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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS DA TERRA CURSO DE GEOLOGIA PRISCILA MARTINS ORIGEM DAS ESTRUTURAS MAGMÁTICAS DOS GRANITOS DE GUARATUBA, MATINHOS E ILHA DO MEL, ESTADO DO PARANÁ CURITIBA 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS DA TERRA

CURSO DE GEOLOGIA

PRISCILA MARTINS

ORIGEM DAS ESTRUTURAS MAGMÁTICAS DOS GRANITOS DE

GUARATUBA, MATINHOS E ILHA DO MEL, ESTADO DO PARANÁ

CURITIBA

2016

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PRISCILA MARTINS

ORIGEM DAS ESTRUTURAS MAGMÁTICAS DOS GRANITOS DE

GUARATUBA, MATINHOS E ILHA DO MEL, ESTADO DO PARANÁ

Trabalho de Conclusão de Curso,

apresentado ao Curso de Geologia da

Universidade Federal do Paraná, como

requisito parcial à obtenção do grau de

Bacharel em Geologia.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo de

Mesquita Barros

CURITIBA

2016

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RESUMO

Para caracterizar as estruturas magmáticas observadas em granitos da Ilha

do Mel, de Matinhos e de Guaratuba com o intuito de definir suas origens, decidiu-

se compará-las com as feições encontradas em estudos similares, realizados em

regiões distintas. As foliações observadas, as quais são paralelas ao acamamento,

são caracterizadas pela orientação preferencial do K-feldspato, originadas devido

às deformações, resultantes das tensões decorridas das injeções magmáticas

associadas ao crescimento do plúton. A gênese dos acamamentos, dada pela

alternância de bandas máficas e félsicas, na Ilha do Mel está relacionada à

desagregação dos xenólitos (paralelos à foliação), resultando por vezes estruturas

do tipo schlieren, o qual é formada por fluxo magmático de acordo com Barbey

(2009) através das interações, tanto químicas quanto mecânicas, com o magma

adjacente.

Para as regiões de Guaratuba e Matinhos, o acamamento é resultante das

injeções máficas e félsicas, aliadas à convecção dentro do corpo magmático. Os

enclaves também encontram-se desagregados, paralelos à foliação e com

estruturas tipo schlieren, porém há o englobamento de fenocristais de K-feldspato,

devido à similaridade da viscosidade com o fluxo magmático. Nestas localidades,

observa-se uma interdigitação entre granitoides distintos, sendo esta feição

característica da coexistência de magmas.

Palavra-chave: estruturas, acamamento ígneo, foliação, schlieren, granitos

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ABSTRACT

In order to characterize as magmatic structures observed in granites of Ilha

do Mel, Matinhos and Guaratuba to define their origins, it was decided to compare

them with the features found in similar studies. The foliations observed, which are

parallel to the banding, are characterized by preferential orientations for the heritage,

the origins are the deformations, resulting from the resulting from the magmatic

injections associated with pluton growth. The genesis of the bedding, given by

alternation of mafic and physical bands, in Honey Island is related to the

disintegration of xenoliths (parallel to the foliation) ¬, resulting in schlieren type

structures, is formed by flow study with Barbey (2009) Through both chemical and

mechanical interactions with the adjacent magma.

For the Guaratuba and Matinhos regions, the bedding is the result of the

mafic and félicas injections, allied to the convection inside the magmatic body.

However, fire detection devices, headlamps and fog lamps and the sealing profiles

have a K-feldspar sealing embedding, due to the similarity of viscosity with the

magmatic flow. In these localities, an interdigitation between distinct granitoids is

observed, being this feature characteristic of the coexistence of magmas.

Keywords: structures, igneous banding, foliation, schlieren, granites

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização das regiões de Matinhos, Guaratuba e Ilha do Mel ............ 8

Figura 2 – À esquerda, a subdivisão da Província Mantiqueira nos três cinturões e,

à direita, a localização do Terreno Paranaguá. FONTE: Hasui et al., 2012 .......... 10

Figura 3 – Terreno Paranaguá, sua litologia e contatos tectônicos a sudoeste e

oeste-noroeste. FONTE: Cury, 2009 ..................................................................... 12

Figura 4 - Monzogranitos que afloram na Praia do Miguel, apresentando foliação

moderada definida pela orientação dos cristais de feldspato potássico ................ 14

Figura 5 – Fotomicrografia de um monzogranito, mostrando os cristais de quartzo

com contatos irregulares e extinção ondulante. Aumento 4x. ............................... 14

Figura 6 – Fotomicrografia de monzogranito, podendo-se observar contatos

irregulares nos cristais de quartzo, assim como os subgrãos e extinção ondulante.

Aumento 4x. .......................................................................................................... 15

Figura 7 – Sienogranito com fenocristais de feldspato potássico euédricos ......... 16

Figura 8 – Fotomicrografia de um sienogranito, mostrando os cristais de quartzo

com contatos irregulares e extinção ondulante. Aumento 10x. ............................. 16

Figura 9 – Granitoides do Morro do Cristo (Guaratuba). A) Granito porfirítico com

enclave microgranular máfico. B) Quartzo monzonito em contato com granito

porfirítico................................................................................................................ 18

Figura 10 – Acumulação de cristais de K-feldspato em granitos do Morro do Cristo,

na parte superior direita da foto ............................................................................. 19

Figura 11 - Mapa geológico esquemático da parte sul da Ilha do Mel com as

localizações dos pontos visitados ......................................................................... 20

Figura 12 – Granitos da Ilha do Mel mostrando A) xenólito e acamamento (S0). B)

xenólitos mais fortemente assimilados e C) acamamento proeminente e orientação

preferencial (S1) concordante ............................................................................... 22

Figura 13 – Granito da Ilha do Mel (praia do Miguel) mostrando dobra sinmagmática

com plano axial concordante ao acamamento rítmico .......................................... 23

Figura 14 – A) Coexistência de magmas em granitoides da praia de Matinhos. B)

Porções dioríticas foliadas alternadas com porções graníticas. Início de mistura de

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magmas. C) Estágio avançado de assimilação do diorito dando origem ao

acamamento magmático ....................................................................................... 25

Figura 15 – Granito porfirítico da praia mansa de Caiobá (Morro do Boi) A) com

enclave microganular máfico e B) com inicial assimilação do enclave microgranular.

C) Dique de aplito com acamamento composicional rítmico ................................. 26

Figura 16 – Falha sinistral na praia Brava em meio rúptil ..................................... 27

Figura 17 – Falha sinistral em meio rúptil a dúctil, localizada em praia Brava .... 27

Figura 18 – A) Sienogranitos porfiríticos e monzonitos/dioritos com acamamento

composicional e B) forte foliação nos monzonitos/dioritos .................................... 29

Figura 19 – A) Cisalhamento sinistral de enclave de rochas dioríticas/monzoníticas

e B) veios de aplito em sienogranitos e monzonitos ............................................. 30

Figura 20 – A) Zona de cisalhamento com rocha aplítica B) lineação de estiramento,

C) bandas de cisalhamento conjugado no sienogranito porfirítico ........................ 31

Figura 21 – Sumário mostrando os fluxos não uniformes: convergente (A),

divergente (B) e a zona de gradiente de velocidade (C). A figura D mostra um fluxo

convectivo interno em uma câmara sem expansão. FONTE: Patterson et al., 1998

.............................................................................................................................. 33

Figura 22 – Ilustração que mostra os principais estágios de formação das unidades

rítmicas, em um processo convectivo associado à segregação hidrodinâmica.

FONTE: Pupier et al., 2008 ................................................................................... 34

Figura 23 – Ilustração mostrando o grau de continuidade da foliação da rocha

hospedeira com relação ao enclave, de acordo com os processos predominantes

da sua formação. FONTE: Patterson et al., 1998 .................................................. 35

Figura 24 – Ilustração simplificada dos principais processos que ocorrem na

construção da câmara magmática. FONTE: Barby, 2009 ..................................... 38

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 8

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 9

2.1 TERRENO PARANAGUÁ ........................................................................ 11

2.1.1 Suíte Morro Inglês ............................................................................. 12

3 MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................. 13

4 RESULTADOS ............................................................................................... 13

4.1 PETROGRAFIA ....................................................................................... 13

4.1.1 Granitos da Ilha do Mel ...................................................................... 13

4.1.2 Caiobá e Matinhos ............................................................................. 15

4.1.3 Guaratuba .......................................................................................... 17

4.2 GEOLOGIA ESTRUTURAL ..................................................................... 19

4.2.1 Ilha do Mel ......................................................................................... 19

4.2.2 Caiobá e Matinhos ............................................................................. 23

4.2.3 Morro do Cristo (Guaratuba) .............................................................. 28

5 DISCUSSÕES ................................................................................................ 32

6 CONCLUSÕES ............................................................................................... 37

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 39

ANEXO 1: Croqui Detalhado do Morro do Cristo - Guaratuba .............................. 42

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1 INTRODUÇÃO

As áreas de estudos localizam-se no litoral leste do estado do Paraná, mais

especificamente nas regiões de Matinhos, Guaratuba e Ilha do Mel. Os dois

primeiros situam-se próximos à Baía de Guaratuba e o último, perto do Pontal do

Paraná (Figura 1). Estão inseridas na Suíte Morro Inglês do Terreno Paranaguá,

sendo este pertencente a um dos três compartimentos da Província Mantiqueira, o

Cinturão Ribeira.

Figura 1 – Localização das regiões de Matinhos, Guaratuba e Ilha do Mel

O principal acesso para Guaratuba se dá pela BR-376, em direção a

Joinville, passando pelo município de Garuva e seguindo pela rodovia PR-412. Para

chegar até Matinhos, partindo de Curitiba, o acesso é a BR-277 em direção a

Paranaguá e, em seguida, segue-se pela PR-508. O acesso à Ilha do Mel é feito

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pela BR-277 até a PR-407 (para Pontal do Paraná) e pela PR-412 até o Trapiche

de Pontal do Sul, de onde saem os barcos em direção à Ilha do Mel.

A boa qualidade das exposições de rochas em vários domínios, ao longo

do litoral, permite identificar um conjunto de estruturas em ambas as rochas

magmáticas e metamórficas. Estas motivaram a realização deste trabalho.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

As unidades geológicas aqui discutidas são apresentadas segundo as

divisões dos terrenos tectônicos do leste do Paraná. Os terrenos da região estão

dispostos segundo uma compartimentação desenhada por expressivas Zonas de

Cisalhamento, que representam hoje, os seus limites (Terrenos Apiaí, Curitiba, Luis

Alves e Paranaguá) (Basei et al. 1992; Campanha e Sadowski 1999; Siga Jr. et al.

2011a; Faleiros et al. 2011b; Hasui e Oliveira 2013) (Figura 2). Estes terrenos

possuem características próprias e distintas, mas com evoluções semelhantes,

podendo estar relacionadas, segundo Heilbron et al. (2008) às colisões do Sistema

Orogênico Ribeira.

Com relação à porção sul do Cinturão Ribeira, as informações relacionadas

a geologia e a tectônica do Terreno Paranaguá são bastantes escassas, devido às

dificuldades de acesso às serranias, encobertas pela Mata Atlântica, e ao pouco

conhecimento que se tem para localizar bons locais de estudo (Cury, 2009). Abaixo,

serão citados alguns autores se propuseram, então, a caracterizar melhor este

terreno.

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Figura 2 – À esquerda, a subdivisão da Província Mantiqueira nos três cinturões e, à direita, a localização do Terreno Paranaguá. FONTE: Hasui et al., 2012

Os trabalhos precursores sobre a geologia do Terreno Paranaguá,

realizados por Maack (1953), descrevem a predominância de migmatitos. Anos mais

tarde, Lopes (1987a e 1987b) caracterizou unidades ígneas e metassedimentares

que fazem parte deste terreno.

As unidades tectônicas foram, em seguida, abordadas por Basei et al.

(1992) e Siga Júnior (1995a), sendo este último responsável por caracterizar as

rochas do Terreno Paranaguá como sendo, predominantemente, granitos de

deformação heterogênea, com ocorrência limitada de encaixantes

metassedimentares.

Um estudo posterior, de Cury (2009), preocupou-se com a caracterização

geológica-tectônica deste terreno, acrescentando dados petrográficos,

geoquímicos, geocronológicos e estruturais, até então quase inexplorados. É

através deste autor que pôde-se ter uma maior gama de informações,

principalmente geológicas e estruturais, para as regiões envolvidas neste trabalho.

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2.1 TERRENO PARANAGUÁ

O Terreno Paranaguá é limitado a leste pelo litoral, a sudoeste pela

Microplaca Luis Alves e a noroeste pela Microplaca Curitiba, sendo ambas

constituídas por rochas gnáissico-migmatíticas. Contatos tectônicos se verificam a

sul-sudoeste pelo Lineamento Palmital e a oeste-noroeste pelos Lineamentos

Alexandra e Serra Negra, como ilustrado na Figura 3 (Cury 2009).

No Terreno Paranaguá ocorrem granitos cálcio-alcalinos com deformações

variadas, distribuídas ao longo da ilha de São Francisco do Sul (SC) até Iguape

(SP). Dentre estes granitos, destacam-se as suítes Morro Inglês, Canavieiras-

Estrela e Rio do Poço, apresentando como encaixantes gnaisses, xistos, quartzitos

e anfibolitos (Cury, 2009). O embasamento é constituído pelo Complexo São

Francisco do Sul e pela Sequência Metassedimentar Rio das Cobras (Figura 3).

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Figura 3 – Terreno Paranaguá, sua litologia e contatos tectônicos a sudoeste e oeste-noroeste. FONTE: Cury, 2009

2.1.1 Suíte Morro Inglês

A Suíte Morro Inglês, localizada na região da Serra da Prata, recebeu esta

denominação por Lopes (1987a), caracterizada pela ocorrência de granitóides

porfiríticos, tais como monzogranitos, sienogranitos e granodioritos, ricos em

fenocristais de K-feldspato. Além da ocorrência de enclaves, feições de mingling e

mixing podem ser observados juntamente com rochas dioríticas nas regiões de

Guaratuba e Matinhos. Os granitóides dessa suíte podem ser maciços ou foliados,

mostrando por vezes feições de fluxo magmático, com ocorrência comum de

estruturas miloníticas (Cury, 2009).

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

Foram realizadas duas etapas de campo, sendo a primeira para a região da

Ilha do Mel (2 e 3/7/16) e a segunda para as regiões de Guaratuba (13 e 14/8/16),

Matinhos e Caiobá (14/8/16). Durante os trabalhos de campos, foram descritas

feições estruturais nos granitóides, com a coleta de dados geológicos e estruturais,

neste caso utilizando-se da bússola Brunton. Algumas amostras de granitos foram

coletadas para a confecção de lâminas no LAMIR, no intuito de caracterizar

possíveis microestruturas. As localidades observadas foram registradas no GPS e

inseridas nos mapas com o auxílio do programa ArcGIS 10.3. No caso de

Guaratuba, um croqui em escala detalhada foi confeccionado, a fim de mostrar a

disposição dos diferentes granitóides e de suas estruturas.

4 RESULTADOS

Com o intuito de considerar apenas as estruturas de origem magmática,

serão desconsiderados, nas descrições petrográficas e estruturais, os gnaisses e

os migmatitos que afloram nas regiões sul e norte da Ilha do Mel respectivamente,

pois são rochas cujas estruturas têm origem em deformações no estado sólido, e

não magmático.

4.1 PETROGRAFIA

4.1.1 Granitos da Ilha do Mel

Nas praias do Miguel e Grande, foram observados, macroscopicamente,

monzogranitos, sienogranitos e quartzo monzonitos, de granulação variando de fina

a média. Sua constituição mineralógica é composta por biotita, anfibólio, quartzo, K-

feldspato e plagioclásio. A maioria destes cristais são anédricos, com alguns cristais

de K-feldspato subédricos. Suas estruturas são levemente acamadadas, definida

pela alternância de bandas máficas e félsicas, de textura granular orientada, com

moderada foliação, caracterizada pela orientação dos K-feldspatos (Figura 4).

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Figura 4 - Monzogranitos que afloram na Praia do Miguel, apresentando foliação moderada definida pela orientação dos cristais de feldspato potássico

Nos granitoides da Ilha do Mel, os cristais de quartzo, em termos

microscópicos, apresentam bastante extinção ondulante, com pouca ocorrência de

subgrãos, e os contatos com os cristais adjacentes são irregulares (Figura 5 e

Figura 6).

A B0,2 0,4

mm0,2 0,4

mm

Figura 5 – Fotomicrografia de um monzogranito, mostrando os cristais de quartzo com contatos irregulares e extinção ondulante. Aumento 4x.

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C D0,2 0,4

mm0,2 0,4

mm0,2 0,4

mm0,2 0,4

mm

Figura 6 – Fotomicrografia de monzogranito, podendo-se observar contatos irregulares nos cristais de quartzo, assim como os subgrãos e extinção ondulante. Aumento 4x.

4.1.2 Caiobá e Matinhos

Em Caiobá e em Matinhos afloram sienogranitos porfiríticos foliados. Seus

fenocristais de K-feldspato são subédricos a euédricos, principalmente, e mostram

orientação preferencial moderada a forte. Enclaves microgranulares máficos com

formas elípticas mostram orientação concordante à foliação do sienogranito

hospedeiro. Em Matinhos, os sienogranitos porfiríticos estão em contato com

quartzo monzonitos porfiríticos, cujos fenocristais de feldspato potássico (Figura 7)

estão em meio a matriz constituída por quartzo, feldspato potássico, plagioclásio,

biotita e anfibólio. Sienogranitos estão em contato com quartzo dioritos de textura

fanerítica equigranular fina.

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Figura 7 – Sienogranito com fenocristais de feldspato potássico euédricos

Nos sienogranitos, os cristais de quartzo apresentam microestruturas

similares às observadas nos granitos da Ilha do Mel, com ocorrência de extinção

ondulada, contatos interdigitados, com bem poucos subgrãos (Figura 8).

A Bmm0,40,2

mm0,40,2

Figura 8 – Fotomicrografia de um sienogranito, mostrando os cristais de quartzo com contatos irregulares e extinção ondulante. Aumento 10x.

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4.1.3 Guaratuba

De modo semelhante em termos composicionais, texturais e estruturais às

rochas das praias mansa e brava de Caiobá e Matinhos, no Morro do Cristo, em

Guaratuba, também afloram sienogranitos porfiríticos foliados, portadores de

enclaves microgranulares máficos e rochas dioríticas a quartzo monzoníticas de

granulação fina a média (Figura 9).

Nos sienogranitos porfiríticos podem ser observados agregados de

fenocristais de feldspato potássico, de formas variadas (desde irregulares a

lenticulares, Figura 10) e enclaves microgranulares máficos, dentro dos quais

podem estar inclusos fenocristais de feldspato potássico, sugerindo que o magma

granítico coexistiu com um líquido de composição aproximadamente diorítica.

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Figura 9 – Granitoides do Morro do Cristo (Guaratuba). A) Granito porfirítico com enclave microgranular máfico. B) Quartzo monzonito em contato com granito porfirítico

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Figura 10 – Acumulação de cristais de K-feldspato em granitos do Morro do Cristo, na parte superior direita da foto

4.2 GEOLOGIA ESTRUTURAL

Neste tópico, serão abordadas as estruturas schlieren, que de acordo com

Barbey (2009), são trilhas máficas geradas pela desagregação dos enclaves

máficos, que gradam para schlieren devido à interação com o fluxo magmático

presente. Com relação à classificação das foliações, será usado aquela de Fossen

(2012), onde a foliação ou estrutura primária S0 é caracterizada pelo acamamento

magmático rítmico, enquanto que a foliação secundária S1, seria derivada de

esforços e deformações, os quais poderiam orientar os cristais. No caso, esta

foliação seria os K-feldspatos orientados.

Como não foram adquiridas muitas atitudes dos acamamentos e das

foliações, optou-se por não confeccionar os estereogramas.

4.2.1 Ilha do Mel

Esta localidade é representada pelo embasamento gnáissico, migmatitos e

por granitos que ocorrem, respectivamente, na porção centro-sul e na porção

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centro-norte da área. Os diques de diabásio foram também observados,

localizando-se na parte centro-sul e norte (Figura 11).

Figura 11 - Mapa geológico esquemático da parte sul da Ilha do Mel com as localizações dos pontos visitados

4.2.1.1 Granitos da Ilha do Mel

Os granitos que afloram na Ilha do Mel apresentam uma quantidade

expressiva de xenólitos gnáissicos e anfibolíticos, os quais mostram cor cinza

escuro e formas facetadas, irregulares ou alongadas. É comum a presença de

feições de assimilação parcial dos xenólitos máficos. Nestes casos, os granitos de

cor cinza claro rosado exibem níveis escuros resultantes da desagregação dos

xenólitos. Estas feições muitas vezes assumem aspecto de schlieren. Nota-se, por

vezes, a alternância de níveis ricos em minerais ferromagnesianos e de níveis

graníticos de espessura centimétrica, resultando em um acamamento rítmico.

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A Figura 12 (A, B e C) mostra os diferentes estágios de assimilação dos

xenólitos pelo magma granítico. No estágio menos avançado, o xenólito ainda não

digerido coexiste com porções mais acamadadas. No estágio intermediário, os

xenólitos mostram formas fortemente alongadas e concordantes ao acamamento e

à foliação S1 e o acamamento torna-se comparativamente mais desenvolvido. No

estágio mais avançado de assimilação, os xenólitos são raros e tanto acamamento

como a foliação S1 tornam-se muito fortes.

Paralelamente ao acamamento rítmico (S0), de atitude N45E/37SE, há fraca

a moderada orientação preferencial dos cristais subédricos de feldspatos. A

ausência de feições deformacionais nos cristais orientados de feldspatos sugere

que esta foliação S1 também tem natureza magmática. O fato de a maioria das

exposições de granitos com acamamentos ocorrerem em grandes blocos restringiu

a coletas de medidas estruturais.

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Figura 12 – Granitos da Ilha do Mel mostrando A) xenólito e acamamento (S0). B) xenólitos mais fortemente assimilados e C) acamamento proeminente e orientação preferencial (S1)

concordante

Em alguns locais, principalmente na porção central da ilha, onde esta

unidade também ocorre, o acamamento está relacionado, além da ritmicidade, à

diferença de granulação.

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A origem do acamamento está relacionada à desagregação, total ou parcial,

dos xenólitos, os quais formam estruturas do tipo schlieren, orientadas de forma

paralela a subparalela à foliação. Interessante notar que a foliação contorna os

xenólitos, independentemente do tamanho dos mesmos, não perturbando a

orientação preferencial regional dos fenocristais, presentes na rocha hospedeira.

Por vezes, os granitos exibem dobras decimétricas, que variam em suas

formas desde suaves até fechadas (Figura 13).

Figura 13 – Granito da Ilha do Mel (praia do Miguel) mostrando dobra sinmagmática com plano axial concordante ao acamamento rítmico

4.2.2 Caiobá e Matinhos

Tanto em Caiobá quanto em Matinhos, mais especificamente, nas praias

Mansa e Brava, respectivamente, há granitoides porfiríticos, com granulação média

e fina. Estas rochas se interagem entre si por meio de contatos interdigitados. O

granitoide porfirítico é representado por sienogranitos, os de média e fina

granulação, são respectivamente, quartzo monzonitos e quartzo dioritos. Nestes

locais, há rochas com acamamentos (S0), de forma localizada, e foliação marcada

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pela orientação preferencial de fenocristais e de níveis ricos em biotita (S1). Esta

foliação apresenta atitude aproximada de N35E/57NW. Porém, no caso dos

acamamentos, sua origem é diferenciada, sendo resultado da interação de magmas

distintos, discussão que será tratada mais tarde (Figura 14).

Enclaves microgranulares máficos, com formas alongadas e concordantes

à foliação do granito porfirítico, são relativamente comuns (Figura 15, A e B). A

desagregação destes enclaves pode se verificar em diferentes intensidades e

resultar em acamamentos magmáticos.

Além das estruturas acima citadas, os granitos porfiríticos são cortados por

diques de aplitos, de espessura decimétrica e disposição em geral concordante à

foliação S1 do granito. Estes aplitos apresentam igualmente bandas máficas e

félsicas, resultando em um acamamento rítmico de geometria tabular, que estão

dispostas paralelamente à parede desses diques (Figura 15, C).

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Figura 14 – A) Coexistência de magmas em granitoides da praia de Matinhos. B) Porções dioríticas foliadas alternadas com porções graníticas. Início de mistura de magmas. C) Estágio avançado de assimilação do diorito dando origem ao acamamento magmático

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Figura 15 – Granito porfirítico da praia mansa de Caiobá (Morro do Boi) A) com enclave microganular máfico e B) com inicial assimilação do enclave microgranular. C) Dique de

aplito com acamamento composicional rítmico

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Enclaves são observados em ambas as praias, dispostos de modo paralelo

a subparalelo à foliação S1, havendo também fraturas e falhas sinistrais e destrais,

os quais ocorreram em meio dúctil a rúptil (Figura 16 e Figura 17).

Figura 16 – Falha sinistral na praia Brava em meio rúptil

Figura 17 – Falha sinistral em meio rúptil a dúctil, localizada em praia Brava

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4.2.3 Morro do Cristo (Guaratuba)

No Morro do Cristo várias estruturas e texturas são similares àquelas

descritas em Caiobá e Matinhos. Entretanto, talvez em razão da maior área de

exposição em Guaratuba, o conjunto de estruturas é mais variado.

A presença de sienogranitos porfiríticos e de rochas monzoníticas/dioríticas

resulta em acamamentos composicionais conspícuos com bandas de espessura

centimétrica a decimétrica (Figura 18, A). Paralelamente a este acamamento, nota-

se no sienogranito porfirítico forte orientação preferencial dos fenocristais de

feldspato potássico.

A foliação S1 dos siengranitos porfiríticos é relativamente homogênea na

escala métrica, com atitude aproximada de N30E/75SE (Figura 18, A). Na rocha

monzonítica/diorítica de granulação média, a foliação é forte e tem direção N10W

(Figura 18, B).

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Figura 18 – A) Sienogranitos porfiríticos e monzonitos/dioritos com acamamento composicional e B) forte foliação nos monzonitos/dioritos

Enclaves de rochas dioríticas/monzoníticas finas, com formas sigmoidais,

refletem os efeitos de cisalhamento sinistral (Figura 19, A).

Veios aplíticos, de espessura centimétrica que cortam os sienogranitos e

monzonitos, estão levemente arqueados ou moderadamente dobrados (Figura 19,

B). Nestes veios, pode-se notar leve acamamento composicional paralelo à parede.

Ambos os veios, por vezes, apresentam-se rompidos, associados a fraturas e falhas

sinistrais, destrais e normais, e, por vezes, exibem dobras irregulares.

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Figura 19 – A) Cisalhamento sinistral de enclave de rochas dioríticas/monzoníticas e B) veios de aplito em sienogranitos e monzonitos

Zonas miloníticas, comuns no Morro do Cristo, possuem espessura de 10 a

30 cm e atitude N05W/90. A recristalização dos minerais nestes locais torna as

rochas mais finas. Porém, em alguns casos, o cisalhamento deve ter afetado rochas

apliticas, ou seja, originalmente finas (Figura 20, A e B). Lineações de estiramento,

definidas pela biotita, são bem desenvolvidas (Figura 20, B) e possuem baixo ângulo

de caimento (N162/25). Além desta zona, há também fraturas que cortam o

afloramento estudado. Bandas de cisalhamento conjugadas são observadas no

sienogranito porfirítico (Figura 20, C).

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Um croqui detalhado do Morro do Cristo foi confeccionado, justamente para

caracterizar as foliações, as zonas de cisalhamento, as dobras, a disposição dos

veios, falhas e demais estruturas aqui citadas (Anexo I).

Figura 20 – A) Zona de cisalhamento com rocha aplítica B) lineação de estiramento, C) bandas de cisalhamento conjugado no sienogranito porfirítico

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5 DISCUSSÕES

Com o intuito de explicar a origem das estruturas apresentadas nos locais

visitados, será feita uma comparação com outros estudos, principalmente com

aqueles realizados pelos pesquisadores Barbey et al. (2008) e Pons et al. (2006),

respectivamente, no plúton Budduso e no lacólito Tarçouate, pois nestas regiões

observou-se feições similares às observadas em campo. Ao final, será feita uma

conclusão com base, também, em um diagrama de Barbey (2009).

A presença de granitoides distintos coexistindo entre si, através de contatos

interdigitados, é visto em Guaratuba e Matinhos. Estas feições são similares às

observadas na Província Maroni-Itacaúnas (Barros et al., 2007), no Lacólito

Tarçouate e no plúton Budduso. No caso dos dois primeiros estudos, estes contatos

são resultantes das interações entre ambos os magmas, resultados de um mingling

de magmas heterogêneos num sistema dinâmico, em uma sequência de injeções

magmáticas. Já para o plúton Budduso, além do mingling, há também evidências

de mixing, resultantes da inter-relação dos processos químicos e mecânicos entre

ambos os magmas (Barbey et al., 2008).

No plúton Budduso e no Lacólito Tarçouate, a origem das foliações, de

acordo com os autores, está relacionada à deformação regional, sofrida pela

câmara magmática, durante seu crescimento, com as recorrentes injeções

magmáticas. Esta trama, de ocorrência similar com as que ocorrem na Ilha do Mel,

Guaratuba e Matinhos, seria mais desenvolvida nas camadas mais externas (sendo

paralela à rocha encaixante e ao fluxo), diminuindo de intensidade nas porções mais

internas. Para Patterson et al. (1998), este fato está associado ao fluxo não

uniforme, referente ao gradiente de velocidade e às injeções magmáticas. Com o

reabastecimento do corpo magmático, são geradas tensões que são mais

proeminentes nas bordas da câmara, e, aliados à diminuição da velocidade do fluxo

(devido a uma diferença de viscosidade), ocasiona a rotação dos minerais. Neste

caso, a tensão é paralela ao fluxo e estas foliações se formam apenas nos estágios

finais de cristalização do magma, registrando as últimas tensões sofridas pelo

mesmo (Figura 21).

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Aliados às injeções magmáticas (máficas e félsicas) e aos fluxos

convergente e divergente (Figura 21), descritos por Patterson et al. (1998), os

processos convectivos são também os principais responsáveis pelo

desenvolvimento do acamamento (Pons et al., 2006). A Figura 22 mostra como é

dado o processo de convecção com a concomitante formação do acamamento

rítmico. São estruturas isomodais, resultados ou de um mingling e alongamento de

ambos os tipos de magmas, ou de uma segregação hidrodinâmica com

redistribuição intersticial de bandas máficas e félsicas (Barbey et al., 2008). Para

este mesmo autor, o acamamento pode também ter se formado pela desagregação

e assimilação dos enclaves pelo magma adjacente, gradando para estruturas do

tipo schlieren, como observado principalmente na Ilha do Mel, resultantes da

interação mecânica e química entre os magmas máfico e félsico. Tanto o

acamamento isomodal quanto aquele originado pelos enclaves ocorrem,

simultaneamente, nas regiões de Guaratuba e Matinhos, mas de modo localizado.

Figura 21 – Sumário mostrando os fluxos não uniformes: convergente (A), divergente (B) e a zona de gradiente de velocidade (C). A figura D mostra um fluxo convectivo interno em uma

câmara sem expansão. FONTE: Patterson et al., 1998

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No Lacólito Tarçouate, o acamamento ígneo foi formado nas porções rasas

da câmara magmática, devido ao mergulho ser entre 45° a 70°. Com a estrutural

das regiões estudadas, pode-se associar esta informação ao que foi observado em

campo.

No plúton Budduso, há fenocristais de K-feldspato dentro dos enclaves,

situação similar ao que ocorre em Guaratuba e Matinhos, sendo resultantes, de

acordo com Barbey et al., 2008, de uma dinâmica caótica, cujas viscosidades entre

eles e o magma em torno, são similares, sugerindo mixing e fluxo de modo

localizado.

Figura 22 – Ilustração que mostra os principais estágios de formação das unidades rítmicas, em um processo convectivo associado à segregação hidrodinâmica. FONTE: Pupier et al.,

2008

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De acordo com Patterson et al., 1998, por vezes as foliações podem não

afetar a trama interna dos enclaves, sendo, portanto, descontínuas. Este tipo de

feição é resultante de processos magmáticos internos sem interferência externa.

Agora quando da deformação regional, resultado de um reflexo de tensão, a foliação

da rocha hospedeira afeta a estrutura interna do enclave, sendo, portanto, uma

foliação contínua. Uma figura ilustrativa deste autor, sobre o que foi comentado

(Figura 23), pode ser usada para o que é visto na Ilha do Mel: o contorno das

foliações ao redor dos enclaves e, em alguns deles, há uma foliação contínua.

Figura 23 – Ilustração mostrando o grau de continuidade da foliação da rocha hospedeira com relação ao enclave, de acordo com os processos predominantes da sua formação.

FONTE: Patterson et al., 1998

As distribuições dos cristais, de acordo com Barbey (2009), normalmente são

homogêneas em um sistema termal de um corpo magmático. Porém, acumulações

minerais, principalmente de feldspatos potássicos, podem indicar diferenças nos

processos mecânicos de segregação, que são derivados ou de acumulação mineral

derivada do próprio fluxo (efeito logjam), o qual está relacionado à perda de fluidos

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durante o processo de resfriamento e cristalização do magma (com o consequente

acúmulo de material durante um fluxo ainda existente) ou a um cisalhamento

diferencial em material plástico, resultando na segregação dos minerais

cristalizados em períodos distintos. Esta acumulação é bem visível na região de

Guaratuba (Morro do Cristo).

As evidências de fluxo magmático, de acordo com Vernom (2000) envolvem

observações macro e microscópicas. Primeiramente, os cristais devem estar

orientados, com ausência de deformação plástica interna, sendo que feição

normalmente é preservada nos momentos finais de cristalização do magma devido

a alta viscosidade nesse último estágio, isto é, baixa quantidade de líquido no meio.

Outra evidência, segundo o autor, seria o desvio da foliação do fluxo magmático

com relação aos xenólitos, assim como o schlieren, responsável por formar o

acamamento em algumas rochas que, de acordo com Baybey (2009), é resultante

da sua interação química e mecânica com o fluxo magmático do meio. A extinção

ondulante, de acordo com Passchier e Trouw (2005) é uma evidência de fluxo

submagmático, assim como de deformação no estado sólido. Porém, há a

possibilidade de esta feição ocorrer nas fases finais de solidificação do magma

devido à tensão gerada entre os cristais. Já os subgrãos são resultantes de

recristalizações dinâmicas dos cristais, tais como quartzo e K-feldspato,

consequentes da deformação no estado sólido. No que foi observado macro e

microscopicamente, os cristais euédricos de K-feldspato apresentam-se alinhados,

as estruturas schlieren são evidentes, contribuindo na formação do acamamento na

Ilha do Mel e a foliação magmática contorna os xenólitos nesta mesma localidade.

Há muita pouca evidência de subgrãos, com ocorrência moderada de extinção

ondulante nos cristais de quartzo, sendo que seus contatos são irregulares, não

demonstrando recristalizações.

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6 CONCLUSÕES

Pode-se resumir a origem das estruturas magmáticas através de um

diagrama proposto por Barbey (2009) (Figura 24), onde a coexistência (mingling)

entre magmas e o mixing são resultados de uma interação e recarga do magma

através de processos de injeção magmática, podendo ser observados em

Guaratuba e Matinhos. Nestas mesmas regiões, os acamamentos ígneos, os quais

ocorrem de forma incipiente a moderada, são resultados de processos

hidrodinâmicos dentro das câmaras magmáticas, associados a processos de

convecção. Além disso, são estruturas formadas próximo à superfície da câmara

magmáticas, devido ao seu baixo a moderado grau de mergulho.

Acamamentos originados através da dissociação dos enclaves, os quais

gradam para estruturas do tipo schlieren, ocorrem com baixa frequência, resultado

das interações químicas e mecânicas com o corpo magmático adjacente. No caso

da Ilha do Mel, este tipo de acamamento, formado pela assimilação dos xenólitos e

schlieren é predominante. Já as foliações, presentes em todas as regiões

estudadas, são originadas pela rotação dos fenocristais de K-feldspato devido à

diminuição da velocidade do fluxo próximo à borda da câmara, assim como pelo

aumento da viscosidade nesta região. Os pulsos magmáticos também contribuem

para o aparecimento da foliação, pois geram tensões na câmara magmática à

medida que são injetados, sendo que estas tensões são mais evidentes nos limites

do corpo.

Os agregados de fenocristais de feldspato potássico, no Morro do Cristo,

estão relacionados ao efeito logjam e, o englobamento de alguns fenocristais pelos

enclaves, mostra que houve similaridade das viscosidades destes com o magma

adjacente nas localidades de Guaratuba e Matinhos, sendo que em certos locais

pode-se observar um mixing dos enclaves com o fluxo magmático. Nestas mesmas

localidades, os veios de aplito apresentam bandamentos máficos e félsicos,

originados da segregação hidrodinâmica associado à densidade dos cristais. As

zonas de cisalhamento, ou milonitos, são resultados de processos tectônicos com

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a rocha no estado, frutos de instabilidade mecânica, resultando na recristalização

dos minerais presentes no local.

Ao que tudo indica, a formação dessas estruturas se deu em estado

magmático. Isto também é provado pelas evidências na petrografia macro e

microscópica, como a orientação dos fenocristais sem deformação plástica,

ausência de recristalização dinâmica e estática nos cristais de quartzo, além das

estruturas schlieren, que também é um fator importante para esta conclusão. No

que se refere às extinções ondulantes, surgiram nos estágios finais de cristalização

do magma, não sendo, portanto, indicadores de deformação em estado sólido. A

pouca ocorrência de subgrãos pode indicar que o corpo magmático estava

passando por uma transição para fluxo submagmático, sendo uma questão

importante a ser explorada em trabalhos futuros.

Figura 24 – Ilustração simplificada dos principais processos que ocorrem na construção da câmara magmática. FONTE: Barby, 2009

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ANEXO 1: Croqui Detalhado do Morro do

Cristo - Guaratuba

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NW

SE

75

75

90

LiN162/25

90

31MetrosEscala Horizontal

Escala Vertical31

Metros

LEGENDA

Monzogranito

Quartzo-monzonito

Quartzo-diotito

Veio quartzo-feldspático

Veio de aplito