico de transferência de calor a partir de uma intrusão com 30 m de espessura. Os tempos decorridos após a intrusão são representados pelas curvas, cuja legenda é indicada no gráfico.
De acordo com o modelo, após 1000 anos, a temperatura nas rochas encaixantes
estará abaixo da temperatura mínima da janela de geração. Após cerca de 100 anos o limite
máximo da zona de queima de hidrocarbonetos será de 20 m a partir do contato, da zona de
gás será de 60 m (entre 20 e 60 m) e o da zona de óleo será 100 m (entre 60 e 100 m). O
modelo mostrou, portanto, que a zona de interferência térmica máxima dentro de uma
possível cozinha de geração, durante o período de tempo considerado, seria de 100 m. Esta
zona de influência térmica estaria sobreposta àquela associada à intrusão de 6 m de
espessura localizada a cerca de 5705 m de profundidade, presente no perfil composto,
dentro da Formação Barra Velha, cuja petrografia mostrou tratar-se de uma intrusão de
basalto alcalino, com formação de uma margem resfriada no topo (Capítulo 3). Devido à
sobreposição de efeitos térmicos, não foi elaborado um modelo para esta intrusão de 6 m.
Uma rocha muito alterada, tentativamente classificada como tufo palagonítico
(Capítulo 3), com 2 m de espessura, foi identificada a 5739 m de profundidade, na
Formação Piçaras. A petrografia mostrou tratar-se de uma rocha com pseudomorfos de
olivina, possivelmente associada a hidrovulcanismo. As características físicas associadas ao
magma gerador desta rocha devem ser muito semelhantes àquelas descritas para o modelo
representado na Figura 5.1. Por isso, as zonas de interferência térmica geradas por esses
40
dois magmatismos devem ser muito semelhantes, tornando desnecessária a elaboração de
um modelo térmico.
5.2- Conclusões
Os efeitos térmicos dos diferentes corpos magmáticos estudados foram distintos. O
derrame de ankaramito, possivelmente devido à sua espessura muito pequena, não foi
representado no perfil composto. A rigor, o derrame pode ter tido como substrato as
siliciclásticas da Formação Barra Velha ou até mesmo as primeiras camadas de sal da
Formação Ariri. O modelo térmico construído para esta camada de ankaramito mostrou que
a zona de influência térmica máxima sobre uma possível cozinha de geração seria de 8 m.
No entanto, as geradoras do Pré-Sal são encontradas nos folhelhos das formações Itapema
e Piçarras, situados a maior profundidade e muito distante do topo da Formação Barra
Velha. Outra possibilidade seria uma influência do derrame sobre os calcários microbiais e
estromatólitos que constituem o reservatório do Pré-Sal dentro da Formação Barra Velha.
Entretanto, o perfil composto mostra que neste poço o topo da Formação Barra Velha está
representada apenas pelas suas sequências siliciclásticas (folhelhos e arenitos). Por isso, o
derrame de ankaramito não deve ter tido nenhuma influência no sistema petrolífero nesta
parte da Bacia de Santos.
A intrusão (ou derrame) de basalto alcalino intercalado às rochas da Formação Barra
Velha, sob profundidade de 5633 m, de acordo com o modelo térmico construído, mostrou
que a zona de influência térmica máxima sobre uma possível cozinha de geração de 30 m.
Esta camada de basalto alcalino está sobreposta a uma camada fina de siltito, dentro da
zona de queima. Isso poderia modificar a textura do siltito devido ao aporte de muito calor a
partir da intrusão, gerando processos de recristalização, por exemplo, o que afetaria a
permoporosidade da rocha, tornando-a mais impermeável e incrementando o seu potencial
como selante. Já as camadas sobrepostas à intrusão são uma intercalação de calcarenito,
folhelhos e arenitos que se encontraria dentro da zona de interferência térmica máxima de
30 metros a partir do contato superior da intrusão. Neste caso, as intercalações de
calcarenitos e folhelhos mais próximas do contato estariam mais sujeitas aos efeitos
térmicos, com possíveis processos de recristalização, dentre outros, que também poderiam
afetar, em diferentes graus, a permoporosidade e, portanto, a qualidade de reservatório
dessas rochas. Esse efeito seria mais ameno nas intercalações de arenitos e folhelhos mais
afastadas da intrusão. No entanto, deve-se considerar, também, a possibilidade de
mobilização de fluidos a partir das camadas de calcarenitos até as rochas siliciclásticas
sobrepostas, que, neste caso, também poderiam ter suas qualidades de reservatórios
afetadas. Já as camadas siliciclásticas, em especial os arenitos, a mais de 30 m de distância
41
da intrusão dificilmente teriam suas propriedades petrofísicas modificadas devido ao
magmatismo.
A intrusão combinada de lamprófiros e basaltos alcalinos com 30 metros de
espessura teve uma ampla zona de interferência térmica, da ordem de 100 m. Nos primeiros
20 m a partir do contato superior, o efeito térmico desta intrusão se somaria àquele discutido
para a intrusão anterior. Já nos primeiros 20 m abaixo do contato inferior, as camadas finas
de folhelhos intercalados com calcarenitos e arenitos teriam sua permoporosidade muito
modificada em função do grande aporte de calor. Cerca de 60 metros mais abaixo, a
ocorrência de camadas espessas de folhelhos possivelmente teriam suas características de
selantes incrementadas pelo aporte térmico que poderia, também, recristalizar essas
rochas, aumentando sua impermeabilidade. Cerca de 40 metros mais abaixo, já começam a
aparecer os folhelhos e calcarenitos da Formação Piçarras. Os folhelhos dessa formação
são considerados geradores do sistema petrolífero da Bacia de Santos no Pré-Sal. A
matéria orgânica eventualmente contida nestes folhelhos poderia, assim, ser maturada
dentro da janela de óleo por influência térmica da intrusão de 30 m. Isso propiciaria a
maturação antes do previsto pela carta de eventos do sistma petrolífero da bacia, onde a
geração ocorre apenas a partir do Cenomaniano.
A zona de interferência térmica gerada pelo magma formador da rocha intercalada
na Formação Piçarras deve ter sido muito pequena, talvez menor que 8 m, considerando-se
os efeitos semelhantes àqueles do derrame de ankaramito descrito no Capítulo 5.1. A zona
de influência térmica afetaria apenas as rochas siliciclásticas do topo da Formação Piçarras,
algumas das quais constituem reservatórios no sistema petrolífero do Pré-Sal na Bacia de
Santos. A pouca espessura da camada magmática teria, assim, pouca influência sobre as
características petrofísicas destas rochas, que teriam sua permoporosidade preservada já a
poucos metros dos contatos com a rocha magmática.
De um modo geral, os modelos térmicos mostraram que intrusões relativamente
pouco espessas, da ordem de 30 m, conseguem gerar uma zona de interferência térmica
mais que três vezes maior que as suas espessuras. No caso da seção Pré-Aptiana
estudada, os efeitos térmicos combinados de todo o magmatismo estudado poderiam ter
modificado a permoporosidade de potenciais reservatórios, mas também incrementar o
poder selante das sequências pelíticas. Adicionalmente, folhelhos potencialmente geradores
da Formação Piçarras estariam dentro da zona de interferência térmica do maior corpo
intrusivo estudado, e o aporte de calor poderia maturar a matéria orgânica eventualmente
presente, adiantando o processo de geração que, na bacia, parece ter tido início apenas no
Cenomaniano.
42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALLEN P.A., ALLEN J.R. (2005) - Basin Analysis. Principles and Applications: Blackwell,
549. ALMEIDA, F.F.M. e CARNEIRO, C.D.R. (1989) - Magmatic occurrences of post-permian
age of the South American Platform. Boletim do IG-USP - Série Científica, 20, 71-85. ASMUS, H.E. (1984) - Inferências, hipóteses e problemas relativos a origem e evolução da margem continental brasileira. Anais 32° Congresso Brasileiro de Geologia, Salvador, 1655-
1677. BUENO, G.V., ZACHARIAS, A. A., OREIRO, S.G. e CUPERTINO, J.A. (2007) - Bacia de
Pelotas. Boletim de Geociências da Petrobras, 15(2):551-559. CAINELLI, C. e MOHRIAK, W.U. 1998. Geology of Atlantic Eastern Brazilian basins. 1998
AAPG International Conference e Exhibition Short Course – Brazilian Geology Part II, November 8 – 11, 1998, Rio de Janeiro, Brazil. CALDEIRA, J.E.; CORVAL, A.; OLIVEIRA, L.G.S.; VALENTE, S.C.; OLIVEIRA, N.V.; OSVALDT, H. S. (2010) - Modelagem termal para os diques basálticos de Três Rios - RJ, Rio Oile Gas Expo and Conference, CD- ROM. CARSLAW, H.S., JAEGER, J.C. (1959) - Conduction of Heat in Solids. Clarendon Press, Oxford. 434 p. CARVALHO, M. D.; PRAÇA, U. M.; JUNIOR, J. J. M.; SPADINI, A. R. (1990) - Reservatórios carbonáticos profundos do eo/mesoalbiano da Bacia de Santos. Revista de Geociências da Petrobrás, 4:429-450. CHANG, H. K. e KOWSMANN, R. O. (1984) - Subsidência térmica e espessura crustal na Bacia de Santos.in : Congresso Brasileiro de Geologia, Rio de Janeiro, v.2, 1602-161 CHANG, H.K., KOWSMAN, R.O., FIGUEIREDO, A.M. e BENDER, A.A. (1992) - Tectonics and stratigraphy of the East Brazil Rift System - An overview. Tectonophysics, 213, 97-138. DIAS, J. L. (1998) - Análise sedimentológica e estratigráfica do andar aptiano em parte da
margem leste do Brasil e no platô das Malvinas: considerações sobre as primeiras incursões e ingressões marinhas do Oceano Atlântico Sul Meridional. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1998. DRISCOLL, N. W. e HOGG, J. R. (1994) - Stratigraphic response to basin formation: Jeanne
d’Arc basin, Offshore Newfoundland. In: Lambiase, J. J. (ed.) Hydrocarbon Habitat in Rift Basins. Geological Society (Special Publication 80), 145-163. ESPERANÇA, S. e HOLLOWAY, J.R. (1987) - On the origin of some mica lamprophyres:
experimental evidence from a mafic minette. Contributions to Mineralogy and Petrology 95(2), 201-216. FALVEY, D. A. (1974) - The development of continental margins in plate tectonic theory.
Australian Petroleum Exploration Association Journal, 14: 95-106. FODOR, R.V. e VETTER, S.K. (1984) - Rift-zone magmatism: petrology of basaltic rocks
transitional from CFB to MORB, Southeastern Brazil margin. Contributions to Mineralogy and Petrology, 88, 307-321.
43
HAKULINOVÁ, K., KYSEĽOVÁ, K., MATULOVÁ, J. (2012) - a study of physico – chemical
properties of the nepheline basanite from deposit husiná. Annals of Faculty Engineering Hunedoara. International Journal of Engineering. Tome X, Fascicule 1, p. 25-28. HEILBRON, M., VALERIANO, C.M., PEDROSA-SOARES, J. (2004) - Província
Mantiqueira. Geologia do continente sul-americano: evolução da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo: Beca, 2004. p. 203-235. KARNER, G. D. e DRISCOLL, N. W. (1999) - Tectonic and stratigraphic development of the
West African and eatern Brasilian margins; insights from quantatividade basin modelling. Geological Society Special Publication, 153: 11-40. LOBO, J.T. (2007) - Petrogênese de rochas basálticas do Eocretáceo das Bacias de Campos e Pelotas e implicações na geodinâmica de rifteamento do Gondwana Ocidental. Tese de Doutorado. FGEL-UERJ. 250 p. MACHEK, M., ROXEROVÁ, Z., ZÁVADA, P. SILVA, P.F. (2014) - Intrusion of lamprophyre dyke and related deformation effects in the host rock salt: a case study from the Loulé diapir, Portugal. Tectonophysics, (in press). McKENZIE, D. (1978) – Some remarks on the development of sedimentary basins. Earth and
Planetary Science Letters, 40, 25-32.
MIO, E., CHANG, H.K. e CORREA, F.S. (2005) – Integração de métodos geofísicos
na modelagem crustal da Bacia de Santos. Revista Brasileira de Geofísica, 23(3): 275-284. MIZUSAKI, A.M.P., PETRINI, R., BELLIENI, G., COMIN-CHIARAMONTI, P., DIAS, J., DEMIN, A. e PICCIRILLO, E.M. 1992 - Basalt magmatism along the passive continental
margin of SE Brazil (Campos basin). Contributions to Mineralogy and Petrology, 111, 143-160. MOHRIAK, W.U., 1988. The tectonic evolution of the Campos Basin, offshore Brazil. PhD
thesis, University of Oxford, Inglaterra, 381 p. MOHRIAK, W.U., 2003. Interpretação tectônica e sistemas petrolíferos em margens
vulcânicas do tipo atlântico. 4 Sintex, Petrobras – Aracaju, CD de resumos. MOREIRA, J.L.P., MADEIRA, C.V., GIL, J.A. e MACHADO, M.A.P. (2007) – Bacia de
Santos. Boletim de Geociências da Petrobras, 15(2):531-549 OUREIRO, S. G. (2006) - Magmatismo e sedimentação em uma área na Plataforma
Continental de Cabo Frio, Rio de Janeiro, Brasil, no intervalo Cretáceo Superior–Terciário. Boletim de Geociências da Petrobras. 14, 95-112. PEREIRA, M. J.; FEIJÓ, F. J. (1994) - Bacia de Santos. Boletim de Geociências da
Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8,. 219-234. PEREIRA, M. J. (1990) - Análise estratigráfica e depositional das formações Itajaí superior e
Juréia inferior (Mesoturoniano/Eo-Santoniano), Bacia de Santos, Brasil. Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, 165p. PEREIRA, M. J. E MACEDO, J. M. (1990) - A Bacia de Santos: perspectivas de uma nova
província petrolífera na plataforma continental sudeste brasileira. Boletim Geociências da Petrobrás, 4: 3-11.
44
RANGEL, H.D.; MARTINS, F.A.L.; ESTEVES, F.R. & FEIJÓ, F.J. (1994) - Bacia de
Campos. Boletim de Geociências de Petrobras, 8: 203-217. THOMAZ-FILHO, A., MIZUSAKI, A.M.P., MILANI, E.J., CESERO, P. (2000) - Rifting and
magmatism associated with the South Americ and Africa break up. Revista Brasileira de Geociências 30 (1), 17–19. THOMAZ-FILHO, A., MIZUSAKI, A.M.P. e ANTONIOLIA, L. (2008) – Magmatism and
petroleum exploration in the Brazilian Paleozoic basins. Marine and Petroleum Geology 25 (2008) 143–151. TURNER, S., REGELOUS, M., KELLEY, S., HAWKESWORTH, C. e MANTOVANI, M. 1994. Magmatism and continental break-up in the South Atlantic: high precision 40Ar/39Ar geochronology. Earth and Planetary Science Letters, 121, 333-348. VALENTE, S.C. 1997. Geochemical and isotopic constraints on the petrogenesis of the
Cretaceous dykes of Rio de Janeiro, Brazil. Tese de doutorado, Queen's University of Belfast, 395 pp. VALENTE, S.C. 2009. Sistemas petrolíferos atípicos: um lugar para o magmatismo. XI Simpósio de Geologia da Amazônia, CDROM. ZALÁN, P. V.; WOLIF, S.; ASTOLFI, M. A. M.; VIEIRA, S.; CONCEIÇÃO, J. C. J.; APPI, V. T.; NETO, E. V. S.; CERQUEIRA, J. R.; A., M. (1990) - The Paraná basin, Brazil. In:
Leighton, M. W.; Kolata, D. R.; Oltz, D. F.; Eidel, J. J. (ed.) Interior cratonic basins. AAPG (Memoir 51), 681-708.